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Manual do Congresso RESULTADOS E DESAFIOS ENTRE OS NÃO ALCANÇADOS Jesús Londoño, editor

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Manual do Congresso

RESULTADOS E DESAFIOS ENTRE OS NÃO ALCANÇADOS

Jesús Londoño, editor

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Índice Saudação de boas-vindas..................................……………………………………………….....................…………… 4 Seção 1: Guia para o congressista 1. Informações gerais………………….........................................………….....................……………………………. 6 2. Como locomover-se em Granada…..................................……………………………….....................………… 7 3. Os encantos de Granada…………….........................................................................…………..........……… 7 4. Folha de instrução….....................................................…………………………....................………………... 10 Seção 2: Programa geral 5. Horários e programa…….…………………………..........................................................................………... 13 6. Distribuição de salas: consultas temáticas……………………………........................................................ 14 7. Distribuição de salas: mesas nacionais de trabalho……………..............................….....................…… 15 8. Marco histórico do congresso…………...............................................……………...…….....................…. 16 9. Visão, missão e objetivos………………...................................................………………......................……. 20 10. Bazar ibero-americano……………………………………………........................................................………… 21 Seção 3: Apresentações dos missionários 11. Mensagem à Igreja: Preocupações e reflexões

Antonio Peralta………..................................................................................………………….……… 23 12. Mensagem à Igreja: As boas intenções não são suficientes

Humberto Coello………....……................................................................................................... 28 13. Mensagem à Igreja: Lições de Deus no campo

Nájua Diba……………………………….......................................................…….………....................… 31 14. Mensagem à Igreja: Necessidades e desafios

Carlos Zapata…………….……………….............................................................................….………… 35 Seção 4: Conclusões da investigação…………………………..................................................................…. 36 Seção 5: Consultas temáticas 15. Introdução……...................................................……………………...............…………………………………… 40 16. Rede de centros de capacitação……………..............................……....................…………………………... 41 17. Rede de igrejas e pastores……...............................................….....................………...………………….. 42 18. Rede de estruturas de envio………………………………………………........................................................ 43 19. Cuidado integral……………….......................................……………….....................……………………………. 44 20. Alcance Uma Etnia………………….......................................………....................………………………………. 45 21. Alianças estratégicas…………………………….........................................................………………………….. 46 22. A mulher e a missão……………………………..........................................................………………………….. 47 23. Intercessão…......................................................……....………….....................………………………………. 48 24. Linguística e tradução….....................................................……………….....................…………………… 49

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Seção 6: Plenárias 25. Missões ao pé da cruz

David Ruiz……………....................……………………........................................…………………………..… 51 26. Missões em uma situação de perseguição

Irmão Yousef…………................…………….......................................................................………... 59 27. Resposta bíblica para a pobreza global

Pastor C. Sekar………………………………………………....................................................................… 60 28. Missões em meio ao martírio

Bob Fu…………………….........................................................…....................………………………….… 68 29. Um novo capítulo dos atos do Espírito Santo

Carlos Scott……………………………………………............................................................................... 69 Palavras especiais 30. Um olhar de esperança para o futuro

Carlos Scott…….........................................................…………...........…………………....………………. 78

Biografias……………………………………………………..................................................................……………….. 80

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Saudações de boas-vindas

Queridos companheiros de missão: Grandes expectativas embargam nosso coração há mais de três anos, quando o sonho e a visão do III Congresso COMIBAM 2006 começaram a ser gerados dentro do movimento missionário na Ibero América. Hoje, quando já estamos aqui, às portas de poder colher o que foi semeado durante estes anos, depois de muitas reuniões em diferentes rincões da Ibero América, de longas sessões de trabalho, de inúmeras viagens e visitas, e de muita oração; nosso coração palpita acelerado, ansioso por ver como a mão de Deus se faz presente uma vez mais na magna história das missões, a partir de um conglomerado de países que, apesar de sua situação política, social e econômica, continua crescendo e atendendo com mais força o chamado macedônico moderno. Ter o privilégio de ver reunidos perto de 2.000 líderes ibero-americanos, junto a 300 obreiros de campo e uma centena de observadores internacionais, nos permite perceber que este é um momento decisivo no caminhar de nossa tarefa missionária, que poderá impactar o futuro próximo e distante de nossa semeadura e nossos frutos entre os povos menos favorecidos, com o evangelho de Jesus Cristo. Este congresso, cuja essência está altamente impregnada do campo, nos remontará a cada um dos rincões da terra onde nossos compatriotas seguem empreendendo, dia a dia, uma dura labuta com o único propósito de ver o nome de Cristo exaltado. Espero que essas experiências cheias de alegria e tristeza, vitória e frustração, esperança e dor nos ensinem o suficiente para oferecer o novo alento que necessitamos e para levar nossa visão e nosso sonho mais além do que nunca imaginamos que poderíamos fazer nEle, com Ele e para Ele. Benvindos ao desafio de um novo milênio nas missões ibero-americanas!

Lic. Jesús Londoño T. Diretor Executivo

COMIBAM Internacional

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Seção 1

Guia para o congressista

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Informações gerais

Granada é a capital da província que leva o mesmo nome. Está situada aos pés da Serra Nevada, no Sistema Bético, o mais longo da península Ibérica. Localizada em Andaluzia oriental, ao sul da Espanha, possui um dos maiores patrimônios culturais desse país. Dados gerais Província: Granada Altitude / nível do mar: 685 m Extensão: 88 km2 Nº de habitantes: 241.471 Gentílico: Granadino Código Postal: 18071 Clima Granada está na etapa final do outono, a algumas semanas de começar o inverno. A temperatura máxima aproximada nesse período é de 12° C e a mínima é de 5° C. Câmbio

Telefones de emergência Urgências e emergências 112 Bombeiros (Centro coordenador contra incêndios) 112 Cruz Vermelha 913 354 545 Empresa Pública de Emergências Sanitárias (EPES) 958 002 200 Guarda Civil 062 Guarda Civil de Trânsito 958 153 600 Polícia Local 092 Polícia Nacional 091 Serviço Andaluz de Saúde (SAS) 061 Transportes (Aeroporto, ônibus, rodovias e ferrovias) 563 Turismo (Escritórios municipais de turismo) 568 Palácio de Exposições e Congressos 958 246 700 COMIBAM Escritório Internacional 958 469 567

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Como locomover-se em Granada Ônibus urbano Pode-se pedir um mapa de linhas nas respectivas paradas de cada ônibus ou solicitar um ao motorista. Telefones: 900 710 900 / 958 8132 750 / 958 813 711 Valor: 1 Euro Ônibus turístico de Granada Você pode desfrutar de um tour por Granada para conhecer os diferentes pontos turísticos e históricos da cidade. Preços: Adultos: 12,40 euros; Crianças: 6,40 euros Duração: 1 hora e 15 minutos Onde tomar o tour? Palácio de Congressos Parque das Ciências Museu Federico García Lorca Campus Universitário Monastério da Cartuja Plaza de Toros

Arabial Hospital Real Catedral Acera de Darro Alhambra Av. Sta. María de la Alhambra

Táxi Para tomar um táxi em Granada você pode pedir pelo telefone 958 280 654 (o táxi chega em menos de 10 minutos) ou apenas terá que ir a uma parada de táxis, que encontrará em frente à estação de ônibus ou de trens na Plaza de Triunfo, na Plaza Nueva, na Fuente de las Batallas ou na frente do El Corte Inglés. Tele Táxi: 958 280 654 Radio Táxi: 958 151 461 Servi Táxi: 958 400 199 (serviços no cinturão de Granada) Táxi Genil: 958 151 461 (serviço 24 hs)

Os encantos de Granada

Os principais pontos turísticos de Granada são:

La Alhambra Monumento profundamente consagrado da civilização muçulmana e joia arquitetônica, no qual ainda se conservam restos dos banhos árabes, como também as várias fontes de água, que

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complementam sua rica decoração. Herança muçulmana, mas também presença cristã, já que após a reconquista, o imperador Carlos V edificaria ali seu palácio renascentista, que hoje é sede do Museu de Alhambra e Belas Artes. Está rodeado de muralhas de ladrilho e argamassa. Possui esplêndidos palácios árabes como o de Comares e uma rica decoração de azulejos policromados. Entrada em Alhambra Horários: Segunda-feira a domingo, das 8:30 às 18:00. Visita Noturna: 20:00 às 21:30 (sextas-feiras e sábados) Preço: 10 euros por pessoa Telefone: 902 441 221 Reserva por telefone: 902 224 460 www.alhambratickets.com

Serra Nevada Falar de Serra Nevada é falar de esqui, de snowboard; é falar de Andaluzia, de neve e de sol. Serra Nevada é um maciço montanhoso pertencente ao conjunto das Béticas. Transformou-se em um autêntico baluarte do setor turístico de Granada. Em 1986 foi declarada Reserva da Biosfera pela UNESCO e em 1999 grande parte de seu território foi declarado Parque Nacional por seus valores botânicos, paisagísticos e naturais. É o maciço montanhoso de maior altitude de toda Europa Ocidental, depois dos Alpes, e o teto da Península Ibérica, com o Pico Mulhacén, de 3.480 metros. Horários: Entre as 9:00 e as 11:00 são os horários em que há menor quantidade de público. Também entre as 13:00 e 15:00. É possível, contudo, entrar no local a qualquer hora do dia ou da noite.

Sacromonte Se há alguma palavra que possa descrever esse pitoresco bairro de Granada, é mistério. Os ciganos, segundo os registros, chegaram com as tropas cristãs dos Reis Católicos (para as quais trabalhavam como artesãos de metal) e se instalaram nesse bairro. Sua arte se mesclou com o mourisco e assim nasceu o flamenco e a zambra, expressão artística genuína da cidade de Alhambra. Sacromonte é arte, mas também cultura e patrimônio, que são sua expressão máxima. Em sua abadia são guardadas obras dos mais importantes artistas que trabalharam na cidade desde o século XVII. Suas misteriosas casas-grutas caiadas são uma mescla de cobre e cal; suas vielas são repletas de jardins de piteiras e figueiras da Índia, cravos e jasmim. Horário: terça-feira a domingo, 11:00-13:00; 16:00-18:00 Preço: 3 Euros As visitas são guiadas

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Palácio de Dar Al-Horra Construído no século XV, em pleno Albaicín, este palácio pertenceu à família real granadina, sendo a última morada da mãe de Boabdil, a princesa Aixa, a quem faz alusão o nome de Dar al-Horra. Sua estrutura e decoração são características da arte nazarí, apresentando dois andares e marcado em sua parte norte por uma torre. Todo o edifício gira em torno de um pátio central, ao redor do qual se distribuem quartos, pórticos e uma pequena fonte, cujas águas desembocam em uma piscina, debaixo da qual se localiza uma grande cisterna. Horário Segundas-feiras a sextas-feiras, das 10:00 às 14:00 Entrada grátis Muralhas do Albaicín No pitoresco bairro granadino de Albaicín se conservam numerosos vestígios dos altos muros que rodeavam Granada. Muitos deles pertencem ao período Zirí do século XI e são parte da alcaçova (nome dado à fortificação árabe) antiga ou “cadima”. Estas muralhas são grandes muros de alvenaria de sólido concreto, reforçados por pedra e ladrilho. Nesses restos se situam também numerosas torres e portas de acesso à cidade como a de Monaita, a das Pesas e também o Postigo de San Lorenzo.

Catedral Obra-prima do Renascimento espanhol, a Catedral da Anunciação foi declarada Monumento Nacional e Patrimônio de Interesse Cultural. Foi erigida junto à antiga Mesquita Maior e sua construção começou por iniciativa dos Reis Católicos em princípios do século XVI. A fachada principal, edificada em estilo barroco, deixa em um extremo a magnífica torre do campanário. A Capela Maior, de planta circular e muito elevada, põe uma nota dourada na brancura do conjunto, contando sua decoração com pinturas de Bocanegra e José Risueño. Conta com cinco naves de igual número de espaços equipados com capelas laterais, sobressaindo em todo o momento seus gigantescos pilares. Horários: Segundas-feiras a sábados, das 10:45 às 13:30 / 16:00-19:00 Domingos e feriados, das 16:00-19:00 Preço: 3 Euros

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Folha de Instrução Queremos que cada congressista tenha em conta cada uma das seguintes recomendações para uma melhor orientação e coordenação dentro do Palácio de Congressos: Vestuário Devido às temperaturas que se esperam durante o transcurso do mês, recomendamos que esteja bem agasalhado e tenha a mão suéteres, cachecóis etc. Durante as conferências você deve usar roupa casual e para a abertura e para o encerramento uma roupa formal. O Palácio de Congressos conta com calefação e serviço de chapelaria. Você pode sair agasalhado de seu hotel e quando estiver no Palácio ficar com a roupa adequada para o evento. Pontos de informação e recepção Foram destinados diferentes postos de informação nos andares 0, +1 e -2 do Palácio de Congressos. Ali se oferecerá toda a ajuda ou orientação que solicite. Assim também, o pessoal do andar da COMIBAM Internacional estará disposto a prestar-lhe a assistência que requeira. Equipe de voluntários Contamos com uma equipe de voluntários de aproximadamente 140 pessoas, devidamente identificadas, que estarão disponíveis durante todo o tempo do congresso para oferecer-lhes qualquer informação que necessite. Uso e segurança da informação Com o propósito de proporcionar um ambiente agradável e seguro para todos os participantes e para os que farão apresentações no congresso, além de assegurar a integridade e a boa gestão da informação a ser disseminada no mesmo, é necessário estabelecer certos parâmetros de segurança que nos ajudem com este fim. Durante o congresso se estará apresentando uma grande quantidade de informação na forma de palestras, informes orais e escritos, apresentações audiovisuais, resultados de investigações, entrevistas e discussões de grupos de trabalho, estatísticas e estratégias, entre outros. Para fins deste congresso, esta informação é considerada como informação privilegiada e sensível e é para uso exclusivo dos congressistas autorizados. Portanto, estará terminantemente proibido tirar fotos ou gravar eletronicamente por vídeo ou áudio alguma das apresentações dos missionários na sala principal García Lorca. Por esta razão, orientamos os congressistas que não será permitida a entrada de nenhuma câmera de fotos ou vídeo, gravador de áudio, nem celulares com câmera ou gravador integrado no horário da manhã. Somente à noite terão liberdade para tirar fotos ou filmar. Quanto à gestão e segurança da informação escrita, queremos orientar que este manual para o congressista e outras publicações deverão ser utilizados para propósitos exclusivos do congresso. Ninguém deve compartilhar ou expor tais materiais a pessoas estranhas ou em lugares alheios ao congresso. Cada participante será responsável pela administração e segurança de seu material escrito em todo o momento, durante o período do congresso, os traslados e a estadia no hotel. Por último, os congressistas deverão usar de discrição ao travar conversações e compartilhar informação sobre o congresso com outros participantes em lugares públicos, com familiares, amigos ou outras pessoas alheias ao congresso por telefone ou internet. Os nomes de pessoas, os nomes

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dos países e as atividades específicas que serão expostas durante o congresso são consideradas informação confidencial e, portanto, se solicita o maior esforço de cada participante e pessoa relacionada ao congresso para manter a dita confidencialidade. Chapelaria e espaço para deixar objetos não permitidos Para sua comodidade, foi destinado no andar 0 um lugar para que você possa deixar seus agasalhos ou roupas de inverno. Assim também, por razões de segurança, foi previsto ali mesmo um espaço para deixar os objetos não permitidos dentro da sala García Lorca, como câmeras de vídeo, câmeras fotográficas, celulares com câmera ou qualquer outro objeto que ponha em risco a segurança do missionário. Você pode ficar tranquilo ao deixá-los no lugar indicado e retirá-los com seu respectivo identificador. Recepção e entrega de objetos perdidos Para uma melhor coordenação, foram instalados dois balcões, nos andares 0 e -2, onde poderão ser entregues os objetos perdidos. Agora, para retirá-los, deverá fazê-lo unicamente no andar +1. Não esqueça de ter sempre à mão seu identificador, sem o qual não se fará entrega de nenhum objeto ou documento. Venda de cartões telefônicos No balcão dos andares 0, +1 e -2 haverá um ponto de venda para facilitar a compra dos cartões para chamadas internacionais. Enfermaria Você pode recorrer ao andar -2, onde poderá ser atendido por equipe profissional se vier a apresentar uma necessidade médica. Escritório de turismo No andar 0 você encontrará um escritório de turismo, onde terá informação detalhada da cidade e de locais de interesse. Poderá obter mapas, rotas etc. Agência de viagens Está localizada no andar +1. Ali poderão oferecer a você os diferentes pacotes turísticos a um preço acessível. Restaurante ou refeitório Está localizado no andar -3. Não se esqueça de ter sempre à mão seu identificador respectivo. Isto fará com que o acesso ao local seja mais rápido para não ocasionar demoras na entrada. Área de stands e bazar missionário No andar +1 estará instalada toda a área de materiais, ferramentas missionárias, informação completa de campo e de missões, artigos e curiosidades típicas dos diferentes campos missionários etc.

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Seção 2

Programa e informação geral

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III CONGRESSO MISSIONÁRIO IBERO-AMERICANO

PROGRAMA GERAL

Granada, Espanha – 13 a 17 de novembro de 2006

Horário Segunda-feira, 13 Terça-feira, 14 Quarta-feira, 15 Quinta-feira, 16 Sexta-feira, 17

7:00 – 8:00 C

H

E

G

A

D

A

CAFÉ DA MANHÃ

8:00 – 9:00 TRASLADO HOTEL – PALÁCIO DE CONGRESSOS

9:00 – 10:20 Mensagem à igreja ibero-americana

Música, intercessão, vídeo de testemunho, mensagem de obreiros

10:20 – 11:30 Painel: Propostas de solução baseadas na investigação de campo

12:00 – 13:00 Mesas aleatórias de trabalho, reflexão e conclusões

13:00 – 14:30 ALMOÇO

14:30 – 16:00 Consultas temáticas

T L

A I

R V

D R

E E

Consultas temáticas

16:00 – 17:00 Mesas nacionais de trabalho. Propostas de mudanças no movimento

Mesas nacionais de trabalho. Propostas de

mudanças no movimento

17:00 – 18:30 Grande bazar ibero-americano de missões

“O mundo em suas mãos”

Grande bazar ibero-americano de missões

“O mundo em suas mãos”

18:30 – 20:30 ABERTURA

Missões ao pé da cruz David Ruiz

Desafio missiológico

Missões em meio à perseguição, Ir. Yousef – Missões a partir da pobreza, Pr. Sekar – Missões em meio ao martírio, Dr. Bob Fu

ENCERRAMENTO

Um novo capítulo de atos

Carlos Scott

20:30 TRANSLADO PALÁCIO DE CONGRESSOS – HOTÉIS - JANTAR

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Distribuição de salas das consultas temáticas

Consulta temática Nome da sala Localização Horário

Rede de centros de capacitação Restaurante B P 0 14:30 às 16:00

Rede de igrejas e pastores Restaurante A P 0 14:30 às 16:00

Rede de estruturas de envio Seminário 3, 4 e 5 P +1 14:30 às 16:00

Cuidado integral Sala Andalucía 2 e 3 P +1 14:30 às 16:00

Alcance uma Etnia Sala García Lorca P -2 14:30 às 16:00

Alianças Estratégicas Sala Manuel de Falla P +1 14:30 às 16:00

A mulher e a missão Sala Albeniz P -2 14:30 às 16:00

Intercessão Sala Picasso P -2 14:30 às 16:00

Linguística e Tradução Sala Andalucía 1 P +1 14:30 às 16:00

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Mesas nacionais de trabalho (Distribuição por países)

País Nome da Sala Localização Horários

Argentina Sala Machuca P -2 16:00 às 17:00

Bolívia Restaurante A- A1 P 0 16:00 às 17:00

Brasil Sala Albeniz P -2 16:00 às 17:00

Canadá Seminário 1 e 2 P +1 16:00 às 17:00

Chile Sala García Lorca M P -2 16:00 às 17:00

Colômbia Sala Machado P -2 16:00 às 17:00

Costa Rica Seminário 3 e 4 P +1 16:00 às 17:00

Cuba Despacho D5 P -0 16:00 às 17:00

El Salvador Sala Andalucía 1 P +1 16:00 às 17:00

Espanha Zona D P -3 16:00 às 17:00

Estados Unidos Zona B P -3 16:00 às 17:00

Guatemala Sala Picasso P -2 16:00 às 17:00

Honduras Seminário 6 P +1 16:00 às 17:00

Nicarágua Sala García Lorca J P -2 16:00 às 17:00

Panamá Seminário 7 P +1 16:00 às 17:00

Paraguai Sala García Lorca G P -2 16:00 às 17:00

Peru Restaurante A- A2 P 0 16:00 às 17:00

Portugal Sala Andalucía 2 P +1 16:00 às 17:00

Porto Rico Zona C P -3 16:00 às 17:00

República Dominicana Seminário 5 P +1 16:00 às 17:00

Uruguai Sala García Lorca B P -2 16:00 às 17:00

Equador Restaurante B- B2 P 0 16:00 às 17:00

México Sala Manuel de Falla P +1 16:00 às 17:00

Venezuela Restaurante B- B1 P 0 16:00 às 17:00

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Marco histórico

III Congresso missionário ibero-americano, COMIBAM 2006

David D. Ruiz M.

Para muitos de nós, a chegada ao congresso foi por demais cansativa, não apenas pelas longas horas em voos transatlânticos e sim, particularmente, pelos esforços e, inclusive, os sacrifícios econômicos que têm sido necessários para cumprir este acariciado sonho: ser parte da história das missões a partir da Ibero América. Para aqueles que vem pela primeira vez a um congresso missionário ibero-americano, esta é uma ocasião histórica. O movimento missionário ibero-americano reúne um grupo seleto de missionários para avaliar o desenvolvimento e planejar os ajustes necessários para o futuro imediato. Este é um encontro histórico; tudo o que aqui suceda e que aqui seja gerado, passará a fazer parte da história das missões ibero-americanas. Este congresso, contudo, não é o começo e nem tampouco cremos que seja o final da história das missões a partir de nosso contexto. Este é um novo passo no processo de desenvolvimento do movimento missionário ibero-americano, um muito importante, com certeza, mas um novo passo de uma série de avanços que ainda se esperam do movimento. A história deste III Congresso Missionário Ibero-americano, sem dúvida, deve começar a ser contado a partir de 1916, quando um grupo de agências missionárias e obreiros, em sua maioria norte-americanos, se reúnem na cidade do Panamá para refletir sobre o processo e a metodologia de evangelização deste continente esquecido nos planejamentos de Edimburgo, ou ao menos relegado a um segundo plano entre eles. Ali começa o processo que levou a um decisivo impulso por investir recursos, tanto econômicos como humanos, em prol da evangelização do mundo. Entusiasmados, como às vezes nós ficamos quando fazemos planos para a evangelização dos não alcançados, consideraram que esta era a última fronteira: “o último da terra”, para usar as palavras da Bíblia. Parecia que esta parte do mundo poderia ser alcançada a par dos esforços que já se faziam na África e em algumas partes da Ásia e completar assim o desafio da evangelização nesta geração1, como era o lema de vida de seu promotor, John R. Mott2. Parece que, com honrosas exceções, apenas Brasil e Porto Rico assumiram sua responsabilidade de compartilhar o evangelho com outras nações – mais próximas para Puerto Rico e um pouco mais distantes para Brasil3. Os movimentos evangelizadores dos anos sessenta e setenta, cuja marca vemos tão bem plantada no continente, respondiam à bem aprendida lição: a proclamação como uma tarefa de evangelização local.

1 WEF books, the evangelicals. The story of a Great Christian Movement. Baker/Paternóster. P 144 2 Ruiz, David “Cambios paradigmáticos en el liderazgo global de las misiones” Manual da II Assembleia Internacional da COMIBAM, El

Salvador 2003 3 Ekström, Bertil. El Espíritu de COMIBAM. Ed. Patmos, Miami 2006

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Na década de oitenta se começou a dar oportunidade tanto a esforços de reflexão como de prática no sentido de colocar o evangelho disponível àqueles que não o tinham. Não importava se estes eram os grupos com os quais a igreja havia sido negligente em se aproximar (foram sensíveis ao movimento estudantil em vários países da Ibero América), se eram os grupos tribais latino-americanos ou os recém nomeados UPG (Unreachead People Groups), os “povos não alcançados”, cuja evangelização fora iniciada por algumas agências missionárias internacionais, ou até mesmo a própria expansão da igreja na primeira abordagem às redes ou denominações autóctones. É em meio a este tempo que surge o ardente desejo dentro de alguns líderes-chave do movimento evangélico latino-americano de pensar na realização de um congresso missionário ibero-americano: COMIBAM 87, como se chegou a chamar. Naquele tempo os números não eram parte do nome e não creio que alguém tenha pensado que aquele congresso era o primeiro congresso missionário ibero-americano. Creio que a maioria dos que participaram, tanto no aspecto ideológico como no prático, de visitas a cada país latino-americano, mobilizando, desafiando e unindo a liderança da igreja, nunca pensaram que estavam trabalhando para o primeiro de uma série de congressos. Sua motivação foi a de conseguir reunir em São Paulo, Brasil, um grupo significativo de líderes que pudessem, a maioria deles, ouvir pela primeira vez o chamado macedônico. Assim, trabalharam pela paixão de ver a igreja ibero-americana despertar para as missões mundiais. Eles alcançaram seu objetivo. Tal como dizia o compromisso adotado no final do congresso: “Unidos pelo desejo ardente de ser luz para as nações, nós, participantes do COMIBAM 87, fazemos esta declaração, confiando na ajuda do Senhor, na direção e no poder de sua Palavra e de seu Espírito, e convidamos a todos nossos irmãos e irmãs na Ibero América a se envolverem conosco no fiel cumprimento da missão que Ele nos atribuiu: “Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra (Atos 13:47)”4. COMIBAM 87 entrou para a história como a data em que a igreja ibero-americana começa a ansiada guinada de ser um campo missionário para chegar a ser uma força missionária, como o amanhecer de missões da América Latina em direção ao resto do mundo. Duas expressões, sem dúvida, descrevem aquele congresso. A primeira é “de campo missionário a força missionária” e essa nos exemplifica a mudança de paradigma que se iniciou na raiz desse evento na América Latina: ver a igreja nestas latitudes como uma igreja responsável em fazer chegar a mensagem de Jesus Cristo a todos aqueles que ainda não a haviam ouvido. Foi um grande desafio que se levantou naquela frase e naquele congresso porque um campo não pode ganhar força somente a partir da própria vontade. Alguém teria que trabalhá-lo, plantá-lo, esperar que a preciosa semente germinasse e então começar a cuidar da frágil plantinha pelo tempo que fosse necessário, até que produzisse o que é hoje a base da energia missionária e a si mesma se encaminhara para ser a força missionária ibero-americana. Para muitos, a espera foi muito longa; outros esperavam um milagre. Os primeiros saíram prematuramente ou, melhor dizendo, antecipadamente, porque ainda que alguns deles tenham voltado feridos, outros daqueles “Quixotes” continuam no campo. Mas os que ainda permanecem,

4 Declaração da COMIBAM 87, documentos resultantes do Congresso Missionário Ibero-americano, São Paulo, Brasil, novembro de 1987.

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nos recordam a segunda das duas expressões que descrevem naquele momento o congresso: “não com dólares nem com computadores, mas com meu Santo Espírito, disse o Senhor”. Uma paráfrase muito latino-americana do versículo de Zacarias 4.6, que nos lembra que o tempo de pensar nas missões latinas não era assunto de recursos e sim de urgência da tarefa e da obediência ao mandato do mestre. Os dez anos seguintes foram de trabalho árduo e de muitas emoções, vendo como aquela “pequena faísca podia acender um fogo”, como dizia um famoso coro que se cantava naquela época em muitos países latino-americanos. Durante esses anos foi que comprovamos ambas as coisas: por um lado, que o campo podia chegar a produzir a força para que a igreja ibero-americana cumprisse sua parte na evangelização do mundo e, por outro lado, que não era assunto de recursos. Muitas igrejas pequenas e pobres começaram a dar lições às grandes e ricas sobre como cumprir a grande comissão. COMIBAM 97, o II Congresso Missionário Ibero-americano, surgiu da necessidade sentida no movimento de fazer uma avaliação sobre o que haviam feito até aquela ocasião e de projetar uma nova imagem para o futuro do movimento. O II congresso, COMIBAM 97, se formou em meio de conquistas e muitas emoções. A contribuição do encontro entre agências e igrejas missionárias deixou claro que o movimento havia amadurecido até o grau de poder fazer uma autocrítica de seu desenvolvimento e apresentar os ajustes e ajustes necessários em seu curso de ação para ser mais efetivo. Este foi o chamado do II Congresso Missionário Ibero-americano, COMIBAM 97: “Uma avaliação e projeção do movimento missionário ibero-americano”. O enfoque da avaliação estava baseado, principalmente, no processo missionário. A seleção, a capacitação, o envio e o cuidado pastoral e supervisão no campo estiveram debaixo de escrutínio ali em Acapulco, México5. Sem dúvida, um tema deixado fora desta avaliação foi a ação social como obra missionária. Nesse momento era um elemento mais de divisão e de relativizar as posições que de unidade. Este tema não foi abordado oficialmente no congresso, porém, na agenda de Deus foi sim. Poucas semanas antes, o furacão Paulina atingiu seriamente o porto de Acapulco, deixando muita gente em necessidade. A chegada dos congressistas foi uma luz de esperança para muitos deles. Muitas delegações chegaram com duas malas: uma com suas coisas pessoais e outra com roupa e ajuda para o congresso. Quase cinquenta por cento dos congressistas saíram anunciando, para mostrar as mãos de Cristo entre os que sofreram danos. Sem dúvida, nenhum deles entendeu o que significava COMIBAM ou Missiologia ou, ao menos, povos não alcançados, mas todos eles souberam o que significava o amor nas mãos dos que chegaram. Como diretor do congresso, fiquei petrificado frente ao noticiário quando o presidente do México anunciou a um grupo de vítimas que, em poucos dias, pessoas de toda a América Latina viriam para dar a eles um pouco de esperança (eu havia acabado de lhe enviar um convite para assistir o congresso, justamente com essas palavras). E assim foi. O II Congresso Missionário Ibero-americano transformou o movimento. A partir do dia do encerramento, se começou a planejar a “iberoamericanização”. Em outras palavras, o desejo de redobrar os esforços para que a Península Ibérica assumisse um papel significativo na COMIBAM.

5 Ver: Declaração da COMIBAM 97, documentos resultantes do II Congresso Missionário Ibero-americano, Acapulco, México. Novembro de 1997

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Também se cuidou da regionalização da Ibero América, que havia permitido uma potencialização para desenvolver os movimentos missionários nacionais, da definição do modelo administrativo do movimento e, sobretudo, de seu esquema de relevância de liderança, que evitara o caudilhismo e mantivera a direção do movimento conectada com os movimentos missionários ibero-americanos. Agora, este III Congresso COMIBAM 2006 é uma afirmação categórica de que se alcançou o objetivo planejado no COMIBAM 97. O congresso se realiza na Península Ibérica, tendo a igreja espanhola um protagonismo significativo. Além disso, o processo de seleção e de organização das delegações, assim como a definição daqueles missionários que viriam a este congresso, estiveram nas mãos dos diretores regionais em aberta comunicação com seus países participantes. Para cada um que está neste congresso há pelo menos mais três que deveriam vir e não puderam por falta de espaço ou de recursos. Isto demonstra que o movimento missionário ibero-americano é maior do que aquele que vimos aglutinado no COMIBAM 2006. Este congresso, contudo, tem também sua própria proposta, uma proposta muito concreta: ver as missões a partir da perspectiva do campo. É justamente agora que devemos fazer uma autocrítica também sobre nosso fruto entre os não alcançados. Precisamos avaliar se temos sido fiéis ao chamado de estabelecer a igreja entre as etnias não alcançadas. Devemos analisar como estas igrejas se veem à luz da Palavra projetada a partir delas. Este é o tempo certo para que, com a seriedade que a obra missionária demanda, examinemos como têm atuado nossos obreiros com relação à cultura de seus locais de trabalho, com a igreja autóctone e com o desenvolvimento missiológico que se tem obtido sob essas condições. É necessário que o movimento escreva uma missiologia que, firmemente baseada na Bíblia, nos permita refletir sobre a melhor maneira de trabalhar no campo. Necessitamos de uma autocrítica também a respeito da forma com que temos atuado como igrejas enviadoras. Devemos considerar se temos sido responsáveis com nosso chamado de levar as boas novas até o último da terra. Como igreja ibero-americana, é nosso dever examinar em que medida temos cumprido nossos compromissos e, sobretudo, se temos acompanhado responsavelmente os missionários em todo seu processo de campo ou os temos deixado esquecidos na linha de frente. Sem dúvida, seremos parte da história das missões que ocorrem a partir da Ibero América. No dia de hoje se começa a escrever uma nova página e estou seguro que, como nos outros dois congressos, esta página é também o início de um novo e glorioso capítulo da história das missões. Pessoalmente estou na expectativa pelo que há de suceder neste congresso, mas me embarga uma grande emoção só de pensar no que acontecerá dentro do movimento missionário ibero-americano como consequência deste encontro. Deus nos trouxe aqui, como diz Isaías:

“Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo; porque o SENHOR irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda”. Isaías 52.12

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Visão, missão e objetivos do congresso Este é um tempo propício para voltar a avaliar o movimento missionário ibero-americano, mas desta vez valendo-nos da vantagem dos anos de experiência de campo que Deus nos tem permitido desenvolver. Com base neste sentimento e com a necessidade de olhar objetivamente para os processos e para os frutos em meio aos não alcançados sonhamos ver neste congresso o seguinte: Visão “Que haja mais fruto entre os não alcançados” Missão “Que o movimento missionário ibero-americano se reúna para examinar, melhorar e multiplicar o fruto entre os não alcançados” Objetivos a) Conhecer o resultado dos esforços de evangelização transcultural entre os não alcançados: seus

desafios e frustrações; b) Escutar a experiência do campo para aprender lições objetivas do processo missionário; c) Fazer os ajustes necessários para ser mais efetivos no campo; d) Ajudar a igreja ibero-americana a multiplicar seus esforços entre os não alcançados. Expectativas Obter uma retroalimentação a partir dos campos missionários. Queremos escutar em primeira mão as experiências e os resultados obtidos pelos obreiros ibero-americanos entre os povos não alcançados ou menos evangelizados. Além disso, entender a realidade do trabalho no campo, suas expectativas, suas frustrações, seus erros, suas petições para o movimento no continente e seus conselhos para prosseguir no avanço do trabalho missionário da Ibero América. Necessitamos ter relatórios atualizados sobre os tipos de ministério que se estão desenvolvendo, experiências pessoais, problemas de trabalho em equipe, processos financeiros etc. Gerar uma reflexão dos processos de ajustes necessários. Espera-se, durante o congresso e por meio de diferentes dinâmicas de trabalho em grupos, oficinas, consultas nacionais e outras, definir quais são os ajustes necessários que devem ser levados em conta para melhorar e incrementar o trabalho dos ibero-americanos no meio dos povos não alcançados. Cada uma das etapas do processo missionário (seleção, capacitação, envio, cuidado pastoral etc.) deve ser analisada à luz da experiência comentada do campo. Projetar a implementação dos ajustes no movimento a partir da Ibero América e a partir do campo. Uma das ferramentas mais valiosas do congresso é a de reativar, fortalecer ou dinamizar os processos que já estão sendo realizados pela Ibero América em missões. Por esta razão, é vital que o congresso tenha gerado uma plataforma prévia (processo anterior ao congresso) e um trabalho coordenado que se desenvolva nos anos posteriores. Em meio a consultas especializadas no congresso e consultas nacionais prévias e posteriores, deve-se definir quais são os próximos passos na tarefa missionária e como se pode e se deve incrementar os ajustes no seio do movimento.

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Bazar ibero-americano Em nossos melhores tempos, no meio das ruas e praças da Ibero América, por muitos anos vem sendo desenvolvido um estilo de compra e venda que, ao final, se converteria em um dos modelos de relacionamento pessoal de mais sucesso e de proximidade às culturas de nossas terras. Este modelo foi chamado de mercado por várias gerações, mas com o passar dos anos, foram sendo atribuídos diversos outros nomes, entre eles: bazar, mercado das pulgas, feira etc. Das cidades até aos povos pequenos e mais distantes, sempre tem havido alguma oportunidade de encontrar e compartilhar com seus conterrâneos um momento social e amistoso em meio às compras. Neste III Congresso Missionário Ibero-americano estamos evocando este conhecido sistema, tratando não apenas de resgatar nossos valores autóctones, como também querendo alcançar os mesmos objetivos, de uma forma amena, informal e amistosa. O objetivo central deste tempo no congresso é o de criar um ambiente que possa propiciar o encontro entre enviados e enviadores no marco de um momento descontraído, informal e pessoal, onde possamos ter uma aproximação e conhecimento mais íntimo do que nossos obreiros estão realizando no campo. Esperamos que as conversas de corredor, os intercâmbios de sonhos e estratégias, as histórias de sucesso e de fracasso nos ajudem a compreender melhor, e em outro formato pedagógico, o que estamos enfrentando nos campos atualmente, como também os desafios que temos pela frente. O bazar será realizado no andar +1, onde os missionários terão um espaço para colocar todas as coisas típicas que tenham trazido dos países onde servem. Tudo isto será exposto no estilo dos melhores “bazares” latinos, no chão, sobre mantas artesanais e tapete de cores que possam mostrar a diversidade cultural de lugares onde Deus nos está permitindo chegar e ministrar a sua Palavra. Cada um de nós terá também a oportunidade de conhecer mais de perto as culturas nas quais, como movimento ibero-americano, estamos chegando. Os diversos trajes culturais e artesanatos que possamos comprar, não só servirão para ajudar os obreiros, como também para, no regresso, levar a nossas igrejas amostras representativas destes lugares da terra que necessitam de nós neste tempo. Como delegado de seu país, você não pode nem deve perder este tempo que consideramos de alto valor neste congresso, dado que o campo e seus atores (missionários) são a coluna vertebral desta parte do projeto investigativo. O objetivo é descobrir como temos que ajustar os processos missionários em nossas latitudes para ser cada dia melhores mordomos do que o Senhor das nações tem colocado em nossas mãos. Desfrute deste tempo ao máximo, compartilhando de coração aberto com a maior quantidade de missionários ibero-americanos que possa.

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Seção 3

Apresentações dos missionários

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Mensagem à igreja: Preocupações e reflexões

Antonio Peralta Olhar atrás sobre duas décadas de semeadura e colheita no mundo muçulmano, para tentar extrair de todas elas algumas lições para o futuro da obra missionária transcultural a partir da Ibero América, não é nada fácil para mim. Sempre tenho sido mais de me concentrar nos desafios do presente e do futuro que em recordar os acertos e desacertos do passado. Contudo, dado que nosso Pai tem tanta paixão por estender a todas as etnias do mundo as magníficas bênçãos de justificação pela fé e de recepção de seu Espírito prometidas a seu amigo Abraão (Gálatas 3. 8,14), temos que empregar nossos melhores esforços de reflexão para tentar buscar as formas de proporcionar a nosso amado Redentor toda a satisfação que Ele merece6. Entendo que é isto que se busca nesta conferência da COMIBAM. Vinte anos de convivência e testemunho numa sociedade islâmica não podem deixar de ter um impacto sobre nossa perspectiva das coisas. Nas vezes em que temos voltado, com minha esposa, para visitar as igrejas da América Latina, temos comentado diversos contrastes entre os dois contextos e também notado algumas tendências do evangelho latino contemporâneo que nos preocupam, por parecermos empecilhos no que se refere a levar o “evangelho da graça de Deus” a povos como os muçulmanos (Atos 20.24). Com toda humildade e respeito, gostaria de compartilhar cinco destas preocupações nesta “Mensagem à igreja ibero-americana”. Seria desnecessário dizer que necessitamos de uma igreja missionária para realizar a obra missionária, por isso minhas reflexões são dirigidas não apenas às congregações aqui representadas, como também às muitas outras que ainda não estão participando das missões transculturais. Confio que o Espírito de Deus confirmará as coisas que Ele considera importantes e descartará as demais. O humanismo cristão A primeira preocupação que vem à minha mente é o que se chama, em uma contradição de termos, “humanismo cristão”. Refiro-me à marcada tendência de muitíssimos crentes de transferir a cosmovisão predominante de nossas sociedades ocidentais modernas para sua experiência religiosa, mantendo-se eles no centro de seu novo universo cristão: “a coisa mais importante é meu bem-estar, a felicidade e a realização. Deus está aqui para me salvar, me ajudar, me abençoar, me fazer prosperar, me curar e me conceder todos os desejos de meu coração (Salmo 37.4). Mediante minha fé, meus jejuns, vigílias, dízimos, ofertas e participação em todos os cultos, posso conseguir que Ele me dê o que eu quero”. Até na obra missionária facilmente caímos, ao tornar nossos contatos, projetos ou convertidos o foco principal de nossa atenção e adoração. A contradição, com certeza, tem suas raízes no universo cristão, que já tem um centro. Esse centro não é nem você e nem eu (nem a sua igreja e nem minha denominação) e sim o Sol de justiça (Malaquias 4.2). Aquele que morreu, ressuscitou e voltou a viver para ser Senhor (Romanos 14.9), a quem pertencem as nações e quem merece recebê-las como oferta, por quem e para quem foram criadas todas as coisas, e a quem corresponde, em tudo, ter a primazia (Romanos 15.16; Colossenses 1.16,18).

6 Isaías 53.11. Considero interessante pensar que nós, os herdeiros modernos do “pai da fé” nos encontramos a igual distância que

ele (dois mil anos) da encarnação, crucificação e ressurreição do “Herdeiro de todas as coisas” (Hebreus 1.2) Será que já chegou a hora de se completar o grande projeto missionário que Deus anunciou primeiramente a Abraão?

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Vindo de um contexto onde os cristãos são perseguidos, acho bastante desconcertante encontrar na televisão e em muitos de nossos “cultos-show” um evangelho-oferta ou “light”, que nos diz exclusivamente o que desejamos ouvir. Sem perigo de ofender: todo amor, emoção e satisfação para mim. Não se fala, porém, de temas como ira, pecado, julgamento, condenação, sacrifício, sofrimento ou martírio. Muitas vezes fiquei na dúvida se haveria o mesmo custo de “caro” na América Latina e no mundo muçulmano para seguir a Jesus. Quantos membros teriam nossas congregações? No Norte de África não se pergunta – e aqui não deveríamos perguntar tampouco – quem quer aceitar a salvação? A pergunta é: quem quer entregar-se, de corpo e alma, a este Senhor e Salvador? Se não conseguimos restaurar e manter em nossas igrejas e em nossa ação missionária um cristocentrismo radical, com Jesus Cristo, o Senhor, como princípio e fim de todas as coisas (não um simples meio para algum objetivo nosso), seria melhor (e muito mais honesto) que nos uníssemos à Nova Era para abertamente adorarmos a nós mesmos. Teríamos perdido toda relevância espiritual e toda possibilidade de ser verdadeiros portadores da luz do evangelho da glória de Cristo para os povos que ficaram cegos pelas idolatrias e mentiras do deus deste século (2 Coríntios 4.4-5). No campo missionário necessitamos de obreiros com uma visão grandiosa de Cristo, apaixonados por Ele e por sua glória entre todas as nações. A teologia de resultados Uma segunda preocupação é que parece haver-se popularizado nesta época de abundante colheita na América Latina, uma mentalidade que eu chamo de “teologia de resultados”. Em outras palavras, se tudo sai fácil, sem maiores complicações ou contratempos, e se logo se vê o fruto que se esperava, então podemos saber que era a vontade de Deus. Se é o contrário, então não; significa que a vontade de Deus é que concentremos todos nossos esforços naqueles povos e lugares onde se pode obter a maior colheita com o menor investimento de tempo, esforço e dinheiro. Ainda que critérios desse tipo possam resultar proveitosos para empresas com fins lucrativos, nunca têm servido para discernir a vontade de Deus. É pedagógico examinar o contexto da clássica passagem do chamado missionário que encontramos em Isaías 6: Deus chama, Isaías responde e os resultados são incompreensão, rejeição e destruição, mas também a promessa de um eventual pequeno renovo. Necessitamos urgentemente recuperar uma teologia de obediência, na qual qualquer esforço e qualquer sacrifício valem a pena, se é que quem nos pede é Aquele de quem somos e a quem pertencemos (Romanos 14.8; 1 Coríntios 6.19-20). Recordo-me das palavras de um irmão norte-africano comentando sobre o costume de orar para que houvesse mais liberdade para a propagação do evangelho: “Não precisamos de mais liberdade; precisamos de mais obediência!”. A obediência aos mandatos divinos – quando não tem sentido aparente e quando é contrário ao que naturalmente gostaríamos de fazer– é a única forma que temos de demonstrar a Deus as duas coisas que Ele mais valoriza: nossa fé e nosso amor7. Além disso, a obediência de fé, sem ver resultados, pareceria ser o cimento espiritual sobre o qual o Senhor se agrada de edificar todos seus grandes projetos. Podemos pensar no pai da fé, Abraão, como também no Autor e Consumador da fé, Jesus Cristo. Abraão recebeu promessas divinas de que possuiria toda a terra de Canaã e que teria descendentes como a areia do mar, mas morreu com apenas um filho dessa promessa e um pedacinho de terra onde foi enterrado, junto a sua esposa

7 Hebreus 11.6, 8, ss.; Tiago 2.14-26; João 14.21-24 (É interessante notar no Novo Testamento várias expressões com “obedecer”

que hoje costumamos usar com “crer”: obedecer à fé, obedecer ao evangelho, obedecer à verdade. Não se pode crer realmente sem obedecer. (Atos.6.7; Romanos 1.4; 2.8, 10.16, 16.26; Gálatas 3.1, 5.7, 2Tessalonicenses1.8, 1Pedro 1.22, 4.17).

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Sara. Contudo, não se enfraqueceu na fé, nem tampouco duvidou, mas se fortaleceu na fé, dando glória a Deus; plenamente convencido de que Ele era também poderoso para fazer tudo o que havia prometido (Romanos 4.19-21). Hebreus atesta: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as... por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus” (Hebreus 11.13,16). Jesus Cristo, o exemplo supremo, é quem nos envia como Ele foi enviado. Sendo dono do universo, obedeceu até a cruz a vontade do Pai, mas morreu abandonado por todos e possuindo apenas a roupa que vestia. Como resultado dessa fé em obediência radical, hoje nós, os descendentes espirituais de Abraão e de Jesus Cristo, somamos milhões. Algo parecido aconteceu também em cada um de nossos povos ibero-americanos. Houve uma ou mais gerações de semeadura sob sacrifícios por parte dos portadores iniciais da fé, que, quase sem ver resultados, persistiram em obedecer a seu Capitão, alguns inclusive sofrendo morte de mártir. Mas a grande colheita que vemos hoje em nossas nações devemos (muito mais que a métodos ou estratégias modernas) à fidelidade e à obediência que eles estiveram dispostos a dedicar. Agora cabe a nós expressar nossa gratidão e saldar nossa dívida, fazendo o mesmo por outros. No campo missionário necessitamos de obreiros comprometidos em seguir e obedecer a Cristo em tudo, custe o que custar. O ativismo narcisista A terceira preocupação que destaco é o “ativismo narcisista”. Vivemos em uma época cada vez mais frenética. Quando volto do Norte da África para a América do Sul, me chama a atenção a grande quantidade de cultos e outros programas que têm as igrejas dentro de seus templos e a pressão que exercem para que todos os membros participem dessas atividades. O preocupante para mim é que parece que não temos outra meta além do número de participantes nas reuniões, e que nos conformamos com simplesmente oferecer entretenimento aos crentes, mantendo relações interpessoais superficiais, carentes de autenticidade e de compromisso mútuo. Com frequência deixamos que nossos programas, incluídas nossas atividades missionárias, ganhem maior importância que as pessoas; às vezes, inclusive a Pessoa que deu tudo de si por amor a nós. Parece que esquecemos que o atrativo mais poderoso e imperecível do cristianismo é a pessoa de Jesus Cristo, a possibilidade de ter uma relação pessoal com alguém tão incomparavelmente belo como Ele e de integrar uma família de pessoas que procuram deixá-Lo reproduzir em suas vidas Sua maravilhosa personalidade. O pouco espaço que ocupa em nosso ativismo evangélico esta formação personalizada do caráter de Cristo no crente limita seriamente a possibilidade de levar adiante a missão na maneira como o Senhor a concebeu e a praticou: “designou doze para estarem com ele”; “façam discípulos… e ensina-os a obedecer”; “os predestinou para que fossem feitos conformes à imagem de seu Filho”; “até que Cristo seja formado em vós”; “apresentemos todo o homem perfeito em Cristo”8. Há um aspecto da formação do caráter de Cristo que Ele mesmo destacou como fundamental para que o mundo possa chegar a conhecê-lo: nosso amor e nossa unidade (João 13. 35; 17. 21). Nos anos em que tenho supervisionado equipes de obreiros entre povos muçulmanos, o que mais me tem entristecido é ter que combater os conflitos interpessoais não resolvidos de irmãos e irmãs,

8 Citações extraídas de Mateus 28.19-20; Romanos 8.29; Gálatas 4.19 e Colossenses 1.28.

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incapazes ou sem disposição para falar sinceramente de seus problemas, para perdoar de coração as ofensas, para se humilharem, se reconciliarem e marcharem juntos por amor a Jesus e em obediência ao novo mandamento que Ele nos deixou. Irmãos, o obreiro que não tenha demonstrado claramente em seu caráter a capacidade crucial cristã do perdão e da reconciliação, melhor que não saia ao campo, onde somente estará contradizendo com sua vida a mensagem que prega! A partir da perspectiva do que o campo requer, e relacionando sempre com o que chamo de nosso “narcisismo” evangélico ibero-americano, há uma preocupação a mais que gostaria de mencionar: nosso testemunho demasiadamente centrado em nossos templos e baseado em terminologia e rituais, é muito difícil que uma pessoa não evangélica possa entendê-lo. A maioria dos evangélicos parecem conhecer apenas um método de evangelismo: convidar o não convertido à igreja. Para poder preencher a expectativa de Jesus, de que sejamos luz e sal em nossa vizinhança e entre as nações, temos que nos dedicar muito mais, como Ele, a sair de nossos recintos e estar no mundo. Cristo relacionou nossa luz com as boas obras que queria que realizássemos no meio da sociedade (Mateus 5.16). A reiterada exortação bíblica para nos dedicarmos a fazer boas obras, que sejam expressões visíveis da compaixão e do interesse de Deus pelas pessoas, é algo que como evangélicos temos que aprender a acatar se queremos ganhar o privilégio de sermos escutados. No campo missionário precisamos de obreiros com o Espírito e o caráter de Jesus, experimentados no perdão e na reconciliação, que sabem relacionar-se com as pessoas e demonstrar a elas, de forma prática, a bondade e a misericórdia de Deus. O sionismo evangélico Vindo de um contexto árabe, francamente considero chocante ver a ingenuidade com que tantas igrejas evangélicas latino-americanas se têm identificado com diversos aspectos do sionismo (como o uso em destaque da bandeira israelense) e a facilidade com que, em nome de um suposto “cumprimento de profecia”, se justifica quase qualquer ato que possa cometer alguém do povo escolhido. Pergunto-me se alguma vez nos colocamos a pensar o quão distante isto se situa da mensagem universal de todos os profetas e apóstolos bíblicos, que não hesitavam em proclamar o juízo de Deus sobre todo pecado humano, sem acepção de pessoas (Deuteronômio 10.17; 2 Crônicas 19.7; Gálatas 2.6; Romanos 2.11). É essencial que nós, hoje em dia, assim como os discípulos de outrora, deixemos o cumprimento das profecias e os pormenores da escatologia nas mãos do soberano Senhor da história e nos dediquemos à tarefa que Ele nos encomendou: viver e anunciar entre todos os povos (inclusive os judeus) o único evangelho de salvação, que é por meio do arrependimento e da fé em Jesus Cristo para todo aquele que crê (João 3. 16; Romanos 1.16). Mais ou menos relacionado com este tema do sionismo evangélico, me parece que está a tendência que percebo em muitos círculos evangélicos de entrelaçar o reino de Deus e os interesses nacionais dos países onde os crentes são numerosos ou influentes. Aparentemente cremos que com o poder político, econômico ou militar deste mundo podemos fazer avançar o reino que “não é deste mundo”. Quando na imprensa nacional de muitos países muçulmanos aparecem regularmente artigos atribuindo a belicosa política estrangeira do atual presidente estadunidense à sua fé evangélica e à influência dos evangélicos na política norte-americana, a única coisa que me resta é preocupar-me com a credibilidade do evangelho que estamos comunicando a esses povos. Assim também, quando ouço reconhecidos líderes cristãos apoiando publicamente, como supostos porta-vozes de todas as igrejas evangélicas, empreendimentos como a invasão ao Iraque ou o bombardeio

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ao Líbano. Somente posso perguntar-me quando e como será que o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo, chegará a ser compreendido pelos iraquianos, libaneses, sírios, palestinos etc. Faríamos bem, como indivíduos e como igrejas, se decidirmos claramente, como o fizeram há muito tempo Josué e Elias (Josué 24.15, 1Reis 18.21). Qual reino queremos representar? O de Jesus ou algum outro? Recordando que ninguém pode servir a dois senhores. No campo missionário necessitamos de obreiros dedicados exclusivamente a Jesus, a Seus valores e a Seu reino. Homens e mulheres que não façam acepção de pessoas ou povos, e que deixem o futuro nas mãos do Mestre. A arrogância partidária A última preocupação que quero mencionar é novamente uma que creio que é percebida mais facilmente no campo muçulmano, onde os seguidores de Jesus, até onde se sabe, são mais ou menos um em cada 50.000 pessoas. Ante a realidade de tantos povos não alcançados, é triste escutar de projetos missionários que, no final, são somente esforços para que, em lugares que já contam com várias igrejas evangélicas, haja outra de nossa denominação. O desejo de fincar nossa bandeira, seja como igreja, denominação ou agência, costuma ter muito mais a ver com o orgulho da carne que com o Espírito de Cristo. Nem nossas denominações, nem minha agência missionária irão ao céu, apenas pessoas redimidas pelo sangue do Cordeiro. No país onde eu sirvo, os líderes das aproximadamente trinta pequenas igrejas secretas nacionais (uma por cada milhão de habitantes) decidiram que não querem usar, nem que se lhes imponha de fora, rótulos denominacionais. Eles são simplesmente membros de Kenisat Nur (Igreja A Luz), ou Kenisa Kalimat Al Hayiat (Igreja Palavra de Vida) de tal ou qual cidade. Creio que como obreiros estrangeiros cabe-nos respeitar esse desejo. Será que podemos fazer isso ou nossa arrogância partidária finalmente nos trairá? Entre as agências missionárias, às vezes acontece algo parecido: é preciso reinventar a roda, criar toda outra estrutura de supervisão e apoio simplesmente porque a agência que já tem equipes trabalhando nesse lugar não é nossa, e ao final, de quem serão os resultados? A arrogância partidária ou denominacionalista (ou étnica, ou classista, ou nacionalista), como qualquer outra idolatria, traz em si grave perigo, pois estamos tratando com o Deus zeloso, que resiste aos orgulhosos e que não dará sua glória a outro (Êxodo 34.14; 1Pedro 5.5; Isaías 42.8). No campo missionário necessitamos de obreiros humildes, temerosos a Deus e respeitosos com seus irmãos, de coração amplo e mente aberta, desejosos de servir a Jesus junto com todos os que, com um coração limpo, invocam o Senhor. Gostaria de terminar com aquela doxologia do missionário Paulo, ao final de sua Epístola em Romanos 16.25-27: “…àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações, ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém”.

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Mensagem à igreja: As boas intenções não são suficientes

Humberto Coello Esta reflexão é uma série de eventos de tudo aquilo que está acontecendo nos campos missionários com respeito à capacitação, envio, sustento e pastoreio dos obreiros. Dou graças a Deus pela oportunidade de estar neste congresso e de ter, ao mesmo tempo, a possibilidade de compartilhar para a edificação do corpo do Senhor. Há uma só igreja: a igreja de Cristo. Nós, como igrejas latinas, ibero-americanas ou hispânicas, devemos responder ao chamado e assumir o papel para o qual Deus nos criou. Nestes treze anos no campo, Deus nos tem ensinado numerosas coisas e algumas delas nos têm custado muito suor e lágrimas. Um dos princípios que temos aprendido, e que gostaria que juntos meditássemos, é este: “As boas intenções não são suficientes”. Ninguém pode discutir que definitivamente temos avançado mais no desafio das missões, mas também é inegável que temos aprendido muitas coisas neste caminhar. Temos o objetivo de enviar gente ao campo e de ganhar pessoas para Cristo, o desejo de apoiar muitas e boas intenções etc. Mas um dos problemas que se tem no campo é que está chegando gente com boas intenções, mas sem um verdadeiro compromisso, sem um verdadeiro chamado. E, sem exagerar, às vezes nós temos que cuidar mais deles que dos grupos terroristas ou da polícia. Gostaria de apresentar uma analogia com o matrimônio, por exemplo: quantos casados temos reunidos neste recinto? Há alguém dentre nós que pediu sua esposa em casamento e lhe disse: “olha, eu te amo, vamos casar e se não der certo nos divorciamos”. Claro que não! Isto implica um compromisso real. Em nossa realidade devemos casar e nos comprometer com a visão e a missão. Nós, no campo, não queremos “namoradas sem compromisso”. Ansiamos por pessoa decidida por Deus e pela obra, disposta a pagar o preço. O campo não precisa de pessoa sem preparo, que nunca foi discipulada nem levada a um estudo bíblico, que não conhece um processo transcultural etc. Mas tampouco precisa de pessoa tão capacitada em termos de doutrina, que mostre falhas de caráter, que crê saber tudo e não se sujeita a aprender mais. Mas pior ainda, o campo não precisa de pessoas que pensam que sabem tudo, que têm complexos, feridas em seu coração e não sabem trabalhar em equipe. Aqui há algo a esclarecer e eu gostaria que este paradigma que nos ensinaram seja modificado: “Ser latino é suficiente, ser latino é ser bem-sucedido no campo”. Isto não é verdade. Certamente ser latino ajuda muito devido à nossa cultura, nossa paixão, flexibilidade e calor, mas isso não assegura o êxito no campo missionário. Se queremos conquistar as terras para Cristo, devemos enviar o melhor que temos: gente com um chamado genuíno e verdadeiro, pessoas capacitadas da melhor maneira. Entre os muitos obreiros chamados e capacitados há mais um problema que nos é apresentado: as finanças. Precisamos buscar soluções alternativas para poder enviar esse pessoal qualificado ao

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campo. Há que se buscar novas maneiras para enviá-los. Agora, quanto ao envio devemos ser cuidadosos. Como os enviamos? Nesta época de comunicações tão avançadas, e depois do que se tem experimentado, creio que devemos começar uma nova etapa em missões. É muito triste vislumbrar, a partir de nossa perspectiva, tanta gente capacitada, mas tão solitária. Pessoas que comumente temos denominado “cavaleiros solitários”. Muitas delas com chamados verdadeiros e grande capacidade, mas com uma preparação pobre no momento em que foram enviadas, gerando como consequência uma frustração no campo, sem apresentar resultados. Creio que é o momento de começar a criar plataformas de recepção no campo muito mais produtivas. Devemos trabalhar com as pessoas que já estão nos campos missionários e com as igrejas locais. Sem dúvida, creio que também há suas exceções. Mas tenho visto muitos que, tendo o dom de mestre, querem plantar uma igreja em um meio hostil e, ainda que possuam boas intenções, isto não é suficiente. Mas, qual é nosso compromisso? Este não é unicamente do missionário e sim da igreja que o envia. Necessita-se de uma igreja com compromisso e visão (Isaías 61.1-2a). Deus quer ungir sua igreja para que cumpra este chamado: pregar as boas novas aos abatidos, curar os feridos e pregar liberdade aos cativos. Qualquer pacto tem um custo. Na história do bom samaritano de Lucas 10.30-35, Deus nos fala de como um bom homem se compromete a correr o risco de parar, consolar o ferido, levá-lo a uma hospedaria e dizer: “…e se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei”. Por isso, a igreja deve estar consciente e aceitar que isto vai custar a ela não somente no presente (não é só enviar o missionário), e sim também no futuro (todos os gastos necessários para que se cumpra a missão com sucesso). É agora que a igreja deve continuar escutando claramente a voz de Deus para saber que sacrifícios são necessários e quando fazê-los; e decidir que riscos vale a pena correr. Não esqueçam que enquanto nós, os obreiros, estamos no campo, necessitamos de pessoas na igreja que compartilhem e apoiem a visão. É muito fácil que a visão morra se ela não é transmitida. Ou, como vocês imaginam que se sente um obreiro quando seu pastor lhe pergunta em que cidade está vivendo, ou quantos filhos tem? Vocês são nossa boca! No sustento econômico também creio que temos avançado, ainda que nos falte muito caminho a percorrer. Dou graças às igrejas que enviam sempre o necessário a seus missionários e que são fieis mês após mês. Mas, também há outra realidade que não se pode esconder: que no presente há muitos missionários que sofrem nesta área. Um comentário muito comum que se escuta entre os latinos é que seu dinheiro ainda não chega a eles ou que têm outras coisas para comprar. Ainda que tenhamos aprendido a dar para o sustento básico dos obreiros, esquecemos também que muitos deles investem no ministério parte do que recebem. Sabemos que é necessário dinheiro para o orçamento ministerial. Em alguns campos esses gastos são muitos. Devemos repensar este tema e apoiar os projetos que são gerados dentro do ministério. No que diz respeito ao pastoreio e supervisão, permitam-me dizer-lhes que estamos muito mal. Esta é uma área na qual devemos crescer. Há muitos pastores que não sabem das necessidades de seus

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missionários, de suas lutas, nem o que estão fazendo. Isto nos dá uma ideia geral de como se encontra o cuidado do missionário nos campos. Como é sua comunicação com o obreiro? Pede informação? Você ministra a ele? Ainda que tenhamos avançado, também em relação a isso há muito a fazer. Deus tem sido fiel, mas creio que é tempo de começar uma nova etapa e implementar novas coisas, formas e estratégias de envio e recepção. Necessitamos criar plataformas no campo, capacitando não apenas antes, mas na medida de cada um, ainda mesmo no campo. Devemos ensinar sobre o caráter assim como sobre a doutrina. Trabalhar mais em equipe e, definitivamente, formar grupos apostólicos com as igrejas locais e obreiros já estabelecidos no campo. Não queremos ver mais irmãos latinos frustrados, feridos, com falhas em seu caráter, nem tampouco outros que regressam por falta de recursos. É necessário começar uma nova etapa, avaliar os acertos e as falhas; e levantar-nos para cumprir a grande comissão. Que tudo o que façamos seja feito em oração e jejum, buscando a Deus, ouvindo sua voz e sendo obedientes a Ele. Não basta ter boas intenções, mas um compromisso verdadeiro. Como representante dos obreiros no campo, quero concluir dizendo que Deus é o que nos chamou e é nosso provedor. Ele próprio nos deu uma visão e uma missão para a qual estamos dispostos a pagar o preço. Não importa qual seja o sacrifício nem o custo que tenhamos que pagar ao arriscar nossas famílias e filhos em situações perigosas, se for necessário. Mas também estamos dispostos a orar para que Deus nos sustente por outros meios quando nossa igreja não possa. Temos aprendido a viver na escassez e na abundância. Estamos convencidos de que, ao haver dado nossa vida a Cristo, dependemos dEle. E a verdade é que é um privilégio servir ao Rei dos reis e Senhor dos senhores. Nós nos beneficiamos grandemente fazendo sua vontade. Estamos tão felizes e convencidos do que Deus quer fazer que nosso lema é: “até que a Turquia seja para Cristo”. A tarefa ainda é muita. Deus quer fazer grandes coisas, mas para fazer grandes coisas são necessárias grandes equipes. Pedimos por igrejas com compromisso e não só com boas intenções. Pastores, Deus os colocou no ministério e damos graças por suas vidas, já que seu labor não é fácil. Seu trabalho implica muita responsabilidade e a tomada de grandes decisões. Por isso, hoje quero fazer-lhes um chamado. Em nome de todos os missionários no mundo e de todas as pessoas que ainda não conhecem a Jesus; e recordando a passagem do varão macedônio em Atos 16, da mesma forma hoje, me ponho diante de todos vocês e, com o coração na mão, lhes rogo: Sós não podemos; a tarefa é muita: venham e nos ajudem!

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Mensagem à igreja: lições de Deus no campo

Nájua Diba O chamado de Deus Em 6 de maio de 1978, com a idade de trinta anos, nasci de novo. Nesse mesmo dia de minha conversão, Deus me falou do chamado missionário. Assim, imediatamente o aceitei de bom grado e com muita gratidão em meu coração. Nove meses depois, em fevereiro de 1979, estando em um acampamento, perguntei novamente ao Senhor sobre o lugar onde queria que o servisse para obedecer seu chamado. A resposta veio direto a meu coração: Albânia! Não sabia nada sobre essa nação. Busquei e só encontrei muita pouca literatura, mas sabia que esse lugar se encontrava na Europa e que estava sob um regime ditatorial comunista e ateísta. Imediatamente me dei conta do desejo e sede do povo por liberdade. Havia muito que aprender. Ensinamentos relevantes para o campo Durante meu período de capacitação tive que aprender três lições para minha vida. A primeira delas foi a lição de Isaías 50.10: “… Aquele que andou em trevas, sem nenhuma luz, confie em o nome do Senhor e se firme sobre o seu Deus”. Deus tinha uma lição para mim no meio do silêncio e da falta de luz. Precisava afirmar minha fé, minha confiança e meu caráter em Cristo. Confiar não nos sinais de sua constante presença, mas sim em sua Palavra. A segunda lição foi aprender a ouvir. Foi difícil, mas creio que valeu a pena, pois esta aprendizagem de poder escutar os outros me levou a um conhecimento cristão de mais valor. Aprendi a importância de valorizar e ajudar para que outros crescessem e servissem ao Senhor. A terceira lição é que devia reconhecer que Ele era fiel. Isto me deu segurança e capacidade para dar passos de fé. Um dos obstáculos difíceis para dar passos na missão é a área das finanças e isto afeta a todos nós, os missionários latino-americanos. No meu caso foi igual. Não tinha nenhuma condição para sair do Brasil, mas dei um passo de fé e até o momento não passei nenhuma necessidade, durante estes 21 anos de ministério, apesar das dificuldades. Uma clara direção de Deus Desde o dia de minha conversão me coloquei à disposição do Senhor para obedecer-lhe em tudo. Isto me levou a afinar meus ouvidos para escutá-Lo, a fim de fazer sua vontade em qualquer circunstância. Estes são alguns testemunhos: Estava em Ohrid, Macedônia, e enquanto caminhava pela rua, vinha uma mulher na direção contrária. Escutei que o Senhor me dizia: “ela também é filha de Abraão”. Dei uns passos, mas não consegui continuar. Contudo, tomei coragem, voltei em direção a ela e compartilhei sobre seu verdadeiro Messias. Era justamente o momento em que a mulher estava começando a frequentar as mesquitas islâmicas para ver se encontrava a Deus. Ela era da cidade de Haifa, Israel. Na Inglaterra me aproximei de outra mulher para lhe dar um folheto com a mensagem do Senhor. Como era de se supor, imediatamente o rejeitou e disse que não queria nada com Deus. Aproveitei o momento para dizer-lhe que sobre este tipo de rejeição Deus já havia falado em sua Palavra e que

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estava escrito. Ela se voltou e disse: de verdade? Então lhe citei a passagem de Romanos 3.11: “Não há quem entenda; não há quem busque a Deus”. Naquele momento ela se virou para mim, recebeu o folheto e se foi. Em Kosovo, justamente na minha primeira semana nesse lugar, o Espírito me dirigiu para dar a mensagem a uma repórter para que conhecesse Cristo. O Senhor me deu frase por frase, passo a passo, e aquela mulher nasceu de novo naquele momento. Estas são operações que somente o Espírito de Deus pode fazer e nos ensinar. Na Albânia estava orando para que Deus me desse uma pessoa, não só para que fosse minha amiga, mas sim uma pessoa chave para o evangelho em Tirana. Foi assim que, em janeiro de 1990, quando estava a ponto de voltar a Kosovo, Deus me guiou e preparou para que eu falasse do evangelho a uma camareira do hotel. São coisas nas quais Ele opera milagrosamente. Lições em Kosovo Entre o tempo na Inglaterra (1985-1986) e Kosovo (1987-1990), visitei a Albânia comunista por seis vezes para conhecê-la e orar. Foram muitas experiências. Nos anos sessenta, quando a Albânia se declarou ateísta, o Espírito de Deus moveu sua igreja no mundo para orar por esta nação. Há histórias fantásticas deste lindo trabalho de oração. Uma delas é a de Erica Burrows, uma mulher inglesa, simples e viúva. Ela orou por mais de 20 anos pela Albânia e no período em que morei em sua casa, foi a primeira vez que visitei aquele lugar. Era o ano de 1986, ainda no tempo do comunismo, e antes de sair da casa de Erica, ela me deu as palmilhas de seus sapatos e me disse: “Eu orei muito pela Albânia e gostaria muito de ir até lá, mas não posso; ponha estas palmilhas para que através de você eu possa andar pela Albânia e quando você voltar, me devolva”. É assim, sem amor e compaixão não há missão cristã. A oração moveu para que se abrissem portas para fazer contatos de amizade e evangelismo. A igreja do Senhor triunfou na primeira batalha para a abertura da evangelização e plantação de igrejas na Albânia sob a orientação do Espírito de Deus. Em Kosovo aprendi uma grande parte de meus conhecimentos sobre a cultura e a história da Albânia. Deus me deu também muitas lições relevantes, que foram úteis até para a plantação de igrejas no contexto islâmico. Me dei conta de quanta escravidão há entre esse povo, pessoas que se rendem ao domínio de espíritos maus em diversas formas, incluindo a prática de casamento com esses mesmos seres espirituais de maldade. Mulheres e homens que se casam com espíritos “gins” e são dominados sexualmente por eles. Conheci também pessoas sob o domínio destas hostes através de práticas ocultas e adoração ancestral. Esses espíritos se levantam contra os cristãos e os missionários que estão à frente da batalha, evangelizando e rompendo o duro terreno destes corações. Por tal razão, necessitamos sempre muita cobertura de oração para que não haja ataques imundos. Devemos saber com quem realmente estamos lutando para ganhar as almas para Cristo. Outra lição foi de como romper o terreno endurecido através da oração em circunstâncias proibidas. Na ex-Iugoslávia não se podia fazer proselitismo, já que o preço era a cadeia ou a expulsão do país. Nessas circunstâncias, Deus me tirou o medo e comecei a fazer duas coisas constantemente: a primeira delas foi testemunhar a estudantes e a professores da universidade de Prístina, assim como também a autoridades do governo, polícia e muitas outras. A segunda foi compartilhar a Palavra de

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Deus acompanhada de oração. Por exemplo, todas as vezes que entrava na universidade começava a falar sobre João 1 e orava. Hoje, um dos líderes da igreja de Kosovo, que naquela época era estudante, se converteu ao ler este primeiro capítulo sem a ajuda de ninguém. Esse rapaz é um dos melhores expositores cristãos que conheço. Período na Albânia propriamente dito Em 15 de abril de 1981 fui à Albânia. A camareira do hotel, que havia conhecido um ano antes, Lumturia Morava, me recebeu em sua casa. Ela corria o risco de ser levada à prisão e de ser despedida de seu trabalho por ter-me ali, pois eram os últimos dias do governo comunista. Começou a me apresentar a seus amigos e a toda sua família. Falava a eles do Senhor. Uma história que me comoveu é a de seu filho, que tinha onze anos. Um dia o primo de Lumturia foi visitá-la e aproveitei o momento para falar do Senhor, e através do Espírito Santo pude explicar-lhe o evangelho de uma maneira especial. Pensei que esse homem ia receber Jesus. Que engano! Para minha surpresa foi o contrário; o menino de onze anos entendeu e recebeu o Senhor, e até hoje permanece em seus caminhos. Naqueles dias preguei o evangelho e muitos conheceram Cristo. Foi então que, em outubro de 1991, organizamos uma igreja evangélica, que chamamos Emanuel. Projeto de mobilização em direção à Albânia (AEP)9 No final do primeiro e segundo semestre do ano de 1991 chegaram muitos missionários na Albânia, cada um com suas histórias de como Deus os havia chamado e levado até essa nação. Uma verdadeira rede realizada por Deus com missionários que saíam de vários países ao redor do mundo. Muitos deles se haviam preparado em Kosovo, estudando a língua albanesa e aprendendo a cultura. Chegaram também alguns outros brasileiros e outros latino-americanos. Na primeira reunião do AEP, Deus, em sua sabedoria, nos dirigiu para levar a cabo uma estratégia: cobrir todo o território albanês em pouco tempo, distribuindo estes missionários por todo o Norte até o Sul, de Leste a Oeste. É um pouco difícil explicar em poucas palavras uma história cheia de complexidades, como a história do cristianismo na Albânia, e especialmente na Albânia pós-comunista. O AEP até hoje tem servido à comunidade missionária de uma maneira efetiva em diversas áreas, inclusive na unidade do corpo missionário. Na plantação de igrejas na Albânia tivemos que enfrentar batalhas internas e externas. As lições foram e são muitas. Tive alegrias e tristezas. Quero citar algumas delas. 1. O método de John Nevius, que trabalhou na Coreia, é um método relevante para nós hoje. Eu

quis aplicar pelo menos uma parte dele em nossa igreja em Tirana durante os seminários, onde se ensina, se discipula e se capacita os crentes para o serviço de edificação da igreja. Falei com meus companheiros de trabalho e lhes propus que, em lugar de que nós mesmos ministrássemos nos seminários, poderiam vir pessoas de fora que estivessem muito preparadas e que conhecessem a situação política e social da nação. Muitos missionários ministravam fora da realidade de nossos irmãos albaneses. Não conheciam o nível espiritual nem cultural deles e ministravam como se fazia no Ocidente. A realidade na Albânia comunista era outra. Por exemplo, na cultura albanesa existem, pelo menos, onze pontes culturais bem claras que podem conectar-se com o evangelismo e certos ensinamentos bíblicos.

2. Outro problema foi o discurso contínuo sobre a educação do povo no período comunista e sua

principal consequência. Em 1991, a mensagem marxista-leninista e os discursos contínuos

9 AEP (Por sua sigla em inglês: Albania Encouragement Project).

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produziram um fenômeno marcante, que foi uma das barreiras no início da igreja. O albanês foi educado politicamente nesse tipo de discursos e sob ditadores como Enver Hoxha. Eles pareciam hipnotizados porque esses discursos começavam de manhã e seguiam durante todo o dia. Nas férias de verão os autofalantes estavam pelas praças e praias, causando o que eu chamo uma “surdez coletiva”. Nos primeiros dois anos de plantação de igrejas na Albânia e, pela unção do Espírito Santo, essa “surdez coletiva” foi quebrada. A unção rompe o jugo.

3. Ao final de 1991 comecei um trabalho na periferia de Tirana, na pequena localidade de Kamze.

Ali, na igreja evangélica, buscamos implantar seminários que duraram de quatro a cinco anos e deram como resultado fortalecimento, maturidade, compromisso e serviço para os crentes. Temos uma igreja pequena, onde a maioria serve e coopera em diversos trabalhos ministeriais. Naquele momento quem ministrou nos seminários foram pessoas que conheciam a Albânia e a realidade da nação. Gastaram suas vidas no ministério da Palavra para com esse povo. Também havia albaneses chamados, como o pastor Xhevdeti Arapi e outros, que cooperaram conosco, inclusive um casal de brasileiros da missão Antioquia.

Vida, ensinamento e prática Quero deixar muito claro que não foram apenas os seminários que deram resultados positivos no desenvolvimento da igreja, mas a capacitação prática que os crentes tiveram. Este tipo de treinamento, que produz vida, foi o método mais efetivo na edificação de nossa igreja em Kamze. Penso que foi o método de Jesus. O trabalho com crianças desde início de 1991 até hoje tem sido muito importante no que se refere à plantação de igrejas na Albânia. Desde o início de nosso trabalho em Kamze, elas ocuparam um lugar especial e foi através desse trabalho que a igreja cresceu. Hoje em dia, algumas dessas crianças permanecem no evangelho e são parte ativa do ministério tanto com obreiros como com líderes. Uma lição do passado para o futuro Desde o primeiro século, o evangelho foi pregado por essas terras. Desde a Idade Média, nos séculos XII, XVIII, XIX, XX e agora no século XXI. Durante todos esses ciclos históricos, o evangelho não criou raízes, ou seja, não passou a outras gerações. Não houve sequência nem continuidade, o que prejudicou o desenvolvimento da igreja. Isto ocasionou vazios e também desafios de plantar comunidades cristãs na Albânia. É um desafio que continuamos a ter nesta nova fase. Hoje, a igreja evangélica na Albânia está na maior parte das cidades e em muitas vilas. Há várias organizações ajudando em evangelismo e capacitação de obreiros. Há escolas bíblicas, duas emissoras de rádio evangélicas que tem cooperado com o crescimento de muitos crentes. Escolas de ensino cristão da infância à juventude. Há muitos outros serviços à disposição da igreja e dos crentes. A igreja do Senhor lutou para sobreviver toda uma história de perseguição ao longo dos séculos na “Terra das Águias”, onde a brisa balança nos ares a bandeira vermelha, com a águia de duas cabeças, e de onde se faz ouvir o sussurro milenar da língua shqipe e albanesa. A história antiga deste povo dá testemunho convincente disto, pois na busca arqueológica por encontrar a primeira escrita deste idioma o que se achou gravado foi o seguinte: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Amém.

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Mensagem à igreja: Necessidades e desafios

Carlos Zapata “Porque: todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem

pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” Romanos 10.13-15 A necessidade do envio Há poucos meses, tivemos uma pequena reunião para despedir um casal de missionários que havia investido cinco anos de sua vida trabalhando no mundo muçulmano. Todos se encontravam muito tristes, sobretudo os nacionais desse país onde estávamos trabalhando. Lembro-me que nessa ocasião foi dito: “eles se vão, mas Deus permanece em seus corações”. Depois, um muçulmano convertido, de 60 anos de idade, com lágrimas em seus olhos acrescentou: “Quero agradecer a este casal e a todos vocês, os estrangeiros, por deixarem seu país, suas famílias, suas casas, sua língua e sua cultura para virem ensinar-nos e nos mostrar com suas vidas o amor de Deus, porque na verdade este povo não sabe nem entende o significado da palavra amor”. Quantas vezes nós temos escutado esta afirmação: Deus te ama! De tanto ouvi-la, às vezes a tomamos com leviandade, mas não é assim para os muçulmanos. Eles querem mostrar seu temor a Deus por meio de ritos, sacrifícios, lavagens etc., mas uma coisa diferente é o que sentem ao escutar essa expressão de amor. Essa verdade é desconhecida e difícil de crer para eles. Mas, como saberão do amor de Deus se as igrejas não enviam? Em alguma ocasião um missionário da América Central expressou: “nosso país já tem 115 anos de evangelização interna (apenas dentro de casa). As divisões denominacionais não permitem que nos organizemos para alcançar outras nações. O paternalismo nos tem impedido de nos desenvolvermos. A igreja não tem tomado a responsabilidade de Mateus 28. Nós somos a terceira família missionária que saiu de nosso país, mas o triste é que não somos sustentados pela igreja local”. A raiz de tudo isto é o que devo falar necessariamente nos pontos a seguir. A necessidade de sustentar o enviado “Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto?... Porque na lei de Moisés está escrito: não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo é que por nós está escrito... Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho, que vivam do evangelho”.1 Coríntios 9. 7-11,14. Esta é uma área muito frágil dentro da igreja ibero-americana. Lamentavelmente, não se tem ensinado ou não se tem desafiado seus membros a investirem na evangelização do mundo. É por isso que encontramos a falta de fé para ofertar. Devemos abandonar a ideia de que por sermos latino-americanos não podemos. Isto é uma grande mentira! O missionário do qual falamos anteriormente, foi enviado por sua igreja local da América Central. Esta igreja tem uma membresia de cinco mil pessoas, onde, em cada domingo são celebrados quatro cultos. Contudo, eles não recebem absolutamente nada de apoio econômico. Se apenas oferecessem um dólar por mês, quantos missionários poderiam sustentar com cinco mil membros?

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Outra jovem me dizia: “Carlos, como é importante que a igreja entenda que no momento de descanso, quando o missionário regressa a seu país, também possa ser sustentado. Mas o que me têm dito é que enquanto estiver em meu país e não no campo, não me darão o sustento. Mas nós precisamos mobilizar-nos, dar conta de nosso trabalho; não devem esquecer que também comemos nesse período!”. Quando aceitamos sustentar os obreiros no campo estamos cooperando com a Verdade (3 João 7 e 8). É certo que muitas igrejas têm receio de investir em missões porque tiveram más experiências; têm sido enganadas por parte de alguns missionários que vivem um padrão de vida muitíssimo mais elevado que o das pessoas às quais querem alcançar. Alguns deles com carros muito caros, outros enganam a igreja nos relatórios e informes que enviam. Isto, porém, se pode evitar se houver um acompanhamento e pastoreio no campo. Necessidade de pastorear o enviado Quando fiz algumas perguntas a vários companheiros latinos no campo a respeito do pastoreio que eles estavam recebendo, alguns riram e outro me disse: “o pastoreio (pelas igrejas enviadoras) não existe! Sentimo-nos muito sós e fazemos um esforço para cuidar de nossa família. Deus nos tem ajudado para que possamos nos autossustentar espiritualmente. Já faz um ano que estamos no campo e nunca recebemos uma carta de nosso pastor, mas me lembro bem das palavras que me disse antes de sair de meu país: não importa quanto você permaneça lá onde vai ser missionário, o dízimo o esperamos aqui”. Outra jovem missionária me disse o seguinte: “Há duas semanas escrevi uma carta urgente a meu pastor. Tinha que tomar uma decisão: abandonar o país ou tratar de conseguir um novo visto, que requer um valor adicional do orçamento. Tenho que tomar logo essa decisão, pois meus passaportes estão retidos. Como não me respondeu, escrevi à minha mãe, pedindo a ela que, por favor, perguntasse pessoalmente ao pastor. E ele disse: ainda não li a carta; dizia algo importante?”. Reflexão Damos graças a Deus por tudo o que está realizando em nosso meio. Estamos aqui porque queremos escutar o que Ele está fazendo. É verdade que há muitos líderes e pastores da igreja que estão começando a se envolver e encontram-se aqui justamente porque querem ser protagonistas. Vocês são privilegiados por estarem neste congresso e devem ser os porta-vozes de tudo o tem escutado. É um tempo de despertar. Nossos anos de sofrimento, as histórias de injustiça, nossos governos ditatoriais, as crises econômicas e a pobreza, fazem com que possamos compreender melhor as pessoas às quais vamos ministrar. Há países no mundo que têm uma grande história em missões e seus missionários estão saindo com uma boa cobertura econômica, suprindo assim suas necessidades presentes e futuras. Mas tudo isto é porque suas igrejas se transformaram e se desenvolveram na área de missões. Eles se comprometeram a contribuir por toda a vida do missionário no campo e não abandonam seu ministério, sua família e seus filhos. Eu me alegro muito por isto. Quero dizer à igreja ibero-americana que ainda neste tempo, Deus se alegra e se compraz com aquelas igrejas que enviam e com os homens que saem por fé. Muitas delas, inclusive com pouco, não têm impedimento para enviar. E para aqueles que têm o chamado para ir ao campo, quero dizer

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que Deus sustenta e sustentará suas vidas. Estou seguro porque vivi isso. Só é precisa confiar que Deus possa guardar sua vida e que Ele é Poderoso para prover todo o sustento que sua família necessita. Não podemos esperar ter todos os recursos para ofertar ou enviar; é preciso dar passos de fé para ver a atuação da mão de Deus. Muitas igrejas não têm clareza do que devem fazer com as pessoas que têm um chamado para missões porque não têm projetos, departamentos missionários ou não sabem como canalizar o chamado de seus obreiros. A melhor possibilidade para mudar esta situação é fazer alianças estratégicas com outras que já estão organizadas, unir-se em cooperação com outras. Devemos saber que há histórias muito tristes de abandono de obreiros no campo. Se vocês começaram a apoiar um obreiro, continuem até o final de seu ministério, não apenas na área de sustento financeiro como também no cuidado pastoral. Deus é fiel e recompensará a cada um segundo sua obra.

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Seção 4

Conclusões da investigação

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Seção 5

Consultas temáticas

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Introdução As consultas temáticas foram concebidas como parte fundamental do III Congresso Missionário Ibero-americano e mais ainda do Processo COMIBAM III. Estas reuniões de trabalho têm por finalidade estudar e discutir a fundo as propostas de campo em relação a cada uma das áreas do processo missionário nas quais a COMIBAM Internacional tem desenvolvido programas para ajudar o movimento missionário ibero-americano. Além disso, no formato de consulta, se trabalhará para atualizar os participantes em relação a cada um dos projetos que tem sido possível realizar dentro do movimento e serão listadas as diferentes oportunidades e necessidades que temos para fortalecer, reestruturar e seguir adiante, ajudando a igreja ibero-americana em sua missão. Estas consultas devem beneficiar a cada um dos atores do trabalho missionário (diretores de agências, professores de missões, pastores de igrejas enviadoras, líderes de comitês de missões etc.) para encontrar a realidade que se está vivendo a partir da perspectiva do campo e como isto afeta o trabalho atual que se desenvolve em nossas igrejas e instituições. As conclusões que surgirem de cada uma delas, somadas aos resultados de investigação, nos indicarão passos concretos para seguir estratégias definidas em direção ao futuro que devemos enfrentar na expansão do evangelho a partir da Ibero América. Por estas e muitas outras razões rogamos que tenha em conta as seguintes recomendações: 1. Participe durante os quatro dias do evento de uma só consulta temática. Cada uma das consultas

desenvolverá um esquema de trabalho com temas encadeados, que não permitem que você tenha um conhecimento pleno para contribuir de forma criteriosa, caso não tenha participado da totalidade das discussões.

2. As conclusões geradas dia a dia devem ser o resultado das propostas de cada um dos participantes. É muito importante para o processo que você se mantenha no mesmo grupo de trabalho.

3. Em cada uma delas se encontrarão soluções, estratégias e novas formas de trabalho. Tenha em

conta, então, que se passar de uma consulta a outra, você se sentirá perdido em relação ao ritmo de trabalho que já vem sendo realizado com antecedência.

4. Dentro da consulta você terá ainda a oportunidade de contribuir, falar de sua própria experiência

e contexto, e retroalimentar sua reflexão a partir do ponto de vista dos missionários de campo. Não perca a oportunidade, por nenhuma razão, de dar suas contribuições, sugestões e opiniões.

5. Depois de sair dessas consultas, recomendamos que você vá às reuniões nacionais e compartilhe

toda a informação que recebeu para enriquecer o movimento nacional de seu país e contribuir com ele.

6. Não perca a oportunidade de ter contato com o que se está fazendo nos demais países da Ibero

América, como também para conhecer e comprar materiais que o ajudem a realizar seu trabalho em seu próprio país.

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Rede de centros de capacitação Sala: Restaurante B Estamos convencidos de que a capacitação missionária integral é crítica para a missão da rede de capacitação de COMIBAM Internacional, cuja visão é expandir o reino de Cristo entre os grupos humanos não alcançados. A partir da última assembleia da COMIBAM Internacional, realizada em El Salvador, no mês de setembro de 2003, com muitos obreiros e ministérios dedicados à capacitação missionária, temos orientado nossos esforços a partir das seguintes premissas: Missão Estimular, facilitar e apoiar o treinamento missionário integral de forma global. Visão Ter uma rede ibero-americana de capacitadores que abasteçam eficazmente os missionários para a colheita global, compartilhando visão, experiência, especialização e recursos. Valores Comprometidos a ser uma comunidade internacional de capacitadores, para o treinamento a nível de excelência dos missionários transculturais. Objetivos a. Facilitar e manter uma rede de comunicação global eficaz entre os capacitadores missionários. b. Estimular, nos centros de treinamento, uma visão estratégica frente à situação mundial. c. Facilitar o desenvolvimento de recursos culturalmente relevantes e apropriados para a melhor

condução dos programas de treinamento do missionário. d. Contar com um maior número de experts para o treinamento missionário, que sejam capazes de

treinar novos capacitadores e que, por sua vez, possam atuar como consultores dos diversos programas e centros de treinamento.

e. Estimular a avaliação dos resultados da capacitação missionária integral. Queremos ver funcionar corretamente os programas que permitam completar a capacitação dos candidatos a missionários dentro do contexto ao qual servirão em seu período de imersão transcultural e que, ao mesmo tempo, tenham acesso a todos os programas de capacitação do continente. Os resultados das consultas têm favorecido e impulsionado o surgimento de um ministério especialmente dedicado à provisão de determinados recursos necessários aos capacitadores latinos, como a tradução de determinados livros sobre missões e missiologia. Alguns destes livros já estão sendo oferecidos neste congresso. A rede está estimulando e potencializando os diferentes ministérios que a compõem, já que são os recursos que podem cobrir as necessidades que se apresentam. Estão surgindo diversas e importantes alianças por meio das quais os objetivos propostos se concretizam. Isto nos anima e nos convida a estar abertos ao que resulte de nosso congresso e animar a todos que se unam a este mover missionário divino que estamos experimentando.

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Rede de igrejas e pastores Sala: Restaurante A Objetivos a. De acordo com o que for escutado em cada dia no congresso se chegará a uma conclusão que se

debaterá na consulta. b. Serão conhecidas com mais profundidade as realidades do campo. Isto nos dará indícios de como

potencializar e aperfeiçoar a preparação dos candidatos, o envio e a participação nos projetos e a mobilização da igreja por meio de congressos, consultas e recursos.

Temas gerais a. Capacitação e provimento das necessidades do candidato, em cooperação com os centros de

capacitação. b. Participação da igreja local no projeto de campo. c. Cooperação, envio e recepção. d. Igreja local x agência receptora e. O que espera a igreja local (ou pastor) da instituição receptora? (ONG, agências, igreja, outras). f. O que esperam os receptores dos enviadores? g. Quem são os responsáveis pelo missionário no campo? A quem pertence o projeto a ser

desenvolvido? h. Estão os centros de capacitação missionária suprindo a preparação da igreja ou a estão

complementando? i. Como as agências missionárias de recepção entendem ou desenvolvem a cooperação com a igreja

enviadora? Que ingerência tem a igreja enviadora nas decisões de campo? j. O que se entende por sócios na missão? k. Temas do resultado da investigação que a COMIBAM apresentará. Formato de trabalho a. Grupal b. Fóruns c. Painéis d. Seções e. Mesas de trabalho Estratégia de trabalho a. Serão feitos uma indução e um encerramento como conclusão a cada dia. b. Serão enfatizados os conceitos básicos da rede. c. Será aproveitada a participação dos pastores para escutá-los. d. Serão obtidos os desafios e pautas para serem seguidos.

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Rede de estruturas de envio Sala: Seminário 3, 4 e 5 Objetivos a. Fundamentar e fortalecer o conceito e o papel das estruturas de envio na/a partir da América

Latina. b. Descobrir pontos fracos e fortes das estruturas de envio, para implementar passos de ação. c. Encontrar soluções para a problemática apresentada pelos obreiros de campo numa perspectiva

de trabalho conjunto com as igrejas enviadoras. d. Fomentar o desenvolvimento de alianças estratégicas para o trabalho no campo entre obreiros e

projetos. e. Oferecer ferramentas para um melhor funcionamento das estruturas de envio. Temas gerais O que é uma estrutura de envio? a. Devemos definir claramente o que é e o que faz uma estrutura de envio b. Uma estrutura de envio envia missionários c. Muitas organizações são promotoras de missões e não estruturas de envio Administração das estruturas de envio a. Administração de finanças (contabilidade, auditorias, relatórios etc.) b. Como se levantam fundos c. Gestão de pessoas d. Solução de conflitos e. Assuntos legais com o governo f. Prestação de contas g. Apresentação de projetos h. Planejamento estratégico i. Alianças Mobilização e recrutamento efetivo nas estruturas de envio a. Muito ativismo, mas pouco fruto b. Onde estão os candidatos? c. Ferramentas na mobilização Relacionamento e trabalho integrado com agências estrangeiras Estratégias de trabalho multicultural a. Quem são eles e quem somos nós? b. Entendendo nossas diferenças c. Alianças estratégicas d. Campos, orçamentos, capacitação e. Tomada de decisões, lideranças compartilhadas f. Cooperação e não chefias!

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Cuidado integral Sala: Andalucía 2 e 3 Objetivos a. Criar consciência nos movimentos missionários nacionais da urgente necessidade que existe no

cuidado integral dos obreiros ibero-americanos. b. Descobrir os problemas e fazer os ajustes necessários no cuidado integral para ajudar a igreja a

ser mais efetiva no cuidado de seus obreiros. Temas gerais 1. O cuidado integral antes, durante e depois a. Conscientizar a igreja sobre o cuidado integral dos obreiros b. Comunicações e visitas pastorais c. Relacionamento entre igreja, agência e obreiro 2. Causas do abandono do campo ou do retorno prematuro

3. Capacitação antes, durante e depois a. Fundamento bíblico b. Capacitação transcultural c. Aprendizagem de idiomas d. Aprendizagem de áreas técnicas 4. Finanças: desafios a. Revisões orçamentárias: validando os custos reais da vida no campo

- Gastos de instalação no campo b. Rede de igrejas para sustento de obreiros c. Envio de dinheiro. Responsabilidades e processos d. Planejamento de aposentadoria

Formato de trabalho a. Criação de folhas de registro e conclusão. Por meio destas se recolherá toda a informação dos

assistentes para depois ser processada pela equipe de facilitação. b. Se dará uma retroalimentação a cada dia aos participantes, com as conclusões do dia anterior: 7

minutos. Estratégia de trabalho a. Daremos uma ênfase à importância da consulta para que cada participante permaneça nela pelos

quatro dias que dure a mesma. b. A consulta terá início e final a cada dia. Isto quer dizer que teremos conclusões dos temas

discutidos diariamente, a fim de não perder as considerações dos participantes no caso de estes chegarem a trocar de consulta.

c. Serão trabalhados os temas de campo que são o objetivo do congresso, como também as necessidades da área de cuidado integral de cada um dos países, assim como as estratégias para incrementar este tema no meio das igrejas.

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Alcance Uma Etnia (AUE) Sala: García Lorca Objetivos a. Entender a centralidade e cada detalhe do programa Alcance Uma Etnia e os recursos disponíveis. b. Compartilhar e ter ideias próprias para o lançamento de AUE (estratégias para envolver as

igrejas). c. Ter conhecimento para promover AUE em diversos níveis. d. Criar consciência sobre a importância de trabalhar em rede para que cada participante da

consulta seja promotor de QUE e de tal maneira que surja um coordenador nacional entre os países representados, onde ainda não exista.

e. Que cada país tenha um coordenador nacional de AUE identificado para ser ratificado. Temas gerais No caso de AUE, dada a falta generalizada de conhecimento e de ações concretas, serão temas de capacitação. Além disso, haverá um tempo dedicado à avaliação das ações realizadas em cada país. Dia 1 a. Definições b. Base bíblica c. Base estratégica e benefícios d. Um olhar sobre a realidade étnica do mundo e. O capitão à frente do exército f. O método g. O objetivo h. A tarefa pendente i. Factibilidade de alcançar a meta Dia 2 a. Exposição do que foi desenvolvido nos diversos países b. Menu de estratégias c. Quem pode alcançar uma etnia? d. Antecedentes históricos e metas por país e. O compromisso f. Recursos disponíveis Dia 3 a. Repasse de estratégias b. Vantagens e desvantagens c. Identificação de outras estratégias d. Fatores nacionais que afetam a estratégia e. Identificação da melhor estratégia a ser usada

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Alianças estratégicas Sala: Manuel de Falla Objetivos a. Atualizar o progresso das alianças estratégicas para o alcance dos não alcançados. b. Revisar os elementos e o processo para o desenvolvimento de alianças. c. Avaliar o impacto que as alianças podem ter no que se refere a ajudar a solucionar os temas

prioritários do movimento missionário ibero-americano (conforme sejam apresentados no congresso).

d. Compartilhar as ferramentas disponíveis para o desenvolvimento de alianças. e. Analisar os resultados da investigação. f. Atuar como coadjuvante nos processos de cooperação missionária no/a partir do continente. g. Conhecer a realidade do campo e como podemos incrementar a efetividade e o impacto das

alianças na Ibero América, que repercutem no trabalho missionário. h. Educar nossos líderes e candidatos a missionários nas bases bíblicas da unidade e da cooperação

do reino, dando-lhes ferramentas práticas para poder trabalhar como corpo de Cristo. Temas gerais a. Conceitos básicos de alianças estratégicas b. Testemunhos sobre alianças e frutos c. Elementos e processos de alianças estratégicas d. Panorâmica mundial e ibero-americana Formato de trabalho a. Diálogos b. Grupos c. Mesas de trabalho d. Painel de discussão: Estarão presentes, entre outros, Alex Araujo, Phill Butler, Douglas Livingston,

Andrés Casanueva, Guillermo Taylor, Bertil Ekström. Ferramentas a. Será apresentado o livro “Alianças Estratégicas”, de Daniel Rickett e Omar Gava, assim como o

livro “Bem Conectados”, de Phill Butler. b. Será apresentado o novo site Web de alianças estratégicas da COMIBAM Internacional. c. Todas as apresentações em PowerPoint e demais ferramentas estarão disponíveis para uso pelos

participantes. d. Vários painelistas e todos os membros da equipe de instrução estarão disponíveis para consultas

específicas de alianças estratégicas durante o congresso.

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A mulher e a missão Sala: Albeniz Objetivos a. Reconhecimento do papel protagonista da mulher na força missionária ibero-americana em

todas as frentes de trabalho. b. Prover e suprir a mulher missionária ibero-americana com todos os recursos existentes. c. Mobilizar a visão mundial, os ministérios femininos existentes em cada país e envolve-los numa

ação missionária. d. Envolvimento nos programas, redes e fóruns da COMIBAM. Temas gerais Dia 1. A mulher como pessoa a. Atenção pastoral e integral às mulheres da equipe. b. Treinamento sobre aconselhamento para a atenção às mulheres no campo. c. A mulher só (solteira, viúva, outros casos) no campo. d. Como melhorar a qualidade de vida no campo. e. O casamento. f. Filhos em idade de educação média e superior. Dia 2. A mulher e sua preparação a. Capacitação adequada à mulher e filhos na família missionária. b. Antes da saída, durante o campo e depois do retorno. c. Projetos de desenvolvimento para a mulher em contextos de pobreza. d. Áreas de trabalho nos diferentes contextos de campo (budistas, animistas, tribais, islâmicos,

hinduístas etc.). e. As finanças, novos modelos, mordomia e fé. Dia 3. A mulher na mobilização a. Trabalhando na conscientização e informação. b. Desenvolvimento de programas de intercessão. c. Administração de recursos e ferramentas. d. Papeis de liderança e equipes de trabalho. e. Aspectos positivos e negativos em seu gênero. f. A contribuição valiosa da mulher na igreja local. g. A mulher no envio, no cuidado, no apoio logístico etc.

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Intercessão Sala: Picasso “Busquei entre eles um homem que [...] se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra [...]

mas a ninguém achei.” Ezequiel 22.30

A oração intercessora é apresentar-se diante de Deus em lugar de outro, é advogar por uma pessoa, grupo ou nação. Por conseguinte, a igreja tem a responsabilidade de instruir, motivar e mobilizar seu povo para a tarefa de interceder como corpo e individualmente pelas etnias não alcançadas. Se temos de cumprir a grande comissão, este deve ser nosso primeiro chamado. Objetivos a. Desafiar os movimentos missionários nacionais de cada país, a fim de que eles, por sua vez,

ensinem e guiem as congregações locais na Ibero América para se transformarem em igrejas apaixonadas por interceder pela obra de evangelização mundial.

b. Encontrar os formatos e modelos pertinentes para capacitar a liderança, tanto atual como emergente, dos movimentos missionários nacionais.

c. Fazer uma investigação entre o grupo participante sobre as ferramentas mais usadas no continente para a intercessão e os métodos que deveríamos utilizar para mostrar a visão e o treinamento nas igrejas.

d. Fomentar em cada região movimentos de adoração e de oração entre as diferentes expressões missionárias.

e. Facilitar a formação de redes de intercessão no seio de cada movimento missionário nacional em pleno e constante contato com os obreiros no campo.

Temas gerais a. Uso de células de intercessão pelos não alcançados e pela obra missionária. b. Cobertura aos missionários em suas necessidades mais profundas. Boletins de oração e redes de

contato para obter as petições. c. Fóruns eletrônicos, seminários e jornadas de intercessão por países. d. Uso dos recursos existentes e criação de novos recursos, segundo as necessidades. e. Estratégias de mobilização da igreja local para a intercessão missionária. Áreas de análise a. Problemáticas, deficiências, falhas. b. Novas áreas, novas tendências. c. Mudança de paradigmas. d. Alternativas a soluções. e. Recomendações gerais.

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Linguística e tradução Sala: Andalucía 1 Objetivos Examinar cuidadosamente: a. O processo que se tem levado a cabo na capacitação de obreiros que trabalham com tradução da

Bíblia (tradução, alfabetização e investigação). b. O fruto obtido (traduções, uso e impacto das Escrituras). c. Encontrar quais são as mudanças e ajustes necessários para que o movimento dirigido para a

tradução da Bíblia incremente a qualidade e a quantidade de seu fruto entre os não alcançados. d. Desenhar estratégias efetivas que respondam aos desafios do mundo atual para que haja um

impacto das Escrituras entre os não alcançados.

Com os participantes que comparecem pela primeira vez buscamos: a. Que sejam motivados para se envolverem na tradução. Com os que já tem estado em um processo: a. Fortalecer o movimento de tradução. b. Ajustar o plano de trabalho nacional ao plano de mobilização continental. c. Induzir a um fórum para o próximo ano. Com os participantes do congresso: a. Que saibam que há um movimento que está sendo fortalecido e está direcionado para a tradução

da Bíblia (por meio de promoção com materiais, stands etc.). Temas de reflexão a. Capacitação linguística. b. Mobilização para a tradução da Bíblia. c. Como podemos envolver a igreja. Formato de trabalho a. Explicar a todos os participantes os temas relativos à tradução bíblica e desenvolver uma

discussão sobre como envolver a igreja ibero-americanas nesta tarefa. b. Discussões e integração com os envolvidos. c. Fazer retroalimentação a cada dia dos temas tratados. d. Começar a consulta todos os dias com o testemunho de algum tradutor de campo, fazendo

referência ao impacto das Escrituras em sua própria vida por ter-se envolvido em algum projeto de tradução.

Áreas de análise f. Problemáticas, deficiências, falhas. g. Novas áreas, novas tendências. h. Mudança de paradigmas. i. Alternativas a soluções. j. Recomendações gerais.

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Seção 6

Plenárias

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Missões ao pé da cruz

David D. Ruiz M. “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” Fp 1:29

Sem nenhuma dúvida, estar sentados neste belo salão, dando início ao III Congresso Missionário Ibero-americano, é a realização de um sonho para todos nós. Neste momento da história das missões originadas na Ibero América, todas as vicissitudes que temos enfrentado para chegar aqui passaram para um segundo plano e a expectativa do que acontecerá aqui tomou seu lugar. Para muitos de nós, as lutas para a obtenção do visto, as peripécias econômicas e logísticas para chegar a este destino ou o famoso “jet lag” é o mais próximo que temos chegado do sofrimento pelas missões. Somos uma comunidade missionária nova e temos visto com entusiasmo e alegria este trabalho, que costuma ser de muito desafio para tantos que são verdadeiros sobreviventes de um ministério extremo, muitos deles entre nós. Por essa razão, este congresso foi planejado para que uma proporção significativa de seus participantes fosse de obreiros em atividade no campo para nos permitir fazer deste, tanto um congresso prático como um que vê com profundidade e cuidado a realidade do campo, suas implicações presentes e futuras para a comunidade missionária ibero-americana. Precisamos ver o campo e o trabalho de colocar ali o evangelho disponível com a dupla perspectiva à qual nos convida a Palavra, com a vista colocada no Senhor, que nos chamou à tarefa e nos sustém no meio dela e, com os pés firmes no chão, que representa nosso campo de trabalho. Durante as plenárias da noite, planejamos uma série de desafios missiológicos que intitulamos “Missões ao Pé da Cruz”. Queremos fazer uma reflexão profunda sobre as implicações da obra missionária, em particular em temas como a opressão, a perseguição e a pobreza. São estes diferentes tipos de provas que fazem ressaltar o brilho daqueles que têm sido chamados ao campo, sobre o que tem que ser e deixar de ser enquanto proclamam as boas novas de Jesus Cristo entre aqueles que não o conhecem, que o rejeitam ou que querem ver seu nome extinto da face da terra. O tema de sofrimento por causa do evangelho não é precisamente o mais popular dentro da igreja, em especial da igreja ibero-americana. Falaremos do sofrimento em termos gerais. Costuma-se falar da dor pela morte de um ser querido, da perda de trabalho, da falta de recursos para adquirir algo, mas do sofrimento como consequência de ser luz para um mundo em trevas, geralmente não se fala. Esse tempo já é história. Ao que parece, nossa memória não chega tão longe como nos anos nos quais se expunha a vida pregando a Palavra; se agonizava diariamente na tarefa de ser “colportor da Bíblia”; quando os pastores se ausentavam por meses para levar o evangelho ao interior de nossos países e se marcava a própria vida e a da família aceitando a tarefa de ser pastor. Contudo, não tem sido assim sempre na igreja; já ao redor do ano 536, Agostinho de Hipona se vê obrigado a escrever uma carta aos pastores, colocando em evidência a realidade do sofrimento na vida cristã e no serviço, mas em particular o perigo da negligência de não a ensinar, ou pior que isso, a confusão de valores que nos levam a esperar a prosperidade e a vida cômoda:

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“O pastor negligente, quando recebe pela fé alguma destas ovelhas frágeis, não lhe diz: filho meu, quando te aproximares do temor de Deus, prepara-te para as provas; mantenha o coração firme, seja valente. Porque quem diz tais coisas, já está confortando o fraco, já o está fortalecendo, de forma que, ao abraçar a fé, deixará de esperar na prosperidade deste século. Já que, se lhe induz a esperar na prosperidade, esta mesma prosperidade será a que o corromperá; e quando sobrevierem as adversidades, o derrubarão e até acabarão com ele.”10 Nós, cristãos, precisamos que alguém nos explique que é necessário sofrer no ministério, que ser servo de Deus não nos exime de sofrer pela cruz. Nós, que participamos deste congresso, precisamos estar em contato com obreiros que sofrem no campo missionário ou que sofrem porque o campo lhes estreita cada dia mais ou lhes fecha as portas para seu trabalho. Nós, que estamos aqui, precisamos abrir nossos ouvidos a um evangelho renovado, não o corrompido pela busca da prosperidade pessoal às custas da fé em Jesus Cristo e sim aquele que nos mantém dispostos a ofertar e a nos dar até as últimas consequências para chegar até o último da terra. Notem que tenho falado de “cristãos” e não só de missionários porque este é um termo mais inclusivo; como temos ensinado na Ibero América, falamos dos cristãos incondicionais, qualquer que seja seu chamado, quer seja para pastor, missionário ou para ser um cidadão responsável. Todos estamos expostos ao sofrimento quando começamos a ser luz e a confrontar, com nosso testemunho, um mundo em trevas. A Bíblia está cheia de exemplos e sobretudo de afirmações sobre o sofrimento como parte do processo do discipulado que muito pouco visitamos por estarmos ocupados, como estamos, em perseguir os padrões de sucesso estabelecidos pelo mundo e aceitos pela igreja. Já no livro de Isaías, no terceiro canto do Servo do Senhor11 que encontramos no capítulo 50.4-9, o servo é apresentado como um discípulo em preparação para receber a comissão que o Senhor tem para Ele. É preparado em seu falar e em seu ouvir (50.4), mas, como um verdadeiro discípulo, aprende que sua preparação para a tarefa inclui também o sofrimento como uma parte integral desta experiência (50.6). Quando vemos a experiência de Paulo, o missionário por antonomásia, caracterizou sua vida como alguém que está disposto a sofrer. Atos 9 relata a história de sua conversão, a experiência com a visão de Jesus Cristo que muda o paradigma de sua vida, que questiona suas convicções e, sobretudo, que lhe dá uma nova ocupação, que inclui o sofrimento. Seu caminho a Damasco Paulo se mobilizava para fazer sofrer os discípulos do Senhor como lemos em Atos 9.1; levava cartas dos príncipes e sacerdotes (9.14), guardas e, sem dúvida, realizava muitas prisões. Em sua curta experiência como perseguidor da igreja, sem dúvida, ele se distinguiu em seu trabalho. Mais adiante lemos, como na manchete de um jornal, as credenciais de Paulo: “quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém” (9.13). No capítulo sete o vemos observando, em um lugar privilegiado da improvisada sala de torturas em uma rua, o martírio de Estevão. Ali, daquele lugar, o viu, ensanguentado, colocar-se de joelhos com

10 SCTJM, “Cartas de San Agustín” www.corazones.org/santos/agustin.htm: 2001 11 Seguindo a divisão proposta por Kaiser em: Kaiser, Jr. W. C., Mission in the Old Testament: Israel as a light to the nations. Grand Rapids: Baker Books, 2000:57

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esforço, com as mãos trêmulas, e dirigir a Deus a seguinte oração: “Senhor, não lhes imputes este pecado” e depois caiu e morreu. Certamente a imagem não o deixou dormir: como é que os cristãos podem perdoar seus carrascos, em momentos como este? (7.58.60). No capítulo 8.1,3 ele é descrito com as seguintes palavras no marco da primeira grande perseguição à igreja. “...e Saulo consentia na sua morte… e Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e arrastando homens e mulheres encerrava-os no cárcere”. É certo que a segunda imagem que não podia ser apagada da mente era a dos cristãos: como podem ir pregando enquanto fogem? – dizia a si próprio, sem dúvida. E imaginamos que, quando apressava seus passos para chegar a Damasco, não devia entender como era tão difícil acabar com aqueles hereges; parecia que quanto mais os perseguia e assolava, mais eles se multiplicavam. Ali e assim Jesus encontra Saulo. Um encontro inesperado. Por que me persegues? É a pergunta que lhe faz e Paulo se dá conta que a quem tem perseguido, assolado e encarcerado é o próprio Deus, encarnado em Jesus Cristo. O que foi que aconteceu naqueles três dias na casa de um tal Judas, situada na rua direita? Não sabemos com exatidão, mas, sem dúvida, foi um tempo de dor, a dor mais profunda que Saulo já havia experimentado. Sentiu arrependimento: “como fui capaz de fazer algo semelhante? Como pude chegar tão longe em meu interesse de defender a Deus e o resultado foi que, na realidade, o estava perseguindo?” Sem dúvida que também sentiu o medo de imaginar sua vida sem o que agora estava fazendo; sentiu a angústia de pensar que tudo o que tinha algum valor para ele havia sido destruído e também o temor de que talvez, havia chegado longe demais. Experimentou esse angustiante sentimento de haver errado no caminho, como quem toma outra saída e acaba de dar conta disso quando chega ao povoado errado. Deus leva Saulo a uma situação extrema; aquele soberbo, poderoso e influente jovem judeu termina cego, sozinho, triste, arrependido, angustiado e temeroso. A única coisa que Saulo podia fazer era orar. Durante esses três dias esteve clamando diante do Senhor, pedindo-lhe socorro e ajuda nesta situação desesperadora. Deus descreve Saulo de Tarso neste processo com uma simples, porém contundente, frase: “pois ele está orando”. Sem dúvida, para muitos missionários que estão agora entre nós, essa está sendo sua experiência. Para aqueles que não podem voltar ao campo por razões políticas, já que foram expulsos dali ou que saíram justamente antes da chegada dos que os buscavam, esta é sua descrição. “Eis que eles oram”. São suas lições em meio à dor que edificarão nossas vidas durante este encontro. Falem com liberdade de suas dores, de suas carências, de sua preocupação. Choremos e oremos juntos para que possamos entender este difícil tema das Escrituras e ser cada dia melhores companheiros de luta para vocês. É ali, em meio a esta situação desesperadora e a necessidade de resposta, que Deus envia Ananias para consolar Saulo, com a seguinte revelação: “instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel”, mas depois lhe revela a metodologia da preparação: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9.15). A resposta de Deus não se fez esperar. Paulo recebe sua descrição e já começa a entender o que significa a tarefa à qual está sendo chamado e sua preparação para ela em dois qualificativos: quanto e necessário; ambos estão relacionados com o sofrimento como parte da preparação para a obra missionária.

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Suas lições do sofrimento Deus mostra a Saulo que Ele sabe o quanto deve sofrer: Deus tem a medida de nosso sofrimento, como lemos em 1 Coríntios 10.13, onde nos descreve que Deus tem uma graduação para cada um dos crentes. Quando Ele permite o sofrimento, sabe quanto podemos resistir. É como a famosa “Linha Plimsoll”12 que atualmente se pinta no casco dos barcos; esta os ajuda a saber até onde é seguro carregar o barco para a travessia que lhe cabe empreender. Deus então, tem pintada essa linha em cada um de nós, dependendo da tarefa que nos encarregou. A sobrevivência no meio do sofrimento não depende de nós e sim daquele que pintou a linha, que nos faz lembrar que missões sempre estão ao pé da cruz. Deus permite o sofrimento na medida em que dele precisamos. A partir daquele momento, Saulo, que chegaria a ser o apóstolo Paulo, começa uma série de reflexões que o levam a concluir pelo valor do sofrimento para a vida cristã e, em particular, para recomendação de seu próprio ministério e trabalho na obra. Em 2 Coríntios 6.4-10 diz: “Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmo como ministros de Deus: na muita paciência, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, no saber, na longanimidade, na bondade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas; por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama, como enganadores e sendo verdadeiros; como desconhecidos e, entretanto, bem-conhecidos; como se estivéssemos morrendo e, contudo, eis que vivemos; como castigados, porém, não mortos; entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo”. E, finalmente o veria na perspectiva das realizações pelo sofrimento e na contribuição através dele, como deixaria escrito tempos depois e que lemos em 2 Coríntios 4.8-9: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desamparados; angustiados; perseguidos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos”. Se colocamos isso de forma ordenada na mente, a primeira coluna, por assim dizer, mostra a situação que nos pressiona do lado de fora, a segunda e a terceira mostram a reação que Deus espera dos cristãos. Todos os que estão sofrendo encontram no Senhor as forças para se colocarem acima da situação. Não é uma situação passageira, pois como se diz mais adiante, cada um deles leva nas costas a morte de Cristo “para que também a vida de Cristo se manifeste em nosso corpo”. Assim, a resposta à pergunta: quanto é necessário sofrer?, se responde nesta mesma passagem dizendo: até que “também a vida de Cristo se manifeste em nosso corpo” (4.10). Isso é o que esperamos ver agora, em meio a este III Congresso Missionário Ibero-americano. Queremos ver como a vida de Cristo se manifesta naqueles que estão no campo. Queremos ouvir de perto essa experiência. Precisamos aprender com vocês, preparar-nos melhor, saber como orar, mas, em particular, aprender a estar dispostos a sofrer pela causa de Cristo, na medida em que

12 Linha de flutuação para demonstrar o nível que a água deve alcançar quando o navio é carregado corretamente. Worldnet 1.7.1,

Princeton: 2001

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precisamos. Deixem-nos ver a vida de Cristo manifestar-se em suas vidas! Deixem-nos aprender com sua experiência para fazer deste um movimento mais forte e mais próximo da mensagem de Cristo! Deus permite o sofrimento no momento em que o necessitamos: o sofrimento chega, muitas vezes, quando Ele precisa que examinemos o que estamos fazendo e não quando nós tenhamos tempo para fazê-lo. Duas passagens nos mostram isto na experiência de Paulo. Paulo em Corinto recebe palavra dizendo-lhe que “ninguém ousará fazer-te mal” Atos 18.10. Contudo, em Éfeso, o Espírito antecipa a ele que lhe espera sofrimento e ele está disposto a seguir esse caminho (20.21 e 21.11). A resposta de Paulo à profecia de Ágabo é que ele estava disposto a ir pelo caminho do sofrimento por causa do nome de Jesus: “Então ele respondeu: Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”. Esta resposta não tem nada de romantismo missionário, mas é uma decisão quanto a seu ministério. Paulo está pronto e disposto a chegar até as últimas consequências por causa do evangelho de Jesus Cristo. Sua conclusão, neste momento de seu ministério é: “o que Deus quiser fazer consigo em meu ministério, isso é o melhor”. Enquanto preparava esta plenária, escutei um missionário falar que tinha acabado de sair de um longo serviço no Sudão. Ele falava de seu ministério e de suas lutas. Dizia que uma das coisas que mais trabalho lhe havia custado perdoar foi sua agência missionária; aceitar que eles tomaram decisões em questões de segurança em seu lugar. Relatava que quando começou a guerra civil nesse lugar, recebeu instruções precisas de seus superiores para deixar o campo de trabalho em 24 horas quando um comboio do exército estava evacuando os trabalhadores internacionais. E ele teve que fazer isso. Explicava com dor o sofrimento que ele e sua família sentiram naquele momento, quando estavam convictos de estar contradizendo tudo o que haviam pregado sobre a confiança em Deus, ao sair correndo no momento de dificuldade. O profundo sentimento de frustração e impotência de deixar sós aqueles aos quais haviam dito tantas vezes que os amavam e que estavam dispostos a fazer qualquer coisa por eles. Eu sei que há muitos aqui que estão sofrendo essa dor agora. Que chegam a este congresso com a grande pergunta se voltarão a seu campo de trabalho, se verão de novo seus amigos, seus irmãos e aqueles a quem levaram a Cristo ou prometeram ajudar. Hoje o panorama que se vê é sombrio e triste, mas Deus quer recordar-lhes que Ele permite o sofrimento no momento que o necessitamos. Por isso estamos aqui, porque necessitamos aprender juntos sobre a questão do sofrimento no campo de trabalho e buscar juntos forças para seguir adiante. Deus mostra porque é necessário sofrer e os resultados de passar por esta escola no ministério. Paulo dá uma longa lista de razões pelas quais o sofrimento é necessário, porém, por causa do tempo, escolhi apenas quatro delas. A primeira, para conhecer a Cristo à sombra da cruz, em meio aos sofrimentos (Filipenses 3:10). Se é Cristo a quem damos a conhecer, devemos conhecê-lo primeiro e parece ser, pelo que diz este texto, que o sofrimento é um dos meios mais efetivos para chegar a esse conhecimento. É ali onde vemos uma faceta de seu rosto, que não poderíamos ver de outra maneira; onde sentimos sua presença salvadora em momentos de angústia e onde, ao colocar à prova nosso chamado, confirmamos plenamente aquilo que nos enviou a fazer e nos comprometemos a permanecer fiéis até o fim, ainda que em meio ao sofrimento, ainda que nisto se vá a vida.

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Segundo, para evitar a soberba e a arrogância de crer que somos mais importantes que a obra de Deus em nós (2 Coríntios 12.7-10) “pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”. Deus abençoou a Ibero América durante as duas últimas décadas. Literalmente, milhares de missionários tem saído ao campo e muitos têm permanecido nele, cumprindo tarefas incríveis. Temos podido levar o conhecimento deste despertar missionário a quase cada esfera missionária internacional. Por mais de uma vez vemos as grandes expectativas que existem quanto à chamada “força missionária ibero-americana” e o entusiasmo que produz quando relatamos o que Deus está fazendo no meio de nós. É muito fácil nos ensoberbecermos. Começar a falar “evangelasticamente” ao apresentar, às vezes, imagens do que está acontecendo, que não necessariamente representam a realidade atual. Ali é quando o sofrimento nos faz recordar que por fim, e no fim, o mais importante que pode acontecer conosco não é nosso glorioso ministério e sim a obra que o Senhor quer fazer em nós. Que quem toca os corações é seu Santo Espírito, que Ele próprio edificará sua igreja e que as portas do inferno vão ser confrontadas por seu santo poder e absoluto governo sobre tudo e sobre todos. É necessário sofrer para ter clareza destas coisas. Em terceiro lugar, é necessário sofrer para dar força e poder a nosso testemunho. Em Filipenses 1.12-14, o apóstolo Paulo fala com entusiasmo de suas prisões e de seus sofrimentos. Diz que redundaram em bem e no progresso do evangelho. Os cristãos de Filipos se preocupam com ele e o suprem para cobrir seus sofrimentos, os de Éfeso pregam a Cristo com mais ardor. Os que o rodeiam, veem como Cristo é engrandecido em seu corpo e até seus inimigos pregam a Cristo por pretexto. O evangelho, então, está em local seguro porque o missionário está preso. Que tremendo paradoxo! Ser reduzido à prisão para que o evangelho cresça. Ser tomado à força para que a força do evangelho possa ser posta em evidência. Deixar-se levar à morte para que a vida de Cristo seja manifestada na vida do servo. Não sei se podemos entender tais paradoxos com os anos que temos de experiência missionária, mas, sem dúvida, hoje há entre nós quem os tenha vivido ou que ainda estão vivendo e, sem dúvida, nos poderão ensinar com sua própria vida uma fotografia do apóstolo Paulo lavrada a golpe de sofrimento. Finalmente, para dar ao cristão a oportunidade de ter comunhão nos sofrimentos de Cristo. Em Apocalipse 2.10, o Espírito, escrevendo à igreja de Esmirna, diz: “não temas as coisas que tens de sofrer...”. Antecipa aos irmãos a realidade do sofrimento. Deus os têm como parte de seu plano; é um sofrimento temporal e nada afeta os galardões eternos e, particularmente, porque a prova é necessária para demonstrar quais sairão vitoriosos no momento da prova. Ficou na história o relato escrito de uma testemunha ocular dos sofrimentos aos quais foi submetido Policarpo, o bispo de Esmirna, discípulo de João, o apóstolo. Isto ocorreu uns quarenta anos depois que a igreja liderada por ele recebera a carta com o Apocalipse das mãos de João: “Quando os soldados chegaram a seu esconderijo, Policarpo deu ordens para que os tratassem com hospitalidade e lhes pediu uma hora de liberdade para orar. Então, depois de orar pelo espaço de duas horas, se pôs à disposição dos soldados que o montaram em um burrinho e seguiram em direção a Esmirna. No caminho para a cidade, encontrou-se com o chefe da polícia, que casualmente se chamava Herodes, e este subindo-o em seu carro, tratou de convencê-lo, perguntando-lhe: Que mal há em dizer que César é o senhor (Kirios Kaisar) e oferecer-lhe sacrifícios, e assim salvar-se? Policarpo,

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se negou, pois apenas conhecia: Cristo é o senhor (Kirios Cristos). Enfurecidos ante a obstinação do ancião, o expulsaram do carro e o fizeram percorrer a pé o resto do caminho ao estádio. Estando lá, o procônsul lhe disse: tenha compaixão de tua idade quase centenária, jura pela fortuna de César, arrependa-se e diga: ‘fora os ateus!’. O procônsul chamava de ateus os cristãos, porque não adoravam os deuses do Parthenon. Policarpo, apontando para a multidão de espectadores disse: sim, fora os ateus! O procônsul voltou a incitar Policarpo: jura e te solto; maldiga a Cristo! Policarpo lhe responde: Oitenta e seis anos há que lhe sirvo e não me fez nenhum mal. Como posso blasfemar contra meu rei, que me salvou? Para cumprir a lei, o procônsul insistiu pela terceira vez: jura pela fortuna de César! Ao que Policarpo respondeu: sou cristão! – Tenho feras e a elas te lançarei se não te arrependes. – Traga-as. Porque é impossível para nós nos arrependermos do bom para o mal, mas o bom é arrepender-se da crueldade para a justiça. – Com fogo te consumirei, a menos que se arrependa, já que despreza as feras. – Me ameaças com o fogo que arde por uma hora e logo se apaga. Não conheces o fogo do juízo que há de vir, nem o castigo eterno que está reservado para os ímpios. Mas, por que estás demorando? Traga o que queiras! Atado já no meio da fogueira, e quando estavam a ponto de acender o fogo, Policarpo elevou o olhar ao céu e orou em voz alta: Senhor Deus soberano, te dou graças porque me tens tido por digno deste momento para que, junto aos mártires, eu possa ter parte no cálice de Cristo. Por ele te bendigo e te glorificarei. Amém”.13 Tive a oportunidade, com alguns de vocês, de visitar as ruínas de Esmirna e recordar esta cena que me comoveu, imaginando este glorioso momento para o nome de Cristo, para a igreja e para Policarpo, um ministro sofredor, que terminou sua vida e seu ministério na fogueira, bendizendo a Cristo pelo privilégio de ter comunhão com Ele através dos sofrimentos. Deus lhe mostra que é necessário sofrer; me agrada a figura que Paulo apresenta quanto ao sofrimento como uma manifestação da glória de Deus em 2 Coríntios 4.7-18. Faz uma analogia de um vaso ou uma vasilha de barro. Apresenta o sofrimento como um processo gradual e contínuo na vida do crente, de maneira que cada golpe que o Senhor permite que nos alcance, quebra, de acordo o plano de Deus, uma parte dessa vasilha, que representa a fragilidade de nossa vida, mas é um sofrimento planejado, um pedaço da vasilha salta e deixa um buraco aberto. Então, por esse buraco que foi aberto em nossa vida e em nosso caráter, quando o peso do sofrimento cai sobre nós, a luz do tesouro ali guardado começa a sair. Entre mais golpes, mais buracos, mas entre mais golpes, mais luz! O apóstolo se assegura de que lembremos que à medida que se destrói o homem exterior, o homem interior se renova dia a dia (2 Coríntios 4.7-12). Esta ilustração nos recorda que a proximidade da morte nos leva a avaliar nossa vida e ministério e, sobretudo, a experimentar a ação de dar graças a Deus quando vemos nosso ministério na perspectiva da morte; nossas realizações, com sua vitória; e a soberba que acumulamos em nós, comparada com a humildade do servo sofredor. Paulo se assegura que entendamos que o sofrimento só afeta o homem exterior. É este corpo mortal que se vai desgastando e que precisa ser golpeado, como diz o apóstolo no capítulo seguinte: o homem interior, se aperfeiçoa no meio desta tribulação; por conseguinte, se o homem exterior é mortal, o sofrimento se converte em uma “leve e momentânea tribulação”, cujo resultado é que de meu corpo destroçado exteriormente surja a luz da glória de Jesus Cristo.

13 Quasten, Johannes, Plumpe Joseph C. Ed. The Epistles and the Martyrdom of St. Policarp (London: Longmas, Green & Co. 1957. 59

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Às vezes esquecemos que o ministério de ser luz para as nações traz incluído o sofrimento desde a fábrica. Não queríamos ser negligentes neste III Congresso Missionário Ibero-americano e deixar de dizer o que o Espírito está dizendo à igreja desde seus princípios: “não temas o que vais sofrer”. Estando em meio a esta conferência missionária, havendo muitos de nós mostrado de uma maneira visível nosso compromisso com as missões mundiais, devemos perguntar-nos esta noite se estamos também dispostos a sofrer por causa do chamado; se estamos preparados para prosseguir no chamado de Deus até as últimas consequências, como também até os últimos rincões da terra. Pensemos se estamos dispostos a fazer nosso o versículo de Filipenses 1.29: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele”. A pergunta é: até onde a igreja ibero-americana entende a necessidade do sofrimento?

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Missões em uma situação de perseguição

Irmão Yousef Jesus falou a seus discípulos e lhes antecipou que aqueles que decidissem segui-lo, encontrariam perseguição e todo tipo de sofrimento (João 15.18-27). Na igreja primitiva, os crentes enfrentaram a perseguição extrema e, como resultado, se espalharam por toda a região. Esta perseguição serviu como o catalizador principal na expansão do evangelho para o mundo (Atos 8). As palavras de Jesus são intensamente relevantes para a igreja de hoje, porque nós, como crentes, não pertencemos ao mundo, mas somos chamados a nos separar dele. No Oriente Médio, há muitas áreas onde esta realidade significa perseguição intensa, e é ali nessas zonas, onde a igreja está experimentando o crescimento mais rápido e, em alguns casos, está nascendo pela primeira vez. 1. Contexto da minoria cristã no Oriente Médio

A igreja oculta em: a. M.K.S b. [email protected]

2. Os desafios que enfrentam os cristãos no Oriente Médio

a. A mentalidade do “gafanhoto” b. Portas fechadas c. Intimidação d. Acusações sistemáticas contra a reputação do crente e. Ameaças f. Abuso físico g. Divisão entre cristãos h. Casamento e filhos i. Alienação da família

3. Como enfrentar os desafios

a. Lições da vida de Jonas b. Enfrentar nossos temores c. O caminho de sabedoria

Os benefícios e bênçãos de enfrentar dificuldades por causa de nossa fé.

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Resposta bíblica para a pobreza global

Pastor C. Sekar Pobreza e sua permanência no mundo S. J. Manikam, em seu livro “Poverty in India” (Pobreza na Índia), sugere que há três formas de compreender a pobreza: primeiramente é seu destino. De acordo com este pensamento, a pobreza é considerada predeterminada e seus efeitos, fora do controle humano. Como consequência, a pobreza sempre vai estar entre nós14 . Segundo, diz que a pobreza é resultado de um pensar para trás. Terceiro, que a modernização, com sua distribuição inapropriada das riquezas, faz com que a pobreza seja ainda mais notória. Como resultado, quase uma terça parte do mundo é privada dos recursos básicos para poder sobreviver, como água potável, serviço de saúde, educação e emprego. Contribuição missiológica à pobreza 1. Exemplo da igreja primitiva

No Antigo Testamento, os israelitas estavam instruídos por Deus para que cuidassem dos que tinham necessidade e se não o fizessem era pecado (Êxodo 22.25, Levítico 25.35-43). Na igreja de Jerusalém, os crentes generosamente apoiavam os que tinham necessidade dentro de sua congregação. Lucas escreve que os discípulos estavam unidos na missão da igreja e se preocupavam com as necessidades e com o bem-estar dos demais (Atos 4.32). Outro exemplo que sai da igreja primitiva é o de Pedro e João, que praticaram as disciplinas de oração e fé no contexto do templo. Em Atos 3.1-11, encontram um coxo sentado à entrada. Era algo comum vê-lo ali, mas isto os motivou a um novo desafio. Muitos dos judeus cumpriam religiosamente com os mandamentos por obediência a Deus e, convenientemente, deixavam algumas moedas para o coxo, mas esqueciam da situação de pobreza em que se encontrava nas portas do próprio templo. Para Pedro e João era um caso de fé. Eles o sararam no nome de Jesus, mas também o liberaram de sua pobreza espiritual. O homem coxo estava forçado a viver em dependência econômica e com depravação espiritual. Mas o estar curado lhe produziu uma confiança em Deus. Então, aquele que estava fora das portas do templo entrou e louvou a Deus, dando testemunho de sua transformação. Outro exemplo é o de Atos 6.1-7. Lucas nos fala de uma situação de crise: o ministério social da igreja com as viúvas. Os próprios apóstolos ajudaram a igreja para atender às necessidades socioespirituais entre os que estavam descuidados e, por conseguinte, eram também necessitados economicamente. Este incidente estabeleceu a importância de um ministério socioespiritual no contexto da igreja e de sua missão.

2. Lição no contexto missiológico A “igreja” à qual foram Pedro e João era um templo estabelecido (nós também temos criado boas igrejas e missões, às quais nos sentimos orgulhosos de pertencer). “A maravilhosa porta do templo era assim chamada por suas magníficas portas de 50 pés de altura por 40 pés de largura, e estavam cobertas de ouro, sendo a via favorita de entrada no templo” (Power Bible). Muitas vezes, nossa espiritualidade é como a beleza do portão, que representa a aparência externa para a gratificação pessoal. A espiritualidade nominal substitui o verdadeiro espírito da igreja primitiva

14 S.J. Manikam.J. (Ed) Poverty in India, A Xaviour Board publication. Oct 1988. p.109.

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e de seus apóstolos e falha em testificar efetivamente ou transformar as pessoas com necessidades.

3. Falta de atitude Durante o tempo de Moisés, Deus estabelecia que seu povo tinha que trabalhar para erradicar a pobreza entre eles. Tristemente, encontramos em Atos 3 que a pobreza se estabeleceu na entrada do próprio templo. Quando a fé chega a ser um rito, perde sua habilidade de obedecer a Deus e a seus mandamentos. A verdadeira fé em Deus sempre está preocupada com os pobres e necessitados, e busca como trazer, não somente a transformação individual, mas também coletiva por meio da reabilitação.

4. Ministério baseado nas necessidades

O encontro de Pedro e João com o coxo enfatiza sua resposta a um homem pobre e com necessidade. Eles se deram conta de que este mendigo podia receber suficiente esmolas por um dia, mas não a ajuda para toda sua vida. Os apóstolos exerceram sua fé em Deus ao ajudar a trazer uma transformação completa, física e espiritual; e o demonstraram com o poder de Deus.

Desafios missiológicos no contexto de pobreza 1. A dificuldade do equilíbrio

Há uns anos, quando o tsunami atingiu o Sul da Ásia, muitas pessoas ao redor do mundo começaram a contribuir sem reservas. As igrejas em toda a Índia também arrecadaram dinheiro para as vítimas e as igrejas que antes não tinham uma atitude para a ação social começaram a mudar. Deve-se considerar um ponto muito importante. Tom Sine disse: “Não basta que a igreja local apoie uma missão evangelística por aqui e uma missão de ajuda social por ali. Para ser biblicamente fundada, quando for possível, os ministérios especializados devem estar relacionados diretamente com serviços que cobrem todas as áreas básicas do desenvolvimento intelectual, físico, emocional, espiritual e social”15

2. A pobreza elevada Atos 4.34-35 nos conta que a igreja chegou a ser uma força responsável em prover as necessidades sociais, em unir esforços, em ofertar com sacrifício; e o resultado era uma vida em comum. Cristo se converteu na força “centrífuga” da atividade da igreja e foi o amor que os impulsionou a se preocuparem uns com os outros e a compartilhar.

3. Preocupação com os pobres A citação bíblica mais comum que vamos considerar está em Mateus 25.31-46. Aqui encontramos que a evidência de nossa fé está demonstrada em nossas ações. Tratar todas as pessoas como se fossem Jesus não é uma tarefa simples. O que fazemos para os demais demonstra o que realmente pensamos das palavras de Jesus: Dai de comer aos que têm fome, receba os que não têm onde viver, cuida dos enfermos. Assim vemos Jesus como um modelo do trabalhador social, que nunca deixou de fazer boas obras para as pessoas necessitadas. Sempre ministrou a eles. A

15 Tom Sine. «The Church in Need to Human Need» USA. Mission Advance, 1983, p.13.

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meta da transformação social é a mudança de caráter e de condições de nossas próprias comunidades, que resulta em uma mudança em sua natureza e função.

4. Desculpas que são usadas para não se preocuparem com os pobres e necessitados a. Não merecem ajuda.

Eles mesmos entraram na pobreza e eles têm que se esforçar para poder sair. Esta é a atitude de alguns que não desejam ajudar os pobres. Mas quando ministrava, Jesus sempre encontrou oportunidades de servir aos pobres.

b. O chamado de ajudar os pobres não é um assunto do reino de Deus. Muitos ministros (a partir do ponto de vista de um pastor da Índia trabalhando em um contexto urbano) pensam em alcançar os da classe média alta e da classe média. Eles estão mais focados no ministério que provê a segurança financeira. Esta é uma atitude de manipulação. Outros têm os pobres como seus “projetos” e estabelecem programas de alimentação, escolas, clínicas de saúde etc. Mas o fazem para aumentar a ajuda econômica dos doadores e a aprovação do governo. Desgraçadamente, em lugar de ajudar os pobres, são os promotores destes programas que recebem o benefício.

c. Não fomos chamados a este grupo social. Os pastores urbanos em algumas igrejas se focam em alcançar os da classe média alta ou a elite da sociedade. Eles dizem que ao converter os ricos, ou por receber suas ofertas, poderão ajudar a igreja a chegar a um ponto de autossuficiência. Então os pobres podem ser ajudados efetivamente com os recursos que entrarem. Infelizmente, esse não é o resultado.

d. Tenho minhas próprias necessidades. Também há igrejas que não pensam na extensão do reino fora de suas próprias famílias. Estão tão focadas em sua teologia de “Jerusalém” que se esqueçam de “Samaria” e até o último da terra.

e. Se lhes dou uma ajuda econômica, vão abusar ou desperdiçá-la e os pobres nunca vão receber a ajuda. Muitas igrejas, missões e agências pensam que as ofertas muitas vezes estão desperdiçadas em projetos que não dão resultados. A falta de prestar contas e a manipulação dos números acontece muitas vezes. As agências recebem o benefício e não os que têm a necessidade.

f. Não sei como começar ou a quem ofertar. Há muitas igrejas e pessoas que estão dispostas a dar generosamente, mas por falta de conhecimento não sabem como fazê-lo.

g. Minha pequena oferta não vai poder ajudar. Alguns sentem que sua contribuição individual não vai fazer diferença, por conseguinte não a dão. Mas o exemplo que nos deixou Jesus é o da viúva que deu o pouco que tinha e foi agradável. No Antigo Testamento, Deus mandou seu povo dar seu dízimo a cada três anos para os pobres (Deuteronômio 14.28,29). Esta lei foi feita para prevenir o povo de cair na pobreza e opressão. Então chegou a ser uma responsabilidade de todos cuidar dos necessitados.

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Hoje em dia, os países ao redor do mundo têm posto leis para proteger os direitos dos pobres. Muitas religiões ensinam sobre a ajuda aos pobres. Quanto mais espera Deus dos cristãos? Modelos para considerar Alcance Cristão para a Missão e o Evangelismo16 É uma missão que pertence à IMA, que trabalha nos bairros pobres no sul da Índia. Eles, com sucesso, têm visto uma transformação espiritual e mudanças também na sociedade. Seu foco não é primariamente socioeconômico, mas também socioespiritual. Esta missão está impactando a sociedade. Na continuidade quero apresentar brevemente sua metodologia, que poderia ser aplicada, inclusive, no contexto ibero-americano. Relações amistosas Os missionários desta missão, assim como as famílias e solteiros, estão estrategicamente localizados nas cidades. Escolhem como alvo alguns bairros pobres e os visitam regularmente por um período de até seis meses, conhecendo as pessoas e chegando a ser também conhecidos. Quando conquistam a confiança das pessoas do lugar, começam a ter uma interação social por meio de um café da manhã ou uma comida informal. Dali estabelecem uma relação de amizade, mostrando seu interesse pelas famílias, seus trabalhos etc. Dividem as pessoas em grupos: a. Crianças: grupo Samuel (as motiva a serem como Samuel) b. Moças: grupo Esther c. Senhoras jovens: grupo Débora d. Varões, casados jovens: grupo Daniel e. Varões casados: grupo Paulo Em cada grupo ensinam os valores morais com dramas e ensinamentos positivos, pegando exemplos da vida diária. Jogos Também é uma forma eficaz de alcançar os jovens. São organizadas partidas de futebol ou críquete nos bairros. Este processo leva tempo, mas traz confiança e amizade. Há casos onde se pode ter uma oração simples ou um testemunho. Quando se ministra nos bairros pobres, as pessoas que vivem nessas condições têm um conhecimento limitado de seu ambiente e de sua vida diária. Assim, comunicar o evangelho de uma maneira muito intelectual não é eficaz. Se, contudo, se extraem princípios bíblicos da vida cotidiana não somente será mais eficaz, como também lhes ajudará a entender melhor. Este método é parecido com a forma que Jesus utilizou. Ele ensinou a verdade a partir da vida cotidiana. Drama, dança e contar histórias Estes também são métodos muito efetivos.

16 Christian Outreach for Mission and Evangelism

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A missão não dá ajuda econômica à comunidade que foi escolhida, nem tampouco ao indivíduo, para evitar que a desperdicem em vícios. Em troca, os missionários os ajudam a elaborar orçamentos e os ensinam a fazer investimentos e poupanças. Outro desafio que enfrentam os missionários são as práticas supersticiosas, o incesto e as relações fora do casamento. Tudo isto impede um entender espiritual e contribui para a instabilidade econômica. Como resposta, os missionários oram, dão aconselhamento e mantém relacionamentos interpessoais. Todos estes são elementos que trazem transformação. Pontos chaves desta metodologia: a. Amizade b. Visitá-los regularmente c. Jogos, dramas, piqueniques etc. d. Expressões de genuína preocupação de um pelo outro e. Não estabelecem um compromisso de apoio econômico f. Não se envolvem na política17 . Ligações e limites do apoio socioeconômico e espiritual Cada missão ou igreja tem que desenvolver seu próprio padrão ou metodologia no contexto do grupo que quer alcançar, considerando os limites do apoio socioeconômico. D’Epinay escreve: “a reflexão contemporânea sobre apoio e desenvolvimento somente, não leva as pessoas a um ponto de valorizarem a si mesmas. O desenvolvimento do que é o valor do próprio ser é a fundação de todo o crescimento humano. Por isso, o evangelho é vital em qualquer tipo de mudança”18.O evangelho traz uma transformação do indivíduo que transcende as barreiras socioeconômicas, trazendo um impacto socioespiritual e uma maior valorização do ser. Então, os ministérios que estão trabalhando de uma maneira integral precisam pensar de novo. Muitas missões cristãs consideram que se trata de um ministério integral quando se estabelecem orfanatos, pousadas, instituições educativas, centros de reabilitação, centros de saúde etc. Agregam também uma pregação tradicional – como a melhor maneira de estabelecer e dar crescimento à igreja. O Dr. Ezra Sargunam, o bispo fundador das igrejas evangélicas de Índia (ECI), disse: “Devemos reconhecer e ver o homem e sua necessidade como um todo. Se dedicamos ênfase à sua necessidade física, somos humanitários; se vemos apenas sua necessidade mental, somos educadores; se vemos sua opressão política, somos políticos ou revolucionários e se vemos somente a necessidade espiritual, somos religiosos. É vendo o homem completo, com ênfase maior em sua necessidade espiritual, que chegamos a ser uma testemunha cristã, um missionário, um evangelista ou um comunicador da Palavra de Deus”19. Preocupação com a área socioespiritual A história da igreja tem exemplos numerosos dos pobres como receptores do evangelho, na Índia e ao redor do mundo. “Missionários como Robert De Nobili trabalhavam com as castas altas e tinham muito pouco êxito. Mas homens como Francis Xavier e outros atuaram entre os pobres e tiveram

17 InterviewMr. Peter with Christian Outreach for Mission and Evangelism (Bangalore, 9th October-06). 18 D’Epinay “In Heaven of the Mosses” AD-2000 and Beyond. 1991. p.64

19 Mission mandate “Holistic Evangelism” p. 247

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muito êxito”20. Ainda que louvemos a Deus pela resposta dos pobres em “aceitar” o cristianismo, não temos visto uma transformação extraordinária em um sentido integral. Muitos chegaram a ser cristãos porque receberam uma ajuda misericordiosa dos missionários. Era a ajuda material que os atraía e, ainda agora, continuam em pobreza social. Então, quando pensamos de novo acerca desta preocupação socioespiritual, temos que envolver uma capacitação teológica para que nossos missionários entendam teologia e doutrina. Muitos dos rapazes e moças têm falta de conhecimento teológico do mundo e têm produzido uma cultura “monoteológica”, que se baseia no padrão tradicional de pregar e ensinar, mas que não se preocupa com as necessidades ambientais, socioculturais e socioeconômicas das pessoas às quais ministram. Em meu contexto, na Índia, vi centenas de igrejas urbanas, rurais e tribais, em todo o país, onde os pastores, evangelistas e os crentes também vivem em condições econômicas que são estáticas. Eles ensinam os crentes a orar e a confiar em Deus por suas necessidades quando se defrontam com situações econômicas difíceis. Não lhes têm ensinado a superar sua depravação econômica. Não sugiro aqui que depender de Deus e ter fé é mal, mas devemos advogar pela dignidade dos pobres. Devemos ser conscientes desta necessidade. Como surge esta dignidade? Quero lhe apresentar uns exemplos que têm sido efetivos para trazer mudanças socioespirituais por meio de transformações na área socioeconômica. A fundação para a educação transcultural21 No Sul da África se iniciou um esforço para alcançar e reabilitar os pobres na Zâmbia. Sua missão primeiramente era a transformação espiritual, mas ao mesmo tempo, tinham que ajudar na luta socioeconômica dos zambianos. Há 10 anos, a FCCE começou um programa agrário que os capacitou e os assessorou em sua prática atual no campo. Começaram com um “banco” de sementes. As pessoas do povoado fizeram depósitos de sementes para semear no ano seguinte. Em troca, eles receberam fertilizantes, pesticidas e outros itens necessários para poder plantar e colher efetivamente. Como resultado deste programa, começou a haver mudanças econômicas. Em relação à área agropecuária, também foram ensinadas a eles diferentes maneiras efetivas de como alimentar e cuidar dos animais. Houve crias de vacas e touros saudáveis e isto contribuiu para uma economia mais forte. O resultado disso foi que os cristãos zambianos tiveram a oportunidade de ser agentes de transformação socioeconômica e sua comunidade ficou mais forte espiritualmente. Esta é a chave para um ministério integral. Modelos no contexto da Índia Na Índia se oferecem muitos empregos na área de limpeza em casas, edifícios e apartamentos. São dadas oportunidades e capacitação tanto aos crentes como aos não crentes. Os capacitadores lhes oferecem carinho e cuidado com a intenção de discipulá-los. Nos últimos dez anos, tenho visto um crescimento neste ministério/negócio. Tem havido muitas conversões a Cristo. Diversas pessoas que têm tido um rendimento econômico adquirem um respeito pessoal e dignidade na sociedade. Indústrias pequenas 20 Sargunam Ezra M. “Church Growth Among The Poor and the Suppressed” Mission Mandate. 1992 21 The Foundation for Cross Cultural Education FCCE 67

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Paul Das, da associação Pro-Visão Índia, está comprometido a capacitar pessoas e ajudá-las economicamente para exportar seus produtos artesanais. Ele diretamente ou indiretamente oferece emprego a umas 100 pessoas, desenvolvendo habilidades com a intenção de alcançar, ensinar e discipular. A meta da Pro-Visão é ajudar os pobres por meio do trabalho e também de animar os missionários e outros obreiros independentes a chegar ao ponto de sustentarem a si próprios. Escovas Immanuel Walker, um homem de negócios de Madurai, fez o compromisso pessoal de enviar 5.000 missionários durante 10 anos. Para cumprir a visão, estimulou os crentes a iniciarem a produção de escovas. A primeira fábrica foi em sua própria cidade e foi bem-sucedida. O negócio estava localizado na casa de um convertido e deu emprego a crentes e a não crentes. A finalidade é ensinar o amor de Cristo, ler a Bíblia e orar juntos todos os dias. Muitos têm sido atraídos ao Senhor e, ao mesmo tempo, beneficiados pelo trabalho. O propósito principal deste negócio é este: primeiro, prover emprego aos pobres; e segundo, destinar o lucro para missões. Deus tem abençoado seus esforços. Gráfica Umesh, um crente Sindhi que tinha uma gráfica, quis usar suas habilidades na gráfica para ajudar na transformação de seu povo. Ele deu emprego a jovens de um bairro pobre e lhes ensinou as competências necessárias para poderem trabalhar. Mostrou com seu testemunho o amor de Cristo por meio da ajuda socioeconômica e, ao mesmo tempo, impactando a vida socioespiritual. Umesh não tem uma organização nem tampouco é uma ONG e sim um indivíduo que quer cumprir a grande comissão. As igrejas precisam motivar e ajudar os homens de negócios independentes a implementarem a grande comissão, ainda que não estejam trabalhando formalmente como uma organização social. O que precisamos é um compromisso com o reino. Sadhana Sadhana no idioma sanskrit significa “realização”. É uma ONG na Índia que dá emprego aos que têm deficiências visuais ou físicas. Ministram aos deficientes e cuidam deles de várias formas. Por exemplo, em um macroprojeto foi liberado um empréstimo a um cego para comprar cabras. Também se tem ajudado aos cegos a fazer venda de material escolar nas escolas. Outros vendem café, incenso, tela etc. Todos eles colaboram na área socioeconômica para poder impactar também a área socioespiritual. O papel da igreja e sua contribuição na Ibero América Que possam ser servos, colaboradores mútuos Muitas empresas e esforços independentes estão sendo menos eficazes porque suas contribuições são isoladas. Trabalhar como colaboradores, contudo, tem uma melhor aceitação nas missões mundiais para poder melhorar a efetividade. “Negócio como missão” para envolver os pobres como colaboradores com a igreja ou missão local A ênfase neste ponto é que tanto as microempresas como as grandes empresas podem ajudar as comunidades a viver com dignidade e a produzir transformação. Há uma grande necessidade de profissionais para que possam conduzir, investir e implementar.

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Uma relação das missões ibero-americanas com a India Missions Association22 Espero que nosso relacionamento no passado, a contribuição nas consultas, a comunhão e a koinonia ajudem a todos nós a estender o reino de Deus. Desejo que permaneça uma unidade e esperamos uma participação contínua com vocês para que juntos trabalhemos pela Ásia. Conclusão Há dois tipos de pobreza: uma econômica e outra religiosa. A pobreza econômica é imposta pelos que têm o poder sobre aqueles que são mais frágeis e sofrem sob sua luta socioeconômica. A pobreza espiritual é algo que se escolhe. Responder à pobreza econômica e espiritual é o desafio que tem a igreja e é sua missão, para que haja um equilíbrio e traga mudanças radicais nas atitudes tradicionais. Uma maneira efetiva para responder é impactar as necessidades socioeconômicas e ter, ao mesmo tempo, a mudança socioespiritual em mente. Mas isto somente pode ser realizado quando todos nossos esforços convergirem ao pé da cruz, de onde sempre emana a transformação verdadeira e final. Que todos nós, os que estamos aqui presentes neste congresso, repartamos a sabedoria transformadora de Cristo e o poder que flui da cruz para colocar nossas missões a seus pés neste processo da expansão do reino.

22 Associação de Missões na Índia

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Missões em meio ao martírio

Dr. Bob Fu Tomando notas… 1. Introdução

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2. Primeiro ponto ______________________________________________________________________________

3. Segundo ponto ______________________________________________________________________________

4. Terceiro ponto ______________________________________________________________________________

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Um novo capítulo dos atos do Espírito Santo

Carlos Scott Um tempo de gratidão Uma igreja que experimenta a obra do Espírito Santo “A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” Atos 11.21. Em primeiro lugar, queremos dar glória e graças a Deus pela igreja ibero-americana. Uma igreja que nos faz pensar e refletir. Uma igreja que reflete o que viveu a igreja de Antioquia em Atos 11. Eles experimentaram o poder de Deus e um grande número creu e se converteu ao Senhor. A igreja se estabeleceu porque falavam de Jesus Cristo como a mensagem das boas novas da paz. Algumas pessoas de Chipre e de Cirene se atreveram a fazer a diferença falando aos de fala grega e não somente aos judeus. A igreja foi estabelecida uns doze anos depois da de Jerusalém, como consequência de um grupo de homens e mulheres sem dinheiro, sem planejamento, terem subido de Jerusalém pela costa até chegar a Antioquia, compartilhando sobre Jesus Cristo. Uma igreja que vive sob a influência do Espírito Santo é uma igreja que se edifica, se consolida, tem vigor, um testemunho eficaz e se expande. Damos graças a Deus porque a igreja ibero-americana tem uma ênfase evangelística e surgem igrejas novas. Uma igreja viva, que cresce, é alegre, flexível, tem liderança jovem, com ímpeto, com iniciativa, uma igreja empreendedora, inovadora e criativa. Uma igreja solidária, que adora o Senhor. Uma igreja que evidencia, através dos atos, a graça de Deus. Uma igreja que oferece aos homens um tempo de oportunidade. Nos últimos anos, a igreja na Ibero América despertou para a responsabilidade social; esta característica tem sido uma das grandes colaborações da teologia latino-americana: a ênfase na realidade do reino de Deus. A igreja tem sido estabelecida como produto da visitação do Espírito Santo e do trabalho missionário. Tanto homens como mulheres compartilham a fé em Jesus Cristo. Tudo é muito espontâneo. Encontramo-nos com uma Ibero América que ama o Senhor. Deus é o impulsor para que outros conheçam o Senhor. O grande herói da missão na Ibero América é precisamente o Espírito Santo. A nacionalização da liderança na primeira metade do século XX e o surgimento das igrejas nacionais, na década de trinta, foram outros fatores decisivos para o desenvolvimento das estruturas eclesiásticas contextualizadas e eficazes. O Espírito Santo está trabalhando na vida da igreja. Está trabalhando em suas estruturas, com o fim de reformá-la e de renovar a fidelidade à sua missão. Repetimos, o significativo não é a estrutura da igreja e sim sua missão. Há diferentes fontes de informação que confirmam que o total da comunidade evangélica na Ibero América no ano de 1900 era de 50.000 crentes. No congresso de Edimburgo de 1910 não havia nenhum latino-americano e, durante o século passado, o crescimento está refletido nos seguintes dados: 1916: 378.000; 1925: 756.000; 1936: 7.200.000; 1967: 14.746.200; 1973: 20.000.000; 1987: 37.432.000; 2000: 80.000.000123.

23 1Nuñez, E. & Taylor, W. Crisis and Hope in Latin America. Pasadena, CA: William Carey Library, 1996, p.161.

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Uma igreja que começa a separar, reconhecer os que são escolhidos pelo Espírito Santo: Damos graças a Deus porque muitas das igrejas ibero-americanas têm escutado a voz do Espírito Santo, apartando centenas de Barnabés e Saulos para o trabalho ao qual Deus os havia chamado. Damos graças a Deus pelas centenas de irmãos obedientes à voz do Espírito Santo, que têm saído a pregar, como menciona João no versículo sete de sua terceira carta: “pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios”. Damos graças a Deus pelas centenas de irmãos que os têm ajudado a seguir sua viagem, colaborando com eles na verdade. Ou como bem expressa Paulo em Tito 3.13: “Encaminha com diligência Zenas, o intérprete da lei, e Apolo [missionários biocupacionais e de carreira], a fim de que não lhes falte coisa alguma [viagens nacionais]. Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos”24. Damos graças a Deus pelas milhares de famílias que ajudam os obreiros transculturais. Esta é nossa experiência ibero-americana e agora, chegando a outras nações, mantenhamos esta fé: “A mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor”. Um tempo de perigos e de riscos Atos 14.8-18: “…. Quando as multidões viram o que Paulo fizera, gritaram .... Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós. A Barnabé chamavam Júpiter, e a Paulo, Mercúrio…”. Em Listra tem lugar um milagre que deixa atônita a multidão: a um paralítico nos pés, coxo de nascimento, que jamais havia andado, Paulo ordena em voz forte: ponha-se de pé e endireita-se! O resultado desse milagre foi que trataram os servos de Deus como deuses. Paulo e Barnabé expressam que eles são apenas homens, que devem voltar-se a Deus e deixar essas coisas. Com esses argumentos e com dificuldade, conseguem dissuadir a multidão. O perigo e o risco que eles correram é o mesmo que temos nós na Ibero América e nos campos transculturais. Acontece que as pessoas tratam de transferir a admiração e a adoração que somente Deus merece para aqueles a quem Deus toma por mensageiros. O problema pode ser maior se nós estimulamos estes sentimentos. Isto algumas vezes ocorre na vida da igreja e se constroem pequenos impérios. São atraídos seguidores de pessoas e instituições, mas não de Jesus Cristo. A igreja ibero-americana está enfrentado vários perigos como: Poder e competição Muitas vezes, as igrejas vivem a luta miserável pelo poder. O amor ao poder em vez do poder do amor. Outras vezes, a funcionalidade se distancia dos princípios bíblicos. Busca-se resultados onde cada um vale pelo que produz, fazendo a tarefa no menor tempo possível. Este tipo de teologia da produtividade está afetando e prejudicando a formação de pastores e também de missionários. Procura-se capacitá-los no menor tempo possível. O sucesso ministerial é mostrar os resultados e não uma vida de humildade. O fato de minguar para que Cristo cresça e sermos invisíveis não entra neste esquema. Esta cena se completa com a alta competitividade que a produção exige. A competição distancia as diferentes igrejas e cria inveja nela própria. A unidade do corpo de Cristo é afetada por esta estrutura. As consequências estão à vista: a pressão e a tensão em que vivem as

24 As citações bíblicas nesta palestra foram tomadas da NVI (Nova Versão Internacional)

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igrejas. Os pastores e os missionários são os que devem suportar este modelo extraído, é claro, do âmbito secular e mundano. Não somos chamados a formar estereótipos empresariais baseados em critérios de utilitarismo, de mercantilismo e de números. A grande multiplicação, as cifras e as porcentagens não são sinônimos de transformação. Não devemos sacrificar as demandas do evangelho no altar dos números. Vivemos tempos nos quais parece que algumas igrejas têm clientes e, como nos negócios, eles sempre têm razão. São os clientes que estão permanentemente gratificados, psicologicamente bem e são o centro de tudo. Queremos estimulá-los a romper com estes esquemas de produtividade e a pensar em termos do reino. Devemos animar-nos a pregar a Palavra de Deus e deixar que sua mensagem nos incomode e examine nosso caminho com Jesus Cristo. O conceito do sucesso de Jesus foi: “Pai, fiz tudo o que me disseste para fazer”. Os resultados são aleatórios. Jesus curou a uns e a outros não. Alimentou a muitos e a outros não sustentou. Negar a nós mesmos, conhecer Jesus Cristo e ser semelhantes em sua morte é poder transformador (Filipenses 3.10). Falta de ensinamento da Palavra de Deus Também observamos que algumas vezes há falta de ensino de toda a Palavra de Deus. Em alguns casos, a prática do discipulado tem sido pouca e os estudos bíblicos fazem referência a textos isolados, fragmentados. Muitas vezes, também, se observa o sincretismo (a conciliação de doutrinas diferentes), a desnutrição espiritual, as heresias, a superstição, a divisão etecetera. Seguindo os comentários de Bertil Ekström, atual diretor executivo da Aliança Evangélica Mundial (WEA), observamos que temos crescido sim, em números estatísticos. Mas crescer em tamanho é uma coisa e crescer em maturidade é outra. O mero crescimento numérico tem-se tornado um objetivo em si, e para muitos, os fins justificam os meios. Qualquer método que favoreça o aumento de membros na igreja é válido e a busca pelas estratégias que são mais eficazes, neste sentido, tem levado a metodologias que reduzem o significado do evangelho e põem em risco os princípios bíblicos. Caudilhismo e forma de governo A liderança ibero-americana, algumas vezes, segue tendências globais de líderes carismáticos (com forte personalidade e com poder de convencimento), principalmente centrado em fundar sua própria igreja. O caudilhismo de nossa história continua sendo uma realidade. Diversas investigações demonstram que as igrejas com líderes autocráticos e carismáticos são as que mais crescem. Ao mesmo tempo, existe uma nova geração de líderes que busca o trabalho em equipe e que está muito mais preocupada com a qualidade e com uma igreja participativa. A democratização política nos países se reflete nas igrejas – também nas escolas e demais instituições – e os indivíduos de nossos dias já não aceitam, da mesma forma, o dogmatismo de uma liderança autocrática. A igreja precisa refletir sobre sua forma de governo e sobre suas maneiras de liderança. O exercício da liderança na vida das igrejas locais deve estar marcado pelo modelo do servo sofredor – não se interprete como fraco, pois sua mordomia está sob o amparo, o exemplo e a orientação do Senhor Jesus – e mostrar o evidente contraste com o caudilhismo e com outras distorções causadas pelo abuso do poder. Um tempo de profundos desafios Atos 13.1-3: “Havia na igreja de Antioquia profetas e Mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e

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jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram”. Pela história, sabemos que a igreja de Antioquia exerceu um papel importantíssimo na vida da igreja universal dos primeiros séculos. Era uma igreja que transpunha barreiras sociais, reconstruía vidas despedaçadas, cobria necessidades físicas e espirituais, resolvia conflitos interpessoais e doutrinários, como nos descreve o concílio de Jerusalém, tinha uma liderança compartilhada, formando uma equipe pastoral e estava disposta a estender os limites do reino de Deus até o último da terra. Perguntamos a nós mesmos, como igreja: qual será o trabalho para o qual o Senhor nos chama nos próximos anos e que novos desafios Ele coloca em nossas mãos? Qual é a direção e como devemos planejar? Como entender que somos uma igreja em missão? A quem devemos escolher para a obra do ministério? Como serão os próximos pastores e missionários transculturais? Antioquia tinha a ver com ser uma porta aberta para a evangelização do mundo. Nós, como ibero-americanos, somos desafiados a seguir este modelo. A igreja que vive em missão é uma igreja que se reconhece como enviada ao mundo. É uma igreja que busca o propósito de Deus, participando ativamente do culto ao Senhor, chamados a viver uma fé trinitária, uma fé relacional, uma vida de relacionamento com Deus e com nosso próximo, uma relação de comunhão uns com os outros, onde se dá prioridade ao ser antes do fazer. Como servos, entendemos que quando nos envolvemos na missão estamos compartilhando a missão do Deus missionário e não estamos trabalhando em nenhum projeto pessoal. Estamos a serviço da Missio Dei. E nossa missão é compartilhar a sua. Escutamos, descobrimos e obedecemos a voz do Senhor, enviando seus servos ao trabalho para o qual os tem chamado. É o modelo a seguir (Atos 13.1-3). É interessante observar, quando estudamos o livro dos Atos, como a igreja vai cumprindo as etapas; a igreja de Jerusalém se via como uma igreja atraente, mas depois da perseguição, o centro de ação é transferido para Antioquia da Síria. Jerusalém teve seu momento e seu apostolado, e agora se aproxima uma nova era, na qual é necessário responder aos não alcançados, e é justamente a igreja de Antioquia a que assume este compromisso. Lucas se ocupa desta congregação não por ser a mais rica ou a mais poderosa e sim porque soube enfrentar os desafios do momento. Depois, quando lemos Atos 15, encontramos uma dificuldade. Alguns cristãos provenientes da Judeia e que visitavam Antioquia pretendiam que os não judeus se circuncidassem para que pudessem ser salvos. Paulo, Barnabé e alguns outros crentes enviados pela igreja decidem resolver este conflito de valores no Concílio de Jerusalém. Qual é a causa de Paulo, Barnabé e aqueles que os acompanhavam poderem ver o que Deus estava fazendo entre os não alcançados e, por outro lado, outros crentes da seita dos fariseus, não? Eles haviam aceitado Jesus como o Messias e participavam da vida da igreja. Onde está a diferença? A diferença reside no fato de que, embora os fariseus houvessem recebido o evangelho, a igreja de Antioquia, além de recebê-lo, se unira à missão de Deus no mundo. E se lançaram à obra missionária. O espírito estava ativo em Jerusalém, sim; mas era em Antioquia que o Espírito estava fazendo coisas novas, abrindo brechas e ampliando horizontes. Ali, a igreja se sujeitou à ação do Espírito.

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A missão de todo o povo de Deus Cada cristão é chamado a participar e a exercer o sacerdócio universal dos crentes. A missão ocorre em todos os lugares. Impulsionados pela fé, os cristãos cruzam a fronteira entre os que creem e os que não creem, e do outro lado dessa fronteira dão testemunho de sua fé. Hoje, como igreja, enfrentamos desafios profundos como o fato de ainda existirem 4.000.0000 de pessoas que não conhecem o Senhor. A igreja na Ibero América deve assumir plenamente e sem demora sua responsabilidade na evangelização mundial. É o imperativo geral porque há milhões de pessoas que ainda não tiveram o direito humano de receber uma apresentação clara do evangelho. A igreja em seu conjunto é responsável pela evangelização de todos os povos e raças, dos falantes de todas as línguas. Uma fé que se considera universal, mas que não é missionária, se transforma em retórica sem autoridade e se torna estéril. Este cumprimento demanda cruzar fronteiras geográficas, culturais, sociais, linguísticas e espirituais até aceitar todas suas consequências. Dimensões de um novo paradigma missionário Os desafios também incluem as grandes cidades multiculturais; a reevangelização do ocidente; testificar no mundo de pluralidade religiosa e entre as etnias não alcançadas, onde estas se encontrem (seja nas grandes cidades ou em países de acesso restrito); a linguística e a tradução, a contextualização; ser agentes de reconciliação em um mundo de violência, de pessoas abandonadas, de refugiados, de imigrantes, em meio à perseguição religiosa e ao profundo nível de seu sofrimento. Morreram mais cristãos no século XX que nos dezenove séculos anteriores. Devemos assumir nosso papel em questões de meio ambiente e de toda a criação de Deus; este desafio implica também uma participação responsável e efetiva na sociedade ibero-americana; um aprofundamento do conhecimento bíblico através de um ensino sistemático nas igrejas locais; a maturação de modelos de liderança que promovam o trabalho de equipe e a participação ativa dos crentes. Precisamos ter uma real compreensão da unidade do povo de Deus, uma maior participação no movimento missionário mundial, fazendo-nos partícipes da igreja universal, compartilhando os desafios globais em uma ação integral do evangelho; uma busca sincera de modelos cooperativos; e entender as missões como um processo e não como um projeto. A mobilização missionária No primeiro congresso da COMIBAM (Cooperação Missionária Ibero-americana) em São Paulo, Brasil, em 1987, foi feita uma estimativa do movimento missionário ibero-americano. Havia aproximadamente sessenta organizações que enviavam uns 1.600 missionários transculturais. Dez anos depois, na preparação para o segundo congresso da COMIBAM, no México em 1997, se fez uma pesquisa mais sistemática com a finalidade de avaliar o movimento missionário da última década. Chegou-se à conclusão de que havia mais ou menos trezentas organizações de envio e pouco mais de 4.000 missionários transculturais. Segundo as estadísticas do ano de 2006, a Ibero América tem mais de 8.500 missionários enviados a outros campos e umas 400 organizações de envio. Damos graças e glória a Deus por este crescimento, mas também somos conscientes de que a mobilização missionária continua sendo um de nossos principais desafios. Embora sejamos um movimento missionário capaz, ainda não somos um movimento missionário que tenha chegado a desenvolver todo seu potencial para abençoar todas as nações. Apesar do número de evangélicos ibero-americanos (setenta milhões), ainda observamos que não se vê uma correlação

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com um maior envio de missionários às etnias menos evangelizadas e não alcançadas. Por outro lado, há preocupação com o envio de missionários sem a devida capacitação, sem um forte apoio financeiro, um adequado cuidado pastoral e a previsão do retorno. Unidade e cooperação A palavra de Deus nos anima a viver dignamente de acordo com o chamado que todos temos recebido. Somos desafiados a viver em humildade, a sermos amáveis, pacientes, tolerantes uns com os outros, em amor. Esforçando-nos em manter a unidade do espírito no vínculo da paz. Um só corpo, um só Espírito, um só Senhor e um só Deus e Pai de todos (Efésios 4.16). Desde o princípio, o Senhor nos tem desafiado ao trabalho em equipe. A missão pode ser o princípio material de nossa unidade. A cooperação na tarefa prática da missão é o primeiro passo em direção a uma unidade mais profunda. Cresçamos no testemunho baseado na unidade em Cristo, chamando todos a participarem da missão de Deus. Mas falar de uma cooperação global levanta algumas perguntas que devemos responder: nós nos ajudaremos mutuamente? Como construir melhor a ponte missionária de cooperação? Nossas estruturas podem melhorar, ser transformadas ou anuladas? Devemos rever nosso entendimento de missões para melhorar nosso diálogo missionário? Qual será nossa participação no envio de missionários do terceiro mundo a outros continentes e ao próprio ocidente? Que princípios e valores devemos seguir? O que podemos fazer? Qual é o custo que devemos pagar? Qual é nosso chamado e qual é nossa paixão? Participar ajudando os outros por meio da cooperação A paixão pelo evangelho nos deve levar a participar, cooperar, compartilhar (Filipenses 1.5) e não a competir. Pode-se falar de “comunhão”. Koinonia é a palavra do Novo Testamento traduzida como comunhão, compartilhamento, contribuição ou comum. O que fica muito claro é a ideia de compartilhar algo, uma empresa, um propósito, uma experiência, o dinheiro. Seja o que for, deve ser compartilhado. O apóstolo Paulo disse: “Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em nós” Filipenses 3.17. A fé comum deve ter uma saída para a participação prática e esta participação na prática tem consequências concretas. Somos chamados a servir uns aos outros pela paixão que temos pelo evangelho. Nós nos necessitamos (1 Coríntios 12.21-22). Somos membros uns dos outros. Ninguém pode dizer ao outro: “não preciso de você” (2 Coríntios 10.12, 17-18). Isto é pecado e devemos arrepender-nos. Nosso problema, muitas vezes, está em pensar que não precisamos de ninguém e que não é necessário compartilhar com outros. Para que exista a cooperação é preciso ter cumprido com um nível de confiança que é muito difícil de construir quando alguém se mostra autossuficiente. A beleza da encarnação é que Jesus Cristo, sendo por natureza Deus, se “rebaixou” voluntariamente para estar entre nós. Nós nos perguntamos: como construir melhor a ponte missionária da cooperação? Em princípio, a resposta que temos é que devemos nos relacionar. O problema surge quando depreciamos o relacionamento de uns com os outros. Devemos ter unanimidade com os planos do Pai (Lucas 6.27-31). Esta unanimidade com Ele nos fala de um mesmo sentir e parecer (Filipenses 2.1-11). Fala-nos de nos perdoarmos, de nos humilharmos, de entender e compreender nossas diferentes culturas e nos ajudarmos mutuamente. Não há ninguém superior, nem alguém inferior. Significa

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também que devemos construir melhor nossa ponte de comunicação. Uma relação cara a cara. Esta relação mata o correio eletrônico. Nosso problema é que muitas vezes depreciamos a relação cara a cara e dizemos: Por que vou vê-lo? Por que vou perder tempo? Como servos, nossa presença, nosso compromisso, nossa flexibilidade e nossa cooperação são indispensáveis. Junto a isto, devemos enriquecer o diálogo entre todo o corpo de Cristo: a igreja global. Não há Norte ou Sul, Leste ou Oeste; o que há é “um só corpo”. Quando servimos em meio à cooperação, podemos dizer como o apóstolo disse de Epafrodito: “como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Filipenses 4.18). O fato de podermos decidir juntos fazer a missão será um sinal da derrota de Satanás e a evidência da unidade e da cooperação global. O fato de que a façamos juntos, com nossas diferenças de culturas, de riqueza e de contexto requererá a ajuda do Espírito Santo e uma disponibilidade de sacrificar o que é nosso para o bem de Sua missão. Somos de diferentes países e desafiados a ser cidadãos do céu (Filipenses 3.20), o que nos lembra que temos um futuro em comum e uma mesma identidade. Qual é nosso chamado e qual é nossa paixão? O problema que temos muitas vezes é que perdemos a paixão por participar, por cooperar, por manter o amor e a unidade. Lamentavelmente, outras vezes, participamos sem paixão, sem amor, sem cooperação, não vislumbramos com clareza a obra à qual Deus nos está chamando. Devemos desejar que a igreja de Jesus Cristo seja plantada em todas as etnias como expressão e antecipação do reino de Deus. O conselho do apóstolo é que devemos comportar-nos de uma maneira digna do evangelho de Cristo (Filipenses 1.27, Tito 3.8). Isto implica: a. Estar firmes no propósito para o qual fomos chamados. (Filipenses 1:27) b. Trabalhar em unidade. (Filipenses 1.27) c. Agir sem temor à adversidade. (Filipenses 1.28) Como está sua paixão, como está sua fé? Sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus 11.6). Andamos por fé e não pelo que vemos (2 Coríntios 5.7). Satanás nos quer enganar e nos diz que haverá necessidades, dificuldades, buracos, mas o Senhor diz: “faça o que eu pedi e eu cuido de você”. Não devemos servir a Deus pensando em nós mesmos; devemos trabalhar para Deus, confiando em seus recursos (Filipenses 4.19). Ele quer fazer algo com o pouco que temos em nossa mão, como explica em Mateus 14.17-20. Os sinais acompanham os que creem e não o contrário (Marcos 16.20). Avancemos em fé e Deus se fará presente porque Ele é fiel e Sua é a missão. A condição atual do mundo está marcada pelo sofrimento (Romanos 8.18-20). Nós agora estamos sendo chamados a participar de seus padecimentos (Filipenses 1.29, Filipenses 3.10, Colossenses 1.24, 1 Pedro 4.13, 16). Conhecê-lo é participar disto. Nossa vida sempre tem um final aberto e cheio de surpresas. Nunca sabemos o que vem depois, mais ainda quando sabemos que Deus tem um bom sentido de humor. É então quando estamos dispostos a deixar o que tanto nos custou conseguir para partir para outro lugar e recomeçar uma nova tarefa ou continuá-la em obediência ao Senhor. Este é o custo. É difícil estar no centro da vontade de Deus? Esta deve ser nossa paixão. “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana

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vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.13-14). Como igreja, tomemos parte na missão de Deus no mundo, anunciando que: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1.15). Levemos todo o evangelho a todas as etnias até que o Senhor venha. Que este seja nosso entendimento da missão, com a participação da igreja, olhando em direção ao reino de Deus.

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Palavras especiais

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Um olhar de esperança para o futuro

“A esperança dos justos é alegria” Provérbios 10.28

Carlos Scott

O futuro modifica o presente quando vislumbramos nossa época presente com fé, com esperança e com amor. A esperança do reino de Deus, uma esperança presente e futura, nos levanta com ânimo para o grande desafio que temos pela frente. Estamos escrevendo um novo capítulo da história porque os atos do Espírito não terminaram ainda. É a hora na qual continuamos um processo de transformação da igreja. Um evangelho de transformação e, ao mesmo tempo, integral implica uma igreja que transpõe todo tipo de fronteiras, quer sejam culturais, religiosas, linguísticas, geográficas, políticas. Neste sentido, o propósito da COMIBAM Internacional é que a igreja envolva todos seus membros na tarefa missionária e brinde o mundo com o evangelho de Cristo, em sua completa plenitude. E, em consequência, a primeira meta da COMIBAM é promover uma liderança de pastores comprometidos com a missão; que desenvolvam juntos as estratégias de apoio às congregações que, nas diferentes etapas de sua maturidade, desejem a obra missionária como objetivo primordial. Nosso desejo é ver pastores desafiando pastores, igrejas moldando igrejas, trabalhando em cooperação com outras igrejas para fazer com que os projetos missionários tenham mais alcance e impacto precisamente ali entre os povos menos evangelizados e não alcançados. Para conseguir isto, definiremos três modalidades ou estratégias: 1. Desenvolvimento do trabalho de cooperação como “um só corpo” em função da missão. Crescer

na relação Sul-Sul e Sul-Norte. Desde o princípio, desde a Trindade e desde seu trabalho com os apóstolos, o Senhor nos tem desafiado ao trabalho em equipe. A missão pode ser a origem material de nossa unidade. A cooperação na tarefa prática da missão é o primeiro passo em direção a uma integridade mais profunda. Crescer no testemunho baseado na unidade em Cristo. A igreja em seu conjunto é responsável pela evangelização de todas as etnias, das raças e dos falantes das diferentes línguas.

2. Prover os recursos necessários para a preparação adequada dos candidatos a missionários e da igreja em geral, por meio da rede de centros e de programas de capacitação. Esta rede conecta as pessoas que trabalham na capacitação da igreja, na área bíblico-teológica, de ministério e transcultural. Propomos que a capacitação do missionário se inicie na igreja local. Consideramos que sessenta por cento dessa capacitação é adquirida na igreja local. A ênfase e o esforço devem concentrar-se no fortalecimento das congregações em torno deste compromisso com as missões transculturais.

3. Assistir e acompanhar a igreja e o candidato no processo de capacitação, no traslado do

missionário, na supervisão e no cuidado pastoral no campo, tudo isso por meio da rede de agências missionárias de envio. Ajudar o desenvolvimento das agências missionárias nacionais que respondam às necessidades do país, mas sobretudo que considerem e valorizem a

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centralidade das igrejas locais. Este respeito é uma marca básica do movimento missionário. Animamos todas as agências de outras latitudes a apoiar os esforços missionários existentes e a evitar a duplicação desnecessária ou a interrupção do funcionamento das agências missionárias que trabalham hoje em dia.

Queremos, em definitivo, que toda a igreja na Ibero América modele a sociedade local e que esta transformação alcance simultaneamente, em uma dimensão global, até o último da terra.

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Biografias

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Antonio Peralta: Depois de receber Jesus Cristo como Salvador e Senhor, Antonio Peralta se convenceu de que Deus o chamava a deixar o Cone Sul para servi-Lo entre os muçulmanos no Norte da África. Depois de oito anos de preparação integral, chegou ao campo missionário junto com sua esposa Anita. Faz vinte anos que trabalham nessa região, dedicados a tarefas de evangelismo, discipulado e supervisão de obreiros. São membros da agência PM Internacional. Humberto Coello: Nasceu no México, é engenheiro mecânico egresso da Universidad Autónoma de Nuevo León. Trabalhou desde o ano de 1988 como pastor de jovens e líder de missões de sua igreja local. Partiu como missionário para a Turquia no ano de 1993. Está casado e tem três filhos. No campo missionário tem servido na plantação de igrejas. Por cinco anos esteve apoiando uma obra em Istambul e, no período de 1998 a 2000, ajudou na plantação de uma igreja em Antioquia. Atualmente, junto com toda sua família, pastoreia uma igreja em Adana. Nájua Diba: Nasceu no Brasil, clamada para o trabalho missionário na Albânia desde o ano de 1979. Foi enviada por sua igreja Cristo Salva e, mais adiante, pela Igreja Presbiteriana Independente de Londrina, em colaboração com a Missão Antioquia, Brasil. Dedicou quatro anos ao serviço missionário em Kosovo, a partir de 1987, e desde abril de 1991 tem dedicado seu trabalho na Albânia na plantação de igrejas. Carlos Zapata: É casado há 21 anos com Silvia Mesquida e têm três filhos: Emiliano (20), Adaia (18) e Sarai (15). Junto com sua esposa, sentiram o desejo de servir a outras nações desde o momento de sua conversão. Depois de dezessete anos, a partir de seu chamado, foram enviados por um projeto de Adote Um Povo para a Ásia Central, onde se uniram oito congregações da cidade para enviar uma equipe de obreiros a esse lugar. É ali onde continuam trabalhando há sete anos com o objetivo de plantar igrejas entre os povos muçulmanos. David Ruiz: Guatemalteco, é presidente da COMIBAM Internacional, onde também trabalhou como Diretor Executivo no período 1996-2000. É o Coordenador Internacional de Great Commission Roundtable (GCR), assim como membro do Comitê Executivo da Comissão de Missões da Aliança Evangélica Mundial (WEA). David foi Pastor Sênior do Centro Bíblico “El Camino” na cidade de Guatemala por onze anos e é um dos fundadores do Centro de Estudos Missionários da América Central (CEMCA), o primeiro centro para estudos transculturais na Guatemala. David está casado com Dora Amália e moram na cidade de Guatemala com seus três filhos: Andrea, David e Ilia. Hermano Yousef: Estudou legislação quando esteve encarregado de negócios familiares, durante vários anos. Depois de graduar-se, dedicou-se ao ministério em tempo integral. Em 1990 começou a trabalhar na igreja Kasr El Dobara no Cairo, Egito. Guiou e pastoreou as reuniões universitárias em Kasr El Dobara durante dez anos. Tem sido membro sênior e diretor do Departamento de Missões durante os últimos doze anos. Kasr El Dobara é uma igreja com mais de 7.000 membros, com um sistema de grupos celulares. A cada ano, o Departamento de Missões se dedica a enviar 100 grupos de alcance. Deus continua abençoando o trabalho que se faz por meio da igreja, já que tem uma visão para o Egito e para todo o mundo árabe. Atualmente, seu trabalho está focado na supervisão, cuidado e

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ministração a 35 missionários. Também ministra conferências sobre discipulado e treinamento de líderes por todo o Egito e em vários países árabes. Mora no Cairo com sua esposa Dalia e seus filhos Ramez (12) e Hani (15). Pastor C. Sekar: É cristão de primeira geração; seus pais eram hindus. Sua família pertencia a um segmento de baixo poder aquisitivo porque seu pai desperdiçava o dinheiro em álcool. Contudo, cinco anos antes de sua morte conheceu o Senhor. Sua mãe era religiosa, adorava a muitos deuses, mas também chegou a conhecer Cristo. Por influência de sua mãe, chegou aos pés do Senhor aos 18 anos de idade. Trabalhou na Operação Mobilização até o ano de 1977. Por sete anos serviu na Associação de Gravação do Evangelho. Desde final de 1983 está envolvido em ministérios sociais e espirituais. Casou-se no ano de 1983 com uma missionária nacional da Missão Tribal da Índia. Com o estímulo persistente de seu amigo e mentor, o Dr. Rajendran, terminou o Mestrado em Missões no Instituto do Sul da Ásia para Estudos Cristãos Avançados (SAIAC). Tem uma filha que acaba de graduar-se e está próxima de se casar. Nesse meio tempo, colabora em uma organização cristã. Bob Fu Bob (Xiqiu): Fu nasceu e cresceu na República da China. Pastor de uma igreja que se reunia em um lar de Beijing e professor de inglês na Universidade de Administração de Beijing e da Escola do Partido Comunista Chinês. Foi preso, juntamente com sua esposa, por ser um “evangelista ilegal” no ano de 1996. Depois os Fu foram liberados, fugiram para Hong Kong e então chegaram aos Estados Unidos, em 1997, antes da entrega de Hong Kong à China Comunista. Bob agora é candidato a doutorado no Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia, assim como é analista em assuntos da China para a Voz dos Mártires (EUA). É fundador e presidente da Associação de Ajuda Chinesa (China Aid Association), que é a voz principal da igreja perseguida na China. Ele e sua esposa Heidi têm três filhos: Daniel (9), Tracy (7) e Melissa (1 ½). Bob foi eleito professor visitante de Religião e Filosofia na Universidade Wesleyana de Oklahoma para os anos acadêmicos 2003-2006. Carlos Scott: É o presidente eleito da COMIBAM Internacional. Tem servido na igreja A Porta Aberta por 25 anos, na Argentina. Do ano de 1993 a 2003 atuou como pastor, fazendo parte da equipe pastoral. Foi diretor da COMIBAM do Cone Sul, vice-presidente da COMIBAM Internacional e presidente da Rede Missões Mundiais Argentina. Possui uma licenciatura em administração de empresas (UADE), também em organização e técnica do seguro (UADE) e outra licenciatura em ministério com orientação missiológica (IBBA). Carlos está casado com Alicia e moram em Buenos Aires com um de seus filhos, Daniel (24). Têm outro filho, Jonathan (26), casado com Carol e um neto chamado Lautaro. Atualmente é membro do conselho diretivo da ACIERA (Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina), membro da comissão de missões da WEA (Aliança Evangélica Mundial) e membro missionário da igreja Comunidade do Encontro em Ciudadela, Argentina.