mel

2
* MEL Número Zero Açores-Janeiro de 1998 Uma Cidade Ecológica As exigências da “ civilização” são in- saciáveis. Nunca, na sua já longa história, foi este Planeta espaçoso, ma- terialmente rico e ecologicamente equi- librado, tão implacavelmente explorado e desarticulado como hoje em dia. À medida que aumenta a população, os seus tentáculos alcançam os mais longínquos recantos do globo, resul- tando em desequilíbrios ecológicos e mesmo na ameaça à sobrevivência da vida. Alguns dos problemas da civilização datam de há alguns milénios, mas a esmagadora maioria pertence a um passado recente, desde a origem dos centros urbanos industriais durante os últimos três séculos. Nestes centros já vivem 40% dos cinco biliões de pessoas e 52% dos 6,1 biliões viverão nas cidades no início do próximo milénio. Por todo o mundo há um desenvolvi- mento citadino monolítico. São habitats asfaltados, dominados pelo Homem, prédatórios, poluídos e insalubres. Em suma, são aglomerados - em contínua expansão - contendo pessoas, máquinas e lojas com um incondicional domínio sobre os homens. As nossas cidades são inteiramente dominadas pelas pessoas, e são mon- struosidades superdesenvolvidas, com um “apetite devorador” por bens materi- ais e o rápido declínio de capacidades. As leis da natureza são imutáveis. A catástrofe é o único destino para um sistema tão desarmónico. ASSOCIAÇÕES DE DEFESA DO AMBIENTE A promiscuidade entre as Associações de Defesa do Ambiente e o Estado ou Pensamento os partidos políticos exis- tente na Região Autónoma dos Açores faz com que a maioria delas não passe de sim- ples correias de trans- missão dos interesses partidários, de tram- polins para a ascenção profissional de muitos oportunistas e de meros departamentos ca- marários . “Foram as alterações sociais que converteram muitos seres hu- manos em “estrangeiros” no seu próprio mundo social que os converteram em “estrangeiros” Ina natureza: a dominação dos | o vens pelos velhos, das mul- Iheres pelos homens e dos [homens pelos homens. Hoje, como há muitos séculos, con- tinuam a existir seres humanos opressores que literalmente pos- suem a sociedade e outros que Isão por ela possuídos. Até que a [sociedade possa ser reinvidicada por uma humanidade indivisa capaz de usar a sua sabedoria colectiva, realizações culturais, inovações tecnológicas, conheci- mento científico e criatividade inata para o seu próprio benefí- cio e para o do mundo natural, todos os problemas ecológicos terão a s suas raízes em proble- mas sociais.” Murray Bookchin Neste número pode ler Uma cidade ecológica 1

Upload: teofilo-braga

Post on 16-Mar-2016

214 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Folha do Mocimento Ecolibertário

TRANSCRIPT

* MELNúmero Zero Açores-Janeiro de 1998

Uma Cidade Ecológica

As exigências da “ civilização” são in­saciáveis. Nunca, na sua já longa história, foi este Planeta espaçoso, ma­terialmente rico e ecologicamente equi­librado, tão implacavelmente explorado e desarticulado como hoje em dia. À medida que aumenta a população, os seus tentáculos alcançam os mais longínquos recantos do globo, resul­tando em desequilíbrios ecológicos e mesmo na ameaça à sobrevivência da vida.

Alguns dos problemas da civilização datam de há alguns milénios, mas a esmagadora maioria pertence a um passado recente, desde a origem dos centros urbanos industriais durante os últimos três séculos. Nestes centros já vivem 40% dos cinco biliões de pessoas e 52% dos 6,1 biliões viverão nas cidades no início do próximo milénio. Por todo o mundo há um desenvolvi­mento citadino monolítico. São habitats asfaltados, dominados pelo Homem, prédatórios, poluídos e insalubres. Em suma, são aglomerados - em contínua expansão - contendo pessoas, máquinas e lojas com um incondicional domínio sobre os homens.

As nossas cidades são inteiramente dominadas pelas pessoas, e são mon­struosidades superdesenvolvidas, com um “apetite devorador” por bens materi­ais e o rápido declínio de capacidades. As leis da natureza são imutáveis. A catástrofe é o único destino para um sistema tão desarmónico.

A SSO CIA ÇÕ ESDED EFESA DO AMBIENTEA promiscuidade entre as

Associações de Defesa do

Ambiente e o Estado ou

Pensamento

os partidos políticos exis­

tente na Região

Autónoma dos Açores

faz com que a maioria

delas não passe de sim­

ples correias de trans­

missão dos interesses

partidários, de tram­

polins para a ascenção

profissional de muitos

oportunistas e de meros

departamentos ca­

marários .

“Foram as alterações sociais que converteram muitos seres hu­manos em “estrangeiros” no seu próprio mundo social que os converteram em “estrangeiros”

Ina natureza: a dominação dos | o vens pelos velhos, das mul- Iheres pelos homens e dos [homens pelos homens. Hoje, como há muitos séculos, con­tinuam a existir seres humanos opressores que literalmente pos­suem a sociedade e outros que

Isão por ela possuídos. Até que a [sociedade possa ser reinvidicada por uma humanidade indivisa capaz de usar a sua sabedoria colectiva, realizações culturais, inovações tecnológicas, conheci­mento científico e criatividade inata para o seu próprio benefí­cio e para o do mundo natural, todos os problemas ecológicos terão a s suas raízes em proble­mas sociais.”

Murray Bookchin

N este núm ero pode ler

Uma cidade ecológica

1

MEL

O capitalismo neces­sita de crescer con­

tinuamente para asse­gurar a sua estabili­dade. Crescimento

que a ecologia põe em causa donde, a meu ver, a sua natureza

anticapitalista

Victor Fraga

Uma cidade ecológica

“ CIDADES VERDES”

Tomar as cidades verdes é uma resposta natural para as inabitáveis, entrópicas e monstruosas cidades que criámos. Uma cidade verde é, por definição, uma cidade viva, onde se realizam todos os potenciais das forças naturais interrelacionadas. De certo modo é completa na sua capacidade de sobrevivência. As entradas e saídas de energia encontram-se equilibradas, ou melhor, a saída de energia tem um valor superior.Uma tal cidade é um aglomerado de mate­rial biológico e recursos culturais, que pro­duz ao máximo grau relações harmoniosas. Mais especificamente, uma tal cidade baseia-se nos conceitos seguintes:

-Não é dominada pelo Homem;

-É auto-suficiente;

-Os componentes materiais e biológicos encontram-se equilibrados e integrados;

-É uma cidade que se recicla, na qual o desperdício é uma fonte para fins util­itários;

-As relações entre todos os elementos são de apoio, cooperativas e não exploradoras.

-Uma tal cidade tem vastos espaços aber­tos, jardins, parques, quintas, regatos, cur­sos de água ou costa marítima e baldios. É habitada tanto por seres humanos como por outras espécies animais - aves, mamíferos e peixes-;

-Uma “cidade verde” é uma cidade que se auto-preserva. Baseia-se no princípio das necessidades mínimas, por forma a elimi­nar ou reduzir o desperdício. No caso deste ser inevitável, é reciclado criando produtos úteis;

-E uma cidade limpa e saudável, com um grau de poluição mínimo ou nulo;

-Numa “cidade verde” o mais importante é a saúde. Uma vez que as doenças e molés­tias são entrópicas deve-se dar ênfase à vida natural, lazer, exercício, yoga e ali­mentos orgânicos, sem químicos, não processados e não excessivamente co­zinhados;

-A cidade será concebida por forma a que todos os elementos (humanos,

naturais, materiais, tecnológicos, etc.) se relacionem de modo estético, har­monioso. As casas, escolas, ruas, par­ques, árvores, paisagens e centros de comércio serão “habitats” com beleza e ritmo. Os desenhos, cores formas e taman­hos basear-se-âo na imaginação, inovação e relações naturais;

-A cidade fornecerá um vasto horizonte de actividades culturais. Teatros, desportos aquáticos, praias, salas públicas de con­certo, jardins de convívio, museus de ciên­cias e história, e praças públicas darão oportunidade às relações humanas, amor, amizade, bondade, partilha e alegria. Por outras palavras, a cidade seria uma Agora, um festival de alegria e desenvolvimento integral.

A “cidade verde” é fundamental no plano urbano e humano. É um desafio aos centros urbanos, monstruosos, feios, doenças, cor­ruptos e predatórios que criámos. Dá uma nova dimensão à vida humana e ao futuro da civilização

Traduzido e condensado de “Vision and Joy of Green Cities”, Rashmi Mayur, em Green Cities, de David Gordon, ed. Black Rose Books, 1990.

Por Sérgio Duarte(in A Batalha,n°l 35)

CONTACTOS ~

A Batalha, Rua Marquês Ponte de Lima,37,2o Dt° 1100 LISBOA

Naturanimal-Ap.75, Torre da Marinha, 2840 SEIXAL

Singularidades, Ap. 13117,1000 LISBOA

O Sal da Ira, Ap.2529,1113 LIS­BOA

Boletim de Informação Anar­quista, Ap.40, 2801 ALMADA

Inquietação, ap.460, 4400 VILA NOVA DE GAIA

2