mensagem ao congresso 1898

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Mensagem de prudente de moraes ao congresso brasileiro

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  • "

    I'

  • MANIFESTO INAUGURAL

  • REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL

    DE

    Januel 'eFFaz de 'ampos lallesPRESIDENTE ELEITO PARA OQlIATRIENNIO DE 1898 A 1902

    RIO DE JANEIRO

    :J.8e8

  • Typ. LEUZ1NGER IRMO '" C. - Rio de Janeiro - 8661 - 98

  • I'

    Ao assumir o governo da Republica, cheiode confiana nos poderosos elementos de vitali-dade nacional e seguro da dedicao patrioticados meus concidados, cumpre-me expr Nao,com sinceridade e clareza, todo o meu pensa-mento na direco dos seus altos destinos.

    Em presena das urnas, quando o eleitoradobrasileiro precisava conhecer para escolher, falleia linguagem franca .e leal, que me ditava a con-sciencia e me aconselhava o patriotismo. Investidodo poder, venho trazer ao paiz, sob o imperiodos mesmos sentimentos, a ratificao solemne detodos os meus compromissos.

    Elevado a este posto de honrosa confiana ede incommensuravel responsabilidade, apraz-meacreditar que, o que pretendeu o voto popular,nos comicios de 1. de Maro, foi collocar nogoverno da Republica o espirito republicano, nasua accentuada significao.

    ,

  • E esse intuito naturalmente presumivel,dada a indole do nosso regimen, que, com aresponsabilidade unipessoal, preferiu eliminar apolitica de uma collectividade para concentral-ana pessoa da suprema autoridade, em quem resideconstitucionalmente o criterio que dirige, deliberae applica.

    Mas se os meus antecedentes, em que secaracterisa a firmeza republicana, poderam darsemelhante sentido ao suffragio da I ao, ellesmesmos responderO, como seguro' penhor, pelacorreco da minha conducta no desempenho domandato.

    Com effeito, tendo tomado a minha parte deresponsabilidade, primeiro na preparao do sen-timento republicano e depois na fundao doorganismo institucional da Republica, no perdijmais de vista o dever, imposto pela honrapolitica e estimulado pelo proprio patriotismo, deconsagrar, na sua conservao, todas as energiase toda a perseverana de uma crena inabalavel.

    Temos, felizmente, chegado ao momento emque a existencia da Republica Brasilei;a no ,no pde mais ser objecto de apprehenses nemsobresaltos para o espirito nacional. Coube-me afortuna de vl-a acolhida com as mais penho-rantes mostras de affectuosa sympathia por povose governos estrangeiros, cujos sentimentos, tra-duzidos por actos reiterados de delicada cortezia,

    '-------------- ......... ....... ---.~.........J'

  • 7so todos pela prosperidade da nossa patria, coma qual elles se acham estreitamente relacionadospor laos de ordem moral e economica, que seformaram na reciprocida
  • 8Temos, emfim, chegado ao momento em queas estreitezas do exclusivismo, que a situaogeral do paiz no comporta, devem ceder o logaraos largos horizontes de uma politica nacional,de tolerancia e concordia, que abra caminho convergencia de todos os esforos para o bemda Patria, generoso e nobre ideal, em torno doqual pde-se concertar a solidariedade de todos,sem todavia melindrar a dignidade de um s.

    No que eu pense que os partidos nodevam subsistir. Ao contrario, no regimen demo-cratico, que se caracterisa pelo contraste das opi-nies, como precioso fructo da livre manifestaodo pensamento, elIes so necessarios para asse-gurar o equilibrio politico, garantindo o progressonacional pela successo dos principios no governo,uma vez que saibam exercer uma aco prudente,tolerante e disciplinada ao servio de intuitospatrioticos. O que deve ser proscripto, porque um mal social e um grave embarao s soluesdo presente, o espirito partidario com as suaspaixes e violencias, ora perturbando a evoluobenefica das idas, ora contrapondo-se ao desdo-bramento tranquillo da actividade governamental.

    E' indispensavel, forosamente preciso que,pesando cada um conscienciosamente a sua res-ponsabilidade e medindo a extenso dos malesque os acontecimentos tm acarretado Repu-blica, faamos appelIo s energias do nosso pro-

  • 9prio patriotismo para dar como definitivamenteencerrada a phase angustiosa das perturbaesesterilisadoras e, ao mesmo tempo, aberto o fecundo periodo das grandes reparaes. Urgetambem que, ao influxo de iguaes sentimentos,elevemos as nossas vistas alm dos estreitos limites que encerram os interesses locaes, paraque o espirito publico no mais se agite senoem torno das grandes e pesadas necessidades queopprimem a Unio, abatendo o nosso valor moral.

    Como quer que seja, affirmarei desde j que assim que comprehendo a minha alta misso e sob o influxo d'estes principios que estou fir-memente resolvido a agir no desempenho dasminhas funces constitucionaes. O homem cha-mado ao papel de arbitro - ouvi este elevadoconceito a um grande espirito, tambem n'um postode alta responsabilidade - deve fazer calar as suaspreferencias e elevar-se acima da sua propria f.

    Isento das paixes do espirito de partido, aautoridade que vou exercer ser posta ao servioexclusivo da Nao.

    Entretanto, no basta o esforo isolado doExecutivo para o bom governo da Republica. Nacoexistencia de outros orgos de soberania, se-gundo a estructura constitucional, a coheso in-dispensavel ao equilibrio das foras governativas

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    depende essencialmente da aco combinada eharmonica dos tres poderes, guardadas entre sias relaes de mutuo respeito e de reciproco apoio.

    Desde que, sob a influencia de funestas ten-dencias e dominado por mal entendida aspiraode supremacia, algum dos poderes tentar levar asua aco alm das fronteiras demarcadas, emmanifesto detrimento das prerogativas de outro,estar n'esse momento substancialmente transformada e invertida. a ordem constitucional e abertoo mais perigoso conflicto, do qual poder surgiruma crise cujos perniciosos effeitos venham affectar o proprio organismo nacional.

    Este perigo mais para temer-se nas orgaIlisaes novas, sobretudo nas phases que precedem s experiencias definitivas, quando ainda nose tem alcanado, por um longo processo deapplicao, estabelecer no proprio terreno, isto ,praticamente, as linhas que separam as respectivasespheras de competencia. Isto indica bem o cui-dado, o zelo patriotico, a sincera solicitude, aiseno de animo e o sentimento de justia que,em cada um dos orgams da soberania nacional,devem presidir o exame e assignalamento dasfuncoes respectivas.

    No ceder nem usurpar.

    Fra d'ahi, em vez de poderes coordenados,no teremos seno foras rivaes, em perpetua hos-

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    tilidade, produzindo a perturbao, a desordem ea anarchia nas proprias regies em que paira opoder publico para vigiar pela tranquillidade e pelasegurana da communho nacional e garantir a ef-ficacia de todos os direitos.

    Defendendo intransigentemente e com o maisapurado zelo as prerogativas conferidas ao poderque vou exercer em nome do suffragio directoda ao, affirmo aqui, desde j, o meu maisprofundo respeito ante a conducta dos demaispoderes, na orbita de sua soberania. Esta attitude,que ser rigorosamente observada, dar foras aodepositario do Executivo para, de seu lado, opprobstinada resistencia a todas as tentativas invasoras.

    o papel do Judiciario no jogo das funcesconstitucionaes torna mais remotas as suas rela-es com os outros poderes. E' um poder queno lucta; no ataca; no se defende: julga.Sem a iniciativa que aos outros cabe, a sua acono se manifesta seno quando provocada. Fradesta regio de paz e pureza, a unica em quereina a justia, .o seu prestigio moral desfaz-seao sopro das paixes.

    So mais directas e mais frequentes as rela-es entre o Executivo e o Legislativo. Estes soos poderes que collaboram em estreita allianana dupla esphera do governo e da administrao;

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    a elles, pois, compete manter, no desdobramentode sua commum actividade, uma contnua e harmo-nica convergencia de esforos a bem da Republica.

    indiscutivel- pois que da natureza doregimen - que ao Executivo cabe a iniciativa dasmedidas legislativas, de caracter administrativo. claro, porm, que de nada serviria essa inicia-tiva, cujo fim preparar e facilitar a acoconjuncta dos demais poderes, se o Legislativorecusasse o seu .accrdo, tomando orientaodiversa ou contraria.

    O actual momento assignala-se pela impre-scindivel necessidade de franca e resoluta coope-r.ao do Legislativo para que seja adoptada eposta em execuo uma politica financeira, rigo-rosamente adequada s urgentes exigencias doThesouro. Ahi est o ponto culminante da admi-nistrao. Espero muito do patriotismo do Con-gresso Federal e da austeridade do caracterbrasileiro para tornar effectivas as providenciasreclamadas pela nossa situao.

    Em um documento, que veiu a ter largapublicidade, empenhei a responsabilidade do meugoverno na fiel execuo do accordo financeirocelebrado em Londres. Mais do que a minharesponsabilidade, est n'isso empenhada apropriahonra nacional.

    A nossa situao reclama solues definitivas.

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    No podemos deliberar uma s despeza, nemtolerar as que sejam adiaveis. antes de termosposto ordem nos nossos negocios e regulado asnossas con tas.

    Repito: trata-se de cumprir um dever dehonra e no ha sacrificios que devam fazer-nosesmorecer. unca se tornou mais necessaria acooperao do Legislativo. Os negocios da Unioa reclamam. De resto, no se perca jmais devista que os membros do Congresso Federal noso advogados de interesses localisados em deter-minadas circumscripes. Elles representam antesde tudo e acima de tudo a Nao, cujos grandesdestinos foram confiados sua solicitude patriotica.

    Cumpre proscrever, em definitiva, a politicajarticuln'sta que, podendo at certo limite tersido justificada pela centralisao oppressora doregimen, decahido, no se ajusta absolutamenteaos amplos moldes do systema federativo. Amisso do representante do Estado, hoje, diver-sifica consideravelmente na sua natureza e nosseus intuitos, d'aquella que incumbia ao represen-tante da provincia, outr'ora. Vae de uma outraa enorme distancia que medeia entre a centrali-sao e a federao. Na avarenta partilha organi-sada pelo regimen centralista da monarchia, aprovincia, espoliada de todos os recursos, eraforada a bater frequentemente porta do The-

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    souro do Imperio, conduzida mo, como miseramendiga, pelos seus mais solicitos repr.esentantes.

    Hoje, porm, que o Estado se acha genero-samente dotado dos opulentos recursos que lhefaculta o art. 9.0 da Constituio da Republica,gosando ao mesmo tempo das amplitudes da maisvasta autonomia, dentro da qual pode garantir amaxima intensidade s suas foras productoras, oque convm e o que reconhecidamente neces-sario alliviar-se a Unio, na medida constitu-cional, dos encargos administrativos que por suanatureza devam passar responsabilidade dospoderes estadoaes.

    E' este o criterio unico que deve dirigir aconducta do representante no seio do CongressoFederal.

    Outro o papel dos Estados. Valiosa col-laborao est-lhes reservada na obra de reparaoque preoccupa os poderes da Unio.

    restaurao financeira, supremo objectivodo momento para que seja solida e duradoura,depende essencialmente de uma profunda recon-stituio das foras ec;onomicas, de tal sorte queos agentes da riqueza nacional possam attingir sua maior capacidade productora, servindo de basea todas as vantagens que possam ser alcanadasnas relaes do commercio internacional.

    O estado monetario de um paiz, segundo

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    oplOlao auctorisada e apoiada na observao deum valiosissimo exemplo, depende menos da sualegislao do que da sua situao economica. Elia preparada e mantida antes pela agricultura, pelocommercio e pela industria do paiz, do que pelasleis que o regem. E' preciso produzir.

    a problema da produco, nos paizes novos,~st intimamente ligado ao problema do povoa-mento. Mas a constituio transferiu aos Estadosas terras devolutas situadas nos seus respectivosterritorios. Quer isto dizer que os dois pro-blemas se acham constitucionalmente affectos competencia do poder estadoal, na sua parte es-sencial.

    Ahi d~senha-se, portanto, na sua maior ni-tidez, o vasto campo ~m que pode desenvolversea actividade administrativa dos Estados, na maisfecunda collaborao pela prosperidade da Repu-blica. Desde que a industria indigena, accrescentaa autoridade j referida, chega a alimentar o con-sumo interno e offerece sobras para a exportao,ella consegue no s impedir que o capital na-cional v ser despendido no estrangeiro, comoainda attrahir a immigrao do capital estrangeiro.E' ento que se estabelece a melhor situao mo-netaria, qualquer que seja a legislao.

    Nos vastos dominios da competencia estadoalha, pois, espao bastante para o desenvolvimentod'esta poli tica .pratica e fecu ndan te, simultanea-

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    mente favoravel ao progresso da riqueza dos Es-tados e consolidao das finanas da Unio.Sero outros tantos interesses a fortificar os vin-culos da unidade nacional, sob a influencia vivificante do regimen federativo.

    A' communidade de raa, de tradies histo-ricas, de lngua e de religio, gerando a cohesodo sentimento nacional, preciso accrescentar acommunidade economica e financeira, fortalecendoos vinculos de solidariedade en tre a Unio e osEstados.

    Fao, portanto, consistir na nossa constituiOeconomica a base de nossa regenerao finan-celra.

    Evidentemente muito resta ainda a fazerpara constituir a riqueza nacional na medid dosvastos recursos naturaes que o paiz possue.

    A posio do caf nos mercados de consumo,quando esse o principal producto de exportao,denuncia claramente um consideravel decresci-mento do nosso poder economico. Sendo, como ,da maior gravidade este facto, todavia elle denatureza, antes a provocar a atteno previdentedos brasileiros, do que a produzir-lhes desalentos.

    O que cumpre, em semelhante emergencia, no fechar os olhos evidencia, nem procurarlutar em vo por meios artificiaes, contra a na-

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    tureza das coisas, mas sim, encarar o problemacom coragem e energia, obedecendo s leis na-turaes.

    Mas, o que sobretudo aggrava as preoc-cu paes do poder publico neste difficil momento,pelo seu caracter extremamente urgente, a in-tensidade da crise finananceira. Ella resulta deerros gravissimos, que vm de longe, accumulandoprogressivamente os encargos dos seus pesadoseffeitos, que cumpre reparar quanto antes pelosmeios mais adequados e pelos processos maispromptos, comeando por assignalar as suas causaspreponderantes, que so entre outras:

    O proteccionismo inopportuno e por vezes ab-surdo em favor de industrias artificiaes, custados maiores sacrificios para o contribuinte e parao Thesouro; - a emisso de grandes massas depapel inconvertivel, causando profunda depressono valor do meio circulante; - os deficits ora-mentarios creados pelo funccionalismo exaggerado,pelas despezas de servios de caracter puramentelocal, pelo augmento continuo da classe dos ina-ctivos; - as despezas extra-oramentarias prove-nientes dos creditos extraordinar~os abertos peloExecutivo e das leis especiaes votadas pelo Con-gresso ; - as indemnisaes por sentenas judi-ciaes, que sobem todos os annos a sommas avul-tadas; - as despezas determinadas por commoesintestinas; - os compromissos resultantes dos mon-

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    tepios e dos depositos, dada a pratica de consi-derar como rendas ordinarias os valores que pro-cedem dessas instituies; - o augmento constanteda divida fluctuante, que se origina dos propriosdcficz!s, e consequente augmento da divida con-solidada; - a m arrecadao das rendas publicas;- o effeito moral da m politica financeira, acar-retando o descredito; - o consequente retrahi-mento da confiana dos capitaes no paiz e no es-trangeiro; - a especulao que neste meio sedesenvolve como as parasitas em organismo emdecadencia; - finalmente, a baixa da taxa cambial,synthese e expresso de todos os erros.

    A resumida indicao das multiplas causasque perturbam a situao financeira e economicado paiz e que ahi fica, denuncia tambem a neces-sidade das medidas complexas, que urgentementedevem ser adoptadas para uma soluo definitiva.

    Agir com promptido, energia e perseveranasobre todos os elementos que acabo de apontarcomo agentes de nossa decadencia economica efinanceira, abandonando a politica dos expedientese dos adiamentos para tomar francamente a po-litica das solues, em suas linhas geraes oprogramma do meu governo. o vejo outro ca-minho, seguro e honesto, que possa conduzir aorestabelecimento das relaes normaes com oscredores da- Republica, suprema aspirao que obrio e honra nos impem.

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    Mas, a politica financeira, tal como a temosadoptado, para que possa tomar o seu naturaldesenvolvimento e attingir aos seus elevados in-tuitos, reclama desde logo e imprescindivelmente,como condio fundamental, a ordem interna.

    No se governa nem se administra de modoconveniente aos interesses dos povos, desde quea autoridade forada a desviar de continuo asua atteno para os perigos que ameaam a tran-quilidade publica.

    Felizmente a indole pacifica e ordeira do povobrasileiro tem-se assignalado, no decurso da vidanacional, por largos periodos de perfeita calma,em pocas diversas; e j agora no ha quemno veja, na angustiosa experiencia trazida pelos

    ~uccessos mais recentes, que urge retomar amarcha interrompida e buscar nos inestimaveisben"eficios do socego e da paz o ponto de partidapara as solues que o paiz aspira ardentemente.

    Esta manifestao do sentimento patriotico edo bom senso nacional desperta as mais solidasesperanas e dissipa, ao mesmo tempo, as apre-henses que acaso possam preoccupar o poderpublico.

    O governo, por sua vez, acha-se firmementedeliberado a agir, na esphera de sua elevadamisso, com a maxima solicitude e com o maisesforado empenho no sentido de acrysolar e des-envolver este nobre sentimento de ordem, que

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    assim se revela por louvavel expontaneidade, as-segurando a todos os individuos e a todas asclasses o valioso conjuncto de garantias com quea lei protege a livre expanso de todas as forasSOClaes.

    Bem compenetrado deste dever e na emergencia de uma necessidade, declaro que no tereifraquezas nem hesitaes na aco repressiva, queas circumstancias possam reclamar, contra os ele-mentos perturbadores.

    Tenho illimitada confiana na disciplina, nalealdade e no patriotismo das classes armadas,nobres sentimentos esses postos a duras provas,com admiravel correco e inexcedi vel valor, todasas vezes que o servio da patria ha reclamado,dentro ou fra das frontreiras.

    Com elementos to seguros, no hesito emprever o exito do meu programma de ordem ede paz.

    o que respeita s relaes internacionaes,estou certo de corresponder ao sentimento n~cional, adoptando uma politica, cujo mais vivoempenho consista em manter e fortificar os laosde amisade, que felizmente existem entre o Brasile as demais potencias. Para a realsao destesintuitos nem um esforo ser poupado, conven-cido, como estou, de que no ha misso mais

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    nobre, nem tarefa mais grata aos que governam,do que a de assegurar a paz.

    Na guarda e defesa dos elevados interessesque me esto confiados, jmais perderei de vistaque s um programma de confraternidade inter~nacional pde garantir nao brasileira o Iogarde honra a que tem incontestavel direito no con-vivio dos povos cultos.

    Num paiz ele immigrao, como o nosso, quesollicita do estrangeiro o trabalho e o capital,cumpre antes ele tuelo guardar absoluta fidelidadee rigorosa justia na execuo elas leis, pois que ahi que reside a suprema garantia s pessoase aos interesses estrangeiros. Grande somma deattritos e reclamaes diplomaticas recentes tirarama sua origem elos desvios da ordem legal, infe-lizmente motivados por paixes que se desenca-dearam no meio das agitaes intestinas. Cabe nossa lealdade reconhecer o facto para corrigil-ocom a inflexibilidade da noss~ j li stia.

    E' opportuno fazer solemne appello aos go-vernos d03 Estados e s justias locaes a bem dagarantia e da efficacia de todos os direitos. E' nissoque repousa a confiana das potencias amigas edisso depende tambem o successo de uma poli-tica exterior capaz de alargar, no terreno politicoe commercial, as fronteiras de nossa influencia.

    Na phase de expanso em que deve entraro paiz, como um coronario logico da obra de re-

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    generao economica e finnceira, a politica ex-terior no pde obedecer lei de inercia e ha demanter 'ztranszgencia absoluta, altiva e digna, emtudo quanto possa alfectar a soberanza nacionalou a 'integridade terrtlorial.

    Em relao outra ordem de interesses, adiplomacia brasileira, isenta de infundados pre-conceitos, agir activamente no empenho de se-cundar o desenvolvimento de nossa riqueza, favo-recendo a 'abertura de mercados aos nossos pro-ductos de exportao e concorrendo para a maiorexpanso do nosso commercio internacional. '

    Esta hoje a misso mais proficua da diplo-macia moderna.

    Cabe-me finalmente, registrar, congratulando-me com a Nao, o modo altamente significativopor que recebo das mos do meu illustre anteces-sor o governo da Republica.

    V-se bem nessa cordialidade e fina cortezia,que presidem passagem do governo, sobresair,como symptoma auspicioso e caracteristico danormalidade de nossa existencia politica, a affir-mao da continuidade governativa, tal como areclamam os interesses permanentes da publicaadministrao e apropria essencia do systema.

    Est definitivamente encetada a pratica dasboas normas, que favorecem a serenidade da suc-cesso nas regies do poder. Assignalado servio

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    esse, que certamente muito contribuir paraelevar o prestigio das instituies democraticas quenos regem.

    Quero ver tambem na nobre conducta doeminente cidado, por uma feliz identificao comos altos interesses nacionaes, o suave reflexo dafraternal convivencia de outr'ora.

    Haviamos passado, juntos, a nossa prolon-gada e trabalhosa vida de combatentes: e hoje,ao impulso dos acontecimentos, encontramo-nos porta do poder, que, todavia, contina a ser aindaum posto de combate.

    Descendo agora do governo, elle vai segurode poder pedir paz da propria consciencia aunica recompensa verdadeira, que em vida alcanam os devotados e bons servidores da Patria.

    Quanto a mim, ao subir as escadas que levamo homem publico ao mais alto posto de respon-sabilidade, no me resta seno pedir s energiasda minha propria f o valor e a fortaleza deanimo de que careo para este novo combate,certamente o mais temeroso de todos, pela granodeza e pela prosperidade da' Republica.

    CAPITA.L FEDERAL, 15 de Novembro de 1898.