memÓrias da ponte internacional da mizade
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO, LETRAS E SAÚDE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM SOCIEDADE, CULTURA
E FRONTEIRAS – NÍVEL DE DOUTORADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS
MILENA COSTA MASCARENHAS
MEMÓRIAS DA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE:
REPRESENTAÇÕES DE UM ESPAÇO BINACIONAL
FOZ DO IGUAÇU – PR
2021
MILENA COSTA MASCARENHAS
MEMÓRIAS DA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE:
REPRESENTAÇÕES DE UM ESPAÇO BINACIONAL
Tese apresentada à Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE – para obtenção do título de Doutora em Sociedade,
Cultura e Fronteiras, junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Sociedade, Cultura e Fronteira – Mestrado e Doutorado –
Área de concentração em Sociedade, Cultura e Fronteiras. Linha de
Pesquisa: Território, História e Memória.
Orientador: Prof. Dr. Samuel Klauck.
FOZ DO IGUAÇU – PR
2021
Ficha de identificação da obra elaborada através do Formulário de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da Unioeste.
Mascarenhas, Milena
Memórias da Ponte Internacional da Amizade :
representações de um espaço binacional / Milena Mascarenhas;
orientador(a), Samuel Klauck, 2021.
181 f.
Tese (doutorado), Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Campus de Foz do Iguaçu, Centro de Educação, Letras
e Saúde, Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e
Fronteiras, 2021.
1. Ponte Internacional da Amizade. 2. História. 3.
Representações. 4. Fotografias. I. Klauck, Samuel. II.
Título.
MILENA COSTA MASCARENHAS
MEMÓRIAS DA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE:
REPRESENTAÇÕES DE UM ESPAÇO BINACIONAL
Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do Título de Doutora em Sociedade, Cultura e
Fronteiras e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em
Sociedade, Cultura e Fronteiras – Mestrado e Doutorado, área de concentração em Sociedade,
Cultura e Fronteiras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________
Prof. Dr. Samuel Klauck
Orientador
_________________________________
Prof. Dr. Leandro Baller
Membro Efetivo (Convidado)
_________________________________
Profa. Dra. Andressa Szekut
Membro Efetivo (da Instituição)
_________________________________
Prof. Dr. Paulo Renato Silva
Membro Efetivo (Convidado)
_________________________________
Prof. Dr. Valdir Gregory
Membro Efetivo (da Instituição)
Foz do Iguaçu, 14 de dezembro de 2020.
AGRADECIMENTOS
À oportunidade de realizar o curso de Doutorado na UNIOESTE de maneira pública e
gratuita. Aos professores do Programa de Pós-Graduação stricto sensu, em Sociedade, Cultura
e Fronteiras Profa. Dra. Denise Rosana da Silva Moraes, Profa. Dra. Josiele Kaminski Corso
Ozelame, Prof. Dr. Mauro José Ferreira Cury, Profa. Dra. Maria de Fátima Ribeiro, Prof. Dr.
Samuel Klauck e Profa. Dra. Silvana Aparecida de Souza, pelas aulas ministradas.
Aos professores Dr. José Carlos dos Santos e Dr. Valdir Gregory participantes do
seminário de tese, primeiros leitores da pesquisa que muito contribuíram para o seu
redirecionamento. Aos professores Dra. Regina Coeli Machado e Silva, Dra. Andressa Szekut
e ao Dr. Paulo Renato Silva por participarem da banca examinadora da qualificação,
contribuindo com excelentes sugestões, apontamentos e críticas.
Em especial, ao Prof. Dr. Samuel Klauck, meu orientador, por ter ampliado a visão na
pesquisa com indicações bibliográficas e debates acerca do tema, agradeço a dedicação nas
orientações da pesquisa.
Aos colegas do doutorado que muito contribuíram com discussões, debates e feedbacks
ampliando a compreensão da minha própria pesquisa e as amizades constituídas, destaco a
parceria intelectual com Mac Donald Fernandes, Claudio Melo e Solange Portz.
Aos queridos familiares e amigos que me incentivaram e estiveram presentes na
constituição dessa jornada sabendo respeitar as ausências pacientemente nas inúmeras horas de
estudo e escrita. Destaco o Engenheiro Amin Lascani e o Arquiteto Everton Santos, pela
contribuição em dúvidas pontuais e técnicas da pesquisa.
Aos entrevistados, Engenheiro Sr. Vicente Veríssimo Júnior, chefe de serviço da
unidade do local de Foz do Iguaçu, e o Sr. José Riquelme responsável pelo Museu El Mensú
(2018), agradeço o acolhimento, esclarecimentos e testemunhos.
Agradeço, desde já, aos professores Dra. Andressa Szekut, ao Dr. Leandro Baller, ao
Dr. Paulo Renato Silva, e ao Dr. Valdir Gregory por participarem da banca de defesa final e por
suas apreciações.
À Universidade Estadual do Oeste do Paraná por propiciar as ferramentas necessárias
para o desempenho da pesquisa.
E, especialmente, ao Guilherme Kunz, minha ponte que ajuda a transpor qualquer
obstáculo, parceiro de vida, sou grata pelo exemplo, pelos debates e pelo incentivo.
RESUMO
Essa pesquisa de doutorado focaliza-se na Ponte Internacional da Amizade, a primeira na
região trinacional, ligando, sobre o rio Paraná, os municípios de Ciudad del Este, Paraguai
e Foz do Iguaçu, Brasil, inaugurada em 1965. O trabalho justifica-se no sentido de dar
visibilidade as diferentes memórias entorno da ponte, muitas vezes naturalizadas em
insígnias ou discursos. O objetivo central é analisar e compreender a Ponte Internacional da
Amizade a partir de uma visão periscópica das memórias e representações no percurso de
sua construção, para isso, os seguintes objetivos específicos foram desenvolvidos: a)
discutir os conceitos de paisagem, fronteira, memória e modernidade; b) identificar os
motivos (políticas, econômicas e sociais) que levaram Paraguai e Brasil em construírem a
ponte, e os impactos pós construção; c) compreender a importância da ponte no quesito
mobilidade e ocupação da região; d) construir a história da Ponte Internacional da Amizade
a partir das imagens, apresentando as especificidades técnicas, os usos políticos e turísticos,
bem como suas representações nas imagens e discursos. Trata-se de um estudo
interdisciplinar, utilizando o aporte teórico-metodológico da História Cultural. Com esse
propósito, o método indiciário proposto pelo historiador Carlo Ginzburg é empregado na
investigação, principalmente no olhar, ao capturar rastros, sinais e vestígios que pudessem
auxiliar nessa incursão, no qual necessitou de uma leitura atenta, voltada aos detalhes,
conexões e construções. A tese estrutura-se em três capítulos, o primeiro discute as
fundamentações teorica-metodologicas que deram suporte às reflexões, análises,
interpretações, e como utilizar as fontes selecionadas, que são entrevistas, fotografias,
insígnias, discursos oficiais, revistas, jornais entre outras. O segundo capítulo, traz a
importância e relevância da construção da Ponte Internacional da Amizade sobre o rio
Paraná para os países Brasil e Paraguai, bem como os motivos para sua viabilização. Para
tal, traçou-se um panorama do espaço fronteiriço situando-o no sistema hidrográfico versus
rodoviário, procurando inquirir as causas incentivadoras para ligar fisicamente a fronteira.
E o terceiro capítulo contextualiza a construção da ponte a partir das imagens, por meio do
uso de fotografias. Conclui que a ponte é muito mais que uma obra de engenharia, tem valor
técnico, histórico, cultural e é depositária de um importante patrimônio binacional. E,
também, que é um elemento arquitetônico que une os interesses do Brasil e do Paraguai,
representando mobilidade de nível continental, transformando a paisagem integrando-se ao
cenário do rio Paraná construindo novas dinâmicas entorno da fronteira.
PALAVRAS-CHAVE: Ponte Internacional da Amizade, memórias, imagens,
representações.
ABSTRACT
This research concentrates on the International Friendship Bridge,opened in 1965, the first in
the tri-national region over the Paraná River between the cities of Ciudad del Este, Paraguay,
and Foz do Iguaçu, Brazil. The work gives visibility to the different memories around the bridge
in insignia or speeches. The main objective is to analyze and understand the International
Friendship Bridge from a periscopic view of memories and representations. The specifics
objectives are: to discuss the concepts of landscape, border, memory, and modernity; to identify
the reasons (political, economic, and social) that led Paraguay and Brazil to make the bridge
and the construction impacts; understand the importance of the bridge in the prospect of
mobility and occupation in the region; make the history of the International Friendship Bridge
from the images, displaying the technical specificities, the political and tourist uses, as well as
their representations in the photos and speeches. It is an interdisciplinary approach, using the
theoretical and methodological contributions of Cultural History. The method proposed by the
historian Carlo Ginzburg is used in the investigation, mainly in the perceptions, when capturing
traces, signs, and evidence that could assist in this incursion, in which was need careful reading,
focus on details, connections, and constructions. This thesis has three chapters. The first chapter
discusses the theoretical-methodological foundations that supported the reflections, analyzes,
interpretations, and how to use the selected sources, like interviews, photographs, insignia,
official speeches, magazines, newspapers, among others. Chapter two presents the importance
and relevance of the construction of the International Friendship Bridge over the Paraná River
to Brazil and Paraguay. It shows a panorama of the border, analyzing the hydrographic versus
road system, attempting to investigate the causes of that connected frontier. The third chapter
contextualizes the construction of the bridge from the images. It concludes that the bridge is
much more than an engineering work. This bridge has technical, historical, ethnographic values.
The International Friendship Bridge is a depository of an important binational heritage.
And, also, that it is an architectural element that fuses the interests of Brazil and Paraguay,
representing continental level mobility, transforming the landscape by integrating itself with
the scenery of the Paraná River, and building a new dynamic around the border.
KEYWORDS: International Friendship Bridge, memories, images, representations.
Lista de Figuras
Imagem 1 – Encontro do presidente do Brasil Ernesto Geisel (à esquerda) e do Presidente do
Paraguai Alfredo Stroessner (à direita) na Ponte da Amizade em 1978. ................................. 24 Imagem 2 – Bandeira de Foz do Iguaçu (2001). ...................................................................... 28 Imagem 3 – Bandeira de Foz do Iguaçu (1966). ...................................................................... 29 Imagem 4 – À esquerda a bandeira do Departamento do Alto Paraná, e a direita a bandeira da
Ciudad del Este. ........................................................................................................................ 29 Imagem 5 – Selo comemorativo (1961) de Inauguracion Puente Internacional Paraguay
Brasil. ....................................................................................................................................... 31 Imagem 6 – Filatelias. O primeiro de 1972 e o segundo, é o selo comemorativo (1983) de 25
anos da Ciudad Presidente Stroessner. ..................................................................................... 32 Imagem 7 – Cédula de Diez Guaranies, do Paraguai. .............................................................. 33 Imagem 8 – Moeda comemorativa – Puente de La Amistad (1975). ....................................... 34 Imagem 9 – Cartão postal com a ilustração da Ponte da Amizade. s/d. ................................... 34 Imagem 10 – Logo “Olimpiada de Historia” – Ciudad del Este e Alto Paraná. ...................... 35 Imagem 11 – Ponte da Amizade. Suplemento da Folha de Londrina, 24 mai a 07 jun. 1997.
Ano 3, Nº 66. ............................................................................................................................ 36 Imagem 12 – Desenhos do Concurso de Desenho “Diversidade e Identidade: Nosso
Patrimônio. s/a. ......................................................................................................................... 39 Imagem 13 – À esquerda a Ponte Internacional da Amizade antes da reforma e a direita após a
reforma...................................................................................................................................... 42 Imagem 14 – Vista área da região trinacional. ......................................................................... 50 Imagem 15 – Vista área da Ponte Internacional da Amizade – Paraguai (lado esquerdo) e
Brasil (lado direito). Foto: Alexandre Marchetti (2009). ......................................................... 53 Imagem 16 – Vista da Ilha de Acaray no rio Paraná. ............................................................... 54 Imagem 17 – Vista aérea da região binacional sobre o rio Paraná. .......................................... 54 Imagem 18 – Vista aérea da região binacional sobre o rio Paraná. .......................................... 55 Imagem 19 – À esquerda um empurrador de comboio-tipo e a direita um tritem. .................. 58 Imagem 20 – A Bacia do rio Paraná, com principal afluente, o rio Tietê. ............................... 59 Imagem 21 – Mapa do município de Foz do Iguaçu. 1929. s/a. ............................................... 62 Imagem 22 – Porto de Foz do Iguaçu fazendo fronteira com o Porto Presidente Franco no
Paraguai. Autor: Schinke. s/d. .................................................................................................. 63 Imagem 23 – Mapa, com destaque no Paraguai. ...................................................................... 65 Imagem 24 – Mapa da Rodovia Transversal Pan-Americana. ................................................. 71 Imagem 25 – Matéria sobre o papel do exército na conclusão da BR 277. Ano XXXIX. Nº 06.
05 de novembro de 1966. Foto: Fernando Seixas. ................................................................... 74 Imagem 26 – Perfil de avançamento da Ponte Internacional da Amizade elaborado pelo
DNER. ...................................................................................................................................... 74 Imagem 27 – Desenho da Ponte da Amizade comparando com outras edificações. ................ 77 Imagem 28 – Construções em arco........................................................................................... 78 Imagem 29 – Encontro de JK e Stroessner em Foz do Iguaçu (06/10/1956). .......................... 95 Imagem 30 – A esquerda, JK visitando as Cataratas do Iguaçu. A direita, JK e comitiva
vistoriando a construção da ponte. Ano 1958. ......................................................................... 97 Imagem 31 – A Ata da fundação da cidade Puerto Flor de Lis (Ciudad del Este), de 03 de
fevereiro de 1957. ................................................................................................................... 100 Imagem 32 – Início da construção do edifício de administração da Alfândega na cidade de
Puerto Presidente Stroessner, atual Ciudad del Este. ............................................................ 101 Imagem 33 – Mapa do Paraguai, com os 17 departamentos. ................................................. 103
Imagem 34 – Ponte da Amizade (1995). ................................................................................ 107 Imagem 35 – Presidente do Brasil Arthur da Costa e Silva e Presidente do Paraguai Alfredo
Stroessner, na inauguração da BR 277 em 27 de março de 1969. .......................................... 109 Imagem 36 – A esquerda a ponte em 1965 e a direita a ponte em 2009. ............................... 111 Imagem 37 – Início da construção da superestrutura, que dará o acesso de um lado ao outro da
ponte. s/a. Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do
Iguaçu, PR. Acervo digital. .................................................................................................... 116 Imagem 38 – Observando as obras. ........................................................................................ 117 Imagem 39 – Vista do rio Paraná de onde a Ponte seria construída. s/a. ............................... 118 Imagem 40 – O Sr. Ari Ojeda mostrando a foto da equipe de topógrafos que trabalharam na
Ponte da Amizade. s/a. Fonte: CLICKFOZ. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>. Acesso em: 30 abr. 2020. .............. 120 Imagem 41 – Foto da equipe de topógrafos em frente ao DNER. s/a. Fonte: CLICKFOZ.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>. Acesso em: 30 abr.
2020. ....................................................................................................................................... 120 Imagem 42 – Propaganda da Fábrica Nacional de Motores – FNM. Ano 1960 / Edição 0051.
................................................................................................................................................ 121 Imagem 43 – Transporte das peças para a construção da Ponte da Amizade, passando por São
Miguel do Iguaçu. ................................................................................................................... 121 Imagem 44 – Pilar central. ...................................................................................................... 123 Imagem 45 – O pilar, no qual a base encontra-se a fundação da estrutura, já concretado e a
fase de construção do arco. ..................................................................................................... 124 Imagem 46 – Sistema de teleférico para transportar materiais para o outro lado do rio. ....... 125 Imagem 47 – A vista do cibramento e os trabalhadores em ação........................................... 126 Imagem 48 – Avanço simultâneo entre os vãos na construção da Ponte da Amizade. .......... 127 Imagem 49 – Arco sendo construído da Ponte da Amizade. .................................................. 128 Imagem 50 – O arco com a treliça de aço para o escoramento da parte central do concreto. A
armação abaixo é o reticulado em concreto armado............................................................... 129 Imagem 51– Retirada das treliças. Ponte Internacional da Amizade. s/a, s/d. ....................... 129 Imagem 52 – A Ponte Internacional da Amizade com a armação sustentando o arco. .......... 130 Imagem 53 – Tirando as esquadras. s/a, s/d. .......................................................................... 131 Imagem 54 – Os presidentes JK e Stroessner e comitiva vistoriando a construção da ponte.
Ano 1958. ............................................................................................................................... 132 Imagem 55 – I Inauguração da Ponte Internacional da Amizade (26/01/1961). .................... 135 Imagem 56 – Capa da Revista Estrellas, PY. Paraguai e Brasil (1940-1988). ....................... 136 Imagem 57 – Matéria sobre a Ponte da Amizade. Ao lado direito destaque da imagem
Stroessner e JK. ...................................................................................................................... 137 Imagem 58 – As madeiras colocadas para a pré-inauguração da ponte em 1961. ................. 138 Imagem 59 – Placa comemorativa da inauguração da Ponte da Amizade em 1961 pelos
presidentes Alfredo Stroessner do Paraguai e Juscelino Kubitschek do Brasil. ..................... 139 Imagem 60 – Placa informativa com os dados da Ponte da Amizade. ................................... 140 Imagem 61 – Trabalhadores na finalização dessa etapa da obra. ........................................... 141 Imagem 62 – Ponte Internacional da Amizade, em fase de finalização. ................................ 142 Imagem 63 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. ....................................... 143 Imagem 64 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. ....................................... 144 Imagem 65 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. Captura de imagem do
filme produzido pela Agência Nacional. ................................................................................ 145 Imagem 66 – Os Presidentes Castelo Branco e Alfredo Stroessner durante a inauguração da
Ponte Internacional da Amizade (27/03/1965). ...................................................................... 145 Imagem 67 – A placa comemorativa da inauguração da Ponte da Amizade (27/03/1965). ... 146
Imagem 68 – Discurso do Presidente Castelo Branco durante a inauguração da Ponte da
Amizade. ................................................................................................................................. 146 Imagem 69 – Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. ............................................ 149 Imagem 70 – Inauguração da Ponte Internacional da Amizade – 1965. Captura de imagem do
filme produzido pela Agência Nacional. ................................................................................ 149 Imagem 71 – Obelisco na Ponte Internacional da Amizade. s/a, s/d...................................... 150 Imagem 72 – Ponte Internacional da Amizade. s/d, s/a.......................................................... 150 Imagem 73 – Ponte Internacional da Amizade. ...................................................................... 151 Imagem 74 – Entrada para Aduana Brasileira. ....................................................................... 152 Imagem 75 – Família Otremba e Sottomaior — em Foz do Iguacu. ..................................... 153 Imagem 76 – Um homem posando na Ponte da Amizade. ..................................................... 154 Imagem 77 – Um homem de mochila nas costas posando no meio da pista da Ponte da
Amizade. ................................................................................................................................. 154 Imagem 78 – O rio Paraná seco sob a Ponte 1982 – Foz do Iguaçu, PR................................ 155 Imagem 79 – O rio Paraná seco sob a Ponte 2020 – Foz do Iguaçu, PR................................ 156 Imagem 80 – Cartão Postal da Ponte Internacional da Amizade, PY. ................................... 158 Imagem 81 – Cartão Postal da Ponte Internacional da Amizade. .......................................... 159
Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 18
COMO E ONDE OLHAR A PONTE? REFLEXÕES SOBRE AS
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA-METODOLÓGICAS ................................................. 18
1.1 MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO ................................................................................... 18
1.2 SOBRE AS FONTES ............................................................................................................ 19
1.3 A PONTE DA AMIZADE: TRANSGRIDE A FRONTEIRA OU TORNA-SE FRONTEIRA? ............... 23
1.4 INDÍCIOS INVESTIGATIVOS: PONTE PARA NOVAS REFLEXÕES ........................................... 26
1.5 A CONSTRUÇÃO DA PONTE TRANSFORMANDO PAISAGENS E ELEGENDO PATRIMÔNIOS..... 37
1.6 QUANDO A MODERNIDADE ABRE NOVOS CAMINHOS ........................................................ 43
1.7 FOTOGRAFIA COMO MÉTODO PARA ANALISAR OS VESTÍGIOS ........................................... 45
CAPÍTULO II ......................................................................................................................... 52
A PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE .................................................................. 52
2.1. ESTACIONANDO O OLHAR NA PONTE .............................................................................. 52
2.2. O RIO PARANÁ: A DANÇA SOB A PONTE ........................................................................... 56
2.3. POR QUE PARAGUAI E BRASIL QUERIAM UMA PONTE? .................................................... 64
2.4. A ENGENHARIA DA PONTE .............................................................................................. 74
2.4.1 Estudos técnicos para a construção da ponte ......................................................... 78
2.5. A AMIZADE SELADA NA PONTE ...................................................................................... 82
2.6. ACORDOS INTERNACIONAIS ............................................................................................ 89
2.7. EFEITOS ENTORNO DA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE ......................................... 99
CAPÍTULO III ..................................................................................................................... 112
A PONTE ENTRE A MEMÓRIA E A FOTOGRAFIA .................................................. 112
3.1. HISTÓRIA VISUAL: CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS .................................. 112
3.2. A PONTE FOTOGRAFADA: FRAGMENTOS DO REAL ......................................................... 115
3.2.1 Análise fotográfica ................................................................................................ 115
3.2.2 Diferentes Representações sobre a Ponte ............................................................. 131
3.2.3 Cartão Postal: Obra inolvidável ........................................................................... 156
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 161
FONTES ................................................................................................................................ 164
REFERÊNCIAS INFOGRÁFICAS .................................................................................... 168
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 175
9
INTRODUÇÃO
Pontes transformam paisagens.
A autora.
As pontes ligam, conectam, aliam, associam, unem, vinculam e relacionam. Serve para
aproximar, acessar, desobstruir e/ou desviar. Propicia passagem sobre obstáculos, serve para
beneficiar ou colocar uma sociedade em combate. Liga as pessoas ou as distancia, dependendo
dos seus objetivos. Pode-se aproximar povos ou colonizá-los a partir da apropriação do trajeto
estabelecendo tributos, pedágios e impostos.
Pontes existem desde que o homem se deu conta da sua capacidade de construir e
facilitar sua vida. A ponte também tem relação com a comunicação, pois, de uma forma lato
sensu, a palavra, nada mais é do que uma ligação entre interlocutores. Já, o estreitamento
fronteiriço entre dois países pode-se dar através de uma ponte, demarcando a fronteira, mas
também tornando-a mais acessível.
Na antiguidade, o Heródoto (480-485 a.e.c – 420-425 a.e.c), considerado o pai da
História, ficou provavelmente extasiado com a manobra militar dos persas, que em batalha com
os gregos, decidiram atravessar o Helesponto para submetê-los e, para tal feito, era necessário
construir uma ponte, assim, segue a descrição de Heródoto:
Os encarregados da construção da ponte iniciaram-na [...]. Aconteceu, porém,
que, logo que a ponte foi dada por terminada, levantou-se uma terrível
tempestade, rompendo os cordames e despedaçando os navios.
Sabedor do ocorrido, Xerxes, indignado, [...] ordenou a um dos executores que
proferisse este discurso bárbaro e insensato: “Onda traiçoeira, teu senhor
assim te pune porque o ofendeste sem que ele te houvesse dado motivo para
isso. O rei Xerxes passara por ti, quer queiras, quer não. E com razão que
ninguém te oferece sacrifícios, pois que és um rio traidor e vil”. Depois de
castigar assim o mar, fez cortar a cabeça dos que haviam dirigido a construção
da ponte (HERÓDOTO, p. 529).
E assim, procedeu Xerxes, conseguiu atravessar o Helesponto, resistindo à correnteza,
aos ventos e ondas, graças à proeza técnica dos engenheiros. Heródoto, registrou tal feito, e
deve ter se espantado com a atitude dos “barbaros” diante de uma fronteira, não a vendo como
algo intransponível, pelo contrário, não interessava se era possível ou não, ela seria
“acorrentada” e passaria por ela um caminho fixo e submisso.
Tal relato, contribuiu para a reflexão sobre a ação dos homens dominando obstáculos e
transgredindo barreiras. Com objetivos díspares, na região binacional sobre o rio Paraná,
10
também lançaram uma ponte, e trouxeram desafios para a engenharia, ou seja, como construir
uma ponte mantendo a navegabilidade no rio, mesmo em grandes cheias? E eis a obra da
engenharia, um vão de 78 metros, do alto até o fundo do rio foi projetado, agregando uma
expressão estética que causa admiração até hoje. A Ponte da Amizade que abraça o rio Paraná,
com o arco de concreto, garantiu recorde mundial, considerado por alguns como uma obra de
arte da arquitetura, recebe uma passarela que oportuniza alcançar outro país, assegurando a
vista sobre o rio e a densa vegetação que contorna o espaço líquido.
Foz do Iguaçu é conhecida por uma das maiores hidrelétricas do Mundo, mas a primeira
obra de engenharia de maior importância para o município é sem dúvida a Ponte da Amizade,
destacando-se na paisagem binacional, onde diariamente é reforçada pela mídia, com o jargão
“vamos ver como está o movimento na Ponte na Amizade”, introjetando na memoria uma
mobilidade que milhares percorrem todos os dias.
O rio Paraná, esse espaço líquido, demarca a fronteira tornando-a paradoxalmente
indefinida. Qual é a água do Brasil e qual é a do Paraguai? Na impossibilidade de partilhá-la, a
fronteira torna-se fluída e indefinida. Entretanto, não deixa de ser um limite, um obstáculo, uma
barreira aos viandantes, recorrendo aos transportes aquáticos para atravessar ao encontro do
outro país. O trânsito hidrográfico no rio Paraná antes da ponte, era intenso, a circulação de
transportes e infraestrutura de portos construídos às margens refletem essa prática dinâmica
dessa “estrada fluida”.
A Ponte Internacional da Amizade, materializa no rio Paraná, um novo trânsito
fronteiriço e torna-se uma das responsáveis pela transformação da paisagem no seu entorno.
Considera-se um importante monumento1 na região fronteiriça Brasil-Paraguai, compreendida
como algo que une, diminui barreiras, facilita o acesso, aumenta o trânsito, facilita migrações,
intensifica o comércio, atrai o ilícito e oculta inúmeras outras práticas, ou seja, uma intensa vida
com milhares de pessoas que frequentemente dela fazem uso. Demarcando a fronteira entre
Brasil e Paraguai, une e distancia em muitos contextos. Representa uma complexa rede de
interesses políticos, econômicos, sociais e culturais. Ou seja, o traço da união, ligando povos e
culturas também liga contradições e multiplicidades de memórias e significados em seu
entorno.
1 No Capítulo I será desenvolvido o conceito de monumento conforme a perspectiva teórica do Jacques Le Goff
(2003, p. 525).
11
A cidade de Foz do Iguaçu2 faz fronteira também com a Argentina, por isso a
preocupacão do Brasil desde 1888 em estabelecer certa “vigilância”, no caso, através da colônia
militar e políticas de ocupação, garantindo a integridade do território brasileiro. As políticas,
mais efetivas de ocupação no Oeste Paranaense, iniciaram na década de 1930 estabelecendo um
contingente populacional que servisse aos propósitos relacionados à Segurança Nacional e
estabelecimentos de fronteiras, adotadas no Governo de Vargas (1930-1945).
Além disso, havia um grande interesse em aumentar as relações com os países
fronteiriços, em especial com o Paraguai e, com a ascensão de Stroessner (1954-1989), o Brasil
percebeu uma excelente oportunidade de ampliar a influência no país vizinho a partir da
expansão territorial, a chamada “marcha para o oeste”, investindo capital brasileiro além de se
beneficiar com os inúmeros incentivos fiscais proporcionados pelo Paraguai (LAINO, 1979, p.
244).
Para o governo paraguaio, a ligação fronteiriça sobre o rio Paraná tornou-se
fundamental, pois representava uma nova rota de comércio exterior e uma possibilidade de se
tornar independente do Porto de Buenos Aires (Argentina). Para isso, aproveitando a boa
relação com o Brasil e o recíproco interesse, solicitou a construção de uma ponte sobre o rio
Paraná que ligasse os países, colocando em prática a política denominada de “marcha para o
leste”.
Entre a “marcha para o oeste” e a “marcha para o leste”, Brasil e Paraguai foram ao
encontro dos seus interesses comerciais, econômicos, sociais e políticos. Ambos os países
realizaram acordos estabelecidos em 1941 de natureza comercial, cultural e econômica,
assinados pelos respectivos presidentes do Brasil e Paraguai, Getúlio Vargas (1882-1954) e
Higinio Morínigo (1897-1983) (MENEZES, 1987, p. 43), intensificando a relação com
Juscelino Kubitschek (1902-1976), presidente do Brasil entre 1956-1961, ao materializar as
intenções do Paraguai em ter uma saída em direção a leste, assinando o acordo de construção
de uma ponte sobre o rio Paraná em 1956.
No dia 06 de outubro do mesmo ano, em um ato simbólico, se encontraram no lugar
onde seria construída a ponte, chancelando o projeto que se tornou de importância fundamental
para ambos os países, marcando a história das relações Brasil-Paraguai, “o telegrama de
Stroessner para Juscelino dizia que os acontecimentos do dia 06 de outubro eram a melhor
prova da união americana sonhada por Bolívar. A resposta de Juscelino dizia que os novos
2 Foz do Iguaçu passou a ser chamada assim a partir de 1918. O município foi elevado a essa condição em 1914,
pela Lei nº 1383, quando foi criada a Vila Iguaçu.
12
fatos, incluindo aquela ponte, representavam o ideal da união americana e da parceria entre
brasileiros e paraguaios” (MENEZES, 1987, p. 53).
Três inaugurações da ponte foram registradas, a primeira ocorreu no dia 26 de janeiro
de 1961, exatos quatro dias antes do término do governo de JK, no ano seguinte é apontada uma
segunda inauguração no dia 26 de março de 1962 e a terceira inauguração no dia 27 de março
de 1965, considerada a data oficial, pois foi efetivamente o marco do término, vincada no
obelisco, em placa em bronze, localizado no Brasil.
Estes eventos trouxeram a reflexão sobre os lugares de memória que Pierre Nora (1993)
fundamenta como uma forma de “bloquear o trabalho do esquecimento”, logo as reiterações
cerimoniais tornam um elemento de suma importância na fixação mnemônica. Bem como, as
insígnias discutidas na pesquisa, no sentido de entender as representações e atribuições de
significados no entorno da ponte.
A ponte foi construída entre 1956 e 1965 ligando, sobre o rio Paraná, o Paraguai com o
Brasil. Até a inauguração em 1965, os transeuntes de ambos os lados realizavam a travessia por
balsas, seja para visitarem amigos e parentes ou para comercializar do outro lado. Após a
construção da ponte o trânsito binacional foi se ressignificando, transformando a paisagem,
construindo novas práticas e também novas memórias nesse espaço transfronteiriço.
Em 2005, no aniversário de 40 anos da Ponte da Amizade, um evento comemorativo foi
organizado pela Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, cujo slogan era “Brasil-Paraguai 40 anos
– Para tanta amizade uma ponte só é pouco3”, ou seja, uma tentativa de demonstrar a urgência
da construção de uma segunda ponte, necessidade já ratificada desde 1992 conforme os
levantamentos dos acordos estabelecidos entre Brasil e Paraguai4.
Quase vinte anos depois, no dia 10 de maio de 2019, a pedra fundamental da segunda
ponte entre os dois países é lançada em um grande cerimonial realizado no Marco das Três
Fronteiras em Foz do Iguaçu, com os presidentes Jair Bolsonaro do Brasil e Mario Abdo Benítez
do Paraguai. A construção ligará as cidades de Foz do Iguaçu e Puerto Presidente Franco,
criando nova possibilidade de fluxo existente na Ponte da Amizade. Já se planeja a construção
3 GAZETA DO PARANÁ, 16 fev. 2005, p. 4. 4 Em 1995 no Governo Fernando Henrique Cardoso estabeleceu-se o Decreto nº 1436 em 3 de abril, promulgando
um Acordo para a construção da Segunda Ponte Internacional sobre o Rio Paraná em Foz do Iguaçu de 26.09.1992,
no Governo de Fernando Collor. Depois, firmou-se o Decreto nº 6.676, de 4 de dezembro de 2008, promulga o
Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Paraguai para a
construção da Segunda Ponte Internacional sobre o Rio Paraná, firmado em Montevidéu, em 8 de dezembro de
2005, nos Governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6676.htm>. Acesso em: 15 out. 2019.
13
de uma terceira ponte5, cuja responsabilidade ficaria a cargo da Itaipu Binacional do Paraguai,
no qual viabilizaria o escoamento da produção agrícola e pecuária do Brasil aos portos no
Oceano Pacífico, pois ligaria as cidades de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul a Carmelo
Peralta no Paraguai.
O trabalho estruturou-se no sentido de mapear a história da construção da Ponte da
Amizade, não só da construção física, mas também o processo de construção cultural através
das representações em torno dela. Busca-se compreender a sua relevância, não somente na
obviedade que ela representa, no sentido de servir de passagem, mas também entender o que
ela representa no nível simbólico. Para isso, a imagem foi muito utilizada e questionamentos
surgiram, por exemplo, como a construção da ponte foi retratada nas fotografias da época?
Enfim, do ponto de vista político, pode-se dizer que a ponte se tornou um símbolo da geopolítica
brasileira e paraguaia a partir das décadas de 1950, pois, a obra materializou as intenções
políticas, econômicas, sociais e culturais do Brasil e Paraguai.
Reforça-se que Foz do Iguaçu compõe uma das tríplices fronteiras mais movimentadas
da América do Sul, com atrativos turísticos que trazem milhões de pessoas. Só em 2019 foram
2.020.3586 de visitantes no Parque Nacional do Iguaçu, Marco das Três Fronteiras, Cataratas
do Iguaçu, tornando muitas vezes uma cidade monumento, associada ao turismo e também às
compras de importados. Portanto, atravessar a ponte torna-se atrativo para quem vive da
revenda desses produtos e para o turista que pode consumir produtos mais acessíveis ao
comparar com o Brasil. Além disso, é a principal ligação rodoviária entre o Brasil e o Paraguai,
por onde circula a maior parte dos produtos comercializados entre os dois países7.
A Ponte da Amizade, não raro, é eclipsada pelas grandes atrações turísticas citadas
acima ficando-a muitas vezes associada a um mal necessário, a um meio para alcançar o paraíso
dos importados. A memória do ilícito é muito presente, principalmente impressa pela mídia,
onde algumas vezes é retratada como símbolo do medo, da insegurança, da anomia e outras
vezes retratada como um símbolo da união e de integração regional. Dessa forma, não há uma
memória majoritária existente, a ponte expressa outras memórias em torno de um monumento,
no qual cada grupo social compreende de múltiplas maneiras.
5 Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: <
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/ponte-entre-porto-murtinho-do-lado-brasileiro-e-o-
distrito-paraguaio-de-carmelo-peralta-vai-permitir-acesso-ao-pacifico>. Acesso em: 15 out. 2019. 6 Polo Iguassu. Disponível em: <https://poloiguassu.org/>. Acesso em: 01 jul. 2020. 7 Segundo dados da ACIFI, a ponte movimenta cerca de R$ 12 bilhões em exportações todos os anos (ano-base
2016). Disponível em: http://www.revistaacifi.com.br/edicao-12/revitalizada-ponte-da-amizade-conecta-o-
desenvolvimento-de-foz-do-iguacu/. Acesso em: 02 out. 2020.
14
A academia dedica-se em pesquisar o entorno da Ponte Internacional da Amizade, desta
forma, pode-se acessar o conhecimento sob o viés dos trabalhadores na “fronteira” (DAVI,
2008)8, o tráfico de pessoas (PATRUNI, 2018)9, o tráfico das drogas ilícitas (GEMELLI,
2013)10, as crianças na ponte (REIMANN, 2013)11, o comércio fronteiriço (RABOSSI, 2004)12
entre outras pesquisas relacionadas à fronteira, propriamente dita. Destaca-se a dissertação de
Waldson Dias Jr.13, com a pesquisa sobre a Ponte Internacional da Amizade a partir das
representações no Jornal O Globo.
Nesta tese, propõe-se pesquisar a Ponte da Amizade, colocando-a como objeto de
investigação e a partir dela compreender suas representações. Para tanto, o estudo apoiar-se-á
em documentos, acordos e registros, através da produção de imagens, fotografias, imprensa,
bem como, o estudo das memórias institucionalizadas, de como se apresenta e/ou se apresentou
nos discursos oficiais e também em entrevistas pontuais.
O objetivo principal da tese é analisar e compreender a Ponte Internacional da Amizade
construída sobre o rio Paraná ligando o Brasil e Paraguai a partir de uma visão periscópica das
memórias e representações que ela traz no percurso de sua existência.
Para alcançar o objetivo principal os seguintes objetivos específicos foram
desenvolvidos:
1. Discutir os conceitos de paisagem, fronteira, memória e modernidade, conectados
com as fontes e metodologias, para a compreensão do objeto de pesquisa.
2. Identificar as principais razões (políticas, econômicas e sociais) do Paraguai e Brasil
para construírem uma ponte na região fronteiriça entre a atual Ciudad del Este e Foz do Iguaçu
e efeitos fronteiriços após a construção.
8 DAVI, Elen. Trabalhadores na "fronteira": experiências dos sacoleiros e laranjas em Foz do Iguaçu - Ciudad Del
Este (1990/2006). 2008. 140f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Marechal Cândido Rondon. 9 PATRUNI, Anna. O tráfico de pessoas no contexto da exploração econômica neocolonial: dilemas, ações e
solidariedade na região da tríplice fronteira (Argentina-Brasil-Paraguai). 2018. 159f. Dissertação (Mestrado em
Sociedade, Cultura e Fronteira – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu. 10 GEMELLI, Vanderleia. As redes do tráfico: drogas ilícitas na fronteira Brasil e Paraguai. 2013. 178f. Dissertação
(Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Francisco Beltrão. 11 REIMANN, Valdirene. As Crianças da Ponte: o trabalho de crianças e adolescentes no comércio fronteiriço de
Foz do Iguaçu Paraná. 2013. 135f. Dissertação (Mestrado em Sociedade, Cultura e Fronteira) – Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu. 12 RABOSSI, Fernando. Nas rus de Ciudad del Este: vidas e vendas num mercado de fronteira. 2004. 334f. Tese
(Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 13 DIAS Jr., Waldson de Almeida. A ponte da “modernidade” representacões e relacões Brasil–Paraguai durante a
construção da Ponte da Amizade (1956-1965). 2018. 130f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade
Federal da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu.
15
3. Contextualizar o processo histórico de mobilidade e ocupação da região,
compreendendo a relevância da Ponte da Amizade não só para o trânsito binacional, mas no
trânsito continental.
4. Construir a história da Ponte da Amizade a partir das imagens, descrevendo as
especificidades técnicas, os usos políticos e turísticos, e suas representações nas imagens e
discursos.
A paisagem é um fenômeno visível e objetivo, passível de ser descrito. Mas também é
um fenômeno subjetivo, pois existe uma relação com o sujeito participante dos esquemas de
percepcão, de concepcão e de acão, conforme expressa Berque (2012), “a paisagem esta
naturalmente exposta à objetividade [...], mas ela existe em primeiro lugar, em sua relação com
o sujeito coletivo: a sociedade que a produziu, que a reproduz e a transforma em função de certa
logica” (BERQUE, 2012, n.p.).
Pode-se debruçar mentalmente em um exercício imagético para mentalizar a fronteira
Brasil-Paraguai na década de 50, região hoje denominada de Vila Portes, visualizada nas
imagens e relatos. Certamente, a paisagem difere daquela que a vemos recentemente. Porém
não é somente o tempo que propicia essas diferenças de percepção, mas também do como é
retratada, cada qual com a sua especificidade, produz uma imagem a partir de um filtro cultural.
A tese visa investigar a construção da Ponte Internacional da Amizade, através dos
indícios, vestígios e efeitos produzidos pela transformação do espaço transfronteiriço. Para
alcançar os objetivos propostos, lança-se mão de fontes capazes de subsidiar essa investigação.
As fontes coletadas e utilizadas na pesquisa foram os documentos com as tratativas
internacionais depositados no Arquivo de Relações Exteriores em Assunção, Paraguai; fotos,
esboço de projeto, entrevista e documentos sobre a ponte no Departamento Nacional de
Infraestruturas de Transportes – DNIT, unidade local de Foz do Iguaçu; fotos e entrevista
coletada no Museu el Mensú em Ciudad del Este; atos internacionais nos acervos virtuais do
Ministério das Relações Exteriores; decretos no site da Câmara dos deputados; fotografias que
documentaram as etapas de construção da ponte; insígnias colhidas na internet, tais como
cédulas, moedas e cartões postais; registros cinematográficos da construção da ponte; jornais;
revistas; além de trabalhos acadêmicos, livros e artigos em periódicos que subsidiaram
sobremaneira a pesquisa. O percurso de coleta com a descrição do quadro das fontes, será
circunscrita, trabalhada e analisada no primeiro capítulo.
As relações políticas, os interesses econômicos e alguns resultados de tal aproximação
foram possíveis de serem acessadas através de bibliografias específicas, constatando nas fontes,
como alerta Ginzburg (2007) um estímulo e um limite, já prevendo a necessidade de aprofundar
16
a pesquisa exigindo uma análise dos rastros deixados pelo estabelecimento da ponte, sejam eles
voluntarios ou involuntarios, ao “ler os testemunhos historicos a contrapelo, [...] contra as
intenções de quem os produziu – embora, naturalmente, deva-se levar em conta essas intenções
[...]” (GINZBURG, 2007, p. 11).
A história cultural fundamentará a compreensão teórica e metodológica da pesquisa
entorno das questões relacionadas à ponte, ancorando-se nas discussões de Le Goff, de memória
e as conexões entre documento e monumento para o aprofundamento na pesquisa. Essa
perspectiva teórica, traz a possibilidade de desenvolver a pesquisa no âmbito da história da
memória, retratando-a como algo vivo e presente, porém corre o risco de se perder ao serem
enquadrados e reproduzidos, conforme alerta Burke:
[...] À medida que os acontecimentos retrocedem no tempo, perdem algo de
sua especificidade. Eles são elaborados, normalmente de forma inconsciente,
e assim passam a se enquadrar nos esquemas gerais correntes na cultura. Esses
esquemas ajudam a perpetuar as memórias, sob o custo, porém de sua
distorção (BURKE, 2005, p. 88).
A Ponte da Amizade não tem somente uma história, tem várias, e pode ser contada de
diferentes formas e maneiras. Pode-se contar uma história do ponto de vista paraguaio, do ponto
de vista do brasileiro ou do ponto de vista de quem se sentiu mais vigiado, ou mais distante dos
amigos, após sua construção. A travessia antes realizada por pequenos barcos enjambrados
passa a ser realizada por asfalto estabelecido a 50 metros acima do rio Paraná, percorrido em
minutos para o país vizinho.
A tese está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo visa discutir as
fundamentações teorico-metodologicas que orientaram a pesquisa, ancorando as reflexões,
análises, interpretações e uso das fontes selecionadas para desenvolver a tese. Para isso,
apresenta-se as fontes, bem como os locais de acesso, com o intuito de indicar o caminho
percorrido e as descobertas indiciárias possibilitadoras de novos olhares e sentidos para o objeto
de pesquisa.
O segundo capítulo visa compreender a importância e relevância da construção da Ponte
Internacional da Amizade sobre o rio Paraná para os países Brasil e Paraguai, bem como os
motivos para sua viabilização. Para tal, traçou-se um panorama do espaço fronteiriço situando-
o no sistema hidrográfico versus rodoviário, procurando inquirir as causas incentivadoras para
ligar fisicamente a fronteira. A questão da ponte foi abordada por meio de uma breve descrição
sobre a geopolítica entre Brasil e Paraguai com seus diferentes interesses ao estabelecer o
estreitamento de laços. No nível local, a ponte contribuiu significativamente para o surgimento
17
da Ciudad del Este e para a transformação dos bairros próximos à ponte em Foz do Iguaçu
influenciando a dinâmica da fronteira, a economia local e o estabelecimento ostensivo do
Estado. Para isso, desenvolve-se um breve histórico do desenvolvimento das cidades e os
impactos pós construção da ponte.
O terceiro capítulo contextualiza a construção da ponte a partir das imagens, para isso,
utilizou-se fotografias, sejam de maneira individual, publicadas em periódicos, ou na forma de
cartão-postal. Para esse fim, buscou-se estudar as imagens, decompondo-as nos elementos
constitutivos, tecendo reflexões e interpretações a partir das descrições e observações
realizadas. A análise das imagens ocorreu com contribuição de outras fontes que dessem
subsídio para compreender a ponte de maneira periscópica, olhando-a sob diferentes aspectos.
A Ponte Internacional da Amizade será estudada sob o ponto de vista político,
diplomático, econômico, social e cultural no que tange as relações Brasil e Paraguai,
objetivando principalmente inseri-la em um contexto maior do que normalmente a se vê, indo
além da repercussão local, compreendendo-a como algo maior do que ligar duas nações.
18
CAPÍTULO I
REFLEXÕES SOBRE AS FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICO-
METODOLÓGICAS
Uma fronteira não é o ponto onde algo termina, mas, como os gregos reconhecem,
a fronteira é o ponto a partir do qual algo começa a se fazer presente.
Martin Heidegger14.
O primeiro capítulo visa discutir as fundamentações teorico-metodologicas que
orientaram a pesquisa, ancorando as reflexões, análises, interpretações e uso das fontes
selecionadas para desenvolver a tese. Para isso, apresentam-se as fontes, bem como os locais
de acesso, com o intuito de indicar o caminho percorrido e as descobertas indiciárias que
possibilitam de novos olhares e sentidos para o objeto de pesquisa.
1.1 MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO
Esse tópico visa introduzir o marco teórico-metodológico da pesquisa, no sentido de
justificar o recorte, a seleção e o tratamento dado às fontes.
A Ponte Internacional da Amizade, ao ser vista ou transitada, aciona na memória
diferentes significados que passam por sentidos subjetivos, singulares e por que não,
encriptados. O papel do pesquisador é, a partir das indagações do tempo presente, exercitar a
decriptografia, desvendando as diversas vozes ressonantes.
A tese abrange diferentes facetas da construção da ponte, isso significa optar por uma
pesquisa que vai além de uma história linear, oficial e unidimensional. A ponte foi observada
de uma maneira periscópica, contemplando distintas formas de observá-la e de significá-la.
Logo, a veremos sob uma perspectiva humana, de quem a projetou, construiu, registrou,
transitou ou impactou e a experimentou.
O desafio intelectual da pesquisa guiou-se pelos caminhos da História Cultural.
Construída na interdisciplinaridade, propõe ser uma História mais abrangente e totalizante
permitindo lançar mão de outras ciências e instrumentos com vista a ampliar a compreensão do
tema investigado.
14 BHABHA, Komi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, p. 19.
19
Cabe salientar que a História Cultural, na qual se baseia a pesquisa, está inserida em
uma nova historiografia procedente do movimento dos Annales. O marco da renovação ocorreu
com a criação da Revista dos Annales15 em 1929, no qual seus membros tiveram o mérito de
inovar no campo investigativo permitindo maior liberdade e mais possibilidade de produção.
Se antes, a História era uma disciplina mais compartimentada, que supervalorizava o
aspecto político-econômico, o documento escrito, o papel de grandes homens e a ênfase na
neutralidade, com o movimento dos Annales, desembocando na Nova História, extrapola
sobremaneira a forma de interpretar os fatos.
Burke (1997, p. 12) elenca as diretrizes da Nova História em três aspectos teórico-
metodológicos, o primeiro é a história-problema, ou seja, o pesquisador elabora questões como
eixo do seu trabalho. O segundo aspecto é em relação a diversidade de temas, considerando a
possibilidade de pesquisar todas as manifestações humanas. O terceiro é a interdisciplinaridade
e para isso ele cita Febvre e utiliza o Braudel como exemplo da necessidade de intercambiar
com outras disciplinas.
Como dizia Febvre, com o seu característico uso imperativo: Historiadores,
sejam geografos. Sejam juristas, também, é sociologos, e psicologos” (Febvre,
1953, p. 32). Ele estava sempre pronto “para pôr abaixo os
compartilhamentos” e lutar contra a especializacão estreita. De maneira
similar, Braudel escreveu O Mediterrâneo como o fez para “provar que a
historia pode fazer mais do que estudar os jardins murados” (BURKE, 1997,
p. 12).
O locupletamento historiográfico possibilitou a ampliação temática contemplando
diversos grupos e assuntos até então excluídos e marginalizados.
1.2 SOBRE AS FONTES
Este tópico visa elencar e apresentar as fontes utilizadas na pesquisa, bem como os locais
de acesso a tais materiais. Esta exposição torna-se relevante pela quantidade de fontes
utilizadas, de diferentes naturezas e locais pesquisados, portanto conhecê-las é a primeira etapa
para compreender como e porque foram produzidas e como foram utilizadas para compreender
o objeto de pesquisa.
15 Título original da revista: Annales d’histoire économique et sociale (1929-39).
20
Para o desvendamento sobre a Ponte Internacional da Amizade, necessitou-se de um
levantamento documental sobre os assuntos relacionados ao objeto de pesquisa que abarcassem
a sua constituição.
Procurando abranger fontes primárias, ou seja, documentos de arquivos, fotografias da
época ou materiais publicados no próprio período pesquisado, realizou-se um trabalho de
campo com o intuito de vasculhar os vestígios sobre as tratativas binacionais e construção da
ponte. Essa etapa da pesquisa exigiu paciência e perspicácia para buscar e identificar indícios
relevantes para o desenvolvimento do trabalho.
O primeiro local visitado foi o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte
– DNIT de Foz do Iguaçu. O contato telefônico e marcação de horário com o responsável
precedeu a ida até o local. O Engenheiro Vicente Veríssimo Júnior, chefe de serviço da unidade
do local de Foz do Iguaçu, recepcionou a pesquisadora, oferecendo para reprodução, os
materiais sobre a ponte além de contextualizar a história da construção e reforma. Nessa
conversa, a pesquisadora solicitou a sua autorização para gravar a sua fala, para o posterior uso
enquanto fonte.
Os materiais sobre a ponte ficam armazenados em uma pasta, na qual o Sr. Vicente
apresentou e contextualizou cada um deles. Relatou que a sede do Departamento Nacional de
Estradas e Rodagem – DNER era no Rio de Janeiro, capital federal até 1960 e o prédio onde
continha os documentos foi incendiado, perdendo muitos originais. Inclusive não se tem a
planta da ponte e, portanto, para reformá-la tiveram que estimar, a partir de esboços da
construção.
Tratando-se de uma obra federal binacional, atravessar a ponte foi necessário para a
busca de rastros documentais, a pesquisadora deslocou-se até a capital do Paraguai para
investigar em arquivos, possíveis documentos e bibliografias que pudessem contribuir para a
pesquisa. A busca deu-se do Archivo Nacional de Asuncion e no Archivo de Relaciones
Exteriores em Assunção. Foi neste último, que se acessou vários documentos diplomáticos
entre Brasil e Paraguai para a viabilizar o livre acesso ao Porto de Paranaguá, por parte dos
paraguaios, a aplicação de crédito brasileiro para a construção do caminho Coronel Oviedo-
Puerto Presidente Franco e as tratativas para a construção da ponte sobre o rio Paraná. Todos
esses materiais foram reproduzidos no local e muito serviram para o desenvolvimento da
pesquisa.
Retornando a fronteira, na Ciudad del Este, a investigação partiu para o Museo
Municipal El Mensú. O termo mensú “fue acuñado para dar nombre al trabajador de los
yerbales de Alto Paraná, este era contratado para realizar actividades de los cortes de yerba
21
mate en rama y llevar hasta el “barbacúa” para el laboreo de la misma (ESCURRA; TELLO,
2015), mas pouco tem no museu sobre a história dos mensú. A edificação é um fragmento da
história da ponte, pois a casa foi construída para albergar os primeiros administradores da
cidade recém fundada, cujo objetivo era criar infraestrutura necessária para receber todo o fluxo
que o trânsito demandaria com a ligação terrestre entre Brasil e Paraguai. O museu, foi fundado
em 23 de outubro de 1999 e inaugurado no dia 03 de fevereiro de 2000, e se propõe a preservar
a história da região, logo, depara-se com muitas fotos da construção da ponte, as ferramentas
utilizadas pelos trabalhadores além de outros materiais que representam para o município, a sua
história. Além da entrevista coletada com o responsável pelo museu (ano-base 2018), o Sr. José
Riquelme, a pesquisa aportou com fotografias expostas, a Ata da fundação da cidade e a placa
comemorativa da primeira inauguração da ponte, fontes importantes para pensar o objeto da
tese.
Pesquisou-se nas duas bibliotecas municipais da região. Em Ciudad del Este levantou-
se algumas bibliografias de pesquisadores paraguaios na Biblioteca Municipal e em Foz do
Iguaçu na Biblioteca Pública Elfrida Engel Nunes Rios que também abarca no seu acervo, além
de livros, outras fontes de pesquisa, a exemplo de jornais, revistas e fotos da região, utilizadas
na pesquisa. Também se pesquisou o acervo da Holoteca situada no Centro de Altos Estudos
da Conscienciologia – CEAEC, onde além de fontes jornalísticas, acessou-se também o acervo
bibliográfico sobre a região (Fozteca).
A internet possibilitou de diferentes formas a aquisição de fontes fundamentais para a
pesquisa, desde sites oficiais que disponibilizam acervos online a exemplo do Ministério das
Relações Exteriores, Câmara Legislativa, Senado Federal e do Congresso Nacional até sites não
tradicionais para pesquisa como Youtube, no qual alberga vídeos históricos da Agência
Nacional, em especial, os três utilizados na pesquisa, um de 1958, outro de 1959 e de 1965, que
de alguma forma trazem narrativas da construção da ponte.
Os acervos virtuais crescem cada vez mais com as tecnologias de digitalização
possibilitando o acesso ao histórico de periódicos, a exemplo da Revista Manchete, fonte
selecionada para ilustrar como a ponte foi retratada no nível nacional.
Outro site utilizado na pesquisa, foi o Facebook, rede social virtual, fundada em 2004,
que une diferentes interesses. Tornou-se, ao longo da investigação, um ciberespaço de
relevância para acessar informações, pessoas e fotos empregadas no trabalho. Os grupos
criados, são propícios para unir pessoas com interesses afins, aqui, destaca-se o grupo
denominado Foz do Iguaçu e Cataratas Memória e Fotos Atuais, criado por José Wille,
jornalista, cujo objetivo é criar um acervo fotográfico com a contribuição de qualquer um que
22
queira disponibilizar o seu material para o público. Tornou-se um local de compartilhamento
de memórias além da interação e troca de saberes.
O grupo social virtual tem uma enorme pertinência ao oportunizar o compartilhamento
das experiências individuais, subjetivas e singulares. Indo ao encontro com o dever da
preservação da memória, acessando experiências indizíveis e de reconhecê-las significantes
historicamente e socialmente. Desta forma, ela se enquadra em uma categoria relacionada com
as recordações, com as reminiscências. Além disso envolve a própria fonte na pesquisa,
recuperando uma história não conhecida, relacionando-a com a história da comunidade.
Após contagem das imagens inseridas no grupo Foz do Iguaçu e Cataratas Memória e
Fotos Atuais, do Facebook, constatou-se mais de 3.800 (data base: 10 jun. 2020) fotos
compartilhadas, sendo dessas, mais de 180 da Ponte Internacional da Amizade, que aliás, é
representada na imagem da capa na página do grupo. Essa informação faz um pouco mais de
sentido ao comparar com a Ponte Internacional Tancredo Neves ligando Foz do Iguaçu, Brasil
a Puerto Iguazú, Argentina, inaugurada em 1985, na qual 23 fotos foram compartilhadas. Não
é o objetivo da pesquisa analisar o grupo em si, apenas destacar alguns indícios de relevância
da Ponte da Amizade para um determinado grupo, a partir de um conjunto analisado de imagens
neste ciberespaço.
O grupo constitui-se de pessoas interessadas na memória da cidade, logo há uma
predominância de fotos antigas e de diferentes pontos da cidade, não se restringindo aos locais
“turísticos”. A partir das imagens é possível acessar a transformação da cidade e sua história,
pois muitas das fotos são contextualizadas com alguma casuística particular em relação àquele
espaço. Sendo um local de compartilhamento espontâneo de imagens, o fato de ter um número
significativo de imagens da Ponte da Amizade, em especial, faz refletir sobre a topofilia,
neologismo desenvolvido pelo pesquisador Yi-fu Tuan, para explicar os laços afetivos dos seres
humanos com o meio ambiente material, “são os sentimentos que temos para com um lugar,
por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida” (TUAN, 1980, p. 107).
Outras fontes utilizadas na pesquisa, foram as produzidas pela pesquisadora, a partir de
um comando de busca em um programa de computador chamado Google Earth16. A ferramenta
espacial constrói uma figura a partir de várias imagens de satélites ou fotografadas de aeronaves
podendo identificar lugares, construções e/ou paisagens, possibilitando a composição das
imagens e ao utilizar o recurso do zoom, é possível alcançar uma visibilidade maior. Esse
16 Para ampliar as discussões sobre o Google Earth, sugere-se a leitura do artigo dos pesquisadores Paul Kingsbury
e John Paul Jones intitulado Walter Benjamin’s Dionysian Adventures on Google Earth. Disponível em:
<https://personalpages.manchester.ac.uk/staff/m.dodge/Kingsbury_and_Jones.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2020.
23
recurso permite conhecer geograficamente o objeto pesquisado a partir de uma dimensão
espacial mais abrangente.
A cidade de Foz do Iguaçu carece de centros de memórias, ou espaços organizados para
armazenar e acessar documentos de interesse público. Por outro lado, esses lugares que parecem
arquivos estão em muitas partes, seja num armário em um órgão público sob custódia de
funcionário, seja, na biblioteca, ou nas gavetas privadas encorajadas pelos grupos criados nas
mídias sociais em compartilhá-las.
O fato é que a pesquisa exige um caminhar, não somente no sentido metafórico, ou seja,
o trilhar um caminho de construção de um saber, mas no sentido literal, de peregrinar em
diferentes locais em busca de fontes que possam subsidiar, contextualizar, desconstruir,
compreender e/ou fundamentar o mote da investigação.
Portanto, para a pesquisa, utilizou diversas fontes e de diferentes naturezas, e, em razão
das suas especificidades, sabe-se que cada fonte produz um dado de maneira distinta, gerando
também diferentes significados discutidos ao longo da pesquisa.
1.3 A PONTE DA AMIZADE: TRANSGRIDE A FRONTEIRA OU TORNA-SE FRONTEIRA?
Para problematizar o papel da ponte no contexto fronteiriço, o seguinte questionamento
balizou as reflexões aqui expostas: a ponte transgride a fronteira ou torna mais efetiva a
fronteira? Para isso, é preciso olhá-la sob o viés político e populacional, para discriminar as
diferentes percepções do espaço.
A pesquisa debruçou-se no estudo da fronteira delimitando-se a ponte, esse espaço
binacional entre Brasil e Paraguai extremamente movimentado17, circulando uma intensa
quantidade de pessoas com uma vasta diversidade linguística e veículos com placas de
diferentes países.
A paisagem estudada caracteriza-se por ser fronteiriça e esse conceito está associado a
ideia de limite, que conforme Raffestin (1993, p. 166) não se dissocia da historicidade podendo
ser modificada e ultrapassada. Essencialmente serve para demarcar uma propriedade ou uma
apropriação de um território, ou seja, está associada com as relações de poder. A fronteira se
torna a partir do Estado Moderno um “limite sagrado” assegurando o controle territorial.
[...] Fatores ideológicos (Leste-Oeste) conduzem a uma demarcação que não
é somente um ganho em informações, mas ainda um gasto contínuo de energia
por todo o sistema de construções, para o qual é necessário assegurar
manutenção e a vigilância. [...]
17 Transitam pela ponte cerca de 20 mil pedestres e 40 mil veículos por dia, segundo a pesquisa realizada pela
UDC. Centro Universitário Dinâmica das Cataratas. Pesquisa sobre o tráfego de veículos e pessoas que atravessam
a Ponte Internacional da Amizade. Foz do Iguaçu, PR. 1ª Edição, Junho, 2018.
24
A demarcação (a delimitação também, mas com riscos de contestação)
permite o exercício das funções legal, de controle e fiscal. Com efeito, a linha
fronteiriça adquire diferentes significados segundo as funções das quais foi
investida. A função legal delimita uma área no interior da qual prevalece um
conjunto de instituições jurídicas e normas que regulamentam a existência e
as atividades de uma sociedade política. Em contrapartida a função de controle
tem por dever inspecionar a circulação dos homens, dos bens e da informação
de uma maneira geral, o que vale dizer, desde já, que o controle da informação
se mostra muito difícil, na maioria dos casos (RAFFESTIN, 1993, p. 167 e
168).
Nas cabeceiras da ponte, a visibilidade da natureza arbitrária dos limites estatais e
administrativos, torna-se ostensiva, pois estruturas de controle foram construídas, cada qual
com a sua constituição fazendo-a cumprir, garantindo a obediência dos cidadãos ao país em que
se encontra. Desta forma a fronteira se liga, mas com a necessidade de estabelecer áreas
limítrofes de cada Estado-Nação. A ponte que uniu os dois país, também se tornou o símbolo
do reforço da existência de fronteira.
Nas fotografias com os chefes de Estado, por exemplo, a fronteira é bem demarcada, no
Capítulo III apresenta-se imagens da inauguração da ponte onde a delimitação é reiterada,
inclusive praticada em outras ocasiões, conforme a imagem abaixo. O encontro entre os
presidentes Ernerto Geisel (1907-1996) do Brasil e Alfredo Stroessner do Paraguai para a
solenidade de desvio do rio Paraná no dia 20 de outubro de 1978, para a construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu, deu-se no meio da Ponte da Amizade. Na Imagem 1 é possível visualizar
uma linha atravessando a pista demarcando a fronteira política.
Imagem 1 – Encontro do presidente do Brasil Ernesto Geisel (à esquerda) e do Presidente do Paraguai
Alfredo Stroessner (à direita) na Ponte da Amizade em 1978.
Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 29 set.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215179654629643&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 mar. 2020.
25
Evidente que os limites vivenciados pelos sujeitos são flexíveis e às vezes até
inexistentes, transcendendo as demarcações territoriais, formando até uma comunidade
binacional (Baller, 2014, p. 148). Essa percepção é comum às pessoas que vivenciam um espaço
binacional, onde, atravessar a fronteira todos os dias para trabalhar ou estudar é um modus de
vida, conforme Baller, “os fronteiricos que vivem na zona de contato promovem, a sua maneira,
a transnacionalizacão no interior de nacões ou de estados” (BALLER, 2014, p. 148). A
descrição em atravessar a fronteira registrada pelo pesquisador Albuquerque, exemplifica essa
condição,
Quando estava atravessando a ponte sobre o rio Paraná, pensei sobre a
arbitrariedade dos limites nacionais que dividem em duas nações uma
mesma paisagem física. Mas essa criação arbitrária é uma ilusão bem
fundamentada e altera a nossa subjetividade (ALBUQUERQUE, 2005,
p. 17).
A fronteira natural, estabelecida no rio Paraná, antes fluida, líquida, passou com a
construção da ponte, a ter uma delimitação de concreto suspensa sobre o rio. Seguindo a
perspectiva de Certeau, “muda a fronteira em ponto de passagem, e o rio em ponte”. Se o rio é
uma fronteira natural, a ponte é a transgressão desse limite e o papel dos homens seria, “encher
e construir o espaço entre dois, eis a pulsão do arquiteto; mas, ao mesmo tempo, a sua ilusão,
pois, sem o saber, trabalha para o congelamento político dos lugares [...]” (CERTEAU, 2014,
p. 196).
O pesquisador Ferretti (2014) traz a concepção de fronteira para Friedrich Ratzel (1844-
1904), considerado um dos mais importantes geógrafos europeus na segunda metade do século
XIX, definindo-a como um produto do movimento, existindo práticas, atividades e disputas que
provocam deslocamentos, e segundo Ratzel, “A fronteira natural é obra do domínio natural
tomado no sentido biogeográfico mais amplo e, sob todos os seus aspectos, no interior da
geografia política” e continua, “mesmo os limites mais naturais como Himalaia ou Hinou-
Kouch ainda oferecem passagens. [...] A espécie humana revela que, nos limites do ecúmeno,
nada pode separar os povos permanentemente” (apud FERRETTI, 2014, p. 61), ou seja, a
fronteira é sempre um movimento histórico.
Aqui cabe perfeitamente o conceito desenvolvido por CERTEAU (2014, p. 184) de
espaco, sendo um “cruzamento de moveis” ou “unidade polivalente”, o que o diferencia de
lugar que implica uma indicacão de estabilidade, “o espaco é um lugar praticado”, vivencial ou
existencial. Conforme o autor “[...] especificam “espacos” pelas acões de sujeitos históricos
(parece que um movimento sempre condiciona a produção de um espaço e o associa a uma
26
historia)” (CERTEAU, 2014, p. 185, grifo do autor). O percurso está relacionado com espaço,
pois existe uma vivência do lugar, uma ação de percorrer gerando experiências singulares.
Refletindo em cima das ideias de Certeau, pode-se pensar que a fronteira enquanto
demarcacão arbitraria de um lugar inexiste no campo do espaco, que é fluido, porém “não existe
espacialidade que não organize a determinacão de fronteiras” (CERTEAU, 2014, p. 191). A
ponte é o resultado da concessão de espaços, ambos os lados abrem mão de um determinado
lugar para legitimar um novo espaco. Eis a problematica da fronteira: “[...] a quem pertence a
fronteira? O rio, a parede ou a árvore faz fronteira. Não tem o caráter de não lugar que o traçado
cartografico supõe no limite” (CERTEAU, 2014, p. 195, grifo do autor).
No quesito social de construção do espaço, os pesquisadores Kleinke, et al. (1997)
trouxeram o aspecto da população fluida na região trinacional, no caso, incluindo
evidentemente Puerto Iguaçu na Argentina, onde a transgressão da fronteira é muito bem
descrita:
À revelia das causas institucionais e/ou econômicas que provocam alterações
nas oportunidades e reforçam a demarcação de fronteiras, o cotidiano das
relações estabelece um pacto, ainda que informal, de cooperação e parcerias,
não propriamente entre os três países, mas, sim, entre as três fronteiras. Um
espaço que não pertence a nenhum país, um espaço do Mundo. Isso significa
a própria negação da fronteira (KLEINKE et al., 1997, p. 160).
Em um espaço fronteiriço há um esforço, por parte dos Estados em delimitar o seu
território e, portanto, a presença de aparatos burocráticos faz sentido não só no controle, mas
no reforço dos símbolos oficiais da pátria. E são as diferenças entre os Estados que provocam
a mobilizacão e o constante trânsito, pois muito se busca o que o “outro” pode oferecer em
relação ao que se tem no Estado de origem.
1.4 INDÍCIOS INVESTIGATIVOS: PONTE PARA NOVAS REFLEXÕES
O intuito é não olhar a Ponte da Amizade propriamente, mas olhar através dela, partindo
de um conjunto de representações sobre a ponte. Para isso, o método indiciário tornou-se
adequado no esforço de identificar sinais e possíveis decifrações.
Antes de iniciar qualquer pesquisa, o investigador estabelece certas diretrizes, que o
possibilita uma orientação na trajetória, a exemplo do problema, dos objetivos, e da
metodologia. A partir desses elementos inicia-se a aventura investigativa de coletar as fontes,
de analisá-las e de tratá-las com a metodologia escolhida, refletindo teoricamente sobre o
objeto.
27
Mas a pesquisa não é linear e é preciso ficar atento aos novos percursos que a caminhada
vai indicando. Buscou-se olhar para a ponte, para ir além do conhecido, indo da sua
materialidade mais óbvia que é a experiência de estar nela, apreendendo o seu entorno, mas
também ficando aberta para que os seus pormenores não escapem ao reconhecimento e
apreciação. Para isso, a coleção de indícios tornou-se peça fundamental para pensar novas
formas de compreender o objeto.
O método indiciário, aplicado na pesquisa, consiste em desenvolver um saber
conjectural, a partir da reunião dos resíduos, das pistas, dos dados marginais, nas trivialidades
pouco observadas, do entorno, do pequeno, do implícito enfim, dos pormenores normalmente
negligenciáveis. Indo da parte para o todo, do micro para o macro. Pois, esses indícios seriam
mais ricos por tratar-se do núcleo menor do objeto, porém com capacidade de compreendê-lo
na sua totalidade.
Carlo Ginzburg identifica que as raízes desse paradigma eram muito antigas, desde a
condição do humano enquanto um caçador quando precisava desenvolver percepções além da
visibilidade, a partir de vestígios deixados por pegadas, cheiros, galhos quebrados enfim,
aperfeicoando um saber venatorio “capacidade de, a partir de dados aparentemente
negligenciaveis, remontar a uma realidade complexa não experimentavel diretamente”
(GINZBURG, 1989, p. 152). Sobre a Antiguidade, o autor cita os textos divinatórios chamando
a atenção de que ambas as competências, seja em decifrar, significando voltar-se ao passado,
seja adivinhando, significando voltar-se para o futuro, contém as mesmas operações
intelectuais.
O autor descreve, a partir de fatos observados, os primórdios de um modelo
epistemológico que ele denomina de indiciário. Ora, o que significa um dado negligenciável no
contexto dessa pesquisa? Significa estar completamente absorto na pesquisa, e alguém
despretensiosamente comenta que a bandeira de Foz do Iguaçu contém em suas insígnias a
Ponte da Amizade. Um dado que talvez tivesse passado despercebido, sem grande importância,
se não fosse a acuidade indiciária proposta pelo Ginzburg, emergindo a reflexão sobre os signos
representados na bandeira do Município.
28
Imagem 2 – Bandeira de Foz do Iguaçu (2001). Fonte: Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu. Disponível em:
<http://www.pmfi.pr.gov.br/ArquivosDB?idMidia=104439>. Acesso em: 20 out. 2019.
Essa observação traz uma pergunta não contemplada no início da pesquisa, ou melhor,
imponderável, mas que se torna inegável a premência de sua elaboração: por que Foz do Iguaçu
considerou a ponte importante para ser contemplada na bandeira municipal? Qual o significado
para o município?
Carlo Ginzburg (1989, p. 171) traz a ideia sobre a necessidade de cada sociedade
produzir elementos de distinção, criando para isso, formas de autoidentificar-se, iniciando
evidentemente com o nome, por exemplo, Foz do Iguaçu, que por si só já revela sua síntese, é
o seu resumo, expressa o seu principal emblema, as quedas d’águas. Os símbolos são
instrumentos de mensagens e a bandeira é uma forma de epilogar o que o representa, inclusive
distinguindo-se de outros municípios.
Segundo a Lei nº 2394/2001, os símbolos representativos do Município de Foz do
Iguaçu compõem as seguintes características:
[...] No escudo chefe, encontram-se representados três dos principais pontos
de atração turística do Município, por isso mesmo, causa de sua projeção
internacional: a) A Ponte Tancredo Neves, também chamada Ponte da
Fraternidade, que sobre o Rio Iguaçu, é o elo entre nossa Pátria e a vizinha
República da Argentina, com quem mantemos os mais cordiais laços
amistosos; b) A Ponte Internacional, também chamada de Ponte da
Amizade, que por sobre o Rio Paraná é o elo entre nossa Pátria e a vizinha
República do Paraguai, com quem, também mantemos os mais cordiais
laços amistosos; c) Ao centro das duas pontes, o Marco das Três Fronteiras,
erguido pelo Marechal Cândido Rondon, às margens brasileiras de encontro
dos rios Paraná e Iguaçu, onde se assentam as divisas com as vizinhas
Repúblicas da Argentina e Paraguai.
No centro do escudo, ou faixa, a representação dos principais saltos que
integram as mundialmente famosas Cataratas do Iguaçu e a Hidrelétrica de
Itaipu, à esquerda, temos os saltos Floriano, Deodoro e Benjamim; ao centro,
a emocionante Garganta do Diabo; e a direita, a Itaipu Binacional. [grifo
nosso]
29
Em 1966 com a Lei nº 502, de 31 de dezembro, assinado pelo Oziris Santos (1936-
2013), prefeito municipal (1963-1968), estabeleceu os principais símbolos de Foz do Iguaçu e,
desde a década de 60, a ponte estava representada conforme a Imagem 3.
Imagem 3 – Bandeira de Foz do Iguaçu (1966). Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 03 out.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215206668304968&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 20 out. 2019.
A Ponte Tancredo Neves e a Itaipu Binacional foram incorporadas posteriormente à
bandeira do município.
A segunda pergunta instigada foi, será símbolo também na bandeira da Ciudad del Este?
Eis a surpresa ao deparar-se com tal obviedade. Tanto a bandeira de Ciudad del Este quanto a
do Distrito do Alto Paraná continham em suas insígnias a Ponte Internacional da Amizade.
Imagem 4 – À esquerda a bandeira do Departamento do Alto Paraná, e a direita a bandeira da Ciudad
del Este. Fonte: Gobernación de Alto Paraná e Municipalidad de Ciudad del Este. Disponíveis em:
<http://www.altoparana.gov.py/v0/> e <http://mcde.gov.py/index.php>. Acesso em: 08 jun. 2020.
30
A terceira pergunta foi, onde mais a ponte foi e/ou é representada? Desta forma, a
pesquisa partiu para a coleta de vestígios, possibilitando abrir novas problemáticas
investigativas, seguindo as observações de Burke (2017, p. 24), em utilizar as imagens como
evidências historicas, evitando a “invisibilidade do visual”, trazendo-a para o campo de
reflexão.
Para isso, refletiu-se sobre o papel das imagens, no sentido, de investigar as diferenças
entre o representado e as representações. A história cultural, segundo Chartier (1990, p. 16 e
17), tem como principal objeto “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos
uma realidade social é construída, pensada, dada a ler”. A decifracão do espaco através das
producões partilhadas “pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepcão do mundo
social, os valores que são os seus, e o seu domínio”. Desta forma, a representacão para Chartier,
é entendida como classificações e divisões que organizam a apreensão do mundo social como
categorias de percepção do real.
Camargo (2001) vai ao encontro de Chartier e para ele, o conceito de representação “é
dar a alguma coisa o sentido de outra” (CAMARGO, 2011, p. 207), evidente que as imagens
da ponte, não são a ponte, mas sua representação. Ela cumpre a vocação tácita de evocar o que
está sendo representado. Neste quesito, entra a instância interpretativa, que Camargo (2011)
denominará de significação.
[...] ao tocarmos nas questões referentes às aparências das imagens, vamos
perceber que isto não basta para entendê-las em sua plenitude, é necessário ir
além da simples aparência e buscar a sua essência.
[...] além da representação, dependeríamos da significação, do sentido que
uma imagem produz na relação que exerce no contexto cultural com o qual
dialoga. [...] vale discutir um segundo aspecto importante de sua existência, o
seu uso, ou seja, as funções ou finalidades para as quais são produzidas (In:
CAMARGO, 2011, p. 207).
Então, uma representação tem em si uma significação, podendo ter várias funções
(simbólica, documental, poética), aqui se destaca o uso da representação da ponte, como um
suporte pedagogico, que Camargo (2011) define como “capaz de informar e também contribuir
para a consolidação de outras estratégias instrucionais que só podem ser realizadas mediante
visualizacão [...]” (CAMARGO, 2011, p. 210).
Existe certa intencionalidade em vincar determinadas imagens e existem inúmeras
leituras do receptor sobre essa imagem, ou seja, para cada significante há inúmeras
possibilidades de significações, não é o objetivo do trabalho mapear esses sentidos, mas de
expor um fato e trazer para discussões possibilidades interpretativas.
31
Pode-se andar pela ponte, ler sua definição e características, vê-la representada em uma
fotografia, mas talvez não conseguirá se apropriar de todas as dimensões significativas do
entorno da ponte, mas o esforço em interpretar, auxilia no conhecimento sobre o objeto
pesquisado.
Por exemplo, na reunião dos vestígios das insígnias sobre a ponte, expostas abaixo,
representada no Paraguai18 (selos, cédulas, moedas, cartão etc.), com objetivo comemorativo,
ativando a partir das imagens, a memória daquilo que é considerado importante e relevante de
ser relembrando, ou seja, a “grande” obra, o “grande” feito, por “grandes” homens, cuja
intencionalidade é tornar presente um fato do passado, monumentalizando a ponte.
O trabalho de “escavacão” na pesquisa trouxe os selos comemorativos produzidos pelo
Paraguai em 1961, demarcando a “primeira” inauguração da ponte com os presidentes Juscelino
e Stroessner, conforme a Imagem 5. No selo, a ponte é retratada de baixo para cima,
aumentando a percepção do tamanho, o rio Paraná abaixo com leve percepção de movimento.
Em cima, os brasões das repúblicas do Brasil e Paraguai. Trata-se de um selo comemorativo do
sesquicentenário de independência do Paraguai, e a ponte foi eleita como um dos marcos a
serem inseridos na celebração.
O selo, em tamanho reduzido contém um texto, uma mensagem, um “o que dizer”,
contribuindo para a difusão de temas e discursos de interesse do Estado, tornando-se um
importante veículo na difusão da imagem do país, neste caso, o óbvio interesse em atribuir
construção da ponte a um projeto binacional, personificado nos presidentes de cada país.
Imagem 5 – Selo comemorativo (1961) de Inauguracion Puente Internacional Paraguay Brasil. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 20 jul.
2019. Facebook. Disponível em:
18 Até este momento, essa autora não encontrou insígnias no Brasil (data-base: out. 2019).
32
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214693534716949&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 20 out. 2019.
Na Imagem 6 há dois selos emitidos pelo Paraguai. O primeiro de 1972, com o texto
“1972 año del turismo de las américas”, a imagem da Puente de la Amistad, neste caso, o verbal
e visual une-se na transmissão de uma mensagem, a relação do turismo nas Américas com a
Ponte da Amizade, trazendo um discurso veiculador de propaganda. O segundo é o selo
comemorativo (1983) de 25 anos da Ciudad Presidente Stroessner, fundada em 1957, tendo
como principal representação na imagem, a Ponte da Amizade e acima, o presidente Stroessner,
associando-o a comemoração, passando uma ideia de o “executor” da obra, ou o “responsável”
pelo surgimento da cidade a partir das articulações políticos-diplomáticas que possibilitaram a
construção da ponte.
Imagem 6 – Filatelias. O primeiro de 1972 e o segundo, é o selo comemorativo (1983) de 25 anos da
Ciudad Presidente Stroessner. Fonte: O SELO e PINTEREST. Disponível em:
https://www.oselo.com.br/artigo/inauguracao-da-ponte-internacional-da-amizade/ e <
https://i.pinimg.com/originals/6e/47/73/6e4773f1681454254bd30eac7ff0fee2.jpg>. Acesso em: 07 jun.
2020.
A Ponte da Amizade aparece nos selos e em versões comemorativas, cujo interesse pode
estar relacionado com a necessidade de legitimar a atuação do Estado, conforme Salcedo, “[...]
O selo postal, enquanto texto, pode ser situado no domínio discursivo publicitário, cotidiano ou
escolar, com códigos semióticos específicos e um rico manancial de veiculações discursivas
político-ideológicas” (SALCEDO, 2010, p. 57). Desta forma, o selo, visto como um veículo de
transmissão de conhecimentos, objetiva dar visibilidade aquilo que se considera importante e
relevante.
A importância da obra e da materialização do acordo internacional do Paraguai com o
Brasil é evidenciada na cédula de dez guaranis (PARO, 2016, p. 139) de 1952, onde a segunda
33
emissão pelo Banco Central do Paraguai colocou em circulação em 1963 com a Ponte da
Amizade, conforme a ilustração da Imagem 7. A cédula traz as assinaturas de Oscar Stark
Rivarola e César Romeo Acosta. No verso, a figura do General Eugenio Alejandrino Garay
Argana, jornalista paraguaio e militar que se destacou na Guerra do Chaco19.
Imagem 7 – Cédula de Diez Guaranies, do Paraguai. Fonte: BILLETES DEL PARAGUAY. Disponível em:
<http://billetesdelparaguay.blogspot.com/2010/04/diez-guaranies-mc212b-partir-del-ano.html> Acesso
em: 07 jun. 2020.
A cédula tem um potencial comunicativo de extrema relevância, haja vista que a maioria
dos paraguaios tiveram acesso a essas cédulas, utilizando-as como um instrumento de troca nas
transações comerciais, circulando entre eles a imagem da Puente Internacial Paraguay-Brasil,
nomenclatura descrita na legenda. O dinheiro como símbolo do país reflete os valores que o
governo quer exaltar, neste caso, o enaltecimento da ponte binacional.
O reforço visual da ponte é apresentado também nas moedas comemorativas no
Paraguai, homenageando a inauguração de 27 de março de 1965, conforme a Imagem 8.
19 BANCO Central do Brasil. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/c/noticias/75>. Acesso em: 01
out. 2018.
34
Imagem 8 – Moeda comemorativa – Puente de La Amistad (1975). Fonte: Portal Guarani. Disponível em:
<http://www.portalguarani.com/detalles_museos_otras_obras.php?id=17&id_obras=972&id_otras=15
7>. Acesso em: 01 out. 2018.
Abaixo, na Imagem 9, encontra-se uma espécie de cartão-postal, no qual explora-se a
especificidade deste meio de comunicação no Capítulo III, com o desenho da Ponte da Amizade
ressaltando a primeira inauguração datada em 27 de janeiro de 1961.
Imagem 9 – Cartão postal com a ilustração da Ponte da Amizade. s/d. Fonte: PORTAL GUARANI. Disponível em:
<http://www.edupratt.com/1759_alfredo_stroessner_matiauda/18606_inauguracion_del_puente_intern
acional_sobre_el_rio_parana_1961__discurso_de_alfredo_stroessner.html>. Acesso em: 07 jun. 2020.
Também se encontram logomarcas com a representação da Ponte da Amizade, a
exemplo da Imagem 10, sobre um evento denominado de “Olimpiada da Historia” organizada
pelo Paraguai.
Na logo abaixo, é possível descrever três elementos óbvios que o compõe, o primeiro
pode-se interpretar como uma representação dos estudantes; o segundo, um livro e o terceiro, a
Ponte da Amizade. Para uma olimpíada de História, inserir a ponte faz todo o sentido
35
dependendo da relevância para a região que pode ter no âmbito historiográfico, econômico ou
geográfico. O historiador Huizinga (apud BURKE, 2017, p. 20), declara que, “o que o estudo
da Historia e a criacão artística têm em comum é um modo de formar imagens”.
Imagem 10 – Logo “Olimpiada de Historia” – Ciudad del Este e Alto Paraná20. Fonte: MUSEU EL MENSÚ. Ciudad del Este, 29 mai. 2017. Facebook. Disponível em: <
https://www.facebook.com/museoelmensu/photos/a.1153201991469620/1218662991590186/?type=3
&theater>. Acesso em: 07 jun. 2019.
As representações iconográficas são linguagens visuais que expressam através das
imagens determinado conteúdo, servindo de suporte mnemônico. As bandeiras, as cédulas, as
moedas, os selos, os cartões postais e as logomarcas são formas de reforçar uma ideia, um
conceito, uma ideologia ou um valor em forma de uma representação iconográfica, nestes casos
selecionados, reforçando a imagem da Ponte da Amizade, lembrando a comunidade da sua
relevância.
Na busca por vestígios, localizou-se o suplemento exposto na Imagem 11. Colocado
em circulação, pela primeira vez, no dia 21 de junho de 1994, denominado Ponte da Amizade21,
produzido pela Folha de Londrina na sucursal em Foz do Iguaçu, com tiragem inicial de 30 mil
jornais, periodicidade quinzenal, cujo propósito era divulgar principalmente a parte comercial
da região trinacional (Brasil, Argentina e Paraguai), mirando no setor turístico. Em 1997 o
suplemento passou-se a chamar Folha da Amizade dobrando o número de tiragem e ampliando
a distribuição. O periódico dedica-se em “secões destinadas a atracões turísticas, hotéis,
20 A 1ª Olimpíada de História del Alto Paraná realizada em 2017. Disponível em:
<https://www.ultimahora.com/organizan-1-oiimpiada-historia-del-alto-parana-n1081827.html>. Acesso em: 07
jun. 2020. 21 Folha de Londrina. Folha da Amizade circula com 80 mil exemplares. 13 nov. 1998. Disponível em:
<https://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-especiais/folha-da-amizade-circula-com-80-mil-exemplares-
107803.html>. Acesso em: 15 out. 2019.
36
restaurantes e produtos vendidos na fronteira, a Folha da Amizade costuma ser usada pelos
turistas como confiável guia para programar passeios e compras22”.
Imagem 11 – Ponte da Amizade. Suplemento da Folha de Londrina, 24 mai a 07 jun. 1997. Ano 3, Nº
66. Fonte: CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DA CONSCIÊNCIA - CEAEC. Disponível no acervo do
Holociclo, Foz do Iguaçu.
Um periódico que se dedica a fomentar as atividades econômicas na fronteira, mirando
na melhoria da infraestrutura, desenvolvimento do comércio e no turismo torna-se emblemático
chamar-se de Ponte da Amizade, pois se tornou um símbolo dessa tríade.
Um exemplo da apropriação da ponte para uso político-econômico, é o fato ocorrido em
1999 quando uma campanha publicitária do Itaú Seguros associou a imagem da Ponte da
Amizade ao roubo de carros no Brasil, causando reações de rechaço em um grupo de
empresários de Foz do Iguaçu com apoio da Paraná Turismo, da Secretaria Municipal de
Turismo e Desenvolvimento Econômico entre outras entidades, considerando-a ofensiva e
preconceituosa, segundo relatado na Folha de Londrina23. Conforme o jornal, “para eles, a ponte
que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este é um dos símbolos que mais divulga o nome da
cidade”, portanto associa-la a criminalização não seria bom para a imagem da região.
22 Folha de Londrina. Folha da Amizade ampliará circulação. 19 jun. 1998. Disponível em:
<https://www.folhadelondrina.com.br/geral/folha-da-amizade-ampliara-circulacao-82268.html>. Acesso em: 15
out. 2019. 23 Folha de Londrina. Empresários de Foz querem impedir propaganda da Itaú Seguros. 13 jun. 1999. Disponível
em: <https://www.folhadelondrina.com.br/geral/empresarios-de-foz-querem-impedir-propaganda-da-itau-
seguros-165037.html>. Acesso em 15 out. 2019.
37
A partir dos vestígios relacionados as representações sobre a Ponte da Amizade, a
exemplo das bandeiras, selos, cédulas, moedas, logos e cartão-postal, procurou-se refletir sobre
a produção de sentido. Pode-se afirmar que cada imagem vista acima foi criada por indivíduos
que concordaram sobre a importância da ponte ao representá-la nos diferentes objetos citados.
O método indiciário contribuiu para olhar um conjunto de dados que revelam mais do que uma
fonte cuidadosamente elaborada, como um discurso, por exemplo, pois as representações da
ponte permitem pensar em sua relevância.
1.5 A CONSTRUÇÃO DA PONTE TRANSFORMANDO PAISAGENS E ELEGENDO PATRIMÔNIOS
Esse tópico discute o status da paisagem binacional e a construção de patrimônio a partir
da Ponte da Amizade, para isso, discorre-se sobre as categorias conceituais de paisagem e
patrimônio. Insere-se novas fontes no sentido de ilustrar o debate.
A concepção teórica de paisagem está inserida na categoria de estudo da Geografia
Cultural, isto é, o olhar será sob o ponto de vista da relação de quem a produziu, logo se soma
na análise, variáveis objetivas e subjetivas da paisagem.
A tese se propõe a estudar a Ponte Internacional da Amizade e uma das formas de
compreendê-la é através dos sentidos a que são atribuídos a ela, mapeando a relação que os
sujeitos desenvolveram nessa paisagem. A pesquisa parte do concreto, inventariando os
elementos que a compõe, e caminha para o mapeamento da subjetividade de quem a olha. Desta
forma, o trabalho integra o objeto e as atribuições de significado no seu entorno.
Eis abaixo dois exemplos, de recortes selecionados, dos quais tentam harmonizar a
ponte na paisagem:
[...] paisagem e ponte harmonizam-se em um conjunto de sóbria beleza, em
que a concepção do engenheiro surgiu como uma imposição das condições
topográficas naturais (ESCOBAR, 1982. p. 13).
[...] É de justiça realçar-lhe sua beleza arquitetônica, tão ajustada à paisagem
em que se situa. Suas linhas esbeltas, o grande vão livre, em arco vasado, a
considerável altura do taboleiro, a flecha do arco, permitiram que nenhum
dano sofresse a vista do vale, estreito e de margens alcantiladas (Jornal Nosso
Tempo, 1982, p. 8).
A partir das duas citações, entende-se por paisagem, a Natureza, e a ponte é o elemento
incorporado nessa paisagem natural. Ambas as descrições acima, integram a ponte no contexto
maior, em seu entorno. A percepção da ponte não se dá de uma forma isolada, pois ela interage
com o meio e como consequência modifica o ambiente, compondo-o. A transformação do
espaço é percebida, conforme as citações, de maneira equilibrada entre a paisagem natural e a
38
paisagem arquitetônica imposta pela necessidade geográfica, trazendo o resultado sinérgico da
“beleza” como um elemento comum.
Conforme a definição de Berque (2012),
A paisagem é uma marca, pois expressa uma civilização, mas é também uma
matriz, porque participa dos esquemas de percepção, de concepção e de ação
– ou seja, da cultura – que canalizam, em certo sentido, a relação de uma
sociedade com o espaço e com a natureza e, portanto, a paisagem de seu
ecúmeno (BERQUE, 2012, n/p, grifos do autor).
Para o autor, a marca está no campo do percebido de explicar o que produziu a paisagem,
tornando-a objetiva, logo, deve ser descrita e inventariada. Mas isso não é o suficiente do ponto
de vista da geografia cultural:
É preciso compreender a paisagem de dois modos: por um lado, ela é vista por
um olhar, apreendida por uma consciência, valorizada por uma experiência,
julgada (e eventualmente reproduzida) por uma estética e uma moral, gerada
por uma política etc.; e, por outro, ela é matriz, ou seja, determina, em
contrapartida, esse olhar, essa consciência, essa experiência, essa estética, essa
moral, essa política etc. (BERQUE, 2012, s/p).
A paisagem está no campo da visibilidade e de significação, ou seja, não se trata somente
da visão, mas de todos os sentidos, e o olhar tem a capacidade de mesclar territórios e
invisibilizar fronteiras. A própria palavra, segundo Schama (1996, p. 23), “landschaft
[paisagem]” significa uma unidade de ocupacão humana, podendo ela intervir culturalmente na
natureza.
A paisagem é percebida pela cultura, convenção e cognição que formam a percepção, e
não raro realizam a “proeza de transformar uma topografia inanimada em agentes historicos
com vida propria” (SCHAMA, 1996, p. 23). Então, a apropriacão da Natureza é transformada
pela percepcão humana e “antes de poder ser um repouso para os sentidos, a paisagem é obra
da mente. Compõe-se tanto em camadas de lembrancas quanto de estratos de rochas”
(SCHAMA, 1996, p.17).
A ponte compõe a paisagem binacional construída politicamente e socialmente
emergindo uma identidade fundamentada no trânsito estabelecido a partir dela.
A título de exemplo, cita-se o 2º Concurso Identidade e Diversidade: Nosso Patrimônio,
organizado em 2019 pelo Polo Iguassu – Instituto para o Desenvolvimento da Região
Trinacional e a Prefeitura de Foz do Iguaçu, através da Secretaria Municipal de Educação, que
reúne trabalhos dos alunos do 4º ano das escolas municipais como parte do Programa Integrado
de Educação Turística – PIET.
A tarefa era os alunos expor e retratar o que considerassem representativo de patrimônio
para cada um. A organização selecionou cinquenta trabalhos para serem submetidos a votação
39
final24 e desses, 4 desenhos representaram a Ponte da Amizade, conforme as imagens
selecionadas abaixo.
Imagem 12 – Desenhos do Concurso de Desenho “Diversidade e Identidade: Nosso Patrimônio. s/a. Fonte: POLO IGUASSU. Disponível em: https://www.poloiguassu.org. Acesso em: 20 out. 2019.
Dos 50 trabalhos selecionados 8% deles consideraram a Ponte da Amizade como um
patrimônio símbolo da Diversidade e Identidade. Nenhum dos desenhos considerou, por
exemplo, a Ponte Tancredo Neves em suas representações.
Como explicar a escolha dessas crianças, de preferirem a Ponte da Amizade em
detrimento da ponte, também binacional, Tancredo Neves? Talvez não se tenha uma resposta,
mas um caminho reflexivo. O pesquisador Tuan (1980) sinaliza que o afeto relacionado ao meio
ambiente pode se manifestar no modo de se expressar, podendo ser percebido como um
símbolo. No caso do concurso, as 4 crianças elegeram o que consideraram ser o patrimônio do
município, merecendo ser apreciado pela arte expressa nos desenhos, desta forma, a ponte
provavelmente trouxe o sentimento afetivo merecendo o reconhecimento.
O patrimônio histórico é uma herança reconhecida, do qual a comunidade compartilha
significados, porém, conforme discorre Choay (2006), é um termo que sofre certas
24 Segundo o regulamento, a comissão julgadora era composta por profissionais da Educação e do Polo Iguassu,
sem ônus, que avaliaram e elegeram os 50 melhores desenhos de todas as escolas participantes.
40
ambiguidades diferenciando-se do conceito de monumento, que nas suas origens, a acepção
estava proxima ao que, “tudo que for edificado por uma comunidade de indivíduos para
rememorar ou fazer que outras gerações de pessoas rememorem acontecimentos, sacrifícios,
ritos ou crencas” (CHOAY, 2006, p. 18). Além disso, existe uma intencionalidade em evocá-lo
pois ele contribui para consolidar uma identidade comunitária.
Esse valor memorial, com o tempo, acabou sendo ultrapassado pelo valor arqueológico
(CHOAY, 2006, p. 19), porém no caso dos estudantes da quarta série, retratar a Ponte da
Amizade, parece ter um sentido relacionado a uma memória viva, pois ao descrevê-las os alunos
associaram a ponte à diversidade étnica e cultural, elementos reforçados na identidade do
município.
Além do manifesto, o que estaria latente no significado da ponte para essas crianças? É
por se tratar de uma obra de arte arquitetônica de referência mundial na época em que foi
construída? É pela acessibilidade aos produtos eletrônicos? É pela atratividade de um grande
número de turistas de diferentes localidades do Brasil? É por que colocou Foz do Iguaçu em
outro patamar em relação ao tráfego e acessibilidade ao restante do Paraná, integrada com o
projeto da BR 277? O que chamou a atenção das crianças? Quais marcas do tempo foram
deixadas pela ponte? As perguntas são retóricas, não se espera uma resposta e muito
provavelmente as crianças não saberão responder, porém ainda assim, vale questionar o porquê
a ponte foi contemplada como patrimônio símbolo da Diversidade e Identidade.
A associação da memória com a monumentalização é um fato que pode explicar a
ausência da Ponte Tancredo Neves nos desenhos, “[...] o esquecimento, o desapego, a falta de
uso faz que sejam deixados de lado e abandonados” (CHOAY, 2006, p. 26).
A ponte enquanto um símbolo para o município evoca um passado considerado
relevante de ser relembrado. Para John Ruskin “a arquitetura é o único meio que dispomos para
conservar vivo um laço com um passado ao qual devemos nossa identidade, e é parte de nosso
ser” (Apud CHOAY, 2006, p. 139). Essa superestimação expressa na visão de Ruskin, quanto
a arquitetura, pode ser problematizada no sentido de pensar a relevância de uma construção
para consolidações de memórias.
Segundo TUAN (1980, p. 230), a ponte, estrutura funcional, pode ser um símbolo
urbano, representando ao mesmo tempo uma construção utilitária e um símbolo de conexão. O
espaço transitório de um país para outro.
A Ponte da Amizade desempenha um papel protagonista na região, portanto, qualquer
iniciativa de intervenção nesse espaço, pode se tornar problemático. Conforme Choay, ao
discutir Ruskin, sobre o papel do monumento histórico, discorre que “elas são garantias de
41
nossa identidade, pessoal, local, nacional, humana. Ela se recusa a compactuar com a
transformacão da sociedade ocidental [...]” (CHOAY, 2006, p. 181).
Ao escutar o funcionário do Museu El Mensú, em Ciudad del Este, Sr. José Riquelme,
percebe-se o vínculo criado com a ponte, e a importância que se atribui, pois ele diz que:
[...] se o Paraguai tem algum postal turístico para o mundo é a sua ponte, a
Ponte da Amizade, então é a primeira obra simbólica declarada Patrimônio
Cultural para nós é a Ponte da Amizade [...]25.
Para nós é um pouco nostálgico pois mudou a originalidade, colocaram ferros
nos guarda-corpos da ponte, pois muitas pessoas, e não faz muito tempo, se
atiravam da ponte, aqueles que por exemplo, perdiam tudo no cassino, jovens
que tinham problemas [...] se jogavam e 78 metros é profundo. Então o
governo brasileiro mandou instalar mais segurança [...], mas quando você usa
a ponte hoje já não vai admirar a natureza, antes era muito bonito você ia lá
tinha a água, você via bem longe, a Itaipu Binacional, tem uma ilha no meio
[...] agora nada [...], morreu toda essa visão, uma lástima, mas a modernização
traz consigo mais segurança (RIQUELME, 2019).26
Riquelme refere-se à reforma mais completa já realizada na ponte desde 1965, iniciada
em outubro de 2014 e finalizada em 2016. Além das substituições nas placas de concreto do
pavimento, reparos gerais, pintura e nova iluminação, também foram instalados gradis nas
laterais e cobertura para os pedestres27.
A seguir se encontram duas fotos, à esquerda antes da reforma e à direita após a reforma.
O reparo trouxe mudanças visuais e como consequência trouxe mudanças nos hábitos, pois, se
antes a ponte era utilizada por algumas pessoas, para admirar a paisagem, após a reforma, trouxe
mais segurança e conforto aos pedestres com as barras de ferro e a cobertura protegendo do sol
e chuva.
25 De acordo com a pesquisadora Barretto (2018), a Ciudad Del Este possui seis locais considerados “pontos
turísticos”: Represa Hidroeléctrica Itaipú Binacional; Ponte da Amizade; Catedral de San Blas; Scientific
Monument Moises Santiago Bertoni; Iglesia del Espiritu Santo e Estadio Antonio Oddone Sarubbi. E a Ponte da
Amizade está em segundo lugar de ponto turístico e de interesse com o maior número de avaliações (2018). 26 RIQUELME, José. Visita guiada ao Museu El Mensú. Ciudad del Este, Paraguai, 01 jul. 2019. [Transcrição e
tradução para o português]. 27 GOVERNO do Brasil. Ministro libera Ponte da Amizade revitalizada. 01 jul. 2016. Disponível em:
<https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/noticias/ministro-libera-ponte-da-amizade-revitalizada >. Acesso em: 15
out. de 2019.
42
Imagem 13 – À esquerda a Ponte Internacional da Amizade antes da reforma e a direita após a
reforma. Fonte: VISITE FOZ e TRIP ADVISOR. Disponíveis em: <www.visetefoz.com.br> e
<www.tripadvisor.com.br/LocationPhotoDirectLink-g303444-d2331677-i248492153-
Ponte_Internacional_da_Amizade-Foz_do_Iguacu_State_of_Parana.html>. Acesso em: 20 out. 2019.
Sobre a reforma, entrevistamos o Chefe de Serviço do DNIT da unidade local de Foz do
Iguaçu, o engenheiro Sr. Vicente Veríssimo Júnior, no qual foi possível entender as
necessidades da reforma e também suas consequências.
Nós fizemos uma reforma entre 2015 e 2016 e a gente fez uma correção de
patologias na ponte, [...] que são pequenas coisas que vão surgindo devido ao
tempo, isso em qualquer obra de engenharia, então tem fissuras e as vezes
aparece trincas e você tem que dar um tratamento a elas para evitar maiores
problemas, então a gente tem 1965 a ponte foi inaugurada e praticamente não
se fez nada neste sentido de correção de patologias, até 2015, a gente fez uma
pintura mais ou menos em 2001 e 2002 [...]. Em 2015 a gente fez as correções
de patologia e daí no mesmo projeto por uma questão da Receita Federal deles
estarem sendo questionados pelo Ministério Público sobre contrabando e tudo
e daí acabaram envolvendo o DNIT também no pacote lá do Ministério
Público se não fizesse ia ser multado pagar 50 mil reais por dia e daí a gente
se obrigou a incluir aquelas grades que tem externas na ponte tipo uma
coberturazinha que foi colocado que tem hoje, e daí mudou essa característica,
removemos aquelas grades metálicas que a Receita tinha colocado que vivia
o pessoal arrebentando e daí foi colocado uma estrutura mais segura também
colocamos do ponto de vista com o objetivo de prevenir a ocorrência de
suicídios, porque nós tínhamos uma ocorrência, em uma época de quarto
suicídios por mês [...]. Se tem uma coisa que eu me sinto gratificado com essa
obra que nós fizemos nessa reforma, foi que a gente praticamente conseguiu
zerar, porque a gente dificultou, dizer que é impossível, não é, a pessoa que
forçar ela vai subir nas grades, mas é muito mais difícil. Antes a pessoa se
sentava no parapeito [...] e pulava.
Ao aproximar a arquitetura do presente com o passado, conseguimos explicar as suas
alterações a partir das ocorrências pretéritas. Tanto o Sr. Riquelme quanto o Sr. Vicente
comentam sobre os casos de suicídio na ponte, um de uma maneira mais nostálgica e outro de
uma maneira mais pragmática, mas ambos também reconhecem o efeito positivo após a
reforma.
43
Ao refletir sobre o significado do monumento, Poulot (2009) faz a seguinte
aproximação: “o arquiteto assemelha-se ao detentor da história e da memória das civilizacões”
pois materializa na obra, ideias, valores, tecnologia, estética, funcionalidade pertencentes do
seu tempo, garantindo para a posterioridade sua perpetuação.
O dicionario de D’Aviler (Cours d’architecture avec une ample explication
par ordre alphabétique de tous les termes, 1761) definia o monumento nestes
termos: “qualquer construcão que serve para conservar a memoria do tempo e
de seu fabricante ou daquele para quem havia sido erguido, tal como um arco
de triunfo, um mausoléu ou uma pirâmide” (POULOT, 2009, p. 45).
A ponte representa uma necessidade da vida pública, ao garantir o trânsito binacional,
mas integra na sua estrutura estética uma mensagem por vezes monumentalizada. Não só ela
pode conter elementos políticos quanto podem utilizá-la para objetivos políticos. Ora, se um
monumento tem a função de vincar uma determinada memória, é evidente que existe um
esforço de selecionar a que melhor condiz para quem se apropria. Conforme Choay (2006, p.
137), “[...] a ideia de progresso e a perspectiva do futuro que determinam o sentido e os valores
do monumento historico [...]”.
A Ponte da Amizade é um patrimônio histórico, portador de valor arquitetônico,
econômico e cultural para a comunidade, cuja paisagem é reconhecida, na integração do
concreto, rio e vegetação, compondo um todo. E essa paisagem construída e tantas vezes
transformada contribui na conservação de um vínculo com o passado.
1.6 QUANDO A MODERNIDADE ABRE NOVOS CAMINHOS
Este tópico trata do conceito de modernidade e como a construção da ponte se vinculou
a modernização do espaço transfronteiriço. Para isso, estabeleceu-se alguns questionamentos,
tais como: Quando se pode dizer que uma cidade se modernizou? Quais são os elementos
constitutivos de uma cidade moderna? Existe algum exagero ao afirmar que a Ponte da Amizade
mudou o paradigma organizacional da Foz do Iguaçu? A ponte trouxe mudanças sociais
significativas?
Para responder esses questionamentos, reflexões teóricas se fazem necessárias. Logo, parte-se
para a compreensão do conceito.
O substantivo “modernidade” é utilizado por um grupo de pesquisadores para
caracterizar o surgimento histórico de uma nova cultura, normalmente em decorrência do
industrialismo de massas (Mello e Souza, 1994, p. 31). Então, esse fenômeno teria como causa
o processo de industrialização e a modernidade, e a consequência advinda deste contexto.
44
Se analisarmos os efeitos da construção da Ponte da Amizade, e a compreendermos
como uma decorrência do processo global da industrialização, veremos que a aplicação do
conceito de modernidade torna-se assertiva.
Foz do Iguaçu entra na malha econômica do mercado mundial através da
industrialização, não se industrializando, mas funcionando num eficiente sistema de trocas. O
investimento em infraestrutura significa aperfeiçoar, expandir, tirar partido, dar vazão a
crescente indústria produtiva.
A seguir, tem-se a descrição do Engenheiro Gasparino Rodrigues da Silva, da região de
Foz do Iguaçu, publicada na Revista Rodovia em 1965. O retrato pintado da paisagem
binacional demarca nitidamente a diferença entre as margens do rio Paraná, reforçando a
relevância da região, ao elencar as características naturais, culturais e econômicas que
justificaram a construção de uma ponte.
As florestas subtropicais da planície do Prata envolvem as margens do rio
Paraná e se estendem por todo o Oeste paranaense. Foz do Iguaçu, cidade
madeireira por excelência, é a civilização. Aqui existem soldados, turistas,
fuzileiros navais e, sobretudo, os donos da mata. Do contrabando contam-se
tantas e tais histórias que se chega a pensar que ele não existe. Fala-se o
português, o espanhol e até o guarani. O barro, vermelho e frouxo, circunda o
Colégio, os Consulados da Argentina e do Paraguai, o Hotel do Major Castro,
a Capitania, o Batalhão, o aeroporto e o edifício do Forum – que é um primor
de arquitetura moderna. Do outro lado do rio, pardacento e traiçoeiro, o olhar
se perde na copada da floresta paraguaia. A fronteira é um rio. Porque, de um
lado e do outro, a fisionomia do terreno é igual. São milhares de árvores de
um verde escuro. Mata cerrada, compacta e impenetrável e que
ciumentamente cobre toda a terra como a querer torná-la proibida. Aqui o
Governo brasileiro convencionou com o Governo paraguaio fosse construída
uma ponte de concreto, servindo ao intercâmbio entre os dois países e
estreitando os laços culturais entre seus povos (SILVA, 1965. p. 14)28.
Na fronteira, segundo o autor, Foz do Iguaçu é a “civilização”, pois o Estado está
presente a partir dos soldados e fuzileiros navais; ha uma efetiva colonizacão, quando cita “os
donos da mata” e infraestrutura que possibilita a vinda dos turistas. Esse quadro descritivo ajuda
a criar uma imagem que justifica a relevância de uma obra de tal proporção.
A ponte sinalizava a civilização no século XIII, como destaca Le Goff, ao descrever a
visita de Henrique III (1207-1272) Rei da Inglaterra entre 1216 até seu falecimento, narrada
pelo cronista inglês, Matthew Paris (1200-1259), onde é possível a partir do seu
deslumbramento constatar a associação entre a existência de pontes e o indício de civilização.
28 Silva, Gasparino Rodrigues da. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-
Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965. p. 14.
45
Henrique III, radiante, impressiona-se com todas as pontes que são construídas
com as casas, o que parece não ter existido em Londres, nessa época. Ele acha
isso muito surpreendente e belo e, verdadeiramente, toma aquilo que hoje
chamaríamos de banhos de civilização (LE GOFF, 1998, p. 57).
Evidente que o Le Goff está tratando o conceito de civilização no período medieval,
onde a discussão era outra, distante do conceito de modernidade, porém aqui, a observação é
no sentido de refletir a associação da transformação da cidade e a percepção ou deslumbramento
com o considerado avançado para a época.
A modernidade só existe em contraposição ao arcaico, ou conforme a citação acima, o
civilizado em contraposição ao incivilizado (ARRUDA, 2000), a ponte insere-se neste contexto
ao transformar uma paisagem de “mata cerrada, compacta e impenetravel” dominando-a,
laçando sobre o rio Paraná uma estrutura que “modernizaria” o espaco. Segundo Arruda, “a
vida urbana tornar-se-ia o símbolo maior para termos comparação entre o ‘civilizado’ e o
‘incivilizado’” (ARRUDA, 2000, p. 20). A ideia de modernidade é construída a partir de
referências relacionadas à infraestrutura urbana, e mobilidade é exemplo das bases de
organização de uma sociedade.
Para isso, o domínio do espaço torna-se necessario, “iniciava-se a construção dos
discursos que legitimaram o mapeamento e transformação do espaço, tanto concretamente
como nas suas representações em forma de mapas, fotografias e descricões de viagens”
(ARRUDA, 2000, p. 20).
A monumentalização da ponte como uma representação da modernidade pode ser vista
nas insígnias, nas fotografias, nos discursos e nas matérias, as quais serão analisadas no terceiro
capítulo, aqui foram expostos os elementos conceituais balizadores das análises.
1.7 FOTOGRAFIA COMO MÉTODO PARA ANALISAR OS VESTÍGIOS
Este tópico apresenta um breve histórico do surgimento da fotografia, a relação com a
modernidade, e o seu uso por parte dos governos para propagandear os feitos. Também são
abordados os aspectos teórico-metodológicos que deram suporte as análises das fotografias da
Ponte da Amizade.
A invenção do daguerreótipo (método fotográfico) em 183929 pelo francês Louis
Deguerre (1787-1851) surge no contexto europeu de grandes transformações urbanas, culturais,
econômicas gerando também mudanças nas formas de produzir e consumir imagens,
demandando cada vez mais registros da acelerada transitoriedade da vida moderna, “a
29 Evidente que toda a invenção, está ancorada em desenvolvimentos tecnológicos anteriores auxiliando nas
descobertas e aperfeiçoamentos.
46
potencialidade da nova técnica faz ainda com que ela seja absorvida por diversos setores,
urbanístico, científico, industrial [...]” (ORTIZ, 1998, p. 67).
O aperfeiçoamento técnico expandiu sobremaneira a produção fotográfica encaixando
no zeitgeist da modernidade retratando o automatismo e a racionalização aplicados na indústria
cultural. “A serializacão do processo de fabricacão dos retratos contém inclusive um germe de
divisão do trabalho: tomada, revelacão e retoque” (ORTIZ, 1998, p. 93).
As fotografias sobre grandes obras eram promovidas pelo governo para produzir registro
das suas atuações dando mais visibilidade às representações do poder, sintetizando a sua
atuação na modernização das cidades. Segundo Kossoy (1993), as diferentes ideologias sempre
tiveram na imagem fotográfica um poderoso instrumento para a veiculação de ideias e
consequentemente manipulação e formação da opinião pública, e isso acontece em parte, pela
credibilidade que se dá a materialidade que a fotografia proporciona.
Através do registro, na linguagem de imagem, é possível acessar as transformações
sociais e inventariar os principais processos de construção da Ponte Internacional da Amizade
e como a imagem foi utilizada para legitimar as intervenções do Governo na região estudada.
A imagem retratada na fotografia não será analisada como uma cópia fiel da realidade,
e sim como uma representação da realidade, ou seja, é um documento e como tal foi construído
em um determinado tempo e espaço. Caso contrário, corre-se o risco de tornar uma fonte
absoluta e como afirma Mauad (1995, p. 75), “entre o sujeito que olha e a imagem que elabora
ha muito mais que os olhos podem ver”, portanto, o tratamento dado as fotografias é o mesmo
de qualquer outro testemunho, investigando os indícios da realidade impressos na imagem.
As imagens podem propiciar diferentes interpretações dependendo que quem as
percebe, pois se trata de uma imagem estática, mas desperta imagens mentais completamente
fluidas mesclando com os apriorismos pessoais, concepções de vida, ideologias além da própria
imaginação que muitas vezes enxerta significados não expressos na fotografia, ou seja, como
qualquer outra fonte, está sujeita a múltiplas interpretações.
Conforme Kossoy (2001), a própria fotografia traz a sua história, pois existiu uma
intenção e/ou motivação em produzi-la, houve uma escolha técnica e artística do melhor ângulo
selecionado o que fica e o que descarta na imagem e por último, os caminhos onde a fotografia
percorreu, a quem atingiu e como foi interpretada. Pois, além de conter uma história, também
é um vestígio do passado, deste caso, uma fonte historiográfica, possibilitando narrar uma
história através da fotografia, sendo um instrumento de apoio para conhecer o passado.
A análise em torno das imagens registradas pelas fotografias pautou-se em responder
algumas questões de natureza metodológica, a exemplo de como interpretar as imagens? Como
47
analisar o conteúdo da mensagem? Qual a motivação de tal produção? Quem patrocinou o
profissional e a revelação das fotografias? Quais foram os condicionantes históricos? Enfim,
perguntas instigadoras, que buscam ir além das aparências, exigindo decifrá-las em busca de
um sentido.
O aporte teórico-metodológico que orientou e forneceu as bases para o desenvolvimento
das reflexões acerca do uso da fotografia, foram os trabalhos de KOSSOY (2000), MAUAD
(1995; 2000), e também os historiadores BLOCH (2001) e LE GOFF (2003) para pensar o
tratamento dado as fontes historiográficas.
A abordagem de análise das fotografias não quer compreendê-las como uma cópia fiel
da realidade, mas pode-se refletir o que se considera relevante ou emblemático a ser registrado.
Nesse caso, discute-se a monumentalização da obra, tornando-a emblemática do ponto de vista
da intervenção do Estado na fronteira, imprimindo seus ideais nos espaços públicos.
O monumento entende-se como uma herança do passado, algo que, intencionalmente
ou não, tem um poder de perpetuar certas memórias (Le Goff, 2003).
A palavra latina monumentum remete à raiz indo-européia men, que exprime
uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo
monere significa “fazer recordar”, de onde “avisar”, “iluminar”, “instruir”. O
monumentum é um sinal do passado (LE GOFF, 2003, p. 526).
Para Le Goff, o documento, estendendo-se as fontes de maneira geral, deve ser tratado
como um monumento, submetendo-o aos mesmos critérios de criticidade, pois também pode
ser um instrumento de poder. Ao contrário também se aplica, a pesquisa do monumento exige
o mesmo tratamento dado ao documento, inserindo-o no contexto histórico, decifrando os
traços, os vestígios materiais e sua representação.
Para isso, o tratamento dado a Ponte da Amizade, terá essa concepção de monumento,
[...] porque um monumento é em primeiro lugar uma roupagem, uma
aparência enganadora, uma montagem. É preciso começar por desmontar,
demolir esta montagem, desestruturar esta construção e analisar as condições
de produção dos documentos-monumentos (LE GOFF, 2003, p. 538).
A ideia de pesquisar um tema, demanda esse (des)construir o objeto para,
paradoxalmente compreender o todo. Evitar olhar o objeto como algo dado, natural e sim, com
uma abordagem minuciosa de investigação, indo além do aparente, tentando contemplar todas
as facetas da sua existência.
Todo o documento contém em si elementos interpretativos, além disso, analisar uma
fotografia também passa por um trabalho de enquadramento do pesquisador, pois também
48
existe uma seleção, organização e atribuição de sentido, ou seja, o olhar seleciona e decifra
conforme o seu filtro.
A materialidade e a semântica, são duas propriedades indissociáveis para analisar as
fotografias, portanto dois recursos são imprescindíveis, o primeiro é a percepção visual da
imagem, capacidade mais objetiva, diz respeito ao ato de ver, inventariar e descrever. O
segundo recurso é o interpretativo, capacidade mais subjetiva e com certeza mais complexa,
pois envolve atribuições de significados, ou seja, buscar compreender a relação da imagem com
a sociedade, analisando os indícios de que a produziu, com que intenção e quais os sentidos de
quem a usufrui, neste caso, trata-se de uma leitura que vai além do espaço, contemplando as
construções simbólicas.
A fotografia é uma criação humana com o objetivo de recriar diferentes realidades,
portanto existe uma materialidade preenchida de significados. Afinal, é uma reprodução do
mundo, capturada pelos olhos singulares de alguém, encharcado de sentimentos, conhecimentos
e intenções.
A imagem quando contemplada, recebe novos significados e sentidos, ganhando vida
própria como um autômato, pois ela provoca no expectador referências muitas vezes não
propositada pelo autor, além disso, a cada época, novas interpretações vão se construindo.
Portanto, a interpretação em relação a essa representação diz respeito aos receptores dessas
obras fotográficas que, a partir dos conhecimentos prévios, das expectativas, da imaginação, do
vocabulário pessoal, da bagagem cultural vão dando sentido e significado a essas imagens.
E da natureza da imagem oferecer-se a contemplação, dando-se a ver. Assim,
a imagem pressupõe um espectador, o que faz com que, no momento de sua
criação, ja se encontre, implícito, um destinatário. Para aqueles que
contemplam as imagens na sua materialidade, elas são antes de tudo, visuais
e proporcionadas pelos sentidos: o olho vê o mundo e registra, na retina, uma
espécie de duplo daquilo que, materialmente, oferece-se ou exibe-se a
contemplação. As imagens resultam de uma relação primária do homem com
a realidade: elas são apreendidas pelos sentidos, por meio do órgão da visão,
e fazem parte dessa forma de conhecimento do mundo advinda da
sensibilidade (PESAVENTO, 2008, p.100).
A ponte, construída em um espaço fronteiriço, se apresenta como um tema de reflexão
no sentido de entender a realidade concreta construída na memória de um coletivo, ou seja,
como a engenharia, a arquitetura e o urbanismo portam um sentido e exercem uma função,
evocando emoções, modos de viver e valores, tornando um dos suportes da memória social da
região.
A ponte representa ineditismo, modernismo, a materialização de um projeto
desenvolvimentista, e as fotografias, além de serem uma forma de concretizar visualmente os
49
anseios pela modernização, contribuem sobremaneira na veiculação da propaganda política,
conforme destaca Kossoy (2000, p. 82, grifo do autor):
Na realidade, imagens fotográficas representando as temáticas enunciadas
sempre se fizeram em todo o mundo. Fotografias dessas categorias
contribuíram para que se tivesse uma leitura dirigida das cidades e países. Sua
difusão se fazia, ainda no século XIX, através dos álbuns fotográficos
confeccionados em série, com cópias originais ou, então, impressos em
pranchas litográficas. Mais tarde, as imagens já eram multiplicadas aos
milhares, impressas por diferentes processos gráficos e veiculadas pelos
cartões postais, revistas e livros ilustrados. No Brasil essas imagens também
foram produzidas. Trata-se de imagens encomendadas que, se por um lado, se
prestaram para a fixação da memória, por outro, tinham, em geral, uma
finalidade promocional, propagandística, financiadas por instituições oficiais
ou empresas privadas interessadas em divulgar um certo tipo de progresso.
Imagens que mostram o material, mas que, em geral, omitem o social. Imagens
construídas que visam propagar uma ideia simbólica de identidade nacional
conforme a ideologia predominante num dado momento histórico.
A materialização do projeto nas fotografias além de contribuir para o registro das etapas
de construção da obra, também divulgou as dimensões da mesma, ora, se ela foi a maior ponte
em arco de concreto do mundo, as fotografias reforçariam a mensagem nela expressa, ou seja,
não significa apenas olhá-las, mas fixar uma memória relacionada à monumentalização.
No momento de consolidação do projeto desenvolvimentista, o trabalho do fotógrafo
promove a propaganda, ao registrar e difundir imagens de construções, edificações,
infraestruturas promovidas pelo Estado, gerando uma retroalimentação entre o projeto de
modernizar e o reforço da imagem de modernidade.
A modernidade está nos elementos arquitetônicos da ponte e na política de integração
entre os dois países fronteiriços, tornando mais acessível, principalmente as trocas comerciais,
promovendo o intercâmbio e facilitando o movimento das pessoas. Essa característica, Ortiz
(1998) desenvolve ao estudar as transformações de Paris no século XIX, mas pode-se
perfeitamente transpor para a realidade brasileira da metade do século XX:
Neste sentido, eu diria que o princípio de “circulacão” é um elemento
estruturante da modernidade que emerge no século XIX. Circulação de
mercadores e de objetos, [...] elemento fundamental para a materialização de
uma sociedade de consumo (tanto do ponto de vista “útil”, quanto “inútil”)
(ORTIZ, 1998, p. 195).
Os moradores de Foz do Iguaçu e região predominantemente exerciam e/ou praticavam
um comércio local, sem muita perspectiva de circular para outros locais, já que,
geograficamente situa-se no oeste do Paraná com fronteiras naturais dificultando o acesso a
Argentina em função do rio Iguaçu e ao Paraguai em função do rio Paraná, conforme a Imagem
50
14. Com a construção da ponte, novas possibilidades surgem e consequentemente a circulação
entre os povos aumenta.
Imagem 14 – Vista área da região trinacional. Fonte: GOOGLE EARTH. Disponível em: <https://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>. Acesso
em: 19 ago. 2018. Edição feita pela autora.
A formação da memória nacional exige um trabalho de enquadramento das memórias
individuais coletiva:
Neste sentido, a mediação entre o vivido e o imaginado, entre o visto e o
simbolizado, passa pelo filtro do olhar de quem vê, como um sujeito cultural
e histórico, recompondo o real na sua dimensão de representação. Portanto, o
próprio ato fotográfico, como modo de representar a cidade, é uma prática
social ancorada num saber ver e num saber fazer (MAUAD, 2000, p. 143).
O trabalho de enquadramento passa pela seleção do autor ao organizar no campo visual
os elementos constantes no visor da câmera e, segundo Kossoy (2000), esse trabalho
evidentemente decorre o efeito de fragmentar e congelar, pois existe recorte espacial e uma
interrupção temporal.
Toda e qualquer imagem fotográfica contém em si, oculta e internamente, uma
história: é a sua realidade interior, abrangente e complexa, invisível
fotograficamente e inacessível fisicamente e que se confunde com a primeira
realidade em que se originou” (KOSSOY, 2000, p. 36, grifo do autor).
O autor refere-se à primeira realidade aquele instante exato em que se dá o ato do registro e a
segunda realidade seria o assunto representado. Essa etapa diz respeito ao ato de construir uma
representação por parte do fotógrafo.
Rio
Par
aná
Rio Iguaçu
Ponte da Amizade
Argentina
Par
agu
ai
Foz do Iguaçu
51
Esse capítulo tratou das fundamentações teorico-metodologicas que orientaram a
pesquisa, para isso, apresentamos os materiais e métodos utilizados e como foram tratados do
ponto de vista teórico. No próximo capítulo, apresenta-se a história da construção da ponte.
52
CAPÍTULO II
A PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE
[...] Paraná é habitado, bem no fundo, por entidades guerreiras e por
velhos pagés ricos em experiência e em sabedoria. Aparentemente dócil
na superfície, esconde nas profundezas pardacentas toda a força, a
violência e o mistério de suas águas30.
Para compreender a importância e relevância da construção da Ponte Internacional da
Amizade sobre o rio Paraná para os países Brasil e Paraguai, bem como os motivos para sua
viabilização, traçou-se um panorama do espaço fronteiriço situando-o no sistema hidrográfico
versus rodoviário, procurando inquirir as causas incentivadoras para ligar fisicamente a
fronteira. Os acordos internacionais foram estudados no intuito de mapear historicamente a
trajetória, as responsabilidades, as escolhas técnicas e por fim o impacto da obra da região. Este
capítulo foi organizado em sete tópicos e um subtópico.
2.1. ESTACIONANDO O OLHAR NA PONTE
No exercício de estacionar o olhar na ponte, é possível descrever o entorno, aquele
possível de detectar pelos olhos de quem examina o “estar”, quer dizer onde se esta e o que se
vê. A experiência de estar na ponte, de fixar os pés no concreto e refletir sobre a sua existência,
depois, de caminhar sobre a ponte, de ir atrás dos indícios que possam contar a sua História. A
intenção é voltar o olhar sobre os detalhes, sinais ou achados que possam compor a
compreensão do tema.
A ponte foi pensada, planejada e construída para ser atravessada, essa é a sua vocação,
o seu propósito maior. Logo, muito se fala ou se escreve sobre as experiências na ponte, a
exemplo de quem atravessa, como atravessa, o que atravessa, como é vigiada, fiscalizada,
monitorada enfim, mas pouco se fala sobre a ponte.
Qual é a história dessa ponte com diferentes histórias? Ela permite múltiplas vivências
de atravessar a fronteira, e também uma possibilidade de sobrepairá-la, ou seja, além de transitá-
la, parar em cima e vivenciar a experiência de estar nela. Portanto, não se trata mais de circular
e sim de deter-se nela. Conforme Choay (2006, p. 231), “a arquitetura é a única arte cujas obras
exigem ser percorridas fisicamente”.
30 SILVA, Gasparino Rodrigues da. Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-
Paraguai. Ano XXV, n. 263, 1965.
53
A Imagem 15 mostra o rio Paraná e sobre ele, a Ponte Internacional da Amizade,
propiciando a ligação terrestre entre Brasil e Paraguai. A estrutura rodoviária e de passarela
permite diferentes usos, pode-se atravessar a pé, de bicicleta, de carro, de caminhão, de ônibus
ou de moto. Antes da ponte, a única via para transpor o rio era através de transportes aquáticos.
Imagem 15 – Vista área da Ponte Internacional da Amizade – Paraguai (lado esquerdo) e Brasil (lado
direito). Foto: Alexandre Marchetti (2009). Fonte: CEAEC. Acervo digital.
A direção determina o olhar, então ao parar no meio da ponte na direção Brasil-Paraguai
a direita, os olhos captam a Ilha de Acaray, nome de origem indígena que significa “cabeca
grande”, também denominada de a Ilha das Cobras, conforme a Imagem 16. Ao localizar-se à
direita do canal, a ilha pertence ao Brasil. E, abriga no imaginário, muitos mitos, entre eles de
se tratar de um vulcão, talvez pela associação com seu formato cônico. O olhar também percebe
ao fundo uma vegetação nas margens do rio Paraná.
54
Imagem 16 – Vista da Ilha de Acaray no rio Paraná. Fonte: GSHOW. Disponível em: <https://gshow.globo.com/RPC/Estudio-C/Extras-Estudio-
C/noticia/os-misterios-da-ilha-de-acarai.ghtml>. Acesso em: 19 set. 2019.
O alcance do olhar limita a visualização da continuidade do rio Paraná, mas com o
recurso do Google Earth, é possível acessar um além.
Na imagem abaixo é possível visualizar acima, a barragem da Itaipu31. Essa barragem
principal começou a ser construída em 1978 e serve para conter o rio possibilitando gerar
energia necessária para o abastecimento elétrico. Conforme a Imagem 17, a barragem impede
que qualquer embarcação atravesse nesse local.
Imagem 17 – Vista aérea da região binacional sobre o rio Paraná. Fonte: GOOGLE EARTH. Disponível em: <https://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>. Acesso
em: 19 ago. 2018. Edição feita pela autora.
Na direção Paraguai-Brasil, a paisagem muda criando outra perspectiva na região
binacional. À direita encontra-se o Paraguai e a esquerda o Brasil. Mais uma vez usando o
recurso do Google Earth, na Imagem 18, é possível acompanhar o percurso do rio Paraná.
O rio Paraná, demonstrado abaixo, visualmente tranquilo margeando as fronteiras do
Brasil e Paraguai também encontra a Argentina. No Marco das Três Fronteiras à direita, o
encontro com o rio Iguaçu. Acima a alguns quilômetros, no Parque Nacional do Iguaçu32,
31 O Tratado de Itaipu, pertencentes em condomínio aos dois países, desde e inclusive o Salto Grande de Sete
Quedas ou Salto de Guairá até a foz do Rio Iguaçu, foi assinado em Brasília em 26.04.1973 pelos presidentes Gen.
Alfredo Stroessner, do Paraguai e Gen. Emílio Garrastazu Médici, do Brasil, entrando em vigor em 13.08.1973.
Em 17 de maio de 1974, foi criada a entidade Itaipu Binacional. (MASCARENHAS, 2011). 32 O Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 1939 (Decreto N° 1.035) pelo Presidente Getúlio Vargas. Até então
era de propriedade particular. Em 1986 foi tombado como Patrimônio Natural da Humanidade, durante conferência
geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO realizada em Paris.
Ponte da Amizade
Brasil Paraguai
Barragem da Itaipu Binacional
Ilha de Acaray
55
encontram-se as Cataratas do Iguaçu. Ao continuar o percurso sobre o rio Paraná, percebe-se
um longo caminho que desemboca na Bacia do Prata.
Imagem 18 – Vista aérea da região binacional sobre o rio Paraná. Fonte: GOOGLE EARTH. Disponível em: <https://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>. Acesso
em: 19 ago. 2018. Edição feita pela autora.
O uso do Google Earth para extrair imagens com escalas maiores permite visualizar o
objeto de estudo abarcando o seu entorno, impossível de captar, até agora, com uma câmera
fotográfica convencional. Ao mesmo tempo em que a ferramenta permite uma ampliação da
visão, faz com que as dimensões da ponte fiquem minúsculas.
O objetivo da ferramenta, disponível no Google Earth, é tornar acessível e fácil de
monitorar, rastrear e gerenciar o ambiente e os recursos da Terra33. Para isso, fornecem acesso
a grandes quantidades de dados e de fácil uso. Pode-se comparar ao sistema panóptico proposto
por Jeremy Bentham em 1785 que permite um vigilante observar todos os prisioneiros,
conforme discorre Foucault (1987, p. 224):
O dispositivo panoptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem
parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra e
invertido; ou antes, de suas três funções — trancar, privar de luz e esconder
— so se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o
olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A
visibilidade e uma armadilha.
33 GORELICK, Noel. et. al. Google Earth Engine: Planetary-scale geospatial analysis for everyone. Remote
Sensing of Environment, v. 102, p. 18-27, 2017. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0034425717302900>. Acesso em: 16 jun. 2020.
Cataratas do Iguaçu
Marco das Três Fronteiras
Ponte Internacional da
Amizade
56
Aqui, interessa a analogia, pois o sistema que tudo vê, atualmente é o Google Earth,
permitindo a vigilância e domínio, seguindo o princípio de Bentham de que o poder devia ser
visível e inverificável. Mas, em função do caráter público e acessível, pode-se utilizar para
atender diferentes interesses, sejam eles, econômicos, políticos, sociais e/ou científicos.
E são as imagens do Google Earth que permitem entender melhor a geografia do
município de Foz do Iguaçu e o porquê chama-se assim, pois se situa na confluência dos rios
Paraná e Iguaçu e segundo o dicionário onomástico34, o nome tem origem guarani, e ao ser
decomposto na sua grafia primitiva, o ü (água, rio) e wa`su (grande), cria-se um significado
associado a um rio caudaloso. Em um município com tantas águas no seu entorno, a existência
de pontes é quase intrínseca a sua geografia.
Este tópico objetivou situar geograficamente o local onde se encontra a Ponte da
Amizade, olhando-o de diferentes ângulos.
2.2. O RIO PARANÁ: A DANÇA SOB A PONTE
O rio Paraná, o espaço líquido sob a ponte, que desenvolve um relevante protagonismo
no sistema hidrográfico do Brasil, Paraguai e Argentina. Estabelece-se a comparação entre os
sistemas hidroviários e rodoviários, para ampliar as reflexões em relação ao investimento, em
especial, brasileiro nas rodovias. A história do trânsito no rio Paraná fez-se necessário
demonstrando ao grande fluxo fluvial responsável pelo estabelecimento de vários portos e
núcleos populacionais ao longo das margens.
O rio Paraná nasce na confluência dos rios Parnaíba (1220 km) e Grande (1000 km). Ele
passa por dentro e nas margens do Brasil e da Argentina e nas margens do Paraguai,
desembocando no estuário do Prata, na Argentina. Considerado um importante rio para sistema
hidroviário do Prata, não só por sua extensão, mas pela navegabilidade (CAUBET, 1991, p.
21). Segundo dados da Itaipu Binacional35, a extensão total até a foz do Rio da Prata, na cidade
de Buenos Aires é de 4880 km, considerado o oitavo maior rio do mundo em extensão.
Analogamente considera-se o rio como artéria de uma região, pois tal como comparado,
a artéria é responsável por carregar o sangue para todas as partes do corpo mantendo a vida, o
rio, cumpre a função de manter a vida a partir do fluxo hidrológico, além de permitir o fluxo de
pessoas e mercadorias.
34 MACHADO, José Pedro. Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. In: WEBBER, Darcilo.
Foz em números. 35 Itaipu Binacional. Disponível em: <https://www.itaipu.gov.br/energia/rio-parana>. Acesso em: 11 jul. 2019.
57
Schama (1996) ao questionar sobre o funcionamento do sistema fluvial constrói um
raciocínio interessante:
Não eram chamados de bodies of water justamente porque, desde a
Antiguidade, se comparava seu fluxo à circulação do sangue pelo corpo?
Platão acreditava que o círculo era a forma perfeita e pensava que a natureza
e nossos corpos foram construídos segundo a misteriosa lei universal da
circulação, que governava todas as formas de vitalidade. Barlow sabia que ver
um rio equivale a mergulhar numa grande corrente de mitos e lembranças,
forte o bastante para nos levar ao primeiro elemento aquático de nossa
existência intra-uterina. E, com essa torrente, nasceram algumas das nossas
paixões sociais e animais mais intensas: as misteriosas transmutações do
sangue e da água; a vitalidade e a mortalidade de heróis, impérios, nações e
deuses (SCHAMA, 1996, p. 253).
No rio Paraná também flui, além dos cursos d`água, transportes de mercadorias, pessoas,
e também mitos e histórias36.
A partir da observação da cartografia do Estado do Paraná é possível identificar os
principais afluentes do rio Paraná, os rios Piquiri, Ivaí, Tibagi e o rio Iguaçu. E no Paraguai os
principais são Acaray, Acaraymi, Arroyo e o Monday.
O afluente do rio Paraná, o rio Tietê37, constitui uma importante hidrovia para o Brasil,
pois liga-se a um sistema multimodal de escoamento da produção agrícola da região e segundo
dados do DNIT (ano-base 2020)38, a hidrovia Paraná-Tietê, seria responsável pela geração de
quase a metade do PIB brasileiro, transportando produtos como milho, soja, madeira, carvão
entre outros, ligando os estados Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná.
A hidrovia é considerada, ao comparar com ferrovias e rodovias, mais segura,
econômica e menos poluente. Segundo estudos realizados pelos estudantes em Engenharia
Naval e Oceânica na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ existem outras vantagens
do modal hidroviário:
Maior eficiência energética, maior capacidade de concentração de cargas,
maior vida útil da infraestrutura, equipamentos e veículos, maior segurança da
carga, menor consumo de combustível, menos congestionamento de tráfego,
menor custo de infraestrutura e custo operacional, menor emissão de poluentes
e impacto ambiental (BARRETO; ZARÔR NETO, s.d.).
36 Sugere-se para aprofundamento: CAMPIGOTO, José Adilçon. Hermenêutica da Fronteira: a fronteira entre o
Brasil e o Paraguai. Florianópolis, UFSC, 2000. Tese. 37 A hidrovia Tietê-Paraná é administrado pela AHRANA – Administração Hidroviária do Paraná – Órgão
subordinado ao Diretor-Geral do DNIT e responsável por desenvolver e implementar as ações de infraestrutura
aquaviária nas hidrovias do Paraná. 38
DNIT. Hidrovia do Paraná-Tietê. Disponível em: <https://www.gov.br/dnit/pt-br/assuntos/aquaviario/hidrovia-
do-tiete-parana>. Acesso em: 7 jan. 2020.
58
Na Imagem 19 à esquerda, um exemplo de um comboio-tipo da hidrovia com
capacidade de transportar 6000 toneladas de carga. Normalmente tem 139 metros de
comprimento, sendo possível passar nas eclusas39. Ao lado direito, um exemplo de um
caminhão denominado de tritrem, seria o maior modelo dessa categoria podendo suportar um
peso total de 74 toneladas40 e um comprimento de 20 metros. Apenas um transporte, na
hidrovia, equivale a mais de 80 caminhões.
Imagem 19 – À esquerda um empurrador de comboio-tipo e a direita um tritem. Fonte: DNIT e LOGÍSTICA BAHIA. Disponíveis em: <http://www.dnit.gov.br/hidrovias/hidrovias-
interiores/hidrovia-parana> e <http://logisticabahia.blogspot.com/2013/03/boa-noite-todos-romeu-e-
julieta-bitrem.html>. Acesso em: 05 jul. 2019.
Nessa comparação, somado aos estudos realizados sobre a eficácia em diferentes níveis
do sistema hidroviário, chega-se facilmente à conclusão de que a hidrovia é o melhor modo de
transporte. Porém, o Brasil esta centralizado na rodovia, em parte “era a expectativa que existia
de atingir a autossuficiência do petróleo, que permitiria investir no setor de transporte já
estruturado ao invés de reorientar a matriz de transporte que é sob um aspecto geral a maior
consumidora do petroleo” (BARRETO; ZARÔR NETO, s.d.).
Mesmo assim, o fato de se construir uma ponte, e investir em estradas já demonstra uma
prioridade no sistema rodoviário, haja vista, no caso do rio Paraná, com a construção da
39 Obra de engenharia hidráulica possibilitando às embarcações subir ou descer, rios ou mares, em locais onde há
desníveis, como é o caso de barragens. 40
Segundo o Conselho Nacional de Trânsito, desde 2003, veículos com cargas superiores a 57 toneladas ou com
comprimento total acima de 19,80 metros só podem circular portando uma Autorização Especial de Trânsito –
AET. Art. 1 da Resolução Nº 211 de 13 de novembro de 2006. Disponível em:
<https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-contran/resolucoes/cons211.pdf >. Acesso
em: 10 jul. 2019.
59
barragem da Itaipu que não contemplou em seu projeto uma eclusa, demonstrando certa
ausência de políticas voltadas para o incentivo das hidrovias.
Segundo a Imagem 20, o sistema hidroviário do rio Paraná com seus afluentes passa por
várias hidrelétricas e, conforme os círculos destacados, somente essas têm eclusas que garantem
a navegação em toda a extensão, no caso, a maioria encontra-se no rio Tietê. Ao navegar no rio
Tietê e descer pelo rio Paraná, encontra-se o bloqueio estabelecido pela Usina Hidrelétrica de
Itaipu, conforme o destaque retangular a esquerda abaixo, impossibilitando, por exemplo, de
alcançar a Bacia do Prata. Neste caso, as embarcações passagem pela eclusa da barragem de
Yaciretá entre Paraguai e Argentina, que permite a navegação a partir da barragem de Itaipu até
Buenos Aires.
Imagem 20 – A Bacia do rio Paraná, com principal afluente, o rio Tietê. Fonte: DNIT. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/hidrovias/hidrovias-interiores/hidrovia-
parana>. Acesso em: 20 out. 2019. Edição feita pela autora.
Na História do Paraná desde as primeiras ocupações ou ondas povoadoras a questão do
transporte era algo premente. Desde o século XVII com a procura do ouro, no século XVIII
com o latifúndio campeiro, no século XIX com as atividades extrativistas e no comércio da
erva-mate e madeira até café no século XX, juntamente com a criação suínos, enfim, o
transporte era uma necessidade básica para o escoamento das produções bem como a aquisição
de produtos faltantes na região.
Destaca-se na região fronteiriça o período correspondente a exploração predatória da
erva-mate e madeira entre os séculos XIX e início do século XX, porque é nesse momento que
60
há uma intensificação no sistema hidroviário, dinamizando o transporte de produtores extraídos
do Brasil para a Argentina através do rio Paraná.
Constata-se uma intensa movimentação com poucas ocupações e também com poucos
investimentos em outros sistemas de transporte. Isso se dava principalmente porque os
principais circulantes na região eram argentinos, cujo maior interesse era retirar a erva-mate e
madeira e transportar para a Argentina. E conforme o pesquisador Micael Alvino da Silva
“como contrapartida, deveriam se comprometer em abrir estradas, construir linhas férreas e
outras obras de infraestrutura visando a integração do território paranaense. Na prática nada
disso ocorria” (SILVA, 2014, p. 27).
Isso significa uma predominância no transporte pelo rio Paraná, em travessias
sucessivas buscando garantir em especial o lucro, colocando a margem qualquer propósito de
povoar ou colonizar. Essa prática garantia aos obrageiros41 liberdade de atuação pois não havia
fiscalização, controle fronteiriço ou qualquer meio que limitassem as suas práticas, isso porque
“até 1940 os paranaenses não tinham como chegar a região em menos de 45 dias partindo de
Curitiba” (SILVA, 2014, p. 27), dificultando ainda mais um domínio efetivo por parte do
governo brasileiro.
Em relação aos acordos binacionais, o primeiro tratado entre Brasil e Paraguai é de 07
de outubro de 184442, compondo 36 artigos. Apesar do Brasil não ter ratificado em função de
discordância em relação às referências que determinariam as fronteiras, intencionava a garantia
da liberdade de comércio e navegação, inclusive a livre navegação no rio Paraná até o rio da
Prata.
Em 06 de abril de 1856 celebrou-se o Tratado de Amizade, Navegação e Comércio43,
regulando a navegação e o comércio fronteiriço, entre Brasil e Paraguai no qual estabelecia:
Art. II – O Brasil concede aos navios mercantes da Republica do Paraguay a
livre navegação dos rios Paraná e Paraguay, naquellas partes em que é
ribeirinho; e a Republica do Paraguay concede, nos mesmos termos, ao Brasil
o direito de navegação livre na parte daquelles dous rios em que é ribeirinha;
de modo que a navegação dos ditos rios, na parte em que cada uma das duas
nações é ribeirinha, fica sendo comum a ambas.
41 Obrageiro era o argentino, paraguaio, brasileiro ou imigrante da Europa, dono de uma obrage, que era uma
empresa privada responsável pela extração e transporte da erva-mate e da madeira. 42 Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <http://antigo.itamaraty.gov.br/pt-BR/ficha-pais/5635-
republica-do-paraguai>. Acesso em: 10 jul. 2019. 43
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Decreto nº 1.782, de 14 de Julho de 1856. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1782-14-julho-1856-571290-
publicacaooriginal-94382-pe.html>. Acesso em: 10 jul. 2019.
61
O tratado compunha 20 artigos e somente esse segundo, de livre trânsito pelos rios
Paraguai e Paraná, era permanente, os demais tinham vigência de 6 meses.
Evidente que antes da oficialização da Foz do Iguaçu, havia portos em toda a costa do
rio Paraná, por onde escoavam a erva-mate e a madeira. O sistema hidroviário era um fato. Nas
margens havia muitas fazendas desde plantação de erva mate até de criação de porcos e os
portos eram estruturados ao longo do rio Paraná (GREGORY, 2014).
Segundo Westphalen (1987) encontravam-se oficialmente na região, no final do século
XIX, a Colônia Militar do Iguaçu44 e a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande45.
Ou seja, a valorização de um posto de vigilância e um sistema de transporte.
Evidencia-se que para a fundação de uma colônia militar se concretizasse, era necessária
uma via de tráfego e de fato essa foi a primeira atribuição da comissão chefiada pelo Capitão
Bellarmino de Mendonça. Segundo José Maria de Brito (2005, p. 42 e 44):
Continuar a estrada de rodagem que parte da cidade do Porto da União para a
de Palmas; ligar aquela cidade à de Guarapuava; abrir uma estrada que
partindo desta atingisse o rio do Cobre; seguir por este abaixo até sua foz no
rio Paraná; atravessar este rio com o fim de ligar o Estado do Paraná ao de
Mato Grosso; construir estradas estratégicas naquele Estado; descobrir a foz
do Iguaçu; fundar uma Colônia Militar na mesma foz.
Segundo a mesma fonte, foram precisos 7 meses e 20 dias de trabalho, abrindo estradas
desde Guarapuava até chegar à foz do Iguaçu. A missão consistia em estabelecer o controle do
território nacional brasileiro, conforme o relato de Brito (2005, p. 76 e 77):
Justamente neste ponto apareceu uma turma de paraguaios, que vinha se
embrenhando em demanda da erva-mate! Em três meses apenas de realizada
a descoberta da foz do Iguaçu, já o estrangeiro aventureiro pretendia estender
suas garras no território da pátria querida! Eram uzeiros e vezeiros em
invadirem a casa alheia e dali sacarem grandes vantagens que não
encontravam na sua! Escusado é dizer que o tenente encarregado da fundação da Colônia vedou-
lhes a marcha para frente, explicando que daquela data por diante não seria
permitido explorações nas matas brasileiras sem prévia autorização do
Governo (BRITO, 2005, p. 76 e 77).
Segundo José Maria de Brito (2005), além do plano para estabelecer uma colônia
militar, também se cogitava em “estacionar uma flotilha da Marinha Nacional, nas aguas
brasileiras, no Majestoso Paraná, a fim de melhor fiscalizar os interesses brasileiros naquela
região” (BRITO, 2005, p. 29). Pois, segundo o seu relato, os portos existentes pertenciam na
44 Segundo Brito, o ano da fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu corresponde a 1889 (BRITO, 2005, p.
79). 45 Concessão de 1889.
62
totalidade aos estrangeiros. Mas, conforme a pesquisa realidade por GREGORY (2014) existia
empreendedores das três nacionalidades nos entornos da Tríplice Fronteira.
Havia vários portos situados na costa do rio Paraná46, conforme demonstra a Imagem
21, de 1929.
Imagem 21 – Mapa do município de Foz do Iguaçu. 1929. s/a. Fonte: WESTPHALEN (1987).
No trabalho do pesquisador Valdir Gregory encontra-se narrativas e relatos de agentes
do Estado, no início do século XX, sobre a região fronteiriça entre Brasil e Paraguai, no oeste
paranaense, descritas nos relatórios de órgãos de segurança. Nesses relatos é possível constatar
a existência de portos tanto na margem brasileira quanto na margem paraguaia. Abaixo um
exemplo desses registros:
Porto Embalse, morador Snr. Cancio Aquino (Paraguaio), porto Bella Vista,
morador Snr. Ewaldo Keneg (Argentino) que faz a travessia de passageiros
em canôa. Chacara Carvalho, do Snr. Antonio Carvalho (brasileiro). Porto
Leonor que fica em frente o porto Curupaiti no Paraguai, morador Snr. Pedro
Jeca Kuei (Argentino) com cinco filhos brasileiros. Porto Carola Cuê, morador
46 José Maria de Brito relata a existência dos seguintes portos: “Os portos situados para acima da cidade de Iguacu
e para baixo das Cataratas são: Sete de Setembro, a 60 quilômetros; Sol de Maio, a 78 quilômetros; Santa Helena,
a 96 km; Britânia ou Companhia de Madeira, a 132 km; S. Francisco ou 12 de Outubro, 143 km; Artaza ou Allica,
a 155 quilômetros; Mendes, a 156 quilômetros” (BRITO, 2005, p. 81).
63
Amancio Arcamendia (paraguaio), tem uma pequena plantacão de milho,
arroz, feijão, fumo e etc.; Tem no porto duas canôas, uma de propriedade de
Antonio Carvalho e outra de Estefano Ramires. Porto Temoteo Uzuna,
morador Snr. Temoteo Uzuna, Brasileiro, tem plantacões de milho, feijão,
arroz e criacão de gado, cabritos, porcos e galinhas. A estrada até este porto é
carrocavel e boa, podendo entrar caminhões (GREGORY, 2014, p. 191).
Normalmente, esses portos estavam associados a exploração obrages, atividades típicas
do século XIX e XX de exploração das riquezas extrativas, a exemplo de erva mate e madeira,
escoando os produtos para os mercados platinos entre outros. Os portos recebiam a
infraestrutura necessária para atender os interesses dessas atividades.
Imagem 22 – Porto de Foz do Iguaçu fazendo fronteira com o Porto Presidente Franco no Paraguai.
Autor: Schinke. s/d.
Fonte: REVISTA MOSAICOS. Disponível em: <http://www.revistamosaicos.com.br/fotos-
historicas/>. Acesso em: 05 jul 2019.
Para regular as atividades náuticas e garantir a soberania nacional nas águas do rio
Paraná, em 1933, a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná,47 instalou-se em
Foz do Iguaçu, pois havia um intenso fluxo fluvial, porém o impacto foi bastante significativo
após o desenvolvimento de novos trajetos:
Era uma época em que a navegação no rio Paraná era intensa, na ausência de
ligações rodoviárias de Foz do Iguaçu com outros centros urbanos. A capitania
registrava o trânsito de nada menos que 130 barcos por mês, com transporte
de madeira principalmente, cereais, erva-mate e passageiros. Depois, a
abertura de estradas, instalação de aeroportos e criação de linhas aéreas fez
com que essa grande, primeira e importante “estrada” praticamente fechasse
[...] (Foz do Iguaçu – Retratos, 1997, p. 23).
47 Denominando-se em 1940 de Capitania Fluvial dos Portos do Rio Paraná, depois em 1978 de Capitania dos
Portos do Rio Paraná.
64
O relato de Dionísio Campana, que chegou a Foz do Iguaçu em 1939, é emblemático ao
tratar da precariedade em se locomover na região. Ao ser questionado sobre a maior dificuldade,
considerada por ele, para o desenvolvimento de Foz do Iguaçu, respondeu:
Creio que era a dificuldade de transporte e comunicação. Nos anos 40 só vinha
de Curitiba um teco-teco por semana trazer correspondência. Para ir a Curitiba
estava disponível este roteiro: de barco até Porto Mendes: de trem até Guaíra;
de barco até Porto Epitácio, SP; de trem até Ponta Grossa e Curitiba. Uma
viagem de oito dias (Foz do Iguaçu – Retratos, 1997, p. 23).
Antes da existência da ponte, o rio Paraná era altamente navegável. Por isso, a
construção da Ponte da Amizade foi projetada de uma forma que não interrompesse a sua
navegabilidade. A altura de 78 metros até o fundo do rio, considerando grandes cheias, caso
houvesse, certificaria a passagem das embarcações. Os discursos ratificavam essa escolha no
projeto, de fazer uma obra que garantisse o melhor aproveitamento do rio, e que servisse de
mais um elemento de integração, conforme Lucas Lopes “unir esforcos para tirar do grande rio
todos os benefícios que encerra48”.
O rio Paraná não era navegável em toda a sua extensão, pois havia a barreira natural das
Setes Quedas. Porém, com o alagamento da mesma, para viabilizar a hidrelétrica da Itaipu,
poderia ter sido contemplada uma eclusa possibilitando da integralidade do potencial
hidrográfico.
Este tópico trouxe o rio Paraná como um protagonista no trânsito de mercadorias e
pessoas na história da região binacional, estabelecendo a sua importância para o escoamento
das produções bem como o papel da ponte nessa dinâmica da mobilidade.
2.3. POR QUE PARAGUAI E BRASIL QUERIAM UMA PONTE?
O Brasil e o Paraguai tinham diferentes razões para concretizar o projeto de construção
de uma ponte na região fronteiriça à leste do Alto Paraná e Oeste do Paraná.
Para o Paraguai, a ponte se tornou uma estratégia para avançar econômica e
politicamente. Para compreender melhor, é preciso conhecer a geografia do Paraguai, conforme
a Imagem 23.
48 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965. p. 4.
65
Imagem 23 – Mapa, com destaque no Paraguai. Fonte: GOOGLE EARTH. Disponível em: <https://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/>. Acesso
em: 19 ago. 2018. Edição feita pela autora.
Conforme o mapa acima, o Paraguai é um país mediterrâneo, ou seja, é cercado por
terras e rios (Paraná e Paraguai) fazendo fronteira com a Bolívia, Argentina e Brasil. Isso
significa constantemente depender dos portos marítimos de seus vizinhos para estabelecer
relações comerciais com outros países.
O Paraguai tinha uma incômoda dependência econômica e uma desconfortável situação
política com a Argentina. A questão econômica era de alta vulnerabilidade, pois, a alternativa
mais viável para exportar ou importar produtos, era pelo rio Paraguai e através do Porto de
Buenos Aires, criando uma situação de dependência. A questão política estava relacionada com
o fato de a Argentina ter acolhido os opositores de Stroessner e segundo evidências apontadas
por Menezes (1987, p. 50), apoiando-os em uma possível deposição.
Para compreender a política adotada pelo Paraguai depois da década de 1950, é
necessário conhecer de maneira mais profunda o homem/personagem responsável por estreitar
a relação com o Brasil, a frente do jogo político estabelecido nesse período, ou seja, o general
Alfredo Stroessner (1912–2006). Considerando ser impossível compreender a totalidade do
processo histórico partindo de um indivíduo isolado, vamos estudá-lo no sentido de ampliar a
análise.
Apelidado de “El Rubio” e posteriormente de “El Supremo49”, Alfredo Stroessner, de
descendência alemã, nasceu e cresceu em Encarnación no Paraguai. No ano de 1929 entrou na
Escola Militar, participou da Guerra do Chaco (1932-1935) fez curso de artilharia no Brasil,
49 Em referência a Gaspar Rodríguez de Francia, Ditador Supremo entre 1814-1840 (FARINA, 2003, p. 23).
66
dedicando-se a carreira militar no Paraguai. Participou da guerra civil de 1947 e de dois golpes
de Estado em 1948. Foi perseguido e perseguiu, assumiu cargos importantes aumentando a
influência política, respeito entre os militares e visibilidade internacional, a exemplo dos EUA,
Argentina e Brasil.
Filiado ao Partido Colorado, aproveitou a grave crise política no qual passava o país e
no dia 5 de maio de 1954, com o apoio dos militares e de uma parcela da população, deu o
golpe de Estado, assumindo a presidência da República no dia 15 de agosto. O Estado foi
organizado para que as forças de segurança e a burocracia trabalhassem e servissem aos seus
interesses e propósitos ditatoriais.
Internamente, a ditadura de Stroessner (1954-1989), considerada a mais longa do
Paraguai, iniciou e se manteve baseada no medo, instaurando várias práticas repressivas,
conforme discorre Laino (1979, p. 87-89) e mesmo Chiavenato (1980, p. 65-66). A primeira
fase, segundo os autores citados, iniciada em 1958 eliminou companheiros do próprio Partido
Colorado com o objetivo de permanecer no poder, instituindo práticas de assassinatos, torturas
e perseguições sob a justificativa de um combate comunista, pelo menos assim era manifestado
tanto internamente como também para a comunidade internacional.
Além da forte repressão, denunciado por Chiavenato, também existia o estabelecimento
do chamado pyrague ou soplón, que significava o “dedo duro”, gerando um ambiente ainda
mais apreensivo com a vigilância anônima, ficando a mercê de qualquer um, ser chamado a
investigaciones e submeter-se às usuais torturas. O aparelho da repressão estava nas estruturas
públicas, mantendo inclusive a oposição vigiada, até “cercá-los, isolá-los e destituí-los”
(CHIAVENATO, 1980, p. 14).
A história da repressão e resistência do Paraguai, durante o governo de Stroessner, está
sendo investigada, segundo Paulo Renato da Silva (2018), principalmente após a descoberta em
1992 das documentações produzidas pela polícia durante a ditadura, inclusive dando origem ao
Centro de Documentación y Archivo para la Defensa de los Derechos Humanos del Poder
Judicial50. Segundo o pesquisador, novas fontes, associadas com uma maior organização e
mobilização dos movimentos sociais ajudaram a “conhecer melhor o papel da sociedade
paraguaia durante o stronismo, para além do suposto colaboracionismo e apatia que teriam
predominado naqueles anos de ditadura” (SILVA, 2018, p. 6).
50 CORTE SUPREMA DE JUSTICIA. Museo de la Justicia. Disponível em:
<https://www.pj.gov.py/contenido/132-museo-de-la-justicia/334 >. Acesso em: 18 set. 2019.
67
A corrupção paraguaia, que já era institucionalizada, tornando-se a base de sustentação
do sistema ditatorial. O mecanismo de controle permitia a assinatura de decretos para beneficiar
amigos e familiares, a exemplo do enriquecimento de Stroessner e sua família através do
monopólio dos jogos (do jogo do bicho aos cassinos) e do general Andrés Rodriguez que
controlava o tráfico de drogas (CHIAVENATO, 1980, p. 40-41).
Essa faceta da história do Paraguai presente nas obras de Chiavenato (1980) e Laino
(1979), é problematizada por outros pesquisadores, segundo Silva (2018), considerando o
processo de legitimação do governo de Stroessner muito mais amplo e complexo.
A pesquisadora LIMA (2018) aborda as publicações durante o regime de Stroessner, de
caráter nacionalista e patriótico, que objetiva promover e divulgar tanto a sua imagem quanto a
do governo, “principalmente, obras de infraestrutura que acusassem o “desenvolvimento”
econômico paraguaio que estava sendo promovido nestes anos através das políticas
“modernizadoras” do regime e, também, promoviam a imagem do “líder” mediante a
vinculacão da “excepcional” biografia de Stroessner (LIMA, 2015, p. 11).
Antes de Stroessner assumir a presidência, Paraguai e Brasil vinham se aproximando.
Os presidentes Higinio Morínigo (1897-1983) e Getúlio Vargas (1882–1954) em 1941
assinaram dez acordos de natureza comercial, cultural e econômico (MENEZES, 1987, p. 43)
e, com Stroessner e Juscelino Kubitschek (1902–1976), presidente do Brasil entre 1956-1961,
materializaram as intenções do Paraguai de ter uma saída em direção a leste e assinaram o
acordo de construcão da Ponte da Amizade em 1956. Além disso, “[...] A relacão pessoal entre
os dois presidentes era muito boa. Stroessner elogiava Juscelino por seu pan-americanismo e
cooperação assim também como o “grande nome da união Paraguaia-Brasileira” (MENEZES,
1987, p. 44).
Os aspectos econômicos e políticos empurraram o Paraguai para o estreitamento da
relação com o Brasil, que também estava indo ao encontro dos interesses paraguaios, pois havia
um empenho de conquistar novos mercados para os seus produtos, principalmente de
industrializados. Para manter a relação, o Brasil apoiou fortemente a ditadura de Stroessner.
O rio Paraguai desemboca no rio Paraná a uns 1000 Km de distância quando recebe o
rio Uruguai na altura que forma o rio da Prata, no qual existe o Porto de Buenos Aires e era a
melhor alternativa para o Paraguai exportar e importar seus produtos (MENEZES, 1987, p. 51)
e essa situação tornava-o vulnerável, pois se submetia a dependência com a Argentina.
No mês de agosto de 1955 o embaixador do Paraguai no Brasil, Raul Sapena Pastor
(1908-1989), formaliza a entrega de uma petição para o Ministério das Relações Exteriores do
Brasil solicitando a concessão de um porto franco em Paranaguá no Estado do Paraná. Em
68
novembro ele faz um relato para o Sanchez Quell (1907-1986), ministro das Relações
Exteriores do Paraguai, em relação aos posicionamentos em audiências sobre o assunto:
Ambos Secretarios de Estado, a cuyos Departamentos se ha solicitado
informes por el Ministerio de Relaciones Exteriores del Brasil – acogieron
con viva simpatía el proyecto de conceder al Paraguay un Puerto Franco en
Paranaguá, y prometieron hacer despachar cuanto antes los respectivos
dictámenes. 51
O convênio52 é ratificado no final do ano de 1957, no qual o Brasil autoriza o Paraguai
a manter um depósito franco no Porto de Paranaguá, no litoral paranaense, tornando-o de suma
importância comercial e econômica, possibilitando importar e exportar seus produtos sem a
incidência de tributos, pagando apenas a taxação de prestação de serviços. Em contrapartida, o
Brasil é autorizado a manter um entreposto de depósito franco no porto de Concepción, cidade
localizada às margens do rio Paraguai, para as mercadorias exportadas e importadas.
Além do porto de Paranaguá no Paraná, o Paraguai também pôde acessar os portos de
Santos em São Paulo e o porto de Guanabara no Rio de Janeiro (RODOVIA, 1965, p. 24). A
dinamização comercial tornou-se um fato para o Paraguai intensificando o intercâmbio
econômico no exterior pela proximidade dos mercados europeu e americano, além da óbvia
facilidade comercial com o Brasil.
A distância entre Assunção e o Porto de Paranaguá é de 1.063 quilômetros e através do
rio Paraguai a distância torna-se maior. A ligação fronteiriça sobre o rio Paraná tornou-se
fundamental para o Governo Paraguaio e tornaria a conexão muito mais rentável, representando
uma nova rota de comércio exterior e uma possibilidade de se tornar independente do Porto de
Buenos Aires, Argentina. Conforme o emblemático relato do engenheiro e presidente do
Conselho Rodoviário Nacional – CRN, José Pedro de Escobar em 1965:
O Brasil terá facilitado o acesso do mercado paraguaio ao parque
manufatureiro de São Paulo, cujos produtos deixarão de ser onerados do
pesado encargo de um transporte em condições precárias ou da incidência de
consideráveis despesas portuárias e de uma longa viagem marítima e fluvial,
via Bueno Aires (ESCOBAR, 1965)53.
A ponte, para o Paraguai, representava uma alternativa ao trajeto que ligava Assunção
a Buenos Aires, além disso, esse percurso feito pelos rios Paraguai e Paraná tem uma extensão
51 PASTOR, Raul Sapena. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil – 30 de agosto
e 07 de dezembro de 1955. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção, Paraguai. 52 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Decreto nº 42.920, de 30 de dezembro de 1957. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-42920-30-dezembro-1957-381643-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 15 set. 2017. 53 ESCOBAR, José Pedro de. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-
Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965, p. 13.
69
de 3.500 km e não pode ser percorrido em todas as épocas do ano em razão das eventuais secas.
Ultrapassada as dificuldades naturais, o transporte fluvial é mais econômico.
O engenheiro paraguaio Enrique Barrail, vice-secretário de obras públicas e
comunicação do Paraguai, proferiu sobre a importância da ponte para os paraguaios:
A ponte vai representar um segundo pulmão para o Paraguai, pois só tem um,
a estrada ligando Assunção a Buenos Aires, o percurso Assunção-Buenos
Aires, feito pelos rios Paraguai e Paraná, tem a extensão de 3500 km e não
pode ser percorrido durante todas as épocas do ano, devido as secas que
principalmente neste período assolam toda a parte sul do Continente. [...] Por via rodoviária o Paraguai atingirá o Atlântico Sul economizando 2.500
km, contando-se ainda as vantagens decorrentes da flexibilidade do transporte
por caminhão e as boas condições de trânsito rodoviário54.
A analogia que o Barrail elabora ao comparar a ligação terrestre através da ponte ao de
um segundo pulmão, torna evidente o “fôlego” que o país teria ao contar com uma segunda
alternativa.
A ponte, de fato, possibilitou uma autonomia para os paraguaios diversificarem as
atividades comerciais, tornando-os grandes exportadores de produtos agrícolas, e importadores
de produtos industrializados, estabelecendo uma triangulação ao reexportar esses produtos aos
países vizinhos (CÉSAR, 2016, p.21). Nas palavras de Stroessner a ponte representou a
possibilidade para “ir superando obstáculos a los efectos de impulsar el desarrollo integral de
sus industrias, de sus productos y de su comercio, como medio de la explotación de sus ingentes
riquezas naturales” (STROESSNER, apud BÁEZ, 2004, p. 155).
Para o Brasil era uma excelente oportunidade de ampliar a influência no país vizinho a
partir da expansão territorial, a chamada “marcha para o oeste”, facilidades de investir capital
brasileiro além dos inúmeros incentivos fiscais (LAINO, 1979, p. 8).
Vale observar que a historiografia brasileira cita “marcha para o oeste” ao analisar as
políticas expansionistas do Brasil em direção ao Paraguai. Na historiografia paraguaia encontra-
se a “marcha al este”, para descrever as políticas de integracão terrestre possibilitando novas
rotas trafegaveis. Ora, observamos com a construcão da ponte uma “marcha de encontro” onde
ambos os países buscaram atender os seus interesses a partir de negociações, acordos,
concessões, beneficiando-se mutuamente das iniciativas marchadas.
O cruzamento de interesses é manifestado no discurso proferido por Juscelino
Kubitschek no dia 04 de outubro de 1958 durante a inspeção às obras da ponte em Foz do
Iguaçu:
54 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965. p. 20.
70
[...] Vemos, prestes a se encontrarem, as pontas das grandes rodovias que partem
de Assunção e de Paranaguá, abrindo ao Paraguai uma saída para o Atlântico,
e ao Brasil, mais amplas perspectivas no mercado da nação irmã. Para os
produtos de sua florescente indústria.
A complementação de nossas economias encontrará, nessa grande artéria, o
seu instrumento decisivo. [...]
O Brasil disporá, em Concepción, de um entreposto idêntico ao que foi
facultado ao Paraguai, em Paranaguá. [...]55.
O presidente JK percebia, com a ponte, uma ligação que transcendia o nível regional
estabelecido entre dois municípios, trazendo a relevância para as duas nações, ao construir
condições apropriadas para o melhor desenvolvimento econômico.
Além disso, a ponte significou para o Brasil não só a aproximação com o Paraguai, mas
representava uma projeção continental através da chamada Rodovia Transversal Pan-
Americana alcançando Bolívia e Peru, estabelecendo uma rota continental entre os oceanos
Atlântico e Pacífico.
No mesmo discurso do dia 04 de outubro de 1958, o Presidente JK destaca esse aspecto:
[...] É-me grato ressaltar, ainda, que no encontro de 1956 já se delineavam os
objetivos da Operação Pan-Americana, cujo alcance Vossa Excelência, com
alto descortino e como fiel intérprete do povo paraguaio, soube tão bem
compreender e prestigiar desde o primeiro momento. Com efeito, aquele
entendimento conteve, em si, a mesma ideia que mais tarde iria desabrochar
nessa iniciativa de amplo eco no Continente, iniciativa que, na realidade, não
pertenceu a nenhum país em particular, porque estava na consciência coletiva
das Américas. [...] Essa ideia, que nos congregou às margens do Paraná, ha
dois anos, frutificou esplendidamente, porque era, como disse, uma aspiração
comum, um sentimento coletivo56.
O presidente JK provavelmente refere-se aos planejamentos realizados periodicamente
entre os países da América do Sul para traçar o melhor percurso de integração continental. Por
exemplo, no VII Congresso Pan-Americano de Estradas de Rodagem ocorrido no Panamá entre
os dias 1 e 10 de agosto de 1957, estabeleceu-se a Resolução XXVII57 sugerindo os possíveis
pontos de conexão em se tratando de Brasil, ou seja, para ligar o Brasil ao Paraguai, estabeleceu-
55 Biblioteca da Presidência. Discurso do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, na inspeção as obras da Ponte
da Amizade, dirigindo-se ao presidente da República do Paraguai no dia 04 de outubro de 1958. Disponível em:
<http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/jk/discursos/1958/64.pdf/view>. Acesso
em: 20 abr. 2020. 56 Biblioteca da Presidência. Discurso do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, na inspeção as obras da Ponte
da Amizade, dirigindo-se ao presidente da República do Paraguai no dia 04 de outubro de 1958. Disponível em:
<http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/jk/discursos/1958/64.pdf/view>. Acesso
em: 20 abr. 2020. 57 RODRIGUES, Philuvio de Cerqueira. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade
Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965, p. 7.
71
se como possibilidades as cidades de Guaíra, Ponta Porã, Porto Murtinho e Foz do Iguaçu, esta
última foi considerada o ponto mais conveniente, no traçado da Rodovia Pan-Americana.
Em 1963, no IX Congresso Pan-Americano de Estradas e de Rodagem realizado em
Washington, nos Estados Unidos da América, reuniram-se os membros do Subcomitê da
Rodovia Transversal Pan-Americana dos quatro países componentes, ou seja, Bolívia, Brasil,
Paraguai e Peru, decidindo entre outras ações, aprovar o Porto de Paranaguá como um ponto
extremo da Rodovia Transversal Pan-Americana, substituindo o Rio de Janeiro. Desta forma,
fixaram legalmente, os pontos de conexão, sendo Lima, La Paz, Assunção e Paranaguá58.
A Rodovia Transversal Pan-Americana tem extensão total de aproximadamente 4.480
km e liga-se com a Rodovia Interamericana, oportunizando uma comunicação entre a América
do Norte e a América do Sul, conforme demonstrada na imagem 24:
Imagem 24 – Mapa da Rodovia Transversal Pan-Americana. Fonte: RODOVIA. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 –
Ano XXV – Jan-fev, 1965, p. 8. [grifo nosso]
58 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965, p. 21.
72
Ao atravessar a ponte, no Paraguai chega-se às rodovias Ruta 7, Villa Rica, Ruta 2, São
Bernardino, São Lorenzo, chegando à capital de Assunção com aproximadamente 333 km. Para
acessar a ponte do lado brasileiro, a principal rodovia é a BR 27759, saindo do Porto de
Paranaguá, passando por Curitiba, Guarapuava, Laranjeiras do Sul, Cascavel e por fim Foz do
Iguaçu, totalizando 736 km.
A BR 277 foi incluída pelo Decreto nº 53.960 de 09 de junho de 196460 no Plano
Preferencial de Obras Rodoviárias desfrutando da prioridade em melhoramentos e
pavimentações com recursos específicos para isso.
Na matéria publicada na Revista O Cruzeiro de 1966, o papel do exército na construção
da BR 277 é exaltado, e interpretado como uma ação reversa, ou seja, se no passado o exército
foi responsável por impor suas fronteiras, agora constrói a infraestrutura necessária para que o
Paraguai adentre as fronteiras brasileiras para alcançar o Atlântico, conforme a matéria descrita
abaixo:
[...] Quase ninguém sabe o que ele faz por estas selvas, os açudes que semeia
no Nordeste, as estradas e as ferrovias que construiu e constrói, as fronteiras
que ele povoa – na disseminação de uma língua, de uma bandeira e de uma
pátria. Nada representa melhor a unidade brasileira que nosso exército,
formado de gente do povo, uma entidade democrática, de portas abertas a
todas as raças e aos cidadãos de todas as classes. [...].
O mesmo Exército que parou e empurrou, para além das fronteiras, o Paraguai,
no século passado, está hoje rasgando, em asfalto, uma estrada de mais de 500
quilômetros – levando o bravo e insulado Paraguai, enquistado no vegetal –
até um porto atlântico que o Brasil lhe oferece a fim de fugir à prisão
econômica e política (SOARES, Afrânio Brasil. In: Revista O Cruzeiro, 1966,
p. 81)61.
Nota-se que o Brasil, no discurso acima, não “avanca” a fronteira paraguaia e sim “para
e empurra” dando a entender que quem avançou as fronteiras foram os paraguaios e enfatiza o
papel do exército no estabelecimento de fronteiras e na construção de infraestrutura, reforçando
a “unidade brasileira” através língua, bandeira e de patria, elementos simbólicos de um Estado.
A ponte evidentemente é um elemento de ligação física entre Brasil e Paraguai,
transpondo o rio Paraná, porém também é um espaço ratificador de fronteiras, haja vista que,
em cada lado da ponte, elementos nacionais são dispostos para que não haja dúvida sobre o
59
Até 1964 a rodovia denominava-se de BR 35, com o Plano Nacional de Viação através da Lei nº 4.592 de
29.12.1964 muda-se para BR 277, passando por Paranaguá, Curitiba, Irati, Relógio e Foz do Iguaçu. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1950-1969/L4592.htm>. Acesso em: 10 jul. 2019. 60
Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-53960-9-junho-1964-
394026-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 10 jul. 2019. 61 REVISTA O CRUZEIRO. Ano XXXIX. Nº 06. 05 de novembro de 1966. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=003581&pagfis=155502>. Acesso em: 20 out. 2019.
73
espaço em que está pisando, portanto, o controle fronteiriço é realizado em ambos os lados,
com a presença constante dos funcionários do Estado, seja da aduana, da Polícia Rodoviária
e/ou Polícia Federal. Conforme Raffestin (1993), “três sinais são mobilizados para caracterizar
o Estado: a populacão, o territorio e a autoridade, toda a geografia do Estado deriva dessa tríade”
(RAFFESTIN, 1993, p. 23).
Para o pesquisador Tuan (1980), o patriotismo, na sua concepção, significa amor pela
pátria, raramente está ligado a uma localidade específica, pois além do espaço ser amplo há
estabelecimentos arbitrários de fronteiras, por tanto, faz sentido a criação de símbolos como a
bandeira para ajudar na construção de uma afeição a um determinado território.
O uso do exército para assegurar a unidade e defesa do território está entre os objetivos
da Defesa Nacional62, em especial em zonas fronteiriças. Na Imagem 25, da matéria abaixo, à
esquerda, dois militares estão na frente do monumento comemorativo da construção da ponte,
com a seguinte legenda: “O militar e a bandeira, duas presencas constantes onde quer que haja
fronteira”. Ao lado, a imagem de um trecho da rodovia no Paraguai e o início da Ponte da
Amizade ao fundo, ao lado, a placa indicando o Brasil e ao fundo, o que parece ser “chão batido”
em um descampado lamacento. A fotografia constrói memórias, portanto, o enquadramento
feito pelo fotógrafo, ao disponibilizá-la aos leitores da revista, deixa implícita, certa
representação do Paraguai, somando-se a frase “o exército do Brasil traz o Paraguai até o mar”,
quase uma ação salvacionista.
62 LIVRO BRANCO DE DEFESA NACIONAL (2016). Disponível em:
<http://www.nee.cms.eb.mil.br/attachments/article/139/livro_branco_de_defesa_nacional_minuta.pdf>. Acesso
em: 17 mai. 2020.
74
Imagem 25 – Matéria sobre o papel do exército na conclusão da BR 277. Ano XXXIX. Nº 06. 05 de
novembro de 1966. Foto: Fernando Seixas. Fonte: REVISTA O CRUZEIRO. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=003581&pagfis=155502>. Acesso em: 20 out.
2019.
O Brasil e o Paraguai tinham interesses convergentes com a construção da ponte, o
Paraguai queria uma saída para o Atlântico, diminuindo sua dependência com a Argentina. O
Brasil, queria conquistar novos mercados, além de ampliar a rota continental.
Esse tópico trouxe as principais razões para Paraguai e Brasil pleiteassem a construção
da ponte sobre o rio Paraná. Nota-se que os motivos estão muito além de trânsito local,
vislumbra-se uma projeção continental.
2.4. A ENGENHARIA DA PONTE
Neste tópico serão apresentadas as especificidades técnicas da Ponte da Amizade,
procurando incluí-la no contexto da engenharia e arquitetura do Brasil das décadas de 1950 e
1960, investigando as causas da escolha do local e a opção em construir uma ponte em arco.
Pode-se dizer que a estética arquitetônica varia conforme a cultura de cada época e
região sendo expressas nos padrões de construções, desta forma, toda a arquitetura é datada e
marcada pelo estilo da época em que foi feita (CHOAY, 2006, p. 166). Por conseguinte, a Ponte
da Amizade insere-se em um contexto histórico, onde a Engenharia no Brasil na década de 60
destacava-se mundialmente no quesito da vanguarda.
O esboço abaixo foi elaborado pela Comissão Especial de Construção da Ponte
Internacional Brasil-Paraguai, contendo o planejamento das etapas de construção e, cada cor
correspondia a uma data de conclusão, então, para que a próxima etapa pudesse ser iniciada, a
anterior precisava estar concluída. A cor preta, por exemplo, diz respeito as partes da fundação,
logo encontrava-se, evidentemente, em prioridade cronológica de execução.
Imagem 26 – Perfil de avançamento da Ponte Internacional da Amizade elaborado pelo DNER. Fonte: DNIT. Acervo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do
Iguaçu, PR.
75
A ponte foi projetada em 1956 pelo Eng. José Rodrigues Leite de Almeida. O
escoramento do arco foi projetado pelo Prof. Eng. Sergio Marques de Souza que, segundo notas
do Prof. Eduardo C. S. Thomaz, foi um dos principais engenheiros até 1953 do Escritório
Técnico Emilio Baumgart63.
O engenheiro Emílio Baumgart (1889-1943)64 se destacou no Brasil na área da
Engenharia Civil e Arquitetura, em especial na sua atuação nas inovações em relação ao
concreto armado, não raro encontra-se o seu nome associado ao “pai do concreto armado
brasileiro”, responsavel pelos calculos estruturais, por exemplo, do primeiro arranha-céu da
América Latina, o edifício A Noite, construído em 1928 no Rio de Janeiro, demonstrando o
patamar que o Brasil estava na engenharia representada por estruturas, consideradas pela
categoria, arrojadas e modernas para a época65.
Baumgart foi responsável por inúmeras outras construções, aqui se destaca a Ponte
Herval, posteriormente batizada de Ponte Emílio Baumgart66 inaugurada em 1930 no Oeste de
Santa Catarina e foi considerada a primeira ponte em concreto armado do mundo, com 68
metros e sem escoramentos. A inovação estava em aplicar os princípios de pontes metálicas no
concreto armado. Outra inovação de Baumgart, utilizado em vários países do mundo, foi o
método de construção de pontes por balanços sucessivos possibilitando, por exemplo, transpor
rios, pois não havia necessidade de escoramento direto tornando-se mais seguras, com maior
capacidade de suporte de carga e com menos peso próprio. Este método será detalhado no
Capítulo III.
Andrade (2016) elenca algumas obras executadas pelo Brasil que o colocou em destaque
mundial no século XX, por tratar-se de recordes:
- Marquise da tribuna do Jockey Clube do Rio de Janeiro, com balanço de 22,4
m (recorde mundial em 1926); - Ponte Presidente Sodré em Cabo Frio, em 1926, com arco de 67 m de vão
(recorde na América do Sul); - Edifício Martinelli em São Paulo em 1925, com 106,5 m de altura (30
pavimentos – recorde mundial); - Elevador Lacerda em Salvador em 1930, com altura total de 73 m; - Ponte Emílio Baumgart em Santa Catarina em 1930, com o maior vão do
mundo em viga reta (68 m), onde foi utilizado pela primeira vez o processo
de balanço sucessivo;
63 THOMAZ, Eduardo. Disponível em:
<http://aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/baumgart/baumgart01.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2019. 64 Brasileiro, nascido em Blumenau, SC. Cursou engenharia na Escola Politécnica do RJ, ainda na faculdade
calculou uma ponte de concreto armado, a Ponte Maurício de Nassau no Recife e a ponte do Areal, no RJ. 65 THOMAZ, Eduardo. Disponível em:
<http://aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/baumgart/baumgart01.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2019. 66 A Ponte Herval foi destruída por uma enchente em 1983 no Vale do Rio do Peixe.
76
- Edifício “A Noite” no Rio de Janeiro em 1928, com 22 pavimentos, o mais
alto do mundo em concreto armado, com 102,8 m de altura, projeto de Emílio
Baumgart; - Ponte da Amizade em Foz do Iguaçu em 1962, com o maior arco de
concreto armado do mundo, com 290 m de vão; - Museu de Arte de São Paulo em 1969, com laje de 30 x 70 m livres, recorde
mundial de vão, com projeto estrutural de Figueiredo Ferraz; - Edifício Itália em São Paulo em 1962, o mais alto edifício em concreto
armado do mundo durante alguns meses; - Ponte Colombo Salles em Florianópolis em 1975, a maior viga contínua
protendida do mundo, com 1.227 m de comprimento, projeto estrutural de
Figueiredo Ferraz; - Usina Hidroelétrica de Itaipu em 1982, a maior do mundo com 190 m de
altura, projetada e construída por brasileiros e paraguaios, com coordenação
americano-italiana (ANDRADE, 2016, p. 16, grifo nosso).
A Ponte da Amizade67 fez parte desse rol da engenharia de “vanguarda” pois utilizou-
se do concreto armado e da técnica dos balanços sucessivos, possibilitando a construção de um
arco com o maior vão livre do mundo para a época, de 290 metros, com vão de eixo a eixo dos
pilones de 303 metros, possuindo uma extensão de 552,4 metros; largura igual a 13,5 m; largura
da pista de rolamento igual a 9,5 m; e uma altura de 78 metros, contando desde o fundo do rio,
sendo 32 metros a partir do nível normal68.
A Imagem 27 ilustra, de modo didático, uma comparação de tamanho entre a Ponte
Internacional da Amizade e diferentes edificações, tais como (da esquerda para a direita):
Estrada de Ferro Central do Brasil – E. F. C. B., Ministério da guerra e o Itamarati. Além destas
comparações, apresenta através de uma linha horizontal a marca do nível da água da maior
cheia já registrada, ocorrida em 1905, utilizada para embasar a altura do arco. O comprimento
da ponte é comparado a distância entre as edificações do Itamarati, localizado em Brasília, e a
E.F.C.B., localizado no Rio de Janeiro, servindo de referência quanto a dimensão da obra.
67 Em 2002 realizou-se o primeiro trabalho de manutenção da estrutura, segundo o DNIT foi lavado e pintado com
produto especial. Em janeiro de 2015 a junho de 2016 foi realizada uma manutenção mais complexa com
tratamentos preventivos e corretivos de patologias (trincas, fissuras e outras anomalias) na estrutura, além de
melhorias como a colocação de grades na parte externa aos guarda corpos (DNIT, Foz do Iguaçu, PR). 68 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965. p. 23.
77
Imagem 27 – Desenho da Ponte da Amizade comparando com outras edificações. Fonte: RODOVIA. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Ano XXV,
n. 263, 1965, p. 24.
Para se ter uma referência internacional eis as pontes em arco de concreto com os
maiores vãos do mundo e os respectivos anos de conclusão, segundo MATTOS (2001).
Ponte País Vão (m) Ano
Wanxian China 425 1997
Krk-1 Croácia 390 1980
Jiangjiehe China 330 1995
Yongning China 312 1998
Gladesville Austrália 305 1964
Ponte da Amizade Brasil/Paraguai 290 196569
Bloukrans África do Sul 272 1983
Arrábida Portugal 270 1963
Tabela 1. Pontes em arco com os maiores vãos do mundo.
Fonte: Mattos, 2001.
As pontes em arco são construídas há muito tempo, desde a Antiguidade. Segundo
Mattos (2011), é a forma estrutural mais utilizada, sendo os sumérios, antes de 3200 a.e.c., os
primeiros a construírem pontes em arco. Estruturalmente, são mais eficientes do que vigas, e
essas estruturas foram amplamente utilizadas pelos povos da antiguidade, pois eram uma
solução estrutural viável para vencer grandes vãos (HOSS, 2014). Pode-se supor a existência
de uma influência romana no projeto da ponte, pois são os precursores no desenvolvimento de
69 O arco, da Ponte da Amizade, com o maior vão livre do mundo finalizou em 1962 com 290 metros, logo, tornou-
se na época recorde mundial.
78
estruturas em formato de arco (KAEFER, 1998), conforme três exemplos na Imagem 28, de
construções romanas.
Arco de Constantino70 em
Roma, Itália, construído em
315.
Anfiteatro romano em Arles71,
França, construído em 90. Ponte de Trajano72 em
Chaves, Portugal, construído
no final do Século I.
Imagem 28 – Construções em arco.
Fonte: Wikipédia. Acesso em: 15 jan. 2019.
A evolução do aço e do concreto armado possibilitou vãos cada vez maiores e com
menos consumo de material (MATTOS, 2001).
No caso da Ponte da Amizade, o projeto contemplando o vão livre, possibilitava o
tráfego de barcos mesmo nos casos de cheia do rio, mantendo a navegabilidade no rio Paraná.
2.4.1 ESTUDOS TÉCNICOS PARA A CONSTRUÇÃO DA PONTE
Nesse subtópico será apresentado o histórico com as etapas político-administrativas,
bem como a viabilidade financeira e os estudos técnicos para a construção da ponte.
Em 14 de novembro de 1956 o presidente Juscelino Kubitschek assinou o Decreto nº
40.350 criando a "Comissão Especial de Construção da Ponte Internacional sobre o rio Parana”,
cujo responsável pelo projeto e construção foi o Departamento de Estradas de Rodagem –
DNER73.
No dia 19 de dezembro de 1956, o Diretor da Divisão de Orçamento, Aparício Augusto
Câmara, comunica ao Diretor-Geral do DNER, com referência ao ofício nº DG/11 138, de 22
de outubro, assinado pelo presidente, a autorização da dispensa de concorrência pública para a
70 Disponível em:
<https://en.wikipedia.org/wiki/Arch_of_Constantine#/media/File:RomeConstantine%27sArch03.jpg>. Acesso
em: 15 jan. 2019. 71 Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Arles_Amphitheatre#/media/File:Arles_amphitheater.jpg>.
Acesso em: 15 jan. 2019. 72 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_de_Trajano#/media/File:Ponte_romana_Chaves_01.jpg>.
Acesso em: 15 jan. 2019. 73
Senado Federal. Decreto nº 40.350, de 14 de novembro de 1956. Disponível em:
<http://legis.senado.leg.br/norma/462933/publicacao/15659781>. Acesso em: 07 jul. 2019.
79
construção da ponte, sendo aprovadas pelo Conselho Executivo do DNER, as empresas
Sociedade de Terraplanagem e Grandes Estruturas – SOTEGE e a Construtora Rabello S.A.
para executar a obra.
O governo do Paraná indicou os engenheiros Almir França e Luiz Luck para comporem
a comissão, juntamente o técnico Antônio Aciolli. O projeto foi elaborado pelo engenheiro José
Rodrigues Leite de Almeida, diretor técnico da SOTEGE LTDA, e o escoramento do arco foi
projetado pelo engenheiro Sergio Marques de Souza em 1962.
A Sociedade de Terraplanagem e Grandes Estruturas Limitada – SOTEGE era uma
empreiteira do Rio de Janeiro, cujo um dos fundadores, o engenheiro João Alfredo Castilho
cultivava uma relação estreita com Juscelino, inclusive abrindo suspeitas de corrupção:
Castilho tinha forte ligação com Juscelino, o que o levou a, após construir a
Ponte da Amizade entre o Brasil e Paraguai no governo JK, erguer uma casa
no Paraguai com o formato das iniciais do presidente e lhe dar de presente, em
terreno doado pelo ditador Alfredo Stroessner, o que acarretou acusações
contra a empreiteira (CAMPOS, 2012, p. 219).
Além da SOTEGE também participou da execução da obra a Construtora Rabello S/A,
empresa mineira fundada em 1944 por Marco Paulo Rabello, que “seguiu JK no governo
estadual, realizando obras rodoviárias, e, quando de sua gestão à frente da União, ficou
incumbida da construção de todo o eixo monumental de Brasília, incluindo os palácios do
Planalto e da Alvorada” (CAMPOS, 2012, p. 102). Segundo Campos, a Rabello também tinha
relação estreita com JK acarretando acusações de que este teria beneficiado ilicitamente a
empreiteira.
Para a estrutura metálica participou a Companhia Siderúrgica Nacional de Volta
Redonda criada em 1930.
Os estudos técnicos logo iniciaram a partir da criação de uma comissão, chefiada pelo
engenheiro Almyr Franca, cujo objetivo era projetar e executar a obra.
Em 1957, nessa fase inicial de estudos batimétricos, para conhecer o relevo do fundo do
rio, um acidente ocorreu no rio Paraná e o engenheiro Tasso da Costa Rodrigues que coordenava
o estudo morreu afogado. Esse fato demonstrou a especificidade do rio Paraná, conforme a
descrição dramática do Engenheiro Gasparino Silva:
[...] Suas variações de nível constituem um dos problemas de base, a serem
resolvidos pelos técnicos. A quem, de uma de suas margens, lhe contemplar
as águas, lhe parecerá que elas estão paradas. E que o sonolento canoeiro
mestiço, de fala guarani, rema fácil. Inopinadamente, porém formam-se aqui,
lá, mais adiante, um redemoinho, outro, mais outro. As águas tomam a
coloração verde-escura da floresta ribeirinha. O mestiço então como que
desperta. Tira o poncho. Ergue o peito. Começou a batalha. Às vezes dura um,
80
duas ou mais horas. Mas sempre junto às margens, o Paraná continua correndo
serenamente. O mestiço tenta jogar a canoa por um espaço liso. Mas o rio
fecha-lhe a passagem e ele, então, volta o barco no sentido oposto. Rema
vigorosamente para permanecer flutuando. A canoa gira em torno de si
mesma. O homem já é prêsa do rio. Então, em fração de segundo, canoa e
canoeiro desaparecem, sem deixar vestígio algum. Tudo desce para alguns
dias, semanas ou meses depois, quilômetros abaixo, ser lançado em qualquer
barranca recoberta e areia fina. [...] (SILVA, 1965).
Segundo SILVA (1965),74 foram estudados cinco possíveis locais para a construção da
ponte, levando em consideração as variações de nível do rio Parana, sondagens de terreno “com
sondas rotativas em ambas as margens, retirando-se mostras das rochas, sua resistência à
compressão e analise química e classificacão”.
Os documentos analisados para essa pesquisa indicam o município Puerto Presidente
Franco75 como local pretendido para a construção da ponte no lado paraguaio, e após estudos
com a avaliação de prós e contra para cada ponto, optou-se pela construção a 900 metros a
montante do marco comemorativo. Segundo os argumentos apresentados, as vantagens e
desvantagens seriam:
Vantagens: I – Ótima localização em planta, tanto para atende à futura ampliação do
aeroporto como a ligação ao trecho construído no território paraguaio; II – Ótimas ombreiras, que permitem: a) Simetria da obra; b) Comprimento de apenas 555 metros; c) Pequenos aterros de acesso; d) Atingir a cote + 74 no fecho, com rampa de apenas 2,4 %. III – Melhor aspecto do basalto por se apresentar: a) Sem fissuras aparentes (já confirmado pela sondagem); b) Sem degrau observável. IV – Aumento de atração turística do local pelo aspecto monumental da obra
devido a: a) Apresentar-se no primeiro estrangulamento do caudal, que aí se reduz de
600 metros para 300 metros de largura; b) Ser o maior arco do mundo em concreto armado. V – Ausência de possíveis questões com usuários, para efeito de ocupação
local, pela inexistência de benfeitorias. Desvantagens única: Obrigatoriedade de um vão livre com 290 metros76.
74 Silva. Gasparino Rodrigues da. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-
Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965. p. 14. 75 A Puerto Presidente Franco foi fundada em 13 de outubro de 1929 e era um pequeno vilarejo, as margens do Rio
Paraná, contendo um centro onde se embarcavam madeiras e erva mate e desembarcavam artigos de consumo para
a pequena população local. O limite dava-se em Hernandarias (MEDINA, 2004, p.59). 76 SILVA, Gasparino Rodrigues da. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-
Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965.
81
Segundo o Sr. Vicente, a ponte era para ser construída mais próxima ao porto de
Presidente Franco, mas por razões que se desconhece na totalidade, optou-se através dos
argumentos técnicos levantados acima, a construção mais afastada do lugar acordado com o
Paraguai, mas que, haveria um acordo informal de que a segunda ponte77 obrigatoriamente seria
passando pelo município de Franco.
O fato de a arquitetura da ponte contemplar uma altura de 78 metros até o fundo do rio
teve por base pesquisas históricas sobre as cheias do rio. Segundo os registros, a maior delas
ocorreu em 1905 subindo 30 metros acima do nível normal. Desta forma, existindo outra cheia
como a registrada, ainda teriam 18 metros restantes de espaço, sem interrupção da navegação78.
A manutenção da navegabilidade do rio Paraná foi uma variável contemplada no projeto
e execução da ponte. Estudou-se às variações do nível da água, considerando que, o local
escolhido é uma área de escoamento de precipitação e calculou-se, com base na maior cheia já
registrada, a altura ideal para comportá-la sem interrupções no tráfego aquaviário.
Após o término da obra, muitos “elogios” foram tecidos no quesito da tecnicidade
brasileira, a exemplo das palavras do Juarez Távora, ministro da Viação e Obras Públicas de
1964 a 1967:
[…] Que a Ponte da Amizade – marco fulgurante da técnica brasileira na
engenharia universal – possa simbolizar, pelos tempos a vir, a solidariedade
indestrutível e o espírito de cooperação permanentes das duas grandes Nações
latino-americanas, em seu caminho para o futuro, visando à vitória
democrática sobre o subdesenvolvimento e proporcionando assim dimensão
verdadeiramente humana e social a seus grupos nacionais (TÁVORA. 1965,
p. 3)79.
O destaque dado a ponte como uma referência na engenharia brasileira se mistura com
os elementos simbólicos, vinculando-a as questões políticas e econômicas. Nesta fala de Juarez,
percebe-se uma atribuição de significados à ponte que não são visíveis, mas são acrescidas por
suas palavras.
Este tópico discorreu sobre os estudos técnicos para a construção da ponte, cujo
propósito foi compreender as escolhas em relação ao local e também a escolha do projeto
arquitetônico.
77 Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a obra será custeada pela Itaipu Binacional e executada pelo
Governo do Paraná, com supervisão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/notas-a-imprensa/20371-lancamento-da-pedra-fundamental-
da-segunda-ponte-sobre-o-rio-parana-foz-do-iguacu-10-de-maio-de-2019>. Acesso em: 10 set. 2019. 78 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965. p. 18. 79 TÁVORA, Juarez. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263
– Ano XXV – Jan-fev, 1965. p. 3.
82
2.5. A AMIZADE SELADA NA PONTE
A pesquisa se direcionou aos sentidos semânticos relacionados a palavra amizade,
investigou-se nos tratados entre Brasil e Paraguai do século XIX, nos discursos do século XX
e nas posturas internacionais com o intuito de compreender o significado onomástico da Ponte
Internacional da Amizade.
A palavra amizade, no senso comum, está relacionada a instância subjetiva de sentir
apreço ou estima, por algo ou alguém. Portanto, ela faz sentido quando existe outro a quem
apreciar, na qual a reciprocidade estabelece a qualidade da relação. A palavra pode ser simples,
sem grandes interpretações quanto a sua acepção, porém seu significado é muito mais
complexo.
A amizade pode ser compulsória, quando a própria geografia impõe a necessidade de
cooperação, afinal de contas, no caso do Brasil e Paraguai, partilham da mesma água, e, não
podendo dela se apropriar, o que resta é compartilhá-la. Desde 1856 ambos os países pensam e
sistematizam essa convivência, a exemplo do Tratado de Amizade, Navegação e Comércio80
estabelecido pelos representantes, o imperador do Brasil, D. Pedro II (1825-1891) e o ministro
das Relações Exteriores do Paraguai, José Berges (1820-1868), promulgado por Decreto nº
1782 de 14 de julho de 1856. E conforme o disposto no Artigo I: “Havera paz perfeita, firme, e
sincera amizade entre S. M. o Imperador do Brasil, e seus sucessores, e súditos, e a República
do Paraguay, e seus cidadãos, em todas as suas possessões, e territorios respectivos”.
A amizade foi suspensa durante a chamada Guerra da Tríplice Aliança entre 1864 e
1870 sendo reestabelecida no Tratado definitivo de paz e amizade perpétua81 firmado em
Assunção no dia 09 de janeiro de 1872, ratificado pelo Brasil no dia 26 de março do mesmo
ano. Neste tratado pós-guerra é evidente que se trata de questões no qual o país “vencedor” faz
exigências ao país “vencido”, neste caso, foi estabelecido uma indenização dos gastos de guerra
acordando como fariam o cálculo e como estabeleceriam as formas de pagamento. No artigo 8º
ja se reestabelece a navegabilidade fronteirica entre os países, com a seguinte redacão: “E livre
80
CÂMARA dos Deputados. Decreto nº 1.782, de 14 de julho de 1856. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1782-14-julho-1856-571290-
publicacaooriginal-94382-pe.html>. Acesso em: 05 jul. 2019. 81 CÂMARA dos Deputados. Decreto nº 4.910, de 27 de março de 1872. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-4910-27-marco-1872-550977-
publicacaooriginal-67046-pe.html>. Acesso em: 05 jul. 2019.
83
para o comércio de todas as nações a navegação dos rios desde a sua foz até aos portos
habilitados ou que para esse fim foram habilitados pelos respectivos Estados”.
Em 1883 novamente firmam um acordo com o Tratado de Amizade, Comércio e
Navegação82 entre o imperador do Brasil Pedro II e o presidente do Paraguai Bernardino
Caballero (1839-1912), estabelecendo no primeiro artigo o seguinte termo: “havera paz
perfeita, firme e inviolável, e sincera amizade entre o Império do Brasil e a República do
Paraguai”.
Em 1938 José Maria de Brito sargento da Expedição Militar de 1888 que culminou na
fundação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu, elenca na sua narrativa que uma das vantagens
na “descoberta” da Foz do Iguacu era de “[...] ter concorrido para estreitar os lacos de amizade
entre o Brasil e os países vizinhos [...]”. Ao mesmo tempo, fazia a seguinte observacão “Não
temos inimigos na costa, é certo, mas não devemos desprezar o dilema do insigne “Marechal
de Ferro” – Floriano Peixoto: “Confiar desconfiando sempre” (BRITO, 2005, p. 50 e 89).
As constantes reiterações de amizade fazem sentido, pois para cumprir os acordos
intrínsecos de países fronteiriços e se beneficiar mutuamente dessa convivência, era necessário
um clima amistoso, garantindo o desenvolvimento comercial, a propriedade privada, o direito
de ir e vir, enfim a garantia dos direitos e deveres cumpridos bilateralmente.
No Paraguai, a palavra “amizade” toma uma proporcão política com o paraguaio Ramon
Artemio Bracho (1924 -), ao fundar a denominada Cruzada Mundial de la Amistad – CMA,
(World Friendship Crusade) em 1958, tornando-se o Alfredo Stroessner, o presidente
Honorário e a primeira-dama, Ligia Mora de Stroessner, Presidente da Comissão das Senhoras
da Cruzada.
Ramon Bracho formou-se em medicina em Assunção, atuou como médico nas áreas
rurais e posteriormente como médico militar do Ministério da Defesa Nacional e do Hospital
Militar Central, aposentando-se com o posto de coronel. O objetivo manifesto de criar a CMA
era promover o valor da amizade suscitando em uma sociedade mais “pacífica” superando
diferenças culturais, políticas e religiosas. Para isso, a organização de caráter filantrópico,
realizava uma série de ações recreativas.
A palavra amizade, em especial no período Stroessner (1954-1989), passou a disputar
um espaço político-ideológico típico do contexto da Guerra-Fria, encampado a CMA, inclusive
82 CÂMARA dos Deputados. Tratado de amizade, commercio e navegação entre o Império do Brazil e a
Republica do Paraguay. Disponível em:
<https://www.camara.leg.br/Internet/InfDoc/Conteudo/Colecoes/Legislacao/leis1884v1/pdf29.pdf>. Acesso
em: 05 jul. 2019.
84
patrocinando através de instituições estatais, a Revista Cruzada Mundial de la Amistad,
responsável por projetar o Paraguai no contexto internacional. Segundo os pesquisadores
SOLER e BOZZOLASCO (2017), a revista era um meio para o Paraguai se posicionar nos
assuntos internacionais.
Las posiciones y discursos políticos imbricados en una matriz argumentativa
propia de la Guerra Fría, se tornan evidentes al analizar los artículos y
publicaciones de la CMA donde son atendidos temas de la política
internacional. Allí se verán plasmados muchos de los planteamientos de la
derecha regional, así como advertencias de los “avances totalitarios” que
atentan contra las bases de la civilización (entendida como la civilización
occidental y cristiana). Entre otras, la revista tomó posición en contra de la
presión internacional que ejercía la ONU a causa de las denuncias de
violación sistemática de los Derechos Humanos durante la dictadura. En
1978 la revista criticaba a la ONU por “imponer” un plebiscito a la dictadura
de Pinochet y no resolver los problemas de los países ocasionándole un gasto
oneroso. Un año más tarde, en 1979 argumentaba que “la ambición de
poder”, ahora de la mano de un proceso revolucionario, conllevaba a la
violencia y alertaba de la situación de Nicaragua, sin nombrar la Revolución
Sandinista (1979-1990) que derrocó a Anastasio Somoza Debayle, uno de los
aliados políticos del régimen stronista. Ese mismo año, el 23 de abril de 1979
La Liga Anticomunista Mundial realizó su 12va. conferencia anual en
Asunción, con todo el soporte del gobierno de Stroessner (SOLER e
BOZZOLASCO, 2017).
Os princípios da organização, promoveram, a denominada, cultura da paz, do diálogo e
da integração associando com os valores da amizade e da fraternidade, permitiu uma penetração
do país em organizações internacionais. Essa influência vai diminuir com a crise do regime
estabelecido por Stroessner (SOLER; BOZZOLASCO, 2017).
A Revista Manchete fez uma matéria profética, cujo título A Ponte da Amizade, sobre a
inauguração da mesma pelos presidentes JK e Stroessner em 1961, analisada no Capítulo III,
na qual prevê o nome da ponte: “[...] A ponte, que bem merece o nome de “Ponte da Amizade”,
tem a extensão de 552 metros e 40 centímetros, possuindo um vão livre de 303 metros, o que
se tornou possível em razão de ser metálica a sua estrutura [...].83” Até então, todos os
documentos e discursos a chamavam genericamente de Ponte sobre o Rio Paraná, ou Ponte
Internacional sobre o Rio Paraná.
A Ponte da Amizade84 foi batizada nos documentos oficiais, com esse nome em 27 de
março de 1965, data da inauguração e da assinatura do Acordo Sobre a Utilização, Conservação
83 Revista Manchete. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=004120&Pesq=paraguai&pagfis=61764>. Acesso em:
15 jan. 2019. 84 Até 27 de março de 1965 a ponte era denominada nos documentos e discursos como Ponte Internacional sobre
o Rio Paraná.
85
e Vigilância da Ponte sobre o Rio Paraná, documento pelo qual os presidentes Castello Branco
e Alfredo Stroessner, confirmaram seus entendimentos e comprometeram-se com as suas
disposições.
A primeira disposição do documento é a chancela quanto ao nome, “A Ponte
Internacional sobre o Rio Paraná que une Puerto Presidente Stroessner a Foz do Iguaçu se
denominara “Ponte da Amizade”. E esse fato nos faz lembrar a afirmação de Certeau quando
diz: “todo o poder é toponímico e instaura a sua ordem de lugares dando nomes” (CERTEAU,
2014, p. 198).
Na visita guiada pelo Museu El Mensú85, José Riquelme, responsável pelo museu, inicia
a sua fala com uma contextualização das fotografias da Ponte da Amizade, expostas logo na
entrada da casa e sua explicação parte do porquê a ponte recebeu esse nome:
A Ponte da Amizade nasceu com o objetivo de que Paraguai e Brasil voltam
a ter relação, porque durante 60 anos depois da Guerra da Tríplice Aliança não
tinha mais amizade, não tinha mais diálogo então Paraguai praticamente
terminava daqui a 200 km na cidade Coronel Oviedo e depois tudo era selva
impenetrável e daí em 1954 quando assume o Governo de Paraguai, o General
Alfredo Stroessner viaja para o Brasil e tem um encontro com o Presidente do
Brasil que era o Juscelino Kubitschek ali, eles chegam a um acordo da
possibilidade de construir uma ponte e chama-la de Amizade. A palavra que
vai simbolizar de novo a amizade entre dois povos paraguaios e brasileiros
[...] (RIQUELME, 2019)86.
Aqui a topofilia e a toponímia unem-se, segundo Candau, “a memoria e a identidade se
concentram em lugares, e em lugares privilegiados, quase sempre com um nome, e que se
constituem como referências perenes percebidas como um desafio ao tempo” (CANDAU, 2016,
p. 156). Na fala do Riquelme, a alcunha “amizade” tem um sentido simbolico onde a memória
trabalha, ou seja, permite a construção de uma narrativa que faz sentido para identidade pessoal
e/ou coletiva.
A referência da Guerra da Tríplice Aliança como um momento de ruptura com os laços
de amizade e após 60 anos o restabelecimento dos laços com a construção da ponte,
simbolizando novamente a amizade, parece a construção de um sentido que busca amenizar um
ressentimento latente desde a guerra, que conforme a pesquisadora Szekut “constitui memorias
históricas compartilhadas a partir das constantes menções e relações feitas pela sociedade
paraguaia” (SZEKUT, 2018, p. 62).
85 O Museu El Mensú localiza-se em Ciudad del Este. Foi fundado em 23 de outubro de 1999 e inaugurado no dia
03 de fevereiro de 2000. 86 RIQUELME, José. Visita guiada ao Museu El Mensú. Ciudad del Este, Paraguai, 01 jul. 2019. [Transcrição e
tradução para o português].
86
Para Riquelme, a iniciativa advinda do seu país em especial na figura de Stroessner,
revela a consolidação de uma memória reforçada com discursos, insígnias e imagens, ao
associá-lo com o responsável pela aproximação com o Brasil.
Em um contexto político, a palavra amizade, pode ter certa polissemia. Ao batizar de
Ponte Internacional da Amizade, a chancela de conexão binacional é estabelecida e o que
poderia ser subjetivo ou correr o risco de se tornar efêmero, passa a ganhar concretude, através
de acordos, leis e finalmente pelo concreto armado, solidificando a relação Brasil-Paraguai.
Conforme SOLER e BOZZOLASCO (2017), el vocablo amistad operó como un
significante vacío con capacidad de aglutinar sentidos asociados a la matriz argumentativa de
las derechas, colocando o Paraguai com certa visibilidade internacional. Pois internamente, no
dia 30 de julho de 1964, por uma Resolução do Ministério da Educação do Paraguai formalizou-
se como o “Dia da Amizade”87. E em 2011, a Organização Internacional das Nações Unidas –
ONU elegeu essa data para marcar o Dia Internacional da Amizade, e em 2015 para celebrar a
data, o Ban Ki-moon (1944-), na época secretário geral da ONU, publicou a seguinte
mensagem:
O Dia Internacional da Amizade foi promovido por uma pessoa com uma
visão simples, mas profunda: que as forças de animosidade e do ódio em nosso
mundo não se comparam com o poder do espírito humano. Tive a
oportunidade, no início deste ano no Paraguai, de elogiar o pioneiro, Dr.
Ramon Bracho, por sua convicção de que, assim como a amizade constrói
pontes entre as pessoas, também pode fomentar a paz em nosso mundo (KI-
MOON, 2015, tradução livre). 88
A associação que o Ki-moon faz da amizade, um pré-requisito para construir pontes
oportunizando um futuro de pacificação traz evidentemente uma perspectiva política ao tema,
pois não se trata de algo ingênuo e despretensioso, existe uma expectativa a ser atingida no
nível das relações internacionais.
Para ampliar o significado, recorre-se a Ortega (2000) no livro Para uma Política da
Amizade: Arendt, Derrida, Foucault no qual associa a política da amizade como uma nova
forma de sociabilidade. Para isso, cita alguns autores franceses, a exemplo de Derrida que
trabalha a perspectiva da amizade não mais restrita à esfera privada da intimidade, mas em uma
87
Gold Mercury Internacional. Disponível em: <http://goldmercuryaward.org/board/ramon-artemio-bracho/>.
Acesso em: 19 jul. 2019. 88
Nações Unidas. Disponível em:
<http://web.archive.org/web/20170301035609/http://www.un.org/es/events/friendshipday/2015/sgmessage.sht>.
Acesso em: 07 jul. 2019.
87
perspectiva pública, não havendo relação social sem política, portanto a amizade seria um ato
político.
Nos discursos proferidos por alguns políticos brasileiros relacionados ao nome da ponte,
a associação da palavra amizade nas relações entre Brasil e Paraguai fica explícito. Para
exemplificar, tem-se o discurso do Cunha Bueno, deputado federal em 1965 que disse:
“Denominada Ponte da Amizade, acreditamos, Sr. Presidente, que o título dado a esta obra de
arte foi dos mais felizes de vez que permitirá o entrelaçamento maior entre as Repúblicas do
Paraguai e do Brasil” (Cunha Bueno, 1965)89. O discurso traz a interpretação que o vínculo
estabelecido necessita de uma relação amistosa para que haja uma maior estreiteza.
Da mesma forma, o discurso de Stroessner também contém o apelo da amizade na
concretização do projeto.
Pueblos que se unen por encima de los ríos, que convierten sus fronteras en
motivos de paz, de concordia, de solidaridad entre vecinos; que dispuestos a
la conquista de un bien común, conjugan sus propias fuerzas sin medirlas en
la proporción que representan, y sin condiciones a compensaciones que
desnaturalizan los lazos de la amistad; que al engrandecerse a sí mismos
aman y auspician el engrandecimiento de los demás; que abren para sí y para
los otros los caminos que conducen a los centros de la civilización y de la
cultura, así como a las fuentes de provisión y a los mercados mundiales; que
suprimen los barreras y proclaman el triunfo de la inteligencia y de la buena
voluntad entre las naciones, son pueblos hacedores de la historia que
enaltecen a los destinos de la humanidad. (STROESSNER, 1961)90
Nesse discurso proferido em 1961, o presidente Stroessner exalta a união com a
supressão de barreiras e ajuda mútua no qual entende a ponte como o elemento responsável em
abrir o caminho para, sobretudo, expandir mercados.
Por sua vez, a amizade no relato do engenheiro e presidente do Conselho Rodoviário
Nacional – CRN em 1965, fica mais claro a associação com irmandade: “Conhecendo-nos
melhor, mais fundamentos encontraremos em uma amizade, que inspira tão fecundas
realizações. É que melhor e mais belo destino para uma obra de arte – ser, pelo tempo a fora,
fator de união entre os dois povos irmãos e instrumento de seu progresso91”.
Segundo Ortega, o termo irmão aparece associado nos discursos de amizade, e cita Carl
Schmitt para analisar a etimologia da palavra:
89 Diário do Congresso Nacional. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD26MAR1965.pdf#page=19>. Acesso em: 07 jul. 2019. 90 STROESSNER, Alfredo. Inauguración del Puente Internacional sobre el Río Paraná, 1961 - Discurso de
Alfredo Stroessner. Disponível em:
<http://www.portalguarani.com/1759_alfredo_stroessner_matiauda/18606_inauguracion_del_puente_internacion
al_sobre_el_rio_parana_1961__discurso_de_alfredo_stroessner.html>. Acesso em: 08 jul. 2020. 91 ESCOBAR, José Pedro de. In: Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai.
Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev, 1965.
88
Na língua alemã – como em muitas outras línguas –, o amigo é originalmente
somente o companheiro do clã (Sippengenosse). Amigo é assim originalmente
somente o amigo de sangue (Blutsfreund), o consanguíneo, ou o aparentado
(“verwandt Gemachte”) por matrimônio, fraternidade de juramento ou
instituições correspondentes (apud ORTEGA, 2001, p. 61).
Trata-se de um discurso que vincula a amizade a povos irmãos, comum no imaginário
da amizade as metáforas familiares. Mas também contém no discurso a associação com o
desenvolvimento, o progresso, a união, a integração, ou seja, a razões políticas. Então, pensando
em uma sociedade calcada na modernização e individualização, a amizade se constituiria em
uma alternativa às velhas formas de relação institucionalizadas (ORTEGA, 2001, p. 56).
O periódico denominado Rodovia92, publicou em 1965 um número especial sobre a
inauguração da Ponte da Amizade. Nele, constam seis artigos nos quais exploram a importância
da ponte sob o ponto de vista econômico-financeiro, o trânsito pan-americano, o valor turístico
e os dados técnicos construtivos. Na apresentação da revista, o ministro da Viação e Obras
Públicas, Juarez Távora e o diretor-geral do DNER, Lafayette Prado, celebram o término da
obra, destacando aspectos considerados relevantes para cada um. O último artigo da revista,
sem autoria, foi escrito em inglês, denominado Brazil – Paraguay Internacional Bridge, sem a
tradução para o português, no qual se desconhece as causas. Aqui se traduziu para melhor
fluidez na leitura, conforme a citação abaixo:
A ponte Brasil-Paraguai é chamada de “Ponte da Amizade” por causa das
relações amigáveis desses países que a ponte fortalecerá ainda mais. O Brasil
tem o prazer de estender a tão boas instalações vizinhas e de países irmãos
seus próprios portos marítimos e de transporte em alto mar e de fornecer a ela
uma operação livre de taxas. Através das estradas brasileiras, o Paraguai
poderá usar os portos de Paranaguá, Santos ou Rio de Janeiro, ou todos eles.
Um entreposto de depósito franco será fornecido para as operações no
Paraguai, de acordo com o convênio que os dois países assinaram93
(RODOVIA, 1965, p. 24, tradução livre).
Destaca-se a explicação do porquê a ponte se denomina de Ponte da Amizade, e essa
explicação chama a atenção dos benefícios que o Brasil estava oferecendo ao Paraguai,
omitindo a contrapartida que o Brasil estaria se beneficiando com o acordo político de trocas
mútuas. Alguma intencionalidade certamente estava por trás do conteúdo e da forma
92 Rodovia. Número especial da inauguração da Ponte da Amizade Brasil-Paraguai. Nº 263 – Ano XXV – Jan-fev,
1965, p. 24. 93 “Brazil-Paraguay bridge is called “Friendship Bridge” because of the friendly relations of these countries which
the bridge will further strengthen. Brazil is happy to extend to a so good neighbor and sister-country facilities of
its own seaports and open-sea transportation and to provide her with custom-free operation. Through Brazilian
Roads Paraguay will be able to use either Paranaguá, Santos or Rio de Janeiro ports, or all of them. Custom-free
warehouses will be provided for Paraguayan operations according to the agreement both countries signed”
(RODOVIA, 1965, p. 24).
89
apresentada no periódico e algumas perguntas podem ser realizadas para melhor compreender
esse contexto, por exemplo, a quem se destina essa mensagem? quais ganhos eram almejados?
qual concepção de amizade estava sendo transmitida? Perguntas que não tem a pretensão de
responder, mas de refletir sobre o intuito de tal mensagem.
Neste tópico, abordou-se a denominacão “amizade” inserindo-a no contexto político
entre Brasil e Paraguai, procurando dissecar seus diferentes sentidos e atribuições. Conclui-se
que a palavra amizade não foi atribuída de uma forma vazia de sentido político ou de maneira
abstrata, ela é uma reafirmação do exercício político.
2.6. ACORDOS INTERNACIONAIS
Este tópico apresentará o histórico das tratativas binacionais estabelecidas entre Brasil
e Paraguai objetivando o aumento da mobilidade de ambos os países.
O Paraguai havia estudado uma via alternativa ao Porto de Buenos na Argentina, e para
isso uma aproximação com o Brasil era inevitável, até o porquê este também flertava com a
possibilidade de ampliar mercado com o país vizinho.
A existência de uma comunicação terrestre com o Brasil foi iniciada com o Projeto nº
4.975 de 195494 dispondo a aplicação de um crédito brasileiro na construção da rodovia Oviedo-
Presidente Franco (Ruta Internacional), tornando-se a Lei Nº 2.751 de 13 de agosto de 1955.
Para esse trâmite, o embaixador do Paraguai Raul Sapena, dedicou-se no convencimento
por parte dos parlamentares brasileiros para que considerem tal pleito, estado de urgência,
objetivando a celeridade do processo, conforme os apontamentos do mesmo:
El Proyecto se encuentra asi listo para ser discutido en sesión plenaria. Pero,
existiendo centenares de Proyectos entrados con anterioridad, su
consideración sería postergada por muchos meses. Por esta razón me he
enpeñado en obtener para el Proyecto nº 4.975 lo que en el procedimiento
parlamentario del Brasil se denomina “régimen de urgencia”, y a este efecto
he entrevistado: 1) AL PRESIDENTE DE LA CAMARA, Diputado Doctor Carlos Luz.
(entrevista realizada el Viernes 6 a las 13 horas); b) AL LIDER DE LA MAYORIA, Diputado Doctor Gustavo Capanema.
(entrevista realizada hoy, a las 11 horas, en el Palacio Tiradentes). c) AL LIDER DE LA MINORIA, Diputado Afonso Arinhos de Mello Franco.
(entrevista realizada en su domicilio particular, ayer 9 de Mayo a las 18 y 30
horas) (SAPENA, 1955)95.
94 Diário do Congresso Nacional. Ano IX – Nº 213. 04 de dezembro de 1954. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD14DEZ1954.pdf#page=18>. Acesso em: 15 set. 2019. 95 SAPENA, Raul. Embaixada do Paraguai – 10 de maio de 1955. Acervo do Ministério das Relações Exteriores
do Paraguai, Assunção, Paraguai.
90
O pleito evidentemente tratava-se de criar um tráfego alternativo, e a melhoria na
infraestrutura terrestre. Após a aprovação do crédito por parte do Brasil, uma comissão mista
Paraguai-Brasil responsabilizou-se pela execução do projeto, construindo uma estrada de
Coronel Oviedo-Puerto Presidente Stroessner, atual Ciudad del Este, finalizado em 30 de junho
de 1959 (MEDINA, 2004, p. 72).
A Ruta Internacional constituiu um grande investimento para o Paraguai ao ampliar a
comunicação interna, o que segundo Medina, teria acelerado o desenvolvimento econômico da
região, “gracias a la ruta, florecieron a la vera de la misma, pequeñas villas o aldeas, que hoy
día constituyen florecientes ciudades de extraordinaria pujanza económica” (MEDINA, 2004,
p. 75).
Somava-se ao projeto da Ruta Internacional, a obtenção de uma zona franca em
Paranaguá, tornando mais real a integração viária alcançando o Atlântico, conforme Sapena
aponta:
Luego hice un esbozo de los principales aspectos que el Paraguay desea
considerar, destacando fundamentalmente sus aspiraciones a obtener una
zona franca en Paranaguá y la realización del camino Coronel Oviedo-
Presidente Franco, todo ello sin perjuicio de conservar el Puerto Franco en
Santos y proseguir el camino Concepción a Pedro Juan Caballero (SAPENA,
1955)96.
O ministro do Interior do Paraguai Edgar L. Ynsfrán (1921-1991) ficou associado com
a fundação da Cidade Puerto Presidente Stroessner, atual Ciudad del Este. Segundo o seu
depoimento, em 1956, o presidente sugeriu que ele fizesse uma viagem de reconhecimento
aéreo do Alto Paraná. Nessa viagem adquiriu uma noção dos trabalhos da Comissão Mista
Paraguai-Brasil na construção da estrada que chegaria então até a barranca do rio Paraná além
de “una viva lección de geografía y también de geopolítica” (YNSFRÁN, 2012, p. 88).
Segundo Ynsfrán, ao se deparar com a construção da estrada, aberta do meio de um
ambiente inóspito “uma selva casi impenetrable, y en la cual los obstáculos no se daban sólo
por los imponentes y gigantescos árboles, sino también por las fieras, la leishmaniasis y las
frecuentes lluvias tropicales” (YNSFRÁN, 2012, p. 89), propôs ao Presidente Stroessner a
fundação de uma cidade que se antecipasse a chegada da estrada, “se trataba de crear un centro
emplazado a su vera y sobre a margen del río y echar las bases de una ciudad, cuyo futuro era
fácil predecir, porque se situaría frente al centro brasileño de Foz do Iguazú [...] (YNSFRÁN,
2012, p. 91)”.
96 SAPENA, Raul. Embaixada do Paraguai – s/d. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai,
Assunção, Paraguai.
91
Percebe-se uma grande preocupação em viabilizar novas alternativas trafegáveis para
sair da dependência com a Argentina, pois segundo Ynsfrán, estava inviável do ponto de vista
financeiro:
Nuestro comercio exterior sufría todos los inconvenientes del obrigado paso
por el puerto de Buenos Aires: no sólo las dificuldades creadas por la
necesidad de transbordos, sino también los precios exorbitantes que eran
exigidos para el transporte fluvial – en manos, primeiro, de la Campañía
Mihanovich y luego de la Campañía Fluvial Argentina – que llegaban a ser
três veces más elevados que el frete de Buenos Aires a puertos europeos o
norteamericanos (YNSFRÁN, 2012, p. 88).
A fundação da cidade Presidente Stroessner tem relação direta com o vislumbre que se
tinha de um novo eixo rodoviário que levaria o Paraguai ao Oceano Atlântico, colocando-a no
mapa como um ponto de interesse político e econômico do país.
O Paraguai manifesta o interesse para construção da ponte em uma correspondência
formalizada por Raúl Sapena Pastor, embaixador do Paraguai no Brasil, por troca de notas no
dia 20 de janeiro de 1956, com os seguintes argumentos:
1. El Gobierno paraguayo, deseoso de facilitar el mayor desenvolvimiento de
la política de creciente vinculación entre los pueblos del Paraguay y del
Brasil, consubstanciada en los Acuerdos realizados por cambio de notas el
20 de Enero de 1956, tiene el mayor interés en que sea construido un puente
internacional sobre el rio Paraná, que permita la ligación de la rodovia
Puerto Presidente Franco-Coronel Oviedo, en territorio paraguayo, a
Paranaguá-Foz de Iguazú, en territorio brasileño, y concretice la unión
rodoviaria entre los dos países. 2. El Gobierno paraguayo, grandemente interesado en suprimir un obstáculo
natural que embaraza las corrientes de intercambio entre las dos naciones
Hermanas, solicita del Gobierno brasileño que tome a su cargo la
construcción del referido puente. 3. El Gobierno paraguayo considerará una respuesta de Vuestra Excelencia,
en la cual este expresada la anuencia del Gobierno brasileño a esta solicitud,
como un Acuerdo formal entre los dos paises97.
O embaixador, conforme a nota acima, solicita a união rodoviária, para a transposição
da fronteira natural, ao governo brasileiro e, para isso, apela para a “irmandade” entre os países.
No dia 29 de maio de 1956, o acordo se formaliza pelo então ministro das Relações
Exteriores do Brasil, José Carlos de Macedo Soares (1883-1968) dirigindo-se ao Raul Sapena
Pastor, mediante uma troca de notas no qual o Brasil acata a solicitação do Paraguai.
Em resposta, apraz-me comunicar a Vossa Excelência que o Governo
brasileiro, em atenção ao desejo expresso pelo Governo paraguaio na
97 PASTOR, Raul Sapena. Coleção de Atos Internacionais nº 378. Acordo entre o Brasil e o Paraguai para a
construção de uma ponte sobre o Rio Paraná, publicado no Diário Oficial de 04 de julho de 1956. Disponível em:
<https://concordia.itamaraty.gov.br/>. Acesso em: 07 jul. 2019.
92
mencionada nota, concorda em assumir o encargo de construir a referida ponte
sobre o rio Paraná.98
Para o Brasil, o intento de construir uma ponte, foi identificado quase uma década antes
do manifestado pelo embaixador do Paraguai no Brasil, Raul Sapena Pastor em 1956. Segundo
o deputado federal Sr. Ostoja Roguski (1913-1972) eleito pelo Estado do Paraná, declarou em
1956, que o projeto já havia sido submetido em 1947, conforme a citação abaixo:
No dia 05 do corrente foi assinado um convênio entre Brasil e o Paraguai,
objetivando a construção da ponte rodoferroviária que ligará Foz do Iguaçu a
Porto Presidente Franco, do lado do Paraguai. Sr. Presidente, desde 1947 que
a bancada do Paraná vem batalhando no sentido da concretização desta grande
aspiração dos dois povos, brasileiro e paraguaio – a ligação, por estrada de
ferro, que, partindo de Assunção, irá a Paranaguá na costa atlântica. Assim,
em 1947, o então Deputado Munhoz da Rocha apresentou projeto com esse
objetivo. Essa proposição, em 1951, foi, portanto, renovada e até agora se
encontra nessa casa, na Comissão de Finanças, aguardando, por outro lado, o
pronunciamento favorável do Conselho de Segurança Nacional99 (grifos
nossos).
Destaca-se no registro acima, a menção de uma ponte rodoferroviária, cujo termo é
ratificado mais abaixo como estrada de ferro100. Esse pronunciamento indica, ao se referir a
1947, portanto quase 10 anos antes ao acordo efetivamente firmado entre Brasil e Paraguai para
a construção da ponte, que o autor tinha como referência o projeto original apresentado pelo
Munhoz da Rocha, de uma ponte que servisse para circular além de veículos sobre rodas,
também trens.
Segundo o pronunciamento, o propositor foi o Bento Munhoz da Rocha Neto (1905-
1973), nascido em Paranaguá, deputado federal constituinte de 1946 a 1950, tornando-se no
ano seguinte governador do Paraná até 1955. Segundo informações da Casa Civil do Paraná,
defendia a reintegração do Território Federal do Iguaçu101. Essa informação se torna relevante
98 Idem. 99 Diário do Congresso Nacional. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD20JUN1956.pdf#page=37>. Acesso em: 05 jul. 2019. 100 Sobre essa questão de rodoferrovia, a carta de Bertoni a Brenno (1891), indica um vislumbre de uma estrada de
ferro ligando Paraguai e Brasil, para isso uma ponte rodoferroviaria sobre o Rio Parana seria necessaria, “para
hablar del Paraguay, qué me dirás de esta valiente pequeña república, que a pesar de las condiciones anormales
del comercio, la producción y el cambio, todavía encuentra la forma de terminar su vía de tren a Paraguarí-Villa
Rica-Villa Encarnación, y el coraje de aprobar una más, hace dos meses, ya concedida, la cual, sin contar una
bifurcación que unirá las pequeñas ciudades del Norte, atravesará el Paraguay de Oeste a Este y se juntará con
la linea brasilera para desembocar en el puerto de Santos! Más de 1000 Kilómetros de vías que recorren regiones
vírgenes, aún inexploradas, selvas sin fin y estepas apenas pobladas por salvajes (...) Un ponte gigantesca sobre
el Alto Paraná de 600 metros de largo, suspendido, porque el río tiene allí más de 150 metros de profundidad,
con una corriente cuya velocidad alcanza de 6 a 12 millas por hora, con crecidas que se elevan a más de 30
metros sobre el estiaje!” (BARATTI & CANDOLFI, 1994, p 333 a 342). 101 Governo do Estado do Paraná. Bento Munhoz da Rocha Netto. Disponível em:
<http://www.casacivil.pr.gov.br/Pagina/Bento-Munhoz-da-Rocha-Netto>. Acesso em: 10 nov. 2020.
93
para entender o debate estabelecido no período, em especial, a preocupação com as disputas
territoriais na região Oeste de Santa Catarina e Oeste e Sudoeste do Paraná.
O Território Federal do Iguaçu foi criado no governo de Getúlio Vargas em 1943, cujo
objetivo manifesto era a ocupação efetiva e a nacionalização das fronteiras nacionais do Brasil.
O Bento Munhoz da Rocha Neto apresentou uma emenda constitucional em 1946 extinguindo
o Território Federal reincorporando parte do território ao Paraná (PRIOLI, A., et al., 2012, p.
65).
Segundo Prioli, et al. (2012), para a população do Oeste ficar favorável com a extinção
do Território Nacional, o interventor do Estado do Paraná, Brasil Pinheiro Machado se
comprometeu em criar um departamento especial para tratar especificamente das demandas da
região. O projeto da ponte estava inserido no contexto de discussão relacionada ao
desenvolvimento da região Oeste do Paraná que muito era criticada pelo abandono das
autoridades nacionais (PRIOLI , et al. 2012, p.60).
Nas pesquisas documentais, o projeto também foi discutido em 1955, sendo no ano
seguinte a primeira formalização para concretizá-lo em 1956, conforme apontamentos no
Diário do Congresso Nacional cujos relatores foram Srs. Newton Carneiro, Luis Tourinho e
Ferreira Martins:
Primeira discussão do Projeto nº 635-A de 1955 que autoriza o Poder
Executivo pelo Ministério da Viação e Obras Públicas, a abrir um crédito
especial de Cr$ 20.000.000,00 para a construção da ponte sobre o rio Paraná,
na Foz do Iguaçu, Estado do Paraná, ligando a rodovia Coronel Oviedo-Pôrto
Presidente Franco à BR-35; tendo pareceres: favoráveis das Comissões de
Diplomacia de Transportes, Comunicações e Obras Públicas e de Segurança
Nacional, e com substitutivo da Comissão de Finanças102.
No dia 07 de setembro o presidente Alfredo Stroessner sancionou o Decreto nº 23.696,
regulamentando a lei nº 390/56 relativa ao acordo paraguaio-brasileiro sobre a construção da
ponte internacional Porto Presidente Franco-Foz do Iguaçu103, que dava continuidade ao
projeto da rodovia entre Assunção e Paranaguá.
A obra foi totalmente custeada pelo governo brasileiro, sendo no dia 25 de setembro de
1956 sancionada no Brasil a Lei nº 2885104 autorizando o Poder Executivo a abrir, pelo
102 Diário do Congresso Nacional. Ano XI – Nº 121. 19 de julho de 1956. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD19JUL1956.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2019. 103 QUELL, Sanchez. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil – 04 de fevereiro de
1957. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção, Paraguai. 104 Câmara Legislativa. Lei nº 2.885, de 25 de setembro de 1956. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2885-25-setembro-1956-355179-publicacaooriginal-1-
pl.html>. Acesso em: 10 jul. 2019.
94
Ministério da Viação e Obras Públicas através do Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem, um crédito especial de Cr$ 30.000.000,00 (30 milhões de cruzeiros) para a
construção da ponte. Após essa aprovação, o embaixador do Paraguai no Brasil, Sanchez Quell
escreve um relato desse fato endereçando ao ministro das Relações Exteriores do Paraguai, o
Raul Sapena Pastor:
Tengo el honor de dirigirme a Vuestra Excelencia para informarle que el acto
realizado hoy en el Palacio Catete, con motivo de la promulgación por el
Presidente Kubitschek de la ley que abre crédito especial de 30 millones de
Cruzeiros para la construcción de un puente sobre el río Paraná, resultó no
solamente solemne sino profundamente emotivo105.
Nesse relato verificou-se a presença de algumas autoridades paraguaias e brasileiras
participando da solenidade, e cita as suas palavras proferidas ao Juscelino após a sanção da lei,
no qual teria dito:
Es enorme la emoción que me embarga en este momento. Por eso, sólo quiero
expresar a Vuestra Excelencia que transmitiré gustoso la invitación que
formula para el Presidente Stroessner. Y que, ante la nueva prueba de real
amistad hacia mi país y hacia mi gobierno que significa la construcción de
este puente, en nombre del Paraguay y del Presidente Stroessner os digo: mil
gracias, Presidente.
Também há registro do discurso pronunciado pelo Sr. Josino Alves da Rocha Loures,
Deputado Federal em 1956 onde é possível mensurar a relevância de tal feito:
[...] acontecimentos da mais alta importância para os destinos econômicos e
culturais do Brasil e Paraguai, acaba de se realizar com a sanção do
Presidência da República, Sr. Juscelino Kubitschek, da lei que autoriza a
abertura de um crédito especial de 30 milhões de cruzeiros, pelo Ministério da
Viação, destinado à construção de uma ponte no rio Paraná, que estabelecerá
a ligação rodoviária entre esses dois países vizinhos106.
O encontro entre os presidentes Alfredo Stroessner e o Juscelino Kubitschek no dia 06
de outubro de 1956107 em Foz do Iguaçu, oficializou em uma cerimônia o início dos trabalhos
para a construção da ponte, oportunizando um trajeto físico de Assunção ao porto de Paranaguá.
Para isso, celebrou-se novos acordos entorno de convênios, regulando o intercâmbio comercial
entre os dois países, cujo maior interesse era a regulamentação dos entrepostos de depósito
105 QUELL, Sanchez. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil – 14 de março de
1956. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção, Paraguai. 106
CÂMARA dos Deputados. Diário do Congresso Nacional. 29 set. 1956. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD29SET1956.pdf#page=21>. Acesso em: 05 jul. 2019. 107
Ministério das Relações Exteriores. Comunicado Conjunto sobre Rodovias entre o Governo dos Estados
Unidos do Brasil e o Governo da República do Paraguai. Disponível em:
<https://concordia.itamaraty.gov.br/detalhamento-acordo/1118?page=19&s=paraguai&tipoPesquisa=1>. Acesso
em: 05 jul. 2019.
95
franco nos portos de Santos e Paranaguá para o Paraguai utilizar e o porto de Concepción para
o Brasil reciprocamente usufruir.
Imagem 29 – Encontro de JK e Stroessner em Foz do Iguaçu (06/10/1956). Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 22 set.
2019. Facebook. Disponíveis em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215131875275189&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215131913156136&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215131903515895&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215131902715875&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 21 de nov. 2019.
96
Em 14 de novembro de 1956 o presidente JK baixou o decreto nº 40.350108 no qual
criava a Comissão Especial de Construção da Ponte Internacional sobre o Rio Paraná,
subordinada ao Diretor Geral do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Em 11 de
dezembro o governo paraguaio com o decreto nº 23.696 autorizou a realização da obra em seu
território.
Dois anos após esse encontro, novamente reuniram-se em Foz do Iguaçu no dia 04 de
outubro de 1958 para inspecionar as obras da ponte e mais uma vez Juscelino Kubitschek
reforça o compromisso brasileiro em aproximar-se do vizinho, conforme seu discurso abaixo:
Novamente me é dado o prazer de receber o preclaro Chefe da Nação
paraguaia em terra brasileira, e, desta vez, no instante em que entregamos ao
uso público uma casa onde paraguaios, argentinos e brasileiros terão mais um
local de fraterna convivência, a eliminar por completo a ideia de fronteiras,
que os nossos recíprocos sentimentos vêm apagando, para glória e bem das
Nações americanas. [...] (Presidência da República, JK, 1958).
Nesse discurso, o presidente JK, trata a ponte como uma “casa”, a analogia torna-se
curiosa, pois ao mesmo tempo em que a fala discorre no sentido de subverter ou sublimar a
fronteira, ao compará-la com a casa, esta pode ser interpretada no sentido de reforçar o “mando
de campo” do Brasil sobre este espaço, pois casa pode-se abrir e acolher quem for, mas sempre
será um “hóspede”.
No mesmo discurso o JK faz menção ao projeto de maior de ligação do Brasil Paraguai,
indo do Porto de Paranaguá a Assunção.
Ao mesmo tempo que se alteiam as bases dêsse monumental empreendimento,
vemos, prestes a se encontrarem, as pontas das grandes rodovias que partem
de Assunção e de Paranaguá, abrindo ao Paraguai uma saída para o Atlântico,
e ao Brasil, mais amplas perspectivas no mercado da nação irmã, para os
produtos de sua florescente indústria. A complementação de nossas economias encontrará, nessa grande artéria, o
seu instrumento decisivo. No que respeita ao escoamento da produção do
laborioso povo guarani, é-me grato assinalar que o entreposto de depósito
franco de Paranaguá já está em condições de receber as mercadorias
paraguaias, quando estas comecem a transitar pela via que estamos rasgando
em meio a tantas dificuldades [...] (Presidência da República, JK, 1958).
As vantagens recíprocas estabelecidas pela via transversal entre o Porto de Paranaguá e
Assunção são manifestadas pelo presidente JK, onde expressa que ambos os países aportariam
ganhos em suas economias através do escoamento de suas produções.
108 Câmara Legislativa. Decreto nº 40.350, de 14 de novembro de 1956. Disponível em
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1950-1959/decreto-40350-14-novembro-1956-331541-
publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 10 jul. 2019.
97
E nesse encontro, além de vistoriar a construção da ponte, o presidente Juscelino
participou da inauguração do Hotel das Cataratas e sua visita foi registrada, conforme as
fotografias abaixo.
Imagem 30 – A esquerda, JK visitando as Cataratas do Iguaçu. A direita, JK e comitiva vistoriando a
construção da ponte. Ano 1958. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 22 set.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215132163602397&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. e
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215137536696721&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 21 nov. 2019.
A participação do presidente na inauguração do Hotel das Cataratas e na vistoria das
obras da ponte evidencia a ação do Estado brasileiro nessa região. Os presidentes da República
vieram várias vezes a Foz do Iguaçu para fazer inaugurações, e conforme a pesquisadora
Josiane Nava (2018) as memórias do município são construídas a partir do Estado, colocando-
se como protagonista, ou seja, “coadunou com grandes construtoras para a edificação de
estruturas que marcassem a modificação do espaço de características interioranas que era Foz
do Iguaçu antes da década de 1950” (NAVA, 2018, p. 83).
A formalização em relação ao uso da ponte ocorreu em 1960, com a assinatura do
primeiro acordo sobre a administração, manutenção, vigilância e segurança da ponte, elaborado
pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Horácio Lafer, no dia 05 de março de 1960,
no qual estabelecia as formas de funcionamento após o término da obra. Nele, se constituiu
onze itens, dos quais 3 foram revogados na inauguração em 1965, que foram os relativos aos
itens V, VI e X:
V - As despesas decorrentes da manutenção da Ponte Internacional serão
divididas em parcelas iguais entre os Governos dos dois países;
VI. Para a solução de problemas técnicos, a Comissão Mista brasileiro-
paraguaia podera, excepcionalmente, contratar, por tempo indeterminado, os
98
serviços de especialistas, cuja remuneração será dividida, em parcelas iguais,
entre os Governos dos dois países;
X – Quanto ao trânsito de veículos, será cobrada uma taxa de pedágio, cujo
montante será estabelecido, de comum acôrdo, entre o Ministério da Viação e
Obras Públicas dos Estados Unidos do Brasil e o Ministério de Obras Públicas
e Comunicações da República do Paraguai. O montante arrecadado com a taxa
de pedágio será depositado na Agência do Banco do Brasil, em Assunção, em
conta corrente da Comissão Mista brasileiro-paraguaia, que dêle poderá dispor
para despesas co- muns de manutenção da Ponte Internacional, nos termos dos
artigos V e, VI supra109.
Os três itens revogados diziam respeito as divisões de atribuições entre Brasil e Paraguai
no quesito da responsabilidade quanto as despesas de manutenção, os reparos aos eventuais
problemas técnicos e a arrecadação de taxa de pedágio, cujos dividendos seriam alocados para
despesas com a manutenção da ponte. Com esse acordo de 1960, percebe-se uma equidade de
responsabilidade, tal qual, uma sociedade, no trato com a ponte.
A retificação do acordo ocorreu em 27 de março de 1965, data da inauguração, com a
assinatura do Acordo sobre a utilização, conservação e vigilância da ponte sobre o rio Paraná,
em substituição ao acordo realizado em 05 de março de 1960, agora consolidado pelo presidente
Castello Branco. Os dispositivos acordados são:
I – A Ponte Internacional sobre o Rio Paraná que une Puerto Presidente
Stroessner a Foz do Iguacu se denominara “Ponte da Amizade”. II – A vigilância policial nas cabeceiras da Ponte estará a cargo das
autoridades competentes do Brasil e do Paraguai em seus respectivos
territórios, estabelecendo-se como limite jurisdicional a linha média
transversal do arco da Ponte. III – Os trabalhos de conservação da Ponte ficarão a cargo do Departamento
Nacional de Estradas de Rodagem do Brasil, correndo por sua conta os gastos
respectivos. IV – Em caso de destruição total ou parcial da Ponte, sua reconstrução será
financiada em partes iguais pelos dois países, correspondendo a execução das
obras ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem do Brasil. V – A entrada de veículos, através da Ponte nos respectivos territórios estará
sujeita a legislação pertinente de cada país. VI – Ambos os países tomarão as medidas necessárias para que a utilização
da Ponte seja efetiva durante as vinte e quatro horas do dia. VII – Não se cobrará pedágio pela utilização da ponte.110
109
Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <https://concordia.itamaraty.gov.br/detalhamento-
acordo/1282?page=18&s=paraguai&tipoPesquisa=1>. Acesso em: 10 jul. 2019. 110
Coleção de Atos Internacionais. Acordo sobre a utilização, conservação e vigilância da ponte sobre o rio
Paraná. Disponível em: <https://concordia.itamaraty.gov.br/>. Acesso em: 07 jul. 2019.
99
A supressão dos três itens reforçou o protagonismo do Brasil trazendo para si a
responsabilidade com as despesas e manutenção, inclusive dispensando a possibilidade de
cobrança de pedágio.
Findado os acordos de uso, manutenção e vigilância da ponte, a expectativa para o seu
término era grande, pois representava para ambos os países uma oportunidade de
desenvolvimento.
A necessidade de aumentar a mobilidade tangenciou as negociações, acordos,
investimentos que possibilitassem o acesso e a comunicação além das suas fronteiras. O
Paraguai, como uma geografia mediterrânea precisou estabelecer novas rotas alternativas, o
Brasil também ambicionava novos mercados, ambos estabeleceram acordos bilaterais para
alcançar esses objetivos. Além disso, as fontes indicam que o projeto vinha sendo demandado
há muito tempo, antes da formalização por parte do Paraguai.
2.7. EFEITOS NO ENTORNO DA PONTE INTERNACIONAL DA AMIZADE
A construção de uma grande obra, como foi a Ponte da Amizade, transformou o seu
entorno e evidente que atraiu um número significativo de trabalhadores, necessitando
consequentemente de uma infraestrutura e com isso, as cidades foram se transformando e se
reconfigurando.
No caso do Paraguai a transformação foi mais significativa, pois uma cidade foi criada
para dar o suporte necessário de comportar a construção e manutenção da ponte. A primeira
edificação, por exemplo, construída em Ciudad del Este, foi em 1957, para abrigar a sede da
Comissão de Administração, posteriormente, a intendência municipal. A casa atualmente é
aberta ao público, pois se transformou no Museu El Mensú. Além de preservar as características
arquitetônicas, também comporta em seu acervo, a história do município, a exemplo da Ata de
Fundação da cidade assinada em 03 de fevereiro de 1957, em cumprimento ao Decreto nº
24.634 de 28 de janeiro de 1957 denominada inicialmente de Puerto Flor de Lis, logo mudou
para Puerto Presidente Stroessner, rebatizada de Ciudad del Este após a queda de Stroessner
em 1989.
Na ata de fundação está explícita que a implantação da cidade se deu em razão de todas
as demandas que a ponte iria gerar além da localização geopolítica e estratégica de fluxo
internacional.
[...] Visto la necesidad de fundar una ciudad en el extremo territorial del
camino internacional que unirá nuestra República con la de los EE.UU. del
Brasil, y considerando: que la buena administración del país obliga a prever
el desarrollo de la región de Caaguazú y Alto Paraná, regiones por las que
100
cruza la ruta internacional; Que el extremo de dicha ruta en su embocadura
con el futuro puente internacional estará situado al norte de la actual
localidad de Puerto Presidente Franco; Que por tales circunstancias se hace indispensable la fundación de una
localidad con los recursos adecuados para su futuro desenvolvimiento, que
sea punto de concentración de las posibilidades regionales, lindero de la ruta
internacional y medio de vinculación permanente con la vecina república de
los EE.UU. del Brasil [transcrição da Ata abaixo].
Imagem 31 – A Ata da fundação da cidade Puerto Flor de Lis (Ciudad del Este), de 03 de fevereiro
de 1957. Fonte: MUSEU EL MENSÚ. Ciudad del Este, 2019. Registro da autora.
A ata de fundação de uma cidade é analogamente a certidão de nascimento de um
indivíduo, nela consta as informacões do seu “nascimento”, “comprovando” sua existência.
Conforme a pesquisadora Pesavento (2014), é a materialidade que remete os atores
participantes, deixando o momento passado marcas objetivas no espaço e esses registros
materiais contribuem para o processo de pertencimento.
Ao salvaguardar a cidade do passado, importa, sobretudo, fixar imagens e
discursos que possam conferir uma certa identidade urbana, um conjunto de
sentidos e de formas de reconhecimento que a individualizem na história
(PESAVENTO, 2014, p. 1597).
A Ciudad del Leste que passou por várias transformações, inclusive onomástica, tem,
no Museu El Mensú, um espaço com fragmentos do seu passado, abrigando partes do tempo
ocorrido.
Um desses fragmentos é o registro do local escolhido para fundar a cidade, que segundo
Ynsfrán “por mera casualidad coincidía con el proyectado extremo de la ruta a orillas del
Paraná y que luego sirvió como fundación del Puente de la Amistad” (YNSFRÁN, 2012, p.
107). Longe de explicar, a partir da “casualidade”, estrategicamente, a cidade localiza-se no
101
extremo da Ruta Internacional, tornando-se posteriormente à sua fundação, um grande centro
de interesse comercial, unindo-se ao Brasil, através da ponte.
Imagem 32 – Início da construção do edifício de administração da Alfândega na cidade de Puerto
Presidente Stroessner, atual Ciudad del Este. Fonte: ÚLTIMA HORA. Disponível em: <www.ultimahora.com>. Acesso em: 04 jul. 2019.
Em 1957 o presidente Stroessner aprova uma série obras, a partir do Decreto Nº 28.282,
para garantir uma infraestrutura mínima na cidade, a exemplo, da aprovação para a construção
do aeroporto, hotel e lago artificial estimulando o estabelecimento de parques, residências e
lojas comerciais. Com isso, implementou-se uma série de projetos para criação do município
(BÁEZ, 2004, p. 96).
Com o início das obras, a cidade passou a obter um status importante, viabilizando,
juntamente com a Foz do Iguaçu, a infraestrutura para a construção projetada. Com o tempo, a
cidade foi surgindo, criando suporte, atraindo investidores, trabalhadores da construção civil,
moradores, imigrantes, comerciantes e posteriormente milhares de consumidores.
A política financeira adotada pelo Paraguai, em especial as políticas de importação,
segundo Rabossi, teria ocorrido “a partir do plano de estabilizacão acordado com o Fundo
Internacional em 1956, o governo paraguaio eliminou as tarifas externas de exportação,
diminuiu os impostos às importações” (RABOSSI, 2004, p. 17), somado a toda infraestrutura
que estava se organizando, a exemplo da construção de uma cidade na cabeceira da ponte,
“Puerto Presidente Stroessner logo se transformou no canal privilegiado de entrada das
mercadorias brasileiras e, mais tarde, da maior parte das importações que chegavam do
exterior” (RABOSSI, 2004, p. 17).
Então a Ciudad del Este se especializou no comércio triangular, ou na reexportação de
mercadorias fabricadas e/ou produzidas em outros países. Para o aprofundamento no estudo,
sugere-se a leitura da tese do Rabossi (2004), pois a pesquisa destrincha todo o movimento
102
comercial centrado na Ciudad del Este que fez com que se construísse uma série de
especificidades conectadas com a ponte.
Segundo o memorandum produzido pelo Governo paraguaio, durante a década de 1970,
o PIB real do Paraguai cresceu mais de 8% ao ano, excedendo 10% entre 1976 a 1981. As
causas estariam, segundo o relatório, associadas com a construção da estrada de Assunção a
Puerto Presidente Stroessner (atualmente conhecida como Ciudad del Este), a zona franca
estabelecida em Paranaguá, a assinatura do Tratado de Itaipú em 1973 e por último a
colonização de terras111.
Para se ter uma ideia do aumento populacional na Ciudad del Este, segue o quadro
abaixo com o crescimento demográfico:
Anos Habitantes
1957 0
1973 18.315
1981 98.300
1990 120.000
Tabela 2. Crescimento demográfico na Ciudad del leste.
Fonte: Ynsfrán, 2012, p. 165.
Sobre os dados demográficos de Ciudad del Este, Ynsfrán (2012, p. 165) escreve a
seguinte observacão: “1957, año de su fundación, Ciudad del Este no tenía habitantes, salvo
dos familias: un agricultor y un obrajero cuya casa estaba emplazada a orillas del Paraná,
cerca del sitio de la fundación” (YNSFRÁN, 2012, p. 165). Desta forma, pode-se inferir a
existência de outros moradores não catalogados pelo censo.
A partir dos dados acima, que a população foi atraída para o município nos seus
primeiros anos de fundação vislumbrando oportunidades de trabalho não só com a ponte, mas
com toda a infraestrutura que uma cidade exigiria para sua efetivação. Só para manter o
funcionamento e vigilância da ponte, equipe de controle alfandegário e policiais eram
essenciais. Além disso, necessitava-se de uma infraestrutura para garantir a permanência da
população local, logo, hospital, mercados, bancos, escolas foram construídos aumentando a
demanda pela mão de obra não só para a construção civil, mas também de especialistas para as
111 Ministerio de Hacienda. Disponível em:
<https://www.economia.gov.py/application/files/1515/4948/0082/Paraguay_Final_Offering_Memorandum_201
9.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2020.
103
áreas. A partir da década de 1970, já se pode inferir uma influência maior da Itaipu no aumento
populacional, pois o salto foi bastante expressivo, triplicando o crescimento demográfico.
O Paraguai divide-se politicamente em 17 departamentos, conforme o mapa abaixo. A
estimativa populacional ultrapassa em 6 milhões de pessoas (ano-base: 2012), aumentando um
pouco mais que o dobro a população de 1982.
Imagem 33 – Mapa do Paraguai, com os 17 departamentos. Fonte: DIRECCIÓN GENERAL DE ESTADÍSTICA, ENCUESTAS Y CENSOS. Atlas Demográfico
del Paraguay 2012 (2016, p. 15).
O Alto Paraná é o segundo maior departamento do Paraguai em termos de quantidade
de habitantes. No gráfico abaixo é possível perceber o crescimento populacional principalmente
entre 1982 e 1992, duplicando também a quantidade de distritos.
104
Gráfico 1 – Quantidade de distritos e crescimento populacional no Distrito do Alto Paraná. Fonte: Adaptado de DIRECCIÓN GENERAL DE ESTADÍSTICA, ENCUESTAS Y CENSOS. Atlas
Demográfico del Paraguay 2012 (2016, p. 81).
A Ciudad del Este foi considerada entre 1995 e 1996 a terceira maior zona franca do
mundo, ficando atrás de Miami e Hong Kong, movendo cifras equivalentes a três vezes o
Produto Interno Bruto do país112. Tornou-se a capital do departamento do Alto Paraná com
uma população de aproximadamente 281.422 mil pessoas113 (totalizando 21 distritos).
Atualmente, é o segundo maior centro urbano do Paraguai, depois de Assunção.
A consequência de maior impacto para o Paraguai, após a construção da ponte, foi o
aumento da imigração, em especial de brasileiros, deslocando-se ao país vizinho. Essa
imigração para o Paraguai se intensificou no Governo de Stroessner por, principalmente, dois
motivos: o primeiro diz respeito ao processo de mecanização da agricultura brasileira, por volta
de 1960, fazendo com que o agricultor olhasse para o país vizinho como uma oportunidade de
adquirir terras a um baixo custo além dos incentivos e créditos que o Paraguai proporcionava.
Conforme dados da Direção Geral de Migração (DGM)114, no âmbito do Ministério do
Interior do Paraguai, responsável por registrar e controlar o movimento migratório do país, de
112 FERREIRA, Wilson. 50 años de historia. Ultima Hora. 05 dez. 2007. Disponível em:
<https://www.ultimahora.com/50-anos-historia-n81785.html>. Acesso em: 20 abr. 2020. 113 DIRECCIÓN GENERAL DE ESTADÍSTICA, ENCUESTAS Y CENSOS. Atlas Demográfico del Paraguay
2012 (2016, p. 361). 114 Política Migratoria de la República del Paraguay. Disponível em: <http://www.migraciones.gov.py/>. Acesso
em: 01 mar. 2017.
105
fato a presença brasileira115 se intensificou e até ultrapassou a quantidade de argentinos,
migrando principalmente para áreas rurais, conforme o relatório abaixo:
A partir de 1960 un gran contingente de personas originarias del Brasil
ingresó al Paraguay, poblando especialmente el Este de la Región Oriental,
sumándose y superando ampliamente a la corriente siempre creciente de
argentinos [...]. En 1982 el total de extranjeros censados en el país ascendía
a 168.000 personas, para 1992 a 191.000 y en 2002 a 173.000, siendo los de
origen brasileño mayoría absoluta en los años ochenta y noventa (58% y 57%
respectivamente), seguidos por originarios de la Argentina que representaban
el 26% del total en ambos años. En 1992 brasileños y argentinos superaban el 80% del total de extranjeros
censados en el país y, según datos de la Encuesta Permanente de Hogares de
la DGEEC, en 2010 representaban ya el 90% de los cerca de 180.000
extranjeros encuestados ese año y que, en total, constituían aproximadamente
el 3% de la población nacional de ese momento. La inmigración brasileña ha
tenido un destino esencialmente rural mientras que la argentina, al igual que
los restantes flujos de inmigración de los últimos años, se ha instalado
fundamentalmente en área urbana (Direção Geral de Migração – DGM).
O segundo motivo, é a política externa adotada pelo Paraguai de se afastar da Argentina
ao se aproximar do Brasil com o acordo de construção da Ponte Internacional da Amizade
(1965), com o Tratado de Itaipu (1973) e o Tratado de cooperação (1975) fazendo com que
muitos brasileiros investissem capital através de aquisição de terras, abertura de bancos, casas
de câmbio e diversas outras empresas. Além disso, o Paraguai, em 1967, revogou a lei que
proibia compras de terras por estrangeiros na extensão de 150km de sua fronteira, o que fez
com que muitos brasileiros aproveitassem a oportunidade de adquirir terras.
De acordo com Pereira (2015), o Paraguai é um dos países da América Latina que possui
o maior contingente de terras em posse de estrangeiros, sobretudo brasileiros e argentinos,
configurando uma gravíssima situação de estrangeirização de terras, impactando a sociedade
paraguaia do ponto de vista social, econômico, ambiental e cultural. Alguns brasileiros
tornaram-se fazendeiros associados ao agronegócio e outros atuam como trabalhadores rurais,
muitos, inclusive são participantes dos movimentos camponeses de luta pela terra.
Conforme Andressa Szekut (2018, p. 75), a situação de migração se diferencia,
destacando-se nos relatos de migrantes que viviam com muita dificuldade no Brasil e viram no
Paraguai uma oportunidade de melhorar de vida, adquirindo uma terra; ou para trabalhar como
peões, ou arrendatários.
Tem também os brasileiros que mobilizaram o capital para o país vizinho, interessados
no desenvolvimento do agronegócio no Paraguai, em geral, têm forte poder econômico, político
115 O Paraguai é considerado o segundo país de maior fluxo migratório de brasileiros, segundo o Ministério de
Relações Exteriores são 349.842 (ano-base 2014).
106
e cultural, acirrando as disputas com os camponeses paraguaios. Acresce-se ao fato, a
necessidade dos grandes produtores de expandir territorialmente seus negócios para viabilizar
a monocultura, principalmente a soja, aumentando o enfrentamento com os movimentos
camponeses e indígenas. Esses últimos acabam tendo sua terra invadida pelos agricultores
paraguaios e brasileiros, agravando sua situação de sobrevivência.
O problema da terra no Paraguai se agravou na ditadura de Stroessner, aumentando a
concentração da propriedade e de aumento da pobreza rural. Segundo Albuquerque (2010), na
época de Stroessner, várias extensões de terra foram distribuídas pelo governo para militares e
para estrangeiros, principalmente imobiliárias brasileiras, e mais recentemente houve um
processo acelerado de venda de pequenos lotes dos camponeses para os grandes produtores
rurais agravando a concentração fundiária.
A construcão da Itaipu também provocou na década de 1970 esse “incentivo” de emigrar
para o Paraguai aumentando as disputas geopolíticas, problemas de titulação de terras e
conflitos com os trabalhadores rurais paraguaios. Esses imigrantes brasiguaios acabam
circulando nas fronteiras do Brasil (oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul) e Paraguai
(Canindeyú, Amambay e Concepción).
Além desses conhecidos deslocamentos territoriais, destaca-se a prática de muitos
brasileiros optarem por, ao invés de migrar para o Paraguai, transitam diariamente pela ponte.
Atravessam a fronteira com o objetivo de trabalhar, ganhar a subsistência e retornar ao país de
origem onde mantém a residência.
Mas não só brasileiros foram atraídos para o Paraguai, mas argentinos, alemães, árabes,
chineses, coreanos enfim, um mosaico, que o pesquisador Rabossi (2004) destaca nas
manifestações físicas em Ciudad del Este:
A presença muçulmana se manifesta no tecido urbano através da bela
mesquita Omar Ibn Al-Khatab em Foz do Iguaçu ou na mesquita do Profeta
Maomé em Ciudad del Este. A presença oriental, na estátua de Chiang Kai
Chek diante da prefeitura dessa cidade ou no templo budista de Foz do Iguaçu
com a sua estátua de sete metros de um Buda que olha, com certo tom irônico,
a Ciudad del Este. Essas são tão somente algumas das tantas manifestações
físicas (praças, restaurantes, comércios, produtos) e institucionais
(associações, centros culturais e câmaras de comércio) que mostram a
presença de libaneses, chineses e também de coreanos, sírios, palestinos e
hindus, entre outros (RABOSSI, 2004, p. 38).
E segundo RABOSSI (2004), após a inauguração da ponte, Ciudad del Este
transformou-se de uma maneira vertiginosa, em 2001, por exemplo, havia 1.750
estabelecimentos comerciais no centro da cidade.
107
Para muitas pessoas que chegam a Ciudad del Este, o espaço que se abre
depois de cruzar a ponte da Amizade apresenta-se como um caos intimidante:
postos e mais postos de venda na rua, negócios e galerias, construções
irregulares, pessoas... Muitas pessoas. Vendendo, comprando, fazendo
câmbio, carregando, cuidando (RABOSSI, 2004, p. 38).
Imagem 34 – Ponte da Amizade (1995). Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 05 out. e
23 out. 2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214803625189142&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 mar. 2020.
Foz do Iguaçu também se transformou, podendo ser mensurada pelo número de
habitantes. Na década de 1970, o município contava com pouco mais de 30.000 habitantes, já
nos anos 1990 já contava com aproximadamente 190.000 habitantes.
Dados do IBGE, conforme o demonstrativo da tabela abaixo, indicam grande
crescimento demográfico no município de Foz do Iguaçu, principalmente entre as décadas de
1970 e 1980, ficando mais evidente ao comparar com o crescimento populacional em Cascavel
e Curitiba.
Cidade/Ano 1960 1970 1980 1991 2000 2010
Foz do Iguaçu 28.709 33.966 136.532 190.123 258.543 256.081
Cascavel 39.513 89.921 163.470 192.990 245.369 286.172
Curitiba 515.141 821.233 1.024.980 1.315.035 1.587.315 1.746.896
Tabela 3. Gráfico comparativo com o crescimento populacional em Foz do Iguaçu, Cascavel e
Curitiba. Fonte: Adaptado a partir do Censo Demográfico IBGE.
Proporcionalmente, observa-se aumento da população de Foz do Iguaçu de 401% entre
as décadas de 70 e 80. Ao comparar com o crescimento populacional em Cascavel 182% e
Curitiba 125%, neste mesmo período, onde houve um aumento populacional, porém com
percentual muito abaixo do demonstrado em Foz do Iguaçu.
108
O aumento exacerbado da população em Foz do Iguaçu entre 1970 e 1980 pode ser
explicado pela confluência de fatores: a mecanização da agricultura ocasionando êxodo rural e
o aumento do número de pessoas nas áreas urbanas; as atrações turísticas de Foz do Iguaçu,
criando uma demanda de mão de obra para atender esse crescente negócio (estrutura hoteleira,
restaurantes, centrais de atendimento aos turistas, transporte etc.); a geografia possibilitando
grande movimentação de pessoas entre os três países, auxiliada pela construção das pontes
ligando Brasil-Paraguai e Brasil-Argentina; e, somando-se a esses fatores, a construção da
Usina Hidrelétrica de Itaipu, criando grandes expectativas de emprego para diversas regiões do
Brasil e dos países vizinhos (MASCARENHAS, 2011).
Além do desenvolvimento das cidades limítrofes, a ponte também impulsionou
investimentos na rodovia, asfaltando a BR-277 entre o Porto de Paranaguá até Foz do Iguaçu.
Internamente, no Paraguai, a infraestrutura nas rodovias estendeu-se de Ciudad del Este até
Assunção. As melhorias proporcionavam o abastecimento de materiais que viabilizassem o
investimento nas obras.
A melhoria da BR-277 era algo demandado pelos beneficiários e a ponte foi utilizada
para reforçar o argumento da sua relevância para o fluxo comercial, pressionando o executivo
a priorizá-la, conforme o discurso em 1964 do Deputado Federal por São Paulo, Sr. Cunha
Bueno (1918-1981):
Sr. Presidente, tenho defendido, nesta casa, a tese da necessidade inadiável de
o Brasil procurar acelerar a conclusão das rodovias que demandam os países
vizinhos. Entendo que somente poderemos realmente pôr em prática uma
política agressiva de exportação de produtos manufaturados a partir do
instante em que nos for possível levar até as nossas fronteiras e, portanto, aos
mercados consumidores, através do transporte rodoviário, as riquezas que
desejamos exportar. [...] ninguém desconhece que prosseguem morosamente
as providências do Governo Federal com respeito à construção da BR-35, que
será a estrada ideal a fim de que realmente possa o Paraguai ter uma saída
assegurada para o Oceano Atlântico. [...] considero essa rodovia da maior
importância para a economia nacional, não só pela circunstância de atravessar
um dos pedaços mais ricos do Brasil, mas também porque ela será o elo
permanente e o complemento indispensável para que a ponte internacional
Brasil-Paraguai possa cumprir seus destinos históricos116.
Nesta fala o deputado deixou explícito a crítica a morosidade com que o Governo
Federal estava construindo a BR-35, posteriormente denominada BR 277 e argumentou em
cima do significado econômico para o Brasil da estrada que atravessaria o Paraná em direção
ao Paraguai, pleiteando evidentemente a conclusão das obras, já que a ponte estava prestes a
116 Diário do Congresso Nacional. Junho de 1964. Disponível em:
<http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD25JUN1964.pdf#page=17>. Acesso em: 10 jul. 2019.
109
ser inaugurada. Como deputado federal por São Paulo, provavelmente advogava a favor dos
interesses econômicos do seu Estado, principal beneficiário no trânsito comercial.
A BR-277 ou Grande Estrada, só foi finalizada, ou seja, asfaltada, 4 anos após a
inauguração da ponte. A rodovia federal transversal brasileira foi oficialmente inaugurada em
março de 1969, e tem 732 km de extensão, no sentido leste-oeste, com início no Porto de
Paranaguá e término na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu. Seguindo no Paraguai na mesma
orientação, alcança-se Assunção chegando até Lima, no Peru. Por isso, a BR-277 é parte
integrante da Rodovia Panamericana que de Lima, atinge Paranaguá no Atlântico, após
atravessar a Bolívia e o Paraguai.
Imagem 35 – Presidente do Brasil Arthur da Costa e Silva e Presidente do Paraguai Alfredo Stroessner,
na inauguração da BR 277 em 27 de março de 1969. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 23 out.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215369959707151&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 mar. 2020.
Nos 17 anos de conclusão da Ponte da Amizade, ou seja, em 1982, o Jornal Nosso
Tempo de Foz do Iguaçu117, fez uma reportagem especial sobre a construção e o significado
para os que vivenciaram os impactos de sua conclusão.
ANTONIO BORDIN – “[...] foi o primeiro grande impulso que Foz do Iguaçu
recebeu. A partir da construção da Ponte da Amizade, o progresso de Foz não
parou mais, nem vai parar.” OZIRES SANTOS – “A Ponte da Amizade foi o primeiro marco do progresso
implantado em Foz do Iguaçu. Foi o primeiro grande fator que deu ao
empresario de visão o início do futuro grandioso que Foz do Iguacu tem [...]”. EVALDO SEELING (Advogado) – “A construcão da Ponte da Amizade foi
o primeiro grande passo para a emancipação comercial e industrial de Foz do
Iguacu [...].” OMAR TOSI (Comerciante) – “A Ponte da Amizade foi o primeiro grande
passo importante dado para o desenvolvimento de Foz do Iguaçu, que estava
estagnado. Em 20 anos praticamente nada de novo surgira em Foz antes da
117 Fonte: Nosso Tempo, Foz do Iguaçu. 29/03/1982 – Ano 2, nº 45. p. 7.
110
Ponte da Amizade [...]. Lembro que durante as obras da ponte a cidade,
especialmente o comércio, aguardava o dia do pagamento dos operários que
trabalhavam na obra para que houvesse dinheiro na praça. O comércio da
época aguardava pagamento dos operários da Ponte como hoje acontece com
a Itaipu [...]. Naquela época, para se ter uma ideia, não havia uma loja sequer
em Porto Stroessner. Mas logo que foi concluída a Ponte surgiram as casas
comerciais tanto no lado de cá como no lado de lá, e hoje todo esse
movimento, todo esse comércio fronteiriço é a alma de Foz do Iguaçu,
juntamente com o turismo. Sem a Ponte da Amizade, esse movimento seria
muitíssimo menor, sem dúvida. [...]”.
A partir das falas acima, percebe-se a importância da ponte, para “iniciar” um
dinamismo que não teria “parado” mais. Então a questão de ser o “primeiro grande impulso”,
“primeiro marco do progresso”, “início do futuro”, “primeiro grande passo”, apareceram nessas
falas dando um protagonismo para a ponte no impulso econômico que o município aportou.
Além de ter contribuído para o surgimento do comércio em ambos os lados facilitando o
intercâmbio binacional. As falas apontam os reiterados usos do termo “primeiro”, ora, se a
ponte é reconhecida como o primeiro marco, significa que tem um segundo. Em 1982, ano desta
matéria, a construção da Itaipu Binacional estava em curso, portanto provavelmente a
consideravam o segundo grande marco para o município.
Em Foz do Iguaçu, a transformação adjacente à ponte, também foi vertiginoso, com o
surgimento de dois bairros denominados de Vila Portes e Jardim Jupira (atualmente faz parte
da Vila A) ambos com grande concentração de casas comerciais voltadas para o público
frequentador da região binacional.
A transformação da paisagem no entorno da ponte, pode ser analisada através das duas
fotografias aéreas abaixo. A primeira sem datação precisa pode-se supor tratar de um período
próximo a 1965, acima da imagem é o Paraguai e abaixo o Brasil. Ao comparar com a fotografia
ao lado de 2009 é possível ter uma noção do crescimento urbano próximo as margens do rio
Paraná. Na primeira fotografia, é possível visualizar apenas uma edificação ao lado direito
próximo a ponte, tratando-se da Aduana Paraguaia. E no Brasil aparecem algumas estruturas
identificadas pelas coberturas.
111
Imagem 36 – A esquerda a ponte em 1965 e a direita a ponte em 2009.
Foto 1: DNIT. Foto 2: Alexandre Marchetti.
As transformações das cidades a partir da construção da ponte foram extraordinárias e
muitas pesquisas foram realizadas no sentido de compreendê-las. Destaca-se aqui, as ações
estabelecidas entre Brasil e Paraguai que reconfiguraram a dinâmica regional. Logo, a ponte
não é só uma ponte, é muito mais do que se pode supor, e essa conclusão surge na medida em
que as pesquisas vão trazendo a complexa rede estabelecida na região binacional.
112
CAPÍTULO III
A PONTE ENTRE A MEMÓRIA E A FOTOGRAFIA
Toda a imagem conta uma História.
(BURKE, 2004, p. 175)
O objetivo deste capítulo é trazer o histórico da construção da ponte a partir das imagens,
para isso, considerações teóricas e metodológicas foram retomadas para melhor compreender o
tratamento dado às fontes. As fotografias foram utilizadas, de maneira individual, publicadas
em periódicos, ou na forma de cartão-postal, cuja análise ocorrerá com contribuição de outras
fontes com o propósito de compreendê-las de maneira periscópica, olhando-as sob diferentes
aspectos.
3.1. HISTÓRIA VISUAL: CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
Neste tópico são abordados os aspectos teórico-metodológicos que dão suporte ao
estudo dos materiais delineados na pesquisa, ou seja, olhar para a Ponte da Amizade através
das fotografias produzidas durante a sua construção até a inauguração, e o seu uso inicial.
Busca-se, a partir desse exercício visual, interrogar, tal qual uma testemunha, procurando pistas,
vestígios e indícios que possam ampliar o conhecimento sobre o objeto de pesquisa ao longo
do tempo.
A ponte foi construída entre 1956 e 1965 sobre o rio Paraná, e este período, pode ser
estudado mediante os vestígios produzidos pelos homens, ou seja, através dos traços ou rastros
intencionalmente ou não, gerados pelos antepassados. O aporte teórico-metodológico que
orientou e forneceu as bases para o desenvolvimento dessa pesquisa foram os trabalhos de
Kossoy (2000), Mauad (1995; 2000), e também os historiadores Bloch (2001) e Le Goff (2003)
contribuindo para pensar e refletir sobre as fontes.
As fontes foram essenciais na investigação sobre a história da ponte, pode-se dizer
inclusive que é a matéria-prima para o seu desenvolvimento, em especial no campo
historiográfico, pois na impossibilidade de se constatar os fatos estudados, o pesquisador
recorre aos seus testemunhos, conforme constata Bloch:
[...] Em nossa inevitável subordinação em relação ao passado, ficamos
[portanto] pelo menos livres no sentido de que, condenados sempre a conhecê-
lo exclusivamente por meio de [seus] vestígios, conseguimos, todavia, saber
sobre ele muito mais do que ele julgara sensato nos dar a conhecer (BLOCH,
2001, p. 78)
113
Os testemunhos, para Marc Bloch, têm um sentido lato sensu, pois abrange todas as
fontes historiograficas, “a diversidade dos testemunhos historicos é quase infinita. Tudo que o
homem diz ou escreve. Tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele”
(BLOCH, 2001, p. 79).
O desafio está na capacidade de inquirir as testemunhas, ter competência de interrogar,
saber o que e como perguntar, elaborar os questionamentos para que os documentos respondam
as indagações da pesquisa, fazer falar. Evidentemente, que a construção de fontes é
imprescindível nas pesquisas, ou seja, a coleta de documentos necessários para compreender o
objeto de investigação, mas é preciso utilizá-la de maneira crítica, extraindo o máximo de
conhecimento que nela contém.
A fotografia revela traços e vestígios, tal qual uma testemunha, por isso utilizou-se nessa
pesquisa a imagem, como uma fonte documental ou objeto de apoio para discutir a construção
de uma história visual da ponte. Para isso, realizou-se uma análise iconográfica do documento,
decodificando as práticas sociais entorno do objeto de pesquisa.
A fotografia proporcionou um acesso direto a partir do sentido visual do processo de
construção da ponte, em suas diferentes etapas, informando sobre os aspectos construtivos
relacionados a infraestrutura. Desta forma, “a fotografia [...] revoluciona a memoria: multiplica-
a e democratiza-a, dá-lhe uma precisão e uma verdade visuais nunca antes atingidas, permitindo
assim guardar a memoria do tempo e da evolucão cronologica” (LE GOFF, 2003, p. 460).
O interesse em decifrar a transformação de um espaço fronteiriço com a construção de
uma ponte, obriga o pesquisador a exercitar diferentes olhares permitindo alcançar diversas
expressões do espaço-tempo. As fotografias “representam um meio de conhecimento da cena
passada e, portanto, uma possibilidade de resgate da memória visual do homem e do seu entorno
sociocultural” (KOSSOY, 2001, p. 55).
Para compor o estudo, a primeira etapa consistiu na localização das fotografias,
coletadas em diferentes locais, retratando a construção da Ponte da Amizade. Nesse processo
observou-se uma predominância em acervos virtuais e em sua maioria faltando dados sobre a
autoria, data, tecnologia empregada e formato da foto. Após a coleta, organizou-se as fotos da
ponte em ordem cronológica, construindo um acervo pessoal com todos os achados
relacionados ao objeto de pesquisa, permitindo observar as transformações ocorridas sobre o
rio Paraná, agrupando imagens do início da construção em 1956 até a sua inauguração em 1965
e seu uso logo após a finalização. A partir dessa coleta e organização selecionou-se as
fotografias que mais expressassem cada etapa da obra, partindo posteriormente para análise e
interpretação das fontes.
114
Após sucessivas buscas, não se encontrou o(s) autor(es) das fotografias, e nem o estúdio
ou agência responsável pelos registros. Também não foi possível localizar o acesso físico de
tais fotografias, que atualmente, encontram-se em diferentes websites e páginas sociais, com
amplo acesso aos interessados.
É importante frisar que estas fotografias não foram produzidas com a intenção de se
transformar em uma fonte historiográfica, mas que, ao ser selecionada pelo pesquisador, passa
por um conjunto de processos que possibilitam um conhecimento entorno do objeto estudado.
Conforme Pesavento (2008) “a imagem é uma narrativa que conta e explica algo”
(PESAVENTO, 2008, p. 108), para isso, precisa ser interrogada.
Parte-se da perspectiva que, esses registros fotográficos sobre a ponte, tinham um
caráter documental, ou seja, significam o registro sistemático cuja intenção, por inferência, é
gravar as diferentes etapas da obra, haja vista a ênfase dada à ponte, evidenciando as fases da
sua construção. Desta forma, pode-se questionar se as fotos, não foram produzidas por
fotógrafos do governo ou das empresas responsáveis pela execução da obra.
O registro era importante para uso dos governos reforçando imagens positivas
associadas à modernização, desenvolvimento e, para as empresas, evidentemente o registro
enriquecia o portfólio. Conforme alerta Kossoy, “desde cedo os governos, assim como as
grandes empresas comerciais, requereram a presença do fotógrafo para que documentassem
seus feitos, suas realizacões” (KOSSOY, 2001, p. 112), ou seja, existe uma aproximacão entre
a documentação e a propaganda.
O acervo também contribuiu na reflexão sobre a produção fotográfica na cidade de Foz
do Iguaçu, nesse caso, o conteúdo temático elencado é a construção de uma ponte na região
fronteiriça Brasil-Paraguai, delineando uma nova paisagem local. A engenharia nesse contexto
tem um papel de destaque como resultado da “modernização” e aumento das dinâmicas
econômico-sociais entre os dois países.
O desconhecimento autoral das fotografias não inviabilizou o levantamento de hipóteses
sobre as suas intenções, criações e razões no registro, pois há uma priorização ou seleção de
uma imagem a ser destacada, neste caso, a ponte, com muitas possibilidades de ver, optar e
fixar um determinado aspecto da realidade, conforme reflexões de Kossoy:
O assunto, tal como se acha representado na imagem fotográfica, resulta de
uma sucessão de escolhas; é fruto de um somatório de seleções de diferentes
naturezas – idealizadas e conduzidas pelo fotógrafo – seleções essas que
ocorrem mais ou menos concomitantemente e que interagem entre si,
determinando o caráter da representação (KOSSOY, 2000, p. 27).
115
Observa-se, por exemplo, a não priorização no registro dos trabalhadores na obra. Algo
que só se percebe quando se analisa o acervo na sua totalidade, examinando o que tem em
comum entre elas. A seleção e descarte de elementos pode significar valores subjacentes que,
compondo com outras fontes, é possível extrair um significado.
Além das fotografias da construção e inauguração também se utilizou imagens
compartilhadas nas mídias sociais de “turistas” que posaram na ponte e com a ponte, o que
demonstra certo valor atribuído que justificaria um registro, materializando a experiência.
Utilizou-se na pesquisa as fotografias publicadas nas Revistas Manchete e Estrellas, neste caso,
caracterizam-se pelo foto-jornalismo cuja análise ocorre da imagem e do texto associado à
imagem, e por último apresenta-se a imagem expressa no cartão-postal, objeto de grande
divulgação e promoção visual.
3.2. A PONTE FOTOGRAFADA: FRAGMENTOS DO REAL
Neste tópico serão analisadas as fotografias, os discursos de Juscelino Kubitschek, do
presidente Stroessner, do Museu el Mensú e do filme produzido pela Agência Nacional, além
das representações expressas em alguns periódicos, a exemplo da Revista Estrellas editada no
Paraguai e as edições da inauguração da ponte pelo Juscelino em 1961 e pelo Castelo Branco
em 1965 na Revista Manchete. O objetivo é analisar e compreender a Ponte da Amizade a partir
dos vestígios visuais.
3.2.1 ANÁLISE FOTOGRÁFICA
Nesse subtópico serão analisadas as fotografias das etapas construtivas da ponte. Para
compreender a evolução da construção utilizou-se entrevistas com ex-funcionários, matérias de
revistas, jornais e propaganda da época.
De acordo com o acervo pesquisado das fotos da ponte, a Imagem 37 registra a fase
inicial de construção. O fotógrafo posiciona-se na frente da margem oposta do rio Paraná no
Paraguai, para o observador é possível acompanhar com os olhos onde a ponte faria a ligação
em linha contígua. Também é possível observar uma paisagem com o predomínio de vegetação
e com poucas construções, o desmatamento no entorno onde ocorrerá a obra também é
observado. Nota-se a existência de uma espécie de sistema de teleférico, do outro lado da
margem, no qual será explorado mais para frente da pesquisa.
116
Imagem 37 – Início da construção da superestrutura, que dará o acesso de um lado ao outro da ponte.
s/a.
Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR. Acervo
digital.
Também chama a atenção a ausência de trabalhadores na obra, constatando uma
intencionalidade de retratar especificamente a construção ainda incipiente. Ortiz (1998),
inclusive, chama a atenção na sua pesquisa, ao debruçar-se sobre a França do século XIX,
evidenciando a preferência dos fotógrafos em retratar aquilo que, monetariamente, daria mais
retorno, desta forma, “a fotografia pouco se interessou pelo mundo do trabalho [...]” (ORTIZ,
1998, p. 105), e quando os registra, retrata-os muito menores em relação à monumentalidade
da obra.
Segundo dados do DNIT havia cerca de 250 trabalhadores alocados para a construção
da ponte, criando inclusive uma estrutura de moradia próximo à margem para abrigá-los, mas
conforme a análise das fotografias encontradas, poucas registram a ação e o protagonismo
destes trabalhadores. As poucas fotos encontradas dos trabalhadores foram compartilhadas por
eles próprios, com orgulho de contribuírem na materialização de tal projeto. As imagens de
“especialistas”, ou pessoas com “autoridade”, essas sim, eram “merecedoras” do registro,
conforme a Imagem 38.
Na Imagem 38, nota-se uns 11 homens próximos a obra, com calças e sapatos social,
um inclusive com uma calça clara, vestidos com casacos e alguns com chapéus, o que se pode
inferir tratar-se de pessoas que estavam observando as obras, seja fiscalizando, avaliando,
verificando encaminhamento da construção, pois estão perto de uma estrutura que parece um
117
canteiro de obras a esquerda, com madeiramento aparente. Também há dois carros próximos,
ou seja, provavelmente não chegaram até ali a pé e sim, com um veículo típico off road haja
vista a pista claramente lameada. Na margem do lado oposto do rio Paraná, o pilone sendo
edificado.
Imagem 38 – Observando as obras. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 out.
2019. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215215934016605&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 mar. 2020.
O acesso ao cronograma da construção foi possível através da Revista Memórias de Foz
do Iguaçu. Segundo a fonte, a obra teria efetivamente sido iniciada em setembro de 1957, após
a fase preparatória entre 56 e 57. Segue abaixo o detalhamento do cronograma sistematizado
pela revista:
[...] Em janeiro de 58 foram parcialmente montadas as ensecadeiras para a
construção dos blocos de apoio do arco e pilone, visto que, em meio a
concretagem da ensecadeira do lado paraguaio, o rio subiu interrompendo os
serviços, que só puderam ser retomados em princípios de maio. Daí até fins
de agosto, devido à altura das águas, não foi possível sequer iniciar a
construção dos blocos para o cimbramento – estrutura de suporte do arco –,
limitando-se o serviço a obras nas barrancas e na escavação e concretagem
nos blocos de apoio do arco e pilone, serviço realizado sob a proteção das
ensecadeiras. No dia 1º de agosto, baixando o rio, atacou-se simultaneamente nos dois lados,
a construção dos blocos. No dia seis de setembro, porém, o rio voltou a subir,
obrigando a interrupção desse serviço, que somente pôde ser retomado em 7
de julho de 1959, e os blocos foram concluídos em 25 de julho naquele ano. Em fevereiro de sessenta, achavam-se prontos os pilones, os viadutos de
acesso e todo o escoramento de concreto. Em seis de abril de sessenta iniciou-se a concretagem da parte do arco
definitivo, que dispunha de cimbre de concreto já pronto. Em 20 de julho de sessenta, já se achavam na obra toneladas de material
metálico para o início de montagem da parte metálico do cimbre, tarefa
concluída em 1º de dezembro do mesmo ano.
118
A partir da instalação da estrutura metálica, as obras passaram a se resumir à
concretagem [...]118.
Nota-se no histórico acima, o quanto o rio Paraná era um importante elemento na
execução da obra, podendo atrasar o ritmo de trabalho, a depender do nível das águas,
concentrando o labor nos períodos de baixa do rio.
O rio Paraná, fronteira natural entre Brasil e Paraguai, é visto na imagem abaixo livre
de um vão, prestes a mudar a sua paisagem. O percurso fluido, o móvel líquido, o ir e vir
cortando a corrente d’agua estava se preparando em ambas as margens para receber sobre ele
um arco. Na Imagem 39, é possível visualizar os dois assentamentos as margens, já concluídos,
cada um equivalem em altura a dois edifícios de 26 andares119
Imagem 39 – Vista do rio Paraná de onde a Ponte seria construída. s/a. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 out.
2019. Facebook. Disponível em: < https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215215936016655&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 de mar. 2020.
Antes da construção da ponte, a cidade limítrofe a Foz do Iguaçu, hoje denominada
Ciudad del Este, no Paraguai, inexistia enquanto tal. Era um local predominantemente rural.
118 Revista Memória Foz do Iguaçu, junho de 1982. Acervo da Biblioteca Municipal de Foz do Iguaçu. 119 Arquivo Nacional. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gNcBusxARWc&t=10s>. Acesso em:
07 jul. 2017.
119
Esse cenário é descrito, em uma entrevista concedida ao Clickfoz do Iguaçu120, pelo Sr. Ari
Ojeda, topógrafo do DNER, responsável pelo nivelamento e contranivelamento da ponte e
lembra como era a atual Ciudad del Este: “do outro lado na margem paraguaia só tinha um
abacaxizal lá, só sertão né, sertão... e quando vinha aí para trabalhar só tinha uma picada lá
na beira do rio Paraná, tinha uns trator lá em baixo fazendo a limpeza para começar a obra
né [...]”. E sobre a percepcão da necessidade da construção de uma ponte, o Sr. Clementino
Acevedo, motorista responsável pelo transporte dos funcionários, comenta: “Eu vou falar a
verdade, quando falaram em construir aquela ponte eu falava para que construir aquela ponte
no meio do matão, isso aqui para que? [...]”. São as percepções subjetivas, individuais e
singulares de ver e interpretar determinada realidade.
Nessa mesma entrevista o Sr. Ari Ojeda, mostrando a foto da inauguração da ponte com
os presidentes Juscelino e Stroessner, ri e comenta “essa ponte teve umas duas ou três
inauguracões”, informacão que esta no palimpsesto de histórias institucionais. Pois
oficialmente a data de inauguração da ponte está registrada no dia 27 de março de 1965,
portanto, os registros de inauguração pelo JK no Brasil, estão nas memórias pessoais e nos
registros fotográficos, que ajudam a emergir histórias além dos oficiais.
A perspectiva teórica da História Cultural traz a possibilidade de desenvolver a pesquisa
no âmbito da história da memória, retratando-a como algo vivo, presente e vivenciada pelos
moradores, porém corre o risco de se perder ao serem enquadrados e reproduzidos, conforme
alerta Burke (2005, p. 88):
[...] À medida que os acontecimentos retrocedem no tempo, perdem algo de
sua especificidade. Eles são elaborados, normalmente de forma inconsciente,
e assim passam a se enquadrar nos esquemas gerais correntes na cultura. Esses
esquemas ajudam a perpetuar as memórias, sob o custo, porém de sua
distorção.
E foram os trabalhadores da obra que acabaram compartilhando mais como
testemunhos, as suas experiências de participarem da efetivação da Ponte da Amizade,
conforme a Imagem 41, em que o Sr. Ari Ojeda mostrou a foto com o registro da equipe de
topógrafos que trabalharam na Ponte da Amizade, indicando que apenas três estavam vivos
(ano-base 2017).
120 Clickfoz do Iguaçu. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>. Acesso em: 07 jul.
2017.
120
Imagem 40 – O Sr. Ari Ojeda mostrando a foto da equipe de topógrafos que trabalharam na Ponte da
Amizade. s/a.
Fonte: CLICKFOZ. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>. Acesso
em: 30 abr. 2020.
Outra foto que aparece na entrevista com o Sr. Ari, é do setor administrativo organizado
pelo DNER em Foz do Iguaçu, na Imagem 41, lê-se na placa “M.V.O.P.121 DNER Comissão
Especial de Construção da Ponte Internacional Brasil-Paraguai”. Abaixo 12 homens, todos de
camisa e calça social, dois deles, estão agachados, sendo um deles, da ponta a direita está com
uma criança, o que se pode inferir não se tratar de um dia normal de trabalho, talvez tenham se
reunido com a intenção de registrar tal evento.
Imagem 41 – Foto da equipe de topógrafos em frente ao DNER. s/a.
Fonte: CLICKFOZ. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>. Acesso
em: 30 abr. 2020.
Para a construção da ponte, uma grande logística teve que ser organizada para abastecer
com as matérias primas e equipamentos necessários que viabilizassem a obra. Na propaganda
abaixo (ver imagem 42) da Fábrica Nacional de Motores – FNM122 descreve a “operacão
121 M.V.O.P. é Ministério de Viação e Obras Públicas. 122 A Fábrica Nacional de Motores – FNM, foi criada em 1942 sob a presidência de Getúlio Vargas e encerrada
em 1985.
121
ponte”, nesse caso, o transporte de enormes estruturas de aco responsaveis pela sustentacão do
arco de concreto. Produzidos pela Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, no Rio
de Janeiro, foram transportadas cerca de 1.275 toneladas de aço, por vários caminhões até Foz
do Iguaçu.
Imagem 42 – Propaganda da Fábrica Nacional de Motores – FNM. Ano 1960 / Edição 0051. Fonte: REVISTA O CRUZEIRO. Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/003581/132441>.
Acesso em: 20 out. 2019.
A Imagem 43 registra os caminhões passando pela cidade de São Miguel, na rodovia,
ainda sem asfalto. Pode-se imaginar o impacto das pessoas testemunhando esse evento singular
para a pacata região do oeste paranaense. Na imagem, à esquerda, tem um carro parado com as
pessoas ao lado de fora, provavelmente contemplando ou surpresos com tal singularidade.
Imagem 43 – Transporte das peças para a construção da Ponte da Amizade, passando por São Miguel
do Iguaçu. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 03 out.
2019. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2479352498946825&set=g.300913676689041&type=1&t
heater&ifg=1. Acervo de Jorge Luiz Pizzolo. Acesso em: 21 nov. 2019.
122
A construção da ponte mobilizou um contingente de 100 trabalhadores paraguaios e 150
trabalhadores brasileiros, segundo o DNIT. Uma vila foi instalada em Foz do Iguaçu para
comportá-los contendo casas, depósitos para armazenar os equipamentos e materiais, refeitório,
estradas de acesso, além do fornecimento e distribuição de energia elétrica e água. Também
colocaram à disposição dos funcionários, ônibus para transportarem seus filhos às escolas nas
áreas centrais da cidade.
Na margem paraguaia também foi criado um bairro, denominado de Barrio Obrero,
alterado posteriormente para Bernardino Caballero123, para receber os trabalhadores da ponte,
foi o primeiro núcleo habitacional da cidade. Segundo o ABC Color, os trabalhadores vieram
de diferentes lugares do Paraguai e foram contratados pela empresa brasileira SOTEGE.
Uma matéria da Ultima Hora traz o depoimento de quem trabalhou na ponte ao lado
paraguaio:
Juan Lidio Ávalos Villalba (85) vino de Villarrica, tras escuchar por radio que
se necesita de obrajeros para construir el puente sobre el Paraná para unir a
Paraguay y Brasil; el mismo dijo que llegó el 3 de mayo de 1.957, luego de 6
días de viaje; caminando en las picadas y valiéndose de aventones.
"Fueron 10 años de trabajo sacrificado cerca del rio, trabajábamos 10 horas
seguidas, con suerte comíamos 3 veces al día o si no nos alimentábamos con
arroz, feijao (poroto), locro o reviro” [...].
El reconocido obrero fue capataz del grupo de carpinteros en la zona del
Puente de la Amistad [...].
Ávalos, al igual que otros constructores del Puente de la Amistad siguen
residiendo en el barrio Obrero, llamado así en homenaje a ellos, quienes en
los comienzos abrieron dos cuadras de calle que desde el 2010 se llama, por
ordenanza municipal "Obreros del Puente de la Amistad".
[...]124.
A construção da ponte atraiu os interessados para trabalhar, no caso do Sr. Juan,
conforme o seu relato, o sacrifício não foi só chegar ao local da contratação, mas também a alta
carga horária de trabalho despendido para dar cabo do projeto. E ele, assim como outros
estabeleceram a residência no município, atualmente denominado Ciudad del Este no bairro
Obrero, que em 2010 passou a ser chamado Obreros del Puente de la Amistad, antes do atual
nome. O reconhecimento, deste caso, não está somente no operário, mas sobretudo na ponte,
123 ABC Color. Homenaje a constructores del puente. Disponível em:
<https://www.abc.com.py/especiales/homenaje-a-constructores-del-puente-810839.html>. Acesso em: 05 abr.
2020. 124 UltimaHora. Solo nos recuerdan cada 3 de febrero y no recibimos ningún tipo de asistencia. Disponível em:
<https://www.ultimahora.com/solo-nos-recuerdan-cada-3-febrero-y-no-recibimos-ningun-tipo-asistencia-
n500776.html>. Acesso em: 05 abr. 2020.
123
ela é que está protagonizada na denominação do bairro, portanto, o vínculo mnemônico, neste
caso está na toponímia, ligando a história do município com a obra.
A fotografia, também é um recurso de memória ou suporte mnemônico que auxilia no
exercício mental de reconstituição de um determinado evento pretérito. Pois, na impossibilidade
de retornar no tempo, a foto cristaliza, mesmo que minimamente esse instante de tempo,
auxiliando a acessar aquilo que já desapareceu, e documenta, no caso da construção da ponte,
uma nova fisionomia na fronteira Brasil-Paraguai.
No registro abaixo, é possível visualizar a fundação dos pilares centrais que,
posteriormente, sustentaram o arco de concreto. Segundo o DNIT, se deu de maneira direta,
formada por blocos de concreto armado ancorados em rocha (basalto), assim como os pilares
que sustentam a estrutura dos dois viadutos (lado brasileiro e lado paraguaio)125.
Imagem 44 – Pilar central. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 out.
2019. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215215936616670&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 6 mar. 2020.
A fotografia, enquanto um registro de um cenário, sinaliza a opção técnica do fotógrafo
ao optar por um enquadramento predominantemente horizontal, centralizando o objeto a ser
destacado, conforme a imagem abaixo. Ao modo de uma testemunha ocular, é possível
visualizar o pilar de concreto já construído (a esquerda) que dará sustentação às aduelas
125 DNIT. Disponível em:
<http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/Pedido/Item/displayifs.aspx?List=0c839f31%2D47d7%2
D4485%2Dab65%2Dab0cee9cf8fe&ID=1333313&Source=http%3A%2F%2Fwww%2Econsultaesic%2Ecgu%2
Egov%2Ebr%2Fbusca%2FSitePages%2Fresultadopesquisa%2Easpx%3Fk%3Dponte%2520da%2520amizade&
Web=88cc5f44%2D8cfe%2D4964%2D8ff4%2D376b5ebb3bef>. Acesso em: 10 jun. 2019.
124
(estruturas de concreto armado). Na construção do arco, vê-se, através da Imagem 45, as escoras
(madeira aparente) sendo fixadas.
Imagem 45 – O pilar, no qual a base encontra-se a fundação da estrutura, já concretado e a fase de
construção do arco. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Para compor os registros fotográficos, outras fontes foram pesquisadas no sentido, tanto
de enriquecer as indagações em relação às imagens, quanto para compreendê-las em um
contexto maior.
Neste sentido, utilizou-se a descrição da obra realizada pela Agência Nacional em 1959,
no qual acompanhou o andamento da construção juntamente com o representante do presidente
da república, o Coronel Lino Romualdo Teixeira, que na época exercia o cargo de subchefe do
Gabinete Militar.
Uma obra de engenharia monumental será a ponte Brasil-Paraguai que está
sendo construída em tempo recorde sobre o caudaloso rio Paraná, linha
divisória entre as duas repúblicas do continente. Os dois assentamentos da
ponte já concluídos as margens do rio, equivalem em altura a dois edifícios de
26 andares. O arco de cimento armado sustentado pelos dois pilones terá a
extensão de 303 metros e ficará a 78 metros de altura acima do nível do rio,
as variações do nível do Paraná constituíam grandes obstáculos já vencidos
pela técnica e o arrojo da engenharia brasileira[...]126.
As expressões “engenharia monumental” e “arrojo da engenharia brasileira” trazem um
tom ufanista, auto enaltecedor dos feitos brasileiros, prevendo uma construcão em “tempo
126 Arquivo Nacional. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gNcBusxARWc>. Acesso em: 05 jun.
2019.
125
recorde” o que de fato não ocorreu, pois, a obra foi finalizada 5 anos depois da previsão da
agência.
Em outro trecho do mesmo vídeo, descrevem como a obra foi acelerada para cumprir o
prazo, conforme a transcrição abaixo:
Para assegurar maior rendimento nos trabalhos e acelerar a construção da
ponte que estará construída em fins de 1960, instalou-se ali um sistema
teleférico para o transporte de concreto e outros materiais por cima do rio. As
caçambas correm a uma altura de 80 metros até o ponto desejado e onde
descem verticalmente para deixar o concreto nos caixões das armações
metálicas, desta forma será edificado todo o majestoso arco e as pilastras que
o vão sustentar [...]127.
O sistema teleférico foi uma solução para que o transporte de materiais acima do rio
fosse possível. Abaixo na Imagem 46, encontra-se o registro do teleférico, ou seja, era um
transporte aéreo temporário que utilizava cabos para sustentar a caçamba com os materiais no
deslocamento dos mesmos. Pela descrição acima, os segmentos foram concretados no local, por
meio de fôrmas que se deslocavam em balanço, sendo suportados por trechos já concluídos.
Imagem 46 – Sistema de teleférico para transportar materiais para o outro lado do rio. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 out.
2019. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215215935776649&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 06 mar 2020.
Na Imagem 47, observa-se mais de perto o cibramento, que são estruturas de madeira
que faz o trabalho do escoramento da laje até que o concreto armado esteja pronto. No rio,
avistam-se embarcações de madeira responsáveis pela mobilização dos trabalhadores e de
materiais e acima à direita (no destaque) o sistema de teleférico que sustentava as caçambas no
127 Arquivo Nacional. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gNcBusxARWc>. Acesso em: 05 jun.
2019.
126
transporte do concreto por cabos aéreos. O enquadramento, assim como, a perícia do fotógrafo,
permite observar com nitidez os detalhes da obra e o seu movimento na construção ao mostrar
as embarcações e os trabalhadores na lida. Nota-se que quando trabalhadores aparecem, são
focados em plano secundário, diferente de quando se tratam de autoridades, técnicos mais
graduados.
Imagem 47 – A vista do cibramento e os trabalhadores em ação. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Os escoramentos, formando um arrimo para a colocação do concreto, foram possíveis
em função do desenvolvimento tecnológico de aperfeiçoamento do concreto ocorrido no século
XX, dominando as grandes construções de arranha-céus, barragens, torres, plataformas entre
outras. O concreto é um “material plastico, que é moldado de maneira a adquirir a forma
desejada antes que desenvolva um processo de endurecimento, adquirindo resistência suficiente
para resistir sozinho aos esforços que o solicitam” (KAEFER, 1998, p. 3). E, os estudos indicam
o seu uso desde meados do século XVIII, mas na contemporaneidade, a evolução tecnológica
permitiu extrapolar sua aplicação para grandes construções.
Em relação à estrutura, Prentzas (2009), descreve os elementos essenciais, certificados
pelos projetistas para avaliar a segurança de uma ponte.
[…] Para funcionar sem desabar, uma ponte precisa suportar uma combinação
de três coisas: sua carga morta, sua carga viva e sua carga ambiental. O próprio
peso de uma ponte compõe sua carga morta. Pessoas, carros, caminhões e
outros tipos de tráfego que passam pela ponte são sua carga viva. Água, vento
ou terremotos constituem a carga ambiental de uma ponte. Os projetistas de
Nota-se
nessa foto o
sistema de
teleférico
descrito
acima pela
Agência
Nacional.
127
pontes certificam-se de que suas pontes possam suportar esses três tipos de
cargas (HAW, 2005, n.p., tradução livre)128.
No caso nas pontes modernas, os próprios materiais de construção são usados para
superar as forças físicas que os afetam, portanto o concreto armado tornou-se o mais apropriado,
resistindo a compressão e tração.
Na Imagem 48 fica visível o avanço simultâneo entre os vãos, técnica imprescindível
para o contrabalanceamento da estrutura. Conforme mencionado no segundo capítulo, a técnica
de balaços sucessivos é executada alternadamente para cada lado até a totalidade da execução
do vão, com as inserções de treliças metálicas. O objetivo é chegar ao ponto de encontro dos
dois conjuntos fechando o arco com a máxima precisão.
Imagem 48 – Avanço simultâneo entre os vãos na construção da Ponte da Amizade. Fonte: REVISTA MEMÓRIA (1982).
Com o método por balanços sucessivos foi possível construir a ponte sem escoramento
direto, em seções progressivas a partir dos pilares já estabelecidos apoiando-se no balanço da
etapa anterior realizada. Nota-se tanto na Imagem 48 quanto na Imagem 49 o arco sendo
construído com 32 metros de altura a partir do nível normal do rio e sem escora sob o rio.
128 Texto original: […] To work without collapsing, a bridge has to hold up to a combination of three things: its
dead load, its live load, and its environmental load. A bridge's own weight makes up its dead load. People, cars,
trucks, and other types of traffic passing over the bridge are its live load. External se water, wind, or earthquakes-
constitute a bridge's environmental load. Bridge designers make sure that their bridges can hold up to these three
types of loads (HAW, 2005, n.p.).
128
Imagem 49 – Arco sendo construído da Ponte da Amizade. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
A Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda foi a responsável pela edificação
do arco de sustentação da ponte, montando um cimbre metálico de 157,3 metros de
comprimento contendo 1.200 toneladas de aço, o seu transporte foi realizado por dez carretas
do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER (Foz do Iguaçu: Retratos, 1997,
p. 17).
O arco da ponte é o elemento arquitetônico e estrutural curvo que transmite o seu peso
próprio e as sobrecargas a dois apoios (NUNES, 2009, p. 9), conforme uma citação de Leonardo
da Vinci (1452-1519) “o arco não é outra coisa senão uma fortaleza de duas fraquezas”, ou seja,
sua atribuição é conter e distribuir os esforços gerados por elas. O arqueamento tem função
dupla, primeiro permite o tráfego, ou seja, circulação de pessoas e veículos e segundo tem a
função de garantir a navegabilidade do rio Paraná.
Na Imagem 50, a composição, também encontrada em outras fotografias, compondo o
pano de fundo com o céu, a vegetação e a água, mas a maior proporção está no monumento.
Observa-se uma pequena embarcação com duas pessoas minúsculas ao comparar com a
magnitude retratada. As características da simetria, harmonia, proporção, centralização e
organização destacam-se, refletindo nessas imagens a interferência da ação humana, o domínio
da técnica expressa na estrutura em arco.
Arco
definitivo de
concreto
armado
Vão = 303m
Treliça de
escoramento
em concreto
armado.
129
Imagem 50 – O arco com a treliça de aço para o escoramento da parte central do concreto. A armação
abaixo é o reticulado em concreto armado. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Ao comparar a Imagem 50 acima, com a Imagem 51 abaixo, observa-se etapas distintas
da construção, pois em cima é possível visualizar as treliças de aço utilizadas para escorar a
parte central do arco e na imagem abaixo aparece apenas resíduos dos ferros, não mais as
treliças. Também é possível visualizar o nível do rio Paraná bem abaixo do normal na Imagem
51 sendo possível observar a base da fundação da ponte à direita.
Imagem 51– Retirada das treliças. Ponte Internacional da Amizade. s/a, s/d. Fonte: IBGE. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-
%20RJ/pr45494.jpg>. Acesso em: 20 out. 2019.
Na Imagem 52, a ponte é protagonizada a partir da centralização que o fotógrafo a
representa. No canto direito um homem está sentado aparentemente visualizando a paisagem a
Treliça de aço
para escora-
mento da parte
central do arco
em concreto.
Reticulado em
concreto armado.
130
sua frente. Proporcionalmente, representa uma pequena fração desse enquadramento mostrando
a magnitude da obra, duplicada no reflexo com o rio Paraná.
Em uma entrevista concedida em 2010 para o Clickfoz do Iguaçu, o Sr. Ari Ojeda,
topógrafo do DNER, relata tratar-se dele “essa fotografia da ponte ainda com a armacão nela,
eu estou sentado aqui [indica na fotografia onde ele estava] de costas e o fotógrafo falou para
mim – senta olhando para a ponte para dar vida”129.
Imagem 52 – A Ponte Internacional da Amizade com a armação sustentando o arco. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Abaixo, na Imagem 53, o fotógrafo retratou o arco mais de perto, e com isso, pode-se
ver a inexistência das treliças de aço e uma parte do escoramento em concreto armado. O
fotógrafo está posicionado aparentemente na margem do rio Paraná podendo fotografar a ponte
a partir da sua altura, por isso o ângulo registrou apenas parte da estrutura em função da altura
e distância de quem a registrou. O destaque desta foto está nos menores elementos, ou seja, três
indivíduos em cima do arco, criando na imagem, certa referência em relação a dimensão da
obra, transformando o homem em minúsculas criaturas diante da obra colossal.
129 Entrevista concedida para o ClickFoz. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1mZ_H5RiqfU>.
Acesso em: 05 abr. 2020.
131
Imagem 53 – Tirando as esquadras. s/a, s/d. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 23 out.
2019. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215370094110511&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 6 mar. 2020.
As seis últimas fotos acima, o arco está se definido na paisagem, o que vai caracterizar
a arquitetura da ponte. A estrutura semicircular, com um amplo vão livre, capaz de suportar
grandes volumes, causa um impacto visual, segundo Tuan (1980, p. 231),
o significado do arco provém de uma antiga tradição: como o domo, simboliza
o céu, os lados conduzem o olho para cima, para a curva no ápice; e por
analogia, o portal monumental que se abre para a cidade ou palácio,
suntuosamente convida o viajante a entrar na terra prometida.
No caso da Ponte da Amizade, a “terra prometida” pode ter varios significados variando
de quem atravessa, para onde está atravessando e quando atravessou ou atravessará, mas pode-
se generalizar que todos esperam algo do outro lado.
Neste tópico, procurou-se, a partir das fotografias, estabelecer de maneira cronológica
a análise da construção da ponte, para isso, estabelecemos os seguintes passos, descrição das
imagens e a busca pela significação das mesmas.
3.2.2 DIFERENTES REPRESENTAÇÕES SOBRE A PONTE
Neste subtópico serão analisados os discursos de Juscelino Kubitschek, do presidente
Stroessner, do Museu el Mensú e do filme produzido pela Agência Nacional, além das
representações expressas em alguns periódicos, a exemplo da Revista Estrellas editada no
Paraguai e as edições da inauguração da ponte pelo Juscelino em 1961 e pelo Castelo Branco
em 1965 na Revista Manchete. Além disso, novas fotografias serão analisadas com o intuito de
perceber a finalização da obra e o seu posterior uso.
132
Conforme descrição no Capítulo II, no dia 04 de outubro de 1958, os presidentes JK e
Stroessner se encontraram em Foz do Iguaçu para inspecionar as obras da ponte. O registro de
tal solenidade foi realizado com a presença de autoridades, engenheiros, jornalistas e militares
cujo interesse era evidentemente vincar acordos binacionais e também propagandear suas
ações.
Na foto abaixo, dezenas de pessoas acompanharam a vistoria junto com os presidentes.
A solenidade de tal evento é percebida pelas vestimentas, cujos trajes indicam uma ocasião
formal e a presença de militares, compõe a comitiva. A caminhada se deu sobre uma plataforma
de madeira, com estruturas ao redor também do mesmo material. O registro fotográfico, de
cima para baixo, conseguiu captar a comitiva, uma parte da extensão da ponte e a direita acima
da imagem, o rio Paraná e a densa vegetação.
Imagem 54 – Os presidentes JK e Stroessner e comitiva vistoriando a construção da ponte. Ano 1958. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 22 set.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215137536696721&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 21 nov. 2019.
Na ponte, ambos os presidentes inspecionaram a execução da obra e evidentemente
firmaram e consolidaram suas intenções políticas e econômicas. O discurso de JK
implicitamente indica a superioridade técnica do país, ao expressar o empenho nos estudos que
resultaram num dos “maiores” projetos na América do Sul. É preciso ressaltar que existia uma
133
superioridade técnica, mas também é preciso reforçar a existência de uma disparidade
econômica entre os dois países, o que impede comparar as realidades ou naturalizá-las, portanto,
o discurso, também é um elemento que visa monumentalizar a obra.
[...] Árduos estudos tiveram de ser feitos para a execução dessa obra
monumental, que será um dos maiores empreendimentos levados a cabo na
América do Sul. [...] nessa ponte que é uma das mais belas obras de arte, senão
a mais bela, de todas quantas concebeu a engenharia sul-americana130.
O discurso de JK, na acepção de Chartier, precisa relacionar com “os discursos
proferidos com a posicão de quem os utiliza”, neste caso, o presidente está reforçando as ações
empreendidas pelo Brasil para beneficiar o Paraguai, em contrapartida também se beneficiará
com tal empreendimento, mas sob o protagonismo brasileiro.
Outra fonte utilizada na pesquisa foram duas matérias publicadas na Revista
Manchete131. O objetivo não é discutir a revista, mas utilizar as fontes produzidas por ela, em
especial fotorreportagens, neste caso, as imagens estão contextualizadas com as matérias,
dialogando com o texto escrito.
Analisam-se a produção de duas formas de linguagem, a gráfica e a fotográfica. A
matéria jornalística se propõe em retratar o que de fato sucedeu e a fotografia tem a mesma
pretensão de registar a realidade tal qual ocorreu, em ambos os casos se ambiciona “retratar a
realidade” através de um conjunto de sinais.
Segundo Ortiz (1998), os artistas no século XIX desqualificavam a fotografia e diziam
que “o fotografo é um pintor fracassado”. Esse mesmo repúdio era dispensado aos jornalistas132,
deslegitimando sua atuacão, conforme a citacão de Emile Zola “A informacão transformou o
jornalismo, matou os grandes artigos, matou a crítica, dando cada vez mais lugar aos despachos,
as grandes notícias e processos verbais, as reportagens e entrevistas” (ORTIZ, 1998, p. 108). A
modernidade industrializada fez com que acelerasse a vida como um todo, a rapidez é o ritmo
que emerge, a demorada pintura de um retrato agora ganha a velocidade de uma revelação, a
literatura disputa lugar com a leitura telegráfica, encurtando o tempo despendido em tais
hábitos. Tanto a foto quanto o jornalismo foram duramente criticados nos seus surgimentos.
130 Biblioteca da Presidência. Discurso do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek, na inspeção as obras da Ponte
da Amizade, dirigindo-se ao presidente da República do Paraguai no dia 04 de outubro de 1958. Disponível em:
<http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/jk/discursos/1958/64.pdf/view>. Acesso
em: 20 abr. 2020. 131 Segundo Martins (1999), a Revista Manchete não estava oficialmente vinculada ao Estado Militar, porém
produzia uma propaganda oficialesca. E considerando-a de maneira geral, não possuía um perfil ideológico claro
e definido, optando normalmente por um posicionamento neutro ou favorável ao governo. 132 Segundo Ortiz (1998), o jornalismo entrou no dicionário de profissões em 1851.
134
No Brasil, a fotorreportagem insere-se nas revistas, não somente para ilustrar as
matérias, mas também apresentar um posicionamento visual sobre os acontecimentos. No caso
da Revista Manchete, fundada em 1952 por Adolpho Bloch, de periodicidade semanal,
exemplifica essa nova estética utilizando fotos e compondo-as aos temas jornalísticos. O
objetivo dessa pesquisa, não é analisar a revista, outros trabalhos já realizaram essa pesquisa133.
Importa ressaltar, que nenhum periódico é desprovido de tendenciosidades e parcialidades.
Aqui, utilizou a revista para ilustrar como a foto foi empregada no contexto da informação sobre
o evento de inauguração da ponte, procurando trazer uma nova abordagem da utilização da
fotografia.
A Imagem 55, a Revista Manchete de 1961 retrata, abaixo à esquerda da imagem, os
respectivos presidentes Juscelino Kubitschek, vestido com terno escuro e Alfredo Stroessner,
vestido um terno de cor clara, acompanhados por um grupo de oficiais. É possível visualizar
uma plataforma de madeira, ao fundo a pista de rolamento com o passeio para os pedestres e
abaixo o rio Paraná.
Proporcionalmente a fotografia ocupa um espaço de quase ¾ da página da revista
compondo com a matéria sobre o tema A Ponte da Amizade, destacado pela diagramação com
fundo vermelho.
A matéria noticia a inauguração da Ponte da Amizade no dia 26 de janeiro, ou seja,
quatro dias antes do término do governo de JK. Neste dia, os presidentes teriam desatado as
fitas em um ato simbólico, abraçaram-se e participaram da solenidade com discursos sobre a
significação da obra.
133 Para compreender melhor a Revista Manchete no contexto do Governo de Juscelino Kubitscheck sugere-se o
trabalho da Rosemary Guerra Amorim. O Governo JK e a Revista Manchete: a criação do mito dos anos dourados.
Rio de Janeiro, 2008 (dissertação de mestrado).
135
Imagem 55 – I Inauguração da Ponte Internacional da Amizade (26/01/1961). Fonte: REVISTA MANCHETE134. Ano 1961. Edição 0460. p. 78.
Para os paraguaios esse momento demarcou os acordos, os tratados e também foi uma
forma de reconhecer, na figura do Juscelino Kubitschek, os esforços do Brasil na execução do
projeto.
A Revista Estrellas135 – una revista paraguaya para las americas de 1988, por exemplo,
elabora um panorama do processo de desenvolvimento do Paraguai no Governo de Stroessner,
pontuando os acontecimentos considerados importantes para o país e a capa é emblemática, no
sentido de sintetizar o que, para o editorial da revista foi mais relevante, conforme a Imagem
56.
Dois projetos são destaques na revista e os associam nas figuras de Juscelino
Kubitschek, presidente responsável por assinar o decreto para a construção da ponte e José
Sarney, o primeiro presidente eleito após a ditadura civil-militar associando-o com a Usina
Hidrelétrica de Itaipu, e chama a atenção pelo fato da revista não destacar o governo militar do
Brasil, pois poderiam ter colocado a foto da inauguração da ponte com o presidente Castelo
Branco em 1965 e a foto da inauguração da Usina em 1982, pois as negociações para a
construção da Itaipu se deram predominantemente no período da ditadura civil-militar. A
seleção das imagens coloca o Stroessner ao lado de presidentes brasileiros de períodos
democráticos, lembrando que restava apenas ele e Augusto Pinochet (1915-2006) do Chile
como ditadores em 1988 na região e existia uma forte pressão pelo término das ditaduras.
134 Acervo da Biblioteca Nacional Digital. Disponível em: <http://memoria.bn.br>. Acesso em: 14 jan. 2019. 135 A Revista Estrellas foi fundada em 30 de outubro de 1949 e segundo os seus objetivos “la divulgación regular
de las actividades públicas y de la actuación de nuestros gobernantes; así como también la exposición de las
orientaciones que sirvieron y sirven para llegar a la práctica los idearios políticos, sociales, diplomáticos,
económicos que hacen impacto o influyen en el desarrollo del país”. Disponível em:
<http://www.revistaestrellas.com/estrellas---directorio---historia.html>. Acesso em: 05 abr. 2020.
136
Imagem 56 – Capa da Revista Estrellas, PY. Paraguai e Brasil (1940-1988). Fonte: REVISTA ESTRELLAS (1988).
Em relação à ponte, conforme a matéria “La unión espiritual se ha logrado con la
comprensión y decidida activación de las relaciones entre ambas naciones, bajo la sabia
orientación de ambos gobernantes: General de Ejército D. Alfredo Stroessner y Dr. Juscelino
Kubitschek”, percebe uma atribuição sobrenatural dessas duas figuras, quase os santificando.
A imagem montada ou trabalhada pela revista ratifica essa percepção, ou seja, tem a imagem
da Ponte da Amizade e na frente a foto dos dois presidentes com um trabalho de edição que
lembra duas representações de santos, reforçado por um fundo de nuvens e uns raios de
iluminação, enfatizando e superestimando o papel dos presidentes na concretizacão do “sueño
de nuestra salida al mar!”, conforme a Imagem 57.
A Revista Estrellas destaca também a primeira inauguração da ponte, em 27 de março
de 1961, “dos extraordinarios Estadistas Americanos firmando autógrafos. Fue en oportunidad
de la primera inauguración del Puente Internacional sobre el rio Paraná, que une fisicamente
al Paraguay y al Brasil”.
137
Imagem 57 – Matéria sobre a Ponte da Amizade. Ao lado direito destaque da imagem Stroessner e JK. Fonte: REVISTA ESTRELLAS (1988).
A Revista ao afirmar que a ponte “une fisicamente al Paraguay y al Brasil”,
desconsidera mais de 400 km de fronteira seca entre Brasil e Paraguai, ou seja, todos os elos de
ligação são invisibilizados, para ressaltar a importância da construção da ponte. O próprio rio
Paraná, conforme explorado no Capítulo II, é um elo intensamente movimentado,
estabelecendo diferentes contatos econômicos e culturais.
A Imagem 58, exposta no Museu El Mensú, apresenta a passarela construída com
madeiras. Ao fundo 4 bandeiras do Paraguai e 4 bandeiras do Brasil. Nota-se pela imagem,
tratar-se do local simbólico da fronteira entre os dois países estando no primeiro plano a
bandeira paraguaia e no segundo plano a bandeira brasileira, desta forma, infere-se uma
fotografia tirada no Paraguai. Além disso, ao fundo à direita, parece trata-se do obelisco
construído no início da ponte, ao lado direito do Brasil em direção ao Paraguai.
Destaque
dessa
imagem
138
Imagem 58 – As madeiras colocadas para a pré-inauguração da ponte em 1961. Fonte: MUSEO EL MENSÚ. Ciudad del Este, PY. Registro da autora (2019).
O responsável pelo Museu El Mensú, José Riquelme, ao apresentar a foto desta
inauguração contextualiza da seguinte forma:
[...] Em 1961 foi uma inauguração provisória, que nós chamamos de pré-
inauguração que ainda não está pronta, e foi colocado tábuas, o Presidente
Stroessner mandou colocar as tábuas para passar a pé porque Brasil estava
mudando de presidente, estava saindo Juscelino e estava entrando creio que o
Castelo Branco136, então em homenagem ao mentor da ponte, o Presidente
Stroessner em agradecimento fez uma pré-inauguração, mas no dia 27 de
março de 1965 terminou completamente a ponte [...] (RIQUELME, 2019)137.
O fato de a iniciativa ter vindo do presidente Stroessner e vir dele o empreendimento do
madeiramento, não pôde ser checado com outras fontes para ratificar essa fala, porém pode-se
supor que ambos os governos tinham interesse em utilizar a ponte para promover seus feitos,
tanto JK que estava finalizando sua gestão quanto Stroessner para a manutenção da imagem.
Cabe ressaltar que o museu é um espaço de representação da memória e do patrimônio
local, visando construir uma ideia ou narrativa distante de qualquer neutralidade e às vezes
distante também do real. Portanto, ao acessar o museu, a distinção entre representado e
representação precisa estar cônscio, conforme o alerta de Chartier.
Segundo Chartier (1988, p. 20), “[...] a representação é instrumento de um conhecimento
mediato que faz ver um objeto ausente através da sua substituição por uma imagem capaz de o
reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é”. Neste caso, sempre há um
136 A sucessão à Presidência da República após Juscelino Kubitschek foi, Jânio Quadros em 1961, João Goulart
entre 1961 a 1964 e Castelo Branco entre 1964 a 1967. 137 RIQUELME, José. Visita guiada ao Museu El Mensú. Ciudad del Este, Paraguai, 01 jul. 2019. [Transcrição e
tradução para o português].
139
enquadramento, no sentido de se apropriar de uma interpretação sobre o passado (POLLAK,
1989, p. 7).
Pode-se utilizar o exemplo de enquadramento, a partir da placa comemorativa da
“inauguracão” realizada em 26 de janeiro de 1961, alocada ao lado de fora do Museu El Mensú.
Segundo José Riquelme, foi colocada no lixo e posteriormente resgatada, preservada e exposta
na frente do museu.
A placa foi produzida pelo Paraguai, em espanhol e fez parte das comemorações do
sesquicentenário de independência do país que completaria no dia 14 de maio de 1961. O
registro demonstra a gratidão e reconhecimento do Governo Paraguaio, na figura de Stroessner
aos esforços técnicos e financeiros investidos pelo Brasil, na figura de JK e também registra os
acordos que viabilizaram tal obra.
Imagem 59 – Placa comemorativa da inauguração da Ponte da Amizade em 1961 pelos presidentes
Alfredo Stroessner do Paraguai e Juscelino Kubitschek do Brasil138. Fonte: MUSEO EL MENSÚ. Ciudad del Este, PY. Registro da autora (2019).
No espaço expositivo do museu, encontra-se uma parede com fotos da construção da
ponte em diferentes etapas da obra, a placa informativa compondo a exposição, traz a data da
inauguração da ponte de 26 de março de 1962 onde a obra teria sido finalizada, conforme a
138 Transcrição da placa: siendo Presidente de la Republica del Paraguay el General de Ejercito Alfredo Stroessner
fue inaugurado este puente proyectado, financiado e ejecutado por el gobierno de los E.E.U.U. del Brasil bajo la
presidencia del Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira de conformidad con el convenio para la construcción del
Puente Internacional sobre el Rio Paraná suscrito en Rio de Janeiro entre la republica del Paraguay e los
E.E.U.U. del Brasil el 29-V-1956 aprobado y ratificado por ley nacional nº xxx del 07-IX-1956 sea esta obra
magistral de la técnica y de la industria del Brasil el símbolo perenne de la unión solidaria de dos naciones, tan
vecinas como hermanas que así honran a los comunes destinos de los pueblos de nuestra América 26-I-1961. Ano
del sesquicentenario de la independencia nacional.
140
Imagem 60. O fato de ter sido “oficialmente” inaugurada três anos apos sua finalizacão ainda é
uma incógnita. Após pesquisas, encontrou-se uma matéria no Jornal do Iguaçu139 (14/06/2001),
onde a manchete era exatamente um questionamento sobre este fato “Três anos para inaugurar:
Por quê?” a assinatura da matéria é de Rossana Schimitz, que apos entrevistar o assessor DNER
de Brasília, ele teria explicado uma possível indisponibilidade de agenda dos presidentes
daquela época. Também questionou o Sr. João Cid Fürstenberger funcionário do DNER desde
o início da construção da ponte, em 2001, ano da matéria, ele atuava como chefe do núcleo de
operações rodoviárias e relata que houve um impasse com a construtora que fez o projeto do
escoramento do arco e que segundo ele, a obra não parou e sim diminuiu o ritmo e que a ponte
teria sido oficialmente concretada em 1964.
Imagem 60 – Placa informativa com os dados da Ponte da Amizade. Fonte: MUSEO EL MENSÚ. Ciudad del Este, PY. Registro da autora (2019).
Pode-se deduzir que essa data de 26 de março de 1962 tenha sido marcada para que a
ponte entrasse nos registros oficiais de recorde mundial de “maior vão livre do mundo”, ao
mesmo tempo foi uma data pouco registrada, pois a pesquisa realizada encontrou apenas em
uma placa no Museu El Mensú, no site do Paraguai da Itaipu Binacional e no jornal do Iguaçu.
A ausência de mais indícios pode estar relacionada a figura de João Goulart, presidente do
Brasil até o Golpe Militar de 1964. A intenção de não querer associar a imagem de Stroessner
ao João Goulart, pode explicar a falta de holofote para tal data.
139 Jornal do Iguaçu (14/06/2001). Disponível na Biblioteca Púbica Municipal Elfrida Engel N. Rios – Foz do
Iguaçu, PR, Brasil.
141
O ato de inaugurar é uma forma de comemorar, é deixar registrado no espaço e tempo a
celebracão de algo e conforme a reflexão de Candau (2016, p. 148) “a comemoracão é sempre
seletiva”, “aquela imaginada do acontecimento comemorado e do grupo que o comemora”. A
placa é o monumento que visa perpetuar uma memoria, mesmo que a não “oficial”, mas ela
está salvaguardada dentro de um lugar de memória, aqui, no caso, no Museu el Mensú,
compondo a narrativa sobre a história do município.
As obras continuaram após as duas “inauguracões”. Na Imagem 61, é uma das poucas
que retrata os trabalhadores de uma forma mais nítida, pelo menos 5 homens aparecem na lida,
mesmo assim chama a atenção a proporcionalidade. Ao analisar a foto, a máquina se sobrepõe
aos trabalhadores. Também se percebe a diferença entre a altura do homem que está em pé em
relação ao calçamento da ponte, quase na altura do joelho. Nessa foto nota-se da esquerda para
a direita, o guarda-corpo (proteção aos pedestres), o passeio (local de tráfego de pedestres) e a
pista de rolamento (para o tráfego dos veículos). A vegetação ao fundo é a cidade Presidente
Stroessner, hoje Ciudad del Este, e a estrada aberta é que se tornaria parte da Ruta Internacional.
Ao comparar com a imagem da inauguração de 1961, é notória o acabamento na pista.
Imagem 61 – Trabalhadores na finalização dessa etapa da obra. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
O fotógrafo escolhe e seleciona o que quer deixar visível e o que quer invisibilizar,
existindo evidentemente uma relação de poder e controle, ao mesmo tempo existe uma demanda
latente de quem o contratou para produzir, neste caso, dar ênfase a obra.
A fotografia abaixo registra a fase final das obras. Neste caso, o olhar do fotógrafo foi
posicionado acima do nível da pista, gerando um efeito de diminuir a dimensão do piso,
142
enfatizando deste caso, a extensão da ponte, através do efeito da perspectiva escolhida,
indicando a distância da pista de rolamento através da profundidade da imagem fotografada.
Ao fundo, o Brasil, sendo possível identificar pelo obelisco a direita.
Imagem 62 – Ponte Internacional da Amizade, em fase de finalização. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 16 ago.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214884713576301&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 21 nov. 2019.
Em 1965 a obra oficialmente é concluída, e nova solenidade foi organizada para que os
respectivos presidentes Castelo Branco e Alfredo Stroessner, celebrassem a ligação das cidades
de Foz do Iguaçu, Brasil e Puerto Presidente Stroessner, Paraguai e entregasse a ponte para o
tráfego público.
A inauguração da Ponte da Amizade novamente é noticiada na Revista Manchete de
1965140, quatro anos depois da realizada pelo JK. Na primeira foto, abaixo, o registro destacou
a fita inaugural cortada pelo presidente brasileiro Castelo Branco, atrás ao alto as bandeiras dos
países Brasil e Paraguai hasteadas lembrando a binacionalidade do projeto. Tal ato é
testemunhado por “numerosas personalidades”, conforme a descricão da revista, o que se pode
pressupor tratar-se de pessoas elegidas para estarem ali. Na segunda imagem, os passos de
ambos os presidentes foram registrados por dezenas de fotógrafos e pela posição do fotógrafo
desta imagem, pode-se inferir que do outro lado também havia outros com o mesmo objetivo,
de retratar o momento solene. Na terceira imagem, o aperto de mão, gesto trivial de aparente
cordialidade, mas que, nesta situação tem um aspecto extraordinário, pois se trata de dois chefes
de Estado chancelando o término da obra e selando o acordo de uso comum da ponte.
140 REVISTA MANCHETE. Ano 1965. Edição 0677. p. 31 e 32.
143
Imagem 63 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. Fonte: REVISTA MANCHETE. Ano 1965. Edição 0677. p. 33.
Na matéria da Revista Manchete, os objetivos e características de tal empreendimento
são descritos conforme a transcrição abaixo:
Une agora, sobre as águas do caudaloso Paraná, o povo guaraní a seus irmãos
do Sul do Brasil. Maior comércio e intercâmbio cultural, mais progresso e
maior identidade de pontos de vista, eis alguns dos muitos e elevados objetivos
da Ponte da Amizade, glória de nossa engenharia e obra construída em região
distante 700 km de Curitiba e 390 de Assunção. Ela custou a metade dos
gastos da ponte de Arrábida, em Portugal, e um quinto da de Sidney, na
Austrália (Revista Manchete, 1965, p. 32).
O discurso da Revista Manchete não difere do discurso proferido pelos representantes
do Estado. Há uma reprodução dos discursos oficiais na reportagem ao elencar os elementos
que conferem a qualidade da obra e o do seu significado, inclusive trazendo dados comparativos
financeiros que a tornam ainda mais eficiente, ou seja, além de todos os benefícios citados ainda
custou menos que outras pontes construídas por outros países.
Abaixo, na Imagem 64, a revista divulga que os dois chefes de Estado, o presidente
Castelo Branco e Alfredo Stroessner encontraram-se no meio da “grande obra”, cortando a fita
simbólica sob aplausos de 40 mil pessoas de ambos os países. Três fotos compõe a matéria,
uma é da ponte propriamente dita tirada a uma distância que permite vê-la na quase totalidade,
outra é com os presidentes assinando a declaração que regulamenta o uso da ponte e a terceira
foto é o registro com centenas de pessoas transitando sobre a ponte.
O dado sobre a quantidade de pessoas participantes na inauguração pode ser
problematizado, no sentido de talvez estar superestimado. A desconfiança está embasada nos
144
dados demográficos de ambas as cidades fronteiriças. Pois ao comparar com a quantidade de
habitantes em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu nas décadas de 1960 e 1970, somadas, não
chegam a 40 mil pessoas. Erro ingênuo, discurso ufanista, marketing do governo, são algumas
possibilidades explicativas em relação à supervalorização deste evento.
Imagem 64 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. Fonte: REVISTA MANCHETE. Ano 1965. Edição 0677. p. 30 e 31.
Na Imagem 65, duas capturas de cenas do vídeo produzido pela Agência Nacional
traduzem o simbolismo na inauguração. Sobre a ponte organizaram-se de um lado os paraguaios
estando a frente o general Stroessner, do outro, os brasileiros estando a frente o Marechal
Castelo Branco, e em ambos os lados foram colocadas as faixas de inauguração, cada presidente
seguindo o ritual, desata o laço e avança em direção a linha demarcatória do meio da ponte,
para o “encontro” entre as duas nações. Primeiro tem a separação, dividindo as nacionalidades,
depois tem a barreira fronteiriça simbolizada pelas faixas e depois a marcha do encontro.
145
Imagem 65 – III Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. Captura de imagem do filme
produzido pela Agência Nacional. Fonte: AGÊNCIA NACIONAL. Ano 1965. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=VnyWeEVzg7U>. Acesso em: 6 jun. 2020.
A Imagem 66 registra o cumprimento, o aperto das mãos que selaria o término das obras.
Ao lado esquerdo, o primeiro presidente da Ditadura civil-militar, Humberto de Alencar Castelo
Branco (1897-1967) e a direita o presidente Stroessner. Ao fundo, fotógrafos e expectadores
compõe a formalidade de tal evento. Essa fotografia foi executada por um fotógrafo que estava
do outro lado da passarela e deixou que uma câmera fosse percebida no seu registro (canto à
esquerda), isso é, um fotógrafo fotografando fotógrafos, demonstrando a relevância e a
importância do evento.
Aos pés, um tapete estendido com uma linha dividindo ou demarcando a fronteira, um
lembrete que a ponte une, mas dentro de campos geográficos definidos e politicamente
reforçado.
Imagem 66 – Os Presidentes Castelo Branco e Alfredo Stroessner durante a inauguração da Ponte
Internacional da Amizade (27/03/1965). Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Dois presidentes militares, a frente de Ditaduras, a presença militar é ostensiva. No
vídeo,141 registrou-se o general Stroessner passando em revista as tropas do I Batalhão de
Fronteiras.
A placa comemorativa foi construída para vincar tal solenidade, e foi alocada no
obelisco, que simbolizaria a união entre as nações.
141 Cinejornal Informativo n. 5 (1965). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VnyWeEVzg7U>.
Acesso em: 02 set. 2019.
146
Imagem 67 – A placa comemorativa da inauguração da Ponte da Amizade (27/03/1965)142. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
No dia da inauguração discursos exaltavam a importância da obra estabelecendo novas
relações, conforme o discurso do presidente Castelo Branco:
Sobre a fronteira fluvial que nos separava, lançamos esta armação de concreto
apoiada em terras brasileiras e paraguaias, que é fronteira a nos unir. Passagem
central dos novos caminhos que aproximam o Paraguai do oceano, eleva-se
esta Ponte como monumento a amizade de povos irmãos e como testemunho
de fé nos destinos da América Latina. Ao deixar as margens do Paraná, de
retorno a Brasília, tenho revigorada a confiança nos nossos povos143.
Imagem 68 – Discurso do Presidente Castelo Branco durante a inauguração da Ponte da Amizade. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 19 ago.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214905973027774&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em 21 nov. 2019.
142 Transcrição da placa: A Ponte da Amizade. Ligando Brasil e Paraguai, inaugurada em 27 de março de 1965,
com a presença do Presidência da República dos Estados Unidos do Brasil, Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco e do Presidente da República do Paraguai, General Alfredo Stroessner, aviva a confiança e reitera a
amizade de dois povos, abrindo caminhos mais amplos para o futuro do continente. 143 Biblioteca da Presidência. Discurso do Presidente do Brasil Castelo Branco, na inauguração da Ponte da
Amizade, dirigindo-se ao presidente da República do Paraguai no dia 27 de março de 1965.
147
E, segundo, discorreu Stroessner:
Mi Patria, Excelentísimo Señor, festeja alborozada esta inauguración, y mi
Gobierno asociándose a este júbilo legítimo, ha tenido la satisfacción de
decretar feriado nacional, para que el pueblo paraguayo rinda así su
homenaje sincero al acontecimiento memorable que nos tiene aquí
congregados, en un solo haz de corazones y en un unánime sentimiento
patriótico que perdurara en nuestros anales republicanos lo que dure esta
magnífica estructura de acero y de cemento. Me cabe el orgullo de proclamar
que hemos llegado desde Asunción hasta este histórico monumento erigido a
la confraternidad de dos países, por la ruta que mi Gobierno ha construido,
puesta su voluntad al servicio de los altos intereses de la Nación abriendo en
plena selva, una nueva vía para el progreso y lo civilización144.
Ambos os presidentes, atribuem a Ponte da Amizade um status de monumento, e
conforme se discorreu no primeiro capítulo, “o monumento é tudo aquilo que pode evocar o
passado, perpetuar uma recordação (LE GOFF, 2003, p. 526). No discurso de Stroessner, a
monumentalização da ponte é importante principalmente associada ao seu Governo, essa
intenção está manifesta ao reforçar nas palavras “y mi Gobierno asociándose a este júbilo
legítimo” e “este histórico monumento erigido a la confraternidad de dos países, por la ruta
que mi Gobierno ha construído”, e ainda se atribui a si a responsabilidade de abrir no meio da
selva, uma nova forma de progresso e civilização.
Neste período da inauguração da ponte, o Stroessner já estava há aproximadamente 11
anos no poder, e para manter-se no poder, além do aparato repressivo, típico de uma ditadura,
também se efetivava através do consenso145 entorno de publicidades, por exemplo, ao vincular
a sua imagem aos feitos desenvolvimentista. Ricardo Martins Filho, na dissertação sobre
Ditadura Militar e propaganda política, indicou a relação da vinculação do governo com os
atos de propagandear, no caso de Stroessner, nesse caso, pode-se associar os discursos, como
uma das formas de criar consenso:
No que se refere especialmente aos governos ditatoriais, a utilização da
propaganda política enquanto artifício de manipulação de massas fez parte do
cotidiano de vários Estados autoritários que pretenderam, de modo geral,
impor socialmente projetos políticos que atendiam aos interesses de grupos
econômicos específicos disfarcados de projetos “nacionais”, e que requeriam
união entre as classes sociais enquanto pressuposto de sua realização
(MARTINS, 1999, p. 1)
144 Disponível em:
<http://www.portalguarani.com/1759_alfredo_stroessner_matiauda/18606_inauguracion_del_puente_internacion
al_sobre_el_rio_parana_1961__discurso_de_alfredo_stroessner.html>. Acesso 07 de julho de 2017. 145 Segundo Gramsci, em uma sociedade de classes, a supremacia de uma delas se exerce sempre através da coerção
e do convencimento, com a construção de uma hegemonia (DIAS, 1996, p. 25).
148
Segue abaixo, uma descrição da ponte elaborada pela Agência Nacional em 1965,
demonstrando um discurso conciliador entre os dois países e ufanista, enaltecedor do Brasil.
A Ponte da Amizade, colosso de concreto, orgulho da engenharia brasileira,
construída pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagens, essa
estupenda obra de arte é a maior do mundo em vão livre e tem mais de meio
quilômetro de comprimento. A SOTEGE sua construtora mereceu o
reconhecimento mundial pela elevada técnica empregada na sua realização.
Material e mão de obra do Brasil sob a direção de engenheiros brasileiros
resultaram nesse verdadeiro monumento e é um marco novo ao unir duas
nações vizinhas e a inspirar a consolidação da amizade entre os povos latinos
americanos146.
A Agência Nacional mencionou a mão de obra do Brasil, porém dados do DNIT
afirmam que eram 100 trabalhadores do Paraguai e 150 trabalhadores do Brasil e reforça na
narrativa a “maior obra do mundo em vão livre” que só foi possível porque o “término” da obra
foi registrado na data de 26 de março de 1962.
A ponte em arco de vão livre, pintada de branco destoando com o verde da vegetação e
o tom amarronzado do rio Paraná, trouxe ao projeto elogios técnicos e estéticos e tratando-se
de uma obra brasileira com investimento brasileiro, evidente que isso foi muito explorado nos
discursos que finalizavam, não raro, exaltando a união das nações. Cabe definir o significado
de obra de arte no contexto da arquitetura, segundo o arquiteto Everton Santos147, pode-se dizer
que, uma construção se aproxima da arte quando seus componentes/elementos possuem formas
que através da harmonia, equilíbrio, cores e outras características, provocam deleite estético,
ressaltando, que estes elementos variam de acordo com o observador.
A Imagem 69 mostra as pessoas reunidas para a inauguração da ponte. Pode-se supor
que tenha sido um evento de grande importância para as cidades fronteiriças, pois foi a primeira
construção dessa magnitude, com traços arquitetônicos considerados modernos para a época e
com a possibilidade de atravessar a fronteira com a família de uma forma autônoma, não mais
dependendo de uma embarcação. A fotografia abaixo contém uma narrativa visual da cena, com
as pessoas reunidas no espaço entorno da ponte, aparentemente se dispersando, alguns homens
de terno podendo inferir certa formalidade que o evento exigia, no meio da rua uma
concentração de crianças com roupas claras o que parece tratar-se de um desfile organizado e
146 Cinejornal Informativo n. 5 (1965). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VnyWeEVzg7U>.
Acesso em: 02 set. 2019. 147 O professor e arquiteto Everton Santos contribuiu nessa pesquisa ao orientar a pesquisadora, nos conceitos
relacionados a “obra de arte arquitetônica”.
149
as bandeiras hasteadas, provavelmente do Brasil, Paraguai, Foz do Iguaçu e Puerto Presidente
Stroessner.
Imagem 69 – Inauguração da Ponte Internacional da Amizade. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Para a inauguração, um monumento comemorativo foi construído, conforme a Imagem
70, o objetivo era simbolizar a união de brasileiros e paraguaios. Abaixo do obelisco reuniram-
se os presidentes para a assinatura da declaração conjunta sobre a Ponte da Amizade citada no
Capítulo II.
Imagem 70 – Inauguração da Ponte Internacional da Amizade – 1965. Captura de imagem do filme
produzido pela Agência Nacional. Fonte: AGÊNCIA NACIONAL. Ano 1965. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=VnyWeEVzg7U>. Acesso em: 20 mai. 2020.
150
O obelisco está localizado ao lado esquerdo da aduana na Ponte da Amizade, no sentido
Brasil-Paraguai. E a presença militar evidencia o caráter fronteiriço desse espaço, lembrando
que, mesmo com certa caraterística de espaço contínuo, existe vigilância e controle.
Imagem 71 – Obelisco na Ponte Internacional da Amizade. s/a, s/d. Fonte: IBGE. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-
%20RJ/pr45509.jpg>. Acesso em: 20 out. 2019.
Captada de outro ângulo, na Imagem 72, é possível vê-la de frente da pista de rolamento,
o fotógrafo localizou-se quase no meio do canteiro para registrá-la. Nota-se uma continuidade
entre a BR 277 e a Ponte, quase não se nota diferença, percepção expressa de maneira assertiva
pelos pesquisadores Kleinke et al. (1997, p. 151), “a Ponte da Amizade que, para Foz do Iguaçu
e Ciudad del Este, é como uma avenida de um mesmo espaco urbano”, nesse período, a
urbanização ainda estava incipiente.
Imagem 72 – Ponte Internacional da Amizade. s/d, s/a. Fonte: IBGE. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-
%20RJ/pr45495.jpg>. Acesso em: 20 out. 2019.
151
Diante das três inaugurações, nas datas de 26 de janeiro de 1961, em 26 de março de
1962 e 27 de março de 1965 pode-se pensar no poder das práticas comemorativas de
fortalecimento da imagem dos governos consagradas, por exemplo, nas grandes obras. As três
inaugurações da ponte, descritas na pesquisa, podem ser problematizadas, no sentido de
compreendê-las como cerimônias de “posse”, que vão além de se apropriar do objeto
propriamente dito, mas de se apoderar da memória correspondente ao objeto. A Ponte da
Amizade estrutura-se nas cidades fronteiriças no campo da materialidade e no campo das
representações trazidas nos discursos.
Neste sentido, Nora (1993) discorre sobre os lugares de memória, ou lugares onde a
memoria se cristaliza, ou seja, inexistindo uma memoria espontânea é necessario “criar
arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios
fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são mais naturais, mas construções
ideologicas” (NORA, 1993, p. 13). As inauguracões funcionam para criacão de um vínculo
mnemônico, reforçado em rituais públicos, celebrando feitos e assegurando uma fixação do
projeto da ponte com os Governos.
A fotografia também contribuiu nos lugares de memória, veja-se na Imagem 73, a ponte
foi registrada no sentido de inserir elementos que pudessem contextualizá-la. O ângulo da foto
produz uma noção de profundidade e distância enfatizando a tridimensionalidade da mesma, no
primeiro plano mais próxima a lente do fotógrafo a vegetação em relevo, abaixo uma estrada
onde mais abaixo se encontra o rio Paraná. Ao fundo a vegetação às margens paraguaia. O
elemento arquitetônico constituiu-se na natureza transformando a paisagem.
Imagem 73 – Ponte Internacional da Amizade. Fonte: IBGE. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-
%20RJ/pr45496.jpg>. Acesso em: 20 out. 2019.
152
Na fala do Ynsfrán, ao descrever a Ponte da Amizade percebe-se a importância que ela
representa “el inmenso arco del Puente de la Amistad recortándose en el horizonte, simbolizó
el salto final hacia las costas atlánticas del antiguo Mar del Paraguay” (YNSFRÁN, 2012, p.
158). Quer dizer, não era somente uma aproximação com o Brasil, mas também a possibilidade
de se aproximar mais do mundo. Saber que a ponte proporciona alcançar novos países indica
outros significados.
Na Imagem 74, o fotógrafo posiciona-se de uma forma a captar o obelisco ao fundo a
esquerda, o controle aduaneiro148 do Brasil, o canteiro com um paisagismo entre a BR 277 e o
acesso abaixo da aduana onde era possível visitar.
Imagem 74 – Entrada para Aduana Brasileira. Fonte: DNIT. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Foz do Iguaçu, PR.
Acervo digital.
Essa série de registros fotográficos da Ponte Internacional da Amizade atua como
atestado da “eficiente” política de aproximação com o Paraguai, materializando as intenções há
muito verbalizadas por ambos os governos. Além disso, documentou as transformações
arquitetônicas na fronteira, mudando completamente as relações econômicas e sociais da
região.
A Ponte da Amizade pode não ser um espaço propício para um turista parar e contemplar
a paisagem, tirando uma foto para eternizar a experiência do cruzamento sobre o rio Paraná,
conforme os motivos citados pela pesquisadora Regina Coeli Machado e Silva (2013, p. 18-
19):
Na Ponte da Amizade, essa situação especial [travessia] é vivida muitas vezes
com ansiedade, pois o desejo latente é fazer a travessia de modo mais rápido
148 Em 2006 entrou em funcionamento a nova aduana no lado brasileiro.
153
possível. Muitos justificam essa ansiedade por medo de assaltos, por estarem
expostos a violência sem direção e sem controle que, como se sabe, são
também sentimentos encarnados no medo difuso do outro, do desconhecido.
Isso é visível quando acaba a travessia: o ritmo dos pedestres se torna mais
lento e por isto mais perigoso em meio ao trânsito caótico e intenso.
Apesar o imenso fluxo turístico em direção ao Paraguai a ponte representa apenas um
meio para alcançar o objetivo final que, muitas vezes é consumir no país vizinho. Conforme
Tuan (1980, p. 107), “o turismo tem uma utilidade social e beneficia a economia, porém não
une o homem a natureza. A apreciação da paisagem é mais pessoal e duradoura quando está
mesclada com lembranças de incidentes humanos”.
Entretanto, ao olhar para o passado, encontram-se registros da ação em desfrutar a
paisagem. Desta forma, destacam-se três imagens expostas abaixo. A Imagem 75,
aparentemente é de uma família reunida, posando para o registro fotográfico que atestassem a
visita a construção da ponte, pois conforme a imagem, ainda não está finalizada, então se trata
de um registro anterior a 1965. O enquadramento fotográfico indica a preocupação em registrar
a arquitetura da ponte em uma apreciação estética, inserindo-a em um contexto em que
mostrasse o rio Paraná abaixo e a vegetação na margem.
Imagem 75 – Família Otremba e Sottomaior — em Foz do Iguacu. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 out.
2013. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=610439048999394&set=a.490909620952338&type=3&t
heater>. Acesso em: 09 jun. 2020.
A Imagem 76, destaca-se um homem escorado no corrimão da ponte, à esquerda, a
sombra de quem está registrando a fotografia, ao fundo a aduana brasileira com alguns carros,
aparentemente estacionados, pois ao lado direito vê-se crianças caminhando na pista e somente
uma está de mãos dadas com uma pessoa adulta, como se carros não estivessem passando. Nota-
se algumas pessoas escoradas no corrimão, logo no início da pista, aparentemente conversando.
154
Essa fotografia narra o uso da ponte antes da intensificação do comércio com o Paraguai, onde
provavelmente as pessoas iam ao local para passear, conversar e contemplar o entorno. E ao
fundo, a vegetação, onde hoje se encontra a Vila Portes com suas inúmeras salas comerciais.
Imagem 76 – Um homem posando na Ponte da Amizade. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 04 set.
2019. Facebook. Disponível em:
<https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10215011822833953&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1>. Acesso em: 09 jun. 2020.
Na Imagem 77, destaca-se um homem no centro da imagem com uma mochila de
viagem nas costas e outra bolsa ao lado direito, aparentemente um turista. A fotografia expressa
a importância para o retratado de posar neste local, enquadrando ao fundo à direita o obelisco,
à esquerda a aduana e as duas pistas de rolamento da Ponte da Amizade.
Imagem 77 – Um homem de mochila nas costas posando no meio da pista da Ponte da Amizade. Fonte: FOZ DO IGUAÇU E CATARATAS MEMÓRIA E FOTOS ATUAIS. Foz do Iguaçu, 23 jul.
2019. Facebook. Disponível em:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10214713859545057&set=g.300913676689041&type=1
&theater&ifg=1. Acesso em: 09 jun. 2020.
155
Nas duas últimas fotografias acima, o parar e posar para a foto, indica a relevância de
registrar a ação de estar na Ponte da Amizade, pois a centralidade nas imagens não está no rio
Paraná, na vegetação ou na arquitetura da ponte, e sim na experiência de estar no lugar,
indicando um ritmo mais lento no trânsito binacional oportunizando esse “estacionar” e
registrar. Nota-se também, nesses dois registros, que a direção da câmera aponta em direção ao
Brasil, podendo questionar se existe uma afeição para com o próprio país expressa na escolha
do “o que” registrar. Segundo YUAN (2008, p. 117), “a lealdade para com o lar, cidade e nacão
é um sentimento poderoso” e ele aparece principalmente nos contrastes, ou seja, a fronteira
(nacional-internacional) evocaria certo patriotismo.
As fotografias contribuem para a construção de uma memória coletiva sobre esse
momento histórico. Os vestígios revelados a partir das imagens ultrapassa o mero registro
técnico, pois fornece o conhecimento da construção de um espaço de relevância para ambos os
países fronteiriços.
Quando o espaço sai do ordinário ou do usual, a fotografia merece registrar tal
excepcionalidade. O rio Paraná em outubro de 1982 foi represado no trecho abaixo do rio
Paraná devido ao fechamento das comportas da represa da Itaipu entre 13 e 27 de outubro de
1982, provocando uma insólita paisagem de secura do rio, conforme a Imagem 78.
Imagem 78 – O rio Paraná seco sob a Ponte 1982 – Foz do Iguaçu, PR.
Fonte: O PRESENTE. Autor Rotildo Brusniski. Disponível em:
<https://www.opresente.com.br/municipios/imagem-historica-do-dia-em-que-o-rio-parana-secou-
viraliza-nas-redes-sociais/>. Acesso em: 30 abr. 2020.
Quase 38 anos depois, novos registros da ponte sobre o rio Paraná, conforme a Imagem
79, mostram o rio abaixo do nível normal. O mês de abril de 2020 fez com que muitas pessoas
fossem até o local para tirar fotos, fazer vídeos, mostrando não somente a seca do rio, mas
também explorando o entorno, alguns inclusive atravessaram a pé o rio Paraná até alcançar a
156
Ilha de Acaray. As mídias sociais foram recheadas com esses registros pessoais, cujo interesse
em compartilhar a experiência de algo insólito contribui para salvaguardar histórias de quem
vivencia a fronteira.
Imagem 79 – O rio Paraná seco sob a Ponte 2020 – Foz do Iguaçu, PR. Fonte: Gazeta do Povo. Autor: Christian Rizzi. Disponível em:
<https://www.gazetadopovo.com.br/parana/rio-parana-vira-corrego-e-e-atravessado-a-pe-por-
moradores-de-foz/>. Acesso em: 19 jun. 2020.
O registro de uma imagem serve para materializar ou “congelar” uma experiência, ao
modo de “salvar” um arquivo no computador, daquilo que se julgou importante. A foto permite
tornar a memória mais concreta, não só para si, como também no compartilhamento com o
outro.
Nesse tópico, procurou-se, a partir das imagens, estabelecer de maneira cronológica a
análise da finalização da obra, a inauguração e o seu posterior uso, quando o ato de estar na
ponte e registrar era habitual.
3.2.3 CARTÃO-POSTAL: OBRA INOLVIDÁVEL
Neste subtópico será analisada a imagem fotográfica da Ponte da Amizade impressa no
cartão postal, para isso, aborda-se a origem dos cartões-postais e a sua função no registro,
promoção e divulgação arquitetônica.
A utilização das imagens para divulgar e promover feitos com a intenção de propagar
ideias relacionadas ao progresso foi realizada de diversas formas em diferentes veículos de
comunicação, pois era uma forma de enfatizar visualmente as transformações nas cidades.
Aqui, destaca-se o papel do cartão-postal.
Segundo DALTOZO (2006), apesar de existirem várias ideias de cartões-postais, só foi
implementado em 1869 na Áustria (correspondezkarte). O cartão correspondia a um tamanho
157
de 8,5 X 12 cm e continha na frente apenas o selo do Império Austro-Húngaro impresso no
canto superior direito e espaço para alocar as informações do destinatário. A ideia era atender
a uma necessidade de um meio de comunicação mais fácil, rápido e barato.
A grande adesão na Europa aos cartões, logo se tornou mais popular ao adicionar
imagens. Primeiro acrescentaram gravuras, depois fotografias.
“Esse foi o passo decisivo para difundi-lo definitivamente, em todo o mundo.
As pessoas estavam ávidas para ter em mãos as fotos de monumentos famosos,
de cidades interessantes, dos fatos históricos, [...] enfim, tudo que era possível
registrar pelas lentes das maquinas fotograficas” (DALTOZO, 2006, p. 16).
Os alemães criaram os Gruss aus (saudações de...), cartões com ilustrações das cidades
com sua identificação, considerados os precursores dos atuais postais turísticos. O passeante
poderia levar um pedaço da experiência vivenciada de uma maneira econômica. Desta forma,
o cartão-postal socializou o acesso ao mundo, ao torná-lo um veículo de correspondência
consumido em quase todos os lugares. Este conhecimento visual do mundo, certamente
contribui para influenciar mentalidades e comportamentos.
Segundo a pesquisadora Franco (2006, p. 28), no início do século XX os postais de
paisagens eram oito vezes mais requisitados do que os de “fantasia”, as pessoas queriam
adquirir a imagem do lugar, logo o cartão-postal associou-se ao registro da história urbana, das
construções e desenvolvimentos.
O postal mais antigo no Brasil é o do Estabelecimento Gráfico V. Steidel, de São Paulo,
ilustrando o edifício do Tesouro em São Paulo datado de 24 de novembro de 1898 (DALTOZO,
2006, p. 19). Segundo Kossoy (2000), a “idade de ouro” dos cartões postais foi entre 1900-
1925 e no Brasil esse modismo foi absorvido e muitas imagens do Brasil incorporou nas
correspondências internacionais.
No Paraguai evidentemente a fotografia também era uma forma de exaltar a
modernidade através da implantação de infraestrutura urbana compatível com países
desenvolvidos. As obras significavam o desenvolvimento, perpetuadas e difundidas nos cartões
postais, atuando como instrumentos de propaganda. Nas palavras de José Riquelme,
responsável pelo Museu El Mensú, em Ciudad del Este, ao descrever a ponte, complementa
“toda essa característica técnica foi admirada no mundo inteiro, se Paraguai tem um postal
turístico para o mundo é sua ponte. [...], a primeira obra simbólica declarado patrimônio cultural
para nós (RIQUELME, 2019).”149
149 RIQUELME, José. Visita guiada ao Museu El Mensú. Ciudad del Este, Paraguai, 01 jul. 2019. [Transcrição e
tradução para o português].
158
A Imagem 81, o cartão-postal da Ponte da Amizade, retratada por Klaus:
Imagem 80 – Cartão Postal da Ponte Internacional da Amizade, PY. Cartão Postal Puerto Pte. Stroessner – Puente de la Amistad – Autoria Klaus Henning (1921-2008).
O fotógrafo responsável pela difusão da Ponte da Amizade pelo mundo a partir dos
cartões postais foi o Klaus Henning (1921-2008). Nascido em Trier na Alemanha, chegou ao
Paraguai em 1934 quando emigrou com a família para a colônia de Carlos Pfannel, trabalhando
como livreiro, especializou-se em fotografia, tornando-se membro da Photographic Society of
America. Autor de diversos livros fotográficos, publicando inclusive na Alemanha, retratou o
Paraguai de diferentes ângulos contemplando diferentes lugares, contribuindo para a construção
da história da imagem do Paraguai150.
Klaus viajava pelo interior do Paraguai fotografando as mais diversas paisagens e depois
imprimia em formato de cartões postais, segundo o Jornal Color ABC151, “las únicas postales
que había del Paraguay eran las suyas y se vendían con mucho éxito”, atualmente é objeto de
colecionadores.
Um segundo cartão-postal encontrado na pesquisa sobre a ponte, pertence ao acervo de
Claimar Erni Granzotto, um dos proprietários da Livraria Kunda fundada em 1989 em Foz do
Iguaçu. Claimar é um colecionador de cartões postais sobre Foz do Iguaçu e grande parte do
seu acervo foi adquirido no exterior, a exemplo do exposto na Imagem 81.
Este cartão-postal, produzido entre os anos 60/70, contém a paisagem binacional, e
expressa o olhar de quem aparentemente esta no “lado” brasileiro. A ponte esta ao fundo,
150 ABC. Fotos de Henning en Viedma. 16 nov. 2015. Disponível em: <http://www.abc.com.py/edicion-
impresa/artes-espectaculos/fotos-de-henning-en-viedma-1427372.html>. Acesso em: 09 out. 2018. 151 ABC. Que la imagen no se desvanezca. Disponível em: <http://www.abc.com.py/edicion-
impresa/opinion/que-la-imagen-no-se-desvanezca-1087006.html>. Acesso em: 09 out. 2018.
159
entorno de uma rica vegetação; a tonalidade do azul é ressaltado no céu e na água, no qual
proporcionalmente o rio Paraná toma o maior percentual no enquadramento. O destaque na
imagem está nos barcos, o principal meio de transporte binacional antes da ponte.
Imagem 81 – Cartão Postal da Ponte Internacional da Amizade. Fonte: Acervo pessoal de Claimar Erni Granzotto – Sem autoria.
O cartão-postal, não raro, torna-se um complemento nas memórias dos turistas, pois
além das fotografias tiradas por eles, ainda adquirem o cartão-postal como uma forma de
adicionar detalhes a paisagem visitada. Por tanto, torna-se um rico documento a ser pesquisado,
no sentido dos diferentes registros das cidades, das construções e até de hábitos cotidianos.
O cartão-postal é visto como um importante elemento de documentação da
história da atividade turística, do destino turístico, e dos hábitos e das práticas
associados ao turismo. Considera-se que o período de ouro dos cartões-postais
(1890-1940) é também um período extremamente importante na formação da
indústria do turismo, dos hábitos e comportamentos do turista e dos destinos
enquanto locais de visitação e tours (FRANCO, 2006, p. 34).
A fotografia ja é um elemento “comprobatorio” de experiências, a “prova” de ter ido até
a um dado lugar, e com a aquisição do cartão-postal, torna-se o “dossiê” mais testemunhal das
vivências.
Conforme Le Goff, “As fotografias tiradas pessoalmente junta-se a compra de postais.
Tanto as fotos quanto os postais constituem os novos arquivos familiares, a iconoteca da
memoria familiar” (LE GOFF, 2003, p. 461). Os cartões postais passaram a ser grandes
difusores de imagens, representando um conjunto de testemunhos históricos de como a
alteridade era praticada e socializada, à circular imagens em diferentes locais de espaços
considerados emblemáticos para quem os produzia.
160
O cartão-postal funciona como um propagador das cidades, evidenciando ambientes
urbanos e tecnológicos e, além de alimentar as memórias com as vivências e experiências dos
turistas, também atrai novos turistas curiosos em conhecer estes locais. Desta forma, o postal
acaba monumentalizando paisagens.
Neste subtópico, procurou-se, a partir das imagens impressas no cartão-postal discutir
seus usos e significados.
Este capítulo trabalhou com a análise e interpretação das imagens impressas nas
fotografias, ora composta de maneira a registrá-la intencionalmente no sentido de documentar
suas fases construtivas, ora contextualizada com uma reportagem, ora produzida
individualmente com o intuito de documentar a experiência de “estar na ponte” e também no
registro de fatos extraordinários. Nesta sequência de imagens com diferentes intencionalidades
de registro é possível compreender a construção da ponte indo além do senso comum, olhando-
a de diferentes maneiras e ângulos.
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Ponte Internacional da Amizade não raro é eclipsada pelas “grandes” atracões
turísticas de Foz do Iguaçu (Hidrelétrica, Cataratas, Marco das Três Fronteiras), ficando-a
muitas vezes associada a um meio para alcançar um fim (compras, trabalho, estudo). A memória
do ilícito é muito presente, constantemente reiterada pela mídia, divulgando práticas de
contrabando e tráfico. Algumas vezes é retratada como um símbolo do medo, da insegurança,
da anomia e outras vezes como símbolo de união e de integração. Não há uma memória e sim
várias memórias entorno deste monumento.
A ponte é um elemento arquitetônico que impactou a região binacional, aumentou a
mobilidade e transformou a paisagem integrando-se ao cenário do rio Paraná. A ponte tem valor
técnico, histórico, cultural e é depositária de um importante patrimônio para a comunidade.
Assim, como a ponte uniu dois países, essa pesquisa procurou reunir significados.
O espaço fronteiriço de intensa movimentação no rio Paraná ao receber sobre ele uma
ponte, ganha outra dinamicidade. A modernidade expressa na arquitetura, no concreto, na
infraestrutura urbana e na mobilidade, trouxe as bases de uma cidade moderna que foi aos
poucos se configurando na paisagem.
A paisagem estudada é binacional, por isso, a inevitabilidade de estudar a fronteira,
problematizando a função da ponte, pois ora une, ora ratifica um limite assegurado pelo controle
de cada Estado-nação. É uma paisagem que transcende a sua localidade pois está na bandeira,
na moeda, na cédula ou em um cartão-postal. O conceito de espaço desenvolvido por
CEARTEAU (2014), contribui para pensar a ponte além do lugar, pois espaco é “um lugar
praticado”, o que explica o reconhecimento de um pequeno grupo de crianças, elegendo a ponte
como um símbolo de “Diversidade e Identidade” e também pelos constantes e espontâneos
compartilhamentos de suas imagens, indicando tratar-se de um patrimônio histórico, na qual a
herança é reconhecida pela comunidade.
A Ponte da Amizade também está no campo da monumentalização, no sentido de,
intencionalmente servir para vincar uma memória, nesse modo, indicou-se insígnias e discursos
cumpridoras de um papel de perpetuar o passado no presente. Além disso, as fontes apontam
para a existência de três inaugurações, ou seja, as celebrações reforçadoras de mensagens,
principalmente dos grupos que celebram, apropriando-se não só do objeto em si, mas na
representação do objeto. Conforme Nora (1993), os lugares de memória, longe da
espontaneidade, necessitam de um trabalho constante para evitar o esquecimento.
162
A pesquisa investigou a construção da Ponte Internacional da Amizade, e procurou
compreender os pormenores relacionados às motivações do Brasil e Paraguai, bem como os
acordos binacionais para viabilizar tal projeto. O esforço da pesquisa trouxe uma percepção da
ponte além da usualmente manifesta, encarando-a como de extrema relevância binacional. A
ponte é importante para a economia do Paraguai e Brasil, porém é importante também para
mobilidade no continente.
A partir dela, a região oeste do Paraná se aproximou fisicamente do Paraguai, e o Brasil
não transpôs somente o rio Paraná, mas representou uma projeção continental através da
chamada Rodovia Transversal Pan-Americana alcançando Bolívia e Peru, estabelecendo uma
rota continental entre os oceanos Atlântico e Pacífico. O Paraguai concretizou o seu projeto de
ter alternativas além do Porto de Buenos de Aires, garantindo uma zona franca no Porto de
Paranaguá no Paraná, em contrapartida o Brasil se beneficiou com uma zona franca no Porto
de Concepción no Paraguai.
A Ponte Internacional da Amizade representou, na época de sua construção (1956-
1965), uma obra de arte arquitetônica, inovando na técnica construtiva ao viabilizar o maior
arco em vão livre do mundo, a partir das técnicas do balanço sucessivo e a utilização do concreto
armado, fato que demonstra o nível que a Engenharia e Arquitetura estavam no Brasil. E o que
significava o arco da ponte? Mais do que uma característica do seu tempo, o arco representava
a mobilidade, a navegabilidade do rio Paraná, pré-requisito para o projeto da ponte.
Buscou-se a partir dos vestígios materiais e imateriais expressos em imagens e
entrevistas compor a história dessa primeira ponte internacional na região da tríplice fronteira.
Para o descortino do tema buscou-se averiguar diferentes fontes com o objetivo de compreender
os sentidos e significados da ponte e as consequências nas dinâmicas da paisagem. Para isso, o
olhar para aspectos econômicos, políticos, sociais e afetivos foi alocado, no sentido de retratar
e decifrar a complexidade no entendimento do tema.
A transformação no entorno da obra foi visível, a Ciudad del Este, por exemplo, foi
fundada para recepcionar a ponte, oferecendo a infraestrutura necessária e, da mata existente,
nasceu a segunda maior cidade do Paraguai, tornando-se no ano de 2009 a terceira maior zona
franca do mundo. A cidade de Foz do Iguaçu, tem na ponte, uma protagonista do impulso
econômico que o município aportou, considerada por alguns depoentes como o “primeiro marco
do progresso”, portanto faz sentido acolhê-la na bandeira do município.
Estradas foram abertas, construídas e asfaltadas para que o acesso fosse facilitado.
Paraguai vislumbra o Atlântico, o Brasil, vislumbra o Pacífico e ambos se beneficiam ao
acordarem em viabilizar o acesso de suas fronteiras.
163
Para alcançar os resultados almejados, procuramos no primeiro capítulo discutir
aspectos teóricos e metodológicos já apresentando fontes de pesquisa para aprofundar a reflexão
sobre o objeto. Fundamentada na interdisciplinaridade, a História Cultural ancorou as reflexões
sobre as diferentes representações sobre a ponte com seus significados e significações, além de
auxiliar no uso e tratamento de diferentes fontes.
O segundo capítulo trouxe uma contextualização sobre a construção da ponte, para isso,
buscou-se explorá-la em sua totalidade. Buscou-se os elementos geográficos que explicam a
sua transposição, bem como a importância do rio Paraná no trânsito fronteiriço. A inserção da
ponte em um pequeno trecho de um projeto muito maior da chamada Rodovia Transversal Pan-
Americana, e as intenções políticas, econômicas e sociais do Brasil e Paraguai que viabilizaram
tal construção. Por último, o capítulo trouxe alguns efeitos e consequências na construção da
ponte para a região binacional.
O terceiro capítulo buscou construir a história da construção da ponte a partir das
imagens, nessa etapa trabalhou-se com as fotografias de diferentes etapas da obra,
oportunizando acessar a ponte em diferentes períodos sob distintos ângulos. O esforço para
descrever as especificidades técnicas foi despendido para entender a parte a engenharia
construtiva. A discussão deu-se tanto no aspecto histórico do registro quanto dos seus
significados.
A ponte não é somente uma obra arquitetônica monumentalizada, é também um objeto
onde orbita no entorno milhares de vidas, que olham-na com diferentes sentidos e significados,
aqui, procurou-se abordar apenas uma parte, mas tem um todo possível e merecido de ser
investigado.
164
FONTES
Documentos
CAFÉ FILHO, João. Ley nº 2571 – aplicación del crédito brasileiro [lei traduzida para o
espanhol]. Embaixada do Paraguai. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai,
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PASTOR, Raul Sapena. Comunicaciones terrestres con Brasil: zona franca em Paranaguá – 04
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Paraguai, Assunção, Paraguai.
PASTOR, Raul Sapena. Comunicaciones terrestres con Brasil – 10 de maio de 1955.
Embaixada do Paraguai Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção,
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Embaixada do Paraguai Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção,
Paraguai.
PASTOR, Raul Sapena. Concesión de una zona franca em Paranaguá – 22 de junho de 1955.
Embaixada do Paraguai Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção,
Paraguai.
PASTOR, Raul Sapena. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil
– 30 de agosto e 07 de dezembro de 1955. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do
Paraguai, Assunção, Paraguai.
PASTOR, Raul Sapena para o Sanchez Quell. Puente sobre el Rio Paraná – 14 de março de
1956. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção, Paraguai.
QUELL, Sanchez. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil – 14
de março de 1956. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção,
Paraguai.
QUELL, Sanchez para o Sapena Pastor. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio
de Janeiro, Brasil – 25 de setembro de 1956. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do
Paraguai, Assunção, Paraguai.
QUELL, Sanchez. Correspondência da Embaixada do Paraguai no Rio de Janeiro, Brasil – 04
de fevereiro de 1957. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai, Assunção,
Paraguai.
Entrevistas
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165
VERÍSSIMO JR., Vicente. Entrevista concedida em 04/02/2019 a Milena Mascarenhas.
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Fotografias
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Cartão Postal da Ponte Internacional da Amizade. Acervo pessoal de Claimar Erni Granzotto –
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