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MANUAL DO PROFESSOR L&PM EDITORES – Edital PNLD 2018-LITERÁRIO Ana Mariza Filipouski e Diana Marchi

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manual do professorl&pm edITores – edital pnld 2018-lITerÁrIo

ana mariza filipouski e diana marchi

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1 Autor e obra

Moacyr Scliar (porto alegre/rs, 1937-2011) é um dos nomes mais relevantes da literatura brasileira contemporânea. autor de inúmeros romances, contos, crônicas e ensaios, o médico e escritor que pertenceu à academia Brasileira de letras é também um dos bra-sileiros mais lidos no exterior. Conquistou diversos prê-mios literários, nacionais e estrangeiros, e seus livros foram publicados em inúmeros países, como Inglaterra, rússia, república Tcheca, eslováquia, suécia, noruega, frança, alemanha, estados unidos, Holanda, espanha, entre outros.

os textos que compõem este livro testemunham o talento do autor para tratar da vida como ela é (ou que poderia ter sido), uma vez que o ponto de partida é sempre uma notícia de jornal que se transforma em ficção.

o olhar perspicaz do escritor flagra episódios curiosos e lhes dá tratamento inusitado, revelando detalhes que acentuam a diversidade e a riqueza do ser humano. o estilo leve e bem-humorado que carac-teriza o conjunto de sua obra também está presente, transformando o ato de ler em uma experiência praze-rosa de fruição e aprendizado.

2 Para motivar a leitura

apresente a crônica como gênero híbrido, que transita entre a linguagem jornalística e a literária, aparece em periódicos e é de fácil leitura. sua aná-lise é uma oportunidade de refletir sobre as condições

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que cercam a vida contemporânea e de compreender melhor o mundo, qualificando uma atividade cotidiana de grande circulação: ler textos impressos em jornais e revistas ou online. o gênero possibilita refletir a res-peito da relação existente entre o campo jornalístico--midiático e o campo artístico, o texto e o suporte de circulação, pois é tido como descartável ao circular em jornais ou blogs (crônicas também são lidas na tevê e no rádio!), mas ganha permanência ao ser editada em livro.

provoque o interesse dos alunos com perguntas que os levem a prestar atenção nas pequenas coi-sas que acontecem todos os dias. Já notaram que, ao observar atentamente o que nos cerca, aquilo parece ganhar um sentido e um brilho novos, como se já não fosse o mesmo? As coisas acabam por virar outras, não é mesmo? pois é, olhar e contar o que se viu é uma maneira certa de reinventar a vida, dando a ela outra graça!

Isso é o que faz um cronista! ele parece ter uma lente na cabeça e constrói textos que aproximam e afastam seus leitores da realidade, propiciando que eles consigam vê-la melhor.

3 Categoria, tema e gênero

Categoria 6: 1o a 3o ano do ensino médioGênero: crônicasTemas: ficção, diálogos com a sociologia e a antro-

pologia

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as crônicas que compõem Histórias que os jornais não contam nasceram todas de notícias publicadas na Folha de S.Paulo, entre 2004 e 2008. nesse sentido, proporcionam compreender a vida cotidiana contem-porânea em seus múltiplos aspectos, explorando senti-mentos e emoções característicos do modo de viver da humanidade a partir de um tratamento estético. este fato acentua as relações da obra com o contexto de circulação e colabora para a formação de jovens como leitores críticos.

4 Propostas de atividades

o objetivo desse material de apoio é tratar da fic-ção como um modo de interpretar o cotidiano, estabe-lecendo relações entre a vida e a literatura. para isso, observa como é composta a crônica, como o gênero problematiza atitudes humanas e investe na formação dos jovens, ampliando seu repertório de leitura e desa-fiando-os a produzir textos que revelem preocupação semelhante.

4.1 Pré-leitura

Compreender e analisar processos de produção e circulação de dis-cursos, nas diferentes linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses pessoais e coletivos.Analisar obras significativas da literatura brasileira com base em fer-ramentas da crítica literária (estrutura da composição, estilo, aspec-tos discursivos), considerando o contexto de produção (visões de mundo, diálogos com outros textos, inserções em movimentos esté-ticos e culturais etc.) e o modo como elas dialogam com o presente.

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apresente as questões motivadoras do trabalho. dê algum tempo para os alunos responderem e enca-minhe uma conversa em tom exploratório, de modo a resgatar suas leituras prévias, enumerando os aspectos que lembrarem a respeito do gênero crônica.

• Paravocê,oqueécrônica?• Vocêtemohábitodelê-la?Onde?• Lembradosassuntossobreosquaisascrôni-

cas costumam tratar? • Há quem diga que cronistas colocam uma

lente em certos aspectos da realidade, pos-sibilitando que seus leitores os vejam melhor. Vocêconcordacomessadefinição?

• Qualarelaçãoentreosuportedecirculaçãodacrônicaeofatodeserconsideradalitera-tura ou não?

dê destaque ao suporte, ao narrador, ao código utilizado, ao assunto, ao contexto, ao tempo e ao des-tinatário do gênero, aspectos que remetem às carac-terísticas da crônica. Valorize seus conhecimentos prévios, oportunizando que reflitam a respeito da fic-ção e suas formas de circulação. se possível, organize em um canto da sala um painel e passe a colar recortes de crônicas interessantes, retiradas de jornais e revistas que você encontrar durante o desenvolvimento desse roteiro, incentivando os alunos a colaborar e a recorrer ao painel para ampliarem o repertório de leituras do gênero.

anuncie então a leitura do livro Histórias que os jornais não contam, de moacyr scliar. ele possibilitará

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conhecer melhor aspectos da vida humana que inte-ressaram ao escritor dividir com seus leitores. desta-que a relação do autor com a literatura. recomende uma visita ao seu site oficial (www.moacyrscliar.com/). dê um prazo para leitura extraclasse.

Combine que, ao final, serão desafiados a escre-ver uma crônica, transformando e reinventando algum aspecto do seu cotidiano: as relações com seus pares, sua condição juvenil, algo que lhe chame a atenção no trajeto para a escola etc.

sugira que comecem a observar a realidade pró-xima a partir de um olhar sensível, para flagrar alguma situação que mereça tratamento ficcional!

as leituras e a produção textual serão acompanha-das de provocações a respeito do uso da língua por-tuguesa como recurso para constituir os textos lidos e os que produzirão. do mesmo modo, buscarão qualifi-car a leitura literária e a reflexão sobre a crônica, seus modos de constituição e suas especificidades.

4.2 Compreensão e estudo do texto

Perceber as peculiaridades estruturais e estilísticas de diferentes gêneros literários (a apreensão pessoal do cotidiano nas crônicas) para experimentar os diferentes ângulos de apreensão do indivíduo e do mundo pela literatura.Compartilhar sentidos construídos na leitura/escuta de textos lite-rários, percebendo diferenças e eventuais tensões entre as formas pessoais e as coletivas de apreensão desses textos, para exercitar o diálogo cultural e aguçar a perspectiva crítica.

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enquanto decorre o prazo para leitura extraclasse, em uma aula, destaque e analise uma das crônicas constantes no livro como, por exemplo, “roda dos expostos” (p. 87).

solicite que façam uma leitura individual do texto e depois releia-o pausadamente. então pergunte:

• Oquemotivaaredaçãodessacrônica?Quesentimentosouemoçõeseladesperta?Qualo assunto? De onde ele foi extraído? Há per-sonagens?Onarradorparticipadonarradoouvêosacontecimentosdefora?

• Qualosentidodaexpressão“rodadosexpos-tos” no trecho de notícia introdutório? Como esse sentido é percebido?

oriente a discussão para que observem a inten-ção comunicativa da notícia: informar, dar detalhes de uma prática utilizada até a década de 40 do século passado. as palavras do texto são usadas em um sen-tido denotativo e o procedimento é descrito com objeti-vidade, é econômico em detalhes ou adjetivações. o tom é impessoal, o fato é o foco do interesse.

em seguida, proponha que avaliem a crônica a partir do uso da linguagem: ela está mais próxima dosjornaiserevistasoudaliteratura?Porquê?

Converse sobre o tom que a crônica adquire ao tratar do fato “roda dos expostos” com um olhar sen-sível, destacando os efeitos que a prática possui sobre um ser humano. pergunte: comparativamente, isso se percebe a partir da linguagem? oriente-os para

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identificarem que o texto literário é mais detalhado, apresenta mais adjetivos e locuções, preocupa-se em localizar melhor os fatos no tempo e no espaço (no caso da crônica, tudo gira em torno de um só episódio, com tempo e espaço bem determinados), compartilha aspec-tos da intimidade da personagem, como quem a vê “de dentro”, recorre a sentimentos e emoções para apreen-der aspectos da sua psicologia, o que acaba por ser responsável pelo tom humanístico e reflexivo da crônica e pelo final aberto, que convoca a participação do leitor.

se desejar, destaque outras crônicas do livro e indi-que a variação temática, a presença da conotação, evidenciando aspectos de humor e ironia, que são também característicos da obra de scliar.

a partir da análise, sugira que anotem, a cada crô-nica lida (ou das 10 crônicas de que gostarem mais) o título, tema ou assunto, personagens, linguagem. ao final do tempo estipulado, promova uma roda de conversa sobre a obra a partir do que anotaram.

por fim, discuta os recursos discursivos da notícia e da crônica, determinando o tom predominante da obra lida e as características do gênero.

assegure-se de que todos tenham percebido que crônica é um gênero de texto que procura contar ou comentar histórias da vida cotidiana tratadas pelo olhar sensível do cronista. ao ler a narração do fato, ele ganha um interesse especial, produzido pela escolha e pela arrumação das palavras no texto, dos detalhes que o narrador apresenta das personagens, do con-texto, das consequências que o fato pode desencadear. por isso, a crônica faz o leitor conferir, pensar, entender

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melhor o ser humano. Isso é, sem dúvida alguma, lite-ratura!

para fechar o estudo da obra, pergunte: Por que ela possui esse título? a resposta que derem à ques-tão possibilitará avaliar o que aprenderam a respeito do gênero.

ao longo do trabalho, observe também se os alu-nos conseguiram relacionar as informações constantes no texto com os conhecimentos prévios, identificando situações de humor, opiniões e valores implícitos, se participam de forma colaborativa das atividades, tra-zendo contribuições a partir de suas leituras.

5 Pós-leitura

Planejar, produzir, revisar, editar, reescrever e avaliar textos escritos, considerando sua adequação às condições de produção do texto, no que diz respeito ao lugar social a ser assumido e à imagem que se pre-tende passar a respeito de si mesmo, ao leitor pretendido, ao veículo e mídia em que o texto ou produção cultural vai circular, ao contexto imediato e sócio-histórico mais geral, ao gênero textual em questão e suas regularidades, à variedade linguística apropriada a esse con-texto e ao uso do conhecimento dos aspectos notacionais (ortografia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concor dância nominal e verbal, regência verbal etc.), sempre que o contexto o exigir.Participar de eventos inclusive para socializar obras da própria auto-ria, inserindo-se nas diferentes práticas culturais de seu tempo.

encaminhe a finalização da experiência de leitura desafiando os alunos a escreverem uma crônica. sugira que retomem o fato do cotidiano que selecionaram antes, utilizem os recursos identificados no estudo das

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crônicas de moacyr scliar e comecem por organizar um esquema que dê conta dos seguintes aspectos:

1. Identificação da situação a ser narrada e deta-lhamento do enredo: acontecimento, foco nar-rativo (autor-narrador ou autor-personagem), personagens, o enredo, o conflito e o desfecho da ação;

2. definição do tom da narrativa: humor, ironia, fantasia, crítica etc.;

3. adequação da linguagem à situação de colo-quialidade característica da crônica. para incre-mentar a produção textual, você poderá tratar de aspectos relacionados aos tipos de discurso (direto, indireto, indireto livre). Também poderá produzir um cartaz e colocá-lo em lugar de des-taque na classe com exemplos de figuras de linguagem (comparação, hipérbole, sinestesia, metáfora, antítese, metonímia, catacrese, iro-nia, eufemismo, prosopopeia). o interesse não é classificatório, nem memorizar a nomenclatura, mas exemplificativo de uso, daí ser conveniente que sejam exemplos bem acessíveis aos alunos, retirados de canções ou do uso coloquial:

4. Caracterização do desfecho: aberto ou fechado? Instigaapensar(comoodacrônicaestudadaantes)ouéfechado,mostrandoumasoluçãoinsólita?

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feito o planejamento, proporcione a troca entre colegas para opinarem a respeito dos projetos (o tra-balho colaborativo fortalece o protagonismo), estipule um tempo para produção.

lembre a todos que o título (frequentemente o último item que os escritores acrescentam aos seus textos) precisa ser também interessante, pois é, muitas vezes, o que chama a atenção para a leitura.

À medida que forem concluindo a produção, leia-a junto com o autor e dê destaques a aspectos que podem ser melhorados, referindo e exemplificando cada um deles. assuma uma postura colaborativa, compartilhe alguns trechos que caracterizem problemas comuns à turma e valorize o uso dos aspectos notacionais (orto-grafia padrão, pontuação adequada, mecanismos de concordância nominal e verbal, regência verbal etc.) antes de apresentar a versão final do texto.

depois que você e todos os alunos estiverem satis-feitos com o que produziram, escolha com eles uma forma de tornar as crônicas públicas. Usarão o blog da escola? Comporão uma antologia? Farão pequenas sessõesdeleiturapúblicaemeventoscompartilha-dos com colegas de outras turmas? decida o que for mais conveniente para a sua realidade, mas não deixe de compartilhar o resultado do esforço de produção da turma com um público maior, favorecendo a participa-ção dos jovens nas diferentes práticas culturais de seu tempo.

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6 Potencial interdisciplinar

Questões relacionadas à natureza das categorias indivíduo, sociedade, cultura e ética, foco de atenção na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, constituem também objeto de atenção da literatura que, ao ser lida, auxilia o estudante a compreender e posicionar-se criticamente com relação a esses pro-cessos e às possíveis conexões existentes entre eles. as demais linguagens da arte também podem ser valo-rizadas para buscar compreender melhor as diferentes questões que mobilizam o ser humano, constituindo-se em formas de ampliar os significados do texto lido e aprimorando o processo de atribuição de sentidos à literatura.

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Sobre as autoras do Manual

Diana Marchi – Professora, doutora em Teoria Literária pela PUCRS. Dedicou-se à formação de professores no Núcleo de Integração Universidade & Escola, da UFRGS. Em 2001, recebeu o Prêmio Açorianos de Ensaio Literário pelo livro Literatura infantil gaúcha: uma história possível. Em 2009, integrou a coordenação dos Referenciais curricu-lares do Estado do Rio Grande do Sul e dos Cadernos de Professor e de Aluno que os instrumentalizam; em 2012, coor-denou a Coleção Entre Nós, da Editora Edelbra. É uma das autoras do livro A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura (2009). Atualmente é uma das diretoras da GIPE – Gestão e Inovação em Projetos Educativos, empresa de assessoria voltada para a educação.

Ana Mariza Filipouski – Professora universitária(UFRGS), doutora em Teoria Literária (PUCRS) e formado ra de professores. Criou e foi uma das coor dena do ras do Núcleo de Integração Universidade & Escola, da UFRGS. Integrou a coordenação da coleção Lições do Rio Grande, que reúne os Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul e os Cadernos de Professor e de Aluno que os instrumentalizam (2009); a Coleção Entre Nós (2012) e a Coleção Valores (no prelo), adequada à BNCC. É coautora de A formação do leitor jovem: temas e gêneros da literatura (2009); Juventudes: diálogos e práticas (2012) e Trajetórias cooperativas: guia do associado mirim (2018). É uma das diretoras da GIPE – Gestão e Inovação em Projetos Educa-tivos.