matrizes da linguagem e a organização virtual do conhecimento

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    Matrizes da linguagem e a organizao virtualdo conhecimento

    INTRODUO

    A partir da virtualizao dos recursos informacionais,verifi ca-se uma multi plicidade de signos ede linguagens no ciberespao, bem como aautomao do tratamento da informao apresentadiferentes paradigmas na organizao dos estoquesinformacionais. Entende-se, nesse contexto,os mecanismos de busca como uma forma deorganizao desses contedos no ciberespao que, aexemplo da multiplicidade semitica nesse ambiente,tambm vm se diversificando e apresentando-se sob

    o paradigma das matrizes linguagem-pensamento.

    Com base nas teorias das matrizes da linguagem(SANTAELLA, 2005) e das mltiplas sintaxesde organizao e busca do conhecimento nociberespao (MONTEIRO, 2002), investigou-seo grau de correspondncia entre os mecanismosde busca com as matrizes sonora, visual e verbal,como contribuio terica para a rea de estudosem organizao da informao e do conhecimento

    operada por mquinas no ciberespao.

    Resumo

    Os signos e as linguagens foram investigados paraa organizao virtual do conhecimento por meio dosmecanismos de busca. Fundamentou-se na teoria dasmatrizes da linguagem-pensamento, postuladas porSantaella (2005), na qual se perscrutou as linguagens

    sonora, visual e verbal. O objetivo da investigao foiestabelecer uma categorizao dos mecanismos de buscaa partir da correspondncia dessas matrizes da linguagemcom a indexao virtual e o modus anlogo de busca.Os resultados da investigao indicam ser adequada acategorizao dos mecanismos de busca sob o critriodos paradigmas semitico da linguagem em trs matrizes,dado o seu modo de ser e sua operacionalidade, sendoeles baseados em contedos sonoros, visuais e verbais.Sinteticamente, a sintaxe a representao do sonoro,a forma a representao do visvel e o discurso arepresentao do conhecimento verbal.

    Palavras-chave

    Organizao do conhecimento. Mecanismos de busca.Matrizes da linguagem.

    Matrices of language and the virtual

    organization of knowledge

    Abstract

    The signs and languages were investigated for the virtual

    organization of knowledge by search engines. The study

    was based on the theory of the matrices of language

    and of thought, postulated by Santaella (2005), in which

    the sonorous, visual and verbal language was extracted.

    The purpose of this investigation was to establish a

    categorization of search engines, from the matching of

    these matrices of language with the virtual indexation and

    analog modus of search. Research results indicate that

    the categorization of the search engines is appropriate

    under the discretion of the semiotic paradigm of language

    in three matrices, by its way of being and function, since

    they are sonorous, visual and verbal based-content.

    Briefly, the syntax is the representation of the sonorous,

    the shape is the representation of the visible and the

    discourse is the representation of the verbal knowledge.

    Keywords

    Knowledge organization. Search engines. Matrices of

    language.

    Joel Gomes de AbreuBilbiotecrio pela Universidade Estadual de Londrina.E-mail:[email protected]

    Silvana Drumond MonteiroUniversidade Estadual de Londrina, Centro de EducaoComunicao e Artes. Doutora em comunicao esemitica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo,PUC-SP, So Paulo, Brasil.

    E-mail:[email protected]

    ARTIGOS

    Ci. Inf., Braslia, DF, v. 39 n. 2, p.9-26, maio/ago., 2010

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    De acordo com Santaella (2005), toda a variedadee multiplicidade das formas de linguagens estoprimordialmente sustentadas em trs matrizesde linguagem-pensamento: a sonora, a visual e a

    verbal. E a partir dessas, todas as combinaes emisturas so possveis. Alis, os mecanismos debusca operacionalizam regimes de signos muitocomplexos, sobre os quais se pretendeu aproximarda compreenso por meio da teoria das matrizes dalinguagem-pensamento.

    Complementando as ideias, entende-se que aorganizao das obras simblicas operada pormecanismos de busca est virtualizada e apresenta,

    ainda, outras caractersticas, a saber: a conexo, aheterogeneidade, a multiplicidade, a a-significnciae a cartografia, ou seja, conceitos deleuzianos doRizoma (MONTEIRO, 2002; 2009).

    A utilizao do termo mecanismos de busca nestetrabalho compreende toda a arquitetura de um searchengine. Embora sejam variadas, as arquiteturas dosmecanismos de busca contemplam trs etapas, queso a captura de contedo, a indexao e a busca(PAGE; BRIN, 1998).

    Nesse contexto, a busca em si aquela que pe emconexo usurio e mquina, na qual o usurio utiliza-se de uma interface que oferece uma caixa de entrada,query, para que o usurio apresente sua intenode busca. neste ponto que a multiplicidade e aheterogenidade de signos e de linguagens podemser verificadas e refletem a sintaxe de indexaooperada de acordo com os critrios estabelecidospelos algoritmos de ordenao e apresentao dos

    resultados.

    O objetivo da pesquisa foi verificar em que medidaas matrizes da linguagem correspondem indexao

    virtual dos estoques informacionais no ciberespao,bem como seu modus anlogo de busca, visandoa consolidar uma categorizao dos mecanismosde busca baseada na semitica das matrizes dalinguagem e contribuir para o desenvolvimento daLinha de Pesquisa em Representao e Organizaodo Conhecimento no Ciberespao.

    Os resultados corroboram a premissa demltiplas sintaxes dos mecanismos de busca, deMonteiro (2002), posto que as caractersticas deheterogeneidade e multiplicidade, principalmente designos e de linguagens no ciberespao, apresentam-se tambm na indexao e busca virtuais.

    E, ainda, os resultados obtidos a partir dos dadosanalisados revelam ser adequada a criao de umacategorizao dos mecanismos de busca apoiadanos paradigmas semiticos e da linguagem, de modoque, coerentemente s matrizes da linguagem estooperantes em mecanismos de busca trs matrizes

    virtuais de organizao e de busca da informao

    e do conhecimento no ciberespao, quais sejam: asonora, a visual e a verbal.

    Dessas trs matrizes da linguagem supe-se queoperam todas as hibridizaes de signos e delinguagens, bem como de organizao e de buscada informao e do conhecimento no ciberespao.

    A FENOMENOLOGIA E A SEMITICA

    Neste trabalho, optou-se pela utilizao de teoriasespecficas, sendo a fenomenologia e a semiticade tradio peirciana as bases conceituais paraesta investigao. Com isso, faz-se necessria aintroduo, ainda que breve, desses assuntos,para o entendimento da anlise dos dados e dosresultados obtidos.

    Para o filsofo Charles Sanders Peirce (1839-1914),o fundamento observacional o primeiro grandetrabalho que a filosofia (fenomenologia) deve realizar.

    Nesse passo, aps debruar-se sobre a experincia,ela mesma, Peirce concluiu que s h trs elementosformais ou categorias universalmente presentes emtodos os fenmenos (SANTAELLA, 1995).

    A palavra fenmeno deriva de phaneron, ou seja,qualquer coisa que aparece de qualquer modo mente, sendo que, na concepo de Peirce,os fenmenos no possuem nenhuma moldurapreestabelecida, e ainda:

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    [...] no se restringia a algo que podemos sentir,perceber, inferir, lembrar, ou a algo que podemoslocalizar na ordem espao-temporal que o sensocomum nos faz identificar como sendo o mundo

    real. Fenmeno qualquer coisa que aparece mente,seja ela meramente sonhada, imaginada, concebida,

    vislumbrada, alucinada... Um devaneio, um cheiro,uma ideia geral e abstrata da cincia... Enfim, qualquercoisa. (SANTAELLA, 1995, p. 16).

    Na filosofia de Peirce, todos os fenmenosapreendidos pela mente humana so reduzidos a trscategorias lgicas, so elementos formais,filamentosmais gerais, abstratos e universais de todo o universo.De acordo com Santaella:

    Essas categorias no podem ser confundidascom entidades puras. H infinitas modalidadesde categorias particulares que habitam todosos fenmenos. Essas, no entanto, so as maiselementares e universais, to gerais que podem ser

    vistas mais como tons, humores ou finos esqueletosdo pensamento do que como noes definitivas. Sopontos para os quais todos os fenmenos tendem aconvergir. (SANTAELLA, 1995, p. 17).

    No percurso de desenvolvimento dos estudos dePeirce, foram aplicadas diferentes denominaespara nomear as categorias, pois em cada campoou fenmeno elas assumem naturezas variadas,porm o substrato lgico-formal das categoriasse mantm sempre. Buscando diferenciarsuas categorias e evitar o uso de termosfilosoficamente carregados de sentido, Peirceutilizou termos esvaziados de qualquer contedomaterial, reduzindo-os sua natureza puramentelgica, e denominou suas categorias universaiscomo primeiridade (mnada), secundidade(relao didica) e terceiridade (relao tridica)(SANTAELLA, 1995).

    Conforme Santaella:

    O primeiro est al iado s ideias de acaso,inde te rminao , f r e sco r , o r i g in a l i d ade ,espontaneidade, potencial idade, qualidade,presentidade, imediaticidade, mnada... O segundos ideias de fora bruta, ao-reao, conflito, aqui

    e agora, esforo e resistncia, dada... O terceiroest ligado s ideias de generalidade, continuidade,crescimento, representao, mediao, trada.(1995, p. 18).

    Na primeira vez em que Peirce divulgou suas ideias,as categorias foram restringidas estritamente aosfenmenos mentais, sendo a obra intituladaSobre uma nova lista das categorias. Trezeanos mais tarde, Peirce estendeu-as a todos osfenmenos da natureza e do universo, desta

    vez intitulando-as Um, dois, trs: categoriasfundamentais do pensamento e da natureza.(SANTAELLA, 2005).

    A terceira categoria fenomenolgica o crescimentocontnuo, autogerao, semiose infinita, mediao,ao de gerar outro signo, ou seja, um interpretantedo primeiro j signo. nessa categoria quenasce a semitica peirciana, os estudos semiticose a classificao dos signos. Nesse ponto,Peirce amplia a noo de signo para aqum dosigno genuno (signo terceiro), e as categoriasfenomenolgicas so reintrojetadas dentro dasemitica (SANTAELLA, 1995).

    Essa tambm pode ser entendida como uma teorialgica do signo e ocupa posio especial na filosofiade Charles Sanders Peirce (1839-1914), pois o estudosobre os signos nos mais variados campos do sabero levaram a compor sua tese anticartesiana de quetodo pensamento se d em signo e, principalmente,na continuidade do signo.

    Nesse sentido, a tese de Peirce fundamentou sua teoriasgnica do conhecimento, de que todo pensamento continuao de outro pensamento e que leva aoutro. Esse processo denominado autogerao ousemiose infinita (SANTAELLA, 1995).

    A semitica, tambm denominada teoria dos signos, uma cincia dedicada ao estudo de toda e qualquerlinguagem capaz de produzir sentido, significao ede comunicar. J o signo:

    [...] intenta representar, em parte pelo menos, umobjeto que , portanto, num certo sentido, a causa

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    ou determinante do signo, mesmo se o signorepresentar seu objeto falsamente. Mas dizer queele representa seu objeto implica que ele afeta umamente, de tal modo que, de certa maneira, determine

    naquela mente algo que mediatamente devido aoobjeto. Essa determinao da qual a causa imediataou determinante o signo, e da qual a causa mediata o objeto, pode ser chamada o interpretante [...].(PEIRCE apudSANTAELLA, 1983, p. 58).

    Apesar de o signo ser o primeiro da trade da teoriados signos (signo, objeto e interpretante), o objetoque determina o interpretante de modo mediato(ou seja, mediado pelo signo). Pois ocorre que nasemitica se atribui ao signo uma primazia lgica,

    pelo seu carter vicrio de representao.

    A semitica, como cincia humana, emergiu emdiferentes pontos do mundo e se concretizoua partir do crescimento do uso de informao

    veiculada em cdigos e em mensagens alavancadaspelo avano tcnico, cientfico e tecnolgico.Nesse sentido, foi emergente a criao deuma cincia [...] capaz de criar dispositivosde indagao e instrumentos metodolgicosaptos a desvendar o universo multiforme ediversificado dos fenmenos de linguagem [...].(SANTAELLA, 1983, p. 16).

    Embora exista grande quantidade de signos, osprincipais e mais divulgados nas apresentaessobre semitica so trs e dizem respeito ao signoem relao ao seu objeto, sendo esses tipos designos denominados cones, ndices e smbolos.

    No entanto, Peirce tambm investigou o signo narelao em si mesmo e o signo em relao ao seuinterpretante e desenvolveu uma tipologia de signosqueficou muito conhecida e contempla sua tradiotridica (quadro 1).

    QUADRO 1Classificao dos signos

    Joel Gomes de Abreu / Silvana Drumond Monteiro

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    Quanto trade cone, ndice e smbolo, que osigno em relao ao seu objeto, vale ressaltar queo cone no representa apenas seus objetos porsemelhana e isomorfismo, como nas percepes

    visuais: desenhos, imagens, pinturas e diagramas,mas tambm por percepes mentais e auditivas.Os cones so to abstratos que no representammais que sentimentos e formas, pois a qualidadesignificante do cone provm de suas qualidades(MONTEIRO, 2006).

    J o signo indicial est em conexo dinmica coma realidade, por ora o que quer que seja real, eenvolve a existncia de seu objeto. O ndice um

    signo segundo e se a secundidade for uma existnciade fato, o ndice genuno, se a secundidade for umareferncia, ento o ndice degenerado.

    Quanto ao signo simblico, suas caractersticasprincipais so a generalidade da lei, a regra, ohbito ou a conveno da qual o signo smbolo associado. E sua funo como signo dependerdessa fora viva que governar e determinar seuinterpretante.

    No mbito deste trabalho, o signo sempre umexistente, um registro fixado em qualquer suportedigital e acessvel virtualmente por meio dosprogramas de computador e das conexes nociberespao.

    Nesse sentido, o cone puro e enquanto meraqualidade de sentimento, ou pura qualidade, se perdeno momento mesmo do registro ou fixao do signoem qualquer tipo de suporte. Vale notar que, no

    interior da semitica, opera a lgica da recursividadee em cada nvel ou campo fenomnico as categoriasso reintrojetadas.

    M A T R I Z E S D A L I N G U A G E M -PENSAMENTO

    A teoria das matrizes da linguagem-pensamento,a sonora, a visual e a verbal, foi postulada porSantaella (2005), que se baseia fundamentalmentenas categorias universais da fenomenologia peirciana

    e na classificao dos signos em uma perspectivasemitica. Tambm importante salientar que nointerior das matrizes opera a lgica recursiva, ouseja, nota-se que so observados em cada uma dasmatrizes os caracteres de cada uma das categoriasfenomenolgicas e da classificao dos signos. Osaspectos da linguagem sonora so identificveisna linguagem visual e as caractersticas de ambasaparecem na linguagem verbal.

    De acordo com Santaella (2005), a matriz sonoraest para a primeiridade e uma questo do cone, amatriz visual est para a secundidade e uma questodo ndice, e a matriz verbal est para a terceiridade

    e uma questo do smbolo. Assim, para comporo diagrama das matrizes foram fixados trs eixosclassificatrios, de modo que o eixo da sintaxe estpara a matriz sonora, o eixo da forma est para amatriz visual e o eixo do discurso est para a matriz

    verbal (SANTAELLA, 2005).

    Mas dizer que a matriz sonora est para aprimeiridade no a impede de expandir-se para osdomnios da secundidade e da terceiridade, poisessas so reintrojetadas no interior dessa matriz.O mesmo pode-se dizer sobre a matriz visualque estende para o domnio icnico e simblicoas investigaes das formas visuais. Do mesmomodo, pode-se dizer que tambm a matriz verbalapresenta no seu interior correspondncias comos caracteres icnicos e indiciais. Por exemplo,o caso dos adjetivos e dos discursos descritivos,proeminentemente icnicos, e o caso dospronomes, por exemplo este, aquele, quemantm relaes existenciais com seus objetos e

    tambm o caso das narrativas.

    Com base nessas orientaes para o estudo daslinguagens, Santaella elaborou um diagrama(diagrama 1) que compreende 27 modalidadesdentro de cada matriz (aqui explicitadas 9, no interiordelas). Estas esto distribudas nas trs matrizesprimordiais a sonora, a visual e a verbal. Em cadanvel so introjetadas as categorias fenomenolgicase se investigam seus caracteres correspondentes no

    diagrama das matrizes.

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    DIAGRAMA 1As trs matrizes e suas modalidades

    Fonte: Santaella, 2005, p. 372.

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    METODOLOGIA

    O enfoque deste trabalho foi o de uma pesquisaterico-formal e multidisciplinar, posto que

    fundamenta-se fortemente na semitica peirciana,passando pela informtica para perscrutar econstruir, por meio da anlise de um corpus, o objetona cincia da informao. A pesquisa documental,como delineamento, diferentemente das pesquisassociais em que se estudam os sujeitos, opera ainvestigao baseada em documentos, que podemser coletados em diversas fontes e formatos.

    Vale ressaltar que o objeto especfico sempre o

    contedo do conceito que exprime as propriedadesou atributos que definem o conceito e, portanto, oprprio objeto. Assim, o objeto especfico, isto ,aquele que ser construdo no decorrer da pesquisa,pode ser considerado real, posto que existente, masabstrato, uma vez que simblico, isto , constructoelaborado por uma sociedade em determinadomomento tecnolgico.

    Para Alves (2003, p. 308), a melhor maneira deconhecer os objetos culturais (leia-se simblicos),

    isto , os objetos humanos, a compreenso, j quea ao humana comporta ser compreendidasegundo nexos de finalidade e no de causalidade.

    As relaes de causalidade fazem parte da anlisedos componentes de objetos reais naturais, emque a explicao dos fenmenos faz-se quer pelareferncia de um fenmeno como causa de outro,quer pela diluio em seus elementos pela anlise.

    Assim, a explicao a forma mais apropriada paraa cognio dos objetos da natureza, e a compreenso

    para a cognio dos objetos culturais.

    Na cincia da informao a anlise documental(como mtodo) pode e deve utilizar-se do corpusdepesquisa, ou seja, de uma amostra de documentosou fontes selecionadas a priori, ou aposteriori, para odesenvolvimento do estudo. Assim, quando a coletade dados realizada na linguagem e documentos,configura-se o corpus, em vez do sujeito de pesquisa,prprio das investigaes inseridas no contextometodolgico das cincias sociais.

    Para Bardin (1977, p.96), o corpus o conjunto dedocumentos tidos em conta para serem submetidosaos procedimentos analticos. A sua constituioimplica escolhas, selees e regras. Para Barthes(1997, p. 104), o corpus uma coleo finita demateriais, determinada de antemo pelo analista,conforme certa arbitrariedade (inevitvel) em tornoda qual ele vai trabalhar.

    Nesse sentido, utilizou-se a pesquisa documentalpara o levantamento do corpuscom o qual sedesenvolveu a investigao (base emprica dainvestigao), por meio da anlise documental, paracomprovao dos pressupostos tericos com sua

    correspondncia operacional no ciberespao.

    Neste trabalho, entende-se por mecanismos debusca os programas de computador utilizados paraindexao e busca dos recursos informacionais e deconhecimento no ciberespao. Em ingls o termoaplicado searchengine.

    Quanto indexao, entende-se por indexaomaqunica os ndices gerados automaticamentepelos mecanismos de busca (ndice invertido) e

    recuperveis por meio da interface de busca queapresenta o ndice de tempo de execuo deacordo com a solicitao apresentada pelo usurio.Do ponto de vista filosfico, significa uma rupturacom a indexao manual. Conceitos situadosna ps-modernidade explicam a indexaooperada pelas mquinas, programas de computador(MONTEIRO; ABREU, 2009). Em certosmomentos, tambm utiliza-se a expresso indexao

    virtual, indicando a operao de programas de

    computador na indexao.

    Assim, para efeito do objetivo de Categorizar osmecanismos de busca a partir de sua correspondnciacom a fenomenologia e a semitica das matrizes dalinguagem, foi selecionado um corpuspara investigaros mecanismos de busca sonoros, visuais e verbais,de acordo com os seguintes eixos de anlise:

    a) indexao e busca dos documentos musicais versusmatriz sonora, eixo da sintaxe;

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    b) indexao e busca dos documentos visuais versusmatriz visual, eixo da forma;

    c) indexao e busca baseadas em texto versusmatriz

    verbal, eixo do discurso.

    Portanto, este trabalho teve em sua anlisedocumental a investigao dos mecanismosespecficos, sendo o Musipedia (paradigmasonoro), Retrievr, Vizseek, Google Earth(paradigma visual) e Buscap, Google Blog eGoogle Scholar (paradigma verbal) escolhidospara comprovar (ou no) as premissas sobre asmatrizes da linguagem nos mecanismos de busca

    e assim autorizar (ou descartar) a categorizaodos mecanismos de busca sob o critrio dosparadigmas semiticos. Esses mecanismos debusca esto explicitados no quadro 2.

    Neses mecanismos de busca foram analisadassuas operacionalidades com relao semiticadas matrizes da linguagem-pensamento, matrizessonora, visual e verbal. Por exemplo, tendo comopartida o signo sonoro para a busca, pode-se deduzirque o item indexado uma representao sonora

    e est no lugar lgico de um recurso sonoro, e quedemonstra uma cadeia lgica de representao. Esta

    lgica de representao est presente em todas asmatrizes, sejam elas sonoras, visuais ou verbais.

    RESULTADOS E DISCUSSO DO CORPUSDE PESQUISA

    Embora se tenha escolhido apenas um exemplarpara o paradigma sonoro, ele supre as necessidadesde um corpusque viabilizasse a investigao e quecorrespondesse aos aspectos organizacionais dalinguagem sonora. Quanto escolha de um nmeromaior de exemplares nos paradigmas visual e

    verbal, no se pretendeu explicitar subcategoriasespecificamente, mas que, segundo abordagem

    deste trabalho, realam diferentes aspectos dasdiversas modalidades e submodalidades apresentadaspor Santaella (2005) nas matrizes visual e verbal.

    Paradigma sonoro dos mecanismos de busca

    Iniciando a anlise dos mecanismos sonoros,do ponto de vista tecnolgico, o mtodo deindexao de contedos de udio tambm podeser denominado tcnicas extrao, que, por sua vez,extraem e determinam as caractersticas e varincias

    que tipificam o udio para serem descritas emrepresentaes sonoras condensadas da msica.

    QUADRO 2Corpus de pesquisa

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    Essas representaes podem ser arquivos MIDI(Musical Instrument Digital Interface) e CMN (Common

    Music Notation).

    A extrao do tema e a classificao dos itens nondice utilizam esses parmetros para identificardiferenas sutis entre os recursos analisados esistematiz-los, proporcionando velocidade nabusca. Contudo, a busca por contedos musicaispode ser executada por meio de outra metodologiade busca em udio denominada transcrio. Essatcnica converte uma expresso de busca em umarepresentao que viabiliza a busca em bases dedados de udio completo, por exemplo, composta

    por arquivos WAV e MP3, e/ou em ndices decontedo musical, porm essa abordagem exige maistempo para responder a uma consulta do usurio(REISS; SANDLER, 2002).

    No ciberespao, elegeu-se o domnio de buscaMusipedia como corpuspara a investigao desses

    mecanismos que operam a indexao e a buscabaseadas em contedos sonoros e musicais (figura1). Esse, embora seja semelhante quanto aoaspecto colaborativo dos usurios na construoe na edio dos contedos da base de dados, no afiliado Wikipdia.

    O contedo da coleo na base de dadoscompe-se de melodias e temas musicais, e abase foi planejada para ser pesquisvel, editvele expandvel. O Musipedia uma iniciativa deRainer Typk, mas mantido por muitos outroscolaboradores para idealizar a logomarca, planejara interface, tradues para outras lnguas, novos

    implementos para o stio, e os prprios usuriosso editores dos registros da base.

    Esses registros podem conter um pedao da faixada msica, um arquivo MIDI, a informaotextual sobre a obra e o seu compositor, e porltimo, mas no menos importante, o cdigo

    FIGURA 1The Musipedia: melody search engine

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    de Parson, que representa o contorno meldicocontido no documento.

    Esse mecanismo aceita buscas com base no ritmo,

    em que o usurio pode expressar sua intenobatendo ritmicamente no teclado da mquina, etambm opera com a insero direta de som, seja a

    voz do usurio cantando um trecho da msica, outocando algum instrumento musical perante ummicrofone conectado em uma mquina com acessoem rede. Nesse caso, necessrio um mnimo detempo de gravao, por exemplo, 10 segundos degravao seriam necessrios para extrair padrescomo notas, tons e qualificar a expresso de busca

    em uma representao sonora e musical paracompar-la aos documentos contidos nos ndicesou base de dados de contedos completos.

    Quanto ao aspecto da linguagem sonora e suacorrespondncia aos mecanismos de busca damsica, salienta-se que o fato de a linguagem sonoraestar contemplada na categoria fenomenolgicade primeiridade e de domnio semioticamenteicnico apresenta certa complexidade para seuentendimento e uso, pois os cones apenas podemapresentar qualidades, possibilidades e sugestes.

    Outro aspecto que se detectou nesta investigao o fato de que, do ponto de vista semitico, faz-seimprescindvel que o usurio de busca detenha certoconhecimento da organizao da linguagem sonora,nveis que se aproximam do legi-signo, para interagirde acordo com regras, leis e convenes desse regimesemitico, ou seja, o usurio precisa ter hbito, nosentido peirciano, para lidar proveitosamente com

    esses mecanismos.

    Tanto assim que a indexao maqunica damsica parece agregar conhecimentos comunsaos estudos semiticos da linguagem sonora, taiscomo os apresentados na modalidade sintaxesconvencionais, ou seja, o ritmo, a melodia ea harmonia. Entretanto, certo que outroscomponentes do som, como altura, durao,intensidade e timbre so tambm contempladostanto nas investigaes semiticas da matriz da

    linguagem sonora, quanto nos estudos sobre aindexao e busca maqunicas da msica, ou seja,aquela operada pelos mecanismos de busca.

    A linguagem sonora ainda domnio do acaso a mais livre; a recepo do som emitido por umusurio no ato da busca pode ser interferida poroutros sons do ambiente natural no percurso parao ambiente digital da mquina. Esse aspecto enfatizado tanto em relao aos mecanismos debusca sonoros e musicais no tratamento de rudos,quanto nos estudos da matriz sonora. De acordocom Santaella (2005), na modalidade dinmica dasgestualidades, especificamente na submodalidade a

    gestualidade sonora no espao externo, a sintaxe sonorase hibridiza com o ambiente arquitetnico. Demodo correlato, os mecanismos de gravao e detratamento da expresso da busca tambm se situamnessa problemtica.

    Embora outros aspectos tambm possamser correspondidos entre a matriz sonora e aoperacionalizao da organizao virtual dalinguagem sonoro no ciberespao, a partir dosmecanismos de busca, o que se pretendeu argumentarfoi a correspondncia do eixo da sintaxe na matrizsonora para o estudo da organizao virtual doscontedos sonoros em bibliotecas digitais virtuaise mecanismos de busca.

    Nesse sentido, salienta-se que o principal elementona sintaxe sonora o tempo, de modo que, se htempo na msica, h tambm uma sintaxe, ouseja, um modo de organizao ou regra em que oseventos sonoros ocorrem no tempo, uma ordem

    de repetio que engendra uma gramtica prpria.

    Portanto, argumenta-se que os mecanismos debusca sonoros, de modo semelhante matrizsonora, extraem do tempo os acontecimentossonoros para sua tipificao, representaoe organizao. Tanto assim que o ritmo sedesenvolve no tempo, a melodia a diferenciaodas alturas das notas musicais no tempo, e aharmonia a ocorrncia simultnea de diferentesnotas musicais em um percurso temporal.

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    Paradigma visual dos mecanismos de busca

    No caso da linguagem visual, do ponto de vistatecnolgico, a indexao maqunica de imagens

    est baseada em operaes de extrao e anlisede atributos prprios das formas visuais. Nocontexto das tecnologias da informao podemser fotos digitais, imagens digitalizadas, imagensgrficas criadas diretamente em programade edio de imagens (tais como caricaturas,desenhos grficos, logomarcas etc.), fotos digitaisde satlites, imagens mdicas digitalizadas,imagens de assinaturas digitais e biomdicas.

    Na literatura encontram-se algumas defi

    niesdiferentes para referir-se a esse campo de estudo,tais como Content-Based Image Retrieval (CBIR),

    Quer y By Image Con tent (QBIC), em menosfrequncia como Content-Based Visual InformationRetrieval (CBVIR) e os aspectos comumenteabordados so a cor, a textura, a forma e aespacialidade (IDRIS; PANCHANATHAN, 1997apudGOODRUM, 2000).

    O mecanismo de busca Retrievr foi criado porLangreiter Christian e aplicado em 2006 para indexare buscar na base de dados de fotos Flickr do Yahoo!Segundo seu criador, no uma ferramenta eficientede busca, mas uma maneira criativa e divertida deexplorar colees de fotos. Para utilizar o mecanismode busca Retrievr oferecida uma caixa de buscasimples e em branco, tambm sendo ofertadasquatro opes de tamanho de pincel e um espectrode onze cores, a partir dos quais o mecanismo debusca baseia-se nas expresses visuais feitas pelousurio para retornar recursos visuais que mais oumenos combinam ou se aproximam da sua intenode busca (figura 2).

    No Retrievr destaca-se a proeminncia de aspectosfenomenolgicos de primeiridade, ou seja, caractersticasdos recursos visuais que se aproximam das formas norepresentativas descritas na matriz visual, formas quenada representam, apenas apresentam-se, como, porexemplo, as cores. As cores so altamente sugestivas eambguas, dizem apenas sobre atributos internos dasformas visuais, isto , pura possibilidade.

    FIGURA 2Retrievr: search by sketch / search by image

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    Nota-se que, semioticamente, a cor merapossibilidade e pode encarnar em diversas formas; acor pura qualidade, mas quando materializada emum corpo atributo desse corpo e, por isso, podeser denominada um sin-signo icnico. Os resultadosassemelham-se expresso de busca pela qualidade,que no exemplo anterior refere-se qualidadede verde, contudo os resultados so ambguos esugestivos. Esse mecanismo tambm considera o

    volume de colorao, no exemplo citado, com muitoverde, mas tambm operacionaliza a localizao dacor pela espacialidade nas formas visuais.

    Todavia, as formas visuais tambm assumem nveis

    representativos e os exemplos mais apropriadospodem ser extrados das formas figurativas. Poisa forma, nesse caso especfico, se entendidagestalticamente, apresenta o binmio figura-fundo.

    A figura, nesse caso, uma forma organizada, quepossui contornos e se diferencia por intensidade dofundo que amorfo, indefinido e inorgnico.

    De acordo com Santaella (2005), as formasfigurativasem nvel de primeiridade esto relacionadas qualidade, ou seja, figura sui generis, e nesse caso,

    o usurio recria qualquer objeto, mas atribuindoa ele uma realidade plstica. No nvel de leis que

    governam a ocorrncia dos signos, a autora cita osesteritipos que, por mais estilizados e singularesque possam ser, sempre apresentam algum traorelacionado ao objeto que referenciam. Soexemplos os desenhos de castelos, de coqueiros,mas tambm podemos dizer de bons, de camisas,de parafusos e de aparatos tcnico-industriais.

    No ciberespao, elegeu-se o mecanismo de buscaVizSeek, desenvolvido pela empresa VizSpace &HotSpot, que busca recursos visuais de desenhosindustriais elaborados bi e tridimensionalmente(figura 3).

    Nesse mecanismo, o atributo principal pararelevncia dos resultados a forma. Nele tambmse oferecem recursos prprios das formas visuaispara elaborao da expresso de busca, tais comocrculos, quadros, retngulos, tringulos, linhas retase curvas e ferramentas de desenho a mo livre.

    Quanto correspondncia da operacionalizaodos signos visuais nesse mecanismo especfico e amatriz visual, relevante o aspecto mimtico dasformas figurativas, do qual se pode descrever uma

    cadeia de relaes semiticas. A forma feita pelousurio imita o objeto na base de dados, que imita,

    FIGURA 3VizSeek: powerful shape search and ontology engine

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    por sua vez, o objeto referenciado. O signo, nessecaso, est sendo determinado pelo objeto dinmicoda realidade, aquele produto industrial no mundoexterno que consta tambm no catlogo de vendasdas empresas fornecedoras no mundo real.

    A seguir, analisa-se o domnio de busca geoespacialGoogle Earth (figura 4).

    Quanto ao aspecto da linguagem, embora sejapossvel utilizar palavras para localizar algum pontoespecfico no espao geogrfico, pode-se dizertambm que essas palavras operam semioticamentecomo ndices, domnio da categoria fenomenolgica

    de secundidade. Esse programa especfi

    co utilizapredominantemente fotos de satlites, portanto,so programas dominantemente visuais. E essasformas de representao visual correspondemperfeitamente modalidade da figura como registro.

    Em relao aos mapas, embora sejam tambmimitativos, e ainda, indiciais, a proeminncia da aosgnica dos mapas recai sobre as convenes pelasquais eles so governados. certo que as imagensgeorreferenciais so registros fsicos que mantm

    conexo dinmica com seus objetos, so didicas,mas principalmente com respeito aos mapas, o que

    vale so os tratados e convenes fronteirias.

    Por isso, pode-se dizer que osmecanismos de busca geogrficosso proeminentemente visuais porquelidam com formas de representaes

    visuais, mas as leis que governamas fronteiras so especialmente, em

    nvel fenomenolgico, de terceiridade,e correspondem semioticamenteaos legi-signos, ou seja, nvel deconvenes e hbitos que governama ao dos signos.

    Outro ponto relevante, quecorresponde preponderncia

    visual dos mecanismos de buscageoespaciais, a possibilidade denavegao tridimensional em alguns

    locais que indicam o mundo real, ou

    seja, navegao em centros urbanos globais de formatotalmente simulada no programa em tela.

    No caso da linguagem visual, situada no nvel de

    secundidade (ndice), a relao de existncia epresentidade parece, hipoteticamente, diminuir acomplexidade de busca, pois o usurio se deparacom os recursos de desenho e colorao utilizadospara buscar contedos visuais. A forma dosdesenhos bi e tridimensionais, seus atributos, comoa colorao, a posio e a figura so o que parecemoperar a lgica da indexao e da busca nessesmecanismos baseados em contedos visuais.

    Paradigma verbal dos mecanismos de buscaQuanto linguagem verbal, os mecanismos debusca apresentam a maior audincia para captartodo tipo de contedo. Bem mais conhecidos comomecanismos de busca textual (linguagem verbalescrita), esses buscadores parecem apresentar omenor grau de complexidade para utilizao dosusurios. Talvez isso se deva ao hbito que a maioriados usurios tenha com os signos simblicos, bemcomo convencionalidade de seus empregos e usos.

    Fenomenologicamente, esses mecanismos esto emrelao categoria de terceiridade e os caracteresdessa categoria so a representao, a generalidade,a mediao, lei ou regra.

    FIGURA 4Google Earth

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    Para Santaella (2005), a matriz verbal tem seu eixoclassificatrio no discurso. Com efeito, so a descrio,a narrao e a dissertao as trs modalidades ouprincpios organizadores da sequencialidade discursiva.Nesse seguimento o sistema de smbolos que temfuno representativa, j que as palavras esto ligadassimbolicamente aos seus objetos. Mas no se trata,portanto, de uma taxonomia fixa, mas de focos deinteligibilidade para os modos analgicos, existenciaise lgicos atravs dos quais o discurso escrito realiza assuas armaes. (SANTAELLA, 2005, p. 367).

    cur ioso observar que osmecanismos de busca que operam

    os signos verbais, embora deoutra complexidade, esto sendopensados a partir dos estudos dodiscurso, quer sejam ontologias,lgicas discursivas, semnticas,hermenuticas, entre outras.

    Outra observao importante:todas as pa l avras/ termos/conceitos utilizados para a buscaso considerados parte do todo,

    metonmias, ligaes conceituaispara os discursos de informao e deconhecimento no ciberespao que,logicamente, representam e estoligados a um corpusde conhecimento.

    A lei de representao, contidano signo simblico, faz com queesse signo gere outro signo a serinterpretado, de modo que depalavras isoladas passamos paraas proposies, destas para osdiscursos. Da mesma forma ocorrecom os buscadores, no continuumdasligaes de contexto.

    Logo, no nvel de primeiridade, alinguagem descritiva representa umatentativa de traduzir, por meio do

    verbal, o mundo de qualidades dosobjetos. Assim que, em razo de

    os mecanismos de busca operarem

    na linguagem natural, termos qualitativos podemser argumentos de busca em sitiesem geral, emespecial, uma modalidade de buscadores, como osespecializados em compras, como o Buscap (figura5) e seus similares nacionais e internacionais.

    Qualidades e especificaes de produtos,descrio de preos e tagsassociadas fazem partedo repertrio descritivo de seus objetos. Nessacategoria, pode-se ilustrar tambm o mecanismo

    A9 daAmazon(figura 6), que opera similarmenteem seu acervo de livros.

    FIGURA 5

    BuscaP: Comparao de produtos e pesquisa de preos

    FIGURA 6A9.com: Innovations in search technologies

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    No obstante, qualquer mecanismo de busca geral,ou especializado em blogs, pode ir ao encontro depoesias, consideradas, por Santaella (2005), o campode virtualidades qualitativas da linguagem, portanto,outro exemplo da modalidade do discurso descritivo,que a autora classifica como quase no verbal,registro dos sentimentos, de qualidades.

    No discurso narrativo o modo de expressoproeminente o fato concreto, das experinciassingulares. A lgica do discurso narrativo omundo que se move: da temporalidade das histriasficcionais ou no, da locuo deum jogo de futebol, o grau zero do

    acontecimento, no meio eletrnico,os blogs, dirios de vidas comuns,com sua cronologia decrescente deregistro de atualizaes. Com efeito,os buscadores especializados emblogs, como o Google Glog (figura7), contam e trazem a estatsticadessa incrvel audincia dos posts:narrativas virtuais.

    Semelhante aos blogs, que seengendram no contexto dasnarrativas, o Twitter, por meiode seu mecanismo de busca, o

    Twitt er Search (f igura 8) , es tpromovendo nova modalidade debusca, a busca em tempo real,que est emergindo rapidamente nociberespao e chamando a atenodos grandes servios de busca.Por exemplo, pode-se encontrar

    resultados de busca no Twitter,com narrativas feitas e postadas hpoucos segundos de diferena emrelao ao momento da busca. Dao nome busca em tempo real.

    Na dissertao, como proeminnciada linguagem verbal, o conceitoopera abstrativamente a representaode seus discursos. Expresso do

    conhecimento, puramente intelectiva

    e racional. Aqui o territrio do signo genuno deterceiridade fenomenolgica. Pode-se situar o Googlelivros ou o Google Scholar(figura 9, a seguir) comoexemplos tpicos dessa modalidade.

    Contudo, h ainda os mecanismos hbridos em queocorrem processos de intersemiose, tal o caso emque uma linguagem utilizada para indexar e buscarprodutos majoritariamente de outras linguagens,por exemplo, quando se utiliza o texto (linguagem

    verbal) para buscar msica (linguagem sonora) e/ou fotos (linguagem visual).

    FIGURA 7

    Google Blog: pesquisa Google de blogs

    FIGURA 8Twitter: The best way to discover whats new in your world

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    comum encontrar mecanismos que oferecemcaixas de busca em que se inserem palavras-chavepara buscar fotos, msicas, vdeos, e dessa razo,pode-se deduzir que, se a caixa de busca paraentrada de palavras-chave, essas so semelhantesaos termos indexados. Nesse caso, os termos esto

    no lugar lgico de um documento que pode ser umapgina Web, ou um arquivo de apresentao, entreoutros. Por exemplo:

    Fizy: permite ouvir msica diretamente na pginados resultados de busca, sem a necessidade de seabrir a mdia de udio em outro programa;

    Blinkx: permite encontrar e assistir aos vdeosoriundos de diversas fontes em linha;

    Yippy: um mecanismo de metabusca em que as

    pginas Web podem ser navegadas sem se sair dainterface mesma do mecanismo.

    CONSIDERAES FINAIS

    Os mecanismos de busca, por estarem inseridosno contexto das tecnologias de informao ecomunicao, so permanentemente acrescidas denovos aparatos tecnolgicos e, por isso, encontram-se em constante modificao. De modo que oestudo sobre as categorias dos mecanismos de

    FIGURA 9Goggle Scholar: sobre os ombros de gigantes

    busca deve ser contnuo, para quese acompanhem suas atualizaes,as inovaes, e se investiguem suasimplicaes para a rea de cinciada informao.

    Com isso, razovel dizer que,a partir do ambiente virtual, ouseja, da virtualizao das obrasdo conhecimento humano, outrosparadigmas de indexao e buscaemergiram no ciberespao, nveissemiticos muito complexos, talcomo apresentados neste estudo.

    A compreenso do conceitoagenciamento faz-se necessriapara o entendimento da filosofia

    deleuzeana, que pressupe fluxos semiticos designos, quer sejam linguagens e fluxos materiais decorpos, quer sejam homens e mquinas (DELEUZE;GUATTARI, 1995).

    Nesse sentido, especialmente a busca em simesma, no ciberespao, pe em conexo o sujeito

    cognoscente, denominado usurio, e a mquina,quaisquer sejam os mecanismos de busca. Logo,trata-se de agenciamentos maqunicos muitocomplexos, de modo que o objeto estudado foiao mesmo tempo semitico e material. E partindodesta perspectiva epistemolgica que se realizou esteestudo, com base na semitica peirciana.

    Em relao interface de busca entre homens emquinas, devem ser compreendidos todos os

    perifricos de entrada e sada da informao, ouseja, as caixas de som representam a interfacesonora pela qual o usurio entra em contato com osresultados de msicas. E os microfones conectadosou embutidos nas mquinas so as interfaces quepossibilitam ao usurio expressar suas intenesde busca em mecanismos de busca sonoros. E,assim por diante, nos diversos regimes de signosenvolvidos na organizao e busca virtuais emdiferentes linguagens que compreendem os variadosestoques informacionais maqunicos.

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    No havendo um nivelamento rgido de cogniohumana e de semiose na mente e na mquina, supe-se que, semioticamente, a busca a partir dos aspectosda visualidade menos complexa que a busca apartir do som para o usurio final, por ele estarmais habituado s convenes das formas visuais,e por sua vez, que a busca por meio de palavra mais fcil que as anteriores, em razo do poder deconvencionalidade e representao do smbolo, bemcomo devido ao hbito que os usurios tm emmanipular os signos simblicos da linguagem verbal.

    Em relao indexao da msica, verificou-se queos mecanismos esto sustentados nas bases tericas

    e convencionais desse regime de signos. Ou seja,quando comparada matriz sonora, a modalidadesintaxes convencionais a que melhor corresponde aesses programas. Tanto assim, que o mecanismoanalisado, Musipedia, oferece buscas a partir doritmo e da melodia. Essa ltima, tanto analisando aexpresso sonora direta do usurio, ou por meio docdigo de Parson, que permite escrever o contornomeldico de uma obra musical graficamente.

    A busca de modo anlogo s formas visuais indicamecanismos especficos, tais como o Retrivr eo VizSeek, que possibilitam ao usurio de buscaexpressar um esboo, um trao, uma cor especficaou uma forma definida para utilizar-se dessesmodelos como expresso de busca. So essescaracteres e atributos que compem os registrosno ndice de tempo de execuo, utilizado pelosbuscadores em resposta consulta do usurio.

    coerente notar que a espacialidade e a forma no

    eixo da classificao das formas visuais mostramaspectos relevantes da operacionalidade e da lgicados mecanismos visuais apresentados no corpusdestainvestigao.

    De modo abrangente, pode-se observar que, sena linguagem sonora a sintaxe se engendra notempo, no caso da linguagem visual, a forma,ou regras sintticas pelas quais as formas derepresentao visual so organizadas, engendram-semais prontamente no espao.

    J os mecanismos de busca baseados em contedoverbal engendram-se no eixo do discurso e so osmais conhecidos do grande pblico de usuriosde busca, pois se trata de buscadores que operamsignos convencionais, com os quais os usuriosesto habituados. O corpusanalisado compreendeos mecanismos de busca BuscaP e Google, esseltimo em diferentes especificidades, como a buscaepecializada em blogse a busca especializada empublicaes acadmicas.

    Semioticamente, os signos convencionaisso denominados smbolos, principalmenterepresentados por palavras, e neles existe sempre

    uma fora viva que induz o interpretante desse signo.Essa fora pode ser chamada de lei, ou regra, quegoverna indefinidamente fenmenos particulares.Por se trata de hbitos, os significados dos smbolospodem ser alterados com o tempo.

    Com efeito, razovel dizer que, com base napesquisa realizada encontram-se operantes nociberespao trs matrizes virtuais de organizao ebusca da informao e do conhecimento: a sonora,a visual e a verbal.

    A partir do paradigma semitico e da linguagemcomo critrio de seleo e anlise, vivel acategorizao dos mecanismos de busca em trscategorias primordiais, sendo a indexao e busca:

    baseadas em contedos sonoros;

    baseadas em contedos visuais;

    baseadas em contedos verbais.

    Enfim, a sintaxe a representao do sonoro, aforma a representao do visvel e o discurso a representao do conhecimento em suaexpresso verbal.

    Finalizando, o estudo em tela no se encerra comeste trabalho, pois o objeto, devido sua dinmicano ciberespao, impe constante monitoramentoterico e intelectual, para que se acompanhecompreensivamente o avano sociotcnico dosprodutos de informao e de conhecimento, nesse

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    caso, os mecanismos de busca, pertinentes aosestudos da rea de cincia da informao.

    AGRADECIMENTOS

    Aos rgos de fomento que viabil izaram estapesquisa: Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq) e Fundao

    Araucria.

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    Artigo submetido em 31/07/2010 e aceito em 22/02/2011.

    Joel Gomes de Abreu / Silvana Drumond Monteiro

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