mercado de trabalho e vulnerabilidade em ...de 2,6%, o emprego com registro teve avanço de 6,2%, o...

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CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. 62, p. 397-412, Maio/Ago. 2011 397 Inaiá Maria Moreira de Carvalho INTRODUÇÃO Este artigo analisa como as transformações da economia brasileira, nas últimas décadas, têm afetado o mercado de trabalho e as condições de incorporação produtiva dos trabalhadores nas regiões metropolitanas, onde se concentram a população, a produção e a riqueza. Baseando-se principalmente em dados da Pesquisa de Empre- go e Desemprego (PED) sobre as regiões metro- politanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e Brasília (Distrito Fede- ral), ele pretende evidenciar como, nos anos no- venta, ocorreu uma verdadeira desestruturação do mercado de trabalho nessas regiões, interrom- pida no início deste novo milênio, mas sem que chegassem a ser superadas a precariedade e a vulnerabilidade ocupacional de uma significati- va parcela da sua população. Como se sabe, o mundo do trabalho e as con- dições de vida dos trabalhadores vêm sendo profun- damente alterados pelas transformações na dinâmi- ca do capitalismo ocorridas a partir da década de 1970, com o esgotamento do fordismo, a crise da sociedade salarial e do Estado de Bem Estar e o en- fraquecimento ou desconstrução dos mecanismos institucionais que, nos chamados “anos gloriosos” do capitalismo, buscavam uma articulação mais vir- tuosa entre o mercado, a democracia e a cidadania social. Com a mundialização e a hegemonia do capi- tal financeiro, a difusão das novas tecnologias de in- formação e comunicação e o advento da denomina- da “produção flexível”, foram desencadeadas novas formas de organização da produção, intensos pro- cessos de reestruturação produtiva e profundas mu- danças na divisão internacional do trabalho. Em um período marcado por instabilidade econômica, taxas de crescimento modestas na mai- oria dos países e a ascensão das ideias neoliberais, essas mudanças provocaram uma degradação da condição salarial (com desregulamentação, MERCADO DE TRABALHO E VULNERABILIDADE EM REGIÕES METROPOLITANAS BRASILEIRAS Inaiá Maria Moreira de Carvalho * Este artigo analisa as transformações do mercado de trabalho ocorridas nas últimas décadas nas regiões metropolitanas brasileiras, com base em dados da Pesquisa de Emprego e Desem- prego – PED. Discutindo a evolução da População em Idade Ativa, da População Economica- mente Ativa e da População Ocupada, as condições de ocupação, o desemprego e o rendimen- to médio dos trabalhadores, ele procura demonstrar como ocorreu uma verdadeira desestruturação do mercado de trabalho na década de 1990, interrompida nos últimos anos, mas sem que chegassem a ser superadas a precariedade ocupacional e a vulnerabilidade de uma significativa parcela da população dessas cidades. PALAVRAS-CHAVE: metrópoles, mercado de trabalho, precariedade ocupacional, vulnerabilidade social * Doutora em Sociologia. Professora do Mestrado em Polí- ticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Pes- quisadora do Centro de Recursos Humanos - CRH/UFBA. Estrada de São Lázaro, 197. Cep: 40.210-730. Federação. - Salvador - Bahia - Brasil. [email protected] A autora agradece a preciosa colaboração de Luiz Chateaubriand Cavalcanti dos Santos e Leormínio Moreira Bispo Filho na compatibilização dos dados da série e na elaboração das tabelas utilizadas neste trabalho.

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INTRODUÇÃO

Este artigo analisa como as transformaçõesda economia brasileira, nas últimas décadas, têmafetado o mercado de trabalho e as condições deincorporação produtiva dos trabalhadores nasregiões metropolitanas, onde se concentram apopulação, a produção e a riqueza. Baseando-seprincipalmente em dados da Pesquisa de Empre-go e Desemprego (PED) sobre as regiões metro-politanas de São Paulo, Belo Horizonte, PortoAlegre, Salvador, Recife e Brasília (Distrito Fede-ral), ele pretende evidenciar como, nos anos no-venta, ocorreu uma verdadeira desestruturaçãodo mercado de trabalho nessas regiões, interrom-pida no início deste novo milênio, mas sem quechegassem a ser superadas a precariedade e a

vulnerabilidade ocupacional de uma significati-va parcela da sua população.

Como se sabe, o mundo do trabalho e as con-dições de vida dos trabalhadores vêm sendo profun-damente alterados pelas transformações na dinâmi-ca do capitalismo ocorridas a partir da década de1970, com o esgotamento do fordismo, a crise dasociedade salarial e do Estado de Bem Estar e o en-fraquecimento ou desconstrução dos mecanismosinstitucionais que, nos chamados “anos gloriosos”do capitalismo, buscavam uma articulação mais vir-tuosa entre o mercado, a democracia e a cidadaniasocial. Com a mundialização e a hegemonia do capi-tal financeiro, a difusão das novas tecnologias de in-formação e comunicação e o advento da denomina-da “produção flexível”, foram desencadeadas novasformas de organização da produção, intensos pro-cessos de reestruturação produtiva e profundas mu-danças na divisão internacional do trabalho.

Em um período marcado por instabilidadeeconômica, taxas de crescimento modestas na mai-oria dos países e a ascensão das ideias neoliberais,essas mudanças provocaram uma degradação dacondição salarial (com desregulamentação,

MERCADO DE TRABALHO E VULNERABILIDADE EM REGIÕESMETROPOLITANAS BRASILEIRAS

Inaiá Maria Moreira de Carvalho*

Este artigo analisa as transformações do mercado de trabalho ocorridas nas últimas décadasnas regiões metropolitanas brasileiras, com base em dados da Pesquisa de Emprego e Desem-prego – PED. Discutindo a evolução da População em Idade Ativa, da População Economica-mente Ativa e da População Ocupada, as condições de ocupação, o desemprego e o rendimen-to médio dos trabalhadores, ele procura demonstrar como ocorreu uma verdadeiradesestruturação do mercado de trabalho na década de 1990, interrompida nos últimos anos,mas sem que chegassem a ser superadas a precariedade ocupacional e a vulnerabilidade deuma significativa parcela da população dessas cidades.PALAVRAS-CHAVE: metrópoles, mercado de trabalho, precariedade ocupacional, vulnerabilidadesocial

* Doutora em Sociologia. Professora do Mestrado em Polí-ticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica doSalvador e do Programa de Pós-Graduação em CiênciasSociais da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Pes-quisadora do Centro de Recursos Humanos - CRH/UFBA.Estrada de São Lázaro, 197. Cep: 40.210-730. Federação.- Salvador - Bahia - Brasil. [email protected] autora agradece a preciosa colaboração de LuizChateaubriand Cavalcanti dos Santos e Leormínio MoreiraBispo Filho na compatibilização dos dados da série e naelaboração das tabelas utilizadas neste trabalho.

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flexibilização e fragmentação do mercado de tra-balho, precarização dos contratos, expansão dasubcontratação e de outras formas “atípicas” deemprego), um extraordinário crescimento do de-semprego e a restrição de direitos, enfraquecen-do identidades e solidariedades tradicionais ehomogêneas de classe e a capacidade de reivin-dicação e resistência dos trabalhadores (Harvey,1993; Castel, 1995; Alonso, 2000; Palmade, 2003;Antunes, 2005, 2007; Diaz-Salazar, 2004; Perrin,2004; Wacquant, 2008).

Tendências a certa desestabilização da con-dição salarial, ao crescimento de ocupações pre-cárias e do desemprego e a uma restrição dos me-canismos institucionais de proteção social têm le-vado aos países avançados condições ocupacionaisantes típicas das sociedades menos desenvolvi-das e atribuídas ao seu atraso, com o surgimentoe estigmatização do que tem sido denominadocomo “underclass”, a preocupação com a “exclu-são social” e a penalização da miséria (Castel,1993; Wacquant, 2008). Contudo, as condiçõeseconômicas desses países, a herança dos “anosgloriosos” e a resistência política contra o desmon-te do Estado de Bem Estar e dos direitos de cida-dania mantêm a dimensão desses problemas bemdistante do que ocorre nos países da periferia ouda semiperiferia. Nesses países, que não chega-ram a constituir uma sociedade salarial e um sis-tema de proteção social plenamente desenvolvi-dos, onde as desigualdades e a pobreza são bas-tante acentuadas, os impactos das transformaçõesem apreço têm se mostrado bem mais adversos.

No caso do Brasil, o processo de desenvol-vimento que o transformou em uma das grandeseconomias do mundo mostrou-se incapaz de as-segurar melhores condições de trabalho e de sub-sistência para o conjunto da população. Apesarda expansão e diversificação da estrutura produ-tiva e ocupacional que acompanharam a sua in-dustrialização e urbanização, (com a criação denovos empregos em setores como a indústria detransformação, transportes, produção de energia,construção civil, administração pública, finançase serviços de consumo coletivos e auxiliares à

produção), a relação contratual assalariada e re-gulada por direitos sociais não chegou a seuniversalizar. A abundância de mão de obra e adimensão do “exército de reserva” permitiram tan-to a compressão salarial como uma coexistênciaentre o “moderno” e o “tradicional”, com a persis-tência de relações de trabalho precárias em seto-res como o pequeno comércio, os serviços pesso-ais ou o trabalho doméstico. Mesmo nas áreas maisdinâmicas, uma reduzida camada de alta renda(com grande poder de consumo e influência soci-al) e camadas médias ampliadas, diversificadas eem ascensão passaram a conviver com um prole-tariado industrial e terciário e com um vasto, ins-tável e heterogêneo contingente de trabalhadorespobres, de vida incerta e duvidosa.

Contudo, até a década de 1980, o extraor-dinário desenvolvimento do país, com taxas decrescimento do PIB sempre superiores às do cres-cimento da PEA, em uma época em que a expan-são da produção implicava maior demanda detrabalho, ampliou as possibilidades de melhorintegração no mercado de trabalho, viabilizada,basicamente, através da migração rural urbana e,notadamente nas cidades de maior porte, da pos-sibilidade de uma mobilidade ascendente, intraou intergeracional. Nessa fase, a elevação do ní-vel de escolaridade da população e a diversifica-ção da estrutura ocupacional propiciaram umaumento das oportunidades de trabalho e deemprego formal (com a proteção e benefícios aele associados), amortecendo o potencial de con-flito e a tensão social e viabilizando a reproduçãode uma sociedade extremamente desigual.

Foi o período de estruturação do mercadode trabalho no país, que se estendeu até os anos1980, com uma forte expansão da ocupação e doassalariamento formal,1 principalmente na indús-

1 Apesar da persistência de problemas como o subemprego, ainformalidade, os baixos salários e as desigualdades no mer-cado de trabalho, entre 1940 e 1980, frente a uma taxa mé-dia anual de expansão da população economicamente ativade 2,6%, o emprego com registro teve avanço de 6,2%, oemprego assalariado total de 3,6% e aquele sem registro de0,6%. No segmento organizado do mercado de trabalho ur-bano, o emprego cresceu a uma taxa média anual de 4,9%,acima da variação da PEA (4,6%) e das ocupações do seg-mento não-organizado, conforme Pochmann (2008, p.62-63).

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tria, na administração pública e nos serviçosmodernos, levando a que, em 1989, por exem-plo, a indústria de transformação chegasse a pos-suir 87,2% dos postos preenchidos por assalaria-dos, 72,6% com registro em carteira (Pochmann,2008). Mas essa dinâmica se reverteu nos anos1990, com o esgotamento do padrão de financia-mento e do modelo de desenvolvimento até en-tão implementado. Com o agravamento da criseeconômica e uma intensa aceleração do processoinflacionário, os caminhos do Brasil terminarampor ser reorientados, com a implementação deum conjunto de políticas convergentes, recomen-dadas pelas agências multilaterais. Denominadascomo “ajuste estrutural”, “reformas estruturais”ou “reformas orientadas para o mercado”, elas en-volveram um programa de estabilização, a reali-zação de uma abertura econômica intensa e rápi-da, um amplo programa de privatizações, umaprofunda reformulação do papel do Estado e umagrande ênfase nos mecanismos de mercado.

Associadas a uma inserção passiva e su-bordinada do país na dinâmica de uma econo-mia mundializada sob a hegemonia do capital fi-nanceiro, essas políticas deixaram o Brasil maisexposto à instabilidade, aos ataques especulativose às crises econômicas internacionais; ocasiona-ram uma desaceleração da produção, uma ten-dência à desindustrialização e um predomínio debaixas taxas de crescimento, assim como a umaverdadeira desestruturação do mercado de tra-balho, com a fragilização e a redução da impor-tância relativa do seu núcleo estruturado (ou seja,do contingente de trabalhadores com vínculo for-malizado e proteção social), a proliferação de for-mas precárias e adversas de ocupação e de con-trato, o crescimento do desemprego e a queda dasrenumerações, reduzindo a participação dos em-pregados na renda disponível.2

Com a reestruturação produtiva, a intro-dução de novas tecnologias, as privatizações,demissões em massa e incentivo a aposentadori-as precoces no serviço público, milhares de em-pregos foram destruídos. Na indústria de trans-formação, por exemplo, teriam sido perdidos 1,4milhão de postos, segundo estimativas dePochmann (2008). A competitividade das empre-sas foi buscada, sobretudo através da redução docusto da mão de obra, de forma que aflexibilização, a terceirização, a subcontratação,e a precarização das relações de trabalho trans-formaram-se no grande mecanismo do ajuste.Enquanto a taxa de participação avançava, comum maior ingresso das mulheres no mercado detrabalho, a geração de novos postos se restringiue sua qualidade decaiu, afetando, inclusive, aexpansão e reprodução das classes médias. E,embora a contratação padrão tenha se mantido comoa sua forma mais expressiva, expandiram-se asmodalidades mais adversas de ocupação, como otrabalho autônomo para o público fora da residên-cia e sem instalações fixas e o emprego doméstico.Em queda ao longo processo de estruturação domercado de trabalho, pela diversificação e melhoriadas oportunidades ocupacionais, este último vol-tou a crescer em termos absolutos e relativos, atin-gindo, no ano 2000, a mesma participação regis-trada em 1950.

Diversos estudos (Baltar, 2003; Borges,2006; Dedecca; Rosandiski, 2006; Pochmann,2001, 2008; Bastos, 2007; Toni, 2007; Druck; Fran-co, 2007; CEPAL/PNUD/OIT, 2008) têm analisadocomo o mercado de trabalho se desestruturou e sereconfigurou, acentuando seus traços mais nega-tivos, como a instabilidade e a vulnerabilidadeocupacional, a elevada proporção de trabalhado-res desprotegidos, o volume de postos de baixaqualidade. Além disso, o desemprego, que antesera residual e concentrado em segmentos maisvulneráveis (como os jovens, as mulheres e osnegros, todos com reduzida escolaridade), cres-ceu extraordinariamente e se estabilizou em umpatamar elevado, mudando também de nature-za. Deixou de ser mais conjuntural, associado ao

2 Analisando esse fenômeno, Dedecca (2001) ressalta comoessa participação declinou de 37,5% em 1991 para 32,8%em 1999. Se excluídas as contribuições sociais efetivas,esses números passam de 32% para 26,5%, respectiva-mente, enquanto, em contrapartida, aumentou a partici-pação das empresas, dos impostos e das contribuições,privilegiando determinados grupos, como os detentoresde títulos financeiros.

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nível de atividade econômica, e se tornou estrutu-ral, não restando praticamente mais nenhum seg-mento de força de trabalho imune a esse risco.3

Ademais, tanto a dimensão como os im-pactos adversos desses problemas foram acentu-ados pela sua naturalização. Como ressaltamDedecca e Rosandiski (2006), nos anos 1990 opensamento neoliberal dominante consideravaque não havia mais lugar na economia para boaparte dos trabalhadores brasileiros, que teriamse tornado “inempregáveis”, em decorrência dodesenvolvimento tecnológico e de sua baixa qua-lificação. A crescente barbárie do mercado de tra-balho era vista como inevitável, restando a essestrabalhadores elevar ao máximo o seu nível edu-cacional para competir com os milhares de ou-tros “inempregáveis” criados pelo admirável“mundo novo da globalização”, e ao Estado de-senvolver políticas compensatórias para atenuaressas mazelas, basicamente através do fomentoao empreendedorismo e da oferta de cursos ori-entados para o mercado de trabalho.

A partir de 2004, porém, refutando essavisão, registra-se uma evolução mais favoráveldesse mercado, associada a uma retomada docrescimento econômico, a um aparente términodo ciclo de reestruturação da indústria de trans-formação, a medidas de apoio às pequenas e mé-dias empresas, ao forte crescimento do comérciointernacional e à atuação do Ministério do Traba-lho, do Ministério Público do Trabalho e da Jus-tiça do Trabalho, combatendo a terceirização sel-vagem e a precarização. O emprego voltou a cres-cer, assim como a sua formalização, mas não osuficiente para reverter a deterioração ocorridano período precedente, ou para reduzir mais sig-nificativamente as altas taxas de desemprego queafetam principalmente as grandes regiões metro-politanas.

OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS RECENTESSOBRE O MERCADO DE TRABALHO NASREGIÕES METROPOLITANAS

Como se sabe, o processo de urbanizaçãodo Brasil teve, entre suas características, o fenô-meno da metropolização, com a concentração dapopulação em algumas grandes cidades, que setransformaram em regiões metropolitanas, agre-gando municípios vizinhos em um mesmo com-plexo de relações. Com a evolução desse fenô-meno, no ano de 2000, São Paulo e Rio de Janeiroe suas respectivas regiões abrigavam 28,6 milhõesde pessoas, representando 17% da população dopaís, com os polos metropolitanos concentrandoum número maior de habitantes que o conjuntodos demais municípios. Aí se encontrava, tam-bém, 18% da PEA brasileira, 17% da populaçãoocupada e 21% do pessoal ocupado na indústriade transformação. As demais regiões metropoli-tanas polarizadas por metrópoles “nacionais” (For-taleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitibae Porto Alegre) e pelo Distrito Federal agregavamoutros 23,1 milhões de habitantes, correspondendoa 13,6% da população nacional (com uma con-centração no município polo que chega a 80%,como em Salvador) e o expressivo estoque de 11,3milhões de ocupados, 1,8 milhões deles em ativi-dades industriais (Moura et al, 2004).

Privilegiadas pelas características e peladinâmica da industrialização e do desenvolvi-mento brasileiro, essas regiões vêm concentran-do o aparato produtivo, a riqueza e as melhoresoportunidades ocupacionais. Ainda assim, mes-mo na fase mais dinâmica do desenvolvimentobrasileiro, quando a expansão da produção im-plicava maior absorção de mão de obra, essas áre-as não foram capazes de generalizar a relaçãocontratual assalariada, regulada por direitos so-ciais, nem de assegurar melhores condições detrabalho e de subsistência para toda a sua cadavez mais numerosa população. Nos anos 1990,seus problemas ocupacionais se acentuaram, umavez que elas foram especialmente afetadas pelasmudanças na organização espacial das ativida-

3 Ilustrando esse fenômeno, Pochmann (2008) ressalta que,em 2004, por exemplo, 8,2 milhões de trabalhadores bra-sileiros não conseguiram trabalho nem mesmo por umahora, conforme a PNAD, e que 60,2% dos desemprega-dos possuíam o ensino básico completo. Entre os maisescolarizados, o desemprego também cresceu, afetando,inclusive, os detentores de diplomas de nível superior.

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des econômicas, pela reestruturação produtiva,pela perda de empregos industriais, abandono daspolíticas nacionais de desenvolvimento industriale regional e pela desestruturação do mercado detrabalho, com a precarização de postos e um gran-de aumento do desemprego.

Discutindo esses fenômenos e reconhecen-do que a revolução nos processos produtivos e astransformações na estrutura dos mercados e naorganização da produção estão levando a um novopadrão locacional das atividades econômicas eredefinindo o papel das metrópoles, Piquet (2002)destaca a redução do peso industrial dessas áre-as como uma das características mais importan-tes da reestruturação produtiva no Brasil. A par-tir de tabulações especiais de dados da PNAD edo Ministério do Trabalho, a autora considera queentre 1989 e 2000, foram eliminados 1.306.000postos de trabalho no país, 1.210.000 deles emregiões metropolitanas.

A maior perda dos postos teria ocorridono Rio de Janeiro, embora a economia local fosseposteriormente beneficiada por um novo ciclo deinvestimentos alavancado pela exploração depetróleo no litoral de Campos. A região metropo-litana de São Paulo teve a segunda maior perda,e, embora continue na liderança da produção in-dustrial brasileira, passou a dividir essa posiçãocom o parque produtivo localizado no interiordo estado e em outras áreas do país, configuran-do um novo mapa em que a unidade fabril mudade endereço, mas a gestão permanece na cidadede São Paulo, que concentra crescentemente osserviços superiores, os escritórios centrais dasgrandes empresas, os serviços financeiros, os cen-tros de pesquisa e formação.

Na Região Metropolitana de Porto Alegre,teria havido um decréscimo de 26% dos postosde trabalho (atingindo principalmente a indús-tria calçadista), com a concorrência internacio-nal e a transferência de empresas para a regiãonordestina em busca de incentivos fiscais, salári-os reduzidos e uma mão de obra sem maioresalternativas de emprego e com reduzida experi-ência sindical. Além de essa região apresentar

historicamente melhores indicadores sociais, elateve as suas condições ocupacionais menos afe-tadas em decorrência dos efeitos positivos deMercosul e da diversificação do seu parque pro-dutivo. Já a Região Metropolitana de Belo Hori-zonte estreitou suas articulações com o eixo di-nâmico da economia brasileira e passou a integrá-lo com o processo de “desconcentração concen-trada”, que deslocou atividades da metrópolepaulista para aglomerá-las em um perímetro re-lativamente estreito que inclui a capital mineira.Foi a região que menos perdeu postos de traba-lho, inclusive pela alta concentração de indústri-as pesadas no município de Contagem, especial-mente nos segmentos metal-mecânico e de mi-nerais não-metálicos (Piquet, 2002; Borges, 2006).

Com funções político administrativas euma grande concentração de funcionários públi-cos, a Região Metropolitana de Brasília parece tersido menos penalizada pelos impactos adversosdas transformações dos anos 1990. Bem diversafoi a trajetória das metrópoles das regiões menosdesenvolvidas do país, como Recife e Salvador.Com um mercado de trabalho mais frágil e restri-to e menores condições de atrair e expandir ossetores de ponta da nova fase de acumulação, ena ausência de uma política de desenvolvimentoregional, essas cidades tiveram o seu crescimen-to econômico reduzido e agravados os seus pro-blemas ocupacionais. Mesmo a Região Metropo-litana de Salvador, que foi beneficiada pelo pro-cesso de desconcentração industrial na etapaanterior do desenvolvimento brasileiro e recebeuinvestimentos de grande porte, embora com bai-xa capacidade de geração de empregos e melhordistribuição de renda, experimentou uma fortedesestruturação do seu mercado de trabalho evem apresentando as mais elevadas taxas de de-semprego do país.

A população dessas metrópoles continuoua crescer nos anos 1990, com uma menor partici-pação de crianças e adolescentes na sua compo-sição, e tanto a População em Idade Ativa (PIA)como a População Economicamente Ativa (PEA)também persistiram aumentando. Nesse segun-

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do caso, isso decorre principalmente do avançoda participação feminina, em busca de uma rea-lização profissional, estimulada pela expansão deatividades mais favoráveis à sua incorporação ouassociada à necessidade de contribuir para o or-çamento doméstico ou assegurar o seu sustentoe o da família, que, muitas vezes, passou a serameaçado pelo desemprego e pela queda de ren-dimentos dos provedores principais.

A população ocupada também se ampliouno período analisado, como mostram os dadosda Tabela 1 e os Gráficos 1 e 2, embora isso nãotenha ocorrido de forma linear. Há flutuaçõesassociadas à dinâmica econômica, como seria deesperar (notadamente nos anos que antecederama desvalorização cambial de 1999 e naqueles pos-teriores a 2004, quando a economia e o mercadode trabalho passaram a experimentar certa recu-peração), e diferenças entre as diversas regiões.

Mas, como a oferta de mão de obra se ampliousignificativamente, pelo crescimento da popula-ção, por mudanças na sua estrutura e pelo au-mento das taxas de atividade, o aumento da ocu-pação foi absolutamente insuficiente para rever-ter a deterioração das condições de trabalho, comoo novo perfil dos ocupados e a persistência deum alto desemprego deixam evidente.

Observando esse novo perfil, a industria-lização e o desenvolvimento brasileiro produzi-ram uma divisão inter-regional do trabalho, queconsolidou desigualdades espaciais muito signi-ficativas, e os impactos das mudanças analisa-das se diferenciaram de acordo com a estruturaprodutiva, a conformação anterior do mercadode trabalho e a capacidade de resposta de cadametrópole às novas condições. A perda de pos-tos nas atividades de transformação foi especial-mente acentuada naquelas áreas onde elas têm

uma maior relevância, ou seja,nas regiões metropolitanas de SãoPaulo, Porto Alegre e Belo Hori-zonte. Nos últimos anos da sérieestudada, parte dessas perdas foirecuperada, mas, ainda assim,todas as regiões selecionadas ex-perimentaram uma relativa redu-ção do peso da indústria na suaestrutura ocupacional, com exce-ção da Região Metropolitana deSalvador. Essa região não possuiuma tradição industrial, e essetipo de emprego sempre pesou

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muito pouco na sua estrutura ocupacional, tor-nando-se ainda mais restrito com o drástico pro-cesso de reestruturação do Polo Petroquímico deCamaçari, que levou à dispensa ou à terceirizaçãode uma grande parte dos seus operários. Ao longoda presente década, porém, uma agressiva políti-ca de atração de novas indústrias conseguiu trazerpara essa área um complexo automobilístico e al-gumas outras empresas, expandindo relativamenteo contingente de ocupados no setor de transfor-mação. Como a tabela a seguir deixa patente, emSalvador e nas demais regiões selecionadas, regis-trou-se uma significativa expansão dos serviços,acentuando a sua terciarização.

Alguns autores consideram que a desin-dustrialização da ocupação, com a substituição dabase produtiva anterior por uma economia de in-formação e serviços especializados, constituiria um

processo quase que “natural”,inerente ao desenvolvimento docapitalismo na sua transição parauma etapa “pós-industrial”, eque a terciarização representariao caminho atual das regiõesmetropolitanas. Lopes e Cobos(2008), porém, questionam apertinência dessa afirmação, es-pecialmente no caso da Améri-ca Latina. Para esses autores,embora os padrões locacionaisda indústria possam ter experi-mentado certas mudanças, o de-senvolvimento de um terciário

avançado continua vinculado à existência de umabase produtiva sólida (que não exclui as ativida-des industriais), do suporte e dos impulsos porela propiciados a atividades como pesquisa e de-senvolvimento, design, publicidade, finanças, as-sessoria, transporte, armazenamento ou distribui-ção em larga escala, entre outras.

Por isso, a terciarização assume um cará-ter bastante heterogêneo nas metrópoles da Amé-rica Latina e do Brasil, onde serviços modernos,de alta tecnologia e produtividade, coexistem comos serviços precários do denominado “setor in-formal”, justamente pela incapacidade das suaseconomias em propiciar melhores oportunidadesde ocupação a um grande contingente de traba-lhadores. Como a desestruturação do mercado detrabalho ampliou esse contingente, é preciso le-var em conta essas questões que ajudem a enten-der, por exemplo, como se deu a precarização das

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relações de trabalho, ou porque a ocupação nocomércio e nos serviços cresceu mais em Salva-dor e em Recife do que em São Paulo.

Discutindo essa precarização, com base eminformações da RAIS, Pasternak (2008) assinalacomo, entre 1991 e 2000, o crescimento do em-prego formal não chegou a 2% nas regiões metro-politanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Ale-gre, Recife e Salvador, mostrou-se negativo no Riode Janeiro e em São Paulo e não passou de 4,19%na década em Curitiba, região onde apresentou omelhor desempenho. Em contrapartida, com ocrescimento dos assalariados sem carteira assi-nada, dos donos de pequenos negócios, dos tra-balhadores domésticos, dos ocupados precaria-mente por conta própria ou de outras formas ins-táveis e desprotegidas, a informalidade teria pas-sado de 35,5% em 1991 para 47,20% no ano 2000em São Paulo, de 24,91% para 29,93 em BeloHorizonte, de 29,75 para 37% em Salvador e de38,70 para 43,04 em Recife. Nem mesmo os tra-balhadores mais qualificados ficaram imunes aesse fenômeno, uma vez que, entre os profissio-nais de nível superior, os ocupados por contaprópria, que não contribuíam para a previdên-cia, alcançavam 40% em São Paulo, 42% em Por-to Alegre, 50% em Curitiba, 54,38% em BeloHorizonte e 54,25% em Salvador.

Como a evolução mais favorável do merca-do de trabalho registrada a partir de 2004, associa-da a certa retomada do crescimento, a um aparentetérmino do ciclo de reestruturação da indústria e auma atuação mais incisiva dos órgãos de fiscaliza-

ção do mercado de trabalho no combate à suaprecarização, nos últimos anos aqui analisados(2004-2007), o panorama ocupacional tornou-semenos adverso. O assalariamento com registro vol-tou a crescer e ocorreu uma relativa melhoria dascondições ocupacionais. Ainda assim, nas regiõesmetropolitanas estudadas, onde uma grande parteda produção e da riqueza nacional está concentra-da, a parcela de trabalhadores que dispõe de algu-ma proteção trabalhista e social, na condição deassalariados com registro em carteira, ou funcioná-rios públicos estatutários, persistiu minoritária4. Amaior parte deles continuou na condição de autô-nomos, empregados sem registro, empregados do-mésticos e outras formas precárias de ocupação,conforme os dados da Tabela 3.

A evolução e a dimensão da precariedadeocupacional ficam mais evidentes, contudo, quan-do se observa o número e a proporção de trabalha-dores informais, considerando como tais os assa-lariados sem carteira assinada e os autônomos eempregados domésticos sem contribuição à pre-vidência social. No Distrito Federal, onde o pesodesses trabalhadores é atenuado pela elevada con-centração de serviços públicos, eles representavamquase 30% dos ocupados. Em Porto Alegre, queapresenta historicamente melhores condiçõesocupacionais, cerca de 25%. Em Belo Horizonte e

4 Embora não possam ser ignorados, os avanços registradosnos últimos anos em termos de formalização de vínculostiveram efeitos relativamente tímidos. Afinal, comparan-do-se o peso dos trabalhadores com carteira assinada noano inicial e final do período estudado, observa-se que osaldo positivo dos ocupados com carteira assinada nãofoi além de 5,0% em Belo Horizonte, 7,6% no DistritoFederal, 1% em Porto Alegre, 5,7% em Recife, 11% emSalvador e 3,7% em São Paulo.

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São Paulo, sua participação flutuava em torno deum terço dos ocupados e, nas metrópoles nordes-tinas, onde o mercado de trabalho sempre foi me-nos estruturado, ela estava próxima ou ultrapas-sava os 40%, apesar do relativo declínio experi-mentado nos últimos anos em Salvador.

Mais ilustrativo ainda é considerar o nú-mero de trabalhadores nessa condição. Apesardas flutuações observadas emtermos relativos – como o fatode a População Economica-mente Ativa continuar cres-cendo e o mercado de traba-lho não lhe oferecer melhorescondições de inserção –, o nú-mero absoluto de trabalhado-res na informalidade persistiuse ampliando na maior partedas regiões estudadas, regis-trando-se um pequeno de-créscimo apenas em São Pau-lo e em Salvador. Nessas duasmetrópoles e em Belo Hori-zonte, os números também

evidenciam uma leve queda na sua proporção,ilustrada pelo Gráfico 3.

Por outro lado, apesar do discurso ampla-mente difundido nos anos 1990 sobre oempreendedorismo e as vantagens de “trabalharpara si mesmo”, os impactos da desestruturaçãodo mercado de trabalho também se abateram so-bre os trabalhadores autônomos, acentuando os

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aspectos desfavoráveis dessa condição. Analisan-do a situação desses trabalhadores na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre, por exemplo, combase em uma série de dados da Pesquisa de Em-prego e Desemprego referentes ao período 1992-1996, Galeazzi (2007) confirmou a sua acentua-da heterogeneidade, assim como a existência dealgumas categorias com ganhos superiores ao ren-dimento médio dos assalariados, embora essesganhos estivessem associados a jornadas de tra-balho muito prolongadas.

Para a maioria dos ocupados na informalidade,porém, os rendimentos médios eram reduzidos edecrescentes; as jornadas de trabalho tornaram-semais extensas; a contribuição à previdência, tradici-onalmente restrita, reduziu-se ainda mais, deixandoum maior contingente exposto aos riscos da carên-cia de uma proteção social institucionalizada noscasos de interrupção da atividade por problemas de

doença, acidente, perda de traba-lho ou velhice. Ademais, a precari-edade desse tipo de inserção laboraltambém ficou patente nos resulta-dos de um levantamento especialda Pesquisa de Emprego e Desem-prego realizado em Porto Alegre em2006, mencionados pela autora.Nessa oportunidade, 45,4% dasmulheres e 52,1% dos homens ocu-pados por conta própria reconhe-ceram que enfrentavam problemaspara encontrar clientes, ter serviçotodos os dias ou conhecer o merca-do; 31,8% das mulheres e 37,13 dos

homens para estabelecer o preço dos seus produtosou dos serviços que prestavam; 22,7% das mulherese 24,5% dos homens para enfrentar o mercado sozi-nhos e 38,4% das mulheres e 41,5% dos homenspara adquirir ou melhorar seus equipamentos e ins-talações.

Mas, além da destruição e precarização dospostos de trabalho, da criação de poucas vagas eda baixa qualidade da maior parte delas, agravan-do as dificuldades tradicionais de incorporação daforça de trabalho no Brasil, as transformações dasúltimas décadas também ampliaram o desempre-go. Residual e concentrado em segmentos maisvulneráveis da força de trabalho até a década de1980, esse fenômeno cresceu extraordinariamen-te na década de 1990, tornou-se estrutural e, mes-mo após o relativo decréscimo observado nos últi-mos anos, vem se mantendo em patamares bas-tante elevados, especialmente em regiões metro-

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politanas como as de Recife e Salvador.O significado dessas taxas e o seu impacto

em termos da vulnerabilidade ocupacional e so-cial podem ser mais bem avaliados quando severifica o que elas representam em números ab-solutos. Ou seja, nos anos de pico, o desempregoaberto chegou a atingir 201 mil pessoas na regiãometropolitana de Porto Alegre em 1999, 1.250 milna região de São Paulo e 284 mil na de Salvadorem 2003 e 184 mil no Distrito Federal, 222 mil nade Recife e 297 mil na de Belo Horizonte em 2004,segundo estimativas realizadas a partir dos da-dos da PED. Mesmo após a melhoria do quadroocupacional, em 2007, a população abertamentedesempregada era estimada em 226 mil pessoasem Belo Horizonte, 148 mil no Distrito Federal,184 mil em Porto Alegre, 199 mil em Recife, 251mil em Salvador e 1029 mil em São Paulo.

Além disso, o tempo de procura de trabalhopelos desempregados se ampliou bastante. Ao lon-go do período analisado no presente texto, aquelesque procuravam emprego há menos de um mêsnunca ultrapassaram os 15%. Para a grande maio-ria de desempregados, essa procura já se estendiade seis a doze meses ou até por mais de um ano.Mesmo após o decréscimo registrado a partir de2005, os desempregados há mais de um ano em2007 ainda representavam 20,9% em São Paulo, 24,5em Belo Horizonte e 33,2% no Distrito Federal.

Contrariando aqueles autores que estabe-lecem uma relação direta entre emprego e esco-laridade, o desemprego se expandiu apesar de umsignificativo aumento dos níveis educacionais dapopulação, e vem atingindo até os mais educa-dos. Mas é entre aqueles com menos anos de es-tudo,5 entre as mulheres, os negros e os jovensque ele se mostra especialmente ampliado.

Nas metrópoles selecionadas, o desempre-

go entre as mulheres ficava de quatro a sete pon-tos acima do observado entre os homens; entreos negros, as taxas iam de 20 a 26%, contra cercade 15% entre os não-negros. Entre os jovens, elaseram superiores a 20%, especialmente nos casosdas regiões metropolitanas de Belo Horizonte,Recife e Salvador. Prejudicados pela sua reduzi-da (ou nenhuma) experiência ocupacional, essesjovens vêm enfrentando crescentes dificuldadespara obter o primeiro emprego ou para se manterocupados;6 entre outros aspectos, como ressaltaBalthar (2003), porque a desestruturação do mer-cado de trabalho levou uma parte dos trabalha-dores adultos a permanecer no exercício de ativi-dades que antes representavam a porta de entra-da na economia urbana, como algumas das ocu-pações de menor qualificação da construção ci-vil para os menos escolarizados, restringindo oingresso e a participação dos jovens.

Finalmente, essas transformações tambémse refletiram sobre o nível das remunerações dostrabalhadores, reduzindo o rendimento real mé-dio dos ocupados (principalmente até 2003) emtodas as regiões metropolitanas e, especialmen-te, nas de Porto Alegre, Salvador e Recife. Em BeloHorizonte e São Paulo, essas perdas foram me-nos acentuadas. Situadas na área mais dinâmicado país, essas regiões permaneceram como cen-tros industriais importantes, vêm absorvendo boaparte dos investimentos realizados no Brasil nosúltimos anos e concentrando crescentemente osserviços especializados, com repercussões posi-tivas sobre o mercado de trabalho e os níveis deremuneração dos seus trabalhadores. A evoluçãodesses rendimentos e sua diferenciação entre asregiões selecionadas são apresentadas na Tabela6 e no Gráfico 5.

5 A escolaridade média dos ocupados passou de 5,6 anos deestudo em 1992 para 7,8 anos em 2006 no Brasil (CEPAL/PNUD/OIT, 2008, p.141). Os trabalhadores com menor es-colaridade cada vez mais vêm perdendo espaço no mer-cado de trabalho, até para o exercício de atividades quenão exigem um maior nível de educação. Desde os anos1990 que o patamar mínimo exigido para inserção nomercado formal vem se deslocando, com a exigência cres-cente do segundo grau completo. Além disso, vem se con-figurando uma desconexão entre a escolaridade dos tra-balhadores e os postos que ocupam. Como os mais

escolarizados são considerados mais produtivos, mais fa-cilmente treináveis e flexíveis, frente à ampla disponibili-dade de mão de obra, os empregadores têm usado a esco-laridade como critério de seleção, mesmo quando o con-teúdo das funções exercidas não é complexo e os saláriosnão são compatíveis.

6 Até a ocupação do mercado informal tem se tornado maisdifícil, uma vez que os jovens normalmente não possu-em requisitos como algum capital acumulado, rede derelações sociais mais consolidadas e a experiência e ma-turidade necessárias para disputar espaços em um mer-cado competitivo e em vias ou condições de saturação.

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Ainda que praticamente generalizada,7 aqueda da média das remunerações não atingiu damesma forma todos os trabalha-dores, mostrando-se mais acentu-ada entre os que auferiam relati-vamente maiores ganhos: os ho-mens, os brancos, os chefes de fa-mília e aqueles com ensino mé-dio completo. As perdas forammenores entre as mulheres, osnegros, os jovens e os menosescolarizados, cujos rendimentosgeralmente já eram bastante redu-zidos (sendo, portanto, de maisdifícil compressão), e que, estan-do próximos ou iguais ao saláriomínimo, foram beneficiados pelapolítica mais recente de sua valorização.

7 As únicas exceções foram as remunerações médias dasmulheres ocupadas em Belo Horizonte e dos jovens emSalvador, como se vê pela Tabela 7.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados e análises apresentados eviden-ciam como as transformações associadas ao ajus-te e à reestruturação produtiva levaram a umadesestruturação do mercado de trabalho, comimpactos adversos sobre a dinâmica e os padrõesde incorporação da força de trabalho, atingindoprincipalmente as regiões metropolitanas. Essemercado se tornou ainda mais heterogêneo, seg-mentado e desfavorável aos trabalhadores, coma flexibilização dos vínculos de trabalho e umavanço da precarização, uma intensificação dasjornadas8 de trabalho e um grande aumento dodesemprego e da sua duração, afetando negativa-mente a segurança, a saúde, a identidade indivi-dual e coletiva, a organização sindical e as for-mas de representação e luta dos trabalhadores.

A partir de 2004, houve uma inflexão nes-ses movimentos, com uma relativa recuperaçãodo crescimento econômico, um aparente térmi-no do ciclo de reestruturação da indústria e umaação mais incisiva dos órgãos de fiscalização dotrabalho. O emprego com registro em carteiravoltou a crescer, o desemprego teve certo recuo(ainda que se mantenha em níveis elevados), evem se registrando uma discreta melhoria do ren-dimento dos ocupados, associada tanto à novadinâmica do mercado de trabalho quanto a umapolítica oficial de valorização do salário mínimo,desmistificando teses como a do “fim do empre-go”, do “esgotamento da sociedade salarial” oudos efeitos negativos da elevação do salário mí-nimo e da regulação do mercado de trabalho so-bre o crescimento da economia e da ocupação,

Mas essas mudanças, apesar de relativa-mente expressivas, foram insuficientes para anu-lar o conjunto de perdas dos anos anteriores e,menos ainda, para enfrentar os históricos pro-blemas ocupacionais da sociedade brasileira,acentuados nas regiões metropolitanas. Como foi

visto, ainda que o panorama ocupacional tenhase tornado menos adverso, em 2007, a parcela detrabalhadores com alguma proteção trabalhista esocial persistia minoritária. Os trabalhadores nainformalidade representavam de um quarto aquase um terço dos ocupados nas regiões metro-politanas mais desenvolvidas, como São Paulo,Belo Horizonte e Porto Alegre, e chegavam a qua-se 40% naquelas menos desenvolvidas, comoRecife e Salvador. O desemprego aberto encon-trava-se próximo ou ultrapassava os 10%, e o ren-dimento real médio dos ocupados, com os gan-hos dos dois últimos anos, não voltara ainda aoregistrado em 1997.

As desigualdades de oportunidades e derendimentos persistiam ainda mais acentuadasentre as metrópoles,9 e os problemas ocupacionaiscontinuavam a penalizar os contingentes tradici-onalmente mais discriminados e com uma inser-ção mais precária, como as mulheres, os negros,e aqueles com menor educação. No caso dos jo-vens, especialmente quando negros, menosescolarizados e de famílias pobres, a situação as-sume contornos extraordinariamente adversos.

Analisando a incorporação produtiva dosjovens nas regiões metropolitanas brasileiras, combase em tabulações especiais da PNAD, Fernandes(2007) evidenciou como esse contingente temuma participação expressiva na população des-sas regiões e vem tendendo a participar significa-tivamente do mercado de trabalho. De um lado,pelo abandono ou resistência a uma escola pou-co atraente, de baixa qualidade e distante da suarealidade e aspirações. Do outro, pela necessida-de de contribuir para a subsistência da família epelo desejo de autonomia e de acesso a determi-nados padrões de consumo como forma depertencimento ao seu grupo social. Mas, se a es-cola não consegue retê-los, o mercado de traba-lho não os quer e, com isso, a maioria dos jovenstermina restrita ao desempenho de atividades

8 Como assinalam Druck, Oliveira e Silva de Jesus (2010), aintensificação das jornadas ocorreu através de variadas for-mas, como a sua extensão no local de trabalho ou na resi-dência, o acúmulo de tarefas e funções e a aplicação dapolivalência, a aceitação de horas extras sem remuneração.

9 Além das diferenças historicamente observadas, a quedado rendimento médio dos trabalhadores entre 1997/1998e 2007 foi de 6,2% na Região Metropolitana de São Pau-lo, 6,0% na de Belo Horizonte, 10,7% no Distrito Fede-ral, 13,9% na de Porto Alegre, 14,2% na de Salvador e23,0% na de Recife.

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precárias, mal remuneradas e sem perspectivasde melhor futuro, ou amarga taxas de desempre-go que chegavam a 24,8% entre os 15 e 24 e a34,5% entre os 15 e 19 nas regiões metropolita-nas, e que se elevavam a 35,4% entre os 15 e 24e a 43,0% entre os 15 e 19 para os 50% mais po-bres entre esses jovens.

Com isso, muitos terminam sem estudar,sem trabalhar e sem procurar uma ocupação, ecom os longos períodos de ociosidade, a estreite-za e fragilidade das redes sociais e a ausência deoutras perspectivas, enveredando pelos caminhosda delinquência, que conduzem à prisão ou àmorte precoce. Não é por acaso que 7 jovens es-tavam ingressando por hora no sistema prisionaldo país em 2007,10 e que a violência vem aumen-tando nessas áreas, tendo os jovens como auto-res e como vítimas principais.

Afinal, apesar das discussões e questiona-mentos de alguns autores quanto à persistênciada sua centralidade, o trabalho continua como oeixo central do processo de integração social, comum caráter não apenas instrumental, associado àobtenção de renda, aos padrões de consumo, àproteção e à segurança, como também fundamen-tal para a ocupação de um lugar na sociedade, paraa definição de identidades e a constituição de vín-culos sociais. Nessas condições,

Para os que não trabalham, é difícil encontrarreferências que lhes permitam estruturar o tem-po, dar sentido à vida, organizar o encontro como outro, dotar-se de um sentimento de utilida-de, de uma imagem pessoal que o valorize. Nun-ca antes, como nesse período histórico, os indi-víduos se curvaram para o mundo do trabalho,nunca antes a sociedade fora do trabalho se tor-nou tão deserta no plano do sentido. (Linhart,2007, p.61)

As evidências disponíveis para o períodoposterior ao analisado apontam para uma relativacontinuidade do quadro que vinha se desenhan-do nos últimos anos, embora a melhoria das con-dições ocupacionais pareça ter sido, pelo menos

temporariamente, interrompida pelos impactos dacrise econômica internacional sobre o Brasil.

Como seria de esperar, esses impactos fo-ram desfavoráveis no que tange ao mercado detrabalho, embora diferenciados entre as metró-poles analisadas. Analisando a trajetória da Re-gião Metropolitana de Porto Alegre, De Toni(2010) assinala que, embora os efeitos adversosnão tenham sido evidentes em 2008, em 2009eles levaram a uma desaceleração da criação denovos postos e a uma interrupção da trajetória dequeda do desemprego. Já na Região Metropolita-na de Salvador, a pesquisa de Emprego e Desem-prego e as análises de Santos, Bispo Filho e Ne-ves (2010) constataram que, em 2008, a crise nãoteve maiores repercussões e que, em 2009, a evo-lução do emprego continuou a ser positiva, prin-cipalmente em decorrência da dinâmica da cons-trução civil, do comércio e dos serviços; que o de-semprego aberto caiu de 13,8% em 2007 para12,1% em 2008 e se manteve nesse patamar, em2009; que o tempo médio despendido pelos de-sempregados à procura de trabalho caiu de 74 para69 semanas, e o rendimento médio dos ocupadosregistrou um aumento de cerca de 1% (PED, 2010).

Isso não quer dizer, no entanto, que os tra-balhadores dessas áreas vivam no melhor dosmundos. Na ausência de transformações estrutu-rais e mais profundas, boa parte da população des-ses grandes centros urbanos permanece excluídados direitos trabalhistas e sociais básicos, em con-dições de marginalidade ou vulnerabilidade, essaúltima entendida como “condições propulsoras”de “desvantagens sociais” e riscos de indivíduose grupos caírem em estados de carência ou fragi-lidade de vínculos de inserção e mobilidade so-cial (Ivo, 2008, p.200). Centrada na inserção pre-cária ou na desfiliação do mercado de trabalho,essas condições vêm sendo acentuadas pelareconversão do tratamento da questão social noBrasil, pois, como assinala a autora, embora ascondições desfavoráveis de inserção no mercadode trabalho e os baixos níveis de remuneraçãoampliem a necessidade de assistência, requeren-do um papel decisivo do Estado na área social,

10 Conforme dados do Ministério da Justiça levantados paraa versão final do Programa nacional de Segurança Públi-ca com Cidadania – PRONASCI (Folha de São Paulo,2007), que escolheu 11 regiões metropolitanas como focoinicial de sua atuação.

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este vem buscando adaptar o sistema de prote-ção nos limites do ajuste econômico. E, com isso,transitando de um modelo universalista, que sepropunha a assegurar direitos sociais mínimos euniversais a todos os cidadãos para enfrentar situ-ações de risco, para uma intervenção centralizadaem programas emergenciais e focalizados sobre osmais pobres. Nessas circunstâncias, até pela di-mensão da sua população, as regiões metropolita-nas brasileiras continuam se configurando comoum dos territórios privilegiados das desigualda-des, da vulnerabilidade e da exclusão social.

(Recebido para publicação em 07 de outubro de 2010)(Aceito em 06 de abril de 2011)

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Page 16: MERCADO DE TRABALHO E VULNERABILIDADE EM ...de 2,6%, o emprego com registro teve avanço de 6,2%, o emprego assalariado total de 3,6% e aquele sem registro de 0,6%. No segmento organizado

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MERCADO DE TRABALHO E VULNERABILIDADE ...

LABOR MARKET AND VULNERABILITY IN

BRAZILIAN METROPOLITAN REGIONS

Inaiá Maria Moreira de Carvalho

This paper analyzes the labor market changesthat have occurred in recent decades in Brazilianmetropolitan areas, based on data from the Survey ofEmployment and Unemployment – in Portuguese,PED. In discussing the evolution of the Working AgePopulation, the Economically Active Population andEmployed Population, conditions of employment,unemployment and average income of workers, itseeks to demonstrate how there was a real breakdownof the labor market in the 1990s, interrupted in recentyears, but without overcoming occupationalprecariousness and vulnerability of a significantportion of the population of these cities.

KEYWORDS: cities, labor market, occupational precariousness,social vulnerability.

MARCHÉ DU TRAVAIL ET VULNÉRABILITÉ DANS

LES RÉGIONS MÉTROPOLITAINES

BRÉSILIENNES

Inaiá Maria Moreira de Carvalho

Sur la base des données de la Recherche pourl’Emploi et le Chômage – REC (Pesquisa de Emprego eDesemprego-PED), cet article présente l’analyse destransformations du marché du travail au cours desdernières décennies dans les régions métropolitainesbrésiliennes. À partir d’un débat sur l’évolution de laPopulation en âge de travailler, de la PopulationEconomiquement Active et de la Population Occupée,sur les conditions de travail, le chômage et les revenusmoyens des travailleurs, on essaie de démontrercomment une véritable déstructuration du marché dutravail a eu lieu dans les années 1990, interrompueces dernières années sans arriver cependant à dépasserla précarité occupationnelle et la vulnérabilité d’unepartie importante de la population de ces villes.

MOTS-CLÉS: métropoles, marché du travail, précaritéoccupationnelle, vulnérabilité sociale

Inaiá Maria Moreira de Carvalho – Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Professora doMestrado em Políticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador e do Programa de Pós-Gradu-ação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Pesquisadora do Centro de Recursos Huma-nos - CRH/UFBA. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e coordenadora do núcleo do INCT/Observa-tório das Metrópoles de Salvador. Suas pesquisas abordam temas como mercado de trabalho, transformaçõesurbanas, pobreza e políticas sociais. Entre os seus trabalhos mais recentes que enfocam a questão das cidadesestão os livros Como Anda Salvador (Rio de Janeiro, Letra Capital, 2009) e 2ª edição, atualizada e ampliada(Salvador, EDUFBA, 2008) organizados em colaboração com Gilberto Corso Pereira, e os artigos Globalização,Metrópoles e Crise Social no Brasil (EURE, Santiago, 2006), Dinâmica Metropolitana e Segregação Socioespacial(Caderno CRH, n. 50, Salvador, 2007) e Dinâmica de una Metropoli Periferica en Brasil (Estudios Demograficos yUrbanos, México, 2010) os dois últimos em colaboração com Gilberto Corso Pereira.