mapa social, trabalhista e ambiental · também se baseia, para o tema do meio ambiente, em outros...

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624 - Centro Florianópolis/SC - Brasil - CEP:88020-302 Fone/Fax: (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Site: www.observatoriosocial.org.br Mapa Social, Trabalhista e Ambiental DANA CORPORATION MAIO/2004

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL Av. Mauro Ramos, 1624 - Centro Florianópolis/SC - Brasil - CEP:88020-302 Fone/Fax: (48) 3028-4400 E-mail: [email protected] Site: www.observatoriosocial.org.br

Mapa Social, Trabalhista e Ambiental

DANA CORPORATION

MAIO/2004

INSTITUTO OBSERVARTÓRIO SOCIAL

MAPA SOCIAL, TRABALHISTA E AMBIENTAL DA

DANA CORPORATION

FLORIANÓPOLIS

MAIO DE 2004

ii

INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

CONSELHO DIRETOR Presidente: Kjeld A. Jakobsen (CUT) João Vaccari Neto (Secretaria de Relações Internacionais, CUT ) Rosane da Silva (Secretaria de Políticas Sindicais, CUT) Artur Henrique dos Santos (Secretaria de Organização, CUT) José Celestino Lourenço (Secretaria Nacional de Formação, CUT) Maria Ednalva B. de Lima (Secretaria da Mulher Trabalhadora, CUT) Gilda Almeida de Souza (Secretaria de Políticas Sociais, CUT) Antonio Carlos Spis (Secretaria de Comunicação, CUT) Wagner Firmino Santana (Dieese) Mara Luzia Feltes (Dieese) Francisco Mazzeu (Unitrabalho) Silvia Araújo (Unitrabalho) Tullo Vigevani (Cedec) Maria Inês Barreto (Cedec)

DIRETORIA EXECUTIVA Kjeld A. Jakobsen: Presidente Artur Henrique dos Santos (SNO/CUT) Ari Aloraldo do Nascimento (CUT) Carlos Roberto Horta (UNITRABALHO) Clemente Ganz Lúcio (DIEESE) Clóvis Scherer (Coordenador Técnico) Maria Inês Barreto (CEDEC) Maria Ednalva B. de Lima (SNMT/CUT) Odilon Luís Faccio (Coordenador de Desenvolvimento Institucional)

COORDENAÇÃO TÉCNICA Arthur Borges Filho: Coordenador Administrativo Clóvis Scherer: Coordenador Técnico Maria José H. Coelho: Coordenadora de Comunicação Odilon Luís Faccio: Coordenador de Desenvolvimento Institucional Pieter Sijbrandij: Coordenador de Projetos Ronaldo Baltar: Coordenador do Sistema de Informação

EQUIPE TÉCNICA Coordenação Geral: João Paulo Cândia Veiga Pesquisadora: Cíntia Carneiro Auxiliar de Pesquisa: Fabiana Cunha da Silva Revisão: João Paulo Cândia Veiga, Odilon Faccio e Clóvis Scherer

Revisão gramatical e ortográfica: Jane Maria Viana Cardoso Pesquisa realizada de fevereiro a maio de 2004.

iii

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS..................................................................................................................... V

LISTA DE GRÁFICOS...................................................................................................................VI

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................1

2. METODOLOGIA.............................................................................................................................3

2.2 PROCEDIMENTOS DE OBSERVAÇÃO ............................................................................................3

2.3 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E DETALHAMENTO DAS FONTES ..........................................4

3. PERFIL DA EMPRESA ...............................................................................................................6

3.1 SETOR METALÚRGICO E A EMPRESA NO MUNDO ......................................................................6

3.2 ESTRATÉGIA DA DANA CORPORATION ...................................................................................10

3.2.1 Participação no Mercado Internacional ..........................................................................16

3.2 DANA CORPORATION NO BRASIL....................................................................................18

4. PERFIL DAS UNIDADES OBSERVADAS..............................................................................29

4.1. DIADEMA ................................................................................................................................29

4.2 SOROCABA ...............................................................................................................................30

4.3 GRAVATAÍ................................................................................................................................30

4.4 BENEFÍCIOS TRABALHISTAS ......................................................................................................32

5. DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS ....................................................................35

5.1 LIBERDADE SINDICAL.......................................................................................................35

5.1.1 DIADEMA ........................................................................................................................35

5.1.2 SOROCABA......................................................................................................................37

5.1.3 GRAVATAÍ........................................................................................................................37

5.2. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.................................................................................................39

5.2.1 Unidade Diadema.............................................................................................................39

5.2.2 Unidade Sorocaba ............................................................................................................40

iv

5.2.3 Unidade de Gravataí ........................................................................................................41

5.3 DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO...............................................................................................42

5.4 TRABALHO INFANTIL ........................................................................................................44

5.5 TRABALHO FORÇADO...............................................................................................................44

5.6 SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO..........................................................................44

5.7 MEIO AMBIENTE ......................................................................................................................52

5.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL.....................................................................................................53

6. TERCEIRIZAÇÃO.....................................................................................................................55

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................61

ANEXO.............................................................................................................................................62

v

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – CONVENÇÕES DA OIT – TEMAS E CENTRALIDADE ..................................2

QUADRO 2: ATIVIDADES DA DANA CORPORATION: PRINCIPAIS MERCADOS,

CONSUMIDORES E NÚMERO DE EMPREGADOS ATÉ 2002 .........................9

QUADRO 3: RESUMO DAS ESTRATÉGIAS E METAS DA EMPRESA EM 2001 ..............11

QUADRO 4: INDICADORES DA DANA CORPORATION NO MUNDO – (2000-2002) ........17

QUADRO 5: LOCALIDADE DA DANA CORPORATION NO BRASIL E SUAS

DIVISÕES(*) .............................................................................................................21

QUADRO 6: PRINCIPAIS JOINT VENTURES DA DCN NO BRASIL ..................................26

QUADRO 7 : CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE DIADEMA ...............30

QUADRO 08: CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE SOROCABA ...........31

QUADRO 9 : CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE GRAVATAÍ .............32

QUADRO 10 : BENEFÍCIOS OFERECIDOS PELA DANA PARA SEUS EMPREGADOS 33

QUADRO 11: EMPRESAS QUE PRESTAM SERVIÇOS TERCEIRIZADOS PARA DCN

NA UNIDADE DE DIADEMA.................................................................................55

QUADRO 12: RESUMO DOS PROBLEMAS LEVANTADOS PELA PESQUISA DANA....60

QUADRO 04: PREMIAÇÕES INTERNACIONAIS DA DANA CORPORATION NO ANO

DE 2002 ......................................................................................................................62

vi

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES MUNDIAIS DE AUTOPEÇAS, POR

REGIÃO - 2001 ....................................................................................................................6 GRÁFICO 2 - NÚMERO DE EMPREGADOS DA DANA CORPORATION NO MUNDO EM

NÚMEROS APROXIMADOS/ MIL ENTRE OS ANOS DE (1999- 2003) ......................16

vii

SIGLAS

ARM- ArvinMeritor

BNDES- Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho

CEDEC – Centro de Estudos de Cultura Contemporânea

CNM – Confederação Nacional dos Metalúrgicos

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DCN- DANA Corporation

DESEP – Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

GM- General Motors

GETRAG- Getriebe- und Zahnradfabrik Hermann Hagenmeyer GmbH und Cie KG

INSS- Instituto Nacional de Seguro Social

LER – Lesão por Esforços Repetitivos

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONU – Organização das Nações Unidas

PLR- Participação nos Lucros e Resultados

PPR- Participação

PR- Estado do Paraná

RS- Estado do Rio Grande do Sul

Sindpeças- Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos Automotores

SIPAT- Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho

SP- Estado de São Paulo

SST- Saúde e Segurança no Trabalho

UNITRABALHO – Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho

1

1. INTRODUÇÃO

Este Mapa social, trabalhista e ambiental é um relatório sobre o

comportamento sociotrabalhista da DANA Corporation (DCN) no Brasil em respeito

ao cumprimento dos direitos fundamentais do trabalho. O estudo foi produzido a partir

de dados secundários e de informações coletadas diretamente com os Sindicatos que

atuam na base das unidades empresariais observadas. A finalidade deste relatório é

caracterizar a empresa, suas atividades produtivas e econômicas, bem como apresentar

um quadro indicativo de possíveis problemas em relação aos direitos fundamentais do

trabalho e ao meio ambiente.

O desenvolvimento desta pesquisa teve como base o interesse comum do

Instituto Observatório Social (IOS) e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos

(CNM/CUT) em contribuir com informações para uma maior organização do

movimento sindical nacional e internacional no tocante aos direitos reconhecidos

internacionalmente como fundamentais para os trabalhadores.

Em março de 2004 foi acordado entre ambas instituições que a pesquisa

realizada pelo IOS focalizaria três unidades da DCN no Brasil: DANA-ALBARUS

S.A. INDÚSTRIA E COMÉRCIO (Gravataí-RS), DANA INDUSTRIAL LTDA

(Diadema -SP) e DANA INDÚSTRIAS LTDA (Sorocaba-SP).

Os objetivos desta pesquisa são :

1. promover a participação dos trabalhadores e de suas organizações

sindicais na observação;

2. gerar um conjunto de informações sistematizadas e atualizadas sobre

o grupo e suas unidades e/ou divisões de produção;

3. estimular o intercâmbio de informações entre as entidades sindicais

das diversas unidades e/ou divisões do grupo.

A elaboração do Mapa contou com a participação do Sindicato dos

Metalúrgicos de Porto Alegre e Região, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- Regional

de Diadema e Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região. Além disso,

2

colaboraram com esse trabalho a Subseção do DIEESE junto à CNM, através de sua

técnica responsável, Adriana Marcolino e o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba e

Região (PR).

As análises de empresas efetuadas pelo Observatório Social têm como

referência principal os direitos fundamentais no trabalho definidos pela Organização

Internacional do Trabalho (OIT). Como se sabe, a OIT faz parte do sistema

Organização das Nações Unidas (ONU), e foi criada em 1919 de forma tripartite,

envolvendo governos, empregadores e trabalhadores na promoção da justiça social e

de melhores condições de vida e de trabalho em todo o mundo. O Observatório Social

também se baseia, para o tema do meio ambiente, em outros tratados internacionais,

adotados pela comunidade internacional, como a Declaração do Rio, a ECO-92, e a

Agenda 21.

Assim, o Observatório adota um quadro teórico-metodológico que articula o

conteúdo das Convenções da OIT, as centralidades de cada uma delas e, finalmente, os

indicadores que permitiram construir instrumentos para levantamento de dados

primários e orientar o levantamento de dados secundários.

QUADRO 1 – CONVENÇÕES DA OIT – TEMAS E CENTRALIDADE CONVENÇÕES CENTRALIDADE Liberdade Sindical / 87 e 135 Verificar a liberdade de organização dos trabalhadores sem

interferência dos empregadores Negociação Coletiva / 98 e 151 Assegurar o direito de todos os trabalhadores à negociação

coletiva sem interferência. Trabalho Forçado / 29 e 105 Identificar o trabalho exercido por meio de coação ou castigo. Trabalho Infantil / 138 e 182 Assegurar a efetiva abolição do trabalho infantil. Discriminação de Gênero e Raça / 100 e 111 Estabelecer a igualdade de oportunidade entre sexo, origens

raciais, ascendência, religião e opinião política. MeioAmbiente / 148, 155, 170 e 174 Verificar a adequação do meio ambiente interno e externo à

saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores e da vizinhança.

Elaboração: Observatório Social, 2002.

3

2. METODOLOGIA

Fundamentado no temário acima, o percurso metodológico pautou-se pelas

seguintes etapas:

1. apresentação/discussão da Proposta de Pesquisa a representantes de

entidades sindicais;

2. levantamento de dados através de fontes secundárias;

3. articulação de oficinas sindicais com trabalhadores e dirigentes

sindicais;

4. encaminhamento/execução do Plano de Pesquisa.

2.2 PROCEDIMENTOS DE OBSERVAÇÃO

A pesquisa teve início na segunda quinzena de fevereiro e concluída em

finais de maio de 2004. As informações presentes neste documento são provenientes

de:

• fontes de acesso público sobre a empresa (webpage da corporação e

da empresa no Brasil, relatórios anuais, livros, revistas, jornais, websites

especializadosetc);

• fontes gerais disponibilizadas pelos Sindicatos (Levantamento de

dados secundários da Empresa junto aos Sindicatos (dos trabalhadores e

patronal) e Oficinas Sindicais e entrevistas com trabalhadores da empresa

e dirigentes sindicais);

No decorrer da pesquisa foram realizadas duas Oficinas Sindicais, uma na

subsede do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Região, em Gravataí (RS);

outra na sede regional do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na cidade de Diadema

(SP). A oficina sindical consiste em uma discussão coletiva, orientada por um roteiro

baseado nos temas abordados pelo IOS (liberdade e autonomia sindical, negociação

coletiva, trabalho infantil e trabalho forçado, discriminação de gênero e/ou raça, saúde

e segurança ocupacional, práticas ambientais e responsabilidade social), pautada

4

exclusivamente pelo relato voluntário e espontâneo de trabalhadores de base, membros

de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e de diretores sindicais de

unidades e/ou divisões de produção da empresa estudada.

Em Sorocaba, realizaram-se entrevistas individuais com seis trabalhadores

da DANA INDÚSTRIAS LTDA, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba

e Região.

2.3 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E DETALHAMENTO DAS FONTES

O detalhamento da construção do percurso metodológico dessa investigação

foi delineado focalizando-se os seguintes aspectos:

• as principais características da empresa no mundo e suas unidades de

produção, disponíveis em fontes de acesso público;

• identificação e contato com sindicatos que representam os

trabalhadores nessas localidades;

• mapeamento preliminar da situação sociotrabalhista em

estabelecimentos selecionados através de entrevistas e oficinas com

trabalhadores, cipeiros e diretores sindicais.

Com o levantamento de material de acesso público sobre a empresa obteve-

se as informações gerais e agregadas sobre a empresa no Brasil e no mundo, inclusive

sobre a estrutura e organização da companhia.

Quanto às fontes secundárias, obtidas junto aos sindicatos foi possível obter

informações a respeito de:

• Joint Ventures da DANA Corporation no Brasil;

• Relações de Trabalho da empresa no Brasil, com dados de algumas

plantas da base sindical da CUT.

• Acordo sobre PPR;

• Salários;

• Número de trabalhadores das Unidades Observadas, entre outros.

5

Quanto aos dados presentes nesse relatório, destaca-se que não houve

consulta direta à empresa. Além disso, é importante ressaltar que as informações sobre

o setor metalúrgico brasileiro, bem como parte das descrições sobre as atividades da

empresa, suas joint-ventures e as relações de trabalho foram extraídas do relatório

"DANA Corporation no Brasil", produzido pela CMN/CUT e DIEESE em 2001.

6

3. PERFIL DA EMPRESA

3.1 SETOR METALÚRGICO E A EMPRESA NO MUNDO

O continente americano é responsável por quase 73% do total das

exportações mundiais de autopeças. A América do Norte responde por quase metade

do total, ficando a América do Sul com 26,8% do total. A Europa responde por pouco

mais da metade do total das importações, 50,8%. A América do Norte importa 22,5% e

a América do Sul 11%.

A concentração das exportações e importações mundiais se localiza nos

continentes americano e europeu; os continentes da Ásia, Oceania e África assumem

menor importância nas relações mundiais de comércio de autopeças.

GRÁFICO 1 - EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES MUNDIAIS DE AUTOPEÇAS, POR REGIÃO - 2001

Fonte:SindPeças: http://www.sindipecas.org.br/comercioexterior/export_import.asp?img=1

7

De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES)1, as transformações no cenário econômico mundial, marcadas

principalmente pela liberalização do comércio, pela criação e/ou consolidação de

blocos econômicos e, a expectativa do crescimento da demanda de países

“emergentes” para o consumo de veículos provocou uma intensa mudança na estrutura

do setor automotivo. Pode-se enumerar algumas das principais mudanças:

1) a terceirização das montadoras e centralização dos produtores de

autopeças: as grandes montadoras estão terceirizando boa parte da

produção. Estão se concentrando, principalmente no desenho, alguns

setores de transformação, atividades de engenharia e projetos de

produtos e montagem. Assim, a tendência da produção de autopeças,

como por exemplo, a produção de fundidos de alumínio, colunas de

direção, eixos, entre outros, passa a concentrar-se em determinadas

indústrias de autopeças;

2) maior interdependência entre as montadoras e fornecedores de

autopeças, devido à terceirização da fabricação de autopeças. As

montadoras buscam os chamados “fornecedores-chave” e realizam com

eles algumas políticas e metas comuns;

3) surgimento de megafornecedores: ocorre em função dessa eminente

ligação entre os fornecedores e as montadoras, acrescido da constante

inovação tecnológica.

Seguindo essa mesma lógica, a DANA Corporation, atualmente, é líder

global de projeto, engenharia e fabricação de produtos e sistemas de valor agregado

para os fabricantes de veículos automotivos e comerciais, incluindo os mercados de

reposição. A empresa opera com diversos tipos de tecnologia e manufatura uma vasta

gama de produtos, além de prestar serviços diretos e indiretos aos consumidores. A

1 BNDES. Panorama Geral do Setor – Autopeças. Rio de Janeiro: BNDES, n. 11, p.73-74, mar. 2000.

8

empresa foi fundada em 1904, na cidade de Toledo (Ohio-EUA), e ainda mantém sua

matriz naquela localidade. Em 2003, a empresa estava presente em 32 países e entre

esses se destacam:

- América do Norte: Canadá, Estados Unidos e México;

- Europa: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália,

Polônia, Reino Unido e Suécia;

- Ásia: China, Japão, Coréia do Sul, Malásia, Cingapura, Tailândia e

Índia;

- Oceania: Austrália e Nova Zelândia;

- América do Sul: Brasil, Argentina, Uruguai, Venezuela e Colômbia.

Os negócios da DANA Corporation focalizam cinco atividades de produção

(2002-03):

1. Sistemas Automotivos (Automotive Systems);

2. Peças e Acessórios (Aftermarket);

3. Motor e Gerenciamento de Fluidos (Engine and Fluid Management);

4. Sistemas de Veículos Comerciais (Commercial Vehicle Systems);

5. Sistemas de Veículos "fora-de-estrada" ( Off Hihgway Systems).

O quadro 2 a seguir ilustra os grupos e as atividades produtivas de cada um

deles e seus principais produtos, mercados, consumidores e empregados.

Atualmente , apesar de a Dana Corporation (DCN) manter cinco ramos de

negócios, é importante ressaltar que a produção de componentes de eixo é a atividade

mais importante e lucrativa da empresa . Por exemplo, desde 1995, nos Estados

Unidos, a planta localizada em Stockton, Califórnia, é parte do grupo de Componentes

de Eixo e manufatura chassis para caminhões de um cliente exclusivo: a Toyota Motor

Corporation.

9

QUADRO 2: ATIVIDADES DA DANA CORPORATION: PRINCIPAIS MERCADOS, CONSUMIDORES E NÚMERO DE EMPREGADOS ATÉ 2002

Grupos da DCN Principais Produtos Segmentos de Mercado

Principais Consumidores

Trabalhadores 2001

Trabalhadores 2002

Sistemas Automotivos (Automotive Systems)

Tecnologia de tração e torque. Tecnologia para soluções de chassis e de estrutura Ex: eixos, componentes de suspensão, freios, entre outros

Carros de passeio , Pickup e Caminhonetes em geral Minivans, Veículos para Cruzadas Motocicletas

BMW China Motor DaimlerChrysler Ford General Motors Land Rover Nissan Southeast Motor Telco Toyota Volkswagen

21.6000 18.7000

Peças e Acessórios (Aftermarket)

Freios, produtos de filtragem, produtos para chassis, motores etc

Revendedores autorizados e montadoras

AAPA AutoZone CARQUEST CSK Federated Auto Parts GM Service Parts op. IAPA NAPA O’Reilly Auto Parts Part Plus

19.000 17.600

Motor e Gerenciamento de Fluido (Engine and Fluid Management)

Sistema de vedação e gaxetas: escudos termoacústicos, anéis de pistão, cilindros lineares etc. Motores antifricção, produtos para armazenamento e bombeamento de combustível Produtos para controle térmico (veicular e não veicular).

Mercado automotivo em geral Veículos comerciais, Veículos para fora de estrada Veículos de passeio, Pequenos motores

BMW Caterpillar DaimChrysler Ford General Motors Honda Navistar PSA Peugeot Citroën Polaris Renault-Nissan Toyota Volkswagen

19.400 17.500

Sistema de Veículos Comerciais (Commercial Vehicle Systems)

Eixos Suspensões Freios

Veículos comerciais em geral; Veículos Médios e Veículos pesados

DaimChrysler Ford International Truck and Engine - Volvo Group

4.100 Não há dados para o período

Sistema de veículos “fora-de- estrada” (Off-Highway System)

Eixos Freios Discos Transmissores Controle elétrico

Veículos para construção Veículos agrícolas Equipamento elétrico para indústrias e outdoor”

AGCO CNH Deere Manitou Tamrock

3.400 Não há dados para este período

Fonte: DANA Corporation, Annual Report 2001, Annual Report 2002, in: WWW.DANA CORPORATION.COM; Elaboração: Instituto Observatório Social

10

A estrutura organizacional da DANA Corporation é formada por um

conselho de diretores, composto por 11 pessoas, tendo Glen Hiner como CEO (Chief

Executive Officer). Além disso, o gerenciamento da corporação conta com mais três

comitês administrativos:

1. Comitê de Política (Policy Committee): responsável pelas estratégias

da corporação e pelas relações com seus parceiros. O comitê é

responsável pelo desenvolvimento da filosofia da empresa e das

políticas direcionadas aos empregados da corporação;

2. Comitê Estratégico (Strategic Operating Committee): responde pelas

estratégias e pela performance das unidades de negócios da corporação;

3. Comitê Mundial (World Operating Committee): responsável por

manter a liderança dos produtos da empresa e pela coordenação global

das operações da corporação.

A política gerencial da DANA Corporation estabelece uma forma

operacional, em que não exista mais que cinco níveis na hierarquia. Assim, os

funcionários das unidades de negócios e produção se subordinam à gerência local, e

estes diretamente ao Comitê Mundial.

Os objetivos de crescimento da empresa estão baseados no desenvolvimento

das habilidades tecnológicas da corporação para ampliar a sua competitividade. Um

dos principais avanços atingidos dentro desta perspectiva foi o desenvolvimento da

capacidade de produzir um sistema completo para chassis de caminhões e veículos

fora-de-estrada.

3.2 ESTRATÉGIA DA DANA CORPORATION

Desde o ano de 2000, os resultados provenientes do consumo, em nível

global, têm sido marcados por certas volatilidades, afetando as vendas ora positiva, ora

negativamente. De modo geral, essas oscilações têm incentivado as empresas do setor

de autopeças a desenvolverem projetos que redefinam suas metas e estratégias de

11

atuação.

Para a economia estadunidense o ano de 2001 marcou o terceiro período de

perdas consecutivas no mercado norte-americano de ações, fragilizando as empresas

de manufaturas que vendem produtos para os mercados de bens duráveis. Em virtude

da baixa rentabilidade em seu mercado de origem, a DANA Corporation deu início,

neste mesmo ano, ao seu projeto de reestruturação, visando otimizar os recursos na

tentativa de atingir maior eficiência na alocação de capital da empresa e,

conseqüentemente, garantir a sustentabilidade dos negócios e dos investimentos, em

longo prazo.

Até meados de 2001, as principais características da estratégia da DCN eram,

conforme indicadas no quadro a seguir: QUADRO 3: RESUMO DAS ESTRATÉGIAS E METAS DA EMPRESA EM 2001 Infra-estrutura Gerenciamento de RH Desenvolvimento

Tecnológico Metas

Focalizar as operações em atividades mais rentáveis; Maximizar a alocação de recursos; Descontinuidade de algumas atividades e/ou a venda de operações e unidades de negócios; Buscar parceiros fortes para dar sustentabilidade às operações; Integrar operações e atividades já desenvolvidas pela corporação

Realocar e treinar os trabalhadores para as unidades integradas

Acelerar a inovação tecnológica através das atividades de patentes; continuar a desenvolver tecnologia focada em atender as demandas dos consumidores e otimizar as linhas de produção já desenvolvidas pela corporação

Reduzir custos; Encontrar flexibilidade para manter a performance das atividades produtivas (curto prazo) e em segundo ampliá-las (longo prazo); Dar continuidade a um modelo operacional que permita minimizar investimentos de baixa rentabilidade

Fontes: DANA Corporation 2003, in: WWW.DANA.COM; Hitt, M.A. & Hoskisson R. & Ireland R.D.(2001): Strategic Management Competitiveness and Globalization. Third Edition. Ed. South-Western College Publishing and International Thomson Publishing Company. Elaboração e Adaptação: Instituto Observatório Social

No final de 2001, a DCN implementou seu plano de reestruturação:

"Transformation 2005", focalizando o crescimento através da inovação. Para o plano,

está previsto o investimento de US$ 442 milhões. Em relação à logística, o

"Transformation 2005" pretende desenvolver sistemas eficientes que conectem os

12

produtos dos fornecedores, diretamente, ao processo de produção da empresa. Além

disso, a agenda de entrega de produtos da DCN aos clientes estará voltada para certos

períodos, evitando, assim, os custos de transporte. Em termos operacionais, a DCN

prevê uma política de contenção de gastos e redução de custos de produção, incluindo

a redução de 15% de sua força-trabalho.

A estratégia de transformação da DANA está centrada na cadeia de valor do

setor e, por meio da inovação gerencial e do desenvolvimento tecnológico, a empresa

pretende gerar benefícios adicionais. Em palavras da própria empresa, extraídas do site

www.dana.com.br, as metas do Transformation 2005 são as seguintes:

1. Aumentar:

a) as vendas em 10%;

b) os lucros em 15%;

c) em 15% o retorno sobre o capital investido, depois da tributação;

2. O foco das vendas concentra-se em:

d) 25% destinados aos produtos desenvolvidos há menos de dois

anos;

e) 75% destinados aos produtos desenvolvidos há menos de cinco

anos;

3. O gerenciamento "Estilo DANA" incorpora:

f) Fortalecimento pela diversidade através de joint-ventures e

incorporações;

g) 40 horas de treinamento/ pessoa/ano;

4. Tornar-se líder em inovação de cada um dos segmentos de

produtos/mercados:

h) 5% dos rendimentos e remuneração por serviços de valor agregado

(montagem, planejamento, assistência técnica etc);

i) 100% de conectividade;

5. Busca de mercado que garanta retornos adequados aos

investimentos:

13

j) 65% das oportunidades de negócios serão realizadas fora dos

Estados Unidos.

O ponto forte desta estratégia é a combinação da integração de unidades de

negócios, vendas e aquisições de operações e a busca de novas parcerias. Dentro dessa

estratégia de reestruturação, em 2001, a DNC anunciou a intenção de vender a unidade

de negócios da DANA Corporation Commercial Credit. Além disso, anunciou o

interesse de venda de parte das operações da Engine Management, em especial, a

fabricação de produtos finalizados e autopeças. Neste mesmo ano, a empresa anunciou

oficialmente o encerramento das atividades de 28 fábricas nos Estados Unidos e a

intenção de encerrar as operações em mais 11. Em dezembro de 2002, a DCN

confirmou a venda das divisões citadas anteriormente, no valor de 700 milhões de

dólares. Além disso, foi anunciado o encerramento das atividades das divisões :

Chelsea Products Division, Mr. Gasket e Quinton Hazell, incluindo a parte da DANA

Credit Corporation, totalizando o fechamento de 39 plantas nos Estados Unidos e uma

redução de 20% dos gastos da empresa.

Outra importante decisão ocorreu em julho de 2003, quando a DANA

Corporation recebeu a oferta de compra de suas ações em circulação pelo a

ArvinMeritor, Inc.(ARM). A ARM fez uma tentativa de um takeover hostil, ou seja,

procurou assumir o controle da DANA através da compra de ações em mãos de

investidores na bolsa de valores dos Estados Unidos (Dow Jones). A DANA pediu a

seus acionistas que considerassem as recomendações do conselho administrativo antes

de rejeitarem ou aceitarem a oferta da ArvinMeritor. A declaração pública do conselho

diretor da DNC à intenção de compra de suas ações pela ARM aconteceu dez dias

depois de a oferta ter sido veiculada pela imprensa. A recomendação dada aos

acionistas foi a recusa da oferta. A oferta da ArvinMeritor foi de $15 dólares por cada

ação ordinária da DNC em circulação. O conselho diretor da DNC considerou esta

oferta de alto risco, pois a ARM necessitaria obter empréstimos substanciais para

consolidar sua oferta e a proporção do financiamento necessário resultaria em um

índice de dívida em relação ao capital de 88%, um dos mais altos entre os fornecedores

14

da indústria automobilística, criando incertezas para a consolidação da transação.

Ademais, a concretização desse negócio traria sérias preocupações legais em respeito

às políticas antitruste, já que nos Estados Unidos, e no resto do mundo, ambas as

empresas são as únicas produtoras substanciais de eixos de transmissão e freios para

caminhões médios e pesados, com participações de mercado agrupadas, variando entre

80% a 100%. Criar-se-ia um monopólio mundial no fornecimento desses sistemas

para o mercado de veículos comerciais. Somando-se a essas argumentações, a DANA

Corporation ressaltou que "os esforços de reestruturação e de transformação da

empresa estão produzindo resultados", não havendo necessidade de a empresa ser

adquirida por uma terceira.

A DANA acredita que o processo de reestruturação está oferecendo

condições favoráveis às metas estabelecidas pela empresa no plano de transformação e

há indicativos de recuperação, além de perspectivas garantidas de avanços na liderança

da empresa dentro do mercado. Sendo assim, a recusa da proposta da ArvinMeritor

também se deu em parte pela confiabilidade da empresa em seu plano de

reestruturação.

É importante ressaltar que, em um primeiro momento, a implementação do

plano de reestruturação da DCN afetou diretamente o contingente de trabalhadores

empregados pela corporação. Uma das primeiras medidas estratégicas da empresa foi

investir na redução de custos relacionados à produção e no enxugamento do seu

quadro funcional, demitindo cerca de 10 mil empregados em nível global. As

demissões afetaram, também, aqueles que permaneceram empregados, já que muitos

foram realocados e outros tiveram que assumir responsabilidades adicionais. Mesmo a

área de pesquisa, uma das mais privilegiadas pelo plano de reestruturação, não ficou

isenta dos efeitos da queda das vendas.

Até o final de 2001, a DANA Corporation empregava, aproximadamente, 68

mil trabalhadores no mundo. Em 2002, este número estava em torno de 61 mil. De um

ano para o outro houve o corte de 10% do total dos trabalhadores em razão das metas

de redução de custos, previstas no plano de reestruturação. A divisão mais afetada

15

pelos cortes de trabalhadores foi a de Sistemas Automotivos (Automotive Systems),

com perda de, aproximadamente, 13% de seus trabalhadores, apesar de não ter havido

o encerramento das atividades em nenhuma de suas plantas. No ano de 2002, houve a

integração das operações entre as unidades de negócios: Sistemas de Veículos

Comerciais (Commercial Vehicle Systems) e Sistemas de Veículos "fora- de- estrada"

(Off Hihgway Systems), formando o grupo Tecnologia e Sistemas de Veículos Pesados

(Heavy Vehicle Tecnologies and Systems). Em termos de demissões, esta junção

representou o corte de 5% do total dos trabalhadores para estas divisões e contou com

o encerramento das atividades em cinco divisões, sete plantas e um centro técnico nos

Estados Unidos.

No intervalo temporal entre 1999 e 2002, houve a queda de

aproximadamente 23% no número total de trabalhadores da DNC no mundo, sendo

que as maiores quedas se registraram nos anos de 2001 e 2002. No final do ano de

2001, a economia mundial registrou baixo crescimento e, nos Estados Unidos, o

crescimento econômico foi prejudicado por conturbações políticas e incertezas

econômicas, marcando o terceiro ano de perdas consecutivas nas operações do

mercado interno de ações. Somando-se a estes fatores de mercado, neste mesmo ano a

DCN implementou seu plano de reestruturação, prevendo a redução dos postos de

trabalho.

Em um segundo momento, o plano de reestruturação da DCN procurou

expandir a presença mundial da corporação no setor de autopeças, para isso contou

com a ampliação de seu quadro funcional, passando-o para aproximadamente 86 mil

empregados, em 2003.

O gráfico 2, a seguir, ilustra a evolução do número de empregados na DANA

Corporation, entre os anos de 1999 e 2003.

16

GRÁFICO 2: QUANTIDADE DE EMPREGADOS DA DANA CORPORATION NO MUNDO EM NÚMEROS

APROXIMADOS/ MIL ENTRE OS ANOS DE (1999- 2003) Fonte : DANA Corporation, in: www.DANA Corporation.com Elaboração : Instituto Observatório Social

Em princípio, a empresa entende que, se de um lado, os custos da

reestruturação sejam altos, por outro, estes são necessários para aumentar a

performance da corporação em longo prazo. Assim, os primeiros efeitos já

conquistados foram a expansão da produção da DCN, a inserção da corporação em

outros mercados e, conseqüentemente, o aumento do número de trabalhadores da

empresa .

3.2.1 Participação no Mercado Internacional

Na década de 1990, as principais empresas incorporadas pela DANA

Corporation foram:

• Mr. Gasket Inc, através de fusão;

• Sealed Power tecnologies LP - aquisição;

• Victor Reinz - fusão em 1993;

• Eaton Corporation Axle and Brake Division- aquisição em 1998;

• Echilin Inc - aquisição em 1998;

• Echilin Inc. Automotive Controls Corporation - aquisição em 1998;

0

20

40

60

80

100

1999 2000 2001 2002 2003

Número Aproximado de Empregados pela DCN no Mundo/mil

17

• Glacier Vandervell -aquisição em 1998.

Em 2002, o faturamento da DCN foi de U$ 9.5 bilhões, caindo 7,7% em

relação ao ano anterior. As perdas líquidas reportadas pela empresa neste mesmo ano

foram menores do que em 2001, passando de US$ 298 milhões para US$ 182 milhões.

Mesmo que este valor ainda indique perdas, comprado ao ano anterior, a DCN

conseguiu atuar positivamente, reduzindo-as. Abaixo, encontram-se informações

sobre o balanço financeiro da DANA Corporation entre os anos de 2000 e 2002.

QUADRO 4: INDICADORES DA DANA CORPORATION NO MUNDO – (2000-2002) 2000 2001 2002 Vendas/bilhões US$11.463 US$ 9.490 US$ 9.504 Lucro líquido/milhões US$334.0 US$ -298.0 US$ -182.0 Fábricas 313 300 265 Trabalhadores 80 68 61 Presença em Países 35 34 30 Fonte: EuroMonitor in: WWW.EUROMONITOR.COM; DANA Corporation, Annual Report 2002 in: WWW.DANA CORPORATION.COM; Elaboração: Instituto Observatório Social

Em 2001, os resultados da DCN sofreram impactos negativos decorrentes da

queda generalizada nas taxas de crescimento econômico mundial, em especial, na

economia estadunidense. Neste ano, as vendas mundiais da DANA Corporation caíram

17% em comparação ao ano 2000.

Como indicado no quadro 3, as vendas no ano de 2002 não foram

significativas, mantiveram-se dentro do patamar esperado pela empresa. Neste ano, a

DCN não passou por novas perdas em vendas, isto é, conseguiu recuperar certa

lucratividade em relação ao ano de 2001. Entretanto, comparando-a com suas

concorrentes, em 2002, o seu crescimento, ainda, permaneceu o mais baixo do setor:

Dana Corporation (-4,6%), Delphi Automotive Systems Corporation(-1,2%), Visteon

Corporation (-1,2%), Johnson Controls(4,7%) e Lear Corporation(0,8%).

Mesmo registrando um baixo crescimento durante o primeiro ano de

implementação de seu plano de reestruturação, a DCN confia que este pode

aperfeiçoar o desempenho da corporação. Sendo assim, a empresa tem procurado

expandir seus investimentos e atuação em diversas regiões do mundo.

18

Na Europa, a DANA Corporation tem procurado estreitar suas relações com

parceiros. Destaque para a GETRAG, fabricante de transmissões da Alemanha, que

garante a expansão de sua capacidade produtiva para automóveis de passeios. Além

disso, a empresa tem procurado manter seu mercado consumidor em 17 países do

continente europeu, fornecendo tecnologia e produtos de pesquisa avançada. Em

relação à Europa central e do leste, a DANA Corporation anunciou que pretende

ampliar suas bases na região. A República Checa receberá investimentos em uma nova

planta em Kadan. O mercado da região tem capacidade de expansão e a DANA

Corporation quer atender a todas as demandas regionais. A nova planta empregará 200

trabalhadores e produzirá, principalmente, condutores térmicos, dando apoio à planta

localizada na cidade de Tier e suporte à manufatura de equipamentos na Alemanha e

em outros países da região, como a Polônia.

Na Ásia, a Tailândia ganha destaque com investimentos para a empresa

ampliar seu mercado regional através do apoio às companhias locais. No Japão e na

Coréia, a intenção é de estreitar os laços com as empresas nas quais as relações já

estão estabelecidas. A China é um mercado em que a DANA Corporation está,

estrategicamente, ampliando a sua inserção.

Na América do Sul, a DANA Corporation está presente há mais de 40 anos e

esta região ainda representa um mercado consumidor de grande potencial, recebendo

investimentos da corporação.

Em 2003, a DCN conquistou a posição de líder de mercado em suspensão,

componentes de transmissão, bombas d’água e de combustível. Mundialmente, 95%

da frota de veículos têm componentes da DCN.

3.2 DANA CORPORATION NO BRASIL

No Brasil, com a eliminação do índice mínimo de nacionalização de

veículos, iniciada nos anos 90, a maioria das montadoras presentes no país procurou

importar grande quantidade de peças automotivas. Recentemente, a indústria

19

automobilística nacional tem procurado estreitar relações com os fornecedores locais,

já que tal aproximação possibilita reduzir custos de produção. Em função da nova

política cambial brasileira, as montadoras tentam acelerar o processo de compra de

peças dos fornecedores estabelecidos no país, porém, essa estratégia de redução de

custos afeta, sobretudo, os sistemistas e integradores de sistemas que, também,

desempenham atividades de importação (Dieese/CNM-CUT, 2001).

Dentro deste contexto, as empresas de autopeças estão em busca da

modernização de seus métodos de gestão e de flexibilização da produção, visando

atender às demandas do mercado global e superar as grandes perdas em vendas

registradas, mundialmente, pelo setor nos últimos anos. Os investimentos, em geral,

estão voltados para o desenvolvimento de produtos de ponta e para a tecnologia

avançada. Uma das principais políticas, desempenhada pela indústria de autopeças,

tem sido a promoção da fusão entre empresas do setor. Junto a essas, também se

intensificou o encerramento de atividades produtivas menos lucrativas, além da

realocação de recursos para determinadas regiões e o fortalecimento das parcerias.

Partindo-se dessa estratégia, o setor de autopeças brasileiro espera garantir o

crescimento em longo prazo, porém em curto prazo, os efeitos de tal dinâmica são

sentidos diretamente no quadro funcional das empresas sob a forma de redução de

postos de trabalho.

Para a economia brasileira, o setor de autopeças é bastante representativo em

termos das exportações. Os principais compradores dos produtos brasileiros

produzidos por este setor são a Argentina e os Estados Unidos (Dieese/CNM-CUT,

2001).

A participação da DANA Corporation no mercado de autopeças brasileiro se

dá nos finais dos anos 1950. Neste período a economia estadunidense passava por uma

forte recessão econômica. A baixa demanda por automóveis neste mercado incentivou

a internacionalização das empresas automobilísticas e de autopeças. Seguindo esta

lógica, em 1957 a DANA Corporation fez seu primeiro investimento fora dos Estados

Unidos, adquirindo 30% de participação nas ações da empresa gaúcha Albarus S/A.

20

Inicialmente, o gerenciamento desta nova aquisição não ficou centralizado na

matriz da empresa em Ohio, sendo a empresa brasileira responsável por gerenciar os

negócios no mercado interno, mantendo sua autonomia e recebendo financiamentos

nacionais.

Em 1965, a DCN adotou uma estratégia de expansão, ampliando sua

participação acionária em várias empresas do grupo Albarus e se tornando a acionista

majoritária. Em 1977, a DCN passa a controlar a Pellegrino Distribuidora de

Autopeças LTDA.

Nos anos 90, com abertura comercial implementada pelo governo federal, a

DCN adquiriu outras empresa brasileiras de autopeças: 1996- Stevaux e 1998- Nakata.

Além disso a DCN tem procurado formar joint ventures para ampliar sua participação

no país. As principais empresas da DCN com origem brasileira são: DANA

INDÚSTRIAS LTDA. - DIVISÃO STEVAUX , DANA ALBARUS S/A

INDÚSTRIA E COMÉRCIO, DANA INDUSTRIAL S/A-DIVISÃO NAKATA,

DANA INDÚSTRIAS LTDA.

Atualmente, a DCN está presente em oito cidades de três estados brasileiros.

O quadro a seguir destaca as localidades onde DCN está presente no Brasil e suas

divisões.

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QUADRO 5: LOCALIDADE DA DANA CORPORATION NO BRASIL E SUAS DIVISÕES(*) Localização Divisões Corporativas

(Empresas Representantes) ESTADO DE SÃO PAULO DIADEMA

DANA Corporation Aftermarket Brasil(DAB) Divisão Nakata de Amortecedores: Em 2000, foi integrada a DANA Aftermarket Brasil (DAB) Produtos: Amortecedores e molas a gás Sistemas de Fluidos (ex-Echlin); Em 1998, por meio de um acordo global, a DCN obteve o controle da Echlin. No Brasil, a divisão em Diadema opera com a produção de componentes Urba, Brosol e flexíveis Produtos: carburadores, componentes para sistemas de freios, para ar condicionado e direção hidráulica; Divisão Wix Filtros: Iniciou suas atividades no Brasil em 2002 Produtos: filtros de ar, óleo e combustível Integração de Sistemas e vendas/OE Congrega as operações de Soluções em Módulos e Sistemas e das equipes de Vendas do Grupo de Sistemas Produtos: sistemas modulares para caminhões e ônibus Nakata Componentes de Suspensão e Direção É parte integrante da SSCM Steering & Suspension Components Mercorsur) Em 1998, a Nakata Componentes de Suspensão e Direção foi incorporada pela DCN Produtos: pivôs, tirantes e braços de suspensão, barras e terminais de direção, barras de reação

GUARULHOS DANA Corporation Aftermarket Brasil(DAB) CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO(DANZAS)

OSASCO

DANA Corporation Aftermarket Brasil(DAB) Administração Antiga Divisão de Vendas da reposição É responsável pelas atividades comerciais de todos os produtos da DCN-Brasil e pelas exportações destes pordutos, além do relacionamento com os clientes e atividades pós-vendas É auxiliada pelos setores de comunicação e Marketing e Tecnologia da Informação SOLUÇÕES ESTRUTURAIS Antiga Parish, foi inaugurada em Osasco, em 1997 com a transferência de suas operações de Joinville (SC) Produtos: chassis, longarinas, módulos completos e elementos agregados

22

SÃO BERNARDO DO CAMPO VICTOR REINZ MERCOSUL

Juntas de Motor Esta divisão foi proveniente da aquisição da empresa Stevaux pela DCN, em 1996 e marcou a inserção da DCN no mercado da América do Sul Produtos: juntas sem amianto para motores, protective shields, kits de juntas para carburadores e injeção eletrônica

SOROCABA SISTEMAS PARA VEÍCULOS COMERCIAIS (Eixo Pesado) É parte do grupo de Sistemas para Veículos Comerciais e é uma das mais modernas fábricas de eixos diferenciais para caminhões e ônibus da América Latina Produtos:carcaças e eixos diferenciais pesados TMM- Tecnologia em Tração Mercosul Integrante do Grupo de Tecnologia de Tração (Traction Tecnology Group); Em 1998, a DCN adquiriu a linha de eixos da Rockwell e se tornou a maior fabricante de diferenciais leves do mercosul Produtos: eixos diferenciais traseiros, eixos dianteiros não-tracionados e agregados

SÃO PAULO FLUID SYSTEMS ( EX- ECHLIN) Em 1998, por meio de um acordo global, a DCN obteve o controle da Echlin. Em São Paulo as operações estão voltadas para produção de bombas da marca Urba Produtos: bombas de combustível, bombas d’água, bombas de óleo etc Pellegrino Autopeças Indústria e Comércio Ltda Esta empresa foi integrada à DCN em 1976 e atua no território nacional na distribuição de autopeças para lojas, frotistas e aplicadores

ESTADO DO PARANÁ

ARAUCÁRIA SOLUÇÕES ESTRUTURAIS Resultado da joint-venture entre a antiga Parish com a empresa nacional Wiest, em 1995 Produtos: chassis, longarinas, módulos completos e elementos agregados Opera em cooperação com a divisão de Osasco

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

23

GRAVATAÍ PERFECT CIRCLE MERCOSUL/BRASIL

As atividades dessa divisão voltaram ao país em 1991, hoje com uma unidade no Brasil e duas na Argentina (Rosário e San Juan) Produtos: anéis de pistão e camisas de motor TMM- GERENCIAMENTO DE TORQUE2 MERCOSUL (EX- SPICER CARDANS) Parte do grupo de gerenciamento de Torque(Torque Managemnet Group/TMG) Há duas unidades no Brasil: Spicer Cardans(SCB) e Spicer Forging Brazil; Incorporada à DCN na década de 60 pela fusão com a ALBARUS S/A Produtos: eixos cardans, cruzetas, componentes agregados e colunas de direção SISETMAS FORA-DE-ESTRADA Também conhecida como Spicer Off-highway/SOH, foi inaugurada em 1999, em Cahoeirinha e transferida para Gravataí em 2001 É uma das fábricas mais modernas do mundo na produção de sistemas fora-de-estrada Produtos: eixos tracionados e não-tracionados e conjuntos de transmissão Powershift; VICTOR REINZ MERCOSUL Juntas de Motor MLS É a única fábrica do Brasil que desenvolve tecnologia MLS Produtos: juntas de motor, juntas multicamadas MLS e retentores para motores Produtos de Borrachas Antiga Spicer Elastrômetros, esta divisão é líder nacional em vendas de kits de reparo homocinético, entre outros produtos Produtos: coxins, mancais, batentes, buchas, kit de reparo para juntas homocinéticas, kit de reparo para amortecedores FTE BRASIL Resultado de um investimento de US$ 1,3 milhões, iniciou suas atividades no país em 1999 Produtos: acionamentos hidráulicos para embreagem GLACIER VANDERVELL BRASIL Iniciou suas atividades no Brasil em 2000 por meio de uma aquisição efetivada pela DCN Produtos: bronzinas para motores

(*) As plantas relacionadas por localidade concentram várias divisões da DANA Corporation. Fonte: DANA Corporation, 2001 e 2003, in WWW.DANA.COM.BR Elaboração: Subseção DIEESE-CNM/CUT Atualização: Instituto Observatório Social

2 Nas Oficinas Sindicais, os trabalhadores mencionaram que as atividades da Divisão de Cardans

(EX-Spicer Cardans) foram transferidas de Gravataí para Sorocaba. No entanto , na página da internet da DCN-Brasil ainda não consta esta alteração. Assim, o Quadro 5 mantém a informação publicada pela própria empresa

24

Atualmente, a principal empresa da DCN no Brasil é a DANA-Albarus S.A.

Indústria e Comércio, com sede em Gravataí (RS). O controle acionário majoritário

pertence à DANA Equipamentos LTDA, com 84,19% do capital, por sua vez

controlada pela DANA Corporation americana. As empresas controladas diretamente

pela DANA-Albarus S.A. Indústria e Comércio ou a ela coligadas são a Albarus S.A

Comercial Importadora, com 100% de participação no capital e a Pellegrino

Distribuidora de Autopeças Ltda, com 83,87% de participação no capital.

O conselho administrativo é composto por três pessoas:

1. Hugo Eurico Irigoyen Ferreira – Presidente;

2. Carlos Emílio Stroter- Vice- presidente;

3. Paulo Armando Born- Membro.

Na diretoria há cinco posições:

1. Paulo Armando Born – Diretor-presidente e de Rel. com o Mercado;

2. Jorge C. Scherel – Vice-presidente;

3. Flávio Bressiani – Diretor;

4. Luciano Dias Pires Filho - Diretor;

5. Paulo César Silva Nunes- Diretor.

A atividade predominante desta planta é a produção e a comercialização de

peças, componentes e acessórios metalúrgicos, de borracha e de plástico para o uso em

veículos automotivos, em máquinas agrícolas e em equipamentos industriais.

A produção é realizada através da transformação de matérias-primas, por

meios mecânico-metalúrgicos, em peças forjadas e/ou estampadas. O tratamento

térmico e a usinagem ou retificação recebidas por estas peças resultam em vários

componentes acabados das diversas linhas de produção. A tecnologia empregada neste

processo de transformação é, tanto de origem nacional quanto americana, controlada

pela DANA Corporation. Os principais produtos são: eixos cardans, colunas de

direção, elastômeros, anéis de pistão e forjados. Como fornecedores de matéria-prima

a empresa tem:

• Auto Parts: Albarus Inc.

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• Aço: Aços Finos Piratini e Aços Villares

• Anéis: DANA Argentina S.A

• Tubos: Metalúrgica Tubos de Precisão

• Produtos Químicos: Du Pont

• Rolamentos: SKF Industries e INA Brasil

• Forjados: Forjas Taurus

• Fundidos: Tupy Fundições• Ferramentas de Usinagem: Arthur Klink;

• Fita de Aço: Haldex

A comercialização desses se dá através do Departamento Comercial. No

mercado de reposição, o gerenciamento das vendas é feito pela Divisão de

Distribuição. As exportações são realizadas através de representantes locais e externos,

exceto em São Paulo, cujas vendas são feitas pela própria equipe. No Brasil, os

principais mercados são os das montadoras de automóveis e os de mercados de

reposição, destacando-se Minas Gerais e São Paulo. No exterior, os principais clientes

são: os Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, Itália, França e México. Os produtos

são: anéis de pistão, coluna de direção, eixos cardans e elastômero, sendo os seus

principais compradores: Volkswagen, Mercedes Benz, Volvo, Chrysler, General

Motors, Ford e Scania.

O faturamento líquido da empresa no ano de 2002 foi de aproximadamente

US$ 156 milhões, sendo que o lucro líquido foi de US$16 milhões. Os lucros

cresceram 58% em relação ao ano de 2002. Do lucro líquido total desta unidade, 25%

estão reservados ao pagamento de dividendos. O patrimônio líquido da empresa em

2002 atingiu US$ 71 milhões.

No movimento de expansão de suas aquisições e parcerias, a DANA

Corporation tem investido em joint-ventures para ter acesso aos novos segmentos de

mercado em resposta ao novo padrão de competição global. O quadro a seguir

demonstra as principais joint-ventures da DNC no Brasil:

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QUADRO 6: PRINCIPAIS JOINT VENTURES DA DCN NO BRASIL Empresa Composição Produtos/Serviços ABC Sistemas e Módulos - São Paulo (SP) DANA

Corporation/TRW/Krupp

Módulos de suspensão dianteira do GM Astra

ATH – Albarus Transmissões Homocinéticas - Porto Alegre(RS) Unidades - Charqueadas (RS), São José dos Pinhais (PR) e Betim (MG)

GKN/DANA Corporation -----------------

Semi-eixos homocinéticas – fornecimento just-in-time -----------------

Iochpe-Maxion S.A Iochpe-Maxion / DANA Parish Heavy Truck Division

Produção de chassis e componentes

S.M. Sistemas Modulares Ltda. - Taubaté (SP) DANA Corporation/TRW

Módulos de suspensão dianteira e traseira para veículos Volkswagen; quadros auxiliares.

Fonte: DANA Corporation, 2001. Elaboração: Subseção DIEESE CNM/CUT.

No Brasil, a DANA Corporation produz nove das principais marcas do setor

de autopeças dentro do mercado brasileiro. Estas são:

- BRASOL: líder em sistemas mecânicos de alimentação; também está

vinculada a mais de 300 componentes para veículos e motores de todas

as marcas e movidos por qualquer combustível. É fabricada no país há

40 anos;

- PERFECT CIRCLE: fabricada no Brasil desde 1991, a linha oferece

soluções para montagem e manutenção de qualquer tipo de motor. Os

componentes desta marca, também, são empregados na Fórmula-1 e na

500 milhas de Indianápolis;

- NAKATA: foi pioneira na introdução de diversos componentes nos

veículos brasileiros, tais como: amortecedores pressurizados e molas a

gás. Atualmente, é líder mundial em sistema de direção e suspensão. A

marca é fabricada no Brasil pela DANA Corporation desde 1957;

- SPICER: compõe uma linha completa de transmissão e oferece todos

os componentes que existem entre os câmbios e as rodas. É marca líder

no Brasil e está presente há mais de 50 anos, fornecendo sistemas de

transmissão para o segmento automotivo, agrícola, fora-de-estrada e

27

industrial;

- URBA: é líder absoluta em bombas d'água para reposição. Além disso,

embasa uma linha de bombas de combustível, aditivos e anticorrosivos

para vários tipos de motores. A marca é produzida no Brasil desde

1948 e é exportada para vários países;

- VICTOR REINZ: é a primeira fabricante de juntas e pioneira na

tecnologia MLS. Todos os seus produtos são fabricados sem uso de

amianto e é marca líder mundial em sistemas de vedação;

- WIX: os produtos desta marca são fornecidos para montadoras e para o

mercado de reposição (no mercado interno). No exterior, é uma das

marcas líderes em filtros para carros, pick-up's, veículos pesados,

agrícolas e fora-de-estrada. A maioria dos produtos desta linha é

produzida em parceria com a Nascar e a Dragster;

- RAYBESTOS: marca de produtos hidráulicos e matérias de atrito para

freios. No Brasil, a marca é utilizada nos principais modelos

importados;

- POWERTRAIN: disponível para os principais carros nacionais é uma

linha alternativa às juntas homocinéticas e produzida há quase vinte

anos no Brasil.

Devido ao novo modelo de gerenciamento da DANA Corporation, a empresa

vem reduzindo o número de suas plantas e redefinindo suas operações e as atividades

dos seus empregados. Sendo assim, no Brasil, um dos primeiros segmentos de

produtos a passar por esse processo foi o de produção de eixos.

Em 2001, dentro do plano de reestruturação da DCN e, impulsionada pela

crise vivida pela empresa cliente Chrysler, houve a unificação das atividades de duas

plantas no Estado do Paraná: a de Curitiba (que produzia exclusivamente para a

Volvo) e a de Campo Largo (produzindo para a Chrysler). A DANA Corporation

optou por centralizar a produção na planta de Campo Largo, fechando a fábrica em

Curitiba .

28

Atualmente, segundo informações fornecidas pelo Sindicato dos

Metalúrgicos de Curitiba e Região, as atividades da DANA no Paraná foram

centralizadas em uma única planta, na cidade em Araucária e conta com o trabalho de

74 empregados.

Em geral, a política de fusão e realocação de funções implementadas pela

DCN previstas nas metas de reestruturação da empresa produz uma atmosfera de

hesitação para os trabalhadores brasileiros quanto à estabilidade no emprego.

29

4. PERFIL DAS UNIDADES OBSERVADAS

As informações que constituem este tópico foram adquiridas nos: Sindicato

dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Região, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC-

Regional de Diadema e Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região e com os

trabalhadores da DCN que participaram das Oficinas Sindicais e entrevistas realizadas

pelo Instituto Observatório Social.

4.1. DIADEMA

O número total de trabalhadores que compõe a base sindical do Sindicato do

Metalúrgicos do ABC3 é de 98.000 pessoas. Sendo que o número total de

trabalhadores associados ao Sindicato é de 60.000 contribuintes trabalhando e 73.000

aposentados. O salário-base da categoria, na produção, é de R$ 1.200,00. Se considerar

as montadoras este é de R$ 3.800,00.

O número de empregados da DCN na base do Sindicato, que tiveram

desconto do imposto sindical em 2004, foi de aproximadamente 1.300. Cerca de 25%

de empregados na DANA são associados ao Sindicato.

Em Diadema, os números de paralisações realizadas pelo Sindicato na DCN

nos últimos três anos foram: em 2000 - cinco, em 2002 - duas paralisações e, em 2004-

um único dia em Janeiro. O principal motivo dessas paralisações, todas entre as

divisões da planta, é decorrente da negociação para a equiparação da PPR.

De acordo com informações fornecidas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do

ABC e Região - regional de Diadema - a partir de 2000, houve uma mudança na

estratégia do setor de RH (Recursos Humanos) da empresa, melhorando a

comunicação do Sindicato com esta última.

3 O Sindicato abrange seis cidades, sendo elas: Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá,

Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

30

A seguir, apresentam-se as principais características da Unidade da DCN em

Diadema. QUADRO 7 : CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE DIADEMA

DANA CORPORATION em Diadema Número de Plantas 3 plantas (Nakata, Fluid System e Forjado), adquiridas na década de 90 Turnos 2 turnos na Produção I- (6H-15H50); II- (15H50 - 01H20); Administrativo:

( 7H30 às 17H) Sindicato Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- Regional de Diadema Número total de trabalhadores 1.400 – em 2001

1.293 – em 2004 Número de trabalhadores por Divisão

Nakata – 679 Fluid System – 457 Forjado – 157

Número de trabalhadoras Nakata: 40; Fluid System: 60; Forjado: dado não disponível (2001) Salário médio na produção Varia entre R$: 3,33 - R$ 6,16/ Hora Jornada semanal de trabalho 44 horas semanais Acesso de dirigentes à fábrica O acesso é permitido, mas sempre com o acompanhamento da empresa Principais reivindicações atuais

Nas plantas Nakata e Fluid System as reivindicações atuais são redução de jornada. Além disso, está sendo reivindicada uma reestruturação na tabela de cargos e salários. Junto a isso, os trabalhadores estão discutindo com a empresa a garantia de que a CIPA possa desenvolver seus trabalhos sem restrições ou perseguição da chefia

Fonte: CNM/CUT(2001) e Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e Região- Regional de Diadema(2004) Elaboração: Subseção DIEESE-CNM/CUT Atualização: Instituto Observatório Social.

4.2 SOROCABA

O número total de trabalhadores na base do Sindicato dos Metalúrgicos de

Sorocaba e Região é de 19.000. Em 2004, 271 trabalhadores da DANA

INDÚSTRIAS LTDA tiveram desconto do imposto sindical, sendo que 167 estão

associados ao sindicato. Atualmente, os trabalhadores da DCN em Sorocaba estão sem

representação sindical em virtude de desentendimentos políticos internos ao sindicato.

4.3 GRAVATAÍ

Em 1997, a empresa General Motors (GM) instalou uma de suas unidades no

município gaúcho de Gravataí. Este município, que faz parte da região metropolitana

de Porto Alegre, estava abrangido pela base territorial do Sindicato dos Metalúrgicos

da capital. Na época em que a GM se instalou naquela região, houve a formação de um

31

novo sindicato de metalúrgicos que requereu a representação legal dos metalúrgicos de

Gravataí. Com isto, instaurou-se um processo de disputa pela representação da base de

Gravataí entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto alegre e região, filiado à CUT, e

o sindicato, que na época era independente e depois veio a se filiar à Força Sindical. QUADRO 08: CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE SOROCABA DANA CORPORATION em Sorocaba - SP Número de Plantas 1 planta, que segundo informações obtidas pelos dirigentes sindicais,

corre o risco de ser fechada e sua produção, deslocada para outra planta. Essa planta também pertencia à Albarus e a DANA Corporation tornou-se a maior acionista em 1996

Turno 3 turnos na Produção (I- 7H-15H30; II- 15H30-23H35; III- 23H35-07H10). Sindicato Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região Número total de trabalhadores 330 Número de trabalhadoras 10 Salário médio na produção R$ 1.000,00. Jornada semanal de trabalho 44 horas semanais. Nessa planta, a empresa flexibilizou o cartão de

ponto, de modo que os trabalhadores não precisam sempre estar marcando o horário de entrada e saída.

Acesso de dirigentes à fábrica Não há nenhum atuando no momento Principais reivindicações atuais

Reposição das perdas salariais. Fim da pressão das chefias sobre os trabalhadores e da perseguição àqueles que querem manter um contato com o sindicato.

Fonte: CNM/CUT(2001) e Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região(2004) Elaboração: Subseção DIEESE-CNM/CUT Atualização: Instituto Observatório Social.

O Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre acusa a GM de ter patrocinado

a formação deste novo sindicato, com vistas a impedir e controlar a organização dos

seus empregados. Diz que os trabalhadores daquele município já se manifestaram

claramente em favor da representação pelo Sindicato de Porto Alegre, mas que

decisões da justiça local impedem a liberdade de opção dos trabalhadores.

Assim, até 1997, o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Região,

detinha o direito de representação e atuação na DCN, reconhecido pelo Ministério do

Trabalho, através da Carta Sindical.

Desde 2000, em virtude do acirramento da disputa sindical, os trabalhadores

da Unidade da DANA-ALBARUS não dispõem de representação de qualquer

Sindicato local. Enquanto a justiça não define qual entidade receberá o direito de

representar os trabalhadores metalúrgicos em Gravataí, qualquer ação do Sindicato

está, judicialmente, proibida.

32

Por isso, não há nenhum dirigente sindical, de qualquer dos dois sindicatos

atuando na DANA-ALBARUS, em Gravataí. Não há, também, nenhum tipo de acordo

coletivo vigente a ser cumprido pela empresa.

O material sindical para os trabalhadores da DANA Albarus é distribuído

pela Federação dos Metalúrgicos do RS e a s manifestações são realizadas através

desta. As contribuições financeiras dos trabalhadores para o sindicato, até o início do

processo judicial, eram descontadas diretamente da folha de pagamento de salários e a

empresa as repassava ao Sindicato da CUT. Atualmente, estes recolhimentos estão

sendo feitos sob juízo. A seguir, o quadro 9 apresenta algumas informações levantadas

no Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre sobre a DCN em Gravataí.

QUADRO 9 : CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA UNIDADE DE GRAVATAÍ DANA CORPORATION no Rio Grande do Sul Número de Plantas 2 fábricas (Gravataí e Porto Alegre).

Nessas plantas a DANA Corporation tornou-se a maior acionista em 1992 Turnos 3 turnos na Produção (I- 6H-15H; II- 15H-01H; III- 01H-07H)

Administrativo: (7H às 17H30) Produtos Eixos, anéis de pistão e componentes em Gravataí e homocinéticas e

cruzetas em Porto Alegre Sindicato Nenhum Número total de trabalhadores 2.600 (1.400 em Gravataí e 1.200 em Porto Alegre) Número de trabalhadoras 780 (420 em Gravataí e 360 em Porto Alegre) Número de sindicalizados 1.040 (560 em Gravataí e 480 em Porto Alegre) Salário médio na produção R$ 3,90/ Hora. Jornada semanal de trabalho 44 horas semanais Fonte: CNM/CUT(2001) e Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Região(2004) Elaboração: Subseção DIEESE-CNM/CUT Atualização: Instituto Observatório Social.

4.4 BENEFÍCIOS TRABALHISTAS

Nesse tópico, apresentam-se informações sobre os benefícios recebidos pelos

trabalhadores da empresa DANA nas três unidades observadas. Foram listados os

benefícios conseguidos por meio de Convenção Coletiva e os oferecidos

espontaneamente pela empresa.

33

QUADRO 10 : BENEFÍCIOS OFERECIDOS PELA DANA PARA SEUS EMPREGADOS Assistência médica (consulta médica e exames)4 Assistência médica para dependentes Internação hospitalar integral Internação hospitalar para dependentes Aposentadoria complementar5 Empréstimo Auxílio educação Auxílio alimentação (bônus, ticket, restaurante ou outros) Cesta básica6 Clube recreativo/colônia de férias/Grêmio Fundo de pensão7 Participação nos lucros/ PPR8 Seguro de vida Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- Regional de Diadema (2004) Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (2004) Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre e Região (2004) Elaboração: Instituto Observatório Social

Em todas a unidades da DANA, os benefícios dos trabalhadores são,

praticamente os mesmos, com exceção dos benefícios conquistados por meio da

negociação coletiva

Nas unidades de Diadema e Sorocaba, os empregados da DCN recebem:

auxílio creche, auxílio transporte, PPR e auxílio doença acidentário complementar.

Estes benefícios foram conquistados por meio de acordos coletivos com a empresa..

Em Gravataí, os trabalhadores têm direitos sob a PPR, mas não recebem os benefícios

extras conquistados por meio de acordo coletivo com o sindicato.

É importante ressaltar que o auxílio educação é oferecido pela empresa para

aqueles funcionários que querem obter o nível de graduação em curso da área de

exatas ou cursos técnicos, voltados estreitamente aos interesses da empresa. O valor do

auxílio corresponde a 60% do valor da mensalidade. A concessão de bolsas para

4 As consultas funcionam por sistema de cotas mensais e os exames, para serem realizados,

precisam de autorização prévia da prestadora de serviços. 5 A empresa oferece este benefício somente para gerentes, diretores e algumas funções de chefia. A

obtenção deste benefício depende do alcance de certo piso salarial. 6 Atualmente, em Gravataí a empresa não oferece a cesta-básica, mas sim tickets de compra. 7 Este benefício também só é para cargos de chefia, gerentes e diretores. 8 A empresa oferece o PPR, mas as metas são elevadíssimas e o sindicato não participa da

negociação desde 2000. Todas as notas apresentadas acima correspondem igualmente para todas as unidades.

34

cursos específicos indicou o desapontamento de trabalhadores que pretendem realizar

cursos em outras áreas de conhecimento.

O convênio médico também aparece como um ponto de descontentamento

entre os trabalhadores. Em ambos os casos alguns trabalhadores gostariam, também,

que o sindicato se empenhasse nas negociações a este respeito com a empresa.

35

5. DIREITOS TRABALHISTAS E AMBIENTAIS

Neste item apresentam-se informações a respeito do comportamento

sociotrabalhista da empresa DANA, em decorrência das especificidades encontradas

em cada uma das três unidades observadas.

5.1 LIBERDADE SINDICAL

Aqui se destacam os direitos básicos de sindicalização, no Brasil, elencando

os principais aspectos identificados na prática da empresa DANA.

Este tópico se refere à Convenção da OIT nº. 87 de 1948, relativa à

Liberdade Sindical e à Proteção do Direito Sindical que tem por finalidade garantir a

independência das organizações de trabalhadores e empregadores entre si e destes para

com o Estado, bem como proteger os direitos sindicais.

No caso brasileiro, o país não ratificou essa Convenção e o direito sindical

mantém o enquadramento por categoria profissional, limitação a um único sindicato

por categoria, abrangência municipal da representação e contribuição financeira

obrigatória dos trabalhadores aos sindicatos (imposto sindical).

No caso da DCN, as entrevistas e as Oficinas Sindicais indicaram que a

empresa estabelece uma relação individualizada para com os Sindicatos, isto é, as

informações obtidas por meio das oficinas sindicais indicaram que a empresa tende a

negociar, isoladamente, com os Sindicatos os procedimentos a serem por ela

cumpridos.

5.1.1 DIADEMA

Em relação à contribuição sindical obrigatória, foi acordado entre o

Sindicato e a empresa que ela passaria a ser opcional e que a empresa DANA

descontaria as mensalidades dos trabalhadores associados, diretamente, na folha de

pagamento, repassando-a corretamente ao Sindicato.

36

Não se pode afirmar que há algum tipo de discriminação aos trabalhadores

na planta de Diadema, somente pelo fato destes manterem algum tipo de contato com

o Sindicato ou mesmo por estarem/serem associados. No entanto, algumas vezes, o

Sindicato percebe que, em atitudes de gerentes, chefes ou outros representantes da

empresa, há certa tendência para exercer pressão sobre os trabalhadores no sentido de

que estes não se associem ao Sindicato.

Atualmente, não existe caso de demissão de membros da CIPA. Também,

não existem casos de dirigentes sindicais demitidos, inclusive de pessoas protegidas

pela imunidade sindical prevista na CLT e nem há registro de demissão de

trabalhadores que estejam dentro do período de estabilidade. Na Unidade de Diadema,

não se tem registro de “compra” de mandato sindical pela empresa nem de punição à

dirigente em virtude de sua atividade sindical. A empresa permite que os

trabalhadores - quando convocados pelo Sindicato - se reúnam no interior das suas

instalações.

Apesar da tentativa de se consolidar um diálogo entre Sindicato e empresa, o

acesso dos dirigentes sindicais ao local de trabalho ocorre somente com autorização

prévia da empresa. Os dirigentes empregados da empresa, bem como os representantes

da CIPA,têm acesso aos locais de trabalho. As informações relevantes chegam aos

trabalhadores em horário de pausa, como: na hora do almoço, no café, nas assembléias

e nos vestiários. Os encontros e discussões do sindicato com os trabalhadores são

limitados fora da jornada de trabalho.

Apesar da mobilidade dos dirigentes dentro da empresa e das atividades em

horários de pausas na produção, os trabalhadores e sindicalistas, ainda, consideram

que a liberdade de atuação do Sindicato é um pouco prejudicada na unidade de

Diadema porque a empresa apresenta essas restrições ao sindicato.

37

5.1.2 SOROCABA

De acordo com os trabalhadores entrevistados, a empresa DANA incentiva

os funcionários a não se associarem ao Sindicato, tentando ela mesma resolver os

impasses que ocorrem dentro do ambiente de trabalho, desconsiderando a

representação sindical. Por sua vez, a ausência de representante sindical na unidade de

Sorocaba, incentivaria ainda mais a política de desrespeito à representação dos

trabalhadores, exercida pela empresa.

Mesmo com a ausência de dirigentes sindicais nesta unidade, os

entrevistados consideram o histórico de atuação do Sindicato local bastante forte.

Enquanto não se define a situação da substituição dos dirigentes na DCN em Sorocaba,

os trabalhadores se dirigem diretamente ao Sindicato quando necessitam obter ajuda

em relação aos problemas de trabalho. Os entrevistados também destacaram que,

quando havia dirigente sindical trabalhando na Unidade de Sorocaba, este tinha livre

acesso a todos os setores, mas isso foi conquistado através de intensa discussão e

negociação de seu retorno à fábrica, após ter sido afastado durante um ano. A CIPA,

no entanto, não é muito atuante.

5.1.3 GRAVATAÍ

A ação sindical na empresa DANA Albarus está bastante prejudicada em

decorrência do impedimento legal em virtude da disputa pela base. Ademais, para cada

ação sindical notificada pela justiça local, o Sindicato está sujeito à prescrição de

multa no valor de até R$ 10mil. Assim, iniciada a situação de litígio - desde quando o

Sindicato foi impedido, judicialmente, de atuar na empresa - esta se isentou do

fornecimento de qualquer informação sobre suas ações sobre o Sindicato.

Atualmente, na DANA Albarus S.A não há condições para que os

funcionários mantenham contato com os sindicalistas, devido à ausência de

representação dos trabalhadores na unidade de Gravataí. Deste modo, a empresa

conduz as negociações com os trabalhadores conforme os interesses dela, sendo que

38

muitas vezes suas atitudes são entendidas como arbitrárias.

As atitudes arbitrárias da DANA Albarus aparecem como uma constância

nos depoimentos dos participantes da Oficina Sindical.

Devido à fragilização para negociar benefícios e propostas com a empresa, nota-se que a direção da companhia em Gravataí tira proveito dessa situação de não representatividade para implementar ações que lhes parecem mais favoráveis. Desde 2000, a empresa trocou o sistema de ônibus, refeitório, assistência médica, a cesta básica entre outros benefícios. A empresa estabeleceu o hábito de fazer reuniões por setores comunicando as mudanças, mas o fato de anuncia-las em forma de reunião, dando o sentimento de consulta aos trabalhadores, todas essas entre outras mudanças vêm sendo estabelecidas sem nenhuma resistência, principalmente porque o trabalhador sabe que a recusa pode gerar punição. A empresa foi se livrando de diversas responsabilidades aproveitando-se da ausência de representação sindical para lhe opor resistência.

Antes mesmo de ocorrer à disputa sindical, já havia registros de perseguições

aos representantes sindicais eleitos dentro da empresa. Foi citado que, houve um

período no qual, o próprio RH da empresa organizou um “abaixo-assinado” para que

os trabalhadores pudessem deixar de pagar a contribuição para o Sindicato.

A tendência do comportamento da DANA, dentro do ambiente de trabalho,

aparece como sendo o de criar empecilhos, atritos e pressões para tentar afastar os

trabalhadores do Sindicato, o que impediria o desenvolvimento de suas atividades

dentro da planta.

Um dos principais pontos ressaltados pelos trabalhadores e pelo Sindicato foi

a atitude acomodada da empresa. Como há impedimentos legais de atuação sindical, a

empresa não procura tomar nenhum tipo de iniciativa para esclarecer seus empregados,

ou criar qualquer canal de diálogo com eles. Para os participantes da Oficina Sindical,

a DANA Albarus não respeita nem reconhece qualquer tipo de organização dos

trabalhadores. Mesmo no caso da CIPA, a empresa tem um comportamento formal

apenas para cumprir a legislação brasileira. Não há um diálogo direto e aberto, para

que os trabalhadores possam expressar suas opiniões em relação a qualquer

acontecimento na empresa. Não existe o espaço para que se desenvolva um cenário de

cooperação entre trabalhadores e empresa. O relacionamento sindical com a DANA

em Gravataí é inexistente.

39

5.2. NEGOCIAÇÃO COLETIVA

No Brasil, os trabalhadores da empresa DANA são representados por

Sindicatos regionais conforme a localização da unidade da empresa. Mesmo com a

intenção da CNM de centralizar as negociações no âmbito nacional, isso ainda não

ocorre.

Cada uma das entidades sindicais procura negociar, localmente, uma

Convenção Coletiva de Trabalho, estabelecendo condições contratuais que podem se

diferenciar, dependendo da negociação local.

Os Sindicatos dos Metalúrgicos das três unidades observadas detêm pouca

informação sistematizada sobre a empresa, limitando-se aos documentos fornecidos

conforme a legislação brasileira (rescisões de contratos de trabalho homologadas,

cadastro dos associados etc).

5.2.1 Unidade Diadema

Há uma Convenção Coletiva válida para todo o setor e, além disso, existe um

Acordo Coletivo específico que regulamenta as relações de trabalho nesta unidade da

empresa DANA.

O Sindicato encaminha à empresa a pauta de reivindicação a ser negociada,

especificando os interesses dos trabalhadores nesta localidade. As principais

reivindicações são relativas aos trabalhos nos dias de sábado, as jornadas de trabalho,

PPR e questões sobre cargos e salários. A data base é em Setembro.

A DANA não especificou nenhum tipo de regra para efetuar promoções de

trabalhadores e nem há conhecimento do sindicato a respeito do plano de cargos da

empresa. Assim, os trabalhadores relataram que esse tipo de atitude da empresa

favorece os “desvios de funções”, isto é, um funcionário é contratado e está registrado

para desempenhar certas funções e, no cotidiano de trabalho, acaba exercendo outras

funções, em geral, atribuições que exigem maior responsabilidade.

40

Em relação à PPR, o Sindicato conseguiu estabelecer uma mesa de

negociação com a empresa. Nessa negociação, os trabalhadores foram representados

por uma comissão, com a participação do Sindicato. Os participantes da Oficina

destacaram que o acordo sobre a PPR só foi alcançado por meio do trabalho sindical

intensivo. Eles avaliam que se não fosse o empenho do Sindicato local (Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC-Regional de Diadema) esse acordo não teria sido firmado, pois

a empresa não demonstrou disposição em ceder às reivindicações dos trabalhadores.

Além disso, os trabalhadores destacaram que, mesmo quando a empresa ratifica

documentos de negociação (Convenção Coletiva ou do Acordo Coletivo), ela acaba

descumprindo algumas cláusulas.

Na unidade de Diadema, pode-se entender que existe negociação entre a

empresa e Sindicato. No entanto, ressalta-se que ainda há dificuldades de relação entre

ambas partes, principalmente, pelo fato de a empresa não fornecer para o Sindicato as

informações necessárias aos processos de negociação. Neste sentido, parece existir um

lapso entre o discurso da empresa, a comunicação e suas atitudes, desfavorecendo a

consolidação de um diálogo aberto e transparente com o Sindicato.

5.2.2 Unidade Sorocaba

Assim como na unidade de Diadema, o problema, entendido pelo Sindicato

de trabalhadores como “desvio de função”, aparece também em Sorocaba. Mesmo

considerando o salário da DANA bom, comparado ao de outras empresas da mesma

categoria, os funcionários contestam o fato de que muitas vezes desempenham funções

que não são aquelas relativas à competência empregatícia, ou seja, muitos

trabalhadores acabam exercendo atividades mais complexas e difíceis do que as

atividades para as quais foram contratados. O problema do ponto de vista dos

trabalhadores não é desempenhar uma nova função, mas sim, receber atribuições que

exigem maior responsabilidade, não sendo remunerados e registrados como tal. A

estratégia produtiva da DANA exige funcionários multifuncionais, porém a empresa

41

não oferece um plano de cargos e salários compatíveis com sua gestão.

Atualmente, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região está sem

representação na planta da DANA. O problema não é decorrente de algum tipo de

impedimento legal, mas de transição de representante. Enquanto não se define o

nome do novo dirigente sindical, os trabalhadores se mantêm informados sobre as

ações da empresa, através do acompanhamento dos folhetos informativos, entregues

pelo Sindicato na porta da empresa e nas negociações anuais entre a empresa e o

Sindicato, para definir a Convenção Coletiva de Trabalho.

A implementação da PPR para os trabalhadores da unidade de Sorocaba foi

decorrente do trabalho sindical que garantiu a formação de uma Comissão de PPR com

representantes tanto da empresa quanto do Sindicato.

O banco de horas é somente para os trabalhadores da parte administrativa,

apesar de a Convenção Coletiva prever para esta unidade o pagamento de horas extras

remuneradas. Todavia, a hora-extra é algo constante na vida de muitos trabalhadores

da produção, já que sofrem, constantemente, pressão da chefia para que a produção

não pare ou diminua, alcançando assim, o cumprimento das metas e dos prazos

estabelecidos pela empresa.

Horas-extras é quase uma obrigatoriedade, chegando o funcionário a trabalhar quase todos os dias do mês. Tirando o nosso lazer, o tempo de ficar com a família nos dias de descanso. A empresa coloca o funcionário num beco sem saída, pois o trabalhador se sente acuado, com medo de perder seu emprego, caso não faça as horas-extras exigidas pela empresa, que alega o não atraso de produção e entrega.

Com base nas informações acima, pode-se entender que, assim como em

Diadema, nessa unidade da DCN, há negociação da empresa como sindicato.

5.2.3 Unidade de Gravataí

A Convenção Coletiva do Trabalho para Porto alegre e Região não se aplica

a esta Unidade, visto o problema da disputa sindical.

Quanto aos salários pagos na empresa, os trabalhadores o consideram o

42

maior, comparado aos que são pagos por outras empresas do mesmo setor e da mesma

região.

Em relação a PPR existe uma comissão para discutir com a empresa a meta

de desenvolvimento estabelecida pela DANA no âmbito corporacional. O Sindicato

também não participa dessa comissão.

5.3 DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

Duas convenções da OIT tratam da igualdade e não discriminação no

trabalho, a saber, a Convenção nº 100, sobre a Igualdade de Remuneração, de 1951, e

a Convenção nº 111, sobre a Discriminação (emprego e profissão), de 1958.

A temática da discriminação esteve, praticamente, ausente das Oficinas

Sindicais realizadas com os trabalhadores e dirigentes sindicais da DANA nas três

unidades observadas.

Os relatos dos participantes não foram unânimes quanto à questão da

discriminação. Alguns trabalhadores afirmaram não haver qualquer tipo de

discriminação na empresa, já outros ressaltaram problemas como o assédio moral no

trabalho e discriminação de trabalhadores lesionados e/ou que sofrem algum tipo de

acidente de trabalho, além da discriminação por cor/ raça.

Nas três unidades, as informações obtidas apontam que os critérios de promoção

aos cargos de chefia ou gerência na DANA consideram as seguintes atribuições dos

funcionários: formação escolar e técnica, dedicação à empresa, experiência adquirida no

trabalho e, de preferência, não sindicalizados. Além disso, destacou-se que a promoção

profissional com aumento salarial real é definida mais por aspectos de afinidades pessoais da

chefia direta para com seu funcionário e menos por critérios exclusivos de profissionalismo e

competência.

Ressaltou-se que, raramente, se encontra um chefe negro ou pardo, porém

não existe alguma queixa, reclamação ou ação judicial contra a empresa por

discriminação por motivos de sexo ou cor/raça. No entanto, a proporção de negros e

43

mulheres, ocupando cargos de chefia nas unidades da empresa, não corresponde ao

perfil do conjunto dos empregados, principalmente no setor administrativo.

A produção é muito masculina, quase não há mulheres, mas nos setores administrativos há um número muito grande de trabalhadoras e na chefia não se vê muita mulher por lá. Elas existem, mas não correspondem à realidade percentual daqueles setores. Na produção onde se encontram muitos homens negros, também não se vê chefes negros .

A empresa não parece desenvolver atividades ou programas, promovendo a

igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, brancos e negros, para ocupação

dos altos cargos, com qualificação e ascensão profissional.

A empresa não desenvolve atividades ou programas que promovam a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, brancos e negros, para ocupação dos cargos, para a qualificação e para a ascensão profissional. O que ocorre é uma relação entre a célula (autônoma) de trabalho e a gerência, que promove pressão para o alcance das metas, diminuindo assim, a solidariedade entre os trabalhadores no ambiente de trabalho. E quando há mulher grávida na produção e ela tem que se afastar, sua produção é passada para os outros funcionários de seu setor, aumento assim, a carga horária de todos.

A pressão é sempre feita na parte operacional. Isso inclui o funcionário que

apresenta problemas relacionados à saúde; ele passa a ser discriminado por seus

colegas de trabalho. Há problemas em relação a alguns trabalhadores afastados que, ao

retornarem (com um certificado de limitações de esforços) à empresa, são expostos em

posição de humilhação, já que não poderiam desempenhar a função que, anteriormente

ao afastamento lhe era destinada; isto faz com que ele “prejudique” o trabalho de outro

colega funcionário, que, conseqüentemente, receberá pressão para a realização e

eficácia na sua produção.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC-Regional de Diadema foi o único que

se expressou quanto à inclusão de solicitações específicas das mulheres na pauta de

reivindicações, relativas à discriminação no trabalho; todavia o Sindicato, ainda, não

promoveu movimentos, visando atender essas demandas específicas das mulheres que

trabalham na empresa, apesar de haver na Regional uma comissão de mulheres no

Sindicato que, infelizmente, não atua na empresa DANA.

44

5.4 TRABALHO INFANTIL

A empresa não emprega adolescentes com idade inferior a 16 anos, nem

adolescentes com menos de 18 anos de idade para trabalhar em atividades

consideradas perigosas ou penosas, conforme informações do Sindicato.

Os adolescentes menores de 16 anos empregados pela empresa, geralmente,

trabalham vinculados aos projetos sociais da empresa, ocupando funções de mensageiros e

guardinhas.

Os sindicatos não têm informações se a empresa exige de seus fornecedores

o não emprego de crianças na produção.

5.5 TRABALHO FORÇADO

Nas entrevistas com os dirigentes e trabalhadores não se constatou algum

tipo de inferência que pudesse ter alguma relação com esta temática.

Os sindicatos são pouco informados pela empresa quanto às exigências aos

seus fornecedores. Com base em informações do website da DANA na Internet, a

empresa se demonstra bastante exigente em relação aos seus fornecedores. Todos ,

aparentemente, devem cumprir regras da Legislação Nacional relativas ao trabalho. No

entanto, não foi encontrado algum tipo de referência quanto às exigências às empresas

prestadoras de serviço.

5.6 SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO

O percentual dos membros da CIPA, eleitos pelos trabalhadores na empresa,

é de 50%, previsto na NR5. É através do contato permanente que o sindicato mantém

os membros eleitos da CIPA.

A empresa não se dispõe a discutir com o Sindicato os problemas e as

reivindicações relacionadas à saúde e segurança no local de trabalho. Além disso, não

45

é do conhecimento dos Sindicatos que a DANA desenvolva em alguma de suas

unidades o PPA (Plano de Prevenção de Acidentes) e/ou PCMSO (Programa de

Controle de Medicina e Saúde Ocupacional). Foi ressaltado, também, que os

treinamentos específicos sobre segurança no trabalho e prevenção de doenças

ocupacionais no trabalho é dado pela CIPA em forma de palestras, durante os horários

de pausas no serviço ou na Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT) ou

quando um novo funcionário é contratado.

Em relação ao recebimento de treinamento específico sobre segurança no

trabalho e prevenção de doenças ocupacionais, a empresa e a CIPA deixam muito a

desejar. A gerência não procura discutir e resolver os problemas relacionados à saúde e

segurança no local de trabalho, sendo a atuação da CIPA bastante limitada. Há muitos

problemas dentro do ambiente de trabalho: iluminação insuficiente, temperatura

desconfortável e falta de ventilação. Faltam equipamentos adequados, como por

exemplo: exaustores - devido a grande quantidade de fumaça em alguns setores da

empresa, a falta de exaustores faz com que a fumaça siga, diretamente, para os rostos

dos funcionários, prejudicando, assim, suas visões e respirações. Estas situações

deveriam ser evitadas porque colocam a saúde dos trabalhadores em constante situação

de risco.

Nas três unidades registraram-se queixas quanto à atuação da CIPA e a falta

de investimento da empresa em programas de prevenção e até mesmo na SIPAT. Os

problemas relacionados à saúde e à segurança no local de trabalho, raramente são

resolvidos pela gerência; estes são passados para a CIPA que, dificilmente, consegue

desenvolver algum tipo de projeto eficiente em virtude da falta de interesse da empresa

no investimento de programas preventivos. Essa atitude também demonstra certo

descaso para com o próprio significado da CIPA dentro da empresa.

No caso de Gravataí, os participantes da Oficina Sindical destacaram atitudes

anti-sindicais da DANA. Mencionaram que se existir alguma suspeita por parte da

chefia, em relação à ligação de um cipeiro com o sindicato, a diretoria da empresa

tenta cercar o funcionário. É sabido, também, que se um cipeiro ou qualquer

46

funcionário tentar expressar os anseios dos trabalhadores, ele pode acabar sendo

punido pela empresa, ou até mesmo ser demitido. A empresa já demitiu funcionário

que estava dentro do período de estabilidade, por isso a atuação da CIPA na DANA

Albarus é entendida muito mais como cumprimento de formalidades, do que uma

entidade de representação dos interesses reais em relação à saúde e segurança dos

trabalhadores.

Segundo os entrevistados, o gasto financeiro da empresa é voltado, muitas

vezes, para o emborrachamento do chão, que “sofre” com os danos causados pelas

empilhadeiras que circulam em locais onde há constante circulação de pessoas,

podendo causar acidentes, já que estas áreas não oferecem o mínimo de proteção.

Programas de reabilitação de funcionários lesionados e mesmo investimentos para

implementar um projeto eficiente de prevenção das doenças ocupacionais não fazem

parte dos pontos privilegiados pela gestão da empresa.

Os funcionários trabalham em máquinas muito antigas, sem muita proteção, pois a empresa evita gastos para a melhoria do desenvolvimento no trabalho, acarretando, assim, as doenças de trabalho.

Quando questionados sobre o respeito dado pela empresa em relação ao

horário de trabalho e aos períodos de descanso dos funcionários, os trabalhadores

demonstraram-se bastante insatisfeitos. O descanso do pessoal da produção é dado,

somente, durante o intervalo da refeição.

A falta de pausas na produção para tomar água, ir ao banheiro, realizar

exercícios físicos, entre outros, foi bastante questionada pelos trabalhadores e

fundamentada através de muitas queixas no decorrer da Oficina Sindical.

Outro ponto ressaltado na Oficina Sindical foi o desrespeito às férias e aos

dias de folgas dos funcionários. Freqüentemente, a empresa manda buscar o

funcionário em sua casa - em dia de descanso - para trabalhar na produção,

principalmente, quando há a necessidade de cumprimento das metas dos contratos com

os compradores de produtos DANA. Alguns entrevistados colocaram em questão o

rodízio para as horas-extras, a fim de que sejam evitadas doenças causadas pelo

47

excesso de trabalho.

A empresa, se tem que funcionar de domingo a domingo, funciona, e cobra que seus funcionários façam horas-extras. Ela não está preocupada se o trabalhador tem família, se tem vida privada, nada, só se preocupa em cumprir suas metas e quem não colaborar pode se preparar para sofrer algum tipo de pressão da chefia.

Em Gravataí, foi destacado que antes de iniciado o impedimento legal de

atuação sindical na região, o intervalo dos trabalhadores seria de meia hora, já que os

funcionários optaram por sair mais cedo do trabalho, conforme firmado pelo Acordo

Coletivo com o Sindicato. Atualmente, este intervalo é de uma hora, conforme

estabelecido pela lei trabalhista brasileira, invalidando a preferência dos trabalhadores,

indicada no antigo Acordo Coletivo com o Sindicato. Por este e outros motivos, a

empresa não se dispõe a discutir com o Sindicato os problemas e as reivindicações

relacionadas à saúde e segurança no local de trabalho. Além disso, não há alguma

cláusula extraída em acordo da empresa com o Sindicato sobre Saúde e Segurança no

Trabalho. O próprio plano de saúde, atualmente, é de origem suspeita: convênio

DANA-MED. Enquanto havia a intervenção sindical nas negociações com a empresa,

o plano de saúde era um; com a disputa sindical e a ausência de representação, a

empresa estabeleceu um novo plano de saúde que, de acordo com as informações

obtidas nos depoimentos, é controlado pelo médico do trabalho que presta serviço

para a empresa. Há limites de uso: os funcionários e seus dependentes recebem cotas

de uso, sendo que todos os exames a serem realizados estão sujeitos à autorização

prévia da prestadora de serviço. E ainda, o uso excedente destas cotas mensais será

pago pelo próprio funcionário. Nas demais unidades a avaliação do plano de saúde foi

boa.

48

Os depoimentos apontaram que as doenças de trabalho mais comum na

DANA são derivadas de LER/DORT (CID-10:M75 / Z57.8)9. A situação dos

trabalhadores lesionados é bastante complicada na DANA, porque a empresa não

considera as lesões provenientes de esforços repetitivos uma doença ocupacional.

Alguns problemas relacionados a essa doença foram “resolvidos” com a implantação da ginástica laboral, a qual o funcionário – se desejar – pode fazer. Não tem prevenção na empresa e o que ocorre é o descaso para com o trabalhador lesionado

Os afastamentos são problemas sérios dentro da empresa. Muitos

funcionários acabam trabalhando doentes, escondendo suas dores para evitar qualquer

tipo de pressão por parte da empresa, a fim de que desocupe a vaga. Na DANA,

existem casos de trabalhadores que preferem trabalhar fazendo fisioterapia, tomando

medicações, a comunicar à chefia o problema ou entrar com um pedido de

afastamento.

Isto ocorre, primeiro, porque existe certa resistência da empresa em

preencher o comunicado de acidente de trabalho, quando o funcionário apresenta

problemas relacionados com LER/DORT. Na opinião dos participantes da oficina, essa

doença ocupacional é considerada crônica, isto é, a pessoa pode estar bem durante

algum tempo, podendo, todavia, ter recaídas e ficar muito tempo afastada e prejudicar

a produção.

Assim, para a empresa, depois de diagnosticada a doença, manter um

funcionário lesionado em seu quadro funcional significa recorrer a custos, já que

muitas vezes o trabalhador afastado por LER/DORT não consegue voltar ao trabalho

9 Classificação Internacional de Doenças na sua 10ª revisão, lesão do ombro em suas derivações por posições forçadas e gestos repetitivos. A L.E.R (Lesões por Esforços Repetitivos) e a denominação DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), foi sugerida em estudo pela Previdência Social, em 1997, para definir ou identificar os distúrbios (desconforto, edemas, inflamações, atrofias, lesões, rompimentos e etc, nos tendões, nervos e músculos dos membros superiores), ocasionados por atividades relacionadas ao trabalho. Tais distúrbios, geralmente, são provocados por fatores relacionados à organização do trabalho, que incluem: esforço repetitivo, jornadas de trabalho extensas, ausência de pausas ou períodos de pausas insuficientes, mobiliário inadequado, posturas inadequadas, estresse, competitividade, pressão psicológica por produtividade e das condições físicas pessoais (sedentarismo e baixa resistência física).

49

exercendo as mesmas funções e, no caso de alocar um trabalhador da produção em

uma função fora da linha de produção, pode ser mais custoso do que demiti-lo ou

deixá-lo afastado, recebendo auxílio doença pago pelo Ministério da Previdência

Social (INSS). O trabalhador lesionado, em alguns casos, pode entrar em depressão

por se sentir tratado, muito mais, como um produto descartável, que a empresa usa até

quando lhe é conveniente, do que propriamente um trabalhador digno como qualquer

outro.

Em segundo lugar, o modelo produtivo da DANA Albarus é o de células

autônomas, isto é, sistema ao qual se atribuem múltiplas responsabilidades para o

trabalhador. Cada membro da célula de produção deve ser criativo, produtivo e

adaptável às atividades que lhe são atribuídas. A idéia, por trás desta concepção, é

eliminar os “especialistas” e implementar um sistema de manufatura flexível. Assim, o

modo de organização da produção por meio de células autônomas tende a responder,

imediatamente, às mudanças de mercados que, atualmente, envolvem a entrega rápida

de variedades de produtos em pequenas quantidades e personalizados de acordo com

as características do comprador. Deste modo, cada trabalhador se torna responsável

pelo sucesso produtivo da célula a qual ele faz parte. O cumprimento das metas de

produção infere responsabilidades individuais aos trabalhadores tanto pelo seu próprio

desempenho, quanto pelo desempenho da célula como um todo. Assim, no caso do

rendimento do trabalhador lesionado sua produtividade será reduzida, ou seja,

automaticamente a produção da célula será comprometida pois, como os demais

companheiros, deverá exercer as múltiplas funções no processo de produção daquela

célula. Conseqüentemente, o trabalhador lesionado acaba sendo visto com “maus

olhos” por seus colegas de trabalho direto, considerado muitas vezes inútil para a

garantia da competitividade produtiva da célula, da qual faz parte, em relação às

demais.

Em terceiro lugar, o próprio trabalhador para evitar os constrangimentos

mencionados anteriormente, em caso de demissão pela DANA, sua aceitação em outra

empresa pode ser comprometida, já que é prática comum no mercado de trabalho brasileiro é

50

a rejeição de vagas para trabalhadores com longos registros de afastamento decorrente de

LER/DORT na carteira profissional de trabalho; geralmente, quando isto ocorre, estes

trabalhadores fazem uma nova carteira de trabalho.

De acordo com os depoimentos, a CIPA participa do processo de emissão da CAT,

mas a empresa evita preencher o cadastro, já que os registros de acidentes no Mistério do

Trabalho e no INSS não beneficiam a imagem da empresa. Sabe-se que o fato de haver muitas

incidências de acidentes e afastamentos em uma empresa, indica problemas de gerenciamento,

podendo colocá-la sob fiscalização e observação federais e de instituições especializadas.

Evitar que os acidentes de trabalho sejam registrados, foi apontado como procedimento típico

da DANA nas três unidades observadas; no entanto, a empresa só não se recusa a preencher a

CAT, quando há gravidade no acidente e tenha sido visto pelos trabalhadores presentes. No

caso de doenças ocupacionais do tipo LER/DORT, há uma briga constante entre os

trabalhadores e a CIPA com a empresa. Os participantes da Oficina ressaltaram, também, os

descasos da gerência da empresa em relação ao fornecimento de CAT para as doenças

ocupacionais.

É muito raro a empresa que reconheça na CAT a lesão por esforços repetitivos como uma doença ocupacional. Até mesmo a falta de treinamento da empresa sobre essas doenças leva ao agravamento delas. O trabalhador começa sentir dor no braço, mas muitas vezes, nem tem idéia que essa dor pode virar uma tendinite; ao ponto que se ele fosse bem informado do assunto, logo ele procuraria ajuda médica e isso poderia até impedir que ele se tornasse um lesionado.

Além do descaso para com este tipo de doença, os trabalhadores ressaltaram que

houve casos em que a empresa DANA não preencheu, corretamente, a CAT, omitindo que o

motivo da doença tivesse sido decorrente do trabalho realizado na fábrica. Assim, os

trabalhadores acabam tendo dificuldades para receber o auxílio doença do INSS, pois não

conseguem provar que suas enfermidades são decorrentes das atividades desempenhadas no

trabalho.

A empresa tenta produzir a descaracterização da CAT; assim, o trabalhador não tem como recorrer aos benefícios que o vincule à doença nem pode mesmo recorrer a uma indenização da empresa pelo dano físico e às vezes emociona, decorrente da doença ocupacional. Enquanto a preocupação da empresa é apenas com os custos que ela pode vir a ter, o trabalhador fica de mãos atadas sem a CAT.”

51

No Brasil, a CAT deve ser preenchida em todos os casos de acidentes -

mesmo sem o afastamento do trabalho, ou com menos de quinze dias de afastamento,

ou nos acidentes de trajeto - sejam os casos de suspeita ou não de doença ocupacional

profissional ou do trabalho. Qualquer acidente, relacionado às doenças de saúde,

causado por atividade laboral é tido, legalmente, como acidente do trabalho, incluindo

DORT/LER. Assim, o funcionário após o seu retorno ao trabalho tem garantido - por

doze meses - a manutenção de seu contrato na empresa.

O setor de pessoal da empresa é o responsável pelo preenchimento da CAT.

Na falta de comunicação por parte da empresa, a CAT poderá ser feita pelo próprio

trabalhador ou por seus dependentes, pela entidade sindical competente, pelo médico

que o atendeu ou por qualquer outra autoridade pública. Este documento deve ser

preenchido para que o acidente seja, legalmente, reconhecido pelo INSS, caso

contrário, o trabalhador perderá seu direito de receber auxílio acidente - benefício

assegurado por Lei. A CAT deve ser encaminhada ao INSS, juntamente com o

atestado médico de afastamento de trabalho, tendo o trabalhador o direito de ficar com

uma via deste documento.

A LER enquadra-se no conceito legal de doença do trabalho e seus efeitos jurídicos

são equiparados ao acidente de trabalho, conforme dispõe o Artigo 20 da Lei Federal nº

8.213/91. Assim, pelos motivos enumerados nas Oficinas Sindicais, a DANA parece não dar a

importância devida aos trabalhadores lesionados. A empresa não se preocupa em implementar

e institucionalizar programas de reabilitação dentro da empresa. Além disso, o sistema de

produção de células autônomas causa muito desconforto para o trabalhador lesionado, pois os

outros colegas o discriminam, já que, para alcançar as metas de produção, haverá sobrecarga

na célula.

Apesar de a empresa deixar os EPI’s sempre à disposição e em bom estado,

informando seus funcionários para evitarem acidentes e como agirem caso eles ocorram, sua

atenção em relação às doenças e acidentes relacionados ao trabalho é bastante precária e

insuficiente, já que envolve custos. Neste sentido, a DANA parece não estar disposta a ter

muitos gastos no ambiente de trabalho e no treinamento de seu pessoal.

52

5.7 MEIO AMBIENTE

A DANA Corporation se diz, absolutamente, comprometida com o meio

ambiente e a ecologia, desenvolvendo produtos mais ecológicos, investindo em

tecnologia e pesquisa para a preservação do meio ambiente. Dentro desta preocupação,

exige que seus fornecedores cumpram todos os padrões legais locais, além daqueles

estabelecidos pelas regras de certificação. As unidades de Diadema, Osasco, São

Bernardo do Campo, São Paulo e Sorocaba recebem as certificações do QS 9000, ISO

9001, ISO 9002 e ISO 14001. No sul do país, nos Estados do Rio Grande do Sul e

Paraná, respectivamente, as certificações são as seguintes: QS 9000, ISO 9001, ISO

14001, SOH (Spicer Off-highway) e ISO 9002.

A empresa possui sistema de gestão ambiental, porém, os sindicatos não

recebem e nunca solicitaram informações a este respeito.

A DANA procura desenvolver alguns programas voltados para a preservação

do meioambiente na comunidade, principalmente, o que se refere ao incentivo à coleta

seletiva de lixo. Os resíduos das fábricas são acondicionados em recipientes fechados

na fábrica e recolhidos por empresas especializadas.

Além disso, procura informar seus trabalhadores sobre questões relacionadas

ao meio ambiente e sobre a importância da coleta seletiva do lixo. Juntando-se a isto,

a empresa tem tratamento de esgoto, área verde de preservação e reciclagem de

material; preocupa-se, também, com o barulho que possa causar durante o trabalho no

turno da noite (01h00 às 07h00).

Os participantes das Oficinas Sindicais consideram que a empresa possui um

plano de gestão ambiental muito criterioso - apesar de não ser explicitado de maneira

clara para seus funcionários, eles sabem que este plano existe, mas desconhecem as

regras e as metas almejadas pela empresa. A DANA se preocupa com qualquer tipo de

impacto danoso ao meio ambiente e que coloque em risco os certificados

conquistados. Considerando que haja esta preocupação da DANA em relação ao meio

ambiente, os trabalhadores julgam os treinamentos muito superficiais, voltados

53

somente para o período de auditoria ambiental. Seguindo esta lógica, espera-se, então,

que a empresa se preocupe com o aprofundamento do conhecimento de seus

trabalhadores quanto às suas regras de gestão ambiental, tornando-as evidenciadas em

seu cotidiano.

5.8 RESPONSABILIDADE SOCIAL

Sobre essa temática, estavam disponíveis nas fontes públicas e sindicais

apenas informações muito gerais sobre responsabilidade social da DANA Corporation,

bem como as informações sobre meioambiente. Nos próprios Annuais Reports

consultados, da corporação, não havia nenhuma menção a estas temáticas.

Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, há um projeto social em um restaurante

comunitário, denominado "Prato Popular", que surgiu através da parceira entre a

Prefeitura Municipal e as empresas DANA, Puras e Kaiser. O custo de manutenção do

projeto é de R$ 10mil/mês, e 75% deste montante é abatido do ICMS. Para

implementação do projeto as empresas e a Prefeitura tiveram uma contribuição de R$

100 mil.

No Estado de São Paulo, destacam-se dois projetos voltados à comunidade:

1. Projeto em parceria com a ONG "Anjo Menino": iniciada em 2003, a

parceria tem como meta a minimização da exclusão social na infância;

neste mesmo ano arrecadou cerca de 100 mil bolas que foram

distribuídas nas comunidades carentes. Além disso, houve uma

manifestação na Zona Leste da cidade, organizada pela ONG, no

sentido de mobilizar as pessoas para a importância da campanha da

infância para as crianças.

2. Projeto FORMARE, em parceria com a Fundação Iochpe: é um projeto

de aprendizagem e de profissionalização, voltado para jovens de baixa

renda que estejam cursando o ensino médio. A DANA oferece aos

jovens selecionados um curso de 800 horas dentro da unidade de

54

Osasco. Além do treinamento, os estudantes recebem bolsa-auxílio de

meio salário-mínimo, alimentação, transporte, assistência médica e

odontológica, uniforme , material escolar, seguro de vida em grupo e

assistência social e psicológica. As aulas são ministradas pelos

colaboradores da empresa que são treinados pela Fundação, atuando

como educadores-voluntários. A DANA recebe, anualmente, 30

estudantes neste projeto.

Além dos projetos sociais em parcerias, a empresa estimula outros

programas, principalmente, o de arrecadação de dinheiro para distribuição às

entidades assistenciais. Em Osasco se destacam: Lar Plantio do Amor, Lar Bussocaba,

Amamos e Vila Acalanto. A entidade Recanto dos Velhinhos, de Guarulhos, também

foi beneficiada pelo programa.

Em Sorocaba, além do projeto “Formare”, a empresa desenvolve programas

de apoio para crianças, fornecendo auxílio à Creche Nova-Sorocaba.

Os trabalhos voluntários, de modo geral, são incentivados pela empresa, mas a comunicação, o diálogo, para que as ações comunitárias e o voluntariado se tornem mais cotidianos para o trabalhador, ainda, não são bem estimulados pela empresa.

55

6. TERCEIRIZAÇÃO

Nas três unidades da DCN pesquisadas, a mão-de-obra terceirizada utilizada

pela empresa se encontra empregada nos seguintes setores: construção civil,

manutenção, pintura, refeitório, limpeza e áreas de apoio global (suporte).

“A terceirização é só de atividades de suporte. Limpeza e serviços que não é

“core”, que não agregam valor, a empresa terceiriza.”

Os funcionários terceirizados, também, realizam horas-extras, porém,

ganhando muito menos que os trabalhadores efetivos da DCN. Para os trabalhadores

da DCN, os empregados terceirizados são tratados pela empresa de modo diferenciado

dos efetivos. Mesmo em relação ao uso do refeitório na empresa, os terceirizados não

tinham livre acesso. Em Sorocaba, o Sindicato teve que negociar com a empresa o uso

do refeitório pelos trabalhadores terceirizados. As empresas terceirizadas que atuam na

DCN em Sorocaba são: Decisão, Irapuru, MTP, Puras, Comau e Texcoat

A seguir, o quadro 11 apresenta informações a respeito das empresas

terceirizadas que prestam serviço na unidade da DCN, em Diadema.

QUADRO 11: EMPRESAS QUE PRESTAM SERVIÇOS TERCEIRIZADOS PARA DCN NA UNIDADE DE

DIADEMA Empresas Prestadoras de Serviço Número de

Trabalhadores Média Salarial

Califórnia 53 R$ 323 Comau 30 R$ 1.500 Texcoat 42 R$ 500 Mega 12 R$ 600 Irapuru 105 R$ 580 W.A 40 R$ 2.42/Hora

Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC- Regional de Diadema (2004) Elaboração: Instituto Observatório Social

56

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a realização desta pesquisa procuramos levantar informações

preliminares sobre o comportamento sociotrabalhista da empresa DANA no Brasil. As

informações apresentadas não podem ser consideradas conclusivas, já que a intenção

deste documento foi a de levantar as primeiras questões relacionadas ao

comportamento sociotrabalhista da DANA.

A seguir, apresentam-se algumas questões apontadas no decorrer da

pesquisa, indicando a existência de problemas observados nas unidades da empresa

DANA: Gravataí, Sorocaba e Diadema. Neste sentido, ressalta-se a importância de se

elaborar uma análise mais aprofundada e com ampla participação dos sindicatos e dos

trabalhadores, a fim de que haja a composição de um diagnóstico mais completo e

preciso do comportamento sociotrabalhista da DANA, através da execução das

atividades de pesquisa que vão além dos procedimentos da elaboração do MAPA da

EMPRESA. Assim, por meio das Oficinas Sindicais e das informações apresentadas

pelos sindicatos participantes na pesquisa, apontaram-se as seguintes verificações,

conforme as temáticas focalizadas.

Em relação à liberdade sindical e à existência da organização de

trabalhadores no local de trabalho verificou-se que, em cada uma das unidades

analisadas, a situação é bastante diferenciada.

Na unidade de Diadema, a atuação do Sindicato pode ser considerada ativa e

flexível. Existe a possibilidade de se estabelecer um diálogo entre os representantes da

empresa e do sindicato, porém esta relação não é totalmente livre. O acesso dos

dirigentes ao local de trabalho, as reuniões com os trabalhadores, bem como a difusão

de informações sindicais dentro da empresa exigem uma negociação prévia, entre

ambas as partes, limitando a manutenção fluida da liberdade sindical dentro desta

unidade.

No caso de Sorocaba, atualmente, a representação do sindicato está

prejudicada dentro da empresa, devido à ausência de dirigentes sindicais atuando na

57

unidade. No entanto, mesmo quando havia uma representação sindical estabelecida, o

comportamento da empresa foi apontado como sendo desrespeitoso em relação ao

direito de liberdade sindical. Os funcionários, de certa forma, sentem-se pressionados

para não se sindicalizarem ou tornarem-se mais ativos junto ao sindicato. Assim, com

base nas informações obtidas, pode-se entender que, nesta unidade, a liberdade

sindical aparece comprometida por negligência da empresa a respeito do direito

fundamental do trabalho.

No caso de Gravataí, o impedimento legal de atuação do sindicato, em

virtude da disputa sindical pela base regional, favorece um comportamento anti-

sindical e de auto-isenção por parte da empresa, quanto ao respeito ao direito de

representação e de negociação de seus trabalhadores.

Sobre a Negociação Coletiva, destacaram-se algumas atitudes duvidosas da

empresa em relação às horas-extras, desvio de função, falta de um plano de cargos e

salários, entre outras. No entanto, a grande ressalva é em relação às negociações

descentralizadas dos acordos coletivos, característica da própria estrutura sindical

brasileira, isto é, a negociação com a empresa é autônoma e dependente da capacidade

política e de barganha do sindicato local.

Não existe um código de conduta da empresa no Brasil. Além disso, com

base nas informações obtidas através dos trabalhadores entrevistados, sindicatos

consultados e do Centro de Solidariedade da AFL-CIO em São Paulo, a DANA

Corporation parece não adotar um código de conduta no nível corporativo para

gerenciar suas atitudes e comportamentos enquanto uma empresa multinacional.

Assim, a ação gerencial da DANA Corporation aponta para a estratégia de negociação

local , isto é, os acordos são feitos localmente e específicos para cada unidade, na

dependência do poder de negociação dos sindicatos regionais. Esse tipo de estratégia,

de um lado, favorece a negociação localizada e o empenho dos sindicatos regionais, de

outro, isenta a empresa de qualquer responsabilidade para com seus trabalhadores

enquanto corporação multinacional, excusando-se dos compromissos éticos

relacionados à esfera do trabalho.

58

Dentro da temática da discriminação de gênero e raça, apontaram-se

questões relativas à ausência de negros em cargos de chefia, bem como a baixa

representatividade de mulheres trabalhando na produção ou exercendo cargos de

liderança. Junto a isso, destacou-se no caso da DANA, as dificuldades de interação e

inserção dos trabalhadores lesionados no local de trabalho.

A empresa parece não ter nenhum tipo de projeto voltado à promoção da

igualdade e oportunidades iguais para seus trabalhadores. Esse tipo constatação e de

comportamento é bastante comum no meio empresarial, principalmente porque , em

geral, as empresas adotam uma atitude acomodada em relação aos sentimentos sociais

discriminatórios presentes na sociedade - a qual elas estão inseridas - abstendo-se de

introduzir ações que possam romper com tais discriminações.

Para os trabalhadores e trabalhadoras, o local de trabalho é um dos principais

veículos de socialização, principalmente, pelo fato de que homens e mulheres passam

a maior parte de suas vidas dentro do ambiente de trabalho. Neste sentido, é

importante destacar a importância da atuação social da empresa a fim que se

introduzam novas atitudes sociais que possam contribuir para a promoção da

igualdade, minimizando as formas de discriminações.

No Brasil, a idade mínima para contratação de menores é 16 anos. O

emprego de adolescentes com menos de 18 anos para execução de atividades

consideradas penosas, insalubres ou perigosas está vetado por lei. A contratação de

menores de 16 anos é possível, somente, no caso da existência de vagas para

aprendizagem em entidades credenciadas no Ministério do Trabalho.

No caso da DANA, verificou-se que, nas três unidades observadas, a

empresa oferece vagas de aprendizagem para adolescentes, mas os sindicatos não

dispõem de informações sobre a idade exata desses aprendizes nem souberam

confirmar se a empresa está credenciada no Ministério do Trabalho para oferecer

vagas aos menores de 16 anos. Apesar das divergências de informações quanto às

colocações anteriores, houve consenso sobre a inexistência da contratação de menores

de 18 anos para trabalhar nos setores de produção da empresa.

59

Em relação ao Trabalho Forçado, nenhuma das informações coletadas aponta

para sua existência na DANA.

Quanto à saúde e segurança no trabalho, nas Unidades de Diadema,

Sorocaba e Gravataí, as doenças ocupacionais como LER/DORT são as mais comuns

entre os trabalhadores. A problemática dessa doença ocupacional se agrava porque a

empresa parece não enquadrá-la como uma doença originária das atividades repetitivas

do trabalho. Sendo assim, a grande dificuldade para os trabalhadores lesionados é a

abstenção, por parte da empresa, no preenchimento da CAT. Em conseqüência, os

trabalhadores encontram obstáculos para comprovar a doença e garantir seus direitos.

Ademais, o fato de a empresa não admitir a existência de doenças ocupacionais, o

trabalhador não encontra condições eficientes para a sua reabilitação no ambiente de

trabalho, quando há necessidade.

Sobre os treinamentos em SST, verificou-se certa insatisfação por parte dos

trabalhadores quanto à sua abrangência. A empresa parece se deter em treinamentos

superficiais, não dando a atenção necessária para a prevenção de acidentes, correção

de situação de risco etc. Entretanto, a DANA costuma disponibilizar seus

equipamentos de proteção.

No caso da CIPA, em primeiro lugar, identificou-se que sua atuação é

prejudicada pela falta de recursos destinados a seus projetos. Em segundo, a atuação

dos representantes dos trabalhadores acaba sendo submetida às atitudes persuasivas da

empresa.

A empresa parece ter um plano de gestão ambiental, já que as três unidades

observadas são certificadas, porém os trabalhadores desconhecem o seu conteúdo.

Além disso, a DANA desenvolve projetos voltados à preservação do meioambiente,

em especial à reciclagem de lixo e ao tratamento de água e resíduos.

Sobre a temática da responsabilidade social, a empresa procura desenvolver vários

projetos voltados às comunidades locais, com o trabalho voluntariado de seus funcionários e

por meio de parcerias com as prefeituras e outras empresas. Ressalta-se que em relação às

exigências da DANA aos seus fornecedores e prestadores de serviços, os sindicatos não

60

dispunham de qualquer tipo de informação.

A seguir, apresentam-se listados os principais pontos levantados durante a

pesquisa: QUADRO 12: RESUMO DOS PROBLEMAS LEVANTADOS PELA PESQUISA DANA • Problemas de ausência de Liberdade Sindical ; • Negligência da empresa às organizações de representação dos trabalhadores; • Ausência de um plano de Cargos e Salários transparente; • Necessidade de melhoria do convênio médico10; • Maior liberdade de atuação para CIPA; • Ausência de investimento em treinamentos mais eficientes para evitar acidentes de trabalho; • Omissão do preenchimento da CAT quanto às doenças ocupacionais; • Ausência de investimento em infra-estrutura para que os trabalhadores lesionados possam ser reabilitados e menos discriminados no trabalho; • Ausência de uma política para a promoção da igualdade de oportunidades (gênero, raça, lesionado); • Ausência de liberdade de escolha sobre o curso de ensino superior a receber o auxílio da empresa.11 Fonte: Oficinas Sindicais e Informações recolhidas junto aos Sindicatos Elaboração: Instituto Observatório Social

10 A escolha do plano de saúde deveria ser mais criteriosa, procurando oferecer um melhor benefício do que o atual.

11 Muitos funcionários querem cursar o Ensino Superior, mas não conseguem o auxílio de 60% - oferecido pela empresa para o pagamento de mensalidades escolares - porque a empresa prioriza certos cursos de formação em detrimento de outros menos técnicos, dificultando o crescimento profissional e pessoal de todos os trabalhadores de forma igualitária.

61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8.1 Fontes de Acesso Público

www.dana.com

www.dana.com.br

www.newscom.com

Columbia University-Business and Economics Databases

ISI Emerging Markets http://www.columbia.edu/cu/libraries/indexes/isi-emer-markets.html

Business and Company Resource Center http://www.columbia.edu/cu/libraries/indexes/business-res-ctr.html

The Economist Intelligence Unit

http://www.columbia.edu/cu/libraries/indexes/eiu-country.html

Global Insight

http://www.columbia.edu/cu/libraries/indexes/std-poor-dri.html

Market Research Monitor

http://www.columbia.edu/cu/libraries/indexes/mkt-res-monitor.html

Hitt, M.A. & Hoskisson R. & Ireland R.D.(2001): Strategic Management Competitiveness and Globalization. Third Edition. Ed. South-Western College Publishing and International Thomson Publishing Company.

CNM/CUT & DIEESE: Relatório: DANA Corporation no Brasil, Abril de 2001

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ANEXO

PRÊMIOS RECEBIDOS PELA EMPRESA DANA

A DANA Corporation recebeu diretamente 15 prêmios de reconhecimento de diversas organizações, no ano de 2002. O quadro 04, ilustra estas premiações: QUADRO 04: PREMIAÇÕES INTERNACIONAIS DA DANA CORPORATION NO ANO DE 2002 Prêmios Unidade/ Produto/Pessoa

Premiados Local Organização

Premiadora Nissan Quality Master Produtos de Mangueiras e

Tubos - Paris - Tennessee - San Luis

Potosi

NISSAN

Freightliner Master Quality Award Sistemas de Veículos Comerciais (Comercial Vehicle Systems)

- Henderson - Tennesee

Ky & Humboldt

Aftermarket Auto Parts alliance, 2002 Supplier Award

Wix Filtration Products Sem informação AAPA

G M Colmotores Best Supplier Award DANA Corporation Ancom Bucaramanga GM CareQuest Order Fill Award Wix Filtration Products Sem informação CARQUEST CarQuest Vendor of the Year Award Victor Reinz Sem informação CARQUEST Federated Auto Parts Vendor of the Year Award

DANA Corporation Brake e Chassis

Sem informação Federated Auto Parts

O’Reilly Auto Parts Vendor of the Year Wix Filtration Products Sem informação O’Reilly Auto Parts Thomas Edison Award DANA Corporation Ohio State of Ohio International Best Factory Award Sistemas de Veículos for a de

Estrada (Off-Highway Systems)

Arco-Itália International Best Factory

Canadian Quality Award of Excellence Spicer Driveshaft Magog Canadian Quality of Excellence

Michigan Minority Business Development Council’s Corporation of the Year Award

DANA Corporation Ohio Michigan Minority Business Development

Prêmio Mais Award Data Aftermarket Brasil Top Supplier award Automotive Industries Magazine’s Quest For Excelence Award

DANA Corporation Sem informação Automotive Industries Magazine

Fonte: DANA Corporation, Annual Report 2002, in: www.DANA Corporation.com Elaboração: Instituto Observatório Social-Sede São Paulo No Brasil, a empresa recebeu algumas premiações locais, destacando-se as mais recentes: Prêmio AUTODATA, 2003, dado à melhor sistemista; PNQ- Prêmio Nacional de Qualidade 2003