melhoria do desempenho cognitivo dos alunos do ensino fundamental

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135 MELHORIA DO DESEMPENHO COGNITIVO DOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL JOSÉ FRANCISCO SOARES Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] RESUMO Este artigo introduz um modelo conceitual que relaciona fatores intra e extra-escolares a uma medida de desempenho cognitivo dos alunos. Com a ajuda desse esquema revisam-se as evidências presentes na literatura educacional sobre as possibilidades de melhoria dos resultados cognitivos dos alunos do ensino fundamental. Muitos dos resultados das pesquisas relatadas na literatura internacional não foram validados por estudos empíricos no Brasil até o momento. Os melhores dados para estudo do assunto disponíveis no país são os do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – Saeb, que têm muitas limitações. No entanto, já é possível garantir que, considerando o nível atual do desempenho dos alunos, há ações que podem ser realizadas no nível da escola com grande potencial de melhoria das proficiências dos alunos. Assim, neste momento, é preciso enfatizar as políticas escolares, tendo em vista que elas só serão viáveis com a implantação da autonomia das escolas, preceito já estabele- cido em lei, mas ainda não completamente implementado. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO – RENDIMENTO ESCOLAR – ENSINO FUNDAMENTAL – AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO ABSTRACT IMPROVING COGNITIVE PERFORMANCE OF STUDENTS ENROLLED IN ELEMENTARY SCHOOL. This paper introduces a conceptual model which relates intra and extra school factors to elementary school students’ achievement. Using this model as reference, the main evidences from the literature on how to improve student’s achievement were reviewed. However, it should be noted that several of the results published in the international literature haven’t been replicated with data collected in Brazil. The best Brazilian data to study these questions are those from Brazilian System for Evaluation of Basic Education – Saeb. Considering the low level attained today by the Brazilian students, there are several actions, which can be taken at the school level that, if applied, will impact positively on the student’s achievement. At this point in time, it is strategic to emphasize school policies, considering, Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, p. 135-160, jan./abr. 2007 O autor agradece a Luana Marotta e Renato Júdice de Andrade por várias colaborações na mani- pulação dos dados do Saeb usados neste artigo.

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  • 135Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, jan./abr. 2007

    Melhoria do desempenho cognitivo...

    MELHORIA DO DESEMPENHO COGNITIVODOS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

    JOS FRANCISCO SOARESGrupo de Avaliao e Medidas Educacionais, Faculdadede Educao da Universidade Federal de Minas Gerais

    [email protected]

    RESUMO

    Este artigo introduz um modelo conceitual que relaciona fatores intra e extra-escolares auma medida de desempenho cognitivo dos alunos. Com a ajuda desse esquema revisam-seas evidncias presentes na literatura educacional sobre as possibilidades de melhoria dosresultados cognitivos dos alunos do ensino fundamental. Muitos dos resultados das pesquisasrelatadas na literatura internacional no foram validados por estudos empricos no Brasil at omomento. Os melhores dados para estudo do assunto disponveis no pas so os do SistemaNacional de Avaliao da Educao Bsica Saeb, que tm muitas limitaes. No entanto, j possvel garantir que, considerando o nvel atual do desempenho dos alunos, h aes quepodem ser realizadas no nvel da escola com grande potencial de melhoria das proficinciasdos alunos. Assim, neste momento, preciso enfatizar as polticas escolares, tendo em vistaque elas s sero viveis com a implantao da autonomia das escolas, preceito j estabele-cido em lei, mas ainda no completamente implementado.DESENVOLVIMENTO COGNITIVO RENDIMENTO ESCOLAR ENSINOFUNDAMENTAL AVALIAO DA EDUCAO

    ABSTRACT

    IMPROVING COGNITIVE PERFORMANCE OF STUDENTS ENROLLED INELEMENTARY SCHOOL. This paper introduces a conceptual model which relates intra andextra school factors to elementary school students achievement. Using this model as reference,the main evidences from the literature on how to improve students achievement werereviewed. However, it should be noted that several of the results published in the internationalliterature havent been replicated with data collected in Brazil. The best Brazilian data to studythese questions are those from Brazilian System for Evaluation of Basic Education Saeb.Considering the low level attained today by the Brazilian students, there are several actions,which can be taken at the school level that, if applied, will impact positively on the studentsachievement. At this point in time, it is strategic to emphasize school policies, considering,

    Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 130, p. 135-160, jan./abr. 2007

    O autor agradece a Luana Marotta e Renato Jdice de Andrade por vrias colaboraes na mani-

    pulao dos dados do Saeb usados neste artigo.

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    however, that they only will be viable with the implementation of school autonomy, ideaalready present in law, but not completely put into practice.COGNITIVE DEVELOPMENT STUDENT ACHIEVEMENT ELEMENTARY SCHOOL CURSE EVALUATION

    O objetivo deste artigo apresentar criticamente as evidncias prove-nientes da literatura educacional e das anlises dos dados resultantes dos gran-des projetos de avaliao da educao bsica no Brasil para a formulao eimplementao de polticas pblicas que possibilitem a melhoria dos resulta-dos educacionais brasileiros. Para isso, preciso antes de tudo delimitar maisclaramente o problema.

    A educao, na sua acepo mais ampla, tem objetivos que ultrapassamo raio de ao da escola. A prpria Constituio brasileira1 estabelece que aeducao dever do Estado e da famlia, ou seja, que a educao integral doser humano exige a contribuio de outras estruturas sociais alm da escola.No entanto, a escola e, conseqentemente, o sistema escolar tm um papeldiferenciado em relao educao. De forma mais especfica, essas estrutu-ras devem possibilitar aos alunos oportunidades para a aquisio de compe-tncias cognitivas consideradas necessrias pela sociedade, prepar-los para omundo do trabalho e para a vida em sociedade, e ainda desenvolver seus ta-lentos individuais. Assim, o objetivo da educao escolar, aquela parte da edu-cao que ocorre no mbito do estabelecimento escolar, pode ser sintetizadona expresso: Instruir, mas tambm educar; ou educar atravs da instruo.

    No amplo espectro da educao escolar, vamos nos concentrar na edu-cao bsica e, dentro dela, no ensino fundamental. Os outros nveis da edu-cao bsica, a educao infantil e o ensino mdio, exigem reflexes especfi-cas, que no podem ser feitas apenas com base nos dados gerados pelos atuaisprojetos de avaliao educacional. A anlise da educao infantil deve levar emconta a dificuldade e a desigualdade de acesso a ela, e a do ensino mdio re-quer a discusso das suas funes2. No caso da educao fundamental, j uni-

    1. Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e

    incentivada com a colaborao da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa,

    seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    2. Para uma viso crtica das solues adotadas para o ensino mdio pode-se consultar Castro (2005).

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    versalizada e com um papel consolidado no contexto da formao escolar dosalunos, a anlise deve-se concentrar na definio de sua qualidade e nas for-mas de atingi-la.

    RESULTADOS ESCOLARES

    Os resultados mais elementares do sistema escolar so o acesso e o flu-xo dos alunos. Essas duas dimenses so verificadas atravs do Censo Escolar,do Censo Demogrfico e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios PNAD3. Nos questionrios destes dois ltimos levantamentos, o nmero dequestes relativas educao escolar pequeno. No entanto, produzem da-dos que permitem o clculo de indicadores muito teis para a descrio do sis-tema escolar do pas, em particular, as taxas de analfabetismo, as taxas de esco-larizao bruta e lquida e o nmero de anos de estudo. Nos anos de realizaodo Censo Demogrfico, essas taxas podem ser calculadas para todos os muni-cpios do pas, constituindo-se nos nicos dados municipais com abrangncianacional disponveis para descrio dos resultados do sistema escolar4.

    As informaes obtidas mostram que o ensino fundamental no Brasil estpraticamente universalizado para as crianas e adolescentes de 7 a 14 anos, umavitria alcanada com dcadas de atraso, mesmo em relao a pases de me-nor desenvolvimento econmico da Amrica Latina. preciso ressaltar, porm,que o direito constitucional ao ensino fundamental no se restringe aos cida-dos daquela idade, e que hoje o sistema educacional brasileiro no tem capa-cidade sequer para absorver uma pequena parte das crianas que ainda noexercem esse direito, caso decidam busc-lo proximamente.

    Outros indicadores do funcionamento do sistema escolar, como o tem-po mdio de concluso, so produzidos pelos modelos de fluxo escolar de-senvolvidos por Klein (2003) e Rios-Neto (2004) com base nos dados da PNAD

    3. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE em uma amostra alea-

    tria de domiclios de todas as unidades da federao, com exceo da zona rural da Regio Norte.

    4. O Estado de Minas Gerais, atravs da Fundao Joo Pinheiro, concluiu recentemente o Atlas

    da Educao de Minas Gerais, que agrega em um CD de fcil utilizao todas as informaes

    sobre as vrias dimenses do acesso educao escolar, viabilizadas pelo Censo Escolar, PNAD,

    Censo Demogrfico e projees populacionais necessrias para a estimativa das taxas de es-

    colarizao nos anos intercensitrios.

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    e tambm do Censo Escolar. Os resultados destes trabalhos indicam que per-sistem graves e srios problemas no ensino fundamental. As taxas de repetnciae de abandono e a distoro idade-srie continuam em nveis elevados, impos-sibilitando, por exemplo, a desejada universalizao do ensino mdio, alm designificar um grande desperdcio de recursos.

    Medida de resultados cognitivos

    Apesar da importncia dos indicadores de acesso e fluxo, neste artigovamos analisar a educao fundamental atravs do desempenho cognitivo dosalunos. Sem aprendizado e a conseqente percepo de sua utilidade, dificil-mente o aluno continua a freqentar a escola. Esses so pontos fundamentaisna definio de qualidade do ensino fundamental, e esto entre as metas edu-cacionais acertadas no acordo internacional denominado Education for all(Unesco, 2005), cujo cumprimento verificado anualmente pela instituio.Assim a melhoria do ensino bsico significa neste texto a elevao dos nveisde aprendizado dos alunos, medido em escalas especificamente desenvolvidaspara esse fim.

    De forma muito lenta vai se firmando no Brasil a idia j amplamenteconsolidada em outros pases de que apenas atravs da medida dos resultadoscognitivos possvel conhecer e analisar os nveis da aprendizagem de grandenmero de alunos e a qualidade do servio prestado pelas escolas de um sis-tema. bvio que uma nica medida de desempenho no capta particularida-des que devem ser registradas no acompanhamento rotineiro de cada alunopor seus professores. Nessa dimenso, todo aluno tem o direito de ser avalia-do, pois s assim possvel conhecer suas deficincias e fornecer-lhe um au-xlio especfico.

    Para medir o resultado cognitivo de alunos do ensino bsico, o InstitutoNacional de Pesquisas Educacionais Inep criou em 1995, dentro do esfor-o de consolidao do Sistema Nacional de Avaliao da Educao Bsica, es-calas de competncias matemtica e leitora. Os detalhes desse processo es-to registrados no trabalho de Klein e Fontanive (1995), pioneiros na construodessas escalas. O relatrio do Saeb de 2001, disponvel no stio do Inep, par-ticularmente til para o entendimento dos aspectos pedaggicos e estatsticosassociados a elas.

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    A tabela 2, referente aos dados do Saeb 2003, mostra porcentagens dealunos abaixo do nvel bsico e acima do nvel recomendado, na nomenclatu-ra do Sistema Mineiro de Avaliao da Educao Bsica Simave5. Pode-se ob-servar que, em termos de desempenho dos alunos, o sistema brasileiro deeducao fundamental tem muito a melhorar.

    MODELO CONCEITUAL

    Como j dissemos, o principal objetivo deste artigo informar sobre aspossibilidades de melhoria do desempenho cognitivo dos alunos do ensinofundamental brasileiro. Para estudar esta questo, seja teoricamente seja em-piricamente, preciso explicitar um modelo conceitual que apresente as v-rias inter-relaes entre os fatores explicativos do aprendizado e destes como resultado final, aqui tomado como o desempenho cognitivo.

    Os modelos existentes pertencem a duas tradies acadmicas distintas;uma associada aos economistas e a outra a educadores e socilogos da edu-cao. Os primeiros se apiam quase que exclusivamente nos dados do Cen-so Demogrfico e da PNAD e priorizam os fatores extra-escolares, minimizan-do as oportunidades de melhoria por transformaes nas polticas e prticasinternas da escola. Essa viso muito bem ilustrada no trabalho de Barros etal. (2001), uma contribuio importante que analisa de forma exaustiva dadosde trs censos, e no ensaio de Ioschpe (2004). No mbito internacional, essa

    TABELA 1PORCENTAGEM DE ALUNOS NOS NVEIS BSICO

    E RECOMENDADO NO SAEB 2003

    Matemtica Lngua Portuguesa

    Srie < Bsico > Recomendado < Bsico > Recomendado

    4a E.F. 51,6 29,0 55,0 25,6

    8a E.F. 57,1 14,7 45,6 20,1

    3a E.M. 79,1 6,9 38,6 26,9 Fonte: Saeb 2003.

    5. Muitos autores tm optado por diferentes pontos de corte e termos para nomear os nveis.

    Adotamos os do Simave pelo pequeno nmero e uso de descries mais neutras.

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    linha de raciocnio muito desenvolvida, como mostram trabalhos recentes deNechyba, McEwan, Older-Aguilar (2004), autores que fizeram uma exaustivareviso da literatura sobre o assunto para o Ministrio da Educao da NovaZelndia.

    Essa opo metodolgica minimiza o papel da escola e prioriza as pos-sibilidades de mudana via polticas extra-escolares e muito prevalente entreeconomistas, profissionais que, mais do que quaisquer outros grupos, influen-ciam a escolha das polticas pblicas dos governos em diferentes nveis. Sli-das evidncias empricas sustentam essa posio.

    A literatura educacional mostra, alm da dvida razovel, que, em umasociedade especfica, os maiores determinantes do desempenho escolar estofora do mbito da escola. Ao revelarem um irrefutvel determinismo sociolgi-co, as pesquisas criaram tambm um forte pessimismo pedaggico, visto quelevaram concluso que a escola pesaria pouco na explicao da variao dodesempenho dos alunos. Essa idia est sintetizada na frase provocante as es-colas no fazem diferena, associada diretamente aos resultados do RelatrioColeman (Coleman et al., 1966). Em outra vertente, os estudos longitudinaisrealizados na Frana encontram-se na gnese do paradigma da reproduo,como se convencionou chamar o conjunto de teorias desenvolvidas por soci-logos franceses, sobretudo a partir da obra de Pierre Bourdieu. A reproduo qual se referiu Bourdieu a reproduo das desigualdades sociais no seio dainstituio escolar e suas conseqncias em termos de mobilidade social.

    Esses trabalhos mostram que cada sociedade define para si, atravs desuas opes histricas, um patamar possvel para o aprendizado de seus estu-dantes. Entretanto, em torno dessa estrutura, caracterstica da sociedade, hgrande variao. Em sociedades desiguais, como a brasileira, o nvel esperadode desempenho oscila de forma acentuada de acordo com o nvel socioeco-nmico, ainda que haja grande variao em torno dessa tendncia.

    O sistema escolar por si s no capaz mudar esta determinao so-cial, mas algumas escolas conseguem em maior ou menor medida que seusalunos tenham um aprendizado melhor que o esperado para suas condiessociais. Os alunos dessas escolas tm um desempenho acima da linha que definea determinao social. Ou seja, o efeito da escola relevante e decisivo, em-bora no possa mudar completamente a determinao social. Portanto, planejaro aumento do desempenho escolar de alunos do ensino bsico utilizando ape-

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    nas intervenes escolares implica aceitar, para a questo global, pequenosaumentos. Ainda assim, como mostram os dados empricos, na situao atualdo sistema de ensino bsico no Brasil, onde prevalecem desempenhos muitobaixos, existem oportunidades de melhorias substanciais de desempenho pormeio de polticas escolares. por isso que a pesquisa sobre o efeito escola to importante no nosso meio. E est claro tambm que mudanas em esco-las especficas podem ser o passo inicial para transformaes mais gerais. Fi-nalmente, a ao sobre os fatores escolares pode ser feita a curto prazo en-quanto a mudana das estruturas sociais s ocorre a longo prazo. Da arelevncia de considerar intervenes escolares.

    A figura 1 apresenta o modelo elaborado por Soares (2005), fruto de umaconsolidao de vrios outros modelos existentes na literatura, principalmen-te os de Scheerens e Bosker (1997), Lee, Bryk, Smith (1993) e Gautthier(1997).

    Ao se analisar esse modelo, preciso considerar antes de tudo a com-plexidade do fenmeno que se pretende estudar. Os fatores mais prximos do

    FIGURA 1MODELO CONCEITUAL

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    desempenho do aluno so suas caractersticas inatas ou j determinadas porsua histria de vida. Alm dessas, trs outras estruturas concorrem para me-lhores ou piores desempenhos de alunos: a escola, a famlia e a sociedade.

    Assim, para o entendimento completo do desempenho do aluno ne-cessria uma abordagem multidisciplinar que agregue conhecimentos pelomenos da psicologia, da educao, da sociologia, da economia e inclusive dacincia poltica, em muitos momentos subsidiados pela coleta e anlise de da-dos atravs de tcnicas estatsticas apropriadas. As prximas sees apresen-tam uma elaborao sobre estes fatores e as oportunidades que indicam paraa melhoria do desempenho dos alunos. Esta apresentao tem, entretanto, doiscondicionantes que devem ser explicitados.

    Primeiramente, adota-se a posio de Franco (2006) que salienta serurgente no Brasil de hoje a desinterdio de todos os temas e de todas asabordagens de maneira que a pesquisa e o debate sobre questes educacio-nais possam subsidiar a formulao de polticas adequadas para a enorme di-versidade de situaes e problemas educacionais que afligem o Brasil. Ou seja,assume-se que a organizao democrtica de nossa sociedade d a sustenta-o necessria para o estabelecimento de um dilogo produtivo entre diferen-tes escolas de pensamento educacional. Implicitamente, assume-se tambmque o Estado democrtico brasileiro no deve apoiar apenas uma pedagogia,mas muitas, todas as que forem necessrias para se tratar da diversidade dosalunos do pas.

    Estamos longe desse ideal. O debate educacional brasileiro costumaadmitir a existncia de apenas duas posies antpodas que, ao invs de dialo-garem, se insultam mutuamente. Meirieu (2005), apesar de se referir a umaoutra realidade, expressa bem a dicotomia ao falar da posio do mercado,que transforma a educao em bem de consumo e os pais e alunos em clien-tes que querem apenas obter resultados cognitivos. Para atend-los, a escolaadota uma pedagogia completamente instrumental. A funo da pesquisa edu-cacional se limitaria busca da eficincia escolar imediata, e o ideal seria quese estabelecesse uma concorrncia entre escolas e que a escola pblica fosseprivatizada. A posio oposta descrita tambm caricaturalmente como umaposio de irresponsabilidade social. Nesse caso, a escola insensvel snecessidades de seus alunos ou dos pais e insiste em que sua funo no podeser descrita objetivamente. A pedagogia apropriada a da cumplicidade cultu-

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    ral, do dom. Nenhum controle social aceito, pois a escola tem uma funodelegada pelo Estado que no pode ser retirada ou questionada. A sociedadedeve fornecer escola os meios que esta estabelece, de modo que o sistemaeducacional , na prtica, prisioneiro das corporaes internas escola.

    Alm da hiptese de que o dilogo possvel, argumenta-se que, paramuitas das decises sobre o sistema escolar brasileiro, no existem dados depesquisa emprica que possam subsidi-las. Diante disso, preciso usar a evi-dncia externa, cuja relevncia para a nossa sociedade nem sempre est com-pletamente estabelecida.

    FATORES EXTRA-ESCOLARES

    Entre os fatores extra-escolares, tanto a organizao da sociedade comoa da famlia podem ser o ponto de partida de aes direcionadas melhoriados resultados educacionais. Embora reconhecendo que essas duas estruturasse influenciam mutuamente e que as melhores polticas incluiro aspectos deambas, para efeitos desta apresentao elas sero tratadas separadamente.

    Nesse tema duas posies extremas devem ser evitadas. De um lado, aidia de que a poltica deve prescrever tudo, padronizar a escola e o ensino.Essa idia aparece tanto entre os que ingenuamente pensam a escola como umaindstria de servio, cujos processos podem ser padronizados, como entreos que advogam que a igualdade de tratamento em uma sociedade democr-tica exige uma escola com projeto pedaggico nico. Certamente, em um pasto diverso como o Brasil, modelos nicos esto fadados ao fracasso. No htampouco evidncia de efetividade das polticas que sugerem escolher apenasum ou dois pontos como cruciais para a transformao do sistema escolar eesperar que o resto venha como conseqncia. Essa posio defendida comalguma freqncia em artigos publicados na grande imprensa. Na realidade, amudana do patamar de desempenho dos alunos do ensino fundamental bra-sileiro um problema complexo que exige solues complexas e plurais.

    Valores Sociais

    A escola reflete a organizao e os valores da sociedade na qual se inse-re. Seus valores estruturais e suas condies objetivas de desenvolvimento fa-cilitam ou dificultam a implementao exitosa da educao escolar.

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    A escola uma instituio que oferece principalmente oportunidades paraa aquisio de competncias cognitivas. Mas no est claro se os alunos de hojedesejam isso. Um valor muito presente na sociedade atual o da gratificaoimediata, algo que a escola no pode oferecer. Entre tantas razes para queisso no acontea causas disso destaca-se a impossibilidade, para muitos, devencer as enormes barreiras impostas pela estratificao social por meio deaes individuais.

    A idia, to poderosa nas geraes anteriores, de que a freqncia escola se justifica pela melhoria que traz em termos de oportunidades de em-pregos e da possibilidade de apreciar as coisas belas feitas pelo ser humano nascincias e nas artes, j no tem o mesmo impacto. Ou seja, valores importan-tes da sociedade atual vo na contramo da escola como instituio. Comoconseqncia, muitos alunos desenvolvem pouca motivao para adquirir osconhecimentos escolares. As famlias, influenciadas pela mesma cultura, em-penham-se menos que o necessrio para o bom andamento do aprendizado,por exemplo, no criando uma rotina diria de estudos e leitura e de realiza-o dos deveres de casa.

    No Brasil, temos grandes dificuldades de cunho social que impedem ofuncionamento eficaz das instituies escolares, principalmente aquelas situa-das na periferia das grandes cidades. As duras condies econmicas da maio-ria ali residente e a completa excluso social de muitos tornam a escola algoexterno a vida dos alunos. Para eles, todas as energias vo para a sobrevivn-cia. Essa situao tem levado, com alguma freqncia, a uma posio de que afuno da escola , sobretudo, a construo de uma nova sociedade. Essa idialevada ao extremo exageradamente imobilista j que sugere que apenas emuma sociedade ideal possvel uma escola de qualidade. Mas exatamente emuma sociedade desigual e no estgio de desenvolvimento social como a nossaque a existncia de uma boa escola mais necessria. Mudanas sociais len-tas, nas palavras de Sloat e Willms (2002), acabam mudando o patamar deaprendizado de cada sociedade, elevando-a, e com isso aumentando a quali-dade do ensino, e horizontalizando-a, o que torna o sistema mais eqitativo.Um bom exemplo o esperado impacto positivo resultante do progressivoaumento da escolaridade das mulheres.

    Como qualquer instituio, a escola funciona melhor quando h demandana sociedade pela sua competncia. No Brasil, uma grande porcentagem de

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    pais de alunos da escola fundamental teve uma escolarizao precria, o quetalvez explique que muitos ainda estejam satisfeitos com o acesso escola ofe-recido a seus filhos, mesmo que este acesso seja a uma escola de baixa quali-dade. Alm disso, parte importante da cidadania que poderia demandar e con-seguir mais est fora da escola pblica, s vezes em uma escola particular debaixa qualidade. No entanto, a PNAD de 2003 registra que a mdia de anosde estudo das mulheres de 20 a 24 anos atualmente de 8,9 anos. Assim, asfuturas mes sero mais educadas, e, portanto, tero mais condies de lutarpor melhores escolas para seus filhos.

    Polticas pblicas

    Uma forma potencialmente efetiva de impactar os resultados escolaresde alunos introduzir mudanas na legislao educacional. Porm, como indi-ca o modelo conceitual adotado, a associao entre uma nova lei e a melhoriado aprendizado dos alunos apenas indireta. Essa nova poltica ter de incidirsobre a escola que, por sua vez, modificar a ao do professor, e este, na suainterao com os alunos, viabilizar o aparecimento dos resultados. Mas mui-tas leis so promulgadas sem as necessrias evidncias de que seus dispositi-vos tm capacidade de influenciar toda essa cadeia necessria para que surjamos efeitos pretendidos.

    O captulo sobre educao da Constituio de 1988, o Fundo de Ma-nuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao doMagistrio Fundef e a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB so exemplos de sucesso. A nova Carta consagrou o direito ao ensinofundamental como direito subjetivo, deciso que refletiu na oferta desse nvelde ensino. Alm disso, introduziu os princpios da descentralizao, da coope-rao entre os entes federados e da democratizao da gesto, fundamentaispara a construo de sistemas educacionais adequados para um pas to diver-so quanto o Brasil.

    A LDB, como mostra Mello (2004), incluiu, alm dos princpios presen-tes na Constituio, inovaes como a nfase na autonomia da escola, a centra-lidade da proposta pedaggica e a importncia da informao e da avaliao paraa gesto das escolas e dos sistemas, conceitos que facilitam a organizao maisefetiva das escolas. O Fundef, ao implementar a idia da distribuio de recursos

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    baseando-se em percentuais iguais pelos alunos de um mesmo estado, teve re-flexos no salrio dos professores dos estados mais pobres da federao.

    H, porm, um acmulo de leis e acordos feitos sem a devida conside-rao do impacto no ensino que dificultam enormemente o funcionamentoregular do sistema. Por exemplo, em alguns sistemas os professores podemfaltar sem justificativa prvia algumas vezes ao ms. Nessas circunstncias, umtrabalho importante do diretor de uma escola grande , a cada dia, improvisara substituio, pois ele s sabe com quais professores pode contar minutosantes do incio das aulas. Em outros sistemas, o diretor pode ser transferidodurante o ano letivo, e em quase todos o nmero de professores fora da salade aula muito grande. Um dado do Censo Escolar pouco citado que na redepblica h um contrato de professor uma funo docente para cada 22alunos, mas so poucas as salas de aula que no ultrapassam esse nmero dealunos. Criam-se direitos desconsiderando a funo precpua da escola de aten-dimento s necessidades de aprendizado de seus alunos.

    Recursos

    Muitos analistas indicam a necessidade do aumento dos recursos desti-nados ao sistema educacional para a obteno de melhores resultados. Segun-do dados do projeto World Education Indicators6, o Brasil investe em educa-o 5,1% de seu Produto Interno Bruto. Este percentual um pouco menorque a mdia (5,43%) e coloca o Brasil entre os 15 pases com menor gasto per-centual em educao no ranking dos 44 pases para os quais existem dados eque congregam grande parte da populao mundial. H, portanto, algum espa-o para aumento do investimento em educao, mas no so muitas as opes,considerando-se os atuais patamares da carga tributria brasileira. Pinto (2002)sugere que durante os anos que so necessrios para a superao da situaode qualidade precria em que se encontra o ensino bsico, o Brasil deveria in-vestir at 10% de seu PIB na educao, aumento que, segundo o autor, deve-ria vir de remanejamentos de outras reas. Esta duplicao do percentual muitopouco provvel, considerando as carncias do pas em outras reas.

    6. Os dados esto disponveis no stio: http://www.uis.unesco.org/TEMPLATE/html/Exceltables/

    WEI2002/table12.xls.

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    mais razovel imaginar um aumento seletivo de recursos e mudanasna forma de alocao. Nesse sentido, Ioschpe (2004) tem uma proposta radi-cal. Defende a alocao ao ensino bsico dos recursos atualmente usados parasubsidiar a educao bsica e superior dos filhos das famlias de posio eco-nmica mais favorecida atravs do abatimento no Imposto de Renda e dagratuidade das universidades pblicas. Nesta hiptese, aumentariam os recur-sos pblicos para a educao bsica.

    Aumentos seletivos de recursos, principalmente para melhorar os salriosdos professores dos sistemas pblicos efetivamente envolvidos com o ensino, soclaramente necessrios. Mas estes novos recursos devem ser alocados com acontrapartida de melhoria dos resultados em prazos acordados.

    Esse o exemplo paradigmtico de tema que precisa ser desinterditado.Hoje a produo acadmica nessa rea est muito dividida. H os que aceitama relevncia para a nossa realidade da evidncia internacional de que o aumentode recursos no produz resultados. No se considera que esta evidncia foiproduzida em sociedades nas quais o sistema escolar j conseguiu se apare-lhar em termos de infra-estrutura e de pessoal, situao de que estamos lon-ge. O outro lado, sem nenhuma evidncia emprica, aceita que apenas aalocao de mais recursos produzir os resultados necessrios, mesmo quesejam usados para aumentar salrios de quem no est atuando na escola, esem a existncia de um sistema de monitoramento de resultados. Um novotipo de trabalho acadmico que rompa essas barreiras e seja apoiado em evi-dncias empricas precisa surgir. No entanto, h muitas dificuldades institucio-nais e polticas para a implementao deste tipo de proposta.

    Gesto dos sistemas

    Muitos autores, como Mello (2004), mostram de modo convincente oenorme potencial da poltica de autonomia da escola, j consagrada na atualLDB, como estratgia essencial para o seu melhor funcionamento e a conse-qente melhoria dos resultados de seus alunos. Assim, o papel da administra-o dos sistemas de ensino o de apoiar as escolas no desenvolvimento eimplementao de seu projeto pedaggico e avaliar pelos resultados obtidosse os direitos dos alunos por uma educao de qualidade esto sendo respei-tados nas opes autnomas tomadas pela escola.

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    Essas duas funes, de apoio e avaliao, no so as que predominamnas secretarias municipais e estaduais de Educao, completamente devotadasa controles burocrticos das escolas e superviso de programas comuns a todoo sistema. Diante disso, esses rgos tm pouco impacto na qualidade da edu-cao escolar, que , paradoxalmente, sua mais importante funo.

    Uma fonte de estudo ainda pouco utilizada para a busca da organizaomais efetiva dos sistemas de ensino a anlise comparativa com os sistemasprivados de ensino. Naturalmente, a comparao bruta da mdia dos alunosdestes dois tipos de escolas muito pouco informativa. Nos nveis interme-dirios de posio econmica h alunos suficientes em ambos os sistemas quepermitem uma comparao mais slida. Por exemplo, Soares e Csar (2002)distriburam os alunos do Saeb 2001 que fizeram o teste de Matemtica emgrupos homogneos quanto ao nvel socioeconmico e mostraram que, den-tro dos grupos intermedirios, o melhor desempenho dos alunos que freqen-tam o sistema privado de ensino superior ao melhor desempenho dos quefreqentam o ensino pblico.

    Nos ltimos anos, surgiram no Brasil vrias redes privadas de ensino queconstituem hoje verdadeiros sistemas educacionais privados. O ncleo centralapia a produo do projeto pedaggico da escola e fornece os materiais di-dticos. Se isto produz uma grande padronizao no ensino das escolasconveniadas, em contrapartida h oferta de capacitao do professor. Recen-temente, esses sistemas passaram a oferecer tambm os servios de avaliaoeducacional.

    No est claro, com a informao disponvel no momento, como estasexperincias podem ajudar a organizao dos sistemas pblicos, mas os resul-tados obtidos chamam a ateno, mesmo levando em conta o fator socioeco-nmico e a grande diferena no nmero de funcionrios dessas redes e dassecretarias de Educao em relao ao nmero de alunos que atendem.

    Responsabilizao

    Uma forma de relao entre a escola e o sistema cada vez mais consi-derada (Fernandes, 2006) a chamada responsabilizao social, traduo dotermo da lngua inglesa accountability. So vrios os formatos possveis, mas emtodos eles est implcita a idia de alocao seletiva de mais recursos tendo

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    como contrapartida os resultados obtidos. Brooke (2006) faz uma descriodo atual estgio dessa discusso no Brasil.

    O primeiro componente de um sistema de responsabilizao escolar a coleta da evidncia de que a escola mantm o aluno matriculado. Isso por-que a melhor maneira de obter melhores resultados na escola excluir os alu-nos com alguma dificuldade de aprendizagem, opo usada durante anos naescola pblica brasileira. Em segundo lugar, a escola deve ser vista pelo queacrescenta aos alunos, e no pelo nvel que eles atingem em um dado momentohistrico. Portanto, o sistema de cobrana de resultados cognitivos deve serorganizado de forma longitudinal, incorporando-se a idia do valor agregadocomo linha mestra da anlise dos dados de desempenho. Se o sistema de res-ponsabilizao for construdo com base nessas duas dimenses, incluso e valoragregado, e for implantado junto com a autonomia da escola, razovel espe-rar melhorias.

    No entanto, antes de se pensar na implementao desse tipo de orga-nizao do sistema, preciso estudar outras experincias, principalmente naInglaterra, onde comearam, e nos Estados Unidos, onde se transformaram emcontroversas polticas pblicas. H um pequeno nmero de experincias bra-sileiras que tambm merecem ateno.

    Seleo

    A melhor estratgia disponvel para que um estabelecimento escolarmelhore seus resultados cognitivos selecionar os alunos. H dois tipos deseleo: a socioeconmica e a cognitiva. As escolas tcnicas federais so umexemplo eloqente da eficcia de se produzir bons resultados atravs da sele-o cognitiva. Seus exames de admisso so muito concorridos, de modo queos alunos aceitos so sempre estudantes com timo perfil acadmico. A pre-sena de um grupo expressivo de alunos academicamente preparados e moti-vados cria na escola um ambiente onde tudo concorre para o aprendizadocognitivo.

    As escolas particulares dos grandes centros urbanos recorrem seleosocioeconmica. No Brasil, existe grande associao entre o cultural e o eco-nmico, o que faz com que essa seleo acabe produzindo tambm ambien-tes adequados para o aprendizado cognitivo. No entanto, nessas escolas h,

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    concomitantemente, um outro mecanismo importante, que a excluso anu-al dos alunos que por motivos variados no se adequaram ao projeto da esco-la. A combinao dessas polticas de seleo e excluso a melhor explicaopara os resultados obtidos por esses estabelecimentos.

    claro que nesses exemplos h alunos de excelente perfil cognitivo emescolas com boas condies. possvel, atravs de modelos estatsticos, anu-lar o efeito do nvel socioeconmico dos alunos. Mas esses exerccios conti-nuam a mostrar inequivocamente o efeito da seleo, pois, apesar da corre-o pelo nvel socioeconmico dos alunos e do padro das escolas, aquelas commaior grau de seleo de alunos apresentam os melhores resultados.

    Ainda no existem estudos usando a escala do Saeb que avaliem expe-rincias como as de ONGs que oferecem boas escolas para grupos de alunosno selecionados previamente.

    Diante de tudo isto, a contribuio da estratgia da seleo de alunos sernecessariamente pequena para um projeto educacional pblico. No entanto, preciso considerar que, dadas as formas de alocao de alunos em diferen-tes escolas, os bons alunos das escolas pblicas, que seriam fortes candidatosa ingressar nas universidades pblicas e a passar nos concursos pblicos paraos bons empregos, tm sua vida acadmica enormemente dificultada. Nestesentido, as experincias como a da Embraer, que mantm em So Jos dosCampos uma escola para egressos da escola pblica local, e os vrios projetosde ao social, como a ONG Bom Aluno e o projeto Ismart da FundaoLemann, entre tantos outros, precisam ser estudados como fonte de possveisidias para o setor pblico. Talvez neste momento histrico, a seleo de alu-nos possa ter algum papel dentro de um projeto maior de melhoria do ensinobsico brasileiro visando mais qualidade e eqidade.

    Famlia e comunidade

    O modelo de Nechyba, McEwan e Older-Aguilar (2004) descreve pos-sveis mecanismos pelos quais a famlia e a comunidade na qual se insere estoassociadas aos resultados escolares dos estudantes. Segundo esse modelo, oimpacto da famlia e da comunidade se manifesta atravs de um grande nme-ro de canais, desde o padro gentico dos pais, passando pela sua educao eocupao, at os efeitos do ambiente social freqentado.

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    A partir de suas caractersticas intrnsecas, as famlias fazem vrias esco-lhas. Primeiramente, tomam decises intermas que incluem, entre outras coi-sas, o estilo de criao dos filhos, a criao de rotina diria na casa e o investi-mento financeiro nos filhos. Depois, as famlias escolhem uma comunidade paraviver, que influenciar os resultados das crianas atravs de vrios mecanismosdenominados efeito de vizinhana. Finalmente, os pais optam por se envolverou no nas atividades da escola e nas tarefas de aprendizagem que ocorremno mbito da residncia. O modelo conceitual considera ainda que os alunos,influenciados ou no por seus pais, escolhem um grupo de referncia dentroda escola que ter grande impacto na sua vida escolar. Assim, o desempenhocognitivo seria influenciado por uma infinidade de fatores relacionados com asfamlias, as comunidades e as escolas. O desafio dos pesquisadores isolar essesefeitos de forma convincente, o que ainda no foi feito, principalmente na rea-lidade brasileira.

    Esse modelo conceitual foi desenvolvido como estratgia de sntese daliteratura existente para uso do ministrio da Educao da Nova Zelndia. Suarelevncia para a realidade brasileira no total, em particular por assumirescolhas que, no caso brasileiro, no ocorrem autonomamente. No entanto,ao sugerir uma explicao plausvel para a cadeia de eventos que a partir daao da famlia levam ao desempenho escolar, ajuda na formulao de polti-cas escolares e no escolares.

    POLTICAS ESCOLARES

    Como j dissemos ao tratar do efeito da escola, o papel do estabeleci-mento escolar mudar a trajetria de desempenho traada pela sociedade paraum dado aluno. Antes de examinar o que a pesquisa nessa rea indica que possvel fazer e por que caminhos, necessrio demonstrar empiricamente queessa abordagem vivel.

    Evidncias empricas

    Em 2003, todas as escolas pblicas de Belo Horizonte participaram doSimave, projeto de avaliao do desempenho cognitivo dos alunos das escolasde Minas Gerais que utiliza a mesma escala do Saeb para expressar seus resul-

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    tados. Neste item, apresentamos alguns resultados referentes oitava srie doensino fundamental7 como evidncia de que existem grandes possibilidades demelhorar os resultados escolares mediante polticas escolares.

    Para uma anlise mais convincente desses dados, preciso comparar osresultados de alunos de escolas com nveis socioeconmicos similares. Para isto,usando-se as informaes fornecidas pelos alunos ao responder o question-rio contextual distribudo junto com o teste do Simave, construiu-se um ndi-ce socioeconmico. Esse questionrio inclui itens que captam de forma indi-reta a renda do aluno e de forma direta a escolaridade dos pais. Os detalhesda construo da medida esto em Soares e Andrade (2006). Tomou-se comonvel socioeconmico da escola a mdia do nvel socioeconmico dos alunos,e as escolas foram distribudas em cinco nveis de acordo com esse indicador.Com esse cuidado possvel comparar de forma adequada o desempenho dasescolas. Os resultados esto na tabela 2.

    Verifica-se que escolas que atendem a um alunado semelhante tm resul-tados que diferem em at 60 pontos, diferena equivalente a mais de dois anosde escolarizao. Dado que essa comparao feita dentro de escolas da mes-ma cidade com alunos do mesmo nvel socioeconmico fica claramente consta-tado que h espao para melhorias substanciais atravs de ao nas escolas.

    Isso significa que, apesar das pesadas restries impostas escola pelosvalores vigentes na sociedade, pelas leis educacionais do pas e pela organiza-

    7. As escolas da prefeitura de Belo Horizonte usam um sistema de ciclos e assim os alunos

    testados no Simave pertencem ao 2o ano do segundo ciclo.

    TABELA 2RESULTADO DE ESCOLAS DA REDE PBLICA DE BELO HORIZONTE

    EM MATEMTICA NA 8 SRIE, POR QUINTIS DO NVEL SOCIOECONMICO

    Quintil do NSE* da Escola Nmero de Escolas Mnimo Mximo Diferena

    1 46 196 253 57

    2 46 182 262 80

    3 46 213 265 78

    4 46 208 276 84

    5 46 233 302 69Fonte: Simave, 2003* NSE nvel socioeconmico.

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    o dos sistemas pblicos de ensino e caractersticas da comunidade a que aescola serve, h espao no estabelecimento escolar para a implantao depolticas e prticas que propiciem melhor aprendizado dos alunos. Como sn-tese da melhoria possvel, considerando a diferena entre as escolas com piore melhor desempenho, pode-se estabelecer a meta de 40 pontos como au-mento vivel apenas com polticas escolares para as atuais escolas. A conquis-ta dessa meta criaria as condies para se conhecer melhor o que devemosfazer para enfrentar os grandes desafios, como os que nos indica o ProgramaInternacional de Avaliao Comparada Pisa.

    Gesto da escola

    O modelo conceitual apresentado na figura 1 mostra que dentro da es-cola h dois importantes processos que interagem para a produo do desem-penho dos alunos: a gesto escolar e o ensino.

    A gesto, responsabilidade da direo da escola, tem como funo ad-ministrar o projeto pedaggico da escola, as pessoas que constituem a comu-nidade escolar e os aspectos fsicos e financeiros da organizao escolar. Essemodelo admite implicitamente que a escola j tenha uma rotina, o que nemsempre ocorre em nossa a realidade, onde so comuns as interrupes defuncionamento pelos motivos mais variados. Assim, o primeiro objetivo dagesto escolar na escola pblica brasileira implantar uma rotina de funciona-mento da escola, de forma que os recursos nela existentes possam ser usadospara atender s necessidades de aprendizagem dos alunos. Ou seja, conheceros alunos e garantir sua presena diria assim como a dos professores consti-tuem a primeira misso do gestor escolar. Outras providncias simples so:dispor os melhores professores para atender os alunos mais vulnerveis e notrocar de professor e de turma durante o ano letivo, garantir que os alunostenham orientao segura via bons materiais didticos e envolver as famlias naeducao de seus filhos. Uma hiptese para a diferena observada entre osresultados das escolas particulares e das escolas pblicas no Brasil que asprimeiras implementam essas rotinas com mais freqncia. Assim, a diferenaque favorece a escola particular se deveria no ao seu bom funcionamento, masao mau funcionamento da escola pblica.

    Uma das medidas de maior impacto no aprendizado dos alunos captadana escola a distribuio das turmas. Quando se colocam na mesma turma os

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    alunos com melhor capital cultural e mais motivao escolar, cria-se um am-biente favorvel ao aprendizado, que logo se traduz em melhores resultadoscognitivos. No entanto, segregar os melhores alunos uma poltica to per-versa quanto criar turmas apenas com alunos de baixo desempenho. Essamedida uma ferramenta que deve ser usada sempre a favor do aluno e, por-tanto, respeitar o dinamismo de seu aprendizado.

    A pesquisa sobre a estrutura de uma escola eficaz usualmente sinteti-zada em listas de fatores presentes nelas. As snteses de Cotton (2004) eSammons et al. (1995) feitas para o governo britnico so constitudas de onzefatores que deveriam ser encontrados na boa escola:

    1. Direo (socialmente legtima, profissionalmente competente, firmee objetiva e participativa).

    2. Viso e metas compartilhadas (unidade de propsitos, decisescolegiadas, todos so responsveis).

    3. Ambiente de aprendizagem (clima de ordem, ambiente de trabalhoagradvel).

    4. Concentrao no ensino/aprendizagem (bom uso do tempo, orien-tao para obteno de resultados cognitivos).

    5. Ensino estruturado (organizao eficiente, clareza de objetivos, ensi-no com um slido projeto pedaggico subjacente).

    6. Altas expectativas (altas expectativas sobre todos, expectativascomunicadas, proposio de desafios intelectuais).

    7. Reforo positivo (disciplina clara e acordada, feedback).8. Monitoramento (monitoramento do desempenho dos alunos, avalia-

    o da escola).9. Direitos e responsabilidades dos alunos (auto-estima, responsabilida-

    de, controle do trabalho).10. Parceria famlia/escola (envolvimento dos pais no aprendizado dos

    filhos).11. Organizao voltada para a aprendizagem (desenvolvimento da pro-

    fissionalizao e do clima organizacional).

    Embora esses princpios paream relevantes para qualquer escola, seupotencial, assim como de outros similares, para a melhoria da escola pblica

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    brasileira precisa ser empiricamente verificado. A pesquisa sobre a escola efi-caz uma rea ainda incipiente no Brasil, onde o paradigma dominante depesquisa educacional no privilegia este tema, mas podemos destacar, entreoutros, os trabalhos qualitativos feitos no mbito do Saeb 1999, o trabalho deAlves (2006), na realidade um estudo longitudinal de pequeno porte mas quepelo fato de ter incorporado estudos de caso traz uma contribuio singular, eos do Resende (2005), que estudou escolas de sucesso no vestibular, Soares(2005), que faz uma sntese da rea citando as outras evidncias nacionais, eGame (2002), que relata um estudo de trs escolas do sistema estadual deensino de Belo Horizonte.

    O professor

    O modelo conceitual registra de forma proeminente a importncia doprofessor para o aprendizado do aluno, j comprovada tanto na literatura in-ternacional como nacional. Assim, qualquer interveno escolar que tenhacomo objetivo melhorar o desempenho dos alunos passa necessariamente pormudanas concretas no grau de satisfao e comprometimento com a escolae na capacidade tcnica de implementao do projeto pedaggico pelo pro-fessor. A sntese da literatura internacional feita por Darling-Hammond (1999)continua atual.

    Isto exige, no caso de alguns sistemas pblicos, aumentos substanciaisde salrios, que deveriam ter como contrapartida um envolvimento maior noprojeto pedaggico da escola. Sua implementao exige, porm, uma enge-nharia institucional que ainda est por ser inventada, pois so muitas as dificul-dades legais e polticas que impedem esse tipo de ao. H evidncias de queapenas a alocao de mais recursos no garantia de resultados, por exem-plo, quando se observam diferenas nos salrios dos professores das redesmunicipais e estaduais em grandes cidades, mas pouca diferena nos resulta-dos dos alunos.

    Para produzir um impacto de longo prazo so necessrias mudanas naformao inicial do professor. H um diagnstico amplamente aceito de que aatual formao do professor no adequada escola, mas no se conseguechegar a um acordo sobre como proceder s mudanas necessrias. A forma-o continuada precisa ser feita de maneira articulada com o projeto pedag-

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    gico da escola. Como este quase nunca existe de fato, gasta-se muito em pro-gramas generalistas que produzem poucos resultados.

    CONCLUSO

    O Saeb, alm da informao sobre o nvel dos alunos em relao a com-petncias matemtica e leitora, fornece importantes subsdios para a compreen-so dos fatores associados ao processo de ensino e aprendizagem. Embora nemtodos os fatores considerados no modelo conceitual usado neste texto sejammedidos no Saeb, seus resultados confirmam as relaes j registradas na lite-ratura internacional. Isso apresentado em detalhe no relatrio sobre os fato-res associados ao desempenho preparado para o Saeb 2003 e disponvel nostio do Inep.

    A ao ideal para a melhoria dos resultados dos alunos da educao fun-damental deveria partir de propostas que harmonizem valores da sociedade,as leis que regem os sistemas de ensino, uma administrao eficiente e polti-cas escolares fundamentadas em evidncias, tudo isso apoiado por uma aodecidida das famlias. Mas no seria essa harmonia apenas um sonho em umasociedade democrtica, onde o conflito de idias estar necessariamente sem-pre presente?

    As intervenes escolares devem ser planejadas respeitando-se as teo-rias j testadas atravs da coleta de evidncias empricas, mesmo reconhecen-do-se que as teorias educacionais explicam os resultados apenas na sua ten-dncia geral, e assim expressam-se junto com uma grande variao individual.Neste sentido, preciso reafirmar que muito do que se registrou neste textoainda no pde ser verificado empiricamente no Brasil, que s lentamente vaiinvestindo recursos para a pesquisa emprica da realidade educacional.

    Est muito claro que h, hoje, um amplo espao para a ao nas estru-turas escolares com vista melhoria do desempenho dos alunos da educaofundamental brasileira. Para a apresentao das idias centrais deste texto foinecessrio isolar as vrias estruturas que impactam os resultados escolares. Naprtica, h uma grande sinergia entre elas. Por exemplo, as leis educacionaisrefletem a sociedade, mas tambm podem induzir mudanas na sociedade nomdio e longo prazo. A famlia e a comunidade podem ser no apenas fonte

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    de restries para a ao da escola, mas tambm parceiras na implementaodo projeto pedaggico da escola.

    Qualquer ao para melhoria dos resultados escolares precisa ter umescopo claro e metas muitas bem definidas, cujos resultados devem ser aferi-dos em uma mtrica nacional, hoje representada por aquela utilizada no Saeb.Considerando as grandes desigualdades sociais, caractersticas de nossa socie-dade, o objetivo no pode ser apenas a melhoria do nvel de desempenho dosalunos, mas tambm a eqidade, outro ponto que deve ser enfatizado no pro-jeto pedaggico das escolas.

    Ao contrrio do que dizem muitos comentaristas da questo educacio-nal brasileira, ainda no h consenso sobre como melhorar os resultados cog-nitivos da educao bsica brasileira. As anlises so ainda dominadas por umaunicausalidade, difcil de aceitar, e as propostas se baseiam no fato de que to-das as dificuldades de aprendizagem devem ser creditadas excluso social dosalunos ou incapacidade da escola de lidar com o alunado que deve atender.A soluo sugerida tambm nica: basta um substancial aporte de recursosfinanceiros. Embora esses elementos devam estar presentes tanto em umaanlise criteriosa da realidade como em uma proposta de ao, a melhoria doensino um problema muito complexo que pede solues mltiplas. Por isso,e considerando-se as experincias, seja da escola particular brasileira, seja dasescolas internacionais, deve-se considerar o aumento da autonomia das esco-las, com aumento substancial dos recursos financeiros e humanos que hojeadministram, como uma possvel estratgia de ao. A existncia de grandesdiferenas de desempenho entre escolas que atendem a alunos muito seme-lhantes refora a idia de que, sem prejuzo de aes extra-escolares, h mui-to que fazer dentro das escolas.

    Como afirmam Newmann et al. (2001), as intervenes escolares comchance de impacto no desempenho dos alunos devem estar organicamenteassociadas ao seu projeto pedaggico, isto , ao referencial curricular, s for-mas de instruo e avaliao e nfase na aprendizagem dos alunos.

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    Recebido em: maro 2006

    Aprovado para publicao em: junho 2006