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www.derechoycambiosocial.com ISSN: 2224-4131 Depósito legal: 2005-5822 1 Derecho y Cambio Social ANÁLISE DOS ATAQUES OCORRIDOS EM ABRIL DE 2017 EM IDLIB E SHAYRAT Gabriel Souza Barreiros 1 Marcelo Fernando Quiroga Obregon 2 Fecha de publicación: 02/01/2018 Sumário: Introdução. 1. O ataque químico à província de Idlib. 2. A retaliação de Donald Trump à Síria. 3. Análise dos eventos ocorridos em Idlib e Shayrat. - Considerações finais. - Referências. Resumo: O presente trabalho visa analisar os ataques realizados com o uso de armas químicas na província de Idlib, na Síria, e o ataque realizado à base de Shayrat, também na Síria, pelo governo dos Estados Unidos, sob a luz das normas de direitos internacionais, como a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de Armas Químicas e sobre sua Destruição, o Direito Internacional Humanitário, que regulamentam táticas de guerra e combate, assim como sob a luz das obras Direito Internacional Público: 1 Graduando do 10º período do curso de Direito na Faculdade de Direito de Vitória (FDV). [email protected] 2 Graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo, Especialista em Política Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Mestre em Direito Internacional e Comunitário pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Doutorando em Direito, Direitos e Garantias Fundamentais na Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Coordenador Acadêmico do curso de especialização em Direito Marítimo e Portuário da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Professor de Direito Internacional e Direito Marítimo e Portuário nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Direito de Vitória (FDV). [email protected]

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Derecho y Cambio Social

ANÁLISE DOS ATAQUES OCORRIDOS EM ABRIL DE 2017

EM IDLIB E SHAYRAT

Gabriel Souza Barreiros1

Marcelo Fernando Quiroga Obregon2

Fecha de publicación: 02/01/2018

Sumário: Introdução. 1. O ataque químico à província de Idlib.

2. A retaliação de Donald Trump à Síria. 3. Análise dos eventos

ocorridos em Idlib e Shayrat. - Considerações finais. -

Referências.

Resumo: O presente trabalho visa analisar os ataques realizados

com o uso de armas químicas na província de Idlib, na Síria, e o

ataque realizado à base de Shayrat, também na Síria, pelo

governo dos Estados Unidos, sob a luz das normas de direitos

internacionais, como a Convenção sobre a Proibição do

Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de

Armas Químicas e sobre sua Destruição, o Direito Internacional

Humanitário, que regulamentam táticas de guerra e combate,

assim como sob a luz das obras Direito Internacional Público:

1 Graduando do 10º período do curso de Direito na Faculdade de Direito de Vitória (FDV).

[email protected]

2 Graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo, Especialista em Política

Internacional pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Mestre em Direito

Internacional e Comunitário pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais,

Doutorando em Direito, Direitos e Garantias Fundamentais na Faculdade de Direito de

Vitória (FDV), Coordenador Acadêmico do curso de especialização em Direito Marítimo e

Portuário da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Professor de Direito Internacional e

Direito Marítimo e Portuário nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade de

Direito de Vitória (FDV).

[email protected]

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Curso Elementar, de Francisco Rezek; Curso de Direito

Internacional Público, de Sidney Guerra; e Curso de Direito

Internacional Público, de Carlos Alberto Husek. O primeiro

evento pode ser interpretado como estratégia do governo sírio

para conter novos levantes de grupos rebeldes e demonstração

de poder. Diante disso, a retaliação do novo governo dos

Estados Unidos, do presidente Donald Trump, demonstra ter

sido motivada visando objetivos políticos distintos do conflito

na Síria, buscando na verdade, satisfazer a opinião pública

interna, externa, e seus aliados.

Palavras-chave: Armas químicas. Ataques aéreos. Direito

Internacional Humanitário.

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INTRODUÇÃO

No dia 04 de abril de 2017, um ataque utilizando armas químicas na

província síria de Idlib, controlada em sua maioria pelos chamados

Rebeldes, ou oposição moderada ao governo, (que para o governo sírio,

também são terroristas), são grupos distintos da antiga Al-Nusra e Daesh.3

Este ataque deixou 58 mortos de acordo com o Observatório Sírio de

Direitos Humanos, inúmeros feridos foram levados para a Turquia (pois

Idlib encontra-se próximo à fronteira Síria-Turca). Exames foram

realizados pelas equipes médicas turcas nestes feridos e mortos, o que

revelou, segundo o governo turco, que a substância usada teria sido o gás

Sarin4 (muito conhecido no ocidente na década de 90 quando uma seita

japonesa realizou um ataque com este gás no metrô de Tóquio).

No primeiro tópico do presente artigo será analisado o ataque

supracitado em face das normas internacionais como a Convenção sobre a

Proibição do Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de

Armas Químicas e sobre sua Destruição, e o uso, efeitos no organismo

humano e sintomas do gás sarin.

Na madrugada brasileira entre o dia 06 e 07 de abril de 2017, os

Estados Unidos realizaram um ataque com pelo menos 50 mísseis do tipo

Tomahawk (um míssil de cruzeiro, que pode ser lançado a uma distância

“segura” para quem o dispara) contra a base aérea de Shayrat, como uma

represália ao ataque com uso de armas químicas na província Idlib.5

Neste segundo tópico, será analisada a forma como Donald Trump

reagiu aos eventos de Idlib, assim como política externa do atual governo e

3 THE GUARDIAN. Syrian chemical attack used sarin and was worst in 25 years, says UN.

2013. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2013/sep/16/syrian-chemical-

attack-sarin-says-un>. Acesso em: 26 maio 2017.

4 CNN. Syria chemical attack: Authority finds 'incontrovertible' evidence of Sarin. 2017.

Disponível em: <http://edition.cnn.com/2017/04/20/middleeast/syria-chemical-attack-sarin-

opcw/>. Acesso em: 26 maio 2017.

5 CNN. Trump launches military strike against Syria. 2017. Disponível em:

<http://edition.cnn.com/2017/04/06/politics/donald-trump-syria-military/>. Acesso em: 26 maio

2017.

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as questões que levaram o governo americano a prosseguir com o ataque

em Shayrat.

No terceiro e último tópico, será realizada uma análise aprofundada

dos eventos em Idlib e Shayrat assim como as eventuais consequências,

imediatas e futuras.

Tamanha é a tensão internacional nos últimos três anos, que muitos

afirmam que o planeta se encontra à beira de uma terceira guerra mundial.

É de grande importância analisar e entender os últimos eventos,

principalmente para a compreensão correta da situação geopolítica atual,

para que não se caia no temor infundado de um conflito em escala global.

1. O ATAQUE QUÍMICO À PROVÍNCIA DE IDLIB

Segundo os Estados Unidos, e boa parte da comunidade internacional

ocidental6, este ataque foi realizado pelo governo Assad

7, executado pela

Força Aérea Síria com anuência (quiçá, uma displicência) das forças

russas, contra rebeldes e população civil que vive nesta região. Isso se deve

ao fato de ter sido um ataque aéreo, com testemunhas falando de caças à

jato, e apenas a Força Aérea Síria ou aviões russos realizam operações

nesta região, e os rebeldes sírios não possuem aviação. O segundo indício

aponta para o fato da província de Idlib é controlada pela oposição síria e

também por grupos terroristas ligados à antiga frente Al-Nusra, e o uso do

gás Sarin e outros gases a bases de cloro não é um fato inédito em relação

ao governo de Bashar Al-Assad.8

O governo sírio, no entanto, narra que não houve ataque de armas

químicas por parte deste, e na verdade, este ataque teria sido realizado por

rebeldes ou terroristas como uma maneira de seduzir a opinião pública

internacional contra Assad. Ademais, o governo ainda alega não possuir

arsenal químico, pois este teria sido destruído com a supervisão da

comunidade internacional em virtude de um acordo internacional que será

abordado adiante.

6 BBC. Syria chemical 'attack': What we know. 2017. Disponível em:

<http://www.bbc.com/news/world-middle-east-39500947>. Acesso em: 26 maio 2017.

7 NEW YORK TIMES. Worst Chemical Attack in Years in Syria; U.S. Blames Assad. 2017.

Disponível em: <https://www.nytimes.com/2017/04/04/world/middleeast/syria-gas-

attack.html?_r=0>. Acesso em: 26 maio 2017.

8 THE GUARDIAN. Syrian chemical attack used sarin and was worst in 25 years, says UN.

2013. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2013/sep/16/syrian-chemical-

attack-sarin-says-un>. Acesso em: 26 maio 2017.

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Este ataque teria sido realizado pelos próprios grupos de oposição

como uma operação de bandeira falsa.

Segundo o governo russo, os sírios não possuem arsenal químico,

alegando que houve um ataque aéreo russo contra uma instalação de

fabricação de armas químicas controlada pelos rebeldes, que seriam

enviadas ao Iraque, e que por conta de destruição desta fábrica, os gases e

outros componentes químicos teriam sido levados através do ar até Idlib

como dano colateral.

O arsenal químico sírio, a priori, foi sim destruído com supervisão

internacional, incluindo agências da ONU especializadas e outros governos

da OTAN9. Entretanto, um ataque a uma fábrica de armas químicas

causaria um grande incêndio, o que não foi reportado. Somado ao fato de

que o gás sarin, sendo uma combinação de elementos, não é estocado

pronto, seus elementos são estocados individualmente, combinados apenas

no momento do uso. Portanto, uma explosão não lançaria gás sarin pronto

para a atmosfera, nem causaria danos colaterais, pois seus elementos

isolados não possuem potencial bélico.

As evidências mais fortes implicam que o uso de armas químicas foi

empregado pelo próprio governo Assad, apesar de também possuir indícios

contraditórios, porém pelo volume e contexto geral, a narrativa ocidental é

a mais próxima da realidade e coerência.

Armas químicas são proibidas em conflitos armados, segundo as

normas de Direito Internacional Humanitário, que proíbe algumas ações,

buscando limitar os efeitos de um conflito armado, principalmente no que

diz respeito àqueles que não estão envolvidos neste conflito, mas que

acabam sofrendo as consequências destes, como civis, ou outros que não

mais participam, como doentes, feridos e prisioneiros de guerra.

O Direito Internacional Humanitário pode ser resumido em três

princípios básicos: Distinção, Precaução, e Proporcionalidade10

. Por isso,

procura regular a linha entre a necessidade militar, porém lembrando

sempre da dignidade da pessoa humana, sabendo que do lado inimigo

9 NEW YORK TIMES (New York). U.S. and Russia Reach Deal to Destroy Syria’s

Chemical Arms. 2013. Disponível em: <https://nyti.ms/2jRRiFO>. Acesso em: 14 maio 2017.

10 PIÑEIRO, Emilia da Silva. Direito internacional humanitário: história e princípios. In:

Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 150, jul 2016. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17438&revista_cadern

o=29>. Acesso em maio 2017.

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também existe outro humano, o qual não deseja causar mais sofrimento do

que o necessário.

Estes princípios são aplicados às escolhas de armas e estratégias,

meios e métodos de guerra, e desta forma, armas químicas não estão

consonantes com o Direito Internacional Humanitário, pois armas químicas

não fazem distinção de combatentes de civis.

O princípio da distinção prega que se devem distinguir os militares

dos civis, com o uso de uniformes e fardas. Portanto, apenas os militares

podem participar dos eventos bélicos, e os civis, devem ser poupados.

Minas terrestres e anti-pessoais, munição cluster, submunição, dentre

outros também são considerados “armamentos burros”, pois não são

capazes de realizar esta distinção.

O principio da proporcionalidade também deve ser considerado na

escolha do armamento, pois este não deve causar mais dano do que o

necessário para incapacitar o seu oponente, sem colocar em risco a

população civil. Assim, o uso de armas químicas também fere este

princípio, pois os danos causados proporcionam sofrimentos desnecessários

aos combatentes, podendo extrapolar e alcançar não combatentes.

O princípio da precaução referente às armas diz respeito a limitar um

ataque e seus efeitos no tempo e no espaço, o que também não é compatível

com o uso de armas químicas, vez que em razão de suas propriedades

físico-químicas, estão além do controle humano.

Destarte, as armas químicas são completamente contrárias ao Direito

Internacional Humanitário, conforme a Convenção de Armas Químicas de

199311

, que proíbe não só o uso como a venda como o estoque, produção.

A Síria, entretanto, não fazia parte originalmente desta convenção,

houve então uma situação sem precedentes, Rússia e Estados Unidos

conseguiram um acordo12

com a Síria para que esta assinasse a convenção

de 93, para em seguida proceder a remoção e destruição de seu arsenal de

armas químicas, em setembro de 2013 o decreto legislativo foi assinado por

11 Organização das Nações Unidas (ONU). Convenção sobre a Proibição do

Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de Armas Químicas e sobre sua

Destruição.

12 NEW YORK TIMES (New York). U.S. and Russia Reach Deal to Destroy Syria’s

Chemical Arms. 2013. Disponível em: <https://nyti.ms/2jRRiFO>. Acesso em: 14 maio 2017.

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Assad13

, todavia, o ataque de abril de 2017 evidencia um descumprimento

da convenção por parte do governo sírio.

É importante frisar que, apesar de fato, o governo Sírio ter

desmantelado seu arsenal de armas químicas, o armamento utilizado na

província de Idlib, seja gás Sarin ou cloro, é um armamento rudimentar, de

fácil fabricação, podendo ser armazenados em simples cilindros de gases,

de fácil manuseio e obtenção. Portanto, o fato da Síria ter desmantelado seu

arsenal químico e a Síria poder ter realizado um ataque químico não são

coisas excludentes.

Ademais, foram descobertos vestígios de elementos usados na

fabricação de gás sarin na Síria já em 201514

, o que aumenta as suspeitas de

envolvimento do governo Assad no ataque em Idlib

Desenvolvido como pesticida, o sarin foi descoberto na Alemanha em

1938. É armazenado de forma líquida, sendo incolor e inodoro, foi

classificado como arma química pela resolução 687 das Nações Unidas15

e

posteriormente proibido na Convenção sobre Armas Químicas de 199316

.

Como funciona o gás sarin? O gás atua inibindo a enzima

acetilcolinesterase, que é utilizada pelo organismo para o movimento

muscular, quando esta enzima é inibida, as sinapses que ativam os

músculos não ocorrem, e estes passam a contrair e relaxar de forma

desordenada, e cada vez mais extrema, até que enfim estrangulam os

próprios pulmões e coração, matando a vítima por asfixia.17

13 NEW YORK. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. . Secretary-General Receives

Letter from Syrian Government Informing Him President Has Signed Legislative Decree

for Accession to Chemical Weapons Convention. 2014. Disponível em:

<http://www.un.org/press/en/2013/sgsm15274.doc.htm>. Acesso em: 14 maio 2017.

14 G1. Inspetores denunciam substância para fabricar gás sarin na Síria. 2015. Disponível

em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/05/inspetores-denunciam-substancia-para-

fabricar-gas-sarin-na-siria.html>. Acesso em: 26 maio 2017.

15 United Nations. Resolution 687. 1991. Disponível em:

<http://www.un.org/Depts/unmovic/documents/687.pdf>. Acesso em: 26 maio 2017.

16 Organização das Nações Unidas (ONU). 1993. Convenção sobre a Proibição do

Desenvolvimento, Produção, Armazenagem e Utilização de Armas Químicas e sobre sua

Destruição. Acesso em: 26 maio 2017.

17 ABU-QARE, A.w.; ABOU-DONIA, M.b.. Sarin: health effects, metabolism, and methods

of analysis. 2002. Disponível em:

<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691502000790?via=ihub>. Acesso em:

26 maio 2017.

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E não somente sua inalação pode trazer sérios danos à saúde humana,

mas o mero contato com a pele via absorção ou inalação do gás preso às

roupas pode levar à morte.

Segundo o CDC18

americano, os sintomas da exposição ao sarin são:

Coriza

Olhos lacrimejantes

Pupilas muito contraídas

Dor nos olhos

Visão turva

Salivação e transpiração excessiva

Tosse

Aperto no peito

Respiração rápida

Diarreia

Náusea, vômito e/ou dor abdominal

Aumento da frequência urinária

Confusão

Sonolência

Fraqueza

Dor de cabeça

Frequência cardíaca lenta ou rápida

Pressão sanguínea baixa ou alta

Os sintomas iniciais são a coriza, pupilas contraídas e aperto no tórax;

em seguida, a vítima passa a sentir náuseas e salivar em excesso, para então

sentir dificuldades de respirar; então passa a sofrer espasmos convulsivos, a

perda de controle voluntário do corpo leva à defecação e micção; por fim, a

produção excessiva de muco e estreitamento dos brônquios levam a asfixia,

juntamente com a constrição dos músculos responsáveis pela respiração,

que por fim, levam a vítima à óbito.

18 USA. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. . Facts About Sarin.

2011. Disponível em: <http://www.bt.cdc.gov/agent/sarin/basics/facts.asp>. Acesso em: 26

maio 2017.

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2. A RETALIAÇÃO DE DONALD TRUMP À SÍRIA

Nas primeiras horas da sexta feira 07 de abril de 2017, misseis Tomahawk

atingiram a base aérea de Shayrat, na Síria, como resposta do governo

americano ao ataque à província de Idlib, de maneira unilateral, sem

consulta ao senado americano ou à ONU.

Segundo Trump, que autorizou o ataque, o governo Assad sufocou

homens, mulheres e crianças inocentes, e até mesmo “lindos bebês” foram

cruelmente assassinados. Ou seja, o ataque aéreo dos Estados Unidos é uma

retaliação ao uso de armas químicas, não é uma retaliação pela guerra civil

síria, ou uma tomada de posição firme e definitiva em relação ao governo

sírio, “apenas” uma retaliação ao uso de armas químicas.

Segundo o governo dos Estados Unidos, os russos foram avisados

sobre o ataque, a base aérea não possuía equipamentos ou tropas russas, e

os alvos eram materiais de instalações, intentando diminuir o máximo

possível o número de baixas humanas, apenas inutilizando a base aérea de

Shayrat.

Já segundo Rex Tillerson, secretário de Estado dos Estados Unidos,

não houve comunicação prévia dos Estados Unidos para com a Rússia. Ou

seja, pentágono afirma que houve esta comunicação enquanto o secretário o

contradiz, evidenciando uma multicefalia americana quanto sua política

externa.

Segundo a Síria, esta afirma que o ataque foi realizado como uma

forma dos Estados Unidos apoiarem os grupos da oposição/terroristas, que

são, segundo o governo sírio, diz ter sido um ataque irresponsável e

imprudente, além disto, o ataque seria uma forma dos EUA escalar a guerra

na síria perto do que se considera uma vitória de Assad.

A versão russa dos fatos é de que o ataque dos EUA já era planejado

anteriormente, e que já tinham deslocado estas forças e concentrado este

número de mísseis próximo à Síria e que apenas se aproveitaram de um

pretexto inventado para agir contra a Síria, além disso, o porta-voz do

Kremlin disse que as ações causam um prejuízo considerável entre as

relações EUA e Rússia que já se encontram em um estado lamentável,

ainda segundo a Rússia, misseis americanos foram interceptados pelos

sistemas antiaéreos russos e vidas russas não foram perdidas, porém, que

estiveram a passos de serem atingidas pelos misseis.

Ainda, o governo do Irã tem uma narrativa semelhante à narrativa

Síria e Russa, pois o Irã é outro importante aliado do governo Assad.

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Apesar de ter havido perante os veículos jornalísticos uma surpresa

quanto aos ataques, já era possível notar um comportamento semelhante de

Trump há alguns anos. Donald Trump faz parte do Partido Republicano dos

Estados Unidos, partido este que sempre esteve presente nos momentos de

guerra dos EUA, especialmente com os países do oriente médio. Tal qual o

último governo republicano, de George W. Bush foi aquele que criou a

denominação do Eixo do Mal, o qual a Síria faz parte.

Ao final do governo Obama, Trump era um crítico ferrenho do

posicionamento de Barack Obama em não atacar estes países do chamado

Eixo do Mal de uma maneira mais ativa, agindo de modo muito pacífico

para com a ascensão do Daesh.

Existe uma outra questão interna dos EUA que já evidenciava uma

possível represália da forma como ocorreu. Donald Trump não possui

apoio da maioria do partido republicano, então, uma decisão como esta

seria estrategicamente de grande valia para cativar estes integrantes do

partido, tentar ganhar o apoio deste grupo que não confiava em sua política

externa.

Ainda, Donald Trump não possui formação política, era um homem de

negócios, assim, sua visão de comunidade internacional e relações

internacionais por meio da política é de certa forma, pobre, se comparado a

de Barack Obama, por exemplo. Assim, não é surpresa que tente resolver

tais conflitos de umas maneiras mais extravagantes e que chamem mais

atenção para que receba o apoio de seus companheiros de partido.

Apesar de ter sido, em toda sua essência, não uma represália, mas sim

um ataque, Trump conseguiu realiza-lo de forma calculada para ganhar

apoio de parte de seu partido e dos mais conservadores no poder

americano.

Atualmente, em questão de mídia nos EUA, os grandes canais que

fazem “oposição” a Trump são a A National Broadcasting Company

(NBC) e Cable News Network (CNN), e estes, passaram a elogiar1920

o fato

de Trump ter atacado a Síria, reavivando o sentimento da população

19 CNN. Trump launches military strike against Syria. 2017. Disponível em:

<http://edition.cnn.com/2017/04/06/politics/donald-trump-syria-military/>. Acesso em: 15 maio

2017.

20 NBC. Trump: Why I Launched a Missile Strike on Syria. 2017. Disponível em:

<http://www.nbcnews.com/politics/white-house/trump-why-i-launched-missile-attack-syria-

n743656>. Acesso em: 15 maio 2017.

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americana de “salvadores” do mundo, evidenciando o resultado positivo

dos ataques perante a opinião pública.

Não só o ataque à Síria pode ser visto desta forma, como também a

manobras militares realizadas em conjunto com a Coréia do Sul e a

instalação de baterias antiaéreas21

na península coreana, que não é bem

vista não só pela Coréia do Norte, mas também pela China. Assim como o

envio de fragatas à região fortalece o imperialismo americano ao Japão e

Coréia do Sul. Tais estratagemas são típicos dos republicanos e das alas

mais conservadoras e retrógadas dentro dos próprios republicanos.

Em declaração à comunidade internacional, Putin revelou que se tais

eventos voltarem a ocorrer será respondido de igual maneira pela Rússia22

,

levantando tensão entre EUA e Rússia.

É importante destacar que o Pentágono comunicou previamente à

Moscou, para garantir que vidas russas ou equipamentos russos não fossem

atingidos. Já Rex Tillerson, o secretário de Estado, disse que não houve

nenhum contato entre Washington e Moscou. Isso evidencia a multicefalia

da politica externa dos Estados Unidos, além de levantar a seguinte

questão: Se os Estados Unidos avisou com antecedência a Moscou, e

Moscou providenciou para que danos não fossem feitos a vidas ou

equipamentos sensíveis russos, e ao que tudo indica, não aconteceu,

persiste a chance de este ataque ter sido uma mera troca de peões.

Assim, os Estados Unidos poderia realizar uma demonstração de

força, o que seria favorável para a opinião interna e externa, porém sem

arriscar suas relações com a Rússia.

Agora, se não houve esta comunicação, se houve um risco deliberado

de se atingir russos, e os Estados Unidos correu este risco, teremos então

uma possível escalada entre estas relações.

Ainda, o Trump, ao momento da retaliação se encontrava na Flórida

com Xi Jinping, Presidente da China. Ao fazer um ataque à Síria enquanto

o presidente americano está se encontrando com o presidente chinês pode

ser interpretado como uma demonstração de poder e intimidação.

21 CNN. Trump: South Korea should pay for $1B missile defense system. 2017. Disponível

em: <http://money.cnn.com/2017/04/28/news/trump-south-korea-thaad-trade/>. Acesso em: 15

maio 2017.

22 EL PAIS. Putin condena o ataque dos EUA na Síria e diz tratar-se de uma “agressão a

um Estado soberano”. 2017. Disponível em:

<http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/07/internacional/1491531655_261774.html>. Acesso

em: 15 maio 2017.

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Não é possível saber se teremos tropas em chão na Síria, e isso é uma

questão importante para Putin, pois é necessário que a Rússia possa prever

até quais limites iria os Estados Unidos. Pois se temos Trump durante sua

campanha presidencial dizendo que os Estados Unidos deve voltar a

participar de guerras e que investirá na marinha, e tempos depois diz que

não deseja mais ver veteranos americanos mutilados em nome de outros

países, resta-se muito necessário possuir parâmetros para se preparar para

eventos futuros. Portanto, era interessantíssimo para a Rússia ver quais

eram os limites de Donald Trump em circunstâncias delicadas como esta,

justamente para se preparar para futuros eventos.

3. ANÁLISE DOS EVENTOS EM IDLIB E SHAYRAT

Quem se beneficiaria com um ataque como este? Vejamos, o regime de

Assad não estava em uma posição de perdedor, pois já controla cerca de

70% das regiões da Síria, o regime tem apoio incondicional de grande

aparato militar russo, a chamada “oposição moderada” já foi praticamente

dizimada, os países do golfo diminuíram sua participação nesta guerra.

Portanto qual seria o cui bono23

do governo sírio?

Uma primeira possível explicação seria a de uma punição

extremamente cruel e que é uma prática “familiar” dos Assad na Síria, visto

que o pai de Bashar Al-Assad também dizimava a oposição ao governo

para desencorajar novos levantes. No caso da região de Idlib, ainda persiste

o agravante que é Aleppo ter sido cercada pelas tropas Sírias e Russas e

então levada à submissão, como em Idlib isto não é possível por ser

fronteira com Turquia, onde seria possível criar corredores estratégicos que

evitariam o cerco. Então, para o governo Assad, estar interessado em

castigar a população o máximo possível e da maneira mais cruel para

desencorajar levantes futuros é uma explicação plausível.

A outra explicação é uma demonstração para Israel de que a Síria

ainda pode realizar ataques químicos. Por quê? Porque primeiro Israel e

Síria estão em guerra há décadas, não existindo relações diplomáticas entre

as nações e oficialmente estão em estado de guerra ininterrupta. E Israel é

um dos atores na guerra civil síria, e em março, Israel conduziu ataques

dentro de espaço aéreo sírio, contra estruturas do governo sírio. Seria então

esta uma maneira de mostrar ao inimigo o poderio bélico sírio.

Do ponto de vista da Rússia, se esta autorizou ou consentiu, ou ainda,

foi omissa com este ataque de armas químicas, quais seriam as vantagens

23 Do latim, “a quem beneficia?”.

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obtidas com isto? Este evento forçou o novo governo dos Estados Unidos a

demonstrar claramente quais serão suas políticas em relação à Síria, se

seria através do dialogo ou através da força. Portanto, o ataque permite à

Rússia ter um vislumbre vantajoso, quase necessário, de como será o novo

governo americano e poderá preparar-se para com as relações americanas.

E para a Turquia, ao contribuir para demonização de Assad, para

antagonizar Assad ao Irã, e para enfraquecer o governo sírio que

caminhava para uma vitória negociada com os russos em Astana em um

plano de paz que prevê uma região autônoma curda, que são “inimigos”

históricos da Turquia, e que a qualquer custo, tentaria evitar um estado

nacional curdo.

Os países do golfo pérsico estão interessados na derrubada do Assad,

que por razões políticas e econômicas estavam enfraquecidos, agora

poderão retomar o debate acerca da necessidade de derrubar Assad.

Para Donald Trump, ainda desconsiderando a resposta dos EUA, o uso

de armas químicas na Síria significava que há a necessidade de se resolver

os problemas da falta de unidade em sua política externa; e quais “cartas”

revelaria e quais manteria na manga; e quanto ele iria se distanciar de

Obama e das críticas de ele próprio fazia ao seu antecessor por ser muito

passivo em relação à Síria.

Além das próprias vitimas, quem não estaria interessado neste ataque

são os próprios aliados de Assad, que são o Irã e o Hezbollah, pois ambos

já estão envolvidos na guerra da Síria há muito tempo e precisam e querem

se concentrar na situação do Líbano, que também sofre uma escalada de

tensões internas, em uma escala menor, porém ainda é uma grande carta da

região, portanto, quanto mais rápido este conflito na Síria se resolver,

melhor.

Agora, considerando a represália de Donald Trump, para os Estados

Unidos, é uma forma de se conseguir fazer uma intervenção pontual, uma

demonstração de força sem um comprometimento de médio a longo prazo.

No sentido de, Trump foi eleito em uma plataforma de isolacionismo, em

não envolver os Estados Unidos em guerras, então, se mostra muito

improvável que haja tropas americanas em solo sírio. Assim, Trump

demonstra sua força, se distancia do governo Obama, afasta a imagem de

proximidade que havia com Putin, e sem comprometer em longo prazo uma

ação militar dedicada dos Estados Unidos.

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Em razão do ataque de Trump, a Rússia suspendeu o acordo de

cooperação de voos que possuía com os EUA desde 201524

, utilizando-se

então da narrativa de o ataque tenha sido premeditado, usando do

lançamento de armas químicas apenas como “desculpa” conveniente,

legitima-se a concentração de forças russas dentro de território sírio.

E para o governo sírio, com esta ação americana, aumenta-se a

legitimidade do governo sírio perante parte de sua população, o Irã, o

Hezbollah. Ainda, fortalece a retórica de Assad de que os

rebeldes/terroristas são todos apoiados pelos EUA, o que justifica o uso de

uma “mão de ferro” para controlar o país.

Sobre a comunicação do ataque à Rússia, caso tenha havido este

contato, é possível que tenha sido uma “troca de peões”, ou seja, o governo

sírio usou armas químicas, o governo Trump precisa agir e então contata o

governo russa (que já informou que o apoio a Assad não é

incondicional·),que então aceita o ataque e retira suas forças da área, e

assim, fazendo-se um jogo de cartas marcadas, e assim, permite o interesse

de ambos sejam atendidos de forma a evitar uma proporção muito maior

por acidentes.

Novamente, a falta de unidade na politica externa de Trump mostra-se

relevante, visto que, temos o Pentágono, uma entidade de natureza militar,

o Conselho de Segurança Nacional, que é cívico-militar, ligado à Casa

Branca, e o Departamento de Estado, que é civil, e controlado pelo

secretário de Estado, Rex Tillerson, apontado por Donald Trump, porém

dentro do Departamento de Estado, temos tanto cabeças apontadas pelo

atual presidente como outras que estão lá por carreira, que muitas vezes não

concordam com os estratagemas presidenciais. Portanto, quando Tillerson

afirma que não houve comunicação, pode significar que este não sabe o que

está acontecendo dentro do próprio departamento. Persiste a possibilidade

de o Pentágono possuir maior influencia dentro da administração Trump do

que se esperava.

O fato de usar força militar na Síria obriga estes setores do governo

Trump a dialogarem e adotar uma politica comum, pois o poder decisório

está centralizado na figura do presidente.

Uma segunda hipótese para esta represália contra a Síria, é a de que os

aliados dos Estados Unidos na região passem a pressionar mais ainda o

24 RT. Russia suspends flight safety memorandum over Syria after US missile strike –

Foreign Ministry. 2017. Disponível em: <https://www.rt.com/news/383837-russia-syria-flight-

safety/>. Acesso em: 26 maio 2017.

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governo Trump para intervir mais vezes. Recentemente Trump teve

encontros com o rei da Jordânia25

, o príncipe Saudita26

e outras lideranças

de países do golfo interessadas na queda de Assad. E assim, retrocede-se a

campanha de Assad (que se aproximava de uma vitória) para um status

semelhante ao de 2014, onde nenhuma frente aparentava se dirigir à vitória

e a guerra não se mostrava perto do fim.

Uma 3ª Guerra Mundial deve ser vista com ceticismo, pois em razão

da guerra moderna, armamentos nucleares e destruição mútua assegurada,

esta teria proporções catastróficas em níveis globais, o que leva as nações a

usarem seus armamentos nucleares como forma de barganha. Ou seja, em

um eventual conflito entre EUA e Rússia, é muito mais provável que os

dois lados se foquem em usar seus armamentos convencionais a fim de

obter uma vitória convencional, que permita ocupação de territórios,

cessões, pagamentos de indenizações, desarmamento, etc.

Porém, a existência deste tipo de arsenal leva à seguinte hipótese,

remota, mas plausível em certas circunstâncias. Existe a chance de que o

lado perdedor do conflito venha a usa-lo como ultima ratio, em seus

últimos instantes quando se encontrar sem chances de vitória para

assegurar a destruição do lado vencedor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As circunstâncias atuais trazem muito mais perguntas do que respostas, um

cenário que traz Rússia, Estados Unidos, China, Síria, Coreia do Norte,

Turquia como principais atores não pode ser considerado simples em

nenhum aspecto.

Todas as narrativas mais coerentes apontam para o governo sírio de

Bashar Al-Assad como autor do ataque químico à província de Idlib com

gás sarin. Em uma única manobra, Assad fez demonstração de poder à

Israel, à população da síria, e aos grupos rebeldes/oposição, desencorajando

novos levantes e resistência ao seu regime. Ainda assim, o ataque viola

inúmeros acordos internacionais de direitos humanos e de proibição de uso

25 TIME. President Trump Appears With Jordanian King Abdullah II. 2017. Disponível

em: <http://time.com/4726510/donald-trump-king-abdullah-watch-live/>. Acesso em: 26 maio

2017.

26 NEW YORK TIMES. Trump Meets Saudi Prince as U.S. and Kingdom Seek Warmer

Relations. 2017. Disponível em:

<https://www.nytimes.com/2017/03/14/world/middleeast/mohammed-bin-salman-saudi-arabia-

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de armas químicas, colocando a Síria em uma situação ainda mais isolada

da comunidade internacional.

Para os Estados Unidos de Donald Trump, a retaliação foi uma

decisão de grande importância, pois definiu qual será a postura norte-

americana neste novo governo. Apesar da evidente multicefalia quanto à

politica-externa, o ataque à base de Shayrat pôde ter sido uma decisão

sagaz se de fato foi uma troca de peões com a Rússia, pois satisfaz a

opinião pública interna e externa, sem comprometer os Estados Unidos

militarmente por muito tempo.

De qualquer forma, os eventos do último mês são apenas os capítulos

intermediários de uma tensão complexa demais iniciada no inicio da

década, e aparentemente, sem previsão de término.

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