maré de notícias #34

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34 Ano III, N o Outubro de 2012 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita Centro de Artes da Maré Lona Cultural Herbert Vianna Água abaixo M orador sofre com descaso do poder público Pág. 10 e 11 Não se perca Saiu o primeiro guia de ruas de uma favela do Rio. Garanta o seu gratuitamente Pág. 7 Maré mais Down Autonomia para quem tem Down pág. 5 Que bagunça! Descubra no Espaço Aberto quem deixou a casa da Isabela assim pág. 16 PROGRAME-SE Pág. 15 Ex-morador expõe quadros que reproduzem o cotidiano das fa- velas da Maré de 40 anos atrás. A partir de fotos em preto e branco, Chico Moreira preparou 12 telas que foram coloridas em alguns pontos. “Quero que as pessoas de hoje consigam ver o colorido do passado” , afirma ele. A exposição “A Cor da Maré” , no Centro de Artes, com entrada gratuita, pode ser vista durante o mês de outubro. Pág. 8 e 9 Felipe Gomes, da Nova Holanda, con- quistou medalhas de ouro e de prata na Paraolimpíada de Londres. Deficiente vi- sual, o rapaz se dedica ao esporte, faz faculdade, passeia, viaja e usa o com- putador com desenvoltura. Pág. 4 Bianca Andrade, moradora do Parque União, virou celebridade na internet – e nas ruas – com seu blog Boca Rosa, onde dá dicas de moda e, principalmen- te, de maquiagem. “A ficha não caiu, con- fesso. Quase todos os dias encontro com alguma leitora” , comenta ela. Pág. 3 Ele é ouro! Beleza da Maré para o Brasil Maré dos anos 1970 Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal Elisângela Leite Elisângela Leite Elisângela Leite Saulo Cruz/ Superar Saulo Cruz/ Superar

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Leia no Maré de Notícias: atleta paralímpico ganha ouro; blogueira da Maré vira celebridade na internet; down; descaso da ceade; polícia invade casa de moradora e muito mais.

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34Ano III, No Outubro de 2012 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita

Centro de Artes da MaréLona Cultural Herbert Vianna

Água abaixoMorador sofre com descaso dopoder público Pág. 10 e 11

Não se percaSaiu o primeiro guia de ruas de

uma favela do Rio. Garanta o seu gratuitamente Pág. 7

Maré mais DownAutonomia para quem tem Down pág. 5

Que bagunça!Descubra no Espaço Aberto quem

deixou a casa da Isabela assim pág. 16

PROGRAME-SE

Pág. 15

Ex-morador expõe quadros que reproduzem o cotidiano das fa-velas da Maré de 40 anos atrás. A partir de fotos em preto e branco, Chico Moreira preparou 12 telas que foram coloridas em alguns pontos. “Quero que as pessoas de hoje consigam ver o colorido do passado”, afi rma ele. A exposição “A Cor da Maré”, no Centro de Artes, com entrada gratuita, pode ser vista durante o mês de outubro. Pág. 8 e 9

Felipe Gomes, da Nova Holanda, con-quistou medalhas de ouro e de prata na Paraolimpíada de Londres. Defi ciente vi-sual, o rapaz se dedica ao esporte, faz faculdade, passeia, viaja e usa o com-putador com desenvoltura. Pág. 4

Bianca Andrade, moradora do Parque União, virou celebridade na internet – e nas ruas – com seu blog Boca Rosa, onde dá dicas de moda e, principalmen-te, de maquiagem. “A fi cha não caiu, con-fesso. Quase todos os dias encontro com alguma leitora”, comenta ela. Pág. 3

Ele é ouro!

Beleza da Maré para o Brasil

Maré dos anos 1970

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Expediente

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Fernanda Gomes da Silva

Helena EdirPatrícia Sales Vianna

Shyrlei Rosendo

Coordenação de ComunicaçãoMirella Domenich

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Repórteres e redatores Hélio Euclides

(Mtb – 29919/RJ)Rosilene Miliotti

Fabíola Loureiro (Estagiária)

Fotógrafa Elisângela Leite

Projeto gráficoe diagramação

Pablo Ramos

Logotipo Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

Aydano André MotaFlávia Oliveira

Observatório de FavelasVictor Domingues

Victor Viana

Impressão Gráfi ca Jornal do Commércio

Tiragem 40.000 exemplares

Redes de Desenvolvimentoda Maré

Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré

CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Leia o Maré também emwww.redesdamare.org.br

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CARTAS

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FILDa Maré para o mundo

Blogueira do Parque União vira celebridade com seu blog sobre maquiagem e moda feminina. Seus vídeos já superam a marca de 2 milhões de visualizações

Victor Viana

Arquivo pessoal

Antigamente a televisão era o único veículo que servia para dar visibilidade a grandes talentos. Com a chegada da internet e, consequentemente, sua popularização, cada um agora faz sua oportunidade. Blog, Twitter, Facebook, Youtube, não importa o site, todos estão abertos para “os cheios” de ideias.

A Maré já possui sua “web celebridade”, Bianca Andrade, dona do blog Boca Rosa, onde a jovem moradora do Parque União posta dicas sobre moda feminina. Com apenas 17 anos, Bianca faz sucesso desde o tempo em que postava foto das maquiagens na sua página do Orkut, o que sempre chamou a atenção dos seus amigos de redes sociais. “Era novidade para todas, logo, virou uma febre, todas me perguntavam como as fazia, então surgiu a oportunidade de fazer um blog, mostrando todo o passo a passo dessas maquiagens bem coloridas”, conta Bianca. Mas para a blogueira, explicar por foto não parecia muito didático. Foi quando resolveu postar vídeos no Youtube, mostrando maneiras diferentes de se fazer uma boa maquiagem.

Em menos de um ano, seus vídeos já bateram mais de dois milhões de visualizações, com um vídeo contendo quase meio milhão. Bianca acredita que o sucesso venha do fato de mostrar maneiras de se maquiar também usando a criatividade com o que se tem em casa, mas ainda se surpreende. “Depois dessa repercussão, tive a oportunidade de receber mais leitoras que até hoje estão comigo, se divertindo com o BR (Boca Rosa). A fi cha não caiu, confesso. Quase todos os dias encontro com alguma leitora. Amo saber que me abordam sem nenhum pudor, somos amigas mesmo”, comenta.

Jeito simples e extrovertido

As maiores provas desse sucesso são os fã-clubes que Bianca tem espalhado pela internet. Andressa Martins, de São Paulo, tem apenas 12 anos, mas já curte os vídeos de maquiagem. Ela assiste aos vídeos desde o começo e adora o jeito simples e extrovertido da blogueira. Recentemente, criou um fã-clube para Bianca no Facebook. “O jeito de ela fazer os vídeos é incrível porque ela explica de uma forma engraçada que ajuda todo mundo e não cansa assistir ao vídeo inteiro. Em seu blog, tem o quadro ‘Inventando Moda’; são dicas muito boas para se fazer com o que se tem casa”, conta Andressa.

O Boca Rosa também possui uma página ofi cial no Facebook, onde os fãs – mais de 40 mil – se sentem mais próximos de Bianca e aproveitam para elogiar e pedir conselhos. São muitos comentários, todos bastante carinhosos. “Diariamente recebo milhares de recadinhos das minhas leitoras, repletos de carinho. Sempre me emociono quando leio. Um prazer indescritível! O meu blog era apenas um hobby que iniciei com o intuito de ensinar às minhas amigas, vizinhas, galera do colégio, não imaginava que daria nisso. Hoje faz parte da minha história”, afi rma Bianca.

Bianca se forma no Ensino Médio este ano e ainda não sabe qual curso irá escolher na faculdade, mas pelo o que parece seu futuro no ramo da moda está mais do que certo. A blogueira recebeu um convite para participar de um programa na TV Gazeta, de São Paulo, chamado “Você Bonita”. “Fui chamada para dar dicas de maquiagem. Estou super feliz, vai ser uma grande experiência e se surgir mais alguma oportunidade, agarrarei pra valer”, revela.

“A fi cha não caiu, confesso. Quase todos os dias encontro com alguma leitora.”

Bianca Andrade

As dicas estão em http://bocarosaa.blogspot.com.br/, onde há link para

todos os vídeos de Bianca

Moradora virapersonagem de teatro

Gostaria de agradecer aos colaboradores do Maré de Notícias pela linda reportagem realizada sobre a minha vida. Quero também informar que esse jornal é o “termômetro” da nossa comunidade, devido à grande repercussão.

Refi ro-me à edição nº 32 (de agosto de 2012), com o tema “Moradora inspira diretor de teatro” (pág. 15), que até hoje sou parabenizada pelos moradores da comunidade e seu entorno pela linda reportagem. É notório que a comunidade se interessa muito pelas reportagens de cunho cultural que o jornal nos contempla.

Sou leitora assídua do Maré de Notícias e me identifi co bastante com as informações que são publicadas. Fico informada sobre a agenda cultural e as notícias de primeira mão.

Fiquei muito honrada com a escolha. Agradeço ao Marcus Faustini e sua equipe pelo cuidado e o carinho que tiveram em retratar minha história e à linda atriz Regiane Alves, que me proporcionou essa grande homenagem.

“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade” - Carlos Drummond de Andrade

Sandra Tomé, moradora da Maré

O pulso forte da Maré

As boas estripulias dos moradores fi zeram deste número uma edição especial do nosso Maré. As páginas que se seguem estão repletas de feitos que comprovam a frase exposta no evento Labirinto Cultural (leia na pág. 13), na Vila do João: “Não há um canto de favela que não guarde uma história”. E esta história continua em construção, tendo a população local como protagonista, como vocês verão a cada página do nosso jornal.

Nossa trajetória inclui os feitos de cada um e, especialmente, as construções coletivas, como a que envolve o Plano de Direitos Humanos da Maré, que será discutido em data ainda a ser defi nida. Leiam na pág. 12 e fi quem atentos à discussão de um tema tão importante para a melhoria da qualidade de vida local.

A reportagem sobre água e esgoto na Maré, nas pág. 10 e 11, nos chama para uma – ainda – triste realidade, nos lembrando que, na área de saneamento básico, também há muito a ser feito.

Boa leitura!

Vamos às urnas

Maré de Notícias, eu é que agradeço por vocês terem preparado uma edição especial em que pude “sentir” a respiração política que vocês emitiram com neutralidade. Gente, vocês arrebentaram!! O Maré de Notícias é um canal de comunicação que podemos e devemos participar e neste mês (setembro, ed. nº 33), especialmente, ele arrebentou. Não podemos deixar de refl etir sobre os temas expostos e que interferem em nossas vidas.

Para fi nalizar, é muito prazeroso saber que crianças participam do jornal enviando seus desenhos. Todos estão de parabéns! E para o Diogo especialmente: É isso aí, menino!! Eu também estudei na Napion, minha Escola do Coração. (nota da Redação: Diogo é o autor de um dos desenhos publicados na pág. 16, da Ed. 33).

Sara Alves

felicidade” -

Fiquei muito honrada com a escolha. Agradeço ao Marcus Faustini e sua equipe pelo cuidado e o carinho que tiveram em retratar minha história e à linda atriz Regiane Alves, que me proporcionou essa grande homenagem.

“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de

Sara Alves

felicidade” -

Boa leitura!

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tem DOWN...Meu filho

Programa piloto na Maré cria uma rede para facilitar o acesso ao tratamento para que os moradores com Down ganhem independência

Rosilene Miliotti Elisângela Leite

A moradora da Nova Holanda, Francine Deodoro de Souza, mãe da pequena Gabrielle, é um exemplo a ser seguido. Desde que soube que a fi lha tinha síndrome de Down, ela lida com a situação com a maior naturalidade. “Tenho outros fi lhos sem Down e só soube que ela tinha quando nasceu. A médica me perguntou se eu havia notado algo de diferente na minha fi lha e eu respondi que não. Aí ela disse que a Gabrielle tinha um probleminha. Eu respondi que tudo bem”, relata.

Francine, que é diarista, acha apenas que vai ter difi culdade para voltar a trabalhar, pois imagina que não será fácil deixar Gabrielle com alguém. “Sei que ela vai me dar um pouco de trabalho”, afi rma.

Uma parceria entre o Movimento Down, o Observatório de Favelas e a Redes da Maré – responsável pela pesquisa inédita sobre síndrome de Down nas comunidades locais, a partir do Censo Maré – já identifi cou, além de Gabrielle, outras 20 pessoas portadoras de Down na comunidade. Mas a projeção é que existam 32.

Uma das constatações da pesquisa é que, por falta de opções na Maré, as famílias precisam encaminhar os fi lhos para tratamentos e terapias em outros bairros da cidade, difi culdade que pode levar ao abandono das atividades. E assim como Francine, a maior parte das mães de crianças com Down tem medo de deixar seus fi lhos com outra pessoa e, por isso, não consegue voltar à rotina de trabalhar fora, por exemplo.

De posse dos dados já coletados pelo censo, os assistentes sociais da Redes vêm

realizando visitas às casas dos moradores cada vez que é identifi cada a presença de uma pessoa com síndrome de Down. A família é encaminhada a uma equipe composta por psicólogos e assistentes sociais que fornecem informações e orientações sobre o desenvolvimento, estimulação, saúde, legislação e outras questões que envolvem a melhoria da qualidade de vida das pessoas com a síndrome.

Para a assistente social Alessandra Alves, os serviços de estimulação e a fonoaudiologia são os mais defi cientes na comunidade. “Mas estamos bem servidos quando o assunto é acesso à educação, esporte e cultura”, comemora.

Filhos criados sem restrição

O projeto de criar uma rede na Maré para as pessoas com Down é um piloto para a cidade do Rio, que pode ser adotado em outras partes do mundo. Além de identifi car as famílias, é feito um acompanhamento para saber as demandas e identifi car as difi culdades. Todos os meses, as mães se reúnem para discutir e falar sobre tratamento ou sobre o que desperta interesse nos fi lhos.

“Queremos fazer com que eles se tornem independentes. Esse é um projeto de acessibilidade e a intenção é criar um livro de recursos onde estarão incluídas todas as instituições da Maré que estão abertas a atender crianças com Down”, revela a assistente social.

Alessandra diz que aqui na Maré houve uma surpresa, pois nem todos os portadores apresentavam problemas de visão, no coração e fala. “As pessoas até brincam dizendo que a água da Maré deve fazer bem, já que todos falam, com difi culdade, mas falam, e as mães criam seus fi lhos sem restrições. Os fi lhos com e sem Down são criados da mesma forma”, observa.

Nosso atleta é

OURO!Felipe, que não podia pular ou correr quando

criança por causa do problema na vista, hoje é campeão mundial de atletismo

“Não apague o talentoque seu � lho pode ter. Vamos mostrar que eleé capaz de trabalhar, estudar, praticar esporte,

viajar, namorar.”Felipe Gomes

Felipe, à esquerda, e seu guia. Os defi cientes

visuais correm ao lado de atletas-guias

Victor Domingues Saulo Cruz/ Superar

Após um histórico de lesões e correndo pela primeira vez com um guia com quem não havia sequer treinado junto, Felipe Gomes surpreendeu ao conquistar a medalha de ouro nos 200 metros na Paraolimpíada 2012, em Londres, no mês de setembro.

Defi ciente visual desde criança, o atleta, que é morador da Nova Holanda, conta que foi para os jogos com o guia que sempre o acompanha nos treinamentos e competições. Este guia, porém, chegou a Londres lesionado, com um estiramento de grau 3, e teve que voltar para o Brasil. Felipe, então, precisou correr com outros dois guias. O atleta nunca tinha treinado junto com o guia que ganhou com ele os 200 metros. “A gente só fez o aquecimento juntos. Não treinamos nada, fomos direto pra corrida”, revela.

Felipe chegou a Londres com o 5º melhor tempo do mundo nos 100 metros, modalidade em que era cotado para ganhar. Mas nos 200 metros, não era cotado nem para chegar ao pódio. Felipe conta que até então, em todas as competições deste ano, não se sentia muito seguro, pois ainda se lembrava do “trauma” dos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, no México, quando teve um estiramento durante a fi nal dos 100 metros. “Em Guadalajara, quando tudo estava caminhando para um sucesso – na eliminatória fi z 11s40, o melhor tempo; na semifi nal, alcancei 11s23 e bati o recorde pan-americano –, tive essa infelicidade de me machucar na fi nal da competição”, lembra.

Sonhada medalha paraolímpica

Felipe, que começou no atletismo em 2003, vem de um histórico de lesões. Mudou a estratégia e passou a investir mais na fase de alongamento e começou a praticar pilates. Apesar das lesões, o atleta possui uma coleção de medalhas conquistadas em eventos internacionais.

Felipe nasceu com glaucoma congênito, teve catarata e descolamento de retina aos 4 anos de idade. Ainda criança, ouviu do médico que ele não poderia pular, nem gritar e correr, pois assim fi caria cego. Perdeu a visão completamente aos 14 anos. Ele acredita que, de qualquer maneira, perderia a visão e declara: “Hoje eu corro e sou campeão paraolímpico”. Além disso, ele é estudante de direito. Teve que trancar a faculdade para se dedicar ao esporte, mas pretende retornar aos estudos no próximo período.

Felipe sugere que os pais de defi cientes coloquem seus fi lhos para praticar esporte, estudar braile e usar o computador, o que, por sinal, ele faz com desenvoltura. “Não apague o talento que seu fi lho pode ter. Vamos mostrar que ele é capaz de trabalhar, estudar, praticar esporte, viajar, namorar”. Ele conta ainda que o esporte o proporciona, além da possibilidade de subir ao pódio, a felicidade de viajar, conhecer novas culturas, pessoas e lugares diferentes.

O que é síndrome de Down?

Os seres humanos têm, normalmen-te, 46 cromossomos, mas as pessoas com Down têm um a mais. Por isso, elas possuem características diferen-tes, como os olhos puxadinhos, difi cul-dades na aprendizagem e, em muitos casos, doenças no coração. Entretan-to, quando estimuladas, elas sabem falar por si e podem ocupar um lugar na sociedade como qualquer cidadão.

Para saber mais sobre o projeto, ligue para 3105-5531.

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Vamossa lva rv i d a s !

Hélio Euclides Elisângela Leite

A Maré já conta com 222 morado-res formados em Primeiros Socorros Básicos, além de 12 instrutores, que passaram por cursos oferecidos na comunidade pelo Comitê Interna-cional da Cruz Vermelha (CICV), em parceria com a fi lial Rio de Janeiro da Cruz Vermelha Brasileira. A for-mação em socorrismo visa o forta-lecimento dos moradores para que possam agir em casos de emergên-cia, até a chegada da ambulância.

Este ano, os voluntários foram além: fundaram o Núcleo de Socorristas da Maré (Nusomar), após observarem que, muitas vezes, o socorro especializado demora a chegar até as vítimas, gerando necessidade de um suporte básico. O Nusomar tem por objetivo desenvolver uma rede comunitária de assistência capaz de prestar o primeiro atendimento nos casos simples ou nas situações de emergências, facilitando o acesso ao serviço especializado.

O último curso da Cruz Vermelha ocorreu nos meses de agosto e setembro, na Redes da Maré. Entre os 50 alunos estava Francisca Ferreira, de 53 anos, uma das mais animadas com o conhecimento obtido. “A minha fi lha que me chamou para o curso. Gostei, pois

estou aprendendo e agora vou poder falar para os outros sabendo”, comentou. A sua incentivadora, a fi lha Bianca Ferreira, agora já dá passos mais altos. “Para mim é um estágio, já que sou aspirante a instrutora. Primeiro fi z o curso de socorrista, depois escolheram oito para se aprofundar durante três meses. Agora é uma avaliação, mas estou me esforçando para esse objetivo”, contou.

Segundo Eliezer Lima, um dos responsáveis pelo curso, o trabalho de socorrista se resume em se doar em prol da ajuda ao próximo, mesmo sem conhecê-lo, sem importar a sua raça, sexo ou religião. Para ele, cada pessoa pode fazer, em algum momento, um ato humanitário.

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sa lva rsa l va rv i d a s !v i d a s !A Maré já conta com 222 morado-res formados em Primeiros Socorros res formados em Primeiros Socorros

Desmaio: Deite a vítima de costas

em uma superfície rígida e plana

e levante, um pouco, as pernas da

vítima. Caso a pessoa não recobre a

consciência em um ou dois minutos,

chame o socorro especializado.

Envenenamento: Identifi que a

substância ingerida e encaminhe

a vítima o mais rápido possível ao

pronto socorro. Não provoque vômito

ou ofereça bebida de qualquer tipo à

vítima.

Hemorragia: Utilize um pano

limpo para comprimir o local. Evite o

uso de borra de café, sal, açúcar ou

qualquer outro produto para parar a

hemorragia.

VamosVamossa lva rv i d a s !A Maré já conta com 222 morado-

Ingestão de substância: Não

provoque vômito nem ofereça leite,

somente se isso for recomendado no

rótulo do produto ingerido.

Queimaduras: Umedeça a região

queimada com compressas ou

toalhas embebidas em água fria

ou mergulhe-a na água para aliviar

a dor. Não coloque o acidentado

sob o chuveiro frio. Após esses

procedimentos, deixe a queimadura

livre, sem nada por cima.

Quedas: Coloque gelo no local

nas primeiras 24 horas. Na cabeça:

mantenha a vitima em observação,

evitando que durma. Observe sinais

de convulsão, febre, irritabilidade

excessiva.

Pelas ruas da Maré

O Guia está sendo distribuído gratuita-mente na sede da Redes (R. Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda) e no Observatório de Favelas (R. Teixeira Ri-beiro, 535, Parque Maré). Edição limita-da. Baixe o arquivo no site da Redeswww.redesdamare.org.br

Saiu o guia de ruas da Maré, instrumento político importante para garantir o direito de estarmos no mapa do Rio. Vem aí também o Guia Comercial

Fabíola Loureiro

Rosana José de Oliveira não vai mais precisar se preocupar quando alguém chegar à loja onde ela trabalha pedindo informação sobre ruas da Maré. Com o guia lançado no dia 28 de setembro, no Centro de Artes da Maré, será possível responder às costumeiras perguntas sobre onde fi ca uma determinada rua e como chegar até ela.

“Acho excelente ter um guia aqui na Maré, porque sempre chega alguém pedindo referência, e isso ajudaria também a nós, que temos comércio. Vai facilitar a entrega das mercadorias”, afi rma Rosana, balconista de uma loja situada numa das mais movimentadas esquinas da Nova Holanda.

O guia é um dos resultados do Censo Maré, iniciativa da Redes de Desenvolvimento da Maré em parceria com o Observatório de Favelas, a Fundação Ford e a Petrobras, patrocínio da ActionAid e apoio do Instituto Pereira Passos e das 16 Associações de Moradores da Maré. A publicação traz o mapeamento cartográfi co de toda a região, do Conjunto Esperança a Marcílio Dias, onde habitam mais de 130 mil pessoas.

Além de facilitar o dia a dia, o material permitirá o reconhecimento ofi cial das ruas pela prefeitura, assim como a reivindicação de CEP e a entrega de correspondências e contas em casa, pelos Correios, em todas as 16 comunidades. “O Guia de Ruas da Maré é uma publicação que derruba a ideia de que a favela é o dito aglomerado subnormal (denominação dada pelo IBGE). Ampliar as referências cartográfi cas deste território signifi ca dar mais visibilidade às dezenas de milhares de moradas para as quais o ato de declarar o endereço ainda tem efeito vão ou desfavorável ao morador. Este guia é uma importante contribuição para que os cariocas reconheçam este lugar como o bairro que, de fato, é”, avalia Dalcio Marinho Gonçalves, coordenador do Censo Maré.

Além do Guia de Ruas, fazem parte do Censo Maré: o Mapa Cartográfi co, lançado em 2010; o Guia Comercial, que está previsto para dezembro, e o Censo Populacional, atualmente em fase fi nal de coleta dados, com divulgação estimada para a partir de maio de 2013.

Para elaboração do Guia Comercial também foi realizado um Censo em 2011, que contou 2.655 empreendimentos econômicos (serviço, comércio e indústria) nas favelas da Maré.

“É muito bom para o morador, porque sempre que perguntam onde fi ca uma determinada rua, ninguém sabe informar e com o guia fi caria mais fácil. Onde eu moro não tem número nem CEP e por isso costumo colocar o endereço do meu comércio nas correspondências. Uma vez jogaram umas sete correspondências no meu portão, e eu fui entregando a quem eu conhecia, mas nem todo mundo faz isso.”Edson Souza, 40 anos, serralheiro - Parque União

“A publicação vai ajudar tanto os moradores como pessoas que vêm de fora conhecer um pouco daqui. Na minha casa tem CEP e por isso nunca tivemos problemas em receber correspondências. O único problema é que minha casa tem o mesmo número que a casa vizinha e isso às vezes gera confusão ao carteiro.” Ana Clara, 13 anos, estudante - Nova Holanda

“As pessoas têm difi culdade em achar as ruas, porque antes era chamado de Rua A, B, C e depois mudou para nomes próprios. É um marco para a Maré, é a primeira comunidade que ganha esse guia. Ele veio para acrescentar. O guia vai ajudar bastante pois muitas pessoas não sabem o CEP, e outras ainda não têm.” Fátima Regina, 53 anos, é técnica em enfermagem, trabalha em festas e eventos com sua barraquinha de pipocas - Nova Holanda

Em caso de emergência,ligue primeiro para o Samu (192);

depois para o Nusomar (8170-2475 contato: Beth Ramalho).

Mirella Domenich

Mirella Domenich

Fabíola Loureiro

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A Exposição reproduz a Maré dos anos 1970 Mirella Domenich

Recriar a Maré da década de 1970. Esse é o objetivo da exposição de artes plásticas “A Cor da Maré”, do pintor Chico Moreira. São 12 telas de couro pintadas com tinta acrílica, utilizando a técnica de pirografi a, que reproduzem imagens do cotidiano da Maré de 40 anos atrás. A exposição está exposta no Centro de Artes da Maré durante todo o mês de outubro, com entrada gratuita.

“Como a Maré de hoje, a Maré de 40 anos atrás também é cheia de vida, cheia de cores”, afi rma Moreira. O pintor se baseou em fotos preto e branco da época para reproduzir imagens do cotidiano da região. Suas telas retratam cenas corriqueiras dos anos 1970, como a de mulheres transportando água com rola-rola (barril de vinho deitado na horizontal com pneus acoplados em suas extremidades e puxados com cabos de madeira), lençois estendidos nos varais, fachadas dos barracos e barcos usados para pesca.

Morador da Maré por 20 anos, Moreira é pintor autodidata e, atualmente, aos 54, dedica-se exclusivamente à arte, depois de se aposentar como gestor de recursos humanos. Em “A Cor da Maré”, ele pretende trazer aos que hoje ainda vivem na favela a refl exão sobre o passado, as lutas e os avanços na região. “A Maré sempre foi um lugar de oportunidades”, afi rma ele, que veio com a família do Espírito Santo para a Maré quando era criança. “Meu pai veio para o Rio de Janeiro, para a Maré, em busca de dar melhores condições de estudo para os quatro fi lhos”, lembra.

As cores da vida

Em suas telas, Moreira procura direcionar o olhar do observador, pintando com cores alguns elementos, e deixando outros em preto e branco. “Quero que as pessoas de hoje consigam ver o colorido do passado”, afi rma. Ao percorrer a exposição, o visitante tem a oportunidade de observar as fotos da época e entrar na alma do pintor, que retrata partes da cena geral, focando no que para ele ainda está mais vivo – e colorido- – em suas lembranças. Um exemplo é o amarelo das fachadas das casas construídas para habitação provisória. “A cor desse tipo de habitação, sempre igual, não refl etia a diversidade das pessoas que por lá viviam”, afi rma.

Outro destaque fi ca para a escolha do pintor em retratar o universo feminino da época e a presença marcante da mulher nas atividades rotineiras da Maré. “As mulheres lutavam muito. Eram elas que tinham o contato mais próximo com esse dia a dia da Maré. Elas lavavam suas roupas e também faziam serviços de lavadeira por encomenda, coletavam água, jogavam o lixo fora”, relembra.

Moreira avalia que houve mudanças positivas signifi cativas para os moradores e as moradoras da Maré nas últimas quatro décadas. Com as telas, seu objetivo é captar a oportunidade para essas mudanças. “É fundamental que as pessoas não se esqueçam desse passado de lutas”, conclui.

Exposição “A cor da Maré” (entrada franca)Data: até fi nal de outubro - Horário: das 14h às 21h

Onde: Centro de Artes da Maré (CAM), R. Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda

A pirografi a é uma manifestação artística milenar, cuja origem da palavra vem do grego piro (=fogo) e grafi a (=escrita). Consiste em fazer desenhos com o uso de um pirógrafo, equipamento elétrico, muitas vezes em forma semelhante à de uma caneta, que produz calor em uma das extremidades, por meio da qual é possível fazer gravações em determinadas estruturas, como madeira e couro.

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Casal na abertura da exposição, no Centro de Artes

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Maré no tempo das palafi tas

Habitações provisórias construídas pelo governo na Nova Holanda, feitas de madeira

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“A água não chega a algumas casas, mas o morador paga a conta para não fi car com o nome sujo. Hoje o problema chave da associação foi essa obra (Água para Todos), pois todos reclamam.” Elizabeth Roque, diretora da Associação de

Moradores da Roquete Pinto

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asAtendimento indo

por água abaixoCedae falha na prestação de serviços na Maré

Hélio Euclides Elisângela Leite

“Lata d’água na cabeça, lá vai Maria. Lá vai Maria: sobe o morro e não se can-sa. Pela mão leva a criança. Lá vai Ma-ria.” Passados exatamente 60 anos da criação dessa marchinha de carnaval ainda há quem sofra com a distribuição de água encanada. Na Maré não é di-ferente. Mesmo prometendo mudanças, a Companhia Estadual de Águas e Es-gotos (Cedae), empresa estatal perten-cente ao governo do estado, ainda é questionada por ausência de serviços, o que se repete em vários locais da Re-gião Metropolitana do Rio de Janeiro.

Na edição nº 3 do Maré de Notícias, de fevereiro de 2010, o tema abordado foi a utilização de bombas hidráulicas para se ter o líquido potável em casa. Na época a Cedae tinha como discurso o projeto Água para Todos, que iria solucionar o problema das torneiras secas e ainda fazer com que a água chegasse com força, conforme acontece em outros bairros da cidade. Entretanto, de lá para cá pouca coisa mudou. “A água está fraca, a Cedae diz que está verifi cando, mas falta uma vistoria, já que 80% das casas usam

bomba, pois a água não sobe. O projeto só existiu para quem não tinha acesso à água”, relata o vice-presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, Luciano Aragão.

Outras três comunidades foram contempladas com o projeto: Morro do Timbau, Praia de Ramos e Roquete Pinto. Também nelas as reclamações persistem. “O que fi zeram foi apenas trocar os registros de algumas ruas”, afi rma o presidente da Associação da Praia de Ramos, Cristiano Reis.

Cedae descumpre promessas

Segundo a diretora da Associação de Moradores da Roquete Pinto, Elizabeth Roque, lá as coisas ainda são piores. “O projeto inicial de Água para Todos era maravilhoso, até as caixas de amianto iam trocar. Contudo, a água não chega a algumas casas, mas o morador paga a conta para não fi car com o nome sujo. Hoje o problema chave da associação foi essa obra, pois todos reclamam”, expõe, se referindo à tarifa social de R$ 18,76 mensais, que passou a ser cobrada dos moradores das comunidades que tiveram Água para Todos.

Elizabeth guarda um documento no qual a Cedae convocava todas as associações da Maré para uma audiência pública, no dia 16 de abril deste ano, no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ). O assunto era que em três meses iriam fazer obra para melhorar o que tinham começado, mas até agora fi cou no papel. “O morador paga por um serviço que não existe. Até a associação paga a conta no valor de 18,76, que resume a água domiciliar e esgoto sanitário”, denuncia a diretora.

Os moradores vizinhos ao Parque Ecológi-co, área considerada fi nal de linha de distri-buição, sofrem com o desabastecimento de água. Antonia Viana conta que para encher a caixa d’água precisa sempre utilizar uma bomba. “Antes a água chegava com força, mas agora tem que ter bomba. Acho que a difi culdade no fornecimento da água aconte-ceu após o crescimento das casas”, diz ela. A Cedae, portanto, desconsidera o aumento da demanda.

Na residência de Maria de Fá-tima da Rocha, a chegada do calor traz junto o medo da fal-ta d’água. “No verão a água fi ca fraca, che-ga a faltar. No tempo quente nem encho a piscina na

laje, pois

a água não sobe. Acredito que piorou depois que surgiram novas habitações”, afi rma. Ela espera que a Cedae resolva a situação antes da nova estação.

Esgoto a céu aberto

Outro problema crônico da Maré é a rede de esgoto. Um vazamento ilustrou a capa da edição nº 7, do Maré, de julho de 2010, na Rua Bento Ribeiro Dantas, no Conjunto Pinheiro. Hoje se encontra do mesmo jeito. “Aqui o esgoto vive a céu aberto”, resume a presidente da Associação de Moradores do Conjunto Pinheiro, Eunice Cunha. Não existe uma reforma geral da tubulação, que atual-mente é defasada. “A rede de esgoto já tem 40 anos, necessita de uma obra grande. O

atendimento já foi bem melhor, o motivo prin-cipal foi o efetivo reduzido”, comenta Luciano, sobre o problema também em Marcílio.

A explicação para a não execução de serviços com maior agilidade se deve ao sucateamento do Núcleo Maré da Cedae, que fi ca na Nova Holanda. Esta é a opinião da presidente da Associação da Nova Holanda, Andrea Matos. Ela revela que há um número pequeno de funcionário e ausência de equipamentos. “Atualmente utilizam uma vara de cano para desentupir, algo ultrapassado. A Cedae Maré só falta fechar as portas, pois só tem 10 funcionários para o trabalho na rua, e sem material”, denuncia. Para ela, existe ainda um desconhecimento das localidades por parte da estatal.

A demora no atendimento faz com que sejam criada soluções alternativas. Na Praia de Ramos existe o trabalho de bombeiro hidráulico das ruas. A associação paga dois funcionários para fazer os serviços. “Para não fi car um tempão sem atendimento, nasceu esse trabalho comunitário, pois até quando a empresa vem fazer os consertos temos que fazer rateio em alguns momentos. E olha que o morador paga a conta

que vem detalhada água e esgoto!”, ressalta Cristiano.

Na Roquete Pinto, parte do esgoto vai para a Baía de Guanabara e outra é encaminhada à estação de tratamento da Penha. Porém, para o resíduo chegar à estação é necessário uma bomba, que vive quebrada, e dessa forma o esgoto retorna, o que deixa muitas ruas cheias. “A bomba não suporta, já é velha, com mais de 12 anos. Quando é consertada, no mesmo dia volta a quebrar. Até na minha porta há um esgoto vazando. A comunidade pede socorro”, declara o presidente da Associação da Roquete Pinto, Altemir Cardoso.

Para a moradora da Roquete Pinto, Antonia Euzirene, há muito descaso. “O poder público abandonou a gente. A verdade é que no tempo da eleição maquiam tudo para receber votos”, conclui. Altemir, por sua vez, reclama ainda das tampas de bueiro quebradas e observa que em algumas ruas há canos de água e esgoto muito próximos.

Na maior parte da Maré, o esgoto doméstico segue in natura para os valões até desaguar na Baía de Guanabara. Há anos existe a promessa de conectar o esgoto daqui à Estação de Tratamento de Alegria, no Caju.

Durante um mês e meio o Maré de Notícias tentou incessantemente contato, via correio eletrônico e telefone, com o setor de comunicação da Cedae, para obter uma entrevista sobre as reclamações dos moradores. Só durante o fechamento desta edição recebemos o retorno da estatal. Por causa do prazo, a entrevista será feita para a próxima edição.

Vazamento de esgoto ao lado da

placa da Cedae, no Parque Roquete

Pinto. A estatal instalou essas placas

nas casas para orientar o entregador das contas de água

e esgoto

Bueiro entupido e com o cano de água supostamente “potável” passando por dentro dele, na Praia de Ramos

Esgoto corre a céu aberto em Roquete Pinto

Mais vazamento em Roquete Pinto: a conta

chega, mas o serviço falha

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Verdejar: a luta continua

Plano de Direitos Humanos em debateMoradores, trabalhadores e visitantes da Maré estão desde já convidados para o evento

Victor Domingues

Depois de mandar demolir, sem aviso prévio, a sede da instituição socioambiental Verdejar, no Alemão, a concessionária de energia Light retomou as negociações, se comprometendo a rever sua decisão. A Verdejar atua há 15 anos no local, onde fi ca a Serra da Misericórdia.

As terras são Áreas de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (Aparu) e ainda Parques Ecológico e Urbano da Serra da Misericórdia. Todos sob responsabilidade da administração municipal.

A Light, entretanto, tem um projeto de criação de uma subestação de energia dentro daquela unidade de conservação. A empresa interrompeu o diálogo iniciado com a instituição e preferiu ir à Justiça. Além disso, omitiu para a Justiça a informação da existência da Verdejar no terreno, afi rmando que a área não estava ocupada.

“Eles (a Light) fi zeram uma manobra”, explica o coordenador da instituição, Edson Gomes. Durante semanas, a Verdejar funcionou em frente aos escombros em sinal de protesto.

Silvia Noronha Elisângela Leite

A Conferência de Direitos Humanos da Maré será remarcada, com o objetivo de ampliar o debate sobre o Plano local de Direitos Humanos. O evento estava previsto para 1º de setembro, dia da operação policial que resultou na morte de dois jovens moradores, o que transformou o encontro em momento de solidariedade e mobilização em prol da apuração dos crimes.

Uma das vítimas é Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, que portava seus documentos, foi levado com vida pela polícia primeiro para o Batalhão da Maré e depois para o Hospital, onde foi registrado já morto, como indigente, por estar estranhamente sem os documentos. Desde então, os organizadores da conferência (Iser, Luta pela Paz, Observatório de Favelas e Redes) vêm acompanhando o caso, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ainda no dia da operação, uma senhora teve sua casa invadida pela PM e, de lá, foi furtado o dinheiro que ela juntava para uma cirurgia.

A operação acabou por reforçar a importância do Plano de Direitos Humanos da Maré, que posteriormente será levado ao governo do estado.

Depois de mandar demolir, sem aviso prévio, a sede da instituição socioambiental Verdejar, no Alemão, a concessionária de energia Light retomou as negociações, se comprometendo a rever sua decisão. A Verdejar atua há 15 anos no local, onde fi ca a Serra da Misericórdia.

As terras são Áreas de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana (Aparu) e ainda Parques Ecológico e Urbano da Serra da Misericórdia. Todos sob responsabilidade da administração municipal.

A Light, entretanto, tem um projeto de criação de uma subestação de energia dentro daquela unidade de conservação. A empresa interrompeu o diálogo iniciado com a instituição e preferiu ir à Justiça. Além disso, omitiu para a Justiça a informação da existência da Verdejar no terreno, afi rmando que a área não estava ocupada.

“Eles (a Light) fi zeram uma manobra”, explica o coordenador da instituição, Edson Gomes. Durante semanas, a Verdejar funcionou em frente aos escombros em sinal de protesto.

Evento sobre o Planode Direitos Humanos da Maré

Data, horário e programação em defi niçãoAcompanhe pelo site da Redes

www.redesdamare.org.brou ligue para 3105-5531

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Labirinto culturalO Programa de Integração Cidadã (PIC) realizou, no último sábado de setembro, na Vila do João, o evento Labirinto Cultural – História da Maré. O prédio de três andares foi ornamentado para receber os cerca de 80 moradores. “Foi um mês para preparar, tendo pesquisa, o envolvimento das crianças e moradores. Essa dinâmica ajudou no aprendizado, a compreender a história local, a vivenciar e eternizá-la. Focamos na expectativa de um futuro melhor”, conta a educadora Joyce Nunes.

Entre as atividades do evento destacam-se jornal com depoimentos de moradores, contação de história, encenação de contos, música com cantores do passado, mandalas coloridas, dança, poesia, fotos e maquetes. Um dos depoimentos foi de Maria José Santos Costa, que mora na Maré desde 1978. “Muito importante falar para as crianças que a Maré tem uma história bonita. Foi aqui que criei meus fi lhos; os dois chegaram à universidade, e eu também”, ressalta. (Texto e foto:Hélio Euclides)

Alfabetização de jovens e adultosEstão abertas as inscrições para o curso gratuito de alfabetização de jovens e adultos, que terá início dia 17 de outubro. As aulas acontecerão de segunda a quinta, de 19h30 às 21h30. Para se inscrever é preciso levar cópia da carteira de identidade, CPF, comprovante de residência e uma foto. Local: sede da Redes, na Rua Sargento Silva Nunes, 1.012. Nova Holanda.

Parada LGBT reuniu quase10 mil pessoasA Parada de Orgulho LGBT, que circulou por dentro da Maré em 2 de setembro, atraiu de 8 mil a 10 mil pessoas, segundo o Conexão G, instituição organizadora do evento. O objetivo foi dialogar com a comunidade e alertar para a violência contra a população de lésbicas, gays, bissexuais e travestis. Veja as opiniões que colhemos pelas ruas após a passagem do grupo:

“Eu adorei. E foi uma festa que contou com a presença da comunidade. Não esperava que fosse dar tanta gente como deu. Achei ótimo, me

diverti, dancei, bebi... E ainda nem vi confusão nenhuma. Os organizadores estão de parabéns!”

João Paulo Rodrigues, 24 anos,de Bento Ribeiro Dantas

“Acho que a comunidade abraçou a parada gay de maneira bastante carinhosa. Acredito que uma dessas evidências foi a paz e a harmonia em que a passeata prosseguiu. Não houve brigas, insultos e nenhum tipo de homofobia declarada.”

Carlos Henrique, 24 anos, da Nova Holanda

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RAFestas e debates celebram o negro

Cineclube Maré Cine com Curtas InfantisSempre às segundas-feiras, às 18hSeleção de curtas e desenhos de animaçãoda Programadora BrasilApresentação musical dos Flautistas da Pró ArteCantando Gilberto GilSábado, dia 13/10, às 19hEspetáculo infantil com Jujuba & Ana NogueiraSábado, dia 27/10, às 18h

Especial Dia da Cultura05 de Novembro. Atividades diversas

Infantil: último sábado de cada mês, às 19hAdulto: último domingo de cada mês, às 19h

MÊS DA CRIANÇA

Dança contemporânea (12-18 anos) 18h30-20hDança de rua (Nível avançado) 20h-21h30Cineclube Maré Cine sempre às 17h30

Consciência corporal (a partir de 16 anos) 18h30-20hPercussão (Método O Passo) 20h-21h30

Introdução ao balé (a partir de 8 anos) 9h30-11h na RedesDança de rua (a partir de 10 anos) 17h-18h30

Consciência Corporal (7-12 anos) 18h30-20hDança criativa (7-12 anos) 18h30-20hDança contemporânea 20h-21h30

Introdução ao Balé (a partir de 8 anos) 17hs-18h30Dança de salão (a partir de 16 anos) 18h30-20h e 20h-21h30

PROGRAMAÇÃO DE NOVEMBRO

OFICINAS REGULARES

TEMPORADA MARÉ DE ARTES CÊNICAS

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R. Bitencourt Sampaio,181 Nova olanda

(21) 3105-7265

Confi ra a programação no local ou pelo telefone: 3105-7265 (de segunda a sexta, de 14h às 21h30)

ENTRADA FRANCA

PROGRAMAÇÃO

Cineclube RABIOLATodas as sextas, às 16h30O melhor do cinema infantil e infantojuvenil com muita diversão, pipoca e guaraná!

Pontinho de cultura (prog. infantil)sábados: de 12h30 às 15h30

Biblioteca Popular MunicipalJorge AmadoDe segunda a sexta-feira,das 9h às 17hAo lado da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna e atende a toda a comunidade do Complexo da Maré. Além de um amplo acervo, a biblioteca oferece brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar, além de diversas ofi cinas.

Consulte a programaçãode shows em

www.redesdamare.org.br

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré Tels.: 3105-6815 / 7871-7692

[email protected] FACE: Lona da Maré - ORKUT: Lona Cultural

da Maré - Twitter: @lonadamare cultura

OFICINAS REGULARESCapoeira

3as e 5as - 13 às 15hCavaco

2as - 15 às 17h e 3as - 18 às 20hArtes Circenses

2as e 4as - 14:30 às 16:30hPercussão - Ritmos brasileiros3as e 5as - 9h30 às 11h30

Violão2as - 15 às 17h e 3as - 18 às 20h

Gastronomia4as e 5as - 8h30 às 11h30

13h às 16hTeatro

Sábados - 10h às 12h(13 a 17 anos)

Dança de salãoSábados, - 18h às 20h

Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE !TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA !

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Você conhece a Cachupa?Prato muito popular em Angola, em geral servido nos

fi nais de semana, a cachupa foi ensinada por Ana Maria, que, em agosto, participou de uma ofi cina de comida

africana com as mulheres do Maré de Sabores.Cultura Negra à mostra e em debate: Moda, música, cultura e debates na Maré no mês da Consciência Negra

Ingredientes:500g de milho branco500g de feijão carioquinha100g de frango200g de paio200g de costela200g de Lombo suíno200g de pé de porco100g de cenoura200g de repolho50g de bacon3 dentes de alho1 folha de louro1 cebola4 colheres de sopade azeite3 tomates maduros médiosSal a gosto.

Modo de preparar:

Cozinhar o feijão e o milho separados. Enquanto inicia o cozimento do feijão e do milho, em outra panela refogue, com azeite, o tomate, a cebola, o louro e o alho. Adicione a costelinha e o pé de porco ao refogado, acrescente 500 ml de água e deixe cozinhar em fogo baixo por 1 hora.

Depois de cozida, adicione ao refogado o frango e as outras carnes cortadas em cubos grandes e a cenoura em rodelas de 5 cm.

Quando a cenoura estiver macia, reúna o feijão e o milho à mistura e por último adicione o repolho.

Corrija o sal e a pimenta, se necessário for, e sirva.

Rosilene Miliotti

“Negro, Cidade e Estética” será um evento realizado pelo Observatório de Favelas, a Redes de Desenvolvimento da Maré e a Retalhos Cariocas, nos dias 9 e 10 de novembro – mês da Consciência Negra – no Galpão Bela Maré, na Nova Holanda.

O encontro, que reunirá moda, música, cultura e debates com personalidades e pensadores, pretende abordar o racismo em algumas de suas especifi cidades, como as consequências para a produção criativa negra, sua manifestação no ordenamento espacial e construção de cartografi as imaginárias da cidade (há lugares permitidos ou não aos negros no imaginário social hegemônico?).

No primeiro dia de evento haverá, além de um cortejo com o grupo Marécatu, um desfi le produzido

pela Retalhos Cariocas, que lançará sua coleção inspirada na África. A atração terá trilha sonora da cantora e criadora de sons, Raquel Coutinho, e será seguida de uma grande festa celebrando o mês da Consciência Negra, com a apresentação da Orquestra Afrobeat Abayomy.

No segundo dia, que recomeça após o almoço, ocorre a roda de conversa Negro, Cidade e Estética, na qual seis convidados (dos campos das artes, moda, mídia e universidade) debaterão com a plateia diferentes dimensões do tema. O encerramento será marcado pela apresentação de dois grupos de jongo.

A intenção do encontro é discutir estratégias culturais de desarticulação de “expectativas” que servem, justamente, de sustentação tanto para os estereótipos que relegam os negros e suas manifestações à subalternidade, quanto à manutenção dos cânones do “belo” da cultura hegemônica.

Negro, Cidade e Estética

9 e 10 de novembro, Galpão Bela Maré

R. Bittencourt Sampaio, 169, Nova

Holanda (entre as passarelas 9 e 10,

próximo à Av. Brasil)

Informações: 3105-5531

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TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA !

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OFICINAS REGULARES

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Todas as sextas, às 16h30O melhor do cinema infantil e Todas as sextas, às 16h30O melhor do cinema infantil e Todas as sextas, às 16h30

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PROGRAMAÇÃO

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pra maré participar do maré

todos os meses! Garanta o seu jornal da sua

comunidade!Busque um exemplar na Associação de Moradores

Quem fez essabagunça?!

“Tinha dormido com meu marido na casa da minha mãe, aqui na Maré mesmo. Quando voltei, às 7h da manhã, a vizinha, assim que me viu, falou que se eu tivesse chegado dez minutos antes teria encontrado os policiais militares dentro da minha casa. Eles entraram em todas as casas da rua. Como a minha estava vazia, eles usaram chave-mestra.

Sempre morei na Maré, e desta vez foi a que mais me senti invadida, sem ação, com sentimento de não ter controle das coisas que acontecem dentro da minha própria casa. A Polícia Militar já havia entrado outras vezes, e também na casa dos meus pais, na minha sogra – sempre sem mandado de busca e apreensão, né –, mas desta vez eles entraram com chave-mestra, abriram até as gavetas, tiraram tudo do guarda-roupa. Encontrei a casa deste jeito. Depois chequei se haviam levado algo. Senti falta apenas de um creme hidratante importado. Foi levado. E tive que trocar a fechadura porque ficou estragada. Tive um bom prejuízo com isso. Depois pensei em fazer boletim de ocorrência (BO) na delegacia, mas minha mãe achou melhor não, porque tem receio de vingança.”

Isabela Batista,moradora da Nova Holanda,

sobre a ação policialrealizada em 20 de setembro

Invasão de domicílio é crime

Você pode recorrer ao Ministério Público (Endereço:

Av. Marechal Câmara, n° 370 – Centro. Tel: 2550-9050)

ou à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia

Legislativa (End: Palácio Tiradentes – Rua Primeiro de

Março, s/n – sala 307. Tel: (21) 2588-1000).

Leia mais sobre Direitos Humanos na pág. 13.

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