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São Borja Edição I, Julho 2013 QUANDO A PRAÇA XV SE TORNA ESPAÇO DE OPINIÃO PÚBLICA O que aprendem os jovens que vivem longe de casa? São Borja tem Cartilha de Sustentabilidade Steven Dubner realiza palestra na cidade

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Diferentes vozes que se expressam a partir de uma mesma identidade. Distintas manifestações que ganham projeção por intermédio de sistemas diversificados, porém confluentes. Dentro dessa lógica surge o Jornal Matiz. A primeira publicação flip da i4 Plataforma de Notícias é um dos elementos que integram a cadeia de distribuição multiplataforma da Agência Experimental de Jornalismo da Unipampa. O jornal digitalizado segue a proposta de oferecer conteúdos que partem de apurações aprofundadas. Um dos objetivos é apresentar um modelo de jornal que tenha função estabelecida e diferenciada dos seus demais componentes informativos. Assim, mais que um complemento, o Matiz foi projetado para ser um modelo exclusivo, com finalidade diferente do webjornal, do radiojornal digital e do webjornal audiovisual da i4.

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São BorjaEdição I, Julho 2013

QUANDO A PRAÇA XV SE TORNA ESPAÇO DE

OPINIÃO PÚBLICA

O que aprendem os jovens que vivem

longe de casa?

São Borja tem Cartilha de

Sustentabilidade

Steven Dubner realiza palestra

na cidade

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Diferentes vozes na mesma sintonia: conheça o Jornal Matiz

Por Vivian Belochio

Diferentes vozes que se expressam a partir de uma mesma iden-tidade. Distintas manifestações que ganham projeção por intermédio de sistemas diversificados, porém confluentes. Dentro dessa lógica sur-ge o Jornal Matiz. A primeira publicação flip da i4 Plataforma de No-tícias é um dos elementos que integram a cadeia de distribuição mul-tiplataforma da Agência Experimental de Jornalismo da Unipampa. O jornal digitalizado segue a proposta de oferecer conteúdos que partem de apurações aprofundadas. Um dos objetivos é apresentar um modelo de jornal que tenha função estabelecida e diferenciada dos seus demais componentes informativos. Assim, mais que um complemento, o Matiz foi projetado para ser um modelo exclusivo, com finalidade diferente do webjornal, do radiojornal digital e do webjornal audiovisual da i4. O jornal é produzido pelos alunos da disciplina de Agência de Notícias II. Os acadêmicos encaram com criatividade e profissionalismo as dinâmicas da referida disciplina. Foram divididos em quatro grupos que funcionam como pequenas redações totalmente integradas. Uma das suas características é a atuação das suas equipes para diferentes pla-taformas, mediante a polivalência dos seus componentes. Sendo assim, além de encarar o desafio da atuação em múltiplas funções, todos pro-duzem para diferentes mídias: impresso, rádio, TV e jornalismo digital. Periodicamente, uma mesma pauta é pensada e trabalhada de maneira adequada para cada uma das mídias citadas, de modo a buscar o fecha-mento distinto da pauta. Nesta experiência, são utilizadas plataformas da Web 2.0 para simular as condições de produção de redações integra-das, considerando a existência de diferentes veículos jornalísticos que apresentam demandas para uma mesma redação. Trata-se de condições de trabalho encontradas em muitas reda-ções contemporâneas, especialmente de meios de referência como as empresas Zero Hora, atuante no Rio Grande do Sul há mais de 40 anos, e a Folha de São Paulo. A experiência fomenta discussões sobre o am-biente e as condições ideais para a atuação dos jornalistas na atualidade, entre outros temas de relevância. A prática e a reflexão sobre tais siste-mas são fundamentais para a formação dos futuros jornalistas. A primeira edição do Matiz trabalha o tema da paralisação em apoio às manifestações que vêm ocorrendo em nível nacional. Traz da-dos sobre o movimento em São Borja, além de detalhes sobre as reivin-dicações realizadas por aqui. Além disso, aborda a questão da sustenta-bilidade: como as gerações mais novas e mais antigas encaram atitudes nesse sentido. As adaptações dos estudantes que chegam de fora para estudar na Unipampa São Borja também são destaque. Por fim, histó-rias de superação de paratletas são contadas, com ênfase no caso de um estudante são-borjense que foi estimulado a competir, obtendo bons re-sultados.

Expediente

Direção: Vivian Belochio. Edição: Vivian Belochio, Tamara Finardi.Repórteres: Patrícia Bitencourt, Tamara Finardi, Tatiane Bernardo, Thalita Chagas. Editores: Liziane Wolfart, Ludmila Cons-tant, Mirela Ferreira, Pamela Faustino.Diagramação: Tamara Finardi, Tatiane Bernardo. Colaboração: Rafael Junckes.Identidade Visual: David Kochann.

Edição I do Jornal Matiz, produzido para disciplina de Agência de Notícias II, do Curso de Comunicação Social - Habilita-ção em Jornalismo da Universidade Fe-deral do Pampa, Campus São Borja, em parceria com a i4, Agência Experimental de Jornalismo.

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Mudar para amadurecer: o que aprendem os jovens que vivem longe de casa

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O jovem brasileiro vive parcialmente, ou totalmente, independente da família, cada vez mais cedo. Veja quais são as explicações para este fenômeno e as maiores dificuldades que eles enfrentam ao morarem sozinhos pela primeira vez.

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O cenário social e econômico no qual o Brasil vive hoje nos leva à seguinte constatação: a Universidade e as boas oportunidades de trabalho são as divisas a serem atravessadas pelos jovens que, enfim, querem romper de vez com o cordão umbilical da dependên-cia. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresce, no Brasil, o número de jovens que, cada vez mais cedo, aceitam o desafio de sair da casa dos pais em busca de oportunidades de estudar e trabalhar. O sociólogo Lizandro Gualberto diz que isso acontece porque estamos na era da in-formação instantânea: “Todos os jovens, hoje, têm acesso às informações de vagas de emprego neste ou naquele lugar e também de oportunidades de estudar a carreira sonhada. A informação é, praticamente, o empurrão que o jovem brasileiro precisava para ser independente”. Porém, junto com essa decisão, sur-ge uma série de outras obrigações, que exigem muito jogo de cintura por parte de quem decide rumar ao desconhecido.

A estudan-te Thayane Riela acaba de deixar a casa dos pais para cursar o ensino su-perior. Caloura de Publicidade e Pro-paganda, a uru-guaianense de 19 anos diz que está passando por um período de muitas mudanças: “A par-te mais difícil é fi-car longe da minha família e não ter a ajuda deles em ta-refas do dia a dia. Morar sozinho vai além de ter liberdade: é ter inde-pendência, mas, em compensação, muitas obrigações. E a saudade é terrível”.

Por causa do turbilhão de mudanças que acometem os estudantes de maneira brusca, muitos não se adap-tam e acabam tendo problemas por isso. A psicóloga Luciana Freitas diz que é alto o número de pessoas que acabam entrando em depressão em virtude dis-so: “Geralmente acontece quando a pessoa se frustra. Quando ela percebe que alguma coisa não saiu como ela planejava. De repente, se enxerga triste e sem o apoio da família e dos amigos que já não estão por perto. Este fato pode acarretar em quadros depressi-vos, entre várias outras psicopatologias”. Ela ressalta que é importante que os pais se mantenham perto dos

filhos, pelo menos no começo. Telefonemas ajudam os pais a burlarem a distância, os ajuda a fazerem-se presentes e participar dessas mudanças: “O apoio dos pais é fundamental, até que o jovem perceba que con-segue, sim, caminhar com as próprias pernas. Essa é a grande descoberta que ele precisa fazer. Cada pessoa tem um ritmo para dar - se conta do que é capaz”.

Há, também, aqueles que se adaptam bastante rápi-do e se consideram imunes à ação negativa das mu-danças. Jorge Palochi é natural de Cascavel, no Para-ná, e também é calouro de Publicidade e Propaganda. Conta que, em geral, não tem muitas dificuldades, pois mora com mais quatro veteranos, que estão há mais tempo na universidade. Eles sempre lhe auxiliam nas tarefas domésticas e o que mais necessite: “Eles sem-pre me dão dicas de como me virar”. Palochi diz que a maior dificuldade imposta pela distância é o meio de transporte: “Não tem ônibus direto para minha cida-de, nem aeroportos. Essa parte é complicada. Toda vez

que viajo, tenho que pegar dois ônibus. Às vezes, acaba sen-do um transtorno”. Quando foi aprova-do e resolveu que, de fato, iria cursar a faculdade, diz que teve total apoio dos pais.

Nesse aspec-to, a situação de Thayane é seme-lhante. “Meus pais me apoiaram. Aju-daram a procurar uma casa e alguém que dividisse comi-go o aluguel”. Além

de todo o suporte emocional que os pais devem dar, a psicóloga Luciana Freitas ressalta a importância de não preocupar-se com dinheiro: “Faz parte do apren-dizado para se tornar um adulto ter seu dinheiro e sa-ber como administrá-lo. O problema é que passar por dificuldades financeiras extremas pode sobrecarregar o lado emocional do jovem, que precisa de estabilida-de psicológica para encarar as mudanças”.

Uma vez adaptados a todas as transformações, os calouros dizem que conseguem aproveitar a vida lon-ge de casa. Talvez o aspecto mais importante de todos seja burlar a solidão. A frase de João Gabriel, outro calouro do curso de Publicidade e Propaganda, re-sume tudo: “Contando com os amigos, dá pra viver tranquilo”.

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“Contando com os amigos, dá pra viver tranquilo” é, em suma, o pensamento norteador de quem deixa a família planejando alçar voos maiores para sua vida.

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Paralisação em São Borja reuniu centenas de pessoas em protestos organizados em vários pontos da cidade. Várias causas foram defendidas

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Dizer que as pessoas que aderiram a paralisação do último 11 de julho ficaram paradas pode ser um pouco equivocado. Prefiro dizer que elas saíram da rotina imposta pelo ritmos de seus empregos, justa-mente para reivindicar melhorias neles. Na data, com influência das manifestações do mês anterior, em qua-se todo o país as pessoas tiveram a oportunidade de parar, parar de fazer ‘o de sempre’, ‘para de trabalhar mecanicamente’, parar pra pensar.

Professores, comerciários, bancários, servidores públicos municipais, entre outros trabalhadores acor-daram por volta das 5 horas da manhã daquela quin-ta-feira, dia 11. Saíram de casa cedo, vestidos não do uniforme de trabalho, mas sim com faixas e cartazes, e se dirigiram para o acesso à Ponte Internacional que liga São Borja a Santo Tomé (Argentina). Por volta das 7 horas da manhã, a BR-285, que faz o acesso entre os dois países foi trancada por cerca de 30 pessoas que reivindi-cavam melhorias em diversos segmentos da cidade.

O ato foi organizado por 8 sindicatos no município, ligados a Central Sindical e Popular (Conlutas), Cen-tral Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais sindicais do país: SIMUSB (Sindicato dos Municipá-rios de São Borja), CPERS (Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul), STIA/SB (Sindica-to dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentos de São Borja), SINDISAÚDE (Sindicato da Saúde de São Borja) SINDIÁGUA (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água), Sindicato do Bancários, Sindicato dos Comerciários, Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviá-rio. Jorge Souza, presidente da SIMUSB explica que a paralisação surgiu por determinação do movimen-to sindical, que escolheu o dia 11 para colocá-lo em prática. “O cronograma para esse dia de paralisação foi transmitido para as bases e aqui na cidade a gente começou a tomar essas tratativas.” Hugo Chimenes, presidente do STIA/SB, acompanhou a organização

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desde o início e conta que em São Borja foram reali-zadas três reuniões para decidir como seria feita a pa-ralização: “Na primeira a gente entendeu que deveria ampliar a participação. Na segunda a gente montou alguma coisa do que poderia ser feito. E na terceira foi ultimando a mobilização e o que seria feito no dia”, explica.

Além das pautas específicas de cada categoria, as pessoas também estavam unidas por causas comuns, dentre as principais delas o fim do fator previdenci-ário e o Projeto de Lei 4330, que regulamenta a ter-ceirização dos serviços públicos e privados(box). Não demorou muito para fila de carros se formar ao longo da BR. Pessoas que se dirigiam de um país ao outro de carro para trabalhar, estudar ou passear esperaram por quase 2 horas até a pista ser liberada. Só passava quem desejasse fazer o trajeto a pé. “Infelizmente quando tu faz uma mobilização desse tipo, tu consegue muitas vezes atingir teus objetivos, mas desgostando alguns segementos”, explica Hugo Chimenes

A jornada de trabalho de Maristela Trindade inicia-se de manhã em Santo Tomé (Argentina), com a para-lização ela teve que esperar a estrada ser liberada para ir ao trabalho.“A força sindical deve fazer esse tipo de paralisação, está pacífico, a gente entende eles, só que é uma pena que a gente também precisa trabalhar. Mas é natural, acho que isso ai deve acontecer, o país deve se mobilizar”, declara Maristela. Hugo Chimenes justifica que o ato na BR-285 tinha como intuito cha-mar a atenção do governo federal. “Os nossos gover-nantes também têm que se dar conta de que eles estão

O fator previdenciário foi criado pelo governo para calcular o valor do bene-fício de aposentadoria, levando em conta o tempo de contribuição do segurado (35 anos homem e 30 anos mulher), a expectativa de vida, a idade do trabalha-

dor e a alíquota de contribuição, como podemos observar na fórmula abaixo retirada do site da previdência:

f = fator previdenciárioTc = tempo de contribuição do trabalhador

a = alíquota de contribuição (0,31)Es = expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoria

Id = idade do trabalhador na data da aposentadoria

Este fator foi elaborado em 1999 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e desde então vem sendo alvo de processos no judiciário, pois afeta os contribuintes que se aposentaram antes dos 65 anos, no caso dos homens e 60

anos para as mulheres, estes tem o valor de suas aposentadorias reduzidas, con-forme o cálculo, ou seja, quanto maior a idade na hora de se aposentar, maior

vai ser o fator previdenciário, e claro, maior o salário do contribuinte. Para quem se aposentou por idade o fator é opcional sendo aplicado a cada aumento de salário, e os que se aposentaram antes isso pode representar uma redução no

valor do benefício.

O Projeto de Lei 4330 trata das terceirizações no país. Ele propõe a ampliação da terceirização, atingindo também os serviços de atividades-fim (aquelas que tem objetivo final, um exemplo são os caixas de banco), barateando os custos

de contratação de funcionários e isentando a empresa contratante de eventuais gastos, como impostos e INSS, dos contratados. Além disso o funcionário pode-

rá trabalhar em mais de uma empresa ao mesmo tempo. O projeto foi criado pelo Deputado Federal do PMDB de Goiás Sandro Mabel em 2004, e está em

tramitação na Câmara.Os sindicatos, de uma forma geral, vêm protestando contra a PL, pois acreditam

que haverá uma terceirização generalizada no país por custar menos aos cofres das empresas. Estas manifestações fizeram com que o governo retrocedesse na

proposta e propusesse negociação com os sindicatos.

O trecho da bR-285 que faz o acesso à Ponte Internacional (Brasil e Argentina) foi trancada por volta das 7h30min. da manhã.

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O fator previdenciário foi criado pelo governo para calcular o valor do bene-fício de aposentadoria, levando em conta o tempo de contribuição do segurado (35 anos homem e 30 anos mulher), a expectativa de vida, a idade do trabalha-

dor e a alíquota de contribuição, como podemos observar na fórmula abaixo retirada do site da previdência:

f = fator previdenciárioTc = tempo de contribuição do trabalhador

a = alíquota de contribuição (0,31)Es = expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoria

Id = idade do trabalhador na data da aposentadoria

Este fator foi elaborado em 1999 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e desde então vem sendo alvo de processos no judiciário, pois afeta os contribuintes que se aposentaram antes dos 65 anos, no caso dos homens e 60

anos para as mulheres, estes tem o valor de suas aposentadorias reduzidas, con-forme o cálculo, ou seja, quanto maior a idade na hora de se aposentar, maior

vai ser o fator previdenciário, e claro, maior o salário do contribuinte. Para quem se aposentou por idade o fator é opcional sendo aplicado a cada aumento de salário, e os que se aposentaram antes isso pode representar uma redução no

valor do benefício.

lá governando pra todos os brasileiros, e que a pauta tem que ser pra todos”, complementa Hugo.

Após a liberação da rodovia o ato continuou na Praça XV de Novembro, no centro de São Borja. Em torno de 400 pessoas estavam no local, com cartazes, faixas e muita coisa a reivindicar. Com microfone e caixas de som instalados, via-se a praça se reafirmar como espaço de opinião pública, onde o direito de se manifestar era livre. Além dos 8 sindicatos envolvidos na organização do ato, se manifestaram representan-tes do STR/SB (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Borja), Sindicato de Construção Imobiliária, São Borja Ativa (movimento independente que surgiu em junho para reivindicar por melhorias no transpor-te, incentivados pela pauta nacional), SINDIPAMPA (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrati-vos em Educação) e SESUNIPAMPA (Seção Sindical dos Docentes), ambos vinculados a Universidade Fe-deral do Pampa.

Além de representantes sindicais, alunos e profes-sores também se manifestaram. Lucas Benevenuto, aluno do 2º ano do Ensino Médio no Colégio Estadu-al Getúlio Vargas, estava presente na manifestação e tomou a iniciativa de expressar seu descontentamento em relação a educação. “O que me motiva é usar a voz do povo pra realmente reclamar do que está acon-tecendo, do descaso que nós temos com a educação hoje. Eu tenho professores maravilhosos, a gente tenta fazer todo o possível, mas isso afeta o nosso processo educacional. Então isso criou a vontade de manifestar, de mostrar que os alunos tem voz, e que os alunos po-dem tanto quanto o povo que se manifestou esses dias atrás”, argumenta Lucas. Em posição de sentido, o ato na Praça XV de Novembro foi encerrado com o canto do Hino Nacional.

Alunos e professores prosseguiram se manifestan-do. Da Praça XV se encaminharam para a 35ª CRE, a Coordenadoria Regional de Educação de São Borja. A principal reivindicação envolvia a implantação do ensino politécnico no ensino médio das escolas esta-duais. Cinco estudantes entraram na CRE, onde expu-seram as dificuldades que vivenciam no novo método, dentre elas o despreparo para o vestibular. “A gente quer dar nossa opinião, porque quando veio o politéc-nico ninguém perguntou se a gente queria, se a gente achava que seria melhor”, argumenta uma das alunas.

Hugo Chimenes faz uma avaliação das atividades realizadas no dia 11, em São Borja, enfatizando a for-ça do movimento sindical quando unido: “Foi bem interessante porque aqui em São Borja a gente estava meio espalhado, no sentido assim, só brigando indi-vidualmente, pelos problemas da categoria. E a ideia

dessa atividade enriqueceu nosso trabalho porque a gente conseguiu unificar 8 entidades, tanto de urba-nos como rurais, pra essa mobilização. E ai a gente conseguiu colocar um bom público na rua. Outra questão importante foi não só ficar nas entidades sin-dicais. Nós conseguimos envolver a universidade, as escolas, e também o IFF. Eu faço uma avaliação po-sitiva. A gente tava com uma série de entidades, e se uma roesse a corda poderia prejudicar todo trabalho do conjunto. E pra nossa surpresa, todos aqueles que se comprometeram em fazer o trabalho, estavam pre-sentes, pegaram juntos. São categorias diferentes, mas eu acredito que a luta específica fez com estivéssemos todos la. Outra questão que me chamou atenção é que não teve estrela. O que a gente decidia sempre foi decisão em conjunto. Até na questão das falas, a gente organizou de uma forma que todos falaram, todos se manifestaram, e depois no final a gente reuniu rapida-mente e discutiu isso, e foi uma avaliação positiva pra todos nós.”

O que se viu no dia 11 foi o clamor social sobres-sair o corporativismo. Bandeiras unidas, as pessoas na rua, a praça como espaço de discussão, o clamor do momento, várias reivindicações, uma só voz. Mas o que realmente as pessoas esperam dessas atividades? O que acontece depois que esses atos se encerram? “Infelizmente no nosso país nós somos fadados ou a ficar criticando, depois que as coisas acontecem, ou nos acomodar, ou ir atrás só quando a água ta batendo no queixo,e ai ja é tarde, e tu vai realmente só remediar aquilo que ta acon-tecendo”, finaliza Hugo Chimenes.

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Reciclar, reutilizar, repensar e reduzir. Essas são as quatro palavras chave do programa 4 R’s, uma ini-ciativa do Legislativo de São Borja para incentivar a mudança nos hábitos da população com relação ao consumo de bens naturais. Uma cartilha sobre susten-tabilidade foi lançada no dia Mundial do Meio Am-biente (05/06). O livreto faz parte do programa 4 R’s e aborda temas como reciclagem, economia de energia e descarte correto do lixo. Uma tiragem de cinco mil exemplares da cartilha pretende atingir a população e ser distribuída em todas as escolas do município.

O Colégio Sagrado Coração de Jesus foi a primeira escola a receber os exemplares e a turma da professora de Ciências do Ensino Fundamental, Lilian Nunes, foi a contemplada. Ela relata que o tema sustentabilidade é abordado diariamente pelos professores. “Nós esta-mos implantando, no colégio, os 3 R’s (reciclar, reuti-lizar e reduzir). Estamos trabalhando em oficinas com materiais recicláveis.” Por fim, a professora mostra com orgulho os brinquedos feitos pelos alunos com

Educação ambiental é lei, e nunca se falou tanto em sustentabilidade. Ao mesmo tempo, o artificial nos parece mais natural a cada dia e respeitar a natureza se tornou um desafio para todas as gerações.

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material reciclado.A coordenadora pedagógica do colégio, Maria An-

tônia Roses, explica que, em termos de instituição, eles tentam aplicar a reutilização do papel e disponibilizar online o material que for possível. Os gastos de luz e água também são cuidados aplicados no cotidiano da escola. “Não adianta pensar em sustentabilidade se não tiver educação ambiental. A educação ambiental vai para a prática do dia-a-dia e para a vida.”, conclui.

Educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental -, em seu Art. 2°, define que: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educa-tivo, em caráter formal e não-formal”.

A professora Maria Inês Vieira é mãe de Miguel, aluno do sexto ano do Ensino Fundamental, que par-ticipa dos projetos de educação ambiental. Segundo Maria Inês, aumentou a cobrança pelas questões am-

bientais dentro de casa e o filho é o primeiro a alertar os outros membros da família sobre as atitudes eco-logicamente corretas. “Não é em grandes atos que a gente vai preparar o ser humano para a sustentabili-dade. É nos pequenos gestos do dia-a-dia que se dá o exemplo”, afirma.

Por outro lado, Maria Inês percebe que a geração do filho é muito ligada à tecnologia e está sendo mais educada na teoria do que na prática. As atuais gera-ções têm menos contato com a natureza e são vários os fatores que influenciaram essa situação. A crescen-te urbanização das cidades, a violência e a tecnolo-gia, por exemplo, afastaram, aos poucos, as crianças do convívio com a terra e o verde. Brincar na terra, subir em árvore, nadar no rio, colher a fruta no pé, tudo isso se tornou uma lembrança saudosa dos mais velhos. “O problema da geração do meu filho é que eles não vivem no espaço que eles deveriam respeitar. Hoje, para eles, tudo é computador, tudo é tecnolo-gia. Se não existe a vivência com o meio ambiente, fica mais difícil respeitar”, reflete a professora.

A maioria das escolas tem aquelas famosas lixeiras de separação para o lixo seco (papel, plástico, vidro e metal) espalhadas no pátio, mas encontrar um espaço para convivência, amplo e arborizado, é algo cada vez mais raro. O concreto predomina no ambiente esco-lar. Plantar árvores, fazer uma horta para os alunos, são alternativas simples e que alteram a rotina dos es-tudantes de forma mais didática.

A intercambista alemã, Marien Schneider, cursa o terceiro ano do Ensino Médio e está em São Borja há onze meses. Ela analisa a diferença dos países com re-lação à educação ambiental. “Eu acho que é um pou-co questão cultural, mas claro que, lá (na Alemanha), tem gente que joga lixo no chão. Mas lá, desde criança, a escola e os pais ensinam sobre separação do lixo e existem muitas lixeiras nas ruas”. A família alemã de Marien tem uma composteira no terreno, utilizada para adubar o próprio jardim. Ela diz ser um hábito bem comum na sua cidade.

Em São Borja, a família brasileira não cultiva esse costume e Marien ainda não tinha pensado em falar sobre isso com eles. O engenheiro agrônomo e fun-dador da Associação São-Borjense de Proteção ao Ambiente Natural (ASPAN), Darci Bergmann, é um defensor da separação do lixo orgânico há anos. “É tão fácil fazer uma composteira, mas como é difícil en-contrar isso na casa das pessoas”, afirma. O lixo orgâ-nico significa, em média, 50% do lixo produzido. Uma alternativa que ele enxerga é o poder público intervir e incentivar, de alguma forma, a utilização da compos-teira nas residências. Abater a taxa de lixo dessas pes-

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soas pode ser uma solução, de acordo com Bergmann. No ambiente cheio de folhagens, muitas espécies de árvores, diversas hortas orgânicas e materiais ecolo-gicamente reutilizados, é que Bergmann se sente em casa. É nesse local que ele palestra para jovens de di-versas escolas e comunidades da região, na esperança de difundir e ensinar sobre sustentabilidade da forma mais dinâmica possível. Em contato direto com a na-tureza, são passados ao público os ensinamentos.

Segundo Bergmann, o tema sustentabilidade está sendo muito falado e pouco executado, mas ele vê uma coisa positiva acontecendo. “A cada ano, mais pessoas se envolvem com isso pela necessidade de

fazer alguma coisa”. Ele estima que cerca de 90 mil pessoas foram atingidas, de alguma forma, pelos seus ensinamentos ao longo dos trinta anos em que tem trabalhado com as questões ambientais. “Existe qua-se uma toda geração de professores que passaram por palestras que eu fiz, em alguma época da minha vida, aqui em São Borja. Hoje, eu vejo que muitos deles es-tão semeando essas informações”, destaca. É isso que o incentiva a continuar palestrando para os jovens e não perder as esperanças no futuro do planeta. Parece clichê, mas são exatamente atitudes como essas que podem mudar e salvar o ambiente em que vivemos.

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O esporte em si já é um desafio para os andantes sem deficiência. Imagine para aquelas pessoas que têm di-ficuldades para se locomover, sejam elas cadeirantes ou pessoas que dependem de próteses e andadores.

Em São Borja, uma iniciativa que beneficia esse pú-blico vem sendo realizada. Alunos de escolas públi-cas estão participando de olimpíadas interescolares de paratletas. Estas instituições são a Escola Estadu-al João Goulart e o Colégio Estadual Getúlio Vargas. Ambas incentivaram seus alunos a participar de Fes-tivais Paraolímpicos coordenados por uma equipe de professores especializados na área.

Em 2012, um grupo formado por quatro alunos do Colégio Getúlio Vargas participou de competição na cidade de Passo Fundo. Os estudantes foram orien-

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tados pela professora de Educação Especial, Natiele Falcão, e pelo professor de Educação Física, Anderson Jungton, que atua nas duas escolas citadas como pro-fessor de Educação Física e técnico dos para-atletas. Na ocasião da competição, os alunos concorrerem em diversas modalidades. Foi a primeira participação de representantes de São Borja em um evento como este.

Participante de dois festivais paraolímpicos, Willian da Silva Guasso, 14 anos, foi até a Olimpíada Parao-límpica, em São Paulo, no ano passado. Na oportuni-dade, foi campeão nas modalidades de Arremesso de Pelota, ganhando a medalha de ouro, e na corrida de cadeira de rodas 300 metros, conquistando a medalha bronze. O que se mostra mais interessante nesta com-petição é que Willian possui apenas uma cadeira de rodas simples, porém bastante pesada para esse tipo de competição. No entanto, essa mesma cadeira foi a que o levou a chegar na frente de dezenas de compe-tidores. Vale destacar que tais concorrentes competi-ram com cadeiras adaptadas e mais leves.

No início, quando a diretora da Escola João Gou-lart, Luciane Bidinoto, foi convidá-lo a participar dos festivais paraolímpicos, ele relutou em aceitar. Con-tudo, com a insistência e o empenho do técnico An-derson Jungton, o menino foi convencido a competir. “O objetivo de incentivar os paratletas a participarem desses eventos é melhorar a qualidade de vida desses jovens”, declara a diretora.

Após a participação no Festival e o sucesso com as medalhas, na sua volta a São Borja, foi homenageado pela Câmara de Vereadores. O Presidente, na época vereador Beto Souza, considerou um passo importan-te para o município, diante do fato de que o paratle-ta disputou a paraolimpíada com uma cadeira não apropriada para competições. Além disso, participou de um evento de nível nacional, levando o nome da cidade a competir com grandes centros, onde a estru-tura de incentivo ao esporte de deficientes está em um nível superior.

Willian era um menino andante, sem deficiência até os sete anos, quando sofreu um acidente de trânsito com seu pai, tendo suas duas pernas amputadas. Hoje, estudando na 6ª série do Ensino Fundamental, ele ca-minha com o auxílio de próteses e de uma bengala. Mesmo dificultando um pouco os seus passos mais rápidos, tais aparatos não limitam os sonhos do jovem competidor. “Quero ganhar minha cadeira adaptada, mas, independente disso, continuar participando das competições e ser veterinário”, declara o menino.

Willian vive e já conhece, através da internet, histó-rias como as contadas por Steven Dubner em suas pa-lestras e conferências. O palestrante esteve na cidade no último dia 10 de julho. Mostrou para dezenas de

pessoas como a Associação Desportiva para Deficien-tes (ADD) tem ajudado centenas de deficientes a su-perar as dificuldades físicas e psicológicas que passam a conviver após um grave acidente.

Steven é formado em Educação Física e utiliza suas palestras, realizadas em todo Brasil e fora dele, em be-nefício da ADD e de seus meninos e meninas. O in-

vestimento das palestras é convertido em cadeiras de rodas ou em produtos que possam facilitar a locomo-ção dos times que Steven organiza e treina. Os even-tos que foram realizados na nossa região renderam à ADD um van adaptada.

Steven ensina que não é possível para um andan-

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Willian da Silva Guasso participou da Olimpíada Paraolímpica de São Paulo, em 2012, e trouxe medalhas para São Borja

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te treinar um deficiente sem que ele mesmo se sinta um. “Durante as aulas, trabalhamos com os alunos algumas simulações, como utilizar cadeiras de rodas, vendar os olhos e seguir orientações dos videntes, etc, para que todos os normais possam perceber as dificul-dades que cada um enfrenta”, aborda Steven.

Os portadores de deficiências físicas sofrem mais

com a exclusão e a discriminação das outras pessoas que com as suas próprias limitações, pois professores e familiares os privam de participar das atividades di-tas normais. Conforme Steven Dubner, estas atitudes devem ser evitadas, pois o que se deve priorizar são as adaptações em estratégias e metodologias conduzindo

todos os alunos a conviver com as diferenças de cada um.

Outro fato que deve ser levado em consideração para uma adaptação mais rápida dos deficientes é o fator psicológico, pois este deficiente deixa de ser uma pessoa com todas as habilidades normais. Assim, en-tra para um novo rol, passando por mudanças signi-ficativas, que podem ser temporárias ou permanentes na vida dele. “As pessoas que passam a ser deficientes en-caram as situações de forma mais direta e objetiva”, declara a professora de Educação Especial, Simone Costa Chagas.

O caso do ex-BBB Fernando Fernandes

Um exemplo de superação das limitações físicas e psicológicas adquiridas pós deficiência física vem do ex-Big Brother Fernando Fernandes. Ele ficou conhe-cido por seus músculos na segunda edição do Big Bro-ther Brasil, veiculado em 2002 pela Rede Globo. Em 2009, sofreu um acidente e ficou paraplégico.

Fernando sempre gostou de esportes e foi pratican-te de boxe e futebol, além de cursar Educação Física e ter uma carreira como modelo. No entanto, numa volta para casa depois de uma partida de futebol, dor-miu na direção e, nos momentos seguintes, acordou em um hospital. Foram cinco dias de UTI, um mês de internação e muita fisioterapia. Seu tratamento foi re-alizado no Hospital Sarah Kubitschek. Lá, no convívio com todos os tipos de lesões, ele só tinha uma certeza: a busca pela recuperação e a vontade de voltar a andar.

Com três meses pós-acidente começaram as ati-vidades esportivas com musculação, corridas na ca-deira, e caminhadas com órtese na fisioterapia. Tais atividades proporcionavam um prazer ao poder ver a superação a cada dia. Foi depois disso que o ex-BBB decidiu participar de uma corrida de São Silvestre. Superou calor, pneu da cadeira de rodas furado, mão esfolada e sangrando para ganhar sua maior vitória: a participação e a superação.

No final da prova, lá estavam seus maiores troféus: pais, amigos e familiares o aguardavam para dar um forte abraço. As mesmas pessoas que sempre o apoia-ram, que sempre o estimularam a continuar a luta.

Fernando e Willian se conheceram na competição paulista. Ambos se tornaram amigos e a história do menino, que olha a vida com um sorriso no rosto, ani-ma o ex-galã. Ambos mostram que o esporte ajuda a superar todos os desafios que a vida apresenta e faz com que ela se torne mais tranquila. Fernando resi-de, atualmente, em São Paulo. Pratica canoagem. Já Willian, o jovem são-borjense, luta para ganhar sua cadeira de rodas adaptada.

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Willian da Silva Guasso participou da Olimpíada Paraolímpica de São Paulo, em 2012, e trouxe medalhas para São Borja

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