manual Étnico-racial para o jornalismo

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Trabalho de Conclusão de Curso entregue à Coordenação do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo como requisito parcial para conclusão do curso. Trata-se de um guia de redação para jornalistas, voltado para a cobertura de temas sobre a população negra e de interesse desse grupo social por veículos impressos. O produto reúne informações que sirvam de subsídio para que os profissionais da área produzam conteúdos, em consonância com a Declaração Universal dos Diretos Humanos e a Constituição Federal no que se referem ao afro-descendente e com o Estatuto da Igualdade Racial.

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Manual Étnico-racialpara o Jornalismo

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Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Faculdade Social da BahiaCurso de Comunicação Social / Jornalismo

Direção GeralIr. Zita Szczepanik

Diretor da FaculdadeAntônio Alberto da Silva Monteiro de Freitas

Coordenador de GraduaçãoNildo Manoel da Silva Ribeiro

Coordenação do CursoJussara Maia

AutoriaJuliana Dias

OrientaçãoMonica Celestino

Projeto Gráfico e EditoraçãoCarlos Henrique M. Brito

IlustraçõesMarcos Costa

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Manual Étnico-racialpara o Jornalismo

Juliana Dias

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Aos meus familiares e amigos pela dedicação e carinho.

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À minha ancestralidade africana, inspiração permamente.

Axé!

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SumárioPrefácio

Apresentação

Povos negros no BrasilBibliografia

LinguagemArquitetura e Mobiliário

ArtefatosCarnavalConceitosCulinária

FestasIrmandades

LegislaçãoLogradouros Públicos

Música e DançaPovos Africanos

ReligiosidadeVestuário

Bibliografia

Guia de fontesArtes e Cultura

CarnavalCulináriaEducação

Entidades e OrganizaçõesEstética e Moda

InstitucionalJuventude

MídiaSaúde

ReligiosidadeBibliografia

Especialistas

Anexos

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3941434751576367697175818597102

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Prefácio

Entre as várias contribuições que a imprensa pode oferecer ao Brasil, uma das mais

importantes é a participação responsável no debate dos temas que ameaçam a

democracia, a igualdade e a cidadania dos brasileiros. Este Manual Étnico-Racial

para o Jornalismo apresenta uma das questões essenciais que não podem ficar de fora da

pauta e do conhecimento daqueles que querem fazer jornalismo sério, ético e cidadão. Esta

obra desperta o olhar dos profissionais do jornalismo para a população negra brasileira, a

partir de duas temáticas: a contribuição dos povos de origem africana para a identidade

cultural do país e a condição de desigualdade e discriminação que marcam historicamente

a presença negra no Brasil, com sérias consequências para a sociedade contemporânea.

A imprensa no Brasil avança junto com a democracia brasileira. Escândalos políticos

diários, apesar de nos incomodar, revelam uma importante conquista da sociedade: a

de poder acompanhar, com mais ou menos transparência, os atos, lícitos ou ilícitos, dos

escolhidos representantes da população nas decisões fundamentais para o país. Uma

ferramenta essencial para garantir que estas informações cheguem a todos os brasileiros

é uma imprensa livre e responsável. Neste sentido, a imprensa brasileira tem dado a

sua contribuição à democracia. O cotidiano político tem espaço em todos os veículos

O papel do jornalista na promoção da igualdade

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14Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

jornalísticos, com cobranças e questionamentos que fortalecem

a nossa organização como Estado Democrático.

Entretanto, a democracia não se faz somente pelo poder

constituído e a participação da sociedade não se restringe

apenas à escolha de representantes. Sabedora disso, a população

brasileira sempre criou espaços de aprofundamento dos debates

nacionais ou de descortinamento de demandas específicas. Essa

é a finalidade dos movimentos sociais: trazer à tona, de forma

independente e coletiva, do seio da sociedade, as inquietações e

obstáculos que impedem o pleno gozo da cidadania a todos os

brasileiros. No Brasil, o século XX acompanhou a evolução

de um movimento social, político e cultural que dialeticamente

contribuiu para que o país evoluísse no tocante aos direitos

humanos e à cidadania. O movimento negro brasileiro tem

cumprido o papel de emissor de vozes abafadas, e revelador de

incômodos e distorções do nosso fazer democrático. Três séculos

de resistência à escravidão - um dos piores crimes cometidos

pela humanidade contra a sua própria condição humana

– constituíram-se as bases do mais importante movimento

reivindicatório do Brasil contemporâneo.

A produção deste manual, em consonância com o maior

interesse da Academia pelos temas da cultura e cidadania

negras, é fruto desta ação política que despertou as mentes

pensantes deste país. A existência desta obra, voltada para

informar, capacitar e aprimorar o fazer jornalístico, atesta que

há profissionais interessados em contribuir, através da sua

prática diária em redações, para o aumento das discussões sobre

o tema étnico-racial e para o combate às desigualdades que nos

separam. Nas próximas páginas, há ferramentas essenciais

para entender a complexidade da presença negra no Brasil,

como população de direitos, como agentes culturais e como

movimento político organizado.

Ora com a brutalidade de quem ainda sente os açoites do

Pelourinho. Ora como quem ainda canta e dança nas terras livres

dos quilombos. Ora com os critérios estabelecidos pela ciência

ocidental. Ou com as espertezas, concessões e acordos exigidos

(e aceitos) do fazer Política. Assim tem sido a trajetória do negro

brasileiro que vê, no alvorecer do século XXI, simultaneamente,

a necessidade de repetição de suas queixas, a comprovação de

várias das suas denúncias e previsões e a celebração de certas

conquistas.

Como comprova o conteúdo deste Manual e a própria

existência dele, quem mais ganha com a reflexão acerca do

tema étnico-racial é a democracia brasileira. Pelo debate, pelos

questionamentos, pelas contradições, como deve ser o viver

democrático.

Este Manual Étnico-Racial para o Jornalismo ajuda-nos a

entender como o tema conquistou espaços na pauta brasileira

e de como a imprensa desempenhou seu papel de evidenciar

este debate, revelar interesses e interessados, questionar

responsabilidades e, fundamentalmente, informar a todos os

brasileiros (de diferentes epidermes e, portanto, diferentes gozos

da cidadania) o seu impacto para o Brasil.

Nas páginas deste Manual, há fortes indícios de que o exercício

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15Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

do jornalismo ético e comprometido com a transformação social

depende da evolução das instituições democráticas brasileiras,

do diálogo saudável entre representantes políticos e movimentos

sociais, da garantia de uma imprensa livre e respeitada, de boas

condições de trabalho e remuneração etc. Entretanto, comprova,

sendo este seu grande mérito e razão de existir, que o responsável

final pela contribuição ou não da imprensa para a promoção da

igualdade de direitos é o jornalista. É deste profissional a decisão

de conhecer o conteúdo deste Manual, aprofundar com outras

produções, ouvir novas fontes historicamente desprezadas (e

aqui sugeridas de forma concisa e didática) e fazer uso cotidiano,

ampliando e transformando o debate.

É disso que a Democracia Brasileira precisa e espera dos

jornalistas.

André Luís Santana é jornalista, diretor do Instituto Mídia Étnica e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba).

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Page 17: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Apresentação

O Manual Étnico-Racial para o Jornalismo busca contribuir para a cobertura

da cultura e história afrobrasileira. Com a proposta de fornecer suporte

ao profissional da área de jornalismo, ele apresenta informações sobre

conceitos, objetos e manifestações, em diferentes contextos sociais e culturais,

para que os jornalistas produzam conteúdos, em consonância com o Estatuto da

Igualdade Racial e a Constituição Federal, no que se referem ao afro-descendente.

O material reunido nessa publicação oferece aos profissionais noções sobre o tratamento

adequado das temáticas étnico-raciais na redação jornalística, a partir do uso de conceitos e

linguagem adequadas à história, cultura e condição social da população negra no Brasil. Desta

maneira, configura-se como mais um mecanismo para auxiliar na redução dos índices de

exclusão social da população afrodescendente, qualificando a cobertura jornalística ao evitar a

representação estereotipada e caricaturizada, de forma discriminatória do negro no país.

Busca elucidar dúvidas que poderão surgir no decorrer da produção jornalística, por

meio da oferta de informações sobre a migração e a escravidão africana no Brasil, as

características étnicas dos diversos povos que vieram para o país, as contribuições culturais

desses povos, a realidade desse grupo no país; da explicação de expressões deste universo,

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18Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

distribuídas entre treze temas aglutinantes (arquitetura e

mobiliário, artefatos, carnaval, conceitos, culinária, festas,

irmandades, legislação, logradouros públicos, música, povos

africanos, religiosidade e vestuário); da coletânea de leis; e de

um guia de fontes que abarca organizações de diversos setores

da sociedade e especialistas de diferentes áreas do saber.

Atribui-se à falta de uma cobertura eficiente e coerente

com a realidade da formação da população brasileira ao

desconhecimento dos profissionais de comunicação sobre a

pluralidade da sociedade e ao racismo histórico. Nesse sentido,

é necessário que o jornalista passe a compreender esse universo

e possa cobrir fatos sem ser superficial ou discriminatório

e de maneira que ultrapasse a noção do senso comum.

O conteúdo resulta de uma longa pesquisa bibliográfica

e em periódicos, além de entrevistas com jornalistas e

pesquisadores especializados. Este Manual pode ser lido

de forma detida, ou seja, uma leitura que leve à reflexão,

mas, também, pode ser uma obra de consulta, auxiliando

os jornalistas a resolverem suas dúvidas específicas

rapidamente. Espera-se que atenda às demandas e expectativas.

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POVOS NEGROS NO BRASIL

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Page 21: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

A história do negro nas Américas começa no período

da escravidão, processo que, entre o século XVI e final

do século XIX, obrigou cerca de 11 milhões de homens,

mulheres e crianças africanas a submeterem-se ao trabalho forçado

em terras colonizadas por portugueses, espanhóis e ingleses.

Deste total, estima-se que 4 milhões – cerca de uma vez e meia a

população atual de Salvador – foram transportados para o Brasil,

que seria a última localidade do continente a banir a servidão negra.

O longo período de escravatura, encerrado apenas em 1888

com a assinatura da Lei Áurea pela princesa regente, Isabel,

desencadeou uma intensa ligação do Brasil com a África, que

perdura até os dias atuais. O resultado desse processo foi a

construção da identidade brasileira com traços de tradições

africanas refletidos na religião, em manifestações culturais,

na culinária, na música, na língua e em inúmeros costumes

da sociedade, como os festejos populares, embora associada

também a elementos das culturas branca e indígena.

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

África, continente de contradiçõesA África é um continente muito grande, com 30.221.532 km2

e com condições naturais, povos, animais, vegetais, minerais,

religiões, cultura e tecnologias diversificadas. São 54 países

independentes, com mais de 800 milhões de habitantes que

falam mais de dois mil idiomas.

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Atualmente é dividido em duas regiões. A primeira reúne

cinco grupos:

- África Setentrional ou do Norte: Argélia, Egito, Líbia,

Marrocos, Sudão e Tunísia.

- África Central: Chade, República do Congo, República

Centro-Africana e República Democrática do Congo.

- África Oriental: Burundi, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Quênia,

Ruanda, Seychelles, Somália, Tanzânia e Uganda.

- África Ocidental: Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Camarões,

Costa do Marfim, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau,

Guiné Equatorial, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, São

Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa e Togo.

- África Meridional: África do Sul, Angola, Botsuana, Comores,

Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia,

Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue.

A segunda é dividida em dois grupos, de acordo com

critérios étnicos e culturais, sobretudo, religião e etnias

predominantes:

- África “Branca” ou Setentrional: oito países da África do

norte, Mauritânia e Saara Ocidental.

- África “Negra” ou Subsaariana: 47 países (África do Sul,

Angola, Benin, Botsuana, Burkina Fasso, Burundi, Camarões,

Cabo Verde, Chade, Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Guiné

Equatorial, Eritréia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-

Bissau, Ilhas Comores, Lesoto, Libéria, Madagáscar, Maláui,

Mali, Mauritânia, Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger,

Nigéria, Quênia, República Centro-Africana, Ruanda, República

Democrática do Congo (Ex-Zaire), São Tomé e Príncipe, Senegal,

Seychelles, Serra Leoa, Somália, Sudão, Suazilândia, Tanzânia,

Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.

Abaixo na parte escura. o mapa da região da África Negra ou Subsaariana, que corresponde à região do continente o sul do Deserto do Saara

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Mesmo com toda a diversidade e pluralidade as imagens

veiculadas pela mídia sobre a África, exibem apenas a ideia de

que se trata de um continente selvagem, com guerras “tribais”,

calamidades naturais e doenças endêmicas, como a Aids. Muitas

vezes, dão a impressão equivocada de que seja um só país.

Há séculos, o continente enfrenta conflitos entre povos e a

desigualdade social, mas também detém riquezas minerais

(como diamante e petróleo) e vasto ecossistema, com destaque

para as savanas que atraem turistas do mundo inteiro,

diversidade cultural herdada da multiplicidade étnica local,

tecnologia e eficiência administrativa que determinaram a

realização de uma Copa do Mundo de Futebol, em 2010, sem

qualquer incidente grave e com conforto e segurança para as

mais de 3 milhões de pessoas envolvidas no evento.

Origem da escravidão

O processo de escravidão iniciou-se na África, continente que

se tornou o maior centro de dispersão populacional do mundo

do século XVI ao XIX. A organização social e econômica africana,

naquele período, era baseada nos vínculos de parentescos.

Os laços familiares identificavam a origem – ou seja, o

pertencimento a um povo ou uma etnia – e a posição econômica

de uma pessoa determinava a forma que ela se relacionaria com

outros povos ou grupos étnicos.

Nesta época, era comum a subjugação de um povo sobre

o outro, devido à disputa territorial e por poder econômico e

político. A situação gerava conflitos entre grupos que buscavam

o controle de alguns setores (como estradas/rotas e terras) e os

vitoriosos passavam a escravizar os derrotados.

Inicialmente, os perdedores eram incluídos no sistema de

escravidão doméstica, que consistia no aprisionamento de

alguém para trabalho não-remunerado e forçado na agricultura

familiar, dentro do território onde nasceu. Esta forma de

escravização ocorria, também, em punição por crimes e infrações

(como assassinato, roubo e feitiçaria) e, em algumas regiões da

África, como pagamento de dívidas ou tática de sobrevivência.

A escravidão doméstica foi substituída pela escravidão

comercial entre o fim do século VII e metade do século VIII, quando

os árabes ocuparam o Egito e o Norte da África e recorreram ao

trabalho forçado para sanar o defícit de mão-de-obra. De início,

instaurou-se o tráfico de cativos no próprio território africano e,

posteriormente, com os novos rumos da expansão islâmica, o

tráfico tornou-se interno (envolvendo as nações que compõem

a África) e externo. Nesse contexto, algumas tribos vendiam, a

europeus e árabes, os prisioneiros capturados em conflitos, que,

por vezes, eram trazidos às Américas na condição de escravos.

A intensificação das atividades tornou o comércio de pessoas

um negócio de grande escala intercontinental e lucrativo,

fazendo da África a principal exportadora de mão-de-obra para

outras nações, sobretudo, a partir do interesse de europeus

(holandeses, portugueses, ingleses, espanhóis e franceses). Com

o tempo, o tráfico passou a ser uma das principais fontes de

lucro dos europeus, principalmente dos portugueses.

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Portanto, os africanos levados à força a terras estrangeiras

tinham origens diversas, e, por conseguinte, pertenciam a

grupos variados, hábitos, costumes e até línguas diferentes

entre si. Entre as regiões que mais foram envolvidas no comércio

transatlântico de escravos, estão Angola, República do Congo,

Congo, Moçambique, Tanzânia, Gana, Benin e Nigéria. Os grupos

étnicos envolvidos com o tráfico estão identificados no mapa

abaixo:

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

1. Bacongo: etnia do norte de Angola e boa parte da República

Democrática do Congo, uma das 800 divisões do tronco lingüístico

bantu.

2. Nsundi: etnia do nordeste da República do Congo e região.

3. Tio, Monjolos: era um dos nomes por que eram conhecidos

os Bateke, grupo étnico da atual República do Congo.

4. Bobange: povo da região central do Congo.

5. Bundo: segundo maior grupo etnolinguístico de Angola.

6. Quissama: grupo étnico variante da nação Kimbundu, em

Angola.

7. Libolo: povo etnolinguístico dos Ambundos, na região de

Angola.

8. Ovimbundo: etnia banto que constitui 40% da população

de Angola, fala sua própria língua, além do português

9. Ganguela: grupo étnico banto, do leste de Angola.

10. Iaô: grupo fixado entre a costa oriental africana e o lago

Malauí, no interior da Tanzânia.

11. Macua: grupo étnico da África Oriental. É também a língua

falada dos macuas.

12. Tumbuca: grupo que, em 2000, representava 4,6% da

população da Zâmbia.

13. Achanti: habita o sul de Gana e falam a língua Twi.

14. Daomé: nome antigo do atual Benin, de onde originam

diversos grupos étnicos como, fon, éwé, popo e Mahi.

15. Iorubá: maior grupo étnico do continente, radicado na

região da África Ocidental (com 30 milhões de pessoas), maioria

fala a língua iorubá

16. Ibo: O grupo está localizado vale inferior do Níger, sendo

sua cidade principal Enugu, na Nigéria. É também o nome de uma

das línguas mais faladas no país, juntamente com o iorubá e o

hauçá, não necessariamente nessa ordem.

17. Fulani (fula ou fulbe): etnia comum em países da África

Ocidental, África Central e da África do Leste, onde é minoria.

18. Hauçá (haussás): etnia encontrada, principalmente, no

norte da Nigéria e no sudeste do Níger, fala a língua hausa (do

grupo lingüístico tchadiano da família afro-asiática), tem maioria

muçulmana, mas também adotam práticas animistas.

19. Bornu: Nome dado, no Brasil, aos escravos das etnias

oriundas da região do antigo Império do Bornu, atuais territórios

da Nigéria, Niger e Camarões.

20. Nupe: encontrado na parte central do território nigeriano.

É um dos grupos étnicos minoritários (mais de 180), é uma

sociedade hierarquizada e tem predominância nos Estados de

Níger e Kwara.

Povoamento do negro no Brasil

Antes do tráfico africano, os colonos portugueses já utilizavam

o trabalho forçado do povo nativo, os indígenas. Em meados do

século XVI, o emprego da mão-de-obra africana se intensificou

porque a oferta de indígenas estava aquém da demanda

– muitas tribos habitavam o interior, estavam longe da costa,

onde inicialmente ocorria a exploração da terra, e os índios eram

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

arredios ao trabalho nos moldes desejados –; a escravização de

negros era mais fácil devido ao distanciamento das suas origens

e sua cultura; e havia o interesse de colaborar com o comércio de

escravos entre Portugal e África.

O Brasil recebeu mais de 4 milhões de africanos, vindos de

diferentes regiões do continente. No século XVI, uma grande

quantidade desembarcou em Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São

Vicente (atualmente, nos estados da Bahia, do Rio de Janeiro, de

Pernambuco e de São Paulo, respectivamente), vindos da região

de Senegâmbia, denominada Guiné pelos portugueses, mas

de várias etnias e, portanto, com hábitos, costumes e dialetos

diversos.

Em geral, os traficantes buscavam separar os negros de mesma

etnia, temendo que, ao falarem a mesma língua e partilharem

valores culturais, eles se solidarizassem e organizassem rebeliões

contra o sistema escravocrata. Contudo, boa parcela dos africanos

trazidos ao Brasil nos três séculos de escravidão era de Angola e

foi vendida para as províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro,

São Paulo e Rio Grande do Sul. Já para a Bahia, vieram pessoas

oriundas da região denominada de Golfo do Benin (Sudoeste da

atual Nigéria), de várias etnias (como Ashanti, Hauçá, Bornu, Fon,

Ewé etc.).

Durante a travessia no Oceano Atlântico em navios com

destino às Américas, em especial ao Brasil, muitos africanos

morriam em decorrência das más condições da viagem, dos maus-

tratos impostos pelos traficantes e da alta incidência de doenças.

Em alguns casos, cerca de 50% sucumbiam antes da chegada. No

percurso, travava-se uma luta pela sobrevivência e contra a ação

dos traficantes, as moléstias, o medo do desconhecido e o trauma

do distanciamento da terra natal.

Por mais de 300 anos, os africanos foram explorados para

trabalharem na extração de ouro e de diamantes das minas; no

plantio, na colheita e no beneficiamento de cana-de-açúcar, café

e outros produtos; em atividades domésticas e na prestação de

serviços braçais nas cidades, como o transporte de pessoas e

objetos.

O fim do tráfico transatlântico para o Brasil só ocorreu em 04

de setembro de 1850, quando parlamentares do Brasil aprovaram

a Lei Eusébio de Queirós (nome de seu propositor), que proibia

definitivamente o tráfico negreiro e previa punição a quem o

praticasse, por pressão da Inglaterra. A partir daí, persistiu o

tráfico ilegal, mas a população nativa da África no Brasil passou

a decair em relação ao número de crioulos (negros nascidos na

Colônia/Império), e o preço para a obtenção de escravos elevou-se

por causa da diminuição na oferta.

Novas leis (em 1871, foi promulgada a Lei do Ventre Livre, que

garantiu a liberdade aos filhos de escravos; a Lei dos Sexagenários,

que libertava todos os escravos com mais de 60 anos de idade)

contribuíram, efetivamente, para o enfraquecimento do sistema

escravista e para a consolidação da campanha abolicionista

estimulada por intelectuais e políticos, como José do Patrocínio

e Joaquim Nabuco. E em 13 de maio de 1888, a escravidão foi

oficialmente abolida no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea,

pela princesa regente Isabel.

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Resistência negra

Durante os mais de três séculos de trabalho forçado no

Brasil, muitos africanos e crioulos criaram diversas estratégias

de resistência ao regime escravocrata e/ou aos proprietários

de escravos. Outros se comportaram com passividade e apatia.

E uma parte fingia acomodação, mas mantinha seus hábitos

e costumes como mecanismo de preservar suas raízes. Foram

registradas diversas formas de resistência com destaque

para rebeliões, abortos, para evitar o nascimento de novos

escravizados, fuga das fazendas pelos escravos, organização

de quilombos, insubmissão às regras do trabalho na roça, e

assassinatos de senhores e suas famílias.

O quilombo foi a forma mais expressiva de oposição, que

consistia na reunião de negros que se opunham ao sistema

escravocrata, onde construíam uma estrutura política,

econômica e social baseada em regras e normas próprias. A

palavra kilombo é originária da língua banto umbundo, falada

pelo povo ovimbundo, e refere-se a uma associação sociopolítica

militar conhecida na África Central. O aquilombamento existiu

em diversas regiões onde houve escravidão de africanos e seus

descendentes, embora com outros nomes (marrons, na Jamaica

nas Guianas e nos Estados Unidos; palenques, em Cuba e na

Colômbia; cumbes, na Venezuela).

Nos quilombos do Brasil, os negros viviam livres, com laços de

solidariedade mútua. Alguns povoados chegaram a reunir entre

20 mil e 30 mil pessoas, nas décadas finais do período escravista,

como, por exemplo, Palmares, que surgiu em 1630, no atual

Estado de Alagoas, e se tornou o mais conhecido e duradouro

(1695). Apesar de muitos sobreviverem através do saque dos

engenhos, os negros de Palmares desenvolviam artesanato e

cultivo de milho, feijão, mandioca, banana e cana-de-açúcar para

subsistência e comércio com quilombos vizinhos. Palmares teve

diversos líderes, dentre eles Ganga Zumba e Zumbi, seu sobrinho,

assassinado em 1695 pelo bandeirante Domingos Jorge Velho,

contratado por proprietários de terra para inibir aquela prática.

O quilombo de Palmares é lembrado como um dos importantes

espaços e momentos de resistência dos negros à escravidão.

Outra importante forma de resistência foi a revolta. Um das

mais conhecidas foi a dos Malês, que ocorreu em Salvador, entre

os dias 25 e 27 janeiro de 1835, Um grupo de escravizados e libertos

islâmicos (chamado malês) ocuparam as ruas e enfrentaram

soldados e civis armados, por estarem inconformados com a

escravidão e com a imposição da religião católica. O episódio

(re) avivou entre os africanos o sentimento de liberdade e a

resistência à escravidão. Destacam-se como líderes Manoel

Calafete, Ahuna, Luís Sanim e Pacífico Licutan.

Apesar de praticada pela maioria dos africanos radicados na

Bahia da época – fulanis, hauçás, bornos e nupes –, a reverência

à Alah definhou ao longo dos anos nessa região até quase

desaparecer. A ação islâmica tornou-se alvo de severa perseguição

do governo, enquanto havia certa tolerância ao culto de orixás.

Os praticantes do islamismo oriundo do continente africano

foram intensamente perseguidos por forças policiais, porque

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

os muçulmanos, em geral, eram confundidos com inimigos do

governo, por, entre eles, haver negros opositores do regime.

Outras reações coletivas ocorreram em várias regiões do

Brasil, como a revolta dos Alfaiates (Bahia, 1798), a Cabanagem

(Pará, 1835-1840), a Sabinada (Bahia, 1837-1838) e a Balaiada

(Maranhão, 1838-1841).

O processo de luta continuou após a assinatura da Lei Áurea,

porém, com outras estratégias e reivindicações porque no

período pós-abolição, os negros e mestiços não tiveram acesso a

trabalho remunerado, habitação, educação, assistência à saúde.

Também não foram integrados à sociedade, o que contribuiu

para a formação do complexo quadro de desigualdades sociais

que ainda perdura no Brasil.

Ao longo da história, os negros criaram instrumentos de

lutas, como a Frente Negra Brasileira (organização política para

a ação de militantes negros paulistas) e o Teatro Experimental

do Negro (projeto pedagógico de expressão cultural e política do

negro).

Contribuição Cultural do negro

Apesar de subjugados, os africanos exerceram um grande

papel na construção do Brasil, tanto para a economia e a infra-

estrutura quanto para a formação da cultura brasileira. Muitas

das práticas e dos costumes atuais são oriundas do continente

africano, como, por exemplo, a incorporação de novas palavras

na língua portuguesa.

A presença de africanos, oriundos de diversas regiões e etnias

da África, e a relação desses povos com europeus e indígenas no

Brasil resultaram na construção da singular cultura brasileira,

com manifestações múltiplas inspiradas nos hábitos e costumes

de africanos, portugueses e nativos isolados ou misturados. São

perceptíveis elementos de tradições da África na religião, na

culinária, na música, na dança, no vestuário, na língua e nas

relações interpessoais.

A culinária, por exemplo, revela as contribuições dos povos

africanos e de seus descendentes. O cuscuz é uma herança

dos povos islamizados da África, enquanto o acarajé, quibebe,

vatapá, caruru, abará e bobó são herdados dos povos jeje, nagô,

mandinga e fon, de regiões do Congo, Angola e Moçambique.

Destacam-se, também, ingredientes com nomes influenciados

por nomenclaturas de lugares da África, como pimenta-da-

costa, banana-de-são-tomé e galinha-d’angola.

Há outros aspectos da cultura brasileira de origem africana.

São exemplos o muxoxo (expressão facial que indica dúvida,

indiferença, termo da língua quimbundo), o cafuné (gesto que

exprime intimidade e carinho, também da língua quinbundo) e a

umbigada (figuração coreográfica de danças de origem africana)

e termos incorporados ao modo de falar, perceptíveis nos versos

das músicas de manifestações populares e, principalmente, nas

religiões afro-brasileiras, como a palavra axé (força, energia da

vida), o búzio (conchas de praia que, em várias regiões da África,

é utilizado como moeda e no Brasil tem finalidade religiosa e

estética), a quizila (proibição, abstinência) etc.

Page 30: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

30

POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Ainda hoje, se veem mulheres com indumentárias africanas,

sejam as saias rodadas, comuns entre as baianas de acarajé, o

“torço” (pano quadrado, amarrado de formas variadas na cabeça)

ou o “pano-da-costa” (espécie de xale amarrada à cintura ou

transversalmente entre um ombro e a parte da cintura do lado

oposto).

A música e a dança brasileira carregam diversas características

originárias do continente africano. O samba (que no século XIX,

era chamado de “batuque”) tem influência de uma “dança ao som

de tambores”, comum na África, assim como os instrumentos

utilizados pelos sambistas, como o pandeiro, a rabeca e o adufe.

Dos povos da África Central, são usados no Brasil instrumentos

como o adjá, xerê e abe, imprescindíveis nos cultos religiosos. Já

a cuíca, o tambor, o berimbau e o caxixi vieram dos costumes dos

povos bantos, grupo etnolinguístico localizado principalmente

na África Subsaariana.

A assimilação de tão diversos e numerosos elementos da

cultura africana deve-se, em parte, às táticas de resistência do

povo negro. Os cativos, com o intuito de preservar uma unidade

cultural e social, passaram a adaptar seus hábitos e costumes e

até ritos religiosos à cultura de outros grupos, ou seja, elaboravam

sua herança cultural africana, usando alguns aspectos das

culturas indígena e portuguesa. Muitas vezes, eles continuaram

mantendo, de forma oculta, seus costumes e tradições.

Um dos exemplos dessa adaptação foram as comunidades

negras criadas no Brasil e que mantêm, ainda hoje, hábitos

e costumes relacionados à terra natal e à vida escrava, como

as irmandades e ordens terceiras católicas e os terreiros de

candomblé. Essas redes de solidariedade foram firmadas como

uma espécie de mecanismo para, talvez, suprir a lacuna deixada

pela desagregação familiar imposta por traficantes e senhores,

para evitar conluios e rebeliões. As irmandades e ordens terceiras

exerceram um papel fundamental na reorganização social dos

africanos, através do seu caráter beneficente (oferta de socorro

aos enfermos, empréstimos de quantias para a compra da

liberdade, amparo emocional etc.).

Após o batismo, o padrinho e a madrinha assumem a

obrigação de cuidar, suprir necessidades e orientar o afilhado e

tornam-se, oficialmente, os substitutos dos pais biológicos, em

caso de ausência, por morte, por exemplo. Ressalte-se, ainda,

a própria organização do candomblé, que estabelece a relação

entre pais/mães e filhos de santo com obrigações específicas

e um sistema de proteção e colaboração mútuas e, também,

prevê o respeito aos mais velhos pelos jovens, por esses terem

mais experiência e serem responsáveis pela disseminação do

conhecimento.

A herança africana parece ainda mais evidente em Salvador,

talvez, pela existência de maioria afrodescendente na cidade

(atualmente, 81,91% da população é formada por pretos e

pardos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Domicílio

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2009). Na

capital, são exemplos do legado dos antepassados africanos o

ambiente místico com mais de 4 mil terreiros de candomblé e

manifestações desta religião no ciclo de festas populares, que

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31

POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

culmina com o culto público à Iemanjá (orixá feminina) todo 02

de fevereiro no litoral; e a dieta alimentar marcada por alimentos

de origem negra, como o caruru, vatapá e acarajé.

Religiões afrobrasileiras

A Constituição Brasileira de 1824 estabelecia o catolicismo

como religião oficial, ou seja, só ela poderia ser celebrada em

público e possuir templos para o culto. Às demais religiões,

foi concedido o direito à “liberdade religiosa”, desde que as

práticas ocorressem de forma privada. Porém, nesse contexto,

as religiões de matriz africana (candomblé, umbanda etc.) eram

consideradas ilegais e inconstitucionais, portanto, proibidas.

Mesmo com a opressão, inúmeros africanos e seus

descendentes cultuavam orixás, inquices e voduns às escondidas,

ou buscavam recriar suas religiões de origem, através de um

processo de ressignificação mítico-religiosa, com a atribuição de

outros e novos significados aos cultos em regiões como São Luís,

Recife, Salvador e Rio de Janeiro, que tinham maior concentração

de escravos.

Graças a esse processo, formaram-se ou consolidaram-se em

diferentes regiões, com aspectos e ritos específicos.

Distribuição das religiões afrobrasileiras

Page 32: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Candomblé: Culto a orixás (quando de origem iorubana).

É originária do Ilê-Ifé (cidade atual da Nigéria, que foi capital

de um dos reinos iorubá e, ainda hoje, considerada cidade

sagrada para os povos da religião dos orixás), possui sacerdotes

(babalorixás) e sacerdotisas (ialorixás) que passam por um

processo de iniciação para o aprendizado da língua (iorubá) e

dos rituais. São alguns: Xangô, Oxum, Ogum, Iemanjá, Iansã,

Oxumaré, Iroco, Ibêji, Oxalá etc. Sua denominação é originária do

termo kandombile, na língua banto, que significa lugar de culto

e oração; e pode designar religiões afro-brasileiras na Bahia e em

outros locais sob sua influência.

Tambor-de-mina: Culto aos voduns, orixás e caboclos (que

representam os indígenas). Religião de origem do povo mina,

tidos como ancestrais da família real do reino do Daomé (um

dos reinos da África Ocidental, cujo território se localiza no atual

Benin). Está vinculado também às tradições do povo ewe-fon,

conhecidos no Brasil como jeje.

Batuque: Culto aos orixás. É fruto de religiões dos povos da

Costa da Guiné e da Nigéria, das nações Jêje, Ijexá, Oyó, Cabinda

e Nagô.

Jarê: Culto aos Caboclos, presente na Chapada Diamantina,

precisamente no município de Lençóis (BA). É uma variação das

religiões das nações bantu e nagô.

Babassuê (Batuque-de-Santa-Bárbara ou Batuque-de-Mina):

Culto tanto aos orixás como aos voduns, muito presente na

região Norte e Nordeste.

Umbanda: Organizada nas primeiras décadas do século XX,

no Rio de Janeiro, mescla aspectos do espiritismo kardecista, do

catolicismo e das religiões afrobrasileiras.

Quimbanda: Ramificação da Umbanda que está presente

somente no Rio de Janeiro. Culto a exu (orixá africano, que diz

respeito à comunicação) e à pomba-gira (uma espécie de exu

feminino).

Omolocô: Culto aos orixás com cantigas em iorubá ou angola.

Está presente em Minas Gerais.

Xangô (Xangô do Nordeste ou Xangô do Recife): Culto aos

orixás, com influência da cultura iorubá.

O candomblé é uma das manifestações mais presentes

na Bahia nos dias de hoje. Com origem totêmica e familiar e

baseado no culto a entidades, com uso de elementos da natureza,

o candomblé não deve ser confundido com a umbanda e outras

religiões afrobrasileiras. Os povos do antigo Reino do Daomé

(atual República do Benin) – conhecidos como jejes, na Bahia,

em Minas, no Maranhão – tinham como referência o culto de

voduns, enquanto o povo iorubá (nagôs) cultuavam os orixás.

Antes, até o século XVIII, o termo empregado para designar

os cultos afrobrasileiros era a expressão angolana calundu

(que significa divindade, na língua umbundo) e, no século XIX,

passou-se a utilizar na Bahia o termo candomblé, também de

origem angolana.

No Brasil, há dois modelos de cultos mais praticados: o rito

jeje-nagô e o angola. No rito jeje-nagô, de origem sudanesa,

estão as nações nagôs (ketu, ijexá etc.) e jejes (jeje-fon e jeje-

marrin), que cultuam orixás, voduns, erês (espíritos infantis) e

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33

POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

caboclos em terreiros chamados de candomblé ketu (se nagô) ou

de candomblé jeje (se jejes).

Já o rito angola abrange e enfatiza as religiões do povo banto,

a nação mais praticada no Brasil. Nele, são cultuados os deuses

bantos (inquices), os orixás, voduns, os vunjis (espíritos infantis)

e os caboclos em terreiros, chamados de candomblé angola.

No Rio de Janeiro, denomina-se essa religião de macumba; no

Espírito Santo, cabula; e na Bahia, candomblé de caboclo.

Com o intuito de preservar a religião, os africanos utilizaram

táticas diversas, como o a criação de subterfúgios, para fazer a

associação dos orixás a santos católicos (Xangô a São Jerônimo,

Iansã a Santa Bárbara, Oxalá ao Senhor do Bonfim, Omolu a São

Lázaro, dentre outros) e a participação de negros em instituições

e cultos católicos, embora, muitas vezes, celebrados com a

inserção de elementos afros.

Negros convertidos ao catolicismo ou que simulavam a

conversão constituíam irmandades semelhantes às brancas,

formadas por mulheres e homens livres, forros (escravos libertos

por comprarem sua liberdade ou receberem a liberdade do

senhor como prêmio ou por força de leis como a do Ventre Livre

e do Sexagenário) e escravos. Sediadas em templos católicos,

as irmandades negras eram espaços de elevação a santos, mas,

muitas vezes, através de ritos com traços africanos percebidos

nas indumentárias, na música, nos alimentos servidos aos

participantes etc..

É possível que, da necessidade de disfarçar a devoção e os

rituais de oferta às divindades ou do hábito de cultuar os orixás

com alimentos, também, tenham surgido comidas típicas da

Bahia. Pratos da culinária local seriam adaptações de oferendas

(o caruru vem do amalá de Xangô; o acarajé, do acará de Iansã; o

mungunzá, do acaçá de Oxalá; o lelê é a comida oferecida a Euá

e Obá, entre outros).

O sincretismo trata-se de uma forma de transformação e

adaptação cultural, pela sobrevivência da crença e do culto às

divindades africanas em meio à prática religiosa dominante.

Vale ressaltar que ele não se constituiu voluntariamente. Este

processo, em grande maioria, decorreu da necessidade que

o africano e o afro-descendente encontraram para proteger

suas crenças religiosas, visto que, pela lei, a religião oficial era

o catolicismo. Dessa e de outras formas, os negros buscaram

preservar sua cultura e seus costumes. E, hoje, a população de

Salvador e parte do interior assimilaram costumes e hábitos

como características próprias, inerentes à sua cultura, como a

Festa de Iemanjá e a lavagem do adro da Igreja do Senhor do

Bonfim por mães-de-santo vestidas a caráter, em 02 de fevereiro

e na segunda quinta-feira de janeiro, respectivamente.

Contudo, a sustentação do candomblé é, também, atribuída

por historiadores, em parte, à certa conivência dos proprietários

dos escravos, que permitiam algumas manifestações em suas

terras ou fingiam não identificá-las, para arrefecer os ânimos

dos escravos. Acredita-se que, de todos os traços culturais

trazidos para o Brasil pelos africanos, o candomblé tenha sido

o mais estudado como exemplo de resistência cultural e social

dos negros.

Page 34: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

34

POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

A permanência e o fortalecimento desta religião afro-

brasileira na Bahia, que culminou com a existência de mais

de 4 mil terreiros somente em Salvador atualmente, pode ser

explicada pelo processo de adaptação, ao sistema escravagista e

ao ambiente local, dos povos trazidos para o território Bahia na

época da escravatura, entre os períodos colonial e imperial.

As semelhanças naturais entre a Bahia e a África, como a

geografia, contribuíram substancialmente para amenizar a

saudade dos africanos e para garantir a permanência de grande

parte das tradições trazidas por eles ao Brasil em solo baiano.

O negro na Bahia atualO negro no Brasil, atualmente, ainda sofre com os reflexos

da história de desigualdade e exploração referente a alguns

segmentos, como a política e a educação. Após a abolição da

escravatura, em 1888, não foram assegurados aos africanos e

crioulos (pretos nascidos no Brasil) acesso à terra e assistência

econômica e social que garantisse emprego e renda, habitação,

saúde e alimentação.

A falta de perspectiva pós-escravidão reflete na situação dos

negros atualmente. Eles constituem a maioria da população

sem acesso à educação formal e formação profissional, situação

que dificulta sua ascensão política, econômica e social. Isso

ocorre inclusive na cidade de Salvador, conhecida como centro

da cultura afrobrasileira, por fatores como a predominância de

pretos e pardos. A maior parcela da população é formada por

negros (são cerca de 81,91%), porém esse contingente quase

não ocupa posições de prestígio social, político e econômico e

é vítima do preconceito e discriminação racial, inclusive com

registro na polícia e justiça, para aplicação da lei que prevê pena

para autores de práticas dessa natureza.

Emprego e rendaUm dos fatores dessa disparidade são as taxas de desemprego

e subemprego que são maiores entre negros que entre os

brancos. Segundo resultados da pesquisa “Mapa da População

Negra no Mercado de Trabalho”, realizada pelo Departamento

Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

(DIEESE) em 2001, para o Instituto Sindical Interamericano

pela Igualdade Racial, a situação de desigualdade é baseada

em critérios discriminatórios, levando os negros a exercerem

funções desfavoráveis no mercado de trabalho.

Em comparação com dados da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílio (Pnad) de 1999 e 2009 do IBGE, houve uma

Os negros (pretos e pardos) correspondem no Brasil a 51,07% da população,

ou seja, é a maioria no território, segundo dados da Síntese de Indicadores

Sociais do IBGE 2010. Contudo, é a parcela que ainda é minoria entre a

parcela mais rica da população, ele compõe 16% entre os 1% mais ricos.

Outro aspecto da pesquisa que evidencia a desigualdade entre brancos, pretos

e pardos é na observação do “empoderamento”, que está relacionado ao

número de pessoas em posições privilegiadas na ocupação. Entre os brancos

6,1% correspondiam aos que haviam subido de empregados para

empregadores, enquanto apenas 1,7% dos pretos e 2,8% dos pardos estavam

na mesma situação.

Contingente de empregados domésticos

Brancos 6%

Pardos 9,1%

Pretos 12,2%

Os pretos e pardos no Brasil ganham, em média, 40% menos que os brancos,

segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

de 2009.

Page 35: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

melhora com relação a negros (pretos e pardos) e brancos em

setores como mercado de trabalho e educação. Porém, ainda há

uma diferença substancial que legitima a desigualdade racial e

social, como por exemplo, no quesito rendimento no mercado

de trabalho, em todas as faixas de escolaridade, a renda por hora

de pretos e pardos é pelo menos 20% inferior à dos brancos.

Os negros (pretos e pardos) correspondem no Brasil a 51,07%

da população, ou seja, é a maioria no território, segundo dados da

Síntese de Indicadores Sociais do IBGE 2010. Contudo, é a parcela

que ainda é minoria entre a parcela mais rica da população.

Compõe 16% entre os 1% mais ricos.

Outro aspecto da pesquisa que evidencia a desigualdade entre

brancos, pretos e pardos é na observação do “empoderamento”,

que está relacionado ao número de pessoas em posições

privilegiadas na ocupação. Entre os brancos 6,1% correspondiam

aos que haviam subido de empregados para empregadores,

enquanto apenas 1,7% dos pretos e 2,8% dos pardos estavam na

mesma situação.

Os pretos e pardos no Brasil ganham, em média, 40% menos

que os brancos, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) de 2009.

EducaçãoNesta área, a situação também é agravante, visto que os

jovens negros, na maioria dos casos, veem de um núcleo familiar

desestruturado e freqüentam escola públicas e dessa forma,

não conseguem concluir o ensino fundamental obrigatório que

corresponde a 7,5 anos de estudo. Segundo dados da Síntese, os

pretos e pardos cumprem, em média, 6,7 anos de estudo contra

8,4 anos de estudo da população branca.

Além disso, os jovens negros também não correspondem a

maioria no ensino superior. Apesar desse quadro ter tido uma

melhora nos últimos 10 anos com a adoção das ações afirmativas

por algumas universidade públicas. Que, segundo dados do IBGE,

garantiu uma diferença na pesquisa de 1999, quando 33,4% dos

brancos nessa faixa etária fazia o ensino superior contra 7,5%

dos pretos e 8% dos pardos. E em 2009, este número pulou para

28,2% de pretos e 31,8% de pardos. No entanto, a diferença é

ainda maior entre as pessoas de 25 anos ou mais com ensino

superior concluído. O número de negros e pardos com diploma

é três vezes menor do que brancos. A Síntese indicou, também,

que os negros (pretos e pardos) já são metade da população em

2010, correspondem a 51,1% da população. Porém, é a parcela da

população que sofre mais com as desigualdades.

Contingente de empregados domésticos

Brancos 6%

Pardos 9,1%

Pretos 12,2%

Jovens na faixa de 18 a 24 anos que frequentam ensino superior

Brancos 62,6

Pardos 31,8%

Pretos 28,2%

Page 36: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Saúde

Na saúde, a população afrobrasileira necessita de programas

e iniciativas especificas para esse segmento. Contudo, a criação

de programas de atenção à saúde dessa população ainda

é escassa, mesmo sabendo que parte do portfólio de ações

governamentais possui programas direcionados para mulher e

crianças, mas sem o recorte étnico-racial.

No Brasil, a população possui uma série de doenças e

agravos prevalentes, como as de categoria genética, tais como a

anemia falciforme, deficiência de glicose et.; as de categoria de

condições desfavoráveis, como desnutrição, doenças do trabalho,

DST/HIV/aids, mortes violentas, mortalidade infantil elevada,

abortos, sofrimento psíquico, estresse, depressão, tuberculose,

transtornos mentais (derivados do uso abusivo de álcool e outras

drogas); e as de tratamento dificultado que originam doenças

como, hipertensão arterial, diabetes, insuficiência renal crônica,

câncer etc.

Vale ressaltar, que algumas dessas condições sociais e de

saúde da população negras são provenientes da questão do

racismo no Brasil. Isto, por que, o racismo influencia na vida, no

funcionamento das instituições, das organizações e também

nas relações entre as pessoas.

Um importante ponto que atinge a população negra nos

seu diversos setores e âmbitos é o racismo institucional, que

envolve as políticas, os programas e as relações interpessoais.

Responsável pelo tratamento diferenciado entre negros e

brancos em políticas como a de educação, trabalho, segurança

pública e nos meios de comunicação, o racismo institucional é

praticado pelas estruturas públicas e privadas do país.

O racismo institucional ultrapassou os limites das atitudes

interpessoais e cotidianas, de modo que interfere no contexto

de acesso a bens e serviços ofertados pelas instituições privadas

e, sobretudo, públicas.

Dados do relatório Saúde Brasil 2005: uma análise da situação

de saúde apresentam informações e análises sobre a disparidade

entre negros e brancos em diversas áreas da saúde.

Total de nascimentos na faixa etária entre mães

15 a 19 anos

Branca 19%

Negra 29%

Dados de Recém-nascidos que passaram por pré-natal

Brancos 62%

Negros 37%

Risco de uma criança morrer antes dos 05 anospor causas infecciosas e parasitárias

Branca 40%

Negra 60%

Proporção de analfabetos

Brancos 5,9%

Pardos 13,4%

Pretos 13,3%

Page 37: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

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POVOS NEGROS NO BRASIL

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Risco de uma criança morrer antes dos 05 anospor desnutrição

Branca 10%

Negra 90%

Risco de uma pessoa morrer por causa externa

Branco 44%

Negra 56%

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de & FILHO, Walter Fraga. Uma

história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Palmares, 2006.

BORGES, Rosane da Silva e CARRANÇA, Flávio (org.). Espelho Infiel:

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HASENBALG, Carlos Alfredo; SILVA, Nelson do Valle; LIMA,

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BIBLIOGRAFIA

Page 38: Manual Étnico-racial para o Jornalismo
Page 39: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

LINGUAGEMArquitetura e Mobiliário

ArtefatosCarnaval

ConceitosCulinária

Festas Legislação

Logradouros PúblicosMúsica e DançaPovos Africanos

ReligiosidadeVestuário

Page 40: Manual Étnico-racial para o Jornalismo
Page 41: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Arquitetura e Mobiliário

Page 42: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

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LINGUAGEM

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Aruanda Morada mítica dos orixás e entidades superiores da religião umbanda.

Barracão Salão de festas do terreiro.

Comunidade-Terreiro Espaço físico que contém templo de religiões afrobrasileiras e residências de sacerdotes e fiéis.

Fonte da Oxum Monumento em referência a Oxum, orixá das águas doces e relacionada a cachoeiras, fontes e outros mananciais. Em terreiros de candomblé tradicionais de Salvador, existem fontes para referenciar a Oxum, como a Casa Branca, no bairro da Vasco da Gama, e o Pilão de Prata, no bairro da Boca do Rio.

Ilê Axé O mesmo que terreiro.

Ilê Balé Local dedicado ao culto, um pequeno quarto com assentamentos dos antepassados da família de santo do terreiro.

Ixé Mastro fálico localizado no centro do barracão. Simboliza o elo permanente entre o terreiro e orum (ceú, morada dos orixás).

Mocambo O mesmo que quilombo. Era o local onde os escravos se

refugiavam nas matas, geralmente construídos sobre terrenos baldios sobre pântanos.

Quarto de Santo Espaço integrado a uma habitação que serve para culto religioso. Pode ser um quarto individual de santo (orixá, inquice ou vodun) ou quarto de uma família de santos ou um quarto coletivo de todos os santos do terreiro. No candomblé da Bahia, os quartos são de famílias ou conjuntos. O quarto ou casa de santo geralmente é uma construção de taipa ou alvenaria, e pintadas externamente com as cores simbólicas de cada orixá (paredes azuis e/ou verdes, casa de Oxóssi; paredes amarelas, casa de Oxum; paredes brancas, casa de Oxalá). Mesmo que peji ou casa de santo.

Page 43: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Artefatos

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LINGUAGEM

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AgunxóFolhas do dendezeiro, uma palmeira comum no litoral baiano, utilizadas para funcionamento de fogões e com outros usos domésticos nos terreiros.

AjerêCuscuzeiro de Omolu. É o assentamento do orixá, ou seja, o objeto que materializa o orixá Omolu nos terreiros. É um recipiente de barro com orifícios que lembram uma panela.

Aperê Tigela de barro para diferentes usos cerimoniais nos terreiros.

BalaioUtensílio que lembra um cesto, utilizado como peça de apoio para transporte de mercadoria aos orixás. Presentes nas festas de Iemanjá e Oxum, nos dias de ritual e de materiais para limpeza do corpo e de ambientes, promovidos por sacerdotes do candomblé. Compõe os espaços do terreiro com diversas finalidades, dentre outros.

CaboréVasilhame com alças, feito de barro parecido com uma jarra-leiteira. Em localidades baianas, como Maragogipinho, Irará, Coqueiro e Rio Real, entre outros, está concentrada a produção da peça. É comum ver o objeto nas casas das famílias do Recôncavo Baiano.

Cachimbo de CabocloObjeto muito utilizado na Umbanda. Trata-se de um copo de onde se coloca fumo com fornilho, feito de barro.

CaxixiObjeto de barro pequeno, miniatura ou miuçalha, bastante comercializada em feiras populares da Bahia, principalmente na Feira de São Joaquim. Serve como souvenir, objeto de uso doméstico. Nos terreiros de candomblé e Xangô, representa deuses infantis, como os Ibejis, Erês, Hohos (jejes) e Vunji (Angola-Congo).

CoitéFruto que, depois de seco, é lixado e decorado por pinturas. Serve como recipiente de bebidas e objeto para compor assentamentos de orixás em terreiros de candomblé.

ColherInstrumento tradicional na cozinha, que serve para o ato de se alimentar. Nos rituais religiosos afrobrasileiros, está inserida em diversos contextos e integra o conjunto de objetos utilizados nos assentamentos de orixás em terreiros. A partir do formato e tamanho, identifica a iabá (para a nação Ketu-Angola, o orixá feminino, ligado às águas) do qual se trata o assentamento.

NagéRecipiente de barro, robusto e com boca arredondada, cujas bordas são pintadas de tinta marrom ou preta com imagens de folhas, flores ou derivados. Surgiu em Nagé, localidade do Recôncavo da Bahia. Servindo para guardar farinha de mandioca, dentre outros alimentos. É tão comum no candomblé, que, geralmente, é confundida como um objeto de uso exclusivo e simbólico dos rituais religiosos. Tem importante valor simbólico nas tradições e religiões afrobrasileiras.

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LINGUAGEM

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QuartinhaPeça feita de barro que comporta cerca de um quarto de litro de água. Um dos utensílios indispensáveis na vida religiosa dos terreiros, especialmente os de candomblé. É utilizada para assentamentos de orixás e para a sinalização dos terreiros, sendo colocada próxima a uma árvore ou em local de fácil visualização para indicar que aquele é um espaço de ritual religioso. É equivalente à Estrela de Davi para os judeus ou à cruz dos católicos. A produção da peça é feita em Maragogipinho, localizado no Recôncavo Baiano.

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Carnaval

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Alerta GeralCriado por sambistas e aficionados pelo samba em 1993, foi um dos primeiros blocos de samba de Salvador a trazer para o desfile de Carnaval artistas, como Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Leci Brandão, Diogo Nogueira e o grupo Fundo de Quintal. Na criação, estiveram envolvidos os sambistas baianos Nelson Rufino e Guilherme Simões.

Alvorada Fundado em 1975 por ex-alunos do Colégio Estadual Severino Vieira, é o mais antigo bloco de samba do carnaval de Salvador e foi o primeiro a sair na sexta-feira de Carnaval. A iniciativa de criar o bloco surgiu em eventos de samba que os estudantes promoviam no colégio.

Badauê Afoxé criado em 13 de maio de 1978, por Moa do Katendê, Sandra Coelho, Eline Araújo, Geraldo Badá e Negrizu, com o propósito de celebrar a cultura afro pelas ruas do Engenho Velho de Brotas, próximo ao Dique do Tororó. Juntamente com os blocos Ilê Aiye e Filhos de Gandhy, foi um dos que revolucionou e deu início ao processo de reafricanização da festa.

Coração Rastafari Um dos bloco de reggae do carnaval, é comandado, idealizado e presidido pelo cantor e compositor Lazzo Matumbi e surgiu em 1998, com o objetivo de criar um espaço para o reggae durante a festa de momo na Bahia. Segue os conceitos de paz, igualdade social e respeito, defendidos pela ordem rastafari, mesmo não sendo ligado ao Rastafarianismo. O bloco sai às ruas sem corda e para receber um abadá, basta doar 3kg de alimentos. Os materiais coletados são encaminhados à Fazenda Cassange, no bairro de São Cristovão.

DidáSurgiu em 1999 por iniciativa de um grupo de mulheres do Centro Histórico, que buscava, através da arte-educação, melhorar a vida de mulheres e crianças de Salvador. Primeiro, o grupo de percussão, estimulado por Neguinho do Samba (criador do samba reggae e um dos fundadores do Olodum), atraiu um grande público por ter apenas mulheres. Em 1995, a Didá organizou-se enquanto um pequeno bloco afro, formado por mulheres da comunidade do Centro Histórico. O tropicalismo, a infância e a baiana do acarajé foram alguns dos temas abordados pelo bloco em seus desfiles de Carnaval. O grupo percussivo, fora do carnaval oferece oficinas a mulheres e crianças, de percussão, canto, jazz, capoeira, teatro, fotografia digital, fabricação de instrumentos musicais e corte e costura, entre outras. Artistas como Elba Ramalho e Caetano Veloso apoiam o grupo, que é dirigido exclusivamente para mulheres e crianças.

Filhos de GandhyFundado em 1949, os Filhos de Gandhy é o mais famoso e o maior afoxé da Bahia, tem mais de 10 mil integrantes (todos homens). Foi criado por iniciativa de trabalhadores associados ao Sindicato dos Estivadores de Salvador, com destaque para Durval Marques da Silva, o Vavá Madeira. O nome do bloco foi inspirado no líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), mas, para evitar problemas com o uso do nome, trocou-se a letra “i” por “y”. Na primeira vez saiu às ruas da capital baiana com homens fantasiados com um turbante, perfume de alfazema e colares azul e branco, as cores são uma referência à paz. O afoxé enfoca Oxalá. Fora do Carnaval oferece oficinas de percussão, aulas de informática e curso de guia de turístico mirim, voltados para crianças do Centro Histórico.

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Ilê AiyêCriado em 1974, na Rua Curuzu, no bairro de Liberdade, o mais populoso de Salvador e com a maior densidade de negros do Brasil (mais de 600 mil habitantes). É o primeiro bloco afro da Bahia. Um dos seus pilares da entidade é contribuir para o processo de fortalecimento da identidade étnica e da autoestima do negro brasileiro, através da popularização da história afro-brasileira e africana, traçando uma trajetória de luta e resistência do negro no Brasil. Inovou no carnaval baiano ao apresentar uma nova roupagem rítmica musical, a partir da união de ritmos oriundos da tradição africana e típicos da identidade baiana, e letras que abordam a o identidade negra. Também, mantém projetos pedagógicos: Escola Mãe Hilda, que propicia a educação formal com turma de ensino fundamental e educação infantil, juntamente com a Banda Erê; Cursos profissionalizantes de assistente de cozinha, estética afro, informática, confecção de instrumentos e telemarkenting. Apresentou-se em diversos em diversos países como Benin, Estados Unidos, Angola, França, Itália e Alemanha.

Malê DeBalêSurgiu em 1979, por iniciativa de moradores do bairro de Itapuã, uma associação dedicada à promoção do desenvolvimento e da cultura negra dentro do bairro e nas adjacências. É considerado é o maior balé afro do mundo e realiza apresentações com 2 mil dançarinos. Seu nome é em homenagem à Revolta dos Malês, uma das formas de resistência de negros mulçumanos à escravidão no Brasil, que ocorreu em 1835, em Salvador. Entre as ações sociais estão a escola que atende a cerca de 300 alunos, do pré-escolar ao ensino fundamental, e as aulas de música, dança e teatro.

MuzenzaSurgiu no bairro da Liberdade. “Muzenza” é um termo de origem banto-kikongo, que significa “yaô dos nagôs” (iniciados no candomblé na nação Angola). Inicialmente, a ideia do bloco era fazer um tributo ao músico jamaicano Bob Marley (1945-1981), com inspiração na cultura afro-jamaicana. Criado em 1981, período em que o “Rei do Reggae” fazia grande sucesso entre os jovens, o bloco ganhou destaque entre esse público, tornando-se conhecido como o “Bloco do Reggae” ou “Muzenza do Reggae”. No Carnaval de 1982, chegou a reunir cerca de 4 mil foliões no desfile. Já teve algumas músicas regravadas por importantes artistas da música brasileira, como Maria Bethânia (“A terra tremeu”), Gal Costa (“Brilho beleza”), Margareth Menezes (“Povo vem ver”) e Carlinhos Brown (“Rumpillé”).

OlodumFundado em 1979, pela comunidade negra do bairro do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, como uma proposta de desenvolvimento para a comunidade, por meio de atividades de valorização e fortalecimento da cultura africana. Além do bloco de Carnaval, o Olodum mantém uma escola de arte, educação e pluralidade cultural, uma banda de shows e um grupo de teatro, que têm como objetivos estimular a presença de negros nestes espaços, valorizar a identidade negra e propiciar a visibilidade dessa população. Há mais de 2 mil associados e uma destacada trajetória musical, desde o primeiro LP, “Egito, Madagascar” (1987), que estourou na Bahia com a música “Faraó”. A banda é um dos grandes expoentes de percussão afrobrasileira, tendo se apresentado em diversos países da Europa e América do Sul e participado de discos dos cantores Paul Simon, Michael Jackson, Jimmy Cliff, Herbie Hancock e Caetano Veloso.

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OkanbíCriado em 1982, no bairro de Engenho Velho da Federação, por Jorjão Bafafé, após sua saída do bloco Badauê, o afoxé apresenta as referências culturais afrobaiana, através de músicas que contam a história da África. Entre 1984 a 1996, parou de desfilar no Carnaval, mas retornou em 1997. Desde 1998, se tornou um bloco afro e passou a desfilar no Campo Grande. Mantém o projeto Tocando os Corações, que oferece oficinas de percussão e dança afro para crianças de escolas municipais do bairro. O nome Okanbí é em homenagem a um rei da cidade africana de Ilé Isé, que significa “nascido do coração”.

Os NegõesCriado por militantes, artistas e esportistas que frequentavam as festas de largo de Salvador, em 1982, apenas com a intenção de manter um espaço de encontro de amigos durante a festa. Inicialmente, o bloco era conhecido como Os Negões de 1,80m, porque todos os fundadores do bloco tinham mais de 1,80m de altura e só podiam participar do grupo homens com essa altura mínima. Somente em 1995, foi permitido o ingresso de mulheres e homens com menos de 1,80m de altura. O bloco criou, em 2000, o Fórum das Entidades Negras, juntamente com Ilê Aiyê, Muzenza e Malê de Balê. Oferece curso pré-vestibular em parceria com a Universidade Estadual da Bahia, além da realização de projetos para a qualificação profissional de presidiárias, a alfabetização de jovens e adultos, além de oficinas de dança e percussão.

Saudade é FoliaFundado em 1984 por operadores da Refinaria Landulfo Alves/Petrobras, a partir da necessidade de se confraternizarem no período de Carnaval. O bloco de

samba, inicialmente, era chamado de Saudade na Avenida é Folia e só tinha instrumentos de sopro e percussão, mas, com o tempo, passou a contar com outros instrumentos musicais. Sai com 2.200 foliões, todos familiares e amigos dos trabalhadores dos ramos petroleiro e químico. Já participaram do desfile sambistas como Dudu Nobre, Arlindo Cruz e Leci Brandão.

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Conceitos

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AbolicionismoMovimento político, surgido no fim do século XVIII, que tinha o propósito de abolir a escravatura nas Américas e que resultou na reação das próprias vítimas, desde o século XVI, através de fugas, aquilombamentos, revoltas. Propôs formas gradativas de extinção da escravidão. O processo abolicionista no Brasil contou com a participação de militantes escravos, libertos e descendentes de negros nascidos livres, como Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e Ferreira de Menezes.

Ação afirmativaMedida para solução de casos de desigualdade, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros. Trata-se de uma medida especial (e, em geral, temporária), geralmente determinada pelo Estado, com a finalidade de eliminar as desigualdades e garantir a igualdade de oportunidades e tratamento aos indivíduos de uma localidade. No Brasil, visa combater os efeitos das discriminações, como posições de desvantagens, particularmente nas áreas de educação e emprego, conferidas a grupos distintos (negros, índios, brancos, mulheres etc.). Também chamada de ação compensatória, no Brasil está relacionada aos negros na destinação de parte das vagas disponíveis nas universidades e empresas, bem como bolsas de estudos, treinamentos especiais, entre outros.

AfroTermo vocabular para adjetivar diversas expressões da cultura de origem africana na diáspora.

África NegraTermo usado para denominar parte do continente africano, localizada abaixo do deserto do Saara, em oposição à porção setentrional.

Africanos livresExpressão usada para identificar os negros que comprovadamente entraram no Brasil após a proibição do tráfico de escravos, ocorrida em 1831.

AfrobrasileiroTermo que designa o indivíduo brasileiro descendente de africano, com qualquer grau de mestiçagem.

AfrocentrismoMovimento que tem como propósito construir uma visão de mundo contrária ao eurocentrismo, abordando a contribuição das civilizações africanas para o desenvolvimento humano e desmistificando a imagem recorrente no mundo ocidental de que a África é primitiva e arcaica, a partir da demonstração do conhecimento científico, religioso e filosófico existente no continente africano.

AfrodescendenteTermo usado, no Brasil, para denominar o indivíduo descendente de africano com qualquer grau de mestiçagem.

AlforriaProcesso de libertação do escravo através de ato voluntário do seu proprietário ou do pagamento do valor que este atribuía ao mesmo. A alforria era conseguida por compra, doação ou imposição legal e podia ser feita por carta, testamento, de pia (quando a liberdade ocorria no ato do batismo católico) e por liberdade condicional feita pelo outorgante.

Anemia falciformeTipo de anemia hereditária, em que a hemoglobina

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(componente do sangue) é anormal e tem hemácias falciformes, muito fracas, destruídas rapidamente pelo próprio organismo. Anomalia genética é típica da população negra.

ApartheidPalavra de origem sul-africana, que significa à parte ou separação total e refere-se ao regime de segregação entre brancos e não-brancos (assim definidos os negros por aqueles que reivindicavam a supremacia branca) na África do Sul, imposto por uma sucessão de governos do Partido Nacional, entre 1948 e 1994, que cerceou os direitos da grande maioria dos habitantes em prol da minoria branca.

Bloco afroTermo usado para designar agremiações carnavalescas surgidas desde os anos 1970, em Salvador, voltadas à reafricanização da festa popular, por meio da abordagem de temas que buscam relação direta com a África, bem como a afirmação da negritude, através da recuperação, preservação e valorização da cultura de origem africana. Os blocos Olodum e Ilê Aiyê são referências desse grupo.

BranqueamentoTática racista das classes dominantes que consiste no incentivo ao mestiçamento da população brasileira e/ou da inserção de negros e mestiços em grupos e espaços notadamente brancos, mediante a reprodução por esses indivíduos de hábitos e costumes inerentes ao grupo prevalente, em detrimento dos valores do seu grupo étnico.

Consciência negraIdeologia do indivíduo negro caracterizada pelo autoconhecimento e auto-estima em relação à sua

originalidade étnica e cultural. É uma ideologia que se expressa tanto para quem vive na África, quanto na Diáspora. Tendo sido fundamental nas diversas lutas pelos direitos civis da população negra.

CriouloNo Brasil,o termo é utilizado de forma pejorativa. Ele designa genericamente o negro de qualquer pigmentação.

DiásporaPalavra de origem grega que significa dispersão. Inicialmente, designava o movimento espontâneo de judeus pelo mundo, sendo, em seguida, aplicado à desagregação dos negros africanos durante dois períodos: o da escravidão desde o século XV e a imigração comum, no século XX. É também usado para designar os descendentes de africanos nas Américas e na Europa.

DiscriminaçãoÉ um ato, a manifestação do preconceito. Tratamento desfavorável dado a certas pessoas ou manutenção de crenças negativas a seu respeito ou negação aos membros de certos grupos de um acesso igualitário a recursos relevantes, a oportunidades, a direitos estabelecidos por lei.

EstereótipoResultado da atribuição, por suposição, de características pessoais e de comportamento sobre determinado grupo étnico, nacional, religioso etc. Com relação aos negros, ao longo dos anos, foram criadas várias impressões estereotipadas, entre os quais “mãe preta”, que remete à sofredora, bondosa; “negão” aquele que é violento, bandido; “crioulo malandro”, esperto, vigarista e/ou simpático; mulata boazuda”, mulher sensual; “crioulo doido”, cachaceiro,

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engraçado; “preto de alma branca”, dócil, subserviente, conformado.

EtniaConjunto de indivíduos que possuem características semelhantes, ou seja, compartilham da mesma língua e cultura e se identificam como grupo a partir de referenciais inerentes distintos dos demais, por possuírem a mesma origem em uma época mítica e por compartilharem alguns atributos comuns ao público (como espaço geográfico, língua, costumes e valores). A palavra etnia vem do grego e significa de povo ou nação.

EtnocentrismoTrata-se da avaliação feita por um indivíduo ou grupo social, a partir de referenciais inerentes a si e à etnia a qual pertence.

EtnorracialNeologismo usado para qualificar indivíduos, do ponto de vista sociocultural (étnico) e biológico (racial).

MestiçagemTermo que expressa o resultado da miscigenação. Nas Américas, os mestiços recebem denominação como mulato, cafuzo etc. Já no Brasil, para o movimento negro, essa ideia anuvia a percepção social e racial do negro, dificultando a criação de implantação de políticas públicas para esse segmento.

Movimento negroNome dado ao conjunto de entidades privadas e integradas por afrodescendentes que lutam pelos seus direitos para exercício da cidadania.

MulatoMestiço de branco e negro. Termo que se aplica a qualquer grau de mestiçagem. A militância negra brasileira rejeita o termo, pois o associa às origens etimológicas, ligadas a “mulo”, um animal, e orienta a substituição por negros, pretos e pardos.

Nação ou PovoTermo auto-atribuído por africanos e descendentes de pessoas nascidas na África, a cada comunidade que recria práticas religiosas e outras tradições, utilizando como referência a cultura inerente à etnia nelas predominantes.

NegoO termo possui definições para determinadas situações. Na Bahia, é utilizado para se referir a qualquer pessoa em geral, o que também pode ser considerado como ofensivo e deve ser evitado. Em alguns casos, dependendo da sua entonação o termo também pode ter sentido carinhoso.

NegritudeNeologismo que está relacionado à consciência e ao pertencimento à grande coletividade dos africanos e afrodescendentes. Também utilizada como forma de reivindicação de pertencimento a essa identidade; conjunto de valores civilizatórios africanos no continente de origem e na Diáspora. O termo teve como seus principais líderes o martinicano aimé Cesaire, o guianense Léon Damas e o senegalês Leopold Senghor, na qual foi estabelecida a ideia da afirmação da identidade africana, ou seja, o entendimento de que os africanos e seus descendentes devem lutar pelos seus direitos fundamental e ter compromisso ideológico uns com os outros.

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NegroDenominação genérica do indíviduo de pele escura e cabelo encarapinhado; descendente de africano em qualquer grau de mestiçagem. No Brasil,o termo é utilizado como referente étnico e político, muitas vezes através da autodenominação, inclusive para afrodescendentes de pele clara.

PixaimDenominação pejorativa aplicada ao cabelo dos negros.

PreconceitoVisão baseada em crenças estereotipadas, acerca de um grupo social ou indivíduo, em detrimento dos seus atributos reais, e de caráter negativo, relacionado ao subjugamento do outro em relação a si e ao seu grupo social. Leva à discriminação.

PretoNa época da escravidão o vocábulo era sinônimo de “escravo”. Hoje, no Brasil, a denominação designa o negro de pelo mais escura (fortemente pigmentada). É, também, utilizado no sistema de classificação de cor ou raça adotado pelas pesquisas domiciliares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

QuilomboAcampamento ou povoação de escravos fugidos, modelo de sociedade alternativa à sociedade colonial escravista. Diversas localidades do Brasil tiveram quilombos estruturados, geralmente localizados em regiões afastadas dos centros urbanos, de difícil acesso, como matas e montanhas, baseados na economia de subsistência e, às vezes, ao comércio com povoados circunvizinhos. O mais

conhecido foi o Palmares, localizado onde atualmente denomina-se Alagoas, que teve como líder Zumbi.

RaçaMeio pelo qual o indivíduo se define a partir da variante étnica ou da circunstância racial.

RacismoDoutrina que afirma a superioridade de determinados grupos étnicos, nacionais, religiosos, lingüísticos etc. sobre outros.

ReparaçãoIniciativa dos movimentos negros em vários países que visa à garantia de compensação para as populações atingidas pelo escravismo europeu, a depender do prejuízo sofrido.

SararáMulato aruivado ou alourado

SegregaçãoSeparação geográfica ou física imposta a determinados grupos em virtude de lei, costume ou acordo tácito. O termo passou a ser usado como sinônimo de discriminação.

SenzalaA palavra de origem quimbundo designa a habitação rude e grosseira, utilizada como alojamento de escravos no Brasil. Geralmente, não tinha janela, e, à noite, era trancada por fora para se evitar a fuga de escravos.

TribufuQualificativo ofensivo do indivíduo negro

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Culinária

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AbadôMilho vermelho torrado e triturado, uma espécie de farinha.

AbaráIguaria feita com feijão fradinho, camarão, cebola e preparado com azeite de dendê, envolvida em folha de bananeira e cozida em banho-maria.

AberémBolinhos feitos com massa de milho branco, enrolados em folha de bananeira e cozidos em banho-maria.

AcaçáHá duas variações, o branco e o vermelho. Trata-se de um bolinho feito com milho branco ou vermelho (de fubá de milho fino), envolto numa folha de bananeira Em algumas ocasiões, é colocado azeite de dendê sobre os acaçás vermelhos ou mel de abelha sobre os acaçás brancos. É servido em oferendas no candomblé e como alimento em lares baianos.

AcarajéBolinho de feijão fradinho moído e temperado com cebola, sal e frito em azeite de dendê. No candomblé, existem algumas singularidades referentes ao tamanho e formato do acarajé servido às divindades. O acarajé grande e redondo é de Xangô; os pequenos e ovais são para Iansã, Obá, Erês e outras iabás.

AcaráO mesmo que acarajé.

AdoMilho torrado e reduzido a pó, temperado com azeite de dendê e misturado a mel de abelhas. Os africanos acrescentavam açúcar ao pó e passavam na peneira, chamando a mistura de fubá de milho.

AjeumDe origem iorubá, significa comer. Trata-se de uma refeição comunal da tradição dos orixás.

AmaláPreparado a base de quiabos e temperado com cebola, azeite de dendê e camarão seco, é o prato predileto do orixá Xangô.

AmassiLíquido de folhas sagradas, maceradas em água e, depois, deixando-as repousar durante sete dias. E tem como destino o banho da cabeça dos médiuns e tem finalidade de limpar o campo astral.

AmoriPrato preparado com folhas de mostardas fervidas, temperadas e fritas no azeite e dendê.

AnduPrato do candomblé semelhante à feijoada.

AnguPrato popular nos terreiros afrobrasileiros e nas mesas da população. É uma papa de farinha cozida com água.

AnguitePrato do candomblé conhecido como caruru.

ArderéVatapá feito de feijão fradinho e condimentos.

Arroz de HaussáPrato religioso feito com arroz, cebola e camarão seco, ralados na pedra, e depois acrescenta azeite de dendê e condimentos a base de pimenta.

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Aruá ou AluáBebida refrescante preparada com farinha de arroz, milho torrado ou cascas de abacaxi, água, açúcar mascavo e gengibre.

AtarêPimenta-da-costa

Azeite de dendêUm dos condimentos mais encontrados na culinária dos terreiros. É o óleo extraído da casca mole do dendê, fruto de uma palmeira comum na costa baiana.

BobóBolo pequeno de massa de feijão mulatinho, cozido com água, sal, banana da terra e azeite de dendê. É um prato da culinária brasileira popular na cozinha da Bahia, de origem africana.

CaruruPrato da culinária baiana e dos rituais do candomblé, feito com quiabo e temperado com sal, cebola, amendoim e camarão seco. Também conhecido como Omalé de Ibeji. Nos rituais, é servido em tigela de barro para as crianças comerem com as mãos, sem utilizar os talheres. Existem festas populares em que a iguaria é oferecida às divindades e a população, como o Caruru de Cosme e Damião (27 de outubro) e o Caruru de Santa Bárbara (04 de dezembro).

CuscuzFeito com arroz, milheto, trigo e sorgo, é um prato típico dos mouros, do Norte da África. Somente a partir do século XVI, começou a ser preparado com farinha de milho, entre outros ingredientes, e tornou-se um dos importantes alimentos matinais da população que vive no Nordeste. O cuscuz está presente, também, na gastronomia dos terreiros, onde é servido pela manhã ou após os rituais fúnebres.

EbóMilho branco pilado, feijão fradinho torrado e um pouco de água são colocados para ferver e, em seguida, são acrescentados sal e azeite de dendê. Nos cultos religiosos afrobrasileiros, tratar-se de uma oferenda, dedicada a algum orixá, podendo ou não envolver o sacrifício animal. A oferenda funciona como limpeza espiritual, contendo vários tipos de comida ritual.

EkuruMassa de feijão fradinho cozida em banho-maria e, depois, a massa diluída em mel de abelha, tomando aspecto de farofa.

EfóPreparado com folhas de língua-de-vaca, camarão seco, azeite de dendê, sal e outros produtos. É um dos pratos típicos do candomblé. Os africanos utilizavam também folha de taioba no preparo.

DespachoConsiste geralmente numa oferta de alimentos preferidos, de acordo com os orixás a que são destinados, das divindades afro-brasileiras para conseguir os seus favores, deixado nas encruzilhadas das ruas e caminhos. Na Bahia, a oferenda é deixada junto de uma gameleira branca sagrada. Despacho é sinônimo de padê de Exu. Trata-se de uma homenagem ao orixá Exu.

Farofa d’águaFarinha de mandioca misturada a pouca água, comumente servida com o padê de Exu, no candomblé.

Farofa de CosmeUtilizada no cardápio do Caruru de Cosme, é feita com farinha de mandioca, vinho branco, açúcar ou mel. É servida às imagens de Cosme e Damião (Erês) em louça caxixi e, também, aos devotos dos santos gêmeos.

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Farofa de dendêBastante comum nas mesas brasileiras. O prato é preparado com farinha de mandioca, azeite de dendê, sal e às vezes, camarão seco.

Feijão de AzeiteUm dos pratos mais populares da culinária afrobrasileira, trata-se do feijão fradinho cozido com água e sal e, depois, misturado à massa de camarão seco, azeite de dendê, cebola e sal. É, também, um dos pratos do cardápio do orixá Oxum.

Feijão de OmoluPreparado com feijão preto, carne de porco, azeite de dendê, sal e camarão seco. É alimento do orixá Omolu.

Feijoada de OgumGeralmente servida às 12h no dia 13 de junho, consagrado a Santo Antônio, sincretizado como Ogum, é um dos pratos que representa a fé e a união para o trabalho. É preparado como uma feijoada comum, com os mesmos temperos e carnes, mas ao ar livre e em uma grande panela. Deve ser consumido com as mãos, sem utilizar talheres, e com porções de farinha de mandioca.

FunfumComida do orixá Oxalá. É o inhame cozido e amassado em papa e servido com mel de abelha e leite de coco.

IpetêÉ o inhame descascado, cortado em pedaços miúdos, fervidos e temperado com azeite de dendê, pimenta, camarões e cebolas.

ManiçobaPreparada com folhas tenras de aipim ou mandioca, sem talos, lavadas, trituradas num pilão ou em máquinas de moer comuns, separadas do sumo e cozidas com pouca água

até ferver. Às folhas fervidas, acrescenta-se carne de charque, cabeça de porco, toucinho, pedaços de mocotó, sal, alho, folha de louro, hortelã e pimenta para novo cozimento. A maniçoba é um prato tipicamente indígena, porém tornou-se um prato típico na culinária do Recôncavo Baiano, com destaque para a cidade de Cachoeira, onde é servido em eventos comemorativos do calendário afrobrasileiro.

MocotóPreparado com ossos, unhas, língua e partes do intestino do boi, lavados cuidadosamente com água e limão e cozido com sal, cebola, tomate, alho, pimenta do reino, vinagre, cominho, hortelã e folha de louro. Servido com pirão feito com farinha de mandioca. A refeição é muito apreciada na culinária baiana.

Molho NagôDe uso extra-religioso, é feito de limão, jiló, quiabo, camarão seco e pimenta.

Moqueca de XaréuCozido do peixe xaréu com azeite de dendê e leite de coco seco. O peixe xaréu aparece nas águas do litoral baiano de dezembro a março e, anos atrás, era de consumo restrito aos escravos, tripulantes de navio que iam para a África e à população pobre.

MugunzáAlimento ritual do orixá Oxalá em alguns terreiros de candomblé e umbanda e, também, encontrado na culinária cotidiana e em períodos festivos. É feito com milho branco cozido, açúcar, cravo, coco, canela e leite de vaca.

Negro velhoPrato preparado com carne seca desfiada e tutu de feijão preto.

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OguedêBanana da terra frita no azeite de dendê.

OlubóUma espécie de pirão, preparado com mandioca descascada e cortada em fatias e posta para secar ao Sol. Posteriormente, as fatias são colocadas num pilão, trituradas e passadas em peneira e, depois, misturadas com água.

OmolocumComida ritual do orixá Oxum, é feito com feijão fradinho cozido, refogado com cebola ralada, pó de camarão, sal, azeite de dendê ou azeite doce. O prato é enfeitado com camarões inteiros e ovos cozidos inteiros sem casca, normalmente são colocados 5 ovos ou 8 ovos, podendo variar a quantidade de acordo com a obrigação do candomblé.

PaçocaPreparado com amendoim, açúcar e sal, é um alimento encontrado em alguns terreiros de candomblé no cardápio de Logun Edé e de Caboclos.

Padê de ExuPrato preparado com farofa amarela, acaçá, azeite de dendê e um copo de água ou cachaça, que são “arriados” para o orixá Exu.

PetéConhecido também como ipeté, é um alimento preparado com raiz de inhame temperado com camarão seco, cebola e azeite de dendê. Faz parte do cardápio, nos preceitos públicos, do orixá Oxum. Denomina, também, uma das festas do orixá Oxum.

QuibebePapa ou purê de abóbora.

SarapatelPreparado com o intestino do suíno, passa pelo mesmo processo de feitura do mocotó, porém os pedaços são cortados bem pequenos. Quando o intestino está cozido, é juntado com o sangue do suíno, que foi separado em um vasilhame com vinagre e sal, e novamente levado ao fogo para fervura.

TutuDe uso extra-religioso, é o feijão cozido, refogado e engrossado com farinha de mandioca ou de milho. Nos rituais afrobrasileiros, de oferenda ou cotidianamente, é comido de mão em pequenos bolos.

VatapáPrato do candomblé oferecido ao orixá Iansã, entre outros, e iguaria típica da culinária baiana. Papa de farinha de mandioca ou pão amanhecido, cozida com leite de coco, sal, cebola, camarão seco, amendoim e pimenta.

Vatapá de GalinhaPreparado com uma galinha depenada, lavada com água e sal, cortada em pequenos pedaços, e temperada com água, vinagre, cebola, coco ralado, camarões e pimenta malagueta bem batidos num pilão, além de azeite de dendê e leite de coco.

XinximGalinha em pedaços pequenos, cozida com sal, alho, cebola ralados, camarões secos em grande quantidade e azeite de dendê. Prato do Caruru de Cosme e Damião.

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Festas

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Bembé do Mercado Festa da tradição religiosa afrobrasileira, realizada no mês de maio, em Santo Amaro da Purificação (BA). A festa tem 121 anos e celebra a abolição da escravatura com muita dança, música, culinária, exposições e debates sobre o contexto histórico, realizados com a participação de mais de 40 terreiros. Apresentam-se várias manifestações populares, como maculelê, a capoeira e sambas de roda; e são servids em barracas comidas típicas do Recôncavo, como maniçoba, feijoada e sarapatel. A comemoração de Bembé do Mercado teve início no dia 13 de maio de 1889, quando João de Obá, antigo escravo de origem malê e pai de santo, saiu para render graças pela liberdade dos negros, bateu o bembé (corruptela de candomblé).

Caruru de Cosme e Damião (ou dos Êres)Celebrado no mês de setembro, especificamente no dia 27, a festa é realizada em diversos lares baianos, que abrem suas portas para oferecer caruru à população, principalmente a crianças. Já que Cosme e Damião são os santos gêmeos da Igreja Católica, eles são sincretizados como ibejis no candomblé. O caruru é acompanhado por xinxim de galinha, vatapá, arroz, milho branco, feijão fradinho, feijão preto, farofa, acarajé, abará, banana da terra frita, abóbora cozida e roletes de cana, além de pipoca. A oferenda é colocada em pequena porção nas vasilhas de barro aos pés das imagens dos santos, ao lado das velas, balas e água. Em seguida, é servido para sete meninos com, no máximo, sete anos cada. A tradição diz que os meninos devem comer juntos, com as mãos, numa grande gamela de barro ou bacia. Somente depois dos meninos comerem, os alimentos podem ser servidos para outros convidados.

Festa de IemanjáUma das mais importantes festas no calendário baiano, homenageia a orixá Iemanjá que é conhecida como a Mãe das Águas. A tradição da festa começou em 1923, quando

um grupo de 25 pescadores resolveu oferecer presentes à Iemanjá, com o intuito de pedir proteção, fartura de peixes e mar tranqüilo. Desde então, todo dia 02 de fevereiro, o bairro do Rio Vermelho atrai uma multidão de pessoas que leva diversos presentes à Colônia de Pescadores Z-1 para que sejam colocados no mar. Dentre os presentes, estão flores, perfumes, espelhos, enfeites diversos (como anéis, colares, fitas, brincos, bijuterias), pentes, maquiagens e ainda bonecas. Além dos diversos balaios cheios de presentes que vão para o alto mar, os pescadores, todo ano, preparam um “presente principal”, na maioria dos casos, uma grande imagem feita de gesso representando a divindade e oferendas preparadas pela ialorixá responsável pelo comando dos trabalhos. A festa possui diversas histórias de superstição e fé. As pessoas acreditam que os presentes que não afundam e retornam à praia foram rejeitados pela orixá. Após a oferta, o bairro é tomado por diversas barracas de bebidas e comidas, além de festas particulares e grupos de samba de roda e ijexá, capoeira, blocos afros, fanfarras dentre outros. Acredita-se que a celebração da festa era feita em conjunto com a Igreja Católica, porém, em 1960, um padre teria ofendido os pescadores, chamando-os de ignorantes por cultuarem uma sereia e isto provocou o rompimento com a Igreja e, desde então, os pescadores passaram a realizar a festa apenas em homenagem à rainha do mar, Iemanjá.

Festa de Santa BárbaraComemorada no dia 04 de dezembro, a festa é um dos exemplos do sincretismo religioso: onde as pessoas celebram Santa Bárbara (santa católica e padroeira dos Bombeiros) e Iansã (orixá guerreira, dos raios e tempestades), reunindo católicos, adeptos do candomblé, da umbanda e de outras religiões. O evento começa com uma alvorada de fogos às 5 horas da manhã em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho e às 7h é realizada uma missa na Igreja. Em seguida, procissão até o Quartel de Bombeiros, na Barroquinha. No Mercado de Santa Bárbara, na

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Baixa dos Sapateiros, à tarde, é servido caruru e outros pratos à população. Terreiros também oferecem o “caruru de Iansã”, ao som de samba de roda e com apresentação de grupos de capoeira e maculelê. Para homenagear a santa/orixá, as pessoas vestem-se de vermelho neste dia.

Lavagem do Senhor do BonfimTradicional festa afro-religiosa de Salvador, a Lavagem do Bonfim ocorre na segunda quinta-feira do mês de janeiro e reúne um grande número de pessoas na Cidade Baixa. Carroças enfeitadas e puxadas por animais e as baianas com vasos com água perfumada, mais conhecida como “água de cheiro”, percorrem a pé o trajeto de 8 km da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto da Colina Sagrada, onde fica a Basílica do Bonfim. Na chegada à Igreja, as baianas lavam com vassouras e água de cheiro as escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, ao som de palmas, toque de atabaque e cânticos de origem africana. Em seguida, a festa continua no Largo do Bonfim, com batucada, danças e barracas de bebidas e comidas típicas. Pelo sincretismo religioso, o Nosso Senhor do Bonfim do catolicismo corresponde a Oxalá no candomblé. Na ocasião, todas as pessoas se vestem de branco, a cor do orixá. Este ritual tem origem, segundo pesquisadores, no tempo em que os escravos negros eram obrigados a levar água para lavar as escadarias da Igreja para a festa católica dos brancos.

São BartolomeuComemorado no mês de agosto, no município de Maragojipe (a 133 km de Salvador), a festa de São Bartolomeu, o padroeiro da cidade, celebra, por mais de 30 dias, uma das maiores manifestações religiosas e populares do Recôncavo Baiano. Com procissões, novenas, missas, dia de oração em preparação à festa, lavagens de rua, faxina do templo católico, rodas de samba, concurso de filarmônicas e encontros de fanfarras, a festa tem tradição de mais de 200 anos de reverência ao santo São Bartolomeu.

Festa da Irmandade da Boa MorteOficializada em 2010 como Patrimônio Imaterial da Bahia, pelo governo do Estado, a festa acontece desde 1820, na primeira quinzena do mês de agosto, na cidade de Cachoeira e mistura elementos do catolicismo e do candomblé. Considerada uma das mais importantes manifestações culturais da Bahia, a festa surgiu quando mulheres negras e ex-escravas se uniram para ajudar escravos negros a conseguir a liberdade, e para isso, essas mulheres se reuniam em torno da fé em Nossa Senhora e criaram uma confraria católica chamada Irmandade da Boa Morte.

Festa 2 de JulhoComemoração popular realizada no dia 2 de julho, em celebração à independência da Bahia, em 1823, quando as tropas libertadoras brasileiras, ou Exército Pacificador, entraram na cidade pela estrada das Boiadas (hoje Estrada da Liberdade), na Cidade de Salvador, cuja ocupação era feita pelos portugueses. O cortejo que sai da Lapinha percorre a Soledade, alcançando o Santo Antônio, Carmo, Pelourinho, Terreiro de Jesus, Praça da Sé e Praça Municipal, liderado pelas estátuas do casal de caboclos que foram criadas para representar o povo brasileiro. O caboclo e a cabocla do 2 de julho são associadas às entidades homônimas do candomblé e da umbanda. Por conta disso, em vários terreiros da capital da Bahia e do Recôncavo, há festa para saudar Sultão das Matas, Tupinambá, Pedra Preta, Jurumeira, Boiadeiro, Capangueiro e tantos outros da categoria de encantados. Os caboclos são entidades ligadas diretamente à cura e à solidariedade.

Festa de São LázaroCelebrada no último domingo do mês de janeiro, a manifestação de origem católica em louvor ao santo é realizada na Igreja de São Lázaro, no largo em frente à Igreja, no bairro da Federação. A festa que une o sincretismo afrobaiano começa com a realização de uma missa,

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tríduo e procissão pelas ruas do bairro, seguida pela forte participação do candomblé, que homenageia o orixá Omolu (protetor das doenças de pele) com lavagem da escadaria da igreja de São Lázaro, velas acesas e banho de pipoca.

Festa de São RoqueA celebração acontece no dia 16 de agosto, e reúne o catolicismo com o candomblé. Na data, é realizada a mesma cerimônia da festa de São Lázaro, com uma missa, tríduo e solene procissão em louvor ao segundo padroeiro da Igreja de São Lázaro, seguida pela lavagem da escadaria da Igreja, velas acesas e banho de pipoca, em homenagem ao orixá Omolu. Neste dia, é realizada, também, desde 1998, a Caminhada Azoany, que consiste em um cortejo com saída do Pelourinho até a Igreja de São Lázaro no Bairro da Federação, reunindo adeptos da religião de Matriz Africana. Azoany, como é conhecido na nação jeje, é a divindade da saúde e morte.

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Irmandades

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Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos A irmandade fundada por negros em 1796. É uma das primeiras confrarias de negros criadas no Brasil para apoio espiritual e financeiro aos africanos e crioulos escravizados e libertos, que resistiam ao sistema escravocrata. Sua sede é no Pelourinho, em uma igreja construída por negros e que faz rituais católicos com elementos do candomblé. A formação de grupos de devoção a Nossa Senhora do Rosário começou no Brasil, no século XVI. Mas, somente no fim do período colonial, irmandades passaram a ser constituídas por negros. A primeira igreja fundada por uma Irmandade dos Homens Pretos é a localizada no Rio de Janeiro, e data de 1640. Em seguida, surgiram a de Minas Gerais, em 1708, e a de São Paulo, em 1711.

Nossa Senhora da Boa Morte Entre as irmandades negras que surgiram pós-abolição da escravatura, destacam-se a Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, com sede no município de Cachoeira (Recôncavo Baiano). É constituída apenas por cerca de duas dezenas de mulheres negras (descendentes de africanos escravizados), quase todas já idosas (com idade entre 60 a 100), que percorrem as ruas da cidade, no mês de agosto, exibindo vestes em preto e branco predominantemente e jóias, enquanto entoam cânticos para a padroeira Nossa Senhora da Boa Morte. A procissão, seguida de missa, é o ápice de uma celebração que inclui ainda orações, vigília e banquetes, envoltos de segredos partilhados apenas pelas irmãs. A história da irmandade religiosa está atrelada à importação de escravos da costa da África para a Bahia. Especula-se que a devoção tinha começado em 1820, na Igreja da Barroquinha (Salvador).

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Legislação

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988Atual lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normativas, situando-se no topo do ordenamento jurídico.

Declaração Universal dos Direitos HumanosÉ um dos documentos básicos das Nações Unidas, assinada em 1948, no qual são enumerados os direitos que todos os seres humanos possuem.

Estatuto da Igualdade Racial Lei federal n.º 12.288, instituída no dia 20 de julho de 2010, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se destina a garantir à população afrobrasileira a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos, e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. Ver anexo com a lei completa.

Lei Afonso Arinos Lei federal n.º 1.390, de 03 de julho de 1951, que proíbe a discriminação étnico-racial no Brasil. Foi proposta por Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990), jurista e político mineiro. Ver anexo com a lei completa.

Lei Áurea Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888, que extinguiu a escravidão no Brasil. Foi assinada pela Princesa Isabel.

Lei CaóEstabelece mecanismos para a igualdade racial e caracteriza o crime de intolerância racial e religiosa. A Lei federal n.º 7.716, de 05 de janeiro de 1989. Recebeu este nome por ter sido formulada a partir de projeto do deputado federal Carlos Alberto de Oliveira. Tornou o crime de racismo inafiançável e imprescritível, circunstância já prevista no Art. 5. da Constituição Federal de 1988.

Lei do Sexagenário Lei n.º 3.270, também conhecida como Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotejipe. Foi promulgada em 28 de setembro de 1885 e garantia liberdade aos escravos com mais de 65 anos de idade.

Lei do Ventre Livre Também conhecida como “Lei Rio Branco”. Promulgada em 28 de setembro de 1871, pela Princesa Isabel, esta lei imperial considerava livre todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir da sua sanção.

Lei Eusébio de Queirós Lei do Segundo Reinado que proibiu o tráfico interatlântico de escravos. Aprovada em 04 de setembro de 1850, foi defendida pelo então ministro Eusébio de Queirós. Teria sido efetivada por pressão de nações como a Inglaterra, ávida por expansão de mercados.

Lei n.º 10. 639 De 09 de janeiro de 2003, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino público e privado a obrigatoriedade da abordagem da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, nas escolas brasileiras. Sofreu alteração pela lei n.º 11.645, de 10 de março de 2008, que estabeleceu o ensino de estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, nas instituições do país. Ver anexo com as duas leis completas.

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Logradouros públicos

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Avenida do BonocôChamado também de vale ou baixa do Bonocô, era um local de culto africano, onde os mais antigos contavam diversas histórias sobre uma árvore sagrada ou encantada por um Baba Egun que respondia as perguntas que lhe eram feitas. Neste espaço, os negros se reuniam a noite para fazer o ritual de Baba Igunnuko ou egunokô (um Egungun africano), em volta de uma árvore sacralizada, distribuindo egbo, enquanto dava meia-noite, quando Baba Igunnuko aparecia. Quando ele aparecia respondia as consultas feitas. Essa área deu o nome a todo o vale (Vale do Bonocô). Próximos à área, surgiram vários terreiros como o Ilê Ogun Já, fundado e dirigido pelo babalorixá, Procópio Xavier de Souza.

Beirú Bairrolocalizado no miolo de Salvador, também chamado de Tancredo Neves. Termo de origem iorubá, que se refere ao escravo africano Gbeiru, que morou na localidade onde atualmente fica o bairro do Beiru, no século XIX. O terreno do bairro foi doado a Gbeiru pela sua família e lá o escravo criou um quilombo e lutou pela liberdade.

CabulaBairro, inicialmente, povoado por negros, a maioria de origem Congo e Angola, que tocavam e dançavam o “kabula”, ritmo quicongo religioso que deu origem ao nome do bairro. Cabula também denomina uma antiga seita religiosa afrobrasileira, que tinha caráter secreto e um toque de atabaques executado nos candomblés de nação Angola e Congo. Com uma forte herança africana, o local concentra um grande número de terreiros de candomblé - o mais antigo é o Ilê Axé Opô Afonjá, fundado e plantado em 1910, por Obá Biyi (Eugênia Ana dos Santos, a Aninha). Na década de 1790, havia ali terreiros e sacerdotes quicongos famosos, mais conhecidos como “zeladores de nkisi”.

CuruzuSituado entre a Liberdade e a Av. San Martin, o bairro tornou-se conhecido devido à influência da cultura afrobrasileira. No local, está localizada a Senzala do Barro Preto, sede do primeiro bloco afro de Salvador, o Ilê Aiyê, e os terreiros Ilê Axé Jitolu e Vodum Zôo. Sua história é marcada principalmente pela relação com o Ilê Aiyê.

Dique do TororóReserva de água doce delimitada pelos bairros do Tororó, Engenho Velho de Brotas e Garcia, sagrada para a comunidade do candomblé, por ser ponto de depósito de oferendas aos orixás, principalmente para Oxum. Na tradição religiosa, é considerada como uma das moradas de Oxum. Durante o mês de dezembro, diversos cestos de flores e presentes são colocados na lagoa, como oferenda à orixá. Graças à relação com o candomblé, recebeu do artista plástico Tati Moreno, diversas esculturas de orixás (oito delas dentro d´água e outras na área de 25 mil metros quadrados no entorno). Funciona como espaço de lazer.

Ladeira da PreguiçaUma das três primeiras ladeiras construídas em Salvador. Localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Tinha o papel de ligar o porto à Cidade Alta. O nome da ladeira refere-se ao fato de que as mercadorias que eram transportadas do porto para a cidade, eram levadas nas costas de escravos ou em carretas puxadas por bois. Numa atitude de gozação e desrespeito, os escravos que subiam a ladeira penosamente eram caçoados pela elite da época, que residia em casarões próximos à via e divertia-se com gritos de “sobe, preguiça!”.

Ladeira do TaboãoUtilizada por aqueles que sobem e desce a Cidade Alta e

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Baixa. É um local movido pelo comércio, onde predominam artesãos, sapateiros, reformadores e santeiros que fabricam imagens católicas e os orixás.

Lagoa do AbaetéReverenciada como sagrada pelos praticantes do candomblé, a lagoa de águas escuras e doce, cercada pelas areias branquíssimas que foram de imensas dunas, foi cenário, durante décadas, de lavadeiras que, em suas margens, contribuíram para a manutenção e valorização das tradições ancestrais, através da cantoria e da realização de festas religiosas de matriz africana. Localizada no bairro de Itapuã, acolhe manifestações de cultos afrobrasileiro, principalmente oferendas à orixá Oxum, divindade da água doce. Contam que, às margens da lagoa, é possível ouvir sons de atabaques de candomblé sem que se identifique sua origem. Um dos mais importantes blocos afros, o Malê DeBalê, surgiu nas margens da lagoa.

LiberdadeBairro conhecido pela representatividade da cultura negra e considerado como território da cultura afrobrasileira pelo Ministério da Cultura. Era chamado de Estrada da Liberdade, pois, por sua via principal, passaram os heróis da Independência do Brasil na Bahia, em 1823. Antes disso, era conhecida como Estrada das Boiadas, por ser passagem dos bois que vinham do sertão para serem comercializados na cidade. Teria a maior quantidade de negros entre os bairros de Salvador e do Brasil, devido ao povoamento que ocorreu logo depois da abolição da escravatura, por negros libertos e ex-escravos.

Parque Metropolitano São BartolomeuConsiderado um santuário pelo povo do candomblé e local sagrado para os cultos afrobrasileiros, o parque, localizado no bairro de Pirajá, é formado por cachoeiras, rios e florestas. Primeiramente ocupada no século XVI por aldeamento

indígena organizado pelos padres jesuítas da Companhia de Jesus, a região recebeu os primeiros engenhos de açúcar da cidade no período colonial e quilombos, no século XIX, com destaque para o Quilombo do Urubu. A área também foi cenário de lutas, que contribuíram para a consolidação da independência do Brasil na Bahia, conhecida como a Batalha de Pirajá.

PelourinhoColuna de pedra ou poste de madeira utilizada para execrações públicas, no qual os condenados, em geral escravos, eram submetidos a castigos no Brasil Colonial e Imperial. Largo de Salvador, considerado pela UNESCO como patrimônio da humanidade. Localizado no Centro Histórico da cidade, é espaço de referência da cultura afrobrasileira, onde a maioria dos moradores é composta por negros.

PiedadeLocalizada no Centro Histórico de Salvador, a praça era o local onde presos foram executados, como foi o caso dos líderes negros da Revolta dos Alfaiates, em 1799. Os condenados à forca eram levados a pé da Praça Municipal, onde ficava a cadeia, até chegar à Rua da Forca, em frente à praça. É um dos principais e mais antigos logradouros soteropolitanos.

Vale do OgunjáAtual Avenida General Graça Lessa, no bairro de Engenho Velho de Brotas, é conhecida pelo nome de Avenida Vale do Ogunjá. O nome é em homenagem ao babalorixá Procópio Xavier de Souza, o Procópio de Ogum, que tinha uma casa de candomblé (Ilê Ogunjá), naquela região. O nome Ogunjá é uma qualidade do orixá Ogum, no candomblé Ketu.

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Música e Dança

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AfoxéOutrora chamado de “candomblé de rua”. Cortejo carnavalesco de adeptos da religião. O termo de origem iorubá significa encantação. Surgiram em Salvador, em 1895, tendo grande presença nos festejos populares, mas entrou em decadência em 1920. Atualmente, um dos afoxés mais conhecido é o Filhos de Gandhy. É também o nome genérico de um instrumento de percussão, formado por cabaça ou aguê bojuda e coberta por rede de fios de algodão, que contém búzios, cartas, sementes, entre outros materiais.

AfrobeatEstilo musical criado pelo nigeriano Fela Kuti que une as batidas da música da África Ocidental com os ritmos desenvolvidos por negros dos Estados Unidos. Os instrumentos utilizados na execução desse estilo são bateria, baixo, percussão, teclado e guitarra.

AgbéO mesmo que afoxé ou abê ou cabaça ou aguê.

AgogôÉ formado por duas campânulas de ferro batido e uma vareta do mesmo material como elemento percussor. Com grande abrangência na música afro-brasileira, este instrumento musical está presente tanto nos rituais religiosos quanto em performances de grupos de samba. No candomblé, inicia os toques que identificam nações africanas que originam o terreiro, ou orixás, voduns e inquices.

AtabaqueUm dos instrumentos afrobrasileiros mais tradicionais, é feito com couro animal esticado sobre aro ou caixa oca de madeira. A percussão é realizada no couro, parte principal do atabaque. Tem grande importância no candomblé e ocupa lugar de destaque em manifestações populares afro-

brasileiras de cidades como Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), São Luís (MA), Belém (PA) e Aracaju (SE). Em alguns destes locais, é conhecido como tambor ou tabaque. Já nas religiões de matriz africana, é chamado de rum, rumpi, lé ou runlé, que significam, respectivamente, atabaques grande, médio e pequeno. É obrigação do músico saber tocar todos os ritmos para os momentos das liturgias, além de cuidar dos atabaques, vestindo-os nos dias de festa. Na nação Ketu-Nagô, é chamado de ogã, alabê; nos rituais Jeje (Fon), são chamados de runtó; e na nação Angola-Congo (Banto), de xicaringome. No candomblé, eles são identificados por cores (por exemplo, o branco é dedicado ao orixá Oxalá; o vermelho e branco, a Xangô). Durante as festas religiosas, é colocada uma tira de pano no corpo do instrumento arrematada com um laço, a oujá ou ojá. O músico é de grande importância na hierarquia do candomblé, por estabelecer contatos com os deuses africanos e participar de quase todos os rituais secretos e públicos.

Axémusic Termo genérico para denominar um estilo musical que surgiu em Salvador, em meado da década de 1980. Fusão de ritmos musicais, como o samba de roda, o frevo e o afoxé, muito executado no período de Carnaval e exportado para vários países.

BaiãoConhecida como baiano e rojão, é uma dança e música popular da região do Nordeste do Brasil. Geralmente, é executada com viola ou rabeca. Um dos maiores difusores do ritmo foi o pernambucano Luiz Gonzaga. No século XX, sofreu modificações em várias localidades, devido à influência do samba, mas a forma tradicional ainda pode ser ouvida e dançada em áreas rurais.

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Bambelô ou coco de zambêRitmo dançado em roda, embalado pelo bater de palmas e o som de tambores. A coreografia é composta pela umbigada. É uma variante do coco de roda do Rio Grande do Norte. Zambê é o nome de um pequeno tambor, em Angola.

Bate-baúExecutado pelas mulheres com a coreografia da umbigada, o ritmo é uma variante do famoso samba de roda.

BatuqueUma denominação genérica para todo tipo de dança de origem africana.

BerimbauInstrumento básico da capoeira, é uma das maiores referências de Angola no Brasil. É construído por um pedaço de madeira flexível, mantido em forma de arco graças a um arame, e uma cabaça amarrada na parte inferior. O som é extraído do contato de uma vareta com o arame. A cabaça serve como uma caixa de ressonância e aumenta o som do instrumento. Uma moeda na mão esquerda é usada para modificar a nota tocada. Com a popularização da capoeira, hoje, o berimbau é vendido como souvernir na Bahia, sem os requerimentos de um instrumento musical.

Break danceDança praticada nos bairros de negros dos Estados Unidos, popularizada nos anos 1980 e associada, na década seguinte, em Estados brasileiros como Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, à cultura hip-hop. A dança é formada por movimentos acrobáticos e vigorosos. A pessoa que pratica o breakdance é chamada de breakdancer, breaker, B-boy ou B-girl.

CarimbóDança de roda típica da região Norte do Brasil, embalada por tambores feitos com troncos de árvores (o “curimbó”, uma corruptela da palavra carimbó, que tem origem tupi). Na coreografia, homens e mulheres fazem movimentos giratórios dentro de uma roda. A dança surgiu da necessidade que os escravos negros sentiam de se divertir, e a música adaptada das rodas de samba influenciava no estado psicológico dos escravos.

CaxixiÉ construído por um traçado de fibra natural, utilizando como base o vime, cujo interior contém conchas, cereais ou pedrinhas que proporcionam os sons característicos do chocalho. Instrumento acessório do berimbau na capoeira e também usado no candomblé, principalmente das nações Angola-Congo e de Caboclos. O instrumento caxixi, em algumas cerimônias, substitui o adjá.

CocoCom influência africana e indígena, a dança é feita em roda, acompanhada por cantoria e executada em pares ou círculos. O som característico do coco vem de quatro instrumentos (ganzá, surdo, pandeiro e triângulo) e palmas.

CongadaFolguedo e ritual da tradição afrobrasileira está ligado aos festejos coloniais de coroação dos “reis do Congo”. É acompanhado por danças e cantorias, ao som de instrumentos de percussão.

CongoInstrumento musical que dá nome à manifestação popular congada, formado por um tonel, com capacidade para 200 a 250 litros, tacheado na boca superior. Congos, congados e congadas têm uma grande vinculação étnica com a África.

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CuícaPeça indispensável no samba, é um instrumento de percussão constituído por um cilindro oco com um só tímpano, com características da quipuita de grupos culturais de Angola, entre as etnias quicongos, quimbundos, libolos, benguelas e outros. Não é exclusivo da África, embora sua introdução no Brasil seja de origem africana. Está presente, também, no folclore ibérico, porém recebe outros nomes, como ronca ou sarroncas.

Hip-HopGênero de música e dança que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1980, dentro do contexto do funk. É, tambem, um comportamento adotado pelos adorados desse tipo de música e conhecido como movimento cultural. Hip significa “na moda” e Hop, “dançar”, na gíria dos negros americanos.

LunduDe origem Bantu, da região de Angola é uma dança popular no Brasil. Durante os séculos XVIII e XIX, era praticada pelos escravos. Tem semelhança com o samba de roda, porém com certa malemolência.

MaculelêÈ uma mistura de dança, luta e jogo de bastões, batidos ao final de cada frase da música. Na coreografia guerreira, podem ser utilizados tanto bastões quanto facões, o que torna a dança muito perigosa. O ritmo é formado pelos instrumentos atabaques, pandeiros, duas ou três violas de corda.

MacumbaInicialmente, o termo foi utilizado para denominar um instrumento, parecido com o reco-reco. O termo generalizou-se e passou a ser empregado para rotular formas e estilos diversos de religiões afrobrasileiras, na maioria das vezes, com conotação pejorativa e preconceituosa.

PagodeEstilo musical variante do samba, tocado inicialmente em fundos de quintal, no Rio de Janeiro. Por vezes, é confundido com o samba de partido alto. Também é uma festa que acontecia nas senzalas na época da escravidão, que levou à generalização e ao uso do termo como sinônimo festejo com bebida e cantoria.

QuissambaUma espécie de chocalho feito de folhas de flandres, utilizado no samba.

RapEstilo musical que tem como característica a declamação rapidamente de um texto, sem melodia, com uma base rítmica e harmônica feita por instrumentos eletrônicos. O esttilo nasceu em 1975, nos bairros nova-iorquinos de Bronx, Queens e Brooklyn.

RapadorInstrumento usado por diferentes conjuntos musicais de congadas no Estado de Minas Gerais e de samba na Bahia e no Rio de Janeiro. É uma espécie de reco-reco.

Reco-recoPresente nas congadas e em algumas modalidades do samba, o instrumento percussivo é confeccionado em bambu com sulcos e hastes de madeira.

SambaDenominação de diversas danças, principalmente aquelas que possuem influências da cultura africana. Entre suas variações, tem-se: o samba carioca (dança de pares, praticado em salão) e o samba-de-lenço (praticado em São Paulo, dançado com um lenço). Gênero musical de origem africana, iniciado na Bahia ou no Rio de Janeiro (há controvérsias) e

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presente em quase todos os Estados brasileiros, considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras e símbolo da identidade nacional. É tocado com instrumentos percussivos e de cordas e pode ou não ter letras.

Samba de rodaNascido no Recôncavo Baiano, é um dos precursores de diversas variantes do samba. Em 2005, se tornou patrimônio artístico e histórico da humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). É tocado por um conjunto de pandeiro, atabaque, berimbau, viola e chocalho, acompanhado principalmente por canto e palmas.

Samba-reggaeNascido na Bahia, é um gênero musical tocado com dois tambores, um pandeiro, um atabaque, uma guitarra ou viola eletrônica no lugar do cavaquinho, além de instrumentos da música latina. Possui forte influência do merengue e da salsa. Neguinho do Samba (morto em 2010) foi um dos criadores do gênero, dentro do grupo cultural Olodum, de Salvador.

TamborTermo empregado, de forma geral, para definir instrumentos de percussão como o atabaque.

TamborimVariação de tambor. É um instrumento musical de origem na África e incorporado à cultura ibérica. Feito por uma ripa de madeira que forma uma estrutura quadrada e retangular (em alguns casos, redondo) ajustada por pregos e tachas, que estabelecem o tímpano simples.

Viola de angolaDe procedência africana, é o mesmo que berimbau.

ViolinhaBerimbau mais agudo, utilizado nas rodas de capoeira

XerêInstrumento de metal, utilizado no candomblé de Ketu-Nagô para anunciar a chegada do orixá Xangô. Tem cabo alongado e caixa de ressonância arredondada. O som emitido lembra a chuva e o roncar da trovoada. O xerê em cobre, latão e miniatura compõe os assentamentos de Xangô, já o cromado e prateado é característico de Airá (uma qualidade de orixá). Nos terreiros de candomblé, principalmente na Bahia, o xerê, em certas ocasiões, substitui o adjá, no comando dos toques das casas. Tem uso exclusivamente masculino por ogãs ou pais-de-santo.

ZoukGênero musical originário das Antilhas, região do Caribe, é uma dança que lembra a lambada, porém com ritmos mais embalados pela música.

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Povos africanos

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AngolaPaís situado na região sudoeste da África Central. Designa também uma das nações do candomblé no Brasil, que veio a ser desenvolvido entre escravos que falavam quimbundo e quicongo. A nação é conhecida também como Bantu ou Angola-Congo e cultua as divindidades inquices.

AshantiPrincipal grupo étnico da África Ocidental, que hoje habita a República de Gana. Os Ashanti chegam perto de sete milhões de pessoas (cerca de 30% da população do Gana) e falam a língua twi. O poder político deste grupo tem dispersado nós últimos anos, desde a independência de Gana, mas continuam ter ampla influência.

BantoDenominação genérica para os povos da África Austral, principalmente de Angola, Congo e Moçambique, de onde vieram escravos para o Brasil.

EweConjunto de povos da África Ocidental, que hoje habita Benin, Togo e Gana, de onde procederam escravos para o Brasil. Conhecidos no Brasil como jeje.

FantiPovo da África Ocidental (hoje habita o Benin, Gana e Nigéria), de onde procederam escravos para o Brasil. A subsistência desse povo é a agricultura e a pesca, além das trocas comerciais (mercados). É organizado politicamente numa confederação de aldeias.

FonGrupo étnico da África Ocidental, que hoje habita Benin e Gana, de onde procederam escravos para o Brasil.

HauçáPovo islamizado da África Ocidental, que hoje habita Níger e Nigéria, de onde procederam escravos para o Brasil. Na primeira metade do século XIX, promoveu uma série de insurreições no Brasil, a mais importante, conhecida como a “Revolta dos Malês”.

IjexáUma das etnias de Iorubá, da Nigéria Ocidental, de onde procederam escravos para o Brasil.

IorubáPrincipal grupo etnolinguístico da África Ocidental, que hoje habita territórios no sudeste de Gana, de onde procederam escravos para o Brasil. É composto por mais de 30 milhões de pessoas em toda a região.

JejeNação africana oriunda do antigo Daomé, onde existiam os povos fons e marrins. A palavra é de origem iorubá, significa estrangeiro e era utilizada para distinguir os indivíduos do povo fon. No candomblé brasileiro, a nação jeje cultua os voduns.

Jeje-NagôResultado da interação entre jejes e iorubanos no Brasil. A interação ocorreu devido à maioria dos iorubanos que vieram ao território brasileiro é originário de Ketu (Queto), fronteira ao antigo Daomé, região dos jejes.

KetuAntigo reino da África Ocidental que foi dividida em dois pela fronteira Nigéria-Benin pelo colonialismo europeu. É, também, um subgrupo dos iorubás. O termo designa umas das nações do candomblé baiano, que cultua os orixás.

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LINGUAGEM

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MalêDenominação genérica na Bahia, para africanos islamizados de diversas procedências, especialmente Hauçás, Nagôs e Malinques.

MalinqueDenominação de povos da África Ocidental que habitam os atuais Mali e Burquina-Fasso, de onde vieram escravos para o Brasil.

MinaRegião da África Ocidental conhecida, na época do tráfico de escravos, como Costa da Mina. Local de onde foram embarcados escravos, de várias etnias, para o Brasil e outros países da América. Corresponde, hoje, ao território de Gana.

MouroDenominação atribuída pelos portugueses ao povo do atual território do Marrocos, que invadiu e ocupou várias regiões da Península Ibérica.

NagôPovo do reino de Ketu, na África Ocidental, atualmente do Benin, de onde vieram africanos para o Brasil. É, também, um dialeto do iorubá.

DaoméUm dos reinos da África Ocidental, de onde procederam escravos da etnia jeje-mina, cujo território se localiza no atual Benin.

Ilê-IfêCidade da atual Nigéria, antiga capital de um dos reinos de iorubá. Ainda hoje, considerada cidade sagrada para os povos da religião dos orixás.

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Religiosidade

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AbebéÉ um leque. O instrumento do orixá Oxum, quando de latão ou dourado, e de Iemanjá, quando prateado. Tem recortado no centro uma imagem simbólica ou um pequeno espelho ao meio.

Abian ou AbiãÉ a denominação para aqueles que ainda não fizeram a iniciação no Candomblé.

Abre-caminhoArbusto trepador. Folha votiva de Exu e Ogum.

AcanzalêBarracão de candomblé, na nação Angola.

AçobáSacerdote que prepara as cabaças para rituais nos tradicionais terreiros da Bahia.

AdêCoroa que compõe diversas vestimentas dos orixás, principalmente as femininas.

AiráUma das qualidades do orixá Xangô.

AlabêÉ o responsável pela orquestra dos terreiros de candomblé, geralmente um ogã.

AfonjáUma das manifestações ou qualidades do orixá Xangô.

AgadáUma espada utilizada como ferramenta no ritual para os orixás Ogum e Iansã. Compõe os assentamentos desses dois

orixás. Quando prateada, é traduzida como ferramenta ritual de Oxalá.

AgôDe origem iorubá, o termo, na tradição dos orixás, significa pedir licença ou desculpas.

Águas de OxaláCerimônia de purificação e abertura do templo sagrado, realizada na última sexta-feira dos meses de agosto e setembro, nos terreiros, como marca do início do calendário de festas na comunidade.

AlagbêÉ o ogã responsável pelos toques rituais, pela conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados. Durante o ciclo de festas do terreiro de candomblé, é quem faz a alvorada.

AláUtilizado nas festas para o orixá Oxalá, é um grande tecido branco.

AparáQualidade do orixá Oxum, jovem e guerreira.

AssentamentoConjunto de objetos simbólicos que reunidos concentram o axé do orixá de uma pessoa ou coletividade.

AxéPalavra de origem iorubá que significa a força que permite a realização da vida, que possibilita os acontecimentos e as transformações. O termo, nas casas de candomblé, tem significado baseado na magia e no poder das divindades.

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AiyêÉ a Terra, o mundo físico.

BabakekerêSegundo sacerdote dentro da hierarquia do terreiro de candomblé ou da comunidade, abaixo do Babalorixá. É conhecido como Pai Pequeno. Pessoa do sexo masculino que ajuda e ensina aos iniciados os ritos e mistérios da religião.

BabalorixáPai de santo. Sacerdote do sexo masculino, responsável pela preservação do culto aos orixás e pelo terreiro. É o posto mais elevado no candomblé.

BabalotimEscultura em madeira de tamanho pequeno, parecida com um boneco, portadora de axé e usada como amuleto de proteção. Geralmente, os grupos de afoxé que desfilam no Carnaval utilizam a escultura com a intenção de pedir proteção. Em alguns casos, devido à semelhança ao desenho de um menino, é relacionado aos Ibejis.

Bater cabeçaExpressão usada no culto afro para designar o ato de se prosternar diante de seu orixá ou guia protetor, nos sentidos de prestar homenagem e sinalizar respeito e obediência.

BoiadeiroEntidade do terreiro de umbanda que está vinculada aos homens que trabalham, sobretudo, na condução de gado.

BoriCerimônia com o sacrifício de animais para oferta ao orixá “dono da cabeça” (protetor) de uma pessoa.

BozóDenominação antiga para feitiço ou despacho no Nordeste

brasileiro. Expressão usada, de maneira pejorativa na Bahia, para se referir ao ritual de oferta a um orixá.

BúzioConcha, encontrada na costa litorânea, que possui diversos usos nas religiões de matriz africana, servindo como objeto de adorno nas roupas dos orixás, nos assentamentos de filhos/pais/mães de santo e em colares de fio-de-contas, como objeto de comunicação com os orixás nas consultas ao jogo de búzios (também chamado de ifá). Tem uma abertura natural e uma parte ovalada, pode ser de vários tamanhos a partir de meio centímetro e é encontrado em cores diversas.

CabocloDivindade que se apresenta como indígena e incorpora no candomblé de caboclo e nos terreiros de umbanda.

CandombléDenominação genérica para as religiões afrobrasileiras na Bahia e em outros locais sob sua influência.

CanjerêExpressão que, no passado, denominava as reuniões religiosas dos negros no Brasil. Em alguns casos, é usado para designar feitiço e mandinga.

Colar-de-IfáFio feito de palha-da-costa trançada, búzios e miçangas de diferentes cores, para ser usado em torno do pescoço como amuleto. Muito usado no candomblé, o objeto é que guarnece o local onde são jogados os búzios para as consultas às divindades.

EbóOferenda com o sacrifício de animais, especialmente para o orixá Exu.

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Ebômi ou EgbomiIrmão (ã) de santo mais velho (a), que já passou pelo processo de aprendizado realizado nos sete anos após a iniciação no candomblé.

EgumAntepassados.

Fazer santoExpressão usada no candomblé para designar os ritos de iniciação de uma pessoa na religião, como iaô, em um processo com sete anos de duração.

IaôFilha de santo, mulher iniciada no candomblé, mas que ainda não completou o período de sete anos de iniciação.

IalorixáMãe de santo, sacerdotisa responsável pela preservação do culto aos orixás e pelo terreiro. É o posto mais elevado do candomblé.

IfáÉ o jogo de búzios.

InquiceDenominação genérica para as divindades de origem angolana das nações angola e congo no Brasil. Corresponde ao orixá no candomblé da nação ketu e vodum na nação jeje.

Inquices

Aluvaiáou Bombo Njila ou Pambu NjilaIntermediário entre os seres humanos e os outros inquices. É o senhor dos caminhos e do começo. Na manifestação feminina, é chamado Vangira. Tem semelhanças com o orixá Exu, no candomblé de nação Angola.

Angorô, Angoroméia, Nzinga LumbondoRepresentado por uma cobra, é o inquice que auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades no candomblé das nações Angola e Congo.

GongobiraInquice com o domínio das partes mais profundas e densas das florestas. É a divindade da sensualidade, da riqueza, da fartura, da pesca e da caça, no candomblé das nações Angola e Congo.

KaiangoInquice dos ventos e que comanda os mortos. No candomblé da nação Ketu, corresponde ao orixá Iansã.

KatendêÉ o inquice conhecedor dos segredos das ervas medicinais, o senhor das jinsaba (folhas sagradas).

KtemboInquice do tempo cronológico e mitológico e das estações. Nas casas Angola e Congo, é representado por um mastro com uma bandeira branca.

KaitumbaInquice das águas salgadas, dos oceanos e das baías.

KaviungoInquice da varíola e das doenças de pele, da saúde e da morte. É o senhor da terra, da palha da costa. No candomblé da nação Ketu corresponde ao orixá Omolu.

KisimbeGrande mãe de lagos e rios, inquice das águas doces, no candomblé de nação Ketu corresponde ao orixá Oxum.

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Lembá Dilê ou LembarengangaInquice conectado à criação do mundo. Sua cor é o branco. Tem semelhança com o orixá Oxalá.

NdandalundaSenhora da fertilidade e da Lua.

NgunzuInquice que cuida dos rebanhos e da floresta e vive embrenhado profundezas das matas. É considerado caçador e pastor no candomblé de nação Ketu, o orixá Oxóssi.

NkosiInquice de guerra e senhor das estradas de terra.

NzaziLigado ao raio, ao fogo e à combustão, é um inquice conhecido por ser dono da justiça pelos negros bantus.

MutalambôInquice da fartura e da comida abundante. Caçador, vive em florestas e montanhas.

Vunji[O mais jovem dos inquices. Representa a felicidade da juventude e protege os filhos recolhidos.

ZumbarandáA mais velha das inquices.

IyakekerêSegunda sacerdotisa dentro da hierarquia dos terreiros de candomblé ou da comunidade, abaixo da Ialorixá. Pessoa do sexo feminino que ajuda e ensina aos iniciados os ritos e mistérios da religião. É conhecida como Mãe Pequena.

MacumbaA palavra de origem quicongo “makumba” significa fatos miraculosos, feiticeiros, mas tem sido usada, de forma pejorativa na Bahia, para designar as religiões de matriz afrobrasileira, principalmente o candomblé e a umbanda.

MandingaExpressão que significa bruxaria, feitiço e talismã. É também uma qualidade do jogo de capoeira.

ObíFruto africano utilizado em sacrifícios e para substituir o búzio no jogo de adivinhação. Noz de cola, semente nativa da África que varia em cor do branco ao vermelho.

OgãTítulo da hierarquia masculina do candomblé, conferido às pessoas que prestam relevantes serviços à comunidade e ao terreiro, inclusive músicos e sacrificadores de animais. Homem que assume papel de conselheiro e protetor do terreiro e da comunidade, após confirmação das divindades, mesmo que não seja um sacerdote e não tenha o poder de receber em seu corpo um orixá.

OlorumNas religiões afrobrasileiras, é o dono do Orun (céu) e criador do céu e da terra.

OpaxorôFerramenta ritual do orixá Oxalá, que representa ancestralidade, sabedoria e experiência. Parecido com um cajado, o objeto de metal tem uma longa haste vertical com pingentes em forma de folhas, moedas, colheres, travessas etc., abaixo de um globo, pássaro ou coroa que possui uma sineta (uma espécie de adjá). Em iorubá, Opá significa viga, pilar ou estaca e Xorô, goteiras e cascata.

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OrixásDivindades e guardiães dos elementos da natureza que representam todos os seus domínios. São cultuados no Brasil, Cuba, República Dominicana, Porto Rico, Jamaica, Guiana, Trinidad e Tobago, Estados Unidos, México e Venezuela.

EuáUma das iabás, considerada ora irmã de Iansã, ora esposa de Oxumarê. Representa tudo que é inexplorado, como a mata virgem, as moças virgens, os rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. Domina a vidência, atributo que Orunmilá lhe concedeu. Cores: Vermelho e amareloDia: SábadoComida: Milho pilado preparado com coco cortado e lelêSaudação: Ri roSímbolo: TacaráSincretismo: Nossa Senhora das Neves

ExuSenhor de todos os caminhos, que frequenta as encruzilhadas, e orixá da comunicação, que estabelece a ligação entre os divinos e os humanos. É o mensageiro, aquele que transita entre o divino e o terreno. Erroneamente, é sincretizado como o diabo, caracterizado pelo cristianismo como responsável pela maldade, perversidade, devido ao seu perfil. Tem características inerentes ao ser humano, como o bem e o mal, o amor e o ódio, a paz e a guerra, apesar de ser uma divindade e, manifesta-se por meio de brincadeiras, jogos.Cores: Vermelho e preto Dia: Segunda-feiraComida: Pipoca e farofa de dendêSaudação: LaroiêSímbolo: Tridente

Iansã ou OyáSenhora do Níger, esposa de Ogum e Xangô. Guerreira,

é uma das mais agitadas orixás femininas. É dona dos movimentos (movimenta todos os orixás) e do Ilê da casa. É conhecida como orixá dos ventos e das tempestades. Na umbanda, é a senhora dos eguns (espíritos mortos).Cor: VermelhoDia: Quarta-feiraComida: AcarajéSaudação: Epa HeiSímbolo: Alfange (lâminas)Sincretismo: Santa Bárbara

IbejisDeuses gêmeos, protetores das crianças e facilitadores do parto. Abençoam crianças e o casal. São representados aos pares, por crianças. Esculturas feitas de madeira antropomorfas, com características de uma dupla de crianças geralmente gêmeas. No processo de construção afrobrasileira, as esculturas representam e têm uma forte relação com os gêmeos africanos e os santos católicos Cosme e Damião. São adornados com búzios, fios de miçangas, tiras de couro, corais, peças de latão, cobre ou bronze e roupas de pano, sempre em miniatura.Cores: VariadasDia: DomingoComida: Amalá, doces e frutasSaudação: Bejé OróSímbolo: Pena metálicaSincretismo: São Cosme e São Damião

Iemanjá ou YemanjáOrixá ligada ao mar, conhecida como Rainha do Mar. É a senhora das águas salgadas. Sua imagem é vinculada a uma mulher bela e vaidosa, que tem espelhos nas mãos, ou a uma sereia. De acordo com os mitos como mãe dos orixás, em vários estados. No dia 2 de fevereiro, são realizadas homenagens à rainha dos mares, com destaque para o Rio de Janeiro e Bahia. São realizadas no bairro do Rio Vermelho.

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Cores: Azul, Cristal e TransparenteDia: SábadoComida: Ebô de milho branco com azeite e salSaudação: Odòìyá / Odò (rio) ìyá (mãe)Símbolo: Abebé prateado (espécie de leque)Sincretismo: Nossa Senhora da Conceição

Iroko, Lôko ou TempoÉ a árvore pela qual os demais orixás desceram à Terra. É cultuado no candomblé na nação Ketu como o orixá Iroko, da nação jeje, como Lôko e da nação Angola ou Congo, como inquice Tempo. Governa o tempo e o espaço, determinando o início e o fim de tudo. Compartilha com Ogum e Exu o domínio das ruas e via públicas, abrindo caminhos, ela nação Jeje, e como Inquice Tempo na nação Angola ou Congo.Cor: BrancoDia: Terça-feiraComida: Caruru brancoSaudação: Irôko i sóSímbolo: GameleiraSincretismo: São Francisco

Logun EdéFilho de Oxum e Oxóssi, é o orixá da riqueza e da fartura, o deus da guerra e da água. Considerado um dos mais bonitos orixás do candomblé, é caçador habilidoso e tem domínios sobre os pais. É um orixá masculino, mas, de seis em seis meses, muda o comportamento, alternando atitudes e hábitos doces e benevolentes como os de Oxum e os gestos e costumes sérios e solitários, característica de Oxóssi. Cor: Azul com amareloDia: Quinta-feiraComida: Axoxó ou OmolucrumSaudação: Logun ô akofá!!!Símbolo: Arco com ferramentas para uso no mato, de caça e pesca em metal amareloSincretismo: São Miguel Arcanjo

NanãA mais velha das orixás das águas, deusa dos mistérios. Na lama dos pântanos, se encontram seus maiores fundamentos. Sintetiza em si a morte, a fecundidade e a riqueza simultaneamente. É associada à pessoa idosa e respeitável. Para os povos Jeje, da região do antigo Daomé, significa mãe. É mãe dos orixás Iroko, Obaluaiê e Oxumaré e, por ser a deusa mais velha. é respeitada como mãe por todos os outros orixás.Cores: Lilás, branco e azulDia: Terça-feiraComida: Arderé Saudação: SalubáSímbolo: IbiriSincretismo: Nossa Senhora de Santana, avó de Jesus

ObáPrimeira esposa de Xangô. O orixá africano do Rio Obá ou rio Níger, das águas revoltas dos rios, das águas fortes. Domina as quedas das águas e tem como elementos o barro, a água, a lama e o lodo. Representa o aspecto físico e masculino das mulheres, sendo considerada a dona da roda. Embora feminina, é energética, temida e forte, vencendo lutas com diversos orixás, como Oxalá, Xangô e Orumilá.Cores: Vermelho e brancoDia: Quarta-feiraComida: Acará ou acarajé oferecido com o amaláSaudação: Obá XireêSímbolo: Ofange (espada), escudo de cobre, ofá (arco e flecha)Sincretismo: Joana D’arc

Omolú ou ObaluaiyêConsiderado o orixá da morte, é muito temido e respeitado. É o responsável por cuidar dos enfermos, principalmente de vítimas de doenças como a varíola, e pela passagem do espírito do plano material para o plano espiritual. Tem domínio sobre as pestes, podendo produzir ou curar doenças.

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Sua imagem é representada por um homem mais velho (Omolú) ou jovem (Obaluaiyê) com um corpo tomado por feridas e vestido com roupas. Na África, desempenha o papel de patrono da agricultura e Omolú representa a terra e o sol. Acredita-se que o banho com “flores” do orixá (pipoca) tenha o poder da limpeza e da cura.Cor: Vermelho e preto ou preto e brancoDia: Segunda-feiraComida: Abadô, AbarerémSaudação: Atotô (calma)Símbolo: Xaxará ou Íleo (lança de madeira)Sincretismo: São Lázaro ou São Roque

Oxalufã ou OxalufanConsiderado um oxalá muito velho. É representado porque tem uma postura curvada e que anda com dificuldade, apoiando-se em um grande bastão de metal branco chamado opaxorô e vestido de branco. Cultuado como um orixá da paz e paciência, é ligado a tudo que remete à tranquilidade e à calma. Geralmente às sextas-feiras, no seu dia, o povo-de-santo, em respeito e referência ao orixá, se veste de branco e os filhos de Oxalá não comem azeite de dendê. É o patrono da fecundidade e da procriação e o senhor das águas doces. É considerado o pai dos demais orixás. Igbin é o nome do toque dedicado a Oxalá. Sua festa, “As Águas de Oxalá”, acontece sempre no mês de janeiro, nos principais terreiros da Bahia.Cor: BrancoDia: sexta-feiraComida: Iguarias da cor branca, geralmente acaçá e ebó de milho sem azeite e sem salSaudação: Epá BabáSímbolo: OpaxorôSincretismo: Senhor do Bonfim

Oxaguiã ou OxalufanConsiderado Oxalá muito jovem, guerreiro, impávido e

majestoso. Possui os mesmos objetos sagrados, tabus e as injunções de Oxalufã, Oxalufan, Oxalá.Cor: BrancoDia: sexta-feiraComida: Iguarias da cor branca, geralmente acaçá e ebó de milho sem azeite e sem salSaudação: Epá Babá Símbolo: OpaxorôSincretismo: Senhor do Bonfim

OgumOrixá do ferro, da metalurgia e da tecnologia, é o temível guerreiro, violento e implacável. Possui sete instrumentos que o ajudam a vencer a natureza (alavanca, machado, pá, enxada, picareta, espada e faca) e, por estar tão relacionado ao ferro e aos metais afins, ele é protetor do ferreiros, agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que lidam com esses materiais. Cor: Azul escuroDia: Terça-feiraComida: Feijoada a depender da nação e inhame assadoSaudação: OgunhêSímbolo: Instrumentos de ferroSincretismo: Santo Antônio

OssaimSenhor das sacras folhas, feiticeiro que, e por meio das folhas que se realizam as curas e os milagres. A floresta que divide com outros orixás do mato é chamada de a casa de Ossaim, é sagrada porque as folhas crescem em seu estado puro, selvagem, sem a interferência do homem.Cores: Vermelho ou azulDia: Segunda-feiraComida: Farofa de dendê, galo assado, feijão preto, fumo e mel

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Saudação: Ewê ôSímbolo: Ferro com sete pontas, estando ao meio um pássaroSincretismo: São Benedito

OxóssiConsiderado o grande caçador, o senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam. É o orixá da fartura e da riqueza, intitulado como Rei de Kêtu (Alakétu), Senhor de Kêtu e Oníìlé, dono da Terra. Morada nas florestas impenetráveis. Domina a coleta e a caça. Está muito próximo de Ogum, sendo, por vezes, considerado irmão, amigo e filho desse orixáCores: Verde e Azul, a depender da naçãoDia: Quinta-feiraComida: AxoxóSaudação: Okê ArôSímbolo: Arco e flechaSincretismo: São Jorge

OxumRainha das águas doces, dos rios e das cachoeiras; da riqueza; do amor; da prosperidade e da beleza; É responsável pela fecundidade e pelas uniões, sendo considerada a mãe das crianças. Sua imagem e representada por uma mulher bela e vaidosa.Cor: Amarelo ouroDia: SábadoComida: OmôlocumSaudação: Ora ie ie ôSímbolo: AbebéSincretismo: Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora Aparecida

OxumaréFilho de Iemanjá é o orixá de todos os movimentos, de todos os ciclos. É responsável pela comunicação entre o céu e a terra, através do arco-irís. Tem caracterização ambígua que

se manifesta pelo arco-íris ou pela serpente. Uma parte do ano, homem e na outra parte, mulher. Na nação Jeje, é considerado como Dan, rei dos povos Djedje (jeje).Cor: Verde e amarelo ou preto e todas as cores do arco-írisDia: Terça-feiraComida: Feijão com milho, azeite, cebola e camarãoSaudação: Arô MoboiSímbolo: Cobra de ferroSincretismo: São Bartolomeu

XangôOrixá dos raios, senhor do fogo, esposo de Iansã, Oxum e Obá. Seu prazer é o poder e é considerado o rei entre todos os reis. Entre suas características, estão a justiça, a vaidade e o atrevimento. É tido como rei de todo o povo iorubá. Cores: Branco e VermelhoDia: Quarta-feiraComida: AmaláSaudação: Kawó KabiesiléSímbolo: Oxê (machado duplo)Sincretismo: São Jerônimo

OrunmiláÉ o dono da adivinhação.

Oxê de XangôPrincipal símbolo do orixá Xangô. É um machado de gume duplo, tradicionalmente feito de madeira que, por excelência, simboliza a masculinidade.

Pomba-giraExu fêmea, ou seja, é uma orixá mensageira, responsável pela comunicação, que gosta de brincar e por isso nem sempre é bem vista. Tem características de uma mulher sensual, seminua, com cornos e cabelos longos. Tem vermelho como cor principal. Nos terreiros da nação Angola, é conhecida como Bambo-gira ou Mulher de Rua.

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Preto-velhoEntidade cultuada pelas religiões afro-brasileiras, em especial a Umbanda, de velhos africanos que viveram nas senzalas, fumando cachimbo e conduzindo bengala ou cedro. Geralmente próximo à sua imagem, são colocados velas, dinheiro, cachaça, vinho, flores, entre outros objetos para se obter a realização dos pedidos.

QuizilaProibição de comer ou beber determinada coisa por causa de um ritual. Castidades, jejum, que implicam certos tabus, como a abstinência. Resguardo feito após determinados rituais do candomblé.

SaraváSaudação dos umbandistas que significa “salve”.

TerreiroEspaço destinado à realização de danças ao ar livre. Denominação para a casa de culto das religiões afrobrasileiras. Sinônimo de Ilê.

VodunTradição religiosa originária na África Ocidental, que, devido ao tráfico de escravos africanos, se tornou notável no Novo Mundo.

VodunsiPalavra relacionada às pessoas que entram em transe para que um Vodun se manifeste. Pessoas iniciadas nos ritos da cultura Jeje há, pelo menos, um ano.

Voduns

AgassuVodun que representa a linhagem real do Reino do Daomé.

AgbêVodun dono dos mares.

AguéVodun protetor das florestas.

AguêVodun que representa a terra firme.

AyizanVodun feminino que paira a crosta terrestre e os mercados.

AziriVodun das águas doces.

BessemVodun que é o dono das águas doces em Abomey e Ouidah, do qual é patrono.

DanVodun representado pela serpente e pelo arco-íris, vodun da riqueza.

DangbéSerpente sagrada que representa o espírito do Vodun Dan, deus da riqueza.

GuVodun dos metais, da guerra, do fogo, e da tecnologia.

HeviossôVodun que comanda os raios e relâmpagos.

LegbaO filho caçula dos Voduns Mawu e Lissá, e representa as entradas e saídas e a sexualidade.

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LissáVodun masculino, co-responsável pela criação da terra, junto com Mawu.

LôkoRepresentado pela árvore sagrada, conhecido como gameleira branca, é o primogênito dos voduns.

MawuVodun feminino de caráter supremo, por ter criado a terra e os seres vivos. Engendrou os voduns

NanãConsiderada a grande mãe universal, homônima de um orixá feminino.

FaVodun da adivinhação e do destino.

PossunVodun do pó e da terra seca, representado pelo tigre.

SakpatáVodun da varíola.

SogbôDo trovão da família de Heviossô.

TobossiInfantis, femininas, de energia mais pura que os demais Voduns.

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Vestuário

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LINGUAGEM

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AbadáDo iorubá agbadá, é uma vestimenta dos negros malês no Brasil. Trata-se de uma espécie de túnica masculina comprida e com cortes laterais até a cintura. Atualmente, o termo dá nome à vestimenta dos foliões no Carnaval de Salvador e de outras cidades.

Contra-egumPeça feita com palha-da-costa trançada e usada no braço. Por isso, também conhecida como braçadeira. É um objeto protetor, usado enrolado no braço para proteger o corpo dos Eguns.

Fio de contasAdorno de uso feminino e masculino. Contas coloridas enfiadas em cordão ou fios de náilon. Na religião de matriz africana, cada cor do material usado na confecção está associada a uma situação especial de um posto de hierarquia e uma divindade. Em alguns casos, são adicionados aos fios de conta materiais como figas, osso, marfim, peças de ouro.

OjáTira de tecido, geralmente branco, que possui diversos usos nos terreiros, principalmente os de candomblé e Xangô. É encontrado nas roupas, nos atabaques, nos assentamentos, nos barracões, nos balaios com presentes para Oxum e Iemanjá, dentre outras finalidades. Integra a cultura material do ritual religioso.

Pano da costaTira de tecido confeccionada por processo artesanal ou industrial e usada como parte da vestimenta das mulheres baianas de acarajé, de filhos e mães de santo e de africanas provenientes de diversas regiões, como Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Congo, Benin e Senegal, transpassada de um lado a outro, sobre os ombros. No século XIX, o pano da costa era parte da indumentária das crioulas – escravas

negras nascidas no Brasil – que habitavam Salvador e cidades do Recôncavo Baiano, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais. Sinaliza o posto hierárquico daquele que usa a peça no ritual religioso, tipo ou a qualidade do orixá, vodun ou inquice que rege esse usuário. Também possui um significado social e cultural, pois, quando usado, tem a função de distinguir o posicionamento feminino em comunidades afrobrasileiras.

PatuáBolsa, do tamanho de uma moeda, em formato retangular, feita de plástico, que contém materiais de proteção (como pós, raízes, folhas, búzios), usados por pessoas envolvidas com religiões afrobrasileiras. É produzida de várias cores (amarelo para filhos de Oxum; azul, para Ogum; verde para Oxóssi). Amuleto inspirado na liturgia católica, que prevê o uso de objetos sagrados (água benta e orações) para ter proteção dos santos, na cultura muçulmana, pela qual objetos sagrados relacionados ao Alcorão (como trechos do livro sagrado, acrescidos de sangue de carneiro ou ervas) eram colocados dentro de saquinhos de couro e usados pelos muçulmanos para obtenção de proteção para o corpo. É comercializado em espaços turísticos da Bahia. Podem ser levados dentro de porta-luvas de carros, bolsas e bolsos, em fios de contas ou preso próximo ao corpo, discretamente.

Trancinhas NagôPenteado, mais comum entre as mulheres. Tranças feitas com cabelo e amarrados com barbante ou material, que podem durar alguns dias e, por isso, leva o usuário a dispensar a escovação diária do cabelo. Pode ser enfeitado com contas e fitas. É utilizado para afirmação étnica e cultural dos negros.

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LINGUAGEM

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Cor Combinação de cores

Contas de cores múltiplas

Orixá Vodum Inquice Outros Modelo Religioso

Nação Localização

Branco Oxalá Olissá Lembá Candomblé Ketu-Nagô Nacional Branco transparente

Oxalá Jeje BA

Branco transparente e verde-claro inclui coral

Iemanjá Abê Dandalunda Mina Angola Congo BA RJ PE

Amarelo ou dourado

Iemanjá Abê Candomblé Ketu-Nagô BA RJ

Amarelo ou dourado e coral

Oxum Azirí Tobossi

Ketu-Nagô BA

Amarelo ou dourao e monjolo

Oxum Jeje BA RJ

Amarelo ou dourado e azul

Ketu-Nagô BA

Branco rajado de azul-escuro

Nanã Nanã Querê-querê

Candomblé Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje Angola Congo

BA, PE, RJ, BA, RJ BA, RJ

Preto Branco rajado de preto

Candomblé Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje Angola Congo

BA, RJ, BA BA, RJ

Preto através do laguidibá

Coral Branco rajado de preto e marrom Olho de polvo, conta branca e preta

Omolu Sapatá

Sapatá Burugunço

Candomblé Candomblé

Candomblé

Jeje Ketu-Nagô

Jeje

BA BA

BA

Verde rajado de amarelo Verde

Oxumaré

Oxumaré Bessém

Candomblé Candomblé Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje Ketu-Nagô Angola Congo

BA, RJ BA BA BA, RJ

Fio de contas

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LINGUAGEM

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rajado de marrom Amarelo rajado de preto

Angorô

Vermelho Amarelo rajado de vermelho

Euá Candomblé Ketu-Nagô BA

Amarelo rajado de vermelho e marrom

Obá Candomblé Ketu-Nagô BA, RJ

Vermelho Vermelho Xangô Candomblé Ketu-Nagô BA, RJ, PE Branco e

Marrom Branco rajado de vermelho

Xangô Candomblé Ketu-Nagô BA, RJ, PE

Branco e marrom Azul-seguis e coral Branco marrom e coral Branco e vermelho Branco, vermelho e momjoló

Branco rajado e vermelho

Xangô

Sobô

Zaze

Candomblé

Candomblé

Jeje

Angola Congo

BA

BA, PE, RJ

Marrom Cinza branco e marrom Branco e marrom

Branco rajado de preto

Iroco Loco Quitembe Candomblé Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje Angola Congo

BA BA BA

Azul-marinho Verde e coral Azul-marinho, vermelho e preto

Ogum Gu Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje

BA, RJ BA, RJ

Azul-marinho Verde

Azul marinho e coral

Sumbo Mucumbe

Candomblé Angola Congo BA RJ

Vermelho Marrom

Marrom, coral Candomblé Ketu-Nagô BA, PE, RJ

Marrom Monjoló Candomblé Jeje BA, RJ

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LINGUAGEM

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Vermelho Marrom, coral e monjoló, vermelho, coral e monjoló

Iansã Oiá

Oiá Kalé

Matamba Candomblé Angola Congo BA, RJ

Cores Variadas Cores Variadas Cores Variadas

Ibeji Ho-Ho Vunji Candomblé Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje Angola Congo

BA BA BA

Azul-celestre Verde

Candomblé Candomblé

Ketu-Nagô Jeje

BA, PE, RJ BA

Verde Branco rajado de verde

0xossí Agué Mutalambô Candomblé Angola Congo BA, RJ

Azul-celeste, amarelo ou dourado

Logunedé Congobira Candomblé Candomblé

Keut-Nagô Gexá Angola Congo

BA, RJ BA, RJ

Verde Verde e amarelo

Caboclo Candomblé Caboclo BA, RJ

Fonte: LODY, Raul. Dicionário de Arte Sacra & Técnicas Afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. p. 237

Page 102: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

102

LINGUAGEM

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de & FILHO, Walter Fraga. Uma

história do negro no Brasil. Brasília: Fundação Palmares, 2006.

AMADO, Jorge. Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e mistérios. Rio de Janeiro: Record, 1977.

BENJAMIN, Roberto. A África está em nós: história e cultura afro-brasileira. Livro 3 e 4. João Pessoa: Editora Grafset, 2004.

BORGES, Rosane da Silva e CARRANÇA, Flávio (org.). Espelho Infiel: o negro no jornalismo brasileiro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, 2004.

CASHMORE, Ellis. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000.

DOREA, Luiz Eduardo. História de Salvador nos nomes das suas ruas. Salvador: EDUFBA, 2006.

LODY, Raul. Atlas Afro-brasileiro: cultura popular. Salvador: Edições Maianga, 2006.

___________. Dicionário de Arte Sacra & Técnicas Afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.

LOPES, Nei. Dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio de Janeiro, 1999.

___________. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. São Paulo: Selo Negro, 2004.

_____________. Dicionário escolar afro-brasileiro. São Paulo: Selo

Negro, 2006.

MAGALHÃES, Elyette Guimarães de. Orixás da Bahia. Salvador:

Secretaria da Cultura e Turismo, EGBA, 2003.

MUNANGA, Kabengele (org.). História do Negro no Brasil:

resistência, participação, contribuição. Brasília: Fundação

Cultural Palmares-Minc, 2004.

___________________ e GOMES, Nilma Lina. O negro no Brasil de

Hoje. São Paulo: Editora Global, 2006.

PAIM, Paulo. Estatuto da Igualdade Racial. Disponível na Internet

via http://www.cedine.rj.gov.br/legisla/federais/Estatuto_da_

Igualdade_Racial_Novo.pdf . Acessado em 09 de junho de 2010.

QUERINO, Manuel. A raça africana e os seus costumes na Bahia.

Salvador: P55 Edições, 2006.

________________. A arte culinária na Bahia. Salvador: P55

Edições, 2006.

ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Almanaque pedagógico

afro-brasileiro. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2006.

RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. 5 ed. São Paulo: Editora

Nacional, 1977.

TAVARES, Ildásio. Nossos colonizadores africanos. Salvador:

Editora da Universidade Federal da Bahia, 1996.

TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: um tema em debate. 3

ed. São Paulo: Editora 34, 2009.

BIBLIOGRAFIA

Page 103: Manual Étnico-racial para o Jornalismo

GUIA DE FONTES

Nas páginas seguintes estão listadas algumas fontes de informação relacionadas ao universo da cultura e história afrobrasileira. A relação apresentada está longe de abranger a diversidade de atores envolvidos com o tema, mas oferece uma importante referência inicial para orientar o trabalho dos profissionais de comunicação.

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GUIA DE FONTES

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Afrikan Art Rua Luiz Viana, nº.10, Ladeira do Carmo – Centro Histórico, Salvador / BA(71) 3326-7233

Associação Artística e Cultural DiásporaLargo do Cruzeiro de São Francisco, nº. 21 – Centro Histórico, Salvador / BA (71) 3323-0016 / [email protected]

Associação Brasileira de Capoeira AngolaRua Gregório de Mattos, nº. 38 – Pelourinho, Salvador / BA (71) [email protected]

Associação de Capoeira Mestre BimbaRua das Laranjeiras, nº. 01 – Pelourinho, Salvador / BA(71) 3492-3197 / 3322-0639 / [email protected]

Associação Escola de Capoeira Angola Irmãos Gêmeos de Mestre Curió

Rua Gregório de Mattos, nº. 09, 2º andar – Pelourinho, Salvador / BA(71) [email protected]

Artes e Cultura

AFRO – Sociedade Amigos da Cultura Afro-BrasileiraRua da Ajuda, nº. 389, Ed. Themis, sala 209 – Centro Histórico, Salvador / BA

Associação Recreativa e Cultural Bloco KizumbaRua Portas do Carmo, nº. 24, Pelourinho – Salvador / BA(71) [email protected]

Abam – Associação Das Baianas de Acarajé e Mingau do Estado da Bahia

Praça da Sé, s/n, Belvedere da Sé - Cruz Caída, Salvador / BA / (71) [email protected]

Bando de Teatro Olodum Av. Sete de Setembro, s/n, Passeio Público - Campo Grande, Salvador / BA(71) [email protected]

Casa de AngolaPraça dos Veteranos, nº. 5 – Barroquinha, Salvador / BA(71) 3321-4495

Casa do BeninRua Padre Agostinho, nº. 17 – Pelourinho - Centro Histórico, Salvador / BA(71) 3241-5679

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GUIA DE FONTES

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Centro Cultural Senzala do Barro PretoRua do Curuzu, nº. 228, Liberdade, Salvador / BA(71) 2103-3400

Fundação Mestre Bimba Rua Gregório de Mattos, nº. 51, Subsolo – Pelourinho, Salvador / BA - -(71) [email protected]

Galeria da Fundação Pierre Verger Rua da Misericórdia, nº. 09, Loja 1 – Praça da Sé, Salvador / BA / (71) 3321-2341

Museu Afro Brasileiro Terreiro de Jesus / prédio da Antiga Faculdade de Medicina - Centro Histórico, Salvador / BA(71) 3283-5540 / 3283-5541

Rede Aiyê HipHopResponsável: Jorge Hilton (71) 99285888 [email protected]

Sociedade Protetora dos DesvalidosLargo Cruzeiro do São Francisco, nº. 82, Centro Histórico – Pelourinho, Salvador / BA(71) 3322-6913 / [email protected]

Solar do FerrãoRua Gregório de Mattos, nº. 45 - Pelourinho, Salvador / BA / (71) 3117 – 6380

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GUIA DE FONTES

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Alerta GeralRua Direita da Piedade, nº. 14 – Barris, Salvador / BA(71) 9918-1245 [email protected]

Amor e PaixãoRua Democrata, nº. 10, Clube dos Fantoches - Largo 2 de Julho, Salvador / BA(71) 9906-9986 / 9613-0606 / 3494-1359 [email protected]

Associação Recreativa e Cultural Bloco Kizumba(71) [email protected]

Banana ReggaeAvenida Glicério, nº. 38 – Pernambués, Salvador / BA(71) 9129-7329 / 3460-6013 [email protected]

BankomaRua Queira Deus, nº. 78 – Portão, Lauro de Freitas / BA(71) 9226-4311 / 3369-2085 [email protected]

Bloco da Capoeira Responsável: Tonho Materia (71) 3242-4300/ 8126-9333 [email protected]

Carnaval

Bloco das BaianasResponsável: Elaine Cruz (71) 3353-8845/ [email protected]

Bloco AlvoradaRua da Independência, nº. 68 – Nazaré, Salvador / BA (71) 3322-3684 / 3321-3675 / 3384-9011 / 8858-5996 [email protected] / www.blocoalvorada.org.br

Coração RastafariPraça Conselheiro Almeida Couto, nº. 622 – Nazaré, Salvador / BA / (71) 3243-9097 / 8850-1519 / 8878-3623 [email protected]

Cortejo AfroRua Inácio Acioly, nº. 27 – Pelourinho, Salvador / BA(71) 9134 2751 / 8812 5012 [email protected] / [email protected] / www.cortejoafro.com.br

DidáRua João de Deus, nº. 19 – Pelourinho, Salvador / BA(71) 8756-3910 / 8804-4807 [email protected]

Filhos do CongoFazenda Grande IV, Setor 7, Caminho 48, nº. 03-A – Cajazeiras, Salvador / BA /(71) 9977-1756 / 8747-0655 / 9937-5731 / 3219-5944 [email protected] / www.filhosdocongo.com.br

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GUIA DE FONTES

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Filhos de GhandyRua Gregório de Matos, nº. 53 – Pelourinho, Salvador / BA(71) 3321-7073 / [email protected] / http://www.filhosdegandhy.com.br

Filhas D’OxumRua Chile, nº. 23, Sl. 505, Ed. Eduardo de Moraes - Centro Histórico, Salvador / BA(71) 9121-0641 [email protected]

Grêmio Comunitário Cultural e Carnavalesco A Mulherada

Rua do Tesouro, nº. 39, 1º andar – Centro, Salvador / BA71) 3321 5523 / 3011 9529 / 3481 2029 / 9925 9529 [email protected] / [email protected] / www.amulherada.com.br

Korin-EfanRua do Paço, nº. 26 - Centro Histórico, Salvador / BA(71) 8831-4620

Ilê AiyêRua do Curuzu, nº. 228 – Liberdade, Salvador / BA(71) [email protected]

Malê de BalêParque Metropolitano do Abaeté, s/n, Salvador / BA(71) 3375-7176 / 3375-3481/ 9167-7721 / 8854-0048 [email protected] / [email protected]

MuzenzaRua das Laranjeiras, nº. 22 - Pelourinho, Salvador / BA (71) 3256-1620 / 8811-8981 / 8894-6201 [email protected]

OkanbíRua do Trovador, nº. 13, loja 2 - Engenho Velho de Brotas, Salvador / BA(71) 3492-5012 / 8752-5406 / 8148-9059 [email protected]

OlodumRua das Laranjeiras, nº. 30, térreo - Pelourinho, Salvador / BA(71) 3321-5010 / 3321-4154 [email protected] / [email protected] / http://olodum.uol.com.br

Os NegõesAv. Vasco da Gama, nº. 400, 1º/2º andar, Salvador / BA(71) 3261-1725 / 9943-4140 / 8765-2682 / [email protected]

Reggae – O BlocoRua das Laranjeiras, nº. 14 – Pelourinho, Salvador / BA (71) 8802-3837 [email protected]

Saudade é FoliaAvenida Vasco da Gama, nº. 370, 1º andar - Engenho Velho de Brotas, Salvador / BA(71) 8834-0017 / 9987-1224 / 3444-1334

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GUIA DE FONTES

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Aconchego da ZuzuRua Quintino Bocayuva, nº. 18 – Garcia, Salvador / BA(71) 3331-5074

Alaíde do FeijãoRua Doze de Outubro, nº. 2 - Pelourinho, Salvador / BA(71) 3321-6775 / 3321-3634

Beco de GalAvenida Vasco da Gama, s/n – Vasco da Gama, Salvador / BA(71) 3462-7485

Restaurante D`VenettaRua dos Adobes, nº. 12 - Santo Antônio, Salvador / BA(71) 9141-9902 / 9929-9350

Restaurante Ki-MukekaAv. Otávio Mangabeira, nº. 36 - Armação, Salvador / BA(71) 3461-7333 / 3461-7037

Rua Abelardo Andrade de Carvalho, nº. 87 - Boca do Rio, Salvador / BA(71) 3362-6153

Av. Otávio Mangabeira, nº. 907- Pituba, Salvador / BA(71) 3240-0192

Rua Vento Sul, s/n - Farol de Itapuã, Salvador / BA(71) 3374-2147

Culinária

Restaurante YemanjáAv. Otávio Mangabeira, nº. 4655 – Praia de Jardim de Armação, Salvador / BA(71) 3461-9010

Sabores da DadáRua Minas Gerais, nº. 111 – Pituba, Salvador / BA(71) 3346-1554

Sankofa African Bar e RestauranteLadeira de São MiguelRua Frei Vicente, nº. 7 - Pelourinho, Salvador / BA (71) 3321-7236

SESC – Serviço Social do ComércioAv. Tancredo Neves, nº. 1109 - Caminho das Árvores, Salvador / BA(71) 3341-8988

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GUIA DE FONTES

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CEAO – Centro de Estudos Afro OrientaisPraça Inocêncio Galvão, nº. 42 - Largo Dois de Julho, Salvador / BA(71) 3283-5501 / 5502/[email protected]

CEAFRO: Educação e Profissionalização para Igualdade Racial e de Gênero

Praça Inocêncio Galvão, nº. 42 - Largo Dois de Julho – Centro, Salvador / BA(71) 3283-5520 [email protected]

FOQUIBA – Fórum de Quilombos Educacionais da BahiaRua Sto. Antonio de Plataforma, nº. 28-E - Plataforma, Salvador / BA(71) 8158-2752 / 8627-2731 [email protected]

Educação

Instituto Cultural Steve BikoRua do Paço, n° 04 – Pelourinho, Salvador / BA(71) [email protected]

ACAC – Associação Comunitária Alzira do Conforto Rua das Laranjeiras – Pelourinho, Salvador / BA (71) 8802-3837

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GUIA DE FONTES

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AGANJU - Afro Gabinete de Articulações e Iniciativas Institucionais e Jurídicas

Av. ACM, Ed.Bahia Center, nº. 2.671, sala1105Cidadela, Salvador / BA(71) [email protected] / [email protected]

ANAAD - Associação Nacional dos Advogados Afrodescendentes

Avenida 7 de setembro, nº. 624, Edf. Totonia, sala 311, Salvador / BA / (71) [email protected] / [email protected]

CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades

(11) 3804-0320

CDCN – Conselho de Desenvolvimento da Comunidade NegraRua Ribeiro dos Santos – Pelourinho, Salvador / BA(71) 3322-0560 / 3371-0164

Conselho Nacional de Negros e Negras Cristã[email protected]

Disque Racismo(71) [email protected]

Fórum de Entidades Negras da BahiaRua Chile, nº. 25, Ed. Prof. Eduardo de Moraes, sala 608, Salvador / BA / (71) 3321-9602

Entidades e Organizações

Instituto BúziosResponsável: Valdizio Fernandes (71) 81023077 bú[email protected]

Instituto Pedra de Raio Rua Lauro Müller, nº. 08. Ed. Cidade Baixa, 6º andar, sala 601/604 – Comércio, Salvador / BA(71) 3243-2375 / [email protected]

MNU - Movimento Negro Unificado - BahiaResponsável: Ivonei Pires(71) 99429021 [email protected]

MOLIMNBRA – Núcleo de Articulação de Mulheres NegrasResponsável: Denise RibeiroRua Dr.Couto Maia, nº. 25 - Bonfim, Salvador / BA(71) 3316-5264 / molimnbra.blogspot.com

SMS - Grupo de Trabalho de Saude da População NegraResponsável: Neide Maria dos Santos (71) 9123 8280 [email protected]

SPD – Sociedade Protetora dos DesvalidosPraça Anchieta, nº. 17 – Terreiro de Jesus, Salvador / BA

UNEGRO – União de Negros pela IgualdadeRua Frei Vicente, nº. 13 – Pelourinho, Salvador / BA(71) [email protected]

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GUIA DE FONTES

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Angélica da Prata – Jóias AfroRua Amparo do Tororó, nº. 157 – Centro, Salvador / BA(71) 3266-3564 / 8843-2230

Atêlier Mônica AnjosRua da Paciência, nº. 223 - Rio Vermelho, Salvador / BA(71) 3334-7026

Didara – Goya LopesRua Maciel Baixo, 20, loja 04 - Pelourinho, Salvador / BA(71) 3321-9428http://www.goyalopes.com.br

Iyalodê Cabelos NaturaisRua Joana Angélica, entrada do Tororó, nº. 71, na rua do Martagão Gesteira, Salvador / BA(71) 3321-5301 / 8848-8017

Ifá VestePraça Alexandre Fernandes nº. 160, ed.Paulus Gharden, loja 03 – Garcia, Salvador / BA(71) 3241-5689

Nêga Belê – Moda e AcessóriosAv. Joana Angélica, Rua José Duarte, nº. 71 – Nazaré, Salvador / BA(71) 8886-9664 / 8744-6105

Negra Jhô Penteados AfroLadeira São Miguel, nº. 4 - Pelourinho, Salvador / BA(71) 3321-8332

Negrif – Moda Afro(71) [email protected]

Estética e Moda

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GUIA DE FONTES

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Centro de Memória da BahiaBiblioteca Pública do Estado da Bahia, 3º andar, Rua General Labatut, nº. 27 – Barris, Salvador / BA(71) [email protected]

Fundação Cultural PalmaresSetor Bancário Sul, Quadra 02, Lote 11, Ed. Elcy Meireles, Brasília / DF(61) [email protected]

Ministério Público do Estado da BahiaAv. Joana Angélica, nº. 1312 – Nazaré, Salvador / BA(71) 3103-6400

Programa de Combate ao Racismo Institucional no Bra-sil (PCRI)

Responsável: Fernanda Lopes - [email protected] SCN Qd. 04 - Ed. Centro Empresarial Varig, 2o andar - sala 202, Brasília / DF(61) 326-8916 / Fax: (61) 326-8918

SEMUR – Secretaria Municipal da Reparação

Rua do Tesouro s/n, Edifício Nossa Senhora da Ajuda, 6º andar – Centro, Salvador / BA(71) 4009-2612 / [email protected] / [email protected]

SEPROMI – Secretaria de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia

Av. Luis Viana Filho, 2ª avenida, nº. 250, Conjunto SEPLAN, Anexo B - 1 º Andar - CAB(71) 3115-5113

SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Esplanada dos Ministérios, Bloco A, 9º andar. CEP: 70054-900 - Brasília-DFTelefone: (61) 3411-3610Fax: (11) [email protected]

Institucional

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GUIA DE FONTES

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Cipó Comunicação InterativaAv. Oceânica, Morro da Paciência, nº. 3784 - Rio Vermelho, Salvador / BA(71) 3503-4477 / Fax [email protected]

CRIA – Centro de Referência Integral de AdolescentesRua Gregório de Mattos, nº. 21 - Pelourinho, Salvador / BA(71) [email protected]

Fórum Baiano de Juventude NegraPraça da Sé, Condominio Edifício Themis Matriz - 5º e 7º andar, Salvador / BA(71) 8108-6339 / 8667-0278

Kabum Escola de Arte e TecnologiaTerreiro de Jesus, nº. 17 – Centro Histórico, Pelourinho, Salvador / BA(71) 3345-5657

Afropress – Agência de NotíciasJornalista responsável - Dojival Vieira(11) 3721-7313 / (11) [email protected]

Aldeia NagôResponsável: Helder Barbosa(71) [email protected] www.aldeianago.com.br

Juventude

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114

GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Etnomídia - Grupo de Estudos em Mídia e Etnicidades da Faculdade de Comunicação da UFBa

Professor Responsável: Fernando Conceiçã[email protected]://www.facom.ufba.br/etnomidia

Instituto Mídia Étnica - Correio NagôDiretor Executivo: Paulo Rogério NunesRua Padre Agostinho Gomes, nº. 17 – Pelourinho, Salvador / BA / (71) 8873-7047 / 9637-5920 / 8846-3536www.correionago.com.br www.midiaetnica.org

ÌrohìnEditor: Edson CardosoSEPN 506 Bl D, s/n, Brasília / DF(61) 3447-1729www.irohin.org.br

Mídia

Portal ÁfricasDiretor Geral: Washington Lucio Andrade(71) 9723 5558 [email protected]

Revista Raça BrasilPresidente do Conselho Editorial: Maurício PestanaAv. Prof. Ida Kolb, 551, Casa Verde, São Paulo / SP(11) 2225-0627 / 9690-9318

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

ABADFAL - Associação Baiana das Pessoas com Doença Falciforme

Rua Chile, nº. 25, sala 608 - Ed Prof. Eduardo de Morais - Centro, Salvador / BA (71) 3388-8747 / [email protected] http://www.abadfal.org.br

Associação Camaçariense de Anemia FalciformeAv. Sul Quadra B, nº. 17 - Bairro Piaçaveira, Camaçari / BA(71) 3621-0644 / [email protected]

AAFI - Associação dos Anêmicos Falciformes de IlhéusAv Canavieiras, nº. 253 - Centro, Ilhéus / BA (73) 3234-8101 / 8805-3384 / [email protected]

Acbantu - Associação Cultural de Preservação do Patri-mônio Bantu

Rua João de Deus, nº. 17 - Térreo 003 – Pelourinho, Salvador / BA(71) [email protected]

Saúde

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Barraca Chapéu de Couro – Comércio ReligiosoPraça 1º de Maio, Box 82, Mercado da Sete Portas, Salvador / BA / (71) 3321-5376 / 3491-4149

Barraca São RoqueRua das Flores, Box 314, Mercado da Sete Portas, Salvador / BA(71) 3322-7889

Casa Preto Velho – Comércio ReligiosoAv. Oscar Pontes, s/n, Rua I – Q. 6 - Feira de São Joaquim, Salvador / BA / (71) 3314-3816

FEBACAB – Federação Baiana Do Culto Afro-BrasileiroRua Alfredo de Brito, n° 39, 1° andar – Pelourinho, Salvador / BA

FENACAB – Federação Nacional do Culto AfroRua Alfredo Brito, nº. 39, 1° Andar – Pelourinho, Salvador / BA

Centro de Caboclo Sultão das MatasNação: CabocloRua Boa Esperança, nº. 231 E casa - São Gonçalo, Salvador / BA(71) 3494-7908

Núcleo de Religiões de Matriz Africana da Polícia Mili-tar da Bahia – NAFROPM

Coordenador: Sgt PM Eurico Alcantara dos Santos Travessa da Ajuda, Ed. Sulamérica, sala 303 - Centro, Salvador / BA / (71) 3321-7859 / 8875-9611

Palácio de Oxóssi – Comércio ReligiosoAv. Oscar Pontes, s/n - Feira de São Joaquim, Salvador / BA(71) 3492-2239 / [email protected]

Pastoral AfroRua Gregório de Mattos – Pelourinho (ao lado do Afoxé Filhos de Gandhy), Salvador / BA(71) 3321-8052 / [email protected]

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos PretosPraça José de Alencar, s/nº – Largo do Pelourinho, Salvador / BA / (71) 3321-6280

Terreiro do Bate FolhaNação: AngolaRua Direta da Mata Escura - Mata Escura, Salvador / BA(71) 3306-2163

Terreiro do CobreNação: KetuRua Apolinário de Santana, nº. 154 - Eng. V. da Federação, Salvador / BA / (71) 3203-7131

Terreiro Ilê Axé JitoluNação: JejeRua do Curuzu, nº. 231 – Liberdade, Salvador / BA(71) 3386-2148

Religiosidade

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Terreiro da Casa Branca)Nação: KetuAv. Vasco da Gama, nº. 463 - Vasco da Gama, Salvador / BA(71) 3334-2900/ 9195-0651

Terreiro Ilê Axê Opó AfonjáNação: KetuRua Direta do São Gonçalo, nº. 557 - São Gonçalo, Salvador / BA(71) 3384-5229

Terreiro Ilê Odô Ogê Pilão de PrataNação: KetuAlto do Caxundê , nº. 98 - Boca do Rio, Salvador / BA(71) 9185-5771

Terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê (Terreiro do Gantois)Nação: KetuAlto do Gantois, nº. 23 – Federação, Salvador / BA(71) 3321-9231

Terreiro Onipó NetoNação: AngolaAv. Jorge Amado, nº. 115 (casa) – Imbu, Salvador / BA(71) 3362-2904

Terreiro Tanurí JunçaraNação: AngolaRua Apolinário de Santana, nº. 140 - Eng. V. da Federação, Salvador / BA(71) 3203-7577

Terreiro Ylê Axé OxumarêNação: KetuAv. Vasco da Gama, nº. 343 - Vasco da Gama, Salvador / BA(71) 3247-1130 / 3237-2859

Terreiro Zogodo Bogum Male RundóNação: JejeLadeira Manuel Bomfim, nº. 35 - Eng. V. da Federação, Salvador / BA(71) 3334-5881.

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

AAlaíde do Feijão

Cozinheira (culinária afrobrasileira)(71) 3321-6775

Albino Apolinário NAFRO / PM e Alzira do Conforto (religiosidade afrobrasileira)(71) 8882-3837

Ailton FerreiraSociólogo (comunicação, mobilização e cidadania)(71) 8246-9563E-mail: [email protected]

Almiro SenaPromotor de Justiça (cidadania e racismo)(71) 3103-6409 / 87066500E-mail: [email protected]

Altair LiraConsultor na área social e Presidente da FENAFAL (saúde da população negra)(71) 9137-1468 / 3388-8747

Ana Célia SilvaProfessora Dotoura da UNEB (relações étnico-raciais)(71) 9963-3311

Ângela GuimarãesConselho de Juventude / UNEGRO (juventude)(71) 8183-4955 / 8873-2455

Especialistas

Ângelo FlávioAtor e diretor (teatro negro)(71) 8882-4601

Antonio Carlos “Vovô”Presidente do Ilê Aiyê (música afrobrasileira)

FFernando Conceição

Jornalista (mídia e etnicidades)(71) 8607-8860

Florentina SouzaProfessora Doutora da UFBA (literatura brasileira)(71) 9945-8506 / 3240-4570

GGuiguiu

Cantor do Ilê aiyê (música afrobrasileira)(71) 9177-8517 / 3240-0182

HHamilton Borges

Ativista e Coordenador da Campanha Reaja ou será Mort@ (preconceito)(71) 9918-3167 / 9935-7336

Hamilton RibeiroProdutor (música afrobrasileira)(71) 9192-2679

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Hamilton VieiraJornalista (mídia e etnicidades)(71) 33658459

Hélio SantosDoutor em Administração (movimento negro)(71) 3334-6441

JJaime Sodré

Antropológo (candomblé)(71) 3235-2770

João José ReisHistoriador (escravidão e religiosidade)(71) 3235-5785

Jocélio FonsecaPoetisa (literatura negra)(71) 9918-5973

Jocélio SantosAntropologia (religiosidade afro-brasileira, ações afirmativas no ensino superior)(71) 8806-7443 / 3321-2564

Jorge ConceiçãoArte-educador (artes e cultura afrobrasileira)(71) 8144-0629 / 9931-9409

Jorge PortugalEducador e Poeta (educação étnico-racial)(71) 3321-2290 / 9989-8776

Jorge WashingtonAtor do Bando de Teatro Olodum (teatro negro)(71) 8878-4634

José Carlos CapinanPoeta (literatura negra)(71) 8154-3698 / 3321-6722

José Carlos LimeiraPoeta (literatura negra)(71) 9941-4433

Josiane ClímacoEspecialista em Planejamento Educacional (educação étnico-racial)(71) 9938-9948 / 8762-3174

Júlio BragaAntropólogo (religiões de matriz africana)(71) 8719-0449 / 3365-0277

Júlio CesarPrior da Irmandade dos Homens Pretos (religiosidade)(71) 9969-7035

LLandê Onawalê

Poeta (literatura negra)(71) 3383-7905

Lindinalva BarbosaMestre (literatura Negra)(71) 8804-4137

Luciane ReisPublicitária (mídia e etnicidades)(71) 9959-2350

Lucilene ReginaldoHistoriadora (irmandades negras)(71) 9979-6215

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Luiz AlbertoDeputado Federal(71) 9971-6555

Luiza BairrosSocióloga (preconceito, legislação e saúde)(71) 9977-3401

MMãe Stella

Ialorixá Ilê Axé Opó Afonjá (religiões de matriz africana)(71) 3314-0845 / 3384-8027

Maria Nazaré MotaProfessora da UNEB (relações étnico-raciais)(71) 9609-5806

Mia LopesForúm de Juventude Negra (juventude)(71) 8649-5933

Moisés RochaVereador(71) 8897-3299 / 9638-3169

NNadir Nóbrega

Dançarina e Coreógrafa (dança afrobrasileira)(71) 3376-3075

Nilo RosaProfessor de Economia da UEFS (relações étnico-raciais)(71) 9918-4642

OOlívia Santana

Vereadora(71) 3321-8845 E-mail: [email protected]

PPaulo César de Jesus

Historiador (escravidão)(71) 8790-1709

Paulo Rogério NunesPublicitário (mídia e etnicidades)(71) 8760-5557 / 9637-5920

RRachel Quintiliano

Jornalista (mídia e etnicidades, hiphop)(61) 9969-2127

Raimundo BujãoProdutor Cultural (cultura afrobrasileira)(71) 9158-8807

Renata DiasRelações Públicas (mídia e etnicidades)(71) 8810-2727

SSamuel Vida

Advogado (racismo, preconceito)(71) 9988-1143

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GUIA DE FONTES

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Sérgio São BernadoAdvogado (preconceito, direito do consumidor)(71) 8812-3735 / 9964-3542

Silvio HumbertoEconomista (educação)(71) 9969-8496

TTata Kommananggy

Pai de Santo - ACBANTU(71) 9156-3358

Tarry CristinaPedagoga(71) 8862-0314

Tonho MatériaCantor(71) 8126-9333

UUbiratan Castro de Araújo

Historiador (Escravidão)(71) 9988-0250

VVal Conceição

Diretora de Teatro(71) 8840-6210 / 9132-6210

Valdina PintoMakota do Tanurí Junçara(71) 8744-5823

Vanda MachadoProf. Doutora (História e Cultura Africana)(71) 8855-9132

Vilma ReisSocióloga(71) 9994-3749

Vilson CaetanoAntropólogo (Religiões afro-brasileiras)(71) 8151-2133

WWalmir Assunção

Deputado Federal(71) 3115-5340

Walter FragaHistoriador (Escravidão, pós-abolição)(71) 9614-9307 / 3276-1278

Wlamyra Albuquerque Historiadora (Escravidão)(71) 9909-9637

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ANEXOS

Está apresentado neste capítulo uma lista de leis, decretos e documentos centrais para a compreensão dos debates em torno do tema.

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ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.

Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:

I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada;II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e

124

oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica;

III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;

IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;

V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais;VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportunidades.

Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.

Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos princípios fundamentais, aos direitos e garantias fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político-

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125

ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da identidade nacional brasileira.

Art. 4o A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de:

I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social;

II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa;

III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica;

IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;

V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada;

VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos;

VII - implementação de programas de ação afirmativa

destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros.

Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do País.

Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.

TÍTULO II

DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I

DO DIREITO À SAÚDE

Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido pelo poder público mediante políticas universais, sociais e econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de outros agravos.

§ 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da saúde da população negra será de responsabilidade dos órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e municipais, da administração direta e indireta.

§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado sem discriminação.

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ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, organizada de acordo com as diretrizes abaixo especificadas:

I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças dos movimentos sociais em defesa da saúde da população negra nas instâncias de participação e controle social do SUS;II - produção de conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra;

III - desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação para contribuir com a redução das vulnerabilidades da população negra.

Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra:

I - a promoção da saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnicas e o combate à discriminação nas instituições e serviços do SUS;

II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos dados desagregados por cor, etnia e gênero;

III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra;

IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde;V - a inclusão da temática saúde da população negra nos processos de formação política das lideranças de movimentos sociais para o exercício da participação e controle social no SUS.

Parágrafo único. Os moradores das comunidades de remanescentes de quilombos serão beneficiários de incentivos específicos para a garantia do direito à saúde, incluindo melhorias nas condições ambientais, no saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e na atenção integral à saúde.

CAPÍTULO II

DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER

Seção I

Disposições Gerais

Art. 9o A população negra tem direito a participar de atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer adequadas a seus interesses e condições, de modo a contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade brasileira.

Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão as seguintes providências:

I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da população negra ao ensino gratuito e às atividades esportivas e de lazer;

II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção social e cultural da população negra;

III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive nas escolas, para que a solidariedade aos membros da população

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ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

negra faça parte da cultura de toda a sociedade;IV - implementação de políticas públicas para o fortalecimento da juventude negra brasileira.

Seção II

Da Educação

Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da história geral da África e da história da população negra no Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

§ 1o Os conteúdos referentes à história da população negra no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País.

§ 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a formação inicial e continuada de professores e a elaboração de material didático específico para o cumprimento do disposto no caput deste artigo.

§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos responsáveis pela educação incentivarão a participação de intelectuais e representantes do movimento negro para debater com os estudantes suas vivências relativas ao tema em comemoração.Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a pesquisas e a programas de estudo voltados para temas referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões pertinentes à população negra

Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos competentes, incentivará as instituições de ensino superior públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a:I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de interesse da população negra;

II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de formação de professores temas que incluam valores concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade brasileira;

III - desenvolver programas de extensão universitária destinados a aproximar jovens negros de tecnologias avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários;

IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos estabelecimentos de ensino públicos, privados e comunitários, com as escolas de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, para a formação docente baseada em princípios de equidade, de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.

Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações socioeducacionais realizadas por entidades do movimento negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, convênios e incentivos, entre outros mecanismos.

Art. 15. O poder público adotará programas de ação afirmativa.

Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata esta Seção.

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ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

Seção III

Da Cultura

Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação coletiva da população negra, com trajetória histórica comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.

Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades dos quilombos o direito à preservação de seus usos, costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção do Estado.

Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da Constituição Federal, receberá especial atenção do poder público.

Art. 19. O poder público incentivará a celebração das personalidades e das datas comemorativas relacionadas à trajetória do samba e de outras manifestações culturais de matriz africana, bem como sua comemoração nas instituições de ensino públicas e privadas.Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de natureza imaterial e de formação da identidade cultural brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.

Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio dos atos normativos necessários, a preservação dos elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas relações internacionais.

Seção IV

Do Esporte e Lazer

Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da população negra às práticas desportivas, consolidando o esporte e o lazer como direitos sociais.

Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.

§ 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em todo o território nacional.

§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, pública e formalmente reconhecidos.

CAPÍTULO III

DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CREN-ÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS CULTOS RELIGIOSOS

Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana compreende:

I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa privada, de lugares reservados para tais fins;

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129

ANEXOS

Juliana Dias Manual Étnico-racial para o Jornalismo

II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com preceitos das respectivas religiões;

III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções religiosas;

IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas vedadas por legislação específica;V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana;

VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais e jurídicas de natureza privada para a manutenção das atividades religiosas e sociais das respectivas religiões;

VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para divulgação das respectivas religiões;

VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros locais.

Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou em outras instituições de internação coletiva, inclusive àqueles submetidos a pena privativa de liberdade.

Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias para o combate à intolerância com as religiões de matrizes africanas e à discriminação de seus seguidores, especialmente com o objetivo de:

I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para

a difusão de proposições, imagens ou abordagens que exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;

II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos, mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às religiões de matrizes africanas;

III - assegurar a participação proporcional de representantes das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder público.

CAPÍTULO IV

DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA

Seção I

Do Acesso à Terra

Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas públicas capazes de promover o acesso da população negra à terra e às atividades produtivas no campo.

Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades produtivas da população negra no campo, o poder público promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao financiamento agrícola.

Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e o fortalecimento da infraestrutura de logística para a comercialização da produção.

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ANEXOS

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Art. 30. O poder público promoverá a educação e a orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros e as comunidades negras rurais.

Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento sustentável dos remanescentes das comunidades dos quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental das comunidades.

Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das comunidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento especial diferenciado, assistência técnica e linhas especiais de financiamento público, destinados à realização de suas atividades produtivas e de infraestrutura.

Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em outras leis para a promoção da igualdade étnica.

Seção II

Da Moradia

Art. 35. O poder público garantirá a implementação de políticas públicas para assegurar o direito à moradia adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida.

Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento habitacional, mas também a garantia da infraestrutura urbana e dos equipamentos comunitários associados à função habitacional, bem como a assistência técnica e jurídica para a construção, a reforma ou a regularização fundiária da habitação em área urbana.

Art. 36. Os programas, projetos e outras ações governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar as peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população negra.

Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estimularão e facilitarão a participação de organizações e movimentos representativos da população negra na composição dos conselhos constituídos para fins de aplicação do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS).

Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, promoverão ações para viabilizar o acesso da população negra aos financiamentos habitacionais.

CAPÍTULO V

DO TRABALHO

Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho será de responsabilidade do poder público, observando-se:

I - o instituído neste Estatuto;

II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as

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ANEXOS

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Formas de Discriminação Racial, de 1965;

III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e na profissão;

IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional.

Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas.

§ 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a adoção de políticas e programas de formação profissional, de emprego e de geração de renda voltados para a população negra.

§ 2o As ações visando a promover a igualdade de oportunidades na esfera da administração pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a serem estabelecidas em legislação específica e em seus regulamentos.

§ 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a adoção de iguais medidas pelo setor privado.

§ 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão o princípio da proporcionalidade de gênero entre os beneficiários.

§ 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas para mulheres negras.

§ 6o O poder público promoverá campanhas de sensibilização contra a marginalização da mulher negra no trabalho artístico e cultural.

§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos setores da economia que contem com alto índice de ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização.

Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e projetos voltados para a inclusão da população negra no mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos para seu financiamento.

Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio de financiamento para constituição e ampliação de pequenas e médias empresas e de programas de geração de renda, contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros.

Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os costumes da população negra.

Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar critérios para provimento de cargos em comissão e funções de confiança destinados a ampliar a participação de negros, buscando reproduzir a estrutura da distribuição étnica nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os dados demográficos oficiais.

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ANEXOS

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CAPÍTULO VI

DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participação da população negra na história do País.

Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de natureza política, ideológica, étnica ou artística.

Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica aos filmes e programas que abordem especificidades de grupos étnicos determinados.

Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em salas cinematográficas o disposto no art. 44.

Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas públicas e as sociedades de economia mista federais deverão incluir cláusulas de participação de artistas negros nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário.

§ 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão, nas especificações para contratação de serviços de consultoria, conceituação, produção e realização de filmes, programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas relacionadas com o projeto ou serviço contratado.

§ 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço contratado.

§ 3o A autoridade contratante poderá, se considerar necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de emprego, requerer auditoria por órgão do poder público federal.

§ 4o A exigência disposta no caput não se aplica às produções publicitárias quando abordarem especificidades de grupos étnicos determinados.

TÍTULO III

DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

(SINAPIR)

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÃO PRELIMINARArt. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas existentes no País, prestados pelo poder público federal.

§ 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão participar do Sinapir mediante adesão.

§ 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a iniciativa privada a participar do Sinapir.

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ANEXOS

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CAPÍTULO II

DOS OBJETIVOS

Art. 48. São objetivos do Sinapir:

I - promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas;

II - formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a promover a integração social da população negra;

III - descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais, distrital e municipais;

IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica;

V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das ações afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas.

CAPÍTULO III

DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA

Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional de promoção da igualdade racial contendo as metas, princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR).

§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação e acompanhamento da PNPIR, bem como a organização, articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo

órgão responsável pela política de promoção da igualdade étnica em âmbito nacional.

§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir fórum intergovernamental de promoção da igualdade étnica, a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de promoção da igualdade étnica, com o objetivo de implementar estratégias que visem à incorporação da política nacional de promoção da igualdade étnica nas ações governamentais de Estados e Municípios.§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão colegiado que assegure a participação da sociedade civil.

Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e municipais, no âmbito das respectivas esferas de competência, poderão instituir conselhos de promoção da igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo, compostos por igual número de representantes de órgãos e entidades públicas e de organizações da sociedade civil representativas da população negra.

Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos recursos referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.

CAPÍTULO IV

DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À JUSTI-ÇA E À SEGURANÇA

Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de

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ANEXOS

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medidas para a promoção da igualdade.

Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos.Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de violência, garantida a assistência física, psíquica, social e jurídica.Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a violência policial incidente sobre a população negra.Parágrafo único. O Estado implementará ações de ressocialização e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta a experiências de exclusão social.

Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de discriminação e preconceito praticados por servidores públicos em detrimento da população negra, observado, no que couber, o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.

Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças de lesão aos interesses da população negra decorrentes de situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.

CAPÍTULO V

DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Art. 56. Na implementação dos programas e das ações constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais da União, deverão ser observadas as políticas de ação afirmativa a que se refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas públicas que tenham como objetivo promover

a igualdade de oportunidades e a inclusão social da população negra, especialmente no que tange a:

I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, emprego e moradia;

II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população negra;

III - incentivo à criação de programas e veículos de comunicação destinados à divulgação de matérias relacionadas aos interesses da população negra;

IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas administradas por pessoas autodeclaradas negras;

V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência das pessoas negras na educação fundamental, média, técnica e superior;

VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, distrital e municipais e de entidades da sociedade civil voltados para a promoção da igualdade de oportunidades para a população negra;

VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e das tradições africanas e brasileiras.

§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar medidas que garantam, em cada exercício, a transparência na alocação e na execução dos recursos necessários ao financiamento das ações previstas neste Estatuto, explicitando, entre outros, a proporção dos recursos orçamentários destinados aos programas de promoção da igualdade, especialmente nas áreas de educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento agrário, habitação popular, desenvolvimento regional, cultura, esporte e lazer.

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ANEXOS

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§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art. 4o desta Lei.

§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas necessárias para a adequada implementação do disposto neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação crescente dos programas de ação afirmativa nos orçamentos anuais a que se refere o § 2o deste artigo.

§ 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal responsável pela promoção da igualdade racial acompanhará e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas propostas orçamentárias da União.

Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários, poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e da seguridade social para financiamento das ações de que trata o art. 56:

I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - doações voluntárias de particulares;

III - doações de empresas privadas e organizações não governamentais, nacionais ou internacionais;

IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou internacionais;V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios, tratados e acordos internacionais.

TÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem outras em prol da população negra que tenham sido ou venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede mundial de computadores.

Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei no 7.716, de 1989, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o ........................................................................

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)

“Art. 4o ........................................................................

§ 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores;

II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional;III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário.

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ANEXOS

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§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências.” (NR)

Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei no 9.029, de 13 de abril de 1995, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto nesta Lei são passíveis das seguintes cominações:

...................................................................................” (NR)

“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório, nos moldes desta Lei, além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar entre:...................................................................................” (NR)Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual parágrafo único como § 1o:

“Art. 13. ........................................................................

§ 1o ...............................................................................

§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou locais, nas hipóteses de danos

com extensão regional ou local, respectivamente.” (NR)

Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei no 10.778, de 24 de novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1o .......................................................................

§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência contra a mulher qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou desigualdade étnica, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto no privado.

...................................................................................” (NR)Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei no 7.716, de 1989, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso III:

“Art. 20. ......................................................................

.............................................................................................

§ 3o ...............................................................................

.............................................................................................

III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na rede mundial de computadores....................................................................................” (NR)

Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a data de sua publicação.

Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAEloi Ferreira de Araújo

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ANEXOS

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Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010

LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:Art. 1º A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.§ 3º (VETADO)”“Art. 79-A. (VETADO)”“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182º da Independência e 115º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

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ANEXOS

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Lei Afonso Arinos - Lei 1390/51 | Lei no 1.390, de 3 de julho de 1951 Vide Decreto-Lei nº 3.688, de 3.10.1941

Inclui entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de preconceitos de raça ou de cor.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º Constitui contravenção penal, punida nos têrmos desta Lei, a recusa, por parte de estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça ou de côr. Citado por 5

Parágrafo único. Será considerado agente da contravenção o diretor, gerente ou responsável pelo estabelecimento. Art 2º Recusar alguém hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento da mesma finalidade, por preconceito de raça ou de côr. Pena: prisão simples de três meses a um ano e multa de Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros) a Cr$20.000,00 (vinte mil cruzeiros). Citado por 8

Art 3º Recusar a venda de mercadorias e em lojas de qualquer gênero, ou atender clientes em restaurantes, bares, confeitarias e locais semelhantes, abertos ao público, onde se sirvam alimentos, bebidas, refrigerantes e guloseimas, por preconceito de raça ou de côr. Pena: prisão simples de quinze dias a três meses ou multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros). Citado por 4

Art 4º Recusar entrada em estabelecimento público, de diversões ou esporte, bem como em salões de barbearias ou cabeleireiros por preconceito de raça ou de côr. Pena: prisão simples de quinze dias três meses ou multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros). Art 5º Recusar inscrição de aluno em estabelecimentos de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça ou

de côr. Pena: prisão simples de três meses a um ano ou multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros). Citado por 1

Parágrafo único. Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que apurada em inquérito regular.

Art 6º Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo do funcionalismo público ou ao serviço em qualquer ramo das fôrças armadas, por preconceito de raça ou de côr. Pena: perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente de repartição de que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.

Art 7º Negar emprêgo ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista, emprêsa concessionária de serviço público ou emprêsa privada, por preconceito de raça ou de côr. Pena: prisão simples de três meses a um ano e multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00 (cinco mil cruzeiros), no caso de emprêsa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de economia mista e emprêsa concessionária de serviço público.

Art 8º Nos casos de reincidência, havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena adicional de suspensão do funcionamento por prazo não superior a três meses. Citado por 1

Art 9º Esta Lei entrará em vigor quinze dias após a sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 3 de julho de 1951; 130º da Independência e 63º da República.

GETÚLIO VARGAS

Francisco Negrão de Lima

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ANEXOS

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LEI CAÓLEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985

Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 - Lei Afonso Arinos.O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:Art 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Art 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na prática referida no art. 1º desta Lei.

DAS CONTRAVENÇÕES

Art 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de referência (MVR).

Art 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer gênero ou o atendimento de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).

Art 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento público, de diversões ou de esporte, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).Art 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por

preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).Art 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que apurada em inquérito regular.

Art 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente da repartição de que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.

Art 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista, empresa concessionária de serviço público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de economia mista e empresa concessionária de serviço público.

Art 10º - Nos casos de reincidência havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três) meses.Art 11º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 12º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 20 de dezembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

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