mensagem afásica

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A Europa jaz, posta nos cotovelos Compra-se a glória com desgraça É um mytho brilhante e mudo Memória em nós do instinto teu. À espada em tuas mãos achada Com bruta e natural certeza A bênção como espada E a fala dos pinhais, marulho obscuro, Teu nome, eleito em sua fama, Que enigma havia em teu seio A regra de ser Rei almou meu ser Sagrou-me seu em honra e em desgraça Que seja só obter Porque é do português, pai de amplos mares Minha loucura, outros que me a tomem É Excalibur, a ungida Em seu trono entre o brilho das esferas Parece em promontório uma alta serra De ver o mundo e a injustiça e a sorte. Sagrou-te, e foste desvendando a espuma Abria em or o Longe, e o Sul sidério Este padrão sinala ao vento e aos céus Meus tetos negros do m do mundo? Jaz aqui, na pequena praia extrema

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Mensagem Afásica (a partir de "Mensagem", de Fernando Pessoa)

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A Europa jaz, posta nos cotovelosCompra-se a glria com desgraa um mytho brilhante e mudoMemria em ns do instinto teu.

espada em tuas mos achadaCom bruta e natural certezaA bno como espadaE a fala dos pinhais, marulho obscuro,Teu nome, eleito em sua fama,Que enigma havia em teu seioA regra de ser Rei almou meu serSagrou-me seu em honra e em desgraaQue seja s obterPorque do portugus, pai de amplos maresMinha loucura, outros que me a tomem Excalibur, a ungidaEm seu trono entre o brilho das esferasParece em promontrio uma alta serra De ver o mundo e a injustia e a sorte.

Sagrou-te, e foste desvendando a espumaAbria em flor o Longe, e o Sul sidrioEste padro sinala ao vento e aos cusMeus tetos negros do fim do mundo?

Jaz aqui, na pequena praia extremaO que houvermos de perderUma ergue o fecho trmulo e divinoEm clares negros do vale voPrimeiro um movimento e depois um assombro.

Para que fosses nosso, mar!

No voltou mais. A que ilha indescobertaA mo do vento pode ergu-la ainda.

'Sperai! Cai no areal e na hora adversaContente com o seu larE ergue-te do fundo de no-seresMas que, se escutarmos, calaQue smbolo divinoMas Deus sagrou com Seu sinalSurge, prenncio claro do luarQuando o Rei? Quando a Hora?

Do mar ignoto ptria por quem deraQue jaz no abismo sob o mar que se ergue?

E se no pode encontrarA madrugada do novo diaQue Portugal a entristecer.