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Memória e Resultados das Oficinas Comunitárias visando o Diagnóstico Participativo para o Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro (ZEEC) do Setor Costeiro da Baía da Ilha Grande
I. Realização das Oficinas Comunitárias
As 04 oficinas comunitárias foram realizadas em novembro de 2013, contando com a
presença de lideranças locais e pessoas da comunidade interessadas no assunto. Dada à
extensão considerável da Zona Costeira da Baía da Ilha Grande e sua heterogeneidade
particular, optou-se pela realização de um numero maior de oficinas locais, cobrindo
diferentes setores da região, conforme sumarizado no Quadro 1.1, a seguir.
Quadro 1.1 – Informações gerais das oficinas comunitárias realizadas em novembro de 2013.
Setor Data Local
Ilha Grande 12/11/2013 Espaço Cultural Eletrobrás Eletronuclear, Angra dos
Reis;
Angra dos Reis 13/11/2013 Casa da Cultura, Abraão/Ilha Grande;
Paraty - Joatinga 25/11/2013 AMOT (Associação dos Moradores de Trindade),
Trindade;
Paraty - Mambucaba 26/11/2013 ITAE (Instituto Trilhas da Arte e Educação), Centro
Histórico de Paraty.
Todas as oficinas se basearam em um roteiro predefinido, composto por uma seção de
abertura, boas vindas e uma rodada de apresentações da equipe da DIGAT/GEGET, um
módulo de palestras (Parte I) voltadas à apresentação do instrumento e, finalmente, um
módulo de dinâmicas de grupo e discussões (Parte II) (Quadro 1.2). As palestras da
Parte I visaram uma conceptualização do ZEEC, sua metodologia e fundamentos legais,
dando enfoque nos seus potenciais ganhos diretos e indiretos e na importância das metas
de qualidade ambiental para a região. As dinâmicas da Parte II visaram, principalmente,
a elaboração, em ambiente participativo, de um quadro síntese para a Zona Costeira da
Baía da Ilha Grande, bem como a obtenção de subsídios ao diagnóstico, através da
espacialização de conflitos, fragilidades e potencialidades, caracterizando inputs dos
próprios usuários da Zona Costeira.
Quadro 1.2 – Programação das oficinas comunitárias do ZEEC da Baía da Ilha Grande.
Atividade Horário
Abertura, boas vindas e rodadas de apresentações;
Apresentação da Dinâmica Oficina. 13:00-13:30
Parte I – Entendendo o instrumento
Apresentação dos conceitos e fundamentos legais do ZEEC, da
metodologia e do inventário de informações existentes;
Apresentação do potencial e dos ganhos diretos e indiretos do
instrumento – ZEEC – para a RH 1 – Metas de qualidade ambiental
- O que é e o que não é ZEEC.
13:30 -14:30
Parte II – Construção do instrumento
Atividade em Grupo - Caracterização geral da RH 1, explanação de
conceitos aplicado ao diagnóstico - Elaboração do Quadro Síntese
da RH1;
Apresentação e discussão – Plenária;
Espacialização dos conflitos/problemas, fragilidades e
potencialidades - Mapeamento dos conflitos e potencialidades;
Apresentação e discussão – Plenária; 14:30 - 17:00
Encerramento, encaminhamentos da reunião e próximos passos. 17:30
Durante as palestras para contextualização e concepção do ZEEC (Figura 1.1), foram
abordados os seguintes itens:
I. Conceito do ZEEC (Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro);
II. Fundamentos legais do Instrumento.
III. Os objetivos do instrumento, ressaltando o seu caráter indicativo e normativo,
assim como sua escala de abrangência espacial (incluindo os conceitos de escala
tática e operacional);
IV. Áreas de abrangência do ZEEC, incluindo a área piloto, na Baía da Ilha Grande,
e as demais regiões hidrográficas costeiras do Estado do Rio de Janeiro.
V. Caracterização das pressões incidentes na Baía da Ilha Grande incluindo vetores
como: turismo desordenado, ocupação desordenada da orla marítima, introdução
de espécies exóticas, pesca predatória, assoreamento de corpos d’água,
atividades industriais, ausência de rede de saneamento, resíduos sólidos, grande
tráfego de embarcações, poluição por óleo no mar, acidentes ambientais.
VI. Principais temas estratégicos enfocados no diagnóstico: Qualidade de água em
ambientes costeiros; Setor industrial; Setor turístico; Setor portuário; Setor de
transporte viário e aquaviário; Setor pesqueiro; Indústria do petróleo;
Desenvolvimento urbano e Aquicultura.
VII. O Histórico de concepção do instrumento, desde a contratação de consultoria
técnica para análise legal/institucional, passando pelas oficinas de especialistas,
análise das experiências de outros estados (Pernambuco, Baixada Santista, etc.)
até as reuniões institucionais para alinhamento com as diretrizes Estaduais e
Federais.
VIII. Descrição das 5 fases da metodologia de elaboração do ZEEC.
IX. Apresentação da proposta de integração do ZEEC com o Plano de Bacia
Hidrográfica (PBH) da RH-I, atualmente em curso.
X. Os critérios de enquadramento do ZEEC, segundo a proposição de zoneamento
contida no Decreto nº5.300/2004 (vide Quadro 2.1.4.1).
Figura 1.1 – Fotos das atividades realizadas durante as Oficinas Comunitárias do ZEEC da Baía da Ilha
Grande
A apresentação referente à estratégia de Mobilização e Participação Social do ZEEC
abordou as etapas e níveis de articulação local (GT INEA), regional (Grupo de Trabalho
Regional) e Estadual (CZEE). Deu-se também ênfase ao fato de que as próprias
Oficinas Comunitárias constituiriam eventos voltados ao envolvimento e participação
conjunta da sociedade e instituições estratégicas na construção do instrumento. Foram
enfatizadas também questões estratégicas quanto à participação comunitária, como o
fornecimento de importantes subsídios ao diagnóstico do ZEEC e a sensibilização das
lideranças locais sobre a importância e os objetivos do instrumento.
O público também foi informado quanto às próximas etapas do processo de
envolvimento comunitário, que incluirão: (i) 04 mesas temáticas de diálogo, negociação
e pactuação (previstas para 2015) visando discutir as fragilidades, potencialidades,
conflitos de uso e as alternativas e soluções para os problemas setoriais identificados no
diagnóstico do ZEEC; e (ii) a realização de consultas públicas (sem data definida), para
apresentar a proposta preliminar do ZEEC, propiciando discussão e incorporação de
contribuições da sociedade na proposta final de zoneamento.
Na Parte II, que contou com inputs dos participantes (Figura 1.2), foram empregados
tabelas e mapas que puderam ser preenchidos com as contribuições dos participantes,
gerando material que subsidiou o diagnóstico do ZEEC.
Figura 1.2 – Fotos das atividades em grupo durante as Oficinas Comunitárias de
Diagnóstico Participativo do ZEEC.
II. Percepção geral do público quanto à proposta do ZEEC
O Processo de entendimento dos participantes sobre o papel do ZEEC na gestão
ambiental da região foi variado. Em todas as oficinas, o início das atividades foi
marcado por uma reação contrária a um novo instrumento de comando e controle, sob o
argumento de que já há na região um excesso de dispositivos de restrição ambiental,
muitos deles sobrepostos. Durante as discussões e esclarecimentos, foi demonstrado que
o ZEEC é um instrumento de organização das informações, de planejamento baseado
nas vocações e fragilidades do território, assumindo caráter complementar aos demais
dispositivos.
Ao apresentar a escala de atuação do ZEEC e especificar foco do zoneamento, foi
possível reverter a reação dos participantes em apoio ao instrumento. Dentre os
principais pontos surgidos nas discussões, destacam-se exatamente questionamentos
relacionados às sobreposições com outros instrumentos e/ou com o zoneamento urbano
e das Áreas de Proteção Ambiental.
Também foram levantadas questões quanto à inter-relação da Baía da Ilha Grande com
ambientes contíguos (especialmente com a Baía de Sepetiba), e sua forma de tratamento
pelo ZEEC. Outros questionamentos enfocaram a natureza das relações de
interdependência do ZEEC com os Planos de Bacia Hidrográfica.
Um ponto importante levantado referia-se a abrangência regulatória do ZEEC,
questionando a capacidade do instrumento na regulação de agentes poluidores
industriais, com maior poder econômico, e não apenas da população tradicional e
estratos mais pobres da sociedade. Outros questionamentos similares referiram-se,
especificamente, ao controle da Pesca Industrial e ao controle e monitoramento da
CNAAA.
Também houve questionamentos quanto a competência institucional sobre o uso do solo
urbano, especulando possíveis conflitos com outras instituições regulamentadoras do
uso do espaço da faixa terrestre e bens imóveis (IPHAN, ICMbio, Prefeitura e INEA em
Paraty), bem como do espelho d’água na faixa marinha (Capitania dos Portos, IBAMA,
MPA) da Baía de da Ilha Grande.
Outro ponto abordado referiu-se a aplicabilidade do ZEEC como instrumento de apoio à
gestão ambiental municipal, no ordenamento turístico e dos usos múltiplos no espelho
d’água da Baía da Ilha Grande.
Por fim, atentou-se para a necessidade de ampla divulgação e disponibilização do ZEEC
em plataformas de Internet.
O Quadro 2.1 sumariza as discussões conduzidas nas Oficinas Comunitárias, com base
nos inputs dos participantes, abordando os principais conflitos e potencialidades
associados às principais atividades econômicas conduzidas na Baía da Ilha Grande.
Quadro 2.1 – Síntese das discussões e contribuições obtidas nas Oficinas Comunitárias de Diagnóstico Participativo do ZEEC: conflitos e
potencialidades referentes às atividades econômicas conduzidas na Zona Costeira da Baía da Ilha Grande.
CARACTERIZAÇÃO/USOS PROBLEMAS/CONFLITOS FRAGILIDADES/VULNERABILIDADES POTENCIALIDADES
CONSTRUÇÕES IRREGULARES
NA ZONA COSTEIRA
Ocupação desordenada e irregular de
áreas costeiras
Aterramento do espelho d’água
Supressão de vegetação
Conflitos fundiários
Construções de quebramar (impede
fluxo mar)
Desconformidade Legal
Falta de saneamento ambiental e demanda
por serviços básicos
Proibição de passagem e uso público
Poluição ambiental
Erosão
Balneabilidade das praias
Risco de deslizamentos e inundações
Violência urbana
Fiscalização efetiva
Arrecadação
Moradia e planejamento urbano
Construções ETEs
Possibilidade de realocação em
áreas adequadas
Compatibilização das áreas com uso
para moradia com a preservação
ambiental
TURISMO
Atividades industriais
Praias privatizadas
Comunicação ineficaz
Segurança
Falta de patrulhamento turístico
Falta de infraestrutura
Falta de organização
Falta de ordenamento
Sobrecarga dos ambientes
Degradação ambiental
Falta de atividades de educação ambiental
Falta de sinalização turística
Excesso de concentração de turistas em
pontos específicos (p.ex. Lagoa Azul)
Falta de guias com capacitação
Organização em infraestrutura
turística.
Implantação da guarda municipal
marítima e ambiental
Conservação
Capacidade suporte
Qualificação local
Geração de emprego?
Desenvolvimento Econômico?
Lazer local Fomento do turismo
mais sustentável
Fomento de acordo com as
características da região e com os
anseios da comunidade
UC’S (FEDERAIS, ESTADUAIS E
MUNICIPAIS) Abandono Falta de Plano de Ação de Manejo
PRESENÇA DA MATA
ATLÂNTICA CONSERVADA
Fragmentação
Desmatamento
Falta de fiscalização
Abusos pela sociedade
Alta qualidade ambiental
Biodiversidade elevada
Potencial de pesquisas
Ecoturismo
Quadro 2.1 (continuação)
CARACTERIZAÇÃO/USOS PROBLEMAS/CONFLITOS FRAGILIDADES/VULNERABILIDADES POTENCIALIDADES
ATIVIDADE PESQUEIRA
Artesanal vs. Industrial
Legislação Ambiental (defeso e UCs)
Pescadores de fora da BIG
Atividade imobiliária –
comprometimento das zonas
produtoras (berçários)
Falta de demarcação física
(sinalização) e divulgação das áreas
de pesca
Arrasto em áreas proibidas
Descompromisso com a venda do
pescado em Angra (sem geração de
tributos para o município)
Degradação ambiental (pesca predatória)
Diminuição recursos pesqueiros
Poluição industrial (lançamento óleo,
processamento)
Geração de renda local
Fortalecimento pesca local
PESCA DE ARRASTO
Estoque de peixes
Pesca de peixes pequenos
Prejuízo à pesca artesanal
Incapacidade de recomposição do estoque;
Fiscalização Ineficiente.
Pesca Artesanal
Turismo
Estudos científicos sobre a
biodiversidade
MARICULTURA (AQUICULTURA) Faltam capacitação e expansão da atividade
de maneira ordenada
PRESENÇA DE COMUNIDADES
TRADICIONAIS
Dependência do ecossistema
Desvalorização da cultura
Comunidades sem serviços básicos
Necessidade de emprego e renda
Atividades Culturais
Conservação pela comunidade
Quadro 2.1 (continuação)
CARACTERIZAÇÃO/USOS PROBLEMAS/CONFLITOS FRAGILIDADES/VULNERABILIDADES POTENCIALIDADES
ATIVIDADE IMOBILIÁRIA
Expulsão população nativa
Praias privatizadas
Elevado custo de vida
Ocupação irregular orla e encostas
Monopolização dos recursos e
localização
Sazonalidade (veraneio)
Demanda por serviços
IPTU
Disponibilidade de moradias para a
população local
Geração emprego/renda
CONSTRUÇÃO IRREGULAR AO
LADO DE CORPOS DA ÁGUA
Impacto sobre o turismo
Impacto sobre a pesca
Esgoto
Lixo
Erosão
Poluição
Qualidade ambiental
Sustentabilidade da atividade
turística.
USO DO SOLO URBANO/RURAL
Impacto sobre o turismo
Impacto sobre a pesca
Baixo apoio, especulação imobiliária.
Acesso a serviços
Pressão sobre a RH e M.A.
Aglomeração
Solo/Rh/Soc.
Esgoto
Lixo
Erosão
Poluição
Qualidade de Vida
POLITICA MUNICIPAL DE
GESTÃO DOS RESIDUOS
SOLIDOS
Falta de Local de armazenagem
temporária para recicláveis
Aumento do volume de lixo que ocupa o
aterro de Angra dos Reis
Geração de renda
Aumento da reciclagem
AUSÊNCIA DE SANEAMENTO
BÁSICO
Impacto sobre o turismo
Impacto sobre a pesca
Degradação Ambiental
Diminuição do turismo
Esgoto
Lixo
Erosão
Poluição
Fragilidade da saúde da população
Contaminação permanente do lençol
freático
Qualidade de vida
Saúde
Implantação de soluções alternativas
de esgoto sanitário para
comunidades.
Não permitir a instalação de
elevatórias
Quadro 2.1 (continuação)
CARACTERIZAÇÃO/USOS PROBLEMAS/CONFLITOS FRAGILIDADES/VULNERABILIDADES POTENCIALIDADES
TRANSPORTE MARÍTIMO
(PETRÓLEO)
Vazamento hidrocarbonetos
Troca água de lastro
Área de exclusão navegação (demais
embarcações)
Espécie exótica invasora: “coral sol”
Turismo
Aquecimento de atividades
imobiliárias
Falta definição com estudo técnico de áreas
de fundeio
Monitoramento das espécies exóticas
invasoras nas águas de lastro
Risco ambiental e degradação cênica
Traz recursos (dinheiro)
Imposto
Emprego
Movimenta a economia
PRÉ-SAL Aumento de barcos transportadores
Poluição residual
Poluição visual
Distúrbio das rotas dos animais marinhos
Controle
Fiscalização eficiente
AGRICULTURA E PRODUÇÃO DE
ALIMENTOS
Falta de legislação específica para
produção de alimento com ganho
ambiental
Falta de regulamentação dos
Sistemas Agroflorestais
Falta de espaços disponíveis
Falta de fortalecimento institucional e
capacitação
Falta de produtos orgânicos
NAVEGAÇÃO E USO DAS PRAIAS Segurança na navegação
Segurança nas praias e costão
Controle tráfego
Qualidade Ambiental
Fiscalização capitania dos portos
Atuação de uma fiscalização
costeira
SETOR NÁUTICO (MARINAS)
Barcos privados x Barcos de uso
coletivo (turismo)
Monopolização recursos / áreas
costeiras
Poluição Marítima;
Lanchas vs. Banhistas
Lanchas vs. Vida marinha
Fuga de peixes, atrapalhando a pesca
Degradação ambiental (despejo óleo)
Capacidade suporte
Ordenamento da área Marinha
(Onde se pesca e onde pode ter
turismo).
Geração renda/emprego
Quadro 2.1 (continuação)
CARACTERIZAÇÃO/USOS PROBLEMAS/CONFLITOS FRAGILIDADES/VULNERABILIDADES POTENCIALIDADES
CENTRAL NUCLEAR
Conflito paisagístico;
Comprometimento da biota;
Turismo
Falta de divulgação de
acidentes/vazamentos já existentes de
efluentes da indústria nuclear.
Vulnerabilidade da biodiversidade ao
superaquecimento da água
Risco de contaminação
Falta de comunicação
Falta de licença ambiental
Falta de um programa de educação
ambiental efetivo
Maior controle da poluição
Fiscalização compartilhada com a
população;
Metas de melhoria de efluentes
Monitoramento
Divulgação dos vídeos que mostram
os vazamentos.
II. Próximas ações
Os resultados do diagnóstico serão apresentados e discutidos junto a painéis de
especialistas e representantes da sociedade, através de mesas de diálogos, mediadas por
moderador. Além da apresentação e validação dos temas e análises desenvolvidos na
fase de diagnóstico, estas reuniões visam criar espaço para discussões que produzam
novas contribuições ao Processo de Zoneamento, em particular à etapa subsequente de
Prognóstico.
Após a elaboração do Prognóstico, serão realizadas novas reuniões devolutivas, com o
intuito de apresentar uma Proposta Preliminar de Zoneamento, viabilzando novas
contribuições e um refinamento do instrumento.
Após a elaboração da Proposta final do ZEEC, esta será submetida a Consultas
Públicas, visando sua validação e divulgação em um patamar mais amplo, admitindo
ainda novas contribuições. Finalmente, a proposta aprovada deverá ser convertida em
um dispositivo legal, seguindo os trâmites adequados.