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MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: A REVISTA DO ENSINO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (1939 1942) Carlos Augusto Ferreira Kopp Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC [email protected] Resumo: Publicada entre os anos de 1939 e 1942, a Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul foi uma importante plataforma de comunicação entre o Estado e os professores gaúchos. Nesse contexto, o periódico irá constituir-se como o principal fio condutor dos interesses estado-novistas, propagando e subjetivando os professores de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação e Saúde Pública. Problematiza-se aqui como a medicina e a educação foram articuladas pelo Estado visando a constituição de um novo corpo-espécie populacional, a partir de um governamento biopolítico que teve como um de seus dispositivos a Revista do Ensino. Palavras-chave: Medicalização da Educação; Revista do Ensino; História da Educação Introdução Este artigo visa problematizar o processo de medicalização da educação durante os anos de 1930 e 1940 a partir da análise de artigos veiculados na Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul, publicados entre os anos de 1939 e 1942. Nesse sentido, problematiza-se aqui como a emergência do saber médico irá influenciar o campo pedagógico, bem como, a medicalização da educação constituiu-se como um dispositivo de governamento biopolítico do Estado. Para tanto, este trabalho foi sistematizado em três seções. Na primeira delas, discorro sobre a Revista do Ensino e seu papel como articuladora entre o discurso pedagógico estado-novista e os professores gaúchos. O papel da imprensa pedagógica enquanto propagadora da pedagogia “oficial” também é problematizado, na medida em que através do discurso médico presente da Revista do Ensino, o Estado conduzia o ensino público ao encontro de seu projeto de nação. Na segunda seção do texto, traço uma breve trajetória do surgimento das teses biodeterministas e sua chegada ao Brasil. Nessa direção, analiso aqui como estes

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MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: A REVISTA DO ENSINO DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL (1939 – 1942)

Carlos Augusto Ferreira Kopp

Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC

[email protected]

Resumo: Publicada entre os anos de 1939 e 1942, a Revista do Ensino do Estado do Rio

Grande do Sul foi uma importante plataforma de comunicação entre o Estado e os

professores gaúchos. Nesse contexto, o periódico irá constituir-se como o principal fio

condutor dos interesses estado-novistas, propagando e subjetivando os professores de

acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Educação e Saúde Pública.

Problematiza-se aqui como a medicina e a educação foram articuladas pelo Estado

visando a constituição de um novo corpo-espécie populacional, a partir de um

governamento biopolítico que teve como um de seus dispositivos a Revista do Ensino.

Palavras-chave: Medicalização da Educação; Revista do Ensino; História da Educação

Introdução

Este artigo visa problematizar o processo de medicalização da educação durante

os anos de 1930 e 1940 a partir da análise de artigos veiculados na Revista do Ensino do

Estado do Rio Grande do Sul, publicados entre os anos de 1939 e 1942. Nesse sentido,

problematiza-se aqui como a emergência do saber médico irá influenciar o campo

pedagógico, bem como, a medicalização da educação constituiu-se como um dispositivo

de governamento biopolítico do Estado.

Para tanto, este trabalho foi sistematizado em três seções. Na primeira delas,

discorro sobre a Revista do Ensino e seu papel como articuladora entre o discurso

pedagógico estado-novista e os professores gaúchos. O papel da imprensa pedagógica

enquanto propagadora da pedagogia “oficial” também é problematizado, na medida em

que através do discurso médico presente da Revista do Ensino, o Estado conduzia o

ensino público ao encontro de seu projeto de nação.

Na segunda seção do texto, traço uma breve trajetória do surgimento das teses

biodeterministas e sua chegada ao Brasil. Nessa direção, analiso aqui como estes

Page 2: MEDICALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO: A REVISTA DO ENSINO DO …€¦ · desenvolvimento de teorias como o lamarckismo e o darwinismo foram fundamentais para a quebra de paradigmas no que

movimentos científicos irão influenciar o cenário político brasileiro desde a Primeira

República até o Estado Novo, sobretudo a partir da criação dos movimentos eugenista e

higienista, no início do século XX.

Na terceira e última seção do texto, analiso artigos veiculados na Revista do

Ensino. A análise dos mesmos será realizada a partir dos conceitos de medicalização,

biopolítica e governamento, desenvolvidos pelo filósofo Michel Foucault. Assim,

utilizando as ferramentas conceituais foucaultianas, procuro pensar nos números da

Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul como dispositivos de governamento

biopolítico, que tinham como objetivo agir sobre o corpo-espécie da população

brasileira.

I – A Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul

Criada por um grupo de professores gaúchos, a Revista do Ensino foi um

importante periódico pedagógico no cenário regional, tendo sido publicada em duas

fases: a primeira teve início em 1939 e durou até o ano de 1942. Nos anos 1950, a

Revista do Ensino volta a ser publicada, sendo editada até o ano de 1992. Para este

artigo, foram analisados apenas artigos da primeira fase da revista, devido ao contexto

político no qual ela estava inserida.

A Revista do Ensino foi o principal periódico da imprensa pedagógica gaúcha,

servindo como condutor do projeto educacional estado-novista e consolidando-se como

uma importante plataforma de comunicação entre o Estado e os professores gaúchos.

Assim, a Revista do Ensino veicula as ideias postuladas pelo Estado Novo, de

"reconstrução nacional" e "renovação educacional" (BASTOS, 1994). Essa função

“redentora” da educação apresenta-se no editorial do primeiro volume da Revista do

Ensino:

“Damos corpo e forma ao velho ideal de servir à

coletividade, colaborando [...] na solução do problema da

formação da inteligência nacional, obra da educação

organizada que se reveste de importância máxima

sobretudo na fase atual, caracterizada pelo nacionalista e

patriótico da reconstrução do país, e afirmação de sua

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existência como nação livre e soberana no conceito

internacional” (REVISTA DO ENSINO, 1939, p. 7).

Cabe destacar também que apesar da iniciativa da criação do periódico ter

partido de um grupo de professores da Universidade de Porto Alegre, o mesmo contava

com o apoio da Secretaria de Educação e Saúde Pública do Estado do Rio Grande do

Sul, entretanto, tal apoio tinha apenas uma colaboração técnico-pedagógica da

Secretaria (BASTOS, 2005). A Revista do Ensino era financiada a partir da renda obtida

com assinaturas mensais e anúncios publicitários, que incluíam a divulgação de

livrarias, cursos, colégios, farmácias, lojas, entre outros.

Durante os anos de 1939 e 1942, a Revista do Ensino foi organizada em seções

diversas, que englobavam a divulgação de artigos oriundos de diferentes instituições de

ensino e áreas do conhecimento. Apesar do periódico ter como principal eixo de

circulação o estado do Rio Grande do Sul e divulgar principalmente as pesquisas e

resultados obtidos pelos professores da Universidade de Porto Alegre, o mesmo contou

com a colaboração de intelectuais de diversas áreas, incluindo, além de professores,

médicos, jornalistas, militares e padres.

As seções da Revista do Ensino atendiam necessidades diversas. A seção

“Consultas”, por exemplo, serviu como um importante eixo de comunicação entre os

docentes e a revista, onde os editores da Revista do Ensino respondiam perguntas e

buscavam auxiliar os professores na solução de problemas comuns, uniformizando

assim a prática destas soluções. A comunicação entre o periódico e as escolas também

era realizada de forma presencial, através de visitas realizadas pelos editores da revista

às instituições de ensino. Assim, além de construir uma relação mais próxima dos

professores e da realidade escolar, a Revista do Ensino divulgava as transformações e

experiências vividas por estes profissionais em suas escolas na seção “Nossas

realizações escolares”, incentivando outros professores e escolas com relatos positivos

que reforçavam a necessidade de renovação do ensino.

A partir da edição de número 10, a Revista do Ensino foi dividida duas partes,

uma dedicada à educação e outra à saúde. Os textos, escritos majoritariamente por

médicos e servidores do Departamento Estadual de Saúde, abordavam temas como a

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identificação de sintomas de doenças, o ensino de hábitos de higiene, a criação de

ambientes escolares a partir de padrões sanitários, a alimentação saudável, entre outros,

transformando o professor em um aliado dos profissionais da saúde. A atuação conjunta

da educação e da saúde justifica-se na medida em que “a melhoria da raça brasileira era

considerada uma atribuição escolar, cabendo à escola formar o homem “novo” para o

Estado Novo” (BASTOS, 2005).

O periódico contava também com a seção “Legislação estadual e federal”, onde

eram divulgados decretos-lei e outros atos administrativos. A publicação destes

documentos atendia a necessidade de regulamentar e unificar politicamente as escolas.

Tomando os artigos da Revista do Ensino como corpus discursivo desta

pesquisa, faz-se necessária uma reflexão acerca do papel da imprensa pedagógica como

veiculadora de um projeto pedagógico e sua utilização enquanto dispositivo de

governamento biopolítico, bem como os movimentos científicos que serviram como

base na construção do projeto de nação estado-novista. Conforme Bastos:

a imprensa pedagógica é composta por jornais, boletins, revistas etc.

editados por professores, para professores, que contêm e/ou oferecem

perspectivas para a compreensão das representações da educação e da

escola, resgatando o discurso de uma época, analisando as ideias

veiculadas e sua trajetória no cenário educacional 1

Nesse sentido, a Revista do Ensino constitui-se como uma importante fonte no

que se refere à história da educação no estado do Rio Grande do Sul e também do

Brasil, visto que os artigos por ela divulgados compõe a pedagogia “oficial” e serviram

como condutores para os docentes e escolas gaúchos.

II – A “cura” do brasileiro: eugenia e movimento higienista

O século XIX foi marcado por uma série de deslocamentos no campo científico. O

desenvolvimento de teorias como o lamarckismo e o darwinismo foram fundamentais

para a quebra de paradigmas no que se refere à evolução dos seres vivos, sobretudo os

da espécie humana. Influenciado por esse contexto de ebulição das teorias

biodeterministas, o intelectual inglês Francis Galton desenvolveu sua própria “ciência”,

a qual batizaria de eugenia, que tinha como objetivo o aperfeiçoamento da espécie

1 BASTOS, 1997 apud GIL & MELLO, 2015, p. 2

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humana a partir de intervenções que visavam seu aprimoramento genético. A eugenia

atendeu uma importante demanda política, na medida em que auxiliou os estados-nação

na construção de suas narrativas identitárias. Como nos aponta Schwarcz:

Transformada em um movimento científico e social vigorosos a partir

dos anos 1880, a eugenia cumpria metas diversas. Como ciência, ela

suponha uma nova compreensão das leis da hereditariedade humana,

cuja aplicação visava a produção de “nascimentos desejáveis e

controlados”; enquanto movimento social, preocupava-se em

promover casamentos entre determinados grupos e – talvez o mais

importante – desencorajar certas uniões consideradas nocivas à

sociedade (1993, p. 60).

Nesse sentido, para os adeptos desse movimento científico, a manipulação dos

genes através da intervenção eugênica (ou da proibição da miscigenação) resultaria no

surgimento de homens geneticamente superiores. A eugenia difundiu-se em diversos

países, destacando-se o projeto eugenista dos Estados Unidos, onde “a separação das

raças “superior” e “inferior” era sistema muito bem institucionalizado” (SKIDMORE,

1976, p. 45).

A influência do evolucionismo e a hierarquização das raças em mais ou menos

“evoluídas” também ecoou em trabalhos como a obra Ensaio sobre as raças humanas

(1855), escrita por Joseph Arthur de Gobineau (1816). Partidário de um determinismo

racial absoluto e favorável à condenação do arbítrio do indivíduo (SCHWARZ, 1993), o

Conde de Gobineau via a miscigenação como um problema, na medida em que a

mistura de etnias diferentes acabaria gerando seres degenerados. Em visita ao Brasil no

final do século XIX, Gobineau concluiu que o país estava fadado ao fracasso em

consequência de sua população miscigenada. Conforme Skidmore:

Malgrado o clima e os recursos naturais favoráveis, pensava

ele que a população nativa estava fadada a desaparecer, devido à sua

“degenerescência” genética. Com um pouco de curiosa matemática,

calculou que levaria “menos de duzentos” anos... o fim dos

descendentes de Costa-Cabral (sic) e dos emigrantes que os seguiram”

A única maneira de evitar esse dénouement seria, para a população

remanescente, o fortalecer-se com a ajuda dos valores mais altos das

raças européias... (1976, p. 46).

Nesse sentido, para os intelectuais europeus, o Brasil era uma nação cujo

desenvolvimento seria impossibilitado devido a sua composição populacional híbrida e,

segundo o biodeterminismo, degenerada.

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A transição dos séculos XIX e XX foi um importante momento para o Brasil,

onde o país foi atravessado pelo fim do Império e da escravidão, estruturas seculares da

história brasileira. Esse contexto de rupturas foi fundamental para a inserção da

identidade nacional brasileira como uma das principais pautas da Primeira República.

Nessa direção, a figura do mestiço torna-se central em um país onde a população era

composta majoritariamente por negros e ex-escravos. A chegada das teorias

biodeterministas ao Brasil projetará novas luzes nas discussões acerca do que é ser

“brasileiro”. Reproduzidas pelas faculdades de medicina (destacando-se a produção

acadêmica da Faculdade de Medicina da Bahia e da Escola de Recife), as teorias

biodeterministas basilaram as discussões em relação ao mestiço enquanto problema

social brasileiro. Segundo Schwarcz:

Autores como Nina Rodrigues, da Escola de Medicina da Bahia;

Sílvio Romero, da Escola de Recife; e João Batista Lacerda, do Museu

Nacional do Rio de Janeiro, entre tantos outros, destacaram “as

mazelas da miscigenação racial” e, informados por teorias

estrangeiras, condenaram a “realidade mestiça local” (2001, p. 24).

Assim, sendo a miscigenação a origem das mazelas locais, o mestiço passa a ser

considerado um obstáculo civilizatório. A “recuperação” do povo brasileira só seria

possível através da extinção do mestiço, dando origem a uma série de medidas adotadas

pelo Estado com a finalidade de invisibilizar esta parcela da população através da

diminuição de sua representação nos censos com o incentivo à vinda de imigrantes

brancos ao Brasil. Schwarcz discorre que

paralelamente ao processo que culminaria com a libertação dos

escravos, iniciou-se uma política agressiva de incentivo à imigração

europeia, ainda nos últimos anos do Império, marcada por uma

intenção também evidente de ‘tornar o país mais claro’ (2001, p. 43).

A intelectualidade nacional vai, aos poucos, vendo a eugenia como a salvação

para o “problema” da miscigenação. Esse caráter salvacionista da eugenia estará

presente na criação das primeiras sociedades e ligas de eugenia do Brasil, como a

Sociedade Eugênica de São Paulo, fundada pelo médico eugenista Renato Kehl em

1917. O desejo de Kehl era de que o Brasil se povoasse de “gente sã e física

moralmente”, à exemplo da Grécia Antiga, que no seu entender havia encontrado o

equilíbrio do corpo e do espírito expressos na civilização ideal (DIWAN, 2013, p. 126).

Entretanto, apesar do número significativo de associações pró-eugenia fundadas no

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Brasil, o Estado não elegeu a eugenia como prioridade nacional (SILVA, 2007, p. 47-

48).

A primeira metade do século XX representou um processo de “redescobrimento”

no que se refere à ideia de população brasileira. A partir da publicação das obras Os

Sertões (1902), de Euclides da Cunha, ou Urupês (1918), de Monteiro Lobato, o Brasil

passou a perceber-se como um país doente, cuja população vivia em condições de

abandono e baixa salubridade. Há deslocamento discursivo na medida em que a

população, antes considerada degenerada por consequência da miscigenação, passa a ser

percebida como doente devido a suas condições de vida. Nesse contexto, a inserção do

saber médico na esfera política tem por objetivo intervir não apenas nos indivíduos

doentes, mas na sociedade. A medicina social irá atuar na melhoria dos padrões de

higiene e sanitarismo através da reeducação da população e na prevenção de doenças.

Desenvolve-se, portanto, a crença de que a medicina e o saber médico entendem mais

sobre as ações humanas e seus fundamentos do que as próprias pessoas em questão

(OLIVEIRA, 2003, p. 3).

A Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder marcam um novo

contexto político brasileiro. A partir da criação do Ministério da Educação e Saúde

Pública inicia-se um amplo processo de medicalização da sociedade no qual a Medicina

e o Estado firmaram um compromisso de higienização das cidades e das populações,

pois o Estado reconheceu que a ordem e o progresso sociais dependiam da higienização

destas (ZUCOLOTO, 2007, p. 139). Nessa direção, a educação básica teve como função

educar os alunos a partir de padrões normativos estabelecidos pelo saber médico, que

visava transformar a população (até então degenerada) em um corpo-espécie saudável.

Este processo de medicalização da educação intensificou-se com a

implementação do Estado Novo (1937 – 1945), regime marcado pelo nacionalismo e

centralização do poder. O então Ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo

Capanema, foi responsável por uma série de reformas educacionais que visavam a

construção de novas escolas (agora construídas a partir de parâmetros sanitários), a

inserção de conteúdos relacionados à educação higiênica no currículo, a regulamentação

do tempo e da alimentação dos alunos, bem como, a criação da disciplina de Educação

Física. A escola passa a ser o campo de atuação de novos profissionais, principalmente

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pela participação ativa de especialistas que intervinham no processo educacional e

foram essenciais para o controle da individualidade infantil; pois a inadaptação aos

padrões escolares não era um dilema a ser resolvido apenas pelos professores (VILELA;

BONTEMPI JR., 2008, p. 4).

A Revista do Ensino insere-se em um contexto de construção não apenas do

projeto de nação, bem como, da identidade brasileira. A publicação de artigos assinados

por médicos e outros profissionais da saúde evidencia a importância da articulação

conjunta da educação e da saúde na constituição de um “novo homem” brasileiro, agora

higienizado e apto ao desenvolvimento nacional.

III – A Revista do Ensino como dispositivo de governamento biopolítico

Tomando os volumes da Revista do Ensino do Estado do Rio Grande do Sul

como um dos dispositivos de governamento responsáveis pela propagação do projeto de

nação estado-novista, este artigo foi instrumentalizado por três conceitos de matriz

foucaultiana, sendo eles os conceitos de medicalização, biopoder (biopolítica) e

governamento. Nessa configuração teórica, é importante destacar que o conceito de

medicalização aqui utilizado perpassa questões mais abrangentes do que a utilização de

medicamentos por parte dos educandos, na medida em que envolve a inserção do saber

médico no discurso pedagógico, abrangendo assim um processo de medicalização da

sociedade. Segundo Cruz, Ferreira e Cardoso Jr.:

A partir dos estudos realizados por Michel Foucault (2001; 2006;

2010), podemos entender o processo de medicalização como uma

forma da medicina, através da utilização de um conjunto de

tecnologias e estratégias que irão determinar regras de higiene,

condutas morais e costumes sexuais, alimentares e de comportamentos

sociais, governar o modo de vida dos homens num processo de

disciplinamento dos corpos e de controle populacional biopolítico

(2014, p. 211).

O processo de medicalização aqui analisado irá compreender fenômenos que

envolvem a construção de um novo currículo (a partir da criação da disciplina de

Educação Física e a adição de temas relacionados ao asseio e à higiene nos conteúdos

previstos), a criação de escolas e espaços intraescolares a partir de parâmetros médico-

sanitários, compreendendo assim um arranjo discursivo que teve como objetivo o

desenvolvimento de um novo corpo-espécie populacional brasileiro. A importância do

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saber médico no processo de constituição de sujeitos justifica-se na medida em que,

conforme Foucault:

A medicina é um saber-poder que incide ao mesmo tempo sobre o

corpo e sobre a população, sobre o organismo e sobre os processos

biológicos e que vai, portanto, ter efeitos disciplinares e efeitos

regulamentadores (2005, p. 302).

Desta forma, a medicalização da sociedade procedeu-se não apenas pela

intervenção do médico em determinados lugares, mas pela incorporação dos referenciais

médicos na organização das ideias, na forma de se apreender o mundo (RODRIGUES,

2001, p. 94), passando assim a normatizar o comportamento humano.

O conceito de biopolítica foi desenvolvido por Michel Foucault no final dos

anos 1970, utilizado pela primeira vez na obra História da Sexualidade I: a Vontade de

Saber (1976), período no qual o autor ministrava aulas no Collège de France

(compreendidas posteriormente nos livros Em Defesa da Sociedade e Segurança,

Território e População). Este conceito refere-se a um deslocamento nas técnicas de

poder, cujo “debloqueio” só ocorre no século XVIII, correlato à invenção do conceito

de população (VEIGA-NETO; LOPES, 2007). Como nos aponta Judith Revel,

a fim de governar não somente os indivíduos por meio de um

certo número de procedimentos disciplinares, mas o conjunto

dos viventes constituídos em população: a biopolítica - por

meio dos biopoderes locais - se ocupará, portanto, da gestão

da saúde, da higiene, da alimentação, da sexualidade, da

natalidade etc., na medida em que elas se tornaram

preocupações políticas (2002, p. 26).

Nessa direção, o biopoder é centrado na manutenção e na promoção da vida dos

sujeitos, compreendidos agora como um único corpo-espécie. O biopoder tornou-se

uma possibilidade no momento em que os habitantes de um território passaram a ser

governados enquanto população. Isso ocorre porque o biopoder

centrou-se no corpo-espécie, no corpo transpassado pela

mecânica do ser vivo e como suporte dos processos

biológicos: a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o

nível de saúde, a duração da vida, a longevidade, com todas

as condições que se podem fazê-los variar; tais processos são

assumidos mediante toda uma série de intervenções e

controles reguladores: uma bio-política da população

(FOUCAULT, 2013, p. 152).

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Compreendida como um único corpo-espécie, a população passa a ser analisada

e qualificada a partir de índices quantitativos, como taxas de natalidade e mortalidade

ou cálculos de probabilidade enquanto medidas de prevenção. O surgimento da

estatística auxilia o governamento biopolítico, pois, conforme se intensifica o

conhecimento da população pelo Estado, intensifica-se seu governamento.

O conceito de governamento aqui utilizado tem como objetivo designar todo o

conjunto de ações de poder que objetivam conduzir (governar) deliberadamente a

própria conduta ou a conduta dos outros ou, em outras palavras, “que visam estruturar o

eventual campo de ação dos outros” (LOPES; VEIGA-NETO, 2007, p. 952).

Assim, compreendo a medicalização da educação como um fenômeno oriundo

da biopolítica que, sustentado pelo saber-poder médico irá acentuar o governamento da

população a partir do estabelecimento de normas de saúde, o controle do

desenvolvimento dos corpos, transformações no espaço físico escolar, bem como, a

implementação de um novo currículo.

Nessa configuração teórica, lançando a Revista do Ensino do Estado do Rio

Grande do Sul como um dispositivo de medicalização da educação, os enunciados

presentes nos artigos por ela divulgados inserem-se em um processo de governamento

biopolítco dos corpos, visto que a partir deles o Estado construía novos regimes de

verdade acerca da escola “saudável”, os parâmetros que iriam qualificar os alunos

enquanto normais ou anormais, bem como, os procedimentos a serem adotados pelos

professores na identificação de doenças ou problemas no processo de escolarização e

asseio. Destarte, o problema da escola não é apenas o combate direto ao analfabetismo.

Tem uma direção muito maior dentro dos seus postulados de ação formativa da

nacionalidade (REVISTA DO ENSINO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL,

1940, p. 5).

A importância da Revista do Ensino como condutora do projeto de nação estado-

novista no Rio Grande do Sul já aparece no editorial do primeiro volume do periódico,

lançado em setembro de 1939:

Através das nossas secções – Doutrinária, Legislação,

Transcrições, Informações, Consultas – nos integraremos

dentro dos problemas comuns que enfrenta o professor, para

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trazer-lhes os resultados das pesquisas dos técnicos

especializados, as normas legais interessantes ao ensino,

observações e conclusões de inquéritos, iniciativas

aconselháveis e para esclarecer suas dificuldades (1939, p. 2).

Apresentando-se como um periódico pedagógico e de divulgação científica, a

Revista do Ensino exerceu a função de dispositivo normatizador do Estado, visto que o

conhecimento por ela divulgado era concebido como “especializado”, ou seja, como

verdadeiro.

No artigo Higiene Mental da Criança, também do primeiro volume da revista, o

professor Raúl Moreira aponta para a importância do saber-médico na educação:

3º) Cabe ao médico pediatra estabelecer os princípios da harmonia,

resultante do laço íntimo entre a higiene mental e educação. No seio

das famílias, no contacto da clínica, no interior das escolas, pode

exercer a nobre missão de sondar os tipos normais e separar os que

necessitam assistência especial àparte (1939, p. 26).

Destaca-se aqui o papel atribuído ao médico pediatra na classificação dos alunos

entre normais e anormais (referido no artigo como “missão de sondar”), regulando

assim os discentes que necessitariam de uma assistência “especial”. Além disso, o

professor defende a atuação do médico dentro do ambiente familiar, legitimando assim

a interferência do saber médico na esfera privada.

Na edição de outubro de 1939, o Departamento Estadual de Saúde assinou o

artigo Alimentação do pré-escolar. A importância da nutrição no desenvolvimento

saudável dos corpos é reforçado pelo órgão público, que visa corrigir problemas como o

número ideal de calorias por refeição, a preparação higiênica dos alimentos, bem como,

a mastigação correta. Conforme o Departamento:

Mães e Mestres devem empenhar-se em estudar os problemas

transcendentais da alimentação e portanto da saúde.

Homens e mulheres fortes, robustos e sadios só poderão ser

aqueles que vieram desde a infância alimentados racionalmente num

ambiente higiênico.

Dai um tipo racial à altura de um país privilegiado como o

nossos (1939, p. 127).

O papel da educação sanitária (ou higiênica) no desenvolvimento nacional volta

a ser evocado uma vez que, pela nutrição, o brasileiro viria a tornar-se um “tipo racial à

altura”. A participação da família é novamente referida através da figura da mãe,

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responsável pelo crescimento sadio de sua prole. O papel da educação no

desenvolvimento racial do Brasil é novamente abordado no artigo A Educação Física

Infantil: um fator de saúde, escrito pelo Capitão Olavo Amaro da Silveira e publicado

na edição de janeiro de 1940 da Revista do Ensino:

O ritmo do corpo é paralelo, por sua vez, ao ritmo da alma.

Da disciplina física, que se consegue pela educação física científica,

resulta portanto um benefício para a educação psíquica.

Assim sendo, é fácil compreender o papel que a educação

física ocupa como fator de saúde na criança, protegendo-a contra os

efeitos das doenças da civilização, que se originam da fraqueza geral,

ao mesmo tempo que, aprimorando suas qualidades físicas e morais,

prepara-a para tornar-se o futuro cidadão, forte e equilibrado, orgulho

de uma raça (1940, p. 36).

Influenciada pelos exércitos e pelo movimento eugenista, a disciplina de

Educação Física surge para atender a “necessidade” de desenvolvimento racial

brasileiro. Através de movimentos seriados, a disciplina intervia diretamente no corpo

(através do seu crescimento muscular) e na alma (através de su disciplinamento) dos

discentes.

O processo de medicalização da educação transformou também o espaço escolar.

Com o objetivo de construir uma escola saudável, o Estado passa a criar ambientes

escolares a partir de pressupostos médicos. Esta preocupação foi tema do artigo Em prol

da saúde de nossas escolas, também da edição de janeiro de 1940:

Como o problema máximo desta questão é a higiene dos

prédios escolares, o Governo do Estado, em seu ótimo plano de ação,

determinou construções novas para todos os grupos escolares de sede

de município.

(...)

Há muito vem se agitando o magistério público para obter uma

reforma no mobiliário escolar, porque “a boa postura é o resultado de

um melhor ajustamento, primeiro das várias partes do corpo entre si e,

segundo, do corpo, como um todo, ao seu meio ambiente, ocupação ou

trabalho”; e assim sendo, não se concebe uma carteira igual para

alunos de altura diferente (1940 p. 37-38).

A preocupação com a arquitetura dos ambientes escolares aparece também no

artigo Refeitório Escolar, escrito por Bonifácio Costa, diretor do Departamento

Estadual de Saúde em janeiro de 1941. O refeitório deveria servir como um espaço

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pedagógico de promoção da educação higiênica, suplementando a alimentação

incompleta do lar e corrigindo os chamados “desvios de dietas”. Neste artigo, o papel

do professor e da família como responsáveis no crescimento sadio das crianças é

novamente apontado:

A articulação da ação da professora com a dos pais não

poderá deixar de ser harmônica.

Ambos devem ter conhecimento do que se passa na escola e

no lar, dos recursos da assistência escolar e do lar. Só assim será

eficiente o amparo moral e material à criança. O conhecimento da

ficha social do aluno por parte do médico escolar ou do médico do

dispensário de higiene da criança dos Centros de Saúde ou Postos de

Higiene, por sua vez, permitirá indicar as necessidades do alimento a

ser distribuido pelos diferentes grupos de alunos de acôrdo com as

idades, as suas condições e suas possibilidades domiciliares (COSTA,

1941, p. 98).

Ao adotar a ficha do aluno como critério de assistência, o Estado está utilizando-

se de um dispositivo biopolítico de governamento, uma vez que, através da análise dos

dados coletados pelas escolas, passa a governar os educandos a partir da promoção de

sua saúde.

O artigo Como compreendemos a higiene escolar, escrito pelo Dr. Radagásio

Taborda e publicado na edição de janeiro de 1941. Neste artigo, o médico relata sobre a

situação das escolas gaúchas, a partir de visitas realizadas pelo Departamento Estadual

de Saúde. Além da realização de exames, tais visitas serviam para a distribuição de

medicamentos e verificação das condições de salubridade das instituições. Taborda cita

também a receptividade da educação higiênica nas escolas, onde os alunos organizavam

grêmios de saúde, peças de teatro, exposições de trabalhos sobre higiene, bem como,

um “Concurso de Asseio”. Conforme Taborda:

Quão diferentes essas escolas, parcelas concientes duma

organização de finalidades de tamanho alcance, das velhas aulas de

ensinar a lêr, escrever e contar, cuja feição se deixava ao critério das

mestras, quase autócratas. Células vivas do que vai ser o Brasil de

amanhã, numa organização assim, já se vê, há lugar, se acolhem, até,

de braços abertos, todos quantos, informados dos mesmos ideais, se

apresentam portadores de contribuição mínima que seja, à maior

eficácia dos empreendimentos e realizações. Fôra absurdo imaginá-las

em tôrres de marfim! Com o repentino surto do que é, hoje, a Escola

Primária no Rio Grande do Sul, coincidiu, em boa hora, êsse climax

de atividades do Departamento Estadual de Saúde. De seu programa

consta, com relêvo primacial, a Propaganda e Educação Sanitária

(1941, p. 101).

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Nesse sentido, fica evidente a participação dos profissionais da saúde nas escolas

e como houve uma transformação na rotina escolar, agora atravessada pelo saber

médico. Apesar dos artigos aqui destacados referirem-se sobretudo às escolas gaúchas, é

possível identificar que o processo de medicalização da educação ocorreu em nível

nacional, pois o desenvolvimento do país (e não apenas do Rio Grande do Sul) e

frequentemente evocado. O destaque do papel da família (sobretudo da mãe) na criação

de seus filhos evidencia também a penetração do discurso médico na esfera privada,

interferindo cada vez mais na vida dos sujeitos e atingindo assim o objetivo do Estado

Novo em constituir uma população mais higienizada.

Considerações Finais

Ao assumir a presidência em 1930 e criar o Ministério da Educação e Saúde

Pública, Vargas deu início a um processo de reeducação da população baseado no saber

médico com a finalidade de “curar” o homem brasileiro. Esse governamento dos corpos

intensifica-se com durante o Estado Novo, a partir de 1937. É nesse contexto que os

professores da Universidade de Porto Alegre criam a Revista do Ensino do Estado do

Rio Grande do Sul. O discurso médico vai influenciando cada vez mais a pedagogia

propagada pelo periódico, atuando nas escolas seja a através do seu espaço físico, na

constituição curricular ou examinando seus alunos.

Cabe destacar também que a Revista do Ensino, enquanto dispositivo de

governamento, insere-se em um amplo processo de medicalização da vida. A literatura

dos almanaques de saúde, cartilhas de higiene ou até mesmo a popularização de

produtos como o Biotônico Fontoura revelam uma sociedade que passa a valorizar cada

vez mais a busca pela saúde.

A educação vive hoje o paradigma da proliferação de diagnósticos e utilização

de medicamentos como medidas corretivas do comportamento indesejado por parte dos

discentes. Os estudos que visam compreender esse processo vem se intensificando,

denunciando assim os efeitos negativos da medicalização da educação. Conforme Cruz,

Ferreira e Cardoso Jr.:

Com efeito, os movimentos de resistência, que

ganham força na luta contra o modelo biomédico hegemônico

que dissemina discursos e práticas psicopatologizantes,

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também começam a intervir no âmbito político com a

constituição de novas estratégias e dispositivos críticos e de

enfrentamento aos processos de psiquiatrização do social

(2014, p. 228).

Desta forma, lutar contra o processo de medicalização da educação só é possível

a partir do estabelecimento de outros paradigmas, centrados em um saber que não

preciso ir ao encontro do discurso médico e os enunciados por ele legitimados por

periódicos como a Revista do Ensino.

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