manual conservar - ceci

64

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  • CONSERVAR

    Olinda Boas Prticas no Casario

    CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA

    Olinda, 2010

  • CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA

    Rua Sete de Setembro, 80, Carmo, Olinda-PE

    CEP: 53020-130

    Fone: +55 (81) 3429.1754

    Site: www.ceci-br.org

    E-mail: [email protected]

    Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada CECI

    Conservar: Olinda boas prticas no casario / Centro de Estudos Avanados da Conserva-

    o Integrada; org. Juliana Barreto, Vera Milet. Olinda: CECI, 2010.

    60 p.: il., fi g., fotos, mapas, plantas.

    Inclui bibliografi a.

    Acompanha encarte.

    ISBN 978-85-98747-13-2

    1. Stios histricos - Olinda. 2. Patrimnio cultural. 3. Projeto arquitetnico. 4. Monumen-

    tos Conservao e restaurao. I. Barreto, Juliana Cunha. II. Milet, Vera. III. Ttulo.

    719 CDU (2.ed.) UFPE

    721.0288 CDD (22.ed.) CAC2010-90

  • CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA

    Diretoria

    Diretor-geral

    Fernando Diniz Moreira

    Raquel BertuzziJuliana Barreto

    Conselho de Administrao

    Presidente

    Virgnia Pitta Pontual

    Ana Rita S CarneiroRoberto Antonio Dantas de Arajo

    Silvio Mendes ZanchetiToms de Albuquerque Lapa

    Equipe do Projeto

    Coordenadora-geral

    Juliana Barreto

    Coordenadora-administrativa

    Raquel Bertuzzi

    Consultora

    Vera Milet

    Pesquisadora-assistente

    Rosane Piccolo Loretto

    Estagirios e colaboradores

    Diogo CavalcantiKarina Lira

    Natlia TenrioRenata FerrazEduardo Costa

    Redao e edio do texto

    Juliana Barreto Vera Milet

    Programao visual, website e fotografi as

    PickImagem

    Reviso de texto

    Consultexto

  • 5

    Estamos entregando a voc o manu-

    al Conservar: Olinda Boas Prticas

    no Casario. Ele fornece informaes

    sobre o Stio Histrico de Olinda

    (SHO) e objetiva orientar os pro-

    prietrios, moradores e demais

    usurios que desejam realizar obras

    de conservao, reformas ou restau-

    rao no casario antigo.

    Este manual resulta de um convnio

    fi rmado entre o Fundo de Direitos

    Difusos, do Ministrio da Justia, e

    o Centro de Estudos Avanados da

    Conservao Integrada (Ceci). Nele

    voc vai encontrar uma breve carac-

    terizao do Stio Histrico de Olin-

    da, os valores patrimoniais conferidos

    cidade ao longo do tempo, a identi-

    fi cao dos tipos arquitetnicos do

    casario antigo e as Boas Prticas de

    projetos de interveno arquitetnica.

    O encarte que segue avulso foi pen-

    sado visando facilitar sua vida; nele

    constam informaes sobre os pos-

    sveis tipos de obra que voc pode

    realizar no seu imvel, os docu-

    mentos que devem acompanhar as

    solicitaes de obras e de projetos

    de interveno, as orientaes legais

    referentes aos modos como eles

    devem ser apresentados e encami-

    nhados s instituies de proteo.

    Alm disso, o encarte apresenta o

    mapa com a delimitao da rea de

    proteo e do zoneamento muni-

    cipal e enumera as leis (federal e

    municipal) que regulamentam as in-

    tervenes no casario do Stio Hist-

    rico, indicando tambm o endereo

    eletrnico em que esse material est

    disponvel para consulta na internet.

    As mudanas que em geral suce-

    dem na organizao das instituies

    responsveis pelas polticas de

    preservao de Olinda nas instn-

    cias federal, estadual e municipal

    motivaram a concepo do encarte,

    j que algumas siglas e atribuies

    referentes aos setores institucio-

    nais fi cam, muitas vezes, defasadas

    no tempo. Em vista desse fato,

    recomendada a consulta sistemtica

    s informaes contidas nos sites

    indicados na webpage do Manual.

    Este manual contou com o acom-

    panhamento e o apoio dos tcni-

    cos de instituies e organizaes

    relacionadas com a preservao do

    Stio Histrico de Olinda, notada-

    mente a Agncia Condepe/Fidem, a

    Fundao Gilberto Freyre (FGF), a

    Fundao Joaquim Nabuco (Fundaj),

    a Fundao do Patrimnio Histrico

    e Artstico de Pernambuco (Fundar-

    pe), o Instituto Histrico de Olinda

    (IHO), o Instituto do Patrimnio His-

    trico e Artstico Nacional (Iphan),

    a Prefeitura Municipal de Olinda

    (PMO) e a Sociedade Olindense de

    Defesa da Cidade Alta (Sodeca).

    Apresentao

  • Sumrio1 As razes e fi nalidades do Manual Conservar 8

    2 Objetivos do Manual Conservar 9

    3 Os valores patrimoniais e a signifi cncia do Stio Histrico de Olinda 10

    4 Identifi cando tipos arquitetnicos no Stio Histrico de Olinda 18

    4.1 Tipo meia-morada 204.2 Tipo morada-inteira 214.3 Tipo poro alto com meia-morada ou com morada-inteira 224.4 Tipo meio-sobrado 234.5 Tipo sobrado-inteiro 244.6 Esteretipos 25

    5 Orientao para proprietrios, arquitetos e engenheiros que realizamprojetos de interveno arquitetnica no casario de Olinda 26

    5.1 Conceitos e preceitos legais 265.2 Metodologia de projeto 27

    6 As Boas Prticas de projetos 34

    6.1 Tipo meia-morada: reforma e reconstituio volumtrica 366.2 Tipo meia-morada: reforma e introduo de anexo 386.3 Tipo morada-inteira: reforma com introduo de mezanino 1 396.4 Tipo morada-inteira: reforma com introduo de mezanino 2 406.5 Tipo morada-inteira: restaurao volumtrica e da fachada principal 426.6 Tipo sobrado-inteiro: reforma e conservao com mudana de uso 436.7 Tipo sobrado-inteiro: reforma com aumento de sto e uso misto 446.8 Tipo sobrado-inteiro: reforma, reconstituio volumtrica e mudana de uso 466.9 Esteretipo: reforma e conservao 486.10 Novas construes: continuidade de imagem e integrao ao contexto 506.11 Novas construes: respeito diversidade urbana e busca de integrao formal 526.12 Regularizao de imvel: reforma e reconstituio volumtrica 1 546.13 Regularizao de imvel: reforma e reconstituio volumtrica 2 56

    7 Glossrio 58

    8 Bibliografi a 59

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    8

    1 As razes e fi nalidades do Manual Conservar

    O Stio Histrico de Olinda encon-

    tra-se regido por leis de proteo

    nos mbitos federal, estadual e

    municipal. Alm disso, detentor

    do ttulo de Patrimnio Cultural da

    Humanidade, conferido pela Orga-

    nizao das Naes Unidas para a

    Educao, Cincia e Cultura (Unes-

    co) em 1982, e est inscrito sob a

    categoria de Centro Histrico. Entre-

    tanto, ainda que esses instrumentos

    legais tenham identifi cado e ressal-

    tado o carter excepcional do acer-

    vo histrico-cultural de Olinda, eles

    no so capazes de impedir que as

    reas livres e os imveis tombados

    sejam objeto de obras irregulares.

    Esse dado da realidade tem levado

    perda da autenticidade e integri-

    dade das estruturas edifi cadas do

    Stio Histrico protegido, colocando

    em risco a manuteno dos valores

    atribudos ao acervo tombado.

    A auditoria realizada pelo Tribunal

    de Contas do Estado de Pernambuco

    (TCEPE) registrou perda na qualida-

    de da preservao do Stio Histrico

    de Olinda e na sua ambincia1 e

    recomendou a elaborao de um Pro-

    grama de Educao Patrimonial2. Essa

    medida visa instruir os moradores e

    usurios desse stio histrico sobre os

    valores patrimoniais a serem preserva-

    dos. Em virtude dessa demanda que

    se insere a elaborao deste manual.

    Embora os valores patrimoniais sejam

    registrados e protegidos por leis e

    ttulos que atestam e promovem a

    condio singular do Stio Histrico

    de Olinda, tais valores se encontram,

    na atualidade, com srios riscos de

    desaparecimento. E, como decorrn-

    cia, existe a possibilidade do Stio

    Histrico entrar na lista de patrim-

    nios em risco, da Unesco e do Iphan.

    A viso defendida pelos que elabora-

    ram este manual que o conhecimen-

    to dos procedimentos e das normas

    de proteo leva a uma maior apro-

    priao das informaes e do entendi-

    mento dos valores atribudos ao Stio

    Histrico de Olinda e, em consequn-

    cia, conservao da herana cultural.

    Acredita-se que a divulgao das Boas

    Prticas de projetos de interveno

    arquitetnica no casario acarrete a

    diminuio da quantidade de obras ir-

    regulares e a manuteno das qualida-

    des artsticas e paisagsticas do acervo

    patrimonial edifi cado de Olinda.

    Este manual deve ser consultado em

    simultaneidade com as normas legais,

    pois ele no pretende esgotar o as-

    sunto, mas servir de guia.

    [1] O entendimento de ambincia est relacionado com a capacidade de conservao da escala, dos eixos

    visuais dos monumentos histricos e da relao harmnica entre o conjunto natural e o edifi cado.

    [2] Tais recomendaes foram extradas de CORREIA, Fernando. Avaliao do Sistema de Preservao do Patrimnio

    Histrico de Olinda (Prefeitura Municipal de Olinda). Recife: Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, 2006.

  • 9

    DORIO BRANCO

    DOCARMO

    SITIODO

    REIS

    PRACA BARAO

    PRACA

    SENHOR

    AV.

    GONC

    ALVES

    SIGISM

    UNDO BO

    RBA

    AVEN

    IDA

    MANO

    EL

    NOVEMBRO

    RUA 10 DE

    AVENID

    A

    SIGISM

    UNDO

    GONC

    ALVE

    S

    AVENIDALIBERDADE

    RUA

    7

    DESE

    TEMB

    RO

    RUA

    27

    DE

    JANEIR

    O

    RUA

    DO

    BONFIM

    RUA

    SFR

    ANCIS

    CO

    RUA

    DO

    SOL

    RUA

    JO

    PESSOA

    MARCO

    S

    AV

    MINIST

    RO

    FREIRE

    PRACABARRETO

    PRACA

    DANTAS

    DA

    SE

    BONFIM

    RUA

    TRAVES

    SA

    ALFRE

    DO

    RUA

    JOAO

    DO

    BONFIM

    RUA

    FAROL

    DO

    RUA

    DO

    TRAVESSA

    RUA

    DO

    RUA

    FRAN

    CISCO

    SAO

    SAO

    FRANC

    ISCO

    LADE

    IRA

    RUA

    DO

    RUA

    COUTINHO

    SE

    BISPO

    COUTINH

    O

    RUA

    BISPO

    SAO

    FRAN

    CISC

    O

    SOL

    FARO

    L

    RUA

    FONSECA

    DO

    DA

    RUA

    RUA

    SAO

    GOMES

    GOMES

    LUIZ

    TRAVESSA

    LUIZ

    BECO DAS ALMAS

    RUA

    MARIA

    AVENIDA

    AFONSO

    RUA

    COUTINHOCOUTINHO

    BISPO

    RUA

    SOL

    FAROL

    DO

    RUA

    MIGU

    EL

    AFON

    SO

    MARIA

    LADE

    IRA

    DA

    BISPO

    RUA

    RUA

    DEODORO

    TRAVESSA

    DANTASBARRETO

    FREI

    FREI

    PRACAISRAELFELIX

    PRAC

    A 12

    DE M

    ARCO

    ESTRADADO

    SITIO

    MANGUINHOS

    RUA

    FREI

    AFON

    SO

    AFON

    SO

    MARIA

    CORACAO DEJESUS

    TRAVESSA

    JESUS

    RUA

    FARIAS

    RUA

    NEVES

    RUA

    DOSO

    L

    PEIXOTO

    FLORIANO

    RUA

    SOBRINHO

    PRES

    IDEN

    TE

    RUA

    BOM

    RUA

    RUA

    SARAPIAO

    DO

    ST.MANGUINHOS

    FREI

    RUA

    ESTRADA

    RUA

    SARAPIAO

    GETU

    LIO

    VARG

    AS

    RUA

    CAND

    IDO

    DE

    UBALDO

    RUA

    LOPES

    BOM

    JANSEN

    RUA

    DOM

    AVENIDA

    LOBO

    RUA

    BOM

    SUCE

    SSO

    PESS

    OA

    R. DO DENDESEIRO

    RUA

    CAND

    IDO

    PESS

    OA

    AV.

    SEN.

    PROF

    .

    JOS

    SILVA

    ISRAELFELIX

    DA

    MARIA

    RUA

    MIGUEL

    PROF

    .JO

    S

    RUAPROF.

    WALDEVINOWANDERLEY

    S

    MIRAND

    A

    DE

    JO

    DO

    NAPOLE

    GREGO

    RIO

    BONIF SEBASTI

    RUA

    PRAC

    ACO

    RONE

    L COR

    NELIO

    PADI

    LHA

    RUA

    LIMA

    CAVALCANTE

    DE

    AVENIDADOM BONIFACI

    O JANSEN

    AVENIDA

    NOSSA

    SENHO

    RA

    RUA

    CARLOS

    JOS

    LACERDA BOM

    DO

    ESTRA

    DA

    SUCES

    SO

    ESTRA

    DA

    DO

    BOM

    GOVERNADOR

    SUCE

    SSO

    JOAQ

    UIM

    AVEN

    IDA

    RUA

    AVENIDA

    DOM

    JANSEN

    JANSEN

    DOM

    AVEN

    IDA

    DA

    AVENIDA

    NABU

    CO

    RUA

    NOSS

    A

    SENH

    ORA

    DA

    BONIF

    BONIF

    JANSEN

    BONIF

    DOMTRAV.

    BONI

    F

    KENNEDY

    PRES.

    RUA

    CONC

    EI?

    MIGUEL

    CPRAC

    A

    PRACA

    AVEN

    IDA

    SENHORA

    DE

    GUADALUPE

    JOAO

    DO

    BOM

    TRAVESSA DO ROSARIO

    RUA

    DE

    SAO

    DEAVENIDA

    JOAQUIM

    NORD

    ESTIN

    A

    AVEN

    IDA

    NORD

    ESTIN

    A

    NOSSA

    SENHORA

    RUA

    BOMSUCE

    SSO

    RUA

    NORD

    ESTIN

    A AVENIDA

    AVEN

    IDA

    NABUCO

    JOAQUIM

    RUA

    NOSSA

    ILMA

    CUNHA

    NABUCO

    BECODO

    CHAFARIZ

    SUCE

    SSO

    ESTRADA

    DO

    AV.DO

    MBO

    NIFAC

    IOJAN

    SEN

    GUADALUPE

    NABUCO

    RUA

    DA

    BOA

    HORA

    RUA

    13

    RUA

    BERNARDOVIEIRA

    DE

    MELO

    DE

    MORAES

    PEDRO

    MONT

    EIRO

    TRAV

    .

    DO

    BOMF

    IM

    RUA

    RUA

    PRUDENTE

    DE

    MAIO

    CORO

    NEL

    JOAQ

    UIM

    C.

    JOAQUIM

    CAVA

    LCAN

    TI

    RUA

    DOS

    QUATROCANTOS

    RUA

    DA

    MISE

    RICOR

    DIA

    DOAM

    PARO

    DO

    RUA

    BISPO COUTINHO

    MARINHO

    DO

    AMPARO

    JOAQUIMCAVALCANTINABUCO

    JOAQUIM

    JOAO

    AVENIDA

    RUA

    RUACORONEL

    RUA

    RUA

    SALDANHA

    AVENIDA

    RUA

    RUA

    LADE

    IRA

    BOMFIM

    DA

    SILVA

    MARTINO

    DA BICA

    RUA

    PRACA

    VARADOU

    RO

    PRACA

    AVENIDA

    OLINDA

    KENNEDY

    AVENIDA

    AVENIDA

    SIGISMUNDO

    GONCALVES

    SANTOS

    DUMONT

    RUA

    15

    PRESIDENTE

    NABUCO

    RUA

    HENR

    IQUE

    1oTRAVESSA

    DENOVEMBRO

    TRAVESSADE

    NOVEMBRO

    DE

    NOVEMB

    RO

    BENTO

    RUASAO

    RUA

    VINTE

    ESE

    TEDE

    JANEIRO

    2 o

    J.

    RAMALHO

    DIAS

    RUA

    HENR

    IQUE

    JOAQUIM

    RUA

    S.

    CAVALCANTE

    BOA

    HORA

    DA

    BOA

    HORA

    RUACORONEL

    JOAQUIM

    AV.

    DR.

    RUA

    DE

    MAIO DESETEM

    BRO

    15

    15

    RUA

    7

    13

    DIAS

    RUA

    LARGO

    DOS M

    ILAGRES

    RUA

    SANT

    A

    AVENIDA

    MANOEL

    BORBA

    CAMPOS

    DUMONT

    RUA

    SANTOS

    DUMONT

    TERE

    ZA

    AVEN

    IDA

    OLIND

    A

    DE

    OLINDA

    AVENIDA

    AVENIDA

    SIGISMUNDO

    RUA

    SANTOS

    S.

    GON?ALV

    ES

    GUSTO

    RAMO

    S

    PRACA

    PEDROSAO

    SEIS

    SV2

    SV1

    SV1

    SRR

    SV3

    SV1

    SRA

    SV1SCV

    SRA

    SRA

    SCA

    SIT

    SV3

    SR

    SR

    SR

    SR

    SR

    SR

    SV2

    SV1

    SRR Setor Residencial Rigoroso SCV Setor Comercial do Varadouro SRA Setor Residencial Ambiental SIT Setor de Interesse Turstico SCA Setor Cultural do Alto da S SV1 Setor Verde 1 SV2 Setor Verde 2 SV3 Setor Verde 3 SR Setor Residencial SEIS Setor de Interesse Social

    Zona Especial de Proteo Cultural 01

    2 Objetivos do Manual Conservar

    O objetivo geral do manual Conser-

    var: Olinda Boas Prticas no Casario

    orientar proprietrios, locatrios,

    arquitetos e pblico em geral sobre

    as Boas Prticas de interveno nos

    imveis do Stio Histrico de Olinda,

    de modo a minimizar as perdas de

    integridade e autenticidade, decorren-

    tes do desconhecimento dos valores

    patrimoniais a serem salvaguardados.

    Seu contedo foi elaborado a partir

    de: 1) entrevistas com tcnicos das

    instituies de proteo; 2) levanta-

    mento e anlise das legislaes que

    incidem sobre a rea; 3) pesquisa e

    anlise dos inventrios do casario

    realizados na dcada de 1980 e entre

    1999 e 2002; 4) levantamento e anli-

    se dos projetos no casario aprovados

    pelas instituies de proteo.

    O termo Boas Prticas signifi ca que

    os projetos de interveno arquitet-

    nica foram aprovados pelas institui-

    es de proteo por qualifi carem

    o casario e garantirem os valores

    patrimonais e as boas condies de

    uso e habitabilidade dos imveis do

    Stio Histrico de Olinda.

    Os exemplos selecionados e que

    ilustram o manual no pretendem

    formatar modelos a serem seguidos.

    Eles signifi cam solues para proble-

    mticas relativas a tipologia arquite-

    tnica, programas de necessidades e

    projetos de interveno arquitetnica.

    O Manual de Boas Prticas: 1) apre-

    senta os valores patrimoniais e

    conceitos que norteiam a proteo do

    Stio Histrico de Olinda; 2) identifi ca

    tipos arquitetnicos predominantes;

    3) descreve as etapas necessrias

    elaborao de projetos de interveno

    arquitetnica; e 4) registra e analisa

    solues de arquitetura executadas nas

    edifi caes situadas no Polgono de

    Tombamento de Olinda3 que resulta-

    ram em intervenes de qualidade, ga-

    rantindo a manuteno da signifi cncia

    cultural e dos valores patrimoniais.

    [3] O Polgono de Tombamento de Olinda consiste na delimitao fsica registrada no Livro do Tombo de Belas Artes, Histrico e Arqueolgico, Etnogrfi co e Paisa-

    gstico do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, atravs da Lei n 1.004/68, somando 1,2 km de rea, rerratifi cado em 1985.

    Polgono de Tombamento de Olinda

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    10

    Para que as intervenes arquitetnicas realizadas no casario de Olinda

    sejam capazes de assegurar a conservao dos valores patrimoniais do Stio

    Histrico, imprescindvel o reconhecimento social dos atributos do Stio.

    Isso porque por meio dos atributos de um bem tombado que so conferi-

    dos os devidos valores patrimoniais.

    Os atributos do Stio Histrico de Olinda podem ser entendidos como a base

    fsica que compe e estrutura o conjunto tombado e que se expressa na

    relao entre a paisagem natural e a construda. Na paisagem, esto presentes

    o casario antigo, com a diversidade de tipologias, elementos estilsticos e tcni-

    cas construtivas; o mar; a vegetao dos quintais, praas e parques; o traado

    urbano e a topografi a acidentada em harmonia com a volumetria dos telhados.

    A permanncia dos atributos e signifi cados culturais do Stio Histrico de

    Olinda anunciada por um conjunto de valores que se mantiveram ao longo

    do tempo e que podem ser identifi cados como de longa durao, quais

    sejam: valores histricos, paisagsticos, urbansticos, arquitetnicos,

    artsticos e culturais. Um valor de longa durao signifi ca que as qualida-

    des e os predicados nele identifi cados perduram por anos e sculos. Esses

    valores tm sido gradualmente reconhecidos pelas legislaes de proteo.

    As primeiras atribuies de valor cidade de Olinda podem ser encontra-

    das nas crnicas e nos textos histricos de viajantes e intelectuais. A leitura

    da documentao histrica e a anlise da iconografi a disponvel permitem

    inferir a existncia de valores identifi cados como de longa durao, nos

    quais a qualidade positiva de beleza da paisagem atribuda, no mais das

    vezes, ao dilogo que se realiza na relao entre topografi a, vegetao e

    edifi caes (fi guras 1 e 2):

    Toda a larga fatia de paisagem brasileira que o olhar recorta do

    Alto da S ou da Misericrdia [...] um pedao de natureza tropi-

    cal salpicado de vitrias dos homens sobre as cousas brutas; dos

    portugueses sobre as selvas. Igrejas branquejando entre cajueiros.

    [...] (Freyre, 1980, p. 09).

    Em toda parte h lindas rvores, como laranjais, limoeiros, co-

    queiros, tamarineiras [...], alguns particulares tm, prximos s

    suas casas, parreirais, mas atualmente h pequenas uvas ainda

    verdes (Pieter de Vroe, secretrio do Conselho Poltico, em carta

    datada de 26/07/1630, citado em Mello, 1987, p. 43).

    3 Os valores patrimoniais e a signifi cncia do Stio Histrico de Olinda

  • 11

    Esses atributos referenciados positivamente nos textos de diversos autores e

    em distintos tempos histricos permaneceram mencionados nas legislaes

    de proteo, nos pareceres e nos planos urbansticos existentes:

    Olinda uma jia do Brasil [...]. Nela se renem admiravelmente

    a paisagem marinha e a cidade de arte, com uma riqueza de vinte

    igrejas barrocas e um grande nmero de casas antigas pintadas em

    vivas cores. [...] Em Olinda, a arquitetura surge dentre os esplendo-

    res da natureza tropical. [...] Essa feio esparsa do tecido urbano

    deve ser absolutamente preservada. Olinda no uma cidade:

    um jardim entremeado de obras-primas de arte (Parecer tcnico de

    Michel Parent, consultor da Unesco, em 1972, in Delgado, 1974).

    Olinda uma cidade verde, beira do mar, com um espao ve-

    getal to importante quanto o prprio monumento. Mesmo a sua

    arquitetura no to defi nida. [...] parte de uma casa do sculo

    XVII, outra, do sculo XVIII. [...] h um acmulo de vivncias que

    justifi cam a incluso de Olinda no Patrimnio da Humanidade

    (Magalhes, 1982: 12).

    Assim, da leitura de textos em diversos tempos histricos, depreende-se a rele-

    vncia da paisagem e do relacionamento contnuo entre os elementos topo-

    grfi cos, a forma urbana com seus modos de implantao das vias e edifi ca-

    es em dilogo com as dimenses topolgica e tipolgica do Stio Histrico.

    O valor histrico representado pelos movimentos libertrios presentes

    na retomada de Pernambuco aos holandeses, nas iniciativas de libertao da

    Coroa portuguesa e de independncia e nas disputas polticas e ideolgicas.

    Esse valor est registrado em documentos histricos, nas culturas material e

    imaterial. A forma urbana tambm se constitui em valor histrico por conter

    o registro material do processo de ocupao territorial implantado pelos por-

    tugueses no nordeste brasileiro ainda no sculo XVI. Esse processo seguia a

    tradio medieval de defesa por altura, traado urbano irregular e conjunto

    arquitetnico composto de casario homogneo e por monumentos predomi-

    nantemente religiosos que se destacavam na paisagem.

    O valor paisagstico atribudo relao harmnica que existe entre o mar,

    a vegetao, a topografi a, o traado urbano (vias, quadras e lotes), o casario

    e os monumentos. O Stio Histrico est implantado sobre um conjunto de

    colinas contguas ao mar, onde a singularidade do meio ambiente construdo

    2

    1

    1 | Vila de Olinda, Pernambuco depois do incndio de 1631. Desenho de Frans Post in BARLEUS, Gaspar, 1940. Histria dos feitos recentemente praticados no Brasil e noutras partes. Rio de Janeiro: Ministrio de Educao, prancha 10.

    2 | "Olinda" gravura de Frans Post in REIS FILHO, Nestor Goulart, 2000. Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial, So Paulo: Coleo Uspiana, Brasil 500 anos.

  • 12

    conferida especialmente pelas edifi caes religiosas, com suas torres, que

    pontuam e estruturam o tecido urbano e compartilham o protagonismo da

    cena com o meio ambiente natural. O verde ondulado da vegetao presente

    nos quintais se mescla aos tons terrosos dos telhados e dialoga com o azul do

    mar, compondo, assim, uma paisagem singular.

    A longa durao dos atributos paisagsticos pode ser observada por meio da

    comparao de imagens de pocas distintas e onde esto presentes o verde

    dos quintais, a pontuao das torres das igrejas, o casario, o mar e a cidade

    do Recife ao fundo (fi guras 3 e 4).

    Os valores urbansticos, arquitetnicos e artsticos esto registrados na

    forma urbana, nas tipologias das edifi caes civis e religiosas, nas tcnicas

    e nos materiais construtivos e nos elementos estilsticos. O acervo do Stio

    Histrico de Olinda garante a representatividade de vrios sculos na evolu-

    o da arte e da arquitetura transplantados para o Brasil, onde se destacam

    desde as diversas manifestaes do barroco presentes nas fachadas das

    igrejas e dos conventos, altares setecentistas at os conjuntos arquitet-

    nicos eclticos dos sculos XIX e XX, que convivem em sintonia e muitas

    vezes se sobrepem s estruturas dos perodos anteriores.

    Baers (in Maior e Silva, 1992) descreve Olinda por volta de 1630, relacio-

    nando os aspectos topogrfi cos com a localizao dos principais edifcios e

    aglomeraes que perduram at hoje4:

    No que diz respeito Praa de Olinda, a referir que ela est situa-

    da em forma de ngulo no dorso de um alto monte, do qual uma

    extremidade mais elevada do que a outra. No extremo mais alto

    do monte, acha-se o Convento dos Jesutas, sendo o extremo norte

    do lugar formado pelas encostas do mesmo monte; para o lado

    sul, encontra-se o Convento dos Franciscanos, que tem um bonito

    ptio com uma bela fonte onde o povo vai buscar gua para beber.

    Descendo o monte, a partir do Convento dos Jesutas, depara-se

    novamente com uma eminncia sobre a qual eleva-se a principal

    igreja paroquial do lugar, chamada Salvador, a Casa da Cmara,

    debaixo da qual acha-se o aougue, e direita acima dela a pri-

    so, e uma grande parte da cidade, sendo a eminncia em cima

    3

    4

    3 | Vista panormica de Olinda, tendo ao fundo o Rio Beberibe, o

    istmo e o Porto do Recife in FERREZ, Gilberto, 1984. Raras e preciosas

    vistas e panoramas do Recife, 1975-1855, Rio de Janeiro: Fundao

    Nacional pr-Memria.

    4 | Fotografi a ilustra a permanncia paisagstica ao longo de dois sculos.

    Vista de Olinda para a cidade do Recife. Pickimagem 2010.

    [4] J. Baers, cronista holands poca da invaso holandesa, fez importantes registros dos aspectos topo-

    grfi cos, da ocupao territorial e dos principais monumentos ento existentes na Vila de Olinda.

  • 13

    plana e igual; tambm ali existe uma bela e larga rua ultimamen-

    te chamada Rua Nova, que foi a primeira rua da cidade. Porm,

    no extremo meridional, onde est situado o hospital, chamado

    Misericrdia, desce o monte com to spero declive, que quase no

    pode-se subi-lo sem grande esforo [...]. As casas no so baldas de

    conforto, mas, cmodas e bem feitas, arejadas por grandes janelas,

    que esto ao nvel do sto ou celeiro, mas sem vidros.

    A permanncia dos valores urbansticos pode ser facilmente compreen-

    dida pela observao das fi guras 5 e 6, que possuem um distanciamento

    de quatro sculos. Nelas, podem-se observar a permanncia do traado

    urbano, com suas vias, suas quadras e seus lotes, e, ainda, a localizao das

    principais edifi caes civis e religiosas.

    Os valores urbansticos e paisagsticos se conjugam em conjuntos urbanos

    cujo eixo de visualidade integra a relao dos monumentos religiosos com

    a topografi a acidentada e o casario. Aqui vale destacar, dentre outros, os

    conjuntos paisagsticos constitudos pelo antigo Colgio Jesuta, pela Igreja

    de N. Sa. da Graa (atual Seminrio de Olinda; fi guras 7 e 12) e pelas edifi -

    caes religiosas que compem o Convento de So Francisco (Figura 8).

    Esses agrupamentos ilustram a importncia das edifi caes religiosas no processo

    de conformao do traado urbano. Nesse contexto, importa enfatizar a localiza-

    o dos conventos, mosteiros e colgios nos relevos que se destacam no cenrio

    urbano e o eixo focal que induz o olhar centralidade formatada pela igreja.

    Como conjunto urbanstico, destacamos o casario, o Mosteiro e a Igreja de

    So Bento (fi guras 9, 10 e 11) e o eixo monumental que relaciona a Igreja

    do Amparo, o casario e a Igreja de So Joo. Estes agregam valores urba-

    nsticos, paisagsticos e arquitetnicos evidenciados nos ptios, nos modos

    5 6

    5 | Mapa de Olinda, autoria no identifi cada, publicado em HERKENHOFF, Paulo, (org), 1999.O Brasil e os holandeses: 1630 1654. Rio de Janeiro: Sextante Artes.

    6 | Vista area do Stio Histrico de Olinda. Disponvel in Google Maps, 2010. A anlise e comparao das imagens 5 e 6 ilustra a permanncia do traado urbano e da localizao monumentos.

  • 18

    17

    15 16

    13

    9 10

    11

    12

    14

    7

    8

  • 15

    de implantao do edifcio no lote e nas peculiaridades de relacionamento

    entre edifcio, localizao geogrfi ca e topogrfi ca.

    As ruas que foram conformadas desde o incio da colonizao, como, por

    exemplo, a Rua do Amparo e a Rua de So Bento, distinguem-se pela maior

    densidade de edifi caes dos sculos XVIII e XIX. J as ruas de constituio

    posterior, como o caso da Rua do Bonfi m ou Rua Sete de Setembro, por

    exemplo, detm, em sua predominncia, edifi caes com caractersticas de

    incio e meados do sculo XX.

    Por sua vez, os valores artsticos e arquitetnicos esto manifestados atravs

    da unidade estilstica das edifi caes religiosas, da permanncia da tipologia

    arquitetnica e das tcnicas construtivas, da diversidade de registros estilsti-

    cos do casario e, ainda, dos bens mveis e integrados arquitetura.

    As edifi caes civis comparecem com seu papel relevante, seja na confor-

    mao das vias e quadras, seja nas distintas tipologias arquitetnicas (plan-

    ta, volumetria, tcnica construtiva) presentes na cidade, como tambm na

    diversidade estilstica que documenta praticamente quatro sculos de arqui-

    tetura civil. Essas caractersticas so encontradas no percurso pela cidade,

    na qual convivem, em dilogo, edifi caes com caractersticas dos sculos

    XVIII, XIX e XX em suas distintas representaes estilsticas: casa mourisca

    (Figura 13), neoclssica, ecltica, chal e art dco (fi guras 14 a 18).

    Integram tambm os valores arquitetnicos o sistema estrutural e a tcnica

    construtiva tradicional, caracterizada por paredes estruturais (de pedra ou

    tijolo), com vigas ou teras que suportam caibros rolios, ripas de embiriba

    e revestimento de cobertura de telha colonial e detalhes construtivos, como

    os cachorros de pedra e o muxarabi.

    Os materiais utilizados na construo das paredes exteriores so fundamental-

    mente a alvenaria de pedra e a alvenaria de tijolo. As tcnicas da alvenaria de

    7 | Igreja da Graa e Convento dos Jesutas, localiza-dos no morro mais alto do Stio Histrico de Olinda.

    8 | Vista parcial do Convento Franciscano e adro. Destaque para a implantao, vegetao e composio dos telhados.

    9 | Largo e Mosteiro de So Bento, referncia da arquitetura e urbanstica do perodo colonial.

    10 | Nave e altar-mor da Igreja de So Bento, com destaque para os bens integrados.

    11 | Detalhe da cantaria da Igreja de So Bento, com destaque para integrao do culo com a verga da portada principal, em estilo barroco.

    12 | Nave e altar-mor da Igreja das Graas, com destaque para a composio maneirista e o jogo de iluminao do interior.

    13 | Casario da Rua do Amparo, com evidncia para a diversidade estilstica das fachadas do sculo XVIII e XIX. Destaque para o sobrado mourisco com muxarabi apoiado sobre cachorros de pedra.

    14 e 15 | Vistas parciais da Rua de So Bento, onde merecem destaque o sobrado do sculo XVIII com telhado em quatro guas, ao lado de imveis com fachadas art dco, ecltica e neoclssica. E casa trrea revestida em azulejo decorado.

    16 | Local denominado Quatro Cantos, onde se verifi cam diversas solues estilsticas de fachada e portas neogticas ao fundo.

    17 | Rua do Bonfi m, cujos imveis possuem jardins frontais, laterias e posterior, prprios do sculo XX.

    18 | Rua 15 de Novembro comparece com edifi caes com fachadas prprias do art dco.

  • pedra so junta seca ou cangicado

    (sucessivo encaixe de pedras de dife-

    rentes dimenses, onde o preenchi-

    mento dos vazios ocorre por meio da

    utilizao de pedras menores e barro).

    Ainda esto presentes a alvenaria mista

    de pedra e tijolo (Figura 32) ou, ainda,

    a taipa nas paredes divisrias e a alve-

    naria em tijolo macio (Figura 33).

    Em relao a fachadas e arremates

    das coberturas, os exemplos mais

    antigos so os sobrados mouriscos,

    situados na Praa de So Pedro n 7 e

    na Rua do Amparo n 28 (Figura 13).

    Existem casos de tcnicas em alve-

    naria e massa e o tradicional triplo

    beiral, caracterizado pela aplicao de

    telha tipo canal com a parte cncava

    voltada para baixo, em vrias fi adas

    aplicadas em camadas fazendo o res-

    salto no paramento da parede. Exis-

    tem tambm o caso de arremates com

    volutas e arcos (fi guras 19 e 20), que

    seguem diversos tempos histricos.

    Por sua vez, existem ainda solues

    de coberta que integram duas ou mais

    edifi caes distintas (Figura 21) e que

    constituem elementos bastante carac-

    tersticos do casario do Stio Histrico.

    No que se refere aos elementos

    que integram a edifi cao ao clima

    tropical, destacamos as portas e

    janelas de madeira com gelosias ou

    de fi cha com venezianas, dispondo

    de bandeiras de ferro ou de madeira

    (fi guras 24 a 30). Merecem desta-

    que, ainda, detalhes construtivos

    como conversadeiras (Figura 31),

    que caracterizam as edifi caes com

    origem no perodo colonial.

    O valor cultural atribudo perma-

    nncia dos testemunhos do passado,

    das tradies sagradas e profanas

    (procisses e Carnaval), alm de

    msica, dana, gastronomia, artesanato

    e artes plsticas. Essas manifestaes

    constituem um conjunto de inestim-

    vel riqueza imaterial. O sentimento

    de pertencimento dos moradores est

    contido na profunda relao afetiva

    com o Stio, que, por sua vez, tem

    sua base nas relaes de vizinhana,

    favorecida pela confi gurao urbana e

    pela forte participao social.

    24 25

    19 20 21

    22 23

  • Com essa caracterizao, deseja-se

    fazer entender que a manuteno

    dos valores patrimoniais encontra-

    -se intimamente relacionada com

    a preservao dos atributos fsicos

    do Stio Histrico, cujas qualidades

    so as razes pelas quais o centro

    antigo da vila de Olinda foi consi-

    derado importante testemunho para

    a cultura mundial, depoimento do

    processo colonizador e do modo

    de construo de cidades que os

    portugueses implantaram, no sculo

    XVI, no Brasil.

    A conservao e preservao dos

    atributos do Stio Histrico de Olinda

    podem garantir a continuidade de

    seu reconhecimento e sua valora-

    o ao longo do tempo, tanto pela

    populao como pelo corpo tcnico

    patrimonial. importante salientar

    que os arquitetos e engenheiros que

    assinam os projetos arquitetnicos de

    conservao, restaurao ou reforma

    arquitetnica interferem diretamente

    na manuteno ou destruio das

    caractersticas e dos atributos do Stio

    Histrico, ou seja, interferem ainda

    na possibilidade de continuidade ou

    ruptura do chamado esprito do lugar.

    Quando se fala em esprito do lugar,

    faz-se referncia quelas caractersticas

    que so prprias ao lugar, construdas

    ao longo do tempo e de geraes,

    que remetem s suas origens e

    formao da cidade. Caractersticas re-

    conhecidas na substncia material das

    edifi caes e nas lembranas que elas

    evocam na populao local em cada

    percurso, na paisagem descortinada

    ou, ainda, na memria dos aconteci-

    mentos que permanecem guardados

    na lembrana dos seus moradores e

    usurios (fi guras 22 e 23).

    Sobre a signifi cncia cultural de

    Olinda, trata-se dos modos como

    os distintos grupos de moradores

    ou usurios atribuem signifi cados

    prpria estrutura do Stio, seus usos

    e registros, ou seja, base material

    ou imaterial. Pode ser entendida

    como uma qualifi cao atribuda

    ao bem em determinado perodo

    histrico e/ou por um grupo social

    especfi co ou estar a ele associada.

    26 27 28 29 30

    31

    19 e 20 | As imagens ilustram a

    diversidade de solues estticas

    no arremate da empena com a

    platibanda. Presena de volutas,

    pinhas e arcos.

    21 | Casas trreas com

    cumeeiras contnuas.

    22 e 23 | Ambientes que fazem referncia ao esprito do lugar. A disposio do mobilirio tradicional e tambm o revestimento de pisos em assoalho e forro em tabuado so elementos evidenciados.

    24 | Detalhe de esquadria com gelosia (sc. XVIII).

    25 | Janela veneziana e vidro com detalhe em guilhotina.

    26 | Janela com verga em arco abatido, veneziana e caixilho de vidro.

    27 a 30 | Janelas com veneziana e vidro, encimadas por bandeira em madeira e vidro simples ou com desenho e ornamentos de vidro colorido.

    31 | Conversadeira, assentos que ladeiam as janelas e que esto presentes em residncias e edifi caes religiosas do Brasil Colnia.

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    18

    O conhecimento dos tipos arquite-

    tnicos edifi cados no Stio Histrico

    de Olinda de fundamental impor-

    tncia para que se promova a con-

    servao desse ncleo histrico, j

    que o casario fi gura como um dos

    principais atributos reconhecidos

    institucionalmente pelas leis e pelos

    ttulos concedidos ao Stio.

    O tipo arquitetnico presente no

    casario pode ser considerado como

    uma sntese do prprio Stio, dentro

    de distintos contextos temporais.

    Sntese porque o edifcio um

    organismo que possui a experincia

    do passado, mas, simultaneamente,

    possui capacidade ou contm a pos-

    sibilidade de adaptao s neces-

    sidades presentes e futuras. Desse

    modo, a identifi cao dos tipos

    edifi cados passa por um repertrio

    de referncias arquitetnicas e urba-

    nsticas em suas mltiplas relaes

    espaciais, programticas, compositi-

    vas e tecnolgicas.

    Nessa abordagem, foi possvel a

    identifi cao de um conjunto de

    formas invariveis, que permane-

    ceram por um processo de longa

    durao, denominado Tipo Base, e

    que caracteriza, de modo relevante,

    o casario tombado do Stio Histrico

    de Olinda. A constituio do Tipo

    Base se d pela combinao de trs

    variveis: 1) implantao; 2) planta

    baixa; e 3) volumetria.

    4 Identifi cando tipos arquitetnicosno Stio Histrico de Olinda

    Na implantao, so consideradas:

    1) a localizao do lote na quadra; 2)

    a localizao do edifcio no lote; 3) a

    taxa de ocupao; e 4) a adaptao da

    edifi cao na topografi a do terreno.

    No que se refere planta baixa,

    foram levados em considerao: 1) a

    disposio dos cmodos; 2) o uso do

    imvel e as funes dos ambientes; e

    3) os modos de acrscimo no imvel

    (se transversal ou paralelo edifi ca-

    o principal, se houve introduo

    de mezanino, poo e/ou edcula).

    Em se tratando da volumetria, so

    observadas: 1) a orientao das

    linhas de cumeeira (se paralela ou

    transversal ao alinhamento da rua ou

    se composta, com rinco ou espigo)

    e sua distncia em relao rua; 2) a

    inclinao dos panos de cobertura; e

    3) a existncia de elementos arquite-

    tnicos nos panos da cobertura.

    Desse modo, dentre as caracters-

    ticas comuns que esto presen-

    tes no Tipo Base, encontramos a

    implantao, no terreno, nos limites

    frontal e laterais do lote, com recuo

    posterior, embora eventualmente

    apresente um recuo lateral e con-

    formao de planta baixa com sala

    frontal, corredor lateral ou central

    com acesso aos quartos (alcovas) e

    sala posterior. Em termos de volu-

    metria, dispe de linha da cumeeira

    paralela rua, deslocada a 1/3 ou a

  • 19

    tipos, que no se encontram aqui

    mencionados, correspondem a um

    perodo mais recente de evoluo ur-

    bana de Olinda e esto situados nas

    ruas de ocupao do sculo XX. Sob

    os aspectos estilsticos, correspondem

    s edifi caes eclticas, chals ou

    ainda protomodernas. Embora no

    apresentem as caractersticas de con-

    formao arquitetnica do Stio His-

    trico tradicional, essas edifi caes

    tambm devem ser consideradas em

    termos de volumetria, implantao e

    integrao contextual quando objeto

    de interveno arquitetnica.

    Alm dessa classifi cao, foram

    tambm identifi cadas edifi caes

    que no correspondem a nenhum

    tipo arquitetnico defi nido. Elas

    esto principalmente associadas ao

    fato de terem perdido as caracte-

    rsticas ou os registros essenciais,

    que contribuem para essa anlise e

    defi nio. Assim sendo, esto aqui

    classifi cadas como esteretipos.

    Esteretipos

    Os esteretipos podem ser iden-

    tifi cados quando ocorre evoluo

    tecnolgica, alteraes das prticas

    sociais sobre a ocupao do espao

    e, ainda, quando acontece a pr-

    pria deteriorao fsica do objeto

    construdo, que fi ca sujeito a um

    processo de obsolescncia e de

    transformao de tipos.

    Essas transformaes podem con-

    fi gurar novos tipos ou indicar uma

    referncia a um contedo que no

    mais existe. Exemplo de estereti-

    pos so aqueles imveis que man-

    tm apenas a fachada principal, mas

    passaram por transformaes de

    carter tcnico, programtico e com-

    positivo. Esses imveis, geralmente,

    encontram-se em condio irregular

    por terem passado por modifi caes

    sem a aprovao das instituies de

    proteo. Esses casos so desacon-

    selhados de assim permanecerem,

    devendo ser submetidos aos meca-

    nismos de legalizao conforme as

    orientaes normativas.

    O estudo das tipologias arquitetni-

    cas busca orientar o entendimento

    sobre a edifi cao e auxiliar no

    controle qualitativo dos projetos de

    interveno arquitetnica. Ele serve

    como base para a identifi cao dos

    elementos construtivos merecedo-

    res de permanncia e, ao mesmo

    tempo, orienta as possibilidades de

    inovaes nos projetos.

    1/2 da rua e com inclinao da co-

    berta, nas edifi caes mais antigas,

    entre 40% e 45%.

    importante tambm salientar o

    sistema construtivo composto por

    1) sistema de coberta, com estrutura

    em madeira (traves, caibros e ripas);

    coberta de telha cermica canal,

    tipo capa e bica, com beiral ou pla-

    tibanda com calha; 2) alvenaria, que

    pode ser: alvenaria de pedras, alve-

    naria mista (pedra e tijolo) e tijolos

    macios; 3) revestimento da alve-

    naria em argamassa de cal e areia;

    e 4) revestimentos internos carac-

    terizados por trreo em cimentado,

    tijoleira ou ladrilhos hidrulicos. No

    sobrado, o revestimento feito em

    assoalho de madeira.

    Embora essas caractersticas estejam

    presentes no Tipo Base, essa tipolo-

    gia admite variaes de elementos

    comuns que confi guram cinco tipos

    arquitetnicos na poro mais anti-

    ga de Olinda. So eles: meia-mora-

    da, morada-inteira, poro alto com

    meia-morada ou morada-inteira,

    meio-sobrado e sobrado-inteiro, que

    sero descritos em seguida.

    Devemos ressaltar que essa classifi ca-

    o no abarca a totalidade de tipos

    arquitetnicos existentes no Stio His-

    trico de Olinda, mas corresponde,

    em uma perspectiva cronolgica, s

    edifi caes mais antigas. Os demais

  • Implantao:

    imvel fronteiro rua com recuo

    posterior, admitindo-se, em certos casos,

    o recuo lateral e adaptao do edifcio

    topografi a do terreno.

    Planta baixa:

    edifi cao com sala frontal, corredor

    lateral com acesso aos quartos

    (alcovas), sala posterior, podendo ou

    no apresentar acesso ntimo entre

    os quartos. O acrscimo posterior

    edifi cao principal ocorre de modo

    transversal ou paralelo, sendo destinado

    aos cmodos de servios (cozinha,

    B.W.Cs., depsito e lavanderia).

    Volumetria:

    edifi cao trrea com cumeeira paralela

    rua, localizada a 1/3, 1/2 ou 2/3

    de distncia da rua, e telhados com

    inclinao de 40% a 45%.

    Legendas

    1. Circulao

    2. Sala de Estar

    3. Sala de Jantar

    4. Quarto / Alcova

    5. Cozinha

    6. Copa

    7. B.W.C.

    8. rea de Servio

    1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Corte

    4.1 Tipo meia-morada

    24 4

    1

    3

    5 6 7

    8

    2 1 3 5 6 7

    RU

    AR

    UA

    RUA

  • 21

    Implantao:

    imvel fronteiro rua com recuo

    posterior, admitindo-se, em certos casos,

    o recuo lateral e adaptao do edifcio

    topografi a do terreno.

    Planta baixa:

    edifi cao com sala frontal, corredor

    central com acesso aos quartos

    (alcovas), sala posterior, podendo ou

    no apresentar acesso ntimo entre

    os quartos. O acrscimo posterior

    edifi cao principal ocorre de modo

    transversal ou paralelo, sendo destinado

    aos cmodos de servios (cozinha,

    B.W.Cs., depsito e lavanderia).

    Volumetria:

    edifi cao trrea com cumeeira paralela

    rua, localizada a 1/3, 1/2 ou 2/3

    de distncia da rua, e telhados com

    inclinao de 40% a 45%.

    Legendas

    1. Circulao

    2. Sala de Estar

    3. Sala de Jantar

    4. Quarto / Alcova

    5. Cozinha

    6. B.W.C.

    7. Terrao

    1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Planta Baixa | Subsolo

    4. | Corte

    4.2 Tipo morada-inteira

    7

    2

    4 4

    4 4

    1 3

    7

    64

    56

    2 4 4 3

    5

    RU

    AR

    UA

    RUA

  • 1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Planta Baixa | Subsolo

    4. | Corte

    Implantao:

    imvel fronteiro rua com recuo

    posterior, admitindo-se, em certos casos,

    o recuo lateral e adaptao do edifcio

    topografi a do terreno.

    Planta baixa:

    edifi cao com sala frontal, corredor de

    acesso aos quartos (alcovas), que pode

    ser lateral ou central, sala posterior,

    poro alto e eventual terrao lateral. O

    acrscimo posterior edifi cao principal

    ocorre de modo transversal ou paralelo,

    sendo destinado aos cmodos de servios

    (cozinha, B.W.Cs., depsito e lavanderia).

    Volumetria:

    edifi cao trrea, com cumeeira paralela

    rua a 1/3, 1/2 ou 2/3 de distncia da rua.

    Telhados com inclinao de 40% a 45%,

    ou ainda com 30%, conforme legislao.

    Legendas

    1. Hall

    2. Circulao

    3. Sala de Estar

    4. Sala de Jantar

    5. Quarto / Alcova

    6. Cozinha

    7. Copa

    8. B.W.C.

    9. rea de Servio

    10. rea Livre

    11. Terrao

    12. Escritrio

    13. Quarto de Empregada

    14. Banheiro de Empregada

    15. Rouparia

    16. Depsito

    17. Churrasqueira

    4.3 Tipo poro alto com meia-morada ou com morada-inteira

    3

    5

    5 5

    2 4

    1

    1

    11

    11

    7 68

    15

    11

    10

    1613914

    17

    12

    3 5 5

    155

    2

    18

    3 2 4

    12 2 15 15

    11 10 11

    RU

    AR

    UA

    RU

    A

    RUA

  • 23

    1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Planta Baixa | 1 Pavimento

    4. | Corte

    Implantao:

    edifi cao adaptada topografi a

    sem possibilidade de ampliao no

    trreo, por se achar restringida pelo

    relevo, e que possui simultaneamente

    caractersticas de sobrado e de casa

    trrea. Na sua origem, esteve identifi cado

    com o uso misto de comrcio no trreo e

    residncia no pavimento superior.

    Planta baixa:

    edifi cao com comrcio no trreo e

    pavimentos superiores residenciais, com

    disposio de planta do tipo meia-

    -morada ou morada-inteira. A escada de

    acesso ao pavimento superior se dispe

    independentemente do uso do trreo. O

    acrscimo posterior edifi cao principal

    ocorre de modo transversal ou paralelo,

    sendo destinado aos cmodos de servios

    (cozinha, B.W.Cs., depsito e lavanderia).

    Volumetria:

    possui simultaneamente caractersticas

    de sobrado e de casa trrea. Dispe de

    cumeeira paralela rua a 1/3, 1/2 ou

    2/3 de distncia da rua. Telhados com

    inclinao de 40% a 45% ou ainda com

    30%, conforme legislao.

    Legendas

    1. Hall

    2. Circulao

    3. Copa

    4. B.W.C.

    5. rea Livre

    6. Secretaria / Escritrio

    7. Sala de Computao

    8. Sala de Reunio

    9. Sala das Bandeiras

    4.4 Tipo meio-sobrado

    9

    1

    6

    8

    7

    2

    8

    8

    8

    5

    3 4 4

    6 2

    9

    85

    RU

    AR

    UA

    RU

    A

    RUA

  • Implantao:

    imvel fronteiro rua com recuo

    posterior, admitindo-se, em certos casos,

    o recuo lateral e adaptao do edifcio

    topografi a do terreno.

    Planta baixa:

    edifi cao com disposio de planta do

    tipo meia-morada ou morada-inteira,

    com circulao e escada lateral para

    acesso ao segundo pavimento.

    Volumetria:

    edifi cao em dois pavimentos,

    cumeeira paralela rua com localizao

    a 1/3, 1/2, ou 2/3 de distncia da rua.

    Na sua origem, podia estar destinado

    a residncia unifamiliar ou a comrcio

    no trreo e residncia no pavimento

    superior.

    Legendas

    1. Hall

    2. Circulao

    3. Sala de Estar

    4. Sala de Jantar

    5. Quarto / Alcova

    6. Cozinha

    7. Copa

    8. B.W.C.

    9. rea Livre

    10. Terrao

    11. Sem Uso

    12. Depsito

    1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Planta Baixa | 1 Pavimento

    4. | Planta Baixa | Subsolo

    5. | Corte

    4.5 Tipo sobrado-inteiro

    3

    1

    3

    2

    2

    125

    4

    7

    7

    6

    108

    9

    11

    11

    11

    9

    8

    3

    11 11

    7 6 8

    8

    3 3

    2

    2

    3

    4

    5

    5

    3 3

    2

    RU

    AR

    UA

    RU

    A

    RUA

  • 25

    1. | Planta Baixa | Coberta

    2. | Planta Baixa | Trreo

    3. | Planta Baixa | 1 Pavimento

    4. | Planta Baixa | Subsolo

    5. | Sto

    6. | Corte

    Implantao:

    imvel fronteiro rua e sem recuos,

    aproximando a taxa de ocupao aos

    100%, e as reformas no edifcio alteram

    a topografi a do terreno.

    Planta baixa:

    em geral, adota o partido de planta

    em vo livre, e os acrscimos podem

    ocorrer i) verticalmente, com a

    introduo de pavimentos, ou ii)

    posteriormente, de modo paralelo

    ao edifcio principal, destinado aos

    cmodos de servios (cozinha, B.W.Cs.,

    depsito e lavanderia).

    Volumetria:

    em geral, a edifi cao apresenta um

    maior nmero de pavimentos do que

    o que se refl ete na fachada principal,

    os telhados dispem de vrios panos

    de cobertura e possuem diversas

    inclinaes (10%, 15%, por exemplo),

    e as cumeeiras se localizam paralelas

    rua. Alm disso, apresenta elementos

    arquitetnicos desaconselhados na

    coberta, como o terrao frontal e a laje.

    Legendas

    1. Cozinha

    2. Copa

    3. B.W.C.

    4. rea Livre

    5. Varanda

    6. Despejo

    7. Despensa

    8. Terrao

    9. Escritrio

    10. Depsito

    4.6 Esteretipos

    99

    3

    107

    251

    3

    88

    6 4103

    8

    9 92 1

    10 6

    5

    8

    RU

    AR

    UA

    RU

    A

    RUAObs.: O esteretipo o resultado das altera-

    es realizadas no imvel que deformam um

    tipo arquitetnico.

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    26

    Antes de iniciar as orientaes sobre

    como executar projetos para o Stio

    Histrico de Olinda, necessrio

    salientar que essa uma atividade que

    exige um conjunto de conhecimentos

    especfi cos, tais como: 1) legislaes de

    proteo; 2) metodologias de projeto

    de interveno arquitetnica; 3) histria

    da Arquitetura; e 4) tcnicas constru-

    tivas e materiais de construo. Alm

    disso, importante conhecer os con-

    ceitos e as teorias que fundamentam e

    justifi cam as legislaes de proteo.

    Embora a atividade de interveno

    em stios histricos seja uma especia-

    lidade do campo da Arquitetura, im-

    prescindvel que os princpios bsicos

    que conduzem essa atividade sejam

    compreendidos cada vez mais pelo

    maior nmero de pessoas possvel.

    De posse dos conceitos e do conhe-

    cimento, os usurios e moradores de

    um stio histrico podem optar por

    uma atuao mais consciente, o que

    certamente levar conservao e

    preservao dos valores histricos,

    paisagsticos, urbansticos, arquitet-

    nicos ou culturais ali presentes. Cada

    conceito remete a um tipo de projeto

    ou interveno ou ao especfi ca,

    mas, em alguns casos, mais de um

    conceito embasa o projeto de inter-

    veno arquitetnica no casario.

    Abaixo, seguem, apresentados e

    comentados, alguns conceitos que

    fundamentam as legislaes federal

    e municipal de proteo.

    5.1 Conceitos e preceitos legais

    Primeiramente, importante sa-

    lientar que o tombamento do Stio

    Histrico de Olinda no signifi ca o

    congelamento da cidade num de-

    terminado tempo histrico. O Stio

    Histrico segue tendo sua vida, e,

    nele, so admitidas modifi caes nas

    edifi caes, desde que sigam as nor-

    mas estabelecidas nas leis. Essas leis,

    como j foi visto, tentam assegurar

    a permanncia dos valores patrimo-

    niais utilizando critrios urbansticos

    tais como zoneamento, setorizao,

    ndices e padres de ocupao (taxa

    de ocupao, coefi ciente de utiliza-

    o, gabaritos, etc.), alm da defi ni-

    o de usos e atividades permitidos.

    A terminologia interveno arquite-

    tnica em stio histrico se refere

    a toda ao realizada em edifi cao

    sujeita legislao de proteo ou

    ao tombamento. Diz respeito a vrios

    tipos de execuo de obras, sejam

    elas pequenos servios, manuteno,

    obras de conservao, de restaura-

    o, de reforma ou nova construo

    ou mesmo de demolio. Depen-

    dendo do tipo de execuo da obra,

    o projeto deve vir acompanhado de

    Memorial Justifi cativo que explicite

    seu objetivo, os princpios e as me-

    todologias utilizadas, referenciando

    em que medida a ao proposta est

    integrada aos objetivos de conserva-

    o e valorizao das caractersticas

    urbansticas, arquitetnicas e paisa-

    gsticas do stio histrico.

    5 Orientao para proprietrios, arquitetos e engenheiros que realizam projetos de interveno arquitetnica no casario de Olinda

  • 27

    Conservao se refere a toda inter-

    veno de natureza preventiva, que

    consiste na manuteno da edifi ca-

    o e na reparao de instalaes,

    elementos de composio da arqui-

    tetura ou, ainda, manuteno do

    sistema estrutural, dos materiais de

    construo e de revestimento.

    Restaurao diz respeito a toda in-

    terveno de natureza corretiva, que

    consiste na reconstituio da edifi ca-

    o, recuperao das estruturas afe-

    tadas, dos elementos destrudos ou

    danifi cados. A obra de restaurao

    procura preservar os elementos de

    maior relevncia que foram acres-

    cidos ao longo do tempo, resguar-

    dando a histria da edifi cao. A

    restaurao das edifi caes dever

    fi car condicionada existncia de

    documentao ou indcios no local,

    devendo o projeto ser precedido por

    pesquisa histrica e arqueolgica.

    Ainda acerca do termo restaurao,

    o art. 44 da Lei Municipal n 4.849/92

    estabelece:

    Sero consideradas de interesse para

    a revalorizao do Conjunto Mo-

    numental, as obras de restaurao

    defi nidas no art. 44, tais como:

    I. Eliminao de acrscimos, com-

    provadamente desvinculados do

    contexto arquitetnico e ambiental.

    II. Modifi cao das fachadas, res-

    tabelecendo as relaes compat-

    veis com as dimenses do imvel

    e da vizinhana imediata, utili-

    zando elementos de acabamento

    adequados ao conjunto.

    III. Recomposio dos telhados no

    que se refere a materiais, dispo-

    sio e detalhes, com eliminao

    dos elementos incompatveis com

    as caractersticas da edifi cao e

    do conjunto.

    Reforma ou nova construo

    toda interveno arquitetnica que

    deve respeitar as caractersticas da

    vizinhana nos aspectos de volume-

    tria, implantao, forma e densida-

    de de ocupao do terreno, tipo

    e inclinao da coberta, materiais

    de revestimento externo (paredes,

    cobertura) e esquadrias. As obras

    de reforma tambm esto sujeitas

    a pesquisa histrica e arqueolgi-

    ca e, em certos casos, a pareceres

    estruturais.

    Demolio, em geral, remete

    eliminao de acrscimos desvincu-

    lados do contexto arquitetnico e

    urbano. Ela acontece tambm nos

    casos das edifi caes apresentarem

    riscos estabilidade, necessidade

    de conforto ambiental ou ainda

    para atender novos Programas de

    Necessidades.

    5.2 Metodologia de projeto

    Para dar incio ao projeto de inter-

    veno arquitetnica em um imvel

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    28

    do Stio Histrico de Olinda, torna-se

    necessrio que o projetista respons-

    vel rena uma srie de informaes

    e dados projetuais que o possam

    conduzir a defi nir uma boa soluo

    arquitetnica. Essas informaes

    encontram-se aqui descritas em

    cinco etapas metodolgicas, que no

    signifi cam exatamente uma ordem de

    prioridade: algumas aes podem vir

    antes ou depois das outras, mas todas

    elas so, em princpio, necessrias. O

    diagrama abaixo ilustra o processo.

    Defi nio do Programa Arquite-

    tnico, ou Programa de Necessi-

    dades

    O proprietrio deve registrar em

    caderno todas as suas necessidades

    Defi nio do

    Programa de

    Necessidades

    Consulta s

    legislaes de

    proteo

    Pesquisas

    complementares:

    histrica

    (texto e iconografi a)

    e arqueolgica

    Levantamento fsico

    arquitetnico do imvel,

    classifi cao tipolgica

    e registro do estado de

    conservao

    em relao s obras e/ou mudanas

    que deseja realizar no imvel. Essa

    relao classifi cada em Arquitetura

    como Programa Arquitetnico,

    ou Programa de Necessidades.

    Esse programa deve ser elaborado,

    conjuntamente, pela pessoa que est

    contratando a obra e pelo projetista.

    Constam do Programa de Necessi-

    dades dados relativos aos cmodos:

    quantitativos, dimensionamento e

    suas funes (quartos, salas, es-

    critrio, banheiros, terrao, etc.),

    alm da populao que ir morar

    ou utilizar o imvel, o mobilirio

    e inmeros outros itens que sejam

    necessrios para seu dimensiona-

    mento. Deve-se ter em mente que o

    Programa Arquitetnico um dado

    Levantamento de

    informaes relativas

    ao conjunto

    urbano-arquitetnico

    Anlise das

    informaes e

    simulao de

    solues

    projetuais

    Base terica:

    instrumentos

    projetuais para

    atuar sobre a forma

    construda

    Desenvolvimento do projeto:

    Planta de situao, locao, planta baixa, cortes, fachadas, detalhes construtivos (se

    necessrios) e quadro de especifi cao de materiais e esquadrias.

    Fase 1

    Fase 2

    Fase 3

  • 29

    [5] O conceito de capacidade de carga no mbito deste trabalho se refere aos limites que um ambiente ou uma edifi cao pode suportar em funo da interao

    entre as atividades humanas e a base fsica preexistente, sem perder suas caractersticas tipolgicas e arquitetnicas essenciais. Est relacionado com a volumetria,

    as caractersticas topogrfi cas e o sistema construtivo. Por exemplo, recorrentemente as edifi caes identifi cadas como esteretipos no respeitam a capacidade de

    carga do imvel ao ultrapassar seu suporte fsico. Outro exemplo a substituio das tcnicas construtivas tradicionais por tcnicas contemporneas que eliminam os

    registros histricos e, consequentemente, o esprito do lugar.

    cultural e se modifi ca com o tempo

    pelo conjunto de atividades sociais

    e necessidades criadas pelo homem.

    As necessidades funcionais corres-

    pondem utilizao dos ambientes

    internos do imvel, sua comparti-

    mentao, visando permanncia

    ou adaptao do uso existente ou,

    ainda, introduo de um novo uso.

    O projetista, de posse do Programa

    Arquitetnico solicitado pelo contra-

    tante, dever relacionar a demanda

    programtica com as restries urba-

    nsticas e com o potencial construti-

    vo existente. Ele deve considerar que

    as edifi caes histricas acumulam,

    em sua substncia fsica (paredes,

    janelas, telhados), registros histri-

    cos de culturas e modos de viver de

    outros tempos. Essas edifi caes, por

    terem permanecido ntegras (tan-

    to na sua estrutura fsica como na

    disposio de cmodos e vos), sem

    grandes modifi caes, so considera-

    das um rico arquivo de informaes

    sobre o passado de uma sociedade.

    Portanto, um imvel tombado por

    suas caractersticas histricas possui

    vrias restries projetuais, tanto no

    que se refere manuteno da sua

    relao com o conjunto edifi cado

    como em relao manuteno dos

    traos da memria edifi cada, das

    caractersticas arquitetnicas, tipol-

    gicas ou estilsticas, relacionadas com

    o perodo colonial, neoclssico, ecl-

    tico ou, ainda, com o protomoderno.

    Muitas vezes, ocorre de o proprie-

    trio desejar um projeto que no

    se adapta s caractersticas fsicas e

    arquitetnicas do local. Por exemplo,

    ele solicita um programa (deman-

    da de espaos) que s poderia ser

    construdo se o imvel fosse com-

    pletamente descaracterizado. Ou

    seja, o programa extrapola o que se

    convencionou chamar capacidade

    de carga do imvel5. Nesse caso, o

    projetista deve orientar o proprietrio

    ou demandante do projeto a redi-

    mensionar seu Programa de Necessi-

    dades ou a buscar outra edifi cao,

    mais adequada s suas necessidades.

    Esse fato ocorre, na maioria das ve-

    zes, quando os imveis residenciais

    so adaptados a novos usos, como

    o caso de restaurantes e pousadas.

    O grande desafi o de intervir em um

    imvel histrico encontrar o limite

    justo entre a manuteno do esprito

    do lugar, das caractersticas fsicas,

    histricas e artsticas e a adequao

    s novas demandas que so coloca-

    das pela sociedade do sculo XXI.

    Consulta s legislaes de proteo

    Para realizar qualquer obra de inter-

    veno no casario do Stio Histrico

    de Olinda, o proprietrio e o projetista

    devem conhecer as legislaes de

    proteo (federal e municipal) que

    regulamentam as obras e os usos do

    lugar. A consulta legislao possibili-

    ta identifi car a situao do imvel em

    relao zona e aos setores em que

  • 30

    32 | Prospeco revelou alvenaria mista,

    tijolo e pedra.

    33 | Alvenaria de tijolo macio.

    est inserido, assim como os ndices e

    os padres urbansticos defi nidos.

    Essas legislaes esto indicadas no

    encarte que acompanha este manual

    e podem ser consultadas no site do

    Ceci (www.ceci-br.org) e nas sedes

    da Prefeitura Municipal de Olinda

    e da Superintendncia do Instituto

    do Patrimnio Histrico e Artstico

    Nacional em Pernambuco.

    Levantamento de informaes

    relativas ao conjunto urbano-

    -arquitetnico

    Essa etapa diz respeito ao levanta-

    mento de informaes relativas ao

    conjunto urbano-arquitetnico em

    que o imvel est inserido, ou seja,

    imprescindvel que o projetista

    reconhea os elementos que carac-

    terizam o conjunto edifi cado e lhe

    conferem especifi cidade. O projeto a

    ser concebido dever contribuir para

    a valorizao e o prolongamento

    da identidade do lugar, consideran-

    do tambm o edifcio no conjunto

    urbano-arquitetnico em que se

    encontra e avaliando os condicio-

    nantes histricos e a situao atual.

    Da a importncia do reconhecimen-

    to do processo evolutivo da forma

    urbana e a identifi cao dos padres

    historicamente conformados.

    As informaes relativas forma

    urbana referem-se ao traado, s

    tipologias arquitetnicas (volumetria,

    tipos de cobertura e revestimen-

    35

    to), vegetao existente e taxa

    de ocupao predominantes no

    conjunto. Esses dados podem ser

    obtidos por meio de registro fotogr-

    fi co areo do conjunto ou mesmo

    atravs de outros registros contidos

    em arquivos ou em documentao

    fotogrfi ca de famlias. Outro recurso

    utilizado para anlise e compreenso

    da evoluo histrica do conjunto

    edifi cado o levantamento e a anli-

    se da cartografi a e de ortofotocartas.

    Levantamento fsico arquitet-

    nico do imvel, classifi cao

    tipolgica e registro do estado de

    conservao

    O levantamento arquitetnico da

    edifi cao pressupe:

    A coleta do conjunto de infor-

    maes indispensveis com-

    preenso da substncia fsica da

    edifi cao, sendo necessrio seu

    levantamento fsico arquitetni-

    co, com a representao grfi ca

    atualizada do imvel (planta de

    situao, planta de locao e co-

    berta, plantas baixas de todos os

    pavimentos, cortes e fachadas).

    Registro e documentao (desenho,

    fotografi a) das tcnicas construtivas

    e do estado de conservao das

    tcnicas, dos elementos construtivos

    e dos elementos de arquitetura.

    Registro fotogrfi co da situao

    atual do imvel.

    32

    33

  • 31

    A anlise dos elementos tipolgicos

    (implantao, planta baixa e volume-

    tria) conduz classifi cao do tipo edi-

    fi cado do imvel que ser objeto de

    projeto de interveno arquitetnica.

    Pesquisas complementares: hist-

    rica e arqueolgica

    Pesquisa histrica

    A pesquisa histrica um gran-

    de auxlio para se compreender a

    evoluo da edifi cao, desde sua

    origem at a contemporaneidade.

    Essa pesquisa consta de:

    Levantamento e registro de dados

    e informaes histricas sobre o

    imvel, recorrendo a documentos

    escritos (registro em cartrio de

    imvel, jornais locais, inventrios,

    entre outros) e fontes iconogrfi cas

    (mapas, plantas de projetos arquite-

    tnicos, fotos, pinturas, gravuras).

    Estudos sobre estilos e tipologia

    arquitetnica por meio de dados

    que podem ser encontrados nos

    acervos dos inventrios realiza-

    dos pela Prefeitura Municipal de

    Olinda e pelo Iphan.

    Pesquisa arqueolgica

    A pesquisa arqueolgica uma infor-

    mao relevante para as decises de

    projeto. Ela dever adotar o procedi-

    mento de mnima invaso na estrutura

    antiga edifi cada, visando apenas a

    responder lacunas das informaes

    histricas. Quando no h esse cuida-

    do, a prospeco pode comprometer

    a integridade e autenticidade do im-

    vel. Assim sendo, o proprietrio do

    imvel dever disponibilizar pedreiro

    que, sob a orientao do arquelogo

    da municipalidade, ir realizar a pros-

    peco arquitetnica em fundaes,

    paredes, pisos ou mesmo em elemen-

    tos estilsticos, a partir das necessida-

    des do projetista ou das demandas

    das instituies de proteo.

    A prospeco arquitetnica indi-

    cada em restaurao e na identifi -

    cao de modifi caes que tenham

    descaracterizado o imvel ou o

    conjunto arquitetnico. As fi guras

    32 e 33 ilustram o procedimento de

    prospeco invasiva que deve ser

    evitado por comprometer a integri-

    dade e autenticidade da edifi cao.

    Anlise das informaes

    De posse de todas as informaes

    relacionadas nas etapas anteriores,

    o projetista dever realizar uma

    cuidadosa anlise. Um elemento

    importante referente anlise das

    informaes a compreenso do

    valor arquitetnico e simblico da

    edifi cao. Por exemplo, existem

    edifi caes que so exemplares ni-

    cos e, por isso, merecem um olhar

    atento e cauteloso no momento da

    proposio de qualquer interven-

    o. Esse exemplar pode se distin-

    guir dos demais por diversas razes:

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    32

    Possuir uma planta baixa singu-

    lar, que no encontrada em

    outros imveis, a exemplo de

    edifi caes com caractersticas

    eclticas que possuem como dire-

    triz projetual os eixos de simetria,

    conformados tanto em planta

    baixa quanto em fachadas.

    Apresentar detalhes construtivos

    nicos que possibilitem confor-

    to trmico e lumnico, como os

    altos ps-direitos dos edifcios, as

    trelias, as bandeiras das portas e

    janelas, entre outros.

    Possuir valores artsticos, a exem-

    plo das fachadas das igrejas, dos

    bens integrados s edifi caes,

    como forros, retbulos, esqua-

    drias, tribunas, azulejos nas facha-

    das, entre outros.

    A etapa de anlise das informa-

    es abre espao para a simulao

    grfi ca das possveis solues de

    projeto, que devero ser avaliadas

    a partir de instrumentos projetuais

    para operar sobre a forma constru-

    da. Isso signifi ca que o ato criador

    do arquiteto deve ser contido ele

    necessita prestar reverncia heran-

    a e memria culturais. Assim, o

    projetista dever ter em mente que

    seu projeto precisa agregar valor ao

    stio histrico ou mesmo recuperar

    algumas caractersticas que tenham

    sido perdidas.

    Instrumentos projetuais para atuar

    sobre a forma construda

    Quando se trata de projetos arqui-

    tetnicos que tm como suporte

    fsico os stios histricos, vrias so

    as possibilidades metodolgicas de

    interveno, e muitas so as cor-

    rentes tericas que podem vir a ser

    adotadas. No caso do Stio Histrico

    de Olinda, a legislao recomenda

    o respeito tipologia arquitetnica,

    aos valores patrimoniais, s tcni-

    cas e aos materiais de construo e

    de revestimento, o que indica uma

    aproximao com uma metodologia

    voltada para a integrao formal

    contextual.

    O autor Francisco de Gracia6 salienta

    a importncia de respeitar o princpio

    do carter unicum e do processo de

    formao do lugar. Ele sistematizou

    distintas correntes tericas e metodo-

    logias que vm sendo adotadas por

    arquitetos com vista ao estudo e

    classifi cao de projetos por ele de-

    nominadas Construir no Constru-

    do. Dessa sistematizao, selecio-

    namos trs princpios que possuem

    proximidades terico-metodolgicas

    com as legislaes federal e munici-

    pal de proteo ao Stio Histrico de

    Olinda, as quais fornecem orienta-

    es projetuais para intervenes em

    Olinda que visam ao estabelecimento

    de parentesco tipolgico e/ou inte-

    grao contextual:

    [6] Francisco de Gracia (1992). Construir en lo Construido, la arquitetura como modifi cacin, Madrid, editorial NEREA.

  • 33

    Busca da correspondncia mtrica,

    geomtrica, das leis de proporo e

    de harmonia existentes no processo

    de formao da cidade, de modo a

    identifi car a escola arquitetnica e

    formal qual o edifcio est fi liado.

    Reintegrao de recursos fi gurati-

    vos ou estilsticos para favorecer a

    continuidade da imagem, sem que

    isso signifi que a adoo do pastiche.

    Nesse caso, muitas vezes, trata-se da

    adoo de solues tcnicas e cons-

    trutivas que remetam s caracters-

    ticas tipolgicas e/ou estilsticas do

    conjunto existente. desejvel que

    seja facilmente reconhecida como

    uma interveno contempornea,

    embora possua elementos que fa-

    zem referncia tipologia do lugar.

    Investigao e validao das elei-

    es formais por meio da identifi -

    cao de parentesco tipolgico ou

    das leis formadoras da cidade. Pode

    tambm remeter ao parentesco de

    formas e volumes, desestimulando

    propostas de interveno arquite-

    tnica que se fundamentem em

    princpios de contraste e ruptura.

    O esforo deve ser voltado para a

    busca de uma totalidade integrado-

    ra e para o entendimento dos ele-

    mentos que constituem e conferem

    a continuidade da forma da cidade.

    Em termos topolgicos, a contri-

    buio formal deve estar inscrita

    na justaposio, na incluso e na

    interseco formal, jamais sendo

    adotado o contraste ou a excluso.

    Todos esses princpios e/ou etapas

    metodolgicos so necessrios para

    a concepo e o desenvolvimen-

    to de um projeto de interveno

    arquitetnica em stios histricos.

    importante que o projeto se apre-

    sente o mais esclarecido e justifi -

    cado possvel. A expresso grfi ca

    do projeto um dos elementos que

    fundamentam a anlise da interven-

    o, mas ela s no sufi ciente,

    importa tambm toda a documenta-

    o complementar, como pesquisas

    e estudos tipolgicos e contextuais,

    que tm como fi nalidade facilitar o

    entendimento da proposta arqui-

    tetnica e minimizar o carter de

    subjetividade que muitas vezes

    recorrente durante a anlise tcnica.

    Desenvolvimento do projeto

    De posse de todas as informaes

    e posturas necessrias ao desenvol-

    vimento do projeto arquitetnico

    de interveno, o mesmo deve

    ser fi nalizado e bem representa-

    do, tanto em termos de expresso

    grfi ca como em termos de justifi -

    cativa tcnica. Essa justifi cativa deve

    resumir todos os levantamentos e as

    pesquisas realizados e que esto na

    base do projeto de interveno ar-

    quitetnica proposto. Em seguida, o

    projeto arquitetnico deve ser enca-

    minhado municipalidade para ser

    submetido a anlise tcnica, apro-

    vao e licenciamento, juntamente

    com a documentao necessria, de

    acordo com o requerimento.

  • ConservarOlinda Boas Prticas no Casario

    34

    6 As Boas Prticas de projetos

    Os projetos de interveno arqui-

    tetnica selecionados para constar

    do manual Conservar: Olinda Boas

    Prticas no Casario esto relacio-

    nados com a metodologia ante-

    riormente explicitada e, de modo

    sinttico, atendem simultaneamente

    aos requisitos de:

    Respeito s legislaes de proteo.

    Preservao dos valores patrimoniais.

    Qualifi cao dos imveis em rela-

    o ao uso e habitabilidade.

    A pesquisa agrupou solues de

    projeto que apresentaram caracters-

    ticas comuns em termos de tipolo-

    gia arquitetnica, usos e programa

    de necessidades. Essas solues

    podem servir como base para pos-

    teriores intervenes, desde que os

    imveis guardem entre si relaes

    formais, espaciais e cronolgicas.

    De fato, poucos foram os im-

    veis que, em sua totalidade, foram

    considerados exemplares de Boas

    Prticas de interveno arquitet-

    nica. Alguns imveis que seguem

    apresentados foram selecionados

    pelo fato de constiturem exemplos

    parciais, nos quais mereceram des-

    taque solues pontuais em relao

    ao partido de planta, volumetria

    ou, ainda, aos detalhes arquitet-

    nicos e construtivos encontrados.

    Essas solues no abrangem a tota-

    lidade dos projetos aprovados, mas

    traduzem um modo de interveno

    sobre uma estrutura preexistente em

    um contexto histrico especfi co.

    Como procedimento metodolgico, a

    pesquisa priorizou o projeto em seu

    carter documental, ou seja, o que

    est indicado aqui no Manual so so-

    lues projetuais que foram aprovadas

    pelas instituies de proteo. Assim

    sendo, possvel que determinadas

    solues tenham passado por algum

    tipo de alterao durante sua exe-

    cuo e que, na prtica, no corres-

    pondam fi elmente ao que consta no

    projeto aprovado. Por esse motivo, a

    nfase recai sobre o projeto grfi co,

    embora estejam tambm ilustrados os

    casos de Boas Prticas, tanto de solu-

    es projetuais como de execuo.

    Para a seleo dos projetos, foram

    previamente defi nidos critrios

    bsicos, criados em conformidade

    com o que defendem as legislaes

    de proteo do stio histrico. Esses

    critrios foram validados junto s

    instituies de proteo, que esto

    representadas no Conselho de Pre-

    servao do Stio Histrico de Olin-

    da, e seguem conforme Tabela 1.

    Os projetos de interveno arqui-

    tetnica no casario de Olinda que

    responderam aos critrios acima

    adotados so considerados Boas

    Prticas. Para uma melhor compre-

    enso desses dados, os projetos

    foram agrupados segundo os tipos

    arquitetnicos edifi cados, os usos e

  • 35

    os tipos de obra ou servio aos quais

    os mesmos se referem. Do ponto de

    vista metodolgico, seguem apre-

    sentados em trs eixos temticos: i)

    reforma, restaurao e conservao;

    ii) novas construes; e iii) legaliza-

    o de imvel irregular.

    Convm destacar que as obras que

    ocorreram revelia pelo proprietrio

    ou usurio do imvel, sem acompa-

    nhamento ou aprovao pelas insti-

    tuies de proteo, dizem respeito

    ao eixo especfi co de regularizao

    de imvel. Nesses casos, as obras

    irregulares so geralmente objeto

    de embargo e podem resultar em

    processos judiciais. No julgamento

    do processo, o juiz estabelece que

    o ru, no caso o proprietrio do

    imvel, deve atender a vrias exign-

    cias, e a principal delas consiste na

    reparao do dano contra o patri-

    mnio. Para isso, necessrio que o

    proprietrio ou o autor da infrao

    apresente projeto arquitetnico de

    reforma, aprovado pelo Iphan e pela

    Prefeitura de Olinda, visando re-

    parao dos danos. A concluso do

    processo s ocorre aps a execuo

    da obra conforme projeto aprova-

    do e o fornecimento da Licena de

    Habitar pela Diretoria de Controle

    Urbano da Prefeitura de Olinda.

    Os imveis que passam pelo proces-

    so de regularizao so, no mais das

    vezes, aqueles que foram aqui clas-

    sifi cados como esteretipos, j que as

    reformas neles realizadas resultaram

    na sua descaracterizao e na perda

    das qualidades arquitetnicas e paisa-

    gsticas do Stio Histrico de Olinda.

    Para este manual, foram selecionadas

    reformas de legalizao que visaram

    requalifi cao do imvel notifi cado

    e do Stio Histrico de Olinda.

    Antes de apresentarmos os projetos

    selecionados como Boas Prticas, vale

    salientar que as intervenes mais co-

    mumente encontradas dizem respeito

    a: i) acrscimo de rea construda

    com tratamento volumtrico; ii) in-

    troduo de mezanino com abertura

    de gua-furtada no pano posterior da

    coberta; iii) retirada de terrao des-

    coberto nos pavimentos superiores

    que interrompem a gua da coberta;

    iv) recuperao volumtrica do corpo

    principal da edifi cao; v) reordena-

    mento de reas molhadas de servios,

    como de cozinha, banheiro e lavan-

    deria. Assim sendo, seguem descritas.

    Tabela 1: Critrio de seleo de Projetos de Boas Prticas

    1. Integrao e Dilogo da Edifi cao no Contexto Histrico e Arquitetnico

    2. Manuteno da Tipologia

    2.1 Implantao

    2.2 Partido de planta

    2.3 Volumetria

    2.4 Tcnicas e materiais construtivos

    3. Taxa de Ocupao

    4. Cobertura Vegetal

    5. Topografi a

    6. Conforto Ambiental

    7. Adequao entre a Edifi cao, o Uso e a Capacidade de Carga

  • 36

    introduzindo poo de ventilao,

    escada de acesso ao mezanino e ao

    B.W.C. O mezanino executado com

    estrutura de madeira garantiu a inte-

    grao e o respeito s tcnicas e aos

    materiais tradicionais. Nessa rea, foi

    possvel a criao de sala ntima com

    sute e a continuao do poo de ven-

    tilao do trreo. A cobertura do poo

    foi executada com as telhas de capa

    para facilitar a exausto do ar quente.

    A reconstituio da volumetria tradicio-

    nal do imvel foi garantida pela relo-

    cao da linha da cumeeira e correo

    da inclinao dos panos de coberta

    em apenas duas guas. Essa proposta

    foi baseada em parecer arqueolgico e

    na anlise dos telhados da vizinhana.

    De acordo com parecer arqueolgico:

    Foram prospectadas as paredes para

    localizar: a inclinao da antiga

    empena, as paredes originais das

    alcovas e da sala posterior. A planta

    baixa atual obedece a uma tipo-

    6.1 Tipo meia-moradaReforma e reconstituio volumtrica

    34

    Programa de Necessidades

    Manuteno do uso habitacional,

    com o acrscimo de cmodos,

    B.W.Cs., sala e cozinha integradas,

    permanncia de edcula e reconsti-

    tuio volumtrica7.

    Partido arquitetnico

    Manuteno da implantao com

    aumento de solo natural.

    Reconstituio volumtrica com

    relocao da linha de cumeeira.

    Reintegrao formal da fachada

    principal ao conjunto urbano.

    Desenvolvimento do projeto

    O projeto obteve reduo da taxa

    de ocupao por meio da elimina-

    o dos acrscimos de coberta.

    Na planta baixa do trreo, o projeto

    adotou a compartimentao de alcova

    [7] O estado de descaracterizao em que o imvel se encontrava antes da reforma tende a que sua classifi cao tipolgica seja o esteretipo, embora tenha sido poss-

    vel reconhecer seus elementos que o caracterizam como tipo meia-morada.

    35

    Legislao Federal: Setor B, sub-setor B4Lei Municipal: Setor Residencial Rigoroso

    Legislao de proteo

    Planta Baixa | Trreo | Levantamento e Demolio

    Planta Baixa | Trreo | PropostaPlanta de Locao e Coberta | Proposta

  • 37

    Planta Baixa | Mezanino | Levantamento e Demolio

    Corte | Levantamento e Demolio

    Planta Baixa | Mezanino | Proposta

    Corte | Proposta

    logia comum encontrada no stio

    histrico [...] foi achada durante as

    prospeces que as alvenarias eram

    construdas de tijolos de furos com

    argamassa de cimento, possivelmen-

    te do mesmo tempo cronolgico do

    detalhe da fachada principal, que

    de beiral trplice com materiais per-

    tencentes de 30 a 40 anos passados.

    [...] Conforme uma interpretao di-

    reta com os materiais encontrados,

    diagnostica-se que o imvel passou

    por uma grande reforma e perdeu

    a sua total originalidade referente

    aos materiais construtivos aplicados

    atualmente. No mais, reforo que a

    tipologia do imvel, enquanto trata

    de salas principais, alcovas ao cen-

    tro e sala posterior, seja preservada.

    No projeto, a relocao da linha de

    cumeeira resultou mais aproximada

    da testada frontal do imvel, e a

    coberta seguiu a inclinao de 41%,

    em harmonia com a tipologia tradi-

    cional do conjunto arquitetnico em

    que o imvel est inserido.

    A gua-furtada (fi guras 34 e 35) criada

    no pano posterior da coberta asse-

    gurou o conforto ambiental da sute,

    com ventilao e iluminao direta,

    e a caixa-dgua superior foi locali-

    zada abaixo da cumeeira de modo

    embutido na coberta. Internamente, o

    imvel continua com a telha-v.

    Registro iconogrfi co da dcada de

    1970 indica que o imvel possua

    platibanda escalonada, embora no

    momento da reforma o mesmo se

    apresentasse com trplice beiral, em

    contraste com o escalonamento das

    platibandas existentes no conjunto

    da rua. Assim sendo, a platibanda

    da fachada principal foi resgatada,

    sendo adotado novo desenho.

    O projeto de interveno arquitet-

    nica atendeu, simultaneamente, s

    exigncias programticas e resgatou

    os elementos presentes na tipologia

    tradicional, em termos de partido de

    planta, volumetria e fachada.

    Valores agregados ao imvel

    Promoo do conforto ambiental,

    observado na introduo do poo

    vertical e da gua-furtada exe-

    cutados com efi cientes detalhes

    construtivos.

    Reintegrao paisagem, alcan-

    ada com o escalonamento das

    fachadas atravs da recuperao

    da platibanda como elemento que

    caracterizava o conjunto na dca-

    da de 1970 (fi guras 36 e 37).

    A qualidade positiva do projeto en-

    contra-se principalmente no resgate

    tipolgico, na integrao do edifcio

    ao contexto urbano e na reduo da

    taxa de ocupao, o que contribui

    para adensar a cobertura vegetal.

    36 37

    Legendas Construir Demolir Parede Existente rea Molhada Solo Natural

  • 38

    6.2 Tipo meia-moradaReforma e introduo de anexo

    Programa de Necessidades

    Manuteno do uso residencial, com

    a permanncia de cmodos, salas e

    B.W.Cs., e ampliao e reforma da

    cozinha e dos servios.

    Partido arquitetnico

    Busca de compatibilidade entre o

    antigo imvel e uma ampliao

    ocorrida por necessidade progra-

    mtica reforma na cozinha.

    Desenvolvimento do projeto

    A ampliao foi realizada com a

    criao de um eixo de simetria em

    que as paredes laterais posteriores

    foram utilizadas como limites de

    referncia. O volume proposto foi

    adaptado topografi a do terreno

    e respeitou a taxa de ocupao.

    Foram reformadas as reas de copa,

    cozinha e servios, distribudas em

    dois pisos trreo e subsolo.

    A volumetria da rea ampliada foi

    integrada ao corpo principal do

    im