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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA
MARIA DO SOCORRO DE FREITAS COLAÇO
O Impacto na Arrecadação do ICMS do Regime de Substituição Tributária por Carga
Líquida no Ceará: Uma análise empírica do Setor de Alimentos com ênfase em Bebidas
no período 2007-2012
FORTALEZA-CE
2014
MARIA DO SOCORRO DE FREITAS COLAÇO
O Impacto na Arrecadação do ICMS da Substituição Tributária por Carga Líquida no
Ceará: Uma análise empírica do Setor de Alimentos com ênfase em Bebidas no período
2007-2012
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Economia do Curso de Pós-
Graduação em Economia do Ceará – UFC, como
parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Economia. Área de Concentração:
Economia do Setor Público.
Orientador: Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes
de Alencar.
FORTALEZA-CE
2014
Esta Dissertação foi submetida como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de
Mestre em economia, outorgado pela Universidade Federal do Ceará, e encontra-se a
disposição dos interessados na biblioteca do curso de mestrado em economia da referida
Universidade.
A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida, desde que feita em
conformidade com as normas científicas.
__________________________________
Maria do Socorro de Freitas Colaço
Dissertação aprovada em de fevereiro de 2014.
_________________________________________
Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes de Alencar
Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Lettieri
Membro da Banca Examinadora
________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Brito
Membro da Banca Examinadora
RESUMO
A instituição do ICMS nova modalidade de tributação, ICMS Carga líquida, deu-sepor meio
da Lei n° 14.237/2008, regulamentada pelo Decreto n° 29.560/2008. O objeto da pesquisa foi
analisar se houve incremento na arrecadação de impostos pela SEFAZ-CE após a Lei que
dispõe sobre a Carga Líquida. Logo, este trabalho avaliou a eficácia desta Lei, no período de
2007 a 2012, no setor de alimentos com ênfase para bebidas utilizando o método das
diferenças em diferenças. Encontraram-se evidências de que o impacto da nova modalidade
de tributação no setor de alimentos com ênfase em bebidas foi positivo, representando um
incremento de 18,86% na arrecadação para o período de 2007 a 2012.
Palavras Chaves: Substituição Tributária, Setor de Alimentos, ICMS.
ABSTRACT
The establishmentof this newmodeof taxationwas made, the ICMS Net change, through
theLaw No.14.237/2008, regulatedby Decree No.29.560/2008. The objectof the research
wasto examine whetherthere was an increasein tax revenueby SEFAZ-EC after theActwhich
provides for theCargoNet. Therefore,thisstudy evaluatedthe effectivenessof this Law, for the
periodfrom 2007 to 2012, in the food sectorwith emphasis onbeverages, usingthedifference in
differencesmethod. We have foundevidence thatthe impact of thenew modeof taxationin the
food sectorwith an emphasis onbeverageswas positive, representing an increase of18.86%in
revenuesfor the period2007-2012.
keywords: Replacement Tax, Food Sector, ICMS.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Estatística descritiva da Base de Dados - Valores em Reais a preços
constantes de Dez/2012
18
Tabela 2. Procedimento para Divisão dos Grupos 19
Tabela 3. Resultados para o Estimador de Diferenças em Diferenças 22
Tabela 4. Média das Arrecadações Antes e Após a Implementação da Política 23
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Total de arrecadação de ICMS no Estado do Ceará em valores
constantes do setor de alimentos com ênfase em Bebidas no período anterior a
implantação da Substituição Tributária – Carga Líquida.
15
SUMÁRIO
1. Introdução 9
2. Revisão de Literatura 11
2.1. Aspectos gerais sobre substituição tributária e arrecadação do ICMS no ceará do
setor de alimentos com ênfase em bebidas
13
2.2. O setor de alimentos com ênfase em bebidas e arrecadação de ICMS no ceará 14
3. Metodologia 17
3.1.Base de dados 18
3.2.Modelo teórico 19
3.3.Modelo Econométrico 21
4. Resultados 23
5. Considerações Finais 26
Referências
28
9
1. INTRODUÇÃO
Os governos estaduais atualmente estão ampliando o rol de produtos
abarcados pela técnica de tributação da substituição tributária no ICMS, cujo funcionamento
consiste no recolhimento do ICMS antecipadamente por um único contribuinte, geralmente o
primeiro na cadeia de valor (em geral, o industrial – mercadoria nacional - ou importador –
mercadoria importada -), para fins de diminuição da sonegação do imposto, facilidade de
arrecadação e aumento de arrecadação.
O Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação -
ICMS constitui-se,em média, 55% da receita corrente dos Estados da Federação do Brasil,
sendo com issoa principal fonte de receita desses Estados. Dada essa significativa
participação desse imposto sobre a receita corrente nos Estados brasileiros, os mesmos
buscam o aprimoramento constante de suas máquinas arrecadadora no gerenciamento dos
mecanismos capazes de reduzir a sonegação fiscal e consequentemente ampliar o volume de
recursos arrecadados.
Para maior controle e facilidade no recolhimento desse imposto, foi
adotado pelas Unidades da Federação o instituto da Substituição Tributária, que é o regime
pelo qual a responsabilidade pelo cumprimento da obrigação (recolhimento do imposto) é
atribuída a outro contribuinte e não ao que originou o fato gerador. Este regime está previsto
na Constituição Federal de 1988, artigo 150, § 7º, o qual estabelece que a lei poderá atribuir a
sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto
ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e
preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. Em
outras palavras, a lei elege uma terceira pessoa para cumprimento da obrigação tributária, em
lugar do contribuinte natural.
Com o intuito de otimizar a arrecadação dos estados da federação, o regime
de substituição tributária foi instituído por diversos estados da federação, dentre eles o estado
pelo Ceará, com o intuito de concentrar a responsabilidade pelo recolhimento do tributo,
pulverizada em diversos contribuintes, em mãos de poucos, atribuindo a estes a condição de
contribuintes substitutos. Essa sistemática de tributação vem ocupando cada vez mais espaço
dentro das políticas de governo adotadas pelas Unidades Federativas do Brasil, objetivando
facilitar o controle e arrecadação por parte dos agentes do fisco.
10
No entanto, no dia a dia das empresas, a apuração do ICMS – Substituição
Tributária (ICMS – ST) vem sendo tema de diversas dúvidas e preocupações devido a sua
complexidade, dentre elas às constantes modificações nas normas legais, na maior parte das
vezes, interpretativas e imprecisas, o que causa certa insegurança nos procedimentos fiscais
adotados pelo sujeito passivo.
Diante dessa complexidade na apuração do ICMS – ST, a Secretaria da
Fazenda do Estado do Ceará, entendeu que havia uma necessidade de estabelecer um regime
de tributação operacional e simplificado para os contribuintes do seguimento em estudo, o
setor de alimentos, mas especificamente o setor de bebidas, e instituiu a Lei n° 14.237/2008,
regulamentada pelo Decreto n° 29.560/2008. Essa nova modalidade de apuração
implementada pelo Governo do Estado do Ceará, ficou conhecida como o ICMS Carga
Líquida.
O imposto retido pelo ICMS Carga Líquida consiste em uma carga
tributária reduzida, resultante da aplicação de percentuais diferenciados, em forma de
benefício fiscal, sobre o valor do documento fiscal, incluídos os valores do Imposto sobre
Produtos Industrializados - IPI, frete, carreto, seguro e outros encargos transferidos ao
destinatário, Imposto de Importação quando proveniente do exterior e os percentuais
destinados ao Fundo Estadual de Combate a Pobreza – FECOP.
Desta forma, o presente artigo tem o propósito de avaliar o impacto da Lei
14.237/2008, a partir do método das diferenças em diferenças, sobre a arrecadação do ICMS
pela SEFAZ-CE no período de 2007 a 2012, no setor de alimentos, com ênfase para bebidas.
O trabalho se inicia com uma breve discussão sobre o regime de
substituição tributária do ICMS, ressaltando os seus aspectos gerais e relacionando-o como
setor de alimentos com ênfase do setor de bebidas. Após isso serão apresentados os aspectos
metodológicos utilizados nessa pesquisa: a base de dados, o modelo teórico e econométrico e
por fim, os resultados e a conclusão.
11
2. REVISÃO DE LITERATURA
Existem na literatura poucos trabalhos relacionados ao tema e mesmo assim
todos voltados à análise da substituição tributária do ICMS, e em sua maioria, de contexto
jurídico ou contábil. Apresentam-se nesta seção os artigos que de alguma forma investigaram
quantitativamente a problemática.
Jorge e Coutinho Filho (2007) analisaram os efeitos da Substituição
Tributária nas empresas de autopeças de Montes Claros - MG. O objetivo foi descrever as
consequências decorrentes da mudança de recolhimento, tais quais: impactos do recolhimento
antecipado no fluxo de caixa, análise dos níveis de estoques, dificuldades com relação aos
procedimentos de recolhimento do imposto. Para tanto, os autores realizam uma pesquisa de
levantamento, por meio de entrevistas com 23 empresas dentre as listadas pela Junta
Comercial do Estado de Minas Gerais – JUCEMG. Estas empresas aturam no segmento de
peças automotivas de Montes Claros - MG. Vale ressaltar que estas totalizaram 95% do
capital social total do setor na cidade. Desta forma os autores constataram que uma amostra
das empresas analisadas, referente ao setor automotivo, devido a implantação do regime de
substituição tributária enfrentou dificuldades a qual comprometeu o fluxo de caixa e o
estoque dessas empresas. Além disso, houve um aumento do endividamento de todas as
empresas estudadas.
Maier e Filipin (2010) estudaram os impactos da substituição tributária do
ICMS sobre os Produtos da Cesta Básica de Alimentos da Cotripal (Cooperativa Agricultural
do Municipio de Pamanbi – RS) e constataram que para a maioria dos cooperados o regime
da substituição tributária causou um aumento nos custos de curto prazo, pois o recolhimento
do imposto acontece na fase inicial e como a empresa não pode recuperá-lo, o imposto será
incluído na mercadoria aumentando preço final apresentado ao consumidor. Assim, o
impacto da nova modalidade de tributação também seria negativo para a sociedade de
consumo e de produção.
12
Nos mesmos moldes deste trabalho, Matos Filho (2012) realizou uma
pesquisa a partir dos dados de arrecadação estadual do setor calçadista cearense, fornecido
pela Secretaria da Fazenda do Estado do Ceara para os anos de 2003 – 2009. Com isto o autor
organizou as empresas entre: Grupo de Tratamento (aquelas que passaram a ser responsáveis
pelo recolhimento do ICMS – ST) e Grupo de Controle (as empresas que permaneceram no
regime normal de tributação). Os resultados indicaram que a arrecadação média, antes da
política de substituição tributária, para o grupo controle foi de 6,572 e para o grupo de
tratamento foi de apenas 6,364. Já após a política, houve uma inversão de resultados, pois o
grupo controle mostrou-se com uma arrecadação média de 6,790 e o grupo tratado obteve
uma média de 6,800.
A conclusão do trabalho de Matos Filho (2012) foi que a instituição do
regime de substituição tributária provocou uma variação positiva na arrecadação de ICMS.
Em média, houve um aumento na arrecadação do ICMS para as empresas que passaram a ser
substitutas tributárias, sendo este incremento na ordem de 54,7% para o período amostral. Já
para as empresas que continuaram no regime normal de tributação, o incremento na
arrecadação foi de 24,37%, para o mesmo período. Estes números representaram um aumento
de 24,38% na arrecadação do tributo para o Estado do Ceará.
Portanto, espera-se que os resultados desta dissertação também mostrem-se
com resultados semelhantes aos citados acima, isto e, que a instituição do ICMS – ST venha a
aumentar a arrecadação estadual. Para o leitor familiarizar-se com a problemática deste
trabalho, a próxima seção tratará brevemente de alguns detalhamentos sobre o novo regime
de substituição tributária por carga líquida e também ilustrará para o leitor acerca do setor em
análise (alimentos com ênfase em bebidas) e os montantes de arrecadação do ICMS no
Estado.
13
2.1. Aspectos Gerais sobre Substituição Tributária e Arrecadação do ICMS no Ceará do
Setor de Alimentos com Ênfase em Bebidas
Primeiramente, vale ressaltar alguns aspectos gerais sobre ICMS, que é
um imposto previsto na Constituição Federal (inciso II do artigo 155) sendo denominado de
“imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior”. Além disso, é um imposto de competência
estadual, não cumulativo, seletivo (pode ser cobrado de acordo com a essencialidade da
mercadoria) e um dos principais tributos indireto a incidir sobre operações com mercadorias.
Por fim, o principal campo de tributação desse imposto diz respeito às operações relativas à
circulação de mercadorias.
Quanto à substituição tributária, que é um regime de apuração do ICMS,
pelo qual a responsabilidade pelo imposto devido em relação às operações, é atribuída
originalmente a outro contribuinte, antes da ocorrência do fato gerador, é um dos temas que
desperta mais questionamentos no âmbito tributário, seja juridicamente, quando é pautada por
suas diversas formas de aplicabilidade, ou pela dificuldade de entendimento, como já foi
notado por Rosa (2009). Além disso, Considera-se contribuinte deste imposto qualquer
pessoa, física ou jurídica, que realize, com habitualidade ou em volume que caracterize
intuito comercial, operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior.
Apesar de o tema despertar muitos debates ainda hoje em dia, desde a
década de 60 (quando da criação do ICM – Imposto sobre Circulação de Mercadorias) os
Estados já vislumbravam a intenção de aplicar a substituição tributária, a fim de otimizar a
arrecadação do ICMS. Ressalta-se que desde então, surgiu uma grande discussão sobre a
retenção desse imposto na fonte, e também sobre o fato de que a empresa seria responsável
em recolher o imposto antecipadamente, isto é, antes da venda do bem produzido. Esclarece-
se aos leitores que a partir da aplicação da Substituição Tributária do ICMS, de acordo com
Melchor (2009), o governo passa a arrecadar o imposto de forma mais eficiente e facilitada
incumbindo a um número bastante reduzido de contribuintes, pela retenção e recolhimento do
mesmo.
14
O contribuinte substituto tributário é aquele que assume a condição de
responsável pela retenção e pagamento do imposto é chamado de substituto tributário,
contribuinte substituto, ou, simplesmente, responsável. Já o contribuinte substituído é aquele
que está ligado diretamente no momento que ocorre a obrigação do recolhimento do imposto,
mas não tem a responsabilidade do recolhimento e sim repassando-a para outro. Ou seja,
aquele que assume a condição de responsável pela retenção e pagamento do imposto é
chamado de substituto tributário, contribuinte substituto, ou, simplesmente, responsável.
2.2. O Setor de Alimentos com Ênfase e Bebidas e Arrecadação de ICMS no Ceará
Diante da importância de alguns produtos no segmento de bebidas e
alimentos na arrecadação do Estado do Ceará, a Secretária da Fazenda desse Estado
formalizou por meio do Decreto n° 28.900/2007 a integração do setor de alimentos ao regime
de substituição tributária o setor de Alimentos e Bebidas. Este é composto dos produtos
derivados de farinha de trigo, aguardente, vermute, vinho e sidra. O mercado atacadista de
bebidas quentes (aguardente, vermute, vinho e sidra) do Ceará sofria forte influência da
concorrência do mercado nacional, em razão dos Estados da Federação concederem
benefícios fiscais e financeiros para a instalação de estabelecimentos distribuidores de
bebidas em seus territórios.
A principal consequência de tais benefícios foi que as indústrias do setor
criavam distribuidores dos seus produtos nos estados periféricos ao Ceará, com o objetivo de
atender ao mercado local e regional com o diferencial no preço de venda ao consumidor final,
obtido a partir da engenharia tributária concebida pelo contribuinte do imposto (ICMS) em
uma visão unitarista e não federalista.
Como resposta a esta realidade, a SEFAZ – CE em 2008 resolveu incentivar
o segmento atacadista do setor de alimentos com ênfase em bebidas do Estado. E fez isto
concedendo tributação diferenciada, conhecida como arrecadação por Carga Líquida, para a
empresa que atendesse às seguintes condições:
15
Deter capacidade financeira adequada à atividade comercial que exerce
Demonstrar taxa de adicionamento positivo das vendas futuras
Comprometer-se à geração de emprego
Possuir instalações físicas no Estado do Ceará
Estar quites com as obrigações tributárias
Não constar na dívida ativa ou no cadastro de inadimplentes da fazenda pública
estadual.
Não ter denúncia de crime contra a ordem tributária
Não ser enquadrado na condição de depositário infiel.
O benefício fiscal concebido foi da ordem de 58,82% do ICMS devido e
consolidou-se somente a partir de 2010. Este foi formalizado em termo de acordo com
vigência de prazo determinado, cuja prorrogação dependia da avaliação das normas
anteriormente estabelecidas. O entendimento da lógica do benefício fiscal pelo fisco, era de
que a medida em que se reduz a carga tributária, ocorre expansão da base contributiva com
repercussão direta no crescimento da arrecadação do imposto. Assim, a partir de janeiro a
maioria dos estabelecimentos atacadistas, registrados no Cadastro Geral da Fazenda Estadual
(CGF), aderiu ao dito programa de incentivo tributário. Ressalta-se que entre os anos de 2007
até 2008 a receita do segmento atacadista ainda sofria forte influência dos benefícios fiscais
concedidos pelos demais entes da federação.
O gráfico abaixo demonstra os volumes arrecadados de ICMS no Estado
para os segmentos atacadistas e varejistas do setor, para o período anterior e posterior ao da
política do fisco. Note que grande parte do período o setor varejista apresentava contribuição
maior do que o setor atacadista, com um pico no final do ano de 2009.
Gráfico 1. Total de arrecadação de ICMS no Estado do Ceará em valores constantes do setor de alimentos com
ênfase em Bebidas no período anterior e posterior a implantação da Substituição Tributária Carga Líquida
Fonte: Secretária da Fazenda do Estado do Ceará – SEFAZ
0
10000000
20000000
30000000
2007.01
2007.04
2007.07
2007.10
2008.01
2008.04
2008.07
2008.10
2009.01
2009.04
2009.07
2009.10
2010.01
2010.04
2010.07
2010.10
2011.01
2011.04
2011.07
2011.10
2012.01
2012.04
2012.07
2012.10
Arrecadação de ICMS
ICMS-Atacado ICMS-Varejo
16
Note que, em grande parte do período de 2007 a 2009, em que a receita não sofria
impacto do benefício, o segmento varejista apresentava contribuição maior do que o setor
atacadista, com um pico no final do ano de 2009. Entretanto, após a implementação do
benefício o segmento atacadista confirma a lógica esperada pelo fisco de que a medida em
que se reduz a carga tributária, ocorre expansão da base contributiva com repercussão direta
no crescimento da arrecadação do imposto. Diante deste fato curioso, pergunta-se qual é a
magnitude do aumento na receita de ICMS no setor em que foi aplicada a política de
benefício fiscal, estabelecido pela arrecadação do tipo carga liquida, no estado do Ceará?
Para responder a esta pergunta, nas próximas seções constroem-se um modelo
econométrico de avaliação de impactos de políticas, através do modelo teórico descrito em
Foguel (2012). Este indicará a variação total ocorrida na arrecadação do ICMS no setor e no
período, levando em consideração a implantação da política e os grupos atacadistas e
varejistas do setor.
17
4. METODOLOGIA
Na literatura de avaliação de políticas, os métodos de avaliação de impacto
são geralmente divididos em métodos experimentais e não experimentais. O método
experimental é baseado na seleção aleatória dos participantes e não participantes do
programa, enquanto o método não experimental é composto por uma variedade de métodos
que, embora façam uso de hipóteses específicas para identificar o efeito causal do programa,
procuram mimetizar o método experimental.
Para analisar o efeito da política de substituição tributária – carga líquida na
arrecadação do ICMS no setor de alimentos com ênfase para bebidas, não é factível a
utilização dos métodos experimentais, uma vez que não é possível definir aleatoriamente
quem irá sofrer ou não os efeitos da política. Assim, optou-se pela utilização de um método
não experimental, mais precisamente o método das diferenças em diferenças.
Segundo Foguel (2012), este método tem sido empregado muitas vezes nos
chamados experimentos naturais, também conhecidos como quase-experimento. Um
experimento natural é uma situação na qual a ocorrência de um evento fortuito - seja a
ocorrência de um fenômeno da natureza, alterações institucionais (como mudanças de lei ou
programas de governos) ou até mesmo a seleção dos participantes que ocorre devido a
circunstâncias que envolvem um alto grau de aleatoriedade - permite formar grupos de
tratamento (expostos à intervenção) e de controle (não expostos à intervenção) parecidos em
diversos aspectos. Aqui, o evento fortuito foi a implementação da lei de substituição
tributária – carga líquida, e os grupos de tratamento e de controle, respectivamente, os setores
atacadista e varejista do setor de alimentos com ênfase em bebidas.
Foguel (2012) afirma que a hipótese principal do método das diferenças em
diferenças é que a trajetória temporal da variável de resultado para o grupo de controle
represente o que ocorreria com o grupo de tratamento caso não acontecesse a intervenção. A
ideia básica é que, se as trajetórias são semelhantes antes da implementação do programa,
então é razoável supor que a evolução do grupo de controle após a implementação do
programa represente com fidedignidade o que ocorreria com o grupo de tratamento na
ausência da intervenção.
18
4.1 Base de Dados
A base de dados considerada na estimação abaixo é composta por valores
referentes à arrecadação de ICMS do grupo de tratamento, que são as empresas localizadas
no Ceará do setor de alimentos com ênfase em bebidas do setor atacadista, que passaram a
ser responsáveis pelo recolhimento do ICMS pelo regime de substituição tributária – carga
líquida (empresas que sofreram a política do governo) e a arrecadação do grupo de
controle,que são as empresas do setor de alimentos com ênfase em bebidas do setor
varejista, que permaneceram no regime normal de tributação. O período considerado foi
2007 a 2012. As variáveis são descritas da seguinte forma:
ln_icms: logaritmo na base dez da arrecadação média do ICMS;
d_per: variável dummy que identifica o período antes, atribuído valor 0, e depois da
implementação da política, atribuíd o valor 1, que ocorreu no início de 2010;
d_trat: variável dummy que identifica os grupos de tratamento, atribuído valor 0, e de
controle, atribuído o valor 1; e
d_trat_per: é a variável dummy resultante da interação das duas variáveis dummies
acima, responsável por captar o efeito da mudança da lei sobre o grupo de tratamento.
A tabela a seguir ilustra as estatísticas descritivas da base de dados, note
que para tal foi necessário deflacionar os valores, ajustando-os para valores do último período
da análise, o mês de Dezembro de 2012, pelo Índice Geral de Preços – IGP.
Tabela 1-Estatística descritiva da Base de Dados- Valores em Reais a preços constantes de Dez/2012
TRATADO CONTROLE
ANTERIOR POSTERIOR ANTERIOR POSTERIOR
Média 8.239.914,04 16.913.753,65 8.866.887,46 15.439.947,11
Máximo 15.398.968,04 28.008.594,24 25.079.361,97 22.187.975,19
Mínimo 4.570.911,02 10.453.006,96 6.052.766,65 10.570.337,93
Desvio Padrão 2.867.354,27 4.251.021,63 3.084.630,48 2.823.264,81
Fonte: SEFAZ-CE
19
Inicialmente, nota-se que a média do grupo tratado antes da aplicação da
política é menor do que a média do grupo controle, mas depois da aplicação da política este
quadro se reverte.Sendo o aumento da média de arrecadação no grupo tratado de 105,26% e
no grupo controle de 74,13%. A variação para o valor máximo arrecadado no grupo tratado
foi positiva e representou 81,88%. Já para o grupo controle notou-se uma redução de 11,52%
na arrecadação. Para o valor mínimo de arrecadação o aumento no grupo tratado foi de
128.64% e no grupo controle foi em 74,63%. Quanto ao desvio padrão, curiosamente, este
apresenta maior valor quando se refere ao grupo tratado e posterior a política e menor valor
para o grupo controle e posterior a política. Esta análise inicial da base de dados já é por si
interessante e ressalta a necessidade de um método mais sofisticado para tratar a realidade.
Portanto, a próxima subseção apresenta o modelo teórico que será utilizado para a realização
deste estudo mais aprimorado.
4.2 Modelo Teórico
Para estudar a diferença entre os dois grupos, é necessário que a nossa
amostra seja dividida em quatro grupos: O grupo de controle antes da intervenção, o grupo de
tratamento antes da intervenção, o grupo de controle depois da intervenção e o grupo de
tratamento depois da intervenção. Esquematicamente, pode-se representar o procedimento a
partir da seguinte tabela.
Tabela 2. Procedimento para Divisão dos Grupos
ANTES DEPOIS DIFERENÇAS
CONTROLE 𝑨 𝑩 (𝑨 – 𝑩)
TRATAMENTO 𝑪 𝑫 (𝑪 – 𝑫)
DIFERENÇAS (𝑨 – 𝑪) (𝑩 – 𝑫) (𝑪 – 𝑫) – (𝑨 – 𝑩)
Fonte: Elaborado pela autora
Em que (A – B) representa em que medida o grupo de controle se alterou
entre o período anterior e posterior a intervenção que está sendo analisada, enquanto (C – D)
apresenta esta mesma medida para o grupo de tratamento. Como por hipótese o grupo de
controle não sofreu impacto da intervenção, essas mudanças se deveram a outros fatores, que
também devem ter influenciado o grupo de tratamento. As medidas (A – C) e (B – D)
representam as diferenças entre os grupos de controle e de tratamento antes e após a
20
intervenção, respectivamente. Subtraindo então (𝐴 – 𝐵) de (𝐶 – 𝐷), ou (𝐴 – 𝐶) de (𝐵 – 𝐷),
que é exatamente a mesma coisa, encontraremos a diferença da diferença verificada entre os
grupos, entre os 2 períodos, ou visto pelo outro lado, a diferença verificada entre a diferença
entre os 2 períodos, entre cada um dos grupos. Daí a razão do nome diferenças em diferenças.
Matematicamente, podemos representar o método de diferenças em diferenças com a seguinte
equação:
𝛽𝐷𝐷 = {𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 1] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 1, 𝑡 = 0]} − {𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 1] − 𝐸[𝑌|𝑇 = 0, 𝑡 = 0]} (1)
Onde 𝑌 é a variável de resultado, 𝑇 = {0,1} é uma variável indicadora de
participação ou não no grupo de tratamento e 𝑡 = {0,1}, indica se o período é anterior ou
posterior a intervenção.
Pode-se também representar o modelo de diferenças em diferenças por
meio de regressões lineares. Assim, seguindo Foguel (2012), a equação básica do modelo
pode ser especificada como:
𝑌𝑖𝑡 = 𝑋′𝑖𝑡𝛼 + 𝛾𝑇𝑖𝑡 + 𝜌𝑡𝑖𝑡 + 𝛽3(𝑇𝑖𝑡𝑡𝑖𝑡) + 𝜀𝑖𝑡 (2)
Onde os subscritos i e t significam, respectivamente, que a observação
corresponde ao indivíduo i e estão localizadas no período de tempo t. O vetor X′it representa
as características observadas dos indivíduos, e as variáveis T e t, são definidas da mesma
forma que na equação 1. O termo de erro é dado por ε. Sob a hipótese de que E[ε|X, T, t] = 0,o
efeito causal da intervenção (condicionado a X) é mensurado pelo parâmetro β.
Na equação 2, as variáveis T e t aparecem tanto isoladamente quanto
interagidas. Caso não houvesse o termo de interação entre as variáveis, suas presenças
isoladas captariam, respectivamente, as diferenças da média de Y entre os grupos de
tratamento e de controle e entre os períodos anterior e posterior a intervenção (condicional a
X). A introdução do termo de interação na equação procura captar o que ocorreu
especificamente com o grupo de tratamento no período pós-intervenção, ou seja, se a média
da variável de resultado para esse grupo em particular tornou-se diferente após a intervenção.
É fácil ver então que o papel do termo de interação entre as variáveis T e t é
medir o impacto do programa. A magnitude desse impacto é, portanto, capturada pelo
parâmetro β. Uma forma de verificar isso é escrevendo a média (condicional a X) da variável
de resultado para os seguintes casos:
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i) Tratados, pré-intervenção:
𝐸[𝑌|𝑋, 𝑇 = 1, 𝑡 = 0] = 𝑋′𝛼 + 𝛾 + 𝐸[𝜀|𝑋, 𝑇 = 1, 𝑡 = 0] = 𝑋′𝛼 + 𝛾 (3)
ii) Tratados, pós-intervenção:
𝐸[𝑌|𝑋, 𝑇 = 1, 𝑡 = 1] = 𝑋′𝛼 + 𝛾 + 𝜌 + 𝛽 + 𝐸[𝜀|𝑋, 𝑇 = 1, 𝑡 = 1]
= 𝑋′𝛼 + 𝛾 + 𝜌 + 𝛽 (4)
iii) Controle, pré-intervenção:
𝐸[𝑌|𝑋, 𝑇 = 0, 𝑡 = 0] = 𝑋′𝛼 + 𝐸[𝜀|𝑋, 𝑇 = 0, 𝑡 = 0] = 𝑋′𝛼 (5)
iv) Controle, pós-intervenção:
𝐸[𝑌|𝑋, 𝑇 = 0, 𝑡 = 1] = 𝑋′𝛼 + 𝜌 + 𝐸[𝜀|𝑋, 𝑇 = 1, 𝑡 = 0] = 𝑋′𝛼 + 𝜌 (6)
Assim, calculando a dupla diferença, tem-se:
(𝐵 − 𝐴) − (𝐷 − 𝐶) = {(𝑋′𝛼 + 𝛾 + 𝜌 + 𝛽) − (𝑋′𝛼 + 𝛾)} − {(𝑋′𝛼 + 𝜌) − (𝑋′𝛼)}
= {𝛽 + 𝜌} − {𝜌} = 𝛽 (7)
Que é o estimador do método das diferenças em diferenças, responsável por
mensurar o impacto da intervenção sobre o grupo de tratamento.
4.3 Modelo Econométrico
O modelo a ser estimado é dado pela seguinte equação:
ln _𝑖𝑐𝑚𝑠 = 𝛽0 + 𝛽1𝑑_𝑝𝑒𝑟 + 𝛽2𝑑_𝑡𝑟𝑎𝑡 + 𝛽3𝑑_𝑝𝑒𝑟 𝑑_𝑡𝑟𝑎𝑡 + 𝜀 (8)
O modelo apresentado na equação 1 é estimado utilizando o método dos
mínimos quadrados ordinários e fornece informações para:
a) Arrecadação média de ICMS do grupo de controle antes da política:
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 (9)
b) Arrecadação média de ICMS do grupo de controle após da política:
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 1, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 + 𝛽1 (10)
c) Arrecadação média de ICMS do grupo de tratamento antes da política:
22
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 1) = 𝛽0 + 𝛽2 (11)
d) Arrecadação média de ICMS do grupo de tratamento após da política:
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 + 𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 (12)
e) A diferença em diferença é o 𝛽3.
É o parâmetro responsável por mensurar o impacto da intervenção sobre o grupo de
tratamento.
23
5. RESULTADOS
O modelo da equação (8) foi estimado com 144 observações pelo
método dos mínimos quadrados ordinários (OLS). Os resultados estão sumarizados na tabela
abaixo:
Tabela 3. Resultados para o Estimador de Diferenças em Diferenças
Coeficiente Desvio-Padrão Valor P
𝛽0 7.0527 0 .0157 0,000
𝛽1 0.1730 0.0184 0,000
𝛽2 −0.0410 0.0261 0.119
𝛽3 0.0751 0.0310 0,017
R –quadrado 0,5761
R - quadrado Ajustado 0,5670
Fonte: Resultados da Dissertação
Com base nos dados apresentados acima, a equação estimada assumirá a seguinte
forma:
log𝑖𝑐𝑚𝑠 = 7,0527 + 0,1730𝑑𝑝𝑒𝑟 − 0,0410𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 + 0,0751𝑑𝑝𝑒𝑟 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 (13)
Os resultados apresentados no quadro 1 mostram que praticamente todas as
variáveis são estatisticamente significantes ao nível de 5%, exceto período. Observa-se que a
arrecadação média do grupo de controle antes da implementação da política, representada
pelo logaritmo na base dez da arrecadação, foi de 7,0527, enquanto que a arrecadação média
do grupo de tratamento antes da política foi de 7,0117 (7,0527 - 0,0410).
Após a implementação da política, a arrecadação média do grupo de
controle aumentou para 7,2257 (7,0527 + 0,1730), enquanto que a arrecadação média do
24
grupo de tratamento aumentou para 7,2598 (7,0527 + 0,1730 – 0,0410 + 0,0751). Ou seja,
após a implementação da política, a arrecadação do grupo que sofreu o impacto da política,
ou seja, do grupo de tratamento, se tornou maior do que a arrecadação do grupo de controle,
que antes era maior. A tabela 4 a seguir resume as informações apresentadas anteriormente.
Tabela 4. Média das Arrecadações Antes e Após a Implementação da Política
Variável Controle Tratamento Diferença
Antes Controle Tratamento
Diferença
Após (D – D)
𝑳𝒏_𝑰𝒄𝒎𝒔 7,0527 7,0117 −0,0410 7,2257 7,2598 0.0341 0.0751
𝑫𝒆𝒔. 𝑷𝒂𝒅 0,016 0,016 0.0261 0,016 0,016 0.0261 0,0714 𝑻 448.36 11,12 −1,57 24,22 20,19 3,33 2,42
𝑷 > 𝑇 0 0 0,119 0 0 0,143 0,017 Fonte: Elaborado pela Autora
A seguir, apresentam-se as contribuições marginais obtidas pelo modelo
utilizado:
I) Grupo de controle (Não sofreu o impacto da política de substituição tributária – carga
líquida)
Antes.:𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 = 7,0527
Após.:𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 1, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 + 𝛽1 = 7,2257
Diferença:
∆𝑡𝑟𝑎𝑡=0= 𝑒𝛽0+ 𝛽1 − 𝑒𝛽0
𝑒𝛽0= 𝑒𝛽1 − 1 = 0,18889 − 1 = 0,4892 = 18,89%
II) Grupo de tratamento (Sofreu o impacto da política de substituição tributária – carga
líquida)
Antes: 𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 1) = 𝛽0 + 𝛽2 = 7,0117
Após: 𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 1, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 1) = 𝛽0 + 𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 = 7,2598
Diferença:
∆𝑡𝑟𝑎𝑡=1= 𝑒𝛽0+ 𝛽1+ 𝛽2+ 𝛽3 − 𝑒𝛽0+ 𝛽2
𝑒𝛽0+ 𝛽2= 𝑒𝛽1+ 𝛽3 − 1 = 1,2639 − 1 = 0,2639 = 26,39%
25
III) Diferença em diferença:
Antes:
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 1) − 𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 0, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 +
𝛽2 – (𝛽0) = 𝛽2= -0,0410
Após:
𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 1, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 1) − 𝐸(ln _𝑖𝑐𝑚𝑠|𝑑_𝑝𝑒𝑟 = 1, 𝑑𝑡𝑟𝑎𝑡 = 0) = 𝛽0 + 𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 – (𝛽0 + 𝛽1)
= 𝛽2 + 𝛽3 = 0,0341
∆𝑑𝑖𝑓−𝑖𝑛−𝑑𝑖𝑓= 𝑒𝛽2+ 𝛽3 − 𝑒𝛽2
𝑒𝛽2= 𝑒𝛽3 − 1 = 1,0779 − 1 = 0,0779 = 7,799%
De acordo com o exposto acima, observa-se que a implementação do
regime de substituição tributária – carga líquida provocou uma variação positiva na
arrecadação do ICMS no setor de alimentos com ênfase em bebidas. Para as empresas que
sofrem o impacto da nova legislação, observou-se um aumento de 26,39% na arrecadação do
imposto no período de 2007 a 2012. Já para as empresas que continuaram no outro regime de
tributação, ou seja, não sofreram o impacto da nova legislação, o aumento na arrecadação foi
de apenas 18,88%
Assim, os resultados apontam que o impacto da nova legislação sobre a
arrecadação do ICMS no setor de alimentos com ênfase em bebidas ocasionou o aumento de
7,799 % da arrecadação no setor de estudo. Este resultado corrobora com os trabalhos
referenciados aqui, incluindo Matos Filho (2012), indicando que simplicidade no processo de
arrecadação a expande, além disso, de acordo com a literatura pesquisada, constatou-se que a
maioria dos estados brasileiros vem adotando este regime na cobrança do ICMS e a
tendência, segundo Rosa (2011), é continuar a crescer o número de produtos taxados sob a
égide no ICMS-ST. A adoção dessa pratica acompanhada de políticas contra a sonegação
fiscal, incentiva as unidades da federação brasileira utilizarem esse instituto.
26
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente dissertação abordou a problemática da arrecadação do ICMS no
estado do Ceará no setor de Alimentos com ênfase em bebidas, que incorpora os bens
manufaturados derivados de farinha de trigo além das bebidas aguardente, vermute, vinho e
sidra. Estes produtos sofriam forte influência da concorrência do mercado nacional, em razão
dos Estados da Federação conceder benefícios fiscais e financeiros para a instalação de
estabelecimentos distribuidores de bebidas em seus territórios. A conhecida guerra fiscal
trouxe como consequência a criação de distribuidores desses produtos nos estados periféricos
ao Ceará, com o objetivo de atender ao mercado local e regional com o diferencial no preço
de venda ao consumidor final. Como resposta a esta realidade, a SEFAZ – CE em 2008
resolveu incentivar o segmento atacadista deste setor concedendo tributação diferenciada,
conhecida como arrecadação por Carga Líquida. Apesar da iniciativa partir do ano de 2008, a
política foi posta em prática a partir de 2010 e apenas para o segmento atacadista do setor.
Com isto, admitiu-se uma análise para o segmento econômico varejista do
setor de alimentos com ênfase em bebidas que não é alcançado pelo benefício fiscal do
ICMS, ou seja, não é alvo da política de incentivo fiscal, como grupo controle. Enquanto o
segmento atacadista é o grupo de tratamento. Indagou-se sobre a eficácia de política e a
magnitude do seu impacto sobre receita de ICMS no setor em que foi aplicado o benefício
fiscal, estabelecido pela arrecadação do tipo carga líquida, no estado do Ceará.
Para analisar o efeito desta política foi utilizado o método das diferenças em
diferenças para os segmentos atacadistas e varejistas do setor nos anos de 2007 a 2012. Para
estudar a diferença entre os dois grupos, a amostra foi dividida em quatro grupos: O grupo de
controle antes da intervenção, o grupo de tratamento antes da intervenção, o grupo de
controle depois da intervenção e o grupo de tratamento depois da intervenção. Variáveis
dummies foram utilizadas como regressores para captar o efeito da política sobre os grupos.
Os resultados mostraram que todas as estimativas dos coeficientes são
estatisticamente significantes ao nível de 5%, pelo menos. Notou-se que após a
implementação da política, a arrecadação média do grupo de tratamento aumentou mais que a
arrecadação média do grupo de controle. Ou seja, após a implementação da política, a
27
arrecadação do grupo que sofreu o impacto da política, tornou-se maior do que a arrecadação
do grupo de controle.
Conclui-se que a implementação do regime de substituição tributária –
carga líquida provocou uma variação positiva na arrecadação do ICMS no setor de alimentos
com ênfase em bebidas. Para as empresas que sofreram o impacto da nova legislação,
observou-se um aumento de 26,39% na arrecadação do imposto no período de 2007 a 2012.
Já para as empresas que continuaram no outro regime normal de tributação, ou seja, não
sofreram o impacto da nova legislação, o aumento foi de apenas 18,89%. Os impactos sobre
a arrecadação do ICMS no setor de alimentos com ênfase em bebidas foram positivos e
representaram um aumento de 7,799% da arrecadação no setor.
Sugere-se como extensão do trabalho a realização de outros estudos, versando, dentre
outros aspectos, sobre a possibilidade de aperfeiçoar-se o regime de substituição tributária, a
fim de aperfeiçoá-lo, corrigindo eventuais equívocos, dentre eles, a adoção de um prazo de
carência para o início do recolhimento do imposto dos produtos submetidos ao ICMS-ST, a
fim de corrigir um dos principais problemas advindos da adoção do regime de substituição
tributária.
28
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Tributária nas Operações realizadas por contribuintes do Imposto sobre Operações
relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS – enquadrados nas
Atividades Econômicas que indica e dá outras providências.. Disponível em:
<http://www.sefaz.ce.gov.br/content/aplicacao/internet/legislacao_download/ano_2007/lei12
670/lei%2012670.pdf>.
29
______. Decreto n° 24.569, de 31 de julho de 1997. Consolida e regulamenta a Legislação
do Imposto Sobre Operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações
de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS), e dá
outras providências. Disponível em:
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