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MARCOS FELIPE LOPES DE MEDEIROS ANÁLISE DOS ACIDENTES DO TRABALHO OCORRIDOS NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE EM 2014. NATAL-RN 2016 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

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MARCOS FELIPE LOPES DE MEDEIROS

ANÁLISE DOS ACIDENTES DO TRABALHO

OCORRIDOS NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE EM 2014.

NATAL-RN

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Marcos Felipe Lopes de Medeiros

Análise dos acidentes do trabalho ocorridos na indústria da construção civil no estado

do Rio Grande do Norte em 2014.

Trabalho de Conclusão de Curso na

modalidade Monografia, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte dos requisitos necessários

para obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda

Almeida

Coorientador: Profa. M

a. Fernanda Karolline

de Medeiros

Natal-RN

2016

Marcos Felipe Lopes de Medeiros

Análise dos acidentes do trabalho ocorridos na indústria da construção civil no estado

do Rio Grande do Norte em 2014.

Trabalho de conclusão de curso na

modalidade Monografia, submetido ao

Departamento de Engenharia Civil da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como parte dos requisitos necessários

para obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Aprovado em: 16 de novembro de 2016.

________________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Orientador

________________________________________________________

Profa. M

a. Fernanda Karolline de Medeiros – Coorientador

_________________________________________________________

Prof. Dr. Rubens Eugênio Barreto Ramos – Examinador interno

_________________________________________________________

Enga. Emilia Regina da Silva Costa Domingos– Examinador externo

Natal-RN

2016

DEDICATÓRIA

A Marcos Antonio Miranda de

Medeiros (in memoriam), grande

pai, amigo e companheiro, minha

referência, pessoa, no qual,

representou com nobreza e

competência tudo o que fez e

assim, só tenho a agradecer pelo

aprendizado do nosso convívio e

por sua eterna companhia.

A minha querida e amorosa Mãe,

Marilia Paiva Lopes de Medeiros,

pelo seu orgulho e desejo em me

ver formado e por estar sempre

pronta e disposta a me ajudar nos

meus momentos mais difíceis.

A toda minha família e amigos,

pelos votos de apoio e carinho,

além de me incentivarem na busca

por meus ideais.

AGRADECIMENTOS

Todo comprometimento e dedicação para concretização deste trabalho não teria sido

possível apenas com o mero esforço próprio. Logo, faz-se necessário expressar os meus

sinceros agradecimentos a todos àqueles que diretamente ou indiretamente, participaram

de alguma forma na elaboração deste estudo:

À Deus pelo seu infinito amor e misericórdia e por me conceder a oportunidade de

vivenciar este momento importante em minha vida, pela coragem e perseverança em

enfrentar todos os obstáculos encontrados e por sempre me iluminar com muita paz e

saúde.

À meus amigos, colegas, companheiros de curso e futuros engenheiros civis, por cada

momento compartilhado ao lado de vocês, pela consideração e atenção reservados a

mim e por cada conselho e palavra de estímulo ao longo dessa jornada acadêmica.

Aos meus orientadores, professor Marcos Lacerda de Almeida e professora Fernanda

Karolina de Medeiros, pela atenção ao meu convite, pela oportunidade e disponibilidade

em repassar os conhecimentos acerca do trabalho.

Ao INSS/Agência Natal, pela atenção e por colaborar com a realização do trabalho pela

disponibilização das estatísticas referentes às CATs, dados estes de grande valia para o

desenvolvimento desta monografia.

À todos os professores do curso, pelas experiências vivenciadas e por todo o referencial

teórico e prático compartilhados ao longo da graduação.

RESUMO

Análise dos acidentes do trabalho ocorridos na indústria da construção civil no

estado do Rio Grande do Norte em 2014.

A Indústria da Construção Civil apesar de ter grande representatividade na economia

potiguar por demonstrar bons indicadores econômicos, além de gerar empregos e renda

à população, ainda é um dos setores que apresentam um considerável número de

acidentes do trabalho e doenças profissionais. Pois, as ferramentas de controle e gestão

com base na saúde e segurança no trabalho são indispensáveis para o desenvolvimento

das atividades na construção civil de forma a obter eficácia e eficiência no processo de

trabalho e para a manutenção da qualidade de vida e integridade física do trabalhador.

Considerando-se a baixa demanda de estudos aliada a uma restrição de informações

sobre a temática da saúde e segurança do trabalho no estado do RN, temos que o

presente trabalho apresenta um levantamento da incidência de acidentes do trabalho e

doenças profissionais na atividade da construção civil no Rio Grande do Norte através

dos dados estatísticos oficiais do governo, com a proposta de avaliar a situação dessa

temática. Quanto aos objetivos, o estudo baseou-se numa pesquisa do tipo descritiva,

pois os dados foram abordados e obtidos a partir da análise das informações contidas

nas CATs (Comunicação de Acidente de Trabalho) referente ao período de 2014,

coletados junto ao banco de dados do INSS e Ministério da Previdência Social, além

dos relatórios publicados nos Anuários Estatísticos de Acidentes de Trabalho e da

Previdência Social. Foram observados o tamanho e tipo de atividade da empresa, o

perfil do trabalhador, as partes do corpo atingidas e a natureza e causa dos acidentes e

das lesões. Após a análise dos dados, percebeu-se que os acidentes por trajeto

associados aos atropelamentos, além dos acidentes típicos como os impactos sofridos

por objetos, são os de maior ocorrência, de maneira que estes se devem a uma má gestão

e organização do trabalho, à falta de atenção das empresas com relação à tecnologia

empregada e não à displicência do empregado, como geralmente se afirma. Assim, com

base nas possíveis causas dos acidentes de trabalho, é possível delimitar ações e

medidas preventivas com o intuito de reduzir a quantidade e o nível de gravidade dos

acidentes.

Palavras-Chaves: Indústria da Construção Civil, Acidentes do Trabalho, CAT.

ABSTRACT

Analysis of occupational accidents occurred in the civil construction industry in

the state of Rio Grande do Norte in 2014.

The Building Industry, despite being highly representative in Potiguar economy for

demonstrating good economic indicators, besides generating jobs and income for the

population, it‟s still one of the sectors that present a substantial number of work-related

accidents and diseases. That's because, control and management tools based on health

and safety at work, are indispensable for the development of civil construction

activities, in order to obtain efficacy and efficiency in working process, as well as,

maintain quality of life and physical integrity of the worker. Whereas the low demand

for studies coupled with a restriction of information on the health and safety of work in

the state of RN, this paper presents a survey of the incidence of occupational accidents

and occupational diseases in the construction industry in Rio Grande do Norte, through

the official statistical data of the government, with the proposal to evaluate the situation

of this issue. As for the objectives, the study was based on a descriptive research, since

data were approached and obtained from analysis of information contained in the CATs

(Work Accident Communication) for the year of 2014, collected from the database of

the INSS and the Ministry of Social Security, in addition to the reports published in the

Statistical Yearbooks for Work Accidents and Social Security. The size and type of the

company‟s activity, worker's profile, and body parts affected, in addition to the nature

and cause of accidents and injuries were observed. After data analysis, it was noticed

that the accidents by path associated to trampling, in addition to typical accidents, as the

impacts suffered by objects, have a higher rate, so that these are due to poor

management and work organization, the lack of attention of the companies with respect

to the technology employed and not to the negligence of the employee, as is generally

stated. Thus, based on the possible causes of work accidents, it is possible to delimit

preventive measures and actions in order to reduce the amount and level of severity of

accidents.

Keywords: Construction Industry, Work-related Accidents, CAT.

ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1

1.1 Apresentação do tema e justificativa do trabalho ........................................................ 1

1.2 Objetivos ........................................................................................................................... 5

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 5

1.2.2 Objetivo geral ............................................................................................................ 5

1.3 Metodologia ..................................................................................................................... 6

1.4 Organização do estudo ................................................................................................... 6

1.5 Limitações do estudo ...................................................................................................... 7

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................ 8

2.1 Segurança do trabalho na construção civil .................................................................. 8

2.2 Considerações sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais ........................ 9

2.3 Notificação de acidentes do trabalho e doenças profissionais ................................ 11

2.3.1 Comunicação de acidente de trabalho (CAT) ..................................................... 11

2.4 Investigação de acidentes do trabalho ........................................................................ 16

2.4.1 Diagrama de ishikawa ............................................................................................ 19

2.5 Causas dos acidentes na construção civil ................................................................... 20

2.5.1 Natureza do acidente .............................................................................................. 21

2.5.2 Agente da lesão ....................................................................................................... 21

2.6 Prevenção de acidentes ................................................................................................. 22

2.6.1 Teoria sobre a aplicabilidade de métodos de prevenção ................................... 23

2.6.2 Normas regulamentadoras de segurança e medicina do trabalho ..................... 24

2.7 Custos dos acidentes de trabalho no Brasil ................................................................ 27

3. ESTATÍTICAS NACIONAIS DE ACIDENTES DO TRABALHO E

DOENÇAS PROFISSIONAIS ................................................................ 30

3.1 Fontes oficiais de acidentes do trabalho e doenças profissionais e sistemática de

concessão de benefícios acidentários ................................................................................ 31

3.2 Dados oficiais de acidentes do trabalho segundo as classes de atividades

econômicas ........................................................................................................................... 33

3.2.1 Taxas de gravidade e frequência de acidentes .................................................... 35

3.3 Perfil da empresa.. .......................................................................................................... 36

3.3.1 Atividade da empresa ............................................................................................. 36

3.3.2 Porte da empresa ..................................................................................................... 37

3.4 Perfil do trabalhador ..................................................................................................... 38

3.4.1 Profissão ................................................................................................................... 38

3.4.2 Idade ......................................................................................................................... 39

3.4.3 Sexo .......................................................................................................................... 40

3.4.4 Estado Civil ............................................................................................................. 41

3.4.5 Tempo de profissão e de empresa ........................................................................ 42

3.5 Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente ............................. 43

3.5.1 Partes do corpo atingidas ................................................................................ 43

3.5.2 Lesões .............................................................................................................. 44

3.5.3 Morte ........................................................................................................................ 45

4. MÉTODO DA PESQUISA ................................................................... 45

4.1 Classificação da pesquisa ............................................................................................. 45

4.2 Caracterização da população ....................................................................................... 46

4.3 Local de coleta de dados .............................................................................................. 47

4.4 Determinação da população ......................................................................................... 47

4.5 Seleção das variáveis .................................................................................................... 48

4.5.1 Perfil da empresa .................................................................................................... 48

4.5.2 Perfil do trabalhador ............................................................................................... 48

4.5.3 Causa do acidente ................................................................................................... 50

4.5.4 Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente ......................... 52

5. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS DA

PESQUISA ................................................................................................ 53

5.1 Perfil da empresa ........................................................................................................... 53

5.1.1 Atividade da empresa e porte da empresa ........................................................... 53

5.2 Perfil do trabalhador ..................................................................................................... 54

5.2.1 Profissão ................................................................................................................... 54

5.2.2 Idade ......................................................................................................................... 56

5.2.3 Estado Civil ............................................................................................................. 56

5.2.4 Sexo .......................................................................................................................... 57

5.3 Causas do acidente ........................................................................................................ 57

5.3.1 Natureza do acidente .............................................................................................. 57

5.3.2 Natureza da lesão e partes do corpo atingidas .................................................... 58

6. CONCLUSÃO ....................................................................................... 61

7. REFERÊNCIAS .................................................................................... 65

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Classificação dos acidentes de trabalho quanto ao afastamento.....................9

Figura 2 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE I

(EMITENTE)...................................................................................................................14

Figura 3 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE I

(EMITENTE)/ Continuação............................................................................................14

Figura 4 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE II

(ATESTADO MÉDICO).................................................................................................15

Figura 5 – Exemplo de um fluxograma de análise de acidente do trabalho...................18

Figura 6 – Exemplo de construção de um diagrama espinha de peixe...........................20

Figura 7 – Ocorrência dos acidentes do trabalho na construção civil no Paraná por

região corporal, ocorridos em 2013.................................................................................44

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Benefícios do seguro de acidentes do trabalho.............................................13

Tabela 2 – Dimensionamento do SESMT......................................................................25

Tabela 3 – Parte do quadro referente ao dimensionamento da CIPA.............................26

Tabela 4 – Número de dias perdidos de trabalho por acidentes de trabalho entre 2000-

2007, entre trabalhadores segurados, que receberam benefícios para afastamentos

temporários......................................................................................................................29

Tabela 5 – Número de segurados, acidentes e doenças do trabalho no Brasil de 2010 a

2014.................................................................................................................................32

Tabela 6 – Número de segurados, acidentes e doenças do trabalho no RN de 2010 a

2014.................................................................................................................................32

Tabela 7 – Distribuição da frequência e do coeficiente proporcional de acidentes do

trabalho, segundo as classes de atividades econômicas em 2014....................................33

Tabela 8 – Distribuição da frequência de acidentes e do coeficiente proporcional de

acidentes do trabalho no Brasil, segundo as atividades econômicas da indústria da

construção civil em 2014.................................................................................................34

Tabela 9 – Porte das empresas segundo os três estratos investigados............................37

Tabela 10 – Faixa etária dos trabalhadores brasileiros admitidos, desligados e saldo no

setor da construção no período referente 2011 – 2012....................................................40

Tabela 11 – Estado civil dos trabalhadores entrevistados segundo região.....................41

Tabela 12 – Estado civil dos administrativos entrevistados segundo região..................42

Tabela 13 – Classificação das profissões........................................................................49

Tabela 14 – Grupo de idade............................................................................................49

Tabela 15 – Classificação do estado civil.......................................................................50

Tabela 16 – Natureza do acidente...................................................................................51

Tabela 17 – Classificação dos agentes da lesão..............................................................51

Tabela 18 – Lesões atribuídas às partes do corpo atingidas...........................................52

Tabela 19 – Partes do corpo mais atingidas....................................................................52

Tabela 20 – Índice de acidentes entre as ocupações com as maiores frequências no setor

da construção estado do Rio Grande do Norte (Jan-Dez/2014)......................................54

Tabela 21 – Distribuição dos trabalhadores acidentados da construção civil quanto ao

estado eivil no estado do RN (Jan-Dez/2014).................................................................57

Tabela 22 – Distribuição das partes do corpo mais atingidas dentre os trabalhadores da

construção civil no estado do RN (Jan-Dez/2014)..........................................................60

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição das categorias profissionais da construção civil com maiores

registros de acidentes em Criciúma-SC no período de 2012 à 2013...............................38

Gráfico 2 – Distribuição dos profissionais acidentados na construção civil registrados

em Mossoró no período entre 2009 à 2011.....................................................................39

Gráfico 3 – Incidência de acidentes entre as ocupações com maior frequência na

construção civil – estado do RN (Jan-Dez/2014)............................................................55

Gráfico 4 – Incidência de acidentes de acordo com a idade dos trabalhadores da

construção civil – estado do RN (Jan-Dez/2014)............................................................56

Gráfico 5 - Distribuição das ocorrências quanto à natureza dos acidentes ocorridos na

construção civil no estado do RN (Jan-Dez/2014)..........................................................58

Gráfico 6 – Incidência dos acidentes quanto à natureza da lesão ocorrida com os

trabalhadores da construção civil no estado do RN (Jan-Dez/2014)...............................59

SIMBOLOGIA

ABNT - Associação brasileira de normas técnicas

AEAT - Anuário estatístico de acidente de trabalho

AEPS - Anuário estatístico da previdência social

AT - Acidente do trabalho

CAGED - Cadastro geral de empregados e desempregados

CAT - Comunicação de acidente de trabalho

CBIC - Câmara brasileira da indústria da construção

CIPA - Comissão interna de prevenção de acidentes

CNAE - Classificação nacional de atividades econômicas

DIEESE - Departamento sindical de estatística e estudos socioeconômicos

DRT - Delegacia regional do trabalho

DSST - Departamento de segurança e saúde no trabalho

FAP - Fator acidentário previdenciário

INSS - Instituto nacional do seguro social

MPS - Ministério da previdência social

MTE - Ministério do trabalho e emprego

NR - Norma regulamentadora

NTEP - Nexo técnico epidemiológico previdenciário

OIT - Organização internacional do trabalho

PCMAT - Programa de condições e meio ambiente do trabalho na indústria da

construção

PCMSO - Programa de controle médico de saúde ocupacional

PIB - Produto interno bruto

PPRA - Programa de prevenção de riscos ambientais

RAIS - Relação anual de informações sociais

SESI - Serviço social da indústria

SESMET - Serviço especializado em engenharia de segurança e em medicina do

trabalho

SUS - Sistema único de saúde

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do tema e justificativa do trabalho

Mesmo através de ações de fiscalização por parte dos órgãos governamentais, e

através dos esforços que vêm sendo desenvolvidos no país com base em campanhas de

prevenção de acidentes, cursos e treinamentos disponibilizados pelas empresas aos

trabalhadores, além de eventos e seminários propostos pelas instituições de ensino

públicas e privadas, que reúnem representantes do governo, empregadores e

empregados para discussões sobre essa temática, ainda evidencia-se uma considerável

incidência de acidentes do trabalho e doenças profissionais, representando números

bastante significativos no âmbito do mercado da construção civil nacional e regional.

Segundo o Engenheiro de Segurança do Trabalho, Nelson Burille, a atuação do

Governo Federal em saúde e segurança do trabalho ainda é frágil e precária, destacando

que o desmonte da área iniciou ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. "Tudo

iniciou com a extinção da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho do Ministério

do Trabalho e Emprego (MTE), que foi transformada em departamento - o DSST. A

partir daí o orçamento e a autonomia despencaram", conta o engenheiro, ressaltando que

existiam expectativas de melhores dias quando, em 2002, foi eleito um ex-metalúrgico

com um dedo mutilado em virtude de um acidente de trabalho para a Presidência da

República, o que não aconteceu. Em 2002, conforme dados do Ministério da

Previdência e Assistência Social, foram 410 mil acidentes de trabalho registrados no

Brasil, número que saltou para mais de 705 mil em 2012 (REVISTA PROTEÇÃO –

ANUÁRIO BRASILEIRO DE PROTEÇÃO 2015).

No ano de 2014, no Brasil, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social,

aconteceram 704.136 acidentes do trabalho. Conforme a Classificação Nacional de

Atividades Econômicas (CNAE), a Indústria da Construção Civil é responsável por um

quantitativo de 59.734 acidentes deste total. Considerando todas as classificações dos

setores de atividades econômicas, a região Nordeste totaliza 31.259 acidentes, tendo que

o estado do Rio Grande do Norte é responsável por 7.074 destes acidentes. Diante desse

contexto a indústria da construção civil, ainda se apresenta como uma das atividades

econômicas com números expressivos de acidentes.

2

Alguns dos fatores que podem explicar esta densidade de ocorrências relativas a

acidentes e mortes, especificamente no setor da construção civil, vêm sendo discutidos

com frequência e encontram-se praticamente consolidados. Segundo Costella (1999),

dentre estes fatores destacam-se:

As constantes mudanças ocorridas nos riscos ocupacionais e na natureza do

trabalho de acordo com as fases de execução da obra, na qual o critério de

transitoriedade, muitas vezes, é confundido com improvisação;

As mudanças na composição das equipes de trabalho de acordo com a fase da

obra e a rotatividade característica do setor, o que sujeita os trabalhadores a um

curto período de permanência em cada obra.

Grande parte dos operários desenvolvem tarefas que exigem habilidade e

perícia, sendo que os mesmos não são devidamente orientados e treinados para

executarem estas tarefas que exigem uma mão de obra intensiva;

A natureza do trabalho, o qual dentre determinadas atividades é tido como

arriscado, atividades estas que devem ser bem planejadas, tendo em vista a

existência dos riscos além do manuseio de materiais nocivos, sendo assim

variáveis de acordo com o andamento do projeto.

Apesar das grandes transformações que o setor tem passado, mas ainda se

percebe a falta de um método gerencial e de domínio dos processos, o que

resulta em um sistema de supervisão, treinamento e instrução pouco presente e

um sistema de trabalho que apresenta riscos quando não são bem analisados.

A partir destes fatores, pode-se afirmar que a presença de riscos é trivial ao

trabalho na construção civil, principalmente quando os operários abusam da confiança e

acabam deixando de lado a utilização dos equipamentos de proteção individual, por

esses motivos a prevenção dos acidentes torna-se uma tarefa ainda mais desafiadora.

Entretanto, podem-se diminuir estes riscos a partir da antecipação de medidas que visem

melhorar as condições de trabalho e garantir que o trabalho está sendo realizado de uma

maneira segura.

Outro fator a ser levado em conta é o treinamento dos operários. Tendo em vista

que no setor da construção a mão de obra é de grande rotatividade, não se mantendo de

maneira constante nas obras, além do grande número de subcontratados engajados em

cada obra. Ficando assim os treinamentos restritos e pouco eficientes em função do

pequeno número de trabalhadores disponíveis para desenvolver essas práticas de

atividades. Logo, deve-se levar em consideração que os custos de treinamento em

3

segurança serão menores do que as consequências, caso um acidente grave ou fatal

venha ocorrer.

Vale a pena ressaltar que os custos econômicos (diretos e indiretos) e sociais

devido à carência de segurança em geral, são excessivamente altos para o governo, para

as empresas, para as famílias dos trabalhadores, e com isso, para a sociedade como um

todo. Estes problemas de ordem econômica vão desde a indenização do acidentado até a

diminuição da produtividade global da obra. Pois a transparência desses recursos faz

com que os empresários despertem para o volume de capital que é gasto cada vez que

ocorre um acidente. Portanto, têm-se a necessidade da promoção de periódicos

treinamentos, além de outros estímulos de investimentos na área para que as políticas de

prevenção em saúde e segurança estejam cada vez mais presentes nos canteiros de

obras.

Atualmente, as empresas com intuito de garantir uma maior sustentabilidade no

setor pelo fato do mercado se apresentar cada vez mais competitivo, estão buscando

constantemente o aprimoramento de técnicas construtivas, visando um maior lucro,

produtividade e redução dos custos. Assim, acabam deixando em segundo plano a saúde

e a integridade física do trabalhador, contribuindo para a ocorrência de um maior

número de acidentes. Segundo Miranda Jr. (1995, apud COCHARERO, 2007, p. 10), “a

aquisição da qualidade está intimamente ligada à melhoria das condições de segurança e

higiene no trabalho, pois é muito improvável que uma organização alcance a excelência

dos seus produtos negligenciando a qualidade de vida daqueles que os produzem”.

A necessidade do conhecimento das informações estatísticas relativas aos

acidentes do trabalho e doenças ocupacionais são elementos válidos e podem ser

utilizados como artifícios para que surjam estímulos e ferramentas que prezem pela

prevenção dos acidentes. Assim têm-se quais trabalhadores estão mais sujeitos a

acidentes, desse modo, os esforços podem ser concentrados onde há maior ocorrência de

imprevistos, obtendo assim um maior retorno dos investimentos em segurança. Todavia,

quando as causas dos acidentes são entendidas, as atividades de prevenção têm uma

grande possibilidade de se tornarem efetivas. Dessa forma os investimentos acabam

realmente tendo o efeito desejado.

Reforçando esse ponto de vista, Bedrikow (1996, apud COSTELLA, 1999, p. 3),

descreve que “o fato de contabilizar o quantitativo de acidentes do trabalho e distribuí-

los de acordo com as características das ocorrências e das vítimas, constitui assim uma

base indispensável para a indicação, aplicação e controle de medidas prevencionistas”.

4

Pois a criação desses sistemas de informações priorizando a execução e o planejamento

de ações preventivas nos diferentes níveis da organização, podem ser mais acessíveis e

de maior aplicabilidade em canteiros de obras com histórico já comprovados, buscando

assim melhores chances de alcançarem algum efeito benéfico.

Com base na abordagem dos dados estatísticos dos acidentes de trabalho através

do processamento de dados sistematizados, remete-se ao fato de se obter grandes

progressos em termos de prevenção. Logo, é necessário armazenar em um banco de

dados, o histórico de informações relevantes sobre a natureza dos acidentes e suas

causas. Com base nesse planejamento, a representação de um banco de dados

estruturado e acessível, permite que novos acidentes possam ser evitados, justamente

pelas comprovações obtidas com erros passados. Logo, a confecção deste sistema de

informações e a divulgação dos dados estatísticos devem estar em sintonia com as

preocupações nacionais e mundiais relativas à segurança do trabalho.

Conforme discutido e explanado, tendo em vista a relevância do agrupamento

desses dados, têm-se a proposta de um levantamento quantitativo detalhado relativo aos

acidentes de trabalho e doenças ocupacionais na atividade da construção civil no Rio

Grande do Norte, através das informações contidas nas CAT´s (Comunicação de

Acidente do Trabalho), com o objetivo de disponibilizar informações para os setores

prevencionistas, organizando a coleta e análise de dados dos acidentes do trabalho e

doenças profissionais, com vistas a dispor de um instrumento eficiente de produção e

divulgação de informações. Visando assim um planejamento e aperfeiçoamento nos

padrões de segurança e saúde no trabalho, para que possa haver uma melhoria no

sistema de relações do trabalho e como consequência uma diminuição representativa do

número e da gravidade dos acidentes.

Para incrementar essa base de dados e obter as informações necessárias, dispõe-

se da CAT, por se tratar de ser um “documento oficial padronizado, cuja „abrangência

nacional talvez só encontre paralelo com o atestado de óbito‟, faz com que ele se

constitua numa importante fonte de informações sobre os acidentes do trabalho.”

(CARMO, 1996 apud COSTELLA, 1999, p. 5). Além disso, é válido enfatizar que os

números baseados na emissão de CATs são o melhor ou apenas o único referencial que

se tem para avaliar o desempenho do setor a nível municipal, regional ou nacional.

Dessa maneira, preza-se por uma melhor estrutura de controle dentre as esferas do

governo no país, afim de que se tenha uma melhor apuração dos dados, para que se

5

definam planos de prevenção embasados dentre essa incidência dos casos notificados de

acidentes e doenças profissionais.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Realizar um levantamento da incidência de acidentes do trabalho e doenças

profissionais correlacionadas às atividades da indústria da construção civil no Rio

Grande do Norte através de dados contidos na CAT, enfatizando uma análise

quantitativa dos principais registros de acidentes e doenças do trabalho evidenciados

dentre as principais ocupações profissionais atuantes no setor com base em dados

oficiais, com a proposta de disponibilizar essas informações relevantes para que a

sociedade tenha o conhecimento desses eventos e que a partir dessas comprovações, os

órgãos fiscalizadores programem uma ação mais efetiva nos canteiros de obras, como

também os empregadores planejem uma extensão de medidas corretivas e preventivas,

visando assim, uma diminuição brusca dessas comunicações de acidentes do trabalho.

1.2.2 Objetivos específicos

Estabelecer o perfil do trabalhador acidentado da construção civil do RN.

Ampliar o conhecimento relativo à natureza dos acidentes ocorridos na

construção civil, além de compreender as suas possíveis causas e consequências

de acordo com os casos mais comumente identificados dentre as atividades

típicas do setor;

Ressaltar a importância de uma maior transparência e clareza das ocorrências

registradas, a fim de que essas informações possam estar mais acessíveis para

toda a sociedade civil e organizada, para que se tenha um maior controle e

cuidado acerca do desenvolvimento destas atividades com maiores registros de

acidentes, evitando assim ao máximo a recorrência destes eventos.

6

1.3 Metodologia

Foram coletados dados estatísticos com foco nos acidentes de trabalho referente

ao período do ano de 2014, através dos relatórios publicados do Anuário Estatístico da

Previdência Social e do Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho em que foram

analisados e destacados os acidentes relacionados segundo a Classificação Nacional de

Atividades Econômicas (CNAEs) de números 41, 42 e 43, no qual, representam as

atividades do setor da Indústria da Construção e possuem as seguintes denominações:

CNAE 41 – Construção de Edifícios; CNAE 42 – Obras de Infra-Estrutura e CNAE 43

– Serviços Especializados para Construção.

Em segundo plano foram coletados os dados referentes aos acidentes de trabalho

típicos, de trajeto e as doenças de trabalho por afastamento da indústria da construção

do estado do RN no período referente ao ano de 2014, através das informações contidas

nos Comunicados de Acidentes de Trabalho (CAT) que foram registradas e

disponibilizadas pelo INSS - Agência Natal.

Os resultados coletados foram identificados e dispostos em tabelas e gráficos

com informações sobre: o tamanho e tipo de atividade da empresa; o perfil do

trabalhador; as partes do corpo atingidas e a natureza e causa dos acidentes e das lesões.

1.4 Organização do estudo

Num primeiro momento é definido e conceituado o que é acidente do trabalho e

suas categorias, além de disposto os aspectos relativos à investigação e a notificação de

acidentes, assim como as abordagens das normas regulamentadoras de segurança e

medicina do trabalho. Logo após, através de estudos e pesquisas são apresentados dados

estatísticos dos acidentes de trabalho no Brasil e em algumas cidades brasileiras nos

últimos anos, que incluem as estatísticas e as representações dos acidentes em geral

envolvendo os trabalhadores da construção segundo profissão, idade, sexo, estado civil,

tempo de profissão e de empresa, além da quantidade de acidentes registrados de acordo

com as causas das ocorrências, as lesões nas partes do corpo atingidas e a gravidade dos

acidentes. Ou seja, é traçado dentre a indústria da construção o perfil do trabalhador e

dos principais tipos de acidentes no setor, além das causas relacionadas a estes.

Na sequência do trabalho é representado o estudo referente ao RN onde são

definidos os acidentes e doenças do trabalho da indústria da construção. A partir da

7

coleta de dados das CAT´s registradas no Rio Grande do Norte, mostram-se as

ocupações profissionais mais lesionadas, as características destes trabalhadores, a

natureza de suas lesões, além das partes do corpo mais atingidas.

Por fim, com base na evidência dos casos notificados e de posse desses

quantitativos são definidas as conclusões do estudo, sugerindo a aplicabilidade de

medidas preventivas de acordo com o tipo e natureza do incidente, afim de que se

apresentem as principais atitudes dentro de uma obra para que esses casos de acidentes

fatais e não fatais decresçam.

1.5 Limitações do estudo

Esta monografia apresenta algumas limitações que devem ser enfatizadas:

O objetivo do presente trabalho era realizar o estudo com base em dados

estatísticos mais recentes, com foco no período relevante ao ano de 2015 e o

primeiro semestre de 2016, mas tendo em vista a não disponibilidade dos dados

junto ao INSS, procurou-se abordar a pesquisa com base nos dados do ano de

2014, pelo fato de estarem disponíveis e por serem os mais atuais.

Foram obtidas planilhas com a apresentação de uma análise quantitativa e

descritiva, não sendo possível correlacionar as variáveis em estudo, pois o

referenciamento destes dados foi embasado considerando uma dimensão global.

Por exemplo, foram disponibilizados os dados para consulta considerando o

nexo causal, as ocupações profissionais acidentadas, de maneira isolada, sem

detalhamento, pois não foi possível identificar para aquela determinada

profissão, qual foi a possível causa do acidente nem a parte do corpo atingida.

Essa restrição foi justificada pelo motivo de respeitar o sigilo médico, assim, não

foi permitido o acesso às informações das próprias CATs uma a uma, e sim

foram liberados apenas a coleta de informações de alguns campos dessas CATs,

dentre os quais já se encontravam divididos em planilhas.

As implicações em relação ao tempo de afastamento do acidentado também não

foram possível ser evidenciadas na pesquisa, dessa forma, as complicações

relativas à gravidade dos acidentes ficaram impossibilitadas de serem discutidas.

8

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo serão abordadas conceituações relativas à segurança do trabalho,

sobre os acidentes do trabalho e as doenças profissionais de forma ampla, além dos

aspectos relativos à notificação de acidentes. Como também, serão discutidos os

principais enfoques sobre os acidentes de trabalho, apresentando temas que tratam as

causas e consequências destes. E por fim, seguindo uma abordagem mais específica

serão explanadas algumas propostas relativas à investigação dos acidentes, assim como

o detalhamento das normas regulamentadoras de segurança e medicina do trabalho,

além de demonstrar de acordo com o panorama atual, alguns custos, teorias sobre

métodos de prevenção e estatísticas dos acidentes do trabalho.

2.1 Segurança do trabalho na construção civil

De maneira a assegurar que as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores

sejam realizadas da forma adequada e prevista, sem a presença de situações insalubres e

de perigos, a segurança do trabalho, segue com a proposta de garantir que os operários

desempenhem as suas atividades com cautela, eliminando qualquer tipo de risco

eminente para que as ocorrências de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais sejam

cada vez mais minimizadas no âmbito dos canteiros.

A política de saúde e segurança do trabalho segue alguns preceitos baseados na

eficácia e concatenação dos processos de trabalho na busca incessante pela diminuição

da quantidade de acidentes do trabalho, tendo em vista os problemas de ordem social e

econômica que surgem podendo atenuar numa baixa produtividade das empresas, até

mesmo afetando o relacionamento interpessoal entre os funcionários. Logo, percebe-se

a importância da segurança do trabalho não apenas no setor da construção, como

também em todos os outros setores da cadeia produtiva, pois a ocorrência de um

acidente casual acaba por transferir a responsabilidade do evento para todos os

trabalhadores e para a empresa, dessa forma, todos acabam tendo que arcar com os

direitos previdenciários cabíveis e exigidos por lei.

De acordo com Brito (1997, apud COSME, 2013, p. 19), “a questão da

segurança no trabalho deve ser analisada com um ponto de referência qualitativo, que

tange e configura empresas que zelam pela qualidade das construções que executam.

9

Assim, como em várias atividades do processo construtivo de uma edificação, a

segurança não caminha isolada, e sim apoiada em uma série de medidas que asseguram

a organização, limpeza, produtividade, assepsia, atenção, condições adequadas de

trabalho e, ainda, dignidade aos operários”.

2.2 Considerações sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais

Por definição, segundo o artigo 19 da Lei n° 8.213 publicada em 24 de julho de

1991, que trata sobre os planos de benefícios da previdência social, fica expresso que:

“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa,

ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal

ou perturbação funcional que cause morte, a perda ou redução da capacidade para o

trabalho permanente ou temporário”.

O Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) explica que “o

acidente de trabalho pode causar implicações em relação ao tempo de afastamento do

acidentado, sendo este: afastamento simples no qual o trabalhador recebe atendimento e

retorna imediatamente às suas atividades; afastamento temporário cujo acidentado fica

afastado do trabalho por um período até que esteja habilitado para retomar suas

atividades; incapacidade permanente quando o trabalhador fica incapacitado de exercer

a atividade profissional que exercia na época do acidente; ou óbito do acidentado que

falece em função do acidente”. (BRASIL, 2002, apud COSME, p. 25).

Figura 1 – Classificação dos acidentes de trabalho quanto ao afastamento

Fonte: Costella (1999).

10

Também são considerados como acidentes do trabalho: o acidente ocorrido no

trajeto entre a residência e o local de trabalho do segurado; a doença profissional, assim

entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a

determinada atividade, e a doença do trabalho, adquirida ou desencadeada em função de

condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente.

Nestes dois últimos casos, a doença deve constar da relação de que trata o Anexo II do

Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n° 3.048, de 6/5/1999. Em

caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação constante do

Anexo II resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se

relaciona diretamente, a Previdência Social deve equipará-la a acidente do trabalho

(AEAT, 2013).

Tecnicamente, acidente do trabalho são todas as circunstâncias imprevistas ao

desencadeamento dos serviços em uma obra que podem resultar ou não em

consequências imediatas, como danos graves e até fatais, sendo apenas necessário um

nexo de casualidade e lesividade para que desperte a sua ocorrência. Dentre o

delineamento desses eventos, têm-se a necessidade da implementação de políticas de

prevenção, com a proposta de proporcionar aos trabalhadores vulneráveis a esses

acidentes ou incidentes, adequadas condições de trabalho, além de um ambiente que não

apresente fatores geradores de riscos à saúde e segurança destes. Já os incidentes são

ocorrências com características e potencial para causar algum dano, mas que não

chegam a causá-lo.

Com foco nessa abordagem, a proposição de profissionais de segurança cada vez

mais atuantes e responsáveis pela gestão e controle das obras, contribuindo com a

formulação de planos de formação e qualificação dos trabalhadores detentores da mão

de obra braçal dos canteiros, são algumas das maneiras a serem definidas com o

interesse num maior controle destas ocorrências, de forma que elas possam ser

previsíveis, resguardando tanto os profissionais de lesões, quanto as empresas com

perdas de tempo útil ou danos materiais.

De acordo com o MPS (2016), dentre os procedimentos do processo de registro,

o acidente do trabalho é tecnicamente definido segundo os seguintes termos:

acidente típico – decorrente da característica da atividade profissional

desempenhada pelo acidentado;

acidente de trajeto – ocorrido no trajeto entre a residência e o local do trabalho

do segurado;

11

acidente devido à doença do trabalho – ocasionado por qualquer tipo de doença

profissional peculiar a determinado ramo de atividade constante na tabela da

Previdência Social.

Em função da gravidade do acidente e dependendo do tempo que o trabalhador

necessitará para afastamento das suas funções, o empregador preocupado para que a

produtividade dos serviços não seja afetada, deve dispor de um substituto, resultando

assim em um custo extra para a empresa. Logo, quando o trabalhador for segurado pelo

INSS e o afastamento é inferior a 15 dias, o auxílio acidente do trabalho ou auxílio-

doença a ser concedido ao acidentado, deverá ser de responsabilidade do empregador.

Caso o afastamento superar os 15 dias, este pagamento dos referidos auxílios ficarão à

cargo do Instituto Nacional do Seguro Social.

Os problemas com segurança do trabalho das atividades do setor da construção

civil ainda representam maioria dentre outras classificações de atividades econômicas,

devido justamente ao alto grau de risco das atividades inerentes à construção.

Entretanto, percebe-se com o passar dos anos que as leis trabalhistas, além das leis

relacionadas à segurança do trabalho, vêm sofrendo processos de evolução e assim se

tornando cada vez mais rigorosas. Um dos resultados desta evolução já é percebido

através da diminuição dos índices de acidentes de trabalho ao longo dos anos, tendo em

vista que o setor da construção civil já ocupou a liderança no quadro de acidentes do

trabalho, não ocupando mais este posto. Assim, apesar do quadro econômico atual se

caracterizar como favorável mais que passa por momentos de instabilidade, têm-se que

o número de acidentes do trabalho e doenças profissionais ainda são preocupantes.

2.3 Notificação de acidentes do trabalho e doenças profissionais

2.3.1 Comunicação de acidente de trabalho (CAT)

Fica a cargo da empresa com a ocorrência do acidente, a obrigação de preencher

e emitir o formulário de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e cadastrar a

devida comunicação. A emissão da CAT, além de se destinar como um documento de

entrada num processo de garantia de assistência acidentária ao empregado junto ao

INSS ou até mesmo de uma aposentadoria por invalidez, esta se apresenta como uma

excelente fonte para fins de controle estatísticos junto aos órgãos do governo.

12

No Brasil, a CAT é um instrumento formal de registro dos acidentes do trabalho

e seus equivalentes, pois de acordo com o artigo 22 da referida Lei 8.213/91, todo

acidente do trabalho ou doença profissional deverá ser comunicado pela empresa ao

INSS até o 1º dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à

autoridade competente, sob pena de multa em caso de omissão. Os dados referentes ao

acidente deverão ser transmitidos através da CAT que deverá ser emitida havendo ou

não o afastamento do empregado de suas funções.

Esse artigo ainda determina que quando a empresa não formalizar a

comunicação do acidente, o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical

competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública poderão formalizar

o evento ao órgão competente. Também estabelece que a CAT deve ser emitida em 4

vias, a serem enviadas respectivamente, para: o INSS, o segurado ou dependente, o

sindicato dos trabalhadores e para a empresa. Entretanto, até o primeiro semestre de

2016, os dados disponíveis no INSS estavam desatualizados, tendo em vista que só foi

possível coletar os dados referentes ao ano de 2014, pois eram os mais recentes. Nem

todas as CATs são enviadas para os demais locais, isto ocorre porque o interesse

primordial do acidentado e da empresa é de que o benefício seja concedido o mais

rápido possível, o que exige o envio da CAT para o INSS. O envio para as demais

instituições tem uma conotação informativa e preventiva.

Deve-se ressaltar que, ultimamente, tendo em vista um maior uso dos sistemas

informatizados, como também, pelo fato da acessibilidade destes documentos junto aos

órgãos e instituições públicas se apresentarem com grande disponibilidade via endereço

eletrônico destas representações, temos que, a maioria das notificações de CAT estão

sendo efetivadas através da internet, por meio do serviço online de Registro da CAT.

Isso visa uma maior comodidade e segurança para o usuário do serviço, pois o fator da

rasura dos dados pode ser evitado através deste método. Caso não for possível o

Registro da CAT de forma online, é possível emitir o formulário da CAT em branco

para, em ultimo caso, ser preenchido de forma manual. Visando dessa maneira,

resguardar a empresa a ser notificada com alguma aplicação de multa por

descumprimento do prazo estimado.

A CAT é preenchida pelas empresas no intuito de que os acidentados recebam os

benefícios concedidos pela Previdência Social, os quais são detalhados na Tabela 1.

Caso o acidentado venha a falecer, os seus dependentes terão direito a uma pensão por

morte. No caso de incapacidade permanente total, o acidentado será aposentado por

13

invalidez, mas se for parcial e ele voltar a trabalhar em outra função e receberá o auxílio

acidente. Se houver incapacidade temporária total ou parcial, o acidentado receberá o

auxílio doença acidentário até receber alta (Costella, 1999).

Tabela 1 – Benefícios do seguro de acidentes do trabalho

Fonte: Costella (1999).

Ainda de acordo com Costella (1999), para obtenção do benefício, deve-se

seguir o seguinte encaminhamento. Após preencher a CAT seguindo as recomendações

de preenchimento sem gerar dúvidas de interpretação ou rasuras (Figura 2), logo o

trabalhador seguido por testemunhas, deve-se dirigir a um serviço de saúde, onde um

médico preencherá o laudo de exame médico (Figura 3). Caso o afastamento prescrito

pelo médico for inferior a 15 dias, a alta do acidentado ficará a cargo da empresa e do

sistema de saúde por ela designado no PCMSO (Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional). Se o acidente promover um afastamento superior a 15 dias, o

acidentado deverá dirigir-se ao INSS para promover a caracterização do acidente do

trabalho. Pois, dentre as prestações-benefício apresentadas na Tabela 1, ainda existem as

prestações-serviço, que no campo acidentário, correspondem à habilitação e reabilitação

profissional. Esta tem como objetivo proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial

ou totalmente para o trabalho, a adaptação ou readaptação social e profissional.

14

Figura 2 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE I (EMITENTE)

Fonte: Ministério da Previdência Social (2016).

Figura 3 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE I (EMITENTE)/Continuação

Fonte: Ministério da Previdência Social (2016).

15

Figura 4 – Formulário de comunicação de acidente do trabalho – PARTE II (ATESTADO MÉDICO)

Fonte: Ministério da Previdência Social (2016).

Através da passagem pela perícia médica, o trabalhador poderá receber o aval

médico de liberação da alta, que pode ser imediata ou programada, senão passa a

receber um dos benefícios concedidos pelo INSS (Tabela 1). Durante a manutenção do

benefício, a não ser em caso de pensão por morte e aposentadoria por invalidez, será

cadastrada uma nova perícia médica, com um intervalo definido pelo INSS, no intuito

de reavaliar o estado e as condições de saúde do acidentado.

Hoje, em virtude das inovações tecnológicas e de um aprimoramento e

informatização do sistema de registros, o percurso do acidentado e o fluxo de papéis

dentre os vários níveis do sistema foram cada vez mais encurtados, reduzindo assim

uma complexa e trincada teia burocrática tecida ao longo dos anos pela rotina

previdenciária. O avanço dos sistemas informacionais através dos procedimentos

simples de registros desde o momento da comunicação do acidente até o processamento

final do benefício, acabou facilitando cada vez mais a vida do trabalhador acidentado

em função da agilidade dos processos.

Baseado nas considerações anteriores, é de consenso entre os profissionais de

Segurança do Trabalho que a CAT pode apresentar um conteúdo adequado em termos

de sua utilização para a prevenção de acidentes, tendo em vista o fato de ser um

16

documento padronizado de grande abrangência, se constituindo assim numa importante

fonte de dados sobre os acidentes do trabalho e doenças profissionais.

O sistema de coleta e arrecadação das informações pela Previdência Social ainda

deixa um pouco a desejar, chegando a ser pouco eficiente, tendo em vista a demora no

processamento desses dados estatísticos. Uma exemplificação que ilustra esse problema

é que enquanto o Brasil demora vários meses para fechar os números de um ano, outros

países da América Latina apresentam mensalmente suas estatísticas de doenças,

acidentes e mortes, divididos por setores de atividades. Nos países desenvolvidos, estas

informações também estão disponíveis em prazos muito curtos. Pois, entende-se que

para se fazer prevenção, um dos elementos vitais é a existência de boa informação, sem

estatísticas confiáveis, não existe boa informação e consequentemente não se têm planos

de controle que visem uma minimização da propagação desses eventos.

Assim, é importante destacar que, se os números baseados na emissão de CATs

são prejudicados pela estrutura de controle existente no país, possivelmente algumas das

informações podem ser omitidas ou extrapoladas, corrompendo os resultados. É

necessário lembrar que este documento é o melhor referencial para avaliar o

desempenho do setor a qualquer esfera do governo, seja a nível municipal, estadual ou

federal. Pois, através da análise da CAT, têm-se um interessante parâmetro de coleta de

dados que possibilita a organização de informações básicas sobre os acidentes ou

doenças profissionais.

2.4 Investigação de acidentes do trabalho

Qualquer ferramenta de investigação de acidentes têm como pontos

fundamentais a coleta e organização dos fatos. É de fundamental importância dentro de

um sistema de segurança do trabalho, a comunicação e investigação dos acidentes,

devendo ser feita logo após a ocorrência, de maneira a agilizar o processo de efeito

retroativo e incluir os incidentes, com o objetivo de dar um caráter proativo à

investigação.

A investigação de acidentes do trabalho no Brasil encontra-se ainda num

patamar que considera o acidente como um fenômeno decorrente de falhas técnicas e ou

humanas. Essa concepção, indesejavelmente ainda vem prevalecendo em um bom

número de empresas brasileiras. Embora com a criação da Norma Regulamentadora n°

5 (NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de acidentes, 1978) que estabelece como

17

objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, tornando

compatível o trabalho com a preservação da vida e saúde do trabalhador, cujas

atribuições faz menção a identificação dos riscos do processo de trabalho, para

elaboração de planos de atividades que possibilitem a ação preventiva na solução de

problemas. Ainda percebem-se investigações extremamente superficiais, fundamentadas

no fenômeno monocausal do acidente, nas quais deveriam ser determinadas a causa

apurada do acidente para fins de controle e registro.

“Estudos evidenciam que dentre grandes empresas de São Paulo, cerca de 70%

dos acidentes foram atribuídos à negligência, ao descuido, à imprudência ou à exposição

desnecessária ao perigo, ou seja, recaindo assim na responsabilização do trabalhador

[...]. Para contrapor esta visão, deve-se utilizar uma ferramenta de investigação de

acidentes que estabeleça uma abordagem sistêmica e multicausal dos acidentes e que

não seja dirigido à busca de culpados pelo acidente. Por isso, devido à complexidade

das situações de trabalho, um método de investigação de acidentes deve responder a

dois objetivos principais: instrumentalizar a coleta de dados, para a pesquisa dos

elementos característicos do acidente e permitir a identificação dos fatores de risco

comuns a diferentes situações de trabalho, visando a sua eliminação”. (BINDER, 1997,

apud COSTELLA, 1999, p. 21).

As situações eminentes dos acidentes podem simplesmente ser evitadas através

da identificação simples de fatores causais, por meio de inspeções de rotina, seguidas da

adoção de medidas técnicas apropriadas, compondo assim meios menos complexos e

mais indicados de prevenção para as situações de perigo de fácil constatação. Contudo,

dependendo da capacidade de identificação destes fatores causais é que se vai definir a

melhor opção dentre técnicas ou ferramentas de controle que visem à eliminação destes

riscos evidentes ou ocorrências de acidentes, evitando assim que novos episódios

venham acontecer.

Segundo programas de segurança do trabalho, a investigação de acidentes são

estudos e pesquisas que levam a apurar as causas específicas dos eventos ocorridos, pois

são de responsabilidade da CIPA e dos inspetores de segurança o desenvolvimento

destas atividades. A investigação deve ser embasada no intuito de buscar, identificar e

registrar informações dos acidentes que servirão como pistas na obtenção de suas causas

e efeitos, tendo que os depoimentos, a cronologia dos eventos, a extensão do seu

potencial, são registros que tentam possibilitar a reconstrução do cenário que gerou o

acidente.

18

A investigação dos acidentes, para que atinja seu objetivo, deve-se ter como

referência fontes de informações ou subsídios que contemplem os métodos e programas

de segurança do trabalho, assim, o processamento dessas investigações baseiam-se em

um ciclo completo. “Começando pela descrição da lesão pelo serviço médico,

informações preliminares por parte do acidentado, definição das ações de segurança a

serem tomadas e acompanhamento do processo até a solução”. (COCHARERO, 2007,

p. 41). Todos os acidentes investigados devem ser divulgados e o aprendizado

absorvido deve ser compartilhado com os envolvidos no processo e com todas as áreas

da organização. Pois, os trabalhadores quando bem informados a respeito da ocorrência

dos acidentes, tendem a ter um maior envolvimento, além de colaborarem mais

efetivamente com as atividades preventivas.

Figura 5 – Exemplo de um fluxograma de análise de acidente do trabalho

Fonte: Cocharero (2007).

19

2.4.1 Diagrama de ishikawa

Também conhecido como Diagrama de Espinha de Peixe ou Diagrama de

Causas e Efeitos. É uma ferramenta prática de controle da qualidade, tendo que através

da análise de todos os possíveis fatores que contribuíram para a geração de um

problema específico, têm-se o levantamento das causas para que se chegue na raiz deste

processo.

O diagrama de causa e efeito é uma ferramenta que investiga quais as causas

prováveis de um problema, levando em consideração de que toda causa está associada a

um dado efeito, logo, as hipóteses das causas devem ser testadas e analisadas, com o

intuito de comprovar a veracidade do caso e assim poder associar o grau de influência

sobre a situação em estudo. A associação com a espinha de peixe traz uma ilustração de

que podemos considerar as causas dos problemas levantados como as espinhas e que a

análise destes, contribuirão para a descoberta de seus efeitos. São várias as categorias de

causas principais de acidente de trabalho, assim representados por: materiais; métodos;

meio de medição; meio ambiente; máquinas e mão de obra. Desta forma, a divisão do

problema dentre uma contribuição relativa de seus componentes é um dos objetivos

desta ferramenta, pois baseia-se em constatações experimentais de que grande parcela

dos problemas são ocasionadas por uma pequena parcela de causas.

Os passos para construção do diagrama segue um detalhamento de fatos e

eventos a serem desenvolvidos. Seguindo uma cronologia, deve-se:

1º) Identificar o problema que se queira investigar. Desta forma, é possível

construir a estrutura de um “peixe”, destacando sua cabeça e o eixo central da sua

coluna;

2º) Identificar todas as categorias de causas principais sob investigação. Para

cada categoria representada deve-se ligar uma linha ao eixo central. A proposta é

montar um fluxograma fazendo uma dinâmica dentre as possíveis causas e efeitos para

cada causa primária do problema;

3º) Descrever as possíveis causas secundárias respectivas a cada causa primária,

sendo representadas e rotuladas horizontalmente dentre a estrutura do esqueleto do

fluxograma. Pois, essa continuidade de adição de sub-ramos pode ser detalhada até que

se chegue a um resultado satisfatório.

20

Figura 6 – Exemplo de construção de um diagrama espinha de peixe

Fonte: Diagrama de espinha de peixe, ou Ishikawa (2015).

2.5 Causas dos acidentes na construção civil

Muitas das causas dos acidentes do trabalho estão associadas diretamente ou

indiretamente com os problemas de ordem social, aos atos inseguros, além das

condições de insegurança dos ambientes laborais, justificando assim, algumas destas

ocorrências de trabalho no âmbito da construção civil. Os problemas como imprudência,

teimosia, são traços de personalidade que levam a falhas individuais, sendo estas falhas

a razão ou os estímulos que resultam nestes atos, ou seja, são estas atitudes referentes ao

desempenho dos trabalhadores no campo de trabalho e as deficiências estruturais destes

ambientes, alguns dos efeitos causais que acabam colaborando com a geração dos

acidentes.

As falhas humanas decorrentes das ações inapropriadas dos trabalhadores podem

ser caracterizadas também como atividades comportamentais decorrentes da execução

das atividades sem o cumprimento e o resguardo das normas de segurança. Estes atos

podem ocorrer em virtude de fatores como, por exemplo, podemos mencionar:

desconhecimento do risco da função, falhas nos treinamentos, desconhecimento da

forma de evitar os riscos, além da inaptidão entre o trabalhador e a função. Isso se deve

em muitos casos, devido à falta de qualificação técnica dos trabalhadores, o que implica

no desconhecimento dos riscos inerentes à sua profissão o qual é colaborada pela

desinformação sobre a forma de prevenção dos tais riscos.

21

Em relação aos fatores ambientais, em detrimento das condições inseguras das

áreas de trabalho, têm-se riscos com o acontecimento de um acidente do trabalho,

podendo comprometer a integridade física do trabalhador vulnerável a esses

acontecimentos. Fatores como: ruído excessivo, ausência de equipamentos de proteção

coletiva, iluminação inadequada, ausência de sinalização de segurança, são algumas das

situações que favorecem tornar o ambiente de trabalho inseguro.

Contudo, nota-se a importância de ações envolvendo os agentes de segurança e

os trabalhadores, para que o estabelecimento das medidas eficazes de prevenção estejam

cada vez mais presentes nas obras. Dessa forma, a partir do momento em que os

operários da construção começam a ter o entendimento e o conhecimento dos riscos e

das condições inseguras do ambiente de trabalho a que estão expostos, através da

participação em treinamentos e cursos de aperfeiçoamento, é possível obter uma

comprovação da diminuição dos riscos e gravidade dos acidentes.

2.5.1 Natureza do acidente

Tendo em vista os documentos de coleta de dados, como exemplo a CAT, não

disponibilizarem um campo de registro com padronização de preenchimento para

descrição do acidente. Dessa forma, fica a cargo do pesquisador, criar categorias para

classificar os acidentes.

De acordo com o estudo realizado por Azevedo (2001), cujo enfoque é “Análise

dos acidentes do trabalho na construção civil: subsetor edificações em São Luís (MA)

no período de 1997 – 1999”, ele faz menção que em relação a São Luís no período do

estudo, a predominância das ocorrências foram relativas à queda com diferença de nível.

Assim, além dos registros de queda com diferença de nível que representam 25% das

notificações, foi evidenciado pelo autor em menor quantidade: impacto de objeto que

cai, queda em mesmo nível, atrito por manusear objeto em vibração e prensagem, tendo

que essas cinco categorias juntas representam cerca de 61% dos acidentes ocorridos.

2.5.2 Agente da lesão

Da mesma maneira como explanado na seção anterior referente à natureza dos

acidentes, poucos registros apresentam o agente da lesão causadores dos acidentes do

trabalho no setor da construção. Pois, de acordo com Costella (1999), os principais

22

agentes de acidentes do trabalho mais comuns são as peças metálicas ou vergalhões,

andaime ou escada, ferramentas manuais, pregos, além de peças de madeiras, soltas ou

fôrmas.

2.6 Prevenção de acidentes

Ainda segundo a Lei 8.213/1991, em detrimento a prevenção de acidentes do

trabalho, a mesma expõe que a empresa é a organização responsável pelo suprimento e

uso das medidas individuais e coletivas de proteção, esclarecendo assim as informações

necessárias sobre os riscos das operações a serem desempenhadas, do produto a

manusear e pela saúde e segurança do trabalhador. Logo, o não cumprimento das

normas regulamentadoras representa uma infração que remete a pena, passível a ser

punida ou notificada.

Tendo em vista muitas empresas descumprirem certas determinações legais,

alegando o alto custo para implementação das medidas preventivas e embasado na

importância de investimentos em prevenção, devemos ter noção do conhecimento de

que a prevenção não é apenas a melhor opção, como também entender que o seu

investimento é menos oneroso do que os custos que se deve arcar com a cura de um

acidentado, dessa maneira, os fatores de segurança e os lucros das empresas devem

caminhar juntos, lado a lado, tendo em vista que a defesa da implantação da segurança

do trabalho nas diferentes instâncias de um organização, sempre será a melhor opção

para evitar os incidentes e acidentes nos ambientes laborais.

Toda e qualquer atividade de prevenção de acidentes deverá ser planejada

através de um programa de segurança e medicina do trabalho. Para que esse programa

seja eficiente, algumas diretrizes devem ser observadas (Fundacentro/SP, 1980 apud

COSTELLA, 1999, p. 39):

disponibilidade e vigilância para que se utilizem os equipamentos de proteção

individuais e coletivos e que toda máquina, equipamento ou ferramenta tenha

sua proteção adequada;

implantação de um sistema efetivo de inspeção e manutenção de máquinas,

equipamentos e ferramentas de trabalho;

estabelecimento de um sistema eficaz para localizar e eliminar os riscos

ocupacionais;

23

estabelecimento de um programa para manter o interesse e colaboração de todos

os níveis da empresa;

definição da programação de todas as tarefas e serviços, a fim de reduzir ao

mínimo os danos humanos, materiais e econômicos;

investigação dos acidentes, determinando as causas e tomando as medidas

necessárias, para evitar sua ocorrência e repetição.

2.6.1 Teoria sobre a aplicabilidade de métodos de prevenção

As práticas de ferramentas de correção e prevenção de acidentes possuem o

objetivo de buscar a melhoria do ambiente de trabalho por meio de uma série de

medidas profiláticas com intuito de abordar aspectos relacionados à melhoria da

organização geral do espaço físico e das mudanças comportamentais das pessoas

envolvidas nos processos de trabalho.

Os riscos estão presentes cotidianamente dentre os ambientes de trabalho, desta

forma, deve-se planejar boas práticas de gestão de saúde e segurança no trabalho no

âmbito das empresas, reduzindo e até mesmo prevenindo estas doenças e acidentes

eminentes às atividades, evitando assim custos e prejuízos não planejados.

Diante mão, deve-se fundamentar uma análise preliminar das condições de

trabalho. Esta visão favorece a percepção de um panorama de como estão sendo

desenvolvidas as etapas de trabalho, permitindo assim a elaboração de estratégias que

vão subsidiar as ações que expõem o trabalhador às fontes de perigo. A partir dessa

abordagem e conclusão destas análises, deve-se resguardar o trabalhador quanto a um

maior tempo de exposição com a fonte de perigo, além da proximidade e frequência

dessa exposição.

As etapas dos processos que abrangem essas análises compreendem um

diagnóstico das características dos trabalhadores envolvidos, da empresa e dos

ambientes de trabalho. Deve-se verificar também a situação da empresa em relação ao

cumprimento da legislação e de acordos ou contratos firmados. Como também, mapear

os processos de produção e as atividades relacionadas, para um conhecimento destas

etapas de trabalho. Diante dessas observações, é de fundamental importância prever

como está sendo implementada e mantida a política de saúde e segurança da empresa, se

há ou não garantia de tratamentos de desvios, incidentes, acidentes, doenças, como

também se são previstas ações emergenciais, corretivas e mitigadoras.

24

Pois, as experiências demonstram que um bom controle operacional, baseado na

definição de metas e objetivos, além de todos os artifícios de planejamento da produção,

são elementos válidos que proporcionam um ambiente de trabalho construtivo,

melhorando a comunicação e as relações de trabalho, permitindo um aumento de

confiança e autoestima dos trabalhadores, que acabam influenciando em melhores

resultados nas produtividades dos serviços.

Assim, a proposta das ferramentas e modelos de prevenção da saúde e segurança

do trabalho, busca uma metodologia de trabalho direcionada para a antecipação e

prevenção de acidentes e doenças profissionais aliada a um processo de intervenção

prático e simples, abrangendo as empresas de diferentes portes e áreas de atuação,

criando e respaldando as principais ações técnicas que viabilizem a eficiência, eficácia e

a efetividade dos processos de trabalho, eliminando assim os riscos e os acidentes

indesejáveis. Ainda em consonância a esses processos, alguns modelos prevencionistas

desenvolvem ações de correção seguindo a prática consolidada de atividades ligadas ao

meio ambiente laboral e à saúde dos trabalhadores, conforme a execução conjunta dos

programas que seguem especificações referentes às normas regulamentadoras e que

visam o apoio à prevenção de acidentes do trabalho, nos quais, podemos destacar: a

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA; o Programa de Controle Médico e

Saúde Ocupacional – PCMSO; o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais –

PPRA, além do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção – PCMAT.

2.6.2 Normas regulamentadoras de segurança e medicina do trabalho

A NR-4 determina a criação do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia

de Segurança e em Medicina do Trabalho) nas empresas com a proposta de promover a

saúde, proteger e preservar a integridade dos trabalhadores no local de trabalho. Através

de um programa único o SESMT para que atinja seus objetivos, é necessário que a

política implantada na empresa seja bem definida, tendo a garantia e o apoio da

administração, como também tendo a conscientização de cada elemento da empresa em

todos os níveis hierárquicos. O dimensionamento do SESMT está vinculado ao número

de funcionários da empresa e ao tipo de atividade que a mesma exerce, conforme os

Quadros I e II da NR-4. Tendo em vista a classificação das atividades conforme seu

grau de risco e a quantidade de empregados da organização, temos que estes são

25

critérios que as empresas devem utilizar para dimensionar o quadro de profissionais da

área de saúde e segurança do trabalho que devem ser registrados na empresa.

A grande predominância de atuação de empresas de pequeno porte na área da

construção civil possibilita que os acidentes do trabalho não tenham efetivo controle,

constituindo assim como um obstáculo ou uma barreira adicional tendo em vista que por

esse motivo as empresas estão liberadas a não contratarem profissionais de segurança,

ficando assim à critério.

Tabela 2 – Dimensionamento do SESMT

Fonte: Quadro II da Norma Regulamentadora N°4 (1987).

A NR-5 propõe a criação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

(CIPA), que tem como finalidade a formação de um grupo com representantes do

empregador e dos empregados para a proposta de discussão das condições do meio

ambiente de trabalho e dos acidentes. Recomenda-se que as reuniões entre os membros

da comissão ocorram com certa frequência, seguindo dias e horários pré-estabelecidos,

afim de que se discutam propostas de trabalho que visem à promoção da saúde do

trabalhador, de modo a tornar compatível permanentemente o ambiente de trabalho com

a preservação da vida. A constituição da CIPA também deverá ser formada com base no

número de funcionários da empresa e segundo seu grau de risco.

26

Tabela 3 – Parte do quadro referente ao dimensionamento da CIPA

Fonte: Quadro I da Norma Regulamentadora N°5 (1978).

A NR-6 estabelece a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) aos empregados, quando os mesmos forem

necessários de acordo com o mapa de risco estabelecido no Programa de Prevenção dos

Riscos Ambientais (PPRA) ou no Programa de Condições e Meio Ambiente do

Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), com a finalidade de resguardar a saúde

e a integridade física dos trabalhadores.

A NR-7 determina que todas as empresas viabilizem a criação do Programa de

Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) com o intuito de promover e

preservar a saúde dos trabalhadores. O coordenador do PCMSO deverá ser um médico

do trabalho do SESMET. Caso a empresa esteja desobrigada de manter médico do

trabalho, deverá o empregador indicar um médico do trabalho, empregado ou não da

empresa, para coordenar o PCMSO. Este programa deverá não somente fornecer os

atestados e exames médicos (admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de mudança

de função e demissional). Como também, é de responsabilidade do programa procurar

definir um caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à

saúde relacionados ao trabalho.

A NR-9 concede a criação de um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

(PPRA), para as empresas, devendo zelar pela sua eficácia. O conteúdo deste programa

consiste na antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da

ocorrência de riscos ambientais aos quais os trabalhadores estão expostos. O PPRA

deverá ser composto por: um estabelecimento de metas definido por um planejamento

anual; cronogramas com definições de prioridades; estratégia e método de ação; forma

de registro; manutenção e divulgação dos dados; além de formas de avaliação com

periodicidade. O mapa de riscos representa uma das formas de registros mais utilizadas.

27

Ele é representado por círculos com diferentes cores, onde cada cor está associada a um

tipo de risco. O tamanho do círculo será proporcional ao risco. Ou seja, preza-se pela

proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.

A NR-18 (Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção)

é uma norma especialmente voltada para o setor de construção e estabelece diretrizes de

ordem administrativa, de planejamento e organização que objetivam a implementação

de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas

condições e no meio ambiente de trabalho na indústria da construção. A NR-18 abrange

os mais diversos aspectos de um canteiro de obras, como as áreas de vivência, a

movimentação e transporte de pessoas e materiais, as escavações, fundações e desmonte

de rochas e a proteção contra quedas de altura. Dentre as exigências da norma, pode-se

destacar o PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria

da Construção), para empresas com mais de 20 trabalhadores, o qual deverá incluir,

segundo o item 18.3.4 da norma:

layout do canteiro de obra;

cronograma de implantação;

a especificação técnica das proteções coletivas e individuais a serem utilizadas;

o projeto das proteções coletivas em conformidade com as etapas de execução

da obra;

programa de treinamento com a temática de prevenção de acidentes e doenças

do trabalho;

memorial sobre condições e meio ambiente de trabalho nas atividades e

operações, com a devida análise dos riscos adequada às fases da obra, e suas

respectivas medidas preventivas.

Portanto, em termos de prevenção de acidentes, as normas regulamentadores

estabelecem uma série de exigências que, se fossem realmente cumpridas, poderiam

diminuir o número e a gravidade dos acidentes do trabalho e doenças profissionais no

âmbito dos canteiros.

2.7 Custos dos acidentes de trabalho no Brasil

Mensurar os custos acerca dos acidentes de trabalho é uma tarefa complexa,

tendo em vista a quantidade de variáveis que estão envolvidas diretamente e

indiretamente no processo, pois devem-se considerar de maneira mais representativa, os

28

custos como as horas trabalhadas desperdiçadas, as perdas com equipamentos

danificados, além das despesas médicas e hospitalares. Além dos danos materiais, não

podemos deixar de destacar a dor e o sofrimento do acidentado e de toda a sua família,

pois a morte, invalidez ou a incapacidade física das vítimas, não podem ser tratadas

como objetos a serem quantificados, mensurados ou traduzidos financeiramente.

Segundo a OIT (2006), em estudo realizado, pôde-se perceber o quanto é

significativo estabelecer uma boa relação entre os operários para que estes se sintam

mais confortáveis e seguros em seus ambientes de trabalho. Isso pode colaborar com

uma diminuição dos índices de acidentes e como consequência, obtêm-se uma

diminuição com os custos dessa natureza. Seguindo essa linha de raciocínio, os custos

destes eventos possuem relação direta com a produtividade da empresa, gerando assim

prejuízos econômicos significativos.

Com base nos custos diretos, Araújo (2010, apud COSME, 2013, p. 36), associa

estas despesas como sendo “o custo mensal do seguro de acidente do trabalho. Sendo

que para cada empresa, esta contribuição é calculada sobre a folha de contribuição da

mesma, variando de 1% até 3% dependendo da gravidade dos acidentes. Quanto aos

custos indiretos, o autor afirma não tratar-se da perda imediata de dinheiro, ou seja, está

relacionado com o ambiente do acidentado e as consequências do acidente”.

Segundo o Serviço Social da Indústria (2015), com base no estudo “Diagnóstico

e Recomendações para a Prevenção dos Acidentes de Trabalho”, a partir da distribuição

dos dias perdidos de trabalho devido aos acidentes entre 2000 e 2007, foram registrados

944.613 dias perdidos de trabalho na indústria da construção, correspondendo cerca de

8,5% do total de quase 12 milhões (custos). Durante esse período, esse número sofreu

oscilação, elevando-se até 2002, quando então começou a declinar até 2005, ano em que

volta a se elevar alcançando os patamares do ano 2000, com 941.348 dias perdidos de

trabalho por acidentes de trabalho na indústria da construção em 2007. Logo, conforme

demonstrado na Tabela 4, nesse ano, a participação nos dias perdidos por acidente de

trabalho em geral se elevou para 9,3%.

29

Tabela 4 – Número de dias perdidos de trabalho por acidentes de trabalho entre 2000-2007, entre

trabalhadores segurados, que receberam benefícios para afastamentos temporários.

Fonte: SESI (2015).

Ainda de acordo com a Tabela 4, é possível ter uma dimensão da gravidade dos

casos que receberam benefícios da Previdência. Foi possível notar que a mediana dos

dias de trabalho perdidos na indústria da construção foi sempre maior que para os

demais ramos de atividade, em todos os anos. Ou seja, os acidentes de trabalho na

indústria da construção tendem a ser mais graves, com maior duração do afastamento.

Isso implica em mais despesas com os acidentes de trabalho de parte dos trabalhadores,

das empresas, e também dos serviços de saúde.

De acordo com Santana et al. (2007, apud SESI, 2015, p. 28), em um estudo

sobre as despesas com acidentes de trabalho de pacientes atendidos em serviços de

emergência de dois hospitais públicos de Salvador, em 2005, estimou-se que a maior

parte das despesas (custos diretos – consultas, reabilitação, curativos, aquisição de

medicamentos, transporte para serviços de saúde, etc.) foi de responsabilidade da

família (70,5%), seguido pelo SUS (17%) e empresas, cuja maior participação foi entre

os acidentes leves (17%) e entre os graves (4,5%), situação na qual a participação do

acidentado e sua família é ainda maior (77%). Na época, o custo mediano estimado de

casos graves foi de R$496,00 e de R$87,90. Devido à heterogeneidade dos tratamentos

e, em especial, da sua duração, esses dados são limitados e restringem-se a despesas

estimadas do SUS, desde que não foram examinados casos atendidos em hospitais

privados.

30

Com base nesse enfoque dos custos dos acidentes de trabalho, segue-se uma

reflexão com base nas relevantes estatísticas de acidentes, principalmente na indústria

da construção civil. Pois, já que os custos são tão altos para arcar esses acidentes, surge

uma indagação do por que de não se ter um investimento mais efetivo na proposta de

definir métodos e ferramentas de prevenção que visem à diminuição destes números e

como consequência as empresas aumentem os seus lucros e obtenham maior

produtividade. Logo, percebe-se que os investimentos na área da segurança e saúde do

trabalhador são primordiais e devem ser definidos como prioridade dentro de uma obra,

para que as empresas garantam seus lucros, aliando dessa forma o útil ao agradável,

assim, dessa maneira todos ganham, as empresas crescem com a demanda da

produtividade e os trabalhadores garantem a sua manutenção num mercado em que hoje

a mão de obra possui grande rotatividade.

3. ESTATÍTICAS NACIONAIS DE ACIDENTES DO TRABALHO

E DOENÇAS PROFISSIONAIS

“Segundo Carmo (1996), as estatísticas referentes a acidentes do trabalho e

doenças profissionais são fundamentais para o planejamento e execução de ações

preventivas, tanto em níveis mais restritos (por exemplo, um canteiro de obras ou uma

empresa de construção) como em níveis gerais de abrangência estadual ou nacional.

Para reforçar essa idéia, Aquino (1996), explica que o fato de contabilizar o número de

acidentes do trabalho e distribuí-los segundo as características das ocorrências e das

vítimas, constitui uma base indispensável para a indicação, aplicação e controle de

medidas prevencionistas”. (COSTELLA, 1999, p. 44).

Por conseguinte, serão apresentados dados estatísticos de levantamentos sobre

acidentes do trabalho e doenças profissionais realizados no Brasil, seguindo a seguinte

ordem: perfil da empresa, perfil do trabalhador, distribuição temporal dos acidentes,

causa do acidente e lesão nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente.

31

3.1 Fontes oficiais de acidentes do trabalho e doenças profissionais e sistemática

de concessão de benefícios acidentários

A CAT deve ser cadastrada e preenchida por meio de formulário impresso ou

sob a forma de preenchimento online via endereço eletrônico do site da Previdência

Social. A Previdência Social processa as CATs e computa os números de ocorrências de

acidentes do trabalho e doenças profissionais registradas. Desde de 1968 esses números

de registros são arquivados, mas que a partir do período de 1980 até os dias atuais, esses

dados são apresentados divididos por atividades econômicas, com os respectivos

coeficientes em relação ao número de trabalhadores de cada categoria das respectivas

atividades.

Conforme esclarecido no AEPS (2014), foi definido o Nexo Técnico

Epidemiológico Previdenciário – NTEP, pelo qual é efetivada uma análise da

incapacidade laborativa pela medicina pericial do INSS. Logo, o NTEP surge então,

como mais um instrumento auxiliar na análise e conclusão acerca da incapacidade para

a realização do trabalho.

Desta forma: acidentes com CAT registrada – correspondem ao número de

acidentes do trabalho em que a CAT foi registrada no INSS; e, acidentes sem CAT

registrada – correspondem aos números de acidentes de trabalho em que a CAT não foi

registrada no INSS. Neste caso, acidente é identificado por meio de um dos possíveis

nexos: Nexo Técnico Prossional/ Trabalho, Nexo Técnico Epidemiológico

Previdenciário – NTEP ou nexo por Doença Equiparada a Acidente de Trabalho.

As seguintes determinações quanto à metodologia adotada dentre três etapas

sequenciais e hierarquizadas para a identificação e caracterização da natureza da

incapacidade, se acidentária ou não acidentária (previdenciária), permite que a

ocorrência de qualquer um dos três nexos implicará na concessão de um benefício de

natureza acidentária. Se não houver nenhum dos nexos, o benefício será classificado

como previdenciário.

Por fim, com a adoção dessa sistemática não é mais exigida à vinculação de uma

CAT a um benefício para a caracterização deste como de natureza acidentária. Embora a

entrega da CAT continue sendo uma obrigação legal, o fim da exigência para a

concessão de benefícios acidentários implicou alterações nas estatísticas apresentadas.

Logo, passou-se a ter um conjunto de benefícios acidentários, causados por acidentes do

trabalho, para os quais não há CAT associada. Assim, o conjunto dos acidentes

32

registrados representam, então, a soma dos acidentes informados por meio da CAT com

o conjunto de acidentes ou doenças do trabalho que deram origem a benefícios

acidentários para os quais não há uma CAT informada.

Tabela 5 – Número de segurados, acidentes e doenças do trabalho no Brasil de 2010 a 2014

Ano Empregados Acidentes Acidentes Acidentes Doenças Acidentes sem Óbitos

Segurados Registrados Típicos de Trajeto do Trabalho CAT registrada

2010 326.505* 709.474 417.295 95.321 17.177 179.681 757

2011 323.378* 720.529 425.153 100.897 16.839 176.740 733

2012 312.765* 713.984 426.284 103.040 16.898 167.762 598

2013 317.677* 725.664 434.339 112.183 17.182 161.960 488

2014 294.449* 704.136 427.939 115.551 15.571 145.075 400

* Dados dos empregados segurados de natureza acidentária

Fonte: AEPS (2014).

A Tabela 5 apresenta o número de acidentes do trabalho, doenças profissionais e

óbitos registrados pela Previdência Social através da CAT entre 2010 a 2014. Neste

período, observou-se uma diminuição considerável dos empregados segurados, mas em

contrapartida, percebeu-se um aumento em mais de 1,03 vezes no número de acidentes

típicos registrados em 2010, uma diminuição para cerca de 0,91 do número doenças do

trabalho, além de um aumento bastante significativo em mais de 1,21 vezes no número

de acidentes de trajeto. Com a diminuição do número de acidentes registrados, também

foi possível observar uma diminuição dos registros de óbitos.

Tabela 6 – Número de segurados, acidentes e doenças do trabalho no RN de 2010 a 2014

Ano Empregados Acidentes Acidentes Acidentes Doenças Acidentes sem Óbitos

Segurados Registrados Típicos de Trajeto do Trabalho CAT registrada

2010 2.747* 7.198 3.989 1.027 185 1.997 3

2011 3.287* 7.480 3.662 1.077 263 2.478 5

2012 3.598* 7.042 3.163 1.073 166 2.640 2

2013 3.554* 6.889 3.240 1.145 229 2.275 3

2014 3.495* 7.074 3.194 1.331 324 2.225 2

* Dados dos empregados segurados de natureza acidentária

Fonte: AEPS (2014).

33

Em relação aos dados levantados do Rio Grande do Norte, a Tabela 6 apresenta

números de acidentes do trabalho, doenças profissionais e óbitos registrados pela

Previdência Social e a porcentagem de acidentes e óbitos ocorridos no RN,

considerando período de 2010 à 2014. Dentre o período da pesquisa, observa-se através

de uma análise mais abrangente uma diminuição dos acidentes típicos associado a um

aumento dos acidentes de trajeto, com um expressivo aumento de doenças do trabalho e

acidentes sem registros de comunicação, tendo assim, praticamente uma manutenção

dos registros de óbitos.

3.2 Dados oficiais de acidentes do trabalho segundo as classes de atividades

econômicas

Percebe-se dentre os levantamentos quantitativos realizados nos últimos anos, a

representação dos números de acidentes e doenças do trabalho pela Previdência Social,

através da apresentação mais detalhada destes acidentes, assim divididas por atividades

econômicas e por estados, desse modo, é possível promover o desenvolvimento de

programas de prevenção mais focalizados em detrimento da segurança e confiabilidade

dos dados disponíveis.

Tabela 7 – Distribuição da frequência e do coeficiente proporcional de acidentes do trabalho, segundo as

classes de atividades econômicas em 2014

Classe de Atividade Econômica Frequência Porcentagem

Serviços 349.859 52%

Indústria de Transformação 211.668 31%

Construção 59.734 9%

Agropecuária 21.081 3%

Serviços de Utilidade Pública (Água, Gás e Eletricidade) 16584 2%

Outros Serviços 9897 1%

Indústria Extrativa 6.559 1%

TOTAL 675.382 100%

Fonte: AEPS (2014).

De acordo com a Tabela 7, para o respectivo ano do estudo temos a

representação das atividades que apresentam os maiores riscos no país, baseados nos

benefícios quantificados pela Previdência Social relativos aos acidentes de trabalho.

34

Esta quantificação confirma a importância da manutenção de um sistema informacional

que colaborem para o planejamento de ações de prevenção governamentais de maneira

mais eficiente. Logo, segundo a essa mesma tabela, podemos interpretar que a Indústria

da Construção Civil é a terceira maior geradora de acidentes em termos de incidência.

Tabela 8 – Distribuição da frequência de acidentes e do coeficiente proporcional de acidentes do trabalho

no Brasil, segundo as atividades econômicas da indústria da construção civil em 2014

Classe de Atividade Econômica Frequência Porcentagem

Indústria da Construção Civil

Incorporação de empreendimentos imobiliários 5.075 8%

Construção de Edifícios 20.670 35%

Construção de Rodovias e Ferrovias 5.416 9%

Construção de obras-de-arte especiais 1.935 3%

Obras de urbanização 883 1%

Obras para geração e distribuição de energia elétrica e telec. 5.948 10%

Construção de redes de transporte por dutos, exceto para água e esgoto 135 0,23%

Obras portuárias, marítimas e fluviais 238 0,40%

Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas 2.943 5%

Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente 3.294 6%

Demolição e preparação de canteiros de obras 89 0,15%

Perfuração e Sondagens 148 0,25%

Obras de terraplenagem 1.459 2%

Serviços de preparação do terreno não especificados anteriormente 88 0,15%

Instalações Elétricas 2.532 4%

Instalações hidraúlicas, de sistemas de refrigeração e ventilação 1.053 2%

Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente 1.034 2%

Obras de acabamento 2.207 4%

Obras de fundações 825 1%

Serviços especializados para construção não especificados 3.035 5%

TOTAL 59.734 100%

CNAE 41 - Construção de Edifícios 25.745 43%

CNAE 42 - Obras de Infra-Estrutura 21.519 36%

CNAE 43 - Serviços Especializados para Construção 12470 21%

Fonte: AEPS (2014).

35

Embora a Construção Civil se apresente como um setor em destaque para o

desenvolvimento econômico do país, através dos impactos positivos na produção, sendo

responsável por investimentos que contribuem para o equilíbrio da balança comercial e

na geração de empregos, temos que este setor econômico possui uma participação em

torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo em vista o cenário econômico atual

em que o país vivencia. Assim, a representação da Construção em 9% dos registros de

acidentes do trabalho do país, implica num quadro de grande geração de acidentes,

ficando assim explícito a gama de recursos desperdiçados para manutenção destes

benefícios de natureza acidentária, logo uma representativa parcela desse PIB deve ser

destinada para a preservação desses recursos.

A Tabela 8 está subdividida por classe de atividades econômicas respectivas do

setor da indústria da construção civil, tendo que esta classificação nos permite assimilar

os setores que apresentam as maiores incidências de acidentes no país. De acordo com a

coleta dos dados, temos que as atividades relacionadas aos serviços gerais de

Construções de Edifícios lideram o ranking, representando assim cerca de 43% de todos

os acidentes associados a esta atividade econômica, logo abaixo se destacam as Obras

de Infra-estrutura detentoras de 36% dos acidentes registrados e por fim os Serviços

Especializados para Construção totalizando cerca de 21%. Estes dados visam reafirmar

a importância destas quantificações para que as entidades fiscalizadoras planejem

medidas preventivas e de controle, definindo assim planos corretivos que busquem a

amenização destes acidentes nas atividades da Indústria da Construção Civil.

3.2.1 Taxas de gravidade e frequência de acidentes

As taxas de gravidade e frequência de acidentes são utilizadas como fontes

necessárias dentre as avaliações e comparações de acidentes do trabalho e doenças

profissionais. Esta ocorrência pode acontecer devido às dificuldades com os

demonstrativos relativos aos números mensais e anuais, tendo em vista a demora no

processamento e divulgação à posteriori destes números. O objetivo seria baseado

através de um aceleramento no registro e compilação dos dados a fim de que todos os

segmentos das organizações públicas e privadas tenham o conhecimento concreto e

preciso destes números de trabalhadores acidentados.

Segundo ABNT (1975, apud COSTELLA, 1999, p. 57), “a taxa de frequência

corresponde ao número de acidentes por milhão de horas-homem de exposição ao risco,

36

em determinado período. A taxa de gravidade é o tempo computado, que corresponde

aos dias perdidos por incapacidade temporária total ou dias debitados por morte ou

incapacidade permanente total ou parcial, por milhão de horas-homem de exposição ao

risco”.

Dessa forma, posteriormente serão detalhados o levantamento dos resultados dos

acidentes do trabalho e doenças profissionais realizados no Brasil, seguindo as seguintes

classificações:

Perfil da empresa;

Perfil do trabalhador;

Distribuição temporal dos acidentes;

Causa do acidente;

Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente.

Esta classificação será detalhada no próximo capítulo, através da divisão da CAT para a

coleta dos dados desta monografia, de maneira que nos capítulos posteriores também

serão apresentados e detalhados os resultados.

3.3 Perfil da empresa

Esta categoria foi subdividida em atividade da empresa e porte da empresa.

3.3.1 Atividade da empresa

Neste trabalho a atividade da empresa está compreendida dentre os setores da

indústria da construção em geral, sendo abordado mais a frente, no qual serão

apresentadas estatísticas relacionadas ao setor da construção no Brasil.

Com base no número de acidentes do trabalho registrados no Brasil, como

também no estado do RN, percebe-se uma diminuição dos números nos últimos anos,

mas com a representação de uma pequena variação, conforme demonstrado nas Tabelas

5 e 6 na seção 3.1. Em Levantamento de acidentes do trabalho realizado na cidade de

Ribeirão Preto, estado de São Paulo, de acordo com Silveira et al. (2005), em estudo

realizado no Hospital Universitário, dentre os prontuários disponibilizados foram

registrados 6.122 acidentes do trabalho, destes, 150 (2,45%) dos casos foram referentes

à Indústria da Construção Civil. No Mato Grosso do Sul, segundo Revista CIPA (2015),

foram registrados 1.700 acidentes do trabalho na construção civil, que resultaram em 11

37

mortes. Já de acordo com o MTE/RAIS, MPS/AEPS, em 2010 no estado do Rio Grande

do Norte, a Indústria da Construção Civil com o número de 40.977 trabalhadores

celetistas, foi responsável por 507 acidentes do trabalho, não apresentando felizmente,

nenhum caso de óbito.

3.3.2 Porte da empresa

Em relatório de pesquisa intitulada como: “A Construção na Visão de quem

Produz”, apresentado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2011),

em que abrangeu uma pesquisa de opinião junto aos operários de canteiros de obra,

trabalhadores administrativos e executivos da construção civil dentre 24 estados das

cinco grandes regiões brasileiras, sendo que a pesquisa buscou representar os três

estratos investigados em empresas de portes diferentes. Logo, dentre as classificações

das empresas por quantidade de empregados, observou-se que menos de um terço das

entrevistas foram feitas em microempresas (até 19 empregados); pouco menos da

metade, em pequenas empresas (de 20 a 99 contratados); cerca de duas a cada dez

empresas visitadas eram de médio porte, e em torno de 5% eram de grande porte,

conforme está representado na Tabela 9.

Tabela 9 – Porte das empresas segundo os três estratos investigados

Fonte: CBIC (2011).

No estudo “As características da mão de obra na construção civil e a evolução

do emprego no setor”, o Sinduscon do estado de Minas Gerais, contabilizou que 97,39%

dos estabelecimentos da construção civil de todo o país em dezembro de 2010 eram

classificáveis como micro ou pequenos (mais de 157,4 mil estabelecimentos) e apenas

2,61% podiam ser considerados com médios ou grandes (cerca de 4,2 mil empresas)

(CBIC, 2011).

38

3.4 Perfil do trabalhador

O perfil do trabalhador foi dividido em: profissão, idade, sexo, estado civil,

tempo de profissão e tempo de empresa.

3.4.1 Profissão

Em relação à profissão, são detalhadas as ocupações mais frequentes relativas ao

setor da construção em geral, sejam elas propriamente envolvidas nas atividades da

produção e nos canteiros de obras, entre elas destacam-se: servente, pedreiro,

carpinteiro, amador, encanador, pintor e mestre de obras.

Os dados estatísticos que definem a distribuição destas categorias profissionais

nos canteiros de obras podem ser exemplificados através de fontes de dados de estudos

de Mazon e Savi (2013) denominado Análise de Acidentes de Trabalho na Construção

Civil de Criciúma/SC no período de 2012 e 2013, além de um trabalho apresentado por

Alves (2012), no qual apresenta uma pesquisa exploratória sobre o perfil dos acidentes

do trabalho mais comuns encontrados na Indústria da construção civil da cidade de

Mossoró/RN no período de 2009 à 2011.

De acordo com Mazon e Savi (2013), segundo suas análises e estudos, as

profissões que representaram maiores registros de acidentes foram o Carpinteiro, com

16 acidentados, correspondendo a cerca de 43%, seguido de Pedreiro com o número de

8 acidentes, representando aproximadamente 22%, além de Pintor com 13,51%,

Guincheiro e Armador, cada qual com 2,7%.

Gráfico 1 – Distribuição das categorias profissionais da construção civil com maiores registros de

acidentes em Criciúma-SC no período de 2012 à 2013

Fonte: Mazon e Savi (2013).

39

Segundo Alves (2012), com base em sua pesquisa e estudo explorado, os grupos

de ocupações com maiores ocorrências de acidentes foram o Pedreiro (11,29%),

Carpinteiro (19,35%) e os Serventes (37,10%). Ainda, o autor defende que grande

parcela dos acidentes é resultado de um baixo treinamento, tendo em vista que a baixa

qualificação dos trabalhadores leva a maioria a ser contratada como Servente de obra, já

que a atividade os permite desempenhar todo e qualquer tipo de trabalho, apresentando

assim os maiores números de notificações.

Gráfico 2 – Distribuição dos profissionais acidentados na construção civil registrados em Mossoró no

período entre 2009 à 2011

Fonte: Alves (2012).

3.4.2 Idade

A partir do Estudo Setorial da Construção – 2012, desenvolvido pelo DIEESE

(2013), observamos que os indicadores sociais que fazem menção as características dos

trabalhadores do setor da Construção em 2012 quanto à ocupação e emprego, nos

permitem analisar a evolução do mercado desta atividade econômica, tendo em vista os

dados referentes tanto da contratação quanto do desligamento dos trabalhadores da

construção por faixa etária no período entre 2011 e 2012.

40

Tabela 10 – Faixa etária dos trabalhadores brasileiros admitidos, desligados e saldo no setor da

construção no período referente 2011 – 2012

Fonte: DIEESE (2013).

Através da Tabela 10, percebe-se que os jovens estão mais sujeitos a uma maior

rotatividade no setor, tendo em vista que os trabalhadores de até 24 anos estão mais

vulneráveis a essa movimentação. Isso é comprovado pelo ritmo de desligamentos nessa

faixa etária que vem aumentando ao longo dos anos, enquanto que os demais patamares

de idades apresentam um comportamento estável.

Em pesquisa encomendada pelo Sindicato da Construção Civil do Rio Grande do

Norte ao órgão Consult em 2013, dentre o universo de mil entrevistas colhidas nos

canteiros de obra, o operário do setor da Construção Civil está cada vez mais jovem. A

pesquisa revelou que dentre os entrevistados, cerca de 36% possuem idades entre 21 e

30 anos, outros 30% estão na faixa etária entre 31 e 40 anos. Esta apresentação é

consequência do aumento dos postos de trabalho no setor, pois houve uma elevação de

23,5% no emprego, tendo em vista que o número de trabalhadores empregados saltou de

34 mil em 2008 para 42 mil, cinco anos depois.

3.4.3 Sexo

A predominância dos homens como mão de obra principal é histórica no setor da

construção, sendo justificada pela exigência de que algumas atividades de trabalho que

compõem o processo produtivo necessitam de um esforço físico considerável. Contudo,

têm-se percebido uma maior inserção e participação feminina nos canteiros de obra,

tendo um aumento de forma gradativa ao longo dos anos. Isso se deve, a iniciativas de

projetos sociais que visam à capacitação profissional e como consequência à inclusão

dessas mulheres nos campos de trabalho. Logo, percebe-se uma representação mais

efetiva da mão de obra feminina nas diferentes áreas de atuação do setor da construção,

41

ocupando um maior espaço dentre os setores administrativos das empresas ou

construções, como também desempenhando os serviços que exigem a limpeza dos

espaços, principalmente na fase de acabamento das obras.

Segundo dados veiculados pelo Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados (CAGED - RAIS), no período de 2006 a 2011, notou-se um

crescimento significativo da mão de obra feminina no Brasil no setor construtivo que

passou de 51.587 para 92.298 mulheres, especificamente no setor de edificações. Logo,

o Ministério do Trabalho e Emprego através do Sistema Público de Emprego e Renda,

em dezembro de 2011, contabilizou 218.509 mulheres e 2.531.664 homens empregados

na construção civil em todo país.

Desse modo, a grande maioria das pesquisas de acidentes do trabalho nas

atividades de construção no Brasil, comprovam que o perfil do trabalhador vitimado na

grande totalidade dos registros são do sexo masculino. Entre os acidentados, as pessoas

do sexo masculino correspondem 75,3% dos acidentes típicos e as do sexo feminino

24,7%, nos de trajeto a proporção é de 63,9% para homens e 36,1% para as mulheres,

além de 61% e 39% nas doenças de trabalho (BRASIL, 2012a).

3.4.4 Estado civil

Ainda de acordo com (CBIC, 2011), através de pesquisa de opinião junto aos

extratos de trabalhadores da construção civil, podemos evidenciar que a maioria dos

entrevistados consultados sejam os operários ou trabalhadores administrativos das cinco

maiores regiões do país, são casados, sendo os solteiros a segunda maior representação.

Tabela 11 – Estado civil dos trabalhadores entrevistados segundo região

Fonte: CBIC (2011).

42

Tabela 12 – Estado civil dos administrativos entrevistados segundo região

Fonte: CBIC (2011).

Considerando o estudo realizado por Cosme (2013), que trata da Perspectiva dos

trabalhadores da construção civil da cidade de Assu-RN quanto aos acidentes de

trabalho, foi apresentado que dentre os entrevistados, 69% dos trabalhadores atuantes na

construção civil na cidade da pesquisa, são casados representando assim maioria em

relação ao quantitativo de solteiros, isso induz que os operários casados possuem

maiores responsabilidades e assim se dedicam a desempenhar suas atividades com

maiores cuidados, prevenindo assim as condições adversas de trabalho.

3.4.5 Tempo de profissão e de empresa

A Construção Civil ainda é uma das indústrias dentre as classes de atividades

econômicas do país que não garantem aos operários uma certa estabilidade do trabalho

profissional. Diante de um mercado que se encontra cada vez mais competitivo, as

condições propostas de trabalho se encontram cada vez mais escassas, principalmente

em função do momento de crise econômica na qual o país vivencia nos últimos anos,

gerando grandes déficits de desemprego no setor, devido a uma considerável diminuição

das obras públicas, além da grande gama de empreendimentos e construções que foram

forçados a serem paralisados tendo em vista a falta de recursos financeiros que

garantissem o prosseguimento dos serviços.

Logo, a continuidade da atuação do operário no mercado vai depender de vários

fatores, como podemos destacar: a qualificação do trabalhador e experiência

43

profissional; o aquecimento, a oferta e demanda do mercado de trabalho e investimentos

financeiros, sejam de ordem pública ou privada. Assim, em função de um cenário crítico

e desanimador, com poucas disponibilidades de vagas de trabalho, restam aos

profissionais apenas se qualificarem e buscarem novas habilidades de trabalho para que

quando as oportunidades surgirem, eles possam estar respaldados, preparados para que

o seu conhecimento adquirido com o tempo, seja o seu diferencial dentre os inúmeros

concorrentes não absorvidos pelo mercado.

Assim, a alta rotatividade e a fragilidade dos vínculos empregatícios são

artifícios que os empregados devem evitar a fim de favorecer a sua manutenção no

mercado. Segundo essa visão, dentre o perfil da mão de obra na construção civil, em

2001, os estudos e pesquisas apontavam que cerca de 56% dos trabalhadores

empregados não chegam a completar um ano de permanência no emprego, justificável

pelo fato de que o ciclo de produção do setor é fracionado em diferentes etapas, com

ocupações específicas para cada uma (Revista Pini, 2003).

Ainda segundo Cosme (2013), em seu estudo foi possível estimar o tempo de

profissão dos operários dos canteiros de obras atuantes na cidade de Assu-RN, de modo

a identificar o grau de acomodação e de adaptação dos mesmos às atividade da

construção civil. Dessa maneira, verificou-se que 46% dos entrevistados têm entre 1 e 3

anos de tempo de serviço. Quanto ao tempo de serviço na empresa atual, notou-se que

43% estão a menos de 1 ano, enquanto que outros 40% estão de 1 a 2 anos trabalhando

no mesmo local, retratando assim a evidência do fator da rotatividade dos trabalhadores

em obras características da construção civil.

3.5 Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente

Os estudos pertinentes à categoria de lesões nas partes do corpo atingidas e

gravidade do acidente foram divididas em: partes do corpo atingidas, lesões e morte.

3.5.1 Partes do corpo atingidas

Diante de uma análise pertinente a natureza dos acidentes, a construção através

das suas atividades vem se destacando como uma das indústrias com maior

probabilidade de tornarem seus trabalhadores mais vulneráveis a se acidentarem,

adoecer ou mesmo morrer.

44

De acordo com o estudo “Diagnóstico e Recomendações para a Prevenção dos

Acidentes de Trabalho” realizado em 2015 pelo Departamento Nacional do Serviço

Social da Indústria (SESI), no âmbito dos canteiros do Brasil, as principais evidências

dos casos de acidentes dentre as indústrias, apresentaram que em ambos os sexos, as

partes do corpo mais comumente afetadas foram as extremidades superiores, membros

inferiores, e cabeça, seguindo essa ordem. Verificou-se que os membros superiores e

inferiores compõem cerca de 70% dos casos.

De acordo com Santos (2014) em seu estudo com abordagem nos acidentes do

trabalho na construção civil ocorridos no estado do Paraná no período de 2013, foram

encontradas 37 partes do corpo atingidas, sendo agrupadas por regiões. Os resultados

apresentaram que os membros inferiores são os mais atingidos, devido às ocorrências

nos pés, pois dentre as observações por partes individuais, eles representam o segundo

maior número de acidentes. Através da relação das taxas das partes do corpo atingidas e

as subdivisões corporais, a autora criou um mapa de ocorrência de acidentes por região

corporal, no qual serve para ilustrar e identificar mais facilmente as áreas de maior

risco.

Figura 7 – Ocorrência dos acidentes do trabalho na construção civil no Paraná por região

corporal, ocorridos em 2013

Fonte: Santos (2014).

3.5.2 Lesões

Ainda segundo SESI (2015), foram comprovados registros de fraturas como

sendo as lesões mais comuns, seguidas pelas contusões superficiais e luxações, dentre

outras. Amputações representaram cerca de 1% dos casos.

45

No estudo de Alves (2012), dentre as principais lesões verificadas, têm-se que as

fraturas se encontram no topo da classificação, seguidas das luxações, amputações e

outros ferimentos que muitas vezes podem resultar na morte do trabalhador. Em

sequência são identificados os casos de lesões por esforço repetitivo (LER) e Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort), que incluem dores nas costas.

3.5.3 Morte

Dentre a tendência dos acidentes do trabalho fatais e não fatais, “a indústria da

construção ainda é reconhecida em todo o mundo como uma das atividades produtivas

de maior perigo para os trabalhadores [...]. Estimativas da Organização Internacional do

Trabalho (OIT), para o ano de 2012, mostram que são em média 2,3 milhões de mortes

a cada ano por agravos relacionados ao trabalho, a maior parte enfermidades (2 milhões)

e 0,3 milhão de acidentes de trabalho (Takala et al., 2014) o que corresponde a 358 mil

casos fatais. Destes, estima-se que a cada ano ocorram pelo menos 60.000 acidentes

fatais na Indústria da Construção em todo o mundo, com um óbito a cada 10 minutos,

sendo que um de cada seis acidentes do trabalho fatais, ocorre na IC”. (ILO, 2014, apud

SESI, 2015, p. 13).

Ainda segundo o estudo do SESI (2015), as quedas de altura são a 2ª causa de

mortes fatais na IC dentre as causas imediatas de morte por acidente do trabalho em

todos os ramos.

4. Método da Pesquisa

4.1 Classificação da pesquisa

O presente trabalho baseia-se numa pesquisa descritiva, em que foi possível

interpretar algumas referências bibliográficas já existentes no âmbito da Construção

Civil que contribuíram para a formulação e desenvolvimento do estudo.

A técnica utilizada foi à seleção e análise de relatórios e outros documentos que

permitiu a descrição quantitativa e objetiva do conteúdo abordado. Em vez da aplicação

de entrevistas e questionários, a principal característica desta técnica padronizada de

coleta de dados com diferentes variáveis, foi o levantamento e o desencadeamento de

46

dados através de documentos oficiais tidos como referência. Os resultados obtidos

foram explanados e demonstrados através de dados qualitativos e quantitativos, ou seja,

tabelas e gráficos estatísticos, para que se obtenha uma melhor análise e compreensão

da abordagem do estudo.

Para a realização do trabalho, foram utilizados dados oriundos das CATs

registradas no banco de dados do INSS – agência Natal. Em decorrência da

desatualização do sistema de informações, escolheu-se os dados referentes ao ano de

2014, tendo em vista ser o último ano em que foram registrados as informações e dessa

maneira, estavam disponibilizados para consulta.

4.2 Caracterização da população

O estudo propõe-se a pesquisar os trabalhadores acidentados que atuam nas

atividades que abrangem a Indústria da Construção Civil no estado do Rio Grande do

Norte, que estão subdivididas conforme os códigos de número 41, 42 e 43 do CNAE,

segundo o INSS, com a finalidade de detectar quais as causas e as circunstâncias dos

acidentes ocorridos. De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas

foram incluídas no estudo as seguintes categorias relativas à Indústria da construção:

Construção de Edifícios; Obras de Infra-Estrutura e Serviços Especializados para

Construção, nesta ordem respectivamente:

41.10-7 Incorporação de Empreendimentos Imobiliários

41.20-4 Construção de Edifícios

42.11-1 Construção de Rodovias e Ferrovias

42.12-0 Construção de obras-de-arte especiais

42.13-8 Obras de urbanização – ruas, praças e calçadas

42.21-9 Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para

telecomunicações

42.22-7 Construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e

construções correlatas

42.92-8 Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas

42.99-5 Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente

43.12-6 Perfurações e sondagens

43.13-4 Obras de terraplenagem

43.19-3 Serviços de preparação do terreno não especificadas anteriormente

47

43.21-5 Instalações elétricas

43.22-3 Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração

43.29-1 Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente

43.30-4 Obras de acabamento

43.91-6 Obras de fundações

43.99-1 Serviços especializados para construção não especificados

anteriormente

Com relação aos motivos de acidentes do trabalho, foram relacionados ao estudo os

acidentes típicos, de trajeto e as doenças de trabalho.

4.3 Local de coleta de dados

Este estudo foi desenvolvido através de levantamento realizado com base nos

relatórios fornecidos pelo posto de serviço do INSS, na agência Natal/RN. Os

documentos contêm as informações extraídas das CATs, no período de 2014, referente a

todos os setores das atividades da Construção Civil do estado do RN.

Ressalta-se a dificuldade para obtenção das informações desejadas, tendo em

vista o controle e sigilo para o fornecimento do conteúdo dessas informações para coleta

dos dados. Logo, diante das informações disponibilizadas foi possível apresentar uma

explanação geral, embora superficial, do panorama geral dos registros dos acidentes de

trabalho desencadeados nos canteiros de obra da Construção no estado.

4.4 Determinação da população

Definiu-se que seriam estudados os dados dos acidentes mais recentes do estado

do Rio Grande do Norte, tendo como base todos os trabalhadores que englobam as

atividades da indústria da construção civil.

Através da definição da população a ser estudada e de acordo com as informações

disponibilizadas de acordo com o banco de dados do INSS referentes aos trabalhadores

acidentados nas atividades já apresentadas, foram selecionadas as variáveis de maior

representatividade para a abordagem do estudo. De acordo com o disponibilizado,

foram emitidas um total de 162 comunicações de acidentes do trabalho no referido ano

de 2014.

48

4.5 Seleção das variáveis

As varáveis selecionadas para o presente estudo, foram destacadas como sendo

consideradas as mais relevantes em relação às atividades de prevenção de acidentes.

Conforme já exploradas, as variáveis foram dividias em cinco categorias, baseadas

segundo divisão existente na própria CAT:

Perfil da empresa

Perfil do trabalhador

Causa do acidente

Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente.

Pois, o perfil da empresa corresponde aos dados contidos na CAT, no quadro

referente à empresa, quanto ao perfil do trabalhador às informações referem-se ao

quadro associado ao acidentado. Em relação às causas do acidente, os dados fazem

menção a parte referente à ocorrência do acidente. A categoria lesões nas partes do

corpo atingidas e gravidade do acidente abrangem as informações fornecidas pela parte

reservada ao Laudo Médico.

4.5.1 Perfil da empresa

Diante dos documentos apresentados para o desenvolvimento do estudo não foi

possível dimensionar as características referentes ao porte e a atividade das empresas

envolvidas nos comunicados. Embora essa desinformação, estima-se que a maioria das

empresas associadas entre essas notificações possuam de pequeno a médio porte,

responsáveis por atuarem dentre os diferentes setores da indústria da construção civil.

4.5.2 Perfil do trabalhador

Com relação ao estudo relativo ao perfil do trabalhador, as variáveis incluídas

referem-se à seção da CAT relativa ao acidentado, dentre as quais destacam-se:

profissão, idade, sexo e estado civil. Logo, temos que os dados pessoais do acidentado

não possuem relevância para o nosso estudo em termos de prevenção de acidentes.

Profissão: é uma variável importante para o estudo, com o objetivo de identificar

qual a função mais susceptível ao acidente de trabalho na indústria da construção

civil, tendo em vista que a ocorrência do tipo de acidente encontra-se muitas

49

vezes, diretamente relacionado com o tipo de atividade desenvolvida. Foram

identificadas 14 profissões principais, além de outros tipos de funções de menor

relevância que foram denominadas como “outros”.

Tabela 13 – Classificação das profissões

Profissões Principais

Servente

Pedreiro

Carpinteiro

Armador

Operador

Eletricista

Mestre de Obras

Montador

Motorista

Técnico de Obras/Segurança do Trabalho

Coletor de lixo

Encanador

Pintor

Soldador

Outros

Fonte: Autoria Própria (2016).

Idade: outro indicativo a ser analisado no trabalho, com o objetivo de observar a

predominância de idade dos trabalhadores mais acidentados, cujo intuito visa

considerar se os trabalhadores mais experientes ou os mais novos, ou seja, quais

estão mais propensos a se acidentarem com maior frequência. Serão

estabelecidas as faixas de idade em anos dos acidentados em relação aos

trabalhadores em geral.

Tabela 14 – Grupo de idade

Faixa etária (anos)

Menos de 50 anos

50-59

60-69

Fonte: Autoria Própria (2016).

50

Sexo: a finalidade de verificar dentre a população estudada, o quanto representa

a predominância de mão de obra masculina em relação à feminina.

Estado civil: baseia-se em observar se os trabalhadores mais experientes e

casados se acidentam em maior ou menor quantidade do que os mais novos e

solteiros. Segue-se um agrupamento, de maneira que o estado civil foi

classificado em: solteiro, casado, separado ou divorciado e viúvo.

Tabela 15 – Classificação do estado civil

Estado civil dos acidentados

Solteiro

Casado

Separado

Viúvo

Fonte: Autoria Própria (2016).

4.5.3 Causa do acidente

Esta categoria compreende os dados relativos à causa do acidente, segundo as

respectivas variáveis: natureza do acidente, que trata da descrição do acidente e o agente

da lesão, no qual aborda o objeto causador.

Foram excluídos os campos referentes ao registro policial, por não apresentar

conotação preventiva, além das referências quanto ao local do acidente.

Natureza do acidente: fundamenta a determinação da causa aparente do acidente,

tendo que é definida a partir da descrição detalhada do ocorrido. Desta maneira,

a seguir, com base na Tabela 16, serão detalhadas algumas categorias das

principais causas dos acidentes de maior ocorrência já apresentadas e

classificadas com base em outros estudos e pesquisas.

51

Tabela 16 – Natureza do acidente

Descrição do Acidente

Prensagem ou aprisionamento

Atrito ou abrasão

Esforços excessivos ou inadequados

Atropelamento

Choque elétrico

Queda com diferença de nível

Queda em mesmo nível

Impacto sofrido

Impacto contra

Exposição ao ruído

Contato com substância nociva

Outros

Fonte: Autoria Própria (2016).

Agente da lesão: representa o objeto causador da lesão, pois, a fim de se

determinar a causa aparente do acidente, tem-se que é possível os agentes da

lesão estarem associados à natureza do acidente.

Tabela 17 – Classificação dos agentes da lesão

Fonte: Costella (1999).

52

4.5.4 Lesões nas partes do corpo atingidas e gravidade do acidente

Com base nas definições das avaliações médicas relatadas nas CATs, temos uma

descrição das lesões nas partes do corpo atingidas e o seu diagnóstico provável. No

intuito de facilitar a interpretação dos laudos médicos, temos que os dados pesquisados

abordaram uma convenção desses diagnósticos segundo uma lista com as lesões e

doenças profissionais mais frequentes (Tabela 18), a fim de que se obtenham um

entendimento mais claro e seguro, além de buscar uma padronização dos tipos de

doenças e lesões, como também foram evidenciadas as partes do corpo mais atingidas e

assim divididas em cinco grandes grupos (Tabela 19).

Tabela 18 – Lesões atribuídas às partes do corpo atingidas

Natureza da Lesão

Amputação

Contusão

Corte, Laceração

Distenção, Torção

Escoriação

Fratura

Hernia de qualquer natureza

Inflamação de Articulação

Luxação

Lesões Multiplas

Perda ou diminuição do sentido

Queimadura

Outros não listados

Fonte: Autoria Própria (2016).

Tabela 19 – Partes do corpo mais atingidas

Grupos

Nº de

variáveis Variáveis selecionadas

Cabeça 2 crânio e face

Pescoço 1 pescoço

Tronco 3 tórax, abdome, dorso e pelve

Membros superiores 4 ombro, braço, antebraço e mão

Membros inferiores 4 quadril, coxa, perna e pé

Fonte: Autoria Própria (2016).

53

5. Apresentação e descrição dos resultados da pesquisa

Os resultados da pesquisa de acidentes do trabalho e doenças profissionais, na

atividade da Construção Civil, no estado do Rio Grande do Norte referente ao ano de

2014, registrados nos postos de serviços do INSS, por meio da notificação dada pela

Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT), são apresentados e detalhados de

acordo com a descrição do perfil da empresa, perfil do trabalhador, das causas do

acidente e das lesões nas partes do corpo atingidas.

Foram emitidos 162 registros de Comunicação de Acidentes de Trabalho no RN

com base o referido período de estudo. Tendo em vista estas notificações, as estatísticas

apresentam que todas as comunicações foram do tipo “inicial”, sendo que deste total,

158 CATs foram emitas pelo empregador, 3 CATs foram emitidas pelo sindicato e

apenas 1 CAT foi emitida pelo próprio segurado. Com relação à espécie do benefício,

destas notificações, a maioria compreendem Auxílio Doença por AT, totalizando 160

casos. Os outros dois casos estão relacionados a Auxílio Doença Previdenciário e a

Pensão por Morte de AT. O estudo também observou que do total de acidentes, foram

classificados 103 acidentes como típicos, 55 acidentes de trajeto e 4 registros de

doenças profissionais. Pois, dos benefícios concedidos, 54 permanecem ativos, 107 já

foram cessados e apenas 1 foi suspenso.

Os dados reportam obras do setor da Construção, de caráter residencial,

comercial e industrial, públicas e privadas desempenhadas por empresas de pequeno,

médio e grande porte, obedecendo às categorias pré-definidas de acordo com a

Classificação Nacional de Atividades Econômicas.

5.1 Perfil da empresa

5.1.1 Atividade da empresa e porte da empresa

Em relação as atividades pertencentes a Indústria da Construção, das 162 CATs

registradas no INSS referentes ao ano de 2014, todas, englobam empresas que atuam no

setor com CNPJ ativo, cujo ramo abrange a atividade Industrial. Com relação ao

percentual de acidentes ocorridos em cada subsetor da construção, não foi possível

detalhar essa informação, tendo em vista que os dados disponibilizados apresentaram

54

uma análise quantitativa dos registros de acidentes, englobando assim todos os

segmentos e setores da indústria.

5.2 Perfil do trabalhador

5.2.1 Profissão

De acordo com a ocupação dos acidentados, a distribuição dos acidentes para o

referido setor, dentre o período de estudo, são apresentados na Tabela 20. Foram

identificadas aproximadamente 47 atividades profissionais com registros de acidentes,

muitas delas pouco representativas em seu volume de casos, assim como funções pouco

características do setor. Analisando-se as 14 ocupações com maior incidência de

acidentes, observa-se que todas são atividades características da construção civil.

Tabela 20 – Índice de acidentes entre as ocupações com as maiores frequências no setor da construção –

estado do Rio Grande do Norte (Jan-Dez/2014)

Profissões Principais Frequência %

Servente 48 30%

Pedreiro 28 17%

Carpinteiro 12 7%

Armador 10 6%

Operador 9 6%

Eletricista 5 3%

Mestre de Obras 4 2%

Montador 3 2%

Motorista 3 2%

Técnico de Obras/Segurança do Trabalho 2 1%

Coletor de lixo 2 1%

Encanador 2 1%

Pintor 1 1%

Soldador 1 1%

Outros 32 20%

Total 162 100%

Fonte: INSS-RN (2016).

55

A apresentação da Tabela 20 comprova que a maioria dos acidentes estão

concentrados dentre as ocupações típicas do setor. Isso é ainda mais perceptível quando

são analisadas as três profissões com maior número de registros, tendo que estas

também são as principais e as mais comuns atividades do setor da construção civil,

sendo assim representadas pelas atividades de servente, pedreiro e carpinteiro. Logo,

são responsáveis por 54% do total de comunicações (88 acidentes), pois sozinhas

possuem mais da metade do total de acidentes notificados.

Gráfico 3 – Incidência de acidentes entre as ocupações com maior frequência na construção civil

– estado do RN (Jan-Dez/2014)

Fonte: INSS-RN (2016).

Esses indícios remetem ao fato de que grande parte destas 88 ocupações

profissionais podem apresentar baixa qualificação profissional e que possivelmente não

foram submetidos a processos de treinamentos, o que fazem desempenhar suas

atividades de qualquer maneira, se expondo aos riscos, como também podendo

comprometer a integridade física dos seus companheiros de trabalho. Uma conclusão

clara destes dados é representado pela classe dos serventes, no qual, representam uma

das categorias com maior número de trabalhadores dentro do canteiro de obras e que

estão presentes em todas as etapas da obra, dessa maneira, são os mais vitimados.

30%

17%

7% 6% 6% 3% 2% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 1%

20%

Distribuição dos acidentes entre as ocupações do setor da Construção Civil - Estado do RN (Jan-Dez/2014)

Índice de acidentes

56

5.2.2 Idade

A distribuição dos acidentes em função da faixa etária dos acidentados em 2014

é apresentada de acordo com a Gráfico 4. A faixa de maior representação foi a dos

trabalhadores com idades menores de 50 anos que sofreram cerca de 83% dos acidentes.

Em seguida são representados o grupo de trabalhadores com idades entre 50 à 59 anos,

com 13% dos registros de acidentes e por fim, representando 4% dos acidentes, se

identificam os trabalhadores com a faixa etária entre 60 à 69 anos.

Gráfico 4 – Incidência de acidentes de acordo com a idade dos trabalhadores da construção civil – estado

do RN (Jan-Dez/2014)

Fonte: INSS-RN (2016).

5.2.3 Estado civil

Com base no período de registro dos dados, em relação ao estado civil dos

acidentados, temos a representação de que os trabalhadores solteiros correspondem a

maior parcela entre as classes, pois a estatística referente a 54%, pode não apresentar

qualquer tipo de influência dentre as ocorrências. Contudo, esta associação pode

transmitir uma idéia de que mais da metade dos trabalhadores vitimados não possuem

uma grande responsabilidade social, tendo em vista o fato de não serem titulados “pais

de família”.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Menos de 50anos

50-59 60-69

Distribuição dos acidentes segundo idade

Índice de acidentes

57

Tabela 21 – Distribuição dos trabalhadores acidentados da construção civil quanto ao estado eivil no

estado do RN (Jan-Dez/2014)

Estado civil dos acidentados Índice de acidentes %

Solteiro 88 54%

Casado 47 29%

Não classificados 21 13%

Divorciado 3 2%

Separado Judicialmente 1 1%

Ignorado 2 1%

Total 162 100%

Fonte: INSS-RN (2016).

Conforme representado na Tabela 21, diante desta distribuição, comprovou-se

que para uma considerável parcela de acidentados (13%), não foi possível determinar

seu status social, ou seja, se possuem ou não um ambiente familiar e que lhe agregue

valor em seu convívio no pós-turno de trabalho.

5.2.4 Sexo

Em relação ao sexo dos acidentados, cerca de 97% dos acidentes ocorreram com

os trabalhadores do sexo masculino e os outros 3% correspondentes ao sexo feminino.

Não foi possível identificar a área de atuação destas mulheres no respectivo setor da

construção no RN neste período, mas percebe-se uma inserção cadenciada da mulher no

mercado de trabalho deste setor, pois têm-se que as mulheres aos poucos estão

ocupando os setores administrativos das obras.

5.3 Causas do acidente

5.3.1 Natureza do acidente

De acordo com o demonstrado no Gráfico 5, quanto à natureza do acidente,

observamos uma predominância dos acidentes gerados por atropelamentos,

correspondendo a 33% das ocorrências. Outras descrições de acidentes apresentam

níveis de significância, como podemos destacar os esforços excessivos e os impactos

sofridos, cada qual sendo responsável por 10% dos registros, além das quedas com

58

diferença de nível e os impactos contra, no qual, estão associados a 9% destas

ocorrências. Logo, constata-se um domínio dos acidentes dentre estas 5 categorias

mencionadas, tendo em vista que juntas, elas representam 71% dos acidentes

comunicados.

Gráfico 5 - Distribuição das ocorrências quanto à natureza dos acidentes ocorridos na construção civil no

estado do RN (Jan-Dez/2014)

Fonte: INSS-RN (2016).

Diante da maneira como foi disponibilizado os dados estatísticos para o estudo

proposto, não foi possível distribuir a natureza dos acidentes mais comuns dentre as

ocupações profissionais acidentadas, principalmente em relação à categoria dos

serventes, pedreiros e carpinteiros que representam as classes com maiores registros de

acidentes no RN em 2014.

5.3.2 Natureza da lesão e partes do corpo atingidas

Foram identificadas 17 variáveis relacionadas ao processo de lesão, apresentadas

no Gráfico 8. Assim, podemos observar que a grande maioria da incidência dos

acidentes resultam em lesões do tipo fraturas, tendo um percentual correspondente a

51%, o que faz abranger mais da metade da totalidade dos acidentes registrados. Outras

estatísticas representativas relacionam lesões do tipo Corte, além de Contusões e

33%

10%

10%

9%

9%

6%

6%

5%

3%

2%

2%

5%

Atropelamento

Esforços excessivos ou inadequados

Impacto sofrido

Impacto contra

Queda com diferença de nível

Exposição ao ruído

Contato com substância nociva

Atrito ou abrasão

Queda em mesmo nível

Choque elétrico

Prensagem ou aprisionamento

Outros

Agente causador dos acidentes

Índice de Acidentes

59

Lesões. Os outros registros que compreendem as demais lesões ilustradas apresentam

valores de menor significância.

Gráfico 6 – Incidência dos acidentes quanto à natureza da lesão ocorrida com os trabalhadores da

construção civil no estado do RN (Jan-Dez/2014)

Fonte: INSS-RN (2016).

Em função da falta de informações não disponibilizadas no banco de dados do

INSS, não foi possível apresentar os dados referentes aos tipos de acidentes mais

comuns de acordo a profissão, natureza do acidente e agente da lesão. Não sendo

possível, desta forma, apresentar os fatores que contribuíram para a ocorrência dessas

lesões, ou seja, os agentes das lesões.

Quanto às partes do corpo mais atingidas dentre o total dos trabalhadores

acidentados da Construção no RN, foram registrados 27 partes do corpo dentre as quais

foram afetadas por lesões. Com base nas notificações detalhadas na Tabela 22, as

estatísticas apresentam que os dedos das mãos, as pernas, os pés e as mãos, foram as

partes do corpo mais agredidas, representando em sequência decrescente 21, 11, 9 e 8%

do total dos registros.

Conforme já mencionado, em detrimento da disponibilidade dos dados, não foi

possível correlacionar dentre os acidentados e suas respectivas profissões, quais as

51%

12% 9% 9% 4% 3% 3% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1%

Distribuição dos acidentes segundo a natureza da lesão

Índice de Acidentes

60

partes do corpo foram atingidas. Dessa maneira, não temos como estimar os tipos de

lesões e as partes do corpo afetadas das principais ocupações profissionais.

Tabela 22 – Distribuição das partes do corpo mais atingidas dentre os trabalhadores da construção civil

no estado do RN (Jan-Dez/2014)

Partes do corpo atingidas Registros %

Dedos da mão 34 21%

Perna 18 11%

Pé 14 9%

Mão 13 8%

Antebraço 12 7%

Punho 10 6%

Braço 9 6%

Cabeça 8 5%

Ombro 8 5%

Joelho 5 3%

Dorso 5 3%

Partes Múltiplas 5 3%

Abdômem 4 2%

Membros Inferiores – Partes Múltiplas 4 2%

Membros Superiores 3 2%

Tronco - Partes Múltiplas 3 2%

Tórax 2 1%

Olho 1 1%

Boca 1 1%

Pescoço 1 1%

Articulação do tornozelo 1 1%

Aparelho Genitário 1 1%

Total 162 100%

Fonte: INSS-RN (2016).

61

6. CONCLUSÃO

Entende-se que o levantamento da incidência dos acidentes do trabalho e

doenças profissionais na atividade da construção civil no Rio Grande do Norte através

de dados disponibilizados da CAT possibilitou realizar uma explanação da situação

atual do setor da construção no estado quanto à temática da saúde e segurança do

trabalho, desta forma, foram detalhadas e caracterizadas informações de grande

relevância para que as ações relativas à prevenção dos acidentes e doenças ocupacionais

sejam definidas e direcionadas no âmbito da indústria da construção civil, a fim de que

os objetivos sejam traçados e como consequência deste processo, resultados

satisfatórios sejam alcançados.

O estudo delineou um razoável acervo de dados, contudo, os resultados da

pesquisa sugerem que a maioria dos acidentes ocorrem quase que sistematicamente

onde não há prevenção, em razão da ausência de procedimentos preventivos

sistematizados aliado a uma massa de trabalhadores despreparados. Isso é colaborado

pela falta de instrução e treinamento dos trabalhadores, tendo estes operários

dificuldades em acompanhar as inovações tecnológicas de seus ofícios. Deve-se

ressaltar a importância de se efetuar um bom controle de coleta de dados destes

acidentes e doenças do trabalho, de maneira que o conhecimento relativo ao

entendimento da natureza e gravidade dos acidentes tenham um aspecto mais amplo,

cujo intuito é buscar uma noção mais efetiva e que não gere dúvidas sobre a causa

aparente da ocorrência destes eventos ou até mesmo os motivos e artifícios que estão

por trás destes incidentes.

Em função da disponibilização das informações que venham contribuir com os

métodos de prevenção, conforme destacadas nas seções anteriores, observou-se a

incidência de acidentes relativos a atropelamentos, além de impactos sofridos por

objetos que colocaram em risco a saúde das principais ocupações profissionais

indistintamente. Como também, evidenciou-se a existência de profissionais pouco

habilitados e qualificados para o exercício da função, tendo em vista a ocorrência das

estatísticas de casos de acidentes envolvendo serventes, pedreiros e carpinteiros, que

podem ser justificáveis pelo baixo grau de instrução destes, como também pela ausência

de profissionais de segurança envolvidos no processo de desencadeamento das

atividades, procurando orientar as atividades e corrigir os erros identificados. Fazendo

62

um destaque dentre os registros de atropelamentos identificados, estes números apenas

reforçam o entendimento do aumento das representações dos acidentes de trajeto

envolvendo os trabalhadores da indústria da construção, números estes que vêm

atingindo maiores patamares ao longo dos anos. Logo, estes tipos de acidentes apontam

deficiências na organização da estrutura do trabalho, no treinamento dos profissionais

com intuito de reforçar a importância de utilização dos equipamentos de proteção

individual, além da falta de orientações quanto à conduta no trânsito dentre seus

deslocamentos rotineiros.

Todas as garantias e orientações de trabalho com foco na prevenção destes

acidentes, por mais simples que sejam, ainda assim apresentam uma funcionalidade e

em alguns casos minimizam a gravidade dos acidentes. Pois, com relação a estes

impactos sofridos pelos operários, muitos destes agentes causadores, sejam vergalhões

ou toras de madeira desperdiçados no chão da obra, poderiam ser prevenidos com base

numa abordagem preventiva e corretiva, sempre recomendando o uso dos EPIs nos

canteiros, como também definindo a tarefa de limpeza e higiene dos postos de trabalho

como atividades obrigatórias ao final da execução dos serviços, sendo passíveis de

punição, caso não fossem identificadas a eliminação destes objetos desprotegidos nas

áreas de trabalho.

É passível de constatação que muitas empresas deixam em segundo plano as

recomendações pertinentes as normas de segurança e medicina do trabalho, pois muitas

empresas preocupadas apenas com o lucro, fazem vista grossa a muitas destas

determinações e regulamentações, pois a ausência de programas de controle e

gerenciamento, além de ferramentas de gestão da qualidade, são alguns dos indicativos

da ausência de tecnologias empregadas no processo construtivo, nos quais, estariam

voltados para o melhoramento das condições de segurança. Desta forma, destacam-se o

incremento das técnicas construtivas a custos economicamente viáveis com o objetivo

de minimizar a ocorrência destes acidentes.

O detalhamento destas diretrizes amplas e globais que visem à prevenção dos

acidentes foram delineadas como forma de contrapor a escassez de discussão dos termos

focados na prevenção dos acidentes, já que muitas situações de perigo são constatadas

facilmente no âmbitos das obras, colaborados pela definição de modos operatórios

inadequados e inseguros, postos de trabalho mal concebidos, como também máquinas e

equipamentos mal desenhados. Ou seja, a definição de novos indicativos e meios de

prevenção devem ser embasados dentre a adoção de medidas técnicas adequadas e

63

através de inspeções rotineiras, de maneira que resultados benéficos sejam obtidos

envolvendo toda a cadeia produtiva da empresa, por meio de artifícios que possibilitem

o emprego de medidas proativas.

Quanto às ocorrências dos acidentes, muitos dos trabalhadores são intitulados

como culpados pela maioria destes eventos não planejados, pois conforme mencionado

na seção 2, em muitos casos, os empregadores com o objetivo de livrarem a

responsabilidade destes acontecimentos, não sendo prejudicados com multas e

penalizados por processos jurídicos que levem ao embargo da obra, acabam não

procurando as reais relações causais que levam aos acidentes, suprimindo os métodos de

investigações que colaborem com o real entendimento dos fatos. Diante desse contexto,

observou-se que os próprios problemas gerenciais, das tecnologias e organização dos

trabalhos inapropriados, acabam acometendo as empresas como os responsáveis e os

próprios geradores das condições inseguras de trabalho. Enquanto isso, as notificações

registradas são justificadas como de responsabilidade dos trabalhadores pelos atos e

condições inseguras, gerando assim os riscos que comprometem não apenas a sua

saúde, como a integridade daqueles que estão ao seu redor.

O presente trabalho defendeu a importância de que os órgãos fiscalizadores

tomem medidas mais enérgicas quanto a esses casos de acidentes evidenciados,

buscando realmente apurar os principais responsáveis por essas ocorrências, além de

efetivarem visitas rotineiras e não planejadas nos canteiros de obras instalados,

buscando sempre observar como se apresentam as condições e o meio ambiente de

trabalho. Como também vale ressaltar da importância louvável dos empresários em

abraçar essa causa e que procurem a nível de segurança do trabalho nas obras, a

promoção de processos e métodos de investigação destes acidentes caso venham

ocorrer, pois muitas destas ocorrências muitas vezes são até previsíveis. Logo, a

promoção dessas medidas remetem ao fato da necessidade de realmente contabilizar

todos os fatos ocorridos, para que através do levantamento destes quantitativos, os

principais órgãos gestores possam ter o real conhecimento dos principais tipos de

acidentes e lesões recorrentes dentre as ocupações profissionais, afim de que possam ser

planejadas medidas de controle e prevenção de maior eficácia, colaborando assim com a

redução dos números de registros e a gravidade das lesões, além da redução dos custos

econômicos e sociais que envolvem as diferentes atividades econômicas do setor da

indústria da construção civil.

64

Espera-se que o levantamento estatístico abordado no estudo, em detrimento dos

parâmetros abordados, possa contribuir como referência para o desenvolvimento de

novos estudos pertinentes a área, além de servir como um documento informacional ou

um subsídio para que as organizações públicas e privadas tenham conhecimento sobre

esses índices e procurem definir e desencadear estratégias de trabalho que visem evitar

essas ocorrências indesejáveis. Por fim, diante da abordagem e amostragem pertinente à

temática da segurança e saúde do trabalho nos campos de exercício das atividades da

construção, através dos resultados obtidos e conclusões absorvidas, busca-se que as

entidades empresariais viabilizem construções sob a ótica de uma nova realidade,

pautada de uma estrutura em que promovam as práticas de condições seguras nos

ambientes de trabalho, destacando através de um planejamento eficiente a importância

destas atividades profiláticas nos canteiros.

65

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