mergulhando no universo marinho

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6 abril/2001 Revista para a formação de professores de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental Instituto Avisa Lá Formação Continuada de Educadores Rua Harmonia, 1040 - Sumarezinho 05435-001 - São Paulo - SP telefax: (0XX11) 3032-5411 3812-9561 - 3812-4389 e-mail: [email protected] www.avisala.org.br Interferência gráfica contribui para o desenho das crianças Mergulhando no Universo Marinho leitura e pesquisa em um projeto didático Informática na educação infantil Internet na sala de aula 100 muros Mosaicos de crianças embelezam muros da Vila Madalena

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Page 1: Mergulhando no Universo Marinho

nº6 abril/2001 Revista para a formação de professores de educaçãoinfantil e séries iniciais do ensino fundamental

Instituto Avisa LáFormação Continuada de Educadores

Rua Harmonia, 1040 - Sumarezinho05435-001 - São Paulo - SPtelefax: (0XX11) 3032-5411

3812-9561 - 3812-4389e-mail: [email protected]

Interferência gráficacontribui para o desenho das crianças

Mergulhando noUniverso Marinholeitura e pesquisa em um projeto didático

Informática naeducação infantilInternet na sala de aula

100murosMosaicos de criançasembelezam muros daVila Madalena

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Início do ano: a vontade detrabalhar um novo projeto, desta veznos aproximando das ciências natu-rais. Eu havia sugerido um estudosobre os animais. Com as professo-ras, acabamos por escolher a vida nomar, pela facilidade e disponibili-dade de materiais para o trabalho.Também sabíamos que esse temaencantaria as crianças. Combinamosesboçar o projeto, fazer a pesquisabibliográfica em bibliotecas, livrariase a pesquisa de materiais. Lucila, acoordenadora, se ofereceu paraconversar com profissionais da área.Queríamos cruzar todas as infor-mações para escrever o projeto jun-tas, pelo menos a primeira versão.

Assim sendo, dividimos tarefas, paraque cada uma se responsabilizassepor algo a fazer: levantamentos devídeos interessantes, livros em bi-bliotecas, livrarias, conversas combiólogos, agendamento de visitas aaquários etc.

A TV como única fonte de informação

Logo no primeiro dia procureiconhecer um pouco sobre o quesabiam sobre a vida no mar, quem játinha ido à praia etc. Queria saberqual era a maior fonte de informaçãodas crianças. Sem dúvida a TV ga-nhou em disparada:

– Eu assisti a Free Willy lá na

minha casa! – disse uma criança.– Eu também vi tubarão lá na

televisão! – lembrou a outra.– Como eu sei que o tubarão

vive no mar? A minha televisão quecontou que é água do mar! –respondeu a outra diante da pergunta feita pela professora.

Mostrei, então, um grande pôstercom alguns animais do mar: váriostipos de baleias, raias, tubarões etc.Os tubarões foram os primeiros aserem reconhecidos, embora as cri-anças não distinguissem as espécies.Algumas baleias foram confundidascom jacarés. A baleia orca era a maisfamosa por causa do filme Free Willy.

– Eu conheço essa aí. Sabe? É abaleia assassina! – disse uma criança.

Eu confirmei a informação lendo alegenda: "baleia orca também co-nhecida como baleia assassina".

– Onde vivem esses animais, no

mar ou no rio? – perguntei a eles,diante do pôster das baleias e dostubarões.

Alexandre, uma criança da turma,convenceu o restante do grupodiante de sua fonte segura: a tele-visão de sua casa que "lhe contara"que tubarão vive no mar. Muitos con-cordaram que já tinham vistotubarão em mar. Depois argumen-taram que os peixes só podiam viverno mar porque o rio era sujo.

– Água do mar é limpa, água dorio é suja – disseram unanimemente.

Interessante este dado. Deve ter aver com a divulgação do problema dapoluição dos rios.

Apenas uma pequena parte dascrianças conhecia o mar de perto. Elascontaram que cataram conchinhas,que viram os pescadores com muitospeixes e tubarão. Para as crianças quenunca haviam estado numa praia, a

televisão novamente serviu como re-ferencial nessa conversa.

Abre-se o acesso a diversas fontes

Em pouco tempo, o pôster aca-bou sendo uma fonte de consultasconstante pelas crianças, que procu-ravam saber os nomes de tudo o queviam, mostrando ou pedindo aosadultos que lessem os nomes dasvárias espécies ali ilustradas, princi-palmente dos filhotes. Imaginemcomo ficou o pôster logo no primeirodia com tanta gente tocando-o!

Tanto interesse tornou evidentea necessidade de diversificar asfontes de pesquisa e promover oacesso a elas, sobretudo às fontesvisuais, material tão apreciado pelogrupo.

Com esse propósito em mente,pensamos que também seria interes-

sante propor às crianças a produçãode um fichário de bichos com nome,fotografias e informações de algu-mas das espécies marinhas obser-vadas. Para tanto, elas teriam queutilizar o procedimento de pesquisa,para saber mais sobre os bichos,leitura e escrita, para confeccionar omaterial. As fichas poderiam acom-panhar uma pequena coleção comespécies marinhas in vitro paraobservação. Decidido o objetivocompartilhado com as crianças, par-timos para a pesquisa, busca e sis-tematização das informações, focoprincipal do nosso trabalho.

Leitura com apoio nas imagens

Achamos que seria interessantesocializar alguns procedimentos deleitura de imagens, uma vez que ascrianças iriam pesquisar sozinhas.

FUNDAÇÃO SAFRA

FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA

Ficha TécnicaO projeto Mergulhando no Universo Marinho foi desenvolvido pelasprofessoras Adriana Klisys, Dilma R.D.Santos, Ana Paula, a coorde-nadora pedagógica, Lucila de Almeida e as crianças de 4 a 5 anoscreche Casa da Criança, Ermelino Matarazzo, São Paulo..

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Quando o trabalho teve início percebemos que a maior referência das crianças sobre o

universo marinho era a TV. Quatro meses depois, elas pesquisavam em diversas fontes

de informação. Esta foi apenas uma das conquistas de um projeto que apresentou os

mistérios e as maravilhas do fundo do mar

Crianças de 4 a 5 anos aprendem a buscar e selecionar informações

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Adriana Klisys

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Muitas criançasvendo o marpela primeiravez. Uau!!!

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Realizamos, então, algumas ro-das para propor perguntas para asquais as crianças não dispunham daresposta pronta. Teriam que pro-curá-las nos livros, a partir da leituraatenta das imagens. Elas deveriamdescobrir, por exemplo, qual é otipo de alimentação dos siris ecaranguejos.

Em geral os livros que trazem taisinformações são muito bem ilustra-dos, mas às vezes é preciso ter algu-mas informações provenientes dotexto científico para que as criançasaproveitem melhor as ilustrações.Nesse caso, o professor pode apoiaro trabalho lendo trechos com as cri-anças. Por exemplo, eu perguntei sesabiam qual dos dois caranguejosilustrados no livro era macho e qualera fêmea. As crianças arriscaramvárias respostas, sem chegar a umacordo. Então li um trecho do livroque poderia ajudar a responder àquestão: o ventre do macho possuiuma forma mais fina do que o dafêmea e uma de suas garras é maiordo que a outra. Com essa infor-mação as crianças puderam imedi-atamente perceber as diferençasnaquela espécie. O mais interes-sante foi identificar depois o sexodos caranguejos e siris que tinhamna classe (in vitro):

– Tem um que é macho, né? Etem uma fêmea! – disse Pamela, todaorgulhosa dos novos conhecimentos.

Consulta a livros especializados

Para o trabalho de pesquisa, sub-dividimos a sala a fim de que cadaprofessora acompanhasse um grupomenor. Dilma, uma das professorasda sala, escolheu pesquisar osgolfinhos e baleias com as crianças.Meu grupo ficou com as estrelas-do-mar. Escolhemos estas porquehavíamos observado que as crianças

vinham desenhando muitas estrelas-do-mar e demonstrando interessepor essa espécie, e também porquetínhamos bastante material de apoiosobre esse assunto.

Paula, a outra professora da sala,animada com a possibilidade de

realizar pesquisas com as crianças,percebeu que não havia entendidodireito as informações contidas nolivro sobre o polvo. Percebemos,então, a necessidade de termos umadiversidade de livros para compararinformações. Achei interessante suaobservação. Os professores não pre-cisam saber tudo, podem partilharcom as crianças suas próprias dúvi-das, mostrarem-se dispostos à inves-tigação. A dúvida sobre a alimen-tação das estrelas-do-mar de fatoera uma curiosidade de todos.

O grupo formado por Renan,Thiago, Pamela, Mikaiude e Rodrigoinaugurou o trabalho.

– É a gente que vai pesquisar,né? A gente vai estudar lá noslivros! – diziam orgulhosos.

Separei apenas os livros con-tendo as informações desejadas.Anteriormente havia levado outros

tipos de livro, ajudando as crianças aescolherem e decidirem em quaispoderíamos encontrar as informa-ções que queríamos: a alimentaçãodas estrelas-do-mar.

Os livros traziam muitas outrasinformações, o que causou uma cer-

ta dispersão, pois as crianças queri-am olhar tudo, esquecendo-se daproposta inicial da pesquisa. Preciseiretomar com elas nossos objetivos,lembrando que o outro grupo estavaaguardando uma solução para aque-la dúvida.

– Elas comem peixes – afirmavaAlexandre. Sua hipótese foi compro-vada pelos pesquisadores queencontraram a resposta numa dasgravuras.– Mas elas comem conchinhas tam-bém? E por onde elas comem asconchas? – perguntaram as crianças diante daquela informação.

Busca de respostas por meio deobservação direta

Nesse momento recorremos ànossa coleção de espécies marinhas,guardada num canto da sala. Numade minhas idas à creche eu havia

levado muitas conchas, caramujos ealguns animais que um pescador deUbatuba separou em sua rede paraas crianças: moréia, estrelas-do-mar,siri, caranguejo, caranguejo ermitãoe camarão, todos devidamentelacrados em vidro com álcool, exce-to as estrelas-do-mar. Foi com umadelas em mãos e também comalguns tipos de conchas, como osmexilhões, prato favorito das estre-linhas, que investigamos acerca dapergunta levantada. Enquanto liaalgumas informações sobre as partesdo corpo, as crianças iam identifican-do sua localização.

– Em geral possuem 5 braços – lipara o grupo.

– Já sei, aqui, ó: 1,2,3,4,5! Éaqui o braço! – disse Rodrigo, inves-tigando a estrela que passava demão em mão.

– A boca deve ser aqui em baixo.E é mesmo! Olha o buraquinho! –constatou Renan.

Ao registrar os resultados desua pesquisa num papel, ele fez

questão de escrever o que ela comia.Foi o único que se deteve paradesenhar também a boca da estrela.Pamela fez umas conchinhas lindas!Demorou muito para desenhar,dizendo que não sabia fazer uma con-cha. Sugeri, então, que observasse oslivros e as próprias conchas. Pareceque ela teve um grande "insight".Que lindo seu desenho!

A confirmação das informações

Cavalos-marinhos e tubarõessempre encantaram as crianças.Lembro que Rodrigo ficava encafifa-do com o papel do pai na produçãodos filhotes. Sabia que os filhotes,em geral, nascem das fêmeas, já for-mados ou por meio dos ovos queelas colocam, o que chamamosfecundação interna e externa. Mas,quanto ao papel do pai, nada sabia.

– Mas, se o filho nasce da mãe,a mãe nasce de quem? – pergunta-va, inconformado com a insignifi-cância do macho.

Lendo num livro, com a ajuda daprofessora, encontraram a resposta:o macho cumpria uma importantefunção, sendo responsável pela ges-tação de seus filhotes. Conseguiramaté localizar o buraquinho por ondesaem os filhotes olhando as imagensdos livros e o animal seco que pos-suíamos na coleção.

No caso dos tubarões, o papeldo macho na reprodução da espécieficou mais evidente. As ilustrações,sem dúvida, contribuíram muito paratanto, por isso a escolha do livro deboa qualidade. Engraçada foi adescoberta que fizeram após eu lereste pequeno trecho retirado de umdos livros:

– "O macho segura a fêmea comos dentes e encosta nela seus doisórgãos copuladores…" – estavaescrito.

– Como assim? – perguntarameufóricos e com risinhos marotos.

– Quer dizer que o tubarão tem dois "bilau"? – disse uma criança, referindo-se ao aparelhoreprodutor.

– E a fêmea dois piu piu! – com-pletou a amiga ao lado.

– Adriana, eu também tenhodois piu piu? – quis saber Karoline.

Todos acharam graça e combina-ram de ir à feira para comprovar nabarraca de peixes o que aprenderamno livro. As crianças puderam fazermuitas dessas visitas, pois a feira es-tava bem próxima da creche, cha-mando a atenção da vizinhança.

– Mas vocês vão na feira denovo? Toda hora na feira? – provocou uma moradora do bairroque sempre via as crianças saindopara passear.

– Mas agora é diferente! Agente vai lá pra ver qual é o machoe qual é a fêmea do tubarão – disseMikaiude, envolvido com suapesquisa.

A pesquisa foi feita em livros com ilustrações que fascinavam as crianças

A feira do bairro foi um local importante para as crianças verem ao vivo peixes

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Socialização dos resultados da pesquisa

A pesquisa orientada em pequenosgrupos foi realizada várias vezes duranteo projeto. De volta à sala, os subgrupossempre mostravam os resultados obti-dos. Penso que esses dois momentos deconversa, um com o grupo todo e outrocom os pequenos grupos de pesquisa,são fundamentais. Cabe ao professorretomar essas conversas, quando forinteressante, socializando as descober-tas e discussões. Foi assim que conduzi-mos nossa atividade: cada um foi expli-cando o que havia desenhado. Enver-gonhadíssimos no início, foram sesoltando e falando mais sobre o quehaviam pesquisado. Em alguns momen-tos utilizaram os livros também paramostrar certas informações. Pamelaachou estranha a denominação "carní-voro" para os animais que comem carne,como a estrela que come carne demolusco. Já Rodrigo adorou a novapalavra, repetindo-a, num esforço paranão esquecê-la. As crianças que não par-ticiparam dos outros grupos estavamcuriosas, fazendo perguntas que nemsempre nossos pesquisadores podiamresponder, como no seguinte caso:

– Será que a estrela-do-mar tambémtem ouvido?

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A importância de diversificar fontes de informação

Temos discutido muito em nossasreuniões a necessidade de voltar aomesmo assunto para buscar novasinformações, outros olhares, ou ape-nas falar sobre o que já se sabe paraelaborar melhor. Temos sempre vistoo quanto o fato de conversar sobreum assunto não significa emhipótese alguma "matéria dada",mas envolve questionamentos ereflexões por parte das crianças.Assim sendo, o fato de termos vistoque as estrelas-do-mar comiam obicho da concha, como diziam as cri-anças, não queria dizer que essainformação tenha sido processadapor todas. Revisitar o assunto,retomar a leitura do livro sobre asestrelas-do-mar em outro momento,ir à feira, ver um outro vídeo, deixarque as crianças pesquisem em revis-tas especializadas, são ações interes-

santes neste caso. Da mesma forma:ver uma baleia desenhada num livro,vê-la numa foto, em um desenhotridimensional, num filme, ver oesqueleto dela no museu traz infor-mações complementares que per-mitem às crianças fazer uma série derelações. É importante dar a elas aoportunidade de ampliar seus con-hecimentos por meio da troca deinformação entre si e da busca deoutras fontes. Acho que é por aí quecaminhamos neste projeto.

Reconhecimento de um ambientenatural: a praia

Uma segunda-feira diferente: láfomos nós, em duas peruas tipolotação, serra abaixo, em direção aSantos, no litoral de São Paulo. Aosom da "música-hino" do grupo,"Peixinhos do Mar", íamos aprecian-do a paisagem. As crianças se lem-braram dessa música e a cantaram

em diversos momentos, até quandopuseram os pés na areia. Uma delascomeçava a entoar a melodia e eraacompanhado pelo coro de vozes.Como uma saudação à bela visão domar! Tudo parecia tão encantador àscrianças, cientes de estarem em umlugar totalmente novo. A maioria dogrupo nunca tinha visto o mar deperto.

O dia estava belíssimo! Um calor!Assim que chegamos, procuramosum lugar próximo do aquário paraum piquenique antes da expedição:guaraná para refrescar, cachorro-quente, torta de frango e até de siri!

Estavam todas muito admiradascom a visão do mar. Quando colo-caram os pés na areia, pareciam ex-tasiadas, sem palavras. Por um ins-tante mantiveram silêncio e um olharabismado com o que estava a frente.Depois começaram a surgir as pri-meiras impressões:

– Por que a água do mar está semexendo? – perguntou Mikaiude.

Lembro que nesse momento apraia de Santos se tornou incrivel-mente bonita. Nada como criançaspara chamar nossa atenção e mudarnosso olhar sobre o mundo!

Andamos então à beira-mar,apreciando a paisagem. Tudochamava incrivelmente a atençãodas crianças, desde o siri morto atéas poucas conchas existentes naareia. Aliás, quando mais tardeescrevemos as legendas sobre as fo-tografias da viagem, as crianças fize-ram questão de registrar que havia

muitas conchas na areia de Santos.Curioso!

Depois de um tempo caminhan-do, resolveram experimentar a areia:punhados de areia fina e seca foramjogados ao vento. Rolaram na areiada praia. Não demorou muito tempoe pareciam verdadeiros croquetes.Encontraram alguns brinquedos:gangorra, escorregador e balanço.Depois foi a vez do banho naqueles

chuveiros públicos na areia da praia.Estavam adorando tudo e ainda nemtinham ido ao aquário.

Reconhecimento de um ambiente artificial: o aquárioA segunda etapa do passeio era

uma visita ao aquário de Santos. Eunão sabia se fotografava as expre-ssões delas ou os peixes. Acho que amaioria das fotos tiradas retratou odeslumbramento estampado nosrostos infantis.

– No mar também tem aquelesvidros? – perguntou Karoline,referindo-se às paredes do aquário

que permitem ver os peixes. – Ei fala comigo! Adriana, por

que ele não atende quando euchamo? – perguntava Rodrigo quenão parava de conversar com ospeixes.

– O tubarão! Olha que fortão! Éo maiorzão! – disse outra criança.

– TAR-TA-RU-GAS MA-RI-NHAS!!!" – arriscou uma menina.

– Tem até lobo-marinho! – apon-

tou uma criança, enquanto fazia oreconhecimento de todas as espé-cies que ela conhecia.

Mal estávamos nos despedindodo Aquário e já tinha criança quequeria voltar outra vez. De lá trouxe-mos muitos materiais para nossaspesquisas.

Confeccionando a ficha de informações

Depois de tantas descobertas, ascrianças já podiam produzir umaficha sobre o polvo, animal que pos-suíam na sala, num vidro com álcool.A pesquisa que as crianças haviamrealizado anteriormente e registradoem desenhos, a cada etapa do tra-balho, foi fundamental. Agora resta-va apenas escrever – segundo as ori-entações didáticas específicas parao trabalho de escrita – e organizar asfichas com os dados que já tinham.O que não é uma tarefa simples, namedida em que precisam se organi-zar para ditar o que eu escreveria.Como escriba do grupo, a todomomento eu lia para mostrar queestava escrevendo o que elas iamfalando.

Nesta ficha consideramos basica-mente os itens que haviam sidomotivo de pesquisa do grupo: repro-dução, alimentação e defesa. In-cluímos também o item curiosi-dades. Tivemos como modelo ofichário de bichos, da Editora Abril,que a turma do lado possuía e asfichas do chocolate Surpresa, daNestlé, que na época trazia comotema os animais marinhos.

Feita esta primeira etapa, foi avez de passarmos a limpo o quehavíamos escrito para o computadore depois colarmos as ilustrações.Pronto! Agora cada uma delas estava encarregada de contar aospais e a todos os interessados o quehavia aprendido.■

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A sala vai tomando a cara do projeto com muitas fotos e desenhos das crianças

No aquário de Santos as crianças reconheceram muitas das espécies que tinham visto nos livros

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BIBLIOGRAFIA:• Atlas dos Oceanos. Anita Ganeri.

Ed. Martins Fontes. Tel.: (0XX11) 3266-4603• Naturalista Amador, Um Guia Prático ao

Mundo da Natureza. Gerald Durrell com Lee Durrell. Ed. Martins Fontes. Tel.: (0XX11) 3266-4603

• Dicionário do mar. Sérgio Cherques. Ed. Globo. Tel.: (0XX11) 3766-3000

• Coleção Aventura Visual – Peixes/Litoral.Ed. Globo. Tel.: (0XX11) 3766-3000

• Tubarões – Coleção Aventura Visual.Ed. Globo (acompanha vídeo)

• Mares e Oceanos. Anita Ganeri, Jakki Wood, Ed. Callis, Tel.: (0XX11) 3842-2066

• A Baleia. Ed. Melhoramentos. Tel.: (0XX11) 3874-0940

• Baleias: Gigantes do Mar – National Geographic Society. Klick Editora. Tel.: (0XX11) 3031-5553

• Rosalina, a Baleia Pesquisadora de Homens. Bia Hetzel. Ed. Brinque-Book. Tel.: (0XX11) 3742-8142

• Siri e o Caranguejo; O Polvo; O

Caramujo Marinho; O Mexilhão; Anêmona. Godofredo Genofre. Série Vida no Mar. Ed. FTD. Tel.: (0XX11) 3611-3055

• A Estrela-do-Mar; Água Viva; Ouriço do Mar; Corais; A Esponja do Mar; As algas.Godofredo Genofre. Coleção Vida Marinha. Ed. FTD.:

• Praia. Coleção de Mãos Dadas com a Natureza. Ed. Salamandra. Tel.: (0XX11) 6090-1500

FILMES nas locadoras:• Atlantis. Warner Bros.• Tubarões, As Grandes Baleias, As jóias

do Mar do Caribe. National Geographic.• Fernando de Noronha – Uma aventura

do Mar Azul. CIC Vídeo.• Um Mergulho no Caribe. Look Vídeo.• Imensidão Azul. Empire Films.• Mobie Dick. Warner Bros.

OUTRAS FONTES:• IBAMA- Caravelas (Projeto Baleia

Jubarte/88). Instituto Baleia Jubarte.Decreto Lei 7643/87. Tel.: (0XX73) 297-1320 / 297-1340/ 297-1111

• Superintendência do IBAMA no Estado de São Paulo. Alameda Tietê, 637. Cerqueira Cesar. São Paulo. SP. CEP 01417-020. Tel.:(0XX11) 3083-1300.

• Projeto Tartarugas Marinhas. Rua Alfa, 273.CEP 11680-000. Ubatuba. SP.

• Projeto Baleia Franca. Caixa Postal 5087. CEP 88040-970. Florianópolis. SC. Tel.: (0XX48) 255-1656

PASSEIOS:• Museu Oceanográfico da USP.

Cidade Universitária. São Paulo. Tel.: (0XX11) 3818-6587

• Aquário de Santos. Av. Bartolomeu de Gusmão s/nº. Santos. Tel.: (0XX13) 3236-9996

• Aquário de Ubatuba. Rua Guarani, 859. Jardim Itaguá. Ubatuba. Tel.: (0XX12) 3432-1382

• Lojas de aquários, feiras e peixarias locais.

• Que possam reelaborar suas própriasidéias, reorganizando seus conhecimentosprévios, sistematizando-os de tal forma queoutras crianças possam aprender com omaterial produzido pela turma.

Etapas da pesquisa:1.Levantamento dos conhecimentos das cri-anças e das questões a serem pesquisadas.2.Organizar a turma em subgrupos meno-res para a pesquisa nos livros. 3.Elaborar perguntas para nortear a buscade informações.4.Procurar em livros especializados e ricosem imagens o que buscam saber, determi-nado por discussões anteriores. 5.Registrar as respostas para as indagaçõesdo grupo.6.Comunicação do resultado da pesquisa atodo o grupo, apoiada nos registros e livros.7.Organizar passeios para ampliar os conhe-cimentos sobre o assunto; levar questões queprecisam ser pesquisadas in loco, propor acoleta de materiais para a pesquisa na sala.8.Sistematizar as informações em fichas deconsulta disponíveis na coleção.Orientações didáticas:

• Formar uma pequena biblioteca especiali-zada sobre o assunto em questão para pes-quisas do grupo. Todos, adultos e criançasda creche, poderão estar empenhados namontagem deste acervo.• Separar na classe um painel onde as cri-anças possam ir anexando informações

sobre o estudo. É importante que a salacomece a ganhar a cara deste projeto, comproduções das crianças e cartazes ilustra-tivos/informativos.• Ter na sala um mapa-múndi para localizaro local de origem e trajetória das baleias,golfinhos e outros animais.• Organizar grupos de pesquisa de talforma que todas as crianças participem. • A professora precisa selecionar o materialpreviamente, criando condições para queas crianças realizem a pesquisa comautonomia, isto é, através das imagensfornecidas pelas ilustrações. A professorapode também, após a pesquisa, ler trechosimportantes dos livros utilizados.• Lembrar que o objetivo central deste pro-jeto não é o de que as crianças acumuleminformações sobre o assunto estudado, masque saibam estabelecer relações entre osconhecimentos prévios e as novas infor-mações, as hipóteses e o conhecimentocientífico. • Procurar ao longo do estudo fazer per-guntas direcionadas a cada uma das cri-anças. É importante que todas tenham aoportunidade de comunicar seus saberes atodos do grupo.• Pesquisar, em Bibliotecas Públicas ou dasUniversidades da região, materiais que pos-sam ser usados com as crianças ou paraestudos das educadoras.• A professora deve ser a escriba, anotandopontos importantes para o grupo.

PROJETO: Mergulhando no Universo MarinhoEixo de trabalho predominante: naturezae sociedade (seres vivos) e língua portugue-sa (leitura de texto informativo)

Tempo de duração: 4 a 5 meses

Objetivos:• compartilhado com as crianças:- Montar uma coleção de espécies mari-nhas in vitro para a creche e um arquivo-fichário para consultas.• didático:- Apresentar alguns conhecimentos sobreespécies marinhas.- Socializar procedimentos para a busca esistematização de informações.

O que a professora quer que as criançasaprendam:• A diversidade da vida marinha, algumasdas espécies dessa fauna e sua relaçãocom o meio.• Retirar informações de diversas fontes deimagens, tais como livros, cartazes, filmes,observação direta etc.• Que, ao se informar, possam elaborar suaspróprias idéias sobre os fatos que observame que se interessem por trocá-las, socializarsuas descobertas com os demais.• Que adquiram procedimentos, como aobservação, a verificação e a experimenta-ção, que lhes permitam o desenvolvimentoda postura de pesquisador, que se interessempor saber mais sobre o mundo que os cerca.

Para saber mais

Luciana Hubner, bióloga especialista no ensino de ciências,diz que conhecimentos ligados à física e à química tam-bém interessam às crianças pequenas. Diz ainda que o pro-fessor deve se preocupar mais com as perguntas do quecom as respostas das crianças e que sua função é, antes detudo, a de continuar alimentando a postura investigativade seu grupo. Veja a análise que ela faz de como deve sero trabalho com ciências na educação infantil e suas orien-tações para a elaboração de projetos didáticos.

avisa lá: Até que ponto uma criança pequena poderealmente compreender conceitos das ciências?Luciana: Os conceitos científicos são diferentes das re-presentações elaboradas pelas crianças. Isso faz comque, muitas vezes, se avalie que as crianças não apren-deram ou aprenderam mal, o que causa preocupação ou

frustração a seus professores. É importante saber que asrepresentações das crianças são reflexos dos seus conhe-cimentos prévios, de onde elas partem para saber mais.Suas "teorias" tendem a agrupar idéias que progressiva-mente passam a conhecer e compartilhar com outraspessoas. Costumam utilizar conceitos e palavras quefazem parte do mundo dos adultos, mas muitas vezesdesconhecem seu significado. Elas as utilizam provisoria-mente, até que isso dê espaço a novos conceitos, resul-tado da interação entre idéias elaboradas espontanea-mente e o que lhes é ensinado.

avisa lá: É comum, numa discussão sobre assuntosligados a ciências, crianças bem pequenas afirmaremfatos inverossímeis. Por que isso acontece? Luciana: As crianças têm uma visão de natureza ordenada,

Desde cedo as crianças convivem com fenômenos naturais e sociais. Curiosas,

querem descobrir e decifrar o mundo que as cerca, saber como as coisas se

transformam, por que acontece isso e não aquilo. Conheça mais sobre o que e como

as crianças pensam as manifestações da natureza nesta conversa com Luciana

Hubner, formadora do Crecheplan, consultora do MEC e assessora de prefeituras.

A criança e os conhecimentos sobre anatureza e a sociedade

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