manuel da silva mendes - tauísmo

64
Tauísmo Manuel da Silva Mendes

Upload: erasto-santos-cruz

Post on 14-Nov-2015

84 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Palestra proferida pelo autor português estudioso do taoísmo e da cultura chinesa Manuel da Silva Mendes, publicada pelo jornal macaense Notícias de Macau.

TRANSCRIPT

  • Tausmo

    Manuel da Silva Mendes

  • LAO-TZE

    e

    a sua doutrina segundo o

    TAO-TE-KING

    (Conferencia realisada no Gremio Militar de Macauem 3 de janeiro de 1909)

  • Senhor Presidente :Miuhan Scm.hora.s ;

    1\feus Senhores ;

    Os estudos orienbaes qua ha poucos annos aiudcconstituiam apenas .-themas para divagaes de espritoscuriosos, esto j hoje, merc da approximao doOriente com o Occidente em suas relaes principalmen-te commerciaes e politicas, adentro do ambito da cul-

    r tura geral.Ninguein pe j om duvida que o conhecimento

    da. historia dos gregos e romanos com o das noes quenos Iogaram sobre as antigas civilisnes oricntaos, eloLodo o ponto insullicieuto para a comprelienso no s>do desenvolvimento integral

  • susos JJA SID tA MENDESMoyse conduzia o seu povo Terra. da. Promisso, o',jf.\ no Extrc;mo-Orionto alguns povos doseiam do npogou.aa auas civilisacs. O Oriento era j velho !.

    "Todos osaes impcrios e todas essas civilisaeacahirain, deeapparoccrum, jazem IH\. Historia : duas, v.po-uas.. d'essas civilieaes, quaes -rochedos escarpadoa quen.~ondas em .balde atacam desde os primeiros dias dacreao, a conservam de p : a civilisao indiana e acivilisao chinesa. Irnmoveis desde 'OB tempos maiareouados qnc a. historio, alcana, como que esperandoque os. povos ocoidentaes no morressem sem as conhe-cer. como suas avs, do-lhes .agora o brao, decididasa marcharem com elles conquista. do futuro.

    E no se. apresentam. desprovidas: na historia.como na. ,poesia, nas manif estaes religiosas como nasespeculaes philosophicas, moatram-se-nos opulentas.Ellas trazem. recordaes immensas, que vo at ao berodo mundo; ellas conservam vivas em seu seio as pri-meiras tradies do gnero humano.

    Como descrever, seno em vastos volumes, eatasduas oivilieaes ? - Uma simples o curta palestra, no.comporta, evidentemente somelliaute dosoripo, aindaque limitada aos seus tpicos easenciaes. No tentareifazel-a. 'I'omaroi um ponto aponD,s para thoma d'estadissertao e procurarei desenvolvel-o conformo o enge-nho o .arte mo aj udarem, J~ Lao-tzc e a sua doutrina,scg?J,ndo o Ta,o-tc-kin,g.

    Entre os antigos philosophos da China occupaLao ..tze, a par de Confuoio e Meneio, um logar prima-cial. A. sua. biographia muito pouco conhecida- noporque sobre elle pouco se tenha. escripto, mas antes.porque merece. pouca f o muito que d'elle. se tem dicto.

    Lao-tze, como . todos os homens excepoionses;entrou no dominio da lenda; e aemp~e que, a. lendacomea. de envolver-se em biographias, termina as- maisdss vezes- por se apoderar d'ellas completamente. Foi

    Erasto Santos Cruz

    Erasto Santos Cruz

    Erasto Santos Cruz

    Erasto Santos Cruz

  • LAOA'l'Zl!~ l~ A. SUA DOU'l'ltINA

    o lJno succedcu com Lao- tze ; foi o que succedeu comBud.lhu ; foi o que succcdeu com Maliomet : - 6 o quelom sucocdido co111. quusi todos os homcus de talentocxc pcional, o 10u iLo espcciuhnentc com os Iuududorosde reli1iies. s ;

    EsLu. misso, unnca, uo que se tc111 por certo,Ln.o-t.ze a invocou ou pretendeu iuculcur ; mas os seusconcidados o tua.is particulo.nncnto os seq.un.zcs da suaclout riuu attribuiram-Ih'n e d'elle fizeram,' sem que

  • }dANUEL DA Sl I~VA 111HN JJRH

    . N'cssc tempo, p:ifisava a Chi1.1a por urna phasopolitico-soeial,. s1ue 110 9(~C.lffonte teve lim ..Ri mi Ir. no rc-gimen feudnl da Mciu Edndc. U primeiro impcrrulorda dyuastia Chen -- Wu-wurig -- subira ao throuo doCeleste Imprio sobre os deatroos d dynastia Yiu,cujos desregramentos dos seus ultimes rcpreseutautes

    -de I'orivain- persan Rnschi-el-din, rcctumeut dcouvert,font naitre Lao-tseu eu 72Q avant notro ere (X tomo,pag. 177).

    Esta ultima affirmao contestada na Encyclo-pedia Britanica, parece que com bons fundamentos :Cli'ien does ot mention the year of his birtli, whichis often said; though on what Chinese -autliority doesnot appear, to liave takeu plce i 'third yJlr of King-Phing, 'corresponding to 6.(H:"B. C. 'I'hat .date cannot bcIar from the truth. 'I'hnt ho wus ccntcmporary withConfucius is estabiiehed by t.he coucurrcnt tcstitnony of.the; Li-k! v n1.r~tho JG-Y on tlie Confucirm sido, nudo(-Chwng~;tzc nd 'St.o-ina."" Ulr'ien ou ;tho Tf1oist. 'I'hotwo in~en whoac iiillence has bccu SO gren.t on nll thosubaequent generations of thc Chinese people, and wboaoviews are now- more attentively studied by thingkingmen "ot other nations t.lian ev.er they were before -Khung-tz and Lo ..tze - had at least one interview,in 5 l 7 B. C,:' whn the Former was iu his bhirty-fift.hycar- (XI V., pag. 2pt>) ..

    Estq. verso a udoptada geralmente. Vcj a-se,por exemplo, P. 13. Morse.. I'lie Traae aiul Adniinislrationof tlic Cliinese Envpire. .. Jfn.g. 5 ; Cesar Cantu , II istoriaUniocrsal. liv. 4. , pag. 08-7 ; L. Richard, Gcoqraphie del'Em.p1:re de Ctiiue (cours sup.), pag. 37t>; Stanielae .lu-Iieu , Lc Li urc ele lct V01:c ci de la Vertu, pag. XIX ; H.de Chavannee de ln Giraudicrc, 'Les Chinoi perulan; unepri'odc de Jj!jg ilnncs, png. 3~):2o 333.

    ....

    21'1

    Erasto Santos Cruz

  • .lfAO!.'J1ZI~j B A HUA~ JJOUTI~,JNA. .determinaram uma revoluo capitaneada o. levada atermo pelo duque de Chou. .

    Estr, para rccourpcnsat os capiti".eR que o coad-juvaram na dcsthronuo do ultimo Yiu, erigiu , emfeudos varias partes do imperio, que lhes entregou paraos- regPrer. Engrand.cArau.1-se algus d'elles, porm, atal ponto, que entraram do disputar, como verdadeirosreis, direitos, no iinpr-rio reservados ; o,

  • MANUEL DA SIL V..&.llfENDES

    as tiradas ou imitadas dos ]{ n.r; ou livros canonicos,dos S-clu: ou livros classicos e de livros do varios phi-losophos, feita. por nuctor ou auctorcs auonymos 011descouhecidoe.

    'I'oda n. doutrina, llOiH, dr Lno-I.zc se encon trn no'I'ao-te-kinq. Frc d'uhi, e no Inllando no 11uo se achanos numerosos commentnrios chinczcs sobre o texto elomestre, as nicas referencias sun doutrina, dignas def, eucontruui-so nos Analecu) de Co11L'11cio e uo Tliien-yun do celebre cscr iptur C.l.1oang-iizc- (b).

    Conf ucio con heccu Lno-t.zo. Chcgundo-l he a Iama

  • 'A

    /

    L;\() ..TJ:ib: lt~ A. SU.A DOU'J.'ltINA

    ~3il.opouco ngratl:\vd. Ccn~1nrou-o, dizcndo-Iho que leva-va 1t111a vid:1, rl1rna:~i:11L111H'.nL1: cxt.miur, que o seu pro-!'Pdin11.11L1J dc1l(){.:1.\a h11~!.o o \'nidade, e que o gra1\de111111H:to do di~1cip1ilo~l de iu ----di~nn-llt1~ .L::to-117.:o - ama a obscurida-di1: 1'111 ve:.-:: {lo a.mi.1icinH;1.r emprcgoH, rejcita-cs. Persua-dido de que, dcprJ1;3 du. vida, o liouicui s deixa aps~~i rw l1lw.r> ruaxiin.is que ensinou u, queiu estava em

    1. - 1 L ti - t ' 'c(irn L1;.oes< e ar~ 1\; or o pra .icar, nuo se eu rega a pri-Jnt1irn. pcu.su;.i.

  • MANUEL DA SlLV' A. MENDES

    ideia. As palavras que a Coufucio se diz que dirigira,esto de perfeita conformidade com a doutrina. expostano Tao.le-kin9; e, sabido, como 6, que Confucio se con-duzia menos nuatcrnmcnto do que La o-tzo uconselhnva,essas palavras adquirem um cuuho de verdade e authcn-ticidade, que, por outras, o caructor e a personalidadedos dois philosophos flonrintn cacurccidoa (e).

    Do outro. vez, Lao-tzo notando que Coufucio seentretinha a lr, perguntarn-lhe que livro lia: - o.f.-king; os santos horueus da ant.iguidade tambem oliam {f ) - Os santos homens -- respondeu Lao-tze -

    . podiam ll-o ; mas vs com que fim o ldes ? Qual o fundo

  • LAO-'l1Zl~ li~ A SUA DOU'l'ItIN-A

    negro. O ceo uaturnhueute elevado; a terra natu-ralrnento solida; o sol e a lun brilham naturalmente;os astros e as catrcllns occupam nuturalmcnto ns ',suasrespectivas poaies ; as plantas e as arvores cato na-turalmeu .e clussif cadus Rrgu ndo as -suaa espcies. Assim,pois> doutor. sn v s oulivnr.Ics o Tao, se vs o procu-

    'rardcs com Luclo o ardor, vs o u.ttiugireis por vs mes-mo. Pura que serve a. humanidade e a justia? Vspareceis urn homem que andasse com -um tambor aprocurar uma ovelha extra vinda,

    A sena discipuloa que o interrogaram sobre adoutrina de La ..o-Lze, Confucio teria respondido :-Quau-elo vejo u m homem servir-se do seu pensamento parase me escapar como a. ave que voa, disponho o meupensamento corno f rcchn sobre o arco para o attingir,e jmais deixo

  • ...,

    Ef!t1~dhlogn (1nP C1ioang-tz1~ nos trnnsmit.tiu , po-de consirlcrur-sc rornn fln1plifi('il.\~~.n dt> n ma paH:::1n..!..!en1

    l l 1 C 1 ,. 1orroaponc ~nt.c~ nu J1ot}1c1:J, 11s!;t1rr(::l, 1 e i)e-rnr.t-c l n-n RO Jl'CLno-tzc, e; purt.iut.o. CP1n o c:ir:t!'!-.p~ d1. nnt,h(~11Licid:Hlcque mc n-ccru n:J nu rru t.i vns d'es\c r;

  • -.

    :....~......,; . ~~ . .- M 'tO\I.., H~;

    :LAO-'.l.'ZJ!~1~;A SUA DOUTittNA1

    da de preteudor achar o senti.lo oxacto que elle teve e111visto. exprimir, qun ndo esse Plctitlo nos escapu (h}.

    10s chinczes cncoutra m bambern, ao no as mes-mus, gra vis8LUW8 djHJ

  • lU A.JVU JlL 1.J.A 81 !~VA 1l:i'RNDE8

    os eercs ; parece um phnntnsmn com aqp0cto de pr.nnn.-nencia ! O ser quo est1l. cnt.re o eco 0. a tcrrn, lembrao sopro da forja VfWD. q1w ji.rn~1iR si~ crgota (/).

    O Tao corno o f'f~pirjto

  • LA.O-'rZE E A SUA DOU'rllINA

    sah ida dos seres do Reio do Tao o o rPgresso dos seresa. Too, ou o r

  • MANUEL I>A SILYA .J.ENDES

    Virtude, e o regresso dos scrr a ao Tao o regresso dosseres ao Nilo-Ser. Esta. a Iorma d o act.i vidade do Tuo- actividado qun 1~:1o-tzn cl 1 ;un;1. 11 ../'u-111~~/i, v i:~t.o < 111'~ atutulidndc das crcncs Brr;1.P~1, scu.l rg11:d ao ci,r.nlouniversal .los urov iurcr to~~, p1,.lr! ~('l' t.oruut la corn o ore-pouso das cnusns na. sua. n oruru lid.le.

    Antes de existir o Cl'O e :l t.nrrn. s exi stin o Too,vngo, indctcr miuuclo, cou Iuso, l1bscu 10. ('.lcr11n, iu liuit.o,forma sem forma, i1n:11~crn :-;e111irn:igem, co1110que nruphantasrna corn H~l_Jccto de perniaucucia etcrua. J.~lleera o Um,

    Com a cxstcncia do CC'J e dn terra existiu oDois: o Tao produziu o Un1 (elle mesmo}, o U1n pro-duziu o Dois. Por. isao Ln o-t.zc diz : o 'Tao como oespirito de um vallo - qual Ieruea ruyatcriosn, raiz doceo e da terra.

    O Dois produziu o 'I'rez ; o 'I'roz, todas as cou- / ; ' ' ] J.1 1 ]sas : isto e, a.pos a cxiatencia uo .ao e r o eco ~

  • 4LAO-'rZE B A SUA DOUTRINA

    Oa seres no esto sem o Tao no universo ; Too,como que expandido no universo, est n'elles e. comelles : a Vii tude, o nlinieuto dos seres n'este modoaccidental de -cxistcncia, a graa que os dispe paro.rnarcho.rem na via do regresso, a Via que os conduz aoNo-Ser. O Tao , pois, para os seres a. Via ; e comoo rcg reaso dos aerea a Tao o regresHo dos seres ao.N- s IJ' v 1. v a ao- er, .s; ao e :1 ia e e tambom o ran lante, e acausa e o effeito de tudo.

    ** *Ora isto pantlioismo I : ospirituulismo! bud-dhismo ou brahmanismo! E doutrina. do cbriatianismo i

    Os pnreccrea

  • MANUEL DA SJLV A MENDES

    Lao-tze se assemelhava doutrina indiana bralnnunicae buddlrica.

    R pri mciros acharnm Uio perfei tn. conconlau eiada doutrina do Luo-Lze com a dos lGvangelhos, queMontucci, a prccimdo-a , escreveu :--0 oh j ecto principalr.us trino, q11c quemlr este livro, no podo pr r111 duvida que o my-Lorioda Trindade foi revelado aos chiuezes ruais ele cincosecuios antes da vinda de Christo (u.).

    Tum bem o padre Amiot julgou recon hecer as t.rezpessoas da 'I'rind acle na primeira parte do XIV capitulo

  • ( I,AQ ..'fZE E A SUA DOUTRINA

    Mnis tarrl

  • JJllANUEL DA BJLVA 1HENDICB

    tao a trndnco qne feri de varias p~wsagcrrn tlo Tno-te-kinq, de ta 1 maneira que E'Atc livro, na verso d'cstesinologo, ch

  • ........ ,.,- .. .,.,, -

    cru: Vertnnn el. Vcrbun: crt a.pu.d Deusn el Deus eratVerbum. -

    Outra pas::mgnrn por egwtl intcrcsuantc a ver-fl~lo

  • A1AJV UBL VA n.F1t 1iZRNVh'NQue pfii!Psoplrn c8prL11:ili~;;,:1, nI.n p-:,rfil'J1a c~La

    doutrina'? N:1r1 6 dl:t pura do11Lri11:1. c~LH:~liJ.'? - c(','HI:Cantu no { ..o livro d:i, ~rn:1. ll ist.ori f.1111cr..;,t./. n liruiu.

    Voi l 1w11H d oul.c (cx.darna .l.I.. de Cl1n.va1111e~l d~~la U ira ud icre, dopoi::-i du t.ru.nacrcver c~titn t.reulro do .'tao-le-kinf/) une hclle ct nu liliruo pago Ptl hril lont, prn1r uiu-si dire, quclqucs J.'Pll.'.cL~l de uos livres s:.wr(:;. Aussin'hsitona-uous pan :\ p'.JHJr.~r. qu~ L:uJ-lise.n nc dcmeurnpus tra.ngcr ux trn.diLiorL~; l1(d>rniq1WR rpand uca deproche cu pruclw j1rnq11'~1.11x f'i).

    (cc) (lesar Caut.u, lh:stona Utiiocrsal, '.L.()vol., .t>ilg.~3UU-- cd. hraz, \

    ~:.:H)

  • r \() 1JH7f1 11 A lJA l ournr \.U1 _. - ...I J. ~, !J . . U . .j ~. .1foi tn, na J 11Lrn1 iw 11!~(~ripLr11: l\..n-111111;~, q11u iuvr-n l.ou c,:1:--4:1.vj:i,ge11Ln a sua li isl.ori. t 1n!/tlwluy1:ca. r.los De uses e dos l.nunor! acs,

    (rf.1) A l'c xcoptiou dcfl rr10lis 1, !U, 1-l'ci.:, qui seLrnuvcut Hll:i d:1.n~ n:i. tra.d111~t..ion, l\l. HnJ11sn.t a L:Jcbd't~Lre pl11.-1 liLLrnl q1t

  • JlJAlvUEL DA SILVA _MElvDi:S

    composta cerca de mil n.unos depois da morte dt~ Lao-tze. AnteR, nenhum escriptor chinr-z falla de tal via-gem ; depois que alguns, Lrnnsornv ontlo Ko-hnng, fizc-rarn meno d'olb: mna do uotu r qur., n pczur d'is1.o,nenh urn historiador ollioiu] do Iurpcrio se julgou uucbo-risado a mcncionul-a corno vcrdn dcira (ec).

    Urna das verses da lenda, de resto, diz que Lao-tze, depois de Ler escripto o Tuo-te-kiiu}, so rctirn.rn parao cstraugciro. Ora, se isto l'osao n c."i.1.nc~gi'.o da verda-de, ta.l vin.ge1.n nil o corro borar iu a hypo.h cse do Rin 11-snt, Julicn presta, oiu Lo'do o 1_.nno, 11ornen:tgc1n ao gra.11-de talento deato sab io Iruuccz e reconhece q110 muitose lhe deve n'estc importante rtuno do investigucs si-uclogicas (Jl).

    't:

    O Tuo-te-lciiu} coube m , como fica d icto, rle mis-tura com as ideias cosuiogonicns e metn.physicae deWEWWWEAAmmWSIJ&'UCh h,ltt - "

    (ee) Il ni'a paru imporbunt de rcoliorcher l'ori-gine

  • Luo-tze, um syatcuiu de moral e uma exposio dasrcgnw de coud ucta do h ourem. ITiis um breve resumod'e:~t{.1, part.n. do livro
  • liiilNUEf.1 DA SILVA 111ENDES

    bem nem o mal. nem n. v irturlo nem o vicio. O mal oo vicio s n.ppf.1recwran1 qunu.lo n.ppnrecen o oon lieci-monto

  • g11e1n lhes corrcspond : c111prcgn.n1 ento a violeuciapn..rn, qur, !Pj:i ru ;d.Lr.11rli.do8. l~~j~3porque. a virtude n.p-pan.ce dupniH dn 80 ter perdido o 'I'ao ; eis porque a~j us1ii(..a e cq uid de n.ppat {'C'-l'JJl depois de se ter perdidoa virtude ; e n 11r1J:l nidado depois de so ter perdido acq uidudc, A 11rb;1 nida de n.pouaR o verniz
  • ll1.ANURJJ J)Jf. SlLFA. 'Af.F?1VJJR/'3

  • LA0-1rz.rn :illA SUA DOU'l'RINA

    '!'

    A justi~a superior urbanidade, mas no avirtude superior. NU.o se pode praticar n, justia, semiuteno, sem esforo, sem previo exame do que bemo do que mal. Ora esse esforo, a inteno de apraticar, o conhecimento do bem e do mal, quo sepa-ram a justia da virtude.

    A pratica "rla urban idudo, da equidade e da jus-ti.a no , pois, sufliciente para qne o homem possaattingir o seu fim; Dt urba.nidade, a equidade e a justi-a so apenas grn us para alcanar o estado da virtude:pela pratica da virtude qne o homem se encontra naVia, no caminho quo levar identificao com oTao, tornado sitnplicidade o pureza primitivas.

    Aquelle que pratica a urbanidade ou a equidade,torna-se notado, resplandece, lanu-se para n. frente comardor: aquello que pratica o Tao, attingiu, sim, ocumulo da perfeio, mas parcco proceder como notendo mrito cm suas nces, parece um homem queandou para. traz, lern bra um obj ccto deteriorado, frado uso (nn).

    O homem santo no Lem o corao inoxoravel,

    l

    MFW UJ!CWWWS44*1ASWMNW&LkWi ~4tiSAiff

    (nn) Celui qui a I'intelligouce du Tao, paraiteuvelopp de t~nbres; celui qui est uvanc duns lo 'I'ao ,

    LI ' 1 . ' ' 1 . . \ l hresaemu e a. uu iomme arricre ; ce ui qtn cst a. a nu-tenr du Tao, ressemble h un homme vulgniro. L'hom-me d'une vertn su prieurr- est r.0111010une vallo ;I'Iromme d'une grande purct eat comme convert d'op-

    l l'1 l' , . . " f 'pro ire ; romrno

  • :0,fA M U }'11 - }) ,
  • 1i'

    educando assim os pnvus nu desordem e empobrecendo--os de d ia pn ra d ia. .

    Uru 1~uulira cst.o csba.I c1c~ co11~:1A que Lao-t.zo.reage no ~t~u liv. o, a.111fq1ndo o::i priw.ipp:-; de prt'Ll!ll'ln!_rcm couservnr a onll.1i11 nus SC'U:-3 reiuoa por meio deastucia e hypocrisin. -~~por isso, diz. elle, que quantomais as leis se muh.i plicaui, tA,nto ma is os ladre~ cres-cem : que H~ o povo 80 revolta, _porque o principe de-vora, o seu t.ru hu lho com impostos (pp). l~u, se govcr-naase, accresocntu Lao-tz.e, um peqw:-1.11) reino e u rn povopouco numeroso, ensinal-o-hin a no se servir do armas,eueiual-o-Iiia

  • JJJANUEL DA SILVA jj_fE1VDES

    indulgente, o povo enriquece, (!8t:'t trnnquillo, torna-sefiel, honesto, fo.cil

  • LAO ..TZJTI li~A SUA DOU'fUINA

    tudo , diz Lao-tze, semear gf'rmens de discrdia entroo povo (uu). ,

    Lao-tze no eympathisn, portanto, com o quechamamoa progresso da sociedade, com a sua cultura,com outra sciencia que no seja a sciencia do Tao. Parao philosopho, toda a outra sciencia v, mais que v:pcriaoen, prej udieinl, ponp10 cria no corao do homemdesejos, pnixes, ambies, que o afastam da Via, daimitao do Too (vv).

    ** *Maa, reatando e desenvolvendo consideraes au-

    l!l.i

    ecw; m=1: :c,m o*4W4 w1s;:=w;w

    (ttu) Segundo 'I'hi-wo-tze e Sio-hoei, connneuta-dores chiuezes do Tno-te-kinq, Lno-tze no coudemnn oestudo e a scicnciu cm absoluto. mas apenas os estudosvulgares que oconp1un os homens elo mundo. Os snbiosdn n.ntiguidrtd.n catudnvnm somente os principiou inte-riores da nn turezn humana. : o quo Lao-tze chamapraticar :t no-aco o fazer consistir o estudo na faltade estudo. O que Lao-tzo pretende significar que 011estudos mundanos corrompem o corao do homem :so corno os medicameutos que fazem aggravar a doena.

    (vv) Biblia : Timor Domini, priucipium supientiae.Sapientiam atque doctriuam stulti despiciunte (LiberProoerbiorum, cap, I, v. 7); Initium sapientiae timorDomini (Liber Psalmorum, cap, CX, v. IQ; e L_iber Ec-desiastic1;, csp. I, v. 16); In quo (Jesu Christo) suntomnes thesauri sapieutiae et scientiae ubscondibi (Epis~tola .TJ. P(iu,li ad Colossenses, cap. II, v. 3); Scriptumest enim : pcrdam sapientiam sapientlum, et prudentiamprudentimn reproba bo, U bi sapiens'i ubi scriba 1 ubiconquisitor hujus seculi 1 Nonue stultam fecit Deus sa-pentiam hujus mundi ~ (Epistola B. Pa.uli acl Corin-thios ~prima, oap. 1, v. l e 20).

    21:1.

  • li1ANDE.L DA SlEVA ]}JENDES

    tcriormente expostas, o que , afinal, o Tao? Qual a. .f ~ 1' 1 11 A - 'exactu SJgm waao e c~La. pa avrn ~- pergunta nao o

    descabida nem a reaposta sem interesse, porqun nl,o Ro-bre a ideia d'Pssn. palavra so . acha construida toda aphilosophin de Lao-tzc.

    O caracter i! (Tao) signifir.a na linguu chinezulitteralmentc V7:a, caminho, estrada; mas, evidentemente,no na sua aignificao usual, ordinria, corrente, quoesta palavra tornada, por Lao-t.ze no Tao-te-kinq. Sel-o-ha, porm, em sentido figura.do, como nas expressescaminho da virbude, estrada U

    (~1;~r,)A palavra via encontra-se frequentementetanto no Antigo como no Novo 'l'cstumento em signifi-cao figurado ou symbnlica : t arnliuloa iu via hona,et ca llos justorum cuBLndia.m>; Ambu lnns rccto itinerc,et timeus Deum, rlespicitur ah co, qui infarni graditurvia (IA'./Jcr L'rouerhiorusn, cap. H, v. ~O o cap. X_IV, v2); Bcat.i omnos, qui tiruent Domiuum, qui ambuluntin viis cjus tLiber Psuiuioruni, cap. CXXI.C, v. L); Vaeduplici corde, et labiis ecelestis, e manibus mulefacien-tibus, et pcccatori terrarn ingredieuti d uabus viis; Vaebis, qui perdidorunt snstinent.iarn ct qui dere liqucruntvias rectus, et divoruorunt iu vias prnvas (Li[;er Eccle-siastici, cap. 1I, v. Jr e lG): Intrate per nugustarnportam : quia lata porta, et spntiosa via est, qnac ducitad per

  • pnl.rvra Tao sign fica va o mesmo que Ente Siiprema,Deus, - corno pqdu vcricnt-sc nos cscriptos dos citadosPrruurc, Mo11L11c.1;i e Auiiot, !i

    Para o suhio :Unrnst1.t, Tao era a. Raziio Spre-"111.il~ Deus. Foi SPG a dcuouiinuo rle Razo Supremaque clle traduziu vn.rius passngons do Too-te-kinq ; ostrer, carucbercs l-Ll 1:-1Ve1: do X1 V capitulo considerou-oscorno rt~prod!JC

  • u sntmt: DA SILVA J1Jl?NDESvia entendera m ::i, pala vra 'I'ao os mais antigos com-metarloros chinczes de Lao-tze, entre os gua.eR Choang-tze, Ho-kunn-tze e Ho-chnnn-koug U~).

    \Para Chulmers, a palavra I'ao na accept;o cm-pregada no Tuo-ie-kuu} in t.rarl uzi vcl. Fia, Ilaeiio, Verbo,Logos eo termos

  • LAO-TZE 1~ A SUA DOU'l'ttlNA

    teucia (d). I'aru o coronel Chcng-ki-.ong, 1'o l~Via, istnt\ o mecanismo de todas m~ trnusformnes soflridaapelo universo pnra sal.ir

  • MANUEL DA SILVA ).UENDES

    ra de outras ideias prgadas por Lao-tzc, que no Tao-te-lcing se no contm, como tambem e principalmen-te de abstrusos e absurdos desenvolvimentos, se n de {.puras e phant.rsioaas invenes dos Requazcs do mestre,formou-se, seculos depois da sua morte, um corpo dedoutrinas e de praticas religiosas e cultuaes, que cons-tituiram a. religio taoista.

    A lenda collaborou; e Lao-tze, de sim ples mor-tal, de zeloso biblicthecnrio da crtc dos Ch ou, de ho-mem de talento e de virtude (como o illustre historia-dor chiuez Se-ma-eh' icu uo l-o descreve e apresenta),passou na lenda, a ser filho do Ceo, concebido sem peu-cado, filho de uma virgem, que virgem ficou depois doparto, doutor j quando menino, puro espirita encarna-do, a segunda pessoa da trindade taoista. (';').

    No cabe nos Iimites d'esta pequena dissertaoa exposio da doutrina da religio taoista. Levariamuito longe e tomaria muito tempo, De resto, ella noofferece, comparada com a doutrina contida no Tuo-te-lcing, seno pouco interesso philosophico; no 6, comoseria de esperar que fosse, um corpo ele doutrinas e depraticas religiosas ou cu ltunes dcri vadas logica e rigo-rosamente da doutrinu de Luo-tze. Furei, por isso, ape-uas urna ligeira exposio, para terminar, do que seja. areligio taoista.

    '!'oda a religio

  • tAQ ..J.lZE E A SUA DOtJ'fRiNA

    Diz-se que o taosmo o culto da Razo e queos taoistas so racionalistas, e epicuristas na. moral,Diz-se que o taosmo lima religio derivada do brah-manjamo ou do buddhismo. Vimos tambcm que haque111 sn pponha que a doutrina de Lao-tze uma ap-propriao da doutrina rio Antigo Testamento, expostade uma modo peculiar :: Aeia ; e mais aiudu: .que houve'lllOin aventasse que o contedo do Tao-te-kinq provaque os priucipaos Jogmas do christiauismo fora in reve-lados aos habitantes do Celeste Imprio mais ele ciucoeeculos antes da vinda de Ohristo .

    .Ha que distingir : uma cousa. a doutrina, deLao-bze tal como se contm no Too-te-Icinq, ou o tuois-ruo philosophioo ; outra cousa o taoismo-religio. Este que apresenta aspectos variados, sobre cada um dosquaes muito haveria que dizer, se, para mais do quepara. aprecial-o sob o , uspccto quo julgo domiuaut.e, otempo so bcj asse.

    O uuctor do Tuo-te-lcituj m u 1.ca prgou religio o u~upersLio algurna.: muutcvc-se sempre no terreno pl\i-lo:-;opl.tico e iuorul ; 011 se algmna religio pregou, foisomente :i do culto interno ao Tao. Furalll os seus pre-.cudidos discipulos ou sequazes que lhe adulteraram adou trina com interpretaes e desen volvirueutos absur-dos. Nos coinmcnturios de Lie-tze e Choang-tze encou-t.ram-se j as primeiras supersties; nos subsequentesso ellas cada vez era maior numero (8).u&t PWWWWWW@P :P wc e z

    (8) 'I'here is hardly a word i11 bis (of Lao-tze) trea-tise that savours either of supcrstit.ion or religion. lnthe works of Lieh-tsze a nd Chwaug-tsze, his enrlicstIollowers of note, wc fiud abundance of grouesque su-pcratibione ; but thcir belies (if indecd we can say thatt.hey had beliefs) had not bccome embodicd in any re-Iigious inst.i tu tions. When we come to the Oh 'in dynas -ty (2~1-206 H. C.), we meet with a 'I'oism in thc

    247

  • jj.f A N lJEE DA SI L T" l1 ld E1NDES

    Co1110 n'Iigiil.u, o tuoi-rno couicou a cx ist.ir c.L~n~LLdr: mil n nn os clPpois da morte de T-1:t0-Lz;c. No tempoela dyna: t.in Cl1'i1i (2'J 1

  • LA.o.rrz1~E ASUA DOUTRINA

    mo lHL China (fins do 1.0 sculo) que o taosmo come-ou a constituir-se como rrligio. Mas, conservando dadoutrina de Lao-tzc :qicuaH alguns trnos, e esses mes-mos no maior numero deturpados, falho, por isso, de umcorpo cousisteu to de dou trinas, no conseguiu organisar--sc seno custa de emprstimos de ideias e praticascultuaes do buddhismo (.'J).

    O panthoon dos deuses, deusas e genios, que aastrologia taoista tinha verificado existirem nos astros,e cuja alma eram, foi ento alargado para dar cabimen-to a novas divindades; o ceo foi, por isso, .augmcntudo, maneira do ceo hind, com varias regies, e n'ellasse fizeram residir as almas

  • MAlVUEL us SILVA IJiENIJESNa moral, porm, no assim. A consciencia chi-

    neza ocdo se nmoldara por completo ao systema morn lde ( 'onfucio, O Lud.Jhismo e o tnoifmo enconl.rurnrn ja alma chiucza decidi.ln mente coufuciouista. Coufucioreinava. na conscicncia elo pnvo chinez como soberanoabsoluto. JG, pnra mais, o hnd lrisrno e o tn oismo nioLinhruu sy1~Lcma moral que 8U b~ti !-.11isfle co m vuntngemo do Confucio. AccriLar:trn -u'o. (),11e, de resto, to per~feito ellc era, que os primeiros missionnr ios que

  • LA.O..'l1ZI~ ln A su A DOUTRINA

    No taoismo no hn predesl.inuo : o homem intcirnmcuto livre ; mns a rosponsnhilirlade segue-o nosseus netos, como a sombra srgue os corpos (12). O deusque preside vida (dii o Livro das lieconipensas e dasPenas), inscreve todas as faltas e todos os crimes, to-dus a.H boas e toe las as m~s aces elos homens e vae--os p1111i11doe rel'.OlllJH~n~in.ndo j a'csLn. vida (13).,......,." =-w~+AW1Wt11;1T ~

    ( l:J) Thui-sbang dit : le malhcur et le honheurdn I'uornm e nc non t r)oint dt~rmius d'a.vance ~ scule-

    t 11l 1 l . " l' l'men iomme s ntt.iro . ur-mome uu ou nutre par e:acouduitc. La rco mpense d u- bien et la punition du malles sui vent cerume l'ombre suit les corps (l(an-ing-p'icn,verso de St. Julien, ag. 6).

    (./.'3) Le rlieu qui prside la vie, inscrit tou-tes ccs sortes de crirnos, ot sui vant qu'ils sont gravesou lgers, il retrunchc des priodes de douzo uns ou deceut jours. Qnnnd lo noinhre d~s jours est puis, l'hom-mo mcurt.; et Hi, n.u mnmcnt de sn mort, il J1Li rcstni.eucoro quclquc Iu utc :\ cxpier il f'Hit; dPsce11dn~ lo ma-J lwur suL' f1PH fils ou ses pet.is-Iilsa (l\cc.n-1!)-p'.1'.cn, vcrsiode 8L Iulien, png. GO~~).

    , 'Uutros taioisbas allirmuui que FL sanco dos cri-mes ou pccc.ulos voluntnrios consiste em unia serio deexietcncias mais ou menos infelizes atravez das quaes ohomem pcccmlor jrn~Rn., at que os expie e possa reu-u ir-se ao G.rn nde Todo (Cheug-ki-t.cng, Les Cliinoi peinispar cux-snmes, pag. U/J). .

    11 y a au cicl ot sue la torre des esprit.s chargesde rccliorcher Ice fautes dns b ommes, et qui, suivant lal1!grct ou ln. gravit do ces fuu tcs, retranchent de leurv io dos priodes de ccnt jours. Quand les priodes decnt jours ont t n ue fois dimiuues, la pauvret lesmine pnu it peu; ils sont en butbe . une Ioule de cha-grin8 ct dinforbuncs; tous le hounnos les poursuiventde lcur haiue; les su1Jpliccs ct lcs malheurs les acom-

    251

  • ll1fANUE'fJ DA S!Ll' A MENDES

    Curioso. porm, d e notar que a sobrevi vencia.da nlma ao corpo ou a exieteucia Ha n'isto, portanto, de mistura corn ae antigasconcepes chinezas, tambm alguma cousa da philoso-

    pagneut: ]e bonhcur et ln. joie los fuient ot des aatressinistres leu cuvoyent dos calamits. Quand toutes lespriodes de ceut jours sout puisee, ils meurent (l{an~ing-p'icn, verso de St. Julien, pag. 10).

    252

  • I,Ao-rrz1~ E A SUA DOUT11INA

    phia de Lao-tze. Ha aqui, traduzida sob uma formareligiosa, a concepo do Ttio como Via, co1110 meca-nismo das transformaes soffridaa pelo~universo parasahir da unidade pri mit.ivu o para regressar a. ellu; ha aconcepo do Tao corno via syrn bolica pela qual os seres passam no circulo universal dos movimeutoa: hu aconcepo da liberdade Iiu mn.nn com n correspondentercspousnhilidade ; hn a coJte:P.pn do Tao inerte e indif-Hc11t;e porant o nso do bem e do mal ; e hn, aomesmo tempo. :J, concepo do Tao corno Virtude oualimento do homem na via que leva . felicidade eterna.

    Disse.

    253

  • r ~ ..

  • CHUANG O BORBOLETA

    Chuaug 'I'ze veiu ao inundo quatrocentos anos au-tos de Cristo e deixou-nos ama obra preciosa, sobre oTao, no tanto sob o ponto de vista scientfico, masprincipalmente sob o ponto de vista literario.

    O Tao era e ficou sendo, antes e depois de Ohuang'I'zo, uma ideia profundamente filosfica, qual os me-lhores pensadores deram tratos sem couseguirem jamaisp-la em suficiente clareza.

    Antes de Lao Tze estu ideia jA existia ; mas Lac'I'zo poln maneira coiuo a tratou e desenvolveu [TuoTcli 1.\-ing), hem podo ser couaidorado o pai do Tao.

    Auos gastou Chuang a matutar no Tao ; e somuito nos no disso da sua naturczn, deixou-nos aomenos conceitos morais e filosoficoa em to belas for-mas traduzidos, que ainda hoje no trazem perdida afrescura primitiva,

    Os leitores, por certo, ho de querer saber o queera o Tao segundo Chunng o Borboleta. Difcil tarefade cumprir - pois, no fim de contas, d-nos a leiturada sua obra a impresso de que le mesmo tambmpouco sabia o que o Tao era.

    Tao no corneou nem im ter. Tao no pdeser visto, nem pode ser ouvido ; se visto, se ouvido,

    - r 'I' N- t 1 ' l d' fnuo e ao. ao em orrna, mas e e e quem a or-rua s Iormas ; no tem nome, porque a forma prece-de o nome.

    Tao uo domasiadameute pequouo para os maio-~

    255

  • MANUBn DA SIE V'A JJ115NDES

    res, uern demasinda.meut.o grnndc 11~n:i. 08 mais pequenos. Assim, no seu seio torlns as ccu-ns cahcru, No pela actividurle do jJ1.:ns;.tri11rnC1) quo T:10 podn ncr oo-h id J - . 1 111 .u ec: o, ncru po n ncyao :1prox1ma1 o. .no ()\.t:.;Lo c1111~

    t.antcuientc inerte, prat,icando 1:.:uusLa.nL

  • OI1UANG O BOJ1BOLETA

    a aceitar imposies de maiorias, continuou a lutar 1utou a vida. in teira pelo triu n fo do seu 'I'no.

    N :.o o conseguiu ; mas d cixou-nos em com pensa-io conceitos morues e filosoflcos adruiraveis, traduzi-dos, corno a traz notaruos, cm no menos ndmira veis for-mas. Quereriumos aqui mostr-lo, mas falta de espa-o mo-Io no permite,

    Aponns uru cx emjrlo. Vendo o rei de Cli'u

  • MANUEn DA smv .A. MENDEB

    O esqueleto abriu medonhamente oa olhos e sol-tou enrgica negativa. Ide, sou eu o esqueleto.

    ** *Com os discpulos de Oonfucio, que pretendiam

    ter' herdado a chave do enigma da vida humana e doUniverso, teve Chuang aceradas lutas. Estavam aquo-les, evidentemente, sobre terreno solidificado, e o nossoChuang um pouco sobre areia ...

    Apezar disso; Chuang levava-os, pela agudeza doseu engenho, frequentes vezes, se no convico, aomenos a calarem-se. Por vezes, lanava mo de argu-mentos fulminantemente irreepondiveis.

    Este, por exemplo, ficou celebre e deu-lhe o pito-resco sobriquet de Borboleta. : que sabeis vs outros,que sei eu, que sabia o proprio Confucio das causasiniciaes e das fnaes, e at das prprias cousas que diaa dia ocorrem '? ! -- Nada; ou se no to pouco, certezaalguma tendes vs, nem cu, nem le, de serem as cou-sas o r1uo ns pensamos delas. A vida um sonho etodos ns uns sonhadores.

    Eu exemplifico - acrescentava le, Uma vez, eu,Chuang 'I'ze, sonhei que era uma borboleta. Como talandei, andei de jardim para pomar, de pomar parajardim, volitando tal qualmente volitam borboletas. Dehomem trouxe perdida de todo a individualidade e aminha conecienca era toda a de uma borboleta o elemais nada.

    Repentinamente mudei de ser ; acordei e vi-mehomem outra vez. Ora agora pregunto eu : seria euonto um homem a sonhar que era uma. borboleta, ouserei eu agora uma borboleta a. sonhar que sou umh '2'omem .....

    De "0 Macaense", de 6/7/19iU. N. U

  • FILOSOFIA DA CRIAO

    Nos paizes ocidentais para se explicar satisfato-riamente a existencia da mquina do mundo foi sempree em toda a parte preciso admitir que um ente supre-1110 a fez e a pz a andar : in principio creavit Deuscoelum et terram. E, fra disto, nunca uinguem sou-be dizer cousa que satisfizesse.

    Ora teria sido assim, ou no teria sido ; mas averdade que esta explicao ou crena vem j dotempo elo vai Atlo o tom tapado sempre Ul.o hem estegrande buraco da curiosidade de toda a gente, culta einculta, do sabor co1110 que isto apareceu o foi feito,corno virem os bbs de Frana tapa sobre a sua pro-cedeucia a curiosidade das crianas.

    Equivalem-se as duas explicaes 1 - Pode serque sim ; mas, se iguais em verdade forem, chegaremos concluso de que, afinal, crianas somos todos, umasgrandes, outras pequenas. A este respeito tem a scien-eia querido falar tambcrn, e muito sobre o ponto, maisou menos scientifoamente, tem sido escrito ; porm res-posta directa, satisfatria grande pregunta no veiuainda da sciencia e talvez nunca vir.

    Segundo Laplace e todos os outros modernosscientietas (que deixaram de lr pela cartilha do PadreIncio), isto (a terra, os astros, etc.) teria comeadopor uma nebulosa, que tanto andou e rodopiou, queveiu a dar no que ns, espantados, vemos, quando cmIimpidas noites para o alto os olhos erguemos, ou quan-

    259

  • 110 mesmo com ol hos do vr em volt:i, :i.rwi11} ll:l(' su bsistenbe ; quetudo o que {~dotntlo de inlichgcnciu.1 a. recebeu por deri-

  • }"ILOSOitJA DA CRIAO

    vao da. Sua soberana razo ; e que tudo o que semove, recebeu impulso da Sua suprema sotividade.

    Ser. uma soluo simplista, verdadeira ou noverdadeira ; porm sob o ponto de vista 'lgico, assentabem no eapirito; satisfaz, e outra que to bem assenteo tanto satisfaa, nunca ninguem achou. Fra disto, tudo sceticismo prudente, ou no prudente, mas nosoluo.

    *i;t *Vejamos agora como o mesmo problema. foi e

    tem sido pelo pensamento chins compreendido e solu-cionado. No ha Oriador ; o universo um organismovivo, vitalisado por dois princpios ou substancias, yange yin, que, combinados, so o Tao, isto ; o procesausdas cousas, a via, a ordem natural, a providencia, e semanifesta. ritmiticamente no fluxo e refluxo constante

  • tudo procede. No liou vc' cria co do rnu]a ; os entesexistentes so a activfrhde do 'J.1an, s:In urna continuaemanao ou efuso dr, pn rtr.H do ya ng e do yi n mshens e kweis. O uni verso em tndas as suus part.os rHtpermeado dles ; os seree animados e 011 seres inanimados "os contm.

    Como um slien parte da hen.t flcn. metade douniverso, parte do yang, le couaiderudo geralmcutebom ser, bom espirito ; um kwei, partcula do yin, ,pelo contrrio, um espirito mau, um espetro, um diabo.O mundo est, pois, povoado de miriades de espiritosbons e de miriades de espiribos maus ; e hu-oa bons eha-os maus em varios graus. O Ceo, onde est o yaugma is concentrado, , portanto, a influencia vor excclen,eia boa. A. Terra mais da natureza do Yi.n ; , porm-tambem uma influencia, urna d ivindud e preponderante ;como preponderautes. tarn bb111 so os quatro pontos car- rdiais ; e, em certos modos, os espiritoa

  • li'ILOSOPIA DA ilIAO

    tencia, imnginou resposta ou concepo to complexa,bo uebulusa, tito abst.ru~1.1, e co111 e.la p,1~ sn tisfvz.

    No truba.lhou, c

  • ~--~---............_._ ..:a~rr~..- ~ ...,., -.-

  • l1

    1

    1.1

    ..~l

    A SOMBRA E A PENUMBRACerto dia- a Penumbra disse . Sombra;.l~B por vezes inquieta por demuis ;1~~,quando o s, o teu bulir m'assombraTanto, que aos saces vou por onde vais.Outras vezes s quieta como tantoA preguia no o ; e te aborreo,Pois da vida me tiras seu encanto.A liberdade, aquilo de mais preo,Com Tao, vezes nenhumas, concordada,.J1egra tua mudar consoutemonte~ern razo relectida, Porque dada,O Sombra, ~ vida. tal, incongruente ?

    :rn Penumbra falou n Sombra assim :'I'udo aquilo quo ou fao, de verdadeNo o fao: outro, outro cm frente n mnn,Esae o pintor-: da sua actividado'l1o smente apagada imagem sou.E se d'ele eu dependo como efeito,Tambm ele, como eu, est sujeito.A que1n de si a vida lhe criou.E, assim, por hi alm, e sempre asaim,Como nos Livros Santos est dito,At, de grau em grau, chegar ao fim :A Deus, Unidade. ao Infinito! ...

    (De uma ilu.strao, em prosa, da lmanencia do Tao ~Cliu,ang~1,zu. Conto oferecido ao exmo, sr. Humberto deAvelar).

    (Da ldei Nova-N .. 14. de 31/3/1929).

    265

  • CHUANG ...TZ E A BORBOLEl'A

    Uma noite serena rle vero,Noite de estrelas, morna, de luar,Sob um sono inquieto, irregular,Um sonho tive original. eu, Chuang ;- Sonho ui egre, cxquisi to, extravagante ;Souhci (se algum j teve um sonho uesim l)Sonhei que era uma lpida, eleganteBorboleta ...

    Da dlia, do j asmim,Do cravo, do junquillio, da violeta,Tempos e tempos, uma vida inteira,Andei eu, verdadeira borboleta,Contente, buliosa, mui ligeira,O seu nectar dulciesimo sugando ;E montes, vales, campos e ribeirasPercorri, doidamente volitandoCom outras coloridae compauheirus.

    Acordei. ]~ vi-me ento(Qual nunca se viu alguem)No insecto j, pormEste homem que vdes, Chuang !

    Metempsicose foi, talvez ... Contudo,Como posso ser eu certificadoSe sim ou no sonhei, ou se, enfim, tudoNeste inundo, a dormir ou acordado,Ser sonho] ! Era eu homem e sonheiQuo era uma borboleta, ou esse insectoEra e eou, e, por erro do intelecto,J 1 h ~ ir N'"" 1u go ser OlllClll o llUO BOU .. - 1.10 Bel ....

    De uma ilustrao, em prosa, das Iluses de Ohuang-11z.Ao exmo, sr. li. 111.. V1:zeu Pinheiro oferece

    .A:t. Silva A1. endes.l)o "Jornal de ll:f acnu,, 6/6/1 fJ29. N. o 1G.

    t

    266

  • Cl-IUANG ..TZ E A MORTEDE SUA tviUL~~ER

    ,Mra uovn, c],~gnnte e virtucaa1\. mulher de Chnang-Tz. Porm, um dia,Levou-a morte crua e impiedosaNo.1'garras de unia negra epidemia.Hui-Tz, da mcsmu aldeia e j: de idade,Bra homem que nj usta va o seu vi ver,Strit.amente e sem moatras de vaidade,s regras de Confcio. O qual, ao terDo facto informaes presenciais,Se foi logo, o cablo em desalinho,De snnd.lias o cm vestes tituais,A

  • JJJANUEL DA SILVA MENDES

    ~- Puro engano, visiuho, No momentoEm que a morte levou minha mulher,Senti dr to intensa de a perder,Que se mo perturbou o eutendimento.Paesnda, porm, breve a nuvem fria,No caso assim pensei, n mente culma :Ela, antes de nascer, j existia,Pois que, de na+a, nada vem: fosse alma,lfosso forn, ou su bstancia eterial.O quer que fosse um dia tomou forma~~ ente humano, de Tao segundo n norma,Ei-la trazida ~1vida tcrrial.Nasceu. cresceu, viveu, morreu. I~, ngorn,Em nova, mais perfeita fase entrada,Seguindo vai pelo. existenoia fraAt chegar a Deus, imaculada.Por isso, junto dela, a Natureza,Confuso do meu ser e meu espanto,Insonda vel oceano de beleza,JTim meu carme celebro, adoro e canto.

    /)e i1.rn.a 1:Z-nslrao, em. pvoea, do ca1J. Perfeita felici(ladc