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MECANIZAO AGRCOLA: FONTES MECANIZADAS COMO CONTRIBUIO AOS SISTEMAS DE PRODUO AGRCOLA

ALCEU PEDROTTI MIGUEL DAVID DE SOUZA NETOALCEU PEDROTTI MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO0

MECANIZAO AGRCOLA: Fontes Mecanizadas Como contribuio aos Sistemas de Produo Agrcola

MECANIZAO AGRCOLA

ALCEU PEDROTTI MIGUEL DAVID DE SOUZA NETO

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MECANIZAO AGRCOLA: Fontes Mecanizadas como contribuio aos Sistemas de Produo Agrcola

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CDU 631.17 S 729 r PEDROTTI, Alceu & SOUZA NETO, Miguel David de, 90 MECANIZAO AGRCOLA: Fontes Mecanizadas como contribuio aos Sistemas de Produo Agrcola / Alceu Pedrotti & Miguel David de Souza Neto So Cristvo Se., 2006. 162 P: il. Bibliografia

1. Mecanizao Agrcola. 2. Tratores e implementos agrcolas Preveno de acidentes 3. Operaes mecanizadas. 4. Mecnica agrcola

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NDICEApresentao ................................................................................................................................................ 7 Um pouco de histria: o fim do nomadismo e a agricultura de preciso: .................................................. 9 1. O uso da trao animal na agricultura ..................................................................................................... 9 1.1.1. A mecanizao na agricultura .......................................................................................................... 11 A agricultura de preciso ........................................................................................................................... 13 1.1.2. A trao animal e os dias de hoje.................................................................................................... 14 1.1.3. Aspectos da mecanizao agrcola: ................................................................................................. 16 A mecanizao e a agricultura moderna .................................................................................................... 19 A situao da mecanizao agrcola .......................................................................................................... 20 Principais crticas mecanizao agrcola: ..................................................................................... 24 1.2. Conhecendo o trator: .......................................................................................................................... 30 1.2.1. Princpios bsicos de funcionamento de um trator agrcola: .......................................................... 30 1. 2. 2. Definio de motor: ....................................................................................................................... 31 Os tempos dos motores exploso ................................................................................................. 33 Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo OTTO: ................................................................. 35 Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo Diesel; ................................................................. 35 CAPTULO 2 .............................................................................................................................................. 38 Os sistemas do trator ................................................................................................................................. 38 2. Os sistemas do trator............................................................................................................................. 38 2.1. O sistema hidrulico............................................................................................................................ 38 2.1.1. Funcionamento bsico do sistema hidrulico de trs pontos ......................................................... 39 2.1.2. Autocontrol - Pr-programao operacional suportada por tecnologia de computador (tratores Valtra/Valmet): .............................................................................................................................................. 43 2.1.3. O Sistema de levante hidrulico com controle eletrnico Hydrotronic (tratores Massey Ferguson e Maxion)....................................................................................................................................... 44 2.2. O sistema de lubrificao .................................................................................................................... 44 2.2.1. As siglas utilizadas na classificao dos leos ............................................................................... 44 2.2.2. Manuteno do sistema de lubrificao ........................................................................................... 45 2. 3. O Sistema de arrefecimento .............................................................................................................. 53 2.4. Sistema de embreagens e transmisses ............................................................................................ 55 2.4. Sistema de transmisso: Transmisso de fora. A lei das alavancas, um dos princpios dos braos do hidrulico: ................................................................................................................................................. 62 2.4.1. Sistema de transmisso de trabalho polias e correias................................................................. 65 2.4.1 Dimensionamento de polias e correias: adequao de implementos: ............................................. 67 2.4.2. Dimensionamento de polias: ............................................................................................................ 67 A relao: Tipos de correias x potncia do motor ......................................................................... 68 2.4.3. Dimensionamento de correias ......................................................................................................... 69 Alguns cuidados com as correias e polias: ............................................................................................... 70 2.5. O sistema de alimentao ................................................................................................................... 70 2.5.1.Sistema de alimentao/ar: ............................................................................................................... 70 Manuteno do sistema de filtragem de ar ..................................................................................... 71 2.5.2. Sistema de alimentao/combustvel ............................................................................................... 72 Tanque de combustvel: ................................................................................................................... 72 Bomba alimentadora ........................................................................................................................ 72 Drenagem do sedimentador e do filtro de combustvel. ................................................................. 72 Substituio do filtro de limpeza do sedimentador de combustvel. .............................................. 73 Sangria do motor.............................................................................................................................. 73 Sangria do sedimentador e filtro de combustvel ........................................................................... 73 Sangria da bomba injetora (bomba horizontal e bomba vertical cav) ......................................... 73 2.6. Ajustes de bitola e lastrao .............................................................................................................. 75

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2.7. consideraes sobre a correta manuteno dos tratores: ................................................................. 79 CAPTULO 3 .............................................................................................................................................. 82 Os implementos agrcolas: ......................................................................................................................... 82 3.1. Manuteno dos implementos ............................................................................................................. 83 3.1.2 Manuteno dos equipamentos de trao animal ............................................................................. 83 3.2.Planejamento e desempenho operacional de mquinas agrcolas ...................................................... 85 O Rendimento das operaes de mecanizao .......................................................................................... 85 Gerenciamento econmico do setor de mecanizao................................................................................ 86 3.3. As atividades agrcolas e os implementos: ........................................................................................ 90 3.3.1. Preparo do solo:............................................................................................................................... 90 Arao .............................................................................................................................................. 91 Princpio da arao: A reversibilidade da leiva ......................................................................................... 91 Arados fixos e mveis: .............................................................................................................................. 93 O Arado de aivecas: ................................................................................................................................... 94 O arado de discos....................................................................................................................................... 95 A gradagem ...................................................................................................................................... 96 Regulagem das grades de discos............................................................................................................. 102 Sistemas de gradagem ............................................................................................................................. 103 Grade de dentes com molas ou grade de molas ..................................................................................... 103 Grade de dentes rgidos ou fixos ............................................................................................................ 104 O rolo destorroador: ................................................................................................................................ 104 Escarificadores no preparo do solo. ............................................................................................. 105 Enxada rotativa ........................................................................................................................................ 106 A semeadura .................................................................................................................................. 107 Tratos culturais - As capinas........................................................................................................ 112 Aplicao de herbicidas ........................................................................................................................... 116 Condies climticas ideais para a aplicao de defensivos: ................................................................. 117 A colheita ................................................................................................................................................. 117 CAPTULO 4 ............................................................................................................................................ 122 Preveno de acidentes no uso dos implementos agrcolas e do trator ................................................ 122 4.1. Medidas gerais de segurana ........................................................................................................... 122 4.1.1. Identificao dos principais controles e instrumentos de controle do trator: ............................. 124 4.1.1.2. Partida do motor ......................................................................................................................... 125 4.2. Conforto na operao do trator: ....................................................................................................... 126 4.2.1. A insalubridade do trabalho de tratorista...................................................................................... 126 4.3. Cuidados com o equipamento: a operao do trator........................................................................ 129 4.4. Trao dianteira ................................................................................................................................ 131 CAPTULO 5 ............................................................................................................................................ 133 Manejo e conservao do solo ................................................................................................................. 133 5.1. Caractersticas e propriedades edficas que devem ser observadas no preparo do solo: ............ 133 5.1.1. Textura........................................................................................................................................... 134 5.1.2. Estrutura e Umidade: ..................................................................................................................... 134 a) Estrutura ........................................................................................................................................ 134 b) Umidade do solo ............................................................................................................................ 135 5.1.3. Cor .................................................................................................................................................. 138 5.1.4. Porosidade ..................................................................................................................................... 138 5.1.5. Profundidade .................................................................................................................................. 138 5.1.6. Topografia ...................................................................................................................................... 139 5.2. Medidas conservacionistas ............................................................................................................... 140 Terraceamento e semeadura em nvel .................................................................................................... 142 Manuteno da cobertura morta na superfcie Sistema de Plantio Direto (SPD): ............................... 144 Adubao verde ........................................................................................................................................ 144 Rotao de cultura, pousio e cultivo em faixas alternadas ..................................................................... 145 Alternncia de implementos ..................................................................................................................... 149 O uso de implementos descompactadores do solo: ................................................................................ 149

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Subsolador X Escarificador...................................................................................................................... 150 5.3. A fertilidade do solo ......................................................................................................................... 150 5.3.1. Amostragem do solo ...................................................................................................................... 150 5.3.2. Anlise foliar .................................................................................................................................. 151 5.3.3. Adubao do solo ........................................................................................................................... 151 5.3.4. Adubao qumica .......................................................................................................................... 156 5.3.5. Adubao orgnica ......................................................................................................................... 156 5.3.6. O ph do solo e a correo da acidez ............................................................................................. 157 5.3.7. A adubao e a pecuria: ............................................................................................................... 160REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................................................................................ 162

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ApresentaoA modernizao agrcola brasileira baseou-se em mudanas na composio das colheitas pela diversificao, incorporao de novas tecnologias e em modificaes na estrutura e na organizao dos fatores de produo. A mais notvel mudana, no que toca diversificao de culturas, ocorreu na composio da produo na direo de culturas caracterizadas por mercado em forte expanso no comrcio internacional, com destaque para as culturas de maior interesse para a exportao, como a soja. Alm disso, a mecanizao, a pesquisa agrcola e o uso de insumos qumicos tambm foram fundamentais para a expanso da fronteira agrcola na direo centro-oeste de nosso Pas. Graas a esses fatores, nas dcadas de 70 e 80 os ganhos de produtividade passaram a ser uma importante fonte de crescimento da produo agrcola, especialmente das culturas mais modernas, ao contrrio do que ocorreu nas dcadas anteriores. Na dcada de 80, em particular, os ganhos de produtividade explicam cerca de 3/4 do aumento da produo agrcola obtida no Brasil. O avano da rea de mecanizao agrcola registrado j to grande que o termo agricultura de preciso (AP) vem sendo adotado no meio agronmico para identificar um conjunto de tecnologias modernas oriundas de adaptaes informatizadas com uso direto em equipamentos agrcolas, no sentido de melhorar a eficincia e racionalidade de seu uso nas diversas operaes da propriedade rural. O emprego de computadores acoplados mquinas agrcolas em conjunto com informaes geoposicionadas levaram ao campo o que existe de mais avanado em termos de gerenciamento de dados e estratgias de informtica viveis melhoria da atividade agropecuria. Um dos grandes desafios de quem trabalha envolvido com mquinas agrcolas sempre foi a correta modelagem, com resultados confiveis, para predizer o que o trator pode exercer de fora numa dada condio e o que a mquina ou implemento vai exigir de fora para ser tracionada nessa mesma condio. Existiram muitas tentativas e modelos propostos, principalmente aps a 1a Guerra Mundial, quando os veculos fora de estrada passaram a ter grande importncia. O trator agrcola apenas pegou carona e desenvolveu-se uma linha de pesquisa aplicada mecanizao agrcola. Essa diferena entre um veculo de transporte de pessoal e armamentos e um veculo de trao evidente e por isso a linha agrcola acabou tomando seu prprio caminho. Mesmo assim, muita coisa em comum continuou existindo e as teorias de relao

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pneu-solo e esteira-solo so freqentemente revistas e confrontadas entre as grandes reas (aplicaes agroflorestais, mquinas para construo civil e veculos fora de estrada). Aquele veculo que hoje conhecido como trator j passou por muitas fases e variaes. Inicialmente, na primeira metade do sculo passado, j existia uma quantidade significativa de mquinas a vapor sobre rodas. As primeiras esteiras, ainda primitivas so dessa poca, e justamente para sustentar mquinas pesadas sobre solo. Na ltima dcada do sculo passado que comearam a surgir os tratores com motor de combusto interna. A partir de ento surgiram inmeras variaes e formas construtivas tanto do trator em si quanto do seu sistema de rodado que , em ltima anlise, o dispositivo responsvel pela transformao da potncia disponvel no motor em fora de trao (Goering, 1992). Algum tempo depois do seu surgimento que esse veculo passou a ser chamado de trator, pela suas caractersticas e funo. Um anncio de um deles, datado de 1906, o chamava pela primeira vez de tractor machene. Essa a maior funo do trator que hoje impulsiona uma grande fatia da economia, na agricultura e silvicultura. Em cima destas evolues e ganhos de tecnificao, que este livro vm a contribuir com docentes e pesquisadores, alm de, principalmente os discentes cursantes das disciplinas de graduao, em cursos ligados a cincias agrrias, que tem a necessidade de subsdios na rea de mecanizao agrcola, que ao mesmo tempo que registra evolues e resultados nos sistemas de produo to expressivos, carece de materiais como os propsitos apresentados por esta publicao. Bom proveito !

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CAPTULO 1 Evoluo histrica: o fim do nomadismo e a agricultura de preciso: Desde os primrdios, os nossos antepassados viviam da caa e da coleta de frutos e ervas. Para sobreviverem, andavam em cls por regies diversas, em diferentes pocas, acompanhando a frutificao da flora dessas regies e da disponibilidade de caa. Estavam sujeitos aos rigores das matas ou s grandes distncias das plancies. Sujeitos aos predadores, s endemias e at aos cls rivais. A partir da observao e descoberta do processo de germinao das sementes e domesticao de vrias espcies vegetais, pelos nossos ancestrais, surgiu a agricultura. (CARVALHO & NAKAWVA, 1983). Essa agricultura primitiva, nascida durante o perodo mesoltico, aps mudanas considerveis no tocante ao clima da terra, quando houve uma diminuio das calotas polares e que fez surgir novas reas habitveis, acompanhou tambm a domesticao de alguns animais e o pastoreio (CRCERES, 1996). Esse evento foi de extrema importncia, pois a partir da agricultura e da domesticao dos animais, o homem pde deixar o nomadismo e passar a ser sedentrio (GUIMARES, 1982), fixando-se em locais propcios s suas atividades agrcolas e pastoris. A partir do perodo Neoltico1 o Homo sapiens estabeleceu relaes mais especficas com a natureza, aprimorando principalmente a agricultura, atravs da domesticao de animais de trao e aperfeioamento dos primitivos implementos de auxlio no preparo do solo (CRCERES, 1996). Com o tempo, surgiram presses de ordem social, como o aumento demogrfico, e a subseqente separao dos homens em dois meios distintos: o meio rural e o urbano, com o aparecimento das vilas, perpetuando-se essa diviso de ecossistemas antrpicos desde as polis gregas at as megalpoles atuais. 1. O uso da trao animal na agricultura Os primeiros animais domesticados foram os ovinos, a cerca de 6500 a.C. Os bovinos foram domesticados 3000 anos depois, devido sua ferocidade. Por volta de 3000 a.C., passou-se a castrar os touros, para que se tivessem animais de trao fortes e ao mesmo tempo dceis (UNIVERSO, 1973). A domesticao dos animais trouxe no s para o homem a perspectiva de obter alimento e produtos de origem animal, como tambm, a capacidade de esses animais exercerem algumas atividades, principalmente como fora-motriz, transportando cargas, tracionando implementos nas diversas atividades da1

Perodo compreendido aproximadamente entre 6 000 a.C. a 2 500 a.C.

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agricultura, auxiliando o homem nas tarefas de desmatamento, arao, trao, semeio e colheita. Diversos povos fizeram uso dos animais domsticos, para se desenvolverem. Grandes proprietrios de terras, como o americano Washington, que em sua fazenda fez uso de mulas, de utilidade como fora de trao na agricultura (GUIMARES, 1982), ou os tropeiros, que tantas cargas transportaram no dorso desses animais, Brasil afora. Os animais tm um potencial de transformarem alimentos baratos (forrageiras e gros) em trabalho mais eficientemente que o homem, pois o homem mesmo, como fonte geradora de potncia, pouco eficiente, gerando apenas cerca de 0,1 hp de trabalho pesado e contnuo e cerca de 0,4 hp de trabalho de esforo contnuo e moderado (HOPFEN & BIESASKI, 1953).

Imagem 1.Cultivadores tracionados por bois. Cena comum no interior do nordeste e em propriedades de mo de obra familiar.

Dentre os implementos puxados por animais podem ser citados muitos, entre eles a carroa, o arado de aivecas, o cultivador, a semeadeira adubadeira, a plaina, entre outros. Alm dos tratos com o animal, relativos nutrio, sanidade e inclusive bem-estar, h evidentemente, os cuidados referentes manuteno dos implementos tracionados por estes animais, desde o mais rsticos, como o carro de boi, at os mais sofisticados, como a semeadeira-adubadeira, variando

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somente o grau de cuidados e nmero de manutenes desses implementos, como veremos num captulo mais tarde. 1.1.1. A mecanizao na agricultura Aps a revoluo industrial no sculo XVIII, houve uma intensa mudana na estrutura fundiria e de produo. Do sistema feudal, com suas caractersticas de relaes servis, dos camponeses para com os seus senhores - relaes as quais discutiu HUBERMAN (1936) s intensas mudanas do modo de produo agrcola, ao modo de produo atual as modificaes foram muitas. O campo passou a partir da revoluo industrial, tambm a ser trabalhado por mquinas. Desde a inveno do motor a vapor por James Watt, no final do sc. XVIII somente mais tarde, a partir da montagem de uma mquina a vapor autopropelida sobre rodas, em fins do sc. XIX comeam a surgir os primeiros tratores. No entanto, de acordo com BARGER et alii, (1966) e GUIMARES (1982), s receberam sensvel impulso, aps a 1 Grande guerra, e tornaram-se mais especficos somente aps a 2 guerra mundial. Deste momento em diante, a evoluo do trator acompanhou os nveis de tecnologia agrcola, modelos de explorao e o tamanho das propriedades. Os passos iniciais da revoluo industrial, que carregou no seu bojo a mecanizao agrcola, foram dados a partir das mudanas do sistema de produo rural, fomentadas pelos processos inerentes prpria revoluo industrial. GUIMARES (op. cit), afirma que por volta de 1800, a mecanizao no campo teve um forte impulso aps o aperfeioamento e inveno de mquinas, como uma charrua de ferro fundido, inventada por Charles Newbold e aperfeioada por Jethro Wood. John Deere, em 1840, cria a primeira charrua inteiramente de ao. Em seguida, grande nmero de implementos so aperfeioados e fazem com que, nos estados Unidos, grandes extenses de terras, antes irremovveis pelos antigos instrumentos, a partir de tais aperfeioamentos, passassem a ser utilizadas na produo de alimentos, especialmente cereais, obtendo maior rendimento e eficincia. O desenvolvimento do trator e de implementos especficos trao mecanizada ocorreu em detrimento dos antigos implementos puxados por bois e mulas. A prpria evoluo do trator evidencia que o nvel tecnolgico empregado no maquinrio agrcola acompanhou os processos criativos e tecnolgicos das outras reas. Desde o primeiro passo; do trator a vapor, do sc. XVIII, a passos maiores, como a inveno do motor Otto em 1870, e o surgimento dos motores desenvolvidos por Rudolph Diesel em seguida, a invenes tambm importantes, como a introduo de pneumticos por volta de 1930, o sistema hidrulico de Harry Ferguson, em 1937, ao cmbio sincronizado dos tratores Valmet nas dcadas de 60/70.

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Atualmente, existe maquinrio que exerce tarefas antes inconcebveis a uma mquina, como a colheita de cana-de-acar, de algodo, de caf, ou de oliva. Algumas so at guiadas por satlite, na chamada agricultura de preciso, atravs do uso de GPS (do ingls: global positioning sat) para a correo e adubao do solo, em glebas heterogneas da propriedade, com aplicao de insumos e fertilizantes, de uma forma bem mais especfica de que a adubao generalizada e extrapolada para toda a rea2. Podemos citar ainda, o trator agrcola que no precisa de operador (atualmente apenas um prottipo); vai ao campo e volta ao galpo de mquinas guiado por satlite e por computadores. Esse nvel de tecnologia, contudo, s seria vivel no emprego de mquinas para grandes propriedades rurais, de produo intensiva e de culturas com altos rendimento e remunerao por unidade de rea (grandes culturas de valor econmico elevado ou alta produtividade como a soja, ou o trigo, alm de algumas culturas olercolas).

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SOUZA FILHO e RORDAN (2003), ao descreverem a agricultura de preciso, definem os mtodos de anlises atravs de amostragens das reas tradicionalmente feitos como Agricultura das mdias.

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A agricultura de preciso O funcionamento da chamada agricultura de preciso baseia-se na coleta de informaes de produo, bem como a produtividade dos diversos talhes existentes numa mesma rea. So elaborados mapas de produtividade e aps isso, feitas algumas avaliaes desses dados, para em seguida, tomar-se as medidas cabveis para o aumento da produtividade de cada m2 da rea. Segundo SOUZA FILHO e RIORDAN (2003), essas medidas podem ser corretivas, como o ajuste na quantidade de insumos, ou estratgicas, como a deciso de deixar de plantar em determinada rea. DALLMEYER (2004) traa aspectos positivos dessa tcnica, observando que ela do ponto de vista agronmico, corretssima, pois desconstri o manejo realizado pela chamada agricultura das mdias e passa a tratar as glebas de solo com os seus potenciais produtivos de forma individual. DALLMEYER (op. cit), critica contudo, alguns implementos e/ou mquinas de agricultura de preciso importadas. Esse autor lembra que tais mquinas nem sempre esto em conformidade com as condies do sistema de plantio direto, principalmente no tocante s condies edafoclimticas (o sistema de preparo de solo e plantio de um pas de clima temperado, como se sabe, no aplicvel aos trpicos), como no posicionamento das sementes e do adubo no sulco. A mecanizao e a pecuria: A mecanizao atualmente est para a pecuria assim como o boi est para o pasto, ou no caso de uma pecuria mais mecanizada, assim como o boi, para o cocho. Inmeros so os implementos e mquinas utilizadas na pecuria, muitos deles caracterizados inclusive como implementos pecurios e no mais agrcolas. Enumeremos alguns: O vago transportador de volumoso; O vago transportador e distribuidor de rao; As mquinas de distribuio de rao nas granjas modernas; As enfardedeiras tratorizadas e manuais; As colheitadeiras de feno; As colheitadeiras e picadoras de capim;

Desses implementos existem os mais diversos modelos, tamanhos e nveis de preo, cabendo ao pecuarista a escolha de acordo com suas necessidades e possibilidades (vide tpico referente escolha e dimensionamento da frota na pgina 76).

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No Nordeste, uma cultura que usada desde muito pelos agricultores (ou pecuaristas) familiares e que sustenta toda sorte de gado nos perodos mais crtico de secas as quais muitas vezes duram anos a palma forrageira (Opuntia sp.). Uma cactcea que, de forma caracterstica dessa famlia botnica, sobrevive aridez mediante as suas estratgias fisiolgicas (armazenamento de gua, metabolismo CAM, atrofiamento das folhas em espinhos etc) e que naturalmente serve de alimento aos animais. H especificamente nessa regio para o setor pecurio uma certa dificuldade (entre tantas!) que se refere a um carter de ordem tecnolgica e prtica, que uma colheitadeira de palma forrageira disposio no mercado. De fato, se considerarmos somente o aspecto tcnico de construo da mesma, veremos que h algumas limitaes de ordem tcnica como o corte da palma e deslocamento do material picado da mquina ao vago, alimentao do material atravs de esteira, espaamento padro ideal da cultura a campo, cultura em rea destocada, variedade de palma forrageira mais adequada, robustez do conjunto trator x implemento e velocidade de corte. J para reas mais abastadas no tocante regularidade de chuvas e mdia pluviomtrica bem definida, as colheitadeiras de feno e sua embalagem em fardos de cerca de 20 kg so as mquinas mais utilizadas por pecuaristas de maior porte, embora existam mquinas com uma grande capacidade de confeco e transporte de feno (em rolos). De uma forma geral, medida que novas necessidades forem surgindo, tambm surgiro novas respostas tecnolgicas da mecanizao, desde claro, que haja uma viabilidade de mercado, mas que, de forma absoluta, v-se uma forte tendncia de incorporao da mecanizao pecuria brasileira. 1.1.2. A trao animal e os dias de hoje Com o advento da mecanizao, houve um incremento da produo agrcola e o uso intensivo das mquinas, muitas vezes, substituiu o trabalho dos animais nas atividades rurais, predominantemente nas grandes propriedades. Contudo, alguns produtores (na sua maioria, de pequenas propriedades agrcolas, minifndios e mdias propriedades) em tarefas especficas, fazem uso da trao animal, com vistas reduo de danos operacionais, que influem no nvel de compactao3 do solo, ou onde o emprego da mquina no vivel ou3

Embora a compactao do solo seja notadamente maior quando se refere trao mecnica, em termos de proporo, o animal compacta mais o solo*, pois o tamanho do casco deste em relao ao seu prprio peso significativamente menor do que se compararmos a proporcionalidade entre o material rodante (esteira, pneus) de um trator agrcola e o seu tamanho. Entretanto, essa afirmao adquire uma natureza meramente de curiosidade, ou por assim dizer, sem uma consistncia prtica, pois na realidade, os danos feitos aos solos agrcolas restringem-se quase que exclusivamente ao manejo e forma de explorao do solo. O uso incorreto e excessivo do trator, mais contundente em termos de danos ao solo do que o uso da trao animal, a qual feita geralmente em pequenas propriedades e sem danos que comprometam o sistema de produo de tais propriedades portanto, para as reas agrcolas com problema de compactao de solo, a formao de camadas

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no obtm resultados satisfatrios, seja pelas dimenses das parcelas trabalhadas, pelo relevo ou at mesmo pela no disponibilidade de capital para aquisio de maquinrio. Atualmente, em pases como a China, nas regies montanhosas rizicultoras, onde a mecanizao com o uso de mquinas autopropelidas (tratores) impraticvel, os bufalinos continuam sendo utilizados e realizam as tarefas com perfeio (j existe um maior nmero de tratores na agricultura chinesa, devido abertura econmica que esse pas vem realizando na ltima dcada, do sculo XX, mas que o emprego da mo de obra ainda significativo, o que desejvel do ponto de vista social, j que a China um pas superpopuloso). Na ndia, os bovinos so reverenciados como sagrados e comumente utilizados para diversas atividades, como auxiliadores do homem nas suas tarefas cotidianas. A tabela seguinte (tabela 1) ilustra o rendimento de algumas operaes mecanizadas utilizando-se a trao animal e a trao mecnica. No pretendemos contudo, com essa tabela, fazermos apologias ao emprego da trao mecnica, conforme foi discutido no item de crticas mecanizao agrcola. Acreditamos que cada produtor tenha uma necessidade diferente em relao ao modo de produzir, cabe somente ou ao tcnico responsvel ver a real necessidade de aquisio de mquinas, principalmente no tocante ao custo-benefcio de semelhante empreitada Tabela 1 Rendimentos de algumas operaes agrcolas com trao animal e mecanizada. Trao animal - Animal utilizado Operaes Mula 1 boi 1 junta de bois Trao mecanizada Faixa de potncia (cv) para tratores de pneus 61-63 73-77

Arao Gradagem Plantio

Rendimento (ha/turno*) *considerando um turno (dia/de servio) de 6 horas de trabalho 0,37 0,45 1,2 2,4 2,4 3,6 1,90 2,07 9,6 12,0 2,4 6,6 6,0 12,6 2,4 7,8

subsuperficiais adensadas, est relacionada no somente com a questo direta do uso do trator e a compactao causada por ele, mas sim s prticas de manejo incorretas e degradantes tais como nmero de passagens excessivas, arao ou gradagem muito acima ou abaixo do ponto ideal de revolvimento do solo, o lastramento incorreto e/ou excessivo do trator, relao implemento de corte x potncia do trator inadequada, etc. *nda.: Na realidade, existem reas de pastagem que sofrem compactao demasiada, pelo excesso de pisoteio (excesso de animais numa mesma rea ou superpastoreio), mas que evidentemente, uma situao relacionada ao mal manejo e falta de racionalizao da pecuria, totalmente diferente portanto, da questo de emprego de trao animal ora discutido.

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Cultivo Sulcamento

1,60 -

1,2

-

1.1.3. Aspectos da mecanizao agrcola: Devido ao crescimento populacional, naturalmente a demanda por alimentos, cresceu e tanto a produo quanto produtividade tiveram que acompanhar esse crescimento. Esse aumento do consumo acompanhou um supervit de produo agrcola baseada na utilizao do maquinrio. O nmero de trabalhadores urbanos tornou-se muito superior aos do campo. Em 1940, a relao entre o nmero de pessoas da cidade e do campo era de 4,24 para 1. Em 1980, era de 9,4 pessoas para um trabalhador (SILVEIRA, 1989). Ou seja, um homem teria que abastecer de alimentos, praticamente dez outros4. inquestionvel o papel da mecanizao agrcola hoje, bem como o papel da agricultura moderna na sustentao da populao atual. A mecanizao agrcola vem, portanto, aumentar os nveis de produo e o rendimento do trabalho no campo (Quadro 1). Quadro 1 - Produtividade de um homem com alguns implementos agrcolas

Equipamentos

Pasto cortado em um dia de trabalho rea (m2) quantidade (Kg)

vacas alimentadas

Foice manual Alfanje manual Segadora tracionada por animal Segadora acoplada a trator

1.200 2.520 40.000 80.000

480 960 16.000 32.000

1 2 40 80

Fonte: SILVEIRA (1989)4

Alm disso, a m distribuio demogrfica, com uma absoluta maioria da populao residente em zona rural, implica em prejuzo social, conforme discutido mais apropriadamente no tpico referente s principais crticas em relao mecanizao agrcola.

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Pode-se observar, no quadro acima, que a eficincia de um servio realizado por um homem, em relao a um mesmo servio realizado por um animal tracionando um implemento e tambm a um trator acoplado a uma segadeira. Se compararmos as trs situaes, considerando a utilizao por este homem de um equipamento que lhe permita um melhor rendimento, dentre os dois equipamentos comparados (uma foice e um alfanje manual), veremos que o rendimento do servio, no que se refere rea segada, inferior cerca de 16 vezes ao mesmo servio realizado pelo animal e cerca de 32 vezes inferior ao rendimento obtido pelo trator acoplado segadeira. J no que concerne quantidade de volumoso disponvel alimentao das vacas, esses valores so maiores, onde o trabalho realizado pelo homem com uma ferramenta simples produziu forragem suficiente para alimentar apenas 2 vacas, enquanto no mesmo perodo de tempo, o conjunto trator x segadeira obteve forragem suficiente para alimentar 80 vacas. Graficamente, de acordo com o quadro anterior teremos expressa a seguinte situao:

Grfico 1. Rendimento mdio comparativo entre o trabalho humano, o trabalho utilizando a trao animal e o trabalho mecanizado (em nmero de vezes, o trabalho realizado por um homem utilizando apenas o esforo prprio e uma ferramenta simples e os demais tratamentos usando segadeiras trao animal e mecnica). Rendimento relativo do conjunto tratorizado em relao quantidade final de forragem

80

80 70 60Trabalho Humano Trao Animal Trabalho mecanizado

50Rendimento relativo do conjunto tratorizado em relao rea de pasto cortado

40

4031.7

30 202

15.7 1

10 0

So necessrios, portanto, para fazer o mesmo servio realizado pelo conjunto trator x segadeira, utilizando o alfanje manual, at 80 homens. V-se ento que, a quantidade de trabalho realizado pelas mquinas agrcolas

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superior, em muito, ao trabalho feito utilizando-se apenas a mo de obra humana. Estimava-se nas dcadas 60/70 do sculo passado, uma relao de oferta/demanda para o futuro, de protenas (animal/vegetal) e fibras, tendo a demanda maior que a oferta. Nesse mesmo perodo, apregoou-se a chamada revoluo verde 5, com base no consumo por parte da agricultura de quantidades maiores de insumos6, como uma resposta a ento suposta e inevitvel crise de alimentos7. Segundo alguns autores, poderia haver um colapso na agricultura, em funo de no se obter uma produo que satisfizesse a demanda por alimentos. Essa teoria foi derrubada, em previses para um futuro prximo. Existem algumas controvrsias na literatura acerca desse fato, mas o que todos concordam que, atualmente, h alimentos suficientes para todos os povos do mundo; o que no existe uma distribuio desses alimentos, criteriosamente e de forma igualitria, o que evidencia a fora dos grandes blocos econmicos, das grandes empresas de capitais internacionais (ou transnacionais, como atualmente denominam-se) e principalmente os pases ricos, com vistas ao protecionismo de suas economias, em detrimento da fome e misria de muitos. OBJETIVOS DA MECANIZAO AGRCOLA: Os objetivos primrios da mecanizao no campo so, segundo BARGER et alii (1966): 2. Aumentar a produtividade do agricultor; 3. Modificar o aspecto do trabalho agrrio, tornando-o menos rduo e mais atraente. 4. Permitir a execuo do trabalho agrcola, de uma forma mais rpida, sem, entretanto, comprometer a qualidade dos produtos obtidos e, sobretudo, melhorar a qualidade de vida do agricultor.

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Na verdade, ao descrevermos os passos iniciais da mecanizao na agricultura (conforme rapidamente exposto no subitem A mecanizao na agricultura) veremos que a contextualizao da chamada revoluo verde no poderia ser dada UNICAMENTE, como feito por diversos autores dcada de 70 do sculo passado, mas sim, desde as mudanas mais radicais de posse de terra na Europa (os enclosures), no perodo aproximado de 1700 1750 s mudanas no modo de produo na agricultura, atravs do aperfeioamento dos implementos e da popularizao do uso do trator, no perodo psguerra, e no somente aps o perodo da produo e difuso, em larga escala dos agrotxicos e diversos insumos da indstria qumica e petrolfera em meados do sculo XX. 6 Leia-se nas entrelinhas como insumos toda sorte de agrotxicos, fertilizantes, sementes, novas tecnologias e equipamentos.7

SILVEIRA (1989), afirma que, somente a utilizao criteriosa de insumos, mquinas agrcolas, fertilizantes e sementes de boa qualidade que poder suprir a imperiosa necessidade de produo de alimentos.

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A mecanizao e a agricultura moderna O setor agropecurio no Brasil vem sendo o responsvel desde as ltimas dcadas do sculo passado, pelo supervit na balana comercial brasileira. Houve um incremento da produo do setor primrio da economia nos ltimos 15 anos de cerca de 150%! Esse setor foi o responsvel pelo saldo positivo na balana comercial da ordem de 12 bilhes de dlares, no ano de 2002, ano no qual o volume movimentado pelas exportaes brasileiras de produtos agrcolas foi de aproximadamente 25 bilhes de dlares. Diversos fatores contriburam para uma situao to favorvel. As fronteiras agrcolas expandiram-se (principalmente para os cerrados), graas ao melhoramento gentico, atravs da obteno de cultivares adequados s diferentes regies do Brasil, o que permitiu sobremaneira o crescimento da fronteira agrcola, principalmente de gros, destacando-se a soja e o milho. Um fator decisivo tambm foi o manejo de solo, a tecnologia da calagem dos solos do cerrado, para correo da acidez e o desenvolvimento do sistema de plantio direto8 colaboraram sobremaneira, no crescimento das fronteiras agrcolas do Brasil, confirmando a propenso natural do Brasil: a de ser o maior celeiro agrcola do mundo! No tocante fruticultura, o surgimento de novos permetros irrigados, tambm contribuiu na expanso das fronteiras agrcolas (Vale do So Francisco, Vale do Au - RN, permetro irrigado de Minas MG, do Mato grosso, entre outros). Outros aspectos no menos importantes, como a modernizao dos tratores agrcolas e dos implementos com o conseqente aumento da frota de mquinas agrcolas nos ltimos anos, tiveram papel relevante na elevao dos ndices de produo agrcola, conforme abordado na pgina seguinte em que se v na tabela 2, o crescente aumento da frota agrcola e a subseqente modernizao da frota brasileira. Alm disso, segundo economistas, alguns fatores econmicos foram fundamentais para o favorecimento do agronegcio, como a abertura de novos mercados externos (embora o protecionismo tributrio de alguns pases ricos, como os EUA, prejudique o volume de exportaes, principalmente de pases em desenvolvimento, como o Brasil, a China, Argentina, Mxico, entre outros) com a formao de blocos econmicos que comeam a se consolidar, a estabilidade da moeda brasileira, a desvalorizao do dlar em relao ao euro, observada desde o ltimo semestre de 2003, o que torna a agricultura brasileira mais competitiva, e por fim, os altos ndices de produtividade alcanados principalmente pelos8

O sistema de plantio direto, desenvolvido pelas instituies de pesquisas nacionais, a partir do pioneirismo de alguns produtores rurais, permitiu a explorao mais racional dos solos tropicais, atravs dos benefcios aos aspectos fsicos e qumicos dos mesmos.

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sojicultores do centro-oeste, com ndices superiores, inclusive, a de outros grandes produtores agrcolas, como os norte-americanos. Toda essa situao (frisemos mais uma vez, isto) ilustra a enorme potencialidade brasileira em se tornar importante celeiro mundial na produo de alimentos, no s de origem vegetal, no tocante aos gros, como tambm em atividades pecurias; seja a avicultura, a bovinocultura de corte (explorao do modelo de produo de carne exclusivamente em regime de pasto, ou semiconfinado o chamado boi verde e do rastreamento da carne, ponto no qual o Brasil detm j tecnologia e know-how bem avanados, superiores inclusive a muitos pases tradicionalmente produtores de carne). A situao da mecanizao agrcola Tabela 2. Frota brasileira de tratores de roda 1960/2001ANO FROTA DE TRATORES DE RODAS (Unidades) 62.684 76.691 97.160 273. 852 480.340 551.036 515.815 481.316 450.000 REA CULTIVADA (1.000 ha) NDICE DE MECANIZAO AGRCOLA

1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000

26.672 31.637 34.912 41.811 47.641 49.529 47.666 50.022 53.300 53.200

410 413 359 153 99 90 92 104 118 124

2001 430.000 * * Estimativa FONTE: ANFAVEA (2003)

A tabela 2 mostra, conforme j dito anteriormente, que a frota brasileira de tratores vem crescendo ao longo dos anos. Segundo dados da ANFAVEA, o tempo de uso dos tratores vem diminuindo. A frota brasileira est mais nova, com idade prxima aos 12 anos de uso, idade menor do que dados ilustrados na literatura, idade a qual ultrapassava os 15 anos (dados da dcada de 70). Essa renovao se deu graas melhora nos preos dos commodities e aos grandes volumes comercializados nas duas ltimas dcadas, o que aumentou o capital disponvel dos agricultores e pecuaristas, bem como os financiamentos para aquisio de novos tratores e implementos, ou at de tratores usados, seja atravs de programas oficiais ou de iniciativas de bancos particulares, tendo estes ltimos, aberto linhas de crdito

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especficas para a aquisio de maquinrio, em algumas regies, principalmente as de maior concentrao do complexo soja-milho-algodo. Dados referentes ao volume de capital da safra 2003/2004, refletem uma melhora significativa em termos de capitalizao do setor agropecurio. Segundo a CNA (Confederao de Agricultura e Pecuria in: GLOBO RURAL;2004) na safra de gros de 2003, o montante necessrio como verba de custeio era de 95 bilhes de reais. Desse total, o governo liberou 32 bilhes de reais (um volume de verbas recorde, at ento). Do restante, 35 bilhes foi obtido de capital transnacional (atravs das j conhecidas, compras antecipadas dos commodities por empresas importadoras estrangeiras). Cerca de 28 bilhes de reais para custeio foi proveniente do desembolso dos prprios agricultores, o que, sem sombra de dvidas reflete uma excelente capitalizao do setor. Se por um lado, a agricultura familiar a grande mantenedora da produo agrcola para o mercado interno, notadamente na produo e abastecimento dos mercados nos centros urbanos e no interior do pas, respondendo por mais da metade de alguns gneros bsicos, como o feijo, com a participao macia da produo em pequenas reas, por outro lado, a agricultura agroexportadora, vem sendo, desde a ltima dcada do sculo passado, a mola mestra no supervit da balana comercial e importante setor do PIB nacional. De acordo com diversos autores, no fosse o setor agropecurio, com o crescimento pfio dos outros setores, a economia brasileira teria sofrido um duro golpe nos ltimos anos do sculo XX e primeiros anos do sculo XXI, devido essa estagnao dos outros setores da economia (indstria, servios e comrcio). Segundo a CNA (in: GLOBO RURAL, janeiro de 2004), o PIB agrcola subiu 13% em 2003, mediante uma participao de 31,5% do agronegcio no PIB nacional. A capitalizao dos agricultores vem se refletindo na compra de equipamentos e maquinrio novo. A NEIVA, fabricante de avies agrcolas, previa uma venda de no mximo 28 aparelhos para o ano de 2003, ao preo de U$ 219 mil (ou cerca de R$ 650 mil), vendeu 56 aparelhos (GLOBO RURAL, janeiro de 2004), j na ltima Exposio e feira de vulto nacional do setor agropecurio, em 2007, com o reaquecimento e nova perspectivas para o lcool, no mbito mundial (provocado pela presso da comunidade cientfica internacional e a mdia na busca pela substituio dos combustveis fsseis pelos biocombustveis) houve uma procura considervel pelas colheitadeiras de cana9. O quadro 2 (pgina seguinte) ilustra o aumento nas vendas de tratores agrcolas, considerando, inclusive um aumento de 5% no volume de vendas de tratores novos para 2003, o que chegar, segundo tal estimativa, a cerca de 459

Claro que devemos perceber que h toda uma questo mais complexa envolvendo produtividade e a prpria competitividade de cada agricultor que favorece esse desenvolvimento, contudo, h tambm os casos de decrscimo produtivo com o empobrecimento de alguns agricultores, seja por prejuzos sazonais (secas, chuvas fortes, granizo etc) ou at mesmo por um decrscimo gradual de propriedades que fazem o uso intensivo e at irracional dos insumos e da maquinaria, pela matriz produtiva com pouca sustentabilidade ambiental.

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000 unidades. S no primeiro trimestre de 2003 foram vendidos pouco mais de 8 000 unidades. Tais dados ilustram que h uma procura maior por tratores novos e, conseqentemente, uma renovao da frota agrcola do pas. Segundo as informaes obtidas no Site do GLOBO RURAL (2003), essa renovao se d graas ao programa federal o MODERFROTRA. Alm disso, o aquecimento no tocante modernizao da frota agrcola brasileira aquece tambm um outro setor da economia: a indstria. Dados no oficiais de janeiro de 04 mostram um crescimento de cerca de 5% da indstria do RS, principal plo de produo de mquinas agrcolas. Entretanto, com os cortes oramentrios promovidos pela equipe econmica do governo, para atingir a meta de 4,5% de supervit, o MODERFROTA, bem como outros planos, sofreu cortes de verbas e um aumento da taxa de juros que propiciou uma procura menor pelos agricultores e a conseqente reduo de 10% do mercado de mquinas agrcolas no ano de 2003. Apesar disso, a economia do Brasil superou as metas, com ndices prximos a 6% de supervit primrio em 2003.Grfico 2 Vendas de mquinas agrcolas no mercado brasileiro nos ltimos quatro anos. Fonte: GLOBO RURAL (2003).

Logicamente, a aquisio de equipamentos e maquinrios andam juntos com dois pontos: a viabilidade econmica e o crdito. O crdito especfico para a aquisio de maquinrio (o Moderfrota, citado anteriormente) mais um aspecto 22

especfico do crdito como um todo. De acordo com BITTENCOURT (2003,), o crdito o motor para o desenvolvimento do pas, pois favorece a realizao dos projetos. Ainda segundo esse mesmo autor, nas populaes rurais, especialmente as de baixa renda, o crdito rural pode desempenhar um importante papel na gerao de emprego e renda, pois so inmeros os projetos que podem ser desenvolvidos a partir da terra e do capital social existente. De fato, esse aspecto fica ainda mais definido na agricultura mais capitalizada, que tem uma dinmica mais definida e at arrojada em relao ao mercado. Quanto ao crescimento e a expanso do agronegcio no vis ambiental e social, principalmente no que se refere sustentabilidade econmica ambiental de tais empreendimentos agropecurios, existem pesadas crticas, frisemos que reais, do ponto de vista de impactos ambientais e dficit social, no tocante questo agrria, principalmente no que se refere s condies marginais a que historicamente os agricultores familiares foram e continuam sendo submetidos. Tais questes referem se principalmente ao acesso polticas pblicas efetivas e, de um ponto de vista prtico, o acesso ao crdito e aos meios de produo (leia-se: mecanizao voltada para os pequenos agricultores ou agricultores familiares). Claro que essa poro (a maioria expressiva do ponto de vista quantitativo dos imveis rurais, mas quando confrontados com a rea mdia por imvel, vse que so pequenos produtores at 100 ha) tem sua forma de produzir e seu mercado natural, que fundamentalmente a produo de gneros alimentcios para o mercado interno, em contraposio ao agronegcio, que na sua quase totalidade volta-se para a exportao ou ao plo agroindustrial brasileiro. H um seno muito relevante no que se refere expanso das fronteiras agrcolas no Brasil, principalmente no que se refere ao avano do desflorestamento do cerrado e matas de transio (pr Amaznia), principalmente pelo efeito mais srio que feito atravs das queimadas ilegais, que confere ao Brasil um grande ndice de desprendimento de carbono na atmosfera, o que o inclu no somatrio dos pases mais poluidores, quando se avalia a questo do aquecimento global e efeito estufa. De forma objetiva, trataremos destas questes no tpico a seguir, mesmo que possamos ser negligentes ou no esgotarmos todos os aspectos levantados nos dois ltimos pargrafos, j que se remete a uma questo de ordem mais complexa: a questo agrria; objeto de discusses interminveis entre os gurus da economia, sociologia e / ou at de linhas doutrinrias de esquerda ou de direita; nos atrevemos a pelo menos esboar alguns aspectos que julgamos pertinentes e que no seramos mercadores cegos e surdos ao ponto de negligenciar algumas crticas mecanizao. Pelo contrrio, julgamos at necessria essa crtica como uma forma de nos precavermos das unanimidades perniciosas e buscarmos trazer debates que podem sobremaneira enriquecer e

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auxiliar na busca por uma poltica pblica, ou mais efetivamente, prticas de campo que visem contornar ou agir sobre tais problemas.

Principais crticas mecanizao agrcola:

Existem crticas mecanizao agrcola, principalmente no que se refere s questes de carter ambiental. Tal posicionamento lastreia-se na premissa de que o emprego de maquinrio agrcola corresponde s grandes reas agrcolas, de monocultivos, de uso indiscriminado de agrotxicos, de indiferena natureza biolgica das produes e das relaes ecolgicas pr-estabelecidas, hoje sustentadas pela agricultura orgnica, biodinmica e outras demais correntes conservacionistas que deixaram de ser consideradas como cincia militncia e passaram a ter um enfoque muito significativo na prtica, inclusive sendo aproveitado por uma quantidade razovel de produtores como estratgia de mercado ou nicho de mercado (produtos orgnicos, boi verde turismo rural, produtos agroindustrializados com apelo ecolgico etc), esse enfoque tem ganho espao na mdia principalmente no que se refere s conseqncias do desmatamento no quadro ambiental (efeito estufa, principalmente). Entretanto, h, sobretudo, para sermos mais especficos - a questo do uso incoerente da mecanizao, gerando principalmente problemas de estrutura de solos, atravs da compactao de camadas subsuperficiais (o chamado pde-grade e/ou o p de arado), interferindo no desenvolvimento do sistema radicular das culturas e na infiltrao dgua no solo (CASTRO et alii,1986), em casos extremos, eroso de moderada a forte e acelereo de processos erosivos significativos, como as voorocas em micro regies do sul do pas que avanaram sobre reas antes produtivas, hoje praticamente estries. H ainda, os que afirmam que a empresa agrcola altamente mecanizada excludente, do ponto de vista social no tocante oferta de emprego no campo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), o Brasil o 5 pas mais populoso do mundo, com uma populao de 169,9 milhes, em 2000 e 177,9 milhes em 2003 (GAZETA MERCANTIL, 2003). Entretanto, alm do gravssimo quadro de m distribuio de renda (o Brasil , portanto, um pas de contrastes) h tambm o problema da m distribuio demogrfica, pois segundo dados do prprio instituto, 81,25% dos habitantes concentram-se na zona urbana, sendo desse percentual, uma grande maioria morando nos grandes centros, ocupando apenas 5% do territrio nacional. Grfico 3 Populaes rural e urbana do Brasil. Fonte: GAZETA MERCANTIL (2003).

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Quantos somosPopulao urbana(%)18.75 81,25

Populao rural(%)

Esse aspecto remete-nos ao questionamento de diversos fatores scioeconmicos, como o modelo desenvolvimentista exercido por dcadas, mas sem planejamento. Alm disso, um fenmeno pouco percebido, mas incmodo; que no remete s aos nordestinos, menos favorecidos nos aspectos de fixao terra, devido aos fatores hostis do prprio ambiente (seca, enchente) e que ainda uma realidade: o xodo rural, j discutido, inclusive por Caio Prado Jnior e outros pensadores. Constitu uma problemtica que reflete causas mais profundas que uma mera observao superficial possa vislumbrar: remete-se questo agrria, a falta de polticas de crditos mais fortalecedoras da agricultura familiar, j que o agronegcio historicamente foi mantido atravs da poltica agrcola e seus instrumentos (aes reguladoras de preo, crdito, incentivos fiscais, etc) e ainda se mantm dessa forma. MACIEL (2000) afirma que, nos pases ricos, devido boa estrutura econmica e social, no h uma sada to significativa de mo de obra do campo. A mo -de obra que migra do campo cidade, em sua maioria, absorvida pela zona urbana; transferindo-a para outros setores da economia, ou ainda, atravs de programas de subsidio s novas ou tradicionais atividades agrcolas, com vistas fixao das famlias no campo, uma vez que o custo social e econmico de se manter uma famlia rural bem menor do que mant-la na cidade. V-se que o crdito pode ser uma poltica pblica interessante, como fecundador da produo no campo e fixao das famlias rurais, discutidos em nossa tese de especializao: O atraso na estrutura agrria e at mesmo na forma de produzir, fortalecido pelo baixo nvel tecnolgico empregado nas propriedades diferiu e em muito do perfil das farms americanas, que, desde fins do sc. XIX j contavam com elementos que facilitavam a produo, no s no mbito estritamente produtivo, como tambm elementos facilitadores dos projetos, como o acesso ao crdito rural, essa poltica agrcola parcial atrasou sobremaneira o acesso ao crdito pela agricultura familiar (Souza Neto, 2007,)

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Esses aspectos negativos de excluso de uma maior parte da mo-deobra leva-nos a certeza de que toda tecnologia, toda novidade ou modelo que se estabelece, surge em detrimento de outro j existente, e que as alteraes provocadas por toda e qualquer atividade humana, mesmo de cunho to nobre e essencial como a agricultura, merece ser feita com cautela, evitando-se os extremismos que comprometem o bom andamento de qualquer atividade produtiva. Tm-se ento uma faca de dois gumes: de um lado uma produo maior, com excluso de parte da mo-de-obra, de outro uma desacelerao da produo, ao se optar pela reduo do emprego das mquinas na agricultura. Esse paradigma, portanto, no vivido somente no campo, mas tambm em todos os setores produtivos. O homem ainda no se adequou velocidade das mudanas que ele prprio vem criando e restam-lhe ainda muitas perguntas sem respostas imediatas. Abaixo transcrevemos um texto, do site da Rural News (junho de 2001) que fala da mecanizao agrcola: O campo nunca mais foi o mesmo desde que o homem comeou a inventar mquinas que o auxiliassem no trabalho com a terra. Isto um fato de tamanha importncia para a humanidade quanto as grandes descobertas, invenes e revolues que ocorreram em qualquer poca do desenvolvimento humano. Podemos comparar revoluo industrial, inveno do computador ou s grandes navegaes que desbravaram o mundo a partir do sculo XV. No nem um pouco exagerado de nossa parte tais afirmaes, pois a mecanizao do campo uma das grandes responsveis pelo desenvolvimento humano. Sem ela, o prprio crescimento da populao do planeta estaria em risco, bem como a qualidade de vida de todos ns. (...) Mas o que faz, exatamente, a mecanizao? Ela ajuda o produtor agrcola a preparar o solo para a plantao, fazer a manuteno das lavouras, transforma o processo de plantio e colheita em operaes rpidas e eficientes, sem falar em uma dezena de outras aplicaes. Arados, colheitadeiras e tratores, entre outros, so as grandes ferramentas de trabalho da agricultura moderna. Alis, o trator o smbolo da mecanizao na agricultura. Mais que um smbolo, poderamos dizer, pois o principal ponto de referncia para os ndices de mecanizao do campo. O que isso significa? Um pas ou regio considerada mais ou menos mecanizada, de acordo com o nmero de tratores em funcionamento; a qualidade da mecanizao medida pela idade da frota de tratores, ou seja, se grande parte da frota de tratores de uma determinada regio ou pas muito antiga, pode-se dizer que os investimentos na agricultura esto em baixa ou so insuficientes. A fabricao e o comrcio de maquinrio agrcola um mercado milionrio, controlado no Brasil e em todo o mundo por grandes empresas que atuam em dezenas de pases e so as responsveis pelo desenvolvimento das novas tecnologias que agilizam e melhoram a qualidade da produo agrcola em todo o planeta. Com o crescimento constante da populao mundial, seria impossvel a produo de alimentos numa escala crescente, da mesma ordem que o crescimento da populao. H

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algumas dcadas, se difundia a idia de que por volta do ano 2000 a produo de alimentos no teria acompanhado ao crescimento populacional e que o mundo estaria mergulhado numa grande fome. Isso s no ocorreu, principalmente, graas melhoria do aproveitamento das plantaes atravs da mecanizao e da melhoria das tcnicas de plantio. claro que todos sabem que vrias regies do mundo sofrem com a fome, mas isso no se deve a problemas com a produo de alimentos e sim a uma pssima diviso da riqueza mundial que faz com alguns pases tenham superprodues agrcolas enquanto outros no tenham como plantar e produzir alimentos suficientes para as suas populaes. Se observarmos um ou outro deslize nesse trecho, dever ser por uma falta de profundidade, j que, como dissemos, a lgica da agricultura familiar oposta do agronegcio e ambos, ao nosso ver, so necessrios, assim como a mecanizao sem sombra de dvida, uma ferramenta importante, sendo mais entranhada neste ltimo. Existem questes pois, que no so exclusivas ou pertinentes unicamente mecanizao agrcola, mas sim de uma conjuntura, de uma m ou at mesmo da falta de uma poltica agrcola em que, a questo social do uso das mquinas um, dentre muitos fatores que essa poltica no resolve 10. lgico que o trator per si no o fator que agrava e ofende a agricultura familiar quando se discute mecanizao, seja no ponto de vista marxista ou weberiano, no importando essa anlise partidria; o ponto a discutir no a questo simplista de ter ou no ter tratores no campo...Isso nos parece ser j uma questo morta; o que se deve discutir o acesso dos pequenos agricultores essas tecnologias, ou tecnologias que se insira a partir delas e no sobre essas classes. Assim o uso coletivo e o financiamento associativo de mquinas, das movidas trao animal s colheitadeiras high tech nos parece que deveria obedecer uma lgica construtivista da mecanizao para os camponeses, a partir dos camponeses. Entretanto, aqui no nos caber dissertar sobre o cunho social que a implantao de novas tecnologias, como a mecanizao acarretou, acarreta ou acarretar, j que este assunto mereceria um tratado econmico - sociolgico, o que aqui no a nossa inteno, nem tampouco fssemos conduzir semelhante discusso de uma forma to apropriada quanto o fazem os socilogos, historiadores, militantes e economistas, esta discusso superficial serve apenas para que se tenha um conhecimento mnimo de questes como poltica agrcola,10

Caio Prado Jnior (1979) j afirmava que as diferenas sociais na agricultura brasileira, a distribuio e concentrao da propriedade agrria impedem as mudanas necessrias melhoria dos aspectos sociais do setor rural do Brasil. Esse aspecto de valorizao da propriedade rural de mo de obra familiar, defendido por Caio Prado, tem seu melhor exemplo na agricultura dos EUA, onde as regies que, historicamente e politicamente adotaram o modelo patronal e acumulador de terras, tem piores ndices sociais, do que nas regies que adotaram o modelo de explorao da propriedade atravs da mo de obra familiar. Ressaltamos porm que acreditamos ser dois setores que devem se fortalecer, cada qual ao seu modo, mas que, j que historicamente o agronegcio sempre foi valorizado, que as polticas pblicas, como o PRONAF, por exemplo, estejam mais prximos com a agricultura familiar

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incluso tecnolgica, distribuio fundiria, entre outros aspectos que requerem uma leitura muito mais aprofundada das mesmas, o que no , infelizmente o eixo deste livro. Quanto aos aspectos ambientais, no que concerne ao uso intensivo de maquinrio agrcola, junto com os pesticidas por exemplo, em fazendas de produo orgnica, como o caf orgnico, o maquinrio no foi abolido; seu uso foi racionalizado com algumas adaptaes. Segundo MACIEL (2000), em fazendas citrcolas, vem ocorrendo inclusive o contrrio, para propriedades que buscam a produo orgnica, velhos equipamentos, como os distribuidores de caldas, vm sendo reutilizados, substituindo os pulverizadores e atomizadores. Tais equipamentos esto sendo utilizados para a distribuio de caldas, como a calda sulfoclcica, no combate de pragas e doenas da cultura, o que sensivelmente mais seguro aos operadores e ao meio ambiente. Contudo, esse mesmo autor afirma que para o pequeno produtor rural, a aquisio de maquinrio agrcola desvantajosa, pois um investimento muito alto, sendo prefervel que o pequeno produtor alugue as mquinas para o preparo das suas reas agrcolas (o que destoa portanto da nossa discusso de aquisio no sentido estrito, mas que se for tomado no sentido coletivista, est contemplada, j que os custos passariam a ser redistribudos entre eventuais associados). MACIEL (op. cit), justifica ainda essa atitude no fato de que, a depreciao do maquinrio agrcola torna invivel sua aquisio para a realidade dos minifndios, alm do retorno econmico no ser satisfatrio. Uma caracterstica peculiar da agricultura familiar que nessas pequenas propriedades as mquinas no substituem totalmente o homem. No h uma dependncia delas para que se possa produzir, como acontece nas grandes propriedades rurais. Quanto ao solo, no h dvidas que existem impactos negativos, mas que so por vezes plausveis de serem evitados, ou minimizados, pois quase sempre so frutos do desconhecimento das relaes Cultivos x Solos, da falta de um planejamento ambiental, ou ainda, muitas vezes a prpria situao do agricultor o obriga a revolver o solo seco. Esses fatores que podem contribuir na diminuio dos impactos edficos seriam o calendrio de plantio, ou a disponibilidade de maquinrio (um problema para quem depende de maquinrio alugado ou no dispe de maquinrio suficiente para o preparo do solo na poca mais adequada). Um nmero excessivo de passagens, operaes de revolvimento do solo, como as gradagens ou araes feitas abaixo ou acima do ponto de arao (Ponto de umidade ideal no solo para as atividades de revolvimento e preparo do solo) contribui para, aps cultivos sucessivos ao longo dos anos, a formao de

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camadas subsuperficiais de solo adensadas (o chamado p de arado e o p de grade)11. A partir das ltimas dcadas do sculo passado, comeou-se a pensar mais a respeito dos danos sofridos pelos solos frente ao uso do maquinrio agrcola, geralmente feito at de uma forma despreocupada com os possveis efeitos sob e sobre o solo. Na dcada de 60, iniciou-se nos EUA, correntes de agricultores que realizavam o chamado preparo mnimo do solo ou das sementeiras (ALDRICH & LENG, 1974), com vistas reduo dos danos estruturais aos solos agrcolas. Sob essa problemtica, no Brasil, em algumas regies no somente adotaram-se sistemas de preparo mnimo do solo, como tambm desenvolveram se e se implantaram sistemas de manejo de solo que sequer o revolvem como acontece no sistema convencional: o chamado sistema de plantio direto ou plantio na palha (SPD). Nesse sistema, o manejo dos resduos culturais mantm camadas de cobertura vegetal para evitar a eroso. A adubao verde, na qual incorporam-se adubos verdes ao solo (geralmente leguminosas), a rotao de culturas, o consrcio de culturas, a observao do ponto ideal de arao (umidade do solo), o uso alternado de implementos e de diferentes profundidades de corte (EMBRAPA, 1996), e por fim medidas drsticas como a descompactao do solo (escarificao e subsolagem), so procedimentos utilizados para que sejam reduzidos os impactos negativos do uso da mecanizao aos solos agrcolas. inegvel, porm, que desde o advento do uso dos tratores nas propriedades agrcolas, os ndices de produo tornaram-se gigantescos. Produz-se muito mais, por unidade de rea do que antes da introduo do maquinrio no campo (aspecto defendido pela escola econmica marginalista). Produtos agrcolas oriundos de reas mecanizadas, portanto, no deixam a desejar, em termos de qualidade, nem em quantidade produzida, sobretudo, as mquinas, quando trabalham com culturas rentveis e que, hoje em dia, necessitam do uso intensivo da mecanizao, como as lavouras de soja, por exemplo, reduzem drasticamente os custos de produo, em todas as fases da cultura, e, como dizem no meio rural, acabam se pagando.

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Veremos no captulo referente ao manejo conservacionista do solo, as caractersticas e propriedades dos mesmos, bem como as diversas medidas, com fins proteo ou reduo dos danos causados pelo emprego do maquinrio.

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1.2. Conhecendo o trator: importante que se conhea o trator. necessrio que se tenha conhecimento dos princpios de funcionamento dos seus rgos e sistemas, dessa forma, pode-se remeter mais rapidamente aos diagnsticos primrios de mau funcionamento de algum rgo ou que se tome s devidas precaues ao operar o trator, de forma que ele venha render ao mximo no seu servio. A seguir descreveremos o trator, seus principais rgos, sistemas e alguns cuidados (manuteno). Veremos mais tarde alguns desses aspectos. 1.2.1. Princpios bsicos de funcionamento de um trator agrcola: Os primeiros tratores agrcolas eram movidos por motores a vapor, (motores de combusto externa), no entanto, aps a II guerra mundial, passou-se a utilizar somente motores de combusto interna. A partir de meados do sculo XX, os motores do ciclo Diesel passam a ser os mais usados.12

Imagem 2. Incio do sc. XX -Trator movido a vapor (motor de 40 hp) tracionando 65 toneladas.

Os motores exploso interna passaram a substituir os motores a vapor a partir de 1870, com os motores de ciclo Otto. Esses tinham como caractersticas serem de menor tamanho, mais leves e com o conveniente de precisar de um combustvel que no ocupava tanto espao como a lenha ou o carvo. No incio do sc.XX, em 1911, o francs Rudolph Diesel exibiu em Paris um motor que tinha a proposta inicial de ser movido a qualquer espcie de leo13, motor esse12

A grande maioria dos Tratores agrcolas utiliza hoje motores do ciclo DIESEL, embora ainda tenhamos tratores que utilizem motores de combusto interna do tipo OTTO, especialmente os tratores e mquinas industriais (rebocadores, empilhadeiras) movidos a gs natural (butano) e gasolina. O Brasil j caminha para a utilizao de combustveis alternativos, no fsseis, os quais so mais baratos e menos poluentes, como o biodiesel, o qual na Europa comumente utilizado.13

Um estudo atual (2003) da UFMG (no publicado) testa misturas do leo Diesel com leos vegetais (biodiesel), como o leo de um fruto tpico do nordeste, tambm encontrado em MG: o pequi. O estudo aponta para resultados animadores, como a reduo dos nveis de emisso de poluentes e uma economia de 20% do combustvel. Tambm outro estudo recente, realizado pela CERBIO (Centro Brasileiro de referncia em

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que passou a levar seu nome. Dizia Diesel que : o motor diesel pode ser

alimentado com leo vegetal e ajudar consideravelmente, o desenvolvimento da agricultura nos pases que o usaro. A partir do perodo ps-segunda guerra,foram feitas algumas pequenas modificaes pela indstria a qual adotou como combustvel o leo diesel, tendo este tipo de motor diesel difundido-se pelo mundo inteiro, juntamente com a popularizao do trator agrcola. Como se v, os motores diesel desde a sua concepo, estavam aptos a utilizarem leos vegetais, hoje intitulados de Biodiesel e nos quais no Brasil, comea se a se reinvistir, principalmente do plantio de oleaginosas, com destaque para a mamona, particularmente no nordeste, regio a qual j foi a maior produtora de mamona, e que o prprio Brasil j se destacou como o maior produtor mundial, tendo perdido o posto para a ndia. Hoje o Brasil s produz cerca de 85 mil toneladas, contra 500 mil da ndia (a produo nacional de mamona j chegou a 393mil toneladas, das quais 300 mil provinham somente da Bahia). Um trator agrcola, portanto, apresenta diversos componentes, que em conjunto formam os sistemas que permitem essa mquina realizar as mais variadas (e por que no dizermos, rduas) tarefas no campo, de forma satisfatria, atendendo s mais diversas exigncias de seu projeto. Para que possamos entender como funciona um trator e assim, cuidar para que essa to importante e cara ferramenta seja aproveitada ao mximo. Veremos por partes como se compem seus sistemas e rgos, para ao final, termos uma viso geral de como funciona e de como devemos cuidar das operaes e manutenes do trator. 1. 2. 2. Definio de motor: O motor um conjunto de peas mecnicas, mecanismos (e sistemas mecnicos), alm de aparelhos eltricos que funcionando harmonicamente e conjuntamente, produzem a fora necessria para o deslocamento do trator e o acionamento de seus sistemas, a chamada fora motriz. Os motores dos tratores agrcolas dividem-se em trs partes, ou reas, denominadas cabeote, bloco e o carter. O cabeote a parte superior do motor e serve para fechar o bloco dos cilindros. Nele se encontram as cmaras de exploso, com a base para as velas (Motores de ciclo OTTO), o balancim e os conjuntos de vlvulas com os tuchos. O bloco do motor a parte intermediria, ou o miolo, por assim dizer; aloja em seu interior os cilindros, os pistes, as bielas e a rvore de manivelas.

Biocombustveis) testou um automvel Golf (da Volkswagen) de motor 1.8, alimentado com biodiesel e o qual obteve desempenho semelhante aos modelos com motores de ciclo Otto, alm de excelente faixa de consumo, a qual variou na cidade de 11 a 12 km\litro e 15 a 16 km\litro em rodovia.

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O carter, localizado na parte inferior do motor, funciona como um reservatrio do leo lubrificante, como dispersante de calor excessivo do lubrificante, alm de vedar a parte inferior do motor. O eixo comando de vlvulas e os tuchos comandam as vlvulas, comumente em nmero de 2 para cada cilindro, atravs do balancim. Comandam tambm as bombas, de gasolina, o distribuidor (esses ltimos s em motores de ciclo Otto). Os motores, usando-se termos anlogos dissecao, possuem na sua anatomia e organografia rgos internos e externos. Relacionamos a seguir os principais componentes ou rgos dos motores (relacionamos os motores de ciclo Otto ainda com carburador s para se entender o princpio de seu funcionamento):

Internos: volante, eixo de manivelas, pistes, bielas, engrenagens dedistribuio motora, eixo e comando de vlvulas, tuchos, vlvulas e bomba de leo.

Externos: motor de partida, dnamo, bobina, distribuidor, regulador devoltagem, carburador, bomba de gasolina, velas e tubos de admisso (s motores Otto), ou para os motores diesel teremos a bomba injetora, tubos de distribuio de combustvel da bomba injetora, bomba alimentadora, sedimentador. Radiador, motor de partida, ventilador e acumulador so comuns a ambos os motores. O bloco dos cilindros compreende a maior parte do motor e aloja os rgos internos e os cilindros. Dentro de cada cilindro existe o pisto (mbolo) que uma pea de ferro fundido ou alumnio que comprime ou succiona a massa gasosa no cilindro, de acordo com o seu movimento ou momento. O motor de partida imprime ao motor a fora inicial que o gira, iniciando o seu funcionamento. Para os motores diesel, o esforo realizado pelo motor de partida muito maior em relao ao esforo realizado em motores de ciclo Otto semelhantes ou de mesma potncia, isso porque nos motores Otto, as taxas de compresso no so to elevadas quanto nos motores diesel, pois para o segundo momento motor, a exploso causada pela fagulha produzida pelo sistema eltrico atravs das velas, o que no ocorre nos de ciclo diesel, nos quais tem que haver uma compresso fortssima para causar o aquecimento da massa de ar e sua subseqente expanso no interior do cilindro pela adio de combustvel pulverizado atravs dos bicos injetores, gerando o trabalho motor e a reao em cadeia por assim dizer, nos outros cilindros. A fora transmitida, inicialmente pelo motor de partida e subseqentemente pelo prprio funcionamento do motor transmitida em seguida ao plat, na caixa de embreagem e a partir da, ao sistema de transmisses.

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Os tempos dos motores explosoOs tempos do motor (diga-se de um motor 4 tempos) so: admisso, compresso, exploso e o escape ou descarga.

Figura 1 Esquema demonstrativo de funcionamento dos tempos do motor DIESEL: a figura mostra os 4 tempos motores: a ADMISSO, COMPRESSO, EXPLOSO e ESCAPE. Extrado de:CAMARGO (2004). Admisso ou aspirao: O primeiro tempo motor inicia-se quando a vlvula de admisso abre-se admitindo o ar para o interior do cilindro, no caso dos motores diesel, ou da mistura ar + combustvel, para os motores OTTO, mistura esta que foi previamente realizada pelo carburador ou pelo sistema de injeo de combustvel. Esse volume de gases aspirado para o interior do cilindro devido ao vcuo formado pelo deslocamento do pisto, para baixo, em direo ao chamado ponto morto inferior14. Esse deslocamento simultneo abertura da vlvula de admisso, a qual fechada quando o pisto atinge o ponto morto inferior, impedindo que a mistura ou a massa de ar saia do interior do cilindro. Como esto ligados rvore de manivelas, os pistes a cada movimento que realizam, movimentam a rvore de manivelas, a qual transmite o trabalho do motor at o volante e desse ltimo, para o sistema de transmisses e engrenagens. Assim como todos os outros tempos realizados na admisso, o cilindro ir girar a rvore de manivelas 180 (meia volta). Compresso

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Os chamados PONTOS MORTOS, que so o ponto morto inferior e superior, relacionam-se aos pontos mximos de descida do pisto do pisto no interior do cilindro e de subida, respectivamente.

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O segundo momento ou tempo do motor a compresso, onde h inicialmente uma compresso da mistura ar + combustvel (somente para motores do ciclo OTTO), ou somente da massa de ar, que se aquece fortemente (motores do ciclo Diesel)15. Nos motores diesel, h uma alta taxa de compresso16, pois para o prximo momento ou tempo, haver a queima do combustvel a qual feita devido ao superaquecimento produzido pela compresso fortssima da massa de ar nos motores diesel. A taxa de compresso terica a relao entre o volume do cilindro no incio da compresso e o volume no final da compresso. De acordo com (CAMARGO, 2004) essa relao em alguns motores diesel pode chegar 22:1, dependendo do projeto do motor. Dessa forma, os motores diesel so construdos com mais robusteza que os outros de ciclo Otto, devido s grandes presses que esses primeiros iro suportar. Exploso Nos motores de ciclo OTTO, a mistura comprimida inicialmente sofre ignio, atravs da formao de uma centelha eltrica produzida nas velas, alojadas em uma antecmara no cilindro. Essa mistura explodindo empurra o pisto, que desce pelo cilindro. Esse percurso do pisto at sua posio final dentro do cilindro chama-se trabalho motor. O pisto empurra a rvore de manivelas mais meia volta (180). Nos motores de ciclo DIESEL, no h centelha eltrica. O movimento do pisto, sendo forado para baixo no cilindro ocorre porque houve anteriormente uma compresso fortssima da massa de ar aspirada para o interior do cilindro, o que faz com que a massa gasosa se aquea. Esse ar aquecido e comprimido pulverizado com combustvel (leo Diesel) e h a exploso, que resulta tambm no chamado trabalho motor. Escape ou descarga O ltimo tempo a descarga ou o escape. Ocorre quando o pisto sobe do ponto morto inferior do cilindro empurrando a massa de gases resultantes da queima e ao atingir o ponto morto superior, as vlvulas de escape se abrem, permitindo que a massa de gases saia para o sistema de escape dos gases. Com o momento do escape, a vlvula de manivelas d mais meia volta. Ao todo, a

15 Denomina-se de cilindrada, a quantidade ou volume de gases admitidos pelo pisto durante o seu curso at o seu nvel mnimo de descida, durante a admisso.16

Essa compresso, portanto, anterior exploso, exige que, quando dada a partida num motor diesel, o motor de partida para girar a engrenagem do volante, realize um esforo maior do que o esforo que realiza o motor de partida de um motor do ciclo Otto em um motor de mesma potncia.

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cada ciclo (admisso-compresso-exploso-escape), a rvore de manivelas d duas voltas (720).

Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo OTTO:Nos motores de Ciclo OTTO, o Carburador o rgo responsvel pela mistura do ar + combustvel, que ir participar no primeiro tempo do motor, no interior do cilindro. Essa pea, contudo, encontra-se em desuso, tendo sido substituda pelo sistema de injeo eletrnica, que dispensa uma mistura prvia em um carburador, uma vez que a quantidade de combustvel necessria injetada diretamente, evitando uma mistura rica ou pobre, como acontecia freqentemente nos carburadores. Essa transformao foi decisiva em todos os fabricantes a partir da dcada de 90, do sculo passado, com os motores fabricados a partir de ento, somente com injeo direta de combustvel. O Alternador produz uma corrente eltrica alternada, para as velas de ignio. Essa corrente eltrica recebida do gerador e/ou do acumulador (bateria, no caso da partida do motor), para produo da centelha eltrica nas velas de ignio. As Velas de ignio esto alojadas no bloco do motor, nas cmaras de exploso dos cilindros. Produzem uma centelha, atravs de descarga eltrica recebida do sistema eltrico. Essa centelha ir queimar a mistura ar + combustvel e gerar uma exploso, movimentando o pisto dentro do cilindro.

Funo de alguns rgos dos motores de Ciclo Diesel;Para os motores Diesel, por ser de um processo diferente de queima do combustvel (atravs do pr aquecimento do ar), no ser necessria a fagulha e, portanto, as peas necessrias produo da mesma, como velas e alternador; so motores mais robustos e que teremos as seguintes peas especficas e rgos principais:

Bomba e bicos injetores: A bomba injetora responsvel pelo bombeamento do combustvel at os bicos injetores. Ela dever sempre estar bem regulada, pois a presso dada ao combustvel para que os bicos injetores possam pulveriz-lo adequadamente no interior dos cilindros deve ser a mais correta possvel, caso contrrio, haver problemas de funcionamento, desempenho e at de vida til do motor.

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Como dito anteriormente, os pistes esto inseridos dentro dos cilindros como se cada cilindro fosse uma seringa e cada pisto fosse o mbolo de sua respectiva seringa. Os pistes, portanto, realizam movimentos ascendentes e descendentes que conforme sua situao e posio no seu curso, caracterizam os chamados tempos do motor. Nos cilindros, na parte superior deles, existem vlvulas denominadas de admisso e de escape, conforme a posio do pisto, essas vlvulas se fecham ou se abrem, permitindo ou no, a entrada ou a sada da massa de gases do cilindro. O movimento dos pistes transmitido ao volante do motor (engrenagem que liga o motor ao sistema de embreagens) porque os mesmos encontram-se fixados por um eixo tortuoso que aproveita todos os diferentes momentos dos pistes nos cilindros, transformando em movimento, que o faz girar no prprio eixo, transmitindo a potncia recebida ao volante, ao qual est ligado atravs da cremalheira. A fora ou potncia do motor, verificada na tomada de fora, ou barra de trao, denominada de potncia nominal. Durante a transmisso do movimento do volante at os pneus ocorrem perdas, tanto atravs dos mecanismos internos, atritos, deslizamentos, como da dissipao de energia (transformao da energia cintica em calor. Um motor de 200 C.V. produz cerca de 125 000 Kcal/h, o qual dissipado, como calor excessivo pelo sistema de arrefecimento dos motores) (FAIRES, 1966), esse rendimento fica abaixo de 80%. (cerca de 65%) Rendimentos maiores s so conseguidos em motores eltricos (em torno de 90%). Outra grande parte das perdas devem-se ao deslizamento dos pneus do trator com o solo. Dependendo dos solos, segundo SILVEIRA (1989), (bem como da lastrao) essas perdas ficam ao redor de 60%. Assim, um trator com uma potncia nominal de 65 hp s teria disponvel cerca de 36 hp na barra de trao. Um nvel mais tolervel de perdas seria em torno de 30%. Existem diferenas marcantes entre um trator e um automvel, isso evidente, mas quanto ao motor, os motores dos tratores, quase unanimemente, motores de ciclo diesel, como dito anteriormente (vide pg. 31) so de uma construo mais robusta, devido s altas taxas de compresso internas, so tambm projetados para obterem alto torque mesmo operando em baixa rotao. Alm do mais, as relaes de transmisso de potncia dadas pelo sistema de embreagens e transmisso, conforme ser visto no captulo pertinente a este sistema, formam uma gama de velocidades de trabalho e opes de fora de trao que tambm diferenciam os projetos dos motores agrcolas dos automotivos.

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MRQUEZ (2003), transcreveu um estudo que comparou os motores de um trator New Holland (modelo 8670) e de um automvel Fiat (Stilo Abarth), ambos com a mesma faixa de potncia (125 Kw ou 170 c.v. - No captulo Anexos, fornecemos algumas tabelas de converso de unidades de medidas, inclusive os valores de quilowatts e cavalo - vapor), no qual o autor obteve as seguintes curvas caractersticas: Grfico 3 Curvas resultantes de ensaio comparativo entre um motor automotivo (Fiat Stilo) e um motor de trator agrcola (New Holland 8670). Fonte: MRQUEZ (2003).Curvas caractersticas dos motores comparados

140 120 100 80 60 40 20 0

Potncia (Kw)

125 81 61

125NH 8670 Stilo Abarth

Rendimento do motor (rpm)

Conforme as curvas caractersticas dos motores, observam-se nitidamente as peculiaridades de ambos. O motor do trator alcana seu maior torque em um giro muito mais baixo em relao ao motor do automvel (prximo s 2100 rpm), ao passo que a mxima potncia do automvel s obtida em muito mais alta rotao (cerca de 6000 rpm). Essa situao d ao trator uma grande reserva de torque, to necessria nas operaes agrcolas, principalmente as de tracionamento de cargas. J ao atingir to elevadas rotaes em pouco tempo, confere-se ao automvel uma elevada capacidade de acelerao e deslocamento rpido.

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CAPTULO 2Os sistemas do trator

2. Os sistemas do tratorO trator , de um modo simplista, um conjunto de peas e componentes de vrios sistemas que atuam entre si. Analogicamente, podamos comparar tais componentes como rgos que, unidos em funes similares ou complementares, atuam harmonicamente ou de forma sistmica, fazendo com que o organismo (consideremos o trator, como tal) exera suas funes normalmente. Para uma simplificao do nosso breve estudo sobre os tratores, dividimos os seus trator, em sistemas de acordo com as suas respectivas funes e atuao no trabalho do mesmo. Concomitantemente, ilustramos as manutenes mais freqentes ou relevantes (embora todas as medidas referentes manuteno sejam importantes, algumas se sobressaem mais).

2.1. O sistema hidrulico O sistema hidrulico de trs pontos assim chamado, pois leva o implemento acoplado em 3 pontos de engate no trator. Um sistema hidrulico consiste de parte ou de todos os componentes seguintes: a) b) c) d) Bomba Motor; Vlvulas; Conexes e) f) g) h) Arrefecedores; Reservatrio (de alimentao); Acumulador (Energia armazenada); Comandos;

O trator agrcola possui dispositivos que comandam, ou reagem diretamente no sistema hidrulico ou por controle remoto, quer pela disposio quer pelo senso de trao (IOCHPE/MAXION). No caso em que a demanda for maior que a capacidade da bomba, o acumulador, presente no sistema, armazena energia sob a forma de gases comprimidos, tornando assim, disponvel um suprimento extra de fluido hidrulico de alta presso. Um acumulador permite aumentar, por um perodo breve de tempo, a potncia de sada do sistema hidrulico, sem ter aumentado ou sobrecarregado a capacidade da bomba (MIALHE, 1974). O sistema hidrulico comandado por uma bomba ISYP e uma tampa hidrulica. A bomba ISYP produz o fluxo e a presso do leo. A t