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SÉRGIO VIEIRA DE MELLO: LEGADO TEÓRICO E AÇÕES
HUMANITÁRIAS
"Estou firmemente convencido de que uma estratégia para a segurança pode e deve ser
guiada pela defesa do império da lei e pelo respeito aos direitos humanos”
Sérgio Vieira de Mello
Rafael Heynemann Seabra*
Luciana Diniz Durães Pereira*
Margarita Ieong Cantalapiedra*
RESUMO: Este artigo trata do legado teórico e das ações humanitárias de Sérgio
Vieira de Mello, brasileiro funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU),
morto em atentado da rede Al Qaeda em Bagdá, em 2003. O pensamento de Sérgio
Vieira de Mello a respeito das Relações Internacionais constitui-se como relevante
contribuição ao campo de estudo da Paz e da Segurança Internacionais, em especial no
que se refere ao legado Kantiano. Igualmente, ao papel da ONU e ao vínculo entre paz e
a proteção dos Direitos Humanos. O legado de Vieira de Mello vai além da reflexão
teórica, uma vez que a forma como este atuou nas Missões Humanitárias para as quais
foi designado constitui relevante guia para diplomatas e estudiosos da temática de
resolução de conflitos, em especial pela capacidade executiva de Vieira de Mello,
flexibilidade, liderança e carisma utilizados a serviço da população, em especial dos
mais vulneráveis, características estas que o tornaram reconhecido formador de
consensos e solucionador de problemas1.
*Rafael Heynemann Seabra, autor do presente artigo, é Bacharel em Economista pela
UFRJ, Mestre em Relações Internacionais pela UFF e membro do GAPCon.
1 Gostaríamos de registrar nossos sinceros agradecimentos ao Professor Clóvis Brigagão, idealizador e criador do GAPCon, além de coordenador do projeto “Sérgio Vieira de Mello: Política e Ações Humanitárias” da FAPERJ, uma vez que, sem sua inspiração, provavelmente este artigo não existiria.
*Luciana Diniz Durães Pereira, co-autora do presente artigo, é Bacharel em Direito e
Licenciada em História, ambos pela UFMG; Especialista (Faculdades Milton Campos) e
Mestre (PUC Minas) em Direito Internacional Público e membro do GAPCon.
*Margarita Ieong Cantalapiedra, co-autora do presente artigo, é Bacharel em Relações
Internacionais pela UCAM/RJ e membro do GAPCon.
SUMMARY: This article discusses the theoretical legacy and the humanitarian
actions of Sérgio Vieira de Mello, a Brazilian United Nations (UN) staff, killed in an Al
Qaeda attack in Bagda, back in 2003. The thought of Sérgio Vieira de Mello about
International Relations represents an important contribution to the field of Peace and
Security studies, particularly with respect to the Kantian legacy, the role of the UN, and
the link between Peace and the protection of Human Rights. The legacy of Vieira de
Mello goes beyond his thoughts, specially because the way he served in Humanitarian
Missions represents a relevant guide for diplomats and scholars in the field of conflict
resolution. His executive capacity, flexibility, leadership and charisma, used to serve the
people, particularly the most vulnerable, are characteristics which have made Vieira de
Mello a recognized consensus builder and problem solver.
1. INTRODUÇÃO
Em 19 de agosto de 2003, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, funcionário das
Nações Unidas, foi vitima fatal, juntamente com outros 21 (vinte e um) colegas, de um
atentado de autoria da rede terrorista Al-Qaeda contra a sede das Nações Unidas, em
Bagdá, no Iraque. Mais do que demonstrar a crueldade indiscriminada de ações
terroristas como esta, sua morte representou forte abalo para as Nações Unidas e para os
defensores da Paz e dos Direitos Humanos, visto ser Viera de Mello, naquele momento,
Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos e enviado especial do ex-Secretário
Geral, Kofi Annan, ao Iraque.
Por isso, neste artigo, trataremos do legado teórico de Sérgio Vieira de Mello
para as Relações Internacionais e para o Direito Internacional. Para tanto, iniciaremos o
artigo com uma exposição, breve, porém completa, da biografia de Vieira de Mello.
Abordaremos, ainda, sua forma de agir em campo nas inúmeras Missões Humanitárias
das quais participou, as quais conferiram a este honrado homem amplo reconhecimento
internacional. Por fim, avaliaremos algumas características específicas do trabalho de
Sérgio que, a nosso ver, ainda são pouco reconhecidas em seu país natal.
2. BREVE BIOGRAFIA DE SÉRGIO VIEIRA DE MELLO
Sérgio Vieira de Mello nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 15 de março de
1948. Filho de Arnaldo Vieira de Mello e de Gilda Vieira de Mello, desde pequeno
demonstrou interesse pelas questões universais ligadas à experiência humana, a começar
pela natural e diversificada habilidade lingüística que o levou a estudar no tradicional
Liceu Franco-Brasileiro, no bairro de Laranjeiras, no Rio. Nota-se, neste aspecto, a clara
influência de seu pai que, por ser diplomata de carreira, pôde proporcionar-lhe, desde
muito cedo, contato com culturas diversas e, sobretudo, com o ambiente internacional e
diplomático.
De acordo com sua mãe, Gilda Vieira de Mello (2008), Sérgio participou dos
movimentos de 1968 na França, enquanto cursava filosofia na Sorbonne. Na ocasião, foi
vitima de violência por parte das forças policiais, o que quase o levou à morte. Na
mesma época, publicou artigo no jornal francês combat e assinou como brasileiro. A
ditadura militar o proibiu então de vir ao Brasil pelo prazo de quatro anos. Ainda
conforme Gilda, a aposentadoria forçada de seu pai pela ditadura o levou a desistir de
tornar-se um diplomata a serviço do Brasil, de modo que optou por ingressar nas
Nações Unidas.
Com apenas 21 anos, Sérgio conseguiu ser recebido pelo então Chefe do
Departamento de Recursos Humanos do Palais des Nations, Sr. Jean Halperin.
Impressionado com a desenvoltura e simpatia do candidato, Halperin resolveu contratá-
lo, temporariamente, para o cargo de mensageiro de uma sessão do Conselho
Econômico e Social (ECOSOC). Um tempo depois, ao surgir uma vaga para o cargo de
editor bilíngüe no Secretariado do Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR), Sérgio foi efetivamente contratado.
Desde então, e durante toda a sua vida, ocupou diferentes e importantes cargos
na Organização, dedicando-se sempre à proteção da pessoa humana e à defesa dos
direitos humanos. Em campo, entre 1971 e 1972, serviu na atual Bangladesh. Ainda nos
anos 1970, participou como gerente de missão associado no Sudão, e em seguida, como
representante de missão e representante assistente do ACNUR no Chipre. De 1975 a
1977, atuou como delegado substituto do ACNUR em Moçambique. Também pelo
ACNUR, participou de missão no Peru. No início dos anos 1980, Sérgio foi
conselheiro político sênior da Força Interina das Nações Unidas (UNIFIL). (Power
Samantha, 2008, 9-18)
Em final dos anos 1980, consolida sua especial atenção à questão dos refugiados
e dirige o escritório do ACNUR na Ásia além de presidir o comitê geral da Conferência
Internacional sobre os refugiados Indochineses. Já nos anos 1990, conduziu a complexa
missão de repatriamento de cerca de 360000 refugiados cambojanos, na qual sua
ousadia e determinação de agir na direção que julgava correta foram cruciais para o
êxito. De 1993 a 1994 participou da Força de Proteção da Onu na Bósnia. Em 1996, foi
nomeado coordenador humanitário da região dos Grandes Lagos da Africa. Ao final da
década exerceu a função de representante especial interino do secretário geral em
Kosovo. (Power Samantha, 2008, 9-18)
De 1999 a 2002, Vieira de Mello participaria, no Timor Leste, pela
Administração Transitória da ONU no Timor Leste (UNTAET), de uma de suas mais
importantes missões, tendo sido ator-chave na consolidação da independência do país e
construção do estado timorense.
Em 2002, como reconhecimento pelos seus mais de trinta anos de dedicação à
causa dos Direitos Humanos, Sérgio Vieira de Mello foi nomeado, pelo então Secretário
Geral Kofi Annan, Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos. Á
frente do Alto Comissariado, posto que ocupou por quase oito meses, iniciou batalha
pelo fortalecimento do órgão, criticando e visando modificar, fundamentalmente, dois
aspectos: a excessiva politização da agenda de direitos humanos e as situações
de double standards da antiga Comissão de Direitos Humanos, hoje atual Conselho
de Direitos Humanos.
Todavia, com a eclosão da Guerra di Iraque após a invasão pelos Estados
Unidos, Kofi Annan, em maio de 2003, pediu a Vieira de Mello que aceitasse ser, pelo
período de quatro meses, o representante especial da ONU em Bagdá.
O brasileiro foi vítima fatal, junto com outros vinte e um colegas da ONU, de
um atentado terrorista da Al-Qaeda, em Bagdá, na tarde do dia 19 de agosto de
2003. Seu corpo foi velado no Brasil e enterrado em Genebra, no Cimetière des Rois.
Diversas homenagens póstumas foram a ele prestadas sendo duas, talvez, as mais
especiais: seu busto foi colocado na frente do Palais Wilson, em Genebra, com a
intenção de servir de memória e exemplo a todos os funcionários da ONU; seu nome e
dia de morte foram historicamente lembrados e fixados, através de resolução da
Assembléia Geral das Nações Unidas, de 11 de dezembro de 2008, como o Dia Mundial
Humanitário.
A importância de Sérgio Vieira de Mello é tamanha, e ainda tão evidente
nos Headquarters da Organização – seja em Genebra, Nova Iorque, Viena ou qualquer
outro Officer da ONU ao redor do globo – que, muitas vezes, ele é citado nos discursos
de Ministros, Embaixadores, Diplomatas e Chefes de Estado. O ex - presidente Luís
Inácio Lula da Silva, por exemplo, em seu último discurso na XI sessão ordinária do
Conselho de Direitos Humanos da ONU, no dia quinze de junho de 2009,
expressamente relembrou que “(...) a figura de Sérgio Vieira de Mello será sempre
associada aos valores mais altos da Organização”.
3. ASPECTOS TEÓRICOS DO PENSAMENTO DE SÉRGIO VIEIRA DE
MELLO
3.1. Sérgio Vieira de Mello e o Legado Kantiano
As questões que envolvem guerra e paz são, ainda hoje, realidade da política
internacional. A democracia e o Estado de Direito enfrentam dificuldades em inúmeros
países enquanto a miséria e os abusos contra os direitos humanos perpetuam-se em
diferentes graus, em todas as sociedades e entre elas. O Direito Internacional permanece
frágil e dependente do compromisso das grandes potências, que elevam os gastos
militares e desmoralizam seu próprio discurso de não proliferação nuclear.
Essas são constatações que poderiam levar ao ceticismo ou ao conformismo.
Sérgio Vieira de Mello, por suas ações e pensamento, representa um dos grandes
contraponto a essa perspectiva. Dedicou sua carreira e perdeu a vida lutando pela paz,
conjugou, como poucos, notável formação intelectual com a capacidade executiva em
suas Missões. A dura realidade que presenciou o impediu de tornar-se um ingênuo, o
que teria afetado suas possibilidades de alcançar os resultados que almejava. Buscou,
contudo, incessantemente a paz, sem nunca perder a consciência do frágil equilíbrio das
relações internacionais e, ainda assim, atuou para modificar sua natureza e encontrar
caminhos para assegurar a proteção dos mais vulneráveis.
O desafio teórico ao qual se propôs foi imenso: trata-se, ainda, da questão central
formulada pela Escola Realista que caracterizou a guerra como componente intrínseco à
natureza das relações internacionais, marcada, fundamentalmente, pela disputa de poder
entre os Estados Nacionais. Cabe abordarmos, brevemente, os pressupostos dessa
Escola, em particular sua crença em uma ordem internacional fundamentalmente
hobbesiana. Trata-se, aqui, da chamada analogia doméstica: Hobbes formula a
concepção de que, em estado de natureza, os indivíduos vivem em luta permanente, uma
guerra de todos contra todos, na qual “o homem é o lobo do homem”. Ainda, conforme
o filósofo, os homens abriram mão de seu poder em favor de um terceiro, o Leviatã, que
com isso pacificou a sociedade. O Leviatã seria o Estado, detentor do monopólio
legítimo da violência. A analogia doméstica afirma que não há, no plano internacional,
entidade equivalente e os Estados permanecem em estado de natureza, caracterizado
pela busca incessante por segurança e liberdade, de modo a tornarem-se uma ameaça
aos demais.
Para os Realistas, afirma Holsti (2002, 15) a estrutura do sistema internacional é
elemento necessário para compreender o comportamento dos Estados. Embora não
constitua escola homogênea, o Realismo possui alguns princípios básicos, comuns aos
seus pensadores. O autor destaca como ponto central o enfoque nas questões de guerra e
paz e a percepção da estrutura do sistema internacional como elemento necessário para
compreender as causas da guerra e o comportamento dos Estados. Assinala, ainda, que,
para os Realistas Clássicos, o conflito seria um estado natural e não fruto de
circunstâncias históricas, sistemas políticos ou educação. O conflito é, portanto, inerente
ao sistema. Em tais condições são claras as limitações de uma ordem pautada no
direito. Neste sentido, o Direito Internacional apenas serviria para, minimamente,
normatizar as relações entre os Estado que, após a assinatura dos conhecidos Tratados
de Paz de Westfália, eram reconhecidos enquanto sujeitos de Direito Internacional.
Neste contexto, sob a lógica da igualdade formal soberana, na qual todos os Estados que
compunham a sociedade internacional, ao se relacionarem jurídica ou diplomaticamente
com seus pares, eram considerados igualmente dotados de soberania e, portanto, a estes
nada poderia ser imposto que não na medida exata de sua respectiva vontade, interesse e
prévia anuência, o Direito Internacional caracterizava-se como sendo um sistema
jurídico voluntarista, de coordenação horizontal dos anseios estatais e baseado,
fundamentalmente, no consentimento. Neste sentido, as palavras proferidas, em 1998,
pelo Ex-Secretário Geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Javier
Solana, sobre o contexto westfaliano são esclarecedoras:
Humanidade e democracia foram dois princípios essencialmente irrelevantes à
ordem original de Westfália (...) o sistema de Westfália tinha seus limites.
Primeiramente, porque o princípio da soberania do qual o sistema dependia também
produzia as bases para a rivalidade, não uma comunidade de Estados; exclusão, não
integração (Tradução nossa).2
A questão que Vieira de Mello enfrentou, dessa forma, é a da expansão do
império da lei – o Direito – para o plano internacional, de modo a fundamentar a
segurança dos Estados Nacionais em valores e regras, e não mais no poder e nos
princípios do Direito Natural. Para isso, era necessário superar a lógica Realista por
outra formulação, de forte inspiração kantiana, capaz de se sobrepor aos interesses
nacionais mais estreitos em favor de elementos formadores de uma solidariedade
universal. Tal como Kant, Sérgio jamais aceitou a guerra como algo natural, mas sim
como manifestação do irracional a ser superada, portanto, pela razão (Vieira de Mello,
2004).
O pensamento político de Kant possui elevada importância teórica para as
Relações Internacionais. Em A Paz Perpétua e Outros Opúsculos Kant (2004) lança um
manifesto político que repercute ainda hoje, mas que deve ser compreendido em seu
contexto. Um fator de grande influência nas idéias de Kant foi sua paixão pelos ideais
da Revolução Francesa que, em um ambiente político favorável, o estimulou a publicar
suas idéias sobre uma legislação internacional que seria condição para a paz duradoura.
Cabe destacar que Kant viveu na Prússia e que o atraso constitucional de seu
país e a constante agressão deste contra seus vizinhos eram motivos de vergonha. Além
disso, tais características fizeram com que ele identificasse a relação entre regime
totalitário e política externa como agressiva. Nesse sentido, concluiu que os direitos e
deveres universalmente reconhecidos, dos Estados em relação aos cidadãos, necessitam
do reconhecimento prévio de certos direitos e deveres entre os Estados e os cidadãos
entre si. Essa teoria traria novo significado à idéia de norma internacional.
Outro ponto fundamental das idéias de Kant, que marcaria Vieira de Mello,
reside em sua visão e crença no poder da razão humana, concepção que o leva a crer que
a humanidade aprenderia com a História e poderia, desta forma, superar o desafio da
2 In: http://www.nato.int/docu/speech/1998/index.html Acesso em: 18 de junho de 2011.
guerra. Acreditava, assim, que a Revolução Francesa e seus valores seriam reconhecidos
por todos os homens de boa vontade.
Sendo um europeu do século XVIII, a visão de Kant sobre a política
internacional consistia em períodos alternados de guerra e paz: a paz como interrupção
da guerra. Apesar disso, muitos filósofos europeus acreditavam que havia uma
civilização européia que os unia, e que o princípio do equilíbrio de poder garantiria uma
limitação à guerra. A guerra seria, então, um mal necessário, visto que era o mecanismo
pelo qual o equilíbrio de poder era alcançado.
Para Kant, a paz deveria ser alcançada a longo prazo, sempre com o
reconhecimento da necessidade de se alcançar a paz perpétua para se obter progressos
reais nesse sentido. A ordem internacional não seria alcançada por meio da coesão e
consistiria na obtenção da paz, só podendo ser iniciada quando certos governos
abdicassem da guerra como política, e através dos benefícios obtidos com a paz,
incentivariam a adesão de mais Estados. A não-interferência em assuntos internos dos
Estados seria um pré-requisito.
Kant não era um pacifista, era um legalista. No entanto, via na guerra a forma
extremada do mal geral, fruto da natureza egoísta humana, que deveria ser dominada
pelas leis. Apesar de sua oposição inflexível à guerra, via a guerra de defesa como justa,
e a de agressão como ilegal. Desta forma, percebia a necessidade de substituir a
condição internacional de guerra crônica pela legalização das relações internacionais.
A ordem internacional de inspiração kantiana almejada por Vieira de Mello
requeria, ainda, enfoque que transcendesse as fronteiras que dividem os seres humanos.
Desta forma, buscou identidade universal que conviveria com as identidades nacionais.
Esse aspecto é importante, pois, em momento algum propôs a formação de um Estado
Mundial. Estava certo, entretanto, da existência da solidariedade universal.
Trata-se, ainda, de visão distinta da História: as Histórias particulares, de
determinado país ou povo, estão sujeitas a perspectivas guiadas pelo auto-interesse;
desvios que permitem sua contestação e impedem que traduzam toda a verdade. A única
História coerente com a universalidade e a verdade das leis da razão é a História
Cosmopolita, perspectiva kantiana pela qual Vieira de Mello sustentou a idéia do
Direito Cosmopolítico, a etapa final do processo de expansão do Direito do plano
nacional à toda a humanidade. Para Sérgio, a abordagem cosmopolita evita, ou modera,
os excessos particularistas que podem conduzir ao nacionalismo extremado e à guerra
(Vieira de Mello, 2004).
3.2. Perspectiva Histórica em Kant – Razão e Destino Humano
Além da abordagem cosmopolita, Vieira de Mello acreditava no avanço da
História na direção da racionalidade e em que devemos atuar nesse sentido. Na época de
Kant, a Revolução Francesa demonstrou a possibilidade de progresso, tendo
representado a convergência entre a História filosófica e a História real ao estabelecer o
reinado do Direito. Possíveis retrocessos não anulariam sua relevância, pois em toda a
parte estaria cravada na memória, para oportunidades futuras. Há, aqui, o aprendizado
histórico proposto por Kant.
Sérgio depreende da proposta de Kant lento e tortuoso caminhar em direção à
paz, no qual a humanidade pouco a pouco aderiria a normas fundamentais. Trata-se de
processo doloroso, mas há otimismo moderado, cauteloso, guiado pela noção de que “a
razão de ser do homem é ser razão” e de que a História haveria de destacar a finalidade
lógica da espécie: a racionalidade universal.
Para Vieira de Mello essa meta nunca seria plenamente alcançada,
permanecendo no horizonte de modo a induzir o movimento da humanidade que, apesar
dos percalços, nunca retrocede inteiramente. Assim, configura o conceito filosófico de
Kant da sociedade supranacional e solidária como categoria ao mesmo tempo dinâmica
e de idéia civilizadora.
A História será sempre imperfeita e a humanidade deve avançar, no corpo
institucional, jurídico e ético, sabendo que a tentativa de fazer a História acompanhar o
avanço no campo das idéias será falha, porém necessária. Em suas palavras, eis o papel
da utopia:
Devemos agir como se a coisa, que talvez não seja, fosse. O
futuro, para Kant, é para ser inventado e afastar-se deste desígnio
equivaleria a renunciar a razão de ser do homem, que consiste em ser
razão (2004, 60).
Vieira de Mello refuta a lógica dialética de Hegel, filósofo com o qual mantém
permanente diálogo e contestação: da guerra, do irracional e do mal, não resultam
benefícios futuros, ou síntese construtiva. Trata-se de desvio do caminho da
humanidade, de perversão a ser dominada pela razão. O brasileiro, por sua experiência
em campo, afirmava ter presenciado mais desmentidos do que comprovações do
balanço otimista de Hegel. Vemos que, por seu humanismo e compaixão pelas vitimas
da guerra, Sérgio não poderia admitir teoria complacente com esta realidade.
3.3. Do Direito Nacional ao Cosmopolítico – O Papel do Estado Moderno
O caminhar histórico que Vieira de Mello propõe e implica em, com base em
Kant, na expansão do Império da Lei do plano interno ao internacional, alcançando,
finalmente, o plano cosmopolita. Se retomarmos os Realistas, teremos que a formação
do Estado Nacional, necessária para instituir a Constituição Civil, implica no
deslocamento do dilema hobbesiano para o ambiente externo, de onde resulta a guerra
como fenômeno inevitável. Como Vieira de Mello aponta, a visão kantiana é oposta e
compreende que uma Constituição Civil perfeita, ou seja, nacional, depende,
necessariamente, do estabelecimento de uma legislação que regule as relações
exteriores, uma vez que não há condições para o pleno desenvolvimento de uma
sociedade civil em um ambiente marcado pela hostilidade, insegurança e incerteza.
Logo, é preciso seguir avançando na superação da anarquia em todos os níveis.
O acordo primário de formação das sociedades nacionais, inicialmente
“patologicamente extorquido” da humanidade, deve evoluir para livre adesão ao direito
e à razão, estando a liberdade ligada ao poder irresistível das leis exteriores justas. Os
direitos nacional e internacional constituem-se, assim, em etapas desse longo caminhar.
A superação do estado natural requer a formação de uma sólida sociedade civil
juridicamente organizada que Kant distribui em três níveis: o Direito Civil dos homens
que formam um povo; o Direito das Gentes, que rege as relações dos Estados entre si; e
o Direito Cosmopolítico, que diz respeito aos homens e Estados, como cidadãos de um
Estado universal da humanidade.
No primeiro nível, o do Direito Civil, Kant estabelece que o Estado deve ser
Republicano, pois esta forma de governo concilia a liberdade à igualdade e autoridade
de cada cidadão. Contudo, Vieira de Mello ressalva que a forma republicana não
equivale, necessariamente, à democracia como compreendemos hoje, mas a um governo
representativo do povo que permite a este proteger sua própria autonomia e, portanto, se
baseia numa nítida separação entre os poderes executivo e legislativo. A preocupação
central de Kant está em determinar que a soberania seja do povo de modo a impedir que
um regime autocrático vá à guerra sem preocupar-se com seus cidadãos.
Quanto ao Direito das Gentes, pode-se considerar que os Estados são
comparáveis aos indivíduos, na medida em que representam seus povos, de modo que as
relações jurídicas que existem na esfera civil devem ter um paralelo, adaptado, nas
regras que ordenam as relações entre os Estados. Vieira de Mello pondera que não se
trata de renuncia dos Estados à soberania em favor de um Estado federativo
supranacional. Kant defendeu uma convenção mútua entre os povos em favor de uma
aliança para a paz, que ao contrário de um tratado de paz, se propõe a eliminar, para
sempre, todas as guerras. Neste sentido, o próprio modelo federal da Europa, segundo
Vieira de Mello, constitui parte desta proposta. Assim, Kant define esse grande corpo
cosmopolítico futuro como o cenário de ações e reações equilibradas, governadas pelos
princípios da segurança coletiva e pela manutenção da sociedade interestatal.
Para Vieira de Mello (2004), o filósofo é o inspirador daqueles que redigiram a
Carta das Nações Unidas, pois muitos dos princípios que inspiram a Organização
podem ser identificados nas leis proibitivas que estipulou no âmbito do Direito das
Gentes.
Kant estabeleceu, nesta seara, que nenhum tratado de paz deve conter um
pretexto para uma guerra futura, ou seja:
Todo e qualquer tratado ou acordo que não leva em consideração o
estabelecimento ou restabelecimento da confiança entre povos e
Estados e que, na sua forma política, militar, geográfica ou
sociocultural, institui ou mantém certo grau de humilhação ou negação
de direito, será, sem dúvida alguma, fonte de novos desentendimentos
e conflitos. (2004, 47)
Propôs, ainda, que nenhum Estado, grande ou pequeno, pode ser objeto de
aquisição por outro Estado, sendo ilegal a utilização da força para impor a vontade
sobre o outro. A dissolução dos exércitos permanentes, neste sentido, seria medida
adotada para diminuir a desconfiança mútua e evitar a competição que faz com que os
Estados busquem superar uns aos outros em número de tropas e em armamentos. A
manutenção deste contingente elevado acaba se tornando mais custosa do que uma
guerra curta, representando, portanto, um estímulo à agressão.
Outra norma formulada por Kant estabelecia que os Estados não deveriam criar
dívidas para seus conflitos exteriores, o que Vieira de Mello relaciona ao conceito
contemporâneo de reconversão da indústria militar para a finalidade do
desenvolvimento econômico e social. Além disso, no que freqüentemente é denominado
como o princípio da não intervenção em assuntos internos, fundamental para o Direito
Internacional, Kant afirma que nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na
constituição e governo de outro Estado.
Sobre o Direito da Guerra, Kant entende que, quando esta é inevitável, nenhum
Estado deve recorrer a métodos que impossibilitariam a volta da paz e da confiança
recíproca, ou seja, não deve haver espaço para métodos extremos, tais como a
exterminação ou a guerra punitiva.
O terceiro patamar do Direito, o Cosmopolítico, deve limitar-se à hospitalidade
universal que se refere à liberdade de ir e vir e à equidade de tratamento para todos os
membros do gênero humano. A limitação se dá pela impossibilidade de se criar a civitas
gentium. Esta permanece como um ideal da razão, que não é, entretanto, realizável. O
Direito Cosmopolítico é um fio condutor e um fim último.
Assim, Vieira de Mello sustenta que da sociedade internacional proposta por
Kant, decorre uma nova teoria sobre o Estado cuja gênese se daria em três estágios. O
primeiro corresponde à anarquia interna. O segundo seria o Estado hegeliano, que goza
de ordem doméstica rigorosa, zela pelo respeito à soberania, e, como tal, propenso ao
relacionamento conflituoso com outros Estados. O terceiro é o Estado pós-moderno,
democrático e que conta com autonomia interna, mas que aceitaria uma gradativa
devolução de soberania em prol do paradigma superior de associação supranacional.
3.4. Sérgio Vieira de Mello e o Debate sobre o “Fim da História”
O legado kantiano nas relações internacionais diz respeito ao papel da
democracia, das Organizações Internacionais e da lei internacional para um mundo
pacífico. A noção de que valores devem ter papel preponderante nas relações
internacionais, oferece, contudo, margem para que potências os utilizem de forma
deturpada e em função de seus únicos e exclusivos interesses.
Devemos refletir, brevemente, sobre o papel das idéias de Kant na política
externa estadunidense. Cabe a ressalva de que o pensamento de Kant não é
propriamente formador das linhas de atuação externa dos EUA. O filósofo teve suas
idéias políticas destacadas pelos pensadores da política norte-americana, tendo em vista
o papel que atribui à República e às instituições na política internacional, idéias essas
que foram ao encontro do papel que os EUA se atribuem no mundo.
A questão da promoção da democracia como parte da missão dos EUA, bem
como a criação de instituições internacionais que, em certa medida, reproduziriam os
valores democráticos estadunidenses, envolve grande controvérsia. De fato, os EUA
atuaram para consolidar as Organizações Internacionais enquanto relevantes atores da
sociedade internacional – inclusive na qualidade de sujeito de direito internacional, em
especial a ONU – ao mesmo tempo em que asseguraram a democracia na Europa
ocidental e no Japão. Por outro lado, coube à periferia do sistema – incluindo a América
Latina – o patrocínio a ditaduras militares voltadas para a contenção do
Socialismo/Comunismo. De forma similar, os EUA se permitem, com freqüência, atuar
ao largo das normas internacionais tendo em vista seu interesse nacional. Em outros
momentos, acrescentam a Democracia ao interesse nacional, que adquire, assim,
perigosos contornos de cruzada.
Não é objetivo deste artigo debater, de forma aprofundada, as vertentes da
política externa estadunidense, mas sim enfatizar os perigos de uma apropriação
indevida do legado Kantiano pelos EUA. Sérgio Vieira de Mello se ateve a essa
questão ao questionar, de forma contundente, a hipótese de “Fim da História” decretada
por Francis Fukuyama em artigo de mesmo nome, em 1989, ampliada, posteriormente,
em 1992, no livro “O Fim da História e o Último Homem”. Fukuyama sustenta a tese de
que a democracia liberal teria provado ser a única forma de governo humano
verdadeiramente legítima e, como tal, com capacidade de universalizar-se. Formulou
essa hipótese em momento histórico particular, marcado pelo fim da Guerra Fria e de
um poder estadunidense sem paralelo.
Para Vieira de Mello essa linha de pensamento representava “um misto de
otimismo ingênuo e arrogância do mais forte” (2004, 35). “Uma humanidade virtuosa
seria estática, propriamente anti-histórica” (2004, 43). Era preciso estar consciente de
que a História não havia terminado, sendo necessário dar-lhe direção. A direção, vale
ressaltar, não deveria dar-se pelas mãos de uma superpotência dotada de “valores
superiores” e, por isso, apta a atuar unilateralmente para difundi-los. Vieira de Mello
não relativiza o valor da democracia e crê em seu valor universal, mas reserva à ONU o
papel preponderante nesse caminhar histórico.
3.5 A Organização das Nações Unidas na Transição do Real ao Racional e a
Questão dos Direitos Humanos
A vertente kantiana, brilhantemente interpretada por Vieira de Mello, representa
um caminho para a superação da lógica Realista. Uma das armadilhas, como vimos,
consiste na apropriação deturpada desta linha de pensamento, tendo em vista que fatores
ideológicos e uma suposta “missão civilizatória” foram, freqüentemente, apropriadas
pelos Estados Nacionais em termos de seus interesses. Ciente desta armadilha, Vieira de
Mello defendeu que a ONU era o único órgão de finalidade universal que, por sua
independência e imparcialidade, seria capaz de transcender o imediato e particular
interesse dos Estados e demais Organizações Internacionais (Vieira de Mello, 2004b).
Estas características conferem à ONU ascendência moral no cenário
internacional. Para o brasileiro, esta é o arquétipo da sociedade internacional e seus
agentes, especialmente o Secretariado e o Conselho de Segurança, que devem atuar
como aceleradores da transição do racional ao real e, também, na problemática
conciliação entre ética e política. A negação do valor desta estrutura de racionalidade
política e moral seria, em sua visão, um divórcio deliberado entre o racional e o real.
Em sua conceituação da ONU, Vieira de Mello volta a dialogar com Hegel, mais
precisamente sobre o conceito de “Espírito do Mundo” do filósofo que se explicitaria na
dinâmica do desenvolvimento da história. Em suas palavras, este:
(...) explica, justifica, integra, absorve, ultrapassa e transforma as
manifestações do mal absoluto. Cada um desses verbos é
indemonstrável e inaceitável. Além disso, o Espírito do mundo é um
conceito totalizante e totalitário, felizmente não verificável. (Vieira de
Mello, 2004b, 84)
É assim que sua concepção do papel da ONU será formulada em contraposição
ao “Espírito do Mundo” de Hegel. Diante da impossibilidade de aceitar em qualquer
hipótese os comportamentos infra-humanos ou desumanos, Vieira de Mello a define
como a “Consciência do Mundo” a instituição privilegiada de expressão da consciência
pública mundial.
Através desta concepção, a ONU manteria um estado de permanente tensão com
a realidade que se propõe a transformar. Cabe a esta Organização, portanto, nas
ocasiões em que poderiam entrar em choque os princípios da humanidade, empregar a
força para prevenir o mal, ou, se tarde de mais, impedir que se chegue à degradação
extrema.
O elemento primordial da “Consciência do Mundo” deve ser a proteção dos
Direitos Humanos, relacionados a mais frágil das esferas do Direito, o Cosmopolítico.
Vieira de Mello aponta que, por sua indivisibilidade e universalidade, são os conceitos
mais próximos que temos para alicerçar um mundo civilizado. Isto porquê, através da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU estabeleceu que:
A dignidade inerente e os direitos iguais inalienáveis de todos os
membros da família humana são o fundamento da liberdade, da justiça
e da paz no mundo. Liberdade do medo e da miséria era nossa
aspiração comum e concordamos que "nós, os povos" estaríamos
determinados a poupar as gerações futuras do flagelo da guerra.
(Vieira de Mello, 2004c, 152)
Com isso, nos aproximamos de uma síntese da teoria de Vieira de Mello a
respeito da vocação das relações internacionais e, sobretudo, da própria ONU. A
proteção universal dos direitos humanos é apresentada como o mais elevado grau que a
razão pode imprimir na História humana, tendo a ONU como o seu principal veículo.
Através desta meta, o Império da Lei avança em todos os planos do Direito descritos em
Kant. Sérgio define, assim, a relação fundamental entre segurança e direitos humanos.
Se a perspectiva teórica de Sérgio Vieira de Mello inspira pela forma como atribui aos
direitos humanos papel central para se alcançar a paz, sua atuação em campo chama
atenção pelos êxitos obtidos e compromisso assegurados com as populações locais que
atendeu, em coerência com seu ideário teórico. A seguir, abordamos momentos
definidores da carreira humanitária de Sérgio Vieira de Mello.
4. SÉRGIO VIEIRA DE MELLO – ENSINAMENTOS PARA A AÇÃO
DIPLOMÁTICA EM CAMPO
4.1. Moçambique e Camboja
Via de regra, as pessoas que não conhecem o continente africano têm uma
atitude bastante cínica em relação à África, ao futuro e às chances que a África tem de
superar seus muitos problemas. Apesar disso, Viera de Mello encontrava no continente
uma tendência democrática muito forte (Vieira de Mello, 2008).
A África é, certamente, o continente que mais necessita da ONU e da
comunidade internacional para superar suas divisões e encontrar o caminho do
desenvolvimento. A descolonização foi imprescindível, mas não suficiente para as
nações africanas. As palavras de Sérgio Vieira de Mello, acima transcritas, refletem a
visão de um brasileiro que enxergava a África para além das questões humanitárias em
que estava empenhado. Em Moçambique, Sérgio demonstrou algumas das virtudes
pelas quais seria reconhecido em todos os locais nos quais atuou. Sérgio vivenciou a
independência de Moçambique, em 1975, e os sentimentos que esse momento suscitou
em seu povo.
O povo de Moçambique, e suas figuras proeminentes, destacaram a forma pela
qual o brasileiro tinha contato direto e não-hierárquico com as pessoas, o que lhes
transmitia grande afeto e confiança. Sérgio possuía a capacidade de se lembrar de todos,
individualmente, o que demonstrava sua forma extremamente humana de lidar com as
difíceis questões que lhe cabiam. Esse modo de agir fazia com que as populações locais
o vissem não apenas como uma autoridade burocrática estrangeira, mas também como
um amigo em quem podiam confiar e, até mesmo, respeitar suas eventuais críticas
(Duarte, 2008). Vale destacar, igualmente, que a confiança em Sérgio não era
desmerecida ou fruto apenas de seu carisma, pois o brasileiro estava disposto a tudo e a
fazer qualquer coisa quando acreditava que determinada ação seria favorável aos
interesses da população, em especial dos mais fracos e vulneráveis.
Após a independência de Moçambique, Vieira de Mello foi encarregado de
repatriar os refugiados, atividade que se tornaria uma de suas especialidades na ONU.
Infelizmente após a independência, Moçambique passaria ainda por uma guerra civil, o
que levaria Sérgio a retornar ao país, em 1996, para um segundo repatriamento de
refugiados, o que realizava sob os auspícios do Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados (ACNUR).
No início dos anos 1990, Sérgio atuou no Camboja, após a assinatura dos
acordos de paz para a região, em 1991. O regime do Khmer Vermelho havia assassinado
cerca de 2.000.000 (duas milhões) de pessoas, sendo que outras centenas de milhares
deixaram o país, incluindo 360.000 (trezentos e sessenta mil) que ficaram em
acampamentos na Tailândia. Novamente, o brasileiro mostrou sua forma humana ao
lidar com o repatriamento dos refugiados. Estava disposto a fazer com que voltassem
não apenas ao país, mas também ao vilarejo que desejassem. Era objetivo de Sérgio
permitir, com isso, a plena reintegração local dos refugiados a suas respectivas terras de
origem, reunindo as famílias despedaçadas pelos deslocamentos forçados. Muitos
refugiados ficaram perplexos quando lhes foi oferecida a possibilidade de escolha
(Duarte, 2008). Tratava-se, também, de permitir que os refugiados desenvolvessem sua
dimensão individual, e com, isso, exercessem sua dignidade.
No episódio do retorno dos refugiados cambojanos outra das marca de Vieira de
Mello se destacaria. Além de levar em conta os aspectos humanos envolvidos em seu
trabalho, foi preciso grande ousadia e capacidade de negociação para que os refugiados
que, assim optassem, pudessem retornar a salvo para os territórios dominados pelo
Khmer Vermelho. Disposto a tudo quando em favor da população civil sofrida, Sérgio,
acompanhado de alguns poucos funcionários da ONU, adentrou no território controlado
pelo Khmer e negociou diretamente com suas lideranças, algo que nenhum funcionário
da ONU jamais havia feito antes (Duarte, 2008).
Sérgio usou de todo seu charme e carisma para alcançar o objetivo, mesmo
quando seu interlocutor era o Khmer Vermelho. A mensagem era suave na forma, mas
contundente em conteúdo. Nas palavras de Jahanshah Assadi, representante do ACNUR
na fronteira da Tailândia, em 1992, Sérgio deixou claro ao Khmer que:
Quando os refugiados voltarem, têm de decidir aonde querem ir, não
vocês. E quando voltarem, queremos fazer o que precisamos, isto é,
visitá-los, ver se estão bem”. Ele literalmente arrancou as garras que
eles tinham sobre o povo havia quinze, dezesseis anos, e ele dizia:
“não se metam”. (Vieira de Mello, 2008)
Na ocasião do retorno dos refugiados, a ousadia de Vieira de Mello se
manifestou, ainda, quando este tomou a inédita decisão de remunerar os refugiados para
estimulá-los a retornar ao país. Sérgio tinha consciência de que os refugiados não
estariam inteiramente seguros, de modo que sua decisão envolvia riscos. Mas era sua
característica ir até o fim quando acreditava que estava no caminho certo. Como homem
de campo, o brasileiro liderou pessoalmente o primeiro comboio de refugiados (Duarte,
2008).
As virtudes de Sérgio Vieira de Mello ficaram claras e seu prestígio, na ONU,
era crescente. Ele planejava especializar-se na questão dos refugiados, mas sua
habilidade em campo e capacidade executiva fizeram com que fosse designado para o
Timor Leste, naquela que seria sua missão mais abrangente.
4.2 Timor Leste – A Promoção da Estabilidade pela Construção do Estado
Democrático de Direito
Como Administrador Transitório do território do Timor Leste, Sérgio Viera de
Mello detinha os poderes Executivo e Legislativo, assim como a administração da
Justiça. Essas amplas atribuições eram imprescindíveis para o trabalho que tinha pela
frente. O Timor estava completamente devastado pela guerra civil: a população carecia
de serviços públicos básicos, não havia infra-estrutura operacional e o setor público
estava praticamente abandonado, enfim, tudo estava por fazer. Para essa função era
necessário alguém com grandes qualidades pessoais e profissionais, capaz de comandar
a reconstrução do Estado timorense. Trinta anos de experiência na ONU certamente
influenciaram na escolha do brasileiro que, entre os inúmeros elogios a ele conferidos,
era conhecido como construtor de consensos (Corrêa &Mancini, 2004).
Cabe ressaltar que Sérgio tinha consciência de que, para consolidar o Estado
timorense, era preciso, antes de tudo, garantir a ordem e a segurança de Timor. Com
grande habilidade diplomática e poder de persuasão, conseguiu, por exemplo, que
navios de guerra estadunidenses permanecessem na costa durante toda a operação de
manutenção da paz. Os EUA não estavam na Missão de Paz oficialmente, mas ele
persuadiu o governo norte-americano a ter uma presença no mar, de modo a elevar a
sensação de estabilidade. (Duarte,2008). Nota-se, assim, que Sérgio foi capaz de obter
grandes conquistas humanitárias exatamente por não ignorar os imperativos da ordem e
da segurança. Conforme destacou Dennis McNamara, Diretor dos Direitos Humanos no
Camboja, em 1992, Sérgio soube usar as forças militares do país de forma contundente
para assegurar a ordem, de modo que obteve um grau de segurança no Timor mais
elevado do que no Camboja ou em Kosovo (McNamara,2008).
As mulheres, tidas por Sérgio como “alicerces da paz”, receberam prioridade
nacional. A sua participação plena na Administração de Transição do Timor Leste era
fundamental para superar a desigualdade de tratamento que recebiam em relação aos
homens (Corrêa &Mancini, 2004).
Sérgio Vieira de Mello fez jus às expectativas. Na área da saúde, iniciou a
construção de centros comunitários enquanto suprimentos médicos eram
disponibilizados a todos os distritos; na educação, a Universidade de Timor Leste já
funcionava plenamente, assim como um programa emergencial de reabilitação, e, em
uma das questões que mais tomava a atenção do Administrador Transitório, a
participação ativa da mulher no processo de transição, seja na formulação de leis ou
formando batalhões da ETDF (Força Internacional para Timor Leste). Além disso, o
sistema judicial caminhava para a efetividade, a taxa de criminalidade era baixa,
milhares de refugiados retornavam e as instituições políticas de uma democracia
independente tomavam forma, com a garantia da subordinação militar ao governo civil
(Corrêa &Mancini, 2004).
Alguns aspectos do Timor Leste, por sua vez, ofereciam condições favoráveis à
Missão: a população, formada por menos de um milhão de habitantes; a área geográfica
pequena a ser controlado; as mais de 20 línguas e dialetos não interferiram na coesão da
população; e, tampouco, havia problemas de fundamentalismo religioso, além de o
Timor possuir um ambiente político relativamente favorável. Havia, no entanto,
detalhes que davam origem a criticas: o processo para o desenvolvimento e reconstrução
muitas vezes era lento e, nem sempre, caminhava como o previsto. Deve-se atentar para
as dificuldades de um Estado ainda muito precário. No setor da Justiça, por exemplo,
quando a Missão se instalou em Timor, não havia infra-estrutura judicial, arquivos de
casos, registros materiais locais e, tampouco, juízes nacionais, promotores ou
defensores públicos (Corrêa &Mancini, 2004).
Sérgio Viera de Mello era o homem no comando. Seu trabalho exigia muita
habilidade e muito tato com o ser humano, além de destacar sua peculiar capacidade de
combinar sólida formação intelectual com atuação pragmática e eficaz em campo. Nos
dois anos e meio em que esteve em Timor, o brasileiro manteve a população timorense
em primeiro lugar nas suas preocupações. Suas ações visavam sempre o bem comum.
Mantinha o povo timorense em grande estima, sempre agradecendo o modo como fora
recebido. Reconhecia, também, a força daquela gente que lutava lado a lado por cada
pedaço de vida a ser recuperado. Sua sensibilidade ao sofrimento alheio era visível na
tentativa de proporcionar ao povo boa qualidade de vida.
Mas o Timor ainda teria que enfrentar os desafios de uma nação recém-
construída, além dos deveres e obrigações de um Estado inserido no cenário
internacional. A ONU estava ciente de que, mesmo quando o comando do governo
passasse para o novo presidente, esta não poderia deixar de ampará-lo, e por isso, iria
manter seu apoio financeiro, material e técnico aos timorenses. Para a Organização, o
Timor era considerado um grande feito e motivo de orgulho, pois nada parecido tinha
sido realizado antes. A necessidade do aprendizado, na prática, apenas aumentou o valor
do êxito.
Em grande parte isto se deu, pois, ao analisar a riqueza de um Estado, Sérgio
Viera de Mello não enxergava apenas seus índices econômicos, mas sim como a sua
respectiva população vivia. A população do Timor estava nas melhores mãos. O
sentimento de Sérgio em relação ao povo de Timor, com o qual conviveu por anos,
poderia se traduzir nas palavras que ele proferiu em discurso à Assembléia Constituinte
de Timor Leste:
A grandeza de uma nação está baseada nos ideais sob os quais ela é
fundada, o caráter de seu povo, e sua visão do mundo. Considerando
estes parâmetros, penso que o Timor Leste tem o potencial para
tornar-se uma das grandes nações do mundo. (Vieira de Mello, 2004d,
128).
No Timor Leste temos exemplo claro da forma de agir de Sérgio Vieira de
Mello: fidelidade aos seus princípios morais e intelectuais, imenso carisma,
compromisso e determinação em diminuir o sofrimento de um povo. Foram essas as
características que permitiram a Sérgio Vieira de Mello realizar com êxito a imensa
tarefa de construir um Estado.
A habilidade de Vieira de Mello, em especial sua capacidade de obter acordos e
gerar consensos em situações dramáticas, foram fatores determinantes para que Kofi
Annan, então ex-Secretário Geral das Nações Unidas, o enviasse para sua última
missão, no Iraque, após a invasão norte-americana. Por mais que a guerra fosse
ilegítima, Vieira de Mello não se negaria a trabalhar para amenizar o sofrimento do
povo iraquiano. Estava profundamente preocupado em fazer com que a ONU não
tivesse sua imagem ligada aos EUA, de modo a não ferir a legitimidade, neutralidade e
imparcialidade da Organização, seus maiores patrimônios e princípios. Todavia, como
já é sabido, Viera de Mello não conseguiria cumprir mais esta Missão, pois, em 19 de
agosto de 2003, constatou-se, infelizmente, que a bandeira da ONU não está imune ao
terrorismo internacional: Sérgio e outros 21 (vinte e um) colegas morreram em um
atentado da rede Al Qaeda contra a sede das Nações Unidas na qual trabalhavam, em
Bagdá, no Iraque.
5. CONCLUSÃO
O legado de Sérgio Vieira de Mello é amplamente reconhecido pela
comunidade internacional, mas recebe, no Brasil, destaque aquém de sua relevância.
Isso se deve, supomos, à carreira de Sérgio a serviço das Nações Unidas, o que fez com
que não estivesse diretamente vinculado aos interesses diplomáticos brasileiros ou às
diretrizes da política externa do Itamaraty.
De fato, um olhar superficial poderia supor que este filósofo da Sorbonne, que
viveu sua vida adulta no exterior, não mais possuía vínculo significativo com o Brasil.
Tal perspectiva é, a nosso ver, equivocada. Além dos sentimentos que nutria por seu
país, muito da forma profissional de agir de Sérgio está, certamente, relacionada às
características do brasileiro que se mostram benéficas no que diz respeito à construção
de confiança e formação de consensos.
Ao longo do artigo, citamos diversos exemplos nos quais é possível perceber que
grande parte das características de Sérgio que lhe permitiram alcançar os êxitos
relatados estão, de alguma forma, relacionados ao conhecido temperamento do povo
brasileiro – do qual ele, de forma nata, fazia parte. Nesse sentido, destacamos sua
flexibilidade em abandonar manuais quando percebia que havia outro caminho a seguir;
sua amabilidade e facilidade no trato pessoal com quem quer que fosse, tendo como
objetivo os interesses da população a ser assistida; e, também, sua determinação em
nunca perder de vista o ser humano por trás das grandes massas e das estatísticas com
que lidava. Sérgio nunca se tornou um burocrata distante e isso reforçava seu
comprometimento e a confiança que todos sentiam nele.
Além das características culturais do temperamento brasileiro e carioca de
Sérgio Vieira de Mello, cabe ressaltar que, se por um lado ele não estava atuando
diretamente a serviço do Brasil, por outro lado sua visão de mundo e atuação política
dentro da ONU convergiam largamente com as linhas gerais da política externa
brasileira. O Brasil, por meio de sua Diplomacia oficial, desenvolveu, nos últimos 150
anos, uma cultura pacífica com seus vizinhos, mantendo a paz nas fronteiras, por
exemplo.
O multilateralismo e o compromisso com as Nações Unidas e outros tantos
órgãos multilaterais é uma preocupação e interesse constante da política externa
brasileira. Historicamente, por exemplo, o país foi membro da Liga das Nações e é
membro originário da ONU. Em consonância com o pertencimento a tais Organizações,
está a postura política interna brasileira de compromisso constitucional inequívoco com
a resolução pacífica de conflitos e o respeito à autodeterminação dos povos (Brigagão &
Seabra, 2009).
O marco da redemocratização do Brasil e da América do Sul, nos anos de 1980 a
1990, reforçariam a vocação pacífica brasileira. A política externa sofre inflexão que a
distanciou do Realismo tradicional, com soberania plena do Estado e visão mais restrita
do interesse nacional. Nesse momento, a direção se deu em torno das Peace Building
Measures, tendo em vista o contexto da democracia, da integração regional (Mercosul e
agora Unasul) e da globalização (Brigagão & Seabra, 2009).
A democracia brasileira está consolidada, e, provavelmente, não há exemplo
melhor da capacidade brasileira de diálogo e construção de confiança mútua do que as
iniciativas, nos anos de 1980 e de 1990, de criação da Agência Brasileiro Argentina de
Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC) e da assinatura do Acordo
Quatripartite entre Brasil, Argentina, ABACC e AIEA. Com isso, a América do Sul
tornou-se um continente livre de armas nucleares, constituindo, nesse aspecto, exemplo
para o mundo (Brigagão & Seabra, 2009).
Em tempos mais recentes, o Brasil fez da participação em Missões de Paz parte
de sua estratégia de maior inserção internacional como exportador de paz e estabilidade.
É notável a participação brasileira no comando militar da Minustah (Haiti). No Haiti,
vale ressaltar, verificou-se, na relação que as tropas brasileiras desenvolveram com o
povo local, a mesma e gentil proximidade e trato humano de qualidade que foram
marcas de Vieira de Mello em suas Missões pela ONU.
No caso do Timor, a missão mais abrangente de Vieira de Mello, o Brasil reagiu
prontamente, tendo aderido sem ressalvas à causa timorense e contra a invasão e
ocupação do Timor pela Indonésia. Foi a favor do território em diversas votações na
Assembléia Geral das Nações Unidas e mesmo a sociedade brasileira, sensibilizada,
cobrava do Governo ações mais enérgicas. Na época da reconstrução do Timor, o país
se sentia ainda mais presente no processo por haver um brasileiro no comando (Corrêa
&Mancini, 2004).
A convergência de valores entre a política externa brasileira e o legado de Sérgio
Vieira de Mello, aqui brevemente abordados, demonstram, de forma clara, que caberia
ao Brasil – Estado e Sociedade – valorizar, de forma mais enfática, a trajetória de Sérgio
Vieira de Mello, brasileiro orgulhoso de sua origem e mundialmente admirado. Trata-se
não apenas de fazer justiça à figura de Vieira de Mello, mas do próprio interesse em
vinculá-lo à imagem do Brasil.
REFERÊNCIAS
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SANTOS, LUCÉLIA. “Timor Lorosae – O massacre que o mundo não viu”. Direção e
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Entrevista
Entrevista realizada pela co-autora Luciana Diniz Durães Pereira, em julho de 2009, em
Genebra, Suíça, com o diplomata brasileiro da Missão do Brasil junto à ONU, Primeiro-
Secretário Murilo Vieira Komniski.
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