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Uma publicação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios março/abril de 2007 - Ano 4 - Nº 7 O MP atento para combater a impunidade no Brasil

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Uma publicação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

março/abril de 2007 - Ano 4 - Nº 7

O MP atento para combater a

impunidade no Brasil

PPuubblliiccaaççããoo ddoo MMiinniissttéérriioo PPúúbblliiccoo ddoo DDiissttrriittoo FFeeddeerraall ee TTeerrrriittóórriiooss

Eixo Monumental – Praça do BuritiLote 2 Edifício-Sede

Brasília DF Cep 70091-900Telefones: (61) 3343-9604

3343-9601/3343-9690Fax.: (61) 3343-8251

Internet: www.mpdft.gov.br

PPrrooccuurraaddoorr--GGeerraall ddee JJuussttiiççaaLeonardo Azeredo Bandarra

VViiccee--PPrrooccuurraaddoorraa--GGeerraall ddee JJuussttiiççaaMaria Aparecida Donati Barbosa

CCoorrrreeggeeddoorr--GGeerraallVitor Fernandes Gonçalves

CChheeffee ddoo GGaabbiinneetteeKarel Ozon Monfort Couri Raad

DDiirreettoorr--GGeerraallMoisés Antônio de Freitas

AAsssseessssoorriiaa ddee PPoollííttiiccaass IInnssttiittuucciioonnaaiiss Dênio Augusto de Oliveira Moura

Libanio Alves Rodrigues

CCoooorrddeennaaççããoo ddoo PPrroojjeettooAssessoria de Comunicação do MPDFT

Fernanda Lambach

PPrroodduuççããoo EEddiittoorriiaallVia Brasília

RReevviissããooAdriana Custódio

FFoottooggrraaffiiaassJosé Evaldo Gomes Vilela

IIlluussttrraaççõõeessAlex Amorim (Via Brasilia)

JJoorrnnaalliissttaa RReessppoonnssáávveellGuido Heleno

Registro Profissional - JP/DF 3.450Tiragem: 4.000 exemplares

IImmpprreessssããoo Ultra Digital Gráfica Editora Ltda.

M P D F T e m r e v i s t a2

M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

osso País sofre com muitos problemas, algunsendêmicos, outros derivados de situações sazonais.No Distrito Federal, a situação é semelhante,sofrendo distorções peculiares à sua situaçãopolítica, geográfica e à sua condição de sediar acapital da República.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, ramo do Minis-tério Público da União, é órgão de caráter nacional, uma vez queatuou e atuará nos Territórios Federais que têm sua viabilidade de cri-ação instituída pela Constituição Federal. Também atua no DistritoFederal. Portanto, dentre as particularidades do DF, está o fato de nãopossuir Ministério Público e Poder Judiciário, ao contrário de todas asoutras unidades da Federação.

E assim o é porque Brasília é a capital da República, sede de todos osinteresses nacionais e internacionais. Logo, merece uma administraçãoque compatibilize esses amplos interesses com aqueles das pessoasque aqui vivem, interesses estes muitas vezes divergentes.

Em decorrência disso, a situação do MPDFT é única em termos deBrasil. O Procurador-Geral de Justiça, nomeado pelo presidente daRepública, chefia o Ministério Público que atuará no Distrito Federal enos Territórios. Seus integrantes, Promotores e Procuradores deJustiça, são remunerados pela União e seguem a Lei Orgânica Nacional- a Lei Complementar nº 75/93.

Dentre as diversas atividades ministeriais, está a de fiscalizar osagentes públicos no que concerne à correção da aplicação dos recur-sos públicos, coibindo desvios por meio de atuação própria (atuaçãoextrajudicial) ou levando os responsáveis ao Poder Judiciário (atuaçãojudicial). No DF, a atuação ministerial tem se destacado por sua totalindependência política, responsabilidade com a coisa pública e, princi-palmente, pela efetividade e correção de sua atuação.

Nesta revista, de caráter apenas exemplificativo, procuramos darconta à sociedade brasileira de parte de nosso trabalho, desenvolvidoa partir de uma estrutura administrativa restrita, mas que conta com adedicação incansável de Membros e Servidores dotados de insuperáv-el espírito público.

Sabemos que ainda há muito por fazer, e o faremos. Mas neste per-iódico, mostramos que estamos atentos ao combate à corrupção econtribuímos decisivamente para a diminuição da impunidade.

PPoorr ddeennttrroo ddaa LLeeii No artigo 150 da Lei Complementar

nº 75, de 20 de maio de 1993, estãodefinidas as incubências do MPDFT. Conheça algumas:

II – instaurar inquérito civil e outros pro-cedimentos administrativos correlatos;

IIII – requisitar diligências investigatórias ea instauração de inquérito policial,podendo acompanhá-los e apresentarprovas;

IIIIII – requisitar à autoridade compe-tente a instauração de procedimentosadministrativos, ressalvados os denatureza disciplinar, podendo acom-panhá-los e produzir provas;

IIVV – exercer o controle externo da ativi-dade da polícia do Distrito Federal eTerritórios;

VV– participar dos Conselhos Penitenciários;

VVII – participar, como instituição obser-vadora, na forma e nas condições esta-belecidas em ato do Procurador-Geral daRepública, de qualquer órgão da adminis-tração pública direta, indireta ou funda-cional do Distrito Federal, que tenhaatribuições correlatas às funções da Insti-tuição;

VVIIII – fiscalizar a execução da pena, nosprocessos de competência da Justiça doDistrito Federal e Territórios.

E o artigo 151 diz que cabe ao MPDFTexercer a defesa dos direitos constitu-cionais do cidadão sempre que se cuidede garantir-lhe o respeito:

II – pelos Poderes Públicos do DistritoFederal e dos Territórios;

IIII – pelos órgãos da administração públi-ca, direta ou indireta, do Distrito Federal edos Territórios;

IIIIII – pelos concessionários e permis-sionários do serviço público do DistritoFederal e dos Territórios;

IIVV – por entidades que exerçam outrafunção delegada do Distrito Federal e dosTerritórios.

Conheça também os artigos 6º, 7º e8º da Lei nº 75/93

3

Leonardo Azeredo BandarraProcurador-Geral de Justi a do Distrito Federal

NEEddiittoorriiaall

EEmm tteerrrraa ddee mmeennssaallããoo,, mmeennssaalliinnhhoo ee mmeennssaalleeiirroo...... eemm tteerrrraa ddee ssaanngguueessssuuggaass ee aannõõeess ddoo

OOrrççaammeennttoo,, CCPPIIss qquuee cchheeiirraamm àà ppiizzzzaa ee aaccoorrddooss ggrrootteessccooss ttaammbbéémm hháá mmuuiittaa ffoommee,, mmiisséérriiaa,, ggeennttee

eessqquuáálliiddaa,, sseemm lluuggaarr ppaarraa mmoorraarr,, sseemm lluuggaarr ppaarraa ppllaannttaarr.. EEmm tteerrrraa ddee ggeennttee ccoorrrruuppttaa,, hháá ccrriiaannççaa ccoomm

ddoorr nnaa ffiillaa ddoo hhoossppiittaall.. FFaallttaamm rreemmééddiiooss,, eeqquuiippaammeennttooss,, UUTTIIss ssããoo ddeessmmoonnttaaddaass.. HHáá ssaallaass ddee aauullaa qquuee

mmaaiiss ppaarreecceemm pprriissõõeess ee pprreessííddiiooss oonnddee nnããoo hháá rreeeedduuccaaççããoo.. OO mmeeiioo aammbbiieennttee éé aaggrreeddiiddoo,, oo ssoolloo éé

mmaall uussaaddoo,, oo ppaattrriimmôônniioo ppúúbblliiccoo aattaaccaaddoo.. HHáá ggeennttee ccoomm ddiinnhheeiirroo eemm ppaarraaííssooss ffiissccaaiiss ee eexxiissttee qquueemm

nnããoo eenntteennddaa qquuee ppaaggaarr ccaaffeezziinnhhoo éé ccrriimmee mmeerreecceeddoorr ddee ppuunniiççããoo rraaddiiccaall.. OOnnddee hháá ccoorrrruuppççããoo,, hháá

ssooffrriimmeennttoo.. EEllaa éé ssoommbbrraa qquuee eesspprreeiittaa eemm ttooddaa ppoorrttaa ee pprreecciissaa sseerr ccoommbbaattiiddaa ccoomm vveeeemmêênncciiaa ppeellaa

ssoocciieeddaaddee.. OO MMiinniissttéérriioo PPúúbblliiccoo eexxiissttee ppaarraa eessttee ffiimm..

PPoorr FFeerrnnaannddaa LLaammbbaacchh

&CORRUPÇÃOCOMBATE

5M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

O Ministério Público desempenhapapel fundamental no combate a esseácido que corrói as entranhas do podere destrói a vida de milhares debrasileiros e brasileiras. Apesar dos mui-tos processos que ocupam Promotorese Procuradores, o início de 2007 foimarcante para os que apostam namudança do Distrito Federal para me-lhor. Depois da posse do novo Governoe da nova Câmara Legislativa, inúmerasreuniões foram realizadas com Mem-bros do MPDFT e com a presença doProcurador-Geral de Justiça, LeonardoBandarra. O objetivo principal: buscar alegalidade e encontrar os melhorescaminhos para a regularização. “Nestatransição é fundamental fortalecer odiálogo entre o GDF e o MPDFT”,declarou Bandarra.

“Penso que combater a corrupção é,no momento atual, a principal demandada sociedade, que vem sendo agredida otempo todo por casos de desmandos edesrespeito ao dinheiro público. Paraatacar esse grave problema moral, acre-dito que o governante tem que adotar,como princípio e simultaneamente, setemedidas. Precisa dar exemplo, impedir aoportunidade, fiscalizar, controlar, proces-sar, punir e dar publicidade à punição”,sugeriu à Revista, José Roberto Arruda,Governador do Distrito Federal.

O MPDFT também tem encontradoparceiros na conscientização e no traba-lho de empoderamento da população,como o realizado pelos conselhos desegurança escolar. No fim do ano passa-do, começou-se a estudar um acordo decooperação com o Escritório das NaçõesUnidas contra Drogas e Crime. Pes-quisadores da Universidade de Brasíliaestão realizando pesquisas que podemservir de base teórica para entender ocomportamento e o pensamento dapopulação. Organizações não-governa-mentais como o Criscor (Cristãos contra aCorrupção) colocam seus estudos e pro-jetos à disposição.

Embora haja opiniões diversas sobrecomo um dia a corrupção será varridado planeta, existe um consenso de que

o combate precisa ser realizado o maisbrevemente possível. Não é por menos.Todos os anos, a corrupção devora entre10% e 15% do Produto Interno Bruto(PIB) brasileiro. No mundo, a corrupção“enterra” US$ 1 trilhão por ano, deacordo com dados de Daniel Kaufmann,ex-presidente do Banco Mundial (Bird).

TTeeoorriiaa ee aannáálliissee

O tema incomoda e apimenta dis-cussões. A palavra corrupção é nause-ante já na origem morfológica. Cor-rupção deriva do latim corruptus, quesignifica apodrecido, pútrido. Emboratenha perseguido a humanidade durantetoda a história, inclusive bíblica, o assun-to ganhou lugar especial na pauta de dis-cussão mundial recentemente. Cientistasacreditam que o fim do comunismo e daGuerra Fria tenham obrigado a comu-nidade internacional a voltar as atençõespara outros eixos: a fome, o aquecimen-to global, a corrupção. Assim, institui-ções como a ONU passaram a dargrande ênfase a programas voltadospara o combate ao mal e inúmerospesquisadores desdobram-se em análisesde dados e estudos sobre o crime.

No Distrito Federal, a Universidadede Brasília (UnB) criou recentemente adisciplina Teoria e Análise da Corrupção,que é procurada por alunos de gradua-ção dos mais diversos cursos, do Direitoà Matemática. Os responsáveis pelasaulas são os professores Ricardo Caldase Robson Costa Pereira, ambos dodepartamento de Ciência Política. “Acorrupção está no meio do povo. Nãoadianta dizer, por exemplo, que fechan-do o Congresso Nacional estaria sefazendo alguma coisa para acabar comela”, declara Pereira. Para o professor,“todos somos corruptos e só reco-nhecendo isso é que conseguiremosencontrar soluções para o problema”.

“No dia em que o Ministério Público,a Controladoria-Geral da União, o Tri-bunal de Contas da União, a PolíciaFederal... enfim, o Executivo, o Legislati-vo e o Judiciário entenderem que todossomos corruptos, daremos um passo

EElliieettee QQuueeiirroozz,, 4422,, aaddmmiinniissttrraaddoorraa,, TTaagguuaattiinnggaa

“Eu acho que sim. OBrasil tem uma culturamuito ruim, que é a dequem leva vantagem. É acultura da malandragem.Você vê isso na piratariade produtos como DVDse CDs em qualquer lugar.”

SSttaannlleeyy FFrreeiittaass,, 3333,, ccoorrrreettoorr ddee sseegguurrooss,, LLaaggoo SSuull

“O povo em si não é cor-rupto, mas seus represen-tantes tornam-se corrup-tos. Qualquer pessoa quechega ao poder é passívelde corrupção.”

NNeevviittoonn AAllvveess,, 2211,, ssoollddaaddoo,, GGaammaa

“O povo não é corrupto.Mas é burro e colocapolíticos corruptos nopoder. Pessoas de índoleruim cometem atos decorrupção.”

AAnnttoonniioo CCaarrllooss,, 3399,, jjoorrnnaalleeiirroo,,SSaammaammbbaaiiaa

“A maioria sim. Na pri-meira oportunidade apro-veita para tirar vantagem.São poucos os que pen-sam no próximo. A maio-ria é egoísta, só pensa emsi próprio.”

AAnnttoonniioo MMaacceeddoo,, 4400,,aannaalliissttaa ddee ssiisstteemmaass,, AAssaa NNoorrttee

“O povo é corrompidopor toda essa situação decorrupção que vem dospoderes lá de cima. Opovo acaba achando quepode praticar corrupção ese aproveitar também.”

OO ppoovvoo éé ccoorrrruuppttoo??

CCaappaa

6 M P D F T e m r e v i s t a

significativo para combater este mal”,afirma o pesquisador, autor da disser-tação A Evolução das Convenções Inter-nacionais contra a Corrupção (2005).

No fim do ano passado, a turma deTeoria e Análise da Corrupção da UnBdivulgou pesquisa, onde 839 pessoasdas diferentes cidades do DF foramentrevistadas e responderam a questão“Em quem o povo confia?”. O que maisimpressionou no resultado foi o totaldesconhecimento da população comrelação aos órgãos responsáveis pelocombate à corrupção no país. A maio-ria dos entrevistados (55,1%) afirmoudesconhecer as atribuições do Tribunalde Contas da União, 68,4% declararamnão conhecer o trabalho da Contro-ladoria-Geral da União. A responsabili-

dade é atribuída principalmente aoMinistério Público da União (24,4%), àPolícia Federal (22,8%) e à sociedadecivil (22,7%). “Minha interpretação é ade que a imagem do MP para a popu-lação é a de um lugar onde as coisasacontecem”, diz Ricardo Caldas, quepretende repetir em 2007 a pesquisa deforma ampliada.

Segundo o cientista político, porcausa da baixa mobilização dasociedade, o MP acabou tendo queampliar o papel de conscientizar apopulação para o combate à cor-rupção. “Não é à toa que nos EstadosUnidos o MP é chamado de People; opovo organizado.” O professor diz quenão vê ainda qualquer cenário propícioao combate à corrupção. “Não há

mobilização social. Nossa sociedadesempre foi acomodada. Não é da nossacultura reivindicar.”

FFuurroouu ffiillaa??

Hoje, a internet tem vários grupos dediscussão sobre corrupção e blogs quequestionam aqueles que a apontamcomo um problema somente de políti-cos ou de quem está no poder. NoFórum Ouro Preto do Oeste, por exem-plo, é lembrado que a corrupção émuito mais presente no dia-a-dia dobrasileiro do que ele imagina: “Quemestá lendo agora, sinceramente, será quenunca furou uma fila? Achou um di-nheiro na rua e ficou com ele? Negociouo silêncio do filho com um brinquedinhopara poder tirar um cochilo à tarde?Pagou uma rodada de cerveja ao chefepra ganhar 'moral' com ele? São apenasexemplos e quase ninguém percebe. Acorrupção também vem aliada normal-mente à extorsão e ao suborno”.

Para Pereira, que também faz partedo grupo Cristãos contra a Corrupção(Criscor), o mal não acabará tão cedono Brasil porque não há ainda ambi-ente necessário para isso. Tal ambienteseria formado por quatro elementosprincipais: sistema educacional forte,baixa tributação, mobilização social eforte controle sobre os políticos. “Hoje,

RRiiccaarrddoo CCaallddaassCCiieennttiissttaa PPoollííttiiccoo

M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s 7

os fatores econômicos impedem, porexemplo, que alguns comerciantes quese esforçam para ser honestos paguemos impostos. Acabam sonegando. Sãocorruptos”, diz o professor.

Criado no Núcleo Bandeirante, oCriscor tem como meta trabalhar paraque o chamado índice de percepção dacorrupção (IPC) do Brasil cresça de 3.3,onde está hoje, para 7.0 em 2017.Como 95% da população brasileira sediz cristã, a entidade quer chegar aosmunicípios das cinco regiões, preparan-do o ambiente para que a corrupçãoseja exorcisada.

VVííttiimmaa oouu ccúúmmpplliiccee

A opinião do professor da UnB foicomprovada pelo IBOPE em pesquisa dejaneiro de 2006. O estudo Corrupção naPolítica: eleitor vítima ou cúmplice,mostrou que 69% dos eleitores brasileirosjá transgrediram alguma lei ou des-cumpriram alguma regra contratual paraobter benefícios materiais, de forma cons-ciente e intencional: 75% acreditam quecometeriam pelo menos um dos 13 atosde corrupção avaliados pelo estudo (ver

quadro). Mais: 59% dos 2002 eleitoresentrevistados em 143 municípios doBrasil disseram que aceitariam a escolhade familiares ou pessoas conhecidas paracargos de confiança e 43% admitem quese aproveitem viagens oficiais para lazerpróprio e de familares.

MMoorrttee cciivviill ppaarraa ccoorrrruuppttoo

O Promotor de Justiça Diaulas CostaRibeiro diz pensar de forma muito dife-rente da dos acadêmicos. Para ele, acorrupção não está no meio do povo,mas centralizada em focos muitoespecíficos. Assim, idéias como a decriar disciplinas específicas para educarcrianças desde muito pequenas e evitarque cresçam corruptas não adiantariamde nada. “O que tem de aumentar nãoé o índice de percepção da corrupção,mas o índice de percepção darepressão”, diz Diaulas.

O Promotor não é favorável à cadeiapara os corruptos porque para eles talpunição não teria significado algum.“Cumprir cadeia é só um tempo para afortuna crescer.” Diaulas defende amorte civil do corrupto. Ou seja, que

perca tudo o que roubou: a casa, ocarro, o emprego público, o diretode votar, o direito aos serviços públi-cos como o de saúde e educação.Cadeia se aplicaria apenas aos crimi-nosos que atentarem contra a pes-soa. Aqueles que roubarem, estu-prarem, matarem. “Hoje em dia seaplica o mesmo remédio para doen-ças diferentes. Está errado.”

Se a meta do corrupto é ter di-nheiro fácil, facilidade econômica, éisso que deveria ser tirado dele. “Oque ganhamos com um políticofamoso na cadeia? O sujeito viraum ídolo, sofrendo, comendoquentinha. Depois vira deputadofederal. ”Assim, para o Promotor,todas as possibilidades de corromperou ser corrompido devem serminadas. “Temos que deixar de serpaternalistas. O corrupto não pensaem quantos pacientes morreramdurante a gestão dele.”

DDiiaauullaass CCoossttaa RRiibbeeiirroo PPrroommoottoorr ddee JJuussttiiççaa

CCaappaa

• quando tem oportunidade, tentadar uma “caixinha” ou “gorjeta”para se livrar de uma multa;

• sonega impostos;

• recebe benefícios do governo,sabendo que não tem direito aeles;

• adquire documentos falsos ou fal-sifica documentos para obteralgum tipo de vantagem (exem-plo: identidade, carteira demotorista, carteirinha de estu-dante, diploma);

• quando tem uma oportunidade,pede mais de um recibo por ummesmo procedimento médicopara obter mais reembolso doplano de saúde;

• compra produtos que copiam osoriginais de marcas famosassabendo que são piratas ou falsi-ficados;

• quando tem uma oportunidade,faz ligação clandestina ou “gato”de TV a cabo, ou seja, aproveita ainstalação do vizinho;

• quando tem uma oportunidade,faz ligação clandestina ou “gato”de água ou luz;

• se tem chance, pega ou consomeprodutos em padarias, supermer-cados ou outros estabelecimentoscomerciais sem pagar;

• apresenta atestados médicos fal-sos no trabalho ou na escola;

• se tem seguro de carro ou dequalquer outro tipo, quando temuma oportunidade, frauda oseguro;

• compra algo sabendo que é rou-bado (pirataria);

• falsifica atestado de saúde ouapresenta atestado de saúde falsi-ficado para conseguir aposenta-doria precoce.

Fonte: itens avaliados pelo Ibope empesquisa de 2006

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"A PRODEP é responsável pela pro-teção dos bens públicos, do patrimôniopúblico", diz o Promotor de Justiça Ival-do Lemos Júnior. Esse patrimônio podeser o dinheiro envolvido na execução deum contrato, na realização ou na dis-pensa de uma licitação, mas tambémpode ser patrimônio imobiliário. “Pode-mos atuar, por exemplo, em casos nosquais particulares ocupam de modoirregular uma terra que é pública."

O crime de corrupção propriamentedito, definido nos artigos 317 e 333 doCódigo Penal Brasileiro, não faz partedas atribuições da PRODEP, e sim dasPromotorias Criminais comuns. APRODEP trabalha com legislação espe-cial, como a Lei de Licitações e a Lei deImprobidade Administrativa. Os casosde desvio de dinheiro público, no entan-to, podem levar a punições tanto naesfera penal quanto na esfera cível. Ouseja, por um mesmo fato, os envolvidospodem responder tanto pelo crime decorrupção, que pode ser punido comprisão, quanto por outros, como o deimprobidade administrativa, que poderesultar em multa, perda da funçãopública e dos direitos políticos.

Nas ocasiões em que os fatos são muitosignificativos, o Procurador-Geral de Justiçapode criar uma comissão de Promotorespara que atuem em conjunto num caso

PPoorr FFlláávviiaa GGoonnççaallvveess

A PRODEP ajuizou ao longo dosúltimos anos uma série de açõescivis públicas questionando os con-tratos firmados entre a Belacap e aQualix. A última delas, de 2006,apontou problemas no edital aber-to para realizar a licitação que sele-cionaria a empresa encarregada dosserviços de limpeza urbana no DFnos cinco anos seguintes. O editaltinha várias cláusulas irregulares,que direcionavam o resultado demodo a beneficiar a Qualix. A lici-tação foi suspensa pela Justiça. Paraevitar a paralisação no serviço delimpeza pública, o GDF assinou umcontrato emergencial, válido atémaio de 2007, com a Qualix e duasoutras empresas. O TCDF tambémdeterminou a suspensão do editalde licitação. As mesmas irregulari-dades do edital do ano passado jáhaviam sido apontadas pelaPRODEP em agosto de 2000. A Pro-motoria tentou, por meio de açãocivil pública, suspender uma lici-tação que aca-bou sendo vencidapela Qualix. Em setembro daquelemesmo ano, a empresa, que naépoca se chamava Enterpa Ambien-tal, firmou com a Belacap um con-trato válido por cinco anos. O do-cumento foi questionado nova-mente em 2003, desta vez com oargumento de que a coleta e otratamento do lixo são atividadesfim da Belacap, que de-veria realizarconcurso público para preencher oscargos em vez de entregar as obri-gações a uma empresa particular.

M P D F T e m r e v i s t a

Qualix e Belacap, Instituto

Candango de Solidariedade e

Codeplan. Nos últimos anos, o

Distrito Federal tem sido palco

de vários casos de desvio ou

má utilização do dinheiro pú-

blico, entre outras irregulari-

dades que recebem popular-

mente a denominação de cor-

rupção. No Ministério Público

do Distrito Federal e Terri-

tórios existem Promotorias de

Justiça especializadas no

combate a esses casos. O

tema também é tratado por

outras Promotorias.

9

específico, e conferir a eles poderes paraelaborar denúncias sobre todos os seusaspectos. "Isso facilita os trabalhos e con-fere maior agilidade e eficiência às investi-gações", esclarece o Promotor de JustiçaAlbertino da Costa Neto.

As irregularidades do Instituto Can-dango de Solidariedade, por exemplo,estão sendo investigadas por uma co-missão formada por Promotores deJustiça lotados em diversas promotorias,entre as quais a PRODEP. A comissão jáofereceu denúncias contra vários dosenvolvidos pelos crimes de peculato, fal-sidade ideológica, desvio de dinheiropúblico e lavagem de dinheiro.

As suspeitas de irregularidade podemchegar à PRODEP por meio de várias

fontes: representações encaminhadaspor pessoas, órgãos públicos, sindicatosou empresas, reportagens divulgadaspela imprensa, ou mesmo informantesem contato direto com os Promotores.Assim o processo contra o ex-juiz da 1ªVara da Fazenda Pública do Distrito Fede-ral, acusado de proferir sentenças embenefício de um advogado em troca dedinheiro para comprar um carro, partiuda observação de Promotores que traba-lhavam com o acusado.

Quando os indícios são sólidos o sufi-ciente, os Promotores dão início às investi-gações, por meio de procedimentos deinvestigação preliminar ou inquéritos civispúblicos. "Enquanto a polícia é responsá-vel pela investigação dos chamadoscrimes comuns, nos crimes que fazem

PPaattrriimmôônniioo PPúúbblliiccoo

Em outubro de 2006, a PolíciaFederal realizou, em parceria com oMinistério Público, a Operação Can-dango, que resultou na prisão de 13gestores do Instituto Candango deSolidariedade (ICS). Os envolvidosforam denunciados pelo Núcleo deCombate às Organizações Crimi-nosas, do MPDFT, por crimes comopeculato e lavagem de dinheiro. Aoperação foi o resultado mais visíveldo trabalho da Comissão criada emsetembro de 2004 para concentrar,no âmbito do MPDFT, as investi-gações sobre o ICS.

A partir de meados dos anos 90,o Governo do Distrito Federal pas-

sou a utilizar os contratosde gestão com o ICS como

alternativa à realizaçãode concursos públicos

para admissão de pessoale de licitações para con-tratação de serviços. Entre

1999 e 2006, o GDF trans-feriu mais de 2 bilhões dereais ao ICS, que funcionavacomo intermediador. A em-

presa executora emitia umanota fiscal em nome do ICS,que por sua vez emitia outra, a

ser paga pelo GDF, com umacréscimo de 9% sobre ovalor dos serviços. Alémde não existir justificativapara esse acréscimo, foram

descobertos indícios desuperfaturamento em diver-sos contratos.

M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

10 M P D F T e m r e v i s t a

parte de legislação específica, a própriaPRODEP pode investigar as irregulari-dades", explica Albertino. Se compro-vadas, as investigações podem resultarem ações civis e ainda servir de basepara que Promotores Criminais ajuízem,para os mesmos réus, denúncias relati-vas ao crime de corrupção.

CCaaiixxaa ddee PPaannddoorraa

"Quando você instaura o inquérito,você abre a Caixa de Pandora. Não sabeo que vai acontecer. A investigação podecrescer, pode ser um sucesso absoluto,mas também pode não dar em nada",declara Ivaldo. O caso da Qualix, empre-sa que até o ano de 2006 era responsá-vel pela coleta e tratamento de lixo no DF,é um exemplo de investigação que tevevários desdobramentos. Até o momento,sete pessoas já foram denunciadas pelos

crimes de corrupção, improbidade admi-nistrativa e lavagem de dinheiro.

Devido ao alto número de ações emandamento, às vezes torna-se necessáriopriorizar aquelas que envolvem quantiasmaiores, ou que podem causar maioresdanos à sociedade. Em maio de 2006, aPRODEP ajuizou uma série de ações civispúblicas para suspender contratos entreGDF, BRB, CEB e Caesb e sete empresas depublicidade. Os contratos eram imprecisoscom relação ao trabalho a ser desenvolvido.Não apresentavam orçamentos detalhadosou mesmo o valor final dos serviços, mas,no período em que estiveram em vigor,resultaram em gastos de mais de 50 mi-lhões de reais. O Tribunal de Justiça do DF eTerritórios suspendeu os contratos, e o Tri-bunal de Contas da União, em um casosemelhante, publicou acórdão que utilizoumuitos dos argumentos da Promotoria.

Para recuperar o dinheiro público des-viado, a primeira estratégia é entrar comuma ação contra o órgão. "Fazendo umaanalogia, é como se você fosse lá parafechar a torneira". Também se pode tentarreaver a água que já foi derramada. Paratanto, a ação não é contra o órgão, mascontra as pessoas que deixaram o proble-ma acontecer, que assinaram o contratoirregular. Aí, o caso entra no âmbito deimprobidade administrativa, que é umaação de sanção, com penas de ressarci-mento de bens, de perda de função públi-ca e direitos políticos, de multa civil".

“O que realmente desencoraja essetipo de ação não é o que está escrito nopapel, mas o que acontece na vida real,o aspecto prático, vivo da coisa. Quandoo administrador observa que seu ante-cessor foi punido, ele desiste de praticardeterminada conduta”, conclui Ivaldo.

EEmm 22000033,, aa PPRROODDEEPP aajjuuiizzoouu uummaa aaççããoo ccoonnttrraa

aa FFeeiirraa ddooss IImmppoorrttaaddooss,, llooccaalliizzaaddaa eemm uummaa áárreeaa

ddee pprroopprriieeddaaddee ddaass CCeennttrraaiiss ddee AAbbaasstteecciimmeennttoo

ddee BBrraassíílliiaa ((CCeeaassaa)).. NNaa ooppiinniiããoo ddooss PPrroommoottoorreess,,

ooss ffeeiirraanntteess eessttaarriiaamm sseennddoo bbeenneeffiicciiaaddooss iinnjjuussttaa--

mmeennttee aaoo uuttiilliizzaarreemm áárreeaa ppúúbblliiccaa sseemm qquuee oo

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ffeeiirraanntteess ppaarrttiicciippaarraamm ddee uumm pprroocceessssoo sseelleettiivvoo

ssiimmpplliiffiiccaaddoo,, ccrriiaaddoo ppeellaa LLeeii DDiissttrriittaall nn°° 11886688,, ddee

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11M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

O novo modelo, que já está sendocopiado por estados como o de SãoPaulo e Minas Gerais, é considerado umgrande avanço no Sistema Penalbrasileiro. O Assessor de SegurançaInstitucional do Ministério Público doDistrito Federal e Territórios, MajorAntônio José Ferreira, acredita que aexperiência traz uma resposta mais rá-pida ao cidadão, além de destacar aatividade do policial militar.

“Um sistema semelhante a este, masno qual o policial pudesse registrar a ocor-

rência digitalmen-te, integraria muito

mais as Polícias Militare Civil, o Ministério Pú-

blico e o Judiciário. O tra-balho dos Promotores e

Procuradores de Justiça seriamais fácil, mais ágil, o que só

traria benefícios à população”,declara a Promotora de Justiça

Alessandra Queiroga.

AAlltteerraarr LLeeii

O Promotor de Justiça da PromotoriaMilitar Paulo Gomes também defende aadoção do modelo no Distrito Federal.Ele conta que o Projeto já foi analisado eaprovado pelo MPDFT, mas esclarece queé preciso fazer mudanças na atual legis-lação local. “Nos outros estados fica maisfácil porque a legislação é estadual e aquié preciso alterar uma lei federal”, explica.Outra dificuldade apontada por Gomes éo fato de a Polícia Civil não querer perderatribuições, embora a instituição pas-sasse a contar com um número bemmaior de policiais para investigações.

PPeellaa iinntteerrnneett

Em alguns estados brasileiros, entreeles o Distrito Federal, São Paulo, Goiás,Paraná, Pernambuco, Ceará, Sergipe,além do Rio Grande do Sul, o cidadãoconta com o serviço de registro de ocor-rências pela internet. Nos casos de aci-dentes de trânsito sem vítimas, furtos deveículos e perda de documentos, aprópria vítima descreve o ocorrido nosite da Polícia Militar, Civil (DelegaciaEletrônica ou Virtual) ou da Secretaria deSegurança Pública. Essa é uma outraalternativa que gera economia e agili-dade tanto para o Estado como para aSociedade Civil.

O novo Secretário de SegurançaPública do DF, General Cândido VargasFreire, também defende a integraçãoentre as polícias e a valorização doprofissional de segurança. O Generalafirma que gostaria de implantar aquium modelo de corregedoria única, quereúna os órgãos das polícias Civil, Militare do Corpo de Bombeiros. Isso, a exem-plo do que foi realizado no Cearádurante o governo Tasso Jereissati.

IInntteeggrraaççããoo

Quem preenche

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PPoorr DDaanniieellllaa CCaarrvvaallhhoo

SSiisstteemmaa qquuee iinntteeggrree aass PPoollíícciiaassCCiivviill,, MMiilliittaarr,, oo CCoorrppoo ddeeBBoommbbeeiirrooss,, oo MMPP ee oo JJuuddiicciiáárriioottrraarráá mmaaiiss rreessppoossttaa aaoo cciiddaaddããoo

12M P D F T e m r e v i s t a

Relatório elaborado pela Promotora de Justiça Alessandra Queiroga propõe que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado ao Ministério da Justiça,eleja o ano de 2007 como o Ano da Polícia, com propostas de ações para melhorar a

qualidade de vida dos agentes de segurança. Entre elas, a possibilidade definanciamento da casa própria.

A idéia está em documento, resultadode missão à cidade de Fortaleza, ondealguns os membros do Conselho visi-taram autoridades e familiares de trêsjovens que foram supostamente assassi-nados por policiais militares cearenses.Para vingar a morte de um colega, os poli-ciais encapuzados teriam invadido centrode triagem e recepção, atirando em umadolescente acusado de furto e depoisem outros dois menores, um deles execu-tado na frente da própria mãe.

Durante a investigação, os conse-lheiros foram procurados pelos policiais.Eles queriam mostrar o outro lado dahistória – a miséria em que vive a maio-ria deles. Ao contrário da situação maisconfortável encontrada no Distrito Fede-ral, os PMs do Ceará recebem R$ 800 desalário e são obrigados a morar nasmesmas regiões dos bandidos porquenão conseguem se manter em outrosbairros mais abastados.

IInnqquuéérriittooss,, ccaauussaass ee aappuurraaççããoo

Em contrapartida, a Polícia Militar doDF é a mais bem paga do país e contacom 50% de aprovação por parte dapopulação, segundo dados da Universi-dade de Brasília. Apesar disso, hádenúncias de crimes e corrupção sendoinvestigados.

Lesões corporais na abordagem dapopulação, desacatos a superiores eatestados médicos falsos para justificarfaltas ao serviço são a causa da maioriados inquéritos instaurados na Correge-doria da Polícia Militar e dos processosque tramitam na Auditoria Militar deBrasília. Dos 276 inquéritos instaurados

em 2006, 85 referem-se a lesões corpo-rais, 104 a crimes militares e 16 a falsifi-cação de documentos.

Atualmente, existem 895 processostramitando na Auditoria Militar. No anode 2006, 315 foram arquivados. O asses-sor de Segurança Institucional do MPDFTacredita que o grande número de arqui-vamentos é um problema característicoda própria Justiça e não especificamenteda Justiça Militar. Segundo ele, o per-centual de condenações nos crimes mili-tares costuma ser muito maior do que oda Justiça Comum.

O Promotor de Justiça Militar PauloGomes acrescenta que o percentual dearquivamentos é sempre maior que o dedenúncias porque, em boa parte dosinquéritos, constata-se que a condutado policial estava dentro dos parâme-tros legais. Não havendo crime a con-siderar, o processo é arquivado.

De acordo com a estatística da Cor-regedoria da Polícia Militar, foram instau-rados 276 inquéritos no ano passado.Destes, 244 acabaram sendo soluciona-dos pela própria Polícia e encaminhados àJustiça Militar.

O Promotor Militar Paulo Gomesdestaca que muitas vezes as estatísticasnão refletem a realidade. Afinal, hávários fatores que interferem nos resul-tados. Para exemplificar, a questão daprescrição retroativa (ou seja, aextinção da punibilidade do crime noscasos em que o juiz aplica uma penamenor que a máxima. A partir daí, oprazo de prescrição diminui e o proces-so acaba arquivado).

Além disso, ele lembra que a maioriados inquéritos que foram instauradospela PM ainda estão tramitando. Outrosjá podem até ter recebido denúncia, masa comunicação da Auditoria Militar àCorregedoria é demorada.

De acordo com o Assessor de Segu-rança Institucional do MPDFT, MajorAntônio José Ferreira, os problemascomeçam quando o policial mistura o queé sadio no relacionamento com a comu-nidade e o que é pernicioso. Em Brasília,desvios de condutas como aqueles rela-tivos ao transporte clandestino são muitocomuns. A partir da camaradagem em li-berar um veículo irregular, por exemplo,surgem as propinas e a troca de favores.

Para o Promotor de Justiça da Promo-toria Militar do MPDFT Mauro Faria deLima, “a área mais crítica, no que se refereà corrupção policial, é a de fiscalização detransporte coletivo. Tal como é feita, eu aconsidero ineficiente e comprometida. O

13

MMiilliittaarr

M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

PPoorr DDaanniieellllaa CCaarrvvaallhhoo

PPaauulloo GGoommeess PPrroommoottoorr ddee JJuussttiiççaa MMiilliittaarr

policial militar não é fiscal, e acho que nãodeveria ser utilizado para este trabalho”.

Com o surgimento do sistema públicoalternativo, alguns policiais tornaram-secondutores e até proprietários daschamadas vans piratas. “A situação teveinício numa época em que os salárioseram mais baixos e os policiais militarestrabalhavam como motoristas de táxispara complementar a renda, embora aatividade já fosse proibida pela lei militar”,lembra o assessor de Segurança Institu-cional, Major Antônio José Ferreira.

“Muitas vezes a própria população nãotem interesse em denunciar, pois tambémse beneficia”, afirma o Promotor de Justiçada Promotoria Militar Nísio Tostes. Paraele, o crime de corrupção é muito difícilde provar. “No caso da polícia, são crimesque nem sempre envolvem dinheiro, masprincipalmente troca de favores, especial-mente nos casos das vans”.

Outro motivo que dificulta a apuraçãode crimes envolvendo policiais militares é

a intimidação das teste-munhas. Ferreira defende que a

participação da comunidade, obser-vando a conduta dos poli-ciais, é umimportante instrumento para reduzir acorrupção e outros crimes. Vale ressaltarque o MP, como órgão que cuida do con-trole externo da polícia, está sempre à dis-posição da sociedade.

CCoorrrruuppççããoo ssuuttiill

Não é raro ver pela cidade, comodestaca o Promotor de Justiça NísioTostes, policiais militares almoçando emestabelecimentos comerciais durante ohorário do expediente ou retirandomercadorias em lojas e mercearias.“Desta forma, o comerciante se sentemais protegido e dispensa o uso deseguranças particulares. É uma formade corrupção sutil”.

O Corregedor-Adjunto da PM-DF,tenente-coronel Paulo Roberto Oliveira,por sua vez, acredita que a prática datroca de favores não costuma acontecerem Brasília. Em 2006, apenas uma re-presentação foi encaminhada para aCorregedoria e acabou sendo arquiva-da. Dizia respeito a alguns policiais que

costumavam tomar café numa padariado Plano Piloto. O dono do estabeleci-mento alegou que a iniciativa era dele eque nada era exigido em contrapartida.O Corregedor alerta, entretanto, queexiste uma recomendação para que issonão se torne uma prática.

M P D F T e m r e v i s t a14

NNííssiioo TToosstteess –– PPrroommoottoorr ddee JJuussttiiççaaddaa PPrroommoottoorriiaa MMiilliittaarr

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Na opinião do Promotor Mauro Faria,“a propina que se dá ao policial militarpara que 'privilegie' determinado estabe-lecimento é uma forma de privatizar asegurança pública. Quando o Estado nãoconsegue oferecer segurança a todos oscidadãos, os grupos privilegiados vãopagar para ter segurança”.

É inegável que a própria naturezado serviço policial cria facilitadorespara a corrupção. No entanto, oAssessor de Segurança Institucional doMPDFT destaca que o Distrito Federaltem uma situação privilegiada. Istoporque além de um dos melhoressalários, a capital federal faz um recru-tamento considerado modelo. Grandeparte dos policiais tem formação supe-rior ou está cursando uma faculdade,embora ainda não seja um requisitoexigido para entrar na profissão.

UUnnBB mmuuddaa ccuurrrrííccuulloo

Pesquisa realizada pela Universidade deBrasília e a Polícia Militar do DF, em 1998,provou a necessidade dos policiais militaresterem aulas de Direitos Humanos durante otreinamento. A idéia era saber como a pop-ulação via a instituição. Cinqüenta porcento dos entrevistados disseram confiar naPM (ver quadro a seguir).

Para Caio Varela, Consultor de Políti-cas em Direitos Humanos, que tambémjá lecionou para policiais, a disciplinaDireitos Humanos amplia a visão dasegurança pública para um caráter quenão é o repressivo. “Muitos policiaissabem qual é o seu real papel, mas pre-cisam de mais instrumentos paraexercer a função e combater a violaçãodos Direitos Humanos”.

O Promotor de Justiça Mauro Farianão acredita que o problema do poli-cial militar esteja na formação. “Omodo de trabalhar é que perpetua aviolência: ela vai sendo passada adi-ante como se fosse normal”.

CCóóddiiggoo ddee ééttiiccaa XX bboomm sseennssoo

Outra pesquisa realizada pela UnBentre 2005/2006 enfoca as “CondutasPoliciais e Códigos de Deontologia –Um Estudo Comparativo sobre asrelações entre Polícia e a Sociedade”.As conclusões são preocupantes. Osespecialistas Maria Stela Grossi eArthur Trindade Maranhão cons-tataram que 75% dos códigos de éticaregulam apenas a vida do policial mi-litar dentro da corporação, mas nãoorientam a vida do PM no dia-a-diacom a sociedade.

“O que regula as ações dos policiasnas ruas e no contato com os cidadãos éa experiência e o bom senso de cadaprofissional”, declara a cientista socialMaria Ester Grossi. Para ela, há uma difi-culdade em definir o que é a profissão dopolicial, que para os policiais vai da mis-são à vocação. Os resultados do estudorevelam uma ausência de identidade ouuma identidade relativamente deteriora-da. A cientista acredita que o policial mili-tar tem internalizado a falta de reconhe-cimento pela sociedade, o que se refletena sua formação.

15M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

Pesquisa UnB – Percepção da População do Distrito Federal sobre a Polícia Militar 1998 /Confiança da população na PM

Confiança da

população na PM

50% confiam

Os mais jovens confiam menos na PM –

56% até 29 anos não confiam

A maioria das pessoas que

foram agredidas não procura as

autoridades.

40% das vítimas de roubo a mão

armada e ferimentos por arma de

fogo procuram a polícia.

MMiilliittaarr

Motivos da desconfiança 40,5% violência dos policiais 32,1% má formação16,2% corrupção 11,2% incompetência

Avaliação da atuação da PM positivas 17,2% negativas 82,7%

Futuro da Instituição6,3% acham que a Polícia Militar deve ser extinta 42,7% acham que ela deve ficar como está 51% acham que ela deve se unir à Polícia Civil.

MMaauurroo FFaarriiaaPPrroommoottoorr ddee JJuussttiiççaa MMiilliittaarr

16 M P D F T e m r e v i s t a

Escolas mal conservadas, falta deprofessores, atendimento médico ina-dequado e falta de espaços de lazer sãoproblemas muito mais freqüentes doque se pode imaginar. Nas palavras doConselheiro Tutelar do Paranoá AdeilseRocha Santos, a rede que deveria atuar

na proteção à infância e à juventudefunciona mal. “Encaminhamos criançasmenores de seis anos para a rede públi-ca, mas... onde estão as creches?”

A má qualidade nos serviços deatenção básica é vísivel quando se vi-sita o Centro de Ensino Fundamentalnº 404, de Samambaia. A escola foiconstruída em 1989 para atender,provisoriamente, as crianças da re-cém-criada Samambaia.

Quase 18 anos depois, o prédio aindaestá sendo utilizado, e a má conser-vação ameaça deixar sem aulas 1.664crianças e adolescentes. Há rachadurasno teto, infiltrações, fios elétricos expos-tos e vidros quebrados. As placas pré-moldadas das paredes estão soltas,colocando em risco os estudantes.

O professor Haroldo Aquino traba-lha no CEF 404 há 13 anos e lamentaa situação precária em que se encon-tra a escola: “A resposta da Secretariade Educação é sempre a de que nãohá dinheiro”, diz ele. “Se o dinheirodos impostos não chega aqui, os pre-judicados são os estudantes.”

Para avaliar quanto e como o Governodo Distrito Federal gasta com as criançase jovens do DF, as Promotorias de Defesada Infância e Juventude e de Defesa daEducação prepararam, em dezembropassado, o Relatório de Apuração doOrçamento Criança e Adolescente (OCA).A metodologia utilizada na pesquisa foielaborada pelo Instituto de EstudosSócioeconômicos (Inesc) em parceria como Fundo das Nações Unidas para a Infân-cia (Unicef) e a Fundação Abrinq.

PPoorr MMôônniiccaa SSiillvvaa

O Distrito Federal deveria ser um modelo na área do

atendimento à criança e aoadolescente. Não é o que

acontece. Apesar de ter umorçamento maior do que o de

muitos estados brasileiros,ele está longe de corresponder às

expectativas.

PPrroommoottoorraass ddaa IInnffâânncciiaa ee JJuuvveennttuuddee ee ddaa EEdduuccaaççããoo aannaalliissaamm oo OOrrççaammeennttoo ddoo DDFF

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A avaliação básica consistiu emtrês pontos principais: a comparaçãodos valores efetivamente gastos doOCA com aqueles inicialmente previs-tos no orçamento; a verificação daparticipação relativa do OCA no orça-mento geral do GDF; e a verificaçãoda participação relativa das despesascom atividades administrativas epesquisas no OCA.

Nesta primeira apuração, relativaao orçamento de 2005, a equipeoptou por trabalhar com os itens orça-mentários mais diretamente relaciona-dos com a criança e o adolescente nasesferas de ação prioritárias: saúde,educação, e assistência social e direitosda cidadania. Em 2007, o trabalhocontinuará. A comissão formada noMPDFT para acompanhar o OCAreunirá os dados relativos a 2006 e2007 para análise. “Queremos convi-dar parceiros da sociedade civil e deórgãos de controle externo do GDFpara nos ajudar neste trabalho”, afir-ma a Promotora de Defesa da Infânciae Juventude Fabiana Assis.

PPrréé--mmoollddaaddaass ee ddrrooggaass

Exemplos de mau atendimento naárea de educação não faltam. A EscolaClasse nº 56 ,de Ceilândia, está fecha-da desde o início de 2006. Construídaem placas pré-moldadas, a escola jánão tinha estrutura para receber osestudantes, que foram transferidospara outras unidades de ensino. “Alémde nossos filhos precisarem estudarlonge de casa, a escola fechada virouum ponto de consumo de drogas”,conta a dona-de-casa Marcioneide deJesus, mãe de um menino de 10 anos.A auxiliar de serviços gerais Idália Bar-bosa da Silva também está preocupa-da com o futuro da escola onde estu-dam os três netos: “Prometeram queno início de 2006 a escola já estariafuncionando, mas ainda nem começa-ram a construção”.

O artigo 212 da Constituição Fede-ral, assim como o artigo 69 da Lei deDiretrizes e Bases da Educação, esta-

belecem que 25% dos impostos e trans-ferências constitucionais recebidos pelosEstados, municípios e pelo Distrito Fede-ral devem ser aplicados na manutençãoe desenvolvimento do ensino público. Oprofessor da Faculdade de Educação daUniversidade de Brasília João AntônioMonlevade afirma, no entanto, que asoma investida em educação no DF émenor do que a prevista em lei.

De acordo com o professor, em 2005,o total de impostos arrecadados pelo GDF,somado com as transferências, foi de R$1.266.359.391,00. O Distrito Federalrecebeu R$4.447.467.052,00 relativos aoFundo Constitucional; assim, o total derecursos a ser aplicado em educação de-veria ter sido de R$2.378.226.154,00. Noentanto, o valor previsto no orçamento de2005 era de R$1.652.763.620,00. Umadiferença de R$725.462.534,00.

“Isso nos faz refletir sobre o signifi-cado das estatísticas referentes à Edu-cação”, declara Monlevade. Segundoo IBGE, 160 mil crianças de até trêsanos vivem no DF. No entanto, deacordo com o professor, apenas 610estariam matriculadas em crechespúblicas, pelos dados da própria Se-cretaria de Educação. “O Estado doRio Grande do Norte, com uma popu-lação pouco maior que a nossa, tem30 mil matrículas na rede pública paraessa faixa etária.”

Segundo os dados do OCA, foramgastos R$ 794.498.793,00 com edu-cação de crianças e adolescentes, incluí-da aí também a verba destinada à cul-tura (0,6% do total), esporte e lazer(0,1%). Mais de 90% dos recursosforam destinados ao Ensino Fundamen-tal, e a maior parte desse total foi uti-lizada no pagamento de professores.

A situação preocupa, e por isso aPromotoria de Defesa da Educaçãoelegeu o orçamento como prioridadepara este ano. “Vamos usar o queaprendemos para entender e acom-panhar a execução dos valores destina-dos à educação”, diz a Promotora deDefesa da Educação Ana Luisa Rivera.

17M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

Alguns números

OOCCAA ddoo DDFF eemm 22000055::

1,2 bilhão de reais ou 19,5% de todo o orçamento

OCA da União em 2005:

30 bilhões de reais ou 1,8% de todo o orçamento

GGaassttoo ddoo GGDDFF ccoomm ccaaddaa ccrriiaannççaa oouu aaddoolleesscceennttee nnooaannoo ddee 22000055::

R$ 1.654,00

GGaassttoo ddaa UUnniiããoo ccoomm ccaaddaa ccrriiaannççaa oouu aaddoolleesscceennttee nnooaannoo ddee 22000055::

R$ 516,41

CCrriiaannççaa

18 M P D F T e m r e v i s t a

SSaaúúddee ee AAssssiissttêênncciiaa SSoocciiaall

A qualidade do atendimento à criançae ao adolescente do DF pode ser medida apartir das dificuldades enfrentadas pelosConselhos Tutelares. No Conselho do Para-noá, por exemplo, há apenas um veículopara atender, além da própria cidade, SãoSebastião, Itapoã e a área rural próxima. “Ademanda é muito grande e às vezes temosque ficar parados por falta de outro carro”,reclama o Conselheiro Adeilse Santos. Eletambém vê problemas na saúde e na edu-cação: “As escolas estão superlotadas e oserviço público de saúde não consegue nosatender de forma satisfatória”, diz.

A percepção do Conselheiro é con-firmada pelos profissionais da Saúdeque atuam diretamente com criançase jovens. “Temos grandes dificuldadesde captar recursos específicos para oscuidados com o adolescente”, relata amédica Ana Paula Tuyama, chefe do

Núcleo de Atenção à Saúde do Ado-lescente (Nasad). “Existem verbas des-tinadas para nossa área, mas nemsempre o dinheiro está disponível.” Afalta de profissionais como psicólogosé outra falha destacada pela médica.

As restrições orçamentárias relata-das por Ana Paula podem ser perce-bidas observando-se os números doOCA: do total gasto pelo GDF em 2005com a saúde de crianças e adolescentes(R$332.359.153,00), mais de 60%foram utilizados com despesas adminis-trativas. Os gastos com assistênciasocial e direitos da cidadania são amenor parte do OCA: representam 9%do total, sendo que não houve gastoscom a rubrica direitos da cidadania.

SSoolluuççõõeess àà vviissttaa??

Segundo o Secretário de Planejamentoe Gestão, Ricardo Pinheiro Penna, o orça-

mento de 2007 deve reduzir a diferençaentre as verbas previstas e aquelas efetiva-mente gastas: “Pretendemos ter uma exe-cução orçamentária e financeira mais ri-gorosa possível”, afirma. Entre as açõesplanejadas estão a racionalização dos gas-tos com programas sociais, o investimen-to na geração de empregos e na melhoriada qualidade da educação.

Para o assessor de política fiscal eorçamentária do Instituto de EstudosSocioeconômicos (Inesc), FranciscoSadeck, é preciso refletir sobre os valoresrelativamente altos do OCA do DistritoFederal. “Como o Distrito Federal atuacomo Estado e município, é natural quea arrecadação seja maior, e o gasto,conseqüentemente, também”, diz. Ape-sar disso, ele faz um alerta: "Tão impor-tante quanto a quantidade é a qualidadedo investimento. Todo esse dinheiro pre-cisa resultar em boa assistência para crianças e adolescentes".

Com freqüência, falar em enfrentar a cor-rupção gera certo desconforto – ora porquehá pessoas que se beneficiam dela, oraporque o tema envolve algum grau de ceti-cismo. Há quem duvide que seja possível con-trolar e prevenir esse crime, que existe emtodas as sociedades, em distintas intensi-dades. A corrupção é um problema mun-dial, intensificado com o aumento dos fluxosde pessoas, capital e informação, facilitadopelos avanços tecnológicos. Diante dosdesafios da globalização, representantes dospaíses-membros da ONU assinaram emdezembro de 2003 a Convenção da ONUcontra a Corrupção (UNCAC, na sigla eminglês). Até hoje, 140 países já a assinaram e80 a ratificaram, entre eles o Brasil, em junhode 2005. Combater a corrupção requer, prin-cipalmente, vontade política compartilhadapor cada país. Para o Escritório das NaçõesUnidas contra Drogas e Crime (UNDOC) –guardião da UNCAC – com um mutirão pelacultura da legalidade, no âmbito nacional einternacional, será possível, sim, reduzir osimpactos da corrupção a níveis mínimos.

A corrupção é um imposto artificial, umabarreira aos investimentos. Restringe o cres-cimento do país, corrói a confiança nas insti-tuições e os elos da sociedade. Os mais pre-judicados são os grupos mais pobres, quedependem do bom funcionamento dosserviços públicos, sem desvio de verbas. Adefinição clássica, seguida pelo BancoMundial e pela ONG Transparência Interna-cional, considera corrupção como o uso daposição pública de um indivíduo paraproveitos pessoais ilegítimos. Mas essesabusos podem ocorrer tanto na esferapública como na privada e, necessaria-mente, envolvem a ação de quem oferece ede quem aceita propina e outros atos decorrupção. Para o UNODC, corrupção é“abuso de poder em proveito próprio”.Inclui-se, dessa forma, os setores público eprivado. Embora percebida de forma dife-rente nos países, a corrupção geralmente serefere a: conflito de interesses, desvios

fraudulentos, fraude, suborno, corrupçãopolítica, nepotismo e extorsão.

Com a inclusão dos setores público e pri-vado nas tipificações de atos de corrupção, aUNCAC tornou-se mais abrangente queoutras convenções, também importantes,como a da Organização dos Estados Ameri-canos (OEA), de 1996, e da Organizaçãopara a Cooperação Econômica e Desenvolvi-mento (OCDE), de 1997. Mas a principaldiferença entre os instrumentos interna-cionais contra a Corrupção é o número depaíses signatários e, conseqüentemente, oescopo de atuação – e cooperação.

Os problemas da corrupção são globais esó poderão ser enfrentados com ação con-junta de todos os países. Para isso a coope-ração internacional é imprescindível. A Con-venção ressalta, por exemplo, a importânciada recuperação de ativos e busca devolver aopaís lesado os bens desviados e transferidosao exterior. Estão previstas ações em conjun-to voltadas à prevenção, investigação e coo-peração jurídica, além da solicitação daextradição de réus.

Um sistema judiciário que seja propulsorda cultura da legalidade é de extremaimportância. Em diversos países, um sérioimpedimento ao sucesso de qualquer estraté-gia anticorrupção é um sistema judiciário queabre espaço para a corrupção e dificulta aexoneração de funcionários que violem aintegridade de suas profissões e seus com-promissos com o país. Isso torna ineficientequalquer mecanismo legal e institucional pro-jetado para restringir a corrupção.

No Brasil, as parcerias do UNODC com ossetores público e privado têm mostrado que épossível incentivar a cultura anticorrupção. Oprojeto com a Controladoria-Geral da União(CGU) tem contribuído para dar maistransparência às contas do governo, com oPortal da Transparência e o incentivo ao con-trole social na fiscalização do uso do dinheiro

público. Uma iniciativa do Instituto Ethos, doUNODC e outros parceiros lançou, em junhode 2006, o Primeiro Pacto Empresarial contraa Corrupção, para incentivar empresas aadotarem a ética e a transparência. Hoje háquase 300 empresas signatárias e mais de 70instituições, entre associações e sindicatos, queapóiam a iniciativa. Em fevereiro de 2007, olançamento de uma campanha nacional deumais impulso à cultura da legalidade.

No evento da assinatura da UNCAC, noMéxico, uma empresa multinacional compar-tilhou experiências na área de prevenção ecombate à corrupção. O mutirão começa nosaltos cargos. Os gerentes dão exemplo ecriam políticas claras sobre como agir diantedo suborno e corrupção. Ao criar uma cul-tura da legalidade e ao realçar a comuni-cação entre funcionários, a empresa reforçoumedidas para combater a corrupção interna-mente e criou um guia de boas práticas. Acada ano, faz-se uma pesquisa e publica-sequantas ofertas de suborno os funcionáriosreceberam. Houve, inclusive, casos de investi-gação e algumas demissões.

São passos que cada instituição, cadagoverno, cada sociedade têm que tomar emconjunto. Precisamos de redes ativas anti-corrupção – que unam a sociedade civil e ossetores privado e público, com amplo apoioda mídia – para promover os valores éticose o respeito à licitude. Ao reunir esforços eimplementar a UNCAC, de fato, podemosreduzir a corrupção e fortalecer a democra-cia e o Estado de Direito.

19M i n i s t é r i o P ú b l i c o d o D F e T e r r i t ó r i o s

Por uma culturaanticorrupção

AArrttiiggoo

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