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VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental VI-026 - MEIO AMBIENTE E CIDADANIA: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE RESGATE DA IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA DE UMA COMUNIDADE, NA BUSCA PELA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA – UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL, NUMA ESCOLA MUNICIPAL DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO Mirtes Moreira Silva (1) Bióloga pela Universidade Mackenzie. Mestranda em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP.Educadora vinculada à Rede Municipal de Ensino de São Paulo, prestando serviços técnicos educacionais na Oficina Pedagógica do Núcleo de Ações Educativas – (NAE-9) Maria Conceição Rodrigues de Albuquerque Educadora da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – Professora de Informática Educativa (P.O.I.E.) Antonio Carlos M. Mazzorca Educador da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – Professor de Informática Educativa (P.O.I.E.)-Diretor de Escola na rede estadual de ensino Endereço (1) : Av. Águia de Haia, 2100, bloco 2 apto 12 – Cidade A.E.Carvalho – São Paulo – Capital. CEP 03694-000 – e mail: [email protected] . Telefone: (11) 6280-2020 / 6741-8801 RESUMO A Educação Ambiental deve favorecer a percepção/compreensão dos educandos da questão ambiental de forma abrangente, levando em consideração as interações entre os fatores políticos, econômicos, ecológicos e sócio-culturais envolvidos. Sua capacidade transformadora está justamente no fato de que ela não é neutra, mas política, ideológica. Baseando-se na Conferência de Tbilisi, patrocinada pela UNESCO e ocorrida em 1977, este trabalho pretende mostrar como a resolução dos problemas ambientais locais, pode se confirmar como uma importante estratégia metodológica para, a partir da realidade cotidiana dos educandos, buscar uma sociedade sustentável a nível global. Traz como objetivo principal, levar o educando a exercer sua cidadania partindo do meio local para o global. O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. “José Carlos de Figueiredo Ferraz”, situada na zona leste de São Paulo, no bairro de Jardim Coimbra, próximo de outros quatro bairros (Jardim Nordeste, Jardim São Nicolau, Vila União e Cidade A.E. Carvalho), também focalizados no trabalho. Os alunos provenientes desses bairros são majoritariamente de classe média- baixa, convivendo com problemas ambientais sérios, conforme levantado por eles no trabalho de campo, como: ocupações irregulares do solo, presença de favelas em áreas de risco, lixo e esgoto a céu aberto, córregos poluídos, etc. Além disso, faltam áreas de lazer e cultura, a violência é crescente e há carência de equipamentos de saúde. Participaram do projeto, alunos do 2º ano do Ciclo Intermediário e do 3º ano do mesmo Ciclo, cujas idades variavam de 11 a 14 anos. O trabalho foi elaborado dentro da disciplina de Ciências, contando com o apoio da disciplina Informática Educativa, e se dividiu em sete etapas, ao longo de seis meses, partindo da sensibilização dos alunos, pesquisa de campo até a realização de uma Mesa Redonda com a comunidade, alunos, professores e autoridades locais. Os resultados da pesquisa dos alunos, além das produções de textos, músicas, e outras atividades desenvolvidas serão apresentados, bem como a análise e as considerações sobre o impacto do projeto sobre as comunidades envolvidas. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, cidadania, meio local, global, ação transformadora ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

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VI-026 - MEIO AMBIENTE E CIDADANIA: A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE RESGATE DA IDENTIDADE E AUTO-ESTIMA DE UMA COMUNIDADE, NA BUSCA PELA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA – UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL, NUMA

ESCOLA MUNICIPAL DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO Mirtes Moreira Silva (1) Bióloga pela Universidade Mackenzie. Mestranda em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP.Educadora vinculada à Rede Municipal de Ensino de São Paulo, prestando serviços técnicos educacionais na Oficina Pedagógica do Núcleo de Ações Educativas – (NAE-9) Maria Conceição Rodrigues de Albuquerque Educadora da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – Professora de Informática Educativa (P.O.I.E.) Antonio Carlos M. Mazzorca Educador da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – Professor de Informática Educativa (P.O.I.E.)-Diretor de Escola na rede estadual de ensino Endereço (1): Av. Águia de Haia, 2100, bloco 2 apto 12 – Cidade A.E.Carvalho – São Paulo – Capital. CEP 03694-000 – e mail: [email protected]. Telefone: (11) 6280-2020 / 6741-8801 RESUMO A Educação Ambiental deve favorecer a percepção/compreensão dos educandos da questão ambiental de forma abrangente, levando em consideração as interações entre os fatores políticos, econômicos, ecológicos e sócio-culturais envolvidos. Sua capacidade transformadora está justamente no fato de que ela não é neutra, mas política, ideológica. Baseando-se na Conferência de Tbilisi, patrocinada pela UNESCO e ocorrida em 1977, este trabalho pretende mostrar como a resolução dos problemas ambientais locais, pode se confirmar como uma importante estratégia metodológica para, a partir da realidade cotidiana dos educandos, buscar uma sociedade sustentável a nível global. Traz como objetivo principal, levar o educando a exercer sua cidadania partindo do meio local para o global. O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof. “José Carlos de Figueiredo Ferraz”, situada na zona leste de São Paulo, no bairro de Jardim Coimbra, próximo de outros quatro bairros (Jardim Nordeste, Jardim São Nicolau, Vila União e Cidade A.E. Carvalho), também focalizados no trabalho. Os alunos provenientes desses bairros são majoritariamente de classe média-baixa, convivendo com problemas ambientais sérios, conforme levantado por eles no trabalho de campo, como: ocupações irregulares do solo, presença de favelas em áreas de risco, lixo e esgoto a céu aberto, córregos poluídos, etc. Além disso, faltam áreas de lazer e cultura, a violência é crescente e há carência de equipamentos de saúde. Participaram do projeto, alunos do 2º ano do Ciclo Intermediário e do 3º ano do mesmo Ciclo, cujas idades variavam de 11 a 14 anos. O trabalho foi elaborado dentro da disciplina de Ciências, contando com o apoio da disciplina Informática Educativa, e se dividiu em sete etapas, ao longo de seis meses, partindo da sensibilização dos alunos, pesquisa de campo até a realização de uma Mesa Redonda com a comunidade, alunos, professores e autoridades locais. Os resultados da pesquisa dos alunos, além das produções de textos, músicas, e outras atividades desenvolvidas serão apresentados, bem como a análise e as considerações sobre o impacto do projeto sobre as comunidades envolvidas. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, cidadania, meio local, global, ação transformadora

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INTRODUÇÃO A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Pref. José Carlos de Figueiredo Ferraz”, localiza-se na zona leste no Município de São Paulo, inserida no bairro de Jardim Coimbra, que faz divisa com os bairros de: Jardim Nordeste, Jardim São Nicolau, Cidade A. E. Carvalho e Vila União. Desta forma, atende à clientela desses bairros, cuja situação sócio-econômica é, predominantemente de classe média-baixa. Existem, também,uma série de problemas ambientais, como ocupações irregulares do solo (em áreas de risco),com favelas nos bairros de Jardim Nordeste e Cidade A.E. Carvalho, depósitos de lixo a céu aberto em diversos pontos de todos esses bairros, ausência de rede de esgotos em alguns deles, ausência de áreas de lazer e cultura, ausência e em alguns casos, ineficiência de equipamentos de saúde e de segurança pública, favorecendo o aparecimento e/ou o agravamento de doenças e da violência, respectivamente. É uma área tipicamente residencial com pontos comerciais de pequeno e médio porte, porém sem grandes centros comerciais. O único Shopping (Shopping Center Leste, posteriormente denominado Shopping Artur Alvim), foi praticamente desativado há cerca de cinco anos atrás. Os pontos comerciais estão mais concentrados nas principais avenidas, como Avenida Águia de Haia, Avenida Esperantina, Avenida Maraial, ruas de grande circulação, como Rua Sonho Gaúcho, Max Planck, Rua Frederick Hoffmann e praças, como a Praça das Professoras e Praça Ana das Dores, na Cidade A.E.Carvalho e a Praça Arama, no Jardim Nordeste, por exemplo. Nestes bairros, conforme já foi mencionado, não há áreas industriais, também não há quase agências bancárias; há apenas uma agência bancária na Cidade A.E.Carvalho, sendo que outras agências mais próximas, só serão encontradas no Bairro de Artur Alvim. Funcionam basicamente como bairros-dormitórios, para a grande maioria da população, cuja oferta de empregos local não atende à demanda de mão-de-obra disponível. Quanto às Unidades Escolares, existem E.M.E.I’s (Escolas Municipais de Educação Infantil), como a E.M.E.I “Evaristo da Veiga”e E.M.E.I “Vila Nova”, além de Escolas de Educação Infantil Particulares (em maior número), E.M.E.F’s (Escolas Municipais de Ensino Fundamental), como a E.M.E.F. Dona Jenny Gomes, Oito de Maio, Figueiredo Ferraz, Padre Antonio Vieira, Vila Nova, Vani Salgado Rocha, além de Escolas Estaduais de Ensino Fundamental e Médio, como a Escola Exército Brasileiro, Prof. João Ramacciotti, Galileu Menon, Milton Cruzeiro, e uma Escola Particular, o Colégio O.P.E.C. I - A LUTA PELA CONSTRUÇÃO DA PRIMEIRA FACULDADE PÚBLICA DA ZONA LESTE IMPULSIONA O PROJETO NA ESCOLA. Atualmente está sendo construída uma unidade da FATEC (Faculdade de Tecnologia de São Paulo), no bairro de A.E. Carvalho, na confluência com o Jardim São Nicolau e Jardim Coimbra. A construção dessa primeira faculdade pública na zona leste, exatamente entre esses bairros estudados, foi fruto da organização popular, que tentava impedir a construção de um presídio (“cadeião”), no mesmo terreno da atual obra. Esse terreno, pertencente ao Instituto de Previdência dos Servidores Estaduais de São Paulo (IPESP), está situado na Avenida Águia de Haia, tendo à sua frente o Terminal de ônibus A.E. Carvalho,e como vizinhos, escolas de educação infantil, escolas de ensino fundamental, creches, postos de saúde, dois conjuntos residenciais de grande porte ( com cerca de 11 blocos cada um ), vários pontos comerciais e casas. Isso causou a revolta dos moradores, impelindo-os a uma série de manifestações contrárias à sua construção por parte do Governo do Estado. Assim, a luta pela garantia de que não teriam suas residências e enfim, todos os equipamentos importantes para a população, ameaçados pela presença de um Presídio, levou à formação de um movimento popular organizado, denominado “MOVIMENTO POPULAR PELO DESENVOLVIMENTO DA ZONA LESTE”, conhecido como M.P.D.Z.L., fundado por moradores, educadores, comerciantes, líderes comunitários e religiosos tendo como bandeira de luta a saúde, a educação, o emprego, a habitação, o meio ambiente, a cultura e o lazer. Todo esse processo, que teve início no ano de 1999 e se estendeu pelos dois anos seguintes, mobilizou as comunidades locais a participarem ativamente, não apenas das manifestações, (foram diversas passeatas, carreatas e excursões ao Palácio do Governo e manifestações no local da obra), mas dos eventos promovidos pelo referido movimento, para discussão das propostas a serem encaminhadas ao Governo Estadual, com relação ao destino da área em questão. Foram realizados dois importantes Seminários: o 1º Seminário sobre Educação e Desenvolvimento da Zona Leste, em 08.04.00, no Centro Social da Paróquia de Santa Luzia, no bairro de Jardim Nordeste e em 20.05.01, o 2º Seminário sobre Educação e Desenvolvimento da Zona Leste, no mesmo local e que, como o primeiro, contou com a presença maciça da população, além de representantes de diversos partidos políticos, professores da USP, da PUC e de outras Universidades Particulares da região, Secretários de Estado e do Município, representantes de outros movimentos populares, do Coordenador do Núcleo de Ações Educativas (NAE-9), representantes da Diretoria Regional de ensino do Estado, professores, pais, alunos, movimentos estudantis, representantes de diferentes sindicatos e Igrejas dos bairros, entre outros. Além dos Seminários, vários Encontros setoriais (Cultura,

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Educação, Saúde) foram realizados, inclusive com a presença do então Secretário da Educação do Município (Prof. Fernando José de Almeida). Também, consta da programação semanal do Movimento, reuniões com a população, para mantê-la informada e pronta para atuar. O grau de mobilização e organização dessa população,acabou por sensibilizar o Governo do Estado, que optou por paralisar a obra do Presídio (já em estágio avançado) e iniciar a da atual Faculdade, com a promessa de implantar uma Universidade Pública na zona leste, há mais de cinquenta anos na pauta de reivindicações dessa região. Além desta conquista importante, esse Movimento trouxe à tona a capacidade de mobilização dessa população, historicamente conhecida pelas inúmeras lutas e movimentos desencadeados e que geraram grandes frutos para toda a zona leste, amplamente ilustrado por Santos (1994 e 1997). Como ressalta Pelicioni (1999), “a transformação dos sistemas sociais, só é possível mediante a transformação dos seres humanos que os configuram. O homem é um ser em transformação e ao mesmo tempo, transformador de sua realidade”. Para a autora, “o homem é sujeito de sua própria educação e esta deve levá-lo à reflexão sobre seu ambiente concreto e daí a uma consciência crítica que lhe permita transformar sua realidade e seu ambiente.Somente essa participação consciente na sociedade é capaz de amadurecer sua capacidade crítica e reflexiva”.Assim, aproveitando esse clima de mobilização e organização, propício para o desenvolvimento de uma educação ambiental voltada para a consolidação da cidadania, surgiu a idéia de construir com os alunos, um projeto centrado nos problemas locais, abrangendo os bairros mencionados, mas também, na história de lutas e conquistas e, portanto, dos pontos positivos dessa população. Conscientes de que, como propõe a UNESCO (1999), “a Educação tem como papel fundamental, incrementar a capacidade das pessoas de transformar suas idéias sobre a sociedade, em realidades funcionais imprescindíveis para que a humanidade possa então modificar sua trajetória e melhorar sua qualidade de vida”, este trabalho traz, como objetivo geral, criar condições, através da Educação Ambiental, para que o educando exerça sua cidadania, partindo do meio local para o global e como objetivos específicos, aproximar as questões ambientais do universo do aluno, sensibilizando-o para os problemas existentes no meio onde ele vive e levando-o a buscar formas de controle ou erradicação desses problemas; valorizar a história de seu bairro, como forma de elevar sua auto-estima, facilitando o processo educativo; aproximar o educando dos meios institucionais para onde ele poderá direcionar suas reivindicações e acompanhar o seu atendimento; estimular a pesquisa e o trabalho em equipe. Para Paulo Freire, citado em Pelicioni (1999), a educação é um processo político, e se somos educadores, somos políticos. Ele ressalta que nosso sonho não é pedagógico, mas, político e embora nossos métodos, tenham muito de pedagógico, são, na essência, políticos. Tomando como referência, a Conferência de Tbilisi, realizada em 1977, pela UNESCO, na qual constam recomendações de como se trabalhar a Educação Ambiental, a estratégia metodológica proposta foi a resolução dos problemas ambientais locais. Como analisa Reigota (1999), esta metodologia visa, através de um problema concreto, buscar “uma aproximação do vínculo entre o processo educativo e a realidade cotidiana dos educandos e aglutinar a comunidade local na busca da construção de uma sociedade sustentável”. Não se trata, portanto, de ensinar aos educandos apenas, ou prioritariamente, os problemas ou situações que estão distantes deles, como por exemplo, o buraco na camada de ozônio, mas os problemas que afetam suas comunidades e, a partir daí, ampliar a visão do educando. Assim, a ação local deve propiciar ao educando, ao tratar de um problema, perceber/compreender a complexidade das interações que estão em jogo: dos aspectos ecológicos com os políticos, econômicos e sócio-culturais da questão ambiental.Dentro dessa proposta de “resolução dos problemas ambientais locais”, se faz imprescindível a mobilização, o engajamento, a emancipação e a democratização de todos os atores envolvidos, sejam eles, educandos, educadores, comunidade local, sociedade civil organizada, etc. Da mesma maneira, a cidadania deve ser formada a partir da visão crítica e da responsabilidade social advindas de uma educação ambiental fundada no contexto local, que não adestre o indivíduo, mas que o transforme; que não seja neutra, mas política; que esteja conectada com a realidade do educando e que não seja conformista. METODOLOGIA A Educação Ambiental que se pretende praticar através deste projeto, visa contemplar a estratégia metodológica proposta em Tbilisi, ou seja, a resolução dos problemas locais para a transformação da sociedade, onde haja a integração dos aspectos ecológicos, com os políticos, econômicos e sócio-culturais da questão ambiental, resguardando a preocupação de que esta não seja desenvolvida como uma atividade-fim, como bem lembra Layrargues (in Reigota 1999), a fim de que se evite “ver os fins e não os meios, ocultando todo o processo que derivou os fins”. É muito mais importante “entender o problema, do que resolvê-lo”. Um outro documento que serviu de referência para conduzir os passos do projeto foi a Agenda 21 do pedaço (S.V.M.A. 1997),onde constam atividades que podem ser desenvolvidas,passo a passo, para enfocar os problemas locais com os alunos.

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O tempo de duração do projeto foi de aproximadamente seis meses (Maio a Novembro), sendo que os alunos envolvidos pertencem ao 2º ano do Ciclo Intermediário (turmas A, B e D) e ao 3º ano do mesmo ciclo (turma C), numa faixa etária de 11 a 13 anos, em média. Embora o projeto tenha sido concebido dentro da disciplina de Ciências, participaram os professores orientadores da disciplina Informática Educativa (Profª Conceição e Prof. Antonio Carlos), que orientaram as atividades de informática, como: uso de programas para construção de gráficos, elaboração de quadros, montagem de textos (poesias, músicas) e desenhos. A seguir serão descritas as etapas seqüenciais do desenvolvimento do projeto:

1. Sensibilização dos alunos: Durante a aula semanal de Informática Educativa, na disciplina de Ciências, os alunos da turma A foram estimulados a desenhar o que eles mais gostavam e o que eles menos gostavam em seus bairros. Nessas aulas, os alunos costumam se sentar em duplas ou trios. Assim, as equipes desenharam e escreveram sobre o assunto, utilizando o programa PAINT. A turma B,foi estimulada a fazer uma pesquisa em casa, com os vizinhos sobre o que eles mais gostavam e o que menos gostavam em seus bairros, para então, compararem os seus dados com os colhidos por outras turmas. A turma C, após discussão sobre a idéia do projeto em sala de aula, decidiu que iria fazer um levantamento fotográfico sobre os principais problemas dos bairros pesquisados e colher depoimentos de moradores, pois entendiam que esta tarefa seria mais difícil de ser cumprida pelos alunos mais novos das turmas A, B e D, cujos pais provavelmente não permitiriam que saíssem sozinhos pelos bairros vizinhos. Desta forma, as equipes percorreram os bairros, fotografando os principais problemas ambientais, colhendo depoimentos de antigos moradores sobre a história de cada bairro, documentos que referenciavam essas informações, expectativas desses moradores em relação ao futuro dos bairros, reivindicações e também um levantamento, através de questionários elaborados pelos próprios alunos, sobre a percepção ambiental das pessoas, analisando conceitos como “meio ambiente” e “cidadania”.

2. Tabulação dos dados: A turma C ficou com a tabulação de dados das entrevistas sobre os pontos positivos e negativos dos bairros e com eles, montaram tabelas e gráficos. Cabe salientar que os mesmos não obedeciam aos padrões técnicos dos trabalhos científicos, devido à adequação ao nível de escolaridade dos alunos e aos objetivos dos professores de informática que visavam apenas apresentar aos alunos diferentes programas e dar a eles, noções básicas para utilizá-los. Nesta etapa, eles utilizaram os programas WORD e EXCEL e teve a duração de duas semanas divididas entre o mês de Agosto e Setembro.

3. Levantamento fotográfico dos pontos positivos: Identificados na pesquisa de campo feita pelos alunos, priorizou-se aqueles cuja tabulação de dados indicava serem os mais votados pelos entrevistados. Esta etapa foi realizada pela turma A em conjunto com a turma C e teve duração de duas semanas divididas entre o mês de Agosto e Setembro.

4. Montagem de textos: a partir da análise e discussão dos dados já tabulados na etapa 2, que se deram após amplos debates em sala de aula, as turmas A e D, elaboraram textos com conclusões e considerações sobre suas pesquisas, além de poesias, poemas, paródias e músicas sobre os seus bairros, ressaltando seus pontos positivos e negativos. Isso ocorreu nas aulas de informática educativa, dentro da disciplina de Ciências.

5. Organização dos materiais levantados: Esta etapa foi importante para iniciar a divisão de tarefas entre as equipes para montarem a exposição e a Mesa Redonda, prevista para o final do ano. Também, aconteceu o primeiro festival de músicas da escola, tendo como tema “Nosso Bairro”, idéia que surgiu na etapa 4, com a elaboração das músicas e paródias. Foram envolvidos todos os alunos da Escola, desde o Ciclo inicial até o Ciclo Final e Suplência (adultos).

6. Organização da Mesa Redonda e exposição dos trabalhos: as equipes se organizaram para montar os painéis a serem expostos no dia da Mesa Redonda, prevista para o final do quarto bimestre (Novembro). Nesta etapa os alunos estavam especialmente sensibilizados para a problemática dos resíduos sólidos no planeta como um todo, mas principalmente para o meio ambiente local; assim, depois de algumas aulas de discussão do assunto, com base nos dados colhidos em campo, uma das turmas teve a iniciativa de elaborar um abaixo-assinado para a Regional, solicitando providências com relação aos lixões dos bairros e córregos poluídos. O abaixo-assinado percorreu os bairros e houve uma expressiva participação da população e de todos os alunos da Unidade Escolar, inclusive os do 1º ano do Ciclo Inicial, ainda em processo de alfabetização. Esta etapa se desenvolveu nos meses de Setembro e Outubro.

7. Exposição e Mesa Redonda: Cada painel levou um nome sugestivo, conforme é possível encontrar na Agenda 21 do pedaço (S.V.M.A. 1997): O MURO DAS LAMENTAÇÕES, constando fotos de pontos negativos de cada bairro, a ÁRVORE DA ESPERANÇA, com fotos de pontos positivos e expectativas da população, o TÚNEL DO TEMPO (nome dado pelos alunos), com fotos e

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documentos sobre a história de cada bairro, além de painéis com os gráficos e tabelas montados pelos alunos com base nos dados colhidos sobre os aspectos positivos e negativos dos bairros e a CALÇADA DA FAMA (como o último painel, também criado pelos alunos), onde foram desenhadas estrelas contendo os nomes dos principais personagens da história dos bairros, responsáveis pelas conquistas, como Postos de Saúde, luz elétrica, água , asfalto, escolas, etc. Essas pessoas foram convidadas a participar da Mesa Redonda juntamente com líderes comunitários, membros do CONSEG (Conselho de Segurança), membros do M.P.D.Z.L., representantes do Conselho de Saúde dos bairros, do NAE-9 (Núcleo de Ações Educativas) ao qual pertencem as escolas municipaisda região, Guarda Civil Metropolitana, Policiais responsáveis pela Segurança nos bairros (Base Comunitária), representantes da Administração Regional,da Secretaria de Assistência Social (Padre Tetuo Koga, responsável pelo Centro Social da Paróquia de Santa Luzia e dos Espaços “Gente Jovem”, que oferece uma formação educacional e profissional de crianças e jovens dessas comunidades vizinhas), entre outros. O objetivo era discutir a possibilidade de se estabelecerem parcerias para a resolução dos problemas levantados e o desenvolvimento dos bairros Esta etapa ocorreu no mês de Novembro nos espaços da própria escola.

RESULTADOS: Foram realizadas, no total, 264 entrevistas, enfocando pontos positivos e negativos dos bairros, conceitos de cidadania e meio ambiente e histórico dos bairros. A faixa etária pesquisa ficou entre 11 e 79 anos. Os bairros pesquisados foram: Jardim Nordeste (38%), Jardim Coimbra (30,3%), Jardim São Nicolau (22,7%), Cidade A.E.Carvalho (6,06%), Vila União (1,51%), Jardim Três Marias (0,37%), Jardim Penha (0,37%) e Vila Nhocuné (0,37%). Como os três últimos bairros tiveram uma contribuição muito pequena, foram desconsiderados na pesquisa.

• Os resultados da pesquisa sobre “conceitos de cidadania e meio ambiente” realizados pelos alunos da turma D (6ª série), considerando as respostas espontâneas dadas pelos entrevistados nos bairros de Jardim Nordeste, Jardim Coimbra e Jardim São Nicolau, bem como sobre os “pontos positivos e negativos” de cada bairro, encontram-se registrados nas tabelas abaixo:

TABELAS

Tabela 1 – O que é cidadania?

Respostas espontâneas

frequência Não soube responder 10

Respeitar o próximo 4 Ser respeitado 4 Ser cidadão 4 Cumprir suas obrigações 2 Ser livre 1 Bem-estar de todos 1 Viver decentemente 1 Ser honesto 1 Ser povo 1 Preservar o meio ambiente 1 TOTAL 30

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Tabela 2 – Você se considera um cidadão?

Respostas espontâneas

Frequência Sim 17

Não 1 TOTAL 18

Tabela 3 – Você cuida do meio ambiente?

Respostas espontâneas

frequência Sim 15

Não 2 Às vezes 1 TOTAL 18

Tabela 4 – Como você cuida do meio ambiente?

Respostas espontâneas

frequência Evitando jogar lixo nas ruas e rios 20

Não soube responder 13 Respeitando os animais e plantas 6 Plantando 4 TOTAL 43

Tabela 5 – Quem se preocupa mais em cuidar do meio ambiente em sua casa?

Respostas espontâneas

frequência Adultos 11

Crianças 9 Nenhum 1 TOTAL 21

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Tabela 6 – Pontos positivos do Jardim Nordeste

Respostas espontâneas

frequência Vizinhos 23

Comércio 14 Escolas 8 Tranquilidade 6 Tudo 6 Áreas verdes (praças) 4 Transportes 4 Creche 3 Posto de saúde 2 Condomínios 2 FATEC 2 Campinho de futebol 1 Igrejas 1 TOTAL 76

Tabela 7 – Pontos negativos do Jardim Nordeste

Respostas espontâneas

frequência Falta de segurança 34

Violência 15 Lixo nas ruas 13 Posto de saúde 12 Tudo 12 Falta lazer 11 Transporte 7 Faltam Bancos 5 Falta rede de esgotos 5 Faltam escolas 5 Falta um comércio local mais variado 5 Falta um hospital 5 Faltam praças 3 Vizinhos 3 Falta uma Universidade 2 Faltam investimentos no bairro 2 Falta iluminação 2 Falta tranquilidade 2 Córrego Franquinho 2

Falta asfalto em algumas ruas 2

TOTAL 147

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Tabela 8 – Pontos positivos do Jardim Coimbra

Respostas espontâneas

frequência Vizinhos 14

Escolas 14 Tudo 13 Comércio local 11 Posto de saúde 7 Praças 4 Creches 2 Transportes 2 Igrejas 1 Tranquilidade 1 TOTAL 69

Tabela 9 – Pontos negativos do Jardim Coimbra

Respostas espontâneas

frequência Falta segurança 27

Falta lazer 12 Violência 12 Córrego 6 Tudo 6 Lixo nas ruas 5 Esgoto a céu aberto 4 Posto de saúde 4 Faltam escolas 2 Falta Hospital 2 Terrenos baldios 1 Trânsito ruim 1 Faltam creches 1 Pouco comércio 1 TOTAL 85

Tabela 10 – Pontos positivos do Jardim São Nicolau

Respostas espontâneas

frequência Vizinhos 15

Comércio 11 Tudo 6 Escolas 5 Transportes 5 Igrejas 3 Tranquilidade 3 FATEC 3 Campinhos de futebol 2 Chácara 1 Praças 1 Posto de saúde 6 Sociedade Amigos de Bairro 2 TOTAL 63

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Tabela 11 – Pontos negativos do Jardim São Nicolau

Respostas espontâneas

frequência Segurança 19

Posto de saúde 16 Falta lazer 10 Córrego 6 Violência 5 Faltam escolas 4 Transportes 3 Faltam hospitais 3 Ruas sujas 3 Faltam praças 3 Presença de lixo 1 Barulho de veículos 1 Presos da 64ª D.P. 1 Terrenos baldios 1 Tudo 4 Comércio mais variado 3 TOTAL 83

Tabela 12 – Pontos positivos da Cidade A.E.Carvalho

Respostas espontâneas

frequência Vizinhos 15

Transportes 14 Localização 13 Tranquilidade 12 Comércio local 12 Posto de saúde 12 Trânsito bom 11 Igrejas 10 Creches 10 Segurança 10 Escolas 8 Lazer 4 Praças 3 FATEC 1 TOTAL 135

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Tabela 13 – Pontos negativos da Cidade A.E.Carvalho

Respostas espontâneas

frequência Falta lazer 12

Faltam praças 12 Escolas 7 Violência 6 Creches 5 Trânsito 4 Posto de saúde 3 Falta tranquilidade 3 Comércio local 3 Localização 2 Transportes 1 TOTAL 58

• Problemas ambientais detectados pelos alunos através de depoimentos e descritos segundo a redação dos

mesmos: JARDIM NORDESTE: Rua Praia de Mucuripe, próximo ao Posto Policial e à placa da Prefeitura, onde constam os dizeres: “Prefeitura do Município de São Paulo – Amor pela Cidade, trabalho e seriedade. Prefeitura em ação. Córrego Franquinho. Canalização e Avenida de fundo de vale. Secretaria de Vias Públicas. PROCAV – obra C.D.- financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID –. Contrato nº 17C/SVR/95. Custo da obra: 39.895.968,90 (JUL/95). Início da obra: 21/12/95. Término da obra: 24/10/00”. Situação descrita: A obra de canalização e pavimentação está atrasada (estamos no segundo semestre do ano de 2001 e até agora a obra não foi concluída). A população reclama: “O mau cheiro do córrego causa problemas de saúde nas pessoas”, segundo uma moradora. Outra, coloca que a Prefeitura tomar providências quanto ao esgoto, mas quanto ao lixo, as pessoas deveriam “tomar vergonha na cara” e não jogar mais lixo lá dentro do córrego e imediações. JARDIM COIMBRA – Rua Brook Taylor. Situação descrita: Córrego com mau cheiro e matagal no entorno. Esse córrego também percorre parte do Jardim São Nicolau e Vila União.Lá existe uma ponte, construída pelos próprios moradores, em situação precária, colocando em risco a vida dos que transitam sobre ela.Perguntados sobre o que achavam do córrego e do lixo em seu entorno, todos os moradores reclamaram, conforme algumas das falas transcritas abaixo: - “Nossa situação é péssima, mas infelizmente temos que conviver com o lixão. A Prefeitura de vez em quando vem aí, mas não toma providências; já estamos cansados de reclamar”. - “Nossa situação é ruim, a Prefeitura não toma providências; aqui tem ratos demais, principalmente nos dias em que faz calor, não podemos nem ficar dentro de casa, pois o cheiro é horrível. Mas a população tem sua parcela de culpa: como eles querem a limpeza se eles mesmos sujam?” - “O rio é uma nojeira; isso aí não é um rio, é um esgoto! Não posso fazer nada, fecho as janelas, cheira mal direto. Deveria canalizar e fazer área de lazer...” - “O córrego é uma nojeira, causa doenças e deveria ser canalizado, limpo. Quanto à ponte, tá muito ruim, pode desabar a qualquer momento”. - “O córrego é horrível! Tem cachorro morto, até cavalo! Deve ser limpo e quanto à ponte, é insegura demais”. JARDIM SÃO NICOLAU – Rua Sonho Gaúcho, próxima à 64ª Delegacia de Polícia. Situação descrita: Córrego poluído, com mau cheiro e próximo à uma chácara onde são cultivadas verduras e legumes. Tudo indica que as hortaliças estejam contaminadas, pois os donos costumam utilizar água do córrego para molhar a mesma (segundo depoimentos de moradores próximos). Estes produtos são cultivados para serem vendidos nas feiras-livres e comércio local, colocando em risco a saúde da população consumidora desses bairros. Segundo uma senhora, deveria ser construído um paredão ao longo do córrego, para que a população parasse de jogar lixo e esgoto no local. Esse córrego percorre três bairros: Vila União, Jardim São Nicolau e Jardim Coimbra, conforme já esclarecido anteriormente. Outra reclamação da população é quanto ao um terreno desocupado, de propriedade do Estado. Segundo a população, por conta do mato alto, já serviu muitas vezes, de esconderijo para presos da 64ª D.P. A população espera providências até hoje.

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Rua Campos das Pitangueiras – Situação descrita: Terreno público serve de depósito de resíduos sólidos domésticos e industriais (provenientes de outros bairros da zona leste), resíduos da construção civil, etc. Caminhões de diferentes procedências já quebraram várias vezes os muros e canos de concreto que impediam o acesso à área para descarga clandestina desses resíduos. Esse terreno dá acesso ao córrego e à chácara onde é cultivada a horta. VILA UNIÃO – Avenida Jacinto –Situação descrita: Córrego em frente às casas de moradores. A população reclama do mau cheiro e dos malefícios que ele traz à saúde. As mães reclamam também do perigo que pode trazer aos seus filhos que brincam em frente ao córrego, onde já ocorreram diversos acidentes. Uma senhora diz que “a Prefeitura” vem analisar a água de vez em quando, mas isso não resolve a situação. Ratos amedrontam a população e os mesmos trazem doenças. Também terrenos desocupados e mal conservados são comuns no bairro, como o da rua Aricá Mirim (próximo ao córrego), onde há ocupação irregular por favelas no entorno do córrego e esgoto a céu aberto. CIDADE A.E.CARVALHO – Av. Águia de Haia – Situação descrita: Presença de favelas sobre área de risco (Oleoduto da Petrobrás), sem rede de esgoto, ligações clandestinas de luz e água em algumas das residências. A população não tem idéia do perigo da área que não pode ser escavada, por causa da canalização do óleo e já edificaram até mesmo sobrados de alvenaria. • Parte da história dos bairros, pesquisada junto aos vizinhos, parentes, comércios mais antigos, pesquisa

bibliográfica e documental, encontram-se descritos a seguir: CIDADE A.E. CARVALHO – De acordo com os registros do Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de São Paulo, 12º Cartório de Registro de Imóveis, baseados em depoimentos de antigos moradores, o Bairro de Cidade A.E.Carvalho, fica na zona leste da Cidade de São Paulo,ocupando uma área de aproximadamente 2.001.405 m² ( dois milhões de metros quadrados), o que equivale a 166 alqueires de terra, situado no Distrito de São Miguel Paulista e Itaquera. Esta área de terra localizada no Distrito de São Miguel Paulista , na estrada de rodagem para Itaquera, denominava-se na época Sítio Lima. Foi adquirida em 21 de Março de 1955, do antigo proprietário Sr. Theófilo Danso Guaras, pela Casa Bancária Predial e Fiadora A.E.Carvalho & Cia. Consta no 12 º Cartório do Registro de Imóveis, que em 23 de fevereiro de 1957 o Banco Antonio Estevão de Carvalho, depositou o Memorial descritivo do loteamento denominado Cidade A.E.Carvalho, podemos considerar este registro como a Certidão de Nascimento do Bairro. Segundo depoimentos de moradores mais antigos, na época da venda dos primeiros lotes, eram feitos anúncios em programas da Rádio Record de São Paulo. Havia um barracão de madeira onde hoje está localizada a Praça Ana das Dores Carvalho, barracão este que servia de escritório de corretagem. Quando da aquisição do terreno, o comprador ganhava 10.000 tijolos, 700 telhas, duas portas, uma janela, cimento, areia, que dava para iniciar a construção de sua moradia. Não havia água encanada, e, havia necessidade de se perfurar poços e puxar água na manivela com um balde. Nas casas em que havia energia elétrica a água era puxada por uma bomba, pois nem todo o bairro era servido de eletricidade. Não havia asfalto e a terra era vermelha, quando chovia a situação ficava difícil por causa do barro.O meio de transporte era ônibus que chegava até o Largo de Artur Alvim ou o trem da Central do Brasil. Os primeiros moradores desciam na Estação de Artur Alvim, (hoje, Metrô) e subiam para A.E.Carvalho a pé. A primeira linha de ônibus, fazia o percurso Cidade A.E.Carvalho/Penha, da Empresa Penha/São Miguel, depois foi inaugurada uma linha pela Empresa Vila Esperança que ia até a Praça Clovis Bevilacqua, ao lado da Praça da Sé e fazia ponto final na Praça Ana das Dores. O nome do bairro homenageia o Sr. Antonio Estevão de Carvalho, fundador da Casa Bancária e depois do Banco A.E.Carvalho S/A, e empreendedor do loteamento que leva seu nome. Antonio Estevão de Carvalho nasceu em Antonina, no Paraná, no dia 14 de Junho de 1885. Foi naquela cidade que passou a sua infância, estudou e exerceu a função de guarda-livros (nome que se dava aos contadores da época), junto à Casa Leopoldino de Abreu. Em 1914, aos 29 anos de idade, obedecendo ao seu impulso e vontade de progredir, transferiu-se pra a cidade de Curitiba, e na capital paranaense passou a chefiar os serviços de contabilidade da firma Tobias de Macedo, na mesma época tornando-se sócio da Casa Modelo, firma especializada em artigos de vestuário. Continuando sua constante ascensão na vida comercial, escolheu a cidade de São Paulo, onde, além de continuar a exercer a função de chefe de contabilidade da firma Albino de Moraes, em 1920, funda a firma A.E.Carvalho & Cia Madeiras do Paraná. Em 1930, em companhia de seus irmãos, fundou a Casa Bancária Predial e Fiadora A.E. Carvalho & Cia, dedicando-se desde então, à pratica de operações de crédito e administração predial. A partir de 1938, a Casa Bancária A.E.Carvalho teve por parte do Sr. Antonio, um tratamento mais popular voltando-se para loteamentos e vendas de casas nos bairros de São Paulo, salientando a Vila Ré, Cidade Patriarca, Vila Santo Estevão, Vila Antonina, Vila Nova e Vila Barcelona em São Caetano do Sul. Em 1949, fundou a Comercial e Construtora A.E.Carvalho S/A e em 17 de Março de 1972, o Banco A.E.Carvalho teve a sua razão social alterada para Formosa S/A Agricultura Indústria e Comércio. Pelo decreto nº 5189 de 1º de Agosto de 1954,

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foi homenageado com um nome de Avenida. Trata-se da Avenida Antonio Estevão de Carvalho, que começa no final da Avenida Joaquim Marra, na Vila Matilde, hoje um trecho da Avenida Radial Leste, que margeia o Metrô até a Estação Patriarca e que termina na Rua Brigadeiro Brito Delamare em Artur Alvim. Antonio Estevão de Carvalho faleceu em São Paulo, em 12 de Novembro de 1949, aos 64 anos de idade. Rachid, morador do bairro e dono da Academia Rachid de Natação, na Cidade A.E. Carvalho: “ um bairro sem infra-estrutura, sem água, e sem luz, quase mata virgem se misturava co outros bairros que também tinham por habitantes tatus, coelhos, preás, falcões e dizem alguns moradores ter encontrado uma onça caminhando de manhã na Avenida dos Campanelas. Não havia avenidas e nem ruas. Os primeiros moradores cortavam as árvores para fazer lenha usada nos seus fogões. Nesta retirada da mata, iam desenhando as ruas de nosso bairro. O único meio de transporte era o trem da Central do Brasil , que passava pela Estação de Artur Alvim, onde seus moradores deixavam suas bicicletas para apanha-las na volta do trabalho, e quer vocês acreditem ou não, elas estavam lá quando voltavam de seus serviços. Como na época não tínhamos patins ou skates e muito menos asfalto, para nosso lazer infantil, criamos um carrinho sem rodas e praticávamos o “surf na lama”. Deslizávamos nas pistas cobertas de barro vermelho das ruas do bairro. Algumas pessoas encapavam os pés com sacos plásticos para não perderem seus sapatos nas ruas lamacentas em épocas de chuva, quando não caíam sentados e sujavam os fundilhos das calças, neste caso, voltavam para seus lares para trocarem as roupas. Eu me lembro de um grande galpão de madeira apelidado de “Grupinho”, que hoje é a E.M.E.F. “Oito de Maio”, inaugurada pelo Dr. Jânio Quadros, e do primeiro ônibus da Viação Vila Esperança que hoje é conhecido como Viação São José, que de tanto atolar na lama da avenida principal, acabou por construir sua sede neste bairro, a segunda linha Penha São Miguel, apelidado de “poeirinha” por levantar um “poeirão” quando cruzava o bairro, deixando as roupas que estavam no varal, todas vermelhas de terra. Havia também uma bica de água onde muitas mulheres lavavam as roupas da família e um campo de futebol onde ventava muito forte, proporcionando uma decolagem apropriada para nossas pipas mal feitas. Este campo está completamente mudado, pois foi construído um condomínio com muitos prédios, chamado Conjunto Esmeraldas, porém o vento estranho, jamais mudou de endereço. Certamente continua sendo o melhor local para decolagem de pipas da região.Talvez a chácara e aquele “japonês de chapéu engraçado”, seja o único elo vivo de um passado distante e que nunca mais voltará, embora dentro de alguns moradores antigos, hoje adultos e profissionais sérios e chefes de família, esconde um garoto travesso com roupas sujas de terra vermelha “expert” em “surf de lama”.(depoimento dado a um aluno da E.M.E.F. Jenny Gomes, em 1997, para o Projeto “Museu Ambiental” coordenado pela Profª Mirtes). José da Cunha Santiago – Em maio de 1957 mudamos da Zona Norte (Santana) para o Jardim Nordeste (Zona Leste), para construir uma casa de 3 cômodos na Rua 33, atual Cuim, loteamento recém inaugurado denominado Cidade A.E.Carvalho, adquirido pela minha família para onde mudamos em dezembro do mesmo ano. Lembro que o percurso entre Jardim Nordeste e A.E. Carvalho, era uma verdadeira mata virgem, com plantações de eucaliptos. Com o sistema de venda na ocasião e financiamento a longo prazo, dentro das condições da classe carente de moradias, e mesmo sem nenhuma infra-estrutura, o bairro foi povoado rapidamente e, com a fundação da Sociedade Amigos do Bairro e vários movimentos populares, aos poucos fomos conseguindo as benfeitorias, como asfalto, água e escola, inclusive a primeira, em 1960, a conhecida Escola Oito de Maio, inaugurada pelo Dr. Jânio Quadros. As ruas eram numeradas. A avenida principal, chamava-se na ocasião, Rui Barbosa, posteriormente, David Bem Gurion, porém como não foi aceito esse nome pela população, sua denominação passou a ser “Águia de Haia”, apelido do ilustre Rui Barbosa. Às ruas, foram dados nomes de pássaros selvagens, devido ao grande número de áreas verdes e plantações de eucaliptos nas imediações. (...) Como antigo morador e um dos responsáveis pelo progresso do bairro e com o intuito de conseguir mais benfeitorias, em 1988, fundei o MOVAMEC (Movimento de valorização dos moradores da Cidade A.E.Carvalho) Fui candidato a Vereador em 1990 e apesar de não ter sido eleito, contribui muito para o progresso de nosso querido bairro, que ainda hoje continua crescendo.”(Texto extraído do Jornal “Se liga A.E.” que circulava no bairro, no ano de 1997). (...)Na década de 60, no sistema de telefonia era bastante difícil. Quem morava em A.E.Carvalho, caminhava até Artur Alvim para utilizar o telefone instalado em uma farmácia ou ia até a Central Telefônica da Penha ou Itaquera.As ligações demoravam horas para serem completadas. No local onde hoje está a Favela de Cidade A.E. Carvalho,havia uma pedreira que se transformou numa grande cratera, formando uma lagoa muito freqüentada pela garotada e pelos jovens da região. Outro local muito visitado por todos, era a Lagoa do Lourenço, onde hoje está localizada a Escola Municipal Wanny Salgado Rocha, nos fundos da Favela da Rua Agreste de Itabaiana e próxima ao córrego que percorre os bairros de Vila União, Jardim Coimbra e Jardim São Nicolau.(...) Por volta de 1958, surge na região do Urca Futebol Clube, o time de futebol que gerou alguns craques, como Mazolinha e Nena. Nessa época, a energia elétrica já havia chegado à Avenida Águia de Haia e, em 1959, começou a ser instalada em outras vias. (...) Por volta de 1974, a Comunidade da Igreja Cristo Ressuscitado, a Sociedade Amigos de Cidade A.E. Carvalho e alguns monitores do Mobral

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mobilizaram toda a população local com relação ao abastecimento de água. Os poços existentes praticamente não davam água, teria que se cavar muito e, quando davam água, a mesma estava contaminada. Passaram a fazer reuniões por ruas e a colher amostras de água, levando-as para a companhia de água da cidade, uma vez por mês. O resultado das análises feitas foi o seguinte: grande contaminação por fezes humanas, fezes de formigas e por produtos químicos. Depois foi elaborado um documento e, juntamente com um grande abaixo-assinado, foi feito um encaminhamento à companhia de água. Em 1976, toda a população se mobilizou e houve uma grande assembléia, cerca de duas mil pessoas, com a presença do presidente da companhia de água. Os engenheiros diziam que a localização do bairro era muito alta e, para a água chegar, seria preciso construir duas estações elevatórias, em Artur Alvim e em Itaquera.(...) Passados seis meses a água chegou. (Santos 1997). SESI A.E. Carvalho – Localizado à Rua Deodato Saraiva da Silva, 110, foi fundado em 1982 pelo Sr. Mário Amato e teve como primeiro administrador o Sr.Ângelo. Hoje, o diretor é o Sr.Geraldo Aparecido Pereira. No local onde foi construído, havia um extenso “calipal” (plantação de eucaliptos). O SESI oferece cursos diversos na área de esportes, como natação, futebol, basketball, dança, além de cursos para a 3ª idade. Também oferece ensino fundamental I e II, para filhos de trabalhadores da indústria e da comunidade em geral, com cerca de 1500 alunos, uma creche com cerca de 200 crianças e é freqüentado por aproximadamente 10 mil associados. Atende associados e pessoas triadas na ação global em seus ambulatórios odontológicos. Possui, ainda, o curso Supletivo de primeira à quarta série e de quinta à oitava série, além do Telecurso 2000, perfazendo um total de 500 alunos beneficiados. Foi motivo de trabalho pedagógico enfocando o respeito ao espaço público com crianças da EMEI “Evaristo da Veiga”, chamando a atenção dos produtores do programa da Rede Cultura “Reporter Eco”. Possui uma ampla infra-estrutura para esportes, com um conjunto de piscinas, quadras esportivas, áreas verdes, sala de jogos,etc. Também possui anfiteatro com trezentos lugares e espaços para exposições culturais, shows e outros eventos. Através do projeto “A indústria contra a fome”, o SESI - A.E.Carvalho vem realizando há alguns anos, o programa denominado “Sopão”, que visa atender, principalmente, a criança carente da região. Esse programa vem sendo realizado com sucesso junto à Comunidade Recanto Verde Sol, localizada na Terceira Divisão.(entrevista concedida aos alunos pela direção do SESI, 2001). JARDIM SÃO NICOLAU: a seguir, a história dos bairros, segundo depoimentos de antigos moradores: Ana Rosa Francisco (41 anos de idade), moradora há 41 anos no bairro e Ilda Francisco (61 anos de idade), moradora há 37 anos: “Antigamente o nome do bairro era Jardim Ipanema. Era assim que constava nos mapas e guias de São Paulo. Os nomes das ruas eram nomes de Estados Brasileiros, como: Mato Grosso, Minas Gerais e a avenida principal levava o nome do fundador do bairro, já falecido: Nicolau Jacinto. No início, o bairro não tinha Igrejas, Delegacia, asfalto, condução direta, escolas, etc”. Aparecida B. – moradora há 15 anos: “quando vim morar aqui, o bairro era cheio de barro,pois não havia asfalto” Ilda – moradora da Rua Morro do Descanso: “Antigamente era um bairro sossegado, não é como agora.” Rosa – moradora da Rua Morro do Descanso, há 8 anos: “As crianças podiam brincar na rua toda tarde, hoje, existem muitos bandidos”. Cleide Paes – Há aproximadamente 25 anos atrás, não havia creche aqui no Jardim São Nicolau. Algumas senhoras juntaram-se, solicitaram o uso diário do espaço da Sociedade Amigos do Jardim São Nicolau, e ali recebiam algumas crianças que a família estivesse em condições sócio-econômicas de extrema carência. (Essas senhoras foram: Edite, Sonia Pompeu, Benê, entre outras). Através da Prefeitura, foram conseguindo, alguns alimentos, leite, mamadeiras e ali mesmo, no salão de festas da Sociedade, ficavam com algumas crianças, com voluntárias trabalhando. Com o passar do tempo, fez-se necessária a construção da unidade da Creche. Não havia, entretanto, oportunidade para a “solene” inauguração. Então, esses moradores antes mesmo da inauguração da creche, começaram a fazer uso do espaço novo construído. Houve um momento em que a Direção desta unidade foi indicada pelos próprios usuários e funcionários, quando então, ela passou a ser de responsabilidade da Secretaria Municipal do Bem Estar Social, foram indicados nomes em cujo Curriculum tivessem a formação exigida na área de Humanas e experiência com trabalho de base junto à população. As entrevistas e a escolha final, coube aos supervisores do Bem Estar Social da Penha, que apontou Matilde, Assistente Social que trabalhava na época , no S.O.F. (Serviço de Orientação à Família), e voltamos a acreditar no bom senso e organização do Movimento de Luta pela Creche.Várias Administrações Municipais mudariam de lá para cá e hoje esta Creche é uma das conveniadas com a Prefeitura de São Paulo. Atualmente, a L.D.B. (Lei de Diretrizes e Bases) está sendo atendida, pois todas as creches passarão a ser de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação. Além da conquista da Creche, houve também, na gestão Erundina, o Movimento de Arborização deste bairro, cujos principais expoentes foram: Mauro Folha Verde, Edite, Antonio Crescente, entre outros”.

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JARDIM COIMBRA – Os dados que constam desta descrição foram obtidos através de depoimentos de antigos moradores.Segundo estes, o nome do bairro deve-se à origem do fundador, que era português de Coimbra. Este senhor foi um dos primeiros a habitar o bairro. “Sou morador há 39 anos no bairro, onde possuo um bar e o bairro mudou muito, de lá para cá: só tinha mato e não tinha violência; a gente podia até dormir na rua e agora não pode nem sair na porta!” “Sou morador há 20 anos, sou dono de bar, e acredito que o bairro deva ter cerca de 40 anos. Acho que o nome do bairro é por causa do sobrenome do fundador, que era Coimbra. Não era um bairro violento, agora é, porém tivemos melhorias, como pavimentação, esgoto, luz elétrica e transportes”. Cleide Paes, moradora do bairro vizinho, lembra alguns momentos importantes vividos pela população do bairro de Jardim Coimbra e arredores: “A Escola Municipal de Ensino Fundamental “Prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz” há 7 anos atrás, não existia e em seu lugar havia um campo de futebol. Foi no ano de 1995, que a construção da escola começou, graças ao orçamento participativo, solicitação de moradores à então Prefeita Luiza Erundina.” “Ao lado da Escola Figueiredo Ferraz, temos duas praças, com destaque para a Praça Olavo Monteiro, nascido em 26/01/26 e falecido em 16/07/92 homenageado pela Sociedade Amigos de Jardim Coimbra, o Clube Atlético Paulistano e os moradores do bairro”. “Há 30 anos atrás, as famílias da região não tinham o hábito de vacinar seus filhos ou leva-los ao médico. Vendo este problema, um grupo de idealistas da região, começaram a ir de casa em casa orientando as famílias sobre a importância da prevenção de doenças infecto-contagiosas. O slogan desses idealistas era: “Vocês podem levar seus filhos nas benzedeiras, mas não deixem de vaciná-los”. Só depois das famílias tomarem a atitude de procurar assistência médica, justificou-se a abertura dos primeiros micro-postos de saúde em salas alugadas.” JARDIM NORDESTE – A seguir, depoimentos de moradores do bairro descrevem alguns dos aspectos mais relevantes do bairro em décadas passadas: Josinete Oliveira Souza (52 anos), residentes há 43 anos, à Rua Lima Campos: “Meus pais compraram o terreno da Prefeitura e construíram sua casa de “ pau-a-pique ”. No local dos condomínios Diamantes, Paratibe, Amaralinas, Alfazemas I e II, era tudo matagal. Nessa matagal, tinha uma estradinha bem estreita para caminhar. Os moradores antigos atravessavam essa estradinha que dava no Jardim São Nicolau. Também era feita de pau-a-pique, de maneira bem simples. A madeira servia para construir casas e móveis domésticos. Na época, a rua só tinha algumas casas, com muito mato separando-as. A rua era de terra e tinha uma espécie de estradinha para caminhar. O transporte era uma Maria Fumaça que os moradores usavam para ir trabalhar. A Maria Fumaça ia até Artur Alvim e lá eles pegavam uma “jardineira” que hoje chamamos de ônibus. Chegando na Penha, eles pegavam um bonde até o centro da cidade. Antigamente, a rua se chamava Nossa Senhora da Conceição. Atualmente é conhecida como Rua Lima Campos”. Arlindo (82 anos), morador há 41 anos no bairro, à Rua Lima Campos: “Há 41 anos atrás, meu terreno foi comprado da Prefeitura e construí minha casa também de pau-a-pique. Passando o tempo, aumentei minha casa, construindo um sobrado. Em cima é minha casa e embaixo é meu bar, que existe há aproximadamente 30 anos”. José Luís , morador há 20 anos: “ No local da padaria, era matagal, eles compraram o terreno e construíram a padaria. Os padeiros entregavam o pão e o leite nas casas, usavam uma carroça como transporte. No local da Estação de Artur Alvim, era uma ponte. Nesse tempo, não tinha luz, eles usavam lampiões para iluminação, não tinha esgoto, só depois de muito tempo colocaram água encanada, esgoto e postes de iluminação. Paróquia de Santa Luzia do Jardim Nordeste: Segundo publicação extraída do Jornal da Paróquia de Santa Luzia (2000), a história da Paróquia começou há quase 69 anos atrás, quando em 16.11.31, Dona rosa Paiana Campanella e Família doaram à Mitra Arquidiocesana de São Paulo, um terreno de 8000 metros, para que fosse construída uma Igreja sob a evocação de Santa Luzia. Em 1932, foi construída a capela de Santa Luzia que passou a pertencer à Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, e as missas eram realizadas uma vez por mês. Em 1958 a capela de Santa Luzia passou a pertencer à Paróquia de Santo Antonio da Vila Ré, e nesse mesmo ano começou-se a celebrar missas na capela de Santa Luzia todos os domingos e celebrar batizados, onde a partir daí foram se formando os grupos: Pia União das Filhas de Maria, a Cruzada Eucarística, a Legião de Maria, o Apostolado da Oração e a Congregação Mariana e um coral. Em 30.04.65, a Capela é declarada Paróquia de Santa Luzia. Em 18.10.87, chegam os Padres Salesianos para ficarem por 8 anos, quando em 1995 acabou o contrato com os Salesianos, D.Fernando Legal procurou os Superiores dos Salesianos e conseguiu que a Paróquia ficasse definitivamente confiada aos Salesianos. Surgiu, então o Grupo de Oração. Em 1998, criou-se a Associação dos Devotos de Nossa Senhora Auxiliadora, a construção que temos hoje ao lado da Paróquia e o Centro Social da Paróquia de Santa Luzia, que foi inaugurada em 29.08.99.Hoje a Paróquia conta com três comunidades: São João Batista, São Nicolau e Nossa Senhora de Fátima, mas para chegar até aqui, a Paróquia enfrentou muitas dificuldades (...)

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Histórico do Centro Social da Paróquia de Santa Luzia - Extraído do Jornal do Centro Social e Paróquia de Santa Luzia (2000): O Centro Social da Paróquia de Santa Luzia tem por missão, de acordo com o seu Estatuto, assistir, educar e promover as crianças, adolescentes, jovens e adultos, proporcionando-lhes cursos de aprendizagem e formação profissional e humana, sem discriminação de raça, cor, credo político ou religioso e nacionalidade. Este foi criado em 1984 frente as necessidades que o bairro/região apresentava: inúmeras crianças, adolescentes e jovens em situação de risco pessoal e social em virtude de carência sócio-econômica e cultural, iniciando com atendimento a 50 crianças.(...) Também no mês de Abril foi dado início ao curso de profissionalização para os jovens, nas áreas de Técnicas Administrativas, Elétricas e Complementação Educacional, com 114 alunos. No final do mês de maio, deu-se inicio ao curso de alfabetização, com 22 alunos distribuídos em duas turmas e finalmente, no dia 19 de Junho, a nossa Comunidade Paroquial, através do Centro Social, assumiu a direção da Creche do Jardim Nordeste, com a finalidade de atender a 160 crianças de zero a quatro anos. (...) O Centro Social da Paróquia de Santa Luzia começou no ano de l984, com 50 crianças: adolescentes, jovens na faixa etária entre 7 e 17 anos, somente no período da manhã, oferecendo alimentação (café da manhã e almoço), reforço escolar, orientação, formação, passeios e atividades culturais. Em 1989, já sob a orientação dos Salesianos, o atendimento prestado foi ampliado para 70 crianças, adolescentes e jovens, em dois períodos: manhã e tarde, oferecendo a estas, os mesmos serviços mencionados acima. Em 1991, esse número passou para 100. Em 1995, o número de atendidos cresceu para 120, em vista da mudança da política de atendimento.A denominação dos serviços prestados passou a ser “Centro da Juventude” – C.J., e a idade adequada para o atendimento, por regulamentos de convênio com a Prefeitura Municipal e São Paulo, passou a ser de 7 a 14 anos e 11 meses. Em virtude da demanda e considerando o local de residência das crianças atendidas, em novembro de 1997, começaram as atividades do Centro da Juventude São Nicolau, atendendo inicialmente, 60 crianças. Passando, a partir de então, a duas unidades de atendimento: C.J. Unidade Santa Luzia e C.J. Unidade São Nicolau. Em 1998, o atendimento do C.J. Unidade São Nicolau, foi ampliado para 90 crianças. Em 1999, o atendimento do C.J. Unidade Santa Luzia, foi ampliado para 300 crianças, perfazendo um total de 390 crianças e adolescentes conveniados: porém o número real de atendimento sempre tem sido superior a 400.(...) Objetivando dar continuidade ao atendimento prestado aos adolescentes inscritos no Centro de Juventude, até 14 anos e 11 meses de idade e possibilitando a ouros adolescentes e jovens (que não necessariamente tenham sido atendidos pelo Centro Social da Paróquia de Santa Luzia), esse C.J. teve sua estrutura física ampliada e inaugurada em agosto de 1999, com capacidade de atendimento para 1500 pessoas diárias. Nesse sentido, a nível de qualificação profissional, esse foi o primeiro passo dado neste núcleo de atendimento. Além desse trabalho, é também executado, desde agosto de 1999, o programa “Fortalecendo a Família”, em convênio com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, no qual são atendidas 100 famílias em situação de risco social, às quais são oferecidos os serviços de Assistência Social, Assessoria Jurídica, Atendimento Psicológico e Assessoria Educacional, atendimento às necessidades e emergências básicas. Shopping Center Leste: Inaugurado em 29 de Maio de 1991, com um espaço de 28.000 m², 164 lojas, estacionamento para 3.000 carros/dia, lanchonetes, restaurantes, cinemas e áreas de lazer, este empreendimento da PORTORICO INCORPORAÇÕES E PARTICIPAÇÕES LTDA, configurou-se como uma fonte importante de lazer e de diversificação comercial, além de oportunidades de empregos para a população local, porém, progressivamente foi perdendo espaço para os outros Shoppings que foram sendo inaugurados posteriormente a ele, como Shopping Leste Aricanduva, Shopping Penha e Shopping Tatuapé, de tal forma que suas lojas foram sendo fechadas e hoje ele se encontra praticamente desativado, exceção feita ao HABBIB’s situado na área externa do Shopping que ainda conta com grande movimento por ser uma das únicas opções deste tipo de serviço nas proximidades. Segundo informações da administração do espaço do Shopping (hoje, denominado SHOPPING ARTUR ALVIM) aos alunos durante trabalho de campo, existe a pretensão de reabertura do Shopping num futuro próximo, mas sem data prevista. • Encaminhamentos a partir das discussões ocorridas na Mesa Redonda “Meio ambiente e cidadania”: Após conhecerem o trabalho dos alunos, todos os presentes ficaram muito sensibilizados e se comprometeram a divulgá-lo e também encaminharem suas reivindicações para as autoridades competentes. Ao mesmo tempo, os alunos puderam ouvir e compreender o trabalho de cada uma das áreas ali representadas, como por exemplo, a Segurança Pública: o Dr. Cicconi, Delegado da 64ª D.P., responsável por aquela área e presidente do CONSEG (Conselho de Segurança), explicou que a questão da violência, que apareceu em primeiro lugar como ponto negativo em todos os bairros, não dependia apenas do trabalho de sua Delegacia, como as crianças pensavam. Falou dos problemas sociais do país como um todo, da situação econômica, da educação, ressaltando que era necessário lutar por melhores condições de vida para todos, para que diminuísse a violência, além de investir na recuperação daquelas pessoas que cometeram erros na vida e que hoje estavam

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pagando suas dívidas com a justiça, inserindo-as, quando possível, na sociedade novamente. Convidou os pais e alunos a acompanhar as reuniões semanais do CONSEG para discutirem mais amplamente a violência no bairro.Igualmente o representante do M.P.D.Z.L., se comprometeu a incorporar às reivindicações do Movimento, àquelas que os alunos haviam identificado entre a população e recebeu o abaixo-assinado para encaminha-lo à Prefeitura (na semana seguinte ao evento, a Escola foi comunicada por meio de um dos membros do M.P.D.Z.L. que estivera presente à Mesa Redonda,o Sr. Flávio Cardoso, que a Prefeitura estudava a possibilidade de canalizar o córrego e também multaria os donos dos terrenos onde havia depósito de lixo). Os membros do Movimento de Saúde, convidaram os alunos a estarem participando da inauguração do novo Centro de Saúde do Jardim São Nicolau, onde cederiam um espaço para a exposição do trabalho e para que os alunos apresentassem suas composições musicais para toda a população que estaria presente e também para as autoridades da área da Saúde. Nesse encontro, foram propostas parcerias entre os profissionais de saúde do Distrito, do M.P.D.Z.L. e a Escola, para dar continuidade e ampliar o Projeto para 2002, aproveitando as informações reunidas pelos alunos para desenvolver ações de prevenção e controle de doenças na região.Eles também foram convidados a se apresentarem para outras escolas da região, na Mostra Anual de Informática Educativa do NAE-9, no SESC-Itaquera. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES: A análise dos dados feita em sala de aula pelas equipes de alunos juntamente com a professora, permitiu que fossem elaboradas algumas considerações e conclusões: Quanto à pesquisa sobre a percepção de Meio Ambiente e Cidadania, embora a amostra seja muito pequena para ser considerada significativa, ainda assim os alunos levantaram algumas observações que foram registradas em seus textos: a maioria das pessoas entrevistadas nos bairros de Jardim Coimbra, Jardim Nordeste, Jardim São Nicolau, Vila União e Cidade A.E.Carvalho, não sabia o que significava a palavra “cidadania”. Considerando-se que a faixa etária dos indivíduos entrevistados era de 11 a 79 anos, esta situação de desinformação, se fosse generalizada para o restante da população, deveria ser combatida e não apenas as crianças em idade escolar, mas jovens, adultos e idosos deveriam ter acesso a uma educação que lhes permitisse conhecer o verdadeiro sentido de “Cidadania” e passassem a exercê-la plenamente. Foi consenso entre os alunos que caberia não apenas aos professores das escolas, mas também aos filhos, aos pais, aos vizinhos, aos líderes comunitários, enfim, a todos aqueles que estivessem dispostos a participar ativamente deste processo de educação, constituírem essa frente educativa. Na pesquisa,a maioria das pessoas entrevistadas disse que “cuidava” do meio ambiente e que este é um ato que faz parte da “Cidadania”, embora muitas vezes não tivessem claro para si mesmos, o conceito desta palavra. Entretanto, quando perguntados “como cuidavam do meio ambiente”,uma parte deles não soube responder, enquanto a maioria associou a idéia do “meio ambiente” somente com o lixo nas ruas e nos rios, esquecendo-se por exemplo, dos espaços da Escola ou de sua própria casa, onde as condições ambientais são, muitas vezes, de péssima qualidade. Também as áreas verdes, como praças e árvores ausentes ou depredadas no bairro, a poluição do ar produzida com a queima de lixo, a falta de rede de esgotos em alguns pontos dos bairros, comprometendo os córregos, não foram lembradas pela maioria das pessoas entrevistadas. Observa-se que esta situação se repete em sala de aula, onde muitos alunos apresentam dificuldades em relacionar “meio ambiente”,com algo mais próximo deles, como a própria casa ou a escola. Pelicioni (1998), em sua tese de Mestrado, fez um levantamento das percepções e práticas dos alunos a respeito do meio ambiente e problemas ambientais, além das inter-relações destes fatores com a saúde, pobreza, riqueza, atores sociais envolvidos, etc, e verificou que a maior parte dos alunos (84,3%), tinha dificuldades em perceber o ambiente construído como parte do meio ambiente, relacionando-o, apenas com “natureza”). Outro fator importante a ser lembrado, é que apesar da maioria dessas pessoas ter dito que “não jogava lixo nas ruas e rios”, levantamento fotográfico e depoimentos colhidos nestes bairros comprovam que este problema ocorre, é sério e difícil de ser resolvido, já que, a própria população (inclusive os alunos) joga lixo nas ruas, córregos e terrenos baldios.Segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados acredita que os adultos se preocupam mais com o meio ambiente que as crianças, embora estes sejam diretamente responsáveis pela educação dos filhos, pelo lixo gerado em suas casas e pelo seu destino, influenciando no comportamento das crianças no ambiente escolar, onde elas repetem práticas condenáveis, como: jogar papéis no chão, desperdiçar materiais escolares e merenda, depredar o prédio e seus equipamentos, etc. Já a pesquisa sobre os pontos positivos e negativos revelou que os vizinhos, são considerados o principal ponto positivo em praticamente todos os bairros, o que pode indicar que o relacionamento humano constitui-se, neste caso, num fator de grande importância e pode explicar a facilidade de mobilização, que estas comunidades vem demonstrando ao longo de suas histórias, para resolução dos problemas destes bairros. Além disso, este fator está em penúltimo lugar na lista de pontos negativos, no Jardim Nordeste, não aparece

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no Jardim Coimbra, nem no Jardim São Nicolau e na Cidade A.E. Carvalho. Outro fator também muito bem votado, nos bairros, é o comércio local , levando a crer que a maioria dessa população realmente se utiliza desses serviços e os considera importantes para o desenvolvimento do bairro. Também o item Escolas, é muito citado como ponto positivo em todos os bairros e apenas na Cidade A.E. Carvalho, aparece em 11º lugar na lista de pontos positivos, sugerindo neste caso, que a comunidade local não está satisfeita com os serviços prestados pelas escolas em seu bairro ou que o número delas não é suficiente para atender à demanda do mesmo, já que, ele também aparece em 3º lugar na lista de pontos negativos, como: faltam escolas. Já a falta de tranqüilidade/segurança e a violência, aparecem nos primeiros lugares da lista dos pontos negativos, exceto na Cidade A.E. Carvalho, o que não implica na despreocupação dessa comunidade com esses dois fatores, mas provavelmente o número pequeno de entrevistados tenha influenciado no resultado, já que é um bairro muito próximo aos demais e sujeito às mesmas condições destes. Outro fator importante na votação dos pontos positivos foi Centro de Saúde. Observa-se que no Jardim Nordeste, este fator apareceu em 7º lugar, junto com Condomínios e FATEC, indicando que a população entrevistada não considera o atendimento totalmente satisfatório, já que, na votação dos pontos negativos, este fator aparece em 4º lugar, abaixo apenas, da falta de segurança, da violência e do lixo nas ruas. Já no Jardim Coimbra, este item aparece como uma votação superior à dos pontos negativos, também em 5º lugar, o que leva a crer que a maioria da população aprova os serviços prestados pelo Centro de Saúde local.Também no Jardim São Nicolau, embora esteja em 3º lugar como ponto positivo, recebe uma votação superior quase três vezes superior como ponto negativo, estando aqui em 1º lugar. (Este Posto está funcionado precariamente em uma casa alugada e em breve deve passar para uma nova sede, mais ampla e melhor equipada, conforme informação do M.P.D.Z.L.). Na Cidade A.E. Carvalho está colocado em 4º lugar, o que permite supor que a população entrevistada está satisfeita com o atendimento oferecido pelo Centro de Saúde de seu bairro (QUALIS). Finalmente, pode-se dizer que é necessário um trabalho de sensibilização que favoreça uma conscientização destas comunidades, a começar pela Unidade Escolar, no sentido de perceberem os problemas ambientais à sua volta como resultado de uma conduta errada ou negligente em relação ao meio onde vivem, mostrando que a cada um cabe o seu papel de zelar pelas condições de saúde e bem estar geral de todos: comunidade organizada, governo, instituições presentes nos bairros, enfim, toda a população que divide esse mesmo espaço urbano. No desenrolar deste projeto, ao longo desses 6 meses, foi possível observar a mudança de comportamento dos alunos de forma geral, que passaram a sentir orgulho de viverem em seus respectivos bairros, encontraram neles, pequenas ou grandes coisas que tinham um sentido positivo, lançando um outro olhar sobre os problemas e entendendo que também são possíveis soluções para eles. Ficou claro, através da pesquisa histórica, que estas soluções passam pela união de todos para, primeiramente, encontrar as suas causas e em seguida, buscar os meios institucionais mais adequados para direcionarem suas reivindicações e vê-las concretizadas, pois foi assim, que no passado, seus vizinhos mais antigos conseguiram transformar as condições mais adversas que existiam nesses bairros, em condições onde a qualidade de vida foi gradativamente melhorando até os dias de hoje, apesar de todos os problemas que ainda esperam para ser resolvidos.Assim, pode-se considerar que os objetivos propostos neste trabalho foram alcançados, uma vez que os educandos passaram de um estado de auto-transformação, para o de transformadores de suas realidades e o papel da Educação Ambiental foi cumprido, não se restringindo à realização de uma atividade-fim, mas consolidando-se num processo contínuo e sincronizado de transformação e ação do indivíduo, dentro de esferas cada vez maiores de atuação, sempre com uma visão integrada dos problemas ambientais, políticos, econômicos, sociais e culturais que envolvem uma população. É através das letras das músicas e paródias compostas pelos alunos e também pelas poesias e poemas, além das discussões constantes travadas em sala de aula nas diversas fases do projeto, que essas conclusões encontram grande respaldo. Uma amostra das produções citadas encontra-se no final do trabalho, juntamente com o pensamento de uma escritora, filha da Cidade A.E.Carvalho, que descreve bem o sentido que envolveu todo esse projeto. “Viver na Zona Leste da cidade de São Paulo é um privilégio. A riqueza cultural existente neste pedaço de chão é imensurável. A música, a dança, a luta pela terra, a mistura de raças, credos e religiões, a politização em busca do bem comum, a riqueza e a pobreza, os absurdos e as contradições, fazem deste lugar um mundo muito especial que só quem vive, sofre e luta aqui é capaz de amar”(Cida Santos, 1994). FESTIVAL DE MÚSICAS: Tema proposto: “Nosso bairro” Música: Opinião (Autora: Carolina Paes – 6ª D)

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Nesta cidade grande que é São Paulo, Em cada canto, em cada beco, Existe uma criança sonhadora Crente em um bom emprego. Indo mais para a Zona Leste, Perto de Artur Alvim, Um bairro com futuro, Cheio de gente assim. Querendo ser um cantor, Ou um bom escritor Que saiba ver e entender esse mundo, Quem sabe ser, músico, professor, nadador ou corredor Um verdadeiro cidadão Que nunca deixará de ter seu pão Pode apostar, nesse Jardim São Nicolau, a corrupção não vence nosso ideal Num grito de paz, cada morador traz Sua placa dizendo: - Presídio, não! -Saúde e Educação!!! (bis) Aqui existem sonhadores Que lutam contra as dores E na mente guardam seus amores As árvores daqui, tem uma história, Se você não quiser saber, tudo bem. Mas, pode apostar, Muita gente brigou pelo verde que plantou Num lugarzinho tão pequeno, Tanta gente grande... Desse jeito a gente exige De qualquer governante, Mesmo que use colarinho, Sempre tendo seu vinho, Que engula seu preconceito E dê o nosso direito Num grito de paz, cada morador traz Sua placa dizendo: - Presídio,não! - Saúde e Educação!!! Música: Zona Leste (autores: Pedro Paes e Rubens Carrilho Santana – 7ª C) Aí, cidadão Eu vou torcer Prá você entender, Que o desenvolvimento do país Só depende de você A partir de agora, Comece a se conscientizar Procure mudar a história Procure mudar de vida

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Ainda existem muitas pessoas Que têm uma vida sofrida De sol a sol Em busca apenas de comida Estou com muitos problemas Não dá mais para agüentar O que minha família me pede Nem sempre tenho para dar REFRÃO E você que está empregado Tem carro do ano guardado Procure valorizar Pois tudo o que um dia conseguiu Talvez não possa recuperar Perdeu a sua família Por causa da bebida O seu filho está drogado O orçamento esgotado Eu sou brasileiro Mas sofro preconceito Também sou um cidadão Está na Constituição Procurando em cidades vizinhas Encontrar uma saída Acabar com o pesadelo Reconstruir suas próprias vidas Por aqui não é diferente Não vê que é deprimente Você desempregado Fica desesperado Tome nota do que eu falo E não volte a ser escravo O bairro que podemos ter Não é o que se vê na TV E com muito orgulho Agradecemos ao Senhor Não sou Gabriel, mas Também sou Pensador REFRÃO Ser pobre não é nenhum defeito, Apenas é ser vítima do seu preconceito. Música: A Zona Leste é aqui (autoras: Nádia Araújo e Lígia Borges – 7ª C)

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Aqui não é a Zona Sul, Nem Zona Norte, Aqui é Zona Leste, a zona mais forte Os bairros mais vizinhos, Tem o Coimbra, Nordeste, Nicolau, Burgo Paulista, Periferia, você pode encontrar pessoas que passam fome em qualquer lugar “Coquinho” falido, também vai ver, Habib’s é que sustenta, o que fazer? Temos também pontos positivos, FATEC, escolas, grandes amigos, Mas também temos que dizer, Foi a conquista do povo, pode crer! Lutamos, andamos, reivindicamos, Soluções, é o que precisamos, Só falar não vai adiantar, Devemos agir, devemos mudar, Soluções vão aparecer, e a zona leste vai crescer. E você vai saber que tudo, Só depende de você! Coimbra, Nordeste, Nicolau, A.E., Não é o Morumbi, mas é bairro legal! REFRÃO A zona leste é mais que um sonho, Acredite nela. Se não lutarmos... quem irá lutar por ela? *Obs.: “Coquinho” é o apelido do Shopping Center Leste, que fechou no final da década de 90, onde só permanece uma das lanchonetes da rede Habbib’s aberta até hoje. Poema: “Jardim Coimbra” (Aline Castanheiro, Jaqueline e Ruth – 6ªA) Jardim Coimbra e se você não existisse? Já pensou? Os vizinhos, a segurança e os comércios, Quem daria? Sem risos, sem flores, só silêncio no ar... O dia de hoje que graça teria? Jardim Coimbra, já pensou? Você tinha que vir... Para todos te amarem REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LAYRARGUES P.P. A Resolução de problemas ambientais locais deve ser um tema-gerador ou a

atividade-fim da educação ambiental? In: Reigota M. (org.) – Verde Cotidiano – O meio ambiente em discussão. D.P. &A Editora. São Paulo; 1999.

2. PELICIONI Maria Cecília Focesi.As inter-relações entre a educação, saúde e meio ambiente. Revista “ O Biológico”, v.61 nº 2 ,julho/dez. ;1999.

3. PELICIONI Andréa Focesi.Educação Ambiental com estudantes –percepções e práticas ambientais In: Rodrigues Valdemir Antonio – A Educação Ambiental na Trilha. Departamento de Ciências Florestais Faculdade de Ciências Agronômicas.Universidade Estadual Paulista.Botucatu; 2000.

4. SANTOS Cida. Zona Leste meu amor: personagens de uma história de lutas. Marco Markovitch. São Paulo; 1994.

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5. SANTOS Cida. Zona Leste fazendo História. Marco Markovitch. São Paulo; 1997. 6. SECRETARIA MUNICIPAL DO VERDE E MEIO AMBIENTE.Agenda 21 do Pedaço. São Paulo;

1997.

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