margarida cristiana napoleão rocha - fiocruz pe · 2006. 6. 29. · margarida cristiana napoleÃo...

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Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva CARACTERIZAÇÃO DA HANSENÍASE EM SÃO LOURENÇO DA MATA-PE, 2000 A 2005. Recife 2006 Margarida Cristiana Napoleão Rocha

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  • Fundação Oswaldo Cruz Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva

    Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva

    CARACTERIZAÇÃO DA HANSENÍASE EM

    SÃO LOURENÇO DA MATA-PE, 2000 A 2005.

    Recife 2006

    Margarida Cristiana Napoleão Rocha

  • MARGARIDA CRISTIANA NAPOLEÃO ROCHA

    CARACTERIZAÇÃO DA HANSENÍASE EM

    SÃO LOURENÇO DA MATA-PE, 2000 A 2005.

    Monografia apresentada como requisito à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva CPqAM/FIOCRUZ/MS.

    Orientadora: Vera Rejane do Nascimento Gregório

    Recife 2006

  • MARGARIDA CRISTIANA NAPOLEÃO ROCHA

    CARACTERIZAÇÃO DA HANSENÍASE EM

    SÃO LOURENÇO DA MATA-PE, 2000 A 2005.

    Monografia apresentada como requisito à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação latu sensu de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva CPqAM/FIOCRUZ/MS.

    Aprovado em: ____/_____/______

    __ _________________________________________________ Profa. Mestra Vera Rejane do Nascimento Gregório

    Docente da FENSG/UPE ______________________________________________________

    Dra Iara Pessoa Sant’Ana Médica Sanitarista - CISAM/PE

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela força e proteção;

    A minha família que, apesar da distância, torcem em todos os momentos da minha

    vida para me ver feliz. Ao pai e mãe singulares que sempre incentivaram e apoiaram

    minhas decisões profissionais e pessoais;

    A Vera Rejane Gregório do Nascimento, pela praticidade e precisão nas orientações;

    A Dra Iara Pessoa Sant’Ana pelas contribuições e disponibilidade em ser debatedora

    deste trabalho;

    A Dra Zuleide Dantas Wanderley pela oportunidade profissional e voto de confiança

    nesse novo desafio como sanitarista;

    A Francisco Duarte e Fátima Fagundes pelos incentivos e apoio desde a etapa do

    estágio na SES-PE.

    Aos colegas de trabalho da SES/PE sobretudo, Wellington, Fátima, Solange e Fábia

    pela receptividade e apoio;

    As companheiras de trabalho Andréa Torres, Ana Wilma, Ivaneide Izídio e Rejane

    Pereira pelas valiosas contribuições na minha inserção no “mundo” da hanseníase e

    pelo apoio desde o início;

    A Rejane Pereira pelos inúmeros momentos de “luta” compartilhados, tão

    importantes para minha vida profissional e pessoal;

    Aos professores do NESC que contribuíram no meu saber sobre saúde pública;

    A equipe do NESC, em especial, Mégine, Márcia, Virgínia, Janice e Deise pela

    presteza em me auxiliar no desenrolar de algumas atividades acadêmicas.

  • Aos colegas da residência, pela amizade, carinho e companheirismo construídos,

    em especial Andréa Lobo, pelas valiosas contribuições nesse trabalho;

    A Raquel Barbosa de Lima, pelo estímulo, paciência e apoio incondicional nos

    momentos mais difíceis da minha vida;

    Minha gratidão a todos aqueles que colaboraram direto ou indiretamente para a

    realização deste trabalho;

  • RESUMO

    A hanseníase é uma doença com uma terrível imagem na história e na memória da

    humanidade. Causada pelo Mycobacterium leprae, é uma doença infecto-

    contagiosa, possuindo grande potencial de provocar incapacidades físicas, podendo

    evoluir para deformidades. O município de São Lourenço da Mata se configura como

    um dos mais endêmicos para hanseníase em Pernambuco, sendo por isso,

    prioritário para o Ministério da Saúde (MS) quanto às ações de eliminação. Por isso,

    objetivou-se avaliar a situação do Programa de Hanseníase e conhecer o perfil da

    endemia nos pacientes do município no período de 2000 a 2005, visando

    recomendar medidas que otimizem as estratégias de intervenção para o agravo.

    Para tanto foi realizado estudo descritivo, com os casos novos, residentes no

    município, sendo utilizados os indicadores epidemiológicos e operacionais

    preconizados pelo MS, para avaliar o Programa e as variáveis das fichas de

    investigação para definir o perfil dos pacientes do município. Os dados foram

    coletados na base de dados do SINAN de Pernambuco e processados no aplicativo

    TABWIN. Os resultados apontam maior ocorrência de casos em mulheres, ocupadas

    com atividades do lar, com baixa escolaridade e de raça parda. Os indicadores

    epidemiológicos demonstram existir alta transmissibilidade da doença, endemia

    oculta e diminuição na detecção de casos no decorrer dos anos. Os indicadores

    operacionais evidenciam precariedade na vigilância de contatos e na avaliação do

    grau de incapacidade na cura assim como centralização do Programa. Conclui-se

    que existem falhas na operacionalização do Programa, fato que contribui para a

    manutenção da endemia no município.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Percentual e número das variáveis sexo e ocupação dos pacientes de hanseníase. São

    Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005)................................................................................24

    Tabela 2. Percentual e número das variáveis sexo e ocupação dos pacientes de hanseníase. São

    Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005)................................................................................25

    Tabela 3. Percentual dos casos de hanseníase segundo modo de entrada. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005)...............................................................................................................28

    Tabela 4. Número e percentual de contatos registrados e examinados. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005)...............................................................................................................30

    Tabela 5. Demonstrativo da rede de saúde de São Lourenço da Mata, Pernambuco (2005)..........31

    Tabela 6. Demonstrativo das unidades notificadoras de casos de hanseníase, de pacientes

    residentes em São Lourenço da Mata, Pernambuco (2005).............................................................31

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1. Percentual dos casos de hanseníase segundo forma clínica. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005)...............................................................................................................26

    Gráfico 2. Percentual dos casos de hanseníase segundo classificação operacional. São Lourenço da

    Mata, Pernambuco (2000 – 2005)................................................................................................26

    Gráfico 3. Percentual dos casos de hanseníase segundo esquema terapêutico instituído no momento

    do diagnóstico. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005)...............................27

    Gráfico 4. Percentual de casos de hanseníase segundo modo de detecção. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).....................................................................................................27

    Gráfico 5. Coeficiente de prevalência. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005)..........28

    Gráfico 6. Coeficiente de detecção geral e em menores de 15 anos. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005)...............................................................................................................29

    Gráfico 7. Percentual de avaliação do grau de incapacidade física (GIF) na notificação, cura e com

    GIF II. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).............................................................30

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Demonstrativo das variáveis e categorias a serem utilizados no estudo........................22

    Quadro 2. Demonstrativo dos indicadores epidemiológicos, fórmula de construção, utilidade e

    parâmetros........................................................................................................................................53

    Quadro 3. Demonstrativo dos indicadores operacionais, fórmula, utilidade e parâmetros..............54

    Quadro 4. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à vigilância

    epidemiológica ..................................................................................................................................43

    Quadro 5. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à assistência ao

    portador de hanseníase ...............................................................................................................44

    Quadro 6. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à sustentação

    política e mobilização social .............................................................................................................45

    Quadro 7. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à assistência de

    média complexidade ao portador de hanseníase.........................................................................46

  • SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10

    1.1 Considerações clínicas e epidemiológicas da Hanseníase............................. 10

    1.2 Iniciativas Públicas no Brasil para o Controle/Eliminação da Hanseníase...... 13

    1.3 Vigilância Epidemiológica da Hanseníase....................................................... 15

    1.4 A hanseníase no Brasil, Pernambuco e São Lourenço da Mata ..................... 17

    2. OBJETIVOS.......................................................................................................... 19

    3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................. 20

    3.1 Desenho de estudo ......................................................................................... 20

    3.2 Caracterização e delimitação da área de estudo ............................................ 20

    3.3 População e período a ser estudado............................................................... 20

    3.4 Coleta de dados .............................................................................................. 21

    3.5 Categorização das variáveis ........................................................................... 21

    3.5 Processamento e análise de dados ................................................................ 23

    3.6 Aspectos éticos................................................................................................24

    4. RESULTADOS ..................................................................................................... 24

    4.1 Perfil sócio-econômico, demográfico e epidemiológico................................... 24

    4.2 Indicadores epidemiológicos e operacionais................................................... 28

    4.3 Caracterização da rede de saúde e das atividades desenvolvidas no Programa

    de Hanseníase de São Lourenço da Mata no ano de 2005 .................................. 30

    5. DISCUSSÃO......................................................................................................... 32

    6. CONCLUSÕES..................................................................................................... 41

    7. RECOMENDAÇÕES ............................................................................................ 42

    8. REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS......................................................................47

    ANEXOS.....................................................................................................................52

  • 1. INTRODUÇÃO

    1.1 Considerações clínicas e epidemiológicas da Hanseníase

    A hanseníase é uma doença milenar com uma terrível imagem na história e

    na memória da humanidade. Causada pelo Mycobacterium leprae, é uma doença

    infecto-contagiosa, de evolução lenta que se manifesta, sobretudo, através de sinais

    e sintomas dermatoneurológicos, possuindo grande potencial de provocar

    incapacidades físicas, podendo evoluir para deformidades (BRASIL, 2001).

    O homem é considerado o único reservatório natural na transmissão, embora

    tenham sido identificados tatus e chipanzés, naturalmente infectados.

    Os doentes multibacilares sem tratamento são capazes de eliminar grande

    quantidade de bacilos, por isso o trato respiratório superior desses pacientes é

    considerado a principal via de eliminação do Mycobacterium leprae, podendo ocorrer

    também por solução de continuidade (BRASIL, 2005a; TALHARI,1997).

    O aparecimento, manifestação e propagação da doença, depende da

    relação Mycobacterium leprae/hospedeiro/meio ambiente além das condições sócio-

    econômicas, podendo o início dos primeiros sinais e sintomas ocorrer após um

    período de incubação entre 2 a 7 anos (MOET et. al., 2004; BRASIL, 2005b).

    Devido a esse longo período de incubação é menos freqüente na infância,

    contudo, em áreas mais endêmicas, a exposição precoce em focos domiciliares,

    aumenta a incidência nessa população (BRASIL, 2005a).

    Investigações revelam que a doença acomete ambos os sexos mas continua

    a incidir em maior proporção entre homens, embora nos últimos anos a diferença

    entre os sexos tenha diminuído (BRASIL, 2002).

    O diagnóstico é realizado através do exame dermatoneurológico, baseado

    nos sinais e sintomas da doença e tem como apoio diagnóstico, a baciloscopia

    (BRASIL, 2005a).

    No Brasil, adota-se a classificação de Madri e o Ministério da Saúde estipula a

    classificação operacional com os seguintes critérios para as formas clínicas:

    paucibacilares (PB) - casos com até cinco lesões de pele e ou apenas um tronco

    nervoso comprometido e, multibacilares (MB) - casos com mais de cinco lesões de

  • pele ou mais de um tronco nervoso acometido. A baciloscopia positiva classifica o

    caso como multibacilar, independente do número de lesões (ARAÚJO, 2003).

    As formas clínicas Indeterminada e Tuberculóide se incluem dentro dos

    Paucibacilares e as formas Dimorfa e Vichowiana, dentro das multibacilares

    (BRASIL, 2002).

    A Indeterminada (HI) é a manifestação inicial da doença, caracterizando-se

    por manchas hipocrômicas, planas onde, na maioria das vezes, a alteração da

    sensibilidade é a térmica, com a dolorosa normal, ou pouco alterada, e a táctil

    preservada, não havendo espessamento de troncos nervosos (SERPA, 2006;

    TALHARI, 1997).

    A Tuberculóide (HT) surge a partir da Indeterminada não tratada, nos

    pacientes com boa resistência. Consiste em lesões com bordos bem definidos, onde

    se situam os tubérculos, pequenas pápulas que, com o tempo, aumentam em

    número e tamanho. A hipoestesia ou anestesia é mais evidente que na

    Indeterminada, com alteração das sensibilidades térmica, dolorosa e possivelmente

    táctil. É comum encontrarmos espessamento de ramo ou tronco nervoso. (SERPA,

    2006; TALHARI, 1997).

    A Vichowiana surge a partir da HI não tratada, nos pacientes sem resistência

    ao Mycobacterium leprae. As manchas tornam-se eritematosas, infiltradas, os

    bordos ficam imprecisos, surgem pápulas, tubérculos, e nódulos. Com o tempo, todo

    o corpo passa a ser comprometido. A doença é também caracterizada pela perda

    dos pêlos das sobrancelhas, dos cílios e infiltração e acentuação dos sulcos naturais

    da face (SERPA, 2006; TALHARI, 1997).

    A Dimorfa surge nos indivíduos com resistência superior aos portadores de

    Vichowiana (HV) e inferior aos portadores da Tuberculóide. Clinicamente, podem

    apresentar, concomitantemente, características de HT e HV. As lesões caracterizam-

    se por placas com região central poupada, bordos internos bem definidos e externos

    mal definidos. As reações são mais freqüentes, podendo haver acometimento de

    troncos nervosos e grandes deformidades se o doente não for tratado corretamente

    (SERPA, 2006; TALHARI, 1997).

    As reações hansênicas podem ser definidas como manifestações clínicas

    resultantes de alterações no balanço imunológico entre o hospedeiro e o agente

    infectante. Esses episódios agudos, que afetam principalmente pele e nervos, são a

    principal causa de morbidade e incapacidade da função do nervo periférico.

  • Podem ocorrer durante o curso natural da doença, durante o tratamento e mesmo

    após o tratamento. São classificadas em reação reversa (RR) ou tipo I e eritema

    nodoso hansênico (ENH) ou tipo II (GOULART, 2002; SERPA, 2006).

    A reação tipo I está associada ao aumento da resposta imune celular aos

    antígenos do Mycobacterium leprae. As lesões preexistentes tornam-se eritemato-

    edemaciadas e dolorosas, surgem novas lesões e algumas delas podem chegar a

    ulcerar. Há intumescimento e dor dos nervos periféricos e ocorre aumento das áreas

    hipoestésicas e anestésicas (GOULART, 2002; SERPA, 2006).

    A Reação tipo 2, representa reações do organismo às substâncias liberadas

    pelos bacilos destruídos. Ocorre em pacientes multibacilares, e caracteriza uma

    reação inflamatória sistêmica. Pode ocorrer em pacientes não tratados mas, um

    percentual expressivo de pacientes sob tratamento, pode desenvolver um ou mais

    episódios. Em alguns pacientes, essa reação inflamatória pode se tornar crônica.

    Além da pele e nervos, outros órgãos podem estar envolvidos: linfonodos, fígado,

    baço, peritônio, testículos, olhos, articulações, tendões, músculos e ossos

    (GOULART, 2002; SERPA, 2006).

    O tratamento da hanseníase compreende: quimioterapia específica,

    supressão dos surtos reacionais, prevenção de incapacidades físicas, reabilitação

    física e psicossocial (ARAÚJO, 2003).

    O tratamento quimioterápico específico consiste na associação de drogas,

    administradas conforme a classificação operacional do paciente, sendo para os

    Multibacilares, 12 doses em até 18 meses e para os Paucibacilares, 6 doses em até

    9 meses. Casos Multibacilares que não regridem as infiltrações cutâneas e/ou lesões

    poderão necessitar de 12 doses adicionais, situação esta cada vez mais de exceção.

    A poliquimioterapia é constituída de uma associação de medicamentos, sendo a

    rifampicina, dapsona e clofazimina, para Multibacilares; rifampicina e dapsona, para

    Paucibacilares (BRASIL, 2005a; MARTELLI, et al., 2002; BRASIL, 2000).

    A prevenção e tratamento das incapacidades físicas devem ocorrer durante

    ou caso haja necessidade, após o tratamento. A adoção dessas atividades será

    baseada nas informações obtidas através da avaliação neurológica durante o

    diagnóstico e no término do tratamento.

  • 1.2 Iniciativas Públicas no Brasil para o Controle/Eliminação da Hanseníase

    As primeiras iniciativas do Governo Federal, em relação à organização da

    saúde pública para o controle da hanseníase, se inserem nas políticas da polícia

    sanitária e do campanhismo, que vão do período de 1920 a 1962. O Estado

    desempenhava uma ação saneadora, através do isolamento compulsório dos

    doentes nos hospitais-colônia (OLIVEIRA, 1991).

    Até o advento da sulfona, em 1943, a profilaxia da lepra, processou-se

    suportada por três atividades: os leprosários, destinados a resguardar os casos

    malignos, pacientes virchowianos; os dispensários, que tinham a função de examinar

    os contatos, pessoas com suspeitas de lepra e atender os casos tuberculóides ou

    indeterminados; os preventórios, onde eram criados os filhos dos doentes

    internados. Apesar dessas atividades, censos realizados na época, revelaram o

    aumento no número de casos, demonstrando que as ações foram insuficientes para

    evitar a propagação da doença (VELLOSO, 2002).

    Surge então em 1956, uma nova linha de orientação baseada na

    descentralização dos atendimentos dos casos da doença com aumento da cobertura

    populacional, a estratificação do país segundo critérios epidemiológicos e

    operacionais, a inclusão e exclusão dos registros de óbitos, ausentes e curados e a

    adoção da educação sanitária (GREGÓRIO, 1999).

    As décadas de sessenta e setenta foram marcadas pela não obrigatoriedade

    de internação compulsória do doente contagiante, tendo em vista a perspectiva de

    curabilidade da terapêutica com Dapsona e a adoção do termo hanseníase em

    substituição a lepra, conforme recomendação da Conferência Nacional de

    Hanseníase, em 1976. Nesse momento, inicia-se a preocupação dos técnicos com

    relação à diminuição de seqüelas e prevenção de incapacidades, havendo ainda a

    substituição do Serviço Nacional de Lepra pela Divisão Nacional de Dermatologia

    Sanitária (DNDS) (GREGÓRIO, 1999).

    Na década de oitenta, diante da ocorrência de Mycobacterium leprae

    resistente a sulfona, a Organização Mundial de Saúde, redefine o regime

    terapêutico, sendo a rifampicina incluída no tratamento da hanseníase (VELLOSO,

    2002).

  • Junto com a adoção gradativa da poliquimioterapia/OMS no Brasil, a partir de

    1986, a Divisão Nacional de Dermatologia Sanitária reestrutura o Programa tendo

    como iniciativas, a realização de estudos de tendência da endemia, o estímulo ao

    aumento da cobertura do Programa, treinamento de pessoal, descentralização

    administrativa e de controle, integração do Programa nos serviços básicos de saúde,

    organização de sistemas de informações e realização de atividades de educação em

    saúde com campanha na mídia (VELLOSO, 2002).

    Desde então várias estratégias foram utilizadas visando o controle da

    Hanseníase. O Projeto de Intervenção para o qüinqüênio 1986-1990 esperava que

    pelo menos 80% dos casos poderiam ser integrados aos serviços locais com boa

    capacidade resolutiva. Com base em estudo de tendência realizado nesse período,

    o Brasil foi caracterizado como um país de elevada prevalência de casos, com uma

    endemia em expansão constituindo-se assim a hanseníase um sério problema de

    saúde pública (VELLOSO, 2002).

    Então, no período de 1990 a 1994, há o lançamento do Plano de Emergência

    Nacional (PEL), constituído de metas, objetivando detectar todos os casos novos

    esperados, tratar com PQT, aplicar BCG em contatos intradomiciliares e conhecer a

    real prevalência da hanseníase, tendo sido o mesmo avaliado positivamente

    (VELLOSO, 2002).

    Em decorrência da aceitação e avanços com instituição da PQT/OMS em

    1991, na 44ª Assembléia Mundial de Saúde realizada em Genebra, Suíça, o Brasil

    assumiu o compromisso de eliminar a hanseníase como problema de saúde pública

    até o ano 2000. Assim, em 1995, foi elaborado o Plano de Eliminação da

    Hanseníase (PEL) que previa eliminar a doença como problema de saúde pública (<

    1 caso por 10.000 habitantes) até o ano 2000, tendo como prioridades a detecção

    intensiva dos casos, a vigilância epidemiológica, a atenção às incapacidades e o

    tratamento com PQT (WHO, 1991; VELLOSO, 2002).

    Apesar da redução da prevalência em mais de 80%, o Brasil não alcançou a

    meta e, em 1999, durante a III Conferência Mundial de Eliminação de Hanseníase

    em Abdjan - Costa do Marfim, foi ratificado o compromisso em eliminar a hanseníase

    até 2005 para o país (BRASIL, 2005a; MS, 2003).

    Para o alcance dessa meta o Brasil precisaria acelerar o processo de

    descentralização e universalização das ações de controle da doença visando o

    diagnóstico e tratamento de todos os casos e quebra da cadeia de transmissão da

  • doença. Assim o MS, lançou em 2001, o Plano de Mobilização para a Intensificação

    das Ações de Eliminação da Hanseníase e Controle da Tuberculose, tendo como

    eixo a mobilização técnica, social e política em torno das metas de eliminação da

    hanseníase, a descentralização das ações e mudanças do modelo de atenção com

    reorganização dos serviços, melhoria da vigilância epidemiológica e dos sistemas de

    informações, ampliação e qualificação da rede de laboratório e diagnóstico, garantia

    de assistência farmacêutica, capacitação e desenvolvimento de recursos humanos

    (MS, 2003).

    Em 2006, ainda que a eliminação não tenha sido atingida em 2005, o

    Programa Nacional de Eliminação da Hanseníase tem como principal eixo para o

    alcance da meta de eliminação de hanseníase como problema de saúde pública, a

    integração das ações de controle de hanseníase na rede básica de saúde, a

    ampliação e universalização da cobertura municipal do Programa, mantendo como

    princípios básicos a detecção oportuna de novos casos e seu tratamento com PQT

    (MS, 2003; OMS, 2005).

    As atividades do Programa devem estar pautadas no diagnóstico dos casos,

    tratamento com Poliquimioterapia, vigilância epidemiológica, exame de

    comunicantes, educação do paciente, família e comunidade, prevenção de

    incapacidades/deficiências, reabilitação e encaminhamento das complicações

    segundo os níveis de complexidade da assistência, assim como o acompanhamento

    dos casos prevalentes até a cura (BRASIL, 2006).

    1.3 Vigilância Epidemiológica da Hanseníase

    A vigilância epidemiológica da hanseníase é realizada através de um

    “conjunto de atividades que fornecem informações sobre a doença e seu

    comportamento epidemiológico, com a finalidade de avaliar e recomendar atividades

    de controle” para tanto, deve desenvolver atividades de coleta, processamento,

    análise, interpretação dos dados e recomendações, devendo entretanto estar

    comprometida com a identificação e planejamento das intervenções necessárias.

    Objetiva ainda a detecção e tratamento precoce de casos novos, no sentido de

    interromper a cadeia de transmissão, prevenir incapacidades físicas e realizar

  • exames dermatoneurológicos de todos os contatos de casos (BRASIL, 2005a;

    BRASIL, 2001; LAPA, 2001).

    Considerada uma doença de notificação compulsória, um caso de hanseníase

    é uma pessoa que apresenta um ou mais das características a seguir: lesões ou

    áreas da pele, com alteração de sensibilidade, acometimento neural com

    espessamento de nervo, acompanhado ou não de alteração da sensibilidade e/ou

    força muscular, baciloscopia positiva para Mycobacterium leprae. A ocorrência de

    um caso deve ser investigada para que as ações de controle sejam desencadeadas.

    (BRASIL, 2005a; BRASIL, 2001).

    Concluindo o diagnóstico, o caso deve ser notificado e a ficha de investigação

    enviada ao órgão hierarquicamente superior para a digitação no Sistema de

    Notificação de Agravos Notificáveis (SINAN), para que medidas como o tratamento

    específico, prevenção e tratamento de incapacidades, divulgação de sinais e

    sintomas junto ao paciente, familiares, comunidade e exame dos comunicantes

    sejam desencadeadas visando a quebra na cadeia de transmissão (BRASIL, 2005a).

    O acompanhamento dos casos é monitorado através do envio, pelas

    unidades de saúde para a vigilância epidemiológica, dos boletins de

    acompanhamento onde serão atualizados os dados (último comparecimento,

    avaliação de incapacidade na cura, esquema terapêutico atual, data da mudança do

    esquema terapêutico, contatos examinados, tipo e data da alta) coletados nas

    unidades de saúde, viabilizando assim a avaliação operacional das ações de

    controle (BRASIL, 2005a; PERNAMBUCO, 2005).

    A alimentação dos dados no sistema de informações permite a construção de

    indicadores, que são “aproximações quantificadoras de um determinado fenômeno”,

    permitindo descrever uma determinada situação de saúde e acompanhar mudanças

    ou tendências de um agravo em um período de tempo, sendo um meio útil e simples

    de monitorizar o progresso de um programa. Para tanto, devem apresentar

    características de disponibilidade, confiabilidade, fidedignidade, simplicidade e

    discriminatoriedade (BRASIL, 2005a; THE INTERNATIONAL FEDERATION OF

    ANTI-LEPROSY ASSOCIATION; TALHARI, 1997).

    Na avaliação das ações do Programa de hanseníase e da endemia, são

    utilizados indicadores epidemiológicos e operacionais, assim como as variáveis da

    ficha de investigação.

  • Os indicadores epidemiológicos avaliam a magnitude e a transcendência do

    problema de saúde pública, sendo representados pelos coeficientes, por 10.000 hab,

    de detecção anual de casos novos, detecção anual de casos novos na população de

    0 a 14 anos, prevalência da doença, percentagem de casos com incapacidades

    físicas entre os casos novos detectados e avaliados no ano e percentagem de casos

    curados no ano com incapacidades físicas. Tendo em vista a proposta do indicador,

    os resultados são classificados em nível: hiperendêmico, muito alto, alto, médio e

    baixo (GREGÓRIO, 1999; BRASIL, 2005a; FERREIRA, 1997).

    Os indicadores operacionais mensuram o trabalho realizado seja em função

    da qualidade ou da quantidade, sendo mais utilizado, a percentagem de casos

    novos diagnosticados no ano com grau de incapacidade física avaliado, a proporção

    de cura e abandono entre os casos novos diagnosticados nos anos das coortes e

    curados até 31/12/ano de avaliação, a percentagem de examinados entre os

    contatos intradomiciliares de casos novos diagnosticados no ano, a proporção de

    unidades de saúde com cobertura para PQT. Considerando que são medidas de

    desempenho do Programa, seus resultados são apresentados como nível bom,

    médio e ruim (GREGÓRIO, 1999; BRASIL, 2005a; TALHARI, 1997).

    A ficha de investigação fornece dados para a construção dos indicadores,

    assim como para análises das variáveis de acordo com as características de tempo,

    lugar e pessoa (BRASIL, 2005a).

    Da ficha de investigação, pode-se obter dados sobre a identificação do caso,

    tais como: idade, sexo, raça/cor, escolaridade; ocupação; dados clínicos como:

    forma clínica e classificação operacional; sobre o atendimento: modo de entrada e

    de detecção do caso novo; tratamento: esquema terapêutico, entre outros (BRASIL,

    2001).

    1.4 A hanseníase no Brasil, Pernambuco e São Lourenço da Mata

    Desde a introdução da PQT no Brasil, houve uma drástica redução do

    coeficiente de prevalência, de 19 para 1,71 doentes por 10.000 habitantes, no

    período de 1985 a 2005. Apesar disso, o Brasil ainda se configura como um dos

  • países mais endêmicos do mundo, continuando a hanseníase um problema de

    saúde pública (BRASIL, 2005a; MARTELLI, 2002; BRASIL, 2006).

    Atualmente, as diferenças de magnitude entre as regiões do país são

    marcantes. O Sul e Sudeste em 2005, alcançaram a meta de eliminação, enquanto o

    Norte, Centro-Oeste e Nordeste possuem média endemicidade. Dos 27 Estados do

    país, Pernambuco é 10° e 11° lugar em coeficiente de prevalência e detecção

    possuindo ainda, alta carga da doença (PE, 2006).

    A situação epidemiológica de Pernambuco caracteriza-se por uma tendência

    crescente na detecção de casos, com maior concentração na região metropolitana,

    proporcionando à endemia, um aspecto urbano. Os indicadores do Estado em 2005

    evidenciam, média endemicidade na prevalência, detecção geral muito alta e

    hiperendemia em menores de 15 anos, demonstrando existir endemia oculta e a

    necessidade de ações que implementem o processo de eliminação do agravo

    (PEREIRA, 2005).

    Nesse contexto, São Lourenço da Mata se configura como um dos municípios

    mais endêmicos para hanseníase no Estado, sendo por isso, prioritário para o

    Ministério da Saúde (MS) quanto às ações de eliminação.

    Relatórios de supervisões indicam que esta doença ainda é um sério

    problema de saúde pública no município, comprovado pelos coeficientes (p/ 10.000

    habitantes) em 2005, onde a prevalência pontual é alta, alcançou 7,61, a detecção

    geral e em menores de 15 anos, 4,5 e 1,4 respectivamente, evidenciando para os

    dois últimos, hiperendemicidade (PEREIRA, 2005). Associada a essa problemática

    não há registros de monitoramento e avaliação do programa, tampouco de

    planejamento baseado em evidências, visando intervenções que possam controlar a

    endemia no município.

    Tendo em vista o exposto, pretende-se demonstrar como se caracteriza a

    situação epidemiológica e a organização de serviços para a hanseníase no período

    de 2000 a 2005, utilizando os indicadores epidemiológicos e operacionais

    preconizados pelo MS, assim como o perfil dos pacientes hansenianos do município,

    visando recomendar medidas que otimizem as estratégias de intervenção para o

    agravo.

  • 2. OBJETIVOS

    Objetivo geral

    Avaliar a situação do Programa Municipal de Eliminação da Hanseníase e

    conhecer o perfil da endemia nos pacientes do município de São Lourenço da Mata

    no período de 2000 a 2005.

    Objetivos Específicos:

    • Caracterizar a hanseníase através do perfil sócio-econômico, demográfico e

    epidemiológico dos pacientes no período de 2000 a 2005;

    • Utilizar os principais indicadores epidemiológicos e operacionais da

    hanseníase para analisar o agravo e a operacionalização do Programa no

    município no período de 2000 a 2005;

    • Descrever a estrutura da rede de serviços para a hanseníase oferecidos aos

    pacientes em 2005;

  • 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

    3.1 Desenho de estudo

    De acordo com os objetivos propostos, foi realizado um estudo do tipo

    descritivo. Esse desenho de estudo propõe expor as características de determinada

    população ou determinado fenômeno assim como verificar a freqüência da doença

    em função das variáveis ligadas ao tempo, espaço e à pessoa (ROUQUAYROL,

    1999; TOBAR, 2001).

    3.2 Caracterização e delimitação da área de estudo

    O estudo foi realizado no município de São Lourenço da Mata, localizado na

    Mesorregião Metropolitana de Pernambuco, distante 17 km da capital, pertence a I

    Gerência Regional de Saúde (GERES) do Estado, possui uma população de 92.244

    habitantes (IBGE) e uma área de 264 Km². O perfil econômico do município tem

    como principal atividade a agroindústria voltada para o álcool e o açúcar. Outras

    produções agrárias são banana, laranja, feijão, coco, cana-de-açúcar e mandioca.

    A escolha do mesmo deve-se à alta endemicidade para a hanseníase, sendo

    prioritário para as ações do MS e Estado; dentre os 185 municípios de Pernambuco,

    obteve, no ano de 2005, o décimo segundo lugar em prevalência de casos para a

    doença.

    3.3 População e período a ser estudado

    A população foi composta por pacientes residentes em São Lourenço da Mata

    sendo os mesmos casos novos de hanseníase, que foram diagnosticados no

    período compreendido entre os anos de 2000 a 2005.

  • 3.4 Coleta de dados

    Para realizar esse trabalho, foram utilizados dados secundários do banco de

    dados estadual de Hanseníase, capturados no Sistema de Informação de Agravos

    de Notificação – SINAN e informações dos relatórios de supervisão realizadas no

    município. Os dados populacionais foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia

    e Estatística (IBGE) de acordo com as estimativas de população, coletados na

    página eletrônica do DATASUS.

    3.5 Categorização das variáveis

    As variáveis utilizadas para construir o perfil dos pacientes de hanseníase

    estão apresentadas no Quadro 01, tendo sido as mesmas categorizadas e descritas

    conforme normas técnicas do SINAN, sendo criada a categoria em branco para as

    variáveis, raça, escolaridade, ocupação, classificação operacional, modo de

    detecção, modo de entrada e esquema terapêutico inicial. As especificações para a

    construção dos indicadores epidemiológicos e operacionais se encontram no anexo

    1.

  • Quadro 1. Demonstrativo das variáveis e categorias a serem utilizados no estudo.

    VARIÁVEIS CATEGORIAS DESCRIÇÃO

    Sexo Masculino, feminino, ignorado. _ Raça Branca, preta, amarela, parda, indígena,

    ignorado e em branco. _

    Escolaridade Nenhuma, ensino fundamental (de 1 a 3 anos, de 4 a 7 anos), médio (de 8 a 11 anos), superior (de 12 e mais), não se aplica, ignorado e em branco

    Anos de estudo concluído.

    Ocupação Nomes das ocupações referidas, ignorados e em branco.

    Informar a ocupação exercida pelo paciente.

    Forma clínica Indeterminada, tuberculóide, dimorfa, virchowiana e não classificada.

    Forma clínica inicial por ocasião do diagnóstico, segundo classificação de Madri.

    Classificação operacional

    Paucibacilar, multibacilar, ignorado e em branco.

    Classificação por ocasião do diagnóstico.

    Modo de detecção Encaminhamento, demanda espontânea, exame de coletividade, exame de contatos, outros modos, ignorado e em branco

    Modo de detecção do paciente.

    Modo de entrada Caso novo, transferência do mesmo município, transferência de outro município, transferência de outro estado, transferência de outro país, recidiva, outros reingressos, ignorado e em branco.

    Modo de entrada do paciente no sistema de saúde

    Esquema terapêutico inicial

    PQT/PB/6doses, PQT/MB/12 doses, PQT/MB/24 doses, outros, ignorado e em branco.

    Esquema terapêutico instituído por ocasião do diagnóstico.

    Fonte: Dicionário de dados-SINAN

    Ressalta-se que os parâmetros a serem utilizados para os campos em branco são:

    Abaixo de 10%: Excelente

    Entre 11 e 29,9%: Regular

    Acima de 30%: Ruim Fonte: SVS, 2006.

  • 3.6 Processamento e análise de dados

    O processamento dos dados dar-se-á por meio dos aplicativos TABWIN, para

    tabular e Excel, para a confecção dos gráficos.

    Para a análise serão utilizados os indicadores e parâmetros preconizados

    pelo M.S., (anexo 2) documentos técnicos e bibliografias da área.

    3.7 Aspectos Éticos

    Para execução desse projeto, serão utilizados dados secundários capturados

    no Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN sob prévia

    autorização da Gerência Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de

    Saúde do Estado de Pernambuco (Anexo 1).

    Vale salientar que não haverá exposição dos indivíduos notificados no banco de

    dados, o que não implica em comprometimento ético, apesar disso o projeto em

    questão será submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de

    Pesquisas Aggeu Magalhães.

  • 4. RESULTADOS

    A amostra do trabalho foi composta por 523 pacientes, todos casos novos,

    havendo exceção para o indicador modo de entrada, que avaliou o total de 574

    casos para o período.

    4.1 Perfil sócio-econômico, demográfico e epidemiológico

    A proporção dos casos de hanseníase quanto ao sexo (TABELA 1) demonstra

    oscilação no decorrer dos anos, tendo o sexo masculino variado entre 43,1 e 56,2%

    e o feminino de 43,7 a 56,8%. A proporção de casos para todo o período foi de

    49,1% para o sexo masculino e 50,8% feminino.

    Quanto à ocupação, observa-se que a categoria em branco prevalece, apesar

    do decréscimo no decorrer dos anos. Para o período, o percentual de não

    preenchimento dessa variável foi de 60,6%. As ocupações mais referidas foram do

    lar e estudantes, com 14,0 e 13,0% no período, respectivamente (TABELA 1).

    Tabela 1. Percentual e número das variáveis sexo, ocupação, dos pacientes de hanseníase. São

    Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 TOTAL VARIÁVEIS N° % N° % N° % N° % N° % N° % N° %

    SEXO Masculino 51 53,1 32 49,2 60 43,2 56 53,3 31 44,3 27 56,3 257 49,1 Feminino 45 46,9 33 50,8 79 56,8 49 46,7 39 55,7 21 43,8 266 50,9 Ignorado - - - - - - - - - - - - - - OCUPAÇÃO Estudantes 3 3,2 4 6,2 23 16,5 18 17,3 11 15,7 9 18,8 68 13,1 Do lar 5 5,3 3 4,6 21 15,1 17 16,3 17 24,3 10 20,8 73 14,0 Aposentado 5 5,3 0 0,0 5 3,6 6 5,8 9 12,9 4 8,3 29 5,6 Trab da construção civil - - - - - - 2 1,9 1 1,4 3 6,3 6 1,2 Comércio - - - - 3 2,2 0 0,0 3 4,3 7 14,6 13 2,5 Outros - - - - 2 1,4 2 1,9 6 8,6 5 10,4 15 2,9 Ignorado - - - - - - - - 1 1,4 2 4,2 3 0,6 Em branco 83 86,5 58 89,2 85 61,2 59 56,7 22 31,4 8 16,7 316 60,5 Total 96 100 65 100 139 100 105 100 70 100 48 100 523 100,00

    Fonte: SINAN/SES/PE

  • A avaliação da escolaridade evidencia, para todos os anos, um predomínio de

    pacientes com o ensino fundamental II. Para o período, a proporção de casos com

    ensino fundamental II é de 39,0%, seguido de ensino médio com 15,6%. Destaca –

    se ainda os que não possuem nenhum estudo, sendo em 2004, 20,0% e 2005,

    10,4%. (TABELA 1).

    Quanto a variável raça, observa-se que nos três primeiros anos o percentual

    de campos em branco prevaleceu, ocorrendo em 83,3, 73,8, 56,8% dos casos

    havendo paralelamente, um aumento de registro para a raça parda. Apesar do

    aumento do registro nessa variável, no período, o maior percentual foi para os

    campos em branco,40,2%, seguido da raça parda, 31,2% e branca 12,6% (TABELA

    1).

    Tabela 2. Percentual e número das variáveis e escolaridade e raça dos pacientes de hanseníase.

    São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 TOTAL VARIÁVEIS N° % N° % N° % N° % N° % N° % N° %

    ESCOLARIDADE Nenhuma 18 18,8 10 15,4 10 7,2 11 10,5 14 20,0 5 10,4 68 13,0 Fundamental I 3 3,1 4 6,2 14 10,1 23 21,9 12 17,1 3 6,3 59 11,3 Fundamental II 58 60,4 27 41,5 53 38,1 27 25,7 20 28,6 19 39,6 204 39,0 Ensino médio 5 5,2 11 16,9 25 18,0 19 18,1 9 12,9 13 27,1 82 15,7 Ensino superior 1 1,0 3 4,6 5 3,6 6 5,7 5 7,1 2 4,2 22 4,2 Não se Aplica 4 4,2 4 6,2 4 2,9 5 4,8 2 2,9 - - 19 3,6 Ignorado 5 5,2 2 3,1 5 3,6 13 12,4 3 4,3 3 6,3 31 5,9 Em branco 2 2,1 4 6,2 23 16,5 1 1,0 5 7,1 3 6,3 38 7,3 RAÇA Branca 2 2,1 2 3,1 12 8,6 16 15,2 18 25,7 16 33,3 66 12,6 Preta 2 2,1 3 4,6 10 7,2 16 15,2 15 21,4 5 10,4 51 9,8 Amarela - - - - 1 0,7 1 1,0 - - - - 2 0,4 Parda 7 7,3 5 7,7 35 25,2 58 55,2 34 48,6 24 50,0 163 31,2 Ignorado 5 5,2 7 10,8 2 1,4 14 13,3 2 2,9 1 2,1 31 5,9 Em branco 80 83,3 48 73,8 79 56,8 0 0,0 1 1,4 2 4,2 210 40,2 Total 96 100 65 100 139 100 105 100 70 100 48 100 523 100,00

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Quanto à forma clínica, houve predomínio da Dimorfa nos anos 2001, 2002,

    2004 e 2005 com 41,5, 39,5, 32,8 e 47,9% dos casos. A forma Tuberculóide

    representou 34,3 e 42,8% nos anos 2000 e 2003 respectivamente (GRÁFICO 1).

    Para o período, a Dimorfa ocorreu em 36,5% dos casos seguida da

    Tuberculóide com 33,4% (GRÁFICO 1).

  • Comparando os Gráficos 1 e 2, observa-se que em 2004 a classificação

    operacional predominante foi Paucibacilar e a forma clínica, Dimorfa que é

    classificada como Multibacilar, indicando portanto inconsistência dessa variável para

    esse ano.

    0102030405060708090

    100

    2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Per

    cent

    ual

    Indeterminada Tuberculóide DimorfaVirchow iana Não classificada

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 1. Percentual dos casos de hanseníase segundo forma clínica. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).

    A avaliação da classificação operacional indicou oscilação na proporção de

    casos multibacilares (MB) e paucibacilares (PB), onde em 2000, 2003 e 2004,

    apesar de decrescente, predominou a classificação PB com 59,3, 52,3 e 51,4% e em

    2001, 2002, 2005 os MB ocorreram em 53,8, 51,8 e 66,6% dos pacientes,

    destacando-se o último ano com um alto percentual de MB (GRÁFICO 2).

    Apesar das diferenças anuais, quando se analisa o período, a proporção de

    casos PB e MB são iguais, 49,5% respectivamente, com 0,4% de ignorados e 0,6%

    em branco (GRÁFICO 2).

    0

    10

    20

    3040

    50

    60

    70

    2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Per

    cent

    ual

    PAUCIBACILAR MULTIBACILAR IGNORADO EM BRANCO

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 2. Percentual dos casos de hanseníase segundo classificação operacional. São Lourenço da

    Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

  • O esquema terapêutico utilizado no município é a Poliquimioterapia, padrão –

    OMS, onde se destaca, na série analisada, a grande diminuição no uso do esquema

    24 doses para Multibacilares quando, no ano 2000, era utilizado em 34,3% dos

    pacientes e em 2005 em apenas 2,0%. Salienta-se a existência de esquemas

    terapêuticos não registrados e ignorados nos anos 2000, 2004 e 2005 em 1,4, 1,4 e

    2,1% dos casos, respectivamente. (GRÁFICO 3).

    010203040506070

    2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Per

    cent

    ual

    Em branco IgnoradoPQT/PB/6 doses PQT/MB/12 dosesPQT/MB/24 doses Outros Esquemas Alternativos

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 3. Percentual dos casos de hanseníase segundo esquema terapêutico instituído no momento

    do diagnóstico. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

    Quanto ao modo de detecção, observa-se para todo o período que a

    demanda espontânea, definida como os casos que se apresentam voluntariamente à

    unidade de saúde, é predominante, representando 56,0% do total de casos, seguido

    de encaminhamentos com 35,1%, exame de contatos 4,7% e de coletividade 1,7%

    (GRÁFICO 4).

    01020304050607080

    2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Per

    cent

    ual

    Em branco Ignorado Encaminhamento Demanda espontânea

    Exame de coletividade Exame de contatos Outros modos

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 4. Percentual de casos de hanseníase segundo modo de detecção. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).

  • Durante os seis anos, o modo de entrada mais freqüente foi o de casos novos

    ocorrendo em 91,1% dos pacientes, seguido das transferências de outro município

    3,1%, transferências do mesmo município 2,4% e recidivas 2,4%. Destaca-se as

    recidivas com 7,1 e 3,7% dos casos em 2004 e 2005 (TABELA 2).

    Tabela 3. Percentual dos casos de hanseníase segundo modo de entrada. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total MODO DE ENTRADA /ANO N° % N° % N° % N° % N° % N° % N° %

    Em branco - - - - - - - - - - - - - -

    Caso Novo 96 91,4 65 89,0 139 94,6 105 93,8 70 83,3 48 88,9 523 91,1 Transferência do mesmo município 2 1,9 3 4,1 3 2,0 2 1,8 3 3,6 1 1,9 14 2,4 Transferência de outro município (mesma UF) 4 3,8 1 1,4 3 2,0 4 3,6 4 4,8 3 5,6 18 3,1 Transferência de outro país 1 1,0 - - - - - - - - - - 1 0,2 Recidiva 1 1,0 2 2,7 2 1,4 1 0,9 6 7,1 2 3,7 14 2,4 Outros ingressos 1 1,0 2 2,7 - - - - 1 1,2 - - 4 0,7 Total 105 100 73 100 147 100 112 100 84 100 54 100 574 100

    Fonte: SINAN/SES/PE

    4.2 Indicadores epidemiológicos e operacionais

    Considerando o Gráfico 5, percebe-se que a prevalência de São Lourenço

    mantém-se contínua em quatro, dos seis anos estudados, havendo em 2001 e 2005

    uma grande diminuição.

    05

    101520253035

    Coe

    f. p/

    10.

    000

    hab.

    Coef. de prevalência 27,1 17,9 29,2 31,7 31,1 7,7

    2000 2001 2002 2003 2004 2005

    Fonte: SINAN/SES/PE Gráfico 5. Coeficiente de prevalência. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

  • A avaliação do coeficiente de detecção geral mostrou-se oscilante, tendo os

    maiores coeficientes em 2002, 2003 e 2000 com 15,2, 11,4 e 10,6 casos por 10.000

    habitantes, respectivamente. Nos anos de 2001, 2004 e 2005 houve diminuição,

    embora ainda sejam considerados valores altos (GRÁFICO 6).

    O coeficiente de detecção em menores de 15 anos mostrou-se oscilante, de

    forma que acompanhou a curva da detecção geral, havendo maiores coeficientes

    em 2002, 2003 e 2000, com 8,8, 7,3 e 5,7 casos por 10.000 habitantes,

    respectivamente, ainda que para os demais anos os valores também tenham sido

    elevados (GRÁFICO 6).

    02468

    10121416

    Coe

    f. p/

    10.0

    00 h

    ab.

    Coef. detecção < 15anos

    5,7 3,5 8,8 7,3 2,4 1,7

    Coef. detecção geral 10,6 7,2 15,2 11,4 7,6 5,1

    00 01 02 03 04 05

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 6. Coeficiente de detecção geral e em menores de 15 anos. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).

    A avaliação do grau de incapacidade (GI) na notificação é realizada de

    forma contínua, mantendo-se numa média para o período, de 94,8% de avaliados

    entre os casos novos. Com exceção de 2003, todos os demais anos obtiveram

    percentuais acima de 90,0% (GRÁFICO 7).

    Dos casos avaliados na notificação, 12,8% tinham GI II em 2000, havendo

    diminuição com oscilação no decorrer dos anos. Destaca-se o ano de 2005 onde

    foram avaliados 100,0% dos casos notificados e nenhum teve GI II (GRÁFICO 7).

    Para a avaliação do GI na cura, há oscilação no decorrer do período, tendo

    74,0% de pacientes examinados (GRÁFICO 7).

  • 0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

    100%

    % cn com GIF avaliado nanotificação

    98% 100% 94% 89% 93% 100%

    % cn com GIF II avaliado nanotificação

    12,8% 3,1% 3,8% 4,3% 6,2% 0,0%

    % casos com GIF avaliado nacura

    78,3% 83,2% 74,1% 78,7% 64,1% 72,0%

    00 01 02 03 04 05

    Fonte: SINAN/SES/PE

    Gráfico 7. Percentual de avaliação do grau de incapacidade física (GIF) na notificação, cura e com

    GIF II. São Lourenço da Mata, Pernambuco (2000 – 2005).

    Para o indicador de avaliação dos comunicantes verifica-se uma evolução

    gradativa, de 41,8% em 2000 para 68,0% de examinados dentre os registrados em

    2002, decorrendo em seguida com uma diminuição significativa, de forma que em

    2005 apenas 21,1% dos contatos foram examinados (TABELA 3).

    Tabela 4. Número e percentual de contatos registrados e examinados. São Lourenço da Mata,

    Pernambuco (2000 – 2005).

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 Total ANO N° % N° % N° % N° % N° % N° % N° %

    Contatos registrados 148 38,5 106 40,7 379 68,1 429 102 246 87,8 147 76,6 1455 - Contatos examinados 62 41,8 63 59,4 258 68 219 51 117 47,5 31 21,1 750 51,5

    Fonte: SINAN/SES/PE

    4.3 Caracterização da rede de saúde e das atividades desenvolvidas no Programa de Hanseníase de São Lourenço da Mata no ano de 2005

    A estrutura de saúde do município é composta por 25 unidades de atenção

    básica e 01 hospital. O Programa de Eliminação de Hanseníase funciona de forma

    centralizada, tendo uma cobertura de 8,0%, considerando suspeição, diagnóstico e

    tratamento por unidade básica. A Referência realiza suspeição diagnóstica,

    diagnóstico, tratamento e acompanha intercorrências. A quantidade de unidades de

  • saúde e tipo de ações que desenvolvem são: suspeição diagnóstica, 25 (100%),

    diagnóstico e tratamento, 02 (8,0%), tratamento de intercorrências, 01 (4,0%).

    Nenhuma realiza prevenção de incapacidades e reabilitação. Atividades de

    educação em saúde são desempenhadas de forma eventual. Salienta-se que 81,3%

    dos casos de 2005, foram notificados no próprio município (TABELA 4 e 5).

    Tabela 5. Demonstrativo da rede de saúde de São Lourenço da Mata, Pernambuco (2005).

    UNIDADES DE

    SAÚDE DA FAMÍLIA

    ZONA URBANA

    ZONA RURAL

    POSTOS

    DE SAÚDE

    CENTROS DE SAÚDE

    TOTAL U.B.S.

    U.B.S. C/

    PQT

    % DE COB. PQT

    U.B.S. C/ PQT e

    DIAGNOSTICO

    % DE COB. PQT DIAG

    15 07 03 00 25 02 8% 02 8% Fonte: SMS / São Lourenço UBS= Unidade Básica de Saúde COB.= Cobertura * p/ 10.000 habitantes

    Tabela 6. Demonstrativo das unidades notificadoras de casos de hanseníase, de pacientes

    residentes em São Lourenço da Mata, Pernambuco (2005).

    UNIDADES DE SAÚDE NOTIFICADORAS MUNICÍPIO N° CASOS %

    HOSP – CLINICAS Recife 1 2,1

    CS - LESSA DE ANDRADE Recife 6 12,5

    C. SAUDE AMAURY MED - CISAM Recife 1 2,1

    PAM - SAO LOURENÇO DA MATA São Lourenço da Mata 39 81,3

    PSF - SAO JOAO - SAO PAULO II São Lourenço da Mata 1 2,1

    Total - 48 100,0 Fonte: SINAN/SES/PE

  • 5. DISCUSSÃO

    O monitoramento e avaliação do programa de hanseníase dependem da

    qualidade dos dados coletados na notificação e acompanhamento dos casos, assim

    como do adequado processamento e consolidação dos mesmos. Esses registros

    permitem a construção de indicadores que devem ser os mais fidedignos possíveis

    para expressar a real situação da endemia e dos acometidos, tendo em vista que

    essas análises devem subsidiar o planejamento das ações, gerar recomendações e

    intervenções (NASCIMENTO, 2001).

    A qualidade de um dado na notificação em hanseníase é verificada

    sobretudo pela avaliação de completitude e consistência das fichas de investigação.

    O adequado é que antes da digitação realize-se a crítica da ficha, para que os

    campos em branco, ignorados e as variáveis incompatíveis entre si, sejam

    identificadas e à ficha retorne a unidade de saúde para adequações. Quando essa

    rotina não está implantada, há comprometimento e até inviabilidade de análise dos

    indicadores.

    Ainda que esse trabalho não objetive avaliar a completitude das fichas,

    diante dos resultados encontrados em algumas variáveis, achou-se pertinente tal

    abordagem em paralelo a discussão dos resultados

    Com relação ao sexo, ainda que em baixa proporção, houve predomínio do

    sexo feminino em 50,8%, corroborando com os resultados do Estado de

    Pernambuco em 2005, onde 52,4% dos casos foram em mulheres (PERNAMBUCO,

    2006). Esses resultados vão de encontro aos de Aquino (2003b), que identificou o

    percentual de 60,9% em homens, numa área hiperendêmica do Maranhão e os de

    Barro (2004), que detectou a preponderância do sexo masculino no município de

    Londrina, em 56% dos casos.

    A predominância de detecção em mulheres pode ocorrer devido uma maior

    preocupação com o corpo entre estas e, também pela facilidade de acesso das

    mulheres às unidades de saúde, em função da priorização em outros programas,

    como a atenção à saúde materna e da mulher, desenvolvidos pelo Programa de

    Saúde da Família, que proporcionam um maior contato com atendimentos de saúde.

    Ao contrário, os homens ainda não dispõem de programas de prevenção e

    acompanhamento estruturados. Apesar disso, a diferença entre os sexos no

  • município é baixa, indicando acesso semelhante. Talhari (1997) cita, que esse fato

    pode ocorrer em locais onde os tabus sociais são menores, sem diferenças no

    exame médico (LANA, 2003).

    Quanto à variável ocupação, a avaliação do grau de completitude demonstrou

    um alto percentual de não preenchimento, obtendo uma classificação ruim, na

    medida que acima de 30% dos campos dessa categoria estão em branco (SVS,

    2006). Esse resultado corrobora com os da pesquisa que analisou a qualidade dos

    dados das fichas de investigação de hanseníase em Pernambuco, tendo a mesma

    encontrado maior índice de informações incompletas na parte sócio-econômico e

    demográfica das fichas (PERNAMBUCO, 2005).

    Ainda que se questione a fidedignidade do resultado dessa variável, devido

    ao alto percentual de categorias em branco, a ocupação mais referida é a do lar com

    13,9%, seguida de estudantes, 13,0%. Aquino (2003b) ao estudar o perfil de casos

    de hanseníase em área hiperendêmica do Maranhão, encontrou proporção superior

    para do lar e similar para estudantes, sendo 18,4% e 13%, respectivamente.

    Apesar da hanseníase não fazer parte da lista de doenças relacionadas ao

    trabalho, a importância de considerá-la é devido à influência da ocupação no

    agravamento ou manutenção de alguns casos de neurite hansênica (CEDOC, 2006).

    Observações sobre a escolaridade demonstram que a maioria dos pacientes,

    39,0%, possui o ensino fundamental II (de 4 a 7 anos de estudo), fato semelhante

    encontrado por Simões (2005) que ao estudar o comportamento social dos

    pacientes de hanseníase do município de São Carlos, detectou a predominância de

    escolaridade do 1° grau e, por Barro (2004) que ao avaliar a situação da hanseníase

    em Londrina, constatou que 63% dos pacientes possuíam apenas o 1° grau ou seja,

    nível fundamental.

    De acordo com o IBGE (1996), o grau de instrução constitui um dos

    indicadores para avaliar o nível sócio-econômico de uma população. Barro (2004)

    cita que a maioria dos hansenianos possui um baixo nível de instrução e se

    encontram em um contexto de pobreza e de condições de vida precárias,

    fortalecendo os achados de Ponnighaus et al. apud Moet (2004), quando

    demonstram que quanto menor o número de anos estudados, maior o risco de

    adquirir hanseníase.

    Além dessa associação de risco, o conhecimento sobre a escolaridade deve

    nortear a adaptação da linguagem nas ações de educação em saúde, nas

  • orientações quanto aos autocuidados e tratamento, visando um melhor

    entendimento do paciente quanto à hanseníase e conseqüentemente um menor

    abandono ao tratamento (ANDRADE, 1994).

    Considerando que a composição étnica do Brasil possui uma grande

    miscigenação, é importante que as análises levem em conta a distribuição segundo

    cor, ainda que essa informação esteja sujeita a variações decorrentes da

    subjetividade na classificação do entrevistador, que tende a classificar em categorias

    mais escuras aqueles que possuem menor renda, assim como das auto-referências

    (BRASIL, 2005b).

    Em São Lourenço a cor predominante dos pacientes de hanseníase foi a

    parda, 31,2%, estando em consonância com estudos realizados pelo IBGE (1996)

    que apontam para a Região Nordeste em 2000, 64,5% da população de raça parda,

    assim como os de Aquino (2003b) que identificou registros dessa cor em 67,3% de

    pacientes em área hiperendêmica do Maranhão. Destaca-se o alto percentual de

    campos em branco, que apesar de decrescente, obteve no período 40,2%, sendo

    classificado ruim, conforme parâmetros estabelecidos (SVS, 2006).

    Segundo o IBGE (2006), é possível realizar associação entre cor e a

    existência de desigualdades sociais, onde as populações de raças parda e preta

    teriam um menor nível de escolaridade e conseqüentemente um menor poder

    aquisitivo.

    A avaliação da variável, proporção de forma clínica entre os casos novos,

    para todo o período, demonstrou que a dimorfa predominou em 36,5% dos casos,

    seguida da tuberculóide 33,5%, corroborando com os achados de Aquino (2003b)

    que ao traçar o perfil de pacientes de hanseníase em área hiperendêmica do

    Maranhão, identificou que 28% eram portadores da forma dimorfa e 27% da

    tuberculóide.

    Epidemiologicamente, a predominância de casos Dimorfos pode ocorrer

    devido a diagnósticos tardios ou ainda por dúvidas no diagnóstico onde nesses

    casos, é recomendado classificar o paciente como multibacilar. Salienta-se que a

    forma tuberculóide ocorre em indivíduos imunologicamente competentes, sendo por

    isso relacionado ao nível de endemicidade da hanseníase na área (GREGÓRIO,

    1999).

  • Agrupando as formas clínicas por classificação operacional, observa-se para

    o período a mesma proporção entre Paucibacilares, 49,5% e Multibacilares 49,5%

    ainda que, a avaliação das formas clínicas tenha mostrado predominância de

    Dimorfos, evidenciando portanto, alguma inconsistência nessa variável. O resultado

    da classificação operacional no município difere do encontrado por Aquino (2003b),

    que identificou predominância de Multibacilares em 50,7% dos casos e os de

    Pernambuco (2006) e Gregório (1999) que em seus resultados encontraram 51,2 e

    57,4% dos casos Paucibacilares.

    A ocorrência de pacientes multibacilares, em áreas endêmicas, indica

    detecção tardia de casos, fato evidenciado em 49,5% dos pacientes de São

    Lourenço, além da presença de fontes de infecção que contribuem para a

    continuidade do ciclo de transmissão da doença (BARRO, 2004; AQUINO, 2003b).

    Conforme resultados, observa-se um acentuado decréscimo do esquema 24

    doses no município de São Lourenço, provavelmente em virtude da instituição formal

    pelo Ministério da Saúde, através da Portaria n°1.073 de 26/09/2000 (BRASIL,

    2000), da recomendação e eficácia das 12 doses para a maioria dos casos

    Multibacilares, assim como, de capacitações e atualizações realizadas para

    profissionais de saúde do Estado onde sempre se ressaltam aspectos sobre

    tratamento. Esse resultado é semelhante ao do Estado de Pernambuco, que tem

    uma tendência decrescente com relação ao uso do esquema 24 doses em pacientes

    multibacilares (PERNAMBUCO, 2006).

    O modo de detecção avalia como o paciente entrou no registro ativo,

    indicando a forma de descoberta desse caso novo. Em São Lourenço, a maioria dos

    pacientes é detectada de forma espontânea, indo de encontro aos achados de

    Gregório (1999) e Barro (2004) que ao estudarem esse indicador, encontraram o

    predomínio de detecção por encaminhamentos.

    Esses autores discutem que uma maior detecção por demanda espontânea,

    pode significar um bom nível de informação sobre a doença pela população, quer

    seja pela situação de endemicidade da mesma ou devido aos meios de

    comunicação.

    O segundo modo mais freqüente são os encaminhamentos, sendo estes,

    provavelmente, reflexo das suspeições e encaminhamentos realizados pelas

    equipes de saúde, tendo em vista o histórico de centralização do Programa no

    município.

  • Ressalta-se ainda, a grande diminuição da detecção por exame de contatos

    intradomiciliares, onde em 2000, 14,4% dos pacientes entraram por esse modo e,

    em 2005, 0,0%. Observa-se que, paralelo à diminuição por esse modo de detecção,

    houve uma grande redução no exame dos comunicantes, sugerindo então haver

    uma deficiência na vigilância de contatos e não a diminuição de casos nesses

    susceptíveis.

    O coeficiente de prevalência é o indicador que permite avaliar a demanda

    pelo serviço de saúde e com isso estimar a magnitude da doença. Conforme

    parâmetros oficiais, a prevalência de São Lourenço, demonstra uma situação de

    hiperendemicidade, acima de 20 casos por 10.000 hab., em quatro,dos seis anos

    estudados. Em 2001, apresenta-se muito alta e 2005, alta, demonstrando com isso,

    uma magnitude oscilando entre hiperendêmica e alta. Esses valores são superiores

    aos do Estado de Pernambuco, para o mesmo período, onde a magnitude oscilou

    entre muito alta e média, com coeficientes entre 15,8 e 3,1, assim como ao do Brasil,

    que de 2000 a 2005, teve média endemicidade, com coeficiente entre 4,68 e 1,7

    (PE, 2006; ANDRADE, 1996).

    A diferença no coeficiente do ano de 2004 para 2005, deve-se à mudança no

    critério de cálculo desse indicador pelo Ministério da Saúde que, através da Portaria

    Nº 31 de 08.07.05, SVS\MS, instituiu a adoção dos pacientes em curso de

    tratamento, no numerador da fórmula, em substituição ao total de casos em registro

    ativo, tendo em vista excluir os casos em abandono de tratamento e viabilizar a

    comparação da magnitude da doença do Brasil, com outros países.

    O coeficiente de detecção pode ser considerado tanto um indicador

    epidemiológico quanto operacional na medida que reflete a idéia aproximada da

    incidência da doença e a eficácia das ações desenvolvidas para a descoberta de

    novos casos pelos serviços de saúde (ANDRADE, 1996).

    O coeficiente de detecção geral de São Lourenço da Mata apresenta-se acima

    de 4,0 casos por 10.000 habitantes, caracterizando uma situação de

    hiperendemicidade em todos os anos, acompanhando a tendência de Pernambuco

    que, exceto 2000 e 2005, também foi hiperendêmico para esse indicador (PE, 2006).

    O coeficiente de detecção em menores de 15 anos, apresentou-se acima de

    1,0 caso por 10.000 habitantes, durante os seis anos estudados, caracterizando uma

    situação de hiperendemicidade para o município. Esse resultado é semelhante ao do

    Estado de Pernambuco e da cidade de Paracatu –MG que também são

  • considerados hiperendêmicos para o indicador, durante o período (FERREIRA,

    2005; PE, 2006).

    A hiperendemicidade em menores de 15 anos, pode expressar riscos de

    exposição diferentes, refletir a precocidade de exposição ao Mycobacterium leprae e

    sugerir um maior nível de endemicidade local. Onde há alto nível de endemicidade

    no ambiente familiar, existe um maior risco de se adquirir a infecção em idades

    precoces (ANDRADE, 1996; BRASIL, 2005a).

    Observa-se portanto que, apesar de instável, há uma intensa atividade de

    detecção de casos onde, a partir de 2002 ocorre uma diminuição gradativa dos

    coeficientes de detecção geral e em menores de 15 anos, podendo esse fato ser

    decorrente, segundo Pereira et al. (1999a), da baixa cobertura do Programa no

    município, da deficiência de profissionais capacitados no decorrer do período e de

    falhas nas estratégias para a descoberta de casos.

    A avaliação do grau de incapacidade (GI) na notificação e cura é relevante

    porque mede a qualidade do atendimento dos serviços de saúde, permite conhecer

    a transcendência da doença, ou seja a capacidade da mesma em causar seqüelas,

    subsidia a política de ação para seqüelas e auxilia a programar insumos para a

    prevenção e o tratamento das incapacidades pós-alta (VELLOSO, 2002).

    Em São Lourenço da Mata o percentual de casos novos com o grau de

    incapacidade avaliado na notificação é considerado bom, acima de 90%, para todo o

    período e também anualmente, exceto 2003. Esses valores são superiores aos

    encontrados no município do Paraná, onde apenas 76,4% dos pacientes foram

    avaliados (ITO, 2005).

    Quanto ao GI II, ocorreu em 12,8% dos casos de 2000, sendo um alto

    percentual, conforme parâmetros oficiais. Para os anos de 2001, 2002 e 2003, a

    proporção de grau II foi abaixo de 5%, sendo considerado bom, em 2004 ocorreu em

    6,2% dos pacientes ficando com parâmetro médio e, 2005 não houve registro de GI

    II.

    Para todo o período, o GI II foi considerado médio, sendo atribuído em 5,4%

    dos pacientes. Esses valores são valores inferiores ao encontrado por Aquino

    (2003b), que identificou 7,0% de incapacidade física II nos casos estudados e,

    Gomes (2005) que ao descrever o perfil dos pacientes de uma unidade de saúde por

    um ano, identificou 6,7% com esse grau.

  • Uma das principais razões para avaliar a proporção das incapacidades é o

    fato de que um nível elevado, é sinal de detecção de casos tardia, fato que favorece

    a transmissão da doença. Implica ainda, em prejuízo na qualidade de vida do doente

    e requer desenvolvimento de ações mais complexas, que não devem deixar de ser

    contempladas na atenção integral ao doente (THE INTERNATIONAL FEDERATION

    OF ANTI-LEPROSY ASSOCIATION ; BRASIL, 1999).

    O percentual de avaliação do GI física na cura, para o período, é considerado

    precário, tendo 74% de avaliados, corroborando com resultados encontrados por

    Aquino (2003a) ao estudar esse indicador em município hiperendêmico do

    Maranhão. Em 2000, 2001 e 2003 a classificação foi regular, ocorrendo

    respectivamente em 78,3, 83,2, 78,7% dos pacientes e, precário, menor que 75%,

    em 2002, 2004 e 2005.

    Salienta-se que a validade dos indicadores de avaliação do GI pode ser

    prejudicada em caso de deficiência na qualidade do exame clínico para a

    identificação de dormência nas mãos, pés e de deformidades visíveis (THE

    INTERNATIONAL FEDERATION OF ANTI-LEPROSY ASSOCIATION).

    A investigação epidemiológica de um caso de hanseníase objetiva romper a

    cadeia de transmissão da doença, procurando identificar a fonte de contágio do

    doente e descobrir novos casos. Os contatos intradomiciliares são pessoas que

    convivem ou conviveram nos últimos cinco anos com o paciente no mesmo

    domicílio, sendo por isso as pessoas que correm maior risco de serem

    contaminadas. Há descrição de incidência de hanseníase em contatos

    intradomiciliares de 15% a 30% no total de casos novos e um risco maior de adoecer

    de cinco a oito vezes (BEERS et al, 1999; BRASIL, 2005a).

    Portanto, é essencial que a vigilância desses contatos seja realizada de forma

    sistemática e eficiente pelos serviços de saúde, afim de que sejam adotadas

    medidas como o diagnóstico e o tratamento precoces (BRASIL, 2005a).

    Em São Lourenço da Mata, o percentual de comunicantes examinados,

    apresenta-se regular, entre 50,0% e 75,0%, em 2001, 2002 e 2003, ficando precário,

    menos de 50%, em 2004 e 2005. Em 2005, apenas 21,1% dos contatos registrados

    foram examinados. Para o período foram avaliados 51,5% dentre os contatos

    registrados.

    Pesquisas como a de Aquino (2003) e Carrasco & Pedrazzani (1993), sobre o

    percentual de exame de contatos realizados em município hiperendêmico do

  • Maranhão e Campinas, São Paulo, identificaram que apenas 16,8% e 23,8% dos

    contatos, foram avaliados, respectivamente, retratando também um baixo percentual

    de realização dessa atividade.

    Questões como a alta rotatividade de profissionais que executam as

    atividades do Programa, a centralização das atividades em apenas uma unidade de

    referência, onde o médico atende um turno, uma vez por semana e a enfermeira

    dois turnos, dois dias por semana acumulando ainda, a coordenação dos programas

    de hanseníase e tuberculose, provavelmente influenciaram para o baixo

    desempenho desse indicador em São Lourenço.

    A portaria número 1073/GM de 26/09/2000, incluiu o indicador cobertura do

    programa ou seja, proporção de unidades de saúde da rede básica que desenvolve

    ações de controle para hanseníase, tendo em vista ser a implantação dessa

    estratégia, a principal diretriz para o alcance da meta de eliminação da endemia

    como problema de saúde pública (BRASIL, 2000; VELLOSO, 2002).

    A lógica da descentralização consiste no desenvolvimento das ações do

    programa nas unidades básicas, com ênfase nas Unidades de Saúde da Família,

    para que toda a população tenha acesso facilitado e quando necessário seja

    encaminhado a unidades de referência de maior complexidade, garantindo assim a

    hierarquização e integralidade do atendimento ao doente (BRASIL, 2001).

    Apesar disso, em São Lourenço da Mata o Programa funciona de forma

    centralizada, tendo uma cobertura em 2005 de 8%, com apenas duas unidades

    realizando atividades de diagnóstico e tratamento. Conforme parâmetros definidos

    pelo exercício de monitoramento da eliminação da hanseníase - LEM (2004), que

    estabelece como cobertura ideal, >=85% das unidades básicas de saúde realizando

    diagnóstico, tratamento e altas, a cobertura do município é considerada inadequada.

    Esse resultado é inferior ao encontrado no Brasil, 16% em 2002 e,

    Pernambuco, 25,36% em 2003 (LEM, 2004).

    Dificuldades como insegurança, ausência de capacitação dos profissionais,

    deficiência no conhecimento para diagnosticar e tratar a doença e suas reações, alta

    rotatividade de médicos e enfermeiros e, ausência de compromisso político são

    alguns fatores que podem estar implicando no processo de

    implantação/implementação da descentralização do programa.

    A educação em saúde em hanseníase é outra atividade importante, que

    necessita ser implantada no município. A mesma deve perpassar as orientações

  • com o paciente, familiares, à divulgação de sinais e sintomas na comunidade

    visando à detecção de casos, combate ao estigma e manutenção dos pacientes no

    meio social (BRASIL, 2005a).

  • 6. CONCLUSÕES

    Com base nos resultados obtidos conclui-se:

    - Há maior ocorrência de casos em pessoas do sexo feminino, ocupadas com

    atividades do lar, tendo escolaridade de nível fundamental I e raça parda;

    - A maioria dos pacientes são casos novos, sendo detectados por demanda

    espontânea e de forma clínica Dimorfa;

    - Há precariedade no preenchimento das variáveis ocupação e raça, mostrando a

    pouca importância dada pelo profissional a estas informações, na determinação do

    processo saúde-doença;

    - Os indicadores epidemiológicos demonstram existir ainda alta transmissibilidade da

    doença no município, endemia oculta, identificados pela hiperendemia em menores

    de 15 anos e forma clínica tuberculóide, agravados pela grande diminuição na

    detecção de casos no decorrer do período analisado;

    - Os indicadores operacionais evidenciam precariedade na vigilância de contatos e

    avaliação do grau de incapacidade na cura, sugerindo falhas na operacionalização

    do Programa ainda que o percentual de avaliação do grau de incapacidade na

    notificação seja bom;

    - O programa funciona de forma centralizada, tendo deficiência nas atividades de

    educação em saúde e ausência de estratégia para a prevenção de incapacidades e

    reabilitação;

  • 7. RECOMENDAÇÕES

    Considerando os resultados, conclusões e a política estadual de

    enfrentamento da endemia, recomenda-se:

    - Melhorar a qualidade das ações de vigilância epidemiológica e o

    desempenho do sistema de informação;

    - Implementar a assistência ao portador de hanseníase;

    - Fortalecer a sustentação política do plano de eliminação da hanseníase e

    mobilização da sociedade civil organizada;

    -Realizar articulações no intuito de garantir assistência ao portador de

    hanseníase em atenção de média complexidade.

    Visando intervenção nos resultados e operacionalização das recomendações,

    encontra-se nos Quadros 4, 5, 6, e 7, proposta de plano de trabalho para o

    município, conforme modelo oficial adotado pela Coordenação Estadual do

    Programa de Hanseníase de Pernambuco.

    A proposta é composta de recomendações, que se desdobram em descrição

    de metas, unidade de medida (explicita a forma de avaliar a realização da meta), a

    linha de meta (consiste na base utilizada para a proposta da meta), a meta e as

    atividades sugeridas para seu alcance.

    Ressalta-se que a mesma foi construída pelos consultores estadual do

    Programa de Hanseníase, sendo oficialmente, apresentada e discutida com o

    coordenador de vigilância epidemiológica, do Programa e o secretário municipal de

    saúde, no intuito de implantá-la. Atualmente, São Lourenço da Mata vem sendo

    monitorado, pela equipe do Programa Estadual, quanto ao desenvolvimento das

    atividades e metas propostas.

  • Quadro 4. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à vigilância epidemiológica

    MELHORAR AS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E O DESEMPENHO DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO

    Descrição das Metas Unidade de medida Linha de

    base Meta Atividades relevantes

    1 - Aumentar o percentual de detecção de casos de hanseníase

    Casos detectados 2005 >=5%

    Realização de campanha anual nas áreas de U.S.F. para detecção de casos novos de hanseníase

    2- Aumentar o percentual de detecção de casos em menores de 15 anos

    Casos detectados 2005 >=5%

    Realização de atividades para detecção de casos em escolas, igrejas, grupos recreativos, etc.

    Sensibilização de profissionais de saúde quanto ao registro dos comunicantes na ficha de notificação; 3- Aumentar percentual de

    comunicantes registrados Contactantes registrados 2006

    100% dos esperados Adoção de instrumento para o registro e avaliação de comunicantes,

    visando anexá-lo em prontuário Sistematização da avaliação de comunicantes junto as Unidades de Saúde, com a utilização de ficha padronizada. 4- Aumentar percentual de

    comunicantes examinados Contactantes examinados 2006

    >=80% dos registrados Sistematização de busca ativa de comunicantes pela referência bem

    como para U.S.F, mensalmente, informando a avaliação dos mesmos através do boletim de acompanhamento Sensibilização dos profissionais de saúde quanto importância de completar todos os campos da ficha de investigação.

    5 –Diminuir percentual de ignorados e em branco das variáveis da ficha de investigação e do boletim de acompanhamento

    Fichas de investigação

    completa 2006

    < 10% dos campos

    em branco Realização sistemática da crítica das fichas de notificação, antes da digitação no sistema. Envio do boletim de acompanhamento de casos, mensalmente, estabelecendo prazos de devolução do mesmo pelas UBS 6- Atualizar o boletim de

    acompanhamento de casos Boletim

    atualizado 6 boletins 12 por ano Elaboração de documento informativo dos principais conceitos utilizados na Hanseníase, visando distribuir para as UBS qualificando as informações contidas no boletim de acompanhamento

    7- Manter a avaliação do grau de incapacidade na notificação

    Avaliação GI na

    notificação

    2005 (100,0%) 100%

    Atualização e sensibilização dos profissionais das UBS, visando melhoria da quantidade e qualidade da atribuição do grau de incapacidade na notificação

    8- Aumentar a avaliação do grau de incapacidade na cura

    Avaliação do GI na cura

    2005 (72%) >=77%

    Atualização e sensibilização dos profissionais das UBS, visando melhoria da quantidade e qualidade da atribuição do grau de incapacidade na cura

    9- Elaborar informe epidemiológico sobre a situação da hanseníase no município

    Informe elaborado

    2005 (0) 1 Coletar dados, analisar, transformar em informação e divulgar.

    10 - Realizar monitoramento dos indicadores do PEH

    Monitora-mento

    2005 0 ao ano 4 ao ano

    Coleta trimestral dos dados epidemiológicos e operacionais, visando construir os indicadores, analisá-los, retroalimentando as UBS

  • Quadro 5. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à assistência ao portador de hanseníase

    IMPLEMENTAR A ASSISTÊNCIA AO PORTADOR DE HANSENÍASE

    Descrição das Metas Unidade de medida Linha de

    base Meta Atividades relevantes

    1. Capacitar as equipes de saúde da família para diagnóstico e tratamento da hanseníase no município

    ESF capacitada

    2005 (0,0%) 100%

    Articulação com a coordenação estadual visando oferecer curso de capacitação para médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde Articulação com o gestor municipal visando oferecer educação continuada através de aulas práticas dos profissionais das ESF com a Referência

    2. Ampliar cobertura do PEH em nível de U.B.S., proporcionado diagnóstico e tratamento ao portador de hanseníase.

    UBS com diagnóstico e tratamento

    2005 2 (8%)

    20 (80%)

    Supervisão bimensal para fortalecer e avaliar a qualidade da descentralização das ações de Hanseníase Estabelecimento de fluxo de distribuição e controle da medicação entre farmácia e U.B.S. 3. Descentralizar medicação para U.B.S (referência, U.S.F.)

    UBS realizando tratamento

    2005 2 ( 8%)

    20 (80%)

    Estabelecimento de responsável pela ação na Unidade e forma de registro da mesma

    4. Fortalecer capacidade das equipes de saúde da família na atribuição do grau de incapacidade e na prevenção de seqüelas

    Equipes de Saúde capacita-

    das em GI

    2005 2 (8%)

    20 (80%)

    Articulação com a coordenação estadual, visando oferecer educação continuada para as ESF, direcionada à atribuição do grau de incapacidade e prevenção de seqüelas.

    5. Realizar dose supervisionada nas U.B.S. (referência, 100% das U.S.F.)

    UBS realizando dose

    supervisionada

    2005 2 (8%)

    20 (80%)

    Adoção de instrumento para aprazamento de doses e responsável pela ação.

    6. Organizar fluxo de atendimento ao portador de Hanseníase desde a atenção básica até o nível de maior complexidade, com estabelecimento de referência e contra-referência

    Fluxo organizado 2005 0 1 Realização de reunião com as UBS visando identificar os problemas relacionados à referência e contra-referência e a definição de fluxo referência e contra-referência

  • Quadro 6. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à sustentação política e mobilização social

    PROMOVER SUSTENTAÇÃO POLÍTICA DO PLANO DE ELIMINAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

    Descrição das Metas Unidade de medida Linha de

    base Meta Atividades relevantes

    Apresentação da situação da hanseníase no município ao secretário municipal de saúde

    1. Fortalecer a sensibilização do gestor do município a se comprometer com o controle da Hanseníase, incluindo-o no plano municipal de saúde

    Gestor sensibiliza-

    do

    2005 1 1

    Articulações com o gestor municipal, visando consolidar a coordenação do Programa no município.

    2. Participar de reuniões, no Conselho Municipal de Saúde, visando discutir a problemática da Hanseníase no município.

    Reuniões do CMS

    2005 1 >=2

    Participação semestral nas reuniões do conselho municipal de saúde, informando-os o monitoramento dos indicadores epidemiológicos e operacionais do município, além de envolvê-los nas ações para alcance das metas. Articulação de parcerias com as associações de moradores, clube de mães, igrejas, escolas, Pastoral da Saúde, Pastoral da Criança, etc..

    3. Envolver os grupos civis organizados do município, para obtenção de maior participação da população nas ações de controle da Hanseníase.

    Grupos civis

    organiza-dos

    2005 1 >=3

    Sensibilização professores da rede municipal e articular plano de aula em hanseníase Articulação com rádios locais para divulgação de sinais e sintomas da hanseníase Afixação de cartazes em áreas de grande concentração de pessoas Articulação para impressão de mensagens da hanseníase em extratos bancários, contas de água, energia elétrica, telefone, contra-cheque de servidores públicos, etc. Intensificação da busca de sintomáticos dermatoneurológicos pelos ACS Realização de palestras em empresas, fábricas, escolas, etc... Planejamento junto as ESF visando desenvolver trabalhos de educação em saúde direcionados a Hanseníase nos grupos já existentes (hipertensos, diabéticos, gestantes, etc...)

    4. Realizar divulgação de sinais e sintomas da Hanseníase para a população

    Divulgação realizada

    2005 3 7

    Articulação junto com ACS de montagem de peça teatral para divulgação da hanseníase

  • Quadro 7. Demonstrativo da descrição de metas e atividades relevantes, referentes à assistência de média complexidade ao portador de hanseníase

    REALIZAR ARTICULAÇÕES NO INTUITO DE GARANTIR ASSISTÊNCIA AO PORTADOR DE HANSENÍASE EM ATENÇÃO DE MÉDIA COMPLEXIDADE

    Descrição das Metas Unidade de medida Linha de

    base Meta Atividades relevantes

    Articulação, de maneira formal, de referência e contra-referência para as atividades de prevenção e/ou reabilitação.

    Articulações com o gestor municipal visando oferecer atendimento psicológico e tratamento de feridas para o portador de hanseníase do município

    1. Estabelecer refer�