mediunidade - edgar armond

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  • 8/8/2019 Mediunidade - Edgar Armond

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    MEDIUNIDADE

    EDGARD ARMOND

    DEDICATRIAAos bondosos e dedicados Instrutores do plano espiritual, que me assu-

    tiram com suas luzes, inspirando e estimulando a realizao deste modestotrabalho que se destina, principalmente, aos milhares de mdiuns necessitadosde orientao e esclarecimento, dedico esta pgina, como homenagemhumilde.

    O AUTOR

    EXPLICAO NECESSRIAO campo da mediunidade complexo e sua descrio no comporta

    fantasias literrias nem opinies pessoais de natureza especulativa. um conjunto de fatos, que se afirmam por si mesmos e no de teorias,

    mais ou menos atraentes, que possam ser convertidas em sistemas nosmoldes das muitas criaes filosficas que conhecem os fatos naturalmentesujeitos a Leis que podem e devem ser conhecidas por todos, j que a todosinteressam, justamente por ser a mediunidade uma herana comum dos sereshumanos.

    Ao recolher as apreciaes, generosas e construtivas, dos abalisadosconfrades, do Pas e Estrangeiro que se dignaram opinar a respeito do livro,conforme apareceu na primeira e segunda edies, a partir de 1947constatamos algumas lacunas que nos apressamos a corrigir na ediosubseqente.

    A rapidez com que se esgotaram essas edies demonstrou a aceitaoque elas tiveram e nesta de agora pouco se acrescenta, a no ser o necessrio atualizao dos assuntos causa que sempre til fazer.

    Agradecemos o precioso concurso que sempre recebemos de todos osconfrades e esperamos que esta modesta obra possa atingir seus objetivos

    que so: esclarecer doutrinariamente, difundir conhecimentos prticos e tornar-se til a todos os estudiosos do espiritualismo em geral, independentemente desectarismos de qualquer natureza.

    Com esta edio julgamos ter atingido um ponto estvel, pertinente, nodesejando introduzir mais qualquer acrescentamento futuro, salvo ligeirasatualizaes, quando indispensveis.

    So Paulo, Outubro, 1956.

    O AUTOR

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    PRIMEIRA PARTE

    1DEFININDO CONCEITOS

    Para melhor compreenso do modo por que entendemos e definimos amediunidade, aqui resumimos os argumentos de alguns captulos, para dizer:

    medida que evolui e se moraliza; o indivduo adquire faculdadespsquicas e aumenta, conseqentemente, sua percepo espiritual.

    A isso denominamos - MEDIUNIDADE NATURAL.

    * * *

    A muitos, entretanto, ainda que atrasados em sua evoluo e moralmenteincapazes, so concedidas faculdades psquicas como graa. No asconquistaram, mas receberam-nas de emprstimo, por antecipao, numaposse precria que fica dependendo do modo como forem utilizadas, da formapela qual o indivduo cumprir a tarefa cujo compromisso assumiu, nos planosespirituais ao receb-la.

    A isso denominamos MEDIUNIDADE DE PROVA.

    * * *

    A primeira situao ideal a atingir por todos os homens no Tempo e aintuio a sua forma mais avanada e perfeita.

    Permite o conhecimento das coisas e o intercmbio com as entidadesespirituais sem necessidade do trabalho medinico obrigatrio.A segunda uma tarefa individualizada, recebida em determinadas

    condies para utilizao imediata, e importa na prtica medinica comocooperao compulsria.

    2CONSIDERAES GERAIS ORTODOXIA

    J tempo de se abandonar a ortodoxia, deixar de parte qualquer propenso a misticismo, para verificar as lacunas que porventura existam noedifcio maravilhoso da codificao kardequiana.

    Um sculo j transcorrido, bem se pode agora, sem embargo da admiraoe do respeito que nos inspira a majestade da obra realizada pelo grandeMissionrio, perguntar:

    Est ela completa? H algum detalhe que no tendo sido, naquela poca, devidamente

    explicado, possa s-lo agora? Alguma coisa a rever ou encarar de forma mais avanada?A primeira resposta : no h obra completa das realizadas por mo

    humana; no evolui e toma, dia a dia, aspectos novos; a vida mudana e seuritmo se processa no tempo sem limites.

    A verdade eterna, revelada em parte por Moiss, Buda, Zoroastro e outros

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    enviados do Cristo planetrio, que desceram Terra em pocas diferentes;exemplificada pelo prprio Mestre quando viveu entre ns e sob aspectos maisperfeitos; desenvolvida enfim, com mais detalhes, pelos autorizadosMensageiros que ditaram a Terceira Revelao ainda em curso sofrer, aoperpassar dos sculos, com o apuramento espiritual do homem,

    desdobramentos mais amplos e mais altos.E s demais a resposta : sim; h detalhes que convm rever ou encarar,segundo pontos de vista mais atualizados.

    Haja vista, por exemplo, a mediunidade.Encarada, na Codificao, sob quase todos seus aspectos (1)

    (1) A codificao no tratou p. ex. dos fenmenos de voz direta.

    no foi todavia classificada ou dividida, tendo sido, porm, quanto suanatureza, considerada fenmeno orgnico.

    Podemos ento agora fazer uma reviso e penetrar mais a fundo em certosassuntos sem contudo nos abalanarmos a atentar, de alguma forma, contra asbases fundamentais da doutrina?

    Talvez o possamos e crer o contrrio seria negar a lei do progresso que incessante e irresistvel ; seria ir de encontro ao prprio carter divino darevelao, que tambm progressiva e metdica.

    E como a Verdade tem que ser conquistada pelo homem, passo a passo,milmetro a milmetro, j que somente lhe concedida na medida do prpriomrito, devemos tentar agora esse esforo, para conhecer melhor essesdetalhes e torn-los mais acessveis.

    preciso provocar um movimento de opinio nesse rumo e interessar neletodos aqueles que tenham boa vontade e amor a doutrina que, como sabemos,e a nica que pode realizar no homem a reforma espiritual exigida pelo Cristo.

    E este livro uma pequena contribuio nesse sentido.

    TEORIAS SOBRE MEDIUNIDADE

    H muitas teorias e explicaes sobre mediunidade e vamos passar-lhesaqui uma ligeira revista sem contudo nos determos em analis-las.

    1) A da mistificao. Tudo resultado de arranjos, habilidades mecnicas,truques.

    2) A da iluso. Nada, h de real; h somente ilusionismo. Os realizadores

    e assistentes de trabalhos espritas ficam alucinados, sugestionados e por issovm, sentem e ouvem coisas que no existem.3) A demonaca. Tudo obra de demnios, porque nenhuma entidade

    celeste pode andar pelo espao em liberdade, falar com os vivos ou fazer-sepassar por almas de mortos. Somente o diabo o pode, por ser rebelde s leisdivinas.

    4) A dos elementais. Os elementos da natureza, sres no humanos,como gnomos, silfos, fadas e gnios, formas inconscientes e inferiores da vida,atuam sbre os homens em certas circunstncias, produzindo manifestaes efenmenos inslitos.

    5) A dos casces astrais. As almas dos mortos verdadeiramente no

    influem sobre os homens a no ser em casos muito raros; mas seus cascesastrais, que so envoltrios semi-materializados e destinados decomposio,

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    aps a morte, como sucede tambm com o corpo fsico, atuam sbre ossensitivos e produzem fenmenos. Esta a teoria predileta dos tesof os.

    6) A da loucura. Os mdiuns so indivduos anormais, loucos mais oumenos pacficos e tudo o que dizem e fazem resultado de sua prpriaperturbao mental.

    7) A da emoo. Segundo os swedenborguianos, o mundo espiritual nosrodeia e, sob a ao de uma emoo forte, os sentidos podem adquirir umdesenvolvimento anormal que permite ligaes com o mundo dos Espritos.

    8) A do automatismo psicolgico. Tda idia tende a realizar-se e todasas manifestaes ditas medinicas so simples fenmenos do sub-conscienteindividual.

    9) A da fora psquica. H indivduos que possuem uma fra especial edefinida, magnetismo, fludo nervoso ou o que quer que seja, que produz osfenmenos.

    10) A de S. Martinho. Pode-se chegar pela graa dos prprios mritos aestabelecer ligaes com a divindade.

    11) A do dom. A mediunidade um dom que ser derramado sobre uns eoutros segundo a vontade de Deus.

    12) A do batismo do Esprito Santo. A mediunidade uma virtude quebaixar sbre todos aqueles que forem beneficiados pelo Esprito Santo.

    13) A do personalismo. O sub-consciente dos sensitivos tem a tendnciade apropriar-se do nome e do carter de personalidades estranhas,reproduzindo-os em seguida. Esta teoria confunde-se com a do automatismopsicolgico.

    14) A do animismo, O sensitivo sofre um desdobramento de conscinciaque se coloca fora do corpo fsico, formando um centro de fra que produzfenmenos no s psquicos como tambm fsicos e plsticos. Esta teoria seconfunde com a da fra psquica

    15) A teoria esprita segundo a qual indivduos denominados mdiunspossuem uma aptido especial para servirem de intermedirios entre osmundos fsico e espiritual. Esta a teoria predominante, que hoje em diadomina as atenes, explica a maioria dos fatos e plenamente confirmadapelas realidades. No nega que haja fenmenos de psiquismo individual, deanimismo como se costuma dizer; stes so tambm fenmenos demediunismo, que reforam a teoria esprita e em nada lhe afetam aautenticidade cientfica.

    * * *A lista como se v, grande, podendo ainda ser aumentada, e no

    cabendo aqui analisar, como dissemos, cada uma destas concepes de per si,nos limitamos a apresentar mais para diante nosso ponto de vista e defend-lo luz de conhecimentos gerais do campo espiritualista.No que respeita, porm, a ser a mediunidade um fenmeno orgnico, desde jdivergimos, em parte, para dizer que a mediunidade normal, natural, umacircunstncia tda pessoal que decorre do grau de evoluo de cada um dens. Evoluindo conquista o indivduo crescente percepo espiritual que lhe vaipermitindo cada vez maiores contactos com a criao divina, conquanto possa

    tambm, em certos casos, obter tais percepes como ddiva, como graa,conforme veremos mais tarde (2).

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    (2) Trata-se da forma corrente de mediunidade, a mais generalizada, quedenominamos de prova.

    Mas quanto faculdade em si mesma julgamo-la tda espiritual, no

    orgnica, e todos ns a possuimos e a estamos exercendo, nos limites denossas possibilidades prprias.Cada Esprito possui sua tonalidade prpria, como sua luz prpria, seu

    diapaso prprio de vibraes e por fra dssses valores intrnsecos semanifesta e interfere nos ambientes em que vive, que lhes sejamcorrespondentes ou, melhor dito, afins. tudo uma questo de grau que fazcom que os fenmenos naturais e a coisas espirituais sejam mais ou menosaparentes, perceptveis, compreensveis a uns e outros.

    Se as prprias Escrituras do a mediunidade como uma herana dohomem, desde que se edifique no campo da vida moral, compreende-se que amediunidade natural no previlgio de alguns, mas patrimnio comum detodos, quando atingidos estiverem degraus mais altos da escada da evoluo.

    3RESUMO HISTRICO

    A faculdade medinica, tanto a natural como a de prova, no fenmenode nossos dias, destes dias nos quais o Espiritismo encontrou seu clmax mas,sempre existiu, desde quando existe o homem. Sim, porque foi muito por meiodela que os Espritos diretores puderam interferir na evoluo do mundoorientando-o, guiando-o, protegendo-o.

    Vindo conviver com os homens ou dando-lhes, pela mediunidade, asinspiraes e os ensinamentos necessrios, foram sempre les, esses guiasdevotados e solcitos, elementos decisivos dessa evoluo. E, coisa notvel,quanto mediunidade, a faculdade quase no se modificou desde milnios;manteve quase os mesmos aspectos; pouco variaram os fenmenos e asmanifestaes, o que prova ser muito lenta a ascenso espiritual do homemneste terreno.

    Se verdade que, antigamente, o assunto no era bem conhecido e muitomenos generalizado, nem por isso deixou de ser admitido, estudado e utilizadoem benefcio individual e coletivo.

    Nas pocas em que a humanidade vivia no regime patriarcal, de ds ou detribos, a mediunidade era atribuda a poucos, que exerciam um verdadeiroreinado espiritual sobre os demais.

    Passou depois para os crculos fechados dos colgios sacerdotais, criandocastas privilegiadas de inspirados e, por fim, foi se difundindo entre o povo,dando nascimento aos videntes, profetas, adivinhos e pitonisas que passaram,por sua vez, a exercer inegvel influncia nos meios em que atuavam.

    Na ndia como na Prsia, no Egito, Grcia ou Roma, sempre foi utilizadacomo fonte de poder e de dominao, e to preciosa, que originou acircunstncia de somente ser concedida por meio de iniciao a poucosindivduos de determinadas seitas e fraternidades.

    E ainda hoje verificamos a existncia dessas seitas e fraternidades queprometem a iniciao sob as mais rigorosas condies de mistrio e

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    formalismo, se bem que com medocres resultados, como natural.Somente aps o advento do Espiritismo as prticas medinicas se

    popularizaram e foram postas ao alcance de todos, sem restries e semsegredos.

    A comear de Homero, o poeta lendrio da Grcia antiga, que

    mediunidade se referia indiretamente ao narrar os episdios hericos da vidade Ulisses, podemos ver que muitos outros, como por exemplo Scrates, quepossuia o que chamava de demnios familiares; Pitgoras, que era visitadopelos deuses; Apolnio de Tiana, mdium extraordinrio de vidncia elevitao; Simo de Samaria, contemporneo dos apstolos, todos exerciammais ou menos publicamente a mediunidade.

    E papel preponderante teve tambm ela na administrao pblica e na vidapoltica das naes de ento, pois provado est que seus dirigentes (chefes ereis), jamais se aventuravam a qualquer passo importante sem consulta prviaa videntes, astrlogos e orculos.

    E, na prpria Roma imperial, apesar de sua visceral amoralidade, oscsares no dispensavam essa consulta e submetiam-se de bom grado sinspiraes e aos conselhos dos deuses.

    Ora, ns sabemos hoje o papel sobrelevante que os Espritos do Senhor desempenham no plano da vida material e no fenomenalismo csmico ecompreendemos que eram ento chamados demnios, deuses e gnios essasentidades operosas e nem sempre benficas que agiam, como sempre agem,por de trs de todos os fenmenos naturais e sociais.

    por isso to positiva e evidente a antigidade das manifestaes espritasque nos abalanamos a dizer que esta , justamente, umas das maioresprovas de ser a doutrina esprita realidade de todos os tempos, basefundamental de tdas as religies, mau grado as restries que a deturparam(3).

    (3) Na China, por exemplo, a 3000 anos antes de Cristo o Espiritismo erapraticado: uma prancheta era usada, nas cerimnias morturias, parareceber as palavras do morto, dirigidas a seus descendentes. O culto dosantepassados fundamenral na China, Japo e outros pases orientais.

    E, quanto ao cristianiSmo, valendo-nos de um conceito de Leon Denis ele repousa sbre fatos de aparies e manifestaes de mortos e forneceimensas provas da existncia do mundo invisvel e das almas que o povoam.

    A Bblia, ela mesma, est cheia de semelhantes manifestaes, todasobtidas por meio da mediunidade.No Velho Testamento vemos os profetas, videntes e audientes inspirados,

    que transmitem ao povo a vontade dos Guias e, de tdas as formas demediunidade parece mesmo que a mais generalizada era a vidncia.

    Samuel no captulo 9, versculo 9 assim o demonstra quando diz:Dantes, quando se ia consultar a Deus dizia-se vamos ao vidente; porque osque hoje se chamam profetas chamavam-se videntes.

    j de rigor citativo a consulta feita por Saul ao Esprito de Samuel, nagruta do Endor.

    As pragas que, segundo se narra, por intermdio de Moises, foram

    lanadas sbre o Egito; as maravilhas ocorridas com o povo hebreu no deserto,quando conduzido por sse grande Enviado, a saber; a labareda de fogo que

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    marchava frente dos retirantes; o man que os alimentava; as fontes que jorravam recebimento do Declogo, etc., tudo so afirmaes, do extraordinriopoder medinico do grande fundador da nao judaica.

    Que maior exemplo de fenmeno de incorporao que o revelado por Jeremias o profeta da paz quando tomado pelo Esprito, pregava contra a

    guerra aos exrcitos de Nabucodonosor! E que outro maior de vidncia notempo, que o demonstrado pr Joo escrevendo o Apocalipse!E como notvel de se observar que, nos remotos tempoS do Velho

    Testamento os fenmenos, em si mesmos, em quase nada diferiam, comodissemos, dos atualmente observados por ns!

    Basta citar os de transporte: Reis, captulo 6,versculo 6; os de levitao:Ezequiel, captulo 3, versculos 14 e 15, e Atos, captulo 8, versculos 39 e 40;os de escrita direta: xodo, captulo 32, versculos 15 e 16 e captulo 34,versculo 28.

    E to semelhantes eram as prticas antigas com as atuais que at mesmoa msica era empregada para a formao do ambiente. De fato vemos que oprofeta EliseU reclamava um tangedor (harpista) para profetizar: 2 Reis 3, 15 e muito vulgar a citao da passagem em que David acalma e afasta osEspritos obsessores de Saul, tangendo sua harpa.

    E a obscuridade era tambm, em muitos casos, exigida e Salomo, no atode consagrar o templo que edificara, declarou significativamente: O Senhor tem dito que habitaria nas trevas 2 epstola aos Corntios, captulo 6,versculo 1 (4).

    (4) Salmos 67 e 68 Isaias, captulo 32, versculos 3, 15 e 44 Ezequiel,captulo 11, versculos 19, 36 e 37 Joel, captulo 2, versculo 28.

    No Novo Testamento, desde antes do Nascimento ento, as provas soainda mais concludentes e notveis, maxim as de mediunidade curadora, odom das lnguas, as levitaes e os fenmenos luminosos.

    Maria de Nazar no viu o Esprito anunciador? Jesus no foi gerado cominterveno do Esprito Santo? E os milagres seus e dos apstolos?

    Voltando a citar Leon Denis, dle esta pergunta: os apstolos de Cristoforam escolhidos por serem sbios ou notveis ou porque possuiam qualidadesmedinicas ?

    Esses apstolos, como sabemos, e seus discpulos, durante o tempo deseus trabalhos, atuaram como verdadeiros mdiuns, bastando citar So Paulo

    e So Joo, um o mais dinmico e culto, outro o mais mstico.E justamente por exercerem francamente a mediunidade que sabiam deseus perigos, dos cuidados que sua prtica exigia e sbre isso constantementechamavam a ateno de seus discpulos (5).

    (5) Joo, captulo 14, versculos 16, 17 e 26 Atos, captulo 1, versculos2, 3, 5, 8, 9, 10, 11, 16. Captulo 2, versculos 4, 38 e 39. Captulo 4,versculo 31. Captulo 9, versculo 17. Captulo 10, versculo 44. Captulo11, versculo 15. Captulo 13, versculo 52. Captulo 19, versculo 6.Captulo 20, versculo 23 Romanos, Captulo 5, versculos 5, 15 e 19 Corntios 12.

    So Paulo dizia: Os espritos dos profetas esto sujeitos aos profetas; e

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    So Joo ajuntava: Carssimos, no creiais em todos os espritos mas provaique os espritos so de Deus. Advertiam, assim, contra a ao do espritosobsessores e mistificadores.

    Era to comum a mediunidade entre os primitivos cristos que instruesescritas eram enviadas s comunidades das diferentes cidades para regular a

    sua prtica; e essas instrues foram sendo, com o correr do tempo,enfeixadas em livros para melhor conservao.Hermas, que evangelizou no tempo de So Paulo adquirindo grande e justa

    autoridade, em seu livro O Pastor dizia: O esprito que vem da parte deDeus pacfico e humilde; afasta-se de tda a malcia e de todo vo desejodste mundo e paira acima de todos os homens. No responde a todos que ointerrogam nem s pessoas em particular porque o esprito que vem de Deusno fala ao homem quando o homem quer, mas quando Deus o permite.Quando, pois, um homem que tem o esprito de Deus, vem assemblia dosfiis, desde que se fz a prece, o esprito toma lugar nesse homem que fala naassemblia como Deus o quer. Reconhece-se ao contrrio o esprito terrestre,frvolo, sem sabedoria e sem fra, no que se agita, se levanta e toma oprimeiro lugar. importuno, tagarela e no profetiza sem remunerao. Umprofeta de Deus no procede assim.

    Estas instrues, dadas h sculos, como se v, continuam com plenaoportunidade ainda hoje, at mesmo no que se refere ganncia de alguns e vaidade de muitos.

    * * *

    Essas manifestaes de mediunidade pblica continuaram a se dar atquando foi possvel porque, medida que o cristianismo foi-se transformandoem religio oficial foi perdendo sua espiritualidade e ganhando carter mundano; e a partir do concilio de Nica, em 325, formaram-se duas correntesopostas, uma querendo permanecer no cristianismo primitivo e outra seesforando por progredir no mundo dos homens. A partir da a Igreja mais tardechamada catlica-romana, esquecendo, por seus continuadores, trs sculosde vida exemplar e repudiando os ensinamentos do Mestre no seu verdadeirosentido, consorciou-se com as fras do mal para obter, como obteve, odomnio do mundo pelo poder temporal.

    Essa igreja, tornada ento toda poderosa pela oficializao que lheoutorgou Constantino, declarou que a mediunidade era ilegal, hertica, obra de

    magia, obra demonaca e entrou, em consequncia, a mover-lhe sistemticaperseguio.Renegou todos os atos medinicos praticados por Jesus e seus discpulos

    que os farizeus do Sindrio, j a seu tempo, taxavam de prticas dodemnioe nisso foi coerente consigo mesma porque, tendo criado o seusistema fechado de dogmas obscurantistas e privilgios sacerdotais, verificouque o exerccio pblico da mediunidade viria derrur, solapar pela base oedifcio material que estava laboriosa e ardilosamente construindo para con-solidar seu poderio avassalador.

    Apesar dos testemunhos e dos protestos apresentados sincera ehonestamente por vrios de seus prprios luminares, como So Gregrio de

    Nissa, S. Clemente de Alexandria, So Thomaz de Aquino, Santo Agostinho eoutros, que admitiam e praticavam o mediunismo, no voltou atrs e durante

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    sculos procurou, como at hoje procura, freiar o pensamento e o esprito decompreenso dos fenmenos medinicos, perseverando nos propsitosiniciais.

    Criou assim uma poca muito extensa de obscurantismo, durante a qualtudo foi empregado para destruir a revelao divina: o dio, a vingana, a

    perseguio e a morte pelo ferro; pelo fogo, pelo veneno, pela espada.A Idade Mdia foi o perodo perfeito dessa verdadeira noite espiritual.Como consequncia dessa situao de terror oficializado, os crculos que

    cultivavam a espiritualidade pura foram se fechando, se restringindo,desaparecendo e a palavra da Verdade somente podia ser transmitida emsegrdo, de bca para ouvido, em sussurros dbeis, numa forma tal que,realmente, nunca mais pde ser derramada livremente em grande parte domundo.

    At mesmo nos rituais das igrejas encontrava-se esta orao de recitaoobrigatria: Afugentai, Senhor, todos os espritos malignos, todos osfantasmas e todos os espritos que batem.

    * * *

    Ora, com o evolver das coisas e como era natural, todos aqueles, deesprito no fanatizado e mais liberal, amantes do progresso, no encontrando,nesses cultos assim organizados, nada que lhes satisfizesse a razo e ossentimentos, descambaram para o materialismo e, obscuridade do fanatismosucedeu a da descrena.

    A cincia estava tomando p e tentando quebrar os jugos que aescravizaram at ento e o mundo precisava mesmo de uma renovao paracaminhar em melhores condies.

    Surgiram nessa poca as filosofias naturalistas, realistas, baseadas naRazo, a cuja frente se puseram os chamados enciclopedistas, que produziramuma verdadeira revoluo no pensamento; e solapado ento por essas novasconcepes teoristicas, o mundo entrou a sofrer abalos profundos que, embreve, degeneraram em tremenda convulso social precursora, como sempreacontece, de acelerado movimento evolutivo.

    Ao terror do fanatismo religioso sucedeu o da vingana popular desenfreada e, no cadinho daquela dura provao, os destinos do mundoentraram de novo a ser fundidos.

    E foi ento que os Espritos Diretores tiveram de intervir novamente para

    orientar o movimento e impedir que as paixes desencadeadas ultrapassassemos limites permitidos, prejudicando o progresso geral ou retardando-odemasiadamente.

    Entraram a agir de forma enrgica e positiva lanando em campo oselementos j de antemo preparados e dispostos nos setores maisconvenientes.

    Isso sucedeu no sculo findo, bem nos nossos dias e em diferentes lugaresao mesmo tempo mas, notadamente, na Amrica do Norte, onde fenmenosobjetivos e por si mesmos impressionantes se revelaram, chamando a atenodo mundo.

    verdade que ao tumulto causado pela exploso das massas

    o Positivismo viera trazer uma certa derivao, metodizando o pensamento eorientando o raciocnio no sentido da justia e da moral, mas, o que os Guias

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    queriam era focalizar o aspecto nitidamente espiritual da vida, sobrelevante domaterial ou especulativo para os quais, no momento, tdas as fras vivas dohomem se inclinavam.

    E isso les o conseguiram eficientemente porque o interesse despertadopor essas manifestaes do chamado sobrenatural, foi considervel; tdas as

    classes intelectuais se movimentaram e a sbios de indiscutvel autoridade foicometida a incumbncia de examinar o assunto luz da cinciacontempornea.

    E ento, para facilitar sse exame, os Espritos Diretores determinaram oaparecimento de mdiuns de ampla capacidade, com o que visavam tambmconcorrer para que tais trabalhos resultassem concludentes e categricos.

    sses mdiuns que eram, realmente, excepcionais, submeteram-se a tdaespcie de controle e os relatrios firmados por comisses cientficas daAmrica, Inglaterra, Frana, Itlia e Alemanha, foram acordes em reconhecer que a vida realmente continuava alm do tmulo e que era inegvel ointercmbio entre vivos e mortos.

    Essa foi a misso de Kardec o Codificador e dos notveis espritos deCrookes, Ochorowiez, Du Prel, Lombroso, Myers, Steed, Flamarion, LeonDenis, Aksakof, Notzing, seguidos logo de Lodge, Richet, Doyle, Geley,Bozzano e Delane, para citar somente os mais conhecidos.

    E assim, com o auxlio dsses sbios, foi posto freio ao materialismodominante, dada nova orientao ao pensamento religioso e a verdade que,at hoje, o impulso dado naquela poca vem crescendo de vulto e velocidadeproduzindo um triplo resultado: a derrota. do materialismo estril, a destruiodo fanatismo religioso medieval e a implantao dos fundamentos daverdadeira espiritualidade.

    O mundo desde ento evoluiu mais depressa, numa fermentao interior esilenciosa, cujos efeitos sentiremos em tempos muito prximos, no rematedste fim de sculo com o advento do terceiro milnio.

    Os cientistas e os mdiuns foram, inegvelmente, os artfices materiaisdessa grande vitria.

    4EVOLUO DA MEDIUNIDADE

    A sensibilidade evolui com o sr no terreno moral, que se completa durante

    a evoluo, com a conquista da sabedoria. medida que vai adquirindo virtudes no campo do sentimento vai tambmo esprito, atravs das vidas sucessivas, aumentando seu cabedal deconhecimentos sbre a vida, a criao, as fras e as leis que as regem.

    O conhecimento atual porm ainda restrito porque estamos, em relaoao Universo, muitos baixos na escala; o homem vai aprendendo muilentamente, usando da razo e dos sentidos fsicos, mas estaca sempre nasfronteiras do mundo hiper-fsico porque, para penetrar a, necessita deelementos de outro campo, nem sempre conciliveis com o intelecto utilitrio eobjetivador.

    As vidas sucessivas em diferentes planos, com permanncia mais ou

    menos demorada nos planos etreos, so-lhe de grande auxlio, mormentequando j tenha le sua conscincia espiritual despertada para essa

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    compreenso.Tda vez que morre encarnando, ou ressuscita desencarnando,

    descendo nas sombras da matria pesada, ou renascendo nas claridades daluz, o homem sempre realiza provas, adquire conhecimentos novos e progride,porque a vida no pra, movimento ascensional permanente, no campo da

    eternidade imvel.Para as experincias no terreno material bastam a inteligncia e ossentidos fsicos mas, para as do campo espiritual, necessita faculdades outras,mais elevadas e diferentes, colocadas acima da Razo e j pertencentes aomundo hiper-fsico.

    So as do campo medinico.Para conhecer as coisas do mundo visvel e descobrir os segredos da

    natureza material, Deus deu ao homem a vista corprea, os sentidos einstrumentos especiais. Assim, com o telescpio projeta seus olhares nasprofundezas dos espaos e com o microscpio descobriu o mundo dosinfinitamente pequenos.

    Para penetrar o mundo invisvel deu-lhe a mediunidade. Sua misso santa porque sua finalidade rasgar os horizontes da vida eterna (6).

    (6) Allan Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo.

    A sensibilidade individual, desenvolvida alm dos limites consideradoscomuns, resulta na faculdade de ver coisas que os outros no vm, ouvir o queno normalmente ouvido, sentir de modo anormal e produzir fenmenosconsiderados absurdos em face ds leis gerais de julgamento e anlise. preciso enfim que o indivduo seja considerado um desequilibrado, segundo omodo de entender dos leigos e dos pretensos sbios.

    Nos homens primitivos, que viviam ainda muito pelo instinto, asensibilidade no ia alm da epiderme e agia somente nos limites do ambienteprprio, para a mantena da vida: calor, frio, fome, terror, sexo...

    Depois passou o homem a compreender a natureza externa, naquilo emque ela influa diretamente na vida pessoal do sr.

    Em seguida avanou um pouco e descobriu as relaes existentes entreas coisas e os sres vivos e consequentes reaes.

    Sentiu o vento e no mais se atemorizou; viu a chuva e a abenoou;produziu o fogo e aqueceu-se nle. Aplicou-se mais e promoveu a ligao entreas greis, as comunidades e as raas, iniciando assim os primeiros passos no

    terreno da coletivizao; sentiu os reflexos e as consequncias da vida social eesboou ento os primeiros rudimentos das leis.Desenvolveu-se ainda e compreendeu a expresso simblica da Natureza,

    como demonstrao visual do divino poder, esboando assim seus primeirosgestos nos domnios da arte e da beleza.

    De esforo em esfro, passo a passo, avanando por milmetros, assimvem sendo at hoje quando, j evoludo a um grau mais avanado,inquietando-se com o sofrimento alheio, organizando a vida social em padresmais justos e legislando com maior expresso fraternal, vai agora francamentea caminho de um mundo renovado, em bases aproximadoras do idealevanglico.

    E tende a prosseguir Num grau acima o sensitivo, j como um homem renovado, penetrar nos

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    mundos alm-matria, surpreendendo seus aspectos, movimentos e habitantese, mais alto ainda, devassar os mundos espirituais completamente vedadosaos olhos e compreenso humana atuais, rematando enfim sua visosuperior na contemplao do Cosmo, sentindo sua pulsao, sua beleza, suagrandiosidade e sua admirvel unidade eterna.

    * * *

    O desenvolvimento das faculdades do esprito tende pois revelao dascoisas divinas, em todos os seus aspectos e graus e exemplificao de suasleis na vida comum.

    Hoje os Guias lanam mo de faculdades de emprstimo para algumasdessas revelaes e para demonstrao de fenmenos ainda consideradossobrenaturais mas, futuramente a humanidade, devidamente evoluda, far ohomem instrumento pleno e consciente das realidades espirituais aplicadas vida coletiva.

    So mdiuns todos os profetas, instrutores de Verdades e tambm o sotodos aqueles que as vivem, porque por seu intermdio que tais verdadescaminham, tomam corpo e se realizam.

    A mediunidade, pois, no um fenmeno individual, restrito ao homem,privilgio de uns e outros, mas um fato universal, comum a tda criao divina,no sentido de que as partes dessa criao se manifestam umas s outras ereciprocamente se revelam a sntese divina que representam e a essnciauniversal que nelas se contem.

    Assim como os sres se manifestam uns aos outros, Deus se manifestaaos homens por meio de sua Criao, e disso se conclui que tdas as coisas esres so fenmenos de intermediarismo.

    O esprito criado, posto frente desse simbolismo natural, executatambm, penetrando nle com a sua inteligncia, ou pela revelao, umfenmeno medinico: o reconhecimento do Criador presente e expresso emsua criao.

    A mediunidade pois um fenmeno natural e se realiza em todos os grausda hierarquia da criao, numa escala que vai do verme aos anjos, tudo etodos reciprocamente se manifestando e dando testemunho de si mesmos.Assim, Jesus Cristo foi, inegvelmente, o mdium de Deus junto aos homens,manifestando, transmitindo e realizando suas vontades divinas.

    Para rematar diremos que, como tudo o mais, a mediunidade evolui. Seus

    aspectos podem ser aparentemente os mesmos, porque neste mundo dematria pesada as relaes com os planos espirituais seguem determinadospadres invariveis; os processos no mudam muito, porm as faculdades sedilatam e atingem cada vez horizontes e extenses mais amplos.

    A mediunidade natural, sendo um sinal de desdobramento ou apurao desensibilidade, d ao indivduo mais amplo conhecimento do mundo material emque vive e ao mesmo tempo lhe proporciona conhecimentos mais ou menosdilatados dos planos de vida situados em outros mundos.

    Em qualquer ponto, portanto, do Universo em que esteja o indivduo, ela seexerce com as mesmas caractersticas e consequncias sendo, pois, comodissemos, um fenmeno de constatao e aplicao universais.

    Quanto maior o grau, o ndice dessa sensibilidade tanto maior a intuio e,consequentemente, tanto maior o campo que o indivduo abrange na

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    percepo dos fenmenos e dos aspectos da vida csmica.A natureza um maravilhoso e amplo campo de manifestaes

    fenomnicas ainda muito pouco penetrado pelo nosso rudimentar conhecimento.

    Um exemplo tpico dessa mediunidade natural pode ser encontrado na

    pessoa do mdium Pietro Ubaldi, por cujo intermdio recebemos A GrandeSntese.Ele assim explica como adquiriu suas faculdades, no prembulo de As

    Trs Mensagens:- Devo esta comunicao a uma mediunidade, cujo surto se produziu aps

    longa maturao, conseguida a poder de estudos, de renncia material e dedesenvolvimento moral. Observei que o progredir para a perfeio moralrepresenta condio necessria ao desenvolvimento dste gnero demediunidade, exclusivamente espiritual.

    Ele diz mediunidade exdusivamente espiritual para explicar que suasfaculdades no so semelhantes quelas que muitos adeptos da doutrinaesprita classificam como fenmeno orgnico, coisa pertencente ao corpofsico, e essa distino que faz corrobora nitidamente e plenamente justifica omodo por que encaramos a mediunidade em sentido geral, separando amediunidade conquista da mediunidade-prova.

    E Ubaldi acrescenta:Tornei-me mdium imprevistamente h 19 anos, quando com-pletei 45. A

    preparao cultural que me levou a isso foi, at aos 45 anos, uma vida desofrimentos tremendos, suportados no isolamento e no silncio, desprezadopor todos. A dor o maior livro da vida, aquele que nos revela a verdadeiracincia, porque atravs dela se chega a ouvir a voz de Deus.

    Inexperiente nestes assuntos, prossegue le, de princpio classifiquei stemeu novo estado, de mediunidade. Mas depressa reparei que nunca caa emtranse e que no era instrumento passivo e inconsciente. Classifiquei-o entocomo mediunidade ativa e consciente, depois ultrafania isto : captao dascorrentes do pensamento (Nouri) e, por fim, inspirao. O meu fenmeno no inato mas sim maturao biolgica, como o desenvolver da criana que setorna homem.

    Assim o meu primitivo estado, chamado medinico, transformou-se numestado de inspirao que se assemelha ao misticismo dos seres para quemtudo isso apenas um meio de cumprirem a sua misso para o bem nestemundo.

    E acrescenta: Por certo que esta no a mediunidade fsica quedespreso, porque o meu alvo a ascenso moral at ao fim da vida e namediunidade fsica em geral no se manifestam os santos, mas sim osespritos inferiores. A fonte inspirativa e o mtodo de inspirao so a origemdas minhas obras.

    * * *

    H individuos que vivem aqui na Terra vendo da matria s-mente osaspectos mais objetivos e grosseiros e no tm percepo alguma de suatransitoriedade. Para les o mundo material definitivo e estvel e por isso se

    vinculam fortemente a le, fazem parte integrante dle e nada compreendemou sentem fora ou alm dle.

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    Para tais indivduos uma laranja unicamente uma fruta que se come, eum vaso com lindas rosas nada mais que um simples ornamento.

    O sentimento somente os interessa na parte que corresponde s suasprprias paixes ou comodidades e no se preocupam em conhecer-lhe asorigens ou causas espirituais.

    Mas h outros, j mais evoluidos, para os quais a sensibilidade se estendee amplia, permitindo compreender, sentir e penetrar mais fundo nas coisas queos rodeiam, descobrindo-lhes a beleza, o sentido moral, a significaoespiritual.

    E outros, ainda mais sensveis, que devassam esferas alm do mundoambiente, penetram seus detalhes, surpreendem seus aspectos e sentem apresena da divindade em tda a criao.

    Se para uns a sensibilidade se resume em ouvir o zumbido imperceptvelde um inseto, para outro vai ao ponto de perceber, como se costuma dizer, asinfonia das esferas.

    Sempre e sempre uma questo de grau na capacidade de percepontima, que deriva de maior ou menor adiantamento espiritual.

    Por isso as escolas do mundo antigo, em seus cursos iniciticos, tentavamsempre o despertamento e o desenvolvimento de faculdades psquicas paraque, por meio delas, fsse adquirido um conhecimento mais exato do universocriado e da prpria alma humana, nas suas ligaes entre si e com a divindade.

    Formavam mdiuns, mesmo que tal coisa no pretendessem como ns oentendemos hoje, e sempre e somente com auxlio de faculdades medinicas que conseguiam obter efeitos concretos no campo das realizaes prticas.

    Para isso submetiam o nefito a um aprendizado custoso e a um regimeduro de sacrifcios e renncias, para purificar o esprito e lesprend-lo dascoisas do mundo; sabiam que para apurar a sensibilidade~ era necessrioabater ou, pelo menos, disciplinar as paixes animais, governadas pelo instinto.

    Mas, com o transcorrer do tempo, o sistema clssico das iniciaes foisendo posto de lado, porque os resultados eram sempre precrios; rarosaqueles que conseguiam atingir os objetivos visados e, como consequncianatural, o conhecimento passou a ser em sua maior parte intelectual e terico,sem nenhuma realizao aproveitavel no terreno prtico.

    claro que os que possuem hoje sensibilidade j evoluda colhem o queplantaram em vidas anteriores, recebem o resultado, das experincias que jrealizaram, das provas que suportaram, e seu nmero restrito. So sses osque sem a coaco da dor adotam mais depressa e sem discusso ou

    vacilaes os ensinamentos da Terceira Revelao porque j tm, para asverdades que ela prega, mais ou menos acentuada afinidade espiritual.Mas, como estamos vendo, a grande maioria dos homens, que no tiveram

    ainda sua ateno despertada para essas verdades, as nicas capazes dereform-los moralmente, permanece a margem da extensa renovao espiritualque se est processando no planeta.

    So ainda fortemente animalizados e para les a vida se resume nasatisfao das. paixes do instinto. A meta, para les, ainda no est visvel.De quase nada lhes valem os esforos, sacrifcios e dedicao doscompanheiros encarnados e desencarnados que se inquietam com sua posiode inferioridade evolutiva, porque se fazem surdos, cegos e impermeveis a

    todo esfro de esclarecimento.Representam um elemento de estagnao, de parada, de retardamento

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    para a evoluo da espcie. O Umbral e as Trevas so ainda suas moradiasnaturais.

    Para les os aoites da Providncia esto sempre vibrando e vibraro atque sejam atingidos os limites da prpria obstinao e, esgotados ento todosos recursos da tolerncia divina, restar o remdio herico da rejeio para

    mundos inferiores onde a vida do Esprito exilado deve ser horrorosamenteedificante.E esse trabalho j est sendo feito.

    5MEDIUNIDADE DE PROVA SEUS ASPECTOS

    J sabemos que a mediunidade problema complexo no que se refere ssuas manifestaes e natureza podendo, por isso, ser encarada sob vriospontos de vista.Quanto sua razo de ser, todavia, afeta somente dois aspectos que sofundamentais e originalmente opostos, a saber: ou faculdade prpria doesprito, conquista sua, quando j adquiriu possibilidades maiores, quandoatingiu graus mais elevados na escala evolutiva, ou capacidade transitria, deemergncia, obtida por graa, com auxlio da qual o Esprito pode apressar suamarcha e redimir-se.

    No primeiro caso, o Esprito, j convenientemente evoludo, senhor deuma sensibilidade apurada que lhe permite vibrar normalmente em planossuperiores, sendo a faculdade puramente espiritual.

    No segundo caso foi fornecida ao mdium uma condio psicosomticaespecial, no hereditria, que lhe permite servir de instrumento aos Espritosdesencarnados para suas manifestaes, bem como demonstrar outrasmodalidades da vida espiritual.

    Conquanto os efeitos sejam, nos dois casos, mais ou menos semelhantes,diferentes so todavia as causas e os valores qualitativos das faculdades.

    Como a maioria dos mdiuns pertence a esta segunda categoria, vamosem seguida nos deter mais demoradamente em seu estudo.

    Em sua trajetria evolutiva o Esprito, como dissemos, se purifica, seaperfeioa, aumenta sua sensibilidade e adquire cada vez maiores, mais altase mais amplas faculdades psquicas.

    Essa a lei natural.

    Porm estamos cansados de ver indivduos moralmente retardados, desentimentos imperfeitos, que possuem faculdades medinicas das maisdiversas naturezas.

    Se a posse de faculdades decorre de elevao espiritual, como podem taisindivduos possu-las enquanto outros, evidentemente mais adiantados, no aspossuem?

    Que sucede nestes casos?Alteraes dessa lei geral? Anomalias? Previlgios?Nada disso. Somente ocorrncia de uma forma de mediunidade que

    chamarei, como j disse, DE PROVA isto , posse de faculdades noprpriamente conquistadas pelo possuidor, fruto de sua superioridade

    espiritual, mas ddiva de Deus, outorga feita a uns e outros em certascircunstncias e ocasies para que, no seu gzo e uso, tenham oportunidade

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    de resgatar dvidas, sair de um ponto morto, de um perodo de estagnao, deum letargo ruinoso, despertando assim para um novo esfro redentor.

    Recebendo essa prova da misericrdia de Deus, concedida quase semprepela intercesso de Espritos amigos interessados no seu progresso ou apedido prprio (7),

    (7) A reencarnao, para a maioria dos Espritos inferiores, padronizada ecompulsria, porm para mdiuns e Espritos mais esclarecidos cada caso estudado e providenciado individualmente, com assistncia do interessado.

    de duas uma; ou o beneficiado cumpre eficientemente a tarefa retificadora e,neste caso, sobe um degrau na trajetria espiritual, ou fracassa e ento sofreas consequncias naturais de sua obstinao ou fraqueza.

    Em seu livro Nos Domnios da Mediunidade Andr Luiz tambm confirmaintegralmente o trmo mediunidade de prova proposto por ns desde 1945quando diz pgina 76:

    Ningum pode avanar livremente para o amanh sem solver oscompromissos de ontem. Por sses motivos Pedro traz consigo aflitivamediunidade de provao.

    E mais adeante: Mdiuns repontam em tda parte, entretanto raros j sedesvencilharam do passado sombrio para servir no presente causa comumda humanidade, sem os enigmas do caminho que lhes particular.

    Essas consequncias so tdas de ordem moral e representam sempre umretardamento na marcha ascencional do Esprito que dever ento tentar denovo e agora em condies mais desfavorveis e custosas.

    A posse dessas faculdades de prova dada a muitos Espritos emdeterminadas pocas, entre outras quando, por exemplo, os Guias do Mundonecessitam promover no seio da humanidade determinados efeitos,movimentos de compreenso mais enrgicos, impeli-la mais decisivamentepara novos rumos ou chamar a ateno para determinados aspectos da vidaespiritual, necessrios regularidade da marcha evolutiva.

    Ento legies de Espritos recebem essa possibilidade, essa chance ereencarnam na posse de faculdades que por si mesmos no conquistaram,faculdades de emprstimos, se podemos assim dizer, e que devem devolver naforma de bom trabalho realizado e de aproveitamento prprio.

    Produz-se assim uma generalizao, um derrame de dons medinicos quefortemente atuam sbre os Espritos endurecidos ou incrdulos, fomentando no

    meio social coletivo modificaes irresistveis do ponto de vista moral oureligioso.E sse acontecimento plenamente justificvel e apropriado porque as

    massas humanas, desviadas quase sempre das coisas divinas, somente por efeito do chamado sobrenatural se detm, meditam e se reformam.

    * * *

    Basta alis se olhar para a histria da vida humana para compreender isso.Tda vez que preciso chocar a opinio, interessar os homens nas prticasreligiosas, modificar-lhes os sentimentos e impulsion-los para a

    espiritualidade, vive-se uma poca de milagres. Assim foi, mesmo norecuando muito no tempo, quando se tornou necessrio estabelecer na Terra

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    uma religio tipicamente monoteista: O homem dos milagres foi Moiss.Dezesseis sculos depois, quando novo impulso dever ser dado e

    plantados mais fundamente os alicerces da verdade eterna, nova poca surgiucom o prprio Mestre e seus discpulos. E agora quase vinte sculos depois,

    para oferecer aos homens maiores detalhes e conhecimentos mais objetivos davida espiritual superior, repetem-se os mesmos fatos com o Espiritismo, e osmilagres se desdobram surpreendentemente, com tendncia ainda a setornarem mais generalizados.

    E aqui convm relembrar que todos os chamados milagres so fenmenosprovocados atravs de dons medinicos.

    Por isso, j que so poucos os homens que possuem faculdades prprias,os Guias do Mundo lanam mo dos mdiuns de prova, isto , de faculdadesde emprstimo, para promoverem os fenmenos desejados e obterem osresultados necessrios; e, no momento que vivemos, o que se visa obter, comosabemos preparar o maior nmero possvel de Espritos encarnados para oadvento de um mundo renovado que est bem prximo.

    Feito o aplo nas esferas da erraticidade e exposta a situao muitos, desua prpria vontade e outros, como j dissemos, por intercesso de amigosespirituais, obtm a merc de cooperao nesse trabalho sagrado e legies,ento, baixam ao planeta dispostas ao esfro redentor; e por isso consta queas manifestaes, hoje, como nos dias da Codificao, so mais ou menosuniformes e sistemticas, obedecendo a um plano determinado.

    Eis aqui o que, a respeito desta forma de mediunidade, diz o iluminadoEsprito, Emanuel (8):

    (8) Psicografia de Francisco Cndido Xavier.

    Os mdiuns, em sua generalidade, no so missionrios, na acepocomum do trmo: so almas que fracassaram desastradamente, quecontrariaram sobremaneira o curso das leis divinas e que resgatam, sob o psode severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro edelituoso, O seu pretrito, muitas vzes se encontra enodoado de gravesdeslizes e de erros clamorosos. Quase sempre so Espritos que tombaramdos cumes sociais pelo abuso do poder, da autoridade, da fortuna e da inteli-gncia e que regressam ao orbe terrqueo para se sacrificarem em favor dogrande nmero de almas que desviaram das sendas luminosas da f, da

    caridade e da virtude. So almas arrependidas, que procuram arrebanhar tdasas felicidades que perderam reorganizando, com sacrifcis, tudo quantoesfacelaram nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de condenvelinsnia.

    E em outro ponto: Mdiuns, ponderai as vossas obrigaes sagradas.Preferi viver na maior das provaes a cairdes na estrada larga das

    tentaes que vos atacam, insistentemente, em vossos pontos vulnerveis.Recordai-vos de que preciso vencer se no quiserdes soterrar a vossa

    alma na escurido dos sculos de dor expiatria.Aquele que se apresentar no espao como vencedor de si mesmo maior

    que qualquer dos generais terrenos, exmios na estratgia e no tino militares.O homem que se vence faz o seu corpo espiritual apto a ingressar em

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    outras esferas e, enquanto no colaborardes pela obteno do organismoetreo, atravs das virtudes e do dever cumpridos, no saireis do crculodoloroso das reencarnaes.

    Andr Luiz, em Missionrios da Luz, 3 Captulo, transcrevendo asexplicaes do instrutor Alexandre, sbre os mdiuns, diz o seguinte:

    verdade que sonham edificar maravilhosos castelos sem base; alcanar imensas descobertas exteriores sem estudarem a si prprios; masgradativamente, compreendero que mediunidade elevada ou percepoedificante no constituem atividades mecnicas da personalidade e simconquistas do esprito, para cuja consecuo no se pode prescindir dasiniciaes dolorosas, dos trabalhos necessrios, com a auto-educaosistemtica e perseverante.

    Com estas duas transcries fica bem patente o acrto e a realidade dadiviso que fizemos em 1945 da mediunidade em DE PROVA e NATURAL,uma concedida como ferramenta de trabalho comum e outra como conquistado esprito de evoluo mais avanada.

    VALORES MEDINICOS

    O valor medinico e sua natureza, residem no grau ou na qualidade dasensibilidade orgnica possuda pelo mdium, no tom, vamos dizer assim, emque a harpa humana foi afinada.

    A Terra um mundo inferior e os Espritos que aqui vm, forosamentecomparticipam dessa inferioridade, salvo raras excees.

    E os mdiuns no se excluem dessa regra geral mas, muito ao contrrio,do-lhe maior evidncia.

    A mediunidade da maioria, portanto, sendo uma marca de inferioridade, deretardamento, de imperfeio, indica que sses mdiuns possuem tonalidadebaixa, vibrao lenta, luz vaga e imprecisa, sensibilidade grosseira, somentepodendo afinar-se com elementos de igual espcie e condies, isto , comfras e entidades de planos inferiores.

    Decorrentemente, o intercmbio que por les se estabelece com oinvisvel de valor espiritual inferior ou, na melhor das hipteses, mediocre.Por isso que os mdiuns de alto valor so raros.

    Se dividirmos os mdiuns em trs categorias, correspondentes a trsvalores qualitativos veremos logo que os da primeira categoria bons soraros; os da segunda mdios, so comuns; e os da terceira maus so

    maioria. claro que no estamos subestimando ou desmerecendo aos mdiunspessoalmente mas, simplesmente, classificando-os segundo seus valoresmedinicos; todos nos merecem o maior respeito e suscitam em ns, pelaprpria natureza edificante de suas tarefas, os melhores sentimentos de afeto esolidariedade.

    Essa condio generalizada de inferioridade espiritual tambma razo por que a mediunidade de prova traz consigo sse cortejodoloroso de perturbaes fsicas e psquicas que lhes transformaa vida muitas vzes, em longo e sagrado martrio.

    ainda a razo por que a faculdade no , na maioria dos casos, estvel,

    permanente, segura, mas flutuante, incerta e alternativa, sofrendo altos ebaixos, acusando perodos de estagnao ou recrudescimentos mais ou menos

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    prolongados.E nem podia deixar de ser assim porque esta mediunidade de prova em si

    mesma, como j vimos, posse transitria, outorgada ao Esprito culposo por tempo determinado e para determinado fim.

    E, como natural, os prprios protetores individuais dsses mdiuns,

    possuem qualidades correspondentes, esto mais ou menos em igualdade decondies, muito embora no desempenho de tarefas teis e na posse, como lgico, de um certo adiantamento ou superioridade espiritual sbre aqueles queprotegem ou auxiliam; como cooperadores de entidades mais elevadas, quedirigem agrupamentos e servios mais amplos e importantes, cumprem lesassim tambm seu dever e obtm por sse modo oportunidade de, a seu turno,melhorarem e evoluirem.

    6CONTROLE DA MEDIUNIDADE

    Conquanto se possa, dentro de limites razoveis, exercer contrle sbre osmdiuns, desde o incio do desenvolvimento, orientando-os moralmente,esclarecendo-os sbre a maneira mais perfeita de exercerem as faculdadesque possuam, ou, noutro sentido, impedindo ou reduzindo ao mnimo aspossibilidades de mistificao, de quedas e fracassos, j o mesmo no sucedeem relao s faculdades em si mesmas, porque seu domnio nos escapa.

    No h processo algum que se possa empregar, de forma sistemtica e aoalcance de todos, que realmente inspire confiana e represente segurana paraenfrentar os mltiplos e complexos aspectos que a mediunidadeconstantemente nos apresenta na prtica.

    Apesar do avano extraordinrio da cincia e porque este avano aindano se deslocou do terreno material, o intercmbio entre os mundos fsicos ehiperfsicos continua a depender inteiramente da faculdade medinica e, se oEspiritismo, com a Terceira Revelao, levantou grande parte do velriomisterioso que a sse intercmbio se opunha, criando um corpo de doutrinaperfeito e francamente acessvel, nem por isso conseguiu estabelecer condies positivas dsse contrle.

    Quero dizer que, tericamente, tudo compreensvel, aceitvel, perfeitomas, quanto prtica, quanto execuo, no h ainda elementos seguros eao alcance de todos que permitam um procedimento comum, sistematizado,

    standard.Nunca se pode saber com exatido, qual o caminho a seguir, em partindode um ponto dado, para atingir outro ponto determinado, com segurana euniformidade. H sempre imprevistos, retardamentos ou aceleraes, desviosou flutuaes de tda sorte.

    Por mais aprofundados que sejam os estudos ou a observao dedeterminado problema, surge um momento em que le nos escapa, foge-nosdas mos, sofre interferncias, remonta a planos onde no podemos ter acesso.

    Se apurarmos o contrle em trno ao mdium, muitas vzes sucede que asoluo passa a depender do Esprito ou Espiritos manifestantes e, se

    tentamos controlar a stes, fica-nos o problema ainda mais difcil por impossibilidades que decorrem da diferena de planos ou por carncia de

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    elementos objetivos de observao.E isso sempre sucede de maneira a no podermos afirmar nem negar, por

    falta de dados positivos, do que resulta ficarmos sempre com o nosso julgamento em suspenso.

    E aqueles que, por se julgarem mais argutos ou mais ousados, formularem

    julgamentos radicais tero o desprazer de verificar, mais hoje mais amanh,que foram precipitados e cometeram erro.No estamos, claro, nos referindo aos fenmenos, s manifestaes

    dos Espritos, sbre os quais estamos seguros, podendo mesmo classific-lossegundo seus aspectos, mas sim mediunidade em si mesma e s suasmanifestaes atravs os mdiuns.

    No se venha tambm, do que fica dito, concluir falsamente que o Espiritismo um terreno movedio, instvel, desorientador o que todos sabem que no mas admitir, isto sim e prudentemente que, quanto mediunidade, nsconstatamos sua existncia e utilizamo-la sem contudo possuirmos em mosas rdeas que a dirigem.

    7SENSIBILIDADE INDIVIDUAL

    J falamos da sensibilidade de um modo geral e agora vamos estud-lamais particularizadamente e de um ponto de vista mais cientfico.

    Existem o mundo fsico e o mundo hiperfsico, e as diferenas entre asdiversas manifestaes de Matria, Energia e Esprito, resultam de ordensvariveis de vibraes.

    No universo tudo vibra e se transforma ora involuindo: Esprito paraEnergia Energia para Matria; ora evoluindo: Matria para Energia Energia para Esprito. E nessa perene tansformao os mundos se entrelaamharmoniosamente, formando um todo uno e indivisvel.

    Voltando ao fsico e ao hiperfsico, quando as vibraes entre os doismundos se equilibram, se sintonizam, ligaes ntimas se estabelecem, emmaior ou menor ressonncia. E essa sintonia, quando se verifica entrehabitantes dsses mundos, permite, como natural, intercmbio entre essasentidades.

    Pois, a faculdade de oferecer tal sintonizao que constitui o quechamamos mediunidade. E todos ns possuimos essa faculdade em maior ou

    menor grau, porque viemos da mesma origem, temos a mesma constituio ecaminhamos para o mesmo fim. Todos ns oferecemos essa possibilidade, quetanto mais ampla e perfeita se torna quanto mais alto subimos e disso seconclui, portanto, que a faculdade medinica espiritual e no material.

    verdade que o que se julga coisa diferente, sendo, para muitos, pontoassente que a mediunidade fenmeno orgnico. Mas acreditamos que issoseja resultado de haverem encarado o problema somente do ponto de vistaobjetivo e no sob o transcendente.

    Andr Luiz que reputamos grande autoridade sbre realidades da vidaespiritual afirma o seguinte: mediunidade no disposio da carnetransitria e sim expresso do esprito imortal.

    Admitindo-se, porm, que a sede dessas faculdades no est situada nocorpo fsico mas, sim, no corpo etreo (9),

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    como um feto no ventre, que se est formando, ou como uma sementevegetal que, dia a dia, aumenta de fra e se transmuda at o momento emque, em plena ecloso expansiva, rompe as ltimas resistncias do solo e setransforma em rvore.

    E assim cmo no podemos interferir no processo gentico animal ou

    vegetal, tampouco o podemos no da faculdade medinica cabendo-nossomente o cuidado de adubar o solo e oferecer planta condies favorveisde vida e crescimento.

    A sensibilidade pois o prenncio da mediunidade e todos os indivduosque a apresentam devem ir se aproximando do campo da vida espiritual,fornecendo ao seu prprio esprito o alimento sazonado e puro de que lecarece para desenvolver-se, fortificar-se e tornar-se digno do grandiosotrabalho que o espera na seara da espiritualidade.

    8DIVISO DA MEDIUNIDADE

    Segundo o que conseguimos compreender at hoje, e, para maior facilidade do estudo que estamos empreendendo, dividimos a mediunidade daseguinte forma:

    quanto natureza em natural e de prova. quanto ao fenmeno: em lucidez incorporao e efeitos fsicos. quanto ao mdium em: consciente semi-consciente e inconsciente.Na lucidez incluimos a telepatia, vidncia, psicometria, a audio e a

    intuio.Na incorporao que pode ser total ou parcial incluimos as

    manifestaes orais e escritas, bem como o sonambulismo.Nos efeitos fsicos finalmente, incluimos tda a extensa e impressionantes

    sries de fenmenos assim denominados, inclusive as curas.Esta diviso puramente pessoal, nada ortodoxa, mas, como dissemos,

    facilita o estudo sendo, alm disso, simples e assente na prtica. Vide Sinopseno fim do livro.

    9A LUCIDEZ

    Richet definiu lucidez como sendo: o conhecimento pelo individuo A deum fenmeno qualquer, no perceptvel ou cognoscvel pelos sentidos normais,fora de qualquer transmisso mental consciente ou inconsciente.

    Com esta definio puramente cientfica quis o eminente investigador dizer que se trata de uma faculdade espontnea, no ligada aos sentidos fsicos eno dependente de efeitos telepticos,faculdade do prprio indivduo, independente de interferncias externas e quese manifesta por si mesma. Em uma palavra: a intuio.

    Mas como incluimos tambm a vidncia e a audio nos quadros dalucidez, no podemos, em que pese o respeito que nos merece o criador da

    metapsquica, aceitar in-totum essa definio.E isso nos obriga, por nossa vez, mesmo sem possuirmos a autoridade

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    cientfica do insigne mestre, a definir a faculdade, o que fazemos para nossouso da seguinte forma: lucidez a faculdade mediante a qual os mdiunspodem ver, ouvir e conhecer alm dos sentidos comuns e dos limitesvibratrios da luz e do som, naturais ao mundo fsico.

    No vem nem ouvem, claro, com os sentidos fsicos mas com outros

    mais elevados, abertos no plano hiperfsico onde sses sentidos, por outrolado, no se localizam em rgos, pois sabemos que se ouve e que se v por todo o perisprito; e no percebem ou aquilatam com a Razo mas por meio deum sentido interno, de grande poder e amplitude, ainda pouco desenvolvido nohomem atual.

    Isso no se pode materialmente explicar porque est ligado aoconhecimento quadrimensional, que ainda nos escapa neste plano, mastentaremos esclarecer por partes alguns aspectos mais acessveis doproblema.

    sabido que o lho fsico, como o ouvido fsico, somente alcanamdeterminados limites de luz e de som e que sses limites no so iguais paratodos, isto : h pessoas que vem e ouvem mais que outras.

    No se trata de nada orgnico, constitucional, mas de maior capacidade depercepo, de sensibilidade, de susceptibilidade espiritual.

    Vivemos dentro de um verdadeiro mundo de vibraes diferentes, dasquais a maioria de ns somente percebe, ou melhor, responde, a umapequenssima parte.

    Se se antepuser um prisma de bisulfito de carbono aos raios solaresobteremos, sobre uma superfcie neutra, uma projeo luminosa de coresdiversas e bsicas, denominada espectro solar.

    Determinadas pessoas fixaro os limites dessa projeo em dado ponto eoutras os marcaro em pontos mais amplos; uns vero o violeta atingir pontosmais afastados, outros menos, e igual circunstncia ocorrer com o vermelho.Em suma todos demonstraro percepo diferente.

    Aquele, porm, que determinar limites mais amplos nos dois extremos docampo da projeo, esse ter forosamente maior poder de viso.

    Quanto audio d-se o mesmo: produzindo-se um som excessivamentegrave ou excessivamente agudo em local onde estejam varias pessoas,algumas o percebero outras no. Aquele que puder ouvir o som plenamente econseguir identific-lo na escala, esse ter maior poder auditivo.

    E haver um ponto ou um momento em que as vibraes dos dois mundos,cada uma na sua espcie, se equilibraro, se sintonizaro, o mais alto do

    mundo fsico fundindo-se ao mais baixo do mundo hiperfsico.Ora, o mdium de lucidez aquele que possui a capacidade (viso,audio ou intuio) levada a esse ponto de equilbrio, de sintonia, que ocoloca entre os dois mundos, sendo-lhe ambos acessveis.

    E antes de entrarmos na anlise mais detalhada dessa mediunidade delucidez devemos declarar que na vidncia e na audio o mdium age tanto emestado consciente, como semi-consciente, como inconsciente.

    No que respeita intuio, finalmente, trataremos do assunto um poucomais para diante.

    TELEPATIA

    Faculdade mediante a qual o mdium recebe impresses mentais idias

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    e pensamentos provindos de um emissor encarnado ou desencarnado.Estas impresses permanecem no campo da atividade perispiritual. VideEncorporao-Forma Consciente.

    Tambm chamada clarividencia,Usando do mesmo sistema de outros autores, dividimo-la em

    Vidncia ambiente ou local.Vidncia no espao.Vidncia no tempo.

    VIDNCIA

    Tambm chamada clarividencia, a viso hiperfsica.Usando do mesmo sistema de simplificao e acompanhando outros

    autores, dividimo-la emVidncia ambiente ou local.Vidncia no espao.Vidncia no tempo.

    VIDNCIA AMBIENTE OU LOCAL

    aquela que se opera no ambiente em que se encontra o mdium,atingindo fatos que ali mesmo se desenrolam e pode ser considerada comosendo a faculdade em seus primeiros estgios.

    O mdium pode ver Espritos presentes, cores, luzes, formas. Pode ver tambm sinais, quadros e smbolos projetados mentalmente pelos instrutoresinvisveis, ou qualquer Esprito, no seu campo de viso. (11)

    (11) Quase sempre esses quadros e smbolos so formados com auxliodos fludos pesados fornecidos pelos mdiuns e assistentes.

    Quando o fenmeno ganha, com o desenvolvimento, maior nitidez, poderler palavras ou frases inteiras, tambm projetadas, no momento, pelos Espritoscomunicantes.

    Nestes casos nem sempre os simbolos, sinais e letras so claros,apropriados ou significativos, sendo mesmo s vezes bem inexpressivos, vistoque dependem da capacidade imaginativa, da inteligncia ou do poder mentaldo Esprito comunicante.

    VIDNCIA NO ESPAO

    aquela em que o mdium v cenas, quadros, sinais ou simbolos, empontos distantes do local do trabalho.

    Esta viso obtida, comumente, por dois modos:1) pela formao do tubo astral, que um processo de polarizao de um

    nmero de linhas paralelas de tomos astrais, que vo do observador cenaque deve ser vista.

    Todos os tomos sobre os quais se age ficam, enquanto dura a operao,com seus eixos rigidamente paralelos uns aos outros, de sorte a formar uma

    espcie de tubo por onde o vidente olha.Esta explicao de Leadbeater e aceitamo-la na ntegra, somente

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    acrescentando que as imagens assim obtidas so de tamanho reduzido, pormperfeitamente ntidas.

    Esta maneira porm no a nica, nem mesmo a mais comum, do pontode vista esprita, pois sucede que, na maioria das vezes, a ligao entre o localda cena distante e aqule no qual se encontra o mdium, feita pelos prprios

    instrutores invisveis que, na matria astral, estabelecem uma linha departculas fludicas formando um fio transmissor de vibraes de extremo aextremo, por meio do qual a vidncia ento se exerce.

    2) pelo desdobramento, mediante o qual, o Esprito do mdium,abandonando momentaneamente seu corpo fsico ou melhor dizendo,exteriorizando-se, levado ao local da cena a observar, ento diretamente,sendo que, neste caso, a viso muito mais ntida e completa.

    Quando o mdium no tem ainda desenvolvida a capacidade dedesdobramento, os prprios instrutores o mergulham em sono sonamblico enesse estado o transportam aos lugares desejados; nestes casos o vidente ounarra a cena vista somente aps o regresso e o despertar no corpo fsico ou avai narrando durante o prprio sono sonamblico, medida que a observa.

    VIDNCIA NO TEMPO

    aquela em que o vidente v cenas representando fatos a ocorrer ou jocorridos em outros tempos.

    Opera ento em pleno domnio quadrimensional. Ele est no Tempo, que a sucesso interminvel dos eventos. Abrem-se a para ele as regies aindapouco determinadas em que existem os registros da eternidade (akasicos) osquais, desfilando sua frente dar-lhe-o como em uma fita cinematogrfica, aviso ntida e seqente de acontecimentos passados e futuros. (12)

    (12) Os fatos relacionados com a vida dos indivduos ou das coletividadesgravam-se indelevelmente em registros etreos e se arquivam em lugaresou reparties apropriadas do Espao, sob a guarda de entidadesresponsveis e em certos casos, podem ser consultados ou revelados aEspritos interessados na rememorao do passado.

    Colocado em um ngulo de tempo isto em um momento entre doisciclos de tempo seu olhar pode abarcar o que j foi e o que ainda vai ser, vistoque, segundo Marin, o futuro no est preparado mas sim realizado

    constantemente no Tempo; as causas, passadas ou presentes, projetam nofuturo seus efeitos, aos quais permanecem ligadas, de forma que, colocado ovidente fora dessa linha de ligao entre dois pontos, pode abrang-los deextremo a extremo.

    No primeiro caso, como se compreende, de coisas do passado, a viso rememorativa e no segundo, de coisas do futuro, proftica.

    H ainda a observar que, neste caso de viso no tempo, tanto pode omdium ser transportado em desdobramento regio ou ponto onde seencontram os clichs astrais, como podem ser estes projetados, pelos Espritosinstrutores, no ambiente em que se encontra o mdium.

    PSICOMETRIA

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    Esta forma especial de vidncia se caracteriza pela circunstncia dedesenvolver-se no campo medinico uma srie de vises de coisas passadasdesde que seja psto em presena do vidente um objeto qualquer ligadoquelas cenas.

    Apresentando-se, por exemplo, ao vidente um pedao de madeira poder

    ele ver de onde ela proveio, onde foi a madeira cortada, por quem foitrabalhada, de que construo fez parte e tudo o mais que com ela serelacione.

    Segundo se diz, o clebre romance ltimos dias de Pompia de LordBulver Litton foi escrito dessa maneira: visitando o escritor as runas daquelaextinta cidade tomou de um fragmento de tijolo e, usando-o como polarizador,viu desenrolar-se no seu campo de vidncia todos os acontecimentos ligados destruio da cidade.

    * * *

    Uma forma tambm muito interessante de lucidez aquela em que oEsprito do mdium, exteriorizado, abandona sua mente menor (aquela queusa na vida comum, a que trouxe para as provas da presente encarnao) epenetra na mente maior, na mente total, (a que se liga a todos os fatos desua evoluo, a que contm tdas as reminiscncias do seu passado) e,integrado momentneamente nela, revive determinadas cenas e fatos, ali inde-levelmente registrados. Isto, alis, o que sucede aps cada encarnao,sistemticamente e de forma natural, quando o Esprito retorna ao Espao.

    Neste caso de que estamos tratando, de reintegrao momentnea namente maior, o processo nitidamente sonamblico, no do sonambulismoclssico, em que h sujeio forada a um hipnotizador encarnado, mas dedesdobramento natural, consciente, em que o mdium vive de novo os fatos,os v e os sente e, ao mesmo tempo, os vai descrevendo verbalmente ou por escrito, gozando ou sofrendo novamente tudo aquilo que- j se passou hmuito tempo, h milnios talvez.

    Normalmente, quando o Esprito encarna, a mente se reduz, para esquecer o passado e recapitular determinadas experincias e, quando desencarna elase expande, se integra, para relembrar e retomar a posse de si mesma.Extraordinriamente, nos casos de lucidez medinica, a expanso mental momentnea, restrita.

    * * *H ainda um aspecto, alis pouco comum, de vidncia, que de interesse

    relatar: so as vises coletivas, isto , cenas observadas ao mesmo tempo por vrias pessoas.

    Por exemplo: batalhes de soldados que fazem manobras em planciescheias de habitaes, s vzes em pleno dia, vista de espectadoresmaravilhados; caravanas numerosas de homens e animais que atravessammontanhas sumindo-se em desfiladeiros e precipcios, sem deixar vestgios;bandos irregulares de indivduos conduzindo veculos; rebanhos de animaisconduzidos por pastores...

    Tais fatos tm se verificado em alguns pases, mormente na Esccia,presenciados por muitas pessoas, repetindo-se em datas determinadas e

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    provocando assombro geral.No h, realmente, explicao aceitvel para tais coisas e aqui as

    anotamos somente a ttulo de curiosidade.Realmente no seria crivel que os Espritos tivessem promovido a

    materializao em massa de tantos indivduos e animais, tornando-os

    francamente visveis; nem tambm crivel que por coincidncia se agrupassemem determinados dias e horas e no mesmo local tantas pessoas possuidorasde faculdade de vidncia; nem ainda que sobre todas essas pessoas tivessesido derramada, momentneamente, tal faculdade, somente para aquele ato;nem, por ltimo, que todas essas pessoas, durante vrias horas tivessem sidovtimas de uma tremenda iluso dos sentidos e com tamanha uniformidade,vendo todas elas as mesmas coisas e da mesma maneira.

    Como quer que seja o fenmeno existe e tem sido observado inmerasvezes.

    Realmente trata-se de imagens mentais projetadas por Espritos dotadosde alta capacidade realizadora, no campo das criaes ideoplsticas.

    AUDIO

    a faculdade mediante a qual o mdium ouve vozes proferidas pelosEspritos e sons produzidos por stes, bem como outros, ligados prpria vidada Natureza.

    Quase sempre a audio desperta no mdium que j manifestou vidncia,visto serem faculdades que mtuamente se completam.

    As vozes e os sons reboam s vzes dentro do crebro do mdium eoutras vzes so ouvidas exteriormente, de mais longe ou de mais perto,segundo a capacidade de audio que o mdium manifestar.

    No primeiro caso, o esprito que fala transmite a palavra ou o som e asondas sonoras no atravessam a cortina fludica de proteo que separa operisprito do corpo denso, permanecendo no campo das atividades doperisprito; tais impresses no so transmitidas aos rgos dos sentidosfsicos e, por isso, que o mdium tem a impresso de que ouve dentro docrebro.

    No segundo caso as impresses sonoras so transmitidas atravs dacortina fludica, atinge os rgos dos sentidos e caem no campo da conscinciafsica; afetam os nervos sensoriais da audio, mesmo sem passar pelotmpano, simplesmente por induo.

    E ainda pode suceder que o esprito emissor dos sons ou vozes ajadiretamente sbre a atmosfera ambiente, materializando-os ou melhor,condensando-os, mais ou menos intensamente, a ponto de poderem ferir otmpano do ouvido fsico, para provocar uma audio direta e comum.

    O mais comum o primeiro caso, isto , a permanncia dos sons nocampo da atividade perispiritual, sem atravessar a cortina fludica deseparao.

    O mdium auditivo tanto pode captar ondas sonoras provindas de espritosdesencarnados que deliberadamente as transmitem, como quaisquer rumores,vozes, palavras e at mesmo conversaes inteiras, provindas do mundoetreo, mesmo quando no sejam emitidas deliberadamente para seu

    conhecimento. Aberto seu campo auditivo para sse mundo referido, o mdiumpoder captar muita cousa do que nle se passa, de forma mais ou menos

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    perfeita, segundo sua prpria capacidade de audio (13).

    (13) Vide nota n 35 pgina 140.

    A forma mais comum desta faculdade e a mais simples a teleptica.

    INTUIO

    O estudo da faculdade de intuio comporta vastas explanaes; porm,devido ao exguo limite dste trabalho somos obrigados a nos limitar a umaligeira sntese.

    No esfro da evoluo o homem veio do instinto, adquiriu mais tarde arazo e caminha agora para a intuio, que, todavia, apenas se vislumbra nohorizonte.O momento que vivemos, em sentido geral, de pleno domnio da razo, emque as fras intelectivas preponderam: porm alguns homens h, maisevoludos, que j se governam, mais ou menos conscientemente, pelo usodesta faculdade mais perfeita.

    No estudo da intuio no cabe lugar para os trmos correntes toapreciados de conscincia, sub-conscincia e inconscincia no sentidorestritivo que se lhes d, porque as realizaes espirituais verdadeiras nodividem a mente mas, ao Contrrio, a unificam, a dilatam, para integr-la namente universal.

    A intuio a percepo da verdade universal, total, e qualquer vislumbreque dela se tenha uma partcula dessa verdade inteiria, muito emboraquando manifestada em relao a um caso particular ou isolado.

    A verdade total tem poder e autoridade em si mesma e no comportarestries de qualquer natureza; e por isso o homem de intuio no discutenem analisa suas manifestaes mas, simplesmente, obedece.

    A obedincia s manifestaes da intuio uma das condiesfundamentais do desenvolvimento e ampliao dessa faculdade no indivduo.

    Um conhecimento mental pode ser adquirido pelo estudo, pela aplicao,pelo raciocnio, pela observao, pela experimentao; a intuio, porm, nodepende de nada disso: nicamente um conhecimento infuso, ou melhor, um discernimento espontneo de uma verdade pacfica e nica.

    As mulheres em geral so mais intuitivas que os homens, porque sedeixam governar mais pelo sentimento que pela razo e a intuio no um

    produto da razo, mas do sentimento; mesmo um sentimento que se tem emcertos momentos e circunstncias, de determinado assunto, ou determinadasituao, e quanto mais aflitiva ou imperiosa e urgente fr a situao, mais altoe rpida falar a intuio, apontando o verdadeiro caminho ou a verdadeirasoluo.

    Mas, o que intuio e donde vem ela?J o dissemos: uma voz interior que fala e que deve ser obedecida sem

    vacilaes; um sentimento ntimo que temos a respeito de certa coisa ouassunto; a verdade csmica, divina, existente em nosso Eu, em formapotencial, porque Deus a verdade unica e eterna e le est derramado emtda a criao universal, da qual somos uma partcula viva, operante e

    sensvel.A intuio a nossa ligao direta e original com Deus assim como a

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    Razo a nossa ligao com o mundo.O homem um sr limitado pelos seus corpos orgnico e fluidico; mas o

    ponto que no atinge com o brao, atinge-o com a inteligncia e onde ainteligncia no alcana, alcana a intuio.

    Como Esprito, pois, possui ele vastos poderes.

    O conhecimento vindo pelo intelecto nos faz conhecer o mundo ambiente, aopasso que a intuio nos d o discernimento das coisas divinas; o primeiro seestriba na razo que mediu, pesou, dividiu, analisou, concluiu; o segundoporm se apoia na f, porque somente cr e confia.

    A razo metdica, mecnica, limitada, mas a intuio intrnseca,ilimitada, independente, acima de qualquer lei, pleniciente.

    O campo da razo vai at onde a inteligncia alcana, mas o da intuiono tem limites, porque o campo da conscincia universal.

    Por isso s vzes a razo diz sim quando a intuio diz no, quando uma fala prudncia a outra ordena confiana:uma diz: raciocina primeiro; mas a outra determina: cr e segue.

    Uma sombra sempre vacilante, outra luz sempre clara; uma duvida e senega, outra confia e se entrega.

    Uma se exerce no campo de mente limitada, outra na esfera do espritolivre, que no obedece a convenes, preconceitos ou leis humanas.

    Porque a razo a lei, ao passo que a intuio, em certo sentido, agraa.

    * * *

    O apstolo Paulo sempre se referia a homens que vivem debaixo da lei erealizam atos de acrdo com a lei, mas apontava sempre como verdadeiro ocaminho da graa, mediante o qual se deve ser honesto no por haver leiscontra a desonestidade; virtuosos no por haver leis contra a licena;verdadeiros no por haver leis contra a mentira; mas porque a graa eleva osentimento humano e o purifica acima mesmo da lei; porque h um plano devida espiritual no afetado pela lei, um reino acima da lei onde s imperampredicados do esprito emancipado do rro.

    * * *

    O homem funciona em trs planos a saber: o fsico, o mental e o espiritual,

    que correspondem respectivamente ao instinto, razo e intuio; mas averdade total, essencial, divina, s percebida pelo homem de intuio.O homem do futuro, isto , o homem renovado, que se venceu a si mesmo,

    vencendo a dominao da matria grosseira, ser um homem de intuio.Quando a intuio fala, ela no se limita somente ao aspecto local ou

    parcial dos problemas, mas abarca o que est atrs e na frente, atinge oaspecto total, segundo a projeo do indivduo no campo geral de suaevoluo. difcil localizarmos, no corpo fsico, a regio ou o rgo por intermdio doqual se exerce a intuio. O rgo do intelecto o crebro e podemos dizer que a razo tem sde nesse rgo. Mas, quando intuio, a no ser que

    exera pelas glndulas pineal e pituitaria (14)

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    (14) Glndula geradora e controladora de energias psquicas que, ligada mente atravs do eletromagnetismo do campo vital, comanda as forasdo subconsciente e supre de energias psquicas todos os rgos vitaisdo organismo humano.

    (rgos das manifestaes medinicas) talvez sua sde seja no cerebelo,rgo sensrio supra-normal, que no futuro tende a desenvolver-se.Amor, f e intuio, eis pois as caractersticas sublimadas do homem

    espiritual.O homem de intuio resolve seus problemas com elementos que obtm

    do plano divino, ao passo que o da razo os resolve segundo os recursos daprpria inteligncia humana ligada s coisas do mundo.

    Tanto mais o homem fecha seus ouvidos s vozes do mundo material,tanto mais se abre no seu interior a voz sublime dessa preciosa faculdade doesprito. Tanto mais o esprito se revela a si mesmo e se integra no Cosmo,tanto mais se une a Deus.

    Diz Alexis Carrel, um dos mais acatados expoentes da cincia oficial, arespeito desta maravilhosa faculdade: evidente que as grandes descobertascientficas no so unicamente obras da inteligncia. Os sbios de gnio, almdo dom de observar e de compreender, possuem outras qualidades, como aintuio e a imaginao criadora. Por meio da intuio apreendem o que osoutros homens no vem, apercebem relao entre fenmenos aparentementeisolados, sentem inconscientemente a presena do tesouro ignorado. Todos osgrandes homens so dotados do poder intuitivo. Sabem sem raciocnio e semanlise o que lhes importa saber.

    E prossegue: As descobertas da intuio devem ser sempredesenvolvidas pela lgica. Tanto na vida corrente como na cincia, a intuio um meio de adquirir conhecimentos de grande poder, mas perigosos. Por vzes difcil distingui-la da iluso. Aqueles que s por ela se deixam guiar esto expostos ao rro. Mas aos grandes homens ou aos simples de coraopuro pode ela conduzir aos mais elevados cumes da vida mental ou espiritual.(O Homem, sse desconhecido).

    Ouamos agora A Grande Sntese de Pietro Ubaldi.No mundo da matria temos, em primeiro lugar, fenmenos;

    depois a vossa percepo sensria e, por fim, atravs de vosso sistemanervoso, convergindo no sistema cerebral, a vossa sntese psquica aconscincia. At aqui chegastes no terreno da pesquisa cientfica e da

    experincia quotidiana. No errou o vosso materialismo quando viu nessaconscincia uma alma filha da vossa vida fsica e destinada, como esta, aextinguir-se.

    Se descermos mais no fundo deparamos com a conscincia latente, que,est para a conscincia externa, clara, como as ondas eltricas para as ondasacusticas. A essa conscincia mais profunda pertence a intuio, que o meiode percepo ao qual, como tambm j vos disse, necessrio se faz chegueispara que o vosso conhecimento possa avanar.

    Pois, para sse reino de plena conscincia, que a intuio leva e o fazpor um caminho to claro e to horizontal que at mesmo os cegos jamais sedesviam da rota.

    Mas sua voz s pode ser ouvida no silncio, na pureza e na intimidade dosr, condies incompatveis com os rumores do mundo. Dbil ao princpio, se

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    fr sempre obedecida sem vacilaes e com confiana, ir aos poucos seavolumando, ganhando fra crescente e acabar por ser ouvida em qualquer circunstncia e a qualquer hora, apontando ao indivduo a orientao maissegura, mais elevada e mais reta, abrindo-se como uma flor s claridades e aocalor do sol supremo.

    Das faculdades medinicas a mais elevada e a mais perfeita, porque peo indivduo no mais e somente em contacto com coisas e sres do mundoespiritual mas, direta e superiormente, com a essncia divina das realidades.

    SONO E SONHO (15)

    Neste capitulo das faculdades de lucidez cabe um ligeiro estudo sbre ossonhos, interessante fenmeno espiritual, to comum e ao mesmo tempo topouco conhecido.

    O sono, para o corpo fsico, uma morte de todos os dias, aparente eincompleta, durante a qual ele no perde sua integridade, cessando somente aatividade dos rgos de relao com o mundo exterior; mas, em compensao,para o Esprito, o sono abre as portas do sonho, frestas mais ou menos amplaspara a viso das estranhas cenas do mundo estranho do Alm, suas paisagensde coloridos bizarros, suas luzes intensas e maravilhosas, seus misteriososhabitantes.

    (15) O sono em si mesmo, um fenmeno fsico e est aqui includounicamente como um estado de transio para o sonho que o fenmeno delucidez.

    10O SONOTudo no mundo dorme, sres e coisas, pelo menos aparentemente. Um

    tro de nossa vida, no mnimo, passamos a dormir.Enquanto dia e sob a influncia do Sol, cuja luz destri as emanaes

    fludicas malficas, predomina o dinamismo das fras materiais, regidas pelainteligncia; mas quando o Sol se vai e cai a noite, passam a imperar as frasnegativas da astralidade inferior e o corpo humano adormece, ento, sob seudomnio.

    Para uns o sono advem de uma congesto cerebral (hiperemia dos vasossanguneos do crebro).Para outros, justamente o contrrio: ocorre uma anemia cerebral (isquemia

    dos mesmos vasos) o que quer dizer que no sono os vasos se dilatam eesgotam o sangue do crebro.

    Ao lado destas h a teoria dos neurnios, clulas nervosas cujosprolongamentos durante o sono se retraem, interrompendo a passagem dacorrente vital, que restabelecem ao despertar, distendendo os referidosprolongamentos e pondo-os de novo em contacto.

    Pode tambm o sono resultar de uma asfixia peridica do crebro e, parao velho Aristteles, advem da ao das ptomanas existentes nos resduos

    digestivos.Em contraposio h outros que afirmam que, justamente, dormimos para

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    nos desintoxicarmos, sendo assim o sono uma funo defensiva do organismo.Enfim e para no alongar esta exposio citamos Marin, segundo o qual o

    sono um aspecto da lei de alternativa em virtude da qual atividade segue orepouso, como a noite, ao dia e como a morte vida. E isso concorda com aLei do Ritmo, da filosofia egpcia, exposta admirvelmente na obra inicitica

    Kaibalion, segundo a qual a vida se manifesta por atividade incessante, queobedece a um ritmo invarivel e cuja compensao o repouso. Aplicada aocorpo humano a teoria quer dizer que o organismo fsico, na viglia, gastaenergias que recupera no repouso do sono.

    Ultimamente a cincia descobriu que no momento do sono ocorre umainverso de origem das ondas cerebrais, do crebro posterior para o anterior.

    Mas, como se d o sono?Com o abandono provisrio do corpo pelo Esprito, da mesma forma como

    na morte, quando o abandono definitivo.

    O SONHO

    As teorias cientficas sbre o sonho so tambm diversas. Para Freud ossonhos se originam de desejos reprimidos: no podendo o homem satisfaz-losna vida normal, se esfora por viv-los quando dorme.

    Para Maur os sonhos resultam de automatsmos psicolgicos; decerebraes inconscientes ou de associaes de idias que, como natural,originam imagens mentais.

    Segundo Saint-Denis no sonho h o desenvolvimento natural eespontneo de uma srie de reminiscncias.

    Delboeuf admite -a conservao indefinida de impresses que Richetbatizou com o nome de pantomnsia (reminiscncia universal).

    Conan Doyle admite somente duas espcies de sonhos: os resultantes deexperincias feitas pelo Esprito livre e as provenientes da ao confusa dasfaculdades inferiores, que permanecem no corpo quando o Esprito se ausenta.

    Flamarion, Rosso de Luna, Dunne, Lombroso, Maeterlinck e muitos outrosestudaram tambm o fenmeno e deixaram sbre le interessantes mas noconclusivas teorias.

    * * *

    Podemos, entretanto, classificar os sonhos em duas categorias: sonhos do

    sub-consciente e sonhos reais.SONHOS DO SUB-CONSCIENTE

    So reprodues de pensamentos, idias e impresses que afetam nossamente na viglia; fatos comuns da vida normal, que se registram nosescaninhos da memria e que, durante o sono, continuam a preocupar oEsprito, com maior ou menor intensidade esses elementos, subindo do sub-consciente, uns puxam os outros, se se pode assim dizer, e formamverdadeiros enredos, com reminiscncias presentes e passadas, tornando taissonhos quase sempre de difcil compreenso, justamente por serem confusos,

    complexos, extravagantes.Nesse sonhos subconscientes entram tambm outros fatores como sejam

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  • 8/8/2019 Mediunidade - Edgar Armond

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    o temperamento imaginativo ou emocional do indivduo, seus recalques,mormente os de natureza sexual, perturbaes fisiolgicas momentneas etc..Os dormentes nesses sonhos somente vem quadros formados em suaprpria-mente sub-conscientes, porque tais sonhos so nicamente auto-produtos mentais inferiores.

    Finalmente, o que os define e caracteriza, alm de seu aspecto confuso enebuloso, a incoerncia, a falta de nitidez, de luz e colorido.

    SONHOS REAIS

    Enquanto o corpo fsico repousa, o Esprito passa a agir no plano espiritual,no qual ter maior ou menor liberdade de ao, segundo sua prpria condioevolutiva; uns se conduzem livremente, outros ficam na dependncia deterceiros, mas todos so atraidos para lugares que lhes sejam afins oucorrespondentes.

    Pois, justamente aquilo que v, ouve ou sente; os contactos que faz, compessoas ou coisas dsses lugares ou esferas de ao que constituem ossonhos reais que, como bem se compreende, no so mais elaboraes damente sub-consciente individual mas sim perfeitas vises, diretas e objetivasdsses mundos; verdadeiros desdobramentos, exteriorizaes involuntrias doEsprito.

    Os encarnados, sujeitos como so s leis que regem o plano material,delas no se libertam seno com o desencarne e por isso, mesmo quandoexteriorizados durante o sono, as leis prevalecem mantendo os vus deobscuridade vibratria entre os dois mundos.

    Essa a razo por que os sonhos, mesmo os reais so, normalm enteindistintos, nebulosos, de difcil recordao. Por isso tambm que quando hnecessidade de obviar a sse estado de coisas, fazendo com que os sonhossejam mais fcilme