mapa da intolerância religiosa

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O mapa da intolerância INTOLERANTE

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MAPA DA INTOLERNCIA RELIGIOSA - 2011 Violao ao Direito de Culto no BrasilMarcio Alexandre M. Gualberto

Deus to grande que no cabe entre quatro paredes, por isso que creio que Ele ou Ela pode se manifestar de diferentes formas a distintas culturas

CrditosMapa da Intolerncia Religiosa Violao ao Direito de Culto no Brasil - 2011Autor: Marcio Alexandre M. Gualberto Realizao: Associao Afro-Brasileira Movimento de Amor ao Prximo (Aamap) Apoio: Coordenadoria Ecumnica de Sevios (Cese) Parceiros: Coletivo de Entidades Negras (CEN) Cobra Editorao eletrnica: Multiplike - Tecnologia | Informao | Comunicao

SumrioApresentao....................................................................................................................................................05 Mais que tolerncia, exige-se respeito.............................................................................................................07 O por qu de um Mapa sobre intolerncia religiosa........................................................................................09 Intolerncia religiosa - Uma realidade brasileira..............................................................................................11 Arcabouo jurdico de proteo liberdade de culto no Brasil........................................................................19 Casos emblemticos de intolerncia religiosa..................................................................................................39 Santo Daime - A doutrina da floresta...............................................................................................................40 Ataques s imagens sacras so constantes na Igreja Catlica..........................................................................46 Evanglicos sofrem intolerncia, principalmente dos veculos de comunicao.............................................60 O delicado caso das Testemunhas de Jeov.....................................................................................................72 Fatores externos aumentam a discriminao aos muulmanos no Brasil........................................................80 Mesmo respeitada comunidade judaica vtima de intolerncia religiosa.....................................................90 O Movimento Rastafari..................................................................................................................................111 Religies de matrizes africanas......................................................................................................................107 Ensino Religioso - Acordo Brasil/Vaticano privilegia a Igreja Catlica, mas a disputa acirrada...................135 Concluso e uma proposta.............................................................................................................................151 Sobre o autor..................................................................................................................................................154

ApresentaoNa dcada de 1980 do sculo passado o Brasil, a partir do Rio de Janeiro, tomou conhecimento do recrudescimento em potencial da intolerncia religiosa que, mediante proselitismo, beligerantemente atacava a Religio de Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indgena. Uma "guerra santa" em que adeptas/os e os locais de cultos das referidas tradies religiosas eram alvos mais contundentes de sucessivas violncias em logradouros pblicos como das invases dos Templos Afros que prosseguem como num continuum. Desta feita protagonizada pelos pentecostais, e, sobretudo, neopentecostais a sociedade passou a testemunhar o crescimento vertiginoso das novas igrejas que incorporaram na sua teologia ingredientes religiosos que dizem combater dando aos mesmos contornos evanglicos sob a lgica do bem em detrimento do mal associado prosperidade. A estratgia e o marketing adotados como seduo e cooptao demonstram ntido conhecimento do perfil social dos afro-religiosos. O Mapa da Intolerncia Religiosa que temos em mos, organizado por Marcio Alexandre M. Gualberto que contou com a colaborao de pessoas e variados grupos religiosos todo o pas, demonstra que h um contingente de adeptas/os mobilizados contra a intolerncia religiosa que vo do Oiapoque ao Chu. Essa mobilizao demonstra contemporaneamente o grau de politizao e de mobilizao principalmente do Povo de Santo, o contingente mais atingido pela intolerncia religiosa, como veremos ao longo deste Mapa. Este povo de ax e de nguzo, que est indo para as ruas atravs das massivas caminhadas e passeatas denunciar e alardear que no mais suportam resilientemente as atrocidades do racismo cultural e religioso que histrica e secularmente se abate contra uma viso de mundo inclusiva. Mulheres e homens de ax, crianas, jovens de terreiros e os detentores de senioridade inicitica esto vindo a pblico, saindo das suas comunidades-terreiros seja de Candombl, de Batuque, do Xamb, do Nag, do Jeje/Fon, Tambor

de Mina, Fanti Ashanti, da Umbanda, da Quimbanda, da Jurema Sagrada e dos Cultos Indgenas em geral, para atestar que, ao contrrio da teologia xenfoba como pressupostos das tradies judaicas crists, os determinantes teolgicos e filosficos das culturas negras, de matriz africana e/ou afrodescendentes assentam suas territorialidades civilizatrias materiais e simbolicamente onde se inscrevem as Divindades em consonncia com os axiomas da xenofilia em que a alteridade includa incondicionalmente. O Mapa da Intolerncia Religiosa - 2011 (MIR) que no seu bojo traz fundamentos legais que protegem e asseguram a diversidade religiosa, a liberdade de culto entre outros tantos direitos; a exemplo do CBO (Cdigo Brasileiro de Ocupao) que nomeia os ministros de culto religioso das vrias denominaes e crenas do campo religioso brasileiro, se constitui num instrumento valiosssimo. O MIR um instrumento de cidadania de vital importncia para os vivenciadoras/os dos Cultos aos Orixs, Inquices, Voduns, Ancestrais e Antepassados, bem como para os poderes pblicos, os ativistas contra a intolerncia religiosa entre outros setores da sociedade comprometidos com a democracia radical em que o respeito seja o fundamente da convivncia entre os sujeitos sociais e religiosos e no a tolerncia como querem muitos. A tolerncia deve ser banida dos pleitos dos afro-religiosos e exigido, sim, o respeito que deve se materializar no cotidiano das relaes mediante a compreenso poltica e conceitual das invariantes teolgicas e filosficas entre as tradies religiosas da humanidade, tendo em mente que o Sagrado um Todo indivisvel, mas que foi compartimentado pelos grupos humanos em que o iderio da dominao funciona como norteador desse processo em que algumas tradies religiosas se colocam como detentoras nicas dos meios de salvao. O Mapa da Intolerncia Religiosa deve se constituir num instrumento na luta contra a afrotheofobia que vem sendo disseminada pelas denominaes religiosas intolerantes e que est sendo introjetada pela populao e traduzindo-se em violncias das mais variadas naturezas como a semiolgica, semntica, subjetivas e materiais. Esperamos que o Mapa da Intolerncia Religiosa no pare na sua primeira edio, convertendo-se numa srie, adquirindo para sua continuidade com um veculo sistemtico, cuja periodizao adquira sustentabilidade para prosseguir sustentando e balizando a luta contra a intolerncia religiosa at a sua total erradicao, divulgando no s diagnsticos como prognsticos. Jayro Pereira de Jesus Egb run iy

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Mais que tolerncia, exige-se respeitoQuando vi este Mapa da Intolerncia Religiosa - Violao ao Direito de Culto no Brasil se tornando realidade, percebi que o autor colocaria no papel toda a indignao vivida por todos os povos de todas as crenas como um grito reprimido ecoando em algumas pginas deste livro. A idia deste Mapa somar foras e encontrar solues para que a intolerncia religiosa sofrida e vivida nesses ltimos 10 anos - por distintos segmentos religiosos - seja, no s documentada, mas que se aponte caminhos para super-la em nosso pas. importante que seja resgatado, se que um dia houve, o respeito que cada ser humano tem pela liberdade de escolha do outro; um espao que tem a misso de divulgar as afrontas e atrocidades vividos por religiosos de diversas culturas e credos, assegurando o livre arbtrio que a ns foi concedido pelas leis da natureza. Estimulando o autor divulgao desses dramticos acontecimentos, est a busca pela a verdade colocada em forma de documentrio mapeando a diversificao de fatos ocorridos muitas vezes por trs dos bastidores, visando quebrar o paradigma da realidade sem remdio. Este Mapa afirma a todos que no devemos ficar calados e sim ir luta contra a intolerncia religiosa e exigir respeito e, juntos, cada um deve levantar a bandeira de sua crena, de sua f independente de preconceitos, credo e pigmentao de pele. Lutar pelos nossos cultos, nossas histrias, preservando a memria de nossos antepassados acumulada no universo de nossas religies. Acredito que este Mapa cumpre esse papel, ao mesmo tempo em que apresenta denncias, mostra as solues que esto sendo construdas em todo o pas, pois antes de tudo est a f, o amor divindade (tenha ela o nome que tiver), pois o que cada um busca um Deus de amor que nos aceita como somos, apesar de nossos defeitos e nossos preconceitos. Iyalorix Suzane de Oy Presidente da Associao Afro-Brasileira Movimento de Amor ao Prximo (Aamap)

O por qu de um Mapa sobre a intolerncia religiosaEste Mapa da Intolerncia Religiosa - Violao ao Direito de Culto no Brasil a primeira tentativa, em mbito nacional, de sistematizar a problemtica do desrespeito e da discriminao religiosa em nosso pas nos ltimos 10 anos. Este no um trabalho cientfico; ele prima muito mais por um vis jornalstico e, ao mesmo tempo, traz em si a experincia acumulada que temos em produes de relatrios de violao dos direitos humanos econmicos, sociais e culturais. Este Mapa da Intolerncia Religiosa nasce do desejo de vrias pessoas e organizaes que ao longo da ltima dcada empreenderam aes no pas inteiro de combate ao desrespeito religioso que flagrantemente cometido por indivduos, instituies e pelos prprios rgos do Estado, inclusive aqueles que teriam como papel fundamental proteger o direito de culto no pas: o aparato de segurana pblica, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio. A compreenso que temos que a intolerncia religiosa no vem crescendo ao longo dos anos, o que, de fato vem aumentando o nvel de conscientizao daqueles que so atingidos por ela para ir em busca de seus direitos e denunciar a intolerncia que sofrem. Tem sido assim no pas inteiro e, medida em que novas ferramentas de proteo e coero intolerncia religiosa so colocadas disposio daqueles que so discriminados, maiores se tornam os casos de denncias. Poucas, no entanto, tm sido as punies. O fato de a intolerncia religiosa caminhar de mos dadas com o racismo provoca, muitas vezes nos rgos responsveis por fiscalizar e punir, certa lenincia, no porque a intolerncia no deva ser combatida, mas porque estes rgos ainda so incapazes de lidar de maneira eficaz com os temas ligados ao racismo. Por outro lado, percebemos que h avanos significativos. Tanto no mbito da sociedade civil, quanto no mbito do Estado brasileiro. So ainda tmidos, verdade, mas so importantes uma vez que se tornem paradigmticos. No mbito da sociedade civil, percebe-se um replicar de iniciativas exitosas que vo de nordeste a sudeste, cruzando tambm pelo sul e pelo norte. Essas iniciativas, muitas das vezes encabeadas por uma ou outra organizao, imediatamente passam a ser de carter coletivo, quando outros grupos, de maneira positiva, se apropriam de determinadas aes e as adaptam sua realidade local.

Este Mapa da Intolerncia Religiosa - Violao ao Direito de Culto no Brasil, nos far perceber que pau que d em Chico, tambm d em Francisco, ou seja, quando se fala em intolerncia religiosa, ningum santo, todos os segmentos se ferem e todos atiram em algum, alm do notrio fogo amigo onde muitas vezes a intolerncia religiosa at mais forte interna que externamente. Tal como o racismo que gera reaes que muitas vezes acabam por gerar outra lgica racista, a intolerncia religiosa cria mecanismos de proteo to heterodoxos que muitas das vezes a soluo encontrada partir para o ataque como forma de defesa. Infelizmente intolerncia religiosa faz mal sade, cria mal-estar e em casos extremos gera at morte. Este Mapa da Intolerncia Religiosa falar disso. Mostrar que em determinados nveis, a ignorncia e o fundamentalismo so to fortes e poderosos que em nome de Deus se perpetram violncias extremas, muitas vezes at contra o prprio sangue, como o caso de um pai que praticamente espancou a filha at a morte para que ela seguisse os preceitos de sua igreja. Por mais dura que seja a realidade, e ela de fato , este Mapa da Intolerncia tambm aponta caminhos ligados esperana de unidade na diversidade. Mostrar iniciativas exitosas de dilogos interreligiosos e de iniciativas comuns que esto sendo construdas no pas inteiro, envolvendo os mais distintos segmentos religiosos. So iniciativas que vm somando foras e dando uma nova perspectiva luta contra a intolerncia religiosa. So aes de carter pedaggico, de tomada de conscincia, reforo da auto-estima e mais que tudo, extremamente propositivos, avanando na perspectiva de que no basta apenas denunciar, necessrio tambm propor aes concretas e exemplares. Este Mapa da Intolerncia Religiosa - Violao ao Direito de Culto no Brasil s possvel graas ao apoio de pessoas e organizaes que, no pas inteiro, ao longo dos ltimos anos vem se empenhando em construir novos olhares, novas aes e novas formas de fazer poltica e fazer religio, mesmo quando muitos dizem ser impossvel conciliar uma com a outra. Teramos muitos nomes a citar, de companheiras e companheiros de armas, de estradas e de pesquisas, mas ao falar de alguns, com certeza esqueceramos tantos outros, portanto, para no ser injusto com ningum, deixamos aqui um agradecimento coletivo a todos e a todas que contriburam e contribuem para este nosso trabalho. O Mapa da Intolerncia Religiosa - Violao ao Direito de Culto no Brasil no se resume apenas sua verso impressa. Um website, estar, a partir de agora, permanentemente aberto ao recebimento de denncias de intolerncia religiosa em todo o pas. Este website encaminhar essas denncias aos rgos competentes e tambm acompanhar seus desdobramentos. Far tambm o

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movimento contrrio, ou seja, receber do poder pblico e da sociedade civil as aes realizadas em defesa da liberdade religiosa no Brasil. Este Mapa da Intolerncia Religiosa ser anual. Se este primeiro sistematiza as informaes coletadas nos ltimos dez anos, os prximos trataro dos casos pertinentes quele ano e sempre buscaro ampliar o arco de informaes visando cada vez mais capacitar a sociedade civil e o poder pblico a lidar com esta questo. Por causa do espao, no nos foi possvel relacionar todos os casos de intolerncia religiosa ocorridos nos ltimos 10 anos no pas; temos essas informaes, elas estaro no site, mas optamos aqui por citar apenas os casos emblemticos, aqueles que trazem em si vrios elementos que nos fazem refletir sobre os qus e por qus da intolerncia. Cada captulo assim dividido: um histrico do segmento religioso, os casos de intolerncia, um texto analtico de autores ligados temtica em questo e os comentrio do autor do Mapa. Esta metodologia nos permite compreender um pouco da viso que traz cada religiosidade em si e de como seus praticantes vem e lidam com a intolerncia religiosa. Como esta uma primeira experincia em sistematizar estas informaes, no estamos aqui presos a um rigor cientfico que gere amarras publicao; pelo contrrio, este Mapa tem o intuito de ser compreendido tanto pela academia, quanto pela populao em geral; queremos que ele sirva tanto para os religiosos, quanto para alunos dos bancos escolares e universitrios. Enfim, este Mapa da Intolerncia Religiosa visa, antes de tudo, despertar a sociedade para uma situao que inaceitvel e que, para ser superada carece de mobilizao de toda a sociedade pois a intolerncia religiosa, o preconceito e o racismo fere a quem sofre, mas fere o pas naquilo que lhe mais caro que a diversidade tnico-cultural e religiosa de seu povo. Faam, portanto, uma boa leitura!

Marcio Alexandre M. Gualberto

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Intolerncia religiosa Uma realidade brasileiraSegundo a Wikipedia intolerncia religiosa um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenas ou crenas religiosas de terceiros. Poder ter origem nas prprias crenas religiosas de algum ou ser motivada pela intolerncia contra as crenas e prticas religiosas de outrem. A intolerncia religiosa pode resultar em perseguio religiosa e ambas tm sido comuns atravs da histria. A maioria dos grupos religiosos j passou por tal situao numa poca ou noutra. A caracterstica mais marcante da intolerncia a perseguio religiosa que consiste numa constante e permanente desqualificao da religiosidade do outro, descambando muitas vezes para a ofensa em palavras ou at mesmo a agresso fsica. Neste sentido podemos dizer que prises ilegais, espancamentos, torturas, execuo injustificada, negao de benefcios e de direitos e liberdades civis, agresses verbais, ataques a templos religiosos, destruio da propriedade, expulso de seus praticantes, incitamento ao dio, constituem-se em flagrante intolerncia religiosa e, pior, atingem diretamente a premissa inviolvel do direito de culto manifesto na Constituio Federal de 1988. A intolerncia religiosa no um fenmeno recente. Pelo contrrio, desde o incio dos tempos, quando se fala em religio, automaticamente fala-se em intolerncia religiosa. Se por um lado, os praticantes de uma religio x so discriminados por pratic-la, por outro comum, encontrar na histria que esses mesmos perseguidos discriminaram aqueles que no professavam a sua f ou mesmo no tinham f alguma. Ainda, segundo a Wikipedia, um exemplo de intolerncia religiosa na Antigidade, a perseguio dos primeiros cristos pelos judeus e pagos (posteriormente, os cristos usariam mtodos semelhantes contra seus antigos perseguidores). Ou seja, os judeus acabaram por se tornar o principal alvo da perseguio religiosa empreendida pelos cristos na antiguidade, fazendo com que at os dias atuais, as pechas impingidas aos judeus pelos cristos continuem vivas no mundo inteiro.

Vale lembrar ainda que a Santa Inquisio - instituies e movimentos que visavam suprimir a heresia do seio da Igreja e que, entre e idas e vindas durou quase mil anos - estabeleceu uma implacvel perseguio a todos aqueles que no se declaravam cristos, tendo em sua triste histria um captulo trgico de perseguio s mulheres, denominadas, pela Inquisio quase sempre como bruxas. Esta viso, condenando tudo aquilo que no fosse cristo como hertico que permitiu e, na verdade, afianou, todo o processo de mercantilizao da vida humana que desembocou no maior crime da histria: a escravizao dos povos africanos. Nesta perspectiva, o negro, hereje, pago, no tinha alma, no era filho de Deus, em ltima anlise, no era nem mesmo um ser humano podendo, portanto, ser transformado em objeto, coisa, mo-de-obra escrava, enfim. Percebe-se, portanto, que intolerncia religiosa e racismo so primos-irmos, caminham juntos, trafegam na mesma via, trazendo em si uma viso supremacista que estabelece com o outro uma lgica de subalternizao e, ao mesmo tempo de desqualificao e do no reconhecimento. Essa viso, quando se radicaliza gera violncia, violncia esta que justifica pela vontade de Deus em extirpar da Terra aquele grupo que no professa da mesma f ou que de outro grupo tnico. Essa perspectiva, que l atrs justificou a Escravido, justificou no sculo XX o Holocausto, quando milhes de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes fsicos e mentais foram mortos, por no se adequarem ao iderio ariano de Adolf Hitler. Durante o ano de 1936, os lderes nazis comeam a abandonar a "cristandade alem" ou o que tambm se designava por cristianismo positivo. ento que Goebbels apresenta o Nazismo como se fosse uma religio a ser respeitada - havia uma nova f alem a defender. Enquanto von Schirach tentava imbuir na Juventude Hitleriana a admirao pelas antigas tribos pags, o Movimento da F Germnica (Deutsche Glaubensbewegung, DGB) fazia o grosso da propaganda. O DGB tinha como profeta Jakob Wilhelm Hauer (1881-1962), professor de Teologia em Tbingen, que pregava a ideia de uma f ariana dos alemes. No livro Deutsche Gottschau, Hauer defendia que a histria da Alemanha era mais do que mera sequncia de factos, havendo na sua base uma Divindade que encarnava o esprito da raa ariana, ou seja, a para justificar o nazismo, havia uma base de religiosidade e f que o cristianismo no abarcava mais, era necessrio, portanto, se criar uma nova religio, algo que expressasse o tom divino daquilo que o nazismo trazia em si. No Brasil, um captulo especial da intolerncia religiosa dedicado s religies de matrizes africanas. Os cultos afro-brasileiros foram

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perseguidos e criminalizados durante longo perodo da histria brasileira e so, at hoje o alvo principal desta intolerncia em nossa histria recente. Sendo o Brasil um pas de maioria catlica, a prtica religiosa negra foi duramente perseguida pelas delegacias de costumes at a dcada de 1960. A perseguio prtica religiosa de matriz africana fez surgir um fenmeno chamado sincretismo religioso, instrumento pelo qual os negros, para disfarar sua prtica religiosa, adotaram para si elementos da f catlica e os mesclaram com sua prpria religiosidade transformando assim Oxal em Jesus Cristo, Ians em Santa Brbara, Xang em So Gernimo e por a vai. J os evanglicos tambm se consideram afetados pela intolerncia e perseguio religiosa no Brasil. famosa a fala da apresentadora Hebe Camargo que numa entrevista, ao ser perguntada sobre a proposta recebida para trabalhar na TV Record, declarou: Quando tive a proposta fiquei balanada, at falei com o Silvio. Mas a Record da Igreja Universal. A minha Nossa Senhora de Ftima no poderia entrar l, assim como a minha Nossa Senhora Aparecida. E eu sou muito amiga delas. No poderia deix-las na porta. Eu s vezes me pergunto como as igrejas evanglicas conseguem fazer lavagem cerebral em milhares de pessoas. Os fiis ficam completamente obcecados e no percebem que esto deixando os pastores cada vez mais ricos custa desse mensalinho do demnio. Eu no acredito absolutamente naquilo. F, a gente tem sem explicar. O que eles fazem so promessas vazias, agem como os polticos. So recorrentes as queixas de evanglicos, como um todo, e de pentecostais em particular, que reclamam que sofrem intolerncia religiosa, seja pelas suas vestimentas, seja por serem criticados por darem o dzimo, ou at mesmo por professarem publicamente sua f, como o caso do jogador Kak que j foi, mais de uma vez, satirizado em programas humorsticos ou atacado diretamente por comentaristas esportivos, artistas e celebridades, por ser evanglico e contribuir anualmente com mais de 2,5 milhes de reais para sua igreja, da qual se afastou agora devido s denncias envolvendo seus pastores, tanto de mal uso dos recursos amealhados de seus fiis, quanto da administrao dos templos, como foi o caso em So Paulo, no ano passado onde um teto caiu e s no matou vrias pessoas porque o culto havia acabado alguns minutos antes.. No entanto, muitas das vezes aquilo que taxado como intolerncia religiosa, so, na verdade, casos de crticas religies, crticas estas protegidas pela Constituio Federal que permite o direito livre expresso, havendo a uma linha tnue e delicada entre o que

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crtica e o que intolerncia, cabendo, assim, extremo cuidado ao se expressar uma, para no cair na acusao de outra. Portanto, criticar a prtica religiosa do outro no necessariamente intolerncia religiosa, no mximo no ser de bom tom. Afinal, como toda criana brasileira cresce ouvindo, no se deve discutir futebol, poltica e religio, pois sobre estes temas, cada um tem sua opinio formada e essa opinio deve ser aceita. Curiosamente, no entanto, so estes os trs temas que mais apaixonam o brasileiro e os que mais geram discusses, quase sempre infrutferas e na maioria das vezes, sem fim. Fundamentos teolgicos da intolerncia religiosa Tal como o Judasmo e o Isl, o cristianismo nasce da premissa de um Deus nico, que suplantaria todos os deuses e todas as crenas. Portanto, "converter" os outros, dizer a eles que suas crenas so equivocadas e que somente a crena no Deus nico correta algo da gnese crist. Essa base teolgica do cristianismo se mantm mesmo com as grandes divises de 1054 (quando o patriarca de Constantinopla, Miguel Keroularios rompe com o Vaticano por no reconhecer a autoridade papal) e 1517 (com a Reforma Protestante, de Martinho Lutero). Manter-se- inalterada, tambm, com as divises subsequentes que cindiro o cristianismo entre catlicos e reformados (protestantes) e, posteriormente, pentecostais, neopentecostais entre outros grupos menores. No entanto, no sculo XX surgir a idia de que possvel resgatar a unidade dos cristos a partir do movimento ecumnico (palavra que vem do termo grego oikomene, significando "mundo habitado" ou, "aquilo que pertence a este mundo"). O movimento ecumnico dar origem, em 1948 ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), rgo que agrega mais de 350 tradies crists e ter na Amrica Latina o Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai), como seu representante e, no Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Crists - Conic. Ser no seio do movimento ecumnico que surgiro discusses importantes como os limites do ecumenismo e a necessidade de dialogar com outras tradies religiosas alm das crists, o que gerar o dilogo interreligioso ou a concepo de macroecumenismo, que, em algum momento foi demais at para os setores mais esclarecidos do movimento ecumnico. Nos ltimos anos o movimento ecumnico vem se enfraquecendo e, concomitantemente, o que se v um crescimento vertiginoso das igrejas neopentecostais e com ele um recrudescimento da intolerncia religiosa, principalmente contra as religies de matrizes africanas, notadamente o candombl.

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Entender o por qu no s da intolerncia, mas tambm dos ataques virulentos que sofrem as religies de matrizes africanas nos levam a pensar em trs fatores: Fragilidade institucional - Quando em 1995 o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Srgio von Helder chutou uma imagem de Nossa Senhora, os catlicos reagiram imediatamente. Templos da Iurd foram atacados, parlamentares catlicos pediram a cassao da Rede Record, qual o bispo Edir Macedo j havia adquirido em 1990, isso sem contar que os poderosos veculos de comunicao que nunca foram simpticos Iurd divulgaram ao mximo o acontecido, ajudando a arranhar a imagem da igreja que j vinha sendo desgastada por uma srie de denncias que iam do charlatanismo explorao financeira dos fiis. O mesmo no se d com as religies de matriz africana. De fato, o candombl no tem a fora politica da Igreja Catlica, seus fiis no so tantos assim para ir a um embate direto com os membros da Iurd e mesmo os parlamentares que frequentam terreiros muitas vezes tm vergonha de assumir de pblico sua f e a religio fica relegada a um segundo plano. Apesar de que ultimamente visvel um avano nesse sentido. No incio da nova legislatura do Congresso Nacional, de 2011, foi criada uma Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiro, sem dvida uma vitria importante na luta contra a intolerncia religiosa e a defesa das religies de matrizes africanas. M formao teolgica e falta de controle - Na concepo teolgica das igrejas pentecostais basta que um homem ou mulher, mesmo que tenho 8 anos de idade, seja inspirado pelo Esprito Santo, que estar apto a se tornar um pastor, um pregador, um evangelista. Com isso h uma profuso de pessoas que fazem uma leitura fundamentalista da Bblia e perpetram verdadeiros absurdos em nome do Cristo. Uma vez que o Estado laico, no h no Brasil nenhum rgo fiscalizador da atividade pastoral. Isso tambm nunca interessou nem aos catlicos, nem aos protestantes e, muito menos, aos pentecostais. Dessa forma, verdadeiras colchas de retalhos teolgicas so construdas e as mais loucas concepes so passadas para os fiis como verdades divinas. So concepes ignorantes que acabam por gerar vises arrogantes sobre os outros, principalmente aqueles que, para eles devem ser combatidos como os grandes inimigos, ou seja, aqueles que, de certa forma, esto muito prximos ou so parte do mesmo pblico que disputam.

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O que nos leva ao terceiro fator, denominado de: Economia de mercado - e a talvez resida o grande elemento diferenciador entre o catolicismo, o protestantismo e as igrejas pentecostais e neopentecostais no que diz respeito relao com as religies de matriz africana, notadamente o candombl nos dias atuais. Fato concreto, que a perseguio s religies de matriz africana nunca foi exclusividade de um ou outro ramo cristo. Todos, sem exceo, em algum momento mais, ou menos, desqualificou, perseguiu, vilipendiou, coisificou ou demonizou as religies de matrizes africanas. No algo novo e no recente a idia de que Exu o demnio e que os Orixs seriam pura feitiaria. Est a o sincretismo religioso como prova, como herana do que tiveram que fazer os antigos para preservar sua f. A diferena que essa questo deixou de ser doutrinria, deixou de ser teolgica e passou a ser disputa por mercado. Afinal, como se diz popularmente no Brasil todo mundo frequenta terreiro e todo mundo bate tambor. No entanto, h um pblico mais especfico que est em disputa. Note-se que as igrejas neopentecostais instalam-se em lugares onde raramente os catlicos ou protestantes esto, mas onde, com certeza, existe uma casa de Ax. Ali se instalam e comeam a disputar o pblico. E onde est esse pblico? Nas comunidades de baixa renda, nos quilombos, nas periferias, nos bolses de pobreza do pas onde grassa a ignorncia e onde a explicao de que o demnio o responsvel pela misria, pela pobreza bem-vinda como metfora de que se as pessoas so boas e no vivem bem porque algo est errado. Portanto, nada melhor que colocar o diabo na sala. A firme convico que tm os evanglicos, principalmente os neopentecostais, de que somente sua viso religiosa a certa, a verdadeira, j implica numa concepo preconceituosa e racista na qual as religies afro-brasileiras so taxadas de feitiaria, bruxaria, macumba e outros termos depreciativos. Os dizeres que circundam os pilares dos viadutos na sada da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, com frases do tipo: "S Jesus expulsa Exu das pessoas", "S Jesus expulsa Ogum das pessoas", "S Jesus expulsa o demnio das pessoas", deixam clara a percepo vigente para estes setores da relao direta que existe entre a religiosidade de matriz africana e a figura do Diabo cristo. A bem da verdade deve-se afirmar sempre que a figura do Diabo, do Canhoto, do Belzebu, uma criao crist. No h no panteo da

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religiosidade afro-brasileira a figura do Coisa Ruim. Houve-se por bem, sincretizar Exu - o Orix mais semelhante s caractersticas humanas - com a figura do Malvolo. Mas quem conhecer um pouquinho que seja da histria e do sincretismo saber que isso funcionou muito mais como estratgia de guerrilha para que a religio de matriz africana se perpetuasse, do que como um dado da realidade. Construindo novas estratgias O desafio que est posto para as religies de matriz africana e para aqueles que, mesmo sem professarem uma f vinculada a essas tradies, as respeitam como espao de resistncia da populao negra no Brasil, que formas devero ser usadas para repelir esses ataques. Da a compreenso de que necessrio no s buscar aes unificadoras como, tambm, ampliar o dilogo para alm dos terreiros. Ou seja, preciso fortalecer para dentro e para fora ao mesmo tempo. Para dentro construindo pontes de dilogos entre os setores da religio que h muito tempo no conversam entre si e aqueles que podem gerar um cinturo de apoio na poltica, na cultura, nas artes e em outros espaos importantes da sociedade. Desenvolver uma ttica de isolamento dos setores que atacam e ao mesmo tempo ampliar conversas com catlicos e protestantes que hoje compreendem a importncia do dilogo inter-religioso e a dimenso macro-ecumnica ser tambm um passo essencial para ampliar o leque de apoio. Essencialmente deve-se pensar na construo de estratgias que no s busquem isolar os setores mais radicais, mas, ao mesmo tempo, construir uma nova imagem e uma nova percepo da religio de matriz africana para o cidado comum. O Candombl uma religio extremamente sofisticada, no para qualquer um, no qualquer pessoa que ter condies de compreender a ritualstica, a liturgia, o encanto, o saber acumulado, a doutrina em to perfeita harmonia com a natureza e com as energias primevas da criao. Portanto, a busca por desqualific-lo como religio ao mesmo tempo a afirmao da dificuldade em compreend-lo. Talvez seja hora do Candombl, tal como faz a Umbanda, tentar se fazer mais compreensvel, mais simples para as pessoas comuns. Isso, claro, sem perder sua essncia, sua raiz, sua fora e seu Ax.

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Unidade na diversidade, isso possvel? Quando em meados dos anos de 1940 o Movimento Ecumnico Internacional comeou a ganhar fora a concepo ecumnica era de que o mximo onde se chegaria seria no dilogo entre os ramos protestantes, o Ortoxo e o Catlico Romano. Nada alm disso. Mais tarde, avanou-se na idia de que era possvel um dilogo entre cristos e muulmanos, entre cristos e budistas e outras tradies religiosas asiticas. No incio dos anos de 1990 a Unio Brasileira de Juventude Ecumnica (Ubraje) comeou a pensar em ampliar este dilogo, no Brasil, para outras tradies que no estas citadas acima. Marco disso, foi a realizao da I Jornada Ecumnica, promovida por Koinonia - Presena Ecumnica e Servio, onde, pela primeira vez, representantes das tradies dos Orixs, participaram de um evento ecumnico de grande porte. Estes momentos ecumnicos sempre se referiram possibilidade de se encontrar a unidade na diversidade. Ou seja, o fato de os grupos religiosos serem diferentes, de adorarem o Sagrado de formas distintas no deveria opor esses grupos como inimigos, como seres que visam cada um seu Deus, mas, pelo contrrio, compreender que Deus em sua magnanimidade poderia ser chamado de Iahweh, de Krishna, de Buda, de Al ou de Olodumare, e mesmo assim continuar sendo um nico Deus. Deus to grande que no cabe entre quatro paredes. Deus to imenso que um nome apenas para ele no basta, pois Deus pode se manifestar de diferentes formas s mais diversas culturas.

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Arcabouo jurdico de proteo liberdade de culto no Brasil*Legislao Internacional e sua relao com a legislao local Ensino Religioso Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, art. 13, item 3 Os estados-partes no presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades pblicas, sempre que atendam aos padres mnimos de ensino prescritos ou aprovados pelo estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educao religiosa ou moral que esteja de acordo com suas prprias convices. Lei de Diretrizes e Bases da Educao, n. 9.394, de 20 de Dezembro de 1996, art. 3o, inciso IV e II. Art. 3 O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; IV - respeito liberdade e apreo tolerncia; Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996 Art. 33. O ensino religioso, de matrcula facultativa, parte integrante da formao bsica do cidado e constitui disciplina dos horrios normais das escolas pblicas de ensino fundamental, assegurado o respeito diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 1 Os sistemas de ensino regulamentaro os procedimentos para a definio dos contedos do ensino religioso e estabelecero as normas para a habilitao e admisso dos professores. 2 Os sistemas de ensino ouviro entidade civil, constituda pelas diferentes denominaes religiosas, para a definio dos contedos do ensino religioso. COMENTRIO: A discusso sobre o ensino religioso envolvida em grandes polmicas e at hoje no se chegou a um consenso sobre esta questo. Pelo Pacto Federativo a educao bsica e fundamental

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de responsabilidade dos municpios e dos estados, cabendo a eles, portanto, regulamentar a legislao sobre este tema. Nos casos em que isso ocorre, o que se v uma sobreposio de vises religiosas quase sempre excludentes. O caso do Rio de Janeiro, durante o governo Rosinha Garotinho sintomtico. Matria da revista poca de 2004 ilustra bem essa questo: Saiba mais sobre a polmica do ensino religioso no Rio de Janeiro A principal diferena entre a lei estadual e a diretriz do MEC que o Estado do Rio prev o ensino confessional, dividido por religies formais, o que no tratado na regulamentao do MEC. O que diz o artigo 33, de 1997, da LDB - Diretrizes e Bases da Educao Nacional do MEC sobre o ensino religioso: Art. 33. O ensino religioso, de matrcula facultativa, parte integrante da formao bsica do cidado e constitui disciplina dos horrios normais das escolas pblicas de ensino fundamental, assegurado o respeito diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. I - Os sistemas de ensino regulamentaro os procedimentos para a definio dos contedos do ensino religioso e estabelecero as normas para a habilitao e admisso dos professores. II - Os sistemas de ensino ouviro entidade civil, constituda pelas diferentes denominaes religiosas, para a definio dos contedos do ensino religioso. O que diz a lei n 3.459, de 14 de setembro de 2000, do deputado Carlos Dias, que passou a valer em maro de 2002, durante o governo de Anthony Garotinho, marido da governadora Rosinha. Essa a lei seguida no Rio de Janeiro.

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Art. 1 - O Ensino Religioso, de matrcula facultativa, parte integrante da formao bsica do cidado e constitui disciplina obrigatria dos horrios normais das escolas pblicas, na Educao Bsica, sendo disponvel na forma confessional de acordo com as preferncias manifestadas pelos responsveis ou pelos prprios alunos a partir de 16 anos, inclusive, assegurado o respeito diversidade cultural e religiosa do Rio de Janeiro, vedadas quaisquer formas de proselitismo. Pargrafo nico - No ato da matrcula, os pais, ou responsveis pelos alunos, devero expressar, se desejarem, que seus filhos ou tutelados freqentem as aulas de Ensino Religioso. Art. 2 - S podero ministrar aulas de Ensino Religioso nas escolas oficiais, professores que atendam s seguintes condies: I - Que tenham registro no MEC, e de preferncia que pertenam aos quadros do Magistrio Pblico Estadual; II -Que tenham sido credenciados pela autoridade religiosa competente, que dever exigir do professor, formao religiosa obtida em Instituio por ela mantida ou reconhecida. Art. 3 - Fica estabelecido que o contedo do ensino religioso atribuio especfica das diversas autoridades religiosas, cabendo ao Estado o dever de apoi-lo integralmente. Art. 4 - A carga horria mnima da disciplina de Ensino Religioso ser estabelecida pelo Conselho Estadual de Educao, dentro das 800 (oitocentas) horas-aulas anuais. Art. 5 - Fica autorizado o Poder Executivo a abrir concurso pblico especfico para a disciplina de Ensino Religioso para suprir a carncia de professores de Ensino Religioso para a regncia de turmas na educao bsica, especial, profissional e na reeducao, nas unidades escolares da Secretaria de Estado de Educao, de Cincia e Tecnologia e de Justia, e demais rgos a critrio do Poder Executivo Estadual.

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Pargrafo nico - A remunerao dos professores concursados obedecer aos mesmos padres remuneratrios de pessoal do quadro permanente do Magistrio Pblico Estadual. A opinio de Roseli Fischmann, professora de ps-graduao em Educao na Universidade de So Paulo (USP): 'Nossa Constituio diz que o ensino religioso obrigatrio no horrio normal das escolas e facultativo para o aluno. No quer dizer que no horrio de aula. E se o Estado laico, no pode se pronunciar sobre religio. Ele no pode, por exemplo, dizer quem est habilitado para dar aula, nem fazer concurso. Isso est passando ao largo da cidadania. Antes, os impostos eram recolhidos em nome de Deus. Mas as coisas mudaram. Hoje, so recolhidos em nome do bem comum. Tem gente que fala que as aulas de ensino religioso so para ensinar valores e comportamentos. Mas isso pode e deve ser tratado ao longo do dia-a-dia da criana, no precisa ser ensinado em uma aula de religio. A religio de mbito privado, da famlia.'' O que diz Guilhermina Rocha, coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe). 'O ensino religioso constitui um gasto para o Estado e no prioridade. O Estado poderia desenvolver outros projetos. fundamental que antes se arrume a casa. A carncia de professores j antiga, mas se no houver vontade poltica ela pode perdurar. Alm disso, o governo no pode achar que os problemas da sociedade civil se resolvem com religio. A realidade de cada aluno diferente. Ser que a f que vai fazer a escola melhorar?'' Fonte: Revista poca - 24 de maio de 2004

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Intolerncia Religiosa Declarao Universal dos Direitos Humanos Artigo II 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, idioma, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio. Artigo XVIII Todo ser humano tem direito liberdade de pensamento, conscincia e religio; este direito inclui a liberdade de mudar de religio ou crena e a liberdade de manifestar essa religio ou crena, pelo ensino, pela prtica, pelo culto e pela observncia, em pblico ou em particular. Legislao nacional - Leis e Direitos Assegurados Direitos Liberdade de Crena e de Culto Constituio Federal CF de 1988, art. 3 , incisos I e VI; art. 4, inciso II; art. 5, incisos VI e VIII; art. 19, inciso I Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidria; V - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao. Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios: II - prevalncia dos direitos humanos; Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias; VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para

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eximir-se de obrigao legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei; Art. 19. vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencion-los, embaraar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relaes de dependncia ou aliana, ressalvada, na forma da lei, a colaborao de interesse pblico; Lei no 4.898 de 9 de dezembro de 1965 "Art. 3. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) liberdade de locomoo; b) inviolabilidade do domiclio; d) liberdade de conscincia e de crena; e) ao livre exerccio do culto religioso; f) liberdade de associao;

COMENTRIO: Cada vez mais crescentes, os casos de intolerncia religiosa comeam a ganhar mais repercusso na mdia e, ao mesmo tempo, o nvel de conscientizao daqueles que so discriminados vem aumentando. Exemplo disso o caso ocorrido em Paty do Alferes, interior do Rio de Janeiro, em que o ru foi condenado a indenizar a vtima. Chamar vizinho de macumbeiro d condenao por intolerncia religiosa Filho de santo Marcelo Gomes dever receber R$ 3 mil de indenizao. Ru, mecnico Mauro Monteiro Pinto, poder recorrer da sentena O filho de santo Marcelo da Silva Gomes entrou com uma ao na Justia contra o seu vizinho, o mecnico Mauro Monteiro Pinto, alegando que foi ofendido sua religio, o candombl, quando ele estava fazendo uma oferenda em Paty de Alferes, no Sul Fluminense. Segundo a sentena, o mecnico teria chamado o filho de santo de macumbeiro e o xingado com palavras de baixo calo.

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A Justia condenou o mecnico Mauro Monteiro Pinto a pagar uma indenizao no valor de R$ 3 mil, como conseqncia aos danos e sofrimentos experimentados pelo filho de santo. O advogado de Marcelo, Carlos Nicodemos, argumenta que todos os indivduos tm o direito liberdade religiosa, sobretudo no Brasil, por se tratar de um estado laico. A juza que concedeu a sentena, Katylene Collyer Pires de Figueiredo, argumentou que a disseminao da intolerncia religiosa em uma comunidade, a toda evidncia, acarretar insegurana social, havendo de ser rigorosamente rechaada. O mecnico pode recorrer da sentena. Fonte: G1 - 5 de novembro de 2011

Discriminao Religiosa Cdigo de Processo Penal art.5, inciso I, 3 Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existncia de infrao penal em que caiba ao pblica poder, verbalmente ou por escrito, comunic-la autoridade policial, e esta, verificada a procedncia das informaes, mandar instaurar inqurito. Lei Ca - Art.1 da LEI 7.716 de janeiro de 1989: Sero punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional. Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminao ou preconceito de raa, cor, etnia, religio ou procedncia nacional. (Redao dada pela Lei n 9.459, de 15/05/97) Pena: recluso de um a trs anos e multa. 2 Se qualquer dos crimes previstos no caput cometido por intermdio dos meios de comunicao social ou publicao de qualquer natureza: (Redao dada pela Lei n 9.459, de 15/05/97) Pena: recluso de dois a cinco anos e multa. 3 No caso do pargrafo anterior, o juiz poder determinar, ouvido o Ministrio Pblico ou a pedido deste, ainda antes do inqurito policial, sob pena de desobedincia: (Redao dada pela Lei n 9.459, de 15/05/97) I - o recolhimento imediato ou a busca e apreenso dos exemplares do material respectivo;

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II - a cessao das respectivas transmisses radiofnicas ou televisivas. 4 Na hiptese do 2, constitui efeito da condenao, aps o trnsito em julgado da deciso, a destruio do material apreendido. (Pargrafo includo pela Lei n 9.459, de 15/05/97) COMENTRIO: Apesar do reconhecimento ao avano da Lei Ca por parte dos juristas e da sociedade brasileira, o fato que sua aplicao est longe da realidade. Ao tratar de crimes ligados discriminao de raa, etnia, credo e procedncia nacional, o que se v que a maioria dos casos so relacionados como injria ou ofensa, no havendo, por parte do aparato de segurana pblica e do judicirio um real conhecimento - ou vontade - ao que se refere aplicao e ao alcance desta lei. Quando esta dificuldade superada, os resultados aparecem quase que de forma imediata. Aumentam denncias contra intolerncia religiosa no Rio At 2008, Lei Ca no constava no sistema de delegacias legais. Segundo delegado, aps mudana, h quase um registro por dia As denncias de ofensa religio vm crescendo no estado do Rio de Janeiro, onde, at novembro de 2008, a Lei Ca, que considera crime a intolerncia religiosa, no estava includa no sistema das delegacias legais. Com a mudana recente, ainda no h nmeros ou estatsticas para mensurar esse movimento, mas, segundo o delegado Henrique Pessoa, coordenador do setor de inteligncia da Polcia Civil, hoje h praticamente um registro por dia nas delegacias do estado. Nessa guerra da f, os seguidores de religies afro-brasileiras so as vtimas mais frequentes. Nos anos anteriores, tnhamos uma limitao do sistema, que no estava atualizado. No tnhamos como fazer o registro como intolerncia religiosa, de acordo com a Lei Ca, explicou o delegado,

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acrescentando que o sistema foi corrigido em novembro de 2008. Com a demonstrao por parte da polcia de que vai apurar os casos, os registros so estimulados e esto aumentando expressivamente. praticamente um por dia. Umbanda e candombl Segundo o delegado, os devotos da umbanda e do candombl esto entre as maiores vtimas. J evanglicos e judeus ainda no apareceram entre os registros. Os adeptos da umbanda e do candombl no esto mais dispostos a apanhar calados. J os judeus sofrem preconceito, mas um preconceito velado. E aumentou muito o respeito pela comunidade judaica tambm. No ltimo dia 19, uma briga entre um pastor evanglico e um candomblecista foi parar na delegacia. O autor da queixa afirmou ter tido uma oferenda destruda por um pastor, enquanto o lder evanglico alegou ter apenas pedido que o material fosse retirado da porta da igreja. O caso agora vai ser investigado pela polcia. Ainda sem condenaes De acordo com a Lei Ca (nmero 7.716), a pena para intolerncia religiosa pode variar de um a trs anos.Mas, no caso de uso da mdia para difundir a intolerncia, pode chegar de trs a cinco anos. Segundo Pessoa, no entanto, ningum at hoje foi condenado pela lei no estado do Rio. Investigao Aqueles que procuram a polcia ainda reclamam que, se antes no havia registro, hoje h registro, mas falta investigao. A simples mudana no sistema de dados significou um avano importante, mas no o suficiente. Deve-se preparar os policiais para lidar com esse tipo de caso, quebrando dogmas em relao religio, diz Carlos Nicodemus, coordenador jurdico da Comisso de Combate Intolerncia

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Religiosa. O importante que o fato seja registrado. Muitas vezes, uma investigao demorada. Parece que no est sendo dada a devida ateno. A polcia s vezes investiga sem condies, por conta do efetivo reduzido, diz o delegado Henrique Pessoa. A Polcia Civil tem todo o interesse de que tudo que chega at ns seja investigado. Associao Religiosa Constituio Federal, art. 5 incisos: XVII - plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a de carter paramilitar; XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao, sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento; XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deciso judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trnsito em julgado; XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a permanecer associado; XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; Cdigo Civil Art. 53. Constituem-se as associaes pela unio de pessoas que se organizem para fins no econmicos. Pargrafo nico. No h, entre os associados, direitos e obrigaes recprocos. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associaes conter: I - a denominao, os fins e a sede da associao; II - os requisitos para a admisso, demisso e excluso dos associados; III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manuteno; V o modo de constituio e de funcionamento dos rgos deliberativos VI - as condies para a alterao das disposies estatutrias e para a dissoluo. VII a forma de gesto administrativa e de aprovao das respectivas contas.

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COMENTRIO: A legislao vigente que trata da legalizao das associaes religiosas no leva em conta particularidades de determinados segmentos religiosos. Com as mudanas na legislao das associaes civis ocorrida no incio da dcada de 2000 uma natural dificuldade de compreenso resultou maiores dificuldades para os segmentos religiosos se associarem. O jornal Brasil Esprita, em sua coluna, Espao Jurdico de dezembro de 2008, fala disso: A Lei 10.406/2002, que instituiu o atual Cdigo Civil Brasileiro, no utilizou, em sua redao original, a expresso templos de qualquer culto, consagrada na Constituio Federal de 1988. Diante disso, as instituies religiosas entenderam, poca, num raciocnio por excluso, que se enquadravam na pessoa jurdica denominada associao, prevista no art. 44 daquele Cdigo, considerando que as outras espcies de pessoa jurdica as fundaes e sociedades no desempenhavam atividades condizentes com as finalidades dos entes religiosos: o estudo e a difuso de seus dogmas. Todavia, os artigos do Cdigo Civil de 2002 que tratavam das associaes continham disposies cogentes (normas de aplicao obrigatria) que alterariam substancialmente a administrao das casas religiosas, podendo-se citar como exemplo aquelas relativas assemblia geral. Diante das dificuldades naturais que surgiriam com o enquadramento dos templos de qualquer culto nos rgidos preceitos estabelecidos pela Lei 10.406/2002, houve forte movimentao por parte de determinados segmentos religiosos no Congresso Nacional, resultando tal feito na edio da Lei 10.825 de 2003, que trouxe grande inovao ao ordenamento jurdico brasileiro: o acrscimo de mais dois incisos no artigo 44 do Cdigo Civil de 2002, para se incluir no rol de pessoas jurdicas as organizaes religiosas e os partidos polticos. No se tem dvida de que as organizaes religiosas so os mesmos templos de qualquer culto citados na Constituio Federal de 1988 e que, por isso, usufruem das garantias consagradas na Carta Magna, principalmente daquelas constantes do art. 5: - inciso VI: inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a suas liturgias; - inciso XVII: plena a liberdade de associao

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para fins lcitos, vedada a de carter paramilitar; e - inciso XVIII: a criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao, sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento. oportuno esclarecer que, embora a Constituio Federal use o termo associao nos incisos acima mencionados, entendimento pacfico, na doutrina e na jurisprudncia, que tais comandos so perfeitamente aplicveis aos templos de qualquer culto/organizaes religiosas. Direitos do Ministro Religioso Previdncia Social Lei n. 8.212 de 24 de julho de 1991 Art. 12. So segurados obrigatrios da Previdncia Social as seguintes pessoas fsicas: V - como contribuinte individual: c) o ministro de confisso religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de congregao ou de ordem religiosa; Lei n. 6.815, de 19 de agosto de 1980 Art. 13. O visto temporrio poder ser concedido ao estrangeiro que pretenda vir ao Brasil: VII - na condio de ministro de confisso religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregao ou ordem religiosa. COMENTRIO: recente o reconhecimento da necessidade de os ministros de outras confisses religiosas que no apenas as crists acessem os direitos garantidos por lei. Poucos sabem que podem acessar esses direitos, e na maioria das vezes, quando buscam faz-lo o prprio Estado que age como agente dificultador a estes direitos. Matria publicada pelo jornal A Tarde ilustra bem essa dificuldade: Sacerdotes tm dificuldade para se aposentar pelo INSS Com base no Decreto n 3048/99, sacerdotes das religies de matrizes africanas, como candombl e umbanda, podem se aposentar na categoria destinada a ministros de confisso religiosa. Mas so

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poucos os que tomam esta deciso. O principal problema a exigncia de recolhimento da contribuio retroativa. Isto porque o decreto tem menos de dez anos e a maioria dos casos so os de pessoas que se dedicaram religio integralmente e no tm como pagar o valor exigido. Uma outra possibilidade de benefcio o estabelecido pela Lei Orgnica de Assistncia Social (Loas) choca-se com uma caracterstica dos terreiros: a vivncia comunitria. Segundo a Loas, pessoas a partir de 65 anos tm direito a receber um salrio mnimo, desde que a renda familiar per capita seja inferior a um quarto do mnimo: R$ 95. No candombl as casas costumam abrigar uma famlia numerosa e a nem todos se enquadram nesta categoria. As religies de matrizes africanas esto assentadas no ncleo familiar e pelos laos de solidariedade. E o Estado brasileiro no reconhece essas especificidades, pois ainda tem uma lgica racista, destaca o advogado e professor da Ufba e de outras instituies, Samuel Vida. Por meio da sua assessoria de comunicao, o Ministrio da Previdncia Social explicou que as regras para os ministros de confisso religiosa so as mesmas. Algumas igrejas empregam seus ministros e recolhem a contribuio. O ministrio no tem levantamento de segurados como ministros religiosos. Regras-Embora o decreto tenha entrado em vigor a partir de 2000 so poucos os sacerdotes dos cultos afro aposentados como ministros de confisso religiosa. Mesmo na Federao Nacional do Culto Afro (Fenacab), que tem divulgado a aposentadoria, os dados no ajudam muito. O babalorix Antnio Arajo dos Santos, 58 anos um dos poucos que foi at o fim. Ex-bancrio, o mais alto sacerdote do terreiro Il Ax Alab Olu Omi, de nao ketu, situado em Paripe, aguarda o clculo de valor do benefcio. Mas conta que a sua batalha foi longa. Deu trabalho e atrasou porque o que vou pagar da contribuio retroativa um valor alto, mesmo parcelando, diz. J Evangelista Carvalho Santos, 72 anos, mais conhecida como Me Vanju de Oxum, com 69 anos de dedicao ao candombl, conta que desistiu da aposentadoria como ministra religiosa. Eu preferi me aposentar como costureira, conta a ialorix do terreiro Il Ax Omi, de

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tradio ketu, localizado em So Marcos. O valor do benefcio no especfico. Varia de caso a caso. O tata de inquice, Anselmo dos Santos, 52 anos, do terreiro Mokambo, de nao angola, j comeou a pagar sua contribuio. Ele quer evitar dificuldades na hora da aposentadoria. Para se dedicar ao candombl preciso abandonar a profisso. Fonte: A Tarde - 02 de fevereiro de 2008 Acesso a hospitais, presdios e outros Lei n. 9.982, de 14 de julho de 2000 Art. 1o Aos religiosos de todas as confisses assegura-se o acesso aos hospitais da rede pblica ou privada, bem como aos estabelecimentos prisionais civis ou militares, para dar atendimento religioso aos internados, desde que em comum acordo com estes, ou com seus familiares no caso de doentes que j no mais estejam no gozo de suas faculdades mentais. COMENTRIO: No bem assim. Alm das dificuldades naturais de acesso que muito segmentos religiosos enfrentam para entrar em presdios e hospitais, as prprias organizaes ligadas ao Estado no reconhecem outros segmentos que no sejam os cristos. No site do Departamento Geral de Pessoal do Exrcito Brasileiro as informaes que constam para se tornar Capelo Militar so essas: 1) O que um Capelo Militar? um Sacerdote Catlico Romano ou um Pastor Evanglico, que pertence ao Quadro de Capeles Militares. o responsvel para oferecer a assistncia religiosa, espiritual e moral necessria Tropa. 2) Qual a funo do Capelo Militar? - Exercer as atividades de assistncia religiosa e espiritual, e cooperar na orientao educacional e moral dos integrantes do Exrcito em sua rea de atuao. - Prestar assistncia adequada e oportuna aos presos pela Justia Militar, aos enfermos e demais

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necessitados. - Prestar assistncia religiosa, espiritual e moral s famlias militares residentes nas Vilas Militares ou no. 3) Quem pode ser Capelo Militar? Sacerdote Catlico Romano ou Pastor Evanglico, pertencente a qualquer Igreja que no atente contra a disciplina, a hierarquia, a moral e as leis em vigor, bem como a tradio e os costumes do Exrcito Brasileiro. 4) O que Capelo Militar de carreira e Capelo Militar temporrio? - O Capelo Militar de carreira aquele que, mediante aprovao em concurso pblico, includo no Quadro de Capeles Militares (QCM), no posto de 2 Tenente, podendo chegar at o posto de Tenente-Coronel. - O Capelo Militar temporrio aquele selecionado por exame de ttulos e que pode exercer a sua funo no Exrcito, at no mximo 7 anos. Anualmente, ele avaliado quanto ao seu desempenho na funo e, sendo aprovado, continua por mais um ano. Fonte: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/infor_capelaes_sarex.php Processo Penal Art. 295. Sero recolhidos a quartis ou a priso especial, disposio da autoridade competente, quando sujeitos a priso antes de condenao definitiva: VIII - os ministros de confisso religiosa; COMENTRIO: No site JUS Navigandi, um advogado postou uma dvida com relao a esta questo e as respostas recebidas de seus colegas no deixou a questo s claras: PRISO ESPECIAL - ART.295, VIII do CPP: QUEM SO OS MINISTROS DE CONFISSO RELIGIOSA?

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Prezados colegas, algum sabe informar (com base em doutrina ou jurisprudncia), quem so os ministros de confisso religiosa, que reza o Inciso VIII, Art. 295 do CPP, que podem usufruir da priso especial? Pois, quando a lei foi sancionada (lei 38.016/1955), entendia-se serem os padres da Igreja Catlica; mas, com o advento da CF/88, que proibe a discriminao religiosa, teria o direito, um pastor protestante, desde que cursado Teologia em uma faculade reconhecida pelo MEC? Ou ainda, um budista ou esprita, devidamente filiados federaes ou associaes de classe legalmente reconhecidas? Pois existe o princpio da isomonia. - Marco Aurlio Thiago | Advogado / Belo Horizonte - 27/12/2004 A meu ver, no h dvidas pela possibilidade, se a congregao conferiu o ttulo ao ministro e ela possui mbito nacional. Embora o 295 seja de interpretao estrita no h como restringir para funes assemelhadas de outras religies. Consultei at algumas jurisprudncias no vi nenhuma referncia especfica. Santos Pedroso Filho | Advogado / Antnio Carlos/SC - 28/01/2005 difcil a resposta. Quando o Cdigo foi escrito a religio predominantera era a catlica. Ministro era o Padre. Com o passar dos anos viu-se nascer muitas igejas, sendo que seus dirigentes tambm tm o nome de pastores, ministros etc. Entendo que o benefcio legal conferido aos Padres deva ser estendido aos demais dirigentes de igrejas, desde devidamente reconhecidos pelas respectivas igrejas, independentemente de terem cursado uma faculdade de Teologia, sob pena de afronta ao Texto Constitucional. Casamento religioso Constituio Federal Art. 226. A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado. 1 - O casamento civil e gratuita a celebrao. 2 - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. Art. 71. Os nubentes habilitados para o casamento podero pedir ao oficial que lhe fornea a respectiva certido, para se casarem

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perante autoridade ou ministro religioso, nela mencionando o prazo legal de validade da habilitao. Art. 72. O termo ou assento do casamento religioso, subscrito pela autoridade ou ministro que o celebrar, pelos nubentes e por duas testemunhas, conter os requisitos do artigo 71, exceto o 5. Art. 1.515. O casamento religioso, que atender s exigncias da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro prprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebrao. Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil.

COMENTRIO: O Cdigo Brasileiro de Ocupaes traz as seguintes definies: 2631 :: Ministros de culto, missionrios, telogos e profissionais assemelhados Ttulos 2631-05 - Ministro de culto religioso Abade, Abadessa, Administrador apostlico, Administrador paroquial, Agaipi, Agbagigan, Agente de pastoral, Agonja, Alab, Alapini, Alayan, Ancio, Apstolo, Arcebispo, Arcipreste, Axogum, Babakeker, Babalaw, Babalorix, Babalossain, Babaoj, Bab de umbanda, Bikkhu, Bikkuni, Bispo, Bispo auxiliar, Bispo coadjutor, Bispo emrito, Cambono , Capelo, Cardeal, Catequista, Clrigo, Confessor, Cura, Curimbeiro, Cnega, Cnego, Dabce, Dada voduno, Daiosho, Der, Dirigente espiritual de umbanda, Dicono, Dicono permanente, Dom, Don, Dot, Dia, Egbonmi, Ekdi, Episcopiza, Evangelista, Frade, Frei, Freira, Gaiaku, Gheshe, Gt, Humbono, Hunja, Hunt, Instrutor de curimba, Instrutor leigo de meditao budista, Irm, Irmo, Iyakeker, Iyalorix, Iyamor, Iyawo, Izadionco, Kambondo pok, Kantoku (diretor de misso), Kunh-kara, Kyshi (mestre), Lama budista tibetano, Madre superiora, Madrinha de umbanda, Mameto ndenge, Mameto nkisi, Mejit, Metropolita, Mencia, Ministro da eucaristia, Ministro das ezquias, Monge, Monge budista, Monge oficial responsvel por templo budista (Jushoku), Monsenhor, Mosoyoy, Muzenza, Muzin, Nhander arand, Nisosan, Noch, Novio , Oboosan, Olorix, Osho, Padre, Padrinho de umbanda, Pag, Pastor evanglico, Pegigan, Pontfice, Pope, Prelado, Presbtero, Primaz, Prior, Prioressa, Proco, Rabino, Reitor, Religiosa, Religioso leigo, Reverendo, Rimban (reitor de templo provincial), Roshi, Sacerdote, Sacerdotisa, Seminarista, Sheikh, Sokan, Superintendente de culto religioso,

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Superior de culto religioso, Superior geral, Superiora de culto religioso, Swami, Sch (superior de misso), Tata kisaba, Tata nkisi, Tateto ndenge, Testemunha qualificada do matrimnio, Toy hunji, Toy vodunnon, Upasaka, Upasika, Vigrio, Voduno ( ministro de culto religioso), Vodunsi (ministro de culto religioso), Vodunsi poncil (ministro de culto religioso), Xerame (ministro de culto religioso), Xondaria (ministro de culto religioso), Xondro (ministro de culto religioso), Ywyrj (ministro de culto religioso) 2631-10 - Missionrio Bikku - bikkhuni, Jushoku, Kaikyshi, Lama tibetano, Missionrio leigo , Missionrio religioso , Missionrio sacerdote, Obreiro bblico , Pastor, Pastor evangelista, Swami (missionrio), Sch, Zenji (missionrio) 2631-15 - Telogo Agb, Bokon, Consagrado , Conselheiro correicional eclesistico, Conselheiro do tribunal eclesistico, Cdi, Especialista em histria da tradio, doutrina e textos sagrados, Exegeta, Im, Juiz do tribunal eclesistico, Leigo consagrado , Mufti, Ob, Teloga, lim Descrio Sumria Realizam liturgias, celebraes, cultos e ritos; dirigem e administram comunidades; formam pessoas segundo preceitos religiosos das diferentes tradies; orientam pessoas; realizam ao social junto comunidade; pesquisam a doutrina religiosa; transmitem ensinamentos religiosos; praticam vida contemplativa e meditativa; preservam a tradio e, para isso, essencial o exerccio contnuo de competncias pessoais especficas.Tais ministros, realizam liturgias, cultos e ritos, celebram atos, como batizados e casamentos, dirigem e administram comunidades; formam pessoas segundo preceitos religiosos; orientam pessoas; realizam ao social; pesquisam a doutrina religiosa; transmitem ensinamentos religiosos, praticam vida contemplativa e preservam a tradio. So, portanto, autoridades religiosas e, imbudos de sua autoridade religiosa podem e devem celebrar casamentos, batizados, sepultamentos entre outros.

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No entanto, ainda so poucas as tradies religiosas que esto fazendo uso desse direito, mas, por outro lado, no se encontram referncias a casos de intolerncia religiosa no tocante a este tema. Templo Religioso Constituio Federal, art. 150, inciso VI, alnea "b "Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: VI - instituir impostos sobre: b) templos de qualquer culto. COMENTRIO: A discusso sobre a cobrana de impostos e isenes sobre temas religiosos controversa em todo o pas. Em 2008 a mais antiga casa religiosa de matriz Africana de Salvador, o Il Ax Iy Nass Ok, mais conhecido como Casa Branca, recebeu cobrana da prefeitura no valor de de R$ 840 mil, referentes a taxas atrasadas do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Essa cobrana, que no foi levada adiante graas rpida aes de advogados e organizaes do movimento social que invocaram este dispositivo constituciona uma prova concreta de que h uma necessidade urgente de se regulamentar essa questo em todo o pas. l Em novembro de 2010, a Cmara de Veradores de Salvador aprovou lei de regularizao fundiria bastante inclusiva: Cmara aprova regularizao fundiria de templos religiosos Por unanimidade foi aprovada na tarde desta quarta-feira (17/11), na Cmara Municipal de Salvador, o projeto de emenda Lei Orgnica (LOM) que concede a regularizao fundiria dos templos religiosos da capital, independentemente do credo. O projeto, que originalmente beneficiava apenas os terreiros de candombl e outras religies de matriz africana, foi emendado para contemplar as demais religies.

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A votao em primeiro turno ocorreu em dezembro de 2009. Com a aprovao da lei ganham as diversas denominaes religiosas que tero a regularizao e propriedade dos terrenos e os fiis que podero realizar as prticas religiosas sem a preocupao de repentinamente ver o templo ser fechado, comentou o vereador Joceval Rodrigues (PPS), frente da iniciativa. Imunidade de impostos O Vereador Joceval Rodrigues tambm nesta legislatura alcanou uma grande vitria para os templos religiosos da Capital baiana com a emenda na Reforma Tributria do Municpio que conseguiu imunidade de impostos para reas agregadas aos templos religiosos. Com isto, locais que prestam assistncia social s igrejas no precisaro pagar, por exemplo, o Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e o Imposto Sobre Servios (ISS). Em vista desta conquista, ser possvel ampliar a atuao e o atendimento em espaos que so de grande importncia no auxilio para as inmeras comunidades de Salvador. Existem lugares que o servio do templo, mediante a sua formao humana e o seu embasamento de f, alcana resultados intangveis e at mesmo em perodo recorde. Com a dispensa do imposto, essa capacitao poder ser ampliada e discorrer de maneira mais tranqila. No auge dos seus 461 anos, a primeira capital do pas encontra, atravs da emenda do Vereador, uma forma de fazer justia queles de cujo intermdio advm nossas razes culturais: africana e europia. Fonte: http://www.pps-bafichalimpa.com* Este captulo - com exceo dos comentrios - parte integrante da cartilha COMO REAGIR A ISSO? Cartilha Contra o Desrespeito Religioso, editada em 2009 pelo Coletivo de Entidades Negras, com a colaborao do doutor Luiz Fernando Martins da Silva, Ogan do Il Ax Oxumar, ex Ouvidor da Seppir (Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial da Presidncia da Repblica).

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Casos emblemticos de intolerncia religiosa

Santo Daime - A doutrina da floresta*O Culto Ecltico da Fluente Luz Universal um trabalho espiritual, que tem como objetivo alcanar o auto-conhecimento e a experincia de Deus ou do Eu Superior Interno. Para tanto, se utiliza dentro de um contexto ritual tido como sagrado, da bebida entegena sacramental conhecida como ahyausca e que foi rebatizada pelo Mestre Irineu como Santo Daime. O uso de uma substncia entegena como sacramento parece ter feito parte das principais tradies religiosas da antiguidade e fornecido a base visionria de muitas das principais grandes religies hoje existentes no mundo. Nosso culto litrgico, que se resume em comungar, nas datas apropiadas, a bebida guiza de sacramento, se denomina Ecltico, por que suas razes esto impregnadas de um forte sincretismo entre vrios elementos culturais,folclricos e religiosos. O uso do sacramento Santo Daime relizado nas datas do seu calendrio festivos, obedecendo as regras rituais que foram estabelecidas pelo Mestre Irineu e pelo Padrinho Sebastio. Um Conselho Espiritual dirige a Igreja e zela pela manuteno da tradio e dos princpios , ao mesmo tempo que procura adequlas aos novos contextos .As principais festas do calendrio religioso so os Hinrios e os Feitios. Hinrios so doze horas seguidas de cnticos e bailado em torno de uma estrela de seis pontas, ao som de diversos instrumentos e maracs. Feitios so as festas de produo do sacramento, quando toda a comunidade se mobiliza para fazer a bebida sacramental, que ser consumida durante o calendrio de trabalhos do ano. Outro elemento importante da espiritualidade daimista elaborada por Padrinho Sebastio foi a comunidade. A comunidade se constitui no ponto de referncia comum para o trabalho espiritual de todos os membros. a ela que deve retornar todas as boas aquisies que fazemos no nosso aprendizado espiritual. A Doutrina do Santo Daime ou a Doutrina do Mestre Irineu, como tambm identificada, nasceu dentro da floresta, brotou no seio do seu povo, uma gente muito humilde e digna. A sua mensagem, que se encontra reunida na forma de colees de hinos recebidos pelos mestres e adeptos,prega o amor pela natureza e consagra o mundo vegetal e todo o planeta como sendo o cenrio sagrado da nossa me-terra.

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Nosso trabalho mantm portanto vnculos muito profundos com a floresta e pela causa da sua preservao. Isso chega a ser uma questo de fundamento espiritual. Para desenvolver essa parte social e ambiental do trabalho da nossa Igreja na Amaznia,foi criado o Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serra que se empenha hoje em gerir e buscar parcerias para projetos de desenvolvimento autosustentvel, numa regio de quase 200.000ha de florestas, pertencentes a Floresta Nacional do Purus, onde estamos assentados h cerca de 16 anos. * Informaes extradas dos sites: http://eduardo.tetera.com.br e www.santodaime.org

CASOS DE INTOLERNCIA RELIGIOSASO PAULO - Cadu afirma que matou Glauco em 'misso de Deus "Cumpri um chamado de Deus", disse Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, 24, o assassino do cartunista Glauco Villas-Boas e seu filho, Roani. "Foi uma misso." Ele disse tambm ser Jesus Cristo. Cadu foi preso no domingo meia-noite em Foz do Iguau quando tentava fugir para o Paraguai. Houve tiroteio. O rapaz disparou 25 tirou - e atingiu um policial - com a mesma arma que matou Glauco e o seu filho na madrugada de sexta (12), na casa da cartunista, em Osasco (SP). Em entrevista agora tarde, ele contou o que lhe passou no momento dos assassinatos: "T com uma arma na mo, no meio do mato, apontando a arma para um cara famoso. Os caras vo me condenar morte aqui no Brasil. Vo me fuder com a vida. A eu peguei e falei: 'Voc fodeu com a minha, demorou, vou foder com a sua tambm.' A atirei nele." Cadu no explicou por que acredita que Glauco arruinou a sua vida. De qualquer forma, para o delegado Jos Alberto Legas, da Polcia Federal, "ele concatena muito bem as ideias".

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O delegado falou que, para no afetar as investigaes, tem de manter em sigilo o depoimento do rapaz. S adiantou que Cadu se referiu bastante crena do Santo Daime. Trata-se de uma religio que mistura o xamanismo com espiritismo e cristianismo. Por uns tempos, o jovem frequentou a igreja fundada pelo cartunista da seita do Santo Daime. Antes de cometer os assassinatos, Cadu teria tomado, entre outras drogas, o ch de ayahuasca, que um alucingeno feito com um cip e folhas de um arbusto cujo consumo autorizado somente para os rituais do Daime. Glauco tinha fundado a Igreja Cu de Maria, que fica no mesmo terreno de sua casa. Na terminologia da seita, ele era um "padrinho". A igreja do cartunista pertence a uma dissidncia dos anos 70 criada por Sebastio Mota de Melo, que acrescentou um novo ingrediente ao ch: a maconha. O "Maria" do nome da igreja de Glauco teria duplo sentido: um se refere me de Jesus e outro marijuana, a maconha. Mas no se sabe se, de fato, os adeptos da Cu de Maria fazem uso de maconha. Tambm no se sabe por que Ricardo Handro, advogado de Glauco, mentiu polcia ao afirmar, de incio, que o cartunista e o seu filho tinham sido vtimas de assalto de dois desconhecidos. [Com informaes da Globo News.]

Ns e as religies - Taeco CarignatoOs assassinatos do cartunista Glauco Vilas-Boas e de seu filho Raoni chocaram a nao, despertando polmicas diversas, s vezes banais, sobre religio, drogas e esquizofrenia. Condena-se o Santo Daime pelo uso de chs alucingenos em seus rituais, por admitir psicticos entre os seus seguidores, pelos surtos psicticos e comportamentos violentos de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes (assassino confesso de Glauco e Raoni). Sem dvida, no se pode deixar de associar a Igreja Maria do Cu tragdia que ceifou a vida de seu fundador, mas fazer uma relao direta de causa e efeito entre o uso de alucingenos pelos daimistas e o comportamento violento do jovem Carlos Eduardo fazer uma anlise superficial e rasteira. Pois no se leva em conta as circunstncias e o longo caminho percorrido por Carlos Eduardo para chegar ao ato. Em primeiro lugar, no necessrio que se administre um ch alucingeno para que se desencadeiem surtos psicticos. Ocorreram e ocorrem casos de surtos psicticos em portadores de esquizofrenia e outras formas de transtornos mentais que so ou foram

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seguidoras de outras seitas religiosas, altamente respeitadas. Um rito, palavra ou atitude de um lder religioso pode desencadear comportamentos violentos. Afinal, os papas Joo Paulo II e Bento XVI tambm no foram vtimas de atentados? E todas as religies possuem rituais. O uso de psicoativos em rituais religiosos to antigo quanto a prpria humanidade. No somente em religies animistas dos tempos primordiais e dos homens da natureza. Lembremos que Jesus Cristo em sua ltima ceia distribuiu po e vinho aos seus discpulos. E nas bodas de Cana, transformou gua em vinho. Ou seja, os estimulantes tambm eram usados pelo Filho de Deus. A questo que esses atos de partilha e de transformao tm valores simblicos. Os rituais so representaes de aspectos das relaes sociais organizadas em torno de fatos acontecidos, construdos ou imaginados. O po e o vinho ganharam valores simblicos nos ritos catlicos. No mais se distribui vinho aos fiis e o po transformou-se em hstia. O problema dos seguidores do Santo Daime est na ausncia de simbolizao da bebida alucingena. Se precisam de uma droga (concreta) para alcanar graus elevados de conscincia (ou inconscincia) e de autoconhecimento porque existem falhas em suas crenas. Afinal, os santos catlicos (alguns especiais) chegavam elevao mstica sem uso de drogas. Isso no significa que se deva proibir o uso da ayahuasca ou de qualquer outra substncia psicoativa em ritos religiosos. O ch alucingeno j est na cultura. Proibir o seu uso vai lan-lo na clandestinidade. E o clandestino entra no imaginrio popular como algo misterioso, atraente. Envolve o sujeito nas tentativas de superao da interdio. A questo, ento, deve centrar em "por que usar" e "como usar" e no na proibio. Sim, todas as religies em seu incio sofrem perseguies. Os primeiros cristos foram lanados aos lees. O budismo, tambm perseguido, quase foi extinto em seu pas de origem. Podemos pensar que o Santo Daime tambm seja vtima de discriminao e preconceito. Isso, porm, no deve impedir que os daimistas reflitam sobre os prprios atos. No exatamente sobre o consumo do ch alucingeno, mas de faz-lo fora do contexto e da cultura em que tais rituais da floresta se desenvolveram. Transmigr-los sem os devidos cuidados pode gerar fatos como o que aconteceu em Osasco. Isso no significa que o Santo Daime deva se limitar s florestas. As religies se expandem com a expanso poltica e econmica dos povos que a praticam. Os contatos entre as diferentes culturas e religies geram o chamado sincretismo religioso. Mas a organizao dos ritos no pode ser feita com leviandade. Se os valores simblicos dos rituais no sustentam o sujeito na comunidade, ele surta ou

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parte ao ato (violento, na maior parte das vezes). A religio tem justamente a capacidade de estabilizar o sujeito em crise psictica. Se a Igreja Cu de Maria causou efeito contrrio - se mesmo ela a responsvel pelo desatino de Carlos Eduardo, pois so muitos os fatores que geraram a tragdia e o crime ainda no foi totalmente esclarecido - que algo est errado na conduo de suas crenas e rituais. Isso no vale apenas ao Santo Daime. Qualquer rito fora do contexto pode trazer prejuzos. Se pensarmos nos ritos budistas de fuso da mente com a sabedoria dos seres iluminados, podemos pensar, que sem a devida conscincia dos significados dos ensinamentos, tais ritos podem levar o sujeito pouco afeito ao contexto oriental s alucinaes msticas. Acontece que para o monge budista ou para qualquer outro praticante ritualstico de qualquer religio, tais experincias tm um sentido especfico. O que no aconteceu com Carlos Alberto. Ele partiu para o ato. A passagem ao ato. Pois no teve oportunidade para dar significaes aos seus delrios. Nesse ponto, o Santo Daime falhou. As alucinaes e os delrios so meios de significao. A partir das interpretaes ou da atribuio de sentidos - da vem a psicanlise o sujeito pode se relacionar com a realidade que mais desconhece: a realidade de si. Se de um lado, a psicanlise usa a cincia e a linguagem como atribuidoras de sentido, a religio - desde as animistas primitivas at as portadoras de teologias avanadas - outra das grandes instituies atribuidoras de significaes. Nesse sentido, o encontro com a religio pode estabilizar o psictico. Lacan criou o conceito de metfora paterna ou "Nome-do-pai" que possibilita a significao da sexualidade, tirando-a do mundo animal. No totalmente, pois o simblico no abarca todo o real, permanecendo sempre um resto sem simbolizao. nesse resto no passvel de simbolizao que atuam as religies. Ento, a religio sempre vai existir. Pois est na prpria constituio da humanidade. Taeco Toma Carignato psicloga psicanalista e jornalista. Doutora em psicologia social (PUC-SP) e ps-doutora em psicologia clnica (USP), pesquisadora do Laboratrio Psicanlise e Sociedade (USP) e do Ncleo de Pesquisa: Violncia e Sujeito (PUC-SP). COMENTRIO: As religies da floresta (Santo Daime, Unio do Vegetal, Cu de Maria entre outras), so tradies religiosas marcadamente brasileiras, que trazem em si fortemente a influncia indgena. Surgidas no Norte do pas, em regies remotas, essas tradies religiosas sofrem primeiro o preconceito de origem. Ou seja, por no trazerem em si uma longa tradio esses segmentos

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religioso encontram, inclusive, dificuldade de reconhecimento como prticas religiosas, sendo, muitas vezes, classificados como seitas. Ao fazerem uso dos chs alucingenos, essas tradies religiosas passam a ser discriminadas no pelo rito em si, mas pelo fato de que ocorre naturalmente uma apropriao do vis religioso por grupos que buscam apenas o barato, a viagem, contribuindo assim para aumentar o estigma em torno dessas religies. O assassinato do cartunista Glauco Mattoso, se no traz em si naturalmente um vis de intolerncia religiosa - ou seja, ele no foi assassinado porque praticava o Daime, mas sim, porque sua prtica gerou insatisfao em um de seus ex-membros -, o fato de o assassino confesso invocar o nome de Deus e dizer que estava a servio Dele deixa claro que, para o o autor do crime, essa prtica religiosa era errada e ele, como um vingador divino deveria colocar as coisas em seus devidos lugares.

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Ataques s imagens sacras so constantes na Igreja CatlicaA Igreja Catlica, chamada tambm de Igreja Catlica Romana e Igreja Catlica Apostlica Romana, uma Igreja crist com aproximadamente dois mil anos, colocada sob a autoridade suprema do Papa, Bispo de Roma e sucessor do apstolo Pedro. Seu objetivo a converso ao ensinamento e pessoa de Jesus Cristo em vista do Reino de Deus. Para este fim, ela administra os sacramentos e prega o Evangelho de Jesus Cristo. Atua em programas sociais e instituies em todo o mundo, incluindo escolas, universidades, hospitais e abrigos, bem como administra outras instituies de caridade, que ajudam famlias, pobres, idosos e doentes. Ela no pensa como uma Igreja entre outras mas como a Igreja estabelecida por Deus para salvar todos os homens. Esta ideia visvel logo no seu nome: o termo "catlico" significa universal em grego. Ela elaborou sua doutrina ao longo dos conclios a partir da Bblia, comentados pelos Pais e pelos doutores da Igreja. Ela prope uma vida espiritual e uma regra de vida aos seus fiis inspirada no Evangelho e definidas de maneira precisa. Regida pelo Cdigo de Direito Cannico, ela se compe, alm da sua muita bem conhecida hierarquia ascendente que vai desde do simples dicono ao supremo Papa, de vrios movimentos apostlicos, que comportam notadamente as ordens religiosas, os institutos seculares e uma ampla diversidade de organizaes e movimentos de leigos. Desde o dia 19 de Abril de 2005, a Igreja Catlica liderada pelo Papa Bento XVI. Nesse mesmo ano, ela contava aproximadamente com um bilho e 115 milhes de membros (ou seja, mais de um sexto da populao mundial e mais da metade de todos os cristos,), distribudos principalmente na Europa e nas Amricas mas tambm noutras regies do mundo. Sua influncia na Histria do pensamento bem como sobre a Histria da arte considervel, notadamente na Europa. A Igreja Catlica, pretendendo respeitar a cultura e a tradio dos seus fiis, por isso atualmente constituda por 23 Igrejas autnomas sui juris, todas elas em comunho completa e subordinadas ao Papa. Estas Igrejas, apesar de terem a mesma doutrina e f, possuem uma tradio cultural, histrica, teolgica e litrgica diferentes e uma estrutura e organizao territorial separadas. A Igreja Catlica muitas vezes confundida com a Igreja Catlica Latina, uma das suas 23 Igrejas autnomas e a maior de todas elas.

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Casos de Intolerncia ReligiosaBispo que chutou a santa continua atacando a Igreja Catlica 19/04/2004 - Agncia Unipress Internacional - Por Deila Malta EUA - Polmico por seu teor aparentemente milagroso, a notcia de que o bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Von Helder, se converteu ao catolicismo tem surpreendido muitas pessoas j h algum tempo. Sua converso igreja catlica, no entanto, nunca existiu. "As pessoas no devem se preocupar porque essas mentiras no so novas e no sero as ltimas por parte da igreja catlica", afirma Helder. O bispo continua exercendo normalmente suas atividades na IURD de Nova Iorque, no Queens, onde est h pelo menos sete meses, alm de estar fora do Brasil h cinco anos. Von Helder esclarece tambm que nunca esteve na Rede Vida para falar sobre o assunto, conforme publicou a revista catlica "Pergunte e Responderemos", edio 497/Nov 2003, de Dom Estevo Bettencourt. A revista cita, inclusive, que a publicao da matria s aconteceu porque o prprio Von Helder teria participado de um programa na Rede Vida. Mais uma vez, o bispo nega qualquer apario no programa. Ratifica ainda que continua praticando a f crist como evanglico. Em entrevista ao Portal Arca Universal, o bispo foi taxativo: "Estou h muito tempo fora do Brasil e seria impossvel ter ido Rede Vida para participar do programa. Fiquei 10 meses na Colmbia, depois trs anos no Mxico, mais cinco meses na Venezuela e por fim cheguei em Nova Iorque, onde estou h sete meses.". Esta semana, um programa de televiso do Sistema Brasileiro de Televiso (SBT) abordou a mesma histria como sendo verdade. Circula tambm na Internet um e-mail contendo uma mensagem relatando sua suposta converso. O suposto milagre O texto conta que, acometido de uma grave doena, Von Helder teria ido aos Estados Unidos para buscar recursos mdicos. Tendo sido cuidado com muito zelo por uma excelente equipe e conseguido sua total recuperao, o pastor teria feito uma

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confraternizao com todos aqueles que o ajudaram. O texto ainda narra que Von Helder teria indagado por uma senhora negra que todas as noites lhe prestava assistncia. Assustados, todos responderam que no conheciam tal mulher. O texto finaliza dizendo que o pastor teria ficado convencido de que a mulher, na verdade, era a santa Aparecida. Em seu entendimento, Von Helder acredita que tudo isso no passa de uma manobra da igreja catlica para no perder mais fiis. "Acho que isto uma artimanha que eles (igreja catlica) sempre usaram para enganar as pessoas. Como elas no tm conhecimento de muitas coisas, no assistem televiso e, quando assistem, s vem novela, eles se aproveitam da ignorncia das pessoas. Eles se aproveitam para tentar mostrar que a igreja catlica continua forte e crescendo. Dizem que o Brasil continua sendo o maior Pas catlico do mundo, quando todo mundo sabe que isso uma mentira. O Brasil j foi o Pas que tinha o maior nmero de catlicos do mundo. Hoje j no . As pesquisas mostram que o nmero de cristos evanglicos no Brasil algo crescente e evidente. Muitos se dizem catlicos apenas por tradio e costume." O pastor tambm esclarece que nunca esteve doente como tem sido divulgado na mdia. "Eu estou em perfeitas condies. Eu jogo bola, fao exerccios e nunca tive doena nenhuma." Atualmente, Von Helder pastoreia uma comunidade de cerca de 700 membros, na sua maioria hispnicos. "Visito vrios Estados e viajo muito, mas continuo frente dos cultos. Nossa comunidade muito fervorosa". Ele completa dizendo: "Essa idia que a mdia est colocando a mesma idia que a Igreja catlica coloca em relao apario da virgem, Aparecida, Ftima, que aparecem nas rvores, nas caladas e vidros das casas. Tudo isso so mentiras para poder trazer pessoas de volta, principalmente aquelas que saram, e tentar trazer de volta aquelas que esto prestes a sair da igreja catlica." Ele ainda completa dizendo: "Ningum se converte ao catolicismo. As pessoas nascem e so obrigadas a serem catlicas. Os pais acabam impondo uma religio e impem o catolicismo. O que eu sei que as pessoas se convertem a Jesus e ao cristianismo. Isso uma evidncia bem clara no Brasil, principalmente na Igreja Universal do Reino de Deus. Todos os que esto na Igreja Universal saram do catolicismo e se converterem ao cristianismo; ao Senhor Jesus". Relembre o caso: Em 12 de outubro de 1995, Srgio Von Helder, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), comprou briga com a Igreja Catlica em rede nacional, depois de chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida - no dia em que a padroeira comemorada.

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Durante programa da igreja na televiso, ele criticou a idolatria (culto a imagens) e chamou a santa de ''boneca de barro''. O