mário_de_andrade_-_o_movimento_modernista

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    Movimento Modernista - Maga.zine - Estadao.com.br

    Apresentao

    O MOVIMENTO MODERNISTA

    No vigsimo aniversrio da Semana de Arte Moderna - asemana de 13 a 17 de fevereiro de 1922, em que omodernismo foi apresentado como uma ruptura com ospadres estticos em voga - Mrio de Andrade escreveu umasrie de quatro artigos para O Estado de S. Paulosobre omovimento.

    Ele no enfocou apenas a semana, que se iniciou na Segunda-feira, 13 de fevereiro, no Teatro Municipal, com uma exposiode artes plsticas do saguo do teatro, que o diplomata GraaAranha reconhecia que seria, para muitos, uma "exposio doshorrores" - quadros de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz,Zina Aita, J.F. de Almeida Prado, Vicente do Rego Monteiro,esculturas de Victor Brecheret.

    Seguiram-se nmeros

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    O Teatro Municipal, 1922.Arquivo-Light-SP

    musicais de autores modernos, interpretados porErnani Braga, ilustrando a conferncia de GraaAranha. Ronald de Carvalho, Oswald de Andradee Guilherme de Almeida declamaram seuspoemas. Sergio Milliet Os declamou em francs.Yvonne Daumerie danou e Guiomar Novaestocou piano. A segunda parte foi dedicada msica. Trs peas de Villa-Lobos foram

    executadas em meio a vaias. O autor, de casacae chinelo, provocara ainda mais as iras dopblico. A violinista Paulina d'Ambrsio chorou nopalco. Um escndalo completo.

    Mrio de Andrade traou um amplo panorama das tendncias que se agruparam e ossentimentos que impulsionava uma dezena de jovens escritores e artistas paulistaslevando exploso da Semana de Arte Moderna.

    Mulata. Di Cavalcanti O Farol. Anita Malfatti

    Verso para impress

    Copyright 2002 Agncia Estado. Todos os direitos reservados.

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    http://janela2%28%27print.htm%27%2C630%2C430%2C%27printmodernismo%27%29/http://janela2%28%27print.htm%27%2C630%2C430%2C%27printmodernismo%27%29/
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    Captulo I Parte I Parte II Parte

    Faz vinte anos, este ms de fevereiro, que se realizou no Teatro Municipal, a Semana de Arte Moderna.

    todo um passado longnquo de que sorrio sem medo, mas que me assombra um pouco tambm. Foigostoso, ficou bonito, mas como tive coragem para participar daquilo! certo que com minhasexperincias artsticas muito venho escandalizando essa minoria que a intelectualidade do meu pas,mas, na realidade, feitas em artigos e livros, minhas experincias como que no se executam in animanobile. No estou de corpo presente e isso desencaminha o choque da estupidez.

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    Programa doTeatro Municipal, segundo Festival da Semana de Arte Moderna, 1922

    Mas como tive coragem para dizer versos ante uma assuada to singular, que eu no escutava dopalco o que Paulo Prado me gritava da primeira fila das poltronas?... Como pude fazer uma hrridaconferncia na escadaria do teatro, cercado de annimos que me caoavam e ofendiam a valer?...

    Anita Malfatti

    O meu mrito de participante mrito alheio: fui encorajado, fuienceguecido pelo entusiasmo dos outros. Apesar da confiana,absolutamente firme que tinha na esttica renovadora, eu no teria foraspara arrostar aquela tempestade de achincalhes. E se agentei o tranco foi

    porque estava delirando. O entusiasmo dos outros me embebedava, no omeu. Por mim teria cedido. Digo que teria cedido, mas apenas nessa parteespetacular do movimento modernista. Com ou sem a Semana, minha vidaintelectual seria o que tem sido.

    A Semana marca uma data, isso inegvel. uma data que envaidecerecordar.

    Mas o certo que a preconcincia primeiro, e em seguida a convico deuma arte nova, de um esprito novo, desde pelo menos seis anos viera sedefinindo no... sentimento de um grupinho de intelectuais, aqui. Do

    primeiro, foi um fenmeno estritamente sentimental, uma intuio divinatria, um... estado de poesia.Com efeito: educados na plstica "histrica", sabendo quando muito da existncia dos primeirosimpressionistas, ignorando Czanne, o que nos levou a aderir incondicionalmente exposio de AnitaMalfatti, em plena guerra europia, mostrando quadros expressionistas e cubistas? Parece absurdo,mas aqueles quadros foram para mim a revelao. E delirvamos diante do Homem Amarelo, aEstudanta Russa, a Mulher dos Cabelos Verdes. E ao Homem Amareloeu dedicava um sonetoparnasianssimo... ramos assim.

    Pouco depois, Menotti del Picchia e Osvaldo de Andrade, descobriramBrecheret no seu exlio do Palcio das Indstrias. E fazamos verdadeiras"rveries" simbolistizantes em frente da simblica exasperada e dasestilizaes decorativas do "gnio". Porque Brecheret era para ns no

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    Menotti del Pichia, 1917

    mnimo um gnio. Este era o mnimo com que podamos nos contentar, taisos entusiasmos a que ele nos sacudia. E Brecheret ia ser em breve ogatilho que faria Paulicia Desvairadaestourar.

    Eu passara esse ano de 1920 sem fazer mais poesia. Tinha cadernos ecadernos de cousas parnasianas e algumas simbolistas, mas tudo acabarapor me desagradar. Na minha cultura desarvorada, j conhecia atMarinetti, mas repudiava a maioria dos princpios futuristas, como jescrevera noJornal dos Debates, de Pinheiro da Cunha. S ento que

    descobri Verhaeren, desculpem, e foi o deslumbramento. Concebi fazer umlivro de poesias modernas em verso livre, sobre a minha cidade. Tentei,no veio nada que me interessasse. Tentei mais e nada. Os mesespassavam numa angstia, numa insuficincia feroz. Ser que a poesia tinhase acabado em mim?... E eu me acordava insofrido.

    A isso se ajuntavam dificuldades morais e vitais de toda espcie, foi ano de sofrimento muito. Jganhava para viver folgado, mas o ganho fugia em livros e eu me estrepava em arranjos financeirostemveis. Estava criando fama de professor bom e fazia esforos para que meus alunos deConservatrio passassem com notas altas. Em casa o clima era torvo. Se me e irmos no meamolavam com as minhas "loucuras", o resto da famlia me retalhava sem piedade. Tinha discussesbrutas em que os desaforos mtuos no raro chegavam quele ponto de arrebentao que... por que

    ser que a arte os provoca!... A briga era brava e, se no me abatia nada, me deixava em dio,mesmo dio.

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    Captulo I Parte I Parte II Parte

    Foi quando Brecheret me concedeu passar em bronze um gesto dele que eu adorava, uma cabea deCristo. Mas "com que roupa"? eu devia os olhos da cara! No hesitei, fiz mais conchavos financeiros e

    afinal pude desembrulhar em casa a minha Cabea de Cristo. A notcia correu num timo, e aparentada que morava pegado, invadiu a casa para ver. E brigar. Aquilo at era pecado mortal, ondese viu Cristo de trancinha! era feio, medonho!

    Victor Brechere

    Fiquei alucinado, palavra de honra. Minha vontade era matar. Jantei pordentro, num estado inimaginvel de estraalho. Depois subi para o quarto,era noitinha, na inteno de me arranjar, sair, espairecer um bocado, botaruma bomba no centro do mundo, nem sei. Sei que cheguei sacada,olhando sem ver o meu Largo do Paissandu. Rudos, luzes, falas abertassubindo dos choferes de aluguel. Estava aparentemente calmo. No sei oque me deu...

    Cheguei na secretaria, abri um caderno, escrevi o ttulo em que jamaispensara, Paulicia Desvairada. O estouro chegara afinal, depois de quaseano de angstias interrogativas. Entre exames, desgostos, dvidas, brigas,em poucos dias estava jogado no papel um discurso brbaro, duas vezesmaior talvez do que isso que o trabalho de arte fez um livro.

    Mais tarde, eu sistematizaria este processo de separao ntida entre oestado de poesia e o estado de arte, para a composio dos meus poemas "dirigidos", as lendas, porexemplo, o abrasileiramento lingstico de combate. Escolhido o tema, por meio das excitaespsicolgicas sabidas, preparar o advento do estado de poesia. Se este chega (quantas vezes nochegou...) escrever sem coao de espcie alguma, tudo o que me chega at a mo - a "sinceridade"

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    do indivduo. E s em seguida, na calma, o trabalho penoso e lento da arte - a "sinceridade" da obra dearte, coletiva e funcional, mil vezes mais importante que eu...

    Quem teve a idia da Semana? Por mim no sei quem foi, s posso garantir que no fui eu. O maisimportante era decidir e poder realizar a idia. E o autor verdadeiro da Semana de Arte Moderna foiPaulo Prado. E s mesmo uma figura como ele e uma cidade como So Paulo, poderiam fazer omovimento modernista e objetiv-lo na Semana.

    Foto do grupo: Da esquerda p/ a direita: Coutode Barros, Manuel Bandeira, Mrio de Andrade,

    Paulo Prado, Ren Thiollier, Graa Aranha,Manuel Villaboim, Golfredo Silva Telles, Candido

    Motta Filho, Rubens Borba de Moraes, LuisAranha, Tcito de Almeida, Oswald de Andrade.

    Houve tempo em que alguns escritores do Rio, cuidaram de transplantar para a Capital as razes domovimento, estribados nas manifestaes simbolistas e post-simbolistas, que existiam por l. Existiam, inegvel. Aqui, esse ambiente s fermentava em Guilherme de Almeida, e num Di Cavalcantipastelista, "menestrel dos tons velados", como o apelidei numa dedicatria esdrxula. Mas eu creio serum engano esse evolucionismo a todo transe, que lembra nomes de Nestor Vtor ou Adelino Magalhescomo elos ou precursores.

    Seria mais lgico evocar Manuel Bandeira com o Carnaval.

    Manoel Bandeira

    No. O modernismo no Brasil foi uma ruptura, foi um abandono conscientede princpios e de tcnicas, foi uma revolta contra a intelligensia nacional. mais possvel imaginar que o estado de guerra da Europa tivesse preparadoem ns um esprito de guerra. E as modas que revestiram este espritoforam diretamente importadas da Europa. Quanto a dizer que ramosantinacionalistas, apenas bobagem ridcula. esquecer todo o movimentoregionalista aberto anteriormente pela Revista do Brasilprimeira fase, todo

    o movimento editorial de Monteiro Lobato, a arquitetura e at urbanismo(Dubugras) neo-colonial aqui nascidos. Isso sim eram razes engrossadasdesde o incio da guerra. Mas o esprito e as modas foram diretamenteimportados da Europa.

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    Captulo I Parte I Parte II Parte I

    Ora So Paulo estava muito mais "ao par" que o Rio de Janeiro. E,

    socialmente falando, o modernismo s podia ser importado por So Paulo earrebentar aqui. Havia uma diferena profunda, j agora pouco sensvel,entre Rio e So Paulo. O Rio era muito mais internacinal, como norma devida exterior. Est claro: capital do pas, porto de mar, o Rio tem uminternacionalismo ingnito. So Paulo era muito mais "moderna" porm,fruto necessrio da economia do caf e do industrialismo conseqente.

    Ingenitamente provinciana, conservando at agora um esprito provincianoservil, bem denunciado na poltica. So Paulo ao mesmo tempo estava, pelasua atualidade comercial e sua industrializao, em contato, se menossocial, mais espiritual (no falo "cultural") e tcnico com a atualidade domundo.

    mesmo de assombrar como o Rio mantm, dentro da sua malcia decidade internacional, um ruralismo, um carter tradicional muito maioresque So Paulo. O Rio dessas cidades em que no s permaneceindissolvel o "exotismo" nacional (o que prova de vitalidade do seucarter), mas a interpenetrao entre o rural e o urbano. Cousa impossvelde achar em So Paulo, como funcionalidade permanente. Como Belm, oRecife, a Cidade do Salvador, apesar do seu urbanismo rescendante, o Rioainda uma cidade... folclrica.

    Em So Paulo o exotismo folclrico no freqenta a Rua Quinze.

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    Nu com toalhVictor Brechere

    Vive em ncleos mortos, no funcionais, abastardados na separao, SantaIsabel. Carapicuiba. Ora no Rio malicioso, uma exposio com a de AnitaMalfatti, podia ter reaes publicitrias, mas ningum se deixava levar. NaSo Paulo sem malcia, criou uma religio. Com seus Neros tambm... Oartigo "contra" de Monteiro Lobato, embora fosse apenas uma baladilhazangadinha, sacudiu uma populao, modificou uma vida.

    Junto disso, o movimento renovador era nitidamente aristocrtico. Pelo seu

    carter de jogo arriscado, pelo seu esprito aventureiro, pelo seuinternacionalismo modernista, pelo seu nacionalismo embrabecido, pelagratuidade antipopular, era uma aristocracia do esprito. Era natural que aalta e a pequena burguesia o temessem. Paulo Prado, ao mesmo tempo queum dos expoentes da aristocracia intelectual paulista, era uma das figurasprincipais da nossa aristocracia tradicional. E foi por tudo isto que ele pdemedir bem o que havia de aventureiro, de exerccio do perigo nomovimento, e arriscar a sua responsabilidade intelectual e tradicional naaventura.

    Uma cousa dessas seria impossvel no Rio, onde no existe aristocraciatradicional, mas apenas sita burguesia riqussima. E esta no podiaencampar um movimento que lhe destrua o esprito conservador econformista. A burguesia nunca soube perder e isso que a perde. E aquifoi isso mesmo. Se Paulo Prado, com a sua autoridade intelectual etradicional, abriu a lista das contribuies e arrastou atrs de si os seuspares e... alguns outros que a sua figura dominava, a burguesia protestou evaiou. Tanto a burguesia de classe como a do esprito.

    Grupo: Otvio Tarqunio deSouza, Jos Lins do Rego,Paulo prado, Jos Amricode Almeida e GilbertoFreire.

    Ao lado: Paulo Prado

    delicioso lembrar que Amadeu Amaral, um dos espritos mais aristocrticos que So Paulo jproduziu, embora retrado pelo muito que o maltratavam alguns de ns, nos via compreensivamente. Aele eu devo o Estado de S. Paulo no ter estraalhado Paulicia. Saiu-se de suas ocupaes e escreveuele mesmo a nota sobre o livro, severa mas reconhecendo o direito da experincia.

    Em compensao a burguesia semiculta (a aristocracia era inculta: e j irresponsvel na suadecadncia de ento), essa espcie de intelectualidade rptil que abastece as cidades e acaba onde ascidades acabam, com que violncia de fulgir e se defender, arremeteu contra ns! Hoje, irnico

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    Captulo II Parte I Parte II Parte

    Caricatura de Srgio Millietpor Hilde Weber

    Na verdade, o perodo "herico" do movimento que traria to maior

    necessidade coletiva s artes nacionais, foi esse iniciado com aexposio expressionista de Anita Malfatti e acabado com a "festa" daSemana de Arte Moderna. Durante essa meia dzia de anos fomosrealmente puros e livres, desinteressados, vivendo numa unioiluminada e sentimental das mais sublimes. Isolados do mundo,caoados, achincalhados, malditos, ningum pode imaginar o delrio degrandeza e convencimento pessoal com que reagimos. O estado deexaltao gozado em que vivamos era insopitvel. Qualquer pgina dequalquer um de ns jogava os outros a acomodaes prodigiosas, masaquilo era genial!

    E eram aquelas fugas desabaladas dentro da noite, na cadillac verde de Osvaldo de Andrade, para ir leras nossas obras-primas em Santos, no Alto da Serra, na Ilha das Palmas... E os nossos encontros tardinha na redao de Papel e Tinta... E a falange engrossando com Srgio Milliet e Rubens Borba deMorais, chegados da Europa... E a adeso, no Rio, de um Manuel Bandeira... E as convulses deidealismo a que nos levava o Homem e a Morte de Menotti del Picchia... E o descobrimento assombradode que existiam em So Paulo, quadros de Lasar Segall, j muito querido atravs de revistas de artealems... E Di Cavalcanti, um dos homens mais inteligentes que conheci, com os seus desenhos jento duma acidez destruidora. Tudo gnios, tudo obras-primas geniais... Apenas Srgio Milliet punhaum certo mal-estar no incndio com a sua serenidade equilibrada... E o filsofo do grupo, Couto deBarros, pingando ilhas de conscincia em ns, quando no meio da discusso, perguntava mansinho: -Mas qual o critrio que voc tem da palavra "essencial", ou - 'Mas qual o conceito que voc faz do"belo horrvel"...

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    Zina Aita... John Graz... Projetos que iluminavam o mundo...

    Petrpolis-Homens Trabalhando, 1922Zina Aita Di Cavalcanti

    ramos uns puros. Mesmo cercados de repulsa cotidiana, a sade mental de quase todos ns nosimpedia qualquer cultivo da dor. Nisso talvez as teorias futuristas tivessem uma influncia nica e

    benfica sobre ns. Ningum pensava em sacrifcio, nenhum se imaginava mrtir: ramos umaarrancada de heris convencidos, uns hitlerzinhos agradveis. E muito saudveis. Quanto a mim, maisintuda que emocionada, a conscincia de culpa que depois perseguira bastante minha obra potica,apenas se entremostrara pela primeira vez nos versos finais de Minha Loucura, em PauliciaDesvairada.

    Caricatura de Belmont em ACareta, sobre a semana

    Era estranho... Aquela ltima frase me desagradava, eu no gostavadaquilo.

    Mas no tinha a menor possibilidade de renegar o que escrevera!

    A Semana de Arte Moderna, ao mesmo tempo que coroamento lgicodessa arrancada gloriosamente vivida (ramos "gloriosos" deantemo...), era um primeiro golpe de pureza do nosso aristocratismoespiritual. Consagrado o movimento pela aristrocracia paulista, e aindasofreramos por algum tempo ataques por vezes cruis, a grandezaregional nos dava mo forte e... nos dissolvia nas impurezas da vida. Aoexemplo da vida principiavam as "intenes", os cotejos idiotas, asenfraquecedoras revises de valores.

    Est claro que a aristocracia protetora no agia de caso pensado, e senos dissolvia, era pela prpria natureza do seu destino e do seu estadoregional. Principiou o movimento dos "sales". E vivemos uns seis anosna maior orgia intelectual que a histria artstica do Pas registra.

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    Captulo II Parte I Parte II Parte

    D Olivia Guedes Penteado

    Est claro que, na intriga burguesa, a nossa "orgia" no era apenas

    espiritual... O que no disseram, o que no se contou das nossas festas..

    Champanha com ter, vcios inventadssimos, as almofadas viravam"coxins", toda uma semntica do maldizer... No entanto, quando noforam bailes pblicos, como o do Automvel Clube e os da S.P.A.M. (queforam o que so bailes desenvoltos de sociedade), as nossas festinhasnos sales modernistas eram as mais inocentes brincadeiras de artistasque se pode imaginar.

    Havia a reunio das teras, noite, na Rua Lopes Chaves. Primeira sem-data, essa reunio semanal continha exclusivamente artistas, e precedeu

    mesmo a Semana de Arte Moderna. Sob o ponto de vista intelectual foi omais necessrio dos sales, se que se podia chamar salo aquilo. svezes doze, at quinze artistas se reuniam no estdio acanhado, ondecomamos doces tradicionais brasileiros e se bebia um alcoolzinhoeconmico. As discusses chegavam a transes agudos, o calor eratamanho que um ou outro sentava nas janelas (no havia assento para

    todos!), e assim mais elevado dominava pela altura, j no dominava pela voz nem o argumento. Eaquele raro retardatrio da rua ainda no calada, parava em frente, na esperana de algum incndiopor gozar.

    Havia o salo da Avenida Higienpolis, que era o mais selecionado. Tinha por pretexto o almoodominical, maravilha de comida luso-brasileira de tradio. Ainda a, se a conversao era estritamente

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    intelectual variava mais e se alargava. Paulo Prado, com o seu pessimismo fecundo e o seu realismo,convertia sempre o assunto das livres elocubraes estticas aos problemas prticos da realidadebrasileira. Foi o salo que durou mais tempo e se dissolveu de maneira bem malestarenta. O seu chefe,tornando-se por sucesso, o patriarca da sua familia, a casa foi invadida mesmo aos domingos, por umpblico da alta que no podia compartilhar do rojo dos nossos assuntos. E a conversa se manchava depquer, nomes sociais, dinheiro. Os intelectuais vencidos foram se retirando aos poucos. o salo queme deixou mais saudades felizes.

    E houve o salo da Rua Duque de Caxias, que foi o maior, o mais verdadeiramente salo. As reunies

    semanais eram tarde, tambm s teras-feiras. E isso foi uma das causas das reunies noturnas domesmo dia irem esmorecendo na Rua Lopes Chaves. A sociedade da Rua Duque de Caxias era a maisnumerosa e mais variegada tambm. S em certas festas especiais, no salo moderno decorado porLasar Segall, o grupo se tornava mais coeso.

    Caricatura de Paulo Prado.Di Cavalcanti, 1922

    Tambm a o culto da tradio era firme, dentro do maiormodernismo. A cozinha, de cunho afro-brasileiro, aparecia emalmoos e jantares perfeitssimos de equilbrio. E conto entre asminhas maiores venturas admirar essa mulher excepcional que foidona Olivia Guedes Penteado. A sua discrio, o tato e a autoridadeprodigiosos com que ela soube dirigir, manter, corrigir essa multidoheterognea que se chegava a ela, atrada pela sua figura e prestgio,

    artistas, polticos, ricaos, cabotinos, foi incomparvel. O salo da RuaDuque de Caxias teve como elemento principal de dissoluo aefervescncia poltica que estava preparando 1930. A fundao doPartido Democrtico, o nimo politico erruptivo que se apoderara demuitos artistas, baixara um mal-estar sobre o salo. Os democrticosforam se afastando. Por outro lado o fachismo nacional encontravaalgumas simpatias entre as pessoas de roda, e ainda estava muitosem vcio, muito desinteressado para aceitar acomodaes. E semnenhuma publicidade as com firmeza, dona Olivia soube terminar aospoucos o seu salo modernista.

    O ltimo em data dos sales foi o da Alameda Baro de Piracicaba,congregado em torno de Tarsila. No tinha dia fixo, mas as reunieseram quase semanais. Durou pouco. E no teve jamais o encanto dasreunies que fazamos, quatro ou cinco artistas, no antigo ateli daadmirvel pintora.

    Isto foi pouco depois da Semana, quando esta, definitivando nacompreenso conformista a existncia de um esprito de revoluo,principiou nos castigando com a perda de alguns empregos. Eu teriaficado literalmente no desvio, se o acaso da morte de meu pai em1921, no fizesse com que o Conservatrio, consagrando a memria dopai, elegesse catedrtico o filho, um ou dois meses antes do fevereiro

    da Semana! O cargo era vitalcio e no o perdi. Mas perdi todos osmeus alunos particulares, menos algum que ficou por motivos denenhuma pedagogia. Belazarte contou um caso bastante parecido emMenina de Olho no Fundo. Mas dos trs sales aristocrticos, Tarsilaconseguiu dar ao dela uma significao de maior independncia, maiorcomodidade. Nos outros dois, por maior que fosse o liberalismo dos queos dirigiam, havia tal imponncia de nobreza e tradio no ambiente,que no nos era possvel nunca evitar um tal ou qual constrangimento.No de Tarsila jamais sentimos isso. Foi o mais "gostoso" dos nossossales aristocrticos.

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    Graa Aranha, 1922Di Cavalcanti

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    Captulo II Parte I Parte II Parte I

    Oswald de Andrade eTarsila do Amaral

    Embora lanando inmeros processos e idias novas, ns ramos, ento,especialmente destruidores. At destruidores de ns mesmos, porque opragmatismo das pesquisas sempre enfraqueceu a liberdade da criao.A aristocracia tradicional nos deu mo forte, pondo em evidncia maisessa geminao de destino - tambm ela j ento autofagicamentedestruidora, por no ter mais uma significao verdadeiramentefuncional. Quanto aristocracia do dinheiro, sempre nos olhou comconfiana e nos detestava.

    Nenhum salo de novo-rico tivemos, nenhum milionrio estrangeiro nosacolheu. Os italianos, alemes, os israelitas se faziam demais

    guardadores do "bom-senso" nacional, que Prados e Penteados eAmarais!...

    Mas nsestvamos longe,arrebatados pelosventos autofgicosda destruio.

    E o fazamos pela festa, de que a Semana deArte Moderna foi a primeira. A bem dizer, todo

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    Graa Aranha, 192Tarsila do Amara

    esse perodo destruidor do movimentomodernista foi uma fase ininterrupta de festa,de cultivo do prazer. E se tamanha festanadiminuiu por certo muito nossa capacidade deproduo e serenidade criadora, ningum podeimaginar como nos divertimos. Sales, festivais,bailes, Spam, semana em fazendas, SemanasSantas nas cidades velhas de Minas, viagenspelo Amazonas, pelo Nordeste, chegadas Bahia, Itu, Sorocaba. Parnaba. Era, ainda e

    sempre, o caso do baile sobre os vulces...Doutrinrios na ebriez de mil e uma teoriassalvando o Brasil, construindo o mundo, naverdade nos consumamos no cultivo amargo deuma necessidade quase delirante de prazer.

    O movimento de Inteligncia que representamos, em sua fase "modernista" no foi o gerador dasmudanas poltico-sociais posteriores a ele no Brasil. Foi essencialmente um preparador, o criador deum estado de esprito revolucionrio. E se numerosos dos intelectuais do movimento se dissolveram napoltica, se vrios de ns participamos das reunies iniciais do Partido Democrtico, carece noesquecer que tanto o P. D. como 1930 eram ainda destruio. Os movimentos espirituais precedemsobre as mudanas de ordem social. O movimento social de destruio que se iniciou com o P. D. e1930. E, no entanto, por esta data que principia para a Inteligncia brasileira uma fase mais calma,mais proletria por assim dizer, de construo, espera que um dia as outras formas sociais a imitem.

    E foi a vez do salo de Tarsila se acabar, 1930... Tudo estourava, polticas, famlias, casais de artistas,estticas, amizades profundas. O perodo destrutivo e festeiro do movimento modernista j no tinhamais razo de ser. Na rua o povo amotinado gritava: Getlio! Getlio!... Na sombra de Plnio Salgadopintava de verde a sua megalomania de Esperado.

    Outros abriam as veias para manchar de rubro as suas quatro paredes de segredo. Mas nesse vulco,agora ativo e de tantas esperanas, j vinham se fortificando as belas figuras mais calmas econstruidoras, os Lins do Rego, os Augusto Frederico Schmidt, os Otvio de Faria, e os Portinari e os

    Camargos Guarnieri. Que a vida ter que imitar qualquer dia.

    Heitor Villa Lobos, 1922

    Guiomar Novaes, 1922

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    Captulo III Parte I Part

    Di Cavalcanti,1922Capa do album "Fantoches

    da Meia-noiteAbaixo:Pginas do album

    No cabe aqui o processo integral do movimento modernista. O que o

    caracterizou essencialmente, a meu ver, foi a fuso de trs princpiosfundamentais: - 1. - o direito pesquisa esttica; 2. - a atualizaoda inteligncia artstica brasileira; 3. - a estabilizao de umaconscincia criadora nacional.

    Nada disso representa exatamente uma inovao e de tudoencontramos exemplos na histria artstica do Brasil: a fundamental, agloriosa novidade, imposta pelo movimento, foi a conjugao dessastrs normas num todo orgnico da conscincia coletiva. E se dantes,ns distinguimos a estabilizao assombrosa da conscincia nacionalnum Gregrio de Matos, ou, mais natural e eficiente, num CastroAlves, certo que a nacionalidade deste, como o nacionalismo do

    outro, de um Carlos Gomes e at mesmo de um Almeida Jnior, eramepisdios como realidade do esprito. E em qualquer caso era umindividualismo. Quanto ao direito de pesquisa e atualizao universalda criao artstica, incontestvel que todos os movimentos histricosdas nossas artes se basearam no academismo. Com alguma exceorara e sem a menor repercusso coletiva, os artistas brasileirosjogaram sempre colonialmente no certo. Repetindo e afeioandoestticas j consagradas, se eliminava assim o direito de pesquisa e conseqentemente de atualidade.E foi dentro desse academismo inelutvel que se realizaram nossos maiores, um Aleijadinho, um CostaAtade, Cludio Manuel Gonzaga, Gonalves Dias, Jos Mauricio, Nepomuceno, Alusio, e at mesmo umlvares de Azevedo, at mesmo um Alphonsus de Guimares.

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    Ora, o nosso individualismo entorpecente se desperdiou no mais desprezvel dos lemas: "No hescolas!" e isso ter por certo prejudicado muito a eficincia criadora do movimento modernista. E seno prejudicou a sua ao espiritual sobre o Pas, foi porque o esprito paira sempre acima dospreceitos como das proprias idias... J tempo de observar, no o que um Ronald de Carvalho e umCarlos Drummond de Andrade tm de diferente, mas o que tm de igual. E o que nos igualava, porcima dos dispautrios individualistas, era justamente a organicidade de um esprito atualizado quepesquisava, j gostosamente radicado sua identidade coletiva. No apenas acomodado terra, masradicado em sua realidade. O que no se deu sem alguma patriotice e muita falsificao.

    Nisso as orelhas burguesas se alardearam refartas por debaixo da aristocrtica pele de leo que nosvestira... Porque, com efeito, o que se observa, o que caracteriza essa radicao na terra, num gruponumeroso de gente, um conformismo legtimo, disfarado e mal e mal disfarado nos melhores, mas,na verdade, cheio de uma cnica satisfao, da terra, bastante acadmica e nacionalista, que no rarose tornou um porque meufanismo larvar. A verdadeira conscincia da terra levaria fatalmente ao noconformismo e ao protesto, como Paulo Prado com o Retrato do Brasile os raros "anjos" do PartidoDemocrtico e do Integralismo. Para a maioria, o Brasil se tornou uma ddiva do cu. Um cu bastante

    governamental... Graa Aranha, sempre desacomodado em nosso meio que ele no sentia, tornou-se oexegeta desse conformismo modernista, com aquela frase detestvel de no sermos a "cmaramorturia de Portugal". Quem pensava nisso! Pelo contrrio, o que ficou escrito foi que no nosincomodava nada "coincidir" com Portugal, pois o importante era a desistncia do confronto e dasliberdades falsas.

    O resultado mais barulhento dessa radicao ptria foi o problema da "lngua brasileira". Mas foi puroboato falso. Na verdade, apesar das aparncias e da bulha que fazem agora certas santidades deltima hora, ns estamos, ainda hoje, to escravos da gramtica lusa como qualquer luso. No hdvida nenhuma que ns atualmente sentimos e pensamos o "quantum satis" brasileiramente. Digoisto at com certa 'malincolia', amigo Macunama, meu irmo. Mas isso no o bastante paraidentificar nossa expresso verbal, muito embora a realidade brasileira, mesmo psicolgica, seja agora

    mais forte e insolvel que nos tempos de Jos de Alencar ou Machado de Assis. E como negar queesses tambm pensavam brasileiramente! Como negar que no estilo de Machado de Assis, luso peloideal, intervm um "quid" familiar que o diferena verticalmente de um Garret e um Ortigo! Mas seem lvares de Azevedo, Varela, Alencar, Macedo h uma identidade nacional que nos parece bemmaior que a de Brs Cubas ou Bilac, porque nos romnticos chegou-se a um "esquecimento" dagramtica portuguesa que lhes permitiu muito maior equilbrio do ser com sua expresso lingstica.

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    Cabealho da Revistade Antropofagia

    O esprito modernista reconheceu que se vivamos j de nossa realidade brasileira, carecia reverificarnosso instrumento de trabalho para que nos expressssemos com identidade. Inventou-se, do dia pranoite, a fabulosssima "lngua brasileira". Mas ainda era cedo, e a fora de elementos contrrios,principalmente a ausncia de rgos cientficos adequados, reduziu tudo a boataria. E hoje, comonormalidade de lngua culta e escrita, estamos em situao inferior de cem anos atrs. A ignornciapessoal de vrios fez com que se anunciassem em suas primeiras obras como padres excelentes debrasileirismo estilstico. Era ainda o mesmo caso dos romnticos: no se tratava de uma superao dalei portuguesa, mas de uma ignorncia dela. Mas assim que alguns desses prosadores se firmaram,pelo valor pessoal admirvel que possuam (me refiro gerao de 30), principiaram as veleidades deescrever certo... E cmico observar que, hoje, em alguns dos nossos mais fortes estilistas, surgem a

    cada passo, dentro de uma expresso j intensamente brasileira, lusitanismos sintxicos ridculos. Toridculos que se tornam verdadeiros erros de gramtica!

    Noutros, esse reaportuguesamento expressional ainda mais desprezvel: querem ser lidos alm-mar esurgiu o problema econmico de serem vendidos em Portugal. Enquanto isso, a melhor intelectualidadelusa, numa liberdade admirvel, aceitava abertamente os mais exagerados de ns, compreensiva,sadia, mo na mo.

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    Captulo III Parte I Parte

    Noite no Bairro OperriDi Cavalcan

    Houve tambm os que, desaconselhados pela

    preguia, resolveram se "despreocupar" doproblema: so os que empregam anglicismos egalicismos dos mais abusivos, enquantorepudiam qualquer "me parece" por artificial!Outros mais cmicos ainda, dividiram oproblema em dois: nos seus textos escrevemgramaticalmente, mas permitem que seuspersonagens, falando, "errem" o portugus.Assim, a "culpa" no dos escritores, dospersonagens. Ora, no h soluo maisincongruente em sua aparncia conciliatria.No s pe em foco o problema do erro de

    portugus, como estabelece um divrcioinapelvel entre a linguagem falada e a lnguaescrita - bobagem bbada para quem souberum naco de filologia. E h mesmo as garasbrancas do individualismo que, embora reconhecendo a legitimidade do problema, se recusam a colocabrasileiramente um pronome, para no ficarem parecendo com Fulano! Esses entontecidos esquecemque o problema coletivo e que, se adotado por muitos, muitos ficavam se parecendo com o Brasil!

    A tudo isso se ajuntava, quase decisrio, o interesse econmico de revistas, jornais, editores, queintimidados com alguma carta rara de leitor gramatiquento ameaando no comprar, se opem pesquisa lingstica e chegam ao desplante de corrigir artigos assinados! Ainda recentemente uma dasmaiores revistas do Pas, republicando um conto, no s mudava todo "pra" em "para", o que apenas

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    fenmeno de surdez rtmica, mas "corrigia" um boleio sintxico, sem sequer uma consulta ao seuautor! Mas, morto o metropolitano Pedro II, quem nunca respeitou a inteligncia neste pas!...

    Tudo isso, no entanto, era sempre estar com o problema em campo. A desistncia grande foi criarem omito do "escrever naturalmente", no tem dvida: o mais feiticeiro dos mitos. No fundo, embora noconsciente e desonrosa, era uma desonestidade como qualquer outra. E a maioria, sob o pretexto deescrever naturalmente (incongruncia, pois a lngua escrita, embora lgica, sempre artificial) sechafurdou na mais anti-lgica e antinatural das escritas. So uma lstima. Nenhum deles deixar defalar "naturalmente" um "est se vendo" ou "me deixe". Mas para escrever "com naturalidade", at

    inventam os socorros angustiados das conjunes, para se sarem com um "E se est vendo" que salvaa ptria da retoriquice. E uma delcia constatar que se afirmam escrever brasileiro, no h uma sfrase deles que qualquer luso no assinaria com integridade nacional... lusa.

    Lasar Segall

    Identificam-se quele deputado mandando (apenas) fazer uma lei quechamava de lingua brasileira lingua nacional. Mas comoincontestavelmente sentem e pensam com nacionalidade, isto , numaentidade amerndio-afro-luso-latino-americano-franco-anglo-etc., oresultado esse estilo "ersatz" em que se desamparam, tristemoxinifada moluscide, sem vigor nem carter.

    No me refiro a ningum, me refiro a centenas. Estou me referindojustamente aos honestos, aos que sabem escrever e possuem tcnica.So eles que provam a inexistncia de uma "lngua brasileira" e que acolocao do mito, no campo das nossas pesquisas, foi to prematuracomo no tempo de Jos de Alencar. E se os chamei deinconscientemente desonestos porque a arte, como a cincia ou oproletariado, no trata apenas de adquirir o bom instrumento detrabalho, mas impe a sua constante reverificao. O operrio nocompra a foice apenas, tem de afi-la dia por dia. O mdico no fica nodiploma, o renova dia por dia no estudo. Ser que a arte nos eximedeste diarismo profissional? No basta "sinceridade" e ressonar sombra do Deus novo. Saber escrever est muito bem. Mas o problema

    verdadeiro do artista no esse, escrever melhor. Toda a histria do profissionalismo humano o

    prova. Ficar-se no aprendido no ser natural: ser acadmico; no despreocupao: passadismo.

    O problema era ingente por demais. Cabia aos fillogos brasileiros, que j so criminosos de tovexatrias reformas ortogrficas patrioteiras, o trabalho glorioso de fornecer aos artistas umacodificao das tendncias e constncias da expresso lingstica nacional. Mas eles recuam diante dotrabalho til, to mais fcil ler os clssicos! Preferem a cienciazinha de explicar um erro de copista,imaginando uma palavra inexistente no latim vulgar. Os mais "avanados" vo at aceitar timidamenteque iniciar a frase com pronome oblquo no "mais" erro no Brasil. Mas confessam no escrever...isso, pois no seriam "sinceros" com o que beberam no leite materno. Beberam des-hormnios... Bolaspara os fillogos!

    Caberia aqui tambm o repdio dos quepesquisaram sobre a lngua escrita brasileira.Preocupados pragmaticamente em ostentar oproblema, fizeram tais exageros de tornar parasempre odiosa a lngua nacional. Eu sei: talvezneste caso ningum vena o autor destas linhas.Em primeiro lugar, o autor destas linhas, comalguma faringite, vai passando bem, muitoobrigado. Mas certo que jamais exigiu lheseguissem os brasileirismos loquazes. Se ospraticou (um tempo) foi na inteno de pr emangstia aguda um problema que julgava

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    Lins do Regfundamental. Mas o problema verdadeiro no vocabular, sintxico.

    E afirmo que o Brasil hoje possui, no apenas regionais, mas generalizadas no Pas, numerosastendncias e constncias que lhe do natureza caracterstica linguagem. Mas isso ficar para outrofuturo movimento modernista, amigo Jos de Alencar, meu irmo. Ns fracassamos.

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    Captulo IV Parte I Parte

    Camargo Guarnieri

    Mas eu creio que no foi um desastre insanvel o fracasso das

    pesquisas sobre lngua, que apontei no meu artigo anterior. Sob oponto de vista da radicao da nossa cultura entidade brasileira, ascompensaes foram muito numerosas para que o boato falso dalngua nacional se tornasse falha grave. S o que avanamos emsociologia, s a reorganizao dos estudos folclricos e crtico-histricos sob princpios mais cientficos, s o repdio do amadorismonacionalista e do segmentarismo regional e finalmente s o processodo Homo brasileiro, realizado pelos romancistas e ensaistas, soherana fecundssima e j esplndida, que no nos permite sequermelancolia na verificao da bancarrota linguista.

    E ainda h que considerar a decentralizao intelectual, hoje em

    contraste aberrante com outras manifestaes sociais do pais. Hoje aCorte, o fulgor das duas cidades brasileiras de mais de um milho, notem nenhum sentido nacional que no seja meramente estatstico.Pelo menos quanto literatura, nica das artes que j alcanouestabilidade normal no Brasil. As outras so demasiado dispendiosaspara se normalizarem numa nao de to interrogativa riqueza pblicacomo a nossa. O movimento modernista, pondo em evidncia esistematizando uma cultura nacional, exigiu da Inteligensia estar aopar do que se passava nas numerosas Cataguazes. E se as cidades deprimeira grandeza fornecem facilitaes publicitrias sempre denatureza especialmente estatstica, impossvel ao brasileiro, cultonacionalmente, ignorar um Erico Verssimo, uma Raquel de Queiroz,

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    Camargo GuarnieriLoredano

    um Camargo Guarnieri, nacionalmente gloriosos do canto das suasprovncias. Basta comparar tais criadores com fenmenos j histricosmas idnticos, um Alphonsus de Guimares, um Amadeu Amaral e os

    regionalistas imediatamente anteriores a ns, para verificar a convulso fundamental do problema.Conhecer um Alcides Maia, um Carvalho Ramos, um Teles Junior era, nos brasileiros, um fatoindividualista de maior ou menor civilizao. Conhecer um Ciro dos Anjos, um Gilberto Freyre, umGuilherme Cesar, hoje, uma exigncia de cultura. Dantes esta exigncia estava relegada aos...historiadores.

    A pratica principal desta descentralisao da Inteligensia se fixou no movimento nacional das editorasprovincianas. E se ainda vemos o caso de uma grande editora, como a Livraria Jos Olimpio, obedecer atrao da mariposa pela chama, indo se apadrinhar com o prestgio na Crte, por isto mesmo ele setorna mais comprovatrio. Porque o fato da Livraria Jos Olmpio ter cultamente publicado escritores detodo o Pas, no a caracteriza. Nisto ela apenas se iguala s outras editoras da provncia, uma Globo, aNacional, a Martins, a Guara. O que exatamente caracteriza a editora da rua do Ouvidor umbigo doBrasil, como diria Paulo Prado ter se tornado, por assim dizer, o rgo oficial das oscilaesideolgicas do Pas, publicando tanto as dialticas integralistas como a poltica do sr. Francisco Campos

    Francisco Mignone

    Quanto conquista do direito permanente depesquisa esttica, creio no ser possvelqualquer contradio: a vitria grande do

    movimento no campo da arte. E o maiscaracterstico que o anti-academismo dasgeraes posteriores a da Semana de ArteModerna se fixou exatamente naquela leiesttico-tcnica do fazer melhor, e no comoum abusivo instinto de revolta, destruidor emprincpio, como foi o do movimentomodernista. Talvez seja este, realmente, oprimeiro movimento de independncia dainteligncia brasileira, que se posta ter comolegtimo e indiscutvel. J agora com todas asprobabilidades de permanncia. At o

    Parnasianismo, at o Simbolismo, at oImpressionismo inicial de um Vila Lobos, oBrasil jamais pesquisou (como conscinciacoletiva, est claro) nos campos da criaoartstica. No s importvamos tcnicas eestticas, como s as importvamos depois de certa estabilizao e, a maioria das vezes, jacademizadas. Era ainda um completo fenmeno de colnia, imposto pela nossa escravizaoeconmico-social. Pior que isso: esse esprito acadmico no tendia para nenhuma libertao e parauma expresso prpria. E se um Bilac da Via Lactea maior que todo o Lecomte, a culpa no deBilac... Pois o que ele almejava era mesmo ser parnasiano, senhora Serena Forma.

    Essa normalizao de um esprito de pesquisa esttica, anti-acadmico porm no mais revoltado e

    destruidor, a maior manifestao de independncia e de estabilidade nacional que j conquistou aInteligensia brasileira. E como os movimentos espirituais precedem as manifestaes das outras formasda sociedade, fcil de perceber a mesma tendncia de liberdade e conquista de expresso prpriatanto na imposio do verso-livre antes de 30, como na marcha para o Oeste posterior a 30, tanto naBagaceira, no Estrangeiro, na Evocao do Recife anteriores a 30, como no caso da Itabira e anacionalizao das indstrias pesadas, posteriores a 30.

    Eu sei que ainda existem espritos coloniais ( to fcil a erudio) s preocupados em demonstrar quesabem Europa a fundo, que nos murais de Portinari s enxergam as paredes de Rivera, no atonalismode Francisco Mignone s percebem Schoemberg, ou no Ciclo da Cana de Acar o roman-fleuve dosfranceses... Tristo de Ataide, como crtico literrio do Modernismo, foi o prottipo desse colonialismo

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    escandalizado; e no podamos gostar de Piolin??? ou siquer respirar que ele no fosse descobrir nissoconsequncias imitadas da condecorao dos Fratellini ou de algum modernista da Cochinchina...

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    Captulo IV Parte I Parte

    Murilo Mendes e Ismael NerporIsmael Ner

    O problema no complexo, mas seria longo discuti-lo aqui. Limito-

    me a propor o dado principal. Em primeiro lugar carece no esquecerque as mesmas causas produzem geralmente os mesmos efeitos, eque em etnografia existe a lei da Elementargedanke, ospensamentos elementares que tanto podem nascer num comonoutro lugar, sem que haja necessariamente migrao.

    Ns tivemos no Brasil um movimento espiritual (no falo apenasescola de arte) que foi absolutamente necessrio, o Romantismo.Insisto: no me refiro apenas ao romantismo literrio, to acadmicocomo a importao inicial do Modernismo artstico, e que se podercomodamente datar de Domingos Jos Gonalves de Magalhes.Estou me referindo ao esprito romntico, que est na

    Inconfidncia, no Baslio da Gama do Uraguai, nas liras de Gonzagacomo nas Cartas Chilenasde quem os senhores quiserem. Esteesprito preparou o estado revolucionrio de que resultou aIndependncia poltica, e teve como padro briguento a primeiratentativa de lngua brasileira. O esprito revolucionrio modernista,to necessrio como o romntico, preparou o estado revolucionrio poltico de 30 em diante, e tambmteve como padro barulhento a segunda tentativa de nacionalizao da linguagem. A similaridade muito forte.

    Esta necessidade espiritual, que ultrapassa a literatura esttica, que diferena fundamentalmenteRomantismo e Modernismo, das outras escolas de arte brasileiras. Essas, mesmo a feio mais

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    http://www.estadao.com.br/http://www.estadao.com.br/agestado/http://www.estadao.com.br/economia/http://www.estadao.com.br/financas/http://www.estadao.com.br/tecnologia/http://www.estadao.com.br/ciencia/http://www.estadao.com.br/agestado/imagenshttp://www.estadao.com.br/magazine/http://www.estadao.com.br/educando/http://www.estadao.com.br/eleicoes/governolula/index.htmhttp://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.casaescritorio.com.br/http://www.estadao.com.br/shopping/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.classificados.estadao.com.br/http://www.estadao.com.br/esportes/http://www.estadao.com.br/divirtase/http://www.estadao.com.br/turismo/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://estado.infotempo.com.br/http://www.estadao.com.br/autos/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.estadinho.com.br/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.estado.estadao.com.br/suplementos/sup_portal.htmlhttp://www.estadao.com.br/webmail/http://void%280%29/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.listasoesp.com.br/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.radioeldorado.com.br/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.jt.estadao.com.br/http://www.estadao.com.br/cgi-ptl/call.pl?http://www.estado.estadao.com.br/http://www.estadao.com.br/http://www.estadao.com.br/
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    independente que tomou o Barrco em Minas na segunda metade do sculo 18, foram todasessencialmente acadmicas, obedincias culturalistas que denunciam muito bem o colonialismo daInteligensia brasileira. Nada mais absurdamente imitativo (pois se nem era imitao: era escravido!)que a cpia, no Brasil, de movimentos estticos particulares, que de forma alguma eram universais,como o culteranismo italo-ibrico setecentista, como o Parnasianismo, como o Simbolismo, como oImpressionismo, como o wagnerismo de um Leopoldo Miguez. So puras superfectaes culturalistas,impostas de cima para baixo, de proprietrio propriedade, sem o menor fundamento nas foraspopulares. Da uma base desumana, prepotente e, meu Deus! arianizante que, se prova o imperialismodos que com ela dominavam, prova a sujeio dos que com ela foram dominados. Ora aquela basehumana e popular das pesquisas estticas faclimo encontr-la no Romantismo, que chegou mesmo a

    retornar coletivamente s fontes do povo e, a bem dizer, criou a cincia do Folclore. E no verso-livre,no Cubismo, no atonalismo, no predomnio da rtmica, no Super-realismo mstico, no Expressionismo,iremos encontrar essas mesmas bases populares. E at primitivas, como a arte negra. Assim como ocultssimo roman-leuve e os ciclos com que um Lins do Rego processa a civilizao nordestina, ouOtavio de Faria a decrepitude da burguesia, ainda so instintos e formas funcionalmente populares queencontramos nas mitologias cclicas, nas sagas e nos Kelevalas e Nibelungos de todos os povos. Jescreveu um autor, como concluso condenatria, que a esttica do Modernismo ficou indefinvel...Pois essa a melhor razo de ser do Modernismo! Ele no era uma esttica, nem na Europa nem aqui.Era um estado de esprito revoltado e revolucionrio que, se a ns nos atualizou, sistematizando comoconstncia da Inteligncia nacional o direito anti-acadmico da pesquisa esttica e preparou o estadorevolucionrio das outras mainifestaes sociais do pas, tamm fez isto mesmo no resto do mundo,profetizando esta contempornea Guerra dos Cem Anos de que uma civilizao nova nascer.

    Drummond de Andrade

    E hoje o artista brasileiro tem diante de si uma verdade social, umaliberdade (infelizmente s esttica) uma independncia, um direito ssuas inquietaes e pesquisas que, no tendo passado pelo quepassaram os modernistas da semana, ele no pode imaginar queconquista enorme representa. Quem se revoltamais, quem briga maiscontra o politonalismo de um Loureno Fernandez, contra a arquiteturado Ministrio da Educao, contra os versos incompreensveis de umMurilo Mendes, contra o expressionismo de um Guignard?...Tudo istoso manifestaes normais, discutveis sempre, mas que no causam omenor escndalo pblico. Pelo contrrio, so as prprias forasgovernamentais que aceitam a realidade de um Portinari, de um Vila

    Lobos, de um Lins do Rego, de um Almir de Andrade, pondo-os emcheque e no perigo constante das predestinaes. Mas um Flavio deCarvalho,m mesmo com as suas experincias numeradas, e muitomenos um Clovis Graciano, mas um Camargo Guarnieri mesmo com asincompreenses que o perseguem, um Otvio de Faria com a cruezados casos que espe, um Santa Rosa, jamais no podero suspeita o aque nos sujeitamos, para que eles pudessem hoje viver abertamente odrama que os persegue. A vaia acesa, a carta annima, o insultopblico, a perseguio financeira... Mas recordar quase exigirsimpatia e estou a mil lguas disto.

    Ainda caberia falar sobre o que chamei de atualizao da inteligncia artstica brasileira. Com efeito,no se pode confundir isso com a liberdade da pesquisa esttica, pois esta lida com formas, com atcnica e as representaes da beleza, ao passo que a arte muit mais larga e complexa que isso etem uma funcionalidade imediata social, uma profisso e uma fora interessada na vida. A prova maisevidente esta distino o famoso problema do assunto em arte, no qual tantos escritores seemaranham. Ora no h dvida nenhuma que o assunto no tem a menor importncia para ainteligncia esttica. Chega mesmo a no existir para ela. Mas a inteligncia esttica se manifesta porintermdio de uma expresso interessada da sociedade, que a arte. Esta que tem uma funohumana, maior que a criao hedonstica da beleza. e dentro desta funcionalidade humana da arte que o assunto adquire um valor primordial e representa uma mensagem imprescindvel. Ora, comoatualizao da inteligncia artstica, que o movimento modernista representou um papel contraditrioe muitas vezes precrio. Mas me reservo para demonstrar isso numa conferncia que farei na Casa do

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    Estudante do Brasil.

    Vou terminar estas memrias gratas. Manifestando-se especialmente pela arte o movimentomodernista foi o prenunciador, o preparador e por muita partes o criador de um estado de espritonacional. A transformao social do mundo com a quebra gradativa dos grandes imprios, a prticaeuropia de novas ideologias polticas, a rapidez dos transportes e mil e uma outras causasinternacionais, bem como o desenvolvimento da conscincia americana e nacional, os progressosinternos da tcnica e da educao, impunham a criao de um esprito novo e exigiam a reverificao emesmo a remodelao da inteligncia brasileira. Isto foi o movimento modernista, de que a Semana de

    Arte Moderna ficou sendo o brado coletivo principal. H um mrito inegvel nisso, embora aquelesprimeiros modernistas... das cavernas, que nos reunimos em torno de Anita Malfatti e Vitor Brecheret,tenhamos como que apenas servido de altifalantes de uma fora universal e nacional muito maior quens. Fora fatal, que viria mesmo. Creio que foi um crtico paraibano, Ascendino Leite, quem falou umavez que tudo quanto fez o movimento niderbustam far-se-ia da mesma forma sem o movimento. Noconheo lapalisada mais graciosa. Porque tudo isso que se faria, mesmo sem o Movimento Modernista,seria pura e simplesmente... o movimento modernista.

    So Paulo, c. 1930Tarsila do Amaral

    LEGENDA

    Estes artigos foram originalmente publicados no jornal O Estado de S. Paulo por ocasio do 20.aniversrio da Semana de Arte Moderna, em 1942. Para marcar os 80 anos do movimento modernistano Brasil, o Estadao.com.br e o caderno Cultura republicam os artigos.

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    Duas Mulheres, dec.20. Di Cavalcanti

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    http://go%28%27../apresentacao.htm');http://go%28%27../cap1/index.htm');http://go%28%27../cap2/index.htm');http://go%28%27../cap3/index.htm');http://go%28%27../cap4/index.htm');http://www.estadao.com.br/
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    Capa do catlogo da esposio de ArtesPlsticasda Semana, desenhada por Di Cavalcanti

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    http://go%28%27../apresentacao.htm');http://go%28%27../cap1/index.htm');http://go%28%27../cap2/index.htm');http://go%28%27../cap3/index.htm');http://go%28%27../cap4/index.htm');http://www.estadao.com.br/
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    Bananal, 1927. Lasar Segall.Pinacoteca do Estado de So Paulo

    ttp://www.estadao.com.br/magazine/especial/modernismo/galeria/m02.htm8/5/2005 02:18:54

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    O Japons, dec.20. Anita Malfatti

    ttp://www.estadao.com.br/magazine/especial/modernismo/galeria/m03.htm8/5/2005 02:18:56

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    Operrios, dec.20. Tarsila do Amaral

    ttp://www.estadao.com.br/magazine/especial/modernismo/galeria/m04.htm8/5/2005 02:19:18

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    Abapur, 1929. Tarsila do Amaral

    ttp://www.estadao.com.br/magazine/especial/modernismo/galeria/m06.htm8/5/2005 02:19:20

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    O Homem Amarelo, 1917. Anita Malfatti

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    Cinco Moas de Guaratinguet, 1930.Di Cavalcanti - MASP

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    A Estudante, 1918. Anita Malfatti

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    Retrato de Oswald de Andrade, 1922.Tarsila do Amaral

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    Caboclas Montadas, dec.20. Lasar Segall

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    Colombina, 1922. Ferrignac

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    Petrpolis-Homens Trabalhando, 1922Zina Aita

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    Mulher Sentada, 1928. Rgo Monteiro

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    Paisagem Urbana de So Paulo, 1922Menotti Del Picchia. MASP

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    Capa do n 7, novembro, 1922.Revista Klaxon

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    Paisagem de Espanha, 1922. John Graz

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    Daisy, mrmore, c. 1922. Victor Brecheret

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    Morro Vermelho, dec.20. Lasar Segall

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    Mercadores nos Barcos, dec.20. Lasar Sega

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    Fantoches da Meia-noite, Capa do lbum, f1922editado por Monteiro Lobato&Cia. Di Caval

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    Grupo de artistas e poetas paulistas. Da esq.p/dirPag,Anita, Benjamim Peret, Tarsila, Oswald de AndradElsie Houston, Alvaro Moreyra e Eugenia Alvaro

    Moreira

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    Cartazes da Casa Fretin e do Odol; annciopublicado no O Estado de So Paulo, CasaMappin.dec.20 - MASP

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    Capa de A e s t rl a d o a b s i n t o , 1927 de Oswde Andrade. Ilustrao de Victor Brecheret

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    A Negra, 1923. Tarsila do AmaralMAC-USP

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