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1 MARIA JOSÉ PARCHEN PROFISSIONALIDADE DOCENTE E AS CONDIÇÕES DA DOCÊNCIA PRECARIZADAS Estudo Dirigido aos Gestores Escolares da Rede Estadual de Educação do Paraná, elaborado como Proposta de Material Didático-Pedagógico, para PDE/2007. Área: Gestão Escolar CURITIBA 2008

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Page 1: MARIA JOSÉ PARCHEN - Paraná1 2008 MARIA JOSÉ PARCHEN PROFISSIONALIDADE DOCENTE E AS CONDIÇÕES DA DOCÊNCIA PRECARIZADAS Estudo Dirigido aos Gestores Escolares da Rede Estadual

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MARIA JOSÉ PARCHEN

PROFISSIONALIDADE DOCENTE E AS CONDIÇÕES DA DOCÊNCIA PRECARIZADAS

Estudo Dirigido aos Gestores Escolares da Rede Estadual de Educação do Paraná, elaborado como Proposta de Material Didático-Pedagógico, para PDE/2007. Área: Gestão Escolar

CURITIBA 2008

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APRESENTAÇÃO

O presente Estudo Dirigido aos gestores escolares das escolas da Rede Estadual de Educação do Paraná, objetiva promover a informação, a análise e a discussão sobre as questões da Profissionalidade Docente e suas relações com desestruturação dos professores, devido à precarização das condições de trabalho.

A proposta, justifica-se a partir da possibilidade de inclusão nos processos de

gestão dos diretores escolares, de ações que possam valorizar, desenvolver e facilitar o exercício da profissão docente, tornando-os um “ponto de referência” para desencadear iniciativas e implementação de inovações que despertem os protagonistas do contexto escolar para vivências compartilhadas que venham situar e reinterpretar o papel de professores e melhorar as relações interpessoais e ambiente de trabalho. Está ao alcance dos dirigentes escolares promover um clima de trabalho receptivo, onde os professores sintam-se bem e possam crescer pessoal e profissionalmente. As discussões e reflexões coletivas sobre as dificuldades encontradas e possíveis soluções dos problemas, as relações humanas produtivas e criativas assentadas na valorização das experiências individuais, o incentivo à formação continuada em serviço, a participação na tomada de decisões, podem promover o compromisso, a responsabilidade, a motivação e a iniciativa para suprir e superar algumas necessidades e perspectivas dos professores, amenizando e até superando os aspectos que afetam o desempenho e a saúde do professor e, assim contribuir para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas. O Estudo Dirigido é uma técnica de trabalho individualizado, para estudo e reflexão. No entanto este material contribui para uma discussão dirigida em grupo, que possibilite a implementação de ações que colaborem com a melhoria das condições de trabalho dos professores, no local onde executa sua tarefa. O presente trabalho é composto por textos básicos, elaborados a partir da contribuição de diferentes autores e pesquisadores que se dedicam ao estudo em educação, frente a dilemas da prática cotidiana de professores, com orientações para discussão, reflexões e práticas, voltadas para toda a equipe educacional. Na primeira parte, destaca-se os elementos da profissionalidade docente, o conhecimento dos componentes legais que asseguram a valorização e conquistas da profissionalização e requisitos das qualidades e competências consideradas ideais para “ser professor”. Atividade 1: questões para discussão, análise e síntese sobre os atributos da Profissionalidade Docente. Na segunda parte volta-se a atenção para a saúde dos professores que, acometidos pelos fatores que conduzem ao estresse ocupacional, penetram num “ciclo degenerativo da eficácia docente” e as ações que possibilitem prevenir e amenizar os efeitos de caráter negativo que afetam a personalidade, conhecidos

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amenizar os efeitos de caráter negativo que afetam a personalidade, conhecidos como “Síndrome de Burnout”, visando o estabelecimento de um ambiente mais favorável ao exercício da profissão docente. Atividade 2: Leitura coletiva de texto informativo e preventivo sobre os riscos do desgaste da saúde vinculado à natureza do trabalho de professor, que podem levar à Síndrome de Burnout. Aplicação de questionários dirigidos ao corpo docente: - Perfil profissiográfico, - Valores pessoais relacionados ao trabalho - Questionário Maslach Burnout Inventory (MBI)

- Inventário de Estilos de Resiliência.

A terceira parte refere-se ao imaginário – crenças, valores e mitos sobre “ser professor” que interagem nos processos de identificação dos docentes com o seu trabalho e a crise que se estabelece ao verificarem a dinâmica contraditória e fragmentada em que historicamente e socialmente estão mergulhados. Atividade 3: Leitura coletiva de texto para reflexão e discussão sobre o significado de “ser professor”. Memorial sobre a história de vida de professores.

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A profissionalidade docente é um tema cuja reflexão e estudos têm

assumido novas e importantes configurações nas últimas décadas e,

principalmente no momento atual quando a política pública para a educação

consiste em verificar índices e resultados, perpassando-se pela qualidade do

ensino nas escolas públicas, discussão esta muito significativa quando se trata

de contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores.

Para Esteve (1999, p. 39) além de uma visão idílica da profissão ou da

sua percepção como semiprofissão, é imprescindível delinear o campo da

formação e da atuação sempre em torno de conceitos fundamentais relativos à

profissionalidade: profissionalização e profissionalismo, como requisitos

fundamentais para a sua defesa.

O que caracteriza a profissão docente é o requisito de domínios de

campos especializados do conhecimento, com forte ligação à prestação de

serviços, na sua maioria, públicos, ligados a um grupo social regulado por

princípios éticos e políticos que explicitem e sistematizem os saberes

adquiridos e desenvolvidos em conhecimento e em formação.

Professores são os responsáveis pelos processos institucionalizados

de educação e sua atividade diz respeito ao processo ensino-aprendizagem

nos diferentes tempos e espaços, caracterizando-se por um trabalho interativo

com seres humanos que possuem peculiares, tornando-o um trabalho também

social, dada as diferentes histórias, ritmos, interesses, necessidades de seus

alunos sem esquecer a dimensão afetiva presente.

Os profissionais, nas diferentes profissões, desenvolvem determinados

comportamentos, destrezas, valores, atitudes, constroem conhecimentos que

constituem o que é específico da profissão, ao que se chama de

ROTEIRO DE ESTUDO

TEMA 1 – PROFISSIONALIDADE DOCENTE: PROFISSIONALIZAÇÃO E PROFISSIONALISMO

Encaminhamento: Leitura , reflexão do texto

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profissionalidade . O caráter sócio-profissional é uma das referências para se

estabelecer diferenças entre as categorias de profissões, ocupações e ofícios

(Souza, 2007, p. 2 ). No que diz respeito ao professor, refletir sobre ela,

segundo Sacristán (1995, p. 65), remete ao “... tipo de desempenho e de

conhecimento específicos da profissão docente”. De acordo com as análises de

Libâneo (2004, p. 75), a profissionalidade docente pode ser definida como o “...

conjunto de requisitos profissionais que tornam alguém um professor, uma

professora, ....”. Tais requisitos diferem os professores dos profissionais de

outras áreas, dada à natureza e especificidade da sua profissão.

A profissionalização é uma das prerrogativas da garantia do exercício

profissional de qualidade: formação inicial e continuada nas quais o professor

aprende e desenvolve os requisitos e atitudes essenciais à sua prática,

remuneração e garantias trabalhistas compatíveis com a natureza e exigências

da profissão e condições satisfatórias de trabalho (recursos físicos e materiais,

ambiente e clima de trabalho, práticas de organização e gestão). Se para

Souza (2007) é luta política, engajada nos sentidos populares e democráticos

frente à autonomia profissional e as conquistas negociadas para a

ressignificação coletiva da categoria frente ao estabelecimento de um suporte

legal para o exercício da atividade , a criação de instituições específicas para a

formação de professores e principalmente o fortalecimento de associações

profissionais da categoria, para Giroux (1987) é preciso sobretudo uma análise

crítica e reflexiva das diferentes esferas de atuação dos professores,

direcionadas para as possibilidades concretas de mudança e para a criação de

novas formas de respostas aos diversos tipos de opressão e exploração na

relação com o trabalho contrapondo-as ao discurso oficial pautado pelo

processo de centralização de decisões e propagação de mecanismos de

controle sobre o produto do trabalho dos professores.

O profissionalismo é descrito por Libâneo (2004), como desempenho

competente e compromisso com os deveres e responsabilidades, incorporados

a um comportamento ético e político expresso nas atitudes relacionadas à

atuação profissional: domínio dos conteúdos e métodos de ensino, a dedicação

ao trabalho, a participação na construção coletiva do projeto político

pedagógico, o respeito aos alunos, à diversidade cultural e social dos mesmos,

a assiduidade, a pontualidade, o rigor no preparo e na condução das aulas.

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Assim, não se trata da pretensão do desenvolvimento de um

profissionalismo acrítico, que sustente o sentido de prepotência e poder

inquestionável, mas de partilhar com Libâneo (2004) o entendimento sobre a

necessidade de resgate da profissionalidade docente, de redefinição das

características da profissão na busca da construção da identidade profissional

como requisitos que, entre outros, são necessários para que seja possível

favorecer aos que passam pela escola, melhores condições de exercer a

liberdade política e intelectual. E, que, ainda, são necessários para que o

coletivo dos professores desenvolva, desde a formação inicial, uma nova

cultura profissional, estando mais próximo de alcançar as aspirações de maior

credibilidade e dignidade profissional.

PROFISSIONALIDADE PROFISSIONALIZAÇÃO PROFISSIONALISMO

Requisitos profissionais

que tornam alguém

professor.

- Formação inicial e

continuada

- Remuneração compatível

- Benefícios

- Condições de trabalho

- Conquistas da categoria

- Desempenho competente e ético

(visão dialética de formação humana)

- Compromisso com os deveres e

responsabilidades profissionais

- Atitudes, valores e crenças

profissionais

- Domínio da matéria e métodos de

ensino

- Dedicação ao trabalho

- Participação coletiva nas decisões

escolares

- Assiduidade

- Pontualidade

FONTE: LIBÂNEO (2004)

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ATIVIDADE Em conjunto com a equipe pedagógica, discuta as questões e organize um relatório com o objetivo de esclarecer os protagonistas do contexto escolar sobre os requisitos da profissionalidade docente praticados no estabelecimento de ensino.

I – PROFISSIONALIZAÇÃO

1. De que forma é dado ao professor o conhecimento sobre o seu regime de trabalho, normas, leis e requisitos atuais do exercício profissional da sua categoria?

2. Que regulamentação é respeitada em matéria de direito de reunião de professores, associação corporativa e direito sindical?

3. São autorizadas faltas pelo exercício de atividade sindical? 4. Como são discutidas no âmbito da escola as questões do direito de greve? 5. Como são comunicadas as normas de procedimento e deveres funcionais? 6. Como os professores são orientados sobre remuneração, horas-atividade,

estágio probatório, progressões, férias, afastamentos, remoção, etc.? 7. Que sanções podem ser aplicadas pela direção com relação à faltas não

justificadas, atrasos e/ou saídas antecipadas dos professores? 8. Como os professores são informados do acervo de material e recursos

didáticos e sua utilização? 9. Como é construído o Projeto Político-Pedagógico? 10. Como se dá a formação em exercício dos professores? Está regulamentada? É obrigatória? II – PROFISSIONALISMO - Como é verificado se o professor: 1. Domina os conteúdos da sua disciplina? 2. É detentor de uma cultura geral satisfatória? 3. Domina métodos e procedimentos de ensino? 4. Desenvolve os conteúdos de sua matéria de forma contextualizada? 5. Tem noção quanto ao seu papel social enquanto intelectual formador? 6. Tem conhecimento das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) e

sabe manejar os equipamentos tecnológicos, à sua disposição na escola? 7. Conhece e sabe aplicar as modalidades e instrumentos de avaliação da

organização escolar e de aprendizagem? 8. Busca experiências inovadoras e transmite os resultados aos seus colegas de

trabalho? 9. Participa de forma produtiva de trabalho em grupo com seus colegas e promove

esse tipo de atividade com seus alunos? 10. Respeita a diversidade social e cultural dos seus alunos e aplica conceitos de

atitudes e valores na sua prática?

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Encaminhamento: Leitura , reflexão do texto

A escolarização, nos últimos tempos vem absorvendo o conjunto de transformações que produzem a modernidade. Carlotto (2003) narra que a partir da perspectiva histórica de que se considerava a profissão docente um sacerdócio, uma vocação de abnegação e de dedicação quase heróica aos alunos, através dos tempos incorporou-se a visão de que o professor detém privilégios, com alto nível de qualificação e de autonomia. Codo (2006), descreve que no passado, o professor trazia em seu âmago, uma identidade carregada de orgulho profissional, a profissão gozava de amplo prestígio social. Sob o caráter elitista projetado sob os educadores, as condições as condições de trabalho foram relegadas à segundo plano. A precariedade das organizações das escolas e dos processos educativos correspondem à rudimentaridade dos processos produtivos desde a sua origem. Baseadas no paradigma da civilização industrial, as questões relativas às escolas, atualmente, seguem um modelo competitivo, massificado, avaliado a partir de parâmetros da produtividade e resultados e esta visão de educação sob a perspectiva mercantil, causa prejuízos às pessoas envolvidas no processo. A profissão docente recebe hoje, as consequências severas da precarização das condições de trabalho associadas às pressões impostas pela nova organização de trabalho. Responsáveis pelos processos institucionalizados de educação, os professores convivem com as diferentes concepções e valores atribuídos à educação e ao processo ensino-aprendizagem, além de suportarem as exigências feitas em relação à profissão e a forma de desempenhá-la. Segundo Esteve (1999), a carga de responsabilidades e exigências que se projetam sobre os educadores tem aumentado, coincidindo com uma rápida transformação do contexto social, o qual tem sido traduzido em uma modificação do papel do professor.

Na visão de Carlotto (2003), a organização social do trabalho do professor separa a concepção e o planejamento da tarefa, da sua execução. Sua atividade é fragmentada, sem o controle sobre o conteúdo e a forma de transmitir seu conhecimento. Os professores passaram a preocupar-se de forma intensa não só com suas funções, mas também com sua carreira, sua segurança e seu salário. O declínio da ocupação docente, mudanças de gênero (desfiminização da função), mudanças de local de trabalho, falta de recursos materiais e de recursos na escola, ferem profundamente a identidade do professor. A precariedade dos laços afetivos também são motivos de preocupação, as relações conflituosas com os alunos, o autoritarismo dos superiores, a falta de solidariedade dos colegas, a ansiedade dos pais são a

TEMA 2 - A SAÚDE DO PROFESSOR – CONDIÇÕES PRECARIZADAS DE TRABALHO E A SÍNDROME DE BURNOUT

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principal fonte de tensão, pois dizem respeito ao clima social da escola, e a motivação dos professores dependem destas relações, associadas às condições físicas do espaço em que atuam para sentirem-se confiantes. Considera-se também preocupante as reformas propostas pelos sistemas de ensino oficiais, mudanças curriculares constantes e novas modalidades de avaliação (exames e provões), contribuintes para um cotidiano profissional desconcertante e causadores de uma tensão permanente que causam sofrimento no trabalho e atingem a identidade profissional. (Codo, 2006, p.84). O professor faz muito mais do que suas condições de trabalho permitem. Muitas são as atribuições impostas, aquém de seu interesse e da sua carga horária. Além de cuidar de suas turmas, deve fazer trabalhos administrativos, planejar, reciclar-se, investigar, orientar alunos, atender os pais. Também deve organizar atividades extra-classe, participar de reuniões, seminários, conselho de classes, efetuar processos de recuperação, preencher diários de classe, além de cuidar e preservar o patrimônio. Apesar de todo esforço, o professor, muitas vezes é excluído das decisões institucionais, do repensar a escola, é relegando a simples executor de propostas e idéias alheias. Esta intensificação do fazer docente e o isolamento lhe ocasionam conflitos, pois sobrecarregado não encontra tempo para aprimorar seus estudos, e não vê perspectiva de desenvolvimento e realização profissional, a renúncia à família, ao lazer ...

A necessidade de desempenhar vários papéis, muitas vezes contraditórios, exigem do professor manter o equilíbrio e flexibilidade. Exige-se que ele seja amigo e companheiro do aluno, mas ao mesmo tempo, adote um papel de julgamento e controle. Algumas vezes lhe exigem que atenda a especificidade de cada aluno e em outras que considere as políticas educacionais para as quais as políticas sociais o direcionam a serviço das necessidades políticas e econômicas vigentes. Desta forma o sucesso da prática docente nunca esteve assegurado, pois nesta profissão sempre há mudanças, ambigüidades, conflitos, opacidades e mecanismos de defesa. A escola, como instituição social, está em crise, o professor está em crise, conseqüência da própria crise em que vive a sociedade e o homem (Teles, 1992).

As crises impulsionam às mudanças, e as mudanças excessivas em um tempo demasiadamente curto, de acordo com Esteve (1999) provocam desastrosas tensões e desorientações. Tirado de um meio cultural conhecido, em que se desenvolveu até então sua existência, e colocado em um meio completamente distinto ao seu, sem poder voltar a antiga paisagem social de que se lembra, o professor que tenta resistir a estas mudanças, que ainda pretende manter o papel de modelo social, o de transmissor exclusivo de conhecimento, detentor de uma hierarquia possuidora de poder, aquele que possuí expectativas de atingir metas irreais e sente-se desapontado quando não é recompensados em seus esforços, tem maiores possibilidades de ser questionado e desenvolver a Síndrome de Burnout.

Definida por Maslach (1982, citada por Carlotto, 2002) como uma tensão emocional crônica gerada a partir do cuidado em uma relação direta, contínua e altamente emocional e excessiva com outros seres humanos, é constituída por três dimensões: exaustão emocional caracterizada por uma falta ou carência de energia, despersonalização que se caracteriza por tratar os alunos, colegas e a instituição como objetos e a baixa realização pessoal no trabalho, com tendência a se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas

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sentem-se infelizes consigo próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional. Seu início e insidioso, por ter seus sintomas atribuídos ao cansaço, devido ao excesso de trabalho. Sua evolução pode levar anos e até mesmo décadas, surgindo paulatinamente, cumulativamente e progressivamente em severidade, comprometendo os aspectos físicos, psíquicos, emocionais e provocando distúrbios de comportamento. Sua prevenção e cura não é uma tarefa individual e solitária. Deve contemplar uma ação conjunta da instituição de ensino e sociedade. As reflexões e ações geradas devem visar à busca de alternativas para possíveis modificações ambiente de trabalho, mudanças de comportamento e novas posturas vivenciais.

ATIVIDADE Aplique os questionários ao corpo docente. Após reflexão sobre o texto informativo, discuta em grupo os resultados encontrados, com o objetivo de encontrar possíveis ações conjuntas que possam contribuir para a melhoria das condições e ambiente de trabalho.

QUESTIONÁRIO DE PERFIL PROFISSIOGRÁFICO

O questionário será respondido pelo entrevistado através da anotação de um (X) na alternativa correspondente à resposta citada. I – DADOS PESSOAIS 1) Função ( ) professor Ens. Fundamental ( ) professor Ens. Médio ( ) professor da EJA 2) Gênero ( ) masculino ( ) feminino 3) Faixa de idade ( )20 a 29 anos ( )30 a 39 anos ( )40 a 49 anos ( )50 a 59 anos ( )mais de 60 anos 4) Estado civil ( ) solteiro(a) ( ) casado(a) ( ) separado(a) ( )divorciado(a) ( ) viúvo(a) 5) Número de filhos ( ) nenhum ( ) 01 ( ) 02 ( ) 03 ( ) 04 ( ) 05 ( ) mais de 05 II – DADOS PROFISSIONAIS 6) Escolaridade ( ) superior completo ( ) especialização ( ) mestrado ( ) doutorado 7) Tempo de formado(a) no Ensino Superior ( )6 meses a 1 ano( )1 a 5 anos( )6 a 10 anos( )11 a 15 anos( )mais de 16 anos 8) Tempo de atuação no magistério ( )6 meses a 1 ano( )1 a 5 anos( )6 a 10 anos( )11 a 15 anos( )mais de 16 anos 9) Carga Horária Total Semanal ( )20hs ( ) 21 a 30hs ( ) 31 a 39hs ( ) 40hs ( ) 41 a 60hs 10) Número de padrões ( )01 (20hs)( ) 02 (40hs) ( )01 + aulas extraordinárias( ) 02 + aulas extraordinárias 11) Locais de trabalho (público ou privado) ( ) 01 ( ) 02 ( ) 03 ( ) 04 ( ) mais de 05 12) Exerce outra atividade além do magistério/trabalho na escola? ( ) sim ( ) não Qual? ____________________________________________ III – QUESTÕES PESSOAIS

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13) Os proventos recebidos da atividade docente/função na escola, representam que porcentagem de suas despesas? ( )10% ( )20% ( )25% ( )30% ( )40% ( )50% ( )75% ( ) 80% ( ) 100% 14) Moradia ( ) própria quitada ( ) própria financiada ( ) alugada ( ) cedida ( ) mora com parentes/amigos ( ) outras 15) Meio de transporte utilizado para o deslocamento ao local de trabalho ( ) veículo próprio ( ) transporte coletivo ( ) carona ( ) táxi ( ) motocicleta ( )bicicleta ( )a pé 16) Os finais de semana são dedicados: ( )à família ( )vida social ( )lazer ( )estudos ( )trabalho ( ) descanso 17) Pratica de atividades físicas ou esportes - regularidade ( ) sim ( ) não ( ) 1x por semana ( ) 2x por semana ( ) 3 x por semana ( ) todos os dias 18) Manifesta algum problema de saúde que associa ao seu trabalho? ( ) sim ( ) não Qual? _________________________________________

VALORES PESSOAIS RELACIONADOS AO TRABALHO

1

Sempre 2

Freqüentemente 3

Às vezes 4

Raramente 5

Nunca

Analise e assinale com X, a ocorrência dos fenômenos descritos, de acordo com a graduação proposta acima:

1 2 3 4 5

Sinto-me inassertivo(a) (negativo(a)), pois a minha tendência

é de reprimir meus sentimentos no ambiente de trabalho

Envolvo-me tanto em meu trabalho que esqueço-me de

minhas outras necessidades (família, social, lazer, etc.)

Percebo que reajo intensamente aos acontecimentos que

ocorrem em meu trabalho

Valorizo mais a auto-avaliação em meu trabalho, do que a

avaliação feita por outras pessoas (alunos, pais, colegas,

pedagogos, etc.)

Sinto que minhas decisões e ações podem controlar os

acontecimentos e suas consequências provenientes do meu

trabalho

Atribuo às minhas características pessoais a causa do meu

estresse no trabalho

Consigo bons resultados com e através dos outros

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Necessito de ajuda e estímulo de profissionais para a

resolução de minhas dificuldades no trabalho

Um clima amistoso é fundamental para que eu realize

satisfatoriamente o meu trabalho

QUESTIONÁRIO MASLACH BURNOUT INVENTORY (MBI) (1)

0 nunc

a

1 uma vez ao ano

2 uma vez ao

mês ou menos

3 algumas vezes ao

mês

4 uma vez

por semana

5 algumas

vezes por semana

6 todos

os dias

Leia atentamente as seguintes afirmações pontuando, o mais

sinceramente possível, conforme a intensidade indicada acima

Pont

1 Sinto-me esgotado(a) emocionalmente devido ao meu trabalho

2 Sinto-me cansado(a) ao final da jornada de trabalho

3 Quando levanto-me pela manhã e vou enfrentar outra jornada de trabalho sinto-

me cansado(a)

4 Posso entender com facilidade o que sentem alunos

5 Creio que trato alguns alunos como se fossem alguns objetos impessoais

6 Trabalhar com pessoas o dia todo me exige grande esforço

7 Eu lido eficazmente com os problemas dos alunos

8 Meu trabalho deixa-me exausto(a)

9 Sinto que através do meu trabalho influencio positivamente na vida dos outros

10 Tenho me tornado mais insensível com as pessoas desde que exerço este

trabalho

11 Preocupa-me o fato de que este trabalho esteja me endurecendo

emocionalmente

12 Sinto-me com muita vitalidade

13 Sinto-me frustrado(a) em meu trabalho

14 Creio que estou trabalhando em demasia

15 Não me preocupo realmente com o que ocorre com os alunos que atendo

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16 Trabalhar diretamente com os alunos me causa estresse

17 Posso criar facilmente uma atmosfera relaxada para os alunos

18 Sinto-me estimulado(a) depois de trabalhar em contato com os alunos

19 Tenho conseguido muitas realizações em minha profissão

20 Sinto-me no limite das minhas possibilidades

21 Sinto que sei tratar de forma adequada os problemas emocionais no meu

trabalho

22 Sinto que os alunos culpam-me de algum modo pelos seus problemas

(1) Adaptado de C.Maslach, S.E. Jackson y L. Schwab. TEA Editiones, S.A. Madrid, Espanha, 1997.

INVENTÁRIO DE ESTILOS DE RESILIÊNCIA

1 totalmente

em desacordo

2 em

desacordo

3 nem de acordo, nem

em desacordo

4 de acordo

5 totalmente de

acordo

Assinale ao lado das afirmações a seguir, considerando o que melhor expresse sua forma de ser, seguindo a

indicação numérica acima

1

2

3

4

5

1 Freqüentemente trabalho duro pois é a melhor maneira para atingir minhas metas

2 Prefiro atividades que me tragam experiências novas mesmo que tenha que me esforçar mais

3 Não tenho porquê me esforçar no meu trabalho uma vez que o resultado é sempre o mesmo

4 Não engulo “sapos”. Aos diretamente envolvidos, digo exatamente o que penso das pessoas e situações

5 Meus amigos me dizem que custo a entender como se sentem

6 Mesmo me sentindo mal, sou capaz de manter o controle para que as pessoas ao meu redor não percebem meus sentimentos

7 Tenho dificuldade em encontrar as palavras necessárias para expressar minhas emoções

8 Quando alguém tem um problema, sei exatamente como se sente

9 Me emociono facilmente com qualquer coisa, não há necessidade que seja uma situação maravilhosa

10 Procuro manter hábitos saudáveis de vida para garantir um futuro melhor

11 Sou uma pessoa curiosa 12 Se algo não dá certo, vou tentando outras alternativas até

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encontrar uma solução 13 Não perco o sono tentando resolver o que está fora do meu

alcance

14 Considero que meu trabalho é importante socialmente e não me importo em dedicar todos os meus esforços

15 O que mais me atrai no meu trabalho são as novidades e inovações nos procedimentos

16 Não importa quanto me empenhe, em geral nada consigo apesar de meus esforços

17 Expresso o que penso ou sinto aos que estão envolvidos na questão, mesmo que minhas opiniões não sejam agradáveis a estes

18 É difícil que eu perceba quando um amigo/a esteja passando por um mal momento

19 Não consigo controlar as emoções, sou transparente com meus sentimentos

20 Quando não estou bem posso expressar-me verbalmente a respeito

21 Não necessito que as pessoas me expliquem seus sentimentos, posso compreendê-los sem dificuldade

22 Me emociono com facilidade 23 Posso contornar as dificuldades, mesmo que a situação

pareça desfavorável

24 Evito situações desafiadoras

25 Tenho obtido bons resultados mesmo diante de dificuldades e desafios

26 Quando sinto que me prejudicam, procuro esclarecer e reverter o ocorrido diretamente com os envolvidos na situação

27 Diante das dificuldades, examino com cuidado todas as alternativas de solução

28 Me preocupo e me identifico verdadeiramente com o meu trabalho

29 Me atrai as atividades e situações que envolvem desafio pessoal

30 Ainda que me empenhe, não obtenho o que pretendo

31 Só percebo os meus próprios sentimentos, as emoções dos demais não possuem interesse para mim

32 Posso controlar minha expressão emocional mesmo que esteja me sentindo mal

33 Posso expressar verbalmente meus sentimentos sem dificuldades

34 Posso colocar-me com facilidade no lugar de outras pessoas e experimentar como se sentem

35 Apenas me emociono com os grandes eventos ou acontecimentos especiais

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36 As pessoas são desagradáveis ou descontroladas porque estão passando por uma situação difícil

37 Adoro experimentar coisas ou situações novas

38 Prefiro a rotina das coisas conhecidas e seguras do que a aventura do novo e difícil, mesmo que envolvam lucros futuros

39 Sempre deixo muito claro o que penso ou sinto, mesmo que tais manifestações sejam pouco agradáveis para algumas pessoas

40 Diante de um problema, lanço mão da primeira solução que me passa pela cabeça

Encaminhamento: Leitura , reflexão do texto

Identidade profissional diz respeito ao conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, valores que definem e orientam a natureza e especificidade do trabalho de professor (Libâneo, 2004, p. 81). A profissão docente é significada socialmente como atividade simbólica, vinculada ao saber e ao saber-fazer. A atividade do professor e da professora exige além da formação teórico-metodológica, vínculo afetivo e emocional com o aluno, desempenhando interferências significativas de relação com o outro. A característica da profissão de ação para a humanização ocorre como interdições afetivas e de competência profissional, em que ensinar implica na reflexão permanente sobre o seu significado: o que, como e por que se ensina. O grau de exigência desta profissão envolve dimensões da subjetividade intelectual, ética, cultural, política e afetiva. Implica no vivenciar buscando a coerência do saber e do fazer; da teoria e da prática, avaliação e auto-avaliação, do que deve ser e do que a realidade do trabalho permite que seja (APP-Sindicato, 2005, p. 81-82). Compreender o que significa ser professor ou professora na atual sociedade implica em situar a profissão sob a ótica de uma construção social marcada por múltiplos fatores que interagem entre si, resultando numa série de representações que os professores fazem de si mesmos e de suas funções, de acordo com suas histórias de vida, suas condições concretas de trabalho, o imaginário e crenças acerca da profissão, muito certamente marcado pela origem e desenvolvimento histórico da função docente e por questões estruturais de gênero e trabalho. A categoria docente é historicamente constituída por mulheres, o que atribui às condições de trabalho e de interesses profissionais situações

TEMA 3 - IDENTIDADE DOCENTE: CAMINHOS DA RESSIGNIFICAÇÃO

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diferentes de outras categorias. Também a formação e qualificação são profundamente distintas. Associada ao sentido social da tarefa de educar, ensinar, da relação com o conhecimento, com a cultura e com os saberes socialmente significativos no contexto histórico atual, impõem-se impasses constantes à atividade docente que abalam a crença em si e o sentido de si e o exercício profissional. . Historicamente a entrada da mulher no mercado do trabalho, remonta ao período de 1870 e 1930, tanto por necessidades econômicas quanto pela luta feminista em busca da autonomia e direitos iguais, coincidindo com o marco da organização do sistema educativo nacional, que surgiu do projeto de expansão da educação de primeiro grau, considerado pelas classes dominantes, um instrumento privilegiado para produzir uma identidade nacional que atingisse o objetivo da integração social (Codo, 2006, p. 64). Levando em conta a natureza feminina e de suas habilidades “em cuidar”, naquele momento histórico, enfatizou-se que a mulher poderia desempenhar melhor a tarefa de professora. Aspectos da tarefa docente, como o cuidado e educação das crianças, foram considerados em parte como extensão das atividades realizadas no âmbito doméstico. O estado estimulou o papel docente das mulheres que foram conclamadas a colaborar no processo de integração nacional, formando os futuros cidadãos do país. A imagem pública de mães da nação colocava num lugar central e valorizado do imaginário social seu papel de educadoras. Na sociedade ocidental, tradicionalmente o papel da mulher esteve associado à vida doméstica, aos cuidados do lar, dos filhos e do marido, ao mundo da reprodução. Ao homem coube o papel de provedor do lar, à vida pública, ao mundo da produção. Na estruturação da identidade profissional das professoras, esses conceitos foram incorporados os aspectos relativos à identidade de gênero, bem como a concepção de dependentes seja do pai ou do marido, e que seu salário poderia a ser, no máximo, um complemento da renda familiar. Dado ao fato, o elemento central do suporte da identidade profissional que é o reconhecimento e a valorização no trabalho, foi retido pela desigualdade inscrita na identidade de gênero característica da época histórica . O mundo do trabalho, a divisão sexual do trabalho, o papel social da educação e da escola, a formação inicial e continuada, atualmente representam os elementos estruturantes da identidade docente. As mudanças qualitativas nas relações entre as relações modernas entre trabalho e gênero na profissão, deflagram a crise na identidade profissional dos professores. A crise de identidade docente só pode ser compreendida no contexto da história da educação escolar brasileira e seus determinantes sociais, já que envolve complexas interfaces que vão desde a dificuldade de afirmação enquanto classe trabalhadora influenciada por um modelo de escola seletiva e excludente, pela perda do prestígio social da profissão, construído no modelo de escola elitista do início do século XX, pelo processo de expansão quantitativa da escolarização, com o esvaziamento do papel intelectual da atividade docente até as mudanças de gênero com o aumento de homens exercendo o magistério (APP-Sindicato, 2005, p. 80). As sociedades constantemente modificam seus ideais, valores e necessidades,, reconfigurando as exigências requeridas à educação e assim a profissão docente enfrenta nestes momentos a indefinição de suas funções. Os

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fatores sociais e de contexto são condicionadores da identidade profissional docente e do grau de autonomia atingido pelos professores, para a execução de sua prática. O professor não seleciona as condições na qual realiza seu trabalho e também muitas vezes não pode escolher como desenvolvê-lo. Existem múltiplas interferências exteriores e controles sobre o trabalho que o professor desenvolve em sala de aula (Santos e Duboc, 2004, p.110). No entanto, é preciso considerar que existem espaços onde o professor pode exercer a autonomia de seu trabalho: a forma de interação com os seus alunos, o tipo de atividade a ser realizada e sua seqüência, o espaçamento e duração dos recursos didáticos que mobilizará e as estratégias que podem ser utilizadas. Apesar da restrita autonomia é preciso observar que existem tendências à desprofissionalização da atividade docente, evidenciada pela falta de confiança depositada não apenas no trabalho do professor, mas na própria função da escola. O professor, atualmente, não tem segurança a respeito do que deve saber e ensinar e de como deve ensinar. Quando comparada com outras profissões liberais clássicas, sob uma perspectiva sociológica, a profissão docente é categorizada como “semiprofissão”, entendendo-se que a atividade educativa não é exclusiva do professor. No entender de Santos e Duboc (2004), não há regras claras para a regulação da prática docente, nem formas generalizáveis de relacionamento entre conhecimento e ação pedagógica do professor. Entretanto, não se pode afirmar que o professor exerce sua atividade com autonomia, responsabilidade e identidade necessárias, características de um profissional. Contudo, a prática docente identifica traços e desempenhos característicos do “ser professor”, que constituem aspectos integrantes da profissionalidade docente: as capacidades técnico-pedagógicas, psicopedagógicas, a responsabilidade social, o comprometimento político, conhecimento e cumprimento das normas das instituições que regulam sua função, investimento na própria formação. Entretanto, esses aspectos não esgotam os vários papéis que o professor desempenha. A questão de ser “bom” ou “mau” professor depende do grau em que cada um desses aspectos é atendido, enfatizados pela dimensão ética que permeia todos eles, aplicando-se ao seu sentido e valor. A construção de um novo perfil docente se faz necessário, as novas exigências educacionais diante das transformações da atual conjuntura social, política, econômica e cultural, pedem um professor capaz de exercer sua profissão em correspondência às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos meios de comunicação e informação. É preciso um novo paradigma no desempenho dos papéis docentes, novos modos de pensar, agir e interagir (Libâneo, 2004, p. 81). A categoria docente precisa refletir e conscientizar-se sobre o que Libâneo e Pimenta (1999) apontam como as dimensões necessárias para caracterizar a identidade profissional do professor, que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos configurados em quatro grandes conjuntos: 1) conteúdos das diversas áreas do saber; 2) conteúdos didático-pedagógicos específicos ao campo da prática profissional; 3) conteúdos relacionados a saberes pedagógicos; 4) conteúdos ligados à explicitação do sentido da vida humana (individual, sensibilidade pessoal e social). O desenvolvimento profissional envolve formação inicial e continuada e exercício reflexivo, articulados a um processo de valorização identitária e da

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profissão de modo a constituir um campo específico de intervenção profissional na prática social. A cada dia buscando se aperfeiçoar e aprofundar essas características, a docência será mais sólida, mais ampla e mais flexível e o professor se sentirá capaz de ir compondo melhor suas respostas, profissionalizando-se e assegurando que “não é qualquer um que pode ser professor”. ATIVIDADE No sentido de promover a valorização do corpo docente da sua escola, promova um evento na comunidade (pode ser na data comemorativa ao Dia do Professor), onde os professores possam contar suas histórias de vida, sua trajetória acadêmica e “porquê tornaram-se professores”. Procure registrar esses depoimentos e momentos e construa um Memorial da História de Vida dos Professores.

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