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SIMPLEX NAS SOCIEDADES COMERCIAIS NEWSLETTER RVR 1 Abril de 2007 MEDIDAS DE DESBUROCRATIZAÇÃO DOS ACTOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS Helena Paulos Leitão A publicação do Decreto-Lei nº 76-A/2006, de 29 de Março, que adoptou medidas de simplificação e eliminação de actos e procedimentos registais e notariais, operou uma reforma profunda no direito societário e no registo comercial, que visou «promover o desenvolvimento económico e a criação de um ambiente mais favorável à inovação e ao investimento em Portugal, sempre com a garantia da segurança jurídica e salvaguarda da legalidade das medidas adoptadas», e, ainda, o «aperfeiçoamento de algumas disposições do Código das Sociedades Comerciais e do Código de Registo Comercial». Este diploma veio proceder a uma autêntica revolução no direito societário português, extremamente formalista e burocrático e, como tal, oneroso e pouco competitivo. Neste contexto, tornou-se facultativa a titulação por escritura pública dos actos relativos à vida das sociedades comerciais (v.g. a constituição de sociedade e todas as alterações ao contrato de sociedade, incluindo aumento e redução de capital, alteração da sede, fusão, cisão, transformação, dissolução), exceptuadas sempre as situações em que o acto em causa opera a transmissão de um imóvel, caso em que continua a ser exigida, como anteriormente, a celebração de escritura pública. Assim, acabou o duplo controlo de legalidade, antes efectuado pelo notário e pelo conservador do registo, e passou-se a efectuar um único controlo obrigatório, realizado na conservatória do registo comercial. O registo comercial foi alterado de modo substancial, nomeadamente quanto à eliminação da competência territorial das conservatórias, permitindo-se, assim, que qualquer cidadão ou empresa possa praticar qualquer acto de registo comercial em qualquer conservatória do registo comercial do território nacional, independentemente da conservatória da sede da sociedade em causa, bem como de alguns actos de registo (v.g. o registo da autorização para que se mantenha na firma social o nome do sócio que se retire ou faleça e o registo da aprovação dos projectos de fusão e cisão). Eliminaram-se todos os formulários de pedido de registo, sempre que este seja efectuado ao balcão. Com esta medida eliminam-se mais de 200.000 formulários/ano, com 4 páginas cada um, poupando-se os custos inerentes à sua produção e preenchimento. O Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março, introduziu duas formas de registo: registo por transcrição e o novo registo por depósito. Este último consiste no mero arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a registo, não estando sujeito a qualificação pela conservatória do registo comercial, o que significa que a validade dos factos registados é da responsabilidade de quem promove o registo, em regra a

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SIMPLEX NAS SOCIEDADES COMERCIAIS NEWSLETTER RVR 1

Abril de 2007

MEDIDAS DE DESBUROCRATIZAÇÃO DOS ACTOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS Helena Paulos Leitão

A publicação do Decreto-Lei nº 76-A/2006, de 29 de Março, que adoptou medidas de simplificação e eliminação de actos e procedimentos registais e notariais, operou uma reforma profunda no direito societário e no registo comercial, que visou «promover o desenvolvimento económico e a criação de um ambiente mais favorável à inovação e ao investimento em Portugal, sempre com a garantia da segurança jurídica e salvaguarda da legalidade das medidas adoptadas», e, ainda, o «aperfeiçoamento de algumas disposições do Código das Sociedades Comerciais e do Código de Registo Comercial». Este diploma veio proceder a uma autêntica revolução no direito societário português, extremamente formalista e burocrático e, como tal, oneroso e pouco competitivo. Neste contexto, tornou-se facultativa a titulação por escritura pública dos actos relativos à vida das sociedades comerciais (v.g. a constituição de sociedade e todas as alterações ao contrato de sociedade, incluindo aumento e redução de capital, alteração da sede, fusão, cisão, transformação, dissolução), exceptuadas sempre as situações em que o acto em causa opera a transmissão de um imóvel, caso em que continua a ser exigida, como anteriormente, a celebração de escritura pública. Assim, acabou o duplo controlo de legalidade, antes efectuado pelo notário e pelo conservador do registo, e passou-se a

efectuar um único controlo obrigatório, realizado na conservatória do registo comercial. O registo comercial foi alterado de modo substancial, nomeadamente quanto à eliminação da competência territorial das conservatórias, permitindo-se, assim, que qualquer cidadão ou empresa possa praticar qualquer acto de registo comercial em qualquer conservatória do registo comercial do território nacional, independentemente da conservatória da sede da sociedade em causa, bem como de alguns actos de registo (v.g. o registo da autorização para que se mantenha na firma social o nome do sócio que se retire ou faleça e o registo da aprovação dos projectos de fusão e cisão). Eliminaram-se todos os formulários de pedido de registo, sempre que este seja efectuado ao balcão. Com esta medida eliminam-se mais de 200.000 formulários/ano, com 4 páginas cada um, poupando-se os custos inerentes à sua produção e preenchimento. O Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março, introduziu duas formas de registo: registo por transcrição e o novo registo por depósito. Este último consiste no mero arquivamento dos documentos que titulam factos sujeitos a registo, não estando sujeito a qualificação pela conservatória do registo comercial, o que significa que a validade dos factos registados é da responsabilidade de quem promove o registo, em regra a

sociedade. Assim, para determinados actos de registo, em que apenas se pretende dar publicidade a determinado facto, deixa de haver qualificação por parte da conservatória (v.g. registo da deliberação da assembleia geral, nos casos em que a lei a exige, para aquisição de bens pela sociedade). Eliminou-se a obrigatoriedade da escrituração mercantil, no que respeita aos livros de inventário, balanço, diário, razão e copiador, mantendo-se apenas a obrigatoriedade de existência dos livros de actas, que, no entanto, deixam igualmente de ser obrigatoriamente legalizados na conservatória do registo comercial. Reduziram-se e clarificaram-se muitos dos custos da prática dos actos da vida das empresas, determinando-se, designadamente, que os preços praticados nas conservatórias de registo comercial se tornem mais claros e apreensíveis para o utente, na medida em que, em numerosas situações, passam a incluir, num valor único e fixo de registo, todos os restantes actos e custos que eram cobrados avulsamente, como os emolumentos pessoais, certidões, publicações e inscrições subsequentes no ficheiro central de pessoas colectivas. O processo de impugnação das decisões em matéria de qualificação de registos foi remodelado, suprimindo-se a reclamação e alterando o regime do recurso hierárquico e da impugnação contenciosa. Criaram-se procedimentos administrativos de dissolução e liquidação de entidades comerciais, da competência das conservatórias do registo comercial, consagrando, designadamente, causas oficiosas de dissolução e liquidação por iniciativa do Estado, quando existam indicadores objectivos da inexistência de actividade daquelas entidades e, ainda, um procedimento especial de extinção imediata de entidades comerciais. A competência para a realização de todo o tipo de reconhecimentos, termos de autenticação, traduções e certificados de tradução, foi atribuída a conservadores,

oficiais de registo, advogados e solicitadores e câmaras de comércio ou indústria, deixando estas competência, mormente as autenticações e os reconhecimentos de assinaturas presenciais, de estar exclusivamente atribuídas aos notários (numa ampliação do que já estava previsto no art. 5º do Decreto-Lei nº 237/2001, de 30 de Agosto). Com esta medida simplifica-se, em larga escala, a vida das empresas e dos cidadãos em geral, sem prejudicar a segurança jurídica. Em execução do Decreto-Lei nº 76-A/2006, de 29 de Março, que aprovou o Programa SIMPLEX, consubstanciado num vasto conjunto de medidas de simplificação da vida das empresas e cidadãos, a Portaria 1416-A/2006, de 19 de Dezembro, procedeu-se, ainda, à execução das medidas relativas à promoção pela Internet de actos de registo comercial e da criação da certidão permanente. Qualquer pessoa, desde que tenha um meio de certificação electrónica adequado, pode requerer ou promover on-line (via www.empresaonline.pt) qualquer acto sujeito a registo comercial, o que é mais rápido e barato do que pela via anterior e permite, também, que o registo seja realizado imediatamente ou no prazo máximo de 2 dias úteis. Quanto à certidão (comercial) permanente, que se traduz na disponibilização na Internet, sempre actualizada, da reprodução dos registos em vigor relativos à empresa, com menção das apresentações e pedidos pendentes, o serviço já pode ser subscrito, quer através do site supra referido, quer verbalmente em qualquer conservatória. Prosseguindo a saga do SIMPLEX, o Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17de Janeiro, já em vigor, criou a Informação Empresarial Simplificada (IES) e introduziu uma série de alterações nas leis comerciais (Códigos das Sociedades, do Registo Comercial e de Processo Civil, no EIRL e em outros regimes), visando desburocratizar, eliminar, simplificar e tornar menos onerosos procedimentos e actos

relativos às empresas e à actividade empresarial. Para além disso, o Decreto-Lei n.º 8/2007 procedeu, ainda, à eliminação da intervenção judicial obrigatória para a redução do capital social das sociedades comerciais, à eliminação da necessidade de solicitação de novo certificado de admissibilidade de firma quando haja mudança de sede para concelho diferente e à promoção da transição de EIRL´s (estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada) para sociedades unipessoais por quotas, dispensando-as, até 30.06.2007, dos encargos do respectivo registo. Esta mudança somente foi possível graças aos avanços tecnológicos registados ao nível da informática e também pela galopante adesão aos meios electrónicos da grande maioria das pessoas singulares e colectivas. Importa também referir, em sede de evoluções legislativas a que as novas

tecnologias têm dado azo, a possibilidade de constituição de sociedades comerciais (de responsabilidade limitada e anónimas) via on-line, nos termos do disposto no Decreto-Lei n.º 125/2006, de 29 de Junho e Portaria n.º 657-C/2006, de 29 de Junho, com algumas restrições ao nível da firma e das disposições dos pactos sociais, com particular destaque para o objecto social, estando aqueles previamente aprovados e disponíveis para escolha pelo utilizador. Haverá que esperar ainda pela adesão dos vários beneficiários destas novas e pungentes alterações para verificarmos quais serão os resultados práticos e económicos daí decorrentes. A expectativa é positiva, uma vez que se facilita a vida das sociedades, que poupam tempo e recursos, e se promove o investimento em Portugal, que muitas vezes “esbarrava” na excessiva carga burocrática imposta.