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i Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

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Page 1: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

i

Memorial Requerida

São Paulo, 10 de agosto de 2015

Equipe 118

Page 2: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

ii

SUMÁRIO

ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES ............................................................................................ vi

ÍNDICE DE REGRAS ....................................................................................................... vii

ÍNDICE DE AUTORIDADES......................................................................................... viii

ÍNDICE DE CASOS JUDICIAIS ..................................................................................... xiv

BREVE RELATO DOS FATOS .......................................................................................... 1

1. O CONFLITO NÃO É ARBITRÁVEL ....................................................................... 3

1.1. O objeto da controvérsia não satisfaz os requisitos legais para ser submetido ao

procedimento arbitral ...................................................................................................... 3

1.1.1. O conflito não é arbitrável em vista da indisponibilidade do dano ambiental .... 3

1.1.2. Os danos morais decorrentes do prejuízo do meio ambiente e da segurança

coletiva não têm natureza patrimonial .......................................................................... 4

1.2. A coletividade titular do direito à indenização pelos danos morais coletivos não é

representada pela Requerente ......................................................................................... 5

1.3. O compromisso arbitral é nulo porque padece de erro substancial em sua

formação ........................................................................................................................... 6

1.4. A ação civil pública é o foro específico e adequado para a discussão dos danos

ambientais ........................................................................................................................ 7

2. O TRIBUNAL ARBITRAL DEVE INTERROMPER O PROCEDIMENTO

ARBITRAL ........................................................................................................................... 8

2.1. Há ordem judicial eficaz que vincula o Tribunal Arbitral determinando a

interrupção do presente procedimento ............................................................................ 8

2.1.1. A liminar concedida na ação civil pública produz efeitos desde logo ................. 8

2.1.2. Os árbitros poderão responder por crime de desobediência ............................... 9

2.1.3. O Poder Judiciário é competente para ordenar a interrupção de procedimento

ilegal .............................................................................................................................. 9

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iii

2.2. Decidir pelo prosseguimento da arbitragem acarreta prejuízo às partes ................ 11

3. A REQUERIDA NÃO DEVE SER RESPONSABILIZADA PELOS DANOS

AMBIENTAIS DECORRENTES DO DESMORONAMENTO DA BARRAGEM DA

PCH, POIS AS FORTES CHUVAS CONFIGURAM FORÇA MAIOR ........................... 12

3.1. A responsabilidade ambiental da Requerida não é regida pela teoria do risco

integral, sendo possível a exclusão de responsabilidade por força maior ..................... 12

3.1.1. A teoria do risco integral é atécnica e não possui previsão legal ........................ 12

3.1.2. O caso não guarda semelhança com julgados do STJ nos quais se aplicou a

teoria do risco integral .................................................................................................. 14

3.2. As chuvas configuram força maior no caso concreto .............................................. 16

3.2.1. As chuvas foram a causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da

PCH do Distrito do Vale do Cacique ........................................................................... 16

3.2.2. As chuvas constituem fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade

da Requerida ................................................................................................................. 17

4. A QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS NÃO DEVE TER CARÁTER

PUNITIVO.......................................................................................................................... 18

4.1. O sistema brasileiro de responsabilidade decorrente de danos ambientais

estabelece a reparação integral do dano como única medida de indenização civil ...... 18

4.2. A punição na esfera civil resultaria em “bis in idem”, pois no direito ambiental já

estão previstas punições nas esferas administrativa e penal ......................................... 20

4.3. É contraditório tratar de aplicação do caráter punitivo em responsabilidade

objetiva por dano ambiental ........................................................................................... 21

4.4. A Requerida foi prudente, tomando todas as medidas possíveis para dirimir os

danos gerados pelo sinistro ambiental .......................................................................... 22

PEDIDOS ........................................................................................................................... 24

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iv

Para:

O TRIBUNAL ARBITRAL

Dra. Alice Flórique

Dr. Carlos Agos

Dra. Diane Loquerrarte

C.c.:

ADVOGADOS DA REQUERENTE

e

SECRETARIA GERAL DA CÂMARA DE ARBITRAGEM EMPRESARIAL - BRASIL

(CAMARB)

Sr. Felipe Ferreira M. Moraes

Rua Paraíba, n.º 1.000, 16.º andar – Belo Horizonte/MG

Ref. Procedimento Arbitral n.º 00/2015

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v

ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO DISTRITO DO VALE DO CACIQUE

X

VILA RICA ENERGIA S.A.

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vi

ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES

p./pp. Página/Páginas

§/§§ Parágrafo/Parágrafos

Art./Arts. Artigo/Artigos

CAMARB Câmara de Arbitragem Empresarial – Brasil

Caso Caso da VI Competição Brasileira de Arbitragem Petrônio Muniz

Requerente Associação dos Amigos do Distrito do Vale do Cacique

Requerida Vila Rica Energia S.A.

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

Tribunal Arbitral Tribunal Arbitral constituído no presente procedimento pelos

árbitros Dra. Alice F., Dr. Carlos A., Dra. Diane L.

v. Versus (contra)

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vii

ÍNDICE DE REGRAS

CF Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CC Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002

Código Civil Brasileiro

CDC Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990

Código de Defesa do Consumidor

CPC Lei nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973

Código de Processo Civil

CP Decreto-lei no 2.848, de 7 de Dezembro de 1940

Código Penal

LArb. Lei nº 9.307 de 23 de setembro de 1996

Lei de Arbitragem Brasileira

Lei nº 7.347/85 Lei nº 7.347/85 de 24 de Julho de 1985

Lei nº 9.709/98 Lei nº 9.709/98 de 18 de Novembro de 1998

Lei nº 6.938/81 Lei nº 6.938/81 de 31 de Agosto de 1981

Lei nº 9.605/98 Lei nº 9.605/98 de 12 de Fevereiro de 1998

Regulamento da

CAMARB/Regulamento

de Arbitragem

Regulamento de Arbitragem da CAMARB – Câmara de

Arbitragem Empresarial – Brasil

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viii

ÍNDICE DE AUTORIDADES

Aguiar Dias, 1979 AGUIAR DIAS, José de. Da Responsabilidade Civil. 6.

ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, v. II.

§ 93

Andrade, 2009 ANDRADE, André Gustavo de. Dano Moral e

Indenização Punitiva: os Punitive Damages na

Experiência do Common Law e na Perspectiva do

Direito Brasileiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen

Juris, 2009.

§ 96

Araújo Rocha, 2014 ARAÚJO ROCHA, Thalyson Inácio de.

Responsabilidade civil ambiental: críticas à aplicação da

teoría do risco integral. São Paulo: Revista de Direito

Ambiental, vol. 74/2014, p. 241-267, 2014

§ 66, 68

Ávila, 2012 ÁVILA, Humberto. Segurança jurídica: entre

permanência, mudança e realização no direito

tributário. São Paulo: Malheiros Editores, 2012.

§ 68

Becker, 2014 BECKER, Annelise. Subjetividade e Objetividade em

sede de Responsabilidade Civil. Publicado em:

FRADERA, Vera, MARTINS-COSTA, Judith.

Estudos de Direito Privado e Processual Civil – em

homenagem a Clóvis do Couto e Silva. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2014.

§ 114

Benacchio, 2012 BENACCHIO, Marcelo. A evolução da indenização

por dano moral e a aplicação da indenização punitiva.

Temas Relevantes do direito civil contemporâneo:

reflexões sobre os 10 anos do Código Civil. São Paulo:

Atlas, 2012.

§§ 93, 112,

113

Benetti, 2013 BENETTI, Giovana Valentiniano. Os Remédios da

Sentença Arbitral. Publicado em: BASSO, Maristela;

POLIDO, Fabrício Bertini Pasquot. Arbitragem

Comercial: princípios, instituições e procedimentos; a

§ 108

Page 9: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

ix

prática no CAM-CCBC. São Paulo: Marcial Pons; São

Paulo: CAM-CCBC, 2013.

Benjamin, 1998 BENJAMIN, Antonio Herman V. Responsabilidade

Civil pelo Dano Ambiental. São Paulo: Revista de

Direito Ambiental, jan. - mar/1998.

§ 62

Carmona, 2009 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo:

um comentário à Lei nº 9.307/96. 3ª Edição. São

Paulo: Atlas, 2009.

§§ 20, 31

Cavalieri Filho, 2014  CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de

Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2014.

§ 20, 75, 80

Couto, 2010 COUTO, Jeanlise Velloso. Árbitro e estado: interesses

divergentes? São Paulo: Atlas, 2010.

§ 20

Cruz, 2005 CRUZ, Gisela Sampaio da. O Problema do Nexo

Causal na Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro:

Renovar, 2005.

§ 92

Didier Jr, 2015 DIDIER JR, Fredie;

Curso de direito processual civil. 17ª Edição. Salvador:

JusPodivm, 2015.

§ 47

Didier Jr; Zaneti Jr, 2014 DIDIER JR, Fredie; ZANETI JR, Hermes. Curso de

direito processual civil: processo coletivo. 9ª Edição.

Salvador: JusPodivm, 2014.

§ 27

Fiorillo, 2006 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito

ambiental brasileiro. 7ª ed. ver. atual. e ampl. São Paulo:

Saraiva, 2006.

§ 73

Frangetto, 2005 SILVA, Bruno Campos (coord.); MOURÃO, Henrique

A.; MORAES, Marcus Vinicius Ferreira de;

WERNECK, Mário; OLIVEIRA, Walter Soares,

MOURÃO, Henrique Augusto, et al. Direito

ambiental: Visto por nós Advogados. Belo Horizonte:

§ 73

Page 10: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

x

Del Rey, 2005.

Gagliano, Pamplona Filho,

2012

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO,

Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 3:

responsabilidade civil. 10ª ed. rev., atual. e ampl. – São

Paulo: Saraiva, 2012.

§ 67

Gonçalves, 2007 GONÇALVES, Eduardo Damião. “O Papel da

Arbitragem na Tutela dos Interesses Difusos e

Coletivos”. Arbitragem: Estudos em Homenagem ao

Prof. Guido Fernando da Silva Soares, In Memoriam.

São Paulo: Atlas S.A., 2007.

§§ 20, 27

Grinover et al., 2011 GRINOVER, Ada Pellegrini; WATANABE, Kazuo;

NERY JUNIOR, Nelson. Código de Defesa do

Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto.

10ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2011, vol. II.

§ 27

Leite, Ferreira, Melo, 2005 SILVA, Bruno Campos (coord.); MOURÃO, Henrique

A.; MORAES, Marcus Vinicius Ferreira de;

WERNECK, Mário; OLIVEIRA, Walter Soares,

MOURÃO, Henrique Augusto, et al. Direito

ambiental: Visto por nós Advogados. Belo Horizonte:

Del Rey, 2005.

§ 74

Leite, Ayala, 2011 LEITE, José Rubens Morato. AYALA, Patryck de

Araújo. Dano ambiental: do individual ao coletivo

extrapatrimonial: teoria e prática. 4ª Edição. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2011.

§§ 20, 24, 34

Lemes, 2007 LEMES, Selma Ferreira. A Arbitragem na

Administração Publica: Fundamentos Jurídicos e

Eficiência Econômica. São Paulo: Quartier Latin, 2007.

§§ 20, 27

Leonardo, 2014 LEONARDO, Rodrigo Xavier. Associações sem fins

econômicos. 1ª Edição. São Paulo; Revista dos

Tribunais, 2014.

§ 27

Page 11: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xi

Lima, 2010 LIMA, Bernardo. A Arbitrabilidade do Dano

Ambiental. São Paulo: Atlas, 2010.

§ 29

Martins, 2008 MARTINS, Pedro A. Batista. Apontamentos sobre a

Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

§§ 20, 31

Martins, Lemes, Carmona

1999

MARTINS, Pedro A. Batista; LEMES, Selma M.

Ferreira; CARMONA, Carlos Alberto. Aspectos

fundamentais da lei de arbitragem. Rio de Janeiro:

Forense, 1999.

§ 20

Martins-Costa, 2003 MARTINS-COSTA, Judith. Comentários ao novo

Código Civil: do inadimplemento das obrigações. Rio

de Janeiro: Forense, 2003, v. 5, t.II.

§§ 85, 86

Martins-Costa, Pargendler,

2005

MARTINS-COSTA, Judith, PARGENDLER, Mariana

Souza. Usos e Abusos da Função Punitiva (punitive

damages e o Direito brasileiro). Brasília: R. CEJ, n. 28,

jan./mar/, 2005.

§§ 92, 107,

108, 109,

110

Mattos Neto, 2005 MATTOS NETO, Antônio José de. Direitos

patrimoniais disponíveis e indisponíveis à luz da lei de

arbitragem. Revista de Processo, São Paulo: Revista dos

Tribunais, nº 122, Ano 30, abril de 2005.

§ 20

Mendes, Branco, 2015 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo

Gonet. Curso de Direito Constitucional. Saraiva, 2015.

§§ 41, 48,

49, 52

Mukai, 2005 MUKAI, Toshio.Direito ambiental sistematizado. 5. ed.

rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

§ 100

Noronha, 2013 NORONHA, Fernando. Direito das Obrigações. São

Paulo: Saraiva, 2013.

§ 106

Pantoja, 2006 PANTOJA, Teresa Cristina Gonçalves. Anotações

sobre arbitragem em matéria ambiental. Revista de

Arbitragem e Mediação. RArb 11/81, out/2006.

§ 20

Page 12: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xii

Pereira, 2002 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade

Civil. 9ª ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

§§ 67, 68

Pontes de Miranda, 1958 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.

Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro: Borsoi,

1958, t. XXIII, § 2.792.

§ 85

Pontes de Miranda, 1977 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.

Comentários ao Código de Processo Civil. Tomo XV.

Rio de Janeiro: Forense, 1977.

§ 32

Pontes de Miranda, 1984 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti.

Tratado de direito privado: Parte especial, Tomo XXII,

Direito das obrigações : Obrigações e suas espécies,

fontes e espécies de obrigações. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1984, pp. 206 e 216.

§ 92

Sanseverino, 2010 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Princípio da

reparação integral. Indenização no Código Civil. São

Paulo: Saraiva, 2010.

§ 93

Sanseverino, 2014 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. O princípio

da reparação integral e o arbitramento equitativo da

indenização por dano moral no Código Civil. In:

MARTINS-COSTA, Judith. Modelos de Direito

Privado. São Paulo: Marcial Pons, 2014.

§§ 93, 113

Steigleder, 2011 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade

Civil Ambiental: as dimensões do direito ambiental no

direito brasileiro. 2. xiid. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2011.

§ 100

Talamini, 2005 TALAMINI, Eduardo. A (in)disponibilidade do

interesse público: consequências processuais

(composições em juízo, prerrogativas processuais,

arbitragem e ação monitória). Revista de Processo, São

Paulo: Revista dos Tribunais, v. 30, nº 128, outubro de

§ 20

Page 13: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xiii

2005.

Teotônio, 1990 TEOTÔNIO, Luís Augusto Freire. Suspensão

Condicional da Pena e Livramento Condicional: dupla

punição no direito brasileiro.Revista dos Tribunais. ano

80. vol. 662. São Paulo: Ed. RT, dezembro 1990.

§ 101

Zavascki, 2011 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo: tutela de

direitos coletivos e tutela coletiva de direitos. 5. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2011.

§ 27

Page 14: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xiv

ÍNDICE DE CASOS JUDICIAIS

STF

STF, RE 554.088

AgR/SC, 2008

Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº

554.088/SC. Julgado em 03/06/2008 pela Segunda

Turma. Relator Min. Eros Grau.

§ 27

STF, RE 470.135 AgR-

ED/MT, 2007

Embargos de Declaração em Agravo Regimental no

Recurso Extraordinário nº 470.135/MT. Julgado em

22/05/2007 pela Segunda Turma. Relator Min. Cezar

Peluso.

§ 27

STF, AgRg em Sentença

Estrangeira 5.206-7/1996

Agravo Regimental em Sentença Estrangeira nº

5.206-7/Reino da Espanha. Julgado em 08/05/1997

pelo Tribunal Pleno.

§ 49

STJ

STJ, HC 37279/MG,

2004

Habeas Corpus nº 37279/MG. Julgado em

28/09/2004 pela Terceira Turma. Relator Min.

Humberto Gomes de Barros.

§ 44

STJ, HC 22721/SP, 2003 Habeas Corpus nº 22721/SP. Julgado em

27/05/2003 pela Quinta Turma. Relator Min. Felix

Fischer.

§ 44

STJ,Rcl 9.030/SP, 2012 Reclamação nº 9.030/SP. Julgado em 29/06/2012.

Relatora Nancy Andrighi.

§ 45

STJ, REsp 606.345/RS,

2007

Recurso Especial nº 606.345/RS. Julgado em

17/05/2007 pela Segunda Turma. Relator Min. João

Otávio de Noronha.

§ 20

STJ, REsp 612.439/RS,

2005

Recurso Especial nº 612.439/RS. Julgado em

25/10/2005 pela Segunda Turma. Relator Min. João

Otávio de Noronha.

§ 20

Page 15: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xv

STJ, SEC 874/CH, 2006 Sentença Arbitral Estrangeira nº 874/CH. Julgado

em 19/04/2006 pela Corte Especial. Relator Min.

Francisco Falcão.

§ 20

STJ, REsp 1.005.587/PR,

2010

Recurso Especial nº 1.005.587/PR. Julgado em

02/12/2010 pela Primeira Turma. Relator Min. Luiz

Fux.

§ 21

STJ, REsp 974.489/PE,

2008

Recurso Especial nº 974.489/PE. Julgado em

25/11/2008 pela Primeira Turma. Relator Min. Luiz

Fux.

§ 21

STJ, REsp1.180.078/MG,

2010

Recurso Especial nº 1.180.078/MG. Julgado em

02/12/2010 pela Segunda Turma. Relator Min.

Herman Benjamin.

§ 24

STJ, REsp

1.410.698/MG, 2015

Recurso Especial nº 1.410.698/MG. Julgado em

23/06/2015 pela Segunda Turma. Relator Min.

Humberto Martins.

§ 24

STJ, REsp 1.289.609/DF,

2014

Recurso Especial nº 1.289.609/DF. Julgado em

12/11/2014 pela Primeira Seção. Relator Min.

Benedito Gonçalves.

§ 27

STJ, REsp 1.209.633/RS,

2015

Recurso Especial nº 1.209.633/RS. Julgado em

14/04/2015 pela Quarta Turma. Relator Min. Luis

Felipe Salomão.

§ 27

STJ, REsp 1.120.117/AC,

2009

Recurso Especial nº 1.120.117/AC. Julgado em

10/11/2009 pela Segunda Turma. Relatora Min.

Eliana Calmon.

§ 28

STJ, REsp 91.604/SP,

1998

Recurso Especial nº 91.604/SP. Julgado em

12/03/1998 pela Primeira Turma. Relator Min. José

Delgado.

§ 28

STJ, AgRg no REsp

1.389.193/MS, 2014

Agravo Regimental no Recurso Especial nº

1.389.193/MS. Julgado em 11/11/2014 pela Quarta

Turma. Relator Min. Raul Araújo.

§ 31

Page 16: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xvi

STJ, AgRg em AgRg no

REsp 1.190.367/RJ, 2011

Agravo Regimental em Agravo Regimental no

Recurso Especial nº 1.190.367/RJ. Julgado em

02/06/2011 pela Primeira Turma. Relator Min.

Benedito Gonçalves.

§ 31

STJ, REsp 605.323/MG,

2005

Recurso Especial nº 605.323/MG. Julgado em

18/08/2005 pela Primeira Turma. Relator Min. Teori

Albino Zavascki.

§ 34

STJ, AREsp 478.537/DF,

2014

Agravo em Recurso Especial nº 478.537/DF. Julgado

em 07/03/2014 pela Quarta Turma. Relator Min.

Marco Buzzi.

§ 88

STJ, AREsp 530.390/RJ,

2014

Agravo em Recurso Especial nº 530.390/RJ. Julgado

em 04/08/2014 pela Segunda Turma. Relator Min.

Humberto Martins.

§ 88

STJ, REsp 1.114.398/PR,

2012

Recurso Especial nº 1.114.398/PR. Julgado em

08/02/2012 pela Segunda Seção. Relator Sidnei

Beneti.

§ 64, 72

STJ, REsp

1.374.284/MG, 2014

Recurso Especial nº 1.374.284/MG. Julgado em

27/08/2014 pela Segunda Seção. Relator Min. Luis

Felipe Salomão.

§ 64, 71

STJ, AgRg no AREsp

469.420/RJ, 2014

Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial

nº 469.420/RJ. Julgado em 11/03/2014 pela Segunda

Turma. Relator Min. Humberto Martins.

 § 88

SJT, REsp 1.107.314/PR,

2010

Recurso Especial nº 1.107.314/PR. Julgado em

13/12/2010 pela Terceira Seção. Relator Min.

Napoleão Nunes Maia Filho.

§ 101

STJ, REsp 1.478.439/RS,

2014

Recurso Especial nº 1.478.439/RS. Julgado em

25/03/2015 pela Primeira Seção. Relator Min. Mauro

Campbell Marques.

§ 101

STJ, REsp 1.086.492/PR,

2010

Recurso Especial nº 1.086.492/PR. Julgado em

13/10/2010 pela Primeira Seção. Relator Min. Luiz

Fux.

§ 101

Page 17: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xvii

STJ, REsp 1.012.903/RJ,

2008

Recurso Especial nº 1.012.903/RJ. Julgado em

08/10/2008 pela Primeira Seção. Relator Min. Teoria

Albino Zavascki.

§ 101

STJ, REsp 1.357.614/SE,

2012

Recurso Especial nº 1.357.614/SE. Julgado em

13/04/2015 pela Quarta Turma. Relator Min. Luis

Felipe Salomão.

§ 99

STJ, REsp 1.354.536/SE,

2012

Recurso Especial nº 1.354.536/SE. Julgado em

26/03/2014 pela Segunda Seção. Relator Min. Luis

Felipe Salomão.

§ 64, 67, 72,

92, 95, 107

STJ, REsp 1.513.156/CE,

2015

Recurso Especial nº 1.513.156/CE. Julgado em

12/06/2015 pela Segunda Turma. Relator Min.

Humberto Martins.

§ 102

TRF4

TRF4, HC

000278155201444040000

/PR, 2014

Habeas Corpus nº 0002781-55.2014.4.404.0000/PR.

Julgado em 20/10/2014 pela 8ª Turma. Relator Min.

Gilson Luís Inácio.

§ 44

TJSP  

TJSP, Apl.

00068879620128260125,

2015

Apelação Cível nº 0006887-96.2012.8.26.0125.

Julgado em 30/06/2015 pela 3ª Câmara

Extraordinária de Direito Público. Relator Des.

Eutálio Porto.

§ 81, 88

TJSP, Apl.

00057611120128260125,

2014

Apelação Cível nº 0005761-11.2012.8.26.0125.

Julgado em 27/10/2014 pela Décima Câmara de

Direito Público. Relator Des. Torres de Carvalho.

§ 81

TJMG

TJMG, AC

10024133214825003,

Ação Cautelar nº 1.0024.13.321482-5/33

Julgado em 11/11/2014 pela Décima Câmara Cível.

§ 54

Page 18: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

xviii

2014 Relator Álvares Cabral da Silva.

TJMG, Apl.

10439070742549001,

2012

Apelação Cível nº 1.0439.07.074254-9/001. Julgado

em 28/11/2012 pela Décima Primeira Câmara Cível.

Relator Des. Wanderley Paiva.

§ 71

TJRS

TJRS, Apl. 70060242732,

2014

Apelação Cível nº 70060242732. Julgado em

03/07/2014 pela Vigésima Segunda Câmara Cível.

Relator Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro.

§ 24

TJRS, Apl. 70005797774,

2003

Apelação Cível nº 70005797774. Julgado em

03/04/2003 pela Décima Segunda Câmara Cível.

Relator Des. Carlos Eduardo Zietlow Duro.

§ 31

Page 19: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

1

ILUSTRÍSSIMOS MEMBROS DO TRIBUNAL ARBITRAL

1. A Requerida, VILA RICA ENERGIA S.A., (“Requerida”), parte neste Procedimento

Arbitral, do qual é Requerente a ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO DISTRITO DO VALE

DO CACIQUE (“Requerente”), por seus advogados, vem, atendendo o disposto no Termo de

Arbitragem (Caso, p. 40, § 4.3.1), apresentar sua IMPUGNAÇÃO ÀS ALEGAÇÕES

INICIAIS, com base nos argumentos de fato e de direito a seguir expostos.

BREVE RELATO DOS FATOS

2. Em 2009, foi celebrado contrato de empreitada entre Vila Rica Energia S.A (“Requerida”),

empresa especializada em construção e operação de centrais hidrelétricas, e BACAMASO

Construções S.A (“BACAMASO”), construtora brasileira, visando à construção de barragem

da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) próxima ao município de Córrego das Chuvas, no estado

brasileiro de Vila Rica.

3. No dia 14 de janeiro de 2012, devido a chuvas excepcionalmente fortes, ocorreu o

desmoronamento da ombreira natural da barragem (Caso, p. 18, § 2), causando inundação parcial

do distrito do Vale do Cacique e redução significativa do ecossistema do Parque Estadual Vila do

Ouro (Caso, p. 9, §§ 2-3).

4. A inundação causou transtornos aos moradores da região. Diante do estado de necessidade

no qual a comunidade se encontrava, a Requerente organizou campanha de doações de produtos

básicos para garantir a sobrevivência da população. A Requerida, juntamente com a

BACAMASO e a Prefeitura do Município de Córrego das Chuvas, uniu esforços à Requerente

para dirimir o dano ambiental causado pelas fortes chuvas (Caso, p. 9, § 2).

5. Infelizmente, passados alguns dias, ocorreu novo desmoronamento na mesma região,

devido a chuvas excepcionais, novamente, causando o assoreamento de parte do córrego das

Águas Claras (Caso, p. 10, § 2).

6. Um ano após o ocorrido, em 2013, a Prefeitura de Córrego das Chuvas instaurou

Procedimento Administrativo Ambiental n. 13/13 (Caso, pp. 18-21), para identificar a extensão

dos danos provocados pelos desmoronamentos (Caso, p. 15, § 2).

7. Em maio do mesmo ano, BACAMASO e Requerida retomaram as obras da barragem da

PCH. Em outubro de 2014, o Procedimento Administrativo Ambiental foi concluído.

8. No ano seguinte, dados os resultados da investigação municipal, foi instaurado Inquérito

Civil Público pelo Ministério Público Estadual de Vila Rica (Caso, p. 16, § 5).

Page 20: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

2

9. Diante da inércia do órgão estadual, a Requerente procurou a Requerida e BACAMASO

para negociação direta. Foi instaurada a mediação entre as partes. Não houve, porém, resolução

do mérito da questão, encerrando-se a mediação em 06 de abril de 2015, sem sucesso.

10. Na mesma oportunidade, a Requerente, representada por seu presidente, Luís Quenin,

propôs a submissão da questão à arbitragem, a ser regida pelo Regulamento da CAMARB.

BACAMASO recusou a proposta, contudo, a Requerida, por meio do seu representante,

Howard Lieman, concordou com os termos propostos. Foi firmado, então, Compromisso

Arbitral Extrajudicial (Caso, pp. 24-27).

11. Nos termos do Compromisso Arbitral celebrado, as partes procuram resolver as

divergências em relação à responsabilidade da Requerida pelos desmoronamentos de 2012, bem

como a quantificação da indenização devida pelo caráter punitivo (Caso, pp. 24-27).

12. Em seu arrazoado, a Requerente responsabiliza erroneamente a Requerida pelo sinistro,

ignorando as catástrofes climáticas que atingiram o Distrito do Vale do Cacique na ocasião.

Pretende, ainda, a sua condenação ao pagamento de indenização no valor de R$ 5.000.000,00, por

danos morais coletivos, tendo em conta o caráter punitivo.

13. A Requerida, por sua vez, defende sua falta de responsabilidade pelos danos ambientais e

morais. Subsidiariamente, requer seja a indenização ajustada em patamar inferior ao proposto

pela Requerente, excluindo-se o caráter punitivo (Caso, pp. 24-27).

14. Com a notícia da celebração do compromisso arbitral, o Ministério Público Estadual

ajuizou ação civil pública, em 20 de abril de 2015, requerendo, preliminarmente, a suspensão do

procedimento arbitral. O pedido restou deferido (Caso, pp. 28-32, 34).

15. Em 30 de abril de 2015, ocorreu a Audiência Inaugural do Procedimento Arbitral nº 00/15.

A nova representante da Requerida manifestou objeção à instauração da arbitragem (Caso, p. 36).

16. Em 04 de maio de 2015, foi entregue na CAMARB a liminar judicial sustando o

procedimento arbitral, dada a instauração de ação civil pública (Caso, p. 35). A Requerida

manifestou-se pelo cumprimento da ordem judicial, pedindo a suspensão do feito (Caso, p. 46). A

Requerente requereu o prosseguimento da arbitragem (Caso, p; 45).

17. Diante do impasse, a Requerida defende que a não arbitrabilidade do conflito implica na

sua extinção (1., abaixo). Ainda não sendo esse o entendimento do Tribunal Arbitral, é do

interesse da Requerida cumprir a ordem judicial prolatada em sede liminar para suspender o

procedimento instaurado (2., abaixo). Em relação aos danos morais reclamados pela Requerente, a

Requerida demonstra a falta de pressupostos para sua responsabilização, dadas as fortíssimas

chuvas que assolaram a região por ocasião do sinistro (3., abaixo). Se, todavia, houver condenação

Page 21: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

3

ao pagamento de indenização, a Requerida afasta a imposição do caráter punitivo, na sua

quantificação (4., abaixo).

1. O CONFLITO NÃO É ARBITRÁVEL

18. O presente conflito não é arbitrável em razão da indisponibilidade e da

extrapatrimonialidade do interesse jurídico (1.1., abaixo) e da ilegitimidade da Requerente para ser

parte no feito (1.2., abaixo). Ademais, o compromisso arbitral em que se baseia o procedimento

deriva de declaração de vontade viciada por erro substancial, devendo ser extinto o feito (1.3.,

abaixo) para ser discutido o conflito no foro mais específico e adequado qual seja, a ação civil

pública já distribuída (1.4., abaixo).

1.1. O objeto da controvérsia não satisfaz os requisitos legais para ser submetido ao

procedimento arbitral

19. Caso mantido, o presente procedimento resultará em sentença arbitral nula de pleno

direito, por violação aos dois únicos critérios objetivos estabelecidos pelo Art. 1º da Larb para

possibilitar o conflito a ser dirimido por procedimento arbitral, quais sejam, a disponibilidade

(1.1.1., abaixo) e a patrimonialidade (1.1.2., abaixo).

1.1.1. O conflito não é arbitrável em vista da indisponibilidade do dano ambiental

20. Ao contrário do afirmado pela Requerente a respeito da possibilidade de solucionar a

presente controvérsia por procedimento arbitral (Caso, p. 45, §4), o direito objeto do conflito é

indisponível, não havendo adequação ao primeiro requisito objetivo, estabelecido pelo Art. 1º da

Larb. A impossibilidade de ser afastada a disponibilidade do direito como requisito para

arbitragem já foi ratificada pelo STJ (STJ, REsp 606.345/RS, 2007; STJ, REsp 612.439/RS, 2005;

STJ, SEC 874/CH, 2006), vindo a caracterizar-se pela liberdade de seu titular em alienar,

transmitir, renunciar e transacionar (Pantoja, 2006; Mattos Neto, 2005, pp 154-163) dada a liberdade

individual e o seu imediato caráter pecuniário (Lemes, 2007, p. 124, §§ 1-3; Martins, 2008, p. 3, § 3).

Em sentido contrário, os direitos indisponíveis são inalienáveis, intransmissíveis e irrenunciáveis,

não podendo ser transacionados em razão da prevalência do interesse da sociedade sobre o do

particular (Cavalieri Filho, 2014, p. 132, § 2; Leite, Ayala, 2011, p. 251, §§ 3-4; Lemes, 2007, p. 131, §

1). Nesse sentido, tratando-se a tutela do meio ambiente de matéria de Ordem Pública, (Gonçalves,

2007, p. 152; Talamini, 2005 p. 59) exigindo a intervenção estatal, tais interesses não podem ser

objeto de sentença arbitral (Carmona, 2009, pp. 38-39) sob pena de esta ser nula de pleno direito e

insuscetível de produzir seus efeitos (Arts. 32, III, 26, II e 2º da LArb; Martins, Lemes, Carmona,

Page 22: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

4

1999, pp. 144-145; Couto, 2010, p. 108, § 5).

21. Assentada a indisponibilidade do direito ao meio ambiente sadio, incabível o pedido da

Requerente de ver a Requerida condenada ao pagamento de indenização por danos

extrapatrimoniais coletivos (Caso, p. 26, §3.1) decorrentes dos prejuízos ambientais causado pelas

fortes chuvas, no Vale do Cacique (Caso, pp. 9-10), em procedimento arbitral. Isso porque, a

supra-individualidade de um direito, ainda sendo individual homogêneo, como os danos morais

sofridos por idosos (STJ, REsp 1.005.587/PR, 2010), e a presença de relevante interesse social no

objeto do conflito, como a proteção ao direito do consumidor (STJ, REsp 974.489/PE, 2008),

são características que levam à sua indisponibilidade. Dessa maneira, com muito mais razão,

interesses difusos como a preservação do meio ambiente e suas repercussões (Art. 225, caput, CF),

discutidos no presente caso, são indisponíveis por sua transindividualidade, indivisibilidade e pelo

relevante interesse social neles investido.

22. Na tentativa de reputar arbitrável direito indisponível, afirma a Requerente ser o objeto da

discussão apenas a compensação pecuniária pelos danos morais coletivos. Todavia, tal argumento

não merece prosperar, porque seria necessário dissociar completamente os aludidos danos morais

coletivos dos eventos que lhes teriam dado causa, a saber, os danos ambientais decorrentes dos

desabamentos da PCH.

23. Dessa maneira, em sendo o direito ao meio ambiente sadio indisponível, logo não

arbitrável, o Tribunal Arbitral não pode conhecer dos danos a ele causados ou de suas

consequências sob pena de proferir decisão nula de pleno direito.

1.1.2. Os danos morais decorrentes do prejuízo do meio ambiente e da segurança

coletiva não têm natureza patrimonial

24. Ainda que se admita a disponibilidade de danos morais coletivos decorrentes de dano

ambiental, sua natureza extrapatrimonial impede o seu conhecimento pela via arbitral. Isto

porque o segundo requisito objetivo, estabelecido pelo Art. 1º da LArb, refere-se à natureza

patrimonial do direito em disputa (TJRS, Apl Cível Nº 70060242732, 2014), considerando o fato

de o ordenamento jurídico brasileiro vedar completamente o estabelecimento de compromissos,

cujo objeto não seja um direito de caráter estritamente patrimonial (Art. 852, CC). Nesse sentido,

cumpre salientar serem extrapatrimoniais os danos decorrentes da violação ao equilíbrio

ambiental (Leite, Ayala, 2011, p. 252), ou seja, os danos morais coletivos emergem da natureza

multifacetada dos danos ambientais e de sua necessidade de reparação integral, ainda que não in

natura (STJ, REsp 1.180.078/MG, 2010), bem como da ofensa direta ao direito ao meio ambiente

equilibrado e à moral da coletividade (STJ, REsp 1.410.698/MG, 2015).

Page 23: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

5

25. No presente caso, pretende a Requerente a condenação da Requerida ao pagamento de

indenização pelos danos morais decorrentes da violação ao equilíbrio ambiental do Vale do

Cacique (Caso, p. 26, § 3.1) em razão das catástrofes climáticas, producentes dos desabamentos da

PCH. Ocorre que, como ilustrado pelo entendimento do STJ, os danos ambientais têm caráter

extrapatrimonial por violarem uma miríade de direitos extrapatrimoniais inerentes à pessoa

humana e à sociedade, de maneira que, ainda fosse possível, de algum modo, superar a

indisponibilidade do interesse em discussão, sua natureza extrapatrimonial impediria seu

conhecimento pelo Tribunal Arbitral.

26. Assim, ainda que pudesse ser a discussão dos danos morais apartada da apreciação do dano

ambiental, a disputa continuaria sendo inarbitrável, em razão de sua natureza extrapatrimonial,

não satisfazendo o segundo e último requisito objetivo do Art. 1º da LArb.

1.2. A coletividade titular do direito à indenização pelos danos morais coletivos não é

representada pela Requerente

27. O cerne do conflito envolve o direito ao meio ambiente saudável, que é um interesse

difuso, porquanto de uso comum e essencial à qualidade de vida de todos (Art. 225, caput, CF).

Interesses difusos, nos termos do Art. 81, I do CDC, possuem natureza transindividual,

indivisível e dizem respeito a pessoas indeterminadas (Zavascki, 2011, p. 39), sendo a coletividade

a responsável pela sua proteção (Gonçalves, 2007, p. 154), dentre os quais o meio ambiente (Didier

Jr, Zaneti Jr, 2014, p. 74; Leonardo, 2014, p. 120, §§ 4-5; Art. 225, caput, CF). Estes interesses, por

sua indivisibilidade, não comportam atribuição a um segmento da sociedade, como moradores de

um município ou de um estado (Grinover et al., 2011, pp. 71-73), sendo o Ministério Público o

detentor de ampla legitimidade para representar a coletividade em defesa de tais interesses (Lemes,

2007, p. 138; STJ, REsp 1.289.609/DF, 2014), possuindo vocação constitucional para a defesa dos

objetivos da República e dos interesses difusos, como a proteção do meio ambiente (STF, RE

554.088 AgR/SC, 2008; STF, RE 470.135 AgR-ED/MT, 2007; STJ, REsp 1.209.633/RS, 2015;

Art. 129, III, CF).

28. Em sendo o direito ao meio ambiente sadio um interesse difuso por excelência (STJ, REsp

1.120.117/AC, 2009), caracterizado pela indeterminação de sua titularidade, não pode ser

fragmentado e conferido a parcelas menores dessa coletividade (STJ, REsp 91.604/SP, 1998). No

presente caso, a Requerente não tem legitimidade para buscar a condenação da Requerida à

indenização dos danos morais coletivos decorrentes dos danos ambientais no Vale do Cacique

(Caso, pp. 9-10). Assim o é, pois, ainda que tenha sido constituída em observância aos requisitos

Page 24: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

6

legais presentes nos Arts. 53 e 54 do Código Civil, a Requerente representa apenas e unicamente

os seus associados (Caso, p. 11, Art. 3º) e não a coletividade, em sua totalidade.

29. Isso porque, embora tenham dessa maneira estatuído, as associações civis não têm

capacidade para defender os interesses da sociedade e sua legitimidade para propor ações civis

públicas decorre da natureza pública de tal instrumento processual. Nesse sentido, basta

comparar as poucas e simples exigências legais para representação em ação civil pública (Art. 5º,

V, Lei nº 7.347/85), dado o seu caráter público, com aquelas estabelecidas para a apresentação de

lei de iniciativa popular (Art. 13, Lei nº 9.709/98) para concluir-se que tanto a Requerente como

as demais associações civis não representam os interesses da sociedade. Ademais, sua

incapacidade de representação dos interesses da sociedade é igualmente bem ilustrada por sua

exclusão do rol de legitimados para celebração de Compromisso de Ajustamento de Conduta

(Art. 5º, § 6, Lei nº 7.347/85; Lima, 2010), situação de maior proximidade possível de uma

transação em se tratando de direitos coletivos extrapatrimoniais.

30. Dessa maneira, em se tratando de controvérsia acerca de direitos difusos e não somente de

discussão acerca dos danos morais sofridos apenas pelos moradores do Vale do Cacique,

associados da Requerente, esta não possui legitimidade para integrar o feito.

1.3. O compromisso arbitral é nulo porque padece de erro substancial em sua

formação

31. Devido à requisição de extinção do presente procedimento, a Requerente poderá

argumentar que o pedido é infundado e viola suas expectativas legítimas, configurando

comportamento contraditório por parte da Requerida. Todavia, o compromisso arbitral firmado

entre as partes funda-se em erro substancial e todos os negócios jurídicos que surgirem de

declarações de vontade dessa maneira viciadas são anuláveis (Art. 138, CC). Para tanto, é

substancial o erro quando interessar à natureza ou ao objeto principal do negócio, à qualidade da

pessoa ou quando for o motivo único ou principal do negócio (Art. 139, II , CC; STJ, AgRg no

REsp 1.389.193/MS, 2014; STJ, AgRg no AgRg no REsp 1.190.367/RJ, 2011), sendo irrelevante se

escusável ou não (Jornada I DirCiv STJ 12). Dessa maneira, a sentença arbitral sobrevinda em

procedimento fundado em erro substancial será anulada (Art. 32, I, LArb; TJRS, Apelação Cível nº

70005797774, 2003) por força do vício contido no instrumento que lhe deveria conferir

legitimidade (Carmona, 2009, pp. 398-401; Martins, 2008, pp. 313-314).

32. Assim como os demais negócios jurídicos, o Compromisso Arbitral Extrajudicial é

igualmente passível de anulação (Pontes de Miranda, 1977, p. 258, § 2). No presente caso, tal

compromisso foi assinado por Howard Lieman, representante da Requerida (Caso, pp. 24-27),

Page 25: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

7

que, por ser estrangeiro e não possuir formação jurídica (Caso, p. 46, § 2), desconhecia o fato de a

situação, por suas particularidades, não pode ser resolvida por procedimento arbitral. Dessa

forma, a única conduta que a Requerida pode assumir é a de impugnar a jurisdição arbitral, o que

já vem fazendo desde o seguinte momento oportuno (Caso, p. 36 e p. 39, § 3.1.2), pois, sendo o

Compromisso Arbitral Extrajudicial firmado anulável, improvável a capacidade do presente

procedimento arbitral tutelar o interesse das partes em razão da futura nulidade da sentença (Art.

32, I, LArb).

33. Portanto, deve ser reconhecida a nulidade do Compromisso Arbitral Extrajudicial e

decretada a extinção do presente procedimento arbitral, sob pena de se proferir decisão a ser

nulificada.

1.4. A ação civil pública é o foro específico e adequado para a discussão dos danos

ambientais

34. Ao contrário do que alega a Requerente ao afirmar que a arbitragem é a maneira mais célere

e especializada de solucionar este conflito (Caso, p. 45, § 4), o procedimento arbitral não é o meio

mais adequado para apreciar casos como as ações de responsabilidade por danos causados a

interesses difusos ou coletivos, pois tais ações são regidas pela Lei nº 7.347/85, que regulamenta a

ação civil pública. Dessa maneira, a ação civil pública é positivada como o instrumento processual

destinado à tutela aos interesses da sociedade (STJ, REsp 605.323/MG, 2005), principalmente,

quando o que se discute diz respeito a danos causados ao ambiente ou em detrimento deste

(Leite, Ayala, 2011, p. 290, § 1).

35. No presente caso, há ação civil pública para apurar a responsabilidade da Requerida pela

reparação dos danos ambientais causados e pelo pagamento de indenização a título de danos

morais coletivos (Caso, pp. 28-32). Dessa forma, se o Tribunal Arbitral decidir por manter o

presente procedimento existirá a possibilidade de ser a Requerida condenada mais de uma vez à

reparação de danos, pois submetida ao julgamento da mesma matéria em sede arbitral e sede

judicial (2.2.2., abaixo).

21. Ademais, a sentença arbitral proferida no presente procedimento não será útil para as

partes contratantes, porque não será capaz de produzir efeitos entre elas, pois: (i) não se discute

direito patrimonial disponível (1.1., acima); (ii) a Requerente não tem legitimidade para o conflito

(1.2., acima); (iii) o procedimento decorre de compromisso arbitral nulo (1.3., acima). Dessa

maneira, não há razão em prosseguir com procedimento suscetível de apresentar maior

onerosidade para os envolvidos e que em nada lhes beneficiará, porquanto não apresentará

qualquer forma de solução válida para a controvérsia.

Page 26: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

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22. Por conseguinte, a extinção do presente procedimento arbitral é medida que se impõe,

devendo a controvérsia ser dirimida pelo julgamento da ação civil pública, já proposta.

36. Em conclusão, o presente conflito não pode ser submetido à arbitragem porque versa

sobre matéria não disponível ou patrimonial, não atendendo a nenhum dos requisitos objetivos

estabelecidos pelo Art. 1º da LArb, e pela ilegitimidade da Requerente para representar os

interesses da coletividade. Além disso, deve o presente procedimento arbitral ser extinto em

razão da nulidade do Compromisso Arbitral Extrajudicial, em razão da existência de erro

substancial em sua formação volitiva, de maneira que deve ser remetida ao judiciário a apreciação

da matéria na ação civil pública já proposta, foro exclusivo para a discussão de questões de direito

ambiental, sob pena de tolerar-se a dupla condenação da requerida ou a existência de decisões

contraditórias.

2. O TRIBUNAL ARBITRAL DEVE INTERROMPER O PROCEDIMENTO

ARBITRAL

37. Ainda que o Tribunal Arbitral decida por não extinguir a arbitragem, o presente

procedimento não pode prosseguir. A arbitragem deve ser interrompida porque há ordem judicial

que assim determina (2.1., abaixo). Não fosse isso o bastante, o prosseguimento desse

procedimento arbitral causará prejuízos materiais para a Requerida (2.2., abaixo).

2.1. Há ordem judicial eficaz que vincula o Tribunal Arbitral determinando a

interrupção do presente procedimento

38. A decisão judicial em questão produz efeitos porque fundamentada e eficaz (2.1.1., abaixo),

de maneira que seu descumprimento leva à caracterização de crime de desobediência (2.1.2.,

abaixo). Ainda, o ato do Poder Judiciário é o único constitucionalmente legitimo para interromper

procedimento ilegal, caso da arbitragem em questão (2.1.2., abaixo)

2.1.1. A liminar concedida na ação civil pública produz efeitos desde logo

39. A decisão liminar na ação civil pública n. 001000-16.2015.8.28.0231 ordenou a interrupção

imediata do procedimento arbitral instaurado entre Requerente e Requerida (Caso, p. 34). Como

qualquer decisão judicial, esse provimento liminar deve ser cumprido.

40. Trata-se de decisão vigente, logo, eficaz, prolatada em sede liminar pelo Poder Judiciário,

na ação civil pública proposta pelo Ministério Público para a defesa de direitos coletivos e

indisponíveis (1.2., acima). Além de fundamentado (Caso, p. 34, § 3) o provimento contém

relatório (Caso, p. 34, §§ 1-2) e dispositivo satisfatórios (Caso, p. 34, § 4).

Page 27: Memorial Requerida São Paulo, 10 de agosto de 2015 Equipe 118

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41. A liminar em questão é a manifestação do Poder Judiciário. Sendo constituinte dos três

Poderes do Estado Brasileiro (Art. 2º, CF), a atividade jurisdicional estatal produz efeitos desde

logo, não dependendo de intermediação legislativa para isso (Mendes, Branco, 2015, p. 154).

42. Assim, o descumprimento de determinação proveniente da manifestação da soberania do

Estado traz consequências imediatas, visto não haver hipótese de não-execução da ordem. De

maneira que o Tribunal Arbitral, ao optar pelo prosseguimento da arbitragem, estará cometendo

o crime de desobediência, tipificado no CP, com pena de privação de liberdade e multa (2.1.2.,

abaixo)

2.1.2. Os árbitros poderão responder por crime de desobediência

43. No caso de descumprimento da liminar suspendendo o procedimento arbitral (Caso, p. 34),

o crime de desobediência está tipificado no Art. 330 do CP.

44. Os requisitos de tipificação do crime de desobediência foram definidos pelo STJ como: (i) a

falta de sanções civis, processuais civis ou administrativas visando o cumprimento de

determinação judicial (STJ, HC 37279/MG, 2004) e (ii) a inexistência de sanção em lei específica,

no caso de descumprimento (STJ, HC 22721/SP, 2003). A decisão exaurida pela Vara Única da

Comarca de Córrego das Chuvas, determinando a interrupção do procedimento arbitral (Caso,

p.34, §4), não prevê condenação à multa ou a qualquer tipo de sanção civil em caso de seu

descumprimento. Logo, é provável a condenação dos árbitros, como ocorrido no julgado do

TRF4 (TRF4, HC 000278155201444040000/PR, 2014), no qual o Ministério Público obteve

permissão para verificar a ocorrência de crime de desobediência cometido por réu de ação civil

pública.

45. Tanto o risco é real no caso concreto que, em situação análoga, conhecida como “Caso

Jirau” (STJ, Rcl 9.030/SP, 2012), a prisão da diretoria do consórcio de construtoras foi decretada

por desacato à ordem da Corte Inglesa, quando se insistiu em continuar com o procedimento

arbitral no Brasil. A ordem emanada do Poder Judiciário gerou, portanto, consequências práticas

diretamente às partes do litígio.

46. Logo, os árbitros, ao optarem pelo prosseguimento do procedimento arbitral, estarão

enquadrados perfeitamente no tipo penal previsto no Art. 330 do CP.

2.1.3. O Poder Judiciário é competente para ordenar a interrupção de procedimento

ilegal

47. Em que pese a possibilidade, em procedimento arbitral regular, de o árbitro exercer função

de juiz de fato e de direito (Art. 18, LArb) o presente caso não se trata de procedimento regular,

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dada a não arbitrabilidade do conflito (1., acima). Não está a se negar, aqui, a competência mínima

deste Tribunal Arbitral enquanto órgão jurisdicional, segundo o princípio da kompetenz-kompetenz,

(Didier Jr., 2015). Contudo, sua competência material é limitada à disponibilidade do direito

controvertido (Art. 1º, LArb). No presente caso, existindo uma ordem judicial a ser cumprida, os

árbitros têm o dever de fazê-lo, observando a inafastabilidade do Poder Judiciário, exercendo não

mais que sua competência mínima dentro do litígio.

48. A inafastabilidade do Poder Judiciário é garantida constitucionalmente (Art. 5 º, XXXV,

CF), de modo que, nem mesmo por força de lei, sua atuação pode ser afastada em relação a

qualquer lesão ou ameaça a direito. Ao contrário do exercício de jurisdição arbitral, “a garantia de

acesso ao Judiciário não prescinde de que a lei venha a dispor sobre o direito processual viabilizando a atuação do

Estado na resolução de conflitos” (Mendes, Branco, 2015, p. 155).

49. A garantia é relativizada na Lei de Arbitragem, conforme julgado do STF que reconheceu a

sua constitucionalidade (STF, AgRg em Sentença Estrangeira 5.206-7/1996). “A posição do STF permite

vislumbrar a compatibilidade da Lei n. 9.307/96 com o Art. 5º, XXXV, da Constituição Federal, dando

feição menos reducionista ao direito fundamental à proteção efetiva do Poder Judiciário” (Mendes, Branco, 2015,

p. 414).

50. A Corte estabelece, de maneira clara e unânime, duas condições para ser tal relativização

constitucionalmente aceita: a disponibilidade do direito controvertido e a voluntariedade do

acordo.

51. No caso concreto, o direito pleiteado pela Requerente é de natureza indisponível (1.1.1.,

acima) e o acordo entre as partes é voluntário, mas possui vício do erro (1.4., acima). Logo, a

jurisdição do árbitro no procedimento arbitral é incompatível com a garantia constitucional de

inafastabilidade do Poder Judiciário. Este, sim, detém competência totalmente imperiosa para a

resolução do conflito.

52. A Constituição garante ao Poder Judiciário competência para “defender direito violados ou

ameaçados de violência” (Mendes, Branco, 2015, p. 153). Sua função tem como essência a defesa dos

direitos fundamentais, (Mendes, Branco, 2015, p. 153) e sua atividade jurisdicional é caracterizada

pela “prolação de decisão autônoma, de forma autorizada e, por isso, vinculante, em casos de direitos contestados

ou lesados”. (Mendes, Branco, 2015, p. 961).

53. No caso, não bastasse a garantia concedida pelo constituinte, a legislação específica do

foro, a Lei 7.347/85, em seu artigo 12, possibilita ao juiz “conceder mandado liminar, com ou sem

justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.

54. A suspensão de procedimento arbitral buscada aqui já foi ordenada em caso semelhante no

TJMG (TJMG, AC 10024133214825003, 2014) no qual o requerente solicitava a interrupção do

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procedimento arbitral em face da CAMARB. O pedido foi atendido com base (i) na duplicidade

de procedimentos sobre o mesmo fim e (ii) na falta de segurança jurídica imposta às partes.

Houve a caracterização da superveniência da competência do Poder Judiciário para dirimir a

controvérsia.

55. Logo, com base constitucional e jurisprudencial, não é possível arguir a sobreposição da

jurisdição arbitral sobre o Poder Judiciário, porque, tratando-se ou não de procedimento ilegal, o

juiz tem total competência para ordenar a sua interrupção, conforme garantia constitucional.

Ademais, o objeto do litígio é incompatível com a arbitragem, o que extingue a competência do

Tribunal Arbitral de decidir sobre o conflito.

2.2. Decidir pelo prosseguimento da arbitragem acarreta prejuízo às partes

56. A decisão a ser proferida por este Tribunal Arbitral já carrega aspectos de nulidade em sua

constituição, dada a não arbitrabilidade do conflito e a sua subsistência à sentença do foro

adequado à resolução do litígio (1., acima). Assim, o prosseguimento dessa arbitragem tem como

consequência única gerar custos para as partes.

57. O Art. 27 da LArb determina que a responsabilidade das custas será definida em sentença

arbitral, caso não haja disposição específica sobre o tema no compromisso arbitral. No caso, a

Requerida está comprometida com essas despesas nos termos do Termo de Arbitragem (Caso, p.

42, §§ 4.8.1, 9.4 e 9.5) e do Compromisso Arbitral (Caso, p. 24, §§1.4.1, 4.2 e 4.2.1).

58. As despesas são constituídas por custos de (i) publicação das decisões deste procedimento

na imprensa oficial, (ii) taxas de administração, (iii) honorários dos árbitros e (iv) outros custos de

arbitragem. A Requerida também está vinculada ao pagamento das custas do processo judicial,

devido à redação do Art. 20 do CPC.

59. É inegável, portanto, o grande prejuízo material a ser suportado pela Requerida em razão

do simples prosseguimento da presente arbitragem. As despesas decorrentes dessa decisão

acumulam-se de maneira sucessiva e desnecessária, paralelamente com as custas processuais

provenientes da ação civil pública. Assim, a Requerida deve ser poupada dos gastos expostos,

gerados por um procedimento arbitral que não encontra requisitos jurídicos para existir.

60. Em conclusão, se o procedimento arbitral não for extinto, diante de todas as razões

expostas, é inevitável a sua suspensão. Primeiramente, pelo simples fato de existir uma decisão

judicial válida e eficaz que assim o determina. Em segundo lugar, o prosseguimento de arbitragem

só trará prejuízos às partes.

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3. A REQUERIDA NÃO DEVE SER RESPONSABILIZADA PELOS DANOS

AMBIENTAIS DECORRENTES DO DESMORONAMENTO DA BARRAGEM DA

PCH, POIS AS FORTES CHUVAS CONFIGURAM FORÇA MAIOR

61. A Requerida não deve ser responsabilizada pelos danos ambientais envolvendo o

desmoronamento da barragem da PCH, próxima ao Município de Córrego das Chuvas, pois o

regime de responsabilidade civil aplicável leva em conta excludentes de responsabilidade (3.1.,

abaixo); e as fortes chuvas que acometeram a região entre o fim de 2011 e início de 2012

configuram força maior (3.2., abaixo).

3.1. A responsabilidade ambiental da Requerida não é regida pela teoria do risco

integral, sendo possível a exclusão de responsabilidade por força maior

62. Embora a Requerente postule a sujeição da Requerida ao regime de responsabilidade

objetiva de risco integral (Caso, p. 39, § 3.1.1), esse entendimento é inaplicável ao presente caso. A

teoria do risco integral é a mais gravosa modalidade de responsabilização civil, fundamentando-se

na ideia de que quem cria o risco deve sempre reparar os danos oriundos de seu empreendimento

(Benjamin, 1998, p. 122). Sob essa ótica, o dever de indenizar estará presente ainda que ocorra

força maior (Venosa, 2012, p. 16).

63. Essa disciplina extremada não é cabível em função de ser atécnica e de não contar com

previsão legal (3.1.1., abaixo); além disso, ainda sendo a teoria do risco integral entendida como

juridicamente correta, o presente caso não guarda semelhança com julgados que a aplicam (3.1.2.,

abaixo). Afastado o regime do risco integral, recai a Requerida na disciplina padrão da

responsabilidade objetiva, a qual contempla a incidência de força maior, manifesta excludente de

responsabilidade neste caso.

3.1.1. A teoria do risco integral é atécnica e não possui previsão legal

64. Embora haja entendimento jurisprudencial no sentido de dever ser aplicada a teoria do

risco integral a casos de lesões a interesses jurídicos ambientais (STJ, REsp 1.374.284/MG, 2014,

STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014, STJ, REsp 1.114.398/PR, 2012), essa orientação deve ser

superada. Dentre as razões que legitimam sua superação, destacam-se: (i) a teoria não conta com

previsão legal; (ii) sua construção não se conforma ao Código Civil; (iii) o entendimento

jurisprudencial fundamenta erroneamente o nexo causal; e (iv) ao abalar a segurança jurídica, sua

aplicação desestimula a iniciativa econômica.

65. Quanto à (i) ausência de previsão legal, a teoria do risco integral não está positivada no

ordenamento jurídico pátrio. Há inclusive dispositivos legais que tratam especificamente sobre o

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dano ambiental, como o Art. 14 da lei 6.938/81 e o Art. 225 § 3º da CF. Não há texto legal,

porém, a partir do qual seja possível inferir que a responsabilização civil por danos ao meio-

ambiente será imputada sem análise de quaisquer excludentes de responsabilidade.

66. Em relação à (ii) não conformidade à legislação, evidencia-se que a teoria do risco assume

indevida nuance no entendimento jurisprudencial do risco integral. O CC adotou a teoria do

risco-criado (Araújo Rocha, 2014, p. 7), em que predomina a relação causal entre o dano sofrido

pela vítima e a atividade desenvolvida pelo causador do dano (Pereira, 2001, p. 287). A teoria do

risco-criado prevê a incidência de fenômenos capazes de excluir a responsabilidade objetiva,

sempre que desses eventos decorrer o rompimento do nexo causal entre a atividade e o dano

(Araújo Rocha, 2014, p. 9). Acrescenta-se que, além de a disciplina ambiental não prever a teoria do

risco integral, estão positivados no CC as excludentes de responsabilidade (Art. 393, CC), em

sentido exatamente oposto ao risco integral, sedimentando a adoção do risco-criado. Assim, não

há responsabilidade quando o nexo causal entre o dano e sua autoria é rompido, o que ocorre

diante da incidência de força maior (Pereira, 2001, p. 295).

67. Ademais, (iii) o entendimento jurisprudencial trabalha equivocadamente o conceito de nexo

causal. Superpõem-se inadvertidamente risco e nexo causal: “(...) o nexo de causalidade é o fator

aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato” (STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014). O nexo

causal, em verdade, é o liame que aglutina dano e ato (Venosa, 2012, p. 53; Pereira, 2002, p. 289).

Ao limitar-se às figuras do risco e do ato, o nexo causal não mais exprime uma relação de causa

(ato) e efeito (dano). Por conseguinte, esse entendimento permitiria a atribuição aleatória do

dever de indenizar: a responsabilização poderia ser imputada a atos que não guardam relação

alguma com o dano. Além disso, ao não aludir à figura do dano, a construção jurisprudencial dá

margem à interpretação de não existir dever de indenizar, ainda na ausência de dano. Contudo,

sem a ocorrência deste elemento não haveria o que indenizar, e, consequentemente, não haveria

responsabilidade (Gagliano, Pamplona Filho, 2012, p. 87). Em outras palavras, ao desfigurar o nexo

causal, a teoria confunde os pressupostos da responsabilidade civil.

68. Ademais, a teoria do risco integral (iv) ao abalar a segurança jurídica, consequentemente

desestimula a iniciativa econômica. Há segurança jurídica, quando o cidadão tem a capacidade de

conhecer e de calcular os resultados que serão atribuídos pelo Direito aos seus atos (Ávila, 2012,

p. 144). Nesse sentido, o cumprimento para com os requisitos da legislação ambiental pautou a

conduta da Requerida ao longo de toda a construção da PCH – a obra contava com licenças

ambientais, relatório de impacto ambiental e outros instrumentos previstos em lei (Caso, p. 51, §

8). A teoria do risco integral, por outro lado, desestimula o empreendedor em razão da

exacerbada insegurança jurídica acerca de suas possíveis responsabilizações (Araújo Rocha, 2014, p.

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13). Eventos de força maior não decorrem de fatos planejados, mas de acontecimentos

escapando ao poder do agente (Pereira, 2002, p. 302). Nesse sentido, as chuvas producentes do

desmoronamento da ombreira natural da PCH destacam-se por sua intensidade, amparada em

índices pluviométricos extraordinários (Caso, p. 18, § 2) – desta sorte, conhecer e calcular tanto a

ocorrência quanto os efeitos das chuvas não era possível.

69. Portanto, em decorrência da falta de previsão legal e da atecnicidade da teoria do risco

integral, não há razão para aplicá-la. A construção jurisprudencial que a emprega deve ser

afastada.

3.1.2. O caso não guarda semelhança com julgados do STJ nos quais se aplicou a

teoria do risco integral

70. Ainda, se entendendo a teoria do risco integral como juridicamente correta, esse regime

não deve ser aplicado. O presente caso diferencia-se, sob diversos aspectos, de julgados impondo

a responsabilização objetiva pelo risco integral.

71. Embora haja julgado no STJ aplicando a teoria do risco integral em desmoronamento de

barragem (STJ, REsp 1.374.284/MG, 2014), o presente caso diferencia-se desse precedente a

partir de três aspectos. Primeiro, o precedente não trata de dano moral coletivo, apenas outorgou

balizas à quantificação das indenizações individuais devidas a cada cidadão lesado. Segundo,

figura no precedente uma mineradora exploradora de bauxita, cuja barragem destinava-se ao

armazenamento de rejeitos oriundos da atividade industrial, ao passo que a barragem da PCH

está inserida no complexo de uma pequena hidrelétrica (Caso, p. 2, § 1) – não represa resíduos

industriais, mas água, cujo potencial hídrico será convertido em energia elétrica. Terceiro, no

julgado o acidente decorreu de negligência da empresa, que armazenou milhões de litros de

rejeitos provenientes de sua atividade industrial, aumentando o risco do seu empreendimento

(TJMG, Apl. 10439070742549001, 2012) – a Requerida, por outro lado, manifestou precaução ao

longo da construção da PCH, em estrito respeito à legislação ambiental (Caso, p. 51, § 8).

72. Outros julgados do STJ também aplicaram a teoria do risco integral a danos ambientais

(STJ, REsp 1.354.536/SE, 2014; STJ, REsp 1.114.398/PR, 2012). No entanto, ambos os julgados

têm como responsabilizadas empresas petrolíferas. No primeiro precedente, houve vazamento de

amônia; já o segundo trata acerca de vazamento de nafta, composto proveniente do petróleo.

Portanto, o presente caso diferencia-se também desses precedentes: não era objeto dos julgados

uma indenização moral coletiva; e a construção da PCH não oferece risco equiparável ao das

atividades de petrolíferas.

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73. A título comparativo, pode-se aprofundar a análise do risco distinguindo a atividade da

Requerida da exploração de energia nuclear, atividade que uma parte da doutrina entende estar

submetida a regime não admitindo excludentes de responsabilidade (Fiorillo, 2006, p. 204). Dentre

os riscos inerentes à atividade nuclear, destacam-se a dificuldade de gestão dos resíduos gerados e

seu potencial emprego para fins bélicos (Frangetto, 2005, p. 497). Por outro lado, o sinistro

envolvendo a PCH não expôs a população local a substâncias tóxicas, o dano ambiental é bem

delimitado (Caso, p. 18, § 4) e já há medidas aptas e suficientes à sua completa reparação (Caso, p.

21). Assim, mesmo uma das piores catástrofes que poderiam ter acometido a PCH não ofereceu

risco à vida, além de os danos contarem com medidas reparatórias facilmente aferíveis e

executáveis, como limpeza da área, reintrodução de espécies vegetais, reparação da mata ciliar

(Caso, pp. 19-20).

74. Ademais, a própria legislação ambiental, cumprida pela Requerida (Caso, p. 51, § 8), conta

com artifícios para mitigar riscos. Estão previstos em nosso ordenamento a avaliação e estudo

prévio de impactos ambientais, instrumentos que aliados ao princípio da precaução permitem que

os riscos ambientais sejam adequadamente geridos na sociedade contemporânea (Leite, Ferreira,

Melo, pp. 415-416, 2005). Além disso, a construção da PCH, cujo próprio nome evidencia seu

pequeno porte, segue diretrizes sustentáveis: uma alternativa aos riscos de grandes usinas

hidrelétricas é sua substituição por várias usinas de pequeno porte, algo exigindo maior

investimento econômico, mas acaba diminuindo riscos e possíveis danos ao meio ambiente (Leite,

Ferreira, Melo, p. 417, 2005).

75. Dessa maneira, ainda em sendo a teoria do risco integral, entendida como juridicamente

correta, o caso não guarda semelhança com julgados que a aplicaram. Por conseguinte, recai a

Requerida sob o regime regular de responsabilidade objetiva, conforme disciplina o Art. 14, da

Lei 6.938/81, tendo como requisitos a atividade ilícita, o dano e o nexo causal (Cavalieri Filho,

2014, p. 179).

76. No entanto, sob esse regime, a Requerida não deve ser responsabilizada. O nexo causal –

liame unindo a conduta do agente ao dano (Venosa, 2012, p. 53) – está ausente neste caso. O dano

ambiental que acometeu Córrego das Chuvas no início de 2012 teria ocorrido ainda que a PCH

não houvesse sido construída – as chuvas extraordinárias são a causa do dano, configurando

força maior (3.2., abaixo). Em razão de o nexo causal ser imprescindível para ser configurada a

responsabilidade objetiva (Súmula n. 18 do Conselho Superior do Ministério Público de SP; Venosa, 2012,

p. 53), a ausência desse requisito exclui a responsabilidade da Requerida.

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77. Portanto, a teoria do risco integral deve ser afastada diante das diferenças do julgado em

relação ao caso. Dessa maneira, a Requerida está sujeita ao regime padrão de responsabilidade

objetiva, do que decorre a exclusão de responsabilidade em razão de força maior.

3.2. As chuvas configuram força maior no caso concreto

78. A responsabilidade da Requerida deve ser afastada pela força maior, pois as chuvas foram a

causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da PCH (3.2.1., abaixo) e constituem

fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade da Requerida (3.2.2., abaixo).

3.2.1. As chuvas foram a causa direta para o desmoronamento da ombreira natural da

PCH do Distrito do Vale do Cacique

79. A Requerente alega que catástrofes da natureza constituem risco inerente à atividade da

Requerida (Caso, p. 39, § 3.1.1). No entanto, os altos índices pluviométricos do fim de 2011 e

início de 2012, por se tratarem de índices atípicos na região, rompem o nexo causal entre o

empreendimento e o dano causado. A responsabilização da Requerida no caso concreto deve,

assim, ser afastada, pois as fortes chuvas foram a causa direta do desmoronamento da ombreira

natural da PCH (Caso, p. 2, § 2; p. 18, § 2).

80. O nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o

dano causado, de modo que a conduta seja a causa e o dano o efeito (Cavalieri Filho, 2014, pp. 61-

62). A força maior – evento inevitável ou irresistível – afasta o nexo causal por constituir causa

estranha à conduta do aparente agente, ensejadora direta do evento (Art. 393, CC; Cavalieri, 2014,

pp. 88-90).

81. Em casos semelhantes, julgados pelo TJSP, a despeito do desconforto psíquico de quem

sofreu o dano por ter seu imóvel inundado e todos seus bens destruídos –, não houve

responsabilização do município réu. A alegada omissão do município, por não tomar medidas

necessárias para a prevenção de enchentes – tais como recuperação e drenagem do leito do rio; e

realocação de moradores da área de proteção ambiental – não foi o fato causador do dano. Isso,

porque as consequências do volume de chuvas excepcional e imprevisível que atingiu o município

eram inevitáveis. Nestes casos, as chuvas foram consideradas força maior, afastando a

responsabilidade do município réu (TJSP, Apl. 00068879620128260125, 2015, Apl.

00057611120128260125, 2014).

82. No caso em tela, as fortes chuvas ocorridas no período do desmoronamento da ombreira,

foram essenciais para a ocorrência do sinistro e todos os danos dele provenientes (Caso, p. 9, § 9).

Porquanto, a barragem só chegou ao limite de sua capacidade devido ao alto índice

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pluviométrico, bem como a saturação do solo decorrente de situação climática anormal (Caso, p.

18, § 2). A construção da Requerida não foi o fato causador do dano, mas, sim, as chuvas e a

saturação do solo. Do mesmo modo como no caso referido, tanto a Associação dos Amigos do

Distrito do Vale do Cacique, quanto a Prefeitura Municipal atestaram a situação emergencial local

(Caso, pp. 12-13).

83. Portanto, a Requerida não deve arcar com danos, cuja causa direta não esteve relacionada a

sua atividade. As chuvas atípicas foram causa direta para o desmoronamento da ombreira,

caracterizando a força maior no caso concreto.

3.2.2. As chuvas constituem fato necessário e inevitável, eximindo a responsabilidade

da Requerida

84. As fortes chuvas ocorridas durante o período de desmoronamento da barragem fugiram da

esfera de controle da Requerida. A alegada previsibilidade e evitabilidade dessas chuvas (Caso, p.

39, § 3.1.1) não deve ser acolhida, pois as precipitações do fim de 2011 e início de 2012, devido às

suas proporções, geraram consequências inevitáveis.

85. Para efeitos do Art. 393 do CC, o fato deverá ser, ao mesmo tempo, externo à atividade da

empresa e inevitável a fim de que o dever de indenizar seja afastado por caso fortuito ou força

maior (Martins-Costa, 2003, p. 197-202; Pontes de Miranda, 1958, p. 79). Para tanto, o evento deve

ser analisado sob duas óticas: (i) a do fato necessário e (ii) a da inevitabilidade de seus efeitos.

86. Fato necessário (i) é o fato que, não provindo do devedor, nem sendo por ele causado, não

está na sua esfera de controle (Martins- Costa, 2009, p. 290). Diante disso, todo fato externo à

atividade do aparente agente causador do dano consiste fato necessário. Por sua vez, o evento

será inevitável (ii) tão somente quando, embora o agente possa resistir, não for possível evitar

suas consequências (Martins-Costa, 2003, pp. 202-205).

87. No caso em tela, os danos causados à Requerente ocorreram devido a chuvas muito acima

do normal, fato inclusive ressaltado pelo próprio Município (Caso, p. 18, § 2; pp. 9-10). A

Requerida, apesar de tomar todas as providências necessárias a fim de assegurar a obra (Caso, p. 7,

§ 1; p. 51, §§ 8-10) não teve como evitar a ocorrência do alto índice pluviométrico daquele

período, que dirá seus efeitos desastrosos. A necessidade de realocação dos moradores, o

assoreamento do córrego das Águas Claras, bem como a inundação do Parque Estadual Vila do

Ouro (Caso, p. 2, §§ 2-3, 5) foram ocasionados tão somente pela impossibilidade da Requerida de

evitar as consequências das chuvas.

88. Cumpre ressaltar que não se fala aqui de chuvas típicas de verão, como alegará a

Requerente. As chuvas que atingiram Vila Rica, naquele período, foram em volume

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extraordinário. Por esse motivo, a saturação do solo, causa de desmoronamentos em todo o país

durante os meses de verão (TJSP, Apl. 00068879620128260125, 2015; STJ, AgRg no AREsp

469.420/RJ, 2014; STJ, AREsp 478.537/DF, 2014; STJ, AREsp 530.390/RJ, 2014), foi fator

essencial para o desmoronamento da ombreira natural. Dessa forma, apesar de a Requerida ter se

mostrado diligente na segurança e conservação de sua obra, as proporções das chuvas fugiram de

sua esfera de controle.

89. Os danos oriundos do desmoronamento foram causados por fato alheio à atividade da

Requerida (i), a qual não pode evitar seus efeitos (ii). Portanto, não há como falar em dever de

indenizar por parte da Requerida, visto que a força maior rompe o nexo de causalidade entre a

conduta e o dano ocorrido.

90. Em conclusão, o Tribunal Arbitral deve afastar a teoria do risco integral, aplicando ao

caso a responsabilização objetiva, pois esta contempla a incidência de excludentes de

responsabilidade. Isto posto, o Tribunal Arbitral deve reconhecer as chuvas atípicas do fim de

2011 e início de 2012 como força maior, afastando a responsabilidade da Requerida.

4. A QUANTIFICAÇÃO DOS DANOS MORAIS NÃO DEVE TER CARÁTER

PUNITIVO

91. Caso a Requerida seja responsabilizada e condenada a pagamento de indenização pelos

danos morais, sua quantificação não deve ter caráter punitivo, uma vez que tal caráter é contrário

ao sistema jurídico brasileiro de reparação civil (4.1., abaixo) e sua presença configuraria bis in idem

(4.2., abaixo). Além disso, seria contraditório aplicar esse caráter em caso de responsabilidade

objetiva por dano ambiental (4.3., abaixo). Por fim, a Requerida realizou as medidas possíveis para

dirimir os danos gerados pela catástrofe climática (4.4., abaixo), não cabendo punição com caráter

pedagógico.

4.1. O sistema brasileiro de responsabilidade decorrente de danos ambientais estabelece

a reparação integral do dano como única medida de indenização civil

92. Embora a Requerente argumente serem cabíveis danos punitivos (Caso p. 39, § 3.1.1), no

ordenamento jurídico brasileiro não há previsão legal para a utilização do caráter punitivo

aplicado aos danos morais (Martins-Costa, Pargendler, 2005; REsp 1.354.536/SE, 2012). Assim, a

indenização deve ser quantificada considerando o dano da vítima, pelo espectro do interesse do

ofendido (Cruz, 2005 p. 320, Pontes de Miranda, 1984, Tomo 22, p. 206; REsp 1.354.536/SE, 2012).

Desse modo, a indenização decorrente do dano moral deve servir à extinção do dano (Pontes de

Miranda, 1984 Tomo 22, p. 216) e não como forma de punição ao agente causador.

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93. O Art. 944 do Código Civil funda, como norma geral no direito brasileiro, o princípio da

reparação integral ou plena, estabelecendo que: “A indenização mede-se pela extensão do dano”,

reparando-o integralmente (Sanseverino, 2014 p. 430). Esse princípio funciona, assim, como teto

indenizatório (Sanseverino, 2010, p. 74). Nesse sentido, na medida em que o dano viola o equilíbrio

econômico-jurídico, deve o Direito atuar para restabelecer o estado anterior, exercendo sua

função reparatória ou compensatória (Benacchio, 2012, p. 648; Aguiar Dias, 1979, p. 422). Ou seja,

indeniza-se compensando o dano (Aguiar Dias, 1979, p. 422). No caso de danos extrapatrimoniais,

o juiz será responsável por quantificar a indenização de maneira compatível aos danos sofridos

(Sanseverino, 2010, p. 268).

94. Além de o Código Civil determinar o critério para mensurar o dano, também estabelece

vedações expressas a um critério especifico: a reprovabilidade da conduta do agressor (Martins

Costa, 2009, p. 497). Nesse sentido, o Art. 403 dispõe expressamente que, mesmo que o agente

tenha agido com dolo, as perdas e danos só incluem prejuízos efetivos e os lucros cessantes,

decorrentes direta e imediatamente. Desse modo, a indenização é balizada pela lógica de limitar a

indenização aos prejuízos efetivos e os lucros cessantes.

95. Em caso análogo ao presente, o Superior Tribunal de Justiça foi chamado a se manifestar

sobre o critério jurídico correto à mensuração do dano ambiental (REsp 1.354.536/SE, 2012). Na

ocasião, em decorrência de um derramamento de amônia, os moradores afetados ingressaram na

justiça buscando indenização pelos danos sofridos. Pretendiam fosse tal reparação majorada, em

razão da necessidade de se punir a responsável. Porém, ao decidir a questão, a Corte Superior

entendeu ser a punição inadmissível. Houve, desse modo, a reiteração da desnecessidade do

caráter punitivo da indenização e a permanência da mesma em valores mais baixos, porquanto

esse instituto não é consagrado no ordenamento jurídico, consiste em punição excessiva (4.2.,

abaixo) e não se configura em casos de responsabilidade objetiva (4.3., abaixo).

96. O alegado dano a ser indenizado, no caso, é moral e difuso, causado pela alegação de

desrespeito ao meio ambiente saudável e equilibrado (Art. 225, caput, CF). O dano é difuso, pois

o meio ambiente é patrimônio imaterial pertencente a toda a coletividade (Andrade, 2009, p.66;

Art 81, I, CDC), não comportando a atribuição a uma categoria (1.2., acima). A pretensão buscada

não consiste em preservar interesses individuais relacionados à saída forçada dos moradores de

Vila Rica de suas casas, mas de uma etérea moral coletiva à segurança e ao meio ambiente.

97. No presente caso, a Requerente pretende igualmente que o quantum indenizatório

extrapole o dano efetivamente ocorrido (Caso, p. 39, § 9). Assim, a exemplo da Corte Superior,

ainda que fosse possível, de algum modo, responsabilizar-se a Requerida pelas catástrofes

climáticas ocorridas, o Tribunal deve quantificar a indenização tendo como parâmetro único e

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exclusivo o dano. O pedido por indenização de 5 milhões de reais claramente já engloba esse

caráter punitivo, e não somente o dano efetivo (Caso, p. 39, § 3.1.1). Por esse motivo, se o pedido

de indenização for deferido, deve ser muito reduzido e balizado pelas regras do ordenamento

jurídico brasileiro, não se levando em consideração aplicação do caráter punitivo. Somente deve

haver a compensação do dano com fins de impedir enriquecimento ilícito.

98. Dessa maneira, o deferimento do pedido resultaria em uma transposição do caráter

compensatório do dano, o único presente no ordenamento jurídico brasileiro.

4.2. A punição na esfera civil resultaria em “bis in idem”, pois no direito ambiental já

estão previstas punições nas esferas administrativa e penal

99. Mesmo que se considerando a aplicação do caráter punitivo no ordenamento jurídico

brasileiro, no direito ambiental, o espaço destinado pela lei à punição do infrator é amplo, mas

estritamente delimitado às esferas administrativa e penal. Já o Art. 225, § 3 da Constituição

Federal distingue expressamente as noções de reparação e de punição: prevê sanções penais e

administrativas para as condutas lesivas ao meio ambiente, independente da obrigação de reparar

os danos causados. Assim, tem-se que o caráter punitivo já é satisfeito pelas esferas administrativa

e penal, configurando bis in idem a dupla punição na esfera civil (REsp 1.357.614/SE, 2012).

100. Não resulta disso um regime frágil de prevenção ambiental. É que a punição mediante

sanções administrativas e penais de grande variabilidade na quantificação, previstas na lei

9.605/98, é suficiente para a prevenção necessária ao direito ambiental (Mukai, 2005, p. 95). Por

exemplo, a quantificação das multas administrativas pode chegar a 50 milhões de reais (Art. 75,

Lei nº 9.605/98). O Art. 225, § 3 atribui à sanção civil a mera responsabilidade de reparar o dano,

sendo o seu objetivo a recuperação do meio ambiente, não a penalização do poluidor (Steigleder,

2011, p. 250, 251).

101. O princípio do non bis in idem não tem previsão constitucional expressa, mas pode ser

deduzido do princípio da dignidade da pessoa humana e de outros dispositivos que vedam a

dupla punição. A Constituição a proíbe (Arts. 1º, 5º, XXXIX, CF) e, também, o nosso CP, em

diversos dispositivos, coíbe a dupla punição: Art. 1º (princípio da legalidade de crimes e penas)

(Teotônio, 1990). Além disso, possui extensa reiteração jurisprudencial (REsp 1.478.439/ RS, 2015,

REsp 1.107.314 / PR, 2010, REsp 1.012.903/RJ, 2008, REsp 1.086.492 / PR, 2010).

102. No REsp 1.513.156/CE, 2015, tem-se o caso de um dano ambiental que ensejou ação civil

pública por danos materiais, por danos morais difusos, pertencentes à população em geral, por

multas administrativas e por reparação in natura do meio ambiente degradado. Em instâncias

anteriores a multa e a reparação do meio ambiente já haviam sido garantidas. Já para a

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indenização dos danos materiais e morais, a decisão do STJ reiterou a sua desnecessidade, visto

que os danos não causariam prejuízos a gerações futuras, sendo a reparação in natura feita pelo

réu considerada suficiente para contemplar toda a indenização e que a condenação à indenização

em dinheiro seria excessiva.

103. No caso, já tramita na esfera cabível procedimento administrativo visando à apuração de

responsabilidade da Requerida para improvável aplicação de multas, pelo Município (Caso, p. 52, §

2).

104. Assim, a improvável punição administrativa, que pode, inclusive, chegar a valores dez vezes

superiores aos patamares ora requeridos, já albergaria o caráter punitivo, como no caso exposto

acima. A punição em esfera penal é impossível, posto não haver, no presente caso, a culpa

necessária para a responsabilização em âmbito penal (4.4., abaixo). A condenação a danos morais

com caráter punitivo consistiria, então, em um excesso de punição.

105. Desse modo, como eventual punição já ocorreria nas esferas competentes, quantificar a

indenização decorrente dos danos morais com vistas a outros critérios, que não o reparatório,

consistiria em uma violação ao princípio do non bis in idem.

4.3. É contraditório tratar de aplicação do caráter punitivo em responsabilidade objetiva

por dano ambiental

106. O pedido da Requerente é contraditório visto que, nos casos de responsabilidade por danos

ambientais, esta forma de quantificação, dentro da esfera da sanção civil, é incompatível com o

regime jurídico aplicável. Isso por que a legislação define que a responsabilidade por danos

ambientais é objetiva (Art. 14, § 1, da Lei 6.938/81; Art. 225, §§ 2-3, CF), de modo que prescinde

apreciação de culpa (Noronha, 2009, p. 508). Assim, não há como aplicar caráter punitivo, quando

não deve haver análise da culpa do agente agressor.

107. O caráter punitivo do dano moral é fixado com intuito de ser uma punição e um exemplo

ao agente e à toda coletividade (Martins-Costa, Pargendler, 2005), sendo definido pelo grau de culpa

do agente. Deste modo, a eventual indenização deve ser fixada de acordo com grau de culpa do

agente, sua capacidade financeira (REsp 1.354.536/SE, 2012). Se para a responsabilização

objetiva a análise da “característica subjetiva” (culpa) é prescindível, aplicar uma modalidade de

indenização que torna a analise desta e do grau de culpa envolvido necessária é, no mínimo,

paradoxal (Martins-Costa, Pargendler, 2005 p.23). Como não há apreciação dessa característica

subjetiva, é ainda mais incontroverso que o caráter punitivo da indenização não é aplicável em

casos de responsabilidade objetiva (Martins-Costa, Pargendler, 2005 pp. 23-24, REsp 1.354.536/SE,

2012).

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108. Ainda, os “punitive damages” são apenas aplicáveis no direito estrangeiro, basicamente em

países do Common Law, sendo inclusive incompatível com o sistema jurídico brasileiro (Benetti,

2013, p. 374). Historicamente, a função meramente indenizatória não foi o princípio da

responsabilidade civil, visto que essa tinha o caráter de pena privada. Tal caráter não subsiste, em

vista da aversão à ideia de pena privada (Martins-Costa, Pargendler, 2005, p. 18). Por isso, a

incompatibilidade com países de Civil Law, onde a função primordial da responsabilidade civil é

reparatória (Benetti, 2013, p. 374). Nesse âmbito, o caráter punitivo, como uma pena, teve origem

patrimonialista, no sentido de que era aplicado a danos à pessoa ou a seus bens (Martins-Costa,

Pargendler, 2005, p. 18).

109. Logo, à medida em que a finalidade da indenização passou a ser punição e prevenção, o

foco deixou de ser a espécie do dano para ser a conduta do seu causador (Martins-Costa, Pargendler,

2005, p. 19). Justamente por isso que o caráter punitivo na quantificação dos danos nos Estados

Unidos é vedado em casos de responsabilidade objetiva, pois não há análise da culpa do agente

agressor, por exemplo (Martins-Costa, Pargendler, 2005, p. 21).

110. Ainda, mesmo nos países onde a função punitiva da responsabilidade civil é regulamentada

e amplamente utilizada, como nos EUA, há uma progressiva limitação desse instituto, devido à

constante preocupação com a “hiper-prevenção” e a “supercompensação” (Martins-Costa,

Pargendler, 2005, p. 24), que podem causar enriquecimento ilícito. Inclusive, no caso em tela, se

considerado o caráter punitivo na quantificação dos danos morais, haveria enriquecimento ilícito

da Requerente, sendo a excessiva punição é indevida (Art. 884, CC).

111. Assim, no caso, mesmo sendo a Requerida responsabilizada pelos danos ocorridos à cidade

de Córrego das Chuvas (Caso, p. 7, §§ 4, 6), sua responsabilidade seria objetiva, já que os danos

foram ambientais (3.1., acima). Afastando-se a culpa da Requerida para imputação de

responsabilidade, considerando-se, assim, apenas a natureza do dano, não há como enquadrar o

caráter punitivo na reparação do dano, sendo esse definido pelo grau de culpa presente.

4.4. A Requerida foi prudente, tomando todas as medidas possíveis para dirimir os

danos gerados pelo sinistro ambiental

112. A Requerida tomou todas as medidas possíveis para tornar a obra segura e regular,

cumprindo seu papel garantidor da segurança de sua obra. A hipótese de aplicação da função

punitiva da responsabilidade civil a fins de quantificação dos danos morais resulta na imposição

de uma situação desfavorável ao responsável pelo dano, sendo a perda de um direito, sua

limitação, ou o pagamento de uma soma em dinheiro (Benacchio, 2012, p. 655) (valorada por sua

culpa), que se mostra como uma pena privada.

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113. Nesse sentido, a pena privada depende da avaliação de dolo, má-fé ou culpa grave do

responsável (Benacchio 2012, p. 657), o que não se pode ser notado no caso em questão. Ainda, há

previsão no Direito Brasileiro de redução equitativa da indenização, pelo julgador, em casos de

existência de desproporção entre a gravidade da culpa e o dano (Art. 944, parágrafo único, CC;

Sanseverino, 2014 p. 431).

114. A análise da culpa em casos de responsabilidade objetiva apenas serviria para a

determinação do quantum debeatur (Becker, 2014, p. 346). Se este Tribunal Arbitral decidir por

analisar o fator de imputação – dolo e culpa, apenas para fins de quantificação – a indenização

deverá ser reduzida devido à atuação prudente da Requerida.

115. A obra encontrava-se em perfeitas condições de funcionamento e de segurança, com todos

os licenciamentos necessários atualizados (Caso, p. 51, § 9). Ainda, a Requerida procurou auxiliar a

população de várias maneiras, tais como com auxílio com o atendimento de suas necessidades

básicas (alimentos, atendimento médico e realojamento) a fim de diminuir os danos causados

pelo desmoronamento da barragem (Caso, p. 18).

116. Dessa forma, a Requerida cumpriu seu dever de segurança, mantendo obras regulares,

licenciadas e seguras, não havendo, logo, necessidade de caráter punitivo, visto que sua conduta

foi a correta. Ou seja, não há como imputar-lhe uma pena privada, quando não houve má-fé,

dolo ou culpa grave nas ações da Requerida. Logo, não há que se falar em quantificação dos

danos morais pelo caráter punitivo.

117. Em conclusão, a Requerida, se responsabilizada, não deve ser condenada a indenizar a

Requerente por danos morais com caráter punitivo, visto que esses não estão previstos no

ordenamento jurídico brasileiro. Ainda, mesmo se aplicado o caráter punitivo, a punição em

esfera administrativa e penal somada ao caráter punitivo da indenização violaria o bis in idem.

Além disso, o caráter punitivo nos danos morais, quando aceitos, são definidos pela culpa, que

não deve ser analisada na responsabilidade objetiva. Sendo assim, a culpa necessária para a

configuração de indenização punitiva é inexistente no caso, devido à prudência das ações

realizadas pela Requerida, para minimizar os danos causados pela catástrofe ambiental.

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PEDIDOS

Por todo o exposto, considerando a ilegitimidade do Tribunal Arbitral para julgar a presente

controvérsia, a Requerida pleiteia que sejam reconhecidos os seguintes pedidos:

1. A extinção do presente procedimento arbitral pelas razões expostas, quais sejam, (i) a

indisponibilidade e a extrapatrimonialidade do interesse jurídico, (ii) a ilegitimidade da

Requerente e (iii) a nulidade do compromisso arbitral;

2. Subsidiariamente, a interrupção do procedimento arbitral em face da ordem judicial

exaurida em sede de ação civil pública. Se não pelo provimento do Poder Judiciário, que

seja suspensa a arbitragem dado o prejuízo por ela trazido às partes.

3. O reconhecimento da ausência de responsabilidade da Requerida pelos danos morais

coletivos causados aos residentes do Distrito do Vale do Cacique, em virtude da

ocorrência de força maior;

4. Subsidiariamente, a fixação do montante de indenização em patamares inferiores ao

defendido pela Requerida, pois não se aplica danos morais com caráter punitivo no caso;

5. Por fim, requer seja a Requerente condenada ao pagamento de todos os custos do

presente procedimento arbitral, incluindo-se as despesas administrativas da CAMARB e

os honorários dos árbitros e dos advogados ao final signatários.

Nesses termos,

Pede deferimento.

São Paulo, 10 de agosto de 2015

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