mÁrio curica no imaginÁrio popular brevense

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Leonildo Guedes BREVES – PARÁ 2002

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Histórias populares (narrativas orais) fantásticas atribuídas a um grande contador de histórias do município de Breves, Ilha de Marajó, estado do Pará.

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Page 1: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

Leonildo Guedes

BREVES – PARÁ

2002

Page 2: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

MÁRIO CURICA

NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

Page 3: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

LEONILDO GUEDES

Professor Pedagógico e Licenciado Pleno em Pedagogia pela UFPA

Especialista em Estudos Culturais da Amazônia pela UFPA

Autor de “Inventário das Superstições e Crendices do Povo Brevense”

(trabalho ainda não publicado)

MÁRIO CURICA

NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

BREVES – PARÁ

2002

Page 4: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao povo brevense,

Tão criativo,

Tão inteligente,

Tão lutador,

Tão sonhador,

Tão esperançoso e

Tão capacitado a produzir o que for necessário,

Desde que devidamente orientado,

Estimulado e

Auxiliado;

Desde que ouvido e levado a sério.

Page 5: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela inspiração, pelas idéias, pela luz;

(Senhor, ajuda-me a aprender para que eu ajude ensinando!).

A todos os nossos colaboradores/contadores de histórias: amigos, parentes e

conhecidos.

Aos nossos transcritores auxiliares: professores e alunos.

À senhora Erundina Monteiro da Silva, filha do senhor Mário Moreira da Silva, que

mui gentilmente me recebeu em sua casa, respondendo às

minhas perguntas e me doando uma foto de seu famoso e

benquisto pai.

À letrada Leolinda Guedes, pela revisão dos textos.

Page 6: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

“A vida se vive para poder contá-la (alguns

povos a cantam) ao mesmo tempo que criamos

nossos contos para dar sentido à vida.”

Virgínia Ferrer Cerveró

“O sentido do que somos depende das histórias

que contamos e das que contamos a nós

mesmos (...), em particular das construções

narrativas nas quais cada um de nós é, ao

mesmo tempo, o autor, o narrador e o

personagem principal”.

Jorge Larrosa

Page 7: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...................................................................................... 03

SÍNTESE BIOGRÁFICA DE “MÁRIO CURICA”........................................ 13

1. BANHOS E MERGULHOS NO RIO

1.1. O “pum” do jacaré........................................................................... 15

1.2. Que mergulho!................................................................................. 15

1.3. Perseguindo o jacaré...................................................................... 16

1.4. Mais rápido que um martelo............................................................ 16

1.5. Banho distraído............................................................................... 17

1.6. A aposta.......................................................................................... 17

2. UM DIA DA PESCA. . .

2.1. Eta peixão!...................................................................................... 18

2.2. Assando peixe embaixo d’água...................................................... 18

3. CAÇADAS E AVENTURAS

3.1. Puxando a onça pelo avesso........................................................... 19

3.2. A disputa.......................................................................................... 19

3.3. Duas onças e uma bala.................................................................... 20

3.4. A bacabeira da anta......................................................................... 20

3.5. Um dia de sorte................................................................................ 21

3.6. Cadê o olho?.................................................................................... 22

3.7. Quase caolho!.................................................................................. 23

3.8. Espingarda mágica........................................................................... 23

Page 8: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.9. Caçando urso .................................................................................. 23

3.10. Tiro teleguiado .............................................................................. 23

4. LENDAS NO CAMINHO

4.1. O Fogo-do-Mar brinca com Mário Curica......................................... 24

4.2. A Cobra-Grande persegue Mário Curica.......................................... 25

4.3. A Cobra-Grande engole tudo........................................................... 25

4.4. Foi a Cobra-Grande?....................................................................... 26

5. VISÃO FANTÁSTICA

5.1. Visão precisa.................................................................................... 27

5.2. Bom de vista e atuante..................................................................... 27

5.3. Formiga ou mucuim?........................................................................ 28

5.4. Os mucuins...................................................................................... 29

6. NÚMEROS PRECISOS

6.1. Noventa e nove periquitos................................................................ 30

6.2. Uma tartaruga de 149,5 Kg.............................................................. 31

7. SUPER OBJETOS E UTENSÍLIOS

7.1. Misturando as peças (I)................................................................. 32

7.2. Consertando o rádio e a espingarda................................................ 33

7.3. Misturando as peças (II)............................................................... 33

7.4. Relógio bom, hein?!......................................................................... 34

7.5. Lamparina à prova d’água................................................................ 34

7.6. E o barco sumiu!.............................................................................. 35

7.7. O casco sumiu!................................................................................. 35

7.8. O disco que tocava no espinheiro.................................................... 36

Page 9: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.9. O disco do Mário.............................................................................. 36

8. BACABEIRAS, MANGUEIRAS E AÇAIZEIROS

8.1. Tirando bacaba sem sair do chão.................................................... 37

8.2. O jeito era girar a bacabeira............................................................. 37

8.3. Desgalhando mangueira.................................................................. 38

8.4. O prédio de açaizeiros..................................................................... 38

9. CASAS E FOGUETES

9.1. A casa alta do Mário Curica............................................................. 39

9.2. Promessa quase bem paga............................................................. 39

10. HISTÓRIAS RAPIDINHAS

10.1. Uma mentira rapidinha................................................................... 40

10.2. Esperando uma paca boiar............................................................ 41

10.3. Que susto!..................................................................................... 42

10.4. Seu Ribamar e Mário Curica.......................................................... 43

10.5. O passarinho fugiu......................................................................... 43

10.6. O jacaré no bueiro.........................................................................

11. OUTRAS HISTÓRIAS

11.1. Correndo atrás do pato do círio.................................................

11.2. Uma folha de abade faz toda a diferença................................... 44

SOLICITAÇÃO AOS LEITORES

ALGUNS DOS NOSSOS CONTADORES DE HISTÓRIAS

(COLABORADORES)

NOSSOS TRANSCRITORES AUXILIARES

Page 10: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

APRESENTAÇÃO

O tema da Feira do Conhecimento da Escola Municipal de Ensino

Fundamental Profª. Maria de Lourdes Campos Sales deste ano foi “a cidade de

Breves”. Dessa forma, cada professor deveria desenvolver um trabalho que

estivesse pautado nessa linha temática. Inicialmente, cogitei na possibilidade de

os alunos da minha turma (4ª. Série) elaborarem poemas sobre aspectos diversos

do município de Breves (cheguei a selecionar aspectos/informações que serviriam

para a elaboração dos poemas), até que, revirando manuscritos de um trabalho

anterior (As Superstições e as Crendices do Povo Brevense), encontrei uma

história do Mário Curica (O “pum” do jacaré) transcrita pelo professor Ademir

Neves. E assim veio a idéia de elaborar um trabalho com as histórias desse

conhecido contador de histórias. Entretanto, eu precisava saber se seria possível

coligir essas histórias em quantidade considerável, num curto espaço de tempo, e

organizar esse trabalho a tempo de apresentá-lo na II FEICON (Feira do

Conhecimento). Assim, comecei a ouvir/escrever histórias sobre Mário Curica no

dia 1º de novembro. Até o dia 04 de novembro, eu já tinha obtido trinta e duas

histórias. Aí veio a certeza: é possível elaborar esse trabalho! Ainda no dia 04,

meus alunos engajaram-se nessa tarefa: começaram a coletar histórias em que

Mário Curica faz parte.

“Mário Curica no imaginário popular brevense” materializa-se em produção

escrita graças aos nossos contadores de histórias/nossos colaboradores e nossos

transcritores auxiliares. Sem os mesmos, não tomaríamos conhecimento das

fantásticas, brilhantes e por vezes hilárias histórias do Mário.

Como a educação brasileira não incentiva a pesquisa, não dispusemos de

equipamentos básicos para a elaboração desse trabalho (como gravador, por

exemplo). Todavia, não ficamos de braços cruzados lamentando. Com caneta,

papéis e uma prancheta em mãos, com um objetivo a ser alcançado, seguindo os

princípios básicos da pesquisa em história oral, fomos em busca dos nossos

contadores de histórias. Nesse sentido, as palavras dos contos não são literais,

mas produto do conhecimento lingüístico do autor e dos transcritores auxiliares.

As palavras não são exatamente as mesmas, no entanto, as idéias, a essência, o

Page 11: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

vigor e a originalidade das histórias foram conservados (pelo menos foi nossa

intenção).

O ideal preconizado hoje no campo educacional é que a escola estimule os

alunos/professores para a produção/reelaboração do conhecimento. Porém, o que

prevalece ainda é o seu caráter meramente reprodutivista. Assim, com este

trabalho, objetiva-se também demonstrar tanto para alunos quanto para

professores que é possível fazermos uma escola criativa, comprometida com a

valorização do que somos e sabemos.

Em linhas gerais (por enquanto), podemos definir “Mário Curica” como um

grande contador de histórias, de imaginação fértil que sabia como ninguém cativar

seus ouvintes. (Posteriormente, apresentamos sua síntese biográfica, obtida

graças às informações fornecidas pela senhora Erundina Monteiro da Silva, filha

do senhor Mário.) Suas histórias são fantásticas, misteriosas, cômicas, marcadas

pela improvisação e apresentam-lhe com qualidades e sentidos super-

desenvolvidos.

As histórias aqui apresentadas foram coletadas do imaginário popular

brevense (não foram coletadas diretamente do senhor “Mário Curica”). Assim, a

autoria dessas histórias é atribuída a “Mário Curica”, mas não se tem certeza

absoluta. Também, ao passarem para o imaginário popular (ao passarem para a

boca do povo), sofreram algumas alterações (personagens, falas), mas seus

“elementos fixos” (a essência das histórias) permanecem. Inclusive, após a leitura

deste trabalho, o leitor perceberá que algumas histórias são similares, mas para

não se perder a riqueza do imaginário popular, resolvi colocar todas as versões

ouvidas.

Se porventura alguma pessoa se reconhecer numa dessas histórias,

considere como uma homenagem feita pelo povo. Com efeito, não se pretende

aqui entrar no mérito da questão: são histórias fantásticas? São histórias

verídicas? O que se pretende é apresentar histórias marcadas pela originalidade e

que são de inestimável valor para a cultura brevense; histórias de uma inigualável

imaginação nascida nos meios populares.

Page 12: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

Como perceber-se-á, este é um trabalho simples. Inclusive, primou-se por

utilizar nos contos palavras populares (palavras simples, regionais), mas em

alguns casos utilizaram-se palavras mais sofisticadas, tendo em vista garantir a

idéia originária. Até mesmo a estrutura das narrativas corresponde ao modo como

as pessoas contaram as histórias. Ademais, é notória a repetição de termos como

“certa vez”, mas seu emprego justifica-se pela localização da narrativa num tempo

não muito longínquo, porém indeterminado; sem a utilização dessa expressão, as

narrativas começariam sem uma alusão à temporalidade (mesmo que essa

temporalidade seja indeterminada, optamos pelo emprego de “certa vez”).

Esperamos que, com a produção/divulgação/leitura deste trabalho, se

valorize mais o saber popular; se incentive os alunos para a pesquisa; se viaje por

um mundo imaginário capaz de despertar também nossa criatividade adormecida.

Esperamos que a leitura deste trabalho seja prazerosa, leve e divertida.

Esperamos que, ao lê-lo, possa-se encontrar um sorriso constante no seu rosto.

Finalizando esta apresentação, transcrevo um trecho de um conto popular:

“Entrou por uma porta

E saiu por outra,

Quem quiser

Que conte outra!”

Boa leitura!

Leonildo Guedes

Breves (PA), 19 de novembro de 2002.

Page 13: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

SÍNTESE BIOGRÁFICA DE “MÁRIO CURICA” 1

Mário Moreira da Silva, o famoso “Mário Curica”, nasceu no rio Macujubim,

interior do município de Anajás (PA), no ano de 1898. Era filho de Francisco

Moreira e Maria Eliana do Espírito Santo.

A alcunha “Mário Curica” advém do apelido do seu filho Antônio: este era

chamado de “Curiquinha”, pois tinha os dedos parecidos com os dedos de uma

ave da região chamada de “curica”. Portanto, a partir do apelido do filho, veio a

apelido do pai: Mário Curica.

Passou sua infância no interior do município de Anajás. De lá, foi morar no

rio Mapuá, onde passou aproximadamente dez anos de sua vida (neste rio,

conheceu a senhora Jocimes Monteiro da Silva, com quem se casou). Em

seguida, Mário volta ao rio Macujubim e, posteriormente, vem para a cidade de

Breves com sua família. O senhor Mário Moreira da Silva e família chegaram à

cidade de Breves por volta de 1946.

Não sabia ler, nem escrever. Trabalhou com extrativismo vegetal

(borracha), era lavrador e (na cidade) realizava serviço gerais: carpintaria e outras

atividades.

Foi pai de dez filhos, dentre os quais seis estão vivos: Maria de Nazaré,

Raimundo, Antônio, Rosendo, Maria e Erundina (a caçula, que tem hoje 59 anos

___ quando vieram morar na cidade, Erundina tinha apenas três anos de idade).

Na cidade, o senhor Mário Moreira da Silva era benquisto por todas as

pessoas: vereadores, prefeitos, comerciantes, etc.

As pessoas adoravam ouvir suas histórias. A frase que sempre ouvia era

“conte uma história rapidinho, seu Mário”. Em muitos carnavais brevenses, seus

amigos e admiradores o homenageavam: saíam vestidos a estilo “Mário Curica” e

sempre o procuravam nessa época para ouvir suas brilhantes histórias.

1 Síntese biográfica elaborada a partir de informações fornecidas por Erundina Monteiro da Silva, filha do senhor Mário Moreira da Silva, casada com o senhor Sandoval Pereira Lima. Data da entrevista: 05 / 11 / 02.

Page 14: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

Sua característica principal era ser um grande contador de histórias.

Também, duas de suas características marcantes era usar chapéu de palha e uma

saca de lona embaixo do braço; às vezes, também era visto com terçadinho na

mão.

Sua esposa faleceu em 1983 (aproximadamente).

Nos últimos anos de sua vida, residia no bairro da Castanheira. Foi

acometido de derrame. E no dia 12 de maio de 2000, aos 102 anos de idade, veio

a falecer. Morre a pessoa, mas ficam suas histórias povoando o imaginário

popular brevense, histórias essas que, devido a sua notoriedade local, podem ser

consideradas como patrimônio histórico-cultural brevense.

Mário Moreira da Silva, o “Mário Curica”.

Page 15: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1. BANHOS E MERGULHOS NO RIO

1.1. O “PUM” DO JACARÉ

Mário Curica foi tomar banho no antigo trapiche da B. I. S. A. (Breves

Industrial S. A.). Ele correu e saltou dentro d’água. Quando ele ia chegando na

água, foi engolido por um jacaré que estava de boca aberta esperando por ele. E

como Mário Curica se saiu dessa?

Mário Curica explicou:

___ Ainda bem que jacaré solta gases!

Assim, Mário Curica conseguiu se safar porque foi expelido pelo “pum” do

jacaré.

(Acredite se quiser!).

Informante: Ademir Neves

Page 16: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1.2. QUE MERGULHO!

Certa vez, Mário Curica estava tomando banho à beira do rio. Quando

estava se ensaboando, o sabonete escapoliu e caiu n’água. Seu Mário

prontamente pulou atrás para pegá-lo. Quando ele boiou, ficou espantado, pois

estava num trapiche de Belém e... (detalhe) estava com o sabonete na mão!

Informante: Sebastião Oliveira

Page 17: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1.3. PERSEGUINDO O JACARÉ

Seu Mário, certa vez, estava próximo do Matadouro Municipal. Quando

olhou para o rio Parauaú, viu um jacaré enorme submergindo. Seu Mário Curica

não resistiu e quis pegar o jacaré. Pulou atrás dele e mergulhou tão

profundamente, perseguindo-o, que, quando voltou à tona, se espantou: estava

perto de Melgaço!

(Haja fôlego!).

Informante: Benedito Guedes

Page 18: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1.4. MAIS RÁPIDO QUE UM MARTELO

Um dia, Mário Curica estava trabalhando no trapiche do Antonino da

Paragás. Durante o trabalho, descuidando-se, deixou cair seu martelo na água.

Tchibum! Rapidamente, ele pulou na água atrás do martelo para pegá-lo. Quando

ele chegou lá no fundo do rio, procurou o martelo e não o encontrou. De repente,

sente o martelo cair na sua cabeça!

Mário Curica chegou ao fundo do rio primeiro que o martelo!).

Informante: Rosely Lobato

Page 19: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1.5. BANHO DISTRAÍDO

Certa vez, seu Mário Curica estava tomando banho na beira do rio Pracaxi.

Ele estava na ponta de um tronco de miritizeiro. Estava tomando banho e tal. . . A

água estava “vazando”. . . Para poder se molhar melhor, ele passa um pouco à

frente do miritizeiro. Senta-se em algo estável, plano, e prossegue o banho.

Abaixa a cabeça e fica se esfregando, esfregando. . . Quando ele levanta a

cabeça, percebe que já está perto da vila de Corcovado. Quando olha para baixo,

percebe que estava sentado sobre uma grande arraia!

Informante: Pedro Nascimento

Page 20: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

1.6. A APOSTA

Certa vez, seu Mário Curica foi desafiado. Um funcionário de uma serraria

apostou com ele que não conseguia chegar nadando da serraria até o trapiche

municipal. Seu Mário aceitou a aposta.

Assim, saiu nadando da serraria até o trapiche municipal. Quando seu

Mário estava perto de chegar ao trapiche, ele cansou e resolveu voltar nadando

para a serraria.

(Foi a única aposta que Mário Curica perdeu!)

Informante: Ajax Guedes

Page 21: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

2. UM DIA DA PESCA . . .

2.1. ETA PEIXÃO!

Certa vez, Mário Curica estava pescando na boca de Breves. Como queria

fumar cachimbo (e precisava utilizar as mãos para acendê-lo), trançou a linha de

pesca no seu pé. Nesse instante, um peixe foi fisgado, puxou a linha e levou Mário

Curica com tudo para o fundo do rio. O peixe o arrastou por uma boa distância, até

que Mário viu um enorme tronco no fundo do rio, agarrou-se a ele e conseguiu

boiar; já estava aqui em Breves, em frente ao trapiche da B. I. S. A! Ainda com a

linha de pesca segura, Mário Curica saiu por terra e foi providenciar um guindaste

para puxar o enorme peixe. Assim, o guindaste puxou o peixe: era uma enorme

piraíba. Todos os funcionários da B. I. S. A. receberam um pedaço de peixe. . . E

ainda sobrou piraíba!

Informante: Josely Costa

Page 22: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

2.2. ASSANDO PEIXE EMBAIXO D’ÁGUA

Mário Curica e seu filho foram lanternar num igarapé. Chegando lá, um

peixe bastante grande bateu no casco e a lanterna caiu na água. Mário Curica

pulou atrás da lanterna e pra lá ficou. Demorou, demorou. . . E seu filho pulou

atrás dele. Quando ele chegou lá no fundo, Mário Curica já estava assando o

peixe!

Informante: Samara Brasil

Page 23: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3. CAÇADAS E AVENTURAS

3.1. PUXANDO A ONÇA PELO AVESSO

Seu Mário foi caçar com dona Maria. Sua espingarda tinha apenas um

cartucho.

Saíram pelo mato. Não havia caça. Andaram muito até que encontraram um

tucano num galho de uma árvore. Seu Mário atirou. “Pêi!” Matou o tucano e lá se

foi seu único cartucho.

Foram embora. De repente, ouviram um rugido. Era uma enorme de uma

onça pintada. Nesse momento, dona Maria estava se borrando de medo. Seu

Mário colocou dona Maria e a espingarda sem cartucho num canto. Deu a volta

em umas árvores. E a onça não parava de olhar pra ele, piscando. Seu Mário

avança sobre a onça e bate uma mão contra a outra. “Plá!” Nisso, a onça abre

bem a boca e avança sobre ele. Seu Mário mete o braço pela boca da onça (mete

lá pra dentro, mesmo) e puxa a onça pelo avesso!

Informante: Benedito Guedes

Page 24: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.2. A DISPUTA Mário Curica e seu amigo, certa vez, estavam contando vantagens. Veja só

quem contou mais (ou maior) vantagem:

Mário Curica contou que estava no mato, caçando. De repente, atravessa

na sua frente uma onça. Ele prontamente se prepara. Quando a onça abriu a boca

para agarrá-lo, ele apertou o gatilho. . . O tiro entrou pela boca e saiu pelo rabicho

da onça ___ passou direto (Essa onça teve uma sorte, hein!).

O seu amigo também contou a sua. Ele estava caçando no mato. Quando

se espantou, uma onça pulou sobre ele. Sua espingarda caiu. A onça abriu a boca

para pegá-lo; nisso, o homem meteu o braço na boca da onça e a puxou pelo

avesso!

(Quem conta um conto, aumenta um ponto!).

Informante: Janilson Nascimento

Page 25: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.3. DUAS ONÇAS E UMA BALA Certa vez, Mário Curica estava caçando. De repente, depara-se com duas

onças. Porém, estava enrascado, pois só tinha uma bala na sua espingarda.

Então, o que fazer? Se ele conseguisse matar uma das onças, ficaria desarmado

e a outra o mataria. O que fazer, então?

Seu Mário teve uma idéia! Fincou o seu terçado no chão (com o fio da

lâmina em sua direção); esperou que as duas onças ficassem próximas uma da

outra; mirou para as duas onças, tendo o fio do terçado entre sua espingarda e as

onças; e atirou. “Pêi!” Quando a bala foi projetada, acertou o fio do terçado,

dividiu-se em duas e cada uma parte acertou uma onça!

Pronto! Assim, com uma bala, Mário Curica consegue matar duas onças!

Informante: Ademir Neves

Page 26: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.4. A BACABEIRA DA ANTA

Mário Curica saiu para caçar,

mas não tinha chumbo. Ele resolveu,

então, colocar um caroço de bacaba

no cartucho. Depois disso, saiu pro

mato.

O primeiro bicho que ele

encontrou foi uma anta; ele atirou

nela, acertou, mas ela sumiu. Muito

tempo depois, ele foi caçar outra vez

no mesmo lugar. Neste, ele

enxergou uma bacabeira com um

cacho muito grande. A bacabeira

ficava em cima de um monte de

terra. Ele pensou: “vou já tirar esse

cacho de bacaba”. Seu Mário fez

uma peconha e subiu na bacabeira.

Quando ele começou a cortar o cacho, a bacabeira começou a se mexer. Seu

Mário se lembrou, então, que a bacabeira em que estava tinha surgido do caroço

de bacaba que ele atirara na anta!

Informante: Josely Costa

Page 27: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.5. UM DIA DE SORTE Um certo dia, Mário Curica saiu para uma caçada. Levou consigo uma

espingarda e um terçado. Foi pelo igarapé no seu reboque de tábua (canoa).

Quando ainda ia ao igarapé, avistou uma preguiça-benta, e logo capturou e

amarrou na corda de seu reboque.

Chegando no caminho que ia caçar, encostou o reboque e disse:

___ Eu tenho que agradecer a Deus!

Assim, saiu e ajoelhou-se. Largou a espingarda e o terçado e começou a

rezar. Quando terminou, ele viu que nem a espingarda nem o terçado estavam

onde ele tinha arriado, e observou, dizendo:

___ Mas aqui não tem ladrão. Como sumiu a minha espingarda e o meu

terçado?

Quando olhou direito, viu que tinha se ajoelhado na costa de um jabuti-

grande e enquanto rezava, o jabuti caminhava com ele na costa. Então, ergueu as

mãos para dizer graças a Deus. Quando fechou as mãos, um inhambu, que por ali

voava, caiu bem na mão dele. Logo ficou agradecido. Voltou para o seu reboque.

Chegando onde havia deixado o reboque, não estava nem o reboque e nem

a preguiça. Ficou triste, mas logo observou que estava pingando água de cima.

Ele olhou e viu que era a preguiça que tinha subido com o seu reboque pendurado

na cintura. Ele disse:

___ Hoje é meu dia de sorte!

Informante: Benedita Rodrigues

Page 28: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.6. CADÊ O OLHO? Certa vez, seu Mário Curica estava no mato, caçando. Ele estava com seu

cachorro.

Durante a caçada, o cachorro vê um veado e começa a persegui-lo. O

cachorro estava atrás de um veado, e o seu Mário, atrás dos dois. Saíram em

disparada pelo meio da capoeira. Correm muito. Durante essa correria toda, os

três passaram pelo meio de um jupindazeiro2. Atravessaram o jupindazeiro: o

cachorro atrás do veado, e ele atrás dos dois.

Saindo do jupindazeiro, seu Mário dá falta de seu olho. Ele passa a mão no

olho e só sente o buraco dele. Assim, resolveu voltar para ver se encontrava ele.

Voltando, ele vê que um de seus olhos está preso num espinho. Ele tira o olho do

espinho e coloca no lugar dele. Porém, ele coloca do lado errado: a parte que nos

possibilita ver ficou para dentro; assim, ele viu seu rim, fígado e “bobó”. Para

endireitar o olho, ele o amassa pelas beiras até ficar normal.

(Ufa! Que susto! Quase que seu Mário fica caolho!).

Informante: Pedro Nascimento

2 JUPINDAZEIRO é um emaranhado de cipós – chamados “jupindás” – com espinhos grandes,

parecidos com anzóis.

Page 29: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.7. QUASE CAOLHO!

Mário Curica e seu filho foram para o interior. Quando chegaram lá, seu

Mário pegou uma espingarda e foi para o mato. Chegando lá, ele atirou num

macaco. O macaco caiu em cima de uma raiz e se enterrou um metro e meio.

Mário Curica correu para a casa dele para buscar uma enxada para cavar atrás do

macaco. Porém, para ele voltar para casa rapidamente, tinha que fazer um atalho

no mato. Correu muito pelo mato e, de repente, viu que estava descendo sangue

da sua cara e percebeu que só estava com um olho. Assim, voltou e viu seu olho

pendurado em um espinho de tabocal. Ele pegou o olho e colocou no lugar e

continuou a correr para sua casa!

Informante: Simone Rocha

Page 30: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.8. ESPINGARDA MÁGICA

Mário Curica estava contando para seu compadre que certa vez tinha

encontrado, durante uma caçada, um monte de guariba no mato. Então, pegou a

espingarda e começou a atirar. “Pêi! Pêi! Pêi!”.

O compadre perguntou:

___ O senhor não trocava o cartucho?

Mário Curica respondeu:

___ Não dava tempo. Era muita guariba!

Informante: Valdirene Corrêa

Page 31: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.9. CAÇANDO URSO Mário Curica saiu para caçar urso e levou três cartuchos na sua espingarda.

Ele matava urso preto com dois tiros e o urso branco, com um. No mato, ele

avistou um urso preto, armou sua espingarda e... Pêi! Pêi! Deu dois tiros no urso e

o matou. E continuou a caçada. De repente, ele avistou outro urso preto e só tinha

um cartucho, não podendo, assim, matá-lo. Se conseguisse acertar um tiro, ainda

assim o urso tinha forças para matar seu Mário. Foi aí que ele teve uma idéia.

Armou sua espingarda, se escondeu atrás de uma árvore, quando o urso ia

passando, seu Mário fez bu-u-u-u. Assustando o urso, deixando-o branco de

medo. Foi assim que Mário Curica, com um tiro, matou um urso preto que tinha

ficado branco!

Informante: Rogério dos Anjos

Page 32: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

3.10. TIRO TELEGUIADO Mário Curica saiu para caçar. Durante sua caçada, ele avistou em uma

árvore vinte papagaios. Pegou sua espingarda e um cartucho com vinte bagos de

chumbo. Mirou bem no meio deles e atirou. Pêi! Começou a cair papagaio para

todos os lados. Mário Curica foi conferir e tinha dezenove papagaios abatidos.

Nisso, ele começou a ouvir um zumbido. Zum! Zum! Zum! Ele parou para observar

o que era e conseguiu ver um bago de chumbo passando de um lado para outro,

procurando o vigésimo papagaio.

Informante: Rogério dos Anjos

Page 33: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

4. LENDAS NO CAMINHO

4.1. O FOGO-DO-MAR BRINCA COM MÁRIO CURICA No tempo da borracha, Mário Curica tinha um grande barco. Este barco

servia para transportar borracha para vender e para trazer alimentos para sua

casa. Essa viagem era feita de quinze em quinze dias. Mário Curica ia à vazante e

vinha na maré cheia, aproveitando o movimento das águas para remar mais

comodamente. Ele percorria geralmente a baía do Frechal.

Numa de suas viagens, Mário Curica tinha vendido a borracha e vinha com

a proa do barco cheia de alimentos. Vinha remando que só ele. . . Até que viu ao

longe o Fogo-do-Mar3. Ele ia remando cada vez mais rápido, e o Fogo-do-Mar ia

se aproximando, se aproximando. . . Até que o alcançou. Quando o Fogo-do-Mar

passa pelo Mário, leva consigo a mercadoria do barco.

Assim, Mário Curica não podia voltar para sua casa sem nada. Então,

resolveu voltar para comprar mais alimentos. E haja a remar. Umas duas horas

depois, Mário percebeu que o Fogo-do-Mar estava voltando, até que o alcançou.

Ao chegar perto do barco, o Fogo-do-Mar devolveu o que tinha pegado do Mário

Curica e disse:

___ Eu só estava brincando contigo, Mário! Pode voltar em paz para sua

casa. Só que você vai ter que remar mais. . . Muito mais.

Informante: Pedro Nascimento

3 FOGO-DO-MAR é um negrinho envolto em muitas chamas que aparece na baía.

Page 34: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

4.2. A COBRA-GRANDE PERSEGUE MÁRIO CURICA

Um dia, Mário Curica tinha que vir a Breves. Vinha em seu reboque a remo,

junto com o seu filho amado, trazendo para vender um cacho de banana, um

porco e um paneiro de farinha.

Viajava tranqüilo pelo rio de Breves, até que foi abordado por uma cobra-

grande. Ele remou, remou. . . Mas a cobra logo o alcançou. Ele jogou o porco e o

cacho de banana, e a cobra engoliu. Mas a cobra continuou a persegui-los até

alcançá-los. Ele logo jogou o paneiro de farinha, e a cobra também o engoliu. Mas

continuou a correr atrás dele. Ele, já próximo da beira, jogou um banco do casco,

e a cobra engoliu. Mas continuou a perseguir. Vendo que não havia jeito, jogou se

filho amado, e a cobra engoliu. Enfim, parou a perseguição.

E continuou a viagem muito triste. Ao chegar em Breves, haviam matado

uma cobra-grande. Ele falou sobre o que tinha acontecido e logo partiram a cobra.

Dentro dela estava seu filho amado sentado no banco, comendo banana e

jogando a casca para o porco.

(Que sorte, não!).

Informante: Benedita Rodrigues

Page 35: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

4.3. A COBRA-GRANDE ENGOLE TUDO

Mário Curica e seu filho foram pescar e levaram algumas coisas. Quando

chegaram ao meio do rio, havia uma cobra de boca aberta. Mário Curica jogou um

cacho de banana, e a cobra engoliu. Depois, jogou um porco e, posteriormente,

seu filho; a cobra engoliu os dois. Em seguida, a cobra começou a comer o casco

com Mário Curica e tudo. Quando ele chegou dentro da barriga da cobra, viu seu

filho deitado na rede comendo banana e jogando a casca para o porco.

Informante: Samara Brasil

Page 36: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

4.4. FOI A COBRA-GRANDE? Um dia, na frente de Breves (no rio), caiu a hélice do navio Padre Cícero. E

agora? Só Mário Curica podia dar um jeito nisso. Assim, chamaram-no para ir tirar

a hélice do fundo do rio.

Ao meio-dia, Mário Curica foi, chegou lá, mergulhou, fez tipitingueiro (ou

tipitinga4) e sumiu! Vendo aquilo, as pessoas pensaram que a cobra-grande tinha

engolido ele.

Às três horas da tarde, Mário Curica boiou. As pessoas disseram para ele:

___ Mário, nós pensamos que a cobra-grande tinha te engolido!

Mário Curica disse:

___ Não foi nada disso, como podem ver. Eu tava procurando a hélice até

agora!

Informante: Rosely Loba

4 FAZER TIPITINGA: revolver a terra do fundo do rio, igarapé – parte rasa –, tornando as águas

turvas, sujas.

Page 37: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

5. VISÃO FANTÁSTICA 5.1. VISÃO PRECISA

A primeira vez que Mário

Curica foi à Belém é um caso de

impressionar! Quando chegou

perto de um alto edifício (Manoel

Pinto da Silva), olhou para cima,

observou atento e disse para o

seu compadre que o

acompanhava:

___ Está quase perfeito.

Porém, está torto.

O seu compadre replicou:

___ O quanto está torto,

Mário?

Mário Curica respondeu:

___ Meio centímetro!

(Espantoso, não?).

Informante: João Guedes

Page 38: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

5.2. BOM DE VISTA E ATUANTE

Mário Curica foi à Belém. Chegando lá, ele foi à avenida Presidente Vargas.

De repente, ele observou que o edifício Manoel Pinto da Silva (até então o edifício

mais alto de Belém) estava torto. Ele saiu correndo; foi até a beira do rio, pegou

alguns braços de miriti e escorou o prédio que estava torto, para que não caísse.

Informante: Ronaldo Souza

Page 39: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

5.3. FORMIGA OU MUCUIM? O Sr. Lino Alves e o Sr. Tupinambá estavam sentados na frente da cidade.

De repente, eles avistaram o Mário Curica. O Tupinambá disse para o Lino Alves:

___ Queres ver como eu tiro um sarro com a cara do compadre Mário?

Nesse momento, o seu Tupinambá se põe de pé e começa a olhar para

uma árvore que está no outro lado do rio (Parauaú). O Mário se aproxima e

pergunta:

___ O que é que o Sr. tá vendo aí, compadre?

O Tupinambá responde:

___ Tá vendo aquela árvore ali, compadre?

O Mário responde:

___ Tô.

O Tupinambá perguntou:

___ Aquele bicho que está naquele galho é uma formiga ou um mucuim?

O Mário pega os óculos, limpa-os e pergunta:

___ Qual compadre? O que está no galho da direita ou da esquerda?

Informante: Ronaldo Souza

Page 40: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

5.4. OS MUCUINS

Havia um homem que estava fazendo uma vistoria nos prédios da frente da

cidade de Breves. Nesse momento, seu Mário ia passando por perto. O homem da

vistoria resolveu tirar um sarro da cara dele. O homem perguntou:

___ Seu Mário, estou vendo na ponta daquele pau um mucuim. Eu quero

agora que o senhor me responda: ele está sentado ou em pé?

O seu Mário Curica replicou:

___ Qual? O macho ou a fêmea?

Informante: Ronaldo Souza

Page 41: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

6. NÚMEROS PRECISOS

6.1. NOVENTA E NOVE PERIQUITOS

Mário Curica foi o primeiro morador da atual rua Capitão Assis. Naquele

tempo, existia só a sua barraquinha e muito

mato. No quintal de sua casa, havia um

mamoeiro carregado de mamões. E é

nesse mamoeiro que se passou este fato

curioso.

Numa tarde, seu Mário estava

sentado à porta dos fundos de sua casa. De

repente, chegou ao seu quintal uma

revoada de periquitos. Seu Mário ficou

observando. Nisso, um periquito furou um

mamão e entrou nele. E depois outro

periquito fez o mesmo; em seguida outro,

depois outro. . . Ao todo, seu Mário contou

noventa e nove periquitos que tinham

entrado no mamão.

Ao contar este estranho fato às pessoas, estas lhe perguntavam:

___ Mas seu Mário, não eram cem periquitos?

E Mário Curica replicava:

___ Tu achas que por causa de um periquito eu vou contar uma mentira?

Informante: Ademir Neves

Page 42: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

6.2. UMA TARTARUGA DE 149,5Kg Certa vez, seu Mário Curica estava viajando de Belém para Breves.

Durante a viagem, uns conhecidos do seu Mário pediram para que ele contasse

uma mentira. Seu Mário se recusou (e não contou mesmo). Mas ele aproveitou o

ensejo para contar um fato interessante. Ele disse:

___ Olha gente, acabei de ler numa revista uma reportagem que fala que

encontraram uma tartaruga que pesava cento e quarenta e nove quilos e meio!

E um dos presentes perguntou:

___ E por que não eram cento e cinqüenta quilos logo?

Seu Mário retrucou:

___ Você acha que por causa de meio quilo eu vou contar uma mentira?

Informante: Pedro Nascimento

Page 43: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7. SUPER OBJETOS E UTENSÍLIOS

7.1. MISTURANDO AS PEÇAS (I)

Seu Mário Curica tinha um rádio velho e uma espingarda. Ele tirou um

tempo para consertá-los. Desmontou os dois ao mesmo tempo e as peças foram

misturadas. Mesmo assim, ele conseguiu “consertar” os dois objetos.

Ele saiu à tarde para caçar. Quando estava caçando, viu um veado e atirou.

A espingarda fez “pe-lec-pe-lec! Rádio Clube do Pará”. E a caça fugiu.

E o rádio ficou em casa. Quando a sua mulher foi ligar o rádio, fez “pêi! Pêi!

Pêi!”, e ela prontamente o desligou. Quando Mário Curica chega de sua caçada

sem sucesso, sua esposa lhe fala:

___ Mário, eu acho que o Brasil está em guerra. Quando eu liguei o rádio,

só ouvi barulho de tiro.

Seu Mário explicou:

___ Não é nada disso, mulher. Eu é que fui consertar a espingarda e o

rádio e acabei trocando as peças. As peças do rádio eu coloquei na espingarda, e

as peças da espingarda coloquei no rádio. . .

Informante: Pedro Nascimento

Page 44: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.2. CONSERTANDO O RÁDIO E A ESPINGARDA

Em Breves, havia um técnico que consertava tudo quanto é aparelho.

Numa certa manhã, um rapaz foi levar um rádio para ele consertar. Depois,

outro foi levar uma espingarda. Ambos queriam os objetos consertados para à

tarde. Assim, apressado, o técnico foi consertar os dois ao mesmo tempo.

Primeiro desmontou o rádio, depois a espingarda. Na hora de montar, misturou as

peças do rádio e da espingarda. Mas montou assim mesmo.

Os homens foram pegar à tarde os seus pertences, como fora combinado.

Antes de levarem, os dois testaram. Primeiro, o rapaz ligou o rádio e fez um

estrondo forte. “Pêi!” O outro tinha um cartucho vazio e foi testar a espingarda.

Colocou o cartucho e disparou. A espingarda fez “Rádio Cultura do Pará!”.

Informante: Benedito Guedes

Page 45: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.3. MISTURANDO AS PEÇAS (II)

Mário Curica foi consertar uma espingarda e um rádio só de uma vez. Ele

colocou a peça do rádio na espingarda, e a peça da espingarda no rádio. Depois,

ele foi caçar.

Quando ele estava no mato, sua mulher ligou o rádio e aí era tiro pra todo

lado. A mulher dele disse:

___ Ai! Minha Nossa Senhora! Tão só numa guerra! Vou desligar o rádio.

Quando Mário Curica estava caçando, viu um veado, começou a fazer a

pontaria pro veado e atirou. A espingarda começou a falar:

___ Rádio Clube de Belém do Pará! Programa “Valdir Araújo!”.

Informante: Josely Costa

Page 46: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.4. RELÓGIO BOM, HEIN!

Seu Mário Curica foi para uma caçada. Enquanto descansava, tirou o

relógio do pulso e deixou numa arvorezinha. Seu Mário se esqueceu e foi-se

embora.

Muito tempo depois, passando por onde tinha esquecido o relógio, ouviu um

barulho: “tic, tac”. Olhou para o alto e viu o seu relógio preso num galho de uma

árvore. “Tic, tac”.

(Esse relógio é bom, hein!).

Informante: Helena Souza

Page 47: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.5. LAMPARINA À PROVA D’ÁGUA

Certa vez, Mário Curica e seus companheiros foram tirar madeira do fundo

do rio. Chegando lá no fundo, Mário viu que estava muito escuro. Ele subiu para a

beira do rio e pediu uma lamparina aos seus companheiros. Deram a lamparina.

Ele a levou para o fundo do rio e ficou, assim, trabalhando no claro!

(Essa Lamparina é poderosa!).

Informante: Pedro Nascimento

Page 48: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.6. E O BARCO SUMIU!

Certa vez, Mário Curica trouxe uma grande quantidade de palha do interior.

Era tanta palha que, logo após o embarque, não se podia ver o barco. Mas tudo

bem. O barco partiu do interior com destino à cidade. E o Mário Curica veio em

cima das palhas (esse barco não tinha motor).

Quando chegou na cidade, foi desembarcar a palha. Foi tirando palha,

tirando palha. . . Até que percebeu que o barco não estava mais lá, tinha ficado no

meio do caminho.

E ele nem percebeu. . . Mas a palha chegou à cidade!

Informante: Pedro Nascimento

Page 49: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.7. O CASCO SUMIU!

Mário Curica foi tirar palha na ilha de Melgaço. Ele tirou um monte de palha.

Colocou em cima de seu casco e subiu em cima dele. Vem remando até em

Breves. Ao chegar em Breves, ele foi olhar para baixo das palhas e viu que o

casco não estava mais lá. Então, ele pensou: “eu vim lá de Melgaço só em cima

das palhas”. Depois, ele começou a rir.

Informante: Maria Urbano

Page 50: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.8. O DISCO QUE TOCAVA NO ESPINHEIRO

Mário Curica tinha um disco de vinil. Esse disco caiu de suas mãos uma vez

e quebrou-se. Aborrecido, ele jogou o disco lá pro meio do mato. Esse disco ficou

preso numa árvore de espinho (tucumãzeiro). Quando dava vento, uma folha com

espinho dava no pedaço de disco, saindo a música “o que é meu, é teu. O que é

teu, é meu”.

Assim, sempre que dava vento, ouvia-se parte da música lá para as bandas

do tucumãzeiro: “o que é meu, é teu. O que é teu é meu”.

Informante: João Guedes

Page 51: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

7.9. O DISCO DO MÁRIO

Seu Mário Curica tinha um disco que se quebrou. Ele morava numa tapera

no meio do mato. Então, ele pegou o pedaço de disco e jogou lá para o meio do

mato, caindo sobre uma folha de uma árvore. Certo dia, ele ouvia um som que

vinha do mato: “Cantareira, Cantareira”. Mário foi ver o que era. Olhou para o alto

de uma árvore e viu algo inusitado: quando o vento dava, o espinho de uma folha

dava no pedaço do disco (no sentido vai-e-vem) e o som saía: “Cantareira,

Cantareira”.

(Que coisa, hein!)

Informante: Raimundo Farias

Page 52: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

8. BACABEIRAS, MANGUEIRAS E AÇAIZEIROS

8.1. TIRANDO BACABA SEM SAIR DO CHÃO

Certa vez, a mulher do Mário Curica estava gestante e desejou tomar

bacaba. Nesse dia, estava o maior temporal.

Mário Curica não estava em casa. Quando ele chegou, fugindo do temporal,

sua mulher lhe falou:

___ Mário, eu tô desejando tomar bacaba.

E o Mário respondeu:

___ Logo agora mulher! Na hora desse tempo! É... Mas eu vou atrás.

Assim, Mário Curica saiu pro mato e achou a bacabeira com cacho. Porém,

ele não sabia subir na árvore. O que fazer então? Mário teve uma idéia! Como

estava dando uma ventania, resolveu esperar o vento entortar a bacabeira. E

então aconteceu: deu um vento forte que entortou a bacabeira; esta arriou a copa

até o chão. Nisso, Mário Curica aproveitou para cortar, do chão, o cacho da

bacaba.

(Pronto! Conseguiu tirar o cacho da bacaba sem sair do chão! Se o

problema era conseguir bacaba, estava solucionado!).

Informante: Rosely Lobato

Page 53: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

8.2. O JEITO ERA GIRAR A BACABEIRA

Certa vez, Mário Curica subiu numa bacabeira com uma peconha. Quando

estava lá em cima, perto do cacho de bacaba, ouviu um tiro. “Pêi!” Quando se

espantou, viu que a bala vinha em sua direção. Nisso, ele girou a bacabeira e o

tiro pegou nela.

(Ufa! Foi por pouco!).

Informante: Raimundo Farias

Page 54: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

8.3. DESGALHANDO MANGUEIRA

Certa vez, seu Mário

Curica estava trabalhando no

terreno da Maçonaria. Ele estava

em cima da mangueira cortando

seus galhos. Porém, veja que

interessante: ele estava de

cabeça para baixo com os pés

seguros nos galhos. . . E haja a

cortar (detalhe: ele estava de

botas).

Numa dessas suas

diferentes empreitadas, a juíza de

Breves o viu e mandou chamá-lo

depois para censurá-lo. Seu

Mário Curica foi intimado a

comparecer no Fórum.

Ele foi ao Fórum.

Chegando lá, a doutora (Juíza)

começou a chamar-lhe a atenção:

___ Seu Mário, o senhor já é um homem aposentado. Não tem precisão de

fazer isso. O senhor é na verdade um “pouquista” que faz pouco caso da sua vida.

Pare de fazer isso!

A partir desse dia, seu Mário parou de desgalhar mangueiras de cabeça

para baixo.

Informante: Pedro Nascimento

Page 55: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

8.4. O PRÉDIO DE AÇAIZEIROS

Na boca do rio Pracaxi,

certa vez, seu Mário fez uma

construção diferente. Ele pegou

vários açaizeiros e construiu um

prédio de dezoito andares.

Todos os navios, princesas5

que passavam por perto não

resistiam e fotografavam aquela

maravilhosa/espantosa

construção!

Informante: Pedro Nascimento

5 PRINCESA é um tipo de navio grande para turismo.

Page 56: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

9. CASAS E FOGUETES

9.1. A CASA ALTA DO MÁRIO CURICA

Seu Mário Curica conta que tinha uma casa alta, muito alta. Dava até pra

ver de lá (Rua Capitão Assis, próximo ao atual bairro Santa Cruz) a procissão de

Nossa Senhora Santana, que passava pela avenida Rio Branco!

(Eta casinha alta!).

Informante: Benedito Guedes

Page 57: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

9.2. PROMESSA QUASE BEM PAGA

Certa vez, Mário Curica, quando morava no interior, passando por uma

grande dificuldade, fez uma promessa. Se conseguisse a graça de que precisava,

soltaria um foguete de 40Kg de pólvora.

Conseguida a graça, Mário Curica foi pagar a promessa. Mas como, onde

colocar tamanha quantidade de pólvora? Ele pegou parte de um miritizeiro (a

metade e apenas uma banda) e fez o rabo do foguete. Após pronto o foguete, ele

o soltou. O foguete foi-se embora pro céu.

E o tempo passou. Quando Mário Curica estava na sua casa, ouviu um

barulho. Foi ver o que era e percebeu que era parte do seu foguete que tinha

voltado do céu. Chegou próximo ao foguete e viu um envelope com uma carta.

Abriu o envelope, leu a carta. Nela estava escrito o seguinte: “Da próxima vez que

pagares uma promessa, não faça um foguete desse tamanho para me importunar

aqui no céu. Ass: Jesus Cristo”.

Informante: Pedro Nascimento

Page 58: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10. HISTÓRIAS RAPIDINHAS

10.1. UMA MENTIRA RAPIDINHA

Mário Curica tinha a fama de ser muito engenhoso, muito criativo. Certa

vez, um amigo dele queria ver se ele era tão rápido em inventar histórias.

Mário Curica estava na beira de um igarapé. Seu amigo chegou e disse:

___ Mário, conta uma mentira rapidinho.

Mário Curica retrucou:

___ Pssss! Fala baixo. Uma paca acabou de pular n’água. Estou esperando

ela boiar. . . Espere aqui, compadre. Vigie enquanto vou a casa pegar minha

espingarda.

O amigo do Mário ficou esperando, esperando. . . Até de tarde e nada. Foi-

se embora. Quando ele se encontrou depois com Mário Curica, disse:

___ Mas Mário, eu fiquei esperando a paca até agora à tarde e não tinha

nada. Você me enganou!

Mário Curica replicou:

___ Não era para contar uma mentira rapidinho?

Informante: Francisca Amaral

Page 59: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10.2. ESPERANDO UMA PACA BOIAR Mário Curica estava num casco na beira do rio. Passou o compadre dele e

disse:

___ Conte uma mentira sem pensar, seu Mário!

Mário Curica disse:

___ Cale a boca, compadre! Pulou aqui agorinha uma paca. Estou

esperando ela boiar. Fique aqui, compadre, que eu vou lá em casa buscar minha

espingarda.

O compadre ficou vigiando. Isso eram três horas da tarde. E o tempo

passou... E deram seis horas da tarde; e nada de Mário Curica voltar. O compadre

dele resolveu não esperar mais e foi embora.

Passou na casa de Mário Curica e viu que este estava se embalando na

rede. O compadre perguntou:

___ Compadre, o senhor não veio buscar a espingarda para matar a paca?

Mário Curica respondeu:

___ Não! O senhor não mandou eu contar uma mentira sem pensar?

Informante: Cristiane Aguiar

Page 60: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10.3. QUE SUSTO!

Seu Ataíde estava há um tempão tentando o seu Mário Curica para que lhe

contasse uma mentira. Só que o Mário não aceitava. Até que um dia. . .

Seu Mário ia passando pela avenida Presidente Getúlio. Era tarde e estava

chovendo. Seu Ataíde voltou a insistir na sua proposta:

___ Seu Mário, conte uma mentira!

Mário Curica disse:

___ Agora não posso, compadre. Inclusive eu tenho uma notícia, mas não

sei se posso lhe dizer. Mas eu vou dizer, tenho que dizer. Eu vinha passando pela

sua casa e sua mãe estava passando muito mal. Já tinham procurado um táxi

para levar ela no hospital e não tinham encontrado.

Seu Ataíde prontamente saiu para ir até a casa de sua mãe. Nessa hora,

não tinha chuva, não tinha nada que o impedisse. Quando seu Ataíde chegou lá,

sua mãe estava bem e olhando pela janela.

(Que susto para o seu Ataíde, não! Queria ouvir uma mentira e a ouviu.

Ainda bem que era só isso!).

Informante: Raimundo Farias

Page 61: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10.4. SEU RIBAMAR E MÁRIO CURICA

Certa vez, seu Ribamar estava sentado à beira do rio, próximo ao atual

posto São Benedito. Seu Mário Curica ia passando por perto e o seu Ribamar

disse:

___ Mário, vem cá. Conta-me uma mentira rapidinho.

Seu Mário respondeu:

___ Agora não dá, porque a dona Pequichita está te chamando. É para o

senhor ir lá na sua casa com ela.

O seu Ribamar foi falar com a dona Pequichita. Chegando lá, ele

perguntou:

___ O que foi, Pequichita?

Ela respondeu:

___ Não foi nada, Ribamar. Não estou te chamando.

(Seu Mário não perdia tempo. Inventava histórias e falava tão sério que

eram tomadas como verdade!)

Informante: Benedito Guedes

Page 62: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10.5. O PASSARINHO FUGIU. . . O seu Tupinambá estava na frente da igreja Matriz. Quando o seu Mário ia

passando por perto, o seu Tupinambá lhe disse:

___ Seu Mário, me conte uma mentira rapidinho.

Seu Mário respondeu:

___ Agora não vai dar, não, compadre, pois o meu passarinho voou com

gaiola e tudo, e estou atrás dele!

Informante: Raimundo Farias

Page 63: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

10.6. O JACARÉ NO BUEIRO

Seu Mário Curica vinha descendo a avenida Presidente Getúlio. Uma amiga

sua vinha subindo. (Naquele tempo, essa avenida não era asfaltada, mas tinha

um grande bueiro).

Ela pediu para ele contar uma mentira. Seu Mário se recusou. Foram

conversando. Chegando próximo ao buraco do esgoto (bueiro), ele deu um pulo.

Ela se espantou e perguntou:

___ O que foi, seu Mário?

Mário Curica respondeu:

___ Acabo de ver um jacaré entrando nesse esgoto. Fique aqui vigiando,

comadre, que vou lá em casa buscar um machado. Quando a água (do rio)

encher, o jacaré sai, e eu o pego.

Assim, seu Mário foi buscar o machado. A mulher ficou reparando. Ela ficou

lá, na beira do rio. Ia para um lado e para outro, até que alguém indagou para ela:

___ O que a senhora faz aí? Tá esperando barco?

Ela respondeu:

___ Não. Estou vigiando esse buraco, porque nele entrou um jacaré. O seu

Mário foi à casa dele buscar um machado e está demorando (era quase meio-

dia).

A mulher esperou, esperou. . . e nada do seu Mário voltar.

(Ela tinha pedido para ele contar uma mentira rapidinho... E foi o que

aconteceu.).

Informante: Raimundo Farias

Page 64: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

11. OUTRAS HISTÓRIAS

11.1. CORRENDO ATRÁS DO PATO DO CÍRIO Certa vez, seu Mário foi passar o círio em Belém. Ele ia levando pato para o

almoço do Círio. Chegando no porto, ele foi negociar com o taxista. Ele perguntou:

– Quanto você cobra pra me levar até a Basílica de Nazaré?

O taxista respondeu:

– Vinte reais.

E seu Mário voltou a perguntar:

– E quanto você cobra para levar o paneiro com pato?

O taxista respondeu:

– Não custa nada levar o pato. É de graça!

Então Mário Curica concluiu:

– Então você pode levar o pato que eu vou correndo atrás.

Informante: Simei Miranda.

Page 65: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

11.2. UMA FOLHA DE ABADE6 FAZ TODA A DIFERENÇA

Seu Mário Curica conhecia sua casa como a palma de sua mão, ou melhor,

como a palma de seu pé. Este misterioso fato aconteceu quando ele ia subir na

escada de sua casa. Quando ele pisou com o pé direito no primeiro degrau,

imediatamente sentiu a diferença. Ele não continuou o percurso, ficou parado

procurando explicação para a diferença no degrau. Seu Mário disse:

– Alguma coisa está errada por aqui. O primeiro degrau desta escada está

mais alto. Ou a terra subiu embaixo da casa, ou o céu ficou mais baixo.

Foi aí que seu Mário teve a idéia de olhar para a sola da sandália que

estava usando... Quando ele foi olhar (adivinhem o que viu?), viu que havia uma

folha de abade presa na sola da sandália.

Informante: Davi Ferreira

6 Abade é uma folha pequena e bem fina de papel utilizada para envolver tabaco no preparo caseiro de fumo.

Page 66: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

SOLICITAÇÃO AOS LEITORES

Devido à expressiva criatividade e imaginação do senhor “Mário

Curica”, não seria de estranhar que aparecessem histórias e mais histórias cuja

autoria lhe fosse atribuída. Assim, se você conhece uma dessas histórias que

ainda não se encontra neste trabalho, solicitamos que nos procure e nos conte ou

a escreva e nos forneça. Dessa forma, estaremos contribuindo na definição de

uma cultura genuinamente brevense e na expansão da tão carente produção

bibliográfica local.

Leonildo Guedes

Page 67: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

ALGUNS DOS NOSSOS CONTADORES DE HISTÓRIAS (COLABORADORES)

Ademir Neves

Ajax Guedes

Ana Kátia Lopes

Benedito Guedes

Davi Ferreira

Enilda Pereira

Francisca Guedes

Gleiciane Barbosa

Helena Souza

Janilson Ladislau

Jhonai Bitencourt

João Guedes

Maria Lucicleide Souza

Neuzilene Aquino

Patrícia Silva

Pedro Nascimento

Raimundo Farias

Rogério dos Anjos

Sebastião Oliveira

Simei Miranda

Page 68: MÁRIO CURICA NO IMAGINÁRIO POPULAR BREVENSE

NOSSOS TRANSCRITORES AUXILIARES7

01. Ademir Neves (professor)

- O “pum” do jacaré

02. Benedita Rodrigues

- Um dia de sorte

- A Cobra-Grande persegue Mário Curica

03. Cristiane Aguiar

- Esperando uma paca boiar

04. Josely Costa

- Eta peixão!

- A bacabeira da anta

- Misturando as peças (7.3)

05. Maria Urbano

- O casco sumiu

06. Ronaldo Souza (professor)

- Bom de vista

- Formiga ou mucuim?

07. Rosely Lobato

- Tirando bacaba sem sair do chão

- Foi a Cobra-Grande?

- Mais rápido que um martelo

08. Samara Brasil

- A Cobra-Grande engole tudo

- Assando peixe embaixo d’água

09. Simone Rocha

- Quase caolho!

10. Valdirene Corrêa

- Espingarda mágica 7 Com exceção dos professores, os demais transcritores foram alunos do professor Leonildo Guedes (4ª série/2002).

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Ninguém é, sem ter se feito assim. Kierkegaard