medida de internaÇÃo provisÓria e as instituiÇÕes … de... · consumo e, para isso, acabam...

73
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ESTER GARDENIA CASTELO LIRA MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO: PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ FORTALEZA 2014

Upload: hanga

Post on 11-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ESTER GARDENIA CASTELO LIRA

MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES DE

ACOLHIMENTO: PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES EM CONFLITO

COM A LEI DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ

FORTALEZA

2014

Page 2: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

1

ESTER GARDENIA CASTELO LIRA

MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES DE

ACOLHIMENTO: PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES EM CONFLITO

COM A LEI DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ

Trabalho de Conclusão de Curso

submetida à aprovação da Coordenação

do Curso de Serviço Social do Centro de

Ensino Superior do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do grau de

Graduação.

Orientador: Ms. Alberto dos Santos

Barros Filho

FORTALEZA

2014

Page 3: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

2

ESTER GARDENIA CASTELO LIRA

MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES DE

ACOLHIMENTO: PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI

DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ

Trabalho de Conclusão de Curso

submetida à aprovação da Coordenação

do Curso de Serviço Social do Centro de

Ensino Superior do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do grau de

Graduação.

Aprovada em: _____/07/2014.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Ms. Alberto dos Santos Barros Filho (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________

Ms. Jane Meyre Silva Costa

Faculdade Cearense (FAC)

____________________________________________

Ms. Lara Denise Oliveira Silva

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Page 4: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me conceber a sabedoria, a

coragem e a paciência e, sobretudo, por ter me dado o dom da vida.

Aos meus pais, Antonia Maria e Francisco Edson (in memoriam), que

sempre me incentivaram e me ensinaram a ser determinada, a nunca desanimar

diante das dificuldades e a buscar minha própria independência.

Aos meus irmãos, que, nos momentos mais difíceis, estavam sempre

pertinho de mim.

Aos colegas de turma, pelo conhecimento e troca de experiências que

pude vivenciar nos debates em sala de aula.

Aos meus amigos de trabalho, que me substituíram em algumas faltas

ocasionadas devido às entrevistas realizadas no decorrer da pesquisa.

Ao meu orientador, Alberto, por ter me mostrado quais caminhos deveria

seguir, pela paciência e disponibilidade.

As professoras Jane e Lara, por terem aceitado participar da Banca

Examinadora e pelas contribuições ao trabalho através de críticas construtivas.

A todos os professores do curso que me ajudaram a adquirir bastante

conhecimento.

Aos funcionários da 2ª Vara Cível, privativa da Infância e Juventude do

Fórum de Maracanaú, por terem permitido o acesso aos documentos relativos aos

atos infracionais e o espaço cedido para realização das entrevistas com os

adolescentes.

Aos adolescentes que concederam as entrevistas, sendo de fundamental

importância para a construção deste trabalho.

A todos que não foram citados, mas que de alguma forma contribuíram

seja direta ou indiretamente, meus humildes agradecimentos.

Page 5: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

4

“A tarefa não é tanto ver aquilo que

ninguém viu, mas pensar o que ninguém

pensou sobre aquilo que todo mundo vê. ”

(Arthur Schopenhauer)

Page 6: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

5

RESUMO O presente trabalho trata da medida de internação provisória aplicada aos adolescentes do município de Maracanaú, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. A medida proposta no ECA é uma das sanções direcionadas aos adolescentes em conflito com a lei. O campo da pesquisa foi o Fórum de Maracanaú onde são realizadas audiências de apresentação com os adolescentes que foram submetidos à medida de internação provisória e são encaminhados para cumprimento em instituições do município de Fortaleza-CE. O objetivo foi analisar, através das manifestações e percepções dos adolescentes, quais as formas e os significados encontrado sobre a internação provisória e o acolhimento das instituições responsáveis pelos atendimentos. A pesquisa fora realizada com 4 adolescentes do sexo masculino e 1 feminino. Será discutido o processo histórico de políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes, desde o primeiro Código de Menores até o Estatuto da Criança e do Adolescente; cometimento do ato infracional; representatividade da família e da escola; atuação da polícia; apresentação do campo de pesquisa e sua estrutura social, econômica e política e por fim, a visão dos adolescentes quanto ao cumprimento da medida de internação provisória, à instituição e aos profissionais. O método utilizado para alcançar os objetivos foi à pesquisa qualitativa por obedecer à natureza investigativa e pela variabilidade de dados a serem analisados após a coletagem, bem como foram utilizados recursos como a entrevista, análise documental e bibliográfica. Palavras-chave: Medida de internação Provisória. Adolescentes em conflito com a lei. Instituições de acolhimento.

Page 7: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

6

ABSTRACT The present work deals with provisional admission as applied to adolescents in Marazion, provided for in the Statute of Children and Adolescents. The proposed measure is an ACE sanctions directed at adolescents in conflict with the law. The field of research was the forum where audiences Maracanaú presentation with adolescents who underwent measurement of provisional admission and are sent to institutions in compliance with the city of Fortaleza are performed. The objective was to analyze, through demonstrations and perceptions of adolescents, which forms and meanings found on the provisional admission and the host institution responsible for attending. The research carried out with 4 adolescent males and 1 female. The historical process of public policies for children and adolescents will be discussed, from the first to the Juvenile Code Statute of Children and Adolescents; commission of the offense; representativeness of the family and school; police action; presentation of the research field and its social, economic and political structure, and finally, the perceptions of adolescents regarding compliance of the detention provisional, to institutions and professionals. The method used to achieve the objectives of the qualitative research was to obey the investigative nature and variability of data to be analyzed after coletagem as well as features such as interviews, document and literature review were used. Keywords: Measure Provisional admission. Adolescents in conflict with the law. Host institutions.

Page 8: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANADEP Associação Nacional de Defensores Públicos

CF Constituição Federal de 1988

CNMP Conselho Nacional do Ministério Público

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

DCA Delegacia da Criança e do Adolescente

DNC Departamento Nacional da Criança

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBEM Fundações Estaduais do Bem Estar do Menor

FUNABEM Fundação de Bem Estar do Menor

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IHA Índice de Homicídios na Adolescência

IPECE Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará

MNMMR Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua

MPDFT Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

OMS Organização Mundial de Saúde

PNBEM Política Nacional de Bem Estar do Menor

SAM Serviço de Assistência a Menores

SDH Secretaria de Direitos Humanos

SEDH Secretaria Especial dos Direitos Humanos

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SNPDCA Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do

Adolescente

STDS Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social

Page 9: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 9

1. FAMÍLIA, ESCOLA, ATO INFRACIONAL E POLÍTICA: TRAJETÓRIAS EM CONFLITO ............................................................................................................... 15

1.1 Campo da pesquisa ................................................................................... 15 1.2 Trajetórias – Ato infracional, família, escola, polícia .............................. 21

1.2.1 O Ato Infracional ................................................................................... 22 1.2.2 A família ................................................................................................ 24 1.2.3 A escola ................................................................................................ 26 1.2.4 A polícia ................................................................................................ 28

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL E AS DIVERSAS CONCEITUAÇÕES DE ADOLESCÊNCIA .................................................................................................... 31

2.1 Histórico das políticas públicas para crianças e adolescentes no Brasil ............................................................................................................... 31

2.2 Conceitos de adolescência ....................................................................... 37 2.3 Adolescência e “violência”, “desvio”, “criminalidade” .......................... 40

3. AS PERCEPÇÕES DOS ADOLESCENTES SOBRE A MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E A DESCRIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES ................. 44

3.1 A Internação Provisória ............................................................................. 44 3.2 As instituições de internação .................................................................. 50

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 64

Page 10: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

9

INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho é fazer uma análise a partir das representações

dos adolescentes autores de atos infracionais sobre a aplicação da medida

socioeducativa de privação de liberdade provisória do município de Maracanaú/CE.

A escolha do tema partiu das experiências vivenciadas durante o período em que

trabalhei na vara da infância e da juventude do Fórum de Maracanaú – CE.

É de grande importância traçar o perfil dos sujeitos da pesquisa,

descrever a realidade em que os adolescentes estão inseridos, através de suas falas

e sistematizar os dados e informações levantados, perfazendo um esforço para

instituir mecanismos de entendimento dos processos sociais destes adolescentes,

trazendo uma responsabilidade da proteção de seus direitos.

Tendo em vista que a pesquisa trata de adolescentes em conflito com a lei

residentes do município de Maracanaú, faz-se necessária, para alcançarmos um

entendimento maior sobre a realidade em que estão inseridos estes adolescentes,

uma breve apresentação do município, apontando dados culturais, históricos e

econômicos.

O nome Maracanaú, em Tupi, significa “Lagoa onde bebem as

maracanãs” e surgiu devido há um grande número de aves maracanãs que

sobrevoavam as lagoas existentes no município (SOUSA, 1996).

O povoamento se expandiu com um vertiginoso crescimento populacional

motivado principalmente pela construção de diversos conjuntos habitacionais. Isto

exerceu uma forte atração junto às populações, em especial, os trabalhadores que

foram expulsos da Capital, Fortaleza, quando em 1970, Maracanaú neste processo

de grandes transformações é escolhido para sediar o Distrito Industrial de Fortaleza

(SOUSA, 1996).

A cidade, atualmente com 31 anos, relativamente nova, foi emancipada do

município de Maranguape em 06 de março de 1983, através de uma ação política do

Movimento pela Emancipação de Maracanaú.

Atualmente, o município, localizado na região metropolitana de Fortaleza,

é considerado um dos mais populosos do Estado do Ceará com aproximadamente

Page 11: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

10

217.922 habitantes e o segundo em arrecadação econômica, segundo dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013.

Para a autora ROSA (2011), em sua pesquisa sobre a Gestão Integrada

dos Serviços e Benefícios da Política de Assistência Social: uma análise dos Centros

de Referência de Assistência Social (CRAS) de Maracanaú, o crescimento

populacional e o aceleramento da urbanização do município causa um “elevado

índice de desemprego e à debilidade na qualidade ambiental contribuem para as

disparidades e vulnerabilidades vivenciadas pela população de Maracanaú” (p. 23).

Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE, 2012):

Maracanaú é a segunda maior economia da RMF. Tem sua economia mais voltada para a Indústria que, em 2010, participava com 52,20%. Além disso, Maracanaú é considerado o maior polo cearense em confecção e integra um dos distritos industriais mais antigos do Ceará, que abriga outras atividades significativas, como: cosméticos, calçados, geração de energia elétrica modulada, beneficiamento da castanha de caju, vergalhões, barra de aço etc. Sua segunda atividade forte é o setor de Serviços, com participação de 47,71% da renda gerada no município. A cidade conta, também, com agências bancárias e possui um comércio considerável. Vale ressaltar que Maracanaú detinha a menor participação da atividade Agropecuária da RMF, com 0,09%, em 2010. (IPECE, 2012)

Apesar do município ser considerado o segundo maior polo industrial do

estado, que cresce e se desenvolve aceleradamente. Como moradora, percebo que

ainda há um descontrole sobre as riquezas existentes na região, que acaba gerando

consequências como a pobreza e a violência, ocasionadas exatamente pela

desigualdade na distribuição de renda e no acesso à políticas públicas, afetando

principalmente os adolescentes que passam a sonhar e desejar bens materiais e de

consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”.

A todo momento, deparamo-nos com notícias de adolescentes que estão

envolvidos com a prática de delitos ficando evidente que há algo de errado, mas

como saber o que está errado? Para chegarmos à resposta, temos que percorrer um

caminho extenso e complexo que envolve questões sociais, econômicas, políticas

e/ou culturais, dentre outros valores que são cruciais para o desenvolvimento de um

Page 12: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

11

adolescente1 que passa pelo reconhecimento e desenvolvimento de sua identidade.

Atualmente, há várias discussões voltadas para a temática adolescentes

em conflito com a lei, ocorrendo em jornais, programas de televisão, espaços

públicos e privados. Isso acontece devido à percepção de um número crescente de

adolescentes envolvidos com “crime”.

Angélica Goulart, Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da

Criança e do Adolescente, criticou setores da imprensa, durante o Seminário

Infância e Comunicação, expressando a seguinte frase: "sentimento de vingança

social". Explicou que pela falta de qualificação dos meios de comunicação, em

divulgarem apenas indicativos negativos sobre os atos infracionais, não apontando

que nos últimos dez anos, houve uma redução no cometimento de atos infracionais

por adolescentes, leva a discussão e aceitação, por maior parte da população, da

redução da maioridade penal. De acordo com a secretária, no ano de 2002, o

número de homicídios representava cerca de 14% do total dos atos infracionais e

hoje (2013) esse percentual gira em torno de 8% (AGÊNCIA CÂMARA NOTÍCIAS,

2013).

O tema atual mais discutido sobre os adolescentes que comentem ato

infracional2 está voltado para a redução da maioridade penal. Segundo pesquisa do

DataSenado, realizada no período de 17 de fevereiro a 05 de março, do ano

corrente, 81% dos internautas que participaram da enquete são a favor da redução

da maioridade penal de 18 anos para 16 anos, acreditando, este percentual, que os

jovens devem ser punidos conforme adultos, haja vista as várias formas de “crime”

cometidos (AGÊNCIA SENADO, 2014).

Para Mário Volpi (2011):

Os parlamentares estão apresentando uma falsa solução para um problema muito complexo. Os projetos focam o agravamento de pena e a redução da idade como se enviar um adolescente de 14 ou 16 anos para o sistema penal de adultos fosse resolver o problema da violência. Ao contrário, ao inserir precocemente o adolescente no sistema penal de adultos, reduz-se a perspectiva deste adolescente interromper sua trajetória no mundo do delito e alimenta-se um sistema já ineficiente, incluindo nele jovens que serão submetidos aos grupos do crime organizado. Além disso ao impor aos adolescentes um sistema de justiça dos adultos, negligencia a

1 Para o ECA, são considerados adolescentes aqueles que possuem 12 anos a 18 anos incompletos.

2 O ato infracional é a conduta descrita em lei como crime ou contravenção penal, conforme

estabelecido no art. 103 do ECA.

Page 13: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

12

responsabilidade do Estado, da sociedade e da família em assegurar os direitos de cada criança e adolescente.

A referida proposta de redução da maioridade penal, exprime uma visão

de Estado, cujo objetivo é eximi-lo da responsabilidade frente à problemática

existente, quando poderia estabelecer melhorias e investimentos na qualidade das

políticas públicas existentes, que atendem às garantias dos direitos e deveres de

crianças e adolescentes, ora estabelecidos no ECA e na Constituição Federal.

A internação provisória é um procedimento determinado antes da

sentença, com vistas a embasar a aplicação da medida socioeducativa mais

adequada ao adolescente, considerando-se sua capacidade de cumpri-la e não

sendo, por este motivo, uma medida socioeducativa. Entretanto, a “internação

provisória, cuja natureza é cautelar, segue os mesmos princípios da medida

socioeducativa de internação” (SEDH, 2006, p. 27-28), aplicada somente quando há

indícios suficientes para comprovar a infração, conforme estabelecido pelo art. 183

do ECA. A internação provisória não poderá ultrapassar o período máximo

estabelecido de 45 dias, conforme prevê o art. 108, caput e parágrafo único do ECA.

Com base no crescimento da violência no município de Maracanaú, o

estudo está voltado para os adolescentes que estão inseridos na prática de atos

infracionais. Foram entrevistados 5 adolescentes, sendo 4 meninos e 1 menina. As

entrevistas ocorreram na 2ª Vara Cível, privativa da Infância e da Juventude do

Fórum de Maracanaú, localizado na Rua Luiz Gonzaga Honorato, s/nº, Colônia

Antônio Justa, Maracanaú – CE, onde os adolescentes que foram submetidos a

internação provisória, comparecem para audiência de apresentação.

O município de Maracanaú não dispõe de Centros Educacionais que

atendam adolescentes que cometeram atos infracionais. Segundo informações

obtidas junto à 2ª Vara Cível, privativa da Infância e da Juventude do Fórum de

Maracanaú, quando há determinação para internação dos adolescentes, os mesmos

são encaminhados para o Centro de Triagem no município de Fortaleza – CE. Após

a triagem, os adolescentes são encaminhados para unidades específicas que

obedecem a regras como faixa etária, sexo, primariedade, dentre outras.

Contudo, a discussão volta-se para o entendimento e a intencionalidade

da aplicação da medida socioeducativa de internação provisória pelo Poder

Page 14: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

13

Judiciário da Infância e Juventude do município de Maracanaú – CE, quais são os

objetivos, as mudanças que se deseja alcançar, ou se a ideia é apenas de caráter

punitivo. Já que as medidas socioeducativas possuem, de acordo com os

dispositivos legais, caráter não apenas de punição, mas também educativo, e devem

contribuir para o restabelecimento e fortalecimento dos vínculos sociais.

A pesquisa valoriza o método qualitativo, por obedecer a uma natureza

investigativa e pela variabilidade de dados a serem coletados e analisados,

propiciando, assim, uma melhor compreensão do problema ora estudado, bem como

se trata de uma técnica pela qual buscamos formular e reunir um conjunto de

elementos capazes de transmitir o saber com clareza, partindo de um entendimento

de que não basta conhecer o fenômeno, mas encontrar formas de decifrá-lo, como

afirma Queiroz:

[...] O qualitativo está, além do mais, constantemente presente em todo o desenrolar do trabalho, uma vez que sem palavra nenhuma a transmissão de saber científico é possível. Na verdade, somente o procedimento qualitativo possibilita um aprofundamento real do conhecimento e uma acumulação do saber, dois predicados fundamentais da ciência [...]. (QUEIROZ, 2008, p. 33)

Para a realização da entrevista, foram elaboradas questões abertas. Esta

etapa objetivou a apreensão dos discursos construídos. Intentou-se, assim, lançar

do olhar e do ouvir. Para Oliveira, “[...] o olhar possui uma significação específica

para o cientista social, o ouvir também goza dessa propriedade [...] tanto o ouvir

como o olhar não podem ser tomados como faculdades totalmente independentes

no exercício da investigação [...] ambas complementam-se [...]” (2000, p. 21).

Utilizou-se também, como recurso metodológico, a análise documental e

bibliográfica. Este momento contribuiu para o entendimento sobre o objeto da

pesquisa, considerando-se livros, artigos, revistas e jornais.

Para Gondim:

[...] levantamento bibliográfico é o conhecimento dos trabalhados anteriores que se debruçam sobre objetos comparáveis, de modo a subsidiar a preparação da revisão da leitura [...] importante incluir autores com abordagens diferenciadas, com relação aos quais o pesquisador fará discussão do seu objeto, indicando convergências e divergências [...] o levantamento bibliográfico é um processo que se verifica ao longo de toda a elaboração da tese. (1999, p. 29-32)

Page 15: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

14

Concluída a pesquisa, dados levantados e transcritos de forma fidedigna,

autorizada anteriormente a gravação e publicação das informações prestadas, foi

feita uma leitura profunda e crítica, construída através do processo investigativo,

lembrando-se da importância de como se lê a fala, como aborda Gondim, “[...] Como

se lê é tão importante quanto o que se lê; daí a necessidade de uma leitura ativa e

crítica, a qual implica tomar notas, articulando-as ao objeto da pesquisa [...]” (1999,

p. 32).

O primeiro capítulo apresenta o campo de pesquisa, sendo de

fundamental importância para se compreender a estrutura em que os adolescentes

estão inseridos, bem como traz suas trajetórias a partir de suas próprias percepções

sobre o ato infracional, suas relações com a família, a escola e a abordagem policial.

O segundo capítulo traz um levantamento histórico sobre as políticas

públicas voltadas para crianças e adolescentes no Brasil, abordando algumas de

suas vertentes, enfatizando a discussão sobre as condições de tratamento e atenção

que se deve dar às garantias dos direitos aos adolescentes que se encontram em

conflito com a lei, bem como os vários conceitos e fatores da violência e

criminalidade.

Por fim, o terceiro capítulo trata das manifestações e inquietações dos

adolescentes quanto à aplicação da medida de internação provisória à qual são

submetidos após as infrações cometidas e relatos quanto sua permanência dentro

das instituições de acolhimento.

Page 16: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

15

1 FAMÍLIA, ESCOLA, ATO INFRACIONAL E POLÍCIA: TRAJETÓRIAS EM CONFLITO 1.1 Campo da pesquisa

Em visita a 2ª Vara Cível, privativa da Infância e Juventude do Fórum de

Maracanaú – CE, no dia 25 de fevereiro de 2014, pude constatar que as instalações

da secretaria seguem a seguinte ordem, sala de atendimento ao público, sala de

apoio, sala de audiência e gabinete do Juiz. A secretaria conta com um número de 8

servidores, sendo 3 concursados pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, 4

disponibilizados pela Prefeitura Municipal, mediante termo de convênio, e 3

estagiários de nível superior, do curso de Direito.

Segundo estatística da Vara da Infância e da Juventude de Maracanaú,

até fevereiro de 2014, são aproximadamente 970 atos infracionais em desfavor de

adolescentes do município, sendo que, em 2013, foram instaurados 308 atos

infracionais, com média de idade, entre 14 e 17 anos, um número alarmante ao

tempo que preocupante. Deste quantitativo, destacam-se 284 do sexo masculino e

24 do sexo feminino.

No cenário brasileiro, o número de adolescentes do sexo feminino

envolvidas em atos infracionais é inferior aos do sexo masculino, representando

apenas 5%.

O Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

em Conflito com a Lei realizou pesquisa na qual aponta que até o final de 2010,

existiam, no Brasil, aproximadamente 17.703 adolescentes cumprindo medida de

internação em regime fechado. Já em 2011, verificou-se um aumento de 1.892, em

relação ao ano de 2010, representando crescimento de 10,69%.

Segundo o Censo Demográfico do IBGE (2010), a população total de

adolescentes entre 12 e 18 anos incompletos é de aproximadamente 20 milhões, de

maneira que 0,09% destes adolescentes estão em cumprimento de medidas

socioeducativas em regime fechado.

Dados levantados também pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE apontam que no Brasil, em 2010, eram aproximadamente

Page 17: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

16

190.755.799 habitantes, destes, 16.990.870 eram jovens que possuíam entre 15 e

19 anos, se dividindo em 8.558.868 homens e 8.732.002 mulheres.

A Corregedoria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios -

MPDFT, a pedido da Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude,

fez um levantamento sobre o quantitativo de jovens envolvidos com a criminalidade

no Distrito Federal, sendo divulgado que nos cinco primeiros meses de 2013, foram

praticados 1.299 atos infracionais graves. Em primeiro lugar, destaca-se o roubo

(693), seguido do tráfico de drogas (329) e homicídios (168).

Dentre as infrações cometidas pelos adolescentes em Maracanaú – CE,

destacam-se as seguintes: em primeiro lugar, roubo (84), seguido de furto (80),

tráfico de drogas (64), porte ilegal de armas (15) e homicídio (5), sendo que um

montante de sessenta (60) se divide em outros diversos atos infracionais, como por

exemplo tentativas de homicídio, latrocínio, agressões.

No dia 22/01/2013, o Jornal Tribuna do Ceará divulgou dados estatísticos

cedidos pela Delegacia da Criança e do Adolescente – DCA, relatando que foram

apreendidos 4.208 crianças e adolescentes em 2012, sendo registradas 1.156

ocorrências de roubos à pessoa, 540 de crimes de tráfico de drogas, 534 de portes

ilegais de arma, 199 de roubos de veículos, 163 de homicídios, 63 de estupros de

vulnerável, 22 de sequestros relâmpagos e ainda 9 latrocínios. (LIMA; TAVARES,

2013).

A Associação Nacional de Defensores Públicos publicou notícia que o

Defensor Público3 que atuou no ano de 2012 na Vara da Infância e Juventude do

município de Maracanaú ingressou com Ação Civil Pública4 contra o Estado e o

município para instalação e manutenção de Clínicas Especializadas no tratamento

de adolescentes e crianças usuárias de drogas, assegurando o tratamento para

3 O Defensor Público que impetrou com a Ação Civil Pública foi Dr. Jonatas Neto, que conseguiu

liminar favorável assinada pelo juiz Fernando Antônio Medina de Lucena, titular da 5ª Zona Judiciária da Comarca de Maracanaú, no último dia 2 de julho de 2012. Conforme nota do defensor Jonatas Neto, a razão da propositura da ação não é outra senão a triste realidade vivenciada por todos os integrantes das carreiras jurídicas da Comarca de Maracanaú (juízes, promotores, defensores públicos e delegados de polícia), que militam na seara do Direito Penal juvenil ou criminal. 4 A ação civil pública é um instrumento processual, de ordem constitucional, destinado à defesa de

interesses difusos e coletivos. Mesmo estando referida no capítulo da Constituição Federal relativo ao Ministério Público (artigo 129, inciso III). A localização dessa norma não afasta o caráter constitucional da ação civil pública também para aquelas promovidas por entidades públicas e associações co-legitimadas. Essa ampliação se deve ao parágrafo 1º, do artigo 129, da Constituição Federal, pelo qual se estabelece a regra da sua não exclusividade do Ministério Público.

Page 18: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

17

estes (ANADEP, 2012). Segundo ele, o município tem se destacado e liderado o

ranking estadual de ocorrências de crimes violentos cometidos por adolescentes,

estes, possuindo relação direta com uso de drogas, sendo sentenciado favorável seu

pedido.

Na tentativa de investir na promoção e prevenção ao uso de drogas, o

município de Maracanaú aderiu ao programa federal “Crack, é possível vencer”5,

lançado em 26 de junho de 2013, que objetiva promover a prevenção ao uso de

drogas e ampliação da oferta de tratamento e atenção aos usuários e seus

familiares, bem como no combate ao tráfico (MARACANAÚ, 2014).

O Juiz Titular da Vara da Infância e da Juventude de Maracanaú, diante

de um quantitativo de atos infracionais existentes, para dar agilidade e impulsionar a

adoção e aplicabilidade de medidas aos adolescentes que cometeram atos

infracionais, realiza pelo menos três vezes na semana audiências de apresentação,

contento 21 atos infracionais por pauta6.

Em dezembro de 2013, segundo estatística da Vara da Infância e da

Juventude de Maracanaú, houve 8 representações contra adolescentes, foram

realizadas 52 audiências, proferidas 5 sentenças, expedidas 7 guias de execução de

internação por tempo indeterminado, existindo 103 atos infracionais para serem

sentenciados, conclusos há mais de 100 dias, e 105 com o prazo excedido para

despacho.

Já em fevereiro de 2014, foram 19 representações, 69 audiências, 4

sentenças, expedidas 14 guias de execução de internação por tempo indeterminado,

129 atos infracionais para serem sentenciados com mais de 100 dias, 135 com

prazo excedido para despacho, ocorrendo devido a fatores como o número reduzido

de servidores na secretaria para dar andamento aos procedimentos e ao

crescimento de infrações cometidas no município.

Segundo informações recebidas por um dos servidores, durante visita, fui

5 O governo federal lançou o programa Crack, é Possível Vencer para trabalhar em parceria com

estados, municípios e a sociedade em três eixos: prevenção, cuidado e segurança. No total, estão previstos R$ 4 bilhões em recursos federais até 2014 que serão investidos em ações de orientação da população, capacitação de profissionais, aumento da oferta de tratamento e atenção aos usuários, além do enfrentamento ao tráfico de drogas. 6 As audiências acontecem geralmente as terças, quartas e quintas-feiras, podendo ser realizadas

também na segunda e sexta-feira, prendendo do quantitativo de atos infracionais que deram entrada na Secretaria da Infância e da juventude de Maracanaú.

Page 19: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

18

informada de que internações provisórias acontecem quase que diariamente, sendo

em média 15 por mês, acontecendo devido à reincidência ou gravidade da infração.

Constatei, mediante contato com alguns atos infracionais, que mesmo a

tentativa de agilização dos atos infracionais, muitos são arquivados, devido os

adolescentes terem atingido a maioridade, sem que o juiz tenha determinado o

cumprimento de medidas socioeducativas, ocorrendo em grande parte em

procedimentos registrados entre os anos de 2010 a 2012.

Existe um grande número de atos infracionais com decisões favoráveis a

aplicação da medida socioeducativa de privação de liberdade por tempo

indeterminado, dentre os quais pude ter acesso, alguns estão aguardando a

apreensão dos adolescentes, pois estes estão em local incerto e não sabido,

dificultando dar prosseguimento ao feito.

Podemos entender a afirmativa acima, através da seguinte manifestação

em nota pública a favor da especialização das Varas da Infância e da Juventude da

Comarca de Fortaleza, postada em 23 de janeiro de 2014, por Rodrigo de Medeiros

Silva, no blog Combate ao Racismo Ambiental de Tânia Pacheco:

A área infracional também possui sérios problemas, notadamente devido à cumulação de competências pela 5

a Vara da Infância e Juventude,

responsável pelo “Projeto Justiça Já”. Este juízo é responsável tanto pelo 1o

atendimento dos adolescentes em conflito com a lei, avaliando casos de internação provisória, remissão e arquivamento, assim como ao mesmo compete a execução de todas as medidas socioeducativas em Fortaleza de meio aberto e fechado, totalizando mais de 5.100 processos. As atividades de 1

o atendimento e acompanhamento da execução socioeducativa são

incompatíveis: não há especialidade no trabalho feito, as equipes técnicas ficam sobrecarregadas tendo que cumprir competências distintas, e não há uma atenção protetiva, sob a ótica do Sistema Único da Assistência Social, sobre os adolescentes em situação vulnerabilidade. (SILVA, 2014)

Dentre os procedimentos de atos infracionais que pude manusear de

forma cautelosa, percebi que a internação provisória funciona como algo quase que

de caráter obrigatório. Após os adolescentes serem apreendidos na delegacia e

encaminhados para serem ouvidos pelo Promotor de Justiça e pelo Juiz da Vara da

Infância e Juventude do Fórum de Maracanaú, seguem para a internação provisória,

que não poderá ultrapassar os 45 dias, sendo que, em alguns casos, ao fim do

prazo, os adolescentes são liberados devido o curto prazo para designação e

realização de audiência de apresentação, quando assim, ocorreria à conclusão do

Page 20: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

19

procedimento.

Por diversas vezes, durante a visita, parei para me perguntar se meu

entendimento estaria correto, quando passei a perceber que nos procedimentos de

atos infracionais, a decisão de internação provisória teria um caráter de autoritarismo

e/ou se possuía poder punitivo, não levando em consideração tentativas de

reeducação, ou de inserção dos adolescentes em programas sociais, voltados a

colaborar com a redução do índice de violência ocasionada por adolescentes.

A aplicação das medidas socioeducativas não funciona somente como a

aplicação de uma pena. É necessário observar essas medidas como sendo um

acompanhamento, no qual são estabelecidos critérios pedagógicos (SINASE, 2012).

Não podemos encarar as medidas socioeducativas como somente algo de caráter

punitivo, devemos acima de tudo reconhecê-las como propostas educativas.

Não podemos esquecer que as medidas socioeducativas deverão

obedecer ao Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), política

pública que organiza e orienta a execução das medidas aplicadas aos adolescentes

em conflito com a lei, que se baseia no ECA e o Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente (CONANDA), que busca estabelecer diretrizes para o

acompanhamento de princípios dos direitos humanos, estruturando-se em

estratégias éticas e educativas, adequando as medidas, observando-se a

responsabilização educativa.

Em nota ao Jornal O Povo, o Juiz de Direito Manuel Clístenes, titular da 5ª

Vara da Infância e Juventude de Fortaleza – CE, faz referência ao sistema de

educação pública como “insuficiente” para atender menores de 18 anos, fazendo o

seguinte comentário:

A gente tem de cuidar dessas crianças, desses jovens, que serão os cidadãos ou bandidos de amanhã", afirmou o juiz. "Vai depender do investimento que vai ser feito em cima dele", complementou. Para o magistrado, enquanto governantes não "acordarem" para esta realidade, mudanças na segurança pública não poderão ser realizadas de forma consistente. "Nós não vamos ter policial ou presídio que dê vencimento na segurança pública.". (HOLANDA, 2013)

O município de Maracanaú, segundo o Índice de Homicídios na

Adolescência – IHA, em 2010, apresentou uma das maiores taxas de vítimas de

Page 21: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

20

homicídio na adolescência, chegando a 6,46% para cada grupo com mil indivíduos,

correspondendo aproximadamente 194 mortes, com perfil de adolescentes entre 12

a 18 anos (MELO; CANO, 2012).

A Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do

Adolescente – SNPDCA, ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República – SDH/PR, divulgou que, em 2009, foram registrados 16.940

adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, destes, 11.901 estavam

internados, 3.471 em internação provisória e 1.568 em regime de semiliberdade.

No Ceará, foi registrado que pelo menos 16 mil adolescentes, nos últimos

5 anos, passaram pelo sistema socioeducativo, sendo que destes, até 2010, eram

661 em cumprimento da privação de liberdade (STDS, 2013).

Segundo a Delegacia da Criança e do Adolescente – DCA, em 2012,

foram apreendidos 4.208 adolescentes em Fortaleza – CE, crescendo o número de

adolescentes envolvidos em atos infracionais. Diante da estatística, o Juiz Manuel

Clístenes, titular da 5ª Vara da Infância e Juventude, se posiciona em entrevista ao

Jornal Diário do Nordeste:

Para ele muitas demandas são urgentes, mas destaca as condições adequadas para o cumprimento adequado das medidas de meio aberto, para que os infratores participem e as cumpram; a implantação do Programa de Proteção ao Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAAM), que iria protegê-los e diminuir a mortalidade violenta nesta faixa etária; e a criação de clínicas de recuperação para viciados com internação compulsória, pois considera que muitos dos casos que chegam ao Juizado não são passíveis de cerceamento de liberdade, mas de tratamento. (FEITOSA, 2013)

Tomando como base a fala acima, finalizo esta sessão com a seguinte

indagação, os Governos Federal, Estadual e Municipal, através das Secretarias de

Direitos Humanos, destacam programas, políticas e sistemas voltados para a

garantia dos direitos de crianças e adolescentes, com um discurso de promover

ações coletivas, participativas e educativas, possuindo um autocuidado e

autoproteção contra as várias manifestações de violências, iniciativas de

responsabilidade social.

O que não se identifica, de modo geral, e a efetivação das ações que

contribuam para do desenvolvimento de autonomia e identidade de adolescentes em

Page 22: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

21

conflito com a lei. Não basta elaborar leis, programas e projetos, se os mesmos não

serão executados em favor das crianças e adolescentes, independentemente da

situação apresentada por elas. Deve-se almejar o caráter preventivo, pois

acostumados estão a esperar algo acontecer para que sejam criadas soluções que,

por muitas vezes, não são executadas em conformidade com a necessidade

apresentada.

1.2 Trajetória – Ato infracional, família, escola, polícia

Para compreendermos o entendimento que os adolescentes possuem

frente à problemática que envolve a medida socioeducativa de privação de

liberdade, aplicada àqueles que cometem ato infracional, é necessário ouvi-los. O

que veremos a seguir, através da fala dos adolescentes entrevistados, retrata a

realidade em que estes estão inseridos, indicando fatores que podem ser levados

em consideração para o envolvimento destes no chamado mundo da criminalidade.

As entrevistas foram realizadas no Fórum de Maracanaú, durante a

espera dos adolescentes para se apresentarem em audiências. Foram entrevistados

5 adolescentes, sendo 4 meninos e 1 menina. Os nomes que usarei para identificar

cada adolescente são fictícios, preservando suas identidades. Abaixo, descrevo

algumas informações sobre os adolescentes.

1ª Entrevistada – Margarida, 15 anos, usuária de drogas (maconha),

parou de estudar no 3º ano do Ensino Fundamental, grávida de 2 meses, mora com

a mãe, o padrasto e dois irmãos, um de 5 anos e outro de 6 anos. Sua mãe é

separada do pai. Internada pela segunda vez, devido ter cometido o ato infracional

de Tráfico de Drogas. “Quando eu era criança gostava de brincar de boneca e

construir coisas pra eu brincar, agora eu não faço mais isso. Gosto de me arrumar é

de ir para festa de reggae. A banda que mais gosto e da Dezarrie.”

2º Entrevistado – João, 16 anos, usuário de drogas (maconha),

estudante (8º ano do Ensino Fundamental), mora com a mãe, o padrasto e uma irmã

de 19 anos; sua mãe trabalha como doméstica, separada de seu pai devido a

agressões físicas sofridas. Internado pela segunda vez, devido ter cometido o ato

infracional de Tráfico de Drogas. “Não gosto de falar de mim, que sou ruim. Gosto de

Page 23: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

22

me divertir indo jogar bola, tomar banho de piscina e pra festas de reggae.”

3º Entrevistado – Pedro, 16 anos, usuário de drogas (maconha), parou

de estudar no 5º ano do Ensino Fundamental, mora sozinho em uma casa vizinha de

sua avó. Sua mãe faleceu quando tinha quatro anos e seu pai faleceu quando tinha

9 anos, internado pela primeira vez, devido ter cometido o ato infracional por

Tentativa de Homicídio. “Não gosto muito de falar dessa época, que lembro de

coisas tristes. Gosto de sair com uns amigos pras festas de reggae, rap.”

4º Entrevistado – Francisco, 17 anos, usuário de drogas (crack e

maconha), parou de estudar no 4º ano do Ensino Fundamental. Mora com a mãe, o

pai, duas irmãs, uma sobrinha e um primo. Sua mãe não trabalha, seu pai é

vendedor ambulante, suas duas irmãs estão sem trabalhar, seu primo trabalha, mas

não soube informar em que trabalha. “Da minha infância lembro que gostava de

brincar de bila apostado, vídeo game, claro que escondido do meu pai, ele não dava

valor essas coisas.”

5º Entrevistado – Antônio, 17 anos, usuário de drogas (maconha), parou

de estudar no 3º ano do Ensino Fundamental. Mora com a avó, três irmão e alguns

primos. Seu pai e separado de sua mãe que trabalha em casa de família, ela o vê

apenas uma vez por mês. “Lembro pouco da minha infância, me lembro mesmo é de

quando eu passava o dia na rua soltando “raia”. Gosto de passar o dia por ai,

andando meio sem saber pra onde ir, passava o dia na rua. Agora vou pra umas

festas, gosto de várias, não tenho preferência pra bandas de música, onde tiver festa

eu vou.”

As características apresentadas pelos adolescentes são inevitavelmente

parecidas e se repetem: a fragilidade na estrutura da família, defasagem na

educação, baixa renda e envolvimento com drogas, demostrando que as expressões

e comportamentos revelam que a maioria dos adolescentes que cometem atos

infracionais possui perfis semelhantes.

1.2.1 O Ato Infracional

No ECA, consta que o ato infracional em obediência ao princípio da

legalidade, somente se verifica quanto à conduta do infrator se enquadra em algum

Page 24: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

23

crime ou contravenção previsto na legislação em vigor, ou seja, para muitos

adolescentes, o cometimento do ato infracional é uma forma desajeitada de lutar

pela sobrevivência ou até mesmo uma tentativa de fugir das opressões existentes

em sua mudança para a vida adulta (VOLPI, 2011).

Em relação à temática do cometimento do ato infracional, os adolescentes

abordam em sua fala o tipo de infração cometida, com que estavam e o desejo de

não repedir a infração, já que afirmam não ser a primeira vez que se envolvem no

mundo da criminalidade:

Eu não tava só, tinha dois de maior. Eu e minha amiga, a gente foi pegue pela segunda vez, foi um 33. Da outra vez também foi um 33. Mas não to pensando mais em fazer isso porque to grávida de dois meses, então vou sossegar. Depois que a gente fica internado acaba se arrependendo, né? (Margarida) Essa é a segunda vez, mas forjaram pra mim. Pela mesma coisa, pelo 33. Forjaram pra mim, disseram que eu tava com droga. Mas eu tava em casa quando os “home” (policia) chegaram pra me prender, dizendo que eu tava com droga, mas não tava não, tava era deitado na rede em casa. Disse que cometi o 33. A gente se arrepende, mas às vezes é tarde. (João)

As respostas revelam que os dois adolescentes entrevistados, possuem

relação estreita com o uso de drogas, evidenciando que a conduta dos adolescentes

autores de ato infracional associa-se, em muitos casos, ao uso ou tráfico de drogas.

[...] coincide, portanto, com o que é de conhecimento geral: os estreitos liames entre a prática infracional e o uso de drogas, restando demonstrado, diante da prevalência encontrada, ser a droga, especialmente as ilícitas, um agente causal ou motivador do cometimento de atos infracionais, a par de tantos outros fatores de risco relacionados. (ROCHA, 2001, p. 4)

Quanto à questão das drogas e ao associarmos esta relação do seu uso

ao cometimento do ato infracional, os adolescentes revelam sentimentos intrigantes

quando se trata do comportamento após o uso de drogas:

Só maconha. Esqueço dos problemas e das coisas ruins. E bom! Sinto muita fome, vontade de dormir e como tudo que vejo pela frente (risos). Eu poderia roubar para usar maconha, mas não roubo porque to drogado.

Page 25: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

24

Isso é coisa de mané vacilão. (João)

Eu uso pedra e maconha. Por quê? Há porque a gente se esquece das coisas ruins, fica alegre. Na verdade parece que só existe coisa boa nesse mundo. Nem parece que a gente tem problemas. (Francisco)

Segundo o biólogo Lucas Maia, doutorando em Saúde Coletiva pela

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador do Centro Brasileiro de

Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), os efeitos do uso da maconha no

organismo podem variar de acordo com as características do usuário, com seu estado

de espírito, com o ambiente em que ocorre o consumo e também com as características

da droga (MAIA, 2013). Ela pode ainda estimular o sistema digestivo e aumentar o

apetite e, quanto aos efeitos no humor do usuário, a droga tanto pode provocar

relaxamento e calma quanto uma sensação de ansiedade e angústia.

Os adolescentes entrevistados, que se encontram em conflito com a lei, e

por terem cometido atos infracionais, uma ou mais vezes, apresentam

comportamentos difusos, reconhecem o delito cometido, sendo que as noções de

reconhecimento de suas identidades são algo ainda não alcançadas, ou até mesmo

não predispostas, devido aos prazeres ora encontrados fora de si, sob as influências

repressivas de uma sociedade preconceituosa.

1.2.2 A Família

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças

e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária esclarece que:

É essencial mostrar que a capacidade da família para desempenhar plenamente suas responsabilidades e funções é fortemente interligada ao seu acesso aos direitos universais de saúde, educação e demais direitos sociais. Assim, uma família que conta com orientação e assistência para o acompanhamento do desenvolvimento de seus filhos, bem como acesso a serviços de qualidade nas áreas da saúde, da educação e da assistência social, também encontrará condições propícias para bem desempenhar as suas funções afetivas e socializadoras, bem como para compreender e superar suas possíveis vulnerabilidades. (BRASIL, 2006b, p. 26-27)

Page 26: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

25

Os autores Gomes e Pereira (2005, p. 4) afirmam que a situação de

vulnerabilidade social da família “é o fator que tem mais contribuído para a

desestruturação familiar, repercutindo diariamente de forma vil nos mais vulneráveis

desse grupo: os filhos, vítimas da injustiça social, se veem ameaçados e violados

em seus direitos fundamentais”.

A participação da família, da comunidade e das organizações da sociedade civil voltadas à defesa dos direitos da criança e do adolescente na ação socioeducativa é fundamental para a consecução dos objetivos da medida aplicada ao adolescente. As práticas sociais devem oferecer condições reais, por meio de ações e atividades programáticas, à participação ativa e qualitativa da família no processo socioeducativo, possibilitando o fortalecimento dos vínculos e a inclusão dos adolescentes no ambiente familiar e comunitário. As ações e atividades devem ser programadas a partir da realidade familiar e comunitária dos adolescentes para que em conjunto – programa de atendimento, adolescentes e familiares – possam encontrar respostas e soluções mais aproximadas de suas reais necessidades. Tudo que é objetivo na formação do adolescente é extensivo à sua família. Portanto, o protagonismo do adolescente não se dá fora das relações mais íntimas. Sua cidadania não acontece plenamente se ele não estiver integrado à comunidade e compartilhando suas conquistas com a sua família. (SEDH, 2006, p. 49)

A citação acima menciona a participação da comunidade, mas enfoca na

representatividade e participação da família no processo socioeducativo que

estabelece vínculos, ou seja, a família é vista como um grupo social que ajuda os

adolescentes a desvendar sua capacidade de agir, fazer escolhas e assumir suas

responsabilidades, vivenciando e exercendo sua plena cidadania (SEDH, 2006).

Para os adolescentes entrevistados, o cometimento do ato infracional é

tratado como algo vivenciado a cada momento, que se repete conforme se deparam

com circunstâncias do dia a dia. Estes reconhecem culpa pelo ato cometido, ao

tempo em que, se pararmos para analisar os depoimentos abaixo, podemos

destacar que a família possui um papel significativo para a compreensão do

“desajuste” na construção da identidade dos adolescentes entrevistados.

Meu pai é um mostro, bateu muito na minha mãe, eu cresci vendo ele bater nela. Olha o braço dela ai, pra você vê, não gosto nem de falar nele que me dá raiva. Minha mãe é tudo que tenho, tenho uma irmã de 18 anos e um irmão de 11anos, também tenho um filho de um ano. Meu padrasto é mais meu pai do aquele monstro lá. (João)

Page 27: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

26

Moro com meus pais e duas irmãs. Meu pai me batia muito e não deixava eu sair de casa, ai eu fugia escondido dele, ele não queria que eu tivesse amigos, só tinha que ir estudar, mas eu ia era encontrar com uns amigos. Acabei me envolvendo nessa vida. (Francisco)

Fazendo uma reflexão sobre a representatividade da família (pai, mãe e

irmão), vejo que esta tem papel fundamental para o desenvolvimento das crianças e

adolescentes, contribuindo para a construção de seu caráter e valores, por se tratar

de entes que devem possuir um comprometimento e dedicação para com os filhos,

sendo que, a partir do momento em que os laços são quebrados e se abre o espaço

para uma desestruturação, ocorre uma ausência e desequilíbrio dos filhos, já que

estes se espelham nos pais durante seu processo de amadurecimento. Passamos a

entender melhor com a citação a seguir:

Há uma correlação estreita entre as características dos pais ou familiares e/ou dinâmica familiar e o posterior desenvolvimento de comportamentos desviantes. A família se enfraqueceu enormemente em nossa sociedade. Sua unidade interna foi minada pela pauperização, assolada pela arbitrariedade policial nos grandes bairros periféricos, pelo tráfico de drogas, pelo alcoolismo, pela violência, pela prostituição e pelo abandono dos filhos. Sem que os pais assumissem nenhuma responsabilidade sobre seus filhos, as mães repetiam casamentos similares várias vezes, perdendo-se os filhos dos primeiros matrimônios na rejeição e na violência das relações familiares degradadas. (GOMIDE, 2001, p. 37)

A pesar da representatividade da família, não podemos apontá-la como

único fator corroborativo para o cometimento de atos infracionais pelos adolescentes

que se encontram em conflito com a lei. Os fatores estão para além da família,

podem possuir caráter social, econômico e político, sendo mais frequente, a

influências dos grupos sociais, como é o caso da amizade e o envolvimento com

drogas.

1.2.3 A escola

Estatuto da Criança e do Adolescente é taxativo quando se refere que é

obrigatório o oferecimento de escolarização para os jovens que estejam cumprindo

medida socioeducativa. Mais do que simplesmente instrução e alfabetização, o

acesso à educação de qualidade é um portal para a cidadania plena e a inclusão

Page 28: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

27

social em muitos níveis. Sua importância se dá na formação e desenvolvimento de

qualquer criança e jovem como caminho para a construção de seu futuro, a

educação se faz ainda mais fundamental quando se trata de adolescentes em

conflito com a lei, que hoje cumprem algum tipo de medida socioeducativa.

A escola aliada à família pode ser considerada uma das principais

instituições da sociedade, ao desempenhar um papel que concerne no rompimento

de paradigmas que traduzem uma escola autoritária e responsável apenas pela

transmissão de conhecimentos absolutos e que pouco dialoga com a comunidade.

“Educar para a vida” (FREIRE, 1997). Neste caso, a escola pode ser vista como um

dos elementos essenciais que, ao ser integrado a comunidade nas ações

desenvolvidas pelos sistemas de ensino, torna o ambiente escolar democrático que

forma cidadãos para a vida.

Para Gohn (2004), a três conceitos de educação como a educação

formal, educação informal e educação não-formal, sendo de fundamental

importância entender está conceituação no campo da proposta dos processos

educativos de adolescentes que se encontram em conflito com a lei.

A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdo previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização- na família, bairro, clube, amigos etc., carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e sentimentos herdados: e a educação não formal é aquela que se aprende “no mundo da vida”, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivos cotidianos. (GOHN, 2004, p. 39)

Segundo Carvalho e Carvalho (2006, p. 2) “toda e qualquer forma de

educação é, essencialmente, social”.

Segundo Silva e Sales (2010), são inúmeros os motivos que levam o

jovem ao abandono dos estudos e a cometer atos infracionais, a saber: dinheiro

fácil, influência de amigos, conflitos familiares, uso de drogas, residência em locais

onde o tráfico é frequente, entre outros.

A adolescente Margarida, ao falar sobre seu abandono à escola, aborda

elementos que a fizeram deixar de frequentar a escola:

Page 29: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

28

Eu parei de estudar na 3º série. Quando eu ia pra escola tinha muita briga com as meninas de lá. Também parei de estudar porque tinha um professor que me ajudava e morreu. Ai não quis ir mais pra escola. Eles não estão nem ai pros problemas e dificuldade que a gente tem. No recreio tem menina que implica com agente e eu não aguento, Vou pra cima mesmo (risos). “Barroa” (esbarra) no nosso ombro. (Margarida)

Já na fala do adolescente João percebemos o desdobramento dos

profissionais da escola em ajudá-lo e sua afirmação em dar continuidade aos

estudos:

Eu to parado porque fui apreendido. Faço o 8º. Gosto de estudar pra ter um bom trabalho. Melhorar a vida da minha mãe. A escola é boa e os professores me ajudam muito. Ninguém mexe comigo lá. Sou amigo de todo mundo. Até dos professores. Não quero parar de estudar. Tenho minhas doideras. Mas vou sempre pra escola. (João)

Ao analisar a fala dos adolescentes percebemos que o ambiente escolar,

através dos profissionais, pode contribuir ou não para o afastamento dos

adolescentes no que concerne à frequência escolar, devendo ser observada a

postura dos servidores quanto ao tratamento de adolescentes que estão em conflito

com a lei, sendo que a proposta do ensino e educação baseia-se na contribuição e

desenvolvimento intelectual, emocional e social.

1.2.4 A polícia

A polícia é responsável pela política de segurança pública nos âmbitos

federal, estadual e municipal (artigo 144 da Constituição Federal). À Polícia Militar,

cabe a atuação ostensiva e a preservação da ordem pública, ou seja, a prevenção

da prática de atos infracionais contra a lei criminal por parte de adultos, adolescentes

ou crianças. Também é função da Polícia Militar fazer a repressão desses atos, ou

seja, agir, se necessário com o uso da força (não com o abuso nem com a omissão),

quando eles estão para ser ou acabaram de ser praticados. Se deixar de atuar,

estará se omitindo. Se atuar com violência desnecessária, estará cometendo abuso

poder. Já à Polícia Civil, cabe investigar a prática desses atos infracionais contra a

lei criminal (por parte de adultos, adolescentes e crianças) e reunir provas para que

Page 30: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

29

a justiça possa julgar seus autores e o Conselho Tutelar aplicar medidas, no caso de

crianças (BRASIL, 2012).

Tanto a Polícia Militar quanto a Polícia Civil têm o dever de conhecer e

aplicar o Estatuto da Criança e Adolescente, cuidando para que eles tenham

garantidos todos os direitos fundamentais previstos em lei e respeitem os deveres

básicos da cidadania.

Atualmente, ouvimos falar constantemente sobre o abuso e a violência

praticada por policiais, sua atuação arbitrária e os vários constrangimentos

ocasionados durante sua abordagem. Enquanto deveríamos ver na figura destes a

segurança, passamos a ver o medo. No entanto, não devemos generalizar este

posicionamento. Existem aqueles que não obedecem aos regulamentos, mas

também existem em grande número os que agem conforme determina os

dispositivos legais para a abordagem.

O policial, ao constatar qualquer tipo de ato infracional cometido por

adolescentes, deverá abordá-lo de forma adequada, sem constrangimento ou

qualquer tipo de agressão em obediência ao ECA.

Para os adolescestes Margarida e João, quando a verificação da suposta

infração, policiais militares usaram de abuso, conforme relatam abaixo:

Eu fui abordada por uns policiais homens. Eles torceram meu braço me bateram e machucaram aqui (braço). E eu falei que tava gestante de dois meses. Eles são muito agressivos quando vão “prender” a gente. (Margarida) Eles chegaram invadindo minha casa. Eu tava em casa quando os “home” (policia) chegaram pra me prender, dizendo que eu tava com droga, mas não tava não, tava era em casa deitado na rede. Falavam: “bora, bora, cadê a droga, onde você escondeu”. Armaram pra mim. Eu não fiz nada. Eles pensam que o “nego” é o que. Me agarraram aqui no pescoço e me levaram na viatura até a delegacia. (João)

Os relatos dos adolescentes demonstram a fragilidade e o despreparo de

alguns policiais quanto ao procedimento e abordagem ao ser verificado o

cometimento ou suposta infração por adolescentes. Leonardo Sá e João Santiago

Neto publicaram artigo no qual discutem agressões físicas cometidas por policiais

Page 31: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

30

contra jovens da favela, no cotidiano de policiamento da cidade de Fortaleza, por

meio das práticas policiais de “bater”, “amaciar o vagabundo”, que são definidas

como ações “enérgicas” pelos policiais em suas estratégias retóricas e que se

configuram em torno da prática do “baculejo”, uma revista decorrente de abordagem

que se expressa como um ritual de poder onde agressões físicas, praticadas pelos

policiais militares contra os jovens, são centrais para a construção de um contexto

de interação simbólica, marcada por profunda assimetria de posições de poder,

envolvendo policiais militares agressores e jovens suspeitos, tratados como

“vagabundos”, vitimizados por espancamento, tortura e outras formas de sevícias e

maus tratos corporais (SÁ; SANTIAGO NETO, 2011, p.147-148).

Mais uma vez percebemos que a estrutura e organização da abordagem

policial fere com os nossos direitos que são violados a partir do momento em que

somos caracterizados ou rotulados como “bandidos ou criminosos” pela classe

social, cor da pele e/ou local de moradia.

Page 32: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

31

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO BRASIL E AS DIVERSAS CONCEITUAÇÕES DE ADOLESCÊNCIA 2.1 Histórico das políticas públicas para crianças e adolescentes no Brasil

Para a autora Ângela Pinheiro (2006, p. 24), para pensar esse tema,

criança e adolescente, configura-se que é inegável esquecer as estruturas e

relações sociais vigente em nossa sociedade, sendo de fundamental importância

levar em conta suas especificidades enquanto sujeitos sociais, não deixando

esquecer destes enquanto sujeitos portadores de direitos.

O Código de Menores, baseado na chamada Doutrina da Situação

Irregular, foi instituído no dia 1º de dezembro de 1926, como a primeira legislação

que vislumbrava a resolução e enfrentamento da situação de crianças e

adolescentes em nosso país, que em seu art. 1º pregava o seguinte:

O governo consolidará as leis de assistência e proteção aos menores, adicionando-lhes os dispositivos constantes desta lei, adaptando as demais medidas necessárias à guarda, tutela, vigilância, educação, preservação e reforma dos abandonados ou delinquentes, dando redação harmônica e adequada a essa consolidação, que será decretada como o Código de Menores. (CÓDIGO DE MENORES, apud FERNANDES, 1998, p.27)

No campo da legislação, Ângela Pinheiro (2006, p. 74) afirma que o

Código de Menores de 1927 institucionalizou em seu plano jurídico um processo

discriminatório quanto à infância, quando classifica em seu conteúdo doutrinário que

seu objeto não é há qualquer “menor”, mas sim e apenas aqueles considerados

abandonados e delinquentes, assumindo em trechos que o estado habitual de

“vadiagem”, “mendicidade” ou “libertinagem”, aproxima-se da delinquência de

situações apresentadas por menores abandonados.

Há detalhes que não devem fugir de nossa percepção, neste, a questão

da expressão “menor”, que, para Chauí (1990), remete-se à utilização impregnada

de um caráter negativo, deixando no senso comum uma ideia de categoria

classificada como marginalizada, que aos poucos são excluídos devido aos seus

precedentes, indivíduos pobres que pertencem a uma classe menos favorecida.

Para Gohn (1997, p. 112), o significado da termologia “menor” pode ser

Page 33: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

32

entendido e/ou compreendido de forma mais ampla:

Parcela bem definida da infância brasileira: é a parcela podre, advinda das camadas populares, vítimas de sua situação sócio-econômica, submetidos aos mais diversos tipos de violência, abrangendo do universo doméstico à rua; das instituições que, em princípio, deveriam cuidar de seu bem-estar à escola; do subemprego, quando existe, à exploração completa de seu trabalho, sem nenhuma remuneração.

A utilização discriminatória da expressão “menor” pode ser considerada

uma condição permanente precedida da intencionalidade de referenciar crianças e

adolescentes que pertencem a uma classe pobre, deixando um ponto de

interrogação e exposto se aqueles que pertencem há uma classe média e/ou alta da

população serão reconhecidos como “menores”.

Diante de um cenário conturbado de crises políticas, econômicas e

sociais, estabeleceu-se uma preocupação com a criminalidade juvenil, sendo

sancionado o Decreto Federal nº 17.934 de 12 de outubro de 1927, Novo Código de

Menores, também conhecido como “Código Mello Matos”, que foi o primeiro juiz de

menores no Brasil e América Latina, frente ao Juizado de Menores, que impediria a

violação dos direitos das crianças e adolescentes.

O Código de Menores de 1927, mesmo atendendo às necessidades de

crianças e adolescentes, falhava quanto ao cumprimento de funções como garantia

e proteção, deixando com que a dignidade destes fosse atacada quando de sua

permanência em reformatórios, com a violência e arbitrariedade no referido espaço.

O referido Código de Menores de 1927 incorporava uma visão higienista

de proteção do meio e do indivíduo a partir de um olhar jurista, moralista e

repressivo, além de considerar a família responsável pelo desvio de comportamento

e conduta de seus filhos. É a partir deste que a palavra “menor” se classifica como

interlocutor de uma infância pobre e, contraditoriamente, começam as formulações e

estratégias relativas às intervenções junto ao então “menor” (SOUZA, 2009).

Em 1940, no governo de Getúlio Vargas, foi criado o Departamento

Nacional da Criança (DNC)7 vinculado ao Ministério da Educação e Saúde. E em

7 “O Departamento Nacional da criança, órgão do Ministério da Educação e Saúde, criado em 1940,

tinha como objetivo amparar a maternidade, a infância e a adolescência, sendo que este departamento através da união da Educação e Saúde possuíam como tarefa enquadrar indivíduos a

Page 34: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

33

1941 surge o Serviço de Assistência a Menores (SAM)8, inspirando que as

instituições ampliassem o sistema penitenciário, com uma lógica correcional e

repressiva, caracterizando a precariedade no atendimento, vislumbrando uma

assistência voltada para o caráter de punição.

Em 1956, Paulo Nogueira Filho, após deixar a direção, publicou um texto

que denunciava o SAM:

Em termos rudes, a realidade é que o SAM entrega mais de uma dezena de milhar de menores por ano a terceiros, para que cuidem de sua vida e educação, sem a mínima garantia jurídica lhes seja dispensado um trato realmente humano. (NOGUEIRA FILHO, 1956, p. 264)

Não demorou muito para o SAM ser extinto, devido às várias denúncias e

aberturas de inquéritos, logo foi substituído pela Política Nacional de Bem Estar do

Menor (PNBEM)9 no ano de 1964. Neste mesmo ano, também foi instituído a

Fundação de Bem Estar do Menor (FUNABEM)10 tendo como propósito corrigir as

distorções existentes no SAM e suas instâncias estaduais nominadas de Fundações

Estaduais do Bem-estar do Menor (FEBEM)11 (DAMASCENO, 1997, p. 29).

nova ordem econômico-social e legitimar o novo Estado.” (PEREIRA, André Ricardo. A criança no Estado Novo: uma leitura na longa duração. Rev. bras. Hist., v. 19, n. 38, São Paulo,1999) 8 Em 1942, período considerado especialmente autoritário do Estado Novo, foi criado o Serviço de

Assistência ao Menor – SAM. Tratava-se de um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do sistema Penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional-repressiva. O sistema previa atendimento diferente para o adolescente autor de ato infracional e para o menor carente e abandonado. (PROMENINO. Uma breve história dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em <www.promenino.org.br>. Acesso em: 04 jun. 2014) 9 Política Nacional de Bem Estar do Menor (PNBEM) teve suas diretrizes fixadas pelo governo

Castelo Branco (lei nᵒ4.513 de 01∕12∕1964). A tônica era a valorização da vida familiar e da “integração do menor na comunidade”. O mote “internar em último caso” figuraria com insistência na produção discursiva da instituição. Como órgão normativo, o seu objetivo não era o atendimento direto. O planejamento e coordenação da ação assistencial e do estudo do menor eram sua missão. (RIZZINI, 2004, p. 36) 10

“Em 1964, surge a FUNABEM, instalada no primeiro ano da „revolução‟ de 31 de março, a qual instaurou uma ditadura militar que perduraria por 20 anos no Brasil. A fundação tinha por missão inicial instituir o „Anti-Sam‟, com diretrizes que se opunham àquelas criticadas no SAM. As propostas que surgem para a instauração de um novo órgão nacional centram-se na autonomia financeira e administrativa da instituição e na rejeição aos „depósitos de menores‟, nos quais se transformaram os internatos para crianças e adolescentes das camadas populares.” (RIZZINI, 2004, p. 35) 11

“[...] as FEBEMs surgiram, então, no bojo de uma nova proposta de atendimento ao „menor‟ fundamentada na premissa de que tais instituições não poderiam orientar suas ações segundo critérios meramente paliativos, mas sim por estratégias e propósitos suficientemente abrangentes a ponto de consolidá-las como instituições „diferentes‟.” (FRONTANA, 1999, p. 88) “Para aqualitar-se a constância com que as práticas repressivas e de confinamento ainda se fazem presentes, em unidades de FEBEMs – muito embora a aplicação de qualquer medida privativa de liberdade só seja admitida, na atual legislação (CF 88 e ECA), para adolescentes e obedecendo – se os princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoas em desenvolvimento – sugiro que se acompanhem, pelos meios de comunicação ou órgãos

Page 35: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

34

Diante dos fatos mencionados, houve novamente a necessidade de se

reformular uma nova doutrina que reparasse os erros no Código de Menores de

1927. Em 1979, deu-se a criação de um código que se fundamentava na Doutrina da

Situação Irregular, que culpava as mazelas da pobreza no cometimento de crimes

que envolveria adolescentes, apontando as situações de precariedade como fatores

predominantes.

O Novo Código de Menores, instituído através da Lei 6.697 de 10 de

outubro de 197912, foi elaborado por juristas, selecionados pelos governantes. Não

sendo vistas mudanças expressivas, atuava no sentido de reprimir, corrigir e integrar,

valendo-se de modelos correcionais. Neste que perdurou de 1979 (segunda versão)

a 1990, utilizava-se da repressão e confinamento, começando a chamar a atenção

para discussões éticas e políticas de segmentos da sociedade, que defendiam os

direitos humanos e eram contra qualquer perversidade praticada contra crianças e

adolescentes (PAES, 2013).

Contudo, constata-se que o Código de Menores ora instituídos não

possuía um caráter essencialmente preventivo, mas sim repressivo, muito embora,

quando se tratava do âmbito da assistência e da proteção, acompanhasse os

interesses da legislação moderna, adequando-se a realidade.

O Código de Menores, por ter sido uma lei voltada apenas para

“abandonados, carentes ou autores de ato infracional”, possuía como parâmetro de

atendimento esse público, ações de assistência, proteção e vigilância, possuindo um

olhar sobre estes de objetos tutelados pela lei e pela Justiça, sendo suas medidas

aplicadas a qualquer um que possuísse entre 0 a 18 anos.

Devido às formas repressivas do Código de Menores de 1979, iniciou-se

uma batalha e luta para mudanças que alcançassem de fato a efetivação dos

representativos da defesa dos direitos da criança e do adolescente (conselhos de direitos, tutelares, centros de defesa, entre outros), informações sobre esses espaços de atendimento estatal, quanto às freqüentes rebeliões, denúncias de maus tratos e de superlotação.” (PINHEIRO, 2006, p. 137) 12

“[...] o segundo Código de Menores, de 1979, parece constituir a institucionalização com maior vigor discriminatório para a categoria “menor”. A ênfase atribuída pelo Código aos dispositivos de castigo para os menores infratores pobres é, sem dúvida, elemento constitutivo fundamental para essa discriminação. A alerta formulada por Alvim e Valladares (1988:11) é esclarecedor: o Código foi promulgado num momento em que a sociedade estava assustada com o aumento considerável de crianças e jovens carentes e da delinqüência juvenil no País. Convém enfocar a relação entre o Código de Menores de 1979 e a Doutrina da Situação Irregular, pois a reputo como instrumento jurídico condensador e legitimador de concepções da criança e do adolescente das camadas populares.” (PINHEIRO, 2006, p. 76)

Page 36: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

35

direitos infanto-juvenis, quando em 13 de julho de 1990, foi sancionada através da

Lei 8.069, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), revogando o Código de

Menores. Essa nova lei modificou a estrutura das políticas públicas para infância e

adolescência, pois sua aprovação revogou o “Código de Menores” que vivenciava há

sessenta e três anos, rompendo com a visão existente da “situação irregular”

constante na legislação que a antecedia (BARROS FILHO, 2010, p. 32).

A elaboração do ECA se deu a partir de uma necessidade de se avançar

na efetivação dos direitos da criança e dos adolescentes, quando em 1989, ocorreu

a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e o Brasil adequou-se a

legislação desta Convenção.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pode ser considerado fruto

de manifestações e lutas de movimentos sociais, perfazendo um grande esforço na

conquista das transformações e efetivações de direitos, pode ser destacado dentre

os movimentos participantes, o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua –

MNMMR13 e a Pastoral do Menor14.

O ECA acabou por introduzir mudanças favoráveis na construção de um

novo modelo de abordagem no atendimento dos direitos das crianças e dos

adolescentes, substituindo o antigo Código de Menores que vislumbrava a Doutrina

da Proteção Integral (conjunto de normas que compreendia a criança e o

adolescente em sua integralidade, considerando-os em sua condição peculiar de

pessoa em desenvolvimento).

13

A busca de autonomia pelo MNMMR para a execução de suas práticas, em conjunto com a manutenção da rede de articulação, configura-se como a busca de espaços para a concretização da representação social da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, cuja defesa inclui a sua participação – de crianças e de adolescentes. Ademais, ao defender a organização das crianças e dos adolescentes, a sua participação na defesa dos direitos, particularmente de meninos e meninas de rua, o MNMMR contribui, concretamente, para o confronto entre a representação social adotada pela entidade e pela Pastoral do Menor – criança e adolescentes, como sujeitos de direitos – e representações outras em circulação na primeira metade da década de 1980, que concebem a criança e disciplinamento, de repressão social – essa última mais comumente atribuída aos meninos e meninas de rua, associando-os à periculosidade, à ameaça à ordem e à sociedade. 14

A criação da Pastoral do Menor, como instância permanente, e a CF 87, como ação com tempo determinado, significa, muito mais do que a Pastoral da Criança, tentativas concretas de setores e integrantes da Igreja Católica de redimir a Instituição da omissão reconhecida em suas ações em relação ao menor. Em verdade, parece fazer sentido assim dimensionar o significado da Pastoral do Menor, na dinâmica da Igreja Católica, uma vez que não houve omissão da Instituição, no Brasil pós-Descobrimento, em relação á assistência à criança e ao adolescente. Ao contrário, trago claramente o reconhecimento do papel da Igreja, por suas consagrações, irmandades, movimento leigos, vem desempenhando, no conjunto das práticas dessa assistência, fundadas na concepção de proteção social [...] com a Pastoral da Criança. (PINHEIRO, 2006, p. 155)

Page 37: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

36

Ocorreram muitas mudanças, dentre essas, a substituição da

nomenclatura “menor”, passando a ser reconhecidos como crianças e/ou

adolescentes, sendo estes considerados como sujeitos dotados de direitos,

apresentando-se, assim, como articulador de intervenções nas políticas públicas e

sociais para a infância e juventude.

Em sua nova concepção norteadora, inclui não somente aspectos penais

sobre o ato praticado ou contra a criança, mas o direito à vida, à saúde, à educação,

à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à profissionalização, à liberdade entre

nós (SARAIVA, 2002, p. 14).

O movimento de consolidação do ECA e rompimento com a lógica do

antigo Código de Menores merece reconhecimento, mas ainda há muito a ser

discutido e modificado, mesmo sendo reconhecido como uma “lei moderna”,

permanecem fragmentos de controle e dominação do antigo Código de Menores. É

necessária uma mudança no discurso e procedimento que ferem na intervenção dos

direitos da juventude (SCHMIDT, 2009).

O Estatuto da Criança e do Adolescente teve papel fundamental na

desconstrução do paradigma da Doutrina da Situação Irregular15, quando passou a

afirmar que a noção real de proteção integral difunde na prioridade absoluta da

criança e do adolescente aos cuidados relativos à família, à sociedade e ao Estado,

sendo que basta um olhar mais atencioso para constatarmos que, no Brasil, a

efetivação dos direitos relativos aos adolescentes não está sendo cumprida em sua

íntegra, principalmente quando se trata dos envolvidos em atos infracionais

(SARAIVA, 1999).

Para finalizar este início de discussão, não podemos nos esquecer de

mencionar a Constituição Federal (CF) de 198816, no que concerne á criança e ao

15

Para Ângela Pinheiro a Doutrina da Situação Irregular preceitua claramente que ao Estado cabe intervir nos casos “irregulares”. E, de acordo com o Código de 1979, a categoria “menor” foi instituída e delimitada como seu objeto de ação, em três situações consideradas irregulares – carência, abandono e delinqüência. Apesar de serem distintas, na prática, as clientelas das FEBEMs e da FUNABEM foram e continuam sendo percebidas pela população em geral, a partir da categoria - o “menor”. E o significado predominante para “menor”, seu núcleo central, tem sido, identificado com a autoria de infração penal, muito mais do que com a carência e o abandono, numericamente muito mais expressivos, no Brasil, do que a delinqüência. (PINHEIRO, 2006, p. 78). 16

Esta doutrina baseia-se na concepção de que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos universalmente reconhecidos, não apenas de direitos comuns aos adultos, mas, além desses, de direitos especiais provenientes de sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento que devem ser assegurados pela família, Estado e sociedade. Essa mudança de concepção da criança e do

Page 38: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

37

adolescente, que institucionalizou essa concepção de sujeitos de direitos, rompendo

com os paradigmas de uma legislação que não defendia direitos e/ou os dispensava.

A CF de 1988 inovou ao adotar a proteção integral de crianças e adolescentes,

passando a tratá-los como pessoas em especial condição de desenvolvimento,

merecedores de uma proteção integral do Estado, da família e da sociedade em

geral (PINHEIRO, 2006, p. 353).

2.2 Conceito de adolescência

Com relação ao surgimento do conceito de adolescência, pode ser dito

que foi utilizado primeiramente por Rosseau, no século XVIII, quando escreveu sua

obra “Emílio”. Para Rosseau, adolescência seria um período de modificações, um

segundo nascimento em direção à autonomia da vida adulta (BASMAGE, 2010, p.

16).

Quanto ao conceito para a psicologia, foi introduzido no início do século

XX, com Stanley Hall (1844-1924), conhecido como fundador da psicologia do

adolescente, momento marcado por tormentos e conturbações vinculadas à

sexualidade, bem como foi corroborada por psicanalistas, mídia em geral e

sociedade (BASMAGE, 2010, p. 16).

No sentido etimológico, o conceito de adolescência a partir do Dicionário

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2010, p. 96) significa “período da vida humana

que sucede a infância, começa com a puberdade e se caracteriza por mudanças

corporais e psicológicas”.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS)17, adolescência define-se

adolescente como menor em situação irregular para pessoa que necessita de cuidados protetivos marca a passagem da doutrina da situação irregular para a doutrina da proteção integral. Crianças de até 12 anos e adolescentes de até 18 passaram a ser definidos como cidadãos, possuidores de direitos, na condição peculiar de pessoas em fase de desenvolvimento [...]. Dessa forma, a Constituição Federal passou a garantir-lhes os direitos pessoais e sociais, através da criação de oportunidades e facilidades que possibilitassem o desenvolvimento físico, mental, psíquico, moral, espiritual, afetivo e social, em condições de liberdade e dignidade. (VILELA, 2010). 17

A OMS (Organização Mundial da Saúde) ou WHO (World Health Organization) é uma agência especializada das Nações Unidas, destinada às questões relativas à saúde. Foi fundada em 07 de abril de 1948. Tem como objetivo garantir o grau mais alto de Saúde para todos os seres humanos. A OMS tem um entendimento de Saúde como um estado completo de bem-estar psicológico, físico, mental e social. Os estatutos da OMS foram aprovados em 22 de julho de 1946, pela Conferência Internacional da Saúde, convocada pelo Conselho Econômico e Social e reunida em Nova York. A

Page 39: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

38

como período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos e

se divide em três fases:

Pré-adolescência – dos 10 aos 14 anos;

Adolescência – dos 15 aos 19 anos completos;

Juventude – dos 15 aos 24 anos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) define como

adolescente aquele que possuir entre doze e dezoito anos de idade em condição

peculiar de desenvolvimento.

Para Cavalcanti (2007, p. 6) os conceitos sobre adolescência se formam a

partir do contexto histórico e social em que estão inseridos:

A adolescência como a reconhece hoje, é fruto dos avanços científicos e transformações psicológicas, educacionais e sócio-culturais ocorridas a partir do séc. XIX. Até então, não era reconhecida como etapa do desenvolvimento nem categoria social. O conceito está intimamente ligado à constituição da família nuclear moderna, ao prolongamento da idade escolar e a expansão das escolas para as diversas classes sociais.

Já segundo Schmidt (2001, p. 186):

Os conceitos de juventude e adolescência indicam fenômenos históricos e sociais (não existem do mesmo modo em todas as épocas históricas em todos os meios de uma determinada sociedade), com diversidades internas dos segmentos juvenis de uma mesma geração podendo ser, em algumas dimensões, tão diferentes entre si quanto de uma geração para outra), mas cujos componentes compartilham elementos culturais e atitudinais comuns, próprios da sua geração.

Conforme podemos observar, existem diferentes formas de conceituar

adolescência; sociólogos, antropólogos e psicólogos são nossas principais fontes de

pesquisa. Importante ressaltar que é considerado como fenômeno universal e de

Organização começou a existir em 07 de abril de 1948, quando 26 membros das Nações Unidas ratificaram os seus estatutos. Seu propósito primordial é a consecução, por parte de todos os povos, dos mais altos padrões de saúde possíveis. A OMS proporciona a cooperação técnica a seus membros na luta contra as doenças e em favor do saneamento, da saúde familiar, da capacitação de trabalhadores na área de saúde, do fortalecimento dos serviços médicos, da formulação de políticas de medicamentos e pesquisa biomédica. (Biblioteca Virtual de Direitos Humanos. Disponível em <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C 3%BAde/o-que-e-a-oms.html>. Acesso em: 07 jun. 2014)

Page 40: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

39

distintas concepções. Não devemos deixar que essa conceituação passe a ser vista

apenas como período de transição e/ou transformação entre a infância e fase adulta.

Para alguns pesquisadores e historiadores que estudam a adolescência,

de um modo geral, este não pode ser considerado apenas um período de transições

e transformações, sejam físicas ou emocionais, mas como um processo complexo,

por nem sempre possuir claramente indicativos definíveis de sua capacidade de

estabelecer sua identidade a partir das relações sociais, que se dá devido à

instabilidade das emoções (OSÓRIO, 1999).

A adolescência, por ser compreendida de diversas maneiras, para o

senso comum, é o processo de amadurecimento e reconhecimento da sua

identidade enquanto ser, passando a construir sua crítica sobre a realidade em que

está inserido. Este período pode ser marcado por emergentes tribulações, que

podem ser superadas ou não, pois a tomada de consciência sobre o lidar com as

frustrações, sentimentos, angústias, sonhos e esperanças pode ocasionar e produzir

a tomada de decisões confusas sobre uma referência, ora reconhecida pela

sociedade como o certo a seguir, já que este processo não é individual, mas

coletivo.

Em termos psicológicos, a formação e a identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o indivíduo se julga à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros o julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles. (ERIKSON, 1976, p. 21)

Para o autor acima, no período de desenvolvimento da identidade dos

adolescentes, é verificado um processo de percepção deste sobre os outros, quando

os sentimentos são construídos a base da reflexão de um conjunto de fatores

expostos por membros da sociedade, pela coletividade e aceitação de seu

comportamento.

A adolescência aparece como período considerado crítico para o

desenvolvimento de relações sociais, sendo este o momento em que os vínculos

deixam de ser centralizados apenas na família, ou seja, vai para além das

particularidades construídas no espaço familiar. Assim, partem para as relações com

outros, que podem vir a ser colegas, amigos, namorados e/ou namoradas, os quais

Page 41: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

40

buscam vínculos e apoio. Os adolescentes, neste espaço de tempo, desenvolvem

habilidades sociais diversas oriundas destas relações criadas, quando passam a

expor e compartilhar sentimentos, experiências e conhecimentos, sendo de

fundamental importância reconhecer o desenvolvimento de uma adolescência

saudável a qual requer equilíbrio entre o espaço familiar e aquele espaço que

buscou através da relação com outros (BRANCO; WAGNER; DEMARCHI, 2008).

Portanto, ao construirmos uma discussão sobre a conceituação de

adolescência, estamos abrindo espaço para mudanças no que concerne ao olhar

rotulante, sem esquecer a adoção da visão crítica sobre o comportamento e

participação destes nos vários espaços da sociedade, importando lembrar que,

acima dos conceitos, estes são sujeitos de direitos e responsabilidades.

2.3 Adolescência e “violência”, “desvio”, “criminalidade”

Podemos analisar que a passagem para adolescência pode possuir vários

desfechos, dentre estes, seu enfraquecimento diante das expressões da realidade

social, violência, pobreza, desemprego, servindo possivelmente de fatores

condicionantes ao incentivo da agressividade e luta pela sobrevivência, uma espécie

de fuga sobre o medo do fracasso.

A violência apresenta-se de diferentes formas na sociedade brasileira,

ocupando lugar de destaque no cotidiano da população, quando adolescentes são

supostamente envolvimentos nesta prática, apresentando-se como vítimas ou

agressores, levando a inquietude de todos os envolvidos, seja família, sociedade e

estado. Por tais motivos, a violência repercute como fenômeno social, sendo

compreendida a partir das condutas e práticas que dão origem as ações dos seres

humanos, que podem ser complexos pelo não entendimento e compreensão da

realidade a sua volta (ABRAMOVAY et al., 2004; ADORNO; BORDINI; LIMA, 1999;

PINHEIRO; ALMEIDA, 2003).

Para alguns autores, as causas da inserção de adolescentes no chamado

mundo da criminalidade está para além da reprovação da sociedade ou pela

“vadiagem”, pobreza, más companhias, desestrutura familiar, drogas, violência

Page 42: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

41

doméstica, falta de opções de lazer, evasão escolar, muito embora se configurem

como os principais motivos da vulnerabilidade dos adolescentes (COLPANI, 2003).

Ao tomar como base a realidade que nos rodeia, um indivíduo não se

insere ou comete delitos, dito como atos infracionais, por tratar de adolescentes,

aleatoriamente, é instigado por fatores, falhas e vulnerabilidade das estruturas

sociais, pela amplitude e desvalorização de investimentos que impulsionem a

efetivação e garantia de direitos adquiridos. As dificuldades e desordenamento dos

espaços que envolvem os poderes sociais, econômicos e políticos podem ser

predominantes no enraizamento de agressões e repressões contra toda uma

sociedade corrompida pela disputa entre a ascensão e representatividade destes

poderes.

Apesar de ser diagnosticado que grande parte dos adolescentes que

cometem ato infracional pertencem a uma classe mais pobre, não podemos associar

a miséria ao crime, ocorre este envolvimento devido habitarem em bairros com

grande quantitativo de violência. Essa exposição ao perigo pode levá-los a repetirem

o que vivenciam.

Para o autor Leal (1983, p. 104), devemos nos prevenir contra possíveis

delinquências juvenis através da formulação de políticas de prevenção, objetivando

uma diminuição de ocorrências delituosas, cometidas por adolescentes:

Preveni-la, a delinquência juvenil, é impedir um negócio social que se permite esteja sendo praticado contra milhares de menores, espalhados nos quatro cantos deste país e que, produtos de um processo de socialização divergente, desfuncionados, convertem-se em infratores porquanto não se lhes oferecem outras opções, não se satisfazem, a tempo próprio, as suas necessidades básicas (suas carências, isoladas ou não, são múltiplas: econômicas, sociais, físicas e psíquicas), nem se busca desenvolver suas potencializadas positivas.

A realidade brasileira está pautada no negar a conquista da democracia,

ou seja, a sociedade brasileira, ao clamar por meio de movimentos melhores

condições de vida, mobilizando diversos setores da sociedade, foi contemplada com

a aprovação da Constituição Federal de 1988, ocorre que apesar da conquista, a

efetivação dos direitos não acontece de forma plena, à luta ainda não acabou

(SCHMIDT, 2009).

Page 43: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

42

O autor Bobbio (1992, p. 05) afirma: “que os direitos do homem, por mais

fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas

circunstâncias caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades, contra

velhos poderes”.

A busca pela efetivação dos Direitos Humanos foi condecorada a partir de

conflitos, disputas de poder, em meio a uma sociedade marcada pela desigualdade,

que mesmo diante de uma lógica capitalista não se rendeu, tampouco desistiu. Mas,

quando se trata dos caminhos percorridos para garantir direitos de crianças e

adolescentes no Brasil, este se torna estreito, pois parte da sociedade se rendeu aos

pensamentos conservadores, estamos vivenciando lutas contrárias, quando a

sociedade em grande parte apela para a redução da maioridade penal, ocorrendo

devido a estarmos vivenciando crises sociais e de violência ocasionadas por

adolescentes.

[...] o alarme do crescimento do número de infrações da população juvenil e a propagação mediática deste tipo de violência geram solicitações de medidas repressivas por parte da população, que se materializam nos vários projetos de lei e de emendas à Constituição que no Congresso Nacional, buscando a redução da idade de imputabilidade penal. (COSTA, 2005, p. 74)

O autor Dutra afirma que:

No Brasil, a principal “ação errada”, que antecede a violência é o desrespeito. O desrespeito é consequente das injustiças e afrontamentos, sejam, sociais, sejam econômicos, sejam de relacionamentos conjugais, etc. A irreverência e o excesso de liberdades (libertinagens, estimuladas principalmente pela TV), também produzem desrespeito. E, o desrespeito, produz desejos de vingança que se transformam em violências. (DUTRA, 2005, p. 102)

Notoriamente, a sociedade contemporânea vivência um momento de

grande desconforto, devido ao crescente número de violência ocasionada por

adolescentes, propagando aterrorização e sensacionalismo, decorrentes da forma

como são expostas notícias sobre a temática em questão, evidenciando a desordem

na segurança pública e em políticas sociais que atendam às necessidades, desde a

prevenção da população infanto-juvenil brasileira (SEGALIN; TRZCINSKI, 2006).

Page 44: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

43

A adolescência, atualmente, está sendo encarada como uma das

problemáticas do século XXI, desafiando as medidas de proteção previstas na

Constituição Federal de 1988 e no ECA. Podemos verificar que este entendimento

pode ser vinculado ao desordenamento e ao desenvolvimento do país, com o

avanço de tecnologias, incentivo ao consumismo, ou seja, influências de um

modernismo ao qual a sociedade capitalista aos poucos está se encarregando de

“entranhar” na estrutura de toda a sociedade (CAMPOS et al., 2003).

Para o autor Mário Luiz Ramidoff,

[...] os seres humanos, particularmente a criança e o adolescente, enquanto novas dimensões de subjetividade têm experimentado uma nova espécie de convivência conflitiva, precisamente estabelecida pela tensão permanente resultante do compartilhamento entre o indivíduo e o coletivo, ou seja, social. (2010, p. 81)

Já para Chesnais, existem outros fatores predominantes na sociedade

brasileira que contribuem para a proliferação da alienação.

A sociedade brasileira é uma das mais desiguais, uma das mais estratificadas que existem. Aqui se encontra a mais extrema pobreza ao lado da mais fabulosa riqueza. Continua sendo o país dos privilégios, pois a recessão econômica diminui a mobilidade social. O excesso de riqueza ostentada é vivido por muitos como uma provocação, daí a tentação do roubo e do dinheiro fácil. (CHESNAIS, 2006)

Estamos vivendo em uma sociedade que está sendo regulada pelo

consumismo de bens, para além do que realmente é necessário, caracterizando,

assim, uma ordem socioeconômica forjada pelas mudanças globais, expressas pela

divisão de grupos, intensificação das desigualdades, desemprego, pobreza. Assim,

as mais atingidas são as novas gerações, excluídas pelo desordenamento do

avanço rumo ao chamado desenvolvimento, que está sendo conquistado através do

desamparo de muitos, pela seletividade e subalternização dos direitos ora

conquistados.

Page 45: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

44

3 A PERCEPÇÃO DOS ADOLESCENTES SOBRE A MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E A DESCRIÇÃO DAS INSTITUIÇÕES 3.1 A Internação Provisória

A aplicação das medidas socioeducativas18 não deve desobedecer sua

proximidade com os campos que envolvem o contexto social, econômico e político,

impulsionando programas voltados a adolescentes. Cabe ao Estado não somente

contemplar a garantia de direitos, mas, sim, traçar estratégias e práticas para

diminuição de atos infracionais, através de serviços de assistência a proteção da

vulnerabilidade exposta, dando apoio à funcionalidade de medidas socioeducativas

aos adolescentes que se encontram em conflito com a lei.

A medida socioeducativa, seja pena ou sanção, significa, para seu destinatário, a reprovação pela conduta ilícita, providência subseqüente que carrega em si, seja a consequência restrita ou privativa de liberdade, ou até mesmo modalidade de simples admoestação, o peso da aflição, porque sinal de reprovação, sinônimo de sofrimento porque segrega do indivíduo um de seus bens naturais mais valiosos, a plena disposição e exercício da liberdade. (KOSEN, 2005, p. 63)

A medida socioeducativa de internação tem como parâmetro privar de

liberdade adolescentes autores de ato infracional, e só poderá ser aplicada por um

Juiz, em casos em que durante a infração seja verificada uso da violência à pessoa,

grave ameaça e/ou verificada a reincidência do adolescente (BRASIL, 2000).

O ECA, em seu art. 121, detém princípios que regem a medida

socioeducativa da seguinte forma:

18

Quanto o ato infracional é praticado por um adolescente são-lhes aplicáveis as seguintes medidas socioeducativas, conforme a gravidade e o potencial de agressividade do ato (art.112): I – Advertência, que consiste em admoestação verbal, reduzida a termo e assinada; II – Obrigação de Reparar o dano, quando causar prejuízos materiais a terceiros, podendo o juiz determinar que o adolescente restitua a coisa; III – Prestação de Serviço à Comunidade, por meio de realização de tarefas gratuitas de interesse geral, desde que os adolescentes com elas concordem; IV – Liberdade Assistida consiste no acompanhamento, auxílio e orientação do adolescente; V – Semiliberdade, medida restritiva de liberdade, decorrente de ato infracional grave; VI – Internação, aplicada somente nos casos graves em que o ato infracional seja grave ou de violência a pessoa ou decorra de reiteração de outras infrações graves ou de descumprimento reiterado e injustificável da medida anterior imposta (BRASIL, 2000).

Page 46: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

45

Art. 121. A internação constitui a medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios da brevidade, da excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. (BRASIL, 2000)

Para os adolescentes entrevistados, a medida socioeducativa de

internação provisória19 aplicada pelo Juiz não possui caráter arbitrário, estes apenas

cumprem o seu trabalho, agindo como representantes da justiça e conforme

determina a lei. Vejamos a fala dos adolescentes:

Ele só tá fazendo o trabalho dele, né? (Margarida) É o trabalho dele. Quem pega a gente é a polícia, e depois ele manda a gente ser internado. (João) Ele tem que fazer isso mesmo, a lei diz isso, né? Fazer o que? E o trabalho dele. (Pedro) A gente faz bobagem e ele manda a gente pra ser internado. (Franscisco) Trabalho dele é esse mesmo, mandar prender quem faz coisa errada, como eu fiz. (Antonio)

A autora Gomide (1999, p. 32) apresenta o entendimento sobre a

aplicação da medida de internação aos adolescentes em conflito com a lei, da

seguinte forma:

A repressão imposta a ele pelo poder judiciário não tem o papel corretivo esperado, ao contrário, incrementa ainda mais as suas habilidades infratoras. Enfim, as instituições têm favorecido o desenvolvimento da identidade do menor infrator, através da aquisição e fortalecimento de características físicas próprias desse grupo social e do desenvolvimento de hábitos importantes para a sobrevivência do grupo.

19

A medida só é considerada provisória quando determinada pelo juiz antes da sentença (art. 108, 174 e 175), não podendo exceder o prazo de quarenta e cinco dias, em decorrência da gravidade do ato infracional, em garantia de sua segurança pessoal ou para manutenção da ordem pública, devendo ser observado que existem indícios suficientes da autoria e da materialidade da infração (BRASIL, 2000, art.108).

Page 47: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

46

O que pode ser entendido na fala da autora é que há uma dupla

problemática, o caráter repressivo, quanto às decisões do poder judiciário e o mau

funcionamento das instituições que são responsáveis pela execução das medidas

socioeducativas, que buscam durante o período de internação estimular os

adolescentes a vivência e a prática de uma vida cidadã. Percebemos que as

condutas exercidas não são democráticas, por deixarem claro que há falta de

espaço para a discussão na melhoria do atendimento aos adolescentes em conflito

com a lei.

O propósito da medida é utilizar-se de meios educativos para garantir aos

adolescentes em conflito com a lei oportunidade de um pleno desenvolvimento,

passando a usufruir da garantia e acesso “à educação formal, profissionalização,

saúde, lazer e demais direito assegurados legalmente” (VOLPI, 1999, p. 14).

Um dos principais obstáculos à implantação e consolidação da política socioeducativa no país é a organização do sistema como um todo, pouco clara e compartimentada nas responsabilidades operacionais. A invisibilidade político-administrativa e a divisão político-operacional não facilitam a implantação e consolidação da política socioeducativa no país. Muito pelo contrário. Além disso, apesar dos esforços empreendidos pelas políticas de Assistência Social, Educação e Saúde (para citar apenas três das políticas setoriais) há falta de coordenação de articulações locais para unificar e direcionar esforços necessários, o que contribui para que a aplicação de medidas socioeducativas, na prática, muitas vezes reproduza os conceitos menoristas superados pela adoção da Doutrina da Proteção Integral, refletida em nossa legislação. (SDH, 2013)

O principal objetivo da execução de medidas socioeducativas é facilitar

aos adolescentes que se encontram em conflito com a lei o acesso, bem como o

pleno exercício de seus direitos, capacitando-os para que possam desenvolver seus

valores e condutas conforme necessário para uma aproximação e inserção ao

convívio não somente no seio da família, mas de sua aproximação com a sociedade

e consigo mesmo, construindo novas formas de lidar com as problemáticas

existentes no seu dia a dia, possibilitando-os a uma reafirmação da negatividade do

cometimento do ato infracional, que implica na formação de cidadãos autônomos e

solidários (SDH, 2013).

Mesmo que alguns adolescentes apresentem situações singulares, estes

podem apresentar opiniões e aprendizados diferentes, conforme afirma Zanchin

(2010, p. 35):

Page 48: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

47

[...] mesmo quando dois adolescentes vivem uma mesma situação, o aprendizado é diferente, pois suas vivências são diferentes [...] O contexto de cada um deve ser considerando, pois sua rede de relações pode estar mais ou menos aberta, mais, ou menos fragilizada, mais ou menos ativa.

Ao se referir à medida de internação provisória, os adolescentes

apresentam que seu cumprimento é uma obrigação, deixando claro que não gostam

da medida, observemos a fala de João:

Ah ficar internado é pagar pelas coisas erradas, a gente tem um tempo pra tentar ficar uma pessoa melhor. Pode ficar certa que ninguém gosta de ficar „preso‟. É para quem não conhece o que acontece lá dentro pensa que é bom. A gente ouve de tudo. Que esse é um momento de aprender as coisas, para quando sair arranjar um bom emprego. Conserva fiada. (João)

O adolescente Francisco também se demonstrou desconte em cumprir da

medida de internação provisória:

Nos primeiros dias a gente fica revoltado. Porque não quer ficar lá. Dá pra sentir como se fosse uma prisão mesmo. Depois a gente pensa que vai sair logo e não quer fazer mais nada errado, e fica pensando nas bobagens. (Francisco)

Os adolescentes percebem que cumprir a medida de internação

provisória, mesmo descontentes é algo atrelado a um momento de reflexão e

arrependimento pela infração cometida, o que remete a pensarmos se os

profissionais competentes estão informando para estes adolescentes internados

sobre a finalidade da medida, e o porquê é necessário que eles cumpram.

Quanto ao distanciamento que a medida de internação provisória possa

incidir entre o momento em que os adolescentes estão internados e o desejo da

proximidade da família, mesmo com as divergências que possam existir, o diálogo a

seguir demonstra uma dicotomia entre a função da privação de liberdade e a suas

famílias:

E muito ruim quando o cara para pra pensar na família que tá lá fora sofrendo por causa da gente. Isso torna mais ruim ficar „preso‟. Mas acaba que a gente tem que pagar pela infração que cometeu. Nesse

Page 49: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

48

momento a gente pensa em parar pra não ver a mãe da gente chorando. (João) Há penso toda hora. Meu Deus eu tava doida quando me meti nessa loucura. Mas é bom que agente aprendi a não fazer mais coisa errada. Ninguém que voltar. Mas tem muito neguim que não aprende nunca. (Margarida)

A liberdade soa para os adolescentes como algo mais difícil do que ficar

internado, o medo acompanha as possibilidades futuras, uma liberdade incompleta,

uma busca pela mudança e a possível frustração na tentativa de um novo começo

diante uma sociedade repressiva que condena.

Para o adolescente Pedro, a liberdade após o cumprimento da medida de

internação provisória, é tratada como momento pelo qual não irá mais envolver-se

com outros tipos de infração, esforçando-se para que não aconteça:

A gente sempre pensa que quando sair vai se aquietar, mas às vezes a gente não consegue. Mas vou pelo menos tentar. Porque é bom a gente ficar livre sem dever nada. A gente fica na moral. Sem medo de nada nem ninguém. Ficar se escondendo pra que. (Pedro)

Quanto ao adolescente Antônio, este fala sobre a liberdade com receio,

apresentando certo medo de não ser aceito pelos outros e que, possivelmente, não

conseguirá oportunidade devido à sociedade ser preconceituosa, negando, assim,

uma nova chance para aqueles que, por algum motivo, cometeram algo de errado:

O cara sair dessa vida de fazer coisa errada é muito difícil. Com essa sociedade que não dá oportunidade pra gente. Né? Será que a gente consegue que nos vejam com outros olhos? Sempre vamos ser olhados como bandidos. Não tem espaço pra gente no meio dos playboys não dona. (Antonio)

Conforme Athayde, Bill e Soares (2005), o futuro está atrelado a uma

realidade que se condiciona a uma política moralista,

[...] No Brasil, o solo mais firme sobre o qual erguemos, crenças, valores e atitudes são as relações pessoais. O país, a sociedade, a nação, suas leis e instituições freqüentemente parecem realidades menos sólidas, estáveis,

Page 50: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

49

permanentes e confiáveis do que os amigos e a família, os vizinhos e a comunidade. Até porque a solidariedade nas emergências se manifesta no espaço das relações face a face. Os aparatos públicos são distantes e menos prestativos, dificilmente revelam o mesmo grau de compromisso e responsabilidade solidária que se experimenta em casa ou na comunidade. (2005, p. 221)

Para tanto, conquistar a liberdade para os adolescentes é se condicionar

aos fatores de comportamento impostos pela sociedade, uma mudança que não

poderá se completar, caso não ocorram mudanças nas estruturas existentes para

comportar a efetivação dos direitos conquistados.

A medida de internação deverá adotar exigências mínimas, quanto ao

tratamento dos adolescentes autores de ato infracional, já que há uma

desfragmentação em seu caráter pedagógico, devido às dificuldades oriundas de um

planejamento inapropriado, falta de investimento e melhorias nas políticas públicas,

que poderiam investir na construção de estratégias no combate e impedimento de

adolescentes que se envolvem no mundo da criminalidade.

Para os adolescentes entrevistados, construir uma nova vida através da

tomada de consciência acaba se tornando algo difícil devido à realidade que lhes foi

imposta não lhes oferecer alternativas, como declaram:

Quanto ao futuro... Difícil porque estou grávida e agora só sei que vou pra casa da minha mãe. Mas eu queria ter uma casa só minha, trabalhar e poder dar tudo que meu filho me pedir. Mas é tudo muito difícil. Às vezes nem sei se é isso mesmo que eu quero, mas eu acho que vai ser difícil. (Margarida) Ah futuro, não sei falar muito. Minha mãe já falou que vai me mandar embora. Acho que não fico muito tempo no interior não. Tenho que trabalhar e comprar as coisas do meu filho. Não sei nem com que vou trabalhar. É tudo muito complicado. A gente sempre pensa em ter uma casa cheia de moveis, um carro, viver bem. (João)

Ainda falando sobre as perspectivas de mudança de vida, os

adolescentes apontam as dificuldades em deixar o “mundo da criminalidade”:

Ah muita gente ai pensa que é fácil a gente deixar essa vida. Mas não é fácil, tem muita coisa envolvida. A gente tenta, mas às vezes não

Page 51: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

50

consegue. Ai é que gente ver que ninguém quer ajudar. Só fala de boca e nada feito. (Pedro) A galera ver a gente como bandido, marginal, ladrão e fala que a gente é cheio de direitos. Mas cadê que é bom. A gente tenta sair sim dessa vida perigosa. Mas não tem quem ajude. E tudo muito difícil pra quem entra nessa vida. Não tem volta. Essas pessoas ai que dizem o contrario estão todas erradas. Porque falar, falar e depois não faz nada. (Francisco)

Diante das discussões apresentadas pelos adolescentes em conflito com

a lei às alternativas usadas para mudar estas contradições existentes são as

instituições de internação que, além de possuírem, na prática, como único objetivo a

punição, deveriam investir mais nos meios educativos, como uma tentativa de

transformação, na verdade, não ocorrendo devido à desfragmentação das políticas

voltadas para a temática.

3.2 As instituições de internação

Devido ao município de Maracanaú – CE não possuir Centros

Educacionais ou instituições de acolhimentos para adolescentes em conflito com a

lei, quando há determinação de internação, estes são encaminhados para os

Centros Educacionais existentes na capital, Fortaleza – CE. Portanto, os

adolescentes entrevistados, encontram-se internados nestas unidades.

Dentre as unidades de acolhimento para adolescentes que se encontram

em conflito com a lei e em privação de liberdade, a Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social – STDS destaca as seguintes:

Page 52: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

51

Tabela 1. Informações sobre centros Educacionais de Fortaleza - CE.

Centro Educacional Objetivo Público Alvo

Aldaci Barbosa Mota Atender, em regime de internação provisória, privação de liberdade e

semiliberdade.

Adolescentes do sexo feminino, de 12 a 21

anos, que se encontram em conflito com a lei.

Dom Bosco

Atender, em regime de internação, adolescentes

envolvidos com a prática de ato infracional de natureza grave,

encaminhados por ordem judicial e sentenciados por

descumprimento da medida, com permanência máxima de 90 dias.

Adolescentes do sexo masculino, de 12 a 21

anos.

Cardeal Aloísio

Lorscheider Atender adolescentes e jovens, autores de ato infracional grave.

Adolescentes de 18 a 21 anos, do sexo masculino, sentenciado no regime de

internato.

Patativa do Assaré

Atender, em regime de internato, adolescente autores de ato

infracional de natureza grave sentenciados.

Adolescentes de 16 a 17 anos, do sexo masculino,

sentenciados.

São Francisco

Atender, em regime de internação provisória, adolescentes do sexo masculino em conflito com a Lei, enquanto aguardam a conclusão do processo de apuração do ato

infracional pelo Juizado da Infância e da Juventude.

Adolescentes de 12 a 18 anos, do sexo masculino

em conflito com a lei.

São Miguel

Atender, em regime de internação provisória, adolescentes do sexo masculino em conflito com a Lei, enquanto aguardam a conclusão do processo de apuração do ato

infracional pelo Juizado da Infância e da Juventude.

Adolescentes de 12 a 18 anos, do sexo masculino

em conflito com a lei.

José Bezerra de Menezes

Atender, em regime de internação provisória, adolescentes autores

de ato infracional em conflito coma Lei, por até 45 dias,

enquanto a medidas socioeducativas é estabelecida

judicialmente.

Adolescentes em conflito com a Lei, do sexo

masculino, na faixa etária de 12 a 18 anos.

Passaré

Atender, em regime de internato (primeira medida), adolescentes

autores de ato infracional de natureza grave.

Adolescentes em conflito com a Lei, do sexo

masculino, na faixa etária de 12 a 18 anos.

Segundo levantamento, o Conselho Nacional do Ministério Público

(CNMP) revelou que as instituições de internação de adolescentes infratores são

Page 53: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

52

vistas como réplicas de prisões brasileiras, sendo verificado, durante as vistorias,

que há altos índices de superlotação e insalubridade, que podem ser somados à

falta de salas de aula e de espaços para capacitação profissional adequados. Além

de que metade das unidades de internação do Centro-Oeste, Nordeste e Norte

foram consideradas insalubres, ou seja, sem higiene, conservação, iluminação ou

ventilação adequada (Jornal O globo, 2013).

As unidades do Ceará estão dentre as que possuem melhores condições

de salubridade com 89,9%. Outro fator importante é que apenas 44% das unidades

obedecem a separação dos adolescentes por idade, compleição física ou infração

cometida, conforme determina o ECA.

As instituições de acolhimentos para adolescentes em conflito com a lei,

privados de liberdade, devem obedecer exigências mínimas para seu

funcionamento, bem como desenvolver programas educativos20.

Existem diversas falhas nas instituições quanto ao cumprimento de suas

obrigações, conforme previsto pelo ECA, podendo ser percebido através das falas

dos adolescentes entrevistados. Muitos relatam que a perspectiva de intimidação

implicou em dificuldades que serão vivenciadas em outros momentos de sua vida.

Quando, no entanto, teriam que ter como objetivo oferecer aportes educativos,

engajamento em atividades dentro das instituições, recuperar o convívio familiar,

dentre outros.

20

I – observar os direitos e garantias de que são titulares os adolescentes; II – não restringir nenhum direito que não tenha sido projeto de restrição na decisão de internação; III – oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos; IV – preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e dignidade ao adolescente; V – diligenciar no sentido de restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares; VI – comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares; VII – oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; VIII – oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; IX – oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; X – propiciar escolarização e profissionalização; XI – propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; XII – propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XIII – proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XIV – reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente; XV – informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual; XVI – comunicar as autoridades todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas; XVII – fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; XVIII – manter programas destinados ao apoio e acompanhamento de egressos; XIX – providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não tiverem; XX – manter arquivo de anotações onde constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento (BRASIL, 2000, art. 94).

Page 54: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

53

É possível identificar manifestações críticas dos adolescentes quanto ao

tempo de permanência dentro das instituições, acontecendo devido à

impossibilidade e contribuição para a construção de novas perspectivas de vida já

que as instituições trazem consigo tendências voltadas mais para o caráter punitivo

que educativo observado através da fala dos adolescentes21:

Fica internada é muito ruim, sufocam a gente. Muitos acabam saindo é pior. Apronta mais ainda lá fora. Porque eles obrigam a gente a fazer umas coisas lá e ainda dizem que é bom pra gente. Há temos regras, como hora de tomar banho, comer, participar das aulas de oficinas, e tem hora que não to afim. Ninguém sabe de nada, só a gente que tá lá. E essas regras se a gente desobedecer é castigado, prefiro nem fala qual é o castigo tia. E depois a gente passa muito tempo sem fazer nada. Aí tem tempo pra pensar em muita coisa boa e ruim. (Margarida) Ruim, né? Lá é uma prisão, as pessoas dizem que é pra gente se recuperar, mas a gente sai é pior. Alguns tratam a gente bem e outros maltratam muito. Quando a gente faz alguma coisa errada eles colocam a em uma sala fechada e escura, na tranca. A gente fica com tanta raiva e pensa quando sai de lá ficar pior. A gente sente que é tratado por alguns lá como ladrão, que merece é sofrer mesmo. (João)

Os adolescentes Pedro e Antônio resumem em poucas palavras o quanto

é desvantajoso permanecer internados dentro de instituições que demonstram não

possuir aparato para o acolhimento de adolescentes em conflito com a lei, afirmando

contraditoriamente a mediação entre os aspectos de aprendizado e o sofrimento:

A gente tem que ficar lá porque cometeu crime, mas é muito ruim, por isso que têm uns que fazem rebelião e quem tá aqui fora num sabe. (Pedro) Quem diz que é bom ta muito louco. Lá é um inferno, uma prisão, coisa de doido. A gente não enlouquece nem sei dizer por quê. (Antonio)

Para Mário Volpi (2001, p. 135), as instituições de privação de liberdade e

o infrator podem ser compreendidos como racionalidades convergentes, pois tanto o

21

O SINASE prevê que os direitos dos adolescentes submetidos ao cumprimento de medida socioeducativa não deverá causar-lhe prejuízo, devendo estes serem respeitados. (art.49)

Page 55: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

54

adolescente infrator quanto as instituições a ele destinadas seguem a mesma

racionalidade de transgressão, acontecendo devido à falta de atenção e cuidados

por parte do Estado, em maiores investimentos nas políticas sociais voltadas para a

temática em alusão, melhor qualificação e remuneração para os profissionais que

atuam na área.

Podemos confirmar essa transgressão que Volpi trata através do 2º

Monitoramento do sistema socioeducativo: diagnóstico da privação de liberdade de

adolescentes no Ceará, realizado em 2011, nos Centros Educacionais, o qual

verificou a inexistência e/ou não conhecimentos de propostas pedagógicas que

devem existir nestas instituições conforme determina o SINASE:

O monitoramento mostrou que mais da metade das unidades (58,3%) não possui plano pedagógico e, dentre as que possuem, um número bem pequeno o apresentou a nossa equipe. Em muitos casos, percebeu-se que, mesmo diante da existência de tal plano, a equipe não tinha conhecimento de tal material ou não tinha se apropriado de seu conteúdo no desenvolvimento de sua prática profissional. O treinamento introdutório dos profissionais que atualmente trabalham nos centros educacionais deveria ter sido pautado pelo plano pedagógico, afinal ele é o ponto de partida para o desenvolvimento de qualquer atividade dentro das unidades. A ausência de plano pedagógico é um dado alarmante e insustentável. Se toda ação pedagógica exige planejamento, execução, bem como sua avaliação posterior, como as unidades conseguem coordenar suas atividades socioeducativas de maneira integrada e de acordo com as normativas propostas pelo SINASE sem o plano? A ausência dele revela um total descaso das unidades no que se refere à principal prática que a legitima como unidade educacional de internação: a atividade socioeducativa. (SEDH, 2011).

Apesar das instituições de acolhimento de adolescentes infratores

possuírem mecanismos de recuperação para aqueles que cometeram atos

infracionais, ainda estão longe de alcançar seus objetivos reais e prioritários que são

as ações pedagógicas22. Tal compreensão pode ser percebida através da fala dos

adolescentes entrevistados.

22

Os parâmetros norteadores da ação e da gestão pedagógicas para as entidades e/ou programas de atendimento que executam a internação provisória e as medidas socioeducativas devem propiciar ao adolescente o acesso a direitos e às oportunidades de superação de sua situação de exclusão, de ressignificação de valores, bem como o acesso à formação de valores para a participação na vida social, vez que as medidas socioeducativas possuem uma dimensão jurídico sancionatória e uma dimensão substancial ético pedagógica. Seu atendimento deve estar organizado observando o princípio da incompletude institucional. Assim, a inclusão dos adolescentes pressupõe sua participação em diferentes programas e serviços sociais e públicos (SINASE, 2012).

Page 56: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

55

Verifica-se que, apesar das insatisfações dos adolescentes quanto à

forma de aplicação da medida de internação provisória23, deixam transparecer que

ocorre muito mais pelo fato de não serem amparados e acolhidos de forma digna,

quando se trata das propostas de cunho educativo como as oficinas, lazer,

apresentam diversas razões, sendo algumas favoráveis e outras não favoráveis,

demonstram em suas expressões quanto ao envolvimento com as atividades

propostas dentro de sua permanência nas instituições:

Por razões de imposição

Lá tem artesanato, futebol e outros. Gosto de jogar futebol. Quando não tava internado eu ia jogar bola, sempre. Não é a gente que escolhe fazer, somos obrigados, ai eu faço umas caixinhas. (João) Eles oferecem pra gente uns cursos e oficinas, participo porque eles mandam. (Francisco)

Afinidade com as oficinas

Lá no centro tem cursos de arte, costura, bordado, maquiagem, pintura. Eu faço o de artes. Quando eu era criança gostava de construir brinquedos. (Margarida)

Ações que os favoreceram financeiramente

Tem umas oficinas pra gente aprender umas coisas que depois a gente pode vender e conseguir um dinheirinho, né? (risos). Gosto de pinturas e artes. (Antônio)

Lazer

Tem uns cursos. Mas eu gosto de construir coisas com caixa e papelão, que tão ensinando a gente. Não é todo dia que gosto. Mas a gente tem que participar. (Pedro)

23

O adolescente deve ser visto, dentro das instituições, como alvo de um conjunto de ações socioeducativas que contribua na sua formação, de modo que venha a ser um cidadão autônomo e solidário, capaz de se relacionar consigo mesmo, com os outros e com tudo que integra a sua circunstância e sem reincidir na prática de atos infracionais (SINASE, 2012).

Page 57: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

56

A SEDH (2006) compreende que, durante o atendimento socioeducativo

inicial para adolescentes submetidos a internação provisória, é necessário elencar

princípios primordiais que desrespeitam a exigência e compreensão destes, sem

esquecer o respeito para com os adolescentes:

Exigir dos adolescentes é potencializar suas capacidades e habilidades, é reconhece - lós como sujeitos com potencial para superar suas limitações. No entanto, a compreensão deve sempre anteceder a exigência. É preciso conhecer cada adolescente e compreender seu potencial e seu estágio de crescimento pessoal e social. Além disso, devem se fazer exigências possíveis de serem realizadas pelos adolescentes, respeitando sua condição peculiar e seus direitos. (SEDH, 2006, p. 48)

Os Centros Educacionais disponibilizam para os adolescentes cursos de

profissionalização, um dos direitos assegurados aos adolescentes pelo ECA. Os

cursos profissionalizantes possuem como propósito, garantir um nível de

capacitação profissional para os adolescentes em situação de privação de liberdade.

Os trabalhos realizados possuem caráter educativo, possuindo em suas bases

aspectos pedagógicos, que podem contribuir para o desenvolvimento pessoal e

social que poderá ser aproveitado pelo adolescente ao sair da medida de internação.

É especifico ás entidades, instituições e programas que atendam os

adolescentes submetidos a internação provisória, oferecer não somente atividades

pedagógicas mas também propiciar o acesso destes a programações culturais, de

lazer, de teatro, de música, de esporte, utilizando-se destas não somente para o

favorecimento à qualificação artística mas como instrumentos de inclusão social,

deste que sejam respeitados a aptidão e o interesse dos adolescentes em questão.

Além de garantir a implementação de ações voltadas a prevenção de riscos e

manutenção da saúde e da educação (SEDH, 2006, p. 60-61).

Ainda tomando como base o monitoramento do sistema socioeducativo,

realizado nas unidades do Ceará, este faz referências aos cursos profissionalizantes

oferecidos aos adolescentes internados:

Foram mencionados como oficinas e cursos profissionalizantes ofertados nas unidades: fabricação de vassoura, vime, fabricação de saneante, informática, jardinagem, pintura e textura, fabricação de embalagens, hortifruti, inglês, ajudante de construção, doces e salgados, serigrafia, bijuteria, rádio, artesanato, garçom, bombeiro hidráulico, marketing pessoal, secretariado, panificação, biscuit e confecção de bolsas. Na unidade exclusiva para meninas os cursos listados foram: salão de beleza, corte e costura e bordado, o que demonstra uma clara divisão sexista do trabalho.

Page 58: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

57

As oficinas são realizadas por profissionais vinculados aos centros educacionais e compõem a rotina diária dos adolescentes. Já os cursos citados acontecem de forma mais pontual, geralmente através de parcerias com programas ou instituições de profissionalização, como o Programa Primeiros Passos, CENTEC, SENAC, entre outros. No entanto, na ocasião das visitas às Unidades, foram verificadas poucas dessas atividades em funcionamento. (SEDH, 2011)

Portando, por mais que as instituições possuam perspectivas

socioeducativas, pedagógicas destinadas à recuperação e à reinserção dos

adolescentes internados, verifica-se a necessidade de um olhar mais atento, quanto

ao chamado dos adolescentes para participarem dos cursos e programas

disponibilizados, fazendo com que os adolescentes não se sintam obrigados, mas

que percebam como oportunidades de engrandecimento e formas de enfrentamento

para os obstáculos que encontram em suas vidas.

Contudo, outro fator importante para ser observado dentro das instituições

está relacionado à estrutura física e à capacidade para receber os adolescentes

submetidos a internação provisória, haja vista que é de fundamental importância no

asseguramento do atendimento adequado, ou seja, a execução da determinação da

internação provisória deve propiciar a garantia dos direitos fundamentais dos

adolescentes24 (SINASE, 2012).

A autora Marin problematiza as instituições que atendem adolescentes em

conflito com a lei da seguinte forma:

[...] as instituições que atendem adolescentes em situação de risco social estão muito mais a serviço de tentar excluir e negar a violência produzida pela sociedade, do que de oferecer um espaço referencial e reorganizar para esse jovem que busca encontrar, no social, as formas de satisfação que lhes foram prometidas. (MARIN, 1998, p. 101)

A adolescente Margarida descreve os espaços da instituição a qual está

24

Os aspectos físicos a serem considerados nas instituições que atendem aos adolescentes em cumprimento da internação provisória devem ser: condições adequadas de higiene, limpeza, circulação, iluminação e segurança; espaços adequados para a realização de refeições; espaço para atendimento técnico individual e em grupo; condições adequadas de repouso dos adolescentes; Salão para atividades coletivas e/ou espaço para estudo; espaço para o setor administrativo e/ou técnico; espaço e condições adequadas para visita familiar; área para atendimento de saúde/ambulatórios; espaço para atividades pedagógicas; espaço para a prática de esportes e atividades de lazer e cultura devidamente equipados e em quantidade suficiente para o atendimento de todos os adolescentes (SINASE, 2012).

Page 59: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

58

internada da seguinte forma:

A gente fica no dormitório com outras meninas. Eu acho que é mais ruim do que bom. Porque quando a gente vai tomar banho, não pode passar muito tempo e não pode circular de tolha. Tem umas regras pra gente obedecer. Porque tem muita gente. Não é como ta em casa. A gente se virá. E o espaço não é grande não. (Margarida)

Ainda tomando como base a fala da adolescente Margarida, verifiquemos

o que fala sobre os educadores25 da instituição:

Lá tem mais instrutores homens do que mulheres. Mulheres só tem cinco. Às vezes sem a gente fazer nada eles vêm com ignorância pra cima da gente. Empurram para a gente sair do dormitório. Tem uns que são legais e outros não. Apesar de a gente reclamar pra a Assistente Social, ela diz que vai resolver e acaba não resolvendo nada. Eles ficam sabendo que a gente reclamou e ficam com raiva da gente. Eles não batem na gente. Mas falam alto, brigão e as vezes empurram. (Margarida)

Segundo a SEDH (2006), os programas de atendimento que executam a

internação provisória e as medidas socioeducativas devem possuir no seu quadro de

funcionários profissionais qualificados, com intuito de desempenharem funções,

utilizando-se de critérios anteriormente definidos para seleção e contratação de

pessoal, entre eles, a análise de currículo, prova escrita de conhecimentos e

entrevista, devendo, ainda, oferecer aos profissionais selecionados formação e

capacitação de forma continuada quanto aos trabalhos e serviços socioeducativos26.

25

As atribuições dos socioeducadores deverão considerar o profissional que desenvolva tanto tarefas relativas à preservação da integridade física e psicológica dos adolescentes e dos funcionários quanto às atividades pedagógicas. Este enfoque indica a necessidade da presença de profissionais para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e profissionalizantes específicas (SEDH, 2006, p. 45). 26

A política de Recursos Humanos das instituições, quando se fala da postura dos profissionais deve compreender minimamente as seguintes ações: a) capacitação introdutória: é específico e anterior à inserção do funcionário ao sistema, tendo como referência os princípios legais e éticos da comunidade educativa e o projeto pedagógico; b) formação continuada: atualização e aperfeiçoamento durante o trabalho para melhorar a qual idade dos serviços prestados e promover o profissional continuamente; c) supervisão externa e/ou acompanhamento das Unidades e/ou programas: coordenada por especialistas extra institucionais, cria se um espaço onde os agentes socioeducativos podem expor suas dificuldades e conflitos nos diversos âmbitos (afetivo, pessoais, relacionais, técnicos, grupais, institucionais) da prática cotidiana, com o objetivo de redirecionamento dos rumos, visando à promoção dos princípios ético políticos da comunidade socioeducativa (SEDH, 2006, p. 54).

Page 60: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

59

As instituições responsáveis pelo acolhimento dos adolescentes devem,

além de contar com profissionais específicos e capacitados para as diferentes áreas

de atendimento (conhecimento é primordial para complementar as ações exigidas

pela execução das medidas socioeducativas), garantir o acesso aos programas

públicos e comunitários, escolarização, atividades desportivas, culturais e de lazer,

assistência religiosa, atendimento de saúde, inserção em atividades

profissionalizantes, dentre outras, bem como instalações adequadas.

O propósito deste detalhamento é o restabelecimento dos vínculos

familiares, sociais, proporcionando aos adolescentes uma capacitação e integração

na comunidade. Isso se dá pela junção do caráter punitivo e pedagógico

estabelecido na execução dos dispositivos da medida socioeducativa (SDH, 2013).

Page 61: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os adolescentes autores de atos infracionais submetidos à medida

socioeducativa de privação de liberdade merecem uma atenção, devemos, antes de

tudo, parar para uma reflexão. Se observarmos como foi colocado no contexto da

pesquisa, existem vários registros de abordagem do tema adolescentes autores de

atos infracionais, sejam jornais, revistas, livros, televisão, dentre outras fontes,

ocorrendo devido ao aumento significativo da violência ocasionada por estes

adolescentes. Assim, há vários debates e discussões em seus diferentes pontos,

seja relacionados a educação, família, envolvimento com drogas etc.

O cenário de desigualdade que nos cerca, possibilita enxergarmos que a

sociedade sofre com as diferenças sociais, econômicas e políticas, que acabam por

segregar diversos seguimentos sociais, que se refletem através dos conflitos.

A pesquisa apresentou, por meio da diversidade de instrumentos de

coleta de dados, o posicionamento dos adolescentes sobre a privação de liberdade,

buscando desvendar, em seu desenrolar, as contradições existentes entre o que

está determinado em lei e o que de fato acontece. A busca da contextualização dos

fatos narrados pelos adolescentes apresenta práticas que fogem do contexto social,

instigando que futuras pesquisas sejam realizadas dentro das unidades e/ou

instituições acolhedoras de adolescentes em conflito com a lei, mostrando o que

está invisível para aqueles que não desejam enxergar a realidade que encobre o

verdadeiro sentido da aplicação das medidas socioeducativas, que está para além

do caráter punitivo.

O sentido controverso da privação de liberdade está atrelado a

problemática dos atos infracionais praticados por adolescentes aliado às variáveis

do campo da segurança pública, que podem gerar um forte impacto, descontrole e

insegurança na sociedade. Alguns questionamentos foram surgindo no decorrer da

pesquisa, como os seguintes: quais seriam os motivos que levavam os adolescentes

a praticarem infrações e se tornarem delinquentes? Estes se reconhecem como

agentes infratores? Seriam apenas os fatores sociais, culturais, econômicos e/ou

políticos? Os fatores são diversos, ao mesmo tempo que complexos, pois não há

único motivo, existem várias interferências no processo de amadurecimento e

Page 62: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

61

reconhecimento de identidade dos adolescentes, referidas interseções podem e

causam danos e sequelas irreparáveis.

Embora o art. 4º do ECA defina como direito fundamental que é dever da

família, da comunidade, da sociedade e do Estado, assegurar com absoluta

prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à educação, à saúde, ao

esporte, ao lazer, à dignidade, à profissionalização, à cultura, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, estes são negados, caracterizando,

assim, uma violência contra crianças e adolescentes, que gera um aumento nos

fatores que condicionam as desigualdades existentes. Pois todos estes direitos

definidos pelo ECA, parecem não sair do papel, podendo ser identificados com a

precariedade na área da educação, saúde, bem como a falta de políticas públicas

voltadas para a profissionalização de adolescentes, sendo que, não alcançadas

estas propostas, todos estes fatores podem contribuir para o início da delinquência

de adolescentes.

Outros fatores que também são considerados como contribuintes para

uma futura inserção no mundo da criminalidade, o uso de drogas, o aceleramento e

desenvolvimento tecnológico, que tem como característica principal, o acúmulo de

riquezas, influenciando o consumo da sociedade através dos meios de

comunicação, quando muitos não têm recursos financeiros para adquirirem bens de

consumo de marcas ou que estão na moda, com custos elevados, que estão além

de sua realidade. Esta ideia provoca o desejo de muitos adolescentes, que buscam,

através dos atos infracionais, alcançarem e realizarem este desejo.

Vale salientar que não podemos associar pobreza à criminalidade,

mantendo-nos reprodutores de instrumentos que foram introduzidos na sociedade.

Vários fatores abalam os sentidos e sentimentos dos adolescentes, não importando

a qual classe da sociedade pertence.

A pesquisa aponta que falta cumprir integralmente o que está definido no

ECA, SINASE e/ou nas deliberações do CONANDA, é necessário entender os

adolescentes autores de ato infracional. A privação da liberdade não superará e/ou

minimizará os efeitos das infrações cometidas pelos adolescentes, caso não haja

uma transformação no sentido da medida, pois sua finalidade não está apenas em

punir, mas usar de processos pedagógicos e educativos para suprir expectativas

depositadas durante sua execução, reaproximando o adolescente da sociedade, da

Page 63: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

62

família e consigo mesmo, mesmo sabendo que ainda estamos longe de alcançar a

superação de sua intencionalidade, o caráter punitivo e educativo.

Em relação ao município de Maracanaú, nota-se que não há incentivos

para construção de Centros Educativos para acolher adolescentes que estão em

conflito com a lei, mesmo que o quantitativo apresentado de adolescentes que estão

envolvidos no “mundo do crime” esteja exorbitante. Seria de grande valia que o

município se adequasse para o atendimento destes adolescentes buscando uma

diminuição no índice de crescimento da violência.

O município investiria na qualidade e contribuiria com a proposta de

reeducação. Neste trabalho, foi apresentado que Maracanaú possui estrutura

financeira para se adequar as leis do ECA e SINASE. O ECA prevê a

municipalização e a regionalização para a aplicação das medidas socioeducativas,

que buscam, dentro de seus parâmetros, fortalecer o convívio familiar e comunitário

durante a “recuperação” dos adolescentes, sendo que as instituições recebem

adolescentes de diversos municípios e que grande parte dos familiares não possuem

condições financeiras para o translado de sua residência para as instituições.

Os adolescentes revelam que a privação de liberdade provisória, é algo

indesejável, encaram o processo como algo apenas punitivo, não encontrando

sentido educativo que complete as transformações do processo de cidadania,

tornando-se um desafio para os poderes legislativo, judiciário e executivo associados

à sociedade civil na luta pela melhoria e qualidade de políticas públicas preventivas.

A proposta buscada neste trabalho, além das percepções e manifestações

dos adolescentes quanto a privação de liberdade provisória, foi identificar nas

propostas das instituições as quais se encontram internados se estas possuem

condições adequadas para manter os adolescentes internados mesmo que

provisoriamente. Quando falo em condições adequadas, refiro-me a estrutura física,

profissionais qualificados, propostas educativas, incentivos através de cursos que

possam ajudá-los na escolha do campo profissional, dentre outras. E os

adolescentes apresentaram claramente que há falhas neste atendimento essencial

no processo de recuperação dos adolescentes.

E perceptível encontrarmos, nas manifestações dos adolescentes, que as

propostas oferecidas na aplicação da medida de internação provisória fogem do seu

Page 64: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

63

objetivo principal, que é buscar a “ressocialização” dos adolescentes através da

aproximação do convívio familiar, com a comunidade, retorno a escola e o exercício

de uma profissão. Os adolescentes entrevistados revelaram que se sentem coagidos

com a falta de planejamento e manejo dos profissionais quanto à inserção e à

participação dos adolescentes nas atividades oferecidas pela instituição.

A partir do momento em que os adolescentes passam a perceber que não

estão recebendo qualquer tipo de apoio ou assistência, diminuem-se seus estímulos

de retornarem ao convívio com a família e com a comunidade de origem. Não

devemos esquecer que, dentre as propostas da medida de internação provisória, se

trabalha a inibição da reincidência da prática do ato infracional.

Em todo o decorrer deste trabalho, apresentamos controvérsias quanto ao

que está previsto quando se aplica a medida de internação provisória, pois as

práticas a que estas se remetem transparecem possuir apenas caráter punitivo,

deixando as perspectivas e dimensões do caráter pedagógico de forma quase

inexistente, transformando as instituições aos olhos dos adolescentes como prisões,

apresentando ineficácia no atendimento. Resulta que não estão imbuídos elementos

inovadores, educativos que inibam os adolescentes há não reincidirem.

Conclui-se que é necessário trabalhar não somente as políticas públicas

de prevenção voltadas para a efetivação dos direitos plenos, ampliando a cidadania

e o fortalecimento de vínculos, para que crianças e adolescentes possam desfrutar

da liberdade enquanto sujeitos portadores de direitos e deveres, também é

importante adequar os espaços e/ou instituições ampliando a qualificação dos

profissionais que atendem as demandas apresentadas cotidianamente que são

diversas e exigem conhecimentos específicos. Para aqueles que estão privados de

liberdade, é necessário trabalhar os limites de inclusão, em espaços propícios a

ações socioeducativas, propiciando a intervenção através de propostas educativas

que possibilitem que os adolescentes ressignifiquem suas identidades a partir de

novos parâmetros.

Page 65: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

64

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, M.; WAISELFISZ, J. J.; ANDRADE, C. C.; RUA, M. G. Gangues, galeras, chegados e rappers: juventude, violência e cidadania nas cidades da periferia de Brasília. Rio de Janeiro, RJ: Garamond, 2004. ADORNO, S.; BORDINI, E. B. T.; LIMA, R. S. O adolescente e as mudanças na criminalidade urbana. São Paulo em Perspectiva, v. 13, n. 4, p. 62-74, 1999. AGÊNCIA CÂMARA NOTÍCIAS. Debatedores criticam cobertura da imprensa para casos de infração por adolescentes. Portal da Câmara dos Deputados, 05 mar. 2013. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/DIREITOS -HUMANOS/436864-DEBATEDORES-CRITICAM-COBERTURA-DA-IMPRENSA-PA RA-CASOS-DE-INFRACAO-POR-ADOLESCENTES.html>. Acesso em: 30 maio 2014. AGÊNCIA SENADO. Pesquisa do DataSenado aponta apoio de 81% ao fim da maioridade penal. Portal de Notícias – Senado Federal, 07 mar. 2013. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/03/07/pesquisa-do-datasen ado-aponta-apoio-de-81-ao-fim-da-maioridade-penal>. Acesso em: 01 abr. 2014. ANADEP – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES PÚBLICOS. Ação Civil Pública assegura tratamento para usuário de droga. ANADEP, 12 jul. 2012. Disponível em: <http://www.anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=14777>. Acesso em: 01 abr. 2014. ATHAYDE, Celso; BILL, MV; SOARES, Luiz Eduardo. Cabeça de Porco. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005. BARROS FILHO, Alberto dos Santos. A Atuação da Igreja Católica junto ao adolescente em conflito com a lei: A Pastoral do menor e o Programa Liberdade Assistida Comunitária. 2010. Dissertação (Pós-Graduação em Sociologia) – Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2010. BASMAGE, Denise de Fátima do A. T. A constituição do sujeito adolescente e as apropriações da internet: uma análise histórica-cultural. 2010. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Centro de Ciências Humanas e Sociais. Campo Grande, 2010. Disponível em: <http://www.propp.ufms. br/ppgedu/geppe/Dissertacoes_teses/Denise_Basmage_Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em: 28 maio 2014.

Page 66: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

65

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 1992. BRANCO, B. de M.; WAGNER, A.; DEMARCHI, K. A. Adolescentes Infratores: Rede Social e Funcionamento Familiar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 21, n. 1, p. 125-132, 2008. BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). 2012. Disponível em: <http://www.direitosdacrianca.org.br/em-pauta/ 2012/09/conselho-nacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-se-reune-em-brasilia>. Acesso em: 18 abr. 2013. ______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n° 8.069. Ed. Atual e corrigida. São Paulo: Saraiva, 2000. BRIGIDO, Carolina. Unidades para menor infrator são réplicas de prisões, com superlotação e insalubridade, diz MP. Disponível em: <http://oglobo.glob o.com/brasil/unidades-para-menor-infrator-sao-replicas-de-prisoes-com-superlotacao -insalubridade-diz-mp-9412856>. Acesso em: 30 mar. 2014. CAMPOS, André; et al. Atlas da exclusão social no Brasil: dinâmica e manifestação territorial. v. 2. São Paulo: Cortez, 2003. CARVALHO, Josué de Oliveira; CARVALHO, Lindalva R. S. O. A educação social no Brasil: contribuição para o debate. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA SOCIAL. Anais..., 1. 2006. CAVALCANTI, L. B. Retratos da adolescência. Revista Mente e Cérebro – O Olhar Adolescente. São Paulo: Duetto, v. 3-4, p. 6, 2007. CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia. São Paulo, Cortez, 1990. CHESNAIS, Jean Claude. A violência no Brasil: causas e recomendações políticas para a sua prevenção. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 4, n. 1, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231999000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 28 maio 2014. COLPANI, Carla Fornari. A responsabilização penal do adolescente infrator e a ilusão da impunidade. Jus Navingadi, Teresina, a. 8, n. 162, 15 dez. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4600>. Acesso em: 23 abr. 2014.

Page 67: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

66

______; CONSTANTINO, Patrícia. Perspectivas de prevenção da infração juvenil masculina. Ciência & saúde coletiva, v. 10, n. 1, p. 81-90, 2005. COSTA, Ana Paula Motta. Adolescência, Violência e sociedade punitiva. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n. 83, 2005. DAMASCENO, Maria Cleunice Gomes. As Representações Sociais do Estatuto da Criança e do Adolescente. 1997. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 1997. DUTRA, Valvim M. Renasce Brasil: Reformas culturais, sociais e econômicos inspirados na ética bíblica. 2. ed. Vitória, 2005. Disponível em: <http://www.renascebrasil.com.br/p_livro.htm>. Acesso em: 10 maio 2014. ERIKSON, Erick Homburger. Identidade, juventude e crise. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. FARIAS, Jesualdo P. Quando a Violência se Banaliza. Jornal O Povo, 22 mar. 2014. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2014/03/22/noticias jornalopiniao,3224431/quando-a-violencia-se-banaliza.shtml>. Acesso em: 29 mar. 2014. FEITOSA, Márcia. Sobem apreensões de adolescentes. Jornal Diário do Nordeste, 21 jan. 2013. Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/ policia/sobem -apreensoes-de-adolescentes-1.96789>. Acesso em: 08 abr. 2014. FERNANDES, Vera Maria Mothé. O adolescente infrator e a liberdade assistida: um fenômeno sociojurídico. Rio de Janeiro: CBCISS, 1998 FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 02 jun. 2014. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. ______. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. FRONTANA, Isabel C.R. da Cunha. Crianças e Adolescentes: nas ruas de São Paulo. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.

Page 68: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

67

GOHN, M. G. M. Teoria dos movimentos sociais, paradigmas clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola, 1997. ______. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004. ______. Educação não formal e cultura política. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005. GOMES, M.; PEREIRA, M. Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. Revista Ciência e Saúde, v. 10, n. 2, Rio de Janeiro, 2005. GOMIDE, P. Menor infrator: a caminho de um novo tempo. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1999. ______. Menor infrator: a caminho de um novo tempo. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2001. GONDIM, Linda Maria Pontes (org). Pesquisa em Ciências Sociais: o projeto de dissertação de mestrado. Fortaleza: Editora UFC, 1999. HOLANDA, Camila. "A gente tem de cuidar dessas crianças, que serão os cidadãos ou bandidos de amanhã", afirma juiz. Jornal O Povo, 09 out. 2013. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2013/10/09/noticiafortaleza,3143468/a-gente -tem-de-cuidar-dessas-criancas-que-serao-os-cidadaos-ou-bandi.shtml>. Acesso em: 30 maio 2014. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográfico: 2010. IBGE – Cidades@. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/ xtras/temas.php?lang=&codmun=230765&idtema=1&search=ceara|maracanau|censo-demografico-2010:-sinopse->. Acesso em: 01 abr. 2014. ______. Censo Demográfico: Estimativa da população em 2013. IBGE – Cidades@. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=230765& search=ceara|maracanau|infograficos:-informacoes-completas>. Acesso em: 01 abr. 2014. IPECE – Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará. Perfil Básico Municipal de Maracanaú 2012. IPECE, 2012. Disponível em: <http://www.ipece.ce. gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm-2012/Maracanau.pdf>. Acesso em: 06 maio 2014.

Page 69: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

68

KOSEN, A. A. Pertinência socioeducativa: reflexões sobre a natureza jurídica das medidas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. LEAL, Cezar Barros. A Delinquência juvenil seus Fatores Exógenos e Prevenção. Rio de Janeiro: Aide Editora, 1983. LIMA, F.; TAVARES, R. 4.208 apreensões: roubos e tráfico são as principais infrações envolvendo adolescentes. Tribuna do Ceará, 22 jan. 2013. Disponível em: <http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/ceara/4-208-apreensoes-roubos-e-trafico-sao-as-principais-infracoes-envolvendo-adolescentes/>. Acesso em: 20 maio 2014. MAIA, Lucas. Entenda os efeitos do uso da maconha no organismo humano. Alagoas 24 horas, 11 dez. de 2013. Disponível em: <http://www.alagoas24horas. com.br/conteudo/?vCod=173374>. Acesso em: 29 maio 2014. MARACANAÚ. Secretaria Estadual de Política Pública sobre Drogas acompanha Programa Crack é Possível vencer. Governo Municipal de Maracanaú, 19 fev. 2014. Disponível em: <http://www.maracanau.ce.gov.br/noticias-secretaria-de-gover no/item/12701-secretaria-estadual-de-politica-publica-sobre-drogas-acompanha-prog rama-crack-e-possivel-vencer>. Acesso em: 30 maio 2014. MARIN, I. S. K. Instituições e violência. Violência nas instituições. In: LEVISKY, D. (Ed.). Adolescência pelos caminhos da violência: a psicanálise na prática social. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. MELO, Doriam Luis Borges de; CANO, Ignácio (Org.). Índice de homicídios na adolescência: IHA 2009-2010. Rio de Janeiro: Observatório de Favelas, 2012. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/br_indiceha10.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2014. MPDFT - MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Ato Infracional análogo ao roubo é o mais praticado por adolescentes no DF. MPDFT, 2013. Disponível em: <http://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/comunicacao-menu /noticias/noticias-2013/6295-ato-infracional-analogo-ao-roubo-e-o-mais-praticado-por -menores-no-df>. Acesso em: 20 maio 2014. NOGUEIRA FILHO, Paulo. Sangue, Corrupção e Vergonha: S. A. M. Rio de Janeiro, 1956. OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora UNESP, 2000.

Page 70: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

69

OSÓRIO, L. C. Adolescentes Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas,1999. PAES, Janiere Portela Leite. O Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente: avanços e retrocessos. Portal do E-gov, 21 maio 2013. Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/o-c%C3%B3digo-de-menores-e-o-estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-avan%C3%A7os-e-retrocessos>. Acesso em: 21 abr. 2014. PEREIRA, André Ricardo. A criança no Estado Novo: uma leitura na longa duração. Rev. bras. Hist., v. 19, n. 38, São Paulo,1999. PINHEIRO, Ângela de Alencar Araripe. Criança e adolescente no Brasil: porque o abismo entre a lei e a realidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006. PINHEIRO, P. S.; ALMEIDA, G. A. Violência urbana. São Paulo, SP: Publifolha, 2003. QUEIROZ, M. Isaura Pereira de O. O pesquisador, o problema da pesquisa, a escolha de técnicas: algumas reflexões. São Paulo: CERU, 1992. RAMIDOFFI, Mário Luiz. Lições de Direito da Criança e do Adolescente. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2010. RIZZINI, Irene. A institucionalização de Crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro: Ed.PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2004. ROCHA, Simone Mariano. Adolescência, uso de drogas e ato infracional: Adolescência, uso de drogas e ato infracional. Ministério Público do Espírito Santo, 2001. Disponível em: <www.mpes.gov.br/anexos/centros_apoio/arquivos/17 _210317182425112008_Adolescência,%20uso%20de%20drogas%>. Acesso em: 14 maio 2014. ROSA, Mary Anne F. P. Gestão Integrada dos Serviços e Beneficios da Política de Assistência Social: uma análise dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) de Maracanaú. 2011. Dissertação (mestrado em Políticas Públicas e Sociedade) – Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual do Ceará, 2011. Disponível em: <http://www.uece.br/politicasuece/dmdocuments/mary_anne _filgueiras.pdf>. Acesso em: 24 maio 2014.

Page 71: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

70

SÁ, Leonardo; SANTIAGO NETO, João Pedro de. Entre tapas e chutes: um estudo antropológico do baculejo como exercício de poder policial no cotidiano da cidade. O público e o privado – Revista PPG em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará – UECE, n. 18, 2011. SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente e ato infracional: garantias processuais e medidas socioeducativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999. ______. Direito penal juvenil: Adolescentes e Ato Infracional, Garantias Processuais e Medidas Sócio-Educativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. SCHMIDT, Fabiana. Adolescentes Privados de Liberdade. Curitiba: Juruá, 2009. SCHMIDT, J. P. Juventude e política no Brasil: a socialização política dos jovens na virada do milênio. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, v. 1, 2001. SDH – SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. Atendimento Socioeducativo (SINASE): O Sistema atua no acompanhamento da aplicação de medidas socioeducativas por meio de parcerias entre governos. Portal da SDH, s/d. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/programas/ sistema-nacional-de-atendimento-socioeducativo-2>. Acesso em: 20 maio 2014. ______. Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo: Diretrizes e eixos operativos para o SINASE. Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 2013. Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/plano-nacional-de-atendimento-socioeducativo-diretrizes-e-eixos-opera tivos-para-o-sinase>. Acesso em: 06 maio 2014. SEDH - SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente: Sistema Nacional De Atendimento Socioeducativo – SINASE. Brasília-DF: CONANDA, 2006. Disponível em: <http://www.condeca.sp.gov.br/legislacao/sinase_integra.pdf>. Acesso em: 06 maio 2014. ______. Adolescentes privados de liberdade no Brasil. Programa de implementação do SINASE. Brasília: SEDH, 2008. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/spdca/levantamento_2008.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2010. ______. Monitoramento do sistema socioeducativo: diagnóstico da privação de liberdade de adolescentes no Ceará. Brasília-DF: SEDH, 2011. Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:t3pE3RzXOp4J:www.pastoraldomenornacional.org/site/component/docman/doc_download/35-monitoramento-

Page 72: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

71

do-sistema-socioeducativo-diagnostico-da-privacao-de-liberdade-de-adolescentes-ce ara+&cd=1&hl=pt-BR& ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 abr. 2014. SEGALIN, Andreia; TRZCINSKI, Clarete. Ato infracional na adolescência: problematização do acesso ao sistema de justiça. Textos & Contextos. Revista Virtual Textos & Contextos, n. 6, a. V, dez., 2006. Disponível em: <http://revistasele tronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/1038/817>. Acesso em: 02 maio 2014. SILVA, Joyce Mary Adam de Paula; SALLES, Leila Maria Ferreira. A violência na escola: abordagens teóricas e propostas de prevenção. Educar em Revista, Curitiba, n. especial 2, p. 217-232, 2010. SILVA, Rodrigo de Medeiros. Nota pública a favor da especialização das Varas da Infância e da Juventude da Comarca de Fortaleza. Combate ao Racismo Ambiental [Blog], 23 jan. 2014. Disponível em: <http://racismoambiental.net.br/ 2014/01/nota-publica-a-favor-da-especializacao-das-varas-da-infancia-e-juventude-d a-comarca-de-fortaleza/>. Acesso em: 20 maio 2014. SOUSA, Manuel A. Maracanaú: História e Vida. O vôo das Maracanãs Auriverdes e o Pouso dos Ventos da Industrialização. Fortaleza: Tropical, 1996. STDS - SECRETARIA DO TRABALHO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL. Centro Socioeducativo para Adolescentes Masculinos em Conflito com a Lei em Fortaleza. Portal da STDS, 2013. Disponível em: <http://www.stds.ce.gov.br/index.php/pro jetos/63-projetos/278-centro-socioeducativo>. Acesso em: 08 abr. 2014. TOMAZI, Nelson Dácio. Iniciação a Sociologia. São Paulo: Atual, 1993. USP – Universidade de São Paulo. O que é a OMS? Biblioteca Virtual de Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Orga niza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/o-que-e-a-oms.html>. Acesso em: 07 jun. 2014. VILELA, Lucas Souza. A Constituição Federal e a criança e o adolescente infrator. Disponível em: <http://www.domtotal.com/direito/pagina/detalhe/29920/a-constituicao-federal-e-a-crianca-e-o-adolescente-infrator. Acesso em: 06 jun. 2014. VOLPI, M. O adolescente e o ato infracional. 3. ed. São Paulo. Cortez. 1999.

Page 73: MEDIDA DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA E AS INSTITUIÇÕES … DE... · consumo e, para isso, acabam por entrar no mundo da “criminalidade”. A todo momento, deparamo-nos com notícias

72

______. Sem liberdade, sem direito: a experiência da privação da liberdade na percepção dos adolescentes em conflito com a lei. São Paulo: Cortez, 2001. ______. ECA comentado: ARTIGO 108/LIVRO 2 - TEMA: Internação, 2011. PROMENINO. Disponível em: <http://www.promenino.org.br/noticias/arquivo/eca-comentado-artigo-108livro-2---tema-internacao>. Acesso em: 20 maio 2014. ZANCHIN, Claudia Roberta. Os diversos olhares na construção das Medidas Socioeducativas no Município de São Carlos. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2010.