maré de notícia #64

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Boxe Roberto Custódio no Pan. Pág. 4 Festas e bailes Pág. 14 e 15 Liga BS. Pág. 5 Povos da Baía Pescador do Pinheiro Pág. 3 Elisângela Leite Rosilene Miliotti Rosilene Miliotti Rosilene Miliotti Rosilene Miliotti As ruas, travessas e praças da Maré finalmente farão parte do mapa da cidade do Rio. A prefeitura formou um grupo de trabalho para atuar nas medidas necessárias ao reconhecimento de todos os logra- douros locais. Os moradores estão sendo chamados para participar, principalmente porque as ruas com nomes repetidos na cidade terão de ser rebatizadas. pág. 8 e 9 Com a entrada em funcionamento das novas unida- des da rede municipal de ensino, em 2016, todas os alunos da Maré passarão a ter sete horas-aula por dia. Com isso, novas e antigas escolas serão dividi- das por segmento. pág. 6 e 7 O casal Dione e Beto Flamenguista e o presi- dente da Associação do Parque União, Edilmo Batista, contam as boas novas do Sem Terra e pedem investimentos públicos para a solução de velhos problemas. pág. 12 Nossas ruas serão reconhecidas Mudanças nas escolas Sem Terra pede passagem Elisângela Leite Elisângela Leite Elisângela Leite 64 Ano VI, N o julho de 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita Roberto e a mulher, Alexandra Futebol

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Page 1: Maré de Notícia #64

BoxeRoberto Custódio

no Pan. Pág. 4

Festas e bailes

Pág. 14 e 15

Liga BS. Pág. 5

Povosda BaíaPescadordo Pinheiro Pág. 3

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As ruas, travessas e praças da Maré finalmente farão parte do mapa da cidade do Rio. A prefeitura formou um grupo de trabalho para atuar nas medidas necessárias ao reconhecimento de todos os logra-douros locais. Os moradores estão sendo chamados para participar, principalmente porque as ruas com nomes repetidos na cidade terão de ser rebatizadas. pág. 8 e 9

Com a entrada em funcionamento das novas unida-des da rede municipal de ensino, em 2016, todas os alunos da Maré passarão a ter sete horas-aula por dia. Com isso, novas e antigas escolas serão dividi-das por segmento. pág. 6 e 7

O casal Dione e Beto Flamenguista e o presi-dente da Associação do Parque União, Edilmo Batista, contam as boas novas do Sem Terra e pedem investimentos públicos para a solução de velhos problemas. pág. 12

Nossas ruas serão reconhecidas

Mudanças nas escolas

Sem Terrapede passagemE

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64Ano VI, No julho de 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita

Robertoe a mulher,Alexandra

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Deslocamento difícil

Quando falamos sobre a Baía de Guanabara, todos os pescadores manifestam preocupação. “Espero que a melhora aconteça; agora dá tristeza o deslocamento (com o barco) e o retorno é difícil. A Baía mudou muito, em tudo, só temos poluição. Passamos por dificuldade do ano de 2000 para cá, com o petróleo no mar. Com a obra do Canal do Fundão só piorou, está tudo raso. Não foi dragado, tinha que ter feito barragem”, afirma ele.

Em frente à subcolônia a lama toma conta das águas do canal. “Nosso barco só entra com a

maré alta. Acabo tendo que trabalhar fora da Baía. Hoje só vivemos

de promessas, com mui-ta tristeza, só não

largo porque sou marcado como pesca-dor. Tem

dia que desejo trabalhar na pesca, mas tem o tempo da maré baixa que só posso ficar a tomar uma cervejinha”, desabafa.

Contudo, Altivo lembra que o mar tem os seus perigos, que quase perdeu a perna e a vida. Depois do susto, ele é categórico. “A maior alegria é continuar vivo.” Se for pescando, me-lhor ainda. “A pesca é tudo na vida, o mar é um alívio total”, destaca ele.

Se o barco não atolar, nossa próxima parada será Colônia Z11, na Praia de Ramos.

Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242(21)3104.3276(21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Imagem de cabeçalho na capa:Casal na quadrilha da festa junina da Nossa

Senhora da Paz, no Parque União. Foto: Elisângela Leite.

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Parceiros:

Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

Repórter Rosilene Miliotti

Fotógrafa Elisângela Leite

Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

Coordenadorde distribuição

Luiz Gonzaga

Impressão Jornal do Comércio

Tiragem 40.000 exemplares

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eliana Sousa Silva Edson Diniz Nóbrega Júnior

Helena EdirSecretaria Executiva:

Patricia ViannaEixo Educação:

Coordenadora: Gisele MartinsEixo Arte Cultura:

Maíra Gabriel AnhornEixo Desenvolv. Territorial: Responsável: Edson DinizEixo Segurança Pública

Responsável: Eliana Sousa SilvaEixo Comunicação:

Responsável: Andréia Martins

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação ComunitáriaRoquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores eAmigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM)

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

EDIT

OR

IAL

PO

VO

S D

A B

AÍA

HUMOR - Angeli. Campanha “Da proibição nasce o tráfico”

CARTAS

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

Editorial

Por investimentos contínuos

Pelo que podemos ver nesta edição, os investimentos públicos estão aportando na Maré, sinalizando algumas melhorias e avanços para a população. Há muito ainda a ser feito. Por décadas, os investimentos não foram suficientes para garantir equipamentos e serviços públicos com a mesma qualidade que outros espaços da cidade.

As boas novas mais robustas acontecem nas áreas da educação, com as escolas ampliando o turno para sete horas de aula por dia a partir de 2016 (leia mais nas páginas 6 e 7); e de urbanização, com o reconhecimento dos logradouros (pág. 8 e 9).

São avanços, sem dúvida, o que não significa que nossas demandas se encerrem por aí. A qualidade do ensino deixa a desejar e precisa ser melhorada, o que o turno estendido promete ajudar. Pelas ruas e travessas, além do reconhecimento de ruas, queremos um sistema de esgotamento sanitário adequado, como pedem os moradores do Sem Terra (pág. 12).

Portanto, se os investimentos forem contínuos e crescentes, aí sim os avanços necessários serão sentidos por todos.

A todas e todos, boa leitura!

Jovem branco vivo

Sobre a reportagem a respeito da campa-nha “Jovem negro vivo” (ed. 62, pág. 10 a 12), pergunto: e o jovem branco e pobre que nos cerca, onde fica? Será que não sofrem preconceitos por serem favelados bran-cos??!! E os “paraíbas”, que na Maré são quase a maioria, não sofrem preconceitos?

Severino Gomes, morador do Parque União

Resposta da Redação: Severino, obrigada pelo seu comentário. A campanha não preten-de minimizar outros preconceitos ou problemá-ticas sociais. O foco no jovem negro refere-se à chance muito maior de este ser morto do que o jovem branco.

Maré de Notícias no Capanema

Nosso Ciep (Ministro Gustavo Capanema), além de atender crianças e adolescentes,

Expediente

Hélio Euclides Rosilene Miliotti

O Maré de Notícias está fazendo uma viagem pelas colônias de pe-cadores locais. Primeiro fomos até Marcílio Dias e batemos um papo com o pescador Mestre Louro. Na última edição, o Parque União foi o lugar escolhido; as histórias fica-ram por conta de Samuel, Paulinho e Andrik. Agora chegou a vez de pisar em águas da Vila do Pinheiro e ter, na autoridade do mar, o pes-cador Altivo Gomes da Cruz.

Altivo é de poucas palavras, mas com muita experiência de mar. Grande parte dos seus 62 anos é dedicado à pesca. Atuou em diversas colônias, como na de Magé e Tubiacanga, Praia da Rosa, Cova da Onça e Manuel Marreiro, na Ilha do Governador. “Sou nascido dentro d’água à beira da praia, daí sempre ter o desejo dessa profissão”, enfatiza. Ele navega nas águas da Baía de Guanabara com seu barco Altivo Rio, que chama cariosamente de Caiquinho.

Ele conta que sua proximidade com a Maré começou depois da construção da Linha Vermelha, com o nascimen-to da subcolônia do Pinhei-ro. Com o trabalho no mar, constituiu famí-lia, com duas filhas e agora dois netos.

trabalha com jovens e adultos que são os nossos alunos do PEJA. Com esse segmen-to o Maré de Notícias tem sido um instru-mento não só de informação, mas um recur-so pedagógico que utilizamos por acreditar no serviço que tem prestado à Maré no que diz respeito a suscitar reflexões sobre temas atuais e importantes em relação à cidadania, empoderamento, e acima de tudo, dar visibi-lidade a história e memória da Maré. Gosta-ria de solicitar mais exemplares para a nossa escola. Uma outra solicitação é como pode-ríamos entrar em contato com o grupo dos jovens bailarinos da Escola Livre de Dança da Maré.

Janete Trajano, professora orientadora do Ciep Capanema

Resposta da Redação: As solicitações já fo-ram encaminhadas. Agradecemos imensamen-te e convidamos a todos para ler outro trecho da carta na pág. 16 (“Minha rua tem um nome”).

Na terceira reportagem, ancoramos na Vila do Pinheiro. Como se vê pela foto, a situação dá tristeza. Sair de barco só é possível com maré cheia

Pescador não abandona o barco

“Acabo tendo que trabalhar fora da Baía. Tem dia que desejo trabalhar na pesca, mas tem o tempo da maré baixa que só posso ficar a

tomar uma cervejinha”Altivo, pescador da subcolônia da Vila do Pinheiro

Situação atual na subcolôniado Pinheiro: muito lodoafetando a circulaçãodos barcos

Ops, erramos! A foto principal da capa da ed. 63, de junho, é de autoria de Ary Pimentel

Reprodução de um dos cinco cartuns da campa-nha “Da proibição nasce o tráfico”, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Ce-sec), da Univer-sidade Cândido Mendes. Para saber mais: www.daproibicaonas-ceotrafico.com.br/ ou facebook: “Da Proibição Nasce o Tráfico”.

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mana trabalha como encarregado de funilaria e dedica os fins de semana à Liga. “A esposa reclama muito. Chego aqui às 9h e saio às 20h, mas esse é o meu lazer. Faço isso aqui porque gosto e não ganho nada. Os times contri-buem para pagar os árbitros, todos federados, e a premiação do cam-

peonato”, explica.

Mesmo sem apoio, os or-ganizadores da Liga BS

já conseguiram fa-zer melhorias no

campo. “Nós mesmos faze-mos a manuten-

ção, vemos quem pode ajudar com di-

nheiro ou mão de obra. Esse ano nós não temos

apoio nenhum, só das equipes. O morador da Maré ainda carece

de espaços públicos de lazer. Não tem parque nem espaços abertos e amplos

para que as crianças brinquem”, reclama.

O evento vai rendendo frutos. O estudante Romário da Silva Pereira, 15 anos, filho de Burgão, diz que curte ajudar o pai e já pensa em ser professor de educação

física no futuro.

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Rosilene Miliotti

Burgão, como prefere ser chamado, é o Edson Pereira da Silva, 34 anos, morador da Nova Maré e organizador da Liga BS. Ele é o responsável pelo cam-peonato da Baixa do Sa-pateiro, na Praça do 18,

há dois anos, mas o evento acontece

há 10. São 12 times e oito se classificam para a fase do “mata mata”. A final está pre-vista para agosto.Burgão explica que quase todas as co-munidades têm seu campeonato, pois é difícil unificar e fazer apenas um. “Os campos são diferentes. Aqui na Baixa,

o campo é de sete jogadores. O da Nova Holanda é de

nove, do Pinheiro é de 11 e tem impedi-

mento. Já na Vila do João são 11 e não tem impedimento. Cada um tem sua regra. O que aconte-ce é que a maioria dos jogadores roda os campeonatos de fim de semana na comunidade”.

As equipes são formadas basica-mente por adultos, mas adolescen-tes e jovens têm vez desde que sejam bons de bola. “Para deixar o jogo mais dinâmico e menos vio-lento, trouxe algumas regras do futsal para a Liga BS”, co-

menta Burgão, que durante a se-

É tempo de campeonato. São vários pela Maré. Nesta edição, vamos conhecer a Liga BS

Sábado a bola rolana Praça do 18

Em campo, os times Bonsucesso x Tribo. A

dupla acima é composta pelo Burgão, organizador

do evento, ao lado do filho Romário

Em busca deum sonho

Roberto Custódio, morador da Nova Holanda, sonha com a medalha nos Jogos

Pan-Americanos

Rosilene Miliotti

O boxeador Ro-berto Custódio, 27 anos, morador da Nova Holanda, é titu-lar na seleção brasilei-ra na categoria meio mé-dio (até 69kg) e em julho estava participando do seu primeiro Pan-Americano, em Toronto, no Canadá. A parada é dura. “Os cubanos são muito fortes nesta competição. Meu ad-versário mais forte foi três vezes campeão Olímpico”, explica.Roberto conta que tudo que conquistou na vida foi graças ao boxe e que mantém a família com o que ganha como atleta. “O Roberto é da paz e nasceu para o boxe”, é assim que a esposa, Alexandra Oliveira Custódio de Queiroz, 26 anos, o define. Eles se conheceram ainda adolescentes no Luta Pela Paz, estão juntos há 10 anos e têm uma filha de 6. Aliás, no período da gravidez, Roberto foi para São Paulo treinar com a seleção brasileira de boxe e desde então fica no vai e vem entre Rio e São Paulo a cada 15 dias.

Ser atleta ou não?

Roberto, que pratica boxe desde os 13 anos, teve que renunciar muita coisa para estar na seleção brasileira. “No início só queria aprender a me defender e adorava ir para casa com a mão enfaixada com atadura, mas as pessoas perguntavam se eu estava machucado. Aí eu dizia que não, que estava fazendo boxe. Queria me mostrar”, lembra ele, que também queria ser reconhecido na comunidade por lutar bem, já que via que outros colegas eram reconhecidos por isso.

“Vou ser lutador pra geral me conhecer também”.

Na seleção, além dele, há mais dois atletas de favelas do

Rio, ambos do Vidigal. “A gente fala que o boxe é o patinho feio dos

esportes, tem muitos moradores de periferias do Brasil. A diferença são os

sotaques e as gírias”, comenta.

Antes da primeira competição, ele caiu de moto e quebrou o braço, o que retardou o iní-

cio de sua participação nos eventos esportivos. “Em 2006, fiz a primeira viagem para competir. Minha esposa, na época companheira de equi-pe, também viajou. Fomos para a Irlanda do Norte. A gente não ganhava nada para lutar e de todos que viajaram, só eu que continuei no boxe. Por muitas vezes pensei em desistir, prin-cipalmente quando minha namoradora (agora esposa) engravidou. Meu treinador me orientou e falou para eu não servir ao quartel e continuar no esporte ‘porque eu era bom’. Respondi dizen-do que gostava do boxe, mas eu não ganhava nada, e perguntei como faria para levar minha namorada pra sair? Lutador duro?!”, brinca.

O treinador, para convencê-lo, disse que se ele ganhasse a competição em São Paulo, conseguiria uma bolsa para ele. Roberto pediu dispensa do quartel, foi para a competição e perdeu. “Caraca, era pra ter ficado no quartel.

Perdi e fiquei todo doido. Voltamos e comecei a treinar. Eu frequentava baile funk e voltava pra casa com o dia claro, mas para me dedicar ao esporte comecei a voltar às 3h, até que não fui mais.”

Em 2007, o boxeador voltou ao campeonato em São Paulo, o Luva de Ouro, e ganhou

por três anos consecutivos. Agora acumula uma série de medalhas. “Tinha muita coisa

no treinamento que eu achava chato, mas que fez muita diferença para eu chegar à seleção”,

confessa ele. Custódio sabe que a vida atleta é curta e quer se formar e voltar ao projeto Luta Pela Paz para trabalhar como professor dando aula de boxe.

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NOVAS CONSTRUÇÕES

Na área do Salsa e Merengue/Vila do Pinheiro, próximo à Linha Vermelha,

serão construídos 3 EDIs e 3 Primários.

Na Rua D, esquina com a Rua C (próximo a Vila do Pinheiro/Vila do João) será

construído 1 Ginásio.

Em frente ao CIEP Operário Vicente Mariano (Rua Tancredo Neves) será

construído um Primário (E.M. Bartolomeu Campos de Queirós).

Ao lado da Vila Olímpica serão 2 EDIs, 6 Primários e 1 Ginásio.

No terreno do CIEP Hélio Smidt será construído 1 EDI pela SMH (Habitação).

Fonte: 4ª CRE / SME

As mudanças anunciadas

Josué de Castro - do 6º ao 9º ano

Teotônio Villela - Educação Infantil ao 6º ano

Gustavo Capanema - Primário (1º ao 6º ano)

Professor Paulo Freire - do 6º ao 9º ano

Bartolomeu Campos de Queirós - Primário

Bahia - do 6º ao 9º ano

Operário Vicente Mariano - Ginásio (do 7º ao 9º ano)

IV Centenário - Primário

Escritor Ledo Ivo - EDI

Samora Machel - Primário

Elis Regina - do 6º ao 9º ano

E.M. Nova Holanda - EDI

Hélio Smidt - Ginásio

Tenente General Napion - Primário (ainda a confirmar)

Armando de Salles - EDI

Leonel Brizola - Primário

Clotilde Guimarães - Educação Infantil/Primário - Progressivamente evoluirá para

EDI

Gonzaguinha - Primário

REORGANIZAÇÃO DAS ATUAIS ESCOLAS MUNICIPAIS

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Silvia Noronha Elisângela Leite

Como é comum nessa idade, Felipe, de 6 anos, e Mateus, de 7, não gostam de acordar cedo para qua-se nada. A exceção fica por conta das aulas de judô, que começam às 8h na Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Não tem cansaço, não tem dor; e se eu disser que não posso levá-lo, ele chora para ir”, conta Monique Cândido, mãe de Mateus. Os dois fazem parte de um grupo de 300 crianças e jovens que praticam esportes na Escola de Lutas José Aldo, a primeira instalada em uma comunidade ocupada pelas forças de segurança, segundo o presidente da Associação de Moradores, Pedro Francisco dos Santos. “Estamos tentando ampliar o número de vagas, porque inauguramos a academia em 1º de junho e rapidamente lotou. Vieram alunos de várias comunidades vizinhas, como Vila do João e Pinheiro”, conta ele.

A escolinha é uma iniciativa do campeão peso-pena do UFC, José Aldo, em parceria com o governo do estado e a associação. “Gosto de assistir, vibro com meu neto aprendendo”, diz a avó de Felipe, Tânia Lúcia Teixeira e Silva, ao lado da mãe do menino, Priscila, moradoras do Conjunto Esperança.

Escola de lutas

Judô, boxe, jiu jitsu e luta olímpica

Horários: de segunda a sexta, manhã e tarde

Local: Quadra da Associação de

Moradores do Conjunto Esperança

OBS: Aguarda ampliação das vagas para novas matrículas

LOTADAAcademia José A ldo

Mateus (à esqu.)com a mãe, Monique,e Felipe, com a vó Tânia

Mateus e Lucaspraticando judô

Hélio Euclides Elisângela Leite

Na segunda-feira, 6 de julho, ocorreu uma reunião na sede da 4ª Coordenadoria Regional de Educa-ção (CRE), que é responsável pelo ensino municipal na Zona da Leopoldina. Estavam presentes a se-cretária Municipal de Educação, Helena Bomeny; o coordenador da 4ª CRE, Eduardo Fernandes; equi-pe técnica da secretaria; e participantes do projeto Maré que Queremos, que reúne dirigentes de asso-ciações de moradores da Maré e representantes da Redes da Maré e de outras instituições locais.

O principal motivo do encontro foi buscar informações sobre como funcionarão as escolas municipais que estão em construção (veja no quadro ao lado).

“Quase todas as escolas da Maré serão distribuídas por faixa etária, com sete horas de aula. Sabemos que as mudanças mexem com todos, mas não é nada de uma hora para outra”, disse o professor Eduardo.

A estimativa é de que as mudanças ocorram em 2016. Segundo Helena, o aumento da carga horária proporcionará um ganho de qualidade para os estudantes. “O objetivo é ter um bom ensino, onde todas as crianças aprendam na idade ideal, sem defasagem. Será exigido mais matemática e português. Isso é o que ocorre nos países avançados e vai acontecer na cidade toda, mas aos poucos”, prometeu Helena. A meta da prefeitura é aumentar gradativamente a quantidade de alunos com sete horas de aulas por dia. Por enquanto, em 2015, 21% dos alunos da cidade encontram-se com essa carga horária; em 2016, a previsão é de 35%, percentual que incluirá os estudantes da rede municipal da Maré.

Mudanças narede de ensino local

Novas e antigas escolas municipais da Maré serão divididas por segmento para

que ofereçam sete horas de aulas diárias a partir de 2016 Mais professores

Os líderes comunitários entregaram um docu-mento contendo reivindicações na área educa-cional. Eles manifestaram apoio à ampliação do número de unidades, mas temem que as novas escolas enfrentem dificuldade de completar o quadro de professores, a exemplo do que ocorre hoje. A escola com mais dificuldade é a Teotônio Vilela, no Conjunto Esperança.

A secretária afirmou que uma das soluções para enfrentar essa dificuldade é a possibilidade de abertura de processo exclusivo na Maré para que professores de 16 e 22,5 horas passem a ter carga horária de 40 horas semanais.

Mudanças confirmadas

Como forma de agilizar as inaugurações, todos os presentes ficaram de pesquisar nomes que possam batizar as novas instalações. A novidade foi que o prédio em construção em frente ao Ciep Operário Vicente Mariano será Escola Municipal Escritor Bartolomeu Campos de Queirós. Ou seja, acabará o compartilhamento da unidade. Já a Escola Nova Holanda será transferida para um novo prédio no terreno da Vila Olímpica, e a instalação atual será um Espaço de Educação Infantil (EDI). As creches e EDIs atuais continuarão com o mesmo atendimento.

Com o funcionamento do novo sistema, será avaliado se as creches Nova Holanda e Professor Paulo Freire (Nova Maré) terão seus prédios desativados, passando para as novas construções. Por fim, a Maré recebeu a notícia de que terá uma escola bilíngue, a única da 4ª CRE.

O Ciep Helio Smidt

terá alunos do Ginásio

Escola Nova Holanda se tornará EDI

Reunião do Maré que Queremos coma secretária de educação

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Nossas ruas reconhecidasMoradores estão sendo chamados para participar do trabalho de

regulamentação dos logradouros, em especial porque as ruas com nome repetido precisarão ser rebatizadas. As reuniões por comunidade devem

ocorrer até setembro

Serão realizadas pelo menos duas reu-niões em cada comunidade da Maré. Esse é o modelo piloto aplicado na Vila do Pi-nheiro. Dando certo, ele será replicado ou será ajustado.

A primeira reunião visa apresentar aos moradores o mapa da favela e verificar a necessidade de alterar nomes de logra-douros, o que precisará ser feito obrigato-riamente se existir rua já reconhecida na cidade com a mesma nomenclatura;

A segunda reunião já será para recolher três sugestões de novos nomes. Os morado-res deverão apresentar um abaixo-assinado com as sugestões. Se for nome de gente, será necessário apresentar o atestado de óbito, porque não é permitido homenagear pessoas vivas. Além disso, está sendo pedi-do um histórico do homenageado para justi-ficar a escolha. A ideia de ter três sugestões é para ganhar tempo, caso novamente seja apresentado nome repetido;

Conheça o procedimento Melhorias no dia a diado morador

Janaína Monteiro, presidente da As-sociação de Moradores da Vila do Pinheiro, Salsa e Merengue e Marro-cos, acredita que o reconhecimento das ruas melhore diversos serviços públicos, não apenas os Correios. “Pedidos de asfaltamento, de sane-amento, manutenção, tudo isso vai melhorar, porque sem o registro das ruas, eles não fazem os serviços”, reclama ela. A associação mantém três pessoas para fazer a entrega das correspondências no lugar dos Correios.

No Parque União, onde a localidade do Sem Terra também não dispõe de entrega domiciliar, a associação paga duas pessoas. “Faço compras pela internet, pago o frete, mas eles deixam os pedidos na associação ou nos Correios de Bonsucesso, e eu ainda tenho de ir buscar lá”, co-menta Wélio Ramos, morador do Sem Terra

“O mapeamento defavelas é uma discussão mundial em relação ao pertencimento e integração à cidade.O debate é como integrar a partir do mapa. Acredito muito nesse trabalho como sendo um avanço” Pedro Veiga, do Programa Rio+Social, da prefeitura

Silvia Noronha e Hélio Euclides Elisângela Leite

Wélio, do Sem Terra, pegando suas correspondências na Associação do

Parque União

Caso os moradores queiram esponta-neamente substituir o nome atual, eles de-verão se juntar para apresentar o pedido e as sugestões.

As reuniões ocorrerão paulatinamente em toda a Maré entre os meses de julho e setembro, no máximo outubro;

O prazo para a conclusão desse traba-lho termina em 10 de dezembro. Em segui-da, o reconhecimento das ruas é feito por decreto do prefeito;

Após essa fase, haverá ainda a numera-ção oficial das casas, por metragem;

Feito isso, o morador pode solicitar pe-dido de Código de Endereçamento Postal (CEP), com o auxílio da Secretaria Munici-pal de Urbanismo (SMU). Os Correios en-tão terão de gerar o número do CEP;

Mais informações na prefeitura.Tel.: 2976-2711.

A Maré terá suas mais de 500 ruas, travessas e praças regu-lamentadas pela prefeitura, de ponta a ponta, desde o Conjunto Esperança até Marcílio Dias. Os últimos procedimentos necessá-rios para isso já estão em anda-mento, com a formação de um Grupo de Trabalho (GT) respon-sável pelos encontros e visitas à Maré para que os nomes atuais sejam validados ou substituídos.

A princípio, as mudanças deverão acontecer se existir outro logradouro no município com o mesmo nome, o que não é permitido. Nesses casos, os moradores serão chamados para decidir em conjunto.

No mundo, a formalização das ruas de favelas e espaços populares é associada ao pertencimento à cidade, ao desenvolvimento urbano local e a questões de cidadania, conforme explica Pedro Veiga, coordenador geral do Programa Rio+Social, órgão que está à frente do GT juntamente com a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU).

“O mapeamento em si é uma discussão mun-dial em relação ao pertencimento e integração à cidade. O debate é como integrar a partir do mapa. Acredito muito nesse trabalho como sen-

do um avanço nesse pro-cesso”, acrescenta

ele. Pedro

diz que esse é o primeiro processo grande de regularização de logradouros, trabalho que an-tes ocorria rua a rua. A ideia é criar uma metodo-logia que possa ser replicada em outras favelas.

Entre os demais benefícios a serem conquistados com o reconhecimento, ele cita o uso do serviço 1746 (ouvidoria da prefeitura) pelo morador, comprovante de residência e a geração de CEP, com entrega domiciliar de correspondências, o que cinco localidades da Maré ainda não dispõem: Salsa Merengue/Marrocos, Nova Maré, Sem Terra (no Parque União), Parque Roquete Pinto e Marcílio Dias, onde o carteiro deixa tudo nas associações de moradores (leia mais no box).

Rosane de Oliveira, gestora do Rio+Social na Maré, está acompanhando o trabalho ativamen-te. Assim que o GT foi criado, em junho, uma de suas primeiras providências foi se reunir com os líderes comunitários para explicar as etapas que virão pela frente. Serão marcadas reuniões com os moradores em cada comunidade, co-meçando pela Vila do Pinheiro.

Nessas reuniões, será apresentado o mapa das ruas para saber quais logradouros já foram reconhecidos no passado, quais poderão ser oficializadas com o mesmo nome e quais terão de ser substituídos. “Será uma forma de homenagear antigos moradores de cada rua, desde que tenham falecido”, observa ela.

Outras favelas do Rio

O Rio+Social é um programa multidiscipli-nar coordenado pelo Instituto Pereira Pas-sos (IPP) em parceria com o ONU-Habitat

(Programa das Nações Unidas para Assen-tamentos Humanos), com o objetivo de pro-mover a melhoria da qualidade de vida de populações de territórios ocupados pelas for-ças de segurança.

Segundo Pedro, o IPP mapeou todas as fa-velas ocupadas, aumentando de 70 km para cerca de 360 km o total de ruas devidamente identificadas. O trabalho inicialmente contou com a parceria da Redes da Maré e Obser-vatório de Favelas, que já haviam desenvolvi-do metodologia para realizar o mapeamento na Maré. O projeto das organizações locais fez parte do Censo Maré e teve início com a cartografia do conjunto de favelas que, por sua vez, gerou o Guia de Ruas da Maré (dis-ponível em: redesdamare.org.br).

Além das questões de inserção plena da Maré na cidade, relacionadas ao reconheci-mento do mapa do bairro, o diretor do Obser-vatório de Favelas, Jaílson de Souza, des-taca o papel da sociedade civil local nesse processo. “Esse é nosso papel: desenvolver ações exemplares, metodologias e tecnolo-gias que possam ser transformadas em po-líticas públicas. Cabe reconhecer de vez que o público é muito mais do que o Estado: ele reúne as forças sociais comprometidas com a democratização dos espaços públicos e seus equipamentos”, ressalta ele, que espera que a regularização dos logradouros seja es-tendida a outras favelas.

Helena Edir, diretora da Redes da Maré e moradora da Nova Holanda, diz que será um passo importante para se garantir um direito básico no campo do acesso a cidade a to-dos os moradores. “Nesse sentido, ver a rua onde moramos num mapa com CEP é, sem dúvida, sentir parte da cidade e ter direito a ela”, afirma.

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Hélio Euclides Rosilene Miliotti

Desde a desocupação das Forças Armadas, a Maré tem recebido quase diariamente operações po-liciais realizadas pela Companhia de Cães, Batalhão de Choque e Bope. Na manhã da quarta, 8 de junho, policiais militares fizeram buscas em várias comunidades.Moradores contaram que PMs arrobaram uma residência fechada na Rua Castelo Branco, no Parque Maré, e colocaram fogo na casa. Bombeiros foram chamados e com ajuda de moradores extinguiram o fogo. O resultado do incêndio foi perda total. O morador estava trabalhando quando tudo aconteceu.

A casa ao lado também foi atingida e teve azulejos e pintura danificados. “Na casa es-tavam minha esposa e filho de um ano e seis meses, que saíram do banho correndo de to-alha. Eles ainda respiraram a fumaça. Meu sentimento é de revolta”, conta o vizinho. Tes-

Policiais acusados de atear fogo em uma casatemunhas disseram que policiais gritaram: “morador é tudo bandido”. As testemunhas não sabem dizer se os PMs eram do Bope ou do Choque.

Contatada no fim da tarde, a assessora de imprensa da Polícia Militar informou que iria apurar o caso. Nas ações desse mesmo dia, um jovem de 23 anos foi atingido no braço por uma bala perdida na Nova Holanda e não corre risco de morte. Desde o início da ocu-pação militar, o Maré de Notí-cias contabiliza 24 homicídios em diferentes circunstâncias nas favelas lo-cais.

O defensor pú-blico Daniel Lo-zoya se colocou à disposição dos

moradores que queiram entrar com ação de responsabilidade civil contra o governo do Es-tado. Diferentemente de um processo criminal, o objetivo da ação civil é buscar uma indeniza-ção para reparar danos financeiros enfrentados pelas vítimas.

Defensoria Pública: Rua México, 11/15º andar. Centro. De 10h às 18h

O que acontece e o que não deixa deacontecer por aqui

Inscrições para o Maré de Sabores Moradoras do conjunto de favelas da Maré com 16 anos ou mais podem se inscrever para a próxima turma do curso de Gastronomia Básica do projeto Maré de Sabores. As aulas estão previstas para o período de agosto a outubro e incluem, além da gastronomia, questões de gênero e cidadania. O curso é gratuito e tem o objetivo de promover a autonomia financeira das mulheres da Maré.

Inscrições até 10 de agosto na secretaria da Redes da Maré, na Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda. Tel.: 3105-5531. As aulas, no entanto, ocorrerão na Lona Cultural da Maré, na Nova Maré.

Era uma vez um caracol A passarela 10 passa por obras, e o que chamou mais atenção foi a repercussão do assunto nas redes sociais. É que o caracol, que simbolizava e servia de apelido da passarela, foi derrubado para a ligação com outra passagem que está sendo construída sobre a Transcarioca.

Alguns moradores mencionaram que a descida para o ponto de ôni-bus será de escada, o que dificultaria o acesso de idosos, cadeiran-tes e carrinhos de bebê. A Secretaria Municipal de Obras informou que a nova passarela 10 terá escadas e ram-pas. A escada servirá de complemento, principal-mente para horários de maior fluxo de pedes-tres; já as rampas con-tinuarão apoiando pes-soas com necessidades especiais e limitações de locomoção.

Maré de Notícias no Ceja MaréOs jornalistas do Maré de Notícias foram convidados para um bate-papo com alunos do Centro de Educação de Jovens e Adultos Maré (Ceja), na tarde de 26 de maio. Fabíola Loureiro e Hélio Euclides explicaram o que é um jornal, sua importância como divulgador de notícias contextualizadas a partir do olhar da favela.

Os alunos pre-tendem criar um jornal interno e receberam como sugestão para a próxima etapa a discussão sobre o formato. Será um veículo de comu-nicação impresso ou online? Deseja-mos boa sorte nes-sa iniciativa.

Favelas em fotosO fotógrafo Ratão Diniz, morador da Maré, reúne uma seleção de imagens de sua autoria em livro lançado este ano pela Mórula Editorial. “As imagens de favelas neste livro buscam retratar da maneira mais abrangente possível o quanto é plural a vida que pulsa nas favelas. As fotos são em sua maioria registros do cotidiano de seus moradores e buscam retratar as belezas desses locais, quase sempre desconsideradas pelo senso, ou estereótipo, comum”, escreve ele, na apresentação. Há várias imagens da Maré e também de outros espaços populares, como do Alemão, Vidigal, Morro da Providência e Santa Marta.

A publicação, com 176 páginas, está à venda nas livrarias por R$ 50 ou pelo site da editora: www.morula.com.br.

Evento para escritores e artistas Dias 21 e 22 de agosto acontecerá o Encontro de Escritores e Artistas da Periferia do Rio de Janeiro, organizado pelo Projeto Maré Latina. O evento acontecerá a partir das 10h, na Associação de Moradores do Parque Ecológico. Inscrições gratuitas pelo e-mail [email protected]. Mais informações no site http://marelatina.blogspot.com.br/p/projeto-mare-latina.html

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A foto de capa mostra a Nova Maré

Formatura da última turma, em julho

Ratão durante sua participação

no Travessias de 2013

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O estado da casa após o incêndio: perda total

Em entrevista para a Anistia Internacional Brasil, Monica Cunha, uma das fundadoras do Movimento

Moleque, que promove direitos de adolescentes no sistema socioeducativo, fala sobre os riscos

da redução da maioridade penal para a juventude brasileira. A íntegra da entrevista pode ser conferida

em anistia.org.br

Como foi sua experiência no sistema socioeducativo?

Meu filho Rafael, até os 17 anos, teve quatro entradas no Degase. Quando ele foi para a internação, levaram para o Educandário Santo Expedito. Eu cheguei para visitar e já sabia que precisava fazer alguma coisa. (…) Passei a fazer um trabalho que era o que estava no Estatuto da Criança e do Adolescente, mesmo sem saber o que era. Eu acompanhava reuniões, pedia para ver

como os meninos se comportavam durante a semana. Foi aí que um dos agentes me deu o ECA de presente, e eu fui entendendo que aqueles meninos tinham direitos, por mais que tivessem cometido ato infracional.

Enquanto eu esperava nas filas para visitação aos domingos, via necessidade de conversar com as famílias que não tinham informação nenhuma. Eu lia o Estatuto com todo mundo e também fiz esse trabalho com os meninos. (…) Cheguei à conclusão de que o adolescente se torna infrator, não nasce

assim. Isso acontece por diversos motivos. Ele pode ter sofrido violência doméstica, mesmo que não seja fisicamente. Ou vive um desamor dos pais. É muito difícil educar filho quando se sai de casa às 4h da manhã para trabalhar e só volta às 22h.

A redução da maioridade penal pode ajudar esses jovens?

Não. Quem é que vai estar lá [preso]? É o jovem negro, porque são eles que são assassinados e encarcerados. Hoje os meninos não estão tendo nem tempo de chegar no sistema prisional aos 18, estão morrendo antes. (…) Eu diria a estas pessoas que apoiam a redução da maioridade penal que pelo menos leiam o ECA. Quando vemos as pessoas que são a favor da redução, muitas expressam raiva, desejam mais que punição, querem sofrimento.

O debate não deve ficar apenas no “sou contra” ou “a favor”. Se não nos preocuparmos e não fizermos nada para ajudar, seremos responsáveis. Estaremos ajudando a colocar adolescentes no sistema prisional e acabando com todas as esperanças desses jovens. Não só deles, como de toda a família.

ReduçãoDebate:

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Silvia Noronha Elisängela Leite

O casal Dione Gonçalves e Carlos Al-

berto Pereira, o Beto Flamenguista, é

de um tempo em que os próprios mo-

radores se uniam para fazer melhorias

urbanas na favela. Poucos anos atrás,

Beto, morador do Parque União (P.U.)

desde 1961, tentou juntar os vizinhos

para comprar e instalar tubulação de

esgoto no Sem Terra, para onde se

mudou com a família há 17 anos. Até

então, ele morava na Rua Larga.

“Hoje em dia dependemos do governo;

antes os moradores botavam a mão na

massa, tudo era na base da colaboração”,

diz ele, que foi um dos primeiros a ocupar o

Sem Terra, onde hoje estima-se haver mais

de 10 mil pessoas, segundo a Associação

de Moradores do Parque União.

Nos arredores: muitas opções na Arena Dicró

A Arena Cultural Dicró, na Penha, oferece uma ampla gama de atividades para todos os gostos e idades, com entrada gratuita ou a preços populares. Dia 28 de julho, às 20h, por exemplo, tem a peça “Insânia”, que, por meio de acrobacias circenses, conta a vida de um homem que, depois de passar por maus bocados, se dá conta de que enlouquecer parece não ser uma má ideia. Entrada gratuita.

Consulte a programação do mês no site: arenacariocadicro.org.br.; ou facebook: ArenaCariocaDicro. Há cineclube, shows, ofi-cinas, atividades infantis e mui-tas novidades. É logo ali, no Par-que Ary Barroso, na Penha, com entrada pela Rua Flora Lobo. Tel.: 3486-7643

Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.Rua Sargento Silva Nunes, 1.012Nova HolandaTel.: 3104-3276 ou 3105-5531 E-mail: [email protected]

Garanta seu jornal:Busque seu exemplar na Associação de Moradores da sua

comunidade todos os meses!

Sem Terra pede melhoriasÁrea do Parque União onde hoje moram 10 mil pessoas precisa de investimentos públicos

Região onde hoje é o Sem Terra: (à esqu.) o galpão era a antiga fábrica da Techno. Na foto à direita, o galpão já desfeito mas ainda sem construção, a pista onde hoje é o Castelo de Bonsucesso e, ao fundo, o campo do São Cristóvão

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A falta de tubulação de esgoto faz com que

as ruas alaguem quando chove, tanto que

Dione e Beto subiram recentemente o nível

da própria casa para que a água não invada

mais. O casal mora na Rua Manoel Pereira

da Silva, nome do tio de Beto, que também

foi morador e hoje é falecido. A poucos

metros da casa, tem um dos mais perigosos

emaranhados de fio da localidade.

Mas como nem tudo é problema, a

qualidade de vida no Sem Terra já ganhou

muitos pontos com o asfaltamento pela

prefeitura e a construção de novos espaços

de lazer pela associação. Ao final da Rua

Manoel Pereira da Silva, têm brinquedo

para crianças e área coberta com mesa

para os adultos jogarem baralho. No Portal

da Ilha, tem uma nova quadra, em fase final

de construção. “Vamos manter a ideia de

homenagear as pessoas daqui. A quadra

vai se chamar Paiva, que era morador da

praça. Acontece o mesmo com as ruas do

Sem Terra; quase todas têm nome de ex-

morador”, conta Edilmo.

“Vim porque imaginava que seria melhor, por ser mais próximo da Avenida (Brigadeiro Trompowsky)”, conta ele. Dione adora o lugar. “Muita tranquilidade”, relata ela. Os problemas ficam por conta da falta de rede coletora de esgoto e do estado da fiação, um verdadeiro emaranhado que coloca a população em risco.

O presidente da Associação de Moradores, Edilmo Batista dos Santos, diz que o Sem Terra é a localidade do P.U. que mais precisa da atenção do poder público. A própria associação vem investindo em melhorias, como construção de praças, e cobra das concessionárias de luz e telefonia a organização dos fios e do governo o sistema de esgotamento sanitário. “Já pedi mas ainda está só na promessa”, afirma.

Beto e Dione subiram o nível da casa para a água da chuva não entrar

Crianças brincam na praça ao final da Rua Manoel Pereira da Silva

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Herbert ViannaLona cultural

Rosilene Miliotti

No baile que acontece todo último domin-go do mês na Rua Roberto da Silveira, no Parque União (P.U.), o clima é familiar. Pa-rece que todos se conhecem. Senhores de camisa social ou pólo e óculos. Mas não se engane, eles colocam muitos jo-vens no chinelo. Dançam demais e cur-tem a vida com alegria. Média de idade do público presente? Digamos que são pessoas que viveram e estão revivendo o melhor do funk. E com churrasco liberado.

Isaias Faustino, morador da Nova Holanda que viu nascer a Avenida Brasil, Linhas Vermelha e Amarela, Cieps, asfalto, iluminação na Maré, é frequentador assíduo. “Eu ligo para meus amigos, aviso a data do baile e a gente se encontra aqui pra dançar, conversar e tomar umas cervejinhas”, conta. Mas Isaias ressalta que tudo com moderação porque o baile é no domingo e segunda tem que levantar às 5h30 para trabalhar. “Pra mim, o funk verdadeiro é esse, o melody e o charme. Época boa. Vou a baile desde os anos 70”, lembra o morador de 57 anos.

Adriano DJ, bi-campeão

carioca de montagens, foi

atração da noite de junho

Isaías junta os amigos para curtir o que

considera o “verdadeiro funk”

Para os produtores do baile, Reginaldo dos Santos Silva e Janailson Nunes Reis, o Jegue, o intuito do baile é resgatar o funk. “Nós curtimos muito baile no CCIP, no Bonsucesso, então começamos a fazer um projeto para resgatar o funk de raiz aqui na favela. Por aqui já passaram vários DJs, entre eles o Orlando, Corello e o Lugarino. No dia em que o DJ Corello tocou aqui, veio um grupo de Minas Gerais. Eles viajaram seis horas de van só para curtir o baile com o Corello”, conta Janailson.

Os dois produtores também são responsáveis pelo baile de sexta, na rua Ary Leão, também no P.U. e já estão juntos fazendo bailes pelo Rio de Janeiro há mais de 15 anos. Reginaldo, além de trabalhar nos bailes aos fins de semana, é marceneiro.

E o som alto? Janailson diz que sabe o limite do som e que nunca teve reclamação. Re-ginaldo diz que muito morador lucra com a realização dos bailes. “A maior parte dos bar-

raqueiros que vendem bebida ou comida é morador da Maré”,

ressalta.

O baile, que começou com mais regularidade no P.U. há cerca de um ano, hoje está se espalhando para outras favelas da Maré. Há bailes marcados para a quadra da Rubens Vaz e Vila do João, mas Janailson explica que eles serão diferentes porque são de galera. No P.U., o baile é funk melody e charme.

Funk x segurança pública

Em todas as favelas ocupadas pelas forças de segurança, o baile funk, festas de rua e de igrejas foram proibidas ou passaram a acontecer com pouca frequência. Na Maré também houve interrupção no início da ocupação, no ano passado, mas aos poucos as festas foram voltando. “A gente quer que as pessoas venham aqui conhecer e curtir o baile do P.U. Eu preciso de autorização para fazer o baile. Vou lá e o comandante me autoriza. A comunidade tem o direito de se divertir”, relata.

Baile FLASH BACKrevive sucessos.

Se lembra da música “Spring Love”, do

Steve B? É uma das mais pedidas do baile que atrai moradores

e visitantes

Baile Flash Back

Todo último domingo do mês, na Rua Roberto da Silveira, no Parque União, a partir de 16h.E ainda mais pela Maré: Domingo, 16/08, das 16h às 24h, tem Cantinho do Charme no bar do Arlindo, na Rua Teixeira Ribeiro, organizado

pelo Fernando da Raça com o melhor da black music, charme, lentas e swing.

A Lona Cultural estará em recesso neste mês de julho

CAM em recesso de 27 a 31 de julho

As festas juninas da Maré têm sido pra lá de animadas. Olha só!

Anarriê aqui e ali

Festa junina da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, na Baixa, em foto de Larissa Santos

Quadrilha mirim na festa da igreja Jesus de Nazaré, na Rua Ivanildo Alves, em foto de Elisângela Leite

Lampião e Maria Bonita no arraiá do Boi Bravo, Nova Maré, festa organizada pelos moradores. Foto enviada por Diogo Santos

Quadrilha da Nossa Senhora da Paz, no Parque União. Foto:

Elisângela Leite

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Anjo amigo, que nos mostraO caminho a seguir,Com palavras e carinhoSeu amor nos deixa ir...

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Cadê o açúcar?- Mulher, cadê o açucar ???

- Para esconder das formigas, coloquei na lata de biscoito e escrevi na tampa a palavra “sal”...

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Por Hélio Euclides

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Poetas da Maré em livro

Poesias de Ana Maria de Souza e Sara Alves, moradoras da Vila do João, integram o livro “Concurso Nacional Novos Poetas. Antologia Poética 2015”, lançado pela Editora Vivara. O li-vro está a venda por R$ 35. Pedidos podem ser feitos para o e-mail: [email protected]. Parabéns às duas representantes da Maré.

R E P E R C U S S Ã O

“Minha rua tem um nome”

Gostaria de parabenizar a grandeza do projeto trazido no jornal de maio deste ano: “Minha rua tem um nome”. A matéria emocionou-me, pois nascida e criada na Maré tive oportunidade de, quando criança, conhecer o morador que deu nome à Rua Ivanildo Alves e que para mim era Sr. Baia. Um senhor atencioso, silencioso, de gestos simples e generosos, amigo de minha família e de cuja história de vida eu nunca ouvira.

A matéria me fez lembrar de outros homens e mulheres igualmente importantes que lutaram a favor da Maré e que não conhecemos as suas lutas e histórias, pois contamos apenas com a memória de quem com eles compartilharam o tempo e seus feitos, e que são merecedores de grandes homenagens e de ações que os revelem, e as suas histórias, eternizando-os assim através da escrita e fotografias.

Janete Trajano, professora orientadora do Ciep Capanema

Nos ajoelha,Nos levanta,Puxa a orelha,Mas nos encanta!

Pai nos amaE nos desperta.Nos abraça com jeitinho.Nas horas certas,Nos aperta.

Ele cuida de nossas vidasE quando a dor não tem saída:Nos ajuda, em meio a lida,Curando nossas feridas.

PaiEudesia Santos da Silva, junho/2015

Pão de casca de melanciaIngredientes:3 xícaras (de chá) de farinha de trigo; 1 colher (sopa) de açúcar; 1 colher (chá) de sal; 1 ovo; 1 xícara de casca de melancia ralada; ½ xícara de água morna; 5g de fermento biológico seco.Modo de preparo:Dissolva o fermento na água e misture os demais ingre-dientes. Sove bem. Faça bolinhas e co-loque em uma as-sadeira untada com óleo e enfarinha-da. Deixe crescer por 10 minutos. Leve ao forno pré--aquecido por 25 minutos.