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Realização:

Estrada Dona Castorina, 124 – Jardim BotânicoCEP: 22460-320 – Rio de Janeiro/RJ – Tel.: 21 3875 6218

www.iis-rio.org

[email protected]

Bernardo Baeta Neves StrassburgDiretor Executivo

Agnieszka LatawiecDiretora de Pesquisa

Colaboração:

Alvaro Iribarrem (IIS), Ana Castro (IIS), Daniel Silva (IIS), Felipe Barros (IIS), Fernanda Resende (IIS), Helena Alves-Pinto (IIS), Jerônimo Sansevero (IIS), Kemel Kalif (IIS), Luisa Lemgruber (IIS), Maiara Mendes (IIS), Márcio Rangel (IIS), Mariela Figueredo (IIS), Rafael Feltran-Barbieri (IIS), Valmir Ortega (Consultor).

Parceiros:

Apoio:

Os dados apresentados neste trabalho são de responsabilidade dosautoresenãonecessariamenterefletemavisãodosfinanciadores.

O download deste documento pode ser feito no site do IIS: www/iis-rio.org/publicacoes

Fotografi a da capa: Agnieszka Latawiec

Diagramação: Ana Cristina Silveira/AnaCê Design

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Março de 2015

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Sumário

SUMÁRIO EXECUTIVO 4

1. INTRODUÇÃO 6

Contexto Geral 6Contexto Regional 9

A Microrregião de Alta Floresta 9Iniciativas para promover o desenvolvimento rural e a proteção dos recursos naturais 10

2. USO DA TERRA E ADEQUAÇÃO AMBIENTAL NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA 13

Diagnóstico de uso da terra 13Situação ambiental de propriedades do município de Alta Floresta cadastradas no CAR 15

3. PERCEPÇÃO DE ATORES LOCAIS RELEVANTES 18

Dos gargalos e oportunidades para adoção das BPA com a intensificação da pecuária sustentável em larga escala na microrregião de Alta Floresta 18Potenciais obstáculos 18Potenciais oportunidades 22Tendências para o uso da terra 23Soja na microrregião de Alta Floresta 23

4. CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA A MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA 24

Cenários de expansão da pecuária e soja 24Otimização espacial do cenário LNAE 25Demandas e impactos do cenário LNAE 27Potencial de Redução de Desmatamento e Degradação Florestal – REDD+ 29

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 32

Recomendações para políticas públicas 32Recomendações para a cadeia produtiva 33Recomendações para agentes financeiros 34

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 35

7. ANEXO 39

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Lista de figuras

FIGURA 1 Etapas metodológicas desenvolvidas ......................................................................................................................8

FIGURA 2 Microrregião de Alta Floresta localizada no Estado do Mato Grosso. ...............................................................9

FIGURA 3 Dinâmica do desmatamento entre 2008 e 2013.. ............................................................................................ 14

FIGURA 4 Uso da Terra na microrregião de Alta Floresta em 2010. .................................................................................. 14

FIGURA 5 Mapa de uso e cobertura da terra de 2010 e os polígonos dos imóveis inscritos no cadastro ambiental rural do município de Alta Floresta................................................................................ 16

FIGURA 6 Principais riscos assossiados à adoção de BPAs ................................................................................................ 20

FIGURA 7 Percepção dos produtores sobre a importância de fatores para implementação de Boas Práticas ........ 20

FIGURA 8 Práticas já adotadas pelos produtores ou que têm interesse em adotar........................................................21

FIGURA 9 Dificuldadesdeacessoaocréditoidentificadospelosprodutores. .................................................................21

FIGURA 10 Benefícios de adoção das BPAs ............................................................................................................................. 22

FIGURA 11 Interesse dos produtores pelos sistemas mistos ................................................................................................ 23

FIGURA 12 Projeção da alocação espacial das cadeias de soja e pecuária na microrregião em 2030 segundo o cenário BAU. ............................................................................................27

FIGURA 13 Mapa de Desmatamento na microrregião de Alta Floresta em 2030 ............................................................. 28

FIGURA 14 Taxas de lotação projetadas para 2030 ............................................................................................................... 28

FIGURA 15 Projeçãodademandadecréditoemrelaçãoaosvaloresde2012. .............................................................. 29

FIGURA 1A Fluxo de análise da adequação ambiental das propriedades do município de Alta Floresta, baseada na lei 12.651/2012. ........................................................................40

FIGURA 2A ExemploderespostasparaaperguntasobreasdificuldadesassociadasàsBPAs .................................... 41

FIGURA 3A Riscos associados à adoção das BPAs .................................................................................................................. 42

Lista de tabelas

TABELA 1 Transição do uso e cobertura do solo da microrregião de Alta Floresta de 2008 a 2010..........................15

TABELA 2 Matriz de transição do uso e cobertura do solo do município de Alta Floresta de 2008 a 2010. ............15

TABELA 3 Adequação ambiental das propriedades cadastradas no CAR em relação às áreas de APP. ..................... 16

TABELA 4 Adequação ambiental das propriedades cadastradas no CAR em relação às áreas de Reserva Legal .................................................................................................................. 16

TABELA 5 RankingdasdificuldadesencontradaspelosprodutoresdeAltaFloresta .................................................... 19

TABELA 6 Projeções de Desmatamento no Cenário BAU em 2010 e 2030 .................................................................... 26

TABELA 7 Taxas de lotação projetadas para os municípios da microrregião de Alta Floresta ..................................... 28

TABELA 8 Demandaanualdecréditoparaaintensificaçãodapecuária na microrregião (em milhões de reais) ................................................................................................................. 30

TABELA 9 DemandaadicionalporinsumoseassistênciatécnicanamicrorregiãodeAltaFloresta .......................... 30

TABELA 10 Estimativa de potencial de REDD+ para a microrregião de Alta Floresta ....................................................... 30

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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Sumário executivo

A agropecuária possui importante papel no cenário econômico brasileiro, tendo a pe-cuária posição de destaque devido à sua

rápida expansão na última década. Tal expan-são, no entanto, vem acompanhada de inúmeras externalidades socioambientais. Grande parte destas externalidades pode ser reduzida ou eli-minadaatravésdoplanejamentoemelhorutili-zaçãodosolo.Umexemplodissoéofatodequea pecuária brasileira usa, em média, somente30% do potencial sustentável de produção das pastagens.Significadizerqueépossívelmanter,ou mesmo aumentar, o volume da produção sem abrir novas áreas de pastagem. Este processo, contudo, precisa ser modelado, considerando a influência de diversos fatores. Na microrregiãode Alta Floresta, no Mato Grosso, desenha-se um contexto extremamente favorável para uma forte expansão da pecuária, com possibilidades de ex-pansão da produção de soja, sem ser necessário desmatarnenhumhectaredefloresta.Oobjeti-vo do presente documento foi contribuir com o desenvolvimento sustentável da microrregião de AltaFloresta,atravésdeumaabordagemdeusointegrado do solo.

Considerando-se o atual diagnóstico de uso da terra e os possíveis cenários futuros na micror-região, enfatiza-se a necessidade de desenvolvi-mento de iniciativas que diminuam a competição pelousodaterra.Noentanto,osresultadosdes-te estudo indicam que asmaiores dificuldadespara o aumento da produtividade de forma sus-tentável através adoção de boas práticas agro-pecuárias (BPA) estão relacionadas aos aspectos financeiros,àfaltademão-de-obraqualificadae

ao acesso ao crédito. Os riscos, caracterizadoscomo aceitáveis sob condições, são a perda de mão-de-obra, riscos de mercado, falta de garan-tia de preço, morte súbita de pastagens e custos muito altos de produção. Mesmo assim, grande parte dos produtores apoiam o desenvolvimento de BPAs, adotam algumas dessas práticas e en-tendem sua importância para manejo sustentá-vel da sua propriedade.

Com o uso mais racional do solo, seria pos-sível realizar a ampla adequação ambiental das propriedades rurais sem impacto sobre a produ-ção. Atualmente, a microrregião possui 50% de suaáreacobertaporflorestase45%depasto.Considerando apenas o município de Alta Flores-ta,cercade90%daspropriedadespossuemdé-ficitdeáreasdepreservaçãopermanente (APP)florestada.Estedéficitpodealcançaraproxima-damente11.658hectares(40%detodaáreadeAPP). Com relação à Reserva Legal (RL), os dados indicamumpassivonaordemde146.820hec-tares (para 80% de RL).

Alémdisso,foramlistadascomooportunida-des e tendências para a região o consórcio entre soja e a pecuária, sendo a soja um importante mecanismo para a recuperação de pastagens em sistemas de integração Lavoura-Pecuária e Lavoura-Pecuária-Floresta.

Paraestudarapotencialidadeda intensifica-ção sustentável como ferramenta para aumentar a produção da pecuária, absorver a expansão da soja e evitar novos desmatamentos, foram cons-truídos dois cenários para o futuro uso da terra na

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regiãoaté2030,combaseementrevistacomato-reslocais.OcenáriodebaseutilizouprojeçõesdoIBGE para obter uma estimativa de 200 mil hecta-res de área de soja plantada na microrregião em 2030, e de um crescimento de aproximadamente 23% do rebanho da região. Tal expansão agrope-cuáriaacarretarianodesmatamentode446milnovos hectares na região.

Como alternativa foi modelado outro cená-rio mais sustentável, aqui denominado de “ex-pansão agrícola neutra em terras” (Land Neutral Agricultural Expansion–LNAE).Estimou-se,combase em dados de fazendas piloto da região ado-tando as BPAs e em um modelo de capacidade de suporte sustentável da pecuária, que uma áreade300milhectaresde intensificaçãosus-tentávelseriaosuficienteparaevitarnovosdes-matamentosaté2030.Esseesforçodemandariauminvestimentototaldeaproximadamente740milhões de reais nos próximos 15 anos. Dividido de maneira ótima ao longo dos próximos quinze anos, o custo anual da implantação de tal inten-sificaçãochegariaavalores40%maioresdoquea atual capacidade de obtenção de crédito dapecuáriadaregião.Noentanto,nosúltimosdezanoso créditopara apecuáriadeAlta Florestatem crescido em um ritmo que, se mantido, seria suficienteparacobrirtaisdespesasaolongodetodo o período.

Alémdarecomendaçãoparaqueosagentesfinanceirosviabilizemoacessoaocréditorural,já que burocracia e a estrutura insuficiente deatendimento foram apontadas pelos produtores comoprincipaisobstáculosparaacessoaocré-

ditorural,esseaumentodaquantidadedecré-ditodeveservoltadoparaaintensificaçãosus-tentável, atrelado a salvaguardas que garantam a diminuição da pressão que a cadeia produtiva da carne exerce pela conversão de novas áreas de pastagem.

Estimou-se ainda que a estruturação de um ProgramaEstadualdeREDD+,atravésdaimple-mentação da Lei Estadual nº 9878/2013, que cria o Sistema Estadual de Redução de Emis-sões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), poderia ser uma importante ferramen-taparacontribuircomofinanciamentoparaestatransição para um desenvolvimento sustentável. Estimou-se aqui que um valor de US$1,50/ t CO²eseriasuficienteparacobriroscustosdain-tensificação,equevaloresrelativamentebaixos(em relação a projeções futuras) como aquele pago pelo Fundo Amazônia (US$5,00/t CO²e)poderiam tambémfinanciar as necessárias po-líticas complementares associadas, como as-sistência técnica e controle do desmatamento.Uma transição para o cenário mais sustentável mitigaria a emissão de 203 milhões de tonela-dasdeCO².

Outras iniciativas complementares são pro-postasparagarantirosucessodaintensificaçãosustentável e evitar desmatamento futuro. São elas: ampliação da assistência técnica pública,envolvendo instituições que já atuem nesse cam-po; consolidação do Programa Estadual de Re-gularização Ambiental Rural, assegurando regras claras e estáveis e agilidade no andamento dos processos no órgão ambiental.

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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Introdução

Contexto Geral

A agropecuária brasileira apresenta papel de expressão no cenário nacional, sendo res-ponsável por 25% do Produto Interno Bru-

to e cerca de 37% dos empregos do Brasil (MAPA, 2012), com a carne e a soja despontando entre as principais commodities da produção nacional. Apenas a pecuária contribui com 6,7% do PIB e 7,8%dosempregos(CEPEA/USP,2013).Noanode 2013, o PIB do agronegócio apresentou alta de 4,45%,odobrodocrescimentodaeconomiana-cional.Nestecontexto,acadeiadapecuáriatevepapel de destaque, crescendo 11,66%, e indicada como a principal responsável pelo crescimento do segmento chamado “dentro da porteira” (CEPEA/USP, 2013). A expansão ou retração da produção daquelas commodities édeterminadaporváriosfatores e tem consequências variadas sob os as-pectos econômicos, sociais e ambientais (Walker, 2012).Portanto,identificarecompreenderessesfatores permite planejar ações para minimizar os efeitosdeletérios,assimcomootimizarosbene-fícios associados, sejam eles econômicos, sociais ou ambientais. Desta forma, o objetivo do presen-te trabalho é contribuir com o desenvolvimentosustentável da microrregião de Alta Floresta, esta-dodoMatoGrosso,atravésdousodetécnicasdepecuária sustentável e uso integrado do solo.

A expansão da agropecuária brasileira vem acompanhada de inúmeras externalidades, tais como: desmatamento na fronteira agrícola amazô-nica (Gibbs et al., 2010; Walker, 2012); emissão de Gases de Efeito Estufa - GEEs (Bustamante et al.,2014);perdadabiodiversidade(Pimmet al.,

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1995); violência no campo e desrespeito a legis-lações trabalhistas (CPT, 2013). Dentre os impac-tos ambientais da expansão da produção agrícola destaca-se sua relação direta com o aumento do desmatamento (Ramankutty et al., 2007). Esti-mativas recentes demonstram que mais de 25 mil Km2 foram desmatados no Brasil entre 2011 e 2012 (Hansen et al.,2013).Odesmatamento,por sua vez, promove a perda de uma gama de serviços ecossistêmicos (Pimm et al., 1995; MEA, 2005; TEEB, 2011; Strassburg et al., 2012).

NocasodaFlorestaAmazônicaadinâmicadodesmatamento apresenta uma grande variação no tempoeespaço(Gollnow&Lakes,2014).Destaforma, compreender quais são as principais cau-sasligadasaodesmatamentoéfundamentalparareverterocenáriodeperdadecoberturaflorestal,assim como para o desenvolvimento de medidas mais sustentáveis de produção. Estudos realiza-dos em escala regional e global tem demonstrado queadinâmicadodesmatamentonaAmazôniaéinfluenciada pelo mercado de produtos agrope-cuários, mudança indireta no uso da terra (leaka-ge) e alterações nas políticas públicas (Gollnow & Lakes,2014).Dentreasprincipaispolíticaspode-mos destacar a implementação do Plano de Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que se constituiu no principal instrumento de coordenação de políticas públicas federais, incluindo ações de ordenamen-to territorial, mecanismos de comando e controle, atravésdomonitoramentoporsensoriamentore-moto,restriçõesdeacessoacréditoefomentoapráticas agropecuárias mais sustentáveis.

A nova lei de proteção da vegetação nativa (Novocódigoflorestal-Leinº12.651/2012)repre-

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senta uma grande oportunidade para a redução do desmatamento e, inclusive, aumento da cobertura florestalatravésdeprojetosderestauraçãoecológi-ca (Soares-Filho et al.,2014).Levandoemcontaocódigoflorestal,odéficitlegaldevegetaçãonativaconsiderando as áreas de preservação permanen-tes (APP) e reserva legal (RL), foi estimado em apro-ximadamente 21 milhões de hectares (Soares-Filho et al.,2014).Entretanto,arestauraçãoemlargaes-cala pode aumentar a competição pelo uso da terra (Latawiec et al., 2014), principalmente dadas asprevisões de necessidade de aumento da produção de alimentos (Wirsenius et al., 2010; Alexandratos & Bruinsma, 2012). Portanto, o desenvolvimento de uma abordagem mais integrada do uso da terra, deformaquearestauraçãoflorestaleaproduçãode alimentos não sejam conflitantes, representauma peça chave na conciliação entre as atividades produtivas e amanutenção e/ou restauração flo-restal (ver Strassburg et al.,2014).

Ousodaintensificaçãosustentáveldapecuá-ria apresenta o potencial para contribuir com a re-duçãodesteconflito(Strassburget al.,2014).NoBrasil,apecuáriadecorteédesenvolvidapredo-minantemente de forma extensiva, com ocupação de grandes áreas, sendo a principal atividade res-ponsável pelo desmatamento (Baillie et al.,2004).Noentanto,emmédiaapenas30%dopotencialsustentável de produtividade tem sido aproveitado no Brasil (Strassburg et al.,2014).Destamaneira,épossível reduzir o total de área utilizada para pecu-ária uma vez que a produtividade seja aumentada, mantendo ou mesmo elevando o volume total de produção. Assim, pode haver a liberação de áreas para produção de outros alimentos ou para práti-casderestauração,easpressõeseconflitospelouso da terra poderiam ser então diminuídos. Há, porém,riscosassociadosà intensificaçãosusten-tável que podem levar inclusive ao aumento da pressão pelo uso da terra. Caso a intensificaçãosustentável não seja implantada de maneira pla-nejada, pode levar ao efeito rebote, em que o au-mento de produtividade pode atrair maior número de produtores adotando este sistema, contribuin-

do para o aumento da pressão sobre o uso da terra e, consequentemente, acarretando o aumento do desmatamento.Portanto,aintensificaçãodeveseracompanhadade estratégias e políticas específi-cas com intuito de evitar os efeitos indesejados da intensificação,comoovazamento(leakage).Destaforma,é importantequesejaconsideradoocon-texto regional, as principais pressões exercidas no local, características de desmatamento e progra-mas desenvolvidos relacionados.

O presente estudo visa propor um conjuntode contribuições para o desenvolvimento susten-táveldamicrorregiãodeAltaFloresta,atravésdoganho de escala das boas práticas agropecuárias eintensificaçãosustentável.Maisespecificamen-te, os objetivos são:

i) a caracterização do uso da terra e adequação am-biental; ii) diagnóstico das mudanças de uso da terra na microrregião de Alta Floresta;

iii) o desenvolvimento de cenários de expansão da produção da pecuária e soja;

iv) diagnóstico dos gargalos para adoção das boas práticas agropecuárias;

v) levantamento das oportunidades para o desen-volvimento de uma pecuária com intensi�cação sustentável.

Dessa forma, espera- se contribuir com subsí-dios para o desenvolvimento de políticas públicas, a disseminação de informações aos atores locais que lidam direta ou indiretamente com práticas de mudança de uso da terra na microrregião de Alta Floresta, e consequentemente com o desenvolvi-mento sustentável. Finalmente, os conhecimentos gerados podem se constituir em vivências a serem replicadas em outras localidades esferas.

As abordagens metodológicas adotadas nes-se trabalho estão descritas no anexo 1, mas po-dem ser visualizadas na figura 1, que ilustra as diversas atividades desenvolvidas ao longo da execução do estudo.

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FIGURA 1: Etapas metodológicas desenvolvidas.

Revisão da literatura e definições das metodologias do Grupo de Foco, questionários e

votação anônima

Dados de uso/cobertura de solo do

projeto TerraClass 2008

Matriz de transição no uso/cobertura da terra

para a microrregião e o município de Alta

Floresta

Análise de adequação ambiental para o município de Alta

Floresta

Dados espaciais do CAR (ICV) para o

município Alta Floresta

Dados de uso/cobertura dp solo TerraClass 2010

Espacialização de frigoríficos/silos/

potencial de soja e pasto/estradas

Projeção do aumento do rebanho para 2030 / Soja a partir de dados

do IBGE

Dados sobre intensificação da

pecuária (econometria)

Mapa de uso da terra projetado 2030 –

cenário BAU

Mapa de uso da terra projetado 2030 –

cenário LNAE

Desmatamento evitado

Área total a ser intensificada

Realização do Grupo de Foco, aplicação

dos questionários e votação anônima com

produtores

Devolutiva e validação dos dados

Reunião com stakeholders/atores

locais

Sindicato rural; Sec. de Agricultura e Meio Ambiente; Pecuaristas; Extensionistas

Entrevistas semiestruturadas

Construção de cenários

Modelagem dos cenários

Crédito total necessário

Empregos gerados Insumos adicionais

PROCESSOS PARTICIPATIVOS MAPEAMENTO

SUBSÍDIOS ADICIONAIS

Tomadores de decisão; Técnicos públicos/privados; Bancos

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Contexto Regional

A MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA

A microrregião de Alta Floresta, localizada no norte do estado do Mato Grosso (figura 2),écom-posta pelos municípios de Alta Floresta, Apiacás, Carlinda,NovaBandeirantes,NovaMonteVerdeeParanaíta, inseridos no bioma Amazônico. A mi-crorregião tem a pecuária como principal ativida-de, com crescentes pressões à entrada da cultura da soja. Como consequência do desmatamento, houve o desenvolvimento de diversos programas voltados para a redução de novas áreas desmata-das, assim como a implantação de projeto piloto

objetivando o aumento da produtividade e renta-bilidadedapecuáriadecorte,atravésdaadoçãode boas práticas agropecuárias (BPA).

A microrregião de Alta Floresta apresenta ca-racterísticas similares as de várias outras regiões do país que apresentam grande competição pelo uso da terra. Sendo assim, experiências e lições aprendidas podem ser replicadas.

Esta microrregião foi colonizada pela empre-saprivadaINDECO,duranteumfortemovimentode estímulo do governo brasileiro para ocupar a região norte do país. Desde a colonização da microrregião, em 1979, ocorreram três diferentes ciclos de produção econômica: a agricultura, o garimpo e a pecuária (MMA, 2008).

FIGURA 2: Microrregião de Alta Floresta localizada no Estado do Mato Grosso.Fonte: IBGE, 2014; Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

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O processo histórico de colonização, somadoàs atividades desenvolvidas no local, geraram for-tes pressões de desmatamento, apresentando uma configuraçãoconsolidadadeusoda terravoltadaparaaaberturadeáreasdeflorestadestinadasàformação de pastagens e consequente entrada na lista de municípios prioritários para ações de pre-venção e controle do desmatamento no Bioma Amazônia, instituídapeloMinistériodoMeioAm-bienteatravésdodecretonº6.321de2007.Estainiciativa teve como objetivo induzir o engajamento dos municípios no esforço de redução do desmata-mento,atravésdesançõescomoembargoaocrédi-to, a proibição à qualquer tipo de desmatamento, mesmo que legal, e a necessidade de inscrição dos imóveis rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

INICIATIVAS PARA PROMOVER O DESENVOLVIMENTO RURAL E A PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS

Diversas iniciativas vêm sendo desenvolvidas afimdeproporestratégiaseaçõesparareduzirodesmatamento e melhorar aspectos socioambien-tais na região. Entre estes, constam o Plano de De-senvolvimento Rural Sustentável do município de Alta Floresta, o Plano Diretor, o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Território da Cidadania Portal da Amazônia, entre outros.

Do ponto de vista ambiental, o Plano Diretor desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Alta Floresta (Lei n°1272/2003) tem como foco a proteção e recuperação ambiental com ampla participação popular na tomada de decisões com relação a empreendimentos que possam ser no-civos ao meio ambiente. Foi enfatizada a necessi-dade de recuperação do solo e de melhoria das práticas desenvolvidas na agricultura, além decapacitação da mão-de-obra local e integração dasatividadesruraleurbana,afimdeseevitaroêxodo rural (Lei nº 1272/2003).

OProgramadeDesenvolvimentoRuralSusten-tável do Município de Alta Floresta foi desenvolvi-

do com base na Agenda 21, e tem como objetivo induzir mudanças para práticas sustentáveis em contextolocal(MMA,2008).Odocumentoapre-senta diretrizes que vão em conformidade com o Plano Diretor, e alguns dos pontos mais relevan-tes são aqueles que contemplam o setor produ-tivo e extrativista rural, citando a necessidade de aumento da produção, garantindo benefícios econômicos aos produtores e ao município, e a proteção de biodiversidade, através da ferra-menta econômica de pagamento por serviços ambientais (PSA).Alémdisso, sãomencionadasações de capacitação, de garantia de assistência técnicaparaproduçãoedeacessoaocrédito.

Dentre as atividades mitigadoras mencionadas nodocumento,épropostaaadoçãodepráticasde conservação, assim como de adoção de mane-jo de pastagens, recuperação de áreas desmata-das e desenvolvimento de sistemas mistos como os de integração Lavoura Pecuária (iLP) e Lavoura Pecuária Floresta (iLPF). Estas atividades podem contribuircomoaumentodamatériaorgânicadosolo, promovendo o aumento de produção de bio-massa,eestásendodesenvolvidaem29dos141municípios do Mato Grosso (MMA, 2008; Gil et al., 2015).Finalmente,éenfatizadaanecessidadedeaumentar a produtividade na região, assim como contornaro insuficienteaproveitamentodasáre-as já desmatadas (MMA, 2008). Entre as diversas ações, foram contemplados o desenvolvimento de incentivos para a adoção de uma pecuária inte-gradadebaixocarbono,adiversificaçãodaprodu-ção, a implementação do CAR, entre outros.

OPlanoTerritorialdeDesenvolvimentoRuralSustentável (PTDRS), do Território da Cidadania Portal da Amazônia, segue na mesma direção dos dois programas citados anteriormente, focando no desenvolvimento territorial sustentável e na agricultura familiar. Um dos eixos prioritários de atuação do PTDRS, componentes da visão do fu-turo, denomina-se “organização sustentável da produção”, ou seja, a preocupação acerca de um aumento da produtividade sustentável nos muni-

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cípios da microrregião de Alta Floresta. Um dos pontosdeaçãoéoapoioparaaadequaçãodossistemas de produção, focando na regularização ambiental e na otimização das áreas de lavoura e pastagem (CEAAF, 2010).

Além das iniciativas acimamencionadas, hátambémodesenvolvimentodeprogramascomooProgramaNovoCampo,oMovimentoAltaFlo-resta do Futuro e o Programa Mato-grossense de Municípios Sustentáveis (PMS). Estes têm como foco, entre outros, a promoção de atividades sustentáveis e fortalecimento da governança am-biental e da participação social. Incluindo, em al-gumas dessas iniciativas, o aumento sustentável daprodutividadenasfazendasatravésdaimple-mentação de boas práticas agropecuárias, capa-citaçãoeassistênciatécnica.

OProgramaNovoCampopromoveaadoçãode boas práticas agropecuárias em fazendas de pecuáriadaAmazôniaafimdesealcançarome-lhor desempenho econômico, social e ambiental das fazendas. Dessa forma, pode-se contribuir com a redução do desmatamento, a promoção da conservação e recuperação dos recursos naturais eofortalecimentodaeconomialocal(ICV,2014).É esperado que 200 a 300 produtores adotem tais práticas em um período de dois anos, com ga-nhos de produtividade e lucratividade. Portanto, a disseminaçãodoProgramaentreosprodutoresédesuma importância (ICV,2014).Paraquesejaefetivado,oProgramaNovoCamposebaseiaemseis componentes: 1. Criação de incentivos para adoção das BPAs; 2. Solução de financiamentopara adoção das BPAs; 3. Apoio à mobilização / organizaçãodospecuaristas;4.Criaçãodeumarede de assistência técnica credenciada; 5. De-senvolvimento de um conjunto integrado de ferra-mentas para apoiar e acompanhar a adoção das BPAs; 6. Desenvolvimento de uma abordagem jurisdicional para promover e monitorar a conser-vação ambiental e a performance agropecuária emnívelmunicipal.OProgramaéexecutadoporumgrupodeorganizaçõesparceirascompapéis

complementares,comoONGs, institutosdepes-quisa,frigoríficos,entreoutros(ICV,2014).

Já o Movimento Alta Floresta do Futuro, por ou-tro lado, complementa os esforços do Plano Dire-tor,doPTDRSedeoutroscomooProgramaNovoCampo através da consolidação e aproximaçãodas lideranças locais e sociedade civil para lidar com problemas e soluções para o desenvolvimen-to sustentável da região. Um dos primeiros resul-tados do Movimento Alta Floresta do Futuro foi a constituição de um fórum permanente denomina-do Grupo Alta Floresta do Futuro, com o objetivo de consolidar a participação pública e fortalecer os instrumentos de governança local. Devido ao grande número de iniciativas comprometidas com o aumento da produtividade sustentável na microrregiãodeAltaFlorestaecomodesafiodeassegurar o envolvimento de todas as partes inte-ressadas (produtores, agentes privados, agentes públicos) no planejamento, elaboração, dissemi-nação, efetivação, acompanhamento, avaliação, melhoramento dessas iniciativas, o Grupo Alta Floresta do Futuro se torna imprescindível, en-quanto espaço público de diálogo social.

O Programa Mato-grossense de MunicípiosSustentáveis (PMS) foi constituído a partir de uma agenda de diálogo e cooperação entre organi-zações da sociedade civil, autoridades públicas locais e órgãos do governo estadual e tem como objetivo principal a promoção do desenvolvimen-to sustentável dos municípios da Amazônia Mato--grossense através do fortalecimento da econo-mia local, da melhoria da governança pública, da promoção da segurança jurídica e da redução do desmatamento e degradação ambiental. En-tre os temas abordados estão: a regularização ambiental e fundiária, a descentralização e o fortalecimento da gestão ambiental municipal, o ICMS-Ecológico, o fortalecimento das políticas ambientaislocais,eamunicipalizaçãodaestraté-gia de prevenção e combate ao desmatamento na Amazônia (ICV,2013).SegundoaTransparênciaFlorestal de Mato Grosso, publicação editada pelo

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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InstitutoCentrodeVida (ICV),oPMS representauma oportunidade única para fazer convergir as pautas de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Rural em torno do fortalecimento da gestão dos municípios,oqueémuitoimportanteparaopla-nejamento estratégico da microrregião de AltaFloresta (Micol et al.,2014).

Finalmente, o documento proposto pelo ICVemsetembrode2014,comocontribuiçãoaode-bate eleitoral estadual, Transparência Florestal de Mato Grosso: 10 ações prioritárias para conciliar o desenvolvimento rural com a conservação am-biental em Mato Grosso, apresenta as dez prio-ridades identificadas para conciliar o desenvol-vimento rural com a conservação ambiental em Mato Grosso, que inclui a criação de incentivos paraaconservaçãodasflorestaseamelhoriadaspráticas da pecuária bovina (Micol et al.,2014).

Diretrizes e políticas que encaminhem ao de-senvolvimento de ações para melhoria da quali-dade de vida e aumento da produção, concomi-tantemente à proteção e restauração ambiental, podemser tambémcomplementadaspor ferra-mentas como modelagens produtivas, econô-micas e espaciais. Estas permitem investigar a distribuição espacial dos principais usos da terra em uma determinada microrregião, assim como modelar cenários de usos futuros considerando as principais cadeias produtivas e infraestrutura. Dessa forma, pode-se analisar de maneira intrín-seca ao modelo, a competição pelo uso da ter-ra entre os setores da pecuária e da soja, assim como a pressão por desmatamentos adicionais. E como resultado, propor uma melhor alocação dos usos da terra otimizando os potenciais de formaa reduzir a competição e o conflitopelouso da terra.

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Uso da terra e adequação ambiental na microrregião de Alta Floresta 2

Diagnóstico de uso da terra

A agropecuária é atualmente a atividadeeconômica predominante na microrregião de Alta Floresta, e grande parte de seu ter-

ritórioéocupadoporpastagens.SegundodadosdoprojetoTerraClass(INPE),querealizaaclassi-ficaçãodecoberturaealgunsusosdaterraparaa região da Amazônia Legal, a microrregião pos-suía, em 2010, mais de 68% de sua área coberta porflorestase26%depastos.Quandocontras-tado com os dados de uso e cobertura da terra para o município de Alta Floresta, percebe-se que o quadro é bem diferente: as áreas florestadascaem para 50% em relação à área do município e asáreasdepastoequivalema45%.

Alémdisso,devidoaotipodeusodaterra,ossolos, que têmdemaneira geral baixa amédiafertilidade de macro e micro nutrientes, estão consideravelmente degradados. Tal uso está as-sociado ao histórico de atividades desenvolvidas naregiãodesdeasuacolonização.Opadrãodeocupação e a forma como se deu o desenvolvi-mento das atividades produtivas, baseadas em ciclos de exaustão sem investimentos de recu-peração,geroudurantedécadasaltosíndicesdedesmatamento. Esse processo histórico teve con-tribuição determinante para a inscrição de três municípios da microrregião na lista de municípios prioritários para ações de combate e prevenção do desmatamento.

A criação da lista de municípios prioritários para ações de combate e prevenção do desmata-mento teveumsignificativo impactonoengaja-

mento destes municípios no controle do mesmo e, em muitos casos, na queda da taxa de perda florestalnosanosseguintes.Namicrorregião,osmunicípiosdeAltaFloresta,NovaBandeiranteeParanaíta integraram a primeira lista publicada em 2008 (Portaria MMA nº 28/2008). Desses, apenas Alta Floresta conseguiu cumprir os requi-sitos para sua saída da lista, que foi efetivada pela Portaria MMA nº 197/2012.

De forma geral, como pode ser observado na figura 3, o desmatamento na microrregião apre-sentou queda em todos os municípios no período entre 2008 e 2010. Em 2011 vários municípios apresentaram crescimento pontual e, novamente em 2013, voltaram a apresentar aumento nos ín-dices de desmatamento, embora, em patamares inferiores aos de 2008.

Fazendo uma breve análise da transição dos usosecoberturadaterrade2008a2010(INPE/Embrapa, 2008; INPE/Embrapa, 2010), para amicrorregião de Alta Floresta, percebeu-se que a reduçãodeáreasdeflorestaem299.312ha.Houve, também, redução das áreas de pastosujo (53.723,66 ha) e regeneração com pasto (23.701,73 ha) (tabela 1, figura 4).

Ainda neste movimento de redução das áreas deflorestaemedianteoprocessoderegeneração,as áreas de pasto limpo tiveram aumento sobre outros usos da terra em um total de 17.363 ha. Em contrapartida, as áreas de vegetação secun-dária aumentaram em 39.039 ha, indicando que algumas destas estavam em processo de regene-ração em 2008, e semantiveram florestadas apontodeseremmapeadasem2010comoflores-ta secundária (tabela 1, tabela 2).

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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FIGURA 3: Dinâmica do desmatamento entre 2008 e 2013. Fonte: INPE/Embrapa, 2010. Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

140

120

100

80

60

40

20

02008 2009 2010 2011 2012 2013

Áre

a –

Km

2

Nova Bandeirantes

Alta Floresta

Apiacás

Carlinda

Paranaíta

Nova Monte Verde

FIGURA 4: Uso da Terra na microrregião de Alta Floresta em 2010. Fonte: IBGE, 2014; INPE/Embrapa, 2010. Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

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A mesma análise para o município de Alta Flo-resta mostrou a transformação de 1.233 ha de florestaemoutrasclassesdeusodaterra.Outramudança foi a transformação de 21.555 ha de pasto limpo e 5.027ha de regeneração com pas-to em outros usos. Em contrapartida, observou-se pouca transformação das outras classes, a não sernasáreasquenãopuderamserclassificadas(24.934 ha não observados pela presença denuvens na região). A maior transformação, neste sentido, foi o crescimento das áreas de vegetação secundária (3.607 ha) (tabela 1, tabela 2).

Situação ambiental de propriedades do município de Alta Floresta cadastradas no CAR

Nestaseção,análisesdeadequaçãoambien-tal são conduzidas em relação ao mapa atual das propriedades do município de Alta Floresta ca-dastradasnoCAR(ICV,comunicaçãointerna).Aspropriedades incluídas no mapa utilizado cobrem 77% da área do município (figura 5).

De acordo com a análise de adequação am-biental das Áreas de Preservação Permanente (APP) realizada, 91% das propriedades do mu-nicípio possuem déficit de APP florestada. Essedéficit podealcançar11.658hectares (40%detoda área de APP).

Para a análise da situação das reservas legais há um conjunto de aspectos a serem observados. OestadodoMatoGrossoelaborouoZoneamen-to Ecológico Econômico (ZEE; Lei estadual nº9.523/2011) e determinou as zonas onde a re-serva legal poderia ser reduzida para 50%, para finsderegularização,conformeprevistonoCódi-goFlorestalanterior,vigenteàépocadaelabora-ção,mastambémprevistonanovalegislaçãofe-deral (Lei nº 12.651/2012 – Art. 13). Entretanto, a aplicação desse dispositivo está suspensa por decisão da Justiça. Portanto, no caso do bioma

TABELA 1: Transição do uso e cobertura do solo da microrregião de Alta Floresta de 2008 a 2010.

TABELA 2: Matriz de transição do uso e cobertura do solo do município de Alta Floresta de 2008 a 2010.

Classes Balanço de área (ha) 2008/2010

Agricultura anual -372

Área não observada 77.742

Área urbana 37

Desflorestamento -19.491

Floresta -299.312

Hidrografia 0

Mineração 589

Mosaico de ocupações -27.087

Não floresta -935

Outros 2.678

Pasto com solo exposto -747

Pasto limpo 17.363

Pasto sujo -53.724

Reflorestamento 1.968

Regeneração com pasto -23.702

Vegetação secundária 39.039

Classes Balanço de área (ha) 2008/2010

Agricultura anual -440

Área não observada 24.935

Área urbana -2.520

Desflorestamento -1.207

Floresta -1.233

Hidrografia 0

Mineração 0

Não floresta 0

Outros 173

Pasto com solo exposto 108

Pasto limpo -21.556

Pasto sujo -259

Reflorestamento 936

Regeneração com pasto -5.027

Vegetação secundária 3.607

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TABELA 3: Adequação ambiental das propriedades cadastradas no CAR em relação às áreas de APP.

TABELA 4: Adequação ambiental das propriedades cadastradas no CAR em relação às áreas de Reserva Legal.

n % Total de área (ha)

Imóveis com déficits (APP) 2.219 91,35 11.658

Imóveis com APP adequada 210 8,65 1.005

Imóveis com déficits Imóveis com excedente

RL a 80%

Número de imóveis 201 52

Percentual (%) 79,4 20,6

Total de área (ha) 146.820 10.296,2

RL a 50%

Número de imóveis 105 148,0

Percentual (%) 41,5 58,5

Total de área (ha) 38.828,4 66.163,6

FIGURA 5: Mapa de uso e cobertura da terra de 2010 e os polígonos dos imóveis inscritos no cadastro ambiental rural do município de Alta Floresta. Fonte: IBGE, 2014; ICV, 2014; INPE/Embrapa, 2010. Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

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amazônico no Mato Grosso, aplica-se a obriga-ção de regularização da reserva legal no percen-tual de 80% da área do imóvel. No entanto, oprevisto no artigo 68 da nova legislação federal, que isenta os detentores de imóveis, que desma-taram nos percentuais previstos na legislação, vigente à época da supressão, de recomporempara os percentuais exigidos atualmente.

Considerando esses aspectos, foram realiza-das duas simulações para a análise do passivo de reserva legal, para a obrigação de recompor 80%, queestávigenteenquantooZEEestiversuspen-so, e para a obrigação de recompor 50%, aplicá-vel na vigência do ZEE e para os detentores deimóveis que desmataram anteriormente a 2001.

Osdadosindicamumpassivodereservalegaldaordemde146.820hectares,paraacondiçãode 80% de obrigação de regularização, ou de 38.828hectaresparaacondiçãode50%.Ore-

manescente que excede a obrigação de manuten-ção de reserva legal e que, potencialmente, pode-rá ser utilizado para emissão de Cotas de Reserva Ambiental, tambémébastantediferenciadonasduassituações.Nasituaçãode80%,oexcedenteédaordemde10.296hectares,nade50%,che-ga a 66.163 hectares.

Cabe ressaltar que essas análises foram realiza-das com base nos dados do CAR, disponibilizados peloICVnocontextodoprogramaderegularizaçãoambiental rural do município de Alta Floresta. Es-ses dados foram sobrepostos com dados de cober-turadoTerraClass2010enãorefletemasituaçãode regularização dos imóveis junto aos órgãos am-bientais. As informações sobre a situação legal dos imóveis, quanto à regularização ambiental, ainda nãoestãodisponíveis,jáqueoSICAR(SistemaNa-cional de Cadastro Ambiental Rural) encontra-se em fase de implementação e ainda não permite acesso público às informações cadastradas.

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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Percepção de atores locais relevantes

Dos gargalos e oportunidades para adoção das BPAs com a intensificação da pecuária sustentável em larga escala na microrregião de Alta Floresta

Atravésdeumprocessoparticipativoenvol-vendo os atores e produtores rurais locais, foramrealizadasentrevistaseoficinascom

grupos focais para identificação dos gargalos eoportunidades para a adoção das Boas Práticas Agropecuárias (BPA; Latawiec et al., 2014). En-tendeu-se, para esse estudo, que os grupos focais seriam ferramentas eficazes para coletar dadossobre incertezas e ambiguidades observadas na literatura relacionadas à adoção das BPAs em lar-ga escala (ver anexo 1).

Comoprincipaisgargalos,osaspectosfinan-ceiros, a falta de mão-de-obra qualificada e oacessoaocréditoconstituemasprincipaisdificul-dades encontradas pelos produtores (tabela 5).

Quantoaosriscos,osdemaiorocorrênciaseenquadram como aceitáveis sob condições. São eles: perda de mão-de-obra, riscos de mercado, falta de garantia de preço, morte súbita de pasta-gens e custos muito alto de produção (figura 6).

Osprodutores rurais, considerandoasdificul-dades e riscos, em sua maioria absoluta apoiam as iniciativas de promoção das BPAs e entendem como positivas suas consequências no que diz res-peito à melhoria da imagem do produtor, ao bem

estar animal, à conservação dos recursos naturais, ao aumento da produtividade das pastagens e consequentemente no aumento da receita (figura 7).Foiverificado,também,quedemaneirageral,aadoção das BPAs já ocorre entre os produtores que participaram nos grupos focais (figura 8).

Alémdo trabalhodegrupos focaiscompro-dutores, foram realizadas também entrevistassemiestruturadas com atores relevantes para a atividade agropecuária na região. Nas entrevis-tas, buscou-se entender a visão dos entrevista-dos sobre o futuro da região e quais os principais obstáculos e oportunidades relacionadas à im-plantação em larga escala das BPAs e à entrada da soja.

Potenciais obstáculos

Dentre os fatores mais importantes para a adoção das BPAs, destacam-se:

1. Mão-de-obra: falta de mão-de-obra, seja ela qualificadaounão.Há,inclusive,apreocupa-ção com a competição por mão-de-obra pro-vocada por outras atividades econômicas em expansão na região, como o caso das peque-nashidrelétricas,citadoporalgunsproduto-res e outros atores.

2. Assistência técnica: necessária para promo-ção da intensificação sustentável da produ-ção, para a melhoria das práticas agropecu-árias e no que diz respeito ao planejamento

3

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e viabilidade da nova atividade, assim como para a adoção de outras BPAs. Há carência de técnicosemquantidadesuficiente,comoco-nhecimento especializado e que tenham uma visão integrada do processo.

3. Acesso ao crédito: os custos para a imple-mentação das BPAs são considerados bem elevados, principalmente, para os pequenos produtores.Hádificuldadedeacessoàlinhade créditosenoquediz respeitoàsgaran-tias.Alémdeserumprocessolongoeburo-crático. O acesso ao crédito é citado comoum fator limitante associado com ganhar es-cala na produção. Assim como a burocracia e a morosidade no processo de acesso a esse créditoeafaltadefuncionárioscapacitadospara esses atendimentos (figura 9).

4. Logística viária e transporte: foram desta-cados, por alguns como gargalo e por outros como oportunidades, à expansão da soja na região, uma vez que, houve melhorias na in-fraestrutura regional, principalmente no siste-ma de transportes.

5. Aspectos culturais:éconsideradocertonívelde desinformação e a forte resistência dos produtores à introdução de novas atividades e técnicas nomeio rural. No caso do siste-ma integrado lavoura/pecuária, considerado uma BPA, por exemplo, o pecuarista tem di-ficuldades de se transformar em agricultor.Essadificuldadesedeveaofatodaagricultu-ra ser para o pecuarista um novo universo de investimentos em infraestrutura e de relação do produtor com atividade.

TABELA 5: Ranking das dificuldades encontradas pelos produtores de Alta Floresta.Fonte: Latawiec et al., 2014.

# Itens priorizados Quantidade

1 Fundos insuficientes 19

2 Falta de mão-de-obra qualificada 12

3 Acesso ao crédito 8

4 Falta de assistência técnica 5

4 Problemas para manter a qualidade e restauração das pastagens 5

4 Infraestrutura de transporte inadequado 5

5 Falta de mão-de-obra 3

5 Falta de instalações 3

5 Relação ruim com frigoríficos 3

6 Equipe não motivada 2

6 Aplicação das BPAs é complicada 2

7 Cumprimento das normas ambientais 1

7 Conciliação de planejamento diário na fazenda 1

7 Dificuldade em acompanhar a inovação 1

7 Poucos frigoríficos na região 1

7 Confiança de que o BPA é bom 1

7 Aspecto cultural 1

7 Fornecedor ruim 1

7 Burocracia 1

Total 75

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

20

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Falta de mão de obra de qualid

ade

Não cumprim

ento com a legisla

ção trabalhista

Custo de produção muito

alto

Dependência do tra

balho quali�cado

Mercado

Nenhuma garantia de preços

Morte sú

bita/praga/ch

uva

Falta de Lo

gística

Sem condiçã

o de pagar o cré

dito

Risco de mudar as re

gras

Redução do investimento

Risco de perder o

patrimônio

Compromisso TA

C ambiental

Passivo ambiental

Risco de não funcio

nar

Risco de quando aplica

r o cré

dito dar o

imóvel co

mo garantia

Problema com a pasta

gem

Vender e não receber

Política de preço mínim

o

Investimento se

m retorno

Rendimento da ca

rcaça

Embargo municipal

Crédito que não sa

i

Freq

uênc

ia

FIGURA 6: Principais riscos assossiados à adoção de BPAs. Fonte: Latawiec et al., 2014.

FIGURA 7: Percepção dos produtores sobre a importância de fatores para implementação de Boas Práticas. Fonte: Latawiec et al., 2014.

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Disponibilid

ade de mão de obra quali�cada

Sem importância

Pouca importância

Importante

Muito importante

Não sei

Sem resposta

Acesso ao cré

dito

Uso de calcá

rio

Recursos p

ara insumos

Recursos p

ara equipamentos

Assistê

ncia técnica

Utilização de ce

rca

Condições c

limática

s favoráveis

Informações s

obre BPAs

Estabilid

ade de preços

Ganhar mais d

inheiro

Estabilid

ade nos preços d

o milho e..

Freq

uênc

ia

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FIGURA 8: Práticas já adotadas pelos produtores ou que têm interesse em adotar. Fonte: Latawiec et al., 2014.

FIGURA 9: Dificuldades de acesso ao crédito identificados pelos produtores. Fonte: Latawiec et al., 2014.

14

16

18

12

10

8

6

4

2

0

Gestão da proprie

dade Rural

Sem reposta

Gostaria de adotar

Já adoto

Não tenho interesse em adotar

Função socia

l do imóvel ru

ral

Gestão dos re

cursos h

umanos

Gestão ambiental

Instalações ru

rais

Manejo pré-abate

Bem-estar animal

Pastagens

Suplementação alimentar

Identi cação animal

Controle sa

nitário

Manejo produtivo

Freq

uênc

ia

14

16

12

10

8

6

4

2

0

Freq

uênc

ia

Outros

Exigência

documental muito

grande

Prazo de carência

muito cu

rto

Não tenho documentação completa

Juros muito

altos

Não conheço as li

nhas de cré

dito

Gerente não repassa inform

ação sobre lin

has de cré

dito

Demora muito tempo para aprovar o

projeto e liberar d

inheiro

A garantia que eu posso

dar não é aceita

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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Potenciais oportunidades

As excelentes condições de clima e solo são consideradas como grande oportunidade para as atividades agropecuárias da região, especial-mente para a pecuária, uma vez que esses fatores influenciamdiretamenteopotencialdebiomassadas pastagens.

É tambémapontadoquea intensificaçãodapecuária sustentável colocará essa região em lugar de destaque no mercado internacional da carne. A melhoria na cadeia produtiva proporcio-nará,alémdeboaqualidadedoproduto,asus-tentabilidade dos sistemas, possibilitando a con-quista de um mercado diferenciado para a carne produzidanessamicrorregião.Oprodutorobten-do maior valor agregado ao produto, não dispo-ria da sua atividade em favor da agricultura. Há

uma percepção clara dos produtores de que essa melhoria ocorrerá com a adoção das BPAs e que poderãogerarimpactossignificativosàpecuáriaregional, como o aumento da produtividade e de melhoria da renda obtida com a atividade.

A expansão da agricultura nesta região, es-pecialmente, da soja, também é consideradacomo um fator positivo para o ganho de escala da pecuária sustentável, pois estimulará a pe-cuáriaasetornarmaiseficienteecompetitiva.Alémdasojaserconsideradaumaótimaalter-nativa para integração lavoura pecuária, contri-buindo com e reduzindo os custos da reforma dospastosdegradados,serviriatambémdeali-mento para o gado.

Alguns atores, contudo, apontam ser mais vantajoso para o município ter uma pecuária de-senvolvida do que ter a soja ocupando áreas da pecuária.

FIGURA 10: Benefícios de adoção das BPAs. Fonte: Latawiec et al., 2014.

14

16

12

10

8

6

4

2

0

Freq

uênc

ia

Melhor administração e planejamento

Melhor gestão da mão de obra

Melhoria das c

ondições d

e trabalho

Melhores pasta

gens

Aumento da produtividade

Bem estar animal

Aumento da rendaOutro

sNão se

i

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Tendências para o uso da terra

Sobre as tendências para o uso da terra na microrregião de Alta Floresta, as opiniões foram bem diversificadas. Para alguns produtores eatores, a intensificação da pecuária através dasBPAs seria, ainda, a principal atividade, inclusive potencializando outras, tais como o turismo de negócio. Para outros, a expansão da agricultura, majoritariamente via soja, vislumbra possibilida-des de implantação de sistemas consorciados en-tre lavoura e pecuária; assim como consideraram os produtores nos grupos focais (figura 11). Há, ainda, quem aposta que a pecuária continuará a ser o carro chefe da região, principalmente depois daquedadospreçosdosgrãos,alémdoaltocus-to de investimentos na lavoura.

Os sistemas de consórcio integrando a sojae a pecuária são considerados como um grande potencial para a região.

Soja na microrregião de Alta Floresta

A soja aparece como um grande potencial na microrregião. Os dados oficiais mais recen-tes apontam para uma área de soja, em 2013, de 4 mil hectares (Sidra/IBGE, 2015), enquan-to entrevistas locais realizadas no âmbito deste documento revelaram área aproximada de dez milhectaresemdezembrode2014,mostrandotendênciadeaumento.Noentanto,aindaqueocrescimento da soja seja inevitável e possa trazer oportunidades locais, a atividade encontra bar-reirassignificativasparaoseudesenvolvimento.Mesmocomtaisdificuldades,ogrãotrazoportu-

FIGURA 11: Interesse dos produtores pelos sistemas mistos.Fonte: Latawiec et al., 2014.

12

10

8

6

4

2

0

Freq

uênc

ia

Sem respostaSim NãoNão se

i

Você adotará integração lavoura-pecuária-florestana sua fazenda nos próximos anos?

nidades locais como o aumento dos rendimentos para o produtor, melhorando as condições econô-micas de toda a região.

Há que se atentar para outros fatores, tais como a entrada da cultura de soja na região ser recente e potencialmente concentradora de renda, e que pode não ser uma opção para os pequenos agricultores devido aos seus custos iniciais eleva-dos. Somam-se a isto, outros obstáculos para o de-senvolvimento da soja na região, como o clima e o relevo declivoso, citados por alguns produtores.

Em relação à logística, a microrregião apre-senta, também, gargalos devido à precariedadeda infraestrutura de pós-colheita (secagem, arma-zenamento, escoamento do grão, etc.).

Alémdessesaspectosjáindicados,hábarrei-ras culturais para a transição da pecuária para a soja.Conformemuitosdosentrevistados,édifícilpara um pecuarista se tornar um produtor de soja, jáqueomodelodenegócioémuitodistintoeexi-ge conhecimentos e habilidades diferenciadas.

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Cenários prospectivos para a microrregião de Alta Floresta

Cenários de expansão da pecuária e soja

Diversos estudos têm buscado estimar o crescimento da demanda por alimento para os próximos anos. Dessa forma, o

desafioqueseapresentaéodeapoiaraprepa-ração e coordenações dos esforços necessários para cobrir esse crescimento e garantir a manu-tenção da segurança alimentar e a salvaguarda dos recursos naturais e biodiversidade.

Embora esse seja um desafio global, paísescomo o Brasil, com grande extensão de terras pro-dutivas, serão chamados a responder de forma diferenciada, com uma contribuição maior que a média.AAmazôniabrasileirapodeviraserpres-sionada caso não sejam adotadas medidas que permitam a construção de trajetórias distintas dasque,atéhoje,determinaramaexpansãodaagropecuárianoBrasil.Portanto,évitalantecipara resposta a esse risco e elaborar cenários que permitam a coordenação das ações necessárias para a construção de uma trajetória sustentável.

Com o objetivo de contribuir com esse pro-cesso,ao longode2014 foramrealizadasduasreuniões com diversos atores atuantes na micror-regiãodeAltaFloresta(incluindoprodutores,téc-nicos, membros do governo local, sindicato, entre outros) para obter informações sobre as tendên-cias relacionadas às mudanças de uso da terra. Finalmente,emdezembro2014,foramrealizadasentrevistas semiestruturadas com vários atores

da microrregião de Alta Floresta. Os seguintespontos foram contemplados nas entrevistas:

1. Quais são os gargalos/necessidades/de-mandas para obter escala em pecuária sus-tentável intensificada (como resultado deaplicação das BPAs) na microrregião de Alta Floresta?

2.Quaissãoasoportunidadesparaobteresca-la na pecuária intensiva sustentável?

3.Quaissãoastendências/potencialidadesnouso da terra na microrregião de Alta Floresta?

4. Sobre a chegada da soja na microrregião de Alta Floresta: quais as oportunidades, limita-ções e tendências?

Paralelamente, foram elaboradas, a partir de dados do IBGE emodelos econométricos paraséries temporais,projeçõesparaocrescimentopotencial do rebanho na microrregião e a sua distribuição de acordo com a capacidade de lo-tação projetada de cada município. Com base nessa projeção, foram desenvolvidas duas simu-lações de cenários prospectivos: a) consideran-do a manutenção do atual modelo de expansão da pecuária na região, que chamamos de BAU – Business As Usual; e b) considerando a ado-ção de práticas de manejo sustentável e de ado-çãodeestratégiascoordenadasparabloquearapossibilidade de desmatamento associado à ex-pansãodapecuária,quechamamosdeLNAE–Land Neutral Agricultural Expansion (Strassburg, 2012; ver box 1).

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1. Land Neutral Agricultural Expansion – LNAE

O mecanismo LNAE (Land Neutral Agricultural Expansion; expansão da agricultura sem desmatamento) consiste em uma série de estratégias coordenadas cuja �nalidade é relacionar esforços combinados da expansão da agricultura para uma determinada área, mitigando ou compensando o deslocamento gerado pelo produto original da mesma. Ou seja, o LNAE propõe um sistema fechado para evitar desmatamentos em direção a novas terras, ou “vazamento zero de terra”. Sendo assim, o mecanismo LNAE propõe três caminhos para o desmatamento evitado, onde o produtor pode escolher um deles ou adotar a combinação deles: 1) O deslocamento da área original de produção na área alvo para a expansão agrícola é mitigado via a adoção de múltiplos sistemas de uso de terra. Por esse caminho, a produção original (ex: pecuária) divide a mesma área com novas produções (ex: soja); 2) A fazenda alvo para expansão da agricultura é dividida em duas áreas. Em uma área ocorre a expansão da nova produção (ex: soja), enquanto que na outra área ocorre a intensi�cação da produção original (pecuária). Se a produção na segunda área é igual a produção original da fazenda, o deslocamento é mitigado e não ocorre vazamento de terra; 3) Um consórcio é formado por uma ou mais fazendas adicionais capazes de compensar a produção deslocada pela expansão na fazenda original. Se o total da produção do produto original (pecuária) nas fazendas do consórcio for igual ao de antes da expansão do produto novo (soja), o deslocamento é mitigado e não ocorre vazamento de terra. Dessa forma, tal mecanismo pode ser potencialmente aplicável no contexto do estado de Mato Grosso e da microrregião de Alta Floresta.

Otimização espacial do cenário LNAE

OobjetivodocenárioLNAEconsisteematin-gir as projeções de expansão da produção de car-ne e soja com desmatamento zero. Por meio de modelagemeconométricaeotimizaçãoespacial,obtem-se o desmatamento evitado nesse cená-rio em relação a um cenário “business-as-usual” paraa região,bemcomooesforçode intensifi-caçãonecessárioparaatingirasmetasdoLNAE.

Utilizandosérieshistóricasobtidasatravésdedados do IBGE, foram realizadas projeções refe-rentes a 2030 para o aumento do rebanho total damicrorregiãoeparaastaxasdelotaçãomédiasde cada município da microrregião.

Sabe-se que a cadeia da soja está se instalan-do na microrregião, com pelo menos quatro silos de armazenamento de grãos observados recente-mente. Projeções dos novos mapas do TerraClass para 2012 apontam para uma área de agricultu-raanualdeaproximadamente321,14ha,sendoeste uso do solo não observado nos mapas de 2010 para a microrregião. Já os dados da Pesqui-sa Agrícola Municipal apontam para uma área de 4.000hadesojaem2013,contrariandoasériehistórica em que a cultura está praticamente au-sente (Sidra/IBGE, 2015).

Usando-se dados históricos dos vinte primei-ros anos de expansão da soja em municípios da mesorregião norte-matogrossense, da qual fazem parte o município de Alta Floresta e a própria mi-crorregião, obteve-se uma curva de crescimento médio(entreosresultadosdosmodeloseconomé-tricos ARIMA, Double Exponential e Robust Linear Regression), que foi calibrada com base na dife-rença das áreas de soja nos dois últimos mapas do TerraClass. Segundo essa projeção, em 2030 a área de plantações de soja na microrregião atingi-ria 201.000 ha. Juntamente com as projeções para

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a cadeia da pecuária descritas no item anterior, es-ses dados formaram a base do cenário BAU.

Em seguida, lançou-se mão de um esquema de alocação espacial para se obter a projeção de área desmatada na microrregião em 2030 de acordocomocenárioBAU.Omodeloassumeummapasimplificadodeusodosolo,agregandoasclasses no mapa do TerraClass 2010, nas seguin-tesclasses:floresta,pastolimpo,pastosujo,pas-to degradado, soja e outros usos (cidades, corpos d’água, minerações, etc.).

O modelo assume também que no cenárioBAU, a moratória da soja ainda estará em vigor, demodoqueáreasdeflorestanãopossamserconvertidas para plantações de soja. Por ter prio-ridadesobreapecuária,asojaé localizadapri-meiro, seguindo a regra de priorização explicada aseguir.AcadeiadapecuárianocenárioBAUéentão instalada, abrindo novas áreas para aten-derocrescimentoprojetadodorebanho,alémdaparcela deslocada pela mudança no uso da terra causada pela entrada da cadeia da soja.

A priorização de alocação para a cadeia da soja leva em consideração o potencial de produ-tividadeparaasoja(IIASA/FAO,2012)eocustode transporte para o silo mais próximo seguindo a rederodoviária.Ambososcritériosforamnorma-lizados,eseuspesosnapriorização foramfixosde acordo com uma regressão Probit. Mudanças deusodeflorestaououtrosusossãoimpossibili-tadasatravésdousodemáscaras.

Para a alocação do rebanho projetado para a cadeia da pecuária criou-se inicialmente um mapa de priorização utilizando o potencial de produtividade para a pecuária, baseado no mapa deprodutividadeparaa forrageiraC4comefici-ência do pastejo modificado pela declividade,e no custo de transporte para o frigoríficomaispróximo, seguindo a mesma rede rodoviária as-sumida na priorização da soja. Mudanças de uso de soja para pasto são bloqueadas usando o re-

sultado da alocação da soja como máscara para a priorização da pecuária. Desta forma, garante-se que a expansão da pecuária não se dará sobre a área de soja já instalada.

Ototaldeáreaalocadaparaapecuáriafoiob-tido seguindo a regra de priorização descrita no parágrafo anterior. Dessa forma, foi-se alocando progressivamente o rebanho extra projetado mais o rebanho deslocado pela soja, levando em consi-deração a taxa de lotação projetada para cada mu-nicípio. Tais taxas de lotação forammodificadaspela qualidade do pasto, informada pelo mapa de uso da terra: áreas de pasto sujo e de pasto de-gradado forammodificadasparaque suas taxasde lotação fossem iguais a 15% das projeções de taxasdelotaçãomédiadeseusmunicípios.

Com isso, obteve-se a projeção da alocação espacial das cadeias de soja e pecuária na micror-região em 2030, segundo o cenário BAU, repre-sentado na figura 12. Nesse cenário, projeta-seque serão desmatados entre 2010 e 2030 um total446milhanamicrorregião.Atabela 6 resu-meareduçãodopercentualdecoberturaflorestalpor município (ver tabela 6; figura 12).

NocenárioLNAE,ébloqueadoocrescimentodaáreadepasto.Aoinvésdisso,calcula-sequalonível

TABELA 6: Projeções de Desmatamento no Cenário BAU em 2010 e 2030.

Município Cobertura 2010 (%)

Cobertura 2030 (%)

Alta Floresta 50,9 35,0

Apiacás 85,7 85,0

Carlinda 34,9 22,4

Nova Bandeirantes

70,3 62,3

Paranaíta 59,0 42,9

Nova Monte Verde

60,9 41,6

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deintensificaçãonecessárioparaseinstalartodoorebanho extra do crescimento da produção mais o rebanho deslocado pela soja, na atual área de pas-tagem, respeitando-se a máxima taxa de lotação sustentável calculada a partir do mapa da produti-vidadepotencial(IIASA/FAO,2012).Ataxadelota-çãomédiapormunicípionecessáriaparaseatingiroobjetivodedesmatamentozerodocenárioLNAEéinformadanatabela 7, juntamente com o aumen-to percentual das taxas de lotação, em relação aos seus valores projetados para 2030 no cenário BAU.

A figura 13 exibe o mapa de desmatamento projetado para o cenário BAU, em relação à pre-sentecoberturaflorestal.Afigura 14 mostra a dife-rençanataxadelotaçãoentreBAUeLNAEneces-sária para se atingir a meta de desmatamento zero.

Demandas e impactos do cenário LNAE

Melhorar a produtividade da pecuária o su-ficiente para evitar novos desmatamentos até oano2030irárequereraintensificaçãodeaproxi-madamente 300 mil ha de pastagens, assumin-do-sequeaáreaintensificadaseja20%daáreadapropriedade,equeataxadelotaçãomédiadaáreaintensificadaseja3,5vezesmaiordoqueada área extensiva.

Tal esforço de intensificação implicará emcustos de implantação e manutenção das áreas intensificadasedemandasadicionaisdeinsumos

FIGURA 12: Projeção da alocação espacial das cadeias de soja e pecuária na microrregião em 2030 segundo o cenário BAU. Limites políticos e estradas (IBGE, 2014). Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

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TABELA 7: Taxas de lotação projetadas para os municípios da microrregião de Alta Floresta.

MunicípioTaxa de lotação atual

(cab./ha)Taxa de lotação BAU

(cab./ha)Taxa de lotação LNAE

(cab./ha)Alta Floresta 1,59 2,19 3,08 (+40,7%)

Apiacás 1,11 1,94 2,74 (+41,3%)

Carlinda 1,28 1,67 2,35 (+40,7%)

Nova Bandeirantes 1,51 2,48 3,44 (+39,0%)

Paranaíta 1,87 2,73 3,68 (+35,0%)

Nova Monte Verde 1,48 2,01 2,83 (+40,8%)

FIGURA 13: Mapa de Desmatamento na microrregião de Alta Floresta em 2030. Limites políticos (IBGE, 2014). Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

FIGURA 14: Taxas de lotação projetadas para 2030. Limites políticos (IBGE, 2014). Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

Cobertura florestal hoje

Taxa de lotação projetada no BAU

Cobertura florestal projetada pelo BAU

Taxa de lotação necessária para o LNAE

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epessoalqualificado,aolongodospróximos15anos.Noentanto,talesforçodevesepautarpelocrescimento da soja na região, de modo a aco-modar anualmente o rebanho assim deslocado e evitar a perda desse estoque por vazamento para regiões vizinhas. Dessa forma, projeta-se que o auge desse esforço ocorra por volta de 2025, quando será necessário o investimento de aproxi-madamente 73 milhões de reais na implantação denovasáreasintensificadas.

O custo de se atingir os 300mil ha de áreaintensificadaem2030nãose restringeaocustoanualdeimplantação.Hátambémocustoassocia-doàmanutençãodaáreajáintensificadanosanosanteriores.Assumindo-seumvalordeR$2.400/haparaaimplantaçãodaintensificaçãoeR$450/ha/ano para a manutenção, pode-se obter anual-menteanecessidadedecréditoparaa implanta-çãodoLNAEnamicrorregião.Taisvalores,dadosem milhões de reais, estão sumarizados na tabela 8, onde também são dadas as projeções anuaisdecréditoconcedidoparaapecuárianamicrorre-gião, baseadas em dados do censo agropecuário (IBGE,2009),deflacionadosparavaloresde2010.Também foram analisados os valores relativos anecessidadeanualdecréditoemrelaçãoaosva-loresdeflacionadosde2012,dadomais recentedisponível.Oquesepercebeéqueemborahajaumanecessidadedeaumentodocréditoemrela-çãoaosvaloresde2012,projeta-sequetalcréditoestará disponível caso siga o comportamento dos últimos anos, como mostra a figura 15.

O proposto perfil temporal de intensificaçãocorresponde a um esforço otimizado para se al-cançaros300milhectaresprevistos.Alémdisso,utilizou-se dados extraídos do modelo bioeconô-mico desenvolvido pelo IIS na análise de casos demonstrativos, descrito no relatório Análise eco-nômica de uma pecuária mais sustentável.1 Esse modelo indica que ao intensificar 20% da áreade pastagem, ganha-se 50% de produtividade na

fazenda como um todo. A partir dessa análise, ob-teve-se uma estimativa do número de assistentes técnicosnecessáriosparaatenderasdemandasde instalaçãoemanutençãodasáreas intensifi-cadas. De forma semelhante, pode-se obter a de-manda adicional por calcário, usado tanto na im-plantaçãodenovasáreas intensificadas,quantonamanutençãodasjáintensificadas,edeadubo,usado namanutenção das áreas intensificadas.Tais resultados estão sumarizados na tabela 9.

Potencial de Redução de Desmatamento e Degradação Florestal – REDD+

NocasodamicrorregiãodeAlta Floresta, asprojeções iniciais indicam um desmatamento pro-vávelnocenárioBAUde446milhectaresdeflo-resta, que poderiam ser evitados com o alcance dascondiçõesprojetadasnocenárioLNAE.Essequadro cria o potencial para o estabelecimento deumaestratégiaquecombineainduçãodain-1 Este relatório está disponível em www.iis-rio.org/publicacoes.

300

350

2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030

250

200

150

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0

Créd

ito

(em

mil

hõe

s R

$)

Total históricoTotal projetadoLNAE: implantaçãoLNAE: manutençãoLNAE: total

Ano

FIGURA 15: Projeção da demanda de crédito em relação aos valores de 2012. O perfil de implantação anual do LNAE segue a projeção de crescimento anual da soja na microrregião.

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TABELA 8: Demanda anual de crédito para a intensificação da pecuária na microrregião (em milhões de reais).

TABELA 9: Demanda adicional por insumos e assistência técnica na microrregião de Alta Floresta.

Ano Implantação Manutenção Total Projeção % Proj. % 20122016 15.0 9.2 24.2 160.5 15% 19%2017 20.1 13.0 33.1 171.7 19% 26%2018 26.4 17.9 44.3 183.2 24% 35%2019 33.6 24.2 57.8 195.0 30% 46%2020 41.6 32.0 73.6 207.2 36% 58%2021 50.0 41.4 91.4 219.7 42% 72%2022 58.1 52.3 110.4 232.6 47% 87%2023 65.2 64.5 129.7 245.8 53% 103%2024 70.4 77.7 148.0 259.3 57% 117%2025 72.6 91.3 163.9 273.2 60% 130%2026 71.0 104.6 175.6 287.4 61% 139%2027 65.0 116.8 181.8 301.9 60% 144%2028 54.4 127.0 181.4 316.8 57% 144%2029 39.4 134.4 173.8 332.0 52% 138%2030 20.8 138.3 159.1 347.6 46% 126%

Ano Área intensificada (ha) Calcário (Ton.) Adubo (Ton.) Técnicos2016 20.388 28.921 15.291 132017 28.778 39.560 21.584 162018 39.766 52.846 29.825 222019 53.769 68.893 40.327 292020 71.110 87.578 53.333 382021 91.941 108.463 68.956 472022 116.159 130.734 87.119 582023 143.333 153.188 107.500 692024 172.646 174.263 129.485 812025 202.883 192.152 152.162 922026 232.466 204.983 174.350 1022027 259.559 211.058 194.669 1092028 282.226 209.113 211.669 1142029 298.641 198.567 223.981 1162030 307.318 179.690 230.488 114

TABELA 10: Estimativa de potencial de REDD+ para a microrregião de Alta Floresta.

Desmatamento evitado na microrregião 446.000 hectares

Emissões evitadas 203 milhões de ton. de CO2e

Volume potencial a ser arrecadado (US$ 5/ton.) 2,53 bilhões de reais

Custo total de implantação do cenário LNAE 0,737 bilhões de reais

Valor mínimo de pagamento para financiar toda a intensificação

US$ 1,46/ton.

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2. REDD+ no Brasil

O Brasil, enquanto signatário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o�cializou através da Política Nacional de Mudanças do Clima sua meta voluntária de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 36,1% a 38,9% projetadas até 2020 (Art. 12 - Lei nº 12.187/2009), que seria entre 1.168 milhões e 1.259 milhões de toneladas de CO2e. Estimou-se, ainda, que a mudança no uso da terra seria responsável por 1.404 milhões de toneladas de CO2e. Considerando que, no contexto brasileiro, a conversão de florestas para agricultura e pecuária na Amazônia tem sido a maior fonte de emissões de GEE (Galvão et al., 2011; MMA, 2012), o decreto nº 7390/2010 estipulou a meta de redução em 80% dos índices anuais de desmatamento na Amazônia Legal tendo como base os desmatamentos entre 1996 a 2005.

Fica claro, portanto, o grande desa�o brasileiro. E é neste contexto que projetos de compensação por Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD+) visam criar mecanismos que fomentem e �nanciem a transição para uma nova lógica de estruturação produtiva e de uso dos recursos naturais para uma matriz produtiva de baixa emissão de carbono.

Adicionalmente, o Brasil tem buscado estruturar seu arcabouço legal de forma a criar, regularizar e estabelecer um sistema REDD+ nacional (Projeto de Lei 212/2011 e 195/2011), assim como de�nir formas de controle e �nanciamento por serviços ambientais (Projeto de Lei nº 5.487/2009), criação de Unidades de Redução por Desmatamento e Degradação Florestal (UREDD) e Certi�cados de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (CREDD) (Projetos de Lei nº 195/2011 e nº 212/2011). Ou seja, já há um esforço legislativo signi�cativo na busca da criação das condições necessárias para a implementação de um sistema nacional de REDD+.

Contudo, no Brasil, as iniciativas de REDD+ ainda se encontram desarticuladas e enfraquecidas (MMA, 2012; Santos et al., 2012). Além disso, as principais di�culdades para a implementação de projetos de REDD+, além da falta de um arcabouço legal, é a questão da determinação de níveis de referência de emissões, a possibilidade de ocorrer “vazamentos” de emissões para outros territórios assim que o projeto é implantado, má governança de atores de interesse, mudança nos padrões de produtividade com consequente custo de oportunidade modi�cado aos participantes dos projetos, entre outros (May et al., 2011).

tensificaçãodapecuária, comaestruturaçãodeum programa de REDD+ regional (ver box 2) que permita capturar as oportunidades relacionadas a comercializaçãodoscréditosgeradosapartirdodesmatamento evitado.

Utilizou-se para essa simulação os mesmos parâmetros usados pelo Fundo Amazônia para calcular o potencial de captação de doações a partir da redução das taxas de desmatamento daAmazônia.Oestoquemédionaregiãoéde167 toneladas de carbono por hectare, ou seja,

203 milhões de toneladas de dióxido de carbo-noequivalente(CO2e).OpreçoportoneladadeCO2 deUS$5 (BNDES, 2014), émais do quesuficiente para cobrir totalmente o custo de implantação da intensificação necessária para atingir o objetivo de desmatamento zero aliado aocrescimentodaproduçãodocenárioLNAE.Desconsiderados os custos de transação, um pagamento de 1,46 dólares por tonelada decarbono equivalente já seria o suficiente para financiar a transição para uma paisagem mais sustentável proposta aqui.

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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Considerações finais

Odesmatamento da Amazônia há muito re-quer da sociedade brasileira um esforço coordenado que indique novas alternati-

vas para as populações que vivem nessa região, deformaaasseguraramanutençãoflorestale,aomesmo tempo, a melhoria da qualidade de vida e promoção econômica das populações locais.

Para a microrregião de Alta Floresta, as análi-ses aqui presentes indicam que o crescimento do rebanho da região em mais de 1 milhão de cabe-ças, e a expansão do plantio de grãos em mais de 200 mil hectares, podem ser conciliados com a manutençãodosatuaisíndicesdecoberturaflo-restal pelos próximos 15 anos.

Opresente estudo demonstra que o desafiode conciliar expansão agropecuária e desmata-mentozeroépossívelequeaatividadedapecu-ária, ainda hoje acusada de ser uma das fontes responsáveis pelo desmatamento, pode vir a ser um instrumento de mudança econômica capaz de acomodar a expansão da soja na região e redu-zir a pressão pelo desmatamento na região. Para tanto, apresentamos em seguida um conjunto de recomendaçõesespecíficasparadiferentesagen-tes da paisagem, baseadas nos resultados das análises mostradas aqui.

Recomendações para políticas públicas

• Integração das ações públicas de apoio à pecuária sustentável: estruturar um progra-

ma integrado, com a participação dos diver-sos órgãos públicos relacionados à temática, para o atendimento das demandas rela-cionadas à implantação de 300 mil novos hectares de áreas intensificadas até 2030do LNAE. Essas demandas, pressionarão aassistênciatécnica(116novostécnicosaté2029), transferência de tecnologia, orienta-çãoparaacessoaocrédito,bemcomoadis-ponibilidade de crédito (aproximadamente40%maiordoqueosvaloresobtidospelapecuária da microrregião em 2012), e insu-mos (aproximadamente 230 mil toneladas adicionais de calcário e adubo por ano).

• Pagamento por Serviços Ambientais e por Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal: estruturar um Progra-maEstadualdeREDD+,atravésdaimplemen-tação da Lei Estadual nº 9878/2013, que cria o Sistema Estadual de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+). Um programa estadual de REDD+, para ser efetivo no caso do Mato Grosso, de-verá conter um consistente subprograma se-torial de agropecuária, que por sua vez, terá na intensificaçãosustentáveldapecuáriaasmelhores oportunidades de integração entre ganhos econômicos e produtivos e ganhos de conservação ambiental e redução do desma-tamento. Segundo as análises aqui apresen-tadas (tabela 10), um pagamento mínimo de 1.46dólarespor toneladadecarbonoequi-valentejáseriasuficienteparafinanciartodaa intensificação sustentável necessária paraacomodar o crescimento projetado do reba-

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nho e o da área de soja plantada na microrre-gião sem desmatar novas áreas.

• Ampliação da assistência técnica pública: am-pliar a atuação do setor público e buscar no-vas formas de coordenação dos vários níveis administrativos (municipal, estadual e federal), assegurando o atendimento prioritário para pequenosemédiosprodutores.Esseesforçode integração, para ser efetivo, deverá assegu-rar o envolvimento de instituições que já atu-am nesse campo e buscar o engajamento das universidades e outras instituições correlatas. Alémdisso, é fundamental a capacitação darededeassistênciatécnica,buscandoampliara capacidade de disseminação das BPAs.

• Regularização ambiental dos imóveis rurais: consolidar o Programa Estadual de Regulari-zação Ambiental Rural, assegurando regras claras e estáveis, e agilidade no andamento dos processos no órgão ambiental, como for-ma de gerar segurança jurídica aos produto-res e agentes econômicos e de promover um ambiente propício ao estabelecimento de atividadesprodutivassustentáveis.Alémdis-so, como forma de aproximar o atendimento ao produtor e ampliar a capacidade de res-postadosetorpúblico,é fundamentaloen-gajamentodaesferamunicipal.OProgramaMato-grossense de Municípios Sustentáveis (PMS) pode ser uma importante plataforma para a promoção desse engajamento.

Recomendações para a cadeia produtiva

• Engajamento setorial pela sustentabilidade na pecuária: desde 2009, com a crescente atuaçãodoMinistérioPúblicoFederalnaca-deia produtiva da pecuária, vários segmentos jáfirmaram termosdecompromisso,pactossetoriais ou declaração de compromissos.

Os casosmais destacados são: o Termo deCooperação entre o MPF e a ABIEC (Associa-ção Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne); o Termo de Cooperação entre o MPF e a ABRAS (Associação Brasileira de Supermer-cados); e a criação do GTPS (Grupo de Traba-lho da Pecuária Sustentável) que congrega um grande número de empresas do setor e de organizações e instituições relacionadas à temática. Esses casos indicam, de um lado, o crescente comprometimento dos diversos segmentos da cadeia produtiva com o esta-belecimento de compromissos associados à redução do desmatamento e à promoção da sustentabilidade; e por outro lado, apresen-tam enormes oportunidades de aprofundar os encadeamentos produtivos e de fortaleci-mento da integração setorial.

• Integração Setorial: o desenvolvimento do Programa Novo Campo, na microrregião deAltaFloresta,éexemplarnademonstraçãodopotencial de cooperação setorial. A atuação integrada na cadeia, envolvendo instituições públicas, organizações de apoio, assistência técnica, empresasprocessadoras, associaçãode produtores, instituições financeiras, entreoutros, pode ser determinante para a promo-çãodaintensificaçãosustentável.Essainiciati-va, e outras similares que venham a ser desen-volvidas, devem ser estimuladas e apoiadas.

• Repartição dos benefícios: as responsabili-dades devem ser distribuidas ao longo da cadeia produtiva, bem como o bônus alcan-çado pelos esforços de redução dos passi-vos socioambientais. O elo mais expostoserá sempre o produtor rural, e, portanto, deve caber ao produtor uma parcela signi-ficativa do bônus associado aos avançossocioambientais na produção. A apropria-ção dos ganhos econômicos advindos da promoção da sustentabilidade apenas pela ponta da cadeia – indústria e comercializa-ção final – pode ser amplamente desesti-

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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mulante para a manutenção do engajamen-to dos produtores.

• Consolidação da assistência técnica privada: embora os grandes produtores rurais e uma parte dos médios produtores mais capita-lizados já contem com uma rede de presta-dores de serviços bastante ampla e distribu-ída – geralmente composta por pequenos e médiosnegócios,oumesmo,autônomos–aimplementação de uma agenda de intensi-ficaçãoem largaescalapoderáexigir novosarranjos para a conciliação do objetivo de desmatamento zero com o atendimento às demandas projetadas de crescimento do re-banho (aproximadamente 3,2 milhões de cabeças) e da soja na microrregião (200 mil hectares) em 2030. Esses arranjos poderiam integraraassistênciatécnicaparaa transfe-rência de tecnologia e de modelos de gestão do negócio e para os potenciais investidores/financiadores.Éfundamentalofortalecimen-to da atuação integrada de instituições como oSENAR(ServiçoNacionaldeAprendizagemRural) e a EMBRAPA, através de umamaiorconexão com a rede de prestação de assis-tênciatécnicaéfundamental.

• Ampliação da previsibilidade do negócio: a atividade rural é por natureza exposta a umconjunto significativo de imprevisibilidades,tais como excesso de chuvas, secas, desastres naturais, pragas, etc. Entretanto, ao exemplo de outras cadeias produtivas é possível explorarnovas possibilidades de ampliação da capa-cidade de planejamento de longo prazo, algo essencial para a promoção da sustentabilida-de.O perfil de implantação da intensificaçãosustentável apresentado aqui (figura 8), com áreas totais a serem intensificadas por ano(tabela 8),éumexemplodeplanejamentodelongo prazo, desenhado para evitar a perda de rebanho por vazamento, minimizando o custo da transição ao longo dos próximos 15 anos.

Recomendações para agentes financeiros

• Viabilizar ou incrementar o acesso ao cré-dito rural: nas entrevistas realizadas com os produtores rurais, a burocracia e a es-trutura insuficiente de atendimento foramapontadas como principais obstáculos para o acesso ao crédito rural. Isso indica umenorme potencial de ampliação do acesso, jáque,aoquetudoindica,nãoéexatamen-te a ausência ou a insuficiência de linhasde financiamento que limitam a expansãodo crédito. Por outro lado, o nível de in-tensificação sustentável necessário paraatingir o objetivo de aumento de produção agropecuária com desmatamento zero irá requerer um montante total de aproximada-mente 730 milhões de reais nos próximos 15 anos.Mesmo seguindo a estratégia deimplantação otimizada proposta aqui (tabe-la 8), por volta de 2025, o investimento na intensificaçãosustentáveldapaisagemcus-taria aproximadamente 40% mais do queocréditoadquiridoem2012pelosetordapecuária na região. Embora o crescimento docréditoconcedidoaosetoraponteparaum valor bem superior a essa demanda ao longo dos próximos 15 anos – o custo de implantaçãoanualdoLNAEnuncaficaaci-ma de 70% do crédito projetado para umdado ano (tabela 8)–énecessáriogarantirque essa projeção se realize. Dessa forma, a capacitaçãodos agentes financeiros e téc-nicos envolvidos na elaboração dos proje-tosdefinanciamentoeainterlocuçãoentreos diferentes atores e instituições envolvi-dosemprogramas,comooProgramaNovoCampo, podem ser medidas importantes para assegurar o adequado financiamentodo plano de transição para uma paisagem mais sustentável apresentado aqui.

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Material e métodos

Com o objetivo de avaliar o potencial de au-mento de escala de uma pecuária intensificadamais sustentável, este estudo levou em considera-ção diversas ferramentas, como análise de uso da terra, modelagem de mudança do uso da terra e desenvolvimentodoscenários.Alémdisso,oestu-do requereu um intenso processo participativo, em que diversos atores foram entrevistados e consul-tados. Com base em entrevistas e levantamentos de campo, dados qualitativos contribuíram para o entendimento dos maiores obstáculos e oportuni-dades para o desenvolvimento de uma pecuária mais sustentável na microrregião de Alta Floresta.

Caracterização do uso da terra e adequação ambiental

A caracterização e as mudanças no uso da terra foram realizadas a partir dos mapas de uso e cobertura da terra no intervalo entre 2008 e 2010 do projeto TerraClass (INPE/Embrapa,2008; INPE/Embrapa, 2010). Além disso, foirealizada a análise da adequação ambiental de 3.441 propriedades com Cadastro AmbientalRural no município de Alta Floresta. Para isso foi verificadaaadequaçãodaspropriedades ruraisem relação à lei 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, considerando o fluxoilustradonafigura 1a.Valedestacarqueaanálise foi realizada apenas a partir de dados es-paciais, considerando o mapa de uso e cobertura daterrarealizadopeloprojetoTerraClass(INPE/Embrapa, 2008; INPE/Embrapa, 2010). Nestaanálise utilizou-se o mapeamento de uso e co-

bertura do solo referente ao ano de 2010 (figura 5).Os limites espaciais daspropriedades ruraisdo município de Alta Floresta foram fornecidos peloInstitutoCentrodeVida.

DeacordocomZoneamentoSócio-Ecológico--Econômico do estado do Mato Grosso, estabele-cido na lei estadual 9.523 de 20 de abril de 2011, foidefinidoemseuartigo24umareduçãodare-serva legal 80% para 50% da área da propriedade paraosproprietáriosquedesmataramaté22dejulho de 2008. Entretanto, ainda em 2011, o Mi-nistérioPúblicodoEstadodeMatoGrossoingres-sou com uma Ação Civil Pública, visando a suspen-sãodalei.Noiníciode2012,ajustiçaconcedeuuma liminar suspendendo os efeitos da lei, atéquesejajulgado,emdefinitivo,oméritodaAçãoCivil Pública. Por conta desse contexto, optou--se por gerar dados para as duas situações, com obrigaçãoderecompor80%,semoZEE,oucomareduçãodeáreapararecomposição,comoZEE,para50%doimóvelemáreasindicadaspeloZEE.

Mudança de uso da terra na microrregião de Alta Floresta – cenários de expansão da pecuária e soja

Para análise da expansão da soja na microrre-gião de Alta Floresta foram usadas como variáveis asdistânciasdecélulaaoportomaispróximoeàs‘plantas’ de soja, e o potencial produtivo de bio-massa de soja (IIASA/FAO, 2012), considerandoapenas as áreas mecanizáveis (i.e. áreas com decli-vidadeaté12%).Comrelaçãoàexpansãodapecu-ária, considerou-se as distâncias aos portos e aos frigoríficosmaispróximos,bemcomoopotencialdeeficiênciadepastejobaseadonopotencialde

Anexo 7

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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biomassadeforrageira(IIASA/FAO,2012).Osprin-cipais dados levantados e mapeados sobre os seto-res de pecuária e da soja levaram em consideração informações de diversos stakeholders incluindo entrevistas semi-estruturadas, grupos focais e workshops.Alémde taisdados,utilizou-sedadossecundáriosdeinstituiçõescomoIBGE,ICVeINPE.

Diagnósticos dos gargalos para adoção das boas práticas agropecuárias

Oestudotambémrealizouumaanálisequa-litativa dos gargalos associados à adoção das

FIGURA 1A: Fluxo de análise da adequação ambiental das propriedades do município de Alta Floresta, baseada na lei 12.651/2012.Elaboração: Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS).

boaspráticas(BPA)emlargaescala.Naprimeiraetapa foi realizada a revisão de literatura com informações sobre a tomada de decisão dos fazendeiros associados à adoção das Boas Prá-ticas Agropecuárias (BPA) em larga escala. A se-gunda etapa consistiu no uso da metodologia de grupos de foco e aplicação de um questionário anônimo a 25 produtores da região Alta Flores-ta, Mato Grosso (Latawiec et al.,2014).Ogrupofocal, os questionários e a votação anônima fo-ram realizados em um evento no município de Alta Floresta em dezembro de 2013 em parce-riacomoInstitutoCentrodeVida.Gruposfocaissão ferramentas eficazes para coletar dadossobre incertezas e ambiguidades observadas na literatura relacionada sobre adoção das BPAs

Classificação dos imóveis rurais segundo

tamanho

Mapeamento de APP

Art. 4 línea I, II, III e IV:Identificação dos usos em faixas marginais dos rios, lagos, lagoas, reservatórios artificiais e olhos

d’água e nascentes.

Art. 12:Identificação dos percentuais

mínimos de Reserva Legal – 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em áreas de florestas.

Art. 59 §4:Isenta proprietários de sanções previstas por infrações ambientais realizadas até 22

de julho de 2008.

Minifúndio;Pequenas propriedades;Médias propriedades;Grandes propriedades.

Art. 67:Imóveis rurais de até quatro módulos fiscais que

detinham, em 22 de julho de 2008, remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12, ficam com Reserva Legal

constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008.

Lei estadual (MT) 9.523, Art. 24:Redução de Reserva Legal de imóveis do Mato Grosso em área de floresta de 80% para 50%.

Art. 4 línea V, IX:Identificação dos usos em

encostas ou partes destas com declividade superior a 45º.

Art. 4 línea IX e X:Identificação dos usos em topos de morros, montes, montanhas e serras, assim como áreas de altitude superior a 1.800 (mil e

oitocentos) metros

Análise de Reserva Legal

Exceções

1 2

A

B

C

A

3

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em larga escala. Para isso foi feita uma dinâmica ondedificuldadeseriscosemseadotarasBPAsforamexpostosatravésdeduasperguntasaber-tas: 1) Quais são as dificuldades associadascom a adoção de Boas Práticas Agropecuárias? (20 minutos no total: 15 minutos para listar e 5 para priorizar as dificuldadesmais relevantes)(figura 2a); 2)Quais sãoos riscos associadosà adoção de Boas Práticas Agropecuárias? (20 minutos no total: 15 minutos para listar e 5 de priorizar os riscos) (figura 3a).

Foi realizada tambémumavotação anônimasobre as percepções associadas à adoção de Boas Práticas Agropecuárias. As perguntas foram lidas em voz alta e projetadas pelo moderador. Em seguida, os produtores escolhiam uma das

possíveis respostas: “sim”, “não” e “não sei”. To-das as perguntas eram relativas as consequências da adoção das boas práticas agropecuárias. Por exemplo:Nasuaopinião,aadoçãodasBoasPrá-ticas Agropecuárias resulta em:

• Contratação de mais pessoas para trabalhar na fazenda?

• Acesso a um mercado com preços melhores?

• VocêconsideraaIntegraçãoLavouraPecuá-ria e Floresta (iLPF) uma boa opção para o seu imóvel?

A última etapa do evento consistiu na aplica-ção do questionário com objetivo de: (i) validar

FIGURA 2A: Exemplo de respostas para a pergunta sobre as dificuldades associadas às BPAs. Depois de 15 minutos de discussão os participantes marcaram as dificuldades mais importantes (marcadas com pontos verdes). Foto por Agnieszka Latawiec / IIS.

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CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL EM LARGA ESCALA NA MICRORREGIÃO DE ALTA FLORESTA, MT

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FIGURA 3A: Riscos associados à adoção das BPAs. Os grupos focais tiveram 15 minutos para falar sobre os riscos e 5 minutos para classificar o risco como aceitável, aceitável sob condições e não aceitável (cada cor corresponde a um risco diferente). Foto por Agnieszka Latawiec / IIS.

os resultados dos grupos focais; (ii) aprofundar e ampliar a análise; (iii) desenvolver um piloto para apesquisadetomadadedecisão.Osresultadostambémforamapresentadosaosprodutoresemoutro evento (devolutiva) realizado em julho de 2014.Essadevolutivatambémfoiutilizadaparavalidação dos dados obtidos, bem como para es-clarecer quaisquer dúvidas levantadas durante a análise dos resultados.

Em2014foramrealizadasduasreuniõescomdiversos atores com atuação na microrregião de Alta Floresta, onde foram feitas perguntas, como relatadonaPágina24. Estasperguntas chavesforam complementares, dependendo da entre-vista, com perguntas adicionais, como: Por que? Tem um exemplo? Tem uma solução para esse gargalo/problema? Exemplos, para quem são essas potencialidades?

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Agradecimentos:Gostaríamos de agradecer especialmente a todos que contribuíram nas entrevistas com informações que subsidiaram este trabalho.

Produtores rurais da microrregião de Alta Floresta – MT

Sindicato Rural de Alta Floresta

Secretaria de Agricultura do Município de Paranaíta – MT

IreneDuarte,VandoTelles,EduardoFlorence,AndréNunes(ICV)

Gercilenne Meira (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Alta Floresta)

LarissaLeiteTosetti(ConsultoradoICV)

Paulo Beregula (Bando do Brasil - Alta Floresta)

Creomar Batista Camilo (Secretaria de Planejamento de Alta Floresta)

FelipeBicalho(ConsultordoICV)

NelsonObuty(SindicatodeProdutoresRuraisdeCarlinda–MT)

Walter de Sá (Secretaria de Meio Ambiente do Município de Carlinda – MT)

Andreia Inês Gaspare (Sindicato Patronal Rural de Paranaíta – MT)

Wellington Santos Magalhães, Maria Anunciação Santos Magalhães e Maria Aparecida Macoim (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Paranaíta – MT)

JoséEduardo(EMPAERemParanaíta–MT)

Maurício Penteado (Consultor do IIS)

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