mayra leal chrisÓstomo bodart - ufrj

126
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FARMÁCIA Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia Farmacêutica MAYRA LEAL CHRISÓSTOMO BODART Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas RIO DE JANEIRO 2019

Upload: others

Post on 31-Mar-2022

9 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE FARMÁCIA

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia Farmacêutica

MAYRA LEAL CHRISÓSTOMO BODART Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de

L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas

RIO DE JANEIRO 2019

MAYRA LEAL CHRISÓSTOMO BODART

Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina

para tratamento de doenças metabólicas

Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Farmacêutica, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciência e tecnologia Farmacêutica.

Orientadora: Profª. Drª. Elisabete Pereira dos Santos Coorientadora: Profª. Drª. Ana Lúcia Vazquez Villa

Rio de Janeiro

2019

CIP - Catalogação na Publicação

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidospelo(a) autor(a), sob a responsabilidade de Miguel Romeu Amorim Neto - CRB-7/6283.

B666dBodart, Mayra Leal Chrisóstomo Desenvolvimento e estudo de estabilidade desolução oral magistral de L-Carnitina paratratamento de doenças metabólicas / Mayra LealChrisóstomo Bodart. -- Rio de Janeiro, 2019. 125 f.

Orientadora: Elisabete Pereira dos Santos. Coorientadora: Ana Lúcia Vazquez Villa. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal doRio de Janeiro, Faculdade de Farmácia, Programa dePós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, 2019.

1. Carnitina, . 2. Erro inato de metabolismo. 3.Formulação líquida. 4. Estabilidade. 5. FarmáciaMagistral. I. Santos, Elisabete Pereira dos,orient. II. Villa, Ana Lúcia Vazquez, coorient.III. Título.

Dedicatória

Dedico esse trabalho a todos os pacientes da Farmácia Universitária

AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente a Deus por me dar forças e por me impulsionar nos momentos mais difíceis. Eu senti Sua presença em vários momentos desse projeto ao colocar anjos no meu caminho a cada vez que uma dificuldade aparecia!

Ao meu marido que entendeu toda a minha ausência, que me mandava dormir quando eu virava noites estudando ou escrevendo, ou por me dar apoio e chocolate nas inúmeras vezes que eu chegava desesperada com as diversas dificuldades que encontrei no caminho. Sem você, eu não teria conseguido!

Aos meus pais que sempre acreditaram em mim, que me ensinaram a ser o que sou hoje e que comemoraram cada pequena vitória encarada nesse projeto, sem nem ao menos entender o que significava! Se eu consegui essa conquista hoje, é porque vocês me apoiaram desde o início! Obrigada por tudo! Essa conquista é nossa!

À minha irmã, afilhada, minha “filhinha” e amiga, que tanto me deu apoio durante esse período, que mandava mensagens carinhosas e fotos malucas tentando me animar quando eu mais precisava de um carinho!

À professora Elisabete Pereira dos Santos pela orientação e confiança para realização desse trabalho.

À professora Ana Lúcia Vazquez Villa por acreditar mais em mim do que eu, pela paciência, contribuições, incentivos, broncas e amizade.

Às professoras Mariana Sato de Souza de Bustamante Monteiro e Zaida Maria Freitas, pela contribuição e cuidado com a orientação na Banca de Acompanhamento.

À Banca examinadora por aceitar o convite e fornecer preciosas contribuições para o trabalho.

À professora Helena Keiko pela ajuda, contribuições e disponibilidade em realizar os testes microbiológicos da formulação.

A imensa ajuda que recebi de todos do Laboratório de Imunofarmacologia, chefiado pela Bartira Rossi Bergmann, que abriu as portas do laboratório para mim. Agradeço especialmente ao Douglas e Maria Paula, pela amizade, ajuda, por não me deixarem com fome quando eu não almoçava para ganhar tempo; à Ariane por todas as dicas, contribuições, avaliações e orientações; à Ariele, Felipe e Izabelle por toda torcida, ajuda e amizade! Eu me senti parte do laboratório de vocês! Vocês foram fundamentais à realização do projeto!

Aos queridos Aline e Jonatas da Central Analítica.

Ao LabTIF, especialmente à Letícia Coli, Paloma Wettler, Mariani Grillo e Fernanda Locatelli por me ajudarem com algumas análises.

Ao Marco Antonio que disponibilizou o HPLC e tempo para me ajudar.

À todos do LabCQ, especialmente ao Pedro e Luis que tanto me ajudaram.

Às grandes amigas Cláudia, Fernanda e Elaine. Vocês acompanham meu crescimento pessoal e profissional e me ajudaram e ajudam sempre! Eu não teria conseguido sem vocês! Obrigada pelos maravilhosos momentos de diversão, de ajuda e de incentivo!

À Érika, da Seção de Referência da Biblioteca Central do CCS, que tanto me ajudou com a busca de Referencial Bibliográfico.

À Sarah Noslien que desde o começo me ajudou, me incentivou e me ajudou!

À Larissa Rodrigues, minha amiga e aluna de iniciação científica, que me alavancou e fez com que o projeto desse certo. Você foi essencial nos momentos em que mais precisei!

À Ana, Fernanda Cardoso e Valery que me tanto me ajudaram.

Aos meus amigos da “Panela” Ana Elisa, Sarah, Felippe e Walter, que sempre escutaram minhas reclamações, medos e sempre me incentivaram!

Aos amigos feitos no Laboratório de Desenvolvimento Galênico (LADEG): Priscila, Ana Paula, Luciana, Fiammeta, Tatiele, Márcio, Raphaela, Mirella, Deise, Bruna, Leide. Vocês fizeram meus dias mais leves, felizes e animados!

À todos do meu setor que seguraram as pontas quando eu precisava resolver algum problema ou realizar alguma análise! Muito obrigada a todos! Em especial à amiga Tatiana Zanela que tanto me apoiou, me incentivou, me deu forças e segurou o setor quando eu mais precisava! Muito obrigada! Com certeza sem seu apoio e ajuda, eu não teria conseguido!

Às queridas Cleonice Marques e Letícia Dysarz que escutavam meus momentos de desespero, que me apoiaram, me incentivaram e muitas vezes me tranquilizaram!

À todos os amigos da Farmácia Universitária, que me apoiaram e me incentivaram tanto durante esses anos de mestrado.

À todos, os meus mais sinceros agradecimentos! Muito obrigada!

“A persistência é o caminho do êxito” (Charles Chaplin)

RESUMO

BODART, Mayra Leal Chrisóstomo. Desenvolvimento e estudo de estabilidade de solução oral magistral de L-Carnitina para tratamento de doenças metabólicas. Rio de Janeiro, 2019. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Farmacêutica) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. Erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios genéticos que levam a falhas

enzimáticas causando interrupção de vias metabólicas, o que pode comprometer

diversos processos celulares. O rápido diagnóstico e tratamento das patologias

associadas aos EIM evitam danos irreversíveis neurológicos e cognitivos,

fornecendo uma melhor qualidade de vida aos pacientes. A administração de L-

carnitina é amplamente utilizada nesse perfil de tratamento e no Brasil, apenas

suplementos voltados para o público esportivo pode ser encontrada sob a fórmula

líquida, não existindo formulação medicamentosa de L-carnitina voltada para o

público alvo. Na Farmácia Universitária, é usualmente dispensada sob a forma de

sachê, porém apresenta alta higroscopicidade o que dificulta sua pesagem e

manipulação. A necessidade de multidoses diárias a pacientes pediátricos e com

problemas cognitivos evidenciou a necessidade do desenvolvimento de uma solução

magistral de L-carnitina. Todavia, a escolha dos excipientes a serem utilizados para

esse público alvo, que apresenta uma serie de restrições e alterações metabólicas,

se torna um desafio e, além disso, a L-carnitina é um excelente substrato para

microrganismos, apresentando problemas em sua estabilidade. Diante disso, esse

trabalho teve como objetivo desenvolver uma formulação líquida oral de L-Carnitina,

com excipientes que atendam ao público alvo garantindo boa estabilidade físico-

química e microbiológica. Foram desenvolvidas oito formulações com duas

concentrações de L-carnitina (10 e 20%) e diferentes combinações de agentes de

viscosidade, acidulante e conservantes. Duas dentre as oito formulações

apresentaram melhores características físico-químicas, organolépticas e

microbiológicas, sendo conduzidas ao estudo de estabilidade completo. O estudo de

estabilidade realizado foi do tipo “em uso”, onde alíquotas diárias foram retiradas das

embalagens multidoses para mimetizar as condições de uso. As amostras foram

armazenadas em condições controladas de temperatura (5ºC, 25ºC e 40ºC) e em

diferentes materiais de embalagem primárias (vidro âmbar e plástico PET leitoso).

As amostras foram analisadas nos tempos 0, 15, 30 e 45 dias após suas

manipulações. Elas foram analisadas em relação as suas características

organolépticas e físico-químicas como aspecto, odor, pH (Brasil, 2005) e teor do

princípio ativo (EUA, 2018), utilizando a cromatografia líquida de alta eficiência

(CLAE), essa metodologia passou por uma validação parcial e teve a adequabilidade

do sistema verificada. Para análise microbiológica, os testes foram determinados

pela farmacopeia brasileira para soluções orais não estéreis (contagem total de

bactérias aeróbias, contagem de leveduras e fungos e presença de Escherichia coli)

(Brasil, 2005). Para a observação de produtos de degradação, as formulações foram

expostas a condições de estresse como aquecimento, solução ácida, básica e

oxidativa e apenas apresentou degradação quando mantida sob meio fortemente

ácido e básico com aquecimento a 70ºC. A melhor formulação apresentou boa

estabilidade físico-química e microbiológica durante os 45 dias de estudo de

estabilidade quando mantida sob temperatura ambiente. Portanto, podemos concluir

que a estabilidade foi garantida mesmo com a abertura subsequente da embalagem

primária para mimetização das condições de uso pelo paciente, tendo essa

formulação um perfil seguro para o público alvo e será comercializada pela Farmácia

Universitária da UFRJ.

Palavras chaves: Carnitina, estabilidade, formulação líquida, erro inato de

metabolismo.

Resumo em Língua estrangeira BODART, Mayra Leal Christóstomo. DEVELOPMENT AND STABILITY STUDY OF MAGISTRAL ORAL SOLUTION OF L-CARNITIN FOR TREATMENT OF PATHOLOGIES ASSOCIATED TO INBORN ERRORS OF METABOLISM (IEM). Rio de Janeiro, 2019. Dissertation (MsC in Science and Pharmaceutical Technology) – Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

Inborn errors of metabolism (IEM) are genetic disturbs witch can be correlated with

enzymatic defects; these defects are able to cause interruption of several metabolic

paths compromising many cellular processes. A fast diagnosis and treatment of

these pathologies associated to IEM allows to avoid irreversible neurological and

cognitive damages, therefore the patients could have an improvement in their quality

of life. The supplementation with L-carnitine is widely use in this treatment.

Commonly dispensed in sachet, it has a high hygroscopic that makes difficult the

process of weighing and manipulating. The requirement of multiple daily doses of

pediatric patients with cognitive issues manifested the haste to develop a magistral

solution of L-carnitine. However, the excipient selection to use it in this public, which

has an enormous series of restriction and metabolic alterations, became a challenge,

furthermore, L-carnitine is an excellent substrate for microorganisms that shows

stability problems. For that reason, this work aims to develop an oral solution

formulation of L-carnitine with excipients that fulfill the public needs, warranting a

good physics-chemistry and microbiological stability. To this end, eight formulations

were developed, containing two distinct concentration of L-carnitine (10% and 20%),

and different combinations of thickening agent, acidifiers and preservatives. Two of

them presented better organoleptic characteristics and were piloted to the fully

stability study. The stability study method applied was “in use”; in witch, daily

samples were taken from the multidose bottles to mime the use conditions of the

patient. To run the stability study, the samples were kept in dissimilar controlled

temperature levels (5ºC, 25ºC e 40ºC) and different sorts of primary packaging

(amber glass and plastic PET). The analysis were performed along 0, 15, 30 and 45

days after the manipulation. The samples were analyzed by their organoleptic and

physic-chemistry characteristic as aspect, odor, pH (Brazil, 2005) and content of

active (USA, 2018) using high performance liquid chromatography (HPLC) which had

an initial validation process to adequate to the system. The microbiological assay

was made as described in Brazilian Pharmacopoeia 5nd edition for oral solution non-

sterile (aerobic bacteria total count, yeast and fungus count and presence of

Escherichia coli). In order to evaluate the degradation products, the formulations

were exposed to stress conditions as heat, acid, basic and oxidative solutions. The

oral solution that exhibited the better stability physic-chemistry, microbiological and

organoleptic along 45 days was the stocked in shelf at ambient temperature. Thus,

we can conclude that even opening the primary packaging everyday to mime the use

condition of the patient, the oral solution maintained the stability condition, presenting

a safe profile to the patient and will be commercialized by the Farmácia Universitária

of UFRJ.

Key words: carnitine, stability, liquid formulation, Inborn errors of metabolism

LISTA DE FIGURAS

Figura 01. Metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada e a sinalização das etapas interrompidas pelas acidemiaspropiônica, metilmalônica, isovalérica e glutárica.

34

Figura 02. Via principal do catabolismo da leucina e bloqueio da enzima isovaleril-CoAdesidrogenase.

35

Figura 03. Vias metabólicas alternativas do isovaleril-CoA em caso de interrupção da via principal.

36

Figura 04. Metabólitos secundários produzidos quando ocorre o bloqueio enzimático da PCC.

36

Figura 05. Transporte dos ácidos graxos do meio extramitocondrial para a matriz mitocondrial com auxílio de enzimas.

41

Figura 06. Estrutura da L-carnitina. 42

Figura 07. Estrutura química das isoformas de carnitina: levógira e dextrógira.

43

Figura 08. Estrutura do sal cloridrato de L-carnitina. 43

Figura 09. Ilustração do processo de manipulação durante o processo de mistura.

46

Figura 10. Representação esquemática de um sistema de cromatografia líquida.

58

Figura 11. Metabólitos possiveis da L-carnitina quando consumida por microrganismos

59

Figura 12. Espectro referente à análise de IV-TF do padrão de L-carnitina 79

Figura 13. Espectro referente à análise de IV-TF da matéria-prima de L-carnitina

79

Figura 14. Principais bandas presentes no espectro IV-TF representadas na estrutura da L-Carnitina.

80

Figura 15. Cromatograma do solvente (água ultrapurificada). 82

Figura 16. Cromatograma da Fase Móvel 82

Figura 17. Cromatograma da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL 83

Figura 18 Espectro UV/VIS do pico cromatográfico da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL

83

Figura 19. Cromatograma da solução com padrão de L-carnitina e padrão interno.

83

Figura 20. Cromatograma de solução com matéria-prima de L-carnitina e padrão interno.

84

Figura 21. Cromatograma dos excipientes usados no desenvolvimento da formulação em presença do padrão interno.

84

Figura 22. Cromatograma da L-carnitina em presença do padrão interno e excipientes usados no desenvolvimento da formulação: ácido cítrico e benzoato de sódio.

85

Figura 23. Comparação entre o espectro de varredura do pico cromatográfico correspondente à L-carnitina na solução padrão e na solução com os excipientes.

85

Figura 24. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no primeiro dia de análise

87

Figura 25. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no segundo dia de análise

87

Figura 26. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores encontradas no terceiro dia de análise

87

LISTA DE QUADROS

Quadro 01. Níveis de variações aceitáveis de DPR para precisão 89

Quadro 02. Resultado das análises de pH no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v)

102

Quadro 03 Resultado das análises de teor no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v)

105

Quadro 04 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da formulação 6 acondicionada em vidro e em plástico

108

Quadro 05 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da formulação 7 acondicionada em vidro e em plástico

109

Quadro 06 Resultados do estudo de estabilidade microbiológico da

formulação controle acondicionada em vidro e em

plástico

110

LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Principais características de identificação da Carnitina 42

Tabela 02. Principais características dos materiais comumente usados para embalagem

54

Tabela 03. Principais resistências dos materiais comumente usados para embalagem

54

Tabela 04. Descrição dos excipientes utilizados nas formulações testadas e suas proporções

68

Tabela 05. Densidade da água de 20 a 30°C 69

Tabela 06. Características de incubação dos testes microbiológicos 76

Tabela 07. Esquema das condições de exposição das amostras para avaliação da estabilidade

77

Tabela 08. Principais bandas encontradas em espectro de IV-FT de L-carnitina

80

Tabela 09. Parâmetros aplicados no teste de linearidade 86

Tabela 10. Valores obtidos para LD e LQ. 88

Tabela 11. Resultado encontrado para o teste de precisão. 89

Tabela 12. Resultados obtidos para o teste de exatidão. 90

Tabela 13. Composição das formulações testes a 10% (p/v) 94

Tabela 14. Resultado da análise FIQ inicial das formulações a 10% (p/v). 94

Tabela 15. Resultado das análises microbiológicas no estudo de estabilidade prévio

95

Tabela 16. Resultado das análises físico-químicas no estudo de estabilidade prévio

96

Tabela 17. Composição das formulações testes a 20% (p/v) 97

Tabela 18. Resultado FIQ inicial da estabilidade prévia das formulações a 20% (p/v)

97

Tabela 19. Resultado das análises FIQ das formulações a 20% (p/v) 98

Tabela 20. Resultado das análises MIC das formulações a 20% (p/v) 99

Tabela 21. Resumo do estudo de estabilidade completo em uso 101

Tabela 22. Análise estatística dos valores de pH avaliando cada formulação nas diferentes embalagens

104

Tabela 23. Resultado da análise estatística do teste de teor realizado em comparação com as embalagens para cada formulação

106

Tabela 24. Teor de L-carnitina da Formulação 6 sob soluções degradantes dez vezes menos concentrada

112

Tabela 25. Resumo do estudo de degradação forçada sob diferentes condições.

112

Tabela 26. Tempos de retenção dos picos encontrados no estudo de estabilidade.

113

Tabela 27. Áreas dos picos encontrados no estudo de degradação. 113

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

3-MMM 3-Metilcrotonil glicinúria

ANOVA Análise de Variância

ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária

BPF Boas Práticas de Fabricação

CACT Deficiência de Carnitina/AcilcarnitinaTranslocase

CG Cromatografia Gasosa

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

CMC Carboximetilcelulose

CoA Coenzima A

CPT-II Deficiência da Palmitoil Carnitina Transferase

CTBA Contagem total de bactérias aeróbicas

CTFL Contagem total de fungos/leveduras

DAD Detector de Arranjo de Diodos

DCP Deficiência de Carnitina Primária

DLE Deficiência de Beta-Cetotiolase

DP Desvio Padrão

DPR Desvio Padrão Relativo

EIM Erro Inato do Metabolismo

FB Farmacopeia Brasileira

FD&C Food, drug and Cosmetics administration

FIQ Físico-químico

FU Farmácia Universitária

GA I AcidemiaGlutária tipo 1

GA II AcidemiaGlutária tipo 2

HGM Acidúria 3-Hidroxi-3-Metilglutárica

HUCFF Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

IC Inclinação da curva de calibração

IPPMG Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira

IVA AcidemiaIsovalérica

IV-TF Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier

Lacmac Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos, Alimentos e Cosméticos

LCHADD Deficiência de 3-hidroxiAcil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeia Longa

LD Limite de Detecção

LQ Limite de Quantificação

MCAD Deficiência da Desidrogenase das Acil-Coa dos Ácidos Graxos de Cadeia Média

MCC Deficiência isolada de 3-metilcrotonil-CoA carboxilase

MCM Deficiência da enzima metilmalonil-CoAmutase

MIC Microbiológico

Milli-Q Água Ultrapurificada

MMA AcidemiaMetilmalônica

PA AcidemiaPropiônica

PAH Fenilcetonúria

PCC Deficiência da enzima Propionil-CoACarboxilase

PEAD Polietileno de alta densidade

PEBD Polietileno de baixa densidade

PET Polietilenotereftalato

pH Potencial hidrogeniônico

PP Polipropileno

PS Poliestireno

PVC Policloreto de vinila

qs Quantidade suficiente

qsp Quantidade suficiente para

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RE Resolução

TR Tempo de retenção

SCOT Deficiência de SCOT

TI Informe técnico

T2 Anomalia da Acetoacetil-CoATiolase mitocondrial

UFC Unidade Formadora de Colônia

UFC/mL Unidade Formadora de Colônia por mL

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

USP Farmacopeia dos Estados Unidos

UV Ultravioleta

VIS Visível

VLCAD Deficiência da Acil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeira Muito Longa

LISTA DE FÓRMULAS E SÍMBOLOS

% Porcentagem

® Registrado

°C Grau Celsius

°C Graus Celsius

µm Micrograma

a Coeficiente angular

b Coeficiente linear

bar Unidade de pressão

cm-¹ Número de onda

d2020 Densidade relativa

g grama

h hora

H2O Água

H3O+ Íon hidrônio

HCl Ácido clorídrico

HO- Íon hidroxila

KBR Brometo de potássio

L Litro

log Logarítmo

M Molar

mg Miligrama

min Minuto

mL Mililitro

mL/min Mililitro por minuto

mm Milimetro

NaOH Hidróxido de sódio

p/p Peso por peso

p/v Peso por volume

r Coeficiente de correlação

R² Coeficiente de determinação

λ Comprimento de onda

ρt Densidade de massa

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 26

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 29

2.1 Erros Inatos do Metabolismo (EIM) ............................................................... 29

2.1.1 Manifestações Clínicas .............................................................................. 29

2.1.2 Diagnóstico ................................................................................................ 30

2.1.3 Classificação dos EIM ................................................................................ 31

2.1.3.1 AMINOACIDOPATIAS ........................................................................ 33

2.1.3.2 ACIDEMIAS ORGÂNICAS .................................................................. 33

2.1.3.3 OUTRAS DOENÇAS DE EIM TRATADAS COM L-CARNITINA ....... 38

2.2 L-Carnitina ....................................................................................................... 40

2.2.1 Bioquímica ................................................................................................. 40

2.2.2 Características Gerais ............................................................................... 41

2.2.3 Efeitos adversos e precauções .................................................................. 43

2.2.4 Farmacocinética......................................................................................... 44

2.3 Farmácia Universitária da UFRJ ........................... Erro! Indicador não definido.

2.4 Desenvolvimento De Formulações Líquidas ................................................ 48

2.4.1 Forma Farmacêutica Líquida ..................................................................... 48

2.4.2 Excipientes Farmacêuticos Usados Para Soluções Líquidas Orais ........... 49

2.4.2.1 SOLVENTE: ÁGUA PURIFICADA ..................................................... 49

2.4.2.2 CONSERVANTES ............................................................................... 50

2.4.2.3 AGENTE PROMOTOR DE VISCOSIDADE ........................................ 51

2.4.2.4 ACIDULANTE ..................................................................................... 52

2.4.2.5 EDULCORANTES ............................................................................... 52

2.4.3 Embalagens Usadas Para Soluções Líquidas Orais.................................. 52

2.5 Controle De Qualidade De Soluções Orais Magistrais ................................ 55

2.5.1 Densidade de Massa ................................................................................. 55

2.5.2 Determinação potenciométrica do pH ........................................................ 56

2.5.3 Doseamento do princípio ativo .................................................................. 56

2.5.4 Controle microbiológico ............................................................................. 59

2.6 Estudo De Estabilidade .................................................................................. 60

3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 63

4 OBJETIVOS ........................................................................................................... 64

4.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 64

4.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 64

5 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 65

5.1 Materiais ........................................................................................................... 65

5.1.1 Matérias-primas e Reagentes .................................................................... 65

5.1.2 Equipamentos e acessórios ....................................................................... 66

5.2 Métodos ........................................................................................................... 66

5.2.1 Análise de identificação da L-Carnitina ...................................................... 66

5.2.2 Desenvolvimento das formulações ............................................................ 67

5.2.3 Metodologia De Análise Físico-Química .................................................... 68

5.2.3.1 Determinação Do Aspecto ................................................................ 68

5.2.3.2 Determinação do odor ....................................................................... 68

5.2.3.3 Determinação do pH .......................................................................... 68

5.2.3.4 Determinação da densidade de massa ............................................ 69

5.2.3.5 Determinação do teor do princípio ativo ......................................... 70

5.2.3.5.1 PREPARO DE CURVA PADRÃO ................................................. 70

5.2.3.5.2 PREPARO DE SOLUÇÃO DE PADRÃO INTERNO ..................... 70

5.2.3.5.3 PREPARO DE SOLUÇÃO PADRÃO ............................................ 70

5.2.3.5.4 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA ESTOQUE ....................... 70

5.2.3.5.5 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA .......................................... 71

5.2.3.5.6 INFORMAÇÕES DE SISTEMA CROMATOGRÁFICO ................. 71

5.2.3.5.7 ADEQUAÇÃO DO SISTEMA ........................................................ 71

5.2.4 Validação Parcial da Metodologia de Análise de Doseamento .................. 72

5.2.4.1 Precisão .............................................................................................. 72

5.2.4.2 Exatidão .............................................................................................. 73

5.2.4.3 Seletividade ........................................................................................ 73

5.2.4.4 Linearidade ........................................................................................ 74

5.2.4.5 Faixa de trabalho ............................................................................... 75

5.2.5 Metodologia de Análise Microbiológica ...................................................... 75

5.2.5.1 Análise microbiológica ..................................................................... 75

5.2.6 Estudo de Estabilidade .............................................................................. 76

5.2.6.1 Estudo Prévio de Estabilidade ......................................................... 76

5.2.6.2 Estudo de Estabilidade Completo Em Uso ..................................... 76

5.2.7 Estudo de Degradação Forçada ................................................................ 77

5.2.8 Análise de dados ....................................................................................... 78

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 79

6.1 Análise de identificação da L-Carnitina ........................................................ 81

6.2 Validação Parcial da Metodologia de Doseamento ...................................... 81

6.2.1 Determinação da faixa de trabalho ............................................................ 81

6.2.2 Seletividade ............................................................................................... 81

6.2.3 Linearidade ................................................................................................ 86

6.2.4 Precisão ..................................................................................................... 88

6.2.5 Exatidão ..................................................................................................... 90

6.3 Desenvolvimento da metodologia de análise ............................................... 91

6.4 Desenvolvimento das formulações ............................................................... 91

6.5 Estabilidade prévia das formulações iniciais ............................................... 95

6.6 Estudo de estabilidade completo em uso ................................................... 100

7 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 116

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 117

26

1. INTRODUÇÃO

Os erros inatos do metabolismo (EIM) são distúrbios de natureza genética

que representam uma importante causa de morbidade e mortalidade entre a

população pediátrica (SHAWKY; ABD-ELKHALEK; ELAKHDAR, 2015). Resultam em

anormalidades na síntese de proteínas, normalmente enzimas, alterando suas

principais funções. Tal alteração pode levar a bloqueio de uma determinada via

metabólica com consequente acúmulo de substratos e derivados, bem como a

diminuição da síntese do produto esperado. Dependendo da rota afetada, esse

bloqueio repercute de maneira clínica variável, sendo geralmente grave e muitas

vezes letal (SCRIVER et al., 2002).

Embora sejam individualmente raros, eles possuem uma incidência, em

conjunto, estimada em 1/1.000 nascidos vivos (ARAÚJO, 2004). Em muitos casos,

as crianças parecem perfeitamente normais ao nascimento e podem demorar a

apresentar manifestações clínicas. O rápido diagnóstico é essencial para impedir o

agravamento e a irreversibilidade dos sintomas, podendo representar a

sobrevivência do paciente em alguns casos (JARDIM; ASHTON-PROLLA, 1996).

Mas, a variabilidade de sintomas clínicos, o enorme número de doenças de grande

complexidade e o fato de serem considerados extremamente raros pela maioria dos

profissionais, pode dificultar o correto diagnóstico clínico (EL HUSNY; CALDATO,

2006).

Exemplos de patologias associadas à EIM e que possuem alta incidência, as

aminoacidopatias e acidemias orgânicas são ocasionadas por deficiência severa da

atividade de enzimas específicas de determinadas vias metabólicas, podendo levar

ao acúmulo de substratos que, em concentrações mais elevadas que o normal, se

tornam tóxicas. Elas apresentam grande impacto no sistema gastrointestinal e

nervoso, podendo apresentar manifestações como: vômito, recusa alimentar,

apneia, convulsão, coma, lesão cerebral e retardo mental e cognitivo (BEHRMAN, K,

2014; DEODATO et al., 2006a; GARCÍA et al., 2002a; NADAI; PINHEIRO, 2006).

Para a maioria das aminoacidopatias e acidemias, o tratamento é feito a partir

de restrição alimentar, administração de cofatores das enzimas deficientes e,

principalmente, com a suplementação de L-carnitina. Esta substância é capaz de se

conjugar e aumentar a excreção dos ácidos orgânicos acumulados nessas doenças,

27

evitando as indesejáveis manifestações clínicas ou retardando o progresso da

doença (BERRY, 1998).Sendo o público alvo composto em sua grande maioria por

pacientes pediátricos e, por muitas vezes, com dificuldades de deglutição, a forma

farmacêutica mais indicada é a líquida. As soluções de uso oral podem ser

administradas a pacientes de diferentes idades e com diferentes necessidades,

conferindo maior flexibilidade na administração da dosagem correta (NUNN;

WILLIAMS, 2005).

O desenvolvimento de formulações orais líquidas possui vários fatores críticos

e requer cuidados para garantia da segurança e qualidade do produto. Essas

preparações apresentam, em sua maioria, alto teor de água o que pode propiciar a

degradação físico-química e contaminação microbiológica(BILLANY, 2005;

LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001). Além disso, a L-carnitina apresenta

estrutura semelhante a de aminoácidos e pode ser utilizada por bactérias como fonte

de carbono, nitrogênio e de energia, favorecendo também o crescimento microbiano

(MEADOWS & WARGO, 2015).Para isso, substâncias inertes denominadas

excipientes podem auxiliar no desenvolvimento de soluções mais estáveis, eficazes

e atraentes. Mas diferentes estudos apontam algumas dessas substâncias

consideradas inertes como sendo responsáveis por reações adversas relacionadas

a medicamentos. Além disso, pacientes com EIM apresentam uma série de

restrições e, desta forma, a escolha dos excipientes da formulação não pode ser

realizada ao acaso e deve ser feita de maneira criteriosa sendo o mais simples

possível, no intuito de diminuir a probabilidade de reações não esperadas, mas

garantindo a qualidade e estabilidade da formulação (ANSEL; POPOVICH; ALLEN

JUNIOR, 2000; GUERRA, 2012).

Para identificar o período de utilização e condições de estocagem, mantendo

as mesmas propriedades que possuía no momento de sua fabricação, são

realizados os testes de estabilidade onde são retiradas amostras em tempos

definidos e encaminhadas para análises. A realização do estudo de estabilidade é

projetada para verificar as características físicas, químicas e microbiológicas de um

produto farmacêutico durante seu prazo de validade. Além de identificar a

degradação química ou mudança física de um produto farmacêutico quando

expostos a condições forçadas de armazenamento. Esse resultado é utilizado para

28

estabelecer ou confirmar o prazo de validade e recomendar as condições de

armazenamento (BRASIL, 2005).

A Farmácia Universitária (FU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ) recebe diariamente muitos pacientes provenientes do Instituto de

Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e de outros centros de saúde

que apresentam alguma patologia associada à EIM. Eles, em sua grande maioria,

fazem uso de suplementação de L-carnitina que, atualmente, não possui formulação

oral líquida medicamentosa disponível no mercado brasileiro. Iniciando o

atendimento desses pacientes, a L-carnitina era dispensada na FU sob a forma de

sachê contendo a dose individualizada. Mas a forte característica higroscópica do

ativo requer uma manipulação, pesagem e selagem rápidas, além da necessidade

de dois funcionários envolvidos para uma boa qualidade do produto final. Esse

processo é impraticável com a demanda recebida pela FU e, desta maneira, o

desenvolvimento de uma formulação líquida de L-carnitina que atenda as

necessidades dos pacientes, foi importante para atendimento de todos os pacientes

além de aumentar a adesão ao tratamento. A formulação líquida oral de L-carnitina

foi desenvolvida nas apresentações de 10% e 20%, sendo avaliadas quanto às suas

estabilidades físico-química e microbiológica e apresentando resultados favoráveis

durante 45 dias mantidos a temperatura ambiente.

29

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Erros Inatos do Metabolismo (EIM)

Os erros inatos do metabolismo (EIM) são um grupo altamente heterogêneo

de distúrbios de natureza genética e representam uma importante causa de

morbidade e mortalidade entre a população pediátrica (SHAWKY; ABD-ELKHALEK;

ELAKHDAR, 2015). Geralmente, correspondem a defeitos enzimáticos capazes de

ocasionar a interrupção de uma via metabólica, podendo causar falhas de síntese,

degradação, armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. Como

consequência, tem-se a ausência de um produto esperado, o acúmulo de substrato

da etapa anterior à interrompida ou o surgimento de uma rota metabólica alternativa,

o que podem levar ao comprometimento de diversos processos celulares (EL

HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006).

O estudo dos EIM originou-se no início dos anos 1900, quando Archibald E.

Garrod descobriu e identificou as primeiras doenças metabólicas: alcaptonúria,

pentosúria, porfiria e albinismo(SHLOMI, CABILI & RUPPIN, 2009). Desde as

primeiras descobertas de Garrod, no início do século XX, diversos novos distúrbios

foram descritos, na medida em que novas ferramentas de diagnóstico bioquímico e

molecular tornaram-se disponíveis(SHAWKY, ABD-ELKHALEK & ELAKHDAR,

2015). Atualmente, existem cerca de 500 distúrbios conhecidos e, embora sejam

individualmente raros, eles possuem uma incidência, em conjunto, estimada em

1/1.000 nascidos vivos. Desta forma, cumulativamente, causam importante agravo à

saúde (ARAÚJO, 2004).

2.1.1 Manifestações Clínicas

Os sintomas e sinais dos EIM podem abranger diferentes sistemas e podem

se iniciar em diferentes faixas etárias, apesar de o distúrbio ter origem genética.

Neonatos com EIM são, geralmente, saudáveis ao nascimento, com os sintomas

podendo se iniciar desde as primeiras horas até as primeiras semanas de vida. Em

alguns casos, podem ser adiados por meses até que algum evento, de natureza

exógena, altere o equilíbrio bioquímico mantido pela criança até então (ARAÚJO,

30

2004; EL-HATTAB, 2015; JARDIM & ASHTON-PROLLA, 1996). Embora o quadro

clínico possa variar, os sintomas iniciais geralmente são inespecíficos, incluindo

letargia, redução da alimentação, vômitos, taquipneia e convulsões. Na medida em

que a doença metabólica progride, pode haver estupor progressivo ou coma,

associados com alterações de tônus (hipotonia, hipertonia), de postura (opistótono)

e dos movimentos (interposição lingual, estalar dos lábios, mioclonia), bem como

presença de ascite (acúmulo de fluido na cavidade peritoneal), síndromes

dismórficas (malformações da face) e apneia do sono (EL-HATTAB, 2015; NASSER

et al., 2012; RAGHUVEER, GARG & GRAF, 2006).

De uma maneira geral, os pacientes portadores de EIM apresentam

acometimento de diversos sistemas, sendo as manifestações neurológicas,

hepáticas e cardíacas as principais envolvidas. Os sintomas neurológicos incluem

quadros de retardo mental, disfunções no desenvolvimento psicomotor, regressão

psicomotora e convulsões. Sintomas psiquiátricos costumam estar presentes em

quase todos os EIM que acometem o sistema nervoso. Já as manifestações

hepáticas incluem hepatomegalia e hipoglicemia, icterícia colestática ou insuficiência

hepática com icterícia, transaminases elevadas, entre outros. O quadro cardíaco

envolve doenças como cardiomiopatia, falência cardíaca e arritmias(ARAÚJO, 2004;

EL-HATTAB, 2015).

2.1.2 Diagnóstico

A quantidade, complexidade e variedade de manifestações clínicas

relacionadas aos EIM dificultam o correto diagnóstico clínico dessas doenças, o que

pode trazer danos irreparáveis ao organismo da criança. Por outro lado, a detecção

e a intervenção precoces levam a medidas terapêuticas satisfatórias, seguidas de

evoluções clínicas favoráveis (BURTON, 1998; JARDIM & ASHTON-PROLLA,

1996).

Segundo RAO et al., 2009, quando existe a suspeita de um EIM, cinco

importantes aspectos devem ser considerados e seguidos:

1- Histórico familiar: observar a existência de consanguinidade entre os pais,

casos de familiares falecidos precocemente ou abortos sem causa definida,

31

ou a ocorrência de um irmão ou irmã previamente afetado por um quadro

clínico semelhante.

2- Exames físicos: avaliação de aspectos como dermatite, alopecia, dismorfia

facial, catarata, entre outros.

3- Testes iniciais de triagem: realização de exames laboratoriais, como

hemograma completo, dosagem de eletrólitos, glicose, amônia, lactato,

razão lactato/piruvato, substâncias redutoras, ácidos orgânicos,

aminoácidos e cetonas.

4- Testes avançados de triagem: realização de ensaios com base no contexto

clínico, que podem incluir ácidos graxos de cadeia longa, quantificação de

aminoácidos, ácidos orgânicos, carboidratos e outros metabólitos.

5- Testes definitivos de diagnóstico: para confirmar o distúrbio detectado,

ensaio enzimático específico em leucócitos, plasma ou células vermelhas,

imunoensaios e análises baseadas em mutações gênicas serão

realizados(RAO et al., 2009).

Cabe ao pediatra, portanto, se familiarizar com os sinais e sintomas

característicos dos EIM e com os exames laboratoriais necessários para se chegar a

um diagnóstico preciso. A clínica que alia a história da doença e um bom exame

físico é capaz de conduzir para a realização de exames confirmatórios mais

adequados, para a terapêutica precoce, bem como para o importante

aconselhamento genético (BURTON, 1998; EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO,

2006).

2.1.3 Classificação dos EIM

Segundo Saudubray & Charpentier (1995), os EIM podem ser divididos em

duas categorias, conforme suas características fisiopatológicas e fenótipo clínico:

Categoria 1, que corresponde às alterações que afetam um único órgão ou sistema

orgânico, e que são normalmente mais facilmente diagnosticadas; e Categoria 2,

que engloba doenças onde a alteração bioquímica compromete vias metabólicas

comuns a diversos órgãos e, por isso, os relatos clínicos são muito diversificados,

tornando difícil o diagnóstico pelo profissional da saúde. A fim de facilitar o estudo

32

dessas doenças, a Categoria 2 foi dividida em três principais grupos: Grupo I, Grupo

II e Grupo III.

As doenças do Grupo I afetam a síntese ou o catabolismo de moléculas

complexas. Os sintomas são permanentes, progressivos com o passar do tempo,

podem apresentar-se em todas as idades, não estão relacionados com a ingesta

alimentar e também não possuem relação com eventos intercorrentes, como

infecções. Entre os distúrbios enquadrados neste grupo estão as doenças com

alterações de depósitos lisossômicos, doenças dos peroxissomos, alteração no

metabolismo de lipídios, alteração na síntese de purinas e pirimidinas e alteração no

transporte de metais. As principais manifestações clínicas desse grupo de doenças

são: hidropsia fetal, hepato e/ou esplenomegalia, alterações esqueléticas,

convulsões, hipotonia (não sustentar cabeça e membros), fácies grotesca,

neurodegeneração subaguda, mieloneuropatia subaguda, deficiência auditiva,

achados dismórficos, alterações oculares e da pele, limitações e deficiências

articulares (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006; SAUDUBRAY et al.,

2002).

As doenças enquadradas no Grupo III são doenças resultantes de deficiência

na produção ou utilização de energia por erros inatos do metabolismo intermediário

no fígado, miocárdio, músculo ou cérebro. Algumas manifestações clínicas

comumente encontradas são: hipoglicemia, miopatia, insuficiência cardíaca, retardo

de crescimento e até morte súbita (EL HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006;

EL-HATTAB, 2015).

Já as doenças enquadradas no Grupo II são erros inatos do metabolismo

intermediário que culminam em intoxicação e a maioria das doenças são tratadas

com suplementação de L-carnitina. As intoxicações podem ser decorrentes do

acúmulo de substrato tóxico por conta do bloqueio de rotas do metabolismo

intermediário e podem se tornar agudas ou crônicas. Apresentam relação evidente

com o aporte alimentar e com as intercorrências (infecções), podendo permanecer

sem manifestação clínica por grandes intervalos de tempo. Substâncias exógenas

podem desestabilizar o equilíbrio e ocasionar uma descompensação metabólica,

levando a uma intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva. Grande

parte de patologias desse grupo apresentam como tratamento suplementação de L-

carnitina associada com cofatores enzimáticos. Os principais distúrbios

33

caracterizados neste grupo são as aminoacidopatias, acidemias orgânicas, defeitos

do ciclo da ureia e intolerância aos açúcares (SAUDUBRAY et al., 2002).

2.1.3.1 AMINOACIDOPATIAS

As aminoacidopatias são causadas por mutações de genes que codificam

proteínas específicas. Tais mutações podem alterar a estrutura primária de uma

proteína ou a quantidade de proteína sintetizada. Essa alteração pode comprometer

a capacidade funcional da proteína, podendo levar ao bloqueio de determinadas vias

metabólicas e ao acúmulo de substratos que, em concentrações mais elevadas que

o normal, podem ser tóxicas (BEHRMAN, KLIEGMAN & JENSON, 2013). O sistema

nervoso é, normalmente, muito impactado pelo acúmulo dos substratos, podendo

desencadear manifestações clínicas como coma (em fase aguda). Em algumas

aminoacidopatias, a intoxicação somente se manifesta depois de vários meses, até

mesmo anos (SAUDUBRAY et al., 2002).

A patogenia mais conhecida nesse grupo de EIM é a fenilcetonúria, que é

causada pela deficiência completa ou quase completa da fenilalanina hidroxilase

(PAH). Esta enzima atua sobre a conversão de fenilalanina a tirosina, e por conta da

deficiência enzimática, ocorre o acúmulo do substrato no organismo. Tal situação

perturba os processos essenciais no cérebro, como a mielinização e a síntese de

proteínas, resultando em lesão cerebral e retardo mental (GARCÍA et al., 2002b). As

crianças afetadas podem nascer livres de sintomas, mas se não tratadas no período

pós-natal, eles surgem tardiamente nos primeiros meses e o retardo se torna

progressivamente pior. O tratamento consiste em uma dieta pobre em fenilalanina e

suplementação com L-carnitina (NADAI et al., 2006).

2.1.3.2 ACIDEMIAS ORGÂNICAS

As acidúrias ou acidemias orgânicas são normalmente causadas por

deficiência severa da atividade de enzimas envolvidas no metabolismo de

aminoácidos ramificados, o que resulta em acúmulo tecidual de ácidos carboxílicos

(SCRIVER et al., 2002). As acidemias orgânicas mais comuns são as

acidemiaspropiônica (PA), metilmalônica (MMA), isovalérica (IVA) e glutárica Tipo 1

(GA I) e Tipo 2 (GA II). Elas são assim classificadas a partir dos ácidos orgânicos

34

que se acumulam em decorrência do bloqueio na via metabólica, como mostrado na

Figura 1 (WAJNER et al., 2001).

Figura 1. Metabolismo dos aminoácidos de cadeia ramificada e a sinalização das etapas

interrompidas pelas acidemiaspropiônica, metilmalônica, isovalérica e glutárica (Adaptado de WAJNER et al., 2001).

Três aminoácidos de cadeia ramificada – leucina, isoleucina e valina – são

quimicamente similares e a primeira etapa para o metabolismo deles é uma

transaminação, formando os alfa-cetoácidos correspondentes. Após esta etapa,

através de um complexo multienzimático, ocorre uma descarboxilação oxidativa e as

vias seguem de forma independente(PAMPOLS & RIBES, 1994; SANJURJO &

BALDELLOU, 2006).

A IVA é causada pela deficiência da enzima isovaleril-CoAdesidrogenasena

via de degradação do aminoácido leucina. De uma forma geral, a enzima transforma

o substrato isovaleril-CoA em 3-metilcrotonil-CoA. No entanto, ao haver falha

enzimática, ocorre o acúmulo intracelular do substrato isovaleril-CoA, como mostra a

Figura 2.

35

Figura 2. Via principal do catabolismo da leucina e bloqueio da enzima isovaleril-CoAdesidrogenase

(1) (Adaptado de VARGAS & WAJNER, 2001)

O substrato isovaleril-CoA, quando descompensado, desencadeia a formação

de metabólitos alternativos (Figura 3), que podem ser encontrados no sangue e na

urina. Do mesmo modo, pode-se encontrar nos fluidos biológicos o próprio isovaleril-

CoA, que se encontra em excesso devido ao seu acúmulo. Essas alterações são

acompanhadas dos seguintes sintomas clínicos: acidose, cetose, acidose lática,

hiperamonemia, hiperglicinemia e níveis diminuídos de carnitina durante as crises

metabólicas (PAMPOLS & RIBES, 1994; SANJURJO & BALDELLOU, 2006).

Também pode ocorrer uma via secundária, que é a via endógena de excreção da

isovaleril-CoA, através da sua conjugação com a glicina. O produto formado é

excretado na urina e os níveis de isovaleril-CoA nos fluidos biológicos são

diminuídos. Esta via é a base dos principais tratamentos de suplementação com

glicina. Outra suplementação importante é a de L-carnitina, que remove o excesso

de ácido isovalérico. Com a suplementação destes dois componentes, associados a

uma dieta com baixa quantidade de proteína, a possibilidade de desenvolvimento de

retardo mental é baixa, porém, o déficit de atenção e de aprendizado ainda assim

podem aparecer (COWETT, 1998).

36

Figura 3. Vias metabólicas alternativas do isovaleril-CoA em caso de interrupção da via principal

(Adaptado de CAMPISTOL et al., 2007).

A PA é causada pela deficiência da enzima propionil-CoAcarboxilase (PCC),

enzima mitocondrial que possui a biotina como cofator do catabolismo dos

aminoácidos isoleucina, valina, treonina e metioninia, dos ácidos graxos de número

ímpar de carbonos e da cadeia lateral do colesterol. Este processo metabólico

fornece como produto o propionil-CoA, que é convertido pela enzima PCC em

metilmalonil-CoA, e seus produtos entram no ciclo de Krebs e na fosforilação

oxidativa, gerando energia. A deficiência da enzima PCC resulta em acúmulo

intramitocondrial de propionil-CoA, que passa a ser metabolizado por vias

secundárias e produz metabólitos secundários, como mostra a Figura 4 (FENTON,

GRAVEL & ROSENBLATT, 2001).

Figura 4. Metabólitos secundários produzidos quando ocorre o bloqueio enzimático da PCC (2)

(FENTON, GRAVEL & ROSENBLATT, 2001).

37

Existe um grande número de metabólitos decorrentes das rotas alternativas, e

a maioria deles são ácidos orgânicos. Eles encontram-se elevados em fluidos

fisiológicos e a identificação deles na urina pode levar ao diagnóstico da doença,

especialmente o metil-citrato e o 3-OH-propionato. O acúmulo de propionil-CoA

intracelular induz a inibição da enzima N-acetilglutamatosintetase e do sistema

mitocondrial de transporte de glicina, levando ao aumento dos níveis de amônia e de

glicina, comumente encontrados em pacientes com enzima deficiente. O propionil-

CoA também pode se conjugar com a carnitina, dando origem à propionil-carnitina. A

produção desse metabólito pode ter como consequência a deficiência secundária de

carnitina no plasma, sendo necessária a sua suplementação(FENTON, GRAVEL &

ROSENBLATT, 2001; SANJURJO & BALDELLOU, 2006).

A MMA é um grupo de EIM de aminoácidos que se caracteriza pelo acúmulo

de metilmalonil-CoA e de ácido metilmalônico nos fluidos biológicos (FENTON,

GRAVEL & ROSENBLATT, 2001; HOFFMAN, 1994). Esse acúmulo pode ser

causado pela deficiência da enzima metilmalonil-CoAmutase (MCM), ou pela

deficiência de seu cofator cobalamina, ambos essenciais para a produção do

substrato succinil-CoA (SANJURJO & BALDELLOU, 2006). Os metabólitos

característicos da PA também podem se acumular secundariamente na MMA, tais

como o ácido propiônico, o 3-OH-propiônico e o substrato metil-citrato e, por conta

disso, as manifestações clínicas de ambas as acidemias são muito semelhantes

(NYHAN, BARSHOP & OZAND, 2005). Normalmente, os sintomas clínicos são

percebidos nos primeiros dias de vida extra-uterina, já que ocorre a perda da função

dialisadora da placenta materna. As manifestações clínicas incluem sintomas

gastrointestinais, vômitos, recusa alimentar, desidratação, apneia, hepatomegalia,

manifestações neurológicas, hipotonia, letargia e convulsões. A demora no

diagnóstico e tratamento podem trazer danos irreparáveis ao sistema nervoso

central da criança, podendo progredir para o coma, danos neurológicos

permanentes ou morte (DEODATO et al., 2006b). Os achados laboratoriais mais

frequentes incluem cetoacidose metabólica, hiperglicemia, hiperamonemia, acidose

lática, anemia, trombocitopenia, deficiência de carnitina livre e aumento de

acilcarnitinas (GOSEN, 2008; LEHNERT et al., 1994).

O tratamento dos pacientes com PA ou MMA deve ser feito com restrição

proteica, administração de cofatores das enzimas deficientes (biotina para a PA e

38

hidroxicobalamina para a MMA) e, principalmente, com a administração de L-

carnitina. Esta substância é capaz de se conjugar e aumentar a excreção dos ácidos

orgânicos acumulados nessas doenças. A enzima carnitina aciltransferase catalisa a

formação de ésteres de carnitina como a propionilcarnitina e metilmalonilcarnitina.

Além disso, a L-carnitina também pode restaurar a razão acil-CoA/CoA livre

intramitocondrial e corrigir a deficiência secundária de carnitina (HOPPEL, 2003;

WALTER, 2003).

2.1.3.3 OUTRAS DOENÇAS DO GRUPO II

Além das doenças explicadas anteriormente, várias outras doenças

apresentam tratamento com L-carnitina. Alguns exemplos resumidos são:

3-Metilcrotonil glicinúria (3-MMM), a Deficiência Isolada de 3-metilcrotonil-CoA

Carboxilase (MCC), Acidúria 3-Hidroxi-3-Metilglutárica (HMG) são falhas no

catabolismo da leucina que causam hipoglicemia, ausência de corpos cetônicos e

acumulo de produtos tóxicos no plasma, urina e tecidos (GRÜNERT et al., 2012);

A Deficiência de Beta-cetotiolase (DLE) é uma anomalia da Acetoacetil-

CoATiolase mitocondrial (T2) envolvida no catabolismo da isoleucina, geralmente

grave, por vezes acompanhados por letargia/coma(GRÜNERT et al., 2012);

A Deficiência de Carnitina Primária (DCP) causa deficiência no transportador

de carnitina impedindo o transporte de ácidos graxos para o interior da mitocôndria,

podendo ocasionar encefalopatia hepática, hipoglicemia e cardiomiopatia

(MCGOVERN et al., 2004);

A Deficiência de Carnitina/AcilcarnitinaTranslocase (CACT) catalisa a troca da

carnitina interna com as acilcarnitinas externas, se apresentam no período neonatal

ou na primeira infância e pode causar morte súbita, além de anomalias neurológicas,

hipoglicemia, hiperamonemia, hepatomegalia e cardiomiopatia (VITORIA et al.,

2015);

A Deficiência da Acil-Coenzima A Desidrogenase de Cadeira Muito Longa

(VLCAD), enzima voltada na beta-oxidação de ácidos graxos de cadeia muito longa,

gera acúmulo dos intermediários reacionais e pode se manifestar ao nascer, na

infância ou na fase adulta. Manifestações metabólicas, diarreia, sonolência extrema,

39

mudança de comportamento, hiperglicemia e vômitos, cardiomegalia, hepatomegalia

e problemas musculares podem ser observadas(TENOPOULOU et al., 2015);

A Deficiência da Desidrogenase das Acil-Coa dos Ácidos Graxos de Cadeia

Média (MCAD) é responsável pela quebra de ácidos graxos para obtenção de

energia, também impede a formação de reservas energéticas. Os sintomas incluem

letargia, hipoglicemia, vômitos e, em casos extremos, convulsões, danos cerebrais,

coma e morte súbita (DRENDEL et al., 2015);

A Deficiência da Palmitoil Carnitina Transferase (CPT-II), que é responsável

pela entrada de ácidos graxos na mitocondria, podelevar à cardiomegalia com

batimento cardíaco irregular, hepatomegalia, fraqueza muscular, perda de apetite,

sonolência extrema, indícios de descompensação metabólica (MALIK et al., 2015);

A Deficiência de SCOT (SCOT)é uma doença recessiva do metabolismo dos

corpos cetônicos. A enzima SCOT é responsável pela ativação do acetoacetato,

transformando-o em acetoacetil-Coa para a utilização pela mitocôndria. Pode

compreender como sintomas a letargia, hipotonia, vômitos e até coma em casos

graves (FUKAO et al., 2011);

A Deficiência de 3-hidroxi-Acil-Coenzima-A-Desidrogenase de Cadeia Longa

(LCHADD), que é responsável pela oxidação dos ácidos graxos de cadeia longa (12

a 16 carbonos), pode desencadear uma cardiomegalia com batimento irregular,

hepatomegalia e fraqueza muscular. Costuma se manifestar na faixa dos 15 a 30

anos, em neonatos pode apresentar como sintomas catarata, imperfeições no

cérebro e óbito.

A escolha da terapêutica adequada dependerá do EIM responsável pela

doença e da substância acumulada ou deficiente que está levando ao desequilíbrio

bioquímico. Uma das principais abordagens de tratamento para esse perfil de

doenças apresentadas é a suplementação de L-carnitina, que evita o acúmulo do

metabólito que causa os sintomas apresentados nas patologias acima descritas (EL

HUSNY & FERNANDES-CALDATO, 2006; SCHWARTZ, SOUZA & GIUGLIANI,

2008).

40

2.2 L-Carnitina

2.2.1 Bioquímica

A L-carnitina é uma amina quaternária com importante função na oxidação de

ácidos graxos, principal fonte de energia das células. Ela é um componente de baixo

peso molecular, sendo sintetizada de forma endógena no fígado, rins e cérebro a

partir de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina. Para esse processo, é

necessária a presença de ferro, ácido ascórbico, niacina e piridoxina (HOPPEL,

2003).

Além da produção endógena, cerca de 75% da L-carnitina presente no

organismo é proveniente da alimentação, sendo as principais fontes a carne

vermelha e os laticínios (EVANS & FORNASINI, 2003). Ela é armazenada

principalmente nos músculos esqueléticos e cardíacos para fornecer rapidamente

energia para as atividades musculares (BREMER, 1983; REBOUCHE & ENGEL,

1984).

A L-carnitina atua no processo de produção de energia no organismo. Ela tem

importante função no transporte dos ácidos graxos para seu local de destino, onde

irá ocorrer a oxidação (produção de energia). Os ácidos graxos são a principal fonte

de energia do organismo e são moléculas orgânicas, de caráter lipofílico. Para

transitarem pelo sistema sanguíneo, são normalmente associados a proteínas

sanguíneas (albumina) para garantir solubilidade em meio aquoso. Entretanto,

quando ligados a proteínas, os ácidos graxos não conseguem penetrar na

mitocôndria, que é seu local de oxidação. Para atingirem a matriz mitocondrial, uma

série de reações enzimáticas deve ocorrer para realizar o transporte do meio extra

mitocondrial para o interior desta organela. Esse processo é de suma importância,

principalmente para ácidos graxos de cadeia longa (BROQUIST, 1994).

A primeira etapa envolve uma família de isoenzimas presentes na membrana

mitocondrial, denominadas acil-CoAsintetases. Nesta etapa, em quehá consumo de

ATP, o ácido graxo é ligado à coenzima A (CoA), formando acil-CoA. Com ação da

enzima carnitina palmitoiltransferase I, o acil-CoA e a carnitina formam o complexo

acil-carnitina, liberando uma CoA. Em seguida, a acil-carnitina é transferida pela

carnitina-acilcarnitinatranslocase para a matriz, ao mesmo tempo em que uma

molécula de carnitina é transportada para o meio extramitocondrial. Na matriz, a acil-

41

carnitina passa pela enzima carnitina palmitoiltransferase II e libera o grupo acil, que

se conjuga com a CoAintramitocondrial, liberando uma molécula de carnitina na

matriz intramitocondrial (Figura 5). Essas reações são importantes para manter

separadas a CoAextramitocondrial da intramitocondrial, já que estas possuem

funções diferentes. A CoA intramitocondrial atua na degradação oxidativa do

piruvato, dos ácidos graxos e de alguns aminoácidos, enquanto que a CoA citosólica

é normalmente utilizada para a biossíntese dos ácidos graxos. Esse processo

mediado pela carnitina regula a oxidação dos ácidos graxos (BROQUIST, 1994;

CHAMPE, HARVEY & FERRIER, 2006; NELSON & COX, 2014).

Figura 5. Transporte dos ácidos graxos do meio extramitocondrial para a matriz mitocondrial com

auxílio de enzimas (Adaptado de NELSON & COX, 2014).

2.2.2 Características Gerais

A L-carnitina (Figura 6) é um pó cristalino branco ou quase branco, com odor

característico, altamente higroscópico e muito solúvel em água. Por conta disso, é

indicado para formulações líquidas (MARTINDALE, 2009).

42

Figura 6. Estrutura da L-carnitina (HOPPEL, 2003).

É solúvel em álcool quente e praticamente insolúvel em acetona. Possui peso

molecular de 161,2g/mol, seu ponto de fusão é entre 196 e 197ºC, seu ponto

isoelétrico é 3,8 e possui densidade aparente de aproximadamente 0,64g/mL. Uma

solução a 5% em água apresenta pH entre 6,5 e 8,5 (SWEETMAN, 2009). As

principais características de identificação estão apresentadas na tabela 01:

Tabela 01. Principais características de identificação da Carnitina

Nome químico 3-hidroxi-4-N-trimetilamino-butirato

Sinônimos Carnitina,

Levocarnitina,

L-carnitina base,

Vitamina BT,

CAS 541-15-1

DCB/DCI 05242 – Levocarnitina

A L-carnitina é encontrada naturalmente nos animais, vegetais e

microrganismos. Em humanos, a sua biossíntese endógena não é suficiente para as

atividades do organismo, sendo necessário adquiri-la exógenamente. A dieta é o

principal meio de obtenção de L-carnitina e os alimentos que apresentam

abundância em sua composição são as carnes vermelhas, derivados lácteos, peixes

e ovos (BREMER, 1983; WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000).

Na década de 80, a empresa suíça Lonza® desenvolveu e patenteou a técnica

para a síntese da L-carnitina em escala industrial, tornando-a acessível à população.

O processo de fabricação da L-carnitina era realizado por reações químicas na

presença de catalisadores quirais. Inevitavelmente, a síntese química conduzia à

43

mistura racêmica dos isômeros L-carnitina (Figura 7e) e D-carnitina (Figura 7d)

(BERNAL et al., 2007; CAVAZZA, 1981; WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000).

L-Carnitina D-Carnitina

Figura 7. Estrutura química das isoformas de carnitina: (e) levógira e (d) dextrógira (HOPPEL, 2003).

Diversos estudos sugerem que a D-carnitina não seja biologicamente ativa.

Isso porque a substância pode se ligar ao sistema de transporte da L-carnitina,

diminuindo a concentração da isoforma levógira nas células e inibir reações

dependentes de levocarnitina, já que a concentração de L-carnitina livre nas células

é um importante regulador para a síntese e degradação de ácidos graxos. Diante

disso, a companhia suíça Lonza® mais uma vez desenvolveu e patenteou um

processo de biotransformação único, estereosseletivo, para a produção de L-

carnitina (livre da isoforma dextrógira) (SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et al., 2010;

WALTER & SCHAFFHAUSER, 2000).

Para contornar o forte odor característico e a alta higroscopicidade da L-

carnitina base, a companhia sintetizou o sal cloridrato de L-carnitina (Figura 8), que

não teve boa aceitação.

Figura 8. Estrutura do sal cloridrato de L-carnitina (C7H15NO3.HCl) (SWEETMAN, 2009).

2.2.3 Efeitos adversos e precauções

Após administração oral, alguns efeitos adversos podem ocorrer, tais como

náuseas, vômitos, diarreia e cólicas abdominais. Para evitar os distúrbios

44

gastrointestinais, a solução oral deve ser ingerida lentamente, com doses espaçadas

e uniformes ao longo do dia. Alguns pacientes podem exalar odor característico,

provavelmente devido à formação do metabólito trimetilamina, o que pode ser

reduzido ou eliminado com a redução da dose (PATRICK, HINCHCLIFFE &

JONATHAN, 2005; SWEETMAN, 2009).

Deve-se evitar administrar doses elevadas de L-carnitina oral por longos

períodos a pacientes com insuficiência renal grave, pois eles não conseguem

eliminar os metabólitos tóxicos trimetilamina e N-óxido de trimetilamina. Além disso,

deve-se monitorar a glicemia de pacientes diabéticos que fazem uso de insulina, a

fim de evitar crises de hipoglicemia (SWEETMAN, 2009).

2.2.4 Farmacocinética

A concentração plasmática de L-carnitina representa a soma do material

endógeno e exógeno. As doses orais de L-carnitina são absorvidas lentamente no

intestino delgado, através de um sistema de transporte dependente de sódio ou via

difusão passiva (LI et al., 1992). Após dose oral de 1 a 6 g de L-carnitina, a

biodisponibilidade encontrada é de 5 a 18% da dose administrada, enquanto que a

biodisponibilidade da L-carnitina proveniente da dieta é superior a 75%. A

concentração máxima é alcançada 3 a 4 horas após a administração oral. A porção

não absorvida é degradada pelos microrganismos presentes no intestino grosso,

conduzindo à formação de metabólitos (REBOUCHE & ENGEL, 1984). Alguns

metabólitos são recuperados na urina (óxido-N-trimetilamina) e nas fezes (γ-

butirobetaína). A L-carnitina possui alta eliminação renal, mas sofre intensa

reabsorção tubular (98-99%). Ela não se liga às proteínas plasmáticas e seu estado

de equilíbrio é alcançado após quatro dias de administração oral (EVANS &

FORNASINI, 2003).

45

2.3 Farmácia Universitária da UFRJ

A Farmácia Universitária (FU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ) atende cerca de 200 pacientes diários vindos de clínicas especializadas,

como as do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) e do

Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ). Eles são

atraídos por medicamentos de qualidade a preço de custo, se tornando um grande

benefício principalmente para pacientes de baixa renda (BARROS, 2016). Uma

grande parcela dos paciêntes provenientes do IPPMG apresentam alguma doença

relacionada a EIM e necessitam de suplementação de L-carnitina para seu

tratamento.

A FU é uma farmácia escola fundada em 1986 pela necessidade de haver um

local que oferecesse estágio em manipulação alopática para os alunos da Faculdade

de Farmácia (FF) da UFRJ. A FU recebe mais de 200 estudantes por ano, da

Faculdade de Farmácia da UFRJ, UFRJ Macaé e do Instituto Federal do Rio de

Janeiro (IFRJ) para realização do estágio curricular obrigatório de manipulação

alopática, que são orientados por farmacêuticos e docentes. A FU possibilita o

contato dos estudantes com a manipulação de formas farmacêuticas e orientação

aos pacientes sobre os principais efeitos adversos do medicamento, instruções de

administração, uso racional e cuidados no armazenamento (BARROS, 2016;

RODRIGUES et al., 2009).

Atuamente apresenta inúmeros projetos relevantes e foi classificada pela Pró-

reitoria de Extensão da UFRJ como um programa de extensão. Vale ressaltar o

caráter multidisciplinar das suas atividades que, ao longos dos anos, vem

desempenhando papel estratégico na formação de estudantes não só de graduação,

mas também de Pós-Graduação, em áreas carentes de recursos humanos, tais

como a busca de novas formulações de medicamentos, assistência farmacêutica,

farmacovigilância e projetos que consolidam a pesquisa na área de cosmetologia

(RODRIGUES et al., 2009).

Com uma grande parcela de pacientes em busca de suplementação de L-

carnitina e sem a existência de uma formulação de L-carnitina existente no mercado,

46

a FU buscou atender às prescrições na forma farmacêutica de pó dispensado em

sachês. O processo, relativamente simples, consiste em transferir a massa

equivalente à dose do ativo para o sachê, proceder com a expulsão do máximo de ar

do interior da embalagem e finalizar com completa selagem.

Porém, a L-carnitina base, sendo extremamente higroscópica, requer

associação com agente dessecante para reduzir a absorção de água durante o

processo de manipulação. Os constituintes da formulação devem ser tamisados

antes da homogeneização, que deve acontecer em gral e pistilo. A mistura deve ser

realizada em progressão geométrica até total homogeneização. O processo descrito,

a pesagem e a selagem do sachê, devem ocorrer o mais breve possível para evitar

grande exposição da formulação à umidade do ambiente. Com esse objetivo, no

máximo vinte sachês eram produzidos a cada manipulação, que contava com a

dedicação de dois funcionários dividindo as tarefas de pesar e selar no menor

intervalo de tempo possível. Mas, mesmo com esses cuidados, a mistura

apresentava grande absorção de água, tornando-se grumosa e, por muitas vezes,

líquida, tornando difícil sua pesagem e envase total da dose (Figura 09). Muitas

vezes não se conseguia manipular a quantidade de sachês planejada e uma

quantidade considerável de mistura tornava-se inutilizada e era descartada.

Figura 09. Ilustração da absorção de água durante o processo de manipulação da mistura (D), durante o processo de pesagem (M) e durante processo de envase (E).

Além dos problemas relativos à produção da formulação, a dispensação sob a

forma de pó leva a problemas na adesão do paciente. Para administração do

conteúdo do sache, é necessário que o pó seja disperso em líquidos ou em

47

alimentos durante as refeições. Este tipo de administração, no entanto, apresenta

alguns inconvenientes, principalmente pela dificuldade em fazer pacientes infantis ou

com dificuldade de deglutição em ingerirem a dose correta em todas as refeições. E

o forte odor característico desagradável da formulação pode dificultar ainda mais a

correta administração. Além disso, alguns sachês (normalmente os últimos

manipulados) podem apresentar conteúdo mais aglomerado (grumado) e apresentar

alteração no escoamento do pó, ficando retido na superfície interna da embalagem,

podendo levar a redução da dose a ser administrada.

Por conta das desvantagens da dispensação da L-carnitina em pó envasada

em sachê, o mais indicado para esse público alvo seria a disponibilização de uma

formulação líquida oral de L-carnitina. O mercado farmacêutico disponibiliza poucos

medicamentos na forma farmacêutica líquida e, até o momento, não existe registro

de formulação líquida oral de L-carnitina com finalidade medicamentosa, apenas

suplementos voltados para o público desportivo, normalmente associado a diversos

componentes vitamínicos e nutrientes energéticos. Por se tratarem de suplementos,

não são considerados como alternativa de tratamento, já que não são produzidos

com a qualidade e exigências necessárias para um medicamento, tornando a

qualidade e a quantidade declarada duvidosa. Em muitos casos, não necessitam

nem de registro em órgão regulatório (VENTURA, 2011).

As formas farmacêuticas líquidas são as mais indicadas para uso em

pediatria, já que, além de facilitarem a administração e contribuir para a adesão dos

doentes à terapêutica, apresentam grande flexibilidade, permitindo o ajuste simples

e rápido das doses que, em função da evolução da patologia e do desenvolvimento

da criança, podem sofrer ajustes. Estes aspectos são particularmente relevantes nos

casos de terapias prolongadas, como no tratamento das doenças relacionadas à

EIM (PINTO; BARBOSA, 2008). Esse público apresenta importantes diferenças e

alterações fisiológicas, além de apresentarem uma série de restrições. Dessa forma,

a formulação deve ser o mais simples possível, com o mínimo de excipientes, mas

sem deixar de apresentar a qualidade e segurança necessárias (EL HUSNY;

FERNANDES-CALDATO, 2006).

48

2.4 Desenvolvimento De Formulações Líquidas

2.4.1 Forma Farmacêutica Líquida

A forma farmacêutica é uma ferramenta fundamental na adesão ao

tratamento farmacoterapêutico, principalmente quando se trata de doenças crônicas,

onde o medicamento pode ser utilizado por longos períodos, além de assegurar a

eficácia e segurança do medicamento. Para pacientes pediátricos, idosos e que

apresentem alguma dificuldade de deglutição, a forma farmacêutica líquida é a mais

adequada, pois facilita a administração do medicamento e confere grande

flexibilidade quanto à dosagem, permitindo ajustes simples e rápidos que podem ser

necessários durante o tratamento (PINTO; BARBOSA, 2008; VENTURA, 2011).

No entanto, o desenvolvimento de formulações líquidas possui fatores críticos

e requer diferentes cuidados para garantia da segurança e qualidade do produto.

Por apresentarem elevado teor de água, estão passíveis de degradação físico-

química, podem apresentar menor estabilidade dos componentes da formulação e

apresentam maior susceptibilidade de proliferação de microrganismos (FERREIRA;

SOUZA, 2011a).

Além disso, a L-carnitina é sintetisada a partir dos aminácidos essenciais

lisina e metionina e, por apresentar estrutura semelhante a de um aminoácido, pode

ser usada como substrato para microrganismos. Bactérias Gram-positivas e Gram-

negativas podem consumir a L-carnitina como fonte de carbono, nitrogênio e de

energia podendo levar à formação de metabólitos indejesados (MEADOWS;

WARGO, 2015; SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et al., 2010). Caso o sistema conservante

não seja eficiente, a concentração da formulação pode ser comprometida, levando a

uma administração de dose subterapêutica, exposição do paciente a produtos de

degradação tóxicos ou ingestão de um número inaceitável de microrganismos

(BILLANY, 2005).

Na tentativa de impedir os problemas apontados, substâncias inertes

denominadas excipientes podem auxiliar no desenvolvimento de soluções mais

estáveis, eficazes e atraentes. Essas substâncias possuem diferentes funções,

sendo comumente usadas para solubilizar, espessar, diluir, estabilizar, conservar ou

flavorizar formulações farmacêuticas. As características organolépticas da

49

formulação são importantes fatores de adesão à terapêutica e diferentes opções de

excipientes são encontrados no mercado (GLASS et al., 2006).

Porém, estudos apontam que essas substâncias consideradas inertes, podem

ser responsáveis por algumas reações adversas relacionadas a medicamentos.

Além disso, alguns adjuvantes são reconhecidamente desaconselhados para uso

em crianças. Os edulcorantes, utilizados para tornar as formulações orais mais

palatáveis, podem conter açúcar sendo contra-indicado para pacientes diabéticos e

com erros inatos de metabolismo. Os corantes também são utilizados nessas

formulações e podem causar reações alérgicas em pacientes com hipersensibilidade

(VENTURA, 2011). Desta forma, a escolha dos excipientes da formulação não pode

ser realizada ao acaso e deve ser feita de maneira criteriosa sendo o mais simples

possível, no intuito de diminuir a probabilidade de reações adversas, mas garantindo

a qualidade e estabilidade da formulação (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR,

2000; GUERRA, 2012).

2.4.2 Excipientes Farmacêuticos Usados Para Soluções Líquidas Orais

Os excipientes são substâncias adicionadas aos compostos

farmacologiamente ativos para permitir a produção de formas farmacêuticas

estáveis, atraentes, eficazes e seguras e, normalmente, representam a maior parte

da forma farmacêutica. Os excipientes podem auxiliar na manutenção da

estabilidade física, química e microbiológica do produto, interferir na disponibilidade

do princípio ativo no organismo, melhorar a aceitabilidade do paciente e manter a

efetividade do produto durante a sua estocagem e uso.Cada excipiente tem uma

função definida no produto e podem funcionar como conservantes, solventes,

edulcorantes, aromatizantes, agentes doadores de viscosiade, veículo, entre outros.

Portanto, sua seleção vai depender das características desejadas do produto final

farmacêutico(AULTON, 2016; BRASIL, 2012a). Os principais tipos de excipientes

utilizados em soluções orais estão descritos abaixo:

2.4.2.1 SOLVENTE: ÁGUA PURIFICADA

A água é o solvente mais usado em formas farmacêuticas líquidas por

apresentar diversas vantagens como a ausência de toxicidade, compatibilidade

50

fisiológica e baixo custo. A água potável apresenta diferentes contaminantes que

podem interferir na qualidade da formulação final. Por isso, a água deve ser tratada

por sistemas de purificação como destilação, troca iônica ou osmose reversa, para

atender aos requisitos de pureza estabelecidos na monografia da Farmacopeia

Brasileira. A água purificada pode ser utilizada na fabricação de soluções não

estéreis de uso não parenteral e em formulações magistrais (BRASIL, 2010a).

2.4.2.2 CONSERVANTES

As formulações líquidas orais apresentam, em sua grande maioria, alto teor

de água em sua composição, o que favorece o crescimento microbiano durante sua

manipulação, armazenamento e uso. Os chamados conservantes são substâncias

usadas para inibir o crescimento microbiano, com o objetivo de prolongar a

estabilidade do produto, principalmente em formulações multidose. Um bom

conservante deve apresentar atividade de amplo espectro contra bactérias,

leveduras e mofos, ser efetivo em baixas concentrações, ser solúvel em água e, de

preferencia, ser incolor e inodoro (AULTON, 2016; PAULO et al., 2013).

Dentre os conservantes mais utilizados em formulações farmacêuticas,

destacam-se os parabenos, usados desde 1932, sendo o metilparabeno e

propilparabeno os mais conhecidos. Eles apresentam amplo espectro de atividade,

são ativos contra fungos e bactérias Gram positivas, mas fracos para as Gram

negativas. Apesar de só serem efetivos em fase aquosa, não apresentam alta

solubilidade em água necessitando de aquecimento prévio. Atuam em uma faixa de

pH de 3 a 8, sendo mais ativos em pH baixo e apresentam sabor não muito

convidativo. São normalmente utilizados entre 0,015 a 0,2% para soluções ou

suspensões orais (SONI et al., 2001).

O benzoato de sódio é o conservante mais antigo e utilizado. É um agente

bacteriostático e fungicida, bastante utilizado em formulações farmacêuticas orais e

considerado seguro quando usado em concentrações inferiores a 0,5%. Possui alta

solubilidade em água a 25°C e é pH depentende, apresentando maior atividade em

valores baixos de pH, quando é convertido em sua forma ativa, o ácido benzóico. É

possível também encontrar o ácido benzóico comercializado como conservante, mas

ele não apresenta boa solubilidade em meios aquosos (LACHMAN; LIEBERMAN;

KANING, 2001; MARTINDALE, 2009; VILAPLANA; ROMAGUERA, 2003).

51

O ácido cítrico é um ácido orgânico normalmente encontrado em frutas

cítricas, solúvel em água e com agradável sabor cítrico. Possue atividade

antimicrobiana devido à sua acidificação do meio e também por sua característica de

quelar íons metálicos, o que diminui o crescimento bacteriano, porém é menos

eficaz no controle de fungos. Não apresenta atividade em soluções com valores de

pH maiores do que 5,5 e sua atividade é potencializada com a diminuição do pH

(MAX et al., 2010).

O ácido sórbico e os sorbatos de sódio ou de potássio são potentes inibidores

de bolores e leveduras, possuindo pouca ou nenhuma efetividade na inibição de

bactérias. Também possuem melhor atividade em baixos valores de pH. É inodoro e

incolor, e utilizado em concentrações inferiores a 0,3% (FERREIRA, 2000b;

GUYNOT et al., 2005).

2.4.2.3 AGENTE PROMOTOR DE VISCOSIDADE

Usados para mudar a consistência de uma preparação, fornecem maior

resistência ao escoamento. São utilizados em formulações orais no intuito de

diminuir o contato do ativo com as papilas gustativas e facilitar a administração

(FERREIRA, 2000b). Alguns exemplos estão descritos abaixo:

A carboximetilcelulose (CMC) é um derivado hidrossolúvel de celulose,

normalmente encontrada na forma sódica (sal de sódio), é higroscópica, altamente

solúvel em água, tanto a frio quanto a quente, inodoro e insípido. É amplamente

utilizado em formulações de uso oral. Vários graus de viscosidade podem ser

comercializados (baixa, média e alta viscosidade) e proporcionam viscosidades

diferentes quando dispersadas em soluções. Apresenta boa estabilidade na faixa de

pH entre 4 e 10 (LUBI, 2002; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990).

A goma xantana é um polissacarídeo constituído de manose, glicose e ácido

glicurônico. A estrutura rígida do polímero e natureza específica da ramificação

fornece uma boa estabilidade da viscosidade de soluções aquosas, não sendo

afetadas por alteração de temperatura e pH(LUBI, 2002).

A hidroxietilcelulose é um polímero derivado da celulose, não iônico, solúvel

em água, estável em formulação de pH entre 2 e 12, entretanto, pode ocorrer

hidrólise em soluções com pH inferiores a 5. Em temperaturas elevadas, apresenta

52

diminuição de viscosidade, o que pode ser revertido com o resfriamento da

formulação. É amplamente usado em preparações de uso oftálmico e tópico, e

estudos sugerem sua administração em formulações orais na administração oral

(LUBI, 2002).

O alginato de sódio também é utilizado como agente suspensor em

formulações orais, com concentração usual entre 1 e 5%. É higroscópico, a solução

aquosa apresenta boa estabilidade quando está na faixa de pH entre 4 e 10. As

soluções de alginato de sódio são susceptíveis à contaminação microbiana, o que

pode alterar sua viscosidade. O mesmo pode acontecer caso a solução seja exposta

à temperaturas superiores a 70°C.

2.4.2.4 ACIDULANTE

É importante a prática de ajuste de pH das formulações manipuladas com o

objetivo de garantir a estabilidade físico-química e microbiológica. Muitos dos

excipientes adicionados à formulação necessitam de uma faixa de pH ideal para

garantir suas atividades na composição da formulação. Solução de ácido cítrico,

solução de ácido clorídrico e solução de ácido acético são importantes exemplos de

acidulantes descritos no formulário nacional 2ª Ed.(BRASIL, 2010a, 2012a;

FERREIRA, 2000b).

2.4.2.5 EDULCORANTES

Formulações líquidas orais podem apresentar sabor desagradável, sendo o

uso de edulcorantes uma forma de melhorar a palatabilidade da formulação,

favorecendo a adesão do paciente ao tratamento. São classificados em naturais,

semissintéticos e sintéticos (BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006).Os principais

edulcorantes utilizados em preparações orais líquidas são: sacarose, sacarina

sódica, aspartame, ciclamato de sódio, sorbitol, manitol e frutose (FERREIRA;

SOUZA, 2011a)

2.4.3 Embalagens Usadas Para Soluções Líquidas Orais

A embalagem primária é destinada ao acondicionamento do produto acabado

e fica em contato direto com o seu conteúdo durante todo o tempo. Pode ser de

53

vidro ou de plástico e deve proteger o produto das condições ambientais

preservando sua estabilidade. Ela não deve interagir fisicamente ou quimicamente

com a preparação e deve preservar a concentração, qualidade e pureza da

formulação. (BRASIL, 2007b, 2010b).

O vidro utilizado na embalagem de produtos farmacêuticos necessita ter

qualidades protetoras superiores, ser quimicamente inerte, impermeável, forte, rígido

e não se deteriorar com o tempo. Para uso farmacêutico, são classificados de

acordo com a resistência ao ataque hidrolítico(ANSEL; POPOVICH; ALLEN

JUNIOR; FERREIRA, 2000c):

• Vidro tipo I – vidro neutro, de alta resistência térmica, mecânica e

hidrolítica. Destinado ao acondicionamento de medicamentos para

aplicação intravascular e uso parenteral.

• Vidro tipo II – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de resistência hidrolítica

elevada. Destinado ao acondicionamento de soluções de uso parenteral,

neutras e ácidas, que não tenham seu pH alterado.

• Vidro tipo III – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de resistência hidrolítica

média, porém com boa resistência mecânica, sem qualquer tratamento

superficial. Destinado ao acondicionamento de soluções de uso oral.

• Vidros tipo NP (Não parenteral) – vidro alcalino do tipo sódico/cálcico, de

resistência hidrolítica baixa e alta alcalinidade. Indicado ao

acondicionamento de produtos não parenterais, de uso tópico e oral.

Embora o vidro tenha muitas características adequadas, atualmente a maioria

dos produtos farmacêuticos são embalados em material plástico. Nesse grupo inclui-

se o polietileno de alta densidade (PEAD), polietileno de baixa densidade (PEBD),

polipropileno (PP), poliestireno (PS), policloreto de vinila (PVC), polietilenotereftalato

(PET) e vários outros. Algumas características de materiais plásticos podem ser

observadas na tabela abaixo:

54

Tabela 02. Principais características dos materiais comumente usados para embalagem

Característica PEAD PEBD PP PS PVC PET

Transparência Opaco

Transp.

Opavo

Transl. Transp. Transp. Transp. Transp.

Absorção de água B B B A B B

Permeabilidade ao vapor d’água B MB MB A B B

Permeabilidade ao oxigênio A A A A B B

Permeabilidade ao CO2 A A A A B B

Legenda: Transp. – Transparente; Transl. – Translúcido; MB – Muito Baixa; B – Baixa; A – Alta.

(adaptado de FERREIRA, 2000c).

Os materiais plásticos são mais leves quando comparados ao vidro,

apresentam maior resistência a impactos reduzindo custos de transporte e perdas,

maior versatilidade no design e cores de embalagens com baixo custo e maior

aceitação do consumidor. Porém, se pode encontrar diferentes problemas na

utilização de embalagens plásticas como: permeabilidade dos recipientes ao

oxigênio atmosférico e ao vapor de umidade, lixiviação dos constituintes do

recipiente para o conteúdo interno, absorção de fármacos do conteúdo para o

recipiente e possível alteração do recipiente após o armazenamento. Algumas

características devem ser levadas em consideração no momento da escolha da

composição do material de embalagem a ser utilizado. Algumas dessas

características podem ser observadas no tabela 03 (LACHMAN; LIEBERMAN;

KANING, 2001; ROCHA et al., 2014).

Tabela 03. Principais resistencias dos materiais comumente usados para embalagem

Característica PEAD PEBD PP PS PVC PET

Resistência a ácidos 4 4 4 3 4 4

Resistência a álcalis 3 3 4 3 3 3

Resistência ao calor 2 4 3 4 3 4

Resistência a alta umidade 5 5 5 5 5 5

Neutralidade (ser inerte) 5 5 3 a 4 1 2 4 Legenda: 1 – Muito baixa; 2 – baixa; 3 – boa; 4 – muito boa; 5 – excelente (adaptado de FERREIRA,

2000c).

55

2.5 Controle De Qualidade De Soluções Orais Magistrais

No Brasil, a atividade farmacêutica magistral é regulamentada pela RDC N°

67/2007 que dispõe sobre as boas práticas de manipulação de preparações

magistrais para uso humano em farmácias, para garantir a qualidade do produto

final. Essa resolução reforça a importância do estabelecimento em ter um laboratório

capacitado de controle de qualidade para realização dos ensaios determinados pela

farmacopeia brasileira 5ª ed.

De acordo com a RDC N°67/2007, para a realização do controle de qualidade

de preparações líquidas não estéreis, deve-se realizar no mínimo os ensaios de

descrição, aspecto, caracteres organolépticos, pH e peso ou volume antes do

envase. Devido a pequena escala de produção, testes destrutivos são

impossibilitados de serem realizados. Desta forma, os principais testes aplicáveis a

soluções orais magistrais produzidos rotineiramente são a determinação da

densidade de massa e determinação do pH. Além disso, podem ser realizados

periodicamente, testes microbiológicos para soluções orais e determinação do teor

do princípio ativo(BRASIL, 2007a, 2010a, 2012a).

2.5.1 Densidade de Massa

A densidade de massa (ρ) de uma substância é a razão de sua massa por

seu volume a 20°C. Ela é determinada considerando a temperatura da solução e é

calculada a partir da densidade relativa (dtt). A densidade relativa de uma substância

é a razão de sua massa pela massa de igual volume de água, ambas a 20°C (d2020).

Ela pode ser determinada com o auxílio de picnômetro.

Deve-se realizar a calibração do picnômetro antes da análise da amostra.

Para realizá-la, deve-se determinar a massa do picnômetro vazio e depois de seu

conteúdo preenchido com água na temperatura de 20°C, recentemente destilada e

fervida. Após a calibração, deve-se determinar a massa do picnômetro preenchido

com a amostra. A partir dessas informações, pode-se calcular a densidade relativa

(d2020) a partir da razão entre a massa da amostra líquida e a massa da água

(BRASIL, 2010b).

56

2.5.2 Determinação potenciométrica do pH

O valor de pH é definido como a medida da atividade do íon hidrogênio de

uma solução. Convencionalmente é usada a escala da concentração de íon

hidrogênio da solução. A água é um eletrólito extremamente fraco, cuja

autoionização produz íon hidrônio (hidrogênio hidratado) e íon hidróxido:

H2O+ H2O �� H3O+ + OH- (Equação III)

As concentrações do íon hidrônio nas soluções aquosas podem variar entre

limites amplos, que experimentalmente vão de 1 a 10-14 M, que é definida pela

relação:

pH = - log [H3O+] = log 1/[ H3O

+] (Equação IV)

Desta forma, a escala de pH é uma escala invertida em relação às

concentrações de íon hidrônio, ou seja, quanto menor a concentração de íon

hidrônio, maior o valor do pH.

A determinação potenciométrica do pH é feita pela medida da diferença de

potencial entre dois eletrodos adequados, imersos na solução em exame. Um destes

eletrodos é sensível aos íons hidrogênio e o outro é o eletrodo de referência, de

potencial constante. Os aparelhos comercialmente utilizados para a determinação de

pH são instrumentos potenciométricos, providos de amplificadores eletrônicos de

corrente com célula de vidro-calomelano, os quais são capazes de reproduzir

valores correspondentes a 0,02 de unidades de pH (BRASIL, 2010).

2.5.3 Doseamento do princípio ativo

O ensaio de doseamento visa quantificar o principio ativo e determinar seu

teor em preparações farmacêuticas. As monografias encontradas nos compêndios

farmacêuticos oficiais apresentam metodologia específica para cada ativo e suas

diferentes formas farmacêuticas. Diferentes técnicas podem ser encontradas e as

mais conhecidas e utilizadas são: métodos volumétricos (titulação),

espectrofotometria, Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) e a

Cromatografia Gasosa (CG). Essas metodologias de análise oficiais são

57

consideradas validadas, onde testes específicos são realizados para demonstrar que

o método analítico produz resultados confiáveis e adequados à finalidade a que se

destina. Métodos não oficiais precisam ser validados conforme disposto na RDC

N°166, de 24 de julho de 2017(BRASIL, 2017a; TERRA; ROSSI, 2005).

A análise volumétrica é efetuada pela determinação do volume de uma

solução, cuja concentração é exatamente conhecida (solução titulante), que reage

quantitativamente com um volume conhecido da solução amostra. A adição da

solução titulante é feita gradativamente para que ocorra a reação entre amostra e

solução titulante. Esse processo é denominado de titulação. Quando a reação entre

o titulante e o titulado é completa, obtém-se o ponto de equivalência ou ponto

estequiométrico, que é acompanhado de modificação física provocada pela própria

reação ou pela adição de uma solução indicadora. A concentração da amostra é

definida a partir do volume usado da solução titulante na reação. É considerado um

método de baixo custo e de fácil acesso(PAVIA; LAMPMAN; VYVYAN, 2013).

A espectrofotometria na região UV-VIS do espectro eletromagnético é uma

das técnicas analíticas mais empregadas, em função de sua robustez e custo

relativamente baixo. A incidência de uma radiação continua (feixe de luz) sobre uma

amostra resulta em absorção da radiação, onde átomos e moléculas passam de um

estado de energia mais baixa (estado fundamental) para um estado de energia

maior (excitado) e a diferença entre as energias encontradas (entre os estados

excitado e fundamental) pode ser quantificada. A absorção de energia depende da

estrutura eletrônica da molécula e, por isso, a espectroscopia de absorção na região

do ultravioleta-visível (UV-VIS) tem ampla aplicação na caracterização de espécies

orgânicas e inorgânicas. A absorção é influenciada pela concentração da amostra e

pela estrutura do analito analisado. De acordo com o intervalo de frequência da

energia eletromagnética aplicada, a espectrofotometria de absorção pode ser

dividida em ultravioleta, visível e infravermelho(BRASIL, 2010; PAVIA; LAMPMAN;

VYVYAN, 2013).

A cromatografia gasosa (CG) é uma técnica de separação cromatográfica

baseada na diferença de distribuição de espécies de uma mistura entre duas fases

não miscíveis, na qual a fase móvel é um gás de arraste que se move através da

fase estacionária contida em uma coluna. É baseada no mecanismo de adsorção,

58

distribuição de massa ou exclusão de tamanho. É aplicada a substâncias e seus

derivados que se volatilizam sob as temperaturas empregadas e é aplicada para

testes de identificação, de pureza e determinação quantitativa (BRASIL, 2010).

A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é uma técnica de separação

cromatográfica fundamentada na distribuição dos componentes de uma mistura

entre duas fases imiscíveis: a fase móvel (líquida) e a fase estacionária (sólida,

líquida ou super fluida) que se encontra retira na coluna cromatográfica. O

cromatógrafo é constituído por um sistema de bombeamento, injetor, coluna

cromatográfica (em alguns casos onde a metodologia de análise exigir temperaturas

superiores à ambiente, pode ser acoplado um forno), um detector (o mais utilizado é

o UV/VIS) e um sistema de aquisição de dados (ANTUNES, 2015; EUROPEAN

PHARMACOPOEIA, 2004). A representação dos componentes pode ser visualizada

na figura abaixo:

Figura 10. Representação esquemática de um sistema de cromatografia líquida. 1 –

Sistema de acondicionamento de Fase Móvel; 2 – Bomba; 3 – Injetor; 4 – Coluna cromatográfica; 5 – Detector; 6 – Sistema de aquisição de dados; 7 – Computador

(adaptado de Applies Porous Technologies Inc, 2004)

Os sistemas de bombas disponíveis atualmente podem oferecer sistemas de

eluição isocráticos, onde a fase móvel é formada por um único solvente ou por uma

mistura de solventes de composição constante, sistema de eluição por gradiente,

com composição variável ao longo da corrida. As fases estacionárias são

armazenadas em colunas cilíndricas de alta pressão denominadas de coluna

cromatográfica. Quando sistemas são compostos por fase estacionária polar e fase

móvel apolar, é definido como cromatografia de fase normal, enquanto o oposto

59

(fase estacionária apolar e fase móvel polar) é denominada de cromatografia de fase

reversa. A afinidade de uma substância pela fase estacionária e, consequentemente,

seu tempo de retenção na coluna é controlado pela polaridade da fase móvel em

relação à fase estacionária (BRASIL, 2010).

2.5.4 Controle microbiológico

A contaminação microbiana de um produto não estéril pode conduzir não

somente à sua deterioração, com perda da estabilidade físico-química, mas também

ao risco de infecção para o usuário. A L-carnitina é sintetisada a partir dos

aminácidos essenciais lisina e metionina e, por apresentar estrutura semelhante a

de um aminoácido, pode ser usada como substrato para microrganismos. Bactérias

Gram-positivas e Gram-negativas podem consumir a L-carnitina como fonte de

carbono, nitrogênio e de energia podendo levar à formação de metabólitos

indejesados (Figura 11) (MEADOWS; WARGO, 2015; SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ et

al., 2010).

Figura 11 – Metabólitos possiveis da L-carnitina quando consumida por microrganismos

(MEADOWS & WARGO, 2015).

Por conta disso, produtos farmacêuticos orais não estéreis devem ser

submetidos aos controles de contaminação microbiana. Os ensaios microbiológicos

para preparações aquosas para uso oral não estéril são: contagem total de bactérias

60

aeróbias (máximo permitido de 10² UFC/mL), contagem total de fungos/ leveduras

(máximo permitido de 10 UFC/mL) e a pesquisa do patógeno específico Escherichia

coli (deve ser ausente em 1mL de formulação) (BRASIL, 2010b).

2.6 Estudo De Estabilidade

A estabilidade de preparações magistrais é o período no qual um produto

manipulado mantém, dentro dos limites especificados e nas condições de

armazenamento e uso, as mesmas características e propriedades que apresentava

ao final de sua manipulação. Formulações líquidas, principalmente as aquosas,

podem apresentar suscetibilidade à degradação físico-química e microbiológica

podendo implicar no comprometimento da estabilidade da formulação (BILLANY,

2005; LACHMAN; LIEBERMAN; KANING, 2001).

Os estudos de estabilidade têm como objetivo gerar evidências sobre as

variações que podem ocorrer com a formulação em função do tempo, diante de

fatores ambientais como temperatura, umidade e luz. As informações obtidas

também orientam quanto ao prazo de validade do medicamento e as condições de

armazenamento. Tais estudos se iniciam no desenvolvimento da formulação,

quando são avaliados fatores intrínsecos como a fórmula em si, a compatibilidade

entre seus componentes, pH e adequação da embalagem primária, entre outros

fatores. Uma vez definido, o produto farmacêutico segue por longo período de

armazenamento, em sua embalagem final, sob condições controladas de

temperatura e umidade, simulando aquelas em que o produto estará exposto, e

passa por avaliações físico-químicas e microbiológicas (ANSEL; POPOVICH; ALLEN

JUNIOR, 2000; BRASIL, 2012a).

Para as indústrias, atualmente são definidos três tipos de estudo de

estabilidade: acelerado, que é projetado para acelerar a degradação química e/ou

mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições forçadas de

armazenamento, estudo de longa duração que é projetado para verificar as

características físicas, químicas, biológicas e microbiológicas de um produto

farmacêutico durante seu prazo de validade, e o estudo de acompanhamento que é

realizado para verificar se o produto farmacêutico mantêm suas características

61

encontradas no estudo de estabilidade de longa duração (BRASIL, 2012a; SILVA et

al., 2009).

Todos os estudos descritos acima são realizados para determinação do prazo

de validade considerando o produto em sua embalagem primária lacrada, ao abrir a

embalagem para uso, um medicamento multidose adquire a característica de um

medicamento extemporâneo, onde o manuseio e as condições de exposição

desconhecidas não foram avaliadas previamente em estudos de estabilidade(

BRASIL, 2012a).

O medicamento magistral é produzido de forma personalizada, para atender a

necessidade particular de um paciente para uso imediato, sendo considerada uma

preparação extemporânea. Dessa forma, não se atribui a ele um prazo de validade,

mas sim uma data limite para uso denominada de “Prazo de Uso”. A definição dessa

data limite tem sido um grande desafio, pois a estabilidade de produtos

extemporâneos pode variar de uma formulação para outra, dependendo do fármaco

utilizado, da composição da formulação, da forma farmacêutica do produto final, do

processo de manipulação, da embalagem e de condições de armazenamento, entre

outros diversos fatores que podem alterar a estabilidade da formulação (ANSEL;

POPOVICH; ALLEN JUNIOR; BRASIL, 2012a; FERREIRA, 2010).

Na tentativa de determinar o melhor prazo de uso de medicamentos

multidose, pode-se realizar o estudo de estabilidade em uso, que é projetado para

verificar a manutenção da qualidade do produto em situações semelhantes às de

uso, quando ocorre a abertura e subsequentes reaberturas da embalagem primária,

simulando as condições de conservação do produto pelo período de tempo

recomendado para o tratamento (BRASIL, 2010c).

O estudo de estabilidade deve ser conduzido em ambiente com condições de

temperatura e umidade controladas. Para determinação das condições de

armazenagem, deve-se levar em conta as características da Zona Climática em que

o Brasil se encontra, que é a zona IV com temperatura ambiente de 30°C ± 2°C e

umidade relativa de 70 ± 5%. E, para formulações que necessitem ser

acondicionadas sob baixas temperaturas, a temperatura de condicionamento

durante o teste deve ser de 5°C ± 3°C. Já para o estudo de estabilidade acelerado, a

temperatura deve ser de 40°C ± 2°C e umidade relativa de 75% ± 5%. Ao usar

62

embalagem de material impermeável a umidade não precisa ser controlada(BRASIL,

2012a).

Para avaliar a estabilidade contra fatores extrínsecos podem ser realizados

testes de degradação forçada, onde a formulação é avaliada sob efeitos da

temperatura, oxidação, luz e susceptibilidade à hidrólise em ampla faixa de pH. O

estudo permite a geração de produtos de degradação e, dessa forma, avaliar a

seletividade e especificidade do método analítico, bem como obter informações

acerca das possíveis rotas de degradação do produto (BRASIL, 2012b).

63

3 JUSTIFICATIVA

A relevância deste trabalho se baseia nos benefícios alcançados com a

suplementação de L-carnitina em pacientes portadores de erros inatos do

metabolismo. A reposição contínua desta substância pode proporcionar melhor

qualidade de vida aos pacientes fornecendo melhoria dos sintomas e prevenção de

graves sequelas.

A L-carnitina não possui preparação medicamentosa industrializada na forma

líquida no Brasil e é geralmente dispensada em farmácias de manipulação sob a

forma de pó (sachê) para mistura em alimentos ou líquidos durante refeições. Este

tipo de administração, no entanto, apresenta alguns inconvenientes, principalmente

pela dificuldade em fazer pacientes infantis ou com dificuldade de deglutição, que

necessitam de multidoses diárias, em ingerirem a dose correta em todas as

refeições. A apresentação em solução oral facilitaria também a administração do

medicamento por pacientes com sondas de gastrostomia.

Algumas características da formulação podem se tornar um desafio, como o

fato de formas farmacêuticas líquidas apresentarem alta proporção de veículo

aquoso, tornando propício o crescimento de microrganismos. Além disso, a L-

carnitina pode ser utilizada como fonte de carbono, nitrogênio e reserva energética,

sendo considerada um bom substrato para bactérias. A formulação também deve

apresentar boa textura satisfatória e a capacidade de agradar o paladar do público

alvo, que é formado em sua maioria por pacientes infantis e com alterações

metabólicas. Por conta disso, a formulação a ser desenvolvida deve ser o mais

simples possível, utilizando o mínimo de excipientes, mas apresentando boa

estabilidade físico-química e microbiológica, garantindo a qualidade e segurança da

formulação.

64

4 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma solução aquosa

magistral de L-carnitina, avaliando sua estabilidade físico-química e microbiológica

em diferentes tempos e sob diferentes condições. Este estudo visa disponibilizar

essas soluções aos pacientes portadores de patologias associadas a Erros Inatos de

Metabolismo (EIM) atendidos pela Farmácia Universitária da UFRJ, com apelo

especial para os que realizam tratamento no Instituto de Puericultura e Pediatria

Martagão Gesteira (IPPMG), o hospital pediátrico da UFRJ.

4.2 Objetivos Específicos

1- Desenvolvimento e caracterização da formulação líquida de L-carnitina;

2- Desenvolvimento e validação de metodologia analítica para solução oral de

L-carnitina;

3- Estudo de estabilidade físico-química e microbiológico;

4- Estudo dedegradação forçada das formulações.

65

5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Materiais

As matérias-primas e reagentes utilizados foram de grau analítico, e os

solventes utilizados foram de grau HPLC. Todos os equipamentos e vidrarias

utilizados encontravam-se previamente calibrados. As soluções foram preparadas

com água destilada e água Milli-Q.

5.1.1Matérias-primas e Reagentes

• Ácido Cítrico (Infinity Pharma);

• Ácido p-aminobenzóico (Sigma);

• Ácido clorídrico (Vetec);

• Ácido fosfórico 85% (Tedia);

• Água destilada (FU);

• Água ultrapurificada (Milli-Q);

• Benzoato de sódio(Farmos);

• Brometo de potássio (Shimadzu);

• Carboximetilcelulose (Farmos);

• Filtro 0,45µm (Chromafil);

• Membrana de celulose regenerada 0,45µm para filtração de fase aquosa

(Merck);

• Heptanosulfonato de sódio (Sigma);

• Hidróxido de sódio (Vetec);

• L-carnitina Matéria-prima (Infinity Pharma);

• Padrão SQR de L-carnitina (Sigma);

• Metanol (Vetec);

• Metilparabeno (Farmos);

• Peróxido de hidrogênio 3% (Vetec);

• Solução tampão padrão pH 4,01 (Merck);

• Solução tampão padrão pH 7,01 (Merck);

• Sulfato de cobre (Vetec).

66

5.1.2 Equipamentos e acessórios

• Agitador mecânico com haste de hélice (Fisatom);

• Balança analítica (Sartorius);

• Banho de ultrassom (LGI);

• Caneco de aço inoxidável de 200mL, 500mL, 1000mL e 3000mL;

• Coluna cromatográfica C18 3,9 x 300mm - 10µm 125A (Waters);

• Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) (Shimadzu LC-20AT);

• Detector de arranjo de diodos (DAD – UV/VIS) (Shimadzu SPD-M20A);

• Espectrofotômetro de Transformada de Fourier (ShimadzuIRPrestige-21);

• Filtro de vidro, suporte e papel de filtro;

• Placa de aquecimento e agitação (IKA C-MAG HS7);

• Potenciômetro (Meter 922);

• Pipetador automático 5000µL.

5.2 Métodos

5.2.1 Análise de identificação da L-Carnitina

Para identificação e caracterização da L-Carnitina foi realizada a análise de

Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR). Essa técnica

fornece evidências da presença de grupos funcionais presentes na estrutura do

ativo, confirmando sua composição química. Para obter as medidas, a radiação no

infravermelho passa através da amostra e é comparada com aquela transmitida na

ausência de amostra. O espectrofotômetro registra o resultado na forma de bandas

de absorção. A região do espetro eletromagnético de maior interesse para essa

técnica se encontra entre 4000 a 400 cm-1 (FORATO et al., 2010).

As amostras foram preparadas com a mistura de 3mg de L-carnitina,

previamente seca à vácuo por 5 horas a temperatura de 50°C, com 297 mg de

brometo de potássio (KBr). A mistura homogeneizada foi compactada em prensa

hidráulica, sob pressão de 15 bar por 2 minutos. As pastilhas formadas foram

levadas ao espectrofotômetro para análise e a faixa de varredura dos espectros foi

feita entre 4000 a 400 cm-1, com resolução de 4 cm-1. O espectro é formado pela

intensidade das bandas de absorção dada em transmitância, e a posição em

67

número de onda (cm-1). As bandas observadas no espectro foram caracterizadas de

acordo com os grupos funcionais presentes na estrutura do ativo e comparada com

literatura (USP, 2016).

5.2.2 Desenvolvimento das formulações

Foram manipuladas 10 formulações diferentes de L-carnitina. Foram

produzidos lotes de bancada de 100mL de cada solução com o objetivo de

selecionar a melhor formulação. A técnica de preparo envolveu a dissolução da L-

carnitina em veículo aquoso (água destilada), seguida da adição do agente

conservante. Após total dissolução dos componentes, completou-se o volume final

com o veículo e filtrou-se a formulação em papel de filtro. Após essas etapas, as

soluções foram levadas ao agitador mecânico acoplado com haste em hélice e

polvilhou-se o agente de viscosidade, mantendo sempre agitação constante e

intensa até total incorporação nas formulações. Para ajuste do pH foi adicionada

quantidade suficiente de solução de ácido cítrico 50% até o pH indicado de cada

formulação (essa etapa contou com o auxílio do potenciômetro). Antes do envase,

realizou-se a conferencia do volume final. As proporções dos componentes

utilizados nas formulações estão descritas na Tabela 04.

As soluções foram acondicionadas em frascos de vidro neutro âmbar de 60

mL, com tampa branca de rosca e batoque e volume suficiente para preencher dois

terços da capacidade do frasco. Antes do envase, os frascos foram lavados,

higienizados com álcool 70% (p/p) e secos (ANVISA, 2004).

68

Tabela 04. Descrição dos excipientes utilizados nas formulações testadas e suas proporções.

Componentes F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8

L-carnitina 10% 10% 10% 10% 20% 20% 20% 20%

Benzoato de sódio 0,3% 0,4% - 0,3% 0,4% 0,3% - 0,2%

Metilparabeno - - 0,1% - - - - 0,1%

Ácido Cítrico q.s. q.s. q.s. 0,9% - 1,8% 1,8% q.s.

pH 5,5 5,5 5,5 5,0 5,0 5,0 5,0 5,5

Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3%

Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p.

Legenda. F = Formulação; q.s.= “Quantidade suficiente” para pH 5,5; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”.

5.2.3 Metodologia De Análise Físico-Química

5.2.3.1 Determinação Do Aspecto

Após prévia agitação da solução, observou-se cor, homogeneidade, turvação e

presença precipitado. As avaliações foram realizadas no dia do preparo do produto e

após o(s) período(s) de exposição indicado(s) nos estudos de estabilidade (BRASIL,

2010; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990).

5.2.3.2 Determinação do odor

Para determinação do odor, foram realizados movimentos circulares com a

solução, próximo ao nariz para avaliação olfativa. As avaliações foram realizadas

após o preparo do produto e nas datas determinadas nos testes de estabilidade

(BRASIL, 2010; PRISTA; ALVES; MORGADO, 1990).

5.2.3.3 Determinação do pH

As determinações potenciométrica do pH foram realizadas no potenciômetro

digital, previamente calibrado com as soluções tampão padrões. A determinação do

pH foi efetuada diretamente na amostra, procedendo-se três leituras consecutivas e

69

obtendo-se como resultado a média das leituras (BRASIL, 2010b). A amostra deve

apresentar pH entre 4 e 6 (USP, 2016).

5.2.3.4 Determinação da densidade de massa

Para determinação da densidade de massa das amostras (ρt), utilizou-se

picnômetro para líquidos limpo e seco, com capacidade para 25mL. Inicialmente,

pesou-se o picnômetro e, em seguida transferiu-se água destilada, recentemente

destilada e fervida, a 20°C para o picnômetro e registrou-se a massa encontrada.

Obteve-se a massa de água pela diferença entre as massas obtidas. Após o

picnômetro estar limpo e seco, transferiu-se a amostra e removeu-se o excesso da

substância, caso necessário, e pesou-se. Obteve-se a massa da amostra pela

diferença da massa do picnômetro cheio e vazio. Registrou-se a temperatura

encontrada da solução amostra e calculou-se a densidade relativa (d2020) pela razão

entre a massa da amostra e a massa da água (expressa em g/mL ou kg/L). A partir

desse resultado, encontrou-se a densidade de massa da amostra (BRASIL,2010).

ρt = d (água) x dtt + 0,0012 (Equação I)

Onde: ρt = densidade de massa

dtt = densidade relativa (ver equação II)

d (água) = densidade da água na temperatura registrada (ver tabela 2)

Tabela 05.Densidade da água de 20 a 30°C (adaptado de BRASIL, 2010).

TEMPERATURA (°C) DENSIDADE (g/L) TEMPERATURA (°C) DENSIDADE (g/L)

20 0,99820 25 0,99704

21 0,99799 26 0,99678

22 0,99777 27 0,99651

23 0,99754 28 0,99623

24 0,99730 29 0,99594

70

5.2.3.5 Determinação do teor do princípio ativo

A análise das amostras foi realizada por Cromatografia Líquida de Alta

Eficiência (CLAE) conforme metodologia de análise para solução oral de L-carnitina

descrita na Farmacopeia Americana (USP,2017). Todos os padrões utilizados para

preparo das soluções descritas abaixo foram pesados em balança analítica com

quatro casas decimais, os balões volumétricos utilizados foram devidamente

calibrados, as soluções padrões e soluções amostra foram avolumadas com água

ultra purificada, homogeneizadas e filtradas com filtro de poro 0,45µm. Os ensaios

foram realizados em triplicata.

5.2.3.5.1 PREPARO DE CURVA PADRÃO

Foi preparada solução padrão de L-carnitina 04 mg/mL e, a partir desta, foram

feitas as soluções para a curva padrão nas concentrações de 1,6, 1,8, 2,0, 2,2, 2,4 e

2,6 mg/mL. As alíquotas foram transferidas para balão volumétrico, avolumadas com

água ultrapurificada.e filtradas em filtro 0,45µm.

5.2.3.5.2 PREPARO DE SOLUÇÃO DE PADRÃO INTERNO

Preparou-se uma solução de ácido p-aminobenzóico com concentração final

de 0,02 mg/mL, avolumando-se com água ultrapurificada.

5.2.3.5.3 PREPARO DE SOLUÇÃO PADRÃO

Para preparo da Solução Padrão, transferiu-se 10,0 mg de L-carnitina para

balão volumétrico de 5,0 mL, adicionou-se 1mL da Solução de Padrão Interno e

completou-se o volume com água ultra purificada .

5.2.3.5.4 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA ESTOQUE

Para o preparo das Soluções Amostras Estoques, preparou-se soluções finais

com concentração de ativo de 10,0 mg/mL. Desse modo, para análise de

formulações de L-carnitina a 10%, transferiu-se alíquota de 5,0 mL de amostra para

balão volumétrico de 50,0 mL e avolumou-se com água ultrapurificada. Já para

análise de formulações de L-carnitina a 20%, transferiu-se alíquota de 5,0 mL de

71

amostra para balão volumétrico de 100,0 mL e completou-se o volume com água

ultra purificada.

5.2.3.5.5 PREPARO DE SOLUÇÃO AMOSTRA

Para preparo da solução amostra, foram transferidos 5,0 mL de Solução

Amostra Estoque para balão volumétrico de 25,0 mL. Adicionou-se 5,0 mL de

Solução de Padrão Interno e avolumou-se com água ultrapurificada. As soluções

finais foram filtradas em filtro de porosidade 0,45 µm.

5.2.3.5.6 INFORMAÇÕES DE SISTEMA CROMATOGRÁFICO

As análises foram realizadas em Cromatógrafo Líquido utilizando coluna

cromatográfica C18 (30 cm x 3,9 mm, 10 µm), com fase móvel composta por uma

mistura de 555mg de 1-heptanosulfonato de sódio, 980mL de Tampão Fosfato

0,05M pH 2,4 e 20mL de Metanol, que foi filtrada através de membrana de celulose

regenerada de porosidade 0,45µm, sob vácuo. O volume de injeção foi de 40 µL,

com fluxo de 1,5mL/min, sistema mantido a temperatura ambiente e tempo de

corrida de 15 min. A detecção foi realizada com detector DAD, com monitoramento

no comprimento de onda de 225 nm (USP, 2018).

De acordo com a Farmacopeia dos Estados Unidos (USP 40, 2017), o teor de

L-Carnitina em soluções orais deve estar entre 90 e 110% do valor declarado.

A partir dos resultados encontrados para a curva padrão, foi determinada a

equação da reta e os valores de coeficiente de correlação (R), coeficiente angular

(a) e coeficiente de determinação (R2). O critério mínimo aceitável de coeficiente de

correlação (R) é de 0,99. A partir da equação da reta, obteve-se a concentração

nominal de L-carnitina nas soluções amostras (BRASIL, 2017a).

5.2.3.5.7 ADEQUAÇÃO DO SISTEMA

O tempo de retenção relativo para L-carnitina e para o ácido p-aminobenzóico

é, respectivamente, 0,56 e 1,0. A resolução entre os picos de L-carnitina e do padrão

interno não deve ser menor que 1,5. E o desvio padrão relativo (DPR) não deve ser

maior que 2,0% (USP, 2016).

72

5.2.4 Validação Parcial da Metodologia de Análise de Doseamento

A Farmacopeia dos Estados Unidos (USP 40° Edição) contempla em seu

conteúdo, a monografia correspondente à solução oral de L-carnitina. Os métodos

analíticos compendiais devem ter sua adequabilidade demonstrada ao uso

pretendido, necessitando passar por um estudo de validação parcial. Esse

procedimento visa garantir que os resultados obtidos sejam confiáveis e

reprodutíveis. A validação parcial deve avaliar, pelo menos, os parâmetros de

precisão, exatidão e seletividade (BRASIL, 2017a).

Para a realização da validação parcial do método de doseamento da L-

carnitina em solução oral, foram usados critérios estabelecidos pela Resolução RDC

N° 166, de 24 de julho de 2017 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA).

5.2.4.1 Precisão

A precisão de um método analítico expressa a proximidade entre os

resultados obtidos de uma série de medidas obtidas de uma mesma amostra

homogênea em condições determinadas (BRASIL, 2017a). Em geral, a precisão

pode ser definida em níveis de repetibilidade (mesmas condições em um curto

intervalo de tempo) e precisão intermediária (diferentes dias e/ou diferentes

analistas) (VALDERRAMA; BRAGA; POPPI, 2009).

Foram analisadas seis diferentes soluções de L-carnitina com concentração

de 10mg/mL. As análises foram realizadas sob as mesmas condições de operação,

mesmo analista e mesma instrumentação, em uma única corrida. O procedimento foi

realizado em dois dias diferentes.

A precisão foi demonstrada calculando-se o desvio padrão relativo (DPR) da

série de medições, conforme Equação III (BRASIL, 2017a).

DPR = DP x 100 (Equação III) CMD

Onde: DPR = desvio padrão relativo

DP = Desvio padrão

CMD = Concentração média determinada

73

5.2.4.2 Exatidão

A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos

pelo método avaliado em relação ao valor verdadeiro. É expressa pela relação entre

a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica

(BRASIL, 2017a).

Foram preparadas soluções padrões de L-carnitina nas concentrações de 1,6,

2,0 e 2,4 mg/mL, representando os níveis de concentração baixo (80%), médio

(100%) e alto (120%). Foram realizadas análises em triplicata para cada nível

mencionado. O cálculo da exatidão pode ser calculado pela equação IV (BRASIL,

2017a).

Exatidão = CME x 100 (Equação IV) Cteórica

Onde: CME = Concentração Média Experimental

Cteórica = Concentração teórica

5.2.4.3 Seletividade

Seletividade é a capacidade que o método possui em identificar ou quantificar

o analito de interesse na presença de outros componentes como impurezas,

produtos de degradação, diluentes e componentes da matriz.

Foi preparada solução padrão de L-carnitina na concentração de 2,0 mg/mL,

levada para analise e comparada com:

• Amostra preparada com matéria prima do ativo na mesma concentração;

• com solução contendo todos os componentes da formulação

desenvolvida;

• com solução contendo apenas o veículo das formulações (branco);

• com fase móvel.

Esses testes foram realizados para comprovar que os picos de interesse não

sofrem interferência com a presença de nenhum componente utilizado (BRASIL,

2017a). Para demonstrar ausência de interferência de produtos de degradação, foi

realizado estudo de degradação forçado (item 5.2.7) para expor a amostra a

condições de degradação em ampla faixa de pH, de oxidação, de calor e de luz.

74

5.2.4.4 Linearidade

A linearidade de um método deve demonstrar sua capacidade de obter

respostas analíticas proporcionais à concentração do analito em uma amostra dentro

de um intervalo específico (BRASIL, 2017a).

Foi desenvolvida uma curva de calibração onde o sinal analítico denominado

variável dependente y é linearmente proporcional à sua concentração, denominada

variável independente x. Com os resultados obtidos obteve-se a equação da reta

com estrutura definida como (RIBEIRO et al., 2008):

y = ax + b (Equação V)

Onde: y = variável referente ao sinal analítico

a = Coeficiente angular

x = variável referente à concentração da amostra (mg/mL)

b = Coeficiente linear

Para preparo de três curvas de calibração, foram preparadas soluções

padrões de L-carnitina, em dias diferentes, nas concentrações de 1,6, 1,8, 2,0, 2,2,

2,4 e 2,6mg/mL. Os resultados foram tratados por métodos estatísticos para

determinação da equação da reta, do coeficiente de correlação (r) e do coeficiente

angular (a). O critério mínimo aceitável para o coeficiente de correlação (r) é de

0,990 e o coeficiente angular (a) deve ser significativamente diferente de zero. A

partir das curvas de calibração, estimou-se o limite de detecção (LD) e o limite de

quantificação (LQ) a aplicando as equações VI e VII (BRASIL, 2017a):

• Limite de detecção

LD = (3,3 x DP) (Equação VI) IC

• Limite de quantificação

LQ = (DP x 10) (Equação VII) IC

75

Onde: DP = desvio padrão do intercepto com o eixo Y das 3 curvas de calibração

IC = inclinação da curva de calibração

5.2.4.5 Faixa de trabalho

A faixa de trabalho foi estabelecida determinando o limite de quantificação

inferior e superior do método validado. Neste caso, o intervalo utilizado foi de 80 a

120% da concentração teórica do teste. A faixa foi estabelecida uma vez que o

método apresenta exatidão, precisão e linearidade adequada quando aplicados a

amostras de concentração dentro do intervalo especificado (BRASIL, 2017a).

5.2.5 Metodologia de Análise Microbiológica

As análises microbiológicas das formulações desenvolvidas foram realizadas

em parceria com a Professora Doutora Helena Keiko Toma, coordenadora do

Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos, Alimentos e Cosméticos

(LACMAC) da Faculdade de Farmácia da UFRJ. As formulações foram submetidas

aos ensaios para soluções orais não estéreis, definidos pela Farmacopéia Brasileira

5° Edição, que conta com as análises de contagem total de bactérias aeróbicas,

contagem total de bolores e leveduras e pesquisa de patógenos (Escherichia coli).

5.2.5.1 Análise microbiológica

Higienizou-se a parte externa do frasco a ser analisado com álcool 70%. Em

fluxo laminar, transferiu-se 10 mL da amostra para 90 mL de solução de diluição

(tampão fosfato - pH 7,2) e ajustou-se o pH da solução final para 7 com HCl 0,1 M

ou NaOH 0,1 M (Solução 1:10). Repetiu-se o procedimento, transferindo 10 mL da

solução recém-preparada para 90 mL de solução de diluição, fazendo o ajuste

necessário para manter o pH final em 7 (solução 1:102). Repetiu-se o procedimento

para obter a solução 1:103. Esses meios foram mantidos por 24horas para

fortificação. Após esse período, transferiu-se 0,1 mL das soluções preparadas para

placas de Petri contendo 15mL de meio de cultura adequado para cada análise

(Tabela 06). Incubou-se as placas conforme temperatura e período indicado para

76

cada análise, apresentados na Tabela 06. Tomou-se a média aritmética das placas

de cada meio e calculou-se o número de UFC/mL do produto.

Tabela 06. Características de incubação dos testes microbiológicos

TESTE MEIO DE CULTURA TEMPERATURA TEMPO

Contagem total de bactérias aeróbias

Ágar caseína-soja 32,5ºC ± 2,5°C Até 7 dias

Ágar Sabouraud-dextrose 22,5°C ± 2,5°C Até 5 dias

Leveduras e fungos Ágar Sabouraud-dextrose 22,5ºC ± 2,5°C 5 a 7 dias

Patógeno específico (E.coli) Caldo MacConkey 32,5ºC ± 2,5°C 18 – 72 h

5.2.6 Estudo de Estabilidade

5.2.6.1 Estudo Prévio de Estabilidade

As amostras desenvolvidas no item “5.2.2 Desenvolvimento das formulações”

que não apresentaram incompatibilidades farmacotécnicas, foram encaminhadas

para estudo de estabilidade prévio. Nessa etapa elas foram avaliadas pelas análises

físico-químicas de aspecto, odor e pH, descritas no item “5.2.3 Metodologia de

Análise Físico-química”, e pelas análises microbiológicas descritas no item “5.2.5

Metodologia de Análise Microbiológica”. Os tempos de análises realizados foram:

após 15, 30 e 45 dias das formulações serem mantidas em estufa a temperatura

constante de 40°C. Como a estabilidade microbiológica era o maior desafio, esse

estudo prévio teve como objetivo identificar a formulação com melhor e maior tempo

de estabilidade microbiológica, que foi encaminhada para estudo de estabilidade

completo. Nessa etapa não foi avaliado o teor de L-carnitina nas formulações.

5.2.6.2 Estudo de Estabilidade Completo Em Uso

Lotes de bancada de 4 L foram produzidos de acordo com o modo de preparo

descrito no item “5.2.2 Desenvolvimento das formulações”. No momento do envase,

2.000 mL da formulação preparada foram envasados em frascos PET e os outros

2.000 mL foram envasados em frascos de vidro âmbar. As soluções foram divididas

77

e expostas em temperaturas controladas de 5°C, 25°C e 40°C e analisadas nos dias

0 (após a manipulação das formulações), 15, 30 e 45. Foram realizadas análises

físico-químicas e microbiológicas.

Por ser um produto de embalagem multidose, o estudo de estabilidade

realizado foi do tipo “em uso”, onde, a partir de um mesmo frasco alíquotas diárias

de 1,0 mL eram retiradas e desprezadas para simulação de uso do produto. Desse

frasco, foram retiradas alíquotas para realização das análises físico-químicas e

microbiológicas.

Foram produzidas também, soluções com a mesma composição da amostra

excetuando-se o princípio ativo, denominadas de “Amostras em Branco”, e elas

foram utilizadas apenas no teste de Teor. E ainda, foi produzida uma formulação

sem a presença de conservantes microbianos em sua composição, sendo

denominada de “Formulação Controle” para o estudo microbiológico.

As análises físico-químicas foram realizadas em triplicatas verdadeiras,

quando são retiradas três alíquotas a partir de um mesmo recipiente. Um resumo do

estudo de estabilidade está descrito na Tabela 7.

Tabela 07. Esquema das condições de exposição das amostras para avaliação da estabilidade.

Amostra Embalagem Temperatura Análise Tempo de

análise

Amostra 1

Branco 1¹

Amostra 2

Branco 2¹

Controle

PET

Vidro âmbar

5°C

25°C

40°C

Físico-Química

Microbiológica

0 dias ²

15 dias

30 dias

45 dias

Legenda.¹Amostras em Branco - apenas para análise de teor (FIQ); ² Após a manipulação das

formulações.

5.2.7 Estudo de Degradação Forçada

A RDC 53 de 2015 indica que os testes de degradação forçada devem

promover uma degradação maior que 10% da amostra e inferior àquela que

degradaria completamente a amostra. Baseado no Informe Técnico N° 01 de 2008,

78

as soluções foram testadas com igual volume de solução degradante. Para hidrólise

ácida foi adicionado 25mL de ácido clorídrico 0,1 N a 25mL de formulação. Para

hidrólise básica, 25mL de formulação foram misturadas com 25mL de hidróxido de

sódio 0,1N. Para avaliação da degradação térmica, a formulação foi mantida sob

aquecimento a 60°C. Todas as formulações foram mantidas sob agitação nas

condições especificadas por 24h. Em paralelo foi deixada uma solução padrão de L-

carnitina na mesma concentração da amostra sob agitação por 24 horas para

controle.

Por não apresentar degradação superior a 10%, foi realizada uma segunda

etapa do estudo, com base no trabalho de Khoshkam e Afshar (2014) onde 25,0 mL

da formulação e 25,0 mL de solução de ácido clorídrico 1M foram misturados e

aquecidos a 70°C por 24 horas com agitação constante e em sistema vedado. Ao

final do aquecimento, as amostras foram neutralizadas até o pH 7. O mesmo

procedimento foi realizado com 25 mL de amostra e 25 mL de solução de hidróxido

de sódio 1M para exposição à hidrólise básica. Para avaliação de degradação

oxidativa, 25 mL de solução amostra foram misturadas com 25 mL de solução de

peróxido de hidrogênio a 3% e foi mantida a temperatura ambiente por 4 horas,

protegidas da luz. Para avaliação da exposição ao calor, a amostra foi aquecida a

70°C por 12 e 24 horas sob agitação constante e em sistema vedado.

As soluções foram diluídas com água ultrapura até a concentração final de

10mg/mL, filtradas com filtro 0,45µm e analisadas em triplicata por CLAE para

determinação do teor de L-Carnitina e avaliação da existência de possíveis produtos

de degradação.

5.2.8 Análise de dados

Os resultados experimentais obtidos foram expressos como a média dos

resultados acompanhados do desvio padrão (DP). A análise estatística de dados foi

realizada usando o software Excel® (2010) aplicando-se o teste t de Student para

comparação de dois grupos ou ANOVA (AnalysisofVariance) para comparação de

três ou mais grupos, considerando-se o nível de significância de 0,05 (p < 0,05).

79

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Análise de identificação da L-Carnitina

Foram realizadas análises por Espectroscopia de Infravermelho por

Transformada de Fourier (IV-TF) tanto do padrão, quanto da matéria-prima de L-

carnitina. Os espectros obtidos estão apresentados nas figuras 12 e 13, onde foram

sinalizadas as bandas características da molécula de L-carnitina (Figura 14).

Figura 12. Espectro referente à análise de IV-TF do padrão de L-carnitinacom a

demarcação das principais bandas (a -h).

Figura 13.Espectro referente à análise de IV-TF da matéria-prima de L-carnitina com a demarcação das principais bandas (a - h).

Pode-se observar que o perfil encontrado em ambos os espectros são

semelhantes e a identidade molecular da matéria-prima é a mesma que a do padrão,

e ambas estão coerentes com o encontrado na literatura (Tabela 08).

80

Figura 14. Principais bandas presentes no espectro IV-TF representadas na estrutura da L-

Carnitina.

Tabela 08. Principais bandas encontradas em espectro de IV-FT de L-carnitina

(adaptado de KIEFER; MAZZOLINI; STODDART, 2007 e 姜波et al, 2013).

IDENTIFICAÇÃO BANDA (cm-1) GRUPO CORRESPONDENTE

a 3461 O - H

b 1582 COOH

c 1481 CH2

d 1394 COOH

e 1147 C - COOH

f 1097 C - N+

g 975, 944, 903 C – N – (CH3)3

h 875 CH2

Com a identificação e caracterização da L-carnitina presente no padrão e na

matéria-prima que foi utilizada no desenvolvimento das formulações, as próximas

etapas puderam ser realizadas sabendo da integridade da amostra na etapa inicial.

Antes de iniciar o desenvolvimento das formulações, foi necessário desenvolver a

metodologia de análise e realizar o processo de validação parcial do doseamento do

ativo.

g h a c b,d

f

e

81

6.2 Validação Parcial da Metodologia de Doseamento

A quantificação da L-carnitina foi realizada por CLAE conforme descrito na

monografia de “L-carnitina solução oral” da Farmacopeia dos Estados Unidos

(USP,2017). E, de acordo com a RDC N°166, de 24 de Julho de 2017, da Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os métodos analíticos compendiais

devem ter sua adequabilidade comprovada por meio de validação parcial, que exige,

no mínimo, os parâmetros de precisão, exatidão e seletividade. Além desses, foram

avaliados também a especificidade, linearidade e faixa de trabalho, limite de

detecção e limite de quantificação.

6.2.1 Determinação da faixa de trabalho

A determinação da faixa de trabalho é estabelecida determinando-se a

concentração do analito de interesse em diferentes níveis de concentração. A partir

dos resultados obtidos, pode-se determinar a faixa de concentração na qual os

resultados apresentam nível de incerteza para o método empregado. Conforme

descrito na monografia para Solução Oral de L-carnitina (USP 40), a concentração

teórica do teste de teor é de 2mg/mL e, o intervalo utilizado para a validação foi de

80% a 120% da concentração teórica, sendo então a faixa de trabalho de 1,6 mg/mL

a 2,4mg/mL. A faixa de trabalho será confirmada a partir do estudo de linearidade.

6.2.2Seletividade

Seletividade é a capacidade que o método possui de identificar ou quantificar

o analito de interesse na presença de outros componentes. Para demonstrar a

ausência de interferentes, as análises foram realizadas com espectro de varredura

entre 190 e 800nm, com monitoramento no comprimento de onda de 225nm,

definido na monografia. Foram realizadas análises do solvente utilizado (água

ultrapurificada), da solução de L-carnitina a partir do padrão e da solução de L-

carnitina a partir da matéria-prima, de uma solução contendo componentes da

formulação a ser desenvolvida e de uma solução contendo apenas o veículo das

formulações (solução em branco).

82

Foi realizada a análise do solvente utilizado (água ultrapurificada) para diluir

as amostras do teste de doseamento e da fase móvel. A análise de ambos é

importante para comprovar que o solvente e a fase móvel utilizados não interferem

na resposta das análises, o que pode ser observado nos cromatograma abaixo

(Figura 15 e 16) onde nenhum pico de absorção é observado no comprimento de

onda de análise.

Figura 15. Cromatograma do solvente (água ultrapurificada).

Figura 16. Cromatograma da Fase móvel.

Uma solução de L-carnitina padrão foi analisada na concentração de 2,0

mg/mL utilizando água ultrapurificada como solvente. O tempo de retenção

encontrado foi de 2,938 minutos e não apresentou nenhum interferente em seu

cromatograma (Figura 17):

83

Figura 17. Cromatograma da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL (a).

O uso do detector de arranjo de diodo (DAD) permite mais uma forma de

avaliar a pureza do pico cromatográfico. Foi obtido então, o espectro de varredura

do pico cromatográfico correspondente à L-carnitina. Com essa avaliação pode-se

dizer que não há outra substância absorvendo nos comprimentos de onda. No

espectro (Figura 18), observa-se o mesmo perfil de espectros em todos os

comprimentos de onda, indicando não haver interferente no pico obtido.

Figura 18. Varredura de todos os comprimentos de onda do pico da L-carnitina padrão a 2,0 mg/mL.

No preparo das soluções para análise de teor, foi adicionado o ácido p-

aminobenzóico como padrão interno. As soluções de L-carnitina padrão e de L-

carnitina matéria-prima foram analisadas com a adição do padrão interno e seus

cromatogramas podem ser observados nas figuras 19 e 20.

Figura 19. Cromatograma da solução com padrão de L-carnitina (a) e padrão interno (b).

84

Figura 20. Cromatograma de solução com matéria-prima de L-carnitina (a) e padrão interno (b).

O tempo de retenção da L-carnitina na solução contendo padrão foi 2,926

minutos e o encontrado para o padrão interno foi 4,377 com resolução de 1,995. Já

no cromatograma com a L-carnitina matéria-prima, o tempo de retenção encontrado

foi de 2,927 minutos para a L-carnitina e 4,383 para o padrão interno, com resolução

de 2,004. A resolução entre os picos nos dois cromatogramas foi maior que 1,5,

mínimo aceitável especificado na monografia, indicando uma boa separação entre

os analitos. Não foram observados interferentes na análise cromatográfica.

Para avaliar o impacto da presença dos excipientes usados no

desenvolvimento da formulação, foi analisada uma solução contendo ácido cítrico a

40,0 µg/mL, padrão interno a 40,0 µg/mL, benzoato de sódio a 60,0 µg/mL e

carboximetilcelulose a 30,0 µg/mL. Ao filtrar a solução final, o CMC ficou retiro na

membrana e não é observado no cromatograma obtido, que pode ser visualizado na

figura 21.

Figura 21. Cromatograma dos excipientes usados no desenvolvimento da formulação (ácido cítrico

(a) e benzoato de sódio (d)), em presença do padrão interno (b).

85

A solução analisada acima foi contaminada com L-carnitina para avaliação da

interferência entre os componentes da formulação. O cromatograma obtido pode ser

visualizado na figura 22.

Figura 22. Cromatograma da L-carnitina (b) em presença do padrão interno (c) e excipientes usados

no desenvolvimento da formulação: ácido cítrico(a) e benzoato de sódio (d).

Observando os cromatogramas das figuras 21 e 22, pode-se observar que os

picos da L-carnitina e do padrão interno não sofreram interferência com a presença

dos excipientes adicionados. Os tempos de retenção encontrados também não

apresentaram alteração e houve boa separação entre os componentes da

formulação com valores de resolução maiores que 1,5 (R = 1,895, R = 1,992 e R =

4,803 respectivamente). Buscando avaliar a pureza do pico da L-carnitina foi obtido

seu espectro de varredura (figura 23) e comparado com o espectro do padrão de L-

carnitina apresentado na figura 18.

Figura 23. Comparação entre o espectro de varredura do pico cromatográfico correspondente à L-

carnitina na solução padrão(d) e na solução com os excipientes (e).

Com os resultados obtidos, pode-se afirmar que o método detectou o analito

de interesse na presença de outros componentes que podem estar presente nas

amostras, apresentando então especificidade e seletividade.

86

6.2.3 Linearidade

Foram feitas injeções em triplicata de soluções de L-carnitina de

concentrações: 1,6, 1,8, 2,0, 2,2, 2,4 e 2,6 mg/mL. A partir do resultado foi

construída curva padrão linear e obtida a equação da reta de regressão de y em x (y

= ax + b), estimada pelo método dos mínimos quadrados. A criação da curva de

calibração é importante para avaliar a associação linear entre as variáveis

apresentadas. Para isso, alguns coeficientes foram obtidos a partir da curva de

calibração: o coeficiente angular (a), o coeficiente linear (b), o coeficiente de

determinação (r²) e o coeficiente de correlação (r). Conforme preconizado na RDC

N° 166, de 24 de julho de 2017, o valor de r para uma correlação linear adequada

deve ser maior que 0,99.

As injeções foram repetidas em três dias diferentes, a partir de soluções

diferentes para cada dia, e então, foram obtidas três curvas que podem ser

visualizadas nas figuras 24, 25 e 26. O resumo dos resultados obtidos estão

descritos na tabela 09.

Tabela 09. Parâmetros aplicados no teste de linearidade

PARÂMETRO DIA 01 DIA 02 DIA 03 MÉDIA DP

Coeficiente Angular (a) 228078 233595 229904 230526 2811

Coeficiente Linear (b) -31949 -46294 -6030,1 -28091 20407

Coeficiente de correlação (r) 0,9998 0,9996 0,9997 0,9997 0,0001

Coeficiente de determinação (R²) 0,9995 0,9995 0,9996 0,9995 0,0001

Legenda: DP – Desvio padrão.

87

Figura 24. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores

encontradas no primeiro dia de análise.

Figura 25. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores

encontradas no segundo dia de análise.

Figura 26. Curva padrão da L-carnitina a partir da média de valores

encontradas no terceiro dia de análise.

88

A partir dos resultados obtidos, pode-se calcular o limite de detecção e o

limite de quantificação. Esses dados são importantes para definição da faixa de

trabalho. O limite de detecção (LD) demonstra a menor quantidade do analito que

pode ser detectada pelo método proposto, mas não necessariamente ser

quantificada. Por isso é calculado também o limite de quantificação (LQ), que

informa qual é a menor quantidade do analito que pode ser quantificada pelo

método, com precisão e exatidão aceitáveis. Os valores usados para o calculo e os

resultados obtidos foram apresentados na tabela 10.

Tabela 10. Valores obtidos para LD e LQ.

PARÂMETRO MÉDIA DOS VALORES

Desvio padrão dos valores de “b”(intercepto com o eixo Y)

20407

Inclinação da curva de calibração (IC) (média dos valores encontrados para “a”) 230526

Limite de Detecção 0,29 mg/mL

Limite de Quantificação 0,88 mg/mL

Desse modo, a faixa de trabalho proposta no item “6.2.1. Faixa de trabalho”

foi adequada por estar acima do limite de detecção e de quantificação, e o método

apresenta linearidade demonstrando sua capacidade de obter resposta analítica

diretamente proporcional à concentração do analito.

6.2.4 Precisão

A precisão do método analítico expressa a proximidade entre os resultados

obtidos na metodologia pretendida e pode ser considerada no nível de repetibilidade,

de precisão intermediária ou de reprodutibilidade. A repetibilidade avalia as

amostras sob as mesmas condições de operação, mesmo analista, mesmas

condições ambientais, em uma única corrida analítica (BRASIL, 2017a). Foram

então preparadas seis amostras de L-carnitina 20%, que foram diluídas até a

concentração 2,0 mg/mL e realizadas seis injeções em mesma corrida analítica.

Esse processo foi repetido no dia seguinte onde seis injeções foram realizadas em

uma mesma corrida, sob as mesmas condições ambientais e instrumentais, e com o

mesmo analista. Foi calculado o desvio padrão relativo dos resultados obtidos, que

expressam a capacidade de repetibilidade do método.

89

Já a precisão intermediária, busca avaliar a resposta das injeções em função

das variações existentes de um mesmo laboratório em dias diferentes, da análise

realizada por analistas diferentes. Para sua avaliação, as amostras de L-carnitina a

2,0 mg/mL foram analisadas em um terceiro dia e realizadas por um outro analista. A

precisão pode ser demonstrada pela dispersão dos resultados, calculando-se o

desvio padrão relativo (DPR) da série de medições. Os resultados podem ser

observados na tabela 11. A reprodutibilidade é aplicável apenas em estudos de

validação de métodos analíticos com a finalidade de incluí-los em compêndios

oficias, não sendo aplicável sua realização nesse estudo de validação.

Tabela 11. Resultado encontrado para o teste de precisão.

Dia Teor de L-carnitina (%) Média

Intra-dia

DPR

Intra-dia

1 97,23 97,06 97,07 93,90 95,20 93,20 95,61 1,8572

2 96,84 97,84 98,83 98,38 99,34 98,95 98,36 0,9213

3 97,34 97,52 97,15 95,56 96,65 97,89 97,02 0,8493

Teor médio Inter-dias (%) 96,99%

DPR Inter-dias (%) 0,6335

Legenda: DP = Desvio Padrão; DPR = Desvio Padrão Relativo;

A legislação vigente, RDC N°166/17, e o Guia de Harmonização Internacional

(ICH Q2/05), não indicam um limite de aceitação de valor de DPR para

determinação da precisão, mas segundo Wood (1999), o método pode ser

considerado preciso quando apresentar variação dentro do aceitável para a

concentração do analito, conforme apresentado no quadro 01.

Quadro 01. Níveis de variações aceitáveis de DPR para precisão

CONCENTRAÇÃO DO ANALITO (%) COEFICIENTE DE VARIAÇÃO (%)

1 2

10-1 2,8

10-2 4

10-3 5,6

90

As amostras analisadas apresentavam concentração equivalente a 2,0 x 10-

1g/100mL. Dessa forma, a partir dos resultados apresentados no teste de precisão,

com valores menores que 2,8%, pode-se considerar que o método é preciso

(WOOD, 1999).

6.2.5 Exatidão

A determinação da exatidão do método analítico foi obtida a partir da análise

de soluções com três diferentes concentrações contemplando o intervalo linear do

método analítico. As concentrações deveriam contemplar a faixa linear baixa, média

e alta e foram realizadas em triplicata. Foram usados os valores de 80% (baixa),

100% (média) e 120% (alta concentração) da faixa de trabalho, equivalente a 1,6

mg/mL, 2,0 mg/mL e 2,4mg/mL (BRASIL, 2017b).

As amostras foram preparadas de maneira independente, a partir uma mesma

solução mãe. O teor das amostras foi calculado, assim como o valor de DPR para

cada nível trabalhado (baixo, médio e alto). Os valores podem ser observados na

tabela 12.

Tabela 12. Resultados obtidos para o teste de exatidão

Nível

Concentração

média Teórica

(mg/mL)

Conc. média

Experimental

(mg/mL)

(%) Média

(%) DP DPR (%)

80%

(1,6 mg/mL)

1,6176 1,6072 99,36

99,77 1,08 1,08 1,6272 1,6101 98,95

1,6088 1,6247 100,99

100%

(2,0 mg/mL)

2,0220 2,0129 99,55

99,96 0,81 0,81 2,0340 2,0226 99,44

2,0110 2,0289 100,89

120%

(2,4 mg/mL)

2,4264 2,4179 99,65

99,32 0,29 0,29 2,4408 2,4205 99,17

2,4132 2,3924 99,14

A exatidão do método analítico busca refletir a proximidade entre o valor

verdadeiro ou de referência (obtido a partir de um padrão de pureza conhecida) e o

91

valor medido ou experimental (resultado da análise do método em processo de

validação), mostrando sua capacidade de obter o resultado mais próximo ao

verdadeiro. Observando os resultados obtidos, os valores médios de teor

encontram-se dentro da faixa de 98,0 a 102,0%, com baixo desvio padrão entre eles,

pequena amplitude e DPR menor do que 5,0%. Dessa maneira, considerou-se que o

método analítico apresenta exatidão adequada.

Com todos os parâmetros avaliados, pode-se concluir que o método analítico

apresenta desempenho adequado para as condições que foi aplicado, fornecendo

resultados confiáveis e não distorcidos, e atendendo às normas estabelecidas por

agências reguladoras. O método analítico em questão encontra-se validado e apto

para ser utilizado nas análises físico-químicas a seguir.

6.3 Desenvolvimento das formulações

Para desenvolvimento da formulação foi proposta a utilização do ativo,

conservante, agente de viscosidade e acidulante. Inicialmente selecionou-se o

metilparabeno como um dos conservantes a ser usado nas formulações testes. Ele é

o conservante com melhor aceitação no mercado farmacêutico e apresenta largo

espectro de ação, sendo eficiente contra bactérias gram positivas, bactérias gram

negativas, fungos e leveduras. É insípido, incolor, inodoro e é estável em uma ampla

faixa de pH, mas apresenta solubilidade relativa em meios aquosos necessitando de

aquecimento para sua solubilização em água. De acordo com SILVA et al., 2008,

numerosos casos de reações adversas foram associados à sua utilização e é

considerado um excipiente de risco quando utilizado em soluções orais. Ele será

testado e sua resposta será avaliada e comparada com a resposta dos outros

agentes conservantes. Dependendo de sua relação risco/benefício ele poderá ser

descartado (BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006; DA SILVA et al., 2008;

FERREIRA; SOUZA, 2011a; SONI et al., 2001).

Outro agente conservante selecionado foi o benzoato de sódio, que apresenta

eficiente ação contra bolores, leveduras e bactérias gram positivas. Além disso,

apresenta boa solubilidade em água à temperatura ambiente (25°C), eliminando a

necessidade de aquecimento da formulação. Porém, sua efetividade é

92

potencializada em meio ácido, na faixa de pH de 2 a 5. Embora seja considerado

seguro quando usado em concentrações inferiores a 0,6%, também é apontado

como excipiente relacionado a reações adversas (VILAPLANA & ROMAGUERA,

2004).

O ácido sórbico e sorbato de potássio também são considerados potentes

inibidores de bolores e leveduras, mas possuem pouca ou nenhuma efetividade na

inibição de bactérias, importante microrganismo a ser inibido na formulação. O ácido

sórbico apresenta baixa solubilidade em meios aquosos enquanto que o sorbato de

potássio possui boa solubilidade em água. Quando administrados em longo prazo,

podem ocasionar reações alérgicas e sintomas como coceira, congestão nasal, dor

abdominal, diarreia, problemas gástricos, enxaqueca e vômito. Além disso, podem

causar deficiência nutricional e redução de absorção de vitaminas, minerais e

nutrientes, o que pode ser problemático para o público alvo.Com o perfil de

pacientes com patologias associadas à EIM e necessitando de multidoses diárias, a

formulação será de uso contínuo e esses fatores podem ser agravados. Dessa

forma, por não apresentar ação bactericida, o sorbato de potássio não foi testado

(NUNN; WILLIAMS, 2005; SENA et al., 2014; SWEETMAN, 2009).

A influência do pH também é um fator determinante para a estabilidade da

formulação. O ativo L-carnitina apresenta estabilidade em solução na faixa de pH 4 a

6 e os agentes conservantes escolhidos necessitam de pH acidificado para terem

sua ação potencializada e efetiva. Dessa forma, o ajuste de pH da formulação será

realizado pela adição de ácido cítrico e deve ser estabilizado em pH 5,0. O ácido

cítrico foi escolhido por apresentar atividade antimicrobiana devido à sua

acidificação do meio e por sua propriedade em quelar íons metálicos, o que diminui

o crescimento bacteriano. Apesar de apresentar baixa eficiência contra bolores e

leveduras, seu uso associado a outro sistema conservante é indicado, pois o poder

antimicrobiano é mais efetivo e ele potencializa a ação dos outros agentes

conservantes (MAX et al., 2010).

Muitos pacientes portadores de EIM apresentam dificuldades de deglutição,

principalmente quando as soluções possuem baixa viscosidade. Além disso, muitos

pacientes possuem sondas de gastrostomia, sendo necessária a administração do

medicamento pela sonda. O aumento da viscosidade da formulação ajuda na

93

administração da solução nestes dois casos. Além disso, quando a solução é

ingerida, apenas uma parte do fármaco dissolvido na formulação entra em contato

com as papilas gustativas do paciente, enquanto que o restante é carreado pela

solução viscosa, mascarando o sabor da formulação. Dessa forma, com a finalidade

de proporcionar um leve aumento da viscosidade da formulação, foi utilizado um

agente promotor de viscosidade (BILLANY, 2005).

A sacarose, amplamente utilizada no mercado farmacêutico, tem baixo custo,

não deixa gosto residual e, além de fornecer sabor adocicado e viscosidade a

medicamentos líquidos, também pode agir como conservante e antioxidante, porém

não pode ser utilizada para o público alvo que apresenta restrições ao seu consumo

(BALBANI; STELZER; MONTOVANI, 2006). Outra opção comumente utilizada é a

goma xantana, mas sua utilização não é recomendada em formulações voltadas

para crianças menores de um ano de idade, especialmente para crianças

prematuras. McCallum (2011) e Woods et.al (2019), acreditam que a goma xantana,

quando utilizada a longo prazo em crianças prematuras, pode alterar a microbiota no

intestino ainda prematuro dos bebês. Alguns relatos apontam casos fatais como a

enterocolitenecrosante. Portanto, por precaução, não é recomendado o uso da goma

para esse público e ela não foi testada(MCCALLUM, 2011; WOODS, 2019).

A Hidroxietilcelulose e a carboximetilcelulose são agentes de viscosidade que

não são convertidos em glicose após sua ingestão, tornando-se bons candidatos ao

uso. Normalmente utilizada em soluções tópicas ou oftálmicas, estudos apontam a

utilização de hidroxietilcelulose para formulações de uso oral. Ela apresenta boa

estabilidade em diferentes faixas de pH, no entanto, as soluções com pH abaixo de

5 são menos estáveis podendo intensificar reações de hidrólise. Além disso,

necessita de longo tempo para sua dispersão completa (em média ao menos uma

hora com aquecimento)(ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).Optou-se então pela

Carboximetilcelulose (CMC), um derivado hidrossolúvel de celulose, amplamente

utilizado em formulações orais, que apresenta boa estabilidade na faixa de pH entre

4 e 10. A faixa de concentração normalmente utilizada é de 0,50 a 2,0% (p/v), mas

usando a concentração de 0,3% (p/v) obteve-se o resultado esperado e, por estar

com concentração abaixo da usual, o aparecimento de reações indesejáveis aos

pacientes pode ser reduzido (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).

94

Para determinação da concentração de L-carnitina a ser utilizada no

desenvolvimento da formulação, levou-se em consideração o fato da formulação ser

de uso contínuo, ter a dose calculada a partir do peso corporal do paciente e que

constantemente sofre ajustes, a concentração do ativo foi definida para ser flexível e

atender às diferentes dosagens apresentadas pelos pacientes. Com o objetivo de

fornecer uma concentração que atenda à maioria das prescrições recebidas na FU

foram desenvolvidas formulações de L-carnitina a 10% (p/v) e 20% (p/v), podendo

atender pacientes pediátricos, que necessitam de volumes menores, e pacientes

adultos, que necessitam de grandes volumes. As soluções iniciais desenvolvidas

para caracterização foram realizadas com a concentração de 10% (p/v) e estão

apresentadas na tabela 13:

Tabela 13. Composição das formulações testes a 10% (p/v)

COMPONENTES FORMULAÇÃO

1

FORMULAÇÃO

2

FORMULAÇÃO

3

FORMULAÇÃO

4

L-carnitina 10% 10% 10% 10%

Benzoato de sódio 0,3% 0,4% - 0,3%

Metilparabeno - - 0,1% -

Ácido Cítrico q.s. pH 5,5 q.s. pH 5,5 q.s. pH 5,5 0,9%

pH 5,5 5,5 5,5 5,0

Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3%

Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p.

Legenda.q.s.= “Quantidade suficiente”; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”.

Todas as formulações foram analisadas inicialmente quanto às suas

características físicas. Analisou-se o aspecto visual, odor e pH das formulações e

buscou-se avaliar a existência de alguma incompatibilidade farmacotécnica após a

manipulação das formulações. O resultado dessas análises pode ser visualizado na

tabela 14.

Tabela 14. Resultado da análise FIQ inicial das formulações a 10% (p/v)

Análise Aspecto Odor pH

Formulação 1 Límpidas, incolores, sem a

presença de partículas e

sem grumos.

Aroma quase

imperceptível,

agradável.

5,60

Formulação 2 5,61

Formulação 3 5,74

Formulação 4 5,03

95

6.5 Estabilidade prévia das formulações iniciais

Após a análise inicial, observou-se que todas as formulações apresentavam

boa compatibilidade farmacotécnica e foram encaminhadas para estudo de

estabilidade prévio. As formulações foram armazenadas em estufa com temperatura

controlada a 40°C. Foram encaminhadas amostras para análise físico-química (FIQ)

(exceto a análise de teor) e microbiológica (MIC) após 15, 30 e 45 dias de

exposição. O resultado físico-químico pode ser observado na tabela 15 e o resultado

microbiológico, na tabela 16.

Tabela 15. Resultado das análises FIQ da estabilidade prévia das formulações a 10% (p/v)

Formulação 1 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico

pH 5,5 pH 5,69 ± 0,07 5,74 ± 0,14 5,87± 0,11

Formulação 2 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,4% Odor Característico Característico Característico

pH 5,5 pH 5,65± 0,13 5,69 ± 0,15 5,77± 0,09

Formulação 3 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Metilparabeno 0,1% Odor Característico Característico Característico

pH 5,5 pH 5,77± 0,11 5,77 ± 0,19 5,82 ± 0,15

Formulação 4 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 10% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico

pH 5,0 pH 5,01± 0,15 5,08± 0,18 5,07± 0,06

96

Tabela 16. Resultado das análises MIC do estudo de estabilidade prévio das formulações a 10% (p/v)

Análise 15 dias 30 dias 45 dias

Formulação 1 Sem crescimento* Fora de especificação Fora de especificação

Formulação 2 Sem crescimento Fora de especificação Fora de especificação

Formulação 3 Sem crescimento Sem crescimento Fora de especificação

Formulação 4 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento

*Crescimento de bactérias de 6UFC/mL. Máximo permitido 10 UFC/mL.

Conforme observado na tabela 15, todas as formulações apresentaram boa

estabilidade físico-química, sem alteração significativa de suas características

organolépticas e com pequenas variações de valores de pH não estatisticamente

significantes (p>0,05). Quanto a estabilidade microbiológica, apenas a Formulação 4

não apresentou crescimento bacteriano durante os 45 dias quando mantida sob alta

temperatura. Essa formulação é a única que apresentou pH final 5,0. Para esse

ajuste, foi necessário adicionar à formulação quantidade de ácido cítrico equivalente

à 0,9 % (p/v) da formulação. Como o ácido cítrico também tem poder antimicrobiano

e acidifica o meio, potencializando o efeito do benzoato de sódio, tornou o sistema

conservante da formulação eficiente (ANSEL; POPOVICH; ALLEN JUNIOR,2016).

A segunda formulação mais estável foi a Formulação 3, que apresentou

estabilidade por 30 dias. Essa formulação apresentou pH final de 5,74, mas

diferentemente das outras formulações, o agente conservante utilizado foi o

metilparabeno, que apresenta amplo espectro de atividade e é ativo contra fungos e

bactérias. A desvantagem do seu uso é sua baixa solubilidade em veículos aquosos,

o que implica na necessidade de aquecimento da formulação a fim de promover sua

solubilização. Além disso, é necessário aguardar o resfriamento da formulação para

prosseguir com a incorporação dos outros componentes. Além do tempo gasto

nessa etapa, o metilparabeno está fortemente relacionado a efeitos indesejáveis

após sua administração e apresentam sabor desagradável (PESSANHA et al., 2012;

SENA et al., 2014). E, em se tratar de formulação farmacêutica voltada,

principalmente, para crianças e neonatos, o potencial para toxicidade é maior.

Levando em consideração que a Formulação 4 apresentou melhor estabilidade

durante os 45 dias de exposição a altas temperaturas, ela será encaminhada para

97

estudo de estabilidade completo. Apesar do benzoato de sódio também estar

relacionado a efeitos indesejáveis como aparecimento de erupções cutâneas,

dermatites de contato e outros, sua utilização pode ser considerada positiva já que o

benzoato induz a excreção de produtos nitrogenados em pacientes com

determinadas patologias associadas à EIM e é amplamente usando nesse perfil de

pacientes (JARDIM; ASHTON-PROLLA, 1996).

Além da formulação a 10%, a formulação de concentração a 20% também é

importante para atender pacientes que utilizam um volume maior diariamente. Dessa

forma, foi realizado um segundo estudo de estabilidade prévio com soluções de L-

carnitina com concentração de 20% (p/v). A composição das formulações pode ser

observada na tabela 17.

Tabela 17. Composição das formulações testes a 20% (p/v)

COMPONENTES FORMULAÇÃO

5

FORMULAÇÃO

6

FORMULAÇÃO

7

FORMULAÇÃO

8

L-carnitina 20% 20% 20% 20%

Benzoato de sódio 0,4% 0,3% - 0,2%

Metilparabeno - - - 0,1%

Ácido Cítrico q.s. 1,8% 1,8% q.s.

pH 5,5 5,0 5,0 5,5

Carboximetilcelulose 0,3% 0,3% 0,3% 0,3%

Água destilada q.s.p. q.s.p. q.s.p. q.s.p.

Legenda. q.s.= “Quantidade suficiente” para pH 5,5; Q.s.p. = “Quantidade suficiente para”.

Após a manipulação, todas as soluções foram analisadas quanto às suas

características físico-químicas. Avaliou-se o aspecto das formulações, odor e pH, e

buscou-se observar incompatibilidade farmacotécnica. O resultado dessas análises

pode ser visualizado na tabela 18.

Tabela 18. Resultado FIQ inicial do estudo de estabilidade prévio das formulações a 20% (p/v)

Análise Aspecto Odor pH

Formulação 5 Límpidas, incolores, sem a

presença de partículas e

sem grumos.

Aroma quase

imperceptível,

agradável.

5,55

Formulação 6 5,02

Formulação 7 5,01

Formulação 8 5,53

98

Após a análise inicial, observou-se que todas as formulações apresentavam

boa compatibilidade farmacotécnica e foram encaminhadas para estudo de

estabilidade prévio, realizado sob as mesmas condições que o estudo anterior para

as soluções com 10% (p/v), onde as formulações foram armazenadas em estufa

com temperatura controlada a 40°C. Foram encaminhadas amostras para análise

físico-química (FIQ) (exceto a análise de teor) e microbiológica (MIC) após 15, 30 e

45 dias de exposição. O resultado físico-químico pode ser observado na tabela 19 e

o resultado microbiológico, na tabela 20.

Tabela 19. Resultado FIQ do Estudo de Estabilidade Prévio das formulações a 20% (p/v)

Formulação 5 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,4% Odor Característico Característico Característico

pH 5,5 pH 5,57 ± 0,15 5, 61± 0,04 5,60 ± 0,13

Formulação 6 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,3% Odor Característico Característico Característico

pH 5,0 pH 5,01± 0,07 5,03 ± 0,09 5,01± 0,16

Formulação 7 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Ácido cítrico 2% Odor Característico Característico Característico

pH 5,0 pH 5,02± 0,17 5,00 ± 0,11 5,01 ± 0,08

Formulação 8 Teste 15 dias 30 dias 45 dias

Carnitina 20% Aspecto Límpido e incolor Límpido e incolor Límpido e incolor

Benzoato 0,2%

Metilparabeno 0,1% Odor Característico Característico Característico

pH 5,5 pH 5,55± 0,15 5,59± 0,12 5,62± 0,06

99

Tabela 20. Resultado das análises MIC do estudo de estabilidade prévio das formulações a 20% (p/v)

Análise 15 dias 30 dias 45 dias

Formulação 5 Sem crescimento Fora de especificação Fora de especificação

Formulação 6 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento

Formulação 7 Sem crescimento Sem crescimento Sem crescimento

Formulação 8 Sem crescimento Sem crescimento Fora de especificação

Especificação: Máximo permitido 10 UFC/mL.

A análise físico-química das formulações com concentração a 20% (p/v)

apresentou boa estabilidade, assim como observado nas formulações com

concentração de 10% (p/v). Todas as formulações apresentaram boa estabilidade

físico-química, sem alteração de suas características organolépticas e com

pequenas variações de valores de pH não estatisticamente significantes (p>0,05). A

Formulação 8 apresentou em sua composição a associação do benzoato de sódio

com o metilparabeno em concentrações menores, buscando potencializar o poder

antimicrobiano com o sinergismo dos dois conservantes. Porém, a conservação

microbiana foi mantida apenas por 30 dias, repetindo o resultado encontrado quando

o metilparabeno foi utilizado isoladamente. Isso pode ter acontecido pelo fato do

benzoato de sódio possuir maior ação em faixas mais ácidas e, nesse caso, como o

pH da formulação foi mantido em 5,5, seu uso não fez diferença no poder

conservante da formulação.

Já as formulações com valores de pH mais baixos apresentaram boa

estabilidade microbiológica durante os 45 dias de estudo, confirmando a importância

do ajuste do pH final para 5,0. A Formulação 7, inclusive, só contou com o ácido

cítrico como conservante e conseguiu preservar a formulação de forma eficiente.

Para estudo de estabilidade completo, foram encaminhadas as formulações 6 e 7

que apresentaram boa estabilidade físico-química e microbiológica. O estudo

completo contou com a retirada diária de alíquotas, mimetizando as condições de

uso em formulações multidoses onde há a abertura subsequente da formulação. A

Formulação 7 apresenta em sua composição apenas ácido cítrico como agente

conservante e, desta forma, apresentando pouca atividade contra bolores e

100

leveduras. O estudo mimetizando as condições de uso pode evidenciar a limitação

dos conservantes testados.

6.6 Estudo de estabilidade completo em uso

As formulações desenvolvidas visam, principalmente, o atendimento à

demanda dos pacientes da FU que apresentam alguma patologia associada à EIM.

Esse perfil de paciente é formado por diferentes faixas etárias e, dessa forma, por

diferentes massas corpóreas. A dose de carnitina é definida por quilograma de peso

do paciente e, nesse caso, existe uma enorme diferença nos volumes a serem

dispensados, podendo variar de 60 mL a 3 litros. As embalagens disponíveis para

esses volumes tão discrepantes são frascos de vidro (volume de 60 mL até 200 mL)

e de plástico PET (volume de 200mL até 1L).Um fator importante para garantia da

estabilidade do produto final é a determinação do material de embalagem primária a

ser utilizado, uma vez que os componentes da embalagem podem interagir com o

produto farmacêutico, promovendo uma possível instabilidade. Além disso, a

embalagem adequada garante ao paciente que o medicamento permaneça

completamente protegido contra reações externas adversas, sendo uma barreira

entre os meios internos e externos ao medicamento (ROCHA et al., 2014). Durante o

desenvolvimento de um produto é necessário conduzir estudo de estabilidade na

embalagem proposta para comercialização. Nesse caso, o estudo de estabilidade foi

realizado nos dois tipos de embalagem disponíveis.

Com base no estudo de estabilidade prévio realizado nas formulações iniciais,

o estudo de estabilidade completo foi realizado com as formulações6 e 7. Foi

incluída no estudo, formulação controle sem a presença de agente conservante,

contando apenas com L-carnitina a 20% (p/v), CMC 0,3% e água destilada. O

resumo do estudo pode ser observado na tabela 21.

101

Tabela 21. Resumo do estudo de estabilidade completo em uso

Formulação Embalagem Temperatura Análise Tempo de análise

Formulação 6

Formulação 7

Controle*¹

PET

(200mL)

Vidro âmbar (200mL)

5°C

25°C

40°C

Físico-Química

Microbiológica

0 dias *²

15 dias

30 dias

45 dias

Obs.: *¹ Formulação sem a presença de ativo; *²Análise realizada após a manipulação.

As formulações 6 e 7 apresentaram-se límpidas, transparentes, incolores, sem a

presença de partículas ou precipitações durante todo o estudo de estabilidade. A

Formulação Controle exposta em estufa apresentou alteração quanto à coloração e

ao odor após 30 dias de armazenamento, tornando-se amarelada e com odor mais

forte e característico. As soluções controle expostas em geladeira e temperatura

ambiente não apresentaram alteração nas características organolépticas. O

resultado encontrado nas análises de pH podem ser observados no quadro 02.

102

Quadro 02. Resultado das análises de pH no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v)

Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias p (dias) p (Temperatura)

Vidro

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

5,01 ± 0,05

5,01 ± 0,01

5,02 ± 0,01

5,02 ± 0,01

5,02 ± 0,01

5,03 ± 0,02

5,02 ± 0,01

5,01 ± 0,02

5,02 ± 0,04

5,02 ± 0,04

0,06 0,27

Formulação 7

Ácido Cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

5,01 ± 0,03

5,00 ± 0,01

5,01 ± 0,01

5,01 ± 0,01

5,01 ± 0,01

5,02 ± 0,01

5,01 ± 0,02

5,01 ± 0,05

5,02 ± 0,02

5,02 ± 0,05

0,16 0,17

Controle

Sem conservante

5°C

25°C

40°C

5,91 ± 0,04

6,00 ± 0,01

6,07 ± 0,02

6,11 ± 0,02

5,92 ± 0,02

6,14 ± 0,04

6,23 ± 0,05

6,03 ± 0,06

6,31 ± 0,04

6,58 ± 0,06

0,09 0,25

Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias p (dias) p (Temperatura)

PET

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

5,01 ± 0,05

5,01 ± 0,01

5,03 ± 0,01

5,02 ± 0,02

5,01 ± 0,02

5,02 ± 0,03

5,04 ± 0,02

5,00 ± 0,03

5,03 ± 0,04

5,03 ± 0,07

0,63 0,06

Formulação 7

Ácido Cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

5,01 ± 0,03

5,00 ± 0,02

5,01 ± 0,02

5,01 ± 0,02

5,00 ± 0,01

5,02 ± 0,03

5,02 ± 0,05

5,00 ± 0,07

5,04 ± 0,03

5,05 ± 0,05

0,29 0,14

Controle

Sem conservante

5°C

25°C

40°C

5,91 ± 0,04

6,00 ± 0,04

6,07 ± 0,03

6,11 ± 0,04

6,01 ± 0,02

6,18 ± 0,04

6,44 ± 0,03

6,15 ± 0,01

6,15 ± 0,05

6,76 ± 0,02

0,13 0,23

Leg: o valor de “p (dias)” é a avaliação estatística entre os tempos analisados para cada formulação, o valor de p para temperatura avalia as diferenças

significativas entre os resultados encontrados para cada temperatura condicionada. (n = 3).

103

Inicialmente, foi realizada avaliação estatística comparando os resultados de

pH da formulação 6 em função do tempo, avaliando os resultados encontrados nos

dias 15, 30 e 45 dias (independente da temperatura de acondicionamento) onde p >

0,05 e, portanto, as alterações observadas ao longo desse período não foram

consideradas significativas. O mesmo foi realizado para a formulação 7 (p = 0,16) e

para a formulação controle (p = 0,09). Dessa forma, o valor de pH não foi alterado

para nenhuma das formulações (6, 7 e controle) ao longo dos 45 dias de estudo de

estabilidade.

Ao mesmo tempo, foi avaliado em cada formulação a influência da

temperatura sobre os resultados obtidos para o pH. Dessa forma, todos os valores

de pH da Formulação 6 exposta a 5°C foram comparadas com as de 25°C e 40°C e

não houve alteração significativa entre elas. Dessa forma, para a Formulação 6 os

valores de pH não são influenciados pela temperatura exposta. O mesmo foi

observado para a Formulação 7 e Formulação Controle.

As análises descritas acima foram realizadas para avaliar as alterações do

tempo e da temperatura de armazenamento da formulação para cada embalagem

de armazenamento avaliada. A tabela 22 une os valores de pH encontrados tanto na

embalagem de vidro quanto no frasco PET para verificar se há uma variação

significativa entre os materiais de embalagem comparados. Ao avaliar todos os

resultados obtidos (Vidro e PET) ao longo do 15, 30 e 45 dias foi obtido p = 0,09,

não sendo considerada então variação significativa ao longo do tempo mesmo em

embalagens diferentes.

Para avaliação da influência da temperatura nas formulações mantidas nas

diferentes embalagens, foi feita uma avaliação estatística entre os valores de pH sob

as diferentes temperaturas de exposição. Foi encontrado p = 0,06 e dessa forma não

há alteração significativa para os valores de pH encontrados quando há alteração de

temperatura de exposição das formulações, independente do material de

embalagem utilizado.

104

Tabela 22. Análise estatística dos valores de pH avaliando cada formulação nas diferentes embalagens

Não se observou diferença significativa nos valores de pH nas Formulações 6 e

7 para nenhuma das avaliações de tempo de armazenamento, temperatura de

armazenamento e tipo de material de embalagem. Não houve alteração significativa

após os 45 dias de exposição, entre as temperaturas e entre as embalagens

testadas. Mas observou-se diferença significativa na solução controle quando

avaliada em relação ao tempo com p < 0,05, indicando uma alteração de pH

significativa ao longo dos 45 dias.

O resultado encontrado no teste de teor pode ser observado no quadro 03. Todas as análises foram feitas em triplicatas (n = 3)

Formulação Embalagem Condição 0 15 30 45 Análise P (dias)

Análise P

(Temp.)

Formulação

6

VD

5°C 5,01 5,01 5,02 5,01

0,09 0,06

25°C 5,01 5,02 5,03 5,02

40°C 5,01 5,02 5,02 5,02

PET

5°C 5,01 5,01 5,01 5,00

25°C 5,01 5,03 5,02 5,03

40°C 5,01 5,02 5,04 5,03

Formulação

7

VD

5°C 5,01 5,00 5,01 5,01

0,06 0,12

25°C 5,01 5,01 5,02 5,02

40°C 5,01 5,01 5,01 5,02

PET

5°C 5,01 5,00 5,00 5,00

25°C 5,01 5,01 5,02 5,04

40°C 5,01 5,01 5,02 5,05

Controle

VD

5°C 5,91 6,00 5,92 6,03

0,003 0,28

25°C 5,91 6,07 6,14 6,31

40°C 5,91 6,11 6,23 6,58

PET

5°C 5,91 6,00 6,01 6,15

25°C 5,91 6,07 6,18 6,15

40°C 5,91 6,11 6,44 6,76

105

Quadro 03. Resultado das análises de teor no estudo de estabilidade completo das formulações a 20% (p/v)

Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Análise P (dias)

Análise P (Temp.)

Vidro

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

99,12%

99,32%

99,01%

98,75%

99,00%

99,89%

98,42%

99,96%

101,51%

99,77%

0,16 0,27

Formulação 7

Ácido Cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

97,61%

96,82%

96,56%

97,82%

98,48%

96,63%

95,94%

97,28%

97,70%

96,67%

0,94 0,44

Controle

Sem conservante

5°C

25°C

40°C

98,01%

98,48%

96,92%

98,58%

97,98%

98,42%

99,00%

99,31%

98,64%

98,57%

0,47 0,44

Embalagem Composição Condição Análise inicial 15 dias 30 dias 45 dias Análise P (dias)

Análise P (Temp.)

PET

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

99,12%

100,52%

98,77% 101,02%

101,16%

101,18% 99,37%

99,72%

99,36% 100,99%

0,68 0,72

Formulação 7

Ácido Cítrico 2%

5°C

25°C

40°C

97,61%

98,30%

97,72%

96,96%

99,81%

98,55%

99,71%

99,49%

97,92%

98,45%

0,10 0,64

Controle

Sem conservante

5°C

25°C

40°C

98,01%

97,93%

98,34%

98,97%

96,16%

97,88%

98,44%

98,64%

98,67%

98,01%

0,46 0,40

106

Para verificar se houve alteração significativa dos resultados de teor, foram

utilizadas as mesmas análises estatísticas aplicadas na avaliação do pH. Avaliou-se

a existência de variação significativa ao longo do tempo de exposição (avaliação

estatística entre os resultados expostos em colunas) e encontrou-se valor de p maior

que 0,05 (p = 0,49), não havendo alteração significativa entre os resultados

encontrados ao longo do tempo de 15, 30 e 45 dias. O mesmo foi realizado em

relação às diferentes temperaturas de armazenamento (avaliação entre linhas) e em

relação aos dois tipos de embalagens utilizados (entre tabelas, por formulação).

Não se observou diferença significativa (p > 0,05) quanto aos valores de teor

para as formulações analisadas (formulação 6, 7 e controle) em nenhuma das

avaliações: ao longo dos 45 dias de exposição, entre as temperaturas de

armazenamento e entre as embalagens de vidro e de plástico (Tabela 23).

Tabela 23. Resultado da análise estatística do teste de teor realizado em comparação com as embalagens

para cada formulação

As formulações em branco (sem o ativo) também foram mantidas nas mesmas

condições de exposição das formulações e também foram analisadas por CLAE. O

preparo das soluções para injeção foi realizado no mesmo dia em que as soluções

amostras eram preparadas. Não foi observado nenhuma alteração nos

Formulação Embalagem Condição 0 15 30 45 Análise P (dias)

Análise P (Temp.)

Formulação 6

VD

5°C 99,32% 99,01% 98,75%

99,00% 99,89% 98,42%

99,96% 101,51% 99,77%

0,49 0,38

25°C 99,12%

40°C

PET

5°C 100,52% 98,77% 101,02%

101,16% 101,18% 99,37%

99,72% 99,36% 100,99%

25°C 99,12%

40°C

Formulação 7

VD

5°C 96,82% 96,56% 97,82%

98,48% 96,63% 95,94%

97,28% 97,70% 96,67%

0,62 0,07

25°C 97,61%

40°C

PET

5°C 98,30% 97,72% 96,96%

99,81% 98,55% 99,71%

99,49% 97,92% 98,45%

25°C 97,61%

40°C

Controle

VD

5°C

98,01%

97,93% 96,16% 98,64%

0,43 0,48

25°C 98,34% 97,88% 98,67%

40°C 98,97% 98,44% 98,01%

PET

5°C

98,01%

98,48% 97,98% 99,31%

25°C 96,92% 98,42% 98,64%

40°C 98,58% 99,00% 98,57%

107

cromatogramas e, dessa maneira, os excipientes utilizados não apresentaram

influência na estabilidade do produto.

Os estudos de estabilidade microbiológicos estão apresentados nos quadros

04 (Formulação 6), 05 (Formulação 7) e 06 (Formulação Controle). Pode-se

observar que as formulações 6 e 7 apresentaram-se estáveis durante todo o estudo

de estabilidade, independente da temperatura de armazenamento, do tempo de

exposição às condições e do tipo de material utilizado na embalagem primária,

mesmo após utilização subsequente das formulações.

Além de apresentar boa estabilidade quando mantida sob refrigeração, as

formulações também apresentaram boa estabilidade quando mantidas em

temperatura ambiente, dessa forma, a recomendação de acondicionamento pode

ser manutenção em temperatura na faixa de 15 a 30°C (temperatura ambiente).

Essa premissa é assegurada pelo estudo realizado em temperatura elevada que

visa potencializar o estresse da formulação e acelerar possível contaminação. E,

mesmo em temperatura elevada, as formulações não apresentaram contaminação

ao longo dos 45 dias de estudo. Esse resultado foi observado independente do

material utilizado como embalagem primária.

No preparo das amostras, planejou-se a manipulação de quantidade suficiente

para a realização das análises e para mais três amostras extras, para o caso de

perdas durante o estudo de estabilidade. Como o resultado microbiológico não

demonstrou crescimento microbiano em nenhuma das condições de exposição,

estendeu-se o estudo de estabilidade das formulações 6 e 7 por mais 15 dias nas

mesmas condições de temperatura, de embalagem e de retirada de alíquota diária.

As amostras extras de cada formulação foram encaminhadas ao LACMAC para

análise do tempo de 60 dias após a manipulação. Nenhuma das duas formulações

apresentou crescimento microbiano fora da especificação vigente, indicando boa

estabilidade microbiológica por 60 dias, inclusive na temperatura de 40°C.

108

Quadro 04. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da formulação 6 acondicionada em vidro e em plástico.

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

Vidro

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

PET

Formulação 6

Benzoato 0,4%

Ácido cítrico 2%

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

109

Quadro 05. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da formulação 7 acondicionada em vidro e em plástico.

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

Vidro Formulação 7

Ácido cítrico 2%

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

PET Formulação 7

Ácido cítrico 2%

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

110

Quadro 06. Resultados encontrados durante o estudo de estabilidade microbiológico da Formulação Controle acondicionada em vidro e em plástico.

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

Vidro Controle

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

Embalagem Composição Condição Teste Análise

inicial 15 dias 30 dias 45 dias Especificação

PET Controle

5°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

25°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

40°C

Bactérias

Fungos

E.coli

Conforme

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

Conforme

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

> 10 UFC/mL

> 10 UFC/mL

Conforme

< 10¹ UFC/mL

< 10² UFC/mL

Ausente

Legenda: Conforme – Conforme especificação, não houve crescimento; > 10 UFC/mL – Crescimento bacteriano não atendendo às especificações.

111

Já a formulação controle (sem conservante) apresentou crescimento

microbiano fora da especificação nas duas embalagens testadas. Durante 15 dias a

estabilidade microbiológica foi mantida, independente do material de embalagem

escolhido e independente da temperatura de armazenamento testada (ambiente ou

sob refrigeração), porém as análises após 30 e 45 dias de estudo apresentaram

grande contaminação, fora do permitido em especificação vigente. Observou-se, no

entanto, uma diferença quanto aos resultados do estudo de estabilidade acelerado,

onde a formulação mantida em temperatura elevada e acondicionada em

embalagem plástica apresentou crescimento microbiano com 15 dias de estudo,

enquanto que a formulação acondicionada em frasco de vidro só apresentou

contaminação após 30 dias.

Os valores encontrados nos testes de pH são coerentes com esses resultados,

a formulação controle quando envasada em embalagem plástica, apresenta um leve

aumento do pH (p < 0,05), o que pode ser relacionado a uma intensa contaminação

microbiana. E pode-se observar que as formulações ajustadas em pH 5,0

apresentaram-se estáveis, não havendo nenhum crescimento microbiano durante os

45 dias de estudo, mesmo quando foi realizada abertura e descarte diário de

alíquotas para mimetizar as condições de uso. Além disso, ambas as formulações

apresentaram boa estabilidade físico-química durante todo o estudo de estabilidade,

apresentando resultados de teor do ativo dentro dos limites especificados, sem

variações significativas.

Dessa forma, as formulações 6 e 7 foram consideradas estáveis por 45 dias

nos estudos de estabilidade físico-químico e microbiológico. A Formulação 7, apesar

de apresentar em sua composição apenas o ácido cítrico como conservante,

apresentou bons resultados para o estudo de estabilidade microbiológico, inclusive

quando mimetizadas as condições de uso e potencializadas com altas temperaturas.

Com o intuito de obter informações acerca de possíveis produtos de

degradação, a Formulação 7 foi exposta às condições de estresse conforme Informe

Técnico N° 01/2008 (IT 01/08). A formulação foi exposta à hidrólise ácida (HCl 0,1N),

básica (NaOH 0,1N) e ao aquecimento constante a temperatura de 60°C.Os

resultados podem ser observados na tabela 24.

112

Tabela 24. Teor de L-carnitina da Formulação 6 sob soluções degradantes dez vezes menos concentrada

Condição de estresse 24h

HCl 0,1N 91,45% ± 0,49

NaOH 0,1N 90,81% ± 0,25

Aquecimento (60°C) 105,01%± 0,25

Padrão 99,99% ± 0,31

Legenda: HCl: ácido clorídrico, NaOH: hidróxido de sódio

Como informado na RDC 53 de 2005, é indicado degradar mais que 10% do

ativo, o que não foi observado no estudo. Observou-se também que a formulação

submetida a aquecimento apresentou teor um pouco elevado, podendo indicar uma

falha no sistema de vedação do refluxo, tendo sofrido evaporação e concentração do

ativo.

Visando submeter a formulação à condições degradantes para avaliação dos

produtos formados, um novo estudo foi realizado com base na degradação forçada

de L-carnitina descrita por Khoshkam e Afshar (2014). A formulação foi exposta a

uma solução ácida, básica, solução oxidante e ao aquecimento extremo por 12 e 24

horas em sistema de vidraria vedado para evitar possível evaporação. O resultado

para o teste pode ser observado na tabela 25.

Tabela 25.Resumo do estudo de degradação forçada sob diferentes condições.

Condição de estresse Temperatura 4h 12h 24h Impureza detectada

Aquecimento 70°C - 99,00%± 0,82 98,36%± 0,93 0

HCl 1N 70°C - 48,92%± 0,49 22,01%± 0,57 1

NaOH 1N 70°C - 51,29%± 0,25 25,33%± 1,11 1

H2O2 (abrigo da luz) 25°C 89,19%± 0,25 - - 0

Padrão (sob agitação) 25°C - - 99,32% ± 0,29 -

Assim como demonstrado por Khoshkam e Afshar (2014), a L-carnitina

apresentou drástica degradação em meios ácidos e básicos aquecidos

113

permanecendo apenas 22,01%e 25,33% respectivamente após 24 horas de

exposição. Foi observado pico adicional na análise ácida e básica e ambos

apresentaram o mesmo tempo de retenção relativo conforme apresentado na tabela

26.

Tabela 26.Tempo de retenção dos picos encontrados no estudo de estabilidade.

Condição de estresse 4 horas 12 horas 24 horas Substância

equivalente

Aquecimento - 2,161 ± 0,29

3,193 ± 0,52

2,179 ± 0,32

3,196 ± 0,70

Ácido Cítrico

Carnitina

HCl 1N -

-

2,178 ± 0,28

3,193 ± 0,16

2,013 ± 0,75

2,182 ± 0,18

3,202 ± 0,28

Impureza

Ácido Cítrico

Carnitina

NaOH 1N -

1,898 ± 0,37

2,199 ± 0,62

3,081 ± 0,37

1,985 ± 0,20

2,209 ± 0,52

3,143 ± 0,81

Impureza

Ácido Cítrico

Carnitina

H2O2(abrigo da luz) 2,161 ± 0,78

3,133 ± 0,41 - -

Ácido Cítrico

Carnitina

As áreas encontradas para as amostras com impureza detectada estão

apresentadas na tabela 27.

Tabela 27. Áreas dos picos encontrados no estudo de degradação.

Condição de estresse 4 horas 12 horas 24 horas Substância

equivalente

Aquecimento - 21092701 20956535 Carnitina

HCl 1N - -

10437730

1922109

4712386

Impureza

Carnitina

NaOH 1N - 872551

10941969

1459959

5418745

Impureza

Carnitina

H2O2 (abrigo da luz) 19005535 - - Carnitina

Padrão - - 21160783 Carnitina

114

A formulação magistral é produzida de forma individualizada, sob prescrição

médica e preparada para uso em até 48h após sua manipulação, sendo considerada

uma preparação extemporânea (BRASIL, 2012c). Dessa forma, ele não possui um

prazo de validade, mas sim uma data limite para uso denominada de “Prazo de Uso”

e cabe ao farmacêutico a responsabilidade de definir esse prazo, de acordo com

material científico e referência disponíveis. No entanto, fatores externos não podem

ser controlados, mas a realização do estudo de degradação forçada visa mostrar

indícios do que pode ocorrer com a substância frente às condições extremas de

armazenamento.

Uma vez que a degradação encontrada possa ocorrer pela reação de um

excipiente, ou por impurezas presentes em sua embalagem primária, ou até mesmo

pela natureza da embalagem utilizada (como é o caso de vidro tipo I, II e III), é

necessário observar o perfil de degradação e tomar as medidas cabíveis para evitar

a perda da estabilidade ao longo do prazo de uso. Com esses testes, é mais fácil a

proteção do fármaco, realizando apenas ajustes. O farmacêutico ganha maior

controle e pode ser mais assertivo sobre o desenvolvimento da formulação e a

determinação do prazo de uso da formulação de forma segura.

O estudo de estabilidade completo realizado sob temperaturas elevadas

(estudo de estabilidade acelerado), corroborado com o estudo de degradação

forçada por aquecimento, indicam que a L-carnitina não apresenta problemas quanto

à sua estabilidade térmica e não necessita de acondicionamento da formulação sob

refrigeração. Foram realizados testes t de Student comparando resultados

encontrados para 5°C e para 25°C nos estudos de estabildiade apresentados e não

foi encontrada diferença significativa, reforçando a assertiva apresentada.

Por mais que a degradação em meio ácido e básico tenha ocorrido em

concentrações altas das soluções degradantes, a intensa degradação percebida

aponta a necessidade de cuidados para a manutenção do valor de pH. Como

observado no estudo de estabilidade completo realizado, a formulação controle

apresentou contaminação microbiana que foi acompanhada por aumento nos

valores de pH da formulação. Mas os sistemas conservantes avaliados nas duas

formulações mantiveram a estabilidade microbiana ao longo dos 60 dias de estudo,

mesmo quando condicionados a temperatura de 40°C, que visa acelerar os

processos degradantes. Vale lembrar que o estudo realizado foi feito com a abertura

115

subsequente da embalagem primária na tentativa de mimetizar as condições reais

de uso.

Dessa forma, as formulações 6 e 7 apresentaram boa estabilidade físico-

química e microbiológica, podendo ser acondicionadas sob temperatura ambiente

(sem a necessidade de refrigerador) durante o período de 45 dias. Além disso, o seu

envase pode ser realizado tanto em frasco de vidro quanto em frasco plástico leitoso

de PET dependendo apenas do volume final necessário pelo paciente.

A Formulação 7 apresentar menor quantidade de excipientes e, como o perfil

do público alvo possui diversas restrições por conta das alterações metabólicas,

indica-se a formulação com a menor quantidade de excipientes possíveis visando

evitar o aparecimento de efeitos indesejáveis atrelados ao uso do benzoato de sódio

(PIFFERI; RESTANI, 2003; SENA et al., 2014). Entretanto, o estudo de estabilidade

foi realizado em ambiente que possui boas práticas de fabricação e, dessa forma,

apresenta rigor quanto à limpeza, e é provável que o ambiente onde o paciente

realizará o manuseio do frasco e a administração da formulação apresente alguma

propensão maior à realizada quanto a contaminação microbiana. Dessa forma, para

assegurar a manutenção da estabilidade microbiana após dispensação, indica-se

utilizar a formulação 6 que apresenta em sua composição o benzoato de sódio,

podendo assegurar ainda mais a ação contra leveduras e bactérias e garantia da

segurança da formulação.

116

7 CONCLUSÃO

A Formulação 6 (com benzoato de sódio e ácido cítrico) e a Formulação 7

(apenas com ácido cítrico) apresentaram estabilidade físico-química e microbiológica

satisfatória durante os 45 dias de estudo de estabilidade propostos, mesmo quando

armazenadas em temperatura ambiente (15 a 30°C).

A estabilidade também foi mantida nos dois materiais de embalagem testados

e, dessa forma, a formulação pode ser envasada e dispensada em frasco de vidro

âmbar ou em frasco plástico PET leitoso, sem alteração da estabilidade e com

garantia de segurança para o paciente.

Apesar de ambas as formulações apresentarem boa estabilidade, a

Formulação 6 pode garantir uma maior segurança após a dispensação ao paciente.

Dessa forma, a Formulação 6 será incluída no Memento Terapêutico da

Farmácia Universitária da UFRJ e será disponibilizada para venda e atendimento

aos pacientes. Ela estará disponível nas concentrações de 10 e 20%, com prazo de

uso seguro de 45 dias, podendo ser armazenada sob temperatura ambiente (15 a

30°C) e envasada tanto em frasco de vidro âmbar como em frasco plástico PET

leitoso.

117

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, T.O.S. A reforma sanitária brasileira e questão medicamentos/assitência farmacêutica.2016. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) - Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, 2016.

ANSEL, H. C.; POPOVICH, N. G.; ALLEN JUNIOR, L. V. Ansel'sPharmaceutical Dosage Forms and Drug Delivery Systems. 10. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Health, 2014.

ANTUNES, D. J. M. Estudos de Estabilidade de Formas Farmacêuticas: HPLC e Controlo Microbiológico. 2015. Dissertação (Metrado em Engenharia Farmacêutica) - Faculdade de Farmácia, Técnico Lisboa, Lisboa, 2015.

ARAÚJO, A. P. DE Q. C. Doenças metabólicas com manifestações psiquiátricas. Rev. Psiq. Clín., Rio de Janeiro, v. 31, n. 6, p. 285–289, 2004.

AULTON, M. E. Delineamento de Formas Farmacêuticas. 4a ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. p.1713.

BALBANI, A.P.S.; STELZER, L. B.; MONTOVANI, J. C. Excipientes de medicamentos e as informações da bula. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 72, n. 3, p. 400–406, 2006.

BARROS, R. C. A. Apresentação da Farmácia Universitária da UFRJ. In: WORKSHOP DA FARMÁCIA UNIVERSITÁRIA DA UFRJ, 2., 2016, Rio de Janeiro, Anais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2016.

BEHRMAN, R.E.; KLIEGMAN, R.M.;JENSON, H.B.Tratado de pediatria de Nelson. 19ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1, p. 1–3033, 2014.

BERNAL, V.; SEVILLA, A.; CÁNOVAS, M.; IBORRA, J. Production of L-carnitine by secondary metabolism of bacteria. Microbial cell factories, Spain, v. 6, p. 31, 2007.

BERRY, G.T. Inborn errors of amino acid and organic acid metabolism. Principles of Perinatal - Neonatal Metabolism, New York: Springer, v. 2 p.799, 1998.

BILLANY, M. Soluções. Em: Delineamento de formas farmacêuticas. Porto Alegre, RS: Artmed, 2005. p. 318–329.

BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Guia de estabilidade de produtos cosméticos. 1ª ed. Brasília: ANVISA, 2004.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RE N° 1, de 29 de julho de 2005. Guia para realização dos testes de estabilidade de produtos

118

farmacêuticos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 01 de agosto de 2005.

BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 67, de 08 de outubro de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 08 outubro de 2007.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Consulta Pública no 25, de 23 de março de 2010. Revisão, atualização e inclusão de Métodos Gerais da Farmacopéia Brasileira. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 de março de 2010.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC N° 45, de 9 de agosto de 2012. Dispõe sobre a realização de estudos de estabilidade de insumos farmacêuticos ativos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 de agosto de 2012.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC N° 166, de 24 de julho de 2017. Dispõe critérios para validação de métodos analíticos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 de julho de 2017.

BRASIL. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira. 5.ed., 2010.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário Nacional Da Farmacopeia Brasileira. 2. ed. Brasília, Brasil: Ministério da Saúde, 2012b.

BREMER, J. Carnitine - metabolism and functions. Physiological reviews, v. 63, n. 4, p. 1420–1480, 1983.

BROQUIST, H. P. Modern nutrition in health and disease. 10. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 1994.

BURRESON, J.; COUTEUR, P. LE. Os botões de Napoleão: As 17 moléculas que mudaram a história. 1. ed. Zahar, 2006.

BURTON, B. K. Inborn errors of metabolism in infancy: a guide to diagnosis. Pediatrics, v. 102, n. 6, p. 1–9, dez. 1998.

CAMPISTOL, J. et al. Protocolo de diagnóstico y tratamiento de las acidemias propiónica, metilmalónica e isovalérica. Protocolos de diagnóstico y tratamiento de los errores congénitos del metabolismo, p. 27–51, 2007.

CAVAZZA, M. D-camphorate of L-carnitinamide and D-camphorate of D-carnitinamide. BE patent.877609AI, 1981.

119

CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. In: CARLA DALMAZ. Bioquímica Ilustada. 3. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2006. p. 179–216.

DA SILVA, A. V. A. et al. Presença de excipientes com potencial para indução de reações adversas em medicamentos comercializados no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 44, n. 3, p. 397–405, 2008.

DEODATO, F. et al. Methylmalonic and Propionic Aciduria FEDERICA. American Journal of Medical Genetics Part C Semin Med Genet, v. 142C, n. 2, p. 104–112, 2006a.

DRENDEL, H. M. et al. Intermediate MCAD Deficiency Associated with a NovelMutation of the ACADM Gene: c.1052CT. Case Reports in Genetics, v. 2015, p. 4, 2015.

EL-HATTAB, A. W. Inborn Errors of Metabolism. Clinics in Perinatology, v. 42, n. 2, p. 413–439, 2015.

EL HUSNY, A. S.; CALDATO, M. C. F. Erros Inatos Do Metabolismo: Revisão De Literatura. Revista Paraense de Medicina, v. 20, n. 2, p. 41–45, 2006.

EL HUSNY, A. S.; FERNANDES-CALDATO, M. C. Erros inatos do metabolismo: revisão de literatura. Revista Paraense de Medicina, v. 20, n. 2, p. 41–45, 2006.

ESTEFAN, I.J.S. O ensino de Farmácia. Cad. Saúde Pública, v. 2, n. 4, 1986.

EVANS, A. M.; FORNASINI, G. Pharmacokinetics of L-Carnitine. Clin Pharmacokinet, v. 42, n. 11, p. 941–967, 2003.

FENTON, W. A; GRAVEL, R. A; ROSENBLATT, D. S. Disorders of Propionate and Methylmalonate Metabolism. The Online Metabolic and Molecular Bases of Inherited Diseases, p. 2165–2194, 2001.

FERREIRA, A. DE O. Manipulação. In:Guia Prático da Farmácia Magistral. 2a ed. Juiz de Fora: Pharmabooks Editora, 2000. p. 109–492.

FERREIRA, A. DE O.; SOUZA, G. F. Preparações orais líquidas. 3a ed. São Paulo: Pharmabooks Editora, 2011.

FORATO, L. A. et al. A Espectroscopia na região do Infravermelho e algumas aplicações.1. ed. São Paulo: Embrapa Instrumentação, 2010.

FUKAO, T. et al. Clinical and molecular characterization of five patients with succinyl-CoA:3-ketoacid CoA transferase (SCOT) deficiency. Biochim Biophys Acta, v. 1812, n. 5, p. 619–24, 2011.

120

GARCÍA, E. G. et al. Artículos originales CARACTERIZACIÓN MOLECULAR DE FENILCETONÚRICOS. Revista cubana de pediatría, v. 75, n. 2, p. 101–5, 2002.

GARCÍA, E. G. et al. Caracterización molecular de fenilcetonúricos cubanos. Rev Cubana de Pediatría, v. 75, n. 2, p. 101–5, 2002.

GOSEN, L.V. Organic Acidemias: A Methylmalonic and propionic focus.Journal of Pediatric Nursing. v. 23, n. 3, 2008.

GRÜNERT, S. et al. 3-methylcrotonyl-CoA carboxylase deficiency: clinical, biochemical, enzymatic and molecular studies in 88 individuals. Orphanet J Rare Dis, v. 7, n. 31, 2012.

GUERRA, M.P.S.B. Desenvolvimento e estudo da estabilidade de uma formulação líquida oral de amiodarona. 2012. Dissertação (Mestrado em Farmacotecnica Avançada) - Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2012.

GUYNOT, M. E. et al. Study of benzoate, propionate, and sorbate salts as mould spoilage inhibitors on intermediate moisture bakery products of low pH (4.5-5.5). International Journal of Food Microbiology, v. 101, n. 1–2, p. 161–168, 2005.

HOFFMAN, G. F. Selective screening for inborn erros of metabolism: past, present and future. Eur J Pedriatr, v. 153, p. 2–8, 1994.

HOPPEL, C. The Role of Carnitine in Normal and Altered Fatty Acid Metabolism.American Journal of Kidney Diseases, v. 41, n. 4, p. 4–12, 2003.

JAIN, N. K. et al. Sorbitol intolerance in adults. Am J Gastroenterol, v. 80, n. 9, p. 678–81, 1985.

JARDIM, L. B.; ASHTON-PROLLA, P. Erros inatos do metabolismo em crianças e recém-nascidos agudamente enfermos : guia para o seu diagnóstico e manejo. Jornal de Pediatria, v. 72, p. 63–70, 1996.

KHOSHKAM, R.; AFSHAR, M. Validation of a Stability-Indicating RP-HPLC Method for Determination of L-Carnitine in Tablets.International Scholarly Research Notices, v. 2014, p. 1-8, 2014.

KIEFER, W.; MAZZOLINI, A. P.; STODDART, P. R. Monitoring oxidation of multiwalled carbon nanotubes by Raman spectroscopy. Journal of Raman Spectroscopy, v. 38, p. 356-363, 2007.

LACHMAN, L.; LIEBERMAN, H. A.; KANING, J. L. Líquidos. In: Teoria e Prática na Indústria Farmacêutica. Fundação C ed. Lisboa: p. 783–818.

121

LEAL, L. B. Estudo de fármacos e medicamentos manipulados em farmácias magistrais utilizados no tratamento de doenças reumatológicas. 2007. Tese (Doutorado em Ciências Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Pernambuco Centro, 2007.

LEHNERT, W. et al. Propionic acidemia: clinical, biochemical and therapeutic aspects. Experience in 30 patients. European Journal of Pediatrics, v. 153, p. 68–80, 1994.

LEITE, F. et al. Medicamentos pediátricos e cáries dentárias - Percecões e atitudes de um grupo de tutores pediátricos em Vila Nova de Gaia. Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentaria e Cirurgia Maxilofacial, v. 52, n. 4, p. 193–199, 2011.

LI, B. et al. The effect of enteral carnitine administration in humans. The American Journal of Clinical Nutrition, v. 55, p. 838–845, 1992.

LUBI, N. CRISTINA. Desenvolvimento de forma farmacêutica líquida de uso oral, isenta de açúcar com extrato fluído de guaco (Mikania glomerata Sprengel, Asteraceae), para afecções do aparelho respiratório. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Paraná, 2002.

MALIK, S. et al. Neonatal Carnitine Palmitoyltransferase II Deficiency: A Lethal Entity. J Clin Diagn Res, v. 10, n. 9, p. SD01–SD02, 2015.

MARTINDALE, W. Martindale: The complete drug reference. 30. ed. London: Pharmaceutical Press, 2009.

MAX, B. et al. Biotechnological production of citric acid. Brazilian Journal of Microbiology, v. 41, n. 4, p. 862–875, 2010.

MCCALLUM, S. Addressing Nutrient Density in the Context of the Use of Thickened Liquids in Dysphagia Treatment. ICAN: Infant, Child, & Adolescent Nutrition, v. 3, n. 6, p. 351–360, 2011.

MCGOVERN, P. E. et al. Fermented beverages of pre- and proto-historic China. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 101, n. 51, p. 17593–17598, 2004.

MEADOWS, J. A.; WARGO, M. J. Carnitine in bacterial physiology and metabolism. Microbiology (United Kingdom), v. 161, n. 6, p. 1161–1174, 2015.

NADAI, C. P.; PINHEIRO, P. R. E. Aminoacidopatias: caraterísticas clínicas e genéticas. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA, v. 64, n. 10, p. 465 à 473, 2006.

NASSER, M. et al. Carnitine supplementation for inborn errors of metabolism

122

(Review). Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 2, p. 1981–90, 2012.

NELSON, D. L.; COX, M. M. A Oxidação dos Ácidos Graxos. In: AL, C. T. ET. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2014. p. 465–485.

NUNN, T.; WILLIAMS, J. Formulation of medicines for children. British Journal of Clinical Pharmacology, v. 59, n. 6, p. 674–676, 2005.

NYHAN, W.L.; BARSHOP, B.A.; OZAND, P.T. Atlas of Metabolic Diseases. 2. ed. Hodder Arnold: London, 2005.

PAMPOLS, T.; RIBES, A. Bioquímica Clínica. In: FRANCESC GONZÁLEZ SASTRE. Bioquímica Clínica. Barcelona: Barcanova, 1994. p. 579–631.

PATRICK, F. N.; HINCHCLIFFE, C.; JONATHAN, W. V. L-carnitine. Journal of Alternative Medicine Review, v. 10, n. 1, p. 42–50, 2005.

PAULO, J. et al. Estudo Das Relações Entre Estrutura E Atividade De Parabenos: Uma Aula Prática. Quim. Nova, v. 36, n. 6, p. 890–893, 2013.

PAVIA, D. L.; LAMPMAN, G. S. K.; VYVYAN, J. R. Introdução à espectroscopia. 4a ed. Washington: Cengage Learning, 2013.

PESSANHA, A. F. V. et al. Influência dos excipientes multifuncionais no desempenho dos fármacos em formas farmacêuticas. Rev. Bras. Farm, v. 93, n. 2, p. 136–145, 2012.

PIFFERI, G.; RESTANI, P. The safety of pharmaceutical excipients. Il Farmaco, v. 58, n. 8, p. 541–550, 2003.

PINTO, S.; BARBOSA, C. M. Medicamentos Manipulados em Pediatria. Arquivos de Medicina, v. 22, n. 2/3, p. 75–84, 2008.

PRISTA, L.N.; ALVES, A.C.; MORGADO, R. Técnica farmacêutica e farmácia galênica. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.

RAGHUVEER, T. S.; GARG, U.; GRAF, W. D. Inborn errors of metabolism in infancy and early childhood: an update. American Family Physician, v. 73, n. 11, p. 1981–90, 2006.

RAO, A. N. et al. Inborn errors of metabolism: review and data from a tertiary care center. Indian Journal of Clinical Biochemistry, v. 24, n. 3, p. 215–22, jul. 2009.

REBOUCHE, C. J.; ENGEL, A. G. Kinetic Compartmental Analysis of Carnitine Metabolism in the Human Carnitine Deficiency Syndromes Carnitine Transport.

123

Academy of Sciences, v. 30, p. 857–867, 1984.

RIBEIRO, F. A. DE L. et al. Planilha De ValidaçãO: Uma Nova Ferramenta Para Estimar Figuras De MéRito Na ValidaçãO De MéTodos AnalíTicos Univariados. Quim. Nova, v. 31, n. 1, p. 164–171, 2008.

ROCHA, J. et al. Comparação da Estabilidade do Paracetamol Solução Oral Armazenada em Frasco Vidro. Cienc. Biol. Agrar. Saúde, v. 18, n. 3, p. 143–150, 2014.

RODRIGUES, C. R. et al. A Faculdade de Farmácia da UFRJ. In: QUEIROZ, A. C. DE B.; OLIVEIRA, A. J. B. (Eds.). . Universidade e lugares de memória II. Rio de Janeiro: Sistema de Bibliotecas e Informação,. p. 55–69, 2009.

ROWE, R. C.; SHESKEY, P. J.; QUINN, M. Handbook od pharmaceutical excipients. 6a ed. Grayslake: Pharmaceutical Press, 2009.

SÁNCHEZ-HERNÁNDEZ, L. et al. Sensitive determination of d-carnitine as enantiomeric impurity of levo-carnitine in pharmaceutical formulations by capillary electrophoresis-tandem mass spectrometry. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis, v. 53, n. 5, p. 1217–1223, 2010.

SANJURJO, P.; BALDELLOU, A. Diagnostico y Tratamiento de Las Enfermidades Metabólicas Hereditarias. 2. ed. 2006.

SAUDUBRAY, J. M. et al. Clinical approach to inherited metabolic disorders in neonates: An overview. Seminars in Neonatology, v. 7, n. 1, p. 3–15, 2002.

SCHWARTZ, I. V.; SOUZA, C. F. M. DE; GIUGLIANI, R. Treatment of inborn errors of metabolism. Jornal de pediatria, v. 84, n. 4 Suppl, p. S8–S19, 2008.

SCRIVER, C. R. et al. The metabolic and molecular bases of inherited disease. Biochemistry (Moscow), v. 67, n. 5, p. 611–612, 2002.

SENA, L. C. S. et al. Excipientes Farmacêuticos E Seus Riscos À Saúde: Uma Revisão Da Literatura Excipientes Farmacéuticos Y Sus Riesgos Para La Salud: Una Revisión De La Literatura Pharmaceutical Excipients and Its Risks for Health: a Literature Review. Rev. Bras. Farm. Hosp. Serv. Saúde São Paulo, v. 5 n.4, p. 25–34, 2014.

SHAWKY, R. M.; ABD-ELKHALEK, H. S.; ELAKHDAR, S. E. Selective screening in neonates suspected to have inborn errors of metabolism. Egyptian Journal of Medical Human Genetics, v. 16, n. 2, p. 165–171, 2015.

SHLOMI, T.; CABILI, M. N.; RUPPIN, E. Predicting metabolic biomarkers of human inborn errors of metabolism. Molecular Systems Biology, v. 5, n. 263, p. 263, jan. 2009.

124

SILVA, K. E. R. et al. Modelos de avaliação da estabilidade de fármacos e medicamentos para a indústria farmacêutica. Revista de Ciencias Farmaceuticas Basica e Aplicada, v. 30, n. 2, p. 129–135, 2009.

SONI, M. G. et al. Safety assessment of propyl paraben: A review of the published literature. Food and Chemical Toxicology, v. 39, n. 6, p. 513–532, 2001.

SWEETMAN, S. C. Martindale: The Complete Drug Reference. 37. ed. London: Pharmaceutical Press, 2009.

TENOPOULOU, M. et al. Strategies for Correcting Very Long Chain Acyl-CoA Dehydrogenase Deficiency. J Biol Chem, v. 290, n. 16, p. 10486–10494, 2015.

TERRA, J.; ROSSI, V. SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA ANÁLISE VOLUMÉTRICA E ALGUMAS APLICAÇÕES ATUAIS Juliana Terra e Adriana Vitorino Rossi. Quim. Nova, v. 28, n. 1, p. 166–171, 2005.

USP. The United States Pharmacopeia Convention. 40. ed. p. 4823–24.

VALDERRAMA, P.; BRAGA, J. W. B.; POPPI, R. J. Estado da arte de figuras de mérito em calibração multivariada. Quimica Nova, v. 32, n. 5, p. 1278–1287, 2009.

VARGAS, C. R.; WAJNER, M. Cidúrias Orgânicas: Diagnóstico E Tratamento. Revista AMRIGS, v. 45, n. 1,2, p. 77–82, 2001.

VENTURA, D. M. Desenvolvimento farmacotécnico de formulações de suspensões de hidroclorotiazida obtidas por transformação de formas farmacêuticas.Quim. Nova, p. 15–24, 2011.

VILAPLANA, J.; ROMAGUERA, C. Fixed drug eruption from sodium benzoate. Contact Dermatitis, v. 49, n. 6, p. 290–291, 2003.

VITORIA, I. et al. Carnitine-Acylcarnitine Translocase Deficiency: Experience with Four Cases in Spain and Review of the Literature. JIMD Reports, v. 20, p. 11–20, 2015.

WAJNER, M. et al. Acidúrias orgânicas: diagnóstico em pacientes de alto risco no Brasil. Jornal de Pediatria, v. 77, n. 5, p. 401–406, 2001.

WALTER, J. H. L -Carnitine in inborn errors of metabolism : What is the evidence ? Journal of Inherited Metabolic Disease, v. 26, n. 2, p. 181–188, 2003.

WALTER, P.; SCHAFFHAUSER, A. O. ‘Vitamin-Like Substance’ for Functional Food. Annals of Nutrition & Metabolism, v. 44 (2), p. 75–96, 2000.

WOOD, R. How to validate analytical methods. TrAC Trends in Analytical

125

Chemistry, v. 18, n. 9, p. 624–632, 1999.

WOODS, C. et al. Development of necrotizing enterocolitis in premature infants receiving thickened feeds using SimplyThick. J Perinatol, v. 32, n. 2, p. 150–152, 2012.

WOODS, D. J. Veículos - Agentes Suspensores e Espessantes. In: FONSECA, S. G. C.Formulação na Prática Farmacêutica. 2a ed. Ceará, Fortaleza: PharmInfoTech, 2019. p. 3–4.

姜波, 刘东风, 王小雪, 张春苗. Levocarnitine compound and preparation method thereof. CN103910645A, 07 jan. 2013. Disponível em: <https://patents.google.com/ patent/CN103910645A/en>. Acesso em: 30 abr. 2019.