marcelo de mello vieira

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coleção Direitos da criança e do adolescente Crimes contra Crimes contra criança e adolescente criança e adolescente Um olhar sobre a relação do Direito Penal com o Direito infantojuvenil Marcelo de Mello Vieira Paulo Tadeu Righetti Barcelos [Orgs.]

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coleçãoDireitos da criança e do adolescente

“Para as crianças e adolescentes, bens jurídicos aviltados são constantes: vida, integridade física, abandono intelectual, liberdade, dignidade sexual frente a inúmeros atentados e desmazelos. Hoje a perversidade ganha outro espaço e linearidade, porque também aflora em campos mais inférteis e daninhos, expressando situações de comiseração severa como venda de crianças, prostituição e pornografia infantil, envolvimento de crianças em conflitos armados.Tipos penais havidos contra crianças e adolescentes que respeitam a esfera individual de cada lesionado (liberdade, vida, integridade etc.) e também a esfera social das vítimas menores (ações e omissões estatais e privadas contra educação, saúde, transporte, acesso digital etc.) são essenciais na função protetiva. O que resulta, respectivamente, na clara segmentação entre direito penal primário e direito penal secundário e escancara positivamente a possibilidade de tutelar os infantes para melhorar as gerações futuras e, enfim, saber preservar racionalmente a humanidade.”

Epaminondas Fulgêncio Neto

Um

olhar sobre a relação do Direito

Penal com o D

ireito infantojuvenil

[Orgs.]Marcelo de M

ello Vieira

Paulo Tadeu Righetti BarcelosCrim

es contra criança e adolescenteCrim

es contra criança e adolescente

1. Maus tratos: uma análise sobre a violência familiar contra a criançaMarina Carneiro Matos SillmannRamon Prottes D’ávila Soares

2. Abuso físico infantil diante a Síndrome de Munchausen por procuraçãoMaxwell dos Santos PavioneIngrit Hainy da Silva Moreira

3. Adoção à brasileira à luz da doutrina da proteção integral da criança e do adolescenteMarcelo de Mello VieiraMarina Carneiro Matos Sillmann

4. Violências, vulnerabilidades e abuso na posição de vulnerabilidade (APOV): análise crítica sobre a configuração do crime de tráfico de crianças no BrasilBráulio de Magalhães Santos

5. Incursões análiticas e reflexivas acerca do delito de aproveitamento da exploração sexual juvenil (art.218-B, §2º, I do CP): delimitações centrais e comparativos dogmático-jurisprudenciaisDaniel Nascimento Duarte

6. Contornos da autodeterminação sexual das pessoas em desenvolvimento: um exame sistemático dos crimes de pornografia envolvendo crianças e adolescentesMarcelo Sarsur

7. Crimes cometidos contra crianças e adolescentes na internet: especial análise do estupro virtual e do art. 241-B do ECAHenrique Abi-Ackel TorresAlana Guimarães Mendes

8. Reflexos jurídicos da venda de bebidas alcoólicas aos menores de 18 anos: impactos da Lei n. 13.106 de 17 março de 2015 Paulo Tadeu Righetti Barcelos

9. O sistema de garantias de direitos das crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violênciaEder Fernandes Santana

coleçãoDireitos da criança e do adolescente

Crimes contraCrimes contracriança e adolescentecriança e adolescente

Um olhar sobre a relação do DireitoPenal com o Direito infantojuvenil

Marcelo de Mello VieiraPaulo Tadeu Righetti Barcelos[Orgs.]

ISBN 978-65-5589-071-6

Organizadores Organizadores da Coleção da Coleção

Paulo Tadeu Righetti Barcelos

Diretor da Faculdade de Administração e Vice-Diretor da Faculdade de Direito Milton Campos. Professor de Direito da Criança, do Adolescente e do Idoso. Mestre em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. Advogado. Membro do Instituto Brasileiro do Direito da Criança e do Adolescente (IBDCria-ABMP).

Marcelo de Mello Vieira

Doutor em Direito Privado pela PUCMinas. Mestre em Direito pela UFMG. Membro da Associação Mineira dos Professores de Direito Civil (AMPDIC), do Instituto Brasileiro de estudos de Responsabilidade Civil (IBERC) e do Instituto Brasileiro do Direito da Criança (IBDCria-ABMP).

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Crimes contra criança e adolescente

Um olhar sobre a relação do Direito Penal com o Direito infantojuvenil

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coleçãoDireitos da criança e do adolescente

editora

Marcelo de Mello VieiraPaulo Tadeu Righetti Barcelos[Orgs.]

Crimes contra criança e adolescente

Um olhar sobre a relação do Direito Penal com o Direito infantojuvenil

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Plácido Arraes

Tales Leon de Marco

Bárbara Rodrigues

Letícia Robini[Imagens por Unsplash e Freepik [modificadas]]

Letícia Robini

Plácido ArraesMarcelo de Mello VieiraPaulo Tadeu Righetti Barcelos

Editor Chefe

Editor

Produtora Editorial

Capa, projeto gráfico

Diagramação

Coleção Direitos da Criança e do Adolescente Coordenadores

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia do Grupo D’Plácido.

W W W . E D I T O R A D P L A C I D O . C O M . B R

Belo HorizonteAv. Brasil, 1843,

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Copyright © 2020, D’ Plácido Editora.Copyright © 2020, Os Autores.

Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliotecária responsável: Fernanda Gomes de Souza CRB-6/2472

C929 Crimes contra criança e adolescente : um olhar sobre a relação do Direito Penal com o direito infantojuvenil / Marcelo de Mello Vieira, Paulo Tadeu Righetti Barcelos (orgs.). - 1. ed. - Belo Horizonte, São Paulo : D’Plácido, 2020.

282 p. - (Direitos da criança e do adolescente; v. 6)

ISBN 978-65-5589-071-6

1. Direito. 2. Direito Penal. 3. Infrações contra crianças ou pessoas incapazes de zelar sobre si mesmas. I. Vieira, Marcelo de Mello. II. Barcelos, Paulo Tadeu Righetti. III. Título. IV. Série.

CDDir: 341.5562

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Coleção Direitos da Criança e do Adolescente

A Coleção Direitos da Criança e do Adolescente tem como objetivo reunir obras que trabalhem os direitos infantojuvenis sob um viés transdisciplinar e sejam capazes de conjugar robustez teórica com aspectos práticos, indo muito além de apenas análise de leis e de julgados.

Idealizada pelo professor Marcelo de Mello Vieira, que atua também como seu curador, essa coleção de livros visa oferecer àqueles que buscam conhecer e se aprofundar no estudo dos direitos infantojuvenis o fácil acesso a trabalhos que levam a sério esses direitos.

Em um mercado editorial inundado por livros sim-plificados e legislações comentadas, a Coleção Direitos da Criança e do Adolescente pretende ser uma opção para aqueles que desejam ampliar suas pesquisas sobre a temá-tica e ter contato com as mais variadas fontes jurídicas que permeiam essa menosprezada área do direito, que, ironi-camente, é a única que goza de prioridade constitucional.

Prezando pela profundidade teórica e pela análise crítica, esta coleção tem um compromisso com a defesa e a pro-moção dos direitos das crianças e dos adolescentes do Brasil e almeja ser sinônimo de produção científica de qualidade.

coleçãoDireitos da criança e do adolescente

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Sumário

Apresentação 11

Prefácio: Deveres de proteção, direito penal e gerações futuras 13

Capítulo 1 19Maus tratos: uma análise sobre a violência familiar contra a criança

Marina Carneiro Matos SillmannRamon Prottes D’ávila Soares

Capítulo 2 41Abuso físico infantil diante a Síndrome de Munchausen por procuração

Maxwell dos Santos PavioneIngrit Hainy da Silva Moreira

Capítulo 3 61Adoção à brasileira à luz da doutrina da proteção integral da criança e do adolescente

Marcelo de Mello VieiraMarina Carneiro Matos Sillmann

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Capítulo 4 95Violências, vulnerabilidades e abuso na posição de vulnerabilidade (APOV): análise crítica sobre a configuração do crime de tráfico de crianças no BrasilBráulio de Magalhães Santos

Capítulo 5 139Incursões análiticas e reflexivas acerca do delito de aproveitamento da exploração sexual juvenil (art.218-B, §2º, I do CP): delimitações centrais e comparativos dogmático-jurisprudenciais Daniel Nascimento Duarte

Capítulo 6 175Contornos da autodeterminação sexual das pessoas em desenvolvimento: um exame sistemático dos crimes de pornografia envolvendo crianças e adolescentesMarcelo Sarsur

Capítulo 7 215Crimes cometidos contra crianças e adolescentes na internet: especial análise do estupro virtual e do art. 241-B do ECAHenrique Abi-Ackel Torres Alana Guimarães Mendes

Capítulo 8 239Reflexos jurídicos da venda de bebidas alcoólicas aos menores de 18 anos: impactos da Lei n. 13.106 de 17 março de 2015Paulo Tadeu Righetti Barcelos

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Capítulo 9 253O sistema de garantias de direitos das crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violênciaEder Fernandes Santana

Autores 279

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O atual Direito da Criança e do Adolescente, ali-cerçado na Doutrina Internacional da Proteção Integral, consagrada pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), deu um novo tratamento às questões referentes à população infantojuvenil. Além de buscar o contato com outros saberes, como medicina, pedagogia, psicologia etc., o Direito da Criança e do Ado-lescente promove um intenso diálogo entre as tradicionais áreas do Direito, trazendo disposições de Direito Civil, Ad-ministrativo, Processual, Penal, dentre outros. Assim como o microssistema que é, esse Direito Infantojuvenil vai além do Estatuto da Criança e do Adolescente, iniciando-se no texto constitucional, abarcando diplomas internacionais, normas específicas, disposições existentes nos códigos brasileiros, em legislações esparsas e em normas administrativas advindas da Administração Pública direta e indireta.

A relação entre o Direito da Criança e do Adolescente e o Direito Penal/Processual Penal é frequentemente de-turpada, sendo comum o uso de analogias e aplicação de institutos de Direito Penal/Processual Penal aos casos de apuração de ato infracional e de medidas socioeducativas, mesmo quando o Direito infantojuvenil é capaz de dar respostas mais eficazes e mais adequadas às questões que envolvem o adolescente em conflito com a lei.

Apresentação

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Essa influência do Direito Penal/Processual Penal no Direito Infracional1 foi trabalhada em duas obras anteriores da Coleção Direitos da Criança e do Adolescente, editadas pela Editora D’ Plácido, e será novamente abordada em futuros projetos. Nesse trabalho, convidamos os leitores a refletir sobre os crimes dos quais crianças e adolescentes são vítimas e outros aspectos do Direito Penal/Processual Penal que têm reflexos diretos ou indiretos nos direitos infantojuvenis. Procuramos também dar ao leitor um livro específico sobre essa temática, facilitando, assim, o acesso a trabalhos de Direito Penal, mas que destaquem o foco na proteção dessa vítima especial, a criança e/ou o adolescente.

Gostaríamos de agradecer aos autores que aceitaram nosso desafio e contribuíram conosco. Esperamos que os trabalhos constantes nessa obra contribuam para o apro-fundamento da temática, por vezes, negligenciada em livros de Direito Penal.

Belo Horizonte, 10 de março de 2020.

Os organizadores

1 O Direito infracional juvenil é a parte do Direito da Criança e do Adolescente que trata do ato infracional e das medidas socioeducativas.

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Outrora perfilhada como fase contemporânea carac-terizada pelo rompimento das fronteiras, abertura econô-mica mundial, linguagem tecnológica universal e círculo do hedonismo, a pós-modernidade acabou em tempos de pandemia sofrendo forte desmantelamento epistêmico, a ponto de ser reescrita em aproveitamento dos movimentos humanitários até então subjugados e criticados incisiva-mente pelos juristas neoliberais e defensores da análise econômica do direito.

Esses apontamentos censores e adversos antecedentes à diagnose respiratória mundial, agregados à ética do re-sultado e à eficiência, encontravam arrimo em dois pontos estruturantes. O primeiro, a norma que, pelas técnicas de interpretação, concebia ao princípio da segurança jurídica peso maior que ao princípio da justiça ou justiciabilidade. O segundo, a economia, alicerçada pelo lucro desmedido e capaz de monetizar qualquer ente ou objeto, jogando às traças a atenta compreensão dogmática mais exata quanto à função social dos institutos.

Enfim, a crise sanitária trouxe ao menos ‘algo’ de relevante: recuperou, fortaleceu e potencializou a pessoa humana (com os inerentes atributos) no complexo dos sistemas sociais (dentre eles o jurídico), reabilitando--a como eixo fundamental e como razão de ser (raison

PrefácioDeveres de proteção, direito

penal e gerações futuras

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d’être) da pós-modernidade. Com isso, a acintosa exegese regulatória e infralegal da Constituição foi interrompida, retornando ao que deveria ser: interpretação conforme a Constituição, na efervescência dos direitos humanos, na estatura dos direitos fundamentais, naquilo que se com-preende como ‘guarda-chuva’ de valores distribuídos a partir da dignidade humana.

Não sem razão, no momento do medo, das incertezas e perplexidades, retorna a confiança nas posturas soli-dárias globais, buscando apoio e salvaguarda nos órgãos internacionais (a exemplo da OMS) que congregam e convergem iniciativas promocionais e emancipatórias a tantos vulneráveis espargidos nos diversos países. Afinal, fossem todos humanos igualmente incluídos nas benfazejas da sociedade (economia, saúde, cidade, justiça, família, po-lítica e discurso), certamente perigos seriam descartados. Vale o aviso, porém, que a desigualdade é a marca mais acentuada da humanidade.

E de fato, não faz sentido: famílias com mulheres vítimas de violência e idosos abandonados; cidades não interagidas ao meio ambiente; comunidades com barreiras e inacessíveis às pessoas com deficiências; mercado sem consumidores; e certamente futuras gerações sem crianças, adolescentes e jovens.

Sob esse último ponto, cabe o registro de que tanto a Constituição Federal como a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989 e em vigor desde 2 de setembro de 1990, são instrumentos jurídicos valorativos básicos e essenciais à promoção das pessoas com faixa etária inferior aos dezoito anos de idade, quer na conceituação jurídica de criança, quer naquela respeitante ao adolescente.

Não se trata de disposições que devam ser interpre-tadas isoladamente ou mesmo com vistas à solução por critérios hierárquicos ou de positivação, ao contrário se

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interpenetram exigindo aplicação e integração coorde-nada e harmônica.

Cinge-se de forma clara do texto Constitucional que os direitos das crianças e adolescentes estão atrelados reciproca e simultaneamente aos deveres da família, socie-dade e Estado a quem cabe assegurá-los e que desfalca qualquer conduta em postergá-los ou incumpri-los já que vocacionados pela prioridade absoluta dada a qualidade da fundamentabilidade (vida, saúde, educação, lazer, dignidade, cultura, liberdade, respeito e convivência familiar).

Já a Convenção Internacional (que se destaca como instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal) não deixa margem para dúvidas, pois fixando igualmente série extensa de deveres aos Estados signatá-rios, circunscreve ponto de hermenêutica típica do direito humanitário na versão menorista: cuida da ‘interpretatio pro hominis’ adequada à versão e nos moldes da infância e juventude ao fixar como princípio conformador e trans-formador “o melhor interesse da criança”.

É de constatar neste sentido a clara e óbvia carga de de-verosidade tocada ao Estado (e suas instituições), à sociedade e à família na proteção das crianças e adolescentes. Está-se ante opção valorativa constitucional que propriamente na teoria dos direitos fundamentais é compreendida como deveres de proteção. Assinale-se que os deveres de proteção são aqueles de natureza jusfundamental que vinculam o legislador e não dizem respeito tão somente às questões privadas, alcançando também searas normativas públicas diversas, como direito administrativo, direito da educação, direito econômico e, sobretudo, o direito penal.

Em suma, a proteção da pessoa em idade cronológica inferior a dezoito anos exige distribuição jurídico-sistêmi-ca, valendo-se não apenas das Convenções Internacionais de Direitos Humanos e Constituição Federal, senão de inúmeras legislações infraconstitucionais, com destaque

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ao Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como do Código Penal, em óbvia ambiência dialógica.

Pode-se afirmar com isso que o Direito Penal é muito maior e bem mais valoroso que as vezeiras utilizações es-petaculosas a ele atribuído nestes últimos tempos solapados pelo punitivismo, como se todos estivessem numa plateia assistindo no ringue a luta do bem contra o mal e onde membros do Ministério Público e da Magistratura fizeram das inúmeras normatizações penais ‘prima ratio’, ao invés da alocação constitucionalmente valorada: ‘ultima ratio’. Até porque, como se sabe, entre as tarefas do direito está aquela de realização pessoal do cidadão, garantindo-lhe a liberdade conforme e nos limites da respectiva inserção comunitária.

O Direito Penal encontra nos cânones constitucio-nais o digno escopo em conceder efetividade a inúmeros direitos fundamentais, inscrevendo-se metódica, estru-tural e funcionalmente entre as dogmáticas concebidas para colocar freio e punir – contudo proporcionalmente nas bases do racionalismo humanista – os responsáveis em aviltar a dignidade alheia. Se no iter histórico, já foi serviente às tiranias, propiciando por isso a função defesa dos direitos fundamentais, contemporaneamente ganha a função proteção, apta a dar concretude ao núcleo incindível de tantos vulneráveis.

E nisso se adaptam concretamente a doutrina consti-tucional e penal, porquanto as raízes de ambas nos deveres de proteção se tornam mais efetivas e melhor definidas frente ao objeto posto sob tutela do que, propriamente, aos direitos havidos. Uma situação é a proteção do direito à vida, dependente da qualificação do titular. Outra situa-ção é a proteção da vida como bem jusfundamental, cujo titular é indiferente. Daí mais fácil a compreensão da lesão na esfera penal que consiste na afetação do objeto da proteção jusfundamental, ou no dizer dos penalistas: bem jurídico tutelado.

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Para as crianças e adolescentes, bens jurídicos aviltados são constantes: vida, integridade física, abandono intelectual, liberdade, dignidade sexual frente a inúmeros atentados e desmazelos. Hoje a perversidade ganha outro espaço e li-nearidade, porque também aflora em campos mais inférteis e daninhos, expressando situações de comiseração severa como venda de crianças, prostituição e pornografia infantil, envolvimento de crianças em conflitos armados.

Tipos penais havidos contra crianças e adolescen-tes que respeitam a esfera individual de cada lesionado (liberdade, vida, integridade etc.) e também a esfera social das vítimas menores (ações e omissões estatais e privadas contra educação, saúde, transporte, acesso digital etc.) são essenciais na função protetiva. O que resulta, respectivamente, na clara segmentação entre direito penal primário e direito penal secundário e escancara positivamente a possibilidade de tutelar os infantes para melhorar as gerações futuras e, enfim, saber preservar racionalmente a humanidade.

É por isso que o direito infantojuvenil desponta, por sua vez e desde que garantido pelos deveres de proteção, com nítida base conceitual para compreensão das gera-ções futuras, o que está a exigir: a aplicação da legalidade constitucional no tempo; a participação da história na in-terpretação constitucional; a construção de interpretações evolutivas; a admissão positiva dos costumes constitucionais; a parametrização da herança cultural da sociedade e do povo; a inscrição de cláusulas programáticas progressivas; e as garantias institucionais.

Daí falar-se em justiça intergeracional que está orientada à coexistência da humanidade nas próximas gerações e onde há de conviver pacificamente diversas disciplinas (ambiental, digital, urbanístico, financeiro) ao lado do direito infantoju-venil, coerentemente arrimado na legalidade constitucional e igualmente protegido pelo direito e ciência penal.

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A obra presente “Crimes contra criança e adolescente - um olhar sob a relação do Direito Penal com o Direito infantojuvenil” organizada pelos ilustres Professores Marcelo de Mello Viei-ra e Paulo Tadeu Righetti Barcelos conduzem a esse racio-cínio mesmo que implicitamente, demonstrando o direito penal como norma-proteção das crianças e adolescentes de forma imediata e das futuras gerações mediatamente.

Estimando seguidas edições, congratulo todos autores envolvidos neste exitoso projeto de pesquisa que culminou em valiosa publicação.

Belo Horizonte, inverno de 2020.

Epaminondas Fulgêncio Neto

Professor de ciências processuais penais; Coordenador da área de ciências penais da Faculdade Milton Campos; Procurador de

Justiça aposentado; Advogado

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coleçãoDireitos da criança e do adolescente

“Para as crianças e adolescentes, bens jurídicos aviltados são constantes: vida, integridade física, abandono intelectual, liberdade, dignidade sexual frente a inúmeros atentados e desmazelos. Hoje a perversidade ganha outro espaço e linearidade, porque também aflora em campos mais inférteis e daninhos, expressando situações de comiseração severa como venda de crianças, prostituição e pornografia infantil, envolvimento de crianças em conflitos armados.Tipos penais havidos contra crianças e adolescentes que respeitam a esfera individual de cada lesionado (liberdade, vida, integridade etc.) e também a esfera social das vítimas menores (ações e omissões estatais e privadas contra educação, saúde, transporte, acesso digital etc.) são essenciais na função protetiva. O que resulta, respectivamente, na clara segmentação entre direito penal primário e direito penal secundário e escancara positivamente a possibilidade de tutelar os infantes para melhorar as gerações futuras e, enfim, saber preservar racionalmente a humanidade.”

Epaminondas Fulgêncio Neto

Um

olhar sobre a relação do Direito

Penal com o D

ireito infantojuvenil

[Orgs.]Marcelo de M

ello Vieira

Paulo Tadeu Righetti BarcelosCrim

es contra criança e adolescenteCrim

es contra criança e adolescente

1. Maus tratos: uma análise sobre a violência familiar contra a criançaMarina Carneiro Matos SillmannRamon Prottes D’ávila Soares

2. Abuso físico infantil diante a Síndrome de Munchausen por procuraçãoMaxwell dos Santos PavioneIngrit Hainy da Silva Moreira

3. Adoção à brasileira à luz da doutrina da proteção integral da criança e do adolescenteMarcelo de Mello VieiraMarina Carneiro Matos Sillmann

4. Violências, vulnerabilidades e abuso na posição de vulnerabilidade (APOV): análise crítica sobre a configuração do crime de tráfico de crianças no BrasilBráulio de Magalhães Santos

5. Incursões análiticas e reflexivas acerca do delito de aproveitamento da exploração sexual juvenil (art.218-B, §2º, I do CP): delimitações centrais e comparativos dogmático-jurisprudenciaisDaniel Nascimento Duarte

6. Contornos da autodeterminação sexual das pessoas em desenvolvimento: um exame sistemático dos crimes de pornografia envolvendo crianças e adolescentesMarcelo Sarsur

7. Crimes cometidos contra crianças e adolescentes na internet: especial análise do estupro virtual e do art. 241-B do ECAHenrique Abi-Ackel TorresAlana Guimarães Mendes

8. Reflexos jurídicos da venda de bebidas alcoólicas aos menores de 18 anos: impactos da Lei n. 13.106 de 17 março de 2015 Paulo Tadeu Righetti Barcelos

9. O sistema de garantias de direitos das crianças e adolescentes vítimas ou testemunha de violênciaEder Fernandes Santana

coleçãoDireitos da criança e do adolescente

Crimes contraCrimes contracriança e adolescentecriança e adolescente

Um olhar sobre a relação do DireitoPenal com o Direito infantojuvenil

Marcelo de Mello VieiraPaulo Tadeu Righetti Barcelos[Orgs.]

ISBN 978-65-5589-071-6

Organizadores Organizadores da Coleção da Coleção

Paulo Tadeu Righetti Barcelos

Diretor da Faculdade de Administração e Vice-Diretor da Faculdade de Direito Milton Campos. Professor de Direito da Criança, do Adolescente e do Idoso. Mestre em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos. Advogado. Membro do Instituto Brasileiro do Direito da Criança e do Adolescente (IBDCria-ABMP).

Marcelo de Mello Vieira

Doutor em Direito Privado pela PUCMinas. Mestre em Direito pela UFMG. Membro da Associação Mineira dos Professores de Direito Civil (AMPDIC), do Instituto Brasileiro de estudos de Responsabilidade Civil (IBERC) e do Instituto Brasileiro do Direito da Criança (IBDCria-ABMP).