matança do porco - jornal de mira

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Matança tradicional do porco para o Jornal de Mira

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Filha dos bons costumes da terra, a Confraria Nabos e Companhia no podia deixar passar uma oportunidade de reviver tempos j idos mas no esquecidos. A lua no estava ao pico (em quarto minguante) como manda a tradio, mas isso no impediu os confrades arneiros da carreira de espetarem a faca no suno. E assim foi vivido um dia, onde o porco, morto moda antiga, permitiu recordar belos tempos do passado.Foi no passado dia 5 de Maro, na sede da Confraria Nabos e Companhia, que um leve travo a histria veio parar boca de mais de uma centena de confrades e convidados. Um dia que comeou s 8 da manh, tarde! - reclamou algum, com tudo preparado. Ps, paus, bicas Ah! E o bagao com acar amarelo acompanhado pelo caf com borras que, obviamente, no podia faltar. Com o animal bem preso carroa e com um matador de qualidade e bem batido nestas andanas, foi ento desferida a facada santa, facada essa que o matador mo no falhou o porco. Comeava-se a preparar o primeiro dos pratos do dia: sarrabulho. Que mais tarde, depois de pronto, viria a ser depenicado por vrias pessoas que por ele passavam e no resistiam a deitar a mo a to boa iguaria.Depois de muito sangrar, l foi o porco deitado no cho e ladeado de bicas (agulhas de pinheiro). Estava na hora de comear a queimar e de tirar o plo. Fugindo um pouco tradio (e que bela tradio dizia-se), no se bueu um bagao de cada vez que se virou e revirou o porco, mas, apesar de tudo, o grupo teve direito a vrias filhoses para forrar o estmago e acompanhar na bebida. Reclamaes no ar! Agente vira e revira e no bebe nada! soava uma voz grossa de um trabalhador empenhado.Com o passar do tempo, l se foi descobrindo a carne ao animal. Roubando-lhe as unhas, os pezunhos como se diz por a e que, outrora, serviram de copo para o belo bagao, raspando o plo para fora, sempre com muito cuidado e afastando os pequenos paus para no queimar. J o rabo no conseguiu fugir a to fatal destino, que, perto de ser arrancado, felizmente apenas ficou cascado.Quando acabada a queimadura, foi tempo de lavar o porco. Felizmente, e para sorte de muitos costados, o avanar dos tempos permitiu algumas facilidades no foi de estranhar ento que o porco fosse posto em cima de um estrado de metal, ao contrrio de como se fazia em tempos antigos, onde o animal era deixado em cima de tbuas ou do resto das agulhas, no cho. Mas no nos vamos perder pelo presente, visto que o que no faltou foram as telhas para raspar o porco enquanto vrias mos o salgavam e a pele era lavada. Pouca sorte tiveram o padre e o doutor quando foram relembrados nesta altura, visto que, ao contrrio do que sucedia antigamente, daquele porco no levaria nenhum quinho. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontadesO sol j comeava a espreitar por entre as nuvens quando por fim se deu trabalho ao chambaril (pedao de pau pelo qual se pendura o porco). Com a fora de vrios homens, e com a ajuda de um guindaste (antigamente usavam apenas uma corda), l ficou o animal pendurado pelas patas de trs na velha amoreira que embeleza o ptio da sede da Confraria Nabos e Companhia.O que antigamente era feito em dois dias, a matana no primeiro e o desfazer no segundo, foi feito apenas numa manh. Era preciso encher os pratos a esfomeados. Cortou-se a pituga, foram roubados os vrios rgos, a cabea. E pouco a pouco, o porco foi desfeito em tiras, fveras, rojes at sobrarem duas patas penduradas que rapidamente tambm saltaram para o tacho. Carne aqui, carne acol, l se ia dando trabalho faca enquanto os mais velhos tratavam das tripas.Tal como outrora, nada escapou s bocas famintas. Tudo se aproveitou. Carne, miolos, tripas, lngua e no final, vrias foram as panas cheias e felizes, notando-se a boa disposio patente nos rostos de mais de uma centena de pessoas que visitou a sede nesse dia. A fugir aos hbitos antigos, nada foi para a salgadeira e nada foi guardado para servir a famlia o ano inteiro. E embora tenha surgido essa ideia, tambm no se usou a bexiga para fazer uma bola, o encanto dos pequenos na altura.Claro est que um bom porco deve ser regado com um vinho de qualidade. Vinho esse que, fruto da colheita de 2010 dos vrios confrades na sua casta nabal, l surgiu para matar a sede.E durante a azfama das operaes da matana do porco que se vo descobrindo nalguns confrades jeitos de contadores de histrias, histrias essas que se referem a passagens de outros tempos, como aquela donzela que teve que casar pressa por ter tido um descuido com o namorado ou at a do lavrador que se gabava de nunca ter dado uma fvera ao padre e a quem a rapaziada, uma noite, esvaziou a salgadeira.

Uma matana do porco moda antiga. Foi a isso que a Confraria Nabos e Companhia se props. Tanto pela afectividade aos velhos costumes e s saudosas tradies gandarezas como pelo convvio e pela passagem de testemunho s geraes vindouras. E foi isso que aconteceu. No dia 5 de Maro, por volta das 8 da manh.