maria da glÓria fernandes do nascimento albino · drª analice de almeida lima universidade...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MARIA DA GLÓRIA FERNANDES DO NASCIMENTO ALBINO PROPOSIÇÃO PARA ATUALIZAR A HABILIDADE DE IDENTIFICAR COM PROFESSORES DE BIOLOGIA: contribuições da teoria de assimilação de P. Ya. Galperin NATAL, RN 2016

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Page 1: MARIA DA GLÓRIA FERNANDES DO NASCIMENTO ALBINO · Drª Analice de Almeida Lima Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE ... Profª. Drª. Magnólia Fernandes Florêncio

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MARIA DA GLÓRIA FERNANDES DO NASCIMENTO ALBINO

PROPOSIÇÃO PARA ATUALIZAR A HABILIDADE DE IDENTIFICAR COM

PROFESSORES DE BIOLOGIA: contribuições da teoria de assimilação de P. Ya.

Galperin

NATAL, RN

2016

Page 2: MARIA DA GLÓRIA FERNANDES DO NASCIMENTO ALBINO · Drª Analice de Almeida Lima Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE ... Profª. Drª. Magnólia Fernandes Florêncio

Maria da Glória Fernandes do Nascimento Albino

PROPOSIÇÃO PARA ATUALIZAR A HABILIDADE DE IDENTIFICAR COM

PROFESSORES DE BIOLOGIA: contribuições da teoria de assimilação de P. Ya.

Galperin

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Doutora em Educação. Orientadora: Profª. Drª. Betania Leite

Ramalho

Natal, RN

2016

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Albino, Maria da Glória Fernandes do Nascimento.

Proposição para atualizar a habilidade de identificar com professores de

biologia: contribuições da teoria de assimilação de P. Ya. Galperin/ Maria da

Glória Fernandes do Nascimento Albino. - Natal, 2016.

330f: il.

Orientador: Profa. Dra. Betania Leite Ramalho.

Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação.

1. Profissionalização docente - Biologia – Tese. 2. Habilidade de identificar

– Tese. 3. Procedimentos lógicos – Tese. 4. Teoria de Galperin - Tese. I.

Ramalho, Betania Leite. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.

Título.

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Maria da Glória Fernandes do Nascimento Albino

PROPOSIÇÃO PARA ATUALIZAR A HABILIDADE DE IDENTIFICAR

COMPROFESSORES DE BIOLOGIA: contribuições da teoria de assimilação de P.

Ya. Galperin

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Doutora em Educação.

Aprovada em: / /

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Profª. Drª. Betania Leite Ramalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Orientatora

________________________________________

Profª. Drª Analice de Almeida Lima Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE

Examinadora Externa

________________________________________ Profª. Drª. Maria Aliete Cavalcanti Bormann

Instituto de Formação Superior Presidente Kennedy Examinadora Externa

________________________________________

Profª. Drª. Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Examinadora Interna

________________________________________ Profª. Drª. Josivânia Marisa Dantas

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Examinadora Interna

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Para todos aqueles que eu considero

meus.

Aqueles que me viram cair e me

ergueram,

Aqueles que me viram subir e me

aplaudiram,

Aqueles que não só me viram lutar,

lutaram.

Aqueles que choraram e vão sorrir

comigo!

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AGRADECIMENTOS

Aprendi muita coisa durante o longo caminho para a construção desta

tese. O mais importante foi que a conquista de um título de doutor não pode ser

medida pelas linhas escritas. Nesse verdadeiro ritual de passagem, nunca estive

sozinha... E esses agradecimentos são para vocês que estiveram comigo.

Animando-me com mensagens, ensinando-me, ajudando com o silêncio ou o

barulho necessário. Empurrando-me para frente, lembrando, quando eu quase

esquecia que o olhar de Deus vela por mim... E que seja sempre assim.

Aí vão meus agradecimentos, minhas lembranças e meus desejos

àqueles que me são caros, ditos em letras de músicas que sempre escuto e gosto

de cantar...

Ao meu pai (Nonato) e a minha mãe (Francisca), por me ensinarem que

“loving can heal, loving can mend your soul. And it´s the only thing that I Know. I

swear it will get easier. Remember that with every piece of you. And it's the only thing

we take with us when we die.” (Photograph. Ed Sheeran)

Ao meu marido, (Amadeu) porque “all of me loves all of you. You're my

end and my beginning. Even when I lose, I'm winning. 'Cause I give you all of me.

And you give me all of you”. (All of me. John Legend)

À Mª Helena (minha filha), “I was born to love you with every single beat of

my heart. Yes, I was born to take care of you, every single day of my live”. (I was

born to love you. Freddie Mercury)

À Lucas, Victor e Amadeu Netto (com respectivas e queridas amadas) por

estarem comigo no silêncio e nas conversas, no café, no jantar, em todos os

momentos, calmos ou turbulentos.... Um conselho: “se joga na primeira ousadia, que

tá pra nascer o dia do futuro que te adora. E bota o microfone na lapela, olha pra

vida e diz pra ela... Eu quero ser feliz agora!”. (Eu quero ser feliz agora - Oswaldo

Montenegro)

Aos meus irmãos (Camago e Ney), minhas cunhadinhas (“Marcela minha

filha” e Juju), meus amados sobrinhos (Bia e Henrique), “Ooh you're the best friend

that I ever had. I've been with you such a long time. You're my sunshine and I want

you to know that my feelings are true. I really love you. Oh you're my best friend”.

(You´re my best friend - Queen)

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Aos queridos primos, primas e todos os amigos que partilham suas festas

e férias na alegre e acolhedora casa de Camurupim. Muitas angústias, medos,

derrotas, vitórias e esperanças foram ali partilhadas com vocês... Tudo me leva a

cantar com vocês: “Eu sei, que a vida devia ser bem melhor, e será... É a vida, é

bonita e é bonita”. (O que é, o que é? – Gonzaguinha)

Às minhas queridas e lindas tias (Francisca, Marieta, Dalva, Volga e Rita).

Amigos da comunidade de São José. Irmãs do convento de Santana, irmã Edileuza,

padre Antônio, a querida Nilva e todas as outras pessoas que me deram força e me

presentearam com orações. Que me lembraram de que: “Tudo é do Pai! Se sou

fraco e pecador, bem mais forte é o Meu Senhor que me cura por amor! Tudo é do

Pai, toda honra e toda a gloria. É Dele a vitória alcançada em minha vida”! (Tudo é

do Pai. Padre Fabio de Melo)

À Aninha Clau, Aninha Cris e Alian, “When the sun shines, we'll shine

together. Told you I'll be here forever. Said I'll always be your friend. Took an oath

I'mma stick it out 'till the end. Now that it's raining more than ever; Know that we'll still

have each other. You can stand under my umbrella”. (Umbrella – Elvis Presley)

À Rozi, Ismenia, Claudia (dinha), Severo, Maitê e Clau por me fazerem

acreditar que: “Friends will be friends. When you're in need of love they give care and

attention. When you're through with life and all hope is lost, hold out your hand cause

friends will be friends right to the end”. (Friends will be friends - Queen)

Aos queridos companheiros de Pilates e meus fisioterapeutas fantásticos

com seus exercícios milagrosos. Amigos que formei e que me faziam rir mesmo no

sofrimento. Que me lembravam de que eu podia rugir... Nossa música só pode ser: “I

got the eye of the tiger, a fighter, dancing through the fire. 'cause I am a champion

and you're gonna hear me roar. Louder, louder than a lion 'cause I am a champion

and you're gonna hear me roar”. (Roar - Katy Perry)

Aos professores de Biologia do CENAT (Campus Natal-Central), Jô e

Edilene (em especial), Adriana, Gil, Kelvin, Ricardo e Neivan por me acolherem e

ajudarem na etapa empírica deste trabalho. Quando encontrava com vocês nas

reuniões, essa música sempre vinha à minha cabeça: “Uh oh, I don't know about you

but I'm feeling 22. Everything will be alright if you keep me next to you. You don't

know about me, but I bet you want too. Everything will be alright if we just keep

dancing like we're 22”. (22 – Taylor Swift)

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A todos os amigos e colegas do grupo Getame (Ferreira, João Poliça,

Clevia, Helianane, Marcelinho Victor, Marcelinho Siqueira, Rozi, Sônia, Jefferson,

Fábia, Camila, Andreia, Alessandro). Queridos, “we are the champions. And we'll

keep on fighting till the end. We are the champions. No time for losers, ‘cause we are

the champions of the world”. (We are the champions - Freddie Mercury)

As professoras doutoras Magnólia, Josivânia e Aliete, “Only you came

when I needed a friend. Believed in me through thick and thin. This song is for you.

Filled with gratitude and love. God bless you!”. (You made me feel brand New - The

Stylistics)

Aos coordenadores da Pós-Graduação em Educação, professores

doutores Marta Pernambuco e André Ferrer. God bless you! You made me feel

brand new!

À Professora doutora Betania Leite Ramalho, por sua disponibilidade, por

seu apoio, por seu carinho. “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até

quando o corpo pede um pouco mais de alma. A vida não para... O mundo vai

girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós.

Um pouco mais de paciência.” (Paciência - Lenine & Dudu Falcão)

Ao professor Isauro Beltran Núñez, com quem iniciei o doutorado, por ter

proporcionado aprendizados. “Às vezes olho pra trás e percebo por onde caminhei.

A lembrança me traz a razão. Lucidez de tudo que encontrei... Mesmo tendo

explicação. Pois tudo que eu vi não é tudo o que eu preciso aprender”. (Aprender-

Palavra antiga)

Aos que me ensinaram a ser forte: “I keep cruising. Can't stop, won't stop

grooving. It's like I got this music in my mind, saying it's gonna be alright. ‘Cause the

players gonna play, play, play and the haters gonna hate, hate, hate. Baby I'm just

gonna shake, shake, shake, shake it off”. (Shake it off - Taylor Swift)

Aos que diziam amar, “More than words is all you have to do to make it

real. Then you wouldn't have to say that you love me, 'Cause I'd already know”.

(More than words - Extreme)

Aos que não deram o devido valor ao respeito e a amizade, “You only

need the light when it's burning low. Only miss the sun when it starts to snow. Only

know you love her when you let her go. Only know you've been high when you're

feeling low. Only hate the road when you're missing home. Only know you love her

when you let her go. And you let her go.” (Let her go – Passenger)

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Aos que perguntaram o significado da tese, “She May be the beauty or the

beast. May be the famine or the feast. May turn each day into a heaven or a hell. She

may be the mirror of my dreams. A smile reflected in a stream. She may not be what

she may seem inside her shell”. (She - Charles Aznavour)

Ao fim, onde tudo se resolve; “What have you done today to make you

feel proud? It's never too late to try. What have you done today to make you feel

proud? We need a change. Do it today”. (Proud - Heather Small)

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Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos

francos.

De rostos serenos, de palavras soltas.

Eu quero a rua toda parecendo louca.

Com gente gritando e se abraçando ao

sol.

Hoje eu quero ver a bola da criança livre.

Quero ver os sonhos todos nas janelas.

Quero ver vocês andando por aí.

Hoje eu vou pedir desculpas

pelo que eu não disse.

Eu até desculpo o que você falou.

Eu quero ver meu coração no seu sorriso

e no olho da tarde a primeira luz.

Hoje eu quero que os boêmios

gritem bem mais alto.

Eu quero um carnaval no engarrafamento.

E que dez mil estrelas vão riscando o céu

buscando a sua casa no amanhecer.

Hoje eu vou fazer barulho pela

madrugada.

Rasgar a noite escura como um lampião.

Eu vou fazer seresta na sua calçada.

Eu vou fazer misérias no seu coração.

Hoje eu quero que os poetas

dancem pela rua,

pra escrever a música sem pretensão.

Eu quero que as buzinas toquem flauta-

doce.

E que triunfe a força da imaginação.

(Sem mandamentos - O. Montenegro)

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RESUMO

A habilidade de identificar se relaciona à compreensão e resolução de diversas

situações que dentre outras, define, identifica e classifica seres, processos e

fenômenos relacionados ao ambiente vivo. Quanto ao ensino, desempenha papel

importante na assimilação de conteúdos e demais habilidades uma vez que,

concebida como um procedimento lógico, relaciona-se diretamente com a

assimilação de conceitos científicos, constituindo-se, assim, conhecimento docente.

No Brasil, levando em consideração a carência de trabalhos relacionados a essa

dimensão e os poucos encontrados na perspectiva Histórico-Cultural no ensino

dessa disciplina, a proposição de uma atualização dessa habilidade sob as bases da

teoria de Galperin pode se configurar como recurso didático-pedagógico estratégico

no processo de formação e profissionalização docente. Nessa configuração, o

presente trabalho propõe um sistema didático para a atualização dessa habilidade;

como dimensão do conhecimento profissional de professores do Instituto Federal de

Ciência, Tecnologia e Educação do Rio Grande do Norte (IFRN), campus Natal-

Central. A tese defendida foi que a proposição de um sistema didático para a

atualização da habilidade de identificar junto a professores de Biologia baseado na

teoria de P. Ya. Galperin pode ser um recurso didático-pedagógico estratégico no

processo de formação e profissionalização docente. Para verificação da pertinência

da tese foi estabelecido um percurso metodológico realizado em três momentos

interconstitutivos: a produção teórica, a investigação empírica e a proposição do

sistema didático. Na investigação empírica, foram considerados os instrumentos:

questionário, tarefa problêmica e observação, aplicados durante o diagnóstico. Os

resultados do diagnóstico foram utilizados na proposição de um sistema didático. A

organização e análise dos dados, realizadas de acordo com a análise de conteúdo

de Bardin (2011), proporcionaram a inferência da representação dos professores,

que foi interpretada com base no modelo proporcionado pela BOA III para a

habilidade de identificar. A representação dos professores foi categorizada como

sendo de nível de desenvolvimento médio, onde os docentes cometiam erros

conceituais e procedimentais em relação à habilidade, o que levou à interpretação

de que tinham familiaridade com a habilidade, mas não exibiam o domínio do

conceito nem da estrutura das ações para sua realização. A proposição do sistema

didático, baseado na Teoria de Galperin, se confirmou como recuso didático-

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pedagógico estratégico quando os resultados do diagnóstico expuseram

necessidades formativas importantes quanto à função da identificação na

epistemologia da ciência e no ensino, o que induziu a concepção de um modelo

epistemológico e um modelo didático para a habilidade. Sendo necessária a

atualização da habilidade, as etapas propostas na Teoria de Galperin mostram-se

pertinentes por apoiar-se no conceito de zona de desenvolvimento próximo,

respeitando o conhecimento anterior e proporcionando à aprendizagem. Além disso,

a perspectiva conduz ao desenvolvimento de atitudes, valores e convicções que se

relacionam ao desenvolvimento pessoal, com influência do coletivo, e, portanto, no

desenvolvimento profissional.

Palavras-chave: Habilidade de identificar. Procedimentos lógicos. Teoria de

Galperin. Profissionalização docente em Biologia.

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ABSTRACT

The ability to identify is related to understanding and solving different situations that,

among others, define, identify and classify beings, processes and phenomena

related to living environment. It plays an important role for education, assimilating

contents and other skills, once it is conceived as a logical procedure directly related

to the assimilation of scientific concepts, constituting teaching knowledge. In Brazil,

taking into account the lack of work related to this dimension and the few ones have

been found in the historical-cultural perspective in teaching this subject, it was

proposed an update of this ability based on Galperin's theory, which can be

configured as a didactic and pedagogical resource, strategic in training and

professionalization process. This paper proposes a didactic system for the update of

this ability; as a dimension of teachers’ professional knowledge from Rio Grande do

Norte Federal Institute of Science, Technology and Education (IFRN), campus-Natal

Central. The thesis defended the proposal of a didactic system, based on P. Ya

Galperin’s theory, to update the biology teachers’ ability to identify. It can be a

strategic, didactic and pedagogical resource in training and professionalization

process. A methodological path was established to check the relevance of the thesis,

conducted in three phases: theoretical work, empirical research and the proposal of a

didactic system. In the empirical research, the following instruments were used:

questionnaire, problematic task and observation, applied during diagnosis. The

results of the analysis were used in proposing an educational system. The

organization and data analysis, performed according to Bardin’s content analysis

(2011), provided the inference of teachers’ representation, which was interpreted

based on the model provided by BOA III for the ability to identify. Teachers’

representation was classified as medium development level, where teachers made

conceptual and procedural mistakes in relation to the ability, which led us to the fact

that they were familiar with the ability, but did not indicate the domain of the concept

or actions’ structure for its performance. The proposal of the didactic system based

on Galperin's theory was confirmed as strategic, didactic and pedagogical resource

when the results of the diagnosis demonstrated a significant training need about the

function of science and teaching epistemological identification, which led to the

design of an epistemological model and a didactic model for the ability. Upgrading

the ability is required. The steps proposed in Galperin’s Theory take relevance by

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relying on the concept of proximal development zone, taking into consideration the

previous knowledge and providing learning. In addition, the perspective leads to the

development of attitudes, values and beliefs which are related to personal

development with collective influence, therefore, to professional development.

Keywords: Ability to identify, logical procedures, Galperin's theory, teacher´s

professional development in Biology.

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RESUMEN

La Habilidad de identificar se relaciona a la comprensión y resolución de diferentes

situaciones que, entre otras, define, identifica y clasifica los seres, procesos y

fenómenos relacionados al ambiente vivo. En cuanto a la educación, que

desempeña un papel importante en la asimilación de contenidos y demás

habilidades, una vez que es concebida como un procedimiento lógico que se

relaciona directamente con la asimilación de conceptos científicos, constituyéndose

así en conocimiento profesional. En Brasil, teniendo en cuenta la carencia de

trabajos relacionados con esta dimensión y los pocos que se encuentra en la

perspectiva Histórico-Cultural en la enseñanza de la Biología, la proposición de una

actualización de esta habilidad bajo las bases de la teoría de Galperin se puede

configurar como recurso didáctico y pedagógico estratégico para el proceso de

formación y profesionalización. En esta configuración, el presente trabajo propone

un sistema didáctico para la actualización de esta habilidad; como una dimensión del

conocimiento profesional de los profesores del Instituto Federal de Ciencia,

Tecnología y Educación de Rio Grande do Norte (IFRN), campus-Natal-Central. La

tesis defendida fué que la proposición de un sistema didáctico para la actualización

de la habilidad de identificar, junto con profesores de Biología, basado en la teoría

P. Ya. Galperin puede ser un recurso didáctico y pedagógico estratégico en el

proceso de formación y profesionalización de los docentes. Para comprobar la

pertinência de la tesis se estableció una ruta metodológica tomada en tres

interconstitutivos tiempos: la producción teórica, la investigación empírica y la

propuesta del sistema de enseñanza. En la investigación empírica, fueron

considerados los instrumentos: cuestionario, tarea problêmica y observación

aplicados durante el diagnóstico. Los resultados del diagnóstico fueron utilizados en

la propuesta de un sistema didáctico. La organización y el análisis de los dados,

realizado de acuerdo con el análisis de contenido de Bardin (2011), proporcionaron

la inferencia de la representación de los profesores, que fué interpretada de acuerdo

con el modelo proporcionado por la BOA III para la habilidad de identificar. La

representación de los profesores fué categorizado como de nivel de desarrollo

medio, donde los docentes cometían errores conceptuales y procedimentales en

relación a la habilidad, lo que há llevado a la interpretación de que estaban

familiarizados con la habilidad, pero no mostraron el dominio de lo concepto o

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estructura de las acciones para su realización. La proposición del sistema didáctico

basado em las etapas de la teoría de Galperin, se confirmó como un recurso

didáctico-pedagógico estratégico, cuando los resultados de los diagnósticos

mostraron importantes necesidades de formación cuanto a la función de la

identificación en la epistemología de la ciencia y en la enseñanza, lo que llevó al

diseño de un modelo epistemológico y didáctico para la habilidad. Siendo necesaria

la actualización de la habilidad, las etapas propuestas en la Teoria de Galperin se

muestran pertinente en función de que se respalda en el concepto de zona de

desarrollo próximo, respetando el conocimiento previo y la disponibilidad para el

aprendizaje. Además, la perspectiva conduce al desarrollo de actitudes, valores y

creencias que se relacionan con el desarrollo personal, para influir en el colectivo, y

por lo tanto, en el desarrollo profesional.

Palabras Claves: Habilidad de identificar. Procedimientos lógicos. Teoría de

Galperin. Profesionalización docente en Biología.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Pinturas rupestres ................................................................................ 59

Figura 2 - Tipos de orientação ............................................................................ 128

Figura 3 - Momentos interconstitutivos da pesquisa ........................................... 182

Figura 4 - Percurso metodológico ....................................................................... 183

Figura 5 - Fases da análise de conteúdo ........................................................... 184

Figura 6 - Organização da pesquisa para a coleta de dados ............................. 185

Figura 7 - Campo semântico I: realizado a partir de respostas do

questionário ........................................................................................ 196

Figura 8 - Campo semântico II: realizado a partir de uma resposta do

questionário ........................................................................................ 196

Figura 9 - Campo semântico III: realizado a partir da observação e da

tarefa problêmica ............................................................................... 197

Figura 10 - Planificação do sistema didático ........................................................ 200

Figura 11 - Etapas da Análise de conteúdo realizada nas questões

respondidas pelos professores durante o diagnóstico ....................... 212

Figura 12 - Sistema de conhecimentos. ............................................................... 219

Figura 13 - Campo semântico I: realizado a partir de respostas do

questionário ........................................................................................ 236

Figura 14 - Campo semântico II: realizado a partir de uma resposta do

questionário ........................................................................................ 237

Figura 15 - Campo semântico III: realizado a partir da observação e

da tarefa ............................................................................................. 238

Figura 16 - Triangulação entre os campos semânticos ........................................ 239

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplos de dificuldades de aprendizagem no ensino de

Biologia ................................................................................................ 38

Quadro 2 - Componentes funcionais ...................................................................... 97

Quadro 3 - Tipos de BOA ..................................................................................... 127

Quadro 4 - Dimensões e componentes do conhecimento profissional ................. 155

Quadro 5 - Plano do questionário diagnóstico ..................................................... 187

Quadro 6 - Plano da tarefa diagnóstica ................................................................ 189

Quadro 7 - Plano de observação do diagnóstico.................................................. 192

Quadro 8 - Modelo conceitual das categorias analisadas .................................... 194

Quadro 9 - Modelo do objeto e modelo da ação para a habilidade de

identificar ............................................................................................ 195

Quadro 10 - Modelos epistemológico e didático para a habilidade de

identificar ............................................................................................ 195

Quadro 11 - Categorização dos níveis de desenvolvimento da habilidade ............ 197

Quadro 12 - Plano do questionário para a atividade diagnóstica ........................... 213

Quadro 13 - Perfil Sócio Profissional dos Professores ........................................... 214

Quadro 14 - Modelo conceitual das categorias analisadas .................................... 217

Quadro 15 - Plano da Tarefa para a atividade diagnóstica .................................... 227

Quadro 16 - Modelo da BOA tipo III da habilidade de identificar ............................ 230

Quadro 17 - Modelo para a Categorização dos níveis de desenvolvimento .......... 240

Quadro 18 - Plano da tarefa diagnóstica ................................................................ 249

Quadro 19 - Plano da tarefa motivacional .............................................................. 252

Quadro 20 - Plano da tarefa motivacional .............................................................. 253

Quadro 21 - Modelo da BOA tipo III para habilidade de identificar ........................ 256

Quadro 22 - Plano da Tarefa da etapa da BOA ..................................................... 257

Quadro 23 - Plano da tarefa 1 da etapa materializada ........................................... 259

Quadro 24 - Plano da tarefa 2 da etapa materializada ........................................... 260

Quadro 25 - Plano da Tarefa 3 da etapa materializada .......................................... 262

Quadro 26 - Plano da Tarefa 4 da etapa materializada .......................................... 263

Quadro 27 - Plano da Tarefa 5 da etapa materializada .......................................... 264

Quadro 28 - Plano da Tarefa 6 da etapa materializada .......................................... 266

Quadro 29 - Plano da Tarefa 7 da etapa da linguagem externa ............................ 268

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Quadro 30 - Plano da Tarefa 8 da etapa da linguagem externa ............................ 270

Quadro 31 - Plano da Tarefa 9 da etapa da linguagem externa ............................ 271

Quadro 32 - Plano da Tarefa 10 da etapa da linguagem externa .......................... 272

Quadro 33 - Plano da Tarefa 11 da etapa da linguagem externa .......................... 273

Quadro 34 - Plano da Tarefa 12 da etapa mental .................................................. 275

Quadro 35 - Plano da Tarefa 13 da etapa Mental .................................................. 276

Quadro 36 - Plano da Tarefa 14 da etapa mental .................................................. 277

Quadro 37 - Controle em cada uma das etapas da atualização ............................ 278

Quadro 38 - Modelo para a realização do controle em cada uma das tarefas ....... 279

Quadro 39 - Plano da tarefa da etapa do controle final .......................................... 279

Quadro 40 - Plano do Diagnóstico final .................................................................. 280

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Respostas mais frequentes em relação a conceito ............................ 217

Tabela 2 - Respostas mais frequentes em relação à conceito científico ............. 221

Tabela 3 - Respostas mais frequentes sobre definir conceito científico .............. 223

Tabela 4 - Respostas mais frequentes dos professores sobre a relação

entre as habilidades de definir e identificar ........................................ 225

Tabela 5 - Respostas mais frequentes sobre o modelo do objeto ...................... 231

Tabela 6 - Respostas mais frequentes sobre o modelo da ação ........................ 233

Tabela 7 - Respostas mais frequentes sobre o modelo epistemológico ............. 234

Tabela 8 - Respostas mais frequentes sobre o modelo didático de

identificar ............................................................................................ 235

Tabela 9 - Respostas em relação ao conhecimento dos professores quanto

ao modelo do objeto da habilidade de identificar ............................... 241

Tabela 10 - Respostas dos professores quanto ao modelo da ação..................... 242

Tabela 11 - Respostas dos professores quanto ao modelo epistemológico ......... 244

Tabela 12 - Respostas dos professores quanto ao modelo didático ..................... 245

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LISTA DE SIGLAS

BOA Base Orientadora da Ação

DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

IFRN Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação do Rio Grande do

Norte

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério da Educação

OCDE Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico

PISA Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes

PORQUE Programa de Orientação para resolução de Questões

PPGED Programa de Pós-Graduação em Educação

TALIS Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

ZDP Zona de Desenvolvimento Próximo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 23

1.1 O contexto da pesquisadora ................................................................. 23

1.2 Situando a pesquisa .............................................................................. 25

1.2.1 Ciência, ensino de ciências e procedimentos ........................................... 25

1.2.2 O ensino de Biologia na Educação Básica ............................................... 30

1.3 A problemática: a identificação como conhecimento profissional dos

professores de Biologia ........................................................................... 36

1.4 Pressupostos teóricos .......................................................................... 40

1.5 O problema da pesquisa, o objeto de estudo, os objetivos e a

tese proposta ........................................................................................ 42

1.6 A estrutura da tese ................................................................................ 43

2 PROCESSOS DO PENSAMENTO: os conceitos e suas

operacionalizações.................................................................................. 46

2.1 A lógica como área disciplinar ............................................................. 47

2.2 A lógica e o pensamento ...................................................................... 58

2.3 Conceitos e tipologias .......................................................................... 65

2.3.1 Os conceitos científicos e os conceitos do cotidiano ................................ 70

2.3.2 A formação de conceitos e tipos de generalização ................................... 73

2.4 Os procedimentos lógicos relativos aos conceitos ............................. 76

2.4.1 A definição de conceitos .......................................................................... 80

2.4.2 A identificação ......................................................................................... 82

2.4.3 Os procedimentos lógicos como conteúdo geral das disciplinas e

vias para a assimilação de conceitos científicos ...................................... 86

2.4.4 A identificação e a assimilação de conceitos científicos: Limites e

possibilidades ......................................................................................... 89

3 HABILIDADES GERAIS SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DE

GALPERIN ............................................................................................. 92

3.1 Habilidade enquanto atividade ............................................................. 92

3.2 Conceitos de habilidade ..................................................................... 100

3.3 Habilidade como procedimento lógico ............................................... 102

3.4 Habilidade como conteúdo de ensino ................................................ 105

3.5 Formação/atualização de habilidades ................................................ 110

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3.5.1 O processo de formação/ atualização de habilidades ............................. 118

4 CONHECIMENTO PROFISSIONAL E PROFISSIONALIZAÇÃO

DOCENTE: o saber e o aprender para ensinar, no desenvolvimento

profissional............................................................................................ 147

4.1 A profissionalização da docência: profissionalidade e

profissionalismo .................................................................................... 147

4.2 Os saberes (conhecimento) docentes ................................................ 152

4.2.1 Os saberes docentes e a identidade profissional ................................... 158

4.3 Aprendizagem docente: atividade e comunicação ............................... 162

4.4 Desenvolvimento profissional ............................................................ 169

4.5 Ensino: formação e desenvolvimento .................................................... 171

5 METODOLOGIA ................................................................................... 176

5.1 Fundamentos da metodologia ............................................................ 177

5.2 Contexto da pesquisa ......................................................................... 180

5.3 Percurso metodológico ....................................................................... 181

5.4 Instrumentos empíricos ...................................................................... 184

5.4.1 O questionário ....................................................................................... 186

5.4.2 A tarefa diagnóstica .............................................................................. 188

5.4.3 A observação ........................................................................................ 190

5.4.4 A validação dos instrumentos de coleta de dados .................................. 192

5.4.5 As estratégias de organização e de análise dos dados .......................... 193

5.5 Estruturação do sistema didático ....................................................... 198

5.5.1 Definição dos pressupostos para a planificação do sistema didático ...... 201

5.5.2 Definição dos objetivos ......................................................................... 202

5.5.3 Definição do Indicador qualitativo .......................................................... 203

5.5.4 Organização do conteúdo ...................................................................... 203

5.5.5 Organização do sistema de tarefas........................................................ 204

6 O DIAGNÓSTICO E SUA ANÁLISE ...................................................... 206

6.1 Encontro para familiarização e motivação dos professores ............. 207

6.2 O diagnóstico ...................................................................................... 211

6.2.1 Questionário ......................................................................................... 212

6.2.2 Observações gerais durante a realização do questionário ..................... 226

6.3 Tarefa problêmica ............................................................................... 226

6.3.1 Observações gerais durante a realização da tarefa problêmica .............. 235

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6.4 Os campos semânticos sobre a habilidade de identificar ................. 236

6.5 A triangulação dos dados ................................................................... 238

6.6 O Resultado dos níveis de desenvolvimento da Habilidade de

identificar............................................................................................. 240

7 PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA

DIDÁTICO ............................................................................................ 248

7.1 1º. Momento: diagnóstico do nível de desenvolvimento......................... 248

7.2 2º Momento: proposição da atividade para atualização da habilidade ... 250

7.3 3º Momento: controle ........................................................................... 277

8 CONSIDERAÇÕES, RECOMENDAÇÕES E PROJEÇÕES SOBRE A

ATUALIZAÇÃO DA HABILIDADE DE IDENTIFICAR ............................ 281

8.1 Considerações finais .......................................................................... 281

8.2 Recomendações para a realização de uma possível formação ......... 285

8.3 Projeções da investigação: a possibilidade do desenvolvimento da

criatividade na formação das habilidades lógicas ................................... 286

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 289

APÊNDICE A - DIAGNÓSTICO 1 .......................................................... 306

APÊNDICE B - DIAGNÓSTICO 2 .......................................................... 307

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO .................................... 308

APÊNDICE D - PROCEDIMENTOS LÓGICOS ...................................... 310

APÊNDICE E - TEXTO DE APOIO ........................................................ 312

ANEXO A - PROCEDIMENTOS DO PENSAMENTO LÓGICO ............... 322

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23

1 INTRODUÇÃO

1.1 O contexto da pesquisadora

No cenário escolar produzido pelas mudanças impostas à educação

necessária ao cidadão do séc. XXI, existem muitas questões a serem debatidas e

soluções a serem esquadrinhadas. A persistente crise da educação tem sido

justificada, entre outras causas, à fragilidade da formação docente e à dificuldade

desses em lidar com as novas e complexas exigências sociais, pedagógicas e

culturais. Para Núñez e Ramalho (2011) a crise é resultado de um ensino baseado

na transmissão de conteúdos prontos, descontextualizados e pouco desafiadores ao

pensamento e à inteligência dos estudantes.

No Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA)1 de 2012

divulgado em dezembro de 2013, o Brasil alcançou a pontuação de 405, frente à

média de 501. São 65 países e o Brasil ocupa o 59º lugar no ranking em ciências.

De acordo com o relatório do exame feito pela Organização de Cooperação e de

Desenvolvimento Económico (OCDE), 61% dos alunos brasileiros têm desempenho

fraco em ciências e somente 0,3% têm desempenho de alto nível (ORGANIZAÇÃO

DE COOPERAÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO, 2012).

Pelos resultados obtidos no PISA de 2012, o Brasil se encontra no nível 2,

o que significa que nossos estudantes têm conhecimentos científicos razoáveis para

fornecer explicações científicas em contextos familiares ou para tirar conclusões

baseadas em investigações simples. São capazes de refletir de forma direta e de

fazer interpretações literais de resultados de pesquisas científicas ou de soluções de

problemas tecnológicos. Esse resultado parece nos confirmar que a educação

formal está se esquecendo de ensinar algo fundamental (ORGANIZAÇÃO DE

COOPERAÇÃO E DE DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO, 2012).

Essa percepção foi o ponto de partida para o desenvolvimento da

pesquisa que originou o presente trabalho, e foi construída a partir das inquietações

provocadas durante os vinte anos de exercício profissional na educação, não

somente ensinando ciências e Biologia a crianças, adolescentes, jovens e adultos,

1 O PISA é promovido pela OCDE. Este exame avalia através de provas escritas estudantes com 15

anos de idade, de vários países. Apesar de já ter sido realizado o PISA 2015, seu resultado só será conhecido em dezembro do corrente ano (2016).

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da rede pública e rede privada, mas também como técnica pedagógica da Secretaria

de Educação do Estado do Rio Grande do Norte (durante seis anos), onde era

responsável pela formação de professores da área das ciências da natureza; e

ainda, como orientadora pedagógica do ensino médio de uma escola da rede

privada na cidade do Natal. Essas últimas experiências, levaram-me a refletir em

relação às necessidades formativas dos professores frente aos saberes ou

conhecimentos necessários para ensinar. Dentre as necessidades disciplinares,

estavam àquelas concernentes à formação e aplicação dos procedimentos lógicos

relacionados aos conceitos. Essa percepção da necessidade formativa se

confirmava quando os professores, ao serem questionados quanto aos

procedimentos lógicos e às habilidades que eram formadas nas disciplinas que

lecionavam, se atrapalhavam, falavam sobre representações ou diziam que o

importante era saber os conceitos. Mas como ensinar conceitos sem os

procedimentos? Seria suficiente, para a aprendizagem dos alunos, memorizar os

conceitos dados durante a aula? Pude constatar que existiam insuficientes

informações na literatura científica nacional sobre esse importante conhecimento

profissional, o que possivelmente gerava as dificuldades intuídas no ensino e na

aprendizagem dos conceitos.

A curiosidade científica sobre os procedimentos lógicos e as dificuldades

percebidas em alunos do ensino médio em responder de forma adequada às

questões de provas, motivaram a proposição, na escola onde exercia a função de

orientação pedagógica, um programa denominado Programa de Orientação para

resolução de Questões (“PORQUE”). Esse programa foi implantado como uma ação

para melhorar o rendimento dos alunos nas avaliações da escola e no Exame

Nacional do Ensino Médio (ENEM). Dentre os projetos a ele articulados, estava um

de formação dos professores quanto às habilidades gerais. Os professores foram

convidados pela escola e, coadunando com a perspectiva da formação continuada,

recebiam uma bolsa para estudarem aos sábados. A motivação para a formação foi

provocada pela percepção de que, o que eles reclamavam dos alunos, em relação à

dificuldade de compreensão do que estava sendo requisitado nas questões de

avaliação, se devia ao desconhecimento desses quanto ao conjunto de operações

necessárias para realizar o que estava sendo pedido. E esse desconhecimento era

propiciado pelo ensino dos procedimentos de forma mecânica, empírica.... Os

professores, após a formação, com duração de 30 horas, prepararam atividades do

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tipo situação-problema para compor os cadernos de atividades à serem utilizados no

programa. O planejamento das atividades foi embasado no princípio didático da

unidade entre conceito e ação, sendo os objetivos formulados em termos de

habilidades requeridas. O Projeto durou um ano e teve aprovação por parte dos

alunos, pais e professores, além de possibilitar excelente resultado da escola no

ENEM, mas foi extinto quando os responsáveis pelo projeto saíram da escola.

Em 2012, ingressei no Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e

Educação do Rio Grande do Norte (IFRN), onde retomei a prática docente como

professora de Biologia e pude perceber que as dificuldades encontradas pelos

professores do IFRN, em sua maioria com mestrado e doutorado, eram semelhantes

às dos professores com os quais havia trabalhado nas escolas da rede estadual e

privada.

Em 2013, o estudo sobre as habilidades na perspectiva Histórico Cultural

de Vigotsky, Leontiev, Galperin, Talízina, Davidov, dentre outros, proporcionado pela

formação realizada na escola, e as inquietações provocadas pela percepção das

necessidades formativas dos professores quanto a esse conhecimento, motivaram

meu ingresso no doutorado em educação do Programa de Pós-Graduação em

Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGED/UFRN). A

linha de pesquisa escolhida foi a de “Educação, representação e formação docente”

sob a orientação do professor Doutor Isauro Beltran Núñez, e o objeto de estudo, as

habilidades cognitivo-linguísticas sob a abordagem da teoria da formação das ações

mentais e dos conceitos de P. Ya. Galperin.

O presente trabalho se realizou a partir do diagnóstico do nível de

desenvolvimento da habilidade de identificar em professores de Biologia, como

atualização de conhecimento profissional, sob os pressupostos da Teoria Histórico

Cultural com a proposição de um sistema didático estruturado nas etapas da teoria

de Galperin.

1.2 Situando a pesquisa

1.2.1 Ciência, ensino de ciências e procedimentos

Para a perspectiva marxista, a ciência surge a partir da necessidade do

homem em dar solução aos problemas que ocorrem na vida diária. Sendo de forma

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pragmática, um sistema de conhecimento que resulta da investigação científica

sobre a natureza, a sociedade e o pensamento que, como toda produção humana, é

historicamente condicionado.

Nessa perspectiva, segundo Núñez Jover (2007), a elaboração de

conhecimentos faz parte de um contínuo pluridimensional que é a sociedade, onde

cada fenômeno cobra sentido ao se relacionar com o todo. E o conhecimento

aparece como uma função da existência humana, como uma dimensão da atividade

social de homens que estabelecem relações objetivamente condicionadas. Segundo

o autor, somente dentro dessa trama de relações é possível compreender e explicar

o movimento histórico e social da Ciência, como a busca da verdade, ou um esforço

a favor do rigor e da objetividade.

Assim, segundo Kopnin (1972, p. 6), “[...] as ciências surgem não por

meio de declarações, mas como resultado do descobrimento de leis fundamentais

em cuja base cria-se o método para o estudo de grande conjunto de fenômenos de

importância capital.”

Isso a caracteriza como força produtiva que propicia a transformação do

mundo, uma vez que a Ciência é, antes de tudo, produção, difusão e aplicação de

conhecimentos, realizados por meio de procedimentos planejados e controlados.

Essas características distinguem e qualificam a investigação científica, no sistema

de atividades humanas2, como aquela que manipula fenômenos, objetos e fatos,

produzindo impactos, práticos e produtivos, no cotidiano social.

Na busca pelo conhecimento, os procedimentos se inserem como

ferramentas que fazem parte da natureza da ciência. Isso porque a investigação e a

sistematização do conhecimento, ou seja, a constituição de um sistema de ideias,

ligadas logicamente entre si, no qual é possível incluir conhecimentos parciais em

totalidades cada vez mais amplas, se tornam possíveis a partir dos procedimentos

(os instrumentos do método).

Nessa perspectiva, fazem parte não somente da construção do

conhecimento científico, mas são parte dele. O que coaduna com o que diz Pro

Bueno (1998), da não existência de uma ciência conceitual e uma ciência

2 Sistema de atividades humanas - Segundo Leontiev (1978), o sistema de atividades humanas está

contido nas relações sociais. Nesse sistema, o trabalho ocupa o lugar central e a atividade psicológica interna do indivíduo tem sua origem na atividade externa, já que o homem encontra na sociedade não somente o lugar onde desenvolver sua atividade, também os fins e motivos para tal desenvolvimento.

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procedimental. E para Kopnin (1972, p. 61), “A ascensão do conhecimento é a

assimilação não somente do objeto, mas também do próprio conhecimento”.

Assim, a exposição do conhecimento científico, apresentado em forma de

conceitos generalizados e abstratos, delineia a atividade do processo investigativo,

onde os procedimentos participam como um modo mental de condução (um

procedimento lógico) em relação a um objeto ou fenômeno.

Isso demanda que os procedimentos, entendidos como habilidades

quando conduzem à formação do pensamento teórico, aquele que opera com

generalizações teóricas – conceitos, leis, princípios e a essência do conteúdo –

encontram-se em cada pesquisa, cada atividade que materializa o conhecimento

sistematizado na solução de novas tarefas práticas ou mentais, dos pesquisadores.

Os procedimentos, por serem entendidos como parte do conhecimento

científico, devem estar incluídos no processo de enculturação científica3 que propõe

a assimilação de conhecimento, e de seu processo de produção, no ensino de

ciências. Cordón Aranda (2008) explicita que o ensino de ciências no ensino básico4,

deve permitir ao estudante aprender sobre a Ciência e a fazer ciência. Sendo assim,

destaca-se a necessidade de que os alunos adquiram não somente o conjunto de

conhecimentos já elaborados que constituem a cultura e a ciência de nossa

sociedade, mas também, de maneira muito especial, que adquiram habilidades que

permitam aprender por si mesmos, novos conhecimentos (POZO, 1998).

Os procedimentos lógicos, nessa perspectiva, são importantes conteúdos

de aprendizagem, uma vez que segundo Ileonkov (1977), esses, se transformam em

instrumental de trabalho conscientemente aplicados aos conceitos científicos, sendo

próprios não só das ciências, mas também de seu ensino.

Na literatura, podem ser encontrados numerosos trabalhos que têm como

objetivo expor ou analisar práticas docentes, relacionados a conteúdos, novas

informações ou conceitos da área das ciências. Mas em relação aos procedimentos,

não acontece da mesma forma.

A pesquisa bibliográfica mostrou que é possível encontrar artigos

relacionados ao raciocínio científico na área das ciências, como os de Castro

Moreno (2011) que explora a possibilidade de utilizar a categoria de raciocínio

3 Fazer parte da cultura científica - que as noções, ideias e conceitos científicos sejam parte de seu

corpus de conhecimento. 4 No Ensino Fundamental, o ensino de ciências é de responsabilidade do professor de Biologia.

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científico como guia que permita entender os conteúdos de ensino como conceituais

e procedimentais; outros relacionados ao conteúdo procedimental, como o de

Dourado (2006) que faz uma revisão sobre a importância do trabalho prático e das

aulas de campo no ensino de ciências; e algumas dissertações sobre habilidades

cognitivas, como a de Labarce (2009), que propõe uma sequência didática baseada

em atividades práticas e contextualizadas, para o desenvolvimento de habilidades

cognitivas.

Mas, poucos foram os trabalhos encontrados que abordavam o ensino ou

a utilização dos procedimentos lógicos ou habilidades lógicas, nas disciplinas da

área, de maneira explícita, em nosso país. Dentre eles, podemos destacar alguns

trabalhos que se realizaram sob o aporte Histórico-Cultural como por exemplo: a

tese de Ribeiro (2008) que teve como objetivo estudar o processo de apropriação

pelos professores, das séries iniciais do ensino fundamental, da habilidade de

planejar situações de ensino para a definição de conceitos e identificação de objetos

segundo a perspectiva de L. S. Vygotsky, a Teoria da atividade de A. N. Leontiev e a

Teoria da assimilação por etapas das ações mentais e dos conceitos de P. Ya.

Galperin; o artigo de Marques e Núñez (2011), que discute algumas contribuições da

teoria Histórico-Cultural na relação entre formação de conceitos científicos a partir

da teoria de Galperin e o processo da formação de habilidades; o trabalho de

Ferreira e Costa (2012), que apresenta um estudo teórico evidenciando algumas

contribuições da teoria da formação por etapas das ações mentais à organização do

ensino escolar; a tese de Pereira (2013), que teve como objetivo a organização, o

desenvolvimento e o estudo de um processo de formação da habilidade de

interpretar gráficos cartesianos como parte do conhecimento profissional docente,

utilizando como referencial a teoria de P. Ya. Galperin; a dissertação de Victor

(2015), sobre a habilidade de ler de forma compreensiva os textos dos livros

didáticos de Química; e, a tese de Meneses (2015), sobre o baixo nível de

desenvolvimento da habilidade de interpretar a reação química como sistema.

Os trabalhos realizados pelo grupo de pesquisas liderado pelo professor

doutor Isauro Beltran Núñez, na UFRN, têm influenciado diversos estudos nessa

perspectiva e tendem a crescer, como aconteceu em Cuba no fim da década de

1980, onde segundo Ribeiro (2008), os trabalhos de Talízina (1984) desencadearam

várias pesquisas sobre os procedimentos lógicos do pensamento. Esses estudos

consideram que a formação dos procedimentos iniciais do pensamento lógico, as

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chamadas habilidades gerais, nas diferentes disciplinas de ensino, contribui para a

apropriação dos conhecimentos de forma consciente. A importância do

desenvolvimento das habilidades gerais na educação cubana está estabelecida e se

reconhece que o processo de raciocínio se liga irremediavelmente a aquisição e o

manejo do conhecimento.

Entre os autores que dirigiram suas investigações científicas ao estudo e

tratamento das habilidades, pode-se encontrar Petrovski (1980), Avendaño Oliveira

e Labarrere Sarduy (1989), López (1990), Bermúdez (1993), Núñez e Gonzalez

(1996), Núñez (1998, 1999, 2011), Jorba et al. (2000), Talízina (2000), Estrada

Sierra (2007), Núñez e Ramalho (2012, 2015), Núñez e Albino (2014).

Desses trabalhos, pode-se definir que a apropriação de habilidades gerais

conduz à formação do pensamento que opera com a essência do conhecimento.

Esse saber, parte do conhecimento profissional para a docência das

ciências, e portanto da Biologia, não tem sido objeto de muitos trabalhos no Brasil, o

que permite inferir que existe uma fragilidade em relação ao saber profissional para

ensinar os procedimentos lógicos, que para Núñez e Ramalho (2011) parecem ser

transmitidos (treinados), pelos professores, de forma mecânica. As atividades

planejadas não levam em conta a complexidade do pensamento e raramente

superam a condição de pensamento intuitivo, limitando-se às condições postas pelo

pensamento empírico. Segundo os autores citados, essa limitação não contribui com

um ensino de procedimentos pela via de sua compreensão e isso dificulta a relação

que deve ser feita entre o objeto de conhecimento e a realidade, uma vez que,

segundo Núñez (2009) é o caráter consciente que permite que o estudante interaja e

transforme o objeto do conhecimento e a si mesmo. E para que um aluno chegue a

esse nível consciente, ter domínio de um procedimento, de uma habilidade geral,

segundo o autor, é necessário que o professor planeje e organize o processo de

formação.

Esse processo deve acontecer por meio de um plano didático coerente e

adequado à natureza desse tipo de aprendizagem. Nesse sentido, o conhecimento

dos processos do pensamento deve ser um objetivo importante para o professor de

Biologia uma vez que este precisa operar com eles para cumprir as finalidades das

atividades que realiza com seus alunos.

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1.2.2 O ensino de Biologia na Educação Básica

Após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394 de

dezembro de 1996 que estabelece em seu art. 35 as finalidades do Ensino Médio

como etapa final da educação básica, a escola se constitui o espaço de formação de

jovens, um espaço que deve permitir a aproximação da realidade e permita uma

aprendizagem diferente e a construção de novos saberes para a cultura do novo

século (BRASIL, 1996).

Na sociedade do século XXI, em um mundo dinâmico, que se forma e

transforma por meio de diversos processos e interações, a importância da Ciência e

da Tecnologia têm se alargado à medida que se tornam determinantes no

desenvolvimento econômico da nação, na transformação do meio ambiente, na

melhoria da qualidade de vida das populações, diante das necessidades, sempre

maiores, de conhecimentos que mudam rapidamente.

Em meio a uma infinidade de informações e notícias encontradas em

livros, e-books, jornais, revistas, redes sociais e canais de TV ou sites da internet,

cabe à educação formal, capacitar o aluno para saber buscar, selecionar e utilizar

informações de modo consciente, crítico, criativo e valorativo.

Esse é um dos grandes desafios do nosso século, marcado por um

paradigma informacional que privilegia velocidade e quantidade de informações:

saber escolher e tratar bem as informações, transformando-as em “conhecimento

pertinente” (MORIN, 2000). Em um mundo imerso em incertezas, esse

“conhecimento pertinente” diz respeito a saberes e métodos que permitam dar

solução, de forma criativa, a novos problemas. É a transferência de conhecimentos e

habilidades, a uma nova situação.

Nessa acepção, o ensino de Biologia deve ter como um de seus fins

básicos a educação científica. Possibilitar aos estudantes a adequada compreensão

da natureza da ciência, o que envolve compreender como se dá e se desenvolve o

conhecimento que essa ciência produz, seus métodos, seus valores, seus vínculos

com a tecnologia e suas atribuições na cultura de nossa sociedade.

Assim, mais do que estabelecer as bases do pensamento científico, o

ensino de Biologia, no ensino básico, deve integrar ciência e ensino por meio da

contextualização dos valores que atuam em ambas. E oferecer aos alunos um

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ambiente histórico mais autêntico de constituição humana, que lhes faça sentirem-se

participantes e capazes de atuar de maneira crítica e autônoma no ambiente que

os circunda.

Segundo Krasilchik (2008), um conceito muito presente nas discussões

dos educadores (professores de Biologia) é o da alfabetização biológica. A autora

apresenta um dos modelos desse conceito, proposto no Biological Science

Curriculum Study (1993) que admite quatro níveis de alfabetização. O Nominal –

quando o estudante reconhece os termos, mas não sabe seu significado

biológico; o Funcional – quando os termos memorizados são definidos

corretamente, sem que os estudantes compreendam seu significado; o Estrutural

– quando os estudantes são capazes de explicar adequadamente, em suas

próprias palavras e baseando-se em experiências pessoas, os conceitos

biológicos; e o Multidimensional – quando os estudantes aplicam o conhecimento

e as habilidades adquiridas, relacionando-os aos conhecimentos de outras áreas,

para problemas reais.

Dessa forma, um indivíduo alfabetizado em Biologia é capaz de

compreender os conceitos básicos da disciplina, pensar de maneira

independente, adquirir e avaliar informações, aplicando os conhecimentos

aprendidos em sua vida diária.

Todavia, segundo Pedracini et al. (2007), pesquisas sobre a formação

de conceitos, tomando como referência o ensino de Biologia, têm demonstrado

que estudantes da etapa final da educação básica apresentam dificuldades na

construção do pensamento biológico, mantendo ideias alternativas em relação

aos conteúdos básicos dessa disciplina, tratados em diferentes níveis de

complexidade no ensino fundamental e médio. Para esses autores, parece

evidente, diante dessa realidade, que o modo como o ensino é organizado e

conduzido está sendo pouco eficaz em promover o desenvolvimento conceitual e

assim a alfabetização biológica. Para Bortoli e Crisostimo (2009), isso se

relaciona a um dos grandes desafios do ensino de Biologia, nas escolas da

educação básica que é o de construir uma ponte entre o conhecimento escolar e

o mundo cotidiano.

Quanto ao currículo de Biologia, Krasilchik (1996) já assinalava a

inexistência de uma análise das implicações sociais do desenvolvimento

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científico-tecnológico presentes na mídia. Segundo a autora, muitos professores

admitiam que uma das funções do ensino de Biologia é preparar os jovens para

enfrentarem e resolverem problemas concretos. Mas, segundo Oliveira (2009),

ainda estamos lidando com alunos que não conseguem fazer a relação entre o

que estudam e o cotidiano, e por isso, entendem que a Biologia se resume à pura

memorização de nomes complexos, classificação de fenômenos e resolução de

problemas que não fazem parte do seu dia a dia.

Considerando a prática adotada no ensino de Biologia, a aparente falta

de princípios norteadores da prática docente pode ser um dos motivos para a

dificuldades em criar pontes do conhecimento escolar para o cotidiano . Segundo,

Ferretti e Bastos (2005) ao perguntarem, em entrevista, a professores de Biologia

se suas aulas eram organizadas segundo alguma teoria pedagógica, a resposta

foi negativa. Para os autores, geralmente, os professores utilizam muito mais os

fundamentos da experiência que os eventuais conhecimentos teóricos que

tenham adquirido.

Para Krasilchik (2008), as pesquisas demonstram que existe uma

admissão, um consenso, de que a formação biológica deve contribuir para que

cada indivíduo seja capaz de compreender e aprofundar as explicações

atualizadas de processos e de conceitos biológicos; a importância da ciência e da

tecnologia na vida moderna; o mundo dos seres vivos. Mas, para que isso seja

real, esses conhecimentos devem contribuir para que o cidadão seja capaz de

usar o que aprendeu ao tomar decisões de interesse individual e coletivo, no

contexto de um quadro ético de responsabilidade e respeito que leve em conta o

papel do homem na biosfera.

Essa ideia é harmônica com o que escreve Fariñas León (2010) sobre

educação auto-organizada, permanente. Segundo a autora, essa educação é

aquela que é capaz de emancipar o aprendiz (e o professor) gerando nesta

independência, autogoverno e autoeducação, atitude de cooperação e

determinado grau de consciência para empreender um desenvolvimento

sustentável que seja à altura dos requisitos perenes do progresso social.

Assim, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (DCNEM), o ensino de Biologia, tendo em vista que a função

precípua da educação vai além da formação profissional e atinge a construção da

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cidadania, deve dotar os jovens de autonomia intelectual, assegurando-lhes o

acesso ao conhecimento historicamente acumulado e à produção coletiva de

novos conhecimentos, sem perder de vista que educação é, em grande medida, a

chave para o exercício dos demais direitos sociais (BRASIL, 2013).

Para Fariñas León (2010), a necessidade de uma aprendizagem desse

tipo (auto-organizada) não é nova, tem acompanhado o homem ao longo da

história da cultura. Porém, tal demanda tornou-se mais evidente e decisiva na

época atual, quando as pessoas precisam principalmente saber procurar e

organizar o conhecimento fora da academia, em lugar de assimilar o mesmo de

forma acabada ou preparada no interior da mesma. Para a autora, urge uma

aprendizagem que propicie o início de outros e novos conhecimentos.

Para tanto, segundo Libâneo (2004), é necessário uma didática a

serviço de uma pedagogia para a formação de sujeitos pensantes e críticos que

destaque as estratégias pelas quais os alunos aprendem a internalizar conceitos

e habilidades do pensar, modos de ação didática e a aprendizagem do pensar e

do aprender que se constituam em “instrumentalidades” para lidar praticamente

com a realidade: resolver problemas, enfrentar dilemas, tomar decisões.

Poderíamos, assim, especular que não basta ensinar conceitos

biológicos para que sejam formados cidadãos conscientes e capazes de

participar ativamente na sociedade. O ensino de Biologia, como prática social,

não pode se abster aos aspectos relacionados ao contexto em que vivemos.

Segundo Banasco Almentero et al. (2013), a educação científica sobre

a natureza, a Biologia, desempenha uma função decisiva, ao brindar os

estudantes com conhecimentos que lhes permitem conformar explicações,

interpretações e predições acerca dos fenômenos e dos processos naturais;

desenvolver habilidades e procedimentos; assim como modos de atuação,

baseados em valores morais, dirigidos a interagir positivamente com a sociedade,

em um contexto determinado.

Do ponto de vista didático, a elevação da qualidade do ensino de

Biologia na educação básica exige a preparação qualificada de professores em

relação aos fundamentos científicos da disciplina, sólidos princípios políticos e

morais que correspondam com as tarefas que a sociedade lhes está

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encomendando: a formação de cada um de seus alunos, com uma concepção

científica de mundo, ativa e criadora, com convicções sociais.

Quanto aos conteúdos e sua estruturação, o ensino de Biologia, tem

sido organizado tradicionalmente em torno de várias ciências da vida – Citologia,

Genética, Evolução, Ecologia, Zoologia, Botânica, Fisiologia –, e as situações de

aprendizagem, não raramente, enfatizam apenas à compreensão dessas

ciências, de sua lógica interna, de seu instrumental analítico, de suas linguagens

e conceitos, de seus métodos de trabalho, perdendo de vista o entendimento dos

fenômenos biológicos propriamente ditos e as vivências práticas desses

conhecimentos (BRASIL, 2006).

Segundo Krasilchik (2008), a delimitação do escopo do ensino de

Biologia é para o professor um problema cada vez mais sério por várias razões: o

conhecimento está se expandindo enormemente e, em consequência, as ciências

biológicas vêm sofrendo transformações em sua organização. De uma ciência

que se concentrava na descrição e nos conhecimentos qualitativos, a biologia

passou a ser um campo de conhecimento com leis gerais, o que alargou e

aprofundou suas dimensões, tornando muito difícil o professor decidir o que deve

ser fundamental. Com o agravamento de problemas sociais, novos assuntos

foram incorporados aos programas, incluindo comportamento e neurofisiologia,

ecologia e conservação, bem como aspectos de biotecnologia.

Esse problema descrito acima tem dificultado a organização e a

seleção dos conteúdos prioritários para a formação do aluno do ensino básico.

Uma vez que se pode constatar a partir dos programas disciplinares, que os

professores tentam incluir em seus programas, todos os tópicos de forma

separada, sem integração ou visão sistêmica da disciplina, o que provoca a

sobrecarga de conteúdos.

A resolução do problema abordado pode ser buscada sobre diversos

pontos de vista teóricos. Uma das vias, a que hora é apresentada, utiliza os

pressupostos da teoria Histórico-Cultural.

Nessa teoria, os processos de ensino e a aprendizagem são vistos de

maneira dialética e compreendidos como atividade, uma vez que são norteados

por objetivos e motivos, relacionados à formação dos estudantes. Sendo assim, o

ponto de partida, a principal orientação, para a compreensão da Biologia como

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disciplina formadora, levando em conta a concepção da personalidade que se

quer formar no estudante, é aquela relacionada aos objetivos, ou seja, é preciso

que seja explícito “para que ensinar e aprender Biologia”.

Com base nos pressupostos da perspectiva Histórico-Cultural, e

assumido que o conteúdo da Biologia deve aproximar os estudantes da realidade

natural, social-tecnológica e suas mudanças, o ensino dessa disciplina, segundo

Salcedo Estrada et al. (2009) deve contribuir para:

a) Aproximar os estudantes da realidade natural e melhorar sua

interação com o meio ambiente;

b) Formar atitudes e valores que permitam valorizar o desenvolvimento

científico e tecnológico atual, suas implicações na sociedade e

adotar atitudes responsáveis frente a estes, ao considerar as

vantagens e as desvantagens da tecnologia;

c) Formar e desenvolver habilidades adequadas e pertinentes para

conhecer, aprender e interpretar os fatos e os fenômenos da

natureza;

d) Estimular a curiosidade frente a um fenômeno novo ou a um

problema da vida cotidiana;

e) Desenvolver interesse pela atividade científica e valorar a atividade

do investigador;

f) Vincular a teoria com a prática, o conteúdo com a vida e estimular a

atividade reflexiva mediante a experimentação;

g) Desenvolver habilidades para a vida, que permitam assumir

responsabilidades individuais e coletivas e enfrentar situações

problemáticas, adotando atitudes de respeito ante as opiniões

alheias e a argumentação na discussão das ideias, em um ambiente

de tolerância e democracia.

Igualmente, Cordón Aranda (2008) explicita que devem ser

desenvolvidas nos alunos aquelas capacidades que se encontram na base do

raciocínio intelectual, característico da atividade científica, e as habilidades e

estratégias para resolver problemas; a formação de atitudes, valores e normas de

comportamento relativas aos problemas que eles enfrentam como cidadãos,

sobre os que, no âmbito de suas possibilidades, têm ou terão oportunidade de

influir (meio ambiente, saúde, consumo, etc).

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Segundo Salcedo Estrada et al. (2009), no ensino de Biologia, deve-se

ter em conta que os objetivos do processo docente-educativo expressam o que

se espera do educando, o que se aspira que ele seja capaz de fazer. Isso porque,

o objetivo é a representação imaginária dos resultados possíveis a serem

alcançados com a realização de uma ação concreta (NÚÑEZ, 2009). Ainda

segundo o autor, esse propósito, ideal, subjetivo, adquire objetividade e se

concretiza na atividade desenvolvida pelos alunos sob a direção do professor.

Assim, a atividade, precisada no objetivo, é o núcleo fundamental. E por isso, o

objetivo deve ser expresso em termos de habilidades e os conhecimentos

reconhecidos nas inter-relações com estas, onde o objetivo e o motivo coincidem.

Quando não coincidem, o ensino e a aprendizagem são ações, e não atividades.

Essa proposição reitera a importância da formação de habilidades

gerais nas aulas de Biologia, uma vez que, por sua natureza e particularidades de

seu conteúdo, o ensino dessa disciplina tem forçosa responsabilidade com a

educação para a saúde, para a sexualidade e o ambiente. O que impõe o ensino

desses conteúdos como parte dos fundamentos de uma cultura geral de

aplicação de conceitos científicos, imprescindíveis à compreensão, explicação e

resolução de problemas individuais e sociais.

1.3 A problemática: a identificação como conhecimento profissional dos

professores de Biologia

A identificação, dentre os diversos procedimentos utilizados para:

explorar, manipular, organizar, representar e reproduzir uma nova informação;

possui um lugar de destaque na Biologia. Isso devido a natureza epistemológica

dessa ciência ser ajustada a inventariar, descobrir, classificar e sistematizar o

mundo vivo.

Seguindo a rota traçada pelos próprios desbravadores da ciência e

seus historiadores, podemos constatar a importância da identificação nas

proposições e descobertas que ajudaram a modelar a ciência definida como

Biologia.

Sua importância é reconhecida nos processos científicos históricos,

como o de Charles Darwin que identificou as diversas espécies de pássaros das

Ilhas Galápagos como gerações provenientes de um mesmo ancestral comum.

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Essa identificação deu origem às definições que compõem a teoria da Seleção

Natural e foi realizada a partir da observação e comparação dos espécimes de

tentilhões das diversas ilhas do arquipélago. Sua descrição é encontrada, em

detalhes, no livro “A origem das espécies” de 1859, e norteia a definição dada ao

processo evolutivo dos seres vivos.

Assim, por meio da identificação, Darwin pôde determinar propriedades

importantes para a elaboração da teoria sobre a diversidade encontrada no

mundo natural, dando subsídios para que outros cientistas dessem segmento às

investigações sobre a “origem das espécies”.

No ensino de Biologia, o procedimento de identificação, além de sua

importância; por desempenhar um papel significativo tanto nos processos mais

genéricos como nos mais específicos, permite valorar se os conceitos foram ou

não assimilados durante as atividades realizadas. Ele está incluído no grupo das

habilidades desenvolvidas enquanto são obtidas as diferenças usadas para

distinguir coisas, objetos, animais e fenômenos, como por exemplo, os diferentes

grupos animais e seus parentescos, por suas características necessárias e

suficientes.

A habilidade de identificar é requerida para a organização hierárquica

dos organismos biológicos, para a compreensão dos processos ambientais e

evolutivos por fazer parte dos pressupostos necessários à classificação, à

ecologia e à evolução; sendo parte na construção de estruturas cognitivas

básicas para a manipulação dos conceitos e processos (SALCEDO ESTRADA et

al., 2009). São ações do intelecto que se desenvolvem na atividade de

assimilação do conhecimento. E, por isso, participam na promoção do

desenvolvimento do pensamento produtivo e autônomo que permite,

posteriormente, a criatividade, imprescindível no processo de resolução de

problemas como via para o desenvolvimento dos estudantes.

Alexandre (2010), ao relacionar os problemas de aprendizagem em

Biologia à compreensão e o uso de conceitos e modelos para o desenvolvimento

de procedimentos e de atitudes, expõe as dificuldades encontradas. Entre elas

aparecem às relativas à identificação. Como mostra o quadro 1.

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Quadro 1 - Exemplos de dificuldades de aprendizagem no ensino de Biologia

TEMA DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Os seres vivos

- Conceitos: confusão entre atributos de ser vivo e animais*; presença no

universal de células; vivo – restrito a animais; crença em geração

espontânea.

- Procedimentos: classificação seguindo critérios de semelhança morfológica,

dificuldades na identificação com chaves de classificação.

- Atitudes: insuficiente respaldo conceitual à manutenção da diversidade;

identificação de microrganismos como prejudicial.

Plantas e

fotossíntese

- Conceitos: atribuição de presença de flores e frutos, somente a plantas que

os têm evidenciado; confusão fruto/fruta; as plantas se alimentam da água,

da terra*.

- Procedimentos: dificuldades na identificação de plantas de seu entorno.

- Atitudes: falta de interesse pela conservação de plantas; não inclusão de

conhecimentos sobre árvores na cultura geral.

Animais

- Conceitos: “animal” restringindo a vertebrados e mamíferos,

antropomorfismo*.

- Procedimentos: dificuldades na identificação de animais comuns de seu

entorno.

- Atitudes: desinteresse pela conservação de insetos

Ecologia

- Conceitos: ecossistema restringindo a seres vivos, percepção linear das

relações (cadeia, não redes); concepção estática *.

- Procedimentos: dificuldades na interpretação de redes alimentares; na

escala de tempo, em atribuição causal.

- Atitudes: “problema ambiental” restringido à contaminação *; escassa

atenção a recursos, sobretudo os abióticos, dificuldade para aceitar a própria

responsabilidade pessoal.

O ser humano e

a saúde

- Conceitos: confusão entre nutrição e alimentação; papel da nutrição

restringindo o aporte de energia, ignorando nutrientes plásticos; confusão

excreção/defecação*; crenças inadequadas sobre dieta equilibrada;

conhecimentos insuficientes sobre reprodução, gravidez, DSTs; estereótipos

sobre contágio.

- Procedimentos: Dificuldades para a interpretação das etiquetas dos

alimentos.

- Atitudes: falta de disposição a seguir uma dieta equilibrada de forma

continuada; estereótipos sobre sexualidade e funções de gênero.

* a sinalização indica que a dificuldade percebida se relaciona ao procedimento de identificar. Fonte: Aleixandre (2010, p. 131)

Os exemplos supracitados, apesar de serem explicitados a partir da

experiência de professores em escolas espanholas, são análogos aos encontrados

em nossas escolas no ensino Básico. O que indica que os objetivos da disciplina de

Biologia devem relacionar-se, não somente, a conhecer e reproduzir os conceitos,

mas também conhecê-los para saber operacionalizá-los e assim tornar possível a

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defesa de ideias sobre fatos e fenômenos de forma profunda e científica, e ter

atitude para atuar, de maneira consciente, de forma individual e social.

Os trabalhos presentes em congressos, encontros ou periódicos

brasileiros, que discutem as dificuldades de aprendizagem em Biologia se

relacionam, em sua maioria, a temas ou conteúdos. Petrovich et al. (2014)

realizaram uma pesquisa com os licenciandos de Biologia durante o período de

regência no estágio supervisionado e obtiveram como resultado que os conteúdos

de citologia e genética foram considerados os que apresentaram maiores

dificuldades de ensino-aprendizagem por serem considerados abstratos. Andrade et

al. (2011) têm como objetivo de sua pesquisa a identificação das dificuldades de

aprendizagem apresentadas pelos alunos de Biologia do ensino médio na percepção

dos professores. Fialho (2013) evidencia o ponto de vista do aluno sobre esse

problema. Fabricio et al. (2006) tiveram como objetivo à compreensão das Leis de

Mendel. Costa, Rocha e Lemos (2015) investigaram as dificuldades apresentadas no

ensino de Botânica em quatro escolas do ensino básico do Maranhão. Esses, dentre

outros, são boas referências de trabalhos a serem consideradas nessa perspectiva.

Em contrapartida, trabalhos que relacionem às dificuldades encontradas

sob o ponto de vista dos procedimentos ou da formação de habilidades gerais e

específicas da Biologia, no Brasil, ainda são escassos. Talvez porque,

tradicionalmente, o ensino dessa disciplina em nosso país não apresente em seu

currículo a formação/desenvolvimento de procedimentos ou habilidades gerais e

específicas de forma consciente. Apesar de ser encontrada em documentos oficiais

nacionais, referências sobre essa necessidade, não existe uma orientação quanto à

estrutura operacional das habilidades que devem ser desenvolvidas pelos

estudantes no ensino Médio, na disciplina de Biologia.

Na pesquisa relacionada à habilidade de identificar, podem ser citados os

trabalhos de Sanz Cabrera (1989) que expôs a necessidade do desenvolvimento do

procedimento de identificar em um grupo de estudantes do nível superior em Cuba;

a tese de Estrada Sierra (2007), que propunha uma metodologia para formar a

habilidade de identificar conceitos mediante o ensino de química geral na

Universidade Nacional autônoma de Honduras; o de González Chillón (2009), que

elaborou uma proposta de ações didáticas para o desenvolvimento da habilidade de

identificar em estudantes do nível médio em escolas do campo em Cuba. Todos eles

coincidem quanto à necessidade de desenvolvimento da habilidade para diminuir as

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dificuldades na assimilação de conhecimentos por parte dos estudantes de todos os

níveis.

Considerando os estudos já referenciados, sobre habilidades e

procedimentos infere-se que a formação da habilidade de identificar, concebida

como um procedimento lógico, pode favorecer a efetivação dos conhecimentos no

ensino de Biologia, uma vez que auxilia o desenvolvimento do pensamento científico

dos estudantes e os fazem conscientes de sua própria aprendizagem

(metacognição).

Nesse sentido, o processo de ensino e desenvolvimento da habilidade de

identificar requer do profissional docente a efetivação de atividades realizadas de

forma consciente, onde o conteúdo de aprendizagem inclua tanto os conhecimentos

da área, como os procedimentos gerais e específicos da atividade cognoscitiva que

devem ser assimilados pelos estudantes.

Esse saber, parte do conhecimento profissional, um legitimador da

profissão, está relacionado ao processo de profissionalização docente, mais

especificamente à dimensão profissionalidade que segundo Ramalho, Núñez e

Gauthier (2004), se relaciona aos conhecimentos, saberes, técnicas e competências

necessárias à atividade profissional do professor. Para os autores, esses saberes se

apresentam como um dos recursos a serem mobilizados no agir competente do

docente.

Sendo assim, compreende-se a necessidade da proposição científica

desse trabalho que é a de, com base nos procedimentos sistematizados pela lógica,

estruturar um sistema didático para a atualização da habilidade de identificar

baseado na teoria da assimilação por etapas das ações mentais e formação dos

conceitos de P. Ya. Galperin.

1.4 Pressupostos teóricos

Os processos de investigação relativos e formação/desenvolvimento de

habilidades sob concepção Histórico-Cultural possuem um conjunto de trabalhos

realizados por diferentes autores, orientados pelas bases propostas por Vigotsky, a

partir do Materialismo Histórico Dialético de Marx, que permite precisar os

pressupostos teóricos que orientam a proposição da tese aqui apresentada.

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As categorias consideradas como elementos de partida, para a condução

do trabalho, foram atividade e comunicação, porque se constituem agentes

mediadores entre os professores participantes e a experiência cultural, representada

pela atualização de uma habilidade.

A apropriação da cultura, para Vigotski (1991), é condição fundamental à

estruturação do pensamento humano e, como consequência, para o

desenvolvimento das funções superiores, que permite a regulação do

comportamento humano, ou seja, leva a ter consciência de sua atividade.

Atividade, segundo Leontiev (1978), é a unidade da vida mediada pelo

reflexo psicológico, cuja função real consiste em orientar o sujeito no mundo

objetivo. É um elo prático que liga o sujeito ao mundo circundante, como um

processo de trânsito entre polos opostos: sujeito e objeto. Em Leontiev (2004), ela é

concebida como o resultado de um processo de desenvolvimento Histórico-Cultural

e vai sendo internalizada pelo indivíduo constituindo sua consciência e influenciando

sua personalidade. O autor coloca que, no processo de materialização da atividade

humana, a linguagem, que é determinada como o substrato da consciência –

instrumento de mediação psíquica - serve como meio de comunicação, sendo

portadora dos significados elaborados pela sociedade. Nesse sentido, comunicação

e atividade formam uma unidade.

...no trabalho5 os homens entram forçosamente em relação, em comunicação uns com os outros. Originariamente, suas ações, o trabalho propriamente, e a sua comunicação tornam-se um processo único. [...] Isto significa que as ações do homem têm nestas condições uma dupla função: urna função imediatamente produtiva e uma função de ação sobre os outros homens. Uma função de comunicação (LEONTIEV, 2004, p. 92).

Segundo Lisina (1987), a comunicação pode ser compreendida como

uma determinada interação de pessoas, no curso da qual elas intercambiam

diferentes informações com o objetivo de estabelecer relações ou reunir esforços

para alcançar um resultado comum.

Para justificar o processo proposto no sistema didático, como uma

atividade de atualização, foi utilizado o conceito de aprendizagem de Galperin

(2011b). Ele definiu aprendizagem, toda a atividade cujo resultado é a formação de

novos conhecimentos e habilidades em quem a executa ou a incorporação de novas

qualidades aos conhecimentos e as habilidades que já possuem. É nesse ínterim

que está localizado o presente trabalho.

5 O trabalho é entendido como uma atividade humana.

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Outra importante consideração foi à relativa ao princípio da objetividade

que defende como base da formação a generalização teórica e não somente o tipo

empírico, que está associado à formação de conceitos de forma empírica. O

princípio da objetividade, segundo Rico Monteiro, Santos Palma e Martín-Viaña

(2013), argumenta que a generalização teórica eleva a planos mais profundos o

pensamento teórico ao proporcionar procedimentos de busca apoiados no

conhecimento da essência do objeto em estudo (procedimentos de análise,

comparação, abstração e generalização), fundamentais na formação de uma atitude

científica como parte da formação dos aprendizes.

Os pressupostos aqui apresentados não são os únicos levados em

consideração para o processo de construção. Cada um desses traz consigo outros,

uma vez que possuem uma conformação sistêmica, de maneira que funcionam

como guias, postulados gerais que permitem orientar a atividade aqui descrita, onde

a desconsideração de um, afeta a utilização de outro, ou outros e, por conseguinte,

a condução de todo o trabalho. Nos capítulos teóricos, serão apresentados todos os

outros pressupostos que orientaram essa tese.

1.5 O problema da pesquisa, o objeto de estudo, os objetivos e a tese

proposta

1.5.1 O problema

A atualização da habilidade de identificar pode ser proposta em um

sistema didático baseado na teoria de P. Ya. Galperin?

1.5.2 O objeto de estudo

A proposição da atualização da habilidade de identificar, como dimensão

do conhecimento profissional, segundo a teoria da assimilação por etapas das ações

mentais e formação dos conceitos de P. Ya. Galperin.

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1.5.3 O objetivo geral

Estruturar um sistema didático alicerçado na teoria de P. Ya. Galperin,

para a atualização da habilidade de identificar, como dimensão do conhecimento

profissional de professores de Biologia.

O objetivo explicitado acima será alcançado a partir dos seguintes

objetivos específicos:

a) Diagnosticar o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar

nos professores de Biologia do IFRN – Campus Natal-Central;

b) Propor tarefas do tipo problêmica, à serem utilizadas em cada uma das

etapas da teoria de Galperin, organizadas em um Sistema didático para a

atualização da habilidade de identificar, tendo como subsídio uma Base

Orientadora da Ação.

1.5.4 A tese proposta

Tendo como pressuposto a importância das habilidades lógicas como

recurso que pode promover avanços significativos na formação e profissionalização,

e levando em consideração a carência de trabalhos relacionados a essa dimensão

no âmbito do ensino de Biologia, no Brasil, expõe-se a seguinte tese:

1.6 A estrutura da tese

O trabalho está estruturado em 9 (nove) capítulos em uma sequência

estabelecida pela lógica do conhecer para entender. A “introdução”, capítulo 1

(um), tem como desígnio fazer com que o leitor compreenda os interesses e

motivações que levaram à produção desta pesquisa, faz uma aproximação do objeto

de estudo, apresenta a problemática relacionada ao trabalho, os pressupostos que

A Proposição de um sistema didático para a atualização da

habilidade de identificar junto a professores de Biologia baseado na teoria

de P. Ya. Galperin pode ser um recurso didático-pedagógico estratégico no

processo de formação e profissionalização docente.

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norteiam todo o processo relativo à concepção e estruturação da proposta defendida

na tese, e apresenta o problema, os objetivos e a tese proposta.

O capítulo 2 (dois), com o título: “Processos do pensamento: Os

conceitos e suas operacionalizações”, delineia o mundo das ações do pensamento

(conceitos, juízos e deduções); descortina a lógica formal e a lógica dialética para

que, então, possam ser entendidas as operações que se realizam durante as ações

relacionadas aos conceitos. Isso se torna importante à medida que, por meio da

leitura, seja possível a compreensão de que o homem vive em um mundo conceitual

e que utiliza os procedimentos para operacionaliza-los. Essa compreensão justifica a

importância da proposição da formação de habilidades gerais como a de identificar,

que é caracterizada como uma habilidade específica no ensino de Biologia.

O capítulo 3 (três), “Habilidades gerais sob a perspectiva da Teoria de

Galperin”, resume as principais referências teóricas e mapeia, de maneira didática,

a perspectiva que sustenta a proposta apresentada na tese. Traz os pressupostos

estabelecidos pela pesquisa, embasados na psicologia soviética de Vigotski,

Leontiev, Galperin, dentre outros. Apresenta as etapas da teoria de Galperin e a

formação de habilidades gerais nessa perspectiva. Pode-se afirmar que é o capítulo

que apresenta o modelo seguido para a estruturação da proposta apresentada na

tese: a atualização da habilidade de identificar segundo a teoria de Galperin.

O capítulo 4 (quatro), “Conhecimento Profissional e Profissionalização

Docente: O saber e o aprender para ensinar no desenvolvimento profissional”, faz

uma explanação sobre o conhecimento profissional docente e se justifica por deixar

em destaque que o tema do trabalho se relaciona à profissionalização da docência

em Biologia, por ter em sua proposição a estruturação da atualização de uma

habilidade, considerada como um recurso didático-pedagógico estratégico no ensino

dessa disciplina. Os pressupostos, explicitados no capítulo, em unidade com os

princípios da teoria Histórico-Cultural, embasaram toda a concepção da atividade de

diagnóstico e estruturação da proposta do sistema didático para a atualização da

habilidade de identificar.

O capítulo 5 (cinco), sob o título “Metodologia”, descreve os aspectos de

caráter metodológico do diagnóstico realizado para dar sustentação científica a

proposição do sistema didático. Ele começa pela fundamentação metodológica,

seguido pelo percurso realizado, os instrumentos de coleta de dados do diagnóstico

e a estruturação do sistema didático.

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O Capítulo 6 (seis), “Diagnóstico do Nível de Desenvolvimento da

Habilidade de Identificar”, apresenta os resultados do diagnóstico realizado com

os professores de Biologia do Campus Natal-Central do IFRN. O diagnóstico,

segundo a perspectiva Histórico-Cultural, é a ação inicial que permite conhecer o

ponto de partida para executar as ações de direção em um processo de

aprendizagem planejado de forma intencional a partir de sua subordinação às

demandas do estado de desenvolvimento inicial e potencial dos aprendizes.

O capítulo 7 (sete), “Proposta para o desenvolvimento do sistema

didático” apresenta um entendimento pessoal da pesquisadora sobre a Teoria de

Galperin, ele detalha os elementos relacionados ao desenho do sistema didático

efetivado a partir da análise do diagnóstico, seguindo o pressuposto teórico de que

as tarefas devem ser planejadas partindo do nível de desenvolvimento atual para o

nível de desenvolvimento potencial. O capítulo, assim como o sistema didático, foi

dividido em 3 momentos; neles são apresentados todos os planos de tarefas

sugeridas para cada uma das etapas da teoria de Galperin e são feitos comentários

pertinentes a cada um desses momentos com o objetivo de auxiliar na utilização e

aperfeiçoamento do sistema didático.

O capítulo 8 (oito), “Considerações, recomendações e projeções

sobre a atualização da habilidade de identificar”, expõe a interpretação dos

resultados obtidos no diagnóstico inicial à luz dos objetivos do trabalho e do contexto

em que ele se realizou, em correspondência com o marco teórico de referência e o

enfoque metodológico proposto. Além disso, apresenta algumas recomendações

referentes à utilização do sistema didático proposto em formações para professores

de Biologia ou de Ciências na Educação Básica. Traz também uma projeção do

trabalho quando relaciona à formação de habilidades lógicas ao desenvolvimento da

criatividade.

Finalizando, o capítulo 9 (nove), “Referências” apresenta o conjunto de

todas as referências utilizadas para o desenvolvimento do trabalho, seguido da

sessão de apêndices e anexos que servem de ajuda para a compreensão dos

dados, das ideias e resultados apresentados. A sessão inclui o instrumento de coleta

– questionário, o modelo do documento “Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido”, os textos que são propostos para a motivação na atualização da

habilidade.

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2 PROCESSOS DO PENSAMENTO: os conceitos e suas operacionalizações

Este capítulo apresenta uma explanação sobre os procedimentos

lógicos do pensamento, tendo como foco a compreensão do procedimento de

identificação. Para tanto, de maneira didática, o capítulo começa pela abordagem

da lógica, enquanto área disciplinar, a fim de que seja possível entender como a

lógica formal e posteriormente a lógica dialética, ajudaram o homem a conhecer a

realidade que o circunda. Na sequência, passa a discorrer sobre a lógica e o

pensamento, explicitando a relação existente entre os procedimentos lógicos e o

pensamento, e como esses são entendidos. A seguir, incide nos conceitos e

tipologias desses e depois nos procedimentos que operacionalizam de conceitos,

dentre eles, a identificação. Esse caminho se justifica, uma vez que, possibilita o

entendimento de que os procedimentos lógicos criam no sujeito as estruturas

cognitivas que permitem a compreensão e assimilação do conteúdo de instrução

(conceitos, habilidades, hábitos), e esses, contribuem para o desenvolvimento do

pensamento lógico. O capítulo é finalizado pelos tópicos que abordam os

procedimentos lógicos como vias para a assimilação de conceitos científicos e os

limites e possibilidades da utilização dos procedimentos de identificação na

assimilação de conceitos científicos. Essa relação se torna importante à medida

que a escola do século XXI, para responder as necessidades do contexto

mundial, cada vez mais complexo, deve ter como objetivo a formação do

pensamento teórico que possibilita a autonomia e criatividade. Segundo a

perspectiva Histórico-Cultural de Vigotski, e seus seguidores (Leontiev, Galperin,

Talízina, Davidov, etc), esse tipo de pensamento é um processo mental interno

construído a partir de generalizações realizadas em um procedimento de síntese.

E assim, o domínio dos processos lógicos, das leis e regras do pensar,

integrados aos conceitos científicos, contribui ao desenvolvimento dos processos

do pensamento. Isto porque o conteúdo da atividade escolar é o conhecimento

teórico-científico e as habilidades e hábitos que lhes corresponde.

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2.1 A lógica como área disciplinar

A etimologia da palavra lógica nos remete a palavra grega logos que

significa “pensamento”, “razão”, “conceito”, “linguagem”, “discurso”. Para Aristóteles6,

segundo Lefèbvre (1991), lógica (organon, analiticos) é a teoria do logos em ato:

razão e raciocínio, coerência do discurso. Pode-se dizer que se constitui o

instrumento (organon) para as ciências, isto porque, orienta a forma válida do

pensar. O termo “lógica”, aplicado à ciência do pensamento, foi introduzido pela

primeira vez pelos estoicos7. Eles distinguiam com essa denominação a parte da

doutrina de Aristóteles que coincidia com suas próprias ideias sobre a natureza do

pensamento (ILIÉONKOV, 1977).

Os estóicos, que introduziram o próprio termo ‘lógica’, elaboraram a teoria da dedução, completando o silogismo de Aristóteles e formalizando-o sucessivamente. Em essência, deram início à lógica dos enunciados (KOPNIN, 1972, p. 66).

Dessa forma, a lógica tradicional se insere em um sentido que denota

uma relação entre linguagem e conhecimento, o rigor e precisão do discurso que

expressa o conhecimento. É dividida em lógica formal e lógica material

(metodologia). A formal estuda as formas do pensamento; a material se constitui no

conjunto de normas que se deve seguir para a obtenção do conhecimento científico.

De uma maneira generalizada se caracteriza como: Instrumental, formal,

propedêutica, normativa, doutrina da prova, geral e temporal. Instrumental, porque é

instrumento do pensamento para pensar; formal, porque não se ocupa com os

conteúdos, mas com a forma pura dos pensamentos, expressos por meio da

linguagem; propedêutica, por indicar métodos, raciocínios, demonstrações para cada

modalidade de conhecimento; normativa, por fornecer princípios, leis e normas que

o pensamento deve seguir para ser válido; doutrina da prova, ao estabelecer as

condições e fundamentos necessários a todas as demonstrações; geral e temporal,

porque as formas de pensamento são universais, necessárias e imutáveis.

Para a lógica formal, o pensamento humano desenvolve-se de acordo

com três ações fundamentais: a conceituação (generalização representativa); o

juízo (atribuição de um predicado) e a dedução (razão), que é realizada a partir do

6 Filósofo grego considerado o pai da lógica para a história da filosofia, embora não a designasse

por esse termo. 7 Filósofos que seguiam as ideias de Zenão de Citio – para os estoicos a natureza era governada

pelo logos - racional e perfeito. Metafisicamente eram materialistas, ou seja, rejeitavam todo o tipo de transcendência - os deuses não tinham existência distinta da ordem racional da natureza.

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raciocínio. Nessa perspectiva, o conceito é uma representação mental abstrata da

essência de uma classe de objetos e elementos da realidade; e, uma vez que a

Lógica não pode operar na ambiguidade polissêmica da linguagem natural, o

conceito deve ser expresso através do termo; o termo ou categoria corresponde à

designação lógica do símbolo, ou conjunto de símbolos, que convencionou-se

utilizar para expressar um conceito. Para Aristóteles, segundo Cheptulin (2004), as

categorias, noções gerais (ou aquilo que serve para designar uma coisa - conceito),

não existem antes das coisas singulares, mas são, pelo contrário, o resultado do

conhecimento destas, assim como reflexos das propriedades e das relações que

lhes são próprias. Desta forma, percebendo as coisas singulares, conhecemos o

singular e o geral8 (o que se reproduz em numerosos objetos ou mesmo em todos

eles). Aristóteles listou dez categorias: substância (o sujeito da proposição);

quantidade (quantificar); qualidade (adjetivo); relação (o objeto relacionado a algo);

lugar (localidade); tempo (relativo a quando); posição (como está); posse (o que o

sujeito está de posse); ação (ato) e paixão ou passividade (ser afetado).

A expressão lógica de um juízo foi designada por Aristóteles de

proposição. A proposição é o objeto da lógica, constituída por elementos que são

seus termos ou categorias. A proposição é assim, a atribuição de um predicado a

um sujeito: “S é P”9. E o encadeamento dos juízos constitui o que se denomina

raciocínio e este se exprime logicamente por meio das conexões de proposições, ao

qual é denominada silogismo10. Essa conexão de proposições é feita por meio do

raciocínio (SANTOS, 1959).

O raciocínio é assim, uma operação do pensamento realizada por meio

de juízos e enunciada linguística e logicamente pelas proposições encadeadas

formando um silogismo. O silogismo é constituido por três proposições. A primeira

(premissa maior), a segunda (premissa menor) e a terceira (conclusão), inferida das

premissas pela mediação de um termo chamado termo médio. A correta construção

do argumento impede a ocorrência de sofismas ou falácias que seriam

argumentações (silogismos) enganosas que levam a uma percepção aparente de

verdade por ser persuasivo. Pode-se dizer que à lógica em nada interessa o

8 Generalização representativa – conceito. 9 Juízo 10 Segundo Santos (1959), o princípio do silogismo pode ser assim enunciado: Se a implica b e se b

implica c, então a implica c. A implicação, no sentido lógico-formal, é uma relação que afirma que um enunciado resulta necessariamente de outro.

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problema do verídico. É possível produzir raciocínios válidos, mas sobre premissas

falsas, e raciocínio válidos em verdades factuais, empiricamente verdadeiras.

Assim, as formas ou estruturas do pensamento, ou seja, a investigação

de como se encontra estruturado o pensamento por meio de leis ou princípios que

regulamentam sua validez (e que, a partir disso, constroem linguagens formais que

contêm clareza e precisão) é do que se ocupa a disciplina formal lógica. Santos

(1959) sustenta três princípios fundamentais:

a) O princípio da identidade: um ser é sempre idêntico a ele mesmo ou,

uma proposição, se verdadeira, é sempre verdadeira. (A = A)

Isso significa que uma proposição equivale a si mesma.

b) O princípio da não-contradição: um ser não pode ser ou não ser

idêntico a si mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação ou, uma

proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo e na

mesma relação. (A = A e A = B ao mesmo tempo é impossível)

Dessa forma (A=A; A≠B), uma proposição não pode ser verdadeira e falsa

ao mesmo tempo; uma proposição e a sua negação não podem ser

simultaneamente verdadeiras e duas proposições contraditórias não podem ser

ambas verdadeiras.

c) O princípio do terceiro excluído: dadas duas proposições com o

mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma ser afirmativa e a outra ser

falsa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra falsa, não há

outra possibilidade. (A é X ou A é não-X, uma terceira possibilidade é

impossivel)

Então, duas proposições contraditórias, quer dizer, que são a negação

uma da outra, não podem ser, nem ambas verdadeiras, nem ambas falsas; se uma é

verdadeira, a outra é falsa, e, reciprocamente, se uma é falsa, a outra é verdadeira,

não existe uma terceira possibilidade.

Para a lógica formal, uma teoria contraditória, ou seja, que apresenta

duas proposições contraditórias, uma proposição “p” e a sua negação “não p”, é

absolutamente desprovida de consistência. Nela, o pensamento se contradiz, se

destrói porque não é coerente. Uma teoria contraditória, nessa perspectiva, é inútil

porque a realidade além de ser idêntica a si mesma não pode ser contraditória.

Nesse entendimento, a lógica formal seria o caminho para antigir as evidências da

realidade.

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A lógica, entendida dessa forma, prestou e presta grandes serviços à

humanidade. A partir de Aristóteles (384 a 322 a.C.) todo o conhecimento ocidental

se construiu sobre as bases e pressupostos da lógica formal. Aristóteles formalizou

um conjunto de regras universais que o pensamento devia seguir em todas as

circunstâncias para evitar o erro. É importante ressaltar que esses princípios e

regras originaram-se da relação do homem com a natureza a partir da aprendizagem

de que é preciso agir de maneira correta para atingir os objetivos, ou seja, é preciso

ser lógico.

Seguindo o seu percurso na história, a lógica dos enunciados começada

pelos estóicos, segundo Kopnin (1972), conduz todo o pensamento lógico da idade

média europeia. Durante todo esse período, no florescimento da escolástica11 (séc.

XIII a XV), a lógica foi tida como a "ciência de todas as ciências". A ela competia a

validação dos atos da razão humana na procura da verdade. E assim, o saber

científico (a verdade) deveria obedecer à lógica formal, a partir de um conjunto de

princípios universais admitidos como verdadeiros, por um processo dedutivo,

procurando encontrar a explicação para todos os fenômenos particulares. Embora

este método (dedutivo) fosse igualmente preconizado por Aristóteles, na Idade

Média deu-se uma enorme importância à dedução, desvalorizando-se por completo

a indução12 na descoberta científica. Este fato teve como consequência o corte da

base empírica na investigação. Para Iliéonkov (1977), a escolástica da idade média

formalizou, de uma vez por todas, a tradição da lógica como um instrumento, um

aparato formal. Para o autor é certo que, essa concepção de mundo e pensamento,

mecanicista, convinha à ideia de que o objetivo da lógica era o de examinar a

natureza dos signos que usamos para compreender as coisas e para transmitir seu

significado a outros. E, assim, os princípios lógicos do pensamento em geral se

fundiam, perfeitamente, com o pensamento mecanicista nas ciências naturais e

matemáticas.

11 Escolástica - corrente filosófica que tentava conciliar razão e fé, não admitindo contradição entre

elas. Seu mais importante expoente foi São Tomás de Aquino que tinha uma máxima: “crer para poder entender e entender para crer”.

12 Indução e dedução são as duas classes fundamentais de argumentos. Nos argumentos indutivos as premissas proporcionam somente alguma fundamentação da conclusão, mas não uma fundamentação conclusiva. Por isso, esse tipo de raciocínio precisa de um grande número de experiências para que seja possível passar de um juízo particular a um juízo geral. Mas, mesmo assim, a indução será sempre um raciocínio provável. Nos argumentos dedutivos, as premissas fornecem fundamento definitivo na conclusão, que é, assim um resultado analítico.

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O chamado determinismo mecanicista, que predominou até o final do

século XIX, tinha como princípios: o conhecimento, como resultado da captura de

verdades por um sujeito sobre um objeto; o objeto, percebido pelo sujeito a partir de

exercícios sensitivos e racionais organizados de forma metodológica a fim de se

obter o conhecimento verdadeiro; a separação entre o objeto e sujeito observador; o

conhecimento do objeto como forma de domínio; o conhecimento do todo por suas

partes; a expressão do mundo por meio de equações matemáticas; a compreensão,

dominação e modificação do mundo em favor do homem. Segundo Politzer (1967),

até o final do século XIX as ciências naturais foram predominantemente ciências

coletoras, ciências de objetos feitos, colecionados. Dessa mesma forma, nesse

modo de fazer ciência, a lógica se vincula à metafísica13, uma vez que esta (a

metafísica) vê as coisas como um conjunto estático e executa o raciocínio por

oposição (ou isso ou aquilo). A lógica, nesse sentido, é um instrumento, um método

de raciocínio que procede classificando cada coisa de uma maneira bem

determinada; o que obriga, portanto, a visão de que as coisas são idênticas somente

a elas mesmas e, portanto, é preciso eleger, dizer sim ou não, à determinada

classificação, e em conclusão, excluir, entre dois casos, uma terceira possibilidade

(por exemplo, teoria ou prática14). Para o autor, a metafísica, o mecanicismo15 e a

lógica formam um sistema e só se compreende um a partir do outro. Também Hegel

(2005), vê a lógica formal coincidindo com a metafísica. Para ele, a metafísica era a

ciência das coisas apreendidas no pensamento, que passava por exprimir a

essencialidade das coisas.

Essa maneira de pensar no século XIX, possibilitou um espetacular

desenvolvimento científico e tecnológico. Isso porque era preciso primeiro estudar as

coisas, antes de poder observar as modificações que nelas se operavam. É possível

então, dizer que a lógica formal permitiu à Biologia identificar e classificar os seres

vivos, distinguir etapas do seu ciclo vital.

Mas quando os estudos avançaram e a tecnologia tornou possível o

estudo das modificações na natureza, foi possível constatar, por exemplo, que nem

13 Metafísica – ramo da filosofia que busca dar explicações sobre a essência dos seres e define as

coisas em definitivo. Aristóteles foi referência para a metafísica na antiguidade, na idade moderna Descarte foi o destaque.

14 Se teoria, só pode ser teoria. Não pode ser prática. É teoria ou prática. E não existe uma terceira possibilidade.

15 Mecanicismo – filosofia que postula que a natureza é explicada como uma máquina. Todos os corpos se explicam através de dois princípios: a matéria homogênea e o movimento local.

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todos os seres vivos podem ser classificados facilmente. Os conceitos opostos de

vida e morte são discutidos à exaustão no caso de utilização de células-tronco e

doação de órgãos. Nessas duas perspectivas, a morte leva consigo os elementos de

uma nova vida. Assim, tem-se algo não estático (isso ou aquilo), tem-se o

movimento, a contradição.

É isto que explica a resoluta oposição pelos mais eminentes representantes da filosofia da época nova, vinculados de uma maneira ou de outra ao desenvolvimento do conhecimento natural e dos embriões das ciências sociais. Escreve Bacon: ‘A lógica, agora utilizada, serve mais ao fortalecimento e conservação dos erros, cujo fundamento são os conceitos sociais do que a busca da verdade. Por isso ela é mais prejudicial do que útil’. ... E Locke: ‘O silogismo, no melhor dos casos, é apenas uma arte de lutar com a ajuda do pouco conhecimento que temos, sem acrescentar nada a ele.’ (KOPNIN, 1972, p. 66).

No século XIX, segundo Kopnin (1972), tornou-se fato a existência de

duas lógicas com distintos métodos, e o seu desenvolvimento seguiu não somente

independentemente um do outro, mas, até mesmo, com certo antagonismo. É nesse

processo que Hegel (1770 a 1831) concebe a “dialética”. Como forma de se opor a

lógica formal. Para ele, a realidade, “o vir a ser” dialético, devia ser conhecida pela

tríade de tese, antítese e síntese, não só nos aspectos gerais, nos momentos

essenciais, mas em toda a particularidade da história.

Etimologicamente, dialética vem do grego “dia”, que expressa a ideia de

“dualidade”, “troca” (dia=entre) e lektikós, “apto à palavra”, “capaz de falar”. É a

mesma raiz de logos (razão) e, por conseguinte, se assemelha ao conceito de

discurso.

Para Santos (1959, p. 88)

Dialética é a arte de esclarecer através das ideias. E esclarecer, porque a alétheia, a verdade dos gregos, [...] significava a iluminação, o clareamento, o iluminar do que está nas trevas. [...] E como o espírito (nous) tem a razão (logos), era através desta (dia), que a luz poderia surgir, dissipando trevas, e revelar a alétheia, que todas as coisas guardam em seu âmago.

Hegel foi o primeiro a rebater a lógica formal com a dialética. Para ele, a

natureza, para ser compreendida, deveria ser representada como processo. Ele

concebia o mundo de forma idealista, e assim, explicava a realidade como algo

constituído pelo pensamento. Em sua concepção, o ser era a ideia que se

exteriorizava, e se manifestava nas obras produzidas, e que depois se interiorizava,

reconhecendo sua produção. O movimento de exteriorização e interiorização da

ideia se fazia por contradições que sempre eram superadas nas sínteses que, por

sua vez, se desdobravam em contradições (novas teses e antíteses). A dialética

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seria, assim, a estrutura contraditória do real, que no seu movimento constitutivo

passa por três fases: a tese, a antítese e a síntese. “A realidade é idêntica e

contraditória”. (SANTOS, 1959, p. 111).

Ou seja, o movimento da realidade se explica pelo antagonismo entre o

momento da tese e o da antítese, cuja contradição deve ser superada pela síntese.

“Se observarmos as coisas detidamente, veremos que os dois polos de

uma antítese, o positivo e o negativo, são antitéticos e que, apesar de todo seu

antagonismo eles se completam e se articulam reciprocamente”. (HEGEL, 2005, p.

36).

De acordo com Kopnin (1972), o marxismo continuou e desenvolveu as

ideias de Hegel, mas nos princípios do materialismo16. Marx (1818 – 1883) e Engels

(1829 – 1895) partem da dialética hegeliana e promovem uma inversão ao torná-la

materialista, com uma fisionomia racional. Para esse autor, a dialética não tem outra

meta senão criar e aperfeiçoar um aparelho (sistema de conceitos cujo conteúdo foi

extraído do mundo objetivo) para o pensamento teórico-científico, que conduz à

verdade objetiva.

Para Marx, tudo se inicia no mundo material, a realidade; e a contradição

surge entre os homens em condições históricas e sociais. Assim, o mundo real

(material) é dialético, está em constante movimento, e historicamente as mudanças

ocorrem em função das contradições surgidas a partir do antagonismo das classes

no processo da produção social.

Desta forma, se na antiguidade a “dialética” era pensada como uma forma

de diálogo, a partir de Hegel e principalmente depois de Marx, esse “diálogo” é

percebido entre as próprias coisas que acontecem no mundo, como se em tudo

houvesse alguma contradição, não no sentido lógico formal, mas no sentido de

forças em oposição. Opostos dialéticos são caracterizados por meio de duas

especificidades: eles estão reciprocamente condicionando e reciprocamente

excluindo. Reciprocamente condicionando significa que a existência de um polo de

um par de opostos está condicionada pela existência do outro polo do par. Assim,

para que duas características sejam opostas elas devem ter algo em comum e

devem ser a causa uma da outra. Por exemplo, teoria e prática são conceitos que

16 Materialismo - a concepção filosófica que trata o ser, a realidade material, como o elemento que

determina o pensamento, as ideias e a vida. Nessa concepção, as ideias e conceitos que a mente projeta sobre o mundo são determinadas pela existência não do pensamento, mas pela existência material dos objetos, e estes incidem sobre homem na relação sujeito-objeto.

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permanecem ativamente interconectados e que constituem uma unidade dentro de

um dado conhecimento. Segundo Santos (1959), a categoria cooperação entre os

opostos deve ser reconhecida para que todo o trabalho construtivo do homem não

seja ameaçado pela unilateralidade, e consequentemente, pelo abstratismo

absolutista.

Em Kosik (2002), o pensamento dialético tem como função a

compreensão da realidade. Para isso, segundo ele, é necessário fazer não só um

esforço, mas também um détour (um desvio, uma análise). Para o autor, o mundo

real ou totalidade concreta, encontra-se oculto pela pseudoconcreticidade,

precisando, então, ser desvelado para que seja possível uma maior aproximação

com a verdade. Essa maior aproximação com a verdade depende do conhecimento

sobre o fenômeno ou objeto, que se relaciona à construção histórica e é influenciado

por múltiplas relações sociais e também com a própria construção do conhecimento.

Assim, em contradição com a lógica formal, a lógica dialética percebe a

natureza como um todo coerente, em que os objetos e os fenômenos são ligados de

maneira orgânica, dependentes uns dos outros. E dessa forma, nenhum fenômeno

pode ser compreendido de maneira isolada, fora do contexto. A proposta é a de

conhecer as coisas concretamente com todo o contexto em que elas aparecem.

Segundo Kopnin (1972, p. 76),

A força dialética, como lógica, está em sua capacidade de ligar o conteúdo objetivo dos conceitos e teorias da ciência à sua mutabilidade e fluência. Além do mais, a dialética demonstra que fora do desenvolvimento é impossível chegar à verdade objetiva. Para a ciência moderna é indispensável uma lógica que descubra as leis do conhecimento como um processo de captação do objeto pelo pensamento.

Para Kosik (2002), a dialética trata da “coisa em si”, mas esta não se

manifesta imediatamente. Por esse motivo, o pensamento dialético, a lógica

dialética, distingue representação e conceito; sendo ambos, parte do todo - o

conhecimento; que, para o autor, é a própria dialética em uma de suas formas; é a

decomposição do todo. Nessa perspectiva, a partir do conhecimento anterior, “velho”

é possível alcançar dialeticamente um conhecimento “novo”. Logo, a construção do

conhecimento pode ser compreendida como um processo em forma de espiral, no

qual a concretização se desloca das partes para o todo e vice-versa. Nessa espiral,

todo conceito é abstrato e relativo. Essa afirmação faz emergir o binômio aparência-

essência, onde o primeiro termo é o mundo (pseuconcreticidade) e o segundo,

aquele que nos aproxima da verdade (concreticidade).

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A lógica dialética possui 4 princípios ou leis, de acordo com Kopnin

(1972), Iliéonkov (1977), Lefèbvre (1991) e Cheptulin (2004):

a) Lei da ação recíproca e da conexão universal (princípio da totalidade):

a natureza se apresenta como um todo coerente onde objetos e

fenômenos são ligados entre si.

“Um dos exemplos mais significativos de interação é a relação existente

entre os seres vivos e suas condições de existência, seu “meio”. (POLITZER, 1967,

p. 38).

b) Lei da transformação universal e do desenvolvimento incessante

(princípio do movimento): o movimento é uma qualidade inerente a

todas as coisas. A causa da transformação constante, do movimento,

da mudança perpétua é a luta interna que faz parte da natureza.

Politzer (1967, p. 48) cita que “[...] o universo muda sem cessar [...]. Ele

traz em si mesmo a possibilidade de movimento, de transformação. Ele é a própria

mudança”.

c) Lei da mudança qualitativa: existe uma relação entre as mudanças

quantitativas e as mudanças qualitativas. A mudança quantitativa (por

exemplo, a divisão gradativa da água até chegar aos átomos que a

compõem) leva, necessariamente, à mudança qualitativa (liberação de

dois corpos qualitativamente diferentes da água).

Ainda de acordo com Politzer (1967, p. 61), “[...] o desenvolvimento da

natureza viva explica-se pela acumulação de mudanças quantitativas, que se

transformam em mudanças qualitativas”.

d) Lei da luta de contrários (princípio da contradição): a contradição é a

essência ou a lei fundamental da dialética. Os contrários se combatem,

porém são inseparáveis. Eles representam uma unidade indissociável.

Para Politzer (1967, p. 81), “No mundo físico, a luta das forças contrárias

é universal. Um garfo enferrujado, fenômeno tão banal, é a consequência de uma

luta entre o ferro e o oxigênio”.

O processo de dialetização (contradição) das ciências, e as exigências

histórico-culturais, demandaram a utilização de um instrumento para a compreensão

da realidade, que necessitava de uma nova concepção do pensar e da lógica. A

lógica tradicional já era insuficiente como método geral do conhecimento e como

método filosófico.

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A ciência moderna, sobretudo, as ciências naturais, testemunha que

cresce a atividade do sujeito no conhecimento. Munida de instrumentos e

dispositivos ela penetra no objeto estudado e, desta forma, torna-o cada vez mais

objetivo. É aqui que nos chocamos com a contradição entre o sujeito e o objeto. O

sujeito - criador e portador do conhecimento - deveria chegar a resultados tais que,

em seu conteúdo, os objetos não dependessem do próprio homem. Para a lógica

dialética, nesse processo de interação prática do sujeito com o objeto, realiza-se o

processo de transformação do subjetivo no objetivo e do objetivo em subjetivo, em

uma unidade. Para a lógica formal, ao contrário, quanto mais subjetivo é o objeto,

menos objetivo pode ser o conhecimento do mesmo.

Kopnin (1972) explicita que para compreender as leis do movimento do

conhecimento científico, a dialética materialista emprega categorias tais como:

sensorial/racional; abstrato/concreto; lógico/histórico; absoluto/relativo;

provável/autêntico, etc. Cada um desses pares de categorias dialéticas, expressa

um aspecto determinado no complexo e contraditório processo do conhecimento

científico moderno.

Mas a nova lógica, a dialética, não exclui o lugar da lógica formal no

estudo do pensamento, não implica a negação de seu papel como ciência no estudo

do pensar e sim um reordenamento de sua missão nesse estudo. Para Politzer

(1967, p. 34), “A lógica tradicional, em si, não é falsa; mas quando a aplicamos para

além de seus limites, ela engendra erros”.

A lógica formal (tradicional), em correspondência com seu objeto de

estudo – o pensamento válido, incide na veracidade do conhecimento humano, mas

não é o suficiente. Ela se relaciona com a aplicação da dedução como processo

lógico do pensar e é reconhecida como a lógica do pensar harmonioso, coerente e

não contraditório. De fato, este último aspecto reflete, a diferença da lógica formal

que tem as contradições lógicas como o resultado de erros no pensamento humano

consciente ou inconscientemente, da lógica dialética, que a partir da dialética

materialista, fixou seu estudo nas contradições reais, objetivas, cuja solução se

sucede na realidade.

A lógica formal, considerada como obsoleta, frente às exigências atuais

do conhecimento científico, abarca não só a ciência do pensar, mas também a

disciplina. Não pode ser tratada como disciplina conclusiva, definitiva, perfeita,

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embora não possa ser negado seu aporte como ciência lógico-particular, para o

estudo e correlação do pensamento, e, por conseguinte, sua missão como disciplina.

Tão pouco a lógica dialética assume, em sua conformação o campo específico da

lógica formal, este não é o seu objeto de estudo.

Segundo Lefèbvre (1991), a lógica formal, lógica da forma, é a lógica da

abstração e por isso tem um alcance apenas relativo. Para ele a lógica formal se

revela insuficiente, pois é apenas um elemento da lógica do concreto, da realidade,

um esboço válido em seu plano formal incompleto. Ele justifica esse pensamento

explicitando que no plano de pensamento teórico, a forma é um aspecto do

conteúdo, um elemento destacado momentaneamente desse conteúdo. E, Já que o

conteúdo é feito da interação de elementos opostos, como o sujeito e o objeto, o

exame de tais interações é chamado por definição de dialética. Por conseguinte, a

lógica concreta ou do conteúdo será a lógica dialética.

Pode-se dizer então, que entre as duas lógicas, formal e dialética, há uma

unidade dialética, ao abordar o pensamento no processo de assimilação da

realidade pelo sujeito cognoscitivo sob a exigência de que esta assimilação seja

correta, coerente e permita compreender e transformar a realidade. Desta forma,

segundo Santos (1959), a dialética inclui em si a lógica formal, mas a ultrapassa,

conservando-a. O raciocínio dialético consiste em inferir juízos concretamente como

contidos na concreção, isto é, identificados na unidade, que são examinados pela

mente, mas sempre considerados como presentes e fisicamente inseparáveis do

todo de que fazem parte. Assim, o conteúdo do pensamento, quando analisado e

encarado, sob certo prisma, torna-se forma. E reciprocamente, a forma volta a ser

conteúdo.

A lógica formal deixa de ser a ciência lógico-filosófica do pensamento. Em

essência, não é ela que revela o processo de gênesis e desenvolvimento dos

conceitos, mas à lógica dialética. Isto porque, segundo Santos (1959), a lógica

dialética é uma lógica da existência e não meramente formal.

Davidov (1986) declara que a lógica dialética enquanto processo por meio

do qual o mundo objetivo se reflete na consciência humana e pelo qual se pode

verificar a precisão deste reflexo pela prática, é gerada historicamente pela vida dos

homens concretos, quando estes realizam uma separação entre si e os fenômenos

naturais. As categorias lógicas (por exemplo, quantidade, qualidade, medida,

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essência, etc.) são pontos focais e degraus na cognição do mundo natural e do

domínio humano sobre ele.

Para Kosik (2002), a “dialética do concreto”, tal como a denomina e

sintetiza, é o grande exemplo da síntese que pode ser operada pelos pesquisadores

interessados na construção de verdades consistentes ainda que provisórias.

Do ponto de vista filosófico, a dialética é uma forma de pensamento que

tem sido usada muitas vezes em oposição à lógica analítica, especialmente porque

as formas de pensar, em se tratando do conceito de contradição, são diferentes. Do

ponto de vista científico, juntamente com outros, tais como a fenomenologia ou

hermenêutica, é uma maneira de abordar o estudo da realidade, especialmente da

realidade psíquica e social.

O componente dialético afirma que a realidade concreta não é uma

substância estática numa unidade indiferenciada, mas uma unidade que é

diferenciada e especificamente contraditória: o conflito de contrários faz avançar a

realidade num processo histórico de transformação progressiva e constante, tanto

evolucionária como revolucionária, e, em suas transformações revolucionárias ou

descontínuas, dá origem à novidade qualitativa autêntica.

A lógica dialética incorpora a lógica formal por superação, por isso a

necessidade de uma profunda compreensão do que seja oposição e contradição. A

questão é reconhecer que não são opostos confrontados exteriormente, mas são

interiores um ao outro – preceito da identidade dos contrários. Essa é a

contraposição marxista aos dualismos dicotômicos dos princípios de identidade e

exclusão da lógica formal.

2.2 A lógica e o pensamento

De maneira poética, podemos dizer que o pensamento humano pode ser

reconhecido no princípio de tudo. No capítulo 3 do Gênesis, o homem começa a

buscar o conhecimento que estava na árvore no meio do jardim do Éden, alí

começava a infindável investigação sobre o conhecimento (BÍBLIA, 2006).

A conexão entre pensamento e conhecimento, representada de maneira

poética, é percebida e se torna cada vez mais imbricada, à medida que o homem,

em seu processo de desenvolvimento histórico-social, passa de uma atividade

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eminentemente reprodutiva e coletora da natureza ao eu redor, para uma atividade

cada vez mais produtiva, acrescentando e impondo sua ação ao meio.

As pinturas rupestres (figura 1) que podem ser vistas no Lajedo de

Soledade/RN indicam que o homem do período paleolítico não deve nada, em

termos de capacidade cognitiva17, ao homem contemporâneo. De maneira empírica

ele aprendeu como lidar com os problemas e transmitiu esses conhecimentos aos

seus descendentes. Sua forma de pensar, envolvida por uma aura pragmática, foi

assumindo formas mais elaboradas, mais complexas, acompanhando o trafegar do

tempo, no seu desenvolvimento sócio histórico.

Figura 1 - Pinturas rupestres

Fonte: New Window (2015)

A análise desse pensamento captativo, sua estrutura, suas leis de

funcionamento, surgiram como desenvolvimento da lógica. Segundo Kopnin

(1972), a essência do pensamento pode ser expressa pela fórmula: atividade do

sujeito que concebe o objeto ou a realidade objetiva em determinadas formas. No

pensamento podem ser destacados vários aspectos interligados: a) O objeto,

dado no pensamento; b) A atividade do sujeito dirigida no sentido do objeto; c) O

resultado dessa atividade: as formas do pensamento sob as quais atua o sujeito.

O objeto, que existe, fora do pensamento, em toda a sua variedade, é o

objeto das ciências. Por elas se dá o conhecimento da realidade objetiva. A

atividade do sujeito (o pensamento como atividade subjetiva) é objeto da

psicologia e das disciplinas científicas a ela relacionadas. E as formas de

17 Capacidade cognitiva é entendida aqui como a forma que está organizado o conteúdo total das

representações que tem um indivíduo.

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captação do pensamento, que o conduzem à realidade objetiva, são objeto de

análise filosófica.

O pensamento é estudado pelas mais diversas esferas do

conhecimento científico, com a particularidade de que cada ciência o estuda a

partir de um ângulo determinado: a fisiologia da atividade nervosa investiga o

substrato nervoso do pensamento; a psicologia, o processo do pensar no homem

e seu vínculo com outras propriedades psicológicas; a linguística analisa o

pensamento em relação ao estudo de suas formas de expressão na linguagem.

Embora, nem todos os ramos da ciência tenham por objeto imediato o estudo do

pensamento, cada um deles, sem dúvida, se depara com a análise do

pensamento, com o estudo das leis de sua evolução, ao tomar consciência de

seus resultados. Isto porque a maturidade de uma ciência é determinda pelo grau

em que se conhece seus resultados e o método que emprega para conseguir

demonstrar a verdade. Nesse sentido, toda Ciência está vinculada ao estudo do

pensamento. Em maior ou menor grau, o estudo do pensamento não pode deixar

de ocupar um lugar no que se refere ao autoconhecimento (uma apreensão

profunda e frutífera das leis em que se fundamentam) em todas as Ciências

(KOPNIN, 1966).

Segundo Hannah Arendt (filósofa Alemã de origem judaica), o

pensamento é uma atividade fundamentalmente humana que permite ao homem

sentir-se em casa no mundo que vive, enquanto o conhecimento, uma

necessidade humana, é a atividade de busca pela verdade (ARENDT, 2000).

Nesse sentido, considerando o pensamento como uma atividade

fundamentalmente humana, a psicologia Histórico-Cultural, o caracteriza como

um processo cognoscitivo que está dirigido à busca do que é essencialmente

novo, e que constitui o reflexo mediato e generalizado da realidade.

O pensamento é necessário porque, no curso da vida e da atividade, cada indivíduo encontra novas propriedades dos objetos, antes desconhecida para ele. Os conhecimentos anteriores se tornam insuficientes. O universo é infinito e infinito também é o processo de tentar conhecê-lo. O pensamento é sempre dirigido para essas profundidades ilimitadas do desconhecido, do novo (PETROVSKY, 1980, p. 135).

Considerando o pensamento como sendo um processo cognoscitivo,

pode-se dizer que é uma atividade consciente. Estruturalmente constituído como

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uma atividade analítico-sintética18 que possibilita ao homem conhecer e aprender

coisas através da abstração, da comparação e da generalização, e quando de posse

desse conhecimento, o homem pode formular uma concepção da realidade. Assim,

o pensamento coloca o homem em atuação na sociedade, em seu grupo, não

apenas por meio dos instintos e dos hábitos, mas da lógica.

“Na distinção entre o pensar e o pensamento, o primeiro é objeto da

psicologia e o segundo da lógica.” (SANTOS, 1959, p. 18).

No procedimento de pensar, como processo de cognição generalizado da

realidade, se formam os conceitos, os juízos e as deduções ou razões que

constituem as principais formas do pensamento.

Para Davidov (1986) no sentido filosófico da lógica dialética, o

pensamento (cognição) não deve ser reduzido a um processo psicológico subjetivo.

As leis universais do pensamento, ao final, correspondem às leis universais do

desenvolvimento do mundo natural e da sociedade, enquanto que a lógica e a teoria

de cognição correspondem à teoria de seu desenvolvimento. Para a teoria Histórico-

Cultural todas as operações do pensamento estão vinculadas e ocorrem em

diferentes níveis de complexidade. Originam-se da atividade prática e chegam a

converter-se em operações mentais por meio do processo de interiorização das

ações externas. Sendo uma atividade cognoscitiva do homem começa com a

percepção sensorial, que não permite um conhecimento completo sobre os objetos e

fenômenos da realidade. Ele se realiza sobre a base das informações obtidas,

tornando possível ao homem conhecer os aspectos essenciais da realidade,

descobrir as relações que nela existem e as leis que a regem.

O pensamento começa onde se faz insuficiente ou mesmo ineficaz o conhecimento sensorial. O pensamento engendra e desenvolve o trabalho cognoscitivo das sensações, percepções e representações, superando consideravelmente seus limites (PETROVSKY, 1980, p. 137).

Para Petrovsky (1980), o pensamento encontra na palavra o envoltório

material por meio do qual ele se converte em realidade. Toda ideia surge e se

desenvolve em uma relação indissolúvel com a linguagem. Quanto mais profunda e

fundamentada é uma ideia, mais clara e precisa pode ser expressa em palavras e;

vice-versa, quanto mais se aperfeiçoa a formulação verbal de qualquer ideia, mais

18 Análise e síntese são as operações básicas do pensamento, relacionadas entre si de tal maneira

que formam uma unidade. Análise é a divisão mental do todo em suas partes, a separação mental de algumas de suas características. A síntese, ao contrário é a unificação, a reunião mental de suas características.

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clara e compreensível ela será. Logo, ao articular seus juízos em voz alta para

outras pessoas, o homem os está articulando também para si. Segundo o autor, na

palavra estão encerradas as premissas básicas indispensáveis do pensamento

discursivo; ou seja, reflexivo, lógico, desmembrado, consciente.

Segundo Kopnin (1978), pode-se definir forma do pensamento como o

modo de representação da realidade por meio de abstrações. Toda forma de

pensamento constitui certo elo do movimento no sentido da realidade objetiva, nela

se traduzem os resultados do conhecimento. Assim, o pensamento humano é uma

cadeia infinita de representações (conceitos, juízos e dedução).

“Ao estudar as formas do pensamento, suas estruturas e função

gnosiológica (como formadora de conhecimento) a lógica há muito definiu como

principais as formas: conceito, juízo e dedução”. (KOPNIN, 1978, p. 188).

Conforme Kopnin (1966), nesse processo o sujeito não modifica o objeto;

se limita a refleti-lo, apreende suas propriedades e leis, se relaciona teoricamente

por meio da prática. O pensamento não separa o sujeito do objeto, o homem da

natureza; ao contrário, ele os une. Dessa união, graças ao pensamento, é criada

uma imagem subjetiva do mundo objetivo.

Por conseguinte, o conhecimento se dá através de representações

formadas a partir de experiências sensoriais do mundo. Delas elaboramos nossos

conceitos e depois estabelecemos relações entre eles; à essas relações chamamos

juízo. O pensamento lógico consiste em selecionar e orientar esses conceitos, tendo

como objetivo alcançar uma integração significativa, que possibilite uma atitude

racional ante as necessidades do momento, permitindo uma dedução.

“O desenvolvimento do juízo leva à dedução, que não subentende

simplesmente, mas fundamenta a conexão entre o singular e o universal. A dedução

atua como unidade entre o conceito e o juízo”. (KOPNIN, 1978, p. 189).

As deduções podem ser de dois tipos: indutivas e dedutivas. A indução é

a conclusão de um princípio geral a partir de casos particulares, ou seja, de juízos

particulares. Por exemplo, depois que se estabeleceu que as fêmeas de cachorro,

gato e coelho alimentam os seus filhotes com uma secreção produzida nas suas

glândulas mamárias, pode-se generalizar esses casos particulares em um juízo

comum: “todas as fêmeas de mamíferos alimentam seus filhotes com leite produzido

pelas glândulas mamárias”.

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Já a dedução, parte de um princípio geral (juízo) para um caso, fato,

fenômeno particular. Por exemplo: “todas as fêmeas de mamífero produzem uma

secreção que alimenta seus filhotes, então, as fêmeas de cachorro, gato e coelho

produzem essa secreção que alimenta os filhotes”.

De acordo com Petrovsky (1980), essa fórmula (dedução) denominada

silogismo é a forma mais simples e, ao mesmo tempo, mais típica do pensamento. À

medida que os novos conceitos, ideias, juízos, ou seja, os novos resultados do

pensamento surgem na marcha para a solução de uma tarefa, se estabelecem, entre

eles, relações com o auxílio do silogismo.

Desta forma, o pensar (raciocinar) é um reflexo dos objetos, dos

fenômenos e processos do mundo material e metafísico na mente do homem. Como

resultado, o homem assimila, reproduz e recria a realidade, não somente em

imagens mentais, mas também de forma teórica, conceitual, que deriva dessa

reflexão e que permite a compreensão da realidade e a sustentação para sua

transformação.

Em seu sentido lógico, o raciocínio (ou pensamento), função que

relaciona os juízos por meio do envoltório material da palavra, não é nem verdadeiro

nem falso, ele é válido ou inválido. Isso significa que o raciocínio, para ser válido,

deve ser lógico.

A validade de uma expressão é uma condição necessária da validade

material (real), quer dizer, os enunciados só podem ser válidos em termos materiais

(verdadeiros) se forem válidos em termos formais (lógicos). Mas, em contra partida,

um enunciado pode ser válido em termos formais (lógico), sem que seja verdadeiro.

Simplificando: os enunciados inválidos em termos lógicos são necessariamente

falsos; os enunciados verdadeiros não podem ser inválidos em termos lógicos; já, os

enunciados válidos em termos lógicos podem ser ou verdadeiros ou falsos, de

acordo com a sua adequação ou não adequação à realidade, do ponto de vista

científico. O lógico somente se dá em nível de pensamento, como resultado dos

vínculos estabelecidos no nível teórico.

O estudo do pensamento lógico, na psicologia, está relacionado, segundo

Petrovsky (1980), com o percurso (o processo) da atividade laboral durante o

raciocínio. Os resultados desses estudos, no caso da educação, podem ajudar a

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garantir o caráter lógico do pensar, que formaria a base para o desenvolvimento do

pensamento científico e criativo19.

Para Davidov (1986, p. 12) a razão pensante (a mente) exacerba a

diversidade do diverso para o ponto de oposição. Somente as ideias diversas

(díspares), elevadas a este nível, se tornam reciprocamente móveis e, dessa forma,

podem ser entendidas em seu auto-movimento e vitalidade internos. O autor cita

Lenin para expressar sua concepção: “a dialética pode ser concisamente definida

como a doutrina da unidade dos opostos - quando aborda o núcleo da dialética

como primordial para o pensamento”.

O pensamento lógico tem sido investigado por muito representantes da

psicologia, dentre eles Piaget (1959, 1970) e seus continuadores cujas pesquisas se

relacionavam a forma como o conhecimento surge no ser humano. Piaget a partir de

um, cuidadoso e profundo estudo sobre a maneira pela qual as crianças constroem

as noções fundamentais de conhecimento lógico, tais como as de tempo, espaço,

objeto, causalidade, etc, tentou compreender a gênese e a evolução do

conhecimento humano. Em sua concepção e na de seus seguidores, o homem é

sujeito da atividade, constrói seu conhecimento por meio de interações com o meio.

Para eles, só através da ação ou da interação, entre o ser humano e os objetos, são

construídas as formas do pensamento.

Nos estudos realizados por Brunner (1997) sobre as estratégias do

pensamento, se destaca a importância dos pensamentos narrativo e lógico-

científico. Para ele esses dois modos de funcionamento cognitivo constroem

realidades, ordenando a experiência, cada um de sua forma. Apesar disso, seriam

complementares, sem que um se reduza ao outro. O pensamento lógico-científico

constrói a realidade de acordo com o discurso científico; ou seja, são utilizados

argumentos para estabelecer “o ideal de um sistema formal de descrição e

explicação”. O pensamento narrativo, por sua vez, aborda a maneira pela qual as

intenções humanas se comportam nas mais diversas situações. O autor, assim

como Piaget, situava a ação do aprendiz como o elemento central de seu

desenvolvimento. Mas não aderia a ideia de estágios de desenvolvimento. Para ele,

19 Pensamento criativo - o contexto histórico cultural vê as habilidades criativas como premissa

básica para o desenvolvimento e desempenho humano. Martínez Llantada (2003) define a criatividade como exercício que tem como suporte as estruturas mentais e, portanto, a condição de ser criativo se baseia nos processos de pensamento, habilidades e competências, comuns a todo ser humano.

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o desenvolvimento intelectual não era uma sequência regular e infalível de

acontecimentos; o ambiente, sobretudo o escolar o influencia. Assim, a

aprendizagem de ideias científicas, mesmo a um nível elementar, não precisa seguir

exatamente o curso natural do desenvolvimento cognitivo dos sujeitos. Isto é, a

aprendizagem pode conduzir ao desenvolvimento intelectual, por meio de

oportunidades que desafiem e que façam avançar.

As investigações de Talízina (2009) destacam o papel do

desenvolvimento do pensamento lógico no ensino. Pode-se observar, a partir de

diversos estudos efetuados pela autora, que a possível causa de tantos erros

ocorridos no processo de aprendizagem, é a falta de habilbidade em utilizar o

pensamento lógico para a apropriação dos conceitos científicos. Em um estudo

sobre a formação do pensamento lógico desenvolvido na universidade de Boroni, a

pesquisadora chegou a conclusão de que a maioria das dificuldades observadas no

estudo da matemática, tem sua raiz nas dificuldades do pensamento lógico. Porque,

sendo a matemática uma ciência exata, estudá-la, deveria ser mais fácil que estudar

outras ciências. O que se sucede é que a matemática não admite erros lógicos.

A importância desses estudos pode ser qualificada a partir da constatação

de que não se pode pensar ou pesquisar na área do ensino de ciências, e assim, de

Biologia, sem que seja levada em consideração a formação de habilidades do

pensamento lógico e o desenvolvimento das capacidades cognoscitivas dos

estudantes. Isto porque, segundo Davidov (1983), o ensino escolar (de todas as

disciplinas) tem como missão desenvolver nos educandos o pensamento científico e

as capacidades para o sucessivo domínio independente de um número sempre

ascendente de novos conhecimentos científicos.

2.3 Conceitos e tipologias

A função comunicativa da linguagem permite ao homem vivenciar

processos de interlocução entre si. Além desse importante papel, a linguagem

permite a formulação de conceitos e assim, abstrair e generalizar a realidade, por

meio das atividades mentais, do pensamento lógico.

Através da palavra designamos e representamos objetos, abstraímos e

generalizamos suas características. A utilização dos conceitos nos liberta dos limites

da experiência concreta, isto porque não é preciso estar em contato direto com

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determinado objeto, ser, ou até mesmo, uma ação, para que possamos dar um

sentido a este.

Os conceitos exercem, por meio da comunicação, um papel fundamental

de interação. Na palavra, segundo Vigotski (1991), designamos objetos, os

representamos, abstraímos e generalizamos suas características. Os conceitos são,

dessa forma, elementos de proposições assim como as palavras são elementos de

uma sentença. Sendo assim, conceitos são unidades psíquicas abstratas e

universais que servem para designar categorias ou classes de entidades, eventos,

relações.

A formação dos conceitos envolve todas as funções mentais superiores e,

para Vigotsky (2005), é um processo mediado por signos. Estes constituem o meio

para a sua aquisição. Nesse processo, o mediador é a palavra, a palavra é o meio

para a atenção, observação, comparação, abstração de determinadas

características, síntese e generalização para a formação de um signo e daí uma

palavra com sentido (um conceito).

A lógica define conceito como construções mentais que identificam as

características permanentes de um conjunto de objetos, necessárias para o

estabelecimento de uma correta articulação formal. Sendo construções mentais, são

elementos constitutivos do pensamento, são representações abstratas que

designam um conjunto ou uma classe de objetos ou seres.

Santos (1959, p. 26) enfatiza que “Para a lógica formal, o conceito é um

objeto ideal, intemporal, forma do pensamento”.

Segundo Pozo (1998), eles parecem cumprir duas funções essenciais

para a sobrevivência do homem. Por um lado, proporcionam um universo

organizado; por outro, têm função de predição, de modelos interpretativos aplicados

à realidade, e têm como função a adaptação aos fatos não previstos por nossos

modelos explicativos. Segundo o autor, são eles que nos obrigam a gerar conceitos

novos, a modificar nosso modelo conceitual.

Para Giordan e Vecchi (1996), os conceitos constituem, ao mesmo tempo,

pontos de agrupamento e instrumentos de investigação na elaboração das ciências.

São pontos de agrupamento, porque, permitem reunir um conjunto de aquisições

esparsas, oriundas das observações, experiências ou investigações relacionadas,

com o fim de responder a certo número de questões (ex.: o conceito de fecundação

permite agrupar aquisições sobre os diversos modos de reprodução – ovíparo,

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vivíparo, ovovivíparo). E são instrumentos de investigação, porque podem ser o

ponto de partida de novas pesquisas que possibilitem a conexão entre certas

aquisições (ex.: os conceitos de cromossomos e gene permitiram a conexão entre

as abordagens hereditária e citológica).

O materialismo dialético, segundo Kopnin (1978), considera o conceito

uma forma original de reflexo dos objetos, das coisas do mundo material e das leis

do movimento destes. O conceito reflete o conteúdo que as coisas encerram.

Para Kopnin (1966, p. 230), “[...] por trás do conceito biológico de espécie,

há implícita a realidade objetiva, [...] já que reflete um grupo de seres parecidos

entre si que se diferenciam de outros grupos de seres mais parecidos com eles”.

Segundo Kopnin (1966), a relação entre o conceito e o mundo objetivo

tem um caráter complexo e contraditório. Entre o conceito e os objetos do mundo

material não há identidade. O conceito do objeto, e o próprio objeto, não é uma

mesma coisa. As coisas, os objetos do mundo material, existem na realidade antes e

independentemente dos conceitos humanos. O conceito não possui a realidade

objetiva que é inerente às próprias coisas. Os conceitos são objetivos por seu

conteúdo, unicamente por sua origem, mas são subjetivos pela forma de sua

existência – existem em nossa mente, em nossa consciência.

Segundo Davidov (1988), o conceito, criação histórica da sociedade,

existe na forma de atividade mental humana e no resultado dessa atividade. Existe e

se expressa tanto teoricamente, como nos objetos criados. O conceito se abstrai das

características e atributos individuais de diversas percepções e representações. Ele

é o resultado da síntese de um elevadíssimo número de percepções e

representações de fenômenos e objetos homogêneos. Isto significa que, no

conceito, estão envolvidas: a abstração (apreensão das características distintivas)

presentes em um número significativo de elementos de uma classe de objetos e a

síntese (generalização das características), incluindo-as numa representação

abstrata das características comuns a todos os elementos dessa classe de objetos.

O conceito, como esquema abstrato, como o esquema de uma série, é invariante. Os indivíduos que compõem a série são variantes. Assim, cavalo, enquanto conceito (esquema abstrato), é invariante, mas os cavalos, como elementos fácticos de uma série, são variantes (SANTOS, 1959, p. 207).

Para a lógica existem duas propriedades formais dos conceitos: o

conteúdo e a extensão. Designa-se conteúdo, o conjunto de características

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substanciais dos diversos objetos (seres) que nele estão representadas, por

exemplo: animal (inclui todas as características comuns a todos os homens). Já

extensão, é o conjunto ou a totalidade dos objetos (seres) a que se pode aplicar

esse conceito, tomando o mesmo exemplo: animal (todo o conjunto de seres que

podem ser incluídos nesse conceito).

“O conceito de ser, por exemplo, abrange toda a extensão da predicação,

pois o que é universal é; o que é particular é; o que é individual é; e as diferenças de

ser ainda são ser.” (SANTOS, 1959, p. 213).

Para Vigotsky20 (2005, p. 184), a construção conceitual não é um

processo passivo ou uma simples formação por associação: “o conceito não é

simplesmente um conjunto de conexões associativas que se assimila com a ajuda

da memória, não é um hábito mental automático, mas um autêntico e completo ato

do pensamento”.

E nesse ato do pensamento, de acordo com a teoria histórico-cultural, o

processo de apropriação se efetiva nas relações que estabelecemos com o mundo.

Essas relações são determinadas pelas condições produzidas social e

historicamente, ou seja, é na vivência, informal ou formal que desenvolvemos as

ideias que caracterizam os conceitos. Podemos diante disso, destacar dois tipos de

conceito: Os conceitos cotidianos e os conceitos científicos.

Vigotsky (2005, p. 67) evidencia as relações existentes entre conceitos

cotidianos e científicos

Aunque el concepto científico y el espontáneo se desarrollan em direcciones inversas, los dos processos están intimamente conectados. La evolución de um concepto espontáneo debe haber alcanzado um determinado nível para que se pueda absorver um concepto científico afin.

Para Vigotsky (2005), os conceitos espontâneos (cotidianos) e os

científicos fazem parte de um mesmo processo, ainda que se formem, e se

desenvolvam, sob condições externas e internas diferentes, determinados por

situações ou problemas diferentes. A formação de um ou de outro depende

fundamentalmente de como é organizado e sistematizado seu processo de

assimilação.

20 O nome do autor aparece na bibliografia grafado de difersas formas: Vigotski, Vygotsky, Vigotskii,

Vigotskji, Vygotski. Isso porque as versões são traduções de traduções, visto que o autor escreveu somente em russo. As traduções mais recentes no Brasil trazem a grafia Vigotski. As versões cubanas geralmente possuem a grafia Vigotsky.

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As investigações de Pozo (1998) possuem resultados semelhantes aos

dos trabalhos realizados por Vigotsky (2005). Neles existem dois sistemas de

formação de conceitos: um que se baseia em categorias difusas e probabilísticas,

que se relaciona a contextos particulares (protótipos), e outro que se baseia na

lógica, os conceitos clássicos ou logicamente definidos.

Para a concepção probabilística, os conceitos possuem uma estrutura

difusa, não existem atributos necessários nem suficientes que os definam, são

considerados em sua maioria como conceitos cotidianos; por exemplo, “cadeira”,

“lápis”, etc. Nessa visão, o conceito é formado a partir da abstração de atributos que

ocorrem em maior frequência entre os membros de uma categoria, seguido da

construção de uma representação mental denominada protótipo que servirá de

modelo para a classificação de objetos nessa categoria (o protótipo do conceito).

Nesse caso, a aplicabilidade do conceito depende do grau de similaridade que exista

entre o objeto estudado e o protótipo do conceito.

Em contrapartida, a concepção lógica destaca que o conceito é

constituído por uma série de atributos necessários e suficientes, de tal maneira, que

todos os exemplos contêm necessariamente traços ou atributos comuns a todos os

membros de uma categoria; e nenhum outro objeto que não faz parte da classe de

objetos deste conceito, possui tais atributos ou características necessárias e

suficientes.

Para Vigotsky (2005), existe uma interação dinâmica entre estes dois

sistemas. Essa interação acontece via de mão dupla, ou seja, os conceitos

científicos possibilitam realizações que não poderiam ser efetivadas pelo conceito

espontâneo e vice-versa. Isso significa que os conceitos científicos não são

assimilados de forma pronta, mas por meio de um processo de desenvolvimento

relacionado à capacidade geral do sujeito de formar conceitos. E, este nível de

compreensão, está associado com o desenvolvimento dos conceitos espontâneos.

Os conceitos espontâneos21 seguem seu caminho para o alto, em direção a níveis

maiores de abstração, abrindo caminho para os conceitos científicos, em seu

caminho para baixo, rumo a uma maior concretude.

21 Conceitos espontâneos e conceitos do cotidiano são considerados sinônimos neste trabalho.

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2.3.1 Os conceitos científicos e os conceitos do cotidiano

Os conceitos são instrumentos culturais que orientam as ações dos

sujeitos em sua relação com o mundo material e espiritual. Sua formação está

diretamente associada ao processo de aquisição da linguagem A palavra, a medida

que é internalizada, se constitui no signo para o processo de construção conceitual

(VIGOTSKI, 2011). Os conceitos encontram no objeto a sua materialização e têm

sua essência revelada nas relações que se estabelecem entre os sujeitos e os

objetos em determinado contexto histórico-cultural que é responsável pela atribuição

de significados. São, portanto, os conceitos cotidianos e científicos, consequência da

reorganização cognitiva propiciada pelo desenvolvimento da linguagem.

Vigotski (2011), a partir do resultado de investigações, apresenta dois

tipos de conceitos: os conceitos "cotidianos" e os conceitos "científicos".

Segundo Núñez (2009), as condições nas quais os conceitos

espontâneos (cotidianos) e os científicos se formam são diversas, dependendo

fundamentalmente de como é organizado e sistematizado seu processo de

assimilação.

Conceitos cotidianos são compreendidos por Vigotsky (2005) como

aqueles que vão sendo formulados à medida que se utiliza a linguagem para nomear

objetos e fatos, presentes em sua vida diária. São, portanto, formados no dia-a-dia,

por meio da mediação, nesse contexto são cotidianos, ligados às situações

imediatas, se referem a elementos que se encontram nas situações concretas das

pessoas.

Núñez (2009) declara que esses conceitos se caracterizam pela ausência

de percepção consciente das relações que se dão na estrutura de sua definição. As

relações são orientadas pelas semelhanças concretas e as generalizações isoladas.

Para o autor, os conceitos espontâneos (cotidianos) são categorias ontológicas que

formam a base das teorias do senso comum sobre o mundo, intuitivas e próprias de

cada indivíduo, que se desenvolve como um produto das experiências diárias

individuais e sociais. Embora ricos em experiências práticas, esses conceitos são

dependentes do contexto.

Dessa forma, no processo de formação de conceitos espontâneos, quanto

maior a interação dialógica com seus semelhantes, maior será o distanciamento do

concreto, ou seja, maior será a abstração da forma generalizada da realidade.

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Por conceitos científicos, Vigotsky (2005) considerou aqueles formados a

partir da aprendizagem sistematizada, ou seja, que estão relacionados ao trabalho

escolar. Os conceitos científicos são todos aqueles que derivam de um corpo

articulado de conhecimento e que aparecem nas propostas curriculares, como

fundamentais na organização de conteúdos a serem trabalhados nas atividades

pedagógicas. Para Núñez pode-se afirmar que esses conceitos inserem-se nos

sistemas de relações entre objetos definidos em teorias formais, formulados pela

cultura científica para serem assimilados em processos pedagogicamente

organizados no contexto escolar.

Vigotski (2011) expõe que o aprendizado escolar induz o tipo de

percepção generalizante, desempenhando assim um papel decisivo na

conscientização do indivíduo dos seus próprios processos mentais. Os conceitos

científicos, com seu sistema hierárquico de inter-relações, parecem constituir o meio

no qual a consciência e o domínio se desenvolvem, sendo, mais tarde, transferidos a

outros conceitos e a outras áreas do pensamento. A consciência reflexiva chega ao

indivíduo através dos portais dos conhecimentos científicos. E esses conhecimentos,

segundo Kopnin (1966), têm por finalidade a apreensão da essência e do fenômeno,

da lei de sua dinâmica e desenvolvimento. Para o autor, o homem necessita

conhecer as leis da natureza e da sociedade para que sua atividade prática seja

eficiente. Esse conhecimento, da lei, da essência dos fenômenos, se manifesta na

forma de conceitos - os conceitos científicos, que são formados nas atividades

mediatizadas, sistematizadas no contexto escolar.

Segundo Núñez (2009), os conceitos espontâneos são aprendidos pela

conversão, pela experiência sensorial, na generalização de natureza empírica. E os

conceitos científicos são aprendidos pelos símbolos escritos, pela generalização

teórica, em situações específicas, pela via do abstrato ao concreto.

A principal diferença psicológica entre conceitos espontâneos (cotidianos)

e científicos está na ausência de um sistema nos conceitos espontâneos. A

sistematização entra na mente do sujeito através do aprendizado dos conceitos

científicos e são posteriormente transferidos para os conceitos cotidianos, mudando

sua estrutura psicológica “de cima para baixo”.

“Podría decirse que el dessarrollo de los conceptos espontáneos procede

de modo ascendente, y el de conceptos científicos em forma descendente, hacia um

nível más elemental y concreto.” (VIGOTSKY, 2005, p. 67).

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Assim, os conceitos cotidianos e científicos seguem caminhos diferentes

porque os conceitos cotidianos (espontâneos) se desenvolvem “de baixo para cima”,

da experiência concreta para a generalização; e os conceitos científicos “de cima

para baixo”, partem de generalizações para situações específicas.

Para Núñez (2009) os conceitos cotidianos constituem a base dos

conceitos científicos e quando os últimos são assimilados, permitem a formação de

outros conceitos cotidianos com possibilidades de uso consciente e deliberado. Para

o autor, entre os processos de formação de conceitos científicos e os espontâneos,

existe uma relação dinâmica, expressa em forma de unidade dialética, intimamente

relacionada, apesar de formarem-se em direções opostas.

Vigotski (2011, p. 135-136) expressa,

Embora os conceitos científicos e espontâneos se desenvolvam em direções opostas, os dois processos estão intimamente relacionados. É preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha alcançado um certo nível para que a criança possa absorver um conceito científico correlato... Ao forçar a sua lenta trajetória para cima, um conceito cotidiano abre caminho para um conceito científico.

Mais adiante continua o autor, “Os conceitos científicos, por sua vez,

fornecem estruturas para o desenvolvimento ascendente dos conceitos

espontâneos”. (VIGOTSKI, 2011, p. 136).

É possível perceber que Vigotsky destaca a interação dinâmica entre os

dois tipos de conceitos, que acontece no que se pode chamar uma via de mão

dupla: os conceitos científicos possibilitam realizações que não poderiam ser

concretizadas pelo conceito espontâneo e, em contrapartida, os conceitos científicos

não são assimilados em sua forma já pronta, mas em um processo de

desenvolvimento relacionado à capacidade geral do sujeito de formar conceitos. E,

este nível de compreensão, por sua vez, está associado com o desenvolvimento dos

conceitos espontâneos.

Dessa forma, os conceitos não são estruturas imutáveis. Eles podem ser

compreendidos como estruturas complexas do pensamento que comunicam e

tornam o homem capaz de compreender a realidade e interagir entre si e com o

meio.

Segundo Talízina (2009), durante a assimilação de conhecimentos, os

aprendentes se relacionam com vários tipos de conceitos. As diferenças estão

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relacionadas ao conteúdo22 (características necessárias e suficientes) do conceito.

Em alguns conceitos, as características necessárias e suficientes se completam

formando o conteúdo, de acordo com o qual os objetos se unem formando uma

classe. Em outros conceitos, a relação entre as características necessárias e

suficientes é diferente. As características não se complementam uma a outra, mas

se substituem. Isto significa que uma característica é equivalente à outra. Nesse

caso, as características não são necessárias simultaneamente. Esses conceitos são

assim determinados, segundo a autora:

a) Conceitos conjuntivos: são os conceitos em que as características

necessárias e suficientes, que formam seu conteúdo, se relacionam

entre si com a conjunção “e” (ex.: mamífero: animal de sangue quente

que apresenta glândulas mamárias, (para a secreção de material

nutritivo para alimentar a prole) e apresenta o corpo coberto por pêlos).

b) Conceitos disjuntivos: são os conceitos em que as características não

precisam ser simultâneas, cada uma delas se equivale as demais. Elas

se relacionam entre si com a conjunção “ou” (ex.: algas são protistas

autótrofos uni ou pluricelurares).

2.3.2 A formação de conceitos e tipos de generalização

A formação de conceitos é um dos problemas centrais da Psicologia e um

dos mais importantes para o ensino de Ciências

Segundo Davidov e Slobódchikov (1991), uma das muitas teorias de

Vigotsky é a dedicada aos problemas das funções e da formação da generalização e

do conceito enquanto modalidade específica de reflexão da realidade na consciência

do homem.

Vigotski (2011, p. 246) afirma que

[...] o conceito é, em termos psicológicos, um ato de generalização. [...] a essência do seu desenvolvimento é, em primeiro lugar, a transição de uma estrutura de generalização a outra. Em qualquer idade, um conceito expresso por uma a palavra representa uma generalização. [...] no início ela é uma generalização do tipo mais elementar que, [...] é substituída por generalizações de um tipo cada vez mais elevado, culminando o processo na formação dos verdadeiros conceitos.

22 A lógica diferencia, nos conceitos, o conteúdo e o volume. Conteúdo é o sistema de características

essenciais, de acordo com a qual se dá a inclusão dos objetos dados na classe única (se chamam características necessárias e suficientes). Por volume se compreende a classe de objetos que se relacionam com este conceito e que se unem através dele (TALÍZINA, 2009).

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Um conceito é assim formado a partir da atuação do homem sobre a

natureza e sobre si mesmo. E, à medida que as relações se tornam mais complexas,

os conceitos modificam seus sentidos. Dessa forma, a medida que os instrumentos

psicológicos (signos), mediadores da relação entre o homem e a realidade, tornam-

se cada vez mais necessários e mutáveis, os conceitos assumem um nível superior

de complexidade. Isto porque, os conceitos são originários do desenvolvimento

histórico-cultural do homem.

Para Vigotski (1991), as operações com signos aparecem como um

processo prolongado e complexo, sujeito a todas as leis básicas da evolução

psicológica. A atividade de utilização de signos não é inventada e tampouco

ensinada; ela surge de algo que originalmente não era uma operação com signos,

tornando-se desse tipo somente após uma série de transformações qualitativas.

Vigotski (2011) apresenta o processo de formação de conceito com três

níveis ou fases principais de generalização: fase do sincrético, fase da formação por

complexo e a fase da formação do conceito propriamente dito. De acordo com

Núñez (2009), essas fases se encontram nos períodos de desenvolvimento do

pensamento e não exclusivamente nos processos de maturação biológica. Ou seja,

não é suficiente ter todo o aparato biológico de nossa espécie para aprender e se

desenvolver. Não há desenvolvimento por si só, as aprendizagens mediante as

experiências a que somos expostos.

O pensamento sincrético, para Núñez (2009) se orienta por conexões

subjetivas, sem fundamentos suficientes nem afinidades. Os critérios usados para

construir um grupo são frágeis e podem mudar com muita facilidade durante a

atividade.

No pensamento por complexo, o segundo estágio do desenvolvimento do

pensamento, a internalização dos significados ocorre pela associação da impressão

subjetiva com as conexões reais que existem entre os objetos. As ligações são

construídas a partir de critérios, sendo, portanto, concretas e não abstratas,

conforme afirma Vigotski (2011, p. 96):

Em um complexo, as ligações entre seus componentes são concretas e factuais, e não abstratas e lógicas... As ligações factuais subjacentes aos complexos são descobertas por meio da experiência direta. Portanto, um complexo é, antes de mais nada, um agrupamento concreto de objetos unidos por ligações factuais.

O pensamento por complexo não se eleva acima de seus elementos

como acontece com os conceitos verdadeiros, ao contrário, o pensamento nesse

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estágio une-se com os objetos ou fatos concretos que compõem a realidade, ou

seja, existe a fusão do geral com o particular.

Para Núñez (2009), a principal função dos complexos é estabelecer nexos

e relações. Na última etapa dessa fase (pseudo-conceitos), começam a aparecer

possibilidade de sínteses, como consequência da diferenciação de elementos, em

um nível de abstração de outros elementos, rompendo-se na totalidade concreta.

Segundo Davidov e Slobodchikov (1991), um lugar particular ocupa, entre

os complexos, uma das suas formas: o pseudo-conceito. Pelas características

exteriores da generalização efetuada é um conceito, mas pelo tipo de processo que

a implica é um complexo. Isso explica como é possível, livremente, escolher e unir

em um mesmo grupo, objetos semelhantes independentemente da cor, da medida, e

assim por diante. Não obstante, uma análise específica demonstra que a unificação

é efetuada pelo genuíno reconhecimento visual de um traço que caracteriza o objeto

sem qualquer identificação das propriedades essenciais do objeto, ou seja, sem a

"ideia" do objeto. Pelos pseudo-conceitos se realiza muito frequentemente o

pensamento em nossa vida cotidiana.

A terceira fase, a formação de conceitos potenciais, é segundo Núñez

(2009), é um ato real e complexo do pensamento, que inclui operações mentais de

análises, sínteses, em suas formas mais elaboradas. Mediante a análise, os objetos

e os objetos e representações se decompõem em traços e elementos diferenciáveis.

Desse modo, especifica o autor, pode-se examinar independentemente os atributos

comuns e essenciais dos objetos, abstraindo-o dos demais.

Como afirma Vigotski (2011, p. 98),

Somente o domínio da abstração, combinado com o pensamento por complexos em sua fase mais avançada, permite progredir até a formação dos conceitos verdadeiros. Um conceito só aparece quando os traços abstraídos são sintetizados novamente, e a síntese abstrata daí resultante torna-se o principal instrumento do pensamento.

Para Davidov (1983), nessa etapa se destrói a natureza concreta da

situação e se criam as premissas para associar as características abstratas no

conceito. Isso implica não só associar e generalizar, mas também, separar, abstrair

e isolar elementos soltos, analisar os elementos abstraídos a margem da relação

concreta e fatídica com que eles aparecem. Para o autor, a função essencial do

conceito na atividade mental consiste em assegurar a abertura de novas facetas do

objeto e progredir em direção a seu conteúdo e não em comparar os objetos com

características conhecidas.

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Vigotski (2011) comparou o grau de generalidade dos conceitos reais com

as fases e os estágios alcançados na formação experimental de conceitos:

sincretismo, complexos, pseudo-conceito e conceito. Seu objetivo era descobrir se

havia uma relação definida entre a estrutura de generalização tipificada por essas

fases no grau de generalidade dos conceitos. Eses estudos comprovaram que,

apesar da ausência de correspondência, ou seja, conceitos com diferentes graus de

generalidade podem ocorrer numa mesma estrutura de generalização; cada fase ou

estrutura de generalização tem como contrapartida um nível específico de

generalidade, uma relação específica de conceitos supra ordenados e subordinados,

uma típica combinação do concreto e do abstrato.

A medida de generalidade determina a equivalência de conceitos e todas

as operações intelectuais realizadas com os conceitos (comparações, julgamentos,

conclusões). Isso implica que mudanças no desenvolvimento da estrutura de

generalização produzem mudanças nessas operações.

Talízina (2009) alude que nos conceitos se fixam sobre as generalizações

ocorridas anteriormente. Sendo assim, os conceitos, são parte da experiência social,

elementos que se convertem em imagem, mas em imagem específica (do indivíduo):

abstrata e generalizada. Para a autora, o homem não consegue pensar em um

conceito sem que imagine alguma forma concreta que se relacione a ele.

2.4 Os procedimentos lógicos relativos aos conceitos

Talízina (2009) define como procedimento da atividade cognoscitiva o

conjunto de ações cognoscitivas que conduzem a solução de tarefas- problema de

uma classe dada. Para a solução dessas tarefas, são utilizados os procedimentos do

pensamento, o sistema de ações que se forma no processo de solução de tarefas e

que se converte em mental como resultado da passagem por uma série de etapas

que se sucedem umas as outras.

Segundo Talízina (2000), os procedimentos podem ser subdivididos em

lógicos (gerais) e específicos (disciplinares). Os procedimentos lógicos são um

conjunto de ações dirigidas a execução de operações ou leis lógicas. Eles são

independentes do material concreto, embora sempre se realizem com conhecimento

concreto. Isto é, são procedimentos gerais que podem ser utilizados em qualquer

disciplina.

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Segundo Henández Dias e González Hernández (2012, p. 12), “se

caracterizan por su alto grado de generalidad, de aplicación a cualquier contenido de

una ciencia particular cumpliendo las exigencias de la lógica.”

Já os procedimentos específicos se relacionam com uma determinada

área e se realizam somente nessa. Isto é, são procedimentos específicos, como por

exemplo, da Biologia ou outra área da ciência.

O trabalho com procedimentos lógicos está relacionado a habilidades tais

como recordar, observar, explicar, identificar, etc - habilidades psicológicas

imprescindíveis ao pensamento científico. Em contrapartida, os procedimentos

específicos nos permitem além de conhecer fatos, teorias e leis científicas que

explicam o funcionamento do mundo natural – aprender habilidades relacionadas

com o trabalho científico.

Os procedimentos lógicos, ou operações lógicas, estão relacionados, de

maneira indissolúvel, aos conceitos se levarmos em conta os postulados gerais da

psicologia marxista na tese de Leontiev acerca da atividade, a teoria de assimilação

por etapas de Galperin e os trabalhos de Talízina e Davidov, nos quais o conceito e

a ação formam uma unidade dialética. Os conceitos, nessa perspectiva, como forma

de conhecimento da realidade objetiva, refletem o geral, e o essencial, dos objetos e

fenômenos desta realidade, e são vinculados e dependentes dos procedimentos ou

operações; uma vez que, nesse interatuar com o meio, são usadas as conhecidas

operações racionais do pensamento: análise, síntese, comparação, identificação,

abstração, concreção, generalização e particularização, etc. E essas ações e

operações são os componentes estruturais da habilidade. Sendo assim, as

habilidades, pode se dizer, são conceitos em ação, ou seja, são necessárias na

operacionalização dos conceitos.

Para Núñez e González (1998, p. 95),

Baseado na teoria da atividade de A. N. Leontiev, é indiscutível que qualquer conceito, como imagem de objetos e fenômenos, deve estar relacionado a um tipo específico de atividade. Portanto, a formação do conceito não é só a formação da imagem especial como parte da realidade, mas também um processo de formação de um sistema operacional que possui uma estrutura interna. As ações, as observações se convertem em mecanismo psicológico do conceito.

Segundo Vigotsky (2005), o desenvolvimento de conceitos pressupõe o

desenvolvimento de muitas funções intelectuais: atenção, memória, lógica,

abstração, capacidade de comparar e diferenciar.

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De acordo com os experimentos de Talízina (2009), o conteúdo da ação

de condução ao conceito requer uma análise que pressupõe todo um sistema de

conhecimentos e habilidades prévias, não só da matéria disciplinar dada, mas

também da lógica. Esse sistema é formado por ações relacionadas com o

estabelecimento de relações hierárquicas dentro do sistema de conceitos. A ordem

da formação das ações lógicas é determinada tanto pelo conteúdo de cada uma

delas, como pelas relações entre elas. Mas, a obtenção da definição de um

conteúdo, como lembra a autora, é somente o primeiro passo para que

gradualmente o sujeito crie uma imagem abstrata e generalizada dos conceitos de

uma classe dada e assim possam atuar com esses conceitos.

Uma via possível para a formação da definição de conceitos pode ser a

que é apresentada abaixo:

1ª ação – Observação: processo mental de fixar a atenção em um objeto,

evento ou situação, a fim de identificar suas características seguindo uma orientação

determinada. Para executar tal operação é imprescindível a habilidade da atenção.

Quando se é capaz de fixar a atenção, então se pode observar as características do

objeto de observação. As características do objeto são representadas mentalmente

e arquivadas de modo que sejam úteis e recuperáveis no momento que seja

necessário.

Para Galperin (2013a), a atenção voluntária é a atenção planejada. A

existência desse plano e critério permite realizar o controle e ao mesmo tempo,

dirigir a atenção para aquilo que queremos e não para aquilo que “salta à vista”.

2ª ação – Comparação: consiste em estabelecer diferenças e

semelhanças entre pessoas, objetos, eventos ou situações, o estabelecimento de

semelhanças permite generalizar, as diferenças, o particular e como consequência

de ambos, comparar. No transcurso da atividade cognoscitiva produzimos

constantemente comparações entre objetos e fenômenos da realidade ou entre seus

elementos de acordo com as nossas necessidades ou objetivos.

Segundo Talízina (2000) um erro bastante comum nesse processo é o de

se apoiar em características isoladas e não no grupo de características do objeto.

Para Talízina (2009), é importante assinalar que a partir dessa via se pode

diferenciar as características não essenciais das essenciais.

3ª ação – Abstração: consiste em separar, isolar mentalmente um aspecto

ou qualidade de determinado objeto ou fenômeno desprezando as demais, ou seja,

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é a seleção das qualidades permanentes, desprezando as que consideramos

acidentais.

O uso das qualidades acidentais, ou seja, casuais, não permanentes são

causa de muitos erros. Nas pesquisas realizadas por Talízina (2009), a maioria dos

sujeitos que participavam dos estudos, reproduzia a definição dos conceitos sem

erro, mas ante os objetos reais se apoiavam nas características casuais,

estabelecidas na experiência imediata.

4ª ação – Generalização: é a unificação mental das qualidades,

características, propriedades que são comuns a um grupo ou classe de objetos ou

fenômenos da realidade. De outra forma, pode ser dito que é a extensão a uma

classe de objetos das qualidades permanentes que foram observadas num grupo

restrito.

Segundo Vigotsky (2005), um conceito expresso por uma palavra

representa um ato de generalização. A palavra, segundo o autor, é primeiramente

uma generalização do tipo mais primitivo, depois, a medida que o intelecto se

desenvolve, é substituída por generalizações cada vez mais elevadas.

5ª ação – Diferenciação: separação do que é comum a um conjunto de

objetos, do que pertence só a um ou a uma determinada classe de objetos.

Todos esses procedimentos são operações do pensamento e estão

estreitamente vinculadas entre si e têm lugar em diferentes níveis de complexidade,

de acordo com a necessidade ou objeto traçado.

Segundo Talízina (2009), a formação de conceitos é um processo não só

de formação de uma imagem específica do mundo, mas também de um sistema

determinado de ações. As ações e as operações representam precisamente o

mecanismo psicológico dos conceitos. Sem elas, o conceito não pode ser assimilado

nem utilizado posteriormente na solução de problemas.

Nesse sentido, conforme Hernández Dias e González Hernández (2012),

deve-se reconhecer o conhecimento não só como produto, mas como processo que

permite a representação da realidade, cada vez mais objetiva; quando esse

processo é analisado em um indivíduo que realiza seu processo de reconstrução

pessoal do conhecimento, a partir dos conhecimentos socialmente acumulados

pelas gerações anteriores.

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2.4.1 A definição de conceitos

A definição pode ser entendida como um enunciado que explicita o

significado de um termo (palavras ou símbolos). Para a filosofia clássica, a definição

á assumida como um enunciado sobre a essência da coisa. Para Aristóteles, uma

definição não diz respeito ao significado de uma palavra, mas aos atributos da coisa

em si, a exibição da essência de algo.

A definição de conceitos, segundo Talízina (1987), se relaciona com os

conhecimentos objetais concretos e com as ações específicas que caracterizam a

matéria dada (o que reitera a proposição Histórico-Cultural da unidade dialética entre

conceito e ação). Desta forma, para a autora, definir não é fazer um simples

enunciado sobre o conceito, é principalmente um momento da atividade para a

aprendizagem dos conceitos. Atividade que tem por objetivo deixar explícita a

existência do conjunto de características necessárias e suficientes. Essa é uma

importante estratégia mental que contribui para o processo de assimilação dos

conceitos.

Para Lopes (1990), a habilidade de definir consiste em poder precisar a

essência mesma do objeto de estudo. Definir, para a autora é expressar os traços

essenciais, suficientes (indispensáveis) e necessários (que não podem faltar) para

que o objeto seja o que é e não outro. Esses traços, ou características, podem ser

expressos usando outras palavras, variando a ordem em que são expressos, mas

devem fazer referência adequada aos essenciais e suficientes para que seja dada

uma definição correta.

Em Jorba (2000), definir é uma habilidade cognitivo-linguística cujo traço

distintivo é que deve se compreender as características essenciais, necessárias e

suficientes para que o conceito seja o que é e não outra coisa.

Pozo (1998) diferencia a definição de conceito do próprio conceito quando

esclarece que o procedimento de definição está relacionado aos atributos concretos

do conceito. Isso significa que a definição é técnica, operacional, única; enquanto o

conceito pode sofrer alterações em seu sentido dependendo do contexto.

Em Vigotski (1991), a definição é um procedimento que tem por objetivo o

desenvolvimento da habilidade de saber abstrair, nos conceitos, as características

essenciais.

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Com base na teoria Histórico-Cultural e na teoria da atividade de

Leontiev, podemos dizer que definir é uma operação por meio da qual se distinguem

as características essenciais do objeto ou fenômeno e estas são enunciadas em

forma de um conceito.

Definir é, assim, uma habilidade geral, ou seja, está relacionada a todas

as disciplinas ou áreas. Ela é formada a partir do desenvolvimento de outras

habilidades, a observação, a comparação, a abstração e a generalização. Por

intermédio dessas, se podem conhecer as propriedades dos objetos, distinguir as

que são gerais e, a partir dessas, as necessárias e suficientes (as essenciais).

A definição conceitual está atrelada às características estruturais do

conceito. Essas características estão vinculadas à estrutura do conceito que pode

ser: conjuntiva, disjuntiva ou conjuntiva-disjuntiva. A consciência da estrutura do

conceito é necessária porque determina a lógica da operação de identificação, na

medida em que, a relação de pertinência liga o objeto ao conceito, mediante as

propriedades necessárias e suficientes.

A estrutura conjuntiva, segundo a lógica, é aquela que as propriedades

necessárias e suficientes do conceitos são interligadas pela cojnunção “e”. As

características isoladas não permitem o reconhecimento do conceito, por isso são

ligadas pela conjunção de forma complementar.

Ex: Inseto é todo artrópode que possui 3 pares de patas articuladas,

corpo dividido em 3 segmentos (cabeça, tórax e abdome), olhos compostos e um

par de antenas.

A estrutura disjuntiva é caracterizada por apresentar as propriedades

necessárias e suficientes ligadas pela disjunção “ou”. Nesse caso, não há a

complementação, mas uma combinação do tipo: uma ou outra. Uma ou outra

característica pode ser suficiente para o reconhecimento do conceito.

Ex: A disjunção meiótica designa um defeito de segregação de

cromossomos homólogos ou de cromátides-irmãs.

A estrutura conjuntiva-disjuntiva é a que apresenta propriedades

necessárias antes da conjunção e outras necessárias depois da disjunção. A

presença dessas características asseguram a pertinência do objeto ao conceito.

Ex: As algas protistas são todas eucariontes e unicelulares ou

pluricelulares.

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2.4.2 A identificação

A operação lógica de identificação está ligada a assimilação de conceitos.

Ela desempenha um papel significativo tanto nos processos mais genéricos como

nos mais específicos, pois permite valorar se os conceitos foram ou não assimilados

em seus processos de formação nas diversas disciplinas escolares.

Segundo Davidov (1983), para identificar é indispensável conhecer as

características comuns, e também romper delas qualquer singularidade parcial.

Assim, para identificar, a síntese e a abstração são condições imprescindíveis, já

que a identificação necessita da definição do conceito. Isto porque para comprovar a

assimilação de um conceito, é lógico que, como fase prévia, o conceito tem que

haver sido formado, tem que estar na mente do sujeito, formando determinadas

estruturas cognitivas. Isso significa que, para verificar ou comprovar se o sujeito

assimilou ou não um conceito, o conceito deve ter sido dado a priori.

Para Talízina (1987) a operação de identificação está relacionada com o

conceito de propriedades necessárias e suficientes do objeto. Para a autora é

importante mostrar que a propriedade necessária não é suficiente. Os erros, que

ocorrem no processo, estão relacionados precisamente com a operação ser

executada com propriedades necessárias não levando em consideração as

suficientes.

De acordo com a lógica, identificar é um procedimento mediante o qual

são determinados os traços característicos a um objeto ou fenômeno e, sobre essa

base, se verifica seu pertencimento (filiação) a extensão de um conceito ou lei

conhecida. De maneira didática podemos dizer que é: um procedimento lógico que

pressupõe a definição do conceito para estabelecer uma relação de pertinência do

objeto à determinada classe de objetos com base em suas propriedades

necessárias e suficientes. Ou de outra forma, o procedimento de identificar se

executa por meio da inclusão de um dado objeto em um determinado conceito, a

partir do reconhecimento das características necessárias e suficientes,

generalizadas em um grupo de objetos. Dessa forma, a definição do conceito

antecede o procedimento de identificar, uma vez que, é necessária a consciência da

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estrutura lógica23 do conceito para o reconhecimento das características necessárias

e suficientes para classificar o objeto.

Segundo Davidov (1983), a exatidão da identificação depende da

plenitude dos tipos que figuram no abstrato genérico, com frequência não se pode

destacar um grupo qualquer de objetos exclusivamente por um só atributo,

qualidade de afinidade. Ela se faz possível mediante a generalização partindo de

várias qualidades comuns.

Ribeiro e Núñez (1997), expressão que a identificação realizada de forma

consciente, é resultado de um ensino e aprendizagem, em que o seu conteúdo

inclui, tanto os conhecimentos da área específica, como os procedimentos gerais e

específicos da atividade cognitiva que deve ser assimilado pelo estudante. Nesse

sentido, a assimilação dos conceitos científicos consiste nas ações dos estudantes

com os mesmos.

Davidov (1983, p. 31) expressa que dominar um conceito significa

“dominar a totalidade de conhecimentos sobre os objetos a que se refere o conceito

dado”. De acordo o autor, ao expressar-se a realidade em forma de conceito,

apropria-se o pensamento teórico. O conteúdo do pensamento teórico é a existência

mediatizada, refletida, essencial. E assim, é o processo de idealização de ambos

aspectos da atividade objetivo-prática, é a reprodução, nela, das formas universais

das coisas. Assim, quanto mais abstrata for a generalização maior é a concretização

que requer a assimilação do conceito. Dessa forma, a utilização do procedimento de

identificar está relacionada com o desenvolvimento da lógica do geral ao particular.

Esse pensamento de Davidov, ifluencia o trabalho de Ribeiro (2008)

quando ela expressa que a lógica da utilização dos procedimentos de definição e da

identificação, como estratégias mentais conduzem à formação do pensamento

teórico e contribuem para a aquisição da habilidade de operacionalização com os

conceitos mediante as propriedades necessárias e suficientes, o que facilita a

possibilidade do aluno aprender a orientar-se pelos atributos essenciais do conceito,

e não por outros, diminuindo o número de erros que os estudantes empreendem

durante o processo de formação de conceitos científicos.

Para Lopez (1990), as habilidades se formam, se desenvolvem e em

definitivo, são as que capacitam os estudantes a assimilar e usar melhor os

23 A estrutura do conceito pode ser: conjuntiva, disjuntiva ou conjuntiva-disjuntiva, como já

explicitado em item anterior.

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conhecimentos e, o que é ainda mais importante, os prepara para encarar novas

informações, buscar aquelas que são necessárias e adquirir por si mesmos novos

conhecimentos. Para a autora, em estreita relação com os fatos, conhecimentos e

experiências, deve ser garantida a assimilação das formas de elaboração, os modos

de atuar, as técnicas para aprender, as formas de raciocinar, de modo que com o

conhecimento se alcance também a formação e o desenvolvimento de habilidades,

fundamentalmente, daquelas que determinam capacidades cognitivas. Dessa forma,

a atualização do procedimento lógico de identificar, compreendido como habilidade,

ou seja, como um sistema de operações, uma atividade, encaminhado a elaboração

da informação obtida do objeto e contida nos conhecimentos; permite a

internalização dos processos de obtenção da informação e a assimilação dos

conhecimentos, assim como o uso, expressão e aplicação desses conhecimentos

em praticamente todas as disciplinas e o que é mais importante, em grande parte de

situações vividas fora da escola.

Segundo Talízina (1987), a execução do procedimento da identificação,

se realiza a partir de uma série de tarefas que levem os estudantes a compreender

as propriedades necessárias e suficientes para a definição do conceito, ou seja, a

partir da organização de situações de ensino com meios e instrumentos

selecionados para esse fim. A sequência das ações para a identificação, sem erros,

dos objetos a um ou outro conceito deve apresentar segundo a autora, as seguintes

etapas:

a) Ensinar os alunos a diferenciar o conceito pelo qual se exige a levar a

um ou outro objeto.

b) Estabelecer em que condições o objeto dado pode ser referido ao

conceito dado – estabelecer as propriedades necessárias e suficientes.

c) Estabelecer se o objeto dado tem ou não estas propriedades -

estabelecimento de pertencimento ou não do objeto ao conceito e vice-

versa:

1º CASO – RESPOSTA POSITIVA:

- Estrutura conceitual conjuntiva:

A 1ª e 2ª propriedades, ligadas pela conjunção “e” estão presentes no

objeto.

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- Estrutura conceitual disjuntiva:

A 1ª propriedade está presente e a segunda está ausente.

Ou

A1ª propriedade está ausente e a segunda está presente.

- Estrutura conceitual conjuntiva-disjuntiva:

A 1ª propriedade está presente, a segunda ligada pela conjunção “ou”

está ausente, a 3ª ligada pela conjunção “e” está ausente e a 4ª ligada pela

conjunção “ou” está presente.

2º CASO – RESPOSTA NEGATIVA:

- Estrutura conceitual conjuntiva:

A 1ª propriedade está presente e a 2ª propriedade ligada pela conjunção

“e” está ausente.

Ou

A 1ª propriedade está ausente e a 2ª propriedade, ligada pela conjunção

“e” está presente.

A ausência de uma das propriedades é suficiente para excluir o objeto da

classe dada.

- Estrutura conceitual disjuntiva:

A 1ª propriedade está ausente e a segunda ligada pela disjunção “ou”

também está ausente.

- Estrutura conceitual conjuntiva-disjuntiva:

A 1ª propriedade está presente, a 2ª propriedade ligada pela disjunção

“ou” está ausente, a 3ª propriedade ligada pela conjunção “e” está ausente e a 4ª

propriedade ligada pela disjunção “ou” também ausente.

Segundo Ribeiro (2008), se uma das propriedades ligadas pela conjunção

“e”, e outra ligada pela disjunção “ou” estiverem ausentes, o objeto não pertencerá

ao conceito dado.

3º CASO – RESPOSTA INDETERMINADA:

Segundo Talízina (1987), um objeto se relaciona com um dado conceito

somente no caso em que contenha todo o sistema de propriedades necessárias e

suficientes. Se o objeto não contém uma dessas propriedades, não se relacionará

com o objeto. Se não se conhece uma dessas do total de propriedades do objeto, a

resposta será indeterminada, não se conhece se o objeto pertence ou não ao

conceito dado (38).

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Ao trabalhar o procedimento de identificação, deve-se prestar bastante

atenção aos casos com respostas indeterminadas. Este caso é assimilado com um

grau de dificuldade muito maior, segundo a autora, isto porque a ausência de

indicações é considerada como a ausência da propriedade. A resposta correta

nesse caso é: não se pode determinar se o objeto se relaciona ou não com

determinado conceito.

2.4.3 Os procedimentos lógicos, como conteúdo geral das disciplinas, como vias

para a assimilação de conceitos científicos

Em Vigotsky (2005), os procedimentos lógicos são definidos como

estrátégias para a operação com os conceitos científicos.

Para Talízina (1987), os procedimentos lógicos são estratégias mentais

que estão em consonância com a sistematização do ensino de conceitos científicos

e são apresentados para a realização de ações como parte da atividade necessária

a esse processo de apropriação.

Os procedimentos lógicos, segundo Talízina (2000) são estratégias

mentais que estão em consonância com a sistematização do ensino de conceitos

científicos e são apresentados para a realização de ações e operações como parte

da atividade necessária a esse processo de apropriação.

Esses procedimentos são, como já especificado, ações do intelecto que

se desenvolvem no processo de assimilação do conhecimento. As habilidades

lógicas estão presentes em todas as atividades do homem, em particular nas

cognoscitivas que permitem o desenvolvimento do pensamento produtivo e

autônomo que permite, posteriormente, a criatividade.

As apropriações dos procedimentos iniciais do pensamento lógico

conduzem à formação de um pensamento teórico, ou seja, que se pode operar com

generalizações teóricas, com conceitos, leis, princípios gerais, com a essência do

conhecimento. Segundo Davidov (1986), desenvolver o pensamento teórico é o

processo através do qual se revela a essência e desenvolvimento dos objetos de

conhecimento e com isso a aquisição de métodos e estratégias cognoscitivas gerais.

Para Avendaño Oliveira e Labrrere Sarduy (1989), os procedimentos, são

conhecimentos aplicados na prática que se relacionam estreitamente com o que se

denomina habilidade. De maneira tal que se pode afirmar que a habilidade é a

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aplicação de forma exitosa dos conhecimentos assimilados para a solução de

tarefas práticas ou mentais. Portanto, a aplicação exitosa de procedimentos à prática

e a habilidade são, em certa medida, equivalentes.

Segundo a lógica, habilidade de pensar, por meio de procedimentos é

constituída por uma série de componentes entre eles podemos destacar:

a) A habilidade de orientar-se a partir das características essenciais dos

objetos e fenômenos.

b) A habilidade de subordinar o pensamento às leis da lógica, ou seja, de

formar suas ações de acordo com elas.

c) A habilidade de reproduzir operações lógicas argumentando-as

conscientemente.

d) A habilidade de elaborar hipóteses e de deduzir consequências a partir

de premissas dadas.

O desenvolvimento do pensamento lógico incide diretamente nas

capacidades cognoscitivas dos estudantes; estas vêm adquirindo uma importância

cada vez maior no conhecimento científico, posto que, agora, o homem conhece

fenômenos e regularidades da realidade tão profundos, complexos e ocultos que

requerem um raciocínio dialético flexível e altamente desenvolvido.

A partir das investigações dedicadas à formação de procedimentos gerais

de atividade cognoscitiva, Talízina (1988) obteve resultados com elevado grau de

sucesso. A autora justifica que: em primeiro lugar, os procedimentos esboçados

foram formados em todos os alunos; em segundo, os alunos os utilizaram facilmente

em novas condições, contextos e sempre conseguiam fundamentar o processo de

seu cumprimento; terceiro, embora a formação dos métodos gerais da atividade

quase sempre relacionada com a assimilação de conhecimentos e ações

complementares, o tempo gasto com a assimilação de outras disciplinas

relacionadas a esse método, foi, em seu conjunto, muito menor. Desta forma, a

autora comprovou que cabe ao professor organizar o ensino tendo em vista os

conhecimentos elaborados historicamente pela humanidade, os conhecimentos das

diferentes ciências, podem ser apropriados pelos indivíduos a partir de

procedimentos gerais.

Por não existir nenhum programa concreto que trate dos meios lógicos do

pensamento na escola, os quais deveriam ser formados durante o estudo das

disciplinas; os escolares, como chama a autora, têm o desenvolvimento do

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pensamento lógico acontecendo, de maneira geral, sem o conhecimento do sistema

dos meios necessários, de seu conteúdo e da sequência de sua formação. Isto leva

a maioria dos escolares não dominarem os meios iniciais do pensamento lógico, até

mesmo ao chegar as séries superiores na escola básica. Sem esses meios, expõe a

autora, não se dá a assimilação válida e completa da matéria.

É mediante determinadas habilidades intelectuais (os meios do

pensamento lógico) como a observação, comparação, descrição, definição,

identificação, classificação e outras, podemos realizar uma apropriação consciente

dos novos conhecimentos.

Dessa forma, é a partir dos procedimentos lógicos do pensamento que

uma pessoa explora, manipula, organiza, representa e reproduz uma nova

informação. Esses meios podem ser simples (reconhecer, identificar, comparar) ou

complexos (pensamento analógico, inferencial). Cada atividade cognoscitiva nos

exige utilizar operações ou procedimentos mentais, que se referem as imagens,

conceitos, palavras.

Os procedimentos mentais unidos de modo coerente, lógico, são

organizados em estruturas cognitivas (de conhecimento) e resultam na estrutura

mental da pessoa. E vai sendo construída pouco a pouco, dos procedimentos

lógicos mais elementares aos mais complexos.

Os procedimentos lógicos do pensamento, que ocorrem a partir de

determinadas operações objetivadas na linguagem, nos conhecimentos humanos,

nos objetos; são operações que permitem aos indivíduos se apropriarem de

habilidades gerais no seu processo de formação enquanto sujeito histórico e cultural.

De forma dialética, as habilidades gerais conduzem a formação do pensamento

teórico, que opera com generalizações teóricas com conceitos, com leis, com

princípios e com a essência do conteúdo. Os conhecimentos constituem a base para

a formação e desenvolvimento das habilidades, já que essas representam o domínio

consciente e exitoso da atividade.

Segundo Avendaño Oliveira e Labrrere Sarduy (1998), o desenvolvimento

da razão, do pensamento lógico se alcança com a orientação adequada gradual e

sistemática em diferentes tipos de atividades executadas de maneira consciente e

motivada, características essenciais da atividade intelectual superior. E é por meio

dessa atividade intelectual superior que ocorre a autorregulação do sujeito.

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Para Talízina (2000), as habilidades lógicas se formam por meio das

diferentes disciplinas, mas não são privativas destas, tendo um caráter geral e

universal. O desenvolvimento do pensamento lógico de determinadas habilidades

lógicas possuem maior significação em algumas disciplinas, uma vez que são

requeridas no processo de assimilação do conteúdo. Mas, uma vez formadas, as

habilidades irão contribuir no restante das disciplinas.

2.4.4 A identificação e a assimilação de conceitos científicos: Limites e

possibilidades

O conhecimento do mundo, segundo a perspectiva do materialismo

dialético histórico cultural, ocorre como um processo ativo de interação entre o

sujeito e a realidade. Nesse processo de interação se dá a transformação de ambos

(o homem e a realidade concreta). Assim, por meio de sua atividade, o homem

transforma o mundo e vai se transformando. E à medida que esse processo ocorre,

se dá a formação de novas e mais aperfeiçoadas habilidades cognoscitivas.

Partindo do pressuposto acima, cada procedimento da atividade humana,

segundo Avendaño Oliveira e Labrrere Sarduy (1998), responde como deve

executar-se essa atividade, em dependência das condições em que ela aconteça.

Isto significa que os procedimentos materializam a execução da atividade de

determinados conhecimentos que são aplicados na prática. Dessa forma, segundo

os autores, de maneira simplificada, a habilidade pode ser considerada, uma

aplicação de forma exitosa dos conhecimentos assimilados na solução de tarefas

práticas ou mentais.

Na escola, no decurso da aprendizagem do conteúdo das diversas

disciplinas, os alunos desenvolvem habilidades para operar com os conhecimentos

dessas matérias. Assim, a Biologia desenvolve habilidades que atendem os

requerimentos básicos que devem ter os egressos do ensino médio em relação a

esta disciplina. Mas é claro que além das habilidades específicas de cada disciplina,

são desenvolvidas habilidades que podem ser aplicadas em muitas matérias e

conteúdos- as habilidades gerais ou procedimentos do pensamento lógico.

Dentre as habilidades gerais, a de identificar está relacionada em biologia,

ao grupo de habilidades, relacionadas aos conceitos sistemáticos, ecológicos e

evolutivos. Essas habilidades servem de base ao estudo organizado e sistematizado

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desta ciência, tendo em conta a diversidade do mundo vivo. Na habilidade de

identificar estão implícitos importantes métodos empíricos (a observação, a

comparação, entre outros) e teóricos da investigação científica, extremamente

relacionados entre si.

Tudo isso demonstra que é imprescindível, no ensino de biologia, a

formação e o desenvolvimento de conceitos e habilidades, sustentando o postulado

da unidade entre conceito e ação da perspectiva histórico cultural, nas proposições

de Galperin (1976), Leontiev (1978), Davydov (1983), Talízina (1988), entre outros.

Para o ensino de Biologia, assim como no ensino de qualquer outra

disciplina, o conceito científico sozinho não é suficiente, o mais importante é que se

saiba aplica-lo de maneira correta, ou seja, nas situações que estão dentro de seus

limites de aplicação. Em biologia, as habilidades e, portanto, a identificação,

constituem os conhecimentos biológicos em ação.

Sendo a habilidade de identificar, um procedimento lógico, refere-se

fundamentalmente aos procedimentos que são utilizados para entender a realidade

concreta, uma vez que a lógica é considerada a forma correta do pensamento.

Neste caso, na biologia, se relaciona intimamente com os conceitos da sistemática e

taxonomia (área da biologia que estuda o parentesco evolutivo e a classificação dos

seres vivos); isso significa que esta habilidade permite a operacionalização dos

conceitos relativos a essa área da biologia, permitindo a internalização dos conceitos

e a generalização.

Segundo Jorba (2000), cada uma das habilidades desenvolvidas nas

disciplinas se desenvolve mediante seu uso aplicado a conteúdos variados que

podem ser concretos, observáveis ou complexos e abstratos. Podem ser aplicadas a

fatos concretos ou fatos complexos, a conceitos e princípios de maior ou menor grau

de generalização e abstração; pode implicar a elaboração de quantidades mais ou

menos elevadas de dados ou informações diversas; em função das características

das tarefas escolares que são planejadas. Pode-se dizer que, a habilidade de

identificar se desenvolve enquanto se aprende os diferentes grupos animais e seus

parentescos, enquanto se alcançam as diferenças que se usa para distinguir coisas,

objetos, animais por suas características necessárias e suficientes. Dessa forma,

não se trata de conhecer e reproduzir o conhecimento escolar, mas conhecer para

saber operacionalizar os conceitos e assim poder defender suas próprias ideias

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sobre fatos e fenômenos de forma profunda e científica, para atuar de maneira

consciente de maneira individual e social.

Para isso ser possível, é preciso que se considere que as tarefas só

podem ser executadas se estiverem dentro dos limites de generalização dos

conceitos utilizados como referência. Dessa forma, a habilidade de identificar, sendo

uma habilidade lógica, somente pode operacionalizar conceitos que são definidos de

maneira lógica. Portanto, em uma atividade que seja empregada a habilidade de

identificar se determinado ser é considerado mais ou menos evoluído, ou que sejam

utilizados conceitos ecológicos como os de energia, não pode ser obtida resposta

negativa ou positiva, uma vez que a tarefa proposta se encontra fora do limite de

aplicação para a habilidade de identificar, porque esses conceitos não são definidos

de maneira lógica.

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3 HABILIDADES GERAIS SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DE GALPERIN

As habilidades desempenham um papel essencial na apropriação do

conhecimento na perspectiva Histórico-Cultural. A unidade dialética entre ambos é o

que favorece o desenvolvimento intelectual para a formação de pessoas que podem

pensar e atuar com independência, ser criativo e ter valores relativos ao respeito pelo

ambiente e seu semelhante. As habilidades gerais, por serem constituídas de

operações e ações (procedimentos) que podem ser transladadas para novas situações,

tem caráter desenvolvimental, que permite a aplicação do conhecimento de forma

criadora. A justificativa para esse capítulo, que se dedica a explanar sobre as

habilidades gerais, na perspectiva didática apoiada nos princípios da psicologia

soviética, é servir como embasamento teórico para a compreensão do processo de

atualização da habilidade geral de identificar segundo a teoria da Formação por Etapas

das Ações Mentais e dos Conceitos de P. Ya. Galperin e a teoria da atividade de N. A.

Leontiev. Nele será tratado: a perspectiva da habilidade enquanto atividade; o conceito

de habilidade assumido neste trabalho; a proposição da habilidade como conteúdo de

ensino; o procedimento lógico de identificar e o papel da orientação no processo da

formação/atualização das habilidades. Serão também discutidos os elementos

essenciais, as bases, que sustentam a atividade como via para sistematizar ou atualizar

habilidades a partir da proposição metodológica de Galperin (1976) sobre a formação

de ações por etapas, que relaciona a atividade material (externa) com a atividade

psíquica (interna). Essa proposição se concretiza por meio de um sistema didático (um

conjunto de tarefas) estruturado com base na determinação de indicadores qualitativos,

que objetiva a internalização de uma orientação (traduzida em: modelo do conceito e

modelo da ação), um sistema de operações denominado invariante da habilidade. No

caso das habilidades gerais, como a de identificar, essa invariante é estabelecida pela

tradição lógica.

3.1 Habilidade enquanto atividade

A concepção de habilidade, segundo a Teoria Histórico-Cultural, se

relaciona à categoria atividade24 (considerada categoria central no Materialismo

24 Atividade - processo no qual ocorre a interação sujeito-objeto, Forma de relação dialética entre o

sujeito e objeto, onde o sujeito se transforma ao transformar o objeto.

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Histórico Dialético). Dessa forma, para que se possa compreender o conceito de

habilidade aqui assumido, torna-se necessário o entendimento dessa categoria.

A atividade traz, incorporada a sua ideia, o principio de que o

condicionamento histórico-social do desenvolvimento do psiquismo humano se

realiza no processo de apropriação da cultura mediante a comunicação com outras

pessoas. Isto é, durante atividade, o indivíduo, em seu relacionamento com os

outros, incorpora determinadas atitudes frente à realidade em que está inserido.

Esse processo (o desenvolvimento do psiquismo) se efetiva

primeiramente na atividade externa (interpessoal) que, em seguida, é internalizada

(atividade mental) e, regulada pela consciência, passa a ser intrapsíquica. Para

Leontiev (2014), esse fato é inquestionavelmente certo, quando observamos que o

interno (intrapsíquico) depende das influências externas precedentes (interpsíquico).

Nesse sentido, segundo Davidov (1988) a categoria atividade é a

abstração teórica de toda a prática humana universal e por isso tem caráter histórico

social. Para o autor, na atividade se esclarece a universalidade do sujeito humano.

Foi A. N. Leontiev quem sistematizou o conceito atividade, na teoria

psicológica geral da atividade. Segundo o autor,

Cuando Marx indrodujo el concepto de actividad en la teoria del conocimiento le asignó un sentido rigurosamiente materialista: para él la actividad, en su forma inicial y básica, es la actividad sensorial práctica, durante la cual los hombres se ponen en contacto práctico con los objetos del mundo circundante, experimentan en sí mismos la resistência de esos objetos y actúan sobre ellos, subordinando-se a sus propriedades objetivas (LEONTIEV, 1978, p. 20).

Atividade é compreendida por este autor, como os processos mediantes

os quais o indivíduo, respondendo às suas necessidades, se relaciona com a

realidade adotando determinadas atitudes para com a mesma. Para ele, a atividade

humana é objeto da psicologia, não como parte ou elemento adicional, mas como

sua função especial, a unidade central da vida do sujeito concreto. Sua análise

estabelece o ponto determinante e o principal método do conhecimento científico do

reflexo psíquico da consciência.

Em se tratando do processo de ensino aprendizagem, Núñez (2009)

expressa que é pela atividade que o estudante se relaciona com o objeto do

conhecimento, se apropria dele e o transforma, transformando-se também. É

mediante a atividade de estudo que o estudante assimila de forma subjetiva, ideal,

os conceitos, juízos, princípios, leis, etc. (os conteúdos de ensino).

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Seguindo essa lógica, pode-se estabelecer que a atividade é sempre

transformadora, pois visa à mudança real ou imaginária do seu objeto que se

converte em produto dessa mesma atividade (NÚÑEZ, 2009).

Segundo Petrovsky (1980, p. 160), “La actividad del individuo siempre se

realiza dentro de un sistema determinado de relaciones del individuo com otras

personas.”

Sobre isso esclarece Leontiev (2014, p. 186), “Apesar de toda sua

diversidade, todas as suas características especiais, a atividade do indivíduo

humano é um sistema que obedece ao sistema de relações da sociedade. Fora

destas relações, a atividade humana não existe”.

Assim, a atividade (sempre social) está relacionada com a interação das

pessoas, ou seja, se realiza na relação sujeito-objeto e sujeito-sujeito, mediatizada

pelas relações ativas estabelecidas nesse intercâmbio.

Nas proposições de Petrovsky (1980) e Leontiev (2014) é evidenciado o

caráter obrigatório da comunicação, dado pela necessidade de satisfação

“sensorial”, fonte de informação e estimulação. E nos leva a conceber que a

existência social está determinada pela relação que se estabelece entre o sujeito (a

personalidade) e o mundo material (com aqueles que o rodeiam), na atividade e na

comunicação. É essa interação que permite o desenvolvimento do sujeito mediante

a apropriação da experiência sócio-histórica em que ele está imerso.

A atividade pressupõe uma estrutura geral composta por características

ou componentes centrais, são eles: orientação (componente estrutural) que guia o

objetivo que se quer alcançar, execução (componente funcional) que desenvolve a

independência cognitiva e controle (componente regulador) que oferece os

elementos para alcançar o objetivo e estimular a realização da atividade. Cada um

desses componentes se relaciona e completa o outro. Em se tratando de orientação,

a atividade compreende as necessidades, os motivos, o objeto e as tarefas

(condições – ferramentas); em se tratando de execução, a atividade é constituída

pelas ações e suas operações; e o controle regula a qualidade da atividade que está

diretamente relacionada ao objetivo e aos indicadores qualitativos da ação. Esse

componente tem um significado importante na atividade cognoscitiva e pode ser

coletiva ou individual, oral ou escrita e objetiva alcançar o autocontrole (momento

superior de independência cognoscitiva).

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A característica constitutiva fundamental da atividade é sua natureza

objetal. Segundo Núñez (2009), o objeto da atividade é para onde é dirigida a ação.

Constitui a matéria prima necessária para que o sujeito da atividade possa obter um

produto determinado. Nesse caso, em uma atividade de aprendizagem, o objeto da

atividade é a aprendizagem, é para onde ela é dirigida. Em essência, segundo

González Serra (2000), a aprendizagem ocorre quando uma determinada

estruturação psíquica engendra processos e reflexos que conduzem à satisfação

das necessidades e em consequência, esses processos e reflexos se afixam, se

consolidam.

Em termos próprios, segundo Leontiev (2011), o objeto da atividade é sua

motivação, ou seja, não existe atividade sem uma motivação e essa se relaciona ao

objeto. Esses motivos, segundo Núñez (2009), têm que existir no sujeito e têm sua

origem em uma necessidade. Esta determina a direção do comportamento para os

objetivos apropriados a sua satisfação.

A psicologia Histórico-Cultural entende necessidade como um estado de

carência do indivíduo que o leva à atividade. Essa atividade tem como meta a

satisfação do indivíduo e depende das condições existentes para tal. Com base

nesse entendimento se pode distinguir dois gêneros de necessidade a nível da vida

psíquica:

a) As necessidades que não estão mediadas pelos objetos e se realizam

em determinada função do organismo.

b) As necessidades que são satisfeitas com a ajuda de objetos.

De acordo com a teoria da atividade (LEONTIEV, 1978), todo indivíduo

nasce dotado de necessidades. Mas estas, como força interna, só podem realizar-se

dentro da atividade. Assim, a necessidade se manifesta como uma premissa, uma

condição para a atividade. Mas por si só, como fenômeno puramente interior, não

dirige nem orienta o sujeito, somente o faz agir. No momento que o sujeito começa a

agir, devido seu contato com o mundo objetal (encontro da necessidade com o

objeto), imediatamente se opera uma transformação na necessidade, deixando de

ser o que era em si, para transformar-se em outro fenômeno (motivo), que é o que

permite impulsionar e orientar a atividade. Desta forma, quanto mais avança o

desenvolvimento da atividade, mais sua premissa se transforma em resultado. Isto

significa que o encontro da necessidade com o objeto potencialmente capaz de

satisfazê-la (que gera o motivo), já é a própria atividade.

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Para Leontiev (1978), o encontro da necessidade com o objeto é um fato

extraordinário, é a objetivação da necessidade, de complemento da mesma com um

conteúdo, que é retirado do mundo circundante e dirige a necessidade a um nível

psicológico propriamente dito.

Sucede que en el próprio estado de necessidade del sujeito no está rigorosamente registrado el objeto que es capaz de satisfacer la necessidade. Hasta la primera vez que és satisfecha, la necessidade “no conece” su objeto, éste aún debe ser descubierto. Sólo como resultado de esse descubrimiento, la necessidade adquiere su objetividade y el objeto que es percebido, adquiere su atividade estimuladora y orientadora de la función, se convierte en motivo. (LEONTIEV, 1978, p. 146).

Desta forma, atrás de qualquer objetivo se encontra um motivo

(TALÍZINA, 2000). Mas, mesmo que o homem se dê conta de seu objetivo na

realização de uma atividade, pode não acontecer o mesmo com o motivo. Para a

autora, normalmente a atividade do homem se caracteriza por ser poli motivacional,

ou seja, é impulsionada por vários motivos. Devido a isso, alguns motivos formam os

sentidos, enquanto os outros realizam o papel de motivos – estímulos. Ambos os

tipos de motivo podem ser conscientes e atuar sem que seja descoberta sua função

pelo sujeito.

A psicologia soviética define motivo como o reflexo subjetivo da

possibilidade do sujeito alcançar um determinado objetivo necessário. Assim, o

motivo incorpora a tensão ativa das necessidades que atuam sobre o sujeito, as

quais, dirigidas por este dito objetivo, impulsionam a atividade para que este seja

alcançado. Ou seja, podemos entender os motivos como sendo a resultante de um

sistema de forças (as necessidades) que atuam sobre um determinado objetivo

(meta).

Os motivos podem diferenciar-se atendendo a distintos critérios, dentre

eles evidenciam-se os classificados por seu conteúdo, que podem ser cognoscitivos,

laborais, artísticos, etc.

Os motivos da atividade escolar, que se encontram nos motivos

cognoscitivos, classificam-se em externos e internos. Segundo Talízina (2000), os

motivos externos são aqueles que não se relacionam com os conhecimentos que se

assimila, nem com a atividade que se realiza. São, portanto, aqueles em que a

aprendizagem pode servir como um meio para alcançar outros objetivos – como, por

exemplo, ser reconhecido por sua sapiência. Na motivação interna, o interesse

cognitivo, relacionado com o objeto dado, serve como motivo. Nesse caso, a

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atividade de aprendizagem satisfaz a necessidade cognitiva de maneira imediata.

Mas, alerta a autora, a motivação para a aprendizagem, motivação cognitiva, na

perspectiva da psicologia soviética, deve estar sempre submetida à motivação

social, ou seja, o sujeito deve desejar conhecimentos para ser útil à sociedade.

Em se tratando dos componentes funcionais, a atividade é composta de:

ações e operações, que se relacionam de maneira hierárquica e independente.

Leontiev (2011) diferencia atividade, ação e operação quando analisa a estrutura da

atividade especificamente humana. Segundo o autor, por ação se entende um

processo subordinado à ideia de meta a se alcançar (um processo subordinado a

uma meta executada conscientemente). Como operações, denominamos as formas

de executar uma ação, e estas estão relacionadas às condições.

Assim, podemos relacionar os componentes funcionais e estruturais, da

atividade, da seguinte forma, segundo o quadro 2:

Quadro 2 - Componentes funcionais

ATIVIDADE MOTIVAÇÃO

AÇÃO META (objetivo)

OPERAÇÃO CONDIÇÃO

Fonte: Maria da Glória Albino

Segundo Leontiev (2011), a atividade está constituída de ações, mas as

ações não são particularidades que estão incluídas na composição de uma

determinada atividade. Isto porque existe uma independência entre elas. Uma

mesma ação pode realizar diferentes atividades, passar de uma atividade a outra.

Uma ação pode ser induzida por diferentes motivações, quer dizer,

realizar atividades completamente distintas. E o contrário também pode acontecer,

uma mesma motivação pode gerar diferentes metas e, consequentemente diferentes

ações. Assim, qualquer processo concreto, tanto interno quanto externo, é atividade

humana do ponto de vista da motivação; e uma ação ou um sistema de ações, são

do ponto de vista da meta.

Desta forma, a ação é considerada a unidade da atividade humana, uma

vez que contém todas as características essenciais da psique humana. É a menor

parte que inclui todos os elementos do objeto de estudo (da atividade). Na ação são

identificados os elementos estruturais invariantes, o motivo (objetivo), o objeto da

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ação, a base orientadora da ação, as operações e os seus meios de execução

(GALPERIN, 2011c).

Para Galperin (2011c), toda ação se caracteriza antes de tudo pelas

variações que produzem em seu objeto e pelo resultado a que conduz. A ação

mental se caracteriza, então, por sua variação determinada e por seu caráter dirigido

a um objeto mental. Por isso é que a ação mental pode ser determinada como a

habilidade de realizar mentalmente uma transformação determinada do objeto.

Leontiev (1978) entende que a atividade teórica interna e a atividade

prática externa mantêm a mesma estrutura geral. A atividade interna se origina a

partir da atividade prática externa, não se separa dela, mas conserva uma relação

fundamental e bilateral com a mesma.

Em sendo o objeto da atividade pedagógica a transformação dos

indivíduos no processo de apropriação dos conhecimentos, materializa-se por meio

dessa ação, que é teórica e prática, a necessidade humana de apropriar-se dos

bens culturais como forma de promoção humana.

Segundo Núñez (2009), o processo de ensino e aprendizagem que

possibilite a formação do aluno com base num processo de atividade como um

sistema que inclui um conjunto de ações e finalidades conscientes, na qual

coincidem os motivos com os objetivos de aprender, poderá permitir a aplicação do

conhecimento assimilado na solução de tarefas determinadas, com o objetivo de

proporcionar conhecimentos e habilidades vinculados à vida e às necessidades do

aluno no seu contexto sócio histórico. Assim, “Uma habilidade pode ser considerada

um tipo de atividade, uma vez que é um processo de solução, pelos estudantes, de

uma situação- problema, motivados por um objetivo, cuja solução está orientada.”

(NÚÑEZ; RAMALHO 2011, p. 87).

Em Núñez (2009), a Teoria da atividade desenvolvida por A. N. Leontiev

(intitulada como teoria da atividade Histórico-Cultural por A. A. Leontiev e D. A.

Leontiev – respectivamente, filho e neto de Leontiev), se apresenta como um

recurso metodológico importante para o planejamento de estratégias de ensino. (O

autor, assim como Quitanar Rojas e Solovieva (2011), integra também, nessa

afirmativa, a teoria de Galperin). A Teoria possibilita uma análise do conteúdo da

atividade da aprendizagem, ao delimitar a estrutura de seus componentes principais

e as relações funcionais que entre eles podem estabelecer-se. Segundo Núñez

(2009), o objetivo do processo de ensino e aprendizagem, nessa perspectiva, é

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garantir a assimilação da atividade, que o aluno deve desenvolver para a

aprendizagem de determinado conhecimento (conceito, habilidade, valor).

Nesse sentido, assumir o processo de ensino e aprendizagem de uma

habilidade como atividade, segundo a interpretação marxista atribuída por Leontiev,

significa considerar o conhecimento como produto da atividade humana. Em cada

conceito, ensinado/aprendido, está incorporado o processo sócio histórico de sua

produção (ação). Desse modo, o encaminhamento teórico-metodológico do ensino

deve respeitar o aspecto lógico-histórico do conhecimento que contempla, de forma

articulada, o lado histórico do conceito, bem como a sua lógica, sua essência.

Nessa perspectiva, o tipo de pensamento que o ensino permite o

estudante desenvolver, pode revelar como o conhecimento é apropriado dentro do

ambiente de sala de aula. Isto significa que o objeto do conhecimento dos

aprendentes deve ser considerado em seus dois aspectos: o plano da orientação e o

operativo. Isto porque é no plano operativo que se revela a atividade cognoscitiva

dos alunos, e que pode ocorrer a mudança do pensamento empírico para o teórico.

Para Núñez e Farias (2013), diferentemente do behaviorismo, para o qual

se privilegia a parte executiva da atividade, a perspectiva de ensino histórico cultural

(nas contribuições dadas por Galperin) enfatiza a importância da orientação que o

sujeito constrói para a atividade, que determina, entre outros fatores, a qualidade da

aprendizagem.

Sobre a orientação explicita Galperin (1976, p. 85), “En su aspecto

pisocológico la verdadeira orientación activa caracteriza a todas las formas de

actividad psíquica, y éstas a su vez constituyen distintas formas de orientación del

individuo en las diferentes situaciones vitales.”

Em Galperin (2011c), o ponto central da aprendizagem é a atividade do

próprio educando que deve ser realizada de forma relativamente independente. O

objeto da direção do estudo consiste, então, em selecionar a ação necessária e

organizar sua execução de tal forma que se garanta a formação dos conhecimentos

e as habilidades com a qualidade requerida. Para o autor, selecionar a ação

necessária significa, antes de tudo, revelar o conteúdo concreto do processo, com a

ajuda do qual se alcança o resultado desejado.

Segundo Talízina (2009), na escola psicológica de Galperin o sistema de

ações que conduz a solução de um problema se determina como atividade

correspondente ao problema. Isso significa dizer que atividade é o processo que é

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realizado devido a um motivo e se estrutura em ações e operações que orientam o

sujeito para a realidade segundo um objetivo e não aquele que ocorre como reflexo

desse mesmo processo.

Desta forma, sendo as habilidades escolares o resultado da

sistematização das ações subordinadas a um objetivo de forma consciente, pode-se

compreender, segundo Petrovsky (1980), as habilidades como tipos de atividades

que demandam o domínio de um sistema de operações contido nos conhecimentos.

Isto justifica que as habilidades não se formam, segundo Núñez, Ramalho e Oliveira

(2015), num vazio, estão sempre apoiadas em conhecimentos conceituais aos quais

estão intimamente associadas como uma unidade (conceito-ação).

Assim, as habilidades se formam sobre a base da sistematização das

ações que os aprendentes desenvolvem durante o processo de aprendizagem, e

dialeticamente, as ações se constituem em habilidades e são expressões do

desenvolvimento dessas, quando os aprendentes podem operar com os diferentes

conhecimentos de maneira consciente. De outra forma, a partir da psicologia

histórico cultural, o conhecimento é o objeto com o qual o homem atua e a

habilidade é a atuação do homem (o saber fazer).

3.2 Conceitos de habilidade

Apesar da polissemia gerada pelas diversas bases teóricas utilizadas no

processo de ensino e aprendizagem, geralmente a aplicação do conceito de

habilidade está relacionado a ”saber fazer”. Esse saber fazer permite ao homem a

execução de distintas atividades por meio de diferentes processos, como por

exemplo: a repetição de um exercício, tarefa ou um processo de ensino dirigido.

Na perspectiva Histórico-Cultural, a habilidade constitui o domínio

consciente da atividade, superando o saber, porque abrange os modos de atuação.

Seguindo esse entendimento, Álvarez de Zayas (1999) define o sistema de

habilidades como os modos de relações do homem com seus objetos de trabalho.

E assim, todo o conhecimento adquirido traz consigo a formação e

desenvolvimento de habilidades porque estas são imprescindíveis no processo de

aprendizagem. Nesse sentido, o termo habilidade pode ser definido tanto do ponto

de vista psicológico como do ponto de vista pedagógico ou didático. Para Talízina

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(1984), a linguagem das habilidades é a linguagem da pedagogia, enquanto a

psicologia tem como linguagem as ações ou as operações.

Enquanto dimensão do conteúdo, Álvarez de Zayas (1999) expressa que

a habilidade mostra o comportamento do homem em um ramo do saber próprio da

cultura da humanidade.

Para Fariñas León (2005), há certa coincidência entre as várias correntes

de pensamento sobre a concepção de habilidade como sendo um conjunto de ações

que, fixadas (hábito) no processo de aprendizagem, tornam eficaz a execução

humana.

Leontiev (1978) entende a habilidade como a ação que se executa com

um alto nível de domínio e que se subordina a um objetivo.

Petrovsky (1980) expressa que é o domínio de um sistema complexo de

ações psíquicas e práticas necessárias para uma regulação racional da atividade

com a ajuda dos conhecimentos e hábitos que a pessoa possui e somente mediante

a reprodução reinterada e a aplicação dos modos de atuação de maneira

consciente.

Segundo Danilov e Skatkin (1985) é a capacidade, adquirida pelo homem,

de utilizar criadoramente seus conhecimentos e hábitos, tanto durante o processo de

atividade teórica como prática.

Labarre Reyes e Valdivia Pairol (2007) as entendem como procedimentos

mediante os quais ocorre a apropriação dos conhecimentos. Para as autoras, a

relação entre conhecimentos e habilidades é variada, e é dependente do caráter do

conhecimento teórico que lhe serve de base e dos objetivos do ensino.

Avendaño Oliveira e Labarrere Sarduy (1998) afirmam que habilidade é a

aplicação de forma exitosa dos conhecimentos assimilados para a solução de

tarefas práticas ou mentais.

Para Núñez (2009), habilidade é domínio das formas da atividade

cognoscitiva, prática e valorativa, isto é, o conhecimento em ação. Os

conhecimentos teóricos, lembra o autor, sempre existem relacionados com umas ou

outras ações conscientes. Núñez, Ramalho e Albino (2013) consideram as

habilidades como um tipo de atividade que exige a consciência de seu sistema de

operações.

Núñez, Ramalho e Oliveira (2014) consideram que as habilidades

constituem elementos psicológicos estruturais da personalidade vinculados à sua

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função reguladora-executora, que se formam, se desenvolvem e se expressam por

meio da atividade.

O vínculo interno existente entre a atividade, as habilidades e os novos

conhecimentos, consiste, para Galperin (2011b), em que, durante o processo da

atividade, as ações isoladas se transformam em habilidades e, ao mesmo tempo,

como consequência das ações com os objetos, se integram as representações e os

conceitos de ditos objetos. Isso significa que a atividade realizada com orientação

adequada permite organizar a ação, ou ações, necessária de tal forma que se

garanta a formação das habilidades e conceitos com a qualidade requerida,

desejada.

Com base nessas proposições, assumimos como habilidade para o

presente trabalho, o entendimento de Galperin (1976) que considera habilidade

como sendo, ações condicionadas a um objetivo, que são internalizadas de

forma sistemática e consciente. Esse conceito se apoia na definição da

aprendizagem, dada pelo mesmo autor, como sendo toda atividade cujo resultado é

a formação de novos conhecimentos e habilidades em quem a executa ou a

incorporação de novas qualidades aos conhecimentos e as habilidades que já se

possui.

3.3 Habilidade como procedimento lógico

O sistema de habilidades compreende o sistema de ações ou modos de

atuação (saber e saber fazer) que regulam as relações entre o sujeito e o objeto de

estudo. Nesse sistema estão incluídas as habilidades intelectuais, gerais ou lógicas

que, segundo Núñez e Ramalho (2011), pertencem ao conteúdo procedimental; e

também as habilidades específicas e práticas, que constituem a base para muitas

atividades dentro de uma área específica.

Segundo Avendaño Oliveira e Labarrere Sarduy (1998), os procedimentos

são instrumentos de que se vale o homem para conhecer. Esses permitem ao

sujeito orientar-se e atuar para operar transformações nos diferentes objetos e

fenômenos da natureza, da sociedade e no próprio homem. Para os autores, cada

procedimento da atividade humana da resposta de como se deve executar essa

atividade, em dependência das condições em que ela possa acontecer. E assim,

continuam os autores, é possível compreender que os procedimentos, são

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materializados, assim como atividade acontece, por meio de determinados

conhecimentos aplicados na prática. E esses conhecimentos se relacionam

estreitamente com o que se denomina habilidade.

Segundo Avendaño Oliveira e Labarrere Sarduy (1998, p. 7), “[...] la

aplicación exitosa de procedimentos a la práctica y habilidade resultan en certa

medida equivalentes.”

Na perspectiva Histórico-Cultural, o sistema de habilidades não pode

existir sem o sistema de conceitos, hábitos e atitudes, uma vez que estes constituem

o alicerce para a sua formação, de forma dialética. As habilidades constituem os

conhecimentos em ação, ou seja, representam o domínio consciente e exitoso da

atividade.

Seguindo essa perspectiva, a atividade pode ser entendida como um

encadeamento de ações executadas de forma consciente. E os procedimentos

lógicos do pensamento (que ocorrem a partir de determinadas operações

objetivadas na linguagem, nos conhecimentos humanos, nos objetos), como

operações que permitem aos indivíduos se apropriarem de habilidades intelectuais

no transcurso de sua formação enquanto sujeito histórico e cultural.

Portanto, pode-se dizer que as operações são resultado da inclusão de

uma ação inicial em outra mais geral, mais ampla (relacionada ao meio para a

realização da ação), o que a faz perder sua subordinação ao objetivo inicial. Isso

pode ser compreendido quando Leontiev (1978) assinala que uma operação é o

produto da transformação que ocorre com o resultado de sua incorporação a outras

ações, tornando-a mais técnica.

Isso significa que uma habilidade é formada/atualizada por meio de uma

atividade de estudo planejada. Durante essa atividade as ações adquirem, para os

aprendentes, a forma de um processo subordinado a um fim consciente - habilidade.

Posteriormente quando os aprendentes já tenham dominado essa ação (realizada

de forma técnica), ela será convertida em uma operação, quando executada na

realização de outras ações, que respondem a objetivos (relacionados diretamente as

ações e não as operações).

E sendo assim, os procedimentos, ao serem executados de forma

consciente, por repetidas vezes, tornam-se habilidades lógicas. Essas, já

assimiladas, poderão ser utilizadas, como operações (procedimentos), em outras

habilidades.

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Isso é explicado por Hernández Díaz e González Hernández (2012), ao

expressarem a relação da habilidade de pensar de forma lógica (habilidade geral)

com outras habilidades já constituídas anteriormente e que agora, nessa habilidade,

são requeridas como operações, componentes. Entre os quais se encontram:

a) A habilidade de orientar-se pelas características essenciais dos objetos

e fenômenos;

b) A habilidade de subordinar-se às leis da lógica, formar as ações em

correspondência com elas;

c) A habilidade de produzir operações lógicas;

d) A habilidade de fazer hipóteses e deduzir consequências a partir de

premissas dadas, o que requer que o pensamento se subordine as

operações lógicas e as regras que regulam sua subordinação.

Para Hernández Díaz e González Hernández (2012), tendo em conta que

a habilidade de pensar logicamente está relacionada com o grau de

correspondência, ou seja, com os requerimentos a uma operação lógica; no campo

da psicologia, esse tipo de habilidade está incluído no que se denomina de

procedimentos lógicos. Os procedimentos lógicos são concebidos como um conjunto

de ações dirigidas a realizar uma operação lógica de acordo com as leis lógicas.

Segundo Núñez e Ramalho (2015), cada habilidade geral apresenta uma

estrutura operacional como sistema lógico que caracteriza o modo de agir (a

estrutura invariante) na solução de tarefas de um mesmo tipo, as quais demandam

essa habilidade. Essa estrutura invariante se constitui no objeto de assimilação

consciente durante o processo de sistematização da habilidade.

Nas habilidades lógicas ou habilidades do pensamento lógico, as ações,

antes subordinadas a determinado fim, se convertem em operações (procedimentos)

empregados em outras ações mais gerais que respondem, agora, a um novo

objetivo. Dessa forma, o que antes era uma ação expressada como habilidade (por

seu caráter consciente e objetal), se converte em um meio para alcançar um objetivo

em uma operação automatizada. Isso significa que as habilidades do pensamento

lógico são produto de um alto grau de sistematização e domínio por parte do sujeito,

e sua inserção na realização de tarefas mais gerais, as convertem em operações

(procedimentos) intelectuais.

Para Talízina (1988), as habilidades lógicas estão na base da assimilação

dos conhecimentos científicos e sendo assim, devem ser um dos objetivos principais

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da educação uma vez que permitem aos aprendentes compreenderem a própria

lógica dos conhecimentos.

Segundo Hernández Díaz e González Hernández (2012) existe um

conjunto de procedimentos lógicos cuja sequência operacional e regras lógicas

estão bem definidas pela lógica formal. Alguns estão relacionados à operação dos

conceitos (como identificação, definição, classificação), outros se relacionam com o

funcionamento dos juízos e outros com as relações entre os juízos (raciocínio

indutivo, dedutivo, distintos tipos de demonstração, estabelecimento de analogias,

etc). Assim, a apropriação de habilidades gerais, dentre elas a habilidade de

identificar, orientadas à essência do objeto de estudo, segundo Almentero et al.

(2013), permite aos aprendentes pensar teoricamente, o que significa poder

determinar a essência, estabelecer nexos e relações, e aplicar os conhecimentos a

novas situações. Sendo essas relacionadas com atividades de conteúdo lógico ou

não.

As proposições apresentadas acerca das habilidades gerais e sua

importância nas novas situações estão em acordo com os estudos de Galperin

(1976) e seus continuadores sobre a formação de ações de pensamentos. Elas

fazem parte do conteúdo de ensino sendo concebida de maneira psicológica,

pedagógica e didática. Isso porque, ao conceber as habilidades como formas em

que o indivíduo assimila a atividade e a aperfeiçoa, elas são incluídas no processo

de desenvolvimento integral, e portanto, devem converter-se em centro de atenção

especial de psicólogos, pedagogos e especialistas implicados na tarefa de ensinar e

educar.

3.4 Habilidade como conteúdo de ensino

Do ponto de vista psicológico, as habilidades são parte da estrutura da

personalidade, e sendo assim, é tarefa da psicologia definir o sistema de ações

mentais que servem de base para a realização exitosa na estratégia de ajudar o

professor, a saber, o que ensinar. As habilidades são, sob o ponto de vista histórico

cultural, a expressão das experiências que foram acontecendo ao longo da história

por meio da própria atividade humana. Assim, são elementos do conteúdo de ensino

enquanto experiência (cultura) acumulada por todas as gerações precedentes, e,

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portanto, devem constituir um dos objetivos mais importantes do processo docente-

educativo.

Para Álvarez de Zayas (1998, p. 69), “Las habilidades, formando parte del

contenido de una disciplina, caracterizan en el plano didáctico, las acciones que el

estudiante realiza al interactuar con su objeto de estudio con el fin de transformarlo,

de humanizarlo”.

Nessa perspectiva, segundo Hernández (2003), a escola tem como tarefa,

atribuída pela sociedade, a seleção e transmissão de elementos da cultura que o

homem deve assimilar para garantir a continuação do desenvolvimento da

experiência social. Isto porque, a cultura, interpretada como um conjunto que abarca

a criação material e espiritual do homem é, assim, patrimônio de toda a humanidade.

Sendo este patrimônio extraordinário e tão amplo, a escola não consegue transmiti-

lo de forma integral. Impõe-se dessa forma, a seleção dos elementos culturais que o

homem deve assimilar.

São quatro os componentes comuns entre a cultura e o conteúdo de

ensino, segundo Danilov e Skatkin (1985) e Hernández (2003):

a) O sistema de conhecimentos sobre a natureza da sociedade e o

pensamento, cuja apropriação garante a formação na consciência dos

educandos de uma concepção científica do mundo e equipa-os de um

enfoque metodológico adequado a atividade humana.

Nesse sistema de conhecimentos, se enquadra o conhecimento escolar, o

qual deve abarcar três grandes subsistemas:

- Conhecimentos empíricos ou sensoriais;

- Conhecimentos teóricos ou racionais;

- Conhecimentos metodológicos ou processuais.

Todos os tipos de conhecimentos estão inter-relacionados e são

ensinados combinados entre si, mas se a aprendizagem não é realizada de maneira

consciente (tendo valor, necessidade) serão produzidas omissões de um ou outro

tipo.

Segundo Núñez (2009), a apropriação dos conteúdos escolares, como

parte da cultura sistematizada, deve possibilitar aos estudantes se inserirem na

história e na sociedade da qual participam, na prática social.

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b) O sistema de habilidades e hábitos específicos e gerais, intelectuais e

práticos que tomam parte, é a base, da execução de múltiplas

atividades concretas.

Neste componente a ênfase fundamental está na necessidade de

assimilar os modos de atuação já elaborados pela humanidade (as habilidades e os

hábitos), de maneira que, com um mínimo de esforço, qualquer indivíduo seja capaz

de concretizar sua própria aprendizagem. As habilidades constituem, assim, o

domínio consciente da atividade, e o seu processo de

formação/desenvolvimento/atualização está indissoluvelmente ligado aos

conhecimentos. Segundo Galperin (2011), as habilidades resultam da

sistematização das ações realizadas. Elas não alcançam o grau de automatização,

como os hábitos, devido, em essência, a estarem subordinadas diretamente a um

objetivo consciente, ou seja, as ações, que constituem a habilidade, requerem

sempre um controle consciente.

c) O sistema de experiências da atividade criativa, cujas características

fundamentais se originaram na busca voltada a solucionar os novos

problemas que apareciam na sociedade em cada situação histórico-

concreta.

Esse componente do conteúdo de ensino está encarregado de garantir a

preparação para a busca de soluções de problemas novos. Isto porque, segundo

Danilov e Skatkin (1985), os conhecimentos adquiridos, elaborados previamente, e

as habilidades, assimiladas conforme um modelo, não podem garantir as

possibilidades criadoras do homem. Assim, esse sistema possui seu próprio

conteúdo, mas depende dos conhecimentos e das habilidades e hábitos para ser

alcançado. Pode-se dizer que a atividade criativa consiste em um sistema de modos

de atuação (como as habilidades e hábitos), porém sendo personalizado, elaborado

pelo próprio sujeito e adequado as suas próprias potencialidades e peculiaridades

(não são assimilados, como o são as habilidades e hábitos).

Para Matínez Llantada (2003), a atividade criativa deve ser entendida do

ponto de vista psicológico como um processo da personalidade e na concepção

filosófica da atividade humana como a interinfluência de fatores que propiciam um

ambiente favorável ao desenvolvimento da criatividade, que leva em conta a unidade

entre o cognitivo e o afetivo.

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d) O sistema de normas, relações entre os objetos e sujeitos do mundo,

com seus correspondentes modos de atuação, valores e outras

formações psicológicas da personalidade (convicções, interesses,

ideais, etc.).

Este componente tem sua peculiaridade apoiada na relação valorativa

que o homem estabelece com o mundo. Dessa forma, é um componente

marcadamente de cunho educativo. Ele faz parte do conteúdo de ensino devido à

unidade dialética existente entre a instrução e a educação. Neste sistema, se

materializa o nível de afetividade com que o homem se sente ligado ao

conhecimento e as normas de conduta. Sua intenção voluntária de cumprir as

normas e o comportamento real do sujeito.

Núñez (2009) explicita a estreita inter-relação que se estabelece entre os

componentes do conteúdo de ensino. O autor chama a atenção de que cada

elemento do conteúdo escolar se articula de forma lógica com outros e cada um se

apoia nas relações diversas que se estabelecem entre eles. Eles se contêm e se

implicam mutuamente. As divisões apresentadas são apenas para fins didáticos, na

prática eles se manifestam em uma unidade expressa na personalidade, na

atividade e na comunicação do homem.

Para Danilov e Skatkin (1985), é nessa interação que reside o problema

crucial da didática, ou melhor, em como estabelecer a interação mais apropriada

entre esses quatro componentes. Segundo os autores, essa interação é essencial

para alcançar a máxima efetividade da assimilação dos conhecimentos e o

desenvolvimento do intelecto dos estudantes; assim como a influência do aspecto

educativo (expressado como o objetivo do processo), no conteúdo, nos métodos e

nas formas de organização. Desta forma, pode-se dizer que são o método de ensino

e aprendizagem a essência do conteúdo. Nele, devem ser considerados o

planejamento e a sistematização de todas as ações e operações que levam até ao

objetivo desejado.

As habilidades, enquanto conteúdo de ensino, fazem parte (juntamente

com os conhecimentos disciplinares, criatividade, atitudes e valores) do sistema de

conhecimentos que formam os modos de atividade intelectual entre professor e

aprendente que, segundo Almentero et al. (2013) constituem os métodos de ensino

e aprendizagem.

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Nesse sentido, o ensino da Biologia deve potencializar o desenvolvimento

de habilidades gerais e especificas durante as aulas em classe, nas atividades

experimentais e práticas em laboratórios e nas aulas de campo. Isso porque as

habilidades gerais conduzem à formação do pensamento teórico, imprescindível nas

ciências posto que, com ele, são operadas generalizações teóricas, conceitos, leis e

princípios que fazem parte do contexto da aprendizagem científica. O que implica

deixar evidente que os modos da atividade intelectual entre professor e aprendente,

ou seja, os métodos de ensino-aprendizagem devem ser capazes de desenvolver

essas habilidades, necessárias à aplicação dos conhecimentos ante qualquer

situação da vida e orientados ao domínio do conteúdo de aprendizagem. Segundo

Talízina (2000), as habilidades gerais são necessárias para a assimilação completa

e válida das matérias escolares: as ações que se encontram detrás dessas

habilidades e hábitos servem como meio para a assimilação de diferentes

conhecimentos concretos.

Talizina (2000, p. 92) cita que “También es importante subrayar que sobre

la base de estos médios, se pueden formar los métodos más complejos del

pensamento lógico”.

São exemplos de habilidades gerais: definição de conceitos,

identificação, classificação, observação, descrição, explicação, argumentação,

exemplificação, valoração, comparação, solução de problemas, entre outras,

imprescindíveis para a apropriação dos conhecimentos das ciências naturais, assim

como os conceitos e hábitos.

Quanto às habilidades específicas na Biologia, essas se relacionam com

o emprego de procedimentos importantes para o trabalho na disciplina ou nas

ciências naturais de forma geral. Assim, o tipo de pensamento que formam é o

empírico. São exemplos de habilidades práticas aquelas que estão relacionadas com

a manipulação de instrumentos e utensílios, como: manipulação de vidrarias,

manuseio do microscópio, etc.

Para a psicologia marxista, onde se estruturam as ideias de Galperin,

expressadas por sua teoria e por seus continuadores como Davidov, com o ensino

desenvolvimental, a adequada seleção e estruturação dos conteúdos de ensino

(conceitos e habilidades gerais e específicas, integrados em um sistema) e a sua

assimilação, pode contribuir para a formação de uma concepção científica nos

estudantes e a preparação desses para a vida e a sociedade. Mas, Glória Fariñas,

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aluna de Galperin, em Fariñas León (2005, p. 74), expressa algo que não havia sido

abordado por seu professor... “não se pode deixar de ter em conta o papel dos

aspectos afetivos no processo de formação de habilidades”. A unidade entre o

cognitivo e o afetivo é evidente e deve ser considerada para evitar situações de

distorções cognitivas resultadas de fatores emocionais. Mas para a autora, o

processo de “habilitação” humana (formação e desenvolvimento de habilidades)

através da atividade de estudo, da aprendizagem, não é precisamente cognitivo ou

puramente afetivo. A conjunção dialética do social (interpessoal) e o emergente

individual (intrapessoal) é condição sine qua non de toda ação que pretenda

promover o desenvolvimento. Isso significa que são a atividade e a comunicação as

vias (atividade e comunicação formam um sistema dinâmico para ela) que tem o

indivíduo para expressar o mais íntimo de si e para construir criativamente a obra,

que dará lugar a seu desenvolvimento E assim, o ambiente educativo se refere tanto

ao conteúdo de ensino e realização da atividade como ao conteúdo de ensino e a

forma da comunicação.

3.5 Formação/atualização de habilidades

O processo de ensino-aprendizagem é considerado pela perspectiva

Histórico-Cultural25, como um tipo específico de atividade que possibilita a

apropriação (internalização) de novos conhecimentos, novas habilidades, hábitos e

valores, assim como a atualização desses por aqueles que já as possuem; e assim

ao desenvolvimento da personalidade. Desta forma, todo processo de internalização

de uma habilidade é também um processo de aplicação do conceito, que se forma

com a habilidade, em forma de atividade.

No contexto escola, as habilidades são resultado direto de um processo

pedagógico/ didático. Em decorrência, ao dirigir um processo de

formação/desenvolvimento ou atualização26 de habilidades, é importante considerar

a relação que se estabelece entre as habilidades e os conhecimentos. Essa relação

25 Segundo Núñez (2009), estão inseridos nessa perspectiva Vigotsky, Leontiev, Galperin, Talízina,

Davidov, dentre outros, assim como, o próprio Núñez que tem sido referência nos estudos de Galperin no Brasil.

26 Os processos de formação, desenvolvimento e atualização de habilidades diferem de acordo com o grau de desenvolvimento do aprendente. No caso dos professores, o presente trabalho considera uma atualização, uma vez que a habilidade de identificar é concebida como um conhecimento profissional necessário para o ensino de Biologia.

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é baseada na proposição histórico cultural de que o conhecimento é o objeto sobre o

qual o homem atua e a habilidade é a atuação sistematizada do homem. De forma

prática, a estrutura de uma habilidade inclui sempre conhecimentos (determinados)

e um sistema operacional que permita explicar corretamente esses conhecimentos.

Uma das teses fundamentais do enfoque Histórico-Cultural é que as

ações mentais, por sua natureza, são inicialmente ações objetais. Segundo Leontiev

(2014), a natureza profunda das imagens mentais reside em sua objetividade, ou

seja, no fato de que elas são geradas no processo da atividade, formando a conexão

prática entre o indivíduo e o mundo objetivo externo. Elas não como uma cópia

estática, mas como resultado desse processo, ou seja, as ações mentais são

consideradas como um reflexo psíquico dos processos materiais externos. Sendo

um novo ato mental o resultado do processo de desenvolvimento de uma forma

material externa.

As investigações de Vigotski sobre a atividade objetal, sua estrutura

sistêmica e a unidade estrutural entre a atividade externa prática e a interna psíquica

foram continuadas por Leontiev, com a teoria da atividade,27 Galperin e seus

colaboradores, que realizaram um estudo detalhado das etapas de formação da

atividade interna a partir da externa e o papel que tem cada uma dos momentos

funcionais de orientação, execução e controle nas transformações que sofre a ação.

Para Galperin (2013b), como resultado do processo de internalização da ação, a

atividade, antes externa, adquire um caráter psíquico (ação interna).

[...] a ação objetiva e a ideia sobre a mesma formam uma cadeia final de um processo unificado e em seu aspecto genético assinalam a transformação do processo material em um processo psíquico. É como se diante de nós tenha se aberto o segredo do surgimento do processo psíquico e, portanto, a possibilidade de relacionar e explicar o que até agora permanecia dividido, inacessível à compreensão: o conteúdo real dos ‘atos’ psíquicos, seus ‘fenômenos’ na introspecção, as funções deste fenômeno e seus verdadeiros mecanismos (GALPERIN, 2013b, p. 463).

Ao estudar a formação das ações mentais, Galperin (2013c) especifica

que o processo de formação é determinado pelo caráter da parte orientadora da

ação. Segundo o autor, cada tipo de orientação corresponde um determinado

processo de formação da ação e uma determinada qualidade de seu produto final. O

tipo de orientação determina o tipo de formação da ação e o tipo de produto final, já

que eles formam um tipo único de aprendizagem.

27 O método proposto por Galperin é denominado, pelo próprio autor como, método da formação das

ações mentais por etapas.

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Galperin (1987, p. 307) cita que “De lo corretcta y completa que sea la

base orientadora de la acción, que se forma desde el inicio mismo del processo,

depende en gran medida el éxito de toda la assimilación.”

Como resultado das suas investigações de Galperin (2013b) estabelece

as seguintes proposições:

a) As ações se formam juntamente com as imagens sensoriais e os

conceitos sobre os objetos. A formação dessas ações, imagens e

conceitos representa aspectos diferentes do mesmo processo.

b) O plano mental constitui somente um dos planos ideais. Outro é

perceptual. É possível que exista um terceiro plano, independente da

atividade de cada pessoa, o plano da linguagem. O plano mental se

forma somente sobre a base da forma verbal da ação.

c) A ação se traslada ao plano ideal, completamente ou em sua parte

orientadora.

d) Uma transferência da ação ao plano ideal, em particular o plano

mental, se realiza refletindo seu conteúdo objetivo através de cada um

destes planos e se expressa pelas variações, múltiplas e sucessivas,

da forma de ação.

e) A transferência da ação ao plano mental, sua interiorização, constitui

somente um elo de sua variação. Estas variações condicionam, em

primeiro lugar, a mudança dos métodos de execução e das formas da

relação inversa e, em segundo lugar, determinam as qualidades

desejadas para a ação. As primeiras variações conduzem à

transformação da ação, a qual se executa idealmente e na

internalização se descobre como um processo psíquico; as segundas

permitem dirigir à formação de propriedades da ação, como a

agilidade, a racionalidade, a tomada de consciência, a crítica, dentre

outras.

Com base nessas investigações, Galperin, como partícipe da Escola

Soviética, reúne categorias centrais da perspectiva Histórico-Cultural, como: zona de

desenvolvimento proximal, conceitos (cotidianos e científicos) mediação,

internalização; e descreve etapas para a sistematização do ensino (da assimilação).

Ao estabelecer tais proposições, Galperin indica o caminho da

transformação da ação externa (objetal) em interna (mental). A importância de sua

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Teoria não se restringe ao campo da psicologia, uma vez que como expressa

Talízina (1988), ela (a teoria) é uma base primordial, com fundamentos científicos,

para os processos de ensino. Isso porque contribui de forma metodológica para a

pesquisa científica da atividade de estudo ao propor que o conhecimento é

assimilado em etapas de formação, que ocorrem do plano interpsicológico para o

intrapsicológico.

Durante o processo, as ações progridem do modo social compartilhado,

ou seja, com a ajuda, para uma ação independente praticada pelo sujeito. Verifica-

se assim a conexão da Teoria de Galperin com o os estudos de Vygotsky

relacionados à Zona de Desenvolvimento Próximo (ZPD). Para Vygotsky (1991, p.

58),

Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes.

Nessa acepção, deve-se considerar a individualidade de cada

aprendente. Uma vez que, ao realizar as ações das tarefas propostas pelo sistema

didático, os aprendentes podem chegar a diferentes compreensões, efeito das

particularidades de suas capacidades ao executar as ações em diferentes

condições.

Em Galperin (1987), compreensão e capacidade são designações

subjetivas das duas partes da ação objetal. A compreensão tem papel objetivo na

ação, por isso, assume a função orientadora. Ela inclui a composição do quadro das

circunstâncias, o esboço do plano de ação, o controle e a correção da execução.

Tem, pois, uma instância diretiva da qual depende a qualidade da execução.

Segundo Talízina (1988), a orientação da ação está relacionada ao

conjunto de condições concretas, necessárias para a execução desta ação. Assim, o

controle conduz o desenvolvimento da ação, auxilia na correção da orientação e da

execução. A capacidade é a própria execução, que, evidentemente depende da

orientação, mas não se reduz a ela. Desta forma a capacidade se relaciona com o

nível de desenvolvimento da habilidade.

Talízina (1988) lembra que a ação está sempre dirigida ao objeto material

ou ideal, ou seja, o cumprimento de uma ação pelo sujeito pressupõe sempre a

existência de determinado objetivo que, por sua vez, se alcança sobre a base de

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certo motivo. E, pelas funções que cumpre, possui três componentes: orientador,

executivo e controle.

[...] cualquier acción del hombre representa una espécie de original microssistema de dirección que incluye un ‘organismo de dirección’ (la parte orientadora de la acción), un ‘organismo de trabajo’ (la parte ejecutora de la acción), un mecanismo que observa y compara (la parte de control de la acción) (TALIZINA, 1988, p. 60).

De maneira sintética, o elo central da Teoria de Galperin, segundo

Talízina (1988), é a ação concebida como uma unidade da atividade de estudo,

como unidade de qualquer atividade humana. Segundo a autora, para Galperin,

qualquer ação pode ser descrita indicando o grau de formação de suas principais

características. A partir disso, segundo Núñez (2009), a essência da teoria de

Galperin consiste em primeiro, encontrar a forma adequada da ação; segundo,

encontrar a forma material de representação da ação e; terceiro, transformar essa

ação externa em interna.

Para Núñez (2009), as etapas do processo de assimilação

(internalização) se caracterizam pelas mudanças operadas em cada uma das

características da ação (a forma da ação, o grau de generalização, de

independência, de consciência, a solidez). Segundo o autor, esses índices

(indicadores) qualitativos da ação também se relacionam com a Zona de

Desenvolvimento Próximo (ZPD), uma vez que as estruturas mentais que vão sendo

formadas e se desenvolvendo no processo, se encaminham para o desenvolvimento

das potencialidades do aprendente, mediado pelos colegas, pelo orientador do

processo, pelos livros e outros recursos de aprendizagem.

Segundo Talízina (1987), uma ação pode-se ser executada na forma

material materializada (usando materiais ou representações), na forma perceptiva

(observação), de forma externa (em voz alta) e também na forma intelectual (na

mente, somente para si). Analogamente a ação pode ser de forma detalhada, com a

representação em forma material de todas as operações que se incluem nesta ação,

mas também pode ser em forma reduzida. Assim, uma operação com um mesmo

conteúdo pode ser assimilada pelo homem mediante diversos indicadores. Por isto,

segundo a autora, é importante não só diferenciar os tipos de atividade, mas

também mostrar quais são os indicadores que serão utilizados para o que se quer

formar.

Esses indicadores (parâmetros) foram mencionados por Galperin (2011c)

e são descritos por Talízina (1988) e Núñez (2009):

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a) A forma da ação: caracteriza o grau (nível) de apropriação da ação

pelo sujeito; o aspecto principal das mudanças da ação no caminho de

sua transformação de externa (material) para interna (mental).

Segundo Pereira (2013), o indicador qualitativo da forma da ação

estabelece que os estudantes, ao final da formação da habilidade,

tenham transitado da forma material ou materializada, passando pela

linguagem externa e assimilado no plano mental o procedimento geral,

ou seja, a estrutura da habilidade ou sistema de operações. Nem toda

ação mental tem seu protótipo em uma ação material. A atividade

gnóstica externa é obrigatória em uma atividade nova, diferente -

quando não estão formadas as imagens, os conceitos e as operações.

Mas, se as imagens e operações necessárias já existem, é suficiente

uma atividade gnóstica interna adequada (NÚÑEZ; GONZALEZ, 1998).

b) Grau de generalização: caracteriza a medida de separação das

propriedades do objeto, essenciais, para o cumprimento da ação,

dentre outras, não essenciais. Assim, esse parâmetro segundo Talízina

(1987), se relaciona ao limite de aplicação da ação. O grau de

generalização máximo é alcançado quando o aprendente consegue

identificar se o conceito pode ser aplicado em conformidade com as

condições. Para Talízina (1988), o conteúdo da base orientadora da

ação (BOA) determina o processo de generalização. Isso porque a

BOA assegura a orientação sistemática das características necessárias

e suficientes do conceito à medida que se cumprem as tarefas

propostas. De maneira que, segundo a autora, o processo de

generalização não se determina diretamente pelo objeto das ações,

mas está mediatizado pela atividade do sujeito – o conteúdo da base

orientadora da ação. Núñez (2009) expressa que, quanto maior o nível

de generalização do pensamento, mais rápido e facilmente se

distinguem os aspectos essenciais das situações percebidas,

estabelecem-se relações, os vínculos entre eles e se faz menos

detalhada a análise dessas situações. Para o autor, a transferência de

aprendizagem é possível quando ocorre a generalização e se tem a

percepção de que os conhecimentos e as habilidades são aplicáveis e

apropriados em outras situações. Assim, segundo Talízina (1987), uma

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mesma ação pode ser assimilada com diferentes níveis de

generalização, isso mostra quão amplamente o homem pode utilizar

uma ação nos limites de sua aplicação.

c) Grau de detalhamento e assimilação: mostra se todas as operações,

que originalmente tomavam parte da ação, são cumpridas. Para Núñez

(2009), no processo de assimilação de novas ações, toda ação inicial

deve ser realizada de forma detalhada. Assim, devem-se executar

todas as operações que se incluem inicialmente na estrutura da ação,

até chegar ao resultado final, na forma abreviada (mental). Isto é

importante, segundo Talízina (1988), porque a formação de ações

imediatamente em sua forma reduzida, sem detalhamento das

operações, resulta no não esclarecimento da lógica da ação, o que

impede a conscientização do sujeito.

d) Grau de consciência: é determinado pelo caráter essencial das

condições, que orienta o homem a realizar a ação. Segundo Talízina

(1988), é determinado pelo conteúdo da base orientadora da ação, pelo

caráter generalizador e o caráter de detalhamento das formas primárias

da ação. Para Núñez (2009), o nível de consciência da atividade está

determinado, em grande medida, pelo caráter específico da correlação

de seus componentes práticos e lógico-verbais. Talízina (1987)

expressa que o grau de consciência consiste na habilidade de

fundamentar, de argumentar a correção e a execução; e depende da

qualidade de sua assimilação na forma verbal externa. Precisamente

esta propriedade dá ao homem a possibilidade não somente saber,

mas dar-se conta do que sabe.

e) Grau de independência: expressa a possibilidade de executar as

ações com sucesso, com ou sem ajuda. Segundo Núñez, Ramalho e

Albino (2013), no processo de formação da ação, mediante a solução

de tarefas, ocorre a transição da fase compartilhada à fase da solução

independente, o que não significa individualismo. Para Fariñas León

(2005), a educação em contextos democráticos tem a obrigação de

desenvolver pessoas autônomas, que, ao mesmo tempo, sejam

capazes de desenvolver habilidades de cooperação e participação.

Para Núñez (2009), nos processos de assimilação de novos conceitos,

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é necessária a existência de um planejamento de níveis de ajuda para

que o aprendente possa realizar corretamente a ação, além de

transitar pelas etapas da aprendizagem, o que implica passar pela

etapa material materializada, com ajuda, a etapa da linguagem

externa, até chegar a etapa mental, sem ajuda (do plano

interpsicológico para o intrapsicológico).

f) Grau de solidez: é compreendido como a possibilidade do

cumprimento da ação, depois de algum tempo de sua formação. É,

segundo Talízina (1988), resultado da generalização, da

automatização. Para Núñez (2009), a solidez da ação se mede pela

capacidade de aplicação dos conhecimentos em novas situações, de

maiores exigências cognitivas, mais complexas. Núñez, Ramalho e

Albino (2013), expressam que o grau de solidez é também

consequência da forma da ação (a solidez aumenta de forma

proporcional à complexidade do processo de internalização).

Todos esses indicadores são independentes entre si. Entretanto, é

possível generalizá-los em um mesmo processo de assimilação. Esse, para Talízina

(1987), como qualquer outro, tem diversas etapas, cada uma das quais se diferencia

qualitativamente das precedentes. A assimilação da ação e dos conhecimentos que

ela supõe, acontece somente quando ocorre o trânsito consecutivo por todas as

etapas necessárias. Assim, as ações se objetivam na forma material ou

materializada, e requerem auxílio suficiente para a transformação do conhecimento

para um nível mais elevado do pensamento. Na linguagem externa, as imagens

desligam-se dos objetos materiais e são superadas pela linguagem verbal. E ao fim,

converte-se a forma verbal externa em um ato mental interno, onde o ato de “falar

para si” se transforma em um pensamento verbal.

As etapas da Teoria que abarcam o processo de internalização das ações

externas materiais, proposto por Galperin e seus colaboradores são, segundo

Talízina (1987): etapa da motivação (etapa zero – Talízina (2001)), diagnóstico,

estabelecimento da base orientadora da ação, etapa do plano material, etapa do

plano da linguagem externa, etapa do plano mental.

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3.5.1 O processo de formação/ atualização de habilidades

No processo de formação/ atualização de habilidades traduz-se a teoria

de Galperin para o ensino. Segundo Núñez (2009), essa teoria considera o estudo

como um sistema de determinados tipos de atividade que levam o aprendente a

novos conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes e valores, sob um processo

dirigido.

A sistematização didática da teoria de Galperin está vinculada à resolução

de atividades cognoscitivas que garantem a qualidade da ação pretendida e o

desenvolvimento do aprendente. Esta vinculação se relaciona ao princípio de que o

homem não está reduzido ao campo de ação das leis biológicas (LEONTIEV, 2004),

ou seja, as capacidades humanas não são hereditárias, são determinadas pelo

social.

A atividade do animal compreende atos de adaptação ao meio, mas nunca atos de apropriação das aquisições do desenvolvimento filogênico. Estas aquisições são dadas ao animal nas suas particularidades naturais hereditárias; ao homem, são propostas nos fenômenos objetivos do mundo que o rodeia. Para realizá-las no seu próprio desenvolvimento ontogênico, o homem tem que apropriar-se delas; só na sequência deste processo – sempre ativo – é que o indivíduo fica apto para exprimir em si a verdadeira natureza humana, estas propriedades e aptidões que constituem o produto do desenvolvimento sócio-histórico do homem. O que só é possível porque estas propriedades e aptidões adquiriram uma forma material objetivada (LEONTIEV, 2004, p. 178-179).

Sendo assim, durante a atividade de formação/atualização de habilidades

gerais, considerando as exigências da Teoria de Assimilação, segundo Talízina

(2001), o processo é dirigido para formar as ações cognitivas e os conhecimentos,

relacionados com estas, com qualidades estabelecidas “a priori”.

São levadas em consideração para a formação/atualização de habilidades

gerais as proposições, que constituem regularidades, na formação de habilidades

lógicas, divididas nesses momentos, que Segundo Núñez (2009), correspondem a:

a) Diagnóstico inicial;

b) Processo de formação/atualização; e

c) Controle final.

Para Talízina (2001), há que se acrescentar a motivação como etapa

zero. Segundo ela, esta deve anteceder as demais. Desta forma, os momentos aqui

consederados são os seguintes:

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- Motivação: O sujeito deve ser consciente da necessidade de aprender

por si mesmo. Isto lhe permitirá controlar e autorregular sua atividade cognoscitiva,

no sentido que possa determinar, por si mesmo, se o que faz em um dado momento

está correto ou não, reconhecer quais são suas possibilidades. Em relação aos

procedimentos, perceber o caráter generalizador dos procedimentos lógicos, de

maneira que se torne consciente de que, o sistema de ações correspondente a cada

um pode ser transferido a qualquer contexto. Além de entender, a grande diferença

que têm os procedimentos lógicos, em relação aos específicos.

- Formação da habilidade: O sistema de atividades deve ser dirigido de

forma que o sujeito transite pelo conjunto de ações previsto para o procedimento na

fase de trabalho com o conceito. De igual forma, o sistema de tarefas desenhado

para a realização das diferentes atividades deve estar em correspondência com as

necessidades apresentadas. Para tanto podem ser utilizas horas de trabalho, ou

informação de apoio que pode ser dada no quadro da BOA. De acordo com a teoria,

as etapas desse processo de assimilação são: formação do esquema da base

orientadora da ação, formação da ação no plano material ou materializado, formação

da ação como linguagem externa e, por fim, a mental.

- Controle final: A aplicação do procedimento deste sistema de tarefas

assume características diferentes, no sentido de que os exercícios que são

planejados devem ser dirigidos à aplicação. De igual forma as tarefas que devem ser

realizadas oferecem menor nível de apoio e estarem em correspondência com o

anterior.

Durante todo processo, segundo Talízina (2001), a ação é a unidade que

se utiliza para a sua análise, uma vez que se trata de um processo de

aprendizagem.

Talízina (2001, p. 12) cita: “Sin considerar a las acciones, es imposible

construir los objetivos de la enseñanza de manera correcta y fundamentada, ni

controlar la calidad de la assimilación de conocimientos.”

- ESTRUTURAÇÃO DO PROCESSO

Diagnóstico Inicial

O diagnóstico inicial, segundo Núñez e Ramalho (2012), tem como

objetivo estabelecer o nível de desenvolvimento de alguns dos conhecimentos e

ações dos alunos sobre o conteúdo a ser assimilado. Isto constitui o ponto de partida

no processo de aprendizagem. Segundo Talízina (1987, p. 90),

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Ante toda la assimilación de cualquier nuevo conocimiento y habilidade presupone un nível determinado de deserrollo de la atividade cognoscitiva, la presencia de aquellos conocimientos y acciones acerca de los cuales se estructuran los nuevos.

Para Núñez (2009), não se trata de uma visão de pré-requisitos, mas de

conhecimento base, ponto de partida para o desenvolvimento real. Para o autor, do

ponto de vista do aprendente, o diagnóstico inicial é um requerimento da teoria, pois

permite situá-lo na zona de desenvolvimento próximo em relação ao objeto de

assimilação – a habilidade geral. Isso significa que as experiências adequadas de

aprendizagem devem ser centradas não nos produtos acabados do desenvolvimento

(nível de desenvolvimento atual), mas no processo de desenvolvimento (zona de

desenvolvimento próximo) naqueles que ainda não acabaram de ser consolidados,

mas que estão a caminho para esse.

Segundo Davidov (1988), o sentido geral do conceito de “zona” consiste

em que, o desenvolvimento cognitivo atual do aprendente permite o desempenho de

um grupo de tarefas sob a orientação de indivíduos capazes (professor) e em

cooperação com seus companheiros, mas ainda não é possível a execução de

forma independente. As tarefas e ações desempenhadas, inicialmente sob

orientação, e em cooperação, formam precisamente a “zona do desenvolvimento

próximo”, já que no futuro será possível o desempenho totalmente independente.

Para o autor, o conceito de “zona de desenvolvimento próximo” tem servido para

concretizar outro conceito fundamental que Vygotsky introduziu na psicologia e que

define as duas formas fundamentais de processos mentais – o “interpsíquico” e

“intrapsíquico”. Inicialmente, o indivíduo está incluído diretamente na atividade social

distribuída entre os membros de um coletivo, que é externamente e explicitamente

expressa e que é concretizada com a ajuda de diferentes meios materiais e

semióticos. É a assimilação dos procedimentos pelos quais esta atividade é

realizada e, principalmente, da maneira em que estes meios são utilizados -

permitindo que uma pessoa direcione seu próprio comportamento - que forma no

individuo os processos Interpsíquicos.

O diagnóstico inicial, controle inicial do processo, permite estabelecer, no

caso da formação/atualização de uma habilidade geral, o conhecimento dos

aprendentes em relação a:

a) A importância dos conceitos;

b) A definição de conceitos;

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c) As ações que devem ser utilizadas para o procedimento desejado (a

habilidade geral – por exemplo, identificar).

Os resultados obtidos nas atividades, questionários, etc, são conferidos

mediante os indicadores qualitativos requeridos nos objetivos, para que seja

possível o diagnóstico do nível de desenvolvimento em relação aos conhecimentos

relativos aos conceitos e as ações que estão a ele relacionadas, necessárias para a

formação da habilidade geral, requerida e expressa nos objetivos.

Com base na avaliação do diagnóstico inicial, são organizadas as tarefas

que tomam parte do sistema didático. As tarefas devem ser pensadas levando em

consideração as diferenças individuais, oferecendo diversos níveis de ajuda. E, para

Labarre Reyes e Valdivia Pairol (2007), devem estar vinculadas a dialética, pois

assim, segundo as autoras, se alcança a transformação tanto intelectual como

afetivo-motivacional, que responde a uma satisfação pessoal, daqueles que

participam do processo.

- ETAPAS

a) Etapa Motivacional

Nessa etapa, segundo Talízina (1987), deve-se motivar a atividade de tal

forma que garanta a aceitação dos conhecimentos e habilidades que se planeja.

Para a psicologia Materialista Histórico Dialética, a motivação à atividade

intelectual e o estado afetivo do aluno estão estreitamente relacionados. A análise

dessa interação, a partir do ângulo da motivação, indica que a motivação incide de

maneira positiva no comportamento intelectual do aprendente, e seu interesse pelo

conhecimento. Isso significa, de maneira prática que a motivação é importante para

que seja possível alcançar uma disposição positiva para realizar as atividades que

serão propostas. Se o aprendente não estiver estimulado favoravelmente, ele

rechaça a atividade proposta, pois não terá interesse ou vontade de aprender o novo

conhecimento.

Para Petrovsky (1980), Vontade é a atividade do indivíduo motivada por

exigências biológicas e culturais, materiais e espirituais e que é orientada por um

objetivo; se realiza em diferentes ações, por meio das quais, os homens

transformam o mundo.

Segundo Fariñas León (2005), a motivação é a mola que deve ser

mobilizada pelo ambiente em suas dimensões indiretas. Isto é, deve ser realizada de

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forma que não pareça obvia. Para a autora, o afloramento da motivação necessita

de quatro requisitos mínimos:

a) Um ambiente culto;

b) Um clima de relações em que se façam efetivos os apoios, as

oportunidades, a confiança e o respeito mútuo;

c) A incitação de busca à criatividade;

d) A exigência da qualidade na aprendizagem-desenvolvimento, na

ponderação da pessoa responsável e culta.

Sobre isso diz Danilov e Skatkin (1985, p. 133), “La tarea principal de la

escuela y del maestro consiste en crear en los alunos la necessidade de los

conocimientos, así como su aspiración permanente a profundizar-los y ampliar-los.”

Para desenvolver no aprendente a necessidade de aprender, tem-se

como imperativo a aquisição consciente da importância do novo saber. Essa

consciência se realiza na contradição entre as novas tarefas e o nível de

conhecimentos, habilidades e hábitos que este já possui. Em virtude disso, se

origina a satisfação pela aquisição de conceitos, habilidades e hábitos que lhe

faltam, de aprender a aplicar os conhecimentos na solução de tarefas teóricas e

práticas.

Para Talízina (1987), os motivos da atividade de estudo dividem-se em

externos e internos. Os motivos externos28, segundo a autora não estão vinculados

aos conhecimentos assimilados e à atividade que se realiza. Neste caso, o estudo

serve de meio para alcançar outros objetivos. Já a motivação interna é o interesse

cognoscitivo vinculado com um objeto dado. Logo, continua a autora, a obtenção de

conhecimentos atua não como meio para alcançar qualquer objetivo, mas como

objetivo da atividade, com um sentido psicológico de responder a uma necessidade

cognoscitiva. Isto porque, segundo Talízina (1984), a aprendizagem se converte em

atividade somente quando esta responde a necessidade cognitiva do indivíduo,

dessa forma, motivo e objetivo coincidem. A motivação deve, de maneira prática,

constituir um estímulo que mova o aprendente à busca e aquisição do

conhecimento. A própria busca por conhecimento, se exitosa, poderá incrementar a

motivação para aprender mais.

28 Os motivos externos e internos podem ser entendidos como exógeno e endógeno

respectivamente, onde o endógeno é entendido como parte do comprometimento

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Assim, nessa etapa não se objetiva a assimilação de conceitos ou ações,

mas a formação de condições efetivas para a aprendizagem, tanto no plano

psicológico quanto no plano fisiológico. É necessário fazer com que o aprendente

veja que o conhecimento que possui é insuficiente. Deve-se criar a contradição entre

o que ele sabe e o que ele deve saber, a partir da significação que esta

aprendizagem tem para a sua vida pessoal (no caso do presente trabalho, também

para sua vida profissional, uma vez que está considerada a importância da

habilidade de identificar como conteúdo do conhecimento profissional). Enfim, se

trata de conseguir convencer do necessário que a aprendizagem/atualização dessa

habilidade para enfrentar tarefas posteriores.

Para Talízina (1987), a motivação é à base de qualquer atividade, lhe dá

impulso e direção. Se esta não é alcançada, o resultado efetivo processo tão pouco

pode ser alcançado. Segundo a autora, essa etapa, zero, é preparatória, tanto do

ponto de vista da preparação orgânica, como da criação de motivos positivos para a

realização da atividade. Para Núñez (2009, p. 99) “A motivação para aprender é

sempre determinada por valores que apoiem e justifiquem a aprendizagem como

atividade de estudo”.

No caso dos docentes, sujeitos da pesquisa, assim como ocorre com

qualquer outro sujeito que se predispõe a aprender, experimentar a necessidade de

aprender é algo mais que o interesse pela aprendizagem. Conforme Talízina (1984),

sobre os adultos atuam muito mais fatores que interferem na atividade que sobre os

estudantes mais novos. Por isso, Salcedo Estrada et al. (2009), apontam três

importantes aspectos que devem ser levados em conta quanto à motivação: a)

Encontrar o valor do conhecimento; b) Que essa valoração se relacione a sua

utilidade; e c) Que existam condições para que se alcance o êxito na aprendizagem.

O estudo das características do objeto em estudo facilita que sejam

encontradas as qualidades que lhe conferem determinado valor, e, assim, encontrar

a utilidade que este tem, ou seja, seu valor de estudo. A revelação da “utilidade” do

conteúdo leva a compreensão do “para que estudar aquele conteúdo (conceito)”, o

que deve favorecer o interesse e a motivação, possibilitando que seja encontrado o

significado que tem o objeto, e o sentido que a ele é dado, pelo aprendente.

Um dos meios que auxiliam a motivação cognoscitiva é o ensino

problêmico ou o ensino por problema.

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124

Polya (1995, p. v), no prefácio da primeira edição de seu livro, “A arte de

resolver problemas” explicita:

Uma grande descoberta resolve um grande problema, mas há sempre uma pitada de descoberta na resolução de qualquer problema. O problema pode ser modesto, mas se ele desafiar a curiosidade e puser em jogo as faculdades inventivas, quem o resolver por seus próprios meios, experimentará a tensão e gozará o triunfo da descoberta.

A afirmação de Polya (1995) coaduna com a perspectiva de que a

motivação cognitiva tributa para o desenvolvimento intelectual, uma vez que desafia

a curiosidade (pela apresentação de problemas compatíveis com os conhecimentos

dos aprendentes) e auxilia (por meio de indagações estimulantes) o gosto pelo

raciocínio independente proporcionando meios para o pensamento lógico.

Segundo Núñez et al. (2004), o ensino por problemas fundamenta-se no

caráter contraditório do conhecimento, e tem como objetivo que o sujeito da

aprendizagem assimile os conteúdos e, pelo método dialético do pensamento,

consiga refletir e resolver as contradições das situações problemáticas.

Para Majimutov (1983), no ensino por problema, o planejamento do

problema docente em forma objetiva, determina a hipótese feita pelo aprendente. A

hipótese, que é um método da investigação científica, inclui uma suposição acerca

da essência dos fatos ou a causa de determinados fenômenos; dessa maneira ela

dá uma explicação dos fatos e fenômenos, sendo, portanto, um procedimento de

busca mental das vias para resolver o problema.

Como características desse método, Núñez et al. (2004), consideram a

necessidade de representar algo novo na atividade intelectual do aprendente e a

possibilidade de motivar a atividade na tarefa de busca e construção do

conhecimento. Seus aspectos básicos são: o conceitual e o motivacional. No

aspecto conceitual, os autores consideram que a contradição entre o conhecido e o

não conhecido deve estar refletida, uma vez que funciona como fonte de

desenvolvimento da atividade cognoscitiva. No aspecto motivacional, o grau de

novidade do desconhecido, oriente e impulsiona a necessidade do aprendente para

sair dos limites do conhecido, do já assimilado.

O desconhecimento da solução rápida e a existência de possibilidades

intelectuais para resolução da contradição implícita na situação problema, desperta

a inquietude e orienta a realização de ações levam a assimilação de uma orientação

para a solução; quer dizer, a situação problema é uma contradição que se dá no

plano mental, e que conduz á assimilação de uma orientação.

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Sobre a solução diz Talízina (1987, p. 73), “Independientemente de que el

estudiante haya podido encontrar la solución al problema que se le há propuesto, él

debe concientizar la actividad a que este asociada su solución.”

Isto significa que ao invés de uma exposição informativa da solução do

problema proposto, o aprendente desperta a atividade mental a partir da lógica da

solução das contradições, argumentando cada uma das etapas para a solução,

assimilando o conteúdo e a via para formular e resolver problemas.

Para Talízina (2000, p. 142), o problema produz o desejo de encontrar a

solução e conduz a intenção dessa ação. A autora lembra que: “El maestro siempre

debe recordar que la motivación cognitiva es una via muy efectiva para impulsar al

hombre al aprendizaje, especialmente se esta motivación se correlaciona con la

motivación de manera adecuada.

Mas, segundo Núñez e Ramalho (2015), pode-se realizar a motivação por

meio de um texto que venha fornecer subsídios para que o aprendente compreenda

a importância do conhecimento que está sendo discutido no texto para a realização

de Tarefas. Essa possibilidade pode enriquecer o momento de motivação com a

oportunização de discussões e aprendizagens sobre procedimentos e

conhecimentos importantes que se relacionam com o objeto de estudo. A utilização

da leitura de textos como atividade motivadora para o processo de

atualização/formação de uma habilidade geral, se subsidia na relação entre o novo e

aquilo que já se sabe.

Talízina (1984) explica que quando o aprendente se dá conta de que

“precisa” do conhecimento e que esse é um elemento da ação, da atividade, se

prepara para conhecer coisas que não conhece e que lhe interessam.

Esta tarea no es fácil, pues subsisten , multiples relaciones entre los conocimientos correctos que constitueyn el núcleo de las tareas planteadas y los conocimientos ya assimilados. En nesta relación de lo nuevo y lo viejo es donde principalmente se refleja, en el processo de enseñanza, el cambio cuantitativo en lo cualitativo (LABARRE REYES; VALDIVIA PAIROL, 2007, p. 27).

A importância dessa etapa é compreendida com facilidade quando se tem

em conta, segundo Leontiev (1978) que a motivação é a base de qualquer atividade,

ela dá impulso e direção a realização desta. Se a motivação não é conseguida, o

resto do processo ou é afetado em sua qualidade ou não prossegue. Desta forma,

para Talízina (1984), apesar de a motivação ser uma etapa inicial, as condições de

motivação devem ser mantidas até o final do processo.

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b) Etapa para o estabelecimento da Base Orientadora da Ação (BOA)

Essa tapa segundo Núñez (2009), Galperin chamou inicialmente de etapa

de formação da representação prévia da tarefa e só depois a denominou base

orientadora da ação.

Nesta fase não há implantação da ação, só o conhecimento da ação, por

isso é o momento antes da execução. Segundo Talízina (1987), é nessa etapa que

há o contato com a nova atividade. O material que deve ser assimilado é

apresentado de forma explicativa, orientada para o problema e desenvolvimento

conjunto. Os meios empregados podem ser diversos, quadro negro, slides, etc.

Para Núñez (2009), essa etapa deve garantir a compreensão (significado)

e motivação (sentido) dos alunos para a construção do objeto de aprendizagem.

Deve também ser promovida a reflexão consciente do processo de sua construção.

É importante que o aprendente tome consciência do que fazer e de como fazê-lo,

deve conhecer o porquê deve aprender determinado conteúdo, (o que deve estudar

para a realização das ações) e como pode controlar, por si mesmo, as operações

requeridas pela ação. Assim, de acordo com a teoria de Galperin e os estudos de

Talízina e seus seguidores, de maneira resumida pode-se dizer que essa etapa tem

como objetivos:

- Orientar a ação que deve ser executada de maneira voluntária.

- Tornar consciente as invariantes funcionais da ação.

- Orientar acerca do indicador necessário para avaliar a qualidade da

execução.

Assim, alerta Núñez (2009), nessa etapa, não é executada a atividade

que se deve assimilar, mas se “constrói” todos os conhecimentos da ação e criam-se

as condições para seu êxito. Segundo Talízina (2000), o conteúdo da atividade pode

ser apresentado já pronto aos participantes do experimento ou pode ser feito de

forma conjunta, o que, acredita a autora, cria a ilusão do chamado descobrimento

independente (próprio) do conteúdo da atividade e que tem um significado positivo

para a motivação da aprendizagem. Para Núñez (2009), essa “construção” é

realizada de forma conjunta por meio de negociação sentido/significado (como já

mencionado). A atividade pode, então, ser representada em fichas de estudo que

devem incluir todos os elementos necessários para a realização das ações.

Conforme Núñez e Ramalho (2012, p. 166-167), o processo de produção

da orientação pode ser executado de forma diferente dependendo das condições:

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[...] la utilización del método de elaboración conjunta tiene carácter de método principal en esta etapa mas no impide que se use también en algunos momentos que así ló requieran, el método explicativo. Las tareas presentadas en esta etapa son orientadas a la construcción de la orientación general – BOA.

Assim, pode-se dizer que a BOA consiste na representação do processo

que se realiza, o sistema de referência que permite a execução das tarefas e uma

representação preliminar do produto do processo, ou seja, é o conhecimento da

ação e as condições em que deve ser realizada, onde é fornecido o sistema de

conhecimento necessário sobre o objeto de estudo.

O resultado geral das investigações de Galperin (2013c) demonstrou que

os numerosos tipos de orientação podem ser resumidos em três tipos fundamentais.

Segundo o autor, o fato mais importante consiste em que a cada tipo de orientação

corresponde um determinado processo de formação da ação e uma determinada

qualidade de seu produto final. Para Talízina (1988), as diferenças no caráter

generalizado (grau de generalização), a plenitude (o caráter detalhado) e o modo de

obtenção da base orientadora da ação (modo de elaboração), podem servir de

fundamento para separar os distintos tipos (quadro 3).

Quadro 3 - Tipos de BOA

Tipo Característica segundo o

caráter generalizado

Característica segundo a

plenitude

Característica

segundo o modo de

obtenção

I Concreta (particular) Incompleta Independente

II Concreta (particular) Completa Se da preparada

III Generalizada Completa independente

Fonte: Adaptados por Maria da Glória Albino de Talízina (1988, p. 89) e Núñez (2009, p. 101)

Talízina (1988) assinala que investigações realizadas, mostraram que a

eficácia da BOA depende substancialmente do grau de generalização, sua plenitude

e seu modo de obtenção.

Tipos fundamentais de BOA segundo Talízina (1988) e Núñez (2009):

O tipo I caracteriza-se por uma composição incompleta da orientação. De

acordo com Talízina (1988), as orientações para a solução de tarefas estão

representadas de forma particular. O processo de formação da ação avança muito

lentamente uma vez que se dá por tentativa e erro.

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O tipo II se caracteriza pela existência de todas as condições necessárias

para seu cumprimento. Mas são dadas de forma já preparada e particular. E assim,

a orientação serve somente para esse caso. Para Talízina (1988), esse tipo

apresenta vantagens em relação ao anterior, pois a formação da ação é rápida, mas

se limita a assimilação de tarefas particulares, e assim não apresenta erros. Para

cada nova tarefa, deve-se destacar a base orientadora, e ela é encontrada

empiricamente. E assim, apesar desse tipo proporcionar a aquisição de habilidades,

ocorrem dificuldades em ações de mesmo tipo mas em contextos diferentes.

O tipo III (BOA III) consta de três partes: a) A formação da análise geral;

b) Sua aplicação a uma tarefa particular (um traçado da imagem e do material); c) A

formação da ação especial através da execução dessa tarefa particular. Para

Talízina (1988), esse tipo de orientação está de acordo com as necessidades atuais

da atividade humana, uma vez que é o tipo mais produtivo.

Uma vantagem fundamental da aprendizagem com uma orientação do terceiro tipo consiste na mudança essencial do processo e do produto da aprendizagem. Ao diferenciar individualmente a base orientadora da ação, o sujeito a segue ativamente e a organização externa da ação se faz desnecessária. Aí a ação se executa corretamente desde o primeiro momento e sua assimilação posterior transcorre também sem erros (GALPERIN, 2013c, p. 438).

Segundo Núñez (2009), o tipo de atividade e os tipos de orientação se

relacionam segundo o esquema apresentado na figura 2.

Figura 2 - Tipos de orientação

Fonte: Núñez (2009, p. 15)

Galperin (2011d) entende que a BOA III por suas características é a

orientação que melhor consente aos seus princípios educacionais. Segundo o autor,

ATIVIDADE

REPRODUTIVA

ATIVIDADE

PRODUTIVA

ATIVIDADE

CRIATIVA

NOVA

ORIENTAÇÃO

BOA TIPO III

BOA TIPO II

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a aprendizagem pelo terceiro tipo permite a assimilação das ações e os conceitos

relacionados com o objeto estudado.

Desta forma, a BOA tipo III é uma escolha apropriada à

formação/atualização de uma habilidade geral, ao serem considerados: os objetivos

propostos, a atividade ser do tipo produtiva e serem escolhidos os indicadores

qualitativos.

No esquema da BOA do tipo III - executado nessa etapa - se introduz o

sistema de características necessárias e suficientes do conceito da habilidade geral;

e se determina o sistema de ações que caracteriza o tipo de atividade a ser

realizada com esse conceito – as operações necessárias, ou seja, a invariante da

ação. Segundo Talízina (1984), é precisamente sobre a base da invariante que se

tem a orientação para a ação, o modelo da ação. A invariante se torna, assim, o

objeto de assimilação. Isto porque embora o modelo seja utilizado em uma situação

concreta, essas são apenas meios (tarefas de mesmo tipo) e não objetos de

assimilação. Para a autora, quando o modo de orientação é assimilado o processo

de aprendizagem pode avançar mais rapidamente porque o aprendente passa a ver

os casos particulares através do prisma da essência.

E assim, a BOA formada se relaciona a uma atividade produtiva do tipo

completa, geral e independente.

Essa etapa, segundo Talízina (1988) termina com a representação do

esquema da base orientadora da ação. Utilizando o esquema, o orientador do

processo normalmente faz com perguntas do tipo: Está claro como deve ser a ação?

Estão claros estes conhecimentos? Compreendem bem quais são as características

essenciais? Outra alternativa, para que se possa garantir a compreensão do sistema

operacional da habilidade - a invariante, pode ser a utilização de uma tarefa-

problêmica. Mas a autora lembra que, compreender não significa assimilar, assimilar

é um processo muito mais complexo e demanda a dimensão do saber fazer.

c) Etapa material/materializada

Essa etapa se caracteriza pela ação ser material (relação com objeto) ou

materializada (representações do objeto). Pode-se observar a forte presença dos

fundamentos da teoria da atividade de Leontiev (1978), quando este expressa que é

a atividade humana que mediatiza a relação do homem com os objetos da realidade,

tornando-o humano.

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Se, a vida de cada indivíduo é feita da soma total ou, para ser mais exato, um sistema, uma hierarquia de atividades sucessivas. É em atividade que a transição ou “tradução” do objeto refletido em imagem subjetiva, em ideal, ocorre; ao mesmo tempo, é também em atividade que a transição é alcançada do ideal em resultados objetivos da atividade, seus produtos, em material. Considerada deste ângulo, atividade é um processo de inter-tráfico entre polos opostos, sujeito e objeto (LEONTIEV, 2014, p. 186).

É através da atividade que o homem se relaciona com o mundo, mundo

esse que ele intervém como agente ativo na transformação da atividade externa em

atividade interna, mental. Pode-se concluir que a ação é fonte dos conhecimentos

humanos e a etapa material é necessária para a realização de ações mentais.

Sob este pressuposto, o processo de assimilação se inicia com a

execução da ação de forma material ou materializada. O aprendente realiza a ação

apoiando-se nos esquemas produzidos durante a etapa de estabelecimento da BOA

e nas tarjetas ou cartões de estudo. Essas tarjetas constituem no processo de

ensino uma variante de apresentação da ação em sua forma materializada, o que

garante a solução imediata das tarefas sem que o aprendente tenha de memorizar

os conteúdos necessários para resolver a tarefa, o problema proposto. Além disso,

elas orientam a execução da ação por meio do modelo para a solução das primeiras

tarefas que são executadas pela dupla. Um aprendente realiza a tarefa enquanto o

outro é responsável pelo controle.

Segundo Núñez (2009), nessa etapa a ação é realizada no plano externo,

de forma desdobrada, detalhada. Isso significa que todas as operações que entram

na composição da ação são realizadas. Durante a realização das tarefas, os

aprendentes se apoiam nos esquemas da BOA (mapas de atividades), nos quais

aparecem registrados os conhecimentos, os procedimentos ou composição

operacional da ação, os meios de controle, etc. Segundo o autor, esses mapas de

atividades permitem individualizar o processo, uma vez que cada aprendente pode

contar com esse apoio externo para a realização das tarefas.

Sobre isso assinalou Galperin (2011a, p. 73),

Es necesario señalar que la presencia de la tarjeta cambia considerablemente la actitud del sujeito hacia la tarea. En su ausência, se observa a la persona, indiferente, con necesidad de estimulación continua. Una vez que recibe la tarjeta, cambia totalmente y se vuelve activa.

Para Galperin (2011a), o sujeito se converte em amo (dono) da situação,

quando recebe em suas mãos o instrumento que auxilia a realização da tarefa,

enquanto que sem a tarjeta (mapa de atividades, cartão de estudo ou ficha de

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estudo), é simplesmente um executante passivo que depende das indicações

alheias (de outros).

Talízina (1984) explicita sobre essa etapa que os aprendentes devem

resolver problemas, mas como os conhecimentos recém-explicados não se refletem

mecanicamente na mente dos aprendentes, eles devem ser representados na forma

externa, material e com auxilio. Galperin (2011a, p. 73) explica a importância dessa

etapa para a assimilação: “en una palabra, la acción materializada constituye un

contacto directo con la realidade”.

Segundo Núñez (2009), de acordo com a Teoria da Atividade e da

concepção própria dos métodos ativos de ensino, a ação é a fonte dos

conhecimentos humanos. Por isso, como o aprendente ainda não tem formada a

habilidade para fazer a ação mental, é necessário que ele trabalhe com as fichas de

estudo, como um nível de ajuda externo, uma ferramenta da atividade.

As tarjetas, segundo Talízina (2000), possuem a informação que se

assimila acerca da atividade que se realiza. Nelas estão o sistema de tarefas que

requerem a aplicação da atividade que esta sendo formada. Para Núñez e Ramalho

(2013, p. 167) “Las tarjetas de estudio constituyen recursos materializados [...] para

la resolución de las tareas.”

A princípio, as tarefas podem ser práticas, podem ser usados modelos ou

objetos reais. A diferença entre os dois, segundo Núñez e González (1998), não está

no lado operacional, mas no modo de representação do objeto de estudo. Na forma

material, serve de objeto de estudo o mesmo objeto, enquanto na forma

materializada, serve seu substituto, o modelo, que contem os aspectos essenciais

do objeto de assimilação.

Durante essa etapa, segundo Núñez (2009, p. 109), “A palavra se torna

propriedade dos objetos ou fenômenos e não apresenta ainda seu símbolo.

Somente no processo de interiorização é que a linguagem assume função

simbólica.”

Desta forma, na etapa material materializada, a ação deve ser realizada

com a estrutura completa de suas operações, com toda a composição, ou seja, são

executadas de forma detalhada, não generalizada, e conscientemente. Talízina

(2009) aconselha que as operações devam ser pronunciadas em voz alta, o que

garante o caráter consciente dessas operações e prepara para a próxima etapa. A

autora afirma ainda que, durante essa etapa a ação adquire um grau determinado de

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generalização, normalmente é necessária a ajuda do professor, ou seja, a ação se

realiza de forma coletiva. Núñez e González (1998) assinalam a importância de

evitar, nessa etapa, tarefas do mesmo tipo que possam conduzir a uma

automatização prematura.

d) Etapa da linguagem externa

Aqui, os elementos da ação devem ser representados de forma verbal

(oral para os outros ou escrita). O aprendente quando chega a essa etapa, já deve

dominar o esquema da ação e ter os conhecimentos necessários para poder

representá-los para seu colega de dupla. Nessa etapa, segundo Galperin (2011c), a

ação se separa das coisas (ou de suas imagens materiais) e passa ao plano da

linguagem em voz alta. Para Talízina (1988), nessa etapa a ação adquire um caráter

teórico ideal, mas ainda é inacessível a observação exterior, objetiva. A autora

explicita que a ação verbal é o reflexo da ação material ou materializada. Seu

conteúdo do objeto segue sendo o mesmo, mas a forma muda qualitativamente.

Galperin (2011c, p. 84) aponta que “Ahí la acción es un relato acerca de

la acción sin ningún tipo de ejecución material y sin que en ella participen

directamente los objetos.”

Ainda segundo Galperin (2011c), nesta etapa ocorrem três mudanças

essenciais. Em primeiro lugar, a ação verbal se estrutura não só como reflexo real

da ação realizada com o objeto, mas também como uma comunicação da mesma,

subordinada às exigências da compreensão e o sentido específico que deve ter para

as outras pessoas e, por conseguinte, como um fenômeno da consciência social.

Em segundo lugar, continua o autor, nesta etapa o conceito se constitui na base da

ação e isto elimina a limitante principal da ação com as coisas (a ação está

relacionada ao conceito, a ação é o domínio do conceito). A terceira mudança

consiste na redução da ação (a uma redução que a transforma numa “ação por

fórmula”).

Essa etapa permite a percepção, mas que as outras, de que a formação

dos conteúdos psíquicos não se dá somente através da relação que se estabelece

entre o sujeito o os objetos e fenômenos do mundo externo em sua atividade com

eles, mas também através das relações que estabelece com os outros, na

comunicação que é intensificada para que a ação sobre o objeto de estudo seja

efetivada, considerando-se o fato de que, segundo Talízina (1988) na fala é

elaborado tudo o que se realiza materialmente, e que segundo Núñez (2009) a

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linguagem é o elemento mediador essencial entre o sujeito e o objeto de sua

aprendizagem. É a portadora de todo o processo: tanto da tarefa como da ação.

Dessa forma, segundo Núñez e Ramalho (2013), os elementos da

atividade são apresentados no plano da linguagem. A ação sobre os objetos

materiais ou sua materialização (representação), da etapa anterior, é substituída

pela oralidade, passando a ser executada de forma verbal. Confirma-se, dessa

forma, segundo Núñez (2009), que os processos psíquicos têm inicialmente, um

caráter interpsicológico (ocorrem no contexto das relações entre as pessoas), e

somente depois adquirem um caráter intrapsicológico (fazem parte da atividade

interna), atuam como mediadores nas transições formadoras de funções psíquicas

superiores. Na perspectiva de Vigotsky (2005), a linguagem é a base para a

interiorização das ações e o desenvolvimento do pensamento, uma vez que esse

não é expresso em palavras, mas realizado nelas.

Vigotsky (2005) explicita que no início da etapa, a ação verbal deve ser

assimilada de forma detalhada, adquirindo as novas possibilidades que a linguagem

oferece. No estágio final dessa etapa, começa a redução (quando são omitidas

algumas operações). Nesse momento, a dupla não tem nenhum tipo de apoio

externo. A ação vai se transformando até atingir a lógica dos conceitos (começa a

generalização).

e) Etapa da Linguagem Mental

Conforme Galperin (2011c), a última etapa começa no momento em que a

ação, que está na forma verbal abreviada, começa a ser executada para si, ou seja,

a linguagem tem caráter interno (para si), os aprendentes estão na última etapa de

assimilação dos conceitos e são capazes de expressar a operacionalização dos

conceitos em novos contextos.

Segundo Galperin (2013d, p. 448)

[...] no processo de aprendizado do conceito, a imagem abstrata do fenômeno se constitui sobre a base da ação nos componentes deste conceito, com o critério dos fenômenos correspondentes. O curso automatizado desta ação generalizada, abreviada e trasladada ao plano mental constitui o mecanismo psicológico do conceito.

Para Talízina (1984), na etapa mental todos os passos da ação adquirem

a forma da linguagem interna. Nessa etapa se deve alcançar, na medida do

possível, respeitando as diferenças individuais, a generalização máxima.

Logo, a linguagem interna ou mental é o produto da evolução da atividade

prática do homem; Nela as ações são representadas com todos os seus elementos

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de forma interna. Isto permite ao homem pensar com rapidez, pois o conhecimento

alcança sua forma superior e mais complexa – racional e generalizada.

Existem diferentes níveis de generalização da ação, estes são

determinados pela capacidade dos aprendentes de assimilar a ação dentro dos

limites previstos nos objetivos.

En la teoria de la formación por etapas de las acciones mentales la generalización se considera como una de las características fundamentales de cualquier acción. Por conseguiente, la generalización no se limita a la esfera del pensamento (TALÌZINA, 1988, p. 76).

Para Núñez (2009), a forma mental da ação é a etapa final no caminho da

transformação da nova ação de externa em interna. Por sua origem, a ação mental

está relacionada com a ação material e é o seu reflexo. Substituindo as coisas reais,

agora o objeto da ação, assim como sua composição operacional, tem caráter ideal,

é uma imagem.

Segundo Talízina (1988), no que se refere à ação mental convém

algumas explicações: a primeira delas, é de que a ação mental por sua gênese, está

relacionada com a ação material e é o seu reflexo. Isto significa que a ação mental

inclui os mesmos elementos da material (elementos funcionais e estruturais), mas

agora estes são ideais. Agora são objetos da ação não as coisas reais (objetos

reais), mas sua imagem. Assim, a ação ao converter-se em mental não perdeu seu

objeto, agora é realizada na mente transformando-se na imagem desse objeto. A

composição operacional é realizada mentalmente, para si.

Sobre a linguagem interna escreve a autora,

[...] pueden darse dos casos: i) unos alumnos puedan guardar internamente todo el esquemacompleto, y actuar como si estuvieran aprovechando la imagen ilustrativa y ii), otros no vem el esquema internamente, pero sigen un orden lógico, actuan lógicamiente, pero esto depende de las diferencias individuales en la esfera del pensamiento (TALÍZINA, 1984, p. 209).

O conteúdo psicológico (interno, subjetivo) das ações, segundo Galperin

(1979) não pode ser analisado de maneira dicotômica em relação ao conteúdo

externo (não psicológico, objetivo). Assim, a organização e a execução das ações

por etapas constituem o processo central que envolve a internalização de novos

conhecimentos e capacidades, a formação de novos conceitos que se realizam do

plano externo ao plano interno da atividade do sujeito e seguem um movimento

dialético, que se relaciona à individualidade dos sujeitos e sua relação com o outro

no processo de comunicação, gerando influências mútuas, que contribuem para o

desenvolvimento de formas mais complexas de conduta.

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Pode-se concluir que o processo de transformação da ação material em

mental, de particular em generalizada deve levar em consideração, de maneira

mútua, as categorias atividade e comunicação, não devendo perder-se de vista a

atenção que deve ser dada a individualidade e as particularidades do processo de

aprendizagem de cada aprendente na passagem das ações por todas as etapas,

levando em conta o conhecimento prévio do sujeito acerca do objeto envolvido e de

como foi realizada a orientação, respeitando sua zona de desenvolvimento proximal

(ou seja, o que ele já sabe fazer de forma independente, e o que ele só consegue

fazer com ajuda).

f) Diagnóstico Final ou Controle final

Esse é o momento da atividade que permite comprovar a efetividade dos

procedimentos empregados e dos produtos obtidos para, de acordo com eles,

realizar os ajustes e correções necessárias. Assim, pode assegurar a aprendizagem

por meio do controle e da valoração do conhecimento aprendido, mecanismos

reguladores das ações dos indivíduos.

Para Núñez (2009), o controle final tem como função avaliar o produto da

atividade realizada. Avaliar o produto da atividade supõe ter, o sujeito, um marco de

referência para saber se seus resultados se aproximam do que é esperado e em

caso de não acontecer um resultado positivo, realizar as ações pertinentes de

correção de reajuste.

Essas ações estão relacionadas às ações de orientação recebidas na

etapa de estabelecimento da BOA. Isso porque segundo Galperin (1987, p. 127), “La

parte orientativa constitye la instancia directiva y em lo fundamental, de ella depende

la calidad de la ejecución.”

Assim, a orientação traz os pontos de referência iniciais a partir dos quais

aquele que aprende se orienta para executar as tarefas propostas. O modelo que

constitui os aspectos que devem ser submetidos ao controle e a valoração.

O controle supõe o estabelecimento de uma correspondência entre o

desenvolvimento e o resultado das tarefas realizadas no processo de assimilação de

orientação dada, ou seja, no modelo a ser seguido para a realização de tarefas de

mesmo tipo, aquelas que estão dentro do limite de generalização do objeto. Sua

realização está relacionada com a valoração, que se forma sob a sua base e permite

o reconhecimento do significado do que foi aprendido, seus avanços e dificuldades,

como forma de regulação não somente individual mas também coletiva.

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Com base em Núñez (2009), na elaboração do controle final é necessário:

a) Considerar os objetivos e os critérios qualitativos da atividade. É

importante destacar que se avalia o grau de desenvolvimento da

habilidade que foi objeto de formação;

b) Elaborar ou selecionar os instrumentos ou procedimento de controle.

Nesse processo, devem ser estabelecidos níveis de desenvolvimento

de habilidade, nos quais a qualidade se relaciona com uma quantidade;

c) Aplicar a tarefa proposta;

d) Interpretar os dados obtidos em relação ao processo e ao produto da

aprendizagem;

e) Formulação de juízos, tomada de decisões gerais, correção do plano

de estudo, etc.

Torna-se necessário, aqui, deixar explícito que o controle, assim como a

motivação, é realizado durante todo o processo, em cada uma das ações que

ocorrem e não somente na etapa final.

Segundo Galperin (2011d, p. 87), “La acción se realiza con operaciones y

en cada una de ellas la orientación y el control se efetuan [...].”

Assim, o controle se realiza desde o primeiro momento da atividade, tanto

em relação aos conhecimentos antecedentes como dos procedimentos ou passos

que devem ser realizados durante a atividade, isso mediante ações de autocontrole

individual e do grupo. Propiciando, assim, a comparação entre a execução das

ações, os procedimentos utilizados e a orientação explicitada na BOA.

3.5.2 A dimensão da orientação na formação/atualização de habilidades

A orientação é uma dimensão fundamental no processo de

aprendizagem. Ela se põe em manifesto quando algo novo, que se diferencia do que

já havia sido aprendido é apresentado em uma tarefa ou um conjunto de tarefas de

determinada atividade.

A teoria de Galperin, segundo Núñez (2009), considera o estudo como um

sistema de determinados tipos de atividade que levam o aluno a novos

conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes, valores, sob um processo de direção.

Ela possibilitou o entendimento da formação de ações mentais e processos

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psíquicos, partindo de um conjunto de condições previstas. Este sistema, que se

constitui uma metodologia de ensino, compreende três subsistemas:

a) O subsistema das condições que garantem a correta execução da ação

(que representam, segundo Núñez (2009), o conjunto de situações nas

quais o sujeito realiza a atividade atrelado ao contexto social) – Esse

subsistema está relacionado a encontrar a forma adequada da ação.

b) O subsistema da aquisição de propriedades da ação preestabelecidas

(que corresponde a construção do modelo teórico, pelo qual, segundo

Núñez (2009), será conscientizada a estrutura da atividade

desenvolvida) – Esse subsistema está relacionado a encontrar a forma

material de representação da ação.

c) O subsistema relativo ao trânsito da ação do plano externo ao plano

mental (que representa o movimento da atividade prática externa que

se interioriza, segundo Núñez (2009), adquirindo a forma da atividade

interna ideal, a forma psíquica) – Esse subsistema se relaciona,

obviamente, a transformação da ação externa em interna.

Para Galperin (2011b), a orientação constitui o objeto de estudo da

psicologia, para ele a orientação é, o que se poderia chamar de, o propriamente

psicológico no pensamento, e por isso é um importante princípio em sua teoria.

Neste sentido, ele assinala

Al estudiar la formación de las acciones mentales y después sobre su base, la formación de los conceptos, nos convencimos de que este processo de formación está determinado por el caráter de la parte orientadora de la acción (GALPERIN, 2011b, p. 76).

Partindo da consideração, de o processo de orientação constitui a parte

mais relevante de cada uma das formas de atividade psíquica, ou seja, de que o

mais importante é a orientação no processo de execução da ação (GALPERIN,

1979), o autor elabora a categoria Base Orientadora da Ação. Segundo Talízina

(1988), a parte orientadora da ação está dirigida a: a) A construção correta e

racional da parte executora – nesse caso, seu conteúdo consiste em conter as

condições objetivamente necessárias para a estruturação correta e racional da parte

executora dada de antemão e; b) Assegurar a eleição racional de um dos possíveis

cumprimentos.

De acordo com Núñez (2009), a Base Orientadora da ação constitui o

modelo da atividade, um projeto de ação. Assim sendo, a orientação se relaciona

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com o desenvolvimento da personalidade uma vez que permite a individualização

das diferentes atividades, sendo a aprendizagem uma dessas atividades.

Segundo Galperin (2011b), as numerosas formas de orientação são

reduzidas a três tipos fundamentais. Cada um desses tipos determina um tipo de

estudo. Segundo Domingues Garcia (2007), a orientação expressada nos três tipos

de base orientadora da ação forma o centro do primeiro subsistema dos três

propostos por Galperin para a formação planejada das ações mentais e os

processos psíquicos – O subsistema das condições que garantem a correta

execução da ação. Segundo a autora, esta “correta execução da ação”, é alcançada

com a formação da Base Orientadora da Ação.

Sobre os tipos de BOA, assinala Galperin (2011b, p. 76)

Si el sujeto no puede formar una imagen orientadora completa de la nueva acción e el investigador no puede ayudarlo, esa imagen queda incompleta y se obtiene el primer tipo de orientación. Si el mismo investigador le muestra al sujeto la base orientadora completa de la acción y le exige una intensa investigación de la misma, entonces se obtiene el segundo tipo de orientación. Finalmente, si el sujeto construye una imagen orientadora completa de manera individual, entonces se obtiene el tercer tipo de orientación en la tarea.

Para Galperin (2011b), o fato mais importante é que cada tipo de

orientação corresponde a um determinado processo de formação da ação e uma

determinada qualidade de seu produto final. Assim, o tipo de orientação determina o

tipo de formação da ação e o tipo do produto final, já que formam um tipo de

aprendizagem. Nesse sentido, Núñez (2009) expressa que nas ideias de Galperin, a

orientação é uma referência para a execução e para o controle externo e interno

(autocontrole). Dessa forma, ao final de todo o processo de formação/atualização de

uma habilidade, o que é assimilado pelo aprendente é exatamente a orientação para

a execução daquela ação (a invariante da habilidade) que é realizada de forma

consciente (caracterizando uma habilidade). Segundo autores cubanos, Fuentes

González (1989) e González Nápoles (2010), a invariante da habilidade é aquela

habilidade com um alto grau de generalização, a partir da qual se pode enfrentar

múltiplos problemas particulares. A orientação que é assimilada como invariante,

dessa forma, contribui para a formação da personalidade daquele que aprende, por

meio de valores e motivações próprias, uma vez que o sujeito constrói sua

orientação de forma consciente, reflexiva e emocional.

Esta orientação, segundo Rico Monteiro, Santos Palma e Martín-Viaña

(2013), se torna mais efetiva quando a construção da Base Orientadora da Atividade

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de aprendizagem se realiza em conjunto (aprendentes e orientador). E se esse

processo se realiza de forma exitosa em relação a compreensão do aprendente, o

processo de execução pode acontecer com maior independência por parte daqueles

que aprendem, sem que seja necessário a realização de muitas orientações

individuais por parte do orientador na realização das tarefas.

Um aspecto importante que deve ser considerado como parte da

orientação é que o orientador deve ter em conta, para o planejamento da atividade,

as condições em que o processo de aprendizagem será realizado: se é de forma

individual, em equipe, em dupla; qual o sentido e o significado da atividade proposta,

ou seja, o para quê e o porquê daquela aprendizagem.

3.6 O sistema didático para a formação/atualização de habilidades

Na perspectiva Histórico-Cultural, o processo de ensino-aprendizagem

deve instruir, educar e desenvolver o indivíduo.

Durante el proceso de aprendizaje, el hombre asimila no sólo la experiencia intelectual29, sino también otros tipos de experiencia: moral, estética, etc. Cuando se trata de la asimilación de estos tipos de experiencia, entonces a este proceso se llama educación. [...] con desarrollo se compreende el nível presente de algo ya formado, asimilado, lo que ya pasó del plano de la experiencia social al plano de la experiencia individual, que además, condujo a la aparición de algunas formaciones nuevas de la personalidad y del intelecto (TALÍZINA, 2009, p. 27-32).

Segundo Silvestre Oramas e Zilberstein Toruncha (2003) e Labarre

Reyes E Valdívia Pairol (2007), para que o processo tenha essas características

existem aspectos chaves a serem considerados: O diagnóstico; o protagonismo nos

distintos momentos da atividade de aprendizagem; a organização e direção do

processo; a concepção e formulação das tarefas.

No diagnóstico se pode apreciar não só o nível de instrução que o

aprendente já alcançou, mas também aquilo que o motiva, como pensa e se

comporta, como estuda, que desenvolvimento já alcançou em suas habilidades

intelectuais, em seu pensamento. Isto permite explorar até onde pode chegar e fazer

de forma independente, ou seja, quais são as suas potencialidades.

O protagonismo do aprendente, assumir uma posição verdadeiramente

ativa, que não seja somente levantar a mão para repetir mecanicamente o que diz o

29 A experiência intelectual (científica).

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livro, muda a posição do docente (do orientador). Este passa a ser responsável pela

direção e organização da atividade, individual e coletiva, orientada a busca e

exploração do conhecimento e que estimule e propicie o desenvolvimento do

pensamento e a independência. A concepção e formulação das tarefas, como

consequência deve, então, revelar todos os elementos do conhecimento que devem

ser assimilados, cujas ações e operações exigirão uma atividade mental elevada,

rica em reflexões e valorizações que incidam na formação (assegurar uma maior

interação-comunicação entre os envolvidos no processo). Nesse caso, as tarefas

deverão propiciar a metacognição30).

Esses aspectos fundamentam o planejamento do processo de ensino no

enfoque da didática materialista dialética e histórica. Este se objetiva na sequência

de tarefas que inter-relaciona as características do conteúdo, as necessidades dos

aprendentes e as condições materiais existentes. Esse conjunto de tarefas pode ser

designado de Sistema Didático e se constitui uma forma de organização do ensino

na qual é estabelecido o uso de determinados meios e metodologia que munen os

oportunos sistemas de informação, motivação e orientação, fazendo a relação

interativa entre os participantes do processo de ensino-aprendizagem.

Sendo uma forma de organização do ensino, o Sistema Didático se

fundamenta em pressupostos e princípios teóricos-metodológicos. Para Núñez e

Ramalho (2012), esses pressupostos do planejamento aparecem de forma explícita

ou implícita. Quando aparecem explícitos, a direção do processo de ensino não

ocorre de forma espontânea, o que, segundo os autores, pode diminuir a ocorrência

de resultados indesejados na aprendizagem.

Em um sistema Didático para a atualização de uma habilidade geral,

baseado na Teoria de Galperin, são considerados alguns aspectos importantes,

como a definição de pressupostos teóricos sobrevindos da perspectiva Histórico-

Cultural. Segundo Rico Monteiro, Santos Palma e Martín-Viaña (2013), esses

pressupostos são:

a) A unidade entre a atividade, a comunicação e a personalidade como os

mediadores dos níveis de desenvolvimento e aprendizagem;

30 As tarefas devem propiciar ao aprendente analisar o que realizou, como o fez, o que permitiu o

êxito, em que pode ter se equivocado, como pode eliminar ou minimizar seus erros, que defenda seus critérios para o grupo, os reafirme, aprofunde ou modifique o que pensa, que se autocontrole e valore seus resultados e formas de atuação, assim como a de seus colegas (SILVESTRE ORAMAS; ZILBERSTEIN TORUNCHA, 2003).

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b) A aprendizagem é o processo de apropriação da cultura, sob condições

de orientação e interação social que requer ações ativas, reflexivas e

reguladas;

c) A integração entre os aspectos cognitivos e formativos que

correspondem a área afetivo-motivacional da personalidade;

d) A relação dialética entre o histórico-social e o individual, num processo

ativo de reconstrução da cultura e de descobrimento do sentido

pessoal e a significação que tem o conhecimento para os sujeitos;

e) As habilidades gerais como um tipo específico de atividade, um

conhecimento parte dos saberes necessários à docência;

f) A relação dialética entre a dimensão material das ações e a dimensão

psicológica.

Nessa perspectiva, o sistema didático é planejado tendo como proposição

a função protagonista daquele que aprende. A integração do cognitivo com o afetivo,

do instrutivo com o educativo, como requisitos psicológicos e pedagógicos

essenciais. A realização das tarefas implica comunicação e ação intencional, num

processo dialético que inclui: objetivos, conteúdos, método, avaliação, organização

docente e também, segundo Almentero et al. (2013), as relações que se dão entre

os componentes do processo formativo (de aprendizagem), as quais se ampliam

com a inserção do problema que, como expressão de desenvolvimento, enuncia a

contradição necessária para elevar o nível de aprendizagem, cujo caráter mediado e

cooperativo incorpora cada indivíduo, junto ao grupo e o orientador do processo,

como protagonistas do processo. Logo, a comunicação é elemento indispensável

para a ocorrência desse intercâmbio de conhecimentos e experiências. Pode-se

dizer que, não existe tal processo (atividade), sem a comunicação seja ela verbal ou

não verbal.

A ação mental, explicitada no enunciado da teoria de Galperin, nos revela

a relação dialética entre a dimensão material das ações (externa) e a dimensão

psicológica (interna). Segundo Núñez (2009), o ponto de partida da teoria é a

concepção de ensino que coloca no centro da atenção o processo de assimilação

como elemento central da relação que se produz entre quem ensina e aquele(s) que

aprende(m). Para o autor, isso supõe uma nova conceitualização da aprendizagem,

de seu caráter ativo e transformador da realidade que permite a assimilação em dois

planos: no plano concreto e na sua forma de expressão mental. Nesse sentido,

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Núñez e Farias (2004) expressam que, para aprender novas habilidades, conceitos

e generalizações, o sujeito precisa realizar determinada atividade, que

primeiramente, acontece num plano material externo e, posteriormente, como

consequência da internalização, a um plano mental.

Esses pressupostos oferecem possibilidades para a instrumentalização

do planejamento em uma prática pedagógica (planejamento das estratégias,

procedimentos, indicadores qualitativos e tarefas), que se relaciona a concepção de

uma aprendizagem que desenvolve. Nesse planejamento, do ponto de vista didático,

a categoria objetivo ocupa um lugar de destaque, uma vez que, segundo

Almentero et al. (2013), cumpre a importante função de determinar o conteúdo, os

métodos, os meios, a avaliação e as formas de organização do ato didático31.

Isto porque, o objetivo expressa as aspirações, os propósitos, os

interesses que durante o processo, vão sendo confirmados no modo de pensar,

sentir e atuar, daquele que aprende, o fim a ser alcançado. É o componente

orientador do processo de ensino-aprendizagem. Por isso, o objetivo é ponto de

partida e, ao mesmo tempo, meta que se relaciona aos motivos. E nesse sentido,

tem caráter subjetivo (relativo ao sujeito). Sendo meta, decorre das necessidades da

vida material, e depende dos meios disponíveis para que seja alcançada, daí vem

sua objetividade.

Segundo Salcedo Estrada et al. (2009), o propósito, ideal subjetivo, do

objetivo, adquire objetividade, e se torna concreto, nas tarefas desenvolvidas sob

uma orientação dirigida. Logo, ao elaborar os objetivos, estes devem ser expressos

em habilidades, a serem concretizadas em relação ao objeto de estudo, e devem ser

reconhecidos os conhecimentos que se relacionam a estas habilidades.

Para Talízina (1987, p. 68): “Constructivamiente formular el objetivo de la

assimilación de los conocimientos significa mostrar las habilidades en las cuales

estos conocimientos van a funcionar.”

Para Núñez (2009), a formulação dos objetivos deve apresentar as

seguintes características:

31 Ato didático – momento em que se processa a informação e os diferentes meios implicados

adquirem um sentido pedagógico. Segundo Rojas Espinosa (2007), o ato didático reafirma a comunicação didática como pilar fundamental para o desenvolvimento de um processo de aprendizagem eficaz que determina as maneiras como o indivíduo se adapta a cultura na qual se encontra imerso

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a) Serem compreensíveis: devem ser expressas, com clareza, as ações

que devem ser realizadas, ou seja, as habilidades que se deseja

alcançar.

b) Serem alcançáveis: deve ser levado em consideração, as limitações no

tempo, condições materiais, o nível de desenvolvimento dos

estudantes e as possibilidades de superar as dificuldades

apresentadas inicialmente em relação aos conhecimentos.

c) Serem mensuráveis: devem conter os indicadores de qualidade que

permitam a sua valoração.

Fariñas León (1999) define a categoria indicadores de qualidade como

um dos pilares do edifício teórico de Galperin. Isto porque, segundo Núñez (2009),

eles funcionam como um parâmetro para caracterizar a qualidade das habilidades

formadas. Segundo o autor são os seguintes: a forma da ação, o grau de

generalização, o grau detalhamento, o grau de consciência, o grau de

independência, retenção da atividade, domínio e caráter racional. E são distintos em

primários e secundários.

Para Talízina (1987, p. 68-69)

Las propriedades primárias constituyen el grupo de las propriedades fundamentales. Son características independientes de las operaciones, de las cuales ninguna es consecuencia de otras. En este grupo de propriedades fundamentales se encuentran la forma, en la cual se realiza la acción, la medida de su generalización, el grado de despliegue e la assimilación. En lo que respectaa las propriedades secundarias, las mismas son siempre una consecuencia de una o de algunas primarias. Al número de propriedades secundarias pertenecen cualidades tan importantes de la acción como son la solidez, el grado de consciência y el carácter racional.

Núñez (2009) expressa que elencar indicadores qualitativos foi o mérito

de Galperin ao criar a Teoria da Assimilação de Ações Mentais por Etapas.

A categoria conteúdo está vinculada aos objetivos e sua caracterização

é importante à medida que as tarefas que farão parte do sistema didático objetivam

a formação/atualização de habilidades gerais de acordo com os indicadores

qualitativos.

Os procedimentos lógicos determinam a conformação de estruturas

cognitivas do pensamento que permitem ao indivíduo, a partir da assimilação ou

apropriação do sistema de ações previsto para cada procedimento e o nível de

conscientização acerca das operações racionais que deve realizar, utilizá-los em

qualquer ramo do saber, daí seu grau de generalidade.

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Com muita frequência, nas estratégias lógicas do pensamento são

introduzidos novos conhecimentos que se apoiam nos mesmos tipos de ação, isto

porque os procedimentos lógicos, por serem gerais, abarcam um grande número de

novos conhecimentos (TALÍZINA, 1984).

Por serem, as habilidades gerais, procedimentos relacionados ao grupo

das habilidades lógicas, não é necessário o estabelecimento de uma estrutura

funcional invariante conceitual, uma vez que a tradição lógica já tem determinado a

invariante desses procedimentos.

Levando em consideração a unidade dialética entre conceito e ação, ou

seja, que a assimilação dos conceitos está estreitamente relacionada com a

formação e o desenvolvimento das habilidades – e vice versa, Hernández Díaz e

González Hernández (2012) explicitam que o ensino de procedimentos lógicos

através de uma matéria específica requer uma série de ações que garantam o

sucesso de tal propósito. Essas ações podem ser executadas seguindo a seguinte

ordem proposta pelas autoras:

a) Delimitar o sistema de procedimentos lógicos que utiliza e requer o

conteúdo, objeto de aprendizagem.

b) Definir a ordem de sua assimilação já que alguns procedimentos são

mais elementares e estão, por sua vez, contidos nos outros.

c) Planejar tarefas concretas com o conteúdo específico da disciplina para

garantir a formação desses procedimentos.

Desta maneira, para formar um procedimento lógico, que dizer, para

conseguir que os sujeitos realizem as diferentes ações seguindo as regras lógicas, a

atividade deve ser planejada em um conteúdo específico e, por sua vez, este

conteúdo deve ter sido assimilado sobre a base de um sistema lógico bem

estruturado, tendo em conta as regularidades do processo de formação destes

procedimentos. Ou seja, as habilidades (os procedimentos) são formadas

(atualizadas) sob a base de conhecimentos e de outras habilidades formadas

anteriormente.

A organização das tarefas, segundo Núñez (2009), deve ser planejada

considerando os indicadores qualitativos definidos como objetivos e sendo

observadas as seguintes exigências: Os objetivos; a natureza do conteúdo; a forma

da ação segundo o programa estabelecido e os níveis de ajuda necessários.

Segundo o autor, a tarefa, como conceito psicológico, é o objetivo da atividade nas

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condições apresentadas ao aluno. Nela, está presente a ação que o aluno deve

executar para assimilar a habilidade, o modelo do sistema de ações para a

apropriação do objeto de estudo.

Quando se forma uma ação nova, fora dos limites de generalização, e o

objetivo planejado na atividade pressupõe que ao final do processo a ação tenha a

orientação na forma mental, a ação deve passar pelas etapas definidas pela Teoria

de P. Ya. Galperin, onde cada uma das etapas é caracterizada pelos índices dos

parâmetros qualitativos requeridos no planejamento. “As tarefas para a formação da

habilidade devem ser organizadas considerando os indicadores qualitativos

definidos como objetivos.” (NÚÑEZ, 2009, p. 196).

Sendo o conjunto de tarefas um ato didático, pode ser considerado como

uma interação comunicativa entre os participantes, que se põe em manifesto na

organização da atividade que se realiza com outros (GONZÁLEZ MAURA et al.,

2000). Nesse ato didático, ao produzir-se a influência mútua se produzem novas

intenções conjuntas para a atividade, cada pessoa faz seu aporte, são

intercambiados conhecimentos, ações, hábitos, valores, etc.

Mas, é imprescindível, segundo Silvestre Oramas (2001), assegurar a

atenção às diferenças individuais, de forma que se possa estimular o

desenvolvimento daqueles aprendentes que não alcançam o êxito da maioria e

também assegurar demandas aos que mostram um rendimento superior na

realização das tarefas propostas.

Para Silvestre Oramas (2001), é necessário que no processo de

desenvolvimento das tarefas, o aprendente analise o que realizou; como fez; em que

se equivocou; como pode eliminar os erros, reafirmar ou modificar seus critérios, a

fim de que possa enriquecer seus conhecimentos e consolidar o procedimento, que

é objeto de estudo. Enquanto isso, realiza o autocontrole, valora seus resultados,

possibilidades e comportamento, sendo capaz de regular-se.

A organização das distintas etapas em um sistema didático para a

formação/atualização de habilidades gerais deve considerar aspectos importantes

da Teoria de Galperin, como objeto de estudo (no caso as habilidades gerais), o

motivo (a situação problema, o contexto apresentado, aquilo que motiva a

aprendizagem), a Base Orientadora da Ação (a orientação para a realização das

tarefas que serão propostas no sistema didático). Essa organização é uma exigência

para que se possa dar uma direção ao processo de aprendizagem. Segundo Corona

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Martinez e Fonseca Hernández (2009), ao conceber o planejamento deve ser levado

em consideração que as ações a serem realizadas na atividade devem ser

suficientemente conhecidas pelo orientador e pelos aprendentes, para que seja

possível alcançar como resultado o desenvolvimento daquele que aprende, de forma

eficiente. Essa organização pode ser: Diagnóstico (para identificar o nível de

desenvolvimento da habilidade), a formação/atualização da habilidade (composta

de: etapa motivacional, etapa para o estabelecimento da orientação-BOA, etapa

materializada, etapa da linguagem externa e etapa da linguagem interna) e controle

final.

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4 CONHECIMENTO PROFISSIONAL E PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: o

saber e o aprender para ensinar, no desenvolvimento profissional

O conhecimento é compreendido como o componente legitimador da

profissão docente. Nesse sentido, os saberes do professor na área curricular da

disciplina que leciona, inevitavelmente afetam a forma com que ele ensina e estão

relacionados à identidade e o reconhecimento social da profissão. Nesses matizes, o

presente capítulo trata dos temas: conhecimento profissional e profissionalização

docente, sob a perspectiva Histórico-Cultural, nos itens: a profissionalização da

docência, os saberes docentes, a aprendizagem docente e o desenvolvimento

profissional. Os temas se apresentam como importantes aportes teóricos para a

pesquisa à medida que a habilidade de identificar é considerada parte importante do

conhecimento profissional para o ensino de Biologia, orientado à educação científica

dos estudantes, frente às necessidades formativas do século XXI. Esse conhecimento

inclui não somente informações, mas também habilidades que permitam à apropriação

compreensiva dos conceitos, relações e processos básicos de cada ciência. Sendo a

identificação uma habilidade geral relacionada aos conceitos, é requerida como

procedimento na Biologia, e pode passar a figurar como uma operação lógica em todas

as áreas do conhecimento; constituindo-se, portanto, um conhecimento profissional

necessário, relacionado ao desenvolvimento profissional e, consequentemente, à

profissionalização. Nesse panorama, o capítulo tem a intenção de apresentar os

conceitos, ideias e princípios de diversos autores que versam sobre os temas acerca da

profissionalização docente e os conhecimentos necessários para ensinar ciências,

coadunados na perspectiva assumida pelo trabalho. Esses aportes vão subsidiar o

modus operandi que busca afirmar a importância da elaboração de um sistema didático

para a atualização da habilidade de identificar a partir das etapas da Teoria de Galperin

e, assim, servirão de base para a argumentação da tese defendida.

4.1 A profissionalização da docência: profissionalidade e profissionalismo

Etimologicamente as palavras profissionalização, profissionalidade

profissionalismo e professor possuem a mesma raiz. Segundo Cunha (1996), todas

derivam do verbo latim profitare, “declarar publicamente, afirmar perante todos”.

Sendo assim, de professus temos profissão e professor, “aquele que declara em

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público”. Trata-se de um sujeito que se declara apto a fazer determinada coisa – no

caso do professor, ensinar. Ensinar se origina do latim docere, desta, vem docente -

aquele que ensina.

Exercer uma profissão, ser apto no fazer determinada atividade, ser um

profissional, requer, como exercício, a definição desse “fazer”. Para Dubar (2005), a

profissão é alicerçada pelos critérios meritocráticos e de livre escolha de serviço e

envolve a formação científico-técnica, o que a diferencia do ofício32 que seria uma

ocupação que foi treinada, ou seja, simplesmente técnica. Nesse sentido, para

Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), a definição da docência, enquanto profissão,

constitui um desafio teórico e prático, por apresentar características e se

desenvolver em situações específicas, o que lhe outorga uma dada singularidade

em relação a outras atividades reconhecidas como profissões.

Dubar (2005) alicerça essa perspectiva ao explicitar um modelo

profissional e de identidade33.

A carreira sanciona o domínio progressivo da soma dos conhecimentos (saberes formalizados) e das habilidades correspondentes. A estratégia profissional é a de cumulação dos saberes e de lutas pela manutenção da raridade da formação (DUBAR, 2005, p. 209-210).

Essa necessidade de afirmação da legitimidade da profissão, da

constituição do que poderíamos chamar de estatuto profissional do professor, tem

sido abordada por um grande número de pesquisadores na educação. Para

Ramalho e Núñez (2012), as reformas educacionais, que refletem tempos de

mudanças educacionais, marcadas pela diversidade cultural e por desigualdades,

têm assumido a “profissionalização docente” como categoria estruturante da

atividade do professor na sociedade da informação, do conhecimento e das

economias globalizadas.

No escopo das discussões sobre a educação podemos encontrar, como

temas relacionados, a problemática da formação e suas implicações à

profissionalização dos professores. De acordo com Ramalho, Núñez e Gauthier

(2004, p. 50), esses temas são aspectos de uma mesma questão, uma vez que,

para eles,

32 Segundo Dubar (2005), a separação ocorreu com a expansão e fortalecimento das universidades,

no século XIX, gerando uma oposição entre profissão – tudo o que surgiu das artes liberais e que era ensinado na universidade e estava ligado ao conhecimento técnico-científico, e o ofício - que surgiu das chamadas artes mecânicas, classificadas assim porque se limitavam a determinados números de operação mecânicas.

33 O modelo do físico – a carreira, segundo Dubar (2005), sanciona o domínio progressivo da soma dos conhecimentos (saberes formalizados) e das habilidades correspondentes.

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[...] a profissionalização é entendida como desenvolvimento sistemático da profissão, fundamentada na prática e na mobilização/atualização de conhecimentos especializados e no aperfeiçoamento das competências para a atividade profissional. É um processo não apenas de racionalização de conhecimentos, e sim de crescimento na perspectiva do desenvolvimento profissional.

Conforme Núñez e Ramalho (2008), o termo “profissionalização”

apresenta diversos sentidos, segundo os contextos específicos de seu uso,

definindo-se pelas relações dialéticas das características objetivas e subjetivas que

pautam os processos de construção de identidades profissionais. A

profissionalização é uma forma de representar a profissão como processo

contínuo/descontínuo ao longo da história da docência.

Na concepção de Imbernón (2006), a docência, como profissão, tem,

como impliciação, assim como as demais profissões, o domínio de uma série de

capacidades e habilidades especializadas que fazem o profissional ser competente

em determinado trabalho, e que, além disso, o ligam a um grupo profissional

organizado e sujeito a controle. Para o autor, esse conhecimento profissional da

docência que, relacionado à especificidade da profissão, é de natureza polivalente,

dinâmico, construído e reconstruído de forma permanente no percurso profissional

dos professores, na relação teoria/prática (entendido desta forma) é vital no

processo de profissionalização.

Nesse sentido, Tardif (2002) explicita que os professores são sujeitos do

conhecimento, uma vez que possuem saberes específicos que são mobilizados,

utilizados, produzidos e retraduzidos por eles na prática cotidiana da sala de aula. A

relação dialética dos saberes cotidianos do fazer do professor com os

conhecimentos teóricos permite uma compreensão da construção e reconstrução

permanente de saberes fundamentados na complexidade que a natureza do ensino

e aprendizagem requer.

O professor, na perspectiva de Tardif (2002) e de Imbernón (2006), pode

ser considerado como um profissional teórico-prático que adquiriu status e

habilidades para realizar de forma autônoma e responsável sua função social por

meio de sua formação teórica (disciplinar, didática e pedagógica) e de sua vivência

no cotidiano da sala de aula. Evidencia-se assim, que os termos “formação e

profissionalização” estão intimamente relacionados e se completam na relação que

totaliza o trabalho do professor.

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150

Ramalho, Núñez e Gauthier (2004) entendem a profissionalização como o

desenvolvimento sistemático da profissão. Esta é fundamentada na prática e na

mobilização/atualização de conhecimentos especializados e no aperfeiçoamento das

competências para a atividade profissional.

Para esses autores, a profissionalização tem dois aspectos: um interno,

que constitui a profissionalidade, e outro externo, que é o profissionismo ou

profissionalismo. Eles apontam (2004, p. 53) que “O duplo aspecto da

profissionalização, interno (profissionalidade) e externo (profissionismo), é um

processo dialético de construção de uma identidade social. Eles são irredutíveis,

porém articulados um ao outro”.

A profissionalidade é essencial para a profissionalização uma vez que,

por meio dela, se podem congregar os saberes que são próprios da docência. Esses

podem ser mobilizados e, então, podem circular entre os demais profissionais da

área.

De maneira explicita, a profissionalidade é o conjunto de saberes e

habilidades necessárias ao exercício da profissão, pode ser definida como a

subjetividade pedagógica apreendida e utilizada diante das necessidades

apresentadas no cotidiano da escola. É, portanto um saber fazer desenvolvido no

exercício diário pelo próprio professor, daí o seu caráter interno. Mas não se refere

somente à prática, está relacionado à maneira de entender a profissão, sua função

social, ética e política.

O profissionismo ou profissionalismo, dimensão de caráter externo da

profissionalização, diz respeito à reivindicação de status dentro da visão social de

trabalho que requer negociações por grupo de atores no intuito de reconhecimento

perante a sociedade, das qualidades específicas, complexas e difíceis de serem

aprendidas. Isso significa que o trabalho docente requer um conjunto de saberes

que não são aprendidos espontaneamente, e desta forma devem ser reconhecidos

socialmente como específicos da função associada à atividade.

Diante disso, fica claro que “[...] não é qualquer um que pode exercer a

profissão, mas apenas aqueles que forem preparados e mantenham as

competências necessárias para tal”. (RAMALHO; NÚÑEZ; GAUTHIER, 2004, p. 54).

Em Núñez e Ramalho (2008), o profissionalismo pode ser entendido

como uma expressão ética dos valores e normas, das relações, no grupo

profissional, com outros grupos.

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É uma construção social na qual se situa a moral coletiva, o dever ser e o compromisso com os fins da educação como serviço público, para o público (não discriminatória) e com o público (participação). O profissionalismo se associa ao viver-se a profissão, às relações que se estabelecem no grupo profissional, às formas de se desenvolver a atividade profissional (NÚÑEZ; RAMALHO, 2008, p. 4).

Para Núñez e Ramalho (2008), ao profissionalismo, estão ligadas as

categorias: remuneração, status social, autonomia intelectual, serviços,

compromisso/obrigação, vocação, ética, crítica social, democracia, coletividade, etc.

Nesse sentido, a profissionalização da docência em Biologia, segue o

mesmo árduo percurso das demais docências. Como profissional da educação, ele

(professor de biologia) é agente e estimula transformações. É um cidadão instruído,

que possui motivação e uma série de valores a compartilhar de forma democrática.

Está voltado a modificar a realidade e no processo, modificar-se.

Nessa perspectiva, a formação está intimamente relacionada à

profissionalização, pela categoria profissionalidade. Isso significa que, para que a

profissionalização docente seja efetivada junto à sociedade (categoria

profissionalismo) é necessário que a formação dos professores (inicial e continuada)

corresponda, em profundidade e extensão, aos princípios norteadores da educação

básica. É preciso que os professores desenvolvam as competências docentes (se

apropriem dos conhecimentos necessários à profissionalização) que são requeridas

para ensinar de forma a tributar para o desenvolvimento dos alunos, de acordo com

objetivos e diretrizes, traçados para a educação básica no país. Nessa dimensão,

portanto, podemos incluir a atualização da habilidade de identificar, como parte

desse processo relacionado aos conhecimentos especializados na área das

ciências, juntamente com outras habilidades mais específicas da Biologia.

Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), expõem que a profissionalização só

representará um progresso, do ponto de vista social, se o aumento do nível de

instrução das novas gerações se tornar suficientemente prioritário para que possa

ser valorado de forma positiva. De outra forma, as medidas necessárias para

melhorar a profissionalização, sem considerar o profissionalismo, não ajudarão a

resolver o problema (RAMALHO; NÚÑEZ, 2012). Assim, a atualização de um

conhecimento profissional, insere-se na perspectiva de desenvolvimento que pode

contribuir para a efetivação de um profissional competente e sujeito de seu

desenvolvimento.

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4.2 Os saberes (conhecimento) docentes

Os saberes, conhecimentos e competências necessários à profissão

docente, ocupam lugar de destaque na lista que apresenta as reivindicações para o

status profissional dos professores. Segundo Puentes, Aquino e Quilici Neto (2009),

os teóricos, apoiados na premissa de que existe uma base de conhecimentos

(Knowledge base) para o ensino, afirmam que é possível convalidar esse corpus de

saberes com a intenção de melhorar a formação dos professores. Para Shulman

(1986) a base de conhecimento alude à existência de um repertório profissional, ou

seja, um conjunto de saberes profissionais, que inclui categorias de conhecimento

que estão submetidas à compreensão necessária para que o professor possa

promover a aprendizagem.

O conhecimento, segundo Núñez e Ramalho (2004), constitui-se numa

entidade autônoma, substantiva e independente do contexto da aprendizagem, pois

é produto da atividade de outros sujeitos. É, portanto, um produto da aprendizagem

sistematizada, mas não é transformador. Saber, em contrapartida, significa uma

ação transformadora do conhecimento para si e produto da aprendizagem em

interação comunicativa com os outros, nos contextos específicos da aprendizagem.

Segundo os autores, o saber é subjetivo, depende das relações que o sujeito

estabelece com o conhecimento no contexto social e condição individual. Esse saber

quando integra em sua estrutura elementos de ordem cognitiva e motivacional que

se expressam como uma unidade reguladora na atuação profissional, comportam,

segundo González Maura (2002), as competências profissionais.

Mas, essa é apenas uma das posições epistemológicas em relação à

esses termos. Segundo Núñez e Ramalho (2004), em relação aos termos

conhecimento e saber, por vezes, são estabelecidas diferenças entre os termos,

enquanto outras vezes estes são considerados como sinônimos34.

Na visão dita tradicional, que ainda pode ser reconhecida em muitos

professores da área das ciências da natureza, basta que o professor seja um

especialista, um conhecedor profundo da disciplina sob sua responsabilidade. Isto

faz com que o professor seja entendido como mero repetidor de um saber alheio, e

34 Nesse trabalho, assume-se que são termos que, apesar de serem distintos, possuem na atividade

do profissional docente uma relação tão próxima que permite a proposição de seus entendimentos como sinônimos. Dessa forma, não é levada em consideração, a diferença de entendimento que existe, entre autores norte-americanos e europeus, com relação a esses termos.

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assim sendo, sua prática (ação) é pouco valorizada. O que ratifica a ideia de que

este seria, segundo a sociologia das profissões, alguém que pratica um ofício, ou

seja, um técnico.

Para Marcelo e Vaillant (2009), desde sempre se sabe que a profissão

docente é a “profissão do conhecimento”. O conhecimento e o saber têm sido

componentes legitimadores da profissão docente. E o que, em definitivo, justifica o

seu trabalho, tem sido o compromisso com a transformação do conhecimento em

aprendizagens relevantes para os estudantes. Para esses autores, esse

compromisso, antes necessário, e agora imprescindível, só se concretiza, se os

profissionais da docência se convencerem da necessidade de ampliar, aprofundar,

melhorar sua competência profissional e pessoal.

A mudança significativa na sociedade faz ser, cada vez mais necessária,

a percepção da relevância do professor como um produtor de saberes, uma vez que,

os saberes provenientes da sua experiência, devem ser considerados na análise de

sua competência profissional. Nesse sentido, o saber não é uma substância ou um

conteúdo fechado em si mesmo; ele se manifesta através de relações complexas

entre o professor e seus alunos. Diz Tardif (2002, p. 17): “[...] as relações dos

professores com os saberes nunca são relações estritamente cognitivas: são

relações mediadas pelo trabalho que lhes fornece princípios para enfrentar e

solucionar situações cotidianas”.

Para Tardif (2002), a relação dos profissionais do ensino com os saberes

não é restrita a uma função de transmissão de conhecimentos constituídos e

sistematizados. Ele define o saber docente como um saber plural, formado pelo

amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional

e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

Por conhecimentos da formação profissional podem ser denominados

àqueles adquiridos por meio das instituições de formação inicial e continuada. Estes

são constituídos por um conjunto de conhecimentos científicos que se transformam

em saberes destinados à profissão, são os saberes científicos ou eruditos. De

acordo com Dubar (2005), esses saberes, são os responsáveis por indicar que há

uma competência especializada (adequate qualification).

Nesse sentido, os conhecimentos disciplinares, seriam àqueles

selecionados para serem trabalhados nos cursos de formação e que são

apresentados nos livros didáticos. Já os curriculares corresponderiam aos objetivos,

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conteúdos e métodos (o discurso), e são apresentados sob a forma de programas

escolares.

Os saberes experienciais, segundo os escritos de Tardiff (2002), são

aqueles formados pela vivência, na trajetória de vida, sendo, portanto, oriundos do

tempo de aluno. A esses são incorporados os que brotam da experiência adquirida

na prática, e pela prática, individual e coletiva (que permitem enfrentar os

condicionantes da profissão) do profissional. Esses saberes formam um conjunto de

representações, a partir das quais, os professores interpretam e orientam suas

práticas cotidianas. E se constituem os fundamentos da competência do professor.

Segundo González Serra (2004), a importância dos conhecimentos

adquiridos na experiência se fundamenta na capacidade do indivíduo para

reelaborar e transferir esses recursos para outras situações, integrando-os no

processo de sua reconstrução enquanto profissional e pessoa.

Marcelo García (1992) estabelece os componentes que deveriam integrar

os conhecimentos, profissionais docentes. São eles: a) o conhecimento pedagógico

geral – refere-se aos conhecimentos, crenças e habilidades que os professores

possuem e que estão relacionados com o ensino, com a aprendizagem, os alunos;

assim como o conhecimento técnico didático. Esse conhecimento pode ser

catalogado como conhecimento profissional; b) o conhecimento do conteúdo - está

associado aos conhecimentos que os professores deverão possuir da matéria que

ensinam. Este conhecimento influi no que e como ensinar; c) o conhecimento do

contexto - faz referência ao lugar onde se ensina, assim como, a quem se ensina.

Inclui o conhecimento da escola e de sua cultura; d) o conhecimento didático do

conteúdo, sem ele os professores não ensinam a matéria a seus alunos.

Shulman (1986) explicita 3 categorias da chamada base de

conhecimento. Os conhecimentos do conteúdo específico (que dizem respeito aos

conteúdos específicos da disciplina lecionada – tanto conceituais como

procedimentais e metodológicos); conhecimento pedagógico geral (refere-se ao

conhecimento das teorias e princípios relacionados a ensinar e aprender) e

conhecimento pedagógico do conteúdo (conhecimento que é formado

constantemente no ato de ensinar, inclui princípios e técnicas necessárias ao ensino

da disciplina – são os conhecimentos advindos do exercício profissional). Esse

conhecimento pedagógico da disciplina, para o autor, inclui a compreensão

necessária para ensinar um tópico específico da disciplina por ele lecionada, assim

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como, os princípios e procedimentos que são necessários para tal ensino. Explicita o

autor:

[…] Within the category of pedagogical content knowledge I include, for the most regularly taught topics in one's subject area, the most useful forms of representation of those ideas, the most powerful analogies, illustrations, examples, explanations, and demonstrations- in a word, the ways of representing and formulating the subject that make it comprehensible to others.35 [...] includes an understanding of what makes the learning of specific topics easy or difficult: the conceptions and preconceptions that students of different ages and backgrounds bring with them to the learning.36

(SHULMAN, 1986, p. 9).

Para Porlán, Rivero e Martín del Pozo (1997), o conhecimento profissional

é o resultado da justaposição de quatro tipos de saberes de natureza diferente,

gerados em momentos e contextos nem sempre coincidentes, que se mantêm

relativamente isolados uns dos outros na memória dos sujeitos e que se manifestam

em distintos tipos de situações profissionais. Segundo os autores, estes quatro

componentes, podem ser classificados atendendo a duas dimensões que explicam a

dificuldade de construir um saber coerente com as demandas da atividade

profissional: a dimensão epistemológica, que se organiza em torno da dicotomia

racional-experiencial, e a dimensão psicológica, que se organiza, por sua vez, em

torno da dicotomia explícito-implícito. A organização, segundo as dimensões e os

componentes do conhecimento profissional, feita pelos autores pode ser vista no

quadro 4.

Quadro 4 - Dimensões e componentes do conhecimento profissional

NÍVEL EXPLÍCITO NÍVEL IMPLÍCITO

NÍVEL RACIONAL Saber acadêmico Teorias implícitas

NÍVEL EXPERIENCIAL Crenças e princípios de atuação Rotinas e roteiros de ação

Fonte: Porlán, Rivero e Martín del Pozo (1997, p. 158)

Os saberes acadêmicos se referem ao conjunto de concepções

disciplinares e metadisciplinares que tem os professores (conteúdo disciplinar,

35 Dentro da categoria de conhecimento pedagógico de conteúdo eu incluo, para a maioria dos

tópicos regularmente ensinados de uma área específica, as representações que são mais úteis para tais ideias, as analogias mais poderosas, ilustrações, exemplos, explanações e demonstrações – em poucas palavras, a forma de representação e formulação do conteúdo que torna este mais compreensível para os outros.

36 Inclui uma compreensão do que torna a aprendizagem de tópicos específicos fáceis ou difíceis: as concepções e preconcepções que estudantes de diferentes idades e com diferentes referencias trazem para as situações de aprendizagem.

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saberes psicológicos, pedagógicos, didático e epistemológico). São gerados no

processo de formação inicial.

Os saberes baseados na experiência se referem ao conjunto de ideias

conscientes referentes a diferentes aspectos dos processos de ensino

aprendizagem que os professores desenvolvem durante o exercício da docência.

São aqueles que habitualmente se compartilha com os companheiros de trabalho.

As teorias implícitas se referem às concepções que somente podem se

tornar evidentes com a ajuda de outros professores. São interpretações a posteriori

acerca de que teorias dão razão ao que cremos e ao que fazemos, embora sem

sabermos.

As Rotinas e roteiros de ação são o conjunto de esquemas tácitos que

predizem o curso imediato dos acontecimentos em sala de aula e o modelo de ação.

As rotinas se organizam no âmbito do concreto e se manifestam na conduta

profissional do professor.

Para Imbernón (2012), a tarefa educativa deve ser acometida a partir das

seguintes premissas:

a) Conhecimento pedagógico: aquele que está relacionado a escolha da

metodologia mais adequada a determinado conteúdo, ou seja, que

melhor favoreça a aprendizagem;

b) Conhecimento social: aquele que permite a reconstrução do

conhecimento vulgar em acadêmico objetivando a melhoria social;

c) Conhecimento epistemológico: o que permite conhecer analisar o

conteúdo e a sequência lógica de aprendizagem da matéria

d) Conhecimento psicológico: o que permite conhecer a diversidade e as

características dos alunos;

e) Conhecimento das condições contextuais específicas: importante para

levar em consideração as necessidades educativas e sociais, os

recursos e interesses dos educandos para favorecer a aquisição de

conhecimento.

Carvalho e Gil-Pérez (2001) definem três áreas de saberes necessários

aos professores para o exercício de sua profissão: os saberes conceituais e

metodológicos, os saberes integradores e os saberes pedagógicos.

Os saberes conceituais e metodológicos estão relacionados aos

conteúdos específicos de cada área do conhecimento. Os saberes integradores e os

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pedagógicos são relacionados ao ensino dos conteúdos escolares. As relações de

ensino e aprendizagem que ocorrem em sala de aula estão incluídas nos saberes

pedagógicos e, entender como se ensina e se aprende um determinado conteúdo

constitui o campo dos saberes integradores.

Segundo Carrascosa et al. (2008), para que o processo de ensino-

aprendizagem tenha êxito, é preciso que os professores integrem os conhecimentos

profissionais com os conhecimentos científicos, formando um bloco global e

coerente. Para ele, um sólido conhecimento permite ao professor inovar, mudar,

selecionar com acerto os conteúdos a tratar, simplificar sem gerar e transmitir erros

aos alunos e não ser um simples repetidor mecânico dos conteúdos do livro texto.

Podemos avalizar que Shulman (1986), Porlán, Rivero e Martín del Pozo

(1997), Carvalho e Gil-Perez (2001), Tardif (2002), Carrascosa et al. (2008) e

Imbernón (2012) levam em consideração os mesmos saberes, porém com

nomenclaturas e classificações um pouco diferentes. Todos evidenciam a

importância dos saberes experienciais, adquiridos na prática em sala de aula e

validados na experiência profissional.

Para Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), é a identificação de uma base

de conhecimentos que dá identidade da profissão, e é imprescindível para a

profissionalização da docência. Para esses autores, os saberes se apresentam

como um dos recursos a serem mobilizados no agir competente. Isso porque,

embora possam ser separados metodologicamente, estão, todos, presentes na

ação do professor. Como sistema complexo do pensamento do profissional, o

saber é o resultado das suas interações, constituindo-se, assim, num sistema em

constante reformulação, reconstrução.

Ramalho, Núñez e Gauthier (2004, p. 176) explicitam com convicção

que

- Não é possível continuar formando um professor para uma realidade diferente daquela que ele terá que encontrar; por isso, a questão da prática, no contexto da realidade escolar do exercício da profissão, torna-se um importante princípio formativo. -Torna-se um desafio ter flexibilidade e agilidade, necessárias para poder incorporar os diferentes avanços das ciências, da tecnologia, permitindo uma constante atualização dos saberes, baseados na auto-avaliação.

Carvalho e Gil-Pérez (2011) consideram que esse conjunto de

conhecimentos e habilidades necessárias à profissionalização, proporciona uma

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visão rica e complexa da atividade docente. Dessa forma, a complexidade torna-

se um convite a aproveitar a criatividade potencial do labor profissional.

Bolivar e Bolivar (2012) expressam que o conhecimento profissional se

manifesta e reconhece em ação, sendo, portanto, competência. Competência,

para os autores, é o conjunto de recursos (do qual toma parte o conhecimento, as

habilidades e valores) que se é capaz de mobilizar para atuar. O conjunto de

competências faz parte da formação específica em um nível ou área disciplinar,

seu domínio atravessa todas as disciplinas. Caracterizam o que se poderia

chamar a “expertise” docente, como esquemas geradores de práticas, que

proporcionam certo habitus profissional.

O sistema que permite a formação desse “habitus” é compreendido

pelo histórico cultural, segundo Almentero et al. (2013), como o sistema de ações

ou modos de atuação (fazer e saber fazer) que regulam as relações do sujeito (o

professor) com o objeto de estudo (o conhecimento para ensinar). Desta forma, é

importante para o professor saber não somente os conteúdos disciplinares, mas

saber o que fazer com eles e como fazer que os estudantes o aprendam. E as

habilidades e hábitos37 tanto intelectuais quanto práticos, gerais ou específicos,

constituem a base das atividades relacionadas aos conceitos científicos. Eles

estão compreendidos nos pilares básicos da educação do século XXI, propostos

pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO), no aprender a fazer e, porque sempre se aprende com o outro, no

aprender a viver juntos.

4.2.1 Os saberes docentes e a identidade profissional

A identidade profissional está diretamente ligada à interpretação social

da profissão. Isso implica em dizer que o profissional tem uma função específica

na sociedade em que está inserido.

Segundo Dubar (2005, p. 156),

A identidade social não é ‘transmitida’ por uma geração à seguinte, cada geração a constrói, com base nas categorias e nas posições herdadas da geração precedente, mas também através das estratégias identitárias desenvolvidas nas instituições pelas quais os indivíduos passam e que eles contribuem para transformar realmente.

37 Os hábitos, também como as habilidades garantem o domínio da ação. Porém, a habilidade de

forma consciente, enquanto o hábito de forma mais automática.

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Nesse sentido, a identidade profissional docente se constrói e se

constitui numa interação entre o sujeito e suas experiências (individuais e

coletivas), formativas e profissionais. Segundo Pimenta (1996) é um processo de

construção do sujeito historicamente situado. Emerge em dado contexto e

momento históricos, como resposta às necessidades que estão postas pelas

sociedades, adquirindo estatuto de legalidade.

Marcelo (2012) apresenta a identidade profissional relacionada a forma

como os professores definem a si mesmos, e aos outros. Sendo assim, a

identidade se constrói e se transmite (MARCELO; VAILLANT, 2009). Para o autor

é uma construção do “eu” profissional que evolui ao longo da carreira docente e

que pode se ver influenciada por todo o contexto da sociedade. Mas, segundo

Núñez e Ramalho (2005), são construções estáveis e têm em si dificuldades para

serem mudadas, uma vez que são construídas na base de elementos que geram

uma dada estabilidade. Nessa ótica, segundo os autores, representam estágios

do desenvolvimento pessoal e social que caracterizam momentos históricos da

profissionalização docente.

Marcelo e Vaillant (2009) expressam que a identidade docente se

refere também a como os professores vivem subjetivamente seu trabalho e quais

são os fatores básicos de satisfação e insatisfação. Esse conceito também

guarda a relação com a diversidade de suas identidades profissionais e com a

percepção do ofício por parte dos próprios docentes, e pela sociedade na qual

desenvolvem suas atividades. A atividade docente é, assim, tanto uma

experiência pessoal como o papel que lhe é reconhecido ou atribuído em uma

dada sociedade.

Segundo Núñez e Ramalho (2005), os professores constroem suas

identidades pessoais no seu grupo e contextos, em interação como outros grupos

profissionais. Nesse processo, elaboram auto-imagens, representações de si e do

seu grupo profissional, como parte de sua história de vida no coletivo e das

regras e normas da atividade profissional. Para os autores, Essas representações

e auto-imagens são elementos que contribuem para que os sujeitos se

compreendam e compreendam os outros dentro do grupo profissional. Nessa

lógica, elas constituem uma unidade dialética entre o individual e o coletivo ou do

grupo.

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Para Marcelo (2012), a identidade docente não é um atributo f ixo, é um

fenômeno relacional. Sendo um atributo, uma qualidade, faz parte do “eu” - não é

fixo, se desenvolve; e sendo relacional é coletivo. Ou seja, a identidade docente

possui concomitantemente a dimensão individual (ideias, concepções e

representações que construímos sobre nós mesmos); e a dimensão coletiva (os

papéis sociais que desempenhamos nos grupos que pertencemos). É, portanto, o

resultado de dois processos distintos: o processo autobiográfico (a identidade do

eu) e o processo relacional (a identidade para o outro).

Para Dubar (2005, p. 156)

A articulação desses dois processos representa a projeção do espaço-tempo identitário de uma geração confrontada com as outras em sua trajetória biográfica e em seu desenvolvimento espacial. As formas sociais dessa articulação constituem ao mesmo tempo a matriz das categorias que estruturam o espaço das posições sociais (alto/baixo, mas também, no/fora do emprego) e a temporalidade das trajetórias sociais (estabilidade/mobilidade, mas também continuidade/ruptura).

A identidade caracteriza-se, então, como um processo evolutivo de

interpretação de si mesmo como indivíduo inserido em um determinado contexto.

Isso significa que uma identidade profissional se constrói, segundo

Pimenta (1996), a partir da significação social da profissão; da revisão constante

dos significados sociais da profissão; da revisão das tradições. Mas também da

reafirmação de práticas consagradas culturalmente e que permanecem

significativas. Do confronto entre teorias e práticas, da análise sistemática das

práticas à luz das teorias existentes, da construção de novas teorias.

De acordo com Bolivar e Bolivar (2012), a identidade profissional deve

tomar parte, de modo integrado, do plano de carreira docente. Isso significa que

vai se desenvolvendo, configurando, de acordo com as demandas que a

sociedade impõe à profissão; e supõe a interação entre os sujeitos na sua

construção e partilha, assegurando assim o compromisso de cada integrante com

o grupo, definindo os sentimentos de pertinência social que sustentam a

existência da profissão.

Nesse sentido, para Marcelo (2012), a identidade profissional contribui

para a percepção de auto eficácia, motivação, compromisso e satisfação no

trabalho do professorado e é um fator importante para a transformação em um

bom professor. Ela é influenciada por aspectos cognitivos, pessoais e sociais. E

sendo assim se relaciona com a categoria comunicação, uma vez que, se

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relaciona e, depende dos mecanismos da comunicação (contágio, persuasão,

sugestão e imitação)38.

Desta forma, para exercer a profissão docente, é preciso adesão coletiva

(implícita ou explícita) a um conjunto de normas e de valores. Para Nóvoa (1992), a

produção de uma cultura profissional dos professores é um trabalho longo, realizado

no interior e no exterior da profissão, que obriga a intensas interações e partilhas. A

identidade profissional não se dissocia da adesão dos professores ao projeto de

profissionalização, que funda uma profissão que não pode ser definida nos limites

internos da sua atividade.

Para Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), pensar no professor como um

profissional, trabalhar na perspectiva da docência como profissão, implica

reconhecê-lo como produtor de sua identidade profissional.

Segundo Núñez e Ramalho (2010), os professores se identificam com a

disciplina que ensinam, seja Biologia, Física, Química, etc. E Marcelo e Vaillant

(2009) compreendem que essa identificação é uma das chaves de identidade

profissional docente. Essa proposição dos autores pode ser melhor entendida sob a

concepção do materialismo de Marx (1980), quando esse expressa que é pelo

trabalho que o homem se firma como sujeito de sua existência, construindo um

mundo humano e humanizando-se nessa construção que encerra uma orientação

tríplice que se efetiva no coletivo: o que fazer, para que fazer e como fazer. E sendo

assim, a habilidade de identificar, configurada como um saber necessário para

exercer a profissão docente, constitui-se como componente integrante na produção

da identidade profissional do professor de Biologia, uma vez que sua importância é

reconhecida tanto em nível epistemológico quanto didático para o ensino dessa

disciplina.

38 Mecanismos de comunicação, segundo a psicologia soviética: vias e fatores que aperfeiçoam a

influência humana. Contágio - submissão involuntária a determinadas condutas ou estados psíquicos em situações de grupo. Persuasão - processo de fundamentação lógica com o objetivo de obter o consentimento do sujeito que recebe a informação. Sugestão - influencia preferencialmente afetiva, não crítica de informações sem argumentação ou demonstração. Imitação - reprodução de um modelo de comportamento demonstrado. Pode ser considerado uma forma voluntária de contágio.

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4.3 Aprendizagem docente: atividade e comunicação

Os aportes da perspectiva histórico cultural de Vigotsky, da teoria da

atividade de Leontiev e da Teoria da assimilação por etapas de Galperin, trazem

contribuições importantes para o processo de aprendizagem docente. Isso porque,

considera a aprendizagem como parte da atividade vital do ser humano, um dos

produtos de sua interação com o meio em que vive.

Nessa perspectiva, para Galperin (1979), aprendizagem é toda atividade

que resulta da apropriação de novos conhecimentos (conceito-habilidade-hábito)

pelo ser humano ou o aperfeiçoamento desses por aqueles que os possuem. Em

outras palavras, aprendizagem é o resultado de toda a atividade cujas ações se

realizam como parte de um processo instrutivo ou a apropriação de conhecimento

num processo contínuo, orientado a um objetivo e que tem caráter social.

Segundo Leontiev (1978), se denomina atividade aqueles processos

mediante os quais o indivíduo, respondendo as suas necessidades, se relaciona

com a realidade, adotando determinada atitude frente à mesma. É na luta entre os

contrários dialéticos: mundo objetivo/mundo subjetivo (a atividade do homem sobre

o meio que o rodeia e a influencia deste mundo sobre o que ocorre no interior do

indivíduo), que ocorre a transformação do homem e isto, por sua vez, contribui para

a mudança do mundo material. Desta forma, é na atividade que se encontra a

abstração teórica de toda a prática humana. É na atividade39, em inter-relação com

outros sujeitos, que o objeto é transformado enquanto ocorre a transformação do

próprio sujeito em, constante, subjetivação e objetivação.

Sendo assim, pode-se dizer que a aprendizagem acontece quando uma

determinada estruturação psíquica (efetuada pelo cérebro) reproduz um sistema de

relações entre o sujeito e o mundo material, por meio da atividade (motivada pelas

necessidades do sujeito), originando processos e reflexos que conduzem à

assimilação dos modos sociais (modos de atividade e interação) de forma

subjetivada. Esses modos de atividade e interação são objetivados quando se fazem

necessários (frente a situações do mundo real). Isto quer dizer que a comunicação

está associada, desde o inicio, à atividade do homem. E assim, a formação dos

conteúdos psíquicos não se dá somente por meio da relação que se estabelece

39 Atividade - concebida como um sistema de ações e operações que o sujeito realiza sobre o objeto.

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entre o sujeito e os objetos, ou fenômenos, do mundo externo, em sua atividade com

eles, mas também se dá através das relações que são estabelecidas com outras

pessoas, na comunicação com os outros.

Para Leontiev (1978), a vinculação da atividade com a comunicação pode

ser entendida, a medida que se percebe que a atividade do indivíduo isolada

constitui-se uma abstração, ou seja, não existe no plano real. No mundo material o

indivíduo está imerso em distintas atividades em grupos sociais que se vinculam por

meio de ações à atividade integral da sociedade, o que se dá por meio da

comunicação. Segundo Leontiev (2004, p. 181),

A representação de um homem sozinho em face do mundo de objetos que o rodeia é, evidentemente, uma hipótese puramente artificial. Nas circunstâncias normais, as relações do homem ao mundo material que o cerca, são sempre mediatizadas pela relação a outros homens, à sociedade. Elas estão incluídas na comunicação, mesmo quando o homem está exteriormente sozinho, quando se entrega a uma tarefa científica, por exemplo.

A comunicação é, assim, uma condição para a existência do homem,

enquanto ser social, e supõe intercâmbio mútuo. Como processo, segundo González

Rey (1995), é produzida, mediante símbolos na atividade humana40, e ocorre por

meio da transmissão de resultados da atividade psíquica, que cria novas

necessidades e representações dentro do espaço interativo. Isto permite o

intercâmbio de ideias, de experiências, de necessidades, de pretensões, conflitos,

etc...

Las nuevas necesidades dan lugar a nuevas motivaciones, processo que puede ser asumido y dirigido intencionalmente por el sujeto, o bien dar lugar a profundas contradicciones, ante cuyas consecuencias el sujeto está obligado a asumir un caminho o a entrar en un processo de creciente deterioro. (GONZÁLEZ REY, 1995, p. 8).

Na escola marxista, a comunicação é considerada categoria fundamental

desde os trabalhos de Vigotsky sobre as funções psíquicas superiores. Segundo

esses estudos, durante o processo de comunicação, os sujeitos envolvidos se

influenciam mutuamente, interagindo com suas subjetividades através dos

processos de externalização e internalização. Unido a isso, se produz uma

redefinição e configuração da subjetividade, de forma que a realidade nos chega

através do outro.

40 Atividade humana - onde o homem se relaciona com o meio, e, onde, por sua vez, se estabelecem

as relações entre cada um dos componentes do processo comunicativo.

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Petrovsky (1980, p. 166) cita que “[...] la evolución de los tipos del

comportamento y de los médios de la actividad del individuo no los determina el

desarrollo biológico de su organismo, sino el desarrollo histórico de la sociedade.”

Ou seja, as funções psíquicas superiores não se relacionam com a

evolução biológica, elas são o resultado da assimilação dos produtos da cultura,

formada a partir das relações constituídas entre os homens e não existem isoladas

da atividade.

Para Leontiev (1978), considerando o princípio de Vigotsky (2005), da

unidade do cognitivo e do afetivo no desenvolvimento do homem, os conhecimentos

se formam como produto da interiorização da atividade objetal material, a partir da

dinâmica dos elementos estruturantes da atividade: ação, objeto, objetivo, operação,

necessidade, motivo, condições e resultado. A atividade se desenvolve em unidade

dialética com a comunicação. A comunicação orienta, dirige e regula a

aprendizagem, eleva o conhecimento de nível sensorial (concreto) a um nível

superior, generalizado (abstrato). Por isso, podemos falar na unidade (a díade) entre

atividade e comunicação. Para falar de um, é necessário falar do outro.

E nesse sentido, o processo de aprendizagem do professor, concebido

como atividade, implica considerar a comunicação como condição indispensável e

fonte de desenvolvimento psíquico. Uma vez que, os motivos (fatores que levam a

realização das ações na atividade), encontram na comunicação uma via de

expressão e satisfação dos aspectos afetivos e valorativos.

Para Fariñas León (2005, p. 113), “Son la actividad y la comunicación las

vias que tiene el individuo para expressar lo más intimo de sí y para construir

creativamente la obra, que dará lugar a su desarrollo.”

Nesse caso, a categoria comunicação, não é responsável por um mero

intercâmbio de informação, mas sim, o intercâmbio da própria atividade, como parte

inseparável da personalidade. Segundo González Rey (1995), por meio dela se

pode exercer a influência de uma personalidade sobre a outra.

Al actuar comunicando nos mostramos como sujetos con personalidades, valores y actitudes diversas. Quando comunicamos, pues, no solo emitimos el contenido de una expresión, sino que realizamos una serie de actos em los cuales solo uma parte corresponde al habla. En nuestra actividad comunicativa se expresan muchos indícios sobre nosotros mismos y se incide sobre lo médio (SERRA, 2013, p. 144).

A comunicação é, assim, uma parte fundamental da atividade conjunta

em que são implicados os que participam do processo social de aprendizagem. Por

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sua natureza, por suas funções no alcance de uma adequada compreensão dos

mecanismos de influencia educativa, permite a apropriação ativa e criadora dos

novos conhecimentos pela negociação e partilha e favorece as relações

interpessoais adequadas ao contexto de aprendizagem como parte, nesse caso, do

processo de profissionalização docente, sendo relacionada a motivação advinda da

necessidade percebida entre todos. Essa percepção se torna importante à medida

que, segundo Álvarez de Zayas (1998), aprendizagem eficiente é o processo no qual

a necessidade social foi transformada em motivo41 para aquele que aprende. Nessas

condições, segundo o autor, não há necessidade de uma motivação externa, já que,

quem aprende, está convencido de que o conteúdo que assimila se converterá em

ferramenta fundamental para seu labor futuro.

A aprendizagem pode, então, ser entendida como um processo ativo e

integral do sujeito na internalização do conhecimento, não como a reprodução de

uma informação construída fora dele e transmitida mecanicamente, nem tão pouco

como assimilação cognitiva, mas amplia-se nas relações estabelecidas, na

interação, em um sistema simbólico e emocional, onde ambas, atividade e

comunicação, Segundo Fariñas León (2005), formam a trama (das relações

humanas) cuja intenção, finalidade, é o desenvolvimento humano.

Nesse sentido, a docência, enquanto profissão é compreendida como

uma atividade humana, de natureza social e política, realizada coletivamente, e vale-

se de instrumentos e signos que modificam, não apenas o objeto, mas, os seres

humanos que o realizam.

E dessa forma, pode-se entender que a aprendizagem profissional é

fortemente influenciada pelo contexto em que o docente trabalha, nesse caso,

geralmente, a sala de aula. Esta, por sua vez, é afetada pela cultura escolar, pela

comunidade onde a escola se encontra, assim como a sociedade de uma maneira

geral. Isso significa, ao final, que as experiências dos professores em seu contexto

influem sobre sua compreensão de mundo e, assim, têm importância sobre suas

necessidades enquanto profissionais. O que gera diferentes memórias (entendendo

que no contexto do profissional ela pode aproximar, afastar, incluir novos saberes ou

descartar), diferentes motivações (processo individual e coletivo que empresta

41 Motivo, para González Rey (2012), são as configurações subjetivas que se organizam no curso da

ação, envolvem as configurações subjetivas da personalidade, o que coaduna com o entendimento Leontiev (1978), onde esses motivos são chamados de geradores de sentido, uma vez que impulsionam a atividade lhe outorgando um sentido pessoal.

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sentido e faz agir) para a atividade de estudo, para a aprendizagem (onde a

subjetividade revela a singularidade característica do processo de assimilação do

conhecimento). Nesse caso, há que se considerar, na aprendizagem do professor,

sua vivência anterior, ou seja, as experiências passadas, que podem influenciar na

aceitação ou formação de novas concepções. Esse aspecto não pode se esquecido

por se tratar de um tipo de aprendizagem que se realiza em adultos.

Pode-se entender que a aprendizagem profissional é fortemente

influenciada pelo contexto em que o docente trabalha (a sala de aula e a instituição).

Este, por sua vez, é afetado pela cultura institucional, pela comunidade da qual faz

parte, assim como a sociedade de uma maneira geral. Isso significa que as

experiências dos professores em seu contexto influem sobre sua compreensão de

mundo e, assim, influem sobre suas necessidades enquanto profissionais. O que

gera diferentes memórias (entendendo que no contexto do profissional elas podem:

aproximar, afastar, incluir novos saberes ou descartar), diferentes motivações

(processo individual e coletivo que empresta sentido e faz agir) para a atividade de

estudo, para a aprendizagem (onde a subjetividade revela a singularidade

característica do processo de assimilação do conhecimento). Nesse caso há que se

considerar, na aprendizagem do professor, sua vivência anterior, ou seja,

experiências passadas, que podem influenciar na aceitação ou formação de novas

concepções. Esse aspecto não pode se esquecido, por se tratar de um tipo de

aprendizagem que se realiza em adultos e mais, em profissionais.

Para Núñez e Ramalho (2010), a aprendizagem do professor é um tipo

específico de atividade dirigido à apropriação da cultura profissional do ensino que

supõe uma práxis que transforma não só o objeto do conhecimento, como também o

professor, nesse caso, o sujeito da atividade. Logo, tributa para o desenvolvimento por

favorecer situações de promoção de Zona de Desenvolvimento Próximo (ZDP),

reconhecendo o que já se sabia e investindo no que ainda não se sabe (metacognição -

que é entendida como aspecto fundamental para a aprendizagem de adultos). É

exatamente nesse intervalo, segundo Vigotsky (2005) que ocorre a aprendizagem que,

refletida e objetivada, é capaz favorecer a sistematização e teorização necessárias à

criatividade, num movimento dialético, para a produção de atividades criadoras e não

somente à reprodução da atividade de outros. Corroborando para o processo de

profissionalização, distanciando-se do papel de técnico pelo desenvolvimento

proporcionado pela consolidação de aprendizagens na busca pelo conhecimento.

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Segundo Imbernón (2012), talvez algo importante a ser desenvolvido,

para que toda a complexidade da aprendizagem docente seja compreendida, seja

aumentar a comunicação (a colaboração, a transmissão de emoções e atitudes, a

partilha com os colegas). A isso, a psicologia russa denomina de aspecto

comunicativo, que é o intercâmbio de informações entre os sujeitos que se

comunicam. Essa informação é ampla, isso é, os sujeitos no decorrer da atividade

conjunta trocam ideias, interesses, sentimentos, impressões e apreensões. Outra

proposição comunicativa, segundo o autor é fazer prosperar o trabalho colaborativo

com os colegas e o trabalho cooperativo com os alunos. Tendo a comunicação,

nessa perspectiva, um caráter motivador – incluído, portanto, na função afetiva (com

distintas motivações), orientado a satisfação de necessidades.

Para Sanmarti (2000), sendo a aprendizagem fundamentalmente uma

situação social de comunicação e um lugar na realização de uma tarefa ou no

estudo de um conteúdo específico sob a interferência mútua dos participantes da

situação, a interação comunicativa facilita a aprendizagem a partir de intervenções

relacionadas com aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais. Pode-se dizer,

então que a aprendizagem dos professores se realiza a partir de discussões,

comparações, reflexões, expressão de suas próprias ideias, desenvolvimento de

valores e atitudes, ou seja no favorecimento da comunicação.

Em tal sentido, a aprendizagem em grupo42 pode se configurar como uma

possibilidade, uma vez, que nesta perspectiva, segundo Castellanos Noda (2002, p.

99), o sujeito que atua é um sujeito individual que aprende ante a presença de

outros sujeitos ou na relação com eles, o objetivo é o conhecimento sobre

determinado fragmento da realidade e o produto são as transformações que se

operam a nível individual. Segundo a autora, nesta proposta “El objetivo central del

aprendizaje no se limita al plano individual sino que se extiende al plano grupal, los

que se articulan en una unidad en la que se interpenetran mutuamente.”

Dessa forma, pode-se entender que o grupo, configurado na tarefa, pode

atuar como uma comunidade psicológica, como “um sujeito da atividade”. E a

atividade é o ponto de partida, o critério objetivo, para a constituição do grupo e da

zona de desenvolvimento próximo do grupo.

42 Aprendizagem em grupo coaduna com o pensamento de Vigotsky (2005) de que o homem só

aprende com a ajuda dos outros.

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La delimitación de las responsabilidades de cada cual, además de impedir de certa manera la invasión de unos em los espacios de los otros, puede propiciar la cooperación de los membros de uma comunidade em las atividades y tareas sociales, el que más sabe ayuda al que sabe menos, sin apañamiento de los menos activos, pues estos también deberán tener su responsabilidade por sí mismos y por las tareas desempeñadas (FARIÑAS LEÓN, 2005, p. 114).

Nessa interação, os mecanismos de autorregulação permitem uma maior

efetividade da atividade de aprendizagem, potencializam a influência do grupo como

agente social de mudança e o crescimento pessoal de cada um de seus membros,

assim como o do grupo. Essa proposição de mudança, de desenvolvimento, se

encontra no princípio da unidade entre instrução e educação, explicitada em

Leontiev (1978), que situa que, esse processo interativo (de interação) propicia não

só conhecimentos, mas também, formula a orientação da personalidade, a relação

do indivíduo com a realidade.

Essa perspectiva implica o estabelecimento de um bom ambiente para o

desenvolvimento e exige estratégias como a de aprender a aprender43. Para Fariñas

León (2005), o aprender a aprender é a melhor contrapartida de ambientes

estimulantes de desenvolvimento. Para a autora, aprender a aprender conduz a um

conhecimento sobre a realidade, a um saber generalizado. Pertencem a esse tipo de

conhecimento a elaboração de pontos de vista, métodos de busca e análises,

métodos de tomada de decisões e organização. Enquanto atividade que tem a

comunicação a constituindo, pode ser considerada como requisito que deve existir

em ambientes educativos para promover o desenvolvimento humano.

Sob a égide desse marco teórico de aprendizagem, Núñez e Ramalho

(2010), evocam que a aprendizagem do professor implica mudança de

conhecimentos, habilidades, condutas e experiências no processo de

aperfeiçoamento das suas competências profissionais para a integração de

elementos que configuram e reestruturam sua identidade e seu desenvolvimento

profissional; face às novas necessidades, e aos novos motivos e perspectivas.

A aprendizagem deve promover e contribuir com a formação, assim como também a formação se integra como um elemento que, em diferentes momentos contribui com o desenvolvimento profissional e, consequentemente com a profissionalização dos professores. (RAMALHO; NÚÑEZ, 2014, p. 32).

43 Aprender a aprender para Fariñas León (2005) está relacionada não somente a possibilidade de

abarcar um grande volume de informação, mas também relativo a seu caráter crítico e criativo, tomar consciência de si mesmo, as atitudes frente ao conhecimento e aos demais.

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Para, tanto, segundo Ramalho e Núñez (2014), é fundamental que

durante a aprendizagem, o professor passe do caráter declarativo e implícito dos

conhecimentos procedimentais (o fazer intuitivo e empírico) a conhecimentos

explicativos e explícitos (a base de conhecimento da profissão), de forma tal que se

desenvolva a capacidade de teorizar a prática, como elemento das competências

para o ensino.

O presente trabalho insere-se nessa dimensão por declarar a habilidade

de identificar como um conhecimento profissional, cuja atualização realizada na

perspectiva da Teoria de Galperin, pode promover e contribuir com a formação e

consequentemente com a profissionalização. O resultado do diagnóstico do nível de

desenvolvimento da habilidade de identificar se torna parte de um processo de

aprendizagem porque forneceu dados que tornou possível a elaboração de um

sistema didático sob os pressupostos e metodologia da teoria de Galperin. A

atividade foi realizada a partir da motivação e interação comunicativa do grupo de

professores de Biologia, dando às tarefas um caráter de atividade pedagógica

4.4 Desenvolvimento profissional

O conceito de desenvolvimento profissional docente, segundo Marcelo e

Vaillant (2009), se utiliza com distintos significados, em distintos contextos, e

referindo-se a diversos tipos de práticas. Dessa forma é polissêmico. As definições,

para os autores, tanto as mais atuais como as mais antigas, consideram o

desenvolvimento profissional dos professores como um processo que pode ser

individual ou coletivo, e que opera por meio de experiências diversas naturezas,

tanto formais como informais, contextualizadas na escola.

Esse entendimento coaduna com o conceito de desenvolvimento

profissional docente baseado na proposta de um continuum de formação, em que a

formação básica (formação inicial) é apenas o início de um processo de atividade

docente que ocorrerá ao longo de toda a carreira, permeado por atitudes,

conhecimentos e capacidades.

Imbernón (1999) sustenta que falar de desenvolvimento profissional é

fazer referência às novas aprendizagens que requer a docência e também aquelas

associadas aos centros educativos como desenvolvimento profissional coletivo.

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Para Imbernón (1999), é certo que o desenvolvimento profissional,

intimamente relacionado ao processo de formação, é dinâmico. Segundo ele, a

formação se legitima quando contribui para o desenvolvimento profissional como

processo dinâmico de profissionalização docente, em que os dilemas, as dúvidas, a

falta de estabilidade e a divergência chegam a constituir-se aspectos da profissão e,

portanto, do desenvolvimento profissional.

Núñez e Ramalho (2010) compreendem que o desenvolvimento

profissional dos professores pode ser analisado em duas dimensões: uma social e

outra individual que interagem formando uma unidade dialética. A dimensão social

se relaciona às necessidades formativas que emergem das mudanças e dos

aperfeiçoamentos do próprio campo profissional. A dimensão individual, em contra

partida, diz respeito à condição do professor enquanto indivíduo, com sua história,

suas necessidades, seu ritmo próprio de aprendizagem, seu projeto de formação

profissional. Nessa dialética (social e individual), situa-se a diversidade (relação

homogeneidade/ heterogeneidade) no processo da formação continuada.

Ainda, do mesmo entendimento, Ramalho e Núñez (2012), expressam

que o desenvolvimento do professor como profissional exige atenção harmônica

entre a profissionalidade e o profissionalismo; que dizem respeito, respectivamente,

a identidade profissional (aquisição e renovação do saber fazer pedagógico) e ao

exercício profissional num contexto (questões de ordem salarial, de condições de

trabalho, de autonomia intelectual, da ética, da participação em diferentes espaços

profissionais, sindicais, questões que convergem para um status da profissão); não

sendo, nesse caso, suficiente a disposição e boa formação dos professores. Mas

também, a efetivação de projetos individuais e coletivos.

Em Ramalho, Núñez e Gauthier (2004, p. 67),

O desenvolvimento profissional não se corresponde com o desenvolvimento de competências profissionais individuais. Esse desenvolvimento é necessário mas não suficiente, pois ele acontece na dinâmica da dialética entre o desenvolvimento individual e do grupo profissional.

Nesse sentido, segundo Ramalho e Núñez (2012), o contexto da atividade

docente pode ser um fator que possibilita ou que dificulta o desenvolvimento, e

consequentemente, os processos de profissionalização.

Ao relacionar os projetos coletivos (sociais) ao desenvolvimento

profissional, podemos pensar a colaboração entre os professores. Nessa forma de

trabalho conjunto, os professores podem assumir o protagonismo de suas ações e

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assim, serem agentes de seu próprio crescimento (desenvolvimento), respeitando a

individualidade dos outros parceiros no processo de aprender com a experiência e a

reflexão compartilhada.

Sendo assim, o desenvolvimento profissional, segundo Ramalho, Núñez e

Gauthier (2004) é favorecido quando os professores têm oportunidades de refletir,

pesquisar de forma crítica sobre as práticas educativas na coletividade (isto permite

retomar as principais contradições, realizar generalizações e relacionar as práticas

pesquisadas com o labor diário, destacando seus significados); quando

compartilham suas crenças e preocupações, analisam os contextos e, a partir das

informações obtidas, experimentam novas práticas educativas (o que estimula a

participação ativa e consciente, provocando o protagonismo e favorecendo a

unidade do grupo).

Por esta razão, os professores necessitam de múltiplas oportunidades

para receber novas informações e traduzi-las na sua prática. Aprender é um

processo cíclico, não linear. Por conseguinte, os professores devem ter a

oportunidade de revisar as ideias e conceitos compreendidos parcialmente à medida

que os implementam em seus contextos diários como parte do processo formativo e

comunicativo que se dá entre os seus pares, e que contribui para o seu

desenvolvimento profissional.

4.5 Ensino: formação e desenvolvimento

A docência atual, devido às exigências e contradições encontradas na

escola, exige a excelência dos profissionais educadores. Essa excelência requerer

uma continuada formação e atualização de conhecimentos para a execução do

processo pedagógico. Nesse sentido, para Gadotti (2003), deve-se realçar a

importância da troca de experiências, de compartilhar evidências, informações e a

busca de soluções.

Ensinar, na perspectiva histórico-cultural, sempre significa interagir e

comunicar-se com outros, como parte da unidade dialética ensinar/aprender. Nessa

unidade transitam o aperfeiçoamento dos próprios conhecimentos, e as formas de

atuação autorreguladas, mas que seguem sendo, essencialmente, colaborativas, no

social.

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As relações interpessoais, desta forma, são o meio de transmissão do

conhecimento construído. É na negociação entre sentidos e significados, que se dá

o ensino e, por conseguinte, a aprendizagem. De nada adianta, portanto, transmitir

um conteúdo programático, se a postura do ensinante não é de negociação. Nesse

aspecto, pode-se citar Freire (2004, p. 68), “Os homens se educam entre si,

mediatizados pelo mundo”.

Isso significa que, tão importante quanto o que se ensina, é como se

ensina. Fazer da sala de aula o lugar de aprendizagem natural do sujeito é, segundo

Moura (2012), estabelecer como objetivo, a criação de um ambiente onde se partilha

e constrói significados. Onde, os sujeitos, ao interagirem mediados pelo conteúdo,

estabelecido pelas necessidades e motivos, partilham significados.

Assim, o ato de ensinar é um processo contínuo de criação intersubjetiva

de significados com quem aprende, e esses significados podem gerar, por sua vez,

outras possibilidades de interação. Nesse processo, os que ensinam e os que

aprendem, sofrem impactos um do outro que atualizam os seus sentidos subjetivos.

Segundo González Reis (2012), um sujeito consciente produz sentidos subjetivos

frente aos processos de ensino e aprendizagem, em decorrência de relações sociais

que estabelece, nos diferentes espaços da vida.

Aquele que aprende dirige seu próprio processo de aprender, e, assim,

ensinar pode ser delimitado como um processo de mediação semiótica, subjetiva.

Isto porque, penetrar no verdadeiro espaço dos processos de aprendizagem implica

ter em conta, junto com os componentes pessoais envolvidos (cognitivos, sócio-

psicológicos, afetivo-motivacionais), as variáveis contextuais, que emanam da

realidade em que está imerso o sujeito. Nesse sentido, ensina-se e aprende-se na

unidade atividade/comunicação e como resultado dessa. A interatividade entre

docente e discente é a matéria básica que constitui a docência. E nessa atividade, a

forma como o professor organiza contextos, como percebe a si mesmo em sua ação,

como interpreta situações e conceitos em relação à sua atuação profissional agem

em dupla direção: orientam-se em relação ao outro, mas também transformam quem

os agencia (COELHO, 2012).

Marcelo e Vaillant (2009) afirmam que na sociedade que nos “toca” viver

hoje, não podemos seguir aspirando a que a formação profissional inicial nos dote

de competências para toda a vida profissional ativa. Tanto pela aparição constante

de novas ocupações e profissões, como pelo irreprimível avanço dos

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conhecimentos, que requer das pessoas – dos cidadãos – uma atitude de

permanente aprendizagem. Este fenômeno alertam os autores, tem sido

amplamente descrito nos informes da Organização de Cooperação e de

Desenvolvimento Económico (OCDE) desde 1997.

Assim posto, é preciso que o professor se prepare de forma contínua para

exercitar, ampliar e renovar sua cultura no sentido de trabalhar situações concretas,

por mais modestas que sejam as condições, objetivando que o estudante sinta

prazer em conquistar o conhecimento. Sendo assim, deve levar em conta os

saberes requeridos como conhecimento profissional. E dentre eles, os

procedimentos lógicos ou habilidades gerais, são indubitavelmente importantes por

permitir o conhecimento da estrutura das categorias do pensamento lógico. Segundo

Davydov (1983), quanto maior é o domínio dessas categorias, mais se avança na

compreensão dos processos. E essa compreensão tributa para o planejamento e

realização de atividades com independência.

Outra consideração a ser feita é que a atividade de ensino para a

perspectiva histórico cultural, deve ter caráter desenvolvimental, isso significa que o

processo tem que cumprir com três critérios, segundo Castellanos Simons et al.

(2007):

a) Promover o desenvolvimento integral da personalidade é ativar a

apropriação de conhecimentos, destrezas e capacidades intelectuais

em estreita harmonia com a formação de sentimentos, motivações,

qualidades, valores, convicções e ideais (a unidade e equilíbrio entre o

cognitivo e o afetivo-valorativo no desenvolvimento e crescimento

pessoal).

b) Potencializar o trânsito progressivo da dependência a independência e

a autorregulação, assim como o desenvolvimento no sujeito da

capacidade de conhecer, controlar e transformar criadoramente sua

própria pessoa seu meio.

c) Desenvolver a capacidade de para realizar aprendizagens ao longo da

vida, a partir do domínio de habilidades, estratégias e motivações para

aprender a aprender; e a necessidade de uma autoeducação

constante.

Essas considerações, não acrescentam a tarefa do professor, as funções

de psicólogo ou pedagogo, como podem pensar alguns docentes. Segundo

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Carvalho e Gil-Perez (2011), considerações desse tipo fazem parte da

aprendizagem em ciências, da mesma forma que as complexas interações entre

ciência/tecnologia/sociedade, marcadas em geral por conflitos e contradições que

fazem parte do trabalho científico.

Entendido desta forma, os processos de ensino-aprendizagem podem

viabilizar o desenvolvimento profissional do professor à medida que proporcionam, e

enfatizam, a reflexão (auto avaliação) do fazer docente, a reestruturação e

aprofundamento dos conhecimentos adquiridos na formação inicial e a produção de

novos conhecimentos em um processo dialético de negação.

[...] pouco a pouco nos vamos dando cuenta de que la división clásica entre ‘el mundo del estudio’ y ‘el mundo del trabajo’ está perdiendo sentido. La idea de que existe un tiempo para la formación (básica, inicial). [...] La formación inicial es una formación básica que nos permite empezar a desenvolvernos en el mercado laboral. Pero el mercado laboral es cualquier cosa menos estable (MARCELO; VAILLANT, 2009, p. 21).

Nesse sentido, o professor precisa se reconhecer, e ser reconhecido,

como agente de seu fazer cotidiano. E assim, deve se responsabilizar pelo

desenvolvimento das condições para que ele próprio construa seu conhecimento

sobre seu fazer docente. Fazer-se professor, segundo Coelho (2012), é um

processo de construção de sentidos subjetivos que vão sendo configurados ao longo

das vivencias das relações com o outro coletivo ao longo de uma história pessoal

anterior que é constantemente atualizada pela reconstrução de conhecimentos, pela

troca de ideias, pela descoberta das diversidades de aprender e ensinar.

Essas diversidades são compreendidas na grande variedade de perfis,

engendrados pelas interações entre saber científico, pedagógico e didático, que

levam à uma grande multiplicidade de demandas educativas em sala de aula. Isso

porque, se reconhecemos que, todos, somos diferentes, temos que reconhecer a

necessidade de criar e instrumentalizar opções que permitam aprender para se

desenvolver, tomando em conta as diferenças com objetivo de desenvolver o

máximo do potencial individual que cada um possui.

Esse processo é social e histórico, uma atividade que deve ter diferentes

tarefas que possam favorecer a formação e enriquecimento das motivações

intrínsecas (o aprender para ensinar) para a aprendizagem, aproveitando os motivos

extrínsecos (a necessidade de ensinar, por exemplo, os procedimentos lógicos).

Deve existir também uma preocupação com a autovalorização que os professores

têm de si mesmos como aprendizes e ensinantes para a formação de uma

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autoestima positiva. Sendo essencial o desenvolvimento cognitivo, afetivo, volitivo e

comunicativo, que favoreça o desenvolvimento da criatividade na conformação de

novas normas e orientações para o “ensinar”.

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176

5 METODOLOGIA

Investigar pode ser definido como processo para resolver problemas

através de soluções viáveis. Esse processo é realizado por meio de recolhimento

planejado e sistemático de dados com posterior interpretação desses. Segundo

Lüdke e André (1986) investigar é um esforço para a elaboração de conhecimentos,

sobre aspectos da realidade, na busca de soluções para problemas apresentados.

A investigação do processo educativo apresenta uma série de

características que a fazem complexa. Uma delas é o fato de que estuda fenômenos

sociais. Sendo sociais, os processos educativos não estão sujeitos a processos

univalentes, são de caráter complexo dialético-contraditório com realidades

condicionadas por um grande número de fatores causais singulares e

multideterminados.

Gil (2008, p. 26-27) define a pesquisa social como

[...] o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. [...] A partir dessa conceituação, pode-se, portanto, definir pesquisa social como o processo que, utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social.

Para Meksenas (2002, p. 84),

[...] se a educação emerge como questão a ser examinada num momento específico e torna-se objeto de uma ciência, apenas a pesquisaremos de modo efetivo ao percebermos que ela é um fato histórico, não só uma questão cognitiva.

A investigação educacional é, assim, segundo Pérez Rodríguez et al.

(2015) uma unidade metodológica com diferentes tipos e métodos de investigação

que se complementam. É preciso entendê-la como um sistema de princípios e

categorias metodológicas que orientam estrategicamente o uso de diferentes

métodos, atendendo aos objetivos que se persegue (interpretar e analisar os

diversos e variados elementos dos fenômenos estudados), levando em conta as

condições que se têm para desenvolver a investigação.

Sendo científica, deve cumprir com os requisitos comuns a toda

investigação científica. Esse tipo de investigação persegue como objetivo

fundamental ir além dos aspectos fenomenológicos e superficiais da realidade e

explicar suas regularidades e propriedades essenciais refletindo-as em sistemas

teóricos conceituais que cumprem determinados requisitos lógicos e metodológicos,

como: a) Os princípios, conceitos e leis da teoria devem possuir entre eles relações

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de dependências lógicas, de maneira que integrem um sistema conceitual coerente;

b) O sistema teórico deve ser, em princípio, verificável empiricamente, sobre a base

dos resultados que proporcionam os métodos de investigação e a prática social.

Desses requisitos, que devem ser cumpridos, percebe-se a importância da

metodologia da pesquisa.

Para Pérez Rodríguez et al. (2015), metodologia é o estudo filosófico da

atividade científica, constitui um conhecimento geral do processo de investigação

científica, de sua estrutura, de seus elementos e de seus métodos. Isso significa que

os fundamentos metodológicos proporcionam a estratégia a seguir em uma

investigação, dão o enfoque que orienta a abordagem do problema científico e seu

processo de estudo e solução.

Seguindo os fundamentos gnosiológicos, dados pela teoria Histórico-

Cultural e a teoria emergente da profissionalização docente, esse capítulo aborda o

traçado metodológico utilizado na pesquisa que tem como objetivos o diagnóstico do

nível de desenvolvimento da habilidade de identificar para, a partir da análise dos

resultados, propor um sistema didático para comprovar a tese de que a habilidade

de identificar, entendida como dimensão constitutiva do conhecimento profissional,

pode ser atualizada por um sistema didático baseado na teoria de Galperin, com

professores de Biologia do Ensino Médio.

O capítulo apresenta esse traçado por meio dos tópicos: fundamentos da

metodologia, o contexto da pesquisa, o percurso metodológico, os instrumentos

empíricos, a organização e análise dos dados e a proposta do sistema didático para

atualização da habilidade de identificar orientada sob a perspectiva da Teoria de

Galperin. A proposta apresenta os pressupostos para o planejamento do sistema

didático, a definição dos objetivos, a organização dos conteúdos, a definição de

indicador de qualidade e a organização do sistema de tarefas.

5.1 Fundamentos da metodologia

Neste trabalho, o método constituiu-se uma mediação no processo de

revelar a necessidade formativa e expor a estruturação, o planejamento de uma

proposta de Sistema Didático para atualização da habilidade de identificar com

professores de Biologia do ensino médio na perspectiva das etapas da Teoria de

Galperin.

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Para Vigotski (1991, p. 74),

A procura de um método torna-se um dos problemas mais importantes de todo empreendimento para a compreensão das formas caracteristicamente humanas de atividade psicológica. Nesse caso, o método é, ao mesmo tempo, pré-requisito e produto, o instrumento e o resultado do estudo.

Dessa forma, para Vigotski (1991, p. 74), “estudar alguma coisa

historicamente significa estudá-la no processo de mudança: este é o requisito básico

do método dialético”. Para tal é necessário ir à essência do fenômeno, descobrir sua

natureza, em todas as suas fases e mudanças, uma vez que “é somente em

movimento que um corpo mostra o que é”.

Essas proposições trazem consigo o princípio da contradição, que

promove o movimento que permite a transformação dos fenômenos, e indicam que

para pensar (refletir) a realidade é necessário partir do empírico (do aparente) e, por

meio de abstrações, chegar ao concreto (o essencial). Isto significa que, no decurso

do trabalho, foram utilizados dados qualitativos44 de investigação, assim como

métodos empíricos e teóricos que realizaram funções complementares, formando

uma unidade dialética. Os métodos empíricos foram responsáveis pela coleta de

dados necessários para responder aos objetivos do estudo, enquanto os métodos

teóricos foram utilizados na interpretação dos dados empíricos e na construção e

desenvolvimento da teoria sob a qual se sustenta o trabalho.

Fazenda (2000, p. 31) aponta que “[...] a partir de conhecimentos parciais

obtidos pela limitação do homem, a teoria surge como uma possibilidade de integrá-

los e, neste sentido, é sempre um recorte, um retrato parcial e imperfeito da

realidade”.

A seleção dos métodos e procedimentos, para a pesquisa, foi a

expressão de requisições que respondessem às condições metodológicas mais

gerais e à natureza do objeto de estudo, uma vez que os procedimentos

metodológicos foram demandados à luz de uma relação proposital com os objetivos

indicados. Nessa perspectiva, a pesquisa procura compreender os acontecimentos

ocorridos no diagnóstico sob o ponto de vista da integração do individual com o

social, permitindo assim a compreensão do fenômeno através da relação entre a

aparência e a essência.

44 A utilização da quantidade se resumiu à quantificação dos dados para que pudesse ser

apreendida a extensão desses, não sendo objetivo da pesquisa testar hipóteses estatísticas. A quantificação dos dados qualitativos pode ajudar a conhecer e compreender melhor os resultados.

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O rigor da pesquisa foi um critério fundamental. E se manifestou na

postura aos critérios de validez e confiabilidade. Não sendo, portanto, somente

limitado à rigidez em relação ao rigor teórico metodológico e ao controle

metodológico.

A metodologia envolveu instrumentos de natureza qualitativa para

caracterizar, responder e explicar o problema da pesquisa, não estando moldada

na mensuração, nem na padronização da situação pesquisada. Isto porque,

segundo Ghedin e Franco (2011), a pesquisa qualitativa permite a compreensão

do cotidiano como possibilidade de vivências únicas, impregnadas de sentido,

realçando a esfera do intersubjetivo, da interação, da comunicação e

proclamando-o como o espaço onde as mudanças podem ser pressentidas e

anunciadas.

Para Bardin (2011), a pesquisa qualitativa é capaz de incorporar a

questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às

relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas, tanto no seu

advento quanto nas suas transformações, como construções humanas

significativas.

De acordo com Flick (2013) a desvantagem é que as análises

detalhadas e exatas que determinam o que é importante para os participantes,

com frequência, requerem mais tempo e a generalização é limitada.

O trabalho investigativo aqui descrito se caracterizou pela busca da

compreensão da realidade investigada. Três instrumentos foram utilizados na

pesquisa: um questionário45, uma tarefa diagnóstica46 e a observação.

Para o processamento dos dados, obtidos pelos instrumentos de coleta

foi utilizado o procedimento de análise de conteúdo segundo Freitas e Janissek

(2000) e Bardin (2011). A escolha da análise de conteúdo se justificou na

necessidade de ultrapassar as incertezas, advindas da simples leitura das

respostas, por meio da compreensão das significações presentes de forma não

45 O questionário foi planejado em duas partes: a primeira parte com perguntas relacionadas à

caracterização do perfil sócio profissional dos professores; e a segunda parte, com perguntas abertas sobre conceito, a habilidade de definir e a relação entre as habilidades de definir e identificar.

46 A tarefa diagnóstica foi planejada sob as bases do ensino problêmico proposto por Majmutov (1983). O autor relaciona a formação da independência cognoscitiva e de capacidades criadoras da personalidade à processos de atividade intelectual que podem ser possibilitados por meio de tarefas onde o professor, nesse caso, a pesquisadora, orienta a busca de conhecimentos por meio de uma atividade cognoscitiva do grupo.

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explícita. O foco da análise de conteúdo aqui utilizado foi qualificar os

conhecimentos dos sujeitos em relação à habilidade de identificar, bem como

suas percepções sobre conceitos e os procedimentos lógicos, nos contextos da

epistemologia da ciência e da didática. Nessa perspectiva, teve como objetivo

compreender o diagnóstico realizado sob o ponto de vista da integração do

individual com o social, permitindo assim a compreensão do resultado através da

relação entre a aparência e a essência.

A construção de campos semânticos orientou a pesquisa empírica com

elementos da análise para que fossem entendidas as falas dos professores na

atividade do diagnóstico. Segundo Núñez e Ramalho (2008), as análises dos

campos semânticos possibilitam inferências sobre o conteúdo das

representações, o que não significa que sejam compartilhadas por todos os

membros do grupo.

5.2 Contexto da pesquisa

A parte experimental da investigação foi concretizada no Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)

Campus Natal- Central. O Instituto, pelos termos da Lei 11.892, de 29 de

dezembro de 2008, faz parte da rede federal de educação profissional e

tecnológica, vincula-se ao Ministério da Educação, possui natureza jurídica de

autarquia e detém autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-

pedagógica e disciplinar. Trata-se de uma instituição de educação básica,

profissional e superior, especializada na oferta de educação profissional e

tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, conjugando conhecimentos

científicos, técnicos e tecnológicos à ideais pedagógicos de fundamentação

Histórico-Crítica (INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, 2012). A estrutura física do

campus para a docência da Biologia conta com laboratórios de Biologia, Química

e Física e laboratórios relacionados às aulas experimentais dos cursos técnicos.

Os professores de Biologia possuem sala individual e um ambiente partilhado

com os demais professores e funcionários denominado “sala do servidor”. Existe

um espaço temporal semanal de reunião para planejamento e decisões didático-

pedagógicas e administrativas. Foi durante esses espaços que foram realizados

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os dois encontros com os professores, para motivação e diagnóstico

respectivamente.

A pesquisa foi realizada com o grupo de 7 (sete) professores de

Biologia que lecionam no Ensino Médio Integrado nos cursos de administração,

controle ambiental, edificações, eletrotécnica, geologia, geologia e mineração,

informática, informática para a internet, manutenção e suporte em informática,

mecânica e mineração; e nos cursos técnicos subsequentes ao Ensino Médio.

5.3 Percurso metodológico

A pesquisa aqui descrita foi estruturada tendo como pressuposto que: a

atualização do conhecimento profissional, a habilidade de identificar, de

professores de Biologia do Ensino Médio pode ser realizada por meio de um

sistema didático, alicerçado na teoria de P. Ya. Galperin, constituindo uma

contribuição para a utilização da postura Histórico-Cultural e da atividade dentro

da perspectiva da profissionalização docente. Os aportes teóricos e

metodológicos de investigadores como Vigotski, Leontiev, Galperin, Davidov,

Talízina, dentre outros, pode construir um enfoque para o desenvolvimento e

profissionalização do professor de Biologia. Uma vez que ao considerarem o

princípio didático da unidade teoria/prática, concebem o ensinar como uma

atividade, ou seja, um processo ativo, que segundo Silvestre Oramas (2003), está

vinculado à vida, que desenvolve e contribui para a formação de uma identidade

e a auto-aprendizagem.

A metodologia se desenvolveu em 3 momentos interconstitutivos: o

método de pesquisa, que consiste, num primeiro momento, numa produção

teórica, onde foram definidos os pressupostos teóricos da perspectiva histórico

cultural que sustentam o trabalho, os objetivos da pesquisa e a proposição da

tese; seguida de investigação empírica, que exigiu a coleta de informações e

categorizações por meio da utilização de um conjunto de técnicas e de

procedimentos adequados à apreensão analítica do material empírico conseguido

durante os encontros com os professores; e a proposição de um sistema didático

para a atualização da habilidade de identificar, com base nos resultados obtidos

na etapa empírica que consistiu no terceiro momento da pesquisa que está

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relacionado à tese proposta. Os momentos interconstitutivos da pesquisa podem

ser visualizados na figura 3 que expõe o desenho da presente pesquisa.

Figura 3 - Momentos interconstitutivos da pesquisa

Fonte: Maria da Glória Albino

O percurso metodológico foi construído a partir da relação entre os

objetivos e a metodologia aplicada para alcançar o diagnóstico do nível de

desenvolvimento da habilidade de identificar. Essa organização pode ser visualizada

na figura 4.

Proposição da tese

Definição dos pressupostos

INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

Definição dos objetivos

Sistema de tarefas

PRODUÇÃO TEÓRICA

PROPOSIÇÃO DE ATIVIDADE FORMATIVA Organização do Sistema Didático

Pressupostos

Atualização da habilidade de

Identificar

Objetivos

Coleta dos dados

Questionário

Observação

Tarefa problêmica

Conteúdo

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183

Figura 4 - Percurso metodológico

Fonte: Maria da Glória Albino

A análise de conteúdo realizada nas questões do questionário e da tarefa

problêmica, possibilitou estabelecer as representações dos professores, sobre as

categorias distintivas definidas a priori, em relação à habilidade de identificar. A

criação de categorias a priori, relacionadas à identificação, foi necessária para que

pudessem ser realizadas as deduções lógicas e inferências, que foram responsáveis

pela interpretação das questões relevantes contidas no contexto das respostas.

Segundo Freitas e Janissek (2000) as categorias, interpretação e inferência são

necessárias para a análise do conteúdo, manifesto tanto explicitamente quanto

implicitamente, nas respostas e observações analisadas. Isso segundo os autores,

permite tirar conclusões, obter novas informações ou completar conhecimentos

através do exame detalhado dos dados.

Em Bardin (2011) a utilização da análise de conteúdo prevê três fases

fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. A

figura 5 mostra as fases realizadas nesse trabalho, que seguem a proposição da

referida autora.

Diagnosticar o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar nos professores.

Questionário

Observação

Tarefa problêmica

Elaborar um Sistema Didático alicerçado na P. Ya. Galperin, para a atualização da

habilidade de identificar.

Produzir texto de auxilio sobre a importância da habilidade de identificar

Organizar a Base Orientadora da ação para a habilidade de identificar

Preparar tarefas do tipo problêmica para serem utilizadas em cada uma das etapas da teoria de Galperin na atualização da habilidade de identificar.

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Figura 5 - Fases da análise de conteúdo

Fonte: Maria da Glória Albino adaptado de Bardin (2011)

Os dados obtidos no questionário, na tarefa diagnóstica e na observação

deram o acesso à interpretação e caracterização dos resultados quando foram

organizadas em três campos semânticos que consideraram o contexto empírico e a

dimensão temporal, além de permitir inferências. Esses campos semânticos foram

confrontados por meio de uma triangulação do tipo metodológica para construir a

representação que os professores de Biologia do IFRN, Campus Natal-Central,

possuíam em relação à habilidade de identificar quanto à epistemologia e à didática.

A correlação proporcionada pelos três instrumentos e a posterior

triangulação dos campos semânticos produzidos, buscava a superação das

limitações encontradas na utilização de somente um instrumento.

5.4 Instrumentos empíricos

Segundo Meksenas (2002), a versatilidade dos procedimentos de coleta

de dados faz o investigador deparar-se com um número muito grande de

informações, diante das quais poderá perder-se. Daí ser importante proceder a

seleção criteriosa desde o primeiro momento da pesquisa. Para tanto, a organização

para a coleta dos dados pode ser expressa na figura 6.

ANÁLISE DE CONTEÚDO

Pré-análise

Tratamento dos resultados:

Exploração do material

Categorização e codificação

Administração das técnicas de

coleta de dados

Inferência

Interpretação

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Figura 6 - Organização da pesquisa para a coleta de dados

Fonte: Maria da Glória Albino

O enfoque prático da pesquisa se orienta em direção ao reflexo da

realidade em estudo. Funciona sobre o alicerce da relação prática mais próxima

entre o pesquisador e o objeto de estudo, o que pode gerar processos de mudança

que tem a possibilidade de incidir tanto nos sujeitos participantes (professores de

Biologia) quanto na própria pesquisadora. São os métodos empíricos que

possibilitam coletar dados necessários a fim de que possam ser alcançados os

objetivos específicos. Como características dos métodos empíricos, são ressaltadas:

a) a unidade dialética entre esses métodos;

b) a seleção e interpretação dos resultados à luz de um referencial teórico

definido;

c) a sua relação com a natureza do objeto de estudo;

d) a sua materialização em instrumento de pesquisa.

Estas características evidenciam que a pesquisa empírica não é mera

descrição do real, ou como este se apresenta para o investigador. Segundo

Meksenas (2002), é preciso que os olhos do pesquisador sejam municiados de

instrumentos analíticos: conceitos, teorias, concepções filosóficas, entre outras.

Na presente pesquisa, foram privilegiados como instrumentos empíricos o

questionário, o registro da atividade e a observação.

O problema

Construção dos instrumentos de

coleta

Validação dos

instrumentos

Aplicação dos

instrumentos de coleta de dados no diagnóstico

Definição das estratégias

para coleta de dados

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O diagnóstico foi composto de um questionário e uma tarefa do tipo

problêmica47. Essa atividade foi realizada com o grupo de professores objetivando

caracterizar o nível de desenvolvimento da habilidade.

5.4.1 O questionário

O questionário é um instrumento de investigação, de coleta de dados

largamente usado nas pesquisas de campo. Constitui uma técnica de interrogação

onde se obtém informações por meio de perguntas escritas organizadas de forma

impressa. Segundo Nocedo de León et al. (2009), esta técnica possibilita a obtenção

de informações acerca das opiniões, experiências ou vivências de um grupo de

indivíduos. É uma técnica muito usada porque possibilita que os dados sejam

analisados de maneira qualitativa e quantitativa. Mas tem suas limitações, uma vez

que nem todas as pessoas estão motivadas para fornecer as respostas solicitadas e

o vocabulário utilizado também pode conduzir a interpretações inadequadas.

Marconi e Lakatos (2003) e Gil (2008) explicitam as vantagens e

limitações do questionário, como técnica de coleta de dados:

Vantagens: é uma técnica que obtém respostas mais rápidas e mais

precisas, há maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato; há mais

segurança, pelo fato de as respostas não serem respondidas de forma pessoal; é

possível obter informações com menor risco de distorção, pela não influência do

pesquisador; os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação.

Limitações: impede o auxílio ao informante quando este não entende

corretamente as instruções ou perguntas48; envolve, geralmente, número

relativamente pequeno de perguntas, porque é sabido que questionários muito

extensos apresentam alta probabilidade de não serem respondidos; proporciona

resultados bastante críticos em relação à objetividade, pois os itens podem ter

significado diferente para cada sujeito pesquisado.

47 As tarefas foram planejadas de acordo com o ensino problêmico proposto por Majmutov (1983).

As tarefas problêmica são tarefas capazes de possibilitar aos aprendentes a compreensão de uma realidade objetiva. Seu principal fundamento filosófico é a contradição. Nesse tipo de tarefa, a realização é participativa (conversação heurística). O orientador do processo conduz à resolução de determinado problema revelando a lógica do mesmo a partir de contradições.

48 No caso dessa pesquisa, os questionários serão preenchidos no caderno de registros, o que pode minimizar esse aspecto e um outro relacionado pelos autores citados, o retorno dos questionários em tempo hábil para a tabulação dos dados.

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Para Nocedo de León et al. (2009), é indispensável estabelecer, tendo em

conta a operacionalização das variáveis em indicadores empíricos, o conteúdo e a

quantidade de perguntas, os tipos, a formulação e o ordenamento dessas. Nessa

perspectiva, é recomendado confeccionar um plano com os aspectos aos quais se

relaciona a busca de informação, com o objetivo de que apareçam todas as

questões necessárias e não se incluam questões dispensáveis. O plano de

questionário para a atividade de diagnóstico foi organizado e pode ser visto no

quadro 5.

Quadro 5 - Plano do questionário diagnóstico

Plano do Questionário

Objetivos Perguntas

1. Caracterizar os professores de Biologia do

IFRN – Campus Natal-central, quanto ao perfil

sócio profissional.

2. Conhecer o entendimento do professor em

relação aos conceitos e conceitos científicos

3. Caracterizar o que é definir conceito científico

para o professor.

4. Conhecer os sentidos dados pelos

professores, a relação entre as habilidades de

Definir e Identificar.

1. a) Código:

b) Idade:

c) Sexo:

d) tempo que leciona:

2. O que é um conceito? O que é um conceito

científico?

3. O que é definir um conceito científico?

4. Qual a relação que se pode estabelecer entre

os procedimentos de definir e o de identificar?

Justificativa

Esse procedimento se constitui como uma das tarefas para diagnosticar o nível de

desenvolvimento da habilidade de identificar. E foi validado por um especialista.

Fonte: Maria da Glória Albino

Nessa pesquisa, esse instrumento permitiu obter dados sobre os

processos de formação da habilidade de identificar, segundo o indicador qualitativo

grau de generalização. Os dados obtidos foram integrados aos do registro de

atividade e a observação, objetivando-se uma visão mais completa e qualitativa do

processo.

O conhecimento do entendimento dos professores quanto a conceito,

conceito científico e a relação entre as habilidades de definir e identificar, são

importantes para a caracterização dos campos semânticos que serão utilizados,

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posteriormente, para o diagnóstico do nível de desenvolvimento da habilidade de

identificar, isso porque, a habilidade de identificar requer em seu sistema

operacional os conhecimentos sobre a estrutura conceitual lógica e a identificação.

As questões foram, em sua maioria, do tipo aberta (as questões fechadas

se destinam à caracterização do grupo) (APÊNDICES A e B). Este tipo de questão

(aberta), segundo Nocedo de León et al. (2009), coadunava, ao tipo de investigação,

pois reside na exploração ou na formulação de assuntos considerados novos, isso

porque a forma em que se buscava a informação não era estandardizada, o que

permitiu a compreensão dos sentidos e significados das categorias empíricas do

trabalho que, por sua vez, resultaram da categorização das respostas, ampliando a

validez das categorias como construtos iniciais. Além disso, as informações obtidas

permitiram a construção de inferências mais confiáveis nas respostas às questões

em estudo.

Segundo Lakatos e Marconi (2003) a questão aberta ou livre (não

limitada) possibilita investigações mais profundas e precisas; entretanto, apresenta

alguns inconvenientes: dificulta a resposta ao próprio informante, que deverá redigi-

la, o processo de tabulação, o tratamento estatístico e a interpretação. A análise

pode se tornar difícil, complexa, cansativa e demorada.

O cuidado ao aplicar e tratar essa técnica, segundo, Martínez González

(2007), deve ser especial para que as respostas realmente reflitam o verdadeiro

comportamento do sujeito ou sua opinião, seu pensamento, seu saber. No caso

dessa pesquisa com professores, refletiu o conhecimento, desses, em relação ao

objeto de estudo (o conhecimento relativo a habilidade de identificar).

5.4.2 A tarefa diagnóstica

A riqueza de informações que se pode extrair e resgatar justifica o seu

uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais. Ela possibilita ao pesquisador

ampliar o entendimento de objetos cuja compreensão necessita de contextualização

histórica e sociocultural.

O registro da tarefa diagnóstica permitiu acompanhar os processos de

reflexão crítica e a produção dos professores, no reorganizar e re-elaborar as ideias,

no corrigir os erros e aprender com eles, no confrontar as respostas às situações-

problema encontradas. Sendo assim, além de ser um modo de registro, foi uma

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estratégia formativa que permitiu coletar as evidências para a produção de um

sistema didático.

Esse material foi essencial à obtenção dos dados relativos aos níveis de

desenvolvimento e da aprendizagem dos professores durante e ao fim do ciclo de

atualização da habilidade de identificar, concebida como um conhecimento

profissional na dimensão do ensinar a ensinar.

A tarefa foi planejada sob a perspectiva da aprendizagem problêmica por

entender que esta possibilita a motivação e aprendizagem autônoma. Segundo

Majmutov (1983), a motivação cognitiva tributa para o desenvolvimento intelectual,

uma vez que desafia a curiosidade (pela apresentação de problemas compatíveis

com os conhecimentos dos aprendentes) e auxilia (por meio de indagações

estimulantes) o gosto pelo raciocínio independente proporcionando meios para o

pensamento lógico (quadro 6).

Quadro 6 - Plano da tarefa diagnóstica

Plano da Tarefa Diagnóstica

CONTEÚDO: Classificação biológica.

OBJETIVO: Conhecer o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar.

ETAPA: Diagnóstico.

ATIVIDADE

Um grupo de pesquisadores faz uma descoberta de um novo animal e precisa identifica-lo. A hipótese

primeira do grupo é que se trata de um inseto. Em relação a essa situação, responda:

a) O que é identificar?

b) Como se deve proceder para identificar se se trata de um inseto ou não?

c) Qual a importância do procedimento de identificar na atividade científica dos biólogos?

d) Qual a importância da identificação na aprendizagem de Biologia no contexto escolar?

e) Na sua opinião, qual a diferença entre identificar e reconhecer?

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como uma das tarefas para diagnosticar o nível de desenvolvimento da

habilidade de identificar. O seu resultado será utilizado para a orientação da proposição do sistema

didático para atualização da habilidade de identificar.

Fonte: Maria da Glória Albino

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190

5.4.3 A observação

As observações em geral têm lugar em um contexto natural e, na maioria

das vezes, não procuram dados quantificáveis que apenas eventualmente são

coletados. Na abordagem Histórico-Cultural assume-se um caráter mais dialético,

buscando uma mediação entre o individual e o social, busca-se a compreensão

construída nos encontros produzidos entre o pesquisado e o pesquisador.

Marconi e Lakatos (2003) definem observação como sendo uma técnica

de coleta de dados para conseguir informações, que utiliza os sentidos na obtenção

de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas

também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. Para registrar as

observações, com o objetivo de analisá-las posteriormente, o pesquisador utiliza

instrumentos de coleta de informação: bloco de notas e canetas, fichas de registro,

câmera fotográfica, gravador, filmadora.

Esse método empírico tem como vantagens, segundo Nocedo de León et

al. (2009), a possibilidade do registro dos fenômenos no momento e lugar em que

ocorrem (de forma imediata e direta), evitando, portanto, possíveis distorções

relacionadas com o “passar do tempo” e com outros fatores de ordem subjetiva.

Além disso, a observação é independente da capacidade (ou disposição) dos

observados a falar de si mesmos. Ela é aplicável a sujeitos de qualquer idade, nível

cultural e intelectual. É bastante usada nas investigações educacionais devido a sua

capacidade de operar em situações naturais.

Gil (2008) destaca que na observação, os fatos são percebidos de forma

direta, sem que haja qualquer tipo de intermediação, sendo considerada uma

vantagem, em comparação aos demais instrumentos.

As limitações do método estão ligadas ao tempo necessário para sua

utilização. Segundo Nocedo de León et al. (2009), a observação demanda o tempo

real em que se desenvolvem os fatos observados. Outra limitação encontrada no

método, para os autores, é que fatores subjetivos, por parte do observador, podem

alterar a objetividade dos dados recolhidos mediante a sua percepção. Isto é, a

observação pode, muitas vezes, apresentar um viés pessoal excessivamente forte

do observador nas suas observações e julgamentos, introduzindo, dessa forma,

erros sistemáticos nos seus dados, com efeitos problemáticos para a pesquisa

gerando interpretações pouco confiáveis.

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191

Para Nocedo de León et al. (2009), a observação pode ser classificada:

a) Segundo o grau de consciência entre o sujeito e o objeto de

observação. Ela pode ser: externa ou interna. Na externa, o sujeito e

objeto de observação não coincidem. O sujeito, externo ao objeto,

analisa, interpreta e valora ou explica a natureza interna do objeto por

meio da observação. Na interna, sujeito e objeto coincidem, e, por isso,

ocorre uma auto-observação.

b) Segundo o grau de conhecimento (por parte do objeto) que está sendo

observado. Ela pode ser: aberta ou oculta. Na aberta, os que são

observados sabem que estão sendo observados. Já na oculta, os

sujeitos desconhecem que estão sendo observados. A última se apoia

em recursos que permitem manter o observador oculto.

c) Segundo o grau de inclusão do investigador na situação estudada, a

observação pode ser: participante ou não participante. Na participante,

o observador se integra como membro do grupo, a observação se

realiza dentro do sistema a observar, o observador intervém nas

atividades do grupo, não é espectador mas ator. Na não participante, o

observador fica fora do sistema que observa, não está incluído em

suas atividades, não participa. É um espectador.

d) Segundo o grau de intervenção do investigador no processo de

observação, ela pode ser: direta ou indireta. Na direta, o investigador

pessoalmente realiza as observações. Na indireta, o investigador utiliza

outras pessoas para a realização da observação.

A observação foi um dos métodos empíricos utilizados para a obtenção

de informações significativas no contexto “real” na atividade diagnóstica. Como

método empírico de pesquisa, ela buscou refletir o fenômeno em estudo tal como ele

era, utilizando como via fundamental a percepção da pesquisadora, que permitiu um

reflexo imediato e direto (lá e no momento) da realidade. O diagnóstico do grau de

desenvolvimento da habilidade de identificar foi percebido de forma planejada com a

intenção de ser descrito e interpretado, isso significa que, a observação Foi

realizada a partir de um roteiro (elaborado partir das categorias – comunicação/

interação sujeito-sujeito, sujeito-objeto; afetividade/ a motivação para realizar a

tarefa; cognição/ a zona de desenvolvimento atual e proximal- o que sabiam e o que

poderiam saber com auxilio) (quadro 7).

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192

Quadro 7 - Plano de observação do diagnóstico

Objetivos

Critérios de Observação

1. Observar a Motivação dos professores

participantes.

Os professores demonstraram interesse em

fazer a tarefa proposta?

Em que momento da realização das tarefas eles

demonstraram maior interesse?

Em que momento da realização das tarefas eles

demonstraram menor interesse?

2. Observar a Comunicação interativa dos

professores participantes.

De que modo ocorre a comunicação interativa

entre a pesquisadora e os participantes da

pesquisa? (os participantes, perguntam, dão

exemplos? Ocorre uma interação efetiva entre

pesquisadora e grupo?)

3. Observar as expressões dos professores

em relação as habilidades e a habilidade

de identificar durante a atividade.

Os professores expressão sua compreesão em

relação as habilidades? E em relação a

habilidade de identificar?

Fonte: Maria da Glória Albino

O método utilizado, portanto, se baseou na percepção planejada do

fenômeno com a intenção de descrevê-lo e interpretá-lo cientificamente. Isso a

configurou como sendo classificada em externa, aberta, participante e direta. O que

implicava, segundo Lüdke e André (1986), a existência de um planejamento

cuidadoso do trabalho e uma preparação rigorosa do observador para que a

observação fosse um instrumento válido e fidedigno. Isso porque, segundo Becker

(1999), a observação deveria responder a particularidades de algumas questões e

apresentar algumas características específicas da pesquisa, como: coletar as

informações de maneira discreta e reservada, a fim de evitar que as respostas

fossem inverídicas; coletar informações que possibilitassem uma predição do

fenômeno e produzisse dados que pudessem ser passíveis de, se necessário,

comparar este com outros casos (quadro 7).

5.4.4 A validação dos instrumentos de coleta de dados

A validação dos instrumentos de pesquisa é um requisito essencial que se

aplica ao delineamento de uma investigação. Em termos gerais, confere relevância e

objetividade aos dados coletados durante a pesquisa. Segundo Laville e Dionne

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193

(1999), a validez de um instrumento de pesquisa diz respeito à qualidade desse

instrumento para favorecer as informações para os quais foi construído. Para

Lakatos e Marconi (2003), verifica até que ponto os instrumentos têm condições de

garantir resultados isentos de erro. Isso é importante, segundo Minayo (2010), para

que os passos da pesquisa se articulem em seu desenvolvimento, impedindo

atividades meramente especulativas ou empiristas.

Nessa pesquisa, cada um dos instrumentos de coleta utilizados

(questionário, observação e registro), no formato do plano correspondente, foi validado

e discutido com investigador reconhecido em relação a abordagem Histórico-Cultural.

Esse procedimento coaduna com a orientação de Marconi e Lakatos (2003), os quais

afirmam que investigadores experientes e capazes são os apropriados a determinar a

validez dos métodos e procedimentos utilizados em uma coleta de dados.

5.4.5 As estratégias de organização e de análise dos dados

Os dados, segundo Nocedo de León et al. (2009) não são coisas

isoladas, os acontecimentos fixos, captados em instantes. Eles se dão em um

contexto fluente de relações: são fenômenos que não se restringem às percepções

sensíveis e aparentes. É preciso ultrapassar sua aparência imediata para descobrir

sua essência. É necessário encontrar o significado manifesto e o que permanece

oculto. Sob esse pressuposto, os dados foram organizados segundo cada tipo de

fonte de coleta e seus possíveis tratamentos. Procurou-se uma

aproximação/distanciamento entre categorias teóricas, categorias de análises e

categorias empíricas, uma vez que, segundo os autores, uma posição

crítica/analítica da atividade de aprendizagem dos professores permite focalizar a

atenção naquilo que os participantes da pesquisa fazem para aprender, e ensinar,

sem prejulgamento baseado em visões normativas. E isso permite a produção de

um sistema didático pautado nas necessidades formativas demonstradas.

A organização dos dados se deu de forma a relacioná-los aos objetivos

específicos da pesquisa.

a) Objetivo: Determinar o nível de desenvolvimento da habilidade de

identificar nos professores.

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194

Esse objetivo foi alcançado por meio do diagnóstico inicial aplicado aos

professores no segundo encontro49.

Considerando os modelos e as categorias teóricas, as respostas às

perguntas do questionário50 foram organizadas em quadros, depois de realizada a

análise do conteúdo; com a redução das frases escritas em palavras palavras-chaves,

que foram categorizadas com base em inferências quanto a seu significado. As

inferências foram realizadas com base nos modelos conceituais presentes nos capítulos

teóricos da pesquisa. O quadro 8, apresenta os modelos conceituais elaborados de

acordo com: Santos (1959), Pozo (1998), Kopnin (1966), Jorba (2000), Lopes (1990)

eTalízina (2000, 2009). A que se ressaltar que não foram utilizadas as respostas quanto

à categoria conceito, uma vez que essa representação se fazia presente em conceito

científico. Em todas essas análises, foram considerados os critérios da exaustividade,

homogeneidade e representatividade.

Quadro 8 - Modelo conceitual das categorias analisadas

Conceito

Construções mentais que identificam um conjunto de objetos.

Representações abstratas que designam um conjunto ou uma

classe de objetos ou seres.

Conceito Científico Representações que derivam de um corpo articulado de

conhecimento de uma área científica.

Definir conceito científico Enunciar o conjunto das características necessárias e suficientes

de determinado objeto.

Relação entre Definir e

Identificar

A identificação é precedida da definição do conceito usado como

referência.

Fonte: Maria da Glória Albino

As respostas da tarefa problêmica foram categorizadas e organizadas de

acordo com as categorias modelo do objeto, modelo da ação, modelo

epistemológico e modelo didático que foram organizadas em uma BOA51 do tipo III,

que tem como característica ser: geral, completa e independente52. Os modelos

podem ser conferidos nos quadros 9 e 1053.

49 No primeiro encontro, os professores foram convidados a participar da pesquisa e iniciou-se a

motivação do grupo para a participação no diagnóstico de forma a criar um ambiente favorável. 50 As respostas da segunda parte do questionário. A primeira parte do questionário foi utilizada para

a caracterização do perfil dos professores. 51 A BOA tipo III foi organizada e incluída na proposta do sistema didático para a atualização da

habilidade de identificar. 52 Segundo Talízina (1988) existem vários tipos de BOA, sua caracterização é dada pelo grau de

generalização, o caráter detalhado e o modo de elaboração. Nesse caso, a base do tipo III tem

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195

A análise das respostas permitiu a inferência das representações que o

grupo de professores tinha em relação à habilidade. Mas, para uma melhor

compreensão, e para dar mais confiabilidade aos resultados encontrados, foram

utilizados os registros das falas dos professores durante a realização do questionário

e da tarefa problêmica.

Quadro 9 - Modelo do objeto e modelo da ação para a habilidade de identificar

Modelo do objeto

(conceito de identificar)

Modelo da ação

(as operações – sistema operacional)

Identificar é determinar o

pertencimento, ou não, de

um objeto a uma

determinada classe de

objetos com base no

conceito dessa classe.

1. Determinar ou lembrar o conceito base da identificação.

* Determinar se é um conceito lógico:

Se sim – continua. Se não – para

* Explicitar a estrutura lógica do conceito por meio de suas

características necessárias e suficientes.

2. Atribuir se o objeto se relaciona com o conceito definido.

* Estabelecer a pertencimento, ou não, do objeto a classe

delimitada pelo conceito a partir da regra lógica.

resposta positiva - quando possuir todas as características

necessárias e suficientes da definição.

resposta negativa - quando não possuir pelo menos uma das

características.

resposta indeterminada – quando não for possível determinar a

presença de, pelo menos, uma característica.

Fonte: Maria da Glória Albino

Quadro 10 - Modelos epistemológico e didático para a habilidade de identificar

Modelo Epistemológico

(na ciência)

Modelo Didático

(no ensino de ciências)

Nas ciências naturais, identificar é um

procedimento lógico realizado por meio um

sistema de ações cognitivas que se desenvolve

na atividade de descoberta e sistematização de

novos conhecimentos.

No ensino de ciências, identificar é parte do

conteúdo de ensino que permite a aplicação do

conhecimento a situações novas, assim como a

busca de novas vias de solução para um

problema.

Fonte: Maria da Glória Albino As informações contidas nos registros das observações (relativas aos

roteiros e as falas dos professores) foram organizadas segundo critérios definidos,

em correspondência com os objetivos, para fazerem parte da organização dos

caráter geral (orientada à essência), é completa quanto ao detalhamento e independente quanto ao modo de elaboração ou obtenção.

53 Os modelos: do objeto, das ações , epistemológico e didático foram elaborados de acordo com os autores utilizados como referência no estudo das habilidades na perspectiva Histórico-Cultural.

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campos semânticos, ou seja, do conjunto de significados dados pelos professores às

categorias relacionadas à habilidade de identificar.

Os campos semânticos foram organizados, a partir de respostas do

questionário quanto a conceito científico e a definição de conceito científico (Campo

semântico I), a relação entre as habilidades de definir e identificar (campo semântico

II) e os modelos do objeto e da ação da habilidade de identificar (campo

semânticoIII). As representações dos campos semânticos podem ser vistas nas

figuras 7, 8 e 9:

Figura 7 - Campo semântico I: realizado a partir de respostas do questionário

Fonte: Maria da Glória Albino

Figura 8 - Campo semântico II: realizado a partir de uma resposta do questionário

Fonte: Maria da Glória Albino

Campo semântico I

Modelo do objeto (conceito científico)

Modelo do objeto (definir conceito

científico)

Construído a partir da análise da questão do questionário.

(O que é conceito científico?)

Construído a partir da análise da questão do questionário. (O que é definir um conceito

científico?)

Campo semântico II

Relação entre as habilidades de

definir e identificar

Construído a partir da análise das respostas a uma pergunta do questionário. (Qual a relação que se pode estabelecer entre os procedimentos de definir e o de identificar?)

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197

Figura 9 - Campo semântico III: realizado a partir da observação e da tarefa

problêmica

Fonte: Maria da Glória Albino

A triangulação dos campos semânticos possibilitou, por inferência, a

construção da representação que os professores possuíam em relação à habilidade

de identificar.

Com base na representação foi realizada a classificação do nível de

desenvolvimento, segundo o indicador qualitativo de generalização, para cada uma

das categorias pré-definidas. Ao final do processo, pôde-se então definir, com bases

nos resultados, o nível de desenvolvimento da habilidade.

O quadro 11 explicita o modelo utilizado para a categorização dos níveis

de desenvolvimento da habilidade de identificar. O critério utilizado foi: o domínio do

conceito, que inclui a realização da sequência de ações de forma independente e a

generalização do procedimento.

Quadro 11 - Categorização dos níveis de desenvolvimento da habilidade

Níveis de desenvolvimento para avaliar a habilidade de IDENTIFICAR

Alto

Domina o modelo do conceito da habilidade, realiza de forma independente a sequência

de ações que integram a habilidade e é capaz de generalizar sua utilização em outras

situações.

Médio Domina o modelo do conceito da habilidade, mas comete erros na sequência de ações

que integram a habilidade ou é incapaz de generalizar sua utilização em outras situações.

Baixo Não domina o modelo do conceito da habilidade, comete erros na sequência de ações

que integram a habilidade e é incapaz de generalizar sua utilização em outras situações.

Fonte: Maria da Glória Albino

Campo semântico III

Modelo do objeto (identificar)

Modelo da ação (sistema operacional

para identificar)

Construído a partir da análise das respostas da pergunta (o que é identificar?) e da observação realizada durante a atividade de diagnóstico.

Construído a partir da análise das respostas da pergunta (Como se deve proceder para identificar se se trata de um inseto ou não?) e da observação no diagnóstico.

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Com base no resultado encontrado no diagnóstico, foram planejadas as

atividades do sistema didático para a atualização da habilidade de identificar.

b) Objetivo: Elaborar um Sistema Didático alicerçado na P. Ya. Galperin,

para a atualização da habilidade de identificar.

A elaboração do sistema didático para a atualização da habilidade geral

de identificar, se realizou por meio da conjunção dos elementos: objetivo, conteúdo e

metodologia, que se encontram em completa interação e que possuem uma lógica

interna característica, que se subordina às regularidades do todo para resolver uma

tarefa de estudo que constitui a sequência de ações, através das quais se pode

alcançar o objetivo do sistema, nesse caso a atualização da habilidade de identificar.

5.5 Estruturação do sistema didático

O sistema didático pode ser entendido como a objetivação do

planejamento de uma sequência de tarefas que inter-relaciona as características do

conteúdo biológico, às necessidades dos participantes da pesquisa e às condições

materiais existentes. Ele constitui uma forma de organização do ensino na qual é

estabelecido o uso de determinados meios e metodologia que provêm os oportunos

sistemas de: informação, motivação e orientação; fazendo a relação interativa entre

pesquisadora e pesquisados. Sendo um ato didático, pode ser considerado como

uma interação comunicativa entre os participantes, que se põe em manifesto.

Segundo González Maura et al. (2000), na organização da atividade que se realiza

com outros. Nesse ato didático, ao produzir-se a influencia mútua, se produzem

novas intenções conjuntas para a atividade, cada pessoa faz seu aporte, são

intercambiados conhecimentos, ações, hábitos, valores, etc.

O sistema didático fundamentado na proposição da didática marxista

(Histórico-Cultural) da transformação da atividade externa (material) em mental

(psíquica), a ser realizado conforme o sistema de características qualitativas das

ações definidas na teoria de Galperin54, tem como objetivo a atualização da

habilidade de identificar em um grupo de professores de Biologia do Ensino Médio.

A planificação desse sistema considera os seguintes princípios didáticos

aludidos por Núñez (2009), expostos por Núñez e Ramalho (2012) e atualizados de

acordo com a especificidade da atividade de atualização da habilidade de identificar:

54 Teoria de assimilação por etapas das ações mentais e dos conceitos.

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199

a) A concepção sistêmica das categorias didáticas: objetivos, conteúdos,

métodos, meios e avaliação, que se correlacionam e formam um

sistema complexo e em desenvolvimento;

b) A atualização de habilidades gerais como resultado de uma

organização sistêmica dos conteúdos e da Base Orientadora da ação

(BOA) tipo III;

c) A unidade entre os conceitos, as habilidades e os valores/atitudes,

como expressão de um ensino que educa e contribui com o

desenvolvimento da personalidade integral;

d) A direção científica do processo de ensino, que delimita: o objeto de

direção, as etapas de assimilação e o produto da assimilação;

e) Um sistema de tarefas como o núcleo central da organização do

sistema didático.

f) A sistematização de tarefas, estruturadas sobre a base de um aumento

gradual da independência.

A estruturação do sistema didático proposto é expressa na figura 10.

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200

Figura 10 - Planificação do sistema didático

Sistema Didático para atualização da habilidade de Identificar

ORIENTAM DETERMINA EXIGE

POSSIBILITA

Fonte: Maria da Glória Albino

*motivação deve ser mantida durante todo o processo

PRESSUPOSTOS

DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS

ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS

ORGANIZAÇÃO DAS TAREFAS

SEGUNDO A TEORIA DE GALPERIN

MOTIVAÇÃO*

ESTABELECIMENTO DA BOA

DIAGNÓSTICO INCIAL

MATERIAL / MATERIALIZADA

LINGUAGEM EXTERNA

DIAGNÓSTICO FINAL

MENTAL

C

CON

TRO

LE

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201

A elaboração da proposta levou em consideração o ponto de vista

didático do cumprimento de leis, princípios, funções, as relações didáticas no

processo de ensino e os problemas fundamentais apresentados pela didática

apoiada nos pressupostos da psicologia soviética55. Segundo Banasco Almentero

et al. (2013), são eles: Como organizar as atividades? Como estimular e motivar?

Como dirigir o processo de aprendizagem? Como organizar um planejamento que

seja eficiente? Como orientar as atividades? Como diagnosticar e retificar a

aprendizagem?

Diante disso, a proposta de atualização da habilidade teve as

atividades organizadas de modo que existisse: Preparação para a realização,

orientação em relação ao objeto, realização da atividade, consolidação da

atividade e controle.

5.5.1 Definição dos pressupostos para a planificação do sistema didático

Os pressupostos teóricos metodológicos da teoria de assimilação por

etapas das ações mentais e dos conceitos de Galperin, advindos da teoria

histórico-cultural de Vigotsky e da teoria da atividade de Leontiev, estruturaram o

sistema didático, assim como todo o trabalho. Segundo Núñez (2009), toma-se

como ponto de partida uma concepção de ensino que coloca no centro da

atenção o processo de assimilação daquele que aprende como elemento central

da relação que se produz entre o professor e o aluno. Para o autor, isso supõe

uma nova conceitualização da aprendizagem, de seu caráter ativo e

transformador da realidade que permite a assimilação em dois planos: no plano

concreto e na sua forma de expressão mental. Nesse caso, a

atualização/formação/ desenvolvimento de habilidades é um processo de

internalização da atividade externa.

Essa posição teórica concebe o sistema didático como uma atividade

social, de produção, mediante a qual aquele que participa se apropria de uma

experiência histórico-cultural. Nessa perspectiva, o sistema didático para a

atualização da habilidade de identificar foi planejado tendo como pressupostos:

55 Psicologia soviética – a psicologia cujos pressupostos possuem fundamentos marxistas. É assim

denominada porque, a então URSS incluía vários países e, seus estudiosos não eram apenas os russos. Vigotski, por exemplo era bielo-russo.

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202

a) A função protagonista daquele que aprende.

b) A integração do cognitivo com o afetivo, do instrutivo com o

educativo, como requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais.

c) A comunicação como elemento indispensável para a ocorrência do

intercâmbio de conhecimentos e experiências.

d) A habilidade de identificar como um tipo específico de atividade, um

conhecimento necessário para ensinar Biologia.

e) A atualização da habilidade de identificar fundamentada na Teoria de

Galperin é um processo que segue determinadas etapas que vão do

plano material externo a um plano mental, como consequência da

internalização da orientação.

5.5.2 Definição dos objetivos

Os objetivos do sistema didático se relacionavam à atualização da

habilidade de identificar, orientados à internalização dessa habilidade geral,

concebida como conteúdo do conhecimento profissional dos professores de

Biologia. E levava em consideração a proposição de que a atualização de

habilidades gerais possibilita a construção de estruturas cognitivas que tributam

para a compreensão e à assimilação de conhecimentos, em qualquer conteúdo

de instrução e, desta forma, contribui ao desenvolvimento profissional na

docência da disciplina de Biologia.

Assim sendo, para que os professores possam alcançar o nível de

domínio consciente das ações para identificar de forma generalizada foi

necessária a realização de um planejamento cuja efetivação tenha como

resultado não apenas a atualização da habilidade de identificar, compreendida,

aqui, como parte do conteúdo relativo ao conhecimento profissional para ensinar

Biologia, mas também o desenvolvimento de hábitos e valorações relacionadas a

esse saber, assim como componentes culturais das ciências e da didática que,

em conjunto, possibilitam a formação e desenvolvimento de conceitos

relacionados à profissionalização dos professores de Biologia.

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203

5.5.3 Definição do Indicador qualitativo

Para formar habilidades é preciso a assimilação de ações mentais

adequadas. Núñez (2009) expressa que elencar indicadores qualitativos foi o

mérito de Galperin ao criar a Teoria da Assimilação de Ações Mentais por Etapas.

Fariñas León (1999) os define como um dos pilares do edifício teórico de

Galperin. Isto porque, segundo Núñez (2009), eles funcionam como um

parâmetro para caracterizar a qualidade das habilidades formadas. Quando um

aprendente alcança a qualidade de assimilação pretendida, pode manejar o

conhecimento adquirido para resolver problemas apresentados em sua vida

cotidiana de maneira crítica e reflexiva, indicando uma transformação de sua

conduta.

No sistema didático, aqui descrito, o parâmetro requerido foi o alto

grau de generalização. Esse caráter indica quão amplamente pode-se utilizar

uma ação nos limites de sua aplicação. Isso significa que é possível aplicar, com

êxito, esse conhecimento, nas situações que se apresentam dentro do limite de

aplicação, ou seja, sendo o conceito referência definido de forma lógica e a

situação, objeto ou fenômeno ainda não conhecido. Permite também identificar as

situações que estão fora desse limite, as chamadas “situações novas”, ainda não

classificadas.

5.5.4 Organização do conteúdo

A organização do conteúdo da atividade de estudo foi vinculada aos

objetivos propostos nesse trabalho e se subsidiou na teoria da formação por

etapas das ações mentais de P. Ya. Galperin. Segundo Galperin (1976) a

aprendizagem de conceitos e habilidades, vincula-se a ações mentais

adequadas.

No caso presente, não foi necessário assumir o enfoque estrutural-

funcional, onde se destacam as invariantes do processo, o núcleo essencial do

conteúdo, a estrutura funcional invariante conceitual, uma vez que, por se tratar

de um procedimento lógico, a tradição lógica determinou a invariante do

procedimento de identificar.

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204

Em se tratando dos conteúdos disciplinares da Biologia, segundo

Salcedo Estrada et al. (2009), seu ensino pode ser organizado, de modo que

possa formar/desenvolver habilidades. Deste modo, conteúdos específicos

podem ser usados como meios para a formação de habilidades que atendam ao

requerimento básico dessa disciplina. Essas habilidades, reunidas de acordo com

o campo disciplinar, podem ser organizadas em cinco grupos, são eles:

a) Habilidades práticas relacionadas à manipulação de instrumentos e

utensílios, assim como o emprego de técnicas computadorizadas de

importância no trabalho biológico.

b) Habilidades relacionadas à observação de objetos e fenômenos

biológicos.

c) Habilidades relacionadas à classificação de organismos, atendendo

a suas características taxonômicas básicas.

d) Habilidades relacionadas à análise e a descrição de processos

biológicos importantes.

e) Habilidades relacionadas à aplicação de conhecimentos biológicos

(teorias, leis, princípios, etc).

No contexto apresentado, a habilidade de identificar incluía-se entre

aquelas relacionadas ao grupo 2 (identificar diferentes tipos de células ao

microscópio, identificar as principais etapas do ciclo de vida de organismos, etc.);

e ao grupo 3 (identificar organismos que fazem parte de determinado reino a

partir de suas características necessárias e suficientes) para que seja possível a

classificação.

5.5.5 Organização do sistema de tarefas

As tarefas foram planejadas baseadas nos postulados teóricos do

enfoque Histórico-Cultural, de Vigotsky e seus seguidores, o processo de

assimilação pela Teoria da Atividade de Leontiev, com ênfase metodológica na

Teoria da assimilação por etapas de Galperin e Talízina. Essas bases sustentam

que a atividade de atualização deve ter tarefas que levem em consideração: o

vínculo entre a atividade e a assimilação de conhecimentos e a realização das

tarefas de forma participativa como estratégia para o ensino. Para Núñez,

Ramalho e Albino (2013), as tarefas do sistema didático devem possibilitar

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205

trabalhar segundo a relação entre o individual e o grupo, ou seja, atender às

diversas ZDP que existem no processo de aprendizagem e segundo as etapas de

assimilação de Galperin, que confere, por sua vez, uma dinâmica ao ensino que o

torna flexível e autossuficiente, à medida que os estudantes resolvem as tarefas e

são criadas novas situações de interesse/aprendizagem, como uma espiral

dialética.

Delimitando o sistema de tarefas proposto no presente trabalho, a

atualização da habilidade de identificar foi planejada em três momentos, seguindo

a orientação dada por Núñez e Ramalho (2012). Sendo o percurso descrito e

organizado em: diagnóstico inicial do grau de desenvolvimento da habilidade, a

atualização da habilidade e o controle final.

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206

6 O DIAGNÓSTICO E SUA ANÁLISE

Este capítulo apresenta os resultados encontrados no processo de

diagnóstico Inicial. A realização do diagnóstico proporcionou um registro, uma

caracterização do nível de desenvolvimento da habilidade de identificar nos

professores de Biologia do IFRN, no Campus Natal-central. Essa caracterização do

conhecimento constitui um dos pilares que sustentam a formação sob a perspectiva

histórico-cultural por ser um componente essencial da direção científica da

educação. É um processo que permite chegar a um conhecimento mais preciso

daquele que aprende e, por isso, orienta as atividades de ensino aprendizagem.

O valor dos resultados e da análise desses, que leva em conta o conceito

de zona de desenvolvimento próximo de Vigotsky (2005), se radica na elaboração

de um sistema didático construído, sob-bases científicas, na perspectiva da teoria da

assimilação por etapas de Galperin, e tem como proposição fazer com que os

professores alcancem, de forma consciente e participativa, a atualização de uma

habilidade geral, a partir de um conjunto de tarefas problêmica que devem ser

realizadas respeitando a necessidade de interação do aprendiz com outros sujeitos

e com os diversos meios na condição sócio histórica existente.

Aqui, serão descritos e analisados sob a perspectiva da análise de

conteúdo de Freitas e Janissek (2000) e Bardin (2011), os instrumentos aplicados

nos encontros56 com os professores, no Campus Natal-Central. Neles, foram

realizados a motivação e o diagnóstico do nível de desenvolvimento da habilidade

de identificar. O propósito da análise de conteúdo, segundo Krippendorf (1990), é

prover conhecimento, novos insights, a partir dos dados obtidos.

Os encontros foram concebidos como atividades educativas, e assim, a

comunicação interativa foi incentivada para que o diagnóstico fosse via não somente

para medir o nível de desenvolvimento da habilidade, mas para a partilha e

construção de conhecimentos, valores, condutas e sentimentos, que sempre se

manifestam nesses contextos.

56 Os encontros foram realizados no mês de novembro em duas quartas-feiras consecutivas (4 e 11

de novembro de 2015).

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207

6.1 Encontro para familiarização e motivação dos professores

Antes do diagnóstico, foi realizado um encontro que teve como objetivo

convidar os professores para participarem da atividade e motiva-los em relação à

proposta.

O encontro aconteceu de maneira informal e amigável. Nele, foi exposto

um pouco sobre o trabalho de pesquisa, tendo a preocupação de não transmitir

minúcias que poderiam deixar os professores desconfortáveis ou apreensivos, mas

com intenção de fomentar a curiosidade sobre o que seria tratado. Nesse sentido,

não foram abordados conceitos ou proposições sobre o objeto de estudo.

Primeiramente, foram entregues os documentos de autorização (termo de

consentimento, segundo o Apêndice C). Ficou acertado que as atividades do

diagnóstico (questionário e tarefa problêmica – Apêndices A e B) seriam observadas

a partir de um roteiro que apresentava como critérios de observação: o interesse em

realizar as tarefas, os questionamentos, esclarecimentos de dúvidas e a interação

comunicativa dentro do grupo. A observação objetivaria a compreensão dos dados

obtidos e complementação do contexto na análise dos dados.

Com a intenção de motivar os professores, foi iniciada uma discussão

sobre epistemologia da ciência e sobre os procedimentos (APÊNDICE D). A

discussão iniciou-se com o questionamento sobre a dimensão epistemológica dos

procedimentos lógicos. Os professores expressaram suas impressões quanto à

epistemologia e dois professores demonstraram dúvidas quanto ao significado da

palavra.

Para falar a verdade, estou em dúvida. Não sei dizer o que é epistemologia... (P4).

Acho que também estou meio perdido quando a palavra... (P2).

Epistemologia.... É relativo a natureza do conhecimento, né?! (P1).

Sendo relativo a natureza do conhecimento, as descobertas científicas, estão relacionadas.... Não tinha pensado nisso... (P3).

A essa discussão, seguiu-se, outra, relativa à importância dos

procedimentos lógicos no ensino de Biologia. Nesse momento, as respostas foram

mais firmes e relacionadas à falta de uma sistematização desse conhecimento em

toda a formação. Alguns expressaram nunca terem pensado sobre isso ou visto algo

semelhante durante os anos de formação inicial e nas formações posteriores. Sendo

um tema relevante à formação, a discussão se prolongou, sendo sugerido, por um

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dos professores, à realização de leituras que abordassem procedimentos

importantes, para a produção científica e o ensino de Ciências, no intuito de

aprofundar os conhecimentos sobre o assunto e assim poder mudar algo em sua

forma de ensinar.

Bom, não sei vocês, mas eu fui levado a refletir sobre muitas coisas... (quais?57) De que forma posso abordar melhor a natureza da Ciência e como isso pode me ajudar a motivar alunos de cursos como informática... Ou outros cursos técnicos onde os alunos não são muito interessados... Ou em cursos como no de controle ambiental, por exemplo, onde os procedimentos são muito importantes... (P3).

Durante a discussão foi possível perceber que, apesar de não ser esse o

objetivo do encontro, os professores começaram a compartilhar, utilizar conceitos

relativos aos procedimentos, compreendendo a importância desses na produção do

conhecimento científico e no ensino de Biologia.

Acho que é importante porque auxilia na aprendizagem... Não sei explicar como... Acho que é o jeito que os pesquisadores fazem... (P6).

Penso que depois dessa discussão, vou entender melhor o que os alunos não entendem. Gente, como é que nunca pensei sobre os procedimentos importantes para a Ciência?...Para a produção da Ciência, quero dizer (P7).

Apenas um dos professores demonstrou certa resistência em relação às

atividades do diagnóstico. Essa resistência pode ser percebida nos fragmentos:

É importante essa discussão, mas, ao mesmo tempo, não sei até que ponto isso pode mudar a maneira como dou aula... Considero-me um ótimo professor... E sou reconhecido dessa forma por meus alunos (P1).

Essa indisposição pode ser entendida como uma manifesta falta do

motivo (o determinante interno psíquico que mobiliza o sujeito em uma determinada

direção). O motivo, segundo González Serra (2012), constitui-se como o reflexo

cognoscitivo da possibilidade de satisfazer uma necessidade. O autor explicita a

existência de dois tipos de motivações não reativas nos indivíduos adultos, a

adaptativa e a autônoma. A motivação autônoma58 se relaciona ao motivo específico

e superior, que segundo ele, inclui as intenções, os projetos, as convicções e os

sentimentos que regulam a atividade de maneira relativamente independente das

influências externas. Para o autor, a motivação de um homem normal adulto tem

como componente específico e essencial a motivação autônoma, a elaboração

57 Pergunta da pesquisadora – você foi levado a refletir sobre quais tipos de coisas?! 58 Essa perspectiva coaduna com a que é defendida pela teoria da auto-determinação. Segundo

Jesus et al (2009), existem dois tipos básicos de motivação: a intrínseca (realizar algo porque se apresenta como inerentemente interessante, que satifaz) e extrínseca (efetuar algo tendo subjacente o resultado inerente, mas independente, exógeno). Nessa perspectiva, a regulação intrínseca, pode ser diferenciada em duas: a auto-determinada (ações sancionadas pelo próprio “self” – força intrapsíquica) e controlada (processo sancionado pela submissão ou conformidade à uma situação).

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pessoal de projetos dirigidos ao futuro. Mas pode acontecer que em algumas

situações predomine a motivação adaptativa. O equilíbrio entre o autônomo e o

adaptativo, depende tanto de fatores individuais, grupais, como dos sócio-históricos.

Nessa perspectiva, pode-se inferir que para esse professor (P1), o conhecimento

sobre procedimentos não se configura como uma necessidade cognoscitiva que

deve ser satisfeita. E assim, os estímulos externos provocados pela discussão

podem até ser suficientes para uma motivação reativa, situacional, momentânea,

que depende das circunstâncias externas, mas que não se dirige para a motivação

autônoma (que coincide com o que a psicologia humanista tem chamado

autorrealização59).

Isso significa que apesar do professor (P1) expressar que acha

importante discutir sobre a epistemologia da Ciência e os procedimentos, não

considera a necessidade desse conhecimento para ensinar Biologia. Ele ratifica sua

percepção dizendo que os alunos o reconhecem como um bom professor. Desta

forma, não ocorre à ativação da necessidade interna, consequentemente, não há

contradição entre essa necessidade e o reflexo cognoscitivo do mundo, que formam

a unidade do processo motivacional. E isso pode explicar sua pouca disposição para

a realização do diagnóstico, pois a motivação se encontra em unidade com a

atividade externa. A motivação determina a atividade externa e o reflexo progressivo

dessa atividade consolida, desenvolve e transforma o processo motivacional.

Por motivação se entende a complexa integração de processos psíquicos

que efetua a regulação indutora do comportamento, pois determina a direção (frente

ao objeto-meta que é buscado ou evitado), a intensidade e o sentido (de

aproximação ou afastamento) do comportamento (GONZÁLEZ SERRA, 2012).

O motivo, segundo Leontiev (1978), é o elemento orientador da atividade

e surge quando o sujeito, ao buscar o objeto que pode satisfazer sua necessidade,

transforma esse objeto em objetivo de seu agir (o motivo para a realização de uma

atividade).

Para Talízina (1986), são os motivos que determinam o sentido que tem a

atividade para a pessoa que a realiza. Por isso, o caráter dos motivos de

59 Autorrealização – Esse conceito se relaciona com o eudemonismo da ética aristotélica, segundo o

qual o fim das ações humanas (individuais e coletivas) consiste na busca da felicidade por meio do bem. Mas há que lembrar de que segundo a perspectiva Histórico-Cultural, a autorrealização é o produto da assimilação do meio social pelo sujeito, que surge e muda sobre a influência externa e se encontra historicamente determinada.

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aprendizagem é decisivo quando se fala das vias para elevar a efetividade de uma

atividade docente. Isso significa que no caso dos procedimentos lógicos, conteúdo

compreendido como parte importante dos saberes profissionais, torna-se uma

necessidade. E assim, o objeto meta da atividade proposta, o diagnóstico do nível

de desenvolvimento da habilidade de identificar, torna-se o objeto de satisfação da

necessidade cognoscitiva.

Os fragmentos das falas dos professores comprovam essa necessidade

de satisfação quando expressam ansiedade por realizar o diagnóstico.

Vai dar tempo de começarmos hoje? Estou ansiosa (P6).

Eita, gostei da ideia... Os procedimentos são importantes em nosso trabalho... (P4).

O professor (P5) se mostrou empolgado na discussão e demonstrou

ansiedade em começar a atividade, pois lhe interessava muito o conteúdo abordado

que, para ele, com certeza faz parte do que o professor deve saber para ensinar.

Muito boa a sua proposta Glória... Acho que pode nos ajudar nas aulas... Ter consciência das nossas necessidades é muito bom. Também estou ansioso (P5).

Já estou pensando como vou falar sobre isso com meus alunos... Acho que de repente isso pode nos ajudar em relação aos conteúdos tão abstratos da Biologia... (P7).

Esses fragmentos levam à aferição de que embora a motivação seja

eminentemente afetiva, pois se relaciona à regulação indutora60, é constituída pela

unidade de contradição afetivo/cognitivo. No processo motivacional, provocado pela

discussão relativa à epistemologia da ciência e aos procedimentos lógicos foi

estabelecida a relação entre as emoções, os sentimentos (que expressaram as

necessidades em relação aos procedimentos enquanto conhecimento necessário

para ensinar Biologia), e o reflexo psíquico da realidade (que foi produzido pelos

processos cognoscitivos), que se relacionaram ao desconhecimento da estrutura da

ação e do modelo conceitual.

Essa contradição se relaciona à profissionalidade, uma vez que os

conceitos e habilidades discutidos são considerados saberes próprios de sua

profissão. E dessa forma, a aparente fragilidade em relação aos procedimentos

60 Segundo Rubinstein (1963), são duas as formas em que se manifestam a função reguladora do

reflexo da realidade por parte do indivíduo: em forma de regulação indutora e em forma de regulação executora. A regulação indutora induz a ação e determina o sentido que essa toma. A regulação executora determina que a ação se cumpra de acordo com as condições nas quais ela se desenvolve.

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lógicos e à epistemologia da ciência, podem configurar uma necessidade formativa

em relação ao conhecimento disciplinar para ensinar Biologia.

6.2 O diagnóstico

O diagnóstico, segundo a perspectiva Histórico-Cultural, é um processo

em que se analisa a situação de aprendentes com a intenção de proporcionar ao

condutor deste, no evento aqui descrito, a pesquisadora, orientações e instrumentos

que permitam o planejamento de uma atividade educativa.

No presente caso, o diagnóstico teve como presunção responder ao

primeiro objetivo específico deste trabalho: “diagnosticar o nível de desenvolvimento

da habilidade de identificar em professores de Biologia”. O conhecimento do nível de

desenvolvimento da habilidade se configurava como essencial para a proposição de

um sistema didático para a atualização sob as bases da Teoria da assimilação por

etapas de Galperin.

Para tanto, a pesquisadora apresentou as tarefas propostas para o

diagnóstico e pediu que os professores as respondessem. Nesse momento,

esclareceu aos professores que podiam falar entre sí durante a realização das

tarefas, mas que procurassem ficar concentrados na atividade, restringindo a

interação comunicativa aos conteúdos das tarefas ou que se relacionem à

compreensão dessas.

As respostas foram categorizadas e analisadas de acordo com a análise

de questões abertas segundo Freitas e Janissek (2000). No caso do presente

trabalho, a análise é realizada com categorias predefinidas, uma vez que o objetivo

do diagnóstico é determinar o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar.

Desta forma, o que se busca com a análise das questões é verificar a hipótese de

que existe uma fragilidade em relação aos procedimentos lógicos relacionados aos

conceitos, o que foi abordado na problematização e serviu como base para justificar

a importância da atualização dessa habilidade com professores de Biologia.

As etapas da análise realizada seguiram a estrutura mostrada na figura

11.

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Figura 11 - Etapas da Análise de conteúdo realizada nas questões respondidas

pelos professores durante o diagnóstico

Fonte: Freitas e Janissek (2000, p. 46)

A atividade de diagnóstico compunha um questionário e uma tarefa do

tipo problêmica. O Plano do questionário e da tarefa61 são apresentados nos

quadros 12 e 15 com o intuito de facilitar ao leitor o entendimento do processo que

está sendo descrito. O questionário (que continha duas partes, uma que se

relacionava ao perfil sócio profissional dos professores e a outra, aos conhecimentos

dos professores sobre as categorias, conceito, conceito científico, definição de

conceito científico e a relação entre as habilidades de definir e identificar), uma

tarefa problêmica (que relacionava a habilidade de identificar a descoberta de um

novo “possível” inseto) e a observação (que tinha como objetivo obter as falas dos

professores, a motivação e comunicação interativa durante a atividade) . Cada um

desses instrumentos e os dados obtidos, juntamente com a análise desses, serão

apresentados nos próximos itens.

6.2.1 Questionário

O questionário foi utilizado como instrumento de coleta para o diagnóstico

por permitir, não somente, uma caracterização dos professores, mas também do seu

conhecimento sobre os conceitos e o procedimento de definir, com a menor

influência, possível, da pesquisadora (quadro 12).

61 Osplanos já foram apresentados na metodologia.

DEFINIÇÃO DO UNIVERSO

CATEGORIZAÇÃO DO UNIVERSO ESTUDADO

ESCOLHA DAS UNIDADES DE ANÁLISE

QUANTIFICAÇÃO

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Quadro 12 - Plano do questionário para a atividade diagnóstica

Plano do Questionário

Objetivos Perguntas

PARTE 1 Caracterizar o perfil sócio profissional dos professores de Biologia do IFRN – Campus Natal-central.

1. a) Código: b) Idade: c) Sexo: d) tempo que leciona e) formação acadêmica

PARTE 2 2. Conhecer o entendimento do professor em

relação aos conceitos e conceitos científicos 3. Caracterizar o que é definir conceito científico

para o professor. 4. Conhecer, os sentidos dados pelos

professores a relação entre as habilidades de Definir e Identificar.

2. O que é um conceito? O que é um conceito

científico? 3. O que é definir um conceito científico? 4. Qual a relação que se pode estabelecer

entre os procedimentos de definir e o de identificar?

Justificativa O seu resultado será utilizado para a proposição do sistema didático com base no conceito de zona de desenvolvimento próximo de Vigotsky (2005)

Fonte: Maria da Glória Albino

- O perfil sócio profissional dos professores

O objetivo determinado para essa parte do instrumento, foi o de coletar

informações para a caracterização do perfil sócio profissional dos professores de

Biologia do Campus Natal-Central do IFRN62.

O IFRN é uma instituição de ensino público e gratuito que, de acordo com

as necessidades e arranjos produtivos sociais e culturais dos locais onde se

encontra o Campus, oferta cursos técnicos de nível médio, ensino médio integrado e

cursos de graduação e pós-graduação, proporcionando a verticalização do ensino. A

atuação pedagógica está voltada para a plena formação do cidadão-profissional,

perpassando pela articulação do ensino-pesquisa-extensão.

Esse perfil institucional favorece à realização de práticas formativas e à

participação dos profissionais docentes em estudos relacionados ao ensino e à

pesquisa.

62 A Instituição, antes Centro Federal de Educação Tecnológica, adquiriu a configuração de

Instituição nos termos da Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008. De acordo com o estabelecido oficialmente, os institutos federais são instituições, pluricurriculares e multicampus, de educação superior, básica e profissional.

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Os resultados encontrados, a partir do questionário, quanto ao perfil dos

professores de Biologia podem ser vistos no quadro 13.

Quadro 13 - Perfil Sócio Profissional dos Professores

CÓDIGO

(professor) IDADE SEXO

TEMPO

QUE

LECIONA

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Graduação; especialização; mestrado ou em

processo de realização; doutorado ou em

processo de realização.

P1 39 M 15 Doutorado em Biologia

P2 59 F 33 Especialização em Biologia

P3 51 M 22 Mestrado em Ensino de Ciências

P4 48 F 20 Em processo de realização de Mestrado em

Educação

P5 38 M 18 Mestrado em Biologia

P6 41 F 20 Em processo de realização de Mestrado em

Ensino de Ciências

P7 44 F 15 Doutorado em Biologia

Fonte: Maria da Glória Albino

Os sete (7) professores participantes da pesquisa (100% dos professores

do Campus Natal-Central) tem regime de dedicação exclusiva no IFRN. Esse

contexto permite inferir que esses docentes possuem um perfil condizente com o

dos professores brasileiros da rede Federal de Educação. Segundo a Pesquisa

Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS)63, os professores da rede

federal apresentam média de idade superior a encontrada nas redes municipais,

estaduais e privadas (37 anos), o que se confirma em nossa pesquisa, cuja média

foi de 46 anos. Além disso, os professores brasileiros têm em média 14 anos de

experiência, enquanto os exclusivos da rede federal costumam ter mais experiência

docente (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS

ANÍSIO TEIXEIRA, 2014). Esse resultado também foi confirmado, tendo os

professores 20,4 anos de média de experiência docente.

O Perfil do grupo relativo ao gênero é de 57% masculino, o que o

diferencia da média nacional no ensino básico no Brasil que é de 71% feminino.

Quanto à formação inicial, todos apresentam licenciatura em Biologia.

Sendo assim, em teoria, receberam formação acerca do conteúdo de todas as

63 TALIS - realizada pela OCDE, que realiza também o PISA. No caso da TALIS, os dados se

relacionam com os professores e suas condições de trabalho. Em âmbito nacional, o estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

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disciplinas da área que ensinam. Essa informação difere do resultado do restante

dos professores do Rio Grande do Norte que, segundo o anuário da educação 2015,

somente 40% recebeu formação adequada (CURS; MONTEIRO, 2015).100% dos

professores do grupo possuem pós-graduação, sendo essas em sua maioria (57%)

em Biologia (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS

EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2014). Esse número também se diferencia

bastante do encontrado nos professores do Rio Grande do Norte, que segundo o

anuário da educação de 2015, tem somente 25,8 % dos professores com pós-

graduação (CURS; MONTEIRO, 2015). O quadro apresentado é ainda respaldado

pelo fragmento da fala de um professor em relação à segunda parte do questionário.

“Essas perguntas são bem fáceis. Como meu doutorado é em Biologia

trabalhei muito com os procedimentos em laboratório”. (P1).

A análise do perfil apresentado e o fragmento das falas de alguns

professores, fazem com que possa ser aferido que os professores que realizaram o

diagnóstico do nível de desenvolvimento da habilidade de identificar são

profissionais com formação adequada para o ensino de Biologia. Essa constatação é

importante à medida que garante que os resultados encontrados sirvam de suporte

para a estruturação de um sistema didático, que deve ser proposto com base na

zona de desenvolvimento real dos professores, objetivando o intervalo entre ela e a

zona de desenvolvimento potencial. Esse intervalo é denominado por Vigotsky

(2005) como zona de desenvolvimento próximo.

O ponto de partida para a realização da proposta, a hipótese que deve ser

refutada ou confirmada é de que é possível a proposição de atualização da

habilidade de identificar por meio de um sistema didático baseado na teoria de

Galperin. A proposição se baseia na utilização do aporte teórico das teorias histórico

cultural e teoria da atividade nas etapas propostas pela teoria de Galperin servirem

de ferramenta para a formação e desenvolvimento dos professores numa

perspectiva da profissionalização do ensino de biologia. E é justificada pela

existência de uma necessidade formativa quanto à habilidade de identificar tanto no

aspecto procedimental (o modelo da ação), quanto no aspecto conceitual (modelo

do objeto).

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- Conhecimento sobre conceito, conceito científico e a habilidade

de definir conceito científico

O objetivo de realizar essa parte do questionário (quadro 12) foi o de

determinar o conhecimento prévio dos professores sobre conceito e definição de

conceito.

Esse conteúdo mostra-se importante porque as habilidades são, segundo

Lopes (1998), um complexo de operações, onde uma participa do sistema

operacional das outras. Nesse caso, habilidade de definir participa como uma das

operações na habilidade de identificar. A importância dos conceitos está relacionada

aos limites de generalização da habilidade de identificar, uma vez que os conceitos

passíveis de identificação são aqueles que são definidos de forma lógica.

As respostas foram organizadas em quadros e categorizadas com base

em inferências quanto ao seu significado. E a interpretação dos dados deu-se pelo

método análise de conteúdo, respaldada pelas observações. A observação foi

concretizada durante a realização do questionário e da tarefa diagnóstica. Segundo

Markoni e Lakatos (2003), esse instrumento permite ao pesquisador identificar e

obter dados adicionais sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que

complementam as informações necessárias para a compreensão do objeto de

estudo.

Para analisar as respostas, foi definida a análise categorial de conteúdo

segundo Bardin (2011), que consiste no desmembramento do texto em categoriais

que são agrupadas analogicamente. Segundo a autora, essa análise se fundamenta

no fato de ser a melhor alternativa para se estudar valores, opiniões, atitudes e

crenças por meio de dados qualitativos.

A análise da categorização foi realizada com base nos modelos para

conceito, conceito científico, definição de conceito científico e na relação entre as

habilidades de definir e identificar, estabelecidos com base nos autores

apresentados anteriormente na metodologia64. O quadro 14 apresenta o modelo

conceitual utilizado para a categorização.65

De acordo com as respostas, os dados quanto ao conhecimento dos

professores sobre conceito, conceito científico, a habilidade de definir conceito

64 Os modelos conceituais foram elaborados de acordo com: Santos (1959), Pozo (1998), Kopnin

(1966), Jorba (2000), Lopes (1990) eTalízina (2000, 2009). 65 O quadro 14 foi apresentado anteriormente na metodologia.

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científico e a relação entre as habilidades de definir e identificar, foram

categorizados considerando os significados mais frequentes que apareceram nos

textos dos professores. Em um processo decrescente, onde no nível I estão aqueles

que se evidenciaram em maior quantidade. A tabela 1 explicita os modelos

conceituais (modelo do objeto) de cada uma das categorias que foram analizadas.

Quadro 14 - Modelo conceitual das categorias analisadas

Conceito

Construções mentais que identificam um conjunto de objetos.

Representações abstratas que designam um conjunto ou uma

classe de objetos ou seres

Conceito Científico Representações que derivam de um corpo articulado de conhecimento

de uma área científica.

Definição de conceito

científico

Enunciar o conjunto das características necessárias e suficientes de

determinado objeto.

Relação entre Definir e

Identificar A identificação necessita da definição do conceito.

Fonte: Maria da Glória Albino

Para a pergunta número 2 do questionário: “O que é um conceito? O que

é um conceito científico? ”, foram elaboradas 2 (duas) tabelas para que a análise

dos resultados pudesse se realizar de forma mais clara e específica quanto a essas

categorias. A tabela 1, mostra a categorização66 realizada quanto às respostas dos

professores em relação à categoria conceito. A categorização seguiu a lógica do

mais frequente para o menos frequente, considerando os significados que

apareceram nos textos dos professores quanto a conceito.

Tabela 1 - Respostas mais frequentes em relação a conceito

Categoria

(conceito)

Respostas mais frequentes em

relação a categoria analisada Quantidade %

Nível I Ideia, concepção, significado,

representação 04 57

Nível II Definição 02 29

Nível III Domínio de um fenômeno 01 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

66 O conteúdo das respostas dos professores era analisado segundo Bardin (2011) e, então, as

respostas eram categorizadas de acordo com a frequência em que apareciam os significados, dados pelos professores, a cada uma das categorias.

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No nível I da tabela, se encontram os professores (57%) que deram

respostas que podem ser relacionadas ao modelo conceitual estabelecido para a

realização da análise. As análises das respostas, quanto a essa categoria, serão

centradas nos níveis II e III, uma vez que as respostas se distanciam do modelo

conceitual estabelecido para a categoria.

A tabela 1 apresenta, de forma explícita, que 43 % dos professores,

quase metade do grupo, possui fragilidades formativas em relação à compreensão

da categoria conceito. Essa inferência, segundo Casanova e Pamies (1985), pode

ser explicada com base nas investigações de Luria e Vigotski sobre as funções

mentais superiores67, que apontam que o nível superior do reflexo cognitivo do

mundo e do próprio sujeito, ocorre por meio de representações, conceitos, juízos e

raciocínios. Nesse entendimento, a concepção do conceito como uma ideia ou

representação de um objeto, que generaliza uma determinada categoria de objetos,

é importante para explicar e/ou prever mecanismos ou fenômenos. E assim, a

inconsistência em relação ao que seja um conceito pode prejudicar a compreensão

dos princípios gerais (lógicos) da disciplina.

Isso pode provocar uma relativa dificuldade na preparação de tarefas que

ajudem seus estudantes a passarem do pensamento concreto, prático, visual para

um pensamento abstrato, tornando a atividade de ensinar conceitos biológicos uma

tarefa mais difícil. Isso porque em Biologia, assim como nas outras ciências, os

conceitos são compreendidos a partir da construção de representações em três

níveis de percepção da realidade: o macroscópico, o submicroscópico68 e o

simbólico. A manutenção do ensino de Biologia no campo macroscópico, com pouca

ou nenhuma integração com o universo microscópico e simbólico, segundo Sá et al.

(2010), não favorece a construção da compreensão processual do fenômeno de

uma forma orgânica, mas sim de forma descontínua, o que faz com que esses

conhecimentos, geralmente, sejam rapidamente esquecidos, porque não existe uma

compreensão dos conceitos centrais da Ciência.

No nível II estão classificados os 29% (2 professores) que compreendem

conceito como definição. O fragmento da fala de um professor demonstra a

67 Funções mentais superiores são processos cognitivos que envolvem atenção, memória,

conhecimento ou percepções, pensamento, consciência, comportamento emocional, aprendizagem e linguagem.

68 Submicroscópico – em Biologia essa designação é dada a ser vivo ou partícula de pequeníssimas dimensões (ultramicroscópica), que por seu pequeno tamanho não podem ser vistos com o microscópio óptico, mas somente com um ultramicroscópio.

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fragilidade em relação a esse conhecimento. “Fácil, conceito é a construção de uma

definição.” (P1).

Essas categorias se relacionam, mas no sistema de conhecimentos

ocupam grupos (subsistemas) funcionais diferentes (figura 12).

Figura 12 – Sistema de conhecimentos.

Fonte: Almentero et al. (2013, p. 99)

Os conceitos são parte dos conhecimentos teóricos, enquanto a definição

faz parte do subsistema dos conhecimentos metodológicos. Segundo Pozo (1998), a

definição é o enunciado das características necessárias e suficientes do objeto,

enquanto o conceito é uma representação mental do objeto. Isso significa que a

definição é única e perfeitamente delimitada, não se modifica, ao passo que o

conceito, por ser uma representação, pode sofrer alterações. Nesse caso, a

definição seria a referência (pois se relaciona aos fatos e objetos do mundo que

designa – atributos do conceito), enquanto o conceito seria o sentido (a relação com

os outros conceitos – determinada pela rede conceitual na qual está inserido).

A compreensão errônea de conceito em relação à definição pode

acarretar dificuldade na compreensão das funções de organização e predição dos

SISTEMAS DE CONHECIMENTOS

Conhecimentos empíricos – Oferecem informações sobre o externo dos objetos, os fenômenos e os processos: forma, cor, dimensões, funcionamento, posição, etc. Compreende as noções da realidade que podem ser fomentadas no aluno.

Conhecimentos teóricos – Oferecem informação sobre o essencial e interno da realidade; são os conceitos, as regularidades e as leis, as teorias e as hipóteses científicas.

Conhecimentos metodológicos, operacionais - Este subsistema se relaciona aos modos de atuação e os procedimentos para a realização da atividade.

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conceitos. Segundo Pozo (1998), se por um lado os conceitos proporcionam

organização no mundo, por meio da categorização, por outro, tem a função de

predição que permite saber o que pode acontecer no momento a seguir. Essas

previsões dos fenômenos, e também as explicações, são estabelecidas pelas

chamadas “operações especiais”, as quais, segundo Davidov (1983), são

fundamentais para a promoção do pensamento teórico e caracterizam-se por revelar

o conteúdo das abstrações, generalizações e conceitos constitutivos de uma

determinada área ou de qualquer das suas partes essenciais. Elas relacionam os 3

(três) subsistemas do conhecimento.

A vulnerabilidade formativa, inferida pelo resultado apresentado pode

fazer com que os profissionais e, por conseguinte, seus estudantes sejam reféns do

particular. Isso porque, a compreensão incorreta da categoria conceito aprisiona os

sujeitos aos limites da experiência concreta, sendo preciso o contato com

determinado objeto, ser, ou até mesmo, uma ação, para dar um sentido a este.

No nível III, é encontrado o professor (14%) que relacionou a categoria

conceito somente a fenômeno. Em um primeiro momento ele havia sido ordenado

com os outros professores que denominaram conceito como uma ideia ou

representação, isto porque, segundo a perspectiva Histórico-Cultural, conceito e

ação formam uma unidade dialética e assim, o domínio de determinado fenômeno

ou processo, incluiria os conceitos e os procedimentos relacionados a esse

fenômeno ou processo. Porém a observação realizada durante o questionário,

indicou que o professor não percebia a categoria conceito em um sistema

conceitual, uma generalização que se relaciona a outras generalizações de objetos,

fenômenos ou processos, mas sim como particularidades. Isso pôde ser inferido a

partir de um fragmento de sua fala.

Conceituar é saber o que é determinado fenômeno. Por isso temos que ensinar tantos conceitos a nossos alunos... O que torna a Biologia uma disciplina difícil, por ter que decorar muitas coisas para poder entender cada fenômeno, cada conceito. (P4).

A fala do professor permite a percepção, de que, para ele, o conceito é o

próprio fenômeno. E segundo Kopnin (1966), entre o conceito e os objetos do

mundo material não há identidade. As coisas, os objetos do mundo material, existem

na realidade antes e independentemente dos conceitos humanos. Para o autor, os

conceitos são as manifestações da essência dos fenômenos.

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Quanto ao conhecimento dos professores sobre conceito científico, as

respostas foram categorizadas e podem ser conferidas na tebela 2.

Tabela 2 - Respostas mais frequentes em relação à conceito científico

Categoria

(conceito

científico)

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Domínio de um fenômeno científico

ou que segue o método 04 57

Nível II Concepção ou representação

baseada no método científico 02 29

Nível III Faz referência àquilo que se

relaciona à ciência 01 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

A tabela 2 demonstra que, aparentemente, alguns professores, talvez por

não se sentirem seguros quanto aos seus conhecimentos quanto a conceitos

científicos, acabaram por seguir um determinado posicionamento proposto por um

deles. Essa percepção foi confirmada pela observação realizada durante o

questionário. Puderam ser transcritos os seguintes fragmentos de falas dos

professores:

‘Vixe’... Conceito científico... (P4).

É fácil saber, mas difícil de dizer... Quer dizer, mais ou menos (P1).

Para mim é o domínio de um fenômeno que segue o método. Né?! (P3).

É, pode se dizer que é o domínio... E está relacionado aos critérios do método. (P1).

Com certeza está relacionado ao método científico. Só pode ser científico, se for comprovado pelo método. (P5).

Esse resultado traz para a análise uma preocupação relativa à

inconsistência entre o que foi respondido em relação a categoria conceito e o que foi

respondido para conceito científico.

No nível I, estão os professores (57%) que relacionaram conceito

científico com o domínio de um fenômeno científico ou que segue o método. Uma

primeira percepção é de que, na perspectiva deles, existe apenas um método

científico, o que indica a necessidade de conhecimentos relativos à epistemologia da

ciência e ratifica a importância das discussões ocorridas no primeiro encontro, onde

foi sinalizada a pertinência de leituras e discussões sobre a epistemologia da

ciência. Segundo Chalmers (1993), a proposição de que a produção científica segue

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passos que começam indubitavelmente com a observação, que fornece uma base

segura sobre a qual o conhecimento pode ser construído; e que o conhecimento

científico, é obtido a partir de proposições de observação por indução, é realizada

pelos chamados indutivistas ingênuos. O autor critica e lança dúvidas sobre a

validade e justificabilidade do princípio da indução na produção científica. Para

Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), o estudo da epistemologia avançou muito

no século XX e tem servido de alerta sobre a ciência “aprendida” nos cursos de

graduação: desinteressada, neutra, linear, respaldada na lógica e na racionalidade,

de forte base empírica, isenta de crenças e idiossincrasias. Esses estudos,

entretanto, não conseguiram fazer com que a dimensão do processo de produção do

conhecimento científico se faça presente na educação científica dos estudantes

brasileiros. E isso pode ser o indício de estarem sendo formados, o que Bachelard

(1996) chama de obstáculos epistemológicos69 para a formação do pensamento

científico. E assim, o potencial explicativo e conscientizador das teorias científicas

não têm sido explorados nas aulas de Biologia.

No nível II estão os 29% (2 professores) que consideram conceito

científico uma concepção baseada no método científico. Apesar de estarem corretos

quanto à representação ou entendimento sobre o conceito, eles explicitam o mesmo

entendimento quanto à produção científica – a existência de um único método na

ciência. Esse resultado demonstra que na formação e desenvolvimento dos

conceitos científicos a ciência é um conjunto hierarquizado de informações que cria

uma sequência rígida para encontrar as respostas buscadas.

No nível III encontra-se o professor (14% do grupo) que não explicitou o

que era conceito científico. Segundo ele, o conceito científico faz referência àquilo

que se relaciona à ciência. Essa resposta leva à inferência de que as aulas de

Biologia não permitiriam ao estudante se apropriar da estrutura do conhecimento

científico e do potencial transformador que o processo de formação e

desenvolvimento dos conceitos possui, no desenvolvimento do pensamento teórico

dos estudantes. Para Vigotski (2011), o processo de formação e desenvolvimento

dos conceitos científicos, pressupõe a existência de três elementos psicológicos

69 Obstáculos epistemológicos - perturbações no próprio ato de conhecer, uma resistência que

dificulta a compreensão de um pensamento. Segundo Bachelard (1996), na educação, a noção de obstáculo pedagógico é desconhecida. Para o autor é surpreendente que os professores de ciências, mais do que os outros se possível fosse, não compreendam que alguém não compreenda.

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fundamentais: a formação de relações entre os conceitos, ou melhor, do sistema de

conceitos; a tomada de consciência da própria atividade mental; e o surgimento de

relações especiais que o indivíduo adquire com os objetos, o que lhe permite

compreender melhor a essência destes últimos.

O primeiro elemento (a relação entre os conceitos) seria o responsável

por permitir que os conceitos surjam e se organizem. A tomada de consciência das

operações mentais relaciona-se à reconstituição (mental), visando-se à operação

discursiva - processo que está diretamente relacionado com a generalização dos

processos psíquicos. Quando a conscientização é refletida na própria atividade do

sujeito, ocorre o processo especial de generalização, presente nos conceitos

científicos e nas formas superiores de pensamento humano.

A pergunta 3 (três) questionava o conhecimento sobre a definição de

conceito científico. As respostas mais frequentes podem ser vistas na tabela 3.

Tabela 3 - Respostas mais frequentes sobre definir conceito científico

Categoria

(definir conceito científico)

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Determinar, estabelecer parâmetros

científicos 05 71

Nível II Relaciona -se com ferramenta

científica, manifestar uma ideia 02 29

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

No nível I, estão as respostas encontradas em maior número, 71% (5

professores). Isto assinala que a maior parte do grupo relacionou a habilidade de

definir a determinar e estabelecer. Mas não há a explicitação das características

necessárias e suficientes. As respostas, apesar de estarem, de alguma forma,

relacionadas ao procedimento de definir conceito científico, não explicitam que os

professores dominam a habilidade. Nenhum deles cita que devem ser determinadas

as características que distinguem e determinam o objeto, ou o grupo de objetos, que

se generaliza nessa definição. Isso permite inferir que os professores não vinculam o

procedimento de definir a uma estratégia de aprendizagem ou com processos

metacognitivos dos alunos. Para Hernández (1996), os procedimentos se entendidos

como estratégias cognitivas, podem facilitar a explicitação do processo de

aprendizagem que, uma vez internalizado, permite a organização do pensamento

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ante uma informação, inferir a partir dela e estabelecer novas relações entre e a

partir de diferentes conteúdos.

O resultado permite ratificar a proposição de Núñez e Ramalho (2011) em

relação ao ensino, dos procedimentos lógicos, nas aulas de ciências, parecer ser

realizado (treinado), pelos professores, de forma mecânica. Para os autores, as

atividades planejadas raramente superam a condição de pensamento intuitivo,

limitando-se às condições postas pelo pensamento empírico.

No nível II, estão às respostas que relacionam definir a uma ferramenta

científica, e isso é verdadeiro, uma vez que os procedimentos são ferramentas do

método, mas também se relacionam à aprendizagem de conceitos pela via

consciente. Segundo Núñez (2009), é o caráter consciente, ter domínio de um

procedimento, que permite que o estudante interaja e transforme o objeto do

conhecimento e a si mesmo.

A definição segundo Silvestre Oramas e Zilbberstein Toruncha (2003), é

uma operação que precisa da generalização, que permite concretizar e descrever as

características essenciais do objeto a ser definido.

Em se tratando do ensino de Biologia, pode se exemplificar, pelo domínio

da definição de planta – organismo eucarionte, autótrofo e com cloroplastos. – Ter

domínio dessa definição, na perspectiva de Davidov (1983) não significa poder

repetir mecanicamente essa frase, mas implica à possibilidade de atuar, de aplicar

essa generalização a novas situações, de valorar sua importância para a sociedade

e para si mesmo. Significa poder, com base na definição, identificar que tanto um

musgo como uma seringueira são plantas. O fragmento de uma fala dos professores

expõe a não utilização dos procedimentos lógicos como via para a aprendizagem de

conceitos.

Nunca ensinei nada relativo à definição. Sempre dei as definições dos conceitos... (P4).

É, eu também dou as definições. Mas, acho que é assim mesmo, o jeito é decorar... (P5).

O conhecimento de que as habilidades são modos de atuar de forma

consciente e que se convertem em força motriz para a aprendizagem dos conceitos

pelos alunos, é entendido por Silvestre Oramas e Zilbberstein Toruncha (2003),

como um saber profissional, uma vez que o conhecimento desses processos é

necessário para que o professor possa cumprir as finalidades das atividades de

ensino que realiza com seus estudantes, uma vez que, elas, refletem características

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essenciais do conhecimento dos desses. O estudante necessita das habilidades

para valorar e analisar diferentes situações desconhecidas manifestando, assim, o

grau de apropriação formal ou criador de seus conhecimentos.

Na tabela 4 se encontram as respostas relativas à relação entre as

habilidades de definir e identificar. 42% (3 professores) indicaram que a habilidade

de definir é precedida pela habilidade de identificar, enquanto que 29% (2

professores) indicaram o inverso – que a habilidade de definir precede a de

identificar. Somente um professor se expressou quanto à relação entre as

habilidades. “Definir indica expor e identificar comprovar a identidade. Assim, a

definição precede a identificação.” (P7).

E 29 % (2 professores) não responderam o questionamento. Os

professores que não responderam essa questão, declararam a atitude durante a

realização da atividade.

Não compreendi essa questão da relação entre definir e identificar... Vou deixar em branco. (P6).

Eu compreendi. Não sei qual é a relação. Deve ser porque são procedimentos. Também não vou responder. (P4).

Tabela 4 - Respostas mais frequentes dos professores sobre a relação entre as

habilidades de definir e identificar

Categoria

(relação entre definir

e identificar)

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Identificar precede definir 03 42

Nível II Definir precede identificar 02 29

Não responderam _______________ 02 29

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Partindo da concepção de Petrovsky (1980) sobre habilidade (o domínio

de um sistema de atividades psíquicas e práticas, necessárias para a regulação

consciente da atividade, dos conhecimentos e hábitos), pode-se afirmar que essas

habilidades (definir e identificar) podem relaciona-ser de uma forma ou de outra,

uma vez que ao serem assimiladas e utilizadas por inúmeras vezes passam a

configurarem como procedimentos, operações, umas das outras. Porém, em se

tratando da formação das habilidades, geralmente a habilidade de definir precede a

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habilidade de identificar, isso porque, identificar é determinar se o objeto, fenômeno

ou fato, pertence à extensão do conceito de referência. Sendo assim, a identificação

se relaciona a definição do conceito, pois o pertencimento, ou não pertencimento, é

determinado pelas características necessárias e suficientes contidas na definição.

O não reconhecimento dos nexos que podem ser estabelecidos entre as

habilidades pode confirmar que existe uma necessidade formativa quanto ao

conhecimento profissional docente em relação às habilidades concebidas como

procedimentos lógicos. Isso evidencia a existência de uma contradição fundamental

entre o plano externo do processo de ensino em relação aos procedimentos lógicos

(a que percebe a importância dos procedimentos para a produção científica e o

ensino de Biologia) e o plano interno (nesse caso, a necessidade de professores de

Biologia com adequado conhecimento para seu desempenho como docente), que

em alguma medida não tem sido alcançado pela inadequada compreensão da

estrutura das habilidades.

6.2.2 Observações gerais durante a realização do questionário

De uma maneira geral os professores se mostraram interessados,

responderam o questionário de forma concentrada e fizeram perguntas quando não

compreendiam algum questionamento. A realização de perguntas diretas, “fáceis”,

mas de resposta de difícil construção70, causou uma contradição que orientou e

impulsionou a necessidade dos professores de sair dos limites do conhecido, ou

“aparentemente” conhecido. Os professores foram comunicativos uns com os outros

e também com a pesquisadora. Os professores demoraram de 25 a 45 minutos para

responder os questionamentos. Alguns voltaram várias vezes para ler e refazer

questões.

6.3 Tarefa problêmica

A utilização de uma tarefa problêmica, como parte do diagnóstico,

justificou-se na proposição de que a apresentação de problemas compatíveis com

os conhecimentos dos aprendentes desafiaria a curiosidade, tributando para a

motivação cognitiva que segundo Núñez et al. (2004), possibilita a atividade na

70 “É fácil saber, mas difícil de dizer... Quer dizer, mais ou menos.” (P1).

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tarefa de busca e construção do conhecimento. Esse tipo de tarefa apresenta

aspectos básicos: o conceitual e o motivacional. No aspecto conceitual, a

contradição entre o conhecido e o não conhecido deve estar refletida, uma vez que

funciona como fonte de desenvolvimento da atividade cognoscitiva. No aspecto

motivacional, o grau de novidade do desconhecido, orienta e impulsiona a

necessidade do aprendente para sair dos limites do conhecido, do já assimilado. A

tarefa tinha como proposição a caracterização do conhecimento dos professores em

relação à habilidade de identificar. O quadro 15 apresenta o plano da tarefa

problêmica planejada. Os dados coletados acerca do modelo do objeto (conceito de

identificar), modelo da ação (operações), modelo epistemológico e modelo didático

servem de parâmetro para a definição (juntamente com os resultados do

questionário e da observação), do nível de desenvolvimento da habilidade de

identificar.

A tarefa foi entregue aos professores e eles foram estimulados a

realizarem interações comunicativas durante o processo, uma vez que foi planejada

de forma que se constituísse uma atividade do tipo problêmica. Segundo os

pressupostos do ensino problêmico proposto por Majmutov (1983), o planejamento

da tarefa do tipo problêmica deve ser realizado em forma objetiva e a tarefa é

determinada na hipótese feita pelo aprendente. A hipótese, que é um método da

investigação científica, inclui uma suposição acerca da essência dos fatos ou a

causa de determinados fenômenos. Dessa maneira, ela dá uma explicação dos fatos

e fenômenos, sendo, portanto, um procedimento de busca mental das vias para

resolver o problema.

Quadro 15 - Plano da Tarefa para a atividade diagnóstica

Plano da Tarefa

CONTEÚDO: Classificação biológica.

OBJETIVOS:

1. Caracterizar do conhecimento dos professores em relação ao modelo conceitual da habilidade de

identificar.

2. Determinar qual modelo de ação os professores utilizam para a habilidade de identificar

3. Caracterizar o conhecimento dos professores quanto ao modelo epistemológico da habilidade.

4. Determinar qual modelo didático os professores utilizam.

ETAPA: Diagnóstico.

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Quadro 15 - Plano da Tarefa para a atividade diagnóstica (cont.)

Plano da Tarefa

ATIVIDADE

Um grupo de pesquisadores faz uma descoberta de um novo animal e precisa identificá-lo. A hipótese

primeira do grupo é que se trata de um inseto. Em relação a essa situação, responda:

1. O que é identificar?

2. Como se deve proceder para identificar se se trata de um inseto ou não?

3. Qual a importância do procedimento de identificar na atividade científica dos biólogos?

4. Qual a importância da identificação na aprendizagem de Biologia no contexto escolar?

RESPOSTAS:

1. Identificar é determinar o pertencimento ou não de um objeto a uma determinada classe de

objetos com base no conceito dessa classe, definido de forma lógica.

2. O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito do grupo taxonômico do

reino animal que se insere em sua hipótese primeira. Depois disso, deve-se estabelecer a relação

entre o animal descoberto e o conceito de referência (do grupo).

O passo a passo:

1. Determinar o conceito de inseto

2. Observar o animal descoberto

3. Estabelecer as características do animal

4. Comparar as características do animal com as do conceito de inseto

5. Determinar o pertencimento ou não do animal ao grupo dos insetos

3. O procedimento de identificar possibilita a descoberta e sistematização de novos conhecimentos

científicos na atividade de produção científica

4. Desempenha um papel na aprendizagem dos conteúdos e outros procedimentos pela via da

consciência, uma vez que determinam a conformação de estruturas cognitivas do pensamento

(delimita as operações que devem ser realizadas em cada procedimento).

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constituiu como um pré-teste, para diagnosticar o nível de desenvolvimento da

habilidade de identificar. O seu resultado foi utilizado para a proposição do sistema didático com base

no conceito de zona de desenvolvimento próximo de Vigotsky (2005)

A resposta nº 2 foi realizada de acordo com as etapas propostas por Talízina 2000 (capítulo 5 e 9)

para a identificação.

Fonte: Maria da Glória Albino

Os dados encontrados foram categorizados e organizados nas tabelas 5 a

8, de acordo com as categorias relativas ao modelo do objeto, modelo da ação,

modelo epistemológico e modelo didático encontrados na BOA tipo III para identificar

(quadro 16).

A BOA tipo III para a habilidade de identificar foi organizada para ser

incluída à proposta do sistema didático para a atualização da habilidade sob as

bases da Teoria de Galperin (1976). Segundo Talízina (1984), no esquema da BOA

do tipo III é encontrado o sistema de características necessárias e suficientes do

conceito da habilidade e o sistema de ações que caracteriza o tipo de atividade a ser

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realizada com esse conceito – nesse caso, as operações necessárias para a

identificação, ou seja, a invariante da ação. Para a autora, é precisamente sobre a

base da invariante que se encontra a orientação para a ação, o modelo da ação.

Os modelos epistemológico e didático, encontrados na BOA tipo III

(quadro 16) foram incluídos a partir da percepção de Núñez (livro no prelo), eles

indicam o espectro seguido na pesquisa, traçado sobre o enfoque dado pelo corpo

teórico metodológico Histórico-Cultural, onde a aprendizagem se direciona ao

desenvolvimento humano a partir de uma concepção científica explicativa e

compreensiva deste. Segundo Davydov (1983), o ensino das disciplinas de ciências

naturais tem como responsabilidade formar nos educandos uma concepção

científica do mundo. Gama e Zanetic (2009) expressam que a história vivenciada e

influenciada pela evolução do saber humano, além do próprio conjunto de

conhecimentos e concepções, construídos nesse percurso, é uma herança cultural

que pertence a todo membro da espécie Homo sapiens. E nesse sentido, para

Labarre Reyes e Valdivia Pairol (2007), qualquer conteúdo científico ao ser

estudado, deve ser conectado às questões que se relacionam a esse conhecimento.

Isso significa que, durante o processo de ensino, não somente são assimilados os

conceitos e habilidades, mas também são criadas condições para a formação de

pontos de vista sobre o mundo que rodeia a humanidade. Para a didática das

ciências de concepção materialista, tudo tem sua história, é determinado por um

contexto. Nesse sentido, um conceito, componente de uma rede de conhecimentos,

tem uma história, ou seja, foi formado em um contexto que vai sendo modificado ao

longo da passagem do tempo. Por isso, sem negar o valioso e o positivo das etapas

históricas precedentes na produção científica, o ensino de ciências, nesses novos

tempos, deve considerar as novas condições de desenvolvimento da ciência, da

natureza, da sociedade para que seja possível formar estudantes capazes de atuar

de forma autônoma, crítica e criativa. Ainda segundo os autores, quanto maior e

mais profunda seja a assimilação de conhecimentos, existirão maiores

possibilidades para o desenvolvimento de opiniões e convicções que guiem uma

conduta consequente em relação à sociedade e ao planeta.

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Quadro 16 - Modelo da BOA tipo III da habilidade de identificar

Modelo Epistemológico

Modelo Didático

Modelo do objeto (conceito de identificar)

Modelo da ação (as operações)

Modelo do controle

Nas ciências naturais, Identificar é um procedimento lógico realizado por meio de um sistema de ações cognitivas que se desenvolve na atividade de descoberta e sistematização de novos conhecimentos.

No ensino de ciências é parte do conteúdo de ensino que permite a aplicação do conhecimento a situações novas, assim como a busca de novas vias de solução para um problema.

Identificar é determinar o pertencimento, ou não, de um objeto a uma determinada classe de objetos com base no conceito dessa classe.

1. Determinar ou lembrar o conceito base da identificação.

* Determinar se é um conceito lógico:

Se sim – continua Se não – para * Explicitar a estrutura lógica do

conceito por meio de suas características necessárias e suficientes.

2. Atribuir se o objeto se relaciona com o conceito definido.

* Estabelecer o pertencimento, ou não, do objeto a classe delimitada pelo conceito a partir da regra lógica. resposta positiva - quando possuir todas as características necessárias e suficientes da definição. resposta negativa - quando não possuir pelo menos uma das características. resposta indeterminada – quando não for possível determinar a presença de, pelo menos, uma característica.

1. Como você realizou a determinação do conceito. 2. De que forma você

realiza o estabelecimento

de pertencimento do objeto

a classe de conceito?

3. Qual o limite para a

utilização da habilidade de

identificar nas atividades

com conceitos?

Fonte: Maria da Glória Albino

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Outra importante contribuição do modelo epistemológico e do modelo

didático, para o professor, é orientar a proposição de um ensino que segundo

Davydov (1983) possa formar o pensamento teórico autônomo. Isso porque, o

caráter objetal, proposto por Davidov em oposição ao caráter visual, direto ou

intuitivo (empírico), se atém à possibilidade dos alunos descobrirem o conteúdo

geral (teórico) de certo conceito como base para a ulterior identificação de suas

manifestações particulares. Nesse ponto de vista, o domínio conceitual da habilidade

de identificar, incluiria a função exercida por esta habilidade em todos os contextos,

o que permite, ao professor, orientar o processo de formação dessa habilidade a

partir de tarefas que possuam cunho científico e didático.

É nessa perspectiva que se justifica a existência de questões, na tarefa

problêmica, referentes à importância da habilidade de identificar para a construção

do conhecimento científico e para o ensino de Biologia.

Segundo os critérios estabelecidos, em conformidade com o objetivo

específico de diagnosticar o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar, os

dados encontrados foram organizados em tabelas (5 a 8) de acordo com as

categorias relativas ao modelo do objeto, modelo da ação, modelo epistemológico e

modelo didático respectivamente, apontados no quadro 16.

Os dados encontrados na tabela 5 revelam que a maioria, 57% (quatro

professores), categorizada no nível I, explicitou proposições que se relacionam ao

modelo do objeto, mas não o determinaram de forma clara.

Tabela 5 - Respostas mais frequentes sobre o modelo do objeto

Categoria

(modelo do objeto)

identificar

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Procurar características, distinguir

características 4 57

Nível II Determinar ou estabelecer

características de algo novo 2 29

Nível III Colocar algo novo em um grupo já

conhecido 1 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Com base no que foi respondido, os professores, cujas respostas estão

incluídas nesse grupo, entendem identificar, como procurar ou distinguir

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características. Essas, também habilidades, participam como operações no sistema

de ações para identificar, mas não compõem uma representação que explicite a

habilidade cognitivo linguística de identificar. “Identificar é procurar características

morfológicas, fisiológicas, moleculares e/ou comportamentais que o definam.” (P1).

No nível II, estão incluídos àqueles que conceituam identificar como a

determinação ou estabelecimento de características em relação a algo novo. 29%

dos professores (2) apresentaram essa representação. O que pode significar que

estes já apresentam como referência a relação desta habilidade a objetos,

fenômenos ou fatos desconhecidos. Mas ainda não conseguem delimitar uma

definição teórica.

A resposta categorizada de 14% do grupo (1 professor), expressou que

identificar é colocar algo (fenômeno, objeto ou fato) em um grupo já conhecido. Essa

resposta leva à inferência de que o professor possui uma compreensão relativa da

habilidade apesar de não conseguir expressar de forma clara. “Identificar é colocar

um animal em um grupo animal já conhecido”. (P6)

O resultado expõe que os professores apresentam uma representação

formada a partir de uma percepção empírica dessa habilidade. O que significa que a

habilidade não foi apropriada de forma consciente.

A categorização das respostas encontradas quanto ao modelo da ação

(sistema operacional) da habilidade, pode ser vista na tabela 6.

Os números apresentam uma similaridade quanto à categoria anterior

(modelo do objeto). 57% (quatro professores) indicaram como a única ação

necessária para identificar, a observação. 29% (2 professores) citaram duas ações,

determinar para identificar ou diferenciar. E 14% (1professor) declarou que a

identificação é realizada a partir da comparação de características. Todas as

respostas apresentam ações ou operações que fazem parte do sistema de ações,

porém explicita um baixo desempenho quanto aos passos metodológicos da

habilidade de identificar (tabela 6).

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Tabela 6 - Respostas mais frequentes sobre o modelo da ação

Categoria

(modelo da ação)

identificar

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Observar a presença de estruturas

ou características 4 57

Nível II Determinar as características para

identificar ou diferenciar 2 29

Nível III Comparar as características a partir

de outro organismo 1 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Para Galperin (2011d), uma ação para ser realizada necessita-se de um

conjunto de operações, e essas devem ser executadas de modo consciente. A

ausência da percepção, por parte dos professores, dessa necessidade de um

conjunto de operações para a habilidade de identificar, é um indicativo das

fragilidades existentes em relação à estrutura conceitual e procedimental de outras

habilidades. Do ponto de vista qualitativo, foi possível constatar que há uma

necessidade formativa quanto ao modelo do objeto (representação) e modelo da

ação (passos metodológicos) da habilidade de identificar, o que pode trazer

dificuldades para o ensino dos conceitos, assim como na utilização de algoritmos de

solução e sua aplicação em diferentes modelos de exercícios. Em contra partida,

segundo Salcedo Estrada et al. (2009), o domínio teórico e metodológico das

habilidades, permite ao professor de Biologia planejar tarefas que tenham

características da atividade criativa, que permitam a transferência independente dos

conhecimentos a uma nova situação, a visão de uma nova função do objeto, a

combinação independente de métodos conhecidos em uma nova atividade, assim

como a elaboração de um novo método de solução.

A tabela 7 foi organizada a partir da categorização das respostas dadas à

terceira pergunta da tarefa problêmica que se relacionava ao modelo epistemológico

da habilidade de identificar.

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234

Tabela 7 - Respostas mais frequentes sobre o modelo epistemológico

Categoria

(modelo

epistemológico)

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Trazer, ampliar, facilitar o estudo, o

conhecimento de algo 3 43

Nível II Estabelecer parâmetros 2 29

Nível III Comparar estruturas 1 14

Nível IV Determinar a identidade de algo 1 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

As respostas dos professores quanto à importância da habilidade de

identificar no contexto da atividade científica, explicitam a falta de compreensão de

que as habilidades, dentre elas a identificação, participam da sistematização do

conhecimento. Identificar faz parte não somente do processo de sistematização do

conhecimento biológico, mas é parte dele. Essa afirmação é ratificada quando Pro

Bueno (1998), explicita que não existe uma ciência conceitual e uma ciência

procedimental.

O quarto quesito da tarefa problêmica se relacionava ao modelo didático

da habilidade de identificar. As respostas categorizadas podem ser encontradas na

tabela 8.

As respostas categorizadas ratificam o resultado encontrado até aqui

quanto às necessidades formativas em relação às habilidades gerais e processos do

pensamento lógico. 43% dos professores expressaram que a importância da

habilidade de identificar no contexto do ensino de biologia é a de estabelecer

identidade ao objeto de estudo. 29% dos professores responderam que a

importância é estabelecer um referencial para o estudo de conceitos enquanto que

14% respondeu que é trazer para o ensino o contexto do conhecimento e outros

14% que a importância é desenvolver habilidades (tabela 8).

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235

Tabela 8 - Respostas mais frequentes sobre o modelo didático de identificar

Categoria

(modelo didático)

Respostas mais frequentes em

relação à categoria analisada Quantidade %

Nível I Estabelecer a identidade do objeto

de estudo 3 43

Nível II Estabelecer um referencial para o

estudo de conceitos 2 29

Nível III Trazer para o ensino o contexto do

conhecimento 1 14

Nível IV Desenvolver habilidades 1 14

Total 07 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Pode-se dizer com base no que foi respondido na tarefa problêmica e na

observação realizada durante a atividade de diagnóstico, que os professores

possuem uma ideia sobre a habilidade de identificar que, apesar de estar

relacionada a sua importância didática, não é correta. De uma forma geral, pode-se

dizer que essa habilidade, concebida como procedimento lógico quando é realizada

com domínio, como um hábito, permite a operacionalização correta dos conceitos,

impedindo a ocorrência de erros nas tarefas que presumem a existência de algo

desconhecido (um ser, um fato, um objeto, um fenômeno). Segundo Davydov

(1983), a utilização de habilidades gerais, como a de identificar, contribui para o

desenvolvimento do pensamento científico, estimulando o raciocínio e a

conscientização dos conceitos assimilados, preparando as bases para sua aplicação

e formação em novos conteúdos.

6.3.1 Observações gerais durante a realização da tarefa problêmica

Os professores demonstraram motivação para realizar a tarefa problêmica

relacionada à habilidade de identificar. As observações realizadas demonstraram

que a maior parte dos professores considerava o diagnóstico uma atividade

motivadora para a realização de estudos sobre os procedimentos lógicos. Apesar de

ser uma atividade diagnóstica, ela se mostrou efetivamente motivadora para a

realização de um processo de atualização da habilidade de identificar. Foi

perceptível a necessidade de conhecimento sobre o conteúdo presente na tarefa e

no questionário, a partir das perguntas e falas dos professores durante a realização

da atividade diagnóstica. Sendo assim, se confirmou a proposição de Leontiev

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236

(1978) de que a necessidade é determinante na atividade, isto porque a atividade

acontece quando a necessidade adquire caráter objetivo. Nas palavras do autor:

Es oportuno señalar aqui que esta circunstancia es la única que permite comprender la aparición de nuevas necesidades en el hombre, incluídas aquéllas que no tienen sus equivalentes en los animales, que están desligadas de las necesidades biológicas del organismo (LEONTIEV, 1978, p. 149).

6.4 Os campos semânticos sobre a habilidade de identificar

Na perspectiva histórico-cultural, o processo de produção de

conhecimento está diretamente relacionado à produção de uma enunciação.

Quando ocorre a enunciação sobre um objeto no contexto de uma atividade,

efetivamente, dá-se um significado a esse objeto. Portanto, falar sobre um objeto é

produzir significados sobre este, o que provoca produção de conhecimento.

Os resultados encontrados no questionário, na tarefa problêmica e na

observação durante a atividade de diagnóstico permitiram a construção de três

campos semânticos a partir da enunciação dos professores sobre conceito científico,

a habilidade de definir, a habilidade de identificar e a relação entre as habilidades de

definir e identificar.

O campo semântico I foi organizado a partir das respostas mais

frequentes dos professores em relação ao modelo do objeto (conceito científico) e

modelo do objeto (definir conceito científico) (figura 13).

Figura 13 - Campo semântico I: realizado a partir de respostas do questionário

Fonte: Maria da Glória Albino

Essas categorias são importantes para a configuração da representação

que os professores possuem em relação à habilidade de identificar, por serem

Campo semântico I

Modelo do objeto (conceito científico)

Modelo do objeto (definir conceito

científico)

Domínio de um fenômeno científico ou que segue o

método

Determinar, estabelecer parâmetros científicos

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237

elementos essenciais na estrutura da habilidade. O conceito científico será utilizado

como conceito referência para a identificação de determinado objeto, fenômeno ou

processo. E os conceitos científicos são conceitos lógicos, ou seja, são definidos de

forma lógica, por meio de suas características necessárias e suficientes. Para

Vigotski (1993), o conceito não é um simples conjunto de conexões associativas que

se assimila com a ajuda da memória, não é um hábito mental automático, mas um

autêntico e completo ato do pensamento. Sendo assim, as representações dos

professores sobre esses elementos são imprescindíveis para a realização do

diagnóstico do nível de desenvolvimento da habilidade.

No campo semântico II, foi inferida a representação dos professores

quanto à relação existente entre a habilidade de identificar e a habilidade de definir

(figura 14).

Figura 14 – Campo semântico II: realizado a partir de uma resposta do questionário

Fonte: Maria da Glória Albino

A relação entre essas habilidades torna-se importante para a inferência

das necessidades formativas dos professores quanto ao sistema de habilidades, em

como uma se torna ação na estrutura operacional da outra. Neste caso, que a

definição do conceito, que contém as características necessárias e suficientes (se

não estiver estabelecida) será parte do sistema de ação da habilidade de identificar.

Isso significa que a identificação se faz sobre a base dos traços característicos do

conceito, ou seja, da sua definição. Para González Chillón (2009), a formação desta

habilidade pressupõe o domínio de outras habilidades e operações. Não se pode

identificar um objeto, se não foi aprendida a habilidade de definir conceitos a partir

da determinação das propriedades de um objeto.

Por fim, o campo semântico III delimita a inferência em relação às

representações dos professores quanto ao modelo do objeto e o modelo da ação da

habilidade identificar (figura 15).

Campo semântico II

Relação entre as habilidades de

definir e identificar

As habilidades de definir e Identificar se relacionam e a

segunda geralmente precede

a primeira

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238

Figura 15 - Campo semântico III: realizado a partir da observação e da tarefa

problêmica

Fonte: Maria da Glória Albino

As representações inferidas nesse campo semântico constituem “a ideia”

internalizada pelos professores durante toda a vida acadêmica e docente, em relação

a essa habilidade. Nessa ideia, se integram o conceito e a ação, em uma unidade

dialética, cuja importância, segundo González Chillón (2009), é que a utilização dessa

habilidade de forma correta, por meio de seu sistema conceitual e operacional, logo

que seja assimilado determinado conhecimento sobre algo, contribui para a

consolidação e aprofundamento dos conhecimentos assimilados devido à

operacionalização realizada na determinação das características essenciais e na

identidade dada a esse conhecimento.

A organização dos resultados por campos semânticos possibilitou, pela

triangulação dos dados, inferir a representação mental do grupo de professores em

relação à habilidade de identificar.

6.5 A triangulação dos dados

Triangular significa olhar para o mesmo fenômeno a partir de mais de uma

fonte de dados. Isso significa que não é uma ferramenta, mas sim uma alternativa

para a validação dos dados obtidos. Segundo Azevedo et al. (2013), a triangulação

pode combinar métodos e fontes de coleta de dados qualitativos e quantitativos

(entrevistas, questionários, observação e notas de campo, documentos, além de

outras), assim como diferentes métodos de análise dos dados: análise de conteúdo,

análise de discurso, instrumentos e técnicas estatísticas descritivas e/ou inferenciais,

Campo semântico III

Modelo do objeto (identificar)

Modelo da ação (sistema operacional

para identificar)

Identificar é procurar ou distinguir

características de um determinado

grupo

Observar a presença de estruturas ou

características que compõem uma

categoria

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239

etc. Para os autores, O uso de múltiplos instrumentos pode ajudar, ainda, a descobrir

dimensões desviantes do fenômeno. Diferentes pontos de vista podem produzir

alguns elementos que não se ajustam a uma teoria ou modelo.

Segundo Azevedo et al. (2013), vários especialistas ressaltam a

conveniência da combinação de métodos, pela triangulação, devido às fragilidades

encontradas em projetos que empregam um único método. Para Maxwell (1996), a

realização da triangulação diminui o risco de que as conclusões reflitam limitações,

que são próprias de quando é utilizado um único método. Essa alternativa de

validação, afirma o autor, conduz a conclusões mais credíveis no trabalho.

A triangulação realizada no presente trabalho é a do tipo metodológica que

se refere ao uso de múltiplos instrumentos para obter os dados mais detalhados sobre

o fenômeno. A premissa, de acordo Maxwell (1996), é que se a conclusão chegada for

de múltiplas e independentes medidas, ela fornece uma representação mais fiel do

fenômeno. A figura 16 apresenta a triangulação realizada entre os campos semânticos

I, II e III para as categorias selecionadas para obter a enunciação do grupo de

professores sobre o domínio da habilidade de identificar. Ele expõe a inferência em

relação à essência da representação mental do grupo de professores sobre a

habilidade de identificar.

Figura 16 - Triangulação entre os campos semânticos

Fonte: Maria da Glória Albino

Habilidade de

identificar

Campos Semânticos

I, II e III

Identificar é procurar ou distinguir características de um determinado grupo, por

meio de observação da presença de estruturas que compõem esse grupo.

A partir da identificação se realiza, então, a definição (determinação parâmetros) de um

conceito científico (o domínio de um fenômeno que segue o método).

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240

A figura 16 denota a representação que o grupo de professores possui

sobre esse conhecimento disciplinar. Segundo Núñez, Ramalho e Oliveira (2014), os

sujeitos reproduzem, negociam e compartilham as representações fundamentais de

seu grupo e da sociedade, da mesma forma que usam a linguagem e as normas de

comportamento do grupo. Nesse sentido, a representação do grupo sobre conceito

científico, as habilidades de identificar, definir e suas relações, faz parte dos marcos

normativos da profissão em relação ao conteúdo disciplinar. E assim, se configura

como elemento parte da consciência profissional, uma vez que a habilidade de

identificar, concebida como procedimento lógico, faz parte do conhecimento

profissional para ensinar Biologia.

6.6 O Resultado dos níveis de desenvolvimento da Habilidade de identificar

Após inferir a representação que o grupo de professores tinha sobre a

habilidade de identificar, foi realizada uma categorização, com base nos resultados

encontrados nas análises das questões da tarefa problêmica com o objetivo de

comparar os dados e, então, diagnosticar de forma mais precisa o nível de

desenvolvimento. O quadro 17 mostra o modelo para categorização dos três níveis

de desenvolvimento, organizado com base no princípio da unidade entre o conceito

e a ação. Essa categorização foi realizada a partir do modelo do objeto, do modelo

da ação, do modelo epistemológico e do modelo didático explicitados na BOA tipo III

para a habilidade de identificar.

Quadro 17 - Modelo para a Categorização dos níveis de desenvolvimento

NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO DA HABILIDADE71

Nível Alto

Explicita corretamente o modelo do objeto (explicita corretamente o que é

identificar), realiza de forma independente a sequência de ações que integram a

habilidade (cumpre todos os critérios estabelecidos para identificar). É capaz de

generalizar sua utilização em outras situações (papel da identificação na

epistemologia e no ensino de ciências)

Nível Médio

Explicita o modelo o modelo do objeto (explicita o que é identificar), mas comete

erros na sequência de ações que integram a habilidade ou é incapaz de

generalizar sua utilização em outras situações (ou consegue realizar somente uma

dessas atividades)

Nível Baixo

Não domina o modelo do conceito da habilidade, comete erros na sequência de

ações que integram a habilidade e é incapaz de generalizar sua utilização em

outras situações.

Fonte: Maria da Glória Albino

71 O modelo de categorização proposto no trabalho, se refere ao nível de desenvolvimento da

habilidade na perspectiva histórico-cultural de Vigotsky, Leontiev, Galperin, Talízina, Davidov, dentre outros.

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241

A análise será descrita na ordem que foi estabelecida na tarefa

problêmica. Primeiro, o modelo do objeto seguido do modelo da ação, modelo

epistemológico e, por fim, o modelo didático.

Quanto ao conhecimento sobre o modelo do objeto, a tabela 9, mostra

que nenhum dos professores conseguiu explicitar de forma correta o que é

identificar. Ao responderem a questão os professores aparentavam insegurança em

relação ao procedimento de identificar. Os fragmentos de falas dos professores

comprovam essa dificuldade.

Vem de novo isso... Primeiro foi definir, agora é identificar... Saber é fácil. Fiz muito isso em laboratório... Com inseto então... Fiz milhares de vezes... Mas escrever é mais difícil. (P1).

Penso que se não sei dizer, não sei. (P3).

Temos a prática, mas não a teoria. (P7).

Tabela 9 - Categorização das respostas em relação ao conhecimento dos

professores quanto ao modelo do objeto da habilidade de identificar

Categoria

(modelo do objeto) Categoria analisada Quantidade %

Nível Alto Explicita corretamente o que é

identificar _ _

Nível Médio Explicita o que é identificar, mas

comete erros 7 100

Nível Baixo Não consegue explicitar o que é

identificar __ __

Total 7 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Todos responderam a questão com elementos (ações ou operações) que

se incluem ao modelo da ação ou com elementos presentes no modelo do conceito.

Foi possível inferir que os professores relacionavam, de forma correta a identificação

à sistematização dos seres vivos, mas confundiam a estrutura da habilidade de

identificar com a estrutura de outras habilidades.

Determinar algo novo através de suas características essenciais. (P4).

Identificar é colocar um animal em um grupo animal já conhecido. (P6).

Essa compreensão se justifica pela característica da ciência biológica ser

voltada a inventariar o conhecimento do mundo vivo, mas demonstra que os

professores não possuíam a estrutura conceitual formada dessa habilidade.

Os dados apresentados na tabela 9, quando comparados ao tempo de

experiência dos professores em sala de aula, demonstram, por inferência, que esse

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242

saber (a estrutura conceitual de identificar) parece não está incorporado aos

conhecimentos necessários à atividade profissional do professor de Biologia.

Esse resultado expressa uma contradição no que se refere à função do

ensino de biologia na escola, uma vez que segundo Vygotsky (1993) é na escola

que o homem se apropria dos conceitos científicos e desenvolve as capacidades do

pensamento a partir da assimilação da cultura humana. Davidov (1987), baseado no

princípio de Vigotsky (2005), de que a aprendizagem é forma de desenvolvimento

mental, proclama que enquanto forma-se conceito científico são incorporados

processos do pensamento, os procedimentos lógicos (estruturas cognitivas do

pensamento). Essas estruturas permitem ao indivíduo, a partir da assimilação ou

apropriação do sistema de ações e do nível de conscientização a respeito das

operações lógicas a serem realizadas, a capacidade de utilizar os conceitos, em

qualquer ramo do saber.

O resultado encontrado com relação ao modelo da ação corrobora com o

que foi verificado em relação ao modelo do objeto. A tabela 10 expõe a

categorização realizada.

Tabela 10 - Categorização das respostas dos professores quanto ao modelo da

ação da habilidade de identificar

Categoria

(modelo da ação) Categoria analisada Quantidade %

Nível Alto

Explicita de forma correta todas as

operações realizadas na habilidade

de identificar

_ _

Nível Médio

Explicita algumas operações

realizadas na habilidade de

identificar, mas comete erros na

sequência ou não deixa claro

7

100

Nível Baixo

Não consegue explicitar que

operações são realizadas na

habilidade de identificar

___ ___

Total 7 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Na totalidade dos professores que compunham o grupo (7professores),

nenhuma de suas respostas foi categorizada no nível I, o que significa que os

professores não conseguiram explicitar de forma correta todas as operações realizadas

na identificação. Explicitaram algumas operações, mas cometeram erros. Isso significa

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243

que apesar de estarem familiarizados com o procedimento de identificar, não o

executam com domínio, de forma consciente. As operações são realizadas com base

no que aprenderam de forma empírica (mecânica) quando eram alunos no ensino

básico e também na graduação e pós-graduação. As respostas demonstram que o

conjunto de operações para a realização do processo de identificação não é

desconhecido para a maioria dos professores, mas não havia o domínio da estrutura

operacional do processo. Pode-se dizer que os professores não reconheciam os nexos

que se estabeleciam entre os diversos procedimentos nas habilidades cognitivas e

cognitivo-linguísticas e fazem a identificação de forma empírica. Alguns exemplos de

respostas dadas pelos professores podem revelar facilmente essa proposição.

Verificar as características que possam diferenciar o organismo a partir de outro organismo. (P7).

Podem ser comparadas as características físicas do novo animal aos grupos já existentes para enquadrá-lo no grupo semelhante a ele. (P6).

Fragmentos da fala dos professores demonstram a percepção desses

em relação à fragilidade quanto a esse conhecimento profissional.

Nossa, parece brincadeira que a gente usa isso para dar aula e não consegue colocar em uma resposta. (P3)

Vou confessar... Estou confusa, não sei dizer... Acho que tem relação com as características, a diversidade, o hábitat... Como é que eu ensino isso?!. (P2).

A preocupação do professor (P2) quanto a como ensinar o que não

sabe, pode explicar os resultados encontrados em vários trabalhos no ensino de

Biologia72 que indicam a dificuldade dos estudantes ante certos conceitos

biológicos e sua operacionalização. Segundo Talízina (2009), o conhecimento da

estrutura da ação é condição para garantir a direção do processo de assimilação

de conhecimentos. Se a estrutura da ação não é conhecida pelo professor, como

este poderá planejar tarefas para operacionalizar os conceitos que estão sendo

estudados? E sendo os procedimentos ferramentas do conhecimento teórico, os

professores acabam por não conseguir ensinar os conceitos, consequentemente

os alunos não aprendem, de forma generalizada.

As respostas dos professores em relação à pergunta de número 3

(três), sobre a importância da identificação na atividade científica dos biólogos,

pode ser conferida na tabela 11. Essa questão se relacionava ao conhecimento

dos professores em relação à epistemologia da ciência.

72 Alguns desses trabalhos foram citados na problematização.

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244

O resultado mostra que não há compreensão da habilidade de

identificar, enquanto ferramenta do método. 57% do grupo (4 professores)

conseguiram de forma parcial explicitar o papel da identificação na atividade

científica e 43% (3 professores) não conseguiram determinar o papel dessa

habilidade na atividade científica (tabela 11).

Tabela 11 - Categorização das respostas dos professores quanto ao modelo

epistemológico da habilidade de identificar

Categoria

(modelo

epistemológico)

Categoria analisada Quantidade %

Nível Alto

Explicita de forma correta o papel da habilidade

de identificar na atividade científica _ _

Nível Médio

Explicita o papel da habilidade de identificar na

atividade científica, mas comete erros 4 57

Nível Baixo

Não consegue explicitar o papel da habilidade

de identificar na atividade científica 3 43

Total 7 100

Fonte: Maria da Glória Albino

Isso ratifica o encontrado por Tobaldini et al. (2011), quando investigaram o

conceito de ciências, e seu ensino, com professores e alunos do curso de ciências

biológicas. Os autores explicitam na pesquisa que os professores, mesmo os que eram

pesquisadores, possuíam uma concepção simplista da ciência. Para eles, isso pode ser

explicado porque a pesquisa na Biologia é tradicionalmente descritiva e experimental,

mas não apresenta a teoria necessária à compreensão do processo realizado.

Fragmentos da fala dos professores durante a realização da tarefa

confirmam o resultado de Tobaldini et al. (2011).

Essa pergunta ‘3’... Não entendi... O que é que eu tenho que responder? (P2).

É só responder pra que serve a identificação em um laboratório, né?! (P5).

Então ajuda ai... (P4).

Eu acho que tem relação com facilitar o estudo sobre algo... (P3).

A afirmação dos autores de que ocorrem interpretações equivocadas da

ciência e que conotações de senso comum permanecem permeando os contextos do

ensino básico e superior, se torna plausível na presente pesquisa, uma vez que a

maioria dos professores (57%) tem pós-graduação em Biologia e, por inferência dos

resultados, demonstraram fragilidades quanto à concepção epistemológica da ciência.

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245

Para Marx, segundo Lenin (1973), o empirismo é o erro endêmico do senso

comum. Nesse sentido, na concepção da didática materialista dialética histórica, a

formação de procedimentos no ensino de ciências, é um Inter objeto, por meio do qual a

cultura científica básica do exercício do trabalho científico é apropriada, o que significa

que a atividade científica é um aspecto essencial do objeto de estudo da Biologia. E

assim, é parte integrante do conhecimento disciplinar.

A pergunta número 4 (quatro) teve como objetivo saber o conhecimento

dos professores em relação ao modelo didático da habilidade de identificar, ou seja,

qual o papel representado pela habilidade no ensino de Biologia. A categorização

das respostas dos professores pode ser observada na tabela 12.

As respostas dos professores confirmam o que vem sendo apresentado

pelos resultados anteriores, aqui descritos e analisados. Dos 7 (sete) professores

que participaram da atividade de motivação e diagnóstico, nenhum deles explicitou

de forma correta o papel da habilidade de identificar no contexto do ensino de

Biologia. 43% (3 professores), explicitaram o papel da habilidade nesse contexto,

mas cometeram erros, e a maioria, 57% (quatro professores), não conseguiu

explicitar o papel da identificação no ensino de biologia (tabela 12).

Tabela 12 - Categorização das respostas dos professores quanto ao modelo

didático da habilidade de identificar

Categoria

(modelo didático)

Categoria analisada Quantidade %

Nível Alto

Explicita de forma correta o papel da

habilidade de identificar no contexto

do ensino de biologia

_ _

Nível Médio

Explicita o papel da habilidade de

identificar no contexto do ensino de

biologia, mas comete erros

4 57

Nível Baixo

Não consegue explicitar o papel da

habilidade de identificar no contexto

do ensino de biologia

3 43

Total

Fonte: Maria da Glória Albino

A discussão desse resultado parte de que a habilidade de identificar é

considerada uma habilidade específica no ensino de Biologia, uma vez que é

requerida para a organização hierárquica dos organismos, a compreensão dos

processos ambientais e evolutivos. Isso significa que ao ensinar, por exemplo, o

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246

processo de sistematização dos organismos, o professor deveria levar em

consideração o sistema de ações, do qual a habilidade de identificar faz parte, para

que seus estudantes possam alcançar uma aprendizagem efetiva e autônoma. De

uma forma geral, as habilidades, segundo Almentero et al. (2013), são componentes

do conteúdo do processo de ensino-aprendizagem que refletem as realizações do

homem em um ramo do saber, no caso a Biologia, e expressa em linguagem

didática, um sistema de ações e operações que se dirigem a um objetivo. Isso

significa que os objetivos do ensino só estão concretamente formulados quando se

declara o que o aluno vai fazer com determinado conceito, lei ou princípio. Isto é, o

professor só pode atestar a aprendizagem de um determinado conceito por um

estudante, se este for capaz de comprovar o pertencimento de um objeto, fenômeno

ou processo à extensão de um conceito, utilizando o sistema de características

necessárias e suficientes do conceito, isto é, nada mais que, identificação.

Mais uma vez, pode-se identificar por fragmentos da fala dos professores,

que esse conhecimento nunca havia sido motivo de estudo com preocupação por

parte deles.

Vou responder essa questão 4, mas acho que é igual a 3. (P2).

Eu acho que não. Mas não sei dizer a diferença. Nunca havia pensado nisso. (P7).

Eu acho que não tem muita importância no ensino. Se a gente ensina o conceito e o aluno aprende, ele faz qualquer coisa. (P1).

A percepção do professor de que a habilidade de identificar não tem

importância didática, demonstra claramente que este não planeja suas aulas de

forma a explicitar os objetivos por meio das habilidades as quais se vinculam. Ou

seja, não expressa o que o aluno deve ser capaz de fazer ao final de cada unidade

estudada ou cada aula em termos de ações. Segundo Talízina (2000, p. 96),

Si el alumno simplesmente memoriza varias decenas de nombres y hechos de las ciencias naturales, no podrá compreender las leyes e la naturaleza. Si el escolar domina los medios de la observación de los objetos de la naturaleza, los métodos para su análisis y para el establecimiento de las relaciones causa-consecuencia, entre otros, entonces, esto será el inicio de la formación del pensamento adecuado para el estúdio de las ciencias biológicas.

Esta concepção defendida por Talízina (2000) esclarece a importância

dos procedimentos no ensino de Biologia, que tem como objetivo permitir aos

estudantes a formação de um pensamento adequado para o estudo da disciplina a

partir da conformação de estruturas cognitivas do pensamento, que possibilitam a

aprendizagem de forma consciente.

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247

Os resultados encontrados nessa categorização e os fragmentos das

falas dos professores obtidas na observação da atividade diagnóstico, ratificam a

representação dos professores sobre a habilidade de identificar, inferida na

triangulação dos campos semânticos, apresentada no item anterior.

Analisando os dados obtidos, pode-se interpretar que os professores

apresentaram um nível de desenvolvimento médio em relação à habilidade geral de

identificar. O que permite inferir que eles não dominavam o modelo do conceito, a

sequência de ações e não generalizavam73 a utilização do procedimento. Essa

resposta comprova a contradição percebida entre o que é determinado nos

documentos legais da educação brasileira como função do ensino de ciências (onde

as habilidades são reconhecidas como um saber necessário para a Biologia) e o que

é estabelecido na graduação e pós-graduação como conhecimento profissional do

professor de Biologia.

As informações aferidas e inferidas no diagnóstico foram a base para o

planejamento de um sistema didático para a atualização da habilidade de identificar.

Este considerou as dificuldades explicitadas pelos professores como orientação para

a produção das tarefas que objetivam a atualização74 dessa habilidade no contexto

do ensino de Biologia.

73 Generalizar, aqui, refere-se à compreensão correta da habilidade de identificar no contexto da

produção científica e no contexto do ensino de ciências. A justificativa para essa concepção se baseia em que na generalização, a operacionalização teórica, com conceitos, leis e princípios gerais da ciência, fornece subsídios aos professores sobre a epistemologia da ciência. Esse saber, auxilia a utilização correta dos procedimentos didáticos-metodológicos para ensinar ciências. Segundo Davidov (1983), a exatidão da identificação depende da plenitude dos traços que figuram no abstrato-genérico.

74 Confirma-se pelo resultado que se trata de uma atualização e não formação da habilidade, uma vez que os professores apresentaram desenvolvimento considerado médio pela categorização realizada.

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7 PROPOSTA PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DIDÁTICO

O Sistema Didático se constituiu como um conjunto de tarefas cujas

ações, de direção do processo de aprendizagem, levaram em conta as diferentes

categorias didáticas e suas interações, com a intenção de garantir o processo de

atualização da habilidade de identificar, seguindo as etapas de assimilação

estabelecidas na Teoria de Galperin.

A proposta foi elaborada considerando como objeto de estudo a habilidade

de identificar; como motivo à necessidade formativa dos professores de Biologia, uma

vez que essa habilidade geral se constitui um procedimento lógico que faz parte do

saber profissional75, a BOA III que corresponde à orientação necessária para a

realização das tarefas do tipo identificar. Apresenta, como elementos, a relação entre o

objetivo (propiciar a atualização do conteúdo do objeto de forma consciente) e o

conteúdo (conteúdo disciplinar de Biologia), e as necessidades formativas dos

professores participantes em relação à habilidade de identificar.

A sequência metodológica organizada para a operacionalização do

Sistema Didático foi desenvolvida em três momentos: o diagnóstico inicial, a

atualização da habilidade (o conjunto de tarefas – desde a motivação até a etapa

mental) e o controle final. Sendo que o controle e a motivação devem ser mantidos

durante todo o processo.

7.1 1º. Momento: diagnóstico do nível de desenvolvimento

Objetivo: Determinar o nível de desenvolvimento da habilidade de

identificar nos professores.

O ponto de partida para alcançar o objetivo para o qual foi proposto o

Sistema Didático, constitui o diagnóstico inicial. A avaliação diagnóstica pode ser

definida como uma atividade sistemática mediante a qual se julga aprioristicamente

o que ocorrerá durante ou depois da intervenção formativa. O propósito dele é o de

tomar decisões pertinentes sobre a viabilidade do que será realizado, evitando erros

ou inadequações no planejamento do processo de atualização. A partir disso, o

75 Os resultados do diagnóstico realizado demonstraram que o nível de desenvolvimento da

habilidade é considerado médio, sendo, portanto, oportuna e necessária à atualização dessa habilidade. Como se trata de uma proposta, também é apresentada a primeira etapa, o diagnóstico, mas esse não será àquele realizado durante a parte empírica.

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orientador do processo obtém o conhecimento prévio dos professores sobre o

modelo do conceito e o modelo da ação da habilidade de identificar. Segundo Núñez

e Ramalho (2012), não se trata de um diagnóstico de pré-requisitos ou somente de

ideias, mas a caracterização do grau de desenvolvimento inicial da habilidade a ser

formada na ZDP. É claro, portanto, que a função deste tipo de tarefa é a de

identificar a realidade de cada professor e do grupo para compará-la com a

realidade pretendida nos objetivos do sistema didático (a atualização da habilidade

de identificar com alto grau de generalização).

O diagnóstico pode ser executado por meio de uma tarefa ou

questionário. Sua função é servir de base para a produção do sistema didático para

a atualização da habilidade de identificar. Para que se possa realizar um diagnóstico

que realmente explicite o nível de desenvolvimento, é importante a produção e

validação de um plano de tarefa diagnóstica. O quadro 18 mostra o modelo de plano

de tarefa que pode ser usada para a realização do diagnóstico.

Quadro 18 - Plano da tarefa diagnóstica

Plano da Tarefa Diagnóstica

CONTEÚDO: Classificação zoológica.

OBJETIVO: Conhecer o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar.

ETAPA: Diagnóstico. ATIVIDADE: Um biólogo foi incumbido de identificar ou reconhecer um espécime nativo da Floresta Amazônica. O responsável pela descoberta do espécime acredita que se trata de um artrópode. Sendo você o biólogo como você faria para identificar ou reconhecer esse espécime? Descreva o processo passo a passo e explicite a diferença entre os processos de reconhecimento e identificação

RESPOSTA O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito do grupo taxonômico do reino animal que se insere em sua hipótese primeira. Depois disso, deve-se estabelecer a relação entre o animal descoberto e o conceito de referência (do grupo). O passo a passo:

1. Determinar o conceito de artrópode 2. Observar o animal descoberto 3. Estabelecer as características do animal 4. Comparar as características do animal com as do conceito de artrópode 5. Determinar o pertencimento ou não do animal ao grupo dos artrópodes

Identificar é um procedimento relacionado a objetos, fenômenos ou processos ainda desconhecidos, ao passo que reconhecer se relaciona a objetos, fenômenos ou processos já conhecidos. Desta forma na identificação é necessário a definição de um conceito de referência (conhecimento teórico), enquanto no reconhecimento é necessário apenas a percepção (conhecimento empírico) JUSTIFICATIVA Essa tarefa constitui-se como um pré-teste, para diagnosticar o nível de desenvolvimento da habilidade de identificar. O seu resultado será comparado com o pós-teste, realizado ao final do sistema didático.

Fonte: Maria da Glória Albino

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A análise do nível de desenvolvimento da habilidade pode ser realizada

de diversas formas, uma delas é fazendo a comparação do que foi explicitado pelos

professores com o modelo do objeto e o modelo da ação para a habilidade.

Com base na avaliação do diagnóstico inicial, são organizadas as tarefas

do sistema didático.

As tarefas, aqui apresentadas, foram planejadas de acordo com o

resultado do diagnóstico realizado com o grupo de professores do IFRN que

realizaram a tarefa problêmica e responderam o questionário, cujos planos foram

apresentados na metodologia. O resultado obtido com a tarefa e o questionário, com

o auxilio da observação, permitiu a interpretação de que os professores não

dominavam os conceitos que se relacionavam à habilidade de identificar. A análise

do diagnóstico possibilitou a caracterização do nível de desenvolvimento da

habilidade como sendo médio, o que significou que os professores tinham uma

familiarização com a habilidade, embora cometessem erros ao definir a estrutura

conceitual e operacional para identificar, além disso, possuíam fragilidades em

relação ao papel dessa habilidade na epistemologia da ciência e na didática do

ensino de ciências.

Tendo como base esses resultados, cada tarefa foi concebida com o

propósito de que sua aplicação constituísse uma via para a estimulação do

desenvolvimento teórico; que se relacionasse ao contexto epistemológico e ao

contexto do ensino, considerando a relação dialética entre o cognitivo e o afetivo, e a

comunicação interativa como partes do requerimento para a atualização da

habilidade de identificar.

7.2 2º Momento: proposição da atividade para atualização da habilidade

A proposta do sistema de tarefas se baseia na concepção de que a

aprendizagem deve ser um processo ativo76 na busca do conhecimento. Desta

forma, sua estruturação considera que as ações relacionadas ao domínio da

habilidade devem ser realizadas em etapas constituintes dos momentos de

orientação, execução e controle da atividade, propostos na Teoria de Galperin. Para

76 Segundo Silvestre Oramas (2001), na aprendizagem vista como um processo ativo, o aprendente

adquire conhecimentos desenvolve seu intelecto, o que exige que na interação sujeito-objeto, apareçam os elementos necessários (as operações) para analisar, comparar, refletir, definir, identificar, valorar, resolver problemas, entre outros...

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Fariñas León (1999), os princípios fundamentais dessa teoria, ao sustentar que os

processos mentais podem nascer na atividade planejada (por etapas) para logo

converter-se em elementos funcionais da própria atividade, ampliam e enriquecem

as possibilidades de aprendizagem. Em outras palavras, o que a autora expressa é

que o pensamento lógico, a atenção, o pensamento metafórico, o domínio das

habilidades, etc podem ser aprendidos eficientemente nessas condições propostas

em uma atividade planejada nas etapas de assimilação, e, estes logo se incorporam

a trama da dinâmica dos processos de aprendizagem.

O objetivo central proposto na teoria, segundo a autora no mesmo artigo,

é a interiorização de um conhecimento por meio de uma complexa gama de eventos

interconectados em busca da formação do plano mental ou na inclusão deste em

algum conteúdo já existente. Estes eventos se sucedem sob a direção de um

orientador ou formador e através de um conjunto de tarefas concebidas para

alcançar essa internalização, no decurso da atividade.

Sendo uma atividade, segundo Leontiev (1978), não pode existir sem

motivação. Segundo o autor, mesmo quando o motivo não é reconhecido, isto é,

quando o ser humano não se dá conta, não tem consciência de que fator o conduziu

a realizar uma ação ou outra, ele (o motivo) ainda encontra seu reflexo psíquico na

forma da coloração emocional da ação. Isso significa que a etapa zero (denominada

por Talízina, 1984) para a execução da atividade de atualização é importante por

relacionar o cognitivo com o afetivo na aprendizagem, sendo responsável pela

realização da atividade.

a) Motivação para a atualização da habilidade

Objetivo: Motivar o professor participante, por meio do reconhecimento de

sua necessidade de atualização da habilidade geral de identificar.

Nessa etapa, que inicia o processo, não há intenção de introduzir

conceitos. A tarefa proposta deverá fazer com que os professores participantes

percebam que os conhecimentos a serem estudados no sistema didático, são

importantes para a resolução dos tipos de situações que haviam sido propostas na

tarefa problêmica e/ou no questionário do diagnóstico inicial. Segundo Talízina

(1987), na motivação é necessário fazer com que cada professor participante tenha

consciência de que o conhecimento que possui é insuficiente para realizar

determinada tarefa. Isso explicita a contradição entre o que sabe e o que deveria

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saber, a partir da significação da importância que esta aprendizagem tem para sua

vida (profissional).

A proposição dessa etapa, concebida de acordo com Talízina (2000), é a

de motivar a necessidade de aprender, e essa dever ser mantida em cada uma das

seguintes etapas. Pois, segundo Talízina (1984), quando o participante se dá conta

de que “precisa” do conhecimento e que esse é um elemento da ação, da atividade,

se prepara para conhecer coisas que não conhece e que lhe interessam. Para tanto,

foi produzida uma tarefa motivacional, cujo plano pode ser visto no quadro 19.

Quadro 19 - Plano da tarefa motivacional

Plano da Tarefa Motivacional

CONTEÚDO

Habilidade de Identificar

OBJETIVO

Motivar, o professor participante, por meio do reconhecimento de sua necessidade de atualização da habilidade geral de identificar para a realização de tarefas do mesmo tipo da que realizou no diagnóstico.

ETAPA

Motivação

ATIVIDADE

Leitura e discussão dos textos de apoio: “A importância do procedimento de identificar na Biologia”, produzido pela pesquisadora, “procedimentos lógicos”, texto explicativo produzido pela pesquisadora e o artigo “O desenvolvimento dos procedimentos do pensamento lógico: Comparação, Identificação e Classificação”, de autoria de Ribeiro e Núñez (1997), segundo o Apêndice E e Anexo A.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como leitura e discussão sobre a habilidade de identificar que expresse a necessidade da atualização da habilidade. A utilização de texto para a motivação, se apoia em Núñez e Ramalho (2015).

Fonte: Maria da Glória Albino

A motivação pode ser realizada em um ou dois encontros devido ao

tempo gasto para a leitura e discussão dos textos de apoio apresentados.

São também possíveis a utilização de tarefas do tipo problêmica, que

façam os professores participantes tomarem consciência da necessidade formativa

em relação a habilidade de identificar, como a apresentado do quadro 20.

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Quadro 20 - Plano da tarefa motivacional

Plano da Tarefa Motivacional

CONTEÚDO

Habilidade de Identificar

OBJETIVO

Motivar, o professor participante, por meio do reconhecimento de sua necessidade de atualização da habilidade geral de identificar para a realização de tarefas do mesmo tipo da que realizou no diagnóstico.

ETAPA

Motivação

ATIVIDADE

Um aluno, muito interessado em ideogramas de cariótipos, apresenta essa representação, de cromossomos de células diploides humanas, ao seu professor de Biologia e pergunta como deveria fazer, que passos deveria realizar, para identificar os cromossomos homólogos. Outro aluno, que escuta a conversa, aproveita a oportunidade para perguntar o que é identificar. Se você fosse esse professor como responderia esses questionamentos? O que é identificar? Que passos devem ser executados para uma identificação?

RESPOSTA

Identificar é um procedimento lógico realizado por meio de um sistema de ações. Esse procedimento se relaciona com os conceitos. Para a identificação dos cromossomos homólogos devem ser seguidos os passos: 1. Determinar o conceito de cromossomo homólogo; 2. Observar e estabelecer as características utilizadas dos cromossomos; 3. Comparar os cromossomos de acordo com as características definidas no conceito.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa do tipo problêmica se constitui meio para a motivação para a atualização da habilidade de identificar, à medida que expresse a necessidade da atualização da habilidade.

Fonte: Maria da Glória Albino

Para Talízina (1987), a motivação é à base de qualquer atividade, lhe dá

impulso e direção. Se esta não é alcançada, o resto do processo tão pouco pode ser

alcançado. Segundo a autora, ela é preparatória, tanto do ponto de vista orgânico,

como da criação de motivos positivos para a realização da atividade.

No caso dos docentes, sujeitos da pesquisa, assim como ocorre com

qualquer outro sujeito que se predispõe a aprender; experimentar a necessidade de

aprender é algo mais intenso que o interesse pela aprendizagem. Segundo Talízina

(1984), os adultos (aqui, os professores), por sua experiência profissional e de vida,

sofrem a interferência na atividade de muitos mais fatores do que os aprendentes mais

novos e menos experientes. Por isso, Salcedo Estrada et al. (2009), apontam três

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importantes aspectos que devem ser levados em conta quanto à motivação: a)

Encontrar o valor do conhecimento; b) Que essa valoração se relacione à sua utilidade;

e, c) Que existam condições para que se alcance o êxito na aprendizagem. Essas

condições se relacionam ao tempo para a realização da atividade e a existência de um

orientador que dirija o processo, que deve ser realizado de forma interativa.

O estudo das características da habilidade de identificar (objeto de

estudo) facilita que sejam encontradas as qualidades que lhe conferem determinado

valor de estudo, e, assim, encontrar a utilidade que este tem, ou seja, seu valor. A

revelação da “utilidade” leva à compreensão de “para que estudar aquele conteúdo”,

o que deve favorecer o interesse e a motivação, possibilitando que seja encontrado

o significado que tem a habilidade de identificar e o sentido que, a ela, é dado pelo

professor aprendente.

- Proposição das Tarefas para atualização da habilidade

Segundo as orientações da teoria de Galperin, quando se forma um tipo

de atividade geral totalmente nova, são necessárias as seguintes proposições: a)

Encontrar a forma adequada da ação; b) Encontrar a forma material, materializada

externa de sua apresentação e; c) Transformar essa ação externa em interna. Essa

proposição, entretanto, leva em conta que, a princípio, não se trata da formação de

da habilidade e sim da atualização, já que os participantes, sendo professores de

Biologia, formaram a habilidade de identificar (com outros modelos estruturais)

durante todo o seu processo de educação institucionalizada. Isso significa que talvez

não sejam necessárias todas as etapas do processo.

A proposta é que os professores participantes realizem tarefas de mesmo

tipo, mas de formas diferentes, dentro de um sistema didático. Sendo a situação de

atualização uma situação social de comunicação e um lugar de interação entre

formador e professores e também os professores entre si. A aprendizagem acontece

durante as discussões, comparando, desenvolvendo valores e atitudes favoráveis,

ou não, a essa proposição.

b) Etapa para a construção e estabelecimento da orientação

Objetivo: construir de forma coletiva a orientação para a realização de

tarefas relacionadas à identificação.

A etapa do estabelecimento da BOA III, segundo Núñez (2009), constitui

a construção, para o sujeito, da imagem da ação que ele irá realizar; a imagem do

produto final, ligada tanto aos procedimentos como ao sistema de condições

exigidas para a ação. A BOA se constitui o modelo da atividade, um projeto de ação

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e, assim sendo, deve refletir todas as partes estruturais e funcionais da atividade

(orientação, execução e controle). Em Talízina (1988), é possível distinguir 3 fases

nesta etapa: a) A representação do(s) objetivo(s) a alcançar, ou seja, o produto

esperado definido o mais concretamente possível; b) A antecipação sobre as ações

a serem realizadas; c) A planificação ou eleição de uma estratégia.

Nessa etapa, é introduzido o sistema de características necessárias e

suficientes do conceito da habilidade de identificar; e determina-se o sistema de

ações que caracteriza o tipo de atividade que será realizada com esse conceito – as

operações necessárias para a identificação (a chamada invariante da ação).

Segundo Talízina (1984), é precisamente sobre a base da invariante que se ensina a

orientação para a ação, o modelo da ação, e esta se torna o objeto de assimilação.

Isto porque embora o modelo seja utilizado em uma situação concreta, essas são

apenas meios - tarefas de mesmo tipo - e não objetos de assimilação.

Ao considerar os objetivos propostos e o indicador qualitativo de grau de

generalidade77, a BOA tipo III foi a opção escolhida, por ser apropriada, para a

atualização da habilidade geral de identificar.

Segundo Núñez (2009), a construção da BOA tipo III supõe:

a) a compreensão das situações problemas, como casos particulares de

um conjunto de tarefas de mesmo tipo;

b) as análises das situações-problemas;

c) determinação do conteúdo conceitual, como invariante do

conhecimento;

d) determinação do procedimento geral, como invariante do procedimento

(nesse caso a invariante foi estabelecida pela lógica);

e) modelizar (representar) o método geral de solução para o conjunto de

tarefas do mesmo tipo.

A produção do modelo da BOA tipo III caracteriza a etapa do

estabelecimento do esquema da BOA78. A orientação para a habilidade de identificar

elaborada de forma conjunta (pelos professores participantes e o formador), em um

processo de negociação de sentido e significado que é concretizado com a produção

77 O indicador qualitativo foi relacionado ao sistema didático na metodologia, na seção 5.5.3. 78 O esquema da BOA tipo III é realizado a partir da negociação de sentido e significado com o grupo

de professores. Assim, o modelo apresentado aqui pode ser modificado no processo de construção conjunta entre aprendentes e formadores. Por exemplo: o estabelecimento do pertencimento ou não do objeto à classe delimitada pode ser expresso em operações: a) Observar; b) Determinar as características essenciais do objeto; c) Comparar as características do objeto às características do conceito lógico em sua definição.

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das tarjetas ou cartões de estudo. Assim, cada professor participante constrói, a

partir da negociação realizada entre o grupo e o formador, um cartão de estudo que

será utilizado como um dos apoios na etapa seguinte, a materializada onde será de

grande importância.

O modelo do cartão de estudo da BOA (quadro 21) proporciona: a) as

características necessárias e suficientes do conceito; b) as operações que devem

ser realizadas com o objeto proposto; c) a sequência da execução.

Quadro 21 - Modelo da BOA tipo III para habilidade de identificar

Modelo da BOA tipo III para habilidade de IDENTIFICAR

Modelo Epistemológico

Nas Ciências Naturais, identificar é um procedimento lógico realizado por meio de um sistema de ações cognitivas que se desenvolve na atividade de descoberta e sistematização de novos conhecimentos.

Modelo do Objeto (Conceito de Identificar)

Identificar é determinar o pertencimento ou não, de um objeto a uma determinada classe de objetos com base no conceito dessa classe.

Modelo da Ação (as operações)

1. Determinar ou lembrar o conceito base da identificação. Determinar se é um conceito lógico. Se SIM – Continua / Se NÃO – Não continua. * Explicitar a estrutura lógica do conceito por meio de suas características necessárias e suficientes. 2. Atribuir se o objeto se relaciona com o conceito definido. Estabelecer o pertencimento, ou não, do objeto à classe delimitada pelo conceito a partir da regra lógica. Resposta Positiva - quando possuir todas as características necessárias e suficientes da definição. Resposta Negativa - quando não possuir pelo menos uma das características. Resposta Indeterminada - quando não for possível determinar a presença de, pelo menos, uma característica.

Fonte: Maria da Glória Albino

Para finalizar a etapa de estabelecimento da BOA e tendo como objetivo

a garantia da compreensão da orientação construída, é proposta uma tarefa79. Essa

pode ser a mesma utilizada no diagnóstico ou com o mesmo conteúdo. A tarefa, se

for a mesma utilizada anteriormente, terá agora uma nova função, pois segundo

Talízina (1988), ela servirá para a orientação da sistematização dos passos, os

procedimentos, para a execução das tarefas de identificar. Ela é realizada para que

o formador possa perceber se o professor sabe utilizar o cartão como apoio na

79 Como este sistema didático foi proposto a partir do diagnóstico realizado com o grupo de

professores do IFRN Campus Natal-Central. O plano, apresentado para o estabelecimento da BOA III, foi realizado com base na atividade aplicada no diagnóstico.

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execução de atividades de orientação do mesmo tipo. Segundo Fariñas León (1999),

a compreensão da BOA tipo III não depende somente da qualidade da orientação do

formador, mas também das preferências do modo de vivenciar o mundo por parte de

cada pessoa. Por isso, a importância da tarefa de estabelecimento da orientação,

pois essa permite a exteriorização da interiorização que está em processo.

O quadro 22 traz o plano da tarefa proposta para o estabelecimento da

BOA tipo III para a habilidade de identificar.

Quadro 22 - Plano da Tarefa da etapa da BOA

Plano da tarefa para o Estabelecimento da BOA tipo III

CONTEÚDO Classificação biológica.

OBJETIVO

Garantir a compreensão da orientação para a habilidade de Identificar.

ETAPA Estabelecimento da BOA.

ATIVIDADE

Um grupo de pesquisadores faz uma descoberta de um novo animal e precisa identificá-lo. A hipótese primeira do grupo é que se trata de um inseto. Em relação a essa situação, responda: - O que é identificar? - Explicite o passo a passo dos pesquisadores na tarefa de identificação.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito do grupo taxonômico do reino animal que se insere em sua hipótese primeira. Depois disso, deve-se estabelecer a relação entre os animais descobertos e o conceito referente ao grupo. O Detalhamento

1. Determinar o conceito de inseto São invertebrados com exoesqueleto quitinoso, corpo dividido em: cabeça,

tórax e abdómen, três pares de patas articuladas, olhos compostos e duas antenas.

2. Determinar se é um conceito lógico. Se sim, continua. Se não, para. 3. Estabelecer a relação entre o animal e o conceito referência a partir da

regra lógica 4. Definir o pertencimento ou não do espécime ao grupo dos insetos.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como um meio para garantir a compreensão de cada uma das ações estabelecidas pela lógica para a habilidade de Identificar. Por meio dela os professores participantes podem rever suas respostas no diagnóstico inicial e, utilizando o cartão de estudo construído, responder de maneira correta os questionamentos. O detalhamento da resposta foi realizado de acordo com as etapas propostas por Talízina 2000 (capítulos 5 e 9) para a identificação. Identificação de resposta positiva (+) – o espécime pertence a classe dos insetos – são indicações suficientes. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários

Forma da ação – com apoio para o estabelecimento da BOA III Grau de detalhamento - ação detalhada Grau de generalização – do tipo (+) Grau de independência – de forma colaborativa

Secundário Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

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RESUMO DA ETAPA: A etapa da construção e estabelecimento da BOA

(tipo III), se inicia com a negociação sentido significado direcionada pelo formador.

Depois da negociação, cada professor vai organizar o seu cartão de estudo com a

BOA para identificar. Após a organização dos cartões, é proposta uma tarefa para

que possa ser garantida a compreensão da orientação contida da BOA. O formador

deve fazer perguntas que levem à contradição e, assim manter a motivação do

grupo, preparando as duplas para a próxima etapa.

c) Etapa da Atividade Materializada80

Objetivo: realizar tarefas do tipo “identificar” com o apoio: dos cartões de

estudo, do formador, do colega, da internet.

A etapa de material ou materializada, segundo Núñez e Ramalho

(2012), é uma etapa de raciocínio teórico em que o aprendente trabalha, realiza

ações específicas com o objeto de assimilação. Com o apoio de cartões de estudo81

como referências, o trabalho de solução de tarefas deve ser realizado por duplas

(pares) de professores. Um atuando como o controlador (com um cartão para

realização do controle82), enquanto o outro executava a tarefa. Na tarefa seguinte,

invertem-se os papeis. A dupla executa as tarefas tendo como apoio materializado: o

modelo da BOA III, outros cartões de estudo e até mesmo livros ou a internet, caso

seja necessário.

A ação deve ser realizada com a estrutura completa de suas operações,

com toda a composição, ou seja, executada de forma detalhada (não generalizada)

e conscientemente.

Para essa etapa são propostas 6 tarefas, mas convém lembrar que a

realização das etapas se dá de acordo com a necessidade de cada dupla, ou seja,

dependendo do grau de independência adquirido pela dupla, a etapa pode ter mais

ou menos questões. Sendo essas de mesmo tipo, dentro do limite de generalização

do conceito da habilidade de identificar.

A seguir, serão explicitados nos quadros 23 a 27 os planos de tarefas

elaborados para a etapa materializada. Elas apresentam respostas de identificação

com resposta (+), quando o objeto é identificado como parte da classe de objetos

dados; de identificação de resposta (-), quando o objeto não faz parte da classe de 80 A etapa é assim determinada porque, por se tratar de uma habilidade, o objeto de estudo não

pode ser material, somente materializado. 81 Os cartões de estudo podem ser também relacionados aos conceitos, aos conteúdos que serão

utilizados para a realização das tarefas. É necessário que sejam fornecidos todos os meios para a realização da tarefa com êxito. Uma boa alternativa aos cartões de estudo, em relação a conceitos que serão abordados nas tarefas, é a utilização da internet por meio de tablets ou celulares.

82 O cartão de controle tem seu modelo no quadro 38, uma vez que é apresentado na etapa do controle. Mas vale ressaltar que o controle é realizado durante todas as etapas.

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objetos; de identificação com resposta (?), quando a identificação é indeterminada

(por falta de informações).

Planos das Tarefas propostas para a etapa materializada:

A tarefa 1 foi planejada tendo como conteúdo a classificação animal,

especificamente a classificação dos insetos devido à proximidade com a tarefa

proposta no diagnóstico. Essa preocupação se justifica à medida que o grau de

dificuldade deve ir do menos para o mais difícil, com a intenção de favorecer a

motivação à medida que se eleva a capacidade de resolver problemas (quadro 23).

Quadro 23 - Plano da tarefa 1 da etapa materializada

Plano da tarefa 1 da etapa materializada

CONTEÚDO Classificação animal.

OBJETIVO Identificar se determinado inseto é da ordem dos hemípteros.

ETAPA

Materializada

ATIVIDADE

Um morador de uma comunidade, próxima a capital, descobre em sua casa um inseto que acredita ser um barbeiro e fica amedrontado com essa possibilidade, uma vez que estes insetos se relacionam com a doença tripanossomíase. Para tentar ajudar o morador, um biólogo lhe indica que o primeiro passo é saber se o inseto pertence à ordem em que estão classificados os barbeiros. Essa é a sua tarefa, identificar se o inseto encontrado pertence à ordem dos hemípteros, com a ajuda do cartão de estudo. Registre de forma detalhada o processo para a solução da tarefa e explicite a solução para seu colega de dupla.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito do grupo taxonômico (ordem hemíptera) usado como referência. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre o espécime (que estará em uma placa de petri em cima da mesa) e o conceito referente ao grupo, usando os cartões de estudo e explicitando o processo para o colega de dupla. O detalhamento:

1. Determinar o conceito de hemíptero 2. Insetos que apresentam corpo dividido em cabeça, tórax e abdome, asas

em hemiélitros, cabeça cilíndrica com aparelho bucal picador-sugador. 3. Determinar se é um conceito lógico: Se sim, continua o processo. Se não,

para. 4. Estabelecer a relação entre o espécime (inseto) e o conceito referência a

partir da regra lógica 5. Definir o pertencimento ou não do espécime ao grupo.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa materializada para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. Identificação de resposta positiva (+) – o espécime pertence a ordem hemíptera – os hemiélitros e o aparelho bucal são indicações suficientes. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação:

Primários Forma da ação – materializada Grau de detalhamento: detalhada Grau de generalização – do tipo (+) Grau de independência – de forma colaborativa

Secundário Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

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A tarefa 2 (quadro 24) possui como conteúdo, ainda a classificação, só

que desta vez, a classificação vegetal. A escolha foi motivada pelo grau de

dificuldade para realizá-la ser provavelmente um pouco maior por se tratar de

plantas, mas se relaciona com a tarefa anterior. A afirmação quanto ao grau de

dificuldade, percebido pela experiência enquanto professora de ciências e Biologia,

é ratificada pela pesquisa realizada por Petrovich et al. (2014)83 com licenciandos de

Biologia, que verificou que 12, 9% dos entrevistados definiam botânica como um

conteúdo difícil de ser ensinado, enquanto a zoologia, não foi mencionada como

conteúdo difícil.

Quadro 24 - Plano da tarefa 2 da etapa materializada

Plano da tarefa 2 da etapa materializada

CONTEÚDO

Classificação vegetal

OBJETIVO Identificar na etapa materializada

ETAPA Materializada

ATIVIDADE

Um agricultor inexperiente entra em contato com biólogos da EMBRAPA para pedir ajuda em relação à planta tiririca que “invadiu” seu canteiro de mudas. Essa planta possui crescimento rápido e por isso compete com as mudas por espaço. Os biólogos informaram ao agricultor que o mesmo deve usar um herbicida que mate planta do tipo monocotiledônea, porém deve se certificar que no canteiro não haja outras mudas de monocotiledôneas, pois essas serão afetadas pelo herbicida. Uma das mudas que o agricultor tem dúvidas é a que está representada na figura (I). Essa planta possui flores pentâmeras como mostrada na figura II. Para ajudar ao agricultor na resolução desse problema, identifique se esta muda é uma monocotiledônea. Para tanto, use o cartão de estudo e explicite para seu colega de dupla. Registre de forma detalhada o processo para a solução da tarefa de identificação.

83 Essa pesquisa foi realizada com licenciandos do curso de Biologia da UFRN.

Figura II – flores pentâmeras Figura I – muda de planta

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Quadro 24 - Plano da tarefa 2 da etapa materializada (cont.)

Plano da tarefa 2 da etapa materializada

RESPOSTA

A identificação deve ser efetuada a partir do conceito do grupo taxonômico do

reino vegetal usado como referência. Com base nesse conceito, deve-se

estabelecer a relação entre o espécime vegetal e o conceito referente ao grupo,

usando os cartões de estudo.

O detalhamento:

1. Determinar o conceito de monocotiledônea - Vegetais do grupo das

angiospermas que possuem raiz do tipo adventícia, flores trímeras, inervação

foliar do tipo paralelinérvea.

2. Estabelecer se é um conceito lógico.

Se SIM, continua o processo. / Se NÃO, para.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa materializada para a atualização da

habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da

tarefa e o outro o controlador.

A Identificação tem resposta negativa (–) - A muda pertence a uma dicotiledônea.

Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação:

Primários

Forma da ação – materializada

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – do tipo ( - )

Grau de independência – de forma colaborativa

Secundário

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

A tarefa 3 (quadro 25) seguiu a lógica da anterior e também foi planejada

tendo como conteúdo a classificação vegetal. Vale lembrar aqui que os professores

podem ter alguma dificuldade em relação aos conteúdos presentes nas questões e

que durante essa etapa (materializada), os aprendentes devem ter todas as ajudas

possíveis, uma vez que nessa etapa a estrutura do conceito e da ação deve ser

realizada de forma detalhada para que a orientação possa seguir o percurso do

intrepsicológico para o intrapsicológico84.

84 Interpsicológico (nivel social, na comunicação entre pessoas), Intrapsicológico (nível individual,

mental)

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Quadro 25 - Plano da Tarefa 3 da etapa materializada

Plano da tarefa 3 da etapa materializada

CONTEÚDO

Classificação vegetal

OBJETIVO

Identificar na etapa materializada

ETAPA

Materializada

ATIVIDADE

O dono de um viveiro de plantas pediu ao seu funcionário que tirasse do canteiro de plantas, a serem vendidas, as mudas de Hibiscus. Como o funcionário não conhecia a flor, o dono do viveiro lhe informou que era a única dicotiledônea que existia no canteiro e apresentou-lhe três características que estão representadas nas figuras I, II e III. Sendo você um(a) biólogo(a) ajude o funcionário a cumprir sua tarefa. Identifique se a flor escolhida pelo funcionário é mesmo uma dicotiledônea. Faça isso com a ajuda do cartão de estudo e explicite para o seu colega de dupla. Registre de forma detalhada o processo para a solução da tarefa.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito do grupo taxonômico do reino vegetal usado como referência. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre o espécime vegetal e o conceito referente ao grupo, usando os cartões de estudo. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de dicotiledônea - Vegetais do grupo das angiospermas que possuem raiz do tipo pivotante, inervação foliar do tipo reticulada e flores tetrâmeras ou pentâmeras. 2. Estabelecer se o conceito é determinado de forma lógica. Se sim, continua. Se não, para. 3. Estabelecer a relação entre a representação da muda e o conceito referência a partir da regra lógica Se possui todas as características – pertence. Se não possui todas as características – não pertence Se alguma característica não pode ser observada ou se tem dúvida – resposta

indeterminada. 4. Definir o pertencimento ou não do vegetal ao grupo das dicotiledôneas.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui com parte da etapa materializada para a atualização da habilidade de identificar. Ela deve ser executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. Identificação de resposta positiva (+) – a representação das flores pentâmeras , raízes adventícias e folhas com nervura reticulada são suficientes para a identificação. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários Forma da ação – materializada Grau de detalhamento: detalhada Grau de generalização – do tipo (+) Grau de independência – de forma colaborativa, com apoio do cartão de estudo.

Secundário Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

Figura I – Flor Figura II – Folha Figura III – Raiz

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A tarefa 4 (quadro 26) foi elaborada tendo como conteúdo a classificação

animal. Para a sua realização, pode ser usada uma concha ou uma figura de

concha. Sua reposta é do tipo situação indeterminada (?), uma vez que a única

estrutura que pode ser observada do caramujo é a concha. Esse tipo de tarefa é

importante porque segundo Talízina (2009), tarefas desse tipo utilizam o meio lógico

que é amplamente usado no cotidiano, quando se decide se é possível solucionar

um problema com os meios existentes. No caso específico dessa tarefa, faltam

informações. O formador deve também chamar a atenção para esse tipo de

situações na ciência.

Quadro 26 – Plano da Tarefa 4 da etapa materializada

Plano da tarefa 4 da etapa materializada

CONTEÚDO

Classificação animal

OBJETIVO

Identificar um espécime de molusco com base em sua concha

ETAPA

Materializada

ATIVIDADE

Um pesquisador, ao visitar uma comunidade ribeirinha, encontra moradores amedrontados devido ao aumento da população de caramujos em uma lagoa que era utilizada para banho e recreação. O medo era justificado devido à perspectiva de que se tratasse de caramujos relacionados à doença esquistossomose, vulgarmente conhecida por, barriga-d’água. Identifique se o espécime pertence a espécie Biomphalaria glabrata, que se relaciona com a esquistossomose. Use o cartão de estudo e explicite a solução para seu colega de dupla. Registre de forma detalhada o processo para a solução da tarefa.

RESPOSTA

A identificação deve ser efetuada a partir do conceito do grupo taxonômico do reino animal usado como referência. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre o animal e o conceito referente ao grupo, usando os cartões de estudo. Nesse caso, a resposta é indeterminada, pois na definição são descritas características que não podem ser observadas devido à presença somente da concha. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de Biomphalaria glabrata - Caramujos com concha grande e lisa, podendo atingir 30 a 40 cm e seis a sete giros sem carena na superfície. Sua massa visceral caracteriza-se pela presença da crista sobre a superfície do rim e de uma dilatação em forma de bolsa 2. Estabelecer se o conceito é determinado de forma lógica. Se sim continua. Se não, para. 3. Estabelecer a relação entre o animal e o conceito referência a partir da regra lógica

Se possui todas as características – pertence.

Se não possui todas as características – não pertence

Se alguma característica não pode ser observada ou se tem dúvida – resposta indeterminada.

4. Definir o pertencimento ou não do animal a espécie Biomphalaria glabrata.

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Quadro 26 – Plano da Tarefa 4 da etapa materializada (cont.)

Plano da tarefa 4 da etapa materializada

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa materializada para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. Resposta indeterminada (?) – não é possível determinar se se relaciona ou não a esquistossomose. São descritas características que não podem ser observadas devido a presença somente da concha. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários

Forma da ação – materializada

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – do tipo (?) indeterminada

Grau de independência – de forma colaborativa com apoio do cartão. Secundário

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

A tarefa 5 (quadro 27), volta ao conteúdo relativo aos vegetais, porém

agora é utilizada a reprodução sexuada. Para manter a motivação, o formador pode

levar flores de hibisco, que são comuns nos jardins brasileiros; isso pode facilitar a

realização da tarefa nesta etapa, pois os aprendentes terão a possibilidade de

manipular o material a ser identificado como flor monoica.

Quadro 27 – Plano da Tarefa 5 da etapa materializada

(Continuação) Plano da tarefa 5 da etapa materializada

CONTEÚDO Reprodução vegetal.

OBJETIVO Identificar se a flor de Hibiscus é monoica.

ETAPA Materializada

ATIVIDADE

Um biólogo deu a uma amiga uma planta cheia de flores. A amiga, emocionada com o presente lhe diz que mulheres e flores se dão bem porque são do sexo feminino. O biólogo responde que nem sempre isso é verdade, existem flores dioicas (com estruturas masculinas ou femininas) e flores monóicas (com estruturas sexuais masculinas e femininas). A flor representada na figura e presente na placa de petri em cima da mesa é um Hibiscus. Identifique se se trata de uma flor do tipo monóica. Resolva a tarefa, com o apoio do cartão de estudo, se necessário, detalhando para o colega da dupla o processo de solução. Registre o processo por escrito.

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Quadro 27 - Plano da Tarefa 5 da etapa materializada

(Conclusão)

Plano da tarefa 5 da etapa materializada

RESPOSTA

A identificação deve ser efetuada a partir do conceito de flor do tipo monóica,

usado como referência. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação

entre o espécime (que estará em uma placa de petri em cima da mesa) e o

conceito referente ao grupo, usando os cartões de estudo.

O detalhamento:

1. Determinar o conceito de flor monoica

Flores que apresentam órgãos reprodutores de ambos os sexos, masculino

(Androceu) e feminino (Gineceu).

2. Determinar se é um conceito lógico

3. Estabelecer a relação entre a flor e o conceito referência a partir da regra

4. Definir o pertencimento ou não do espécime ao grupo.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa materializada para a atualização da

habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da

tarefa e o outro o controlador.

Identificação de resposta positiva (+) – o espécime pertence ao grupo das flores

monóicas, pois possui Androceu e Gineceu.

Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação:

Primários

Forma da ação – materializada

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – do tipo (+)

Grau de independência – de forma colaborativa

Secundário

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

A atividade 6 (quadro 28), se mantém na mesma lógica do mais simples

para o mais intricado. Ela também tem resposta do tipo indeterminada (?). Isso se

deve a falta de informações suficientes para a identificação do espécime. Sendo

essa a última tarefa proposta para a etapa material, o formador pode perguntar às

duplas formadas se ainda necessitam do cartão de estudo com a BOA. Se eles não

precisarem mais do cartão, o formador pode inferir que a orientação já passou da

fase materializada e pode então seguir para a próxima etapa, a da linguagem

externa.

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Quadro 28 - Plano da Tarefa 6 da etapa materializada

Plano da tarefa 6 da etapa materializada

CONTEÚDO Fisiologia vegetal.

OBJETIVO Identificar se determinado parasita vegetal é um holoparasita.

ETAPA Materializada

ATIVIDADE

Um fazendeiro manda uma carta para um Instituto de pesquisa em agricultura para pedir a identificação do tipo de parasita que está atacando os pés de mangueira em sua fazenda. O Biólogo responsável pela resposta da carta, escreve-lhe que poderia ser um holoparasita ou um hemiparasita. Para resolver a questão, o fazendeiro descreve o parasita que pode ser visto na copa das mangueiras. Eis a descrição feita pelo fazendeiro: O parasita apresenta caules finos, coloração amarelo- ovo. Com base nessa descrição Identifique se o espécime é um holoparasita. Explicite para o colega da dupla o processo que você utilizou para a identificação do referido espécime e utilize seu cartão de estudo, caso precise.

RESPOSTA

A identificação do tipo de parasita é realizada a partir da determinação do conceito de Holoparasita. O detalhamento:

1. Determinar o conceito de holoparasita São vegetais parasitas que não realizam fotossíntese e retiram todos os nutrientes de que necessitam de uma planta hospedeira.

2. Determinar se é um conceito lógico: Se sim, continua o processo. Se não, para.

3. Estabelecer a relação entre a descrição do parasita o conceito referência a partir da regra lógica

Definir o pertencimento ou não espécime ao grupo dos holoparasitas.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa materializada para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. Identificação de resposta indeterminada (?) – neste caso pode-se pensar que a descrição não é suficiente para a identificação. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários:

Forma da ação – materializada

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – (?) do tipo indeterminada

Grau de independência – de forma colaborativa Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

RESUMO DA ETAPA: Para a etapa materializada foram planejadas 6

tarefas que possuem respostas do tipo afirmativa (+), negativa (-) e indeterminada

(?). O formador deve, a cada tarefa, orientar o processo de comunicação entre as

duplas e, nesta etapa deve oferecer todos os meios disponíveis para a realização

das tarefas. Sendo assim, os professores aprendentes podem utilizar cartões de

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estudo, internet e podem também fazer perguntas ao formador. À medida que as

tarefas vão sendo realizadas pelas duplas (sendo alternado o realizador e o

controlador), é importante que o formador pergunte a elas se precisam de auxilio ou

se podem realizar a tarefa sem auxilio materializado. A etapa termina quando os

aprendentes não precisarem mais desse auxilio para o detalhamento da estrutura da

habilidade.

d) Etapa da atividade da ação verbal externa

Objetivo: Realizar tarefas do tipo “identificar” com menor nível de apoio

(sem apoio dos cartões, internet ou do formador), mas com apoio do colega.

Na etapa da linguagem externa, da ação verbal externa, as duplas são

mantidas, mas não há mais o apoio externo das tarjetas (cartões de estudo), da

internet ou qualquer apoio material ou materializado. Além disso, segundo Talízina

(1984), se na etapa material materializada o formador do processo era fonte de

novas informações, nessa etapa seu papel é outro: “não tem que ser uma fonte de

informação, mas um mecanismo regulador que dirige a ação” (p.206). Isto significa

que ele deve assegurar a realização das ações e detectar possíveis erros para que

possam ser resolvidos, mas não pode oferecer auxilio.

Os professores participantes devem trabalhar com as características do

conceito de identificar e com as regras lógicas, sem o apoio de objetos externos.

Vale ressaltar que as tarefas elaboradas para essa etapa também

seguem a proposição estabelecida, de realizar tarefas com respostas positivas,

negativas e indeterminadas. Esse cuidado foi estabelecido para cumprir o que

Talízina (2009) assinalou quanto à necessidade dos participantes do processo

trabalharem todos os tipos de tarefas. Além disso, nessa etapa é proposta uma

tarefa que possibilita a percepção, por parte do formador, do grau máximo de

generalização alcançado pelos professores participantes, uma vez que reflete o

limite de aplicação da atividade, ou seja, situações em que a identificação não pode

ser aplicada.

A seguir, serão explicitados nos quadros 29 a 32 os planos de tarefas

elaborados para a etapa da linguagem externa. Elas apresentam respectivamente,

identificação com resposta (-); fora do limite de aplicação, quando o conceito

referência não é do tipo lógico; de identificação com resposta (-); e de identificação

com resposta (+).

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Planos das Tarefas propostas para a etapa da Linguagem externa:

A tarefa 7 (quadro 29) foi planejada como a primeira tarefa da etapa da

linguagem externa. Seguindo a lógica do planejamento, se relaciona à divisão

celular que é apontada em Petrovich et al. (2014), como um dos conteúdo de maior

dificuldade para o ensino. Além disso, a identificação, pela primeira vez, está

relacionada a um processo.

Para garantir que os grupos estão preparados para essa etapa, é

aconselhável que o formador faça questionamento do tipo: tudo bem?! Você

consegue fazer sem os cartões de estudo?! A resposta positiva pode certificar que

as duplas estão na etapa da linguagem externa. Caso haja resposta negativa, as

questões podem ser realizadas com o apoio necessário, nesse caso, não se tratará

da etapa da linguagem externa, e sim materializada.

Quadro 29 - Plano da Tarefa 7 da etapa da linguagem externa

(Continuação)

Plano da tarefa 7 da etapa da linguagem externa

CONTEÚDO

Ciclo da vida de briófitas e pteridófitas

OBJETIVO

Identificar se o processo de divisão celular para a formação dos gametas, nesse ciclo de vida, é meiose.

ETAPA Linguagem externa

ATIVIDADE

O ciclo de vida de briófitas e pteridófitas pode ser representado, segundo o esquema a seguir.

No planejamento de uma aula para ensinar os ciclos de vida, o professor precisa saber como explicar os tipos de ciclo de vida, onde ocorre cada tipo de divisão. Para ajudar ao professor, sua tarefa é identificar se a divisão do tipo meiose ocorre no processo para a formação de gametas (anterozoide e oosfera). Registre o processo para a solução da tarefa e o detalhe para seu colega de dupla.

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Quadro 29 - Plano da Tarefa 7 da etapa da linguagem externa

(Conclusão)

Plano da tarefa 7 da etapa da linguagem externa

RESPOSTA

A identificação deve ser efetuada a partir do conceito de meiose, usado como

referência. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre o

processo que resultará em II (gametas) e o conceito de divisão celular meiose e

explicitar ao colega de dupla.

O detalhamento:

1.Determinar o conceito de meiose

Divisão celular que origina duas células filhas com a metade do número de

cromossomos da célula-mãe. Só acontece em células diploides e se relaciona a

produção de gametas e esporos.

2.Determinar se é um conceito lógico: Se sim, continua o processo. Se não,

para.

3.Estabelecer a relação entre o processo e o conceito referência a partir da

regra lógica.

4. Definir o pertencimento do processo ao conceito de meiose.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa da linguagem externa para a

atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o

realizador da tarefa e o outro o controlador.

Identificação de resposta negativa (-) – a célula-mãe não é uma célula diploide e

assim a divisão não pode ser meiose.

Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação:

Primários:

Forma da ação – materializada

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – do tipo ( - )

Grau de independência – de forma colaborativa, sem apoio do cartão.

Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

A tarefa de número 8 (quadro 30) tem como conteúdo o comportamento

animal. É uma tarefa cuja resposta não é possível. O conceito usado como

referência não é do tipo lógico, é um conceito que pode ser definido pela psicologia,

pela filosofia, mas não é definido de forma lógica, pois não possui características

necessárias e suficientes. Esse tipo de tarefa é importante para que se possam

estabelecer os limites de generalização do conceito de identificar.

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Quadro 30 - Plano da Tarefa 8 da etapa da linguagem externa

Plano da tarefa 8 da etapa da linguagem externa

CONTEÚDO

Comportamento animal

OBJETIVO Identificar se a monogamia está relacionada ao amor entre parceiros, na etapa linguagem externa.

ETAPA Linguagem externa

ATIVIDADE

Muitos animais são considerados monogâmicos como: lobos, gibões, peixe-frade, térmitas (inseto), dentre outros. A monogamia refere-se a um relacionamento onde o indivíduo tem apenas um parceiro durante parte da vida ou por toda a vida. A partir dessa descrição, identifique se a monogamia está relacionada ao amor entre os parceiros). Registre o processo para a solução da tarefa detalhando para seu colega de dupla.

RESPOSTA

A identificação deve ser efetuada a partir do conceito base usado como referência – amor. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre a monogamia e o conceito referente a amor e explicitar para o colega de dupla. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de amor Amor é um sentimento de carinho e demonstração de afeto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de demonstrá-lo. 2. Estabelecer se o conceito é determinado de forma lógica. Se sim 3. Estabelecer a relação entre a o conceito referência a partir da regra lógica Se possuir todas as características – pertence. Se não possuir todas as características – não pertence Se alguma característica não pode ser observada ou se tem dúvida – resposta indeterminada. Não se pode estabelecer a relação, pois não se trata de um conceito lógico.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa da linguagem externa para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. A Identificação não pode ser realizada– não se trata de um conceito lógico. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários:

Forma da ação – linguagem externa

Grau de detalhamento: detalhada

Grau de generalização – fora do limite de aplicação

Grau de independência – de forma colaborativa sem apoio do cartão Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

Ecologia foi o conteúdo escolhido para a atividade de número 9 (quadro

31), ainda na etapa da linguagem externa. Apesar de não ser um conteúdo tido

como difícil, o fato de se tratar de um processo a ser identificado pode dificultar a

realização da tarefa.

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Assim como foi realizado na etapa anterior, é bom que o formador

questione os grupos quanto à possibilidade de realizar a atividade sem apoio. Isso

porque, as etapas não são fixas e em se tratando de atualização da habilidade e não

formação, é possível que os professores não necessitem passar por todas as tarefas

ou até mesmo, por todas as etapas.

Quadro 31 - Plano da Tarefa 9 da etapa da linguagem externa

Plano da tarefa 9 da etapa da linguagem externa

CONTEÚDO

Ecologia

OBJETIVO Identificar se o processo descrito é o potencial biótico

ETAPA Linguagem externa

ATIVIDADE

Ao apresentar o menor tamanduá do mundo, a revista Ciência Hoje das Crianças, ano 19, n.º 174, nov. 2006, o descreve como solitário e com hábitos noturnos. Quando em atividade, se locomove vagarosamente e emite som semelhante a um assobio. A cada gestação, gera um único filhote. A cria é deixada em uma árvore à noite e é amamentada pela mãe até que tenha idade para procurar alimento. As fêmeas adultas têm territórios grandes e o território de um macho inclui o de várias fêmeas, o que significa que ele tem sempre diversas pretendentes à disposição para namorar! A situação descrita corresponde ao potencial biótico? Explicite o processo de solução para o colega de dupla.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de potencial biótico. E explicitar para o colega de dupla. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de potencial biótico Capacidade máxima de reprodução de uma espécie biológica, determinada

por fatores como duração do ciclo de vida e o tamanho da prole, sob condições ambientais ótimas.

2. Determinar se é um conceito lógico: Se sim, continua o processo. Se não, para.

3. Estabelecer a relação entre o processo e o conceito referência a partir da regra lógica

4. Definir o pertencimento ou não do processo ao conceito de potencial biótico

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa da linguagem externa para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. O Executor deve explicitá-la em voz alta para o controlador. Identificação de resposta negativa (-) – a descrição realizada se relaciona ao conceito ecológico de nicho e não ao conceito de potencial biológico. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários:

Forma da ação – mental

Grau de detalhamento: detalhada ou não detalhada

Grau de generalização – do tipo (-)

Grau de independência – sem apoio do cartão Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

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Seguindo a lógica estabelecida para o planejamento das tarefas, mais

uma vez, tem-se um processo, na questão de número 10 (quadro 32), para ser

identificado. A tarefa tem resposta do tipo positivo e o grau de detalhamento pode

ser reduzido.

Quadro 32 - Plano da Tarefa 10 da etapa da linguagem externa

Plano da tarefa 10 da etapa da linguagem externa

CONTEÚDO

Biotecnologia

OBJETIVO Identificar se a produção de cervejas e vinhos são processos de biotecnologia.

ETAPA Linguagem externa

ATIVIDADE

Em uma pesquisa sobre a eficiência de determinada marca de fermento biológico, um pesquisador pede a ajuda do padeiro para obter dados para sua análise. Ao conversar com o assistente do padeiro, ele explica que há milhares de anos o homem faz uso dessa biotecnologia e que o fermento é usado para promover o crescimento da massa, deixando-a leve e macia. O que mais intrigou o assistente é que o pesquisador disse que o homem vem usando a biotecnologia há muito tempo para produzir bebidas. Tentando entender o que é o processo de biotecnologia, o assistente de padeiro pergunta ao pesquisador se pode afirmar que a produção de cervejas e vinhos são processos de biotecnologia. O que o pesquisador deve responder? Execute essa atividade em voz alta para sua dupla.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de biotecnologia. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de biotecnologia.

Biotecnologia é qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica.

2. Determinar se é um conceito lógico: Se sim, continua o processo. Se não, para.

3. Estabelecer a relação entre o processo e o conceito referência a partir da regra lógica

4. Definir o pertencimento ou não do processo ao conceito de biotecnologia OBS: não precisa de detalhamento

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa mental para a atualização da habilidade de identificar. . Ela será executada em dupla sendo um o realizador da tarefa e o outro o controlador. O Executor deve explicitá-la em voz alta para o controlador. Identificação de resposta positiva (+) – o processo de produção de cerveja e vinho se inclui no conceito de biotecnologia. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários:

Forma da ação – linguagem externa

Grau de detalhamento: não detalhada

Grau de generalização – do tipo (+)

Grau de independência – de forma autônoma sem apoio. Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

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A tarefa de número 11 (quadro 33), volta ao conteúdo ecologia, agora

relacionado à reciclagem. A resposta é de tipo negativa e, uma vez que essa é a

ultima tarefa proposta, antes da etapa mental; apesar de ainda ter o apoio da dupla,

o nível de detalhamento pode ser diminuído e até não ter o detalhamento. O

Formador deve voltar a questionar as duplas quanto à possibilidade de realizarem a

tarefa de forma autônoma e em silencio. Se a resposta a pergunta realizada for

positiva, a dupla deve ser desfeita, pois os professores já estarão na etapa mental.

Quadro 33 - Plano da Tarefa 11 da etapa da linguagem externa

Plano da tarefa 11 da etapa da linguagem externa

CONTEÚDO

Ecologia

OBJETIVO Identificar se ações realizadas se incluem no conceito ecológico de reciclagem

ETAPA Mental

ATIVIDADE

Para diminuir o acúmulo de lixo e o desperdício de materiais de valor econômico e, assim, reduzir a exploração de recursos naturais, adotou-se, em escala internacional, a política dos três erres: Redução, Reutilização e Reciclagem. Uma instituição de Ciência, Tecnologia e Educação recomenda a adoção da reciclagem em suas dependências e propõe a utilização dos sacos plásticos de supermercado como acondicinantes de lixo e a utilização de canecas pessoais para beber água e café. Essas ações podem ser descritas como processo de reciclagem?

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de reciclagem. O detalhamento: 1. Determinar o conceito de reciclagem

É um processo de transformação aplicado a materiais que podem voltar ao estado original, transformando-se em produtos iguais em todas as suas características.

2. Determinar se é um conceito lógico. Se sim, continua o processo. Se não, para.

3. Estabelecer a relação entre as ações e o conceito referência a partir da regra lógica.

4. Definir o pertencimento ou não das ações ao conceito de reciclagem. OBS: não precisa de detalhamento

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa mental para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada de forma autônoma, sem apoio. Identificação de resposta negativa (-) – As ações realizadas não se incluem no conceito reciclagem e sim nos conceitos de reutilização e redução, respectivamente. Indicadores qualitativos da ação que está sendo internalizada na orientação: Primários:

Forma da ação – mental

Grau de detalhamento: não detalhada

Grau de generalização – do tipo ( - )

Grau de independência – de forma autônoma sem apoio algum. Secundário:

Grau de consciência – se forma como consequência das anteriores.

Fonte: Maria da Glória Albino

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RESUMO DA ETAPA: Para a etapa da linguagem externa, foram

planejadas 5 tarefas que possuem respostas do tipo negativa (-), afirmativa (+),e fora

do limite de aplicação. O processo de comunicação é bastante importante nesse

momento, isso porque o nível de ajuda materializado foi retirado. Mas, é bom

lembrar que, nessa etapa, o formador não pode ser fonte de informação, somente de

orientação das duplas (sendo alternado o realizador e o controlador). A cada tarefa é

importante que o formador pergunte às duplas se podem realizar a tarefa sem o

auxilio do colega, de forma autônoma. A etapa termina quando os aprendentes não

precisarem mais desse auxilio e o detalhamento da estrutura da habilidade não for

mais necessário.

e) Etapa da atividade mental

Objetivo: Realizar tarefas para identificar de forma autônoma sem apoio

algum e de forma não detalhada.

Na etapa mental, a última etapa, acontece a finalização do processo que

se iniciou na atividade externa e veio até a mental. Nela, ocorre um tipo especial de

linguagem que, de acordo com suas características, é denominada “linguagem

interna” (GALPERIN, 2013b). Segundo Núñez e González (1998), a transformação

da ação verbal externa em metal segue o caminho da transformação da linguagem

em voz alta em sua imagem sonora. É uma ação interna, mas dirigida ao exterior.

Para essa etapa, as tarefas foram planejadas para serem realizadas sem

nenhum nível de ajuda, sem forma material e com caráter autônomo, de forma

individual. A linguagem teve um caráter interno (para si).

Núñez (2009), expressa que a forma mental da ação é a etapa final no

caminho da transformação da nova ação de externa em interna. Ela é o reflexo da

ação material.

Planos das Tarefas propostas para a etapa Mental

Nas tarefas planejadas para essa etapa, é importante que a execução

seja realizada de forma autônoma e agora o controle é do tipo autocontrole.

A tarefa 12 (quadro 34) é a primeira tarefa proposta para a etapa mental.

Sendo assim, é bom que o formador questione os professores se conseguem

realizar de forma autônoma. Sua proposição se relaciona ao conteúdo de genética.

A resposta é do tipo positiva e não há detalhamento da estrutura da habilidade.

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Quadro 34 - Plano da Tarefa 12 da etapa mental

Plano da tarefa 12 da etapa Mental

CONTEÚDO

Genética

OBJETIVO Identificar se o fenótipo das fêmeas de Aedes é dado por herança dominante.

ETAPA Mental

ATIVIDADE

Investigadores das Universidades de Oxford e da Califórnia, na busca de redução na transmissão do vírus da dengue e agora, chicungunya e Zica, desenvolveram uma variedade de Aedes aegypti geneticamente modificada. Nessa nova variedade de mosquito, as fêmeas não conseguem voar devido à interrupção do desenvolvimento do músculo das asas. Um aluno ao ler essa reportagem tenta entender de que forma essa característica pode rapidamente ser passada para muitas gerações de fêmeas de mosquitos. Para tentar resolver a questão, o professor faz a seguinte afirmação: A modificação genética introduzida é um gene que basta apenas uma cópia do alelo para que esse se expresse. Diante dessa caracterização do gene, um aluno diz que a herança é dominante. Mas, outro aluno, por não conhecer essa caracterização, fica em dúvida em relação a essa afirmação. Sua tarefa é demonstrar como identificar se esse fenótipo das fêmeas expressa uma herança genética do tipo dominante.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de Herança dominante. Não há detalhamento: Se possuir todas as características – pertence. Se não possuir todas as características – não pertence Se alguma característica não pode ser observada ou se tiver dúvida – resposta indeterminada

JUSTIFICATIVA

I Essa tarefa se constitui como parte da etapa mental para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada de forma autônoma, sem apoio. Identificação de resposta positiva (+) – O fenótipo da fêmea se relaciona ao conceito de Herança dominante.

Fonte: Maria da Glória Albino

A Tarefa 13 (quadro 35) tem como conteúdo a taxonomia vegetal. A

resposta é do tipo positiva. Sua proposição é garantir que a internalização da

orientação para a habilidade de identificar aconteceu de forma exitosa. Caso a

pergunta anterior tenha sido realizada ainda com auxilio, esta questão oportuniza a

realização de forma autônoma, a “conquista” da etapa mental. Se as duas questões

forem realizadas de forma autônoma, e com facilidade, não é necessária a

realização da atividade seguinte.

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Quadro 35 - Plano da Tarefa 13 da etapa Mental

Plano da tarefa 13 da etapa Mental

CONTEÚDO

Taxonomia vegetal

OBJETIVO Identificar se no cladograma o grupo 3 representa o grupo dos vegetais superiores

ETAPA Mental

ATIVIDADE

Cladogramas são diagramas que indicam uma história comum entre espécies ou grupos de seres vivos. Os números 3 e 4 no Cladograma apresentado abaixo correspondem a grupos vegetais que apresentam sementes flores e frutos. Um botânico, ao explicar a um engenheiro sobre a importância da dispersão dos vegetais, expôs o seguinte cladograma e afirmou que o grupo 4 era composto pelos

vegetais superiores, mas não mencionou o grupo 3. Para resolver a dúvida, sua tarefa é identificar se o grupo representado pelo nº 3 é um vegetal superior. Isso ajudará o engenheiro a entender os grupos vegetais

e seus tipos de dispersão.

RESPOSTA

O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de vegetais superiores. Não há detalhamento: Se possuir todas as características – pertence. Se não possuir todas as características – não pertence Se alguma característica não pode ser observada ou se tiver dúvida – resposta indeterminada.

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa mental para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada de forma individual e em silêncio. Identificação de resposta positiva (+) – o grupo 3 pertence ao grupo dos vegetais superiores uma vez que possui as características necessárias para tanto (a existência de flores e sementes).

Fonte: Maria da Glória Albino

A tarefa 14 (quadro 36) é a última tarefa proposta para essa etapa. O

conteúdo abordado é o metabolismo energético. E sua resposta é do tipo

indeterminada.

A realização de todas as atividades propostas para a etapa mental pode

auxiliar na passagem da realização das ações de forma detalhada e consciente para

o hábito, quando então a atividade passa a ser concebida como um procedimento

lógico.

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Quadro 36 - Plano da Tarefa 14 da etapa mental

Plano da tarefa 14 da etapa Mental

CONTEÚDO

classificação

OBJETIVO Identificar se a descrição ´realizada é de um réptil

ETAPA Mental

ATIVIDADE

Ao realizar uma pesquisa na internet para fazer um trabalho da escola, um estudante encontrou a seguinte descrição sobre um animal: é terrestre com sangue e são ovíparos. Pela descrição, o estudante afirma que se trata de um réptil. Se você fosse seu professor, você diria a ele que se trata de uma identificação com resposta de que tipo?

RESPOSTA O procedimento de identificação deve ser efetuado a partir do conceito de réptil. Não há detalhamento

JUSTIFICATIVA

Essa tarefa se constitui como parte da etapa mental para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada de forma individual e em silêncio. Identificação de resposta indeterminada (?) A descrição não é suficiente para realizar a identificação

Fonte: Maria da Glória Albino

O tempo de realização da tarefa e a realização do autocontrole

(metacognição) dão indícios ao formador sobre o domínio da orientação dada no

início da atividade.

RESUMO DA ETAPA: Foram planejadas 3 tarefas para a etapa mental,

essas possuem respostas do tipo positiva (+), e indeterminada. O processo de

comunicação nesta etapa é de si para si mesmo (em silencio). Não há interação

entre os professores ou com o formador. Mas, é bom lembrar que o formador deve

manter a motivação durante todo o processo. A cada tarefa é importante que o

formador peça ao professor que indique o que sabe e o que ainda tem dúvidas para

facilitar o processo de metacognição. A etapa termina com a proposição da

realização do controle final

7.3 3º Momento: controle

Objetivo: Realizar tarefa para comprovar a eficácia do processo

concretizado e, a partir do resultado, realizar ajustes ou correções necessárias.

O controle do processo de aprendizagem constitui, segundo Núñez

(2009), uma exigência da teoria da assimilação de P. Ya. Galperin. Para o autor, por

meio do controle, obtém-se a informação necessária para a correção das ações que

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os alunos executam e para a correção do próprio sistema. Assim, o controle se

realiza desde o primeiro momento da atividade, tanto dos conhecimentos

antecedentes como dos procedimentos ou passos que os professores devem

executar durante o processo da atualização da habilidade.

Para tanto, foi elaborado um quadro com os critérios para a realização do

controle em cada uma das etapas da internalização da orientação. Essa proposição

coaduna com a explicada por Núñez (2009) que está explicitada no quadro 37.

Quadro 37 - Controle em cada uma das etapas da atualização

ETAPA TIPO DE CONTROLE

DIAGNÓSTICO

Preliminar (grau de desenvolvimento da habilidade e dos conhecimentos).

BOA Compreensão da orientação construída.

MATERIALIZADA Pelas operações, segundo a estrutura da ação.

LINGUAGEM EXTERNA Por operações ao início, posteriormente, pelos resultados.

MENTAL Pelos resultados

Fonte: Adaptado por Maria da Glória Albino de Núñez (2009, p. 202)

Em cada uma das tarefas realizadas em dupla, os professores devem se

revezar no controle e na realização da tarefa. O controlador precisa observar

atentamente o que o executor faz e preencher o quadro para controle da tarefa

(quadro 38), que ao final de cada uma pode ser analisado pela dupla com a ajuda

formador (se for preciso) para que possam ser resolvidas as dúvidas ou refeita a

ação que foi realizada de forma errônea.

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Quadro 38 - Modelo para a realização do controle em cada uma das tarefas

OPERAÇÕES C PC I RC

Determina o conceito referência da identificação

Determina se é um conceito lógico ou não

Explicita a estrutura lógica do conceito por meio de suas características necessárias e suficientes

Conceitua identificar

Estabelece o pertencimento ou não do objeto a classe delimitada pelo conceito a partir da regra lógica

Fonte: Maria da Glória Albino

Para o controle final ou diagnóstico final, é proposta uma tarefa que está

fora do limite de generalização, com a finalidade de averiguar se os professores

assimilaram a nova orientação para a utilização do procedimento de identificar na

resolução de tarefas em situações novas, que estão fora do limite de generalização

do conceito aprendido (identificar). A tarefa final ou tarefa número 15 (quadro 39)

tem como conteúdo a utilização de células-tronco e leva o professor a responder de

acordo com um conceito filosófico se a blástula é um ser humano. Por não se tratar

de um conceito de referência de tipo lógico, a tarefa não possui resposta possível.

Quadro 39 - Plano da tarefa da etapa do controle final

(Continuação)

Plano da tarefa 15 do controle final

CONTEÚDO Células-tronco e ética

OBJETIVO

Identificar se a fase embrionária blástula é um ser humano.

ETAPA

Identificar na etapa mental

ATIVIDADE

O uso de células-tronco oriundas de embriões congelados, obtidos pelas técnicas de fertilização in vitro é permitido no Brasil desde o final da década passada. As células-tronco embrionárias são totipotentes e a partir delas pode ser obtido qualquer tipo de célula do organismo, permitindo a possível regeneração de tecidos lesionados e/ou em processo de degeneração. De acordo com os cientistas, a fase de desenvolvimento desses embriões utilizados é a de blástula (formados por aproximadamente 200 células). Mas, até hoje existem acaloradas discussões entre defensores da utilização e os que são contrários. No contexto dessa discussão, um professor propõe um plebiscito para que os alunos votem a favor ou contra a utilização de células tronco embrionárias. Nessa atividade, os grupos contrários e a favor deveriam fazer campanhas com argumentos para angariar votos. Por considerarem os embriões como sendo uma vida em formação, os contrários à utilização afirmam que manipular ou sacrificar constitui um assassinato porque são seres humanos. Os que são a favor argumentam que um conjunto de células não pode ser considerado um ser humano. Para ajudar na discussão, o professor sugere que para facilitar a decisão identifiquem se o embrião na fase blástula é um ser humano. E então, Com base no processo de identificação, você votaria contra ou a favor da utilização das células tronco?

Legenda: C – correta; PC – parcialmente correta; I – incorreta; CR - Refez e corrigiu

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Quadro 39 - Plano da tarefa da etapa do controle final

(Conclusão)

Plano da tarefa 15 do controle final

RESPOSTA

A identificação deve ser realizada a partir do conceito usado como referência – ser humano. Com base nesse conceito, deve-se estabelecer a relação entre essa fase embrionária (blástula) e o conceito referente a ser humano, sem nenhum apoio. O detalhamento não deve ser realizado, uma vez que a orientação já deve estar internalizada. Não se pode estabelecer a relação, pois não se trata de um conceito lógico.

JUSTIFICATIVA Essa tarefa se constitui como parte da etapa do controle final para a atualização da habilidade de identificar. Ela será executada de forma individual e em silêncio.

Fonte: Maria da Glória Albino

Outra possibilidade para a realização do controle final é a utilização de um

questionário ou de uma entrevista. O quadro 40 apresenta o plano de questionário

que pode ser utilizado nessa etapa final da atualização.

A importância das dimensões epistemológica e didática já foram discutidas

durante todo o trabalho e isso justifica o questionamento final.

Quadro 40 - Plano do Diagnóstico final

Objetivos Perguntas

Dimensão Epistemológica 1. Qual é a importância do procedimento de identificar na produção

do conhecimento científico nas Ciências Biológicas?

Dimensão Didática 2. Qual é a importância do procedimento de identificar na

aprendizagem das Ciências?

Dimensão Conceitual 3. O que é identificar, compreendido como procedimento lógico?

Dimensão Procedimental 4. Explicite os passos, ou a Base Orientadora da ação, para

identificar, compreendido como procedimento lógico.

Fonte: Maria da Glória Albino

RESUMO DA ETAPA: Foi planejada uma tarefa e um questionário para a

etapa do controle final. A tarefa não tem resposta possível, pois a situação

apresentada se encontra fora do limite de aplicação da habilidade, uma vez que o

conceito referência não é definido de forma lógica. O processo de comunicação

nesta etapa é de si para si mesmo (em silencio). A etapa pode terminar com a

partilha dos resultados encontrados e a partilha das impressões dos professores

participantes sobre o processo de atualização da habilidade.

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8 CONSIDERAÇÕES, RECOMENDAÇÕES E PROJEÇÕES SOBRE A

ATUALIZAÇÃO DA HABILIDADE DE IDENTIFICAR

A habilidade de identificar está incluída em Biologia no grupo das

habilidades requeridas para a classificação de objetos, organismos ou fenômenos

naturais, como forma de atender ao estabelecimento de relação de

pertencimento, ou não, entre algo, até então, desconhecido e um grupo já

definido, a partir de suas características necessárias e suficientes. Concebida

como procedimento lógico, quando realizada por muitas vezes até ser,

finalmente, internalizada; pode favorecer a efetivação dos conhecimentos no

ensino de Biologia, por possibilitar o desenvolvimento de operacionalizações

teóricas. Além disso, a apropriação de habilidades gerais permite a consciência

do processo de aprendizagem, o que foi aprendido, o que é preciso aprender e

como aprender (metacognição).

No capítulo “diagnóstico e sua análise”, foi considerado o conjunto dos

resultados das categorias de investigação para a determinação do nível de

desenvolvimento da habilidade de identificar e no capítulo seguinte, foi

apresentada a proposta de um sistema didático para a atualização dessa

habilidade. Em consequência, neste capítulo, serão apresentadas as

considerações derivadas da investigação, as recomendações e as projeções para

futuras pesquisas sobre o objeto de estudo.

8.1 Considerações finais

O domínio da estrutura conceitual e procedimental da habilidade de

identificar permite a operacionalização correta dos conceitos e impede a ocorrência

de erros na proposição de tarefas que presumem a existência de algo desconhecido

(um ser, um fato, um objeto, um fenômeno). A relativa falta de conhecimento sobre a

concepção das habilidades como um conteúdo de ensino e a carência de estudos

relativos à formação da habilidade geral de identificar no ensino de Biologia no

Brasil, têm contribuído para que o ensino dos procedimentos seja realizado de forma

“mecânica”, um saber fazer, alijando da consciência (de forma empírica85), o que

85 De forma empírica – por tentativa e erro.

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pode provocar a ocorrência de inúmeros erros na proposição e realização de tarefas

que têm esse e outros procedimentos, relacionados aos conceitos científicos, como

alicerce para alcançar a resolução de um problema com sucesso.

A proposta de atualização da habilidade de identificar, concebida como

um procedimento lógico, se configura como uma possibilidade de mudança no

caráter espontâneo do ensino e perpassa pela formação dos profissionais do ensino

de Biologia, por ser entendida como um dos recursos a ser mobilizado no agir

docente competente. A presunção dessa atualização, por meio de um sistema

didático na perspectiva da teoria de Galperin (Teoria da assimilação por etapas),

possibilita a internalização da orientação generalizada para a realização das tarefas

relacionadas ao procedimento de identificar de forma consciente, vinculada à

dimensão afetivo-motivacional, sob o princípio metodológico da unidade social-

individual em processo que leva em consideração a motivação, a execução e o

controle da atividade.

Do ponto de vista teórico, a tese de que é possível a estruturação de um

sistema didático, sob a égide das concepções de Galperin, para a atualização da

habilidade de identificar, se concretizou por meio do estabelecimento de 2 (dois)

objetivos específicos relacionados à estruturação do sistema de tarefas que

considerou a habilidade de identificar como dimensão do conhecimento profissional

para ensinar Biologia. Essa estruturação, para ter caráter científico, exigiu a

realização de um diagnóstico inicial do desenvolvimento da habilidade com os

professores. A necessidade do diagnóstico se apoia no conceito de Zona de

desenvolvimento potencial de Vigotsky (2005), que ofereceu um conhecimento

fundamental para que fosse possível proceder à composição das tarefas a partir da

diversidade, em relação às necessidades apresentadas por cada professor

participante. Além disso, comportou a organização de uma estratégia de trabalho

capaz de oferecer a ajuda que, oportunamente, os professores podem precisar, ao

realizarem as tarefas que compõem o sistema didático.

Durante o diagnóstico, foi possível observar que os professores não

conseguiram expressar de maneira teórica o que é identificar e não souberam

explicitar o sistema de ações da habilidade. A maior parte deles chegou a atingir o

nível de desenvolvimento categorizado como médio, o que levou à interpretação de

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que tinham familiaridade86 com a habilidade, mas não exibiam o domínio do conceito

nem da estrutura das ações para sua realização. Foram identificadas necessidades

formativas quanto à função da habilidade na epistemologia da ciência e no ensino, o

que induziu a concepção de um modelo epistemológico e um modelo didático para a

habilidade de Identificar.

Um importante indicativo dado pelo diagnóstico foi a necessidade de

formulação de orientações, cartões ou tarjetas de estudo não somente referentes ao

conceito e ao sistema de ações da habilidade de identificar, mas também às

habilidades relacionadas, como observar, definir, descrever e comparar. Além disso,

foram notadas dificuldades relativas aos conceitos biológicos utilizados durante a

atividade de diagnóstico. Esse dado influenciou a proposição e a sequência das

tarefas em cada etapa do sistema e indicou a necessidade da produção de cartões

de estudo com os conceitos a serem utilizados na atualização.

A presunção da utilização de três textos e uma tarefa problêmica para a

motivação da atividade foi embasada em dois pontos importantes: nas diferenças

tanto relativas à afetividade quanto ao conhecimento (necessidades formativas),

encontradas entre os professores e a possibilidade de, durante a leitura dos textos,

ser possível discutir sobre um modelo epistemológico e um modelo didático para a

habilidade de identificar, assim como a importância dos procedimentos lógicos do

pensamento.

A organização da Base Orientadora da Ação do tipo III para a atualização

da habilidade de identificar permitiu a compreensão do sistema generalizado de

operações para atividades com três tipos de respostas possíveis: positivas (+) –

quando era possível determinar o pertencimento do objeto ou fenômeno a um grupo

já definido; as negativas ( - ) – quando era possível determinar o não pertencimento

do objeto ou fenômeno a um grupo; e as indeterminadas – quando não era possível

a determinação do pertencimento ou não pertencimento. A proposição de tarefas,

cuja realização não é possível, é importante para permitir que os professores

possam compreender, durante a realização da atualização, que as habilidades

lógicas somente podem ser utilizadas com conceitos referência que são de tipo

lógico, ou seja, cuja definição é realizada com base em suas características

86 A familiaridade possivelmente foi formada pelo grande número de vezes que os professores

utilizaram esse procedimento. Mas isso não fornece conhecimentos necessários para ter o domínio do processo e assim poder ensinar, formar a habilidade de forma consciente.

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necessárias e suficientes. Esse tipo de tarefa garante a internalização dos limites de

generalização da atividade de identificar.

A pesquisa bibliográfica e o diagnóstico realizado neste trabalho, deram

subsídios suficientes para a afirmação de que existem carências na formação do

docente de Biologia em relação às habilidades gerais, como a de identificar. Os

métodos que são empregados no processo de ensino de Biologia não promovem o

desenvolvimento das habilidades gerais, sendo, na mais positiva visão, dado um

tratamento espontâneo e inconsciente (mecânico) por parte dos professores, e,

portanto, dos estudantes.

Em consequência do que foi exposto, ratifica-se que a concepção e

exemplificação do sistema de tarefas, planejado sob os pressupostos teórico-

metodológicos da Teoria de Galperin contribui para uma adequada direção e

desenvolvimento do processo de atualização de habilidades gerais com professores

de Biologia. Sob esse entendimento, têm-se as habilidades gerais, e assim a

habilidade de identificar, como conteúdo imprescindível para a formação e

consequentemente para o desenvolvimento profissional, uma vez que permite a

atuação profissional de forma competente. Uma vez que o domínio desta habilidade

generalizada por parte do professor lhe permite não somente ser mais competente

em relação ao planejamento e estruturação de atividades com os conteúdos da

disciplina, mas também o capacita a desenvolver as habilidades lógicas (gerais) nos

estudantes pela utilização dos procedimentos, previstos nos objetivos educacionais

dos documentos nacionais, que tributam para o desenvolvimento do pensamento

ativo. Essa concepção permite asseverar que a contribuição fundamental do

desenvolvimento das habilidades cognitivas (ter atenção, observar, etc) e cognitivo

linguísticas (definir, identificar, classificar, explicar, etc), está na apropriação da

invariante da habilidade que pode levar, pela repetição de atividades de mesmo tipo,

a sua utilização como um procedimento lógico, um hábito. Sendo assim, se relaciona

à profissionalização do professor de Biologia.

E assim, pode-se concluir que a proposição de um sistema didático para a

atualização da habilidade de identificar sob a perspectiva da teoria de Galperin se

justifica em dois pontos principais: a) No reconhecimento dessa habilidade, assim

como as demais habilidades gerais, como instrumento de trabalho para a

assimilação de conceitos científicos, que é um dos processos básicos para o ensino

de Biologia; e, b) A teoria de Galperin, que sendo formada a partir das bases

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epistemológicas da teoria Histórico-Cultural e da teoria da atividade, constitui-se

como uma ferramenta importante para a formação e desenvolvimento profissional do

docente de Biologia, uma vez que leva em consideração a unidade entre o saber e o

saber fazer, entre o cognitivo e o afetivo, entre o individual e o social, em atenção à

necessária auto preparação que se requer de um profissional docente na atualidade.

8.2 Recomendações para a realização de uma possível formação

É oportuno fazer algumas recomendações quanto à utilização do sistema

didático proposto em formações que intencionem à atualização da habilidade de

identificar.

a) Como toda obra produzida pelo homem, o sistema didático aqui

apresentado foi construído de acordo com o contexto do autor e dos

professores participantes. Assim, a utilização da proposta deve ser

aperfeiçoada de acordo com a situação, para ser bem aproveitada.

b) É importante a realização do diagnóstico para que seja possível

determinar as necessidades formativas dos professores.

c) Os planos das tarefas devem ser validados para que possam ser

utilizados. A validação pode ser realizada por um especialista ou por

um grupo de professores que não participarão da atualização.

d) O formador deve ser um estudioso da perspectiva de Galperin e deve

estar imbuído nas concepções que sustentam e a teoria Histórico-

cultural e a Teoria da atividade. Pois todo o processo foi planejado

segundo essa visão.

e) As tarefas devem ser apresentadas sem que seja dito aos professores

a etapa para a qual foi preparada. As etapas da Teoria de Galperin não

são estáticas, mecânicas, o que irá indicar em que etapa o professor

ou aprendente estará, será o nível de necessidade em relação ao apoio

(isto é, se precisa dos cartões de estudo, da ajuda do formador, de

buscas na internet, etc..).

f) É imprescindível manter a motivação e o controle durante todo o

processo. E isso pode ser conseguido por meio da heurística, fazendo

perguntas que possuem um motivo relacionado ao objetivo que se quer

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alcançar, que tornem algo que parece muito difícil em algo mais fácil de

entender.

8.3 Projeções da investigação: a possibilidade do desenvolvimento da criatividade

na formação das habilidades lógicas

Conceber a habilidade de identificar como um procedimento lógico (um

procedimento do pensamento lógico), e assim um conteúdo de ensino, teve a

intenção de fazer clara, aos possíveis leitores da tese, a importância de formar nos

estudantes essa habilidade, que pode se relacionar com a proposta para a educação

no século XXI de formação de sujeitos críticos, conscientes e criativos.

A habilidade pressupõe a assimilação consciente da atividade, segundo

Leontiev (1978), ela traz consigo o domínio de ações diversas e ocorre como

resultado da sistematização dessas ações subordinadas a objetivos conscientes.

Pode-se dizer que a habilidade se forma e se desenvolve pela via da exercitação

das ações mentais, ou seja, mediante o treinamento contínuo, e se converte em

modo de atuação (um procedimento).

Pensar de maneira lógica significa tirar conclusões das premissas por

meio de dados e fatos, ser preciso, exato, seguir regras e ser sequencial (tem um

passo a passo). É exatamente por esse motivo que pensar de forma lógica, é

indispensável para solucionar os problemas cotidianos e para o avanço da ciência.

O procedimento de identificação, juntamente com classificação e

interpretação, é responsável pela compreensão e ordenamento das informações. É

pela identificação que se pode atribuir uma palavra para determinado objeto,

fenômeno ou processo, até então desconhecido, e desta forma, ser capaz de

aproveitar a informação captada do cotidiano. Assim, a internalização do sistema de

ações desse procedimento, pode facilitar o estabelecimento e a ordenação de uma

série de códigos na memória, porque permitem a assimilação e aplicação dos

conhecimentos adquiridos. Por essa possibilidade, a habilidade de identificar, se

integra na base da aprendizagem humana, e sendo assim, se forma na atividade e

na comunicação.

O paradigma da formação das habilidades no contexto escolar se

fundamenta, segundo os pressupostos Histórico-Culturais, na ruptura de uma

maneira de pensar tradicional e em seu lugar situar a aprendizagem em problemas a

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serem solucionados, a partir do componente laboral (as ações) em unidade com o

componente teórico (conceitos). O resultado é uma aprendizagem que leva em

consideração a atitude produtiva, crítica e criativa. Para Majmutov (1983), a busca de

um procedimento desconhecido da atividade e seu aperfeiçoamento determinado

pelo planejamento de um problema psicologicamente difícil, constitui a

materialização prática da solução do problema, um ato de criatividade.

Estabelecer as relações entre o pensamento lógico e o pensamento

criativo, objetivo proposto para a educação no século XXI, leva em conta que o

conjunto de procedimentos, regras e leis lógicas (formais ou dialéticas) permitem

chegar ao novo, partindo do já conhecido, por caminhos antes apenas vislumbrados.

Um sujeito pode ser criativo quando faz uso do sistema de conhecimentos que

possui como material factual sobre a base da utilização dos procedimentos lógicos

do pensamento, dos níveis de desenvolvimento do pensamento lógico que

conseguiu alcançar. Isso significa, segundo Bono (2004), que a criatividade consiste

na habilidade de pegar um desvio lateral nas linhas pré-traçadas do pensamento

lógico (lógica dos sistemas de pautas)87 e desse modo, gerar uma nova percepção

do mundo. Segundo Vygotsky (2009), a criatividade é uma atividade cerebral que

além de reter e reproduzir experiências prévias elabora sobre a base dessas, novas

abordagens (novas formas de pensar). O autor concebe a imaginação criadora como

um processo mental (interno) que se relaciona com fatores externos.

Segundo Martínez Llantada88 (2003), os processos do pensamento não

são alheios nem diferentes daqueles que resultam à assimilação da realidade pelo

sujeito cognoscente. Eles se constituem como uma forma nova de utilização, como

resultado do translado dos conhecimentos e das habilidades a novas situações. Ao

se deparar com novos problemas, o sujeito emprega em uma combinação, não

usual, os métodos, os conhecimentos e as habilidades já conhecidas. Isso corrobora

com a ideia de que a criatividade é uma forma superior da atividade humana em sua

essência. Para a autora, existe uma unidade do lógico e do intuitivo, e assim deve-

87 Sistemas de informação auto-organizados, onde a informação se organiza sem a ajuda de um

organizador externo, construindo e usando pautas. Nesses sistemas, a informação que entra, estabelece uma sequência de atividades, que com o tempo se transforma em uma espécie de caminho, modelo. Uma vez estabelecidas, essas pautas são úteis no reconhecimento das coisas. A nossa percepção está sempre condicionada às linhas prévias, ao que já conhecíamos (preconcepções).

88 Martínez Llantada - autora cubana que investiga os processos de criatividade.

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se refutar a tese da incompatibilidade entre o desenvolvimento do pensamento

criador e o pensamento lógico.

Essa interpretação da natureza da criatividade, partilhada por Majmutov

(1983) e Martínez Llantada (2003), permite supor a conformidade da tese acerca da

possibilidade de acelerar a atividade cognoscitiva mediante o planejamento de

tarefas lógicas (cognoscitivas) e práticas, que coloquem frente ao sujeito aprendente

as condições do próprio conhecimento. Ser criativo, segundo Bono (2004), significa

ser capaz de produzir algo que antes não existia, dentre outras coisas, segundo o

autor, depende em grande parte da intuição e da perda do medo de errar, é preciso

que o cérebro saia das pautas criadas com os dados do mundo exterior. E para

Vygotsky (2009), isso se consegue através a educação, uma vez que essa permite o

aumento de experiências.

Esse último elemento é chave na formação pessoal e profissional do

docente, que tem como uma de suas tarefas, aprender para depois ensinar aos

aprendentes, como fazer isso.

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305

APÊNDICES

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APÊNDICE A – DIAGNÓSTICO 1

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Educação

Curso de Pós-Graduação em Educação Linha de Pesquisa: Aprendizagem, Formação e Profissionalização Docente.

Pesquisa - Ensinar a Ensinar a Identificar nas aulas de Biologia: Contribuições da

Teoria de Galperin.

____/____/____

Diagnóstico 1

1. Um grupo de pesquisadores faz uma descoberta de um novo animal e precisa

identificá-lo. A hipótese primeira do grupo é que se trata de um inseto. Em relação

a essa situação, responda:

a) O que é identificar?

b) Como se deve proceder para identificar se se trata de um inseto ou não?

c) Qual a importância do procedimento de identificar na atividade científica dos

biólogos?

d) Qual é a importância da identificação na aprendizagem de Biologia no

contexto escolar?

e) Em sua opinião, qual a diferença entre identificar e reconhecer?

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APÊNDICE B – DIAGNÓSTICO 2

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Educação

Curso de Pós-Graduação em Educação Linha de Pesquisa: Aprendizagem, Formação e Profissionalização Docente.

Pesquisa - Ensinar a Ensinar a Identificar nas aulas de Biologia: Contribuições da

Teoria de Galperin.

____/____/____

Diagnóstico 2

1. Caracterização

a) _________

b) Idade: _____

c) Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

d) tempo que leciona: _______

e) Formação acadêmica:

( ) graduação ( ) especialização ( ) mestrando

( ) mestrado ( ) doutorando ( ) doutorado ( ) pós-doutorado

2. O que é um conceito? O que é um conceito científico?

3. O que é definir um conceito científico?

4. Quais são os tipos de conceitos possíveis de serem definidos? Quais os que não

podem ser definidos segundo uma regra lógica?

5. Qual a relação que se pode estabelecer entre os procedimentos de definir e o de

identificar?

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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Educação

Curso de Pós-Graduação em Educação

Linha de Pesquisa: Aprendizagem, Formação e Profissionalização Docente.

Estamos realizando uma pesquisa intitulada “ENSINAR A ENSINAR A IDENTIFICAR

NAS AULAS DE BIOLOGIA: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE ASSIMILAÇÃO DE P.

Ya. GALPERIN”, e os convidamos para participar da mesma.

A pesquisa tem como objetivo geral de “Organizar, desenvolver e estudar o processo de

atualização da habilidade de identificar, como dimensão do conhecimento profissional,

com professores de biologia”.

Os instrumentos utilizados para obtenção dos dados da pesquisa serão questionários e

entrevistas; observação e atividades escritas.

Caso esteja de acordo para participar dessa pesquisa faz-se necessário que esteja

ciente dos seguintes termos:

a) Sua participação é voluntária e poderá desistir de participar em qualquer

momento.

b) Você poderá aceitar ou recusar a responder quaisquer perguntas que lhe forem

feitas.

c) As informações obtidas mediante sua colaboração, em todo o estudo, farão

parte do relatório de pesquisa (Tese), feito por mim para a obtenção do título

de Doutorado, junto ao Programa de Pós- Graduação em Educação da

Universidade Federal do Rio Grande Norte, Campus Natal/RN.

d) Os resultados poderão ser divulgados em eventos científicos e revistas, e me

comprometo a manter em absoluto sigilo a identidade dos participantes da

pesquisa.

Caso necessite de esclarecimentos adicionais, coloco-me à disposição por meio do

telefone (84) 8821-1084 ou meu e-mail [email protected]. Sou Doutoranda em

Educação, sob a orientação do professor Doutor Isauro Beltrán Núñez da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – Campus Natal/RN.

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, _______________________________________ portador do RG

_________________ ACEITO PARTICIPAR da pesquisa intitulada “Ensinar a

Ensinar a Identificar nas aulas de Biologia: Contribuições da Teoria de

assimilação de P. Ya. Galperin” no ano de 2015. Declaro estar ciente de que a

participação é voluntária e que fui devidamente esclarecido(a) quanto aos

objetivos e procedimentos desta pesquisa.

Data: _____/ _____/ _____

_________________________________

Professor/a participante

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APÊNDICE D – PROCEDIMENTOS LÓGICOS

Procedimentos Lógicos:

Aspectos fundamentais da lógica, por seu caráter geral e universal, ajudam na tarefa dos

professores a fazer com que os estudantes possam aprender de forma independente para

complementar e atualizar sua formação. Um desses aspectos se relaciona à formação de

conceitos científicos que permite a formação do pensamento teórico. Mas o que é

pensamento teórico? O que são conceitos e conceitos científicos? Como se elaboram as

definições dos conceitos?

1. Pensamento teórico:

Para entendermos o que é o pensamento teórico, vamos primeiro entender o que é o

pensamento.

• Pensamento - Processo cognoscitivo que está dirigido à busca do essencial, do

novo e que constitui o reflexo mediado e generalizado da realidade. O

pensamento tem sua origem na interação sujeito-objeto, que se efetua na prática,

que serve como critério de veracidade e nela se aplicam seus resultados. Em

contra partida, o pensamento é capaz de retificar erros de nossa percepção dos

fenômenos que têm sua origem no conhecimento sensorial.

Para Kopnin (1978), o pensamento é o modo de representação da realidade por

meio de abstrações. Toda forma de pensamento constitui certo elo do movimento no

sentido da realidade objetiva, nela se traduzem os resultados do conhecimento.

Assim, o pensamento humano é uma cadeia infinita de representações (conceitos,

juízos e dedução).

Psicologia

• Estuda a estrutura da atividade pensante, a formação e o desenvolvimento das

operações racionais.

• As operações básicas do pensamento: síntese e análise.

• Síntese – reunião mental das partes no todo.

• Análise – divisão mental do todo em suas partes.

• Operações superiores: comparação, abstração e generalização.

Lógica

• Estuda o produto da atividade pensante, seus resultados como formas lógicas do

pensamento.

• Os produtos da atividade são: os conceitos, os juízos e as conclusões.

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• Conceitos – reflexo das qualidades gerais e essenciais em uma classe de objetos,

generalização.

• Juízos – reflexo das conexões entre objeto e qualidade.

• Conclusão – reflexo de uma conexão entre juízos (premissas) ou ideias iniciais.

Existem conclusões indutivas e dedutivas.

Dessa forma, pensamento teórico é aquele executado a partir de conceitos

científicos, é o produto da atividade pensante que utiliza os conceitos científicos que

são utilizados na formação dos juízos e que geram conclusões a partir de um

raciocínio.

2. Conceitos científicos: são representações que se formam nos âmbitos

acadêmicos educativos ou centros de investigação e são empregados nesses

âmbitos. São formados como parte do pensamento abstrato, a partir de um

sistema de propriedades características distintivas dos objetos, fenômenos e

processos, que os faz ser únicos, embora estejam incluídos em uma determinada

classe. Essas propriedades são características essenciais e distintivas que foram

sendo identificadas ao longo da história da ciência e durante o desenvolvimento

da vida acadêmica e profissional de cada um de nós.

3. Definição de conceitos: existem diversas maneiras e vários tipos de definições.

Para fazer uma definição lógica e de forma correta deve se ter em conta um

conjunto de processos ou procedimentos lógicos que se relacionam a formação

de conceitos, juízos e a argumentação.

a) Associar propriedades a um conceito

b) Reconhecer propriedades

c) Comparar

d) 4.Distinguir propriedades

e) Exemplificar

f) Identificar

g) Descrever

h) Caracterizar

i) Definir

j) Classificar

k) sistematizar

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APÊNDICE E – TEXTO DE APOIO

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ANEXO

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ANEXO A – PROCEDIMENTOS DO PENSAMENTO LÓGICO

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