martyn lloyd-jones - o sob re natural na medicina

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    O SOBRENATURAL NA PRTICA DA

    MEDICINA

    D. M. Lloyd-Jones *

    O ttulo desta palestra um tanto pretensioso.

    Espero que ele no venha a ser errneo. Deixem-medar uma breve explicao do objetivo deste ttulo. Creioque tem chegado a hora para reconsiderarmos algumasde nossas atitudes existentes para com a vida e aprtica; atitudes do crente, em geral, e especialmentedo crente ocupado na prtica da medicina, para quemsurgem certas dificuldades. Proponho, particularmente,

    reexaminar a questo toda do que chamamos "curapela f", ou, se quiserem, "cura miraculosa".

    O ttulo me permitiria examinar mais do que isso,porm numa s oportunidade no possvel fazer maisdo que isso. Deixem-me debuxar o fundo e explicar-lhespor que eu estou examinando esta questo. Todos osmdicos cristos so continuamente questionados

    sobre este assunto, seja por um paciente, um parenteou simplesmente uma pessoa interessada. H algumdesesperadamente doente, e a cincia mdica, ou aarte mdica, se quiserem assim cham-la, tem feito omximo possvel; no entanto, o paciente est piorandoe algum sugere a possibilidade da "cura pela f".Ento o mdico cristo depara com o problema e

    forado a tomar uma deciso sobre o mesmo.

    *D. M. Lloyd-Jones, M.D., M.R.C.P., anteriormente pastor da Capela de Westminster. Antes

    de entrar no ministrio, Dr. Lloyd-Jones havia sido primeiro cirurgio assistente do SirThomas Horder (posteriormente Lorde Horder) na sua equipe mdica no Hospital So

    Bartolomeu, como tambm no seu consultrio particular.

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    Um Interesse Especial no Assunto

    Eu mesmo tenho lutado com este problema por

    muitos anos. Acho que de todas as perguntas que meforam feitas durante os anos, nenhuma tem sido feitamais freqentemente do que esta. Fui subitamenteconfrontado pela questo em 1928. Estivera noministrio cristo durante uns doze meses isto ,havia sido pastor de uma igreja e eu tinha ido pregarnuma pequena cidade no Vale de Glamorgan.

    Terminado o ltimo culto, aproximaram-se de mim doispastores locais que me perguntaram se eu estariadisposto a voltar outra vez, com o propsito de lideraruma conferncia sobre a questo da "cura pela f".Fiquei um tanto surpreso com o pedido, j que vinha depessoas de uma comunidade agrcola, onde no secostuma encontrar esse tipo de questo, portanto

    perguntei-lhes por que tinham interesse nesse assunto.Responderam, dizendo que um pastor pentecostalhavia estado l pouco antes da minha visita, liderandoum trabalho missionrio por dez dias. Tinham decididoapoi-lo e haviam de fato feito isso. Como resultadodesse trabalho missionrio por dez dias, sessenta e seispessoas foram convertidas. Os pastores continuaram,

    dizendo que estava claro para eles que as conversesno foram devido pregao. "Ento foram devido aqu?" perguntei. "Bem", disseram, "as conversesforam devido s curas". Vrias pessoas haviam sidocuradas durante as reunies, e os pastores atribuam ossessenta e seis convertidos a isso. Eles mesmos noacreditavam na "cura pela f", mas ficaram

    impressionados com os resultados da campanha eficaram pensando se, talvez, no houvesse algo deerrado com suas prprias perspectivas teolgicas sobreo assunto. Queriam, portanto, essa conferncia; e, umpouco relutante, concordei em estar presente.

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    Por alguma estranha razo, esquecicompletamente a minha promessa e, j que no recebinenhuma comunicao deles, a tal conferncia saiu dosmeus pensamentos. Nove meses mais tarde, porm,recebi outro convite para pregar naquela rea e oaceitei. Enquanto viajava de trem quele lugar, eu melembrei de tudo e fiquei um tanto receoso de comoseria recebido, especialmente por esses pastores! Noentanto, olhando a congregao e notando que os doisirmos estavam a, vi aliviado que eles pareciam comode sempre. Ao terminar o culto, vieram frente parafalar comigo. Antes que pudessem dizer qualquer coisa,comecei com "Bem, estou convencido de que vocs sodois bons crentes". Responderam: "Por que diz isso?"Expliquei: "Porque obviamente vocs tm a graa paraperdoar". "O que quer dizer?" perguntaram. Lembrei-lhes que haviam me pedido para liderar umaconferncia sobre a "cura pela f" e que eu no haviafeito isso. Sorriram, dizendo: "No temos mais interessenesse assunto". "E por que no?" indaguei. "Bem", medisseram, "nenhuma das pessoas alegadamentecuradas continuou curada, e nenhuma das sessenta eseis pessoas alegadamente convertidas permaneceu naf; ento no temos mais interesse na cura pela f".Devo confessar que pensei ento que isso encerrava aquesto.

    Interesse Contemporneo

    Entretanto, de fato no encerrou o assunto paramim; e desde ento sempre estive enfrentando esseproblema especfico. Alm disso, sinto que nestes

    ltimos anos a questo tem se tornado muita maisaguda. H certos fatores novos que tm me obrigado apelo menos reconsiderar toda essa questo; portantoestou expondo os meus pensamentos, merecedores ouno, para vocs. Hoje em dia, h um novo interesse em

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    fenmenos. Existe, tambm, o assim chamado"Movimento Carismtico", no qual fala-se muito sobre acura miraculosa alm de certas outras manifestaes.

    Demais disso, h uma recrudescncia do que

    devemos chamar de possesso demonaca. Estiverecentemente numa reunio de pastores onde fiqueisurpreendido com o nmero de homens que selevantaram para contar sobre casos de possesso,casos que senti obrigado a aceitar como genunos.Tambm tenho encontrado esse problema noutrasformas. Para muitos pastores surge a sria questo de

    como distinguir entre a doena mental e a possessodemonaca, e como se deve lidar com tais casos. Umlivrete, publicado pela Fraternidade Missionria Orientalsob o ttulo Roaring Lion,1 trata especificamente dessaquesto de possesso demonaca. Considero-o umexcelente livrete. Tambm me foi dito que o famosolivro de Nevins sobre Demon Possession 2 est prestes a

    ser republicado aps estar esgotado durante muitosanos. Tudo isso indica um novo interesse no assunto.

    Tambm h o livro pelo telogo alemo, Dr. KurtKoch, sobre o Revival in Indonesia,3 no qual soregistrados vrios casos de cura miraculosa. Dr. KurtKoch uma pessoa equilibrada, um bom telogo comuma boa mente cientfica, e ele cauteloso nas suasafirmaes. De fato, s vezes, tem-se o pressentimentode que ele cauteloso demais. Seu livro ChristianCounselling and the Occult,4 por exemplo, demonstrauma grande cautela ao aceitar afirmaes como fatosverdicos. Ele escruta, testa e examina cada relatrio.Ele faz esse relatrio sobre o que ele tem visto em duas

    1 Roaring Lion (Leo que ruge), Robert Peterson, O.M.F., 1968.2Demon Possession (Possesso demonaca), John L. Nevins, 1897.

    3 Revival in Indonesia (Reavivamento na Indonsia), Kurt Koch, KregelPublications.4

    Christian Counselling and the Occult (Aconselhamento cristo e o oculto), Kurt Koch,

    Kregel Publications, Grand Rapids, U.S.A., 1965.

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    visitas Indonsia, onde, durante os ltimos cinco ouseis anos, o pas tem conhecido um notvel avivamentoespiritual.

    Interesse Contemporneo na Amrica

    No entanto, o que tem realmente cristalizado todaessa questo para mim pessoalmente, foi umaexperincia pela qual passei na Amrica h dois anos.Estava l durante uns cinco meses. Certos professoresde um clebre seminrio teolgico, onde tende-se a serintelectual e ctico de qualquer coisa que se aproximaao entusiasmo, perguntaram-me o que eu pensavasobre a "cura pela f" e, especialmente, sobre asatividades de uma senhora chamada Kathryn Kuhlman.Acontece que eu tinha lido o livro escrito por KathrynKuhlman, cujo ttulo I Believe in Miracles (Acredito emmilagres); mas o que me interessava era por que elesse importavam com esse assunto. A resposta foi queum pregador americano bem conhecido, Dr. HaroldOckenga de Boston, havia convidado a Sra. KathrynKuhlman para realizar algumas reunies na sua igreja.Desde que foi o Dr. Ockenga que tinha convidado essasenhora, certo aluno daquele seminrio haviaacompanhado um amigo a uma das reunies.Chegaram reunio cticos, mas partiram cheios deentusiasmo e bem impressionados, e escreveram paracasa sobre suas impresses. Portanto, o problemaocorrera de forma imprevista e direta para meuscolegas professores. Havia muita discusso sobre oassunto e queriam conhecer nossa avaliao.

    Da, quando fui a Cincinnati, encontrei novamenteessa mesma questo. Todo outono, h uma convenoanual que se realiza em Cincinnati e, entre os oradoresque haviam sido convidados para o prximo outubro,houve um bem conhecido pregador, de Pittsburgh. Tudo

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    estava correndo bem at que algum soube que essepastor estava emprestando a propriedade da sua igrejapara Kathryn Kuhiman, para que ela pudesse realizar alisuas reunies de cura e instruo bblica. Esse relatriocausou um srio problema para o conselho executivodessa conveno, e pediram-me a minha opinio e omeu aconselhamento. Havia grande diviso entre osmembros do conselho sobre se deveriam permitir queesse homem falasse na conveno, j que ele apoiavaas reunies de cura de Kathryn Kuhiman. Assim, foinecessrio que eu enfrentasse novamente a questo; eo que proponho fazer agora compartilhar com vocs oresultado das minhas meditaes e deliberaesdurante aquele perodo e desde ento at agora.

    Duas Atitudes Principais

    Creio que estou certo ao dizer que existem doispontos de vista principais, entre cristos, com respeitoa este tpico de "cura pela f". O primeiro destesconsiste de pessoas que ficam impressionadas demaiscom a ocorrncia de certos fenmenos., Coloco-o assimdeliberadamente. Creio que o pastor em Pittsburgh, jcitado, seja um exemplo disso. No estou divulgandonenhum segredo, porque ele mesmo tem falado sobreisso em pblico. Ele pessoa de boa reputao e debom juzo. Ele apia essas reunies de KathrynKuhlman e d suas razes por assim fazer. Ele diz que,nas igrejas de denominaes tradicionais, temos todosnos esforado durante muitos anos, porm poucoparece acontecer. Ele continua, e afirma,alegadamente, temer que ns que pertencemos s

    denominaes mais antigas seremos deixados de lado.Esto acontecendo coisas, pessoas esto sendodespertadas e comovidas, pessoas do mundo inteirotm sido atradas, convertidas e juntadas Igreja porintermdio de pessoas tais como a Kathryn Kuhlman, e

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    aquele pastor temia que os membros dasdenominaes mais antigas, nas suas posiesentrincheiradas, estivessem privando-se duma obraextraordinria que Deus est fazendo. Como resultado,ele havia mais ou menos abandonado o seu velho pontode vista e, de maneira completamente indiferente,havia dito, "Precisamos entrar nisto; precisamos ver oque . Qualquer que tenha sido o nosso ponto de vistaat agora, precisamos estar preparados a reexaminartudo". E parecia-me que ele e outros consigo incluindo Dr. John A. Mackay e seu patrocnio a Daviddu Plessis nos crculos do Conclio Mundial de Igrejas estavam praticamente dizendo: "O que importa ateologia quando v-se acontecendo esse tipo de coisa?"Essa atitude est se manifestando de outra forma emconexo com o novo Movimento Carismtico; no tantocom respeito cura quanto s "lnguas" e tais coisas.Essa atitude est se manifestando em lugaresinesperados. Os catlicos romanos esto participandodesse movimento, especialmente nos Estados Unidos ena Amrica do Sul. Recentemente, foi publicado umlivro chamado Catholic Pentecostalism.1 Esse um livroque nos obrigar a pensar nova e urgentemente sobreestas questes. Nisso tudo, h um elemento muitoperigoso, pois a tese principal parece ser que a teologiano importa. O que realmente importante, dizem,

    que se tem tido uma experincia viva com o Espritoque se manifesta na forma de certos dons. Ento pode-se acreditar em quase qualquer coisa contanto que sepossua tais manifestaes. Coloco tudo isso sob ocabealho geral de "capitulao a fenmenos". aposio na qual a sua teologia e a sua doutrina somais ou menos determinadas por fenmenos. Aqueles

    que tomam essa atitude constituem um grupo bemgrande.

    1 Catholic Pentecostalism (Catolicismo Pentecostal), Kevin e DorothyRanaghan, Paulist Press: Deus Books, Paramus, New Jersey.

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    O outro grupo consiste daqueles que tendem arejeitar tudo isso "in toto" (totalmente). Consideramque este assunto no merece muita discusso, quevimos ouvindo sobre isto durante muitos anos, e que oquanto menos tenhamos a ver com isto, melhor.

    Rejeio das Reivindicaes

    Quero examinar essas duas atitudes ecomearemos com a segunda. Aqueles que rejeitam asreivindicaes desses fenmenos cura miraculosa,demonologia, falar em lnguas estranhas, etc. assimo fazem, creio, por trs razes principais. A primeirano tanto uma razo quanto a afirmao de um fato.Simplesmente recusam-se a considerar o assunto. Oconceito inteiro descartado por ser psicolgico ou,talvez, algo at pior; geralmente, porm, consideradosimplesmente psicolgico. Essa atitude vem aoconsiderar o tipo de pessoa que geralmente estenvolvido com essa espcie de assunto. Por exemplo,tenho conhecido pessoas que diziam: "Bem, a est. Oque mais voc quer? Aqui est Kathryn Kuhlman,uma mulher pregando!" No se precisa dizer mais. Dacontinuam, recontando certos excessos e aberraesentre os pentecostais, e outros exemplos de tais coisas.Tratando da mesma forma os acontecimentos emLourdes entre os catlicos romanos acontecimentosaos quais foram dados muita publicidade essaspessoas recusam-se a considerar qualquer possibilidadede realidade. Por qu? Por causa da prpria origem deLourdes. Surgiu da experincia da jovem camponesa,uma ingnua, a qual alegou ter tido uma viso davirgem Maria. No preciso acrescentar mais nada,dizem; no h verdade nisso; tudo uma tapeao.Mesmo que sejam feitas grandes asseres, no podemser verdadeiras. claramente impossvel e deve-sesimplesmente descartar o assunto, ou por causa das

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    pessoas que esto envolvidas, ou devido origem domovimento, ou tais consideraes.

    Tambm, h os que rejeitam o assunto pelo quechamariam de bases cientficas. Eles mantm que as

    leis da natureza tornam tais coisas totalmenteimpossveis, que a natureza um sistema fechado eque a natureza uma questo de causa e efeito. Porconseguinte, os milagres so impossveis.

    Essa, claro, a velha atitude liberal para com osmilagres. Matthew Arnold a colocou to bem "Osmilagres no podem acontecer, portanto noacontecem, e no tm acontecido". Tal seqncia depensamento bastante lgica. Se os milagres nopodem acontecer, ento de fato no aconteceram; eno h necessidade de dizer mais nada. Tenho atconhecido muitos evanglicos que aderiram a essaatitude supostamente "cientfica" que nega apossibilidade do miraculoso, por causa de umapercepo esttica da natureza e das suas leis.

    Existe ainda um terceiro grupo, que coloco sob ottulo de "bblico". Esse grupo consiste daqueles queprestam pouca ateno a todas essas afirmaesporque mantm dogmaticamente o ponto de vista deque o miraculoso, e todas as tais manifestaes

    espirituais, cessaram com os apstolos e que, desdeque recebemos o cnon completo do Novo Testamento,todos esses tipos de fenmenos extraordinriosacabaram. Essa tem sido uma opinio muito comumentre ns. Aqueles que a sustentam procuram defendero argumento em termos de uma exposio do captulo13 da Primeira Epstola aos Corntios, sobre essas

    coisas acabarem quando vier o conhecimento (ICorntios 13:8-13); e, dizem: "o conhecimento asignifica a apresentao das Escrituras completas".

    Sob este mesmo ttulo geral bblico, eu colocaria aatitude expressa claramente num livro escrito por

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    Keller,1 no qual tenta-se tornar aceitveis os milagres.Lembro-me de um exemplo s para dar-lhes umaamostra de seu ensino que diz respeito ocasioquando Moiss bateu na rocha e dela saiu gua. Aexplicao que Keller d para isso que durante aSegunda Guerra Mundial uns soldados britnicosestavam construindo uma estrada nova. Usavam suaspicaretas e ps quando um dos soldados, ao usar suapicareta, inclinou-se para trs um pouco mais do quepretendera e assim bateu numa rocha que estava atrsdele. Naquele momento, comearam a sair umas gotasd'gua da rocha.

    Sugere-se, ento, que foi algo parecido com issoque aconteceu quando Moiss bateu na rocha; portantoessa espcie de coisa realmente acontece. D-se aoleitor o que aparenta ser uma explicao para milagres.Noutras palavras, nem era mesmo um milagre!

    Os Fatos Aparentes

    So essas algumas das maneiras em que aspessoas tm rejeitado a prpria possibilidade de curasmiraculosas hoje em dia. Essas atitudes so o que necessrio reconsiderar-se, a meu ver. Ao rev-las,

    parece claro que, primeiramente, devemos enfrentar osfatos. Certamente no cientfico rejeitar os fatos; enem faz parte do nosso propsito, como cristos, fazerisso. Obviamente tem havido uma tendncia para fazerisso. Olhem o exemplo de Kathryn Kuhlman. Creio que,por mais de vinte anos, ela tem sido a pastora de umaigreja batista em Pittsburgh. Ela bem conhecida tanto

    de pastores naquela cidade quanto de profissionaismdicos, alguns dos quais so presbteros em igrejasfamosas. Esses no so entusiastas loucos, mas

    1The Bible as History (A Bblia como histria), Werner Keller, Hodde andStoughton, 1956

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    homens sensatos e equilibrados. No pertencem aalguma seita estranha ou maluca; ao contrrio, sopresbteros de bom senso. No entanto, eles admitemfrancamente que podem confirmar as afirmaes depessoas com doenas orgnicas, de seu conhecimento,que tm sido curadas e que esse conhecimento queos tem convencido a apoiar o trabalho da Dra. KathrynKuhlman. No seu segundo livro God can do it again,1

    publicado em 1969, h casos de curas que socertificados por mdicos, cujos nomes, qualificaesmdicas e cargos hospitalares so devidamenteanotados. De fato, em um ou dois dos casos, osprprios mdicos foram os curados.

    Com respeito a essas testemunhas, francamenteestou nesta posio: no posso dizer que somentirosas e nem acredito que esto enganadas. Tudoque se conhece sobre essas pessoas ou que sedescobre sobre elas sugere que so testemunhas de

    confiana, e que no tm razo para relatar esses fatos,ou apia-los, a no ser porque acreditam mesmo queso fatos e sentem-se obrigados a cont-los.

    Tambm temos o caso de Harry Edwards,oespiritualista neste pas. No concordo com algumasdas opinies teolgicas de Dr. Leslie Weatherhead,porm estou disposto a aceitar algumas de suasafirmaes como fatos. Ele tem dito claramente que,tendo observado Harry Edwards pessoalmente durantevrios dias, est convencido de que novamente hdoenas orgnicas que foram curadas.

    No entanto, para mim, o que tem meimpressionado mais no decorrer dos anos foi um

    livrinho que li h muitos anos escrito por Alexis Carrel,um homem cujo nome familiar em relao soluo

    1God can do it again (Deus pode faz-lo novamente), Kathryn Kuhlman,Marshall, Morgan & Scott, 1969.

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    Carrel-Dakin que foi usada no tratamento cirrgico decortes e feridas logo aps a Primeira Guerra Mundial.

    Ele escreveu tambm um famoso livro intituladoThe Phenomenon of Man 1 Bem, Alexis Carrel escreveu

    um livrete2

    sobre o assunto da cura miraculosa no qualele conta algo que aconteceu na sua prpriaexperincia. Ele era catlico romano, mas no erapraticante. Entretanto, ficara interessado em Lourdes eas alegaes a respeito dela, e decidira visitar einvestigar por si mesmo.

    Nesse livrete, Carrel conta como viajou de trem aLourdes e como, a bordo, examinou uma pessoa doentecom tuberculose miliar. Comeara como tuberculoseintestinal, porm havia chegado ento a essa faseterminal. Descreveu o abdmen distendido e assim pordiante. Examinou o paciente a bordo do trem e sentiuque esse estava "in extremis". Duvidava at de que opaciente chegasse a Lourdes vivo. No entanto, noprximo dia, Carrel viu com seus prprios olhos essapessoa sendo curada. Viu aquele abdmen inflamadoaos poucos diminuir e desinchar; e pde examinar opaciente posteriormente e no pde encontrar prova dequalquer doena. Foi ento ao Departamento Mdicoque existe em Lourdes, provido de raios X e tudo o maisque se pudesse desejar, e portanto sem chegar aconcluso alguma com respeito a uma explicao, elesimplesmente declarou os fatos. H tambm o exemplode Dorothy Kerin que foi sbita e dramaticamentecurada durante as ltimas fases de tuberculose em 4 defevereiro de 1912. A histria, bem autenticada,encontra-se relatada nos seus dois livros, The LivingTouch e Fulfilling.3 Digo ento que, se simplesmente

    1Man the Unknown (O Homem, esse Desconhecido), Alexis Carrel, HamishHamilton, 19502 Journey to Lourdes (Viagem a Lourdes), Alexis Carrel, Harpers NY, 19393 The Living Touch (O toque vivo) e Fulfilling (Realizando-se), D. Kerin,Justin Powys

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    dizemos que no acreditamos nisso, adotamos umaatitude no-cientfica. Temos que enfrentar os fatos; seesses concordam ou no com as nossas teorias outroassunto. errado rejeitar os fatos, por qualquer queseja a razo.

    Mudanas nas Atitudes de Cientistas

    Mas de ainda maior interesse, parece-me, aextraordinria mudana que vem ocorrendo nestesltimos anos na rea do pensamento cientfico. Hpoucas coisas no campo de pensamento maisinteressantes ou importantes que isso. No alegoentender tudo nessa rea, porm entendo o suficientepara seguir o argumento. O ponto de vista cientfico dosculo dezenove tem sido abandonado. Esse ponto devista ensinava-nos que as leis naturais, ou leis danatureza, governavam todos os acontecimentos. Eracausa e efeito, "as leis da natureza", e tudo eragovernado por isso. Todo acontecimento tinha esse tipode explicao. A teoria cientfica controladora eradeterminista, mecanicista e esttica na suaperspectiva. Tinha suas origens com Descartes e IsaacNewton. Eram os geradores desse ponto de vista e esseera adotado universalmente. A maioria de ns quepertencemos tradio evanglica tinha virtualmenteaceito esse ponto de vista, e acreditava que essa era anica atitude realmente cientfica.

    De fato, como resultado do trabalho de Einstein a teoria da relatividade e a teoria dos quanta, etc. hhoje uma abordagem completamente nova. Os

    cientistas, os melhores cientistas, dizem agora que onosso conhecimento sobre "as leis da natureza" muitolimitado. O que temos chamado de "leis da natureza"descrevem somente uma parte da realidade e datotalidade de fenmenos. Esto corretos, porm

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    limitados; no entanto, o que fazem somentedescrever certos padres comuns. No que oscientistas estejam contestando a existncia dessespadres ou negando que, na extenso abrangida poresses padres, no se possa falar de causa e efeito;mas o que eles tm descoberto que existem outrosfatores alm desses padres que no podem serexplicados em termos daquilo que temos estabelecido,ou reconhecido, como "leis da natureza".

    Noutras palavras, esto percebendo cada vez maisque h limites no observador cientfico, e que h muito

    mais no cosmos do que supunha dogmaticamente ocientista no passado e especialmente durante o sculodezenove. H uma nova espcie de humildade noscrculos verdadeiramente cientficos, e todos asdescobertas recentes sobre o ADN e ARN tmpromovido muito essa nova percepo da cincia defato, elas a tm tornado inevitvel.

    Expresso doutra forma, o conceito moderno o de"indeterminao". No determinao masindeterminao. Fala-se hoje em dia sobre"probabilidade" e no sobre certeza. As pessoas estose abrindo para novas idias. Li um artigorecentemente no qual o autor, sem hesitao,apresentava a idia de que "as leis da natureza", comoas chamamos, esto de fato mudando, que avelocidade da luz est mudando, e que a rapidez comque acontecem outros fenmenos tambm estmudando. Ento, com essa nova perspectiva cientfica,no se ensina mais que "as leis da natureza" controlamos acontecimentos. A nova perspectiva sobre a energia,e especialmente a energia eltrica, tal que se pode

    falar simplesmente em termos de "probabilidades". Htodo tipo de possibilidade, e portanto no temos odireito de ser dogmticos e de propor como princpiorgido que sempre haver causa e efeito.

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    Essa nova atitude, claro, pode realizar-se demuitas maneiras. A mudana bastante encorajadoraporque, entre outras coisas, o velho conceito cientficosignificava que, na ltima anlise, no adiantava terqualquer opinio, pois at os nossos pensamentos eramresultados de alguma causa predeterminada quelevaria a um efeito. O processo inteiro era mecanicista,e os pensamentos de um homem eram vistos como oresultado de foras alm do seu controle. No existiamvolio nem tal coisa como ao; e finalmente, claro,exclua at Deus. Se a natureza um sistema fechado,ento no h necessidade de Deus, de fato no hlugar para Deus, e a maioria dos cientistas noacreditava em Deus. No entanto, nos preocupamosmais com essa grande mudana na perspectivacientfica pelo efeito que ela tem em relao ao nossoassunto especfico.

    H, ento, essa atitude alterada entre os cientistas

    no os cristos que so cientistas, ou os cientistasque so cristos, mas aqueles que so primeira eessencialmente homens de cincia. As pessoas esto seabrindo e reconhecendo que existem possibilidadesalm daquelas que pensvamos, at agora, constituirparte de um sistema fechado.

    Exagero das Reivindicaes Bblicas

    Pois bem, quando se chega rejeio bblica (isto, a rejeio dos fatos e fenmenos em termos doensino supostamente bblico), pessoalmente nunca fuicapaz de aceitar o ensino bem-conhecido de que tudo

    que pertence rea do miraculoso e do sobrenatural,como manifestado nos tempos do Novo Testamento,cessou com a era apostlica. No h uma declaraosequer nas Escrituras que sugere isso. No hdeclarao especfica ou at indireta de tal natureza. A

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    interpretao de I Corntios, captulo 13, que leva aessa concluso est completamente errada. Asafirmaes de Paulo a encontradas referem-se aoestado futuro. Se dissermos que, desde quando foramredigidas as Escrituras do Novo Testamento eestabelecido o cnon do Novo Testamento, que temos"todo o conhecimento" e que conhecemos agora "assimcomo somos conhecidos (por Deus)", certamenteridculo. O apstolo Paulo que recebera ento arevelao na qual se baseava a Epstola incluiu a simesmo na falta de conhecimento. O propsito e o alvodaquela argumentao era formar um contraste entre anossa situao atual e o nosso futuro estado deexistncia. interessante notar que as mesmaspessoas demonstram um ceticismo semelhante comrelao a casos relatados sobre "possesso demonaca"hoje em dia. Ser que porque pensam que o diabotambm decidiu cessar suas atividades devido osapstolos no existirem mais?

    Igualmente, no estou satisfeito com a respostaque B.B. Warfield d queles que alegam que osmilagres continuaram aps a era apostlica.1 bemconhecido que Tertuliano e Agostinho usaram oargumento que os milagres aconteciam na sua era epoca, em defesa da f crist e como parte da sua

    apologtica; e nunca estive satisfeito com a resposta deWarfield a isso. At entre si, os eruditos no concordamque as provas podem ser descartadas desse modosumrio. No somente isso, mas sendo algum que temtido grande interesse na histria dos partidrios dareforma protestante na Esccia, sempre fiquei muitoimpressionado com a evidncia que vem daqueles

    tempos. H eventos contados sobre a vida de JohnWelch, genro de John Knox, onde parece claro que

    1Miracles: Yesterday and Today (Milagres: ontem e hoje), B.B. Warfield,Eerdman, Michigan, 1953. Publicado primeiro como Counterteit Miracles(Milagres forjados), Scribner, 1918

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    milagres foram realizados em certas circunstnciasestranhas e extremas. H o famoso partidrioAlexander Peden. Parece-me incontestvel que aquelehomem tinha o poder de prescincia e profetizou coisasque chegaram a acontecer posteriormente. Os registrosso autnticos e podero ser lidos nos dois grandesvolumes de "Biografias Seletas", editadas para aSociedade Wodrow que lidam com esse tipo de histria.Portanto, jamais estive satisfeito com essa simplesexcluso, supostamente bblica, de toda a possibilidadede milagres, e o ensino de que tudo isso terminou comos apstolos, com a confiante concluso de que tudoaquilo que alega ser miraculoso agora devenecessariamente ser esprio ou um enorme exageroou uma mentira.

    Esse ponto de vista tambm parece-meextremamente perigoso porque significa que estsendo apresentado um tipo de novo

    dispensacionalismo. Quais partes das Escriturasaplicam-se a ns? Ser que o livro de Atos temqualquer mensagem para ns alm de seu relatohistrico? Adotando-se essa atitude, fica claro que amaior parte de 1 Corntios no teria nada para noscomunicar. Noutras palavras, creio que aqueles queadotam esse ponto de vista tm sido culpados,

    inconscientemente, de introduzir uma nova espcie dedeismo. A nossa tendncia tem sido a de excluir Deusdas atividades de hoje em dia. Temos afirmado que issono pode acontecer porque todo fenmeno acabou naera dos apstolos. Com certeza, essa uma atitude queno temos o direito de adotar. No tem fundamentobblico nem histrico; estamos simplesmente fazendo

    uma declarao dogmtica. Parece resolver nossosproblemas. Podemos descartar os relatrios queouvimos e as alegaes que so feitas; e faz com quesintamo-nos felizes. Mas ser que certo? Ser que verdade? Sugiro que chegou a hora de reexaminar tudo

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    isso, caso que nos encontremos defendendo essa formade deismo, e especialmente luz de certas declaraesque encontramos nas Escrituras.

    A Verdadeira Natureza das Atitudes Bblicas

    No tenho mudado, de repente, minhasperspectivas profticas. Atravs dos anos, tenho sidoum amilenista, e sou extremamente ctico sobrepessoas que esto sempre tentando calcular "ostempos ou as estaes" e profetizando o fim do mundoou dos tempos. No tenho subitamente me retratado ejuntado-me quela companhia; no entanto quando se lMateus 24:24, por exemplo, "Porque surgiro falsoscristos e falsos profetas, e faro to grandes sinais eprodgios que, se possvel fora, enganariam at osescolhidos", somos obrigados a pensar. Isso trata dosltimos tempos, o fim da era presente. No estousugerindo que chegamos a. Talvez seja verdade, nosei. Simplesmente sugiro que, quando chegar essahora, haver esses "sinais" "sinais e prodgios" que sero to notveis que quase chegaro a enganaros escolhidos.

    Noutras palavras, aparecero fenmenos que tero

    carter sobrenatural. Todavia, se decidirmosanteriormente que nada desse tipo possa acontecer,qual ser a nossa situao quando esse tipo de coisaaparecer, caso que ainda estejamos sobre a terra?Parece-me, por todas essas razes, que muito erradodescartarmos, por qualquer razo dogmtica, tudo oque se alega nessa rea.

    Alm disso, sugiro que na prpria Bblia hclaramente uma espcie de periodicidade nosurgimento desses acontecimentos sobrenaturais. Porexemplo, h obviamente uma periodicidade no VelhoTestamento. Tais coisas aconteciam em certas ocasies

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    especiais, e por claras e bvias razes. V-se a mesmacoisa, em certa medida, no Novo Testamento; e somosinformados que o Esprito o Senhor destas questes ereparte Seus dons particularmente a cada um comoquer (1 Corntios 12:4-12). Portanto, isso algo quepode acontecer a qualquer hora, se assim for a vontadede Deus. Quem somos ns para determinar quando issodeva ser?

    Parece bem claro que, olhando em geral a eracrist, houve no incio uma abundncia de taisacontecimentos que no tem continuado. Como j

    disse, no estou satisfeito de que jamais aconteceramdesde ento, porm, falando de modo geral, no tmacontecido com tanta freqncia. Durante aquelasgrandes pocas de reavivamento que tm acontecidoperiodicamente na histria da Igreja, os fenmenos noconsistiam tanto na obra de milagres e curas quanto nopoder extraordinrio da pregao, na extraordinria

    intensidade da convico e num elemento inesperadode gozo e jbilo. Tudo isso, parece-me, est dentro doSenhorio do Esprito. O fato de que isso tem sido,geralmente, o caso na nossa era crist no prova deque, a qualquer momento, no possa haver umareintroduo de outros tipos de fenmenos, eespecialmente ao chegarmos aos ltimos tempos. Alm

    disso, aqueles que se interessam em ler livros como,por exemplo, Pastor Hsi 1 tero encontradoacontecimentos e eventos que eu, pelo menos, nopoderia explicar a no ser em termos do sobrenatural edo miraculoso. Parece que Deus tem permitido essesacontecimentos nas fases iniciais de certos trabalhos,ou quando foi necessrio uma atestao especial da

    verdade.Nisso h, ento, uma reviso geral dessa atitude

    negativa em relao s alegaes que esto sendo

    1Pastor Hsi Sra. Howard Taylor, O.M.F., 1900 (ltima edio 1969).

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    feitas. Ainda estou lidando com aqueles que rejeitamtodas as alegaes. No estou considerando, nomomento, o caso daqueles que tm chegado aacreditar, e esto to impressionados pelos fenmenosque capitulam e tendem a abandonar todaconsiderao teolgica.

    Mudanas nas Atitudes na rea da Medicina

    Mais positivamente, e alm dessas observaesgerais, creio que h certos outros fatos aos quais aindano tem sido dado a importncia e a ateno quemerecem. Parece-me que h certos fatos mdicos quetemos nos inclinado a ignorar. Refiro-me aos relatriosde curas espontneas, e em particular a regresses nocaso de tumores cancergenos. Tive o prazer deconhecer em Cincinnati um homem ocupado napesquisa mdica. Ele estivera trabalhando em Chicagocom duas outras pessoas que tinham selecionado, daliteratura mdica nos Estados Unidos, 244 casos decuras espontneas do cncer. Mostrou-me um dos seusartigos em que isso era relatado. Lembro-me de comoum grupo de ns que estvamos pesquisando esseassunto, sob os auspcios da Fraternidade MdicaCrist, encontrou vrios exemplos na literatura mdicade curas espontneas do cncer. Este era o tipo decoisa que tinha acontecido. O paciente diagnosticadocomo tendo um tumor, um tumor abdominal, e ocirurgio decide operar. Contudo, no momento em queele abre o paciente, encontra que o tumor todesenvolvido que no seria possvel remov-lo. Aoencontrar a extensa disseminao do tumor, o cirurgiodecide costurar a inciso no paciente imediatamente.

    Literalmente ele nada faz sobre o tumor. No entanto,desse momento em diante, s vezes o paciente temcomeado a recuperar-se, e depois de um perodo, notem havido mais qualquer prova ou sinal da doena. Talcaso pode ser raro, porm acontece. Vrios dos casos

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    na Amrica caem nesse grupo onde um cirurgio temfeito somente uma laparotomia e nada mais. Outroscasos foram onde pacientes, com um tumor maligno,alguns com depsitos secundrios, contraram outradoena ao mesmo tempo uma febre, ou algumadoena infecciosa e desde o momento quandotinham essa outra doena, a condio cancergenacomeou a desaparecer. Esses mdicos, queselecionaram esses casos, ficaram convencidos queaconteceram essas curas espontneas ou regressesem casos aparentemente sem esperana. Certamentetemos que reexaminar tal evidncia e encontrar paraessas uma explicao por exemplo, dentre osnotveis mecanismos da imunologia. Isso deveria abrirnossas mentes e salvar-nos de uma posio dogmticademais.

    Tambm interessante observar que uma novaviso sobre enfermidades, uma nova teoria sobre

    doenas, de fato sobre todo o estado de sade edoena, est atraindo ateno. No deveramos nossurpreender com isso. Lembrem-se da declarao em 1Corntios 11:30, com relao Ceia do Senhor, onde oapstolo diz que devido certas pessoas no terem seexaminado "por causa disto h entre vs muitos fracose doentes, e muitos que dormem". O apstolo a ensina

    claramente que a doena s vezes, nem sempre mas"s vezes", tem uma causa espiritual "por causadisto h entre vs muitos fracos e doentes". Noutraspalavras, condies espirituais podem levar a condiesou doenas fsicas.

    Deveramos j ter sabido disso e dado a isso adevida importncia. No entanto, hoje em dia tal

    conceito no apresenta a mesma dificuldade queantigamente. O ensino com relao a estresse emedicina psicossomtica concorda com isso, e mostra-nos como observadores, no necessariamente cristos,compreendem que infelizmente estivemos ignorando

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    esse tipo de aspecto psquico na nossa abordagem dadoena. Nessa posio tem sido demasiadamentematerialstica e mecanstica. A mudana de perspectivana medicina com relao a esse assunto realmentesurpreendente. Ainda lembro os primeiros dias dofreudismo e da psicanlise. Era a nica piada na qual sepudesse depender quando as outras falhassem. O alunoque, ao ser questionado sobre a causa ou as causas dalcera gstrica, comeava por dizer "preocupao ouansiedade" era ridicularizado pelo professor e por todosos outros alunos. Era tudo to cmico. Pensvamos,ento, somente em termos da quantidade de cido noestmago e a possibilidade de vrios tipos deferimentos mucosa gstrica. Quo grande tem sido amudana desde ento!

    Alm disso, temos lido de vez em quando sobrecasos onde um paciente tem desenvolvidorepentinamente uma doena como resultado de

    choque. Um exemplo disso ocorreu na minha prpriafamlia. Uma tia minha, que estivera perfeitamentesadia, foi informada subitamente que seu filho maisvelho havia sido morto de maneira trgica. De pronto,ela mostrou os sintomas de diabetes, e foi tratado cominsulina pelo resto de sua vida. Outros casossemelhantes tambm tem sido relatados. Muitas vezes

    ouve-se esse tipo de coisa.H casos em que um tumor maligno parece ter

    comeado com algum tipo de choque oudesapontamento ou algo mental ou emocionalmentetraumtico. Com relao a esse assunto, impossvelno recordar os casos de dois eminentes estadistas Neville Chamberlain e Aneurin Bevan. Alm do mais, h

    a tendncia hoje de considerar essas doenas no tantocomo condies primariamente locais, quanto demaneira mais sistemtica ou constitucional. Ser que ocncer somente uma doena local, ou uma condiogeral com manifestaes locais? O ponto de vista hoje

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    em dia que geral, com manifestaes locais, e nosomente uma condio local.

    Recentes Perspectivas sobre a CuraTambm tem havido especulao quanto ao papel

    de processos imunognicos e outros processosfisiolgicos e patolgicos. Discursos versados tm sidoproferidos sobre esse assunto e, para mim, muitofascinante, porque indica o fato de que as pessoasesto compreendendo que includo o homem inteiro,e que no podemos considerar somente asmanifestaes locais. Existem outros fatores. Noutraspalavras, a tirania de pensar somente em termos damrbida anatomia e patologia est chegando ao fim.

    Estvamos familiarizados com isso, at certoponto, h anos atrs. Lembro da introduo do

    tratamento de choque mediante protena para a artritereumtica. De certo modo, aquilo era a aplicao deuma teoria semelhante. A idia era que, dando-sedeliberadamente um choque a um paciente a fim deestimular sua resistncia geral, este trataria ento dacondio local em particular. Vrias vezes, tenhocontado uma historieta, que tem seu elemento cmico,

    para ilustrar isso. Lembro-me, quando pregava numcerto lugar, de que por acaso notei durante a cano deum dos hinos que um pastor da cidade, um homem queeu conhecia h anos, estava mais ou menos sendocarregado por duas pessoas, e colocado num assentoreservado para ele. Estava obviamente incapacitadopor artrite reumtica. Trouxeram-no para mim, no final

    do culto, e ele disse que queria me perguntar algo. Eletivera a felicidade de ter conseguido um leito noHospital Mineral Real de Bath, e queria ir para l paraser tratado. Entretanto, para o seu completodesapontamento, recebera uma intimao no dia

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    anterior de que no poderia ser admitido para o leito ano ser que fosse vacinado. Estava apreensivo sobreser vacinado. Tinha medo de que na sua condio frgilisso o mataria. Qual o meu conselho? Deveria servacinado ou no? A resposta que lhe dei foi que, vistoque conseguira um leito naquele famoso hospital,deveria ir a qualquer preo. Da continuei, "Sim, e emtodo caso, voc no sabe o bem que essa vacinaopode lhe fazer. possvel que cure completamente asua condio". Deixamos assim. No vi esse homemdurante uns seis meses mas, quando o vi novamente,eu o vi andando para mim perfeitamente bem.Observei, "Obviamente tm bons tratamentos noHospital Mineral Real de Bath". Respondeu, "Nuncacheguei a ir". "Por que",perguntei, "o que lheaconteceu?" Replicou,

    "Bem, como voc disse, tive uma reao toviolenta vacina que pareceu me curar". E de fato o

    tinha curado.

    O Equilbrio entre a Sade e a Doena

    H algo aqui que, certamente, deveria ter-nos feitopensar, e seriamente sobre todo o processo da sade e

    da doena. Ser que no est claro que ummecanismo muito delicado e sensvel, que umaquesto de equilbrio? H um mecanismo no corpohumano que preserva esse equilbrio extraordinrioentre a sade e a doena. Lembro-me de que, hcinqenta anos, li um grande livro, cujo ttulo eraInfection and Resistance, 1 que tratava de anticorpos, e

    enfatizava a luta constante entre a doena e a defesada sade. Isso acontece no somente no caso de1 infection and Resistance (Infeco e resistncia), Hans Zinsser, N.Y.,1914. Quinta edio entitulada ImmunoIogy - Principies and Applications inMedicine and Public Health (Imunologia - princpios e aplicaes namedicina e na sade pblica).

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    infeces mas tambm mais geralmente no caso dedoenas tais como aquelas a que me referi. H forasque produzem doenas e essas so contidas por outrasforas. muito provvel que tudo isso seja controladopelo sistema nervoso. No deveramos, pois, concluirque a doena pode ser causada por muitos fatores,qualquer uma das quais pode deprimir esse mecanismocontrolador e o abater temporariamente? Poderia serum choque, poderia ser um acidente, ou poderia seruma infeco; poderia ser um de muitos fatores.Qualquer que seja, perturba o mecanismo quenormalmente mantm o equilbrio entre a sade e adoena, e favorece o processo da doena. Ser que notemos o direito tambm de olhar o outro lado e dizerque as curas podem ser o resultado de muitos fatores?Existem os meios comuns que usamos, como umavariedade de medicamentos, ou pode haver um ataquedireto nos organismos infecciosos. Alm disso, notemos abandonado ainda o desenvolvimento daresistncia ou teramos? Temos sempre conhecidoesse elemento. H muitos anos, mandvamos ostuberculosos Sua e a outros centros. Para qu? Bem,para desenvolver resistncia. No tnhamos nadanaqueles tempos com que podamos atacar os bacilosdiretamente, ento nos concentrvamos emdesenvolver a resistncia do paciente. Infeco e

    resistncia esse era o equilbrio. E se aqueles quetratavam o paciente conseguissem aumentar suaresistncia, a infeco diminua, e tornava-se possvelrestaurar um equilbrio.

    Entretanto, no podemos nos limitar a pensar emtermos dos meios comuns ou bem conhecidos ou

    habituais; temos agora que ir adiante. Se um choquepode causar uma doena, por que um choquecorrespondente no outro lado no poderia restaurar asade do paciente, estimulando o mecanismo quepromove a sade, e assim acabar com a condio

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    doentia? Como j disse, h exemplos e ilustraessendo acumulados na literatura mdica que apontamfortemente nessa direo. E que tal toda a questosobre a "vontade de viver"? Estou sugerindo quetivemos a tendncia a ser mecanicista demais na nossaperspectiva sobre a doena. Temos esquecido opaciente, e temos nos inclinado a esquecer quodelicado o equilbrio dos processos que mantm asade.

    Em relao a isso, muitas vezes tenho contado oque aconteceu um dia em "Barts" quando Lorde Horder

    fazia visita aos pacientes. Chegamos ao leito dumhomem que era ferreiro. A estava ele no leito numcanto, apoiado por travesseiros, com falta de ar, suaspernas inchadas, ascite e tudo mais um caso ruim dearritmia cardaca. Ele estava incoerente e delirante, eos dois estagirios e eu havamos chegado conclusode que ele estava obviamente morrendo, de fato

    duvidamos que ele vivesse at o fim do dia. Entretanto,chegamos ao leito desse homem e, enquanto LordeHorder lhe fizesse perguntas, o coitado paciente estavaincoerente e ficava murmurando algo. Estava tornandoo exame quase impossvel. Ento Horder virou para elee perguntou: "O que est dizendo, meu bom homem?"O homem disse: "Posso levantar-me hoje noite,

    senhor?" E, surpreendendo-nos completamente, Horderdisse: "Sim, claro".

    Devo ter registrado algo no meu rosto, e tambm oestagirio e os estudantes. Ento Horder nos reuniu edisse: "Vejo que todos vocs pensam que enlouqueci.Pois bem", continuou, "deixem-me contar-lhesexatamente por que falei quele homem que pudesse

    levantar-se. Esto todos de acordo, no esto, de queesse homem vai morrer?" "Sim, senhor", respondemos.Ele disse: "Concordo com vocs, portanto deixem-nolevantar-se. Por qu? Bem, no recusem o pedido deum moribundo. Se tm certeza de que ele vai morrer, o

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    seu levantar no far diferena alguma; em todo casoele vai morrer disso vocs tm certeza. Bem, norecusem o pedido de um moribundo. Essa minharazo principal por deix-lo levantar-se. No entanto",acrescentou, "vocs sabem que eu tenho outra razo. Ocorao um rgo extraordinrio e, mesmo quando svezes est muito doente, pode ser tambm preguioso.s vezes, encontraro que o corao doente podebeneficiar-se de um pouco de atividade. Ento, comoem todo caso esse homem vai morrer e vocs nopodem piorar a situao, deixem-no levantar-se, eesperemos para ver o que ir acontecer." Portanto,levantamos o homem por uns dez minutos aquela noite,e ele dormiu melhor naquela noite do que tinhadormido por muitas noites. De fato, encurtando orelato, aquele homem melhorou to significativamenteque lhe demos alta e ele retornava de ms em mspara vermos como estava. Quando deixei o hospital nofim de 1926, ele ainda estava retornando de seis emseis meses para ficarmos de olho nele. Exatamente oque foi que aconteceu nesse caso? O que foiresponsvel por isso? No houve mudana naquantidade de digitalina ou qualquer outra coisa;apresentou-se outro fator que pode ser descrito como a"vontade de viver". Sinto que no temos dado atenosuficiente para esse aspecto da sade e da doena.

    O Inesperado na Medicina

    Deixem-me contar-lhes mais uma histria queincidentalmente me lembra de um dos maiores erros daminha vida no sentido mdico! Estava pregando numa

    pequena capela no Vale de Glamorgan pela primeiravez em 1928, numa tera-feira noite e numa quarta-feira tarde e noite. Antes de partir para casa, euestava jantando com a idosa senhora com quemestivera hospedado ela era realmente uma anci

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    merecedora desse ttulo, verdadeira tirana na suacomunidade local. De repente, inclinou-se sobre a mesadurante a refeio e perguntou: "Ser que o senhorfaria um favor para uma velha?" Eu disse: "Sim, sepuder, ficarei feliz em faz-lo." "Ento", disse ela, "viriapregar novamente no ano que vem nestas reunies?""Est bem", respondi, "virei". Continuamos comendo.Logo, inclinou-se novamente e perguntou: "Olhe, serque o senhor faria outro favor para uma velha?"Respondi: "Bem, depende qual o favor". "Oh, est tudobem", ela disse, "o senhor capaz de faz-lo".Perguntei: "O que ?" "O senhor promete vir e pregarnestas reunies todo ano que ambos estivermos vivos?"Ela j havia me dito que tinha setenta e nove anos, suapele era mais como papel pergaminho do que pele, eeu na minha esperteza cheguei concluso de que nohavia nenhum risco em concordar com seu pedido,portanto fiz o contrato.

    Isso aconteceu em 1928. Acredite ou no, tive queir para pregar naquele lugar todo ano at 1939; e seno fosse pela Segunda Guerra Mundial e a retiradadaquela senhora para outro lugar no Pas de Gales, porcausa de um aeroporto vizinho, teria sido obrigado a irat 1942, quando ela morreu! Mas eis a razo dahistria: acho que, por volta de 1936, essa pobre

    senhora sofreu um terrvel ataque de bronquite epneumonia bronquial. No existiam antibiticosnaqueles dias e estava ainda no incio do uso dasdrogas sulfanilamidas. Ela estava desesperadamentedoente. Dia e noite enfermeiras eram responsveis porela. Mandaram chamar todos os parentes, e estavamtodos convencidos, incluindo os mdicos, de que ela

    estava morrendo. Uma madrugada, por volta das 3horas, de repente ela levantou-se na cama e disse: "D-me aquele calendrio, aquele almanaque na parede".Todos pensaram, claro, que isso fosse parte de seudelrio. Contudo, ela insistiu em ter o calendrio e

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    deram-no a ela. Ficou olhando e virando as pginaspara l e para c durante uns momentos. Isso era tpicodo delrio, claro. De repente, ela disse s enfermeirase aos parentes: "Ele estar aqui daqui a seis semanas".Tinha calculado a data da minha visita anual. A partirdaquele momento, comeou a melhorar!

    Noutras palavras, estou tentando mostrar que htantos fatores que tendemos a ignorar, que podeminfluenciar esse delicado mecanismo da sade e dadoena. E nessa categoria eu colocaria "f". Quero dizerf de qualquer tipo. Se essa viso correta, qualquer

    tipo de f pode ter efeito. No devemos limitar essesfatores. No mencionei as pessoas que parecem ter um"dom de cura" natural. algo que no compreendo;porm est claro para mim que tantos so os fatoresque podem causar doenas quanto os que podemproduzir curas. No somente f crist, mas qualquertipo de f, f em personalidades "carismticas", fatores

    psicolgicos, forte emoo, choque, a atividade deespritos maus qualquer um desses fatores podesurtir efeito.

    Atitudes e Princpios Bsicos

    Assim, chego minha concluso. Ns crentesdevemos acreditar em milagres no por causa de todasessas coisas a que tenho me referido, mas porqueacreditamos na Bblia. O fato de crermos em Deus tornapossvel para ns aceitar o miraculoso sem dificuldadee acreditar que milagres podem acontecer a qualquermomento segundo a vontade e soberania de Deus. O

    que tenho tentado dizer de valor apologtico, pormnunca deve ser a base da nossa f. Se dissermos: "Ah,sim, agora posso acreditar em milagres por causa danova perspectiva cientfica, e por causa de uma novamaneira de olhar a sade e a doena" isso seria para

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    mim uma contradio da f crist. Acreditamos emmilagres porque acreditamos nas Escrituras, mas o quetenho dito deve ser de algum valor e auxlio apologticopara ns, e especialmente da maneira que vou expor aseguir.

    Devemos tomar muito cuidado para no cometer omesmo erro que a igreja catlica romana cometeu nocaso de Coprnico e Galileu. Os lderes dessa igrejarejeitaram os fatos que foram apresentados por eles,vocs se lembram, porque no concordavam com asteorias dela. Devemos ter muito cuidado para que no

    sejamos pegos nesse mesmo ponto, e para que norecusemos a reconhecer fatos porque nossa teoria osconsidera impossveis. De fato, s vezes tenho tidomedo de que nosso dogmatismo nesses assuntos sejasemelhante demais quele demonstrado peloscomunistas e seu tratamento de Lysenko. No devemosproibir quaisquer descobertas somente por motivos

    tericos ou doutrinrios. Devemos ter mentes abertas eestar dispostos a aceitar fatos e a examin-los.

    Ao mesmo tempo, devo enfatizar que aindaprecisamos manter uma saudvel atitude crtica ectica para com tudo que nos relatado. No entanto,devemos ser crticos de todos os lados, e nosimplesmente de um lado. Devemos ter uma atitudecrtica para com os dogmatismos da cincia, e tambmpara com as alegaes muitas vezes exageradas decertos grupos religiosos. Os prprios cientistas estoassim fazendo hoje em dia, como j temos visto,portanto no devemos ficar para trs. Devemosreconhecer e estar cientes de todas as imensaspossibilidades que esto se abrindo. Muitas das antigas

    e estabelecidas posies dogmticas dos cientistasesto sendo questionadas nestes dias, em parte devidoa essas viagens recentes lua e tais projetos. Tudo to maior do que o homem pensava, as possibilidadesso infinitas. Na verdade, o homem sabe to pouco.

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    Posto que temos conhecimento em certa rea,inclinamo-nos a supor que conhecemos tudo.Entretanto, no conhecemos tudo. "Probabilidade",lembrem, a palavra de hoje, no "determinismo".

    Fenmenos no devem determinar crenas

    No entanto, e para mim essa a descoberta maisimportante do ponto de vista teolgico, no devemosdeixar que nossa doutrina seja determinada porfenmenos. Esse, parece-me, o perigo hoje em diapara muitos bons crentes. Como disse anteriormente,h muitos hoje que ficam to impressionados porresultados que esto preparados a abandonar o quetm sempre acreditado. Espero que eu tenhaconseguido mostrar que no h necessidade para isso.O argumento deles mais ou menos o seguinte: "Bem,aqui esto essas coisas que Kathryn Kuhlman, porexemplo, est fazendo. Aqui esto resultadosconcretos. Quem sou eu para opor isso? Quem sou eupara crer no meu modo de pensar e na minha teologiatradicional?" A est o erro. Esto preparados a deixarque seu modo de pensar seja controlado por resultadose fenmenos.

    Posso dizer-lhes minha resposta para talraciocnio? No devemos decidir se certo uma mulherpregar, e ser pastora de uma igreja somente por causados fenmenos que ela pode produzir. Ainda o ensinoda Bblia que determina uma questo desse tipo. Nossadoutrina em todos os aspectos deve ser determinadopela Bblia. "Ento o que voc diz de todos esses

    fenmenos, como por exemplo curas e lnguasestranhas?" perguntam-me. Respondo que no tenhonenhuma dificuldade com esses fenmenos. Demaneira alguma afetam minha teologia. No nego queos relatrios sejam fatos, qua (como) fatos, que muitos

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    podem comprovar. Como vimos, h muitos fatores quepodem produzir tais curas. Da o fato de uma mulherser capaz de produzir curas no comprova sua alegaode ser pastora, nem significa que tenho de aceitar tudoque ela ensina. Mas esse precisamente o tipo depensamento que tem prevalecido nestes ltimos anos.Pessoas tm presumido que devido o nome de Cristoter sido usado numa reunio, ento tudo que acontecea deve ser verdadeiramente cristo, e , portanto, umagarantia da autenticidade de tudo que ensinado. Paraessas pessoas, os resultados garantem tudo. Conheciboas pessoas que, por causa do que tm visto em"reunies de cura", tm abandonado o que acreditavamanteriormente. Por causa do que aconteceu em certareunio, essas pessoas tm se submetido a todo oensino daqueles que conduziam a reunio.

    H aqueles que tm abraado o catolicismoromano, e ainda outros estranhos movimentos

    religiosos, por essa mesma razo. Espero que o quetenho dito nos livre de tal modo errneo de pensar,fazendo-nos ver que esses fenmenos podem serexplicados adequadamente de vrias outras maneiras.Essas maneiras no precisam nem ser crists. Possoaceit-las como fatos, mas minha posio dogmtica,doutrinria e teolgica permanece invarivel. Mesmo

    assim, preciso recorrer Bblia para meus pontos devista sobre toda questo de doutrina.

    A Regra das Escrituras

    A prpria Bblia ensina-nos a extrair a nossa

    doutrina somente dela. Janes e Jambres, vocs selembram, podiam reproduzir grande parte do queMoiss e Aro faziam (2 Timteo 3:8). Nosso Senhor nospreveniu de que Lhe chegariam pessoas que diriam:"Senhor, Senhor, no profetizamos ns em teu nome? e

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    em teu nome no expulsamos demnios? e em teunome no fizemos muitas maravilhas?" (Mateus 7:21-23) Ele no disputa a alegao nem os fatos masdeclara que lhes dir: "Nunca vos conheci; apartai-vosde mim, vs que praticais a iniqidade". Em todo lugar,a Bblia nos ensina a "provar", a "testar" e a "examinar"os espritos. A prpria Bblia nos ensina que h muitasforas e poderes que podem produzir fenmenos eresultados; e alguns so "espritos maus". Bem, comodecidir? Tudo o que digo que fenmenos nodecidem. No devemos nos submeter a fenmenos;chegamos nossa concluso com outros fundamentos,fundamentos bblicos. Acontecimentos e eventosmiraculosos ou sobrenaturais no do,necessariamente, validez a um ministrio, e certamenteno devemos permitir que esses determinem nossoponto de vista. A advertncia do nosso Senhor ainda vlida: "Surgiro falsos cristos e falsos profetas, e faroto grandes sinais e prodgios que, se possvel fora,enganariam at os escolhidos" (Mateus 24:24).

    Pode ser que me perguntem a esta altura: "Bem,como se decidir em algum caso em particular?" Podeser extremamente difcil. Para mim, Kathryn Kuhlman um dos casos mais difceis de todos. Ela prega o SenhorJesus Cristo e parece estar correta na sua doutrina

    isso que torna o caso difcil. H, porm, certos outroselementos no seu ministrio. Durante vrios dias, eu aouvi no rdio, nos Estados Unidos em 1969. H muitoselementos no seu ministrio com os quais eu ficariamuito preocupado. H um bvio e poderoso elementopsicolgico, at uma voz falsa e tambm muitoartificial. Alm disso, h muitas risadas e brincadeiras

    nas suas reunies e ela at se gaba disso. Contudo,mais bsico ainda a questo do ensino da Bblia comrespeito ao ministrio de mulheres.

    O caso com relao "cura pela f" que lhes tenhoexposto tem trazido para mim pessoalmente este

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    conforto, que no me preocupo mais com essa questo.Minha deciso sobre isso, como sobre toda e qualquerquesto, ainda uma deciso bblica e doutrinria. Nofico impressionado demais ou aflito ou perturbado comesses fenmenos. Podem ser explicadosadequadamente atravs de vrias outras maneiras.

    Uma Comisso para Curar

    Ento necessrio que voltem a certos princpiosgerais ensinados no Novo e, de fato, no Velho Testamento. Um desses princpios que nunca seencontra milagres bblicos que so anunciados algunsdias antes de acontecerem. Parece-me muito claro emtodos os casos citados nas Escrituras que o queacontecia que uma comisso imediata era dada aohomem que fazia (ou aos homens que faziam) osmilagres. Por exemplo, vejam o caso de Pedro e Joo eo homem porta do templo, chamada Formosa (Atos3:1-11). Semelhantemente vejam o caso de Paulo e ohomem em Listra (Atos 14:8-10). Os apstolos nosabiam de antemo que iam fazer milagres. Acreditoque foi lhes dado uma comisso imediata. Eles noexperimentavam, e no somos informados de nenhumfracasso no livro de Atos. H sempre a uma espcie decerteza, segurana e confiana. Acredito que isso foi oresultado da comisso divina que era dada aorespectivo homem. Portanto, ele sempre sabia na horaque o milagre ia acontecer.

    Nota-se, tambm, que o efeito produzido pelosmilagres sobre as pessoas era de ench-las de

    reverncia, e s vezes medo. Diriam: "Temos vistocoisas maravilhosas hoje" (Lucas 9:43; Atos 8:13), ouatribuiriam o poder a Deus (Atos 3:12, 13; Atos 4:7-12).Nalgumas das populares reunies de cura de hoje emdia, no entanto, h risadas e jocosidade. Os lderes at

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    se orgulham disso. Eu diria que a Bblia ensina quequalquer manifestao do poder de Deus imperespeito, e exclui qualquer esprito de frivolidade, ou deleveza de atitude.

    A Orao da F

    Devo dizer s mais uma coisa sobre o significadode "f" no termo "cura pela f". Lembram que naEpstola de Tiago se diz que "a orao da f salvar odoente" (Tiago 5:15). Tambm h a declarao noEvangelho de Marcos "E Jesus, respondendo, disse-lhes:tende f em Deus; porque em verdade vos digo quequalquer que disser a este monte: ergue-te e lana-teno mar; e no duvidar em seu corao, mas crer que sefar tudo aquilo que diz, tudo o que disser lhe serfeito. Por isso vos digo que tudo o que pedirdes, orando,crede que o recebereis, e t-lo-eis" (Marcos 11:22-24).Todos conhecemos pessoas que tm tentado chegar-sea essa "f". Isso, acredito, errado. Creio que a "f" aque se referem nosso Senhor e Tiago como "a oraoda f", novamente uma f "dada". Coloco-a namesma categoria que a "comisso" que foi dada aosapstolos e a outros que, em minha opinio, tm feitomilagres desde a era dos apstolos. No experimentar, no anunciar no domingo que haveruma reunio de cura na prxima quinta-feira. No cabe-lhes dizer isso porque no sabem de fato se issoacontecer. Todo milagre verdadeiramente feito porDeus "dado"; e "a orao da f" dada. Ningumpode produzir isso sozinho; ou possui ou no possui talf. Em parte, depende da espiritualidade geral de um

    homem e sua f geral em Deus, e ainda mais dependeda Sua soberana vontade.

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    Fenmenos Espritas

    Por ltimo, quero que tomem cuidado. J devemter chegado a todos ns pessoas que foram curadas,alegadamente, numa reunio esprita, ou comoresultado da atividade dum lder esprita. Em tais casos,sugiro que muito errado e tolo dizer, ou dar aentender, pessoa diante de voc que ela no tem sidocurada! s vezes, tm havido a tendncia de algunsfazerem isso. Espero que esteja claro que espritaspodem produzir certos resultados; porm acredito quenesse ponto temos de advertir as pessoas muitoseriamente. Com certeza no devemos faz-las ficaremdoentes novamente a fim de mantermos correta anossa doutrina! No entanto, o que devemos fazer precav-las que, tendo se submetido naquela ocasio aum poder que acreditamos ser de espritos maus, elasdevem tomar muito cuidado para que esses poderesmalignos no aproveitem de sua submisso.

    Kurt Koch, em seu livro Christian Counselling andthe Occult, est sempre esclarecendo este ponto, que bvio. Se, a qualquer momento, algum render-se,inadvertidamente, a um poder invisvel, estprocurando encrencas. A Bblia nos manda provar "osespritos" e test-los. Ela reconhece a realidade, a

    influncia e o poder de espritos maus. Comoevanglicos, temos subestimado, tragicamente, o poderde espritos maus. O apstolo Paulo no tinha dvidasobre o assunto "Porque no temos que lutar contraa carne e o sangue, mas sim contra os principados,contra as potestades, contra os prncipes das trevasdeste sculo, contra as hostes espirituais da maldade,

    nos lugares celestiais" (Efsios 6:12). Temos que lidarcom isso e, portanto, devemos acautelar essas pessoasque, uma vez que tm se submetido por razes desade, h a possibilidade de que correm mais riscos de

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    ataques subseqentes da parte dessas influncias edesses poderes.

    A Atitude Bblica

    Concluo dizendo isto: devemos continuar usandoos meios habituais no tratamento da enfermidade e dadoena. O meio usual de Deus para lidar com a doena atravs destes meios e mtodos atravs dashabilidades terapeutas que Ele tem dado a homens eatravs das drogas farmacuticas que Ele tem colocadoem tanta abundncia na natureza, e assim por diante.Respondendo "orao de f" possvel que Eleescolha responder parte dos meios comuns.Entretanto, alm disso, devemos lembrar que h outrofator que vimos, no devemos nos surpreender com omesmo, de fato devemos estar alertas com respeito aele. No devemos deixar que nossa teologia sejaperturbada, nem devemos abandonar nossas posiesbblicas por causa de quaisquer fenmenos. Temos queavaliar e testar todos esses fenmenos. Devemosexplic-los, se for possvel, pelas vrias maneiras quetemos visto, posto que mais fcil faz-lo hoje em dia,talvez, do que em anos atrs. Entretanto, aindadevemos acreditar que "para Deus tudo possvel".

    Deus pode fazer milagres hoje, assim como Eletem feito no passado. Talvez devssemos at esperarisso dEle, j que os tempos esto enegrecendo e asforas do mal parecem estar emergindo de maneiraextraordinariamente agressiva e potente. No devemosdescartar, dogmaticamente, como costumvamos afazer, a manifestao e a demonstrao do poder de

    Deus para curar doenas, ou para fazer qualquer coisaque de Seu desejo e de Sua vontade. A antigaexortao do apstolo Paulo aos Tessalonicenses duradoura: "No extingais o Esprito. No desprezeis asprofecias; examinai tudo. Retende o bem" (1

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    Tessalonicenses 5:19-21). No devemos ficaramedrontados nem nos tornar crdulos sem qualquerressalva; no entanto, igualmente no devemos"extinguir o Esprito" nem sermos culpados de reduzir opoder de Deus medida do nosso entendimento.