manual controle de quiropteros

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  • Manual Tcnico do Instituto Pasteur, nmero 7 Manejo de quirpteros em reas urbanas

    Manejo de quirpteros emreas urbanas

    INTRODUOIvanete Kotait

    A raiva uma zoonose causada por vrus da famlia Rhabdoviridae, gneroLyssavirus, que pode acometer todos os mamferos.

    Na transmisso da raiva dos animais para o homem, em nosso pas, tem pa-pel principal o co, seguido dos morcegos e do gato.

    Para o controle da raiva canina e felina, as aes necessrias so perfei-tamente conhecidas e muito se tem evoludo. O resultado da atuao intensificadapara o controle da raiva em animais domsticos urbanos o decrscimo acentuadoda ocorrncia de raiva canina e felina (104 casos em 1996 e 7 em 1998).

    Por outro lado, a falta de planejamento urbano, no que diz respeito elabo-rao de projetos arquitetnicos e paisagsticos, fez com que houvesse um grandeaumento da populao de quirpteros nos centros urbanos.

    Acompanhando este aumento populacional de quirpteros, foram inten-sificadas aes de Vigilncia Epidemiolgica, com um estmulo educativo para enca-minhamento de amostras de animais suspeitos para o laboratrio, que resultou emum aumento de quirpteros positivos para a raiva, alertando para a circulao dovrus, mesmo nos centros nos quais a doena era considerada sob controle.

    A cadeia epidemiolgica da raiva didaticamente dividida em 4 ciclos: cicloareo, ciclo urbano, ciclo silvestre e ciclo rural. As aes para controle da enfermi-dade, historicamente, so isoladas em cada um dos ciclos, o que, certamente, repre-senta um erro.

    O ciclo areo, em especial, foi considerado independente, at que foram diag-nosticados diversos casos de morcegos positivos, de diversas espcies, com hbitosalimentares distintos e variantes do vrus rbico de morcegos em animais de estimaoe silvestres terrestres.

    Nos ltimos anos, em vrios Estados, foram diagnosticados casos humanostransmitidos por quirpteros e, mais recentemente, no Estado de So Paulo, foramidentificados casos caninos e felinos tambm transmitidos por morcegos.

    A introduo da tcnica de anticorpos monoclonais para o estudo das amostrasisoladas de quirpteros confirmou a interrelao entre as diferentes espcies destesanimais, visto ter sido encontrada a cepa do Desmodus rotundus (morcego hemat-fago) em outras espcies como Artibeus lituratus (frugvoro) e Lasiurus ega (insetvoro).

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    Desta forma, cada vez mais, imprescindvel que se conhea detalhadamentea raiva dos quirpteros, sua distribuio e maneiras de control-la, sem que setenha que adotar mtodos de controle destas espcies, alterando com isso o meioambiente.

    A ocorrncia crescente da raiva em quirpteros encontrados em reas urba-nas do Estado de So Paulo fez com que este tema fosse alvo das maiores atenespor parte da Coordenao Estadual do Programa de Controle da Raiva no Estadode So Paulo, tanto no mbito do laboratrio, com a implantao de novos mtodosde estudo das amostras de vrus, como no campo, com propostas para atuao emfocos de raiva em quirpteros em reas urbanas.

    Obviamente, estas questes s podero ser abordadas com sucesso de formainterdisciplinar e interinstitucional, envolvendo os rgos de Sade, Agricultura eMeio Ambiente.

    SITUAO DA RAIVA NO BRASILNeide Yumie Takaoka

    Em 1997 houve um seminrio que abordou a questo dos quirpteros e ficouacordado que, em 1998, haveria um evento menor para discutir mais detalhadamenteesta situao e tirar propostas sobre o manejo de morcegos em reas urbanas. Lamen-tavelmente, no foi possvel realizar o evento em 1998.

    Assim, esperamos que a proposta que ser elaborada nesse encontro, para oEstado de So Paulo, sirva de exemplo para o restante do pas.

    Os dados apresentados esto atualizados at 1997, pois este ano a reunio doscoordenadores de raiva dos Estados ainda ocorrer no final deste ms (junho).

    At 1993, ocorreram mais de 200 casos de raiva humana nas Amricas e, de 93a 98, mais de 100 casos. O Brasil contribuu, em 1997, com 25 casos dos 120 registradosna Amrica.

    Observa-se que est ocorrendo um declnio discreto, porm muito pequeno parauma doena que totalmente prevenvel. Em 1997 houve 120 casos na AmricaLatina e apenas 4 foram na Amrica do Norte, especialmente nos EUA. Dos casosda Amrica Latina, o Brasil contribuiu com 21,7% (como o Mxico) e 41 casos ocor-reram na regio andina (35,7%). importante destacar que a proporo de casoscujo animal transmissor eram espcies silvestres aumentou nesse perodo, inclusiveno Brasil. A porcentagem maior no sexo masculino (71%), 36% em menores de 10anos, sendo que, na grande maioria das crianas, a transmisso deu-se pelo co.

    Em 1997 a proporo de casos em reas urbanas e rurais era praticamenteigual e, quando comparada com a dcada de 70, a grande maioria dos casos ocorreuem rea urbana, tanto que toda a poltica da Organizao Panamericana de Sadeera para o controle da raiva em rea urbana. Neste momento, observa-se que h uma

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    diminuio da raiva transmitida por animais domsticos, para se ter, como nos EUA,a raiva transmitida por outros animais.

    Verifica-se que 11 casos foram transmitidos por morcegos, de qualquer espciee que, em 11,17% dos casos em humanos, a raiva foi transmitida por quirpteros,quase 80% por ces e 5% por gatos, ficando os morcegos em 2 lugar, aps o co, comoa espcie transmissora, quando em anos anteriores apareciam os felinos, com 11%.

    Os animais responsveis pela transmisso da raiva nas Amricas foram: lobomangosta, mapache, mofeta, macaco, morcego, manola, raposa, gamb, bfalo, coati.

    No Brasil, segundo a srie histrica de 1980 a 1997, observa-se que, dos 168casos humanos em 1980, h uma reduo; porm, de 1985 a 1989, estes dados sosubestimados e, a partir de ento, passou-se a ter uma melhor notificao.

    Em 1997, dos 25 casos, 38% ocorreram no Nordeste, 23% no Sudeste, 0% naregio Sul, 10% na Centro-Oeste e 29% na regio Norte. Em 1998, dos 28 casos ocorridosno Brasil, o Estado de So Paulo no teve nenhum caso; em Minas Gerais ocorreuo ltimo caso, diagnosticado, inclusive, pelo Instituto Pasteur e o Rio de Janeiro noapresenta casos desde 1990.

    Chama a ateno o fato de que, de 1990 a 1997, dos 546 casos, 57 foram trans-mitidos por morcegos.

    Quando se comeou a incentivar o envio de amostras para laboratrio, obser-vou-se um aumento do nmeros de casos positivos para raiva em ces, sendo queem 1997, no Brasil, das 17.937 amostras enviadas, 1.454 foram positivas para raiva.Quanto ao nmero de pessoas atendidas, de um total de 440 mil, 240 mil foramtratadas, sendo 127.000 em So Paulo.

    SITUAO DA RAIVA NO ESTADO DE SO PAULOMaria Rosana Issberner Panacho

    O ltimo caso de raiva humana no Estado de So Paulo ocorreu em janeirode 1997.

    Na maioria dos casos de raiva humana no Estado, a espcie transmissora oco (84%) ou o quirptero (10,5%), como acontece nas Amricas e no Brasil. So-mente em um caso humano, no municpio de Mococa, a etiologia no foi esclarecida,pois o paciente teve envolvimento com co e morcego e, como a amostra no foiguardada, no foi possvel fazer a tipificao antignica.

    Considerando o total de casos positivos em animais no Estado de So Pauloem 1996 (197 casos), a distribuio foi a seguinte: 95 ces, 9 felinos (todos em reaurbana), 78 bovinos, 12 eqinos e 4 quirpteros. Destaque deve ser dado para asregies de Araatuba e Ribeiro Preto, que estavam em ampla epidemia de raivaem ces e gatos, e para o municpio de Taubat, com 16 casos de raiva em herbvoros.

    Em 1997 ocorreu somente um caso a mais que em 1996, porm a distribuiopor espcie foi muito diferente: 11 casos em ces, nenhum felino, 149 bovinos, 11

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    quirpteros e o restante em caprinos, eqinos e ovinos. Observa-se assim uma mu-dana importante na ocorrncia de casos por espcie, principalmente em quirpterose herbvoros.

    Com o aumento de casos em herbvoros, a regio de Mogi das Cruzes mereceuateno especial (82 casos), observando que o deslocamento da raiva estava ocorren-do em direo Grande So Paulo.

    Em 1998 houve 7 casos em ces, nenhum em felino, 188 em herbvoros, 38 emquirpteros e 35 em eqinos, bubalinos e ovinos, constatando-se um avano da doenaem herbvoros na Grande So Paulo, Mogi das Cruzes, Campinas, So Jos dos Cam-pos, Taubat e a DIR de Botucatu (que salta de 3 para 21 casos). Ressalta-se que naDIR XII (Campinas) os casos de raiva esto concentrados nos municpios de Socorro,Joanpolis e Piracaia, que fazem divisa com o Estado de Minas Gerais.

    Dos 7 casos em ces, foi possvel fazer exame de monoclonais em dois deles eidentificar a cepa de Desmodus rotundus. Esses animais foram capturados em reasurbanas.

    Em relao ao envio de material, a porcentagem de positividade aumentou emalgumas espcies como eqinos e bovinos, pois em 1997 verificou-se que de 45% a46% das amostras de bovinos encaminhadas ao laboratrio foram positivas.

    EXPERINCIA NA CIDADE DE SO PAULOMiriam Martos Sodr

    Nos ltimos anos, o nmero de reclamaes por parte de moradores da cidadede So Paulo, em relao presena de morcegos em suas casas ou nas proximidades,vem aumentando. Em 1998 o Centro de Controle de Zoonoses recebeu 178 reclama-es, sendo que foram atendidas in locu cerca de 50 e, as demais, via telefone ou pes-soalmente, com orientao tcnica.

    O municpio de So Paulo est dividido a administrativamente em 10 Regio-nais de Sade e este Centro recebeu reclamaes de todas as Administraes Re-gionais de Sade, sendo que o maior nmero foi proveniente da Regional de SantoAmaro (ARS 9), com 48 reclamaes, seguida pela Regional da Freguesia do (ARS 7),com 35; Butant (ARS 2), com 28; Itaquera (ARS 5), com 17; Penha (ARS 4), com14; So Miguel (ARS 6), com 12; Pirituba (ARS 8) e Centro (ARS 1), com 8; Ipiranga(ARS 3), com 7 e Campo Limpo (ARS 10), com 4 (Figura 1).

    Acredita-se que esses nmeros no representam a real distribuio das col-nias de morcegos no municpio. As reclamaes oriundas de Santo Amaro so, ge-ralmente, de pessoas bem informadas e cientes dos servios realizados pelo Centroque, algumas vezes, so divulgados pela imprensa, portanto, solicitam o serviocom maior freqncia. O CCZ est localizado na Regio da Freguesia do e, talvez,o fcil acesso e a proximidade sejam os motivos de ser esta uma das Regionais comgrande nmero de solicitaes.

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    Com o desenvolvimento do trabalho, percebeu-se que durante o ano existeuma tendncia quanto ao tipo de reclamao. Por exemplo, no perodo que aquifoi denominado chuvoso, englobando os meses de janeiro, fevereiro, maro, outu-bro, novembro e dezembro, as reclamaes referem-se a morcegos abrigados emedificaes.

    No vero, com o aumento do nmero de insetos, conseqentemente aumentaa disponibilidade de alimento para os morcegos insetvoros e, pelo fato de ocorrergrande movimentao e vocalizao provocados por esses animais nos abrigos, assimcomo o acmulo de fezes nos telhados e odor desagradvel, os morcegos terminampor despertar a ateno dos moradores que, assustados procuram o CCZ, reclaman-do desse problema.

    J no perodo seco (abril, maio, junho, julho, agosto e setembro), as reclamaesreferem-se a morcegos visitando as rvores frutferas plantadas nas proximidades oudentro dos quintais das casas ou nas caladas das ruas. Esses animais so, geralmente,grandes (40 cm de envergadura), e costumam dar vos rasantes a procura dos frutos,dando a impresso de estarem atacando as pessoas. Alm disso, esses morcegos tmdigesto rpida e acabam defecando durante o vo e sujando as paredes, roupas emvarais, carros, etc., trazendo preocupao, medo e transtornos s pessoas.

    Neste trabalho, alm das orientaes tcnicas, procura-se enfocar o importantepapel que os morcegos desempenham no meio ambiente e na natureza.

    O principal tipo de reclamao apresentada referiu-se a morcegos abrigadosem edificaes em telhados, incluindo forros e stos (62), seguida por pores (18) eabrigados em rvores (5).

    Figura 1 Nmero de solicitaes distribudas nas administraes regionais de sade do municpio de So Pauloem 1998

    ARS-8Santana do

    Parnaba

    Caieiras

    Mairipor

    Guarulhos

    Osasco

    Cotia

    Embu

    Tabooda Serra

    Itapecericada Serra

    EmbuGuau

    So Bernardo

    Diadema

    SoCaetano

    SantoAndr

    Mau

    Ribeiro Pires

    Itaquaquecetuba

    Po

    Suzano

    Ferraz deVasconcelos

    8

    8

    4

    48

    714

    12

    17

    35

    28

    ARS-7

    ARS-2 ARS-1 ARS-4

    ARS-6

    ARS-5

    ARS-3

    ARS-10

    ARS-9

    Adm. Regionais de Sade01. Centro02. Butant / Lapa03. Ipiranga / Jabaquara /

    Vila Prudente04. Penha05. Itaquera / Guaianazes06. So Miguel07. Freguesia do / Santana /

    Tucuruvi08. Pirituba / Perus09. Santo Amaro / Parelheiros10. Campo Limpo

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    Ocorreram 21 reclamaes de adentramentos, isto , morcegos que invadiramresidncias e assustaram os moradores. Nestes casos, a investigao da ocorrnciadeve ser realizada com certa preocupao, visto o animal estar em locais e, algumasvezes, em horrios no habituais. O animal poderia estar doente ou apresentar com-portamento anormal e, com isso, ter a possibilidade de causar algum acidente com pes-soas e animais.

    Houve 15 reclamaes referentes presena de morcegos em locais como caixasde persianas, chamins, etc., e 57 pessoas reclamaram de morcegos voando ao redorde arvores frutferas, onde procuravam alimento.

    As principais espcies encontradas nos abrigos, em edificaes, foram: Molos-sus molossus, Eumops auripendulus, Myotis nigricans (insetvoros), Glossophagasoricina (nectarvoro) e Platyrrhinus lineatus (frugvoro). Em pores, a principalespcie foi G. soricina, Anoura caudifer (nectarvoros), Carollia perspicillata e P.lineatus (frugvoros). Os que adentraram em residncias foram M. molossus, Eumopsperotis, Tadarida brasiliensis, Nyctinomops macrotis (insetvoros) e G. soricina.Morcegos abrigados em rvores: P. lineataus e Artibeus lituratus (frugvoros).

    Desde 1998, ocorreram 6 casos de morcegos positivos para raiva, na cidadede So Paulo, sendo todos de hbito alimentar insetvoro. Cabe ressaltar que, emtodos os casos, as pessoas conheciam o CCZ e enviaram os morcegos para exameslaboratoriais. Ressalta-se ainda que, apesar das investigaes, foi possvel encontraro abrigo dos referidos morcegos somente em um caso.

    RELAO DOS CASOS

    1 caso 1988 Espcie envolvida: Nyctinomops macrotis, encontradodentro de apartamento (7 andar). Estao da Luz, centro de So Paulo,por volta das 19 horas. No houve contato. Foi possvel encontrar o abrigo.2 caso 1990 Morcego da mesma espcie anterior (N. macrotis), en-contrado pousado no muro de uma residncia, Ibirapuera, centro deSo Paulo, por volta das 10 horas. No houve contato.3 caso 1997 Espcie envolvida: Lasiurus cinereus. Encontrado cadono cho do Parque Siqueira Campos, no bairro de Cerqueira Csar,pela manh. No houve contato.4 caso 1999 Espcie envolvida: Tadarida brasiliensis. Adentrou pelajanela do 10 andar do prdio do Instituto Adolpho Lutz, centro de SoPaulo e foi capturado pela manh. No houve contato.5 caso 1999 Espcie envolvida: Myotis nigricans. Encontrado cadono cho da escada externa do Hospital S.L. Gonzaga, Zona Norte, ecapturado pela manh. Neste caso, houve contato com duas pessoas nomomento da coleta do animal, as quais foram encaminhadas para trata-mento profiltico.6 caso 1999 Espcie envolvida: Tadarida brasiliensis. Encontradodentro da pia do banheiro no 23 andar do prdio da Chefia de Gabineteda SMS, Av. Paulista, Cerqueira Csar, e capturado pela manh. Nohouve contato.

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    Nmero de solicitaes com relao aos principais tipos de abrigos utilizados pelos morcegos no municpio de SoPaulo (1998)

    Tipo de abrigo N de solicitaesTelhado (forro/sto) 62rvore (abrigo) 05rvore (alimento) 57Poro 18Adentramento 21Outro (cado no cho/caixa de persiana/chamin) 15Total 178

    Nmero de reclamaes referentes presena de morcegos, de acordo com a distribuio nas AdministraesRegionais de Sade do municpio de So Paulo (1998)

    Administrao Regional No de reclamaesde SadeCentro 8Butant 28Ipiranga 7Penha 11Itaquera 17So Miguel 12Freguesia do 35Perus 8Santo Amaro 48Campo Limpo 4Total 178

    Nmero mensal de reclamaes referentes a problemas causados por morcegos no municpio de So Paulo (1998)

    M s No de reclamaesJaneiro 9fevereiro 15maro 15abril 14maio 26junho 29julho 25agosto 10setembro 8outubro 14novembro 2dezembro 11Total 178

    Espcies de morcegos encontradas nos principais abrigos, no municpio de So Paulo (1998)

    Espcie Telhado Poro rvoreMolossus molossus X Eumops auripendulus X Myotis nigricans X Glossophaga soricina X X Anoura caudifer X Carollia perspicillata X Platyrrhinus lineatus X X XArtibeus lituratus X

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    SOLICITAES RECEBIDAS PELO CCZ REFERENTES A 1998

    Nmero de solicitaes atendidas: 178Orientaes por telefone ou pessoalmente: 128Coletas realizadas: 50

    A EXPERINCIA DE CAMPINASAntonio Carlos Coelho Figueiredo

    Campinas, municpio situado cerca de 100 km a noroeste da capital do Esta-do, apresenta uma rea geogrfica de aproximadamente 887 km, com densidadedemogrfica em torno de 1.100 habitantes por km, situao esta de concentraopopulacional que favorece amplamente a transmisso de doenas e o desencadea-mento de epidemias e/ou epizootias.

    O municpio ponto de confluncia de quatro das principais rodovias doEstado: Anhanguera, Bandeirantes, Dom Pedro I e Rodovia Santos Dumont, todaselas apresentando intenso trfego de veculos que se dirigem cidade, pois esta plo industrial, comercial e tecnolgico da regio, abrigando universidades de grandeimportncia (Unicamp, PUC, Unip, entre outras).

    As condies observadas atualmente referentes sade, moradia, urbaniza-o dentre outras so conseqncia direta das trs ltimas dcadas, quandohouve um crescimento desenfreado e desorganizado no municpio, levando for-mao de grandes reas de concentrao populacional, com pouca infraestruturasanitria e baixas condies econmicas e sociais.

    Ainda como fator agravante, podemos identificar que o municpio, como tan-tos outros do pas, encontra-se em instvel situao econmica, com dificuldades naimplementao de programas, projetos, bem como de desenvolvimento de aes m-nimas ao bem-estar da populao (sade, educao, limpeza urbana, segurana, etc.).

    Tal quadro apresentado tem sido apontado pela Secretaria de Sade local,atravs de seu corpo tcnico, como um fator primordial para que se mantenha oestado de vigilncia constante em relao ocorrncia de surtos e epidemias nacidade.

    Dentro desta lgica de atuao, o Centro de Controle de Zoonoses de Campi-nas vem desenvolvendo suas atividades primordiais, buscando, alm da correode problemas j identificados, evitar a ocorrncia de doenas at ento mantidassob controle, o que se pode exemplificar pelas aes desenvolvidas que buscam ocontrole da raiva animal no municpio e na regio circunvizinha.

    Uma vez que a raiva no Estado de So Paulo vem sendo identificada cadavez mais freqentemente desde meados da dcada de 80, e que o municpio de Cam-pinas no registrava casos de raiva animal em rea urbana desde 1982, ao longo

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    dos ltimos anos um intenso trabalho de investigao laboratorial, vacinao ani-mal e controle de animais errantes vem sendo desenvolvido, trabalho este que nosltimos anos foi tambm direcionado ao estudo, avaliao e monitoramento dapopulao de quirpteros identificados em reas urbanas.

    Considerando-se a circulao do Lyssavirus causador da raiva entre a popula-o de quirpteros (ciclo areo da raiva), bem como o fato de as condies ambientaisobservadas em todo o Estado de So Paulo terem propiciado um aumento significa-tivo da populao destes animais, sejam eles hematfagos ou no, os tcnicos desteCentro de Controle de Zoonoses, em concordncia com os orientaes fornecidaspela Secretaria Estadual de Sade, iniciaram de maneira rotineira o envio de amos-tras de quirpteros para diagnstico laboratorial do vrus rbico.

    E foi no desenvolvimento deste trabalho rotineiro que, em 26 de junho de1998, fomos informados por tcnicos do Instituto Pasteur de So Paulo da ocorrn-cia de um resultado positivo para raiva em quirptero.

    A amostra em questo nos foi encaminhada em 24 de junho pela coordena-o de um Centro de Sade do municpio (Unidade Bsica de Sade UBS), loca-lizado no Parque So Quirino, regio leste da cidade. De acordo com as informaesfornecidas, o espcime havia sido capturado momentos antes por uma moradoralocal, aps ter sido observado sob uma rvore de seu jardim.

    O fato chamou a ateno da moradora, visto que um de seus animais de esti-mao gato, macho, 3 anos observava curiosamente o quirptero que se deba-tia constantemente e, por comportamento natural dos felinos, tentava inutilmenteimobilizar a possvel presa.

    Temendo o contato mais ntimo entre os animais, e tambm por relacionar apresena de quirpteros ao risco de transmisso de alguma doena, ou mesmo daocorrncia de ferimentos causados pelo confronto observado, a moradora imediata-mente providenciou a separao dos animais, mantendo seu felino contido no inte-rior da residncia e, com o auxlio de um galho de rvore, aprisionou o quirpteroem um recipiente de vidro.

    Talvez pelo prprio estresse da manipulao, ou ainda em decorrncia daevoluo clnica da doena, o quirptero morreu momentos aps ter sido acon-dicionado no vasilhame, sendo ento encaminhado ao Centro de Sade local. Comeste procedimento, a moradora visava obter maiores informaes sobre riscos emedidas de controle espcie.

    Alertadas freqentemente pelas equipes de vigilncia do municpio, a equipedo Centro de Sade So Quirino acionou imediatamente o Centro de Controle deZoonoses, providenciando a remoo do animal e o seu encaminhamento para diag-nstico junto ao Instituto Pasteur de So Paulo, tendo sido previamente identificadocomo sendo um possvel exemplar do gnero Artibeus, animal de hbito alimentarpreferencial ao consumo de frutas e folhas portanto, um fitfago.

    O resultado laboratorial foi informado num prazo de 48 horas e, por tratar-sede uma sexta-feira, os tcnicos do CCZ decidiram permanecer durante os diasseguintes em trabalho de avaliao e planejamento das aes a serem desenvolvidas,pois seguindo a orientao de se desencadear as aes necessrias ao controle defoco de raiva animal em no mximo 72 horas teis, procuramos abreviar este inter-

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    valo, para que no incio da semana todas as providncias cabveis j tivessem sidoadotadas.

    Desta forma, em 29 de junho (uma segunda-feira), as equipes de trabalho doCentro de Controle de Zoonoses, sob superviso dos mdicos veterinrios do setor,j se encontravam na regio realizando as seguintes aes(1):

    Reconhecimento da rea a ser trabalhada, avaliando-se a mesma com re-lao : Geografia Topografia Grau de arborizao Ocorrncia de novas queixas referentes existncia de quirpteros Existncia de pessoas e/ou animais com possvel contato direto com

    quirpteros Bloqueio contra raiva animal, realizando em operao casa-a-casa a vacina-

    o de todos os animais domsticos caninos e felinos identificados numarea correspondente a 500m a partir da localizao do espcime positivo. Talprocedimento permitiu-nos identificar que, na grande maioria das vezes, apopulao de felinos em nmero tal que corresponde a pelo menos 20% dapopulao de caninos identificada na regio. Isto configura o grande riscoque estes felinos correm, uma vez que, como predadores naturais de quirp-teros, esto muito mais expostos possibilidade de contaminao pelo vrusrbico, j que, em campanhas de vacinao contra a raiva animal, a quantidadede felinos vacinada nunca superior a 10% da populao canina, mostrandoque pelo menos 50% da populao felina permanece desprotegida em relaoao vrus da raiva.

    Apreenso de animais errantes caninos, felinos, eqinos e bovinos locali-zados em vias pblicas da regio, e encaminhamento dos mesmos ao Centrode Controle de Zoonoses.

    Observao dos mamferos domsticos (ces e gatos) que mantiveram contatodireto com o animal raivoso, durante um perodo de 180 dias a contar dacaptura do quirptero, com imediata vacinao (ou revacinao) contra raivaanimal. No caso em questo, sete felinos, todos SRD, com idade variandoentre 6 meses a 5 anos, foram mantidos em isolamento em gatil construdo pelaproprietria para este fim. Os animais foram avaliados mensalmente pormdico veterinrio deste CCZ, alm da proprietria ter sido notificada sobresuas responsabilidades legais com relao permanncia dos animais sob estritavigilncia e conteno.

    Captura noturna de quirpteros (com pontos de amostragem distribudosnas reas com maior notificao da presena de quirpteros, compreendendoos bairros adjacentes ao foco), visando a identificao da maior variedade deespcies existentes na regio e, uma vez conhecedores de seus hbitos, promo-

    (1) Observao dos organizadores do Manual: tais aes so preconizadas pelo Instituto Pasteur de So Paulo,conforme fluxograma apresentado pgina 36 (Proposta de aes a serem desencadeadas para cobertura defoco de raiva em quirpteros em centros urbanos, texto de autoria de Kotait, I. et al.).

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    ver um melhor planejamento das aes de controle de foco e orientaes populao.

    Diagnstico laboratorial realizado junto ao Instituto Pasteur de todos os animaiscapturados na regio delimitada para trabalho de controle de foco.

    Divulgao dos dados obtidos imprensa local, bem como a toda equipe devigilncia do municpio, mantendo-se com isto todas as 47 Unidades de Sade(UBS) e hospitais do municpio num permanente alerta ao risco de transmissoda raiva a humanos.

    Desenvolvimento de aes de orientao e conscientizao da populao local,visando transmitir medidas preventivas com relao aos quirpteros, bem comorealar o importante papel dos mesmos na ecologia, com o envolvimento das equi-pes da Unidade Bsica de Sade (CS So Quirino), Escolas, Associaes deMoradores, Comunidades Religiosas, entre outras.A Secretaria Municipal de Sade, em conjunto com o Centro de Controle de

    Zoonoses, optou pela ampla divulgao do problema ocorrido, trabalhando insis-tentemente junto imprensa local, a qual teve importante papel na divulgao dostrabalhos desencadeados, podendo ser apontada como a principal responsvel peloabrupto aumento de notificaes de situaes de adentramento de quirpteros emresidncias, ou mesmo somente visualizao de exemplares isolados e/ou colniasdestes animais.

    A partir deste momento, o Centro de Controle de Zoonoses de Campinas pas-sou a receber cerca de 20 notificaes dirias sobre quirpteros.

    Uma vez que as equipes se encontravam ainda envolvidas nas atividades decontrole do primeiro foco identificado, tornou-se necessrio o estabelecimento deprioridades de atendimento, motivo pelo qual as orientaes referentes presenade quirpteros em rvores, telhados e outras estruturas foram respondidas a prin-cpio de modo padro, mediante a distribuio de folhetos, cartazes e textos expli-cativos.

    J os casos de adentramento foram todos imediatamente atendidos, visto quese tratava, em sua grande maioria, da visualizao de morcegos luz do dia, emsituaes diversas de seu comportamento esperado. Todos os animais capturadosforam encaminhados para exames de identificao do vrus rbico, e os histricosdas situaes em que foram encontrados arquivados junto ao CCZ de Campinas.

    As Unidades de Sade do municpio, bem como todos os hospitais, foram noti-ficados a no mudarem seus critrios de avaliao na indicao de tratamento anti-rbico humano. Seguindo orientaes de tcnicos do Instituto Pasteur de So Paulo,permaneciam as mesmas normas para avaliao e indicao pr-existentes, deven-do-se apenas reforar a necessidade do tratamento de soro-vacinao a todos ospacientes que apresentassem contato direto com quirpteros, ou ainda nos casosno confirmados, porm sem condies de excluso da possibilidade de contato.

    Com o contnuo aumento do nmero de amostras de quirpteros encami-nhados para diagnstico do vrus rbico, esperava-se a ocorrncia de novos casosde raiva nesta espcie animal.

    Em 5 de julho, menos de 10 dias aps a identificao do primeiro caso de raivaem quirptero, novo resultado positivo foi notificado. Neste segundo caso, envolven-

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    do outro exemplar de Artibeus. O morcego foi visto na boca de um co de propriedadeda responsvel pela notificao, a qual, aps impedir que o co destrusse o quirp-tero, solicitou ao Centro de Controle de Zoonoses a remoo do mesmo para diagns-tico laboratorial.

    O bairro de ocorrncia deste segundo caso, Jardim Santa Genebra, emborasituado tambm na rea leste do municpio, no possui ligao direta com o localdo primeiro caso, tampouco caractersticas que possam determinar algum fator decorrelao entre os dois casos. Ambos os bairros, embora distantes um do outro,apresentam considervel arborizao, com biodiversidade de espcies, so predo-minantemente residenciais, tendo como nico grande ponto comum a presena dervores identificadas como amendoeiras (ou chapu de praia, como a espcie conhecida na regio) em perodo mximo de frutificao, servindo estes frutos comofontes de alimento para uma grande quantidade de morcegos.

    O co em questo foi mantido tambm em perodo de observao e isolamen-to por 180 dias, sendo revacinado no perodo inicial da observao.

    No dia 27 do mesmo ms (julho), foi feita a notificao do encontro de ummorcego em uma residncia do bairro Jardim Santa Mnica, rea norte do muni-cpio de Campinas. Segundo informaes fornecidas pelos moradores, o quirpterofoi visualizado em repouso num galho de uma rvore (mangueira) existente no quin-tal da residncia, a qual estava sendo podada naquele momento pelos moradores.Uma vez que o animal apresentava comportamento anormal (pousado luz do diae com tremores), o mesmo foi alvejado por uma espingarda de presso, derrubadoe acondicionado em recipiente de vidro at a chegada da equipe do Centro de Con-trole de Zoonoses, ocasio em que foi feita prvia identificao da espcie novamen-te, tratava-se de um exemplar de Artibeus. De acordo com os moradores, no houvecontato direto com o animal, tampouco contato de outros animais domsticos com oquirptero. Em 31 de julho, foi notificada pelo Instituto Pasteur a positividade desteexemplar, caracterizando assim o terceiro caso positivo de raiva em quirpteros nomunicpio de Campinas.

    Em 25 de setembro do mesmo ano (1998), um morador encontrou um exem-plar de quirptero j morto em sua garagem. Aps a imediata remoo do mesmo,foi feita a prvia identificao gnero Myotis e o envio para diagnstico laborato-rial. A confirmao da positividade para o vrus rbico ocorreu no dia 29 do mesmoms. Conforme informaes obtidas, no houve contato com humanos e/ou ani-mais domsticos.

    No dia 13 de outubro, por ocasio do incio das atividades dirias, foi encontra-do um outro espcime de quirptero novamente um Myotis junto sala da coor-denao do Centro de Sade Centro, Unidade Bsica de Sade localizada na regiomais central do municpio (rea totalmente urbanizada, com baixa arborizao,com predominncia de edifcios). Encaminhado para diagnstico laboratorial, obte-ve-se a confirmao da infeco pelo vrus rbico 4 dias aps (19 de outubro). Nohouve contato direto de animais ou humanos com o espcime infectado.

    No mesmo ms de outubro, no dia 15, o Centro de Controle de Zoonoses recebeua notificao de que um morador do sub-distrito de Joaquim Egdio, regio sudestede Campinas, transitando pela regio, observou um quirptero (j morto) junto ao

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    jardim de uma residncia abandonada. Conhecedor dos riscos existentes, o munciperecolheu o espcime em um vasilhame e o encaminhou ao Centro de Sade local, deonde o mesmo foi retirado pela equipe do CCZ. Tratava-se, conforme comprovadoposteriormente, de um exemplar da espcie Tadarida brasiliensis, cuja prova labora-torial confirmou a presena do vrus rbico no dia 19 seguinte. Embora este exemplartenha sido recolhido por um muncipe, o mesmo no teve contato com o animal positi-vo, uma vez que realizou o acondicionamento munido de luvas de borracha e p.

    No ms de novembro de 1998, dia 4, um morador do Jardim Miranda, regiosul de Campinas, localizou um quirptero morto junto ao jardim de sua residncia.Por iniciativa prpria, acionou o Centro de Controle de Zoonoses e solicitou orecolhimento do espcime e sua avaliao laboratorial. Tratava-se novamente deum morcego do gnero Artibeus, o qual se mostrou positivo para raiva em prova deimunofluorescncia direta no dia 6 de novembro. Neste episdio tambm no foiidentificado contato do animal infectado com pessoas ou animais domsticos.

    Cabe-nos realar que, em todos os sete casos de raiva em quirpteros iden-tificados ao longo do ano de 1998, todas as aes de controle e preveno descritasno incio deste relato(1) foram adotadas, tornando-se, a cada novo caso, mais facil-mente implementadas pelas equipes de trabalho. Acreditamos que a adoo padro-nizada das medidas de controle de foco foi fundamental para a credibilidade desteCCZ, bem como permitiu que a populao se sentisse segura e tomasse conscinciados riscos existentes com relao a quirpteros durante um longo tempo.

    O encaminhamento de todas as aes de controle de foco somente foi possvelpela unio e esforo conjunto de uma equipe sensibilizada pela gravidade apre-sentada. Para tanto, o CCZ de Campinas contou com os seguintes recursos:

    02 viaturas de apreenso de pequenos animais 01 viatura de apreenso de grandes animais 04 mdicos veterinrios 02 bilogos 01 auxiliar de enfermagem 01 tcnico de vigilncia (Tcnico Agropecurio) 25 funcionrios operacionais (apreenso de animais e vacinao) 04 funcionrios treinados para captura e manipulao de quirpteros

    Deve-se ainda ressaltar a presteza no diagnstico laboratorial realizado noInstituto Pasteur de So Paulo, assim como a identificao taxonmica das esp-cies, realizada pelo Centro de Controle de Zoonoses de So Paulo.

    Observamos que todos os animais positivos foram encontrados ou com com-portamento anormal, ou ento j mortos, em situaes descritas como incomuns,caracterizando que a visualizao de quirpteros mortos nos locais onde foramrecolhidos no era fato esperado.

    H que se reconhecer que a divulgao macia da ocorrncia de casos positi-vos de raiva em quirpteros foi o fator primordial para que pudssemos encontrarnovos casos. Ao longo do ano de 1998, o Centro de Controle de Zoonoses de Cam-

    (1) Observao dos organizadores do Manual: tais aes so preconizadas pelo Instituto Pasteur de So Paulo,conforme fluxograma apresentado pgina 36 (Proposta de aes a serem desencadeadas para cobertura defoco de raiva em quirpteros em centros urbanos, texto de autoria de Kotait, I. et al.).

  • Manual Tcnico do Instituto Pasteur, nmero 7 Manejo de quirpteros em reas urbanas

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    pinas encaminhou 272 amostras de quirpteros para identificao do vrus rbico,sendo que, dentre elas, somente sete foram positivas. Embora este valor possa pa-recer insignificante proporcionalmente populao total de quirpteros do municpio(que no foi sequer mensurada), torna-se extremamente preocupante na medidaem que caracteriza a circulao do vrus rbico em reas urbanas, confirmando a con-ceituao de um ciclo areo da doena.

    Muito no se conhece sobre estes animais, tampouco sobre os reais riscosque os mesmo representam sade populacional. Uma vez que o problema apre-sentado em Campinas pode ser observado tambm em outros municpios do Esta-do de So Paulo, ao menos temos a certeza de que o momento gera uma maiorreflexo sobre o assunto, conduzindo todos os tcnicos a um aprofundamento nosseus conhecimentos.

    Porm, mesmo com dificuldades de gerenciamento e recursos que possamexistir junto s equipes de trabalho de outros municpios que possam se depararcom tal situao, um mnimo de segurana deve ser exigido para que o controle defoco seja realizado. Para tanto, indispensvel que todos os envolvidos nestasatividades tenham recebido tratamento preventivo de pr-exposio ao vrus rbico,mantendo a avaliao sorolgica atualizada e em nveis mnimos recomendados paraque se permita o contato com fatores e/ou situaes de risco de transmisso do vrusda raiva.

    O quadro a seguir mostra a identificao precisa das espcies com resultadospositivos na prova de IFD (imunofluorescncia direta)

    Local de ocorrncia Data da recepo Data do resultado Espcie (Campinas, 1998) no CCZ positivo* identificada**Parque So Quirino 24/06/98 26/06/98 Artibeus lituratusJd. Santa Genebra 05/07/98 07/07/98 Artibeus lituratusJd. Santa Mnica 27/07/98 31/07/98 Artibeus lituratusParque Jambeiro 25/09/98 29/09/98 Myotis albicensCentro 13/10/98 19/10/98 Myotis nigricansJoaquim Egdio 15/10/98 19/10/98 Tadarida brasiliensisJd. Miranda 04/11/98 06/11/98 Artibeus lituratus

    Fonte: Centro de Controle de Zoonoses de Campinas e Centro de Controle de Zoonoses de So Paulo* Diagnstico feito pelo Instituto Pasteur.** CCZ-SP.

    A EXPERINCIA DE SO JOS DO RIO PRETOBernhard Von Schimonsky

    LOCALIZAO: So Jos do Rio Preto (SJRP) localiza-se na regio noroestedo Estado, a 440 km de So Paulo, pertencendo DIR XXII, com cerca de350.000 habitantes.

  • Kotait, I. et al. (org.)

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    HISTRICO:Casos de raiva por espcie: Caso de raiva humana em Cedral, municpio a 11 km de Rio Preto, em

    1988, envolvendo morcego insetvoro. Casos de raiva canina em 1987(1) e 1993(1) Ambos sem origem definida. Casos de raiva felina em 1988 (associado provavelmente a morcego, con-

    forme investigao do caso) e 1993(1) sem origem definida. Casos de raiva em morcegos no hematfagos no municpio de So Jos do

    Rio Preto: 1998 10 casos 1999 2 casos

    Aes de cobertura de foco1. Pesquisa de colnias feita durante a vacinao contra raiva em ces e gatos,

    casa-a-casa, atravs de entrevista com os moradores, verificando possveisabrigos, existncia de alimentao, etc.

    2. Captura de todos os morcegos nos casos em que foi possvel localizar o abrigodo caso positivo dos 12 casos ocorridos em 1998 e 1999, conseguimos lo-calizar o abrigo em 6 deles (todos de morcegos insetvoros).

    3. Envio de todos os quirpteros capturados para diagnstico.4. Vedao do abrigo.5. Vacinao casa-a-casa de ces e gatos, num raio de 5 quarteires.6. Educao em sade Aproveitaram-se as entrevistas imprensa e foram

    realizadas palestras com diretores de escolas. Alm disto, distriburam-sefolhetos e os moradores foram orientados quanto aos cuidados e tambm importncia ecolgica dos morcegos.

    7. Animais contactantes Permaneceram em observao por 180 dias e rece-beram vacinao anti-rbica de reforo. Em dois animais foi realizada atitulagem de anticorpos protetores contra a raiva.

    8. Captura de ces e gatos errantes nos bairros prximos.

    Tabela 1 Casos de raiva em quirpteros (SJRP, 1998)M s Espcie LocalJaneiro Eptesicus diminutus DinizFevereiro Nictynomopis laticaudatus CentroMaro Nictynomopis laticaudatus CentroJulho Artibeus lituratus BosqueAgosto Artibeus planirostris Nova RedentoraSetembro Artibeus planirostris Boa VistaSetembro Molossus ater Jardim NazarethOutubro Myotis sp. Parque IndustrialNovembro Molossus ater Ana AnglicaDezembro Artibeus planirostris Jockey Clube

    Fonte: CCZ So Jos do Rio PretoObservao:

    Os casos em Nictynomops laticaudatus (inclusive um de 1999) distanciavam-se aproximadamente 200 m um dooutro e tinham como origem uma colnia localizada no ltimo andar de um edifcio garagem, atrs de uma placade propaganda.

    Os espcimes de Molossus ater foram encontrados no forro de residncia e o Myotis sp. teve como abrigo umaviga de madeira de telhado.

    Os outros casos ocorreram de forma aleatria, no parecendo haver relao entre eles.

  • Manual Tcnico do Instituto Pasteur, nmero 7 Manejo de quirpteros em reas urbanas

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    Tabela 2 Casos de raiva em quirpteros (SJRP, 1999)

    Ms Espcie LocalJaneiro Nictynomopis laticaudatus (11) CentroMaio Artibeus sp. (12) Centro

    Fonte: CCZ. So Jos do Rio Preto

    Tabela 3 Coberturas Vacinais Campanhas de vacinao anti-rbica canina (SJRP, 1996/1997/1998)

    Ano Total de vacinados Cobertura (%)1996 35.496 97,001997 34.835 92,331998 40.269 69,60

    Tabela 4 Nmero de amostras de quirpteros enviadas e casos positivos, por ms e por ano (SJRP, 1996 - 1999)

    M s 1996 1997 1998 1999N + N + N + N +Janeiro 0/0 2/0 2/1 47/1Fevereiro 0/0 0/0 37/1 35/0Maro 0/0 1/0 52/1 21/0Abril 0/0 1/0 68/0 23/0Maio 0/0 0/0 36/0 16/1Junho 0/0 0/0 36/0Julho 0/0 0/0 31/1Agosto 0/0 0/0 56/1Setembro 0/0 0/0 49/2Outubro 0/0 0/0 90/1Novembro 0/0 1/0 120/1Dezembro 1/0 0/0 81/1Total 1/0 5/0 658/10

    Fonte: CCZ So Jos do Rio Preto

    Em 1997 foi utilizada, pela ltima vez, a proporo de 1/10 na estimativa dapopulao canina. A partir de 98, utilizamos a proporo de 1/7, o que reduziua cobertura vacinal, apesar do aumento de animais vacinados naquele ano(aumento este decorrente da divulgao dos casos de raiva em morcego).

    Aps os primeiros casos ocorridos no incio de 98, houve uma intensa divul-gao por parte da imprensa, at de forma alarmista e desinformada. A conse-qncia do pnico gerado por essa divulgao, que foi corrigida aos poucos,pode ser verificada na tabela 4. A partir de janeiro de 98, houve uma avalanchede solicitaes para a retirada de morcegos invasores, animais cados, vivos,mortos, etc.

    Em decorrncia do aumento do nmero de amostras enviadas, e das caracte-rsticas das mesmas, j que quase a totalidade se originava de animais cadose invasores, com percentual insignificante de animais capturados, obviamenteocorreu um aumento de casos positivos.

    Tivemos grandes dificuldades em atender a este inesperado aumento de deman-da, pois fizemos tudo com apenas uma equipe e uma viatura, que tambmrealizava todo o servio de captura e remoo de ces e gatos. S foi possveldevido dedicao de nossos funcionrios.

  • Kotait, I. et al. (org.)

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    Tabela 5 Morcegos enviados para exame laboratorial, segundo a espcie (regio de So Jos do Rio Preto, 1998 dados parciais)

    Espcie Nmero Porcentagem

    Molossus molossus 40 16.06Molossus ater 47 18.87Eumops glaucinus 48 19.28Eumops perotis 02 0.80Eumops sp. 08 3.21Eumops auripendulus 05 2.01Nyctinomops macrotis 02 0.80Nyctinomops laticaudatus 08 3.21Molossos sp. 02 0.80Artibeus lituratus 37 14.85Artibeus planirostris 05 2.01Artibeus fimbriatus 01 0.41Artibeus sp. 02 0.80Desmodus rotundus 08 3.21Chrotopterus auritus 01 0.41Carollia perspicillata 06 2.41Anoura caudifer 01 0.41Stumira lilium 02 0.80Glossophaga soricina 05 2.01Platyrrhinus lineatus 06 2.41Lasiurus ega 05 2.01Lasiurus borealis 02 0.80Myotis nigricans 01 0.41Eptesicus brasiliensis 05 2.01Total 249 100.00

    Fonte: CCZ. So Jos do Rio Preto

    A equipe de captura de morcegos hematfagos do EDA (Escritrio de DefesaAgropecuria) de So Jos do Rio Preto nos prestou valioso auxlio, realizandolevantamento de morcegos hematfagos na zona rural do municpio, mas nadaencontrou.

    Os exemplares de Desmodus rotundus citado na tabela 5 foram encaminhadospelo EDA, mas so oriundos de outros municpios da regio.

    Recebemos suporte tcnico do Prof. Dr. Valdir Tadei (IBILCE-UNESP deSo Jos do Rio Preto) em nossas atividades, o que nos facilitou a localizaodos abrigos, treinamento de funcionrios, etc.

    Apesar de todos os problemas que esses fatos geraram, observa-se que a popu-lao adquiriu muitos conhecimentos sobre morcegos. As pessoas j conhecemos riscos que os morcegos trazem, o que fazer quando mordidas por estesanimais, a importncia ecolgica, a legislao que os protege, etc. Os profissio-nais de sade que, em sua maioria, eram muito mal informados e preparados,esto agora aptos a realizar atendimentos de forma adequada.Acreditamos que o risco de ocorrer um caso de raiva humana decorrente deacidente com morcego diminuiu muito, sendo este o fato positivo que ficou.

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    A EXPERINCIA NA REGIO DE ARAATUBAAndra Maria Andrade; Luiza Helena Queiroz da Silva; Wagner Andr Pedro

    O histrico da raiva na regio de Araatuba, na dcada de 1990, data de1991 com uma epidemia de raiva canina que se iniciou no municpio de Andradinae estendeu-se at Glicrio, atingindo um total de 351 ces. O ltimo caso foi registradoem julho de 1998, no municpio de Guararapes, caracterizado como um caso isolado,pois o registro anterior em rea de foco havia sido em Birigi, em julho de 1997.Foram registrados na regio dois casos de raiva humana, sendo um no municpio deAraatuba, em 1994, e o outro em Avanhandava em 1997.

    Desde a implantao do diagnstico da raiva na regio, o nmero de amostrasde quirpteros analisadas era muito pequeno, com exceo do ano de 1996, quandohouve uma intensificao na captura e diagnstico laboratorial de morcegos hema-tfagos. Foi a partir dos primeiros casos registrados em So Jos do Rio Preto, em1998, que se observou um incremento no nmero de amostras enviadas para exame(Figura 1).

    Durante o perodo de janeiro de 1993 a maio de 1999, examinou-se um totalde 497 amostras de morcegos e foram registrados seis casos positivos para raiva:

    1 caso diagnosticado em abril de 1998 em um espcime insetvoro,macho, identificado como Molossus ater, encontrado cado pela manh,ainda vivo, no terrao de uma casa na rea urbana do municpio deAraatuba.2 caso isolamento feito tambm em um Molossus ater, macho, encon-trado de manh, ainda com vida, embaixo de uma rvore, na frente deuma casa na rea urbana de Penpolis, municpio distante 50 k m deAraatuba.

    Figura 1 Total de amostras de quirpteros examinadas durante o perodo de janeiro/93 amaio/99 no Laboratrio de Raiva da UNESP Araatuba e Laboratrio de SanidadeAnimal e Vegetal do Instituto Biolgico

    300

    250

    200

    150

    100

    50

    0

    Nm

    ero

    de a

    mos

    tras

    exa

    min

    adas

    1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999Ano

  • Kotait, I. et al. (org.)

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    3 caso espcime encontrado em meados de junho de 1998 debaixo deuma rvore nas proximidades da Santa Casa de Sade de Mirandpo-lis, distante 90 km de Araatuba, tendo sido identificado como Artibeuslituratus.4 caso registrado no final de junho de l998, em um espcime iden-tificado como Lasiurus ega, tentando voar com dificuldades, na periferiado municpio de Glicrio, distante 30 km de Araatuba.5 caso isolamento feito em um Molossus molossus, encontrado jmorto no interior de uma residncia, em julho de 1998, tambm na reaurbana do municpio de Mirandpolis.6 caso ltimo registro do perodo, feito no municpio de Birigi, emmaio de 1999, em um Artibeus lituratus, encontrado ainda vivo, tarde,na rea externa de uma residncia. O animal estava agressivo e mordiafuriosamente pequenos gravetos sua volta.Vale observar que em nenhum dos casos descritos houve qualquer tipo de con-

    tato direto dos morcegos raivosos com pessoas ou outros animais.Durante o periodo de janeiro 1993 a agosto de 1998, foram identificados 212

    espcimes de morcegos. Destes, 101 (47,6%) corresponderam espcie hematfagaDesmodus rotundus, todos provenientes de rea rural da regio; 75 (35,4%) corres-ponderam famlia Molossidae; 26 (12,3%) Phyllostomidae; 7 (3,3%) Noctilionidaee 3 (1,4%) Vespertilionidae, em sua maioria provenientes de rea urbana. Osmorcegos mais comuns na rea urbana foram os insetvoros, principalmenteMolossidae, seguidos pelos frugvoros e nectarvoros (Phyllostomidae).

    Dentre os 42 municpios que compem a Direo Regional de Sude deAraatuba (DIR-VI), 25 enviaram amostras para exame, sendo que o nmero foivarivel de um ano para outro, como pode ser observado na figura 2 (dados a partirde 1996). A maior porcentagem de amostras foi enviada entre os meses de maro aagosto de 1998, aps a identificao dos casos positivos na regio de So Jos doRio Preto e Araatuba, os quais foram bastante divulgados pela imprensa.

    O maior nmero de amostras foi enviado pelo municpio de Araatuba (116),seguido por Birigi (45), Pereira Barreto (33), Andradina (32), Mirandpolis e

    Figura 2 Nmero de municpos da DIR-VI que enviaram amostras de quirpteros paradiagnstico da raiva no perodo de janeiro/93 a maio/99

    1996 1997 1998 19990

    10

    20

    30

    40

    Nmero

    demunicpios

    1996 1997 1998 1999

    Ano

  • Manual Tcnico do Instituto Pasteur, nmero 7 Manejo de quirpteros em reas urbanas

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    Guararapes (24), Gabriel Monteiro (22) e Penpolis e Valparaso (21). Trs munic-pios enviaram entre 10 e 19 amostras e dezoito municpios entre 1 e 9 amostras,durante todo o perodo considerado.

    Nos municpios onde foram registrados casos positivos de raiva em morcegos,foram adotados os seguintes procedimentos:

    1 Estabelecimento de uma rea focal de 1 km a partir do local de captura domorcego positivo;

    2 Vacinao contra raiva em ces e gatos na rea focal;3 Captura e identificao de morcegos em abrigos localizados na rea focal;4 Envio de 100% das amostras de morcegos capturados para exame

    laboratorial da raiva;5 Orientao da populao atravs dos agentes de sade e da imprensa

    (jornal, rdio e TV), sobre os seguintes aspectos: risco de exposio; importncia da comunicao de ocorrncias de morcegos cados (mortos

    ou vivos) nas residncias; sintomas da raiva em quirpteros; mtodos de desalojamento de morcegos em residncias; importncia ecolgica dos morcegos em rea urbana.

    Durante estas atividades de vigilncia epidemiolgica desenvolvidas nosmunicpios atingidos, dois fatos merecem destaque. Um deles foi a observao deque 10% dos domiclios visitados no municpio de Glicrio no possuam forros eapresentavam colnias de morcegos alojados no telhado. O outro foi um acidenteenvolvendo um dos agentes de sade de Mirandpolis, que entrou em contato comum morcego ao transferi-lo da caixa onde foi trazido para um saco plstico, sendopor isso revacinado.

    A EXPERINCIA DO RIO GRANDE DO SULMarta Helena Fabin

    O registro de morcegos no hematfagos infectados com o vrus rbico, emeras urbanas no Rio Grande do Sul, muito escasso. O nico caso conhecido foiapresentado por Bauer & Crusius em 1965 e compilado por Uieda et al. (1996).Este fato, no entanto, pode propiciar a seguinte pergunta: estariam as populaesde morcegos no Rio Grande do Sul livres deste vrus, ou a falta de registro de casosestaria associada falta de desenvolvimento de uma linha de pesquisa que pudessefornecer subsdios a respeito da possvel ocorrncia de morcegos infectados?

    Independentemente da resposta a essas perguntas, sabe-se que qualquer po-pulao animal, nesta latitude, poderia apresentar algum nvel de infeco. A poss-vel ocorrncia do vrus rbico viria a se constituir em srio problema de sade pbli-

  • Kotait, I. et al. (org.)

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    ca, em especial nas reas urbanas onde h concentrao da populao humana eonde vrias espcies de morcegos tm seus locais de abrigo associados a residnciasou vegetao prxima. Assim, de fundamental importncia que se leve emconsiderao a necessidade de implementao de medidas de monitoramento e, sefor o caso, de controle destas populaes animais, sem esquecer o importante papelecolgico dos morcegos, tanto no controle das populaes de insetos noturnos quantona polinizao de plantas e disperso de sementes.

    O manejo de morcegos que vivem em reas urbanas exige o conhecimentoprvio ou simultneo de diversos aspectos a ele associados. Entre estes, devem serlevados em conta: o conhecimento de caractersticas biolgicas e ecolgicas dosmorcegos, a necessidade de adequao das construes, a localizao de praas eoutras reas verdes e a escolha das espcies vegetais usadas na arborizao urba-na. No menos importante que a populao humana seja esclarecida, sem causarclima de pnico, quanto aos procedimentos a serem adotados no caso de adentra-mento de morcegos em residncias, contato direto com pessoas ou animais domsti-cos e eventuais acidentes, como mordidas.

    Diversos trabalhos tm sido elaborados em relao ao controle de morcegosem reas urbanas, em especial no que se refere adequao de construes ouarborizao urbana. Nesse sentido so importantes, entre outras, as contribuiesde Bredt et al. (1996), Esberard (1994), Harmani et al. (1996) e Sazima et al. (1981).

    Os aspectos biolgicos e ecolgicos dos morcegos tm sido freqentementeignorados nas tentativas de se estabelecerem estratgias de manejo, apesar de suaimportncia. preciso reconhecer, contudo, que faltam estudos sobre biologia eecologia em morcegos. Por exemplo, de um total de 60 espcies de morcegos inse-tvoros que ocorrem no Brasil (famlias Emballonuridae, Noctilionidae, Mor-moopidae, Furipteridae, Natalidae, Thyropteridae, Vespertilionidae e Molossidae),apenas de 16 espcies (nem todas usualmente encontradas em reas urbanas) halguma informao sobre reproduo, sendo que, na maior parte dos casos, esta seconstitui de registros isolados da presena de fmeas grvidas ou lactantes (Tabela 1).

    Com base na experincia obtida atravs de pesquisas desenvolvidas na reaurbana de Porto Alegre, RS, passarei a relatar alguns aspectos da biologia da esp-cie Tadarida brasiliensis e o possvel uso prtico dessas informaes. Nesta espcie,

    Tabela 1 Nmero de espcies sobre as quais h algum dado sobre reproduo em relao ao nmero de espciesde morcegos insetvoros que ocorrem no Brasil.

    Famlia Total de Nmero de espciesespcies no Brasil com dados sobre reproduo

    Emballonuridae 15 04Noctilionidae 02 00Moormopidae 03 01Furipteridae 01 01Natalidae 01 00Thyropteridae 02 00Vespertilionidae 18 05Molossidae 18 04Total 60 15

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    as fmeas apresentam o perodo de gravidez entre setembro e dezembro; o pico denascimentos se d no final da primavera, isto , entre a segunda quinzena de novem-bro e a primeira de dezembro e o perodo de amamentao dura aproximadamenteum ms e meio. T. brasiliensis forma colnias que podem alcanar a mais de 3.000indivduos, em telhados e forros, na rea urbana de Porto Alegre. A partir de maro(final do vero), h uma reduo gradual do nmero de indivduos nos abrigos,que pode, em muitos casos, chegar at o completo desaparecimento das colnias,em torno do ms de julho (inverno). O aumento paulatino de indivduos se inicia apartir de setembro. A maior freqncia no vero, quando ocorre o recrutamentodos jovens. Possivelmente, o que determina o deslocamento anual das colnias,nesta latitude, seja a variao do fotoperodo e no a temperatura ambiente, j queesta apresenta grandes variaes de um ano para o outro. Os mesmos locais soutilizados pelas colnias ao longo dos anos, o que indica alta probabilidade de queas populaes mantenham fidelidade aos abrigos. Esta observao reforada pelofato de os indivduos da colnia manterem, em anos subseqentes, a mesma formade distribuio das salas-maternidade e das creches. As salas-maternidadeso locais onde as fmeas permanecem separadas dos machos, no final da gestao.Nesta espcie, aps o nascimento, os filhotes so deixados em agrupamentos ascreches que correspondem aos locais mais aquecidos do abrigo (Marques & Fabin,1994 e Fabin & Marques, 1996).

    A importncia do conhecimento dos perodos do ano em que o nmero deindivduos nas colnias aumenta ou diminui significativamente pode ser fator crucialpara a definio de algumas questes. Entre estas poder-se-ia citar que o perododo ano mais conveniente para colocao em prtica de tcnicas de excluso mec-nica, limpeza dos locais usados como abrigo e subseqente vedao dos acessosutilizados pelos morcegos seria aquele em que as populaes de morcegos diminuemdrasticamente de tamanho, ou seja, no inverno. Evitar-se-ia assim a invaso massivade novos locais, no caso de tentativa de desalojamento de uma grande colnia e ocontato humano com grande nmero de morcegos e conseqente risco associado.Outro fator que deve ser considerado que, devido ao hbito dos animais se man-terem juntos e sobrepostos, h contato muito prximo entre eles, assim a eventualpresena do vrus rbico em algum indivduo poderia peoporcionar a contaminaode muitos morcegos. Na eventualidade da ocorrncia de um caso assim, haverianecessidade de medidas drsticas e urgentes em relao eliminao da colniapara evitar a contaminao de humanos e de outros animais.

    Em regies tropicais, diferentemente do que ocorre no exemplo acima, osperodos reprodutivos dos morcegos esto relacionados com os perodos de seca ede chuva. Parece haver predomnio de nascimentos entre os limites da estaoseca e da chuvosa (Wilson, 1973; Vizotto & Taddei, 1976; Myers, 1977; Uieda et al.,1980; Reis, 1981; Borne, 1985; Willig, 1985; Marques, 1986). Alm deste aspecto,nem todas as espcies apresentam comportamento social semelhante ao de T.brasiliensis, portanto, os procedimentos a serem adotados certamente teriam queser diferenciados para cada espcie.

    Por outro lado, como j mencionado, os morcegos insetvoros desempenhamimportante papel no controle das populaes de insetos. Seguindo com o exemplo

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    das pesquisas realizadas na regio de Porto Alegre, foi estudada, durante o perodode um ano, a alimentao de Tadarida brasiliensis. Os dados obtidos indicaram que,em 3705 pelotas fecais examinadas, havia a presena de insetos das seguintes ordens:Coleoptera (100%), Diptera (100%), Lepidoptera (100%), Ephemeroptera (76,9%),Odonata (76,9%), Orthoptera (76,9%), Hemiptera (69,2%), Hymenoptera (46%),Homoptera (30,8%), Thysanoptera (23%) e Psocoptera (7,7%) (Fabin et al. 1990).

    Pelos dados mencionados, verifica-se que as questes de manejo e controledevem levar em considerao todos os aspectos envolvidos em relao aos morcegos.

    Sem dvida, o monitoramento permanente das colnias seria o procedimentoideal para a identificao de possveis animais infectados e para que fosse possveltomar as medidas cabveis antes que ocorresse algum caso de infeco em humanos,transmitida direta ou indiretamente por morcegos. No entanto, sabe-se que isto impossvel em qualquer cidade de porte mdio ou grande, pois exigiria muito pes-soal especializado e grande quantidade de recursos para cobrir custos com examesde laboratrio, deslocamentos, etc.

    Como medidas para minimizar possveis problemas, seria aconselhvel que asinstituies responsveis pela sade pblica tivessem condies de manter uma equipecom condies para coletar animais que fossem observados com comportamentoanormal (por exemplo, voando de dia, cados no cho ou adentrando em habitaes)e proceder aos exames de laboratrio correspondentes. Em segundo lugar, quehouvesse um programa permanente de esclarecimento populao, no sentido deque esta comunicasse s autoridades a ocorrncia de morcegos com comportamentoanormal.

    Caberia uma camapnha para a erradicao dos morcegos? A resposta no.Apesar do perigo potencial que poderiam representar, so animais que desempe-nham importantes papis ecolgicos e que, como componente da fauna nativa, soprotegidos por lei. No entanto, importante que, na medida do surgimento desituaes que possam representar riscos sade humana, se coloquem em prticamedidas cuja implantao dever ter como base o conhecimento de aspectos dabiologia e ecologia das espcies de morcegos. Reforo, assim, a necessidade de quese amplie este campo da pesquisa, a fim de que o conhecimento possa servir comoimportante subsdio para o manejo e controle destas populaes animais.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    A EXPERINCIA DO DISTRITO FEDERALAngelika Bredt

    A Gerncia de Controle de Zoonoses (GCZ), do Instituto de Sade do DistritoFederal (ISDF), desenvolve, desde 1989, estudos e procedimentos que objetivam areduo do risco de transmisso da raiva aos seres humanos e aos animais domsti-cos por morcegos. Tm-se priorizado a identificao de fatores de risco de exposioda populao humana e animal s agresses produzidas pelos morcegos em ambientesurbanos, a investigao da ocorrncia do vrus rbico e de agentes de outras zoonosesjunto s populaes de morcegos e o estudo de aspectos bioecolgicos das espciesde quirpteros que ocorrem nos ambientes urbanos e rurais do Distrito Federal.

    A GCZ atende a todas as solicitaes de orientao e interveno motivadaspor transtornos e agresses relacionados aos morcegos no Distrito Federal. Desde aimplantao do trabalho, o nmero de solicitaes tem aumentado. Atualmente, amdia mensal de 15. No perodo chuvoso, a mdia mensal chega a 30 solicitaes,reduzindo-se durante os meses de seca. Acredita-se que a maioria das solicitaesde atendimento procede de cidados mais esclarecidos, com melhor acesso aos meiosde comunicao.

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    A maioria das solicitaes recebidas encontra-se relacionada aos adentramentosde morcegos em edificaes (46,7%) e aos transtornos causados pela presena destesanimais nas edificaes (38,5%) e em rvores (6,9%). Apenas uma pequena parcelada comunidade (0,7%) procura a GCZ relatando a ocorrncia de interaes entremorcegos e animais de estimao ou alguma situao anormal (0,6%), envolvendomorcegos, ou seja, espcimes cados no cho, pousados vista em pleno dia, emmuros, postes, etc. So atendidas, ainda, as solicitaes que se referem espoliaodos rebanhos (6,2%). Neste caso, o trabalho realizado junto ao local onde se encon-tra a fonte de alimento (currais, chiqueiros, galinheiros), contemplando-se o controlequmico do Desmodus rotundus.

    Alm do atendimento s solicitaes, a GCZ realiza estudos envolvendo asespcies de morcegos que utilizam cavernas como abrigo. O anilhamento de espci-mes, por exemplo, permitir, futuramente, obter informaes sobre o deslocamen-to de morcegos dos ambientes rurais para os urbanos.

    As atividades desenvolvidas na regio do DF, tanto em ambientes urbanos quantorurais, possibilitaram a identificao, at o momento, de 45 espcies de morcegos.Destas, 24 (52%) tm a sua ocorrncia registrada somente em ambientes no urbanos,7 (16%) em ambientes urbanos e 14 (32%) ocorrem em ambos os ambientes. Entreestas ltimas, podemos citar Artibeus lituratus, Glossophaga soricina, Anoura cau-difer, Desmodus rotundus, entre outras.

    O desenvolvimento de estudos em ambos os ambientes permite conhecer ostipos de abrigos explorados pelas espcies de morcegos. Por exemplo, Molossopsplanirostris utiliza, como abrigo natural, os ocos-de-rvore e, nas cidades, somentecasas de madeira; Peropteryx macrotis tem sido observada em cavernas, pousadanas paredes de sales amplos da entrada e, nas cidades, em telhados de duas guas,onde permanece em repouso nas paredes laterais de alvenaria; Nyctinomops lati-caudatus est relacionada com estruturas de concreto, o que leva a crer que utilizefendas de rocha como abrigo natural.

    ADENTRAMENTOS DE MORCEGOS EM EDIFICAES

    Todas as solicitaes de adentramento so atendidas pela GCZ, com o objetivode identificar a espcie de morcego envolvida e avaliar as circunstncias em que oadentramento ocorreu. Todo morcego adentrado encaminhado ao laboratrio,para pesquisa do vrus rbico.

    As espcies envolvidas nos casos de adentramento notificados no DistritoFederal so: Molossus molossus (50,4%), Nyctinomops laticaudatus (27%), Eumopsglaucinus (8,2%), Eumops auripendulus (4,3%), Glossophaga soricina (3,%),Lasiurus borealis (2,2%), Peropteryx macrotis (1,7%), Molossops planirostris(0,9%), Eptesicus brasiliensis (0,9%), Nyctinomops aurispinosus (0,4%), Carolliaperspicillata (0,4%) e Lonchophylla sp. (0,4%).

    A maioria dos morcegos adentrados (96%) so insetvoros e pertencentes famlia Molossidae (91,2%). Espcies fitfagas esto envolvidas em apenas 4% dosadentramentos. Vale ressaltar que, at o momento, no houve registro de adentra-mento envolvendo a espcie Artibeus lituratus.

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    Setenta e cinco por cento dos adentramentos ocorreram em prdios de 6 an-dares e 25% em casas ou prdios de at dois andares de altura.

    Considera-se que o mais importante fator de risco relacionado ao adentra-mento de morcegos em edificaes no Distrito Federal consiste na existncia de juntasde dilatao localizadas prximas s janelas dos apartamentos, observado em 44%dos episdios investigados.

    Nove por cento dos adentramentos ocorridos resultaram em algum tipo deinterao (mordedura, arranhadura ou contato) entre morcegos e seres humanos. Asespcies de morcegos envolvidas em tais situaes foram: Molossus molossus (36,4%),Eumops sp. (31,8%), Nyctinomops laticaudatus (27,3%) e Lasiurus borealis (4,5%).Eumops sp. apresentou o maior indicador de risco de agresso (7 agresses registra-das num total de 24 adentramentos) em relao s demais espcies.

    INCMODOS PROVOCADOS PELOS MORCEGOS QUE VIVEM EM EDIFICAES

    Quando do atendimento s solicitaes referentes a algum tipo de incmodo(mal cheiro, rudos, fezes, etc.) produzido por morcegos abrigados em edificaes,verificou-se a existncia de morcegos vivendo em telhados (66,5%), em juntas dedilatao de prdios (17,2%), em algum tipo de vo (11%), no interior do prdio(3,4%) e em pores (1,9%).

    A utilizao de casas como abrigo parece ser relativamente inferior quandocomparada utilizao de prdios. Desde o incio dos trabalhos, apenas 2% das casasexistentes em Braslia solicitaram atendimento por parte da GCZ. Em relao s reasonde existe a maior concentrao de prdios com juntas de dilatao, este percentualse eleva a 5%. Possivelmente, as pessoas que vivem em prdios que abrigam morcegosem juntas de dilatao sentem-se mais incomodadas com a sua presena.

    As espcies de morcegos identificadas em edificaes humanas, segundo o h-bito alimentar e o tipo de abrigo onde vivem, foram:

    Tipo de abrigosEspcie Hbito

    alimentar Telhado Vo Junta Poro Outros Bueirosdilatao

    Molossus molossus Insetvoro X X X ... ... ...Nyctinomops laticaudatus Insetvoro X X X ... ... ...Nyctinomops aurispinosus Insetvoro ... X ... ... ... ...Molossops planirostris Insetvoro X X ... ... ... ...Eumops glaucinus Insetvoro X ... X ... ... ...Eumops auripendulus Insetvoro X ... ... ... ... ...Promops nasutus Insetvoro X ... ... ... ... ...Eptesicus brasiliensis Insetvoro X ... ... ... ... ...Histiotus velatus Insetvoro X ... ... ... ... ...Peropteryx macrotis Insetvoro X ... ... X XGlossophaga soricina Fitfago X ... ... X X XCarollia perspicillata Fitfago ... ... ... ... X XPlatyrrhinus lineatus Fitfago ... ... ... ... ... ...Anoura caudifer Fitfago ... ... ... ... ... XDesmodus rotundus Hematfago ... ... ... ... ... X

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    O abrigo diurno explorado pela maioria das espcies de morcegos so os te-lhados das edificaes. Por outro lado, as juntas de dilatao dos prdios so utili-zadas por apenas trs espcies de morcegos, todas da famlia Molossidae.

    Os pores, por sua vez, so explorados apenas por G. soricina e P. macrotis.J D. rotundus foi encontrada, at o momento, somente utilizando como abrigodiurno os bueiros de guas pluviais localizados em reas periurbanas.

    Alm de identificar a espcie de morcego que vive nas construes humanas,so realizadas observaes concernentes ao tamanho de suas colnias, composi-o sexual e etria da colnia, ao estado reprodutivo, coabitao interespecfica, distribuio espacial e s condies fsicas destes abrigos.

    Entre os abrigos investigados, selecionam-se alguns para realizar a coleta demorcegos (cerca de 5 a 10%) para pesquisa do vrus rbico.

    A investigao da presena de fungos patognicos nas fezes acumuladas demorcegos nestes abrigos encontra-se inserida na vigilncia ambiental da histoplas-mose e da criptococose.

    INCMODOS CAUSADOS PELA PRESENA DE MORCEGOS EM RVORES

    Visando conhecer a relao entre os morcegos e a arborizao de Braslia,realizou-se, num primeiro momento, levantamento conjunto com o Departamentode Parques e Jardins (rgo responsvel pelo plantio das rvores), da freqnciade espcies vegetais utilizadas nas reas verdes da cidade. Os dados obtidos permi-tiram concluir que a arborizao de Braslia bastante diversificada (contando comcerca de 214 espcies), quando comparada de outras cidades brasileiras, comoUberaba, onde foi feito um estudo semelhante (contando com apenas 30 espcies).Por outro lado, em Braslia no ocorre hegemonia de uma espcie vegetal, uma vezque as plantas mais comuns, como a sibipiruna e a espatdea, apresentam uma baixafreqncia de ocorrncia (7%). J em Uberaba, a sibipiruna representa 57% dasespcies utilizadas na arborizao da cidade.

    Os dados obtidos no levantamento foram comparados queles disponveis naliteratura, permitindo verificar que cerca de 23% das espcies vegetais encontra-das em Braslia so potencialmente fornecedoras de alimento para os morcegosfitfagos. Alm disso, a fenologia destas espcies vegetais demonstrou a existnciamensal de 36,8 tipos diferentes de alimentos (valor mdio), entre frutos e floresdisponveis para os morcegos fitfagos.

    Em relao Artibeus lituratus, os estudos revelaram que esta espcie con-some uma mdia mensal de 13,3 tipos de plantas, demonstrando possuir condiespotenciais para incremento de sua populao.

    As espcies fitfagas mais freqentemente encontradas nas reas verdes deBraslia foram Artibeus lituratus (49,25%), Platyrrhinus lineatus (24,83%) e Glosso-phaga soricina (22,39%), enquanto as espcies menos freqentes foram Phyllosto-mus hastatus (2,71%), Artibeus planirostris (0,41%) e Carollia perspicillata (0,41%).

    O trabalho, desenvolvido em conjunto com o Departamento de Parques eJardins, permitiu a elaborao de propostas de ao visando minimizar os trans-tornos ocasionados por morcegos fitfagos, tais como: estimular o plantio de rvores

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    que servem de alimento para os morcegos, apenas em reas afastadas de residncias;realizar a poda ou retirada de frutos em reas residenciais onde a presena dosmorcegos nas rvores constitui um risco potencial de agravos para os moradores.

    Sempre que possvel, so tomadas fotos para registrar a situao encontrada.Alm disso, so feitos relatrios tcnicos para os administradores dos imveis queapresentam algum tipo de incmodo relacionado com a presena de morcegos, apre-sentando-se a situao encontrada e fornecendo-se algumas sugestes para reduziro estabelecimento de interaes entre morcegos e seres humanos.

    MORCEGOS URBANOS NO RIO DE JANEIROCarlos Esbrard

    O Projeto Morcegos Urbanos, da Fundao RIOZOO, atende s solicitaesde moradores da cidade concernentes aos problemas com morcegos, fornecendoorientao. Possumos em nosso banco de dados catalogadas mais de 1.000 recla-maes oriundas do municpio (de 1989 a agosto de 1999). Calculamos, a grossomodo, entretanto, que estas representem apenas 1/3 das ligaes dirigidas ao Zoosobre este assunto, pois: (a) no consideramos ainda problemas observados em outrosmunicpios; (b) no cadastramos aqueles solicitantes que no querem se identificar;(c) no consideramos solicitantes que retornam para esclarecimentos de dvidas;(d) no estabelecemos contatos recebidos quando no h integrante da equipe dis-ponvel para atendimento e (e) descartamos dados incompletos. Este banco de dadosest sendo motivo de georreferenciamento atravs de trabalho conjunto do Grupode Trabalho em Geoprocessamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,IplanRIO e RIOZOO.

    QUEM ATENDE AOS PEDIDOS DE CONTROLE DE MORCEGOS

    A RIOZOO no tem a obrigatoriedade de atender a estas solicitaes, masdesde a abertura da Casa Noturna tem sido alvo destas. Praticamente todos osrgos envolvidos em meio ambiente redirecionam estas solicitaes ao PMU. Antesde 1989, a FEEMA manteve, at 1985, um atendimento similar, produzindo umfolheto sugerindo o uso de repelente qumico slido (paradiclorobenzeno) para ocaso de refgio em telhados, problema dos mais freqentes em meio urbano e o quemais percalos causa aos moradores. Entre 1994 e 1997, recomendamos por escritoaos moradores com problemas de refgio de morcegos em forro que usassem soluoaquosa de formol para repelir os animais e fechar imediatamente os acessos apssua sada, pois retornam to logo o cheiro se dissipe. Tal mtodo foi adaptado desugesto da Secretaria de Agricultura, que empregava a fumigao permanganato

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    de potssio em soluo de gua e formol. O uso de formol pode causar desconfortoao aplicador, e considerado cancergeno se em altas concentraes ou uso excessivo,porm, segundo o mtodo descrito em nosso folheto, apresentava menor risco que ode manipulao de fezes de animais sem quaisquer tratamentos. A partir de 1998,paramos de recomendar o uso de qualquer produto qumico. Novos textos foramproduzidos sem qualquer aluso ao mtodo anteriormente citado, enfatizando apenasque os moradores necessitam reformar o telhado, fechando gradativamente todosos acessos dos morcegos. Atualmente, estamos recomendando a substituio de partedas telhas convencionais por telhas de vidro, como afirmado por outros pesqui-sadores.

    H REALMENTE A NECESSIDADE DE CONTROLE?

    No h como no considerar que os morcegos trazem problemas aos mora-dores do Rio de Janeiro. O refgio de morcegos em forros dos problemas maisrelatados e o contato com fezes no desejado, pois pode haver a transmisso dahistoplasmose. O risco de histoplasmose deve ser considerado alto. Tal fato estbaseado na contaminao de um integrante de minha equipe que dormiu uma noiteem casa onde o refgio de morcegos no forro estava sendo estudado por ns. Tra-balhamos neste local uma a duas noites por ms, durante 16 meses, empregando umtotal de 13 pessoas, das quais apenas uma apresentou a afeco respiratria, s tendopermanecido no local por 48 horas, e a mesma no subiu ao telhado onde os morcegosse refugiavam. Mesmo tendo caractersticas individuais que resultaram na conta-minao, ressalta-se, com isso, o risco apresentado a moradores de residncias comrefgio destes animais. No h como avaliarmos atualmente quantos casos de histo-plasmose podem ter sido ser causados pelo contato com fezes de morcegos no muni-cpio do Rio de Janeiro, mas tal dado seria de grande valia para uma melhor avaliaodo problema.

    A proximidade de refgios de morcegos pode incrementar a probabilidade deocorrerem mordeduras aps o manuseio voluntrio ou involuntrio do animal de-pois de adentrar as residncias. Considerando-se o risco de transmisso do vrusrbico, todo e qualquer contato com morcegos deve ser seguido imediatamente dotratamento soro-vacinal. O manuseio por leigos deve ser sempre evitado. Grandesgrupos de morcegos refugiados em construes em reas urbanas so, portanto,indesejveis.

    O ataque de morcegos hematfagos outro fator a ser considerado, sendoreconhecidos pelo menos cinco casos confirmados neste municpio a seres humanose sabemos da existncia de ataques a animais domsticos em mais de 45 outras loca-lidades.

    O MORCEGO HEMATFAGO EM MEIO URBANO

    O morcego hematfago (Desmodus rotundus) hematfago obrigatrio que sealimenta exclusivamente de sangue de aves ou de mamferos. Ao se alimentar, este

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    morcego realiza uma mordedura e retira poro de pele de cerca de 0,5 cm e suga;o sangue tem a coagulao retardada pela ao de poderoso anticoagulante presentena saliva. Ao realizar a mordedura e causar perda de volume considervel de sanguepode causar anemias, hipovolemias e miases. O morcego hematfago responsvelpor elevadas perdas na atividade agropecuria e relevante fator de risco para atransmisso do vrus rbico. As presas mais freqentes deste morcego so mamferos,que so atacados durante o repouso; o morcego se aproxima da presa pelo substratoou pousando diretamente sobre ela. Elevada diversidade de presas j foi descrita,variando desde o gado (caprinos, sunos, bovinos e eqinos), ces, at o homem. Suapopulao vem aumentando gradativamente na Regio Neotropical.

    A presena deste morcego foi descrita inicialmente por Darwin, quando desua visita em 1852. Sua presena em centros urbanos brasileiros foi descrita recen-temente, sendo conhecida em So Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro(RJ) e Salvador (BA). Na metrpole do Rio de Janeiro pode ser considerada esp-cie freqente, sendo a dcima espcie entre as 40 registradas, em nmero de capturasaps 11 anos de amostragem.

    Dos telefonemas cadastrados e oriundos do municpio do Rio de Janeiro, 4,71%so, sem dvida, atribudos a ataques de morcegos hematfagos. Para cada ligaorealizamos intenso questionamento para aferir a causa do problema relatado. Sforam considerados ataques de hematfagos quando o proprietrio descrevia a ocor-rncia de ferimentos tpicos ou detectava sangramentos no local do repouso da presa.O local de cada ataque foi identificado pelo endereo fornecido pelo morador.

    Realizamos amostragens de morcegos em vrios locais do municpio do Rio deJaneiro. At o momento, j detectamos a presena de Desmodus rotundus em 17diferentes localidades desta unidade geogrfica. As coletas foram realizadas com redesjaponesas armadas em trilhas j abertas, junto a refgios conhecidos, a criaes ani-mais ou a presas j atacadas. As redes permaneceram abertas desde o pr-do-sol ato amanhecer e todos os exemplares de Desmodus rotundus capturados foram sacrifi-cados, exceo feita a parte dos animais capturados na Reserva Florestal do Graja,que foram marcados por tatuagem, furos no dactilopatgio e com o uso de colaresplsticos.

    Atravs do uso do software Arc View 3.0a, mapeamos as localidades de ataquee os locais onde a ocorrncia do morcego hematfago foi confirmada pela capturade um ou mais indivduos. Empregamos base fornecida pelo IplanRIO em escalade 1:10.000, localizando cada endereo atravs dos logradouros. Foram conside-radas para este procedimento as curvas de nvel (0-600 m), vegetao, alagados econstrues.

    Para estimar a distncia percorrida por cada morcego hematfago, conside-ramos para cada local de ataque uma distncia de at 2,0 km, que corresponderia distncia entre refgio e a presa.

    At o momento, 17 das 50 localidades amostradas no municpio do Rio deJaneiro tiveram a presena confirmada do morcego hematfago por captura comredes japonesas, totalizando mais de 220 exemplares. Destes locais, apenas seis si-tuam-se afastados do Macio da Tijuca, que insere o Parque Nacional da Tijuca,com cerca de 3.300 hectares de mata secundria e limita-se aos bairros mais populosos

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    desta metrpole. Quatro situam-se mais prximos do Macio da Pedra Branca, queconstitui outra rea florestada, sendo delimitados por reas com tendncia agrcola.Dois locais encontram-se em rea urbana distantes quatro e seis km do Macio daTijuca, sendo um destes um parque pblico com cerca de 550.000 m2, que insere ozoolgico.

    A presena dos morcegos hematfagos no pode ser associada a nenhum tipode vegetao, sendo observado este morcego tanto em florestas, florestas alteradas,campos, restingas e reas urbanizadas. O tipo vegetacional predominante foramurbano 31% e floresta 15,5%.

    Dos ataques relatados ate o momento, 87% podem ser atribudos proximidadedo Macio da Tijuca. Aplicando-se em cada local de ataque uma rea de 12 km2

    (raio de 2 km), obtm-se que a maior parte das localidades onde a presena demorcegos hematfagos foi confirmada por captura situa-se na interseo de uma oumais reas ou prximas a estas, permitindo considerar que 70% das localidadesconfirmadas do morcego hematfago podem ter sido a origem do deslocamento desteslocais.

    Mapeando-se os ataques, podem-se determinar reas prioritrias para a rea-lizao das coletas, pela interseo de duas ou mais reas de raio de 2 km aplicadasaos ataques relatados.

    reas prioritrias para controle Logicamente, a rea que deve ser priorita-riamente amostrada para confirmao da presena do morcego hematfago a pe-riferia do Macio da Tijuca, onde se situa a maior parte das localidades j confir-madas. Na zona sul da cidade (bairros de Santa Teresa, Laranjeiras, Cosme Velho,Gvea, Humait e Jardim Botnico), somam 15 dos ataques j registrados e sabemosda existncia deste mamfero em seis localidades. Um ataque a um ser humano foiregistrado, podendo o morcego ter se originado tanto do Jardim Botnico como doHumait, situados dentro da rea esperada de 2 km2.

    Um nmero elevado de construes residenciais ocorre nas reas limtrofes aoParque Nacional da Tijuca e de praxe possuir ces em seus quintais, permitindomanter, portanto, recursos nutricionais para a presena e constncia de ataques demorcegos hematfagos.

    Nota-se elevado nmero de ataques relatados na rea urbanizada adjacenteao Macio da Tijuca, sugerindo que os morcegos se dispersem nesta direo. Aexistncia de campos em morros prximos pode fornecer o refgio necessriopara a formao de novas colnias, que, por sua vez, podem evoluir para ataquesmais distantes. Sendo a maioria dos ataques registrada a baixas altitudes (0-80 m)e na presena de animais domsticos que servem de presas, amostragens demorcegos junto aos morros e o inventrio dos animais domsticos seriam instru-mentos de grande potencial para um futuro planejamento do controle eficaz destemorcego.

    Considerando que os ces representam a presa mais atacada no municpio doRio de Janeiro, e sendo realizadas rotineiramente campanhas para vacinao contraraiva de animais domsticos, poder-se-ia aplicar aos proprietrios de ces questio-nrio com o endereo destes e o nmero de exemplares, idade, etc. Tais dados muni-ciariam banco de dados capaz de superpor a ocorrncia de ataques e as localidades

  • Manual Tcnico do Instituto Pasteur, nmero 7 Manejo de quirpteros em reas urbanas

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    confirmadas de morcegos hematfagos para, em um futuro prximo, possibilitarum planejamento mais eficaz.

    Espera-se, com estes resultados, motivar os demais rgos estatais a formaruma rede em mbito municipal para analisar mais detalhadamente o problema epropor medidas adequadas para o controle do morcego hematfago nesta unidadegeogrfica.

    CONCLUSES

    Ainda no h soluo que se aplique a todos problemas j relatados, sendorecomendado impedir o acesso dos animais refugiados, a ser efetuado pelos prpriosmoradores. No entanto, necessrio salientar que poucos moradores realizaro taltarefa, que por vezes complicada e necessita de equipamentos (escadas com maisde 3 m, mscaras de proteo, etc.). No h recursos financeiros ou humanos emnenhuma prefeitura para manter permanentemente, e em dedicao exclusiva, umservio para realizar este procedimento e, sendo patrimnio particular, mostra-seideal que os proprietrios arquem com este nus. nossa suposio que, por nohaver indicao de uma tecnologia eficaz e barata, os moradores optem por chamarfirmas desinsetizadoras ou conhecidos para aplicar mtodos alternativos, como fuma-a, enxofre, etc. comprovado por pesquisa recente realizada por pesquisadoresde outras instituies de pesquisa do Estado do Rio de Janeiro que as firmas desinse-tizadoras empregam mtodos indesejveis, incluindo a inseticidas.

    O ataque de morcegos hematfagos necessita de aes imediatas, evitandoproblemas de sade a populao residente. Para tanto, rgos estatais devem mo-bilizar-se para o controle e monitoramento.

    ESTUDO DAS AMOSTRAS ISOLADASEM MORCEGOS

    Silvana Favoretto

    Este estudo mostra o trabalho realizado a partir da tipificao antignica egentica realizada em amostras de vrus rbico isoladas de morcegos, no perodo de1989 a junho de 1999.

    Estas cepas foram provenientes das regies Sudeste e Norte do pas, sendo amaioria procedente do Estado de So Paulo, isoladas principalmente no laborat-rio de diagnstico do Instituto Pasteur, mas tambm em outros centros no pas.

    Foram estudadas 59 cepas, todas caracterizadas antigenicamente, sendo que22 destas tambm foram identificadas geneticamente.

    A identificao antignica foi realizada no Instituto Pasteur atravs do testede imunofluorescncia indireta, com a utilizao de um painel de oito anticorpos

  • Kotait, I. et al. (org.)

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    monoclonais que determinam 11 perfis antignicos conhecidos, todos pertencentesao sorotipo 1 raiva, fornecido pelo CDC e pr-estabelecidos pela OPAS para oestudo de cepas de vrus rbico isoladas nas Amricas, aps a deteco do vrus e oisolamento atravs da prova biolgica, utilizando-se crebros de camundongos daprimeira passagem destas cepas, coletados aps sacrifcio, na fase paraltica dadoena, sempre em duplicata, observando a realizao em datas e lotes diferentes,garantindo assim a reprodutibilidade do teste.

    O estudo filogentico de um fragmento do gene N do vrus foi desenvolvido noCenters for Desease Control CDC, Atlanta-USA, aps a extrao e amplificaodo genoma viral, pela tcnica de PCR, seguido da purificao e seqenciamento deum fragmento da poro mais estvel do nucleocapsdeo viral.

    Destas amostras, 13 eram de morcegos hematfagos Desmodus rotundus, 20de morcegos frugvoros das espcies Artibeus lituratus e Artibeus planirostris, 25eram de espcies insetvoras como Myotis nigricans, Myotis albicens, Molossus ater,Molossus molossus, Nyctinomops laticaudatus, Nictinomops macrotis, Eumops au-ripendulus, Eptesicus diminutus, Lasiurus borealis, Lasiurus ega, Lasiurus cinereuse Tadarida brasiliensis e uma de um morcego no hematfago, que no pde seridentificado. Destes morcegos, 15% eram provenientes de rea silvestre e 85% derea urbana, alguns foram obtidos em programas de captura, mas a maioria estrelacionada a contatos acidentais com humanos ou animais, ou simplesmenteencontrados em locais e horrios diferentes dos habituais.

    Todos os morcegos hematfagos apresentaram a variante antignica 3, ca-racterstica de Desmodus rotundus, sendo que em trs destes foi realizada tam-bm a caracterizao gentica. Quanto s demais espcies, no grupo dos frugvorosforam encontradas as variantes 3 (Desmodus rotundus) e 4 (Tadarida brasiliensis),o que pde ser tambm observado na avaliao gentica em seis destes casos; fican-do a maior diversidade para o g