manual de criminalística e invesatigação criminal

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Disciplina na modalidade a distncia

Criminalstica e Investigao Criminal

Palhoa UnisulVirtual 2006

ApresentaoEste livro didtico corresponde disciplina Criminalstica e Investigao Criminal. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autnoma, abordando contedos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distncia. Por falar em distncia, isso no signica que voc estar sozinho. No esquea que sua caminhada nesta disciplina tambm ser acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espao Unisul Virtual de Aprendizagem. Nossa equipe ter o maior prazer em atend-lo, pois sua aprendizagem nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual.

Maria Carolina Milani Caldas Opilhar

Criminalstica e Investigao CriminalLivro didtico

Design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini

Palhoa UnisulVirtual 2006

Copyright UnisulVirtual 2006 N enhum a parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer m eio sem a prvia autorizao desta instituio.

341.598 O69 Opilhar, Maria Carolina Milani Caldas Criminalstica e investigao criminal : livro didtico / Maria Carolina Milani Opilhar ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini. Palhoa : UnisulVirtual, 2006. 122 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 85-60694-33-1 ISBN 978-85-60694-33-4 1. Crime e criminosos. 2. Inqurito policial. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Ttulo.Ficha catalogrf elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul ica

Cr ditosUnisul- Univer sidade do Sulde Santa Catarina Unisul tual- Educao Super a Distncia Vir iorCam pusUnisul tual Vir Rua Joo Pereira dos Santos, 303 Pal - SC - 88130-475 hoa Fone/ax:( 3279-1541 e f 48) 3279-1542 E-mail cursovirtual : @unisulbr . Site:www. virtualunisulbr . . ReitorUnisul Gerson LuizJoner da Sil veira Vice-Reitore Pr-Reitor Acadm ico Sebastio Sal Heerdt sio Chefe de gabinete da Reitor ia Fabian M artins de Castro Pr -ReitorAdm inistrativo M arcus Vin Antol da cius es Sil va Ferreira Cam pusSul Diretor:Val Al Schmitz ter ves Neto Diretora adj Al unta: exandra Orseni Cam pusNorte Diretor:Ail Nazareno Soares ton Diretora adj Cibel unta: e Schuel ter Cam pusUnisul tual Vir Diretor:Joo Vianney Diretora adj Jucimara unta: Roesl er Equipe Unisul tual Vir Adm inistr ao Renato AndrLuz Val Ven I mir cio ncio Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paul Al Teixeira o ves Raf Pessi ael Vil M artins Fil son ho ( coordenador) Eduardo Kraus Sil Henrique Sil vana va Secr ia Executiva etr Viviane Schal M artins ata Tecnol ogia Osmar de Ol iveira BrazJnior ( coordenador) Ricardo Al exandre Bianchini Rodrigo de Barcel M artins os

M onitor e Supor ia te Raf da Cunha Lara ael ( coordenador) Bibl iotecr ia Adriana Sil veira Soraya Arruda W al trick ine Equipe Didtico-Pedaggica Carol M endona Edison Rodrigo Val im Angel M aralFl ita ores Coor denao dosCur sos l Carmen M aria Cipriani Pandini Franciele Arruda Adriano Srgio da Cunha a inverni Barbieri Carol Hoeler da Sil Boeing Gabriel M al ina l va Ana Luisa M l bert Gisl Frasson de Souza ane Cristina Kl de Ol ipp iveira Ana Paul Reusing Pacheco a Josiane Conceio Leal Daniel Erani M onteiro W il a l Ctia M el S.Rodrigues issa M aria Eugnia Ferreira Cel eghin Dnia Fal de Bittencourt co ( iar) Auxil Simone Andra de Castil ho El Fl isa emming Luz Charl Cesconetto es Vin M aycot Seraf cius im Enzo de Ol iveira M oreira Diva M aria Fl l emming Fl Lumi M atuzawa via El Fl isa emming Luz Karl Leonora Dahse Nunes a Pr oduo I ndustr e ial I tamar Pedro Bevil aqua Leandro Kingeski Pacheco Suporte Janete El Fel za isbino Ligia M aria Souf Tumol en o Arthur EmmanuelF.Sil veira Jucimara Roesl er ( coordenador) Lil Cristina Pettres ( iar) M rcia Loch ian Auxil Patr M eneghel cia Francisco Asp Lauro JosBalock l Sil Denise Guimares vana LuizGuil herme Buchmann Tade-Ane de Amorim Figueiredo Pr etosCorpor oj ativos Vanessa de Andrade M anuel LuizOtvio Botel Lento ho Diane DalM ago Vanessa Francine Corra M arcel Caval o canti Vanderl Brasil ei Viviane Bastos M auri LuizHeerdt Viviani Poyer M auro Faccioni Fil ho Secr ia de Ensino a etar M ichele Denise DurieuxLopes l Distncia Log de Encontr stica os Destri Karine Augusta Zanoni Pr esenciais Nl Herzmann io ( secretria de ensino) Carol Batista ( ine Coordenadora) Dj Sammer Bortol Onei Tadeu Dutra eime otti Araceli Aral l di Patr Al cia berton Carl Cristina Sbardela a l Graciel M arins Lindenmayr e Patr Pozza cia Grasiel M artins a JosCarl Teixeira os Raul Jac Brning ino James M arcelSil Ribeiro va Let Cristina Barbosa cia LamuniSouza Knia Al exandra Costa Hermann Liana Pampl Design Gr fico ona iveira Cristiano Neri Gonal Ribeiro M arcia Luzde Ol ves M aira M arina M artins Godinho Priscil Santos Al a ves ( coordenador) M arcel Pereira o Adriana Ferreira dos Santos M arcos Al M edeiros Junior cides Log de M ater stica iais Al Sandro Xavier ex M aria I Aragon sabel Jef erson Cassiano Al meida da Evandro Guedes M achado Ol Laj avo s Costa Priscila Geovana Pagani l

Edio Livr Didtico o Pr ofessorConteudista M aria Carol M il Cal ina ani das Opil har Design I ucional nstr Carmen M aria Cipriani Pandini Pr eto Gr oj fico e Capa Equipe Unisul Virtual Diagram ao Pedro Teixeira Reviso Or fi ca togr B2B

SumrioPalavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 Criminalstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 Metodologia de redao de laudos periciais . . . . . . . . . . . 33 UNIDADE 3 Investigao policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 UNIDADE 4 Tcnicas de Investigao Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 UNIDADE 5 Limites da Investigao Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Respostas e comentrios das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 117

Palavras da professoraPrezado(a) aluno(a): O presente livro tem por objetivo estudar a Criminalstica e a Investigao Criminal. Para tanto, inicio apresentando o tema a partir do seu conceito para possibilitar uma compreenso contextualizada sobre o conjunto de conhecimentos acerca da pesquisa, coleta, conservao e exame dos vestgios, possibilitando a realizao da prova pericial, que objeto da criminalstica. Em seguida, voc vai estudar mais detalhadamente sobre as percias, concebidas como as provas tcnicas produzidas pelos peritos, de suma importncia para apurao da materialidade e autoria do crime. Voc ter a oportunidade de estudar tambm como se constituem os locais de crime, a importncia do isolamento e da preservao de provas na rea onde o crime foi cometido e sobre os procedimentos empregados no exame de levantamento de local, possibilitando a confeco do laudo de exame de levantamento de local, de suma relevncia investigao criminal. O livro aborda, ainda, a metodologia de redao de laudos periciais, que segue padro metodolgico importante para a sua compreenso, na condio de prova tcnica e ir conhecer alguns modelos de laudos periciais. Na parte que aborda a Investigao Criminal, fao breves comentrios sobre o conceito e o histrico da Polcia, assunto relevante para compreender a funo investigao criminal na atualidade, mencionando as competncias das Polcias dispostas pela Constituio

Federal de 1988, todas atuando nas suas atribuies com a nalidade de prover segurana sociedade. Em seguida, apresento e discuto o conceito da investigao criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polcias Federal e Civil, dentre outros rgos, com o objetivo de apurar infraes criminais, amealhando provas tcnicas e testemunhais para subsidiar o processo criminal. Neste estudo, voc ter a oportunidade de estudar sobre o inqurito policial, constatando tratar-se de procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de competncia exclusiva das Polcias Federal e Civil, no qual a investigao criminal formalizada. Cito, neste contexto, algumas tcnicas de investigao criminal, considerando ser imprescindvel ao xito da atividade investigativa policial adoo de metodologia e tcnicas adequadas. Por m, voc ter a oportunidade de conhecer os limites da investigao policial, que necessita atuar sempre respeitando normas materiais e processuais inerentes a um Estado Democrtico de Direito. Dentre estas normas, importante mencionar os direitos fundamentais elencados pela Constituio Federal de 1988, porquanto a busca pela prova na atividade investigativa no absoluta. Espero que o contedo tratado neste livro traga informaes e subsdios teis ao seu cotidiano de trabalho e que possa minimizar os problemas de Segurana Pblica existentes no Brasil. Profa. Maria Carolina

Plano de estudo

Plano de EstudoO plano de estudo visa a orientar voc no desenvolvimento da Disciplina. Ele possui elementos que o ajudaro a conhecer o contexto da Disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao. So elementos desse processo: O Livro didtico. O EVA (Espao Unisul Virtual de Aprendizagem). Atividades de avaliao (complementares, a distncia e presenciais).

EmentaCriminalstica. Conceito. Percias. Locais de crime. Metodologia de redao de laudos periciais. Modelos de laudos periciais. Investigao Criminal. Conceito e histrico da polcia. Conceito de investigao criminal. Conceito de prova. Evoluo histrica da prova criminal. Inqurito policial. Tcnicas de investigao criminal.

Carga horria60 horas-aula.

Objetivos da disciplinaGeralObter conhecimento terico acerca da criminalstica e da investigao criminal.

EspeccosConhecer os conceitos e objetivos da criminalstica. Descrever as percias e a sua importncia como prova criminal. Saber acerca dos locais de crime, a necessidade do isolamento para a preservao das provas e os procedimentos empregados no exame de levantamento de local. Conhecer a metodologia aplicada para a redao de laudos periciais. Compreender os conceitos e objetivos da investigao criminal. Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evoluo histrica. Conhecer o inqurito policial. Descrever as tcnicas de investigao criminal e estar apto a aplic-las.

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Unidades de estudo: 5 Unidade 1 - Criminalstica Unidade 2 - Metodologia de Redao de Laudos Periciais Unidade 3 - Investigao Criminal Unidade 4 - Tcnicas de Investigao Criminal Unidade 5 - Limites da Investigao Criminal

Agenda de atividades/ CronogramaVerique com ateno o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espao da Disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura; da realizao de anlises e snteses do contedo; e da interao com os seus colegas e tutor. No perca os prazos das atividades. Registre no espao a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da Disciplina.

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AtividadesAvaliao a Distncia 1 Avaliao a Distncia 2 Avaliao Presencial

Demais atividades (organize sua agenda)

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CriminalsticaObjetivos de aprendizagemCompreender a Criminalstica como um conjunto de conhecimentos cientcos utilizados para a elaborao da prova pericial. Estudar as percias, os locais de crime e os procedimentos empregados no exame de levantamento de local, en fatizando a importncia do isolamento da rea onde ocorreu o delito.

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Sees de estudoSeo 1 Criminalstica: conceituao Seo 2 Percias Seo 3 Locais do Crime Seo 4 Levantamento pericial: procedimentosempregados no exame do local

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Para incio de estudoAs Polcias Investigativas mais avanadas priorizam a prova pericial, considerando que, por ser cientca, mais difcil de ser refutada, contrariada. Tambm, as Polcias do Brasil que tm como competncia a apurao de crimes vem seguindo este norte. Concebendo-se a percia como prova primordial para a elucidao dos delitos, o estudo da Criminalstica agura-se como de extrema relevncia. Vamos ao estudo, ento? Comecemos pelo conceito.

SEO 1 - Criminalstica: conceituaoNo deve lhe ser novidade que a Constituio Federal de 1988 estabelece que a segurana pblica, no nosso Pas, dever de Estado e exercida por diversas Polcias. Em seu artigo 144, a Carta Magna deniu as competncias das Polcias, dispondo, dentre outros, que o policiamento ostensivo, preventivo compete Polcia Militar e a apurao das infraes penais compete s Polcias Federal e Civil, esta tambm chamada de Polcia Judiciria. As competncias das Polcias sero objeto de discusso, porm, sero detalhadas posteriormente. Voc teve a oportunidade de ver, nos estudos anteriores, que a Polcia Civil, via de regra, atua repressivamente, aps a prtica do crime e o seu objetivo a elucidao dos delitos, procurando demonstrar a existncia do fato criminoso, a autoria e estabelecer as condies em que o crime ocorreu. Este trabalho feito atravs da investigao policial. interessante notar que a investigao policial formalizada atravs de pea preliminar e informativa denominada inqurito policial, o qual subsidia o processo criminal. Aps a concluso do inqurito policial, este remetido ao Poder Judicirio, que poder valer-se das provas amealhadas na fase policial durante o processo criminal e na prolatao da sentena.

Neste livro, a autora apresenta como sinnimos os termos infrao penal, crime e delito.

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Neste contexto, o trabalho pericial de suma importncia, para demonstrar materialidade e autoria do crime. Via de regra, a percia realizada na fase policial, at porque muitas delas necessitam serem feitas imediatamente ou logo aps a prtica do crime. As Polcias Investigativas mais avanadas do mundo tm como prioridade o trabalho pericial, menos sujeito a falhas do que a prova testemunhal. Acerca deste tema Espndula (2002), discorre:(...) a prova pericial produzida a partir de fundamentao cientca, enquanto que as chamadas provas subjetivas dependem do testemunho ou interpretao das pessoas, podendo ocorrer uma srie de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar determinado fato, at o emprego de m-f, onde exista a inteno de distorcer os fatos para no se chegar verdade. (ESPNDULA, 2002:22).

importante notar, ainda, que no sistema processual penal brasileiro, as pessoas ouvidas na Delegacia de Polcia so reinquiridas em Juzo, o que pode relativizar o valor probatrio do que foi dito na fase policial. J a prova tcnica cientca, objetiva, portanto, mais difcil de ser contestada.No Brasil no h hierarquia entre as provas e o Juiz pode decidir de acordo com a sua conscincia, desde que o faa motivadamente. o chamado sistema da persuaso racional adotado pelo artigo 157 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro.

Desse modo, temos um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, a princpio, com o mesmo valor probatrio. Ocorre que analisando as sentenas criminais vericase a prevalncia da prova pericial sobre as demais, pelos motivos j expostos. Os laudos periciais so realizados atravs de conhecimento advindo da Criminalstica. A Enciclopdia Saraiva de Direito conceitua Criminalstica como sendo:

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(...) Conjunto de conhecimentos que, reunindo as contribuies das vrias cincias, indica os meios para descobrir crimes, identicar os seus autores e encontr-los, utilizando-se de subsdios da qumica, da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da psiquiatria, da datiloscopia, etc., que so consideradas cincias auxiliares do Direito penal. (ENCICLOPDIA SARAIVA DE DIREITO, v. 21, 1997:486).

Segundo Gilberto Porto, Criminalstica pode ser conceituada como:(...) sistema que se dedica aplicao de faculdades de observao e de conhecimento cientco que nos levem a descobrir, defender, pesar e interpretar os indcios de um delito, de molde a sermos conduzidos descoberta do criminoso, possibilitando Justia a aplicao da justa pena. (PORTO, Gilberto, 1960, p.28)

Jos Del Picchia Filho (1982), preferiu abord-la como disciplina(...) que cogita do reconhecimento e anlise dos vestgios extrnsecos relacionados com o crime ou com a identicao de seus participantes. (DEL PICCHIA FILHO, 1982, p.5).

Segundo Garcia, Criminalstica(...) trata da pesquisa, da coleta, da conservao e do exame dos vestgios, ou seja, da prova objetiva ou material no campo dos fatos processuais, cujos encargos esto afetos aos rgos especcos, que so os laboratrios de Polcia Tcnica. (GARCIA, 2002, p.319).

A Criminalstica tambm denominada Polcia Cientca, Polcia Tcnica ou Policiologia, e difere da Criminologia que estuda o perl do criminoso, e os motivos que o levaram prtica do crime. So disciplinas que integram a Criminalstica, dentre outras, Locais de Crime, Medicina Legal, Balstica Forense, Papiloscopia, Documentoscopia, Odontologia Legal, Toxicologia Forense e Hematologia Forense.

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Em Santa Catarina, o trabalho pericial realizado pelo Instituto Geral de Percias, que apresenta o organograma abaixo:

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Voc que reside em outro Estado, faa uma pesquisa sobre o assunto. Como funciona o Instituto Nacional de Percias? Socialize a investigao no Espao Virtual de Aprendizagem. Use o espao abaixo para registrar sua pesquisa.

Para ampliar seus conhecimentos sobre o contedo tratado sugerimos: DEL PICCHIA FILHO, Jos. Tratado de documentoscopia. Editora Universitria de Direito: So Paulo. 1982. GARCIA, Ismar Estulano. Inqurito Procedimento Policial. Inqurito - Procedimento Policial. 9 ed. Goinia: AB Editora. 2002 p. 319. PORTO, Gilberto. Manual de Criminalstica. Escola de Polcia de So Paulo. 1960, p.28

- A seguir, voc vai estudar o objeto que trata das provas e os procedimentos de percia.

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SEO 2 - PerciasA investigao policial tem como foco a obteno de provas criminais que podem ser testemunhais e tcnicas. Prova Criminal aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputao feita ao ru e das circunstncias que possam inuir no julgamento da responsabilidade e na individualizao das penas.Voc sabe a diferena entre provas criminais e tcnicas?

As provas tcnicas so as percias, realizadas por peritos criminais, e so formadas pelas evidncias materiais do crime. As prova testemunhais so constitudas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declaraes das vtimas e o interrogatrio dos suspeitos ou indiciados.Segundo Garcia (2002), percia (...) o conjunto de tcnicas usadas, visando provar a materialidade do crime e apontar o autor. Um das percias realizadas trata-se do exame de corpo de delito. O corpo de delito, por sua vez, o conjunto de vestgios deixados pelo criminoso.

H diferenciao entre corpo de delito e exame de corpo de delito. Segundo JESUS (2002), o exame de corpo de delito um auto em que se descrevem as observaes dos peritos e o corpo de delito o prprio crime na sua tipicidade.

Nos crimes que deixam vestgios, o exame de corpo de delito obrigatrio, sob pena de nulidade processual, nos termos do artigo 158 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro.

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Dispe o artigo 167 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro: No sendo possvel o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestgios, a prova testemunhal poder suprir-lhe a falta. Portanto, havendo vestgios, o exame de corpo de delito imprescindvel. No havendo vestgios, a prova testemunhal apta a suprir o auto de exame de corpo de delito. importante ressaltar que o artigo 159 Cdigo de Processo Penal Brasileiro determina que todos os exames periciais, inclusive o exame de corpo de delito, sejam realizados por dois peritos ociais, onde houver e, nos outros casos, as percias devem ser realizadas por duas pessoas idneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferncia, entre as que tiverem habilitao tcnica relacionada natureza do exame.Para saber mais sobre o assunto que foi tratado sugerimos: DAMSIO, Jesus. Cdigo de Processo Penal Anotado. 18 ed. So Paulo: Saraiva. 2002. p.157. GARCIA, Ismar Estulano. Inqurito Procedimento Policial. 9 ed. Goinia: AB Editora. 2002. p. 319.

SEO 3 - Locais do crimeSegundo Kedhy,(...) local de crime toda rea onde tenha ocorrido um fato que assuma a congurao de delito e que, portanto, exija as providncias da polcia. (KEDHY, 1963:11).

O exame de levantamento de local deve ser diferenciado de acordo com a natureza da ocorrncia. Dessa forma, h exame de levantamento de local de homicdio, suicdio, afogamento, furto qualicado, acidente de trnsito, dano, estupro, incndio, disparo de arma de fogo e outros.

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Isolamento e preservao das provas e vestgios essenciais investigaoO isolamento do local de crime a primeira providncia a ser tomada e responsabilidade dos policiais e peritos, que devem sempre ter em mente a importncia da proteo do local do crime, para a preservao dos vestgios, e, conseqentemente, para a investigao criminal.(...) isolamento a proteo a m de que o local permanea sem alterao, possibilitando, conseqentemente, um levantamento pericial ecaz. (GARCIA, 2002: 324).

Esclarece Alberi Espndula (2002) que:(...) diante da sensibilidade que representa um local de crime, importante destacar que todo elemento encontrado naquele ambiente denominado de vestgio, o qual signica todo material bruto que o perito constata no local do crime ou faz parte do conjunto de um exame pericial qualquer, que, somente aps examin-los adequadamente que poderemos saber se este vestgio est ou no relacionado ao evento periciado. Por essa razo, quando das providncias de isolamento e preservao, levadas a efeito pelo primeiro policial, nada poder ser desconsiderado dentro da rea da possvel ocorrncia do delito (ESPINDULA, 2002: 3).

A alterao do local de crime prevista como infrao penal, pelo artigo 166 do Cdigo Penal:Alterar, sem licena de autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei. Pena deteno de um ms a um ano e multa.

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O Cdigo Brasileiro de Trnsito, no artigo 312, tambm tipicou como crime a alterao de local de acidente de trnsito:Inovar articiosamente, em caso de acidente automobilstico, com vtima, na pendncia do respectivo procedimento policial preparatrio, inqurito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a m de induzir a erro o agente policial, o perito ou juiz: Pena: deteno de seis meses a um ano, ou multa. Pargrafo nico: Aplicar-se o disposto neste artigo, ainda que no iniciados, quando da inovao, o procedimento preparatrio, o inqurito ou o processo aos quais se refere.

Dispe o artigo 169 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro:Para efeito de exame de local onde houver sido praticada a infrao, a autoridade providenciar imediatamente para que no se altere o estado das coisas at a chegada dos peritos, que podero instruir seus laudos com fotograas, desenhos ou esquemas elucidativos.

O artigo 6 do Cdigo de Processo Penal enumera as providncias que devem ser tomadas to logo o delegado de polcia tenha conhecimento do fato delituoso. O inciso II deste artigo menciona que a autoridade policial deve apreender os instrumentos e todos os objetos que tiverem relao com o fato. No obstante, a prtica demonstra que nada deve ser alterado at a chegada dos peritos no local, e que apenas aps o exame de levantamento de local possvel a apreenso de qualquer material encontrado na cena do crime. Apenas a ttulo de exemplo, um projtil, parte de uma munio deagrada, apreendido na cena do crime, pode vir a elucidar a autoria de um homicdio. Atravs do Laudo de Comparao Balstica, tendo como objetos de exame o projtil e a arma de fogo de um suspeito, possvel vericar se ele foi expelido pelo cano daquela arma. Da mesma forma, um estojo, parte de uma munio deagrada, sendo objeto de exame com arma de fogo, atravs de suas marcas de percusso, possvel constatar se foi deagrado por aquela arma.

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SEO 4 - Levantamento pericial: procedimentos empregados no exame do localO levantamento pericial o trabalho pericial realizado nos locais de crime. Aps concludo, o levantamento pericial d origem ao laudo de exame de levantamento de local. Segundo Garcia (2002), uma percia completa de levantamento de local necessita de vrias fases a saber:(...) isolamento, observaes prvias ou exame do local, fotograa, desenho ou croqui, coleta e embalagem de evidncias, transporte de evidncias, exame das evidncias em laboratrio, avaliao e interpretao, e redao de laudo. (GARCIA, 2002:326).

Espndula (2002) elencou alguns procedimentos a serem realizados nos exames de locais de crimes contra a vida, que podem ser, via de regra, utilizados em todos os exames de levantamento de locais. So eles:

Procedimentos anteriores ao examea) anotao do endereo do fato; b) preparao do material utilizado no exame; c) reconhecimento do tipo de solicitao (natureza do exame); d) anotao do horrio de solicitao do exame.

Exame preliminar da cena do crime: o que necessrio fazer?

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entrevista com o primeiro policial a chegar no local do fato visando tomada de informaes relativas ao histrico; visualizao geral da cena do crime e verificao da adequao do isolamento; escolha do tipo de padro a ser utilizado na busca de vestgios (em linha, em grade, em espiral, em quadrantes, etc.); formulao dos objetivos do exame; busca de vestgios, que deve prever especial ateno s evidncias facilmente destrutveis, tais como: marcas de solado, impresses em poeira, dentre outras.

Anotaes gerais da cena do crime: o que registrar?

data e hora do incio dos exames; localizao exata do evento; condies atmosfricas; condies de iluminao; condies de visibilidade; completa anlise das vias de acesso; descrio do local, com nvel de detalhe exigido para cada caso; condies topogrficas da rea.

Croqui da cena do crime: o que e como fazer?

O croqui o desenho do local do crime, devendo sempre ser apresentado, independente da complexidade do local. Neste desenho recomenda-se incluir:

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dimenses de portas, mveis, janelas, caso necessrio; distncias de objetos at pontos especficos, como vias de acesso (entrada e sada); distncias entre objetos; medidas que forneam a exata posio das evidncias encontradas na cena do crime; coordenadas geogrficas em locais abertos (obtidas por mapas ou GPS).

Qual a importncia das fotograas da cena do crime?

As fotograas, internas e externas, so imprescindveis para a elaborao do laudo de exame de levantamento de local. Segundo Garcia, a fotograa o mais perfeito dos processos de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma reconstituio permanente da ocorrncia, que ir permitir futuras consultas. (GARCIA, 2002:326). Espndula (2002), tambm discorre sobre o processamento do local: coleta, identicao e preservao das evidncias.

Quais os procedimentos de coleta?

Todas as evidncias devem ser coletadas de forma legal, visando sua admisso como provas em um processo. Os dois peritos de local devem efetuar a coleta de todas as evidncias. As evidncias devem ser anotadas no croqui e fotografas antes da sua coleta.

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O que fazer na identicao?

Todas as evidncias devem ser cuidadosamente identicadas. As marcas identicadoras podem incluir iniciais, nmeros, etc., os quais permitam ao perito que realiza a coleta reconhecer, em data posterior, cada evidncia como aquela coletada na cena do crime.

Qual a importncia da preservao?

Cada item das evidncias deve ser colocado em um recipiente ou invlucro adequado natureza de cada material, tais como sacos plsticos, envelopes de papel, caixas que necessitam ser corretamente identicados e vedados ou lacrados; Evidentemente, que tcnicas especiais devero ser aplicadas de acordo com o delito praticado. Algumas recomendaes especcas devero ser aplicadas nos locais de morte por precipitao, por ao do calor, por arma de fogo, por afogamento, por envenenamento, por aborto e outros. - Leia, a seguir, a sntese da unidade, realize as atividades de Autoavaliao e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

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SnteseNesta unidade voc teve a oportunidade de ver que, de acordo com a Constituio Federal de 1988, que a atividade investigativa criminal realizada, dentre outros, pela Polcia Federal e pelas Polcias Civis dos Estados, estas tambm chamadas de Polcias Juridicirias. A atividade de investigao criminal consiste na apurao dos crimes, que feita atravs da busca de provas, periciais ou testemunhais. As provas periciais so tcnicas, realizadas por peritos criminais e so formadas pelas evidncias materiais do crime. As prova testemunhais so constitudas pelos depoimentos das testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declaraes das vtimas e o interrogatrio dos suspeitos ou indiciados. A pesquisa, coleta e produo das provas periciais compete Criminalstica. Via de regra, o trabalho pericial exige imediatidade. A ttulo de exemplo, o exame residuogrco de vericao de plvora exige a conduo do suspeito imediatamente aps a prtica do delito. O exame de leses corporais e de vericao de aborto exige lapso temporal curto entre o crime e o exame. Considerada a importncia da prova pericial e cientca imprescindvel o isolamento e a preservao do local do crime. Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar a produo da prova pericial. Vestgios deixados no local do crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo componente de munio ou projtil componente de munio, encontrado em local de homicdio mediante disparo de arma de fogo, pode, atravs de percia, ser prova crucial para demonstrar autoria.

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Atividades de auto-avaliao1) Analise as questes abaixo e assinale verdadeiro ou falso, conforme a proposio. Conra se atendeu as expectativas no nal do livro didtico. ( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreenso de estojos no local no importante, posto que no possvel realizar percia comparativa entre o estojo e a arma de fogo. ( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a apreenso de projteis no local possibilita a realizao do laudo de identicao de projteis e, quando a arma apreendida, o laudo de comparao balstica. ( ) O rol de provas elencados no Cdigo de Processo Penal Brasileiro exemplicativo. ( ) O sistema de provas previsto no Cdigo de Processo Penal Brasileiro o da ntima convico. ( ) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infrao penal no deixar vestgios.

Saiba maisPara saber mais sobre o contedo tratado acesse: http://www.espindula.com.br e leia o artigo: Funo pericial do Estado. http://www.abcperitosociais.org.br/arti.htm e leia o artigo: Isolamento e preservao de locais de crime com cadver.

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Metodologia de redao de laudos periciaisObjetivos de aprendizagemConhecer a forma como so elaborados os laudos periciais. Conhecer alguns modelos de laudo pericial.

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Sees de estudoSeo 1 O Laudo pericial: caracterizao Seo 2 Modelos de laudo pericial

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Para incio de estudoTodos aqueles que queiram se aprofundar no tema da segurana pblica tm, necessariamente, de saber acerca da importncia da prova pericial e conhecer a metodologia de redao dos laudos periciais. Cabe aos estudiosos do assunto segurana pblica estarem aptos a interpretar e avaliar laudos periciais, na sua forma e contedo.

SEO 1 - O Laudo pericial: caracterizaoO laudo pericial deve ser simples e preciso, facilmente compreendido e assimilado. No deve tecer juzos de valor, consideraes subjetivas, mas fornecer objetivamente informaes tcnicas. Existem diversos tipos de laudos periciais, dentre eles podemos destacar: a) laudo de levantamento de local, b) laudo de identificao de projtil, laudo de comparao balstica, c) laudo de verificao de eficcia de arma de Fogo, d) laudo de exame cadavrico, laudo de constatao de danos, cada qual com as suas peculiaridades. No obstante, de forma geral, pode-se denir alguns requisitos inerentes a todos os laudos. Toccheto elenca alguns itens a serem preenchidos na elaborao de laudo pericial relacionado a crimes contra o patrimnio, que, de forma geral, podem ser adotados na confeco dos demais. Veja quais so:

TOCCHETTO, Domingos e ESPINDULA, Alberi. Criminalstica. Procedimentos e Metodologias, p.50-54.

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1- Prembulo ou histrico. 2- Preliminares. 3- Objetivo da percia ou quesitos. 4- Dos exames periciais. 5- Consideraes tcnicas ou discusso. 6- Concluso e/ou respostas aos quesitos. 7- Fecho ou encerramento. 8- Anexos. A seguir, voc ter a oportunidade de conhecer cada um deles. Vamos l?

Prembulo ou HistricoDiscriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e rgos superiores aos quais est subordinado, tipo de laudo, a data da requisio e/ou solicitao, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a percia, nome do diretor e dos peritos signatrios do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais. Fazer, neste tpico, um pequeno histrico da requisio, bem como uma sntese do fato que originou a requisio da percia e as providncias tomadas referentes ao fato. Informaes fornecidas por autoridades, funcionrios e proprietrios devem ser relatados neste item.

PreliminaresNeste tpico, o relator vai consignar as informaes referentes preservao e isolamento do local e quaisquer outras alteraes que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. Nos casos de exames em peas, este tpico destina-se consignao de qualquer fato conitante entre a requisio e o objeto de exame, tais como nmero de peas distinto do constante na requisio, peas que no esto discriminadas, objetivos do exame incompatveis com o tipo de pea a ser examinada.Unidade 2

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Objetivo da Percia ou quesitosDescrever, conforme consta na requisio, quais os objetivos a serem buscados na percia, os quais devero estar contidos na requisio da percia ou nos quesitos formulados. No sendo especicado na requisio os objetivos da percia, de bom alvitre que os peritos descrevam com certa preciso quais so os objetivos periciais pertinentes queles exames.

Dos Exames PericiaisDiscriminar todas as tcnicas e mtodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela percia. No necessrio que, nos exames periciais, constem de forma explcita os subitens seguintes, mas seu contedo deve obrigatoriamente integrar o texto relativo aos exames periciais: a) do local: constitui a parte essencial. A descrio deve ser metdica, objetiva, fiel, minuciosa, clara, sntese do observado. Quando os fatos forem variados, convm distribu-los em captulos conforme sua natureza e interdependncia. Evitar informaes, discusses, hipteses, diagnsticos e concluses; b) dos vestgios: partindo-se das indicaes (referncias) maiores para as menores (detalhes). Descrever conforme a ordem de maior importncia, como o acesso ao terreno, ao prdio, ao cmodo, gaveta, etc. Aqui devem ser relacionados e devidamente descritos todos os vestgios constatados no exame pericial. Deve-se ater somente descrio dos vestgios, deixando para o tpico seguinte a respectiva anlise e interpretao dos mesmos.As tcnicas ou mtodos empregados devem sempre partir do geral para o particular, de exames macroscpicos para exames microscpicos. Quando for empregada mais de uma tcnica na realizao de um determinado exame, preciso cit-la na ordem em que a mesma foi aplicada.

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Consideraes Tcnicas ou DiscussoDo histrico e das descries (local e vestgios) deuem as concluses. Porm, em certos casos h necessidade de cotejar fatos, de analis-los, dissipar dvidas ou ajustar obscuridades. Atravs da discusso asseguram-se concluses lgicas, afastando-se as hipteses capazes de gerar confuso, evidenciando-se aquelas que, depois de cotejadas, conduziro e subsidiaro a concluso. Buscar a coerncia ou no dos elementos observados e anteriormente citados. Confront-los com a normalidade. Enm, relatar neste tpico as anlises e interpretaes das evidncias constatadas e respectivos exames, de maneira a facilitar a compreenso e entendimento por parte dos usurios do laudo pericial.

Concluso e/ou respostas aos quesitosA concluso pericial inserida no laudo pericial devem ser, obrigatoriamente, uma conseqncia natural do que j fora argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos tpicos anteriores do laudo. A concluso deve obedecer a critrios tcnicos conforme j recomendados, ou seja: somente quando nos restar uma possibilidade para aquele evento, sob a tica tcnico-cientca que pode-se concluir de forma categrica. Para chegar-se a essa nica possibilidade, tm-se apenas duas situaes viveis. A primeira situao quando, no conjunto dos vestgios constatados e examinados, h um que, por si s, determinante. Obviamente que vestgio determinante, neste caso, deve estar caracterizado pela sua condio autnoma associada ao seu signicado no evento em estudo. Em muitos casos, este vestgio determinante pode estar associado a outros elementos de convico tcnico-cientca. Veja exemplo para entender melhor esse conceito.

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Impresso digital individualmente um vestgio determinante, mas, se for encontrado um desses vestgios no local do crime, no quer dizer que foi identicado o autor do crime e por conseqncia trata-se de um homicdio.

Por outro lado, em um local de incndio, a constatao de mltiplos focos iniciais no um vestgio determinante por si s, mas se restar comprovado que tais focos eram isolados ou incomunicveis, e em conjunto com as observaes anteriores, nos locais correspondentes aos focos forem retiradas amostras de materiais que apresentem resultados positivos em exames laboratoriais, em pesquisa de vestgios de hidrocarbonetos volteis, o grau de clareza da ao dolosa ser determinante para a caracterizao e materializao do delito. A segunda situao em que os peritos podero ter apenas uma possibilidade ser em um universo de vrios vestgios, onde nenhum deles por si s seja determinante, mas apenas probabilsticos, e que, no seu conjunto de informaes tcnicocientcas levem a uma nica possibilidade. Todavia, existem vrias situaes em que os peritos podero ter vrios vestgios relacionados com o fato, onde nenhum deles por si seja determinante. Neste caso, os peritos devero apontar quais so e descrev-los. Existem, por vezes, situaes em que, apesar da existncia de vestgios, mesmo analisando-os em seu conjunto, no ser possvel chegar a uma denio quanto ao diagnstico. Neste caso, os peritos no podero fazer qualquer armativa conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestgios existentes so quantitativa e qualitativamente insucientes para se chegar a uma concluso categrica. H, ainda, a situao na qual, atravs do seu exame ou de sua anlise, no se observem vestgios materiais capazes de fundamentar uma concluso. Neste caso deve-se constar no laudo que, face exigidade de vestgios, no h elementos tcnicos atravs dos quais possa ser fundamentada uma concluso categrica.

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Mesmo que no seja possvel uma concluso categrica em uma determinada percia, deve-se constar no laudo o tpico correspondente e, nele informada a impossibilidade de concluso face aos motivos que devem ser mencionados (exigidade de vestgios, falta de preservao, etc.) , de forma clara e explicativa, porm, poder ser levantada uma causa mais provvel.

Ento, no sendo possvel concluir um laudo pericial, para auxiliar no contexto geral das investigaes e, posteriormente, justia, o perito dever tomar todo o cuidado, tanto no exame quanto no texto dessas argumentaes. Em alguns casos concretos, os peritos tero condies de eliminar algumas admissibilidades ou hipteses, e, com isso, delimitarem o trabalho dos investigadores de polcia, e, posteriormente, da justia. A eliminao de algumas das possibilidades na verdade uma concluso pela sua excluso, e, portanto, deve seguir o mesmo rigor tcnico-cientco j mencionado. O tcnico-cientco se refere tcnica criminalstica e o cientco s demais leis da cincia. O perito poder se valer, para as suas concluses, ou de alguma tcnica criminalstica j consagrada ou de alguma lei da cincia de qualquer rea do conhecimento cientco, ou de ambas, de acordo com cada situao.

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Fecho ou EncerramentoAnalise um modelo de laudo e verique os elementos que ele contm.Modelo de fecho ou encerramento de laudo pericialEste laudo, composto por (...) pginas impressas em seu anverso, foi feito em duas vias de igual teor, pelos peritos da Seo de Crimes Contra o Patrimnio, estando ambas as vias autenticas com a rubrica dos seus subscritores, acompanhadas pelos anexos (citar quais os anexos e o nmero dos mesmos), bem como se devolve todo o material, descrito no tpico documentos de exame, lacrados no envelope n .. Local e data Nome dos peritos. Classe e/ou cargo

Anexos necessrio incluir, ao nal, todos os anexos que foram produzidos e que sejam necessrios para acompanhar o laudo, visando a melhor compreenso do mesmo, tais como, resultado de exames complementares, fotograas, grcos, relatrios de outros peritos/prossionais, etc. No entanto, considerando os avanos da informtica, muitos recursos grcos podem ser inseridos ao lado, ou logo abaixo, da parte do texto a que se refere tal assunto. Especialmente para evidenciar algum detalhe que o texto esteja se referindo naquele momento da argumentao. As fotograas, quando digitais ou digitalizadas, podem seguir esse mesmo critrio.

SEO 2 - Modelos de laudos PericiaisSeguem abaixo alguns modelos de laudos periciais. Este modelos foram extrados da obra Inqurito e Procedimentos Policial (GARCIA, 2002:397-398, 415-416, 448-449). Analise atentamente cada um deles:

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a) LAUDO DE EXAME DE DOCUMENTOSAos... dias do ms de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalstica, pelo Diretor LL foram designados PP e PQ para proceder ao exame pericial de documento, a m de ser atendida requisio do Bel. AA, Delegado Titular do 1 DP, conforme Ofcio n ....

Peas MotivantesTrata-se de manuscritos apostos em um pedao de papel sem pauta medindo aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm. O documento encontra-se colado em uma folha de papel sem pauta apresentando no canto superior direito 24-Z. Trata-se de envelope que apresenta manuscritos feitos com caneta dita esferogrca, tinta preta. Encontra-se ele endereado a SS e est colado a uma folha em branco, apresentando no canto superior direito o n. 25-z.

1. Peas ParadigmticasComo espcimes de confronto, contamos com padres autnticos de JJ e JL, contidos em Auto de Colheita de Material Grco Autntico, coletados pela Polcia Civil de So Paulo DEGRAN atravs do Dr. AB.

3 Dos ExamesAs peas motivantes e paradigmticas foram examinadas a olho nu e por meios ticos adequados em busca e de hbitos grcos caractersticos que, uma vez determinados, foram confrontados entre si para uma possvel origem comum ou no. Fotomacrograas foram tomadas, e os assinalamentos necessrios foram permitindo assim um controle da concluso pericial.

4 Quesitos e Respostas1 - O autor do Auto de Colheita de Material Grco Autntico, JJ, tambm autor das escritas gravadas no bilhete de s. 24, doc 05 e envelope, doc06, s. 25? Resposta: sim Para que dois grasmos sejam aceitos como do mesmo punho, necessrio que em ambos os seguintes valores sejam convergentes: A) habilidade grca; B) hbitos grcos; C) que no haja divergncias estruturais entre os dois grasmos. (...)

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na carta de confronto em anexo, 01 a 07, os assinalamentos mais preponderantes esto em quantidade e qualidade sucientes para armarmos que as peas motivantes foram produzidas por JJ. (...) o nosso relatrio.

Obs: O material examinado devolvido com o presente laudo. Goinia, ....... de....... de........ PP 1 Perito PQ 2 Perito

b) LAUDO DE EXAME DE ARMA DE FOGOAos ... dias do ms de .... do ano de ....., nesta Capital, no Departamento de Criminalstica da Diretoria Geral da Polcia Civil, pelo Diretor LL, foram designados os peritos PP e PQ para proceder ao exame pericial em arma de fogo, a m de ser atendida requisio do Bel AA, Delegado do 1 Distrito Policial, atravs do Ofcio n. 1 Caractersticas das Peas Examinadas Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um estojo calibre nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como uma arma de fogo, curta e de porte, classicada como pistola semi-automtica, tendo as seguintes caractersticas: a) Marca Beretta; b) Fabricao italiana; c) N de srie 683C09; d) Calibre nominal 7.65mm; e) Mecanismo de percusso central, co aparente e pino percursos isolado; f) Carregamento por pente; g) Coronha guarnecida por talas de plstico pretas com inscrio Cb. BN(lateral esquerda), bem como com o logotipo da marca da arma; h) Dimenses: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de diagonal mxima; i) Acabamento oxidado, em desgaste;

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j) OBS: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental 2 Funcionamento da arma O estado geral da arma bom, no apresentando suas peas quaisquer anomalias que impeam seu funcionamento. Est apta realizao de disparos 3 Quesitos e Respostas a) Quais as caractersticas da arma periciada? Resposta_ ver item 1. b) No estado em que se encontra, est em perfeitas condies de uso? Resposta: Sim, ver item 2. c) A munio que a acompanha do mesmo calibre da arma, e qual o seu estado? Resposta: Sim, estado em condies de uso. Seu calibre corresponde ao da arma, ou seja, 7,65mm. d) H evidncias de disparo recente? Resposta: Ver laudo qumico. e) O pedao de chumbo pertence ao mesmo calibre da arma? Resposta: O pedao de chumbo a que se refere o quesito um projtil de arma de fogo calibre nominal 7.65mm, que, inclusive foi expelido pela arma de fogo aqui periciada. Portanto, a resposta no s armativa, como tambm identica a arma que o expeliu. Ver fotos 1 e 2. o relatrio. OBS: O material examinado devolvido com o presente. Goinia,... de.... de .... PP 1 Perito PQ 2 Perito

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c) LAUDO DE EXAME CADAVRICOAos... dias do ms de ... de ...., no Necrotrio do Instituto Mdico-Legal, ns, mdico-legistas que abaixo assinamos, atendendo requisio da Delegacia do 1 DP, procedemos ao exame CADAVRICO no cadver que nos foi apresentado como sendo de SS (qualicao completa), no qual observamos: Descries das leses: 1 ferida prfuro-contusa, medindo 0,8 cm de dimetro, com rea de chamuscamento, localizada na regio bucinadora (cochecha) direita, com trajeto transxando a lngua e ramo mandibular esquerdo, com sada na regio bucinadora contra-lateral; 2 ferida prfuro-contusa, medindo 0,8 com de dimetro, com rea de chamuscamento e cmara de mina, localizada na regio parietal esquerda, logo acima do pavilho auricular (orelha), transxante, com grande destruio de massa enceflica, com sada na regio carotideana direita, logo abaixo do pavilho auricular; 3 sem outras leses. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder aos quesitos. 1 - Houve morte? Resposta: Sim, houve morte. 2 - Qual a causa da morte? Resposta: Hemorragia intracraniana 3 - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Prfuro-contundente 4 - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asxia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel? Resposta: Prejudicado 5 - Qual a data do bito? (especicar hora, dia, ms e ano); Resposta: bito dia .../.../..., s 17 h. Dado e passado no Instituto Mdico-Legal, em Goinia, Capital de Gois, aos ... dias do ms de .... de ....

PP 1 Mdico-Legista

PQ 2 Mdico-Legsita

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d) LAUDO DE EXAME DE LESES CORPORAISAos... dias do ms de ...., no Gabinete do Instituto Mdico-Legal, ns, mdico-legistas que abaixo assinamos, atendendo requisio da Delegacia do 1 DP, procedemos ao exame de corpo de delito - LESES CORPORAIS - a pessoa que nos foi apresentada como sendo SS (qualicao completa), na qual observamos: DESCRIO DAS LESES: 1 - cicatriz de ferida prfuro-cortante, medindo 3 cm de extenso, localizada no hipocndrio esquerdo, prximo ao rebordo costal; 2- cicatriz de inciso cirrgica, mediana, medindo 25 cm de extenso, localizada na linha mdia do abdome; 3 cicatriz de inciso cirrgica, medindo 2 cm de extenso, localizada no anco esquerdo (dreno); 4 relatrio de leses, cujo teor o seguinte: Aos .../.../.., examinei SS e constatei o seguinte: estado geral comprometido. Leses apresentadas: 1 ferida penetrante no abdome, no hipocndrio esquerdo; 2 choque hipovolmico, Instrumento: arma branca. Tratamento: cirrgico, resseco de estmago devido lacerao extensa; reposio sangnea; antibiticos, soroterapia. Seqelas que futuramente podero se apresentar: distrbio digestivo. Afastamento de suas ocupaes por 40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM GO 007. Nada mais tendo sido constatado, passamos a responder os seguintes quesitos: 1 - Houve ofensa integridade corporal ou sade do paciente? Resposta: Sim. 2 - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Prfurocortante. 3 - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asxia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel?. Resposta: Prejudicado. 4 - Resultou incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de trinta dias? Resposta Sim 5 - Resultou perigo de vida? Sim, devido leso penetrante no abdome com a lacerao do estmago e devido ao estado geral comprometido produzido por choque hipovolmico que necessitou de cirurgia e de reposio sangnea. 6 - Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo? Resposta: Sim, debilidade permanente da funo digestiva. 7 - Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurvel ou deformidade permanente? Resposta: No 8 - Resultou acelerao de parto ou aborto? Resposta: No

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Dado e passado no Instituto Mdico-Legal, em Goinia, Capital de Gois, aos ... dias do ms de .... de ....

PP 1 Mdico-legista

PQ 2 Mdico-Legista

- Leia, a seguir, a sntese da unidade, realize as atividades de Autoavaliao e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

SnteseO laudo pericial deve ter linguagem clara, acessvel e as informaes devem ser objetivas, sem haver juzos de valor. O laudo pericial deve ser formado por: 1. Prembulo ou histrico. Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo pericial, o nome do instituto e rgos superiores aos quais est subordinado, tipo de laudo, a data da requisio e/ou solicitao, nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a percia, nome do diretor e dos peritos signatrios do laudo, bem como o objetivo geral dos exames periciais. 2.Preliminares. Neste tpico o relator vai consignar as informaes referentes preservao e isolamento do local e quaisquer outras alteraes que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento dos trabalhos periciais. 3.Objetivo da percia ou quesitos. Descrever, conforme consta na requisio, quais os objetivos a serem buscados na percia, os quais devero estar contidos na requisio da percia ou nos quesitos formulados.

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4.Dos exames periciais. Discriminar todas as tcnicas e mtodos empregados e os respectivos exames levados a efeito naquela percia. 5.Consideraes tcnicas ou discusso. Do histrico e das descries (local e vestgios) deuem as concluses. Porm, em certos casos h necessidade de cotejar fatos, de analis-los, dissipar dvidas ou ajustar obscuridades. 6.Concluso e/ou respostas aos quesitos. 7.Fecho ou encerramento. 8.Anexos.

Atividades de auto-avaliaoLeia as questes a seguir e responda com base no contedo. Verique no nal do livro as indicaes e comentrios. 1. Qual a importncia do laudo pericial na investigao criminal?

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2. Que tipo de prova o laudo pericial?

3. O laudo pericial sempre conclusivo?

Saiba maisPara aprofundar seus conhecimentos tratados nesta unidade voc pode assistir: Filme: Seven. (EUA). Lanado em 1995. Gnero: Policial. Durao: 128 min. Direo: David Fincher. Ou, ento, ler: Artigo: Laudo pericial e outros documentos tcnicos. Disponvel em: http://espindula.com.br/default4.htm. Acessado em 17 de julho de 2006.

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Investigao CriminalObjetivos de aprendizagemCompreender o conceito e o histrico da Polcia. Contextualizar a investigao criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polcias Federal e Civil, dentre outros rgos. Identicar os procedimentos de apurao de infraes criminais, provas tcnicas e testemunhais para subsidiar o processo criminal. Identicar procedimentos de prova criminal e o seu histrico, a partir dos pontos relevantes para compreender o sistema de provas brasileiro da atualidade. Conhecer o inqurito policial percebendo-o como procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de competncia exclusiva das Polcias Federal e Civil, no qual a investigao criminal formalizada.

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Sees de estudoSeo 1 Conceito e histrico da polcia Seo 2 Conceito de investigao criminal Seo 3 Conceito de prova Seo 4 Evoluo histrica da prova criminal Seo 5 Inqurito policial

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Para incio de estudoPara que voc compreenda como exercida a atividade estatal de segurana pblica brasileira na atualidade, imprescindvel que verique quais so as polcias existentes que integram este sistema e quais suas respectivas funes. Dessa forma, saber quais polcias sero responsveis pela investigao criminal. Importante, tambm, vericar o que investigao criminal, inqurito policial e prova criminal, e saber quais os tipos de provas j foram aceitveis em tempos passados e como o sistema de provas da atualidade.

SEO 1 - Conceito e histrico da polciaA palavra Polcia vocbulo derivado do latim politia, que por sua vez, procede do grego politeia, que signica, segundo Thom, (...)administrao da cidade.THOM, Ricardo Lemos. Contribuio Prtica da Polcia Judiciria, 1997, p.10.

Segundo o mesmo autor, Polcia pode ser denida como:(...) instrumento de utilidade e que passa a ser responsvel pela investigao das infraes penais cometidas e pela poltica de disciplina e restrio empregada a servio do povo.

Marcineiro (2001), conceitua Polcia como sendo:(...) a organizao administrativa que tem por atribuio impor limitaes liberdade (individual ou de grupo) na exata medida necessria salvaguarda e manuteno da ordem pblica (...). No entanto, a polcia mais visvel a todos a de segurana pblica e por isso mesmo todos tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo (...) a polcia se especializa e hoje, se apresenta com duas funes: a polcia preventiva (administrativa), de proteo individual e coletiva e a polcia judiciria, ou seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de auxlio justia penal (investigao cientca dos crimes). (MARCINEIRO, 2001: 47,48).

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Segundo Tourinho Filho (2001),(...) a Polcia o rgo incumbido de manter e preservar a ordem pblica e a incolumidade das pessoas e do patrimnio (TOURINHO FILHO, 2001:27).

Voc j teve a oportunidade de ler o que dispe o artigo 144 da Constituio Federal de 1988 com relao segurana pblica. Diz o artigo:A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos: I polcia federal; II polcia rodoviria federal; III polcia ferroviria federal; IV polcias civis; V polcias militares e corpos de bombeiros militares.

Portanto, s Polcias Rodoviria Federal, Ferroviria Federal e Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente na preveno dos delitos. De outro lado, interessante que voc perceba que a atuao principal das Polcias Federal e Civis ocorre aps a prtica do crime, na represso dos delitos. Apuram materialidade e autoria das infraes penais, por meio da funo investigativa.O que cabe Polcia Federal?

Polcia Federal cabe a apurao das infraes penais contra a ordem poltica e social ou em detrimento de bens, servios e interesses da Unio ou de suas entidades autrquicas e empresas pblicas, assim como outras infraes cuja prtica tenha repercusso interestadual ou internacional e exija represso uniforme, segundo se dispuser em lei, alm de prevenir e reprimir o trco ilcito de entorpecentes e drogas ans, o contrabando e o descaminho, nos termos do artigo 144, 1, I e II da Constituio Federal de 1988.

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O que cabe Polcia Civil?

A Polcia Civil, tambm chamada de Polcia Judiciria, tem competncia residual, tendo a funo de apurar as infraes penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuies da Polcia Federal e as infraes da alada militar, de acordo com o artigo 144, 4, da Carta Magna.A Polcia como organizao surgiu em 1829, na Inglaterra, com a criao da Polcia Metropolitana de Londres, considerada a primeira organizao policial do mundo.No Brasil, a histria da Polcia tem incio apenas no sculo XIX, ano de 1808, com a vinda da Famlia Real Portuguesa ao Brasil, em decorrncia das invases napolenicas no continente europeu. Segundo (MARCINEIRO e PACHECO, 2001:15).

Inicialmente, segundo Thom (1997), a ao militar em defesa da posse, a funo policial e a funo de julgar no estavam separadas. A atividade investigativa cava sob a responsabilidade dos magistrados, em especial dos Juzes de Paz. Com o rpido crescimento das atividades econmicas e sociais, fez-se necessria a organizao dos servios policiais. Segundo Marcineiro e Pacheco, (2001), a origem da Polcia Judiciria, como organizao, ocorreu em 1841, com a promulgao da Lei no. 261, de 03 de dezembro, que apresentava uma organizao policial incipiente, criando em cada provncia um Chefe de Polcia, com seus delegados e subdelegados escolhidos dentre os cidados. A partir da promulgao da repblica, em 1889, a Polcia passou a atuar de acordo com o modelo poltico vigente. Na democracia a Polcia tinha como foco a segurana pblica dos cidados, e, nos perodos ditatoriais, a Polcia tinha como prioridade salvaguardar a segurana nacional estatal, o que ca evidenciado pelos dispositivos que versavam sobre segurana pblica, inseridos nas Constituies Federais que se sucederam.

Segundo Silva, Democracia (...) um regime poltico em que o poder repousa na vontade do povo. In: SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo,1999, p.130.

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Importante a diferenciao que Marcineiro e Pacheco, na obra Polcia Comunitria. Evoluindo para a Polcia do Sculo XXI, p.33, fazem entre segurana nacional e segurana pblica: a primeira com sendo a defesa do Estado e a segunda como tendo o foco na segurana da sociedade.

A atual Constituio Federal de 1988 fruto de uma redemocratizao, iniciada em 1985, aps vinte e um anos de regime de exceo. Promulgada em um Estado Democrtico de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos individuais. Nesse contexto, a Polcia passa a ter o dever de prestar servios respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguard-las.

SEO 2 - Conceito de investigao criminalVoc sabe o que signica investigar? Que sentido esta palavra assume no contexto da segurana pblica?

Segundo Canotilho (1999), (...) garantias so os meios processuais adequados proteo dos direitos. In: CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio, 1999, p.372.

Segundo Bueno (1977), investigar signica(...) indagar, pesquisar, fazer diligncias para achar, (...), descobrir. (BUENO, 1977:685).

um ato instintivo do homem que o faz movido pelo princpio inteligente e pelo instinto de curiosidade. Voc concorda? Muito bem, vamos adiante e contextualizando.A investigao policial atividade de natureza sigilosa exercida por policial ou equipe de policiais determinada por autoridade competente que, utilizando metodologia e tcnicas prprias, visa a obteno de evidncias, indcios e provas de materialidade e de autoria do crime.

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A investigao policial, ou investigao criminal, atividade policial direcionada apurao das infraes penais e de sua autoria. o trabalho realizado por policiais, especialmente delegados e seus agentes, procurando esclarecer a autoria e materialidade de delitos, bem como as circunstncias em que ocorreram. Estas circunstncias so detalhes de fatos criminosos com a preocupao de melhor identicar as pessoas com eles relacionados e o prprio objeto do crime, visando reunir elementos probatrios para o indiciamento ou no e posterior encaminhamento apreciao judicial.

Qual o objetivo da Investigao criminal?

O objetivo da investigao criminal amealhar provas criminais, para comprovar materialidade e autoria do delito. - A seguir voc vai estudar sobre a prova e seu conceito.

SEO 3 - Conceito de provaComo dito, o objetivo da investigao criminal a busca das provas criminais necessrias para a elucidao do crime. O vocbulo prova origina-se do latim probatio, que por sua vez emana do verbo probare, com o signicado de demonstrar, reconhecer, formar juzo sobre um fato. De Plcido e Silva (1978), A prova consiste, pois, na demonstrao da existncia ou da veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que se defende ou que se contesta.(De PLACIDO e SILVA, 1978: 1253).Segundo Greco Filho (1997:196), a prova todo meio destinado a convencer o juiz a respeito da verdade de uma situao de fato.

GRINOVER, FERNANDES E GOMES FILHO diferem fonte de Prova, meio de Prova e objeto da Prova: Podese, assim, distinguir entre fonte de Prova (os fatos percebidos pelo juiz), meio de Prova (instrumentos pelos quais os mesmos se fixam em juzo) e objeto da Prova (o fato a ser Provado, que se deduz da fonte e se introduz no processo pelo meio de Prova). (GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antnio Scarance; GOMES FILHO, Antnio Magalhes. As Nulidades no Processo Penal,1982, p.106).

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Todas as armaes de fato feitas pelo autor, bem como as armaes feitas pelo ru, que normalmente se contrapem quelas, podem ou no corresponder verdade. De acordo com Cintra,as dvidas sobre a veracidade das armaes de fato feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a propsito de dada pretenso em juzo, constituem as questes de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, vista da prova dos fatos pretritos relevante.CINTRA, Antnio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; Cndido Rangel.Teoria Geral do Processo, 2003, p.348.

Portanto, a prova constitui o instrumento por meio do qual se forma a convico do juiz a respeito da ocorrncia ou inocorrncia dos fatos controvertidos no processo.(CINTRA, Antnio Carlos de Arajo; GRINOVER, Ada Pelegrinni; DINAMARCO; 2003: 348).

Especicamente com relao prova criminal, pode-se armar que aquela utilizada para demonstrar a ocorrncia ou no de uma infrao penal e as circunstncias que possam inuir no julgamento da responsabilidade e na individualizao das penas. As provas criminais formam a convico a respeito da autoria e materialidade da infrao penal, das condies de antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos necessrios para fundamentar uma deciso condenatria ou absolvitria. Em sntese, a prova criminal aquela utilizada para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputao feita ao ru e as circunstncias que possam inuir no julgamento da responsabilidade e na individualizao das penas.

SEO 4 - Evoluo histrica da prova criminalO sistema probatrio, no Processo Penal Brasileiro, adotou o modelo europeu-continental, fazendo-se importante uma breve anlise das origens deste modelo. Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituio de fatos pretritos, sempre acompanharam a histria da civilizao, estando fortemente condicionados por circunstncias histricas e culturais.Unidade 3

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Na Antigidade, a religio era a fora propulsora das organizaes rudimentares e, posteriormente, das cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis e religio se misturavam. Coulange (1996) menciona que o respeito dos antigos s leis advinha da crena de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham origem sagrada. (COULANGE, 1996:152).

Esta foi uma poca em que os homens no conheceram a liberdade individual, pois no se tinha a mais leve idia sobre a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes. Foi neste perodo em que se instituram as ordlias ou juzos de Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crena de que Deus no deixaria de sustentar o Direito do inocente, estes no pressuposto de que ningum se atreveria a tomar Deus como testemunha de uma falsidade. Santos (1970), conceitua ordlia como sendo a submisso de algum a uma prova, na esperana de que Deus no o deixaria sair com vida ou sem um sinal evidente, se no dissesse a verdade ou fosse culpado. (SANTOS, 1970:25).Segundo Santos (1970), as ordlias constituram a prova suprema usada pelos germanos primitivos e os povos antigos da sia, no tendo aplicao entre os romanos, que, segundo Sznick conheceram e zeram uso da tortura contra seus escravos na Antigidade. (SZNICK, 1978:24).

Durante muitos sculos na Idade Mdia, com o domnio absoluto dos brbaros na Europa, as ordlias tambm tiveram aplicao. Segundo Santos, (1970:26) na prova pelo fogo se fazia o acusado carregar uma barra de ferro em brasa por certa distncia, ou caminhar, com os ps nus, sobre ferros candentes, e a prova pela gua fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos do fundo de uma caldeira de gua fervente, sendo o acusado absolvido se no restassem leses e condenado no caso contrrio.56

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Montesquieu (1996), menciona que a prova pela gua fervente podia ser substituda, a critrio do acusador, por certa quantia e pelo juramento de algumas testemunhas que declarassem que o acusado no havia cometido o crime. (MONTESQUIEU, 1996: 553). Acerca dos juramentos, Santos (1970) analisa:Compreende-se facilmente a incluso do juramento entre os velhos sistemas probatrios, que se reete na inuncia exercida pelas religies sobre os homens e as organizaes sociais da Antigidade e da Idade Mdia, bem como na circunstncia de ser quase impossvel, numa poca em que a escrita no existia, colherem-se provas testemunhais, dada a pouca densidade da populao e a prpria natureza patriarcal dos agregados humanos. Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento decorria da prpria necessidade (...). (SANTOS, 1970: 30-31).

Com a desmoralizao do juramento, instituiu-se como instituto probatrio o duelo, tambm chamado combate judicirio. No nal da poca medieval e durante a Idade Moderna surgiram, na Europa, os tribunais da inquisio, perodo em eram tidos como hereges os que contrariavam os dogmas ociais da Igreja Catlica.

Mas para que a tortura era utilizada? Qual a nalidade?

Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997) menciona que a tortura era utilizada ocialmente nos interrogatrios, na presena dos juzes, com a nalidade de obter a consso. (COTRIN, 1997:157). Novinski (1982) nomina este mtodo de inquisitivo, atuante nos sculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos interesses de todas as faces do poder: coroa, nobreza e clero. (NOVINSKY, 1982:47).

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Considerando a diculdade de se obter outros meios de prova, a consso do acusado representava o objetivo primordial do procedimento inquisitrio. Enfocando a tortura, Gomes Filho (1997), menciona: somente ela podia fornecer a certeza moral a respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia vez conrmao de uma verdade j estabelecida.(GOMES FILHO, 1997:22).No que se refere valorao das provas, neste perodo que surgiu o sistema das provas legais, pelo qual cada prova tinha seu valor previamente determinado, e somente a combinao destas autorizaria uma condenao criminal.

A tortura clssica tornou-se mecanismo regulamentado e legalizado de Prova. Segundo Foucault, (2002) a tortura um jogo judicirio estrito (...), o paciente submetido a uma srie de provas, de severidade graduada, e que ele ganha agentando ou perde confessando. (FOUCAULT, 2002:36). Ortega (1998), discorrendo sobre o sistema jurdico-penal e processual penal, nos sculos XVI e XVII, na Europa, menciona que a tortura tratava-se de pea fundamental no processo, utilizada para obter a consso do ru, e era diferenciada de acordo com a classe social a que pertencia o indivduo, estando a nobreza sujeita tortura apenas nos delitos considerados extremamente graves. Portanto, o princpio da igualdade era inexistente naquela poca. (ORTEGA, 1998:463)

Sobre este tema, Beccaria (1993), autor da obra Dos Delitos e Das Penas, escrita no sculo XVIII, cuja essncia a defesa do indivduo contra as atrocidades e arbitrariedades daqueles tempos, e que inuenciou a reforma de muitos Cdigos Penais e Processuais Penais Europeus, manifestou-se armando que a tortura muitas vezes um meio seguro de condenar o inocente fraco e de absolver o criminoso robusto. (BECCARIA, 1993:36).

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Valiente (2002), sintetiza algumas das idias defendidas por Beccaria, na obra citada: a mudana do processo inquisitivo para o acusatrio, pblico, com meios de prova claros e racionais; a igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a proporcionalidade entre os delitos e as penas; a ntida separao entre a religio e o Estado e seus Poderes, desvinculando os conceitos de pecado e delito; a supresso total da tortura e da pena de morte; e a preferncia dos mtodos preventivos aos repressivos; idias estas que continuam a inuenciar os sistemas penais e processuais penais atuais. (VALIENTE, 2002:161,162) Para Bentham, a tortura era empregada para suprir a decincia dos meios probatrios da poca: A tortura, empregada para arrancar as consses, objetiva suprir a decincia das provas. Supondo que o delito no est provado, que faz o juiz? Ordena atormentar uma pessoa, na dvida de ser inocente ou culpado. (traduo da autora). Sabadell (2002), discorrendo sobre a tortura ocializada arma:A tortura judicial est vinculada ao sistema de provas legais, desenvolvido a partir do sculo XIII pelos doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base a classicao sistemtica das provas romanas, segundo o mtodo escolstico, em graus: provas plenas, semiplenas, indcios e presunes. Acima da prova plena est o notorium. Por meio deste instituto era concedida a dispensa de produo de provas em determinados casos. (SABADELL, 2002:275).

BENTHAM, Jeremias. Tratado de Las Pruebas Judiciales. p.316. La tortura, empleada para arrancar las confesiones, se encamina a suplir la insuciencia de las pruebas. En el supuesto de que el delito no est probado, qu hace el juez? Ordena atormentar a una persona, en la duda de si es inocente o culpable.

Sabadell (2002), conceitua notorium como sendo a prova qual se deve dar a mxima credibilidade, j que, diferentemente das demais provas, no se permite que se estabelea nenhuma discusso ou questionamento. Na Idade Mdia e grande perodo da Idade Moderna, inexistia a concepo de direitos individuais, havendo sempre a prevalncia do interesse pblico em detrimento do indivduo, o que se coaduna com o sistema inquisitrio. A consso era a regina probatium* e o depoimento de uma s testemunha no possua valor probatrio (testis unus, testis nullus**).

*traduo: rainha das Provas (cf. CALDAS, Gilberto. O Latim no Direito. p.495; ** traduo: uma s testemunha equivale a nenhuma testemunha. (cf. CALDAS, Gilberto. O Latim no Direito. p.308.

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Em matria de processo penal, o princpio da inocncia do acusado era desconhecido, as provas no eram reunidas para apurar uma possvel responsabilidade penal do ru, sendo que esta era constituda por cada um dos elementos que permitiam reconhecer um culpado. De acordo com Sabadell (2002),(...) a existncia de uma meia prova implicava a considerao do ru como meio culpado. Um grau alcanado na demonstrao da culpa (prova semiplena), implicava, conseqentemente, um determinado grau de punio, incluindo a autorizao para o uso da tortura. Em outras palavras, no se torturava um inocente, e sim um meio culpado, para conrmar a suspeita legalmente criada de que ele era realmente culpado. (SABADELL, 2002:278).

Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer da histria. importante, tambm, mencionar os sistemas de valorao de prova, alm do j citado sistema das provas legais. Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou por vrias fases, sendo inicialmente rgido, mas ao longo dos sculos a doutrina o submeteu a modicaes para facilitar a sua aplicao, at o surgimento posterior do sistema da livre apreciao de provas. Os ideais iluministas postulados pela Revoluo Francesa romperam com o sistema inquisitivo, e, atravs da Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, de 1789, conferiram maior liberdade aos juzes na apreciao da prova e na indicao dos motivos da convico.cf. GOMES FILHO. Antnio Magalhes. Direito Prova no Processo Penal, 1997, p.28-29.

Tratava-se do sistema da ntima convico. Tais ideais foram uma reao ao sistema inquisitrio e doutrina das provas legais. Vm ao encontro de um sistema probatrio que respeita o ser humano enquanto sujeito de direitos e garantias individuais, dentre elas, a proibio legal da tortura, a presuno de inocncia do acusado e o direito ao contraditrio. Segundo Grinover (1982), a Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, de 1789, advinda da Revoluo Francesa, consagrou a escola do Direito Natural, selando a concepo

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da existncia de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, no criados, mas reconhecidos por este. Acerca desta Declarao, menciona Bobbio (1992),(...) o ncleo doutrinrio da Declarao est contido nos trs artigos iniciais: o primeiro refere-se condio natural dos indivduos que precede a formao da sociedade civil; o segundo, nalidade da sociedade poltica, que vem depois (...) do estado de natureza; o terceiro, ao Princpio de legitimidade do poder que cabe nao. (BOBBIO, 1992:93).

Segundo a Declarao Universal dos Direitos do Homem - art. 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e Direitos; art. 2: O objetivo de toda associao poltica a conservao dos Direitos naturais e imprescritveis do homem; art. 3:O Princpio de toda soberania reside essencialmente na Nao. Nenhuma corporao, nenhum indivduo, pode exercer autoridade que aquela no emane expressamente. Disponvel em: . Acesso em 14.12.03.

Gomes Filho (1997:55) entende que uma verdadeira Justia penal pressupe o reconhecimento, defesa, do poder de produzir provas contrrias s da acusao, a m de obter-se no uma verdade extorquida inquisitoriamente, mas uma verdade obtida atravs de meios probatrios produzidos pelas partes. Gomes Filho (1997:31) arma que em 1808, o Code dinstruction criminelle francs instituiu a combinao entre os padres inquisitrio e acusatrio, inuenciando os demais ordenamentos continentais e representando, at os dias atuais, o modelo inspirador da maioria das legislaes. A doutrina passou a postular limitaes ntima convico do juiz, e, segundo esta nova concepo, o juiz s estaria autorizado a condenar se, alm de convencido, estivesse amparado por um mnimo de elementos probatrios. Passou-se a postular pelo sistema da persuaso racional, tambm chamado por Capez deUnidade 3

CAPEZ, Fernando.Curso de Processo Penal. 2002, p.267.

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sistema da livre (e no ntima) convico, da verdade real ou do livre convencimento. Conforme Colucci (1988):Num terceiro estgio, em respeito ao contraditrio, xou-se como pressuposto do direito de defesa o conhecimento pelas partes dos caminhos percorridos pelo juiz ao julgar (persuaso racional), cedendo-se ao julgador liberdade de valorao da prova, desde que acompanhada de demonstrao lgica dos motivos da deciso. A motivao das sentenas e decises de modo geral, tornou-se verdadeira garantia individual, evitando-se que a excessiva liberdade na avaliao das provas transformasse o processo penal em instrumento de opresso e terror, em vez de protetor das liberdades pblicas. (COLUCCI, 1988:237-250).

O sistema probatrio de persuaso racional foi adotado pelo Cdigo Processual Penal Brasileiro - Decreto-Lei n.3689, de 03.10.1941-, atravs do seu artigo 157.Cdigo Processual Penal Brasileiro, (ano), art. 157: O juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova. Oportuna a transcrio deste trecho da Exposio de Motivos do Cdigo Processual Penal Brasileiro. Trecho extrado da Exposio de Motivos do Cdigo Processual Penal Brasileiro, no captulo que discorre sobre Provas.

No sero atendveis as restries prova estabelecidas pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem pre xada uma hierarquia de provas: na livre apreciao destas, o juiz formar, honesta e lealmente, a sua convico. A prpria consso do acusado no constitui, fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as provas so relativas; nenhuma delas ter, ex vi legis, valor decisivo, ou nec essariamente maior prestgio que outra. Se certo que o juiz ca adstrito s provas constantes dos autos, no menos certo que no ca adstrito a nenhum critrio apriorstico no apurar, atravs delas, a verdade material. Nunca demais, porm, advertir que livre convencimento no quer dizer puro capricho de opinio ou mero arbtrio da apreciao das Provas. O juiz est livre de preconceitos legais na aferio das Provas, mas no pode abstrair-se ou alhear-se ao seu contedo. No estar ele dispensado de motivar sua sentena. E precisamente nisto reside a suciente Garantia do Direito das partes e do interesse social.

Atravs do sistema da persuaso racional, no h hierarquia entre as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua conscincia, desde que o faa motivadamente e, considerando-se a viso sistmica, obedecendo Constituio da Repblica, o Cdigo

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de Processo Penal e demais legislaes vigentes. Tal motivao no se faz necessria apenas nas decises do jri, considerando a soberania dos vereditos e o sigilo das votaes, preceituados no artigo 5, XXXVIII, da Carta Magna. De outro lado, os meios de prova mencionados no Cdigo de Processo Penal so apenas exemplicativos, admitindo-se as provas inominadas. Acerca deste sistema, entende Capez (2002), que:(...) atende s exigncias da busca da verdade real, rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbtrio, na medida em que exige motivao. No basta ao magistrado embasar a sua deciso nos elementos probatrios carreados aos autos, devendo indic-los especicamente. No pode, igualmente, o magistrado buscar como fundamento elementos estranhos aos autos. (CAPEZ 2002:267).

Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas constitucionais e infraconstitucionais. Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como verdadeiro direito garantido s Polcias, acusao e defesa, assegurado pela leitura coordenada da Constituio da Repblica, e por textos legais internacionais.

SEO 5 - Inqurito policialComo voc viu anteriormente, o objetivo principal das Polcias Civil e Federal a investigao criminal, que procura demonstrar a existncia do fato criminoso, a autoria e estabelece as condies em que o crime ocorreu. Mas, a investigao criminal no atividade exclusiva destas Polcias. O Ministrio Pblico, Congresso Nacional, Polcias Militares e outros rgos podem exercer atividade investigativa.

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O inqurito policial de atribuio exclusiva das Polcias Federal e Civil.

Aps a prtica da infrao penal, cabe Polcia Judiciria a apurao imediata do delito, por meio da investigao policial, cujos atos e resultados devero ser formalizados, via de regra, atravs do inqurito policial. O auto de priso em agrante, previsto no Cdigo de Processo Penal Brasileiro, o termo circunstanciado, previsto nas Leis Federais n. 9099/95 e n. 10259/2001, e o auto de apurao de atos infracionais, previsto no Cdigo da Criana e do Adolescente (Lei Federal n. 8069/90), tambm so procedimentos policiais que podem ensejar investigao. Considerando que, de forma geral, os atos investigativos so praticados no inqurito policial, este estudo aborda apenas este.Segundo Tourinho Filho (2001:25) inqurito policial (...) o conjunto de diligncias realizadas pela Polcia visando a investigar o fato tpico e a apurar a respectiva autoria.

Via de regra, a notcia de um crime chega ao conhecimento da autoridade policial atravs do boletim de ocorrncia, mediante requisio ministerial ou judicial, ou ainda, mediante requerimento de qualquer pessoa. A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de polcia determinar a instaurao do inqurito policial, onde se diligenciar para buscar provas demonstrando materialidade e autoria do crime, o que feito atravs da investigao.As atividades so as mais diversas de acordo com o delito praticado, declaraes de vtimas; depoimentos de testemunhas; interrogatrio de suspeito e/ou indiciado; representaes por mandados de busca e apreenso, prises, quebra do sigilo telefnico, quebra do sigilo bancrio, quebra de sigilo scal; requisio de todas as percias necessrias; realizao de acareaes, avaliaes reconhecimentos pessoais, fotogrcos; e outros.

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Todos estes atos so formalizados no inqurito policial, no existindo um rito pr-estabelecido para a atividade investigativa. Estas tm uma seqncia determinada pela autoridade policial que estiver presidindo o inqurito policial, em face da necessidade da realizao desta ou daquela diligncia, de acordo com as peculiaridades da infrao penal praticada. O inqurito policial apresenta a forma escrita; de natureza inquisitiva, em que o princpio do contraditrio no considerado; sigiloso; , de forma geral, de iniciativa obrigatria e indisponvel; aps a sua instaurao, no pode ser arquivado pelo delegado de polcia, nos termos do artigo 17 do Cdigo de Processo Penal Brasileiro.O artigo 6. Do Cdigo de Processo penal Brasileiro delibera quanto aos procedimentos da Polcia Judiciria na apurao dos delitos, destacandose: a) Comparecimento e preservao do local. b) Apreenso dos instrumentos e todos os objetos relacionados com o fato. c) Coleta de todas as provas do fato e de suas circunstncias. d) Oitiva do ofendido ou da vtima; se for possvel. e) Oitiva do indiciado. f) Reconhecimento de pessoas e coisas e acareaes. g) Exame de corpo de delito, se for o caso. h) Identicao datiloscpica do indiciado, se for o caso. i) Investigao sobre a vida pregressa do indiciado, inclusive seus antecedentes criminais. j) Reproduo simulada dos fatos, se for o caso.

Para que a investigao policial tenha resultado e o inqurito policial seja concludo comprovando materialidade e autoria do crime, faz-se necessria a aplicao de tcnicas investigativas. Quando o crime, cabe Polcia realizar planejamento especco, detalhando quais atividades investigativas sero realizadas, em que tempo, e denindo as tcnicas a serem aplicadas. No se pode contar com a improvisao e com a sorte no que concerne investigao policial.

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- Leia, a seguir, a sntese da unidade, realize as atividades de Autoavaliao e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto estudado.

SnteseAs polcias existentes no Brasil e suas atribuies esto descritas na Constituio Federal de 1988. Atravs da Carta Magna, vericamos que cabe Polcia Federal e s Polcias Civis dos Estados, tambm chamadas Polcias Judicirias, a funo investigativa criminal, ou investigativa policial. Investigao criminal a atividade voltada apurao das infraes penais, atravs da elucidao da materialidade e autoria dos delitos. Para tanto, busca-se amealhar provas criminais, concebida como aquelas utilizadas para demonstrar ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputao feita ao ru e as circunstncias que possam inuir no julgamento da responsabilidade e na individualizao das penas. Os meios de prova, concebidos como instrumentos de reconstituio de fatos pretritos, sempre acompanharam a histria da civilizao, estando fortemente condicionados por circunstncias histricas e culturais. O sistema de provas foi sendo alterado com o transcorrer dos tempos. Na Idade Mdia e grande perodo da Idade Moderna, vigia o sistema de provas legais, que eram previamente determinadas e hierarquizadas, sendo a consso considerada aquela de maior valor, nominando-a de rainha das provas. O sistema das provas legais passou por vrias fases, sendo inicialmente rgido, mas ao longo dos sculos a doutrina o submeteu a modicaes para facilitar a sua aplicao, at o surgimento posterior do sistema da livre apreciao de provas.

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Aps a Declarao Universal dos Direitos do Homem e do Cidado, de 1789, que conferiu diversos direitos e garantias ao homem at ento no existentes, surgiu o sistema da livre apreciao de provas, em que o juiz tinha total liberdade na valorao das provas e nas suas decises processuais, deciso absolutria ou condenatria, cando isento de motivar as suas sentenas absolutrias ou condenatrias. Aps abusos praticados nas sentenas, criou-se o sistema da livre convico, verdade real ou persuaso racional, no qual a obrigatoriedade da motivao das decises judiciais e das sentenas tornou-se verdadeira garantia individual. Este sistema foi o adotado pelo Cdigo de Processo Penal Brasileiro vigente. Alm das Policias mencionadas, outros rgos exercem funo investigativa, dentre eles, Congresso Nacional, Assemblias Legislativas dos Estados, Ministrio Pblico. Ocorre que, o inqurito policial de atribuio exclusiva das Polcias Federal e Civis.

Atividades de auto-avaliaoAssinale verdadeiro ou falso: ( ) O rol de provas elencados no Cdigo de Processo Penal Brasileiro exemplicativo. ) O sistema de provas previsto no Cdigo de Processo Penal Brasileiro o da ntima convico. ) O inqurito policial pea imprescindvel para a instaurao do processo criminal. ) As Polcias exercem atividades excludentes, razo pela qual a Polcia Militar proibida de realizar qualquer tipo de investigao criminal.

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2. Responda a seguinte questo: Na sua percepo, durante o curso de uma investigao, os policiais devem estar voltados prioritariamente indicar e localizar o autor do crime ou busca da verdade?

Saiba maisPara complementar seus conhecimentos voc pode ler: Texto: Inqurito Policial Sigilo irrestrito. Disponvel em: http://www.direitonet.com.br/textos/x/15/73/1573 Artigo: Flagrante eciente. Disponvel em: www.http://www.damasio.com.br/?page_name=art_05_ 2005&category_id=31

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Investigao CriminalObjetivos de aprendizagemEstudar tcnicas de investigao policial. Identicar a funo das Polcias Investigativas e vericar qual a relao com a investigao experimental e suas respectivas tcnicas. Conhecer e tcnicas como o interrogatrio, inltrao policial, informante e vigilncia.

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Sees de estudoSeo 1 Interrogatrio Seo 2 Inltrao policial Seo 3 Informante Seo 4 Vigilncia

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Para incio de estudoPara iniciar os estudos desta unidade considero oportuno que voc conhea termos-chave para a compreenso do que se pretende abordar. Assim, c