manuel da silva mendes, professor e homem de cultura

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1351 * Professor e investigador. Administração n.º 58, vol. XV, 2002-4.º, 1351-1374 MANUEL DA SILVA MENDES, PROFESSOR E HOMEM DE CULTURA António Aresta* Manuel da Silva Mendes foi um dos representantes mais notáveis da intelectualidade portuguesa contemporânea de Macau. Não é possível dissociá-lo de uma porfiada intervenção cívica e po- lítica, do estudo e da divulgação do taoísmo, da religião e arte chinesas ou, ainda, das magnas tarefas educativas em que se envolveu. Acompanhemos, então, o roteiro da sua vida. DOS ANOS DE FORMAÇÃO ATÉ AO SOCIALISMO LIBERTÁRIO Em Portugal, desde a segunda metade do século XIX até aos anos da República, viveram-se tempos agitados. Eram anos de viragem, mar- cados por diversas rupturas epistemológicas no campo da literatura, das artes, das ideologias, da economia ou das ideias. E o caminho das ideias traçava uma tripla encruzilhada: a geração de 1852, com Amorim Viana e a análise das contradições económicas de Proudhon; a geração de 1870, com o seu pluralismo estético, ideológico e filosófico; a doutrinação positivista, seguindo a óptica da escola de Littré. Na marginália ficam, entre outros, o enciclopedismo de Sampaio Bruno e esse romântico per- dido no realismo que foi Camilo Castelo Branco. A revolução republicana de 31 de Janeiro de 1891 marcava o início do inconformismo nacional, no dizer de Guerra Junqueiro, em relação a um sistema político que não se coadunava com o mais esclarecido sentir colectivo. Daí que as rupturas epistemológicas, descentradas do poder, principalmente nas artes, nas ideias e na literatura, tivessem a necessida-

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  • 1351* Professor e investigador.

    Administrao n. 58, vol. XV, 2002-4., 1351-1374

    MANUEL DA SILVA MENDES,PROFESSOR E HOMEM DE CULTURA

    Antnio Aresta*

    Manuel da Silva Mendes foi um dos representantes mais notveisda intelectualidade portuguesa contempornea de Macau.

    No possvel dissoci-lo de uma porfiada interveno cvica e po-ltica, do estudo e da divulgao do taosmo, da religio e arte chinesasou, ainda, das magnas tarefas educativas em que se envolveu.

    Acompanhemos, ento, o roteiro da sua vida.

    DOS ANOS DE FORMAO AT AO SOCIALISMOLIBERTRIO

    Em Portugal, desde a segunda metade do sculo XIX at aos anosda Repblica, viveram-se tempos agitados. Eram anos de viragem, mar-cados por diversas rupturas epistemolgicas no campo da literatura, dasartes, das ideologias, da economia ou das ideias. E o caminho das ideiastraava uma tripla encruzilhada: a gerao de 1852, com Amorim Vianae a anlise das contradies econmicas de Proudhon; a gerao de 1870,com o seu pluralismo esttico, ideolgico e filosfico; a doutrinaopositivista, seguindo a ptica da escola de Littr. Na marginlia ficam,entre outros, o enciclopedismo de Sampaio Bruno e esse romntico per-dido no realismo que foi Camilo Castelo Branco.

    A revoluo republicana de 31 de Janeiro de 1891 marcava o inciodo inconformismo nacional, no dizer de Guerra Junqueiro, em relao aum sistema poltico que no se coadunava com o mais esclarecido sentircolectivo. Da que as rupturas epistemolgicas, descentradas do poder,principalmente nas artes, nas ideias e na literatura, tivessem a necessida-

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    de de criar um espao para um saber to polmico quanto incmodo emordem a gerir um novo poder, um poder simblico.

    O suicdio de Antero de Quental, tambm em 1891, dava umanota inslita porquanto uma tragdia existencial poderia ter tido umadas suas motivaes mais profundas na incapacidade de afirmao dopoder simblico, a que alguma mstica budista1 poderia ter emprestadouma inusitada veemncia.

    Antero escrevia: somos republicanos, porque se no compreende-mos que haja Repblica verdadeira fora do Socialismo, no compreende-mos igualmente que fora da Repblica possa o Socialismo realizar-secompletamente2, subsistindo assim a necessidade de um enfoque idea-lista e romntico, bem ao jeito de um manifesto, no vos pedimos quenos dem o Socialismo: dai-nos somente um lugar na Repblica para oprograma socialista, para a iniciativa socialista, para as reformas socialis-tas, e estaremos convosco de todo o corao, porque nos tereis dado quantocom justia podemos exigir de vs, quanto com justia pode o Socialis-mo exigir da Repblica3.

    A caracterizao ideolgica deste fin-de-sicle ficaria irremediavel-mente incompleta sem a anlise mordaz de Ea de Queiroz, sobretudona defesa de Jos Falco, em 1871: O governo de sua majestade sabemuito bem que em Portugal no h partidos republicanos nem socialis-tas, nem conspiradores; sabe perfeitamente que nem h clubes, nem agen-tes da Internacional, nem associaes secretas, nem escritores que ensi-nem o socialismo, nem jornais que o discutam nem armas que o reali-zem. Pois bem! o governo inventa em Portugal o socialismo, como osegundo imprio inventava as conspiraes em Paris. O governo cria ofantasma vermelho, para ter o prazer de o combater. Repblica em Por-tugal apenas uma conspirao da poltica. Em Portugal, todos o sa-bem, h trs ou quatro pensadores que no querem sair por ora da cnca-va paz dos seus livros. E a est o socialismo em Portugal4.

    No ano lectivo de 1891/1892, Manuel da Silva Mendes encontra-va-se a frequentar o primeiro ano do Curso de Direito, na Universidade

    1 Jos Alves, Antero de Quental, Les Mortelles Contradictions, Fondation CalousteGulbenkian, Paris, 1982, p. 277.

    2 Prosas Scio-Polticas, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982, p. 391.3 Joo Medina, As Conferncias do Casino e o Socialismo em Portugal (Antologia),

    Publicaes Dom Quixote, 1984, p. 204.4 Idem, Op. Cit., p. 272.

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    de Coimbra. E Coimbra era um foco de irradiao intelectual, com ca-ractersticas nicas no pas5. O poeta Eugnio de Castro lanava as se-mentes de um simbolismo comprometido e a ressaca das Confernciasdo Casino movimentava os debates de ideias que, muitas vezes, pare-ciam no andar longe da essncia das aporias de Zeno de Eleia.

    Os anos de Coimbra sero, para Manuel da Silva Mendes, decisivosa todos os ttulos. Com efeito, este jovem nortenho desemboca numaCoimbra universitria profundamente empenhada em demonstrar queaos anos da razo se sucedem os anos da contestao, contestao essaviolentamente patente no Porto, aquando do 31 de Janeiro, a primeiragrande tentativa para derrubar a monarquia.

    Entre os seus Professores, contava-se o mais obscuro elemento doclebre grupo dos Vencidos da Vida, o Dr. Antnio Cndido, um prceredo positivismo e tido como o mais arrebatado tribuno parlamentaroitocentista; o Dr. Avelino Callisto, figura histrinica, alvo preferencialdo esprito custico de Trindade Coelho e de Ramalho Ortigo; o Dr.Jos Frederico Laranjo, Par do Reino e o introdutor da cadeira de DireitoInternacional nas Faculdades de Direito; ou o Dr. Lopes Praa, futuromestre de filosofia dos prncipes D. Lus Filipe e D. Manuel, desde 1904at ao ano do regicdio, 1908.

    E ser exactamente este ltimo, o Dr. Lopes Praa, catedrtico titu-lar da cadeira de Direito Civil, quem ir exercer uma discreta mas vigo-rosa influncia no jovem Manuel da Silva Mendes.

    Em 1868, Lopes Praa publica a primeira Histria da Filosofia emPortugal, obra da qual existem algumas reedies contemporneas.

    Podem detectar-se extraordinrias semelhanas, no planeamento ena construo da arquitectura terica, entre a citada obra e a histria dosocialismo libertrio, da autoria de Manuel da Silva Mendes. Se LopesPraa procurou um equilbrio expositivo na sua histria da filosofia, dei-xando escapar de quando em vez algum indisfarcvel krausismo, SilvaMendes tentou ir mais alm fazendo da absoluta neutralidade o seu im-possvel ofcio de historiador. Essa neutralidade desmorona-se na paixocom que disseca algumas das grandes correntes histricas do socialismolibertrio.

    5 A Universidade de Coimbra uma das mais antigas e prestigiadas universida-des europeias, fundada a 1 de Maro de 1290. Numa perspectiva recente, vejam-se asActas do Congresso de Histria da Universidade: 7. Centenrio da Universidade deCoimbra, 5 volumes, 1991.

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    Em 1896, Manuel da Silva Mendes finaliza o seu curso de Direito(bacharelato), sendo citado pelo seu mrito acadmico e literrio.

    Publica nesse mesmo ano o ensaio, Socialismo Libertrio ou Anarchismo:Histria e Doutrina, que, mais do que uma simples dissertao acadmi-ca, uma obra pioneira e fundamental. Ontem como hoje, continua a sera primeira e nica histria geral do socialismo libertrio escrita em Por-tugal, o que no deixa de, no mnimo, ser curioso.

    Tambm em 1896, e no despiciendo recordar, aparece na revistacoimbr O Instituto, um dos primeiros estudos dedicados ao budismo,sobre A Phenomenalidade, a Alma e o Eu no Budismo, da autoria de Vas-concellos Abreu, ao mesmo tempo que promulgada uma severa leicontra o anarquismo.

    A obra de Manuel da Silva Mendes, Socialismo Libertrio ouAnarchismo: Histria e Doutrina, , na realidade uma histria geral domovimento das ideias libertrias e anarquistas, procurando surpreenderesse pensamento nas contradies fecundas de todos os grandes pensado-res e dando nfase a uma filosofia da historicidade. Poderemos situ-lona mesma linha de anlise com que Nietzsche julgou Goethe e Hegel, apropsito do esprito do tempo e do presente como eternidade.

    Silva Mendes apresenta uma copiosa fundamentao bibliogrfica6,permitindo-nos ajuizar sobre a actualidade e o pluralismo das fontes e oconsequente esforo de sistematizao e de sntese que teve necessidadede efectuar.

    O ensaio espraia-se em dez captulos, a saber: Os Predecessores;Karl Marx e a Associao Internacional dos Trabalhadores at 1873;Bakounine e o Movimento Anarquista at 1876; O Movimento TericoAnarquista desde 1876 at actualidade; A Propaganda pelo Facto; Evo-luo Terica do Anarquismo; Teoria Histrica Socialista; A EvoluoEconmica; Em Sociedade Comunista; A Evoluo Poltica.

    Os propsitos de Manuel da Silva Mendes eram encher uma lacu-na que existe na nossa literatura eis o fim deste livro.(...) Entre ns, almde um opsculo do Sr. Conselheiro Serpa Pimentel e de algumas publi-caes muito ligeiras, nada h escrito sobre o assunto; por isso, somenteem livros de fora tm podido os estudiosos surpreender o pensamento

    6 A ttulo de exemplo: Andr Lichtenberger, Le Socialisme au XVIII sicle, Paris,1895; Michel Dragomonov, Correspondence de Bakounine, Paris, 1896; H.Spencer,LIndividu Contre Ltat, Paris, 1888; Karl Marx, Das Kapital, s/d; Adolfo Posada, La

    Sociologie et LAnarquisme, Paris, 1894.

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    desta corrente socialista7, e situar-se como um historiador neutral, ob-servando compreensivamente o curso da histria das ideias, abstendo-sede colocar, aqui e ali, uma nota enftica de repulsa ou de adeso. Naelaborao deste livro procuramos sistematicamente no emitir a nossaopinio. No deviamos emiti-la porque o fim a que nos propusemos foiunicamente apresentar a histria e a doutrina anarquista na sua expres-so mais pura. (...) Parecer aqui e ali que perfilhamos quanto dizemos.No se faa, porm, tal juzo que temerrio, modo de exposio ou svezes para seleccionar opinies divergentes dentro da corrente. esteum livro que nem defende, nem aconselha, nem aplaude, nem provoca:expe. E quem pretende simplesmente expor, fica bem atrs da tela.8.

    Ao mesmo tempo procurava desmitificar os falsos juzos que pesa-vam na imagem do socialismo libertrio: de resto, ningum se deslus-tra com ser anarquista, so-no algumas das maiores individualidades daactualidade: Herbert Spencer, Kropotkine, Elise Reclus, Tolstoi, Ibsen,isto , o maior socilogo, o maior apstolo da liberdade, o maior gegrafo,o maior cristo, o maior dramaturgo9, apontando o exemplo de to pro-eminentes personalidades luz do comentrio de Goethe, de que nada mais inconsequente do que a lgica consequente porque ela fabrica eproduz o que no natural. Da a necessidade de ir em busca das razes,que se perdem no tempo imemorial.

    Silva Mendes, na esteira de outros historiadores e pensadores, estconvicto de que a fonte matricial das teorias socialistas libertrias ouanarquistas se pode encontrar na China, mais propriamente no Tao TeChing, atribudo a Lao Tse: seiscentos anos antes da nossa era, Lao Tse,meditando sobre os destinos do homem, teria escrito em oitenta paginastoda a teoria anarquista, tal como hoje a expoem Elise Reclus e o prn-cipe Kropotkine.(...) Da sia, enfim, teria vindo para a Europa o espri-to de revolta pelo veculo mongol, de Mazdec a Bakounine; a anarquia,monglica na sua origem, passaria para os arias, porque tudo nos veio dasia, tanto o bem como o mal, a Bblia, a cincia, a liberdade, a filosofiae a clera10.

    Anos volvidos, quando se enfronha no estudo da filosofia taosta,ir situar o poderoso contributo especulativo indiano, sobretudo a cor-

    7 Socialismo Libertrio ou Anarquismo: Histria e Doutrina, Coimbra, 1896, p. XI.8 Idem, Op. Cit., p. XIII.9 Idem, Op. Cit., p. XIII.10 Idem, Op. Cit., p. 3.

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    rente Upanishad, dentro do hindusmo, como uma referncia fundamen-tal para se compreenderem os predicados especficos dos taosmos. Previneque necessrio repelir a opinio assaz vulgarisada por escritores de m fou ignorantes de que o anarquismo no passa de uma reproduo das anti-gas utopias socialistas, como as de Plato, Morus, Campanella ou Fourierque imaginaram sistemas sociais, como os dramaturgos cenas de teatro,onde tudo est de antemo ensaiado para produzir os efeitos calculados11.

    Chama a ateno para o valor do estudo comparado da filosofia, queter o mesmo valor que o estudo comparado das civilizaes, podendoconsiderar-se um pioneiro nesta rea.

    O anarquismo, na sua opinio, no uma produo abrupta e arti-ficial, mas sim uma derivao lgica de passados estdios de civilizaoque, transformados e intensificados por novas condies sociais, repre-sentam uma tendncia social definida a que o futuro destinar plenarealizao, afirmando-se como um dever de humanidade e de justiapropugnar pela implantao de um regime de sociedade em que todospossam mover-se livremente na coexistncia social12.

    A partir do sculo XVIII, o socialismo libertrio ou anarquismocomea a mover-se do saber para o poder, sobretudo com as influnciasde Rousseau, de Necker e de Mably. Proudhon merece-lhe um trata-mento preferencial: quanto a ns, ele teve o grande mrito de trazerpara a luz alguns pontos do socialismo que andavam envoltos em nvoasmais ou menos msticas, mais ou menos sentimentais. Teve a audcia defalar com franqueza sobre os problemas religiosos e polticos, para se de-clarar ateu e anarquista, concluindo que Karl Marx, Engels e Lassale so osprimeiros socialistas autoritrios na acepo cientfica deste termo.Proudhon, Bakounine, Guillaume, os primeiros socialistas libertrios13.

    Dentro desta histria geral do socialismo libertrio existe tambmuma referncia ao caso portugus: em Portugal, o movimento anarquis-ta no tem acompanhado o dos outros pases. O socialismo, organizadoprimeiramente pelos estatutos da Aliana de Bakounine, tem-se desen-volvido com tendncias diversas; hoje, porm, merc da influncia edu-cadora de alguns operrios espanhis que tem vivido e vivem no meiodos revolucionrios portugueses, o socialismo propende geralmente para

    11 Idem, Op. Cit., p. 7.12 Idem, Op. Cit., p. 8.13 Idem, Op. Cit., p. 35.

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    a forma anarquista. O operariado de Lisboa, Porto, Coimbra, e outroscentros industriais vai pouco a pouco abandonando as tendncias mar-xistas para se lanar no anarquismo. Convencido da improficuidade datctica parlamentar, repugna-lhes aceitar o socialismo autoritrio. Bas-tantes grupos, mais ou menos secretos, existem nos principais centros,uns professando a propaganda pelo facto sem restries, outros subordi-nando-a a certas regras. Os seus jornais so hoje clandestinos por via dalei de fevereiro deste ano, provocada pelo atentado de Lisboa. Pelo mes-mo motivo secreta a organizao actual dos grupos14.

    Manuel da Silva Mendes era um anarquista em esprito, como bomhegeliano, aproveitando, como dir Croce em 1907, a parte viva da filo-sofia de Hegel, a cincia do esprito objectivo, mas no ousando nuncaassumir-se mediante uma praxis consequente.

    A par desta aventura intelectual, Silva Mendes era um empenhadocombatente pela implantao do regime republicano em Portugal: euera de facto republicaneiro, nesse tempo. Dizia mal da odiosa monarquiae dos monrquicos no Porvir de Souza Fernandes. (...) Dos trs chefes,passava eu, no pblico, por ser o mais vermelho. Os meus inimigos po-lticos iam mais longe. Para me prejudicarem casamento com menina deboa (rica) famlia, apontavam-me como anarquista... Perigoso, muitoperigoso... e ateu!15.

    Mas, num acaso do destino, a vida muda radicalmente.

    OS ANOS DE MACAU

    De Vila Nova de Famalico para Macau, uma cidade perdida naimensido meridional da China, tal foi o itinerrio de Manuel da SilvaMendes.

    Deixemos o autor narrar a sua aventura: Estava eu, no princpio doano de 1901, no meu escritrio de Vila Nova de Famalico a fazer umrequerimento, quando recebi inesperadamente este telegrama: Vagou lugarprofessor Liceu Macau responda convm telegraficamente (ass.) Santos Viegas.Li, reli e fui logo procurar um amigo meu, mdico, que tinha consult-rio defronte.

    14 Idem, Op. Cit., p. 169.15 Jornal de Macau, 31.10.1929. Para este contexto da propaganda republicana e

    sobre o papel do jornal O Porvir e do Senador Sousa Fernandes, veja-se o volume SousaFernandes, edio da Cmara Municipal de Vila Nova de Famalico, 1988, 534 pp..

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    Leia isto. Parabns! que (atalhei) eu no pedi lugarnenhum e no sei se quero ou no.

    Como assim? o que lhe digo. Certo que h meses, monsenhor, tendo eu ido

    visit-lo a So Tiago dAntas, disse-me: o meu amigo aqui no est bem;o seu republicanismo s o prejudica, isto aqui, regenerador ou progres-sista; a repblica h-de vir para Portugal daqui a um sculo, se vier...Porque no vai o meu amigo para o ultramar?! Podia arranjar l coloca-o e dedicava-se a estudos, que para isso que o meu amigo tem maisfeitio.

    E o que lhe respondeu? Eu respondi-lhe que para terra de degredados no iria a no

    ser, sim para lugar de bom clima, e ganhando bem; que aqui auferia osuficiente para viver e no me convinha ir estrumar terra de pretos. Masdiga-me o meu amigo: Macau, Macau l para a China, no inferno, poisno ?...

    Olhe que eu tambm s sei isso... Mas vamos ver o compndiode geografia por onde estudei, h trinta anos, sim, mas Macau deve estarainda no mesmo stio...16.

    Aquilo que seria provavelmente o cumprimento de uma simplescomisso de servio, transformou-se a breve trecho numa estadia de umavida.

    A amizade com Monsenhor Santos Viegas, presidente da Cmarados Deputados, e com Bernardino Machado, poltico e futuro Presidenteda Repblica, ter sido determinante para tomar a deciso que iria mu-dar por completo a sua vida.

    O conhecimento que possua de Macau e do Oriente em geral eramuito, muito vago: Confesso, causaram-me desagradabilssima impres-so os chineses. Eu fazia-os muito outros. Nunca tinha visto nenhum emcarne e osso. Conhecia-os porm: conhecia-os das figuras das caixas defsforos e do Caf Chins da Pvoa de Varzim. Era este caf (onde perdias ditas seis ricas libras) mobilado todo chinesa! Mesas, cadeiras, sofs,alizares das paredes com embutidos de osso e madreprola, pintados compagodes, chineses de rabicho sobre robes de chambre e chinesas coradinhas,mignons, pequeninas, muito engraadas, todas chim-cim, envolvidas em

    16 Jornal de Macau, N. 78, 31.10.1929.

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    mantons de seda bordada, coisa rica... Eram estes chineses e estas chine-sas que eu trazia na cabea.17.

    Para trs ficava um Portugal pr-republicano, social e politicamen-te muitssimo agitado. Era o fim do regime monrquico que se anun-ciava.

    Quando chega a Macau, em 190118, o imprio chins agonizava.A rebelio dos boxers fez estremecer a velha estrutura feudal chinesa,direccionando contra o ocidente, o imperialismo colonial do ocidente,toda a antipatia e todo o dio contra os estrangeiros. O cristianismo foiespecialmente visado, porque atravs da sua doutrinao era o espritoocidental a insinuar-se nas mentalidades e na cultura. De resto, j apartir de 1898, o movimento reformista chins teria o seu campo demanobra muito limitado: as querelas intestinas entre os radicais, deKang e Liang, e entre os conservadores, de Weng e Chang, criaramuma situao insustentvel, oportunamente aproveitada pela impera-triz Tzu-his, que organizou um golpe palaciano de terrveis conse-quncias.

    Manuel da Silva Mendes, numa visita a Canto, em 1902, retmesta imagem: lembro-me de ter presenciado na cidade de Canto ousa-dias extraordinrias: propagandistas sobre bancos nas ruas, pregando smassas a redeno pela revoluo, pelo assassinato das autoridades e logoproclamando as mirficas propriedades de drogas que ofereciam venda,quando distncia algum polcia divisavam. Perodo de herosmos, semdvida esse a que assisti. Centenas de cabeas rolaram mas sempre outrascabeas se ofereciam ao sacrifcio19.

    As potncias coloniais, a Alemanha, a Frana, a Inglaterra e tam-bm a Rssia e os Estados Unidos, ocupam Pequim obtendo igualmentevaliosas concesses, para alm de imporem aos Qing uma pesadssimaindemnizao. Estas sucessivas humilhaes tiveram, contudo, o mritode fazer acelerar o movimento constitucionalista e republicano. Em 1911,o mdico Sun Iat Sen anuncia a formao da repblica chinesa, formal-mente constituda em 1912, com a capital em Nanquim, ocupando essapersonalidade as funes de presidente interino.

    17 Jornal de Macau, 05.11.1929.18 O Governador era Jos Maria de Sousa Horta e Costa (2 vez), o Bispo era D.

    Jos Manuel de Carvalho e Antnio Joaquim Basto presidia ao Leal Senado.19 Macau: Impresses e Recordaes, Macau, 1979, p. 119.

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    No restam dvidas de que a China era um estado em colapso20,assacando-se ltima dinastia as responsabilidades pela conduo desas-trada e reaccionria da poltica externa no concerto das naes.

    No plano interno, recorde-se a anlise bem humorada de Silva Men-des: na China o povo que governa e se governa; ele que arranja,escolhe, compe, organiza, pe em movimento o seu viver. O Estado, oGoverno com G maisculo, como que um escalracho que vive custado povo, perturbando frequentes vezes o seu viver tranquilo com as lutasque engendra entre os indivduos que o formam ou entre estes e outrosque o pretendem constituir21(...) O povo chins filosofa habitualmentecomo o burro...L tem dado de sculos a sculos o couce no patro; masa albarda no a poude do lombo nunca sacudir. E neste conceito burricaltoda a histria poltica da China se resume22.

    Procuraram os portugueses, aproveitando-se das fraquezas institu-cionais da China, cimentar a autonomia e o reconhecimento de Macaumediante um Tratado devidamente ratificado. Esse desiderato s foi con-seguido em parte visto que subsistiam problemas histricos de fundo,com algum melindre, sobre os quais ambas as partes divergiam na inter-pretao dos valores jurdico-polticos.

    Manuel da Silva Mendes vai encontrar uma colnia em francadesnacionalizao, sem opinio pblica com tradies interventivas e comgraves problemas infra-estruturais aliados a uma economia debilitada.

    Pela palavra escrita, pelo exemplo e pela aco, ir tentar inverteralgumas situaes, contribuindo ao mesmo tempo para a formao dasmentalidades dos seus contemporneos e para o prestgio social do exer-ccio construtivo da crtica.

    Silva Mendes encarna o prottipo do cidado que vive a sua cidade,uma verdadeira polis no seu sentido o mais primordial.

    Defensor activo e intransigente da identidade portuguesa de Macaue das grandes marcas contrastivas da presena chinesa, antecipou-se, lar-gamente, a Ruth Benedict quando denunciou a cegueira perante outrasculturas, mediante a sua esclarecida e prolixa aco como publicista, pro-fessor e figura pblica.

    20 Immanuel C.Y.Hsu, The Rise of Modern China, Oxford University Press, 1987;Jacques Gernet, A History of Chinese Civilization, Cambridge University Press, 1986;Fu Hu, Tales of the Qing Court, Hai Feng Publishing, 1990.

    21 O Macaense, 13.06.1920.22 O Macaense, 11.04.1920.

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    J em 1909 afirmava que os estudos orientais que h poucos anosainda constituam apenas temas para divagaes de espritos curiosos,esto j hoje, merc da aproximao do Oriente com o Ocidente em suasrelaes principalmente comerciais e polticas, adentro do mbito dacultura geral23.

    E o caminho vai no sentido de abandonar a viso generalista para sefixar no pormenor compreensivo, verdadeiramente gnoseolgico. Poderealmente, falar-se num discurso sobre a cidade, um singular logotetismo, oraapelativo, ora categrico, do gnero barthesiano, onde aparece uma novalinguagem sobre o social e sobre a estrutura urbana, existindo, em si-multneo, uma transformao dos monumentos em documentos, sentidoda epistemologia de Michel Foucault.

    H muito de confessional, de sensibilidade combativa e comunica-tiva, no seu olhar sobre Macau. O seu modo de ver, a sua postura morale cvica, reflectem-se na combatividade e na veemncia com que ousa,publicamente, assumir-se numa pequena cidade provinciana cindida porduas culturas singulares, a portuguesa e a chinesa.

    Levantando a sua voz contra aquilo a que apelidou de citadina desna-cionalizao, clama com vigor: Quando, h perto de trinta anos, eudesembarquei pela primeira vez em Macau, a cidade no tinha o aspectoque hoje tem. Tinha outro, melhor, interessantemente caracterstico:chins, em metade dela; portugus, no resto24. E, precisando melhor asua memria: Nunca vimos que tnhamos o que outros nestas partesorientais ambicionariam ter: alguma cousa que bem nos definisse, algu-ma cousa que s nossa fosse, alguma cousa que marcasse a nossa longa epersistente estada nestas partes do oriente, alguma cousa que fosse aquio nosso ser, a nossa vida, a nossa histria. Temos sido coveiros de nsmesmos. Mais do que isso: temos ensinado a profisso populao chi-nesa que, paredes meias, connosco vive. Eu bem sei que Macau nunca foiuma Florena nem, em beleza arquitectnica como Pekim ou Hangchao.Todavia muito de bem portugus e de bem chins, Macau teve. E tudo,quase tudo, tem sido destrudo por ns... coveiros de ns mesmos! Eume recordo bem de ser toda a Praia Grande, a Rua do Campo, as ruas doHospital e de S. Domingos, o Leal Senado, a S e o mais que em linha at Barra vai, tudo portugus. E hoje o que isso?... Um mistifrdio ar-

    23 Lao Tse e a sua Doutrina Segundo o Tao-Te-King, Macau, 1909, p. 61.24 Jornal de Macau, 08.06.1929.

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    quitectnico, incaracterstico, reles. Residncias chinesas, levantadas porantigos tai-pans, de linhas puras, de sumptuosa e, por vezes, mui artsti-ca decorao, havia muitas: havia-as como no as h em Hong Kongnem em Xangai. Wong Pu decorou algumas delas. Restam hoje poucas,afogadas sobre a sombra de circunjacente casario informe. Deste rumentovandlico da histria, da esttica, do bom senso, salvaram-se os templosbudistas25.

    Esta forma crtica de estar em Macau, que adoptou verdadeiramen-te como segunda ptria, leva-o a interessar-se com profundidade e cominvulgar esprito de erudio pelos factores essenciais da cultura chinesa,nomeadamente a arte, a religio e a filosofia.

    Estes novos horizontes espirituais, abertos pelo demorado convviocom a cultura chinesa, iro ser determinantes na sua actuao cvica epoltica.

    Falando o cantonense com relativa fluncia, apesar de na escrita seconsiderar a um nvel rudimentar, tambm com a lngua inglesa de per-meio, acedeu a um crculo de amizades verdadeiramente invulgares dadaa sua condio de portugus residente em Macau: Chan Chek Yu, antigoGovernador de Kuangtung, que prefaciou o seu livro sobre a filosofiataosta; Tang Shao Yi, ex-Primeiro-Ministro e ex-Embaixador em Wa-shington; Chang Kueng Ming, ex-Governador Militar de Kuangtung;Lau Yok Lon, ex-Embaixador em Bruxelas e em Londres e antigo Co-missrio do Monoplio do Sal; Lau Kat Loc, mandarim na provncia deKiang Si e letrado graduado em sauchoi (bacharel); Sek Kin Seng, taifat chi (telogo ilustre) do mosteiro de Choc Lam de Macau.

    Afinidades intelectuais, estticas, religiosas e filosficas, congrega-vam estes homens que tinham residncia em Macau, embora boa partedeles vivesse a maioria do tempo fora de Macau. O mosteiro de CheocLam era sempre o local de encontro desta tertlia de amigos.

    As tradies democrticas, aps a instaurao da Repblica em Por-tugal, a 5 de Outubro de 1910, jamais criaram razes na organizaopoltica e administrativa de Macau. A concepo autocrtica e personalistado poder, em boa parte apadrinhada pela burguesia comercial e indus-trial chinesas, raro consentia intervenes crticas, vozes dissonantes,nem sequer discordncias formais.

    25 Jornal de Macau, 08.06.1929.

  • 1363

    Montalto de Jesus tentou-o e a sua obra26 foi apreendida e queima-da, em pblico, pelas autoridades portuguesas, um verdadeiro auto-de--f medieval em pleno sculo vinte. Ironicamente, a Silva Mendes suce-deu quase a mesma situao. Postumamente foi destruda uma obra sua,que ainda estava na tipografia, por ordem de elementos afectos IgrejaCatlica de Macau. Uma atitude lamentvel a todos os ttulos.

    A intolerncia poltica e religiosa inimiga do pluralismo culturale da liberdade de expresso criadora.

    Por esses motivos nunca foram favorecidas quaisquer atitudes cvi-cas e polticas. Dizia Silva Mendes que em Macau no h opinio pbli-ca digna desse nome; no h cidados, ou antes, sociedade que muito seimporte com os interesses pblicos, no se espevitam ideias. Ora, Macausob este ponto de vista um charco27.

    E Silva Mendes bem sabia do que falava. Tinha sido convidado paraassumir o cargo de Governador de Macau, em 1915, pelo seu particularamigo e Presidente da Repblica, Bernardino Machado e, facto extraor-dinrio, recusou tal honraria. Disse simplesmente que no tinha ambi-es polticas e que se sentia muito bem como Professor e como Advoga-do e que nessas funes representava dignamente o seu pas.

    Para Silva Mendes afigurava-se imperdovel, qui criminoso, odesleixo com que se esvaa, na voragem do tempo e do progresso, toda ouquase toda a memria da presena portuguesa em Macau. Atribua essefacto debilidade na administrao: ns, portugueses, nunca fomos bonsadministradores. Fizemos excelente figura como descobridores, demosmemorvel lambada em pretos, moiros e ndios, mas fomos sempre de-sastrados em administrar28.

    Contudo se a Macau que a Europa e a Amrica devem a suainiciao no comrcio com o vasto imprio chins29, seria curial admitirque as fontes documentais da histria de Macau, das relaes bilateraisentre Portugal e a China, enfim, todos os documentos mais importantesque permitissem reconstituir todo esse percurso histrico riqussimo,estivessem preciosamente guardados e preservados das inclemncias dotempo e da aco estouvada dos homens.

    26 Historic Macao, 1926. A segunda edio de 1990.27 O Macaense, 20.06.1920.28 O Macaense, 11.07.1920.29 Vida Nova, 09.05.1909.

  • 1364

    Infelizmente tal no sucedeu e Silva Mendes relata-o com algumaincontida amargura: a prpria histria de Macau ignormo-la quasecompletamente. Em lngua portuguesa nunca foi escrita. Documentos,sobre que ela deveria fazer-se, tem desaparecido quase todos. Pelo deslei-xo, pela aco no impedida do tempo e dos insectos foram na maiorparte destrudos. (...) Vrios aspectos da histria de Macau h que noforam sequer ainda bosquejados. Nunca se procedeu a trabalhos de co-leco; nunca se arquivou sistematicamente cousa alguma; nunca houvecuidado em conservar o que casualmente ficou. E, assim, chegamos aosculo XX sem histria escrita da grande empresa social da Europa nasia, ns que fomos os primeiros a inici-la. (...) Tal desleixo, se incon-cebvel no , coloca-nos, sem dvida, perante estrangeiros, numa depri-mente inferioridade. Mais do que eles devamos ns possuir dados, ele-mentos, documentos para a histria da aco da Europa na China30.

    A constatao desse facto, em 1919, ainda hoje nos penosa deverificar.

    Mais do que um sinal da debilidade estrutural de um regime, era,tambm, um eterno problema, o problema da mentalidade. A mentalida-de forma-se na convivncia familiar, na educao e na instruo, sobretudoforja-se nos combates que exigem envolvimento social e comunitrio.

    Efectivamente Macau procurava seguir Hong Kong que era umprspero entreposto comercial, uma colnia britnica a cuja fundao seencontravam ligados muitos portugueses e macaenses. Esta emigraoprovocou no s a sada dos mais aptos e empreendedores, mas tambmuma crise de valores que se materializava em pequenas rivalidades, comomuito bem observou Austin Coates31.

    Perdida a grandeza passada, Macau era uma hospitaleira terra luso--chinesa e o sentimentalmente mais antigo trao de unio entre o Oci-dente e o Oriente. A distncia da metrpole, a reduzida dimenso terri-torial e a incapacidade para gerar receitas prprias bastantes para garan-tir uma independncia econmico-financeira, levaram, inevitavelmente,o governo a considerar Macau como uma referncia pouco mais do queafectiva no contexto do imprio colonial. Apenas a orientao polticamanteve as caractersticas gerais, extensivas s demais colnias.

    30 O Macaense, 23.11.1919.31 Macao and the British, Oxford University Press, 1988 e A Macao Narrative,

    Oxford University Press, 1978.

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    Silva Mendes possua a percepo muito clara desta situao. ret-rica poltica, enfadonha e estril, contrapunha com argumentos certeiros ejudiciosas anlises dos problemas reais, esboando solues exequveis32.

    No poupava os erros cometidos pela administrao porque se assu-mia como um cidado extraordinariamente atento e interessado na reso-luo dos problemas da sua ptria adoptiva: residimos em Macau hcerca de vinte anos e temos acompanhado o movimento das ideias tantodo governo local como da sua populao acerca da necessidade de fazerprosperar esta colnia33, ou, noutra perspectiva, temos andado paratrs. A colnia tinha uma legislao sua, simples, barata e rpida, com aqual viveu menos mal por muitssimos anos.(...) foi substituda na suaparte processual pela legislao medieval do reino, cheia de frmulas etricas, que esgotam a bolsa e a pacincia dos litigantes34.

    Silva Mendes viu desfilar quinze governadores coloniais, de 1901 a1931, cada qual com o seu estilo governativo e com as suas prioridadesestratgicas.

    Manteve sempre um sincero afecto democracia, tbua que noscorrentes tempos indispensvel para que a vida deslize docemente35.

    A FILOSOFIA TAOSTA

    Silva Mendes dedicou dois estudos, editados em livro, filosofia taosta,para alm de numerosos artigos dispersos em revistas e em jornais.

    O primeiro intitula-se Lao Tze e a sua Doutrina Segundo o Tao-Te-King, de 1909, que teve como origem uma conferncia que pronunciouno Grmio Militar de Macau.

    uma exposio clara e metdica do taosmo filosfico e do taosmoreligioso, no esquecendo o enquadramento histrico e poltico-cultu-ral. Neste texto demonstra a sua actualizao cientfica, citando a maisimportante bibliografia oriunda de sinlogos franceses e ingleses, po-dendo mesmo ser apontado como um guia seguro para quem nestas pro-blemticas se pretende iniciar.

    32 Notas sobre o Regulamento do Imposto de Selo, Vida Nova, 13.03.1910 a10.06.1910; Estudos Econmicos sobre Macau, Vida Nova, 26.09.1909 a 09.01.1910;A Questo Monetria em Macau, O Macaense, 31.08.1919; Obras do Porto de Macau,O Macaense, 22.08.1920 a 03.10.1920.

    33 O Macaense, 22.08.1920.34 Vida Nova, 19.09.1909.35 O Macaense, 29.06.1919.

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    O segundo estudo, Excertos de Filosofia Taosta (segundo o Tao-Te-King de Lao Tze e o Nan Hua King de Chuang Tze), data de 1930 e apenasa primeira parte. uma obra profundamente original e fruto de umpensamento maduro.

    Do prefcio, assinado por Chan Chek Yu, ex-Governador da Pro-vncia de Kuangtung, podemos ler o seguinte: O Sr. Dr. Silva Mendes,com quem de longa data mantenho relaes de estreita amizade, umpersistente estudioso da literatura, da histria, da arte e da filosofia domeu pas. Desde o meu ltimo regresso da metrpole temos muitas ve-zes conversado sobre a rpida transformao que a China est sofrendoem sua evoluo para as ideias ocidentais; e ele, como eu, lastima a perdada antiga cultura chinesa que este movimento mais ou menos importa.E, levado, presumo eu, por este sentimento, empreendeu agora apresen-tar aos seus compatriotas uma das faces dessa cultura, a filosofia taosta,cujo patriarca foi Lao Tze, um dos homens de corao diamantino que,com palavras aceradas porventura, teve na China o condo de dar vista acegos e ouvidos a surdos, chamando ao bem os extraviados e fazendo osbons melhores. Podero os homens do ocidente colher dele tambm ex-celentes ensinamentos. E eu, ainda que incompetente, com prazer quelouvo o meu amigo pela sua iniciativa36.

    Silva Mendes convida os leitores a interpretarem a sua pessoals-sima interpretao do taosmo, abrindo diversidade as ideias nuclearese matriciais que enformam essa corrente filosfica.

    Esta meditao, sob a forma potica, bem ilustrativa da essnciataosta:

    Vida e Morte

    Porque vida to forte apego, o horror morte tanto!? Se no h ningumQue da vida passada mal ou bemDiga ou sinta (e existncia anterior,Por certo, j tivemos, pois de nadaNada vem ) igualmente ningum diz,Com provas, da futura, que infelizSer l o existir. Ningum. SeladaUrna essa em que a luz da inteligncia

    36 Prefcio, p. 3.

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    Directamente no penetra. Agrura,Na vida decorrente, mais que puraQuietao, dia a dia a experinciaNos mostra bem patente; e que o portalDa morte, cedo ou tarde passaremos, coisa que por certa todos temos.

    A morte , na existncia, essencial.O que fomos, passou inteiramente;Lembra s desta vida o decorrer.Com a morte vem junto outro esquecer,Outro alvio total. Depois, na frente,Quem sabe!? outro nascer, mais outro lanoNa estrada da existncia; ou imediataEntrada no No-Ser. Cincia exactaDo porvir no possumos. Ao descanso,Porm, perfeio, h lei que dizQue tudo avana. Logo, a morte leva,No ao horrvel nada, no treva,Mas luz, a destino mais feliz.

    Quem sbio, ama a vida sem apegoE ama a morte igualmente, quando vem,Sereno e indiferente, nunca temHorror ao que Tao d, nem amor cego.

    Outrora a bela Ki de Li chorou,Quando foi a seus pais arrebatada:Na corte, pelo duque desposada,Seu choro em doce riso j mudou.

    Na morte no ser tambm assim?Ficam cinzas de lenha consumida;Mas o esprito, o lume que era a vida,Esse, como a existncia, no tem fim37.

    Entre o pantesmo idealista ou o budismo niilista, esta metafsicada perplexidade parece convergir neste axioma:

    37 Excertos de Filosofia Taosta, idem, pp. 31-32.

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    Em toda a diversidadeV o sbio a Unidade.Tudo Um na harmonia universal:Contrastes, distines, divergncias,Sim e no, justo e injusto, bem e mal,No so mais do que meras apreenses38.

    S uma identificao muito grande com as teorias filosficas dosgrandes mestres chineses que possibilitou esta apreenso original eprofunda da essncia espiritual do taosmo. Silva Mendes no s se assu-mia como taosta, mas tambm praticava as suas virtudes cvicas e hu-manas.

    Tambm nos estudos que dedicou arte chinesa, essencialmente pintura, cermica e arquitectura, se pode vislumbrar no olhar do crticoou do historiador um lampejo da sua formao filosfica taosta.

    PROFESSOR NO LICEU

    Manuel da Silva Mendes foi colocado no Liceu de Macau, comoProfessor de Portugus e de Latim. Desempenhou as funes de Reitordo Liceu, por duas vezes, de 1904-1907 e 1909-1914.

    Quando chega a Macau em 1901 j se encontram extintos os ecosde uma formidvel polmica ideolgica39, travada no seio da comunida-de portuguesa em torno do evolucionismo e do darwinismo. Em termosde obras didcticas feitas em Macau para a comunidade portuguesa, opanorama no era nada brilhante40, com a excepo de uma obra de filo-sofia de feio neo-tomista41.

    38 Idem, Op. Cit., p. 42.39 Francisco Xavier Rondina, A Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo Reivindicada

    Contra Ernesto Renan, Macau, 1864; Antnio Vasconcelos, Sermo Pregado na S Cate-dral de Macau no Primeiro Domingo de Quaresma em 6 de Maro de 1881, no qual se refutamalguns pontos do Systhema Darwiniano com referncia ao Homem e Religio Catholica,Macau, 1881; Loureno Pereira Marques, A Validade do Darwinismo, Hong Kong,1882; Loureno Pereira Marques, Defeza do Darwinismo: refutao dum artigo do jornalCatholic Register, Hong Kong, 1889.

    40 At 1901 apenas esto recenseadas duas obras didcticas: Antnio Lopes Pe-reira, Compendio de Historia e Chorographia Portugueza para Uso dos Alumnos do Seminariode Macau, Macau, 1865; Carlos Vicente Rocha, Tratado Completo de Arithmetica, Ma-cau, 1896.

    41 Francisco Xavier Rondina, Compendio de Philosophia Teorica e Pratica para usoda Mocidade Portuguesa na China, Macau, 1869-1870, 2 volumes.

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    A organizao do ensino, em termos portugueses, girava em tornoda Escola Primria Central, do Real Seminrio de S. Jos, da Escola Co-mercial e do Liceu de Macau. A comunidade chinesa criava e geria osseus estabelecimentos de ensino com total liberdade de actuao.

    A educao em Macau, em 1914, muito mais avanada do que nametrpole, embora andem misturadas nela certos elementos dissolventes,negativos, de provenincia familiar, que at certo ponto anulam, pelomenos no auxiliam, a aco escolar, e que em Portugal existem comcaracter conservador e morigerador, suprindo em certa medida os ele-mentos que de uma mais proficiente aco escolar deveriam provir. Cer-to que em Macau no h analfabetos e que pouca gente fica s na ins-truo primria elementar. O nvel geral aproxima-se da instruo pri-mria complementar, e no falta quem v at ao grau do curso geral,mais ou menos completo42.

    O seu pensamento sobre a des/organizao escolar portuguesa deMacau encontra-se admiravelmente expresso num artigo publicado em1915, no jornal macaense O Progresso, e que pela sua importncia se re-produz em anexo. Vale a pena acrescentar que essa ausncia de sincroniae de uniformidade, no mbito da educao portuguesa em Macau, foiapenas solucionada em 1969...

    A questo do ensino da lngua portuguesa em Macau, merece aseguinte observao de Silva Mendes: Aqui quase que no h intercm-bio social de ideias, a convivncia pouco mais do que familiar. Ora, emtoda a parte onde menos a linguagem se exercita , por ser estreito, fe-chado, quase uniforme o meio, em famlia. Quem sente necessidade deconversar, de variar, de ter que dizer e de ouvir, sai de casa, vai para a rua,para os lugares de reunio, para onde haja enfim variada gente. Ora precisamente isto o que aqui em muito falta. A terra so dois palmos; aspessoas conhecidas com as quais se pode conversar so parentes com quemno h que dizer; se no so parentes, tem os mesmos hbitos, fazem asmesmas montonas coisas; o que uns sabem, j outros os sabem; por issoe por no encontrarem outra distraco, a toda a hora joga-se vaf.

    Para se adquirir extenso vocabulrio indispensvel que o meioseja complexo: populao numerosa, diferentes classes, diferentes profis-ses, fauna e flora abundantes, conflitos sociais, polticos, artsticos, etc..

    42 A Nova Reforma da Instruo Pblica de Macau, O Progresso, 08.10.1914.

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    Sem um meio assim dizem-se sempre as mesmas coisas, no h variedadeno falar, no se espevitam ideias, no se variam as formas de linguagem,no se criam locues novas. Ora Macau sob este ponto de vista umcharco...43.

    Um antigo aluno de Silva Mendes, Joaquim Pao DArcos44, deixa--nos esta impressiva recordao. o Dr. Manuel da Silva Mendes, professorde portugus e de latim e interino de francs, era um grande colecciona-dor de porcelanas e de objectos de arte chineses, tendo constitudo comas peas que ao longo da vida adquirira um verdadeiro museu. Competiacom Camilo Pessanha no enriquecimento das respectivas coleces, masera mais seguro que o do grande poeta o conhecimento que o Dr. SilvaMendes possua dos segredos da arte secular. Acumulou o ensino com aadvocacia, em que granjeou prestgio, e era tambm escritor, tendo dei-xado trabalhos de carcter jurdico, literrio e de interpretao da filoso-fia chinesa. Formara-se em Coimbra (licenciamento), em 1898, e logoaos vinte e dois anos publicou o seu primeiro trabalho, uma traduo doGuilherme Tell, de Schiller, em verso solto, com introduo e anotaessuas. Deixou vastssima colaborao nos diversos jornais e revistas que sepublicaram em Macau ao longo da sua permanncia de trinta anos (1901-1931) na cidade em que viria a morrer. (...) A sua preciosa coleco deobjectos de arte chineses foi acertadamente salva da disperso e constituihoje o fundo mais importante do Museu Lus de Cames em Macau45.

    NOTA BIOBIBLIOGRFICA

    Manuel da Silva Mendes nasceu em So Miguel das Aves, concelhode S.Tirso, distrito do Porto, a 30 de Novembro de 1876, filho de Rosada Silva Pinheiro e de Jos da Silva Mendes.

    Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra. Desenvol-veu intensa actividade poltica em favor da instaurao do regime repu-blicano em Portugal.

    Nomeado Professor do Liceu de Macau, de Portugus e Latim, to-mando posse a 27 de Maio de 1901.

    43 O Macaense, 11.07.1920.44 Joaquim Pao DArcos (1908-1979), poeta, ficcionista e ensasta, autor de

    uma obra vasta e traduzida em diversas lnguas.45 Joaquim Pao DArcos, Memrias da Minha Vida e do Meu Tempo, Guima-

    res Editores, s/d, Vol. I, pp. 218-219.

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    Desempenhou diversos cargos de destaque, nomeadamente, Presi-dente do Leal Senado, Administrador do Concelho, Reitor do Liceu, Juzde Direito e Procurador da Repblica.

    Exerceu a advocacia, tendo granjeado grande prestgio.Coleccionador e especialista em arte chinesa , ainda, considerado

    como o primeiro portugus que estudou o taosmo. A sua actividadecvica e cultural deixou marcas profundas na sociedade do seu tempo,tendo colaborado assiduamente na imprensa (jornais Vida Nova, O Ma-caense, O Progresso, A Ptria, Jornal de Macau, A Voz de Macau e nasrevistas Oriente e Revista de Macau).

    Faleceu em Macau, a 30 de Dezembro de 1931, estando o seu nomeincludo na toponmia local (a Rua Silva Mendes inicia-se na AvenidaSidnio Pais e termina na Estrada Ferreira do Amaral).

    Estudos Publicados

    Socialismo Libertrio ou Anarquismo, 1896Schiller, Guilherme Tell, traduo, introduo e notas, 1898Reflexes Jurdicas, 1907Lao Tse e a sua doutrina segundo o Tao-Te-Ching, 1908Excertos de Filosofia Taosta, 1930

    Postumamente foram organizadas as obras seguintes:

    Colectnea de Artigos de Manuel da Silva Mendes, organizao de LusGonzaga Gomes, 3 volumes, 1949.

    Nova Colectnea de Artigos de Manuel da Silva Mendes, organizao deLus Gonzaga Gomes, 4 volumes, 1963/1964.

    Macau: Impresses e Recordaes, organizao e prefcio de GracieteBatalha, 1979.

    Sobre Filosofia, 1979Sobre Arte, organizao e prefcio de Antnio Conceio Jnior, 1983A Instruo Pblica em Macau, organizao e prefcio de Antnio

    Aresta, 1996

    Estudos dedicados a Manuel da Silva Mendes

    Monsenhor Manuel Teixeira, Manuel da Silva Mendes, in Liceu deMacau, edio da Direco dos Servios de Educao, 3. edio, 1986,pp. 420-430.

  • 1372

    Antnio Aresta, Manuel da Silva Mendes, Historiador do SocialismoLibertrio, Revista de Cultura, N. 15, Julho/Setembro, 1991, pp. 144--150.

    Jos de Carvalho e Rgo, Figuras DOutros Tempos, Instituto Cultu-ral de Macau, 1994, pp. 345-348.

    ANEXO

    ESCOLAS A MAIS E ORGANIZAO A MENOS46

    Ningum pode dizer que para a populao no chinesa h poucasescolas em Macau. H escolas demais. H a Escola Central para o SexoMasculino; h a Escola Central para o Sexo Feminino; h a Escola ouColgio de Santa Rosa de Lima; h a Escola Comercial da AssociaoPromotora da Instruo dos Macaenses; h o Seminrio de S. Jos com oscursos da instruo primria, instruo secundria, comercial, de lnguachinesa e de teologia; h o Liceu Nacional de Macau; h um Curso Co-mercial anexo ao Liceu; h um Curso de Lngua Chinesa, tambm anexoao Liceu; h um Curso de Lngua e Literatura Chinesa para formao deintrpretes na Repartio do Expediente Snico; e h um Curso de Pilo-tagem na Repartio da Capitania dos Portos.

    Pode algum dizer que h falta de escolas em Macau? No! Hescolas demais. Se esto bem ou mal organizadas outro ponto de vista.E dizemos que h escolas demais, porque entendemos que para umapopulao escolar de poucas centenas de indivduos muito menor nme-ro de escolas era bem suficiente.

    Escolas ou cursos comerciais h trs. Ora a frequncia destes trscursos apenas de algumas dezenas de alunos. Para que h-de haver,pois, trs cursos, se a populao que os frequenta mal d para um?

    H tambm trs cursos da lngua chinesa. Para qu trs cursos? Onmero de alunos que os frequenta muito menor do que o dos cursoscomerciais; e como o destes mal d para uma escola, o daqueles dar parameio professor. E os resultados? Os resultados so que no h dois indi-vduos sados desses cursos que sejam capazes de ler ou escrever um bi-lhete postal em chins.

    H dois cursos de instruo secundria para o sexo masculino, ne-nhum deles completo, e dois bocados de cursos de instruo secundria

    46 Publicado em O Progresso, N. 39, 30.05.1915.

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    para o sexo feminino. Pareceria natural que em terra to pequena e de todiminuta populao escolar houvesse um curso s, mas completo. No.H dois, ambos incompletos. Falamos de cursos para o sexo masculino.

    Para o sexo feminino h dois bocados de instruo secundria. Umna Escola Central para o Sexo Feminino e outro no Colgio de SantaRosa de Lima. No esto coordenados, um no complemento de outro,no so interdependentes.

    Eis um aspecto do estado da instruo em Macau.O outro quanto se dispende com todas estas escolas. No nos de-

    mos ao trabalho de fazer a conta, se bem que no seja cousa de difcilapuramento. Mas imagina-se sem grande esforo que, em relao ao n-mero de alunos, a conta deve ser pavorosa.

    Quantos professores? Quantos prefeitos, secretarias, escreventes eajudantes de serventes? No fizemos a conta, mas, calculando por alto,s professores so umas trs dzias ou mais. Tambm no fizemos o cal-culo dos vencimentos deste batalho; mas, baixo que seja o preto, a soma com certeza alevantada.

    A dos secretrios, prefeitos, guardas, directores, escreventes, ser-ventes e ajudantes de serventes muito mais baixa. Em todo o caso, estebatalho tambm come e no vive de outra coisa, sendo intuitivo que,podendo ser reduzido a um tero, se houvesse somente as escolas neces-srias, a verba respectiva diminuiria de dois teros.

    De tudo isto parece resultar que a instruo em Macau est organi-zada mais em benefcio do pessoal docente e dirigente do que do pessoaldiscente. Muitas escolas, muito pessoal e alunos poucos. Porque queno se proporciona o nmero de escolas ao dos alunos?

    Dir-se-ia que estas escolas no pertencem a uma nica entidade eque, por isso, no podem obedecer a um plano econmico e pedaggico.Umas escolas so do governo, outras so da cmara, outras de diferentesassociaes. E cada uma destas entidades tem o direito de ter as suasescolas.

    Assim . As coisas funcionam conforme as leis. O que, porm, no menos verdade que as leis no esto feitas conforme as coisas deveri-am funcionar. Mas, apesar das leis, porque no se combinam essas leis,porque no se combinam essas entidades de maneira a haver somente asescolas necessrias e somente o pessoal necessrio?

    A associao de esforos para este fim, digamo-lo desde j, no estna educao portuguesa.

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    Cada entidade quer ter as suas escolas e ainda que todas reconhe-am que, por deficincia de meios ou por outros motivos as suas escolasno so boas, ningum lhes fale em fuso de capitais ou de meios para seorganizarem em combinao e comunho. Isso no est na nossa educa-o.

    Todavia intuitivo que com o dinheiro que o Estado, a Cmara, oSeminrio, a Associao Promotora e o Colgio de Santa Rosa de Limadispendem, podia haver poucas, mas boas escolas. Os edifcios em quequase todas as escolas de Macau funcionam no so edifcios escolares:so pardieiros escolares. O mobilirio, o material escolar, so insuficien-tes e ordinarssimos.

    Fundidos os capitais e representadas todas essas entidades na gern-cia e direco do ensino no seria este bem mais profcuo, mais econmi-co? Cremos que sim.

    Apesar disso, tantas reformas no ensino tem sido propostas, nenhu-ma aceite desde 1893 at hoje, e nunca vimos que em alguma delas esseponto de vista fosse tomado em considerao. Enquanto, porm, o nofor, parece-nos que no ser dada completa soluo ao problema da ins-truo na colnia.