compartilhar memórias

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Por Isadora Stavale

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Apresentação de projeto para o TCC.

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Por Isadora Stavale

Isadora Rodrigues Stavale

AT7BAV

Maio / 2014

São Paulo - SP

Centro Universitário

Belas artes de São Paulo

Bacharelado em Artes Visuais:

Pintura, Gravura, Escultura.

Editorial A revista tem como objetivo apresentar o pré-projeto

para o Trabalho de Conclusão de Curso na linguagem

fotográfica e relacioná-lo com a linguagem

performática. A revista discute questões processuais,

de linguagem, de materialidade e poética, empregadas

em torno do trabalho. Este se constrói através de

estudos sobre a superfície da fotografia em relação ao

tempo. Para o desenvolvimento do projeto são

colocados, em um mesmo plano, dois momentos

diferentes da fotografia: a fotografia digitalizada

proposta pelo avanço tecnológico que caracteriza a

sociedade em que vivemos, e a fotografia de décadas

atrás.

O trabalho basicamente consiste em apropriação de

fotografias antigas (encontradas em antiquários/sebos,

ou através de amigos/conhecidos) e interferir sobre

elas com uma imagem atual impressa.

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Tempo,Camadas,

Sobreposição

Apropriação,

Vida,

Morte,

Materialidade.

Palavras-chave

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Resumo

O trabalho procura explorar a fotografia como matéria,

o tempo, as abruptas mudanças da relação do homem.

O avanço da tecnologia acaba por desmaterializar a

memória que se mantinha na imagem fotográfica ao

digitalizá-la, transformá-la em pixels no computador,

sem as marcas, os cheiros, os defeitos do papel, que

tanto me instigam. O álbum de família foi o fator de

inspiração para o projeto, mas se desdobrou ainda que

inocentemente para questões mais complexas que a

memória. O álbum de família dos nossos avós tornou-

se o álbum das redes sociais hoje em dia, aberto a

quem queira ver, simplesmente um montante de

imagens sem sentido feitas para promover a imagem

pessoal. Coloco esse tipo de imagem sobreposta ao

passado, as fotos tiradas para estranhos verem e não

para serem lembradas pela família e amigos reais. As

memórias estão se perdendo, os valores da sociedade

estão mudando, o trabalho assim carrega uma forte

carga simbólica, trazendo muitas reflexões para o

espectador.

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Derradeiro II, 2011. 8

Desenvolvimento

Procuro nesse projeto encontrar fotografias antigas de

caráter monocromático, do período entre 1940 e 1970

(ou até antes se possível), sendo estas tiradas de

preferência no Brasil. Para isso montei um roteiro das

principais feiras de antiguidades da cidade de São

Paulo, que acontecem geralmente nos fins de semana.

O processo consiste em reunir o máximo de

fotografias que eu conseguir, selecionar aquelas as

quais mais me instigam ou que “peçam” uma

intervenção. No caso das fotografias coloridas, a

seleção é feita pela busca em redes sociais de pessoas

aleatórias, que demonstrem de alguma forma o caráter

da sociedade atual de promover a imagem pessoal e

não o de guardar imagens para recordação.

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Feita a seleção de ambas, o intuito é digitalizar as

imagens antigas, fazer testes no Programa de Edição

de Imagem do computador, colocando a imagem

colorida em cerca de 50% de transparência em uma

camada acima da outra, para assim permitir a

visualização da imagem que está por trás, mas com

certa dificuldade. Escolhidas as imagens finais,

pretendo imprimir em colorido sobre fotografias do

mesmo material das originais (não oficiais), pois com

o mesmo tipo de superfície a probabilidade de erros na

impressão final diminui; e por fim imprimir de fato

sobre as originais.

O trabalho final é formado por uma série de

fotografias (de 3 a 5 imagens) colocadas em

sequência, a princípio coladas em um suporte

transparente (como o acrílico) penduradas ou na

parede, ou por fios também transparentes ligados à

ganchos presos no teto, permitindo até ver o verso da

fotografia ao andar ao redor. A escala do trabalho é

obrigatoriamente o tamanho das fotografias originais,

que são por natureza de pequeno formato. Desse

modo, o espectador é levado a se aproximar da obra e

tentar visualizar a imagem por trás.

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Disposição das obras

Sequência alinhada pelo centro.

Cada uma sobre base de acrílico.

Poética Ao pensar na poética do meu trabalho discuto, mesmo

que indiretamente, diversas questões como: a morte, já

que as pessoas que aparecem nas fotografias de mais

de quatro décadas atrás provavelmente não estejam

mais vivas; a memória de outras pessoas,

provavelmente esquecidas no caso das fotografias

deixadas em antiquários para venda; o caráter

fantasmático das imagens digitais, que perdem seu

valor à medida que são modificadas sem dificuldade

para as pessoas se mostrarem melhores do que a

própria realidade.

Mas além dessas reflexões, o que mais me interessa é

a comparação entre uma fotografia que tem um valor,

uma força histórica, e até mesmo uma subjetividade, e

outra completamente vazia de significado e riqueza de

matéria. Para essas pessoas que aparecem nas fotos

antigas, as fotos eram muito importantes, pois

revelação e filme eram extremamente caros, logo são

extremamente raras

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Assim compreende-se que se trata de uma preciosidade

de um momento da vida dessas pessoas. A fotografia

era um símbolo de compartilhamento. E, apesar de hoje

em dia as imagens também serem compartilhadas, a

presença física, o corpo a corpo, a conversa, se

perderam. Agora isso é feito de outra forma,

digitalmente.

O status também aparece nos tempos antigos, pois as

famílias mais ricas são as que mais tiravam fotografias,

mas o que se mostra é que são fotos mais valiosas que

as que aparecem no Facebook, citando um exemplo de

rede social de relevância. Consequentemente eu trago

uma leitura de corpos em diferentes mídias, em

diferentes momentos, as visões sobre o corpo humano

se modificando no tempo.

A imagem acaba se descobrindo como fantasma, de

certa forma se desmaterializando e desaparecendo,

quando a imagem passa a ser virtual e acessível em

grande quantidade. O fato de a imagem atual ter

opacidade reduzida é importante para mostrar esse

desparecimento da imagem enquanto matéria.

No meu trabalho se aplica uma técnica digital, ao me

utilizar de imagens da internet, e uma segunda técnica,

que seria a gráfica (maquina sofisticada) sobre uma

fotografia que tem em média 50 anos, ou seja, feitas

com técnicas hoje escassas.

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*Teste com imagens retiradas da internet.

*Teste com imagens retiradas da internet.

Relação com a Linguagem Performática

A linguagem da performance se apresenta em dois

momentos no meu trabalho: conceitualmente quando

penso como o corpo é visto pela sociedade no tempo

e a relação da fotografia com a vida e a morte, base

do pensamento performático, e quando faço uma

busca por fotografias que, apesar de terem valor para

mim, foram esquecidas pelas famílias que as

colocaram a venda em feiras de antiguidades e ainda

quando seleciono aquelas as quais mais me instigam

ou que “peçam” uma intervenção.

O contato do espectador com a obra é de caráter

contemplativo, não tem nenhuma relação com o corpo

e nenhuma interação tátil, apenas de observação, por

isso não pode ser colocado na categoria Performance,

mas ainda assim trás questões fortes a se discutir a

partir desta.

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