medição do atrito de escorregamento através da energia …§ão de... · 2020. 5. 25. · pelo...

62
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Medição do atrito de escorregamento através da energia dissipada em sistemas vibratórios Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica na Especialidade de Projecto Mecânico Autor Nelson Marco Xavier Trindade Orientador Professor Doutor Amílcar Lopes Ramalho Júri Presidente Professora Doutora Ana Paula Bettencourt Martins Amaro Professora Auxiliar da Universidade de Coimbra Vogais Professor Doutor Amílcar Lopes Ramalho Professor Associado com Agregação da Universidade de Coimbra Professor Doutor Fernando Jorge Ventura Antunes Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra Professora Doutora Cândida Maria dos Santos Pereira Malça Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Coimbra Coimbra, Setembro, 2011

Upload: others

Post on 03-Feb-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

    Medição do atrito de escorregamento através da energia dissipada em sistemas vibratórios Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica na Especialidade de Projecto Mecânico

    Autor Nelson Marco Xavier Trindade Orientador Professor Doutor Amílcar Lopes Ramalho

    Júri Presidente Professora Doutora Ana Paula Bettencourt Martins Amaro

    Professora Auxiliar da Universidade de Coimbra Vogais Professor Doutor Amílcar Lopes Ramalho

    Professor Associado com Agregação da Universidade de Coimbra Professor Doutor Fernando Jorge Ventura Antunes Professor Auxiliar da Universidade de Coimbra Professora Doutora Cândida Maria dos Santos Pereira Malça Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Coimbra

    Coimbra, Setembro, 2011

  • “Só sabemos com exactidão, quando sabemos pouco;

    à medida que vamos adquirindo conhecimentos,

    instala-se a dúvida”. Johann Wolfgang von Goethe

    Aos meus Pais e Irmãos.

  • Agradecimentos

    Nelson Marco Xavier Trindade i

    Agradecimentos Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao distinto Professor Doutor Amílcar

    Lopes Ramalho, por todos os conhecimentos que me transmitiu, paciência, disponibilidade

    e boa disposição que sempre demonstrou.

    Agradeço, também, a todos os membros que comigo partilharam o laboratório

    de Construções Mecânicas pelo bom ambiente de trabalho criado e ajuda sempre pronta.

    Gostaria de agradecer a todos os Professores, que foram meus Docentes ao

    longo deste trajecto, pelos conhecimentos que me transmitiram e por contribuírem na

    minha formação enquanto técnico e homem.

    Gostaria de recordar os Professores Doutores José Manuel de Oliveira Costa

    Castanho e Nuno Ferreira Rilo que, infelizmente, já não se encontram entre nós.

    Por último, gostaria de agradecer aos meus Pais e Irmãos pela força, motivação

    e dedicação que sempre me demonstraram, especialmente nos momentos mais complica-

    dos.

    A todos um sincero Muito Obrigado.

  • Resumo

    Nelson Marco Xavier Trindade ii

    Resumo O motivo deste trabalho consistiu no estudo das potencialidades de um novo

    método, desenvolvido no Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), para a determi-

    nação do coeficiente de atrito. A base do método consiste na avaliação da energia dissipada

    pelo atrito durante a vibração livre de um sistema mecânico, tendo como princípio de fun-

    cionamento a vibração de um pêndulo com movimento horizontal.

    A determinação do coeficiente de atrito é realizada por análise inversa; ou seja,

    é determinado pela comparação da curva do movimento, isto é, do gráfico deslocamento-

    -tempo, obtida experimentalmente, com a equação clássica do movimento em parâmetros

    concentrados com um grau de liberdade, utilizando como critério de qualidade o

    coeficiente de correlação linear de Pearson.

    Os objectivos principais desta dissertação podem resumir-se a: verificação dos

    princípios e da aplicabilidade do método; validação dos resultados obtidos e identificação

    das limitações da técnica.

    Para avaliar as potencialidades da técnica, procedeu-se à análise de vários

    materiais com comportamento tribológico distinto: dois pares de materiais metal–metal;

    dois pares de materiais cerâmico–cerâmico e dois pares de materiais metal–elastómero.

    A validação da técnica e do procedimento de análise inversa foi realizada pela

    comparação com resultados obtidos aplicando uma técnica diferente, no caso a técnica de

    deslizamento unidireccional com carga crescente – Load-Scanner –, verificando-se seme-

    lhança do comportamento quer quanto aos resultados do atrito, quer no que respeita à

    sensibilidade à rodagem quer quanto a defeitos superficiais.

    Concluiu-se que a técnica e o procedimento de análise inversa podem ser

    aplicados a materiais com diferentes comportamentos tribológicos; no entanto, a análise de

    materiais com comportamento viscoelástico requer que o modelo de análise inversa seja

    cuidadosamente analisado e melhorado.

    Palavras-chave: Atrito, Vibração, Análise inversa, Tribologia

  • Abstract

    Nelson Marco Xavier Trindade iii

    Abstract The aim of the present work was to study the ability of a new method, recently

    developed in the DEM, to assess the coefficient of friction. The method is based in the

    evaluation of the energy dissipated by friction during the free vibration of a mechanical

    device working as a pendulum with horizontal vibration movement.

    The coefficient of friction determination is performed by inverse analysis.

    Therefore the movement curve, i.e., by displacement – time chart experimentally obtained,

    is compared to the classic equation of lumped mass movement using Pearson’s coefficient

    as a quality correlation criterion.

    The main objectives of this work can be summarized as: verification of the

    principles and the applicability of the method, validation of the results obtained the new

    method, and identification of the limitations and advantages of the new technique.

    To evaluate this technique’s potential, the analysis of various materials with

    different tribological behavior were performed, namely: two pairs of materials metal-metal,

    two pairs of materials ceramic-ceramic, and two pairs of materials metal-elastomer.

    In order to validate both the technique and the inverse analysis procedure, a

    comparison was performed between the obtained results and those resulting by the appli-

    cation of an alternative technique with unidirectional sliding with increasing load, the

    Load-Scanner technique. The behaviors regarding friction, sensitivity to the running-in,

    and surface defects were comparable.

    The research work allows concluding that the technique and the procedure of

    inverse analysis can be applied to materials with different tribological behaviors. However,

    the analysis of materials with viscoelastic behavior requires that the inverse analysis model

    will be carefully understood and improved.

    Keywords Friction, Vibration, Inverse analysis, Tribology

  • Índice

    Nelson Marco Xavier Trindade iv

    Índice

    Índice de Figuras ................................................................................................................ vi

    Índice de Tabelas ................................................................................................................ ix

    Simbologia e Siglas .............................................................................................................. x

    Simbologia ............................................................................................................................. x

    Siglas …………………………………………………………………………………………………………xi

    1. Motivação ..................................................................................................................... 1

    1.1. Definições .................................................................................................................. 3

    1.2. Nota histórica ............................................................................................................. 3

    2. Revisão Bibliográfica ................................................................................................... 7

    2.1. Princípios de medição do atrito ................................................................................. 7

    2.1.1. Dispositivos de medição de ângulo ................................................................... 8

    2.1.2. Dispositivos de medição de força ...................................................................... 9

    2.1.3. Dispositivos baseados na avaliação da energia dissipada por atrito ................ 11

    2.2. Problemas com as soluções actuais, lacunas do conhecimento ............................... 16

    2.2.1. Problemas devidos ao movimento ................................................................... 16

    2.2.2. Problemas devidos ao atrito ............................................................................. 17

    2.2.3. Lacunas dos dispositivos baseados na medição de energia ............................. 18

    2.3. Objectivos ................................................................................................................ 18

    3. Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental ................... 19

    3.1. Princípio de funcionamento e considerações teóricas ............................................. 19

    3.2. Sistema de medida ................................................................................................... 21

    3.2.1. Calibração do sistema de medida .................................................................... 21

    3.3. Constantes físicas do sistema .................................................................................. 22

  • Índice

    Nelson Marco Xavier Trindade v

    3.3.1. Determinação da rigidez da mola .................................................................... 23

    3.3.2. Caracterização da dissipação de energia do sistema ....................................... 23

    3.4. Protocolo experimental ............................................................................................ 26

    4. Aplicação do Modelo Experimental ......................................................................... 30

    4.1. Materiais .................................................................................................................. 30

    4.2. Condições de ensaio ................................................................................................ 31

    4.3. Valores de atrito ....................................................................................................... 31

    5. Validação do Modelo Experimental ......................................................................... 40

    5.1. Validação do procedimento pela técnica Load-Scanner .......................................... 40

    5.2. Mecanismos de atrito ............................................................................................... 43

    6. Conclusão ................................................................................................................... 47

    7. Referências Bibliográficas ........................................................................................ 48

  • Índice de Figuras

    Nelson Marco Xavier Trindade vi

    ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Factores que influenciam o atrito (Budinski, 2007). .............................................. 2

    Figura 2. Compilação de valores de coeficiente de atrito de diferentes publicações. ........... 2

    Figura 3. Plano Inclinado (Esquema básico de medição de atrito). ...................................... 9

    Figura 4.Aparelho comercial de medição de atrito por plano inclinado (Blau, 2009). ......... 9

    Figura 5. Ensaios de escorregamento: a) Unidireccional; b) Alternativo (Budinski, 1992).

    ............................................................................................................................................. 10

    Figura 6. Ensaio de desgaste alternativo: a) Comportamento ideal; b) Observação real

    (Blau, 2009). ........................................................................................................................ 11

    Figura 7. Dispositivo de movimento rotativo unidireccional. ............................................. 12

    Figura 8. Evolução do deslocamento ao longo to tempo num dispositivo do tipo freio de

    inércia. ................................................................................................................................. 13

    Figura 9. Esquema do mecanismo utilizado em Rigaud, et al. (2010). ............................... 13

    Figura 10. Coeficiente de atrito dk, linearmente dependente da velocidade (Rigaud, et al.

    2010). ................................................................................................................................... 14

    Figura 11. Decrescimento da energia: a) real b) aproximado (Rigaud, et al. 2010). ........... 15

    Figura 12. Diagrama do corpo livre dos mecanismos representados na Figura 5. .............. 16

    Figura 13. Evolução da força transmitida à fundação em função da razão de frequências. 17

    Figura 14. Tribómetro em estudo. ....................................................................................... 19

    Figura 15. Sistema massa-mola-amortecedor sujeito a atrito de Coulomb. ........................ 20

    Figura 16. Voltagem lida no osciloscópio em função do deslocamento aplicado no corpo 1.

    ............................................................................................................................................. 22

    Figura 17. Deslocamento horizontal medido em função da força aplicada no corpo 1. ..... 23

    Figura 18. Deslocamento do sistema em vibração livre. ..................................................... 24

    Figura 19. Valores dos primeiros 19 picos positivos. ......................................................... 25

    Figura 20. Comparação da resposta experimental do sistema com a resposta obtida por via

    teórica. ................................................................................................................................. 25

    Figura 21. Trabalho realizado pela força de amortecimento nos primeiros 19 ciclos. ........ 26

  • Índice de Figuras

    Nelson Marco Xavier Trindade vii

    Figura 22. Curva típica do movimento do sistema em vibração livre com atrito; par de

    materiais AL2024-AL6082, FN=0.2N. ................................................................................ 27

    Figura 23. Comparação típica da curva teórica com a curva obtida experimentalmente; par

    de materiais AL2024-AL6082, FN=0.2N. ........................................................................... 28

    Figura 24. Evolução típica da correlação entre a curva teórica e a curva experimental em

    função do valor do coeficiente de atrito; par de materiais AL2024-AL6082, FN=0.2N. .... 28

    Figura 25. Fluxograma do procedimento de determinação do coeficiente de atrito. .......... 29

    Figura 26. Evolução do atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2024 – Plano

    AL6082. ............................................................................................................................... 32

    Figura 27. Coeficiente de atrito AL2024-AL6082. ............................................................. 33

    Figura 28. Coeficiente de atrito 100Cr6-AISI P20. ............................................................. 34

    Figura 29. Evolução do atrito para diferentes condições de carga, AL2O3-Vidro. .............. 35

    Figura 30. Superfície do plano do par AL2O3-Vidro: a) vista a 1.5x; b) vista a 2.5x; c) vista

    a 4x. ..................................................................................................................................... 35

    Figura 31. Coeficiente de atrito Al2O3-Vidro. ..................................................................... 36

    Figura 32. Coeficiente de atrito Al2O3-Al2O3. ..................................................................... 37

    Figura 33. Comparação da resposta real do sistema com a resposta obtida por via teórica,

    100Cr6-NBR. ....................................................................................................................... 38

    Figura 34. Comparação da resposta real do sistema com a resposta obtida por via teórica,

    100Cr6-Látex. ...................................................................................................................... 38

    Figura 35. Evolução da força de atrito com o aumento da força normal, AL2024-AL6082.

    ............................................................................................................................................. 40

    Figura 36. Força de atrito em função da força normal, AL2024-AL6082. ......................... 41

    Figura 37. Evolução da força de atrito com o número de passagens, em função da força

    normal, AL2024-AL6082. ................................................................................................... 41

    Figura 38. Evolução e valor do coeficiente de atrito com o número de passagens, AL2024-

    AL6082. ............................................................................................................................... 42

    Figura 39. Comparação da evolução e dos valores de atrito obtidos pelo modelo

    experimental com os obtidos pela da técnica Load- Scanner; AL2024-AL6082. ............... 43

    Figura 40. Observação por microscopia electrónica de varrimento da superfície das

    amostras utilizadas para as diferentes condições de carga, Esfera AL2024 – Plano AL6082.

    ............................................................................................................................................. 44

  • Índice de Figuras

    Nelson Marco Xavier Trindade viii

    Figura 41. a) Morfologia do plano utilizado na técnica Load-Scanner ao fim da 4ª

    passagem; b)Evolução da força de atrito em função do aumento da força normal, Esfera

    AL2024 – Plano AL6082. ................................................................................................... 45

    Figura 42. Pormenor a amarelo da Figura 41 a). ................................................................. 46

  • Índice de Tabelas

    Nelson Marco Xavier Trindade ix

    ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Diferenças no método de medição do atrito. ......................................................... 8

    Tabela 2. Características do modelo experimental. ............................................................. 26

    Tabela 3. Propriedades dos materiais em estudo. ................................................................ 30

    Tabela 4. Condições ambientais dos ensaios. ...................................................................... 31

    Tabela 5. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2024 – Plano

    AL6082. ............................................................................................................................... 32

    Tabela 6. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera 100Cr6 – Plano

    AISI P20. ............................................................................................................................. 33

    Tabela 7. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2O3 – Plano

    Vidro. ................................................................................................................................... 34

    Tabela 8. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera Al2O3 – Plano

    Al2O3. ................................................................................................................................... 37

  • Simbologia e Siglas

    Nelson Marco Xavier Trindade x

    SIMBOLOGIA E SIGLAS

    Simbologia

    𝐜 – Amortecimento

    𝑬 – Módulo de elasticidade; Energia

    𝑭 – Força

    𝑭𝒂 – Força de atrito

    𝑭𝑵 – Força normal

    𝑰 – Inércia

    𝒌 – Constante de rigidez mola

    𝒎 – Massa

    𝒓 – Raio

    𝐑𝐚 – Rugosidade média aritmética

    𝐑𝐑𝐌𝐒 – Rugosidade média quadrática

    𝐑𝐳 – Rugosidade pico a pico

    𝒕 – Tempo

    𝑻𝒂 – Tempo médio de período

    𝑾– Trabalho

    𝒙 – Deslocamento

    𝑿 – Posição

    �̇� – Velocidade

    �̈� – Aceleração

    𝜽 – Ângulo

    𝝁 – Coeficiente de atrito

    𝝁𝒔 – Coeficiente de atrito estático

    𝝁𝒌 – Coeficiente de atrito cinético

    𝝃 – Coeficiente de amortecimento adimensional

    𝝎 – Frequência angular

  • Simbologia e Siglas

    Nelson Marco Xavier Trindade xi

    𝝎𝒂 – Frequência própria de vibração amortecida

    𝝎𝒏 – Frequência natural

    Siglas

    ANSI – American National Standards Institute

    ASTM – American Society for Testing and Materials

    DEM – Departamento de Engenharia Mecânica

    FCTUC – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

    FRUSA – Financial Recovery USA

    IMF – International Monetary Fund

    ISO – International Organization for Standardization

    MIT – Massachusetts Institute of Technology

    PIB – Produto Interno Bruto

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 1

    1. MOTIVAÇÃO Mesmo com o desenvolvimento científico e tecnológico verificado desde os

    anos 1900s, estima-se que as perdas devidas ao atrito e desgaste de materiais têm um

    impacto da ordem de 6% do PIB nos países desenvolvidos (MIT 2011). Tomando como

    referência a economia dos EUA, a valores actuais as perdas anuais podem ascender a mais

    de 870 biliões de dólares (IMF 2011). Não só a nível económico, mas também devido a

    uma crescente preocupação da diminuição do consumo energético, quer a nível de projecto

    quer a nível de sistemas de produção, obriga a que os engenheiros disponham e utilizem os

    mais actuais conhecimentos no domínio do atrito, desgaste e lubrificação. Isto leva a que, o

    estudo e o aprofundamento do conhecimento do comportamento tribológico dos materiais,

    seja de materiais já utilizados em aplicações industriais ou no desenvolvimento de novos

    materiais, seja imperativo.

    Ao longo dos anos foram desenvolvidas várias técnicas de medição do atrito

    com vários propósitos, desde técnicas para a simulação do contacto tribológico de uma

    determinada máquina ou mecanismo, como para quantificar e avaliar a viscosidade de

    lubrificantes, com o objectivo de estimar a eficiência da sua aplicabilidade, até a técnicas

    cujo objectivo é investigar a natureza/origem do atrito.

    Contudo, a estimativa do atrito é influenciada por um vasto leque de factores,

    ilustrados na Figura 1. Este facto leva a que os valores do atrito sejam caracterizados por

    uma reprodutibilidade em intervalos da ordem de 20 a 30 % (Budinski, 1992). Esta

    discrepância é ainda maior quando se comparam os resultados obtidos por diferentes

    técnicas, Figura 2. Esta dispersão de resultados está em concordância com a observação de

    Feynman et al., (2005), que referiu que “As tabelas que apresentam os valores de

    coeficiente de atrito de "aço no aço" ou de "cobre no cobre" e afins, são todas falsas,

    porque ignoram os factores que realmente determinam μ”. Um dos factores que “realmente

    determina μ” é o modo como é medido.

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 2

    Figura 1. Factores que influenciam o atrito (Budinski, 2007).

    Figura 2. Compilação de valores de coeficiente de atrito de diferentes publicações.

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 3

    Este trabalho visa estudar as potencialidades de um novo método, desenvolvido

    no DEM, para a determinação do coeficiente de atrito, baseado na energia dissipada por

    atrito em sistemas vibratórios, tendo como princípio de funcionamento a vibração de um

    pêndulo com movimento horizontal.

    1.1. Definições Etimologicamente a palavra Tribologia deriva dos termos Gregos “tribos” que

    significa esfregar, friccionar, e “logos” que significa estudo. Isto leva a que a tradução lite-

    ral do grego seja “estudo do atrito”. No entanto, o termo tribologia foi proposto por Peter

    Jost em 1966 para a ciência que estuda os fenómenos relacionados com o atrito, a lubrifi-

    cação, o contacto e o desgaste (Popov, 2010).

    Atrito, do latin “attritu”, é a resistência que todos os corpos opõem ao mover-

    -se uns sobre os outros; fricção; que tem atrição (Dicionário da Língua Portuguesa , 2010 )

    Segundo a norma ASTM G 40 – 01:

    • Força de atrito - é uma força tangencial que ocorre na interface de

    dois corpos, quando um deles se move, ou tende a mover-se, em relação ao outro, em opo-

    sição à acção de uma força externa.

    • Coeficiente de atrito – é a relação adimensional entre a força de

    atrito, Fa, existente entre dois corpos, e a força normal, FN, que os comprime.

    𝜇 =𝐹𝑎𝐹𝑁

    (1)

    • Coeficiente de atrito estático – é o coeficiente de atrito correspon-

    dente ao atrito de força máxima que deve ser superada para iniciar o movimento entre dois

    corpos a nível macroscópico.

    • Coeficiente de atrito cinético – é o coeficiente de atrito em condi-

    ções de movimento relativo entre dois corpos a nível macroscópico.

    1.2. Nota histórica Os primeiros estudos, de que há registo, sobre o movimento relativo entre dois

    corpos, foram realizados por Leonardo Da Vinci (Sec. XV). Na sua obra Codex Madrid I

    (1495), Da Vinci descreve o rolamento de esferas, a composição de uma liga de baixo

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 4

    atrito, bem como a sua análise experimental dos fenómenos de atrito e desgaste (Popov

    2010). Ele foi o primeiro a formular as primeiras “leis fundamentais do atrito” (habitual-

    mente atribuídas ao físico francês Guillaume Amontons (1699)), onde concluía que:

    1) A força de atrito é proporcional à força normal, ou carga normal;

    2) A força de atrito é independente da área da superfície de contacto.

    Da Vinci foi também o primeiro a introduzir o termo “coeficiente de atrito”,

    tendo afirmado que a resistência do atrito de um corpo era aproximadamente ¼ do valor do

    seu peso.

    Mais tarde, o físico francês Guillaume Amontons (1699), desconhecendo o

    trabalho de Da Vinci, reescreveu as leis de atrito de Da Vinci e publicou a sua teoria onde

    afirmava que o atrito era originado pelas rugosidades existentes nas superfícies dos corpos.

    Amontons defendia que o atrito era provocado pela existência de picos numa superfície que

    contactavam com os vales da superfície adjacente, levando-o a acreditar que a força de

    atrito era a força necessária para puxar os picos dos vales até eliminar a interferência exis-

    tente.

    O matemático Suíço Leonard Euler trabalhou com a ideia de que o atrito pro-

    vém da conjugação entre pequenas irregularidades triangulares e que o coeficiente de atrito

    é igual ao gradiente dessas irregularidades. Com base na sua teoria, foi o primeiro a for-

    mular matematicamente as leis de atrito seco. É-lhe ainda atribuída a autoria da utilização

    do símbolo grego µ para representar o coeficiente de atrito (Popov, 2010). Euler ajudou

    também na clarificação e distinção entre atrito estático e cinético: colocou um bloco num

    plano, e, inclinando-o lentamente até o bloco iniciar o movimento, concluiu que o coefi-

    ciente de atrito cinético é menor que o atrito estático.

    Mais tarde, Augustin Coulomb (1781), Engenheiro Militar Francês, contribuiu,

    de forma notável, para o estudo do atrito, ao analisar e quantificar de forma muito precisa o

    atrito seco entre corpos em função da natureza dos materiais, extensão da superfície, pres-

    são normal (carga), da duração de tempo que permaneceram nas superfícies em contacto

    ("tempo de repouso"), da velocidade de escorregamento, da humidade atmosférica e tem-

    peratura.

    Na tentativa de explicar a origem do atrito, Coulomb usou a mesma ideia que

    Euler usara, que o atrito era provocado pelo bloqueio de asperezas existentes nas superfí-

    cies, mas acrescentou uma outra contribuição, a que hoje se chama de adesão (e a que ele

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 5

    chamou de coesão). Ele descobriu, também, que o atrito estático cresce com a quantidade

    de tempo que o objecto permaneceu parado. Coulomb com o seu trabalho conseguiu,

    assim, confirmar as leis de Amontons e acrescentar uma terceira lei:

    3) O atrito de escorregamento é independente da velocidade de escorrega-

    mento1

    O Inglês Samuel Vince (1784), defendia a visão de que o atrito estático era

    provocado pela coesão e adesão, ou seja, era a soma do atrito cinético com uma parcela

    devida à adesão (µs=µk+adesão).

    .

    Em 1883, o Russo Nikolai Pavlovich Petrov apresenta os estudos experimen-

    tais, sobre mancais de rolamentos, onde mostrava que das características de um óleo, ape-

    nas uma, a viscosidade, tem um papel importante no atrito de rolamento. Petrov reutiliza o

    termo “atrito” para caracterizar a lubrificação hidrodinâmica, demonstrando que, a força do

    atrito de rolamento é proporcional à velocidade, à área de contacto e à viscosidade do

    lubrificante.

    Reynolds em 1886, publicou uma equação diferencial que descreve o aumento

    de pressão numa película de óleo, estabelecendo a base para o cálculo do atrito em siste-

    mas de lubrificação hidrodinâmica. Segundo a sua teoria, também chamada de teoria da

    lubrificação hidrodinâmica, o coeficiente de atrito tem uma ordem de grandeza μ≈h /L,

    onde h é a espessura da película de lubrificação e L é o comprimento do contacto triboló-

    gico.

    Nos meados do século XX, Bowden e Tabor (1950) recuperam a ideia de

    Coulomb, sobre o facto de a adesão ser um possível mecanismo de atrito, ao alertar para a

    importância da rugosidade das superfícies dos corpos em contacto. Eles verificaram que a

    área de contacto real é uma percentagem muito pequena da área de contacto aparente, pois

    mesmo as superfícies com o melhor polimento têm cristas, vales, pico e depressões. A área

    de contacto real é apenas aquela onde existe contacto entre as asperezas, e que depende da

    rugosidade e da força normal. À medida que aumenta a força normal, o número de aspere-

    zas em contacto, assim como a área média de contacto, aumentam. Isto conduz a que a

    força do atrito dependa da área de contacto real, um argumento mais satisfatório do que

    intuitivamente a lei de Amontons-Coulomb permite.

    1 Nem sempre as leis de atrito são obedecidas, principalmente quando ocorre escorregamento em ambiente extremo, como a altas velocidades e numa ampla gama de cargas nominais

  • Motivação

    Nelson Marco Xavier Trindade 6

    Bowden e Tabor argumentaram que dentro destas asperezas todos os fenóme-

    nos de atrito ocorrem, no entanto, através da análise da deformação plástica das asperezas;

    defendiam que, o atrito de escorregamento era provocado pela forte aderência (provocada

    pela deformação plástica dos picos e por soldaduras microscópicas que se dão a frio) que

    ocorre nas regiões em contacto.

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 7

    2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Ao longo dos anos, e com diferentes propósitos, foram devolvidas várias técni-

    cas de medição de atrito. O critério de selecção da técnica a utilizar para determinar o

    coeficiente de atrito deve ter em mente algumas considerações (Blau, 2009), tais como:

    • Compreender a finalidade para a qual os dados são necessários;

    • Estar ciente dos pontos fortes e das limitações da técnica a utilizar;

    • Reconhecer que o atrito é uma característica do tribossistema e não

    das propriedades fundamentais do material (um determinado conjunto de materiais pode

    ter resultados diferentes quanto testados em diferentes sistemas tribológicos).

    2.1. Princípios de medição do atrito A determinação do atrito pode ser feita utilizando a máquina/mecanismo real,

    abordagem geralmente impraticável, isolando componentes específicos da

    máquina/mecanismo, ou testes laboratoriais que permitem ter uma estimativa precisa

    embora menos realística. Em relação a estes últimos, várias organizações desenvolveram

    testes padrão para a medição do coeficiente de atrito, adaptados às necessidades de cada

    grupo. Uma dessas organizações é a American Standard for Testing Materials (ASTM),

    que na norma por ela proposta, G 115-04, é possível consultar os testes por ela

    recomendados. Outras, como a American National Standards Institute (ANSI) e a

    International Organization for Standardization (ISO), também desenvolveram testes

    padrão para o atrito.

    É boa prática, sempre que possível, quando um material em estudo está sob

    jurisdição de um determinado organismo de normalização sejam utilizadas as normas

    propostas por essa organização, já que, a utilização de testes padronizados aumentam a

    probabilidade de produzir e reproduzir resultados válidos, quando comparados com outros

    testes não normalizados. Por exemplo, a indústria de filmes fotográficos frequentemente

    adopta as normas ANSI e ISO. Estes testes foram agrupados e, posteriormente, aprovados

    pelos representantes de diversos sectores da indústria.

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 8

    Dentro deste vasto conjunto de técnicas de medição de atrito podem classificar-

    -se em termos de gama de carga, gama velocidade, atmosfera em que funcionam, movi-

    mento (alternativo vs. unidireccional), movimento rotativo ou linear, forma do contacto

    (conforme vs. contraconforme), etc. No entanto, a principal diferença reside na forma

    como se mede o coeficiente de atrito, isto é visível analisando a Tabela 1.

    Tabela 1. Diferenças no método de medição do atrito.

    Medição do atrito Tipo de teste Coeficiente de atrito

    Ângulo • Plano inclinado (Figura 3). μs e μk

    Força

    • Unidireccional (Figura 5 a);

    • Alternativo (Figura 5 b);

    • Pino disco.

    μs e μk

    Energia • Freio de inércia (Figura 7). μk

    2.1.1. Dispositivos de medição de ângulo Um dos sistemas mais simples e populares, para medir o coeficiente de atrito é

    ilustrado na Figura 3. Este dispositivo de construção simples e barata, desenhado por

    Leonardo da Vinci há mais de 500 anos, constitui a base para vários dos testes da actuali-

    dade, havendo inclusive versões comerciais, Figura 4.

    A medição do coeficiente de atrito consiste, simplesmente, em aumentar o

    ângulo de inclinação do plano, θ (o ângulo é medido utilizando um transferidor ou um dis-

    positivo similar), até o objecto começar a deslizar pelo plano inclinado. A tangente do

    ângulo para a qual o corpo começa a deslizar, tan θ, é o coeficiente de atrito estático.

    𝜇 = tan𝜃 (2)

    O atrito cinético é determinado colocando o corpo a deslizar manualmente, se o

    objecto parar, o ângulo de inclinação é insuficiente. Se o ângulo de inclinação é o correcto,

    o que acontece quando o corpo desliza a uma velocidade constante, a tangente desse

    ângulo é o coeficiente de atrito cinético. Este tipo de teste tem a vantagem de dispensar a

    necessidade de conhecer a massa do objecto em repouso. No entanto, devido à natureza da

    função tangente e à concepção do dispositivo de inclinação, para ângulos baixos pode ser

    difícil diferenciar materiais que apresentem baixos valores de coeficiente de atrito. Apesar

    de esta técnica permitir estimar o coeficiente de atrito cinético, os dados variam de acordo

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 9

    com o juízo da “uniformidade” da velocidade de escorregamento, levando a que raramente

    seja utilizada para esse fim.

    Figura 3. Plano Inclinado (Esquema básico de medição de atrito).

    Figura 4.Aparelho comercial de medição de atrito por plano inclinado (Blau, 2009).

    2.1.2. Dispositivos de medição de força A grande maioria das técnicas indicadas na norma G 115 – 04 baseia-se no

    princípio de que “A medição do coeficiente de atrito envolve a medição de duas grandezas,

    a força necessária para iniciar e/ou manter o movimento, F, e a força normal, FN”

    (Ludema, 2001). Isto implica que o tribómetro tenha pelo menos um sistema de medição

    da força do atrito, por exemplo uma célula de carga (G 99 – 95a).

    Além disso, ao contrário dos tribómetros de atrito estático, que caracterizam a

    resistência ao movimento iminente, os dispositivos de teste de atrito cinético incluem uma

    vasta gama de condições operacionais, que vão desde equipamentos com velocidade de

    escorregamento constante e unidireccional até máquinas com articulação, em que uma

    complexa série de acelerações, desacelerações e mudanças de direcção são impostas.

    A Figura 5 ilustra duas das geometrias mais típicas dos tribómetros

    correntemente utilizados.

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 10

    a) b)

    Figura 5. Ensaios de escorregamento: a) Unidireccional; b) Alternativo (Budinski, 1992).

    O ensaio alternativo é muito popular e foi usado por Bowden e Leben, no final da

    década de 1930, para medir o atrito alternativo sob cargas baixas. Este tipo de teste é muito

    usado para testar materiais como revestimentos e lubrificantes, bem como para o estudo do

    contacto de anéis de pistão-cilindro. Além de quantificar o atrito permite estudar o com-

    portamento dos materiais ao desgaste.

    No caso ideal, o perfil de variação de força de atrito esperado é mostrado na

    Figura 6 a). O sinal da força F representa o sentido do escorregamento.

    Quando ocorre a mudança de sentido, aparece um pico de força: esse pico de

    força é provocado por uma força estática pronunciada devido à inversão de sentido, é a

    chamada força de atrito estático, 𝑓𝑠. Após algum tempo de deslizamento, a força diminui,

    para um valor constante, essa é a força de atrito cinético, 𝑓𝑘.

    No entanto, é bastante comum, principalmente em testes de atrito sem lubrifi-

    cação em que o desgaste é significativo, observar pormenores de força de forma inesperada

    e assimétrica, conforme apresentado na Figura 6 b) levando a que às vezes não exista um

    pico claro no início/inversão do curso.

    Muitas vezes as características de tais perfis podem ser semelhantes no mesmo

    sentido de escorregamento, mas diferentes em magnitude e forma no sentido oposto. As

    causas para tal assimetria nem sempre são óbvias, pois podem ocorrer devido às caracte-

    rísticas do aparelho, a erros na calibração do sensor de atrito, ao comportamento do mate-

    rial, ou a uma combinação destes três factores.

    Contudo, alguns autores, sustentam que este tipo de ensaio permite que se

    obtenha o atrito estático e cinético, como se tivessem sido realizadas experiências separa-

    das, (Blau, 2009).

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 11

    Figura 6. Ensaio de desgaste alternativo: a) Comportamento ideal; b) Observação real (Blau, 2009).

    2.1.3. Dispositivos baseados na avaliação da energia dissipada por atrito

    A energia dissipada por atrito, mais precisamente, o trabalho realizado pela

    força de atrito, durante o deslizamento corresponde a uma parcela importante na dissipação

    da energia no sistema e, como tal, deverá ter influência directa e significativa na resposta

    do sistema. De facto, existem muitos sistemas que do ponto de vista energético seriam con-

    servativos desde que o atrito fosse desprezável. Nesses casos, o atrito pode ser associado à

    variação total de energia do sistema e pode dessa forma ser quantificado.

    O trabalho realizado pela força de atrito, Wa, é obtido pelo integral da força de

    atrito ao longo do deslocamento:

    𝑊𝑎 = �𝐹𝑎.𝑑𝑥 (3)

    2.1.3.1. Dispositivos de movimento rotativo unidireccional Este género de dispositivos é muito usado no estudo de materiais para freios e

    embraiagens atendendo à semelhança, natureza e função deste tipo de componentes, Figura

    7.

    Ao contrário dos dispositivos anteriores, que medem o atrito de forma indi-

    recta, ou seja, medem uma força que não é exactamente a força de atrito, mas sim uma

    equilibrante do sistema, neste tipo de dispositivo o atrito é determinado de forma directa,

    ou seja, é determinado pela consequência que ele provoca no movimento do disco, através

    da energia dissipada durante o processo. Assim, além de uma força de compressão, F, (esta

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 12

    força pode ser controlada por pesos, molas ou outro sistema similar), é medida a variação

    da energia cinética ao longo do tempo.

    O princípio de funcionamento consiste em colocar um disco a rodar, onde a

    inércia total das peças rotativas, I, é conhecida, com uma velocidade inicial, �̇�. Devido ao

    atrito existente entre o disco e o corpo que o comprime com uma determinada força, F,

    representado a cinzento na Figura 7, o disco vai desacelerando até parar.

    Figura 7. Dispositivo de movimento rotativo unidireccional.

    Aproximando a curva do deslocamento em função do tempo a um polinómio

    de segundo grau, exemplificado na Figura 8, a desaceleração que o disco sofre, �̈�, pode ser

    calculada pelo coeficiente C3 do polinómio, pois:

    𝐶3 =12�̈� (4)

    Atendendo à segunda lei de Newton para movimentos de rotação, equação (5),

    é possível isolar o valor da força de atrito, e, a partir daí, calcular o valor do coeficiente de

    atrito desde que a força normal, F, seja conhecida.

    �𝑀 = 2𝐹𝑎𝑟 = 𝐼�̈� (5)

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 13

    Figura 8. Evolução do deslocamento ao longo to tempo num dispositivo do tipo freio de inércia.

    2.1.3.2. Dispositivos de movimento alternativo Até a data, o único trabalho que se conhece enquadrável neste domínio foi rea-

    lizado por uma equipa da Ecole Centrale de Lyon, (Rigaud, et al. 2010), onde desenvolveu

    um mecanismo baseado num pêndulo de movimento horizontal, que foi aplicado ao estudo

    do atrito em sistemas lubrificados, Figura 9.

    Figura 9. Esquema do mecanismo utilizado em Rigaud, et al. (2010).

    A equação do movimento, que foi proposta para analisar a resposta em

    deslocamento de sistemas com contacto lubrificado, é expressa pela equação (6),

    𝑚�̈�(𝑡) + (𝑐0 + 𝑁𝑑𝑘)�̇� (𝑡) + 𝑘𝑥(𝑡) = −𝜇𝑘𝑁 |�̇� (𝑡)|�̇� (𝑡)

    (6)

    Quadro rígido móvel

    Electroíman Suporte do pino Contacto

    Pino-Plano

    Vibrómetro laser Lâmina de ligação

    Lâmina flexível

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 14

    onde, x(t) representa a posição do sistema, m a massa, c0 a constante de amortecimento em

    vibração livre sem contacto, k a constante de rigidez da mola e N a força normal. Neste

    modelo, o atrito é descrito por dois factores, Figura 10: um denominado por dk que é um

    coeficiente linearmente dependente da velocidade, e o outro, denominado µk, é o

    coeficiente de atrito cinético que se considera não dependente da velocidade de

    escorregamento.

    Figura 10. Coeficiente de atrito dk, linearmente dependente da velocidade (Rigaud, et al. 2010).

    A curva do decrescimento da energia do sistema em vibração livre e com o

    contacto lubrificado é dada pela equação (7),

    𝐸(𝜏) =12�Λ𝑒−𝜁𝜏 − Γ�2 (7)

    onde:

    Γ =2µkπζ

    , Λ = 𝑌0 + Γ, (8)

    e Y0 é o deslocamento inicial, 𝑌0 = 𝑦(𝜏0)2.

    Como o amortecimento e o atrito viscoso dependem da velocidade, ζ é:

    𝜁 = 𝜁0 + 𝜁𝑘 , onde 𝜁0 =𝑐0

    2√𝑘𝑚, e 𝜁𝑘 =

    𝑁𝑑𝑘2√𝑘𝑚

    (9)

    As irregularidades da curva do decrescimento da energia, Figura 11 a), podem

    ser atenuadas utilizando a curva do decrescimento médio da energia, Figura 11 b), que é

    2 O significado da simbologia utilizada nas equações (7) a (13) pode ser consultado Rigaud et al., (2010).

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 15

    definida como o integral da energia ao longo do tempo, isto é, entre o tempo inicial,τ, e o

    tempo até parar, Tf, equação (10):

    Π(τ) = � 𝐸(𝜃)𝑑𝜃𝑇𝑓

    𝜏 (10)

    Sendo possível aproxima-la, ou seja, a curva aproximada do decrescimento

    médio da energia é dada pela expressão:

    Πapp(τ) =Λ2

    4𝜁𝑒−2𝜁𝜏 − ΛΓ

    ζe−𝜁𝜏 − Γ

    2

    2𝜏 + 𝐴 (11)

    onde a constante A é:

    𝐴 =Γ2

    𝜁 �34− ln �

    ΓΛ��

    (12)

    A Figura 11 mostra o decrescimento da energia real, Figura 11 a), e o aproxi-

    mado, Figura 11 b).

    a) b)

    Figura 11. Decrescimento da energia: a) real b) aproximado (Rigaud, et al. 2010).

    Não sendo totalmente explícito, é afirmado que ζ e μk são determinados pela

    comparação da curva do decrescimento da energia aproximada com a curva real de decres-

    cimento de energia até que se verifique o menor erro possível (13).

    ΔΠ = �1𝑁��Πexperimental − Π𝑛𝑢𝑚é𝑟𝑖𝑐𝑎�

    2𝑁

    𝑖=1

    (13)

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 16

    2.2. Problemas com as soluções actuais, lacunas do conhecimento

    As técnicas de medição de atrito descritas anteriormente possuem várias limi-

    tações e problemas. As técnicas que se baseiam na medição de ângulos têm limitações de

    carácter dinâmico. De facto, estas técnicas apenas permitem medir, com precisão, valores

    de atrito estático.

    As técnicas de medição de força têm o inconveniente de não determinar exac-

    tamente a força de atrito. Ao medir uma força que é equilibrante da força de atrito, não se

    está só a medir o atrito; está-se a medir um conjunto de efeitos difíceis de descortinar, entre

    eles, efeitos dinâmicos (devidos à instabilidade provocada pela vibração da máquina e

    devido à variação do atrito).

    2.2.1. Problemas devidos ao movimento O diagrama de corpo livre de um dispositivo que se utilize para a medição de

    força, como qualquer um dos mecanismos ilustrados na Figura 5, tem a forma típica

    apresentada na Figura 12.

    Figura 12. Diagrama do corpo livre dos mecanismos representados na Figura 5.

    A força transmitida à fundação é dada pela equação (14) e a variação da

    amplitude da força transmitida é função da frequência da força aplicada, Fa, e a sua varia-

    ção tem a forma apresentada na Figura 13.

    𝐹𝐹𝑎

    = �1 + (2𝜉𝛽)2

    (1 − 𝛽2)2 + (2𝜉𝛽)2, onde 𝛽 =

    𝜔𝜔𝑛

    (14)

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 17

    Figura 13. Evolução da força transmitida à fundação em função da razão de frequências.

    Facilmente se constata que, a força medida pelo sensor, habitualmente células

    de carga, pode não ser a real. Pode ser sobrestimada, quando a frequência de excitação é

    próxima da frequência natural do sistema, β≈1, ou subestimada, quando a frequência de

    excitação é muito superior à frequência natural, β>>>1.

    Assim, só se tem a certeza que se está a medir o atrito correctamente para uma

    gama de frequências muito baixa, quando β é muito próximo de zero.

    2.2.2. Problemas devidos ao atrito Como as superfícies são rugosas a área de contacto real não é contínua, mas

    sim o somatório de um elevado número de pequenas áreas discretas. Assim, é de esperar

    que a força de atrito varie significativamente ao longo do tempo. Além da descontinuidade

    induzida pela rugosidade, os próprios materiais, pela sua natureza polifásica e policrista-

    lina, induzem variações instantâneas da força de atrito. Este fenómeno é ainda mais ampli-

    ficado, em testes de atrito sem lubrificação, onde o processo de desgaste dá origem ao apa-

    recimento de partículas.

    Pelo exposto, os sistemas baseados na medição instantânea de força são sus-

    ceptíveis de apresentar desvios significativos em relação aos valores reais. Os sistemas

    baseados na energia integram os efeitos instantâneos, mas o seu efeito é suavizado porque

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    0 0.5 1 1.5 2 2.5 3

    F/F a

    β

  • Revisão Bibliográfica

    Nelson Marco Xavier Trindade 18

    o domínio de integração estende-se a um tempo muito superior à duração dos eventos ele-

    mentares.

    2.2.3. Lacunas dos dispositivos baseados na medição de energia

    Os dispositivos de freio de inércia não permitem estudar situações de movimento

    alternativo e de variação de aceleração.

    O dispositivo de movimento alternativo, apresentado na secção 2.1.3.2, foi apenas

    aplicado a sistemas com contacto lubrificado não tendo sido apresentados resultados em

    sistemas com contacto seco. Apesar de ser um sistema de construção simples, a

    instrumentação que foi utilizada é dispendiosa. A própria determinação do coeficiente de

    atrito não é clara, já que o lubrificante utilizado era de viscosidade conhecida (glicerol), e a

    necessidade de determinar duas variáveis, uma dependente da velocidade, ζ , e a outra não,

    μk, não é de todo imediata.

    2.3. Objectivos Face ao descrito, nesta tese, será utilizado um tribómetro que tem como

    princípio de funcionamento um sistema de pêndulo com movimento horizontal, semelhante

    ao utilizado em 2.1.3.2. A selecção deste equipamento foi motivada pela facilidade de

    construção, possibilidade de utilizar amostras pequenas, facilidade de utilização e rapidez

    de caracterização de um material.

    O objectivo da presente dissertação é a medição do atrito de escorregamento,

    de dois corpos em contacto, através da análise do movimento vibratório de um pêndulo

    com movimento horizontal, tendo como princípios:

    1. Verificar os princípios e a aplicabilidade da técnica experimental;

    2. Verificar a aplicabilidade do método de análise inversa;

    3. Validação dos resultados obtidos;

    4. Identificar as limitações da técnica.

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 19

    3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CARACTERÍSTICAS DO MODELO EXPERIMENTAL

    3.1. Princípio de funcionamento e considerações teóricas O tribómetro utilizado tem como princípio de funcionamento um sistema de

    pêndulo com movimento horizontal, conforme ilustra a Figura 14. Este sistema é composto

    por um corpo 1, de massa, m, contendo na superfície inferior um suporte para a introdução

    de um provete esférico. A força normal provocada pelo corpo 1, sobre o plano, é

    controlada pela posição do contrapeso 4 que se desloca sobre um fuso roscado. O corpo 1 é

    ligado à articulação 3, por duas lâminas dispostas paralelamente. A deformação elástica

    sofrida pelas lâminas é medida utilizando dois extensómetros colados, um em cada lâmina,

    ligados em meia ponte de Wheatstone.

    Figura 14. Tribómetro em estudo.

    A Figura 15 representa um sistema vibratório massa-mola-amortecedor de

    parâmetros concentrados com um grau de liberdade que pode ser utilizado para avaliar a

    resposta dinâmica do pêndulo ilustrado na Figura 14.

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 20

    Figura 15. Sistema massa-mola-amortecedor sujeito a atrito de Coulomb.

    A equação que rege o movimento do sistema mostrado na Figura 15 em vibra-

    ção livre amortecida, desprezando o atrito no contacto entre o pino e o plano, é dada pela

    equação (15):

    𝑚�̈�(𝑡) + 𝑐�̇� (𝑡) + 𝑘𝑥(𝑡) = 0 (15)

    onde, x(t) representa a posição do sistema, em relação à posição de equilíbrio, m a massa, c

    a constante de amortecimento e k a constante de rigidez da mola.

    A solução da equação diferencial da equação (15), ou seja, a resposta do sis-

    tema em vibração livre é dada pela expressão (16), onde X0 representa a posição inicial, ωn

    a frequência natural do sistema, ξ o factor de amortecimento e ϕ uma constante de fase.

    𝑥(𝑡) = 𝑋𝑜𝑒−𝜉ωn𝑡 cos (ωnt+ϕ) (16)

    A frequência natural, ωn, é dada pela expressão (17), enquanto a frequência

    natural amortecida, ωa, pode ser calculada pela equação (18).

    ωn = �𝑘𝑚

    (17)

    ωa = ωn�1 − 𝜉2 (18)

    Se o atrito no ponto de contacto não for desprezável, a equação do movimento

    contém mais um termo dissipativo correspondente à força de atrito, conforme descreve a

    equação (19), onde, μ representa o coeficiente de atrito, considerando o modelo de

    Coulomb, e FN é a força normal de contacto.

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 21

    𝑚�̈�(𝑡) + 𝑐�̇� (𝑡) + 𝑘𝑥(𝑡) = −𝜇𝐹𝑁 |�̇� (𝑡)|�̇� (𝑡)

    (19)

    A equação (19) admite a solução analítica (20). Todavia a complexidade desta

    expressão não permite obter de forma explícita o valor do coeficiente de atrito.

    𝑥(𝑡) = �𝑋𝑖 − 𝜇

    𝐹𝑁𝑘

    |�̇� (𝑡)|�̇� (𝑡)

    � 𝑒−𝜉𝜔𝑛(𝑡−𝑡𝑖) �cos�ωa(t − ti)�

    �1 − ξ2sin�ωa(t − ti)�� + 𝜇

    𝐹𝑁𝑘

    |�̇� (𝑡)|�̇� (𝑡)

    (20)

    onde t=ti=ti-1+i(π/ωa) e Xi=x(ti) i =1, 2, .., n.

    Assim, optou-se por realizar a integração da equação (19) por via numérica. No

    âmbito deste trabalho a integração foi feita recorrendo ao programa comercial Mathcad®,

    com o método de integração numérica de Adams-Bashforth implícito e com um passo de

    integração igual à taxa de aquisição do sinal, ou seja, com um incremento de tempo 1ms.

    3.2. Sistema de medida Qualquer deslocamento aplicado no corpo 1 provoca uma determinada defor-

    mação elástica nas lâminas. Para monitorizar essa deformação elástica utilizaram-se dois

    extensómetros resistivos, um em cada lâmina, e ligados em meia ponte de Wheatstone,

    cujo sinal é amplificado com um amplificador Vishay® com ganho 500x, conectados a um

    osciloscópio digital Pico® ADC-100.

    3.2.1. Calibração do sistema de medida Sabendo que a deformação elástica nas lâminas é directamente proporcional ao

    deslocamento aplicado no corpo 1, a calibração do sistema foi realizada tendo como prin-

    cípio, a aplicação de uma sucessão de deslocamentos conhecidos no copo 1 e o registo do

    sinal de saída no osciloscópio, Figura 16.

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 22

    Figura 16. Voltagem lida no osciloscópio em função do deslocamento aplicado no corpo 1.

    A sensibilidade do sistema de aquisição de sinal é obtida pela inclinação da

    recta que melhor descreve a tendência dos resultados, Figura 16. No caso, 0.477 V/mm,

    com um índice de linearidade de 99.1 %.

    3.3. Constantes físicas do sistema O corpo 1 possui uma rigidez elevada, quando comparada com as lâminas de

    ligação, sendo possível afirmar que está sujeito apenas a movimento de corpo rígido, isto é,

    possui rigidez infinita. Visto isto, admitiu-se que toda a massa do sistema se encontra

    concentrada no corpo 1, com as lâminas a possuírem massa desprezável e que quando

    sujeitas a cargas de flexão segundo a direcção x funcionam como uma mola de rigidez k.

    As forças de restituição e de dissipação são realizadas essencialmente pelas lâminas,

    quando o sistema se move em vibração livre sem atrito, levando a que se tivesse conside-

    rado que as lâminas se assemelham a um sistema mola-amortecedor. Esta simplificação,

    permite a formulação do problema físico num modelo matemático de parâmetros concen-

    trados com um grau de liberdade.

    y = 0.477x - 0.014

    0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    1.2

    1.4

    1.6

    1.8

    0 1 2 3 4

    Sina

    l de

    saíd

    a [V

    ]

    Deslocamento [mm]

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 23

    3.3.1. Determinação da rigidez da mola Para determinar a rigidez do sistema, utilizou-se um fio, uma roldana, um

    conjunto de massas previamente pesadas e um comparador.

    Prendeu-se uma das extremidades do fio ao corpo 1, passou-se o fio pela rol-

    dana, garantindo que o fio entre a roldana e o corpo 1 se encontrava perfeitamente hori-

    zontal, e na outra extremidade suspenderam-se massas de forma sucessiva. O desloca-

    mento provocado pela acção das massas no corpo 1 foi medido utilizando um comparador.

    O resultado do deslocamento horizontal medido em função da força aplicada é mostrado na

    Figura 17.

    Figura 17. Deslocamento horizontal medido em função da força aplicada no corpo 1.

    A linha de tendência da Figura 17 mostra que o comportamento das molas é

    bastante linear, com um índice de correlação linear de Pearson de 0.999, e a rigidez do

    conjunto das duas molas apresentou o valor de 2.618 N/mm.

    3.3.2. Caracterização da dissipação de energia do sistema A resposta do sistema em vibração livre é mostrada na Figura 18, tendo sido

    adquirida com uma taxa de aquisição de 1000 Hertz. A resposta é caracterizada por uma

    vibração com frequência constante e cuja amplitude decresce exponencialmente com o

    número de ciclos. Estas características permitem inferir que a dissipação de energia ocorre

    y = 2.618x - 0.003R² = 0.999

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    0 1 2 3 4

    Forç

    a [N

    ]

    Deslocamento [mm]

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 24

    fundamentalmente na forma viscosa. Assim, a equação do movimento correspondente à

    vibração livre pode ser modelizada por um sistema sub-amortecido em vibração livre, cuja

    lei do movimento é dada pela equação (21).

    Figura 18. Deslocamento do sistema em vibração livre.

    𝑥(𝑡) = 𝑋𝑜𝑒−𝜉ωn𝑡 cos (ωnt+ϕ) (21)

    A frequência natural amortecida ωa, pode ser calculada pela expressão (22) em

    função do período médio, Ta, medido directamente do gráfico do deslocamento apresen-

    tado na Figura 18.

    ωa=2πTa

    (22)

    Analisando o tempo médio entre os primeiros 19 picos positivos da Figura 19,

    verificou-se que a frequência natural amortecida do sistema é de ωa=98.575 rad/s2.

    Se a equação (21) for escrita exclusivamente para os valores de pico máximo

    obtêm-se a equação (23).

    𝑥(𝑡) = 𝑥𝑒−𝜉ωn𝑡 (23)

    Atendendo às constantes da regressão exponencial ajustada pelos máximos,

    conforme ilustrado na Figura 19, extrai-se o valor do factor de amortecimento ξ=0.00817 e

    da frequência própria de vibração ωn=98.575 rad/s2.

    -5-4-3-2-1012345

    0 1 2 3

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 25

    Figura 19. Valores dos primeiros 19 picos positivos.

    Conhecendo a frequência própria de vibração e a rigidez, é possível calcular a

    massa equivalente do sistema, tendo sido obtido o valor m=0.269 kg.

    Substituindo os valores anteriores na equação (21) obteve-se uma correlação de

    0.994 entre a curva da resposta obtida por via teórica com a obtida por via experimental. A

    comparação dos resultados é mostrada na Figura 20.

    Figura 20. Comparação da resposta experimental do sistema com a resposta obtida por via teórica.

    y = 4.043e-0.805xR² = 1.000

    -5-4-3-2-1012345

    0 0.5 1 1.5 2

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

    -6

    -4

    -2

    0

    2

    4

    6

    0 0.5 1 1.5 2

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

    Valor Teórico

    Valor Experimental

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 26

    Utilizando a expressão (3) a evolução do trabalho da força de amortecimento do

    sistema nos primeiros 19 ciclos é mostrada na Figura 21.

    Figura 21. Trabalho realizado pela força de amortecimento nos primeiros 19 ciclos.

    Pelo exposto, as constantes características do modelo experimental foram com-

    pletamente identificadas e estão resumidas na Tabela 2.

    Tabela 2. Características do modelo experimental.

    m

    [kg]

    c

    [N.s/m]

    k

    [N/m]

    ωn

    [rad/s2]

    0.269 0.43 2618 98.575

    3.4. Protocolo experimental Para minimizar os erros introduzidos por variações do procedimento de ensaio,

    foi definido um protocolo que a seguir se descreve:

    1) Fixação do provete esférico no suporte do corpo 1 e a fixação do plano no

    porta-provetes fixo;

    2) Limpeza das superfícies de contacto dos provetes com toalhete humedecido

    em álcool etílico;

    0.E+00

    5.E-04

    1.E-03

    2.E-03

    2.E-03

    3.E-03

    0 5 10 15 20

    Trab

    alho

    [J]

    Número do ciclo

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 27

    3) Ajustamento da força normal desejada, no caso para os valores de 0.2, 0.3,

    0.5 e 0.7 N. (Os valores de carga são ajustados deslocando a massa de tara ao longo do

    fuso e medidos no mostrador da balança);

    4) Anotação das condições ambientais do meio envolvente (humidade relativa

    e temperatura).

    5) Aplicação de um deslocamento inicial, por deslocação manual da posição

    do corpo 1. Esta operação deve ser feita de forma cuidadosa mantendo o contacto entre os

    provetes;

    6) Iniciação da aquisição do sinal de deslocamento ao longo do tempo e

    libertação do sistema, dando início ao movimento de vibração livre com dissipação de

    energia por atrito;

    7) Análise do gráfico de variação do deslocamento com o tempo para defini-

    ção das condições iniciais do movimento. No presente estudo optou-se por ajustar o início

    do tempo a um ponto de deslocamento inicial máximo, logo com velocidade inicial nula,

    Figura 22;

    Figura 22. Curva típica do movimento do sistema em vibração livre com atrito; par de materiais AL2024-

    -AL6082, FN=0.2N.

    8) Integração numérica da equação diferencial, utilizando como variáveis de

    entrada a FN, X0 e uma estimativa inicial do valor de coeficiente de atrito, μ;

    -4

    -3

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    0 0.5 1 1.5

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 28

    9) Comparação da curva integrada com a curva real adquirida em 7), Figura

    23.

    Figura 23. Comparação típica da curva teórica com a curva obtida experimentalmente; par de materiais

    AL2024-AL6082, FN=0.2N.

    10) Repetição do passo 8) para diferentes valores de coeficiente de atrito

    até maximizar a correlação entre as duas soluções, Figura 24.

    Figura 24. Evolução típica da correlação entre a curva teórica e a curva experimental em função do valor do

    coeficiente de atrito; par de materiais AL2024-AL6082, FN=0.2N.

    -4

    -3

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    0 0.5 1 1.5

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

    Experimental

    Teórico

    0.991

    0.992

    0.993

    0.994

    0.995

    0.996

    0.997

    0.15 0.2 0.25 0.3 0.35

    Cor

    rela

    ção

    Coeficiente de Atrito

  • Fundamentação Teórica e Características do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 29

    O procedimento de determinação do coeficiente de atrito é apresentado e resu-

    mido sob a forma de fluxograma na Figura 25.

    Figura 25. Fluxograma do procedimento de determinação do coeficiente de atrito.

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 30

    4. APLICAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL No presente capítulo são apresentados e discutidos, os materiais, as condições

    de ensaio e os valores de atrito dos diferentes pares tribológicos.

    4.1. Materiais Para estudar a aplicabilidade da técnica optou-se por escolher pares de mate-

    riais com comportamento tribológico diferente. Os materiais testados, e as respectivas

    propriedades, estão sintetizados na Tabela 3.

    Tabela 3. Propriedades dos materiais em estudo3

    Par tribológico

    .

    Provete Designação E

    [GPa]

    Dureza

    [HV]

    Ra

    [μm]

    RRMS [μm]

    RZ

    [μm]

    1 Esfera AL2024 69 131 0.98 1.27 7.94

    Plano AL6082 69 98 0.72 0.91 3.89

    2 Esfera 100Cr6 207 856 – – – Plano AISI P20 207 571 0.12 0.14 0.60

    3 Esfera Al2O3 >300 ≈2000 – – – Plano Vidro ≈70 ≈590 0.11 0.13 0.61

    4 Esfera Al2O3 >300 ≈2000 – – – Plano Al2O3 >300 ≈2000 0.30 0.37 1.58

    5 Esfera 100Cr6 207 856 – – – Plano NBR 0.01-0.1 – – – –

    6 Esfera 100Cr6 207 856 – – – Plano Látex 0.001- 0.005 – – – –

    O primeiro par é constituído por dois materiais metálicos de baixa dureza e

    sensíveis a fenómenos de desgaste por adesão. O segundo par é composto por dois mate-

    riais metálicos, dois aços, mais duros e de menor susceptibilidade a fenómenos de desgaste 3 Os valores do módulo de elasticidade, E, assim como os da dureza dos pares tribológicos 3 e 4 são estimados, ou seja, não foram medidos.

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 31

    e de adesão. O terceiro par é constituído por dois materiais cerâmicos de elevada dureza.

    No entanto, verificou-se o aparecimento de “crateras” superficiais no plano, provocadas

    pelo impacto da esfera durante os testes. Isto, levou à selecção de um quarto par,

    constituído por dois materiais cerâmicos, também duros, mas menos sensíveis ao impacto.

    O quinto par é constituído por um metal duro, o material da esfera, e um elastómero. Como

    os resultados obtidos diferiram bastante dos verificados com os restantes pares, para esta

    particularidade de comportamento, utilizou-se um sexto par de materiais, composto pela

    esfera de aço e por um elastómero com propriedades completamente distintas, no entanto

    com um comportamento acentuadamente viscoelástico.

    4.2. Condições de ensaio Os ensaios foram realizados em ambiente de laboratório, com a temperatura de

    22±3ºC e humidade relativa de 50±10 %. A taxa de aquisição do sinal, como já referido

    anteriormente, foi de 1000 Hertz.

    As condições de cada ensaio estão sintetizadas na Tabela 4.

    Tabela 4. Condições ambientais dos ensaios.

    Par tribológico Temperatura

    [ºC]

    Humidade relativa

    [%]

    1 20 44

    2 19 47-50

    3 - -

    4 25 58

    5 24 56

    6 24 61

    4.3. Valores de atrito Na Tabela 5 são mostrados os resultados do coeficiente de atrito para diferentes

    condições de carga do par tribológico AL2024-AL6082. Os resultados apresentados

    referem-se ao tratamento estatístico dos resultados de 4 repetições realizadas imediata-

    mente umas após outras e no mesmo local, sem recolocação dos provetes.

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 32

    Na Tabela 5 é possível observar que o valor do coeficiente de atrito para cargas

    baixas, 0.2 e 0.3 N, é caracterizado por um desvio padrão e intervalo de confiança

    elevados, quando comparado com as cargas 0.5 e 0.7 N.

    Tabela 5. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2024 – Plano AL6082.

    Força Normal

    [N]

    Coef. de atrito Desvio padrão Int. confiança

    95%

    0.2 0.53 0.22 ±0.22 0.3 0.62 0.21 ±0.20 0.5 0.69 0.02 ±0.02 0.7 0.61 0.04 ±0.04

    Assim, analisando a evolução do coeficiente de atrito ensaio a ensaio,

    conforme representado na Figura 26, observa-se que, para cargas de 0.2 e 0.3 N, existe

    uma evolução ascendente do valor do coeficiente de atrito com o número de passagens, ou

    seja, com o número de ensaios. Este comportamento é menos visível, ou mesmo

    inexistente para cargas mais elevadas, 0.5 e 0.7 N. É de realçar que, ao fim de um número

    reduzido de ensaios, o valor do coeficiente de atrito converge para uma gama de valores

    relativamente estreita.

    Este caso ilustra e comprova a aplicabilidade e sensibilidade da técnica a

    materiais onde ocorra deformação plástica por rodagem, originando uma variação

    significativa do atrito com o número de ciclos de repetição do movimento.

    Figura 26. Evolução do atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2024 – Plano AL6082.

    0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    0.8

    0.9

    0 1 2 3 4 5

    Coe

    ficen

    te d

    e at

    rito

    Ensaio

    0.20 N

    0.30 N

    0.50 N

    0.70 N

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 33

    A representação gráfica da força de atrito em função da força normal, Figura 27, permite

    verificar a adequada linearidade dos resultados com um índice de correlação linear de

    Pearson de 0.98, permitindo concluir que a aplicação do modelo linear de Coulomb-

    Amontons é adequada. Do mesmo gráfico é possível obter uma adequada estimativa para o

    valor do coeficiente de atrito, 0.65 (Ramalho, 2010).

    Figura 27. Coeficiente de atrito AL2024-AL6082.

    Na Tabela 6 são mostrados os resultados do coeficiente de atrito para diferentes

    condições de carga do par tribológico 100Cr6-AISI P20.

    Neste caso, mesmo para cargas baixas, os valores do coeficiente de atrito entre

    ensaios é relativamente constante, o que se traduz em intervalos de desvio padrão e de

    confiança muito reduzidos.

    Tabela 6. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera 100Cr6 – Plano AISI P20.

    Força Normal

    [N]

    Coef. de atrito Desvio padrão Int. de confiança

    95%

    0.2 0.26 0.04 ±0.04 0.3 0.22 0.04 ±0.04 0.5 0.13 0.01 ±0.00 0.7 0.12 0.01 ±0.01

    y = 0.65x - 0.01R² = 0.98

    00.05

    0.10.15

    0.20.25

    0.30.35

    0.40.45

    0.5

    0.00 0.20 0.40 0.60 0.80

    Forç

    a Atri

    to [

    N]

    Força Normal [N]

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 34

    Observa-se, também, que à medida que a força normal aumenta o desvio entre

    os resultados é menor, ou seja, há uma maior estabilidade do valor do coeficiente de atrito

    entre repetições.

    Pelo gráfico da força de atrito em função da força normal, representado na

    Figura 28, para o par de materiais 100Cr6-AISI P20, obtém-se o valor de 0.05 para o

    coeficiente de atrito com um índice de correlação linear de Pearson de 0.85.

    Neste caso, porque o índice de correlação linear de Pearson é relativamente

    baixo, além da constante de desvio da linha de tendência, 0.04, ser da ordem de grandeza

    do coeficiente de atrito, 0.05, seria conveniente a realização de mais ensaios para outros

    valores de carga para esclarecer esta tendência.

    Figura 28. Coeficiente de atrito 100Cr6-AISI P20.

    Na Tabela 7 são mostrados os resultados do coeficiente de atrito para diferentes

    condições de carga do par tribológico Al2O3-Vidro.

    Tabela 7. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera AL2O3 – Plano Vidro.

    Força Normal

    [N]

    Coef. de atrito Desvio padrão Int. de confiança

    95%

    0.2 0.21 0.02 ±0.02 0.3 0.14 0.01 ±0.01 0.5 0.13 0.00 ±0.00 0.7 0.22 0.03 ±0.04

    y = 0.05x + 0.04R² = 0.85

    0

    0.01

    0.02

    0.03

    0.04

    0.05

    0.06

    0.07

    0.08

    0.09

    0.00 0.20 0.40 0.60 0.80

    Forç

    a Atri

    to [

    N]

    Força Normal [N]

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 35

    Analisando a tabela anterior, verifica-se que em todas as gamas de cargas o

    coeficiente de atrito é praticamente constante. No entanto, analisando ensaio a ensaio,

    Figura 29, constata-se a existência de dois pontos com um comportamento anormal, ensaio

    número 4 para a força normal de 0.50 N e ensaio número 2 para a carga de 0.7 N.

    Analisando a superfície do plano de um destes ensaios, Figura 30, verifica-se a

    existência de uma fractura superficial, originada pelo impacto da esfera quando contacta

    com o plano.

    Figura 29. Evolução do atrito para diferentes condições de carga, AL2O3-Vidro.

    a) b) c)

    Figura 30. Superfície do plano do par AL2O3-Vidro: a) vista a 1.5x; b) vista a 2.5x; c) vista a 4x.

    A origem desta fractura está na preparação da experiência, e não pelo decorrer

    da mesma. Isto torna o ensaio inválido, pelo que os respectivos resultados não foram utili-

    0

    0.05

    0.1

    0.15

    0.2

    0.25

    0.3

    0.35

    0.4

    0.45

    0 1 2 3 4 5

    Coe

    ficen

    te d

    e at

    rito

    Ensaio

    0.20 N

    0.30 N

    0.50 N

    0.70 N

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 36

    zados para efeitos de cálculo, ou seja, o valor de atrito deste ensaio foi excluído e não foi

    tido em conta para o cálculo dos valores apresentados na Tabela 7.

    Este caso mostra a sensibilidade da técnica perante defeitos que existam na

    superfície do material, já que, o aparecimento de qualquer defeito superficial provoca uma

    variação significativa na resposta do sistema, que, por sua vez, se reflecte no valor do

    coeficiente de atrito.

    O gráfico da Figura 31 mostra o valor de 0.22 para o coeficiente de atrito para

    o par de materiais AL2O3-Vidro, com um índice de correlação linear de Pearson de 0.85.

    Também para este par de materiais a extensão da experiência a um número mais elevado

    de condições de contacto poderia permitir resultados com menor dispersão.

    Figura 31. Coeficiente de atrito Al2O3-Vidro.

    Com o objectivo de verificar se este tipo de comportamento acontece em todos

    os materiais frágeis, substituiu-se o material do plano por outro também cerâmico mas

    mais tenaz, Al2O3.

    Na Tabela 8 são mostrados os resultados do coeficiente de atrito para diferentes

    condições de carga do par tribológico Al2O3-Al2O3.

    y = 0.22x - 0.02R² = 0.85

    0

    0.02

    0.04

    0.06

    0.08

    0.1

    0.12

    0.14

    0.16

    0.00 0.20 0.40 0.60 0.80

    Forç

    a Atri

    to [

    N]

    Força Normal [N]

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 37

    Tabela 8. Coeficiente de atrito para diferentes condições de carga; Esfera Al2O3 – Plano Al2O3.

    Força Normal

    [N]

    Coef. de atrito Desvio padrão Int. de confiança

    95%

    0.2 0.34 0.08 ±0.08 0.3 0.39 0.03 ±0.03 0.5 0.52 0.11 ±0.10 0.7 0.48 0.01 ±0.01

    Neste caso, para as cargas de 0.2 e 0.5 N, o desvio entre os valores obtidos é da

    ordem dos 20 %. Para as cargas de 0.3 e 0.7 N o desvio é residual. Ao contrário do caso

    anterior, neste caso não existiu qualquer fractura provocada pelo manuseamento do

    mecanismo, o que permite afirmar que todos os ensaios são válidos.

    O gráfico da força de atrito em função da força normal mostra o valor de 0.56

    para o coeficiente de atrito para o par de materiais Al2O3-Al2O3, com um índice de

    correlação linear de Pearson de 0.98, Figura 32.

    Figura 32. Coeficiente de atrito Al2O3-Al2O3.

    A Figura 33 representa o exemplo de um ensaio do par de materiais 100Cr6-

    -NBR.

    Analisando a Figura 33, ao contrário do que aconteceu nos ensaios realizados

    para os outros materiais, como por exemplo o caso representado na Figura 23 , constata-se

    que, apesar de o número de oscilações ser menor, a frequência própria de vibração obtida

    experimentalmente não coincide com a frequência própria de vibração do modelo teórico.

    y = 0.56x - 0.04R² = 0.98

    0

    0.05

    0.1

    0.15

    0.2

    0.25

    0.3

    0.35

    0.4

    0.00 0.20 0.40 0.60 0.80

    Forç

    a Atri

    to [

    N]

    Força Normal [N]

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 38

    Isto é, a curva teórica que mais se aproxima da curva experimental está desfasada e atrasa-

    -se à medida que decorre o ensaio, concluindo-se que a oscilação não decorre a frequência

    constante.

    Figura 33. Comparação da resposta real do sistema com a resposta obtida por via teórica, 100Cr6-NBR.

    Com o objectivo de verificar se este tipo de comportamento é típico em todos

    os materiais viscoelásticos, optou-se por repetir o estudo utilizando agora como plano uma

    película de látex. O resultado é semelhante, como é mostrado na Figura 34.

    Figura 34. Comparação da resposta real do sistema com a resposta obtida por via teórica, 100Cr6-Látex.

    -4

    -3

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

    Experimental

    Teórico

    -4

    -3

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    0 0.1 0.2 0.3

    Des

    loca

    men

    to [m

    m]

    Tempo [s]

    Experimental

    Teórico

  • Aplicação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 39

    A explicação para o comportamento identificado, deve-se ao comportamento

    deste tipo de materiais; de facto nos materiais com comportamento viscoelástico a relação

    entre as tensões e as deformações não é linear, e as tensões são dependentes da velocidade

    de deformação. Este comportamento afecta a parte homogénea da equação diferencial do

    movimento, equação (19), afecta, o termo da derivada de 1ª ordem, isto é, o

    amortecimento, e o termo da derivada de ordem zero, ou seja, a rigidez do sitema, e

    possivelmente também afecta o segundo membro da equação, ou seja, o atrito. A análise

    inversa deste tipo de materiais deverá exigir a aplicação de equações não lineares.

  • Validação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 40

    5. VALIDAÇÃO DO MODELO EXPERIMENTAL No presente capítulo proceder-se-á à validação da técnica e do procedimento

    de análise inversa pela comparação com resultados obtidos aplicando uma técnica dife-

    rente, no caso a técnica de deslizamento unidireccional com carga crescente Load-Scanner,

    utilizando como materiais de teste o par tribológico Esfera AL2024 – Plano AL6082.

    5.1. Validação do procedimento pela técnica Load- -Scanner

    A técnica Load-Scanner consiste em colocar uma esfera (5 mm de raio) a des-

    lizar, em movimento contínuo e a velocidade constante (1 mm/s), em contacto com um

    plano. Concomitantemente com o movimento de avanço aplicar-se-á um aumento da força

    normal de forma linear até ao valor de 13 N.

    A Figura 35 mostra a evolução da força de atrito com o aumento da força nor-

    mal numa primeira passagem, para o par de materiais Esfera AL2024 – Plano AL6082.

    Figura 35. Evolução da força de atrito com o aumento da força normal, AL2024-AL6082.

    A relação entre a força de atrito e a força normal é mostrada na Figura 36, e

    obtém-se o valor de 0.27 para o coeficiente de atrito com um índice de correlação linear de

    Pearson de 0.98.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    0 1 2 3 4

    Forç

    a [N

    ]

    Tempo[s]

    Força NormalForça de Atrito

  • Validação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 41

    Figura 36. Força de atrito em função da força normal, AL2024-AL6082.

    Para proceder à validação do modelo, este procedimento foi repetido quatro

    vezes, ou seja, foram realizadas quatro passagens sobre a mesma pista.

    A evolução da força de atrito em função da força normal, com o decorrer do

    número de passagens, é mostrada na Figura 37. A quarta passagem revela variações locais

    e abruptas da força de atrito, indiciando a ocorrência de fenómenos de adesão

    Figura 37. Evolução da força de atrito com o número de passagens, em função da força normal, AL2024-

    -AL6082.

    y = 0.27x - 0.24R² = 0.98

    0

    0.5

    1

    1.5

    2

    2.5

    3

    3.5

    0 5 10 15

    Forç

    a de

    Atri

    to[N

    ]

    Força Normal [N]

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    0 5 10 15

    Forç

    a de

    Atri

    to[N

    ]

    Força Normal [N]

    1ª Passagem

    2ª Passagem

    3ª Passagem

    4ª Passagem

  • Validação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 42

    .

    A correspondente evolução do coeficiente de atrito pode ser observada na

    Figura 38. Verifica-se um aumento do atrito com o número de passagens com tendência

    para um regime de estabilização a partir da 3ª passagem.

    Figura 38. Evolução e valor do coeficiente de atrito com o número de passagens, AL2024-AL6082.

    Como ilustra a Figura 39, esta constatação torna-se mais clara e visível

    sobrepondo os resultados obtidos pela técnica Load-Scanner, representados na Figura 38,

    com os resultados obtidos pelo novo modelo experimental, representados na Figura 26.

    A comparação dos resultados demonstra que em ambas as técnicas se verificou

    sensibilidade à rodagem, que se revelou por um aumento do atrito com o número de passa-

    gens realizadas sobre a mesma pista. Contudo, a técnica de medição por vibração parece

    ser menos sensível a este efeito quando os valores de carga normal foram mais elevados.

    Esta diferença deve-se ao facto de um teste de medição por vibração implicar várias osci-

    lações sobre a mesma pista de contacto, e, quando a carga normal é suficientemente ele-

    vada o atrito tende para um valor estacionário minimizando o efeito da rodagem. Os valo-

    res obtidos por ambas as técnicas foram bastante semelhantes o que reforça a validade da

    técnica agora proposta como uma alternativa viável para medição do atrito em contactos

    deslizantes.

    0.27

    0.39

    0.79 0.76

    0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    0.8

    0.9

    0 1 2 3 4 5

    Coe

    ficie

    nte

    de a

    trito

    Passagem

  • Validação do Modelo Experimental

    Nelson Marco Xavier Trindade 43

    Figura 39. Comparação da evolução e dos valores de atrito obtidos pelo modelo experimental com os

    obtidos pela da técnica Load- Scanner; AL2024-AL6082.

    5.2. Mecanismos de atrito A Figura 40 mostra a evolução da topografia das superfícies das amostras, no

    final dos testes de atrito, do par tribológico AL2024-AL6082 para as diferentes condições

    de carga.

    A Figura 41 a) mostra a topografia da superfície do plano no final do teste de

    atrito pela técnica Load-Scanner ao fim da quarta passagem, do par tribológico AL2024-

    -AL6082. A Figura 41 b) mostra a evolução da força de atrito com o incre