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8/19/2019 Memórias de um sargento de milícias - material para aula

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WELINGTON FERNANDES MATERIAL COMPLEMENTAR – TODAS AS TURMAS – 2010  

Memórias de um Sargento de Milícias, 1852-1854,Manuel Antonio de Almeida

Fortuna crítica:Memórias de um Sargento de Milícias, obra-prima e única de Manuel António de Almeida é uma obra singular em vários aspectos. Suaortuna crítica a! inve"a a de muitas obras dos mais consagradosautores de nossa língua. #m parte isso se deve ao ato de o livro ter

agradado n$o apenas a um público considerável mas, principalmente,por ter sido muito apreciado por alguns dos mais importantes autores%ue o sucederam. & desse modo %ue Mac'ado de Assis o elegeucomo um dos modelos a serem emulados. (ambém Mário de Andradenutre grande admira)$o por esse livro %ue ele c'ega a estudar e parao %ual publica um preácio-comentário.*m dos primeiros críticos a analisar a obra prima de Manuel Antoniode Almeida ainda no inal do século ++ oi osé eríssimo para %uemas memórias se coniguravam como uma obra prérea!is"a devido aoprevalecimento de camadas populares representadas através de suaspersonagens. /a década de 01 do século passado, o crítico 2arc32amasceno ponderou %ue Memórias #e $m sar%e&"' #e mi!()ias n$ose en%uadrava nas conven)4es da época em %ue ora publicado eclassiicou o romance como pertencente 5 tradi)$o das &'*e!as pi)ares)as espan'olas dos séculos + e +, segundo ele a obra de Antonio de Almeida seria, portanto um r'ma&)e pi)ares)'. & tambémdesse modo %ue o grande poeta, romancista e crítico literário Mário de Andrade 6%ue, em parte, se inspirou em 7eonardo para a constru)$ode seu Ma)$&a(ma8 analisa o livro, como um r'ma&)e pi)ares)'. (alclassiica)$o prevalece, mais ou menos, até a análise proposta por António 9andido para %uem o livro de Antonio de Almeida seria umaobra de r'ma&"ism' a"(pi)' ou, nas palavras do crítico, r'ma&"ism'e+),&"ri)'. crítico destaca no romance a emerg;ncia dama!a&#ra%em, %ue representa uma op)$o de vida para os pobreslivres no século ++. Segundo ele, e<iste um universo %ue pareceliberto do peso do erro e do pecado, pois constitui uma representa)$oda sociedade brasileira - a dos 'omens livres do =rasil de ent$o -reveladora da vasta acomoda)$o geral %ue dissolve os e<tremos. >orisso, a lei e a ordem perdem o signiicado pois Manuel Antonio de Almeida, ao n$o e<primir uma vis$o da classe dominante, mostra umarealidade válida para lá, mas também para cá da norma e da lei. *ma

realidade %ue aponta para a luide!, %ue é uma das dimens4esecundas do universo cultural brasileiro, onde a obsess$o da ordem sósurge como princípio abstrato, e a da liberdade como capric'o.>ortanto, segundo o crítico, a narrativa apresenta uma análise crítica eir?nica dos costumes morais estruturando-se a partir do antagonismo:ORD! " D#ORD!. A primeira representada pela sociedadeconstituída e pelo aparato legal 6personiicada na igura do Ma"oridigal8 @ como tal, o universo da classe dirigente. A DESORDEM , porsua ve!, representada pelos es"ra"'s mé#i's e p'p$!ares, para %uemas leis e os valores estabelecidos nunca seriam inle<íveis. Ama!a&#ra%em ocuparia, portanto, uma ronteira bastante t;nue eva!adaB entre esses dois e<tremos. 9omo conse%C;ncia imediatatodos os personagens vivem nesta esera de ambigCidade moral. alelembrar %ue apesar da Dlisura moralE com a %ual o Ma"or idigal écaracteri!ado, nem mesmo ele escapa totalmente da am'ra!i#a#e %ue

perpassa a obra. episódio em %ue n$o apenas per#'a como aindapromove 7eonardo a sargento e, posteriormente, o realoca no postode Sargento de Milícias em troca de viver em compan'ia de Mariaegalada o %ue diga-se claramente n$o é nada mais nada menos do%ue Davores se<uaisE é emblemático disso.

Fic'a de leituraG Autor @ vale destacar %ue Manuel Antonio de Almeida a! parte deum grupo de autores %ue se notabili!aram por uma única obra devulto. /o caso, dele talve! isso em parte se deva ao ato de termorrido "ovem 6aos trinta anos, num naurágio8. #m parte tambémpor%ue para ele 6apesar da mestria com %ue narra8 a literatura osseapenas um 'obb3. #ra médico, uncionário público, tipógrao,musicista e pintor. # n$o é diícil perceber a inlu;ncia dessa últimaaceta em seu trabal'o literário. colorido %ue se sobressai em seu

envolvente descritivismo n$o deve ser considerado mero pano deundo para a a)$o, mas um dos principais componentes de suanarrativa.G 9lassiica)$oHen%uadramento: omance ma!a&#r'I omantismoe<c;ntricoI omanceG Aspectos @ memorialísticoI ragmentário-episódicoI costumbristaIamoralI popularI um tanto picarescoI rea!ism' 6n$o no sentido de

#scola 7iterária, mas sim de um certo *erism' #')$me&"a!  naabordagem %ue se a! dos atos da vida cotidiana8G (empo H #spa)o @ era &' "emp' #-E! Rei D. /'' I ... u se"a, o iode aneiro nas primeiras décadas do Século ++I subúrbio cariocaI

 

G >rotagonista @ anti-'eróiI ociosoI vadioI namoradorI proto-malandro.

 Figura 5 es%uerda representa o ma!a&#r'I 5 direita a vers$o em%uadrin'os do clássico de Manuel Antonio de Almeida, no tra)o doartista =ira 2antas.

G Antagonista @ osé Manuel, pretendente e primeiro marido de7uisin'a.G >ersonagens @ membros da pe%uena burguesiaI popularesI classes

bai<asI uncionários públicos e militares de bai<a patente.G #nredo @ basicamente estrutura-se a partir de lagrantes da dinJmicasocial: 9iganos, oocas, boatos, arrua)as, noitadas, olguedos,mentiras, trai)4es grandes ou pe%uenas, embustes, trambi%ues,eiti)arias, macumbas, estas, prociss4es. A trama, em síntese é aseguinte: 7eonardo, il'o de uma pisadela e um belisc$o, após adissolu)$o do DlarE de seus progenitores 6>ataca e Maria a Kortali)a,devido 5 inidelidade desta8 passa aos cuidados do padrin'o, obarbeiro. menino acaba sendo muito mimado por esse seu tutor,%ue l'e permite levar uma inJncia de ociosidade, capric'os evadiagem. Ainda na pré-adolesc;ncia, trabal'a por um pe%uenoperíodo de tempo como au<iliar na missa da Sé. casi$o em %ue travaami!ade com outro rapa!in'o t$o vadio %uanto ele próprio %ue oacompan'a em algumas tra%uinagens 6como na vingan)a contra suadesaeta, uma vi!in'a utri%ueira8. Após o racasso na escola, em %ue

se destacava pelos bolos e pela inaptid$o para as li)4es, e o iasco emseu trabal'o de au<iliar na missa, o 7eonardo con'ece 7uisin'a, por%uem se apai<ona e de %uem se tornará marido ao im da narrativa./o entanto, antes desse desec'o eli!, 'á espa)o para %ue nossoanti-'erói sora com a Dconcorr;nciaE e até uma temporária derrotapara um a&"a%'&is"a nos assuntos do cora)$o 6o arrivista oséManuel8I uma nova pai<$o pela mulatin'a ogosa idin'a e a antipatiaenciumada de seus primo-pretendentes e ainda para as ugas dealgumas ciladas e emboscadas, nas %uais se destacava a igurarepresentativa da rdem @ ma"or idigal. /$o dei<a de ser curioso eliterariamente DmodernaE a caracteri!a)$o do Ma"or. Ainal, embora se"auma igura temida e respeitada por seus contemporJneos é a ele 6eaos DencantosE %ue 2ona Maria egalada e<ercia sobre ele8, %ue7eonardo alcan)a o posto estampado no título da narrativa.G #strutura @ L capítulos episódicos e relativamente aut?nomos doponto de vista da Dtrama principalE. /a verdade, é diícil alar em tramaprincipal, uma ve! %ue a obra é ragmentária, descritivista ecostumbristaN e apresenta como um dos únicos ios condutores abiograia do il'o de 7eonardo >ataca com Maria da Kortali)a.

1 Diz-se da narrativa de costumes, ou seja, aquela que enfoca astradições, os hábitos e os costumes de uma dada época.

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ogos nantis, de =ruegel 6o vel'o8 em N0O1: brincadeiras inantis ecostumes sociais.

G /arrador @ Pa pessoa muito interessante o modo como o autor

constrói essa narrativa: por um lado, 'á o dinamismo de um DcausoEcontado em prosa cotidiana. autor simula um Dbate-papoE, como se onarrador estivesse a dialogar com o leitor. >or outro lado, 'á como %ueuma segura condu)$o da narrativa até um desec'o 6%ue n$o sedistancia do típico 'app3-end ol'etinesco8. 2o %ual, bastaria citar otítulo do último capítulo para se ter um idéia +7 @ 9onclus$o Feli!BG 7inguagem @ atípica para o padr$o literário de sua épocaIinluenciada pelo dinamismo da linguagem "ornalística e pelo padr$oda ala, ou se"a, linguagem colo%uial 6embora para um leitor atualpossa, 5s ve!es, parecer um tanto ormal8.

Seleta de trechos representativos

(rec'o N @ aten)$o 5 linguagem )'!'$ia! , ao aspecto memorialístico eao tom despo"ado e intimista.

- Q#M, /AS9M#/( # =A(SM#ra no tempo do rei.*ma das %uatro es%uinas %ue ormam as ruas do uvidor e daRuitanda, cortando-se mutuamente, c'amava-se nesse tempo @ O)a&"' #'s meiri&3's –4 e bem l'e assentava o nome, por%ue era aí olugar de encontro avorito de todos os indivíduos dessa classe 6%uego!ava ent$o de n$o pe%uena considera)$o8. s meirin'os de 'o"en$o s$o mais do %ue a sombra caricata dos meirin'os do tempo do reiIesses eram gente temível e temida, respeitável e respeitadaIormavam um dos e<tremos da ormidável cadeia "udiciária %ueenvolvia todo o io de aneiro no tempo em %ue a demanda era entrenós um elemento de vida: o e<tremo oposto eram osdesembargadores. ra, os e<tremos se tocam, e estes, tocando-se,ec'avam o círculo dentro do %ual se passavam os terríveis combatesdas cita)4es, provarás, ra!4es principais e inais, e todos esses

tre"eitos "udiciais %ue se c'amava o pr')ess'.2aí sua inlu;ncia moral.Mas tin'am ainda outra inlu;ncia, %ue é "ustamente a %ue alta aos de'o"e: era a inlu;ncia %ue derivava de suas condi)4es ísicas. smeirin'os de 'o"e s$o 'omens como %uais%uer outrosI nada t;m deimponentes, nem no seu semblante nem no seu tra"ar, conundem-secom %ual%uer procurador, escrevente de cartório ou contínuo dereparti)$o. s meirin'os desse belo tempo n$o, n$o se conundiamcom ninguémI eram originais, eram tipos, nos seus semblantestranslu!ia um certo ar de ma"estade orense, seus ol'ares calculadose saga!es signiicavam c'icana. (ra"avam sisuda casaca preta, cal)$oe meias da mesma cor, sapato aivelado, ao lado es%uerdoaristocrático espadim, e na il'arga direita penduravam um círculobranco, cu"a signiica)$o ignoramos, e coroavam tudo isto por umgrave c'apéu armado. 9olocado sob a importJncia vanta"osa destascondi)4es, o meirin'o usava e abusava de sua posi)$o. #ra terrível%uando, ao voltar uma es%uina ou ao sair de man'$ de sua casa, ocidad$o esbarrava com uma da%uelas solenes iguras %ue,desdobrando "unto dele uma ol'a de papel, come)ava a l;-la em tomconidencial >or mais %ue se i!esse n$o 'avia remédio em taiscircunstJncias sen$o dei<ar escapar dos lábios o terrível @ D'$me p'r )i"a#'. @ /inguém sabe %ue signiica)$o atalíssima e cruel tin'amestas poucas palavras eram uma senten)a de peregrina)$o eterna

%ue se pronunciava contra si mesmoI %ueriam di!er %ue se come)avauma longa e aadigosa viagem, cu"o termo bem distante era a cai<a daela)$o, e durante a %ual se tin'a de pagar importe de passagem emum sem-número de pontosI o advogado, o procurador, o in%uiridor, oescriv$o, o "ui!, ine<oráveis 9arontesT, estavam 5 porta de m$oestendida, e ninguém passava sem %ue l'es tivesse dei<ado, n$o umóbolo, porém todo o conteúdo de suas algibeiras, e até a últimaparcela de sua paci;ncia,

Mas voltemos 5 es%uina. Ruem passasse por aí em %ual%uer dia útildessa aben)oada época veria sentado em assentos bai<os, ent$ousados, de couro, e %ue se denominavam @ cadeiras de campan'a @um grupo mais ou menos numeroso dessa nobre gente conversandopaciicamente em tudo sobre %ue era lícito conversar:

- 2espedida 5s travessuras @ 7eonardo o precursorB de Macunaíma6...8 pe%ueno, en%uanto se ac'ou novato em casa do padrin'o,>ortou-se com toda a sisude! e gravidadeI apenas porém oi tomandomais amiliaridade, come)ou a p?r as manguin'as de ora. Apesardisto porém captou do padrin'o maior aei)$o, %ue se oi aumentandode dia em dia, e %ue em breve c'egou ao e<tremo da ami!ade cega eapai<onada. Até nas próprias travessuras do menino, as mais dasve!es malignas, ac'ava o bom do 'omem muita gra)aI n$o 'avia paraele em todo o bairro rapa!in'o mais bonito, e n$o se artava de contar5 vi!in'an)a tudo o %ue ele di!ia e a!iaI 5s ve!es eram verdadeirasa)4es de menino malcriado, %ue ele ac'ava c'eias de espírito e devive!aI outras ve!es eram ditos %ue denotavam "á muita vel'acariapara a%uela idade, e %ue ele "ulgava os mais ing;nuos do mundo.#ra isto natural em um 'omem de uma vida como a suaI tin'a "á 01 etantos anos, nunca tin'a tido aei)4esI passara sempre só, isoladoIera verdadeiro partidário do mais decidido celibato. Assim 5 primeiraaei)$o %ue ora levado a contrair sua alma e<pandiu-se toda inteira, eseu amor pelo pe%ueno subiu ao grau de rematada cegueira. #ste,aproveitando-se da imunidade em %ue se ac'ava por tal motivo, a!iatudo %uanto l'e vin'a 5 cabe)a.*mas ve!es sentado na lo"a divertia-se em a!er caretas aosregueses %uando estes se estavam barbeando. *ns enureciam-se,outros riam sem %uererI do %ue resultava %ue saíam muitas ve!es coma cara cortada, com grande pra!er do menino e descrédito dopadrin'o. 6...8 /$o parava em casa coisa alguma por muito tempo

inteiraI a!ia andar tudo numa poeiraI pelos %uintais atirava pedras aostel'ados dos vi!in'osI sentado 5 porta da rua, entendia com %uempassava e com %uem estava pelas "anelas, de maneira %ue ninguémpor ali gostava dele. padrin'o porém n$o se dava disto, econtinuava a %uerer-l'e sempre muito bem. Qastava 5s ve!es asnoites em a!er castelos no ar a seu respeitoI son'ava-l'e uma grandeortuna e uma elevada posi)$o, e tratava de estudar os meios %ue olevassem a esse im. #is a%ui pouco mais ou menos o io dos seusraciocínios. >elo oício do pai... 6pensava ele8 gan'a-se, é verdade,din'eiro %uando se tem 5ei"'6 porém sempre se 'á de di!er:-ora, é ummeirin'o... /ada... por este lado n$o... >elo meu oício... erdade é%ue eu arran"ei-me 6'á neste arra&5eime uma 'istória %ue 'avemosde contar8, porém n$o o %uero a!er escravo dos %uatro vinténs dosregueses... Seria talve! bom mandá-lo ao estudo... porém para %uediabo serve o estudoU erdade é %ue ele parece ter boa memória, e

eu podia mais para diante mandá-lo a 9oimbra... Sim, é verdade... euten'o a%uelas patacasI estou "á vel'o, n$o ten'o il'os nem outrosparentes... mas também %ue diabo se ará ele em 9oimbraU licenciadon$o: é mau oicioI letradoU era bom... sim, letrado... mas n$oI n$o,ten'o !anga a %uem me lida com papéis e demandas... 9lérigoU... umsen'or clérigo é muito bom... é uma coisa muito séria... gan'a-semuito... pode vir um dia a ser cura. #stá dito, 'á de ser clérigo... ora,se 'á de serI 'ei de ter ainda o gostin'o de o ver di!er missa... de over pregar na Sé, e ent$o 'ei de mostrar a toda esta gental'a a%ui davi!in'an)a %ue n$o gosta dele %ue eu tin'a muita ra!$o em l'e %uererbem. #le está ainda muito pe%ueno, mas vou tratar de o ir desasnandoa%ui mesmo em casa, e %uando tiver NT ou NL anos 'á de me entrarpara a escola.

nclus$o do 7eitor V M.A. de Almeida precursorB de Mac'ado de Assis

>or estas palavras v;-se %ue ele suspeitara alguma coisaI e saiba oleitor %ue suspeitara a verdade.#spiar a vida al'eia, in%uirir dos escravos o %ue se passava no interior das casas, era na%uele tempo coisa t$o comum e enrai!ada nos

2 arqueiro que, se!undo a tradiç"o, cobra#a uma moeda paraatra#essar as almas de um para outro dos planos #ida $ morte.

T

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costumes, %ue ainda 'o"e, depois de passados tantos anos, restamgrandes vestígios desse belo 'ábitoP. Sentado pois no undo da lo"a,aiando por disarce os instrumentos do oício, o compadre presenciaraos passeios do sargento por perto da rótula de 7eonardo, as visitase<temporJneas do colega deste, e inalmente os intentos do capit$odo navio. >or isso contava ele mais dia menos dia com o %ue acabavade suceder. A7M#2A, Manuel Ant?nio de. Memórias de um sargento de milícias.

T0W ed., S$o >aulo: Xtica, NYYO 6=om 7ivro8.#ntretanto vamos satisa!er ao leitor, %ue 'á de talve! ter curiosidadede saber onde se meteu o pe%ueno.9om os emigrados de >ortugal veio também para o =rasil a praga dosciganos. Qente ociosa e de poucos escrúpulos, gan'aram eles a%uireputa)$o bem merecida dos mais reinados vel'acos: ninguém %uetivesse "uí!o se metia com eles em negócio, por%ue tin'a certe!a delevar carolo. A poesia de seus costumes e de suas cren)as, de %uemuito se ala, dei<aram-na da outra banda do oceanoI para cá sótrou<eram maus 'ábitos, esperte!a e vel'acaria, e se n$o, o nosso7eonardo pode di!er alguma coisa a respeito.

dem, cap.

#stilo @ digress4es, lasbacZs e las'o[ards9umpre-nos agora di!er alguma coisa a respeito de uma personagem%ue representará no correr desta 'istória um importante papel, e %ue oleitor apenas con'ece, por%ue nela tocamos de passagem no primeirocapitulo: é a comadre, a parteira %ue, como dissemos, servira demadrin'a ao nosso memorando. A7M#2A, Manuel Ant?nio de. Memórias de um sargento de milícias.T0W ed., S$o >aulo: Xtica, NYYO 6=om 7ivro8 - 9ap. \

#is a%ui pouco mais ou menos o io dos seus raciocínios. >elo oíciodo pai... 6pensava ele8 gan'a-se, é verdade, din'eiro %uando se tem 5ei"'6 porém sempre se 'á de di!er:-ora, é um meirin'o... /ada... poreste lado n$o... >elo meu oício... erdade é %ue eu arran"ei-me 6'áneste arra&5eime uma 'istória %ue 'avemos de contar8, porém n$o o%uero a!er escravo dos %uatro vinténs dos regueses...

dem, 9ap. P+ - -AA/#-M#-2 9M>A2#

s leitores estar$o lembrados do %ue o compadre dissera %uandoestava a a!er castelos no ar a respeito do ail'ado, e pensando emdar-l'e o mesmo oicio %ue e<ercia, isto é, da%uele arran"ei-me, cu"ae<plica)$o prometemos dar. amos agora cumprir a promessa.Se alguém perguntasse ao compadre por seus pais, por seusparentes, por seu nascimento, nada saberia responder, por%ue nadasabia a respeito. (udo de %ue se recordava de sua 'istória redu!ia-sea bem pouco.

dem, 9ap. Y

s leitores devem estar lembrados de %ue o nosso antigo con'ecido,de %uem por algum tempo nos temos es%uecido, o 7eonardo->ataca,apertara-se em la)os amorosos com a il'a da comadre, e %ue comela vivia em santa e 'onesta pa!. >ois este viver santo e 'onesto deuem tempo oportuno o seu resultado.

dem, 9ap. TL

São escassas e sutis as referências à escravidão  á na%uele tempo 6e di!em %ue é deeito do nosso8 o empen'o, ocompadresco, eram uma mola real de todo o movimento social.] ai mandar aprontar a cadeirinha, disse 2. Maria a uma de suasescravas.] amos, sen'ora, vamosI %ue isto s$o os meus pecados vel'os.  2. Maria aprontou-se, meteu-se na sua cadeirin'aI a comadretomou a mantil'a, e partiram para a >rain'a.  Maria-egalada recebeu-as com uma boa risada.] Rue milagre de Santa #ngrácia %ue ortuna %ue alegr$o %ue atra! por a%uiU sto é grande novidade] & novidade, sim, respondeu 2. Maria, porém triste novidade.  9om as 'onras do estilo, %ue n$o eram muitas na%uele tempo, oi

a comadre apresentada, por%ue n$o era con'ecida deMaria-egalada. >rimeiro 2. Maria, depois a comadre, contaram, cadauma por sua parte, a 'istória do 7eonardo com todos os detal'es, edepois de inúmeros rodeios, %ue puseram a arder a paci;ncia daouvinte, e %uase a i!eram morrer de curiosidade, c'egaram

% &erceba a clara ironia do comentário relati#o ' pratica dabisbilhotice e da fofoca.

inalmente ao ponto importante, ao motivo %ue ali as levara: %ueriamnada menos do %ue a soltura e perd$o do 7eonardo, e contavam paraalcan)ar semel'ante coisa com a inlu;ncia da Maria-egalada sobreo ma"or.] ra, disse esta tomando um ar de modéstia, eu "á n$o presto paranada... isso era bom noutro tempo... agora... o ma"or... as coisas est$omudadas, 2. Maria... depois %ue ele se meteu na polícia... nem maisnem ontem... %uem sabe o %ue por lá vai... Mas enim, 2. Maria, eu

n$o sei di!er %ue n$o, ten'o o cora)$o assim, e sempre o tive... nomeu tempo muita gente se aproveitou disto... #u arei o %ue puderI voualar-l'e... talve! %ue ele me %ueira atender...

69ap. +7 @ #mpen'os8

9adeirin'a @ 2ebret

Intertextualidade

mestre-de-cerim?nias era um padre de meia idade, deigura menos má, il'o da l'a (erceira, porém %ue se dava por puroalacin'a: tin'a-se ormado em 9oimbraI por ora era um completoS$o Francisco de austeridade católica, por dentro reinadoSardanápalo1, %ue podia por si só ornecer a =ocage assunto para um

poema inteiroI era pregador %ue buscava sempre por assunto a'onestidade e a pure!a corporal em todo o sentidoI poréminteriormente era sensual como um sectário de Maona2. públicoignorava talve! semel'ante coisa, porém outro tanto n$o aconteciaaos dois meninos, %ue andavam ao ato de tudo: omestre-de-cerim?nias, iado em %ue pela sua pouca idade dariam elespouca aten)$o a certas coisas, tin'a-os algumas ve!es empregado noseu servi)o, mandando recados a uma certa pessoa %ue, saiba o leitor em segredo, era nada menos do %ue a cigana, ob"eto dos últimoscuidados do 7eonardo, com %ue S. ev.ma vivia 'á certo tempo emestreitas rela)4es, salvando, é verdade, todas as apar;ncias dadec;ncia.

c?nego, %ue n$o o via desde o seminário, ac'ava-o mais orte,mais viril.- oc; era ene!adito...- Foi o ar da serra, di!ia o pároco, e!-me bem - 9ontou ent$o a suatriste e<ist;ncia em Feir$o, na alta =eira, durante a aspere!a donverno, só com pastores. c?nego deitava-l'e o vin'o de alto,a!endo-o espumar.- >ois é beber-l'e, 'omem é beber-l'e 2esta gota n$o pil'ava voc;no seminário.Falaram do seminário.- Rue será eito do abic'o, o despenseiroU disse o c?nego.- # do 9aroc'o, %ue roubava as batatasUiramI e bebendo, na alegria das reminisc;ncias, recordavam as'istórias de ent$o, o catarro do reitor, e o mestre do cantoc'$o %uedei<ara um dia cair do bolso as poesias obscenas de =ocage3.- 9omo o tempo passa, como o tempo passa di!iam. A S. oaneira ent$o p?s na mesa um prato covo com ma)$s assadas. crime do >e Amaro

/otasN. sátrapa Sardanapalo @ símbolo da lascívia, da deprava)$o e dacorrup)$o dos costumes morais @ oi um rei 6míticoU8 da Assíria6identiicado erroneamente com Assurbanipal8.

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^#pitáio de Sardanapalo: E#am$s6 7i7am$s6 %a$#eam$s8 p's" m'r"em&$!!a *'!$p"as. 9omamos, bebamos, alegremo-nos: depois da morten$o 'á nen'um pra!er. 6Fonte do #pitáio de Sardanapalo: 2icionáriode #<press4es e Frases 7atinas, 9ompilado por KeneriZ _oc'er8`.

T. sectário de Maona @ partidário de MaoméI mu)ulmano 6segundo aperspectiva preconceituosa de um certo cristianismo da época:libidinoso e praticante da lu<úria 6lascívia, concupisc;ncia8

 A morte de Sardanapalo, NT\-NT - #ugene 2elacroi<

P @ um soneto de =ocage

^S/#( 2A 2/#7A A/SSA`

 Arreitada don!ela em oo leito,2ei<ando erguer a virginal camisa,Sobre as roli)as co<as se divisa#ntre sombras sutis pac'ac'o estreito:

2e louro p;lo um círculo impereitos papudos beicin'os l'e mati!aI# a branca crica, nacarada e lisa,#m pingos verte alvo licor deseito:

 A vora! porra as guelras encrespando Arruma a ocin'eira, e entre gemidos A mo)a treme, os ol'os re%uebrados:

9omo é inda bo)al, perde os sentidos:>orém vai com tal Jnsia trabal'ando,Rue os 'omens é %ue v;m a ser odidos.

^S/#( 2 >A* 2#9FA2`

& pau, e rei dos paus, n$o marmeleiro,=em %ue duas gamboas l'e lobrigoI2á leite, sem ser árvore de igo,2a glande o ruto tem, sem ser sobreiro:

erga, e n$o %uebra, como !ambu"eiroIco, %ual sabugueiro tem o umbigoI=rando 5s ve!es, %ual vime, está consigoIutras ve!es mais ri"o %ue um pin'eiro:

  roda da rai! produ! car%ue"a:(odo o resto do tronco é calvo e nuI

/em cedro, nem pau-santo mais negre"a

>ara carval'o ser alta-l'e um *I ^carual'o` Adivin'em agora %ue pau se"a,# %uem adivin'ar meta-o no cu.

^S/#( 2 >#QA2 >#9A2`

=o"udo radal'$o de larga venta, Abismo imundo de tabaco esturro,2outor na asneira, na ci;ncia burro,9om barba 'irsuta, %ue no peito assenta:

/o púlpito um domingo se apresentaI>rega nas grades espantoso murroI

# acalmado do povo o gr$o sussurro di%ue das asneiras arrebenta.

Ruatro putas moavam de seus brados,/$o %uerendo %ue gritasse contra as modas ^%urendo`*m pecador dos mais desaorados:

/$o 6di! uma8 tu, padre, n$o me engodas:Sempre me 'á de lembrar por meus pecados A noite, em %ue me deste nove odas

^S/#( 2 >A# #FM#`

2i!em %ue o rei cruel do Averno imundo(em entre as pernas caral'a! lanceta,>ara meter do cu na aberta greta A %uem n$o oder bem cá neste mundo:

(remei, 'umanos, deste mal proundo,2ei<ai essas li)4es, sabida peta,Foda-se a salvo, coma-se a pun'eta:#ste pra!er da vida mais "ucundo.

Se pois guardar devemos castidade,>ara %ue nos deu 2eus porras leiteiras,Sen$o para oder com liberdadeU

Fodam-se, pois, casadas e solteiras,# se"a isto "áI %ue é curta a idade,# as 'oras do pra!er voam ligeiras 6\8

6\8 As 'oras do pra!er voam ligeiras. oi mote dado, a %ue estesonetoserviu de glosa, bem como o %ue adiante se transcreve sob número+++. ^nota da onte`

$%%% - Mudan)a de vida  A custa de muitos trabal'os, de muitas adigas, e sobretudo demuita paci;ncia, conseguiu o compadre %ue o menino re%Centasse aescola durante dois anos e %ue aprendesse a ler muito mal e escreverainda pior. #m todo este tempo n$o se passou um só dia em %ue elen$o levasse uma remessa maior ou menor de bolosI e apesar da ama%ue go!ava o seu pedagogo de muito cruel e in"usto, é precisoconessar %ue poucas ve!es o ora para com ele: o menino tin'a abossa da desenvoltura, e isto, "unto com as vontades %ue l'e a!ia opadrin'o, dava em resultado a mais reinada má-cria)$o %ue se pode

imaginar. Ac'ava ele um pra!er suavíssimo em desobedecer a tudo%uanto se l'e ordenavaI se se %ueria %ue estivesse sério, desatava arir como um perdido com o maior gosto do mundoI se se %ueria %ueestivesse %uieto, parece %ue uma meia oculta o impelia e a!ia com%ue desse uma idéia pouco mais ou menos apro<imada domoto-contínuo. /unca uma pasta, um tinteiro, uma lousa l'e duroumais de N0 dias: era tido na escola pelo mais reinado vel'acoI vendiaaos colegas tudo %ue podia ter algum valor, osse seu ou al'eio,contanto %ue l'e caísse nas m$os: um lápis, uma pena, um registo,tudo l'e a!ia contaI o din'eiro %ue apurava empregava sempre dopior modo %ue podia. 7ogo no im dos primeiros cinco dias de escoladeclarou ao padrin'o %ue "á sabia as ruas, e n$o precisava mais de%ue ele o acompan'asseI no primeiro dia em %ue o padrin'o anuiu a%ue ele osse so!in'o e! uma tremenda ga!etaI tomou depois gosto aesse 'ábito, e em pouco tempo ad%uiriu entre os compan'eiros o

apelido de ga!eta-mor da escola, o %ue também %ueria di!erapan'a-bolos-mor. *m dos principais pontos em %ue ele passavaalegremente as man'$s e tardes em %ue ugia 5 escola era a igre"a daSé. leitor compreende bem %ue isto n$o era de modo alguminclina)$o religiosaI na Sé 5 missa, e mesmo ora disso, reunia-segente, sobretudo mul'eres de mantil'a, de %uem tomara particular!anguin'a por causa da semel'an)a com a madrin'a, e é isso o %ueele %ueria, por%ue internando-se na multid$o dos %ue entravam e

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saíam, passava despercebido, e tin'a seguran)a de %ue o n$oac'ariam com acilidade se o procurassem.  >elo 'ábito de re%Centar a igre"a tomara con'ecimento e travaraestreita ami!ade com um pe%ueno sacrist$o %ue, digamos depassagem, era t$o boa pe)a como eleI apenas se encontravamlimitavam-se a trocar ol'ares signiicativos en%uanto o amigo andavaocupado no servi)o da igre"aI assim porém %ue se acabavam asmissas, e %ue saíam as verdadeiras beatas, reuniam-se os dois, e

come)avam a contar suas diabruras mais recentes, travando o planode mil outras novas. >or complac;ncia, ou antes por prova de decididaami!ade, o compan'eiro coniava ao nosso ga!eador um cani)o, ea!iam "untos o servi)o e as maroteiras: a mais pe%uena %ue a!iamera irem de altar em altar escorropic'ando todas as gal'etas, o %uel'es incendiava mais o dese"o de tra%uinar.

O$"r' "re)3' represe&"a"i*' #a ironia

#ntretanto o !elo da comadre p?s-se em atividade, e poucos diasdepois entrou ela muito contente, e veio participar ao 7eonardo %uel'e tin'a ac'ado um e<celente arran"o %ue o 'abilitava, segundopensava, a um grande uturo, e o pun'a pereitamente a coberto dasiras do idigalI era o arran"o de servidor na $)3aria rea!. 2ei<ando departe o substantivo uc'aria, e atendendo só ao ad"etivo real, todos osinteressados e o próprio 7eonardo regalaram os ol'os com o ac'adoda comadre. #mpregado da casa realU o' isso n$o era coisa %ue serecusasseI e ent$o empregado na uc'aria essa mina inesgotável, t$oarta e t$o rica... A proposta da comadre oi aceita sem uma sórele<$o contra, da parte de %uem %uer %ue osse.  9omo a comadre pudera arran"ar semel'ante coisa para o ail'adoé isso %ue pouco nos deve importar.  2entro de poucos dias ac'ou-se o 7eonardo instalado no seuposto, muito c'eio e contente de si.  ma"or, %ue o n$o perdia de vista, soube-l'e dos passos, emordeu os bei)os de raiva %uando o viu t$o bem a%uarteladoI sódei<ando a vida %ue levava podia o 7eonardo cortar ao ma"orprete<tos para p?r-l'e a un'a mais dia menos dia.] Se ele se emendaU di!ia pesaroso o ma"orI se ele se emendaperco eu a min'a vingan)a... Mas... 6e esta esperan)a o alentava8 elen$o tem cara de %uem nasceu para emendas.

  ma"or tin'a ra!$o: o 7eonardo n$o parecia ter nascido paraemendas. 2urante os primeiros tempos de servi)o tudo correu 5s milmaravil'asI só algum mal-intencionado poderia notar em casa deidin'a uma certa artura desusada na despensaI mas isso n$o eracoisa em %ue alguém i!esse conta.  7eonardo porém parece %ue recebera de seu pai a atalidade del'e previrem sempre os inortúnios dos devaneios do cora)$o.  2entro do pátio da uc'aria morava um "'ma!ar%$ra emcompan'ia de uma mo)a %ue l'e cuidava na casaI a mo)a era bonita,e o "'ma!ar%$ra um mac'aca! tal'ado pelo molde mais grotescoI amo)a a!ia pena a %uem a via nas m$os de tal possuidor.  7eonardo, cu"o cora)$o era compadecido, teve, como todos,pena da mo)aI e apressemo-nos a di!er, era t$o sincero essesentimento %ue n$o p?de dei<ar de despertar também a mais sinceragratid$o ao ob"eto dele. Ruem pagou o resultado da pena de um e da

gratid$o da outra oi o "'ma!ar%$ra.  idin'a lá por casa come)ou a estran'ar a assiduidade do novoempregado na sua reparti)$o, e a notar o %uer %ue osse deesmorecimento de sua parte para com ela.  *m dia o toma-largura tin'a saído em servi)oI ninguém esperavapor ele t$o cedo: eram NN 'oras da man'$. 7eonardo, por umda%ueles mil'ares de escanin'os %ue e<istem na uc'aria, tin'a ido ter5 casa do toma-largura. /inguém porém pense %ue era para mausins. >elo contrário era para o im muito louvável de levar 5 pobremo)a uma tigela de caldo do %ue 'á pouco ora mandado a el-rei...bsé%uio de empregado da uc'aria. /$o 'á a%ui nada de censurável.Seria entretanto muito digno de censura %ue %uem recebia talobsé%uio n$o o procurasse pagar com um e<tremo de civilidade: amo)a convidou pois ao 7eonardo para a"udá-la a tomar o caldo. # %uegrosseiro seria ele se n$o aceitasse t$o belo oerecimentoU Aceitou.

  2e repente sente-se abrir uma porta: a mo)a, %ue tin'a na m$o atigela, estremece, e o caldo entorna-se.  toma-largura, %ue acabava de c'egar inesperadamente, ora acausa de tudo isto. 7eonardo correu precipitadamente pelo camin'omais curto %ue encontrouI sem dúvida em busca de outro caldo, umave! %ue o primeiro se tin'a entornado. toma-largura corre-l'etambém ao alcance, sem dúvida para pedir-l'e %ue trou<esse destave! %uantidade %ue c'egasse para um terceiro.

9$es":es #e *eri;i)a<' e #e ;i+a<' #e )'&"e=#'

N8 #m rela)$o a Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida, pode-se airmar %ue:a8 o personagem central narra suas aventuras no io de aneiro 5época de 2om o$o .b8 o romance se distancia do caráter ideali!ante %ue marcou a prosa

romJntica brasileira.c8 o romance ocali!a a tra"etória de um militar empen'ado em manteros ideais monár%uicos.d8 a obra pode ser vista como um romance ligado 5 vida das elitesbrasileiras da época.

T8 2as alternativas abai<o, indi%ue a %ue 9/(AA ascaracterísticas mais signiicativas do romance Memórias de umSargento de Milícias, de Manuel Ant?nio de Almeida.a8 omance de costumes %ue descreve a vida da coletividade urbanado io de aneiro, na época de 2. o$o .b8 /arrativa de malandragem, "á %ue 7eonardo, personagem principal,encarna o tipo do malandro amoral %ue vive o presente, sem %ual%uerpreocupa)$o com o uturo.c8 7ivro %ue se liga aos romances de aventura, marcado por inten)$ocrítica contra a 'ipocrisia, a venalidade, a in"usti)a e a corrup)$osocial.d8 bra considerada de transi)$o para um novo estilo de época, ouse"a, o ealismoH/aturalismo.e8 omance 'istórico %ue pretende narrar atos de tonalidade 'eróicada vida brasileira, como os vividos pelo Ma"or idigal, ambientados notempo do rei.

P8 #m rela)$o 5 obra de Manuel Ant?nio de Almeida - M#MfAS 2#*M SAQ#/( 2# M79AS - pode-se airmar %ue:a8 é uma autobiograia %ue relata, na primeira parte, as diabrurasinantis do romancista e, na segunda, suas a)an'as de adolescente.b8 é um te<to biográico %ue se concentra nas proe!as, especialmenteamorosas, do protagonista, e também relata, com rigor 'istórico, osacontecimentos do Segundo einado.c8 é um te<to baseado em memórias al'eias sobre as %uais o narrador 

e<ercita a sua imagina)$o, sem dei<ar de relatar cenas e costumes darealidade do Segundo einado.d8 é uma biograia romJntico-idealista, %ue relata as memóriassentimentais de um sargento de milícias, vivenciadas nas camadasbai<as do io de aneiro,e8 é uma autobiograia %ue relata as memórias do protagonista semocultar os deeitos de seu caráter e os costumes do grupo social daépoca do rei 2. o$o .

L8 9onsidere os seguintes ragmentos:(#+( N - és il'o de uma pisadela e de um belisc$oI mereces %ue umpontapé te acabe a casta. 6...8 menino suportou tudo com coragemde mártir, apenas abriu ligeiramente a boca %uando oi levantado pelasorel'as: mal caiu, ergueu-se, embaraustou pela porta ora, e em tr;s

pulos estava dentro da lo"a do padrin'o, e atracando-se-l'e 5spernas.6Manuel A. de Almeida: Memórias de um Sargento de

Milícias8.(#+( T

- Algum tempo 'esitei se deveria abrir estas memórias pelo princípioou pelo im, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou amin'a morte. #u n$o sou propriamente um autor deunto, mas umdeunto autor, para %uem a campa oi outro ber)oI 6...8 Moisés, %uetambém contou a sua morte, n$o a p?s no intróito, mas no caboIdieren)a radical entre este livro e o >entateuco.

6Mac'ado de Assis: Memórias >óstumas de =rás 9ubas8.

 Após a leitura atenta dos te<tos N e T, assinale a alternativa correta.

a8 Apesar de ambos os romances intitularem-se memórias, o primeiron$o é narrado em Na pessoa e relata a vida do protagonista depois%ue se torna sargento de milíciasI "á o te<to de Mac'ado tra! umdeunto autor.b8 Manuel de Almeida apro<ima-se da linguagem colo%uial alada no=rasil de seu tempo, en%uanto Mac'ado de Assis, n$o.

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c8 te<to de Manuel de Almeida, considerado precursor do ealismoem nossas letras, e o de Mac'ado tradu!em o cientiicismo dominantena época.d8 /o te<to N, o autor descreve a orma de tratar as crian)as nanobre!a no io de aneiro de 2. o$o .e8 & característica notória da obra de Mac'ado a ironia, tra)o %ue n$oé apresentado no te<to T.

08 ndi%ue a alternativa %ue se reere corretamente ao protagonista deMemórias #e $m Sar%e&"' #e Mi!()ias, de Manuel Ant?nio de Almeida.a8 #le é uma espécie de barro vital, ainda amoro, a %ue o pra!er e omedo v$o mostrando os camin'os a seguir, até sua transorma)$oinal em símbolo sublimado.b8 #n%uanto cínico, calcula riamente o carreirismo matrimonialI mas osu"eito moral sempre emerge, condenando o próprio cinismo aoinerno da culpa, do remorso e da e<pia)$o.c8 A personalidade assumida de sátiro é a máscara de seu undo lírico,genuinamente puro, a ilustrar a tese da bondade naturalB, adotadapelo autor.d8 #ste 'erói de ol'etim se dá a con'ecer sobretudo nos diálogos,nos %uais revela ao mesmo tempo a malícia aprendida nas ruas e oidealismo romJntico %ue busca ocultar.e8 /ele, como também em personagens menores, 'á o contínuo edivertido esor)o de driblar o acaso das condi)4es adversas e a avide!de go!ar os intervalos da boa sorte.

O8 9onsidere o seguinte ragmento:>Era es"e $m 3'mem "'#' em pr'p'r<:es i&;i&i"esimais6 7ai+i&3'6ma%ri&3'6 #e )ari&3a es"rei"a e )3$pa#a e e+)essi*ame&"e )a!*'4$sa*a ó)$!'s6 "i&3a pre"e&s:es #e !a"i&is"a6 e #a*a 7'!'s &'s#is)(p$!'s p'r #? )? a$e!a pa!3a. P'r iss' era $m #'s maisa)re#i"a#'s &a )i#a#e. O 7ar7eir' e&"r'$ a)'mpa&3a#' pe!' a;i!3a#'6$e ;i)'$ $m p'$)' es)a7ria#' @ *is"a #' aspe)"' #a es)'!a6 $e&$&)a "i&3a ima%i&a#'.Memórias #e $m Sar%e&"' #e Mi!()ias6 #e Ma&$e! A&"B&i' #e A!mei#abservando-se, neste trec'o, os elementos descritivos, o vocabulárioe, especialmente, a lógica da e<posi)$o, veriica-se %ue a posi)$o donarrador rente aos atos narrados caracteri!a-se pela atitude:a8 crítica, em %ue os costumes s$o analisados e submetidos a

 "ulgamento.b8 lírico-satírica, apontando para um "uí!o moral pressuposto.c8 c?mico-ir?nica, com absten)$o de "uí!o moral deinitivo.d8 analítica, em %ue o narrador onisciente priori!a seu aastamento donarrado.e8 imitativa ou de identiica)$o, %ue suprime a distJncia entre onarrador e o narrado.

\8 7eia o te<to:7eonardo n$o é o pícaro saído da tradi)$o espan'ola, mas sim oprimeiro grande malandro %ue entra na novelística brasileira, vindo deuma tradi)$o olclórica e correspondente, mais do %ue se costumadi!er, a certa atmosera c?mica e popularesca de seu tempo no=rasilB. A&"B&i' C&#i#'

>odemos airmar também %ue 7eonardo:a8 passa por inúmeras peripécias, superando sempre as diiculdades,sendo %ue, através dele, triuna o =em e o primeiro amor.b8 inverte a tra"etória do 'eróiB do mundo burgu;s, uma ve! %ue éironi!ado e n$o consegue ascender socialmente.c8 vive inúmeras aventuras amorosas, como é próprio dos 'eróis doséculo ++.d8 retrata o tipo alegre e e<trovertido, mas a 'ostilidade de todos torna-o um revoltado.e8 caracteri!a sarcasticamente o malandro, típico do subúrbio do iode aneiro, %ue dese"a levar vantagem em tudo.

8 9onsidere o seguinte ragmento:Sua 'istória tem pouca coisa de notável. Fora 7eonardo algibebeh em7isboa, sua pátriaI aborrecera-se porém do negócio, e viera ao =rasil.

 A%ui c'egando, n$o se sabe por prote)$o de %uem, alcan)ou oemprego de %ue o vemos empossado, e %ue e<ercia, como dissemos,desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, n$o seia!er o %u;, uma certa Maria da 'ortali)a, %uitandeira das pra)as de7isboa, saloia rec'onc'uda e bonitota. 7eonardo, a!endo-se-l'e "usti)a, n$o era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, esobretudo era magan$oj. Ao sair do (e"o, estando a Maria encostada5 borda do navio, o 7eonardo ingiu %ue passava distraído por "unto

dela, e com o errado sapat$o assentou-l'e uma valente pisadela nopé direito. A Maria, como se "á esperasse por a%uilo, sorriu-se comoenvergon'ada do grace"o, e deu-l'e também em ar de disarce umtremendo belisc$o nas costas da m$o es%uerda. #ra isto umadeclara)$o em orma, segundo os usos da terra: levaram o resto dodia de namoro cerradoI ao anoitecer passou-se a mesma cena depisadela e belisc$o, com a dieren)a de serem desta ve! um poucomais ortes, e no dia seguinte estavam os dois amantes t$o

e<tremosos e amiliares, %ue pareciam s;-lo de muitos anos.B -6Manuel Ant?nio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias8Qlossário:h algibebe: mascate, vendedor ambulante. saloia: alde$ das imedia)4es de 7isboa.j magan$o: brincal'$o, "ovial, divertido.

/o e<certo, o narrador incorpora elementos da linguagem usada pelamaioria das personagens da obra, como se veriica em:a8 aborrecera-se porém do negócio.b8 de %ue o vemos empossado.c8 rec'onc'uda e bonitota.d8 envergon'ada do grace"o.e8 amantes t$o e<tremosos.

Y8 /o romance Memórias #e $m Sar%e&"' #e Mi!()ias, de Manuel Ant?nio de Almeida, o %ue c'ama aten)$o é um aspecto poucocomum nos romances romJnticos, ou se"a, a vis$o social transmitida apartir da perspectiva:a8 das classes dominantes e aristocráticas.b8 dos segmentos militares da sociedade.c8 do submundo do crime e da viol;ncia.d8 da popula)$o estudantil e acad;mica.e8 das classes pobres e desavorecidas.

2iscursivas:

N18 9onsidere o seguinte ragmento:Manuel Ant?nio dese"a contar de %ue maneira se vivia no iopopularesco de 2. o$o I as amílias mal organi!adas, os vadios, asprociss4es, as estas e as dan)as, a políciaI o mecanismo dos

empen'os, inlu;ncias, compadrios, puni)4es %ue determinavam certaorma de consci;ncia e se maniestavam por certos tipos decomportamento 6...8. livro aparece, pois, como se%C;ncia desitua)4es.B - 6Ant?nio 9Jndido, Forma)$o da 7iteratura =rasileira8

>odemos entender a se%C;ncia de situa)4es a %ue se reere Ant?nio9Jndido como uma série de pe%uenos relatos no interior deM#MfAS 2# *M SAQ#/( 2# M79AS, de Manuel Ant?nio de Almeida.a8 Ruem dá unidade, na obra, a essa se%C;ncia de relatosaparentemente soltosUb8 9ite um desses relatos e mostre como ele se articula com a lin'amestra do romance.

NN8 9onsidere o seguinte ragmento:

Memórias de um sargento de milícias tem sido recon'ecido, poralguns críticos e 'istoriadores, en%uanto romance picaresco. Asegunda %uest$o aborda a constru)$o da trama e as característicasdo 'erói picaresco.

NN -a8 Manuel A. de Almeida tem como tra)o comum a sátira social, poisabandona a vis$o da burguesia e assume o popular. /o romancepicaresco, pode ser escrita na P pessoa do singular, apresenta cenasrápidas 6%uadros8, a trama segue os passos do 'erói e a limguagemespontJnea.

b8 'erói picaresco é a%uele %ue está 5 margem da sociedade, éastucioso, vadio, malandro, o %ue contraria aos padr4es romJnticos daépoca.

NT8 A respeito do romance Memórias #e $m Sar%e&"' #e Mi!()ias,disse um crítico: ... tem e<cepcional valor como documentário e comocr?nica de uma épocaB. (eria Manuel Ant?nio de Almeida vivido nestaépocaU ustii%ue a resposta.

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NP8 /o capítulo ++ das Memórias #e $m Sar%e&"' #e Mi!()ias, oma"or idigal é visitado por tr;s mul'eres %ue intercedem por7eonardo.>O ma5'r re)e7e$as #e r'#a$e #e )3i"a e "ama&)'s6 &' "e&#' a pri&)(pi' ' $i!a"e #a *isi"a4 ape&as p'rém re)'&3e)e$ as "r,s6 )'rre$apressa#' @ )amari&3a *ii&3a6 e e&*er%'$ ' mais #epressa $e p'#e a ;ar#a4 )'m' ' "emp' $r%ia6 e era $ma i&)i*i!i#a#e #ei+ar a sósas se&3'ras6 &' )'mp!e"'$ ' $&i;'rme6 e *'!"'$ @ sa!a #e ;ar#a6

)a!<as #e e&;iar6 "ama&)'s e $m !e&<' #e a!)'7a<a s'7re ' 'm7r'6se%$&#' se$ $s'. A )'ma#re6 a' *,!' assim6 apesar #a a;!i<' em$e se a)3a*a6 ma! p'#e )'&"er $ma risa#a $e !3e *ei' a's !?7i's.a8 9ompare essa imagem do ma"or com a %ue ele tem nos capítulosanteriores.b8 2iga se a nova imagem do ma"or antecipa o resultado da visita dastr;s mul'eres e e<pli%ue o por %u;.

&abarito'

N @ bT @ eP @ cL @ b0 @ e0 @ eO @ c\ @ e @ cY @ e

N1 @a8 7eonardo.b8 (odos os episódios relacionam-se de alguma orma com 7eonardo.

NN @ a8 Apresente um tra)o comum 5 obra de Almeida e aos romancespicarescos %uanto 5 constru)$o das tramas.b8 Apresente tr;s características do 'erói picaresco.

NT @ /a verdade n$o. Segundo biógraos de Manuel Antonio de

 Almeida, ele teria se inspirado em algumas conversas com um colegade reparti)$o 6mais vel'o do %ue ele8 %ue teria vivido na%uela época.NPa @ (rata-se de uma imagem DcontráriaE 5 %ual ele se apresenta nostrec'os anteriores, %ue era sério, ético e compromissado. /essa cena,ele aparece com ardas incompletas e em circunstJncias de vidaprivada.NPb @ >ode-se di!er %ue a cena antecipa o inal na medida em %ue aal'a na composi)$o da arda indica a conus$o vida pública e vidaprivada, conus$o %ue está na base da al'a cometida por idigal.

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