matiz setembro2014

12
A ajuda que chega tarde Falta de planejamento atrasa a reconstrução após a enchente. O caminho dos hortifrúti Saiba de onde vêm os vegetais que você consome. Entenda a conta de luz Infográfico desvenda as taxas que deixam a conta de energia elétrica mais pesada.

Upload: jornal-matiz

Post on 03-Apr-2016

266 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

O Matiz é o jornal mensal da Plataforma de Notícias i4. É produzido pelos estagiários da Agência Experimental de Jornalismo da Unipampa/RS.

TRANSCRIPT

A ajuda que chega tardeFalta de planejamento atrasa a reconstrução após a enchente.

O caminho dos hortifrútiSaiba de onde vêm os vegetais que você consome.

Entenda a conta de luzInfográfico desvenda as taxas que deixam a conta de energia elétrica mais pesada.

Expediente:Ano II / Edição 09 / Setembro de 2014.Matiz é o jornal-laboratório da Agência i4. Coordenação e Edição Geral: Profa. Dra. Joseline Pippi (MTb) 12.164.Reportagem e diagramação: Bianca Garcia, Jeferson Balbueno, Léslie Bernicker e Marcus Sadok.Colaboradores desta edição:Fábio Giacomelli e Vagner Correa.Periodicidade: mensalEdição flip disponível nos seguintes sites:Agência i4: < http://200.132.142.12/site/>Plataforma ISSUU: <http://issuu.com> Foto de capa: Fábio Giacomelli

2

Editorial:

O jornal Matiz está passando por mudan-ças e continuará se transformando. Assim como todo periódico jornalístico está sujeito a adap-tações para continuar cumprindo seu papel in-formativo, não poderia ser diferente com uma publicação-laboratório. Criado com o objetivo de ser um espaço experimental de produção jorna-lística para as disciplinas Agência de Notícias I e Agência de Notícias II, o periódico ultrapassou as barreiras laboratoriais e desenvolveu identidade própria, galgando espaço de visibilidade junto a outros segmentos informativos.

Nesta edição o Matiz passa a ser o periódi-co experimental da Plataforma de Notícias i4, tornando-se laboratório para os estagiários da AgExJor - Agência Experimental de Jornalismo, do Curso de Jornalismo da Unipampa. Por se tratar de uma publicação na qual os acadêmicos produzem material jornalístico sob a tutela de um orientador, acreditamos que seja um pro-fícuo espaço de aprendizado e experimentação das práticas de reportagem, tão comuns ao uni-verso dos fazeres noticiosos.

Nossa matéria-prima é a realidade, nossa fer-ramenta a boa prática jornalística e nosso produ-to a reportagem. Por ter periodicidade mensal, o Matiz terá a factualidade como pauta, mas não se aterá somente a ela, abrirá espaço para a interpre-tação e a experimentação de linguagem. Os es-tagiários serão instigados a produzir textos com caráter autoral mas a partir de um viés inquiridor e perscrutador da realidade. Nosso compromis-so não é com o furo jornalístico, mas sim com a contextualização dos fatos para o leitor, por isso os textos são mais extensos, densos e ilustrativos.

Além de mudanças nos aspectos editoriais, o projeto gráfico também está passando por tran-formações. O Matiz torna-se, assim, um campo de estudo da estética, usando ferramentas tec-nológicas que permitem o desenvolvimento de layouts diferenciados. A proposta é inovar tam-bém no formato da publicação.

Nesta edição trazemos duas reportagens e um infográfico explicativo. A reportagem de capa mostra os entraves burocráticos da máquina pú-blica no processo de reconstrução das residências atingidas pela enchente na cidade, evidencian-do que o planejamento ainda é o elemento es-sencial em tempos de crise. A outra reportagem aborda um assunto mais leve - mas não menos

importante: questiona e mostra de onde vêm os alimentos consumidos pelos são-borjenses. O infográfico explicativo sobre a tarifa de energia elétrica é o primeiro de uma série que tem por fi-nalidade elucidar as diferentes taxas incluídas nas prestações de serviços básicos, que nem sempre conhecemos, mas somos obrigados a pagar. O in-fográfico inaugura a seção de serviços do Matiz, voltada para informar de modo objetivo e lúdi-co os consumidores acerca de detalhes que nem sempre são aparentes ou compreensíveis.

Agradecemos aos idealizadores do periódi-co, acadêmicos que já estão em vias de concluir ou já concluíram o Curso de Jornalismo e que aceitaram o desafio de erigir uma publicação de qualidade como o Matiz. Planejar um produto jornalístico não é tarefa fácil, exige um certo ní-vel de conhecimento, muita dedicação, e, acima de tudo a tríade “fé, força e foco”.

Eis o novo (e mutante) Matiz. Esperamos aprofundar assuntos do cotidiano, apresentan-do os fatos a partir de diferenciados, pertinen-tes e críticos pontos-de-vista. Continuamos tendo a ética como princípio e o bom senso como guia, pois nosso objetivo é informar com qualidade a população são-borjense.

Uma boa leitura a todos!

Profa. Joseline PippiEditora Geral

3

Reconstrução ainda é promessa

O Cais do Porto, espaço tu-rístico mais conhecido de São Borja, ficou embaixo d’água.

A maior enchente dos últimos 40 anos em São Borja desabrigou mais de duas mil pessoas em julho deste ano, levando o poder público mu-nicipal a decretar estado de emergência e entrar na fila para receber auxílio federal. Mais uma vez a agilidade das instâncias governamentais é colo-cada em xeque frente à (in)consistência dos pla-nos de reconstrução e auxílio aos cidadãos atin-gidos pela cheia do rio Uruguai.

O porto da cidade foi totalmente inundado, com o nível do rio atingindo a marca dos 14 me-tros, levando consigo tudo o que havia pela fren-te. Moradias ficaram sob a água, lavouras foram destruídas e até animais foram levados pela força da correnteza. Resultado: um prejuízo estimado

em 20 milhões de reais. Mais uma vez os atingi-dos pela cheia ficaram à mercê do auxílio gover-namental para a reconstrução de suas casas.

Após parte da fronteira oeste do Rio Grande do Sul ser invadida pelas águas do rio Uruguai (Uru-guaiana e Itaqui também foram atingidas) o governo federal anunciou auxílio para as famílias reconstruí-rem suas moradias, recurso que começou a ser libe-rado somente 40 dias depois de o rio atingir sua cheia histórica. Dos 40 milhões de reais oferecidos em Uruguaiana pela presidente Dilma Roussef em julho passado, apenas 11 milhões foram liberados. Para São Borja foi destinado cerca de um milhão de reais – valor muito abaixo do orçado pela Defesa Civil do município para a reconstrução dos locais atingidos.

Por Marcus Sadok//Fotos de Fábio Giacomelli

4

Outro entrave no processo de reconstrução é o caminho percorrido pelo dinheiro até chegar aos desabrigados. Alessandra Maciel Rodrigues, uma dona de casa de 41 anos, além de perder a casa, teve quase todos os móveis comprometidos. De acordo com Alessandra, a prefeitura prestou assis-tência nos primeiros momentos, mas nada relacio-nado à reconstrução de sua moradia. Desde então, a dona de casa está à espera da ajuda que viria do governo federal. “O prejuízo foi total. Não obtive nenhum auxilio financeiro”, conta.

Se faltou planejamento para evitar que as fa-mílias fossem atingidas ou mesmo avisar a popu-lação ribeirinha sobre a iminência da enchente, a atuação das instâncias governamentais (nos três níveis) também vem sendo alvo de críticas quan-to à agilidade em resolver a situação. As casas vo-lantes que foram prometidas ainda não chegaram até a população atingida, assim como o aluguel social e os kits de higiene e cestas básicas. A De-fesa Civil do Município, através do Secretário de Segurança Pública e Trânsito, Élcio Carvalho, re-bateu as críticas. Segundo Élcio, a burocracia e morosidade do processo de reconstrução após si-tuações de emergência ocorre por diversos fato-res. Um dos principais entraves, segundo ele, são as barreiras impostas pelo Tribunal de Contas e também pelo Ministério Público para a liberação do dinheiro. Isso se justifica, por conta da espe-culação do mau uso do dinheiro público: “Nós não temos problema nenhum que venha um con-selheiro do Tribunal de Contas, seja do estado ou da União, acompanhar os gastos. O que não pode acontecer é o que está acontecendo agora: demo-ra na distribuição de verbas”, argumenta.

Um dos problemas mais antigos que ressur-gem quanto há enchente é a inexistência de mo-nitoramento do rio em São Borja. Segundo Élcio, em época de cheia o acompanhamento é realizado através do serviço de monitoramento da Prefeitura naval Argentina, que através de postos de obser-vação, atualizam em tempo real as informações sobre o estado do rio. “Quando começou a enxur-rada acompanhamos as cidades Argentinas, tudo via internet e fizemos uma projeção para a nossa realidade. Não há nada de científico, é empírico mesmo”, explica o secretário.

No país inexiste um serviço de medição dos níveis fluviais do rio Uruguai que emita aler-ta quando houver possibilidade de enchente. O acompanhamento é realizado a partir do método observacional: subiu o nível do rio nas cidades rio acima, em algumas horas o repique atinge São Borja. “Quando parou de subir em Garruchos le-vou 24 horas para parar de subir aqui”, enfatiza Él-

cio em relação ao processo de vazão das águas. O governo do estado tem planos de investir

cerca de 50 milhões na aquisição de equipamen-tos de monitoramento das águas do Uruguai, mas a tecnologia já tem destino certo: Itaqui e Uru-guaiana. Para São Borja, pouco resolverá, ten-do em vista que ambas cidades localizam-se rio abaixo. Para Élcio, terá pouca utilidade o serviço: “a água vem como uma onda lá do norte do es-tado. Então, quando essa onda chegar aqui perto o fato já está acontecendo e essa afirmação seria irrelevante para a gente”, afirma. Quanto à pers-pectiva de uma solução para o problema, o Se-cretário é enfático: “é mais prático acompanhar o site da Prefeitura Naval Argentina”, finaliza.

A falta de um sistema eficiente de alerta e a demora em auxiliar na reconstrução das mora-dias esbarra num outro fator de caráter cultural, comum na região: a existência de moradias pró-ximas ao rio. Mesmo havendo legislação atual

As vias de acesso próximas ao Porto foram inundadas pelas águas do rio.

5

que inibe a construção de casas às margens dos cursos fluviais, a realidade são-borjense eviden-cia outra situação: há várias famílias que residem às margens do rio. “As pessoas viveram, vivem e querem viver na beira do rio. Então não é bem as-sim nós simplesmente vamos tirar”, afirma Élcio.

O impasse da realocação de moradores ri-beirinhos é uma preocupação constante, mas adquire maior proporção no período de cheia do Uruguai. Há curto prazo, não há desenlace prático para o caso, pois envolve planejamento e alocação de verba e nem sempre as instâncias governamentais envolvidas atuam em sincronia. “Vamos trabalhar para construir 150 casas e ten-tar remover as pessoas. Isso será após a enchente, como um plano de prevenção”, alude Élcio. Sobre uma possível solução para agilizar o processo de repasse de verbas por parte dos governos federal e estadual, não há consenso. Assim como a en-chente, os entraves continuarão intermitentes.

Nossa preocupação é ter o recurso. Mais de 40 dias após a enchente vimos que há muito discurso e pouca ação. Estamos cobrando das instâncias governamentais, pois o que não podemos fazer é deixar a população mal atendida.

“ “

Élcio Carvalho, Secretário de Segurança Pública e Trânsito

O governo prometeu auxílio, mas não veio nada ainda

Alessandra Maciel Rodrigues,dona de casa“

Entenda sua conta de luz

“O prazo, o atraso, o aumento, a data de vencimento...” anuncia a publicidade de remédio para dor de cabeça, mostrando que pagar as contas no início do mês pode ser um pro-blema. No Brasil geralmente é, tendo em vista que nem sempre as tarifas são visibilizadas de modo claro para o consumidor. Você sabe quais taxas compõem o valor da energia elétrica que sua família consome mensalmente?

ICMS

CIP

A tarifa cobrada na sua conta deve garantir o fornecimento de energia de qualidade e assegurar aos prestadores dos serviços receita suficiente para cobrir custos operacionais e remunerar investimentos neces-sários para expandir a capacidade de geração e garan-tir o atendimento. A tarifa é dividida em três custos distintos: energia gerada, transmissão e distribuição e encargos setoriais. Os valores da tarifa gerada para cada contribuinte variam de acordo com o consumo mensal. Tomamos como exemplo a conta ao lado para gerar os dados percentuais.

Imposto sobre a Circulação de Mercado e Serviços (ICMS) é previsto na Constituição Federal de 1988 (art. 155), o imposto é competência de cada estado e do Distrito Federal, por isso alíquotas varia de uma região para outra. A distribuidora tem o dever de cobrar o ICMS diretamente na conta de luz e repassar para o Governo Estadual.

COFINS/PISPrograma de Integração Social (PIS) e Contri-

buição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) são cobrados pela União para manter pro-gramas voltados para o trabalhador e para manter programas sociais do Governo Federal. As alíquotas são de 1,65%(PIS) e 7,6% (COFINS) e são apuradas de forma não-cumulativa.

Contribuição para Custeio de Serviços de Ilumina-ção Pública (CIP) é prevista pela Constituição Federal (art. 149-A) estabelece que entre as competências do Município está a de, conforme a lei especifica aprovada pela Câmara Municipal, dispor a forma de cobrança e base de calculo da CIP. Neste caso, é atribuído ao Poder Público a reponsabilidade por quaisquer serviços de projetos, implantação, expansão, operação e manuten-ção das instalações de iluminação pública. Em via disto, a concessionária arrecada o imposto é repassa para a prefeitura municipal. O valor é repassado mesmo quan-do o consumido não paga a conta de luz.

A energia gerada cobrada em sua conta de luz é composta pela luz que você utiliza durante o mês, pelos encargos e tributos, e transmissão e distribuição. Os encargos e tributos não são decididos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), eles são insti-tuídos por leis. Os encargos são criados por leis apro-vadas no Congresso Nacional. Seus valores constam nas resoluções ou despachos da ANEEL e são recolhi-dos pelas distribuidoras através da conta de luz. Já os tributos são o pagamento de compulsórios devidos ao poder público, a partir de determinação legal, e que asseguram recursos para o governo e suas atividades. A transmissão e distribuição tratam-se do transporte de energia das geradoras até a sua casa. Pois é: o trânsito de energia elétrica também é cobrado.

Energia Gerada

Energia

Distribuição

Transmissão

EncargosTributos

4,9%

55,3%

7,06%

5,07%

27,5%

Por Léslie Bernicker

InfoGRÁFICOInfoGRÁFICO

6

Economizar é sempre uma boa ideia

Além de contribuir para a preservação ambiental e afastar o perigo de um apagão, a economia de energia também ajuda a prevenir o gasto excessivo no orçamen-to mensal.

Um bom modo de perceber a diferença em termos de economia é considerar o velho exemplo da compara-ção entre lâmpadas. Uma lâmpada incadescente nor-mal, aquela de luz amarelada, consome cerca de quatro vezes mais energia que uma fluorescente compacta, e ambas têm a mesma intensidade e iluminam mais ou menos na mesma forma.

A lâmpada incandescente mais comum de ser encontrada é a de 60 Watts, cujo brilho corresponde a 800 lúmens (medida da intensidade de ‘iluminação’ da lâmpada). Para atingir os mesmos 800 lúmens, uma lâmpada fluorescente compacta necessita apenas de 15W de potência, ou seja, quatro vezes menos energia.

Veja na simulação abaixo a diferença entre as lâm-padas expressa em valores (a partir do valor tabelado pela Aneel de R$0,34 o KW/h - fora impostos).

Veja na simulação* abaixo a diferença entre as lâmpadas expressa em valores (a partir do valor tabelado pela Aneel de R$0,34 o KW/h - fora impostos).

Inca

nd

esce

nte

Flu

ores

cen

te

60W1,80 Kw/h

R$0,61

15W0,45 Kw/h

R$0,15

Consome

Custo

Tipo de lâmpada

*Ace

sa d

uran

te 1

hor

a po

r dia

, dur

ante

um

mês

.

7

8

De onde vêm nossos vegetais?

Dona Joana é uma dona de casa de classe média que tem o hábito de comprar diariamente hortifrutigranjeiros para o consumo de sua famí-lia. Ela, que adora cozinhar, procura sempre os alimentos mais frescos e de boa qualidade para colocar à mesa. Mas mesmo com todo o esme-ro e planejamento das refeições, sempre há um momento em que falta uma cebola, uma salada, alguns legumes para a sopa ou de acompanha-mento para o prato principal. Nesses momentos, onde buscar legumes e verduras? Todas as famílias têm uma Joana, alguém responsável pelo preparo dos alimentos, que ge-ralmente se preocupa com a qualidade e também

com a procedência do que é consumido. Mesmo com a correria de sua rotina, busca fazer as me-lhores escolhas, tanto em relação aonde comprar como em se tratando do que comprar. Na cor-reria do dia-a-dia, nem sempre é possível tomar as melhores decisões, o que acaba ocasionando o desperdício de tempo, dinheiro e, por vezes, ficando sem os vegetais fresquinhos para as re-feições. No intuito de auxiliar Joana a encontrar frutas, verduras e legumes de melhor qualidade, o Matiz percorreu os principais pontos de venda de alimentos na cidade, descobrindo como são pro-duzidos e onde são vendidos os vegetais que os são-borjenses mais consomem em suas refeições.

Por Bianca Garcia//Fotos de Bianca Garcia e Vagner Correa

Os vegetais são os elementos mais consumidos nas refeições.

9

A cidade possui três grandes redes de supermercados, algumas fruteiras e mercados menores, além das feiras, onde os produtores vendem sua produção local diretamente para o consumidor. Cada empresa conta com um rol de diferentes fornecedores, tanto de fora quanto da própria cidade, que devem alcançar um determi-nado volume de produção e apresentar os produ-tos com a qualidade exigida pelo comprador. Os supermercados são abastecidos em grande parte pela Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento S.A.), localizada em Porto Ale-gre, que centraliza a entrega e comercializa seus produtos para todas as regiões do estado. Como a quantidade de consumidores é maior, a de-manda por produtos é vultosa, exigindo mais do fornecedor. Legumes como cebola, alho e frutas como tomate, maçã e banana têm muita saída e são comprados em grande quantidade de produ-tores que podem dar conta - geralmente aqueles que produzem em larga escala, em grandes pro-priedades. Jadir Neitzel, responsável pelo horti-frutigranjeiro do Supermercado Nacional, relata sobre como é feita a reposição dos alimentos, “Eu faço o controle diário e os pedidos para o Cen-tro de Distribuição e Ceasa. Faço a verificação da quantidade e reponho conforme a demanda com os produtos que temos no estoque. Por exemplo, o tomate e a batata são os que têm mais saídas,

As frutas são mais procuradas nas estações mais quentes do ano.

então faço uma média de 10 sacos por dia, o total de 300 kg de cada. Os produtos orgânicos, por exemplo, vêm duas vezes por semana, eles vêm de outros estados, como São Paulo. Assim como temos os produtos dos produtores locais, como a alface que recebemos em torno de 120 unidades por dia.”. Se a quantidade de alimentos que podem ser entregues diariamente ao supermercado é um dos fatores que delimitam e dividem os fornece-dores. Outro fator, sem dúvida, é a qualidade dos vegetais. Os vegetais folhosos, perecíveis em menos tempo, como alface e rúcula, geralmente são produ-zidos em locais próximos, por pequenos ou médios produtores, que têm como fazer frente à demanda dos consumidores e cumprir os prazos de entrega. Em São Borja, apenas um produtor local fornece verduras para as grandes redes de supermercados. O Agrônomo Evaldo Morari é o único produtor e fornecedor de alface, rúcula e agrião em São Borja. Há 18 anos produz hortaliças atra-vés do sistema hidropônico. Evaldo tem a liber-dade e a responsabilidade de, em alguns locais, estipular a quantidade de verduras a serem en-tregues no varejo. Em mercados maiores, não tem tamanha liberdade, ele recebe a encomenda e todos os dias é feita a entrega das verduras. O produtor, além disso, oferece cinco variedades de alface como a mimosa, a crespa, a lisa, a roxa (mi-mosa e lisa roxa) e a americana. “Entrego todos os dias de manhã, inverno, verão, chuva e sol. Eu co-lho um dia antes, à tardinha, e no outro dia até às oito horas da manhã está tudo no mercado”, conta. Mas não apenas nos supermercados que os consumidores podem encontrar legumes, frutas e verduras. Como uma típica cidade do interior, São Borja conta com um sistema de pe-quenos armazéns e fruteiras que também abaste-cem o mercado local. A Fruteira Nadalon é um exemplo. Há dez anos a família Nadalon inaugu-rou um espaço para comercializar seus produtos. Alface, rúcula, couve, tempero-verde, pepino, chuchu, repolho, morango, melão, milho, moran-ga, beterraba, dentre outros, são produzidos por eles mesmos em sua propriedade no interior do município. Na pequena horta onde começaram nos fundos do armazém, hoje produzem parte das verduras e algumas frutas que são comercia-lizadas. Embora a produção seja variada, alguns produtos são comprados de outros fornecedores, como frutas não adaptadas ao clima ou fora da estação. “Frutas como banana e mamão vêm da Ceasa”, explica Ivete Nadalon, dona da fruteira. Na Fruteira Serrana o cenário não é dife-rente. Há sete anos a família Boschetti mantém o estabelecimento como uma das fruteiras de refe-

10

Existem diferenças entre verduras e legumes?

Legumes: abóbora, abobrinha, berinjela, chuchu, pepino, pi-mentão, tomate, entre outros; os caules são aipo, aspargo e palmi-to; os tubérculos como batata e as raízes que são beterraba, cenoura, mandioca, nabo, raba-nete, entre outras.

Muitas vezes nos confundimos com a nomeação correta para cada grupo de alimentos, pois além de haver uma grande variedade, são todos considera-dos da mesma “família”. Essas hortaliças são classificadas em grupos como os vegetais cultivados, como folhas, caules, raízes, frutos e sementes para o consu-mo dos seres humanos. Embora haja a variação por termos técnicos, que se-param em outras categorias como legu-mes e verduras, são todas consideradas hortaliças, por pertencerem às folhas ou por serem folhosas. Os elementos dife-renciadores são as variedades como os legumes, que são os frutos das plantas leguminosas, e as verduras – folhas pro-priamente ditas, e também seus respec-tivos valores de carboidratos. Vejamos alguns exemplos:

rência na cidade. Alguns dos produtos comercia-lizados vêm da Ceasa, de outras regiões do estado e também de pequenos produtores da cidade. As verduras à venda são oriundas da produção hi-dropônica do agrônomo Evaldo Morari. Todos os produtos são repostos diariamente pela manhã e fiscalizados durante o dia. “As frutas vêm de Por-to Alegre, já a alface, a rúcula e o agrião vêm do produtor local. O Gerente, William Boschetti está sempre supervisionando para a melhor conserva-ção dos nossos produtos, fora a Vigilância Sanitá-ria que faz o monitoramento de seis em seis me-ses”, afirma Gisele Nunes, funcionária da Fruteira. Outra opção para o consumidor que gos-ta de variar as frutas e legumes do cardápio são as feiras realizadas na cidade. Em São Borja existem dois espaços fixos onde os mais de 25 agricultores familiares cadastrados comercializam seus pro-dutos. A Feira no Centro da cidade e a Feira do Produtor Rural no Mercado Público Municipal recebem os produtores que nas quartas e sábados vendem sua produção de hortaliças, legumes, la-ticínios e derivados, geralmente produzidos em pequenas propriedades rurais no entorno da ci-dade. Essa é a forma de renda das famílias, que encontram nas feiras do município o meio de co-mercializar suas mercadorias. Esses espaços são reconhecidos por serem voltados para a parcela de consumidores adeptos da produção orgânica (sem agrotóxicos).

Verduras: acel-ga, alface, agrião, couve, escarola, espinafre, repo-lho, rúcula, (entre outras) e as flores (alcachofra, bróco-lis e couve-flor).

O consumidor geralmente faz a escolha de acordo com seus critérios próprios: a verdu-ra mais bela, o tomate mais rígido, a cebola com a casca mais rosada, que nem sempre estão de acordo com o padrão de qualidade exigido pela Vigilância Sanitária ou mesmo pelo estabeleci-mento comercial. Cada espaço de venda tem suas regras próprias, em adequação à legislação vigente. A gerente do supermercado Baklizi, Ve-ridiana Goulart, afirma que há controle de qua-lidade no setor de hortifrúti tanto por parte do estabelecimento quanto por parte da vigilância sanitária, que mensalmente realiza suas visitas de controle e fiscalização. Segundo a gerente que há três anos supervisa o setor, diariamente os encar-regados da seção monitoram as bancadas e os pro-dutos, retirando os itens estragados e higienizando o local. “Há sempre esses cuidados por se tratarem de produtos perecíveis, mantendo a nossa quali-dade; e para o consumidor sempre sair ganhando, fazemos o feirão nas terças e quartas com preços reduzidos, onde nossos produtos como tomate e batata sempre tem boa saída”, explica Veridiana. Na Fruteira Nadalon, são os próprios do-nos que fazem o controle de qualidade, auxilia-dos pela Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural). A vigilância sanitária também faz a visita rotineira de fiscalização. “Durante o dia, há a

Se tem qualidade, tem fiscalização?

11

verificação dos alimentos nas bancadas pelos nossos secretários”, conta Ivete, enfatizando que cada um faz sua parte para garantir a qualidade do produto. No Supermercado Nacional há o Clube de Produtores que faz parte da Walmart, que possui regras próprias de fiscalização, como normas de controle, termos de agrotóxicos, de embalagem e regularidade nas entregas, por parte dos produtos que são vinculados ao mercado. Essa fiscalização também acontece com a coleta dos alimentos no próprio mercado, que faz a análise do produto e manda o laudo com respostas do que foi encon-trado para os respectivos produtores.

Na hora da compra é preciso verificar alguns quesitos, como cor e consistência.

Como escolher o melhor hortifrúti?

A imagem e o preço vendem primeiro, mas quando há uma checagem mais minuciosa sobre o alimento que desejamos comprar, entra em questão a qualidade. Cor, consistência e chei-ro são alguns dos elementos checados pelo con-sumidores na hora da compra. A consumidora Sheila Muhlbair prioriza a qualidade “Eu vejo se o alimento está consistente, faço o tato para sen-tir a firmeza, consistência. Por exemplo, o tomate, se ele estiver murcho eu já não o levo. A batata eu pego para conferir se não está podre, e assim com os demais, frutas também. A cor, o cheiro influência, mas eu sempre olho uma a uma para ter certeza de um bom alimento”, explica. Não só esses cuidados são importantes na hora de con-sumir um alimento natural. Além destes, na hora de seu preparo é fundamental saber dar o destino certo para cada alimento.

Vanessa Oliveira, nutricionista, nos dá dicas de como escolher os alimentos e higienizá-los, “deve-se procurar alimentos íntegros, sem cortes e deterioração. Nunca optar por alimentos pela metade ou com cortes, isso pode ser indício de que a outra parte do alimento estava compro-metida, o que faz com que ambas partes estejam infectadas”, explica. Para auxiliar o consumidor a fazer um bom uso de seus alimentos, Vanessa com-plementa, “Sempre lavar em água corrente, ou se possível, lavar com água clorada, essa solução pode ser feita em casa com alimentos crus, para matar microrganismos, o que não agride o alimento”.

A confiança do consumidor

A qualidade desses produtos na feira é atribuída por quem confia no controle da agricul-tura familiar. Para Marli Fagundes que frequenta a Feira no Mercado Público há 40 anos, consu-midora assídua de legumes e vegetais, aposta e garante nas propriedades que compra, “Aqui o preço é mais acessível, os produtos são bons e não contém coisas tóxicas, é melhor comprar aqui do que no mercado, onde às vezes, encontramos ali-mentos lindos, mas que contém produtos quími-cos, e aqui não, são produtos naturais”, explica. Para as famílias que tem como parte se sua rotina comprar em grandes mercados, ou mesmo em pequenas fruteiras na esquina de casa, é fácil encontrar produtos de qualidade à disposição nas bancadas do hortifrúti dos estabelecimentos dis-tribuidos pela cidade. Basta apenas conhecer os produtos que se quer e saber onde procurar.

A rúcula é plantada num substrato agrícola com fibra de coco que absorve bastante água, por este ser leve, não deixa a planta saturada de água e é inerte de nutrientes, o que não interfere na sua adubação. O agrião tem sistema diferente de plantio. Basta plantá-lo na água e depois basta colhê-lo. O desenvolvimento da planta se dá por brotamento a partir dos talos.As cinco variedades de alface cultivadas seguem o sistema de replantio e depois migram para os sistemas DFT ou floating. “No verão, o sistema floating é o melhor, pois volume de água é mais constante. São 16 nutrientes que a planta precisa, que hoje já vêm pronto para elas receberem e a reposição depende do consumo e crescimento da planta”, explica Evaldo.Diariamente a granja Morari produz cerca de 1.500 pés de alface. “Hoje São Borja não com-porta essa quantia”, afirma Evaldo. Para explicar melhor sobre a escolha do sistema hidropônico, o engenheiro agrônomo conta que “as doenças que batem aqui são iguais as do solo, só que em compensação, aqui é em torno de 10%. Quando há uma doença eu as elimino sacando as fora. É mais rápido, mas tudo depende do clima. Dentro de um mês pretendo estar com duas novas estu-fas, com as sementes também já plantadas.”. Em se tratando da qualidade, Evaldo é enfático quando fala a respeito de sua produção hidro-pônica: “Por que consumir verduras do sistema hidropônico? Porque é sadio, é bem conduzido, eu vivo investindo, não parei nunca no negócio para ele não morrer, tenho regularidade inverno, verão, datas comemorativas como natal, na épo-ca em que todo mundo está fazendo festa é o dia em que eu mais tenho que trabalhar. É por isso que eu sempre estou vendendo bem meu produ-to e acho que eu estou adquirindo esse mercado que hoje eu tenho aqui por causa disso”, ressalta o produtor.

A base do cultivo hidropônico é: água e nutrien-tes. Com quatro funcionários, os quatro mil metros quadrados de plantação rendem cerca de dois mil pés de alface todos os dias. São seis estufas com o Sistema DFT (“deep film techni-que”) que faz circular a água de forma intermi-tente, em circuito fechado e outras duas com o sistema “floating” ou flutuante, onde as plantas ficam flutuando em cima dos nutrientes em um tanque de 16 mil litros. Quando chegam a um tamanho adequado, as hortaliças são replantadas diretamente sobre placas de isopor com orifícios para as raízes.Quando se trata de cultivo, tudo inicia pela semente. As sementes são depositadas em pe-quenos quadrados de espuma fenólica, de 4cm2, onde germinam. A cada dois dias são plantadas 15 bandejas com cerca de 345 sementes cada; a maioria germina e dentro de 20 dias já estão prontas para o primeiro transplante. Tudo gira em torno do ciclo de crescimento, onde o desenvolvimento das plantas comandam as transposições nos sistemas. Antes de serem transplantadas pra o sistema DFT ou o floating, elas passam por três transposições em espuma de fenol: 4cm2, 25cm2 e 35cm2. As alfaces, por exemplo, passam por duas transposições antes de finalmente serem plantadas nos canos, onde finalizam seu ciclo de crescimento e estão aptas à colheita em torno de dez dias. São 50 dias da semente até a colheita, em dias curtos sem sol, é em torno de 70 ou 80 dias.

Hidroponia

Você já conferiu em nossa matéria alguns detalhes do trabalho do engenheiro agrôno-mo Evaldo Morari. Vamos mostrar como ele desenvolve o cultivo hidropônico de alfaces, rúcula e agrião.

Plantas & variedades