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homestudio.com.br © Sérgio Izecksohn – Curso de Home Studio 1 MASTERIZAÇÃO A propalada masterização existe desde que os discos começaram a ser gravados há cerca de um século. No tempo do vinil, a fita mixada (máster) era copiada para uma matriz (máster) em acetato, da qual eram feitas as cópias. Falava-se, então, em ‘corte’. Cortava-se o acetato. Já se usavam equalização de timbres e compressão dinâmica. O termo masterizar se popularizou com a introdução do CD e dos recursos digitais de edição do áudio, nos anos 80. Quer dizer ‘passar para a máster’, a matriz em CD ou fita que contém o material finalizado. Então, se mixarmos um trabalho e gravarmos o resultado numa fita cassete, estaremos masterizando em cassete. No mercado fonográfico, já se usaram fitas de rolo, fitas PCM e DAT. Hoje, masterizamos CDs diretamente do computador. A própria edição do material mixado, antes dele ser transferido para um suporte físico, não é privilégio da era do CD. Nos tempos analógicos, já se editava o material mixado numa fita, transferindo o resultado para outra fita. Só que usar um mouse é muito mais fácil que remendar fitas com gilete e cola. Daí, desde que se começou a gravar em computador, as técnicas de masterização e edição do material estéreo se difundiram em larga escala, alcançando boa parte dos home studios. Não estamos, aqui, preocupados com ‘remasters’, maneira encontrada pela indústria para vender um CD duas ou três vezes para os mesmos consumidores. O que está em questão, além das técnicas de acondicionamento das gravações num suporte físico, no caso o CD, são os procedimentos para realçarmos ou recuperarmos a qualidade do material. Estamos falando de redução de ruídos, equilíbrio dos timbres, ganho de volume e outros recursos que encontramos nos mesmos programas que temos usado para editar as pistas gravadas. Assim, quem tem um estúdio de gravação no seu PC, tem, automaticamente, um estúdio de masterização, desde que o computador contenha um gravador de CD ou DVD e bastante memória RAM (dois gigabytes). E nele podemos tanto melhorar o resultado de nossas próprias gravações e mixagens quanto corrigir certos erros nas mixagens vindas de outros estúdios. É preciso imaginar um CD como um produto final único, no sentido artístico, com ritmo e dinâmica próprios, para compreender a dimensão dos recursos de masterização. Finalizamos cada música na mixagem, cuidando de todos os detalhes para que seja o melhor produto possível. Mas o CD é outro produto, que pode ser desde uma simples coleção de músicas até uma verdadeira suíte com começo, meio e fim. Um ótimo exemplo de disco montado com esta concepção - e olha que já tem 35 anos! - é o álbum "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd (EMI), aquele (alguém não conhece?) com a capa preta com um prisma e um arco-íris e que tem as músicas "Time" e "Money", os primeiros grandes sucessos comerciais do Pink Floyd. Ouvir o disco todo tem um sentido muito maior que ouvir a soma das músicas. As músicas se mesclam, ou demoram um pouco mais a começar, ou o tema de uma música retorna no final de outra. Dependendo somente do talento, podemos fazer uma simples coletânea em instantes ou criar outro "The Dark Side of the Moon". Preliminares. No passo anterior, finalizamos nossa mixagem salvando a música no hard disk como um arquivo .wav. Vamos agora abrir este arquivo no programa Sound Forge. Se a música estiver gravada em uma fita, temos que transformá-la primeiro num arquivo de áudio. Ligue as saídas estéreo analógicas ou digitais do gravador à mesa ou diretamente à placa de som. Ponha o Sound Forge para gravar acionando o botão com a

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Artigo sobre masterização de áudio

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MMAASSTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO

A propalada masterização existe desde que os discos começaram a ser gravados há cerca de um século. No tempo do vinil, a fita mixada (máster) era copiada para uma matriz (máster) em acetato, da qual eram feitas as cópias. Falava-se, então, em ‘corte’. Cortava-se o acetato. Já se usavam equalização de timbres e compressão dinâmica. O termo masterizar se popularizou com a introdução do CD e dos recursos digitais de edição do áudio, nos anos 80. Quer dizer ‘passar para a máster’, a matriz em CD ou fita que contém o material finalizado. Então, se mixarmos um trabalho e gravarmos o resultado numa fita cassete, estaremos masterizando em cassete. No mercado fonográfico, já se usaram fitas de rolo, fitas PCM e DAT. Hoje, masterizamos CDs diretamente do computador.

A própria edição do material mixado, antes dele ser transferido para um suporte físico, não é privilégio da era do CD. Nos tempos analógicos, já se editava o material mixado numa fita, transferindo o resultado para outra fita. Só que usar um mouse é muito mais fácil que remendar fitas com gilete e cola. Daí, desde que se começou a gravar em computador, as técnicas de masterização e edição do material estéreo se difundiram em larga escala, alcançando boa parte dos home studios.

Não estamos, aqui, preocupados com ‘remasters’, maneira encontrada pela indústria para vender um CD duas ou três vezes para os mesmos consumidores. O que está em questão, além das técnicas de acondicionamento das gravações num suporte físico, no caso o CD, são os procedimentos para realçarmos ou recuperarmos a qualidade do material. Estamos falando de redução de ruídos, equilíbrio dos timbres, ganho de volume e outros recursos que encontramos nos mesmos programas que temos usado para editar as pistas gravadas.

Assim, quem tem um estúdio de gravação no seu PC, tem, automaticamente, um estúdio de masterização, desde que o computador contenha um gravador de CD ou DVD e bastante memória RAM (dois gigabytes). E nele podemos tanto melhorar o resultado de nossas próprias gravações e mixagens quanto corrigir certos erros nas mixagens vindas de outros estúdios.

É preciso imaginar um CD como um produto final único, no sentido artístico, com ritmo e dinâmica próprios, para compreender a dimensão dos recursos de masterização. Finalizamos cada música na mixagem, cuidando de todos os detalhes para que seja o melhor produto possível. Mas o CD é outro produto, que pode ser desde uma simples coleção de músicas até uma verdadeira suíte com começo, meio e fim.

Um ótimo exemplo de disco montado com esta concepção − e olha que já tem 35 anos! − é o álbum "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd (EMI), aquele (alguém não conhece?) com a capa preta com um prisma e um arco-íris e que tem as músicas "Time" e "Money", os primeiros grandes sucessos comerciais do Pink Floyd. Ouvir o disco todo tem um sentido muito maior que ouvir a soma das músicas. As músicas se mesclam, ou demoram um pouco mais a começar, ou o tema de uma música retorna no final de outra.

Dependendo somente do talento, podemos fazer uma simples coletânea em instantes ou criar outro "The Dark Side of the Moon".

Preliminares. No passo anterior, finalizamos nossa mixagem salvando a música no hard disk como um arquivo .wav. Vamos agora abrir este arquivo no programa Sound Forge.

Se a música estiver gravada em uma fita, temos que transformá-la primeiro num arquivo de áudio. Ligue as saídas estéreo analógicas ou digitais do gravador à mesa ou diretamente à placa de som. Ponha o Sound Forge para gravar acionando o botão com a

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bolinha vermelha (Record). Na janela que se abre, monitore o nível, regulando-o na mesa ou no programa que controla a sua placa. O nível dos picos máximos deve chegar perto da marca 0 dB (zero decibel), sem nunca ultrapassá-lo (clip), sob pena de distorção no som.

Se a música vier de outro estúdio em CD-Audio, transforme-a num arquivo .wav por meio do próprio Sound Forge (<File> <Extract Audio from CD> e depois <Save as> como .wav estéreo de 44.1 kHz e 16 bits).

Pré-masterização. A fase mais crítica do processo é a da edição do material. Agora, nossa música está num arquivo .wav aberto no Sound Forge. O primeiro passo é verificar o nível do ruído e, se preciso, reduzi-lo. Na parte mais baixa da tela do Sound Forge temos lentes verticais e horizontais para a visualização do gráfico com as ondas sonoras. Focalizando o início do arquivo, antes da música começar, observamos o nível de ruído. Se for insignificante, deixamos como está. Caso contrário, vamos usar o plug-in Sony Noise Reduction. Aqui, muito cuidado para que a redução do ruído não altere os timbres de vozes e instrumentos ou desequilibre a mixagem.

O Sound Forge

O próximo passo é cortar o início e o fim do arquivo. O corte é fundamental para que cada música, no CD, comece no início e termine no fim de sua faixa. Parece redundante, mas nada é mais desagradável que um CD demo com intermináveis segundos de espera entre as canções. Cortar é simples: selecione, arrastando o mouse, os trechos de silêncio no início e no fim do arquivo, e aperte a tecla <Delete>. O problema são os estalinhos que às vezes se

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ouvem nesses pontos de corte. Resolvemos o problema selecionando um trecho bem curto (de alguns milissegundos) logo antes da música começar e clicando em <Process>, <Fade> e <In>; e selecionando um trechinho bem ao fim da música e clicando em <Process>, <Fade> e <Out>. Nas músicas que terminam com um longo fade out de vários compassos, é preferível “desenhar” o decréscimo de volume em gráficos de edição do que ficar arrastando manualmente o controle de volume máster de uma mesa de som.

O passo seguinte é normalizar o arquivo, que é ajustar o volume pelo máximo pico. Clique em <Process> e em <Normalize>.

Salvamos o arquivo .wav e passamos às próximas etapas.

Masterizando o CD. O CD-Architect, da Sony, é um excelente programa de montagem de CDs de áudio. Um verdadeiro paraíso para masterizadores e discotecários, já que seqüenciar canções é sua função. Uma vez detectado o seu gravador CD-R, ele está pronto para nos ajudar a materializar o sonho: fazer o CD.

O CD Architect tem muitos recursos, como o uso não-destrutivo de plug-ins em cadeia e em tempo real, como equalizadores, compressores, noise gates e enhancers programados por música ou para todo o CD. O CD Architect grava CDs no formato Red Book usado pelas fábricas de discos.

O CD Architect traz 20 plug-ins DirectX, dá zoom até cada amostra do áudio, copia e cola facilmente trechos do áudio, inverte a fase do arquivo para evitar cancelamentos nos crossfades, modifica tempos (BPM) e alturas (pitch ou afinações) em separado e em tempo real e normaliza os volumes para nivelar os picos máximos entre as músicas. Prepara uma coletânea com o melhor dos seus CDs em instantes, extraindo as músicas dos CDs e criando outro com o CD Architect. Depois, imprime a ficha técnica a partir do nome dos arquivos. O arquivo original de áudio pode ter até 32 bit e 192 kHz de amostragem, sendo convertido pelo programa automaticamente para o padrão CD Audio de 16 bit e 44.1 kHz.

O CD Architect suporta dois monitores de vídeo, para você ter as músicas numa tela e os plug-ins, por exemplo, em outro. Permite desenhar complexos envelopes de volume. Tem um dispositivo que detecta 'clipes' ou distorções do áudio antes de queimar o CD. Ele interage com o Sound Forge para você editar um arquivo no Sound Forge e devolvê-lo editado ao CD Architect. Basta clicar com o botão direito do mouse sobre o arquivo e escolher "Open in Sound Forge", operar o arquivo no Sound Forge, salvá-lo e minimizar ou fechar o Sound Forge. O arquivo será modificado também no CD Architect.

No centro da tela, à esquerda, um simulador de CD player permite escutarmos as músicas e navegar por elas, como é feito nos aparelhos de CD.

Organização das faixas do CD. Navegar no CD Architect é relativamente simples. Na parte superior da tela, uma grande faixa horizontal, chamada de Audio Pool, é o local onde trabalhamos com as faixas ou as músicas do CD. Escolhemos e ordenamos as faixas do CD a partir de uma janela Explorer, que fica logo abaixo, simplesmente clicando e arrastando com o mouse os arquivos WAV, AIFF, Windows Media ou MP3 (se instalarmos um plug-in próprio para MP3) até algum ponto do Audio Pool. Quando o arquivo arrastado alcança a janela Audio Pool, ele assume a forma de um oscilograma, o gráfico com as ondas sonoras. Arrastamos outros arquivos do Explorer para o Audio Pool, adicionando faixas ao CD.

No Audio Pool, ainda com o mouse, arrastamos o gráfico com a segunda música para a esquerda ou a direita, a fim de aproximá-la ou afastá-la da anterior. Isto aumenta ou diminui o intervalo de tempo entre as duas. Se puxarmos o arquivo para cima do outro, podemos criar um crossfade automático, mixando as duas músicas como os DJs. O final da primeira faixa e o

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início da segunda se superpõem e podemos ver duas linhas se cruzando, uma abaixando e a outra crescendo, ao mesmo tempo. Podemos selecionar vários tipos de fade in e fade out rápidos, lentos e lineares, clicando sobre o envelope com o botão direito.

O CD-Architect

Outra função importante e facílima: criar novas faixas no CD, dividindo um mesmo arquivo. Por exemplo, se você tem um arquivo único com o show todo ou um vinil inteiro, você clica uma vez no Audio Pool sobre o ponto onde começa cada música e então tecla a letra "T". Pronto: "Track 2". Clicou noutro ponto, teclou "T", "Track 3" e assim por diante. No CD criado, as faixas se sucederão naturalmente.

Processamento dos plug-ins. No gráfico de cada música, no canto inferior direito, há um botão chamado Event FX . Nele, adicionamos efeitos em cada música com plug-ins DirectX para equalizar, comprimir, tirar ruídos e outros para melhorar o som de nossos arquivos. Esses plug-ins DirectX, de todas as marcas, podem ser instalados, mas, de qualquer forma, o CD Architect já vem com mais de 20 plug-ins.

Os plug-ins são operados isoladamente ou em cadeia. Clicando no botão Event FX, abre-se a janela Plug-In Chooser, onde escolhemos o plug-in ou a seqüência de plug-ins. Adicionamos os plug-ins, clicamos em OK e ajustamos os seus parâmetros na janela Audio Plug-In, que se abre automaticamente. Após clicarmos de novo em OK, os plug-ins ficam atuando sobre o arquivo em 'tempo real' quando este é tocado e vão atuar também no CD. Mas o arquivo original não é alterado em nenhum momento.

Agora, ouvimos com atenção para verificar se os timbres estão bem equilibrados. Se for absolutamente necessário corrigi-los, vamos apelar para um equalizador ou um enhancer. Bons modelos de plug-ins são o equalizador paragráfico de 10 bandas Waves Q10 e o enhancer DSP/FX Aural Activator. O enhancer (“melhorador”) realça harmônicos abafados nas diversas etapas, como a captação e a mixagem. Mas, cuidado: equalizador não inventa

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freqüências que não existem, apenas reforça ou atenua o que está gravado. Quanto mais alteramos o equilíbrio entre as diversas freqüências graves, médias e agudas, mais riscos corremos de deformar o trabalho, tornando o som artificial. Por isso, uma boa mixagem é fundamental. Faça o dever de casa.

Outro ponto importante é a compressão dinâmica. Como sabemos, a compressão traz o som “mais para a frente”. Isto é, comprimimos os picos de volume para podermos aumentar o volume médio. O plug-in Waves Ultramaximizer é um limitador de picos ideal para a situação. Reduzindo os picos excessivos no material mixado (por exemplo, do bumbo e da caixa da bateria), o limitador aumenta automaticamente os demais sons, chegando a alterar os níveis relativos dos instrumentos e vozes. Mais uma vez, cuidado: a ânsia de aumentar os volumes não deve permitir que tornemos a música “chapada” ou sem profundidade. Esta compressão final, de poucos decibéis, depende do gênero e estilo musicais. Na música erudita e instrumental em geral, usamos muito menos compressão do que, por exemplo, numa música eletrônica.

Outros recursos que podem ser usados são um analisador de espectro de freqüências, que nos ajuda a “ver” o timbre geral da música, como o Brainspawn SpectR-Pro e um plug-in para alargar ou estreitar o campo estéreo, como o DSP/FX Widener.

Crossfade

Uma vez organizadas as músicas, falta adicionarmos seu nome e o código ISRC que identifica cada gravação ou fonograma junto à indústria fonográfica. Obtenha o número ISRC de cada música junto a uma sociedade arrecadadora de direitos autorais. Então, inscreva-o no campo ISRC da mesma música no CD Architect. Para isso, escolha embaixo a aba “Track List”. Na tabela que aparece, o campo “ISRC” é o último, à direita.

Queimando o CD. Após a organização das músicas no CD vamos, finalmente, “masterizar”. Coloque um CD virgem no gravador de CDs. Escolha mídia prateada de boa marca e procedência confiável. No CD-Architect, clique no botão com a bolinha vermelha (Burn CD), escolha o número de cópias, a opção de só gravar o CD e a velocidade de gravação, que não pode ser maior que 8X. Após alguns minutos, o gravador se abrirá e o programa deverá informar que o CD foi gravado com sucesso. Salve o arquivo do CD Architect para queimar outros CDs ou para modificá-lo mais tarde.