matar bugres - xokleng e a colonizaÇÃo do alto vale do itajaÍ

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    MATAR BUGRES:

    XOKLENG E A COLONIZAO DO ALTO VALE DOITAJA

    Flamariom Santos Schieffelbein*

    SUMRIO:1. INTRODUO;2. O INDIO;3.A COLONIZAO;

    4. SITUAO ATUAL;5. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL;6. CONCLUSO;7. BIBLIOGRAFIA;8. ANEXOS

    INTRODUOA seguir narrarei uns acontecimentos envolvendo indgenas no Estado de

    Santa Catarina - Brasil, mais precisamente na regio de Rio do Sul e Blumenau.

    Na segunda metade do sculo XIX, muitos alemes, em seu pas, foram

    estimulados a viver no Brasil. Para possibilitar esta faanha, empresas de

    imigrao foram criadas, as quais ganhavam do governo para trazer

    estrangeiros. Era grande o nmero de navios que saia da Europa trazendo

    imigrantes, principalmente alemes. A oferta de terras era grande. Pela fartura

    de terras, o Brasil era visto como uma grande oportunidade.Ao chegarem no Brasil, quem tinha possibilidade comprava terras para se

    instalar a fim de iniciar sua atividade, seja na industria, seja no comrcio, ou na

    agricultura. Alguns eram jornalistas, outros dentistas, mdicos, agricultores, etc..Na medida em que a procura pelas terras prximas ao litoral tinham mais

    sada (eram mais procuradas), as do interior do Estado (na poca, o termo era,

    Provncia) se tornavam mais baratas. Desta forma, os colonos passaram a se

    embrenhar no mato, atravs dos rios a fim de localizar um bom local para se

    instalar. Quando isto acontecia, acampavam em vrias famlias, e assim surgiam

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    as pequenas vilas as quais na poca chamavam de Colnias, e mais tarde se

    transformavam em cidades.

    Os colonizadores esperavam encontrar muitos obstculos nesta

    empreitada, tais como, animais silvestres, mas no esperavam que iam se

    defrontar com ndios. Para os alemes, aqueles seres do mato eram chamados

    de bugres. A antropologia atribuiu a estes ndios, o nome de botocudos, e

    hoje, so chamados de Xokleng. Se os ndios achavam que na selva haviam

    muitos animais ferozes, eles passaram a conhecer um bem pior que era o

    prprio homem.Somente em 1910, foi criado um rgo denominado de Servio de

    Proteo ao ndio (SPI), com o fim de pacificar os colonos e os indgenas. O SPI

    salvou muitas tribos do extermnio total, atravs da assistncia mdica, pela

    criao de reservas indgenas, todavia, se burocratizou tanto, ao ponto de se

    envolver em prticas de aes anti-indgenas.

    2. O NDIOChamado de bugre pelos colonizadores, se ocupava da pesca e da

    caa. Faziam as suas tapearias e viviam como nmades, pois estavam semprecirculando entre os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran.

    Aqui em Santa Catarina, era o local onde se encontrava o maior nmero de

    ndios da tribo dos botocudos.

    A vida de nmades era necessria por uma questo de sobrevivncia. Na

    poca do pinho procuravam estar prximo das araucrias, na poca de

    determinadas frutas, procuravam estar prximo a elas. O deslocamento para

    locais distintos tambm se dava, sempre que a caa se tornava escassa. Atmeados do ano de 1870, muitos ndios no conheciam outros seres a no ser

    eles e os animais. Empurrados pelos civilizados que iam ocupando as terras

    prximas ao mar, com as suas vastas plantaes, os ndios fugiam para o

    interior das matas.

    Nesse quadro, no se pode pensar que os Xokleng resolveram decretar

    guerra ao branco invasor. No se pode pensar tambm, que os indgenas se

    aproximaram do branco e de sua propriedade sempre com o intuito de observar,

    de ver o que fazia o novo habitante, pacificamente. Na realidade os Xokleng

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    eram homens e, como tais, sujeitos a emoes e a atitudes imediatistas,

    desconectadas de qualquer objetivo futuro. No havia assim, guerra ao branco e

    sim revide a ataques ou simplesmente agresso, motivadas, s vezes, pelo

    encontro de ndios e brancos em territrios que ambos tinham interesse.Os Xoklengs eram totalmente selvagens naquela poca, ou seja, nunca

    tiveram contato com o homem branco, no entanto haviam tribos catequizadas

    (civilizadas) na Provncia do Paran, hoje chamada de Estado do Paran, e

    portanto, falavam o portugus. Estes ndios eram inimigos dos Xoklengs e como

    tal, o extermnio desta tribo seria o ideal para eles. H relatos de colonos que no

    decorrer de assaltos s suas propriedades ouviam bugres falar o portugus, e

    isto causava estranheza. No h provas, mas suspeita-se que ndios de tribos

    inimiga dos Xoklengs assaltavam as caravanas dos viajantes e os ranchos dos

    colonos com botoque no lbio para que os colonos viessem a culpar os

    botocudos pelas mortes e assaltos causados.

    3. A COLONIZAOAspirados pela abundncia de terras baratas, os alemes passaram a

    desbravar as matas. A inteno do governo era ter o maior nmero de colonos e

    brasileiros no centro da Provncia de Santa Catarina e tambm, prximo a

    fronteira com os pases visinhos. Da Alemanha eles trouxeram suas ferramentas

    de trabalho. Armas, somente aquelas para o esporte de caa.Nem os colonos e muito menos os ndios, imaginavam a tragdia que iria

    se tornar num futuro breve.Em face das constantes reclamaes dos colonizadores de que eram

    surpreendidos constantemente por ndios, em 25 de abril de 1836, atravs da

    Lei n 28, criada no pas a Fora de Pedestres, que tinha como objetivo

    proteger as Colnias, dos ataques indgenas. Para evitar a evaso dos colonos

    de suas terras, no ano seguinte, surge a Lei n 70, que isentava os jovens da

    prestao de servio na Guarda Nacional, mas somente aqueles que moravam

    em regies expostas aos ataques dos ndios Botocudos (mais tarde foram

    denominados cientificamente de Xokleng). A palavra botocudo no tem origem

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    indgena. Os portugueses assim designavam aqueles ndios em razo dos

    botoques que os mesmos usavam no lbio inferior (anexo I).Por volta de 1852, a partir do estabelecimento dessas primeiras frentes

    pioneiras, ocorreram os primeiros contatos entre os colonos e a populao

    nativa. Relatam inclusive que a casa do Dr. Hermann Blumenau, ento diretor da

    Colnia, foi atacada pelos nativos. Futuramente a Colnia recebeu seu nome,

    hoje cidade de Blumenau.A partir desta data, numerosos relatos comearam a ser registrados sobre

    o embate entre a populao nativa e os colonos que estavam se fixando no Vale

    do Itaja (regio onde se localiza as cidades de Blumenau e Rio do Sul).Em 14 de fevereiro de 1856, o Dr. Hermann Blumenau escreve uma carta

    ao Presidente (Governador) da Provncia de Santa Catarina apelando por

    socorro policial. Nela consta:

    ...s uma medida grande e enrgica, uma desinfeco completa doterreno entre Itaja Grande e o Mirim, uma destruio e aprisionamentodeste bando de rapinas pode restabelecer a tranqilidade e nos tirar desteestado lamentvel.

    Reafirmando as constantes reclamaes do Dr. Blumenau, o Presidente

    da Provncia de Santa Catarina, Joo Jos Joaquim, num pronunciamento

    pblico, em 1856 diz:Esses brbaros, que no poupam nem mulheres, nem crianas, e que spensam em roubar-nos e assaltar-nos de emboscada, segundo o meumodo de ver, no podero nunca ser tratados com bondade econdescendncia. (....) Cada vez me conveno mais que o prtico, senoat mesmo necessrio, arrancar os selvagens fora das florestas ecoloc-los em lugar onde no possam escapar. Dessa forma poderamosproteger os agricultores contra esses assassinos e poder-se-ia, pelomenos, dos filhos desses brbaros, fazer cidados teis.

    Em 23 de agosto de 1879, as Companhias de Pedestres, criadas em

    1836, foram extintas pelo Imprio, por questes econmicas.Como medida preventiva, o Governo Provincial resolveu agir

    energicamente e passou a adotar suas prprias medidas e criou uma

    Companhia de Batedores do Mato, tambm chamados de Patrulhas de

    Bugreiros, cujo objetivo era afugentar os bugres (ndios). A partir de ento, o

    nico meio para tentar pacificar os ndios foi o faco, a pistola, e a espingarda.

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    Nesta poca o chefe das patrulhas mais conhecido era o Martinho

    Marcellino de Jesus (anexo II) o qual aparece no centro com uma camisa

    escura, e cala branca, ostentando um faco no ombro direito e com um leno

    no pescoo. Na referida foto podemos observar que todos os bugreiros, como

    uma forma de mostrar sua valentia, ostentam suas armas utilizadas para as

    atrocidades aos selvagens. O mesmo grupo aparece noutra foto, no anexo III.Martinho Marcellino de Jesus era conhecido como Martinho Bugreiro.

    Deixou fama em toda a regio, pela valentia, coragem e ttica utilizada nas

    caas dos bugres. Suas batidas eram comentadas inclusive no prprio governo

    pela audcia que se revestiam. Eram sem dvidas realizadas com requintes de

    crueldade.

    Em algumas incurses trazia algumas mulheres e crianas, como se

    fosse um trofu comprovador da valentia dos batedores do mato.

    Abaixo, foi fotografado alguns ndios aprisionados e conduzidos para a

    Colnia.

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    Em algumas regies, os bugreiros em constantes incurses no mato

    empreendiam verdadeiras caadas aos bugres aniquilando-os. No Jornal O

    Novidades de 05.06.1904, na pg. 02, foi publicado um artigo com o tema

    Carneficina nos Bugres, e nele consta todas as tticas e atrocidades praticadas

    pelos bugreiros contra os ndios no decorrer de uma batida (incurso). Do

    texto contido no referido peridico, extraio:O pavor e a consternao produzidas pelo assalto foi tal, que os bugresnem pensaram em defender-se, a nica coisa que fizeram foi procurarabrigar com o prprio corpo, a vida das mulheres e crianas. Baldadosintentos !! Os inimigos no pouparam vida nenhuma; depois de tereminiciado a sua obra com balas, a finalizaram com facas. Nem se comoveramcom os gemidos e gritos das crianas que estavam agarradas ao corpoprostrado das mes! Foi tudo massacrado.

    Para legitimar a ao das patrulhas de bugreiros, criou-se um sistema

    ideolgico no qual os ndios eram representados como vadios, assassinos e

    ladres. Os indgenas apresentavam-se como uma ameaa a concretizao dos

    ideais de progresso e civilizao. Dentro desse sistema ideolgico divulgado,

    o bugreiro aparece como heri, capaz de restabelecer a paz.O governo apoiava, o povo apoiava, e a imprensa idolatrava os bugreiros.Quando um bugreiro morria em combate ele era idolatrado pela

    sociedade, que se julgava civilizada. Do Jornal O Novidades, de 19 de junho

    de 1904, pgina 04, extraindo-se o excerto a seguir, veremos o quanto a prpria

    imprensa motivava a matana aos ndios como se eles fossem animais.O chefe da expedio Jos Bento foi morto pelos bugres. Sua morte deve sersinceramente sentida. Jos Bento era um homem muito valente, e o melhor dosnossos caadores de bugres ... 4 (grifei)

    No Jornal Novidades, de 12.03.1905, na primeira pgina, sob o ttulo

    Expedio contra os bugres, extraio um texto onde mais uma vez estperceptvel o apoio da imprensa s aes bugreiras:A chegando com as maiores cautelas, a um sinal convencinado, deram oataque. Estabeleceu-se uma confuso enorme: gritos, pulos,imprecaues, um berreiro infernal por parte dos selvagens. No contamos expedicionrios, mas fcil prever terem feito eles uma boa chacina,(...).5(grifei)

    Atravs da contratao dos bugreiros, as Companhias Colonizadoras e o

    Governo Provincial iniciaram o extermnio de grande parte da populao nativa,sendo que alguns, eles traziam para mostrar aos colonos e quando isto no

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    ocorria trazia um meio de prova para receber seu pagamento pelo trabalho

    realizado.

    A violncia pessoa do ndio, oficiosa ou clandestina, implantou-se comtal mpeto que muitos indivduos assumiram as funes de bugreiros comoprofisso. Profisso que, as vezes exigia que o bugreiro comprovasse onmero de ndios que havia matado durante certa incurso. Tal era feitocortando as orelhas dos bugres mortos e colocando-as emsalmoura para serem apresentadas ao agente da Companhia deColonizao, encarregado pelo pagamento aos bugreiros.6

    As expedies dos bugreiros, ou matadores de ndios, se tornaram

    lucrativas, e em conseqncia, muitos grupos se formaram. Elas percorriam as

    florestas durante vrios dias, seguindo os indcios que os indgenas deixavamcomo trilhas, fezes, ossos de animais e restos de fogueiras. Ao ser encontrado o

    acampamento do grupo perseguido, era feito o reconhecimento do

    terreno e do nmero de seus integrantes. O ataque dava-se ao final da

    madrugada, quando os ndios se encontravam em sono profundo. Primeiro eram

    eliminada as suas armas, para em seguida ocorrer o ataque. Os bugreiros caiam

    sobre o grupo fazendo uma enorme gritaria e disparando seus revlveres e

    espingardas e, aps descarreg-las utilizavam suas coronhas e faces. O filho

    de um bugreiro fez o seguinte relato:A turma no tinha nem tempo de carregar a arma de novo. Iam de facomesmo, subindo e descendo, cortando. O pai lembra de uma meninota quesaiu correndo pro mato quando o primo dele agarrou ela pelos cabelos edesceu o faco. O ao desceu pelo ombro at as partes (vagina). Cortouque nem bananeira. Ao ouvirem a gritaria e os tiros dos caadores, osbugres procuravam suas armas, como no as encontravam, debandavamde forma desesperada mato adentro, deixando tudo para trs.7

    Dos relatos acima, possvel perceber que o predador no era o silvcolae sim o popularmente chamado homem branco.

    Enquanto o ndio matava apenas para se defender e se alimentar, o

    homem invasor o exterminava para ficar com a terra.Esta cultura de matar o ndio, ainda existente do incio do sculo XX, teve

    como marco, a Carta Rgia de 05.11.1808, assinada por D. Joo VI, a qual

    determinava guerra aos indgenas. Entre outros tpicos consta no referido

    documento:

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    (...) sendo-me tambm igualmente presentes os louvveis fructos que tmresultado das providncias dadas contra os Botocudos, e fazendo-mecada dia mais evidente que no h meio algum de civilizar povos brbaros,seno ligando-os a uma escola severa (...); (...) desde o momento em quereceberdes esta minha Carta Rgia, deveis considerar como principiada a

    guerra contra estes brbaros ndios (...).8

    Aps dcadas de extermnio, em 1910 foi criado o Servio de Proteo ao

    ndio (SPI), e a partir de l, passou-se a editar leis que viessem a resguardar o

    direito do nativo.

    A partir da criao do SPI, iniciou-se um trabalho no sentido de criar

    aldeias para proteger os indgenas do extermnio. Nas aldeias, eles recebiam

    inclusive atendimento mdico. Atendimento indispensvel em face das doenas

    transmitidas pelos homens brancos.

    4. SITUAO ATUAL

    Passados quase 100 anos da criao do Servio de Proteo ao ndio,

    eles ainda continuam sendo espoliados.

    No Brasil temos cerca de 340.322 ndios, conforme demonstra no quadroabaixo, tirado do site da FUNAI, sendo que no h registro da existncia, nos

    Estados do Piau (PI) e Rio Grande do Norte (RN).

    Distribuio geogrfica e populacional dosindgenas no Brasil

    Acre 9.868Alagoas 5.993Amap 4.950Amazonas 83.966Bahia 16.715Cear 5.365

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    Esprito Santo 1.700Gois 346Mato Grosso 17.329Mato Grosso do Sul 32.519Maranho 18.371Minas Gerais 7.338Par 20.185Paraba 7.575Paran 10.375Pernambuco 23.256Rio de Janeiro 330Rio Grande do Sul 13.448Rondnia 6.314Roraima 30.715Santa Catarina 5.651So Paulo 2.716Sergipe 310Tocantins 7.193TOTAL 340.322

    Fonte: Fundao Nacional do ndio (FUNAI) 2006.http://www.funai.gov.br/

    As terras indgenas no Brasil cobrem uma extenso de 946.452 Km, o que

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    corresponde cerca de 11,12% do territrio nacional, ou seja, o equivalente ao

    territrio da Frana e da Inglaterra juntas.

    5. TRATAMENTO CONSTITUCIONALA partir da Constituio Federal (CF) de 1988, a questo indgena

    ampliou-se consideravelmente.O art. 20 da CF incluiu entre os bens da Unio as terras tradicionalmente

    ocupadas pelos ndios.O art. 22 da CF afirma a competncia privativa da Unio para legislar

    sobre populaes indgenas.O art. 49 da CF estabelece a competncia exclusiva do Congresso

    Nacional para autorizar a explorao e o aproveitamento de recursos hdricos e

    a pesquisa e lavra de riquezas minerais nas terras indgenas.O art. 109 da CF fixa a competncia da Justia Federal para processar e

    julgar disputas sobre direitos indgenas, e o artigo 129 inclui entre as funes

    institucionais do Ministrio Pblico a defesa judicial dos direitos e interesses das

    populaes indgenas.O art. 215 assegura s comunidades indgenas o ensino fundamental

    bilnge (utilizao de suas lnguas e processos prprios de aprendizagem).

    Temos ainda o Estatuto do ndio, criado atravs da Lei Federal n

    6.001/73.

    6. CONCLUSO

    No houve na poca, da parte do governo ou das Companhias

    Colonizadoras, adoo de medidas que pudessem garantir espaos territoriais

    para os Xoklengs, logo o embate entre colonos e indgenas tornou-se inevitvel,

    defendendo, cada um sua maneira, o territrio do qual, segundo suas

    concepes, eram donos.

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    Os ataques praticados pelos indgenas ocorriam quando no tinham mais

    para onde recuar ou para obteno de alimentos, j que essas frentes pioneiras

    foram ocupando os espaos onde obtinham a caa e coletavam seus alimentos.De um lado estavam os indgenas defendendo seu territrio e local de

    onde obtinham sua alimentao, de outro os colonos defendendo as terras que

    haviam comprado da Companhia Colonizadora.

    O atrito entre colonos e indgenas causou a morte de ambas as partes. As

    mortes dos colonos podem ser quantificadas, pois as mesas eram registradas,

    mas o mesmo no ocorria em relao aos indgenas.As autoridades constitudas colaboraram para isentar de culpa a atividade

    bugreira, pois, se no incentivaram diretamente, tambm nada fizeram para

    enquadrar os praticantes dos morticnios nas leis existentes, que previam o

    homicdio.A crueza das informaes, entretanto, a poucos chocava. A noo de que

    o ndio era uma ameaa aos projetos de progresso do civilizado praticamente

    anulava qualquer esboo de reao. Entre os brancos, criavam-se imagens de

    heris para os executores do extermnio indgena. Ainda no incio do sculo XX,

    o homem branco deixava nitidamente transparecer que para enfrentar os bugres

    era tarefa somente para os corajosos. Isto servia como um estmulo, e os

    indgenas eram atacados em seus acampamentos mediante emboscada, de

    forma a no possibilitar qualquer alternativa de defesa.

    O matador de bugres era heroicamente solicitado para contar suas

    faanhas. Nas reunies entre parentes, nas bodegas e em festas de igreja, os

    casos que envolviam as caadas aos indgenas sempre atraam vrios ouvintes

    por longas horas.

    Muito se deve ao Sr. Eduardo de Lima e Silva Hoerhann, o qual se tornoudevoto causa indgena, o qual teve a idia de criar aldeamentos para os

    bugres a fim de evitar o seu extermnio no incio do sculo XX (anexo VII).A problemtica indgena dia a dia se torna mais dramtica. O Brasil, como

    nao, est colocando em prtica arrojados projetos de expanso econmica,

    em busca de progresso. As decises so tomadas cada vez mais frente a

    variveis econmicas, e o vulto dos investimentos, ao lado das expectativas

    pelos resultados, fazem desaparecer para muitos administradores a importnciahumana, social e cultural dos silvcolas.

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    Questes como, saber se o ndio deseja se civilizar?, se, compete

    sociedade nacional decidir sobre o destino de uma minoria?, se, devemos

    preparar os ndios para as profisses de mecnico, torneiro, eletricista?.

    Certamente, trata-se de questes a refletir, pois se depender o ndio ele ir optar

    pelo convvio e continuidade de suas tradies.

    Hoje em dia ainda lutam no sentido de obter justa compensao pelas

    suas terras. Trata-se de uma luta centenria, cujos relatos histricos nos faz crer

    que nunca ter um fim.

    BIBLIOGRAFIABlumenau em Cadernos. Ataque dos ndios na Colnia Blumenau e Bacia doRio Itaja. Blumenau. Tomo XVIII, n 3, maro 1977.___Indgenas do Itaja. Blumenau. Tomo VIII n 6/7, jan/mar 1967.DEEKE, Jos. Indgenas do Itaja. Blumenau em Cadernos. FundaoBlumenauense de Cultura. Blumenau. Tomo III, Jan.-Mar. 67,

    Novidades. Expedio contra os bugres. Itajahy. 12 mar., Sc. 1:2. 1905.O Novidades. Carneficina aos Bugres. Itajahy. 05 jun., Sc. 1:2. 1904.___Caada aos bugres. Itajahy. 19 jun., Sc. 1:2. 1904.Revista Rio do Sul. Carta do Dr. Hermann Blumenau.tomo V, n.1, maro 2003.SANTOS, Silvio Coelho dos. O homem ndio sobrevivente do Sul: antropologiavisual. Gataruj. 1978.

    ANEXOSANEXO I - Guerreiros Xokleng Sc. XIX.

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    ANEXO II Bugreiros, ostentando suas armas - ano 1904.

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    ANEXO III Bugreiros, mesma equipe de caadores - ano 1904.

    ANEXO IV Eduardo de Lima e Silva Hoermann (O Pacificador) e famlia.

    ANEXO V Acampamento indgena (Xokleng) 1910.

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    1. Revista Rio do Sul. Carta do Dr. Hermann Blumenau.tomo V, n.1, maro 2003.p.102. DEEKE, Jos. Indgenas do Itaja. Blumenau em Cadernos. FundaoBlumenauense de Cultura. Tomo III, Jan.-Mar. 67, p. 1043. Editorial. 1904.Carneficina nos Bugres. O Novidades. Itajahy-SC, 05 jun.,Sc.1:2.4. Editorial. 1904. Caada aos bugres. O Novidades. Itajahy-SC, 19 jun.,Sc.1:2.

    5.Expedio contra os bugres. Novidades. Itajahy-SC, 12 mar., Sc.1:2.6. SANTOS, Silvio Coelho dos. O homem ndio sobrevivente do Sul: antropologiavisual. Gataruj. 1978. p 317. Ibidem8. Idem., p.54.* Jurista, economista, corregedor-adjunto da Policia Militar (Santa Catarina,Brasil).